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1) o declínio dos
Estados Unidos
26/08/2010
Mas esta perspectiva global é ilusória. A depressão da década de 1930 atingiu todo o
planeta, salvo duas excepções: a Palestina, que de 1933 em diante a Agência Judaica
inundou de capitais germânicos, devidos ao Acordo de Transferência que descrevi
brevemente num artigo deste site; e a União Soviética, onde os planos quinquenais
stalinianos se revelaram a fórmula adequada àquelas circunstâncias sociais e àquela
situação económica, malgrado tudo o que posteriormente se pretendeu. A actual
recessão, no entanto, não é mundial e, pelo contrário, dividiu os países num grupo
declinante, que não consegue ultrapassar as di culdades económicas, parecendo às
vezes sair de uma situação grave para cair noutra pior; e num grupo em ascensão, no
qual se depositam hoje as esperanças do capitalismo mundial. Esta crise consiste, antes
de mais, numa reordenação interna dos centros de crescimento económico. Vejamos o
declínio dos Estados Unidos.
A recessão
Precipitada pela crise das hipotecas, a crise nanceira norte-americana provocou, por
seu turno, uma crise na construção de casas. Todavia, o facto de os preços das casas em
Janeiro de 2009 estarem 29% abaixo do nível máximo que antes haviam atingido levou
a uma reanimação do mercado imobiliário. A construção de casas subiu à taxa anual de
23,4% no terceiro trimestre de 2009, ajudada por um crédito scal de 8.000 dólares
concedido pelo governo a quem comprasse casa nova. Porém, a venda de casas novas
caiu 3,6% em Setembro de 2009 e, após ter subido 6,2% em Outubro, desceu 11,3% em
Novembro e de novo 11% em Janeiro de 2010, continuando a descer em seguida, o que
revela a fragilidade do actual mercado imobiliário norte-americano, incapaz de se
sustentar depois de terminado o prazo para bene ciar daquele crédito scal. Em Maio
de 2010 a compra de casas novas caiu 33% relativamente ao mês anterior.
Do mesmo modo que a data inicial da recessão não pode ser assinalada com precisão,
também o seu termo estatístico não corresponde a qualquer robustecimento efectivo da
economia dos Estados Unidos. Durante uma crise, com o declínio da actividade
produtiva os stocks vão-se esgotando, e o nal da crise ocorre com a reposição dos
stocks. Ora, já em meados de 2009 os indicadores económicos haviam apontado para
uma estabilização da situação e no nal de Setembro desse ano a Reserva Federal
declarou que estava a ocorrer a retoma [recuperação] da economia do país. Com efeito,
o crescimento recomeçou nos meados de 2009 e acelerou-se bastante nos últimos
meses do ano. Tudo somado, de acordo com os dados o ciais, o PIB cresceu apenas
0,4% em 2008 e o seu declínio acumulado foi de 3,7% desde o nal de 2007. Em 2009 a
economia retraiu-se 2,4%, embora com uma melhoria no segundo trimestre, quando
se contraiu a uma taxa anualizada de 1%. Porém, no terceiro trimestre de 2009 o PIB já
cresceu a uma taxa anualizada de 3,5% relativamente ao trimestre anterior, sendo o
primeiro aumento desde o segundo trimestre de 2008; e no último trimestre o output
cresceu a uma taxa anualizada de 5,7%. Em Maio de 2010 a OCDE pôde prever para esse
ano um crescimento de 3,2%, o que mostra que os negócios haviam corrido melhor do
que se esperara, porque em Março do ano anterior a OCDE havia previsto um declínio de
4% da economia norte-americana em 2009 e um crescimento zero em 2010.
O desemprego
O endividamento externo
Ora, como é o sistema bancário a converter o a uxo das poupanças externas em crédito
aos consumidores privados, a partir de certo ponto o endividamento destes
consumidores pôs em risco o valor das suas garantias e, por aí, acarretou a crise do
sistema bancário, o que não aconteceria se tivesse sido maior a percentagem do crédito
dirigido para o investimento produtivo interno. E apesar de o Fundo Monetário
Internacional ter previsto, em meados de 2009, que nesse ano e em 2010 o dé ce em
conta corrente seria inferior a 3% do PIB, o certo é que no nal de 2009 ele atingira já
os 12%, a percentagem máxima desde a segunda guerra mundial, e era ainda de cerca
de 9% nos meados de 2010. Nessa ocasião previa-se que em 2010 o dé ce chegasse a 1,3
biliões de dólares.
Não parece desenhar-se uma saída clara, e embora a situação dos Estados Unidos tenha
melhorado, não creio que esteja a edi car uma base sólida para retomar o crescimento.
A administração Obama permanece de olhos postos nos principais países emergentes,
especialmente na China. Porém, como esperar uma ajuda desse lado se a economia
norte-americana e as novas economias em ascensão revelam não só situações
distintas, mas tendências divergentes? Ultimamente, nos debates económicos em
língua inglesa tem-se falado muito de decoupling, a acção de desenganchar ou
desengatar, como quando se separam dois vagões de caminhos-de-ferro [estradas de
ferro], por exemplo. Será que os países emergentes com maior taxa de crescimento
seguirão velozmente pela via principal enquanto os Estados Unidos se encaminham
para uma via de garagem?
Nota
[1] Em economia, o termo output denota o conjunto dos bens e serviços produzidos
numa empresa, num país ou num grupo de países.