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mente a êste trabalho ,de anunciar o Igreja-reflexo

Evangelho ao povo. Mas não exclusiva- Vs.
mente. Pode ser que alguns sejam esco-
lhidos para ficar só por conta do estu-
Igreja-fonte
do e da pregação. Mas outros podem e
ESEJO lembrar inicialmente que
devem participar das atividades comuns
dos homens. Entre estas atividades, é
D existe uma resposta oficial a esta
~rgunta. É o Plano de Pastoral de
importante que o padre escolha aquelas
Conjunto da C.N.B.B. para 1966-1970.
que estão mais intimamente ligadas ao
Êle fixa seis objetivos, aos quais corres-
serviço dos pobres, às obras autênticas
pondem seis linhas de ação, cir.c unscre-
de educação e promoção humana e na-
vendo aquêles aspectos da realidade bra -
quelas em que se torna possível um tes-
sileira que parecem funidamentais den-
munho de desapêgo, de renúncia ao po- tro ,de uma visão apostólica, que é a
der ao dinheiro, ao comércio.
' . . visão mesma :da Igreja. Como todo pla-
Nos países subdesenvolv11dos, consi- nejamento global, o Plano de Pastoral
derando que o serviço dos pobres é a li- da C.N.B.B. unifica-se em tôrno da pre-
bertação de sua opressão e a eliminação visão racional de um resultado a alcan-
de sua miséria pela supressão de estru- çar. Aqui o resultado s-eria uma ren'O-
turas injustas, a missão do clero, não vac/Ja presença da Igreja, diríamos, uma
pode, de modo algum, se marginalizar presença pós-concilixir, na vida brasi-
dêste processo. Como? Participando e leira por volta de 1970. O Plano supõe,
liderando seto:r<es ide atividade política? portanto, um distanciamento entre as
Não necessàriamente. linhas iideais ,de uma missão da Igreja
Vejo a missão ,do clero na linha dia no mundo de hoje, tais como podem ser
atividade idos profetas: pregar as exi- · traçadas a partir <lo modêlo que se con-
gências da verdade, da justiça e do vencionou ,chamar "a Igreja do Vatica-
amor, não somente em palavras, mas no II", e a realidade brasileira. Êle se
em g·estos. Neste sentido, abre-se um propõe suprimir essa distância :a través
um imenso campo para os sacerdotes, de uma ação vasta e coordrnada, ·die sor-
o de realizarem e o ,de provocarem ges- te a tornar possível, nos próximos anos.
tos e <w<>ntecimentos significa{ivos que a presença sempre mais marcante e
sejam a realização de um testemunho e mais decisiva ide uma nova imagem da
de um ,compromisso com os desígnios Igreja no contexto histórico brasileiro.
de justiça e fraternida,de. Isto significa Não nos parece importante discutir, a
que, aqui e ali, o padre deverá partir essa altura, os aspectos formais :do Pla-
com o povo para denunciar as injusti- no da C.N.B.B. Elaborado por especia-
ças e lutar conC1'"etamente pela, def esu listas, .a provado pela Hierarquia, êle aí
dos ,direitos humanos,. Sabemos, de ante- está como a resposta ideal à pergunta
mão, como isto vai longe. Mas o padre sôbre o papel da Igreja no Brasil de
deve seguir os passos ·do bom pastor. E hoje. Por outro lado, trata-se ide uma
o bom pastor dá a vida por suas ovelhas. experiência em curso, e ainda é cêdo
para apreciar seus resultados ou medir
O bom pastor está sempre pronto para
seu índic-e de realismo em função dêsses
defender as ovelhas de lobos vorazes.
mesmos resultados. É natural que sua
FREI FRANCISCO DE ARAUJO O.P. aplicação concreta manifeste problemas
18
ou descubra tensões que a formulação
abstrata não pode levar em conta.I Co-
mo quer que s-ej a, temos aqui o têrmo
de um longo e dificil esfôrço de tomada
ide consciência ( o Plano de Pastoral de
Conjunto foi precedido por um P lano
de Emergência em 1963) e é em tôrno
dos pr-essupostos e das implicações dês-
se esfôrço que, a m-eu ver, -devem ser
situadas quaisquer reflexões provocadas
pela pergunta :
Qual o Papel da Igreja no Brasil de Hoje-?
MINHAS reflexões <l-esenvolvem-se
na linha .do que podemos chamar,
talvez um pouco prdenciosamente,
"prolegômenos a tôda resposta, que se
pretenda válida, à p,ergunta sôbre o pa-
pel ida Igreja no Br~sil de hoje." Enten-
do que a resposta mesma inclui um as-
pecto formal normativo,
o que deve ser foito,
que só à própria Igreja cabe determi-
nar. Ela o fêz no Plano ,d-e Pastoral de
Conj unto. 2 Entretanto, é lícito refletir
sôbre o que parece implica-do, no plano
da significação dos conceitos e no plano
da análise .da realidade num projeto
que, em face da r-ealidalde brasileira nos
têrmos ,da missão epecificamente evan-
gelizadora a ser por ela cumprida, com-
promete-a com uma tarefa histórica cu-
jas linhas de fôrça se traçarão, em úl-
tima instâJncia, na prise en charge da
realidade mesma.
1 Ver COMBLIN, J. R eflexões Sôbre (1) Con-
dição Concreta da Ev<Jf/1,gelizaçã,o Hoje, Rev.
Ecl . Brasileira, 27 ( 1967), pp . 570-597.
2 O comentário mais autorizado do Plano de
Pastora l de Conjunto deve-se a um1 dos seus
principais autores P . R. Caramurú de Barros,
Brasil: Uma Igreja mn Renovação, Vozes.
Petrópolis, 1967 .
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EMPRIMEIRO lugar, pois, o proje;
to implica uma certa concepção da
Igreja (uma "visão de Igreja") que
preside à formulação teórioo .dos seus
objetivos, e uma certa compreelli3ão da
realidade brasileira que ,deve oferecer o
terreno prático à realização dêsses ob-
jetivos. É em tôrno dessa r-elação fun-
damental Igreja-realidade que se cons-
titui um primeiro núcleo de reflexões.
Estamos aqui diant-e ,de uma situação
singular. O papel da Igreja no Brasil,
hoje, é concebido pela Igreja mesma a
partir de uma renovada visão de si
mesma construída ao longo da evolução
da eclesiologia moderna, e consagrada
no Vaticano II, concílio r~clesiológico por
-excelência. Com isto, firmam -se os títu-
los de continuidade da nova visão com
a tradJição, no sentido teológico do têr-
mo. Podemos falar -então da visão da
Igreja :do Vaticano II como da verda-
deira imagem da Igreja, tal como ela a
si mesma se pensa nessa segunda me-
tade do sécudo XX. (É o tema da en-
cíclica Ecclesiiam suam de Paulo VI,
de 6-8-1964). É em função dessa ima-
gem que se pensa a missão ida Igr-eja
em face da realidade brasileira de hoje.
Ora, a análise d:a realidade brasileira
oferec'9, como uma •d as componentes
fundamentais que definem sua proce-
dência histórica ( e, portanto, sua situa-
ção presente), a presença da Igreja ao
longo, idos quatro séculos ,d a sua evo-
lução. Projetand() a imagem ideal d-e
uma Igreja renovada sôbre a realidade,
a Igreja brasileira encontra-soe em face
d.e uma outra imagem em si mesma que
é constitutiva dessa realidade. É o caso,
aliás :de todos os países cristãos do Oci-
dente. Mas, .com uma diforença. Na
Europa, a nova ima.g em da Igreja sur-
giu da crise das velhas cristandades e
se constituiu como tentativa de supera-
 Imagem
ção real dessa crise. No Brasil ( e na
América Latina) a Igreja tradicional
s-e formou como um reflexo daquelas
velhas Cristandades (sobretudo ida cris-
tandade ibérica), assim como tôda a
história do continente foi uma histó-
ria-reflexo e não uma história-fonte .
E a nova imagem da Igreja é também
refletida sôbre nós porque, inegàvel-
mente, pouco ou nenhum foi o traba-
lho interno ,de reflexão, de crítica, de
experiências das igrejas latino-america-
nas que pudesse ser apontado como con-
tribuição original sua à r-enovação con-
ciliar ida. imagem da Igreja. Eu me per-
gunto, então, se não estaria aí uma das
raízes das tensões que se manifestam
no seio m-esmo <la Igreja brasileira, no
mom-ento em que ela se dispõe a assu-
mir um nôvo papel histórico. Estas ten-
sões são conhecidas de todos, sobretudo
dos redatores do Plano ide Pastoral, no
seu permanente diálogo com a Hierar-
quia. Elas traduzem a ausência ,de uma
1-elação verdadeiramente intrínseca de
')posição, uma relação dialética, entre
a imagem tradicional <la Igreja que per-
manece sedimentada na sua condição
reflexa, sem sofrer uma verda,deü·a crí-
tica int-erna, e a inova imagem que lhe
é contraposta extrinsecamente e que
surgiu da crise d'o mo,dêlo que a Igreja
tradicional continuava copiando estàti -
camente. Tensões, portanto, que não
manifestam, até o momento, aquela fe-
cundidade característica 1das tensões
criadoras, em que o nôvo sur·g e do an-
tigo por um processo de maturação e ,d-e
sup-eração internas. E aí uma analogia
se descobre entre a situação da Igreja
no Brasil e a situação do Brasil mesmo
na medida em que tantos projetos teó-
ricos, propostos para orientar uma
transformação político-social, apenas
conseguem alimentar discussões estéreis
19
entre intelectuais, porque não surgem
de uma reflexão crítica sôbre a realida-
de e são trazidos de fora, não se cons-
tituindo, assim, em oposição verdadei-
1·amente ,dialética com as concepções que
justificam estàticamente a mesma rea-
lida,de e são, propriamente, conservado-
ras. É ver.dade que, ino c2so da Igreja,
há um dado que não pode ser desconhe-
cido, e que é a sua univ ersalidmle, trans-
1
cendendo fronteiras e situações históri-
cas. Êsse dado é uma premissa teoló-
gica indiscutível, mas justamente uma
das exigências da lei da Encarnação,
que é também constitutiva ,d a Igreja,
deve conduzir a uma inserção ou con-
creção dessa dimensão universal em
contextos específicos de realidade, onde
passam a ter validez, mesmo com re-
lação à Igr-ej a, -as leis de um desenvol-
vimento histórico também específico.
P ensar, pois, a missão da Igreja no
Brasil de hoje, implica a preposição de
um modêlo construído atliavés de uma
crítica interna da realidade brasileira
sob o ângulo da presença ida Igreja no
seu deseflvolvimento histórico ( norma
teológica desta crítica seria, precisa-
mente, uma renova-d a visão t eológica da
Igreja universal), e que encontraria
pr,;sente nessa realidade, e assumida na
sua crítica, uma imagem tradicional da
Igreja que se pretende sup-erar. Não
quero dizer que elementos válidos ,dessa
crítica não se eneontrem no Plano de
Pastoral ,de Conjunto. Sua estrutura
teológica por exemplo, como instância
normativa, é perfeita. Parece-me, eu -
tretanto, qu-e a ausência ,de uma instân-
cia de reflexão crítica sôbre .a consti-
tuição histórica da realidade a ser mc-
delada segundo as diretrizes do Plano,
1
confere a êste o caráter de um modêlo
extrinsecamente preformado, como an-
teriormente observei. Com efeito, é pre...
20 Imagem
ciso levar em conta que a imagem do histórica) levará, por exemplo, a uma
Brasil tradicional, hoje submetida a conceituação correta das implicações
um processo de transformação histórica políticas e mesmo ideológicas que se
sem precedentes, traz ins.c rita nos seus manifestam nas toma,d:as de posição no
traços a imagem de uma Igreja tradi- seio da Igreja, tanto de setores conser-
cional que com ela em certa medida se vadores quanto de setores renov.aidores,
identifica, pois com ela foi plasmada. e que se tenta superar com a distinção
Afrontar criticamente a reali,d,ade bra- teoricamente justa mas concretamente
sileira em transformação significa ques- inoperante, entre o "politico" e o "reli-
tionar também esta imagem da Igreja. gioso". Se a presença da Igreja é cons-
E inversamente. Ora, será válido, no titutiva da formação histórica do Brasil,
segundo caso, fazê-lo pela contraposição é impossível pensar uma r enovação da
,de uma imagem i:deal da Igreja, surgida Igreja, ou ensaiar iniciativas nessa li-
das elocubrações de teólogos europeus? nha que não arrastem consigo uma to-
Pelo menos, não parece suficiente. Será mada de posição em face da realidade
necessário todo um trabalho ,de recu- brasileira no seu processo global ide
peração histórica :das relações entre transformação. Por outro lado, uma
Igreja e Sociedade no Brasil, a fim de postura conservaidora em têrmos políti-
que os pontos considerados fundamen- co-sociais se encontrará em oposição a
tais para uma renova°Ção da mesma uma nova imagem da Igreja, porque
Igreja (por exemplo, os seis objetivos e esta não poderá :definir-se senão como
as seis linhas do PPC) , se definam em crítica da imagem do Brasil tradicio-
função de linhas de fôrça históricas que nal, com a qual se identifica a Igreja
se mostrarão, por sua vez, como linhas trndi.cional. Reconheço que há aqui, do
que orientam o próprio desenvolvimen- ponto de vista teológico-pastoral, um
to da história nacional. Nada conheço problema difícil. Essencialmente, a mis-
nesse particular, a não ser um trabalho são da Igreja não pode ser política nem
pioneiro de João Camilo de Oliveir.n se exprimirá numa ideologia . A Fé se
Tôrres, precisamente sôbre Igreja « apresenta, mesmo, como a única .atitu-
Saciedade no Brasil, em vias de publi- de existencial capaz ,de superar frontei-
:eação na coleção "História das J.déias ras dêsse tipo.3 Em rigor a missão da
no Brasil", que Luiz W. Vitar dirige Igreja, enquanto anúncio da, F é, não
na Ed. Grijalbo, e que a amizade do deve nem pode ser traduzida num pro-
Autor concedeu-me ler nos originais. grama político ou numa opção ideoló-
Discordo de alguns dos seus enfoques, gica. Entretanto, é preciso não esquecer
mas saiiento a riqueza ,do material re- que a Fé é um ato .do homem sob o in-
colhido e, sobretudo, convenço-me d a fluxo de uma graça que o não aliena,
importância decisiva do t ema, na hora mas o realiza. Portanto, as alternativas
em que a Igreja mesma defin e as linhas de realização do homem em dado con-
da sua missão no .Brasil de hoje.

APRESENÇA dessa dimensão his- 3 Permito.me remet er ao m eu artigo, A

tórica na consciência da Igreja no
Brasil, hoje ( dando a esta uma forma
ver.da·deir amente crítica de .ccmsciência
Grwnde M ensagem de João XXIII, Síntese Pol.,
Ec. e S·o cial, n • 18 (Abril-Junho 1963) pp .
8-33 ; v er a inda RAHNER, K. , lde'<>logi e und
C'hristentu m, apud Schri ft en zur Theologie,
B enziger Verlag, Einsiedeln, 1965, VI, pp .
59·76 .
 Imàgem
texto histórico permanecem presentes
no itinerário existencial d:::i Fé, e é pos-
sível que nessas alternativas mesmas s-e
desenhem opções político-ideológicas que
não virão, é certo, especificar a Fé,
mas ao menos condicioná-la. Elas irão
incidir em infinitos matizes na atitude
individual dos cristãos, mas se destaca-
rão em linhas de fundo quando a Igre-
já como tal ou grupos de cristãos se
dispuserem a optar globalmente. Nessa
linha não parece difícil explicar porque
certos movimentos de Igreja ou por ela
orientados, como a J.U.C. e o Movimen-
to d-e Educação de Base (MEB) pare-
ceram ,em certos momentos decisivos da
conjuntura nacional, implicados em
posições político-iideológicas <le esquer-
da, que causaram surprêsa, pena ,e mes-
mo condenações em grande parte da
Hierarquia. Com efeito, na m-edida em
que a pedagogia .da Fé dêsses movimen-
tos era guia~a por uma imagem con-
creta ,do homem brasileiro que, no mo-
mento mesmo em qu-e tentava elevar-se
à altura de uma adesão consciente à
Igreja (ide uma autêntica vida de Fé)
estaria lutando pela conquista do seu
autêntico sêr de homem que se conside-
rava submetiéio a certas alienações his-
tóricas, ela penetrava no t-erreno da
ideologia vivida ,dêsse homem, que só
podia ser uma ideologia ide li.bertação,
uma ideologia revolucionária. Daí a ex-
plicitar ou 1·efletir essa ideologia na
linha mesma das opções cristãs qu-e se
assumiam, era um passo inevitável. Êle
foi ,dado com maior ou menor decisão
por parte dêsses grupos. ( Mas é preciso
observar que, no mom-ento em que se
tentava definir essa ideologia reflexa,
abandonava-se o terreno específico da
Fé para se pen-etrar no terreno ambí-
guo do político, com os riscos e respon-
sabilidades que lhe são próprios). A meu
21
ver, -estamos aqm na área, senão de
aplicação direta, pelo menos de extensão
do axioma teológico acima recordado "a
Fé é um ato ,do homem" ou, mais fun-
damentalmente, "a graça supõe a natu-
reza". Insisto em que não se trata d
discutir aqui a validade em si mesma
,dessas componentes político-ideológicas
que passam a integrar uma determi-
nada atitude cristã, mas de explicá-las.
Em outras palavras, eu pergunto: será
possível renovar uma Igreja que se apre-
senta historicamente como u-n idos ele-
mentos constitutivos de uma deter:mi-
nruda situação do homem brasileiro, sem
afrontar criticamente essa situação
mesma? Os atuais choqu-es entre as alas
renovadoras da Igreja e os órgãos de
segurança de um Govêrno surgido do
movimento tipicamente conservador (é
o menos que se pod-e ,dizer) de Ahril de
64, não têm outra explicação. ]'::les são
inevitáveis. Por outro lado, alinhar-se,
a essa altura, na defesa de uma imagem
tradicional da Igreja é fazer consci-en-
temente ou não, uma opção político-ideo-
lógica de natureza conservadora. É, em
suma, afirmar como ainda historica-
mente válida, a identificação da Igreja
com um Brasil tradicional ou seja, sem
retórica, colonial, latifuntliário, subde-
senvolvido, ou qualquer coisa assim.
Com isso, repito, num difícil problema
teológico-pastoral, fica colocado, mas êle
parece incontr0lável na situação da
Igreja latino-americana. A Igreja, co-
mo tal, não irá formar um partido po-
lítico nem propor sua versão ideológicP.
para a revolução latino-americana Mas
-ela deve aceitar como normal e inevi-
tável (e assumir concientemente essa
responsabilidade) que implicações polí-
tico-~deológicas se desdobrem e a partir
do seu -esfôrço de auto-renovação, que
22 Imagem
não tem lugar num espaço abstrato mas
num concreto contexto histórico, em
cujas origens e em cujo .desenvolvimen-
to ela se encontra intimament,e partici-
pante.
O problema teológico-pastoral a que
a.cima me referi, diz respeito precisa-
mente ao discernimento dos limites que
separam a evangelização no sentido am-
plo, como missão específica da Igreja,
• o t erreno das opções político-ideoló-
ricas que ela suscita, alimenta ou .com-
bate; e ao reconhecimento da autonomia
e da responsabilidade dos leigos nesse
terreno, sem que isto represente, por
parte .d:a Igreja, nos seus órgãos res-
1-ealidade brasileira, pois ela está pre•
tensamente "neutra", ou o refúgio na
abstração de um "religioso" puro. A
Igreja deve roconhecer, em suma, que
qualquer esfôrço seu de autorenovação
significa uma prise en okaro.e de tôda
realidade brasileira, pois ela está pre-
sente no coração mesmo dessa realida-
de. A "nova-" Igreja não :desembarca
nas costas de um continente desconhe-
cido. Ela encontra o Brasil, encontran-
do.se a ai mesma na. sua imagem tradi-
cional que ela quer renovai·. Se a ins-
tância. normativa dos seus princípios
dogmáticos- e tecnológicos lhe permite
indiscutivelmente pronunciar-se, em
têrmos de julgametos teóricos e de di-
retrizes práticas no terreno sócio-econô-
mico, como o prova um ensinamento so-
cial s,empre renovado ( e ainda, recente-
mente, a Encíclic-i: Populorum Progres-
sio), a instância histórica da sua pre-
sença na formação do Brasil situa ine-
vitàvelmente êsse ensinamento (qu,e se
apresenta umo um dos s-etores da su~
r enova<;ão, através do que o PPC chama,
na sua linha 6, a "construção do mun-
do"), no terreno mesmo em que se de-
senvolvem as grandes lutas de liberta-
ção dos povos da América Latina nessa
segunda metade do século XX. Reco-
nhecê-lo, é uma premissa de lucidez
a que a Igreja não pode fugir. Aceitai·
conscientemente êsse risco e tentar aqui
a grande experiência histórica .de uma
forma de Cristianismo qüe prova a, sua
autênticidade justamente enquanto se
torna o "fermento" (.como se exprime
o PPC) da. libertação e promoção do li.o-
rnem latino-americano é, ~~ndo me
parece, o primeiro prolegômeno válido
para a definição de um papel da Igreja
no Brasil de hoje.
P. HENRIQUE C. DE LIMA VAZ, S.J.