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Abrindo a Caixa de

Pandora Profª. Walkyria Santos– Sociologia

de iniciação cientifica, alunos colocaram em um Escolas aplicadas o projeto:


o projeto foi cortado. EMEIF Palmira Lins de
papel sem se identificar, Carvalho
Mas mesmo assim a algo que tenha aconteci- EMEIF República de
professora de Sociolo- do com eles e que não Portugal
gia Walkyria Santos, gostariam que tivesse EMEIF Maria Luiza Pinto
Amaral
porém sem os bolsis- saído da Caixa de Pando- EMEF Avertano Rocha
tas da universidade. ra. Após levantamentos
Deu-se prosseguimen- dos relatos, a professora
to ao projeto em 4 elencou os temas que
escolas municipais em deveriam ser trabalha- Profª. Walkyria
que a professora atua: Santos– Sociologia
dos durante os dois nas
Palmira Lins de Car- escolas:
Atividades realizadas nas escolas. valho; Republica de Janeiro / 2018
Bulyimg, Racismo, Vio-
Portugal, Maria Luiza
lencia contra a Mulher,
O Projeto Abrindo a Cai- Pinto Amaral e Avertano
Violência Sexual Infanto
xa de Pandora foi inicia- Rocha (avertaninho).
Juvenil, etc.
do em 2016. Inicialmente O projeto iniciou em
seria uma parceria com a Então, dando continuida-
2016 com as turmas do
Universidade da Amazo- de aos trabalhos, vamos
C4—1º ano a partir da
nia através da Bolsa seguindo em frente neste
história da mitologia
PIBID , porém devido a novo ano.
grega “Caixa de Pando-
cortes de muitas bolsas ra”, ao final da aula os #2018ChegoucomTudo

Projeto Abrindo a Caixa de Pandora


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Página 2 Abrindo a Caixa de Pandora

Quer tirar boas notas este ano? Talvez essas dicas possa ajudar.

1—Crie um horário de estudo


diário para revisar as matérias do
dia. Não deixe para estudar tudo
no dia anterior a prova;
2— Estude num lugar calmo e
sem barulho. Música durante o
estudo? Só se for calma e em vo-
lume baixo;
3—Concentração—Preste aten-
ção! Sem atenção você não con-
seguirá memorizar uma informa-
ção, é preciso estar atento ao que
estuda, para isso fique longe de
coisas que te distraem;
4—Praticar— pratique o que
aprender. Coloque em prática tu-
do o que aprender, seja resolven-
do questões ou provas anteriores.
5—organização—tenha um cro-
nograma de revisões. Isso te aju-
dará a manter as informações
sempre armazenadas em sua
memória;
6—Saúde— Pratique exercícios
físicos. Os exercícios físicos in-
tensificam o fluxo sanguíneo em
seu cérebro, ajudando em sua
concentração.
7—Monte uma tabela com três
divisões para priorizar os conteú-
dos e seguir o cronograma duran-
te o ano:
 A primeira coluna vai indicar o
que precisas estudar;
 A segunda coluna mostrará
qual matéria estais estudando
exatamente no momento;
 A terceira coluna vai deixar
registrado o que você já estudou.

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Sobre os trabalhos solicitados ao longo do ano...


Aspectos importantes a serem obser- .
vados:

01 – O trabalho deve estar limpo e orga- .


nizado;
02 – Deve ser manuscrito, com letra le-
gível;
03 - Usar somente um tipo de letra do
inicio ao fim do trabalho.
04 – O trabalho não deve estar amassa-
do.
05 – Fazer a correção ortográfica das
palavras.
06 – Usar um mesmo tipo de folha do
inicio ao fim do trabalho.
08 – Usar somente um tipo de caneta,
azul ou preta do início ao fim do traba-
lho. ( Não será aceito trabalho escrito a
lápis)
Se o trabalho for digitado deve obedecer às
seguintes normas:
Digitação: Programa Word, formato doc.
Folha: A4
Margens: superior 3cm; inferior 2 cm; esquerda 3
cm; direita 2 cm.
Fonte: tamanho 12 no texto
Letra: Arial ou Times New Roman
Alinhamento do texto: Justificado
Espaçamento entre linhas: 1,5cm
Numeração das páginas: numeradas no canto su-
perior direito

Indicação de Leitura
Até março o aluno terá que ter
lido o livro
“EXTRAORDINÁRIO” de
R.J. Palácio.
Para Agosto, o livro solicitado
será “Pássaro Contra a Vi-
draça” de Giselda Laporta
Nicolelis.
As leituras serão utilizadas em
sala de aula, em atividades
referentes a disciplina de soci-
ologia.
Não significa que o aluno terá
que ler somente esses livros.
Lembrando que o aluno pode
pegar livros emprestados na
biblioteca da escola.

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Cartas pra você no futuro...

Escreva uma carta pra você mesma. O


9. Desejar que...
que você diria a si mesmo sobre as coisas
10. Bronquear
de sua vida?
com...
Acredite, é um exercício muito interessante
Escreva o que você gostaria de lhe aconselhar.
para que possamos realizar o autoconheci-
Sinta-se livre para falar mais consigo mesmo,
mento. Você irá escrever uma carta para si
depois coloque em um envelope e lacre. Coloque
mesmos, uma carta onde terá alguns direci-
na Caixa de Pandora, pois você a receberá no
onamentos, tais como:
ultimo dia de aula para que possas ler.
1. Demonstrar gratidão por...
Ao ler reflita sobre cada ponto, se quiser anote
2. Avisar sobre...
pensamentos, ideias, projetos que lhe vierem a
3. Sugerir que...
mente, acredite no quanto o seu remetente co-
4. Pedir um pouco de...
nhece você e perceba a utilidade que este exer-
5. Reconhecer que...
cício trará ao seu autoconhecimento e a sua au-
6. Valorizar a...
toestima. Não quero me estender muito para não
7. Mostrar compreensão sobre...
estragar a surpresa.
8. Exigir que...
Que iniciemos o ano de 2018!

O que é Sociologia?
A sociologia é a ciência que se debruça so- sociais.
bre a própria sociedade e todas as suas ra-
mificações, componentes e integrantes. Ela Para tanto, essa nova área
se dedica a compreender as formas de inte- de conhecimento, de acordo com Comte, deveria
ração que temos uns com os outros, nossas se propor a ser universal e aplicável a toda e
organizações e os fenômenos sociais ob- qualquer sociedade que exista ou venha a exis-
servados na realidade dos indivíduos. tir. Com esse objetivo, Comte volta-se para a for-
ma de observação das demais ciências anterio-
O olhar sociológico nos traz sempre uma no-
res à nova Sociologia, argumentando que os es-
va perspectiva sobre situações que aparen-
tudos dessa nova matéria deveriam se pautar em
temente são de natureza individual, mas que
fenômenos observáveis e mensuráveis pra que
acabam por atingir uma gama muito maior de
fosse possível apreender as regras gerais que
nossa realidade coletiva. Podemos tomar
regem o mundo social do indivíduo. Essa pers-
como exemplo o desemprego que, embora
pectiva é chamada de “positivismo” e é a forma
seja uma terrível tragédia na vida do indiví-
dominante de observação do mundo em meados
duo, ecoa em toda cadeia social, afetando
da Revolução Industrial (séculos XIX - XX)
nossa realidade econômica e acentuando a
desigualdade social e, possivelmente, agra- A diversidade social é uma das características mais
vando outros problemas como a violência, a estudadas pela Sociologia
fome e a precarização da educação.
De onde surgiu a Sociologia?
Ela se inicia como ideia em meados do sécu-
lo XIX, com o filosofo francês Augusto Com-
te, que propunha uma nova área de estudo
que reunisse as principais áreas do conheci-
mento das ciências humanas em uma única,
que se proporia a compreender todos os as-
pectos do homem social e os fenômenos que
se manifestariam nas diversas realidades

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Qual a função da Sociologia em minha vida?

Essa é a principal questão para muitos. O olhar sociológi-


co nos ajuda a encarar nossa realidade por ângulos que
não estamos habituados a enxergar. Como seres huma-
nos e indivíduos, estamos acostumados a levar em consi- .
deração apenas o que está em nosso contato direto. No
entanto, nossa realidade não é apenas formada pelas nos-
sas experiências particulares, nossa interação com os de-
mais integrantes de nossa realidade e as interações que
esses têm em sua realidade, tomam parte na construção
de um todo muito maior e, por tanto, acabam por moldar
nossas próprias realidades e as formas com que interagir-
mos com o mundo.

A sociologia está aí para nos fazer olhar mais longe, desa-


nuviar nossa visão do mundo e nos fazer perceber que
nossa realidade vai muito além do que imaginamos.

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MAX WEBER E A AÇÃO SOCIAL

O que motiva os sujeitos a agirem socialmente?


AÇÃO SOCIAL E SUAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO
considerar se os meios escolhidos
são apropriados para atingi-lo. O
Max Weber foi um pensador ale- fins, ação racional com relação a
sujeito age racionalmente aceitan-
mão que nasceu na cidade de Er- valores, ação afetiva e ação tradici-
do todos os riscos, não para obter
furt, em 21 de Abril de 1864 e mor- onal.
um resultado exterior, mas para
reu em Munique, em 14 de Junho
A ação racional visando fins é permanecer fiel a sua crença cons-
de 1920. É considerado um dos
determinada por expectativas no ciente no valor, como o devoto de
fundadores do estudo moderno da
comportamento tanto de objetos do Nossa Senhora de Nazaré que
sociologia, mas também tem contri-
mundo exterior como de outros ho- cumpre a promessa no dia do Círio
buição na economia, na filosofia, no
mens e utiliza essas expectativas arrastando-se na corda.
direito, na ciência política e na ad-
como condições ou meios para al-
ministração. Uma de suas contribui- A ação afetiva é aquela tomada
cance de fins próprios racionalmen-
ções está no campo da sociologia, devido às emoções do indivíduo,
te avaliados e perseguidos. É a
com o conceito de ação social. Pa- para expressar sentimentos pesso-
ação planejada e tomada depois de
ra tratar desse conceito começare- ais. É aquela ação determinada
avaliado o fim em relação a outros
mos com a questão: o que motiva pelo estado de consciência ou hu-
fins, e após a consideração de vá-
os sujeitos a agirem socialmente? mor do sujeito ou por uma reação
rios meios (e consequências) para
Por que somos surpreendidos com emocional em determinadas cir-
atingi-los. É uma ação concreta que
certos comportamentos sociais? cunstâncias, fugindo assim, a um
tem um fim especifico, como o alu-
Por que agimos e reagimos diante objetivo ou a um sistema de valor,
no que estuda para ser aprovado; a
de certos eventos? A essas ques- como o João que que bate em seu
diretora da escola que gerencia os
tões Weber nos apresenta a ação colega de classe porque lhe negou
trabalhos dos professores, da se-
social. Para o pensador alemão, cola na hora da prova.
cretária, dos supervisores, dos ins-
ação social é "o comportamento A ação tradicional é aquela ditada
petores e serventes para manter as
humano cujo significado subjetiva- pelos hábitos, costumes, crenças
atividades escolares em ordem.
mente atribuído pelo sujeito ou su- transformadas numa segunda natu-
jeitos tem como referência a condu- A ação racional com relação a
reza, para agir conforme a tradição;
ta dos outros e orientada por valores é aquela determinada pela
é aquela baseada na tradição en-
ela” (2009, p.12). Em outras pala- crença consciente no valor ético,
raizada; nela o sujeito não precisa
vras, significa dizer qualquer ação estético, religioso, cívico ou qual-
conceber um objeto, ou um valor
que leva em conta ações ou rea- quer outra forma de valor, absoluto
nem ser impelido por uma emoção,
ções de outros indivíduos e é modi- de uma determinada conduta. É a
mas obedece a reflexos adquiridos
ficada baseando-se nesses eventos ação tomada com base nos valores
pela prática, como fazer o sinal da
é ação social. Há quatro tipos de do indivíduo, mas sem pensar nas
cruz ao passar na frente da Igreja.
ação social: ação racional visando consequências e muitas vezes sem

MAX WEBER E AÇÃO SOCIAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Para Weber, a sociologia pre-


tende compreender a ação ra tornar inteligível a atividade tradição cívica.
social interpretando-a, para humana . Cantar parabéns pelo aniver-
dessa maneira, explicá-la cau- No contexto escolar, cuidar sário da professora, constitui-
salmente em seus desenvolvi- das carteiras, dos livros da se uma ação social afetiva,
mentos e efeitos. Em sua me- biblioteca, dos computadores pois fomos movidos pelo bem
todologia, a compreensão con- do laboratório de informática, querer que temos por ela.
siste na captação do sentido constitui o meio para obter um Quando ficamos de pé vira-
subjetivo da ação - algo distin- fim: a manutenção e conserva- dos em direção ao Pavilhão
to dos nexos exteriores de ção de um bem coletivo – a Nacional para cantar o Hino
causa e efeito que a envol- nossa escola. Trata-se de uma Nacional, temos uma ação so-
vem. A sociologia se interessa ação social visando fins. Co- cial visando valor – um valor
pela interpretação do sentido memorar o “dia do Índio”, o cívico. Assim, como sujeitos
pelo qual os sujeitos orientam “dia da Consciência Negra”, o sociais, somos movidos a pra-
suas ações na prática cotidia- “dia da Independência do Bra- ticar ações sociais sempre que
na. Para isso, é necessário sil”, constituem ações sociais estivermos na convivência so-
compreender esse sentido pa- visando a tradição cultural e cial.

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MAX WEBER E A AÇÃO SOCIAL: TEXTO E CONTEXTO


Para entender melhor o significado de cada tipo de ação tomado de um ufanismo pela terra:
social usaremos o cancioneiro popular paraense por enten-
der que a arte é expressão da vida. O artista, ao elaborar
Salve, ó terra de ricas florestas/Fecundadas ao sol do Equador/Teu
sua peça artística, ele se inspira na vida. Portanto, a arte se
revela como um importante recurso pedagógico para expli- destino é viver entre festas/Do progresso, da paz e do amor!/ Salve,
car a vida social. Na letra do brega “Melô do Rupinol” de ó terra de ricas florestas/Fecundadas ao sol do Equador!/Ó Pará,
Sandro Becker, encontramos a manifestação de uma ação quanto orgulhas ser filho/De um colosso, tão belo e tão forte/
social visando fins: Juncaremos de flores teu trilho/Do Brasil, sentinela do Norte/E a
deixar de manter esse brilho/Preferimos mil vezes a morte!( http://

Você que gosta muito de beber/Fim de semana é um barato, Neste caso, garantir o “destino de viver entre festas”, nas
pode crer/Cerpa, Brahma, Antarctica ou Skol/Mas você tenha “terras de ricas florestas”, “fecundadas ao Sol do Equador”,
cuidado com o famoso Rupinol/O Rupinol é uma droga perigosa/ ao “Sentinela do Norte” é o que dá orgulho de ser filho do
Que a gatinha usa para lhe roubar/Quando ela bota no seu copo/ Pará. Por isso, o ufanismo se apresenta como o valor cívco
Você fica arrupinado/No final você sai roubado/Ela te chama de que mobiliza os sujeitos a declararem “Preferimos mil vezes
céu, ela leva teu anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/ a morte” “a deixar de manter esse brilho”.
Ela te chama de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de
Referente à ação social afetiva, determinada por uma rea-
meu bem e leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até
ção emocional decorrente de certas circunstâncias, temos
tua pulseira/O Rupinol é perigoso, tu não levantas da cadeira/O
como ilustração a música de Gaby Amarantos, “Ex My Lo-
serviço está pronto, estás/ todo depenado otário/ Palitó com seu
ve”:
sapato levaram/O Rupinol é muito ingrato/ Porque antes de tudo
isso/Pra ela tu era um gato.. http://letras.mus.br/
Meu amor era verdadeiro/O teu era pirata/O meu amor era ouro/
E o teu não passava de/ um pedaço de lata/Meu amor era rio/E
No contexto apresentado na letra da música, o agente da
o teu não formava uma fina cascata/O meu amor era de raça/E
ação é a “gatinha que usa Rupinol para lhe roubar”. Como
o teu simplesmente um vira-lata/Ex my love/ ex my love/ se
meio planejado e, portanto, racional usa a droga perigosa.
botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99.( http://
“O Rupinol é uma droga perigosa, quando ela bota no copo,
você fica arrepiado”. Aqui, a droga é o meio utilizado pelo
sujeito da ação social realizar seus fins, seu objetivo: “No Neste contexto, o agente da ação é a mulher que se dirige
final você sai roubado/Ela te chama de céu, ela leva teu ao seu “ex amor” e demonstra uma certa “dor de cotovelo”,
anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/Ela te chama as circunstâncias que motivam os “ataques” detratores do
de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de meu bem e outro pela redução do qualificativo: “o amor pirata”, “um pe-
leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até tua daço de lata” ,”uma fina cascata” , “um vira-lata” e “se botar
pulseira”. teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99”. Neste caso, a
ação social foi decorrente do estado de humor do sujeito da
Na letra da música de Edmar Rocha “Belém, Pará, Brasil” a
ação, que provoca no outro, o escárnio, o deboche, a des-
ação social visando fins é destacada na denúncia ao pro-
qualificação dos elementos do amor através da oposição
gresso em prejuízo das riquezas locais:
entre o que é positivo e negativo, tais como: verdadeiro x
pirata, amor de ouro x amor de lata, rio x fina cascata e raça
x vira-lata.
Vão destruir o Ver-o-peso e construir um shopping center/Vão
derrubar o Palacete Pinho pra fazer um condomínio/Coitada da Como ação social tradicional, a “Marcha do vestibular” de
Cidade Velha que foi vendida pra Hollywood/ Pra ser usada Pinduca retrata a ação dos sujeitos aprovados, cujo móvel
como um albergue num novo filme do Spielberg/Quem quiser da ação é a tradição:
venha ver/Mas so um de cada vez/Não queremos nossos
jacarés/Tropeçando em vocês/A culpa é da mentalidade/Criada Alô, alô, alô papai/Alô mamãe/Põe a vitrola prá tocar/Podem
sobre a região/Por que que tanta gente teme ? Norte não é com soltar foguetes/Que eu passei no vestibular/Eu agora não me
"M"/ Nossos índios não comem ninguém/Agora é so hamburger/ iludo/Estou com a cuca controlada/Já não sou mais cabeludo/
Por que ninguém nos leva a sério?/Só o nosso minério? /Quem Estou de/cabeça raspada/Tudo agora é alegria/Vou alegre
quiser venha ver/Mas só um de cada vez/Não queremos nossos pintando o sete/Com a turma na folia/Dando tiros de confete
jacarés/Tropeçando em vocês (http://www.vagalume.com.br/ (http://letras.mus.br/pinduca/355786/. Acesso: 01/05/2015).

No contexto apresentado pelo autor da música, a razão que


Comemorar a aprovação do vestibular com fogos, música do
move o progresso da modernidade é a destruição do patri-
Pinduca, e o corte do cabelo até à cabeça raspada constitu-
mônio cultural de Belém: “Vão destruir o Ver-o-peso e cons-
em o “trote” que todo aprovado recebe com muita alegria no
truir um shopping center”; “Vão derrubar o Palacete Pinho
meio dos seus amigos e familiares. Trata-se de uma tradi-
pra fazer um condomínio”; “Coitada da Cidade Velha que foi
ção no Pará. Assim, as expressões: “Põe a vitrola prá tocar”;
vendida pra Hollywood”; “Pra ser usada como um albergue
“Podem soltar foguetes”; “Que eu passei no vestibular” indi-
num novo filme do Spielberg”. A destruição do patrimônio
cam os elementos da tradição paraense que movem os su-
cultural da cidade é o meio ou condição de se atingir os fins:
jeitos da ação social.
o progresso da modernidade cujos ícones são o shopping
center, o hambúrguer e Hollywood.
No Hino do Pará, o agente da ação social visando valor é

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EMILE DURKHEIM E OS FATOS SOCIAIS

Vamos seguir as regras sociais ou deixar que a sociedade adoeça?


OS FATOS SOCIAIS E SUAS CARACTERÍSTICAS
coisas de criança: “O pequeno Pole-
Émile Durkheim foi um sociólogo temente de sua vontade ou de sua gar”. Ela se submete à manifestação
francês que muito contribuiu para a adesão consciente, ou seja, eles são da consciência coletiva, embora do
consolidação da Sociologia como exteriores aos indivíduos. As regras ponto de vista individual, “beijo é
ciência empírica; ele foi o primeiro sociais, os costumes, as leis, já exis- melhor que crime”.
professor universitário de sociologia tem antes do nascimento das pesso-
Durkheim chama atenção para um
na França. Foi um pensador francês as, são a elas impostos por mecanis-
detalhe: em cada sociedade, tais
que nasceu em 15 de abril de 1858 mos de coerção social, como a edu-
manifestações coletivas podem ser
em Paris, e morreu em 15 de novem- cação. Portanto, os fatos sociais são
diferentes. Nas sociedades ditas
bro de 1917. Para ele, a sociologia ao mesmo tempo coercitivos e dota-
“arcaicas” ou “atrasadas”, como a
era a ciência das instituições, que em dos de existência exterior às consci-
indígena, andar nu não causa ne-
seu sentido mais amplo refere-se às ências individuais. Generalidade por-
nhum constrangimento moral ou legal
"crenças e modos de comportamento que vale para todos os indivíduos ou,
para a coletividade. Mas nas socie-
instituídos pela coletividade" e que pelo menos, para a maioria deles.
dades modernas, o sujeito que prati-
tem como objetivo descobrir fatos Portanto, quais maneiras de agir, car tal ato, será penalizado, sofrerá
sociais estruturais. Assim, os fatos pensar, sentir são identificadas como coerção legalmente ou moralmente.
sociais são o objeto de estudo da fatos sociais? As maneiras de agir
sociologia (DURKHEIM, 1990) . Há também, determinadas socieda-
são as “manifestações coletivas”,
des, como no Oriente Médio, que
Durkheim define os fatos sociais co- como por exemplo, a greve dos pro-
determinados hábitos e costumes
mo “toda maneira de agir, de pensar, fessores, cuja mobilização para obter
contrastam com os hábitos e costu-
de sentir fixa ou não, suscetível de melhores salários e condições de
mes do Ocidente, como no exemplo
exercer sobre o indivíduo uma coer- trabalho. As maneiras de pensar são
desta charge.
ção exterior; é geral na extensão de as “regras jurídicas” que conduzem o
uma sociedade dada, apresentando indivíduo a cumprir a Lei, as “regras
uma existência própria, independente morais”, que conduzem o indivíduo a
das manifestações individuais que ser honesto, os “dogmas religiosos”,
possa ter; são exteriores ao indiví- que o faz ser caridoso. As maneiras
duo”, ou seja, são impostas a ele de sentir são os “hábitos e costumes”
independente de suas vontades. Po- que o faz escolher o modo de se ves-
demos destacar aqui três característi- tir, de construir casas, de cantar, de
cas dos fatos sociais: coerção social, conversar, de rir. Como exemplo de
exterioridade e generalidade. fatos sociais tem-se as leis que deter-
minam direitos e deveres para os
A coerção social é a força que os
cidadãos e, que punem quem não as
fatos exercem sobre os indivíduos,
cumprem; os feriados - a sexta-feira
levando-os a conformarem-se às
santa deixa as lojas ou comércios em
regras da sociedade em que vivem,
geral fechados - além de mudar nes-
independentemente de suas vonta-
se dia o tipo de alimentação; a manei-
des e escolhas. Essa força se mani-
ra de se vestir: não ir à praia de terno Ele também assinala, que determina-
festa quando o indivíduo adota um
e gravata, não andar na rua com rou- dos padrões de comportamento, nor-
determinado idioma, quando se sub-
pa intima, etc. Esta variedade de insti- mas jurídicas, valores morais podem,
mete a um determinado tipo de for-
tuições sociais, ou seja, criações da com o passar do tempo, tornarem-se
mação familiar ou quando está subor-
sociedade são os fatos sociais que se ultrapassados e serem abolidos pela
dinado a determinado código de leis.
constituem em verdadeiros ensina- sociedade, e do mesmo modo, novas
O grau de coerção dos fatos sociais
mentos à sociedade. A seguir, fato manifestações sociais estabelecerem
se torna evidente pelas sanções
social “regra moral”: -se na sociedade. Por exemplo, em
(punições) a que o indivíduo está
muitos países o enforcamento em
sujeito quando contra elas tenta se Neste exemplo, a mãe de Mafalda ao
praça pública foi abolido como pena-
rebelar. As sanções podem ser legais ver a pequena diante da TV assistin-
lidade legal contra crimes praticados
ou espontâneas. Legais são as san- do programa “impróprio” para crian-
por indivíduos.
ções prescritas pela sociedade, sob a ças, sugere que ela leia uma estória
forma de leis, nas quais se identifica infantil, porque segundo os padrões
a infração e a penalidade subsequen- morais, criança deve se deter com
te. Espontâneas seriam as que
aflorariam com decorrência de
uma conduta não adaptada à
estrutura do grupo ou da socieda-
de á qual o indivíduo pertence. A
exterioridade dos fatos sociais
decorre do fato deles atuarem
sobre os indivíduos independen-

Projeto Abrindo a Caixa de Pandora


Profª Walkyria Santos—Sociologia
Profª. Walkyria Santos– Sociologia Página 9

EMILE DURKHEIM : FATOS SOCIAIS E SOLIDARIEDADE SOCIAL

Para Durkheim, o cumprimento desse conjunto de mani- exemplo da ação da consciência coletiva sobre o indiví-
festações coletivas, regras jurídicas e morais, dogmas duo:
religiosos, hábitos, padrões de conduta e costumes pela
sociedade, é que garante os laços de solidariedade soci-
al. Portanto, do ponto de vista sociológico, a solidarieda-
de social ocorre quando os indivíduos de uma coletivida-
de cumprem e seguem essas regras, normas e padrões
de conduta, sob pena de receberem uma coerção da
sociedade. Solidariedade social é o partilhar de um mes-
mo conjunto de regras sociais; são os laços que unem
os membros entre si e ao próprio grupo, a qual pode ser
orgânica ou mecânica.
A Solidariedade Mecânica é uma solidariedade por se-
melhança; nela os indivíduos diferem pouco uns dos
outros; os membros da coletividade tem os mesmos sen-
timentos, valores, os mesmos objetos como sagrados.
Há coerência entre os indivíduos em função da seme-
lhança. É aquela que predominava nas sociedades pré-
capitalistas, onde os indivíduos se identificavam através
da família, da religião, da tradição e dos costumes, per-
manecendo em geral independentes e autônomos em
relação à divisão do trabalho social. Como exemplos
temos as sociedades tribais, sem escrita, comunidades
simples. Quando se institui um processo de individualiza-
ção dos membros da sociedade que passam a ser soli-
dários por terem uma esfera própria de ação, surge a
solidariedade orgânica. Com isso ocorre uma interde-
A Consciência Coletiva é, em certo sentido, a forma mo-
pendência entre todos e cada um dos demais membros
ral vigente na sociedade. Ela aparece como regras fortes
que compõem tal sociedade; é aquela típica das socie-
e estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos
dades capitalistas, onde, através da acelerada divisão
individuais. Ela define o que, numa sociedade, é conside-
do trabalho social, os indivíduos se tornavam interdepen-
rado "imoral", "reprovável”, “inadequado”, ou "criminoso".
dentes. Essa interdependência garante a união social,
em lugar dos costumes, das tradições ou das relações No ambiente da escola diariamente alunos, professores,
sociais estreitas. supervisora escolar, secretária, inspetores e outros agen-
tes sociais são confrontados por fatos sociais de toda
FATO SOCIAL E CONSCIÊNCIA COLETIVA
ordem. Os alunos devem ir uniformizados para escola,
O fato social tem sua origem no que ele chamou de maneira de se vestir padronizada, que caracteriza um
consciência coletiva. Os indivíduos, segundo Durkheim, hábito escolar, caso contrário, não entrarão na escola,
têm duas maneiras de agir: uma individual, que nos re- sofrerão coerção. A regra vale para todos os alunos, sen-
presenta no que temos de pessoal e distinto; e outra que do assim, geral. Ir uniformizado não é uma escolha pes-
nos faz ser de acordo com todo o grupo, que não nos soal, mas uma determinação social da escola. Por sua
representa, mas somente a sociedade que age e vive vez, os professores devem cumprir sua jornada de traba-
em nós – a consciência coletiva; ela constitui o "conjunto lho, caso contrário, serão descontados. O cumprimento
das crenças e dos sentimentos comuns à média dos da jornada tem um caráter geral e independe da escolha
membros de uma mesma sociedade, formando um siste- dos professores. Mas o fato social não pode ser encara-
ma determinado com vida própria" (DURKHEIM, do como um fato negativo que coage os indivíduos, que
1998,p.112). se impõe sobre eles independente do seu querer. Segun-
A partir da consciência coletiva somos capazes de assi- do Durkheim, os fatos sociais funcionam como ações
milar valores, hábitos e costumes que definem a maneira educativas para que os indivíduos aprendam desde cri-
de ser e de agir característicos do grupo social a qual ança a ser solidários, justos, seguidores de leis, normas
pertencemos. Essas crenças e sentimentos “modelam” e padrões de comportamento, para que a sociedade se
nossa consciência individual de acordo com o pensar desenvolva plenamente eliminando as chamadas
coletivo. Por exemplo: Sem qualquer lei existente, os “patologias sociais” – os crimes mais variados que pos-
paraenses só tomam tacacá em cuias; em outubro, os sam existir na sociedade, que são decorrentes do não
católicos vivem uma atmosfera religiosa para comemorar cumprimento das regras sociais. Quando uma sociedade
o círio; o modo de falar típico de paraense, como: atinge esse estágio de patologia social, ela atinge um
“égua”, “levou o farelo”, “bora logo”, “muito palha”, “muito estado anômico. Chama-se anomia social ao não cumpri-
firme”, “pô-pô-pô”, etc. são manifestações coletivas da mento das regras sociais, das leis, das normas e padrões
sociedade que pertencemos e que nos constrange a se de comportamento. Portanto, devemos ser sujeitos soci-
comportar segundo essas regras. Na tirinha a seguir, um ais cumpridores de regras para fugir da anomia social.

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INDIVÍDUO, CLASSES E SOCIEDADE NO TEATRO DA PAZ

Um olhar a partir de Karl Marx


KARL MARX EXPLICA O QUE?

Karl Marx foi um pensador alemão tos utilizados. Para Marx, as terras
nascido em Tréveris em 5 de maio e os instrumentos utilizados para período, observa-se que aqueles
de 1818 e morreu em Londres em obter o látex, são chamados de que ocupavam os camarotes de
14 de março de 1883; foi um inte- meios de produção. Já aqueles que primeira e segunda ordem eram os
lectual e revolucionário, fundador trabalhavam para os proprietários, burgueses, os grandes empresá-
do comunismo moderno, que atuou os operários, são chamados de rios da borracha, enquanto que o
como economista, filósofo, historia- força de trabalho, ou seja, capaci- paraíso era ocupado por seus fun-
dor, teórico político e jornalista. O dade física para trabalhar, que no cionários, o proletariado. A forma
pensamento de Marx influenciou seu conjunto é denominado de pro- de determinar quem ocupava cada
várias áreas do conhecimento, den- letariado. Para o proprietário das lugar era simples: o preço. Os lo-
tre elas, a sociologia. Sua análise terras e dos instrumentos de produ- cais caros eram destinados aos
acerca da sociabilidade capitalista ção, é denominado de burguesia. ricos, e os mais baratos aos po-
parte de uma concepção materialis- Essa divisão da sociedade entre bres.
ta da história denominada de Mate- burgueses e proletariado é chama- Essa divisão espacial interna do
rialismo Histórico. Este modo de da de classes sociais. Essa divisão teatro revela a divisão da socieda-
interpretar a realidade social, parte de classes na sociedade passa de fora dele. Da mesma forma que
do seguinte pressuposto: há predo- quase ou totalmente despercebida são dispostos lugares para ricos e
minância da materialidade sobre a se não conhecermos esses concei- pobres dentro do teatro, assim o é
ideia, e esta só se desenvolve a tos, se não tivermos uma visão es- na cidade, existindo, por exemplo,
partir da matéria; os fatos, as coi- clarecida das diferenças sociais. bairros elitizados e bairros popula-
sas, os fenômenos estão em per- res, restaurantes para burgueses e
Ao entrar no teatro, percebem-se
manente movimento, inter-relação, para proletariado, etc.
várias divisões espaciais para o
determinação e contradição. Por-
público que vai assistir as apresen- No século XIX Karl Marx desenvol-
tanto, não é possível entender os
tações. Temos camarotes da pri- veu um estudo onde mostrava essa
conceitos marxianos como: indivi-
meira, segunda, terceira; e quarta diferença entre as pessoas na soci-
duo, classe social, luta de classes,
ordem: plateia e paraíso. Essa divi- edade. Ele criou os conceitos de
entre outros, sem levar em conta o
são espacial representa a divisão meios de produção, força de traba-
processo histórico, pois não são
social em classes daqueles que irão lho e classes sociais, para explicar
conceitos abstratos e sim uma abs-
assistir ao espetáculo, determinan- que o proletariado é explorado pela
tração do real, ou seja, a ideia ba-
do o local social que cada um deve classe burguesa. No Teatro da
seada no mundo real, na vida real
ocupar. Paz, por exemplo, aqueles que o
dos homens.
As pessoas que ocupavam os ca- construíram, levantando os tijolos,
marotes de primeira e segunda or- eram os mesmos que ocupavam o
O TEATRO DA PAZ – O CONTEX- dem eram os mais ricos, pois fica- paraíso, ou seja, os locais mais
TO DAS CLASSES SOCIAIS vam ao mesmo nível que o camaro- simples. Marx, no entanto, enxer-
te do presidente da Província - hoje gou a força do proletariado, visto
camarote do governador do Estado. que numericamente ele é maior,
Fundado no século XIX, durante o É possível perceber maior luxo e bastando apenas que esse se re-
ciclo da borracha, momento históri- riqueza de detalhes nesses cama- volte para então destruir essa divi-
co em que a cidade de Belém, capi- rotes: poltronas acolchoadas, por- são de classes. Ocorre que o prole-
tal do Grã-Pará, chegou a ser a tas maiores, papel de parede e de tariado não é unido, e individual-
mais rica do Brasil, o Teatro da Paz teto melhor trabalhados. mente cada um não percebe a for-
é um monumento histórico que nos ça que tem. Daí ser tão necessária,
diz muito daquele momento de luxo Conforme se sobe os andares, ca-
uma educação capaz de pôr em
e riqueza em que vivia a sociedade marotes de terceira e quarta ordem
cheque as desigualdades sociais e,
belenense. e paraíso, os detalhes vão diminuin-
não apenas torná-la aceitável
do. Ao chegarmos no paraíso, por
Naquele período, os poderosos do exemplo, as portas são menores, Agora, você aluno, acha que so-
Pará eram os “barões da borracha”, as cadeiras são mais simples e sem mente existiu no Teatro da Paz, lá
grandes empresários que trabalha- acolchoamento, e o teto do camaro- no século XIX, essa diferença de
vam com a extração e comerciali- te nem ao menos possui pintura, classes, ou hoje continua existindo
zação do látex. Possuíam imensas revelando assim a inferioridade da- lugares destinados a pessoas ricas
fazendas e muitos operários. Por queles que o ocupam. e pessoas pobres? Onde podemos
serem os donos das terras onde perceber a desigualdade social?
estavam plantadas as seringueiras, Com base na estrutura social de
assim como donos dos instrumen- classes da sociedade de Belém no

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GÊNERO E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS:


A mulher pode chorar, homem não chora?
ACERCA DO GÊNERO
na sala de aula são desenvolvidas entre os alunos:
Entende-se gênero, como a produção social de ideias não é permitido que os meninos realizem qualquer
sobre os papéis adequados aos homens e às mulhe- atividade que esteja relacionada às características
res, aos padrões de comportamento, do feminino e femininas, pois a afirmação da masculinidade está
masculino construídos dentro de uma sociedade. diretamente ligada a negação de elementos da femini-
Tais padrões designam as relações sociais entre os lidade. Daí a importância de um amplo debate sobre
sexos, e delimitam as formas de ser homem ou ser as relações de gênero na escola.
mulher em uma determinada cultura. (SCOTT,1989).
Essa forma de definir fronteiras entre o masculino e
Esses padrões impostos pela sociedade aos indiví- feminino espalha-se pela vida social. Por exemplo,
duos em grande parte permanecem inalterados. Meni- não é permitido que o homem chore, seja sentimental.
nos e meninas desde sua infância são condicionados
“Via, agora, a irmã entre as chamas, depois com a febre, e a casa
a agir e gostar de coisas diferentes; existem os jogos do Dr. Gurjão fechada, como ciente de que não pôde salvar a meni-
de meninos e as brincadeiras de meninas. Enquanto na. Novamente assustou-se a ouvir: — Mas que é isso? Onde está
os garotos são direcionados a praticar jogos lógicos, aí o homem? Chorando? Então é esse o homem que eu espera-
as garotas são direcionadas a praticar brincadeiras va?” (JURANDIR, 1960, p.22)
relacionadas ao trabalho doméstico. Os meninos ga- O trecho acima, retirado da Obra “Belém do Grão Pa-
nham bola de futebol, carros e jogos eletrônicos sen- rá” de Dalcídio Jurandir, retrata o condicionamento
do moldados a executar atividades de liderança; as que os homens recebem, o menino Alfredo principal
meninas ganham “panelinhas”, “fogãozinho”, e assim, personagem da obra, ao ver sua irmã enferma não
esses símbolos começam a moldar essas meninas pode esbanjar seu sentimento de tristeza, pois não lhe
para se tornarem “Donas de Casa”. era permitido chorar. O gênero masculino recebe car-
As mulheres por muitos séculos ficaram presas aos gas de condutas sociais, “Homem não chora”, “Não
serviços domésticos, um exemplo desta condição so- evidencia seus sentimentos”, “Homem de verdade,
cial está presente na Obra “Primeira Manhã” do escri- tem que ser sujeito macho”. Esses bordões que os
tor paraense Dalcídio Jurandir. O trecho a seguir re- homens absorvem no decorrer de sua infância e ju-
trata a realidade social da mulher paraense na déca- ventude vão determinando sua personalidade adulta.
da de 1960, presa ao serviço doméstico dificilmente Do gênero feminino se espera um comportamento
exercia uma profissão fora do ambiente familiar. “E ao dócil, gentil e sentimental.
pé do fogão D. Amélia, com os ratos do telhado, com os peixes “D. Inácia também, com a cabeça de Libânia nas mãos, com medo
transparentes debaixo da janela nas cheias de março, conversava de amolecer, podendo dar parte de fraca, receava chorar agora
a respeito de enxofre” (JURANDIR, 1967, p.7). caçoando: — Poupa as tuas lágrimas, minha filha, que tu inda tens
Essa diferenciação entre gêneros constituiu no decor- que chorar muito neste mundo” (JURANDIR, 1960, p.162).
rer da história uma relação desigual entre homens e Na citação, presente na Obra “Belém do Grão Pará”, a
mulheres; um exemplo disto está relacionado ao mer- personagem Libânia poderia chorar e expressar sua
cado trabalho: as mulheres ocupando os mesmo car- dor, sem a preocupação de receber qualquer sansão
gos que os homens, recebem salários inferiores. social; o simples fato de pertencer ao gênero feminino
MULHER PODE CHORAR, HOMEM NÃO CHORA? dava-lhe o direito de chorar. Na sociedade pautada
em valores machistas espera-se das mulheres um
As relações entre gêneros também estão presentes comportamento cordial e principalmente submisso aos
na Escola, onde as fronteiras do masculino e do femi- homens.
nino estão demarcadas. Rapazes e moças definem e
sustentam seu pertencimento a determinado gênero. Esses fatores evidenciam que os padrões de gênero
Em sua análise acerca das relações de gênero na estabelecidos dentro da sociedade, formam uma rela-
escola, Auad (2006) aponta as relações de desigual- ção social desigual entre homens e mulheres.
dade de gênero desenvolvidas no espaço escolar, Na vivência em sociedade, qualquer comportamento
mostrando que o cotidiano escolar pode revelar a que de alguma forma transgrida aos papéis sociais
existência de diferenças e desigualdades de gênero, permitidos a cada gênero, sofre sansões e preconcei-
expressas pelas atividades que definem para os alu- tos. O primeiro passo para mudar este quadro é tomar
nos e alunas a diferença entre masculino e feminino consciência da importância de respeitar a diversidade
marcado pelo que ela denomina de o "aprendizado da cultural, social e sexual.
separação”. Desse modo, as práticas escolares fazem
A escola enquanto espaço de socialização é também
com que os alunos e alunas construam seus padrões
um importante instrumento para que os alunos e alu-
diferenciais de comportamento e assimilando o mode-
nas desconstruam os preconceitos de gênero, ajudan-
lo com o qual se devem identificar para serem mais
do a construir novos modelos de socialização a fim de
homens ou mais mulheres.
que homens e mulheres compartilhem de princípios
E isso é observado nas escolas quando as atividades de igualdade e ampliem os laços de sociabilidade.
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OS “NÃO- LUGARES” EM MARC AUGÉ


Como posso mudar de atitude e preservar minha cidade, minha escola, minha praça?
“NÃO-LUGARES” E A CONSTRUÇÃO DA CIDADE, DA SOCIEDADE E DAS RELAÇÕES SOCIAIS

las escolas. É inegável que essas pela variedade de elementos que


Marc Augé é um pensador francês
duas instituições são importantes estão nela e pelo compartilhamento
do século XX. Seu enfoque socioló-
na contribuição cotidiana do proces- do espaço pelos seus membros .
gico é de cunho importantíssimo
so de ensino e aprendizagem.
para a análise dos espaços sociais. Para a ideia de “não-lugares” pode-
Relaciona os espaços construídos As praças do centro histórico da mos determinar tudo que é oposto
e os espaços vividos pelos homens cidade de Belém poderiam ser ca- ao espaço afetivo. Os “não-
a partir da ideia de “não-lugares”, racterizadas como espaços quais- lugares” são a negação dos luga-
como sendo tudo o que for oposto quer, simples e meramente transitó- res em decorrência da ausência da
ao lar, à residência, ao espaço per- rios, julgadas até como “não- luga- natureza identitária, relacional e
sonalizado; são espaços de passa- res”. Mas não são, pelo fato de Be- histórica. São espaços que não
gem incapazes de darem forma a lém ser uma cidade histórica, a ca- possuem vínculos afetivos, símbo-
qualquer tipo de identidade; são pital e a maior cidade do Estado do los e ícones determinantes. Sendo
espaços de ninguém, não gerado- Pará, construída por meio de gran- representados por espaços públi-
res de identidade. des lutas e revoluções sociais. Foi cos de ligeira circulação, como
exatamente por este motivo que o shopping centers, aeroportos, rodo-
O conceito de “não-lugares” em
governo municipal transformou su- viária, vias expressas, metrôs, cen-
oposição ao de lugares é importan-
as praças em patrimônio cultural, tros comerciais, supermercados,
te porque nos permite compreender
trazendo-lhes toda a importância hotéis, etc., por onde circulam pes-
a construção de cidade, de socie-
por conta de sua identidade cultu- soas e bens. Nos espaços conside-
dade e das relações sociais surgi-
ral, do seu compartilhamento artísti- rados como “não-lugares” os indiví-
das a partir do processo de urbani-
co e de sua historicidade. duos não mantém entre si relações
zação. Para os estudiosos da geo-
Assim, como exemplo de lugar, de afeto, e assim, trocam a afetivi-
grafia, lugar nada mais é do que
baseando-se no conceito de Marc dade pela rápida e imperceptível
uma localização; é a parte do espa-
Augé, podemos citar a Praça da relação, tão bem representada,
ço onde vivemos e interagimos com
República de Belém, com sua natu- pela super modernidade trazida
uma paisagem. Mas para os cien-
reza identitária por nela existir ele- pela globalização em oposição à
tistas sociais, o termo ”lugar” vai
mentos diferentes e únicos reunidos modernidade e, é de certo modo, o
além do paisagismo determinado
num só espaço. Relacional por ha- resultado da aceleração do tempo,
pelos geógrafos e isto pode clara-
ver um compartilhamento entre os das transformações espaciais, do
mente ser enfatizado através de
membros que nela coexistem que, intenso fluxo de informações e de
estudos do pensador Marc Augé,
como os vendedores de artesanato trocas de mercadorias, da mobili-
através de um conceito novo para o
que juntos dividem um espaço da dade dos indivíduos, dos objetos, e
significado de lugar: o espaço onde
praça destinado ao comércio para das ideias. “[...] são espaços onde
se materializa a identidade dos indi-
ganharem o seu próprio dinheiro, coexistimos ou coabitamos sem
víduos, onde existe uma obrigatori-
garantindo assim as suas respecti- vivermos juntos, onde o estatuto de
edade de características comuns
vas sobrevivências. É possível ob- consumidor ou de passageiro soli-
no aspecto identitário, relacional e
servar também à ideia de lugar, de tário passa por uma relação contra-
histórico. As características do lu-
pertencimento e de afetividade cria- tual com a sociedade”. (AUGÉ,
gar são de natureza identitária por
dos pelos indivíduos que compõem 1994, p.157). “Não-lugares” são
existir no mesmo lugar elementos
a Praça da República, elementos espaços desenraizados, virtuais,
diferentes e únicos. São relacionais
aparentemente contraditórios, como que são apropriados por um con-
por haver um compartilhamento
os moradores de rua que veem na- junto de indivíduos, também desen-
deste lugar em comum, sugerindo
quele espaço uma alternativa de raizados.
assim que os elementos únicos
possam relacionar-se partilhando moradia. Para estes, a praça pode
uma identidade; e é uma caracte- ser um lugar transitório – um “não-
rística histórica por se referir a um lugar”, mas pode também ser um
momento temporal. lugar de permanência – um lugar de
moradia, de afetividade entre seus
Trazendo os conceitos de lugares e
membros. Portanto, o tripé funda-
“não-lugares” para uma realidade
mental do conceito de lugar – a
mais próxima de nós, podemos
natureza indentitária, relacional e
analisar o dia-a-dia da cidade de
histórica – explicita-se pelos monu-
Belém e exemplificar a ideia de
mentos erguidos que simbolizam
lugar através dos sentimentos de
um momento de comemoração do
pertença que foram enraizados em
primeiro aniversário da implantação
nós, construídos e ensinados por
do regime republicano no Brasil,
nossas famílias, como também pe-

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Profª. Walkyria Santos– Sociologia Página 13

LUGARES E “NÃO-LUGARES”, EIS A QUESTÃO!

Ao tratar do conceito de “não-lugares”, Marc Augé ressalta do/ pra ir, bati com os olhos no luar/ A lua foi bater no mar e eu fui
a importância de se pensar a cidade hoje, para o perigo de que fui ficando/Não vou sair/ melhor você voltar pra cá / não vou
transformá-la em um espaço desprovido de identidade, de deixar esse lugar / Pois quando tava me arrumando /pra ir, bati com
os olhos no luar /A lua foi bater no mar e eu fui que fui ficando/E aí,
relacionamentos e de história. Pensar a cidade hoje é pen-
você partiu pro Canadá /Mas eu fiquei no já /vou já, pois quando
sar a escola onde estudamos, a praça onde passeamos, o tava me arrumando /Pra ir, bati com os olhos no luar/ A lua foi bater
bairro onde moramos, preservando sua identidade cultural, no mar e eu fui que fui ficando... (http://letras.mus.br/nilson-
nossos relacionamentos construídos e os fatos vivenciados chaves/217028/. Acesso: 30/04/2015).
por toda a comunidade, visto que o “nãolugar” nos remete-
A letra da canção revela uma “falta de perspectiva” de futuro
rá ao espaço desprovido de sentimento de pertença, de
melhor da juventude belenense, decorrente das condições
dissolução dos laços sociais e de ausência de historicida-
sócio-econômicas vivenciadas pelo país no período da dita-
de. “O não-lugar é o espaço dos outros sem a presença
dura militar, em cenário brasileiro de desemprego, baixo
dos outros”(p.169). E dificilmente o “não-lugar” poderá ex-
crescimento econômico e, sobretudo, falta de liberdade polí-
primir ao mesmo tempo “a liberdade e a identidade, a mul-
tica. A saída é “partir para o Canadá”, onde se pode ganhar
tiplicidade dos possíveis e a necessidade de exis-
dinheiro, estudar; um espaço de “passagem” e de temporali-
tir’’(AUGÉ, 2000, p. 164).
dade previsível, um “não-lugar” que nega o lugar dos afetos,
Para entender melhor o significado de “não-lugares” e de dos vínculos afetivos: “do luar, do mar”. Todavia, os elemen-
lugares usaremos o cancioneiro popular paraense por en- tos de natureza identitária, relacional e histórica são mais
tender que a arte é expressão da vida. O artista, ao elabo- fortes: “mas quando estava me arrumando bati com os olhos
rar sua peça artística, ele se inspira na vida. Portanto, a no luar, a lua foi bater no mar, e eu fui que fui ficando”. Por-
arte se revela como um importante recurso pedagógico tanto, é necessário preservar o lugar de pertencimento, de
para explicar a vida social. afetos, de identidade: “não vou deixar esse lugar, melhor
Na letra da música dos compositores paraenses Paulo não ir”, pois há uma esperança no futuro, já que ele pode
André e Rui Barata “Esse rio é minha rua” vemos a mani- mudar: “os homens de Brasília não podem ser eternos”.
festação da natureza identitária, relacional e histórica à OS LUGARES DOS “NÃO-LUGARES” E OS “NÃO-
cidade de Belém e que os remete a outros espaços tam- LUGARES” DOS LUGARES
bém, vejamos:
Um dado importante é assinalado por Marc Augé em sua
Este rio é minha rua/Minha e tua mururé /Piso no peito da lua/ análise: a ideia de que há lugares e “não-lugares” por toda
Deito no chão da maré (bis). Pois é/ Pois é/Eu não sou de Ígara- parte. Há lugares em “não-lugares” e há “não-lugares” em
pé/Quem montou na cobra grande /Não se escancha em puraqué
lugares, pois ambos os conceitos referem-se a “espaços
(bis)/Rio abaixo rio acima/minha sina cana é/Só em falar na mardi-
ta/ Me alembrei de Abaeté(bis)/Pois é, pois é/Eu não sou de igara- muito concretos, mas também a atitudes e a posturas, à
pé/Quem montou na cobra grande/Não se escancha em puraqué/ relação que os indivíduos mantém com os espaços onde
Me arresponda boto preto/Quem te deu esse pixé / Foi limo de vivem ou que eles percorrem” (p.167). Isto significa dizer
maresia/ Ou inhaca de mulher(bis)/ Pois é, pois é/Eu não sou de que quando negligenciamos o cuidado com a escola, quan-
Ígarapé/Quem montou na cobra grande/Não se escancha em do depredamos a praça, quando jogamos lixo no canal, nos-
puraqué (bis) ( http://www.vagalume.com.br/paulo-andre-barata/ so comportamento em relação a esses espaços urbanos os
este-rioe-minha-rua.html. Acesso: 30/04/2015). transformam em “não-lugares” de ligeira circulação, sem
Ao tratarem o rio como “minha rua, minha e tua” remetem- afetos, sem pertencimento. Mas, se a partir de outro olhar,
nos ao sentimento de pertencimento à cidade e à rua. Ao outro comportamento e outra postura, começamos a cuidar
se reportarem ao folclore paraense como: a “cobra gran- da escola, preservar a praça e manter limpo o canal de nos-
de”, “o puraqué”, “o boto preto”, o “mururé” e às expres- sa cidade, esses espaços tornam-se lugares aprazíveis de
sões da regionalidade como: “pixé”, “limo de maresia”, se viver, de construir laços de afetividade, de identidade e
“inhaca de mulher” remetem-nos à natureza identitária da de história. Portanto, são nossas práticas sociais que deter-
cultura regional; e ao demarcarem um tempo passado e minam os espaços em lugares e “não-lugares”. Pensar a
um tempo presente “Quem montou na cobra grande/não escola como um lugar de aprendizagem e de convivência
se escancha em puraqué” , remetem-nos aos elementos afetiva não significa apropriar-se dela; mas estudar os recur-
de natureza histórica; e finalmente, ao espaço da vivência, sos urbanísticos que fazem parte da cidade, os equipamen-
da pertença, do lugar, à natureza relacional: “Só em falar tos e serviços que permitem ao aluno superar o estranha-
da mardita/Me alembrei de Abaeté”. mento de um espaço pouco familiar e se orientar em um
universo de estranhos. Assim, entre os indivíduos existirá
Na letra da música do compositor paraense Celso Viáfora,
uma relativização à ideia de lugar e “não-lugar”, partindo do
“Não vou sair” podemos identificar os conceitos de lugares
pressuposto que há em cada um de nós uma particularida-
e de “não lugares”, vejamos:
de, uma postura, uma atitude e visões diferentes de mundo.
A geração da gente/ Não teve muita chance /de se afirmar, de O que para um indivíduo pode significar um lugar, para outro
arrasar, de ser feliz /Sem nada pela frente/ Pintou aquele lance / pode ser um “não-lugar”, e é exatamente por isso que se funda-
de se mudar, de se mandar desse país / E aí, você partiu pro Ca- mentam as relações dos indivíduos dentro de uma sociedade,
nadá /Mas eu fiquei no já vou já/ pois quando tava me arrumando / com a contribuição de ideias e pontos de vistas diferentes, que
Pra ir, bati com os olhos no luar /A lua foi bater no mar e eu fui enriquecem grandiosamente a nossa formação social. A ideia
que fui ficando/ E aí, você partiu pro Canadá/ Mas eu fiquei no já
de “nãolugares” pode também revelar os modos de vida que
vou já, pois quando tava me arrumando/ Pra ir, bati com os olhos
caracterizam a sociedade contemporânea: individualista, solitá-
no luar /A lua foi bater no mar e eu fui que fui ficando/Distante
ria, transitória e mutante. Através do “não-lugares” se descortina
tantas milhas/ são tristes os invernos /Não vou sair, tá mal aqui,
mas vai mudar / Os donos de Brasília não podem ser eternos/ pior uma sociedade passageira, efêmera e solitária. Lugares e “não-
que foi, pior que tá, não vai ficar/ Não vou sair/ melhor você voltar lugares” também nos impõe a questão: como posso mudar de
pra cá /não vou deixar esse lugar /Pois quando tava me arruman- atitude e preservar minha cidade, minha escola, minha pra-
ça?

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DA PRIMEIRA INSTITUIÇÃO OU DOS PRIMÓRDIOS DO CONTRATO

A família - a primeira de todas as instituições


SOBRE A ORIGEM DA SOCIEDADE
Trata-se de uma relação de troca (Vou cuidar de você
Por que vivemos em sociedade? Sendo a
pra você cuidar de mim), que tem por objetivo garantir o
sociedade um agrupamento de humanos, quando
futuro da família, uma vez que meus familiares são eu
que os humanos resolveram se agrupar? Essas
no futuro (Eu sou ele amanhã, também vou ser barbu-
questões são discutidas nas ciências sociais por teó-
do), desta forma, a partir desta instituição, agimos em
ricos chamados contratualistas. Eles argumentam
relação aos outros da forma como esperamos que os
que os homens constituíram um pacto ou contrato
outros reajam em relação a nós.
social sob o qual abdicam de suas liberdades no
estado de natureza – momento em que o homem
pode fazer o que quiser – para então possuir a liber-
dade civil, ou seja, aquela regida por leis, escrita ou
não. Dentre tais teóricos, Jean Jacques Rousseau,
nos tem muito a dizer.

O estado de natureza é perigoso porque podendo o


homem fazer o que quiser o limite de seus atos está
no limite de sua força física, podendo então o mais
forte oprimir ou mesmo matar o mais fraco. Todos
nós, humanos, nascemos fracos, bebês indefesos,
sujeitos então a vontade do mais forte. Para nossa
segurança, temos nossos parentes, que constituem
nossa família, mais fortes do que nós, são os respon-
sáveis por nossa segurança. Mas por que eles nos
protegem? Porque existe o laço afetivo do parentes-
co. Não assinamos nenhum contrato, porém sabe-
Na charge do Arte Papa Xibé (2015), o cuidado da mãe
mos quem são nossos pais e os respeitamos e obe-
ao filho explica-se através da superstição paraense:
decemos por eles serem nossos responsáveis. Neste
“criança que brinca em baixo da mesa não cresce”. Evi-
caso, o contrato é informal entre pais e filhos, faz
tar que o filho não cresça é uma forma de manifestação
parte da tradição da história das sociedades. Porém,
materno-familiar de garantia do desenvolvimento do
com relação ao Estado, é formal, pois o cuidado com
indivíduo. Assim, “ser paraense é evitar desde criança
os filhos é um dever legal garantido na Constituição
de ser baixinho no futuro!”
Brasileira.

Rousseau, que nasceu em Genebra em 1712 e es-


creveu, dentre outras obras, Do contrato social, diz
ser a família a primeira de todas as instituições e nós
já nascemos nela. Em primeiro momento a liberdade
dos filhos está limitada a vontade dos parentes, uma
vez que as crianças ainda não possuem todos os
atributos de um adulto para ordenar sua vida. Quan-
do crescem, no entanto, os filhos não deixam de ser
filhos, nem os pais de serem pais, e por mais que
agora o novo adulto seja responsável por seus atos,
não deve deixa de respeitar seus parentes, porque
eles permanecem sendo sua primeira instituição, seu
primeiro agrupamento de humanos.

A família é o primeiro abrigo do ser humano, o lugar


de onde sai e para onde volta. Onde estabelece suas Em contrapartida, o filho deve cuidar também de sua
primeiras relações e onde se estabelece como indiví- mãe e esse cuidado se expressa na ação de
duo humano. Laços de parentesco, no entanto, não “desemborcar a chinela para evitar que a mãe leve fare-
estão unicamente ligados a questões sanguíneas. lo (morra)”. Assim, “ser paraense é sempre salvar a vida
Família é o primeiro lugar de desenvolvimento do da mãe, seja como for!” Ou seja, toda forma de cuidado
indivíduo, podendo ou não os parentes ser de san- vale a pena quando se trata da família. As demais rela-
gue, o importante é a relação estabelecida, o contra- ções entre os humanos, nas demais instituições, tomam
to firmado entre pais e filhos, o qual deve ser seguido por base o contrato familiar. Os homens legitimam um
por garantir a segurança e a liberdade entre todos. contrato social entre si para garantir sua segurança e
sua liberdade. Sem tal contrato, voltaríamos ao estado
VAMOS FALAR DE FAMÍLIA de natureza, onde reinaria a insegurança. Então, o ho-
mem social é um homem civil, um homem que assume
Em música intitulada Isso aqui é família, Gabriel o deveres e responsabilidade para a manutenção do seu
Pensador dá um exemplo das relações entre família: bem-estar e do bem social, assim como entre parentes,
“Isso aqui é família e família é assim/ Vou cuidar de se busca o bem de cada um e da família como um todo.
você pra você cuidar de mim/ Isso aqui é família e
família é assim/ Eu sou ele amanhã, também vou ser
barbudo” (VAGALUME, 2015).

Projeto Abrindo a Caixa de Pandora


Profª Walkyria Santos—Sociologia
Página 15 Abrindo a Caixa de Pandora

Roda de Diálogo - Trabalho em grupo


 Analisar as múltiplas for- necessidades e felicidade, enfra-
tude pobre e negra; povos indí-
mas de violência, conside- quecimento dos projetos de vida,
genas, mulheres (feminicídio);
rando suas causas e conse- cultura do descarte)
exploração sexual e tráfico hu-
quências na sociedade 02 – A violência e as estrutu- mano, mundo do trabalho
brasileira, especialmente ras sociais
as provocadas pelo tráfico d – Violência no contexto urbano
de drogas; a – Economia/ mercado e rural (conflito pela terra)
 Valorizar a família e a b – Acumulação do capital e – Intolerância (raça, gênero e
escola como espaços de c – Consumo religião)
convivência fraterna, de f – violência verbal
d – Desigualdade e violência
educação para a paz
promovida pela lógica do merca- g – violência no trânsito
1ª Parte—Pesquisa dos temas do
(VER) h – violência doméstica
e – Violação dos direitos funda-
01 – A violência na convivên- mentais
cia humana 2 ª Parte—Roda de Diálogo
03 – Violência e algumas ma-
a – Definição do conceito violên- em grupos sobre os temas
nifestações na sociedade
cia pesquisados. (Julgar)
a – Drogas
b – A violência na história do
b – Processo de criminalização
Brasil 3ª parte - AGIR
institucional (negligência do Es-
c – Constatação da cultura da tado em relação às políticas soci- Apresentação do resultado das
negação do outro (fenômenos: ais; justiça punitiva) pesquisas em forma de sarau
individualismos, não abertura a cultural
c – Sujeitos violentados: juven-
alteridade; criação ideológica de

Solte Seus Cachos, Prenda seu Preconceito!


Felizmente na atualidade a socie- se você não gosta, por favor, fi- Sim, eu sou negro, com muito
dade tem aceitado a diversidade que longe de mim. Não vou alisar, orgulho e com muito amor. Eu
da beleza humana, no entanto não vou trançar, não vou prender. sou brasileiro, e levanto a taça de
ainda há resquícios de preconcei- Se você não gosta do meu cabelo fazer parte de uma raça que mis-
to quando trata-se do cabelo porque diz que é cabelo pixaim tura tudo quanto é cor. Mas não
crespo, porque muitos simples- de preto, eu é que não gosto de me orgulho de tanto preconceito
mente não admitem ou não con- você. Esquece essa de escovinha que o irmão branco tem contra o
seguem enxergar sua formosura. e chapa, solta os seus cachos, irmão negro, se todos são filhos
“Moça, não prenda essa alegria mostra o seu poder. da mesma nação.
de poesia dos seus cachos, A minha pele é negra, bela como Tenho vergonha de tanta ignorân-
solte essa vida ao vento, a noite que nunca vai ter fim. cia e da gente que acha que a cor
não ligue para o que dizem. Quem disse que quando a coisa da pele é que dá valor para o que
Desligue esse medo d9o mun- está preta é porque está ruim? a gente é. Abre a sua cabeça,
do Você nunca ouviu falar de ceguei- porque a sua massa cinzenta já
e entre em sintonia com os ra branca, quando a luz está mui- virou fumaça e a sua mente já
seus cabelos. to forte e nem com sorte você está vazia. E não faz piada, por-
Não importa o que seja pode enxergar? que preconceito, meu amigo, não
ondulado, cacheado ou encres- tem graça!
Não transforme o seu preconceito
pado Elaborar uma campanha afim de
em piada, porque não tem graça,
não se sujeite ao medo de se combater casos de bullying e de
e se alguém rir pode ter certeza
mostrar, preconceito e destacar o empode-
que você não tem motivo para se
sinta-se livre pra mudar. ramento e a aceitação de todos os
orgulhar. Não tem riso frouxo que
Mas moça, nunca perca tipos de cabelo, não somente no
disfarce o racismo e a ignorância ambiente escolar, mas em todos
essa sua natureza de amar!"
do seu blá blá blá. os segmentos da sociedade.
O meu cabelo é bom é assim, e
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Textos para a Roda de Diálogos

A violência na convivência humana


Sobre a Convivência Humana

desfrutar do que nele há, a convi- sociedade é um imperativo de ca-


Viver em sociedade requer uma
vência e a tolerância para com o da um de nós. Devemos também
elevada dose de tolerância. Esta-
outro deve conquistado e cultiva- ter em mente que na sociedade,
mos sempre em contato com pes-
do. Os casos de agressões que como na física, toda ação tem uma
soas com objetivos, personalidades
ocorrem tanto na escola quanto reação. Todos os nossos atos que
e formas de enxergar o mundo de
fora dela (no trânsito, na família, empreendemos enquanto indiví-
maneira bastante diversa. Os gru-
no trabalho e na igreja) é um duos tem consequências imprevis-
pos sociais também são completa-
exemplo de como é difícil viver tas tanto sobre os que estão a
mente diversos com suas formas
em sociedade, viver em grupo, nossa volta, quanto os que estão
de pensar e de agir; todos eles
regular nossas pulsões individuais perto de nós, e quanto aos que
possuem uma cultura própria, com
em prol de algo maior, que está estão bem longe. Cabe a nós to-
seus costumes e suas formas de
acima de nós, que existia antes marmos cuidado com a forma co-
se relacionar e organizar suas co-
de nós e vai continuar existindo mo escolhemos agir e quando ire-
munidades. O que vemos no de-
mesmo depois que deixarmos mos agir. Não somos indivíduos
correr da história é o esforço da
este mundo, isto é, a Sociedade, soltos no mundo e auto suficien-
humanidade para conseguir convi-
pois é ela que nos acolhe e prote- tes, estamos inseridos numa rede
ver neste pequeno e valioso peda-
ge, é nela onde desenvolvemos a de sociabilidade que abarca tanto
ço de rocha que é o Planeta Terra.
virtude da vida cívica e onde nos- a nossa comunidade, cidade, es-
Mas também encontramos o extre-
sas potencialidades são desen- cola, estado, país e mundo. Se a
mo oposto, a tentativa de socieda-
volvidas. Sim, viver em sociedade violência fosse uma saída viável
des, líderes e grupos tentando do-
é onde se realiza o Humano; e a para os conflitos humanos o mun-
minar e destruir os outros através
única forma para que isso funcio- do seria uma maravilha, e nós sa-
das guerras, da escravidão e da
ne é praticando a tolerância e a bemos que não é. Portanto, prati-
opressão. Tudo isso nos mostra
boa convivência. Mas como isso quemos o diálogo e a tolerância.
que os valores da tolerância e da
seria possível? O caminho possí- Devemos reconhecer o outro como
boa convivência devem ser cultiva-
vel é a resolução dos conflitos portador de direitos, como um
dos e preservados. A história das
através do diálogo, do debate e igual, como alguém merecedor
nossas sociedades prova que as
da não violência. Em mundo re- tanto quanto nós do melhor que
consequências da intolerância são
pleto de guerras, onde a paz se podemos oferecer, que é a nossa
altos demais e que, se quisermos
tornou algo raro, lutar pela boa civilidade e nossa solidariedade.
ainda permanecer neste mundo e

Sobre a violência
ou tentou reparar o dano. Quando
Fabiana Alves Pereira novo atingidos e convocados a
viu que aproximei meu carro do
Psicóloga pensar a selvageria de alguns
dele para perguntar o que houve,
taxistas contra o motorista do
O que reivindicam, afinal? Violên- baixou o vidro e me encheu de de-
Uber. Reivindicam o que afinal
cia, desrespeito humano, descaso saforos, com baixarias, dizendo
essas pessoas? Nada justifica
com a vida e com os valores são que eu não tinha do que reclamar,
tamanha intolerância e atos vio-
questões que permeiam nosso dia porque afinal de contas não acon-
lentos. Fui vítima de uma violên-
a dia. Diariamente me sinto ex- teceu nada!Esse é o sentimento de
cia no trânsito. Estava eu parada
descaso, tratar as coisas como se
posta e atingida diretamente a num sinaleira quando uma cami-
estas situações; pode ocorrer com não tivesse acontecido nada! Sim,
nhonete passou em alta velocida-
qualquer um de nós. Não se trata aconteceu, e está acontecendo
de pela minha esquerda e arran-
mais de um caso isolado ou restri- muita coisa. Coisas graves, sérias,
cou meu retrovisor. O motorista
to. Tivemos que conviver e digerir que ferem a convivência humana,
viu que bateu no meu carro. E
que violam nossos direitos, que
fatos e acontecimentos que cho- não era para seguir em frente,
nos invadem e nos agridem. Ex-
cam pela violência física e moral. pois a sinaleira estava fechada,
Mas não podemos deixar de re- cesso de razão, de pressa, de
era apenas para assegurar um
gistrar as pequenas ocorrências agressividade, de cobiça. Em meio
lugar à frente naquela fila onde
cotidianas, que por serem já tão a tanta intolerância, selvageria,
todos esperavam a vez de se-
corriqueiras, já não são mais noti- violência e descaso humano; em
guir! Esse sujeito mexeu comigo,
meio a tantas "reivindicações", eu
ciadas. não só pela avaria no meu carro,
tenho uma especial: quero continu-
Estamos perdendo nossos refe- mas pela avaria que me causa
renciais, nossos valores. Não pre- ar tendo esperança na humanida-
esse gesto. Ele sequer perguntou
cisou muito tempo e estamos de de, nas pessoas de bem, na genti-
se eu precisava de alguma coisa,
leza, no respeito.

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Profª Walkyria Santos—Sociologia
Profª. Walkyria Santos– Sociologia Página 17

Quem escolhe seu caminho, é você!

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