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Resumo
O objetivo do estudo foi identificar nos relatórios contábeis de uma indústria do setor frigorifico se
existem informações relacionadas às externalidades ambientais positivas e negativas e também
verificar se a empresa utiliza o Balanço Social como instrumento de responsabilidade
socioambiental. A pesquisa se caracteriza como descritiva, documental com abordagem
qualitativa. Os instrumentos de coleta de dados foram documentos da empresa, entrevistas,
questionário, roteiro estruturado e observação direta. Os resultados demonstraram que as
informações referentes às externalidades ambientais ficaram restritas aos projetos e programas
ambientais, não havendo detalhamento de dados quantitativos (o quanto se investe nesses
projetos e programas) e qualitativos (qual a melhoria obtida após a implantação dos programas e
projetos). Identificou-se ainda que algumas ações começaram a ser desenvolvidas para um
melhor detalhamento da evidenciação das externalidades ambientais, contudo, existem lacunas
no tocante a tais informações e também a inexistência do balanço socioambiental.
Palavras-chave: Externalidades ambientais; contabilidade ambiental; balanço social
1. INTRODUÇÃO
Durante muito tempo as empresas deram ênfase para os custos e para as vendas como fator
imprescindível para os negócios. Preocupavam-se com a redução de custos minimizando a
importância da correta manipulação dos resíduos, e estes muitas vezes eram expelidos para o
meio ambiente sem a oportunidade de renovação ou trato adequado. Porém, a grande demanda
por recursos naturais obriga as empresas que pretendem prosperar e manter-se no mercado,
estejam atentas a todo tipo de problema ambiental que pode surgir, já que parte das agressões
ao meio ambiente decorre das atividades de produção e consumo resultando nas chamadas
externalidades ambientais (BRAGA; PAULANI, 2007).
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Parte dessas agressões tende a ser atenuadas quando as empresas que se preocupam
em associar o desempenho dos seus negócios ao meio ambiente buscam incluir a vertente
ambiental em suas estratégias empresarias, ordenando que nenhum produto seja arquitetado,
produzido ou comercializado sem levar em conta os possíveis danos ao meio ambiente.
(SANTOS, 2010).
Mato Grosso lidera o ranking de abate de bovinos por Unidade da Federação. Em 2014
foram abatidas cerca de 1.400.000 cabeças, que juntamente com o Mato Grosso do Sul e Goiás
representam 38,9% do abate de bovinos nacional (IBGE, 2015). Nesta estatística, encontra-se o
município de Tangará da Serra- MT, com a presença de vários frigoríficos, cada vez mais
expressivos na multiplicação de renda e emprego em toda a economia. Estes multiplicadores
estão relacionados ao setor de combustível, peças, transporte, produção de insumos e a
expansão da modernização nos setores de comercialização e transformação. No entanto, cabe
ressaltar que não basta apenas às empresas serem economicamente viáveis, pois elas precisam
estar em consonância com os princípios ambientais.
A falta de preocupação com os descartes de resíduos principalmente na produção de
bovinos, pode gerar problemas ambientais que se tornam complexos e demandam um
planejamento de medidas concretas de proteção ambiental (WINTER, 2011). Neste contexto, o
objetivo deste estudo é identificar nos relatórios contábeis de uma empresa do setor frigorifico de
Tangará da Serra- MT, se existem informações relacionadas às externalidades ambientais
positivas e negativas e também verificar se a empresa utiliza o Balanço Social como instrumento
de Responsabilidade Socioambiental.
Justifica-se o estudo tendo em vista que as informações relativas aos custos ambientais
internos e externos (externalidades) nos relatórios administrativos tendem a gerar dúvidas por
parte dos investidores, acionistas, fornecedores, credores e sociedade em geral, já que as
práticas ambientais eventualmente podem originar consequências financeiras para as entidades.
As práticas de medidas preventivas e corretivas podem, além de evitar multas e problemas
judiciais, amenizar perdas de imagem e patrimônio, assim como evitar crises de credibilidade e
subsidiar a administração no gerenciamento dos problemas ambientais (PAIVA, 2003).
2. SUPORTE TEÓRICO
2.1 Externalidades Ambientais
Externalidades ambientais são os efeitos transversais de bens ou serviços sobre outras
pessoas que não estão diretamente evolvidas com a atividade. Referem-se ao impacto de uma
decisão sobre aqueles que não participam dessa decisão (MANKIW, 2007), podendo gerar efeitos
positivos ou negativos para a sociedade (MOURA,2003).
Na categoria externalidades negativas estão incluídos os danos causados aos rios em
decorrência de descargas de águas residuais contaminadas, aos ecossistemas devido à
eliminação de resíduos sólidos, à poluição do ar por causa das atividades produtivas. Essas são
chamadas de custos de externos porque na maioria das vezes não são compensados pelas
empresas e recaem sobre a sociedade na forma de aumento no custo da água, problemas de
saúde em decorrência da poluição e perda de serviços ambientais gerados pela degradação
(EPA, 1995).
Ely (1990) relata que, quando uma indústria emite fumaça na atmosfera ou joga resíduos
diretamente no solo e nos rios, essa indústria prejudica outras empresas ou pessoas que
dependem desses recursos, que, por sua vez, não são ressarcidas pelo agente poluidor. Outro
exemplo de externalidade é quando uma empresa de fundição de cobre, ao provocar chuvas
ácidas, prejudica a colheita dos agricultores da vizinhança. Esse tipo de poluição representa um
custo para a agricultura, que sofre os danos causados pelas chuvas ácidas, e não para a
indústria poluidora, por isso os custos de produção dessa indústria, nesse caso, são inferiores
aos custos impostos à coletividade e, por consequência, o nível de produção dessa indústria é
maior do que aquele que seria socialmente desejável (SOUSA, 2008).
Sousa (2008) reporta que as externalidades levam os agentes não diretamente envolvidos
na atividade geradora a usarem recursos para corrigir os efeitos por elas gerados. O modo mais
comum de uso desses recursos são as internações hospitalares, decorrentes de doenças
relacionadas à poluição. Embora representem, efetivamente, gastos (recursos públicos) para os
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doentes, esses não são contabilizados nos custos da empresa. Desse modo, o custo da poluição
ou degradação não incide sobre os que geram esses custos, mas recai sobre a sociedade e
sobre as gerações futuras.
Por outro lado, assim como as empresas geram externalidades negativas, também
podem criar externalidades positivas. Ely (1990) descreve que uma externalidade positiva ocorre
quando um proprietário de uma residência ou fábrica mantém seu jardim agradável e o prédio
conservado, o que melhora os padrões de vida da vizinhança e gera a valorização real dos
imóveis. Os beneficiários, por sua vez, também nada pagam pelos benefícios recebidos. Moura
(2003) destaca como externalidade positiva a criação de abelhas, que proporcionam a
polinização das plantas da vizinhança, melhorando a sua produtividade.
Uma externalidade positiva pode surgir quando uma empresa solta girinos e alevinos nos
rios e nos lagos a fim de se reproduzirem, beneficiando toda a comunidade, uma vez que essa
obterá alimentos a custos menores, sem pagar nada mais por isso. Uma empresa que
desenvolve tecnologias e mecanismos que auxiliem na preservação ambiental e na manutenção
das espécies, gerando empregos sem degradar o meio ambiente, também gera uma
externalidade positiva.
Sousa (2008) acredita que a educação também promove externalidades positivas porque
os membros de uma sociedade, e não somente os estudantes, auferem os diversos benefícios
gerados pela existência de uma população mais educada, os quais não são contabilizados pelo
mercado. A autora destaca que a educação contribui para melhorar os níveis de saúde de
determinada população, como, por exemplo, os níveis mais elevados de escolaridade materna
reduzem as taxas de mortalidade infantil. Os benefícios indiretos da educação, por não serem
precificados, não são computados nos benefícios privados, uma vez que incluem apenas as
vantagens pessoais da educação, como, por exemplo, os salários obtidos em função do nível de
escolaridade.
Jasch e Lavicka (2006) descrevem que uma empresa pode gerar múltiplos efeitos externos
positivos em uma região, dentre os quais se pode citar o aumento do valor dessa região. E, se
essa escolhe os seus fornecedores próximos, pode aumentar a estabilidade e o crescimento,
gerando emprego e renda e proporcionando maior segurança para a população local.
Serôa da Motta (1997) destaca que as externalidades positivas, benefícios externos,
deveriam ter preços positivos por representarem benefícios não apropriadamente pagos. Por
exemplo, uma empresa desenvolve um método de produção ou administração de baixo custo que
é absorvido gratuitamente por outra empresa; ou quando um fazendeiro preserva uma área
florestal que favorece gratuitamente a proteção do solo de outros fazendeiros. Já as
externalidades negativas, custos externos, deveriam ter preços negativos por significarem perda
de utilidade principalmente àqueles de cunho ambiental. Por exemplo, a degradação ou exaustão
de recursos ambientais decorrentes das atividades de produção e consumo de certos bens que
prejudicam a saúde humana e a produção de outros bens que também destroem a fauna e flora.
custos de avaliação - são os custos dispendidos para manter os níveis de qualidade ambiental da
empresa, por meio de trabalhos de laboratórios e avaliações formais dos sistemas de gestão
ambiental ou sistemas gerenciais que garantem o bom desempenho ambiental da empresa,
englobando os custos de inspeções, testes, auditorias da qualidade ambiental e despesas
similares
KROETZ, 2000). O Balanço Social busca demonstrar o grau de responsabilidade social assumido
pela empresa, desta forma, presta contas à sociedade do uso do patrimônio público, constituído
dos recursos naturais, humanos e o direito de conviver e usufruir dos benefícios da sociedade em
que atua (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBCKE et al, 2000).
No Brasil o Instituto Brasileiro de Contadores( IBRACON) criou em 1996 a Norma de
Procedimentos de Auditoria conhecida por NPA 11- Balanço e Ecologia. Esse documento
recomenda que as demonstrações contábeis e os relatórios da administração apresentem as
diretrizes ecológicas adotadas pelas empresas. Nele há um roteiro a ser observado pelos
contadores nos casos de implicações com o meio ambiente. Os componentes definidos na NPA
11 para a elaboração do Balanço e Ecologia são: ativos e passivos ambientais
Ativos ambientais - inclui o imobilizado referente aos equipamentos adquiridos visando a
eliminação ou redução dos agentes poluidores, os gastos com pesquisa e desenvolvimento de
tecnologias limpas a médio e longo prazo, os estoques relacionados com o processo de
eliminação dos níveis de poluição e a destinação de áreas verdes.
Passivo ambiental - inclui toda agressão contra o meio ambiente. Na contabilidade da empresa,
os passivos ambientais podem ser evidenciados através de valor dos investimentos para reabilitá-
los, das multas e indenizações, dos gastos com projeto e licenças ambientais e das restrições a
empréstimos.
Em Agosto de 2004 o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprovou a Norma
Brasileira de Contabilidade (NBCT 15), que estabelece procedimentos para evidenciação de
informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade a
participação e a responsabilidade social da entidade. Tais informações devem abranger a
geração e a distribuição de riqueza, os recursos humanos e a interação com o meio ambiente.
A NBCT 15 faz menção aos ativos e passivos ambientais bem como aos investimentos e
gastos com manutenção nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente;
educação ambiental para os empregados, terceirizados, autônomos, administradores da entidade
e comunidade e outros projetos ambientais. As empresas deverão evidenciar os gastos para
preservação e/ ou recuperação de ambientes degradados. Devem ainda apresentar informações
sobre a quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a
entidade.
A Constituição de 1988 deu um passo importante no quesito meio ambiente e sua
preservação, o Art.225 diz que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Partindo o texto da Carta Magna, esse pode ser considerado um incentivo e alerta para que as
empresas públicas e privadas reduzam o impacto ambiental uma vez que esse é constitucional.
3 Procedimentos metodológicos
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Breve histórico da empresa
A empresa foi fundada em 1986 no Estado de São Paulo, se estabelecendo como
importadora e distribuidora de cortes bovinos, suínos, aves e pescado, além de vegetais
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4.1 EXTERNALIDADES
4.1.1 Externalidades positivas ambientais
A empresa não evidencia os custos ambientais internos e externos em suas
demonstrações contábeis, apenas divulga seus programas e projetos sociais e ambientais no
relatório contábil disponível no seu site. Em termos qualitativos foi possível identificar que existem
programas e projetos sociais e ambientais (Quadro 1), porém, quantitativamente não foi possível
identificar os valores, figurando portanto, nas contas como despesas gerais (overhead) (EPA,
1995; GALE; STOKOE, 2001), dificultando a identificação e o percentual de influência de cada
um deles no desempenho econômico da empresa.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que se refere às externalidades, verificou-se que os relatórios contábeis não
evidenciam de forma discriminada os valores tanto das externalidades positivas quanto as
negativas o que dificulta o bom gerenciamento de tais custos. Percebe-se que, embora a
empresa possua em seu site o relatório de sustentabilidade, alguns dados poderiam ser
acrescidos, como por exemplo, informações sobre a existência de acompanhamento dos
programas ambientais e sociais, implantados pela empresa, desta forma, seria possível aos
usuários da informação, verificar quais programas apresentam êxito e quais precisam ser
melhorados ou banidos. Esse processo de acompanhamento poderia contribuir também para o
gerenciamento dos custos dispendidos nos programas, pois apresentaria maior poder de decisão
e ação.
REFERÊNCIAS
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