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o problema que nos ocupa (divisão de poderes) não foge à regra da natu-
reza instrumental das instituições políticas; é, ao contrário, um exemplo
elucidativo dessa concepção básica. Nem foi por outra razão que o formu-
lador mais completo e sistemático da doutrina da divisão dos poderes -
Montesquieu - alcançou no seu tempo, e mesmo depois da sua morte,
tão grande favor da parte do público, especialmente dos teoristas políticos
e dos homens de Estado.
Montesquieu viveu de 1689 a 1755. Sua grande obra - Do espírito
das leis - foi publicada em 1748, e escrita durante longos 20 anos. A
aceitação desse livro chegou a ser um acontecimento social. Era de bom
tG.n na sociedade francesa ter lido Montesquieu. 2 E foi apenas em um
capítulo do livro que ele desonvolveu a doutrina que levaria seu nome
por toda parte, o capítulo VI do livro XI. Em virtude desse capítulo, onde
enuncia e justifica a teoria da divisão de poderes, também chamada de
separação de poderes (problema a que o autor se referia como sendo de
"distribuição dos poderes"), é que Montesquieu foi inscrito definitivamente
na galeria dos grandes escritores políticos.
9 Observa Chevallier (op. cito p. 126), a respeito do veto real, que Montesquieu
recomendava: " ... desde 1709, quando a rainha Ana dele ainda se serviu, o veto
estava morto: morto como a rainha Âna. Montesquieu ignora este fato, ou não o leva
em conta".
Sobre a posição do parlamento esclarece George H. Sabine, História de la teoría
política, trad. de Vicente Herrero, México, 1945. p. 533:
"Na realidade, as guerras civis haviam destruído os vestígios de medievalismo que
tornavam apropriado qualificar de mista à forma de governo da Inglaterra, e a Revo-
lução de 1688 tinha estabelecido a supremacia do parlamento. ];; certo que, quando
Montesquieu visitou a Inglaterra, não se havia fIXado com muita clareza a posição
do Gabinete, mas ninguém, que se baseasse na observação independente, teria esco-
lhido a separação de poderes como característica distintiva da constituição inglesa.
Mas Montesquieu não se apoiava na observação. Locke e Harrington lhe haviam
ensinado o que devia esperar, e, além disso, adotou o mito corrente entre os próprios
ingleses ...
. .. Até a critica que Bentham fez de Blackstone no Fragment on Government
(1776), não se atacou efetivamente a separação de poderes."
10 Sampay, Arturo Enrique. La crisis dei Estado de derecho liberal-burgués. B. Aires,
1942. p. 75 e 76. "Segundo Bolingbrocke, conseguir-se-á um governo livre, se a Ingla-
terra recorrer a um equilíbrio de poderes entre o monarca e seus súditos ... ];; neces-
sário chegar-se até Montesquieu, que resume, completa e sistematiza Locke y Boling-
brocke, para se encontrar a verdadeira fórmula da moderna teoria da separação dos
poderes, concretizada, depois, como peça principal do Estado de direito liberaI-bur-
guês" (p. 76).
Nos dias de hoje, mesmo sem falar naqueles exemplos extremos de con-
centração de poder, que encontramos nos Estados fascistas, na União
Soviética e nos países que lhe imitaram o exemplo, podemos dizer que a
teoria da divisão de poderes é uma construção doutrinária superada. Ela
já não corresponde, nem atende às necessidades modernas da salvaguarda
das liberdades humanas, que foi a sua finalidade histórica, a serviço do
progresso da burguesia. E assim ocorre, porque vivemos num período
profundamente crítico, numa época de contundentes reivindicações sociais.
Essas reivindicações tendem a aumentar e encontram no regime represen-
tativo ainda em vigor em muitos países o instrumento adequado à sua
expressão e realização. Se essas reivindicações, conforme previa o Prof.
Laski, chegam a um determinado ponto, ou elas mudam o sistema capita-
lista e o estado representativo terá reformado a sociedade, ou o sistema
capitalista desfigura o regime representativo, e então a economia terá
transformado o Estado, a estrutura econômica terá reajustado a estrutura
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Em qualquer dessas alternativas o Estado terá de ser ativo, enérgico,
eficiente. Se vencerem os donos da economia, precisarão do poder total
do estado para esmagar as reivindicações populares. Se triunfarem essas
reivindicações, os dirigentes populares necessitarão de um estado vigoroso,
para destruir as resistências que fatalmente serão opostas pelos beneficiários