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Resumo
No livro O Baile revela-se outro dos elementos autobiográficos que identificam a obra
de Némirovsky: o terrível relacionamento com a sua mãe. Durante o romance, a tenção entre
os membros da família é de uma magnitude importante, especialmente entre a mãe e a sua
filha. Não é um simples “não se dá bem”, ou um “não entende”, mas vai muito além: a mãe é
cruel com a filha, não a ama, trata-a como um ser que vive em casa por obrigação e que
quanto menos sair do quarto e menos se relacionar com as outras pessoas, tanto melhor. O
seu maior desejo é conviver com a alta sociedade francesa e em todos os momentos permite
vislumbrar que essa é a única coisa que ela quer na vida, nem a filha nem o marido, apenas
relações sociais e o reconhecimento da alta sociedade.
Sra. Rosine Kampf dirige-se à filha Antoinette: “- Antoinette, se te perguntarem alguma
coisa, dizes que vivíamos no Sul durante todo o ano… Não tens necessidade de precisar se era
em Cannes ou em Nice, dizes apenas no Sul… a menos que te perguntem; bom, é melhor
dizeres Cannes, é mais fino… Mas é evidente que o teu pai tem razão, sobretudo é essencial
que te cales. Uma menina deve falar o menos possível com os adultos.”
Os protagonistas são uma família que, por um golpe de sorte no mercado das ações
financeiras, tem a oportunidade de subir a socialmente, podendo ser reconhecidos pela alta
sociedade francesa. Com o propósito de obter o tão cobiçado prémio, a mãe decide fazer uma
entrada triunfal no mundo da alta sociedade, organizando uma festa de dimensões
impressionantes no seu luxuoso apartamento parisiense, para o qual o Sr. Alfred Kampf e a
Sra. Rosine Kampf supõem um avultado investimento e a desejada apoteose social. Mas na
casa Kampf nem todos partilham do mesmo entusiasmo. Ferida no seu orgulho pela proibição
materna de participar no evento, Antoinette, adolescente de 14 anos, observa com amargura
os preparativos agitados da festa e sente que chegou a oportunidade de confrontar a sua mãe,
afirmar-se, fazendo a sua própria entrada na vida adulta. O seu plano é mirabolante, por um
ato altamente impensado e vingativo. A irreflexão não surpreende em excesso, já que os 14
anos da filha são um bom álibi: a vingança, no entanto, faz pensar no que está oculto no
iceberg, para além do que é visível à superfície. Pode-se dizer que é uma mistura de
ressentimentos: a mãe sente que perdeu os seus melhores anos vivendo uma posição social
muito baixa e a filha sente que não pode crescer, entrar na idade adulta, a altura de todas as
suas aspirações (basicamente romântico), porque a sua mãe não o permite como ela deseja.
No libro O Baile, nenhuma das personagens parece levar os outros em conta, usando-os
como instrumentos para atingir os seus fins específicos. Cada um deles procura a felicidade,
por conta própria. Até mesmo a relação entre a mãe e o pai - uma personagem com pouca
presença na narrativa - parece ser uma união sem outro objetivo a não ser prosperar na vida,
por qualquer meio.
Este é um romance de fácil leitura e muito divertido, no entanto o seu tema é bastante
difícil. A autora tece uma série de críticas:
- O confronto de uma adolescente com os seus pais, nomeadamente a mãe com a qual
mantém um relacionamento nada agradável e saudável. Além disso, o seu pai não intervém
nas manifestações de ressentimento que a mãe engendra contra a sua filha.
- A hipocrisia e superficialidade dos “novos ricos”; a sua principal preocupação são as
aparências.
Estes dois temas são genialmente expostos no que sente Antoinette, a única filha do
casamento.