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Anotações Gerais - OPB

Analisar o processo de constituição do Estado brasileiro na história é um desafio se possui o


compromisso de não recair em noções que o colocam num desenvolvimento lógico de fatos
sucessórios. Os nexos estabelecidos por cientistas políticos são condicionados por perspectivas
particulares sobre a conjuntura e pelas respectivas tradições acadêmicas. As transformações nas
regras da organização administrativa e burocrática de um território é uma chave de compreensão
que destaca tanto a atuação de agentes políticos variados quanto múltiplas interferências próprias de
uma determinada formação social e política histórica.

Então, não é possível demarcar um traço histórico único que explique as transformações que
concretizaram as instituições políticas brasileiras e suas constituições, não é possível enquadrar
perfeitamente a agência das elites políticas numa ideologia, e ainda, a divisão dos poderes, a
dinâmica partidária e a prática eleitoral não podem ser encaradas como melhores formas de
organização de poder por ser a forma hegemônica das democracias atuais. Talvez o que permaneça
diante de todo nosso processo político seja a relação necessária com os poderes econômicos locais e
regionais sob influência da economia externa.

É possível destacar a atuação de elites políticas em relação a seus interesses patrimoniais ou/e ao
seu idealismo constitucional para resolução de questões sociais e políticas do contexto, é também
possível destacar as regras do jogo político que oferecia algum parâmetro normativo para a prática
política e social, pode-se também destacar se as transformações conjunturais foram feitas de cima
para baixo ou se houve a influência da atuação de setores da sociedade, mais ou menos radicalizada.

No período colonial o poder soberano se encontrava distribuído a governadores nomeados


responsáveis pela administração da justiça e do poder militar com certa autonomia, um exemplo
disso é a consideração de que o Estado do Brasil era autônomo com relação ao Estado do Maranhão
e Grão-Pará. As câmaras municipais também serviam como células de distribuição de poder em
geral subjugadas às ordens do governador e podiam, eventualmente, legislar sem confluir com os
interesses de centralização da metrópole. A metrópole reprimia tais iniciativas de forma violenta
gerando em algumas regiões resistências à monarquia e centralização do poder. Nestas Câmaras
Municipais, os votantes da primeira rodada eram os “homens bons e o povo”, segundo Murilo de
Carvalho, os homens bons eram os nobres, burocratas, proprietários e comerciantes, estes poderiam
votar e ser votados. Povo era “os homens livres”. No processo de transição para a independência, de
1821 a 1823, o processo eleitoral se dividia em 4 etapas, na etapa primeira todos os cidadãos
votavam em seus respectivos distritos (menos eclesiásticos seculares), na segunda etapa eram os
representantes eleitos que votavam no distrito, na terceira e quarta etapa as regras acrescidas eram
“possuir pelo menos 25 anos e ser residente da paróquia”, apesar de não se ter dados sobre a
quantidade de votantes, costuma se tratar que o código eleitoral de 1821 o mais liberal que tivemos
até 1988.

No processo de independência, o império como consenso no processo de transição é visto de


diferentes perspectivas. Há autores que consideram que inicialmente as instituições brasileiras
deram continuidade ao direito português por intermédio das Ordenações que se fundamentavam no
poder régio. Há autores que destacam como início do processo de unificação a vinda da família real
de Portugal em 1808, o que tornou a solução monárquica viável. Há autores que destacam as
pressões de elites econômicas tanto com relação à escravidão quanto com relação aos interesses
econômicos de outros territórios unificados. José Murilo de Carvalho se opõe a tais perspectivas, a
primeira por pressupor uma instituição contínua entre I e II Império, a segunda por considerar que a
mera presença da corte teria construído uma solução estanque e a terceira por reduzir diversos
elementos políticos que polarizavam entre centralização e descentralização à inconclusividade. A
partir destas críticas José Murilo de Carvalho centra sua análise na atuação das elites políticas do
contexto, que por terem estudado em Portugal passaram por um treinamento e homogeneização
ideológica, o que reduzia os conflitos políticos intra-elites em torno de um modelo de dominação
política.

José Murilo de Carvalho trata das elites imperiais a partir de uma metáfora teatral: a atuação, a
composição, as relações entre partidos e grupos imperiais são movidos para compreender e
interpretar atores e dinâmicas sociais que marcaram a ordem escravocrata e unidade imperial.
Quais foram as especificidades que unificaram as colônias portuguesas de forma diferente das
colônias espanholas? Para Carvalho o campo político é capaz de fornecer algumas bases analíticas.
Não seria a centralização administrativa portuguesa, nem a vinda da família real para o Brasil, nem
fatores de interesses econômicos, nem manutenção do escravismo, tais elementos explicativos se
referem à noção de herança histórica e continuidade; tais elementos não são descartados como
influências no processo político brasileiro, mas o esforço de Carvalho é se afastar de determinismos
históricos, políticos e econômicos.

A tese defendida por Carvalho é de que foi uma opção política de uma elite fazer a independência
com uma monarquia representativa, mesmo que se considere que os aspectos da agência não dão
conta de fenômenos tão complexos. Num contexto de considerável conflito, as elites políticas
teriam sido formadas a partir dos setores sociais dominantes na época em busca de uma forma de
reduzir os conflitos intra-elites, neste sentido se faz relevante destacar aspectos da sociabilidade
destes grupos sociais, como a educação, as ocupações e a carreira política, e a relação entre elite
política e burocracia.

José Murilo de Carvalho afirma que a formação dos Estados modernos se deu a apartir de quatro
elementos centrais, a saber: burocratização, monopólio da força, criação de legitimidade e
homogeneização de súditos. O autor procura justificar esta análise a partir de experiências de outros
países, como Estados Unidos da América, Portugal e Inglaterra. A referência à teoria das elites
permite que o método comparativo ilumine as características peculiares dos agentes políticos que
influenciaram a formação de diferentes Estados modernos. Os parâmetros são as questões clássicas
da política, quem governa e como governa, e, mais especificamente, se existe ou não uma elite no
poder e como as podemos identificar.
Além da investigação acerca dos agentes políticos se coloca a questão de quais são os termos
institucionais que caracterizam a formação do estado moderno, sua natureza: a força e capacidade
de organização das classes se desdobra para reforçar a forma do parlamento e do governo
parlamentar-representativo, como na Inglaterra e Eua, ou desemboca em formas consideradas com
menos força e capacidade de articulação, como o caso de Portugal? Para Carvalho, considerar maior
o êxito e a nitidez da revolução burguesa retira o Estado da posição de grande regulador da vida
social, deslocando o peso do funcionalismo civil e militar para a legitimação representativa das
elites.
Depois de tratar da formação de diversos Estados-nação, Carvalho conclui que os primeiros países a
dar início a uma revolução burguesa tiveram a tendência de retirar a relevância do papel do Estado.
Nos países de revolução burguesa retardada, houve um processo híbrido em que a elite burocrática
assumiu caráter de representação. A homogeneidade da elite se insere numa lógica diretamente
proporcional à estabilidade da formação do Estado: a homogeneidade da elite inglesa era de
natureza social, reforçada pelo sistema educacional, pelas relações familiares, pelos círculos de
amizade e pelo estilo de vida; a heterogeneidade da elite estadunidense representava o país como
um todo e estava vulnerável aos conflitos internos. Neste dois aspectos das elites, mais ou menos
diversa, se supõe a necessidade de um suporte de treinamento e um início de profissionalização do
emprego público. Assim, a adequação das elites num quadro homogêneo tendia a ser de natureza
ideológica, pelo treinamento e socialização, e não por uma origem social. Nas ex colônias, a
unidade e estabilidade se daria mediante setores burocráticos, sobretudo militares. A consolidação
do Estado pós-revolução não encontra fundamento numa homogeneidade de natureza social e sim
de forma coercitiva, pela socialização e treinamento, através de estruturas de homogeneidade
ideológica.
A elite brasileira em contato com as elites de Coimbra teria se tornado parte do funcionalismo
público, principalmente na magistratura e no Exército. Essa transposição de grupo dirigente na
experiência histórica brasileira teve mais importância que a vinda da corte portuguesa ao território.
Assim, no contexto da independência, no Brasil havia uma elite ideologicamente homogênea de
formação jurídica, política, permeada pelo debate e paradigmas das elites intelectuais portuguesas
do contexto. Apesar de ser uma elite adequada ao contexto moderno, não pode se distanciar dos
interesses das classes dominantes agrárias e escravistas visto que esta ainda era a a forma de
organização econômica majoritária no território brasileiro, ao contrário e paradoxalmente, o Estado
foi montado numa articulação entre elites, sob uma estrutura que reforçou desigualdades históricas e
prontamente esteve resvalada contra grandes transformações políticas e econômicas advogadas por
revoltosos.

José Murilo de Carvalho se afasta das perspectivas que tentam explicar a centralização imperial
como decorrência de acontecimentos históricos que desencadearam mudanças políticas e
econômicas, como a tese de Slemian e Pimenta que identificou a vinda da família real como um
marco que possibilitou acontecimentos seguintes, como a tese de Faoro que estende a continuidade
à formação do Estado português. Carvalho se atenta para as relações entre continuidades históricas,
mas recai na mesma tese que trata a experiência brasileira imersa num suposto atraso, mas desta vez
o crédito não é de um determinismo histórico, mas sim das relações entre elites e burocracia.

Slemian e Pimenta destacam que no ato da proclamação da Independência não havia unanimidade
em torno de Dom Pedro, e por isso, muita violência foi operada no processo de unificação do
Império brasileiro. Durante o ano de 1823 as províncias iam sendo aderidas ao Reino do Brasil e
seus representantes foram convidados a compor a discussão sobre o novo ordenamento jurídico na
Assembleia constituinte, excluídos apenas os deputados da Bahia, Pará, Cisplatina e Maranhão
(pois ainda não haviam aderido ao império). O “nascimento do político” se deu mediante discussão
conflituosa: que nova família é esta que estava se formando no Brasil? Inevitavelmente, nos
discursos, se opunham interesses de quem ainda representava a nação portuguesa dos interesses de
brasileiros: a identidade brasileira foi definida com relação à alteridade portuguesa. Este conflito é
supostamente iniciado com a Revolução Liberal do Porto em Portugal, 1820, que
contraditoriamente inspirou portugueses pela manutenção do status de colônia do Brasil e
justamente influenciou os independentistas brasileiros. Três agregados se formaram no processo: o
Partido Brasileiro e Partido Português, ambos compostos pela elites econômicas e o Partido Liberal-
Radical formado por oligarcas do nordeste e profissionais liberais. No ordenamento jurídico esta
discussão “portugueses x brasileiros” foi importante para estipular as regras de cidadania - não eram
todos os portugueses que eram considerados cidadãos, menos ainda escravizados e indígenas. Este
período é, portanto, bastante condicionado, excludente, do ponto de vista dos direitos sociais e
políticos.

Em 1823, o Imperador declarou que só aceitaria a constituição se ela fosse digna dele e dos
interesses nacionais, levando os eleitos da constituinte a um debate: se seus esforços de
normatização estariam mais ou menos sujeitos à aprovação do executivo. Neste momento de
constituinte o debate político oscilava entre o argumento de políticos que consideravam que não era
estratégico fazer ataque voraz ao posicionamento do Imperador pois este possuía a força da tradição
como chefe constitucional hereditário, sendo mais interessante pensar os acordos e as regras
capazes de estabilizar as relações entre os poderes; e o argumento dos políticos mais críticos que
consideravam que submeter o legislativo ao executivo era colocar os propósitos da constituinte à
nulidade. A assembleia constituinte de 1823 foi dissolvida e a constituição de 1824 foi imposta pelo
Imperador.
A dificuldade de consenso na assembleia foi o que levou, para Slemian e Pimenta, à outorga da
Carta Constitucional de 1824, esta que deu início ao processo de centralização do poder no Rio de
Janeiro. A força desta carta magna não é atribuída a uma ação isolada, despótica, do imperador, fora
garantida por alguns setores da sociedade que possuíam o interesse de centralização política para
viabilidade dos negócios: grandes comerciantes, traficantes de escravizados, controladores de
navegações de cabotagem. A outorga da Carta de 1824 inspirou revolta em Pernambuco que buscou
sua independência do Rio de Janeiro proclamando-se Confederação do Equador junto,
posteriormente, ao Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. O poder central do Rio de Janeiro
suspendeu garantias constitucionais, enviou rapidamente forças militares e julgou prontamente
condenados políticos. O Império do Brasil se mostrava tão repressor quanto o português.

Para Slemian e Pimenta as províncias do centro-sul se colocavam em certa possibilidade de


consenso em torno da figura do imperador como forma de garantir a unidade territorial do país
ameaçada por diversos levantes insurrecionais no norte-nordeste, além disso, como dito
anteriormente, a violência foi forma de lidar com as províncias rebeldes, mesmo existindo forças
políticas apoiando o imperador nestas. Ao mesmo tempo em que a dinâmica interna do território
(faço referência às muitas revoltas neste período) era contida para unificação nacional, os esforços
se direcionavam à busca de apoio pela independência nas relações exteriores com a Grã-Bretanha,
que pressionou o Império brasileiro para abolição do tráfico de escravizados. Já o reconhecimento
da independência pela ex-metrópole se deu mediante contração de dívida externa, ou seja, o Império
brasileiro assume o empréstimo emitido por Portugal em 1823 e ainda contrai novas dívidas com
Londres. Dom Pedro também acordou pagamento ao rei de Portugal pelas terras “que este possuía”
no Brasil. O novo Estado foi reconhecido, tráfico internacional proibido, e a escravidão ainda seria
legal por mais 60 anos.

A constituição de 1824 foi colocada em vigor demarcando a centralização do poder num Estado
Monárquico constitucional e hereditário o que define o regime e quem controla o executivo e o
legislativo bicameral, Câmara e Senado, com processo eleitoral distinto nestas casas. Além disso, o
foi criado o Conselho de Estado e o Poder Moderador. O Conselho de Estado era composto por
indicação do Imperador, com cargo vitalício, e possuía a função de comentar a política nacional,
questões econômicas e de guerra, além disso foi este Conselho que pensou as regras eleitorais da
vez: aumentou a idade mínima para 25 anos, permitiu que assalariados votassem mas com critério
de renda mínima de 100$, os eleitoráveis precisavam ter renda mínima de 200$, escravizados
libertos poderiam votar se atendesse ao primeiro critério, não poderiam atender ao segundo. Nas
pesquisas levantadas por Murilo de Carvalho o censo não implica num recorte excludente de
participação política pois à moeda da época tais valores eram perfeitamente alcançáveis. Em
resumo, o voto era censitário e indireto, pois a massa elegia o corpo eleitoral local que elegia os
deputados. O Senado era nomeação do Imperador através de lista tríplice e o cargo vitalício.

O Poder Moderador possuía a prerrogativa de passar por cima da divisão de poderes em caso de
necessidade de defesa de “interesse nacional”. No período de consolidação da Monarquia
constitucional de 1824 a 1831, há uma ampliação do espaço público, uma comunicação é reservada
às elites com a produção de periódicos críticos da monarquia. A acusação de que Dom Pedro I
simbolizava um retrocesso está presente nos documentos midiáticos desde o princípio com a
dissolução da assembleia de 1823 e pela repressão violenta à Confederação do Equador em 1824.
Ainda, as disputas por nomeação de cargos e as críticas aos gastos de pessoal e recurso na guerra
cisplatina, além de certa previsibilidade eleitoral e acusações de fraude, as tensões entre portugueses
e brasileiros que refletiam a discussão acerca do modelo político, se mais ou menos centralizado,
tudo isso contribuía para uma instabilidade que culminaria em sua abdicação em 1831. Neste
período já havia dois partidos, os Restauradores (que defendiam a monarquia fortemente
centralizada) e os Liberais Monarquistas (defensores de uma monarquia federalista).
No período da Regência, de 1831 a 1840, o Poder Moderador e o Conselho de Estado é dissolvido e
são criadas assembleias legislativas nas províncias, descentralizando a definição das despesas
municipais e cria-se uma Guarda Nacional para conter as milícias e guardas municipais ligadas ao
poder de grupos locais e inspirações insurrecionalista, estas guardas municipais passam a se
subordinar ao Ministro da Justiça e ao Comandante da Guarda Nacional. Assim, o que pode ser
visto no período é uma descentralização do ponto de vista político acompanhada de uma
centralização do ponto de vista judicial de manutenção da ordem. Em 1840, a tendência
centralizadora compôs o Partido Conservador e a tendência federalista compôs o Partido Liberal.
José Murilo de Carvalho defende que na análise da composição destes partidos não se pode fazer
divagações sobre a origem social ou ideologia que eram diversas nestes partidos.

O apelo ao federalismo, de inspiração americanista, durante a monarquia constitucional nem sempre


esteve ligado ao republicanismo, havia setores liberais e conservadores que defendiam uma
“monarquia federalista”. Assume Dom Pedro II e Murilo de Carvalho considera que seu governo
contribuiu bem mais na “nacionalização da monarquia”, por conta do seu relacionamento com
proprietários e elite política por conta da distribuição de títulos de baronato.

O jogo de descentralização e centralização é para Murilo de Carvalho a dinâmica da dialética da


ambiguidade em que há marcadamente diferentes interesses e ideologias nas elites na construção de
instituições que vão compor uma realidade social contraditória: instituições representativas liberais
numa sociedade escravocrata e elite cosmopolita civilizatória em sociedade agrária. Esta dinâmica
demonstra que a centralização foi escolha possível numa conjuntura de conflitos intra-elites.

As fraudes eleitorais continuavam sendo denunciadas, as eleições de 1842 ficou conhecida como
“Eleições do Cacete”, mas para Murilo de Carvalho isto que era percebido como uma distorção de
nosso sistema representativo era resultado de uma informalidade nas regras eleitorais, não
significava uma incompetência das massas ou da sociedade brasileira para o voto, era reflexo do do
engajamento e competição política. Para Murilo de Carvalho a falta de consenso inter e intra-elites
acerca do melhor desenho institucional para atender seus interesses foi um dos elementos que deram
a tônica da I República.

Se formou em 1870 os partidos republicanos, este estava organizado em MG, SP (mais estruturado,
ligado aos cafeicultores da província) e RJ (mais ideológico, ligado a profissionais liberais e
intelectuais). A primeira república iniciava com a autonomia federativa dos estados, destaca-se a
preponderância de São Paulo e Minas Gerais, ambos ligados à economia cafeeira e com interesses
comerciais internacionais. O partido republicano já vinha durante o segundo império ganhando
apoio.

Renato Lessa expõe a negatividade de Nabuco em torno da proclamação da república, é que os


debates intensos sobre as reformas sociais, propostas há tempos por liberais radicais e pelo gabinete
do Visconde de Ouro Preto que marcaram o segundo império foi desviada para reconfigurar a
organização do poder político. Lessa considera que a proclamação da república deixou um vácuo no
poder pela ausência do poder moderador. O governo provisório de Deodoro instituiu os Estados
Unidos do Brasil, uma república federativa, com cada unidade podendo decretar sua constituição
com autonomia eleitoral. Todas as forças militares permanecem subordinadas ao governo
provisório. A primeira república de Fonseca e Peixoto é, segundo Lessa, marcada por crises de
legitimidade representativa e ausência de rotinas institucionais. Ainda, este foi um momento em que
o estamento militar se hiperpolitizou.

A Constituição de 1891 fora de inspiração estadunidense: a divisão dos poderes executivo,


legislativo e judiciário, regime presidencialista com mandato de 4 anos, com eleição direta par a
cidadãos maiores de 21 anos, excluindo-se mulheres, mendigos, analfabetos e praças militares. O
poder legislativo permanece bicameral, o mandato do Senado deixa de ser vitalício para durar 9
anos, o mandato do deputado federal com duração de 3 anos. O poder legislativo adquire então
maior autonomia, poderia encaminhar ao Presidente projetos de lei, e poderia derrubar o veto
presidencial se contassem com dois terços do Congresso. A comissão de Verificação de Poderes,
capaz de degolar candidatos não aprovados, era controlada pelo próprio congresso.

O primeiro governo civil foi o de Prudente de Moraes. O maior drama deste governo é para Lessa a
não institucionalização do novo regime e a não definição das regras de constituição das polis. Em
1893 cria-se o Partido Republicano Federal de composição eclética: o PRF passou a dominar a
totalidade das bancadas estaduais do congresso, mas seu ecletismo interno punha dificuldades em se
ter previsibilidade sobre o legislativo. Algumas medidas do governo de Prudente, como a
exoneração de oficiais nos cargos civis, transferindo vários oficiais 'suspeitos' para guarnições
distantes, mobilizaram revoltas nas ruas do centro da capital. O executivo sofreu uma paralisia nos
2 primeiros anos e o legislativo era bastante disputado pela minoria florianista. O nome do seu
sucessor, o Campos Sales foi lançado pela Bahia e foi apoiado posteriormente por Pernambuco,
Minas e São Paulo. Campos Sales seria a figura que romperia com a imagem de crise dos anos
anteriores: sua meta era restaurar o espírito republicano, diminuindo a importância do partido na
política do país, fortalecendo o poder executivo. O governo Campos Sales, iniciado em 1898, atua
como administrador da república, a política seria responsabilidade dos chefes locais dos estados.

Campos Sales altera o regimento interno da Câmara para reduzir a aleatoriedade do critério de
idade, o presidente da Câmara seria no novo regimento o mesmo da legislatura anterior para dar
certa continuidade na instância; ainda, define os diplomas como atas da apuração da eleição
assinadas pela maioria da câmara municipal. Renato Lessa apesar de considerar que houve maior
controle da república por Campos Sales destaca a alta desaprovação da sociedade da capital ao seu
governo. José Murilo de Carvalho destaca que a primeira república não conseguiu unificar seus três
povos, não soube transformar em cidadão a pluralidade: era liberal na constituição e oligárquica na
prática.

O fortalecimento de uma política dos estados feita por Campos Sales (1898-1902) é o que dará a
tônica da república oligárquica, a chamada “política de governadores” era dominada por duas forças
políticas de destaque na economia: os republicanos mineiros, oligarquia de produção de leite e os
republicanos paulistas, oligarquia de produção de café. Como as juntas eleitorais controlavam as
eleições indiretas para presidência, estas duas oligarquias acordaram em se revesar no poder. A
garantia de voto nas localidades se dava através do chamado “voto do cabresto”. A oligarquia
cafeeira era preponderante e rompeu com o acordo da política do café-com-leite em 1929,
Washinton Luis, paulista, ao invés de indicar um candidato de Minas, indica Júlio Prestes, também
paulista. Está montado o quadro político que contribuirá para o golpe de 30.

Mas não nos adiantemos: paralelamente, de 1902 a 1929, aconteceram muitos movimentos e
eventos com desdobramentos políticos podem ser destacados. Um destes é o surgimento de uma
classe trabalhadora. O outro é o movimento do tenentismo.

A classe trabalhadora estava em vias de formação no final do século XIX, a exportação agrícola se
encontrava em crise e a produção industrial passava a ser uma alternativa, inclusive para o setor
cafeeiro. Há teses que defendem que as empresas de máquinas no período de 1907 a 1913 eram
artesanais, há teses que consideram que pelo tamanho destas empresas, com centenas de operários,
movidas a máquinas, não podem ser classificadas como manufatureiras. Estes espaços produtivos
podiam ser empreendimentos britânicos, estadunidenses e brasileiros também. A situação dentro das
fábricas era precária: trabalho infantil, baixos salários, longas jornadas, pouca ou nenhuma condição
de higiene e segurança. A partir da primeira guerra mundial houve um crescimento no número de
empreendimentos, em 1919 havia cerca de 13.000 indústrias e um corpo de cerca de 300.000
trabalhadores.

O crescimento fabril e urbano se deu de forma mais intensa no sudeste, as classes médias e
trabalhadora demandavam maior participação na política. As primeiras associações de trabalhadores
tinha característica mutualista, apoio mútuo, custeando tratamentos de doenças e enterros. Num
segundo momento, as associações de trabalhadores uniram ideologias diversas em torno de um
sindicalismo livre e combativo, com pautas específicas. Tais pautas foram articuladas num primeiro
congresso operário em 1906 e a partir desta organização buscava-se a articulação nacional e
internacional da classe. Um dos resultados desta organização é a greve geral de 1917, a Insurreição
Operária 1918 no RJ e a greve geral baiana em 1919, marcos das reivindicações de melhores
condições de trabalho, redução da jornada, fim do trabalho infantil, aumento de salário...Vemos que
é um longo tempo de organização que constrói as bases de um movimento social. E mais a frente
veremos que o jogo de cooptação e de força operado pelo Estado é capaz de destruir tais bases.

Em 1922 houve uma crise política, os militares insatisfeitos com a perda de poder dentro da
república e descontentes com a candidatura de Arthur Bernardes, além disso, com a queda das
exportações e diminuição nos preços, os mecanismos defensivos da economia cafeeira se
desdobraram numa socialização das perdas, aumentando as tensões entre oligarquias. O movimento
tenentista contava com o apoio de alguns setores médios e oligarquias dissidentes mas não possuía
um projeto político. Possuía forte caráter anti-liberal e anti-comunista em sua maioria. Defendiam:
voto secreto, combate à corrupção e à fraude eleitoral, verdadeira representação política, liberdade
de imprensa e pensamento, restabelecimento do equilíbrio entre os três poderes, autonomia do
Poder Judiciário, moralização do Poder Legislativo e centralização do Estado.

O tenentismo se movimentou em algumas revoltas como a dos 18 do Forte (1922), Comuna de


Manaus (1924), revolta de 1924 e a Coluna Prestes (1925-27). As oligarquias dissidentes passaram
a se organizar em outros partidos políticos: foi formado o Partido Libertador (PL), com grupos
oligárquicos gaúchos que se opunham tanto ao governo central quanto ao Partido Republicano
(PRR); foi formado o Partido Democrático (PD) de São Paulo, com dissidentes do Partido
Republicano Paulista (PRP), que seriam responsáveis por outras facções deste partido no Distrito
Federal (maio de 1927), no Rio de Janeiro (junho de 1927), em Santa Catarina (agosto de 1927), no
Maranhão, no Ceará, em Pernambuco e, sua articulação no Partido Democrático Nacional, que não
teve propriamente um caráter “nacional”, mas sim de uma frente de oposições regionais. Além
disso, só em 1927 que o PCB volta a ser legal (criação em 1922). Os tenentes não buscaram formar
um partido próprio, é característica marcante a visão elitista e militarista da política. O tenentismo
na década de 1930 defendiam um programa próximo da classe média: nacionalismo, direitos e
garantias às classes trabalhadoras, industrialização, intervenção econômica estatal e planejamento,
forte crítica à oligarquia cafeeira.

Então, nas primeiras décadas do século XX as críticas ao modelo político liberal de cidadania
restrita que reforçava o poder das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se encontrava em crise.
As greves operárias, as revoltas tenentistas, as disputas inter-oligárquicas, bem como era pungente
as demandas por voto secreto e a moralização do processo de reconhecimento dos eleitos. O
estopim que se desdobrou na revolução de 30 foi a indicação de Júlio Prestes por Washinton Luís:
com este evento, setores do Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas se reuniram na chamada Aliança
Liberal. Angela Gomes destaca que foi a Aliança Liberal capaz de juntar pautas antagônicas como a
das oligarquias dissidentes e dos tenentes e tecer apoio a revolução de 30. Para Aspásia, a
Revolução de 30 não implicou numa derrubada efetiva da república velha, mas abriu espaço para
oligarquias dissidentes e para grupos modernizantes como os tenentes.

Segundo Boris Fausto há duas interpretações sobre o revolução de 1930. Uma tese destaca o Brasil
com essencialmente feudal com sua base rural entra em contradição com a burguesia nascente, que
é ao mesmo tempo nacionalista e anti-imperialista. A Revolução de 30 seria esta revolução
burguesa: a base empírica desta postulação é o processo de intensificação das atividades industriais
no país depois de 1930. Outra tese destaca as classes médias representando grupos emergentes que
estavam fora da elite política e/ou agrária como fator atuante, como os militares. Bóris Fausto
demonstra o equívoco nestas duas interpretações: o cuidado da análise seria, por um lado, não tomar
os setores que apoiaram Vargas num primeiro momento representante de uma burguesia, já que SP,
com burguesia incipiente foi contra o movimento político; e por outro lado, não apelar para um
excesso de voluntarismo das classes médias nas mudanças políticas.

O período de 1930 a 1932, o governo provisório de Vargas, encarou disputas na administração civil
entre tenentes e oligarquias. A materialização deste confronto é atribuído à revolução
constitucionalista de 1932 em SP. Num primeiro momento Vargas nomeava os tenentes para ocupar
o papel de interventores nos estados gerando descontentamento nas elites políticas e econômicas.
Segundo Angela Gomes, o tenentismo procurava construir um instrumento que rejeitasse o sistema
representativo liberal-democrático, que seria incompatível com o "interesse geral da Nação". Os
interventores federais seriam elementos fundamentais à constituição de um partido nacional. Cria-se
a União Cívica Nacional (UCN), esta coligação correspondia a um Estado mais intervencionista e
burocratizado no que se refere à criação de novos órgãos técnicos de consultoria e de
implementação de decisões. Os PRs representavam o federalismo e a UCN a centralização. Ainda, a
UCN defendeu a eleição indireta para presidente da República, a representação classista e a
formação de um conselho supremo da República: a UCN se desarticulou logo depois da constituinte
de 33, não chegando a se transformar num partido nacional.

A constituinte de 1933 tinha o desafio de atender a exigências dos mais diversos setores, precisava
traduzir ideologias em mecanismos políticos. Para Ângela Gomes, a constitucionalização atendia a
expectativa criada com a campanha constitucionalista e ao mesmo tempo buscava aproximar novas
forças e institucionalizar o conflito político: essa incorporação de novas forças relativizou o peso do
Rio Grande na sustentação e influência do futuro governo constitucional. Este peso depende da
capacidade de influir na Constituinte. Ângela Gomes destaca uma peculiaridade na constituinte de
1933, a representação de classe.

A bancada classista dos empregadores era representada pela liderança empresarial da época. A
atuação desses deputados deve ser compreendida, então, como a expressão de interesses dos setores
da indústria e do comércio do país. As questões centrais levantadas pela bancada de empregadores
é, segundo Ângela Gomes, o novo papel do Estado: a intervenção estatal na política social e na
promoção do crescimento econômico. Este ponto envolvia o problema do federalismo versus
centralização. A maioria desses representantes classistas estavam unidos na Confederação Industrial
do Brasil (CIB) com o objetivo de defender os interesses industriais em confluência com os
interesses nacionais. Em seus discursos reconheciam a modernização do mundo, concordavam com
a implantação do direito social, que contribuiria para o desenvolvimento econômico da nação.
Defendia a legislação social, no entanto, limitando seu alcance; aceita o movimento de
sindicalização das classes, mas critica a unidade sindical, prejudicial tanto a empregadores quanto a
empregados; defende a limitação do direito de greve em nome da instituição da Justiça do Trabalho.

A bancada classista de empregados girava em torno da questão social: a necessidade de legislação


social e organização sindical. Defendem a jornada de oito horas de trabalho, proteção do trabalho da
mulher e do menor cujo limite mínimo é 16 anos, reforma e ampliação de direitos securitários
(invalidez, acidente, morte, doença e desemprego), defesa do salário mínimo e a inclusão do
trabalhador rural como beneficiário desta legislação. Um ponto que possuía o apoio total da
bancada foi a defesa da representação com voto deliberativo na Câmara, rejeitando a iniciativa dos
Conselhos Técnicos. O ponto mais conflituoso das pautas foi o direito de greve. Ângela Gomes
destaca a fala do líder da bancada, o Moura, em que o problema não é a questão do regime político
e sim a questão social. "O que querem os trabalhadores? Regimes exóticos ou extremistas? Não.
Nós queremos justiça. Nós necessitamos de pão, de assistência e de instrução." Uma ala mais
crítica, a "minoria proletária", não acreditam na política de conciliação entre capital e trabalho: os
dilemas retornam para o direito de greve e o debate sobre a autonomia sindical. Tratava-se de
barrar a intervenção do governo nos sindicatos, com liberdade política dos associados; garantir a
unidade sindical com autonomia.

O debate entre regionalismo e centralização política pode ser visto também através da geopolítica
econômica: os estados do Centro-Sul, plutocrático e liberal, mais fortes economicamente
defenderam maior autonomia para os estados, enquanto o Norte e Nordeste, mais intervencionista e
populista, mais dependentes economicamente do governo federal, defenderam o poder centralizado.
A Constituição de 1934 foi importante no campo do trabalho, do sistema eleitoral e da educação. É
a primeira vez que a constituição trata de direitos sociais. Manteve o federalismo e ampliou os
poderes da União. Tal constituição só durou até 1937: a partir deste ano se instaura o Estado Novo e
o centralismo dá o tom mediante o intervencionismo estatal. O presidente da República passa a ter
força decisória praticamente ilimitada e é colocado como chefe supremo da nação, Aspásia
Camargo destaca esta propensão do Executivo sobre os poderes Legislativo e Judiciário e além
disso, identifica que o corporativismo foi a forma de agenciamento da ação política social.

Se já havia desde 1907 um duro controle sobre a atuação de militantes estrangeiros através da Lei
Adolpho Gordo, se este processo foi acirrado com a Lei de 1921 que definiu a criminalização do
anarquismo, e a partir de 1935 se mostrou a face brutal da repressão. A sistemática prática da tortura
foi aplicada a partir de 1935 e em 1936 foi criado o Tribunal de Segurança Nacional, um órgão da
justiça militar que atuava como polícia política responsável pela criminalização de ideologias e
práticas que fossem consideradas contra a ordem política e social no país. Sua sede foi instalada no
RJ e os juízes eram escolhidos entre os mais reacionários do Exército e do Judiciário que julgavam
segundo a Lei de Segurança Nacional. As leis da constituição não eram válidas nesta instância
político-militar, tornando impossível a defesa dos acusados, além disso os juízes podiam julgar
baseados na presunção da culpa. Como o Golpe de 37 fora dado sob justificativa de movimentação
comunista (o forjamento do plano Cohen) os movimentos políticos de trabalhadores são
perseguidos e criminalizados.

Nesta altura, era consenso para as forças políticas apoiadoras de Vargas, que se tornara necessário
organizar o cenário político com os atores dinâmicos na sociedade, como militares, empresários,
trabalhadores, intelectuais e Igreja. Para Aspásia Camargo, na década de 30 foram os atores
políticos que expressavam a natureza e a estrutura dos conflitos pois o sistema institucional ainda
era frágil. As aspirações do Golpe de 1937 seriam justamente fortalecer o Estado e racionalizar as
decisões governamentais: a resposta era buscar a homogeneidade; fortalecer o intervencionismo
econômico, social e político; organizar a administração pública; e cooptar atores: o que foi capaz de
aglutinar as elites foi o anti-comunismo. Tais medidas não poderiam ser postas em prática num
quadro fragmentado: o Congresso e os governos estaduais ainda eram controlados por lideranças
regionais e as forças democráticas se encontravam pulverizadas.

Para Aspásia, o Estado Novo deixou alguns legados: a consolidação do processo de


industrialização; a definição de dois grupos de interesses, o de trabalhadores urbanos e o de
empresários: o empresariado , mediante corporativismo, foi fortalecido com políticas de incentivo e
protecionismo e os trabalhadores puderam garantir alguns direitos mediante consolidação das leis
do trabalho e além disso passaram por uma valorização no campo simbólico; o corporativismo
estatal absorveu conflitos para dentro do organismo de Estado; a classe militar assume
decididamente posição anti-comunista. Werneck Vianna considera que o Estado Novo conformou a
primazia do público sobre o privado, Schwartzman identifica o contrário: que nossa experiência
neopatrimonial é caracterizada pela apropriação de funções, órgãos e rendas públicas por setores
privados, que permanecem no entanto subordinados e dependentes do poder central, formando
aquilo que Raymundo Faoro chamou de “estamento burocrático”.

Para Schwartzman o estamento burocrático é dependente do poder central e seu despotismo passou
do imperador, aos positivistas do Sul, aos tecnocratas do Estado Novo, chegando aos militares. O
Schwartzman destaca a atuação do “estamento burocrático” brasileiro sob o viés da formalidade
legal dos processos políticos e jurídicos e por este motivo, se afasta das análises que consideram
divisões entre as classes sociais. Sua análise parece deficiente pois desconsidera que “as bases do
autoritarismo” são justificadas através da manutenção de privilégios, da exploração do trabalho e da
marginalização de grande parte da população. Esta lacuna em seu pensamento seria resolvida se
tratasse do Estado como um instrumento de dominação das classes proprietárias: não há contradição
entre a atuação do estamento com a classe dominante ou elite de determinado contexto histórico,
social, político e econômico. O estamento pode não se reduzir à classe ou elite mas define ações
para a manutenção do status quo, das posições de privilégio social e de propriedade.

Schwartzman considera que a primazia do Estado corporativista organiza a sociedade para se


manter dependente e controlada, enquadrando sindicatos, associações patronais e profissões
liberais, incluindo o sistema de ensino superior. A análise de Schwartzman propõe que na mesma
medida em que o Estado coopta diversos setores da sociedade e se apropria dos todos os processos
políticos e decisórios, reafirma uma exclusão que mantém a desigualdade social e econômica.

O central do trabalho de Schwartzman é tecer uma crítica ao Estado intervencionista na economia,


como se um Estado mínimo e uma sociedade de livre comércio fosse a prescrição para superar as
bases autoritárias de nossa formação social política. A sociedade aparece como uma massa difusa e
desorganizada em diversos momentos do texto, falta à análise de Schwartzman uma articulação com
a perspectiva de classe sobre o processo de organização de setores marginalizados na sociedade. É
por conta da ausência de uma investigação que considere os conflitos de classe presentes na
sociedade que o sociólogo recai no mesmo argumento dos privatistas e tecnocratas do Estado em
qualquer parte do mundo, de que é preciso reduzir o tamanho do Estado e diminuir a intervenção no
mercado.

Pudemos ver que não é possível criar um chavão que justifique os processo de centralização e
descentralização política no país, nem identificar um comportamento político único de
proprietários, nem atribuir os processos de transição a uma classe. O que parece ser sintomático em
nossa história política é que tais processos de mudança sempre foram operados de cima para baixo,
mas é com muito cuidado que fazemos esta constatação pois não se pode corroborar com
Schwartzman que considera que há um padrão histórico de natureza autoritária em nosso país. A
disputa de poder do Estado não é determinante política da sociedade, contra este Estado sempre
houve levantes.

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