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Olá! Estamos de volta aos artigos da seção Áudio e Acústica, que mostram como
podemos construir nosso próprio estúdio! Já tivemos acesso a alguns
fundamentos sobre o som e, nos últimos três artigos desta série, vimos como
desenhar o layout de uma técnica e de um estúdio, além de também sermos
apresentados às suas lógicas bem diferentes. Nesta edição veremos algo bem
perto do layout: as ondas estacionárias.
Elas são calculadas junto ao layout porque, como vamos ver a seguir e na
próxima edição da coluna, dependem diretamente das proporções das salas.
Sendo que o layout da técnica e da sala de captação, como agora os conhecemos,
estão de mãos dadas com os cálculos de ondas estacionárias. Não adianta ter um
ótimo layout sem ter calculado as ondas estacionárias. Sem esse cálculo,
corremos o risco de precisar refazer o projeto do zero!
Mas o que são estas ondas estacionárias? Para entendê-las, temos que dar um
passo para trás e revisar rapidamente o que vimos nos primeiros artigos desta
série: fase, reforço e cancelamento. Vamos lá!
Resumindo, sabemos que estar 'em fase' resulta em reforço. Também sabemos
que estar 'fora de fase' resulta em cancelamento. Para entender a formação de
uma onda estacionária, o que vimos com os speaker boundary interferences é
um ótimo ponto de partida! Observe o gráfico presente na figura 1.
Uma caixa emite um som que, nas frequências graves, se propaga esfericamente
em todas as direções. O som alcança, em pouco tempo, as paredes, que o
refletem de volta (imagem 3 da Figura 1). O que não dá para ver muito bem é
que o som que volta vai se encontrar com o som partindo das caixas. Estes sons
vão se cancelar, como no exemplo da Speaker Boundary Interference.
Mas o que aconteceu de fato? O que nos interessa agora é como o som resultante
se comportou com o tempo. Ele acaba sendo o som resultante das duas ondas
viajando em movimentos opostos, e, com o tempo, acaba gerando momento de
adição e de cancelamento. Observe, agora, onde isso acontece. Foque em um
lugar específico. Você percebeu? Pegue um outro ponto e verifique de novo.
Para quem não conseguiu acompanhar o exemplo, coloquei uma animação de
uma corda em nosso site: http://tinyurl.com/anima-corda.
Ufa! Acho que isso foi a parte mais difícil. O resto agora vai ser bem mais
tranquilo, prometo! Alô? Você ainda está comigo?
ONDAS ESTACIONÁRIAS E SEUS HARMÔNICOS EM CORPOS
DIFERENTES
Imagine a corda de um violão. A corda é presa nos dois lados e quando ela entra
em vibração, gera primeiramente um ventre bem no meio da corda e nós nos
finais, onde ela esta fixada. Mas logo depois ela se divide em duas, criando dois
ventres com o nó exatamente no meio da extensão da corda. Ela se divide em
três, em quatro, em cinco partes iguais, e assim por diante. O que é interessante
é que ela sempre se divide desta forma e que os sons resultantes têm uma
relação bem simples e interessante: a divisão em dois gerou uma oitava, que
seria duas vezes a frequência fundamental da corda. A divisão em três gera uma
quinta, uma oitava acima e a divisão em quatro gera a segunda oitava acima do
som fundamental. O que importa é que a corda tem um som fundamental e
harmônicos que têm uma relação matemática bem simples com ele. Esta
simplicidade é bem-vinda nos cálculos futuros das ondas estacionárias.
Vamos ver um outro cenário: o som de uma caixa de bateria. Nele, o som vai se
comportar parecido com o da corda, mas, no final, será praticamente ao
contrário: ele se divide também em dois, em três, em quatro etc. Mas em vez de
formar o ventre no meio, acaba gerando-o nas paredes da caixa. E no lugar do
ventre, forma-se um nó, que estava nas extremidades na corda. Entendeu onde
quero chegar?
A única diferença entre uma corda e uma sala fechada é a localização dos
ventres e nós! São todos padrões estacionários. Na sala fechada, ela é
praticamente o oposto da corda: onde tem ventre, tem o nó, e vice-versa.
Sabendo disso, começa a ficar cada vez mais fácil entender as ondas
estacionárias, ao menos os axiais, que vimos até agora, que são as ondas que se
formam entre duas superfícies (eu digo superfície em vez de parede porque a
onda pode se formar também entre o chão e o teto).
Eu sempre ensino o seguinte lembrete: até uns 200 Hz, você esta na região das
ondas estacionárias e terá que aprender como contorná-las. Até uns 500 Hz,
você está na zona dos Speaker Boundary Interference e terá que saber como
tratá-los. Acima dos 500 Hz, vamos entrar na área das reflexões, que já vimos
no passado, quando fizemos o Ray Tracing para criar a Reflection Free Zone. De
qualquer forma, são pontos de referência para ajudar a sua memorização. Ok?
A região que as ondas estacionárias vão afetar é a dos instrumentos que têm
conteúdo muito grave, como bumbo, surdo, baixo etc. E como já vimos no
passado, se estamos em uma técnica, mixando com uma coloração muito forte,
o técnico vai ouvir o som do baixo embolado e muitas vezes vai recompensar na
equalização, criando um outro problema. Saber qual é a frequência do problema
pode ajudar muito a evitar decisões erradas de mix.
f 1 (fundamental) = 34,4 Hz
f 2 (segundo harmônico) = 68,8 Hz
f 3 (terceiro harmônico) = 103,2 Hz
f 4 (quarto harmônico) = 137,6 Hz
Uma vez calculado, sugiro pegar uma folha quadriculada para traçar o seu
resultado. Se não tiver, você pode imprimir uma, fazendo uma busca simples na
internet. Coloque os resultados em proporção na folha, sendo que a distância
entre o f1 e f2 deverá ser a mesma entre f2 e f4.
Quanto mais juntos eles ficam, mais você tem um aumento nessa frequência.
Você viu as coincidências em 68,8 e 137,6 Hz? Nestas frequências haverá um
embolo que afetará a sua audição negativamente.
Ok: aqui vimos em detalhe as ondas estacionárias axiais, que se formam entre
duas superfícies. No próximo artigo vamos ver como as ondas estacionárias
podem ser calculadas mais precisamente, incluindo as tangenciais e oblíquas.
Vamos estudar quais são as melhores proporções para a sua sala e o que isso
significa na prática. Afinal, é isso que sempre procurávamos, não é? Uma sala
bastante transparente, que não vai colorir o som que estamos escutando ou
gravando. Vamos aprender como evitar estas ondas estacionárias ou, em último
caso, como tratá-las com Bass Traps.