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Questões da 1º unidade:
Justino nasce na cidade agora chamada, Nablus (antiga Siquem), na Palestina, por volta do
século II d.C., na época, colônia romana. O mesmo narra do que consistiu sua “evolução
religiosa”, tendo sofrido influências de uma série de escola filosóficas famosas do helenismo.
Conta no seu “Diálogo com Trifão” que esteve junto a um estoico e logo após um peripatético,
mas não se satisfez com ambos os professores, passou um breve período com um Pitagórico,
como também foi adepto da doutrina dos Platônicos, até que, supostamente ao conversar com
um “velho ancião cristão”, chamado Trifão, com ele encontrou no cristianismo “aquilo que
procurava”. Tais informações são relevantes ao adentrar na perspectiva do filósofo quanto à
necessidade da filosofia, pois, ainda que defenda o cristianismo como única filosofia realmente
“segura e útil”, Justino reserva um lugar de importância às investigações daqueles conhecidos
por “filósofos”, afinal o próprio considera a filosofia como “o que nos conduz a Deus e a eles
nos une”, e foi pela filosofia que acabou sendo conduzido ao cristianismo.
Justino defende a opinião de que os antigos filósofos foram cristão, envolvido pelas as lições
desenvolvidas entre as doutrinas filosóficas. Justino considerava que tais doutrinas guardavam
em si algumas verdades, mesmo seus desenvolvedores tendo vivido antes de Cristo ter se feito
carne, ou seja, o momento que Deus revelou a verdade através. Justino argumenta a favor dessa
tese, a partir de uma interpretação das escrituras (inspirada no evangelho de São João, “A
encarnação do Verbo”): O filósofo em questão parte da premissa de que a razão, não é nada
mais do que aquilo que de modo geral é traduzido como “verbo” de Deus, ou seja, Cristo. Pois,
ambas as palavras (“verbo” e “razão”) são traduções possíveis da palavra grega “lógos” (λόγος),
palavra de grande importância na história da filosofia, sobretudo na filosofia grega. Ou seja,
para Justino “lógos” e “verbo” são o mesmo, e ambos não são nada mais que “Cristo”. O
“lógos” é comum a todos os homens, sendo assim, aqueles que viveram conforme essa “razão”
(conforme o “lógos”, ou seja conforme “Cristo”) foram cristãos, mesmo tendo sido
considerados ateus, como exemplo pode-se citar Sócrates, Heráclito, Platão, entre outros. Disso
pode-se inferir que, para Justino, todo aquele que busca verdade está buscando a Deus, afinal
Deus é a verdade última, e é a verdade que os filósofos procuram.
Como cristão, Tertuliano em seus escritos se dedicou a combater qualquer tipo de heresias,
ainda que no meio da vida tenha deixado o cristianismo católico para uma de suas gnoses e, por
último, criado sua própria, deixou uma vasta obra contra seitas gnósticas. Por isso, o mesmo
manteve uma posição incisiva contra a filosofia, cuja Tertuliano identificou como maior
gestante de heresias. Afinal, muitos dos quais passaram a interpretar as Escrituras de modo
alternativo, se usaram da filosofia grega. É o maior representante da tradição dos apologetas
ocidentais, os quais, diferente dos apologetas orientais (onde Justino pode ser incluído), não
viam o cristianismo como uma continuação daquilo chamado de “filosofia grega”. Para
Tertuliano o único conhecimento que basta de fundamento para o cristianismo é apenas a
natureza prática e imediata da fé, sendo deixada de lado a racionalidade.
As heresias são o fruto do fascínio e da sedução que a filosofia grega exerce sobre os espíritos.
Tertuliano, por propor que o conhecimento derivado da fé deve bastar ao indivíduo. Rejeita
qualquer tipo de investigação no que concerne a espiritualidade dado que o indivíduo já tenha
conhecido a fé cristã. Como tal, interpreta do mesmo modo a sentença “buscais e achareis” dita
por Cristo: Tertuliano nega que seja um convite para uma constante investigação, mas sim que
se deve procurar a doutrina que Cristo propôs, e ao encontrá-la, cessar. Basta que nos atenhamos
a norma da fé. A transgressão desses limites conduz à heresia.
No entanto a filosofia tem como uma de suas marcas essa constante investigação, por isso
Tertuliano promove sua rejeição. “Do mesmo modo que os profetas são os patriarcas cristãos,
os filósofos são os patriarcas dos heréticos”. Mas o que Tertuliano teria a dizer sobre supostas
similaridades que Justino diz encontrar entre a filosofia pagã com as doutrinas cristãs? Para o
impaciente filósofo de fato alguns filósofos ensinam doutrinas que se assemelham à cristã, mas
encontraram essas verdades nas suas investigações por mero acaso, uma sorte cega.
“Credo quia absurdum” (Creio porque é absurdo), essa frase, ainda que não tenha sido dita por
Tertuliano, sintetiza bem sua perspectiva quanto à religião. Deixa claro o afastamento do
racional que o filósofo propõe para o cristianismo. Caso alguém se envolva numa investigação
acerca das coisas da fé, a única coisa que vai tirar disso é um conjunto de heresias. “A
investigação exclui pois a posse, e a posse exclui a investigação” [...] “Procurar depois que se
alcançou a fé é cair em heresias”.
03 - Explique como a teoria da “corporeidade do Ser” dos estóicos adotada por Tertuliano
acaba por torná-lo um pensador materialista.
Tertuliano, como foi apontado na resposta à última questão (02), tinha forte rejeição a filosofia,
tendo a mesma como uma fonte de heresias. No entanto (talvez confirmando sua primeira
perspectiva, mas é claro, supondo que o mesmo ainda quisesse se manter cristão) ao falar sobre
a alma, sobre Deus, sobre a realidade como um todo, acaba por cair em heresia: o filosofo adere
a teoria dos estoicos da “corporeidade do Ser”. Com isso Tertuliano toma como real somente
aquilo que tem matéria e, para o mesmo, tanto Deus como a alma eram compostos unicamente
por matéria, ambos são corporais. Não nega que sejam constituídos de espírito, mas ainda
assim, esse espírito é corporal. Assim, sendo totalmente contrario a tese de uma seita chamada
“docetismo”, a qual propunha que Cristo, ao estar no mundo, não era constituído de carne, de
matéria, mas sim puro espírito (imaterial no caso do docetismo).
A alma é uma espécie de corpo sutil, tênue e aeriforme, análogo a um sopro. Toma o mesmo
formato do humano, portanto do corpo, que a contém. A razão também seria coisa física, sendo
sentir e pensar coisas idênticas. O mundo sensível e o mundo inteligível tem sua diferença
somente enquanto um é visível e aparente, e o outro instável e invisível. A alma, possuindo
materialidade, é nutrida por alimento, assim se explica o porquê da alma precisa, para sua
permanência no corpo, da alimentação intermediada por esse. Indo de encontro com aqueles que
propunham como alimento da alma o conhecimento, retruca tal tese com sua característica
ironia: “Se tal fosse o caso, já muitos homens teriam perecido de fome”.
Essa materialidade, também sustentará a sua tese de que há nos homens um conhecimento
“natural” de Deus, herdado diretamente pela alma, assim como também os humanos herdam o
pecado original de Adão (elemento que abordaremos mais a frente). E, como consequência da
tese de só o que é real aquilo que é material, Tertuliano exibe sua teoria quanto a materialidade
de Deus, o qual é invisível pela sua própria grandiosidade, seu esplendor. O filósofo faz um
paralelo entre o Sol e Deus, pois do mesmo modo que tentar ver a substância do Sol é invisível
para nós, pois nos cega, assim só conseguimos captar seus raios, assim também acontece com
Deus.
04 – Como Tertuliano explica a transmissão do pecado original e quais as implicações de
sua teoria para o cristianismo?
Tendo em vista que Tertuliano aceita uma teoria similar à estoica da “corporeidade do Ser”, e
que, por consequência, para ele até Deus e a alma são materiais; O filósofo propõe que a alma é
transmitida de pai para filho pelo sêmen, uma transmissão física da alma, ou seja, ela seria como
uma espécie de rebento, um broto advindo da alma paterna. Essa tese explica o motivo de todos
os filhos de Adão guardarem em si uma dose do pecado original, é interessante também porque
explica o motivo pelo qual Cristo não foi herdeiro do pecado, pois o Messias não sendo
concebido de maneira tradicional, mas sim diretamente pelo espírito de Deus, estaria livre dessa
corrente que o sêmen perpetua.
Se deixarmos de lado o fato desse materialismo radical acabar indo de encontrou com princípios
básicos do cristianismo, ela consegue responder algumas questões importantes para tal doutrina
(como as já citadas), no entanto não está livre de problemas. Ao reduzir tudo à matéria e colocar
o pecado original como algo que se transmite fisicamente, Tertuliano cai no problema do
determinismo, afinal, se herdamos o pecado como podemos ser culpados por continuar a
reproduzi-lo? O problema do livre-arbítrio, um dos principais problemas que Santo Agostinho
se debruçará em vida.
05 - O que é uma gnose e por que esta foi o grande problema a ser combatido pelos Padres
da Igreja nos primeiros séculos do cristianismo? (ver nos Dicionários a definição de gnose)
Gnose é uma palavra de origem grega (Γγνῶσις), cuja tradução literal corresponde a
“conhecimento”. Consultando o Dicionário Aurélio encontramos a palavra “gnose” se referindo
a “o saber, por excelência; ciência superior” 1. Ambas as coisas nos indicam pouco sobre o que
tal “conhecimento” desemboca no século II, o combate dos Apologetas a esse conhecimento
“perigoso” ao cristianismo, mas a segunda indica uma característica particular, que o diferencia
do mero “conhecimento”. “Gnose” se refere a um conhecimento que está além, é “superior”.
Outra definição retirada do dicionário online de língua portuguesa “Dicio”, além dessa mesma
característica, vai é mais explicativo sobre qual o significado de “gnose”, cito: “[Filosofia]
Religião. Modelo religioso e filosófico de acordo com o qual a sabedoria, das coisas divinas,
vem de uma descoberta interior, sendo parte da essência humana, intuitiva e não científica” 2.
1
Versão online, disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com/gnose›. Último acesso em: 29 Abril.
2017
2
Disponível em: < https://www.dicio.com.br/gnose/ >. Acesso em: 29/04/2017.
Os apologetas não ficaram restringidos a fazer a defesa do cristianismo e dos cristãos frente às
instituições romanas e os pagãos (seus perseguidores), também se preocuparam em discutir
acerca de problemas que se manifestaram dentro do seu escopo: delimitar e explicitar quais os
dogmas básicos do cristianismo, contra as ideias que passaram a ser geradas em diversas seitas
denominadas como “gnósticas”. Essas seitas subvertem a função da fé em comparação a razão,
função que será imprescindível durante a Filosofia Medieval, para os gnósticos a fé deve ser
serva da racionalidade. Seus precursores acabavam por misturar o cristianismo com doutrinas da
filosofia pagã, como o estoicismo e o neoplatonismo, assim também misturavam com
misticismo, por vezes oriental. Ou seja, as seitas gnósticas dissolviam o cristianismo em
diversas “religiões” distintas, ameaçavam a sua unidade como “a verdade”. Por esse motivo tais
seitas foram rivais das cristãs, e foram combatidas pelos mesmos. Tal polêmica exige dos
cristãos maior rigorosidade na elaboração da sua doutrina, firmar sua unidade, para se distinguir
claramente o que é cristianismo, daquilo que não é.
Assim, na proposta de Orígenes o critério que deve ser adotado para considerar aspectos da
doutrina como autênticos é se eles forem pregados desde os tempos apostólicos, distinguindo
assim entre o que seriam os aspectos essências das Escrituras, em detrimento dos seus aspectos
acidentais. Os primeiros seriam imutáveis e deveriam ser aceitos por todos os cristãos, os
segundos consistem de verdades que não estão contidos claramente na tradição apostólica,
acerca desses últimos compete à especulação formular algo sobre. As Escrituras, para ele,
tornam-se elementos mínimos do conhecimento completo, e conforme tais servem de sua
introdução. O cristão dotado da graça da palavra e da ciência teria a obrigação de interpretar os
primeiros aspectos, como também explicar os segundos. É necessário que os sábios desvelem e
distingam o sentido alegórico e metafórico, do sentido literal do que está presente na Bíblia.
Ao filósofo, a transição de uma interpretação literal para alegórica das verdades reveladas,
consiste da passagem da simples fé ao conhecimento. E, como Clemente, toma que a Filosofia
deve ser usada como uma serva da fé, para elucidação especulativa de suas verdades. Orígenes
costumará dar prioridade a interpretações alegóricas em comparação as literais. Diz ele que
aqueles que se mantém numa interpretação integralmente literal da Bíblia, estão restritos a um
entendimento limitado, baixo, da mensagem do Senhor, mas ao conseguir distinguir o que seria
alegórico do literal, há uma ascese em direção a um conhecimento superior, ainda que Orígenes
atribua grande utilidade ao sentido literal dos textos. Tal método traz um sentido razoável a
muitas passagens das Escrituras que são tidas por absurdas.
Assim, Orígenes faz uma distinção entre três sentidos (ou interpretações) que podemos dar as
Escrituras, a saber: o material ou corporal (que corresponde à interpretação literal), o psíquico
(uma interpretação de cunho moral) e, por fim, o pneumático (uma interpretação de cunho
místico). Disso, o mesmo faz um paralelo entre três partes distintas que constituem o homem
respectivamente, o corpo (σῶμα), à alma (ψυχή) e ao espírito (πνευμα). Cada um corresponderia
também a “graus de perfeição”, classificando assim os cristãos, respectivamente em cristãos
simples, avançados e perfeitos. Isso revela uma espécie de “aristocracismo” espiritual de
Orígenes, que também estava presente e Clemente, mas de modo velado.
08 - Quem é Deus para Orígenes e por que sua doutrina da Trindade fere o cristianismo?
Origines julga desnecessário demonstrar a existência de Deus, assim também, Julga como
inacessível o entendimento completo da perfeição de Deus ao entendimento humano,
conhecemos algo de Deus mediante a afinidade do nosso espírito com a dEle, mas isso se dá
apenas por aproximação, a mesma não se dá na sua completude, não dispomos de linguagem
para concebermos a real natureza divina, mas o mesmo reconhece-o como possuidor de algumas
características como o fato de Deus ser ingênito, único, eterno, imaterial, algumas das quais
serão apresentadas a seguir, junto disso discutiremos onde Orígenes acaba caindo em erro ao
tratar sobre a sua proposta quanto a trindade.
Orígenes reconhece Deus como imaterial, essa tese o mesmo admite passar por dificuldades,
pois é pouco palatável aos pensadores da época, tanto que o próprio Tertuliano acabou passando
a defender a corporeidade do Senhor. No entanto, Orígenes justifica que se passa por esse erro
ao interpretar as descrições do divino de modo literal, Orígenes chega a rejeitar todo o
antropomorfismo presente no velho testamento, interpretando-o de modo aleatório. Deus não
existe um corpo, nem em um corpo: sua natureza é espiritual e simplicíssima, e a defesa de tal
tese se dá por uma análise do espírito humano, a partir do momento que prova sua
imaterialidade, Orígenes passa a defender a natureza divina como puramente espiritual. O
filósofo em questão também defende o caráter único de Deus. Combate o politeísmo, pois o
mesmo estava profundamente difundido na mentalidade da época. Essa mente politeísta também
se manifestava em seitas gnósticas, algumas defendiam versões politeístas do cristianismo,
admitindo a existência de dois Deuses distintos, um do velho, e outro do novo testamento, o
primeiro justo, mas não bondoso, o segundo bondoso, mas não justo. Orígenes, ao combater tal
tese, mostra que a bondade e a justiça não são excludentes.
Mas, ao abordar a Trindade, Orígenes caí em heresia. Ele está certo em colocar Deus como uma
unidade, no entanto ao tratar de sua diversidade (como Pai, Filho e Espírito Santo) ele subordina
o Filho (Verbo ou Lógos) e o Espírito Santo ao Pai. Orígenes vai defender uma cosmogonia
similar ao que o filósofo neoplatônico Plotino defendeu (vale ressaltar que ambos, Plotino e
Orígenes, tiveram o mesmo mestre Amônio Sacas). Para Plotino, só há uma realidade
verdadeira, o Ser supremo, cujo qual o filósofo denomina de “Uno” esse compete em si diversos
atributos do Ser eleata, imutável, ingênito, imóvel, indivisível, único, entre outros. Sobre esse
“Uno” nada se pode falar. Pode-se colocar o “Uno” num papel parecido com o “Bem” na teoria
platônica das ideias. O “Uno” assim como o “Bem” em Platão, e “Deus” em Orígenes, da
origem ao mundo por um processo chamado por Plotino de “emanação”, que se inicia da criação
do “intelecto” (νοῦς) pelo “Uno”, esse “intelecto” novamente por emanação produz a “Alma do
Mundo”. Essas três entidades são as três “hipóstases” (ὑπόστᾰσις). Ainda que tenha suas
particularidades, Orígenes interpreta a Trindade de modo muito similar ao que Plotino. O Pai da
origem ao Verbo (ou seja, o verbo está abaixo de Deus, subsequente. Diferente dele é criado), e
o Verbo origina o Espírito Santo (ocorre o mesmo que o dito no Verbo, mas ainda por cima, o
Espírito Santo não tem contato direto com o Pai). Orígenes acaba colocando “gradações” de Ser
na Trindade, o que é pura heresia para a doutrina cristã, pois não deve existir tal hierarquia entre
Pai, Filho e Espírito Santo na mesma, as três são igualmente Deus.
09 - Qual o destino do homem para Orígenes e o que tem de problemático em sua
doutrina?
O destino do homem para Orígenes está interligado com sua hipótese da geração do cosmos a
partir de Deus. O homem faz parte do movimento conjunto do mundo o qual pertence. Pela sua
capacidade racional, que o proporciona o livre-arbítrio, o homem, assim como os anjos e
demônios, acaba por se afastar do Bem (Deus), e em sua queda deixa de ser uma substância
racional, espírito puro, para se tornar uma alma, estado no intermédio entre a inteligência e os
corpos, não estando nem entre os homens nem entre os demônios. Essa queda se dá por um ato
de liberdade, e da mesma forma o homem está fadado a se voltar para as coisas divinas por livre
escolha, na esperança de assim se retornar a contemplar a Deus.
Orígenes explica nossa origem misturando mitos cristãos, nossa origem se dá durante a revolta
de Satã, que com ele afasta de Deus uma série de outros espíritos que se rebelaram a Ele pelo
pecado. O castigo foi condizente com o grau de apostasia, os homens acabaram se encontrando
no limiar de anjos e demônios. Com a educação o homem vai alçando sua gradativa volta a seu
estado de substância inteligente, sua natureza inteligível, que corresponde ao Lógos. A ação do
Lógos não é súbita, passa por uma progressiva entrada na luz do homem. Mas, ao delinear como
se dá essa ascese, novamente, Orígenes cai em mais uma heresia. Essa escalada do homem é
longa. Por isso o filósofo propõe que as almas terão de se reencarnar repetidas vezes até
conseguirem alcançar novamente seu estado próximo a Deus. A reencarnação, ao catolicismo
canônico, é mais uma heresia. Orígenes novamente fere o cristianismo ao tentar explicar as
coisas do divino.
Basílio, também conhecido como “Basílio, o Grande”, foi um dos três Padres Capadócios.
Viveu durante o período que a Igreja Católica tornou-se a igreja oficial do império Romano e foi
um grande adversário das heresias que surgiram no período, com destaque a uma seita
denominada “Arianismo”, apelando explicitamente para tradição eclesiástica.
Basílio foi um grande admirador de Orígenes, principalmente no seu modo de fazer a exegese
bíblica, ou seja, separando o que pode ser considerado alegórico, do que pode ser lido de
maneira literal. Ao mesmo tempo, também se alinhou a Orígenes, consequentemente a
Clemente e Justino, sob qual a função da razão frente à fé, a de auxiliadora. Ou seja, para
Basílio, a razão deve sempre servir a fé. Ao se discutir em torno das escrituras, a fé deve ser o
guia máximo, assentada sob o que a tradição eclesiástica deixou. As únicas coisas que estão fora
da tradição que poderiam ser aceitas, são aquelas que concordam, que se alinham, com a
tradição. Assim, também Basílio concebe aliar os conhecimentos cosmológicos e científicos de
seu tempo com os dados bíblicos.
11 - Como Basílio explica a Trindade (contra quem)?
Ao se tratar da Trindade, como já citado noutra questão (08), deve se ter o cuidado, para não se
cair em heresia, de conseguir conciliar o caráter de “Unidade” de Deus, e seu caráter
“diversificado” (Pai, Filho e Espírito Santo). Basicamente, isso significa que se deve respeitar o
monoteísmo, mas ao mesmo tempo reconhecer a diferença dos três que são Deus e, junto disso,
não hierarquizá-las entre si, pois são o mesmo. O problema da Trindade quebrou a cabeça de
diversos pensadores, como Orígenes, que acabou caindo em heresia, pois ainda que respeite a
unidade criou uma “gradação” do divino, fazendo Filho ser menos puro que o Pai, e o Espírito
Santo ser menos puro que ambos. Seitas gnósticas, por vezes, não respeitaram tal exigência, os
Arianos serão alvo principal de uma obra de Basílio (Contra Eunómio, sobre o Espírito Santo),
os quais sustentavam como essência de Deus consiste em ser ingênito, sendo assim o Filho não
a compartilha, pois foi criado pelo Pai. Basílio, na sua explicação da Trindade, vai combater tal
proposta, tendo em vista o caráter tanto uno como múltiplo de Deus.
Basílio tentar responder o problema da trindade partindo de que a essência do Pai, Filho e
Espírito Santo é a mesma, portanto todos em-si seriam ingênitos, todos incriados. Faz um
paralelo com as categorias aristotélicas onde Deus seria o gênero a Pai, Filho e Espírito Santo
fazem parte dessa essência. No entanto, o que mantém a diferença é que o Pai recebe o seu ser
de “pessoa” por si próprio, enquanto o Filho a recebe do Pai, assim o Filho é gerado somente
enquanto pessoa, mas não como em essência. Assim também ocorre com o Espírito Santo, tendo
seu ser dado pelo Filho.