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Aluno: Marciano Romualdo Araujo Cavalcanti

Disciplina: História da Filosofia Medieval I

Questões da 1º unidade:

01 - Apesar de defender o cristianismo como a “verdadeira filosofia”, que importância dá


Justino à filosofia pagã ou como ele justifica a necessidade da filosofia?

Justino nasce na cidade agora chamada, Nablus (antiga Siquem), na Palestina, por volta do
século II d.C., na época, colônia romana. O mesmo narra do que consistiu sua “evolução
religiosa”, tendo sofrido influências de uma série de escola filosóficas famosas do helenismo.
Conta no seu “Diálogo com Trifão” que esteve junto a um estoico e logo após um peripatético,
mas não se satisfez com ambos os professores, passou um breve período com um Pitagórico,
como também foi adepto da doutrina dos Platônicos, até que, supostamente ao conversar com
um “velho ancião cristão”, chamado Trifão, com ele encontrou no cristianismo “aquilo que
procurava”. Tais informações são relevantes ao adentrar na perspectiva do filósofo quanto à
necessidade da filosofia, pois, ainda que defenda o cristianismo como única filosofia realmente
“segura e útil”, Justino reserva um lugar de importância às investigações daqueles conhecidos
por “filósofos”, afinal o próprio considera a filosofia como “o que nos conduz a Deus e a eles
nos une”, e foi pela filosofia que acabou sendo conduzido ao cristianismo.

Justino defende a opinião de que os antigos filósofos foram cristão, envolvido pelas as lições
desenvolvidas entre as doutrinas filosóficas. Justino considerava que tais doutrinas guardavam
em si algumas verdades, mesmo seus desenvolvedores tendo vivido antes de Cristo ter se feito
carne, ou seja, o momento que Deus revelou a verdade através. Justino argumenta a favor dessa
tese, a partir de uma interpretação das escrituras (inspirada no evangelho de São João, “A
encarnação do Verbo”): O filósofo em questão parte da premissa de que a razão, não é nada
mais do que aquilo que de modo geral é traduzido como “verbo” de Deus, ou seja, Cristo. Pois,
ambas as palavras (“verbo” e “razão”) são traduções possíveis da palavra grega “lógos” (λόγος),
palavra de grande importância na história da filosofia, sobretudo na filosofia grega. Ou seja,
para Justino “lógos” e “verbo” são o mesmo, e ambos não são nada mais que “Cristo”. O
“lógos” é comum a todos os homens, sendo assim, aqueles que viveram conforme essa “razão”
(conforme o “lógos”, ou seja conforme “Cristo”) foram cristãos, mesmo tendo sido
considerados ateus, como exemplo pode-se citar Sócrates, Heráclito, Platão, entre outros. Disso
pode-se inferir que, para Justino, todo aquele que busca verdade está buscando a Deus, afinal
Deus é a verdade última, e é a verdade que os filósofos procuram.

Portanto o filósofo em questão sustenta o cristianismo como, em alguma medida, uma


continuação da filosofia grega, sendo assim pode ser alinhado a tradição dos apologetas
orientais, os quais eram adeptos dessa mesma tese. No entanto, Justino faz uma ressalva para os
“cristãos” convertidos apenas pela razão, pois ainda que tenham vivido conforme o “lógos”, não
desvelaram a verdade em sua inteireza, neles somente existiram “sementes de verdade”
(σπερματα αληθεια), verdades imperfeitas, que alcançaram pelas sementes de razão que com
eles nasceram. Essas sementes, ainda que indiquem a verdade, estão obscurecidas, são meras
imitações da realidade em si, a verdade – cuja, como já citado, se identifica como Deus. Para
criar tal conceito de “sementes de verdade” Justino se inspirou na doutrina estoica das “razões
seminais”, ou “razões gerativas” (λόγος σπερματικος). Os quais, grosso modo, no seu complexo
panteísmo, onde deus é uno, eterno e corpóreo, identifica o “Lógos” como o próprio “Deus”, se
usando do conceito de “razões seminais”, como uma série de multiplicidades que existem e
concernem a Deus, mas individualmente não é o mesmo que “O Lógos”. Assim também as
ideias dos filósofos foram, segundo Justino, indicadores de Cristo, pois mesmo trazendo
algumas verdades, nenhuma delas é completa ou firme sem estar assentada na doutrina cristã. A
partir de Justino, portanto, a filosofia pode ser tomada como uma “preparação” ou “preâmbulo”
para fé em Cristo.

02 - Qual o posicionamento de Tertuliano frente à Filosofia?

Como cristão, Tertuliano em seus escritos se dedicou a combater qualquer tipo de heresias,
ainda que no meio da vida tenha deixado o cristianismo católico para uma de suas gnoses e, por
último, criado sua própria, deixou uma vasta obra contra seitas gnósticas. Por isso, o mesmo
manteve uma posição incisiva contra a filosofia, cuja Tertuliano identificou como maior
gestante de heresias. Afinal, muitos dos quais passaram a interpretar as Escrituras de modo
alternativo, se usaram da filosofia grega. É o maior representante da tradição dos apologetas
ocidentais, os quais, diferente dos apologetas orientais (onde Justino pode ser incluído), não
viam o cristianismo como uma continuação daquilo chamado de “filosofia grega”. Para
Tertuliano o único conhecimento que basta de fundamento para o cristianismo é apenas a
natureza prática e imediata da fé, sendo deixada de lado a racionalidade.

As heresias são o fruto do fascínio e da sedução que a filosofia grega exerce sobre os espíritos.
Tertuliano, por propor que o conhecimento derivado da fé deve bastar ao indivíduo. Rejeita
qualquer tipo de investigação no que concerne a espiritualidade dado que o indivíduo já tenha
conhecido a fé cristã. Como tal, interpreta do mesmo modo a sentença “buscais e achareis” dita
por Cristo: Tertuliano nega que seja um convite para uma constante investigação, mas sim que
se deve procurar a doutrina que Cristo propôs, e ao encontrá-la, cessar. Basta que nos atenhamos
a norma da fé. A transgressão desses limites conduz à heresia.

No entanto a filosofia tem como uma de suas marcas essa constante investigação, por isso
Tertuliano promove sua rejeição. “Do mesmo modo que os profetas são os patriarcas cristãos,
os filósofos são os patriarcas dos heréticos”. Mas o que Tertuliano teria a dizer sobre supostas
similaridades que Justino diz encontrar entre a filosofia pagã com as doutrinas cristãs? Para o
impaciente filósofo de fato alguns filósofos ensinam doutrinas que se assemelham à cristã, mas
encontraram essas verdades nas suas investigações por mero acaso, uma sorte cega.

“Credo quia absurdum” (Creio porque é absurdo), essa frase, ainda que não tenha sido dita por
Tertuliano, sintetiza bem sua perspectiva quanto à religião. Deixa claro o afastamento do
racional que o filósofo propõe para o cristianismo. Caso alguém se envolva numa investigação
acerca das coisas da fé, a única coisa que vai tirar disso é um conjunto de heresias. “A
investigação exclui pois a posse, e a posse exclui a investigação” [...] “Procurar depois que se
alcançou a fé é cair em heresias”.

03 - Explique como a teoria da “corporeidade do Ser” dos estóicos adotada por Tertuliano
acaba por torná-lo um pensador materialista.
Tertuliano, como foi apontado na resposta à última questão (02), tinha forte rejeição a filosofia,
tendo a mesma como uma fonte de heresias. No entanto (talvez confirmando sua primeira
perspectiva, mas é claro, supondo que o mesmo ainda quisesse se manter cristão) ao falar sobre
a alma, sobre Deus, sobre a realidade como um todo, acaba por cair em heresia: o filosofo adere
a teoria dos estoicos da “corporeidade do Ser”. Com isso Tertuliano toma como real somente
aquilo que tem matéria e, para o mesmo, tanto Deus como a alma eram compostos unicamente
por matéria, ambos são corporais. Não nega que sejam constituídos de espírito, mas ainda
assim, esse espírito é corporal. Assim, sendo totalmente contrario a tese de uma seita chamada
“docetismo”, a qual propunha que Cristo, ao estar no mundo, não era constituído de carne, de
matéria, mas sim puro espírito (imaterial no caso do docetismo).
A alma é uma espécie de corpo sutil, tênue e aeriforme, análogo a um sopro. Toma o mesmo
formato do humano, portanto do corpo, que a contém. A razão também seria coisa física, sendo
sentir e pensar coisas idênticas. O mundo sensível e o mundo inteligível tem sua diferença
somente enquanto um é visível e aparente, e o outro instável e invisível. A alma, possuindo
materialidade, é nutrida por alimento, assim se explica o porquê da alma precisa, para sua
permanência no corpo, da alimentação intermediada por esse. Indo de encontro com aqueles que
propunham como alimento da alma o conhecimento, retruca tal tese com sua característica
ironia: “Se tal fosse o caso, já muitos homens teriam perecido de fome”.
Essa materialidade, também sustentará a sua tese de que há nos homens um conhecimento
“natural” de Deus, herdado diretamente pela alma, assim como também os humanos herdam o
pecado original de Adão (elemento que abordaremos mais a frente). E, como consequência da
tese de só o que é real aquilo que é material, Tertuliano exibe sua teoria quanto a materialidade
de Deus, o qual é invisível pela sua própria grandiosidade, seu esplendor. O filósofo faz um
paralelo entre o Sol e Deus, pois do mesmo modo que tentar ver a substância do Sol é invisível
para nós, pois nos cega, assim só conseguimos captar seus raios, assim também acontece com
Deus.
04 – Como Tertuliano explica a transmissão do pecado original e quais as implicações de
sua teoria para o cristianismo?
Tendo em vista que Tertuliano aceita uma teoria similar à estoica da “corporeidade do Ser”, e
que, por consequência, para ele até Deus e a alma são materiais; O filósofo propõe que a alma é
transmitida de pai para filho pelo sêmen, uma transmissão física da alma, ou seja, ela seria como
uma espécie de rebento, um broto advindo da alma paterna. Essa tese explica o motivo de todos
os filhos de Adão guardarem em si uma dose do pecado original, é interessante também porque
explica o motivo pelo qual Cristo não foi herdeiro do pecado, pois o Messias não sendo
concebido de maneira tradicional, mas sim diretamente pelo espírito de Deus, estaria livre dessa
corrente que o sêmen perpetua.
Se deixarmos de lado o fato desse materialismo radical acabar indo de encontrou com princípios
básicos do cristianismo, ela consegue responder algumas questões importantes para tal doutrina
(como as já citadas), no entanto não está livre de problemas. Ao reduzir tudo à matéria e colocar
o pecado original como algo que se transmite fisicamente, Tertuliano cai no problema do
determinismo, afinal, se herdamos o pecado como podemos ser culpados por continuar a
reproduzi-lo? O problema do livre-arbítrio, um dos principais problemas que Santo Agostinho
se debruçará em vida.
05 - O que é uma gnose e por que esta foi o grande problema a ser combatido pelos Padres
da Igreja nos primeiros séculos do cristianismo? (ver nos Dicionários a definição de gnose)

Gnose é uma palavra de origem grega (Γγνῶσις), cuja tradução literal corresponde a
“conhecimento”. Consultando o Dicionário Aurélio encontramos a palavra “gnose” se referindo
a “o saber, por excelência; ciência superior” 1. Ambas as coisas nos indicam pouco sobre o que
tal “conhecimento” desemboca no século II, o combate dos Apologetas a esse conhecimento
“perigoso” ao cristianismo, mas a segunda indica uma característica particular, que o diferencia
do mero “conhecimento”. “Gnose” se refere a um conhecimento que está além, é “superior”.
Outra definição retirada do dicionário online de língua portuguesa “Dicio”, além dessa mesma
característica, vai é mais explicativo sobre qual o significado de “gnose”, cito: “[Filosofia]
Religião. Modelo religioso e filosófico de acordo com o qual a sabedoria, das coisas divinas,
vem de uma descoberta interior, sendo parte da essência humana, intuitiva e não científica” 2.

1
Versão online, disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com/gnose›. Último acesso em: 29 Abril.
2017
2
Disponível em: < https://www.dicio.com.br/gnose/ >. Acesso em: 29/04/2017.
Os apologetas não ficaram restringidos a fazer a defesa do cristianismo e dos cristãos frente às
instituições romanas e os pagãos (seus perseguidores), também se preocuparam em discutir
acerca de problemas que se manifestaram dentro do seu escopo: delimitar e explicitar quais os
dogmas básicos do cristianismo, contra as ideias que passaram a ser geradas em diversas seitas
denominadas como “gnósticas”. Essas seitas subvertem a função da fé em comparação a razão,
função que será imprescindível durante a Filosofia Medieval, para os gnósticos a fé deve ser
serva da racionalidade. Seus precursores acabavam por misturar o cristianismo com doutrinas da
filosofia pagã, como o estoicismo e o neoplatonismo, assim também misturavam com
misticismo, por vezes oriental. Ou seja, as seitas gnósticas dissolviam o cristianismo em
diversas “religiões” distintas, ameaçavam a sua unidade como “a verdade”. Por esse motivo tais
seitas foram rivais das cristãs, e foram combatidas pelos mesmos. Tal polêmica exige dos
cristãos maior rigorosidade na elaboração da sua doutrina, firmar sua unidade, para se distinguir
claramente o que é cristianismo, daquilo que não é.

06 - O que significa gnose cristã ou como se dá a passagem da fé ao conhecimento em


Clemente de Alexandria?

Os apologetas do século II tanto se preocupavam com a garantia “unidade” da doutrina Cristã,


como a defesa da doutrina frente os pagãos e heréticos. Com o passar do tempo está necessidade
cresce por motivos internos da igreja. A doutrina cristã exige que seu edifício esteja construído
sob bases sólidas, que mantenha sua unidade e coerência. Clemente de Alexandria está inserido
nesse período. Nessa empreitada, o mesmo recorre à antiga tese Justiniana da continuidade da
filosofia por meio do cristianismo, como também de como se dá a relação entre a filosofia e a
doutrina cristã, mas não se restringe a mera apropriação, Clemente explora essa proposta de
Justino e a desenvolve. Transparece como se deve se dar a relação entre fé e razão e o quão
ambas são necessárias à fundamentação de conhecimento (γνῶσις). Clemente torna-se um dos
maiores nomes do período, influenciando diversos pensadores cristãos que vem a sua frente.
Para se entender o conceito “gnose cristã” que Clemente defende, é preciso se ter claro qual a
relação entre a razão e a fé que o filósofo propõe. Como já citado, para responder isso Clemente
recorre a outro apologeta: Justino. Como dito noutra questão (01), Justino (junto da tradição dos
apologetas ocidentais) defende que há uma continuidade da filosofia grega como a doutrina
cristã revelada por Ele. Na filosofia anterior a Cristo encontramos “sementes de verdade”, as
gquais os filósofos alcançaram pela razão. Clemente acolhe a tese de Justino e, pode-se dizer,
clareia a relação entre Jerusalém e Atenas (a desgosto de Tertuliano).
Para Clemente antes da vinda de Cristo, a filosofia era necessária aos gregos para a sua própria
justificação, e ela continua lhes sendo útil para prepará-los para a fé. Ele propõe que o curso da
história do conhecimento se divide em duas vertentes, uma nasce da Lei revelada aos judeus no
antigo testamento, a outra nasce das “sementes de verdade” colhidas pelos gregos por meio da
investigação filosófica. As duas convergem para uma terceira e completa: a revelação cristã. Ou
seja, a filosofia foi encarregada do papel de encaminhar os gentios para Cristo, como a antiga
Lei servira para conduzir a Ele os judeus. Por isso, encontramos na filosofia verdades próximas
as que estão presentes na doutrina cristã, e por isso a filosofia tem a sua importância aos
cristãos, pois foi pela filosofia que Deus guiou os homens, ainda que indiretamente, pelo seu
caminho.
No entanto, o Logos sozinho também é incompleto para se alcançar a verdade. Assim como as
doutrinas filosóficas contém muito de verdadeiro, também guardam elementos totalmente
incoerentes com a fé, por exemplo, a proposta estoica da natureza de Deus. Ainda que os
estoicos possuam uma bela ética, propõe uma espécie de Deus corpóreo, o que é absurdo para
doutrina cristã. A razão sozinha mistura o verdadeiro com o falso. A partir disso, Clemente traz
a sua proposta de “gnose cristã”: a filosofia sozinha, assim como as seitas gnósticas acabam por
fazer, ambas quebram a unidade natural da verdade, pois são cegas. E por isso deve-se usar o
crivo da fé para trazer luz à razão. A fé traria verdades necessárias que a razão, sozinha, ignora.
Na medida em que a razão se torna instrumento para a fé, a crente passa ao gnóstico – o
verdadeiro gnóstico –, passar para uma “fé” perfeita. Essa perfeição se revela numa série de
virtudes como a piedade, a temperança, o mártir, entre outras. Ainda que não se realizem na sua
totalidade, só encontramos todas as virtudes manifestas em Cristo, mas o gnóstico chega ao
mais próximo possível aos humanos, ainda em vida. Essa transição da pura fé, para a gnose
cristã, tem como intermediador a filosofia. A filosofia serve para se aprofundar a fé, como
também desvela as armas para defendê-la, mas esse caminho deve ter sempre em vista o critério
da fé.

07 - Explique o método que permite Orígenes fazer a passagem da fé ao conhecimento


(gnose cristã).

Orígenes foi discípulo de Clemente, deu seguimento a sua proposta da passagem de um


conhecimento simples da escritura para um conhecimento mais perfeito, tomando a razão como
um instrumento da fé. Com isso, Orígenes teve como uma de suas preocupações a “gnose
cristã”. Ele chama atenção para a linguagem simples da Bíblia, e, caso seja interpretada de
modo literal, nos são apresentados elementos absurdos, coisa que irá causar preocupações ao
próprio Santo Agostinho, como exemplo, Caim ter conseguido fugir da face de Deus, ou então
que uma criança não circundada até o oitavo dia deva ser morta, entre outras coisas. Tendo em
vista tais absurdos Orígenes vai propor um método para interpretação e, consequentemente, uma
interpretação mais fiel à mensagem do Senhor, desvelar as mensagens mais profundas das
verdades reveladas.

Assim, na proposta de Orígenes o critério que deve ser adotado para considerar aspectos da
doutrina como autênticos é se eles forem pregados desde os tempos apostólicos, distinguindo
assim entre o que seriam os aspectos essências das Escrituras, em detrimento dos seus aspectos
acidentais. Os primeiros seriam imutáveis e deveriam ser aceitos por todos os cristãos, os
segundos consistem de verdades que não estão contidos claramente na tradição apostólica,
acerca desses últimos compete à especulação formular algo sobre. As Escrituras, para ele,
tornam-se elementos mínimos do conhecimento completo, e conforme tais servem de sua
introdução. O cristão dotado da graça da palavra e da ciência teria a obrigação de interpretar os
primeiros aspectos, como também explicar os segundos. É necessário que os sábios desvelem e
distingam o sentido alegórico e metafórico, do sentido literal do que está presente na Bíblia.

Ao filósofo, a transição de uma interpretação literal para alegórica das verdades reveladas,
consiste da passagem da simples fé ao conhecimento. E, como Clemente, toma que a Filosofia
deve ser usada como uma serva da fé, para elucidação especulativa de suas verdades. Orígenes
costumará dar prioridade a interpretações alegóricas em comparação as literais. Diz ele que
aqueles que se mantém numa interpretação integralmente literal da Bíblia, estão restritos a um
entendimento limitado, baixo, da mensagem do Senhor, mas ao conseguir distinguir o que seria
alegórico do literal, há uma ascese em direção a um conhecimento superior, ainda que Orígenes
atribua grande utilidade ao sentido literal dos textos. Tal método traz um sentido razoável a
muitas passagens das Escrituras que são tidas por absurdas.

Assim, Orígenes faz uma distinção entre três sentidos (ou interpretações) que podemos dar as
Escrituras, a saber: o material ou corporal (que corresponde à interpretação literal), o psíquico
(uma interpretação de cunho moral) e, por fim, o pneumático (uma interpretação de cunho
místico). Disso, o mesmo faz um paralelo entre três partes distintas que constituem o homem
respectivamente, o corpo (σῶμα), à alma (ψυχή) e ao espírito (πνευμα). Cada um corresponderia
também a “graus de perfeição”, classificando assim os cristãos, respectivamente em cristãos
simples, avançados e perfeitos. Isso revela uma espécie de “aristocracismo” espiritual de
Orígenes, que também estava presente e Clemente, mas de modo velado.
08 - Quem é Deus para Orígenes e por que sua doutrina da Trindade fere o cristianismo?

Origines julga desnecessário demonstrar a existência de Deus, assim também, Julga como
inacessível o entendimento completo da perfeição de Deus ao entendimento humano,
conhecemos algo de Deus mediante a afinidade do nosso espírito com a dEle, mas isso se dá
apenas por aproximação, a mesma não se dá na sua completude, não dispomos de linguagem
para concebermos a real natureza divina, mas o mesmo reconhece-o como possuidor de algumas
características como o fato de Deus ser ingênito, único, eterno, imaterial, algumas das quais
serão apresentadas a seguir, junto disso discutiremos onde Orígenes acaba caindo em erro ao
tratar sobre a sua proposta quanto a trindade.

Orígenes reconhece Deus como imaterial, essa tese o mesmo admite passar por dificuldades,
pois é pouco palatável aos pensadores da época, tanto que o próprio Tertuliano acabou passando
a defender a corporeidade do Senhor. No entanto, Orígenes justifica que se passa por esse erro
ao interpretar as descrições do divino de modo literal, Orígenes chega a rejeitar todo o
antropomorfismo presente no velho testamento, interpretando-o de modo aleatório. Deus não
existe um corpo, nem em um corpo: sua natureza é espiritual e simplicíssima, e a defesa de tal
tese se dá por uma análise do espírito humano, a partir do momento que prova sua
imaterialidade, Orígenes passa a defender a natureza divina como puramente espiritual. O
filósofo em questão também defende o caráter único de Deus. Combate o politeísmo, pois o
mesmo estava profundamente difundido na mentalidade da época. Essa mente politeísta também
se manifestava em seitas gnósticas, algumas defendiam versões politeístas do cristianismo,
admitindo a existência de dois Deuses distintos, um do velho, e outro do novo testamento, o
primeiro justo, mas não bondoso, o segundo bondoso, mas não justo. Orígenes, ao combater tal
tese, mostra que a bondade e a justiça não são excludentes.

Mas, ao abordar a Trindade, Orígenes caí em heresia. Ele está certo em colocar Deus como uma
unidade, no entanto ao tratar de sua diversidade (como Pai, Filho e Espírito Santo) ele subordina
o Filho (Verbo ou Lógos) e o Espírito Santo ao Pai. Orígenes vai defender uma cosmogonia
similar ao que o filósofo neoplatônico Plotino defendeu (vale ressaltar que ambos, Plotino e
Orígenes, tiveram o mesmo mestre Amônio Sacas). Para Plotino, só há uma realidade
verdadeira, o Ser supremo, cujo qual o filósofo denomina de “Uno” esse compete em si diversos
atributos do Ser eleata, imutável, ingênito, imóvel, indivisível, único, entre outros. Sobre esse
“Uno” nada se pode falar. Pode-se colocar o “Uno” num papel parecido com o “Bem” na teoria
platônica das ideias. O “Uno” assim como o “Bem” em Platão, e “Deus” em Orígenes, da
origem ao mundo por um processo chamado por Plotino de “emanação”, que se inicia da criação
do “intelecto” (νοῦς) pelo “Uno”, esse “intelecto” novamente por emanação produz a “Alma do
Mundo”. Essas três entidades são as três “hipóstases” (ὑπόστᾰσις). Ainda que tenha suas
particularidades, Orígenes interpreta a Trindade de modo muito similar ao que Plotino. O Pai da
origem ao Verbo (ou seja, o verbo está abaixo de Deus, subsequente. Diferente dele é criado), e
o Verbo origina o Espírito Santo (ocorre o mesmo que o dito no Verbo, mas ainda por cima, o
Espírito Santo não tem contato direto com o Pai). Orígenes acaba colocando “gradações” de Ser
na Trindade, o que é pura heresia para a doutrina cristã, pois não deve existir tal hierarquia entre
Pai, Filho e Espírito Santo na mesma, as três são igualmente Deus.
09 - Qual o destino do homem para Orígenes e o que tem de problemático em sua
doutrina?
O destino do homem para Orígenes está interligado com sua hipótese da geração do cosmos a
partir de Deus. O homem faz parte do movimento conjunto do mundo o qual pertence. Pela sua
capacidade racional, que o proporciona o livre-arbítrio, o homem, assim como os anjos e
demônios, acaba por se afastar do Bem (Deus), e em sua queda deixa de ser uma substância
racional, espírito puro, para se tornar uma alma, estado no intermédio entre a inteligência e os
corpos, não estando nem entre os homens nem entre os demônios. Essa queda se dá por um ato
de liberdade, e da mesma forma o homem está fadado a se voltar para as coisas divinas por livre
escolha, na esperança de assim se retornar a contemplar a Deus.
Orígenes explica nossa origem misturando mitos cristãos, nossa origem se dá durante a revolta
de Satã, que com ele afasta de Deus uma série de outros espíritos que se rebelaram a Ele pelo
pecado. O castigo foi condizente com o grau de apostasia, os homens acabaram se encontrando
no limiar de anjos e demônios. Com a educação o homem vai alçando sua gradativa volta a seu
estado de substância inteligente, sua natureza inteligível, que corresponde ao Lógos. A ação do
Lógos não é súbita, passa por uma progressiva entrada na luz do homem. Mas, ao delinear como
se dá essa ascese, novamente, Orígenes cai em mais uma heresia. Essa escalada do homem é
longa. Por isso o filósofo propõe que as almas terão de se reencarnar repetidas vezes até
conseguirem alcançar novamente seu estado próximo a Deus. A reencarnação, ao catolicismo
canônico, é mais uma heresia. Orígenes novamente fere o cristianismo ao tentar explicar as
coisas do divino.

10 - Qual a relação entre fé e razão em Basílio?

Basílio, também conhecido como “Basílio, o Grande”, foi um dos três Padres Capadócios.
Viveu durante o período que a Igreja Católica tornou-se a igreja oficial do império Romano e foi
um grande adversário das heresias que surgiram no período, com destaque a uma seita
denominada “Arianismo”, apelando explicitamente para tradição eclesiástica.
Basílio foi um grande admirador de Orígenes, principalmente no seu modo de fazer a exegese
bíblica, ou seja, separando o que pode ser considerado alegórico, do que pode ser lido de
maneira literal. Ao mesmo tempo, também se alinhou a Orígenes, consequentemente a
Clemente e Justino, sob qual a função da razão frente à fé, a de auxiliadora. Ou seja, para
Basílio, a razão deve sempre servir a fé. Ao se discutir em torno das escrituras, a fé deve ser o
guia máximo, assentada sob o que a tradição eclesiástica deixou. As únicas coisas que estão fora
da tradição que poderiam ser aceitas, são aquelas que concordam, que se alinham, com a
tradição. Assim, também Basílio concebe aliar os conhecimentos cosmológicos e científicos de
seu tempo com os dados bíblicos.
11 - Como Basílio explica a Trindade (contra quem)?
Ao se tratar da Trindade, como já citado noutra questão (08), deve se ter o cuidado, para não se
cair em heresia, de conseguir conciliar o caráter de “Unidade” de Deus, e seu caráter
“diversificado” (Pai, Filho e Espírito Santo). Basicamente, isso significa que se deve respeitar o
monoteísmo, mas ao mesmo tempo reconhecer a diferença dos três que são Deus e, junto disso,
não hierarquizá-las entre si, pois são o mesmo. O problema da Trindade quebrou a cabeça de
diversos pensadores, como Orígenes, que acabou caindo em heresia, pois ainda que respeite a
unidade criou uma “gradação” do divino, fazendo Filho ser menos puro que o Pai, e o Espírito
Santo ser menos puro que ambos. Seitas gnósticas, por vezes, não respeitaram tal exigência, os
Arianos serão alvo principal de uma obra de Basílio (Contra Eunómio, sobre o Espírito Santo),
os quais sustentavam como essência de Deus consiste em ser ingênito, sendo assim o Filho não
a compartilha, pois foi criado pelo Pai. Basílio, na sua explicação da Trindade, vai combater tal
proposta, tendo em vista o caráter tanto uno como múltiplo de Deus.

Basílio tentar responder o problema da trindade partindo de que a essência do Pai, Filho e
Espírito Santo é a mesma, portanto todos em-si seriam ingênitos, todos incriados. Faz um
paralelo com as categorias aristotélicas onde Deus seria o gênero a Pai, Filho e Espírito Santo
fazem parte dessa essência. No entanto, o que mantém a diferença é que o Pai recebe o seu ser
de “pessoa” por si próprio, enquanto o Filho a recebe do Pai, assim o Filho é gerado somente
enquanto pessoa, mas não como em essência. Assim também ocorre com o Espírito Santo, tendo
seu ser dado pelo Filho.

12 - Como Gregório Naziazeno explica a Trindade?


Gregório Nazianzeno, outro dos Padres Capadócios, junto de Basílio e Gregório de Nisa,
discutiu também o conceito da Trindade de Deus, compartilhando de uma opinião similar a de
Basílio, do mesmo modo, se debruçou tentando conciliar o caráter uno e tríade de Deus.
Gregório propõe algo parecido com o que Basílio sugeriu, Deus é uma única divindade, e seu
poder se encontra unido em Três, individualmente conhecidas como Pai, Filho e Espírito Santo.
Mas sua diferença se dá, assim como em Basílio, não de modo essencial, nem na sua natureza
divina, e por isso uma não é maior que a outra. Deus é todas as três nomenclaturas, e conserva
suas propriedades individuais. É como se Gregório colocasse a diferença da Trindade no poder,
ou função do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo Deus, ao mesmo tempo, as três. Deus
contempla a unidade da essência, o outro pela unidade do comando.
13 - Qual a relação entre fé e razão em Gregário de Nisa?
Gregório de Nisa, assim como os demais Capadócios, avaliou a filosofia como algo bom, na
medida em que ela está subordinada a fé, pois só assim ela pode falar o verdadeiro, a filosofar
de modo independente e absoluto acabará por produzir somente heresias.
A fé deve ser usada como critério para se avaliar qualquer tipo de conhecimento, tem um caráter
ontológico superior à racionalidade, ele reitera o espírito que a Filosofia Medieval toma: “crer
para compreender, compreender para crer”; as ciências devem fornecer para fé os
conhecimentos da natureza, em particular a dialética, a qual fornece o método para sistematizar
o conteúdo da fé, podendo servir de instrumento o qual os princípios da fé – assim como
delineou Orígenes – podem ser fundados, e assim se progredir para a gnose (cristã), embora se
deva fazer com cautela e de modo hipotético, se sustentando no testemunho da tradição.

14 - Como Gregório de Nisa explica a Trindade (contra quem)?


Assim como os demais Capadócios discutia a trindade contra os Arianos, escreveu uma obra
“Contra Eunómio” como replica ao “Escrito em defesa a Apologia”, com a qual Eunómio
respondeu a Basílio, seu irmão. Em primeiro lugar, ao falar diretamente sobre o Senhor, se
preocupou em firmar a unidade de Deus, consequentemente, e como os demais Capadócios,
conciliá-la com a multiplicidade da Trindade.
Para Gregório de Nisa, o próprio conceito de Deus, como o ser Perfeito, implica
necessariamente na sua unidade, pois as brechas ao politeísmo se dão a partir de uma concepção
que cada uma das diferentes divindades não teriam alguma propriedade ou perfeição, a qual
pertenceria a uma outra divindade, até serem suprimidas por todo um panteão, e isso desemboca
no fato de que nenhuma das divindades nas religiões politeístas são, de fato, perfeitas, cada uma
corresponde a algo que falta na outra. O Deus cristão é em si perfeito, sendo perfeito, sem
privação, e, por tanto, é uno.
Provado que Deus é uno, ao tentar explicar a Trindade, Gregório se serve de um tipo de leitura
de Platão. Ele se usa da concepção Platônica da existência real das entidades abstratas, as ideias
universais, as essências, como também que cada uma dessas ideias são uma única, isoladas uma
da outra. Com isso em mente, Gregório faz um paralelo da essência à natureza da tríade Pai,
Filho e Espírito Santo, e por isso não deveria se fazer distinção entre elas, é um abusivo uso da
linguagem que acaba as indicado com uma pluralidade. O que Gregório quer dizer é que Deus é
a essência da trindade. Para explicá-la, faz um paralelo a natureza do homem.
Independentemente de quantos homens existam, a sua natureza continuara sempre sendo uma
única, comum a todos os homens. Deus, portanto, é uno, se refere a uma única essência (e não a
pessoas), sendo ele a essência da tríade, assim também não é multiplicado pelo número de
pessoas que participam dEle; Mas diferente da essência humana, a qual é indeterminado o
número de pessoas que podem participar dessa essência, na essência divina, somente pode
participar três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Ao entrar nos pormenores, o que distingue as três pessoas que existem na essência (Deus),
Gregório fará uma distinção admitindo que uma é causada pela outra, distinguindo os tipos de
causalidade a quais cada uma convém. Deus Pai é a própria causa, sendo o Filho imediatamente
causado pelo Pai, tendo o filho o caráter de unigenito. Assim, Pai e Filho causam o espírito
santo, não sendo ingênito como o Pai, nem possuindo o caráter unigênito como o Filho.
15 - Que significa apokatastasis em Gregório de Nisa?

Gregório se aventura numa complicada especulação acerca da natureza do mundo, da alma e da


origem do homem – de modo semelhante a Orígenes, mas diferente do mesmo Gregório rejeita
a transmigração da alma. Parecendo inspirado por uma leitura canônica de Platão, propõe a
existência de dois mundos onde um não tem nada de semelhante ao outro, aquilo que caracteriza
um está faltando ao outro e vice-versa. O homem é o elo entre ambos, está no limiar do mundo
espiritual (imutável, eterno, intangível, invisível), do mundo sensível (mutável, contingente,
tangível, visível).
Um dia o homem já havia sido um ser completamente livre de irracionalidade, feito a imagem e
semelhança do divino nesse estado original, no entanto, pelo pecado, o homem perdeu tal
condição, dando origem assim o homem empírico, com impulsos animalescos, diferente daquela
ideia perfeita de homem. Tendo assim o homem a necessidade de voltar ao seu estado original.
A Apokatasis, para Gregório, consiste do retorno do homem a essa condição divina, livre da dor
e próxima a Deus, esse retorno, propõe ele, será universal. Para orientá-lo nesse caminho de
volta, foi necessário que o Verbo se fizesse carne. A vinda e a partida de Cristo sinaliza que a
natureza humana recuperou a sua condição originária, cujo pecado tinha corrompido. Isso não
significa que automaticamente estarão salvos todos os indivíduos nos quais o pecado, depois da
queda, se disseminou. Os indivíduos devem participar da purificação sacramental, se deixarem
banhar pela água do batismo, no entanto aqueles que não o fizerem, obrigatoriamente, serão
purgados pelo fogo. Mas a Apokatasis será universal, um dia todos serão agraciados, até mesmo
o demônio, para voltar próximo dEle, Gregório nega, assim, a eternidade do inferno.

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