Sei sulla pagina 1di 15

I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

Capítulo

15
Regularização de vazão

A
variabilidade temporal da precipitação e, conseqüentemente, da vazão dos
rios freqüentemente origina situações de déficit hídrico, quando a vazão dos
rios é inferior à necessária para atender determinado uso. Em outras situações
ocorre o contrário, ou seja, há excesso de vazão. A solução encontrada para
reduzir a variabilidade temporal da vazão é a regularização através da utilização de um
ou mais reservatórios. Os reservatórios têm por objetivo acumular parte das águas
disponíveis nos períodos chuvosos para compensar as deficiências nos períodos de
estiagem, exercendo um efeito regularizador das vazões naturais.

Em geral os reservatórios são formados por meio de barragens implantadas nos cursos
d‘água. Suas características físicas, especialmente a capacidade de armazenamento,
dependem das características topográficas do vale em que estão inseridos, bem como
da altura da barragem.

Características dos reservatórios


Um reservatório pode ser descrito por seus níveis e volumes característicos: o volume
morto; o volume máximo; o volume útil; o nível mínimo operacional; o nível máximo
operacional; o nível máximo maximorum. Outras características importantes são as
estruturas de saída de água, eclusas para navegação, escadas de peixes, tomadas de água
para irrigação ou para abastecimento, e eventuais estruturas de aproveitamento para
lazer e recreação.

Vertedores
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar
o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica,
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a passagem


de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.

Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de
vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a
jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a
erosão excessiva.

Nas fotografias da figura abaixo é possível ver o vertedor da barragem de Itaipu em


operação. Na outra fotografia o vertedor da barragem Norris, nos EUA, não está
operando, o que significa que toda a vazão está passando através das turbinas.

Figura 15. 1: As barragens Norris (Clinch River, Tenessee, EUA) e Itaipu (Rio Paraná, Brasil-Paraguai).

A vazão de um vertedor livre (não controlado por comportas) é dependente da altura


da água sobre a soleira, conforme a Figura 15. 2 e a equação abaixo:
3
Q = C ⋅L⋅h 2
(15.1)

onde Q é a vazão do vertedor (m3.s-1); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura da


lâmina de água sobre a soleira (m); e C é um coeficiente com valores entre 1,4 e 1,8. É
importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da água.

206
Figura 15. 2: Vertedor de soleira livre.

Figura 15. 3: Curva de vazão do vertedor da usina Corumbá III nas situações de comportas completamente ou parcialmente abertas.

Descarregadores de fundo
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de
reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. Para
estimar a vazão de um descarregador de fundo pode ser utilizada uma equação de
vazão de um orifício, apresentada abaixo:

Q = C ⋅ A⋅ 2 ⋅ g ⋅ h (15.2)

207
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

onde A é a área da seção transversal do orifício (m2); g é a aceleração da gravidade (m.s-


2
); h é a altura da água desde a superfície até o centro do orifício (m) e C é um
coeficiente empírico com valor próximo a 0,6.

Da mesma forma que a vazão do vertedor, a vazão de um orifício tem uma relação não
linear com o nível da água.

Curva cota – área - volume


A relação entre nível da água, área da superfície inundada e volume armazenado de um
reservatório é importante para o seu dimensionamento e para a sua operação. O
volume armazenado em diferentes níveis define a capacidade de regularização do
reservatório, enquanto a área da superfície está relacionada diretamente à perda de água
por evaporação. A Tabela 15. 1 apresenta a relação cota – área – volume do
reservatório da usina Corumbá IV, construída recentemente no rio Corumbá, no
Estado de Goiás.

Devido às características topográficas da área inundada, a relação entre cota e área não
é, em geral, linear. Da mesma forma, a relação entre cota e volume também não é
linear.

Tabela 15. 1: Relação cota – área – volume do reservatório Corumbá IV, em Goiás.

Cota (m) Área (km2) Volume (hm³)


772,00 0,00 0,00
775,00 0,94 0,94
780,00 2,39 8,97
785,00 4,71 26,40
790,00 8,15 58,16
795,00 12,84 110,19
800,00 19,88 191,30
805,00 29,70 314,39
810,00 43,58 496,50
815,00 58,01 749,62
820,00 74,23 1.079,39
825,00 92,29 1.494,88
830,00 113,89 2.009,38
835,00 139,59 2.642,00
840,00 164,59 3.401,09
845,00 191,44 4.289,81

Volume morto e nível mínimo operacional


O Volume Morto é a parcela de volume do reservatório que não está disponível para
uso. Corresponde ao volume de água no reservatório quando o nível é igual ao mínimo
operacional. Abaixo deste nível as tomadas de água para as turbinas de uma usina
hidrelétrica não funcionam, seja porque começam a engolir ar além de água, o que

208
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

provoca cavitação nas turbinas (diminuindo sua vida útil), ou porque o controle de
vazão e pressão sobre a turbina começa a ficar muito instável.

O tamanho do volume morto é definido no projeto da barragem e do reservatório,


mas pode ser alterado com o tempo em função do assoreamento.

Em reservatórios de abastecimento de água o volume morto é o que se encontra


abaixo da tomada de água de bombeamento.

Volume máximo e nível máximo operacional


O nível máximo operacional corresponde à cota máxima permitida para operações
normais no reservatório. Níveis superiores ao nível máximo operacional podem
ocorrer em situações extraordinárias, mas comprometem a segurança da barragem.

Geralmente o nível máximo operacional concide com o nível da crista do vertedor ou


com o limite superior de capacidade das comportas do vertedor.

O nível máximo operacional define o volume máximo do reservatório.

Volume útil
A diferença entre o volume máximo de um reservatório e o volume morto é o volume
útil, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para regularização
de vazão.

Nível máximo maximorum


Durante eventos de cheia excepcionais admite-se que o nível da água no reservatório
supere o nível máximo operacional por um curto período de tempo. A barragem e suas
estruturas de saída (vertedor) são dimensionados para uma cheia com tempo de
retorno alto, normalmente 10 mil anos no caso de barragens médias e grandes, e na
hipótese de ocorrer uma cheia igual à utilizada no dimensionamento das estruturas de
saída o nível máximo atingido é o nível máximo maximorum.

Nível meta
Na operação normal de um reservatório costumam ser utilizadas referências de nível
de água que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de geração energia e de
segurança da barragem. O nível meta é tal que se o nível da água é superior ao nível
meta, deve ser aumentada o vertimento de vazão, para reduzir o nível da água no
reservatório, que deverá retornar ao nível meta.

209
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

Curva guia
A curva guia é semelhante ao nível meta, porém indica um nível da água no
reservatório variável ao longo do ano, que serve de base para a tomada de decisão na
operação. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso normal da
água, quando o nível da água está acima do nível indicado pela curva guia, e o
racionamento, quando o nível da água está abaixo da curva guia.

Volume de espera
O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde à parcela do
volume útil destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera é variável ao
longo do ano e é definido pelo volume do reservatório entre o nível da água máximo
operacional e o nível meta.

Se um reservatório tem o uso exclusivo para controle de cheias, então o volume de


espera é maximizado, podendo ser igual ao volume total, ou igual ao volume útil. Se
um reservatório tem múltiplos usos, há um conflito entre a utilização para controle de
cheias e os outros usos.

A geração de energia elétrica é particularmente conflitante com o controle de cheias


porque a criação do volume de espera reduz o volume disponível para regularizar a
vazão, o que reduz a vazão que pode ser regularizada, afetando a potência, ou energia
firme. Além disso, a operação com um volume de espera, e com nível meta inferior ao
nível máximo operacional, reduz a diferença de altura (queda), que está diretamente
relacionada à potência da usina.

Cota da crista do barramento


A cota da crista do barramento é definida a partir do nível da água máximo
maximorum somado a uma sobrelevação denominada borda livre (free board) cujo
objetivo é impedir que ondas formadas pelo vento ultrapassem a crista da barragem.

A figura a seguir apresenta um esquema com os diferentes níveis e volumes que


caracterizam um reservatório.

Balanço hídrico de reservatórios


A equação de continuidade aplicada a um reservatório é dada por:

210
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

∂S
= I −Q (15.3)
∂t

onde S é o volume (m3); t é o tempo (s); I é a vazão afluente (m3.s-1) e Q é a vazão de


saída do reservatório (m3.s-1), incluindo perdas por evaporação, retiradas para
abastecimento, vazão turbinada e vertida.

Esta equação pode ser reescrita em intervalos discretos como:

St + ∆t − S t
= I −Q (15.4)
∆t

onde I e Q representam valores médios da vazão afluente e defluente do reservatório


ao longo do intervalo de tempo ∆t.

Considerando uma variação linear de I e Q ao longo de ∆t, a equação pode ser


reescrita como:

St + ∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t
= − (15.5)
∆t 2 2

onde It ; It+∆t ; Qt ; Qt+∆t são os valores no início e no final do intervalo de tempo. Esta
equação é utilizada quando o intervalo de tempo é relativamente pequeno (1 dia ou
menos), especialmente no caso de análise de propagação de cheias em reservatórios.

Quando o intervalo de tempo é longo (um mês, por exemplo) a equação é simplificada
para:

St +∆t = St + entradas − saídas (15.6)

onde as saídas representam todo o volume retirado do reservatório ao longo do


intervalo de tempo, e as entradas representam todo o volume afluente ao longo do
intervalo de tempo.

Esta equação pode ser utilizada para dimensionamento e análise de operação de um


reservatório.

Dimensionamento de um reservatório
O dimensionamento de um reservatório pode ser realizado com base na equação:

St +∆t = St + entradas − saídas

211
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

sujeita às restrições 0 < St+∆t < Vmax; onde Vmax é o volume útil do reservatório.

Neste caso as entradas são as vazões afluentes estimadas para o local em que se deseja
construir o reservatório e as saídas são incluem a demanda de água e as perdas.

Se o problema é dimensionar um reservatório com o volume necessário para


regularizar uma vazão D, os passos são:

a) Faça uma estimativa inicial do valor de Vmax

b) Aplique a equação abaixo para cada mês do período de dados de vazão


disponível (é desejável que a série tenha várias décadas). As perdas por
evaporação (E) variam com o mês e podem ser estimadas por dados de tanque
classe A. A demanda D pode variar com a época do ano. A vazão vertida Qt é
diferente de zero apenas quando a equação indica que o volume máximo será
superado.

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

c) Em um mês qualquer, se St+∆t for menor que zero, a demanda Dt deve ser
reduzida até que St+∆t seja igual a zero, e é computada uma falha de
antendimento.

d) Calcule a probabilidade de falha dividindo o número de meses com falha pelo


número total de meses. Se esta probabilidade for considerada inaceitável,
aumente o valor do volume máximo Vmax e reinicie o processo.

Algumas hipóteses são feitas neste tipo de simulação:

1) o reservatório está inicialmente cheio;

2) as vazões observadas no passado são representativas do que irá acontecer no


futuro.

EXEMPLO

1) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões de


m3) pode garantir uma vazão regularizada de 55 m3.s-1, considerando a
seqüência de vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório
inicialmente cheio, a evaporação nula e que cada mês tem 2,592 milhões de
segundos.

212
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

mês Vazão (m3/s)


jan 60
fev 20
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 58
set 90
out 102
nov 120
dez 78

A solução é obtida montando a tabela que resulta da aplicação sucessiva da equação

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

com It dado pela tabela acima; Et igual a zero e Qt igual a zero, exceto quando é necessário verter.

A demanda de 55 m3.s-1 é igual a 143 hm3 por mês. No primeiro mês observa-se que sobra água. No
segundo mês a demanda é maior do que a vazão de entrada e o volume no reservatório começa a
diminuir. O volume no início do terceiro mês é dado por S t + ∆t = 500 + 52 − 143 = 409 e assim
por diante.

No início do mês de julho o volume calculado é negativo, o que rompe a restrição, portanto o reservatório
não é capaz de regularizar a vazão de 55 m3.s-1.

Mês S (hm3) I (hm3) D (hm3) Q (hm3)


Jan 500 156 143 13
Fev 500 52 143 0
Mar 409 26 143 0
Abr 293 13 143 0
Mai 163 31 143 0
Jun 52 34 143 0
Jul -57 62 143 0

Em uma planilha de cálculo ou uma calculadora científica é fácil repetir o cálculo até
que o volume atenda a vazão regularizada desejada.

Da mesma forma é fácil determinar em uma planilha eletrônica qual é a maior vazão
que pode ser regularizada com um dado volume de reservatório.

213
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

Teoricamente, a máxima vazão que pode ser regularizada é a vazão média do rio no
local em que está a barragem. Este valor máximo é impossível de ser atingido porque a
criação do reservatório aumenta a perda de água por evaporação.

Figura 15. 4: Relação entre o volume do reservatório e a vazão regularizada em uma bacia cuja vazão média é 25,4 m3.s-1, sem
considerar a evaporação do reservatório.

Reservatórios de usinas hidrelétricas


No Brasil existem centenas de reservatórios construídos para a geração de energia
elétrica. Dependendo do volume do reservatório as usinas hidrelétricas podem ser:
centrais a fio d’água; centrais com reservatório de acumulação ou centrais reversíveis.

Usinas hidrelétricas com reservatórios cujo volume é pequeno em relação à vazão


afluente, são denominadas usinas a fio d’água, porque a energia que podem gerar
depende diretamente da vazão do rio. A regularização de vazão proporcionada por
reservatórios de usinas a fio d’água é desprezível. Nestes casos a barragem é construída
para aumentar a diferença de nível da água (queda) entre a tomada de água e a turbina.
Esta situação é típica das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).

Uma usina com reservatório de acumulação dispõe de um reservatório de tamanho


suficiente para acumular água na época das cheias para uso na época de estiagem e,

214
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

portanto, pode dispor de uma vazão substancialmente maior do que a vazão mínima
natural.

Uma usina reversível é utilizada para gerar energia durante o período em que ocorre o
pico da demanda no sistema elétrico, utilizando água previamente bombeada para um
reservatório temporário, aproveitando o excesso de oferta de energia nos períodos que
não coincidem com o pico de demanda.

A potência gerada em uma usina hidrelétrica depende da vazão, da queda líquida e da


eficiência da conversão de energia potencial em elétrica, de acordo com a equação a
seguir:

P = ρ ⋅ g ⋅Q ⋅ H ⋅e (15.7)

onde P é a potência em Watts; g é a aceleração da gravidade (9,81 m.s-2); Q é a vazão


(m3.s-1); H é a diferença de nível da água entre a tomada de água da turbina e no início
do canal de fuga, a jusante da turbina; e é a eficiência de conversão de energia potencial
hidráulica em energia elétrica (valores da ordem de 0,80); e r é a massa específica da
água (1000 Kg.m-3).

Quanto à potência as centrais hidrelétricas podem ser classificadas em:

• Micro – Potência inferior a 100 kW

• Mini – Potência entre 100 e 1000 kW

• Pequenas - Potência entre 1000 e 10000 ou 20000 kW

• Médias – Potência entre 10 e 100 MW

• Grandes – Potência maior do que 100 MW

Quanto à altura de queda da água (H) as centrais hidrelétricas podem ser classificadas
em:

• Baixíssima queda – H < 10 m

• Baixa queda – 10 < H < 50 m

• Média queda – 50 < H < 250 m

• Alta queda – H > 250 m

215
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

Impactos ambientais de reservatórios


No passado considerava-se que a geração hidrelétrica era uma forma de produção de
eletricidade com mínimos impactos ambientais. Atualmente, essa visão tem sido
questionada, embora em diversos aspectos os impactos ambientais são relativamente
pequenos em relação às formas alternativas normalmente utilizadas: usinas térmicas a
carvão ou nucleares.

Apesar destes impactos, a população muitas vezes vê com bons olhos a construção de
uma usina hidrelétrica na área de seu município. Isto ocorre porque existe uma
compensação financeira obrigatória, em que parte dos rendimentos auferidos na
geração de energia elétrica são pagos ao município, de acordo com o tamanho da área
inundada e com a potência da usina. Entre os impactos ambientais importantes das
usinas hidrelétricas encontram-se impactos sociais; impactos sobre a flora e a fauna do
local inundado; impactos sobre a fauna do rio a jusante; impactos sobre o sistema de
transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.

Impactos sociais
Os impactos sociais mais evidentes da implantação de uma usina hidrelétrica decorrem
da remoção das pessoas que habitam a área inundada pelo reservatório. Os impactos
deste tipo iniciam mesmo antes da construção da obra em si, já que a perspectiva da
inundação futura reprime ou não incentiva o investimento no local. Esta situação pode
se estender por vários anos, em função de indefinições sobre a construção ou não da
obra. Durante este período as localidades sujeitas a inundação experimentam um
estado de estagnação.

Finalmente, quando a obra inicia e a inundação da área habitada passa a ser certa,
surgem dúvidas e discussões sobre o valor da indenização. Embora o valor comercial
da terra possa ser estimado de forma razoável, o apego dos habitantes à terra também é
devido a um valor afetivo, por questões históricas, que é intangível, ou seja, dificilmente
quantificável. Nesta situação é comum o surgimento de especulações e de confrontos
de cunho político.

Entre os impactos sociais também podem ser incluídos impactos culturais, como a
perda, provavelmente para sempre, de sítios arqueológicos, ou eventualmente de
lugares sagrados para culturas indígenas.

Durante a construção ocorrem alguns impactos sociais positivos, devido ao aumento


de oferta de emprego, e o aumento de consumo local, em função do grande número
de trabalhadores. Após a conclusão da obra, porém, surge um impacto negativo
porque muitos trabalhadores perdem seus empregos mas não deixam imediatamente o
local.

Impactos sobre a fauna e a flora do local inundado


Os impactos sobre a flora e a fauna do local inundado por um reservatório são os que
ganham maior atenção da mídia. Isto ocorre porque durante o primeiro enchimento do

216
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

reservatório a área seca vai se tornando restrita e os animais ficam concentrados em


pequenas ilhas. Campanhas de resgate de fauna são organizadas em que os animais são
capturados e levados para um novo habitat, após um período de adaptação. A sua
sobrevivência neste novo hábitat é incerta, uma vez que o espaço provavelmente já está
ocupado por outros indivíduos da mesma espécie, e os recursos dos quais a espécie
depende são limitados.

A vegetação inundada não apenas é extinta, como também pode provocar sérios
problemas de qualidade de água no lago, durante a sua decomposição. Isto ocorre
porque o oxigênio dissolvido (OD) na água é consumido durante o processo de
decomposição, e a concentração de OD é reduzida para níveis inferiores ao limite para
a sobrevivência dos peixes. Assim, o processo de enchimento pode resultar numa
grande mortandade de peixes e outras espécies aquáticas ou que dependem dos peixes
para sobreviver, como as aves.

Impactos sobre a fauna e a flora do rio a jusante


Os impactos da criação de um reservatório sobre a área inundada são fáceis de
perceber, e têm sido, há muitos anos, considerados na análise de viabilidade de um
empreendimento. Os impactos no rio a jusante começaram a ser reconhecidos a
menos tempo, e surgiram a partir da constatação de que a presença de certas espécies
de peixes, por exemplo, diminuía após alguns anos da existência do reservatório.

Os impactos no rio a jusante decorrem, entre outras causas, do obstáculo imposto pela
barragem à migração dos peixes, o que pode ser apenas parcialmente contornado pela
construção de uma escada de peixes.

Mais importante que isto é a alteração do regime hidrológico (sucessão de cheias e


estiagens), que modifica o habitat do rio a jusante.

Grandes reservatórios modificam, também, o fluxo de sedimentos e de nutrientes de


um rio. O melhor exemplo disso no Brasil ocorre no rio São Francisco, onde a
construção de uma série de usinas hidrelétricas, especialmente a de Sobradinho, com
um enorme reservatório, interrompeu o fluxo de sedimentos que ficam depositados no
reservatório e não atingem mais a foz. Em função disso, o equilíbrio entre a erosão
marinha na costa e o aporte de areia pelo rio foi alterado, resultando num recuo de
centenas de metros da linha da praia. Uma pequena vila de pescadores já foi destruída e
o processo não parece estar estabilizado ainda.

Os nutrientes básicos que mantém a cadeia alimentar na água são o nitrogênio e o


fósforo. Estes nutrientes estão dissolvidos na ou adsorvidos aos sedimentos, e são
retidos, em grande parte, nos grandes reservatórios. Em conseqüência disso, menos
nutrientes chegam até a região do estuário deste rio, o que limita o desenvolvimento do
fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar. Em conseqüência disso, a população
que vivia da pesca artesanal junto à foz do rio não mais consegue sobreviver desta
atividade.

217
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

Tempo de residência e eutrofização


Reservatórios que recebem água com alta concentração de nutrientes podem passar
por um processo denominado eutrofização.

A eutrofização é a situação em que um lago ou reservatório recebe nutrientes em


quantidade excessiva. Nesta situação o crescimento de algas e plantas flutuantes é
acelerado, resultando num aumento da turbidez da água. A alta concentração de
plantas e algas pode afetar os níveis de oxigênio, o que pode afetar os peixes. Em
reservatórios mais profundos, os restos de plantas no fundo do lago podem consumir
oxigênio durante sua decomposição, resultando em baixíssimos níveis de oxigênio nas
áreas mais profundas.

A possibilidade de um reservatório sofrer ficar ou não eutrofizado depende do aporte


de nutrientes, da disponibilidade de luz solar na coluna d’água, e do tempo de
residência da água no reservatório. O tempo de residência é definido como a relação
entre o volume total do reservatório e a vazão afluente.

V
Tr = (15.8)
Q

onde V é o volume máximo do reservatório (m3); Q é a vazão afluente (m3.s-1)e Tr é o


tempo de residência (s).

Normalmente a vazão utilizada no cálculo do tempo de residência é a vazão média de


longo prazo, mas pode ser utilizada também a vazão média do período de cheia ou do
período de estiagem.

Exercícios
1) Qual é a perda de energia na usina de Sobradinho devida à evaporação direta
do lago? Considere que a altura de queda H = 27,2 m; a eficiência e = 0,90; e
que uma evaporação de 10 mm por dia ocorre sobre a área da superfície do
lago, que corresponde a 4200 km2.

2) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões de m3)


pode garantir uma vazão regularizada de 25 m3.s-1, considerando a seqüência de
vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório inicialmente
cheio, a evaporação constante de 200 mm por mês, área superficial e que cada
mês tem 2,592 milhões de segundos.

218
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

Mês Vazão (m3/s)


Jan 55
Fev 27
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 51
set 78
Out 102
Nov 128
Dez 73

3) Um reservatório com volume útil de 150 hectômetros cúbicos é suficiente para


regularizar a vazão de 28 m3.s-1 num rio que apresenta a seqüência de vazões
da tabela abaixo para um determinado período crítico? Considere o
reservatório inicialmente cheio, 200 km2 de área superficial constante e que
cada mês tem 2,592 milhões de segundos. Os dados de evaporação de tanque
classe A são dados na tabela (veja capítulo 5).

Mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Vazão 98 45 32 27 24 20 19 18 17 14 78 130
(m3/s)
Evaporação 100 110 120 130 140 135 130 120 110 105 100 100
tanque
classe A
(mm/mês)

4) Qual é o tempo de residência do reservatório do exercício anterior?

219

Potrebbero piacerti anche