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0 governo Lula e 0 projeto Atico-politic do Servico Social Marcelo Braz* Resumo: Este antigo tem como objetivo princi pal discutr 0 projeto tio do Servigo So cial brasilezo a pan fos posts pela com untara tual. Paraiso, {10 momentos aiculados: a) andlise do significa- do da eleigdo de Lula para o Brasil ) problemat cconstruido em quae zagio dos resultados do seu governo no primero ano; ¢) earacterizagdo do projet tico-poitco con temporineo; a) rlagéo dos aspectos eonjunturas {do pals com 0 projeto profissional. Por fim, pre Sento cenaris, tendéncias € desafios ao projeto diante do governo Lala Palavras-chave: servigo social contemporineo: govemo Lula; proto profssiona © Assistente social, mest pela Escola de Servi -m, professor asistente ¢ doutorando na ESSIUFRS, CHESS. ocil da Universidade Federal do Rio de Jane 48 se artigo pretende oferecer ao leitor uma andlise do governo Lula, a partir de um balango das principais iniciativas desencadeadas até aqui, bem como das consideragdes de tendéncias sociopoliticas e econdmi- cas verificadas no curso do governo até a entrada de 2004. Tal andlise servird para a problematizacéo do projeto ético-politico do Servigo Social, rela- cionando-o ao quadro conjuntural do Brasil.! ‘Meu objetivo envolve dois aspectos mais gerais: verifiear como as politicas do atual governo impactam o projeto ético-politico e, a partir daf, prospectar pos- siveis estratégias de enfrentamento que possam assegurar a continuidade do pro- cesso de consolidagdo ¢ afirmacdo daquele projeto. 1.0 governo Lula: significado politico de sua elei¢éo Tres grandes questdes devem ser salientadas quando pensamos a natureza do governo Lula, A primeira diz. respeito ao Signifieadd politico da eleicHO de Luiz Inacio Lula da Silva. A segunda refere-sc ao contexto nacional e internacio= nial das Tuas de Classes, sobretudo ao perfil da classe trabalhadora atual, A rercei- ra diz respeito & face que 0 governo petista adquiria no poder, implementando, em Aimbito geral, agées neoliberais conduzidas em sintonia com a politica econd- ‘mica em vigor. E indiscutivel que a vit6ria de Lula configura-se como um marco politico na hist6ria do Brasil. Pela primeira vez foi cleito um representante legstimo dos tra- alhadores. Mais que isso, de forma inédita triunfou um representante da classe operdtia brasileira com forte experiéncia de organizagao politica, ele mesmo lider historico do movimento organizado dos operétios nos dltimos 25 anos. Como notou Carlos Nelson Coutinho, trata-se da “maior vitéria potitca da esquerda em ‘nosso pai [..] foi a vit6ria de um projeto politico, representado sobretudo por um partido que soube crescer nos quadros de um processo de redemocratizacdo do ual foi, de resto, um dos maiores protagonistas” (Coutinho, 2003: 22). Por isso a vitéria de Lula tem significado mais que simbotico, Ela s6 foi possivel a partir de um nivel ampliado de articulaco politica que envolveu os ‘mais distintos estratos da classe trabalhadora em torno de um projeto. Se este 1. Exe antigo, evideotemente, express os julz0s do autor, sem o comprometimento das instiuigoes 5 quas std vineulado, 49 projeto sempre esteve longe de propor uma transi¢do revoluciondria a0 socialis~ ‘mo, tampouco expressava em sua génese uma reprodugdo acritica ow uma mera conservagio dos mecanismos politicos e econdmicos que dio sustentagio a0 ca- pitalismo no Brasil Ousaria dizer que o projeto pelo qual Lula foi eleito expressava uma ampla articulagdo de classes que pressupunha determinada coalizao entre setores das classes trabalhadoras € setores do capital produtivo no pais.* Para akém dessa dis- cutivel unit cabe ressaltar que, de fato, a vit6ria eleitoral de outubro de 2003 teve impacto politico relevante nas classes dominantes, uma vez que, pela primei- ra vez, tiveram que buscar negociago politica em condigdes menos favoriveis oliticamente * Em outras palavras, podemos arrisear dizer que a vit6ria de Lula se deu sob condigdes histérieas inéditas no pafs. Herdou-se das urnas de outubro de 2003 mais do que a maior votacao j obtida para presidente no pats, Venceu, 2. Quanto tal runsigdo, 6 ssbido da enorme contowsisia que problemsticadosperta no debate secialista mundial, Duas grandes prspectivas marcam esse debate. Uns dels concche& trnsigio reve IMsjonéra tendo seu épice poco na deruboda wolens do Estado burgues, considerando etapas pre revolcionérae e pe-revolucionias a6 mais diversas e com graus dstntos de relevance: na verdad, ‘sta perspective se divide em vias outs, por meio das quis uma made de ttcase estaégias So ‘engitadas no process revoluconirio em si incluindo os momentos pré e pés-evolucio. Uma segunda potepectiva pena a tansigio revolioniria sem ruptura volena com o Estado burguas, qe Seria cor ‘quistado plas Forgas polities ligadas classe twabalhadora. Agu, as reformas ganham relevo, nt medi- dda em que & a portirde sew adensemento que se pode Vslumbrar sluida tansigo. Nose wataneces- sariamente de uma eforma da ondem burguesa sem rupturas —o que conduziia wo reformismo —y mas ‘de promover conguistas favoriveis aos trabalhadoces qu signifiquem o aedmalo politico & sua orzani- ‘asio como classe em otganismos proprios, inclusive © partido politico, Na primeira perspective, 3s ‘formas também podem ter valor estratézico como maneia de fortalecer 8 ogpanizapses da classe teahalhadora, 4 diferenga crcl eaue as das est na rapture volenta com Estodo burguds. Ente elas tum enorme gama de coments se desenvolve ao longo ¢ no mbit do movimento sosatist mundi. ara um aprofundameato do debate, vale confevir Netto (1000), Coutinho (1980), Lénnv Trotsky (1979). 5. Este tipo de antculago, bastante contrverst, parece pleitear de Forms fenovada a perspectva politica por tno ds qual a else tabalhadora busca se alae &Farguesia nacional com vistas a frtalecer "um campo progressistafavorivel 3 Iuta politica revelucionéria. Guardadas as devidas dferenciagies istics, a dia fax Iembrar a “kia” do PCB, que ganhou fego nos anos 60, cujas conseqbéncas so mais do que conbecidas. 4. Agu, que resatar que nos referimos aspects politics, Sem disotomizils, prtice cor ‘eve em varios aralisas de conjuntura aspectos politicos e econdmicossolrem uma determina ret- ‘roca na qual em cada stuagdohistrca deve-ve buscar identfiearo que Lukics chamaria de momento ‘predominanie, que significa 0 relatvo comando de um ou de outro aspecto no process rea. al com= ‘reensio nfo significa 0 abandoro, no mundo dos homens da decerminacio antoégico-socil da produ 0 sobre reprodusio socal, e da, da economia sobre as outrarelagSes, Em particular, admitimos @ Possiblidade de um relative predomisio politico das Torgas democrtioo-populares sobre as conserve ras durante 0 process elitral de 2002 30 também pela primeira vez, 0 projeto que ndo representa em sua origem e em sua totalidade os interesses hegemdnicos das classes dominantes no Brasil, identifica das nas velhas € novas oligarquias rurais, tanto o latifiindio improdutivo quanto 0 produtivo (os grandes produtores rurais do agrobusiness) ¢ na grande burguesia nacional associada ao grande capital internacional (inclufdas af as diversas for- ‘mas de capital — industrial, bancétio ¢ financeiro). Tal conquista politica repre- sentou tuma relativa recusa ao projeto do capital na contemporaneidade: 0 projeto neoliberal. Foi possivel por meio de aliangas politicas relativamente amplas, que aglutinaram forgas politicas as mais distintas: dos comunistas do PCdoB aos libe- rais do PL. Envolveu, também, espectros amplos da sociedade civil organizada, ‘materializados nas diversas formas de expresso do movimento sindical, do mo- vimento camponés, dos movimentos populares, em organizacbes nio-governa- ‘mentais ete. Para José Paulo Netto (2003a), 0 que mais caracterizaria 0 governo Lula, a sua esséncia mesma, seria a convivéncia de duas almas em um mesmo governo, ‘ambas mudancistas: uma buscaria dar continuidade ao governo FAC, por meio do aprofundamento de suas feigdes; outra, progressista, procuraria “dar inicio ao ér- duo trabalho de superagao de suas pesadas hipotecas”. Fsias duas almas, a con- servadora € a progressista, seriam resultantes, entio, da prépria natureza do go- ‘verno eleito em outubro de 2003, que buscou articulagdes para além da esquerda para a vit6ria eleitoral. Exatamente por ésse amplo espectro politico materializa- do ma alianga construida & que Coutinho (2003) sugeria que 0 governo Lula, que ora se iniciava, viveria um “estreito fio da navalha”, onde nao caberiam aventu- ras, esquerdismos ou quaisquer outras agGes que desconsiderassem a situagdo na qual chegava 0 PT 0 poder. E é a esta situaedo que retornarei adiante. segundo aspecto que envolve a eleigao de Lula refere-se a0 comtexto na- ional ¢ internacional das Intas de classes, sobretudo a0 perfil da classe trabalha- dora atual. A vit6ria do ex-operdrio se dew num quadro de refluxo das organiza- Wes politicas da classe trabalhadora, Esta encontra-se numa postura defensiva frente a ofensividade do capital, Fraturada em seu ser, a classe trabalhadora vem se expressando em formas organizativo-politicas cada vez mais recortadas em “identidades” fragmentirias. Por outro lado, ¢ antagonicamente, o capital se asse- gura em nfveis de dominagao politica, econémica e ideo-cultural que subordinam 0 scu jugo qualquer tentativa de restricdo de sua forca. Assim, temos um quadro politico no qual as lutas de classes se desenvolvem com franca hegemonia do capital, particularmente do grande capital internacio- nal, na sua feigio de capital financeiro. Tal hegemonia se expressa de diversas SI maneiras no plano politico. Se a eleigiio de Lula significou impor uma relativa inflexdio ao projeto neoliberal, imprimindo tensionamentos de natureza distinta a0 quadro politico nacional, na medida em que forgas politicas oriundas “de baixo” se eredenciaram a assumir espagos antes nunca possiveis a elas, por outro 0 proje~ to vitorioso esbarra na hegemonia mundial do neoliberalismo, que suplanta poli- ticamente projetos nacionais, Estados nacionais, suas instituigdes e formas de re~ presentacio politica Portanto, tivemos, com a eleigdo de outubro de 2003, a criagdo de uma situa- do que tem sido peculiar nesta fase atual do capital, qual seja: 0 confronto politico entre as forcas nacional-populares (construfdas em tomo de Lula ao longo de mais de uma década) e as foreas conservadoras que unem, no Brasil, as velhas oligar- uias e as burguesias nacional e internacional em seus diversos estratos. E foi a magnifica vitéria politico-eleitoral obtida pelas forgas em tomo de Lula o ponto de inflexdo que assinalou uma recusa a0 projeto erguido pelas forgas conservadoras a0 longo dos anos 90, Aqui reside, simultaneamente, a forga e a capitulagio a posteriori do governo Lula, como procurarei demonstrar neste artigo. A terceira questio que ressaltarei relaciona-se diretamente & segunda, En- volve 0 giro & direita dado pelo governo, no curso mesmo de suas ages, ainda gue antes de seu infcio possamos identficar contornos que emprestariam plau- sibilidade s teses daqueles que advogavam que, desde o processo eleitoral, Lula € seus aliados’ ja haviam operado o giro aludido.* a partir do acerto de compro- issos politicos com o grande capital. Mais ainda, podemos buscar vetores poli- ticos que nos levem a tese de que, desde meados dos anos 1990 — mais precisa- mente desde 0 marco das eleigdes de 1994’ —, juntaram-se em torno de Lula forgas politicas que tensionavam no sentido de promover, desde entio, um giro politico que aproximasse o PT a setores conservadiores, de forma a torné-lo (por ‘meio de um redirecionamento de seu projeto politico) palatavel as classes domi- nantes. Tal cooptagéo ensejou uma férrea disputa politica, no interior do partido, pela ditegdo de suas instincias, que levou progressivamente a uma vitGria das ‘5. Sempre nos reportaemos a0 govern Lila consideranda o lee de orgs polities que 0 envol- vee que o gina. 6. A chamada Carta ao povo brasileiro € identifcada como a expresso deste gto pr-eletoral, tanto por alados quanto por adversiios do govern Lal 7. Nests eleigdes, howe um alianga de Lula com Brizola, que fora drrtalo as eleigdes de 1989, quando Lila parcipoa do segundo turno com Collor de Mello, que as venceu, 52 tendéneias mais “moderadas”, as quais operaram modificag6es cruciais no proje- 10 politico do PT. Tais modificages se expressaram de diversas maneiras: por meio de uma politica de aliangas cada vez menos programitica, de uma massifi- cago do partido com um inchago de filiados, de uma descaracterizagio dos féruns politicos deliberativos que se tornaram cada vez mais estéreis porque despolitizados © exageradamente profissionalizados, além do mais importante: a mudanga pro- sressiva e gradual do projeto politico que transitou, em suas origens, de um polé- mico “socialismo democrético” para um reformismo sequer social-democrata Mas nao ¢ esse 0 interesse direto deste artigo, até porque tais especulagdes dcsbordariam sobremaneira os seus limites. Restringir-me-ei ao curso mais ime- iato desta guinada direitista do PT no governo federal. Interessa-me aqui apre- sentar dados objetivos que, independentemente de qualquer juizo de valor, carac- terizam a mudanga petista no exercicio do poder central. 2. Governo Lula: avaliaco do primeiro quarto de mandato A politica econémica serd 0 foco central de minha anilise, a partir da qual buscarei identificar os rebatimentos nas politicas sociais, Assistimos, em 2003, a uma continuidade dos fundamentos principais que nortearam a economia brasi- leira na dltima década. Politica cambial volétil, contragéo de investimentos pro- utivos e altas taxas de juros formam a trfade que os quatro tiltimos governos brasileiros (incluindo o de Lula) vém operando. Seus objetivos mais diretos di- zem respeito & formagtio de um ambiente politico-econdmico favordvel ao capital financeiro, concentrando a riqueza nas mios dos capitalistas rentistas. Este ambiente tornou-se possfvel com o aprisionamento do Estado brasile 10 pelo capital financeiro — bancos associados a grandes investidores, especula- dores internacionais, sob orientagio técnico-politica de organismos mullilaterais, como o FMI —, eujos interesses so defendidos por representantes do governo, em varios niveis. Tal como no governo Fernando Henrique Cardoso, presencia ‘mos umn comprometimento orgamentério fortemente dirigido ao capital financei- 10: 0s gastos com encargos, juros e amortizaco de dividas financeiras abocanham quase toda a disponibilidade orgamentétia para investimentos do Estado brasilei- 10, cerca de 35% do PIB. O que resta para investimentos diretos ¢ irtisério, perto de 3%. Por conta disto, como bem observa César Benjamin, uma “das consequén- ias pouco percebidas dessa situacdo € o aumento irracional da divida externa brasileira, pois as pouguissimas obras em curso [..] acabam sendo realizadas com 53 financiamento do Banco Mundial ov do Banco Interamericano de Desenvolvi- " (Benjamin, 2003b: 171) ‘A partir de tal quadro, presenciamos a uma continuidade do desmonte da nagdo, em alusdo & expressio utilizada em uma coleténea de artigos de analistas diversos. Na coletinea, os autores diagnosticaram a desmontagem das estruturas do Estado brasileiro sob 0 comando de FHC. Dentre eles, José Paulo Netto aferia ‘em seus estudos os resultados da politica econémica para as politicas sociais. O desastre as massas trabalhadoras”, como alvejou, aprofunda-se com 0 governo Lula, Se tomarmos 0 que foi investido pelo governo Lula em politicas sociais, ‘chegaremos sem exageros a mesmas conclusoes de Netto, ‘Trata-se de um cenério no qual o “Estado brasileiro foi reduzido a vida vegetativa, na qual se limita a pagar sakérios, alguns gastos de custeio e, sobretu- do, juros [...] reas como agricultura, defesa, seguranca publica, assisténcia so- cial, cultura, meio ambiente, transportes, reforma agriria e ciéncia e tecnologia foram afetadas de forma dramética, realizando investimentos irrisérios (entre 0,01% © 2,26% do total orgado); outras, como habitagdo e saneamento, foram literalmen- te paralisadas, com investimento zero. A salide investiu 3,5% do previsto; a edu- cago, 5,5%” (idem: 170). ‘A situagiio acima deserita nos mostra o grau de desmonte a que foi submetida as politicas estatais do pafs. Os projetos governamentais foram todos submetidos a cortes de gastos com o objetivo de atingir 0 superdvit primério de 4,25%. Mesino 0 Fome Zero, considerado prioritério para o govemo, teve bastante reduzido seu or- gamento (em cerca de 75% para 2004). Outros dados corroboram resultados frus- trantes para todos os setores democrético-populares que apostaram em Lula desemprego medido pelo Dieese vem oscilando sempre préximo dos 20%; a renda média dos trabalhadores vem caindo sistematicamente e com ela a perda de massa salarial"'¢ do poder de compra do salério, o que impacta negativamente ‘aatividade produtiva, pois hi redugdo do consumo; com isso, tivemos uma queda 8. Para esta Grea, o eryamento de 2004 prevéverbas de RS 1 bilo, “menos da metade da verba do Ministerio em 1998, dante o goxerno Fernando Henrique Cardoso” (Bianchi & Braga, 2003: 20. 9, Dados referentes so investment realizado no primeiro semesre de 2003 10, Outo dao estarrecedor refere-se aos acidenes de trabalho. No govemo de um ex-operésio gus perdea um dedo trabulhando,é lamentavel que tenkamos que ouvir nsicias que denunciam 2 continu the do desmonte da politica de segurunge do trabalho. O mimero de acidentes, que ji haviavolado & ‘resoer em 2002 depois de experimentar quedas desde 1997, manteve os indives no governo Lal, com ‘ieto a core de verbas para as eempanhas de prevengao (e RS 6 milhes pare RS 1 iho). THA queda da massa slariallevou o INSS 2 “registrar, no primeirosemestre [de 2003], 0 maior dst de sua hisdria (RS 946 bles), por cawsa da queda na arecadaso” (Benjamin, 20035: 170) 54 a producio industrial generatizada, com varios setores experimentando “cresci- mento” abaixo de zero, com destaque para a construcio civil, que decresceu cerca de 8%, e para os produtores de bens niio-durdveis, responsaveis por alimentos, vestuarios ¢ bebidas. Houve uma compensacdo provocada pela agroindistria (0 agrobusiness), que teve crescimento de 24% na safra, mas que néo repercute no mercado intemo, pois esti fortemente voltado para as exportagdes, assim como rio altera.o desempenho da renda ¢ do emprego, uma vez que tata-se de setor mecanizado com altos indices de produtividade. Intensifica-se a precarizagao do trabalho por meio de niveis maiores de empregos sem carteira, como os aut6no- ‘mos, responséveis por 85% dos postos de trabalho gerados; por mais um ano, os ‘bancos obtiveram lucros recordes, com destaque para Itati e Bradesco em 2003, ‘Soma-se a isso uma conta de juros altissima que consome boa parte do que se procuz no pais com 0 pagamento de seus servigos. Todo o esforco de arrecadagio com 0 rigor fiscal ¢ 0 aperto nas contas paiblicas no é suficiente, pois o pats paga ais que 0 dobro de juros, que equivalem a cerca de 10% do PIB brasileiro; com isso, temos um exorbitante crescimenta da divida piiblica causado niio por gastos «em investimentos ¢ custeio, mas por pagamento de juros, 0 que nos faz. viver, se- gundo Benjamin, uma situagdo “paradoxal [na qual] o Estado arrecada cada vez. ‘mais, gasta cada vez menos ¢, mesmo assim, suas contas tomam-se cada vez. mais desequilibradas” (idem: 171), Se agregarmos a esses dados a retirada de direitos proporcionada pela (contra-)reforma da Previdéncia — que limitou 0 teto da apo~ sentadoria em R$ 2.400,00 ¢ elevou a idade minima de aposentadoria para 5S anos (para mulheres) e 60 anos (para homens), além da cobranga de contribuiggo previ- dencidtia dos pensionistas e aposentados e de eriar um amplo mercado para a previ- déncia complementar —, fechamos um diggnéstico no qual o governo Lula pode ser caracterizado, objetivamente, como executor das politicas de ajuste neoliberal, pois as operou sem escripulos, subordinando-se, docilmente, aos seus comandos."” © panorama deserito nos apresenta um Estado — sob 0 governo Lula — absolutamente servil ao grande capital internacional, Este mesmo Estado vem. sendo sistematicamente enfraquecido em seus instrumentos reguladores da eco- nomia. Torna-se, com 0 governo petista, cada vez mais minimo para os trabatha- dores e maximo para o capital, para lembrar a feliz caracterizagio de Netto. Por tal caracteristica, assume o papel de facilitador dos negécios do capital, procuran- Go desvencilhi-lo de qualquer mecanismo inibidor da acumulago, livrando-o de 12, Parte dos dos trabalhedos acima foram extrafdos dos trabalos de César Benjamin, 20080 e de Alvaro Bianchi & Rui Braga, 2003 55 quaisquer constrangimentos institucionais e politicos. Trata-se de uma reatualiza- ‘40, agora conservadora, de Adam Smith, que pensava o mercado auto-regulivel, senhor de si. A andlise de Benjamin é definitiva nesse sentido: “O Estado brasilei- ro, neste momento, existe muito mais no mundo do espeticulo midistico — 0 mundo das entrevistas, das declaragies dos antincios, das movimentagées politi- cas, das solenidades — do que na vida real” (Benjamin, 2003b: 170). O que assistimos, a0 longo destes quinze meses de govern, é uma capitula- «Ho historica que, ainda que seus sinais remontem a meados dos anos 1990, foi empreendida de mancira metesrica nestes quinze meses. Mesmo considerando, todas as adversidades tipicas de um governo fruto de aliancas politicas e aquelas referentes ao quadro internacional, Lula parece abrir mio da enorme vit6ria poli tico-eleitoral de outubro de 2002. Ela significou, entre outros elementos, uma recusa do projeto neoliberal erguido nos anos 1990. Lula operou uma verdadeira reniincia ao enorme capital politico que herdou das urnas, de donde poderia ex- trait sua maior fora Apés esse breve balango do governo Lula, buscarei identificar as possiveis consequéncias de tais politicas ao projeto ético-politico do Servigo Social brasi- leito, Antes, abordarei o projeto profissional, pontuando as dimensdes que 0 cons- tituem, atribuindo-Ihe concregao hist6rica. 3. 0 projeto ético-poltico: breves consideractes Compreendemos o projeto ético-politico como um conjunto de valores ¢ concepedes ético-politicas por meio das quais sctores significativos da categoria dos assistentes sociais se expressam, tornando-o representativo e, por vezes, he- gemOnico, isto é, quando, democraticamente detém ¢ direciona os espagos funda- ‘mentais da profissao no Brasil. Este direcionamento ocorre quando hi reconheci- mento de suas ages e formulagdes por parcela decisiva da categoria, tornando-o (0 projeto ético-politico) legitimo como tal perante ela, Como tal, 0 projeto ético-politico deve ser entendido como uma projegtio co- Ietiva de determinado grupo social, no caso assistentes sociais, que representa con- cepgdes hegeménicas em seu meio, Como representa interesses coletivos de deter= minado grupo social, expressa necessariamente particularidades (no caso, as pro- Jissionais) que tém prevaléncia num dado momento hist6rico daquele coletivo. Re- laciona-se com interesses mais gerais nao s6 porque os concee em suas prospeccies, ‘mas porque esté relacionado aos projetos societérios existentes na sociedade. 56 Estes, afeitos & universalidade, referem-se diretamente ao género humano, ‘203 interesses decisivos que dizem respeito aos rumos da humanidade, pois en- volvem toda a sociedade. Como tais, os projetos de sociedade podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conservadores. Assim, todo projeto coletivo — no campo da particularidade —, como o projeto ético-politico do Servigo Social, relaciona-se com os projetos societitios transformadores ou conservadores, posi- cionando-se, implicita ou explicitamente, frente as questes gerais que permeiam a socicdade em sua totalidade. Nosso projeto profissional esté nitidamente vinculado a um projeto de trans- formagao da ordem social, sem se confundir e/ou se diluir nele. Suas acepgdes © valores o vinculam a projegdes scio-hist6rieas que vislumbram a ruptura com a cordem social vigente. A partir dat, seu desenvolvimento se dé em sintonia com os ‘movimentos que pretendem mudancas sociais na sociedade com vistas a transfor- mé-la, Nao € & toa que no Codigo de Etica temos, em seus “Principios fundamen- tais", uma idéia que expressa plenamente o projeto ético-politico do qual falamos, ual seja: “a opg3o por um projeto profissional vineulado ao proceso de constru- ‘go de uma nova orem societéria” (Cress, 2001: 17). projeto profissional pode ser identificado em varios documentos que ex- pressam determinadas concepgdes teérico-politicas. Do ponto de vista politico- normative, a ruptura com as bases conservadoras predominantes na categoria até 9s anos 1970 encontra-se no Cédigo de Etica de 1986, que teve seu conteiido redefinido em 1993, quando foi aprovado novo Cédigo. Nele, temos mantidos os avangos teérico-filosoficos fundamentais de 1986, atribuindo-lhes operacionali- dade expressa em direitos e deveres estabelecidos. Esta nova diregii jé havia se manifestado entre nés no chamado Congresso da Virada, em 1979, considerado lum marco politico na ruptura com 9 conservadorismo. Desde entio, a profissio redirecionou suas concepgbes te6ricas e redefiniu seus marcos normativo-regula- \6rios. Ou seja, operou-se entre nés um giro ético-politico que plantou novos ru- ‘mos nas diversas instancias do Servigo Social, tanto na formagdo quanto no exer- 0 profissional. ‘Sio vérios os documentos que expressam de alguma maneira o avango da categoria: 0 novo Cédigo de Etica do Assistente Social (de 1993), a nova Lei de Regulamentagio da Profissio (também de 1993); no ambito da formagio, as Di- retrizes Curriculares dos Cursos de Servigo Social (de 1996); ¢ ainda, as legisla- ‘gBes sociais, como o Kstatuto da Crianga ¢ do Adolescente (ECA, de 1990), a Lei Organica da Assisténcia Social (Loas, de 1993), a Lei Orgiinica da Saiide (LOS, de 1990) ete. Neles encontram-se prinepios que se alinham aos setores mais pro- 7 gressistas da sociedade, vemos formadas as bases jurfdico-legais da profissio legitimadas as compreensées tedrico-conceituais consensuadas por ampla parcela do Servigo Social brasileiro. Pode-se sistematizar tais bases que contornam 0 projeto ético-politico to- mando-as como suas dimensdes constituintes, articuladas entre si, que Ike asse~ guram concrecao hist6rieo-social, Podemos situd-las em trés niveis: a) uma di- ‘mensao tedrica, que envolve a producto de conhecimentos no interior da profis- sso acumulada nas duas titimas décadas. Esta dimensao relaciona-se 2 sistemati- zagio tebrica das varias modalidades interventivas da profissio, configurando-se no seu momento reflexivo-investigativo, tendo como “parametro a afinidade com as tendéncias te6rico-criticas do pensamento social”; b) uma dimensao jurtdi- co-politica, que envolve 0 conjunto de leis, resolugdes, documentos ¢ textos poli ticos consagradas no meio profissional. Abrange o “aparato juridico-politico & institucional da profissio”, expresso no Cédigo de Etica, na Lei de Regulamenta- io € nas Diretrizes Curriculares (documentos que constituem 0 “aparato juridi- co-politico de caréter estritamente profissional”) ¢, ainda, no “conjunto de leis advindas do capftulo da Ordem Social da Constituigdo Federal" de 1988", tai como a Loas, 0 ECA a LOS, dentre outras; ¢) uma dimensio politico-organiza- tiva, onde esto assentados “tanto os féruns de del quanto as entidades representativas da profissio”. Refiro-me aos espacos deliberativos ¢ consultivos da profisso construidos historicamente por meio dos movimentos organizados 4a categoria respaldados nas suas principais entidades, como o conjunto CFESS/ Cress (Conselho Federal ¢ Consellios Regionais de Servigo Social, a Abepss (As- soviagdo Brasileira de Ensino ¢ Pesquisa em Servigo Social) e, no &mbito do mo- vimento estudantil, a Enesso (Executiva Nacional de Estudantes de Servigo So- cial). Nestas trés dimensGes apresentadas coneretizam-se 0 projeto profissional em questdo (Braz, 2001: 391-3) 4, Conseqiiéncias das politicas do governo Lula para 0 projeto ético- politico primeiro ano de mandato (2003) e 0 infcio do segundo ano (2004) do govemo Lula indicam, se se pensa na macropolitica econdmica, uma continuida- 13. A distingdo em itilico io 6 do original 1. Destague do orginal 58 de do govemo anterior, como se viu anteriormente, Uma possivel nova fase na hist6ria brasileira no se concretizou, A pretcnsa Era Lula transformou-se em ‘mais um capitulo da Era FHC, como insinuou Francisco de Oliveira." Como foi visto, as politicas de Lula até aqui, em Ambito geral, reproduzem 0s tltimos dez anos, perpetuando os seus desdobramentos sociais, especialmente as politicas so- ciais, Os poucos contornos de politicas contrérias ao neoliberalismo sao extrema- mente localizados em algumas reas do governo."* Se este cenério ndo se reverter, ¢ jf hd movimentos politicos organizados em torno disso, possivelmente teremos rebatimentos na conerego mesma da profissdo, tanto nas condigdes de trabalho dos assistentes sociais, quanto nos servigos piblicos, onde se reaizam em grande parte os processos interventivos do Servigo Social. Como trabalhadores, as (08) assistentes sociais vivem situagdes precrias, com acirramento de politicas neoliberais entre as relagdes de trabalho. SituagSes como “degradacéo salarial, flexibilizagao das formas de contrato de trabalho, piora das préprias condicaes gerais de trabalho, além do desemprego, tenderso ‘a aumentar”, sobretudo se contra-reformas trabalhistas se realizarem."” “Estes ele- mentos combinados entre si implicardo not6rias dificuldades ao exereicio profis sional qualificado e balizado por fundamentos éticos consagrados no atual Ct go de Etica” (Braz & Vinagre, 2003: 3). Por outro lado, como é not6ria a participagio de assistentes sociais, em sua ‘maioria, nos drgios estatais dos trés nfveis (municipal, estadval e federal), pode~ se vislumbrar um quadro no qual, se persistrem as politicas neoliberais postas na dite da (contra-)reforma do Estado, teremos uma redusfo/degradagdo dos ser- vigos puiblicos que podem indicar, mais uma vez, um aviltamento das condi¢des de trabalho dos assistentes sociais nestes espagos ¢, articuladamente, progressi- vas dficuldades para a efetivagdo de principios histGricos que partilhamos ¢ de- endemos, circunscritos na defesa das politicas piblicas de responsabilidade esta- tal, tanto na saiide, na previdéncia, na assisténcia social e nas demais politicas 15. Oliveira, F, Confer2ncia de bertura do lkimo Enpess, realizado em Suiz de Fora (novembre a= 2002) 16, Olivera, quando do evento no gual foi homenageado na USP, afirmos que "o medo vence 3 cesperana”, Para ee, taeta da “sociak-democracia perféric” (PT e PSDB) tem sido a de realizar @ “Honcionatizagio do capital, j6 na soa escala global, sem ser feito ances a tarefa da resugto radial ds designldade” (Folha de S. Paulo, AX: 14/6003). 17, Pesquisas sobre mercado de trabalho se fazem entcemamente necessérias para a proctra de sltemativas. O CFESS, ainda este ano, em parceria com a Ufal, inci uma Pesquisa Nacional nessa Giexio. 39 sociais. Soms-se a isto 0 panorama no qual a restrigdo de gastos sociais e a mer- cantilizago das politicas puiblicas indicam a continuidade do deslocamento dos padrées de intervengio na “questdo social” para a esfera privada, sinalizando 0 reforgo do apelo a sociedade civil, as muiltiplas formas de solidarismo (idem: 4), As conseqiiéncias deste cendrio ao projeto profissional podem ser pensadas a partir dos eixos estruturadores do projeto, ou, como denominei, de suas dimen- ssdes constituintes. Cada uma delas sofre determinados rebatimentos que impactam, negativamente sobre 0 projeto ético-politico."* A dimensdo tedrica do projeto ético-politico, com a reduedio do Estado, & ‘suas consegiientes restrigdes orgamentérias, poderd enfientar dificuldades quanto a restricdes aos financiamentos piblicas de pesquisa, como também, por conta da progressiva mercantilizacao das universidades piiblicas,” com degradaciio das condigies de trabatho dos docentes que poderio atingir direto as bases aca- démicas pelas quais, historicamente, o Servigo Social brasileiro pOde avangar teo- ricamente, conquistando reconhecimento nos espacos universitrios. Isto pode acaretar uma fragilicacdo da base tedrico-académica do projeto profissional, a saber, dos espacos de formacdo e dos grupos de pesquisa consolidados que, por ‘meio dos seus cursos de graduacao e, notadamente, de suas pés-graduagdes, plan- taram os pilares académicos que sustentam e contomam a dimensao teérica do projeto ético-politico, materializada em extensa e qualificada producdo de conhe- cimentos. Acrescente-se, ainda, a irresponsavel politica de “ampliagao do ensino superior” gestada no governo FHC, que colocou um novo problema ao projeto, profissional: a dificuldade de incorporar os novos cursos a agenda polit {fissional de suas entidades. Ao mesmo tempo, se persistir a tendéncia de redugio do Estado, de desregulamentacdes e flexibilizacdes dos seus mecanismos regula- “o-pro- 18, Nos qtr panigrafos seguintes, desdodro os argumentos contidos em Braz & Vinggre (200). 19, A “‘eforma universititia” anunciada pelo govemo ainda nio deslanchou, mas alguns de seus projtos jf foram ventilados pela ministo Tarso Genro em debates e aa mila, Paecer indicar uma ‘efuncionalizgao da unversdade publica buscando tom-la mais préxima is necessidades do mercado, to sentido de oferecer-Ibe mado-de-obra ualificada, © tema da autonoatia financcira reaparece sob & roupagem da criasdo de novos canis de financiamento 3s unversidades pabicas. Ouro tema polEmico referese 3 riagin de “vagas plies” nas universidadesprivadas, como forma de ampliar 0 acesso 20 ensino superior Aqui, © governo demonstra que pretend investi as pivadss, ampliando suas formas 4efinanciamento direto ¢ indireto (no aso, com rendnea fiscal). Nao so tata do 50 oper ampligio do avesso go cnsino superior que a medida poder traze, mas sim de questionar a gvaidade de ensino que serdoferada aos estadantes que nzo conseguem ingressar nas publics. Mais que isso, cabe indagar sobre 25 rae que levam 0 govern «profi abrir vagas nas privadas a ampli-as nas pilias, meh. rando as su8s condiges port 60 16rios, poderemos nos deparar com situagdes que concortem no sentido do enyra- quecimento de nossos instrumentos coletivos de direedo social da formacdo pro~ {fissional, As alterages nas Diretrizes Curriculares realizadas ainda na gestio Paulo Renato no Ministério da Educagio so exemplares neste sentido, uma vez, que indicaram um claro intuito de fragilizar os instrumentos coletivos de diregio s0- flexibilizando seus contetidos, fundamentos e principios. [A partir destas prospecgSes, cabe pontuar algumas problematizagdes rela- cionadas aos Principios Fundamentais do Cédigo de Frica, no que tange & sua garantia efetiva no proprio exereicio profissional. Por exemplo, se se penst na necesséria garantia, imperativa, da “qualidade dos servicos prestados” c, ainda, no permanente “aprimoramento intelectual” (também imperativo) como compro- missos ético-politicos do assistente social, percebe-se as dificuldades de suas efetivacdes, pois se desenvolvem em condigdes objetivas politice-profissionais bastante adversas. Dependem da articulagio com as agéncias de formagao que enfrentam dificuldades como mostramos, bem como da preservagio de momentos formativos aos assistentes sociais nos espacos institucionais. Quanto # este tlti- ‘mo aspecto, vé-se que a realidade parece concorrer no sentido contrério, uma vez que se trata de tempos de degradacdo/precarizacdo das condicdes/relacaes de trabalho profissional. No ambito da dimenséio juridico-politica do projeto ético-politico podem se desenvolver duas ordens de problemas. A primeira refere-se as alteragdes no sen- tido de flexibilizar as relagdes trabalhistas ¢ de desregulamentar as profissdes. ‘Sugerem tendéncias de refunefonalizagio da divisdo sociotéenica do trabalho, uma ‘ver. que atendem as necessidades reais € concretas do capital, apresentando-se ‘como demandas & profissao, Dai o rebatimento mais imediato, além das bvias necessidades de respostas criticas ¢ qualificadas dos profissionais iquelas deman- das, manifesta-se no debate em toro das competéncias ¢ atribuicdes profissio- nais garantidas na Lei n° 8.662, principalmente das atribuigées privativas. Aqui, determinadas habilidades profissionais tendem a ser reformatadas expressando- se em novas modalidades interventivas, o que jé vem desdobrando debates em torno das competéncias e atribuigdes do Servigo Social.” Uma segunda ordem de problemas se verifica no desenvolvimento do trindmio degradacdo/mercantilica- sao/privatizacdo do aparato piblico-estatal e a conseqiiente rerirada de direitos 20, Debate que ji se Jevevolve no dbito dos Cress, do CFEESS e de grupos de pesquisa sobre 0 trabalho pofissional. A publicagio pelo CFESS de Aiibulgdespriratvas do assistente social em questio A Marie Tamamoto (2002) trnou-se referencia para qualquer aboctzgem em tomo da problema 61 sociais advindos da Constituigao de 1988. As permanentes ofensivas as legisla- {02s sociais oriundas de 1988, tais como o ECA, a Loas ¢ o SUS, poe em questao © ordenamento juridico-politico do projeto profissional, de onde ja pudemos vi- venciar uma série de embates que envolveu as entidades da categoria em defesa das conquistas histéricas da profissao ao longo dos anos 1990, 0 questionamento este ordenamento constituido pode se manifestar de diversas maneiras: por meio de propostas de complementagies a legislago consolidada, da retirada de deter- inados itens, ou ainda, por meio de edi¢Zo de leis complementares; pode se expressar no prOprio questionamento juridico da legislagao existente ou, ainda, ignorando-a por meio da edigao de decretos, medidas provisdrias ou atos admi- nistrativos, Como se trata de um quadro de regressdo de direitos, hé possibilida- des de se presenciar situagSes de embates com 0 governo que af esti, ji que esto ‘em xeque aspectos fundamentais do projeto profissional, relacionados & cidada- nia, A democracia ¢ & ampliagio do acesso universal as politicas piblicas. A (contra-)reforma da Previdéncia jé evidenciou o cenério regressive a que me refe- 1i, Nela, como jai se mostrou, houve corte de direitos conquistados © consagrados nna Constituiea0."" A anunciada reforma trabalhista parece apontar nesta mesma diregao, Quanto & dimenstio politico-organizativa do projeto ético-politico, as earac- teristicas antidemoeriticas da fase atual do capital incidem sobre a organizagiio Politica dos trabalhadores. E sabido que o neoliberalismo requer para o seu pleno desenvolvimento um ambiente politico de nio-questionamento 20 seu idedrio. A sustentacdo ideolégica das politcas neoliberais pressupde a dissolugao de dissen- 805 em toro dos objetivos principais do chamado Consenso de Washington,” destacando-se a necessidade de fragilizar as organizagdes politicas da classe tra- 21. Cabe repister gue no imbito do movimento da eaegoria, 0 CFESS, a partir de econo reali- ~2ado em juno de 2003 com asistentes sociais do INSS, contriu nota na qual expressa pogo ertca ‘quant sos limites eas tendéneiasregressivas da (conta reforms da Prevideneta. 22, Tomou-se bastante difundide a tse de Perry Anderson (1995) que sustenta a ida de que & ‘maior vitéria do noliberaismo se deu no campo ideocultral,jstumente onde se Jeyenvolvem consen- ss em toro de projets politicos sovietios. Mesmo considerando que o idedrio neoliberal vem seado ‘ejitado em varios paises, parece-me preciptado considericlosuperaio, O governo Lule lis, ¢exeny ‘lo de que ainda hé flego para empreitadas neoliberalizantes, mesmo que tna sido eleto a pair de relative eo0sa eas 23, Tal consenso parece comtinar vivid nos las atuais, mesma com os processosagonizantes que prodaziu, que leva a crises sstemstieas em vérios pafues. Recentemente, J. Wilamsson, am dos seus idecloge, disse em jorais brasileiro que o Brasil, no governo Lula, esti se afnando, mais ainda, 0s prinepios do Consenso 62 balhadora. Nesse sentido, as entidades representativas do Servigo Social (0 con- junto CFESS/Cress, a Abepss e a Enesso) continuario, provavelmente, 2 enfren- tar ofensivas do capital, uma vez que stias agendas politicas, ao que tudo indica, permanecerdo na contracorrente da hegemonia neoliberal defendida, até aqui, pelo governo, Ademais, os obstéculos & mobilizacio da categoria tendem a se perpe~ tar, jé que as condigdes subjetivas atuais produzem antipatias &s ages coletivas, fertilizando 0 terreno do “salve-se quem puder”, das safdas individuais, do isolacionismo. As entidades, em suas gestdes atuais, viveram situagdes politicas bastante distintas nos witimos dois anos, pois, 2002, viviam 0 fogo cruzado do governo FHC, opondo-se as suas politicas neoliberais ao mesmo tempo em que, ainda em 2002, no segundo semestre, viveram a expectativa da vit6ria de Lula e a euforia de sua consumagao em outubro, Transitaram entre a consequiente oposigao ao ‘governo FHC e a perspectiva de, em janeiro de 2008, participarem diretamente da construgio de um governo que, mesmo considerando suas contradigSes internas dadas pelo arco de aliangas articulado, abriria pela primeira vez na historia do Brasil possibilidades concretas de interferéneias em seus rumos, disputando he~ ‘gemonia com as forgas conservadoras em situagio mais favordvel politicamente. As mesmas entidades passaram a viver entio, a partir de janeiro de 2003, a per- plexidade diante da veloz mudanga do PT no governo da Repiiblica. Ao longo de 2008, foram se afirmando tendéncias que acabaram por definir os rumos do go- ‘verno e, por sta vez, as posigdes das entidades frente a ele.* O desafio consiste na manutencdo da autonomia politica das entidades, buscando apoiar propostas que signifiquem fortalecimento do projeto profissional e recusar outras que o contra- tiem, movendo esforgos no sentido de preservé-lo e de criar condigdes para que avance, No horizonte das problematizagdes esbogadas neste texto, vale assinalar, para finalizarmos, um prognéstico sobre o futuro do projeto ético-politico. Diante 24. 0 CFESS, por exemplo, tomou pblicas suas postura frente ao governo dese a vitra elito- ral, Viveu a expectativa dante das eventuis possbilidades de pasticipasio polivea no que tange ‘onsinugin da saguridade social publica no Brasil. Elaborou snc, em atigo voltado para 3s comemo- ragbes do Dia do Assisente Social no seu boletim informative, acerca da ntureza contraitéria do overno quand este passava, nos seus primeizos meses, por momentos devsives provoeados por dspu- tas pela hegemonia com as forgas conservadoras que © compiem, Rechagow propostas contéias ao projet eico-politico contidas a (contra-reorma de Previdencia. E reafimou principios valores mas Jelierasces de su Slim frum deliberative 9 Encontro Nacional CFESSICres (stembro de 2003), uma demonstagio clara de autonomia e independéncia politcas da entdade. 63 do governo Lula, tr8s tendéncias em tomo do projeto profissional podem se de- senvolver simultaneamente. A primeira esté relacionada & possibilidade de se fortalecerem projetos pro- fissionais conservadores no seio da profissio. Seu campo de desenvolvimento se dard na esteira do descontentamento e da frustracZo com o governo Lula. A iden- tificagdo hist6rica da esquerda com o PT nas duas tiltimas décadas favorecerd os argumentos daqueles que apontardo 0 fracasso do governo como um eventual fracasso do projeto ético-politico, Trocando em mitidos, a conta do governo Lula serdi cobrada aos defensores do projeto ético-politico, dada a sintonia politica que sempre mantiveram, Refiro-me, aqui, a um clemento objetivo: varios expoentes do projeto profissional tém lagos histéricos profundos com o PT. Aqui, nio se trata de confundir os limites politico-profissionais com os politico-partidarios, demarcagio de fronteiras que jé esté mais do que resolvida entre nds. O que estou Tevantando & a possibilidade de surgirem correnies polttico-profissionais que, de forma oportunista, criem um ambiente politico-ideoldgico que poderd promover ‘uma associagdo — oportunista, insisto—, entre o projeto profissional hegemdni- 0 € 0 governo central, Tal tendéncia pode advir no apenas de correntes conser- vadoras, mas de setores até mesmo da esquerda, organizados ou nao. Numa segunda tendéncia, predominard o revisionismo tedrico-politico. A partir das divisdes que 0 governo Lula enseja no ambito da prdpria esquerda, 6 natural que disputas se intensifiquem em meio & nebulosidade ideolégica tipica da conjuntura atual. Minha tese, aqui, parte do pressuposto de que as pilares ted- ricos que dao sustentacao ao projeto ético-politico deverdo ser fortemente ques- tionados. A parti dat, a produedo tedrica paderd perder wm eixo central que a ‘vem caracterizando: a defesa das poltticas piiblicas, com cardter universal e de responsabilidade do Estado. A necessidade de legitimagio do veio de esquerda do governo Lula poderi langar uma nova modalidade entre nés: a profiastio de idéias que procurardo dar respaldo tedrico ao projeto politico representado no governo federal, consumando assim uma profunda mistificagdo da realidade. Como o governo no demonstra compromisso com os princfpios acima citados (defesa das politicas piblicas, com caréter universal e de responsabilidade do Estado), podem surgir aqueles que contornaro tal fato sustentando argumentos contrétios aos princfpios consagrados. O risco que se corre nesta segunda tendén- cia € 0 da flexibilizagao dos principios a partic de concessoes e revisionismos te6rico-politicos. Aqui, 0 aparato tedrico poderd encontrar esteio nas diversas correntes pés-modernas, sobretudo aquelas que oferecem uma perspectiva es- querdista e com verniz de radicalismo. Essa potencialidade te6rica jé estava inci- 64 piente hé algum tempo no debate do Servigo Social, inclusive no ambito de ade- rentes do proprio projeto ético-poltico.* Por tiltimo, uma rerceira tendéncia que deverd se fortalever 6 caudatirin das bases conservadoras do Servigo Social, Nutir-se-i de dois fatores associados: da crise das esquerdas ¢ de sua quase inevitivel divisio e do ambiente adverso que vivem (viverdo) os assistentes socials, se continuar 0 curso que tragamos do 20- vero Lula neste artigo. Os simplotios argumentos de que o “projeto ético-politi- co niio dé conta da pritica profissional” (uma espécie de adaptacio do “na pritica a teoria € ovtra”) ou de que no contempla as nevessidades da maioria dos assis tentes sociais podem se fortalecer, As repercussdes desta tendéncia rebatero na produgio teérica e nas entidades da categoria. Na produgio te6rica, poder se expressar por meio de uma reatualizagdo de fontes teGricas tradicionais, enalte- cendo os modelos de intervengio profissional que primam pelo fornecimento de receitas&atuagio profissional. No Ambito das organizagiies politcas, poders crescer lum movimento silencioso de deslegitims-las politicamente, desconhecendo sua representatividade, ‘A provaléncia de uma ov outra tendéncia dependers do grau de organizagao e dos rumos que tomar a realidade aqui estudada. Ao projeto ético-politico cabe- i dois papéis fundamentais: garantir o debate democréico das tendéncias a pat= tir de um radical respeito @ pluralidade de concepgies igualmente democriticas; ¢ reafirmar os principios do projeto a partir de sua defesa contundente e de sua ‘maxima socializagio, tomando-o cada ver mais conhecido da categoria, Para enfrentar tais desafios, precisa-se, mais do que nunca, aprender as situages coneretas do cotidiano profissional. Situagdes que condensam 1a vida dos individuos as diferentes expresses da “questo social”, buscando-se sua com preenso no contexto da totalidade onde sio produzidas, Para tanto, € necessério © constante aprimoramento intelectual, politico e ético, na ditegdo das balizas assinaladas hi dee anos na Lei de Regulamentagiio da Profissio (Lei n° 8662/93) ¢ no Cédigo de Etica em vigor. 25, Aqui, € importante resgatar as prospecydes de Neto, especialmente quando aponta para 0 de- senvolvimento de detemninadss coneepsGes profissionals. Dente as “linhas de desenvolvimento” que suger dues, especialmente, suardam relagdes com a tendéncia que estou dscutndo: a “vertente neo conservadors inspired fortemente na epistemologia pés-modeena”e ay “vertentes apaentementerai- ss" (Neto, 1996: 127) Esa segunda tendéncia que sustenio em meu iexto aparece como ura mise ines das duas vertentes apontadas por Netto, Confluem, politica ¢ teoricaments, em dois aspectos deci sivos: a desqualifeagio do Estado e, consequeatemente, no eadeusamento da “sociedade civil 65 As alternativas politico-profissionais diante dos desafios conjunturais tematizados neste texto desdobram-se em varias iniciativas. Deve-se buscar maior ‘qualificago no sentido de construir agdes profissionais que ajudem a reverter este quadro perverso. Em consonincia com os principios norteadores do projeto Gtico-politico, deve-se articular trés niveis de competéncia: teérica, politica tée- nica, indissociavelmente, Para isso, para que possamos ter condigées de manter 5 prinespios © compromissos coletivos «la profissio aqui apresentados, aponto algumas sugestoes 1) dar continuidade 0 aprofundamento tesrico desencadeado desde os anos 1980. Porém, com maior atengdo as particularidades ¢ singularidades hist6ricas da Vida social atinentes a0 Servigo Social — seguir o alerta do documento original da Diretrizes Curriculares da ABEPSS: “€ preciso pesquisar sobre a realidade, mas, principalmente, & preciso pesquisar mais na realidade (...] ¢ preciso dar um banho de realidade em nossas anélises” (ABESS/Cedepss, 1995; grifos nossos); 2) buscar maior aproximacdo entre a academia (nossos professores e alu- nos) ¢ o campo profissional, de forma a fortalecer 0 projeto ético-politico entre os profissionais diretamente vinculados ao exerefcio; 3) romper com o “umbiguistno” analitico que pensa a profissio por ela mes- ima, e cujas perspectivas endégenas acabam por engessar a busca de alternativas criativas. Buscar aprimoramento intelectual para entender melhor as mudangas, qualificando assim as agbes profissionais;** 4) deixar de lado o “individualismo profissional”, que acha que tudo pode resolver, que tudo esté nos marcos restritos de cada profissional, isoladamente: sair do isolacionismo profissional e buscar safdas coletivas, nos Cress (no inte- rior de suas comissdes), no CFESS, na Abepss, nas organizagoes sindicais, de forma a contribuir, efetivamente, com a construc de alternativas politico profissionais; '5) manter ¢ fortalecer os lagos que unem, historicamente, as trés entidades representativas do Servico Social — Abepss, CFESS/Cress e Enesso—, amplian- do-os para além dos seus respectivos fruns representativos, fazendo com que esta articulagao politica possa se expressar mais nitidamente & categoria, criando, por exemplo, fiéruns, interentidades regionais, aproveitando as representacées lo- 25, Estas tarefas passat fundamentalmente pelo campo da formaeio protissional que deve ser sempre deifadara do res ¢ antocipadora de cenirios, fornecendo i sociedade profisionas eiics, competentes, eriativs e compremetidos 66 cais ¢ regionais de cada entidade. Tis féruns poderiam assumir a forma simulta nea de defesa, ampliagio e maxima publicizagdo do projeto ético politico. ‘Além dessas sintéticas proposigées, vale conferit 0 rol de propostas dos fOruns representativos da profissio. Ha uma agenda politica a cumprir que requer 1a mais ampla mobilizago e participagao dos assistentes sociais, tanto daqueles vinculados & academia quanto daqueles diretamente envolvidos com 0 processo interventivo profissional [Absteact: The main objective of this ectice is to discuss ibe professional project of the Bravitian Social Work taking into account the challenges imposed by the current situation of the country. For this purpose, the article is made up of four articulating moments: a) the analysis of what Lula’s lection meant to Brazil; b) the discussion of the results of this frst year of administration; c) the characterization ofthe contemporary projec ofthe profession; d) the relation between the country’s ‘eonjunetional aspects and the professional project. Finally I present the scenario, che trends, and the challenges to he project in face of Lula’s administration. ‘Reywords: contemporary soci work; Lula's administration; profesional projec. Bibliografia ANDERSON, P. “Balanco do neoliberalismo”. In: GENTILI, P. & SADER, E. (orgs.). Pés-neoliberalismo — As poltticas sociais € o Estado democritico. Rio de Ja- neiro: Paz.e Terra, 1995. BENJAMIN, C. “Brevemente saberemos”. Caros amigos, ano VI, n. 72, mar. 20034. “Economia brasileira e politica econdmica”. Universidade ¢ Sociedade, Brasflia, Andes, ano XIII, n. 31, out, 2003. BIANCHI, A. & BRAGA, R. “Capitalismo patrimonial nos trépicos? 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