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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DFP – Departamento de Filosofia e Psicologia

“Neurose obsessiva: caso clínico e algumas considerações”

Adriane Fraga Bitencourt


Laís Sartor

Seminário de Psicologia Clínica Infantil II


Ana Dias
Psicologia

Ijuí, novembro de 2004.


Caso clínico:

Análise de uma neurose obsessiva infantil.


(De Eugênia Sokolnicka; traduzido do alemão por Michel Cresta e Martine
Meskel).
Os questionamentos desse trabalho estarão referidos ao caso clínico de Eugênia
Sokolnicka, de uma neurose obsessiva de um menino de 10 anos e meio de idade, sendo
que será transcrito para que nenhum elemento se perca, nos mantendo fiéis à história que
foi escutada pela psicanalista.

Em abril de 1919, um médico encaminhou para análise um menino de dez anos


e meio. Ele era pequeno para sua idade e muito magro; sofria de diversos estados
obsessivos. Não podia tocar em nada de modo que sua mãe devia vesti-lo e alimentá-lo. Se
alguém, principalmente a mãe, tocasse alguma coisa com uma mão, o objeto concernido
devia ser colocado no mesmo lugar, e em seguida esta mesma operação devia ser executada
com a outra mão, e depois com as duas ao mesmo tempo. Ele ficava particularmente
irritável quando se colocava um objeto ao lado do outro. Ele mesmo não queria
absolutamente tocar em nada. Quando por acaso isto se produzia, a mãe devia realizar o
cerimonial. Em conseqüência, a mínima ação acompanhava-se de tantas cerimônias, que
freqüentemente exigia inúmeras horas. A mãe me pediu para reservar uma hora à tarde pois,
como indicamos, ela não conseguia acabar de vestir o menino antes de meio-dia e meia. A
criança sofria verdadeiramente de fome, porque ao comer cuspia uma ou várias vezes na
mão da mãe todo bocado que não fosse introduzido “do jeito certo” na boca. Antes de
comer era-lhe necessário, assim como à mãe, assumir uma posição determinada: quando
um pé estava colocado um pouco mais à frente, todo um cerimonial devia se desenrolar até
que os dois pés ficassem perfeitamente alinhados, etc. Quando alguma coisa se produzia
contra a obsessão, ele se contorcia de dor. Neste caso, tinha freqüentemente ausências,
depois se punha em fúria, jogava-se sobre sua mãe, arrancava-lhe as roupas, torcia-lhe as
mãos tão forte o quanto podia e amiúde a mordia (na primeira vez que veio me ver, ela me
mostrou uma cicatriz que tinha na bochecha, devido a uma mordida); em seguida era
tomado por crises de lágrimas e se deixava cair sem forças em uma cadeira. Baseado nestas

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ausências um dos neurologistas mais famosos de Varsóvia diagnosticou epilepsia. Depois,
quando contavam ao pequeno o que ele fazia à mãe durante estes estados, ele se punha a
chorar e a pedir perdão. Em estado normal de consciência, a criança se mostrava sempre
obediente e bem educada, até mesmo educada demais. Além de seus estados obsessivos,
sofria continuamente de uma forte enxaqueca e se queixava de que “tinha uma pedra que
roçava seu peito e o esfolava”. Ele se agitava continuamente, a pedra o incomodava,
geralmente não tinha um instante de sossego. Antes da doença esta criança freqüentava um
liceu estadual em Misk, onde aprendia muito bem e se mostrava muito capaz.
Dificilmente posso descrever o grau de inibição de pensamento ao qual
chegara: na maior parte do tempo era incapaz de pensar, pois a dor de cabeça o impedia.
A doença se declarou durante a estadia em Minsk, sob o regime bolchevique,
onde a população, sobretudo os judeus (sua família, pois), enfrentou provas. O avô tinha
fugido durante a entrada dos bolcheviques; tinham condenado o ausente por contumácia a
uma multa de 100.000 rubros, de modo que o pai do menino, a fim de escapar, assim como
seu pai, das perseguições, teve que fugir também e abandonar a cidade bolchevique. A avó
foi presa, mas logo recolocada em liberdade. A família enfrentou investigações policiais
brutais. Em suma, tiveram freqüentemente que temer por sua vida, o que abalou fortemente
a criança sensível. A mãe me contou que a doença se manifestou inicialmente pelo fato de
que ele erguia contentemente seus dois pés na rua, para olhar as solas. A doença era uma
tortura para ele e para sua mãe. Esta devia passar, como ele, por todo cerimonial obsessivo,
assim como pela doença propriamente dita, de modo que ele tomou quase exclusivamente
posse dela. Para os pais era surpreendente constatar que ele, que antigamente amava tanto
seu pai quanto era amado por este, não o deixava beijá-lo desde a doença, não saia nem
queria ficar em casa em sua companhia. Em compensação não largava a mãe.
Acrescenta-se ao caso três sonhos importantes:
Primeiro sonho: “Num carrinho de bebê, três moças estão sentadas, com um véu
branco sobre a cabeça. Um homem enxota os rapazes dali. (...) O carrinho andava sozinho”.
P.118.
Segundo sonho: “Alguém tocou a mão do papai e ela logo se enrugou toda,
ficou paralisada. Não, não do papai, de alguém: sim, era realmente o papai, não sei se era o
papai ou um outro. Em seguida, alguém pôs no lugar (...) a mim, mamãe, papai e a

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irmãzinha, e um homem tocou minhas duas mãos e elas tiveram que ficar também
enrugadas e paralisadas. Papai disse em judeu a este homem: ‘é ele de novo!’. Eu me pus a
gritar numa grande dor: ‘Como sou infeliz!’, e caí numa poltrona”. Ao contar o sonho ele
acrescenta: ‘Parece-me que pensei ainda mais alguma coisa. Alguém, talvez o vovô, queria
dar o calote numa força, num homem: o gás, o telefone, 100.000, era isto, a força!”. P.120”.
Terceiro sonho: Papai voltou a Minsk, mas lhe deram quatro meses de licença.
Mamãe e ele sobem e descem as escadas sem cessar, a toda velocidade. Na própria peça
onde os homens passavam pelo exame médico, havia mulheres na fila.”. P. 124”.

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Comentários sobre o caso:

De acordo com a lógica da estrutura da neurose obsessiva, nos deteremos em


alguns pontos que consideramos importantes neste caso para que se consiga pensar algo
sobre esta estrutura.
Talvez sejam insuficientes os elementos e o tempo de estudo para
esquematizar a cena fantasmática do caso, assim como Freud fez em “O Homem dos
Ratos”, mas o estudo que faremos deste caso segue esta direção.
Como característica das neuroses, em geral, este caso reedita um mito
familiar no qual o sujeito está inserido. Este mito é criador do fantasma particular de cada
sujeito, melhor dizendo, de sua neurose, dessa forma, cada um assume lugar de elemento no
mito e esse lugar é definido pela posição que cada sujeito ocupou no espaço familiar e os
possíveis efeitos que essa ocupação acarretou. Então, embora o mito familiar seja reeditado,
a lógica da linguagem se modifica de sujeito para sujeito, bem como se modifica também a
mudança de posições dos elementos.
Sabemos então, que neste caso o pai do sujeito encaminhado à análise, bem
como seu avô, são contados na história do menino como fugitivos de guerra. Nesse ponto,
que nos parece essencial, mais do que a falta do pai durante algum tempo - não preciso no
relato do caso - sua ausência será uma marca significante.
Em algumas passagens, o significante “ausência” é fundamental, pois o
menino, que era demasiadamente educado, se permitia furioso em estados descritos como
sendo tomados de ausência de si. A hipótese que levantamos é que nesse estado de ausência
de si, o paciente assume a posição de pai, reedita a história e encarna-o, como neste trecho,
por exemplo, em que assumir a “presença” do pai é de tal forma real que os atos do menino
parecem representar o próprio ato sexual com sua mãe, sendo que tudo que faz referência
ao sexual lhe é “um segredo mágico”. Eis a passagem: “jogava-se sobre sua mãe ,
arrancava-lhe as roupas, torcia-lhe as mãos tão forte o quanto podia e amiúde à mordia”
(pensamos: a comia). P.109.
Os momentos de ausência se repetem quando o menino se permite ser tão
insolente e mal educado como seu amigo Monja.

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Monja é um amigo de Minsk1, o qual detinha a mágica do saber sobre a
sexualidade e, de certa forma, iniciava o menino nestes saberes.
Percebe-se o quanto a ausência é significativa, embora seja este o momento
em que o pai não está presente, é justamente enquanto ele é mais forte, chegando, por
vezes, a ser agressivo.
A agressividade tem caráter singular na neurose obsessiva devido à maior
ênfase do par de opostos ativo-passivo que se relaciona ao par sadismo-masoquismo.
Quanto a essa afirmativa, Lúcia Alves Mees diz, referindo-se a Lacan: “o sexual só terá
como voltar à cena de forma violenta: através da violência sádica. Pois aquilo que no
estágio anal constitui-se como estrutura sádica ou sado-masoquista, dá-se a partir de um
ponto de eclipse máxima do sexual, isto é, de pura oblatividade anal”. P.39.
Conforme descrito no caso, após as crises de ausência, o menino “era
tomado por crises de lágrimas e se deixava cair sem forças em uma cadeira”, ou seja,
esgotado de toda sua energia, culpa-se por tomar o lugar do pai. Essa construção - de
ocupar tal lugar - lhe é tão custosa que o menino dizia-se incapaz de pensar, na maior parte
do tempo, devido a fortes dores de cabeça. Pensamos que a incapacidade de pensar é mais
uma espécie de insuportabilidade de pensar sobre seu desejo, que é o desejo de possuir a
mãe.
Pode parecer estranho, mas durante o estudo deste caso, se não fossem os
sintomas obsessivos elucidados pela terapeuta, tínhamos a impressão de estarmos
estudando um caso de uma problemática edípica. Porém, os sintomas não significam por si
só, mas são parte integrante e expressão da neurose de cada sujeito.
A lógica da linguagem apresentada no caso mostra algumas repetições, atos
obsessivos que se caracterizam pela ação e anulação destes. Por exemplo: “dê-me chá, não
dê-me chá”; “quero, não quero”; “compreendo, não compreendo”... “ele acrescentava a
cada enunciação afirmativa uma negação”. P. 115. Desta forma, anulando um dito e o
desejo, a não resolução do conflito permanece, sendo esta uma característica da neurose
obsessiva, ou seja, não pagar a dívida paterna, apenas repeti-la. Freud (1926), citado por
Lúcia Mees3: “técnica do desfazer o que foi feito... um contra-ato”. P.40.

1
Cidade em que o menino estudou em um liceu.
3
Em seu artigo “A Neurose Obsessiva”

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Acrescenta-se ao caso três sonhos importantes:

Primeiro sonho: parece evidenciar o que é próprio da origem da neurose infantil,


seja, o que está por trás do véu? Que segredo se esconde? Portanto, o segredo da magia que
ainda é oculto para o menino, tal segredo que tem conotação sexual, assim como seu amigo
Monja lhe falava.
Segundo sonho: o menino se identifica ao pai, como sendo também castrado,
pois a mesma paralisia que afeta seu pai o afeta.
Terceiro sonho: seu pai volta e ele não aparece como nos outros dois sonhos, ele
sai de cena na medida em que “mamãe e ele (o pai) sobem e descem as escadas sem cessar,
a toda velocidade” (praticam o ato sexual). Assemelha-se à efetivação da castração.

Sobre a neurose obsessiva – alguns apontamentos:

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Freud, em “Neuropsicoses de defesas”, fala na formação do inconsciente a partir
de uma divisão da consciência, a qual se daria devido o aparelho psíquico se defender de
idéias que lhes são insuportáveis. Diante disso, ele fala que tanto a histeria como a neurose
obsessiva são mecanismos psíquicos de defesa.
Cabe-nos falar, nesse momento, sobre a neurose obsessiva, sendo que
continuaremos pensando nela a partir desse texto freudiano.
A neurose obsessiva se desencadeia quando ao ocorrer a divisão da consciência,
a idéia que é insuportável ou inconciliável ao ego fica na esfera psíquica, e seu afeto (que se
mantém na mesma intensidade) se “desloca” para outras representações dessas idéias,
ficando sem sentido, se formando as obsessões ou as idéias obsessivas. Vale ressaltar que
tais idéias insuportáveis estão relacionadas ao que diz da organização sexual do sujeito e,
num determinado momento, houve a tentativa de esquecê-las.
Podemos avançar um pouco mais e pensar na questão da dívida que o sujeito
“adquire” com o pai, ou seja, no momento em que há a castração, a qual é feita pelo pai ou
por quem se ocupe dessa função, o sujeito se “liberta” da mãe devoradora e aí sim pode ser
considerado um sujeito desejante, mas que terá que desejar outras mulheres, já que a mãe é
mulher do pai e desta somente ele poderá gozar. Entretanto, o sujeito “percebe” que o pai
também é castrado e que também tem uma dívida, a qual é impagável, mas que o filho
supõe poder pagar por ele.
O sujeito, o filho, antes da castração, viveu momentos de gozo na sua relação
com a mãe e, posterior à castração, percebe imaginariamente que essa mãe lhe direcionava
um olhar de desejo, ou seja, o sujeito supõe que o olhar da mãe lhe reconhece como objeto
de desejo. Se a castração é uma operação simbólica e se essa suposição imaginária do filho
ainda ocorre para com a mãe, é possível pensar que a função simbólica do pai falhou no
decorrer desse caminho. Diante dessa “percepção” do olhar materno, o sujeito se dá conta,
imaginariamente que é ele que tem para dar á mãe aquilo que o pai não deu a ela.
Porém, esse desejo que o sujeito ativamente “alimenta” pela mãe e que também
é nutrido por ela não se dá de forma tão tranqüila assim, ou melhor, não é nada tranqüilo
para o filho se dar conta que, de certa forma, ele é “forte” e o pai é “fraco”.

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Na tentativa de resolver esse impasse, o sujeito tenta pagar a dívida do pai para
que seu nome seja refeito, mas também para tentar aliviar a culpa e a angústia por ter
sentido esse desejo pela mãe e até mesmo ter imaginado a sua cópula com ela, desejo de
tomar o lugar do pai (e, portanto, desejo da sua morte) e não apenas ficar numa posição
terceira na cena primária, a qual faz com que seja construído o seu mito neurótico.
A tentativa de pagar a dívida do pai é muito custosa, até porque há um a dupla
dívida, que é, por um lado para com a frustração de o pai ser castrado e, por outro, a dívida
para com o social, no sentido de o sujeito tomar como um imperativo o refazer do nome-
do-pai.
Criam-se rituais ou idéias obsessivas que lhe sirvam como um escudo que o
proteja do próprio desejo2 e que, de certa forma, reconstruiriam o nome-do-pai num excesso
de simbolização. Diante disso, é como se cada ação viesse acompanhada da questão “o quê
ele quer de mim?”, no sentido de que haveria uma demanda do Outro para todos os seus
atos, pensamentos e desejos, buscando anular sempre o próprio dito, pensamento consciente
ou desejo inconsciente. Pode-se pensar que há uma tentativa de re-forçar esse pai, de
“apagar das idéias” a fraqueza que ele representa para o sujeito e para o social, havendo
também a tentativa de fazê-lo mais presente mesmo que esteja ausente enquanto função, e,
ao mesmo tempo, o sujeito fica mais ainda numa condição de alienação e menos na
condição de responsabilização.
O tratamento analítico não promete a cura da neurose e tampouco está
direcionado aos sintomas clínicos, entretanto, o analista se coloca à disposição do paciente
no sentido de “vestir” qualquer representação que, via transferência, possa fazer com que o
sujeito simbolize seu desejo e trabalhe a questão da sua dívida, a qual se remete à do pai, e
se responsabilize por tudo o que lhe causa sintomas.

Referências bibliográficas:

2
Servem como escudo porque há um a fuga do desejo, e é visível o quanto a ação obsessiva não tem o mesmo
sentido do próprio desejo.

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SOKOLNICKA, Eugênia. Análise de uma neurose obsessiva infantil. In. Neurose infantil
versus neurose da criança – as aventuras e desventuras na busca da subjetividade.
Organizadora: Leda Maria Fischer Bernardino; Salvador, Ba: Ágalma-psicanálise, 1997;
p.108-128.

FREUD, S. Neuropsicoses de defesa. In: Obras psicológicas completas; vol. III; RJ:
Imago ed, 1976; p.55-73.

LACAN, J. El mito individual do neurótico (1953). In: Intervenciones y textos. Buenos


Aires: Mantial, 1993.

MEES, Lúcia A. A neurose obsessiva. In: Revista da Associação Psicanalítica de Porto


Alegre, n° 17; POA: APPOA, 1999; p.37-41.

Xerox do texto A propósito da neurose obsessiva. (Texto dado por Cristian Giles na
disciplina “Seminário de Psicologia Clínica II”, sem referências bibliográficas).

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