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UNIVERSIDADE FEDEAL DO ACRE

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

DISCIPLANA: EN101
MECÂNICA DOS SOLOS II
PROFESSOR: JOÃO BARBOSA DE SOUZA NETO

TENSÕES NO SOLO

MAIO/2007
ÍNDICE

TENSÕES NO SOLO................................................................................................................2
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................2
2. TENSÕES EM UM MEIO PARTICULADO ...................................................................2
3. TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO, PRESSÕES NEUTRAS E
CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS...............................................................................4
4. TENSÃO SUPERFICIAL E CAPILARIDADE .............................................................12
6 CASO DE TERRENOS COM SUPERFÍCIES INCLINADAS.......................................19
7 DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES VERTICAIS DEVIDAS À CARGAS APLICADAS 21
7.1 Conceito de Bulbo de Tensões...................................................................................24
7.2 Aplicação da Teoria da Elasticidade para o cálculo das tensões devidas a cargas
aplicadas...........................................................................................................................24
7.2.1 Solução de Boussinesq............................................................................................25
7.2.2 Carga uniformemente distribuída aplicada numa faixa de largura b e comprimento
infinito (CAROTHERS) ..................................................................................................28
7.2.3 Carga distribuída sobre uma placa circular (LOVE) ..............................................30
7.2.4 Carregamento sob uma área retangular carregada por uma carga distribuída
(solução de NEWMARK)................................................................................................32
7.2.6 Carregamento Triangular (FADUM)......................................................................33
7.2.7 Força Aplicada no Interior do Maciço (MINDLIM) ..............................................34
8. TENSÕES DE CONTATO..................................................................................................35
8.1 Problemas associados à excentricidade de cargas. ....................................................37
A.1 TENSÃO NO MACIÇO DEVIDO A UMA CARGA PONTUAL APLICADA À
SUPERFÍCIE. ..........................................................................................................................43
A.2 TENSÃO NO MACIÇO DEVIDO UMA CARGA DISTRIBUIDA SOBRE UMA
PLACA CIRCULAR (CASO GERAL)...................................................................................44
A.3 Cálculo do acréscimo de tensão sob uma área retangular submetida a uma carga
distribuida (newmark)..............................................................................................................46
A.4 CARREGAMENTO TRAPEZOIDAL INFINITAMENTE LONGO..............................48
A.6 CARREGAMENTO TRIANGULAR ..............................................................................49
A.7 CARGA DISTRIBUÍDA AO LONGO DE UMA LINHA VERTICAL (ANTUNES
MARTINS). .............................................................................................................................50

1
TENSÕES NO SOLO

1. INTRODUÇÃO

Em muitos problemas na engenharia, tais como o estudo de recalques,


empuxos sobre obras de contensão e cálculo da capacidade de carga, exige-se o
conhecimento das tensões atuantes no solo e os efeitos destas tensões sobre as
estruturas. Estas tensões podem ser decorrentes do peso próprio do solo e de
alterações nas condições de carregamentos, quer seja por escavação (alívio de
tensões), que seja por cargas aplicadas à superfície do terreno. A Figura 1 ilustra
estas três situações.

Figura 1. Tensão no ponto M de um maciço terroso (CAPUTO, 1993)

No ponto M (Figura 1) no interior do maciço, considerando as etapas


envolvidas na execução de uma fundação (escavação seguida de carregamento), a
tensão total vertical será dada por:

σv =(σvo - ∆σvo) + ∆σv (1)


onde:
σvo = tensão total final no ponto M devido ao peso próprio (geostática);
∆σvo = decréscimo de σvo devido à escavação do terreno;
∆σv = acréscimo de tensão devido à carga P aplicada.

No texto a seguir apresentam-se, os principais conceitos e procedimentos


para o cálculo da distribuição das tensões no solo. Recomendam-se as leituras
complementares das referências bibliográficas a serem apresentadas no final.

2. TENSÕES EM UM MEIO PARTICULADO

No estudo das tensões no solo, por simplificação, tem-se considerado o


mesmo como sendo um meio contínuo, de forma a aplicar a mecânica dos sólidos
deformáveis. Entretanto, o solo não um meio contínuo. Uma maneira adequada de

2
analisá-lo consiste na consideração de que os solos são constituídos por partículas,
como de fato é, e que as forças aplicadas a eles são transmitidas de partícula a
partícula, além das que são suportadas pela água dos vazios, conforme a Figura 2.
No caso de partículas de mineral argila, sendo elas em grande número, as forças
em cada contato são muito pequenas e a transmissão pode ocorrer através da água
quimicamente adsorvida.
No caso de partículas de areias e siltes a transmissão das forças se dará,
diretamente, nos contatos entre os minerais das partículas. Em qualquer caso a
transmissão se faz nos contatos e, portanto, em áreas muito reduzidas em relação à
área total envolvida (vazios e as áreas de contato entre partículas). Considerando
uma placa interceptando uma seção transversal de um elemento de solo (Figura 2),
sobre esta placa serão transmitidas forças provenientes das diversas partículas, que
podem ser decompostas em uma componente normal e outra tangencial. Como é
impossível desenvolver modelos matemáticos com base nestas forças (é impossível
determinar a magnitude e orientação das forças individualmente), a sua ação é
substituída pelo conceito de tensões.

Figura 2. Representação esquemática dos contatos entre grãos para definição de


tensões no solo (PINTO, 2000).

Define-se tensão como a somatória das componentes atuante num plano,


dividida sobre a área total que abrange as partículas em que estes contatos ocorrem
(projeção da área delimitada pelas partículas, o que inclui os vazios). Dessa forma,
o solo passa ser tratado como um meio contínuo, embora na natureza isto não
ocorra, mesmo em outros materais.

A somatória das componentes normais sobre a área total é definida como


tensão normal (Equação 1).

σ=
∑N (1)
área

3
A somatória das componentes tangenciais sobre a área total é definida como
tensão tangencial (Equação 2).

σ=
∑N (2)
área

Deve-se registrar que as tensões, assim definidas, são muito menores do que
as tensões que ocorrem nos contatos reais entre as partículas. Estas podem chegar
a valores da ordem de 700 MPa, enquanto nos problemas de engenharia de solos,
raramente chegam a 1 MPa. As áreas de contato real entre as partículas são bem
menores do que 1% da área total, considerada na conceituação de tensões. Admite-
se, mesmo, para efeito prático, que as áreas de contato sejam despresíveis (PINTO,
2000).

3. TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO, PRESSÕES NEUTRAS E


CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS.

3.1 Tensões devidas ao peso próprio do solo

Conforme apresentado na Figura 1, no solo ocorrem tensões devidas ao


peso próprio do solo e devidas a cargas aplicadas. As tensões devidas ao peso
próprio do solo, comumente referida como “Tensões Geostáticas”, podem atingir
valores consideráveis, sendo de suma importância a sua consideração em
problemas de engenharia, como previsão de recalques de fundações e empuxos de
terras, por exemplo.
No caso de um terreno com superfície horizontal, aceita-se que as tensões
verticais atuantes num plano horizontal a uma certa profundidade da superfície,
sejam normais a este plano. Aceita-se ainda que as tensões cisalhantes neste plano
sejam nulas. Logo, em um terreno com superfície horizontal a tensão vertical
geostática é uma tensão principal. Tomando-se como referência a Figura 3, a
tensão vertical atuante no plano horizontal, numa profundidade A, será dada por:

γ n .V
σv = = γ n .z A (2)
área

onde:

γn = é o peso específico do solo

V = volume do prisma = γn.zA

4
Figura 3. Tensões num plano horizontal (PINTO, 2000).

Para um terreno formado por diferentes camadas de solo, a tensão vertical


será o resultado da somatória do efeito das diversas camadas. O Exemplo 1, abaixo
mostra este tipo de cálculo.

Exemplo 01.

Considere um terreno horizontal com formado por um perfil de solo apresentado na


Figura 04, abaixo. Considere também que o solo encontra-se no estado seco, ou
seja, com os vazios preenchidos apenas por ar. Determinar a variação da tensão
total geostática com a profundidade. Apresentar também o diagrama da distribuição
das tensões.

Solução: O Quadro 1 apresenta os cálculos, com base na Equação 2.

Tensão (kN/m2)
Espessura
Camada Cota (m) σvoi =σvo(i -1) + ∆σvoi ou
∆H (m)
σvoi = γn (i -1). ∆H(i -1) +γn (i). ∆H(i)

0,0 0,0 0,0


Areia Fina Compacta
-10,0 10,0 0,0 + 10,0 x 19,0 = 190
Areia Fina Medianamente
-14,0 4,0 190 + 4,0 x 17 = 258
Compacta
Argila Dura -26,0 12,0 258 + 12,0 x 19,0 = 486

5
Figura 4. Figura referente ao Exemplo 1

Tensão Vertical (kN/m2)


0 200 400 600
0 0 0

-5 Areia Fina Compacta -5

-10 -10 190


Areia Fina Medianamente
Cota (m)

Cota (m)

Compacta
258
-15 -15

-20 -20
Argila Dura

-25 -25
486

-30 -30

Figura 5. Diagrama de distribuição de tensões referente ao Exercício 1.

6
3.2 Pressões Neutras

Considere agora o plano B da Figura 3, abaixo do lençol freático, situado na


profundidade zw. A água no interior do solo estará submetida a uma pressão
hidrostática (pressão devido a uma coluna d’água) que independe da porosidade do
solo, depende apenas da profundidade em relação ao nível freático. Esta pressão é
referida como pressão neutra, sendo representada pelo símbolo u. Para o plano B,
esta pressão será dada por:

U = (zB – zw).γw. (3)

Onde: zB – zw é a altura de coluna d’água e γw o peso específico da água,


normalmente adotado como 10 kN/m3.

Terzaghi ao observar a natureza das forças atuantes num plano, concluiu que
a tensão normal total (σ) atuante num plano deve ser considerada como a soma de
duas parcelas:

1) uma parcela transmitida através dos contatos intergranulares, a qual definiu


como tensão efetiva (σ’)

2) uma parcela transmitida através da água intersticial, que corresponderá a


pressão neutra ou poro-pressão.

Logo tem-se:

σ = σ’ + u (4)

Constatou também, com base em experimentos, que ao variar a tensão total


de igual valor da pressão neutra, nenhuma mudança em termos de volume ou
resistência do solo. Entretanto, ao variar a parcela da tensão efetiva, mesmo
mantendo a tensão total constante, o solo sempre apresentava uma resposta em
termos de variação de volume. Com base nestas constatações Terzaghi assim
enunciou o “Princípio das Tensões Efetivas”.

1) “a Tensão Efetiva, para solos saturados, pode ser expressa por:

σ’ = σ - u

2) “Todos efeitos mensuráveis resultantes de variações de tensões nos


solos, como compressão, distorção e resistência ao cisalhamento são
devidos a variações das tensões efetivas”.

Considerando na Figura 3, a tensão vertical total no ponto em B será dada


por:

σ v = γ n .z w + γ sat .( z B − z w ) (5)
144424443
Tensão Total

7
u = γ w ( zB − zw ) (6)
14243
Pressão Neutra

A tensão efetiva poderá ser obtida, simplesmente, pela diferença entre a


tensão total e a pressão neutra na profundidade considerada.

σ 'v = γ n .z w + γ sat .( z B − z w ) − γ w ( z B − z w ) = γ n .z w + (γ sat − γ w ).( z B − z w )


144424443 14243
Tensão Efetiva Pressão Neutra
(7)

No trecho submerso, a tensão efetiva poderia ser calculada diretamente,


simplesmente multiplicando o peso específico submerso (γsub) pela a espessura da
camada considerada. O γsub pode ser obtido por:

γsub = γsat - γw (8)

Note que, pela Equação 8, o γsub será sempre inferior ao γn, o que pode ser
explicado pelo fato das partículas do solo submerso estarem submetidas ao empuxo
da água. A grosso modo, o empuxo é uma força vertical ascendente correspondente
ao peso de um volume de líquido deslocado por um corpo sólido imerso sobre este
líquido. Quando o peso de líquido deslocado for superior ao peso do corpo sólido,
este último ficará parcialmente imerso. Caso contrário afundará. É por isso que um
navio com centenas de toneladas flutua, enquanto um grão de areia afunda até
atingir o fundo do mar. De qualquer forma, o peso do corpo imerso será sempre
inferior quando comparado com o mesmo peso não imerso. Por isso, o γsub será o
menor de todos os pesos especícos.
PINTO (2000) descreve um experimento simples onde se pode visualizar o
conceito de tensões efetivas, imaginando-se uma esponja cúbica, com 10 cm de
aresta, colocada num recipiente, como se mostra na Figura 6. Na posição (a), com
água até sua superfície superior, as tensões resultam de seu peso e da pressão da
água. Ela está em repouso.

Figura 6. Simulação para o entendimento do conceito de tensão efetiva (PINTO,


2000)

8
Colocando-se sobre a esponja um peso de 10 N (posição b), a tensão
aplicada será 1 kN/m2, e as tensões no interior da esponja serão majoradas deste
valor. Observa-se que a esponja se deformará sob a ação deste peso, expulsando
água de seu interior. Observa-se que a esponja se deformará sob a ação deste
peso, expulsando água de seu interior (vazios). Neste caso, é dito que o acréscimo
de tensão foi efetivo.
Se ao invés de se colocar o peso, o nível d’água fosse elevado de 10cm, a
pressão total atuante sobre a esponja seria também 1 kN/m2, e as tensões no
interior da esponja seriam majoradas deste valor. Entretanto, a esponja não se
deforma, pois a pressão da água nos vazios da esponja atuará em todas as
direções (anulando seu efeito), fazendo com que a estrutura sólida, admitida por
hipótese indeformada, não sinta os efeitos da alteração das tensões. Neste caso, é
dito que o acréscimo de tensão foi neutro, daí o termo “pressão neutra” para a
pressão hidrostática no interior dos vazios de um solo.
O exemplo da esponja é análogo ao que ocorre em um solo saturado, onde
as partículas são consideradas incompressíveis para os níveis de tensões aplicadas
na engenharia. Para melhor visualização destes efeitos, consideremos agora o
Exemplo 2.

Exemplo 2:

Considere, para o perfil da Figura 4 a existência de um nível d’água freático (NA)


numa profundidade de 1,0m da superfície do terreno (Figura 7). Considere também
que acima no NA o solo encontra-se seco, mantido o peso específico natural γn.
Abaixo do nível d’água o solo estará saturado, resultando no aumento do pesos
específico do solo, o qual será designado por γsat. Pede-se para traçar os diagramas
de distribuição das tensões totais, pressões neutras e tensões efetivas.

Solução
O Quadro 2 apresenta os cálculos, com base na Equação 7

Cota Espessura u (kN/m2) σ’v (kN/m2)


Camada σv (kN/m2)
(m) ∆H (m)

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Areia Fina Compacta 19 – 0,0 =


-1,0 1,0 0,0 + 1,0 x 19 = 19 0,0
19
217 – 90 =
-10,0 9,0 19 + 22 x 9 = 217 9 x 10 = 90
127
Areia Fina Medianamente 90 + 4 x 10 297-130 =
-14,0 4,0 217 + 4,0 x 20 = 297
Compacta = 130 167
Argila Dura 130 + 12 x 561 – 250
-26,0 12,0 297 + 12 x 22 = 561
10 = 250 = 311

9
Figura 7. Figura referente ao Exemplo 2

A tensão efetiva no Exemplo 2 poderia também ser obtida através do γsub. O Quadro
3 Exemplifica estes cálculos.
Cota Espessura
Camada σv (kN/m2) u (kN/m2) σ’v (kN/m2)
(m) ∆H (m)

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Areia Fina Compacta


-1,0 1,0 0,0 + 1,0 x 19 = 19 0,0 1 x 19 = 19
19 + 9 x 12
-10,0 9,0 19 + 22 x 9 = 217 9 x 10 = 90
= 127
Areia Fina Medianamente 90 + 4 x 10 297 - 130
-14,0 4,0 217 + 4,0 x 20 = 297
Compacta = 130 = 167
Argila Dura 130 + 12 x 167 + 12 x
-26,0 12,0 297 + 12 x 22 = 561
10 = 250 12 = 311

A Figura 7 apresenta o diagrama de distribuição das tensões total, pressão


neutra e tensão efetiva.

10
2 2 2
σv (kN/m ) u (kN/m ) σv' (kN/m )
0 200 400 600 0 100 200 300 0 200 400
0 0 0 0 0 0
19 0 19

-5 -5 -5

-10 217 -10 90 -10 127


Cota (m)

297 130 167


-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25


561 250 311

-30 -30 -30

Figura 7. Diagrama de distribuição das tensões referentes ao Exemplo 2

Exemplo 3

Obter os diagramas de distribuição das tensões totais, pressões neutras e tensões


efetivas para o perfil da Figura 8. Considere que a camada de areia siltosa acima do
NA1 esteja saturada.

Solução:

O perfil (Figura 8) consiste de uma camada permeável de 5m de areia siltosa, com


uma camada intermediária com espessura de 2,0m de uma argila impermeável
seguida de uma camada permeável de areia grossa com espessura de 10 m, até
atingir o maciço rochoso, considerado impermeável. Como conseqüência o perfil
apresenta dois NA. O primeiro (NA1) recebe o nome de lençol d’água suspenso, ou
empoleirado (vulgarmente falando). Neste caso, o diagrama de tensões efetivas
apresentará uma descontinuidade na interface entre a camada pemeável superior e
a camada impermeável. O Quadro 4 apresenta um resumo dos cálculos.

11
Figura 8. Figura referente ao Exemplo 3

Quadro 4 – solução do Exemplo 3


Cota Espessura
Camada σv (kN/m2) u (kN/m2) σ’v (kN/m2)
(m) ∆H (m)

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

20 – 0 =
-1,0 1,0 0,0 + 1,0 x 20 = 20 0,0
Areia Siltosa 19
100 - 40 =
-5,0 (-) 4,0 20 + 20 x 4 = 100 4 x 10 = 40
60
100 – 0 =
-5,0 (+) 4,0 20 + 20 x 4 = 100 4x0=0
100
Argila Impermeável 140 - 0 =
-7,0 2,0 100 + 2,0 x 20 = 140 0
140
Areia Grossa 218-0,0 =
-11,0 4,0 140 + 4 x 19,5 = 218 4x0=0
218
350 – 60 =
-17,0 6,0 218 + 6 x 22 = 350 6 x 10 = 60
290

4. TENSÃO SUPERFICIAL E CAPILARIDADE

A água apresenta um comportamento diferenciado na superfície em contato


com o ar, em virtude da orientação das moléculas que nela se posicionam,
diferentemente do que ocorre no interior da massa (Figura 10a). Por conseqüência,
a água na superfície de contato com o ar apresentará uma tensão superficial. Esta
tensão é associada, por analogia, a uma membrana, pois seus efeitos são
semelhantes.

12
2 2 2
σv (kN/m ) u (kN/m ) σv ' (kN/m )
0 200 400 0 50 100 0 200 400
0 0 0 0 0 0
20 0 20
-2 -2 -2

-4 -4 -4
100 0 40 60100
-6 -6 -6
138 0 138
Cota (m)

-8 -8 -8

-10 -10 -10


216 0 216
-12 -12 -12

-14 -14 -14

-16 -16 -16


348 60 288
-18 -18 -18

Figura 9. Diagrama de distribuição das tensões totais, pressões neutras e tensões


efetivas referentes ao Exemplo 3.

Figura 10. Esquema dos fenômenos relacionados à capilaridade (PINTO, 2000).

Quando a água, ou outro líquido fica em contato com um corpo sólido, as


forças de adesão fazem com que a superfície livre da água forme uma curvatura,
que dependerá do material e do seu grau de limpeza. No caso de vidro limpo, a
curva fica tangente à superfície do vidro, conforme a Figura 10b. Ao se inserir um
tubo capilar num recipiente contendo água livre, esta subirá pelo tubo até atingir
uma posição de equilíbrio. Esta subida é resultante do contato vidro-água-ar e da
tensão superficial.

13
Figura 11. Altura de ascensão e pressão da água num tubo capilar (PINTO, 2000).

A superfície da água no tubo capilar é curva, conforme a Figura 11, e


intercepta a parede do tubo formando um ângulo que depende das propriedades do
material do tubo. Esta altura de ascensão capilar pode ser determinada igualando-
se o peso da água no tubo com a resultante da tensão superficial que a mantém
acima do nível d’água. A Figura 12 mostra, em detalhes, as forças atuantes para o
equilíbrio.

Figura 12. Forças atuantes no equilíbrio de uma coluna líquida em um tubo capilar.

Das Figuras 11 e 12 tem-se que o peso da água num tubo capilar de raio r e
atura de ascensão capilar hc é:

P = π.r2.hc.γw (9)

Considerando a tensão superficial T atuando em toda superfície de contato


água-tubo, a força resultante é igual a:

F = 2.π.r.Ts.cos α (10)

14
Igualando-se as Equações 9 e 10 têm-se:

2.Ts
hc = . cos α (11)
r.γ w

A Equação 11 mostra que a altura de ascensão capilar é inversamente


proporcional ao raio do tubo.

Voltando-se à Figura 11, a pressão da água ao longo de um tubo capilar varia


linearmente com a profundidade, porém assumindo valor negativo até o ponto D, a
partir do qual a água estará submetida à pressão hidrostática. Dentro do tubo
capilar, a água estará sob pressão negativa, ou seja, estará sob tração. O leitor
pode questionar o fato da água está sob tração. Na verdade, a pressão da água é
tomada em referência a pressão atmosférica, que é da ordem de 100 kN/m2.
Portanto, quando a água estiver sob uma pressão zero (na superfície do recipiente,
por exemplo), a pressão absoluta será 100 kN/m2. Portanto, a água no tubo capilar,
na verdade, estará sob uma tensão positiva, porém menor do que 100 kN/m2, sendo
este valor o máximo que a água pode ser submetida sem que ocorra a cavitação
(saída de ar diluído na água). Este valor é de grande importância quando se
pretende medir pressões da água em laboratório ou com instrumentos de campo.

No solo os vazios agem como se fossem tubos capilares, ainda que com
superfícies irregulares. Dessa forma, o solo acima de um nível d’água freático estará
saturado até uma certa altura, por conseqüência da ascensão capilar. Esta altura
onde o solo estará saturado é, muitas vezes, referida como “franja capilar”. Na franja
capilar a pressão da água será sempre negativa, embora o solo esteja saturado. A
altura da franja capilar será tanto maior quanto mais fino o solo, podendo ser poucos
centímetros em pedregulhos a vários metros em argilas.

A Figura 13 mostra a variação no grau de saturação na franja capilar, que


dependerá o histórico do depósito. Quando o solo no estado seco é posto em
contato com uma superfície de água livre, esta ascenderá por efeito de capilaridade,
havendo uma altura abaixo da qual o grau de saturação estará praticamente
constante. Fato semelhante se verifica quando um solo saturados e submerso é
submetido a um rebaixamento do nível d’água. No caso do solo seco, o grau de
saturação na franja capilar tenderá a ser inferior ao do solo partindo do estado
saturado. Este fato se deve a grande quantidade de água que permanece
aprisionada no solo partindo do estado seco, o que não se verifica em um solo
partindo do estado saturado.

Portanto, caso se deseje calcular a pressão da água no solo na franja capilar,


o procedimento será idêntico ao da pressão hidrostática, considerando apenas o
sinal negativo. O Exemplo 4 mostra uma aplicação destes conceitos em solos.

Exemplo 04

Obter o diagrama de tensões totais, pressões neutras e tensões efetivas para o


perfil da Figura 14. Considere uma franja capilar de 1,0m acima do NA.

15
Figura 13. Perfis de ascensão capilar relacionados ao histórico do nível dágua
(PINTO, 2000)

Figura 14. Figura referente ao Exemplo 4

Solução

O quadro abaixo apresenta os cálculos das tensões em cada cota. Ao contrário dos
exemplos anteriores, onde foram desconsideradas a franja capilar, neste exemplo a
pressão da água na superfície será negativa, e equivalente a altura capilar hc vezes
o peso específica da água. O Quadro 5 apresenta um resumo dos cálculos

16
Quadro 5. Cálculo da distribuição das tensões do Exemplo 4.
Cota Espessura
Camada σv (kN/m2) u (kN/m2) σ’v (kN/m2)
(m) ∆H (m)
hc x 10 = -1 0,0 – (-10)
0,0 0,0 0,0 x 21 = 0
x 10 = -10 = 10
Areia Fina
0,0 x 10 = 21 – 0 =
Medianamente Compacta -1,0 1,0 0,0 + 1,0 x 21 = 21
0 21
100 - 40 =
-5,0 (-) 4,0 21 + 21 x 4 = 105 4 x 10 = 40
65
Areia Fina Compacta 40 + 7 x 10 259 + 110
-12,0 7,0 105 + 7,0 x 22 = 259
= 110 = 149

2 2 2
σv (kN/m ) u (kN/m ) σv' (kN/m )
0 100 200 300 -50 0 50 100 150 0 100 200
0 0 0 -10 0 10
21 0 21
-2 -2 -2

-4 -4 -4
105 40 65

-6 -6 -6
Cota (m)

-8 -8 -8

-10 -10 -10

-12 259 -12 110 -12 100

-14 -14 -14

Figura 15. Diagrama de distribuição das tensões totais, pressões neutras e tensões
efetivas referentes ao Exemplo 4.

Exemplo 5

Qual a variação na tensão efetiva no ponto A decorrente do rebaixamento do nível


d’água de NA1 (situação 1) para o NA2 (situação 2), para o perfil da Figura 16.
Considere que a areia acima no nível d’água NA1 esteja saturada. Desconsiderar o
efeito de capilaridade.

17
Figura 16. Figura referente ao Exemplo 5

Solução:

Cálculo da tensão efetiva no ponto A com o nível d’água na posição NA1.

Este cálculo pode ser feito através do peso específico submerso abaixo do nível
d’água. Logo tem-se:

σ’v = γsat (1) x ∆H1 + γsub (1) x ∆H2 + γsub (3) x ∆H2

σ’v = 0,5 x 20 + 2,5 x (20 – 10) + 2,0 x (22 – 10) = 59 kN/m2

Cálculo da tensão efetiva com o nível d’água na posição NA2. Nesta situação
admite-se que o a água retida no solo seja suficiente para mantê-lo saturado,
conforme o comentário da Figura 13. Como esta posição o NA encontra-se abaixo
do ponto A, não haverá desenvolvimento de pressão neutra positiva no solo. Logo a
tensão efetiva será igual a tensão total, dada por:

σ’v = γsat (1) x 3,0 + γsat (2) x 2,0

σ’v = 20 x 3,0 + 22 x 2,0 = 104 kN/m2

Este resultado mostra que o rebaixamento, quase dobrou o valor da tensão


efetiva no ponto A. Uma vez que, de acordo com o princípio das tensões efetivas,
qualquer variação de volume ou distorção, assim como na resistência ao
cisalhamento, de um solo saturado estará associada a variação da tensão efetiva, o
rebaixamento do NA resultar em deformações no solo, que poderá comprometer a
estabilidade de uma obra. Por esta razão, o aumento da tensão efetiva devido ao
rebaixamento d’água deve ser devidamente analisado, especialmente em situações
onde este rebaixamento é feito em determinada etapa de uma obra, tal como a
construção de um subsolo, ou na exploração de aqüíferos para consumo humano. A
cidade de Recife, por exemplo, onde existem espessas camadas de argilas moles, a

18
perfuração do solo para exploração de poços tem conduzido a movimentos de
subsidências em algumas áreas, além de outros problemas ambientais.

6 CASO DE TERRENOS COM SUPERFÍCIES INCLINADAS

Até o presente momento, as análises foram sempre feitas considerando a


superfície do terreno horizontal, onde o plano onde atua a tensão vertical (plano
horizontal) corresponde a um plano de tensão principal (a tensão cisalhante é nula).
Entretanto, quando a superfície do terreno for inclinada, a tensão vertical atuará em
um plano inclinado, resultando em duas componentes de tensão: uma tensão
normal a superfície inclinada e outra tensão cisalhante. A Figura 17 mostra a
decomposição da tensão vertical em suas correspondentes componentes, e as
Equações 12 a 15 os procedimentos para o cálculo das tensões, em função da
inclinação da superfície do terreno.

Figura 17. Representação esquemática das tensões em uma certa profundidade de


um terreno com superfície inclinado (CAPUTO, 1993).

Tensão Vertical no plano inclinado

P = γ .b.z (12)

P
σv = = γ .z. cos β (13)
b
cos β

19
Componente Normal no plano inclinado

σ n = σ v . cos β = γ .z. cos 2 β (14)

Componente Tangencial no plano inclinado

1
τ = σ v senβ = γ .z.sen.β . cos β = γ .z.sen.2 β (15)
2
Exemplo 6

Considere a Figura 18. Determine as tensões efetivas vertical no ponto (A) para as
duas situações do NA.

Figura 18. Figura referente ao Exemplo 6

Solução

Situação 1 (NA1)

σ’v = [19,2 x 4,0 + (22-10) x 1,0] x cos 30o = 76,9 kN/m2


σ’n = 76,9 x cos 30o = 66,6 kN/m3
τ = ½ [19,2 x 4,0 + 22 x 1,0] x sen.60o = 42,8 kN/m2

20
Situação 2 (NA2)

σ’v = [19,2 x 1,0 + (22 – 10) x 4,0] x cos 30o = 58 kN/m2


σ’n = 58 x cos 30o = 50,2 kN/m3
τ = ½ [19,2 x 1,0 + 22 x 4,0] x sen.60o = 46,4 kN/m2

Como se percebe nos resultados, nas duas situações haverá uma tensão cisalhante
no sentido descendente do plano inclinado. Uma vez que há um fluxo da água
paralela ao terreno e a água não transmite tensão cisalhante, é razoável referir a
tensão paralela ao plano como tensão tangencial. No caso do terreno totalmente
submerso e sem fluxo, a pressão neutra seria a hidrostática e se anularia. Neste
caso, a tensão tangencial atuante pode ser calculada com o peso específico
submerso e ser referida como tensão cisalhante.
Caso a tensão tangencial seja superior à resistência ao cisalhamento do solo, o
maciço poderá deslizar ao longo de uma superfície bem definida. Este assunto será
tratado no tópico sobre resistência ao cisalhamento e estabilidade de taludes.

7 DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES VERTICAIS DEVIDAS À CARGAS APLICADAS

Ao aplicarmos um carregamento na superfície do terreno, tensões no interior


do maciço se desenvolverão por decorrência deste carregamento. Estas tensões
não serão uniformes ao longo da profundidade, como também horizontalmente.
Experimentos realizados na década de 20 por KÖGLE e SCHEIDIG (1927 – 1929),
em um maciço de areia, submetido a um carregamento uniformemente distribuído,
onde se mediu a variação das tensões no interior do maciço, mostraram que as
tensões tendem a se concentrar no centro da área carregada, dissipando ao se
afastar do centro. Com relação a profundidade, observou-se também que as
tensões, numa mesma vertical tende a reduzir, até atingir um valor considerado
desprezível para fins prático. A Figura 19 ilustra este comportamento.

Figura 19. Distribuição de tensões com a profundidade (PINTO, 2000).

21
Na ocasião foi observado, também, que a distribuição das tensões com a
profundidade tende a se espalhar segundo um ângulo vertical que varia entre 30 e
45o. Concluiu que o somatório das tensões numa determinada profundidade,
multiplicada pela área correspondente será sempre igual a carga aplicada. Desta
conclusão surgiu um método expedito para o cálculo da distribuição das tensões
sob uma área carregada, conforme resumido na Figura 20.
Para uma área carregada com largura 2L e extensão infinita (Figura 20), a
tensão pode ser calculada conforme a Equação 16. Para outras formas de
carregamento, a tensão numa certa profundidade pode ser calculada, simplesmente
dividindo a carga aplicada pela área ampliada na profundidade considerada, Tal
como exemplificado na Figura 21 para uma área retangular. O Exemplo 7 mostra a
aplicação deste método para uma sapata retangular.

2 .L
σV = .σ o (16)
2.L + 2.z.tg .θ

Figura 20. Espraiamento das tensões (PINTO, 2000)

Figura 21. Espraiamento das tensões para uma área retangular carregada
(CAPUTO, 1994)

22
A principal crítica deste método é o fato de não atender ao princípio da
superposição dos efeitos. Se considerarmos, por exemplo, que a faixa carregada da
Figura 20 seja substituída por duas faixas distintas, para cada faixa as tensões
numa certa profundidade determinadas pela mesma regra, se somariam,
conduzindo a um valor maior no centro da área carregada, como mostra a Figura
22. Embora esteja coerente com a distribuição das tensões mostrada na Figura 19,
é diferente da solução anterior (Figura 20) onde se considera o efeito simultâneo.

Figura 22. Espraiamento de tensões com carga dividida em duas faixas (Pinto,
2000).

Exemplo 7.

Calcular as tensões no centro de uma placa retangular (2 x 3 m), submetida a uma


tensão de 100 kN/m2, nas profundidade indicadas na Figura 23.

Solução

Para α = 45o a tg α =1

Na profundidade z = 1,0m

σ vo .(a.b) 100 x3 x 2
σ (1, 0 m ) = = = 30kN / m 2
(a + 2.tg 45 .z )x(b + 2.tg 45 .z )
o o
(2 + 2 x1,0) x(3 + 2 x1,0)

Na profundidade z = 2,0m

σ vo .(a.b) 100 x3 x 2
σ ( 2,0 m ) = = = 14,3kN / m 2
(a + 2.tg 45 .z )x(b + 2.tg 45 .z )
o o
(2 + 2 x 2,0) x(3 + 2 x 2,0)

23
Figura 23. Figura referente ao Exemplo 7

7.1 Conceito de Bulbo de Tensões

Conforme visto na Figura 19, as tensões, numa determinada camada, se


dissipam de forma desuniforme, se concentrando no centro e reduzindo a medida
que se afasta do centro da área carregada. As curvas que unem pontos de mesmo
valor de tensões recebem o nome de “isóbaras”. As isóbaras assumem a forma de
um bulbo, conforme se verifica na Figura 24. Daí o nome “bulbo de tensões” dado
às isóbaras referente a um determinado acréscimo de tensão. Logo haverá tantos
bulbos de tensões quantos acréscimos de tensões forem considerados. Na
literatura, é comum também se referir ao bulbo de tensões como a região do
subsolo que sofre acréscimo de tensões devidas ao carregamento. Esta região,
normalmente, é limitada pela isóbara correspondente a 10% da tensão aplicada,
para fins práticos, ou seja 0,1σvo.

7.2 Aplicação da Teoria da Elasticidade para o cálculo das tensões


devidas a cargas aplicadas.

Na prática da engenharia tem-se aplicado soluções baseadas na Teoria da


Elasticidade, na qual admite proporcionalidade entre tensão e deformação. O
emprego desta teoria em solos é questionável, uma vez que estes não satisfazem
os requisitos de um material elástico, principalmente com respeito à reversibilidade
das deformações. Entretanto, até um determinado limite de tensão é possível

24
admitir certa proporcionalidade entre tensão e deformação. Além disso, as soluções
a serem apresentadas a seguir admitem hipóteses simplificadoras que são
incompatíveis com a natureza do solo. Segundo PINTO (2000), a maior justificativa
do emprego dessa teoria é o fato de não se dispor ainda de melhor alternativa e
também porque ela tem se mostrado satisfatória, com base no bom desempenho
das obras.

Figura 24. Bulbo de tensões (PINTO, 2000)

7.2.1 Solução de Boussinesq

A solução de Boussinesq se aplica ao cálculo das tensões decorrentes de


uma carga pontual aplicada na superfície de um semi-espaço elástico, homogêneo
e isotrópico. Como se percebe pelas hipóteses simplificadoras, dificilmente um solo
se enquadrará nestes requisitos, especialmente com respeito a homogeneidade e
isotropia. A Figura 25 resume o emprego da solução de Boussinesq. A Figura 26
mostra a variação da tensão em uma determinada profundidade. Como se percebe,
a distribuição segue o padrão observado experimentalmente.

Figura 25. Tensões num ponto no interior da massa

25
17

3.Q
σv = . cos 5 θ 18
2.π .z 2

Figura 26. Distribuição das tensões numa determinada profundidade de acordo com
Boussinesq (CAPUTO, 1994)

Analizando-se as Equações 17 e 18, percebe-se que o valor da tensão


tenderá a infinito quando a profundidade z tender a zero. Dessa forma, a distribuição
das tensões com a profundidade, segundo esta proposta, segue o padrão da Figura
27.

Figura 27. Tensões na vertical abaixo do ponto da carga (PINTO, 2000).

26
A solução de Boussinesq não incorpora o Módulo de Elasticidade nem o
coeficiente de Poisson, o que torna seu emprego simples na prática, embora
raramente nos deparemos com uma carga pontual aplicada à superfície do terreno.
A solução de Boussinesq pode também ser empregada por meio de um
ábaco, apresentado na Figura A1, em anexo.

Exemplo 8.

Calcular as tensões noss ponto 1, 2 e 3, apresentados na Figura 28, para


uma carga pontual de 200 kN aplicada à superfície do terreno.

Figura 28. Figura referente ao Exemplo 8

Solução:

Pela solução Boussinesq tem-se

Ponto 1
3x 200
σv = . cos 5 0 0 = 95 kN/m 2
2.π .1,0 2

Ponto 2 = Ponto 3

3x 200
σv = . cos 5 45 0 = 17 kN/m 2
2.π .1,0 2

Exemplo 9

Para o esquema da Figura 29, calcular a tensão no ponto 2 devida a ação


simultânea das três cargas aplicadas.

Solução

Tensão no ponto 2 a profundidade z = 1,0m

Neste tipo de problema deve-se calcular a influência de cada uma das cargas no
ponto 2.

Considerando o arc tg ½ ⇒ θ = 26,6o

27
Figura 29. Figura referente ao Exemplo 9

Influência da carga 1 no ponto 2

3x640
σv = . cos 5 26,6 0 = 175 kN/m 2
2.π .1,0 2

Influência da carga 2 no ponto 2

3x160
σv = . cos 5 0 0 = 76 kN/m 2
2.π .1,0 2

Influência da carga 3 no ponto 2

3x 200
σv = . cos 5 26,6 0 = 55 kN/m 2
2.π .1,0 2

Logo, o acréscimo de tensão no ponto 2 será:

σv = 175 + 76 + 55 = 306 kN/m2

7.2.2 Carga uniformemente distribuída aplicada numa faixa de largura b


e comprimento infinito (CAROTHERS)

Esta solução se aplica ao caso de uma fundação corrida, que segue ao longo das
paredes.

p
σz = (2α + sen2α . cos .2β ) (19)
π

A Figura 31 apresenta o bulbo de tensões para esta condição de


carregamento.

28
Figura 30. Parâmetros para o emprego da Equação 19.

Figura 31. Bulbo de tensões para uma faixa carregada de largura b e comprimento
infinito.

Exemplo 10

Considere uma placa de largura B = 2,0m e comprimento infinito submetido a uma


tensão de 100 kN/m2, conforme a Figura 32. Calcular o acréscimo de tensão nos
pontos 1 e 2 sob as verticais do centro e da borda da placa, respectivamente.

29
Figura 32. Figura referente ao Exemplo 10

Solução

Aplicando a solução de CAROTHERS tem-se:

α = arctg 2/1 = 63o

Observando a Figura 27 tem-se os seguintes valores de β


Ponto 1 - β = 0o
Ponto 2 - β = α

Logo, o acréscimo de tensão será:

Ponto 1

100  π 
σv =  2 x63x + sen2 x63o x cos 2.0 0  = 96 kN/m 2
π  180 

Ponto 2

100  π 
σv =  2 x63x + sen2 x63o x cos 2 x630  = 55 kN/m 2
π  180 

7.2.3 Carga distribuída sobre uma placa circular (LOVE)

Este tipo de solução se aplica ao caso de um silo com uma fundação direta
superficial.
A solução de LOVE permite o cálculo no centro da área carregada, conforme
mostra a Figura 33. Para calcular num ponto fora do centro deve-se aplicar o Ábaco
da Figura A.2 no anexo.

30
 1 
σ z = q 1 − 3/ 2 
 [ ]
1 + ( R / z ) 2 
(20)

Figura 33. Parâmetros para o emprego da Equação 20.

Exemplo 11.
Considere que no Exemplo 10, ao invés de uma placa com largura B e comprimento
infinito, fosse uma placa circular. Calcular o acréscimo de tensão devido a este
carregamento.

No ponto 1 trata-se de uma simples aplicação da solução de Love. Logo temos:

 1 
σ z = 1001 −  = 29 kN/m 2
 [ 3 /
1 + (1 / 2) 2 ]2

No ponto 2 deve-se o acréscimo de tensão será dado por

σv = σvo xIσ
σv = 100 x Iσ
onde Iσ = σvo /σv pode ser obtido a partir do ábaco da Figura A.2 no anexo
z/R = 2
r/R = ½
Iσ = 0,23
σv = 0,23 x 100 = 23 kN/m2

31
7.2.4 Carregamento sob uma área retangular carregada por uma carga
distribuída (solução de NEWMARK)

Esta situação corresponde, por exemplo, a uma sapata retangular ou


quadrada. Neste caso aplica-se a solução de NEWMARK, que permite o cálculo da
tensão na quina da área carregada, conforme a Figura 34 e a Equação 21.

Figura 34. Carga distribuída sobre uma superfície retangular.

(21)

Como se percebe o emprego da Equação 21 é demasiadamente trabalhoso,


especialmente quando se pretende calcular as tensões sob áreas complexas. Este
cálculo passa ser simplificado recorrendo-se ao Ábaco da Figura A3 ou a Tabela
A.1, em anexo, onde a tesão numa determinada profundidade pode ser calculada
pela Equação 22.
σz = σo.Iσ (22)

Onde Iσ é um fator de influência determinado a partir da Figura A.3 e σo a


tensão aplicada.
Uma vez que a solução de NEWMARK permite apenas o cálculo do
acréscimo de tensões na quina da área carregada, caso necessite calcular em outro
ponto deve-se aplicar o princípio da superposição dos efeitos, fazendo composição
de áreas. Por exemplo, caso desejássemos calcular o acréscimo de tensão na
vertical do ponto P, nas duas figuras abaixo teríamos a seguinte composição.

32
Figura (a)

σv(z) = σvo [Iσ(AJMP) + Iσ(JBPK) + Iσ(PKLD) + Iσ(MPLC)]

Figura (b)

σv(z) = σvo [Iσ(PKDM) - Iσ(PKBL) - Iσ(PJMC) + Iσ(PJLA)]

Figura 35. Esquema para o cálculo do acréscimo de tensão devido a um


carregamento trapezoidal distribuído infinitamente longo.

σz = σo.Iσ (23)

Onde Iσ é obtido a partir da Figura A.5 (Anexo)

7.2.6 Carregamento Triangular (FADUM)

Para carregamento triangular (Figura 36), o acréscimo de tensão na borda


pode ser obtido pelo gráfico de FADUM, apresentado na Figura A.6 no anexo. Este
caso se aplica, por exemplo, a uma rampa de acesso.

σz = σo.Iσ (24)

33
Figura 36. Esquema para o cálculo do acréscimo de tensão devido a um
carregamento triangular distribuído infinitamente longo.

7.2.7 Força Aplicada no Interior do Maciço (MINDLIM)

Para o caso de uma carga concentrada aplicada no interior de um maciço


aplica-se a solução de Mindlin. Esta situação se assemelha a uma estaca onde a
transferência de carga se dá, predominantemente, pela ponta. A Equação 25
apresenta a solução proposta por Mindlin. Os parâmetros da Equação 25 estão
indicados na Figura 37.

(25)

R1 = r 2 + ( z − c) 2 (26)

R1 = r 2 + ( z + c) 2 (27)

A solução da Equação 5 se mostra adequada a uma estaca trabalhando por


ponta. Um exemplo seria uma fundação profunda que ultrapassa uma camada de
argila mole e repousa numa camada resistente
Há situações na prática, entretanto, que a solução de Mindlin não se aplica.
Uma delas é o caso de uma fundação constituída por estacas onde a transferência
de carga se dá, eminentemente, por atrito lateral. Para levar em conta esta situação
ANTUNES MARTINS integrou a equação de Mindlin ao longo de uma linha vertical
no interior do semi-espaço. Desta integração, um ábaco com os fatores de influência
foi proposto, considerando o coeficiente de Poison de 0,5, conforme a Figura A.6.

34
Figura 37. Esquema ilustrativo dos parâmetros da Equação 25.

8. TENSÕES DE CONTATO

As soluções para o cálculo dos acréscimos de tensões, com base na Teoria


da Elasticidade, referem-se apenas ao tipo de carregamento (concentrado,
distribuído, variável) e a forma (circular, faixa continua, retangular, etc). Na prática,
as cargas são transmitidas ao solo através de um elemento de fundação (placa,
sapata, blocos, etc). Estes elementos podem apresentar rigidez variável, e poderão
intervir na redistribuição das cargas na superfície de contato desse elemento com o
solo, entendido esse como um semi-espaço elástico.
Na aplicação das soluções da Teoria da Elasticidade, admite-se que as
tensões no contato se distribuem uniformemente sobre a superfície do terreno. Esta
situação só se observa no caso de placas flexíveis, capazes de suportar as
deformações decorrentes da não uniformidade das tensões induzidas pelo
carregamento no interior do maciço. Para uma placa flexível, a Figura 34 apresenta
os dois padrões de deformações que podem ocorrer em função do tipo de solo
(argila ou areia).

35
(a) Argila (b) Areia

Figura 38. Padrões de deformação do terreno por decorrência de um carregamento


sobre uma placa flexível (CAPUTO, 1994).

Nas argilas (Figura 38a), especialmente as de consistência mole a média,


pode-se considerar o módulo de elasticidade constante. Neste caso, as
deformações seguem o padrão de distribuição das tensões numa determinada
profundidade, conforme a Figura 19. Nas areias, o módulo de elasticidade é variável
com a profundidade e também horizontalmente, sendo maior na região de maior
confinamento, que corresponde a área carregada sob a placa. Por conseqüência, as
maiores deformações ocorrerão nas bordas (Figura 38b).
No caso de placas rígidas, esta rigidez tenderá a uniformizar as deformações,
resultando em maior concentração em pontos específicos sob área carregada. A
distribuição das tensões no contato dependerá do tipo de solo e da rigidez da
estrutura. O primeiro a abordar o assunto foi BOROWICKA (1939), que avaliou
analiticamente a distribuição das tensões sobre uma placa corrida, circular ou
quadrada, com diferentes rigidez do solo e da placa. A Equação 28 corresponde à
solução para o caso de uma placa circular rígida de raio R. Na Figura 39 está
apresentada a distribuição das tensões de contato para esta situação.

q (28)
σ= 2
r
2 1-  
R

Pela Equação 28 pode-se concluir que, quando r tender a R, a tensão no


contato tenderá a infinito.

Na prática, o solo não suportará tensões tão elevadas como as que ocorrem
nas bordas, sem que ocorra a ruptura do mesmo. Sendo assim, a distribuição das
tensões real assume a forma de uma cela, tal como se verifica na Figura 39b, que
tenderá a uma forma parabólica a medida que reduz a rigidez do solo, por exemplo
por conseqüência de um aumento do carregamento.
Evidentemente, a redistribuição das tensões de contato devida à rigidez
influenciará na distribuição dos acréscimos de tensão com a profundidade. Para
tanto, seria necessário dividir a área carregada em retângulos ou anéis, calcular o
acréscimo de tensão de cada parcela e efetuar o somatório. Tal procedimento
tornaria o cálculo demasiadamente tedioso

36
(a) (b)

Figura 39 Distribuição das tensões de contato para uma placa rígida no semi-
espaço elástico (CAPUTO, 1994).

Na prática considera-se que as tensões de contato se distribuem


uniformemente sobre a superfície do terreno, tal como os procedimentos adotados
até o presente, considerando a redistribuição das tensões quando se trata de
fundações especiais.

8.1 Problemas associados à excentricidade de cargas.

Na maioria das situações de engenharia, os esforços transmitidos a uma


fundação (momentos, forças horizontais, forças verticais) independente de sua
rigidez, resultará em excentricidade de cargas, que, por sua vez resultará em
concentração de tensões em certa região da área carregada. É o caso, por
exemplo, de uma sapata sujeita a cargas verticais e momentos, simultaneamente.
Portanto, quando houver excentricidade de carregamento, deve-se avaliar a
variação das tensões de contato. Na prática, considera-se que a distribuição das
tensões seja linear ao longo da área carregada.
Para fundações retangulares e circulares, admite-se que entre a fundação e o
solo não possam existir tensões de tração, o que resultaria em projetos ante-
econômicos. A Figura 40 apresenta formulas de distribuição linear das tensões de
contato em função da excentricidade de carregas. Para uma carga excêntrica, os
valores das tensões máxima e mínima dependerão da excentricidade (e) resultante.
No caso da e > b/6, um dos bordos da fundação estará sob tração, devendo ser
evitada tal situação.
Na prática, em projetos estruturais de edifícios, o calculista fornece um
quadro de cargas contendo as cargas verticais, momentos e forças horizontais. Para

37
o caso de um carregamento constituído de uma carga vertical centrada e um
momento (Figura 41), é possível determinar a excentricidade numa determinada
direção dividindo o momento pela carga. Em outras palavras, é como se a carga
fosse, fisicamente, transferida para uma posição fora do seu eixo de aplicação.

Figura 31. Equivalência de Carregamentos

A equação das tensões máximas e mínimas, em caso de cargas excêntricas,


pode ser facilmente deduzida pela análise do equilíbrio do sistema de forças, tal
como se procede em uma viga bi-apoiada.
Considerando o momento na origem (ponto o) igual a zero, tem-se

∑V=0

 (σ máx + σ min ).b 


 2 .a − Q = 0
 
2Q
σ máx. = − σ min
a.b

M(o)=0

 (σ máx + σ min ).b.a   b b 


 2 . 2 − 3  = P.e x
  
  2Q  
  a.b − σ min − σ min .b.a  b
  . = P.e ⇒  .2.Q − 2.σ min .a.b .a.b. b = Q.e
x   x
 2 6  2.a.b  6
 
 

 Q − σ min .a.b  b 6.Q.e x


 .a.b. = Q.e x ⇒ Q − σ min .a.b =
 a.b  6 b

38
6.Q.e x Q 6.Q.e x Q  6.Q.e x 
Q − σ min .a.b = ⇒ σ min = − 2
⇒ σ min = 1 − 
b a.b a.b a.b  b 
Logo tem-se para as duas tensões

Q  6.Q.e x 
σ min e máx = 1 ± 
a.b  b 

39
Figura 40. Distribuição linear das tensões de contato para cargas excênticas.

40
9. REFERÊNCIAS

CAPUTO, H.P (1994). “Mecânica dos Solos e Suas Aplicações”. Vol. 2, Capítulo 3.

PINTO, C.S (2000). “Curso Básico de Mecânica dos Solos”. Aula 5 e 8.

VARGAS, M. (1978). “Introdução a Mecânica dos Solos”. 3a Parte – Estática dos


Solos.

41
ANEXO

42
A.1 TENSÃO NO MACIÇO DEVIDO A UMA CARGA PONTUAL APLICADA À
SUPERFÍCIE.

P
σz = K
z2

3 1
K= .
[
2π 1 + (r / z 2 ]
5/ 2

Figura A1. Ábaco para o cálculo das tensões no interior do maciço devido a uma
carga pontual aplicada na superfície, segundo Boussinesq

43
A.2 TENSÃO NO MACIÇO DEVIDO UMA CARGA DISTRIBUIDA SOBRE UMA
PLACA CIRCULAR (CASO GERAL)

Figura A.2. Ábaco para cálculo do acréscimo de tensões devido a uma área circular
submetida a uma carga uniformemente distribuída.

44
Figura A.3. Ábaco (bulbo de tensões) para cálculo do acréscimo de tensões devido
a uma área circular submetida a uma carga uniformemente distribuída.

45
A.3 Cálculo do acréscimo de tensão sob uma área retangular submetida a uma
carga distribuida (newmark)

Figura A.4. Ábaco para obtenção do fator de influência para solução de NEWMARK

46
Tabela A.1. Determinação dos fatores de influência para aplicação da solução de
NEWMARK.

47
A.4 CARREGAMENTO TRAPEZOIDAL INFINITAMENTE LONGO

Figura A.5. Ábaco de Osberg

48
A.6 CARREGAMENTO TRIANGULAR

Figura A.5 – Ábaco de Fadum

49
A.7 CARGA DISTRIBUÍDA AO LONGO DE UMA LINHA VERTICAL (ANTUNES
MARTINS).

Figura A.6. Ábaco de Antunes Martins

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