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MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS De Alternativos à Primeira Ratio

Julho/2017
MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
De Alternativos à Primeira Ratio

Nome completo - Elrilene da Guia Pereira


e-mail - elrilenedaguia@hotmail.com
MBA em Negociação, Mediação, Conciliação, e Arbitragem
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Goiânia, GO, 19 de outubro de 2016

Resumo: O trabalho em voga tem por desígnio traçar algumas considerações acerca dos
meios alternativos de solução de conflitos, em especial os consensuais como a negociação, a
mediação e a conciliação, buscando, de modo objetivo, demonstrar a importância desses
métodos frente à crise experimentada pelo Poder Judiciário. Com base na doutrina
majoritária e na legislação vigente, buscamos compreender como os referidos meios podem
contribuir para a realização da justiça. O presente estudo demonstra que a jurisdição não é
capaz, por si só, de atender aos anseios de uma sociedade cada vez mais complexa,
necessitando de outras formas que possibilitem a solução eficiente dos litígios. No entanto,
concluiu-se que não bastam que outros caminhos sejam abertos, é imprescindível que o
cidadão seja conscientizado acerca da importância de se seguir por outras vias. Para isso,
mister a criação de uma política pública que esclareça e oriente o correto uso dos métodos
autocompositivos. Uma vez ciente dos benefícios, é certo que a população tenderá a priorizar
os métodos consensuais e deixará com a jurisdição apenas os casos em que sua atuação seja
estritamente necessária.

Palavras-chave: Acesso à justiça. Meios Consensuais.

1. Introdução
O estudo em comento se insere na área relativa aos meios alternativos de solução de conflitos.
O interesse pelo tema surgiu da necessidade de oferta de outros mecanismos que possam
possibilitar acesso célere e efetivo à justiça, que não somente o Poder Judiciário, que tem
demonstrado ser incapaz de solucionar todas as demandas que lhe são apresentadas.
Os dados divulgados anualmente pelo CNJ apontam para um expressivo, e preocupante,
aumento no número de processos, sendo que grande parte desse contingente se esbarra na
demora da prestação jurisdicional, o que acaba por ferir um dos mais basilares e fundamentais
direitos do homem: o acesso à justiça.
Ocorre que, da forma como se encontra atualmente organizado, o nosso Sistema não apresenta
condições de, por si só, viabilizar com celeridade e eficiência a realização da justiça.
Diante dessa realidade vimos minar os métodos equivalentes jurisdicionais, cuja missão vem
imbuída do anseio de conduzir o homem a alcançar o seu ideal de justiça.
Atualmente, estão em uso diversos mecanismos que têm o objetivo primordial de possibilitar
às partes gerirem seus próprios conflitos, independentemente da atuação da via jurisdicional.
ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 13ª Edição nº 013 Vol.01/2017 Julho/2017
2

A experiência comprova que os benefícios experimentados com a adoção desses Métodos são
cada vez mais significativos. Para além de representarem uma forma de acesso rápido à
obtenção de justiça e auxiliarem o Poder Judiciário reduzindo seu número de demandas, as
formas autocompositivas têm sua eficácia comprovada, principalmente, no que tange a sua
forma de solução eficiente dos litígios, ao passo que não só resolvem a lide, mas restabelecem
vínculos, resgatam a comunicação e previnem futuros conflitos.
O objetivo da pesquisa ora apresentada é identificar como os meios consensuais podem
contribuir para o efetivo acesso à justiça e a pacificação social. Nesse passo, buscamos
elucidar a importância de se colocar em primeira ratio os meios consensuais de solução de
conflitos e não mais a prestação jurisdicional.

2. Do Direito ao Acesso à Justiça


2.1. Contexto Histórico
É cediço que o acesso à justiça aponta para o surgimento da humanidade e sua definição e
realização variam de acordo com as características de cada povo e os costumes da época.
Verifica-se que com a formação dos primeiros núcleos sociais houve a preocupação em
estabelecer normas mínimas para o convívio pacífico dos seus membros. Mesmo numa
organização arcaica, onde não se tinha um modelo de Estado instituído, os líderes viram a
necessidade de se criar meios capazes de solucionar os problemas do povo e reestabelecer a
paz social.
O Código de Hamurabi é uma referência quando falamos sobre o acesso à justiça. Hamurabi,
rei do império babilônico, elaborou durante o seu reinado, no século XVII a.C., um conjunto
de leis que abrangia os mais diversos assuntos, como a irrigação, propriedade, comércio,
relações de trabalho e família. Apesar do caráter taliônico, o principal objetivo do rei
Hamurabi ao instituir o Código foi o de estabelecer a justiça em seu reino, conforme escreveu
ele no epílogo do referido compêndio ao dizer que havia sido chamado pelos deuses para
trazer a justiça à terra, destruir os maus e criminosos e para que os fortes não oprimissem os
fracos.
Por trás da severidade das normas, havia a preocupação com os menos favorecidos. Pelo
epílogo fica evidente que Hamurabi desejava que suas leis alcançassem todas as camadas da
sociedade e que a justiça estivesse ao alcance de todos. Essa proteção especial alcançava todo
homem pobre, viúvas e órfãos. Ficou estabelecido que todas as pessoas do reino poderiam ter
acesso ao Código insculpido num bloco de pedra, afim de que todos, não só os abastados, mas
também os oprimidos, tivessem conhecimento das leis e aqueles que enfrentavam algum
litígio pudessem compreender seu caso e descobrir o que era justo.
Outra importante legislação digna de ser citada é a Lei das Doze Tábuas. Promulgada pela
República Romana entre os anos de 451 e 450 a.C. esta lei foi criada com o fim de estabelecer
a igualdade de direitos entre as classes sociais. Até sua promulgação não era permitido aos
ditos plebeus conhecer as leis da República, cabendo a estes apenas sofrer as punições por
atos que até então não sabiam ser ilegais. As leis foram escritas em tábuas e afixadas nas
paredes do fórum romano, onde todos os cidadãos romanos podiam lê-las. A Lei das Doze
tábuas perdurou durante toda a Roma Republicana e na Roma Imperial até a compilação de
Justiniano. Destaca Cristino Carrilho 1 que esta Lei teve seus retalhos disseminados por muitas
legislações, inclusive a brasileira.
Além do Código de Hamurabi e da Lei das Doze Tábuas, merecem registro também as Leis
de Ur-Nammu (2111 a 2094 a.C.), as Leis de Lipt-Istar (1934 a 1924 a.C.), as Leis de
Eshunna (1825 a 1787 a.C.) e as Leis de Manu (séculos II a.C. a II d.C).

1
CARRILHO, Cristino. Manual de História dos Sistemas Jurídicos. Campus, 2009:17.
3

Afora os mencionados, também encontramos na Bíblia2 diversos registros que comprovam o


anseio de se viabilizar o acesso à justiça a todos os indivíduos que faziam parte do corpo
social. Os Dez Mandamentos3 representam a primeira compilação escrita que se tem registro
na Bíblia. Numa época em que prevalecia a tradição oral, as leis foram escritas em placas de
pedra e expostas a todo povo. Também chamado de Decálogo, os Dez Mandamentos
representam não apenas regras acerca de como deveria ser o relacionamento do homem com
Deus, tratam também do relacionamento entre os indivíduos.
No livro de êxodo encontramos leis que cuidam do trato com os servos (21.1-11), leis acerca
da violência (21.12-36), da propriedade (22.1-15), leis civis (22.16-26), e outras que tratam do
testemunho falso e da injúria (23.1-5). Havia, ainda, leis que pautavam a conduta dos juízes,
de forma a garantir que todos tivessem um julgamento justo (23.6-9). Nesse dispositivo fica
evidente a preocupação com os menos favorecidos representados aí pelos “pobres”.
Nesse sentido, segundo os ditames descritos especialmente no Antigo Testamento, o
julgamento deveria se dar de forma justa e imparcial, como se lê em Deuteronômio 1.16-17:
“Nesse mesmo tempo ordenei a vossos juízes, dizendo: ouvi a causa entre vossos irmãos e
julgas justamente entre o homem e seu irmão ou o estrangeiro que está com ele. Não sereis
parciais no juízo, ouvireis tanto o pequeno como o grande [...]”.
Nota-se que um dos princípios basilares da busca pela justiça era a igualdade. Mas além de
dispensar tratamento igualitário aos que buscavam solucionar seus conflitos, os responsáveis
por julgarem as causas do povo também deviam atenção especial aos hipossuficientes, de
forma a garantir que todo aquele que não dispusesse de recursos financeiros também tivesse
acesso à justiça.

“Não fará injustiça no juízo; não fará acepção da pessoa do pobre, nem honrarás o
poderoso, mas com justiça julgará o teu próximo”. Levítico 19.15.
“Fazei justiça ao pobre e ao órfão; procedei retamente com o aflito e o
desamparado”. Salmo 82.3.
“Abre a tua boca a favor do mundo, a favor do direito de todos os desamparados.
Abre a tua boca; julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados”.
Provérbios 31.8-9.
“[...] Buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa
da viúva”. Isaías 1.17

À medida que o tempo passa e a vida em sociedade evolui, subsiste o cuidado em garantir que
todos tenham acesso á justiça. Por todo o mundo, a história constata que os grupos possuíam
mecanismos próprios para administrar os conflitos e proporcionar justiça a seus membros. No
tocante à composição de controvérsias, Angela Hara Buonomo Mendonça aponta que havia
duas vias para se chegar a uma solução: a negociação direta entre as partes ou a negociação
mediada por um terceiro.4 Persistindo o conflito, a solução era imposta por quem detinha tal
autoridade.
Já nos séculos XVIII e XIX, especialmente nos estados liberais burgueses, o acesso à justiça
refletia o caráter individualista dos direitos que vigoravam na época. Como bem lecionam
Mauro Cappelletti e Bryant Garth5, o direito de buscar a proteção judicial restringia-se à
garantia formal de o indivíduo propor ou contestar uma ação. Os direitos eram reconhecidos

2
Almeida. Revista e atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
3
Êxodo 20.1-17.
4
MENDONÇA, Angela Hara Buonomo. A reinvenção da tradição do uso da mediação, 2004:145.
5
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução: Ellen Gracie Northfleet. Sérgio Antônio
Fabris Editor, Porto Alegre, 1988:4. Disponível em:
<https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxkaXJlaXRvMjAxNWEyMDIw
fGd4OjczZWMzMjcwMzkzMTBiNGU>. Acesso em: 26 de outubro de 2016.
4

pelo Estado, mas só podiam exercê-los quem pudesse arcar com os custos da justiça. Havia
apenas um direito formal de acesso, mas sem efetividade de fato.
Com o crescimento e desenvolvimento da sociedade o Estado individualista começa a perder
sua razão de ser e nasce então o Estado social, o qual deixa o indivíduo em segundo plano
para se preocupar, prioritariamente, com a coletividade. Nesse novo contexto surge uma gama
de novos direitos sociais, como o direito ao trabalho, à saúde e à educação.
Cappelletti e Garth explicam que para assegurar o gozo desses novos direitos, foi necessário
que o Estado abandonasse seu status de passividade e adotasse uma atuação positiva. E os
nobres doutores continuam:

Não é surpreendente, portanto, que o direito ao acesso efetivo à justiça tenha ganho
particular atenção na medida em que as reformas do welfare state tenham procurado
armar os indivíduos de novos direitos substantivos em sua qualidade de
consumidores, locatários, empregados e, mesmo, cidadãos. De fato, o direito ao
acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importância
capital entre os novos direitos individuais e sociais, uma vez que a titularidade de
direitos é destituída de sentido, na ausência de mecanismos para sua efetiva
reinvindicação.

Em estudo clássico intitulado “Acesso à Justiça6”, fruto do Florence Project, com


financiamento da Ford Foundation (1978), publicado no final da década de 70 e
posteriormente traduzida para o português uma versão resumida por Ellen Gracie Northfleet,
Mauro Cappelletti e Bryant Garth enumeram alguns obstáculos que representam verdadeiros
empecilhos ao acesso efetivo à justiça.
A primeira barreira identificada diz respeito às custas judiciais, que para a maioria da
população são demasiadamente dispendiosas. Vendo-se sem condições de arcar com todos os
custos de uma demanda, o cidadão acaba, muitas vezes, por abrir mão do seu direito de valer-
se da prestação judicial.
As “possibilidades das partes” também representam um óbice ao acesso à justiça. Para o
professor Marc Galanter alguns litigantes “gozam de uma gama de vantagens estratégicas”. A
capacidade financeira para suportar os altos custos de uma ação, a aptidão para reconhecer um
direito e propor uma ação ou sua defesa e a habitualidade com que alguns indivíduos recorrem
ao poder judiciário são possibilidades que colocam alguns litigantes numa posição de
vantagem em relação a outros que, por sua vez, ocupam posição inversa.
Outra relevante barreira que dificulta ou até mesmo impossibilita a acessibilidade à justiça é
atinente aos interesses difusos. Para os autores do estudo, o problema básico que esses direitos
representam “é que, ou ninguém tem direito a corrigir a lesão a um interesse coletivo, ou o
prêmio para qualquer indivíduo buscar essa correção é pequeno demais para induzi-lo a tentar
uma ação.” Outro problema relacionado a esses interesses tem a ver com a reunião dos vários
interessados.
Identificar e compreender os obstáculos criados pelos sistemas jurídicos possibilita - se não
eliminar - ao menos facilitar o acesso à justiça. Partindo dessa premissa, Cappelletti e Garth,
buscaram explicar os movimentos de acesso à justiça apontando três importantes soluções ou
ondas.
Ocorridos especialmente nos países ocidentais, os movimentos tiveram início em 1965 e
obedeceram a uma ordem cronológica. De acordo com os autores, a primeira onda buscou
proporcionar assistência judiciária aos pobres, que além de não disporem de recursos
financeiros para arcarem com os altos custos da justiça, também não têm conhecimento
jurídico para buscarem a via judicial adequada, necessitando, assim, de um advogado.

6
Ibidem p. 6-11.
5

A segunda onda que visava eliminar os obstáculos de acesso à justiça teve por objetivo
representar os interesses difusos, que até então não tinham proteção no sistema vigente. Este
movimento trouxe reflexões acerca do processo civil e do papel dos Tribunais quanto aos
interesses coletivos.
No tocante à terceira onda, denominada pelos autores de “o enfoque do acesso à justiça”, esta
buscou ampliar as duas primeiras soluções para o problema do acesso à justiça. Numa
sociedade moderna com muitas configurações de conflitos não bastava apenas ofertar
assistência judiciária aos pobres e conceder tutela aos direitos difusos, era preciso garantir que
o acesso fosse simplificado e efetivo, que fosse capaz de solucionar as demandas e prevenir o
surgimento de novas lides.
Assim, a terceira onda “centra sua atenção no conjunto geral de instituições e mecanismos,
pessoas e procedimentos utilizados para processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades
modernas”. Nesse novo paradigma é que surgem os equivalentes jurisdicionais, uma via
alternativa ao processo judicial na solução de conflitos.
No Brasil, por ouro lado, o tema acesso à justiça passou a despertar o interesse dos estudiosos
somente a partir do início dos anos 80, cerca de uma década depois de publicado o trabalho de
Cappelletti e Garth. Conforme Eliane Botelho Junqueira 7, ao contrário do que ocorria nos
demais países, sobretudo nos países centrais, onde o movimento de acesso à justiça deu-se em
razão da “expansão do welfare state e a necessidade de se tornarem efetivos os novos direitos
conquistados principalmente a partir dos anos 60 pelas minorias étnicas e sexuais”, aqui se
deu em função da necessidade de se levar os direitos básicos à maioria da população, a qual
experimentou a “tradição liberal individualista do ordenamento jurídico brasileiro”, bem
como a “histórica marginalização socioeconômica dos setores subalternizados” e a “exclusão
político-jurídica provocada pelo regime pós 64”.
No caso do Brasil, conforme constatou Eliane em seu estudo intitulado Acesso à Justiça: um
olhar retrospectivo, o movimento de ampliação do acesso à justiça não seguiu o mesmo
modelo de “ondas” proposto pelo estudo internacional. Segundo ela

Apesar de ser possível detectar uma linha de continuidade entre os subtemas de


pesquisa desenvolvidos a partir dos anos 80 dentro dessa temática, o movimento
acadêmico (e jurídico-político) em torno do acesso à Justiça compreende dois eixos
principais. De um lado, situam-se as pesquisas sobre o acesso coletivo à Justiça que
marcam principalmente a primeira metade dos anos 80. De outro, encontram-se as
investigações sobre formas estatais e não-estatais de resolução de conflitos
individuais, nas quais ganham espaço os novos mecanismos informais -- tais como
os então denominados Juizados Especiais de Pequenas Causas -- introduzidos pelo
Estado a partir de meados da década de 808.

2.2. O Acesso à Justiça: Previsão Legal


O acesso à justiça encontra-se arraigado em nossa legislação e doutrina. Em muitos dos
dispositivos da atual Carta Magna encontramos previsões que buscam viabilizar esse direito,
de modo que todo cidadão possa efetivamente acessar a justiça.
O direito de acesso à justiça tem sua principal previsão no inciso XXXV, do art. 5º. Segundo
o enunciado “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Todavia, além dessa previsão genérica, o artigo supracitado possui outros incisos que também
tratam do acesso à justiça, os quais serão citados a seguir:

7
JUNQUEIRA, Eliane Botelho. Acesso à Justiça: um olhar retrospectivo. Revista Estudos Históricos, nº 18,
1996:1. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/25477-25479-1-PB.pdf>
Acesso em: 10 de novembro de 2016.
8
Ibidem p. 2.
6

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;
LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação9.

De acordo com Marcelo Malizia Cabral10, a doutrina aponta uma série de outras disposições
contidas na Constituição Federal que contemplam o acesso à justiça. Vejamos:

a) a consagração do princípio da igualdade material como objetivo fundamental da


República, tendo como meta a construção de “uma sociedade livre, justa e solidária,
com a redução das desigualdades sociais” (art. 3.º); [...] c) a previsão de criação de
Juizados especiais destinados ao julgamento e à execução de causas cíveis de menor
complexidade e penais de menor potencial ofensivo, com ênfase na informalidade
do procedimento e na participação popular através do incentivo à conciliação, e à
participação de juízes leigos (art. 98, I); d) previsão para a criação de uma justiça de
paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos, com mandato de quatro anos, com
competência para o processo de habilitação e a celebração de casamentos, para
atividades conciliatórias e outras previstas em lei (art. 98, II); e) o tratamento
constitucional da ação civil pública (art. 129, III), como instrumento hábil para a
defesa de todo e qualquer direito difuso e coletivo; f) a criação de novos
instrumentos destinados à defesa coletiva de direitos: mandado de segurança
coletivo (art. 5.º, LXX), e mandado de injunção (art. 5.º, LXXI), bem como a
outorga de legitimidade para os sindicatos (art. 8.º, III) e para as entidades
associativas (art. 5.º, XXI) defenderem os direitos coletivos e individuais
homogêneos de seus fi liados; g) a reestruturação e o fortalecimento do Ministério
Público, como órgão essencial à função jurisdicional do Estado, conferindo-lhe
atribuições para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
coletivos e sociais (art. 127, §§ 2.º e 3.º); e h) a elevação da Defensoria Pública
como instituição essencial à função jurisdicional do Estado, com atribuição para a
orientação jurídica e a defesa dos necessitados, devendo ser organizada em todos os
estados, no distrito federal, territórios e, também, no âmbito da própria União (art.
134 e parágrafo único).

2.3. O Acesso à Justiça: Direito e Garantia Fundamental


A Constituição Federal de 1988 trata em seu título II dos direitos e garantias individuais e os
classificou em cinco espécies distribuídas em cinco capítulos: direitos e deveres individuais e
coletivos (art. 5º), direitos sociais (art. 6º ao 11), direitos da nacionalidade (art. 12 ao 13),
direitos políticos (art. 14 ao 16) e dos partidos políticos (art. 17).
Apesar de aparecerem juntas no texto constitucional, as expressões, “direitos” e “garantias”,
não são sinônimas e já que o legislador foi omisso em traçar os conceitos de uma e de outra,
tocou para a doutrina a incumbência de estabelecer tal diferenciação.
Coube a Rui Barbosa a missão de ser um dos primeiros a trazer à luz a distinção entre direitos
e garantias fundamentais no direito brasileiro. Ao separar as disposições declaratórias das
assecuratórias escreveu o celebrado autor:

9
Rol citado por Ricardo Nicoli, em seu artigo “O Acesso à Justiça e os Juizados Especiais”, p.20. Disponível em:
<https://asmego.org.br/wp-content/uploads/2015/01/Artigo-juiz-Ricardo-Nicoli.pdf>. Acesso em: 10 de
novembro de 2016.
10
CABRAL, Marcelo Malizia. Os Meios Alternativos de Resolução de Conflitos: Instrumentos de Ampliação do
Acesso à Justiça. Porto Alegre, 2013:16
7

as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência legal


aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa
dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias;
ocorrendo não raro juntar-se na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação
da garantia, com a declaração do direito11.

Em linhas retas, os direitos representam certos bens, enquanto as garantias asseguram a


fruição desses bens. Os direitos são declaratórios e as garantias assecuratórias, conforme
pontuou Jorge Miranda12.
De modo resumido, os direitos estão elencados na Constituição e autorizam ou não a prática
de determinados atos, enquanto que as garantias representam verdadeiros instrumentos de
proteção a esses direitos, pois cabe a elas a incumbência de garantir ao cidadão o real
exercício daqueles.
Uma vez que os conceitos foram definidos, resta-nos que o acesso à justiça é, ao mesmo
tempo, um direito e uma garantia fundamental. Ao lembrar os ensinamentos de José Cichocki
Neto, o magistrado Ricardo Nicoli explica:

Como direito, por estar previsto na Constituição, dentre outros, o direito de pleitear a
tutela jurisdicional, de assistência jurídica aos necessitados, do devido processo
legal, da duração razoável do processo, etc. Como garantia, para assegurar a fruição
desses direitos (e dos princípios fundamentais), por meio de uma prestação
jurisdicional acessível a todos, adequada, em tempo hábil e eficaz 13.

2.4. O Acesso à Justiça: Direito Humano


Além de constituir um direito e uma garantia fundamental, o acesso à justiça também é um
direito humano.
Nas palavras de Cappelletti e Garth, o acesso à justiça configura “o requisito fundamental - o
mais básico dos direitos humanos - de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda
garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos14”.
O direito de acesso à justiça é considerado o mais básico dos direitos humanos, pois dele
decorrem a efetivação de todos os outros direitos. Nesse sentido, bem escreveu Boaventura ao
ditar que “a consagração constitucional dos novos direitos econômicos e sociais e a sua
expansão paralela a do Estado de bem estar transformou o direito ao acesso efetivo à justiça
num direito charneira, um direito cuja denegação acarretaria a de todos os demais 15”.
Com a transformação do Estado individualista para o Estado social, outros direitos nascem
com o fito único de garantir a efetividade concreta daqueles que até então eram inacessíveis à
maioria. Esses novos direitos chamados pelos estudiosos de novos Direitos Humanos
pretendiam fazer com que o Estado assegurasse a todos o gozo dos direitos proclamados 16 e,
ao mesmo tempo, limitar sua atuação, evitando o cometimento de abusos contra as garantias
legais.

11
BARBOSA, Rui. Os Actos Inconstitucionaes do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal. Rio de
Janeiro, Capital Federal: Companhia Impressora, 1893:187. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/224197>. Acesso em: 10 de novembro de 2016.
12
MIRANDA apud MORAES, 2014:32.
13
NICOLI, Ricardo. O Acesso à Justiça e os Juizados Especiais. P.18. Disponível em: <https://asmego.org.br/wp-
content/uploads/2015/01/Artigo-juiz-Ricardo-Nicoli.pdf>. Acesso em: 10 de novembro de 2016.
14
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução: Ellen Gracie Northfleet. Sérgio Antônio
Fabris Editor, Porto Alegre, 1988:5.
15
SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução à Sociologia da Administração da Justiça. Revista Crítica de
Ciências Sociais, Nº 21, 1986:18.
16
Cf. Mauro Cappelletti, Acesso à justiça, 1998:4.
8

Para Juan Carlos Vezzulla, os direitos humanos também devem influenciar a forma como os
Estados organizam os procedimentos de acesso à justiça17. A partir das conquistas sociais o
Estado precisou reestruturar suas bases e a sua forma de realizar a justiça. Os Órgãos
jurisdicionais e os procedimentos deviam, acima de tudo, respeitar a dignidade da pessoa
humana. Aliás, é a dignidade da pessoa humana o principal fundamento para a realização do
direito de acesso à justiça e de todos os outros direitos humanos. Assim escreveu José de
Alburqueque Rocha:

A dignidade humana é, pois, a base sobre a qual se ergue o Estado e toda a ordem
jurídica. Assim, a relação entre dignidade humana e acesso à justiça é uma relação
entre meio e fim, já que é o acesso á justiça que vai assegurar a realização dos
direitos fundamentais que são exatamente os meios através de cujo exercício a
pessoa humana materializa a sua dignidade, ou seja, desenvolve e aperfeiçoa sua
personalidade18.

Para Emerson Malheiro19, o princípio da dignidade da pessoa humana forma o núcleo


exegético do ordenamento jurídico, vez que todas as regras devem se orientar por ele. De
igual modo, “constitui um núcleo essencial de irradiação dos direitos humanos, pois sua
função é propagar os interesses fundamentais dos indivíduos”.
O direito de acesso à justiça foi positivado em diversos documentos internacionais sobre
direitos humanos. Em 10 de dezembro 1948, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou
a Declaração Universal dos Direitos do Homem, cujo fundamento é a dignidade da pessoa
humana.
A letra do artigo 6º, inciso I, dispõe que todo indivíduo tem o direito à prestação jurisdicional
em prazo razoável. O artigo 8º, por seu turno, prescreve que “todo o homem tem direito a
receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei”. Já o artigo 10
prescreve que “todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele”.
A Declaração representa o mais importante instrumento para a consolidação e propagação dos
direitos fundamentais e humanos, entre eles o acesso à justiça, pois influenciou o surgimento
de outros instrumentos na seara internacional e seus fundamentos acrescidos a Constituições
de diversos países, incluindo a do Brasil.
Seguindo a mesma marcha, no ano de 1969 foi criado o Pacto de São José da Costa Rica
(Convenção Americana de Direitos Humanos), do qual o Brasil é signatário, que estabeleceu
por meio do artigo 8º, inciso I, que todo indivíduo tem direito fundamental à prestação
jurisdicional sem dilações indevidas.
O Brasil, no ano de 2004, por meio da Emenda Constitucional nº 45, inseriu dentre o rol de
direitos fundamentais a garantia da razoável duração do processo (artigo5º, inciso LXXVIII,
CF).
Acerca dos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, a mesma Emenda
trouxe, ainda, a previsão de que aqueles que forem aprovados, em cada casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais (artigo 5º, parágrafo 3º).

17
VEZZULLA, Juan Carlos. A mediação para uma análise da abordagem dos conflitos à luz dos direitos
humanos, o acesso à justiça e o respeito à dignidade humana. Artigo publicado no livro Mediação de
Conflitos, São Paulo, Atlas, 2013:64.
18
ROCHA apud VEZZULLA.
19
MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos. 2 ed. - São Paulo: Atlas, 2015:29.
9

2.3. O Velho e o Novo Conceito de Acesso à Justiça


O conceito de justiça sofreu significantes mutações ao longo do tempo e ainda hoje se
encontra em plena construção. Certo é que a noção de justiça acompanha a evolução do
homem na medida em que as suas relações interpessoais são transformadas. Para Adriana dos
Santos Silva

“a Justiça, por ser tema complexo e exaustivo, continua com definição aberta e em
plena evolução, de tal forma que, quanto mais complexas as relações interpessoais,
mais modificações se vão implementando e se incorporando à sua noção. Pode-se
observar que o conceito de Justiça muda de uma sociedade para outra, moldando-se
às necessidades desta: a sociedade sofre transformações, assim como a ideia de
justiça e o acesso a esta.”20

Nos períodos mais remotos o conceito de justiça estava ligado aos costumes de cada
civilização, ao que cada povo concebia por justo. Com a evolução do pensamento, também
evoluiu o conceito de justiça e as formas de acessá-la.
Se houve um tempo em que o direito de acesso à justiça era dirigido apenas a um seleto
grupo, noutro esse direito é estendido às mais subalternas camadas do crivo social, fazendo
com que o que se concebia por justiça ganhasse outros contornos.
De lá até os dias atuais presenciamos o surgimento de novos mecanismos que vieram
imbuídos do objetivo de alargar ainda mais o acesso à justiça. As novas formas de solução de
conflitos, que dispensam a figura do Estado-juiz, fizeram com que a conceituação fosse
novamente remodelada.
Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988:3) reconhecem ser o termo acesso à justiça de difícil
definição, mas segundo eles, serve para determinar duas finalidades básicas do sistema
jurídico, pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os
auspícios do Estado. A primeira finalidade apontada reside no fato de que o sistema deve ser
realmente acessível a todos, ou seja, sem que haja qualquer distinção entre as pessoas. A
segunda diz que ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.
O novo conceito de acesso à justiça não é mais uma mera formalidade. Pressupõe, ao
contrário, que este direito possa ser verdadeiramente exercido por quem quer que necessite e
que, para além disso, ao final haja o atingimento daquilo que é justo. Outrossim, a nova
conceituação também não se limita às salas dos Tribunais, ao passo que concebe que a
realização da justiça se dê por outros meios que não a jurisdição.
Desta feita, apesar de o inciso XXXV, do artigo 5º, da nossa Constituição Federal, ser
taxativo ao dizer que cabe ao Poder Judiciário apreciar lesão ou ameaça a direito, não
devemos dar ao texto uma interpretação literal, pois em nossa atualidade os órgãos judiciais
não mais representam a única via de acesso à justiça. É o que ensina o mestre Kazuo
Watanabe:

Ora, o inc. XXXV do art. 5º, da Constituição Federal deve ser interpretado, como
ficou acima sublinhado, não apenas como garantia de mero acesso aos órgãos do
Poder Judiciário, mas como garantia de acesso à ordem jurídica justa, de forma
efetiva, tempestiva e adequada. Daí a conclusão de que cabe ao Poder Judiciário,
pelo CNJ, organizar os serviços de tratamento de conflitos por todos os meios
adequados, e não apenas por meio da adjudicação de solução estatal em processos
contenciosos, cabendo-lhe em especial institucionalizar, em caráter permanente, os

20
SILVA, Adriana dos Santos. Acesso à justiça e arbitragem: um caminho para a crise do Judiciário. São Paulo:
Manole, 2005: 82.
10

meios consensuais de solução de conflitos de interesses, como a mediação e a


conciliação21.

Mister é destacarmos a diferença existente entre o direito de acesso ao Poder Judiciário e o


direito de acesso à justiça. O direito de acesso ao Judiciário é limitado, pois diz respeito à
possibilidade de acesso aos órgãos jurisdicionais por meio do direito de ação. Trata-se da
garantia de poder ingressar em juízo para defesa de direitos próprios ou de terceiros e a
verdade é que nem sempre o resultado será satisfatório. Já o acesso à justiça possui conceito
amplo. Este não se restringe apenas ao acesso aos Tribunais, pelo contrário, se deixa se
materializar também por outros meios, desde que estes sejam capazes de alcançar um
resultado justo, com a satisfação dos envolvidos.
Nesse diapasão, asseverou o ex-ministro da Justiça Tarso Genro que “o acesso à Justiça não
se confunde com acesso ao Judiciário, tendo em vista que não visa apenas a levar as
demandas dos necessitados àquele Poder, mas realmente incluir os jurisdicionados que estão à
margem do sistema22”.
Para João Pedroso, Catarina Trincão e João Paulo Dias, o cerne do acesso à justiça não se
resume em possibilitar que todos vão ao tribunal, mas sim que se realize a justiça no contexto
em que se inserem as partes, resguardada a imparcialidade da decisão e a igualdade afetiva
das partes perante esse meio de administração da justiça 23.

3. A Crise do Poder Judiciário


A nossa Carta Suprema assegura a todos o acesso à justiça, constituindo este um direito e uma
garantia fundamental, o mais básico dos direitos humanos. Sua plena realização encontra
amparo em diversos dispositivos constitucionais, não podendo o Poder Judiciário furtar-se da
sua missão de apreciar pretensões e emitir julgamentos.
Pelo princípio da inafastabilidade (ou indeclinabilidade) da jurisdição, uma vez provocado, o
órgão jurisdicional não pode recusar, nem transferir a outro, sua função de solucionar o litígio,
devendo aplicar o direito ao caso que a ele fora apresentado. Mesmo para aqueles em que
inexista previsão legal, o Estado, representado pela figura do juiz, não poderá se eximir de
julgar e deve para tanto buscar a solução em outras fontes do direito, conforme estabelecido
no artigo 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Este princípio
decorre da vedação ao nom liquet. Pelo disposto no artigo 140 do Código de Processo Civil
vigente, “o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento”.
Ao garantir que a lei não se furtará de apreciar os casos de lesão ou ameaça a direito, o texto
constitucional transferiu ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição. Durante muito tempo
enxergou-se nos órgãos judiciais a única via capaz de solucionar todas as demandas da
sociedade. Prevalecia a ideia de que apenas a sentença representava a forma mais correta e
segura de se obter justiça.
Essa supervalorização gerou a chamada “cultura da sentença”, levando, consequentemente, a
um grande acúmulo de processos em tramitação, uma vez que o Poder Judiciário não
dispunha do aparato necessário para fornecer a prestação jurisdicional outrora assegurada.
21
WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário Nacional para tratamento adequado dos conflitos
de interesses. P. 5. Disponível em:
http://www.tjsp.jus.br/Download/Conciliacao/Nucleo/ParecerDesKazuoWatanabe.pdf. Acesso em: 26 de
outubro de 2016.
22
GENRO, Tarso, Prefácio da primeira edição do Manual de Mediação Judicial, Brasília/DF: Ministério da Justiça
e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, p. 13
23
PEDROSO, João; TRINCÃO, Catarina; DIAS, João Paulo. E a justiça aqui tão perto? - As transformações no
acesso ao direito e à justiça. Disponível em: <www.ces.uc.pt/rccs/includes/download.php?id=818>. Acesso
em: 10 de novembro de 2016.
11

Com as suas veias congestionadas, o sistema entrou numa grave crise que perdura até os dias
atuais e ameaça relegar o direito constitucional da razoável duração do processo e o princípio
da celeridade processual à mera norma programática sem nenhum efeito prático.
Inúmeros autores procuraram identificar os principais problemas enfrentados pelo judiciário
brasileiro e os melhores estudos apontam como razões da instabilidade do nosso sistema de
justiça basicamente as seguintes: 1. a sobrecarga de demandas; 2. a lentidão no julgamento
dos processos, cujo numero de decisões proferidas não acompanham a quantidade de ações
ajuizadas; 3. o alto custo financeiro; 4. a burocratização do sistema; a pouca (ou nenhuma)
efetividade de algumas decisões; 5. a estrutura deficitária; 6. a normatização excessiva; 7. a
falta de fiscalização do seu cumprimento, geradora de impunidade; 8. a falta de adequação de
suas soluções; 9. falta de preparo adequado dos servidores; 10. o desgaste psicológico e do
relacionamento entre as partes também é inegável24 25.
Muitos (e inegáveis) são os problemas e multifacetada também deve ser a solução. É pacífico
o entendimento no sentido de que o Poder Judiciário necessita de reformas em suas estruturas,
vez que a crise tem gerado o descrédito de todo o sistema e a insegurança pública. É comum
também à maioria que a mudança necessária (e urgente) está além do mero aumento de
pessoal, capacitação, tecnologia e redução do custo financeiro. É preciso mais que uma
remodelação funcional. Mister a adoção de meios que proporcionem a solução dos conflitos
de modo célere e eficaz.
Diante do quadro acima, os meios alternativos de solução de conflitos, especialmente os
consensuais como a negociação, a mediação e conciliação, reaparecem com o escopo de
serem mais um caminho na busca por justiça. A adoção de outros institutos que não se
limitam apenas aos arcabouços dos Tribunais visa proporcionar às partes uma solução mais
adequada, célere e justa.

3. Meios Alternativos de Solução de Conflitos


3.1. Conceituação:
Como demonstrado em linhas retro, antes de existir o Estado e a figura do juiz, os meios
alternativos, como os consensuais, já eram utilizados para resolver os problemas do povo.
Somente após a criação do Estado é que surgiu a jurisdição. Seu nascimento foi muito
festejado, pois com ela nascia a promessa de organizar o caos e promover a paz social.
Apresentada como a forma mais segura de eliminar os conflitos, a jurisdição sustentou
durante muito tempo a sua exclusividade. Ocorre que, com o passar dos anos, percebeu-se que
ela não era capaz de sozinha resolver todas as questões da sociedade, a qual se mostrava cada
vez mais complexa. Viu-se aí a necessidade de se retomar àqueles meios esquecidos no
passado, devolvendo às partes o poder decisório.
As formas consideradas como verdadeiras ‘alternativas’ à solução judicial receberam
diferentes denominações. Em português são chamados de meios alternativos de solução de
conflitos (MASCs), meios alternativos de resolução de conflitos (MARCs), ou resolução
alternativa de disputas (RAD). Estas expressões decorrem da tradução do termo mais
recorrente na doutrina internacional: ADRs – Alternative Dispute Resolution.
Independente das nomenclaturas utilizadas, importa que esses métodos têm demonstrado cada
vez mais sua eficiência na solução rápida e definitiva dos litígios. Além de atuarem na
prevenção de novos conflitos.

24
TRIBUNAL MULTIPORTAS - Investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de conflitos no
Brasil. Organizadores: ALMEIDA, Rafael Alves de; ALMEIDA, Tânia; CRESPO, Mariana Hernandez. Rio de
Janeiro: FGV, 2012.
25
GRINOVER, Ada Pellegrinne. Os métodos consensuais de solução de conflitos no Novo Código de Processo
Civil. Disponível em: <http://estadodedireito.com.br/conflitosnonovo/>. Acesso em: 10 de novembro de
2016.
12

De resto, extrai da melhor doutrina que o termo “alternativos” vem sendo substituído por
“apropriados”, “adequados”, “amigáveis” ou “equivalente jurisdicionais”, por não considerar
a jurisdição a principal via, nem as formas consensuais apenas uma alternativa, existindo de
forma integrada, complementar à jurisdição.

3.2. Finalidade
Os meios alternativos de solução de conflitos estão inseridos no novo conceito de acesso à
justiça. Por meio deles busca-se transplantar para a prática as garantias que constam nos
regramentos jurídicos. São mecanismos de fundamental importância no enfrentamento da
grave crise que solapa o Poder Judiciário brasileiro.
Apesar de o acúmulo de processos ser cada vez mais preocupante, esta não deve ser a
principal razão para a adoção desses meios. A finalidade principal dos métodos consensuais
consiste no fato de representarem uma opção capaz de solucionar positivamente os conflitos e
prevenir o surgimento de outros.
Nessa esteira, dignas de serem citadas são as lições de Kazuo Vatanabe:

O que estamos querendo afirmar, com essas ponderações, é que os meios


consensuais de solução de conflitos não devem ser utilizados com o objetivo
primordial de se solucionar a crise de morosidade da justiça, com a redução da
quantidade de processos existentes no Judiciário, e sim como uma forma de dar às
partes uma solução mais adequada e justa aos seus conflitos de interesses,
propiciando-lhes uma forma mais ampla e correta de acesso à justiça26.

Para Lilia Maia de Morais Sales e Cilana de Morais Soares Rabelo

Esses mecanismos possíveis, entre os quais citam-se a negociação, a conciliação, a


mediação e a arbitragem, colocam-se ao lado da tradicional jurisdição como uma
opção que visa vincular o tipo de conflito ao meio de solução apropriado,
apresentando-se também como mecanismos de inclusão social, na medida em que as
partes se tornam corresponsáveis pela construção de uma resolução mais adequada
para suas contendas, e, ainda, de pacificação social, já que um dos objetivos dos
mesmos é que as partes aprendam a administrar seus conflitos por meio do
diálogo27.

4. A Missão Pacificadora dos Meios Alternativos de Solução de Conflitos


Os meios alternativos não devem ser vistos apenas como mecanismos de desobstrução do
Poder Judiciário, sua missão é antes de tudo a pacificação social.
A via judicial carrega em seu âmago o objetivo primordial de solucionar apenas o conflito
levado ao juiz, não se preocupando em atingir a lide sociológica. Os meios alternativos de
solução de conflitos surgem num caminho inverso. O principal fundamento dos métodos
consensuais é a pacificação.
Ada Pellegrini28 explica que nos procedimentos em que a decisão é imposta, como na
jurisdição e na arbitragem, a pacificação pode até existir no plano social, já que o conflito foi

26
TRIBUNAL MULTIPORTAS - Investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de conflitos no
Brasil. Organizadores: ALMEIDA, Rafael Alves de; ALMEIDA, Tânia; CRESPO, Mariana Hernandez. Rio de
Janeiro: FGV, 2012:89.
27
SALES, Lilia Maia de Morais; RABELO, Cilana de Morais Soares. Meios consensuais de solução de conflitos -
Instrumentos de democracia. Revista de Informação Legislativa, nº 182, Brasília, 2009:76. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/194916/000865481.pdf?sequence=3>. Acesso em:
10 de novembro de 2016.
28
GRINOVER, Ada Pellegrinne. Os Fundamentos da Justiça Conciliativa. Disponível em:
<http://wwwh.cnj.jus.br/portal/magis/programas/movimento-pela-
13

dirimido em face da sociedade, mas certamente não existe para as partes, pois no chamado
“perde-ganha” sempre haverá uma parte insatisfeita, ou até mesmo as duas. Essa insatisfação
é evidenciada na forma como elas resistem ao cumprimento da sentença com a utilização de
recursos e impugnações. Além disso, mesmo na pacificação social, apenas a parte do conflito
que é levada ao processo judicial é solucionada, restando à sua base o conflito sociológico, do
qual a lide é apenas a ponta do iceberg.

3.3. Espécies
Dentro da seara dos meios alternativos, encontra-se uma série de métodos consensuais
capazes de solucionar conflitos. Entre os mais utilizados atualmente estão a mediação, a
conciliação e a negociação. Em seguida faremos um breve tracejo acerca dos conceitos,
características e diferenças de cada instituto.

3.3.1. Negociação
Técnica voltada à persuasão, a negociação pode ser percebida sob dois enfoques, como
assinalam Lilia Maia de Morais Sales e Cilana de Morais Soares Rabelo (2009:77). Em
sentido amplo, abrange todos os mecanismos de solução de conflitos em que o diálogo entre
as partes se faz necessário.
Adotando um sentido mais restrito, a negociação revela-se como meio de solução que
prescinde da intervenção de um terceiro. Consiste na busca de solução a partir do diálogo
direto entre as partes, sem a interferência de um terceiro. O procedimento é estabelecido e
conduzido pelas próprias partes.

3.3.2. Conciliação
Na conciliação
“um profissional imparcial intervém para, mediante atividades de escuta e
investigação, auxiliar os contendores a celebrar um acordo, se necessário expondo
vantagens e desvantagens em suas posições e propondo saídas alternativas para a
controvérsia, sem, todavia, forçar a realização do pacto29”.

3.3.3. Mediação
Por força do artigo 1º, parágrafo 4º, da Lei 13.140/2015, a mediação é “a atividade técnica
exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as
auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”.

3.4. Principais Semelhanças e Diferenças


Os três institutos definidos acima carregam como principal marca a comunicação entre as
partes, pois a busca da solução se dá a partir do diálogo. A decisão, ao final, surge do comum
acordo, sem imposição, constituindo a mais satisfatória para ambos os envolvidos.
A diferença mais salutar que há entre os meios alternativos resume-se, primeiramente, ao fato
de que na negociação não há a presença de um terceiro, ao contrário da conciliação e da
mediação.
No que tange a estes dois últimos, é necessária a atuação de um terceiro para auxiliar as partes
a encontrarem a solução, porém, a intervenção deste terceiro difere de um mecanismo para
outro. Na conciliação, o terceiro pode expressar suas opiniões e sugerir soluções, o que é
proibido na mediação.

conciliacao/arquivos/cnj_%20portal_artigo_%20ada_mediacao_%20e_%20conciliacao_fundamentos1.pdf>.
Acesso em: 26 de outubro de 2016.
29
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 2ª ed., ver., atual. e ampl. São Paulo: Método. 2015:48.
14

Na conciliação, as questões subjetivas não são abordadas com profundidade e o objetivo final
é a realização do acordo. Já na mediação busca-se solucionar o conflito sociológico, sendo
que a feitura de um acordo será mera consequência.

3. Os Meios Alternativos em Primeira Ratio


Leciona o mestre Elpídio Donizetti, que “o normal e esperado é que o Direito seja realizado
independentemente da atuação da jurisdição 30”. E ele continua:

Infelizmente, no entanto, o caráter secundário da jurisdição tem sido deixado de


lado. O que se presencia no cotidiano forense é uma enxurrada cada vez maior de
processos, sem que qualquer medida extrajudicial na tentativa de solucionar o
impasse fosse tomada.

Como já visto em linhas alhures, a tutela jurisdicional não constitui o único meio de
eliminação dos conflitos, tão pouco o mais eficaz, já que não raras as vezes impõe uma
decisão sem, no entanto, dirimir o entrave. A jurisdição é, na verdade, a última ratio, a última
alternativa a ser adotada. É “a última trincheira na tentativa de pacificação social31”.
A jurisdição deve ser assentada em seu devido lugar, ou seja, a de última e definitiva via na
solução de litígios. Ressalvados os casos de jurisdição necessária, aqueles em que a atuação
do Estado se torna primária, obrigatória, deve-se priorizar os procedimentos não jurisdionais,
denominados de meios alternativos de solução de conflitos.
Nesse sentido bem observa Dinamarco:

“Melhor seria se não fosse necessária tutela alguma às pessoas, se todos cumprissem
as suas obrigações e ninguém causasse danos nem se aventurassem em retenções
contrárias ao delito. Como esse ideal é utópico, faz-se necessário pacificar as
pessoas de alguma forma eficiente, eliminando os conflitos que as envolvem e
fazendo justiça. O processo estatal é um caminho possível, mas outros existem que,
se bem ativados, podem ser de muita utilidade.”32

O douto magistrado Marcelo Malizia Cabral conclui que

A cultura da utilização do Poder Judiciário como instrumento de retaguarda para a


resolução de conflitos também há de ser desenvolvida, o que reclama a
desjudicialização de procedimentos, o desestímulo aos litigantes habituais no acesso
direto à jurisdição e a adoção de um sistema de resolução de conflitos que privilegie
a utilização da conciliação, da mediação e da arbitragem, com a indução ou mesmo a
imposição de sua utilização em alguns casos, medidas que não afrontam o direito de
acesso aos tribunais, concebidos, então, como ultima ratio do sistema de oferta de
justiça e de pacificação social33.

A judicialização disparatada precisa ser freada, vez que já restou provado ser esse um
aparelho que, por si só, é incapaz de atender aos anseios de uma sociedade que cada vez mais
exterioriza um ingente número de conflitos.
É preciso caminhar no sentido de mudar a “cultura da sentença”, em que se tem na via judicial
a única mão de acesso à justiça, onde as partes são pouco ouvidas e colocadas em polos
opostos, como verdadeiras inimigas.

30
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito Processual Civil. - 18 ed. rev., ampl. e atual. 2014. p. 9.
31
Ibidem. Cit. p. 32
32
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 118-
119.
33
CABRAL, Marcelo Malizia. Os Meios Alternativos de Resolução de Conflitos: Instrumentos de Ampliação do
Acesso à Justiça. Porto Alegre, 2013:96.
15

Cientes da crise enfrentada pelo Poder Judiciário, resultado do somatório morosidade


processual, alto custo, número incompatível de servidores em relação ao alto número de
litígios judicializados, dentre muitos outros, é certo que o Estado falhou em sua missão
pacificadora e outros caminhos devem ser percorridos.
A solução não estaria exclusivamente no aumento do número de magistrados, já que mesmo
imposta uma decisão ao caso posto as partes podem sair carregadas do sentimento de injustiça
e, assim, persistir o conflito e, consequentemente, o sistema de justiça continuaria em crise.
Ninguém melhor do que as próprias partes para, com o auxílio de uma terceira pessoa,
encontrar a solução mais justa. Só assim é possível a efetiva e substancial realização da
justiça, com a solução definitiva do conflito e, consequentemente, o alcance da paz social.
Os meios alternativos de solução de conflitos ressurgiram com a relevante incumbência de
propiciarem, por meio de diferentes técnicas, soluções justas, através de um caminho célere,
desburocratizado e com baixo custo.
É certo que, uma vez satisfeitos os anseios das partes, o conflito será solucionado de uma vez
por todas e, de sorte, o Poder Judiciário será descongestionado de sua exacerbada demanda.
No entanto, para que os métodos alternativos se tornem o principal meio de solução de
conflitos é preciso, antes de tudo, uma mudança de mentalidade. Desde crianças somos
levados a disputar e, depois de adultos, continuamos litigando. A conflituosidade faz parte da
nossa cultura.
Para transformar a cultura da litigância, entende Paulo Afonso Brum Vaz que

Deveríamos nos preocupar com essa questão desde o ensino fundamental de nossos
jovens, mas, ao menos, no ensino jurídico, que não educa para a pacificação social,
mas para litigar, dever-se-ia estudar, como disciplina obrigatória, as formas
consensuais de solução dos conflitos ou de autocomposição. Sobretudo, precisa o
Poder Judiciário compreender que fazer justiça não pressupõe necessariamente
predispor as partes na condição de vencido e vencedor; que é mais importante
restaurar a harmonia entre as partes do que acirrar seus conflitos e ressentimentos 34.

É preciso, antes de tudo, que a consciência do cidadão seja transformada. Que seu papel seja
redefinido como sendo ele o protagonista de suas relações interpessoais e gestor de sua vida e
seus conflitos.
Para que tal mudança seja disseminada é salutar valer-se de todos os meios de comunicação
disponíveis. A existência dos meios extrajudiciais, bem como sua importância, deve ser
disseminada em todas as esferas da sociedade.
A abertura e aceitação de outras vias depende da colaboração de todos, incluindo os agentes
públicos, toda a sociedade e a classe de advogados. Ademais, como ressaltado pelo referido
autor, é indispensável a cooperação entre os diversos atores envolvidos no sistema judicial,
incentivando a implantação de novos métodos de solução de conflitos, em especial a
conciliação, antes ou depois de ajuizada a ação.
Nesta trilha, podemos dizer que andamos bem ao ser instituída a Política Judiciária Nacional
de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. A
Resolução nº 125, em 29 de novembro de 2010, representa um marco no incentivo ao uso dos
meios alternativos, como a mediação e a conciliação. Mas é certo que ainda há um longo
caminho a ser percorrido.

4. Conclusão

34
VAZ, Paulo Afonso Brum. Criar a mentalidade de conciliar leva muito tempo. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2011-ago-31/incutir-cidadao-mentalidade-conciliar-trabalho-longo-prazo>.
Acesso em 01 de novembro de 2016.
16

Só haverá verdadeiro acesso à justiça quando forem colocados à disposição de toda a


sociedade meios descomplicados e efetivos. Porém, não basta estarem disponíveis, eles
devem abandonar o posto de alternativos e ocupar o primeiro estágio na busca por justiça,
deixando com a jurisdição apenas os casos que exijam a sua atuação e aqueles nos quais
persista a situação conflituosa.
Para tanto, é necessário tratar os meios consensuais como uma política pública. Conforme
previsto na Resolução no. 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que dispõe sobre a
Política Nacional de Tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder
Judiciário e dá outras providências, que ao elencar os seus considerando afirma que:

“[...] cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos


problemas jurídicos e dos conflitos de interesses que ocorrem em larga e crescente
escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os
serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo
mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais,
como a mediação e a conciliação”.

É indispensável a criação de uma política que propicie o correto uso dos meios consensuais e,
assim, assegure a todos o adequado acesso à justiça e à sua verdadeira realização. Uma
política pública que seja capaz de construir uma nova estrutura funcional dentro do Poder
Judiciário, com organicidade e parâmetros fixados para o exercício desses meios.
É fundamental, ainda, que essa política ultrapasse as paredes do Poder Judiciário e alcance
toda a sociedade.
Uma vez conscientizadas acerca dos benefícios de se buscar solucionar os seus conflitos de
forma consensual, é certo que as pessoas irão priorizar o caminho que melhor e mais fácil as
conduzir à justiça.
Desta feita, será levado tão somente à judicialização aquilo que for de todo imprescindível, e,
por conseguinte, o acesso à justiça se tornará real, o Poder Judiciário restará aliviado e,
finalmente, a pacificação social deixará de ser um ideal utópico

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VAZ, Paulo Afonso Brum. Criar a mentalidade de conciliar leva muito tempo. Disponível
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VEZZULLA, Juan Carlos. A mediação para uma análise da abordagem dos conflitos à luz
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publicado no livro Mediação de Conflitos, São Paulo, Atlas, 2013.

WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário Nacional para tratamento


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