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CUSTOS DE TRANSAÇÃO E POLÍTICAS DE DEFESA DA


CONCORRÊNCIA

João Luiz Pondé ∗∗


Jorge Fagundes *
Mario Possas ∗∗

1.Introdução

O objetivo deste artigo é examinar algumas implicações que a teoria dos


custos de transação traz para a implementação de políticas de defesa da
concorrência ou "antitruste", principalmente no que tange aos critérios utilizados
para a avaliação da existência ou não de efeitos anticompetitivos oriundos de
diferentes condutas e estratégias empresariais. Como será argumentado, a
consideração da funcionalidade de diferentes formas organizacionais ou
contratuais na gestão das transações entre os agentes econômicos é um importante
pré- requisito para que a ação das autoridades antitruste não acabe por coibir a
emergência de ganhos de eficiência nesta esfera.

A discussão que se segue está organizada em quatro seções, além desta


introdução. A segunda seção apresenta os principais elementos que constituem a
política de defesa da concorrência e sua implementação, com destaque para as
áreas de fusões e aquisições horizontais, integração vertical, e práticas restritivas
verticais. A terceira expõe, de modo bastante resumido, a teoria dos custos de
transação desenvolvida por Oliver Williamson a partir dos anos setenta.
Finalmente, a última seção consiste em uma breve conclusão.

2. Políticas de Defesa da Concorrência no Enfoque Tradicional

A política de defesa da concorrência, no que podemos denominar de


"enfoque tradicional", é fortemente baseada nas teorias de organização industrial
que constituem o paradigma estrutura- conduta- desempenho, tal como
desenvolvido a partir dos anos 50 no âmbito do Direito Antitruste, pela "Escola de
Harvard". No que se segue, são apresentadas as principais proposições normativas
da versão contemporânea deste enfoque, que mantém a ênfase estruturalista e se
apresenta "modernizado" por uma maior preocupação em levar em conta as
"eficiências" que podem contrabalaçar a presença de configurações de mercado
mais concentradas . 1

∗∗∗Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


* Professor das Faculdades Cândido Mendes- Ipanema e Doutorando pelo IE da UFRJ.
1 Nos últimos vinte anos, a economia e a prática antitruste passaram por uma séries de
transformações que introduziram, de forma crescente, argumentos de eficiência econômica,
sobretudo de caráter produtivo, como justificativa para atos de concentração e determinadas
Objetivos e Orientação Geral

A política de defesa da concorrência pode ser definida como congregando


aquelas ações e parâmetros regulatórios do Estado que estão voltadas para a
preservação de ambientes competitivos e para o desencorajamento de condutas
anticompetitivas derivadas do exercício de poder de mercado, tendo em vista
preservar e/ou gerar maior eficiência econômica no funcionamento dos mercados
(Farina, 1996, p. 37). Tal política apresenta duas motivações básicas:

• o reconhecimento de que atitutes cooperativas e de atenuação da rivalidade


entre firmas podem - ainda que não necessariamente o façam - ter resultados
negativos sobre a eficiência estática, e mesmo dinâmica, do sistema econômico;
e
• o reconhecimento de que as firmas podem adotar condutas que geram
benefícios privados a partir de um enfraquecimento da concorrência, tais como
a prática de preços predatórios para a eliminação de competidores ou o uso de
contratos de exclusividade na distribuição de produtos para evitar a entrada de
competidores potenciais.

A partir dessas motivações, a política de defesa da concorrência busca atuar


sobre as condições de operação dos mercados tanto através de uma influência
direta sobre as condutas dos agentes, como também por meio de ações que afetam
os parâmetros estruturais que as condicionam (Possas et alii, 1995). No primeiro
caso, a implementação da política consiste basicamente em desestimular e coibir
comportamentos ou práticas anticompetitivos - tenham estes uma natureza
vertical ou horizontal - por parte de empresas que detêm poder de mercado, ou
seja, que são capazes, por intermédio de suas ações, de gerar situações em que a
concorrência é inibida e os consumidores finais, direta ou indiretamente,
prejudicados. Trata- se, portanto, de evitar, através da ameaça de punição, as
condutas empresariais que visem restringir a ação dos concorrentes, limitar o
alcance da competição por intermédio de algum tipo de colusão e/ou impor aos
compradores (vendedores) condições desfavoráveis na aquisição de produtos.
Normalmente, tais condutas são classificadas em dois tipos:

• as práticas restritivas horizontais abrangem aquelas que reduzem a intensidade


da concorrência afetando as interações entre as empresas ofertantes de um
mesmo mercado, como, por exemplo, a combinação de preços, a cooperação
entre concorrentes e a construção de barreiras à entrada;
• as práticas restritivas verticais se referem àquelas que limitam o escopo das
ações de dois agentes que se relacionam como compradores e vendedores ao
longo das cadeias produtivas ou nos mercados finais, incluindo condutas como

condutas empresariais. Como resultado, os órgãos de defesa da concorrência em diversos países


tendem a avaliar não somente os efeitos anticompetitivos, como na antiga tradição, mas também os
potenciais impactos em termos de ganhos de eficiência econômica quando do julgamento de
condutas horizontais e verticais, fusões, aquisições e joint- ventures entre empresas.
a discriminação de preços e a imposição de listas de preços por parte dos
fabricantes sobre distribuidores.

A intervenção de caráter estrutural, que também pode ser horizontal ou


vertical, procura impedir o surgimento de estruturas de mercado que aumentem a
probabilidade de abuso de poder econômico por parte das empresas que o
integram. O controle dos assim chamados atos de concentração verticais está
focado sobre as fusões, aquisições ou joint- ventures entre empresas que se
relacionam - ou podem se relacionar - ao longo de uma determinada cadeia
produtiva como vendedores e compradores. Já nos atos de concentração
horizontais, a preocupação das autoridades antitruste está direcionada para
aquelas situações que envolvem empresas concorrentes em um mesmo mercado,
determinando uma eliminação - total ou parcial - da rivalidade entre os agentes
envolvidos.

Assim, os controles estruturais buscam limitar a ocorrência e a extensão de


fusões, aquisições ou joint ventures que visem exclusivamente a dominação de
mercados e/ou que impliquem a redução do grau de competição nos mercados
onde se realizam, sem a devida contrapartida em termos de geração de eficiências
produtivas. Evidentemente, não se supõe que todos os atos de concentração são
motivados pelo desejo de monopolizar mercados e geram efeitos anticompetitivos.
A busca de eficiência, em termos, por exemplo, de maior aproveitamento de
economias de escala ou redução de ineficiências gerenciais, também constitui
importante fator explicativo da ocorrência de fusões, aquisições e diferentes formas
de parcerias entre empresas.

A forma específica pela qual as políticas de defesa da concorrência enfrentam


essas questões varia de país para país, embora várias semelhanças possam ser
observadas, sobretudo no que diz respeito ao objetivo básico da legislação
antitruste de exercer algum tipo de controle sobre atos de concentração e sobre as
condutas das empresas que detêm poder de mercado . Ademais pode- se 2

identificar, para cada área de aplicação das políticas de defesa da concorrência,


certas linhas mestras no que diz respeito à concepção econômica que as guia.

Fusões e Aquisições Horizontais

A análise antitruste de atos de concentração de natureza horizontal é


realizada através dos seguintes passos básicos: (i) estimativas das participações das
empresas no mercado relevante; (ii) avaliação do nível das barreiras à entrada; e
(iii) exame das eficiências econômicas geradas pela operação. Em geral, operações
que implicam aumento considerável do grau de concentração em mercados
caracterizados por elevado nível de barreiras à entrada e baixo dinamismo
tecnológico, além de não apresentarem evidências da geração de ganhos de
eficiência produtiva significativos, tendem a não ser autorizadas pelas autoridades
antitruste.

No que se refere à mensuração do aumento do grau de concentração, vale

2 Para um exame comparado das legislações antitruste em diversos países, ver Brault, 1995.
destacar que a delimitação das dimensões do mercado é feita através um
instrumento conceitual especifico à análise econômica no âmbito da defesa da
concorrência, incorporando simultaneamente os aspectos da elasticidade da oferta
e da demanda. Assim, o "mercado relevante" de uma operação é definido como
aquele no qual, em uma situação hipotética, um eventual monopolista poderia
exercer seu poder de mercado, elevando preços e auferindo lucros extraordinários
(Possas, 1996). Delimitar as fronteiras de tal mercado envolve dois procedimentos : 3

• identificar as empresas que, seja por fabricarem produtos que são substitutos
próximos no consumo, seja por possuírem instalações produtivas que podem
rapidamente e sem custos significativos ser redirecionadas para a fabricação
dos produtos envolvidos na operação, impedem que um eventual monopolista
na oferta destes últimos possa exercer poder de mercado. No jargão da área, tal
procedimento define a “dimensão” produto do mercado relevante;

• delimitar a área geográfica dentro da qual os consumidores - sem custos


significativos e em um intervalo de tempo razoável - podem, em resposta a um
aumento no preço relativo do produto relevante, substituir nas suas aquisições
os vendedores localizados em um dado território por outros situados em regiões
distintas. A “dimensão geográfica” do mercado relevante pode ser, portanto,
municipal, regional, nacional ou internacional.

Seguindo as proposições da organização industrial estruturalista, a


presunção de que uma operação gera acúmulo de poder de mercado e efeitos
anticompetitivos decorre da avaliação de que o grau de concentração do mercado
relevante é alto e será elevado ainda mais pela operação em análise, em um
contexto no qual a intensidade da concorrência potencial é baixa - ainda que
outros elementos também possam ser levados em conta. No que se refere ao grau
de concentração, este é usualmente aferido por indicadores tais como a
participação de mercado das quatro maiores firmas (CR4) ou o índice Herfindahl-
Hirschman (HHI), calculado por meio da soma dos quadrados dos market shares
individuais das firmas participantes no mercado relevante . Quanto à concorrência
4

potencial, a análise das condições de entrada é usualmente é realizada levando- se


em conta as quatro fontes de barreiras à instalação de novos concorrentes
propostas por Bain (1956), englobando a diferenciação de produtos, as vantagens
absolutas de custo, as economias de escala, e os requerimentos de investimentos

3 Para uma exposição detalhada dos procedimentos, Cf. os Horizontal Merger Guidelines publicados
pelas autoridades antitruste norte- americanas.
4 Embora mercados com elevada concentração e altas barreiras à entrada não impliquem,
necessariamente, poder de mercado por parte das empresas que possuem elevados market shares.
Por exemplo, em indústrias que apresentam elevado dinamismo tecnológico, uma alta participação
de mercado pode refletir mais o sucesso inovativo passado do que a capacidade atual da empresa de
cobrar preços não competitivos. Além do mais, fatores ambientais, ligados ao comportamento dos
rivais, também podem gerar pressões competitivas independentes do grau de concentração de
mercado.
iniciais elevados.

Por último, procura- se avaliar em que medida as eficiências econômicas -


cujas raízes, em geral, têm origem nas visões tradicionais das características da
tecnologia, tais como economias de escala e escopo - eventualmente geradas
podem contrabalançar os efeitos anticompetitivos, derivados do aumento de poder
de mercado, por sua vez pressuposto a partir do incremento do grau de
concentração e manifesto num suposto futuro aumento de preços que reduz o
excedente do consumidor, como ilustra o gráficoa seguir.

Supondo um caso extremo de uma fusão que gere um monopólio, mas que
também implique (dada a presença, por exemplo, de fortes economias de escala)
redução nos custos marginais - supostos constantes - para c1 < c 0, o preço cobrado
seria p(c 1), onde p(c 1) > c 0 por hipótese. Nesse caso, os consumidores serão
prejudicados com a perda de excedente na magnitude dada pela área (A + B),
enquanto que o consórcio obterá lucros medidos pela área (A + C). O resultado
líquido sobre nível de bem estar social será, portanto, dado pela magnitude (C - B),
onde a área C representa a redução de custos derivada da fusão e B representa a
perda de “peso- morto” associada ao preço de monopólio . 5

Gráfico I
Poder de Mercado e Eficiências

Preço

P (c 1) Demanda

A B
c0 C D
c1

qm q0 q1 Produção

5 Williamson (1968) demonstra que pequenas reduções de custo unitário (c0 - c1) são suficientes
para que o resultado líquido seja positivo, de modo que a fusão produz maior eficiência econômica e
ganhos de bem estar para a sociedade. De acordo com o autor, uma modesta redução nos custos -
por exemplo, de 2% - é suficiente para contrabalançar aumentos relativamente grandes de preços
(por exemplo, de 10%), mesmo que a elasticidade- preço da demanda seja bastante elevada, como,
por exemplo, 2. No entanto, esses resultados são bastante sensíveis à prévia existência de poder de
mercado. Cf. também Williamson (1988).
Integração Vertical

A política de defesa da concorrência atua sobre movimentos de integração


vertical que envolvem aquisições e fusões entre empresas pertencentes a uma
mesma cadeia produtiva. Tradicionalmente, duas foram as preocupações das
autoridades antitruste face aos movimentos de integração vertical : (i) o aumento6

das barreiras à entrada; e (ii) o surgimento de “foreclosure ”, isto é, situações nas


quais uma empresa impede que outras tenham acesso ao seu mercado . Em ambos 7

os casos, a emergência de possíveis efeitos anticompetitivos depende da existência


de poder de mercado em pelo menos um dos mercados envolvidos na integração
vertical - devendo- se notar que presença de poder de mercado é condição
necessária, mas não suficiente, para que tais efeitos anticompetitvos resultem de
um ato de concentração vertical.

No primeiro caso, trata- se da possibilidade de que, ao limitar a capacidade


de seus compradores/vendedores de adquirir outros produtos ou serviços que não
os seus, um fabricante ou prestador de serviços crie sérios obstáculos para a
entrada de seus concorrentes no mercado, “bloqueando” os canais de distribuição
disponíveis . Se esta possibilidade se concretizasse, o novo entrante seria obrigado a
8

ser verticalmente integrado, produzindo e revendendo seus próprios produtos e


serviços, fato que poderia gerar um aumento signficativo de seus custos.

Um exemplo hipotético que torna clara a problemática envolvida seria um


mercado oligopolizado, formado por quatro empresas de mesmo porte econômico
e com os mesmos market- shares, sendo que duas delas realizam integração vertical
para a frente. Nesta situação, um novo entrante potencial enfrentaria maiores
barreiras à entrada vis à vis aquelas vigentes antes da integração vertical. São várias
as explicações para este fenômeno, tais como problemas com economias de escala
ou de requerimentos de capital . 9

6 Cf., por exemplo, Hovenkamp (1994, pp. 337-339) e Viscusi, Vernon e Harrington (1992, p. 224).
7 Existem outros argumentos ligados aos efeitos anticompetitivos das integrações verticais, tais
como o seu uso como mecanismos de viabilização da prática de discriminação de preços e do
aumento da facilidade para controlar cartéis. Em particular, os movimentos de integração vertical
também foram interpretados como forma de estender o poder de mercado já detido por uma
empresa no seu mercado de origem para um outro mercado (Leverage Theory). Essa teoria, do ponto
de vista econômico, tem sido muito criticada, posto que a geração de ineficiências sociais líquidas
somente ocorreria sob um conjunto muito restrito de hipóteses. Cf. Hovenkamp (1994, pp. 338-341)
e Scherer e Ross (1990, p. 527).
8 C. Sullivan e Harrison (1988, pp. 179).
9 Após a integração, o tamanho do mercado disponível poderia ficar reduzido para novos entrantes,
posto que parte dos distribuidores não podem adquirir seus produtos ou serviços. Neste contexto, a
emergência de problemas com economias de escala é mais provável: o tamanho do mercado ainda
“livre” pode não ser suficientemente grande para permitir a construção de uma planta mínima
No segundo caso, a restrição vertical provoca o fechamento de um mercado
para um conjunto de empresas. Na verdade, o argumento de “foreclosure” é
bastante semelhante ao anterior, aplicando- se, no entanto, às empresas já
instaladas. Por exemplo, imaginemos um mercado formado por um único
fabricante de máquinas de escrever e por três empresas distribuidoras destas
máquinas. Uma integração vertical para a frente por parte do fabricante
monopolista “fecharia” o mercado de revenda de máquinas para as duas outras
empresas concorrentes.

Recentemente, um novo argumento econômico em relação aos efeitos


anticompetitivos derivados da integração vertical foi desenvolvido, partindo da
possibilidade de que esta gere um aumento dos custos de rivais da empresa que a
realiza (Ordover, Saloner e Salop, 1990). A idéia básica é que a integração vertical
para trás pode gerar alterações no comportamento das firmas remanescentes no
mercado de insumos, de modo que o preço desses sofra um aumento após a
operação, prejudicando os concorrentes da firma integrada no mercado
comprador dos insumos. O gráfico a seguir ilustra o argumento.

Se a firma A adquire um fornecedor de insumos, tornando- se autosuficiente


em relação ao mesmo, esta pode passar a praticar o preço de transferência po, igual
ao custo marginal do fornecedor. Supondo que o mercado de insumos
permanecesse competitivo após a integração vertical, as novas curvas de demanda
e oferta D’e S’, continuariam a se interceptar ao preço po , de modo que os rivais da
firma A não incorrem em nenhuma desvantagem. Se a estrutura do mercado de
insumos se altera pela integração vertical, de modo que as empresas
remanescentes passam a se comportar monopolisticamente, o novo preço do
insumo para os rivais será p*, gerado a partir da quantidade Q*, onde a receita
marginal (RM’) iguala o custo marginal S’.

eficiente. Já os requerimentos em termos de capital aumentam na medida em que, para vencer os


obstáculos criados pela integração, o novo concorrente deverá entrar simultaneamente nos dois
mercados: produção e distribuição de produtos ou serviços.
Gráfico II
Aumento dos Custos dos Rivais Devido a Integração Vertical

Preço S’ S
p*
po

D’ D
RM’

Q* Q1 Qo Quantidade

Fonte: Viscusi, Vernon e Harrington (1992, p. 228).

Fusões e Aquisições Conglomeradas

As fusões ou aquisições conglemeradas - isto é, realizadas entre empresas


situadas em mercados relevantes distintos - são vistas como potencialmente
anticompetitivas a luz das teorias da concorrência potencial, em suas duas
vertentes, a teoria do “entrante potencial percebido” (perceived potential entrant ) e
a do “entrante potencial efetivo” (actual potential entrant ) . Na primeira delas, os
10

possíveis efeitos anticompetitivos de uma operação de aquisição, fusão ou


associação entre uma empresa já instalada no mercado e um entrante potencial
resultam de uma redução da ameaça de entrada que estaria impedindo uma
elevação de preços e margens. Já na segunda, supõe- se que um processo de
entrada já estaria em vias de ser desencadeado pelo competidor potencial
participante da operação, de modo que esta evita que uma estrutura de mercado
mais desconcentrada - e supostamente mais competitiva - se configure no futuro
próximo . 11

A aplicação da primeira destas teorias pressupõe a existência de certas


condições estruturais no mercado relevante, a saber: (i) o grau de concentração das
vendas deve ser bastante elevado, posto que se o mercado já se comporta de forma

10 Na verdade, o uso do termo “teoria” neste contexto é impreciso, embora já faça parte do jargão na
área, pois o que se tem são duas hipóteses acerca de como a concorrência potencial afeta o
desempenho do mercado, como veremos a seguir.
11 Para uma exposição das destas teorias, Cf. Ross (1993) p. 360-61, e Kaplan (1980).
competitiva, a presença do competidor potencial será inócua; (ii) a empresa
adquirente deve ser a única ou uma das poucas em condições de realizar a entrada,
de modo que seu desaparecimento enquanto competidor potencial seja suficiente
para afetar os preços dos produtos do mercado; e (iii) a aquisição não resulta em
incremento da competição no mercado relevante. Tal incremento ocorre, em geral,
quando a empresa adquirida não detém posição dominante.

A segunda teoria depende menos de fatores subjetivos referentes às


expectativas das empresas estabelecidas, pois está baseada no argumento de que a
competição no mercado relevante teria efetivamente sido incrementada caso a
empresa entrante tivesse realizado investimentos na instalação de nova
capacidade, ao invés de optar pela compra de uma empresa já existente. Contudo,
sua aplicação requer que as autoridades antitruste realizem um exercício contra-
factual cuja confiabilidade nem sempre é satisfatória, de modo que o maior
problema na utilização dessa teoria está relacionado com a prova de que a
concorrente potencial iria, de fato, efetivar sua entrada no mercado relevante; ou
seja, no fornecimento da evidência de que a entrada, via adição de capacidade,
ocorreria .
12

Na verdade, ambas as teorias são freqüentemente criticadas por serem


exessivamente especulativas e exigirem das autoridades antitruste uma capacidade
inexistente de analisar e prever decisões privadas e suas conseqüências. Além
disso, as condições estruturais necessárias para que ocorram os efeitos
anticompetitivos se verificam com pouca freqüência. Isso tem levado vários autores
a adotarem uma posição cética quanto à capacidade de as teorias dos entrantes
potenciais percebido ou efetivo constituírem um instrumento confiável para, na
grande maioria dos casos, sugerir a proibição ou imposição de restrições a uma
operação de conglomerate merger . 13

As fusões e aquisições conglomeradas também podem ser vistas como uma


forma de aumentar o poder de mercado de uma das empresas no(s) seu(s) mercado
(s) original(is) de atuação - um argumento desenvolvido pela assim denominada
entrenchment theory. Em geral, tal efeito está ligado às seguintes possíveis condutas
pós- aquisição, todas relacionadas ao aumento de poder de mercado da firma
adquirente: (i) as possibilidades de acordos de exclusividade na compra ou venda
de mercadorias aumentam, na medida em que o leque de produtos fabricados pela
firma adquirente é maior. Tais possibilidades são claras quando existe monopólio
em um dos mercados onde a empresa atua; (ii) vendas casadas ficam facilitadas,
quando a fusão ou aquisição ocorre entre empresas que fabricam produtos dentro
da mesma cadeia produtiva; e (iii) a prática de preço predatório e estratégias de

12 Para uma apresentação sintética das condições que aumentam a probabilidade da validade dos
argumentos associados a teoria da concorrência potencial, ver Hovenkamp (1993), p. 250; Sullivan e
Harrison, 1988, pp. 191-96; ou os 1984 Non- Horizontal Merger Guidelines do Departamento de
Justiça dos EUA.
13 Cf., por exemplo, Horowitz (1981), Kaplan (1980), Sullivan e Harrison (1988, pp. 191-96) e
Hovenkamp (1994, p. 502).
bloqueio à entrada de novas firmas também tornam- se mais factíveis - por
exemplo, o poder financeiro associado à empresa pós- aquisição, relativo ao
domínio de um mercado monopolizado, pode capacitá- la ao exercício de uma
política de preços predatórios em mercados mais competitivos.

Praticas Restritivas Verticais

As práticas restritivas verticais abrangem uma ampla variedade de condutas


e relações contratuais entre compradores e vendedores ao longo de uma
determinada cadeia produtiva, em sua maior parte consistindo em limitações
impostas pelos fabricantes de produtos ou serviços sobre as ações de agentes
econômicos nas etapas anteriores ou posteriores à sua na cadeia de produção
(Sullivan e Harrison, 1988, p. 147). Nestes casos, as empresas vendedoras
(compradoras) tentam impor às firmas compradoras (vendedoras) de seus
produtos ou serviços determinadas restrições sobre o funcionamento normal de
seus negócios. São exemplos de restrições verticais a fixação de preços de revenda
(Resale Price Maintenance), as vendas casadas e diversos tipos de acordos de
exclusividade.

O limitado escopo desse artigo não permite a análise das implicações


econômicas de cada um dos diversos tipos de restrições verticais. No entanto, de
forma geral, as principais, ainda que não exclusivas, preocupações dos orgãos de
defesa da concorrência nos casos de restrições verticais encontram- se nos seus
potenciais efeitos anticompetitivos de caráter horizontal, sobretudo no que diz
respeito a: (i) criação de barreiras à entrada nos mercados de comercialização do
produto; e (ii) coordenação das ações dos distribuidores no sentido de diminuir a
rivalidade e competição entre estes.

Nos casos que implicam o aumento das barreiras à entrada ou a emergência


de “foreclosure”, as condutas verticais de uma empresa fornecedora de produtos ou
serviços (ou compradora de insumos) podem tornar- se, portanto,
anticompetitivas, sendo reprimidas, em geral, pela legislação antitruste de diversos
países. Os contratos associados a tais condutas são, na verdade, um mecanismo
alternativo à opção de integração vertical por parte da empresa vendedora,
constituindo, segundo Viscusi, Vernon e Harrington (1992, pp. 239) uma espécie de
integração “contratual”.

No entanto, para que as práticas restritivas verticais tenham efeitos


anticompetivos, duas condições básicas devem estar presentes (Hovenkamp,
1985): (i) a empresa fornecedora de produtos ou serviços geradora das restrições
verticais deve possuir poder de mercado, ou seja, elevada participação no mercado
relevante; e (ii) a conduta vertical deve eliminar parcela substancial dos canais de
distribuição dos produtos e serviços dos concorrentes potenciais no mercado
relevante. Isto é, parcela substancial do mercado relevante deve ser afetada pela
restrição vertical sob julgamento, de modo a elevar as barreiras à entrada para
potenciais concorrentes.

3. A Teoria dos Custos de Transação


Uma importante contribuição da ciência econômica para a implementação
da regulação antitruste deriva da teoria dos custos de transação, especialmente do
seu desenvolvimento nos trabalhos de Oliver Williamson . A operacionalização da
14

noção de custos de transação, originalmente proposta por Coase (1937), permite


analisar em que circunstâncias os movimentos de integração vertical, bem como a
realização de contratos que restringem substancialmente a conduta das partes
e/ou estabelecem vínculos de reciprocidade, têm como objetivo e resultado a
geração de ganhos de eficiência, e não algum tipo de limitação da concorrência.

Oportunismo e Custos de Transação

Uma "transação" é definida por Williamson (1985, p. 1) como o evento que


ocorre quando [no contexto das interações entre agentes econômicos] “um bem ou
serviço é transferido através de uma interface tecnologicamente separável", sendo
passível de estudo enquanto uma relação contratual, na medida em que envolve
compromissos entre seus participantes. Os custos de transação nada mais são que
o dispêndio de recursos econômicos para planejar, adaptar e monitorar as
interações entre os agentes, garantindo que o cumprimento dos termos contratuais
se faça de maneira satisfatória para as partes envolvidas e compatível com a sua
funcionalidade econômica.

Dado que os agentes econômicos enfrentam limitações em sua capacidade


de coletar e processar informações, sendo incapazes de antecipadamente prever e
estabelecer medidas corretivas para qualquer evento que possa ocorrer quando da
futura realização da transação, as partes envolvidas devem levar em conta as
dificuldades derivadas da compatibilização das suas condutas futuras e de garantir
que os compromisos sejam honrados dentro da continuidade da sua interação. Ou
seja, a adoção da hipótese comportamental de racionalidade limitada (bounded
rationality ), na linha proposta por Simon (1959), faz com que seja impossível um
pré- estabelecimento de um leque completo de ações contingentes no âmbito de
qualquer relação contratual, de modo que seu ajuste a eventos futuros deverá ser
realizada por mecanismos ex post de adaptação seqüencial.

Por outro lado, as possibilidades de surgimento de conflitos nesta adaptação


das relações contratuais a eventos imprevistos são magnificadas pela potencial
emergência de condutas oportunistas, caracterizadas como ações que resultam em
um "desvendamento incompleto ou distorcido de informações, especialmente
[quando associado] a esforços calculados para enganar, deturpar, disfarçar,
ofuscar, ou de alguma outra forma confundir" (Williamson, 1985, p. 47), o que
abrange todo comportamento estratégico que envolve a manipulação ou
ocultamento de informações e/ou intenções frente à outra parte da transação . O 15

oportunismo associa- se, por conseguinte, à incerteza vinculada ao comportamento

14 Sintetizados no livro do autor The Economic Institutions of Capitalism, New York, The Free Press,
1985. Para uma discussão crítica das várias contribuições de Williamson, na qual esta seção foi
baseada, Cf. Pondé (1993, 1994).
15 O comportamento oportunista também é tratado pela literatura que analisa situações de
de agentes individuais , sem a qual os custos de transação tenderiam a ser muito
16

reduzidos, e sua presença se manifesta na ameaça de que algum agente seja capaz
de, através de uma manipulação ou ocultamento de intenções e/ou informações,
auferir lucros que alteram a configuração inicial do contrato em termos da
distribuição de ganhos . 17

Segundo Williamson (1994, p. 369), as principais implicações das hipóteses


comportamentais acima apresentadas são: (i) contratos complexos mostram- se
necessariamente incompletos; (ii) a confiança entre as partes envolvidas não pode
ser estabelecida simplesmente a partir da existência de um contrato: todo contrato
implica riscos; e (iii) é possível criar- se valor adicionado com a elaboração de
outras formas organizacionais que objetivem economizar a racionalidade limitada
e salvaguardar as transações contra o exercício de oportunismo por parte dos
agentes envolvidos. Isso significa que nem sempre as relações de mercado serão
adequadas para a gestão das transações entre os agentes econômicos.

O modo como as dificuldades geradas pelo oportunismo são solucionadas


pode ser expresso em variáveis que afetam diretamente o desempenho das
unidades econômicas participantes: os custos ex ante de negociar e fixar as
contrapartidas e salvaguardas do contrato, e, principalmente, os custos ex post de
monitoramento, renegociação e adaptação dos termos contratuais às novas
circunstâncias.

informação assimétrica, nas quais um agente detém um conhecimento a respeito de informações


não disponíveis para os outros agentes participantes das transações, o que gera a possibilidade de
que não existam incentivos suficientes para que a parte detentora da informação privilegiada se
comporte de modo eficiente. Essa ausência de incentivos dá origem ao chamado problema de risco
moral (moral hazard ), oriundo do fato de um participante do mercado não poder observar as ações
do outro, de modo que esse último pode tentar maximizar sua utilidade valendo- se de falhas ou
omissões contratuais (Kotowitz, 1987). Conseqüentemente, uma das partes da transação pode
adotar atitudes que afetam a avaliação do valor do negócio por parte dos outros agentes envolvidos,
sem que esses possam monitorar e/ou impor a execução perfeita de tais ações (Kreps, 1990, p. 577),
dada a presença de contratos incompletos.
16 Mais precisamente, trata- se da incerteza que pode ser percebida como resultante das ações
destes agentes, e distinta, portanto, daquela que decorre da evolução de todo o sistema.
17 Assim, Williamson conclui que a necessidade de implementar esforços para evitar ou atenuar o
oportunismo e seus efeitos constitui o fato gerador dos custos de transação, visto que, se as condutas
dos agentes pudessem ser consideradas completamente confiáveis, a mera promessa de manter a
relação contratual com a distribuição inicial de ganhos seria suficiente para gerar uma solução de
adaptação da transação a qualquer evento imprevisto. Obviamente, também a existência de limites
na capacidade de coletar e processar informações deve estar presente, pois, sem esta, os contratos
poderiam antecipar qualquer conflito e estabelecer sem ambigüidades os procedimentos para sua
resolução.
Os custos de transação ex ante estão presentes, com maior intensidade, em
situações em que é difícil estabelecer as pré- condições para que a transação em
foco seja efetuada de acordo com parâmetros planejados e esperados. A questão
aqui é definir o objeto da transação em si, o que acaba exigindo longas - e
dispendiosas - barganhas para garantir a qualidade e as características desejadas ao
bem ou serviço transacionado, ou ainda para evitar problemas quanto a
pagamentos monetários. A existência de órgãos governamentais que fixam padrões
de medida, avaliação e qualidade de produtos corresponde à geração, para os
agentes privados, de externalidades quanto a tais custos . 18

Para a análise de contratos e movimentos de integração vertical, são


especialmente relevantes os custos de transação ex post, que se referem à
adaptação das transações a novas circunstâncias. Segundo Williamson (1985, p.
21), tais custos assumem, nos casos concretos, quatro possíveis formas:

• custos de mal- adaptação, quando a transação não se processa da maneira


planejada, como no caso do fornecimento de insumos e componentes que
fogem aos padrões de qualidade ou aos prazos de entrega requeridos,
determinando paralisações ou alterações no ritmo de produção, fabricação de
produtos defeituosos, necessidade de manutenção de estoques elevados.
Também se incluem aqui casos nos quais franqueados não atuam da maneira
prevista pela franqueador, permitindo uma deterioração do produto vendido
aos consumidores finais;
• custos vinculados a esforços de negociar e corrigir o desempenho das
transações, que aparecem como um aumento dos custos indiretos ou um
redirecionamento de horas de trabalho de pessoal com funções produtivas para
a realização de barganhas demoradas;
• custos de montar e manter estruturas de gestão que gerenciam as transações,
referentes aos recursos humanos e materiais que uma empresa direciona para
controlá- las e administrá- las;
• custos requeridos para efetuar comprometimentos, criando garantias de que
não existem intenções oportunistas, como o pagamento de taxas nos casos de
franchising ou outros investimentos associados à implementação de códigos de
confiança.

Ativos Específicos e as Estruturas de Gestão

O ponto central do argumento de Williamson é, por conseguinte, que a


realização de transações de compra e venda nos mercados pode incorrer em custos
não desprezíveis de coordenação da interação entre compradores e vendedores.

18 Um outro problema associado à presença de assimetria de informações é o de oportunismo pré-


contratual. Tal problema surge como função do fato de alguns agentes econômicos deterem
informação privada antes de se decidirem pela realização de um contrato com um outro agente,
sendo que tal informação é do interesse desse agente. Trata- se de um problema de seleção adversa -
Cf. Milgrom e Roberts (1992); Wilson (1987) e Akerlof (1970).
Isto certamente não ocorre quando as relações entre estes agentes são
descontínuas no tempo e impessoais, no sentido de que é indiferente para cada
comprador de que vendedor ele adquire a mercadoria, e vice- versa - ou seja, é
possível mudar de fornecedor ou cliente sem qualquer custo. A transação se refere,
então, unicamente à transferência da propriedade de um bem ou serviço em troca
de uma determinada quantia de moeda, acompanhada de uma negociação prévia
do preço e das condições de pagamento. Nestes casos, a satisfação de cada parte da
transação no atendimento de suas aspirações e necessidades é garantida pela
oportunidade sempre presente de buscar uma alternativa mais adequada no
mercado.

Contudo, tal situação, como argumenta Williamson, nem sempre ocorre. Em


muitos casos, transações mercantis entre as mesmas partes se repetem e estão
assentadas em ativos específicos , ou seja, "ativos especializados [que] não podem
ser reempregados sem sacrifício do seu valor produtivo se contratos tiverem que
ser interrompidos ou encerrados prematuramente" (Williamson, 1985, p. 54). Tal se
dá, por exemplo, na eventualidade de uma empresa adquirir de outra um insumo
com características de qualidade diferenciadas do que é usualmente disponível,
cuja fabricação exige gastos para adequar os equipamentos de uso geral para esta
finalidade.

A presença de ativos específicos faz com que a identidade dos participantes


da transação, assim como a continuidade dos vínculos estabelecidos entre estes,
ganhe uma dimensão econômica fundamental - as interações entre os agentes
deixam de ser impessoais e instantâneas, o que acarreta custos para geri- las e
conservá- las. Quatro fatores podem determinar o surgimento de ativos específicos:

• a aquisição de equipamentos dedicados para ofertar ou consumir os bens ou


serviços transacionados, ou seja, unidades de capital fixo que são especializadas
e atendem a requerimentos particulares da outra parte envolvida na relação;
• a expansão de capacidade produtiva direcionada e dimensionada unicamente
para atender à demanda de um conjunto de transações, implicando uma
inevitável ociosidade no caso de interrupção da relação;
• exigência de proximidade geográfica entre as partes que transacionam,
combinada com custos de transferir unidades produtivas caso haja troca de
demandante ou ofertante;
• diferentes formas de aprendizado, que fazem com que demandantes e
ofertantes de determinados produtos acabem se servindo mutuamente com
maior eficiência do que poderiam fazer com novos parceiros.

Quando alguma destas condições se verifica, a interrupção das transações,


com o conseqüente sacrifício do ativo específico envolvido, gera perdas para
ambas as partes pois a presença de ativos específicos imputa um valor econômico à
integridade e continuidade de relações de compra e venda entre os mesmos
agentes, o que, por sua vez, não se faz sem custos. Possíveis divergências entre as
partes em momentos de renegociação das condições da transação, seja por
oportunismo ou mera discordância quanto a impactos de eventos imprevistos,
acarretam custos de coleta e interpretação de informações, elaboração de contratos
e esforços de barganha. Daí que as empresas busquem formas de minimizar tais
custos de transação, procurando criar mecanismos contratuais que desestimulem
conflitos e, caso estes surjam, os resolvam rapidamente. Uma outra alternativa é
evitar a dependência de fontes externas de fornecimento no insumo ou serviço em
questão, realizando movimentos de integração vertical.

Assim, de acordo com a interpretação da teoria dos custos de transação, a


presença da especificidade de ativos faz com que a coordenação da interação entre
os agentes por relações mercantis puramente competitivas apresente ineficiências.
Portanto, o estabelecimento de vínculos de reciprocidade, restrições contratuais à
condutas das partes e as iniciativas de integração ou quase- integração ao longo das
cadeias produtivas são, muitas vezes, inovações organizacionais que buscam gerar
ganhos de eficiência, e não práticas restritivas visando criar barreiras à entrada e
poder de mercado.

O desenvolvimento de certas instituições especificamente direcionadas para


a coordenação das transações resulta, então, dos esforços voltados para a
diminuição dos custos a estas associados, buscando criar "estruturas de gestão"
(governance structures) apropriadas, que constituem uma estrutura contratual
explícita ou implícita dentro da qual a transação se localiza - incluindo relações de
compra e venda simples, organizações internas às firmas ("hierarquias") e formas
mistas, as quais combinam elementos de interações tipicamente mercantis
(barganha, metas não- cooperativas) com procedimentos de ajuste de tipo
administrativo. Estas estruturas de gestão corresponde m a formas institucionais
particulares, que diferem em termos dos mecanismos de incentivo e controle de
comportamentos, possuindo capacidades distintas em termos de flexibilidade e
adaptabilidade . 19

Apenas onde a especificidade dos ativos é desprezível a estrutura de gestão


mais eficiente em termos transacionais seria o mercado puro "impessoal", onde o
conteúdo dos contratos limita- se, na maioria das vezes, a diferimentos na entrega
ou no pagamento. Ou seja, a admissão de que os ativos específicos são um
fenômeno relativamente generalizado leva, então, à conclusão de que os mercados
caracterizados por condutas puramente competitivas e individualistas podem
mostrar- se extremamente mal equipados para a coordenação das interações entre

19 Assim, uma das principais hipóteses da teoria dos custos de transação é que a busca de ganhos de
eficiência, impulsionada pelo processo competitivo, leva a que as diferentes estruturas de gestão,
que diferem em seus custos e capacidade de implementar adaptações sequenciais nas interações
entre os agentes, sejam "alinhadas" a conjuntos de transações com características também
diferenciadas. As relações mercantis "puras", as hierarquias e os vários tipos de contratos são
distintos no que se refere à presença de mecanismos de incentivo e controle específicos e às
propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, revelando- se, conseqüentemente, mais ou menos
apropriadas para a gestão de uma determinada transação em função das suas características, o que
envolve não apenas a presença de especificidade dos ativos, mas também a freqüência em que esta
se realiza e a incerteza quanto a eventos futuros que possam afetar seus resultados.
os agentes econômicos. Em um contexto de relações bilaterais não passíveis de
serem desfeitas sem prejuízo, a busca unicamente do benefício próprio,
combinada com o oportunismo, traz a possibilidade da emergência de situações de
barganha e conflito de solução indeterminada e custosa. Quando a interrupção das
transações e a substituição de um parceiro por outro não podem ser utilizadas para
ajustar comportamentos divergentes, os incentivos típicos dos mercados - como
adotar uma linha de ação voltada para o incremento do fluxo de renda recebido -
deixam de constituir um mecanismo eficaz de adaptação dos contratos a novas
situações.

Assim, a realização de transações recorrentes que envolvam, em grau


significativo, ativos específicos estimulará o desenvolvimento de instituições que
garantam sua continuidade e a efetivação dos eventuais ajustes necessários. O
estudo das formas como isto se dá abrange três aspectos interrelacionados: (i) os
determinantes da substituição do mercado por formas hierárquicas de gestão das
transações; (ii) a evolução da organização interna das empresas; e (iii) a geração de
padrões de interação entre os agentes que organizam sua atuação no mercado.

3. Política de Defesa da Concorrência e Custos de Transação

A contribuição de Williamson tem profundas implicações sobre a visão


tradicional da política antitruste, sobretudo nas áreas de monitoramento das
condutas ligadas às restrições verticais e dos controles sobre atos de concentração
de caráter vertical. De acordo com a interpretação da teoria dos custos de
transação, a presença da especificidade de ativos e do oportunismo faz com que a
coordenação da interação entre os agentes por relações mercantis puramente
competitivas apresente ineficiências e uma ampla variedade de formas
organizacionais e contratuais seja criada para substituí- las. Decorre dessa
abordagem que o estabelecimento de vínculos de reciprocidade, restrições
contratuais a condutas das partes e iniciativas de integração ou quase- integração
ao longo das cadeias produtivas constituam, muitas vezes, inovações
organizacionais que buscam gerar ganhos de eficiência, e não práticas restritivas
visando criar barreiras à entrada e poder de mercado.

Fusões e Aquisições Horizontais

Na área de fusões e aquisições entre competidores, a principal contribuição


de Williamson encontra- se na explicitação de novas possíveis fontes de eficiência
por elas geradas, cujas origens respousam na economia de custos de transação
(Williamson, 1988). Desta forma, pode- se argumentar que não somente as
eventuais economias de natureza tecnológica - como, por exemplo, aquelas
derivadas da presença de economias de escala e de escopo - mas também as de
custo de transação deveriam ser contrabalançadas com o eventual aumento de
poder de mercado resultante da fusão entre competidores para efeito da análise de
defesa da concorrência.

Suponha mos, por exemplo, duas competidoras que fabricam, ambas, os


produtos A e B. Esses produtos são fabricados por cada empresa em uma única
planta, com tecnologias sujeitas a elevadas economias de escala. A obtenção de
ganhos de eficiência através da utilização de cada uma das plantas na produção de
um único produto depende da solução de um problema de coordenação, ou seja,
do desenvolvimento de formas contratuais ou organizacionais que permitam, com
reduzidos custos de transação, a especialização produtiva que minimiza os custos
de fabricação e preserva a diversidade da oferta. Se ambas as empresas se
especializassem no mesmo produto - um possível resultado dos incentivos
oferecidos pelos mercados - a totalidade dos benefícios sociais não seria atingida.
Uma possível solução, caso fosse permitida pela lei, seria a realização de um
contrato que coordenasse as atividade das duas empresas e criasse um pool de
lucros a ser dividido pelas firmas. Entretanto, os custos ex-ante e ex-post associados
a tal contrato poderiam torná- lo uma forma menos eficiente de organizar a
transação vis à vis a opção da fusão entre as firmas. Logo, a fusão pode ser um
mecanismo organizacional promotor de maior adaptação entre as atividades das
empresas num contexto de racionalidade limitada.

Integração Vertical

Uma das principais contribuições da teoria dos custos de transações


encontra- se nas áreas de integração e restrições verticais. Williamson postula que
as integrações verticais, sobretudo aquelas envolvendo, ainda que não
exclusivamente, ativos específicos, são eficientes, posto que constituem formas
organizacionais que economizam em custos de transação. Note- se que o
argumento de Williamson introduz um outro conjunto de fatores gerador de
eficiências econômicas capazes de justificar, do ponto de vista da defesa da
concorrência, operações de verticalização através de fusões e aquisições, além
daquelas associadas aos tradicionais argumentos de raiz tecnológica a partir da
presença de economias de escala e de escopo - Cf. Viscusi, Vernon e Harrington
(1992, Cap. 8).

Um exemplo é ilustrativo (Williamson, 1985, pp. 92-95). Suponhamos que


uma empresa deve tomar a decisão de comprar um certo insumo no mercado ou
produzi- lo internamente, através de uma integração vertical. Se os ativos
envolvidos na fabricação desse insumo são específicos e sua produção está sujeita
a economias de escala e escopo, dois tipos de custos básicos norteariam a decisão
da firma: (i) aqueles ligados a economias de natureza tecnológica, derivados da
decisão de integrar; (ii) aqueles cuja origem repousa na existência de custos de
transação associados à utilização do mercado. Há, portanto, um trade off entre
duas formas organizacionais distintas, sendo que a opção mais eficiente dependerá
do nível de especificidade dos ativos. O gráfico abaixo apresenta o problema, bem
como sua solução teórica.

Seja C a diferença entre os custos de produção de uma mesma quantidade do


insumo na opção vertilização e na opção “mercado”. Dada a presença de
especificidade de ativos, supoõe- se que C seja uma função decrescente de k, onde
k é definido como o grau de especificidade dos ativos envolvidos. Seja G a diferença
entre os custos burocráticos associados a internalização da produção - definidos
como função de k, B(k) - e os custos de transação derivados da utilização do
mercado num contexto de ativos específicos. G é uma função decrescente de k:
para baixos níveis de especificidade dos ativos, a forma organizacional “mercado” é
preferida à integração vertical, economizando custos de transação. A linha C + G é a
soma dos dois tipos de diferenciais de custos. Nestas condições, ko é o grau de
especificidade dos ativos para o qual a firma seria indiferente entre comprar ou
integrar verticalmente, na ausência de economias de escala e escopo. Com o
reconhecimento da presença dessas últimas, tal ponto se desloca para k’.
Gráfico III
Custos Compartivos de Produção e Gestão

Custos

C C+ G

Bo G

ko k’ k

Fonte: Williamson, 1985, p. 93.

A conclusão de Williamson no que tange as implicações da presença de custos


de transação sobre a análise antitruste de integrações verticais (1985, p. 99) baseia-
se em dois argumentos: (i) a possibilidade de que as integrações verticais sejam
formas institucionais economizadoras de custos de transação deve ser levada em
consideração, sobretudo quando envolvem ativos específicos, de modo que as
partes envolvidas se encontram em situação de dependência bilateral; e (ii) o
desejo de aumentar ligeiramente seu poder de mercado não deverá levar uma firma
à integração vertical quando os ativos não forem específicos, posto que, nesse caso,
existirão fortes ineficiências derivadas da ausência de incentivos adequados e da
existência de rigidez nas estruturas hierárquicas.

Fusões e Aquisições Conglomeradas

Na visão de Williamson (1985, Cap. 11 e 1975, pp. 158-162), as fusões e


aquisições conglomeradas devem ser vistas, ainda que não exclusivamente, pela
ótica das inovações organizacionais associadas à moderna corporação. Nessa
abordagem, o conglomerado é o resultado do desenvolvimento da estrutura
multidivisional na organização de negócios econômicos complexos. Na estrutura
multidivisional, a organização interna da firma é dividida segundo suas áreas de
negócios, sendo as mesmas controladas por uma direção geral encarregada da
elaboração das estratégias gerais e da alocação de recursos entre as diversas
unidades sob seu controle. Segundo o autor, “o termo forma- M é reservado para
aquelas firmas que operam com divisões e nas quais o escritório central está
engajado na implementação de auditorias periódicas e monitoramento de
decisões, bem como está ativamente envolvido no processo de alocação interna de
recursos” (Williamson, 1985, p. 289).

O conglomerado é, portanto, de acordo com Williamson, a extensão dessa


lógica organizacional para o nível do gerenciamento de atividades inter- firmas,
funcionando como um mercado de capitais que aglutina os recursos dos diversos
tipos de negócios do conglomerado e redistribuindo- os segundo as perspectivas de
retorno. Tal forma de diversificação das atividades da firma gera eficiências no
nível do custo das transações, na medida em que: (i) economiza em racionalidade
limitada; e (ii) cria salvaguardas no processo de alocação interna de recursos contra
o risco de exercício de oportunismo. Essas economias são obtidas a partir da
postulado de que existem falhas no mercado de capitais, provocadas pela limitada
capacidade de processamento de informações e de controle por parte dos agentes
econômicos externos à firma, fato que restringe suas habilidades em analisar e
selecionar as melhores aplicações possíveis (Williamson, 1975, p. 162).

Do ponto de vista antitruste, a aplicação dessa abordagem, como em outras


áreas, implica o reconhecimento de que a conglomeração pode servir a outros
propósitos não necessariamente ligados ao objetivo de aumento de poder de
mercado por parte da firma diversificante. Pelo contrário, a busca de economizar
em custos de transação, através da aplicação da lógica da forma- M para o âmbito
de um pool de firmas atuando em diferentes mercados - o conglomerado -, deve ser
incorporada como um argumento pró- competitivo ao rol de teorias usadas nas
políticas de defesa da concorrência.

Práticas Restritivas Verticais

As aplicações da teoria dos custos de transação no âmbito das restrições


verticais são semelhantes àquelas já discutidas no caso das integrações verticais
(Williamson, 1987, p.125). De acordo com Williamson, dois novos tipos de
problemas devem ser abordados quando se analisa a natureza e os efeitos das
diversas restrições verticais: (i) o primeiro está associado ao menor nível de
informação por parte dos consumidores, mais diretamente afetados no caso do
surgimento de contratos não padronizados, tais como exclusividade nas vendas
dos produtos de um certo fabricante por parte de um conjunto de revendedores;
(ii) o segundo deriva das conseqüências da presença de comportamentos do tipo
free rider , onde a busca por maiores lucros por parte dos distribuidores de um
20

certo produto/serviço pode implicar o surgimento de ineficiências no sistema de


distribuição como um todo.

Klein, Crawford e Alchian (1978) e Williamson (1985, 1987) mostram,


partindo da experiência antitruste norte- americana, que apenas em determinadas
circunstâncias os impactos anticompetitivos associados às restrições verticais
efetivamente se verificam. Na maioria das vezes, as motivações subjacentes às
restrições verticais, longe de se vincularem à exploração indevida de poder de
mercado, se originam na busca de ganhos de eficiência através da melhor
organização e coordenação das interações entre os agentes envolvidos, coibindo
iniciativas oportunistas.

Para que a interpretação de que as supostas práticas restritivas representem,


na verdade, a introdução de modalidades contratuais que proporcionam

20 A denominação de free rider se aplica a qualquer agente capaz de, agindo de maneira oportunista,
usufruir de serviços ou ativos de outros agentes sem oferecer a compensação adequada por isso.
economias de custos de transação, as seguintes condições devem estar presentes:

• os consumidores não possuem a capacidade de coletar e processar as


informações necessárias para avaliar adequadamente a qualidade dos serviços
pré e pós- venda que acompanha m os produtos adquiridos. Isto implica que, se
ofertado um pacote de produtos e serviços de qualidades diferenciadas, faz-se
necessário que se informe adequadamente o consumidor acerca das
características destes e se providencie uma infraestrutura institucional para que
tais atributos não sejam deteriorados;
• a monitoração, por parte dos fabricantes, da conduta das empresas
responsáveis pela venda dos produtos e prestação de serviços é imperfeita e
custosa, de modo que oportunidades para que algumas destas atuem de modo
prejudicial para o funcionamento de toda a estrutura de distribuição não
podem ser completamente eliminadas;
• existem custos associados a implementar alterações na composição da rede de
distribuição, oriundos dos ativos específicos envolvidos na relação entre o
fabricante e seus distribuidores. Estes ativos se fazem presentes quando as
instalações físicas e capacitações técnicas das unidades de venda e prestação de
serviços são, em algum grau, especializadas para a linha de produtos de um
determinado fabricante.

Verificando- se estas condições, a integridade da estrutura de distribuição


está ameaçada por condutas oportunistas por parte de alguns de seus membros. O
problema é que os distribuidores, ao mesmo tempo em que compartilham um
ativo comum, a marca do fabricante e sua imagem junto aos consumidores, são
também concorrentes entre si. Caso esta rivalidade não seja contida dentro de
certos limites, surge a possibilidade de que algum distribuidor passe a atuar de
maneira oportunista, explorando o ativo comum ao mesmo tempo em que não
contribui para sua preservação. Isto ocorre se este distribuidor, atuando como free
rider, decide oferecer serviços de pior qualidade a preços mais baixos, expandindo
sua participação do mercado na medida em que o consumidor freqüentemente
não possui a capacidade de avaliar imediatamente a qualidade do que está
adquirindo, confiando na reputação da marca nas suas decisões de consumo. Esta
empresa, então, obteria um aumento dos seus lucros ao mesmo tempo em que
provocaria uma deterioração da imagem do fabricante e de sua estrutura de
distribuição, visto que o consumidor posteriormente insatisfeito com o serviço de
pior qualidade não teria como distinguir este do padrão pretendido pelo fabricante.

Coibir tais condutas oportunistas é, portanto, fundamental para a operação


do sistema de distribuição. Neste contexto, o estabelecimento de salvaguardas
contratuais que restringem o número de distribuidores e suas condutas, bem como
limites à concorrência intra- marca, configuram uma estratégia voltada para a
eficiência, e não para a exploração de poder de mercado, visto que constituem um
mecanismo construído para reduzir os custos de transação incorridos na
contenção de comportamentos oportunistas. Por esta razão, os órgãos de regulação
antitruste devem entender como economicamente eficientes e sem
desdobramentos prejudiciais para o bem- estar dos consumidores aquelas ações
através das quais os fabricantes procuram organizar e desciplinar (não eliminar) a
competição entre seus distribuidores.

4 Conclusões

A teoria dos custos de transação permite demonstrar que movimentos de


integração vertical e práticas contratuais que organizam as interações dos agentes
nos mercados não constituem necessariamente tentativas de limitar a
concorrência. De acordo com a argumentação exposta, a presença da
especificidade de ativos e do oportunismo faz com que a coordenação da interação
entre os agentes por relações mercantis puramente competitivas apresente
ineficiências. Logo, o estabelecimento de cláusulas de reciprocidade, restrições
contratuais a condutas das partes e a iniciativas de integração ou quase- integração
ao longo das cadeias produtivas constituem, freqüentemente, inovações
institucionais que buscam gerar ganhos de eficiência.
Por conseguinte, a incorporação do instrumental analítico oferecido por esta
teoria nos procedimentos utilizados pelas autoridades antitruste para avaliar
condutas e situações potencialmente anticompetitivivas tem uma forte
justificativa, que consiste em evitar que o desenvolvimento, pelos agentes privados,
de formas mais eficientes de realizar a coordenação de suas interações seja
restringida por uma pressuposição errônea de que contratos ou estruturas
organizacionais diferenciados tenham motivações e efeitos anticompetitivos. Isso
não significa, vale notar, que a abordagem tradicional da política deva ser alterada
no sentido de restringir seu escopo, eliminando controles sobre alguma área, ou
abrir mão de algum instrumento de atuação, mas sim que um leque maior de
elementos deve ser utilizado na avaliação da adequação de se realizar
determinadas intervenções na operação dos mercados. Neste sentido, a abordagem
de Williamson implica a complexificação das análises antitruste, ampliando o
universo de potenciais trade offs a serem examinados pelas órgãos governamentais
responsáveis pela implementação desta política.

Evidentemente, as implicações para a política de defesa da concorrência


derivadas dos trabalhos de Williamson devem ser qualificadas pelas limitações
associadas à própria teoria dos custos de transação, sobretudo no que tange à sua
operacionalização. De acordo com Williamson (1985, pp. 390-91), tais limitações
derivam- se de três tipos de problemas: (i) a simplicidade, associada ao pouco
refinamento dos modelos, à dificuldade de mensuração dos trade offs e ao elevado
grau de liberdade na especificação das propriedades das transações; (ii) o
“instrumentalismo”, posto que assume que os agentes comportam- se de modo
estratégico, pressupondo a emergência de comportamentos oportunistas, sem dar
margem a outras formas de ação, tais como confiança; e (iii) o fato de a teoria dos
custos de transação ser incompleta, sobretudo no que diz respeito as chamadas
falhas da burocracia como fonte de custos vis a vis o mercado. Do ponto de vista
antitruste, portanto, o uso da teoria dos custos de transação deve ser cauteloso, de
modo que suas implicações constituam um conjunto de considerações adicionais,
mas não determinantes, na análise dos resultados sociais das estratégias
empresariais privadas.
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