Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
FLÁVIA LIRA
JOÃO XAVIER MACEDO
LUCAS PERINE
SÃO PAULO
2012
O PASQUIM: O HUMOR REFÉM DO TEMPO
SÃO PAULO
2012
Aprovada em:
Banca examinadora:
SÃO PAULO
2012
AGRADECIMENTO
Agradecemos ao Prof. Walter Luiz Macedo pelo auxílio em nosso projeto ao longo de
todo o processo de estudos a respeito do semanário. Também agradecemos ao Prof. Milton e a
Profª Isabel da FMU pelas valiosas dicas que deram ao longo das aulas.
Também temos que fazer um agradecimento póstumo ao Jornalista Emílio Chagas, que
foi o responsável por montar o livro raro de edições antigas do Pasquim da década de 70 que
utilizamos como fonte primária durante todo o processo de elaboração da tese.
RESUMO
O Pasquim foi um jornal que mudou pra sempre o rumo da mídia impressa brasileira.
Embora a forte censura da época da ditadura militar tentasse apagá-lo, junto a tantos outros
meios de comunicação da época, O Pasquim se sobressaiu, tirando forças do próprio
sofrimento, por forma de manchetes e tiras sarcásticas, e, por muita das vezes satirizando eles
próprios. Jaguar, como um dos fundadores, teve a visão de comandar o setor de humor, e
revelar cartunistas até hoje consagrados. Muitos jornais e revistas tentaram depois copiar a
fórmula do sucesso, porém, em uma tentativa de relançamento do tablóide mais afrente na
história, nem ele mesmo alcançou o patamar que conseguiu atingir em suas épocas de auge...
ABSTRACT
O Pasquim was a newspaper that changed the course of the Brazilian media. Even
with the strong censure of the military dictatorship triyng to block it, along with many other
media of the time, O Pasquim has excelled, gaining strength from his own suffering, with
sarcastic strips and headlines, and, very often satirizing themselves. Jaguar, as one of the
founders had the vision to lead the humor editing group of the journal, revealing cartoonists
enshrined until nowadays. Many newspapers and magazines then have tried to copy their
formula for success, but, after the newspaper return as "Pasquim 21" afterwards on history,
even them never reached the same range of people again...
SUMÁRIO
Introdução………………………………………………………………….... 1
2. Ditadura......................................................................................................... 4
2.1. O que foi?.................................................................................................... 4
2.2. Sociedade na ditadura.................................................................................. 5
2.3. Censura Jornalística..................................................................................... 7
3. O Pasquim....................................................................................................... 9
3.1. O que foi O Pasquim?....................................................................................9
3.2. Influências....................................................................................................10
3.3. Como começou?...........................................................................................13
3.4. Ipanema e o Pasquim....................................................................................15
3.5. A fórmula do Pasquim................................................................................. 17
3.5.1. Como driblavam a censura........................................................................19
3.6. Perseguições aos jornalistas e cartunistas.....................................................21
3.7. Os problemas de gestão no Pasquim
e o período em que Millôr comandou o editorial................................................24
3.8. A abertura política e o fim da ditadura militar.............................................25
3.9. A sobrevida e fim do Pasquim.....................................................................26
4. Sociedade pós-ditadura................................................................................28
4.1. O fim da ditadura e a liberdade de expressão...............................................28
4.2. A sociedade Pós-moderna.............................................................................29
4.3. A globalização, a indústria cultural e a sociedade de consumo.....................33
5. Casseta Popular e Planeta Diário: O humor que surgiu do pasquim........36
5.1 Planeta Diário...............................................................................................36
5.2. Casseta Popular............................................................................................39
6. Pasquim 21......................................................................................................41
6.1. Por que começar um novo Pasquim?.............................................................41
6.2. O objetivo do Pasquim 21 e seu rápido declínio...........................................43
7. Construção histórica do humor no Brasil a partir do Pasquim..............44
7.1. Seria o humor refém do tempo?..................................................................45
Considerações Finais.........................................................................................46
Referências Bibliográficas.................................................................................49
INTRODUÇÃO.
Esta monografia tenta como objetivo explicar o porquê do semanário denominado O
Pasquim, que foi distribuido nas bancas de nosso país durante a década de 70 e o começo da
década de 80 não ter tido sucesso após a ditadura militar (mesmo que este tablóide tenha
influênciado a estética jornalística e a forma de se fazer humor de toda uma geração e parte de
sua genialidade poder ser vista ainda hoje em publicações jornalísticas que foram
influênciadas e que permanecem ativas em nossos dias). Também abordaremos o porquê da
tentativa de se retomar as idéias do semanário em uma nova versão (já em 2002) chamada de
Pasquim 21 ter sido, por sua vez, falha, logo que o mesmo só teve a duração de 2 anos.
Ao decorrer desta monografia o leitor poderá se perder no texto caso não perceba o
nosso objetivo ao formatálo de maneira específica, o que será explicado a seguir:
No começo iremos dissertar a respeito do cartunista escolhido pelo nosso grupo, o
Jaguar e explicar a importância que ele teve para a criação do semanário.
Após esta explicação faremos uma breve pausa no tema do Pasquim para explicar o
contexto da época da ditadura (para que o leitor não se perca, pois de nada adiantará tentar
entender a respeito de uma publicação da época, se pouco se sabe sobre a época em questão)
Neste mesmo caminho iremos focar o texto na mídia, em como funcionava a mídia
nesta mesma época e como era a censura feita pelos militares à mesma, parte muito
importante para o entendimento do sucesso que o Pasquim fazia,
Depois das explicações retornaremos ao tema do Pasquim explicando tudo o que faz
parte de seu universo: O por que de sua criação, influências, sua fórmula, acontecimentos que
ocorreram ao decorrer de sua história, etc...
Explicando ao leitor o que de fato era o Pasquim, iremos então (posteriormente)
introduzir o tema da sociedade pós ditadura, contando como a sociedade foi se modificando
ao longo do tempo desde a época final da ditadura até tempos mais próximos aos de hoje. Esta
parte do texto será crucial para entendermos o porque da versão seguinte do Pasquim: O
Pasquim 21 não ter dado certo.
Posteriormente faremos uma explicação sobre as "crias do pasquim" outros tablóides
que foram influênciados por esta mesma estética do jornal pasquiniano e pelo humor também,
criado por membros que fizeram parte do Pasquim na ditadura.
Já adentrando novamente no tema do Pasquim, contaremos o que foi esta nova versão
do tablóide: O Pasquim 21 e um pouco do porquê da mesma não ter tido muito sucesso.
Por fim faremos uma breve relação a respeito da história do humor em nosso país para
poder explicar também os motivos do semanário não permanecer vivo até hoje. Após esta
parte iremos para as considerações finais, motivados a resolver nossa problematização.
Desejamos a você uma boa leitura!
CAPÍTULO 1: A TRAJETÓRIA DE JAGUAR E O SURGIMENTO DO
PASQUIM.
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe nasceu em 1932 no Rio de Janeiro, e é um dos
mais importantes cartunistas brasileiros.
As grandes influências de Sérgio foram principalmente os cartunistas do The New
Yorker uma importante revista semanal americana como Saul Steinberg, e Art Spielgeman,
mas também cartunistas franceses, como Bosc, André François, e Chaval, como o próprio
disse: “Eu passei a vida inteira ’copiando’ as coisas do New Yorker, influenciado pelo
Chaval, pelos franceses, pelos ingleses...” 1
Sempre quando questionado sobre a origem de seu estilo, Jaguar nunca omitiu a
verdade:
"Eu, como todo garoto, gostava de desenhar. Desenhava pessimamente. Aliás, desenho
mal até hoje, é que eu engano muito. Eu não sei desenhar, pô. Na verdade, eu sempre me
interessei pela coisa, lia Paris Match e ficava fascinado... "Como é que esses caras bolam
essas coisas?", eu me perguntava, tentava, mas não conseguia fazer. Pra você ver como eu
1
Entrevista a Associação Brasileira de Imprensa (2009)
tinha um discernimento péssimo, de todos os cartunistas, que eram o Mose, Bosc, Chaval, e
outros, todos bons... Eu escolhi exatamente o Trez, o pior deles, pra começar a copiar..."2
Sérgio começou sua carreira na revista Manchete, em 1952, fazendo a seção de humor,
onde por influência de outro cartunista, o Borjalo (a quem Sérgio substituiu), passou a assinar
apenas como Jaguar. Ao mesmo tempo em que trabalhava na revista, era também funcionário
do Banco do Brasil, onde seu chefe foi Sérgio Porto, mais conhecido como Stainslaw Ponte
Preta, grande cronista brasileiro, que o apoiava na carreira de cartunista, mas o aconselhava a
não deixar o emprego de escriturário para fazer apenas humor.
Nahum Sirotzky, o diretor da Manchete, estava insatisfeito com os trabalhos de Jaguar
na revista, e o demitiu. Mas em 59, o mesmo Sirotzky, tinha planos de o contratar novamente,
para um novo projeto.
"Fui demitido da Manchete pelo Sirotzky. Eu fiquei puto. Saí espalhando barbaridades
sobre ele, dizendo que era um centauro, metade cavalo e metade também. Eu não sabia, mas
ele já estava tramando, em 1959, a revista Senhor, junto com o Carlos Scliar e o Paulo
Francis. Quando o projeto deixou de ser segredo, ele me chamou. Foi a publicação mais
importante editada no país. É claro que O Pasquim teve sua importância, mas a Senhor reuniu
um time imbatível, de Rubem Braga a Drummond, de Fernando Sabino a Carlinhos Oliveira.
Fiquei até o fim, em 1964."3
Nesse período, Jaguar obteve um relativo sucesso, e colaborou para que a revista,
apesar da curta duração de cinco anos, seja cultuada até hoje, pela sua revolução na forma de
tratar assuntos da cultura em geral, além da diagramação e projetos gráficos inovadores para a
época.
Depois da revista Senhor, Jaguar colaborou em muitas outras publicações, como as
revistas: Revista da Semana, Civilização Brasileira, no semanário de humor PifPaf (criada
por Millôr Fernandes) e os jornais Última Hora onde conhecera Sérgio Cabral e Tarso de
Castro e Tribuna da Imprensa.
(Jaguar desenhando a si mesmo, demonstrando seu conhecido lado bohêmio em O'Pasquim ed 34
18/02/1970 Rio de Janeiro)
2
Entrevista à Associação Brasileira de Letras (2009)
3
Revista do Brasil (2009)
Em 68 tem a sua primeira coleção lançada, “Átila, você é bárbaro”. No final do
mesmo ano, morre um de seus melhores amigos e mentor, Sérgio Porto, que era o fundador e
editor do jornal A Carapuça. A distribuidora do jornal de Porto procurou depois o jornalista
Tarso de Castro, que teve a ideia de fazer uma nova publicação. A ele se juntaram os
jornalistas, Sérgio Cabral e Carlos Prósperi, e o cartunistas Fortuna além do próprio Jaguar.
Depois de muitas reuniões, Jaguar sugeriu o nome do jornal de O Pasquim, que
significa jornal difamador, injurioso, já prevendo as críticas negativas contra a publicação e
ironizando a existência do jornal, que, mais adiante veremos, será a sua essência. Mas antes
disto iremos discutir em nossa tese sobre o que foi a ditadura militar no Brasil, período de
grande repressão no qual o tablóide que dissertamos a respeito, iniciou suas operações e teve
suas edições publicadas e distribuídas na maior parte de seu tempo de existência, inclusive
explicando em boa parte a criação e a relevância do jornal. A ditadura acabou por fornecer os
principais alvos para suas sátiras e críticas, nesta época da história brasileira.
CAPÍTULO 2: DITADURA
2.1 O QUE FOI ?
"Ditadura militar, regime militar ou governo militar é uma forma de governo onde o poder
político é efetivamente controlado por militares. Como qualquer ditadura ou regime, ela pode ser
oficial ou não. Também existem formas mistas, onde o militar exerce uma influência muito forte, sem
ser totalmente dominante.
O típico regime militar na América Latina era governado por um governante de alta patente, chamado
de caudilho. Em alguns casos um grupo composto por vários militares, uma junta militar, assumia o
poder. Em qualquer caso, o líder da junta ou o único comandante pode muitas vezes pessoalmente
assumir mandato como chefe de estado."4
Existem vários motivos para explicar o porquê das ditaduras terem ocorrido ao redor
do mundo. Cada nação teve um motivo particular para o surgimento dos golpes de estado
pelos militares, mas ao decorrer do texto devemos nos restringir apenas aos motivos que
levaram o nosso país a ter passado por esse momento triste na história.
Assim como no Brasil, em toda a América latina também houveram os golpes
militares, que ocorreram todos de forma semelhante e pelas mesmas razões.
Mesmo com a obtenção da soberania política de todos os estados latinoamericanos,
após a independência de cada qual, estas mesmas nações ainda permaneciam dependentes
econômicamente e no plano de interesses das grandes potências econômicas da época.
As classes populares dos países da América do sul, começavam a entender o quão
eram excluidos do jogo político pelas elites dominantes, principalmente com o surgimento de
novas idéias revolucionárias que tomavam forma com os movimentos pró socialismo vindos
da União Soviética.
Em contrapartida, não era interesse das elites que dominavam estas classes populares
que houvessem revoluções como a que ocorreu em cuba, muito menos interesse dos Estados
Unidos (que tinha como objetivo difundir o capitalismo ao redor do mundo e lutava contra os
ideais soviéticos). A burguesia industrial sofria um grande abalo por conta do ânimo acirrado
das classes trabalhadoras buscando seus direitos na pirâmide social e viu nas forças militares
americanas um aliado para, de algum modo, manter a ordem que assegurava, até então, sua
acomodação social.
Utilizando de sua influência no poder e com o respaldo dos americanos, as classes
dominantes, por sua vez, conseguiram o que queriam e viram os militares de cada nação latino
americana, por meio de suas forças de repressão, "apaziguar" o resto da população em sua
busca revolucionária por mais direitos.
Já tomados por estes governos autoritários, os países da américa do sul testemunharam
perseguições políticas, torturas e censura às liberdades individuais ocorrerem como fato
comum do cotidiano, tudo sempre mediado pelo uso da força.
4
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar
Na época do golpe, o presidente eleito democráticamente em nosso país era o João
Goulart, que era simpatizante de movimentos sindicalistas e de reforma agrária (considerados
nocivos e frequentemente relacionados aos comunistas pelos militares).
O golpe militar no Brasil ocorreu no dia 1o de abril de 1964 e só foi ter seu fim no ano
de 1985 já na década de 80.
2.2 SOCIEDADE NA DITADURA
"A principal característica da década de 60 é a contradição. Ela se expressa através de variadas e
múltiplas posições em todos os campos da atividade política, econômica e cultural. "
5
A sociedade na década de 60 foi a mesma que passou pelos "anos de chumbo" logo
que o golpe de estado no Brasil ocorreu em 1964. As pessoas que viviam nesse tempo se
encontravam em constante contraste de idéias, por um lado boa parte dela era regida pelos
costumes e tradições ligadas a moral e ao sistema familiar paternalista, com traços religiosos,
(herança da década de 50, que exacerbava tais características), já por outro lado estava
começando a aflorar um sentimento de rebeldia (mais por parte das gerações mais jovens) à
todo esse moralismo vigente nos anos anteriores.
Ao passar do tempo esse contraste começou a ficar cada vez mais evidente,
principalmente com todos os acontecimentos ocorrendo ao redor do mundo (a divisão dos
blocos econômicos entre capitalismo e socialismo) acabaram por polarizar muito mais os já
divergentes pensamentos entre a direita conservadora (que apoiava esse conceito da moral e
bons costumes já citado anteriormente) e a esquerda no país (que tinha o anseio por mudanças
do quadro vigente até então).
"A esquerda nacionalista tratou de pressionar cada vez mais o governo João Goulart em direção às
reformas de base. Os conservadores, por outro lado, organizaramse, fartamente financiados através da
CIA, nas manobras que resultariam no golpe de 1964. O desenlace, uma vez mais, apresentase
contraditório: pode ser visto enquanto a ruptura com a tendência nacionalista e populista, na medida
em que a ditadura modificaria profundamente o espaço de interferência tanto da intelectualidade
quanto dos segmentos sindicais e religiosos brasileiros." 6
5
HOHLFELDT, Antônio A fermentação cultural da década brasileira de 60 (Artigo de jornal Revista
Famecos pág 38 Porto AlegreRS, 1999)
6
HOHLFELDT, Antônio A fermentação cultural da década brasileira de 60 (Artigo de jornal Revista
Famecos pág 40 Porto AlegreRS, 1999)
A medida que a repressão foi aumentando, mais adeptos aos movimentos libertários
foram aderindo as causas revolucionárias, refletindo em uma geração marcada por traços
politizados, a contracultura ("A contracultura pode ser definida como um ideário altercador
que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por
causa disso, são pessoas que costumam se excluir socialmente e algumas que se negam a se
adaptarem às visões aceitas pelo mundo. Com o vultoso crescimento dos meios de
comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertavam
das amarras tradicionais e locais – como a religiosa e a familiar , ganhando uma dimensão
mais universal e aproximando a juventude de todo o globo, de uma maior integração cultural
e humana. Destarte, a contracultura desenvolveuse na América Latina, Europa e
principalmente nos EUA onde as pessoas buscavam valores novos." 7 ) e forte interesse pelos
movimentos culturais e artísticos que promoviam (também por sua vez) uma mudança de
valores com propostas inovadoras.
Foi neste mesmo período que movimentos "anti ideológicos" tiveram uma guinada
histórica como o movimento feminista, movimentos de igualdade racial, movimentos pelos
direitos dos homossexuais, movimentos a favor dos direitos humanos e movimentos pró paz.
Apesar de todo esse esforço por parte destes diversos movimentos, tanto os
movimentos igualitários como aqueles que tinham uma essência mais sindicalista, entre
muitos outros que surgiram na época, a maioria dessas organizações populares foram
desmanteladas ou silenciadas pelos orgãos repressores, que não permitiam folêgo algum a
qualquer iniciativa da esquerda, exceto o movimento estudantil, que foi de fato, um dos
únicos que conseguiu se rearticular à nivel nacional durante o começo da ditadura e
especialmente em meados de 1968.
Foi grande parte destes estudantes que se uniu à grupos de guerrilha que acreditavam
que o único modo do país se ver livre do poderío militar subjulgando seu governo, era via luta
armada, destacamse por exemplo (neste grupo) pessoas ilustres da nossa atualidade como o
político Fernando Gabeira ou até a atual presidente Dilma Roussef, entre muitos outros. Por
outro lado havia uma outra face da esquerda que era denominada: a "esquerda festiva", na
qual todos os integrantes de O'Pasquim assim como a maioria de seus leitores e a maioria dos
artistas e intelectuais da época que se ausentaram das lutas armadas, eram denominados.
A "esquerda festiva" era uma maneira de chamar os simpatizantes esquerdistas que só
demonstravam seu desapontamento com a repressão ditatorial nos planos das idéias, no
máximo conseguiam expressar um pouco mais seu pensamento com publicações jornalísticas
como era o caso dos cartunistas e jornalistas objetos de nosso estudo ou com letras de músicas
como ocorreu no caso do cantor e compositor Chico Buarque e também com Gilberto Gil,
além de muitos outros que foram perseguidos na época por expor a público suas idéias
libertárias, abertamente ou até mesmo de forma subliminar.
7
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura
(Charge do fortuna no PASQUIM que discute a respeito da censura prévia exercida nos tempos da ditadura)
2.3 CENSURA JORNALÍSTICA
O objetivo principal da censura era passar à população a ideia de que o país se
encontrava em ordem, os jornais eram calados, muitas vezes se viam obrigados a publicar
desde poesias até receitas no lugar das verdadeiras atrocidades que o país passava.
(Matéria do Jô Soares censurada no
O'Pasquim: "O Sanduiche" , que foi substituida por
essa receita de sanduiche e pela ilustração do molde
para sanduiche ao lado)
(Publicação do Jornal Estado de São Paulo vetada pelos censores. Jornalistas substituíram matéria original por
trecho do famoso livro de poemas Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões)
CAPÍTULO 3: O PASQUIM
3.1 O QUE FOI O PASQUIM?
3.2 INFLUÊNCIAS
Entre as influências do tablóide humorístico que estudamos, se destacaram a revista O
Cruzeiro, Pif Paf, Cartum JS (projeto alternativo humorístico de Ziraldo que pertencia ao
8
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pasquim
Jornal dos Sports) e A Carapuça de Sérgio Porto, este último que acabou por ser reformulado
depois da morte de Sérgio, com uma nova equipe e o nome de O'Pasquim.
O Cruzeiro foi uma revista fundada por Carlos Malheiro Dias, e teve o início de suas
publicações em 1928.
"Foi importante na introdução de novos meios gráficos e visuais na imprensa
brasileira, citando entre suas inovações o fotojornalismo e a inauguração das duplas repórter
fotógrafo, a mais famosa sendo formada por David Nasser e Jean Manzon que, nos anos 40 e
50, fizeram reportagens de grande repercussão.
Entre seus diversos assuntos, a revista O Cruzeiro contava fatos sobre a vida dos
astros de Hollywood, cinema, esportes e saúde. Ainda contava com seções de charges,
política, culinária e moda."9
Após quatro meses de duração (8 edições) o Pif Paf terminou suas atividades, depois
da quarta edição o jornal havia criado um concurso imaginário denominado: "Miss Alvorada
65", fazendo referências aos candidatos à presidência da república. Em seu conteúdo foi
disposta uma fotomontagem do presidente na época (Marechal Castello Branco) como uma
das "concorrentes" a miss.
"O Pif Paf foi fechado por um conluio entre o governo federal e o governo estadual
aqui, que naquela época era o Carlos Lacerda, com o coronel Borges que dirigia a polícia
dele, e como ninguém estava satisfeito eu num certo momento não tive forças para lutar, eles
começaram a apreender um número, depois devolveram o número, depois o oitavo número
eles apreenderam todo e eu não tinha mais dinheiro para fazer. Eu me lembro que estava
extenuado do ponto de vista físico, de trabalho que eu fazia, e com uma dívida que não sabia
como pagar, realmente não sabia como pagar. Mas no dia em que eu fechei tudo, decidi fechar
10
Imprensa alternativa: apogeu, queda e novos caminhos. — Rio de Janeiro : Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social, 2005.
80 p.: — (Cadernos da Comunicação. Série Memória; v.13)
e fechei, e resolvi os problemas todos e formulei a dívida, me deu um tremendo alívio. (...)"11
Além destes jornais pertencentes a imprensa nanica (já citados até agora) também
existia outro denominado: A Carapuça (lançado em 1968), pertencente a Sérgio Porto que na
época era mais conhecido por seu pseudônimo: Stanislaw Ponte Preta.
A Carapuça tinha um formato parecido com os outros tablóides supracitados, mas teve
pouco tempo de existência logo que, Sérgio Porto veio a falecer, pouco depois que o mesmo
foi criado. Esta publicação foi a que deu origem ao Pasquim.
Outro projeto que vale a pena ser citado é o Cartum Js, um suplemento humorístico
idealizado por Ziraldo que pertencia à publicação esportiva carioca: Jornal dos Sports.
"O Jornal dos Sports foi um diário de notícias esportivas do Rio de Janeiro, tendo sido
fundado pelo jornalista Argemiro Bulcão em 13 de Março de 1931. Sua última edição
circulou no dia 10 de abril de 2010.
Ficou famoso por suas páginas em corderosa. Apesar da semelhança com o jornal
esportivo italiano La Gazzetta dello Sport, a verdadeira inspiração para o corderosa foi o
francês L'Auto.
O Jornal dos Sports teve como um de seus proprietários o jornalista Mário Filho, que
nas suas páginas escreveu uma série de crônicas defendendo a construção do estádio do
11
Imprensa alternativa: apogeu, queda e novos caminhos. — Rio de Janeiro : Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social, 2005.
80 p.: — (Cadernos da Comunicação. Série Memória; v.13)
Maracanã para a Copa do Mundo de 1950. Como homenagem, o estádio recebeu o seu
nome."12
(Edição mais recente do Jornal dos Sports
que permaneceu na ativa desde 1931
encerrando suas atividades em 2010.)
O Cartum JS acabou por revelar no Jornal dos Sports uma série de chargistas de uma
nova geração onde se incluiam Miguel Paiva, Juarez Machado, Al, Wagner e o mineiro
Henrique Filho, o Henfil (alguns deles, assim como Ziraldo, terminaram fazendo parte de
O'Pasquim posteriormente).
3.3 COMO COMEÇOU?
O tablóide que estudamos teve suas origens em um projeto datado de 1968 e posto em
prática no ano seguinte. Em uma reunião (ocorrida na casa de Carlos Magaldi), Jaguar e os
jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral discutiram a respeito de opções para substituir o
tablóide humorístico A Carapuça (já citado no item anterior desta monografia) que havia
perdido o fôlego após a morte de seu editor: Sérgio Porto.
Ao passar dos tempos outros membros foram se juntando ao elenco de grandes
jornalistas e humoristas, como foi o caso de Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Carlos
Leonam, Sérgio Augusto, Ziraldo, Millôr, Prósperi, Claudius e Fortuna.
"Como símbolo do jornal foi criado o ratinho Sig (de Sigmund Freud), desenhado por
Jaguar, baseado na anedota da época que dizia que "se Deus havia criado o sexo, Freud criou
a sacanagem".13
12
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_dos_Sports
13
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pasquim
"A primeira capa do Pasquim, foi a entrevista com o colunista social Ibrahim Sued. E
já no número de lançamento, um furo: o próximo general a governar o país, depois de Costa e
Silva, seria Emilio Médici. A primeira edição contou ainda com textos da atriz Odete Lara,
que se encontrava no festival de Cannes e do cantor e compositor Chico Buarque. A
irreverência do tablóide já se revelara na legenda de capa. “É um semanário executado só por
jornalistas que se consideram geniais”, dizia."14
(Primeira capa de O'Pasquim datada de 26/06/1969)15
Na fundação do tablóide houve um impasse a respeito de como seriam divididos os
lucros do mesmo. Com uma postura mais radical, os humoristas mais jovens (liderados por
Henfil) tinham em sua proposta o formato de cooperativa para o funcionamento de
O'Pasquim, visando uma postura igualitária a respeito dos ganhos de cada colaborador. Já os
cartunistas mais consagrados na época (como Millôr por exemplo) se opuseram pois
acreditavam que não era justo os humoristas de renome receberem a mesma quantia daqueles
que estavam começando, e desta forma apresentaram a proposta de de divisão qualitativa
(metade das cotas para os veteranos e a outra metade para os artistas mais jovens).
Jaguar, que por sua vez liderava o grupo, não ficou satisfeito com nenhuma das
propostas. No fim acabouse instaurando uma forma mais deficiente de sociedade por cotas
(não houveram nem as vantagens de um comando hierárquico, tampouco as de uma
cooperativa). O empresário dono da distribuidora (Murilo Reis) terminou com 50% das cotas
e Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prosperi e Cláudio Ceccon com 10% delas.
14
fonte: http://midiaalternativabypc.blogspot.com.br/2007/05/sobreopasquim.html
15
fonte: http://caminhosdojornalismo.wordpress.com/2011/05/31/o-pasquim/
3.4 IPANEMA E O PASQUIM
No ínicio do Pasquim (em 1969) muitos desacreditaram pois diziam que o Pasquim
era um jornal de Ipanema que só interessava à Ipanema.
Diferente dos jornais alternativos da época o Pasquim mesclava humor com críticas
políticas, sem engajamento políticopartidário. A ideia era ressaltar a intelectualidade boêmia
da Zona Sul ( em especial Ipanema). Contestavam os próprios valores moralistas da sociedade
em que viviam.
Apesar de nem todos os colaboradores serem cariocas, Ziraldo e Henfil são mineiros e
Luiz Carlos Maciel era gaúcho, havia uma identificação com aquela sociedade carioca, em
geral havia um sentimento de pertencimento aquele ambiente.
Nesta época Ipanema era o centro cultural do Rio de Janeiro, onde todos os
movimentos intelectuais ocorriam, concentração de todos os artistas, a boemia, a praia e a
Banda16 . O ambiente promovia as “estruturas elementares da sociabilidade intelectual
pasquiniana”17, destacou Elio Chaves Flores em sua tese: A República às Avessas.
Tanto o humor reacionário quando o humor pasquiniano saíram dos redutos elitizados
da zona sul carioca e, não, raras às vezes, se cruzaram nos calçadões, nas praias, nas redações
dos jornais e nos botequins do Rio de Janeiro, ainda capital cultural e ideológica da
República18, ( FLORES, 2002: 189).
16
A Banda de Ipanema eé um bloco carnavalesco carioca, idealizado por Jaguar, Albino Pinheiro e Ferdy
Carneiro em 1965. Entre seus fundadores constavam alguns dos jornalistas do Pasquim, aleé m de Jaguar,
assim como Ziraldo. O primeiro síémbolo feminino da Banda foi Leila Diniz.
17
FLORES, Élio Chaves. República às Avessas: narradores do cômico, cultura política e coisa pública no Brasil
Contemporâneo (19931930).
18
FLORES, Élio Chaves. República às Avessas: narradores do cômico, cultura política e coisa pública no Brasil
Contemporâneo (19931930).
Fredy Carneiro rememorou no Pasquim na década de 1990, sobre a Banda de
Ipanema:
"Fez renascer o carnaval de rua [...]. Foi caldo cultural de muito movimento. Para
início de conversa, lembremos Jaguar que desfilava, na Banda, como o cartaz “O Pasquim é
filho da Banda de Ipanema”. Foi na Banda que o tropicalismo explodiu de verde e amarelo.
Inspirou Gilberto Gil: “Alô Banda de Ipanema, aquele abraço” ( Pasquim nº 1034,
09/02/1990, p. 11)
A fala pasquiniana influenciou a publicidade e outros jornais da época, através da
criatividade, oralidade e expressividade de seus jornalistas. Criticavam a ditadura, a classe
média, o moralismo e alguns segmentos da esquerda. Não concordando com o método de
oposição do Pasquim, alguns militantes esquerdistas e a direita utilizaram a expressão
“esquerda festiva” para caracterizar os jornalistas do Pasquim. Os mesmo segmentos da
esquerda que o Pasquim criticava não concordavam com a forma de oposição que tratavam, e
com o termo “esquerda festiva” desqualificavam a importância do trabalho dos jornalistas,
julgando que se tratava muito mais de lirismo do que denúncia política. Em contrapartida,
Jaguar criticou esta idéia dizendo:
"A Banda foi pra rua um ano depois do golpe e incomodava a direita e muitos da
esquerda, que não entendiam que o riso e a crítica eram nossas armas. A gente se divertia
sacaneando os caras encastelados (com trocadilho) no poder" (JAGUAR, 2000; 40)
De acordo com Jaguar, o inventor da expressão “esquerda festiva” foi o escritor
Carlos Leonam, também autor e morador do bairro de Ipanema. Ferdy Carneiro afirmou,
“Leonam não sabe é que muitos que desfilam na Banda de Ipanema pegaram em armas
quando a coisa engrossou”. Para Ferdy, o espírito gozador e irreverente moldava os
intelectuais responsáveis pelo Pasquim. “ Seriam pessoas que compunham a República
Popular de Ipanema, também denominada “esquerda festiva” pelos pobres de
espírito”( CARNEIRO, “ O filho da Banda” In: O Pasquim nº 521, de 22 a 28/06/1979, p 40).
Analisando a memória que Jaguar constituiu para Ipanema observamos que existia
uma cultura política autoritária que caracterizava Ipanema e os que nela conviviam. Entre os
colaboradores do Pasquim, principalmente, instaurouse um Imperialismo Ipanemense.
Circulava o pensamento que “esse era um bairro que se intrometia na cidade no estado, ditava
moda, hábitos e costumes para o Brasil e o mundo, cagava regra” (JAGUAR, 2001: 12).
O Imperialismo Ipanemense foi a fonte para o surgimento de uma identidade
compartilhada entre os que criaram o Pasquim. Jaguar destacou que “nós, os ipanemenses
dos anos 60, estávamos nos lixando para os limites geográficos do bairro. Eu mesmo,
enchendo a boca falando em “nós ipanemenses”, morava em Copacabana” (JAGUAR,
2001:17)
O memorialista do bairro carioca acrescenta que: "nossos "Toms" e Vinicius eram os
melhores "Toms" e Vinicius do universo, nossos humoristas mais criativos, nossas bandas de
ipanemas imcomparáveis, [...] nossos malucos, mais malucos, nossos porres antológicos até
nossos mineiros e baianos muito melhores do que os de lá, nossos cachorros mais
inteligentes" (JAGUAR, 2001: 17)
Até mesmo Ziraldo que era mineiro, mas incorporouse a esse ambiente, disse que “O
Pasquim foi feito para Ipanema. Naquela época Ipanema significava o Olimpo. O Pasquim vai
divulgar esse modus vivendi” (Entrevista de Ziraldo ao documentário O Pasquim: A
revolução pelo Cartum, Roberto Stefanelli, 2004).
Assim como por um lado o Pasquim criticava a ditadura, e depois o AI5, aumentando
o controle sobre a sociedade por meio da censura, por outro lado, o jornal exerceu forte
influencia no âmbito comportamental, principalmente em relação ao bairro de Ipanema e à
cidade do Rio de Janeiro.
Jornalistas de outros estados, e até mesmo jornalistas cariocas criticaram severamente
o chamado Imperialismo Ipanemense . Discordavam do idealismo provinciano e do conjunto
de valores que projetavam o bairro como referencia cultural.
Portanto através da construção da identidade do Pasquim , atrelada a rotina que vivía a
sociedade de Ipanema e ao conflito cultural e político que se instaurava, a rememoração do
passado do Jornal ficou associada aos aspectos do Imperialismo Ipanense.
3.5 A FÓRMULA DO PASQUIM
O Pasquim chegou às bancas em 26 de junho de 1969, em um texto mordaz, editado
no alto da primeira página, a equipe expunha o seu ideário
“ O Pasquim surge com duas vantagens: é um semanáriio com autocrítica, planejado e
executado só por jornalistas que se consideram geniais e que, como os donos dos jornais não
conhecessem tal fato em termos financeiros, resolveram ser empresários. É também, um
semanário definido, a favor dos leitores e anunciantes, embora não seja tão radical quanto o
artigo PSD. Até agora o Pasquim vai muito bem pois conseguimos um prazo de 30 dias para
pagar as faturas. Este primeiro número é dedicado à memória do nosso Sérgio Porto, que hoje
deveria estar aqui conosco.”
Na última página aparecia o expediente: Tarso de Castro (editor), Sergio Jaguaribe
(humor), Sérgio Cabral (editor de texto), Carlos Prósperi (editor gráfico), Claudius Ceccon e
Murilo Pereira Reis (diretor responsável).
O sucesso do Pasquim não demorou a acontecer, apesar de muitos criticarem o
formato tablóide, na primeira edição rodaram uma tiragem de 14 mil exemplares, na mesma
noite receberam um telefone de Altair de Souza , da gráfica, informando que iriam rodar mais
14 mil pois já haviam esgotado. Quando conseguiram abertura em São Paulo, o sucesso
adquiriu nível nacional, equiparandose com os veículos de mídia que temos hoje.
O Pasquim destacavase pela criatividade e pelo rompimento com a formalidadem
utilizando uma linguagem coloquial, que chamavam a atenção do leitor pois se aproximava da
forma em que se falava. O palavrão foi introduzido, gírias, e expressões como “inserido no
contexto”. Com claros alvos de ataque: a ditadura, a classe média, o moralismo e a grande
imprensa. A diagramação valorizava os desenhos, caricaturas e montagens fotográficas.
Ganhava, também, diferencial nas entrevistas realizadas com personalidades19 que
eram reproduzidas exatamente da mesma forma como saíam do gravador, o que foi uma
grande quebra jornalística na época (onde todos os jornais e revistas faziam uso do
copydesk20). Na verdade este sucesso foi acidental, pois na primeira entrevista (com Ibrahim
Sued) imprimiuse todo o conteúdo sem qualquer revisão, e os leitores receberam a
transcrição integral da conversa.
19
Uma das entrevistas mais famosas foi com a atriz e modelo Leila Diniz, nessa entrevista ela falava inúmeros
palavrões e discutia abertamente sobre sexo, o que na época era um comportamento anormal para uma mulher.
Essa entrevista foi censurada, mas o pouco que foi publicado foi suficiente para o governo criar uma severa lei
de censura Decreto nº 1077 apelidada Decreto Leila Diniz.
20
Trabalho de revisão, não só gramatical, como também de reestruturação das ideias.
(Entrevista com Tostão realizada assim como todas as outras entrevistas no Pasquim sem o recurso
copydesk, transcritas da maneira que foram gravadas)
Outro motivo à que podemos atribuír o grande sucesso do Pasquim eram as Dicas do
Sig, personagem criado por Jaguar, baseado no psicanalista: Sigmund Freud, que se tornou o
mascote do Pasquim, anunciando as matériam à serem publicadas.
Um dos principais motivos do Pasquim ter obtido tanto sucesso e criado uma herança
jornalistica para seus sucessores, foi pela relação que conseguiram desenvolver com os
leitores, de forma hermética criaram “códigos secretos” que muitas vezes a censura não era
capaz de compreender, mas somente os leitores assíduos atráves desse laço de cumplicidade
conseguiram, o humor era muitas vezes usado como vantagem para se driblar a censura
ditatorial (tema que iremos abordar com mais ênfase a seguir no texto).
(Exemplo de como os jornalistas e humoristas de O'Pasquim se utilizavam de brincadeiras e jogos gráficos para
a construção de uma linguagem única para se relacionar com seus leitores, passando algumas vezes
despercebidos, pelos censores da ditadura, ao realizarem críticas no conteúdo do semanário).
3.5.1 COMO DRIBLAVAM A CENSURA
Na década de 70 houve o início do Pasquim como um periódico, fazendo oposição ao
regime da ditadura, utilizando como principal elemento o humor. Em uma época onde haviam
demissões em massa nas redações devido a não aceitação das novas “diretrizes” o Pasquim
deu voz a uma série de jornalistas, intelectuais e artistas excluidos dos meios de comunição.
E antes mesmo do crivo do censor, os donos dos jornais, redatores, editores e os
próprios jornalistas se censuravam seguindo as “recomendações” das instituições
governamentais. Nesse sentido, o jornalista que não concordasse ou desobedecesse tais leis
era demitido. ( KUSHIR, 2004)
Portanto, estes jornalistas buscaram através de uma imprensa alternativa ao regime
ditatorial uma nova forma de expressão. Nos anos 70 o termo “imprensa alternativa” era de
dominio comum da sociedade brasileira, nesta mesma época foram criados cerca de 150
periódicos que buscavam uma oposição ao regime, identificados como jornal tipo tablóide , a
venda era feita em bancas ou “de mão em mão”. Dentre estes jornais, podemos destacar o Pif
Paf e A Carapuça que foram precursores do Pasquim (como já foi citado no texto).
É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a
assolar o país. Pouco depois da redentora, cocorocas de diversas classes sócias e algumas
autoridades que geralmente se dizem “otoridades”, sentindo a oportunidade de aparecer, já
que a redentora, entre outras coisas, incentivou à política do dedurismo (corruptela de dedo
durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, enfim, como
corrupto ou subversivo alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas) iniciaram
essa feia prática advindo daí cada besteira que vou te contar (PRETA, 1996:5)
O Pasquim utilizou a ideia do dedodurismo com base em Stanislaw 21 e inverteu sua
lógica a seu favor, denunciando jornalistas, intelectuais, personagens públicos, políticos, que
apoiavam a ditadura.
(Críticas aos "dedo duros" em O'Pasquim foram
influências de Stanislaw Ponte Preta Sérgio Porto)
(A publicidade também fazia parte da própria produção humorística no tablóide À direita: Propaganda
do Rum Montilla que utilizouse da frase bordão de O'Pasquim: "inserido no contexto" para destacar sua marca)
3.6 PERSEGUIÇÕES AOS JORNALISTAS E CARTUNISTAS
22
Pseudônimo do gaúcho Aparício Torelly, produzia sonetos e quadrinhos populares. Ficou conhecido através de
sua coluna “ Amanhã tem mais” no jornal O Globo.
No ano de 1971 após a sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga
anunciando “Eu quero Mocotó!”, os jornalistas: Paulo Francis, Jaguar, Ivan Lessa, Ziraldo,
Luiz Carlos Maciel, Sergio Cabral Paulo Garcez, Flavio Rangel, Tarso de Castro e Fortuna
foram convidados a prestar esclarecimentos aos militares, pois os oficiais queriam saber se
havia alguma ligação deles com o comunismo internacional. 23
Ao comparecerem perante os militares quase todos os jornalistas supra citados foram
presos.
Tal fato não poderia ser noticiado em página alguma do tablóide, pois prejudicaria na
popularidade do mesmo diante dos leitores e principalmente dos anunciantes. Millôr teve a
ideia então de anunciar que era uma epidemia de gripe no Pasquim, ele ficou no comando
editorial junto com Henfil e Martha Alencar.
Além de fazer seus próprios desenhos Henfil fazia, também, cartuns imitando o estilo
dos cartunistas que estavam presos. Neste período grandes artistas e intelectuais da época
colaboraram, entre estes: Chico Buarque, Antonio Callado, Odete Lara e Glauber Rocha .
Na ocasião da prisão Jaguar e Sergio Cabral não estavam presentes, Jaguar estava
escondido na casa de Samuel Weiner, reacionário que depredou o Jornal da Hora, e Sérgio
Cabral estava em um encontro de estudantes em Campos, quando Paulo Francis ligou para os
dois pedindo que voltassem ao Rio pois queriam apenas depoimentos.
Ficaram dois meses presos e nunca prestaram nenhum esclarecimento, apesar da
dureza da época com os jornalistas e cartunistas do Pasquim nada ocorreu durante a prisão.
A única ameaça grave que sofreram veio de grupos esquerdistas que os selecionaram
para uma lista de prisioneiros a serem trocados em caso de sequestro, solicitavam que fossem
à Argélia para a operação, mas, obviamente ninguém aceitou participar.
Segundo Jaguar, a única tortura física que aplicaram foi de cortar a imensa “cabeleira”
de Luís Carlos Maciel. O cartunista diz que foi o melhor período de sua vida, bebiam o dia
inteiro. Sérgio Cabral que nem havia sido convocado inicialmente foi levado à prisão , conta
que em certa ocasião o Capitão os chamou para conversar, “abriu a cela, pediu copos de
23
Imagem que deu início às suspeitas dos censores e causou a prisão dos jornalistas.
cerveja e um soldado para tocar violão e ficaram a noite inteira batendo papo, eles gostavam
da gente e eram leitores do Pasquim”24.
Depois da prisão, o Pasquim ficou chato, os anunciantes fugiram...virou a subversão
da subversão. Começamos a aplicar autocensura, que é o pior tipo de censura que pode
existir.25
O fato é que o comportamento dos integrantes do Pasquim era tão anárquico quanto
seu próprio conteúdo, eram apolíticos.
Após o acontecimento da prisão dos jornalistas era necessário que, antes da
publicação, cada edição fosse enviada à Brasília para aprovação dos censores. Apesar de não
terem sofrido durante a prisão, a situação para o Jornal ficava cada vez mais complicada,
perderam anunciantes, semanalmente bancas de jornais sofriam ataques de bombas e os
jornaleiros eram ameaçados caso insistissem em continuar vendendo o Pasquim.
24
Trecho retirado de entrevista durante o documentário “ O Pasquim A Subversao do humor” (Produção: TV
Câmara)
25
Sérgio Cabral, durante o documentário “ O Pasquim A Subversao do humor” (Produção: TV Câmara)
26
26
Carta de Chico Buarque quando retornou da Itália e descobriu que toda a redação estava presa.
3.7 OS PROBLEMAS DE GESTÃO NO PASQUIM E O PERÍODO EM QUE MILLÔR
COMANDOU O EDITORIAL
Houveram períodos no decorrer da história do semanário o qual estudamos, em que os
jornalistas participantes obtiveram lucro o bastante a ponto de modificar toda a estrutura de
O'Pasquim, tornandoo um dos grandes grupos editoriais da época, mas não o fizeram.
Durante os primeiros 18 meses e também após 7 anos de sua primeira publicação
(quando a Editora Codecri nova razão social de O 'Pasquim liderou em vendas de livros no
Brasil tendo em 1976, 6 títulos e mais de 250 mil exemplares vendidos) os lucros do grupo
foram demasiados.
Tais oportunidades foram pelo ralo por pura incompetência empresarial, um dos
exemplos de grande destaque foi a época em que o jornal era dirigido por Tarso de Castro:
"No primeiro ano, o Pasquim teve um lucro de Cr$ 700 mil, e nunca tinha dinheiro. o contador
José grossi tinha um talão de 50 cheques pré assinados pelo Jaguar e pelo Tarso. grossi tinha um
Alfaromeo italiano que custava us$ 50 mil [...].
O Tarso de Castro era a pessoa chave, a cabeça do jornal, o que bolava tudo, fazia e acontecia,
mandava mais que o Jaguar, que ainda trabalhava no Banco do Brasil, nessa época. o Pasquim
começou a ganhar muita grana e eles extrapolaram. era uma fortuna o que se ganhava. Cartão de
crédito do Diners, restaurantes, bebida, foi uma loucura, uísque sempre do melhor. Quem dirigia o
jornal, no começo, era o sérgio Cabral e o tarso. sérgio Cabral deixava os talões assinados e o tarso
gastava tudo. suítes em hotéis, carro puma. eu me divertia a meu modo, passava cinco dias da semana
no Arraial do Cabo. Tarso de Castro havia se apoderado do controle e gastava no que queria,
aproveitavase da desorganização"27
No intúito de impedir que mais erros fossem cometidos dentro da direção do tablóide,
Millôr pressionou Tarso de Castro a redistribuir as cotas de ganhos dentro da redação, Tarso
por outro lado impôs a condição que sua mulher: Bárbara Oppenheimer entrasse na
presidência do grupo. Em uma reunião somente dos humoristas (dentro do ateliê de Millôr) os
mesmos decidiram que aceitariam a proposta de Tarso, mas que no dia seguinte a
redistribuição das cotas iriam (em assembléia) depôr sua mulher como presidente.
O clima era de indecisão e disputas internas no tablóide. No dia em que os humoristas
iriam depôr Bárbara foi justamente quando a prisão dos humoristas pelos militares ocorreu,
fato que resultou no aborto dos planos de Millôr.
"Do retorno da prisão, em janeiro de 1971, até setembro de 1972, quando Millôr assumiu a
direção do jornal no contexto de uma intervenção da sociedade civil, a “patota” sofreu o agravamento
dos conflitos internos, chegando à semidissolução. tarso de castro saiu em janeiro, sendo substituído
por sérgio cabral, que no entanto só ficou até junho, quando também saíram fortuna e Luís carlos
Maciel. Martha alencar foi substituída por Mauricio glatt. Ivan Lessa volta de Londres e reforça a
27
KUCINSKI, Bernardo - paé g 114 - Livro: "Jornalíéstas e Revolucionaé rios" - (1991 - Editora Paé gina Aberta)
equipe. o jornal no final de 1972 era basicamente produzido por henfil, ziraldo, Lessa e jaguar, o único
que nunca abandonou o jornal. cláudio ceccon e carlos Prosperi já haviam saído. foi discutida e mais
uma vez abandonada a idéia de formar uma cooperativa."28
Dada a situação já delicada em que o Pasquim se encontrava, um empresário apareceu
diante do grupo para tentar auxiliar a todos Fernando Gasparian, (interessado em conseguir
mais conhecimentos a respeito do jornal alternativo) ele então realizou um exame de tudo que
estava ocorrendo, comprovando suspeitas anteriores de que havia uma enorme dívida no
jornal da patota e além de tudo, desvios internos.
Gasparian fez uma parcela nas dívidas para pagálas em 24 meses avalizandoas
pessoalmente.
"Após um trabalho de meses de convencimento, em setembro de 1972 Millôr aceitou a tarefa
de administrar o Pasquim. Gasparian financiou o pagamento das dívidas, recebendo ações que depois
doou a Fausto Wolf. Henfil assumiu as tarefas de administração. ficara clara a não confiabilidade
administrativa de Jaguar, o gênio d’o Pasquim. Millôr cortou os telefonemas internacionais, as
despesas extravagantes. a razão social foi mudada para codecri e iniciouse a publicação de livros.
Haviam caído verticalmente as vendas do jornal, por um processo de rápido envelhecimento
editorial. A venda avulsa caiu a apenas 45,5 mil exemplares no último trimestre de 1972. Em meados
de 1973 estava em 40 mil exemplares..."
"...com o colapso do milagre econômico, reduziuse o poder de compra da classe média,
aumentaram desproporcionalmente os custos de transporte. Ao mesmo tempo, abriase um período de
reflexão crítica, não bastava o deboche. Essa mudança já havia sido detectada em 1971, por Henfil. os
encalhes eram grandes, chegando a 50% da tiragem. “os caras pararam de comprar o Pasquim, o
pessoal mais novo, e aconteceu o fenômeno que os pais começaram a comprar [...]"29
De acordo com Jaguar, o semanário já deveria ter finalizado suas atividades logo após
o saneamento das dívidas que Millôr promoveu, enquanto as tiragens ainda atingiam 70 mil
exemplares.
Existiam estudos que afirmavam O Pasquim como uma atividade empresarial inviável.
No ano de 1973 Millôr realizou outro levantamento, desta vez a respeito do sistema de
distribuição da Editora Abril (responsável pela prensas nas quais eram impressos os
exemplares do semanário) onde a mesma se tornava responsável pelo baixo retorno de
vendagem nas bancas, logo que a editora cobrava uma comissão absurda de 45% do preço de
capa e não permitia aos jornaleiros ficarem com o tablóide em consignação (eles pagavam à
vista por tudo).
28
KUCINSKI, Bernardo - paé g 115 - Livro: "Jornalíéstas e Revolucionaé rios" - (1991 - Editora Paé gina Aberta)
29
KUCINSKI, Bernardo - paé g 115 - Livro: "Jornalíéstas e Revolucionaé rios" - (1991 - Editora Paé gina Aberta)
3.8 A ABERTURA POLÍTICA E O FIM DA DITADURA MILITAR
Neste tópico do texto iremos fazer uma breve pausa nas dissertações a respeito do
Pasquim para fazer uma contextualização histórica do leitor a respeito do fim da ditadura
militar, fato que também ajudou a mudar os rumos do tablóide e será de enorme importância
para a conclusão da tese posteriormente...
A abertura política brasileira foi um processo de desestabilização do Regime Militar
no Brasil a caminho da Democracia. Começou em 1974 no governo do General Ernesto
Geisel e terminou em 1985 com o mandato de João Baptista Figueiredo, no ano em que a
ditadura militar acabou.
Ernesto Geisel assumiu a presidência em 1974 com o projeto de “distensão lenta,
segura e gradual”. A imagem dos militares estava começando a ser questionada após as
dezenas de torturas, assassinatos e desaparecimentos de estudantes e operários nos anos de
chumbo. A ideia era suavizar o regime militar e permitir algumas pequenas liberdades e
posteriormente retirar os militares do governo.
O País passava por uma crise econômica que se agravava a cada dia. O elevado preço
do petróleo e as altas taxas de juros internacionais desequilibravam o balanço brasileiro de
pagamentos e estimulava a inflação, apesar de todos esses problemas econômicos, o governo
não cessava o ciclo de expansão econômica iniciado nos anos 70, com isso aumentando o
desemprego.
Em 1979 João Batista Figueiredo assumiu a presidência do Brasil, sua administração
promoveu uma frouxa transição para os civis. Em seu discurso ao vencer as eleições promete
fazer deste País uma democracia no plano político concedeu anistia ampla geral e irrestrita
aos políticos cassados pelos atos institucionais, permitiu o retorno ao Brasil dos exilados pelo
regime militar. O governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país e os partidos
políticos voltam a funcionar dentro da normalidade.
Nos últimos anos do governo militar, a oposição ganha terreno com o surgimento de
novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos. Em 1984, políticos de oposição, artistas
e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável
à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantia eleições diretas para Presidente da
República naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos
Deputados. No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo
Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Foi o fim do
regime militar, porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo.
Assume então o vicepresidente José Sarney. Em 1988 foi aprovada uma nova constituição
para o país, apagando assim todos os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios
democráticos no país.
Já situados na história agora podemos terminar nossa breve explicação a respeito do
tablóide, finalizando assim o capítulo que leva seu mesmo nome.
3.9 A SOBREVIDA E O FIM DO PASQUIM
Após a prisão de boa parte da redação do Pasquim, a maioria dos anunciantes não
queria mais se envolver com o jornal, e outros que continuaram sofriam uma pressão para não
colocar anúncios no jornal.
Além disso, a censura estava muito mais pesada em cima do Pasquim, corroendo toda
a liberdade de expressão e também destruindo o jornal econômicamente, a censura causando
atrasos na produção e na distribuição do Pasquim, muito dinheiro e tempo estavam sendo
desperdiçados. Para colaborar com a ruína do jornal também haviam atentados em que grupos
contrários aos redatores pasquinianos, que colocavam bombas nas bancas de jornal,
ameaçando assim os jornaleiros à não venderem mais o Pasquim (mais da metade das bancas
que vendiam o tabloide deixaram de vender aterrorizados com a ameaça).
Também haviam problemas na administração financeira do Pasquim, que era um
jornal de custo muito barato, porém, sendo mal administrado, ele não estava dando mais
lucro.
Quando o semanario estava quase falído, Jaguar e Ziraldo levaram o jornal a uma
disputa políticopartidaria, contrariando assim sua tradição anarquica e os separando. Ziraldo
apoiava a tese defendida pelo PC, de que era importante eleger governantes do PMDB, entre
eles Miro Teixeira, no Rio de Janeiro, propondo assim que o Pasquim trabalhasse na
candidatura dele em troca de anúncios de Chagas Freitas, em uma ruptura total às tradições do
jornal. Jaguar por outro lado apoiava a candidatura de Brizola. Assim o Pasquim se
desmoralizou e o pouco do público assíduo que o tablóide ainda tinha, começou a ficar
descontente.
Semanalmente saindo com matérias "PMDBistas" do Ziraldo e "Brizolistas" do
Jaguar, o semanário entrou em um declinio sem volta. Os dois ainda apostaram que quem
vencesse ficaria com todas as cotas do Pasquim. Brizola ganhou e Jaguar se tornou o unico
dono do falído Pasquim, com US$ 200 mil em dívidas.
Após o fim da Ditadura, o Pasquim decaiu muito, pois o jornal ia contra a censura, e
sem censura eles não tinham o que ir contra. Muitas brigas internas ocorreram devido a
opinião política individual dos membros da redação e um por um da redação do Pasquim foi
deixando o jornal de lado para ir criar outros projetos, como o Planeta Diário, que era um
tabloide mensal, feito por Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva, que faziam parte da redação do
Pasquim, criando assim um tipo de concorrência para o Pasquim.
Graças aos esforços de Jaguar (o único da equipe original a permanecer no Pasquim) o
semanário continuou a ser lançado, porém a qualidade caiu, pois não havia dinheiro e nem
pessoal. Com isso o Pasquim chegou ao fim com sua última edição lançada em novembro de
1991.
CAPÍTULO 4: SOCIEDADE PÓSDITADURA
"Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta"
Chico Buarque.
4.1 O FIM DA DITADURA E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A partir de 1985 o nosso país virava uma das páginas de sua história e entrava em um
processo que fora denominado como Redemocratização. Era o início da abertura política que
retomava os valores democráticos na pauta do estado brasileiro.
Em 1988 foi estabelecida pela assembleia constituinte a primeira constituição do
período pósditatorial da República Federativa do Brasil, assinada por diversos partidos e foi a
mesma responsável por assegurar o direito do cidadão brasileiro à votar em eleições diretas e
garantir sua liberdade de expressão em diversos aspectos, e isso incluiu toda a mídia e os
profissionais do ramo jornalístico no país...
Notícia da primeira página do jornal O Dia (26/05/1988)
30
Trecho da matéria de jornal referente ao fim da censura, extraída do portal O Dia datada de 26/05/1988
TeresinaPI.
31
31
Capa do jornal "Folha de Saã o Paulo" - (Saã o Paulo-SP) datada de 20/03/1964 dando a entender (pela
manchete da mesma) que o interesse da maior parte do povo era pela manutençaã o do regime militar.
4.2 A SOCIEDADE PÓS MODERNA
"As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estão em declínio, fazendo
surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito
unificado. A assim chamada "crise de identidade" é vista como parte de um processo mais amplo de
mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando
os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social" 32
O que Stuart Hall define em seu livro como uma "crise de identidade" da sociedade
pósmoderna é um dos elementos chave para a compreensão de como foram se moldando,
através do tempo, as gerações seguintes aquelas que vivenciaram os períodos obscuros da
ditadura e das guerras que ocorreram ao redor do mundo enquanto nosso país lutava sua
própria "guerra interna" pela liberdade. Mas antes que possamos retomar esta parte da
discussão precisamos entender mais a respeito do significado de pósmodernismo.
Para diversos autores a pós modernidade é caracterizada como uma ruptura com o
pensamento modernista que era, até então, a noção progressista de mundo na qual a sociedade
caminhava e acreditava ser o modelo ideal a ser seguido (mas de acordo com os pensadores
pós modernistas) não bastou e nunca foi o bastante para compreender a humanidade.
Dentro da noção do modernismo podiamos incluir o progressismo, o iluminismo (que
mobilizava o poder da razão em seus conceitos: "O Iluminismo é, para sintetizar, uma atitude
geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em
condição de tornar este mundo um mundo melhor mediante introspecção, livre exercício das
capacidades humanas e do engajamento políticosocial."33) , o Positivismo de Auguste Comte
("Basicamente, a característica essencial ao positivismo, tal qual o concebeu Comte, é a
devoção à ciência, vista como único guia da vida individual e social, única moral e única
religião possível. Desse modo, em última análise, o positivismo é compreendido como a
"religião da humanidade". 34) , entre outras formas de pensamento que também
compartilhavam de uma visão otimista para os rumos da humanidade (cada qual com sua
particularidade, claro) mas todas sempre deslumbrando um futuro onde, em algum ponto, o
ser humano atingiria seu ápice.
Todas essas correntes foram impulsionadas pelos avanços científicos e filosóficos que
foram se intensificando desde o fim da idade média, passando pela revolução industrial e
culminando em todo um novo formato de se enxergar o mundo, o próprio avanço das
primeiras formas do capitalismo e ,em contraponto ao mesmo, o socialismo, podem ser
32
HALL, Stuart "A identidade cultural da pósmodernidade" , 10 ed. ,2003, pág 07, DP&A Editora.
33
Reill, Peter Hanns (2004) "Introduction". In: Encyclopedia of the Enlightenment. Editada por Peter Reill and
Ellen Wilson. New York: Facts on File, pp. xxi
34
fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/positivismoordemprogressoeacienciacomoreligiaoda
humanidade.jhtm
entendidos dentro desta lógica modernista (pois em seu ideal existe uma jornada humana pelo
progresso mesmo que por diferentes caminhos).
Esta busca progressista nesta era da modernidade acabou resultando em inúmeros
embates: uma busca imperialista pela hegemonia econômica, corridas armamentistas, o
aflorar de sentimentos nacionalistas entre diversos outros fatos que terminaram
desencadeando as guerras que caracterizamos como primeira e segunda guerra mundial, e
posteriormente a guerra fria. Todo esse aspecto negativo que a noção de mundo modernista
trouxe com essa procura incessante pelo progresso, como é o caso das guerras, foi um dos
fatores que serviu como combustível das críticas pósmodernistas.
Cena do Filme: "Tempos Modernos" de Charlie Chaplin
(Uma crítica do cineasta aos valores perseguidos na modernidade)
"A modernidade dos séculos 19 e 20 foi um período de grandes transformações econômicas,
sociais e culturais no Ocidente. Foi a época em que mais rapidamente avançaram e prevaleceram as
idéias otimistas do Iluminismo, de uma sociedade baseada na razão, na ciência, na busca da verdade,
no humanismo, na democracia liberal, no individualismo e na liberdade. Mas foi também o momento
em que o homem protagonizou o terror e a barbárie das duas grandes guerras mundiais."35
"A educação recebida dos pais e das escolas, os valores como ética, moral e caráter, a religião,
a solidez do casamento e da família, estão perdendo espaço para novas formas de
comportamento regidas pelas leis do mercado, do consumo e do espetáculo.
35
fonte: http://lazer.hsw.uol.com.br/modernismo.htm
Vivese numa época de grande barbárie e de pouca solidariedade. São tempos de alta
competitividade guiados pela lógica da acumulação de bens e das aparências. Em nome dessa
nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores que sequer
chegaram a formar. O que importa é ser reconhecido, ser admirado, ter acesso a uma
infinidade de produtos e serviços e usufruir o máximo do prazer..."
"...para a maioria dos autores, a PósModernidade é traçada como a época das incertezas, das
fragmentações, da troca de valores, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da
efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, do narcisismo, da apatia, do
consumo de sensações e do fim dos grandes discursos."36
Tendo em mente todas estas informações a respeito do significado do que é o pós
modernismo podemos, à esta altura, retomar os conceitos apresentados anteriormente onde
relacionávamos os conhecimentos de Stuart Hall a respeito da crise de identidade pós
moderna com a sociedade que foi tomando forma durante o período final e contemporâneo à
ditadura.
Em seu livro "A identidade cultural na pós modernidade" Stuart tenta demonstrar a
existência de uma crise com a identidade cultural entre todos os seres humanos modernos, ele
defende em sua tese que a identidade moderna acabou por ser fragmentada, ou seja, as
paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade (por exemplo)
que no passado nos serviam para fornecer sólidas localizações como indivíduos sociais, não
são mais suficientes para definir o sujeito pós moderno como um "ser integrado"...
"Esta perda de um "sentido de si" estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento
ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento Descentração dos indivíduos tanto de
seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos constitui uma "crise de identidade"
para o indivíduo."37
Para este autor, (anteriormente na história) haviam "quadros de referências que
ligavam o indivíduo ao seu mundo social e cultural" que posteriormente foram descentrados,
principalmente por conta do processo de globalização (conceito que iremos retomar mais a
frente no texto).
"Desde a década de 1980, desenvolveuse um processo de construção de uma cultura
em nível global. Não apenas a cultura de massa, já desenvolvida e consolidada desde meados
do século XX, mas um verdadeiro sistemamundo cultural que acompanha o sistemamundo
políticoeconômico resultante da globalização" 38
A essa altura o leitor já deve estar se perguntando: Mas qual a relação do que foi
descrito até agora com os leitores de O' Pasquim ou com a sociedade pós ditadura (a mesma
que dá o nome para este capítulo no qual nos encontramos) ???
Nesta leitura, o que tentamos evidenciar com todos estes conceitos, desde a
36
fonte: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/otimismoposmoderno2.html
37
HALL, Stuart "A identidade cultural da pósmodernidade" , 10 ed. ,2003, pág 09, DP&A Editora.
38
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pósmodernidade
modernidade e pós modernidade até a "crise da identidade" de Stuart Hall é que houve uma
ruptura entre a forma de pensar de grande parte da sociedade que vivenciou o período
ditatorial e a forma de pensamento das gerações subsequentes (nas quais podemos identificar
esta "crise de identidade" da qual este mesmo autor supracitado se refere em seu livro).
O que podese perceber do leitor assíduo deste tabloide de humor (objeto de nossa
pesquisa) durante os anos de repressão, é que, o mesmo ainda não estava passando por essa tal
"crise de identidade", os valores que estabeleciam o perímetro do que podemos chamar de
identidade cultural ainda eram bastante presentes e estavam ainda vivos no contexto dos
interessados em todo o conteúdo críticohumorístico e de contracultura de O'Pasquim
naqueles tempos, em outras palavras, a sociedade de uma forma geral (por conta de todo o
contexto da época) era mais politizada e mais segura de seus valores e ideais, mas o mundo
foi se modificando (como já explicamos em parte ao descrevermos os conceitos de
modernismo/pós modernismo) e com isso a sociedade e as gerações posteriores àquela que
lutou contra os militares também se modificou, não interessada em carregar consigo os
mesmos parâmetros e causas perseguidas por seus antecessores.
Outro fator que foi importante para entender a desmotivação desta sociedade pós
ditadura não só pelo conteúdo pasquiniano mas por diversas outras publicações
jornalísticas alternativas, foi o fenômeno da globalização, que modificou também o ser social
e contribuiu para a (já descrita) crise de identidade que Stuart Hall disserta a respeito, além de
ter sido responsável pela criação de diversos conteúdos concorrentes ao Pasquim (mesmo que
alguns baseados nele) por conta (além de outras coisas) da eficácia na rapidez da
informação. A seguir iremos discutir mais a respeito do tema...
4.3 A GLOBALIZAÇÃO, A INDÚSTRIA CULTURAL E A SOCIEDADE DE
CONSUMO
Entre diversos fatos que contribuíram para uma mudança de pensamentos e valores na
sociedade que sucedeu aquela que vivenciou a década de 60/70, podemos ressaltar o
fenômeno da globalização, o "boom" da indústria cultural com a ascensão do capitalismo
como o sistema econômico vigente até hoje, e o conceito da "sociedade de consumo", que
iremos falar a respeito nas próximas páginas.
A globalização pode ser entendida como um fenômeno advindo do capitalismo, que ao
se tornar um bloco econômico unificado no mundo todo, interligou econômicamente,
políticamente, socialmente e culturalmente todos os países que o integram, acabando por
mundializar o espaço geográfico. O processo de globalização pode ocorrer em diversas
escalas e as consequências dele são divergentes de acordo com o país onde o fenômeno
ocorre, porém são as nações com maior poder econômico aquelas que mais se beneficiam com
a globalização, expandindo seu mercado consumidor por meio de empresas transnacionais.
Existem diversas teorias a respeito da origem desta "aldeia global" onde muitas
apontam que ela pode ter tido início no período mercantilista aproximadamente no século XV,
quando houve uma queda dos custos de transporte marítimo e um aumento da complexidade
entre as relações políticas na europa.
Mais tarde este fenômeno começou a tomar um formato modernizado a partir da
revolução industrial e posteriormente se alavancou mais uma vez, sendo chamado então de
globalização moderna (fato ocorrido no fim da Segunda Guerra mundial).
"É tido como início da globalização moderna o fim da Segunda Guerra mundial, e a
vontade de impedir que uma monstruosidade como ela ocorresse novamente no futuro, sendo
que as nações vitoriosas da guerra e as devastadas potências do eixo chegaram a conclusão
que era de suma importância para o futuro da humanidade a criação de mecanismos
diplomáticos e comerciais para aproximar cada vez mais as nações uma das outras. Deste
consenso nasceu as Nações Unidas, e começou a surgir o conceito de bloco econômico pouco
após isso com a fundação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço CECA." 39
"A necessidade de expandir seus mercados levou as nações a aos poucos começarem a
se abrir para produtos de outros países, marcando o crescimento da ideologia econômica do
liberalismo."40
Outro aspecto que foi essencial para o avanço da globalização foi o desenvolvimento e
a expansão dos sistemas de comunicação, em um primeiro momento (antes do que chamamos
de globalização moderna) o rádio e posteriormente a tv, logo após em um segundo momento a
comunicação via satélites, a informática/internet, melhoras nos sistemas de transporte e
também na telefonia, interferindo amplamente nas relações sócioeconômicas entre os países
no mundo. Este segundo momento descrito acima podemos dar o nome de Terceira
Revolução Industrial.
A influência desse fenômeno acabou por interferir não só em aspectos econômicos e
sociais como em um âmbito cultural também (em diversas populações), com uma rapidez
maior dos meios de comunicação em especial a televisão e a internet, os hábitos dos seres
humanos começaram a sofrer alterações por conta deste mundo tecnológico.
Outro conceito a ser aprofundado é o da indústria cultural. A sociedade que viveu os
períodos pós ditadura (muito mais do que as gerações antecessoras a ela) sofreu fortemente
influências do avanço na indústria cultural que se deu (entre outros motivos) pelo fim da
39
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Globalização
40
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Globalização
censura, abertura maior dos mercados e principalmente por conta da globalização.
"O termo indústria cultural (em alemão Kulturindustrie) foi cunhado pelos filósofos e sociólogos
alemães Theodor Adorno (19031969) e Max Horkheimer (18951973), a fim de designar a situação
da arte na sociedade capitalista industrial.
Para os dois pensadores, a autonomia e poder crítico das obras artísticas derivariam de sua
oposição à sociedade. No entanto, o valor contestatório dessas obras poderiam não mais ser possível,
já que provou ser facilmente assimilável pelo mundo comercial. Adorno e Horkheimer afirmavam que
a máquina capitalista de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte
erudita quanto a arte popular. Isso estaria acontecendo porque o valor crítico dessas duas formas
artísticas é neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores.
A arte seria tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estando sujeita as leis de oferta e
procura do mercado. Ela encorajaria uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o
que ele quer, desencorajando o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência estética. As
pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado. Por outro lado, essa indústria
prejudicaria também a arte séria, neutralizando sua crítica a sociedade.
Para Adorno e Horkheimer, Indústria Cultural distinguese de cultura de massa. Esta é oriunda do
povo, das suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada, enquanto que
aquela possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção
comum voltada ao consumismo. E embora a arte clássica, erudita, também pudesse ser distinta da
popular e da comercial, sua origem não tem uma primeira intenção de ser comercializada e nem surge
espontaneamente, mas é trabalhada tecnicamente e possui uma originalidade incomum – depois pode
ser estandardizada, reproduzida e comercializada segundo os interesses da Indústria Cultural."41
O avanço da indústria cultural no nosso país no período de pós ditadura foi crescente e
evidente no mercado, a forma com que a cultura começou a ser dispersa pelos meios de
comunicação tanto impressos como televisivos foi impressionante, e vista de uma forma
mercadológica é claro (assim podendo ser entendida como parte da indústria cultural).
Foi a partir deste avanço na indústria da cultura que vimos uma sociedade (mais do
que nunca antes) dependente desta mesma indústria e muito mais "faminta" por novas
informações, por novos pontos de referência para se pautar, e foi por conta deste fato que
pudemos perceber um descontentamento dela por publicações antigas (como era o caso de
O'Pasquim) e sua atenção agora dispersa por novas públicações que foram surgindo e
entrando no mercado para concorrer em diversos eixos que até então nunca foram explorados,
e outros que já eram de praxe mas que precisavam se readaptar aos novos tempos (e não o
fizeram).
Um ótimo exemplo dessa enorme força que a indústria cultural trouxe consigo quando
teve essa guinada com a globalização atingindo de maneira mais drástica nosso país e a
41
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Indústria_cultural
redemocratização do mesmo, foram as novelas da rede globo de televisão, que ofereciam uma
nova forma de ótica da sociedade, costumes e cultura do nosso povo, dentro dessa indústria
cultural, este canal soube a princípio (e sabe até hoje) as maneiras mais eficientes de interferir
e (de certa forma) moldar a cultura de nossa sociedade.
Outro conceito que devemos colocar em pauta é o da sociedade de consumo, este
conceito é utilizado para explicar a sociedade característica deste mundo desenvolvido onde o
capitalismo acelerou os processos de consumo e aumentou a oferta de produtos em relação a
demanda dos mesmos, massificando os padrões de consumo como explica o texto da
wikipédia a seguir:
" As principais características da sociedade de consumo são as seguintes:
. Para a maioria dos bens, a sua oferta excede a procura, levando a que as empresas recorram a
estratégias de marketing agressivas e sedutoras que induzem o consumidor a consumir,
permitindolhes escoar a produção.
. A maioria dos produtos e serviços estão normalizados, os seus métodos de fabrico baseiam
se na produção em série e recorrese a estratégias de obsolescência programada que permita o
escoamento permanente dos produtos e serviços.
. Os padrões de consumo estão massificados e o consumo assume as características de
consumo de massas, em que se consome o que está na moda apenas como forma de integração
social.
. Existe uma tendência para o consumismo (um tipo de consumo impulsivo, descontrolado,
irresponsável e muitas vezes irracional)."42
Agora que abordamos um pouco destes três conceitos podemos relacionálos melhor
com o ser pós moderno (e sua "crise de identidade") explicados no decorrer deste texto:
A globalização acelerou os meios de comunicação e as formas da sociedade de se
interagir com o mundo, ela foi uma das reponsáveis por essa "multiplicidade de identidades"
em que podemos definir o ser pós moderno e muito de seu descontentamento em encontrar
uma identidade única (pois a informação dentro desse contexto corre solta e desenfreada não
dando margem ao indivíduo de se identificar com uma estética ou visão de mundo única). Ela
possibilitou também uma guinada na indústria cultural que ajudaria a formar padrões culturais
na sociedade de maneira massificada, não abrindo espaço para que muitos pudessem construir
melhor sua individualidade. Já o avanço da sociedade de consumo ajudou a exacerbar ainda
mais características da pós modernidade ja exemplificadas aqui antes, como o individualismo,
o consumismo, a ética hedonista e a fragmentação do tempo e do espaço.
Já com todo esse tema da sociedade pós ditadura tratado, podemos notar vísivelmente
como a sociedade desde a década de 80 até hoje foi se moldando com diferenças enormes
daquelas que estudamos antes, no capítulo que explicou a respeito da sociedade que vivenciou
na década de 60/70 todos os anos de repressão.
42
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_consumo
Em contraponto a um modo de vida pautado em mudanças, em um certo romantismo
por acreditar que os valores poderíam ser diferentes no futuro, quase uma geração inteira que
caminhava um trajeto politizado, muitos em busca de uma revolução envolvendo toda uma
maneira de se pensar e viver nova, vimos desde o fim da repressão até agora o outro lado da
moeda: uma sociedade niilista que não acredita mais em rumo algum, que assiste de maneira
até banal o seu futuro acontecer, sem se importar, nem tentar qualquer tipo de interferência no
mesmo. E foi este um dos motivos pelos quais o Pasquim sucumbiu, e que pode dar pistas do
porquê a sua tentativa de se reerguer (no Pasquim 21, que discutiremos posteriormente)
também foi falha, onde pudemos observar um novo tablóide com proposta semelhante, ter tão
pouco tempo de vida.
Mas antes de dissertar a respeito da retomada do Pasquim por alguns de seus membros
mais afrente na história, iremos abordar no próximo capítulo dois jornais que foram
influenciados diretamente pelo Pasquim, inclusive contando com parte de alguns de seus
antigos colaboradores: o Casseta Popular e o Planeta Diário.
CAPÍTULO 5: CASSETA POPULAR E PLANETA DIÁRIO: O HUMOR QUE
SURGIU DO PASQUIM
5.1 PLANETA DIÁRIO
(Matéria do Planeta Diário datada de 1984)
O Planeta Diário foi um tablóide humorístico brasileiro públicado mensalmente entre
1984 e 1992. Suas raízes partem do tablóide O'Pasquim do qual os humoristas que
idealizaram O Planeta Diário fizeram parte como colaboradores durante muito tempo (Hubert,
Reinaldo e Cláudio Paiva).
Apesar de sua forma irreverente, personagens e alguns clichês que lembravam muito o
semanário pasquiniano o Planeta Diário inovou em muitos aspectos se relacionado com seu
antecessor e por isso foi um pouco mais aceito pela sociedade que viveu o processo de
redemocratização, apesar de ter tido bem menos tempo de duração.
Uma de suas inovações foi o uso de um layout bem parecido com o de jornais comuns
de distribuição diária e conteúdo sério, com o intuito de confundir realmente o leitor como se
suas matérias fossem reais apesar de todas terem um conteúdo humorístico:
"O Planeta Diário trazia manchetes falsas como "Nelson Ned é o novo Menudo",
"Maluf se entrega à polícia" e "Ozzy Osbourne morde Ivan Lins" 43
Muito de seu conteúdo também apresentava em seu formato gráfico (de uma maneira
nostálgica) referências ao estilo e linguagem dos quadrinhos, além de copiar anúncios e
chamadas de influentes revistas estrangeiras como National Geographic, Life e Saturday
Evening Post.
Em relação ao humor, O Planeta Diário, aproveitou sua existência pós ditatorial e
abusou de palavrões e de tiradas cômicas bem mais políticamente incorretas do que era visto
em O'Pasquim.
O Planeta Diário ficou tão famoso já em seus primeiros meses de vida, que no ano
seguinte algumas das notas que eram publicadas nele em uma sessão denominada "O Planeta
em Órbita", chegaram a serem transmitidas via rádio pela Transamérica do Rio de Janeiro.
Em 1986 a coluna do Perry White (sátira com o editorchefe do jornal fictício das
histórias em quadrinhos americanas do SuperHomem, que levava o mesmo nome do tablóide
humorístico) passou a ser reproduzida no jornal Folha de São Paulo.
43
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Planeta_Diário
(Matéria falsa do Planeta Diário satirizando o político José Sarney datada de Fevereiro/1985)
"Em 1987 o tabloide sentiu as consequências da crise pósPlano Cruzado. A queda nas
vendas foi acompanhada de uma série de reformas criativas. Deixando para trás os tempos da
novidade e do modismo, o Planeta adotou uma linha mais popular, reduzindo, mas nunca
suprimindo, a importância dos sutis jogos de palavras e das referências (algo obscuras) à
cultura pop que sempre rechearam os textos."44
Já no ano de 1988 os redatores do tablóide começavam a fazer sucesso em outra de
suas empreitadas, juntamente com a equipe do Casseta Popular (tablóide similar ao planeta
diário que fazia diversas colaborações ao mesmo e que discutiremos mais a frente) eles
realizavam o roteiro do programa Vandergleyson Show na Rede Bandeirantes e devido ao
retospecto positivo no programa da Band acabaram sendo convidados a participar na Rede
Globo do TV Pirata, onde então Cláudio Paiva resolveu dedicarse exclusivamente,
abandonando a redação do Planeta Diário.
Na década de 90 mais precisamente no ano de 1990, o tablóide sofre com
irregularidades no papel e na impressão e tem sua periodicidade prejudicada (muito por conta
do Plano Collor também) além de falhas da distribuição e redução do número de páginas.
Em 1992 os humoristas participantes começam a integrar o grupo do Casseta &
Planeta Urgente (programa humorístico da Rede Globo de enorme sucesso), juntos novamente
com o pessoal do Casseta Popular e passam a ter cada vez menos tempo para se dedicar ao
Planeta Diário.
44
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Planeta_Diário
Em julho do mesmo ano, tendo dificuldades financeiras a equipe do tablóide mensal se
juntou definitivamente com a equipe do Casseta Popular para dar fim ao Planeta Diário (e
também ao Casseta Popular) formando uma revista com esta fusão: a revista Casseta &
Planeta.
5.2 CASSETA POPULAR
A tablóide de humor Casseta Popular tem origens na época em que seus criadores
(Beto Silva, Hélio de la Peña e Marcelo Madureira) ainda cursavam engenharia na UFRJ em
1978.
Para fazer uma paródia ao jornal Gazeta Popular, eles começaram a distribuir um
fanzine somente em sua universidade com o nome de Casseta Popular.
Já na década de 1980 para poder transformar este fanzine em um tablóide com o
conteúdo mais rebuscado, o trio chamou então seus amigos Bussunda e Cláudio Manuel.
"O tabloide era vendido em bares, praias e na noite do Rio de Janeiro e em meados dos
anos 1980 atingiu um status cult com seu humor anárquico e irreverente, muitas vezes com
sobra de palavrões, mas sempre um legítimo representante do "politicamente incorreto" antes
mesmo que se viesse a falar de politicamente correto.
O Planeta Diário lançado em dezembro de 1984, contou com a colaboração da turma
do Casseta desde seu primeiro número, o que levou à distribuição nacional os artigos da
turma carioca."45
A revista dos cassetas se destacava muito por suas capas satíricas, que (semelhante a
fórmula do Planeta Diário) copiavam o layout de revístas sérias, recheando de humor em seu
conteúdo.
Muitas de suas capas apresentavam teor crítico aos comportamentos e costumes e
também a classe política da época, nelas incluiam temas como um Papai Noel fumando
maconha, militares das três armas como camêlos e Fernando Collor nu da cintura para baixo
apresentado como "Caçador de Maracujás".
"O conteúdo, com poucas seções fixas (uma exceção notável era a seção de cartas, na
qual os editores se divertiam "detonando" os leitores, à semelhança da tradição da Mad
brasileira), era muito variado, incluindo paródias de grandes reportagens e cadernos culturais
de jornais famosos, anúncios falsos, entrevistas, estudos pseudointelectuais e alguma
autopromoção da equipe "casseteana". Em fins dos anos 1990 a revista tornou mais intensa a
paródia dos modelos editoriais "sérios", em especial os da Veja e da Folha de S. Paulo."46
45
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casseta_Popular
46
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casseta_Popular
(Campanha fictícia do tablóide Casseta Popular piada que seria reproduzida novamente na televisão
no programa Casseta & Planeta Urgente.)
No ano de 1992 pelos mesmos motivos que deram fim ao tablóide Planeta
Diário (dificuldades financeiras e a atenção desviada aos programas de televisão que os
integrantes da redação ja participavam no caso do TV Pirata) além da escassez de anunciantes
os humoristas do Casseta Popular deram fim as suas atividades, mas recomeçaram um novo
projeto junto aos humoristas do Planeta Diário (como já foi citado anteriormente)
denominado: Revista Casseta & Planeta.
No capítulo a seguir iremos tratar do nosso segundo objetochave de estudo: O
Pasquim 21. Uma tentativa de alguns membros do antigo semanário de retomar o mesmo,
adicionando algumas inovações à formula original.
CAPÍTULO 6: PASQUIM 21
6.1 POR QUÊ COMEÇAR UM NOVO PASQUIM?
No ano de 2002, o cartunista Ziraldo resolve idealizar um novo projeto retomando o
antigo tablóide O'Pasquim. Nascia então O'Pasquim 21.
Ziraldo havia acabado de fechar as portas de sua revista humorística que fazia sátira a
revista Caras (da editora Abril) denominada: Bundas, pois a mesma demonstrou ter problemas
administrativos e dificuldades para encontrar anunciantes.
O Pasquim 21 fazia parte de uma idealização nostálgica de Ziraldo que estava
motivado em ressucitar o antigo semanário, contribuindo com novos elementos para que o
mesmo não caisse na mesma impopularidade que marcou O'Pasquim original nos anos que
sucederam o fim da ditadura militar.
(Foto da Capa de O'Pasquim 21 Rio de JaneiroRJ)
O Pasquim 21 começou com um bom investimento, de quase 2 milhões de reais e seu
discurso (assim como no primeiro Pasquim) era crítico a respeito da grande imprensa da
época (desta vez muito mais articulada e com uma capacidade de formadora de opinião muito
maior do que na época ditatorial) e ao governo em 2002, do qual Ziraldo e boa parte dos
integrantes do novo tablóide eram contra, o governo de Fernando Henrique Cardoso político
filiado ao PSDB.
"Para começar, queremos deixar bem clara a nossa posição, fato inédito na imprensa
nacional. Somos a favor do contrário de tudo que está aí [...] Nossa burrice oficial é
proporcional ao talento desperdiçado. Nossa inteligência sempre se perde no caminho do
poder, além de ser subaproveitada na grande imprensa. Assim toda reunião de talentos
brasileiros, como esta, se não serve para mais nada, serve para denunciar o desperdício. Não,
não, ninguém aqui quer o poder. Bom, talvez o Ziraldo. Só queremos ser o contraste."
(VERISSIMO, 2002, p.3).48
Participaram de O'Pasquim 21 os seguintes colaboradores: Fausto Wolff, Aroeira,
Ferreira Gullar, Arthur Poerner, Aldir Blanc, Mauro Santayana, Paulo Caruso, Santiago e
Sílvio Lancellotti. Jaguar e Millôr que também participaram anteriormente da Revista Bundas
e da primeira versão de O'Pasquim recusaram o convite para participar da versão pasquiniana
do século 21, afirmando que comparações com o semanário antigo seriam feitas e seu
conteúdo assim como sua linguagem não seriam assimilados pelo novo público jovem da
época (fato que já explicamos o porquê, anteriormente nesta dissetação, no capítulo: A
Sociedade pós ditadura).
Ziraldo enfatizou (respondendo às críticas) que não pretendia dar iníco a um
"renascimento" do primeiro Pasquim e queria na verdade só herdar seu nome e seu sentimento
contestatório para dar margem a novas interpretações por uma sociedade que já havia se
modificado e que já não vivia há tempos os anos de ditadura e guerra fria.
"Mas afinal, a idéia de um veículo como foi o Pasquim não seria apenas saudosismo,
um jornal com ‘cabeça de 70 em corpinho de 21’? ‘Claro que não estamos vivendo os anos 70
e as circunstâncias são outras. Mas fizemos levantamentos e há muita gente interessada no
projeto. Além disso, vamos abrir espaço para novos cartunistas e cronistas. Será uma
renovação’" Afirmou Zélio (irmão de Ziraldo e editorchefe no novo semanário).49
6.2 O OBJETIVO DO PASQUIM 21 E SEU RÁPIDO DECLÍNIO
47
SBARDELOTTO, Moiseé s. "DO PAPEL AOS BITS - As alternativos do jornalismo independente
comtemporaâ neo" - paé g. 54 - UFRS - Comunicaçaã o Social - (Porto Alegre-RS, 2006)
48
SBARDELOTTO, Moiseé s. "DO PAPEL AOS BITS - As alternativos do jornalismo independente
comtemporaâ neo" - paé g. 55 - UFRS - Comunicaçaã o Social - (Porto Alegre-RS, 2006)
49
fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp30012002991.htm
Em nossa pesquisa conseguimos assimilar que este tablóide teve como objetivo reviver
um pouco do sentimento humorístico, contracultural, e crítico ao governo que existia no
semanário original, mas tentando ao mesmo tempo inovar em alguns aspectos a fórmula do
Pasquim antigo, com novos integrantes, conteúdo a cores e a proposta de se opor a situação
política do ano de 2002 com um humor já livre de censuras, apesar de não tão escrachado,
como foi o exemplo da Revista Bundas, lembrando um pouco do humor irreverente sem ser
totalmente incorreto como víamos no Pasquim original.
Em seus primórdios o Pasquim 21 tinha mais "combustível" para críticas pois entre sua
redação existia um sentimento opositor aos políticos que se encontravam no governo naquele
período. Mais afrente sabemos que o governo de Fernando Henrique Cardoso perdeu terreno
para o então partido de oposição, o PT (Partido dos Trabalhadores), liderados por Lula (Luís
Inácio Lula da Silva) que viria a ser o novo Presidente da República. Diante de tal fato, um
dos motivos que tornavam o Pasquim 21 um tablóide mais crítico e opositor terminou por se
dissolver, logo que, para os editores e colaboradores do semanário, não havia interesse em se
criticar a situação governista, como era o caso do Presidente Lula e sua base aliada, que eles
tanto apoiaram ao longo de diversas publicações no conteúdo do novo Pasquim.
"Nós aqui, nós chegamos lá; Lula, nosso operário, chegou lá com os meninos
guerrilheiros que encontrou pelo caminho e que não perderam a fé nem a esperança. Vivi o
bastante para ver isto; eu queria ver isto! Estou muito alegre porque estou vendo isto. E
porque vou poder assistir com qualquer consequência que seja, com êxito ou fracasso, não
importa, estou falando de emoção a esta experiência absolutamente nova em nossa história.
[...] A vitória de um verdadeiro homem do povo, meu representante, aquele que o Euclides
disse que era, antes de tudo, um forte. Vai lá, Lula, que o Deus do Frei Betto te proteja!"
(PINTO, 2002b, p.62).50
Apesar do nome Pasquim nos trazer a mente lembranças de uma imprensa alternativa
das épocas ditatorias, no momento em que Lula subiu no palanque, muito se perdeu a respeito
do cárater opositor deste tablóide. A procura por uma visão crítica que já havia se perdido no
semanário acabou por afastar muitos dos leitores e por criar divergências dentro da redação do
mesmo. Em julho de 2004 é lançada a última edição do Pasquim 21.
"Não dá para fazer um jornal que apóie o governo", disse Ziraldo.
"O cartunista Ziraldo anunciou o fim do jornal O Pasquim 21 por achar
"desconfortável" fazêlo agora que Lula chegou ao poder.
O tablóide, inspirado em O Pasquim dos anos 70, foi lançado há dois anos e meio. O
último número irá as bancas nesta semana, com uma homenagem a Brizola, morto
recentemente, com a manchete "Adeus, Velho Briza".
Ziraldo explicou que a volta do jornal visava defender os ideais de Lula e que agora se
sente em uma posição desconfortável.
"Não posso abandonar o Lula agora. Como disse o pai de Fernando Sabino, se não
acabou bem é porque ainda não acabou", disse Ziraldo, sobre a situação política do país.
50
SBARDELOTTO, Moiseé s. "DO PAPEL AOS BITS - As alternativos do jornalismo independente
comtemporaâ neo" - paé g. 56 - UFRS - Comunicaçaã o Social - (Porto Alegre-RS, 2006)
"Estou com uma vontade de meter o pau neles também."51
Outro fator que foi importante para o declínio do semanário foram os problemas
econômicos que acabaram por resultar em uma diminuição de vendas dentro das bancas de
jornal. Em seu último ano o Pasquim 21 havia perdido fôlego por conta de menos contratos
com anunciantes, além disso ele concorria com muitos outros jornais de circulação semanal
que já tinham visibilidade há tempos nas bancas e pertenciam aos grandes grupos de mídia.
Além disso era essencial (diferentemente da época de repressão onde os jornais conseguiam
toda sua receita de anúncios + vendas nas bancas) que o jornal conseguisse um público fixo
que realizasse assinaturas do mesmo, e neste aspecto o Pasquim 21 também não teve êxito.
Em sua crítica (relacionada abaixo) um dos integrantes do antigo Pasquim: Sérgio
Augusto, dispara contra a publicação pasquiniana do século 21, relembrando muitos dos
pontos que já discutimos em nossa tese quando nos referimos a sociedade pós moderna,
ressaltando a visão niilista do público da época de 2002/2004 (e que não tem muitas
diferenças ao público dos dias de hoje, arriscamos dizer):
" O país mudou, a imprensa mudou e boa parte dos que fizeram o Pasquim morreu. As
pessoas não querem mais o Pasquim, querem a Caras - o que nos dá a justa medida da
decadência. [...] Poucas pessoas se interessaram por elas [publicações como Bundas e O
Pasquim21]. Bundas, a meu ver, muitíssimo superior ao Pasquim21, tinha um nome inviável.
O Pasquim21 era ruim mesmo, uma melancólica caricatura do original" (AUGUSTO apud
PINHEIRO, 2006, p.4) 52
CAPÍTULO 7: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO HUMOR NO BRASIL A
PARTIR DO PASQUIM
7.1 UMA BREVE CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO HUMOR NO BRASIL DESDE O
FINAL DO PASQUIM
Nesta parte do texto iremos discutir a respeito de como o humor foi sendo modificado e
renovado ao longo do tempo em nosso país (tomando como base O Pasquim, claro, para que
possamos não sair de nosso foco) sempre seguindo uma cadeia de influências, onde (no fim
do capítulo) tentaremos evidenciar a forte relação que todo e qualquer conteúdo humorístico
tem com o contexto social e o período na hístoria onde o mesmo foi inserido, mesmo que
muito do que tenha sido feito no âmbito humorístico, seja considerado por alguns como uma
crítica atemporal.
51
fonte: http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI341315EI3615,00
Ziraldo+desiste+de+publicar+O+Pasquim.html
52
fonte: SBARDELOTTO, Moisés. "DO PAPEL AOS BITS As alternativos do jornalismo independente
comtemporâneo" pág. 56 UFRS Comunicação Social (Porto AlegreRS, 2006)
Para isto usaremos um trecho de um texto retirado da internet que é bem pertinente para
nossa explicação:
"...Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a
ditadura militar com humor e picardia, e com a influência do Monthy Python, que na
Inglaterra emparedou o conservadorismo político, no final da década de 1970, e aqui deu
impulso a programas como a TV Pirata e o Casseta & Planeta, levados ao ar entre o fim dos
anos 1980 e o início dos 1990. Até hoje, pouco há de renovação nesses formatos consagrados.
Há um quê de humor de rádio em programas como Zorra Total e A Praça É Nossa, por
exemplo. “Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura, o humor funcionou como
válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o
véu da mera diversão”, diz Saliba.
O stand up, embora só agora tenha virado febre no país, já está por aqui desde a
década de 1960, representado pelo recém-falecido humorista José Vasconcellos. E não só com
ele. Outros veteranos do humor experimentaram o gênero. Conhecidos principalmente por
seus trabalhos na televisão, como os já clássicos Chico City, Satiricom e Planeta dos Homens,
nomes como Jô Soares e Chico Anysio já faziam uso do formato desde os anos 1960. Na
antiga TV Tupi, Anysio enfrentava a plateia munido de um microfone – e de verve.
Renascido como novidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gênero
revelou uma nova leva de humoristas que, assim como se deu no começo do século passado
com o rádio e o cinema, migraram da web para a televisão. Na TV, o humor de clubes e
pequenos palcos ganhou amplitude nacional com os participantes do CQC, exibido pela Band,
assim como o grupo em torno de Marcelo Adnet, que levou elementos desse formato para a
MTV. O movimento deu aos humoristas audiência, mas também limitações e riscos, além de
críticas e debates sobre os textos que criam ou improvisam. Piadas com teor de bullying são
defendidas pelos autores como o sagrado direito ao politicamente correto, quando o que está
em jogo é, na realidade, a qualidade artística do texto. "53
7.2 SERIA O HUMOR REFÉM DO TEMPO?
De acordo com o texto anterior pudemos evidenciar que apesar da fórmula inicial ser
sempre aproveitada, tudo o que foi sendo produzido à respeito do humor ao longo da história
teve seu destaque e se sobressaiu (podendo gozar de um período de auge) porquê soube
utilizar a medida certa de influências X inovações em sua fórmula (sempre levando em conta
nestas inovações, o contexto da época, que vai sempre se modificando conforme o tempo e o
gosto do próprio público adepto ao humorismo, que da mesma maneira vai se transformando a
medida que presencia novos marcos no humor e que ao mesmo tempo também pode ser um
fator mutacional para o próprio humor em questão).
Reforçando o que já pode ser entendido na notícia a respeito da história do humor no
Brasil, vimos um humor pasquiniano reinar durante um belo tempo na nossa história, mas
vimos também o humor do Planeta Diário (como cria do próprio Pasquim) se sobressair em
alguns aspectos e aproveitar as novas possibilidades que se faziam presentes após o término
da ditadura. Mais tarde nesta mesma sociedade vimos o Planeta Diário e o Casseta Popular
dar origens a revista e posteriormente ao programa: Casseta e Planeta, que se mostrou
bastante original e divertiu gerações nas telas da Rede Globo mas que perante ao humor mais
53
fonte: http://abcimaginario.blogspot.com.br/2012/03/o-humor-brasileiro-reflete-falta-de-uma.html
ácido e descompromissado de programas (já mais recentes) como Pânico na TV, CQC entre
outros que englobam humoristas de stand up comedy, não conseguiu resistir.
Desta maneira podemos reparar que existe um padrão nisto tudo, e que muito
provavelmente a fórmula deste humor que vemos hoje em dia pode muito bem não ser a
mesma fórmula vista no humor daqui há 10 anos por exemplo, concluíndo que assim como
muitas coisas na vida, o humor também é refém do tempo.
Mas este não é um dos únicos fatos isolados que provam o porquê de uma publicação
tão controversa, influente e desafiadora como o Pasquim difícilmente será repetida
posteriormente na história. A seguir nas considerações finais deste trabalho iremos destacar
em tópicos, alguns dos porquês nos quais (ao nosso ver) podemos explicar este fato, que nos
estimulou a realizar todo este trabalho apresentado até então.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Ao longo de nossa tese pudemos perceber os diversos motivos pelos quais o Pasquim
não teve forças para retomar suas atividades com o mesmo êxito que o fez ser tão reconhecido
na década em que ajudou a criar uma nova estética jornalística no cenário brasileiro. De todos
os motivos já abordados os que mais chamaram atenção para poder explicar nossa
problematização foram:
A censura como combustível.
Sim. A censura que ao mesmo tempo que fechou negócios e oprimiu diversas
publicações sem dar fôlego a muitos jornalistas de esquerda, foi justamente um dos fatores
que alavancou a criatividade dos humoristas e colaboradores do Pasquim, foi um combustível
para o tablóide, que conseguia driblar os censores utilizando o humor como arma, e neste jogo
de gato e rato entretia a todos os leitores e destacavase dos outros órgãos da imprensa. No
momento em que a censura terminou, um pouco da fórmula pasquiniana também se perdeu...
Erros administrativos/ dívidas.
Outro fator a ser levado em conta foram os erros administrativos, as diversas brigas
por divisões mais igualitárias das cotas dentro do semanário, o gasto abusivo de dinheiro por
parte da diretoria (como foi o caso já citado de Tarso de Castro) a falta de engajamento
empreendedor ao não se utilizar do dinheiro do lucro (que chegou a ser um valor
considerável) para comprar imóveis e equipamentos afim de se libertar dos interesses da
distribuidora e responsável pela impressão do Pasquim (Editora Abril) que nunca deixava que
os órgãos de imprensa pertencentes a "imprensa nanica" atingissem uma quantidade de cópias
superiores aos seus concorrentes , no caso, os semanários da grande mídia (como a Veja) e
que também dificultava a relação de venda dos tablóides na própria banca de jornal, não
possibilitando o jornaleiro comprar as edições em consignação.
Descaso das grandes editoras com a imprensa nanica.
Mais um motivo foi esse já supra citado no item acima, a respeito da não possibilidade
de crescimento que era imposta por diversos meios pela Editora Abril ao imprimir e distribuir
as cópias do semanário.
Inovações no humor/ O humor como refém do tempo.
Assim como já foi explicado no capítulo anterior: "...pudemos evidenciar que apesar
da fórmula inicial ser sempre aproveitada, tudo o que foi sendo produzido à respeito do humor
ao longo da história teve seu destaque e se sobressaiu (podendo gozar de um período de auge)
porquê soube utilizar a medida certa de influências X inovações em sua fórmula (sempre
levando em conta nestas inovações, o contexto da época, que vai sempre se modificando
conforme o tempo e o gosto do próprio público adepto ao humorismo, que da mesma maneira
vai se transformando a medida que presencia novos marcos no humor e que ao mesmo tempo
também pode ser um fator mutacional para o próprio humor em questão)".
O humor foi se adaptando as novas realidades e sempre irá realizar este caminho
(mesmo quando retoma um pouco de suas origens em alguns momentos...) O Pasquim apesar
de extremamente importante como marco de inovações no humor para um determinado
período, não soube se adaptar e por conta disto também sucumbiu.
A aceitação na sociedade pós ditadura.
Este item está intimamente ligado ao item anterior, mas ainda sim deve ser observado
de maneira avulsa. Como já foi explicado em um capítulo todo, houveram mudanças entre a
sociedade das décadas de 60/70 e a sociedade que foi se formando no final da ditadura. Uma
das reclamações de um dos integrantes do Pasquim já citadas neste texto foi a que, a partir de
um determinado período, os jovens paravam de comprar o Pasquim nas bancas e eram os país
que começavam a adquirilos, isto pode ser explicado pelo pensamento pós moderno em que
muitos dos valores antes perseguidos (como ter um ideal político, buscar uma ética de
trabalho e uma referência familiar, enfim... se identificar com alguma referência) acabaram
por se dissipar, chegando a um ponto onde a sociedade acabou por entrar em uma crise de
identidade onde nem a própria nação de um indivíduo consegue mais ser utilizada como
referência para a identidade do mesmo.
Isto é uma das explicaçõeschave para o entendimento de porquê o Pasquim terminou,
porquê o Pasquim 21 não teve muito tempo nas bancas e que pode explicar o motivo pelo qual
dificilmente veremos uma imprensa alternativa (naqueles moldes) tão forte quanto já foi um
dia.
A globalização, a indústria cultural e a sociedade de consumo.
"A globalização acelerou os meios de comunicação e as formas da sociedade de se
interagir com o mundo, ela foi uma das reponsáveis por essa "multiplicidade de identidades"
em que podemos definir o ser pós moderno e muito de seu descontentamento em encontrar
uma identidade única (pois a informação dentro desse contexto corre solta e desenfreada não
dando margem ao indivíduo de se identificar com uma estética ou visão de mundo única). Ela
possibilitou também uma guinada na indústria cultural que ajudaria a formar padrões culturais
na sociedade de maneira massificada, não abrindo espaço para que muitos pudessem construir
melhor sua individualidade. Já o avanço da sociedade de consumo ajudou a exacerbar ainda
mais características da pós modernidade ja exemplificadas aqui antes, como o individualismo,
o consumismo, a ética hedonista e a fragmentação do tempo e do espaço."
Neste trecho podemos evidenciar que tanto o processo de globalização como o
aumento do poder da indústria cultural e as maiores guinadas ao consumo por parte da
sociedade possibilitaram que uma vasta concorrência fosse aberta para disputar com o
Pasquim. Em muitas páginas do semanário que estudamos vimos temas como drogas, rock
and roll, futebol... enfim... temas específicos que chamavam atenção de diversos leitores que
não se interessavam somente nas notícias em geral do país e no humor, mas também queriam
diversidade. Com o aumento do leque de possibilidades no mercado (que pode ser explicado
por estes 3 conceitos abordados neste tópico) o Pasquim perdeu um pouco do seu terreno para
uma forma de fabricar fatos e notícias já massificada que acabou por tornar a grande mídia
(posteriormente) na máquina formadora de opinião que conhecemos hoje (que por um lado já
existia na época mas não tinha tanta força como podemos ver agora).
A Partidarização do Pasquim.
Em alguns momentos no texto vemos que, apesar de todos os integrantes do Pasquim
terem em sua pauta o objetivo de criticar a ditadura ( e de muitos em contrapartida
afirmarem que o humor não deve tomar partido, e deveria ser descompromissado com
qualquer coisa) cada qual tinha seu ponto de vista político. O Paulo Francis por exemplo (algo
que não foi mencionado em nenhum momento na tese, mas devemos frisar) era Trotskista54, já
Ziraldo não apoiava uma esquerda tão extrema e mais tarde acabou por se declarar adepto ao
partido do PMDB (e posteriormente no Pasquim 21 ao PT) em contrapartida ao Jaguar que na
redemocratização apoiou Brizola... Enfim, o que tentamos mostrar neste tópico é que na época
da ditadura já haviam diferenciações entre cada integrante da redação na hora de perceber a
esquerda politicamente, mas como havia um objetivo comum (que era combater a ditadura)
todos relevavam um pouco do extremismo de cada ideal em separado para perseguir um ideal
comum, e isto ajudava a caracterizar o Pasquim, também como uma frente política, ao lado de
diversas outras publicações de jornais alternativas. Com o término do regime ditatorial, o
inimigo em comum havia dado adeus, desta forma abrindo espaço para a discussão (agora
democrátca "em corpo e alma") de cada ponto de vista a respeito da esquerda... Isto (apesar
de saudável, pensando que há pouco tempo antes só havia repressão) levou a redação a sofrer
varias disputas internas e ao leitor do Pasquim se sentir (muito mais do que antes), dividido e
confuso...
Desta forma podemos concluír nossa tese, com as causaschave do porque o Pasquim
não deu mais certo, mas também abrindo espaço para o próprio leitor imaginar quais outras
causas poderiam ter sido (além destas todas) um estopim para que um semanário com tanta
originalidade, coragem e tão influente como ele foi, não ter tido mais espaço ao longo de
nossa história...
Convidamos o leitor a pesquisar mais sobre o tema caso tenha tido interesse ao longo
da leitura e reviver um pouco do que foram aqueles tempos que influênciaram e ainda
influênciam muito do que vemos hoje em nossa sociedade.
54
O trotskismo é uma doutrina marxista baseada nos escritos do político e revolucionário ucraniano Leon
Trótski. É formulada como teoria política e ideológica e apresentada como vertente do comunismo por oposição
ao stalinismo. fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trotskismo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Web sites:
http://www.tvsinopse.kinghost.net/art/j/jaguar.htm
http://www.amalgama.blog.br/04/2010/jaguarapreciecommoderacao/
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?
fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3595&lst_palavras&cd_idioma=28555&cd_item=
1&fb_source=message
http://www.youtube.com/watch?v=8mhzBQN0B1A&feature=related
http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/download/CadernosDeHistoria0615.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_cultural
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_de_massa
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3smodernidade
pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_da_informação
http://www.youtube.com/watch?v=K1lJr2ipV3c&feature=related
http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI341315EI3615,00
Ziraldo+desiste+de+publicar+O+Pasquim.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_Institucional_N%C3%BAmero_Cinco
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp30012002991.htm
www.canaldaimprensa.com.br/canalant/foco/quarent1/foco7.htm
http://www.uff.br/mestcii/denis3.htm
http://books.google.com.br/books?
id=9D_GMFpqzQIC&pg=PA77&dq=1982+o+racha+no+pasquim&hl=pt
BR&sa=X&ei=mOCaT6noH8S1twf6gsSpBA&ved=0CDwQ6AEwAQ&fb_source=message#
v=onepage&q=1982%20o%20racha%20no%20pasquim&f=false
http://www.unicentro.br/redemc/2010/Artigos/A%20import%C3%A2ncia%20do%20Pasquim
%20na%20promo%C3%A7%C3%A3o%20da%20cidadania%20durante%20o%20per
%C3%ADodo%20ditatorial.pdf
http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/bas/33004048018P5/2009/buzalaf_mn_dr_
assis.pdf
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?
fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3595&cd_item=2&cd_idioma=28555
http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=3043
http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/entrevistacomjaguar
http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/02/pasquim21.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Casseta_Popular
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Planeta_Di%C3%A1rio
http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?
codigo=151&titulo=Memorias_da_revista_Senhor
http://pt.wikipedia.org/wiki/Senhor_%28revista%29
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/39/figadodejaguar
http://www.suapesquisa.com/ditadura/
http://historiasevariaveis.blogspot.com.br/2011/04/governojoaogoulart19611964
rumo.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Porto
http://www.revistaalambre.com/Articulos/ArticuloMuestra.asp?Id=9
http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/oqueglobalizacao.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Globaliza%C3%A7%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_cultural
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_consumo
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp30012002991.htm
http://caminhosdojornalismo.wordpress.com/2011/05/31/opasquim/
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S167944272004000100007&script=sci_arttext
Livros:
HOHLFELDT, Antônio A fermentação cultural da década brasileira de 60 (Artigo de jornal
Revista Famecos pág 38 Porto AlegreRS, 1999)
Imprensa alternativa: apogeu, queda e novos caminhos. — Rio de Janeiro : Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social, 2005.
80 p.: — (Cadernos da Comunicação. Série Memória; v.13)
FLORES, Élio Chaves. República às Avessas: narradores do cômico, cultura política e coisa
pública no Brasil Contemporâneo (19931930).
KUCINSKI, Bernardo pág 114 Livro: "Jornalístas e Revolucionários" (1991 Editora
Página Aberta)
HALL, Stuart "A identidade cultural da pósmodernidade" , 10 ed. ,2003, pág 07, DP&A
Editora.
Reill, Peter Hanns (2004) "Introduction". In: Encyclopedia of the Enlightenment. Editada por
Peter Reill and Ellen Wilson. New York: Facts on File, pp. xxi
SBARDELOTTO, Moisés. "DO PAPEL AOS BITS As alternativos do jornalismo
independente comtemporâneo" pág. 54 UFRS Comunicação Social (Porto AlegreRS,
2006)
ALEXANDRE, Marcos & FERNANDES, Renata. "O PODER HOJE ESTÁ NA MÍDIA"
Revista Comum (Rio de JaneiroRJ junho/2006)
GISELE, Natali. "Entre o Engajamento e o Desbunde: Resistência e deboche no pasquim"
UFMG Jornalismo (Belo horizonteMG agosto/2007)
BUZALAF, Márcia. "A Censura no Pasquim: As vozes nãosilenciadas de uma geração"
UNESP História (Assis SP 2009)
BEZERRA, Átila. "Guerrilha de Pincéis: Humor Gráfico no Jornal O Pasquim como
resistência política e cultural à ditadura militar" UFCE Comunicação (FortalezaCE
julho/2010)
QUEIROZ, Andréa Cristina. "O Pasquim: Embates Entre a Cultura Política Autoritária e a
Contracultura". UFRJ PPGHIS (Rio de JaneiroRJ outubro/2008)
CHAGAS, Emílio. "O Pasquim" (Rio de JaneiroRJ 1970) (mimeogr.)