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Institutional loops
Resumo: seqüência à pesquisa em torno do dispositivo conhecido como loop, apresenta uma digressão
protagonizada pelo loop institucional localizado na relação entre análise musical e seu objeto - reproduzindo a de
hipnotizador e hipnotizado. Exemplifica em duas propostas analíticas distintas, tomadas da literatura recente,
aplicadas a objetos de sua conveniência - para comentar sobre essa própria conveniência. A primeira analisa uma
obra ‘clássica’ do minimalismo eletrônico, a outra uma obra mais recente do repertório misto (eletroacústica +
instrumentos + meios visuais).
Abstract: following a longer research into the loop, this text digresses on the institutional loop stemming from
the mesmerized relationship between musical analyses and their objects. It takes as example two different
analytical approaches from recent literature, applied to musical pieces of their convenience, making of this very
convenience the object of my study. The first analyses a classic from the electronic/minimalist repertoire, the
other one a more recent mixed-media opera (electroacoustics, instruments + visual media).
Introdução
“Cécile Barras: ‘Não há diferença específica entre som [musical] e ruído?’ Pierre
Schaeffer: “Não. Nenhuma diferença específica, apenas duas condições importantes:
uma dizendo respeito à complexidade do fenômeno, e a outra ao seu caráter
anedótico ou neutro. Que o som seja, então, verdadeiramente um bom material
musical e não um mero barulho; e consequentemente, que ele seja destacado de seu
aspecto anedótico.”
A desreferencialização da musique concrète não é diretamente um ato político,
mas implica na manutenção da escuta musical em um loop temporal fundamentado em
Hanslick (Hanslick, 1854), Hoffmann (Charlton, 2003) e Kant (Dahlhaus, 1989) que
certamente se estendem a um comprendre (Schaeffer, 1966) político. A retirada do anedótico
é muito menos o esforço de PS pela manutenção de uma redução fenomenológica do que pela
manutenção da musique concrète na moldura estética kantiana vigente.
“O juízo do gosto não é portanto um juízo do conhecimento; ele não é lógico, mas
estético, isto é, seu princípio determinante só pode ser subjetivo.” ... “A cor verde
dos prados, percepção de um objeto da visão, é uma sensação objetiva; seu [agrado]
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Não encontrei referência bibliográfica relatando o fato. A afirmação é feita com base em
narrativas de colegas contemporâneos.
agrément é uma sensação subjetiva através da qual nenhum objeto é representado;
isto é, a agradabilidade é um sentimento pelo qual o objeto é considerado como
objeto de satisfação (o que não é o mesmo que conhecê-lo).” “Todo interesse
atrapalha o juízo estético tirando-lhe sua serenidade, sobretudo quando contrário ao
interesse da razão; [o juízo estético] não põe a finalidade antes do sentimento de
prazer mas ao contrário, fundamenta-a sobre ele, ...” (Kant & Khodos, 1955)
O loop a ser observado em Schaeffer estabelece a permanência de sua
música/estética na mesma onda formalista que acalentava a estética da vanguarda serial-
eletrônica a que ele se opunha, ambas sem a temperança da legitimação adorniana que
sustentou o dodecafonismo de Schoenberg (Williams, 1999). É digna de nota a presença do
romantismo alemão de E.T.A. Hoffmann nos textos de Schaeffer. Começa no Solfège:
“O som está em tudo; mas as melodias, que falam o idioma superior do reino
espiritual, são frutos do ser humano...” “Entretanto, tal como o espírito do
som, o espírito da música não abrange toda a natureza? Um corpo sonoro,
tocado mecanicamente, desperta para a vida, manifesta sua existência, ou
melhor, sua organização, e chega ao nosso conhecimento...”. E.T.A.
Hoffmann, apud (Schaeffer, Reibel, Ferreyra, & Chiarucci, 1967)
Segundo Joseph Kerman:
“This […] attitude, in turn, entailed a departure from the established formal principle
of ‘organicity’, in which all parts of an artwork were subordinated to the whole; for
avant-gardists the effect of such formal integration was to encourage perception as
‘a mere art product’, thus detracting from its emancipator potential.” (Adlington,
2009, p. 4)
Portanto, há um tipo de musicologia decidindo enfrentar o assunto Come Out
seguindo suas voltas e meandros até o fim, sem excluir nenhum recanto da experiência
humana, para além da escuta reduzida de Schaeffer que – se não propunha como estética,
resultou musicalmente em um descarte intertextual e contextual2.
De volta ao início
“Tanto n’O processo’ quanto em ‘K…’, todos desejam conhecer a Lei. Embora ela
seja acessível a todos, ninguém jamais conheceu seu funcionamento. A ópera é
apropriadamente serial; a música do compositor, com suas estruturas seriais e
algorítmicas é complexa, desenganando a compreensão imediata, e ainda assim
possui uma organização substancial. Assim como a Lei, a ópera tem uma integridade
por conta do que nós não conhecemos. Existem muitas formas da Lei latentes na
ópera: a lei do homem, a lei religiosa, a lei espiritual, a lei natural, a lei cabalística, a
lei judaica, a lei pessoal. (Ramstrum, 2006)
Comparando os dois tipos analíticos, vê-se que o primeiro, aberto para qualquer
experiência envolvida na escuta desconhecida, permite que significações postas em músicas
apontem para, no caso da obra de Reich, a possibilidade da ‘escuta’de uma burocracia, de
uma administração, de um Estado subjugando sujeitos. Já o segundo tipo protege, através de
uma espécie de ‘eterno retorno’, a ação de uma Lei desconhecida, a Burocracia, o Estado, no
próprio ato de subjugar o sujeito da escuta.
“Embora tanto o protagonista quanto o ouvinte nem sempre saibam quais estruturas
foram atingidas ou transformadas, K... se sente culpado.”... “Manoury expressa o
mistério inatingível além da consciência que Kafka postula para o mundo – o
desconhecido e incognoscível.(Ibid.)
2
Compare-se os Études de 1958 aos de 1948. Onde estão as locomotivas, as tosses, as tampas de
lata girando?
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Permite inferir que desde então nada de interessante surgiu neste setor.
Esta percepção é corroborada em outra instância: Ramstrum discorre sobre o
software criado no IRCAM, o único capaz de conquistar o acesso a uma escuta analítica da
estrutura da obra, o Music Structure Discovery:
Conclusão
Bibliografia
Adlington, R. (2009). Sound commitments. Avant-garde music and the sixties. New York,
EUA: Oxford University Press.
Charlton, D. (2003). E.T.A. Hoffmann's musical writings. Kreisleriana, The poet and the
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Dahlhaus, C. (1989). The idea of absolute music. (R. Lustig, Trans.) Chicago, Estados Unidos
da América: The University of Chicago Press.
Drott, E. (2009). The politics of Presque rien. In R. Adlington, Sound commitments: avnt-
garde music and the sixties (1a ed., pp. 145-166). New York, Estados Unidos da América do
Norte: Oxford University Press.
4
Itálicos meus. No Traité (Schaeffer, 1966) PS traduz Hoffmann ao pé da letra: ‘magnétiseur’ e
‘somnambule’. O hipnotizador é de minha tradução, mesmo sabendo que o termo hipnose não era usado no
tempo de Hoffmann. A versão de PS em 1967 sugere relacionamento menos isento entre as partes, que talvez
esteja na base da sustentação desse loop.
Gopinath, S. (2009). The problem of the political in Steve Reich's Come Out. In R. Adlington,
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New York, Estados Unidos da América: Oxford University Press.
Hanslick, E. (1854). On the musically beautiful (1986 ed.). Indiana, Estados Unidos da
América: Hackett.
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McLuhan, M. (1967). The Medium is the Massage: An Inventory of Effects (1a ed.). New
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Schaeffer, P. (1966). Traité des objets musicaux. Essai interdisciplines. Paris: Ed. du Seuil.
Schaeffer, P., Reibel, G., Ferreyra, B., & Chiarucci, H. (1967). Solfège de l'objet sonore.
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Simoni, M. (2006). Analytical methods of electroacoustic music. New York, Estados Unidos
da América: Routledge.
Williams, A. (1999). Adorno and the semantics of modernism. Perspectives of New Music ,
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