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PROCESSO N~ 00688.000543/2018-82
ORIGEM: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
ASSUNTO: Ação Direta de Inconstitucionalidade nO 5956
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
PROCESSO: 00688.000543/2018-82
ORIGEM: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ASSUNTO: Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5956
De acordo.
Consultor-Geral da União
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ADVOCACIA-GERALDA UNIÃo
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
INFORMAÇÕES N° 00105/2018/CONSUNIÃO/CGU/AGU
PROCESSO N° 00688.00054312018-82.
BRASIL - ATR.
I - RELATÓRIO:
3. Dessa forma, a Autora requereu, por medida cautelar e em caráter detinitivo, a suspensão
dos efeitos da Medida Provisória n° 832/2018 e, consequentemente, da respectiva Resolução da
ANTT, ou, sucessivamente, a suspensão da vigência da referida MP pelo prazo mínimo de 180
dias "para que. nesse interregno. os associados intentem uma renegociação dos contratos de
tramporte com os contratantes da prestação de serviços."
4. O Relator do feito, o Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX, por meio de Despacho, determinou a
intimação, com urgência, para manifestação, no prazo de 48 horas, do Exmo. Sr. Presidente da
República sobre o alegado na inicial.
5. No mais, foram provocados a prestar subsídios sobre o tema a Consultoria Jurídica junto
ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (CONJURJMTPA), bem como a Subchefia
para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República (SAJ/PR), as quais
encaminharam manifestações, que se encontram em anexo.
11 - DO DIREITO:
6. A partir do dia 21 de maio de 2018, houve intenso protesto dos caminhoneiros, que durou
cerca de dez dias, no qual os manifestantes realizaram diversas obstruções do tráfego em estradas
pelo país, a fim de obter melhores condições de trabalho. Na pauta de reivindicações. um dos
principais itens consistia no estabelecimento da política de preços mínimos nos fretes do transporte
rodoviário de cargas.
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Deputados, o Projeto de Lei n° 528/2015, dispondo sobre a instituição da Política de Preços
Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas, com a seguinte justificação:
o presente projeto tem por objetivo estabelecer condições razoáveis à realização de fretes
no transporte rodoviário de cargas em todo o território nacional, de modo condizente ao
serviço prestado pelos profissionais do setor de transportes. A motivação se deu em razão
da situação em que se encontra a categoria, exemplificada nas paralisações feitas em todo o
País. que resultaram em um compromisso assumido pelo governo federal, baseado nos
seguintes pontos:
• Sanção integral da Lei dos Caminhoneiros (medida já efetivada);
• Compromisso de não reajustar o preço do óleo diesel por. no mínimo. 6 meses:
• Carência de 1 ano para pagamento das parcelas de financiamento de caminhões dos contratos
em vigor de transportadores rodoviários autônomos e microempresas dos programas Pró
caminhoneiro e Finame; e
• Elaboração de tabela referencial de fretes pelas entidades representativas dos
caminhoneiros e das transportadoras com os embarcadores, tendo mediação do
Ministério dos Transportes.
Contudo, tem-se como necessário estabelecer uma política vinculativa de preços mínimos
e não apenas referencial. Por essa razão apresenta-se a presente proposta, em especial com o
propósito de dar início ao debate a respeito do tema. (Destacou-se)
9. A tramitação desse projeto de lei na Câmara dos Deputados durou mais de dois anos,
passando pela Comissão de Viação e Transportes (CVT) e pela Comissão de Constituição e Justiça
e de Cidadania (CCJC), culminando com a aprovação da redação final naquela Casa do Congresso
em 26 de setembro de 2017, a qual foi remetida ao Senado Federal em 5 de outubro do mesmo
ano. No Senado Federal, o Projeto de Lei recebeu o n° 12112017, tendo sido, por último,
remetido à Comissão de Assuntos Econômicos em 07/11/201 i.
10. Cumpre também destacar que a Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de
Cargas, embora não tenha sido contemplada na Lei n. 13.103/2015, foi objeto de várias discussões
realizadas no âmbito do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT), resultando na publicação da Resolução ANTT n° 4810/2015, que estabeleceu
metodologia e publicou parâmetros de referência para cálculo dos custos de frete do serviço de
transporte rodoviário remunerado de cargas por conta de terceiros.
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12. Adicionalmente, a ANTT disponibilizou uma planilha de cálculos para facilitar a
determinação do valor de frete por estes usuários, cujo uso é discricionário, mas este não era o
pleito original do setor, que reivindicava a publicação dos preços mínimos de fretes vinculantes.
13. Desse modo, percebe-se que a Política de Preço Mínimo, estabelecida pela Medida
Provisória n° 832/2018, foi uma solução amadurecida no âmbito institucional, não apenas na
formulação da política pública pelo Poder Executivo e por suas Agências Reguladoras, mas
também no Parlamento, em amplo debate com os setores envolvidos.
14. Dessa forma, após a eclosão, no dia 21 de maio de 2018, do protesto dos caminhoneiros,
no qual um dos principais itens da pauta de reivindicações voltou a ser o estabelecimento da
política de preços mínimos nos fretes do transporte rodoviário de cargas, fez-se necessário
recuperar a tramitação da proposição legislativa acima referida, de forma a servir como ponto de
partida para as negociações conduzidas com os representantes do setor.
15. Até porque, o cenário atual do transporte rodoviário de cargas apresenta um notório
descasamento entre a oferta, de serviços de transporte de cargas rodoviário, e a sua demanda.
fazendo com que os preços sejam subestimados, por vezes abaixo do seu custo.
16. A respeito da distorção no setor, vale transcrever o seguinte trecho da NOTA TÉCNICA
n° 3/2018/DP/SFP-MTPA (em anexo):
4
em que os preços são definidos livremente na relação entre demandantes e ofertantes,
esperar-se-ia que o próprio mercado propiciasse a equalização dos preços praticados
no setor do TRC [n.] 2.21. Essa não é a realidade, contudo, desse setor, o qual é
caracterizado por uma grande pulverização, com importante participação dos
autônomos, fazendo com que o aumento dos custos não seja, pelo menos de forma
ampla, diluído no restante da cadeia produtiva, recaindo os impactos
majoritariamente sobre o transportador. 2.22. Embora a livre concorrência seja um
princípio previsto na Constituição Federal (inciso. IV. art. 170, CF). a ordem econômica
é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, e tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170,
CF). 2.23. Cabe acrescentar ainda que a lei setorial, Lei nO 10.233, de 5 de junho de 200 I.
institui princípios e diretrizes para o transporte aquaviário e terrestre. tendo como uma das
suas diretrizes gerais a repressão fatos e ações que configurem ou possam configurar
competição imperfeita ou infrações da ordem econômica [...] 2.24. A situação atípica que
se configura justifica que o Estado atue de forma excepcional, buscando atenuar as
distorções que se processam no setor, considerando-se a valorização do trabalhador
do transporte rodoviário de cargas, assegurando-lhe existência digna [n.] 2.28. Tal
iniciativa, nesse contexto, possui o condão de reduzir a instabilidade nas relações com
o setor de transporte rodoviário de cargas que, por sua vez, podem resultar em
prejuízos sociais e econômicos de grande monta, com o desabastecimento e restrições
para a circulação de pessoas e bens [n.] (Destacou-se)
17. No âmbito do livre mercado, em que os preços são definidos livremente na relação entre
demandantes e ofertantes. esperar-se-ia que o próprio mercado propiciasse a equalização dos
preços praticados no setor de transporte rodoviário de cargas.
18. Todavia. essa não é a realidade do setor de transporte rodoviário de cargas, caracterizado
por uma grande pulverização, com importante participação de autônomos, fazendo com que o
aumento dos custos não seja, pelo menos, de forma ampla, diluído no restante da cadeia produtiva,
recaindo os impactos, majoritariamente, sobre o transportador.
19. Acerca do contexto que redundou na edição do ato normativo em foco, cumpre transcrever
a Exposição de Motivos Interministerial MTPA/CC nO 34, relativa à MP nO 832/2018 (em anexo):
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uma política de preços mínimos de transporte rodoviário de cargas é um dos itens da pauta
de reivindicações do setor. Tal iniciativa, nesse contexto, possui condão de reduzir a
instabilidade nas relações com o setor de transporte rodoviário de cargas que, por sua vez.
podem resultar em prejuízos sociais e econômicos de grande monta, como o
desabastecimento e restrições para a circulação de pessoas e bens. 4. Durante as
negociações realizadas em 2015 com os caminhoneiros autônomos que atuam no transporte
rodoviário de cargas, a tabela de frete mínimo foi apontada na ocasião como uma das
principais demandas do setor. Essa demanda, embora não tenha sido contemplada na Lei
13.103, de 2 de março de 2015, foi objeto de várias discussões realizadas no âmbito do
Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
resultando na publicação, pela ANTT, da Resolução 4810, de 19 de agosto de 2015, que
estabelece metodologia e publica parâmetros de referência para cálculos dos custos de frete
do serviço de transporte rodoviário remunerado de cargas por conta de terceiros. 5. Por se
tratar de parâmetro de referência, esse ato normativo foi apenas um instrumento fàcilitador.
sem caráter impositivo, para que os custos possam ser calculados tanto pelo transportador
(autônomo ou empresa), quanto por quem contrata (embarcador). Adicionalmente, a ANTT
disponibilizou uma planilha de cálculos para tàcilitar a determinação do valor de frete por
estes usuários, cujo uso é discricionário. 6. Atualmente, contudo, vem se verificando um
descasamento entre a oferta de serviços de transporte de cargas rodoviário e a sua
demanda, fazendo com que os preços sejam subestimado, ficando por vezes abaixo do
seu custo. Atribui-se esse fenômeno, sobretudo, aos recentes incentivos ao crescimento da
oferta, por meio da política de subsídios à aquisição de novos veículos, associada à queda
da atividade econômica brasileira, a qual impactou severamente o setor de transporte
rodoviário de cargas proporcionalmente superiores à queda do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional. 7. Esse contexto de excesso de oferta, combinado à elevações dos custos
associados à operação dos transportadores rodoviários de cargas, deu origem a
relevante distorção no setor, em que os custos totais de operação dos transportes, fixos
e variáveis, não são propriamente remuneradas pelos preços praticados no mercado.
A grande pulverização existente no setor, com importante participação de autônomos,
fez com que os seus custos não pudessem ser diluídos no restante da cadeia produtiva,
recaindo majoritariamente sobre o transportador. 8. Embora a livre concorrência seja
um princípio previsto na Constituição Federal (inciso IV, art. 170, CF), a ordem
econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, e tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social(art.170, CF). A situação atípica que se configura justifica que o Estado atue de
forma excepcional, buscando atenuar as distorções que se processam no setor,
considerando-se a valorização do transporte rodoviário de cargas, assegurando-lhe a
existência digna. (Destacou-se)
20. Inclusive, vale lembrar que o cenário caótico, decorrente da paralisação dos caminhoneiros,
exigiu a edição do Decreto n° 9.382, de 25 de maio de 2018, que autorizou, de fonna temporária,
o emprego das Forças Annadas para a Garantia da Lei e da Ordem na desobstrução de vias
públicas, frisando-se, ademais, que o Exmo. Sr. Presidente da República ajuizou ADPF (nO 519)
junto ao STF, a fim de pennitir, a partir das respectivas medidas, o retorno à nonnalidade.
21. Desse modo, diante dessa peculiaridade no mercado do setor de transporte rodoviário de
cargas e do amadurecimento das discussões da medida no âmbito do Congresso Nacional e de
órgãos do Poder Executivo e da respectiva Agência Reguladora, aliados à urgência exigida para a
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edição da medida. com a grave crise de abastecimento sentida no país, a partir da paralisação dos
caminhoneiros. editou-se, após a celebração de acordo com representantes do setor. a Medida
Provisória nO 832/2018. instituindo a Política Nacional de Preço Mínimo do Transporte Rodoviário
de Carga, com o estabelecimento de medidas de contingenciamento a cargo da agência reguladora
do setor (Agência Nacional de Transportes Terrestres), a fim de corrigir distorção no mercado.
24. Assim, o art. 4° da Medida Provisória n 832/2018 prevê que "o transporte rodoviário de
cargas. em âmbito nacional. obedecerá aos preços .fixados com base nesta Medida Provisória",
dispondo o § 4° do art. 5° da MP em tela que "os preços ,fixados na tabela a que se refere
o caput têm natureza vinculativa e a sua não observância sujeitará o infrator a indenizar o
tramportador em valor equivalente ao dobro do que seria devido. descontado o valor já pago."
25. No mais. o caput do art. 5° da MP 832/2018 preceitua que "para a execução da Política de
Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas. a Agência Nacional de Transportes
Terrestres - ANTT publicará tabela com os preços mínimos referentes ao quilômetro rodado na
realização defretes. por eixo carregado. consideradas as espec(ficidades das cargas de,finidas no
7
art. 30", frisando-se que o art. 3° da Medida Provisória nO 832/2018 define as espécies de carga
(geral, granel, frigorificada, perigosa e neogranel).2
26. Inclusive, vale destacar que o art. 5° da medida provisória em foco se apresenta em plena
consonância com o disposto nos artigos 12 e 20, ambos da Lei n° 10.233/2001, que dispõem
sobre a repressão, no âmbito das operações de transportes terrestres, de situações que
configurem "competição imperfeita ou infrações da ordem econômica", nos seguintes termos:
(00')
(00')
Art. 20. São objetivos das Agências Nacionais de Regulação dos Transportes Terrestre
e Aquaviário:
('00)
27. Além disso, a Medida Provisória se encontra alinhada com o dever do Estado de coibir
a prática injustificada de prestação de serviços abaixo do preço de custo, conforme se extrai
do art. 36. § 3°. XV da Lei nO 12.529/2011, in verbis:
sob qualquer forma manifestados. que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes
[ ... ]
[ ... ]
2Vale registrar que, em atenção ao art. 5° da Medida Provisória nO 832, a ANTT editou a Resolução ANTT
n° 5.820, de 30 de maio de 2018, alterada pela Resolução ANTT n° 5.821, de 07 de junho de 2018, tendo
sido esta revogada pela Resolução ANTT nO 5.822, de 08 de junho de 2018, estando eventuais ajustes nos
preços mínimos dos fretes sendo discutidos com representantes dos diversos setores envolvidos.
8
28. Ademais, o § 1° do art. 5° da MP 832/2018 preconiza que "a publicação da tabela a que se
relere o caput ocorrerá até os dias 20 de janeiro e 20 dejulho de cada ano e a tabela será válida
para o semestre em que for editada", bem como o art. 7° da MP prevê que "para a fixação dos
preços mínimos. serão considerados. prioritariamente. os custos do óleo diesel e dos pedágios".
29. Por tim. o art. 6° da Medida Provisória nO 832/2018 dispõe que o "processo de fixação dos
preços mínimos contará com a participação dos representantes das cooperativas de tramporte de
cargas e dos sindicatos de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas".
30. Dessa forma, observa-se que a Medida Provisória nO 832/2018, visando a coibir forte
distorção no mercado, com a existência de competição imperfeita no setor, preocupou-se com o
fato de o estabelecimento dos preços mínimos dos fretes representar os reais custos da operação,
considerando-se. por exemplo, os custos do óleo diesel e dos pedágios, bem como previu a revisão.
ao menos semestral dos preços dos fretes, com vistas a acompanhar a atualização dos valores
envolvidos nos custos. No mais, preceituou a participação dos representantes do setor envolvido
na fixação de preços, evidenciado nítido zelo, estando, ademais. em consonância com a legislação
aplicável, mencionando-se, em especial, a Lei n° 10.233/2001 e a Lei nO 12.529/2011. além de
estar em conformidade com a Constituição Federal, conforme será demonstrado abaixo.
31. A política de preço mínimo para o transporte rodoviário encontra amparo no art. 174 da
Constituição Federal, que legitima a regulação estatal da atividade econômica, prevendo que º
Estado, como agente normativo e regulador da atividade econômica, exercerá, na forma da lei, as
funções de fiscalização, incentivo e planejamento.
32. Com isso, a atividade regulatória deferida ao Estado pela Constituição Federal evidencia a
preocupação do Constituinte quanto ao estabelecimento de padrões mínimos a serem observados
no desenvolvimento da atividade econômica, sendo que. nesta perspectiva, o texto constitucional
9
chega a elencar expressamente, em seu art. 1783, as atividades de transporte terrestre entre aquelas
sujeitas à regulação estatal.
34. Além disso, cumpre destacar os incisos III e IV do art. 10 da Constituição Federal, que
elencam, como fundamentos da República Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa humana
e o valor social do trabalho, ao lado da livre iniciativa, senão vejamos:
Art. 10 A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
como fundamentos:
[ ... ]
35. A respeito, Eros Roberto Grau 4 explica que a ordem econômica mencionada no art. 170 do
Texto constitucional deve ser dinamizada tendo em vista a promoção da existência digna de todos.
36. Assim, a Constituição Federal, em seu art. 170, estabelece que a estrutura capitalista em
nosso país é fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, tendo como escopo assegurar
a dignidade da pessoa humana, devendo observar vários princípios, de matizes, inclusive.
aparentemente dicotômicas.
.1 Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo. quanto à
ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da
reciprocidade. (Reda(,:<lll dada pela Emenda Con<,titllcillnal n" 7. de 1995)
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as condições em que o transporte
de mercadorias na cabotagem e a navegação interior poderão ser feitos por embarcações
estrangeiras. (Inclllídt1 pela r:lllenda Cunstitucional n" 7. de 1995)
GRAU. Eros Roberto. Ordem Econômica na Constituição de 1988. 18 ed. São Paulo: Malheiros. P. 191
-I
198.
10
37. Com efeito. a Constituição Federal, ao passo que estabelece princípios regedores do
domínio econômico. delineia que o âmbito governamental tenha int1uência na economia. com o
fito de realizar os princípios insculpidos na parte da Ordem Econômica na Constituição FederaL
sempre visando a "assegurar a todos existência digna. conforme os ditames dajustiça social'".5
38. De qualquer sorte. existem preceitos dissonantes nesta parte do texto constitucionaL
frisando-se a existência, no bojo da Assembleia Nacional Constituinte, de uma grande disparidade
ideológica6 • que acabou ref1etindo na necessidade de conformar a Constituição Federal com
caracteres progressistas e conservadores 7. Dessa forma, percebe-se que o texto constitucional
possui inspirações. muitas vezes, baseadas em valores contrapostos 8 .
39. No âmbito jurídico, esse cenário possibilita uma ampla margem de conformação legislativa
no cenário econômico, salientando-se que o legislador, empregando sua conveniência política. não
pode, por óbvio. expurgar totalmente a eficácia de um princípio estabelecido constitucionalmente
(tal como a livre iniciativa), mas não há como se afastar a possibilidade de sua atuação
conformativa. constituindo um modo de temperamento do sistema econômic0 9 .
40. Diante do exposto, não há dúvidas de que o maleável caráter normativo do art. 170 da
Constituição Federal possibilita, decerto, etapas mais dirigentes do organismo estatal no bojo da
economia. ou cenários mais f1exíveis, dependendo do contexto político.
41. Como exposto, a Constituição Federal estabelece em seu art. 170 que a ordem econômica
será fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa. tendo por finalidade
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.
5 PAULSEN. Leandro. Curso de Direito Tributário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 49-50.
(, GICO Jr.. Ivo Teixeira. Cartel: teoria unificada da colusão. São Paulo: Lex Editora, 2006. p. 121.
7GOMES, Sandra. O impacto das regras de organização do processo legislativo no comportamento dos
parlamentares: um estudo do caso da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). Dados. V. 49. n. L
2006. p. 193-224.
8 SOUZA. Washington Peluso Albino de. Teoria da Constituição Econômica. Belo Horizonte: Del Rey,
2002. p. 374.
9 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. 7. Vol. São Paulo: Saraiva, 1990. p. 15.
Ii
42. Sobre o tema, Celso Antônio Bandeira de Mello 1o ensina que o tema da ordem social está
intimamente relacionado com o tema da ordem econômica, destacando a necessidade de ter, por
norte, a valorização do trabalho humano.
43. Assim, a leitura da ordem econômica, nela incluídos os princípios da livre iniciativa e
da livre concorrência, não pode estar dissociada da redução da desigualdade social, do valor
social do trabalho, bem como da dignidade da pessoa humana, previstos nos artigos 1°, incisos
III e IV, e 170, caput e inciso VII, todos da Constituição Federal.
45. Inclusive, a fixação de preço pelo Poder Público, decorrente do seu poder de regulação.
não é uma novidade para a realidade do mercado privado brasileiro, mencionando-se, a título
exemplificativo, a regulação econômica do mercado de medicamentos no Brasil, mediante a
fixação de limites para os preços dos remédios, conforme o art. 4° da Lei n° 10.742/2003, além do
art. 2°, inciso lI, da Lei Delegada n° 4/1962, que prevê a possibilidade de controle de abastecimento
e de preços no mercado.
46. No caso da Medida Provisória n° 832/2018, a fixação de preço mínimo para o frete visa
a garantir um valor adequado para a prestação do serviço, que seja, no mínimo, compatível
com os custos incorridos no transporte rodoviário de cargas, evidenciando uma medida
relevante, em especial, ao transportador autônomo de cargas, definido como a pessoa física que
tenha no transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional (art. 2°, I, da Lei n°
11.442/2007).
47. Desse modo, entende-se que eventual pagamento pela prestação do serviço de transporte
de carga deve ser capaz de assegurar o sustento do transportador autônomo e de sua família,
garantindo-se um mínimo de remuneração a esse grupo de trabalhadores.
10 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 31" ed. São Paulo: Malheiros.
P.812-813.
12
48. Portanto, o pagamento de um valor, ao menos mínimo, para o frete de transporte de carga
está intrinsecamente ligado ao princípio do mínimo existencial, necessário para garantir a
dignidade da pessoa humana (art. 1°, I1I, da CF) ao transportador autônomo.
49. Não por outro motivo, várias categorias profissionais contam com pisos salariais. os quais,
ao estabelecerem patamares para a sua devida remuneração, garantem a devida remuneração do
serviço prestado, de acordo com as peculiaridades das atividades econômicas.
50. Assim, os pisos salariais, da mesma forma, asseguram que o trabalhador perceba o valor
compatível com a sua própria manutenção e de sua família, conforme consubstanciado no art. 7°,
V, da CF, que materializa o valor social do trabalho, fundamento da República Federativa do
BrasiL nos termos do art. 1°, inciso IV da CF.
51. Vale lembrar que, atualmente, existem distorções no setor de transporte de cargas, em que
os custos totais da operação não são propriamente remunerados pelos preços praticados no
mercado. de modo que a prestação dos serviços de transporte de carga, com a participação de
autônomos, não consegue repassar os custos para o restante da cadeia produtiva, recaindo, por
consequência, majoritariamente sobre o transportador, havendo nítida imperfeição no mercado.
52. Até porque, observou-se a elevação da oferta, diante do significativo aumento da frota,
seguida da diminuição da demanda, gerada pela intensa queda da atividade econômica brasileira,
havendo excesso de oferta, aliado ao aumento de custos operacionais dos transportadores
rodoviários de cargas, o que redundou em relevante distorção no setor, com o descasamento
entre a oferta, de serviços de transporte de cargas rodoviário, e a sua demanda, fazendo com que
os preços fossem subestimados, por vezes abaixo do seu custo.
53. Assim. nesse cenário, justifica-se a atuação estatal, de forma a se evitar que eventual
flutuação na oferta e demanda force esses trabalhadores a serem contratados por preço vil ou se
submeterem a condições desumanas de trabalho ou a jornadas excessivas.
54. Nessa direção, vale transcrever o seguinte entendimento doutrinário do Exmo. Sr. Ministro
LUÍS ROBERTO BARROSO, nestes termos:
13
Nesses casos - excepcionais, repita-se - a intervenção se justifica, afastando o limite
material acima referido, exatamente para reconstruir a prática de tais princípios. Isto
é, para reordenar o mercado concorrencial de modo que a livre iniciativa e seus
corolários possam efetivamente funcionar". (Barroso, Luís Roberto. A ordem econômica
constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Eletrônica de
Direito Administrativo Econômico, n. 14,2008.) (Destacou-se)
56. Desse modo, a medida encontra-se também alinhada ao art. 173, § 4°, da Constituição
Federal, que prevê que "lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos
mercados. à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros", em razão de a
concentração do setor poder eliminar a concorrência e acarretar a dominação do mercado por um
número reduzido de empresas.
57. Além disso, a medida está em conformidade com o dever do Estado de coibir a prática
injustificada de prestação de serviços abaixo do preço de custo, nos moldes do art. 36, § 3°, XV da
Lei nO 12.529/2011, já que salvaguarda o pequeno transportador do exercício abusivo de posição
dominante por parte de grupos econômicos contratantes do serviço de transporte de carga.
14
60. Nesse sentido, o STF, ao julgar a constitucionalidade da Lei na 8.039/1990", que
estabeleceu critérios de reajuste das mensalidades escolares, afirmou que o Estado pode regular,
por via legislativa, a política de preços de bens e de serviços quando constatado o abuso do poder
econômico no aumento arbitrário dos lucros, deste modo:
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, que dispõe
sobre critérios de reajuste das mensalidades escolares e das outras providencias. - Em face da
atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princípio da livre
concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais,
em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa,
regular a política de preços de bens e de serviços, abusivo que e o poder econômico que
visa ao aumento arbitrário dos lucros. - Não é, pois, inconstitucional a Lei 8.039, de 30
de maio de 1990, pelo só fato de ela dispor sobre critérios de reajuste das mensalidades das
escolas particulares. - Exame das inconstitucionalidades alegadas com relação a cada um dos
artigos da mencionada Lei. Ofensa ao princípio da irretroatividade com relação a expressão
"marco" contida no parágrafo 5° do artigo 2° da referida Lei. Interpretação conforme a
Constituição aplicada ao "caput" do artigo 2°, ao parágrafo 5° desse mesmo artigo e ao artigo
4°, todos da Lei em causa. Ação que se julga procedente em parte, para declarar a
inconstitucionalidade da expressão "marco" contida no parágrafo 5° do artigo 2° da Lei no
8.039/90, e, parcialmente, o "caput" e o parágrafo 2° do artigo 2°. bem como o artigo 4° os três
em todos os sentidos que não aquele segundo o qual de sua aplicação estão ressalvadas as
hipóteses em que, no caso concreto, ocorra direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa
julgada. (STF, Tribunal Pleno, ADI 319 QO/DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJ 30.04.1993).
(Destacamos)
61. No caso em tela, como assentado acima, uma série de fatos conduziu a uma distorção de
mercado gravemente prejudicial aos caminhoneiros. com a constatação de aumento gradual de
custos e redução nos valores dos fretes, de modo que foi necessário o estabelecimento da política
de preços mínimos, apta a contingenciar as distorções sem tolher o conteúdo da liberdade de
mercado, frisando-se que não se trata de tabelamento de preços, e sim. de fixação do preço mínimo.
63. Quanto à livre concorrência, cumpre esclarecer que a sua interpretação não pode ser feita
de forma irrestrita e desassociada dos demais princípios que regem a Constituição Federal, de
11 Vale registrar que a Lei 8.03911990 foi revogada pela Lei 8.170/1991 que. por sua vez, foi substituída
15
modo que a leitura sistemática do texto constitucional conduz ao entendimento de que a ordem
econômica é fundada também na valorização do trabalho humano, e tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170, CF).
64. No mais, ainda quanto à livre concorrência, como lembrado acima, o § 4° do art. 173 da
CF aduz que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à
eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, de modo que deve a livre
concorrência ser protegida ante o abuso do poder econômico.
65. A Constituição Federal reconhece, portanto, que o mecanismo do livre mercado está sujeito
a fàlhas, sendo legítima a atuação estatal no domínio econômico para a defesa da livre
concorrência, não havendo, no caso, qualquer ofensa à livre concorrência, mas, sim, ao contrário,
proteção à livre concorrência.
66. Assim, resta incontroverso, no caso, que a atuação do Estado no domínio econômico é
legítima, bem como que os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência devem ser
compreendidos em cotejo com todo o programa constitucional, preservando-se a dignidade da
profissão de caminhoneiro.
67. Até porque, no caso, como dito, foi reconhecido que há relevante distorção no setor de
transporte rodoviário de cargas, em que os custos totais de operação dos transportes, fixos e
variáveis, não são propriamente remunerados pelos preços praticados no mercado, de modo que a
grande pulverização existente no setor, com a importante participação de autônomos, fez com que
os seus custos não pudessem ser diluídos no restante da cadeia produtiva, recaindo
majoritariamente sobre o transportador. Por isso, é necessária a regulamentação dos valores dos
fretes para promover condições razoáveis à realização de fretes no território nacional, de forma a
proporcionar a adequada retribuição ao serviço prestado, observando o princípio de valorização
do trabalho humano em que a ordem econômica deve ser fundada, visando a assegurar a todos
existência digna, nos termos do art. 170 da Constituição Federal.
68. Logo, percebe-se que a edição da Medida Provisória nO 832/2018 não viola os princípios
da livre iniciativa e da livre concorrência (art. 170, caput e inciso IV, da CF), de modo que os
referidos primados não devem ser interpretados de forma isolada, devendo-se observar o texto
constitucional como um todo, interpretando-o de modo sistemático.
16
69. Nesse sentido, cumpre transcrever a Nota Informativa nO 13/2018/DP-GPIII/SFP-MTPA
(em anexo). a qual, sobre o tema, explicitou o seguinte:
4. Quanto ao princípio da livre iniciativa, destaca-se que a Carta Magna no seu art. J 0. IV.
adota a expressão "os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa", relativizando o
conceito de livre iniciativa [...] 5. A própria Constituição, conforme se nota, não atribui
como fundamento da República uma livre iniciativa independente, mas vinculada aos
valores sociais nela contidos. A atuação do Estado Regulador, pautado por motivações
que remetem a valores sociais, mostra-se, nesse sentido, plenamente aderente à essência
trazida pelo constituinte. 6. Ademais. o conceito de livre iniciativa remete ao direito de
empreender, não à regulação econômica. Dessa forma, depreende-se que o
estabelecimento de preços mínimos não suprime ou fere o direito de exploração de
determinada atividade econômica pela iniciativa privada caraterizado pelo princípio
da livre iniciativa. 7. Quanto à livre concorrência, cumpre esclarecer que, embora seja
um princípio previsto na Constituição Federal, sua interpretação não pode ser feita
de forma irrestrita e desassociada dos demais princípios que regem a Carta. A leitura
sistemática do texto constitucional conduz ao entendimento de que a ordem
econômica é fundada também na valorização do trabalho humano, e tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170,
CF) [...] 8. É relevante ressaltar que os constituintes preocuparam-se em colocar no
caput do artigo 170 o objetivo a ser perseguido pela ordem econômica que é assegurar
existência digna a todos, antes de enumerar os princípios a serem observados para
que tal fim seja atingido. 9. Durante a paralisação do serviço de transporte rodoviário de
carga, iniciada no último dia 21 de maio, os transportadores reivindicaram. entre os
principais itens da pauta, o estabelecimento de uma política de preços mínimos do serviço
de frete para por fim a greve, que já atingia seu sétimo dia. 10. Naquela altura, conforme
amplamente noticiado e vivenciado por muitos, os combustíveis acabaram na maioria dos
postos, o transporte coletivo fora prejudicado e operava com frota reduzida, voos foram
cancelados porque o querosene não havia chegado, mercadorias perecíveis estavam em
falta nos supermercados, hospitais suspenderam o atendimento e escolas cancelaram as
aulas, até a coleta de lixo foi afetada, navios se acumulavam à espera de atracação, os preços
de diversos produtos dispararam, entre outros transtornos que vinham ocorrendo em função
da greve e das interdições das vias públicas. Em suma. a dignidade da existência mostrava
se sob ameaça. 11. O desabastecimento e as restrições à circulação de pessoas e bens, os
prejuízos sociais e econômicos de grande magnitude que vinham sendo causados pela
paralisação foram mitigados com o atendimento das reivindicações das entidades
representativas dos caminhoneiros, dentre elas o estabelecimento de uma política de preços
mínimos do transporte rodoviário de cargas. A ameaça à dignidade da existência foi
afastada. 12. Cumpre registrar nesse ponto que, em casos como esse, de ameaça à segurança
nacional, a Constituição autoriza medidas absolutamente mais drásticas do que a regulação
de preços, quais sejam, de intervenção no domínio econômico por meio da atuação direta
do Estado na provisão de bens e serviços (art. 173, CF). Se medidas mais rigorosas de
intervenção são permitidas, não haveria que se falar em inconstitucionalidade em medidas
mais brandas, amparadas na própria Carta. 13. O tabelamento do valor mínimo para o frete,
exigido pelos transportadores, deverá ser fundamentado na valorização do trabalho humano
com o fim de assegurar existência digna ao caminhoneiro, conforme apregoa o artigo 170
da Constituição Federal, combinado com os arts. da Lei nO 10.233, de 2001, de 5 de junho
de 2001 [...] (Destacou-se)
70. Acerca do tema, o Supremo Tribunal Federal assim decidiu a respeito da intervenção do
Estado na economia:
17
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.844/92, DO
ESTADO DE SÃO PAULO. MEIA ENTRADA ASSEGURADA AOS ESTUDANTES
REGULARMENTE MATRICULADOS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO.
INGRESSO EM CASAS DE DIVERSÃO, ESPORTE, CULTURA E LAZER.
COMPETÊNCIA CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O
DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO.
CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM ECONÔMICA.
MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. ARTIGOS 10,3 0, 170,
205, 208, 215 e 217, § 30, DA CONSTITUiÇÃO DO BRASIL. I. É certo que a ordem
econômica na Constituição de 1.988 define opção por um sistema no qual joga um papel
primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que
o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. 2. Mais do que simples
instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem
realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para
o Estado e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 10, 30
e 170.3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas
também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-Ia, cogita também da
"iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao
Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo exercício do
direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 §
3°, da Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de ser preservado
o interesse da coletividade, interesse público primário. 5. O direito ao acesso à cultura. ao
esporte e ao lazer, são meios de complementar a formação dos estudantes. 6. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADlI950, Relator(a): Min. EROS GRAU,
Tribunal Pleno,julgado em 03111/2005, DJ 02-06-2006).
71. Nessa perspectiva, no âmbito da ADI 4.679, o Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX externou a
questão relativa à conciliação de princípios constitucionalizados, aparentemente contraditórios, no
que tange ao tema inerente à ordem econômica, ocasião em que reforçou que a Constituição
Federal positivou regras específicas, determinando, por exemplo, que a lei reprima o abuso
do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao
aumento arbitrário dos lucros, nos seguintes termos:
18
constitucionais fundamentais, a Carta de 1988 positivou regras específicas, ao
determinar, por exemplo, que a lei reprima o "abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos
lucros". (ADI 4.679/DF, ReI. Min. Luiz Fux, DJe 04/04/2018). (Grifamos)
19
75. Assim, a medida apresenta-se adequada, uma vez que a edição da MP n° 832/18 está
totalmente vinculada à finalidade a que se destina, qual seja, assegurar a valorização do trabalho
da categoria de caminhoneiros e, ainda, combater a intensa distorção dos preços praticados no
frete, em um cenário de mercado com competição imperfeita.
76. Além disso, a MP 832/2018 é totalmente necessária, levando em conta que não existiam
outros meios eficazes e urgentes, para a realização do desiderato de corrigir as fortes distorções no
setor, além de arrefecer a intensa paralisação dos caminhoneiros instalada no país.
77. Por fim, a medida é totalmente proporcional em sentido estrito, uma vez que tem o condão
de realizar o objetivo pretendido, com a valorização do trabalho social e o respeito à dignidade da
pessoa humana, preservando um valor de frete que possa fàzer frente aos custos operacionais dos
caminhoneiros, bem como superando eventuais restrição a princípios constitucionalizados.
79. Assim, verifica-se que a medida é proporcional, tendo ponderado diversos fatores e
observado os parâmetros econômicos necessários para autorizar a intervenção estatal - distorção
no setor e mercado imperfeito, não havendo que se falar, dessa forma, em inconstitucionalidade
da norma atacada para justificar a suspensão dos seus efeitos jurídicos.
80. Ante o exposto, percebe-se que a Medida Provisória n° 832/2018 está em plena
consonância com a Constituição Federal, de modo que a fumaça do bom direito não se faz presente.
81. Conforme explicitado acima, a Medida Provisória n° 832/2018 foi editada em um cenário
de intenso protesto dos caminhoneiros, no qual os manifestantes realizaram diversas obstruções
do tráfego em estradas pelo país, a fim de obter melhores condições de trabalho. Na pauta de
20
reivindicações. um dos principais itens consistia no estabelecimento da política de preços mínimos
nos fretes do transporte rodoviário de cargas.
82. Nesse contexto, a Medida Provisória teve o condão de redu/ir a instahi lidack nas rclaç(ies
com () setor de transporte rodc)\iúrio de cargas. além de propiciar mecanismos tendentes a corrigir
a forte distorção existente no setor, com imperfeição na competitividade observada no mercado.
21
pode interferir neste processo e. 'lior, inviabilizá-Io. sobretudo se de fato se
concretizar o efeito multipliC'ador referido na inicial. Desse modo. é prudente e
oportuno (Iue. em atenção à ordem pública e à ordem administrati,·a. sejam. ao menos
por ora. asseguradas as bases do acordo ou. no mínimo. asseguradas as premissas de
confiança e credibilidade necessárias para que referido acordo possa ser enfim
arrematado \' J Ante o exposto, defiro em parte {) pedido da União c da Agencia 'acionai
de Transportes Tencstn:s. para sustar as decisôes proferidas pelo Juízo da 8" Vara Federal
da SC\j,tO Judídúría do Rio Grande do Norte. nos autos dos processos judiciais eletrônicos
de ,{' 0805790-402018.405840\. 080580S-6120184058401. 0805817
23.2018.4 05840 I e 0805820-75.20184058401 (fRF5. Suspensà() de LimílHIl. processo
r( OSOS977-3\l.2018 4050000. Des. Federal Cid Marconí Gurgel de Souza) «;nramOS)
R4 Dessa f<mna. evidente o per/cu/11m In mora inverso existente na eventual sllspt'nsào dos
eleitos da Medida ProVIsória nO 832.2018. que foi editada para. além de corrigir a forte distorção
cxistente no setor. com imperfelçào na compctitividadc observada no mercado. redUZIr a
Instab1l1dadc nas rdaçõcs com o setor de transporte rodoviário de cargas. após acordo lirmado
entre o Governo Federal e representantes do setor envolvido.
lU - CO~CL{iSAo:
A conSideração superior.
4) EMI N° 34 MTPA/CC; e
23
1210612018 https:llsapiens.agu.gov.brldocumentoI140347136
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO R, 5° ANDAR - CEP 70.044-902 - BRASíLIA (DF)lTL.: ((, I) 2029
NOTA n. 01528/2018/CONJUR-MTPA/CGUlAGU
URGENTE
AÇÃO RELEVANTE
Em face do exposto, requer seja Rrestada a tutela de urgência Rara susRender a vigência da r-.lcdida
Provisória n. 832, de 27 de maio de 2018 e. consequentemente. a Resolução 5.820. de 30 de maio
de 2018, da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT.
Sucessivamente, ainda no plano cautelar, requer seja suspensa a vigência da ivlcdida Provisória
832/2018 pelo prazo mínimo de 180 (cento e oitenta dias) para que. nesse interregno. os
associados intentem uma renegociação dos contratos de transporte com os con tratantes da
prestação de serviços, de modo a tentar viabi I izar a operaçào.
4. A SGCT também provocou a atuação da Procuradoria Federal junto à Agência Nacional de Transportes
Terrestres - PF/ANTT. consoante Memorando 00033/2018/DAECGAE/SGCT/AGU. de 08 de junho de 2018 (NUP
Principal. Seq. 2).
5. Inicialmente, informo que esta Consultoria foi instada a se manifestar no prazo de 48 horas acerca da
ação 0805788-70.2018.4.05.8401. ajuizada por SIMORSAL - Sindicato da Indústria de Moagem e Refino de Sal do
Estado do Rio Grande do Norte em face da União e da ANTT. almejando a suspensão do efeito vinculante do Medida
Provisória 832/2018 e da Resolução ANTT 5.820/2018.
6. Com isso. na Nota 01486/20 18/CONJUR-MTPAICGU/AGU. de 06 deiunho de 2018 (NUP
00525.003579/2018-81, Seq. 39), esta unidade relatou que a proposta de medida provisória para instituir a Política de
Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas foi apresentada pela Nota Técnica 3/2018/DP/SFP-MTPA. de 27
de maio de 2018 (anexa), oriunda da Secretaria de Fomento e Parcerias do Ministério dos Transportes. Porlos e A\ iaçJo
Civil - SFP/MTPA.
7. A Nota Técnica apresenta o histórico e os fundamentos da política. conforme transcrição a seguir:
https:llsapiens.agu.gov.brldocumentoI140347136 114
12/0612018 hltpsi/sapiens.agu.gov.br/documento/140347136
2.22. Embora a livre concorrência seja um princípio previsto na Constituição Federal (inciso. IV,
art. 170, CF), a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa. e tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social
(art. 170. CF).
2.23. Cabe acrescentar ainda que a lei setorial, Lei nO 10.233, de 5 de junho de 2001, institui
princípios e diretrizes para o transporte aquaviário e terrestre, tendo como uma das suas diretrizes
gerais a repressão fatos e ações que configurem ou possam configurar competição imperfeita ou
intl'ações da ordem econômica, in verbis:
2.24. A situação allplca que se contigura justifica que o Estado atue deforma excepcional,
buscando atenuar as distorções que se processam no setor, considerando-se a valorização d
trabalhador do transporte rodoviário de cargas, assegurando-lhe existência digna.
2.25. ~~ salutar. contudo, anotar que medidas dessa natureza afastam-se das boas práticas na
condução econômica. uma vez que implicam, em certo grau de intervenção estatal em atividade
econômica que originalmente não justificaria esse tipo de atuação. Assim sendo, recomenda-se
que não sejam mantidas de forma permanente, devendo perdurar somente enquanto remanescerem
distorções de mercado como as acima elencadas.
7. Conforme se depreende da leitura do texto proposto, assim como das razões apresentadas pela
área tecnica do 1\1 inistério, trata-se de medida excepcional de intervenção do Estado no domínio
econômico visando a adequada retribuição ao prestador do serviço de transporte rodoviário de
çargas pelo tomador do serviço, mediante a fixação de preços mínimos de frete.
8. De acordo com o art. 5°, incumbiu-se a Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTI da
publiçação, semestralmente. de tabela de preços do frete, com caráter vinculante.
9. Garantiu-se, ainda. a participação dos representantes das cooperativas de transporte de cargas e
dos sindicadas de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas no processo
de fixação dos preços mínimos.
10. Sob o aspecto jurídico, é cel10 que a Constituição Federal de 1988 privilegia a livre iniciativa
e a I iberdade de preços nas atividades econômicas. De acordo com essa diretriz. restaria ao Estado
a avalição a posteriori de inhações à ordem econômica, que poderia sujeitar o infrator a
penalidades nas esferas administrativa, civil e criminal. Essa orientação se aplica, ordinariamente,
nas situações ordinárias, ou seja, num contexto de normalidade.
11 ..... estado atual, no entanto, longe está do contexto de nOnllalidade. Enfrentamos, na realidade,
uma crise na prestação dos serviços de transporte rodoviário de cargas, que redunda em grave
ameaça à ordem econômica e à saúde - diante da paralização ou risco de paralização de diversas
atividades do mercado pela falta de transporte de insumos - assim como à segurança pública
que exigiu recentemente a edição do Decreto n° 9.381, de 25 de maio de 2018, que autoriza o
214
htlps/lsapiens.agu.gov.brldocumentoI140347136
12/06/2018 hllps:I/sapiens.agu.gov.br/documento/140347136
emprego da das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem na desobstrução de vias
pública.
12. Importa lembrar que o art. 174 da Constituição Federal outorgou ao Estado a função de agente
normativo e regulador da atividade econômica. cumprindo-lhe. na forma da Ici, as funçlies de
fiscalização. incentivo e planejamento. No presente caso. claramente. em razão da atuação
fiscalizatória do Estado, impõe-se o exercício de competência normativa e regulatória para
normalização dos servidos de transporte rodoviário de cargas.
13. Com efeito. a situação de anormal idade exige a adoção de medidas excepcionais como é o
caso da Medida Provisória proposta. Especialmente em razão da cxcepcionalidade. recomendo
que a Administração promova constante avaliação do mercado. a fim de considerar a necessidade
de adequação da política setorial. observados os principios da ramabilidade e da
proporcionalidade.
14. Sobre o aspecto formal. entendo que a proposta se encontra adequada às exigências do
Decreto nO 9.191. de 2017.
15. Ante o exposto. e considerando as razões que exigem o restabelecimento da garantia da ordem
econômica no setor de transporte rodoviário de cargas. concluo pela constitucionalidade da
medida proposta desde que observadas as condições tratadas no ~ 13 deste parecer
12. Posterionnente. este subscritor tomou conhecimento que foram ajuizadas outras ações com o l11esmo
objeto, nas quais foram proferidas decisões liminares. sem a oitiva da União, rara suspender os efeitos da Medida
Provisória 832/2018 e da Resolução ANTT 5.820/2018. tal como no processo 0805790-40.2018.4.0S.8401. distribuído à
8a Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte. Entretanto. nessas ações esta Consultoria nào havia sido
formalmente notificada.
13. Dessa maneira, esta CONJUR/MTPA requisitou à SFP/MTPA nova manifestação sobre o tema. A
demanda foi atendida pela Secretaria, que lavrou a Nota Informativa 13/20181DP - GPIII/SFP-MTPA (ancxa) ontem às
23:53.
14. Além disso, cabe destacar que a constitucionalidade do ato normativo atacado também foi analisada pela
Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República na Nota SAJ 03/2018. de 27 de maio de 2018
(anexa).
15. Isso posto. considerando a relevância da demanda em análise, bem como o efeito multiplicador das ações
movidas em primeira instância. julgo ser pel1inente a convocação de reunião. com urgência. para discussào da matéria
entre os órgãos jurídicos envolvidos na defesa da União. de modo a evitar retrabalho. distribuir tarefas de acordo com as
respectivas especialidades e alcançar uniformidade na atuação.
16. Nesse contexto. sugiro a pat1icipação da Secretaria-Geral de Contencioso, da Pl"Ocul'adoria-Gem\ da
União, da Procuradoria Federal junto à ANTT e desta Consultoria Jurídica.
17. À Divisão de Execução Processual. para que:
ADVOGADO DA UNIÃO
hllps:/lsapiens.agu.gov.br/documento/140347136 3/4
12/06/2018 https:lIsapiens.agu.gov.br/documento/14ü347136
Documento assinado eletronicamente por BERNARDO OCTAVIO RODRIGUES DOS REIS CHAGAS, de acordo com
os normativos legais aplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 140347136
no endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br. Infomlações adicionais: Signatário (a): BERNARDO OCTAVIO
RODRIGUES DOS REIS CHAGAS. Data e Hora: 08-06-2018 17:58. Número de Série: 4166160644732148882.
Emissor: AC CAIXA PF \2.
httpsllsaplens.agugov.br/documento/140347136 4/4
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, PORTOS E AVIAÇÃO CIVIL
Esplanada dos Ministérios, Bloco R, Edifício Anexo, Ala Oeste, Sala 207, - Bairro
Senhor Diretor,
I. RELATÓRIO
1. Trata-se de pedido de informações para subsidiar a defesa da União
da livre iniciativa e da livre concorrência, previstos nos arts. 1°, IV, e 170, IV.
11. FUNDAMENTAÇÃO
4. Quanto ao princípio da livre iniciativa, destaca-se que a Carta Magna
no seu art. 1°, IV, adota a expressão "os valores sociais do trabalho e da livre
princípio previsto na Constituição Federal, sua interpretação não pode ser feita
( ... )
Art. 20. São objetivos das Agências Nacionais de Regulação dos Transportes
Terrestre e Aquaviário:
( ... )
II - regular ou supervisionar, em suas respectivas esferas e atribuições, as
atividades de prestação de serviços e de exploração da infra-estrutura de
transportes, exercidas por terceiros, com vistas a:
a) garantir a rrovimentação de pessoas e bens, em cumprimento a padrões de
eficiência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e rrodicidade nos
fretes e tarifas;
b) harmonizar, preservado o interesse público, os objetivos dos usuários, das
errpresas concessionárias, perrrissionárias, autorizadas e arrendatárias, e de
entidades delegadas, arbitrando conflitos de interesses e irrpedindo situações
que configurem corrpetição irrperfeita ou infração da ordem econôrrica.
111. CONCLUSÃO
18. Cabe, diante da conjuntura que se impõe, sublinhar os efeitos
deletérios de se retroceder no acordo realizado com as lideranças do setor de
transporte de cargas no dia 27 de maio, endereçando resposta à uma das
principais reivindicações realizadas, por meio da edição da Medida Provisória nO
832. Uma decisão que suspendesse os efeitos da Medida poderia ser o
desencadeador de nova movimentação grevista, em proporções potencialmente
superiores.
19. Em outros termos, a suspensão da vigência da tabela de preços
mínimo para o frete representa risco ao interesse público em maior grau em
comparação à admissão de situação de excepcionalidade em termos
concorrenciais, o qual exige maior regulação estatal. A ameaça à segurança
pública é notória, tendo exigido recentemente a edição do Decreto nO 9.381, de
25 de maio de 2018, que autorizou o emprego das Forças Armadas para a
Garantia da Lei e da Ordem na desobstrução de vias públicas.
20. Considerando que as informações acima satisfazem ao solicitado,
submetemos a presente Nota Informativa ao Senhor Diretor do Departamento
de Parcerias para apreciação e demais providências julgadas cabíveis.
À consideração superior.
(assinado eletronicamente)
ÁLVARO SIMÕES DA CONCEIÇÃO NETO
Assessor Técnico
(assinado eletronicamente)
MARCELO CARDOSO FONSECA
Gerente de Projetos
DESPACHO
De acordo. Encaminhe-se a presente Nota Informativa à Consultoria
Jurídica do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil para continuidade
no processo.
(assinado eletronicamente)
FÁBIO LAVOR TEIXEIRA
Diretor do Departamento de Parcerias
., .
.Esplanada dos Ministérios, -Bloco R,Edifício Anexo, Ala Oeste, Bairro Zona Cívico
1. ASSUNTO
1.1.' Esta Nota Técnica apresenta proposta de Medida Provisória que institui a Política de
1.2. O tema havia sido alvo de discussões pOi" ocasião da greve dos caminhoneiros
representativas
.
dos caminhoneiros
,
1.3. A questão voltou à tona devido à atual greve dos transportadores de carga, iniciada
de autoria do Deputado Assis Couto, cuja tramitação indica a atúal análise pela
2.ANÁLlSE
2.1. Durante as negociações realizadas em 2015 com os caminhoneiros autônomos que
como uma das principais demandas do setor. logo após a greve daquele ano, em 3 de
março, foi apresentada proposta legislativa pelo Deputado Assis. Couto acerca da
IJ «5
instituição da Politica de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas,
coo:~~~aC~jetOde~O'5êdei ~
2.2. A justificação que acompanha o Projeto de Lei traz o contexto da sua formulação:
JUSTIFICAÇÃO
PT/PR
2.3. A tramitação na Câmara foi realizada por mais de dois anos, passando pela Comissão
de Viação e Transportes (CVT) e pela Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC), culminando com a aprovação da redação final naquela Casa ·do
Congresso em 26 de setembro de 2017, a qual foi remetida ao Senado em 5 de
outubro do mesmo ano.
2.4. No Senado, o Projeto de Lei recebeu o nº 121, de 2017, tendo sido remetida à CAE em
23 de outubro de 2017. O Projeto teve relatoria designa~a para0 Senador Romero .
Jucá, em 7 de novembro de 2017, tendo sido esse o último passo na sua tramitação.
2.5. Tendo em vista a eclosão da greve dos caminhoneiros, em 21 de maio de 2018, fez-se
necessário recuperar a referida redação, de forma que servisse como ponto de
partida para as negociações conduzidas com os representantes do setor de transporte
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arrefe~ro~nto
2.6. Assim, a redação ora proposta repercute,. em grande medida, o texto que tramita •
atualmente no Senado,. tendo em vista o seu relativo grau de amadurecimento,
devido aos .mais de dois anos de discussão e a urgência que edição do ato exige, da a
crise de abastecimento que se agrava no país. Essa é uma das medidas - de um
conjunto mais amplo discutido com as lideranças grevistas - consideradas necessárias
para melhorar as condições de planejamento financeiro das empresas e profissionais
que atuam nô setor, mitigando impactos sociais negativos da situação atual.
2.7: Cabe também destacar que essa dema,nda, embora não tenha sido contemplada na
Lei 13.103, de 2 de março de 2015, foi objeto de várias discussões realizadas no
âmbito do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes
.Terrestres (ANTI), resultando na publicação, pela ANTI, da Resolução nº 4810, de 19
de agosto de 2015, que estabelece meto'dologia e publica parâmetros de referência
para cálculo dos custos de frete do serviço de transporte rodoviário ren:urierado de
cargas por conta de terceiros.
2.8. Por se tratar de parâmetros de referência, este. ato normativo foi apenas um
instrumento facilitador, sem caráter impositivo, para que os custos possam' ser
calculados tanto pelo transportador (autônomo ou empresa), quanto por quem o
contrata (embarcador). Adicionalmente,. a ANTI disponibilizou uma planilha de
cálculos para facilitar a determinação do valor de frete por estes usuários, cujo uso é.
discricionário.
2.9. Esse, contudo, não era o pleito original do setor, ,o qual desde a origem reivindica a
publicação de tabela de preços mínimos vinculante, conforme se relata, ao menos,
desde a greve de 2015. É esse o efeito pretendido pela Medida Provisória em tela,
visando a proporcionar adequada retribuição ao serviço prestado, gerando benefícios
soéiais ao permitir que os fretes sejam realizados em condições mais razoáveis, a
. partir da obrigação de observância dos preços mínimos estabelecidos (arts. 1º, 2º e
4º).
2.10. Para tanto, o texto propõe que a ANTI passará a publicar semestralmente-
sempre nos dias 20- de janeiro e 29 de julho - tabela com os preços mínimos
referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado,
considerando as especificidades das cargas, classificadas em cinco categorias: geral, a
granel, frigorificada, perigosa e neogranel (arts. 3º e 5º).
2.11. A primeira tabela será publicada em até 5 dias úteis da publicação da Medida
Provisória, a qual vigorará até próximo dia 20 de janeiro (§3º do art. 5º). Caso não.
ocorra a publicação nas datas estabelecidas, seguirá vigorando a última tabela
publicada, corrigida pelo IPCA (§2 9 do a"rt. 59).
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2.13. O processo de elaboração da tabela de preços mínimos deverá contar com a •
participação dos representantes das cooperativas de transporte de cargas e dos
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sindicatos de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas .
(art. 62 ). Ainda, a minuta traz a necessidade de se considerar, de forma prioritária, os
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custos do. óleo diesel e dos pedágios na composição dos preços mínimos.
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Fonte: ANTI
2.17. Ao estratificar os dados por categoria de veículo, percebe-se ainda que à queda é •
maior nos veículos com maior número de eixos, os quais representam de forma mais
expressiva o setor de transporte de cargas. Conclui-se, portanto, que o setor foi
afetado em patamar mais elevado que a média das atividades econômicas que se
desenvolvem no pais.
2.18. Cabe registrar também que caso a economia evoluísse no sentido inverso, com
que se verificou.
·2.19. Esse contexto de excesso de oferta, combinado com a elevação dos custos
associados à operação dos transportadores rodoviários de cargas, deu origem a
relevante distorção no setor, em que os custos totais de operação dos transportes,
fixos e variáveis, não são propriamente remunerados pelos preços praticados no
mercado.
2.21. Essa não é a realidade, contudo, desse setor, o qual é caracterizado por uma grande
pulverização, com importante participação de autônomos, fazendo com que o
aumento dos custos não seja, pelo menos d~ forma amp"la, diluído no restante da
cadeia produtiva, recaindo os impactos majoritariamente sobre o transportador.
2.22. Embora a livre concorrência seja um princípio previsto na Constituição Federal {inciso
IV, art. 170, CF), a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, e tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames dajustiça social (art. 170, CF).
2.23. Cabe acrescentar ainda que a lei setorial, Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001,
. institui princípios e diretrizes para o transporte aquaviário e terrestre, tendo como
uma das suas diretrizes gerais a repressão fatos e ações que configurem ou possam
configurar competição imperfeita ou infrações da ordem econômica, in verbis:
(... )
71/i":;'Ó.
2.24.·A situação atípica que se configura justifica que o Estado atue de forma excepçional,
bUSC'"dOÃ~u,~,o,çõe~ue se;;
valorização do trabalhador do transporte rodoviário de cargas, assegurando-lhe •
existência digna.
2.25. É salutar, contudo, anotar que medidas dessa natureza afastam-se das boas práticas
na condução econômica, uma vez que implicam em certo grau de intervenção estatal
em atividade econômica que originalmente não justificaria esse tipo de atuação.
Assim sendo, recomenda-se que não sejam mantidas de forma permanente, devendo
perdurar somente enquanto remanescerem distorções de mercado como as acima
elencadas.
Art. 20. São objetivos das Agências Nacionais de Regulação dos Transportes
Terr~stre e Aquaviário:
(... )
2.27. A urgência e relevância da Medida Provisória são notórias, tendo em vista a greve
dos transpo'1adores de carga iniciada no dia 21 de maio, a qual alcançi;l o seu sétimo
dia. O estabelecimento de uma política de preços mínimos do transporte rodoviário
de cargas é um dos itens da pauta de reivindicação do setor.
2.28. Tal iniciativa, nesse contexto, possui o condão de reduzir a instabilidade.nas relações
com o setor de transporte rodoviário de cargas que, por sua vez, podem resultar em
prejuízos sociais e ecónômicos de grande monta, como O desabastecimento e
restrições para à circulação de pessoas e bens.
3. CONCLUSÃO
3.1. Assim, submete-se a proposta constante da presente minuta de Medida Provisória
acerca da instituição de Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de
o~Ó
.
3.2. Dessa forma, sugere-se o envio do texto da minuta de Medida Provisória, •
acompanhada da minuta de Exposição de Motivos, ao Gabinete do Ministro dos
,
Transportes, Portos e Aviação Civil para que seja dada sequência aos trâmites
processuais.
À consideração superior.
L -,
FÁBIOLAVO~
'
Diretor de Parcerias - DP/SFP/MTPA
(2D/l r
RODRIGO OTÁVldM UZ
Diretor de Gestão Estratégica e I GEr/SPI/MTPA
A
rtes Terrestre e Aquaviário
,
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CARLOS ANTONIO ROCHA DE BARRos-'
t,
A
{{//dA'9 "
ERT DRUM~ .• _.....,_
cretário
EMI N~ 34 MTPA/CC
Brasíl ia. 27 de maio de 2018.
3. A urgência e relevância da Medida Provisória são notórias, tendo em vista a greve dos
transportadores de carga iniciada no dia 21 de maio, a qual alcança o seu sétimo dia. O
estabelecimento de uma política de preços mlnimos do transporte rodoviários de cargas é
um dos itens da pauta de reivindicação du setor Tal iniciativa. nesse contexto, possui o
condão de reduzir a instabilidade nas relações com o setor de transporte rodoviário de
cargas que. por sua vez, podem resultar em prejuízos sociais e econômicos de grande
monta. como o desabastecimento e restrIções para à circulação de pessoas e bens.
5. Por se tratar de parâmet!os de referência, este ato normativo foi apenas um instrumento
facilitador, sem caráter impositivo. para que os custos possam ser calculados tanto pelo
transportador (autônomo ou empresa), quanto por quem o contrata (embarcador).
Adicionalmente. a ANTT disponibilizou uma planilha de cálculos para facilitar a
determina.;à:l do valor de frete por estes usuários. cujo uso é discricionário.
Respeitosamente,
VALTER CASIMIRü
ELlSEU PADILHA
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS
NUP: 00001.002390/2018-80
Senhor Subchefe,
Invoca a parte autora afronta ao art. 10, IV e parágrafo único; art. 3°, I, art.
5°, 11; art. 170, IV e § 4°; art. 174 e art. 178 da Constituição Federal, sob alegação de
que os normativos ofendem a livre-iniciativa e a ampla concorrência.
É o relatório.
Da contextualização da matéria
2
Conforme esclarecido quando da contextualização do cenário em que foi
editada a Medida Provisória n.o 832, de 2018, sua inserção no ordenamento jurídico foi
motivada por um antigo pleito dos caminhoneiros paredistas, além disso sua publicação
foi condição sine qua non para findar a greve que paralisou a economia brasileira por
mais de uma semana, causando, por consequência, prejuízos de grande monta para os
setores produtivos e para a sociedade brasileira.
Ademais, em razão da norma ter sido editada para conter a paralisação
dos caminhoneiros, eventual suspensão abrupta da vigência da Medida Provisória n.O
832, de 2018, e da Resolução n.o 5.820, de 2018, poderá, em última análise,
potencializar o risco da retomada do movimento paredista dos caminhoneiros, com
consequências desastrosas para todos os setores econômicos e social do País.
É também digno de comentário a preocupação da ANTT em buscar um
consenso entre as lideranças dos caminhoneiros e dos setores produtivos do País, para
ajustar os valores da tabela de frete referente às operações de transporte rodoviário de
carga, consoante Nota do Órgão Regulador publicada em sua página internet 3.
Da Constitucionalidade Material
3
para o setor privado.
Nessa toada, a Lei n.o 10.233, de 2001, que dispõe sobre a reestruturação
dos transportes aquaviário e terrestre, aponta como diretriz geral do gerenciamento da
infra-estrutura e da operação dos transportes aquaviário e terrestre a repressão a fatos e
ações que configuram competição imperfeita ou infrações à ordem econômica:
4
categorias econômicas:
A fixação de preço para o frete, por sua vez, visa garantir um valor
adequado para a prestação do serviço, no mínimo compatível com os custos incorridos
no transporte rodoviário de carga. Essa medida torna-se principalmente relevante para
aquele transportador autônomo de cargas, definido como a pessoa física que tenha no
transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional (art. 2°, I, da Lei n.o 11.442,
de 2007).
5
preservação e à garantia das condições e das exigências mínimas de uma vida digna. O
respeito e a proteção a estes valores é dever do Estado. 4
Art. 173, §4~ A Lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à ~
4WEBER, Tadeu. A ideia de um "mínimo existencial" de J. Rawls. Kriterion vaI. 54 n.o 127 Belo
Horizonte, junho de 2013.
6
dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento
arbitrário dos lucros.
(..)
(..)
5 Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional, ed. Malheiros, 41 ed., 2018, p. 809.
7
d) Ordem econômica e valorização do trabalho humano
8
ANTT publicará tabela com os preços mínimos reférentes ao quilômetro
rodado na realização de fretes, por eixo carregado, consideradas as
especificidades das cargas definidas no art. 3~
Assim, por ser uma medida excepcional e temporária, é certo que caberá
à ANTT rever, periodicamente, o preço a ser fixado, podendo fazer os ajustes
necessários à realidade do mercado, podendo, inclusive, verificar a necessidade de
continuidade da medida.
9
um patamar mínimo de cobrança garante que a competitividade do setor não será feita
em detrimento da segurança do próprio trabalhador e de terceiros.
~~Ú~~~~IGUES
DE ACORDO.
APROVO.
.
~o ~,
FELI~SCAES SABINO BRESCIANI
Subchefe Interino para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República
Substituto
\0