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© FUNDAGAO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Josb Carlos Souza Trindade Diretor Presidente José Castlho Marques Nato Editor Executive aio Heenoni Borfim Gutierre Consefho Editorial Académico ‘Alberto tked ‘Antonio Carlos Carrera de Souza ‘Antonio de Padua Pithon Cyrino Pensar o Século XX Problemas politicos e histéria nacional na América Latina luabel Maria FR. Loureiro Organizadores: ALBERTO AGGIO ‘MILTON LAHUERTA oo Editora NESP 2003 216 ‘Alberto Aanio & Mion Lehuerte (desde o Bundesbank), referindo-se a Europa do Sul, com ironia ‘mas sem perspicécia acerca das vantagens: um perpétuo “Club Méditerranée’- comerciantes e financistas um tanto inescrupt- © signo de um elevado conflito social, pela dades e expectativas, e pelo poder das elites alternativas. Isso colaborou ndo pouco ~ na segunda metade do século ~ com 0 que se pareceu em demasia, freqiientemente, um “jogo de soma zero". “Nosso pobre individualismo”, de que uma vez falara Bor- ges, fer o resto. Entretanto, chegamos até aqui eludindo muitos dos horrores do século (guerras mundiais e regionais, exterminios em massa, fome generalizada, genocidio, lutas interétnicas), ou processan- do-0s - salvo no periodo da tiltima ditadura militar - por meio da misteriosa e farsesca‘maneira’ argentina. E no épouco. Des- ccobrir, além disso, que - diferentemente do que se acreditava em rincipios do século XX ~o futuro nao esta escrito, é talvez nos- sa melhor e iltima forma de esperansa. O século XX brasileiro: autoritarismo, modernizacgdo e democracia Milton Lahuerta Se hé um trago que marca a experiéncia brasileira no século °XX € a presenca simulténea de um intenso processo de moderni- za¢lo e de um baixissimo compromisso com as instituigées de- mocraticas. Para além dos momentos explicita e doutrinariamen- te marcados por regimes politicos discriciondrios (1937-45) (1964-85), hié um relativo consenso entre os estudiosos de quea hist6ria do Brasil ¢ marcada por solugOes que excluemas grandes massas dos processos politicos, servem a interesses restritos e io antidemocriticas. No entanto, pouco se esclarece sobre o pro- ‘blema ao colocé-lo em termos tao genéricos, jé que o autoritaris- ‘mo como traco difuso tornar-se-ia um elemento constitutive da 218 ‘Alberto Aggio & Milton Lahverta experiéncia histérica do pais. Trata-se, portanto, de qualificar as varias dimensdes e os distintos momentos desse autoritarismo, particularmente no que se refere as relagdes que manteve com a modernizacio. O que requer também que se recupere, em algu- ma medida, o significado que a idéia de moderno adquiriu nesses cem anos, estabelecendo-se quase como um dogma na cultura brasileira, rechacando de forma sistematica toda e qualquer tradi- que contribuiu também o fato de 0 pais ter vivenciado cerca de cingiienta anos seguidos de crescimento acelerado (sobre- tudo do anos 30 até 0 inicio dos anos 80), com grande mobili- dade social e espacial e com um desempenho econdmico bas- tante expressivo. 1 VIANNA, L. W. 0 moderno na poltia brasileira. Peseya ~ Revista de Poli- tica e Cultura n.5, 1985. Ver também LAHUERTA, M. Os intelectusis ¢ 08 ‘anes 20; moderno, modemista, modemiza¢io. In: LORENZO, H. C, COS- TA, W.B.(orgs.) A décaa de 1920 ¢ as ongens do Brasil malern. Sio Paulo: LUNESE, 1997, 93-114, 2 CARVALHO, M. A. R, Repiblica Brasileira: lagem ao mesmo lugar. Dados — Revista de Ciémias Seis, v.32, 2.3, 1989. Pensar 9 Séeulo XK 219 No entanto, se & verdadeiro que um balanco do século XX brasileiro feito do angulo estritamente econdmico do processo ‘modernizagao pode deixar uma impressao bastante favoravel, ‘outros aspectos da histéria dessa repiblica, mais de cem anos, veremos que ela ndo se blicana tem seu impulso inicial num movimento distanciado do povo e sem maiores vinculos com o reconhecimento de direitos, Movimento levado adiante por militares, realizou-se, na expres- tucionalizar o regime republicano teve que encontrar formulas que permitissem a compatibilizagao entre as novas elites que tinham a pretensio de instituir um poder pablico no pais e 0 poder privado, baseado no grande potentado rural, que perma- necia reinando absoluto em quase todo 0 territério nacional ‘Ainda assim, ao longo desse século, ¢ indubitével que 0 Bra- sil viveu uma “grande transformacio” quenoessencial reafirmou, especialmente depois de 1930, a perspectiva de realizar um ine- quivoco compromisso com a modernidade. Nesse sentido, a des- peito de algumas rupturas na forma do regime politico, o século XX revela uma adesio incondicional da sociedade brasileira a um projeto de moderizagao a qualquer custo, centrado na transfor- ‘magdo economica e que se traduziu em diversos momentos em politicas de “salto paraa frente”.’ Ha que se recordar, porém, que taladesio ao idedrio moderno néo significou o compromisso com a constituigéo de uma cultura civica centrada na ampliacao efeti- va da participago dos setores subalternos ¢ no reconhecimento 3 bid, 4. CARVALHO, J. M. Os besilizdos. Sto Paulo: Companhia das Letras, 1987. 5 FERNANDES, FA revolujio burguesa no Bra. Rlo de Janel: Zahar Elto- ret, 1975. 220 Aiberto Aggio & Milton Lahverta ‘Pensar © Século 221 dedireitos. A conseqiiéncia principal desse caminho é que quan- resses dos grandes proprietérios nurais. O presidencialismo seré do se observa o Brasil contemporaneo, nota-se um enorme des- ‘obrigado a se sustentar numa complexa articulagdo com um po- compasso entre o nivel de modemnizagéo econdmica que o pal er privado (coronelista) que goza de grande autonomia. Para 0 ingit Grau de exclusio social e politica da populacdo que que a Carta Republicana de 1891 jogou um papel decisivo ao ga- nao $6 persiste, mas_se amplia de modo sistematico. rantir a autonomia quase que irrestrita dos estados.* S6 que essa Nas paginas seguintes procuro fazer um balang da trajetd- que seria sua maior qualidade, j4 nas primeiras décadas desse da sociedade brasileira no século XX, utilizando-me da pe- século acabaria por revelar-se também como sua fraqueza. Jé.q lodizacao consagrada pela historiografla, mas dando especial én- ‘© mecanismo criado para equilibrar o poder pblico € o poder fase & questio das dificuldades da democracia num contexto de Privado, paulatinamente, vai submetendo o primeiro aos interes- modemiza¢io ininterrupta marcada, no entanto, por duas gran- ses econémicos mais poderosos, tornando-o prisioneiro das oli des rupturas na histéria do pafs, néo 3 toa qualificadas com« ‘garquias cafeeiras de Séo Paulo. Realizadas sob a égide dos gran- revolugées (1930 e 1964), des proprietirios de terra que procurariam manter sob controle Aistribuigdo dos beneficios trazidos pelas mudangas, as transfor- _magOes se concentravam nas novas lavouras cafeeiras do Centro Uma Republica sem cidadaos Sul (especialmente do interior do estado de Sao Paulo). Por isso " as mudangas, a despeito de seu impulso modernizante terem sig- Os Ultimos anos do século XIX no Brasil séo marcados por nificado muito pouco para os pobres das cidades e dos campos, rofundas mudancas. Duas delas sfo absolutamente significati- especialmente para estes tiltimos, muito mais sujeitos 3s formas vvas: a abolicao da escrava © a substituigo do Império de dominagio pessoais herdadas da escraviddo, do familismo ¢o isolamento dos grandes potentados rurais. ‘seu crescente anacronismo quanto mais iria se modernizando e © Para uma anilise da experiéncia da Primeira Repiblica, ver LESSA, R. A Eis , ; invengorepublcana: Campos Salles, as bases ea decadéncia da Primeira Re- a € federativo, Com isso se estabelecia a moldura pales bear So Pl: Vérace Etora Revita dos Tribunals, Ro de 222 Alberto Aggio & Millon Lahuerta sociedade brasileira, inclusive pela generalizacio de formas de dependencia pessoal na relago entre os, homens livres pobres e 08 senhores, acabou contribuindo para retardar a penetracao do oder piblico no campo, comprometendo com isso a possibilidade de uma cidadania ampliada. Durante a Primeira Repiblica (1889- 1930) (mas mesmo depois e até hoje em algumas regiées mais distantes), 0s grandes latifundidrios competiam com o poder piic blico pelo monopélio da violéncia legitima em seus dominios ter- ‘itoriais (0 fenémeno chamado de “coronelismo” & expressive dis- so).' Tais circunsténcias garantiram aos senhores de terra a hhegemonia do processo politico posterior & proclamacao da Repi- blica, ainda que nesse quadro “os bardes do café” de Séo Paulo tenham tido um papel proeminente dado 0 cardter economico expansivo de seu ramo de atividades. Para o que contaram com o aval do Estado central, que durante quase todo o periodo atuou 7 VIANNA, LW. A revolugpasva ~iberanoe emerianino no Bras Rio de Janeiro: Editora Revan, Instituto Universitério de Pesquisas do io de Jar Jaci Pesquisas do Rode ane- 8 LEAL VEN. Corton, cada ¢ ote 0 muni Vv ici rains rpresectirs no Anil. Sdo Paul: Editora Alfa-Omega, 1975, Pensar 0 Séoulo 1 23 era preservado como um recurso pré-mercado, subordinado a ‘mecanismos sociais ¢ institucionais consolidados no passado”? ‘O modo pelo qual foram resolvidas as questées trabalhistas tornou impossivel para a populacio rural pobre desafiar a con- 40 econémica ocorrida durante a Republica Velha. Ou dito de um outro modo, a despeito de suas divergéncias de interesses ‘em virtude dos conflitos inter-regionais, os senhores de terra ‘mantiveram a hegemonia politica no Brasil republicano e pés- cescravista. Prisioneira da hipoteca ao patrimonialismo, a ordem racional-legal, ao conceber uma reptblica sem democraciae sem incorporago social, cristalizou liberalismo como ideologia de lites, sem desenvolver as suas potencialidades universalistas, ‘em termos de direitos civis e politicos." ‘Nos anos 20 se explicita plenamente o cardter excludente da reptiblica oligirquica e ganha forga um novo angulo para se pen- sar 0 pais. A decepeo quanto a expectativa de que a Reptiblica significaria a realizagio do ideal de progresso e 0 advento de ‘uma sociedade nova adquiria uma dimensao explosiva (presen- «ca das greves operirias, movimentos da jovem oficialidade mili- tar reivindicando representacio e justica, surgimento do Partido Comunista, Semana de Arte Moderna em Sao Paulo etc.). Além disso, ampliava-se o dissidio que opunha as regides mais tradi- cionais da federacdo & articulagdo oligarquica hegem6nica arti- culada em tomo dos interesses de Sao Paulo e Minas Gerais. De modo que no apenas as concepsdes consagradas e os comporta- mentos politicos eram objeto de critica, mas as préprias institui- 9 REIS, E. P Brasil cem anos de questio agréria. Dados ~ Revita de Citncias Soriais, 32, 1.3, p.288, 1989. 10. VIANNA, L. W, CARVALHO, M. A. R. Repdblica e civilizacio brasileira. Esudos de Seciologia, n8, 1° semestre de 2000. assim o, doairalnle emit processo hist Revolugée autoritéria, cidadania regulade e projeto nacional ‘A ruptura com a ordem constitucional, em outubro de 1930, di-se sob a égide de uma revolugdo antioligérquica comandada por Getulio Vargas que implanta um poder autoritério e nacional. Nesse sentido, éum divisor de 4guas na histéria do pais, sobretu- do pelo que vai significar para a construgao de seu Estado nacio- nal e para o reconhecimento dos direitos trabalhistas. Além disso, © movimento de 1930 inaugura um periodo decisivo para a afir- magio de um projeto de desenvolvimento capitalista auténomo, na medida em que significa o abandono do modelo primario ex- portador, além de possibilitar um “ajuste patrimonial interno, des- Formacio de um pensamento politico aurortétio na Pri- FAUSTO, B. 0 Brasil republicmo, HGC8, tl, vd, n.9. entre o piles eo prado. I: NOVAIS,F (our); SCHWARCZ, LM (org.) Histiria da vids prada no Brasil cmtrases da intimidadecontemporinea. Sio Paulo: Companhia dis Letras, 1998, 226 Alberto Aggie & Millon Lahverte tinado a minimizar as perdas do capital do complexo cafeeiro ea na G bres Rio de anc: Edtora Campus. 1979, p76 Pensor 0 Século XX 227 aspectos também estabelece lagos de continuidade com a ordem ‘se amplia; as demandas liberalizantes de setores do empresaria- 18. Ver, em especial, A revolucio de 30, seminirio relizado pelo Centro de 22 DELROIO, M.T. clase openirie na revlupfoburguesa. A poicadesiangas do PCB (1922-1935). Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990. 228 Alberto Aagio & Milton Lahuerto Pensor 0 Século XK 29 do; 0 legislativo configurando-se como um espaco de ressonan- relho estatal revela-se particularmente porque as relagSes entre cia da insatisfacao social; até o movimento “putschista” de 1935* Estado e sociedade passam a se dar de forma totalmente distinta todos esses episédios s40 expressivos do inconformismo com daquela vigente na economia do café. Se durante a Primeira Re- 0s rumos que o governo “revolucionério” estava tomando. Ainda piiblica havia uma efetiva apropriacao do aparelho estatal por oli assim, o poder politico central vai se impor sobre cada uma des- ‘garquias “pré-nacionais” que competiam pela ocupagao e contro: sas iniciativas democraticas que sero neutralizadas em suas vi- Te dos postos centrais do poder visando a otimizacao de posicées rias tentativas de confrontar 0 cardter excludente do novo siste- regionais, apés 1930 hd um paulatino processo de centralizacio made ordem. Até porque muitas de suas principais reivindicages de unificagdo dos mecanismos estatais, até se chegar a um novo acabaram incorporadas agenda governamental. De tal modo que, “padrio estrutural de formulacao de politicas” (laramente esta- cada nova crise, se agrega mais poder ao centro decisério, isto belecido durante o Estado Novo) e a uma “perspectiva propria, 6, a0 poder executivo, por meio da aposta num projeto nacional especifica e autonomizada frente aos interesses na forma origin4- centrado no crescimento industrial ¢ no avanco organizacional rriae bruta em que eram perseguidos pelas classes econémicas do pais. O processo de state-building? se realiza largamente por ‘Ao longo dessa década passaa ocorrer um processo no qual meio de medidas que pretendem regular 0 conflito capital-traba- Estado, sem servir diretamente a este ou aquele setor da classe tho, construir a racionalidade administrativa, organizar a cultura dominante, faz o papel de “capitalista” mais avangado.” Este é, nacional ¢ estabelecer uma ambiciosa politica social ortanto, um caso tipico em que a primazia para a inddstri Tanto 6 assim que a exigéncia de renovacio da sociedade, for- para a industrializagéo se faz a partir de um impulso estatal que te durante os anos 20, vai ser identificada com o aparelhamento e ‘se confunde com o projeto damodenidade e o associa ao ideal de centralizago do Estado.® Por isso nao ser arbitrario considerar construgZo da nagdo. Tal projeto afirma-se como obra estatal © periodo que se abre em 1930 como inaugurando uma nova fase, reivindica a tutela permanente sobre tudo que ndo se enquadre tanto no que se refere a dinamica do capitalismo brasileiro quan- num restrito conceito de “civilizagao” e numa limitada idéia de t0.& centralizagao das fungSes de gestao, regulacdo e administra- “nagdo”. Trata-se, portanto, da constituigo de um novo bloco de «fo do Estado.” O sentido de transformagio e renovagao do apa- poder com uma perspectiva simultaneamente autoritéria e mo- demizadora, que busca consenso entre a sociedade, chamando-a para participar do proceso e oferecendo-the a possibilidade de mee realizar a fusdo de modemidade e projeto nacional. © aspecto 24 LAMOUNIER, B. E no entanto se move: formago ¢ evolucio do Estado ‘democritico no Brasil, 1930-94. In; LAMOUNIER, B, CARNEIRO, D., ‘ABREU, M. P50 avs de Drei 50 anos de andap Geto Vrges. Rio de 28 TAVARES, |. A.T.A eruam do autritrisme braslir, Porto Alegre: Edtora Janeiro: Edtora da Fundacio Getilio Vargas, 1994. Meco Aten Ibeepoe 25. De acordo com renomado analsta do periodo: 0 recurso & politica socal 29. Gramsci qualifca ese tipo de proceso com sendo proprio de stuaybes de para resolver a crise de participacdo em contexto de escassa institucionaliza- rrevolugio passiva nas quais o Estado acaba por ser 0 “ditigente” dos grupos ‘elo politica deixou como saldo duradouro somente um estilo de produzir ue deveriam ser dirigentes. Dito em outrostermos, “o Estado substitui 20s, Politica, 0 modo buroeritico, subtaide a agenda vstel de competia le- _s7p08 socais locais na diregio da luta renovadors e substitu as classes gitima”. SANTOS W. G. Razies da desordem. Rio de Janciro: Rocco, 1993, p.23. ‘sociais em sua funcio de protagonistas do processo de transformacio 26 LAHUERTA, op. cit, 1997. aa erg’ polament as pps cae ecosomicmente dni 27 DRAIBE, op. cit, 1985. nantes". GRAMSCI, A. Il Risorgimento. Buenos Aires: Granica, 1974, p.140. 230 Alberto Aggio & Mion Lahverta modernizador dessa nova coalizio governante podia ser observa- do porum ad, pel propose deracionalizasi administrativa Especialmente ap6s 0 golpe de 1937, quando Vargas fecha o Congresso e rasga as bandeiras dos Estados como simbolo da muliplicaram-se os institutos, os conselhos, os érgios sindicais e previdencidrios, permeados todos eles, quase sempre, por uma l6gica de acomodacao dos interesses e por decisées de ciipula.*! 21 ria ppc a at ppode-se afitmar que um dos aspectos da ‘leur politica do Estado Novo pode sercaracterizo por meio da idéia de G. Reflexoes sobre os Fstades burcritcos-axtoritirios,Sdo Paulo: Editora Ver. tice, 1987. Pensar 0 Século 1% 231 Portanto, num contexto de revolusdo passiva," constitui-se que se fundamenta numa l6gica para a qual a eee 2 GRAMSCI, op. cit, 1974. 3 ‘er ste VIANNA, LW Vantage do madero, vantage sr, Presenga~ Revista de Plitca¢ Cultura, 0.12, 1988. SINTONI, EB cade pr rahanite de oaietnagne ‘militar ro Brail (1930-1964), Araraquara: FCL, Laborat6rio Editorial, UNESP, ‘fo Paulo: Culeura Académica Eitora, 1999, 232 Alberto Aggio & Miton Lahverte tica, decorrente da forte personalizacio do cargo, toma-se um dos elementos decisivos para o exercicio da fungio. A ampliacéo da cidadania e 0 colapso do projeto nacional-popular © fim do Estado Novo, paradoxalmente, nio significaria 0 encerramento do ciclo getulista, especialmente porque a Consti- tuigéo de 1946, ainda que resultado de um intenso proceso de luta pela democracia, manteria muitas das instituigbes “estado- novistas”, combinando-as com instituig6es liberais. E se é ver- dadeiro que os partidos ganham um estatuto politico legtimo (inclusive 0 Partido Comunista), que o parlamento retoma um Papel ativo na conducao politica do pais e que as liberdades fun- damentais séo asseguradas, ndo é possivel negligenciar que a estrutura sindical corporativista e o impulso plebiscitério per- ‘manecem em pleno vigor, assim como o carisma de Vargas, iden- tificado como 0 “pai dos pobres”. Ainda assim, ndo é possivel desconsiderar a riqueza da experiéncia politica do perfodo com- preendido entre 0s anos de 1945 e 1964, para o que contribuiu bastante o fato de nos processos eleitorais se manifestar no s6 uma acirrada e crescente competigao politica, mas também um significativo avanco na participagao popular. Na realidade, a saida de Gettlio Vargas do governo, ainda que simbolizasse o fim do regime ditatorial, havia sido motivada ‘muito mais pelas presses da conjuntura ~ polarizada, interna e externamente ao pais, pela contraposicio fascismo x democracia ~ do que pela existencia de um movimento democritico unité- vista. Desde a adesio do Brasil, em agosto de 1942, ao campo dos aliados no combate ao nazifascismo, os segmentos que faziam 35 GOMES, op. cit, 1998, Persar 0 Século XX 233, ‘entre o apoio externo do Brasil 4s democraci: tum regime ditatorial no pais, de modo que enquanto uma parte da oposigao concentra suas energias e suas atengSes na luta an- tifascista, amenizando a critica ao governo e aceitando um pro- ‘cesso de democratizacao com a presenca de Getiilio Vargas, ou- tant para a derrubada do regime democrético em 1964. Sobre- 36 Em larga medida, foram os constrangimentos dtados pela conjunturainter- 4 contradigdo existente entre o apoio do Brasil is democracias e o regime ditatorial que vigiaintemamente. 37, DULCI,O. A UDN eo antipopuisno xo Brasil, Belo Horizonte: UFMG, 1986. 234 ‘Alberto Aggio & Nilton Lahuerto e Pencor © Séeulo 1X 235 ‘tudo porque, ao longo dos anos 50, a perspectiva de ampliacao cal; as relagGes institucionais entre o Poder Executivo e 0 Poder da cidadania se coloca com forra num contexto em que as con- Legislativo se convertem num foco permanente de conflito, um: tendas eleitorais tornam-se cada vez mais intransigentes e com> vez que o sistema partidério vai se polarizar de maneira crescen petitivas. que houvesse um acord basico em relagao as ins- te, revelando sua inadequa¢ao para processar as demandas que tituigds liticas vige O duplo carater da ordem ‘emergiam junto com as mudangas sociais e econémicas ocorti- ‘constitucional ~ meio liberal, meio corporativista sinalizava para das no periodo; as Forgas Armadas caminham para uma cisio ssociedade duas possibilidades antagénicas. Seja como for, é in- ideolégica que as conduz A divisio; a Justica Eleitoral se revela dubitavel que a idéia de que o Estado deveria realizar interesses despreparada para assegurar a transparéncia das eleigSes, abrin- nacionais, situando-se para isso acima das partes, permanece ‘do-se espaco para o questionamento de resultados cleitorai ‘muito presente no debate intelectual do perfodo. O que significa Contudo, o elemento decisivo para explicar a ruptura de 1964 dizer que, mesmo num contexto de democratizacao e de amplia- € 0 colapso da chamada democracia populista talvez possa ser ‘sao da participagao, se mantém como um legado dos anos 30 a encontrado no édio visceral que contrapée os adeptos do var- perspectiva de um poder piiblico que ndo deve se render ao “in- ‘guisme, com tudo que isso significa, e os antivarguistas entrin- Solidarismo” dos interesses econémicos em seu estado puro. cheirados na UDN. Para além da divisio entre nacionalistas Em conseqiiéncia desse carter diiplice da ordem constitucio- ~“entreguistas”, as clivagens politicas que sintetizam o perfodo nal, nao obstante a afirmacao do tema dos direitos e da amplia- contrap6em varguistas x antivarguistas de tal maneira que a hos- ‘sa da cidadania se colocar de modo crescente, durante 0 periodo tilidade entre os dois blocos seré o principal fator para 0 agrava- de 1945 a 1964 permaneceu absolutamente hegeménico o obje- mento das tenses politicas.®” Essas tenses vinham se ampliando tivo de construir uma coletividade nacional em que os interesses desde o retorno de Vargas a Presidéncia da Repiblica, por meio privados deveriam ser contidos em seus objetivos egoisticos do voto popular, em 1950, sc tomaram mais agudas com seu maximizadores."? Ainda assim, processos novos acabaram por suicidio, em agosto de 1954, em virtude das presses realizadas revelar os impasses que ameagavam 0 experimento democritico sobre ele pelos setores antinacionalistas vinculados a UDN, ‘em curso: a expansao do eleitorado tencionava o principal meca- atingiram um nivel agénico, por sua magnitude, no inicio dos nismo de regulacao da cidadania, isto é, o corporativismo sindi- lier ee eee oe ene fo politica, dadaa Cf aintinterecpelescaSeadtoerseigee tsa do deeoyotent, arena po um deal accealen serene ‘mpenhda em consccntzat 0 povo, pura retirtio de sua condiclo de alie- 39 LAMOUNIER, op. cit, 1994. ‘ngfo global. Pra verificar uma expresso acabada dessa postura, consular 40. Um dos princpaslideres éa UDN, 0 jomalista Carlos Lacerda, revela isso CORGISIER R Fomasio«problena da catia brasisre. Rio de Jaci: 1SEB, durante as elegoes para Presiéncia em 1950. Em juno desse ano, Lacer 56. Fara uma avaliacto mais geral do ISEB, ver TOLEDO, C.N. ISEB: da escrevia na primeira pigina de seu joral: “O Sr. Geto Vargas, senador, ‘ria de idolgias. So Paulo: Fitora Avice, 1978. Para um balango mais ido deve er candidato & Presidéncia. Se for candidato, nfo deve ser eleito. sera acerca do nacional desenvelvimentismo ver BILCHOWSKY, R. ems. Se for eleito, no deve tomar pose do cargo. Se toma posse, devemos re mento econdmico brasil: ido ieolipco da desemoviment. 3.0. Rio de Ja- correr&revolug para implode goverae” (apud LAMOUNIER. B.,p. neiro: Eéitora Contraponto, 1996, cit, 1994, p.46). Alberio Aggio & Milton Lahverta midade das aspiracées e reivindicacées apresentadas pelos ad- versirios. A despeito dessas tensées, durante esses anos ocorre um ine- placa pot asi cmdeeepctacrpeatatcolta personalismos. Em sintese, com a democratizagao de 1945 e o restabeleci- mento de um governo constitucional se colocam as condigdes para o florescimento dessa cultura publica, que tinha na ida 20 Barieiel oes kees eee ‘um papel de rotagonisme ativo para conduzir a sociedade na construgdo de 41 SINTON, op. cit, 1999. Pensar © Século 26 «um projetocoletivo que se imponha sobre as preferéncia einte- posse no infcio da década de 1960. Capitalismo autoritério: a privatizagéo do espaco publico (O golpe militar de 31 de margo de 1964, ainda que signifique i a pectiva de integragao regional ¢ como horizonte estratégico maior completar os pré-requisitos necessérios ao desenvolvimento de 42 FERNANDES. op. cit.. 1975 238 ‘Alberto Aggio & Millon Lchueto um capitalismo auténomo no pais. Essa é uma das razdes que cexplica por que uma parte expressiva da bibliografia recusa-se a definir o regime militar como fascista, preferindo qualificé-lo como uma espécie de “autoritarismo burocratico”. Seja como for, o golpe militar de 1964 nao inaugura apenas e ‘se contrapte aos apetites particularistas das classes economicas.* 43 Oconceito de “autoritarismo burocritico” ganbou projecio acadmica apart his de Gallen Oonnel, as nb aba senda female por Pensar Século XX 239 44 em 1964, 0 consenso paraa intervengo militar se estabe- se confirma o estatuto liberal da Carta de 1946 - a dimensio 45 Anda io hd consenso scbre as causa que levaram 20 glpe. Os que 0 seiaxecnionmn sap aatal 0 faroé que a’ Jntervengio militar deu-se num quado de grande polarizacio litares). Além disso, a ambigiidade e 0 menosprezo, inclusive da esquerda, ‘acerca da vlidade do arcabougo constitacional, coniribui para que aumente 4 adda “creas it ncn” (oon x reser apr 1 46 VIANNA, CARVALHO, op. cit, 2000. 240 Alberto Aggio & Millen Lehuerto constitucional do regime militar ~ ainda que tornando-a indcua em sua aplicag4o em virtude da utilizacao de dispositivos - 08 Atos Institucionais ~ para intervir na economia e na sociedade no realizagdes econémicas. Contrariando as previsdes da esquerda 40s perce iar no efi ma uu ol om seen Pansor 0 Séeulo XK 241 nos anos imentamente posterones ao ope de 1964." org “es (¢ao estatal nos investimentos a custa de um crescente endivida- mento externo.** (9. Sobre isso ver SCHWARZ. R. Cultura e politica 1964-1969. In: O pai de {anil eoxtrosestulos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. 50 Oeconomista Celio Furtado, por exemplo, entre 1965 e 1956, rabalha com acese de que o Brasil estara se encaminhando para um processo de “pesto tapi" desu economia, Ver FURTADO, Cet al] Brus: tempos madres. 2eed, Rio de Jneiro: Paz eTerra, 1977. 51 CASTRO, A.B, SOUZA, F E.P. A economia brasileira em mercha foryada. Rio de Janeire: Paz e Terra, 1985. 242 Alberto Aggie & Miton Lakveta ‘Simultaneamente, 0 grupo articulado em torno do general Ernesto Geisel procura implementar um projeto de institucio- nalizagdo do regime militar, elaborando uma proposta de aber- tura “Ienta e gradual” e estabelecendo um calendario que tinha como meta manter a iniciativa politica em suas mos. Tal estra- tégia acabaria por contribuir, paradoxalmente, para a aceleracio. do processo de luta pela democracia e para o restabelecimento de um governo civil em 1985.2 E importante assinalar que o projeto “aberturista” se susten= tava na perspectiva de que, com a proposi¢ao e implementago doll Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), o governo pas- sava a contar com um cenério otimista para suas pretensGes con- tinuistas. A idéia bisica era que a melhor maneira de valorizaro Brasil no cenrio internacional se daria por meio de uma vigoro- sa retomada da substituigao de importagGes, sobretuclo matérias- primas basicas e bens de capital.” Para atingir a meta funda- 52 A bibliografia que trabalha o processo de “transigio democritica” no Brasil brine: doe generis & Nova Repiblics. Séo Paulo: Editora Hucitec, 1996; © NOGUEIRA, M.A. As poscbilidades da pltic: ideas para areforma demoeritica do Estado, Sa Paulo: Paz e Tera, 1998. 53 LESSA, C. A estratigia de desenvolvimento 1974-1976 ~ sono e fracas Tese para professor titular apresentada na FEA-UFRJ em 1978. Persaro Seculo XX 243 mental do II PND, foram realizados investimentos substantivos na produgao de metais ndo-ferrosos, ferro e ago, papel e celulo- ‘se, produtos quimicos e dlcool combustivel. © Governo também, investiu diretamente em energia elétrica, no sistema de trans- porte e nas comunicagées. Além disso, concedeu incentivos fis- cais, crediticios e tarffrios para a implementago de projetos de substituigdo de importagées. A maioria desses projetos era de ‘grande porte, com ongo prazo de maturagdo e com taxa de retor- no lenta. E ainda que tenham tido impacto sobre a dinamica in- ternada economia, sua implantaco acabou pressionandoascon- tas cambiais e levando ao aumento acelerado da divida externa. No final dos anos 70, a necessidade de ajuste externo e os desequilibrios macroeconémicos internos jé estavam claramen- te colocados. Ainda assim, o recém-nomeado ministro do Plane- jamento pelo governo do general Joao Batista Figueiredo (1980- 84), Antonio Delfim Netto, procuraria manter um ritmoacelerado de crescimento, mesmo que com um custo inflaciondrio cada ver mais evidente. Essa estratégia “antiajuste” potencializa oefei- talbaapg peli ni Pcdtarteaienlcd aire plifica o impacto do segundo choque do petréleo sobre 0 pats. Rapidamente 0 governo é obrigado a reconhecer 0 equivoco de tal opgdo estratégica com aadogio de uma politica de desaqueci- mento da economia (inicio da “década perdida”). A primeira conseqiiéncia foi a recesso que durante todo o ano de 1981 atin- sgiu aeconomia do pais, sobretudo a industria de bens de consu- ‘mo duréveis e o secor de bens de capital, com forte impacto nas rregides mais urbanizadas. O que seria apenas o comego de uma dristica queda no nivel de atividade econ6mica que se aprofuun- daria nos préximos anos, se estenderia por toda a década e teria fortes conseqiiéncias no processo de redemocratizago do pais. Nesse processo, 0 influxo extemo, jé a essa altura toralmen- te determinado pela légica financeira, teria um impacto absolu- tamente decisivo. A partir daf os fluxos de empréstimos bancirios privados para o pais diminuiram drasticamente e ampliaram-se as dificuldades para que o pais obtivesse recursos, em especial ‘Aberto Aggio & Milton Lahuerto (8 de curto prazo. Desde 0 inicio de 1983, quando o governo riodo sem duivida mantém uma forte relago com as opcées eco- 54 comet dee opto wr poten sre pl el eect

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