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MENSAL

ANO XVIII
N.º 204
03/2018
€3.50
?ǕljNJDŽA

ANGRA
THERAPY?
EARTHLESS
MEMORIAM
FU MANCHU
THE CROWN
PRIMORDIAL

MINISTRY
“Não se trata apenas do Trump, o problema
é muito maior que esse idiota cor de laranja.”
EDITORIAL
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

Ʋy   ƱƥƘʮƳ 

ESTA MÁQUINA LOUD!


6YE'EVPSW1EVHIP{)WUYIVHS
0MWFSE
8IP

MATA FASCISTAS! E-MAIL


[geral@loudmagazine.net]

WEBSITE
[www.loudmagazine.net]

N
ão há como negá-lo, porque isto é um daqueles pontos mais que FACEBOOK
assentes e que já nem vale a pena discutir ao longo dos séculos, [www.facebook.com/loudmagazine.net]
os movimentos de protesto estiveram sempre intimamente liga- ASSINATURAS
dos à música em geral e em particular, a partir de dada altura, ao [assinaturas@loudmagazine.net]
rock’n’roll. Desde que há injustiça social no mundo, sempre houve
pessoas a protestar contra o que se estava a passar. E, muitas ve- PUBLICIDADE
zes, essas pessoas cantavam e cantavam para expressar a sua [ads@loudmagazine.net]
opressão numa tentativa de fazer chegar o protesto às massas PUBLICAÇÃO MENSAL
menos atentas. A título de exemplo, e apenas para vos situar, para ISSN: 087-9531
fazer ver que a canção de protesto não é exactamente uma coisa só dos sécs. XX e XXI: o ()4ɝ7-830)+%0
«Hino À Alegria», incluído no quarto movimento da 9.ª Sinfonia de Beethoven, foi inspirado
num poema escrito pelo alemão Friedrich Schiller em 1785 e, com o seu apelo à fraterni- 6IKMWXEHERE)RXMHEHI6IKYPEHSVETEVE
E'SQYRMGEɭɩS7SGMEPWSFSR{
dade universal, contrastava de forma bastante óbvia com a opressão e a escravidão que,
naquela altura, ainda ocorriam em muitas partes do mundo. TIRAGEM
15.000 exemplares
Uma década depois, os cidadãos britânicos que protestavam nas ruas a favor dos direitos
PROPRIEDADE
das mulheres entoavam uma canção de teor exacerbadamente feminista, que ironia, das
Pessoal do 13 – Publicações, Lda.
ironias usava a melodia da «God Save The Queen» para fazer passar a mensagem. Durante
2-*
o séc. XX muitos artistas da folk e dos blues, entre eles Lead Belly e Josh White, contribuíram
de forma substancial para aquilo que, hoje, podemos descrever como o desenvolvimento da DIRECTOR
música de protesto e, em 1939, «Strange Fruit», de Billie Holiday, com a sua controversa letra .SWɯ1MKYIP6SHVMKYIW
anti-racismo e enforcamento de afro-americanos, funcionou como importante catalisador [jmr@loudmagazine.net]
para o movimento dos direitos civis do outro lado do Atlântico. Nos anos seguintes, outros no- CHEFE DE REDACÇÃO
mes, como The Weavers e Woody Guthrie (armado com uma viola acústica adornada por um José Carlos Santos
icónico autocolante que declarava orgulhosamente “This Machine Kills Fascists”) mantiveram [jcs@loudmagazine.net]
ZMZE E GLEQE HE GERɭɩS HI TVSXIWXS GSQ +YXLVMI IQ IWTIGMEP E I\IVGIV IRSVQI MRƥYɰR-
cia sobre Bob Dylan e muitos outros compositores socialmente conscientes dessa geração. COLABORADORES
Carlos Guimarães, Emanuel Ferreira,
.SWɯ%PQIMHE6MFIMVS0YɳW4MVIW0YɳW6EXXYW
Em muitos aspectos, os anos 60 e 70 são vistos como a época de ouro da canção de protesto, Nelson Santos [ns@loudmagazine.net],
I RɩS ɯ HMJɳGMP TIVGIFIV TSVUYɰ )WWEW JSVEQ HI JEGXS HɯGEHEW HI EGXMZMWQS WSGMEP MRXIRWS 4IHVS4IHVE6MGEVHS%KSWXMRLS
com o abraçar de causas que iam dos direitos civis ao movimento anti-guerra. O envolvimento 6MGEVHS7%QSVMQ
das tropas americanas no Vietname, numa guerra sem sentido que resultou num número
FOTOGRAFIA
EFMWQEP HI QSVXIW KIVSY EPKYQE HE QEMW JIVS^ VIWMWXɰRGME ɦ TSPɳXMGE HS KSZIVRS EPKYQE ZI^
Catarina Torres, Estefânia Silva, Jorge Botas,
WIRXMHE EXɯ IRXɩS RSW )WXEHSW 9RMHSW I GPEVS VIƥIGXMYWI HI JSVQE WYFWXERGMEP RE QɽWMGE
Pedro AlmeMHE4IHVS6SUYI
TVSHY^MHE RE EPXYVE )WWI PIKEHS EGEFEVME TSV HI JSVQE MRIZMXɧZIP VIƥIGXMVWI IQ QYMXS HS
que foi feito também na década de 80, sobretudo no espectro da música pesada, com bandas DESIGN
como os Black Sabbath, Iron Maiden e muitos thrashers a assinarem uma série de temas Joaquim Pedro
anti-guerra. A pop, por outro lado, começava a ser moldada de uma forma diferente, orientada ILUSTRAÇÕES
TEVE E GSQIVGMEPM^EɭɩS HI GEYWEW IWTIGɳƤGEW GSQ E GVMEɭɩS HS 0MZI %MH I SYXVSW UYI XEMW Bela Hilário, Stebba Ósk,
Pedro Silva
2S IRXERXS REW JVERNEW RSW RMGLSW WINE HS TYRO SY HS QIXEP IWWE GSRWGMɰRGME WɸGMSTSPɳXMGE
nunca deixou de ter um lugar de destaque e se há alguém que pode e deve! ser visto DEPARTAMENTO FINANCEIRO

como um dos mais importantes porta-estandartes da canção de protesto na música pesada Bernardo Serralha [bernardo.serralha@
loudmagazine.net], Pedro Oliveira
e extrema, essa pessoa é Al Jourgensen, líder dos inimitáveis Ministry. Depois de, nos anos [pedro.oliveira@loudmagazine.net]
 WI XIV EƤVQEHS ERXM6IEKER I Nɧ RS MRɳGMS HIWXI RSZS QMPɯRMS XIV EWWMREHS XVɰW ɧPFYRW
inteiramente dedicados às fantochadas de George W. Bush, o talentoso e controverso músico DEPARTAMENTO MULTIMEDIA
nascido em Cuba foi apanhado de surpresa pela eleição de Donald Trump como presidente Daniel Marujo
dos Estados Unidos e sentiu-se instigado a exumar uma vez mais o cadáver da sua banda [daniel.marujo@loudmagazine.net]
de sempre. O resultado é um dos melhores álbuns que gravou em muitos anos, a provar que WEBDEVELOPER
para mal dos nossos pecados a má política pode dar origem a canções excelentes. Marco Morais
[marco.morais@gmail.com]
Será, no entanto, que a música pode realmente mudar o mundo? Será que as canções podem
IMPRESSÃO
QIWQS MRƥYIRGMEV S HIGYVWS HE LMWXɸVME# (MVIGXEQIRXI S QEMW GIVXS ɯ UYI RɩS EW LMTɸXIWIW
Jorge Fernandes, Lda.
para que isso aconteça são muito, mesmo muito, remotas. No entanto, se um álbum como
«AmeriKKKAnt» ou a entrevista a Al Jourgensen que publicamos nesta edição servirem para DISTRIBUIÇÃO
abrir os olhos e as mentes de alguns dos nossos leitores e de uns quantos fãs dos Ministry, só VASP
isso já é meio caminho andado para que, potencialmente, as massas silenciosas se comecem
a mexer em prol de uma mudança que é cada vez mais necessária. Isso, meus caros, o sim- A LOU(IWGVIZIHIEGSVHSGSQEERXMKESVXSKVEƤE
ples gerar debate e discussão em relação ao que se passa nas nossas vidas fora das redes
sociais, já é uma enormíssima vitória tendo em conta o estado em que as coisas estão.

 LOUD!
ÍNDICE

#204
PRIMORDIAL 40

EARTHLESS 28

MINISTRY 34
NOTÍCIAS PLAYLISTS
POR NELSON SANTOS

JOSÉ MIGUEL RODRIGUES


CHAOS MOON – Eschaton Mémoire
FU MANCHU – Clone Of The Universe
-0(.%62ũ
THE BODY – A Home On Earth
86)4%2)6-2+76-89%0)2 – Deathward
To The Womb

JOSÉ CARLOS SANTOS


HAUNCH – Lay My Bones Beside The Others
VIOLATION WOUND – With Man In Charge
DEICIDE – Serpents Of The Light
8-1&%66= – High On 95
EAGLE TWIN – The Thundering Heard
(Songs Of Hoof And Horn)

JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO


FU MANCHU – Clone Of The Universe
GENOCIDE PACT – Order Of Torment
2)'634,3&-' – Mark Of The Necrogram
SOTZ’ 4368%0– ION
THE HAUNTEDũ6IZSPZIV

CARLOS GUIMARÃES

A C
pós a reformulação do projecto om sonoridades dentro do metal DEATHLESS LEGACYũ6MXYEPW3J&PEGO1EKMG
COLOSSO IQ  XIRHS ƤGE- sinfónico no feminino, os GLASYA %2+6% – ØMNI
do Max Tomé responsável pela acabam de lançar o seu primeiro 8,)6-32 – Beloved Antichrist
maioria da instrumentação, gravações single e vídeoclip, «Heaven’s Demise». SAXON – Thunderbolt
e misturas, acaba de ser lançado o novo Na voz está Eduarda Soeiro, também 86-&90%8-32 – Down Below
ɧPFYQm6IFMVXL|7ɩSWIXIXIQEWHIHIE- frontwoman dos Nightdream, banda de
th metal progressivo e atmosférico onde tributo aos Nightwish, enquanto os ins-
LUÍS PIRES
o guitarrista fundador tem a colaboração XVYQIRXMWXEWXEQFɯQNɧXɰQEPKYQEI\- '-6'0)3*3963&3697ũ6YYQMWXɪLHIX
do baterista Emídio Alexandre (Perpetra- TIVMɰRGMERSYRHIVKVSYRHREGMSREP,YKS GOATSNAKE – Black Age Blues
tör, Deadlyforce) e do vocalista dos Tod Esteves como guitarrista fundador, Bru- +6-22-2+()%8,ŭ7,)%( – Blood War
Huetet Uebel, Marcos Martins, na música no Prates e Manuel Pinto pertenceram 7%2+6)()19)6(%+3 – O Camiño Das
m6IZSOI| % GETE HIWXI UYEVXS ɧPFYQ I aos Enchantya, Davon Von Dave passou Mans Valeiras
sétimo registo) de Colosso foi criada por TIPSW 7LEHS[WTLIVI I &VYRS 6EQSW UŠKUMGALLUũ6SXXIR0MQFW-R(VIEQW
Of Blood
Delawer Omar, estando a edição física a pelos My Deception.
cargo da Lusitanian Music.
CATARINA TORRES
'63;&%63HH*IPPS[W6IWX

«M
etal Negro Da Morte» é o &33/3*&0%'/)%68, – The Cold

O
s ENCHANTYA estão, desde 10 título da demo-tape de es- Testament
de Fevereiro, a gravar um novo treia dos NECROBODE, novo PELICANũ0MZI%X(YRO*IWX
DYING FETUSũ6IMKR7YTVIQI
álbum que terá como título, «On nome nacional proveniente das entranhas
CATACOMBE – Quidam
Light And Wrath». São onze temas regis- do underground profundo, com raízes no
tados com Fernando Matias dos Sinistro death/black metal do início dos anos 90.
nos estúdios Pentagon Audio Manufac- 3MXS XIQEW ZSGMJIVEHSW IQ TSVXYKYɰW
XYVIVW GSQ E TEVXMGMTEɭɩS HI 6MGEVHS compõem este lançamento da Iron Bo- OS TOPS DO
Oliveira dos My Enchantment e Attick nehead Productions, onde se incluem
Demons na gravação da bateria. Numa «Sodomia Bestial» e «Hexakosioihexekon-
JSVQEɭɩS VIRSZEHE QERXɰQWI GSQS tahexaphobia». Os Necrobode vão actuar
QIQFVSWQEMWERXMKSWEZSGEPMWXE6YXI RS HME  HI 1EVɭS RS 1IXEPTSMRX RS
Fevereiro e o guitarrista Bruno Santos. Porto, na primeira parte dos norte-ameri-
Será o segundo álbum do grupo que, em canos Profanatica, concerto que também
 IHMXSY m(EVO 6MWMRK| TEVE E 1EW- GSRXEGSQSW6MXIW3J8L](IKVMRKSPEHI
WEGVI6IGSVHW oriundos do Canadá.

10 MELHORES DISCOS
DE AL JOURGENSEN

O A
s FACÇÃO OPOSTA entraram inda não tínhamos falado aqui dos
1. Ministry – «Filth Pig»
IQGSQKVERHIEGXMZMHEHI SOTZ’, banda formada no Porto há
Acaba de sair, através da Com- HI^ERSWIUYIƤREPQIRXIPERɭSY 2. Ministry – «The Mind Is A Terrible Thing
bate Brutal, a versão em vinil do último YQVIKMWXSũm8^EOŭ7SX^ŭ|GSQIHMɭɩS6EM- To Taste»
álbum «Da Luz À Obscuridade», numa sing Legends, que analisamos nas reviews 3. Ministry – «Psalm 69»
altura em que a banda de Lisboa já se deste número. O death metal do quinteto
4. Lard – «The Power Of Lard»
encontra a gravar novos temas para um vai ecoar no Laurus Nobilis Music, festival
split 7” com os catalães Asedio. Após já com vários nomes internacionais con- 5. Ministry – «The Land Of Rape And Honey»
alguns concertos na Europa, o grupo ƤVQEHSWEHIGSVVIVIQ*EQEPMGɩSIRXVI 6. Revolting Cocks – «Big Sexy Land»
prepara-se também para fazer datas no  I  HI .YPLS %PKYRW HSW IPIQIRXSW 7. Ministry – «Twitch»
Brasil, umas como cabeças de cartaz e, do grupo estão envolvidos noutros projec-
8. Revolting Cocks – «Liger Ficken’ Good»
a 9 de Junho, por exemplo, em São Pau- tos, nomeadamente Dan Vesca, vocalista
lo, em partilha de palco com os norte-a- HI'SPSWWSISWKYMXEVVMWXEW.SɩS6SGLEI 9. Lard – «Pure Chewing Satisfaction»
mericanos The Templars. Pedro Magalhães, nos Saephe. 10. Ministry – «Houses Of The Molé»

6 LOUD!
MOONSPELL
LOBOS QUE FORAM HOMENS

M
EMW UYI YQE WMQTPIW FMSKVEƤE HI FERHE S PMZVS UYI ɯ
TYFPMGEHSIWXIQɰWTVIXIRHIŰHMWWIGEVYQEGEVVIMVEJIM-
ta de riscos e conquistas, em que se revelam factos até
aqui inteiramente desconhecidos do público”. «Lobos Que Fo-
ram Homens» é a história dos Moonspell, investigada e redigi-
da pelo nosso colega e escriba da LOUD!, Ricardo S. Amorim. A
banda portuguesa mais internacional de sempre recebe então
YQQIVIGMHSVIXVEXSPMXIVɧVMSESƤQHIQEMWHIERSWHIGEV-
VIMVEIESPSRKSHITɧKMREWGSQHITSMQIRXSWHIXSHSWSW
EGXYEMWIERXMKSWQIQFVSWRYQELMWXɸVMEGSRXEHEWIQƤPXVSW
“acedendo ao círculo íntimo” desta alcateia especial. A edição
é da Saída de Emergência, estando já agendada apresentação
em Lisboa, a acontecer na FNAC Colombo, no dia 17 de Março,
com moderação de José Luis Peixoto. O prefácio do livro é da
autoria de Dani Filth, vocalista dos Cradle Of Filth, banda com a
UYEPSW1SSRWTIPPEMRHEWIQERXɰQREIWXVEHEEXɯHME%
de Março tocam no Centro Cultural das Caldas da Rainha para,
RSƤREPHI%FVMPVYQEVIQɦAmérica do Sul para uma série de
datas no Brasil, Chile, entre outros. Entretanto, o grupo acaba
HIGSRƤVQEVYQERSZEHMKVIWWɩSRSVXIEQIVMGEREEHIGSVVIV
IRXVI  HI 7IXIQFVS I  HI 3YXYFVS ES PEHS HSW RɸVHMGSW
Amorphis, Dark Tranquillity e Omnium Gatherum. Ainda no
UYIWIVIJIVIEFMFPMSKVEƤEɯHIRSXEVUYIEAlma Mater Books
acaba de lançar «Purgatorial», uma colecção de poemas de
Fernando RibeiroIWGVMXSWIRXVII7ɩSXI\XSWGYNEW
edições originais já não estão disponíveis e, pela primeira vez,
I\TVIWWSWIQMRKPɰWXVEHY^MHSWTIPSTVɸTVMSZSGEPMWXEIEYXSV
IUYIIQQYMXSWGEWSWWɩSEYXɰRXMGSWVIIWGVMXSW
STUDIO REPORT

por isso em termos pessoais sabíamos que


Diríamos que os norte-irlandeses THERAPY? estão a viver iria ser uma cena natural e nunca seria esqui-
uma “segunda vida” desde o sucesso enorme do último sito se voltássemos a trabalhar com ele. Ele
é um tipo muito entusiasta, e sabemos por
«Disquiet» e também dos sempre cheios concertos acús- I\TIVMɰRGMEUYIEIRIVKMEIEWMHIMEWUYIIPI
ticos que têm dado nos passado meses… diríamos, se o traz para uma sessão de gravação são muito
compatíveis com o nosso método de traba-
energético trio alguma vez tivesse terminado a sua “pri- lhar. Em termos sonoros continuo a ser um
meira vida”. Os que os acompanham de perto sabem, no grande fã dos discos onde ele trabalha, e por
isso achámos que seria muito interessante
entanto, que passadas as luzes da ribalta do mega-suces- ver como é que ele trataria o nosso som em
so que tiveram nos anos 90, os Therapy? têm-se mantido TSVGSQTEVEɭɩSESUYIJI^IQ
relevantes, produtivos e sempre criativos, independente- Foi essa a razão principal por o terem esco-
mente das ondas meio aleatórias do sucesso comercial. lhido? É surpreendente, na medida em que
vocês nunca foram banda de repetir produ-
O seu 15º álbum está aí ao virar da esquina, e fomos falar tores muitas vezes, e ir buscar um ao “pas-
com o simpático baixista Michael McKeegan para saber sado” ainda menos…
Na verdade, o plano inicial até passava por
tudo aquilo que é possível saber nesta altura. sermos nós a produzir e o Chris a fazer a
mistura. Mas depois começámos a con-
JOSÉ CARLOS SANTOS
versar e ele ofereceu-se para fazer alguma
pré-produção… Gostámos da ideia, e a partir
Para começar, falemos dos factos básicos gino que pelo menos dez delas acabem na daí pareceu-nos lógico ser ele a fazer tudo e
– sabendo que há coisas que não podes di- ZIVWɩS ƤREP HITSMW HI EREPMWEVQSW S WIUYIR- pronto. Houve algumas questões de agenda
zer ainda, actualiza-nos em relação a tudo ciamento e o que é que funciona bem com o TEVEVIWSPZIVQEWRSƤQXYHSGSVVIYFIQI
aquilo que já pode ser público, como títulos, UYɰ 1EW RɩS I\GPYS UYI EW YWIQSW XSHEW foi brilhante trabalhar com ele outra vez.
datas e outras informações desse género. Alguns títulos de temas que estão decididos
Neste momento, estamos apenas concentra- já: «Expelled», «Flashback Jack», «Dumb- Imagino que pudesse ser mais fácil que o
dos em gravar o álbum e em que o mesmo down», «Find A Better Target», «Crutch». costume ter expectativas elevadas em re-
soe brutal, pelo que coisas como datas de lação ao trabalho de estúdio, por ser uma
lançamento e outras desse género só vamos Gravar com o Chris Sheldon 25 anos depois pessoa com quem já tiveram uma relação
mesmo determinar depois de estarmos 100% de gravarem aquele disco com ele é quase de enorme sucesso. Foi complicado de ge-
satisfeitos com tudo, e de termos o artwork poético. Sem querer associar o disco novo rir, essa situação?
totalmente concluído também. Mas imagino ao «Troublegum», até porque o «Disquiet» Se queres que te diga, ele acabou por exceder
que deva sair algures antes de Setembro des- Nɧ XIZI WYƤGMIRXIW GSQTEVEɭɺIW HIWWI IW- as nossas expectativas! [risos] A atmosfera
te ano. Temos um título provisório, do qual tilo, isso foi algo que te passou pela cabeça HYVERXI E KVEZEɭɩS JSM QIWQS Ƥ\I JSM YQ
todos gostamos, e que provavelmente irá ser quando escolheram o Chris? ambiente divertido e muito criativo. Fizemos
S HIƤRMXMZS QEW ɯ QIPLSV WIV WIKVIHS TEVE Nɧ Encontrámos o Chris várias vezes ao longo imensa pré-produção, por isso tudo correu
[risos] Gravámos doze canções, por isso ima- dos anos e temos alguns amigos em comum, às mil maravilhas no estúdio. Para ser hones-

 LOUD!
to, não houve maluquice nenhuma, não há
sequer “histórias” para contar. A nossa mis-
são era fazer o melhor disco possível, e toda
a gente esteve completamente focada nesse
objectivo. A maior parte dos dias começava
por volta das dez da manhã, fazíamos uma
pausa rápida para almoçar, trabalhávamos
até às oito da noite, jantávamos, víamos
YQ ƤPQI SY EPKS HS KɯRIVS I TVSRXS 'PEVS
que bebemos um copo ou outro de vez em
quando, consumimos algum whiskey, mas
nada fora do normal, especialmente quando
comparado com sessões de gravação que já
Ƥ^IQSWRSTEWWEHS?VMWSWA

Sendo que este é já o álbum número quinze


(o que já de si é uma insanidade de dizer),
qual é agora o teu estado de espírito quan-
HS IRXVEW TEVE YQE KVEZEɭɩS# %MRHE ƤGEW
nervoso, ou já é algo que entrou na rotina? Havia algum plano delineado quando es- Isso promete! E em relação ao lado acústico
Ainda não consigo acreditar que este é o ál- creveram os temas? Alguma ideia que qui- da banda, que tem crescido imenso de im-
bum número quinze, para te ser sincero… Ain- sessem expressar? E agora que os temas portância com os muitos concertos que têm
da nos considero, se calhar de forma algo in- já estão quase prontos, o resultado aproxi- HEHSEGLEWUYIXIZIEPKYQEMRƥYɰRGMERE
génua, como uma banda “nova”. Acho que há ma-se do que eventualmente tenham ima- escrita deste álbum? E será que podemos
muita música ainda para fazermos. Seja como ginado antes? esperar um disco totalmente acústico algu-
for, o trabalho de estúdio dá sempre cabo dos Não tínhamos um grande manifesto para o res no futuro?
nervos um bocado, pode-se tocar uma parte disco ou um conceito lírico abrangente, como A cena acústica apanhou-me totalmente de
50 vezes antes e estar bem ensaiado, mas tivemos por exemplo no «Disquiet», mas tínha- WYVTVIWE WEFIW# 7EFME UYI ME WIV Ƥ\I HI JE-
quando o relógio começa a andar e a luz ver- mos uma ou outra ideia base estabelecida. zer, as canções que interpretamos são muito
melha acende, é fácil ter alguma ansiedade. Queríamos que a secção rítmica fosse muito fortes e resultam bem nesse formato, mas a
Ao longo dos anos, pessoalmente, aprendi a muscular e muito groovy. Os riffs tinham que forma como o público se conectou a elas foi
gerir isso de várias formas muito simples. Por ser catchy, memoráveis, e como de costume muito mais intensa do que eu poderia esperar,
exemplo, tenho um bloco de notas enorme queríamos ter refrães melódicos grandes e o que é fantástico. Passámos de facto mui-
UYIYWSGSQSVIJIVɰRGMETEVESWXIQEWXIRXS épicos. Acho que o Andy [Cairns, guitarrista/ to tempo nos últimos meses a retrabalhar e
respirar devidamente quando estou a gravar, vocalista] usou a frase “heartbreak you can a rearranjar os temas para termos a certeza
e evito o café. Ninguém quer um baixista so- headbang to” para descrever a cena no geral, e que funcionam da melhor forma num ambien-
bre-cafeínado a hiperventilar no estúdio! [risos] acho que isso funciona perfeitamente. [risos] te mais sossegado, mas no que diz respeito
)QXIVQSWHIGERɭɺIWIWTIGɳƤGEWIWXEWGSM- EMWWSMRƥYIRGMEVHIEPKYQEJSVQESQEXIVMEP
E a quantidade de bolachas e de cães fofos sas mudam sempre, mas de momento estou novo, acho que a única coisa que fez foi em-
que tinham a fazer-vos companhia, a ava- a gostar muito de uma chamada «Flashback purrar-nos na direcção oposta! Fez-nos dese-
liar pelas fotos que foram publicando nas Jack», que tem guitarras gigantes à Black jar que os novos temas fossem ainda mais
redes sociais, também deve ter ajudado a Flag, da «Find A Better Target» que tem uma pesados e enérgicos. Escrevemos muito nos
relaxar. [risos] passada rítmica pesadona, da «Success? intervalos das digressões acústicas, e foi mui-
É verdade! [risos] Desta vez, não tenho mesmo Success Is Survival» que é uma espécie de XSGEXɧVXMGSIWXEVRYQEWEPEGSQEQTPMƤGEHS-
nada de que me queixar, foi mesmo tudo muito space rock brutal, da «Callow» que tem umas res grandes a fazer montes de barulho. E sim,
tranquilo. Tirando uma ou outra visita ocasio- melodias mesmo para chorar antes de dormir já discutimos talvez fazer um álbum de temas
nal ao estúdio, éramos só nos os quatro e um [risos], e da «No Sunshine», que descreveria originais acústicos, escritos de raíz para esse
assistente, era uma unidade muito pequena e como Beach Boys com blastbeats. formato. Vamos ver o que acontece!
muito íntima. Ficámos todos num apartamen-
to na mesma rua do estúdio, demos umas vol-
tas para relaxar –Newcastle e Gateshead são
maravilhosas localidades para fazer a pé –,
fomos ao cinema, cozinhámos bons jantares,
lemos imenso e tivemos variadíssimos rants
sobre o estado do mundo. [risos]

“Para ser honesto, não


houve maluquice nenhuma
no estúdio, não há sequer
“histórias” para contar.
A nossa missão era fazer
o melhor disco possível,
e toda a gente esteve
completamente focada
nesse objectivo.”
LOUD! 9
STUDIO REPORT

Os Innards são uma banda “a sério” ou mais

INNARDS
um projecto teu?
Quando saí das outras bandas onde estava an-
tes, pensei em fazer uma banda minha. Cansei-
-me um bocado de estar a fazer música para
as bandas dos outros, cansei-me da maneira
como as coisas se passavam cá e decidi virar-
-me lá para fora e fazer tudo como eu quero,
sem ter de levar com merdas dos outros. Pode
soar um bocado egoísta falar assim, mas no
Os INNARDS nascem da paixão de Hugo meu ponto de vista, para eu conseguir evoluir
Andremon (The Sorcerer, e ex-membro dos a nível musical como quero, tenho de procurar
YQ GEQMRLS EPXIVREXMZS IQ VIPEɭɩS ES UYI Ƥ^
Grog, Simbiose, Filii Nigrantium Infernalium antes de Innards. Portanto, resolvi voltar às mi-
e Di.Soul.Ved) pelo death/grind. A LOUD! nhas origens, que é o death/grind, o tipo de som
que sempre gostei mais e que sempre acompa-
visitou-os nos SoundScapes S tudios, em nhei, desde que começou. Acompanhei o nas-
GMQIRXSHSHIEXLQIXEPRSƤREPHSWERSWI
Almada, onde estão a cozinhar o EP de estreia, apaixonei-me logo por esse tipo de som, tanto
com lançamento previsto para esta primeira que entrei para os Grog com dezasseis anos, já
a tocar death/grind. Os Innards são uma banda,
metade do ano, e ouviu uma versão crua dos porque eu já tinha The Sorcerer como projecto e
não queria outro, queria ter uma banda, com en-
três temas que compõem o registo, ainda sem saios, com músicos a sério, isso tudo. Então, na
VȜVWNQFGƓPKFQ1SWGRQFGOQUCFKCPVCTȘSWG altura, falei com o Jorge Fernandes, que tocou
numa banda que eu sempre gostei, os Thor-
OWKVQFKƓEKNOGPVGCNIWOCRTGEKCFQTFQFGCVJ menthor, e é um músico pelo qual tenho admi-
OGVCNFCXGNJCIWCTFCƓECTȐKPFKHGTGPVGCGUVC ração. Combinámos fazer uma banda, arranjar
baterista, baxista, por aí fora. Estivemos um
proposta, que, mesmo sem qualquer trabalho ano à procura de malta e já toda a gente tinha
imensas bandas. Arranjámos dois miúdos que
de produção na altura em que a ouvimos, já vieram experimentar, mas não funcionou. Hoje
soava demolidora. Descubram mais pelas em dia no Facebook toda a gente é músico,
XSHEEKIRXIɯTVSƤWWMSREPQEWHITSMWZEMWZIV
palavras do Hugo Andremon. e a realidade é muito diferente. Perdemos um
ano neste processo, porque queríamos alguém
que quisesse levar isto a sério. Tive de arranjar
JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO CATARINA TORRES YQ FEM\MWXE HE +YEVHE S 6YM +MP UYI IVE HSW

 LOUD!
Necrose, e que é o organizador original do Bu-
tchery At Christmas Time. O Jorge acabou por
RɩS ƤGEV GSQS WIKYRHS KYMXEVVMWXE HIZMHS E
limitações físicas motivadas por um acidente,
e acabei eu por gravar tudo. A nossa relação
já tem mais história: eu e o Jorge já trabalha-
mos juntos também a produzir bandas, como
SW,SSJQEVOHIWHIIEPMɧQSWIWJSVɭSW
no sentido de produzir e agenciar bandas de
metal ou som alternativo, extremo, com a má-
xima qualidade que um estúdio pode oferecer.
Essa produtora alternativa chama-se No Sleep
In Sodom Prods. Neste caso, Innards também
está a ser produzido pela No Sleep In Sodom,
eu como produtor e mistura, o Jorge como
engenheiro de som e assistente de mistura. A
QEWXIVM^EɭɩS ƤREP HS XVEFEPLS XEQFɯQ WIVɧ
dele, sempre nos SoundScapes.
coisas não correram como esperávamos. Aca- Sodom até ao «Agent Orange». Kreator até ao
Entretanto, conseguiram um contrato com FIMTSVXIVHIMVGLEXIEVS6SPERHS&EVVSWSYXVE «Coma Of Souls», Destruction até ao «Eternal
uma editora estrangeira, certo? vez. Ele gostou do que lhe mostrei, pediu-me Devastation». Sempre ouvi Dio, Twisted Sister,
A ideia da banda surgiu em Novembro de XVɰWHMEWTEVEHIGMHMVIEGIMXSY4SVYQEUYIW- Iron Maiden, Metallica, e gosto muito de Metalli-
IQ*IZIVIMVSHINɧXMRLESWXVɰW tão de tempo, acabámos por ir captar a bateria ca até ao «...And Justice For All», que para mim
temas deste EP feitos e em Março comecei ao Estúdio 13, nos Foros da Amora. é um dos melhores álbuns de sempre.
EIRWEMEVGSQS6YMIGSQYQFEXIVMWXEHE
minha zona, o André, que já tinha alguma E é para continuarem com o Rolando? Mas sentes que um disco como o «...And
I\TIVMɰRGME I QYMXS VETMHEQIRXI SW XIQEW Eu gostava muito que sim. Nós não temos .YWXMGI*SV%PP|XIQMRƥYɰRGMERSW-RREVHW#
ganharam vida. Paralelamente, fui fazendo baterista, mas se houver condições, se houver Sim, tem, a nível de escalas e melodias. Vou
trabalho de promoção em sítios que acha- cachet e tudo como nós queremos e como, até beber a coisas que ouvia com o meu pai,
va importantes, fui falando com algumas aliás, tem de ser, gostávamos que fosse ele a cenas disco dos anos 70 e cenas pop dos
pessoas e, graças a algum background que gravar o próximo. Portugal tem de mudar. Aca- anos 80. Quando estou a compor, estou a
tenho, consegui ter credibilidade lá fora junto bou-se a mentalidade do anda cá que és meu MQEKMREVREGEFIɭESWSQEEQFMɰRGMEEFE-
de gente que me disse “sim, ‘bora lá ver isso”. amigo e hoje tocas aqui e amanhã eu toco aí, e teria, o baixo, e consigo formular aqui dentro
Entrámos em estúdio em Junho, e em Julho anda cá tocar que eu pago-te uma sandes. De- GSQSWIJSWWIYQETVSHYɭɩSƤREP4SVMWWS
já tinha contrato com uma editora america- pois há guita para os de fora. Temos bandas quando entro em estúdio sei mais ou menos
na, mas não assinei nada, porque estava à GɧUYIHɩSFEMPIEQYMXEWUYIZɰQHIJSVEVI- o que tenho de fazer para alcançar o que pre-
espera de algo melhor. Em Setembro, soube ceber. O pessoal não aprende, mas é por isso XIRHS'SQTVIMYQEQTPMƤGEHSVHITVSTɸWMXS
através do Johan [Antonissen], dos belgas que te digo – e não quero soar a arrogante – para gravar Innards, que foi o Peavey Special
Marginal e dos Suhrim, que eles tinham as- que foi preciso virar costas a esta merda toda UYIɯYQEQTPMƤGEHSVEXVERWɳWXSVIWHI
sinado por uma editora nova, a Transcending para conseguir em seis meses o que quase 1980 e tal. A malta hoje em dia quer é válvu-
3FWGYVMX] 6IGSVHW 6IWSPZM GSRXEGXɧPSW ninguém faz aqui em seis anos. PEWIEQTPMƤGEHSVIWHMKMXEMWIQIWXɽHMSZEPI
apresentei-me e mostrei um pequeno sample tudo, e eu sabia que com este amp ia ter o
da nossa música. Ficaram imediatamente in- Que referências tiveste a nível de composi- som que queria. E resultou mesmo perfeita-
teressados e lançaremos o EP por eles. ção e que referências deste ao Jorge a nível mente. Vamos tentar fazer uma produção na
de captação? onda Morrisound e Scott Burns.
Como correram as gravações? Algum epi- A nível musical posso dar alguns nomes de
sódio rocambolesco? FERHEW HI VIJIVɰRGME UYI EHSVS HIWHI QMɽHS O facto de terem entrado em estúdio com
-WXSIVETEVEWIVJIMXSIQXVɰWHMEWIIWXEQSW IUYIWɩSWIQHɽZMHEYQEMRƥYɰRGMETEVEQMQ YQE MHIME Nɧ FIQ HIƤRMHE PIZSY E UYI XI
EUYMHIWHI.YRLSHI8IQLEZMHSYQEWɯ- GSQSSW(IEXLGYNSWXVɰWTVMQIMVSWHMWGSWWɩS surpreendesses pouco durante a gravação?
rie de percalços pessoais, tanto do Jorge como obras-primas. Quando lançaram o «Human», Não. Cada vez que vou a estúdio aprendo
meus. Nada que tenha a ver com a parte musi- não gostei… Pestilence, os dois primeiros ál- muito, principalmente aqui com o Jorge, te-
cal. Tirando o termos optado por não continuar FYRWWɩSQYMXSFSRWIGPEVEWMRƥYɰRGMEW8SHS nho aprendido coisas que não fazia ideia. Por
com o André como baterista, porque algumas SXLVEWLIYVSTIYHIEXɯSWɧPFYRWHI isso é que faço questão de estar neste estú-
dio e com esta pessoa. Eu sei o que quero
mas não tenho know-how técnico para mexer
nisto tudo. Preciso de uma pessoa que me
compreenda, que perceba o que quero, que
consiga lá chegar e que ainda seja capaz de
me surpreender, dando-me conselhos e expli-
GERHSUYIWIƤ^IVEWGSMWEWHIYQEHIXIVQM-
nada maneira vou obter resultados melhores.

E vão ter alguns convidados especiais?


Vamos, mas ainda não quero dizer quem são.
4SWWSWɸHM^IVUYIWɩSHYEWƤKYVEWIQFPIQɧ-
ticas do thrash e death metal mundiais. Uma
HIPEWIWXɧHIZSPXEɦFERHESRHIƤGSYGSRLI-
cido e onde deixou uma marca insubstítuivel.
%SYXVEɯYQEƤKYVEHSMRɳGMSHSQSZMQIRXS
death metal, oriundo de Tampa, Florida.

Têm um longa-duração em vista?


Sim, queremos gravar um LP este ano. Já te-
nho alguns riffs, algumas ideias, mas ainda
não tenho temas feitos.

LOUD! 
WRATH SINS
Miguel Silva é o mentor dos portuenses que se propõe para divulgar o disco. “A neces-
sidade de marcar pela diferença é essencial e
Wrath Sins, um guitarrista que não quer isso passa por um bom espectáculo,” diz o gui-
tarrista. “(EVYQFSQGSRGIVXSRʝSʣWYƼGMIRXI
tocar para o “bilhete”! para o público te recordar, já dar um espectá-
GYPSʣEPKSUYIƼGEQEVGEHSSRʧZIPHIHIXEPLI
deve exceder e acompanhar devidamente a

O
W;6%8,7-27PERɭEVEQVIGIRXIQIR- criar algo mais emotivo, complexo e distinto, música. São pequenos/grandes detalhes que
te o disco «The Awakening», um traba- sabíamos que mesmo que as coisas fossem fazem toda a diferença, desde lonas, bandei-
lho diferente do que é habitual na cena mediamente aceites, o registo tornar-se-ia de ras, peles de bombo, luzes personalizadas,
thrash nacional. Para começar, trata-se de certa forma mais intemporal.” Miguel revela- tudo que marque a diferença, principalmente
um registo conceptual. “Sempre tive um gran- -se um apreciador da música como arte, e por cá. Não podemos deixar de lado algo de ta-
de appeal por álbuns conceptuais, que acho não um acumular de temas num dispositivo manha importância, até porque mesmo quem
mais completos e interessantes,” explica o electrónico ou na nuvem, pois, como nos re- não goste da nossa música, pelo menos nunca
Miguel Silva. “Senti que agora era a altura de ir vela, gosta de escutar um disco do princípio TSHIVʛHM^IVUYIRʝSʣEPKSHMJIVIRXIITVSƼW-
mais à frente. Foi arriscado, já que infelizmen- ESƤQŰHoje em dia sinto que as pessoas não sional. Acho que é algo que realmente faz falta
possuem a disposição para ouvir um álbum no metal nacional. Desde o primeiro momento
inteiro,” refere. “Ligam o YouTube, ou o Spo- que acreditávamos ter um álbum especial em
tify, escutam uma música e basta. Perde-se mãos, à medida que o íamos compondo. Con-
“O nosso tipo de som a essência de ouvir todo o disco, indo contra seguimos, apesar da falta de experiência, levar
o espírito de fazer álbuns conceptuais. Não longe o nosso primeiro disco, «Contempt Over
não é o mais bem acho que faça sentido ouvir uma só faixa do The Stormfall», e com este queremos alcançar
«Scenes From A Memory» dos Dream Thea- no mínimo o triplo.” É inevitável referir o cresci-
‘digerido’ a nível ter, por exemplo. Não se percebe do que se mento entre os dois trabalhos, de facto. “Hou-
está a tratar. Cada vez mais há a necessidade ve uma evolução muito grande da nossa parte
nacional, mas de consumir o que é exposto e de não procu- como músicos, tanto pela primeira experiência
rar… até podem comprar o disco para ter na de gravação, como pela tour que se seguiu,”
acreditamos naquilo colecção, mas acabam por não o ouvir.” considera o Miguel. “A nível de composição,
este trata-se de um álbum muito mais evoluído,
que fazemos e vamos Esta visão que valoriza a música também se mais atento a detalhes, que requer três ou qua-
estende sobre a forma de actuar de alguns tro audições para descobrir tudo o que se está
continuar a fazê-lo.” RSQIWHSQIMSREUYMPSUYISQɽWMGSHIƤRI a passar. «The Awakening» afasta-se da veia
lá está, como o “bilhete”. “Analisando o under- thrash do «Contempt…» e avança por meios
ground, em termos gerais, acho a saturação mais progressivos, mais ambientais, orquestra-
te grande parte do público não ouve álbuns na do mercado enorme. A variedade de bandas, dos. A interligação faz com que o álbum se tor-
íntegra, mas mesmo assim juntei um desejo XEQFʣQQEWRSƼREPʣXYHSQEMWKIRʣVMGS%W ne mais interessante. Mesmo tendo consciên-
de sempre a algo que me deu realmente gos- bandas vão à procura da mesma fórmula, mú- cia que o nosso tipo de som não é o mais bem
to fazer. Desenvolver uma história, criar todo sicas com dois ou três riffs, bons concertos a ‘digerido’ a nível nacional, acreditamos naquilo
um ambiente, deu-me uma satisfação enor- deitarem a energia toda cá para fora, mas sem que fazemos e vamos continuar a fazê-lo sem
me. Para lá do risco, a nível nacional, acredito emoção. No geral sinto que têm necessidade pensar se o público adere em massa ou não. Se
que seja um passo a dobrar, o que tornou as de ver mosh na frente deles e esquecem-se da não formos verdadeiros em algo que levamos
GSMWEW QEMW HIWEƼERXIW RYQ QIMS YPXVEWE- música em si.” Uma forma do colectivo contra- tão a sério, não faria sentido todo o esforço e
turado por canções soltas – o ‘bilhete’! Ao riar essa forma de tocar passa pela atitude a dedicação.” ='(?

 LOUD!
KÆLLING
André Oliveira e João Rodrigues formam
os Kælling e contaram-nos como é ter uma
fa o João, com André a sublinhar que tem a ver
com o género. “Também porque, em Portugal,
as pessoas são pouco activas na procura de
música. Conheço poucas pessoas que queiram
banda na Marinha Grande. procurar músicas por elas próprias, preferindo
ƼGEV TSV EUYMPS UYI PLIW ETVIWIRXEQ” O João
concorda. “É um bocado isso, é. Falamos em

É
comum escutarem-se queixas sobre a YQGSQXVɰWXIQEW “Nele se conta a história progressivo, alguém lê e vai para casa ouvir, a
HMZYPKEɭɩS HI KVYTSW I HEW HMƤGYPHE- de dois personagens, um empático, que sente o esperar por Dream Theater, e não tem nada a
des que se enfrentam, mas muitos nem que as pessoas à sua volta sentem. O outro, so- ZIV GSRRSWGS %W RSWWEW MRƽYʤRGMEW QEMSVIW
imaginam como é formar uma pequena ban- ciopata, desprovido de sentimentos e, por con- passam por rock/metal/progressivo/alternati-
da, fora dos meios urbanos principais e tentar sequência, extremamente bem-sucedido na vo. O espectro do progressivo é muito grande.”
crescer assim. No caso dos KÆLLING, tudo se vida. Ambos procuram uma resposta para os De facto, as bases prog do duo não serão as
fez em menos de um ano: dois velhos amigos seus problemas e acabam por se cruzar, o que mais óbvias, ou pelo menos as mais comer-
juntaram-se, compuseram os temas e onze acaba por ser uma revelação para os persona- ciais, como explica o vocalista: “Começámos a
meses depois lançavam o disco de estreia, gens, repleto de consequências. É um álbum ouvir progressivo aí pelos dezasseis ou dezas-
GSQSRSWGSRXE.SɩS6SHVMKYIWSZSGEPMWXE sobre extremos, sobre frieza, sobre calculis-
“Eu e o André já tocámos juntos noutros pro- mo, sobre dor, essencialmente sobre o quanto “É um álbum sobre
jectos. Somos vizinhos e amigos de infância. o cinzento que nos rodeia pode conspurcar o
Sempre compusemos juntos, mas nunca tínha- branco da tela, que é a nossa vida.” extremos, sobre frie-
mos conseguido lançar nada com os projec-
tos antigos, até que decidimos não depender Lançado em edição de autor, o disco entrou za, calculismo, dor, es-
de mais ninguém a não ser de nós mesmos. IQGSQFSEWGVɳXMGEWQSXMZERHSSHYS
Formámos os Kælling, que originalmente eram para se fazer à estrada, com concerto de es- sencialmente sobre o
para ser o projecto a solo do André. Juntos es- treia marcado para Maio. “Vamos ser seis ele-
crevemos alguns temas do disco, mas também mentos e, se tudo correr bem, no próximo ál- quanto o cinzento que
aproveitámos temas antigos que cada um de bum já contamos com todos para contribuírem
nós tinha e retocámos os mesmos.” O André com ideias,” diz um entusiasmado João, mas o nos rodeia pode cons-
Oliveira é o instrumentista do grupo, como o André fala também de um problema surpreen-
próprio explica: “O João cantou e ainda gravou dente. “Teclistas são uma espécie em extinção! purcar o branco da tela
umas linhas de baixo, eu gravei guitarra e baixo Pelo menos aqui na zona, parte das teclas que
e o resto produzimos em computador.” O João gravámos foram um bocado exigentes tecnica- que é a nossa vida.”
IRXVIXERXS VIZIPERSW S WMKRMƤGEHS HS RSQI mente, e não pode ser qualquer um a fazê-lo.”
da banda. “É uma ofensa em dinamarquês,” O João continua o assunto: “Arranjar músicos, sete anos, e a primeira paixão foi Tool, que tam-
revela entre risos. “É uma palavra com uma em geral, na zona da Marinha Grande, é terrivel- bém é completamente diferente do que se faz
JSRʣXMGEPMRHʧWWMQETEVESWMKRMƼGEHSJIMSUYI mente difícil. Ainda nos falta o tal teclista, para no progressivo. Depois surgiram outras que se
tem. São opostos, como as personagens do já tem sido o computador a tocar essas partes.” GEPLEVLSNIWʝSQYMXSQEMWMRƽYIRXIWRERSWWE
nosso álbum, uma faca de dois gumes. Enqua- O resto do grupo é completado por José Guer- composição, nomes como Leprous, que é um
dra-se com o género de música que fazemos, ra na guitarras, Telmo Santo no baixo e Nuno marco, Karnivool, Porcupine Tree, TesseracT, no
que tanto é doce, calma e apaziguante como é Sarnadas na bateria, com o Telmo a vir da Ba- metal mais pesado, Tigran Hamasyan, Plini...
agressiva, polirrítmica e imponente.” Ainda so- talha e o Nuno de Leiria. “Tivemos muito mais entre outras, serão essas as que marcam mais
bre o conceito do disco, o vocalista descreve-o gente estrangeira a comentar e a dizer coisas I EMRHE SYXVEW MRƽYʤRGMEW TSWWʧZIMW UYI RSW
GSQSIWXERHSHMZMHMHSIQXVɰWGETɳXYPSWGEHE boas sobre o disco, do que nacionais,” desaba- permitam também criar uma identidade.” ='(?

LOUD! 
ANGRA

TESE,
ANTÍTESE,
SÍNTESE
Como te sentes em relação a este novo dis-
co dos Angra?
Estamos muito eufóricos e empolgados
com o resultado. Quando o trabalho é po-
sitivo, isso ajuda a unir o grupo. Quando o
Kiko anunciou a sua saída da banda, isso
deixou-me um pouco preocupado, mas o
grupo todo resolveu apoiar e fazer um es-
forço sobre-humano para que nos pudés-
Os brasileiros ANGRA estão de regresso com o seu semos superar e fazer um disco à altura
dos grandes clássicos da banda. E foi o
nono disco de originais, «ØMNI», muito possivelmente que aconteceu.
o seu melhor trabalho em quase duas décadas.
A veia mais prog acabou por sobressair
4GITGUUCO VCODȘO C 2QTVWICN PQ ƓPCN FG /CTȖQ neste novo trabalho, concordas?
para dois concertos em Lisboa e Porto. Estivemos à Sim... Isso acontece um pouco porque nós
tivemos que adaptar a linguagem da banda
conversa com o guitarrista Rafael Bittencourt, único para o que esta formação actual tem mais
elemento restante da formação original, para nos de natural. E a formação destes músicos,
especialmente do Felipe [Andreoli, baixis-
contar tudo sobre a actualidade da banda. ta]... bem, de todos, na verdade, mas princi-
palmente do Felipe e do Marcelo [Barbosa,
JORGE BOTAS KYMXEVVMWXEAɯQYMXSMRƥYIRGMEHETSVFERHEW

 LOUD!
as realizar que depois pode não o fazer da humano do futuro, quando transcende o
melhor forma. Eu sou uma pessoa que fun- tempo, consegue ligar-se ao ser humano
ciona melhor em grupo do que sozinho, por primitivo... a música «Caveman» fala dis-
isso dependo dessa harmonia e desse pon- so. O ser humano evolui até transcender o
to de satisfação geral. O que eu costumo di- espaço e o tempo, e manda um sussurro
zer é que os Angra, até ao «Fireworks», com para os homens das cavernas, e nesse
o André Matos, criaram o seu estilo. Depois, sussurro os homens da caverna acordam
com a mudança, houve quase uma nega- TEVEEGSRWGMɰRGME'SQSREWGMQIRXSHS
ção. Entrou um baterista com muito mais pensamento racional, nós evoluímos até
pressão, o Edu [Falaschi, vocalista] também ao ponto de voltar a transcender o espa-
cantava de uma maneira menos suave e não ço e o tempo e voltarmos a sussurrar de
tinha aquela subtileza da voz do André, mas novo no ouvido do homem das cavernas e
tinha carisma. Costumo comparar esse per- IRXVEQSWRYQEIPMTWIMRƤRMXE%GLIMUYI
curso com a retórica grega: tese, antítese e era uma grande ideia e tive de fazer uma
depois a soma das duas, síntese. Acho que música sobre isso.

“Este disco é uma fusão de


uma tendência mais actual
com o respeito que nós temos
pela história da banda.”

o «ØMNI» marca um novo momento para Neste disco há também alguns convidados
a banda, precisamente a síntese. Já apre- especiais, e um deles é o Kiko Loureiro que,
sentámos uma tese, já apresentámos um apesar de não estar na banda, participa no
estilo, já reciclámos esse estilo de maneira tema «War Horns».
antagónica em alguns aspectos, trazendo Esse tema vai ter ainda direito a vídeo, se
coisas novas. bem que o Kiko não participa nele. Ele faz
parte da família dos Angra, é um amigo da
Explica-nos como surgiu a ideia de ligar os banda. Não tem obrigação de estar connos-
discos «Holy Land», «Rebirth» e «Temple Of co, mas faz parte da família... faz parte da
Shadows», com o novo. QMRLEZMHETIWWSEPITVSƤWWMSREPɔREXYVEP
Comecei a escrever esta história para que, quando ele puder, venha tocar connos-
HEV GSIVɰRGME ɦ QMRLE PMRLE GVMEXMZE 4SV co mais vezes... o público ama o Kiko! En-
vezes tenho ideias que são um pouco viou-nos algumas ideias, sugestões de riffs
desconexas... faço cruzamentos com e outros pormenores de guitarra. Acabámos
dois conceitos, coisas assim. Desde o por usar algumas dessas ideias para esse
«Holy Land» que tinha a intenção de que tema, e ele participou na composição. Acho
a capa dos discos não fosse uma capa que vamos continuar a trabalhar desta for-
típica de heavy metal. Tinha de ser uma ma informal, dentro do possível, sem obri-
capa que mostrasse o que era o Brasil... gação nenhuma.
Ao falar do descobrimento das Américas,
do descobrimento do Brasil, estamos Para além do Kiko, têm a participação da
imediatamente a contar as nossas ori- Alissa White-Gluz dos Arch Enemy e tam-
de djent, de progressive metal, artistas de gens às pessoas... aos japoneses, euro- bém da Sandy...
fusion como o Allan Holdsworth e o Chick peus ou americanos que estão a ouvir a A Sandy é uma diva brasileira, uma grande
Corea, por exemplo. É o que é natural para nossa música. Quem são os brasileiros? cantora e que canta, desde os seis anos
eles, e o que eu precisei de fazer foi criar um Somos o produto da história de como os de idade, músicas infantis. Todos os bra-
elo de ligação com os estilos que já traba- europeus vieram para cá, misturaram-se sileiros conhecem a Sandy, ela faz parte
lhámos no passado com os Angra, para não com os nossos índios, com os africanos, do imaginário nacional como uma menina
descaracterizar a nossa história. Portanto, e como a nossa cultura virou esse rebo- doce, inocente, pura... a voz dela é ange-
IWXI HMWGS ɯ YQE JYWɩS HI YQE XIRHɰRGME liço todo... essa feijoada, não é? [risos] lical. Hoje já não canta música infantil,
mais actual com o respeito que nós temos )WWE ɯ E RSWWE MRƥYɰRGME I IWWI ɯ S VI- é mais música pop, mas continua a ser
pela história da banda. sultado da nossa música. Comecei a pen- muito famosa. Já a Alissa White-Gluz dis-
WEVGSQSMENYWXMƤGEVIWWIRSZSXVEFEPLS pensa apresentações! Acho que é um dos
Pessoalmente, e sem querer insultar os dis- com uma banda praticamente nova? O maiores ícones da actualidade... sou mui-
cos feitos no passado, desde o «Rebirth» raciocínio começou então com a criação to fã dela. A música onde elas participam,
UYI RɩS ƤGEZE XɩS ERMQEHS TSV SYZMV YQ de uma nova história, que apresente este «Black Widow’s Web», é sobre as redes
novo trabalho dos Angra... novo grupo, e comecei a imaginar que nós sociais. As redes sociais são a aranha viú-
Que bom ouvir isso! Até posso dizer que eu eramos viajantes do tempo, que na verda- va negra que suga a identidade daqueles
também... Acho que houve discos que fo- de a banda do futuro enviou mensagens que se esquecem de quem são, por cau-
ram muito importantes para a banda, e nos para estes cinco músicos. Os músicos, sa de uma necessidade de se exporem
quais eu tenho muito orgulho. Todos foram deslumbrados com essas mensagens, e tentarem ser algo que não são. Acabei
sofridos para fazer... não é sempre que se criaram este disco. Tudo começou com por dividir as redes sociais em dois: o lado
tem o material humano e colectivo a traba- ideias mais ingénuas, inocentes e cria- mortal que é cantado pela Alissa e o lado
lhar de forma harmoniosa. Não adianta ter tivas, indo até ideias mais mirabolantes ingénuo, que nos está a ajudar, e que é
ideias, quando se precisa de um grupo para sobre viagens no tempo, o facto de o ser cantado pela Sandy.

LOUD! 
ON THORNS I LAY

A BELEZA A vossa história, mesmo com o longo perío-


do de inactividade pelo meio, já é comprida
– parecendo que não, o «Sounds Of Beau-
tiful Experience» já tem 23 anos de idade.
Achas que, na altura, se te tivessem dito a
ti, ao Stefanos [Kintzoglou, vocalista/baixis-

E O DESGOSTO
ta] e ao Fotis [Hondroudakis, baterista], os
membros originais que restam, que passa-
do este tempo todo ainda iam andar por aí a
tocar, terias acreditado?
Antes de mais queria agradecer imenso esta
oportunidade. Aqui em Atenas todos gos-
XEQSW QYMXS HI 4SVXYKEP MHIRXMƤGEQSRSW
Formados nos anos 90, parte daquela vaga muito muito com o vosso povo, e é sempre um pra-
zer falar com um de vós. E para responder
sui generis de metal mediterrânico do qual a editora à pergunta, realmente, quando começámos
francesa Holy Records foi grande impulsionadora, os a banda, ainda com outro nome, em 1991,
nunca poderíamos imaginar praticamente
helénicos ON THORNS I LAY regressaram à actividade nada do que já nos aconteceu até hoje. As
há uns anos, sem grande impacto, diga-se. O impacto nossas vidas mudaram imenso desde essa
altura. Pessoalmente, já vivi em quatro paí-
ƓEQW VQFQ IWCTFCFQ RGTEGDGUG CIQTC RCTC Q UGIWPFQ ses diferentes desde então, e claro, houve
disco que editam desde esse regresso – «Aegean enormes mudanças na banda… e aqui con-
XMRYEQSWIQ
Sorrow» é um monumento de doom trágico-elegante
à antiga, e motivou-nos a ir conversar com o afável Acho que vale a pena descortinar um bo-
cado as razões do vosso desaparecimento.
Chris Dragamestianos, fundador, guitarrista Confesso mesmo ter perdido o rasto dos On
e compositor principal do sexteto. Thorns I Lay algum tempo antes da separa-
ɭɩSŰSƤGMEPűŷSUYIWITEWWSYRIWWEEPXYVE
EƤREP#
JOSÉ CARLOS SANTOS
Compreendo-te… depois da edição do nosso

 LOUD!
enérgicos em palco. Levaram a banda a uma achas que este álbum vai ter o impacto que
nova dimensão, que vai ser ainda mais apa- o «Eternal Silence» não conseguiu ter, e que
rente no próximo álbum. vai alertar de vez as pessoas que vocês es-
tão mesmo de volta, em todos os sentidos?
Apesar desse longo tempo de preparação e Acho que sim. O «Eternal Silence» foi gravado
dessas adições em “tempo real”, digamos, há catorze anos, num período muito estranho
já tinhas alguma ideia de como querias que da nossa banda. Fizemos a mistura já a pen-
o «Aegean Sorrow» fosse, antes disso tudo? sar num regresso às origens, mas com óbvias
No passado, sempre mudaram muito de dis- limitações. Não sei se é uma boa altura para
co para disco, foram sempre mudanças pla- o doom/death, sinceramente, acho que é um
neadas, começar sempre “do nada” sempre estilo que sempre foi muito underground,
foi intencional? mas sinceramente, não me interessa muito.
Sim, no passado havia essa aproximação Acho genuinamente que o «Aegean Sorrow»
aos discos, sempre da “folha branca”. Era a é o melhor álbum da nossa carreira. Temos
perspectiva que usávamos em todos eles, o muito orgulho nele, e vamos suportá-lo da
que explica as diferenças enormes. Provavel- melhor forma, incluindo em palco. Tocámos
mente, éramos mais democráticos do que recentemente com os Satyricon, temos dois
devíamos… [risos] Cada membro que entrava concertos para fazer em breve com os Sep-
trazia ideias novas, muitas vezes fora do que XMGƥIWLIIWXEQSWEEVVERNEVEPKYRWJIWXMZEMW
era o estilo da banda, e aceitávamos tudo. onde tocar na Europa durante este ano e o
Se há alguma coisa como mente demasia- próximo. Vão-nos ver por aí, sem dúvida.
do aberta, nós tínhamos isso! Por outro lado, Ʉ
também acho que todos os nossos álbuns
XɰQIQGSQYQYQWIRXMQIRXSHIQIPERGS-
lia – o estilo pode ter mudado, mas a angús-
tia subjacente permaneceu sempre.
“Queríamos muito
Dito isto, este álbum novo parece, talvez
pela primeira vez na vossa carreira desde
então, ir buscar o feeling dos primeiros…
voltar a tocar
três registos, talvez. E das demos também.
É exactamente o que acho também. Quería- como fazíamos
mos muito voltar a tocar como fazíamos nas
nossas demos e nos primeiros álbuns. Nos nas nossas demos
ensaios, realmente sentimos uma “magia” que
não sentíamos desde os anos 90. E depois
ENYHSY QYMXS XIVQSWɄ XVEFEPLEHS GSQ S (ER
e nos primeiros
Swanö, que nos deu um som profundo, vas-
to e orgânico, uma mistura de um som muito álbuns. Nos
“anos 90” com as produções mais modernas.
ɧPFYQm)KSGIRXVMG|IQWIRXMQSWUYI
estávamos a perder a nossa identidade musi- Sentiram portanto que tinham algo de espe-
ensaios, realmente
cal. Estávamos a preparar um álbum seguin-
XIQEWHYVERXIEKVEZEɭɩSQEMWIWTIGMƤGE-
cial entre mãos, durante todo o processo?
Sim, à medida que os ensaios iam avançan-
sentimos uma
mente depois de termos dado um concerto do, sentimos que este álbum ia ser único. Por
com os Saturnus, eu e o Stefanos decidimos isso decidimos também escolher os melho- ‘magia’ que não
terminar a banda. Já não fazia sentido, já res sítios onde trabalhar. Foi tudo gravado
não era a banda que queríamos que fosse.
Estivemos afastados durante vários anos, e
no Devasoundz Studio com o Fotis Benardo
como produtor e o Thanos Tzanetopoulos na
sentíamos desde
foi só quando regressei à Grécia, depois de gravação – trata-se do estúdio onde os Sep-
um período em que vivi em Estocolmo, em XMGƥIWL I SW 6SXXMRK 'LVMWX XEQFɯQ Nɧ KVE- os anos 90.”
UYIWIRXMUYIHIZMEVIGSQIɭEVEXSGEV varam, por exemplo. Para a mistura e mas-
regressando às nossas raízes musicais. De terização, escolhemos o Dan Swanö, como
volta ao doom/death atmosférico que é na- já referi. Admiramos imenso o seu trabalho
tural para nós. Então o Stefanos misturou tanto de músico como de produtor, e já deci-
esses temas que tínhamos ainda da altura dimos que vamos voltar a trabalhar com ele É engraçado pensar naquela cena muito
da separação, e entrou em contacto com a para o próximo disco. particular dos anos 90, muito ligada à Holy
nossa editora antiga. Foi o que deu origem Records e também à vossa Grécia. Sentiam
ao «Eternal Silence» Fala-nos um pouco do conceito lírico do na altura que faziam parte de um movimen-
Ʉ álbum. Tem muito a ver com o que se tem to maior?
Ou seja, o “disco de regresso”, chamemos- passado no vosso país, socialmente, não é? 7MQ WIQ HɽZMHE TSVUYI Ƥ^IQSW TEVXI
-lhe assim, é na verdade este «Aegean Sor- Sim, o «Aegean Sorrow» fala precisamente dessa cena desde o princípio. Começámos
row», não é? Há realmente muitas mudan- da angústia e do desgosto que existe nes- E XSGEV IQ  SW 6SXXMRK 'LVMWX XMRLEQ
ças. Como vês estes últimos anos, de 2015 XI QSQIRXS RE RSWWE VIKMɩS KISKVɧƤGE I sido formados há pouco tempo, juntamen-
até agora? não só. Basta sair à rua para se perceber as te com os Necromantia, os Septic Flesh (na
Logo após o «Eternal Silence» ter sido edi- catástrofes que as más decisões e guerras altura eram duas palavras), os Varathron
tado, comecei a preparar este «Aegean Sor- contínuas trazem às pessoas. E imaginar ou os Nightfall… somos parte integrante da
row». Estivemos um ano inteiro a ensaiar que tudo isto pode ter sido previsto por pes- génese dessa cena e éramos também mui-
sem parar, trabalhando em cada detalhe soas iluminadas há centenas de anos… A XS MQTSVXERXIW TEVE E ,SP] 6IGSVHW ɔ YQE
QEMW ɳRƤQS HS HMWGS EXɯ XIVQSW IRXVEHS VEɭE LYQERE XIQ YQE XIRHɰRGME EYXSHIW- cena que cresceu imenso desde essa altura,
IQ IWXɽHMS IQ 1EVɭS HI  (YVERXI EW trutiva, sempre teve, ao longo da sua história. os artistas desta região já produziram álbuns
gravações, introduzimos novos membros na Temo que o pior ainda esteja para vir. ZIVHEHIMVEQIRXIHIXSTSISW6SXXMRK'LVMWX
banda, nomeadamente, o Akis Pastras na Ʉ são um ícone no mundo inteiro. A Grécia tem
KYMXEVVE I S .MQ 6EQWIW RS FEM\S EQFSW Alegrando um pouco o ambiente, e voltan- enormes tradições na música extrema e é
grandes talentos, muito tecnicistas e muito HSESZSWWSTIVGYVWSHMWGSKVɧƤGSVIGIRXI para nós um prazer fazermos parte disso.

LOUD! 
TRINTA & UM

Como surgiu a ideia para o «Ao Vivo Na Aca-


demia»?
Goblin: Já andávamos a pensar nisto há algum
tempo, basicamente porque queríamos encerrar
mais um capítulo da história da banda. Por esta
EPXYVE Nɧ WɩS  ERSW HI 8VMRXE
9Q I IWXI ɽPXM-
mo capítulo do percurso tem sido de estrada. O
KVYTS IWXIZI TEVEHS QEMW SY QIRSW XVɰW ERSW
depois eu decidi voltar, porque isto é realmente
o que quero fazer. Voltámos em Dezembro de
 RS ERMZIVWɧVMS HE %GEHIQME HI 0MRHEE-
-Velha. Convidaram-nos para tocar e falei com o
pessoal, mas o Sarrufo, entretanto, decidiu que
não queria tocar. E aquele primeiro concerto foi
mais brincadeira que outra coisa qualquer, mas
senti que tínhamos de continuar. A mensagem
continua a mesma de sempre. Com esta forma-
ɭɩS Ƥ^IQSW QYMXE IWXVEHE TEVE PIZERXEV S RSQI
e dizer às pessoas que estamos aqui. Que sem-
pre estivemos e que vamos estar. O disco ao
vivo vem fechar esse capítulo, porque agora que-
remos começar a explorar esta fórmula nova.
Rato: O Emanuel, da Hellxis, também teve um pa-
pel essencial no disco. Até porque não foi nada
muito planeado, acabou por ser espontâneo.
Goblin: Basicamente, disse-nos que tínhamos
de lançar um CD ao vivo para mostrarmos a
RSWWE IWWɰRGME % MHIME IVE QSWXVEV S UYI WɩS
VIEPQIRXI SW 8VMRXE
9Q ES ZMZS

Tiveram de se preparar, pelo menos mental-


mente, para a gravação?
Rato: O Emanuel não nos disse absolutamente
A provar que são os mais dignos porta-estandartes do nada. Se calhar podia ter dito que ia gravar. [risos]
Não, por acaso nós somos sempre assim...
movimento L.V.H.C. e uma das referências chave do Goblin: 7MQ SW 8VMRXE
9Q RɩS TVITEVEQ REHE )
movimento hardcore nacional, os TRINTA & UM estão se houver falhas em palco, tudo bem. Todos nós
sabemos que as falhas acontecem, e também é
ƓPCNOGPVGFGTGITGUUQȏUGFKȖȣGU4GIKUVCFQCFG isso que queremos mostrar às pessoas, que a
,CPGKTQFGPQRCNEQFC#ECFGOKCFG.KPFC#8G- música não é só exibicionismo. Isto é feeling, se
houver um “prego” ou outro, acontece. É mesmo
lha, o apropriadamente intitulado «Ao Vivo Na Aca- assim. Até porque, com a “jarda” com que vamos
para cima do palco, é normal. [risos]
demia» é o primeiro álbum ao vivo num percurso que
já ultrapassou as duas décadas de existência e vem O Emanuel poupou-vos a um tormento, foi o
que foi.
mostrar que, apesar do hiato de três anos a que se vo- Rato: Acredita.
taram no início da década, continuam aí prontos para Goblin: De certa forma, sim. Sabermos que es-
tamos a ser gravados é sempre diferente. Eu,
as curvas. O vocalista e timoneiro Zé Goblin fez-nos, por mim, dá-me igual, porque encaro a coisa
sempre da mesma forma, mas para o resto da
com a ajuda do baterista Rato, um ponto de situação na banda é bem possível que lhes tenha poupado
carreira do quarteto... Com álbum novo prometido para uma carga de nervos. Eles são mais novos... Eu
PIQFVSQI HI IWXEV IQ TEPGS I ZIV S 6EXS E ZM-
XKPVGCPQUFGk1%CXCNQ/CVCzGOGCPQU brar no meio do pessoal. Para eles, se calhar, há
aquela responsabilidade de estarem a integrar
FGDCPFCGOVșO  OGUGU FGEKUKXQURGNCHTGPVG uma banda que adoram. O Deris, por exemplo, o
João Duarte, que é também um grande respon-
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES SURFIN’ BIRD sável nesta formação. Convidei-o para vir tocar

 LOUD!
connosco e ele respondeu-me: “És maluco,
Goblin?!” Ele com dois metros e eu ali, com o
meu metro e meio. [risos] “Sou maluco?!”, res-
pondi. E diz ele: “Ó Goblin, eu comecei a tocar
guitarra por causa dos Trinta & Um!” Foi uma
GIREKVEXMƤGERXI

Foi fácil encontrar pessoal para tocar, então?


Goblin: Posso dizer que, e eles sabem bem dis-
to, foram todos uma segunda opção. A primei-
ra, por isto e por aquilo, não quis. Na guitarra,
por exemplo. Temos de respeitar. Aí fui falar
com o Deris, e ele disse logo que sim. A primei-
ra opção para a bateria também não quis. En-
XVIXERXSETEVIGIYS6EXS)EKSVES.SR]XEQ-
bém. Para mim é bom estar a tocar com eles,
é um privilégio. É muito bom saber que tudo o
UYIƤ^GSQXSHSWSW8VMRXE
9QGSRXMRYEEɳ

A banda estava a precisar de sangue fresco?


Goblin: A banda estava mesmo a precisar era
de não ter acabado, porque toda a mensagem
– toda a que escrevemos durante dezoito anos
até termos tido ali aquela paragem – continua
a ser totalmente válida. Nós nunca acabámos. Como se tem traduzido esse “peso nos ombros”? porque sim, porque alguém quer que lance-
Eu nunca quis acabar com a banda... Aliás, Goblin: O mais difícil vai ser escrever as letras, QSW ɧPFYQ RSZS 8IQSW HI RSW MHIRXMƤGEV
nunca vou acabar com a banda. O Sarrufo porque o Sarrufo é um génio. A sério, não primeiro, de criar a fórmula, como eu gosto de
chegou a uma altura em que quis parar e fazer XIRLS TEPEZVEW )Q XVɰW ɧPFYRW GSRWIKYMY PLI GLEQEV 'SQ SW8VMRXE
 9Q JSM WIQTVI
outras coisas. Na altura, eu até concordei por- descrever a minha vida de forma que não tem assim. E eu precisava de saber se ainda tínha-
UYISQIYƤPLSIWXEZEEREWGIVIUYIVMEGYVXMV explicação. É por isso que quero continuar a mos aquela cena d’«O Cavalo Mata», e acho
a cena do puto. Foi mesmo só por isso que passar essa mensagem, para os miúdos mais UYIXIQSW'SQSS6EXSHMWWIIɯFVYXEPRɸW
IWXMZIEUYIPIWXVɰWERSWTEVEHS(ITSMWRɩS novos, para os velhos e para os de meia-idade. já temos essa cena de falar com o olhar, seja
consegui – não dá mesmo. Nasci para isto e nos concertos, nos ensaios ou na amizade.
SW8VMRXE
9QIWXEZEQEJE^IVJEPXETEVEPMHEV E para ti, Rato? Como tem corrido a adapta- Tudo isso dá origem a música. Há na gaveta
com todo o meu stress, com o trabalho e com ção aos Trinta & Um? muitos temas, «Falsa Informação», «Direito
toda a minha vida36EXSIWGVIZIYMWXSIWEFI Rato: Tem sido um sonho tornado realidade, (I)WGSPLE|m6IPMKMɩS-QSVEP|m2ɩS3TɭɩS|
do que fala – “Eu ganhei aqui um irmão. Eu sou como o Zé dizia há bocado. Estava no gozo, escrita feita ao longo dos anos... Gostava de
a raiva que a vida me deu.” QEWɯZIVHEHIIPIWEFI3W8VMRXE
9QWɩS os gravar um dia, mas já pensei nisso e deci-
YQE FERHE UYI QI MRƥYIRGME HIWHI QYMXS di que o álbum novo vai ser só com canções
A escusa do Sarrufo, que está agora com os puto, e que foge aos cânones musicais do escritas por esta formação que temos agora.
Rasgo, surpreendeu-te? hardcore. Acho que foi isso que me atraiu para Rato: E o trabalho de equipa tem sido feito.
Goblin: Pá... [pausa] Eu fui muito sincero com EFERHE)WXEVRSW8VMRXE
9QTIVQMXMYQI Goblin: Claro! Agora, vamos ver o que dá. So-
o Sarrufo quando o abordei. Nessa altura já por exemplo, conhecer mais de perto o Zé e mos, basicamente, uma cambada de malucos.
RɩS JEPɧZEQSW Lɧ YRW XVɰW SY UYEXVS ERSW criar uma relação próxima com todos eles. 3YQIPLSVWɩSWɸXVɰWQEPYGSWQEMWS(IVMWI
– e disse-lhe que queria despejar toda a rai- Neste momento temos uma enorme união o Emanuel. Vamos ver se aguentam a pedala-
va que tinha dele, todo o ódio que tinha dele. de banda. Em palco, conseguimos falar com HEEUYMHS6EXSHS>ɯ+SFPMRIHS.SR]?VMWSWA
Queria enterrar tudo o que batalhámos, tudo o olhar, completamente. Em termos musicais, Uma coisa é certa, vamos continuar a dar tudo,
S UYI Ƥ^IQSW 1EW TVSRXS IWWI IVE Wɸ S de amizade, construímos aqui uma coisa bru- como sempre aconteceu com as formações
meu parecer. Estivemos juntos e ele concor- XEɔQYMXSKVEXMƤGERXIIWXEVRSW8VMRXE
9Q anteriores. Continuamos a ser nós, uma banda
dou que tínhamos de deixar isso tudo para de Linda-a-Velha. Agora veremos, se tem mais
trás, mas agora está noutra. Falámos e só E quando vai haver música nova para ouvir? power ou se não tem. [risos] Não estamos aqui
quero que ele continue a gozar a vida dele, Goblin: As pessoas queixam-se que já se pas- TIPSHMRLIMVSIWXEQSWEUYMTSVUYIKSWXEQSW
como eu tenho gozado a minha. Se me cus- sou muito tempo desde o último álbum, mas disto, porque sentimos isto e porque acredita-
tou? Custou, claro. Se agora tenho um peso XɰQ HI TIVGIFIV UYI RɩS ZEQSW IWGVIZIV mos no que sentimos. É a nossa história.
extra nos ombros? Tenho. Mas eu adoro isso,
porque é motivação. Eu convidei o Sarrufo,
ele disse que não. Quis fazer outras coisas
e eu compreendo, porque é um compositor,
um músico de topo. Ele está bem, eu tam-
bém estou bem, por isso está tudo bem. O
QIWQSWIETPMGEES6EɭɺIWUYIXIZIYQTE-
pel muito importante na banda durante anos,
mas estava noutra sintonia.

“Nasci para isto e os Trinta & Um


estavam a fazer falta para lidar
com todo o meu stress, com
o trabalho e com toda a minha
vida.” – Zé Goblin
LOUD! 
LOUD! PASSATEMPOS
&+5#(('%6'&
A LOUD!, em conjunto com a Glam-O-Rama e a Chaosphere Recordings, tem para oferecer cinco
cópias do novo álbum dos históricos Disaffected, «The Trinity Threshold», em formato CD. A ban-
HEUYIXIQRSWIYGEXɨPSKSSQɴXMGSm:EWX|HIGYNEJSVQEɮɪSEMRHETSRXMƤGEREEGXYEPSFEM\MWXE
António Gião, regressou recentemente às edições cinco anos após «Rebirth», e para completarem
a vossa colecção, basta responder atempadamente a uma pergunta simples. É só serem um dos
cinco primeiros a enviar a resposta por email para geral@loudmagazine.net (com o assunto “Pas-
satempo Disaffected”, o vosso nome e morada completa), a pergunta é a seguinte:
Qual é o nome do tema que é alvo do novo videoclip dos Disaffected?

VENCEDORES
1'56'70&'4)4170& 5;56'/+-8+.'0%'
Numa altura em que a terceira edição do Oeste Underground “já 8ɳRLEQSWTEVESJIVIGIVXVɰWGɸTMEWIQZMRMPHSm7EXEREVOMWX%XXEGO|
mexe”, a LOUD! e a organização do evento juntaram-se para ofere- dos Systemik Viølence, e para isso só tinham que nos dizer quantos
cer as últimas t-shirts referentes à XIQEWHIWXETSHVMHɩSHIHMWGSXɰQ
segunda edição, que decorreu em XɳXYPS IQ TSVXYKYɰW I UYI XɳXYPSW
 7EFMEQ TIVJIMXEQIRXI UYI são esses. Foi um prazer ter tanta
o Oeste Underground III terá lu- gente a enviar-nos email só para nos
KEV RS HME  HI 2SZIQFVS HI  dizer «Merda», os nossos parabéns a
os seguintes contemplados, que XSHSWSWUYISƤ^IVEQ3WWSVXYHSW
vão poder andar muito bem ves- (?) que vão levar esta barulheira para
tidos com as suas t-shirts novas: casa são os seguintes:

David Branco (Brogueira) Maria Santos (Vila Franca de Xira)


Vera Veríssimo (Milharado) Custódio Rato (Évora)
Miguel Camponez (Olivais) Gonçalo Simões (Leiria)

LOUD! E SAÍDA DE EMERGÊNCIA APRESENTAM...

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Bathory
«Equimanthorn»
[Under The Sign Of The Black Mark, 1987]
Isto de ser pioneiro não é para todos, já sabemos,
mas o Quorthon deixou-nos uma obra relevante e de
onde brotam pelo menos dois subgéneros musicais.
Na minha humilde opinião, este disco é a verdadeira blueprint do pro-
to-black metal. Sem dramas, fenómenos do Entroncamento ou seitas.
Apenas um gajo a fazer a música de que gostava. Para mim, é uma
enorme inspiração.

Darkane
«Organic Canvas»
[Layers Of Lies, 2005]
Bom, a Suécia tem uma catrefada de

ANDRÉ
bandas que adoro, mas há uma tríade
que funde de forma maravilhosa o
thrash com o death metal melódico. At The Gates e The

BETTENCOURT
Haunted (que maravilha foi revê-los recentemente) são as
mais conhecidas; os Darkane, nem por isso. Tanto este disco
como o anterior «Expanding Senses» são brutais e estão
[ADAMANTINE] repletos de bons riffs técnicos e melodiosos. Merecem ser
descobertos por mais ouvintes.
Foi ao sétimo aniversário que
recebi o meu primeiro walkman.
Na verdade, não sabia bem o que LADO B
ouvir naquilo. Certo dia, aventu- Vio-Lence
rei-me pelas cassetes do meu «Eternal Nightmare»
primo mais velho, carregadas [Eternal Nightmare, 1988]
de heavy metal. Pronto, estava o caldo entornado. Re- As minhas raizes vão estar sempre no thrash e foi
nesse subgénero que iniciei a minha actividade
cordo-me como se fosse hoje, a magia e a estranheza como músico. Esta é uma pérola, para muitos
de ouvir algumas daquelas bandas pela primeira vez. dos fãs dos Machine Head, que desconhecem o que os senhores
Era um mundo completamente novo. Ouvia tudo o que Robb Flynn e Phil Demmel andaram a fazer antes de se meterem
conseguia arranjar e tudo era bem vindo. Era um grande no groove metal. Todo este disco é thrash metal, puro e duro. É
muito curioso ouvir Vio-lence e perceber como a dupla revisitou
“chatarrão” para o pessoal mais velho, sempre a pedir estes álbuns para escrever a masterpiece «The Blackening» com os
para me safarem coisas novas. Aos poucos, transfor- Machine Head.
mei-me uma espécie de “junkie musical”. Se era fácil
andar com 50 cassetes atrás? Nem sempre. Mas dos Gorguts
três formatos que vivi, a cassete, o disco e o digital, «Disincarnated»
este é mesmo o que deixa mais saudades. Era eu, o [Considered Dead, 1991]
Antes de se aventurarem em paisagens sónicas mais
walkman e a caneta para rebobinar as cassetes. Uma progressivas que inspiraram uma geração, os Gorguts
santa trindade, que durou anos. também nos brindaram com um disco de estreia mais
straightforward. Um dos meus álbuns favoritos da época dourada do
death metal. Toda a obra destes senhores é de elevadissima qualidade
LADO A e uma viagem imperdivel.

Manowar Poison The Well


«You Will Not Be Welcomed»
«Hail And Kill»
[Versions, 2007]
[Kings Of Metal, 1988]
Pioneiros na verdadeira era do metalcore, antes de este
Para uns, uma das maiores bandas de culto de sempre no
ser considerado taboo, os Poison the Well reinventaram-se
heavy metal. Para outros, o expoente máximo do azeite,
IPERɭEVEQHSMWHMWGSWHSQEMWEWƤ\MERXIUYISYZMEXɯ
materializado por quatro gajos vestidos de Conan. Foram
aos dias de hoje. Um post hardcore/metal experimental e progressivo, com
a primeira banda de heavy metal que ouvi na vida. Podiam ter sido os Iron
letras de puro desespero passivo-agressivo. Capaz de acordar a maior ansie-
Maiden, os Metallica ou os Black Sabbath. Esses vieram logo a seguir, mas
dade e melancolia, que nos dá vontade de arrancar as entranhas e sorrir de
JSM RIWXE GEWWIXI UYI TIKYIM TVMQIMVS I JSM MQTSWWMZIP ƤGEV MRHMJIVIRXI 3W
puro escárnio a este mundo hostil que nos rodeia. Não sei, desperta o pior
riffs, o power, os solos de guitarra, a voz espectacular do Eric Adams, tudo.
que há em mim. Mas estou sempre a revisitá-lo.
Deixem a música falar por sí e vejam como este tema é espectacular.

Demolition Hammer Nevermore


k5GPVKGPVz
«Skull Fracturing Nightmare»
[This Godless Endeavor, 2005]
[Epidemic Of Violence, 1992]
Fiquei em choque com a noticia de que o Warrel Dane já
Um clássico que, na última década, tem vindo a ganhar
não estava mais entre nós. Uma voz única, daquelas que
estatuto de culto entre os thrashers. O casamento perfeito
FEWXESYZMVHSMWWIKYRHSWTEVEMHIRXMƤGEV)WXIHMWGSɯ
entre o thrash e o death metal norte-americano, daqueles
muito especial para mim. Rodou incessantemente quando saiu e reconfor-
que dá vontade de partir coisas. Directo, acutilante e extremamente raivoso.
tou-me em momentos menos bons. Um álbum irrepreensível. Este tema é
-RƥYIRGMSY FERHEW HE New Wave Of Thrash Metal, como os Warbringer e
das melhores power ballads que alguma vez ouvi. Fica a obra e a voz de War-
continua a ser relevante ainda hoje em dia, até para muitas bandas revelação
rel Dane, que nunca será esquecido.
como os Power Trip. Adoro este tema.

 LOUD!
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HSHMETSVUYIETVSQSɭɩSWɸɯQIWQSZɧPMHEETEVXMV
dessa hora.

LOUD! 
LOUD! DJ
sido editado e reeditado milhões
de vezes, mas de qualquer forma
acabei por nunca lhe prestar muita
atenção. Este tema, a «Lost Johnny»,
também há uma versão anterior dos
Hawkwind, se não estou em erro do
«Hall Of The Mountain Grill».
E os Motörhead fazem parte das
tuas origens, não é?
Luís: Sim, foi das primeiras bandas
que comecei a ouvir mais seria-
mente, nos anos 80. Gostava das
bandas inglesas, Maiden à cabeça,
Angel Witch também, e depois o
início do thrash. Motörhead tem algo
de thrash, mas não é bem, claro. O
primeiro álbum dos Metallica, Slayer
e Venom.

SAXON
«Thunderbolt»
Do álbum «Thunderbolt» [2018]
Bandas inglesas, anos 80, heavy me-
tal, muito bem. Vamos ser chatos e
dar ao Luís uma de que ele não falou,
e ainda por cima, um tema novinho,
de 2018. Gostamos de pensar que
pelo menos a voz do Sr. Biff, ainda
que muito do resto já falte, continua
Já era uma presença que se a ser universal.

impunha há muito tempo nesta Luís:?ESƤQHIEPKYRWWIKYRHSWAɔ


Saxon moderno, é isso?
rubrica – o talentoso multi- Bem jogado!
Luís: Adoro Saxon, adoro os primei-
instrumentista Luís Simões, ros álbuns… Só que, na altura já, a
ex-membro ou colaborador de seguir ao disco ao vivo, o «The Eagle
Has Landed», acho que é logo o
bandas tão diversas como Blasted «Power & The Glory», e depois é que
é o «Crusader» e o «Innocence Is No
Mechanism, Sacred Sin ou The Excuse», não é? Seja como for, logo
MOTÖRHEAD
Firstborn, já foi visado em várias «Lost Johnny»
a seguir ao «The Eagle Has Landed»
achei logo que havia ali qualquer coi-
outras secções da LOUD!, incluindo Do álbum «Motörhead» [1977] sa de errado. Adoro o primeiro, adoro
Sim, já no passado LOUD! DJ abri- o «Strong Arm Of The Law», mas a
no nosso famoso Quadro de Honra mos com Motörhead. Não, ainda não seguir àquele disco ao vivo…
estamos fartos. E não, não pensem Compreende-se, o «Crusader» já
em representação dos marcantes também os futuros participantes no tem ali coisas um bocado manho-
Shrine, e era um dos nossos desejos LOUD! DJ que a primeira está sempre
garantida porque vai ser sempre a
sas demais, mesmo para o fã mais
empedernido…
de longa data para pôr em frente mesma banda. O LOUD! DJ é im- Luís: Eles tiveram um grande proble-
previsível e místico e coiso. Siga o ma, que foi aquela tentativa de furo
ao sempre intimidante LOUD! barulho, mas é. na América. Pareciam encaixáveis
DJ. A proximidade do vindouro Luís:?ETɸWEIRXVEHEHEZS^A-WXSɯ
numa lógica de produção de uma
banda de hard rock, que era o que
novo disco dos seus SATURNIA Motörhead, do primeiro. parecia bom para o mercado nor-
Exactamente! te-americano, mas a verdade é que
deu-nos a desculpa perfeita para Luís: Por acaso reconheci logo no depois disso desapareceram um
início por causa do baixo, mas queria bocado, e quando reapareceram já
ƓPCNOGPVGEQPXKFCTOQUGUVCƓIWTC MHIRXMƤGEVHIUYEPIVE)YRYRGE era só naquela da curiosidade.
incontornável da cena nacional liguei muito a este disco… Ele foi
editado depois dos outros, claro que
2EIRXVIZMWXEUYIƤ^IQSWGSQS
Biff na passada edição, ele próprio
RCTCQPQUUQFGUCƓQ quando comecei a ouvir, já tinha admite uma série de decisões me-

 LOUD!
nos boas tomadas nesse período. cabeça assim que o Luís terminou a YQE HEW MRƥYɰRGMEW QEMW ɸFZMEW RɩS vecraftiano que desenvolvi desses
Luís: Sim, e isto tudo já sem falar da VIƥI\ɩSERXIVMSV só do Luís enquanto músico dos Satur- discos, o que é uma cena um bocado
laca. Biff, o meu eu de treze anos jamais nia, mas também de qualquer um que IWXVERLE HI EHQMXMV IY WIM ?VMWSWA
XITIVHSEVɧ?VMWSWA1EWTVSRXSEGVIHM- Há que dizer que não estamos embarque por caminhos, ainda que Tenho que estar muito sóbrio para os
to que haja malhas boas lá pelo meio. propriamente à espera que saibas vagamente, psicadélicos. Imaginamos ouvir, senão assustam-me mesmo.
sequer o nome da banda. Isto é só que não custará muito a adivinhar.
para dar conversa.
Luís: Deixa ver… se for uma cena obs- Luís: [de sorriso rasgado no primeiro
cura até é capaz de haver mais pro- WIKYRHS PMXIVEPQIRXIA %L GPEVS
babilidades de eu conhecer do que se Esta nem deu luta!
JSVEPKSQYMXSGSRLIGMHS?VMWSWA Luís: Mas olha, não ouço isto há
Consegues situar temporalmente, muito, muito tempo!
pelo menos? Quão importante é isto para ti?
Luís: Será 90s, por aí? A bateria já Luís: É incrivelmente importante. Pink
tem um som assim “grande” para ser Floyd é a primeira banda verdadeira-
80s, mas mesmo assim as coisas mente artsy que eu ouço. O que eu
mais recentes são maiores ainda. tinha como referência mais próxima
É bem analisado, sim. disso era a faceta mais progressiva
DARK ANGEL Luís: Mas não chego lá, não conhe- dos Iron Maiden, que está ligada de FIRSTBORN EVIL
«The Burning Of Sodom» ço. Mas ouvindo mais um bocado, certa forma a isto, é um descendente «Warfare»
Do álbum «Darkness Descends» [1986] já me cheira mais a algo dos anos do prog inglês. «Phantom Of The Ope- Do álbum «Rebirth Of Evil» [1998]
Já tínhamos uma espécie de plano, 2000, sinceramente. ra», «Rime Of The Ancient Mariner», «To E claro que nunca perdemos uma
como temos sempre, de temas para Bom ouvido! Mas engana bem, não Tame A Land», e outras partes, não são oportunidade de causar embaraço e
tocar ao Luís. Mas aquela primeira engana? só as malhas mesmo progressivas. de semear a discórdia entre amigos.
conversa ajudou muito a escolher Luís: Engana! Se bem que não é aquele Uma banda com secções instrumen- Lembram-se quando os Earth Electric
GSMWEW QEMW IWTIGɳƤGEW -RɳGMS HS retro de 80s. É um retro mais de 90s. tais gigantes, músicas de vinte minu- disseram que a banda antiga do seu
thrash nos anos 80, pois bem, lá Acho engraçado. Como se chamam? tos, conceitos sobre o ego, tudo isto baterista era horrível, só para ir buscar
vamos nós a mais um nome que ele Power Trip. É do ano passado. Vai com capas muito fora, sem ter fotos um exemplo recente? Vamos lá ver
não tenha falado. Um grande, grande buscar ali um crossover com piada. nos álbuns… pelo menos naquela altura o que o Luís acha deste tesourinho
nome, neste caso. Luís: Sim, isto tecnicamente falando, em que comecei a ouvir, os álbuns nacional, da primeira encarnação dos
já é metal mais tradicional. Não no mais populares eram os pós-«Dark The Firstborn com quem colaborou
Luís: Onslaught, não? Death Angel? sentido, vá lá, de early 80s, mas pode- Side…», em que eles estavam cada vez tão activamente numa fase posterior.
Morno. Mais que morno, aliás, es- -se chamar isso. Acho que continuam mais “ressabiados” com a realidade
tás muito perto. a fazer sentido bandas assim. Dentro do business, tudo isso montou uma Luís: Deixa-me lá entrar nesta vibe…
Luís: Dark Angel! «Darkness Des- HIYQEQSPHYVEIWXɯXMGETVɯHIƤRMHE super aura. Houve ali uma altura, teria À vontade. [risos] Mas vai dizendo
cends». É isso. Curto muito este mais antiga ou mais moderna, há eu uns quinze anos, já não tinha nada coisas!
álbum mas não o ouço com frequên- sempre espaço para ser criativo. a ver com este Floyd, mas arranjei o Luís: ?ES ƤQ HI YQ QMRYXS I XEP GSQ
cia… Aliás, não ouço isto há muito Fazer boas malhas, liricamente, melo- VHS do «Live At Pompeii», e passei-me. QYMXSW XIGPEHSW ɦ QMWXYVE NɧA %Xɯ
tempo. Ouvia-o muito na altura… é dias, ritmos, tudo isso… não é por se Passei-me mesmo. Pensei, estes gajos estava a gostar, mas agora nesta
um frenesim, uma cena. Este período operar dentro de um framework espe- são como eu, têm o cabelo comprido, parte já estou a achar um bocado
do thrash, este early speed/thrash, GɳƤGSUYIRɩSWITSHIWIVGVMEXMZSɦW o gajo está às mocadas ao gongo, o pussy ?VMWSWA )Y KSWXS HI FPEGO
é curioso, vi-o durante muito tempo vezes confunde-se isso. O problema outro está à cotovelada ao piano, e QIXEP QEW UYERHS ƤGE EWWMQ QEMW
como algo mecânico. É a memória é que quando se vai atrás de uma depois logo a seguir estão a tocar uma soft acho que desvirtua um bocado.
que tenho, que eram coisas super determinada estética, as pessoas já cena celestial que um gajo parece que Estas “orquestras”, pá [enquanto faz
frias, agressivas, tudo mais rápido… têm duas ou três bandas em mente. se vai desfazer. Conheci melhor esse S KIWXS HI GEVVIKEV IQ FSXɺIWAŷ
mas é interessante como agora Lembro-me que aqui há uns anos vi Floyd primeiro, e pouco tempo depois fazem-me confusão. Olha, esta voz
ouço, e isto já me soa quase como uma banda de thrash brasileira em cheguei a este primeiro disco, que sozinha agora lembrou-me qualquer
rock’n’roll. O metal moderno é que já Barroselas, não me lembro do nome. constatei logo que era do “tal gajo” que coisa… embora esteja muito out of
me soa mais a mecanismo clínico. Era um riff de Sacred Reich, um riff de se passou, e aderi completamente. key! Mas não sei, não faço ideia.
Isto tem uma selvajaria que, não Metallica, depois uma cena mais eu- Mas é um mundo diferente, este disco. Acabemos com o sofrimento – isto
sendo bem o David-Lee-Roth-party- VSTIMEŷIMHIRXMƤGEZEWIQIWQSFIQ Luís: Sim, eu não misturo muito as é Firstborn!
-c’mon, ainda é meio dessa família. Não era sequer um “genérico”. Isso já cenas do Barrett com Pink Floyd. Luís: % WɯVMS# ?VMWSWA ɔ HEUYIPIW TVMQIM-
Há um hedonismo nestas bandas acho mais chato. Mas atenção, há-de Floyd é uma cena que parte daqui, e ros discos? Como Firstborn Evil? Ouvi
todas que é muito rock’n’roll. haver gente a fazer boa música de or- que se começa a desenvolver a partir tudo, mas só uma vez! [falando para o
gão de igreja hoje em dia também, por do segundo álbum. Isto é o produto KVEZEHSVA 4IɭS HIWGYPTE ,ɯPHIV TIɭS
exemplo. Embora os grandes estejam da “estrela cadente” do Barrett, não HIWGYPTE &VYRS ?VMWSWA ɔ ZIVHEHI Wɸ
no séc. XVIII, mas isso existe. tem ligação com coisas como «The os ouvi uma vez. Na altura fui procurar
Wall» ou assim. O Barrett é um na net para estar mais ou menos in-
assunto complicado… a tendência é formado. De resto só conheço mesmo
para ouvir este álbum, que é genial, os outros onde eu entro, que são três.
e é… totalmente à prova de água, O Bruno é um vocalista mesmo muito
digamos, “perfeito” é outra coisa. bom tecnicamente, tem um alcance
As pessoas ouvem isto, e depois vocal incrível, ele faz a brincar um King
ouvem aqueles dois discos dele, e Diamond. Curto muito The Firstborn,
dizem logo, pois, o gajo passou-se, acho que tinham – ou têm, ainda não
comprimidos e demência e tudo o percebi muito bem se é passado –
POWER TRIP mais. Eu tenho uma opinião diferen- uma força incrível, aquela força que
«Executioner’s Tax» te, acho que há ali muito de inten- RɩS ɯ TVIGMWS NYWXMƤGEV QYMXS -HIMEW
Do álbum «Nightmare Logic» [2017] cional. Sobretudo o primeiro, acho originalidade, capacidade de produção,
Vejamos então se se ouve o calorzi- que faz muito sentido. Acho é que algumas reviews interessantes no
nho orgânico nas coisas modernas PINK FLOYD são discos assombrados. Mesmo estrangeiro já. Devia ligar ao Bruno a
ou não. Porque o LOUD! DJ é cruel, «Interstellar Overdrive» assombrados, são discos que tenho assediá-lo, fazer um bocado de chanta-
UYERHS SYZI YQE UYEPUYIV EƤVQE- Do álbum «The Piper At The Gates medo de ouvir. Tenho medo que me gem emocional. Não me desagradava
ção, pensa logo num contra-exemplo, Of Dawn» [1967] levem a uma espécie de insanidade nada ir fazer um Firstborn!
e os Power Trip vieram-lhe logo à Vamos então para aquela que será Lovecraftiana. Tenho um pavor Lo- Apoiamos isso!

LOUD! 
LONG DISTANCE CALLING

A criatividade e a capacidade de trabalho dos


alemães LONG DISTANCE CALLING continua a
impressionar, sempre associada a uma tendência
natural para romper barreiras. «Boundless» marca
o regresso aos discos integralmente instrumentais,
sucedendo a mais uma experiência do frenético
processo evolutivo que o baixista Jan Hoffmann
nos ajudou a perceber.
RICARDO AGOSTINHO

Como está a ser o acolhimento a «Boun-


dless»? à ideia de agradar a toda a gente. Em pri- através de palavras. É este o nosso habitat
Fantástico! Estamos a falar com gente de meiro lugar temos de ser honestos connos- preferencial, no qual a melodia tem forma
todo o mundo, ainda há pouco falei com um co próprios, temos de sentir que estamos a e é palpável e no qual essas melodias são
jornalista do México, agora Portugal. É algo fazer o que tem de ser feito, o que vem do transformadas em sentimentos.
surreal e um enorme prazer poder fazê-lo. É nosso âmago e que estamos a fazer o me-
incrível sentir que a nossa música está disse- lhor álbum que conseguimos fazer naquele O próprio conceito de «Boundless» remete
minada por todo o lado e que gera interesse momento. Não interessa se tem vozes ou se para um certo soltar de amarras, ou estarei
nas pessoas. vai agradar a fãs antigos ou mais recentes, o errado?
que importa é que fomos honestos connos- Estás certo. Posso dizer-te que foi mais difícil
Após dois álbuns nos quais contaram com co e com quem nos ouve, e espero que isso arranjar títulos para o álbum e para as can-
vocalistas, voltam a gravar um disco total- seja compreendido. ções do que propriamente compor e gravar
mente instrumental. Porquê esta opção? o disco. Queríamos que houvesse uma inter-
Resulta da combinação de vários factores. Mas reconheces que os dois registos ante- ligação entre os títulos, a música, os vídeos
3W HMWGSW UYI Ƥ^IQSW GSQ ZS^ JSVEQ QYM- riores vos deram um reconhecimento muito e esse processo foi muito exigente, mas
to exigentes a todos os níveis, quer no pro- mais abrangente que não alcançavam com MKYEPQIRXIKVEXMƤGERXI3GSRGIMXSFEWIMEWI
cesso de composição, quer na gravação, os discos instrumentais? precisamente na liberdade, na necessidade
quer sobretudo na transposição dos temas Sentimos que aqueles discos tinham de ser de não nos sentirmos presos ao que não de-
para o palco. Começámos a perceber que feitos daquela forma, naquele momento. vemos, de nos libertarmos do que nos corrói
EW GSMWEW RɩS IWXEZEQ E ƥYMV HI JSVQE 2ɩS Ƥ^IVEQ TEVXI HI UYEPUYIV TPERS TVI- e faz perder tempo e energia.
natural e não queríamos forçar nada para meditado para ganhar um Grammy! [risos]
soar ou acontecer de determinada forma. O processo criativo conduziu-nos naquele Acredito que o próprio espírito no seio da
Sentimos necessidade de voltar ao lado sentido e experimentámos fazer algo que FERHE RIWXI QSQIRXS VIƥMGXE IWWI WIRXM-
simples das coisas e de voltar à nossa zona ainda não tínhamos feito, de forma muito mento.
de conforto, algo como um regresso às raí- natural e sem compromissos. As coisas Sim, há um excelente ambiente na banda.
zes, mas com o acréscimo de experiência acabaram por resultar e por agradar a Estamos muito entusiasmados e orgulho-
entretanto adquirida. Os dois discos com muitas pessoas que não nos conheciam WSW GSQ S UYI Ƥ^IQSW RIWXI HMWGS I QYM-
ZS^ JSVEQ QYMXS MQTSVXERXIW TEVE RɸW I Ƥ- e isso foi obviamente positivo. Mas com to motivados para colocar estes temas em
zeram parte de um processo que tínhamos este regresso a discos instrumentais sen-
obrigatoriamente de atravessar para che- timos que a música surge de forma mais
garmos até aqui. natural, que os sentimentos estão mais
ɦ ƥSV HE TIPI QIWQS UYI WINEQ XVERWQM-
Temes que este álbum seja visto como um tidos através de riffs e de melodias e não
retrocesso face ao que andavam a fazer?
Sinceramente, não quero saber. Como em
tudo na vida, haverá sempre quem gosta e
UYIQ HIXIWXE I RɩS TSHIQSW ƤGEV TVIWSW

26 LOUD!
palco. Isso motiva-nos, faz-nos sentir livres
e intensos, o que só contribui para que tudo
aconteça de forma mais natural e inspirada.
“É bom teres rotina se fores médico
Os próximos concertos incluirão temas dos
num hospital, mas na arte a rotina mata,
álbuns com vozes?
Não, serão focados sobretudo no «Boun- é veneno. É importante teres novas
dless» e num reportório instrumental.
GZRGTKșPEKCUPQXQUFGUCƓQUŭ
E Portugal fará parte dos planos?
Gostaríamos imenso de regressar a Portu-
gal. Os concertos que aí demos foram fan-
XɧWXMGSWQEWƤRERGIMVEQIRXIɯGSQTPMGEHS Foi um percurso cheio de altos e baixos, I\TIVMɰRGMEW RSZSW HIWEƤSW 5YERHS GEMV-
ir a Portugal sem ir a França ou a Espanha. como em tudo na nossa vida. Começámos mos na rotina a banda acaba. Queremos
Adoro o vosso país, a vossa comida, a vos- esta banda apenas para nos divertirmos a deixar uma marca, vincar uma personalida-
sa mentalidade e a vossa forma calorosa de ocupar o tempo com algo que gostávamos de e isso não se faz quando entramos no
receber. Portugal é um país lindíssimo e cus- de fazer e de repente temos seis álbuns piloto automático. É necessário um esforço
ta-me ver a situação complicada pela qual editados. É incrível! Queremos continuar a GSRWXERXI HI VIMRZIRɭɩS I HI HIWEƤS E RɸW
têm passado nos últimos anos. Se o Ronaldo HIWEƤEVQSRSW I E WYVTVIIRHIVRSW I ESW próprios.
pagar os meus impostos em Portugal, irei já que nos ouvem. Não queremos cair na rotina
viver para aí! [risos] Digo isto meio a brincar, nem encarar a banda como um emprego. Há 7IRXIW UYI Nɧ GSRWXMXYIQ YQE MRƥYɰRGME
mas ao mesmo tempo de forma muito séria. que manter as coisas interessantes, puxar para outras bandas?
-HIRXMƤGSQIQYMXSGSQSZSWWSTEɳW os nossos limites a cada novo disco e, dessa Sim, e isso é de loucos. Eu ainda não me
forma, os dez anos passam a voar. habituo a dar autógrafos, não nos vemos
Celebraram recentemente o vosso décimo como estrelas de rock, mas sentimos que
aniversário. Chegado a este ponto, como Achas que a rotina pode matar as bandas e fazemos algo que inspira as pessoas e isso
analisas o percurso até aqui? os artistas? é muito importante. Eu quis começar uma
Sim, claro. É bom teres rotina se fores mé- banda depois de ouvir os Entombed, foram
dico num hospital, mas na arte a rotina a minha primeira grande inspiração. Primei-
mata, é veneno. É importante teres novas ro o death metal e mais tarde os Tool, e o
ímpeto de começar a explorar a colecção
de discos do meu pai com imenso rock e
prog dos anos 70 que eu menosprezava
quando era miúdo, simplesmente porque
não conseguia perceber aquela música.
Estamos sempre a evoluir, mas temos de
começar por algum lado, e é incrível sentir
que há miúdos a pegar em instrumentos
por causa de nós.

LOUD! 27
EARTHLESS
Criados em 2001 e tornados famosos como uma banda de space rock
psicadélico instrumental, os EARTHLESS têm uma surprea para
todos aqueles que os conhecem. «Black Heaven», o muito aguardado
sucessor do épico «From The Ages» não só marca a estreia do trio para
C0WENGCT$NCUVEQOQCKPFCPQUCRTGUGPVCUKIPKƓECVKXCUOWFCPȖCU
#QSWCTVQNQPICFWTCȖȒQFGKZCORCTCVTȐUCUNQPICUjams espaciais,
substituindo-as por uma abordagem mais directa e sucinta. Sobre esta
EQNGEȖȒQFGUGKUVGOCUGOSWGťUWTRTGUCFCUUWTRTGUCUКťSWCVTQUȒQ
XQECNK\CFQUEQPXGTUȐOQUEQOQUKORȐVKEQGOWKVQTGSWKUKVCFQ/CTKQ
Rubalcaba, talentoso baterista deste e de outros projectos.
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

Como te sentes em relação a este regresso família, prefere andar em digressão do que do último disco quando comecei a falar com
dos Earthless aos discos? estar em casa, por isso não me posso quei- os jornalistas... Esse período foi, muito prova-
*ERXɧWXMGSɔQIWQSQYMXSFSQIWXEVƤREP- \EV?VMWSWA%PɯQHMWWSTVIƤVSQMPZI^IWJE^IV velmente, o mais activo de toda a carreira da
mente de volta com os Earthless. Para mim, isto, ganhar a vida a tocar rock, do que ter um banda em termos de concertos, por isso não
em termos pessoais, os últimos anos têm trabalho das nove às cinco. Estar fechado me parecia sequer que se tivesse passado
sido muito atribulados no que toca a traba- num escritório não é, de todo, vida para mim. assim tanto tempo. É incrível como, à medida
lho... Estive uns tempos a tocar com os OFF! UYIZEQSWƤGERHSQEMWZIPLSWXYHSTEVIGI
e também com os Hot Snakes, com quem te- O teu envolvimento com os OFF! e com os acontecer mais depressa. O tempo voa, man.
nho andado em digressão nestes últimos me- Hot Snakes teve, de alguma forma, impacto
ses, por isso não tenho estado propriamente no período de quase cinco anos que os Ear- O comunicado de imprensa que acompanha
parado. Pelo meio ainda gravei o álbum com thless estiveram sem gravar música nova? o «Black Heaven» menciona que estavam
os Earthless. Não é propriamente fácil gerir Sou suspeito para responder a essa pergun- um pouco receosos de encetar o processo
o esquema de trabalho de três bandas. Às XEũWIEƤ^IWWIWESWSYXVSWHSMWQIQFVSW de composição. Porquê?
vezes as coisas complicam-se em termos de do grupo, eles provavelmente respondiam O nosso álbum anterior, o «From The Ages»,
disponibilidade e tenho de fazer um esforço de forma diferente –, mas acho que não. E foi escrito numa altura em que o Isaiah [Mi-
consciente para que tudo aconteça, mas no é curioso porque só me apercebi que se ti-
fundo é um enorme privilégio ser músico e nham passado cinco anos desde a edição
estar nesta posição. É bom ser requisitado e,
sobretudo, estar constantemente ocupado.
Sou daqueles tipos que, apesar de ter uma

ENERGIA
ELÉCTRICA
tchell, guitarrista/vocalista] ainda vivia aqui
em San Diego. Tínhamos a nossa sala de
“As pessoas habituaram-se a ver-nos
ensaio, juntávamo-nos umas duas ou três
vezes por semana para “dar uns toques” e, à como uma banda instrumental de rock
semelhança do que se tinha passado até ali,
as canções iam tomando forma assim. Era psicadélico e, desta vez, transformámo-
tudo muito fácil e conveniente, sabes? Tínha-
mos o nosso espaço, fazíamos umas jams e
íamos construindo as canções ao nosso rit-
nos numa coisa diferente – vai ser
mo, sem quaisquer pressões. Foi assim que
Ƥ^IQSW EW GSMWEW HIWHI UYI RSW NYRXɧQSW
EWTKQUQXGTEQOQQRȦDNKEQTGCIGŭ
em 2001, por isso era tudo muitíssimo con-
fortável. Entretanto o Isaiah decidiu mudar-
WI TEVE SYXVE GMHEHI ũ UYI ƤGE E GIVGE HI esse lado improvisacional da nossa música, seguido. As pessoas habituaram-se a ver-
oito horas de distância – e, claro, isso veio al- por isso achámos que o mais interessante -nos como uma banda instrumental de rock
terar de forma profunda o nosso método de seria aproveitar esta mudança de paradigma psicadélico e, desta vez, transformámo-nos
trabalho. De repente deixou de ser tão fácil para tentar uma abordagem diferente. numa coisa diferente – vai ser curioso ver
juntarmo-nos e isso fez com que tivéssemos como o público reage. Não nos sentámos e
de enfrentar o processo de composição de Que tipo de impacto é que a distância que decidimos fazer algo de propósito para cho-
uma forma diferente, mais sucinta. vos separa teve no processo de composição? car fosse quem fosse, mas sabíamos que
Estando afastado de nós, o Isaiah acabou o Isaiah tinha uma voz muito boa e, tendo
O «Black Heaven» é, de alguma forma, uma por ter um papel muito mais preponderante em conta que queríamos experimentar uma
reacção directa ao «From The Ages», cujo no processo que no passado. Fez muitas abordagem diferente, porque não usar a nos-
tema-título era um épico psicadélico com maquetas, com riffs e melodias vocais, que sa arma secreta? Decidimos então manter
mais de meia-hora de duração? nos ia enviando e, depois, eu e o Mike [Egin- todos os elementos que fazem com que os
De certa forma, sim. Por um lado, não quería- ton, baixista] juntávamo-nos na sala de en- Earthless sejam os Earthless e juntar-lhes
mos estar a repetir-nos e, por outro, não que- saio e íamos explorando as ideias, limando as vocalizações, para apimentar um pouco
ríamos escrever outro tema que ocupasse os arestas e trabalhando nos arranjos. Acabou mais as coisas. É engraçado porque, quan-
dois lados de um disco de vinil. [risos] Além por ser, uma vez mais, um enorme esforço de do começámos a tocar, as pessoas acusa-
disso, não é fácil estruturar temas assim, grupo, mas desta vez tivemos inevitavelmen- vam-nos de ser demasiado auto-indulgentes.
sem o luxo de podermos passar uns meses te de fazer as coisas de forma mais focada Diziam que o que fazíamos era masturbação
a tocar juntos e a fazer as coisas crescerem, e acabou por ser bastante mais produtivo do e coisas assim. Agora, que gravámos um ál-
por assim dizer. Sim, podíamos perfeitamen- que tínhamos imaginado de início. bum mais estruturado, vai ser giro ver o que
te ter ido para o estúdio, carregar no record e dizem. Provavelmente desta vez vão acusar-
começar a tocar, que foi precisamente o que -WWS VIƥIGXMYWI SFZMEQIRXI RS VIWYPXEHS -nos de nos termos vendido ou outra parvoí-
Ƥ^IQSW RS RSWWS HMWGS HI IWXVIME QEW Pɧ ƤREP3WXIQEWWɩSQYMXSQEMWHMVIGXSWI ce qualquer desse género. [risos]
IWXɧɔEPKSUYINɧƤ^IQSWRSTEWWEHSIXI- além disso, 70% do material é vocalizado.
mos várias gravações ao vivo que mostram Pois, isso vai surpreender quem nos tem Já sabemos que é impossível agradar a
toda a gente.
Isso mesmo... e nós nem tentamos! Nesta
banda, o mais importante é estarmos todos
satisfeitos com o que fazemos, e tudo o res-
to vem por acréscimo. Sei que isto soa egoís-
ta, mas na música, e na arte em geral, temos
de ser um bocado egoístas.

Gravaram com o Dave Catching, nos icóni-


cos Rancho De La Luna, em Joshua Tree.
Que tal correu essa experiência?
Foi altamente! Aqui há uns anos, os OFF! e os
)EKPIW 3J (IEXL 1IXEP Ƥ^IVEQ YRW UYERXSW
festivais juntos na Europa e foi aí que travei
conhecimento pela primeira vez com o Dave.
Fomos mantendo o contacto e, desde aí,
falámos na hipótese de ele gravar um disco
GSQ SW )EVXLPIWW %GSRXIGIY ƤREPQIRXI
agora. [risos] Percebi desde logo que era o
tipo indicado para trabalhar connosco, não
interfere no processo de composição, mas
tem boas ideias no que toca aos sons e à
forma como os instrumentos devem ser gra-
vados. Felizmente, posso dizer que não me
IRKERIMIƤGɧQSWQIWQSQYMXSWEXMWJIMXSW
GSQSVIWYPXEHSƤREP3EQFMIRXIRS6ERGLS
De La Luna é fantástico e, como estamos
basicamente no meio do nada, não há dis-
tracções. Não houve outro remédio senão fo-
carmo-nos a 100% no disco que estávamos
a gravar, o que foi óptimo. Além disso, acon-
teceu tudo de forma descontraída, porque o
ambiente do estúdio é muito familiar e casei-
ro, em vez de ser clínico como é habitual. As
guitarras, por exemplo, foram captadas num
quarto e a mistura foi feita da sala de estar, o
que tornou o processo muito cool.

LOUD! 29
FU MANCHU
,ȐWOECUQUȘTKQFGNQPIGXKFCFGGFGEQPUKUVșPEKC
QUPQTVGCOGTKECPQU(7/#0%*7GFKVCOCIQTC
QUGWyNQPICFWTCȖȒQk%NQPG1H6JG7PKXGTUGz
(QOQUXGTUGQUKORȐVKEQIWKVCTTKUVCXQECNKUVC
Scott Hill se sente um bocado velho.
JOSÉ CARLOS SANTOS

RIFFS
INFINITOS
O «Clone Of The Universe» é o vosso 12º
disco. A banda já tem quase 30 anos, e o
tas a tocá-lo na íntegra. Reeditámos ainda o
«California Crossing», tudo isto foram coisas
«No One Rides For Free» está quase a fazer que nos tomaram algum tempo. Começá-
25. Tudo isto são frases absolutamente ma- mos a trabalhar no «Clone…» já em Fevereiro
lucas, porém verdadeiras! HITSVMWWSRSƤREPHIGSRXEWEGEFSY
Nunca teria pensado em nada disso quando TSVƤGEVTVSRXSHIJSVQEVIPEXMZEQIRXIVɧTM-
começámos esta banda! Que estaríamos da. Na verdade, tínhamos temas a mais es-
EMRHE TSV EUYM ES ƤQ HI  ERSW# -QTSW- critos para o álbum, tivemos que prescindir
sível… Mas está tudo bem. Acho que des- de alguns!
de que continuemos a fazer discos e a dar
concertos, e que estejamos orgulhosos de E o processo foi semelhante ao que costu-
ambas as coisas, vai continuar tudo bem, é mam fazer?
simples assim. Nunca penso acerca desses Foi igual, sim. Não vale a pena mexer no que
QYMXSWERSWUYINɧPIZEQSW:EQSWXIVS{ funciona. Todos os nossos temas come-
aniversário em 2020, e vamos ter que pensar çaram com um riff, e assim continua a ser.
IQ EPKYQE GSMWE Ƥ\I TEVE IWWE EPXYVEŷ XEP- Trabalhamos na parte instrumental primeiro,
vez um monte de concertos seguidos onde depois gravamos tudo para ouvir e ter a cer-
vamos tocar todos os temas que sabemos teza que estamos satisfeitos com todos os
tocar? [risos] arranjos, e depois eu escrevo as letras e gra-
vo as vozes. No fundo, estamos a tentar gra-
Aprovado! [risos] Olhando para trás, apesar var canções que sejam divertidas de tocar
de teres dito que estão orgulhosos tanto ao vivo, é esse o único objectivo constante.
dos discos como dos concertos, há algum
álbum que aches agora que poderias ter fei- E quais delas achas que vão ser mais diver-
to de forma diferente? tidas? Pergunto isto porque, à excepção do
Talvez só em termos de misturas diferentes último tema (já lá vamos!), é difícil arranjar
em alguns temas, é mesmo a única coisa em destaques no resto do «Clone…», parece ser
que mexeria se pudesse. Estou genuinamen- um disco extremamente sólido e nivelado
te satisfeito com os nossos discos todos. E por cima.
o novo é bem capaz de ser o meu favorito. Percebo isso, e acho que tem a ver com
É muito difícil fazer escolhas deste género, o tal facto de termos tido que escolher os
mas adoro o som que temos neste trabalho. melhores temas de todos os que tínhamos
escrito, e de termos que cortar parte des-
E foi um trabalho que demorou um bocadi- ses próprios escolhidos também. Quería-
nho a aparecer, já que o «Gigantoid» já tem QSW UYI RS ƤREP VIWXEWWIQ Wɸ QIWQS
quatro anos. Quanto desse tempo foi dedi- as canções que vamos querer tocar todas
cado a criar o «Clone Of The Universe»? as noites em palco. Esse último tema, «Il
Bom, pelo meio reeditámos o «King Of The Mostro Atomico», saiu mesmo como que-
6SEH|IƤ^IQSWZɧVMEWHMKVIWWɺIWGSQTPI- ríamos…

30 LOUD!
Fala-nos então dessa jam monstruosa, que se ser a segunda parte do álbum. Nunca tes sobre essa experiência mantém-se?
dura dezoito minutos e onde tocam com um tínhamos feito um tema com esta duração Não estás cansado, de alguma forma, de
tal de Alex Lifeson daquela bandinha cha- e achámos que agora era o momento ideal. andar por aí, longe de casa, durante tanto
mada Rush… Como o nosso manager é amigo do mana- tempo?
Isso tudo e foi gravado num só take! [risos] ger do Alex Lifeson, uma coisa acabou por Não, man. Sinceramente. Adoramos tocar ao
Tínhamos cerca de quinze temas para o dar azo a outra, e o Alex concordou em to- vivo, e isso é o principal. Gostamos de poder
disco, a certa altura, e mesmo assim con- car guitarra nesse tema. Somos todos gran- aparecer e tocar muito alto. Dito isto, já não
tinuávamos a inventar riffs novos muito des fãs dos Rush, e é difícil acreditar que sou capaz de estar na estrada durante dez
Ƥ\IW )Q ZI^ HI IWGVIZIV XIQEW MRXIMVSW isto aconteceu mesmo… meses por ano. Isso é algo que o tempo já se
EGEFɧQSWTSVHIGMHMVƤGEVETIREWGSQSW Ʉ encarregou de ir mudando…
melhores riffs, e juntá-los todos num único Falávamos há pouco em tocar ao vivo…
XIQEPSRKSUYIƥYɳWWIFIQIUYITYHIW- ESƤQHIWXIWERSWXSHSWEUYMPSUYIWIR- É difícil construir a vossa setlist? É um “bom
problema”, claro, mas mesmo assim deve
levar a momentos complicados.
Sim, é uma questão sensível. Há sempre te-
mas que as pessoas querem ouvir e que te-
QSWUYIHIM\EVHITEVXI)RSƤREPHIGSRXEW
temos umas 170 canções por onde escolher!
[risos] Se alguém gritar o nome de um tema
num concerto, é possível que o toquemos. Se
nos lembrarmos dele. [risos]

“Não vale a
pena mexer no
que funciona.
Todos os
nossos temas
começaram
com um riff,
e assim
EQPVKPWCCUGTŭ

Fizeste recentemente uma playlist para


uma revista estrangeira, algo parecido com
a nossa Mixtape, onde expuseste algumas
MRƥYɰRGMEW I EVXMWXEW JEZSVMXSW ũ IVE YQE
colecção bestial de temas, incluindo Tad
ou Melvins. Qual é a tua relação com es-
tas bandas que te acompanham há muitos
anos? E estás aberto a que bandas mais
novas também possam entrar neste teu
“panteão”?
Bom, ainda ouço muito bandas como Tad,
Soundgarden, Mudhoney, Helmet ou os Mel-
vis, mas sinceramente não estou fechado a
nada. Por exemplo, gosto muito de uma ban-
da mais nova, chamada Wrong. O que inte-
ressa é a música ser boa.

Fazendo 30 anos, já nem vale a pena sepa-


rarem-se, não é? Vês os Fu Manchu a durar
para sempre?
Desde que continuemos a ter diversão mara-
da que temos quando tocamos, gravamos e
andamos em tour, então vamos seguir juntos,
com todo o gosto. Continuarmos a debitar
VMJJWMRƤRMXSWXEQFɯQENYHEQYMXS?VMWSWA

LOUD! 31
THE CROWN

MARÉ
VENENOSA
Depois de um longo período de silêncio, em que 7IM UYI XI WIRXIWQYMXSGSRƤERXIGSQIWXI
novo disco, muito mais do que com os dois
chegaram a dar a banda como terminada, os THE anteriores. Achas que é um trabalho mais
bem conseguido?
CROWN regressaram à actividade em 2009. Desde 7I SPLEVIWTEVEXSHSWSWHMWGSWUYIƤ^IQSW
GPVȒQCRGPCUFQKUNQPICFWTCȖȒQSWGFGKZCTCODCU- torna-se evidente que foram mais fortes quan-
do trabalhámos de uma certa forma, que não
tante a desejar. A chama parecia perdida e muitos fãs JSM S UYI EGSRXIGIYRSWERXIVMSVIW6IƤVSQI
às circunstâncias. Agora estamos numa posi-
FGNQPICFCVCťGUVGGUETKDCKPENWȜFQťVGTȒQRGPUCFQ ção em que podemos trabalhar como gosta-
que jamais voltariam aos grandes discos. Engana- mos, ensaiar todos juntos, mais do que uma
vez por semana, e ir para estúdio como banda,
TCOUG#DCPFCUWGECGUVȐFGTGITGUUQȏ/GVCN$NC- em vez de o fazermos separadamente, com
cada um a trabalhar sozinho. Tudo isso esti-
FGGUKOVCODȘOCQUITCPFGUȐNDWPUEQOk%QDTC mula muito a nossa criatividade. No «Death
5RGGF8GPQOzWORQTVGPVQFGVJTCUJFGCVJOGVCN Is Not Dead» ensaiámos 60% dos temas, mas
os restantes foram feitos à pressão já em es-
FQSWCNQIWKVCTTKUVCGRTKPEKRCNEQORQUKVQT/CTMQ túdio. E no «Doomsday King» não ensaiámos
uma única vez. Na altura teve de ser assim,
Tervonen, nos falou com grande paixão. para conseguirmos fazer os discos, mas ago-
ra podemos ser uma banda a sério, trabalhar
JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO
juntos nos arranjos e ter ideias fantásticas,

32 LOUD!
Este é o vosso décimo longa-duração. É es- E como foi para ti teres um produtor? A pro-
pecial para vocês? Sentiram mais pressão dução é extremamente poderosa...
por ser um marco importante? Estou feliz por o Fredrik ter concordado com a
Pressão não diria. Acho que foi sobretudo nossa abordagem. Ele sabe como fazer aque-
entusiasmo, até porque assim que enviámos las super-produções à Dimmu Borgir, que, no
SWTVMQIMVSWXIQEWUYIƤ^IQSWTEVEE1IXEP entanto, não nos servem. Gosto de como eles
&PEHI IPIW ƤGEVEQ XɩS I\GMXEHSW UYI EGE- soam, mas nós precisamos de algo mais cru,
FEVEQTSVRSWMRWTMVEVIHEVGSRƤERɭETEVE menos polido. E foi por aí que fomos. Dissemos
fazermos ainda melhor. Acho que se conse- que queríamos algo mais punk, embora com
gue sentir essa fome, essa vontade incrível peso e pujança e acho que ele captou exacta-
que tínhamos de fazer um disco especial. mente o que pretendíamos. Deu o seu toque
Uma das premissas para este álbum é que de Midas e conseguiu manter a cena crua.
não poderia ser apenas só mais um, tinha de 2EHEHIQEWMEHSJSVɭEHSSYEVXMƤGMEP2ɩSWSE
marcar a diferença pela qualidade da músi- como 90% das produções modernas, não vive
ca. Houve uma altura em que tocar nos The de samples, tem uma energia real. Fiquei muito
'VS[RHIM\SYHIWIVHMZIVXMHSIJSMEɳUYIƤ- WEXMWJIMXSGSQSVIWYPXEHSƤREPIGSQSJEGXS
zemos uma pausa. Hoje em dia, a banda não de só ter de me concentrar em tocar guitarra.
é o nosso ganha-pão e vive apenas da mera
paixão pela música, logo tudo é mais inspira- Este é um disco muito directo, mas tem
HSV(YVERXIEEPXYVEHSm4SWWIWWIH|HIM- algumas surpresas e estruturas que nem
xámos os nossos empregos e tentámos que sempre são óbvias. É provavelmente o vos-
a banda fosse o nosso sustento. Tocámos so trabalho mais variado e completo até à
mais do que nunca, mas percebemos que data, concordas?
não ia funcionar dentro deste género mais Sim, concordo contigo. Nós nunca sabemos
extremo. É demasiado difícil e, com o passar muito bem em que direcção vamos. Acho
do tempo, começa a consumir-te e a insta- que a primeira canção dá o mote. Depois de
lar-se uma carga negativa. Neste momento escrever três temas brutais, se calhar sin-
sentimo-nos muito felizes pela situação em to necessidade de compor algo numa onda
que estamos. Temos a liberdade de poder di- diferente, mais lento, como a «We Avenge»,
zer “não, obrigado”, o que é fantástico. por exemplo. Depois quando começas a ver

“Aquelas super-produções à Dimmu


Borgir não nos servem. Gosto de como
eles soam, mas nós precisamos de
CNIQOCKUETWOGPQURQNKFQŭ
Já mencionaste que regressaram à Metal a big picture percebes que se calhar um tema
Blade, como foi esse processo? Foram eles instrumental pode funcionar bem. Sei lá,
que vos contactaram? acho que vamos construindo, como se fosse
Temos uma longa história com a Metal Blade Tetris, as coisas vão encaixando umas nas
e por isso foi um processo natural, após dois outras, com formatos diferentes.
álbuns na Century Media. No início do ano
passado, decidimos que queríamos gravar Fala-nos da capa do Christian Sloan Hall,
num estúdio a sério e que eu não seria o pro- que é memorável. Foi tudo da cabeça dele
dutor. Só queria sentar-me num sofá e tocar ou deram-lhe a ideia do que queriam?
guitarra. E aí optámos por voltar aos Studios A capa vai ao encontro do conteúdo lírico
enquanto bebemos umas cervejas. O último Fredman, onde gravámos o «Deathrace King» que é muito negro neste álbum e represen-
álbum em particular foi muito difícil para mim, I S m4SWWIWWIH | 2IWWE EPXYVE S IWXɽHMS ta essa onda de negatividade que ameaça
não só como compositor, mas como guitarris- era noutro local, mas agora está bem mais engolir-nos – humanidade – em breve. Esta-
XEIRSƤREPXEQFɯQGSQSFEXIVMWXETSVUYI perto de onde moramos, então decidimos ir mos a experienciar muito medo, muito ódio e
fui eu que acabei por gravar a bateria e fazer a fazer um teste e gravar apenas quatro temas, muita sede de vingança, um pouco por todo
QMWXYVEƤREP*SMYQEI\TIVMɰRGMEYQFSGEHS para ver como nos sentíamos a trabalhar com o mundo. É um tsunami que de certa forma
solitária em estúdio. Sei que muitas bandas o Fredrik Nordström. Já sabíamos que era um inunda a nossa realidade e nos suga, uma
KVEZEQ EXVEZɯW HE XVSGE HI ƤGLIMVSW I RɸW dos melhores, mas queríamos perceber como espécie de entidade malévola. Acho que é a
também tentámos, mas se funciona para os se adaptaria a trabalhar connosco. Ser um es- melhor arte que já tivemos num disco de The
SYXVSW TEVE RɸW HIƤRMXMZEQIRXI RɩS Hɧ 8I- túdio próximo foi óptimo, porque não pode- Crown e pelas cores acaba por se distinguir
nho a noção de que o álbum anterior é mais ríamos fazer como os At The Gates e ir duas da maioria das capas. Nós demos-lhe a ideia
fraco e não tem o poder que costumamos ter. ou três semanas para o Reino Unido para e discutimos internamente que tipo de estilo
gravarmos um disco. Seria quase impossível. queríamos desta vez. Pensámos no Kristian
Portanto, este foi um processo de composição Então fomos durante uma semana para os “Necrolord” Wåhlin, mas acabámos por optar
e gravação muito aberto e dinâmico, certo? Fredman, gravámos os quatro temas e gostá- pelo Christian, que é fã da banda há muitos
Sem dúvida. Dependemos muito uns dos mos tanto que enviámos para a Metal Blade. anos e que, no passado, pouco antes de nos
outros e contribuímos sempre muito para as A reacção deles foi muito entusiasta e a partir separarmos, até já nos tinha abordado para
partes dos outros membros. Eu adoro dar daí foi um processo quase instantâneo. trabalhar connosco. A ideia da onda foi do
ideias para as vozes e para a bateria. Tenta- Magnus [Olsfelt, baixo], ele transmitiu-a ao
mos sempre deixar os egos e as lideranças Que temas eram esses? Christian e ele fez esta vaga gigante com cen-
de lado e manter o foco no que é realmente «Iron Crown», «Ride The Fire», que é o lado B do tenas de caras, muito Morbid Angel/«Altars
importante para as canções. single, «In The Name of Death» e «Rising Blood». Of Madness», que eu simplesmente adoro.

LOUD! 33
MINISTRY

5GO SWG PCFC Q Ɠ\GUUG GURGTCT GO OGCFQU FG 


LȐ PC UGSWșPEKC FG WO HWTKQUQ VTȜRVKEQ FG ȐNDWPU FG
protesto contra o governo liderado por George W. Bush,
o muito talentoso e controverso Al Jourgensen decidiu
EQNQECTCECTTGKTCFQU/+0+564;GOstand by. Depressa
se tornou óbvio, no entanto, que tinha deixado coisas
por dizer com o electro-thrash que inspirou toda uma
IGTCȖȒQFGDCPFCUCWUCTQUUKPVGVK\CFQTGUGQUsamples
EQOQGZRTGUUȒQȐURGTCFCUWCCPIȦUVKCKPVGTPC&GRQKU
FG WPU CPQU FG UKNșPEKQ G FC VTȐIKEC OQTVG FG /KMG
5ECEEKCQRKQPGKTQFQOGVCNKPFWUVTKCNťWOTȡVWNQSWG#N
CDQOKPCEQOQPQUEQPHGUUQWťXQNVQWȏECTICGO
com «From Beer To Eternity», um disco de homenagem
ao malogrado guitarrista e amigo de longa data. Agora,
CRȡUCHWIC\CXGPVWTCCUQNQ5WTIKECN/GVJ/CEJKPGSWG
FGWQTKIGOCWOTGIKUVQJQOȡPKOQGOQOȦUKEQ
XQNVC C TGUUWUEKVCT Q ECFȐXGT FC UWC DCPFC FG UGORTG
com a novidade «AmeriKKKant». Sobre o retorno ao
CEVKXQ G Q UGW RTȡRTKQ 'UVCFQ FC 7PKȒQ EQPXGTUȐOQU
EQOWOFQURGTUQPCIGPUOCKUECTKUOȐVKEQUFGUGORTG
FCJKUVȡTKCFCOȦUKECGZVTGOCEQPVGORQTȑPGC
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

34 LOUD!
7/#2'.1Ǵ.76#

D
epois de mais uma paragem, decidis-
te trazer de volta ao activo os Ministry.
Porquê?
,ɧ YQ TEV HI ERSW Ƥ^ YQ HMWGS GLEQEHS
«Surgical Meth Machine» e as coisas até cor-
reram bem, mas esse é o meu projecto, por
assim dizer, a solo, e este disco novo foi mui-
to mais um esforço de banda, por isso é que
decidi que estes temas tinham de ser Minis-
try. O Mike Scaccia morreu, era o meu melhor
EQMKS I RE EPXYVE ƤUYIM WIQ WEFIV QYMXS
bem o que queria fazer com os Ministry.
Achava, inclusivamente, que tinha de enter-
rar a banda com ele. Depois comecei a traba-
lhar nestes temas e o disco transformou-se
numa enorme colaboração com uma série
de gente, por isso achei que fazia sentido
chamar-lhe Ministry. Desde que acordei na-
quele fatídico dia de Novembro de 2016 e
dei com um cheeto laranja, muito zangado,
a gritar connosco, percebi que tinha de fazer
qualquer coisa. Pensei para comigo: “Al, está
na altura de fazer um disco!” [risos]

O Donald Trump inspirou-te, portanto.


Pois. Nessa altura, por acaso, tínhamos uns
contractos a cumprir e havia datas para fazer
com os Ministry na Europa. Fizemos os con-
GIVXSWEVVERNIMWYFWXMXYXSTEVES1MOIIRSƤ-
nal, percebemos que soávamos mesmo muito
bem a tocar todos juntos. Resultado, terminá-
mos a tour e fomos para um estúdio durante
um mês, só para “desbundar”. Isso foi antes
HEWIPIMɭɺIWIEMRHERɩSLEZMEREHEIWTIGɳƤGS
pensado, nem havia canções – eram só ideias
WSPXEW)RƤQVIGSPLMEPKYQEWGIREWWɸPMHEWI
comecei a trabalhá-las, em colaboração com
uma série de gente, para fazer um álbum dos
Ministry. E um bom álbum dos Ministry, se é
UYI QI TIVQMXIW )Y WIM UYI Ƥ^ XVɰW ɧPFYRW
anti-Bush durante os anos 2000, é fácil pen-
sar que isto é “apenas” um disco anti-Trump,
mas... é muito mais profundo que isso.

Menos literal é, certamente.


Fiquei esgotado de bater no Bush e, desta vez,
tentei fazer as coisas de uma outra forma.
Os três discos anti-Bush são vistos como um
todo, mas têm visões diferentes do mesmo
problema, por isso não são assim tão literais
também. No primeiro estava zangado com ele,
mas no segundo já estava zangado com ele e
com o resto do mundo. Zangado com o Bush e
com o resto do mundo. Podes citar-me. [risos]
)RƤQ RS XIVGIMVS S VIWXS HS QYRHS XSHS Nɧ
olhava para ele com desdém, por isso perdeu
a piada. O Bush tornou-se um alvo demasia-
do fácil... e isto é tudo cíclico, porque tenho de
escrever recorrentemente álbuns destes. Co-
meçou tudo com o Reagan, depois tivemos de
aturar o Bush e agora temos o Trump no polei-
ro. Ciclicamente temos de aturar uma destas
ƤKYVEW QSVɸRMGEW IRUYERXS SW VMGSW ƤGEQ
QEMWVMGSWISWTSFVIWƤGEQQEMWTSFVIW

LOUD! 35
Em 2016, numa entrevista de promoção ao Esses tipos têm uma agenda... Ou então es- me sentava a tocar com uma banda no estú-
álbum dos Surgical Meth Machine, disseste tão toldados pelo medo em relação ao que HMS(IWHIUYIƤ^IQSWSm*MPXL4MK|PɧIWXɧ
que o Trump era “só um idiota”. Imaginaste as possam pensar ou dizer deles. Eu estou, Essa tinha sido a última vez que tinha feito
que podia ganhar as eleições? literalmente, a cagar-me para o que as outras um disco sem ser só com um engenheiro de
Não, de todo. Se alguma vez imaginei o Trump pessoas pensam acerca do que escrevo. Eu som e computadores, a trabalhar numa sala
a ser presidente dos Estados Unidos ou algo sei bem o que vejo, e escrevo sobre isso. Ima- sem janelas durante meio ano. Desta vez,
desse género? Não, só o imaginei como pre- gina que via um OVNI. Via mesmo, a merda houve um engenheiro, computadores e a tal
sidente dos caixotes de lixo do meu bairro. E do OVNI aterrava no jardim da minha casa. É sala sem janelas durante seis meses, mas o
com sorte! Para ser sincero, ainda acho que óbvio que ia escrever sobre isso, independen- esqueleto do álbum foi escrito em apenas
é, basicamente, inofensivo. O prejudicial é o temente de achar ou não que as pessoas me um mês, com toda a gente a colaborar. De-
sistema que continua a produzir Trumps e a iam chamar maluco ou mentiroso. pois tinha as gravações e sabia que estavam
colocá-los em posições de destaque na so- lá muitas coisas boas, mas não sabia o que
ciedade. E o que é ainda pior é haver pessoas Voltando ao disco. Esta foi a terceira vez fazer com elas. Não tinha a certeza se queria
que acham que é boa ideia continuar a votar que estiveste em estúdio desde a morte do fazer um álbum dos Ministry ou outra coisa
em gente como ele. É sobre isso que este ál- Mike... Tem vindo a tornar-se mais fácil? qualquer. E aconteceu o 9 de Novembro.
bum fala. Não se trata apenas do Trump, o Não, man. E foi, sem dúvida, muito diferente
problema é muito maior que esse idiota cor do «From Beer To Eternity», onde usei muita Traçar esses paralelos com o passado pode
de laranja. Lembro-me que, na noite das elei- coisa que o Mike tinha deixado gravada. Foi WIVIRKVEɭEHSɔWIQTVIƤ\ITSVI\IQTPS
ɭɺIWQIJYMHIMXEVɦWHEQERLɩ2IWWE o primeiro disco dos Ministry que gravei sem TIVGIFIVUYIXMVEWXIƤREPQIRXIELEVQɸRM-
altura já sabia o que estava a acontecer e, ele em muito, muito tempo. Mas entretanto ca da gaveta para a «Twilight Zone», que é
quando acordei no dia seguinte, decidi, “OK, é lembrei-me de um tipo chamado Brian Jo- o tema que mais remete para o «Filth Pig»
isso mesmo. Não vou olhar para a política du- nes, que tocava nos Rolling Stones. Ele mor- neste disco.
rante uns três ou quatro meses. Vou reunir os reu e eles andam aí até agora, conseguiram Percebo o que queres dizer, sim – a «Twilight
meus pensamentos sobre o que acabei de ver sobreviver. A vida tem de continuar, temos de Zone» é bem pesadona, tem um compasso a
e provavelmente fazer um disco sobre isso.” seguir em frente. Olhando para trás, nunca meio-tempo demolidor. E eu adoro tocar har-
Durante os três primeiros meses do mandato fui gajo de ir para o estúdio com ideias pré- mónica! Sinceramente, acho que até a devia
estive, literalmente, num blackout de notícias. -concebidas do que ia acontecer – e isso, tirar da gaveta mais vezes, mas nunca me
felizmente, não mudou. Aconteceu-me muita lembro. Neste disco, como tínhamos tantas
Este disco é a banda-sonora para a queda merda nos últimos anos: mudei-me do Texas colaborações, com artistas tão talentosos,
dos Estados Unidos? de volta para Los Angeles, agora tenho um houve momentos em que senti que estava
Antes de mais, é um pedido de desculpa dos GEVXɩSUYIQIHɧEGIWWSEGERɧFMWTEVEƤRW só ali sentado, sem fazer nada de útil. [risos]
Estados Unidos ao resto do mundo... mas QIHMGMREMW HMZSVGMIMQI )RƤQ XYHS MWWS Foi num desses momentos que decidi ir bus-
não é só isso. Não são só os Estados Uni- Basicamente, tinha um vasto leque de emo- car a minha harmónica e tocar um bocado
dos que vão cair se as coisas continuarem ções diferentes para explorar. Isso deu resul- TSVGMQEHSWVMJJWɔƤ\IUYIXIRLEWRSXEHS
como estão. Isto é uma chamada às armas, tado a uns temas mesmo a rippar. O pessoal isso; acho que, de facto, resultou muito bem
só mais uma tentativa que faço para desper- vai achar que está num concerto de thrash, nessa canção.
tar algumas mentes na sociedade. É muito mas no minuto seguinte vão pensar que al-
mais profundo que ser acerca do Trump ou guém lhes meteu um ácido na bebida. Alimentaste-te muito da energia dos músi-
de qualquer outro governo de extrema direi- cos com que trabalhaste?
ta, como em França, na Áustria, na Polónia O álbum tem um total de nove temas, que Claro que sim. Colaborar com outras pes-
ou nas Filipinas. Percebes? Ainda é muito ƥYIQWIQMRXIVVYTɭɺIWGSQSYQEGERɭɩS soas é das minhas coisas favoritas quando
maior que tudo isso – o que raios se passa de quase 50 minutos. Era algo que querias chega a altura de fazer música. Sempre ado-
na cabeça das pessoas para acharem que é fazer desde o início? rei trabalhar com outros músicos e, por isso,
uma boa ideia votar nesta gente de carácter Aconteceu por mero acaso, e também por fui criando os projectos; os Revolting Cocks,
humano duvidoso para serem os nossos lí- força das circunstâncias. Os temas resul- os 10,000 Homo DJs, os LARD, com o Jello
deres?! Isso, para mim, é muito mais interes- taram todos de jams, tínhamos grandes pe- [NR: Biafra, dos Dead Kennedys]. Isso foi tudo
WERXIUYIEƤKYVEMRHMZMHYEPũWINES8VYQT daços de música gravados, por isso já havia resultado de colaborações com músicos que
ou outro palhaço qualquer. Who the fuck are IWWEƥYɰRGMERSQEXIVMEPFEWIũɯGSQSWI respeito. Adoro, por exemplo, trabalhar em
these fucking people? E porque devemos dei- todos os temas conseguissem falar uns com FERHEWWSRSVEWTEVEƤPQIW8IRLSHIIWXE-
xá-los continuarem a representar a socieda- os outros. Foi como contar uma história, belecer uma colaboração profunda com o
de em que vivemos? Na minha cabeça, não uma narrativa que se vai desenvolvendo pelo realizador e isso inspira-me. A minha visão
faz qualquer sentido. caminho. Depois foi só começar a explorar e áudio das coisas tem de completar a visão
esse processo foi muito compensador, per- dele, temos de estar 100% em sintonia e isso
Achas que os músicos, em geral, deviam ser cebi que era algo de que já sentia saudades. é muito inspirador. Nas bandas há sempre a
mais vocais em relação ao que se passa? Este foi o primeiro disco dos Ministry, grava- merda dos egos e managers e cenas desse
Sinceramente? Acho que não. Conheço uma do com uma banda a sério, desde o «Filth género envolvidos, por isso, quando a for-
série de músicos fantásticos, que escrevem Pig». Já não fazia um álbum assim desde mação é estanque, perde-se a essência da
sobre um mundo de fantasia e fazem arte 1994 ou 95, por aí. verdadeira colaboração. Eu sempre tentei
espectacular. Há por aí muito escapismo na evitar isso, trabalhando com músicos exter-
EVXIWINEIQJSVQEHITMRXYVEƤPQIPMZVSSY Percebo onde queres chegar com as com- nos sempre que possível. Trocar ideias com
disco... As pessoas também precisam disso parações ao «Filth Pig». alguém é essencial... Não fosse por mais
e há espaço para tudo, o escapismo é essen- A sério?! Cool, cool. Há muito tempo que não nada, porque ajuda muito a reforçar a tua
cial. Acima de tudo, o que não quero é que
alguém faça algo com que se sinta descon-
fortável. Porque, bem vistas as coisas, nem
toda a gente tem estofo, ou educação, ou o
que quer se seja, para ser um artista político. “[Este disco] é um pedido de desculpa
E não me parece que as pessoas devam falar
sobre o que não conhecem. Quando é assim, dos Estados Unidos ao resto do
mais vale estarem calados.
mundo... mas não é só isso. Não são
Também tens por aí muita gente das artes
que provavelmente até tem coisas válidas a só os Estados Unidos que vão cair se
dizer, mas evita fazê-lo porque tem medo de
alienar o público. CUEQKUCUEQPVKPWCTGOEQOQGUVȒQŭ
36 LOUD!
LOUD! 37
EYXSGSRƤERɭERSUYIIWXɧWEJE^IV8IRWEPM o Billy Gibbons dos ZZ Top, mas ainda não Era algo desse género que queria atingir com
alguém que admiras imenso, a dar-te a sua tive tempo para me fechar num estúdio com a «I Know Words»... Atingir esse transe. Ba-
aprovação. Não há dinheiro que pague isso. o Tom Waits. Para mim, isso seria fantástico sicamente, a ideia é hipnotizar os ouvintes
– um sonho tornado realidade. GSQSMRɳGMSHSHMWGSIRSƤQEXɯZɩSUYIVIV
Ainda há por aí alguém com quem gostas- deixar de fumar. [risos]
ses mesmo de trabalhar, mas a que ainda Fala-nos do tema de abertura, «I Know
não conseguiste chegar? Words». Tem uma vibração psicadélica, certo? 2E m8:  'LER| Lɧ YQ WEQTPI UYI ƤGE
Adorava trabalhar com o Tom Waits. Por Sabes quando vamos a um hipnotista e ele no ouvido: “You the people have the power!”
esta altura é, muito provavelmente, o único nos põe num transe, antes de começarmos Achas mesmo que as pessoas ainda têm
músico da bucket list com que me falta co- a falar dos nossos verdadeiros sentimentos? esse poder de mudar as coisas?
laborar... Já trabalhei com o Neil Young, com

38 LOUD!
O poder têm, parece é que não têm capa-
cidade para se mexer do sofá, para sair de “Nós nunca nos sentimos confortáveis a
trás dos seus iPhones e das redes sociais.
As pessoas andam mais preocupadas com fazer só metal. Tocamos todo aquele me-
a quantidade de likes que têm quando par-
tilham o vídeo de um gato a tocar piano do tal rápido e, claro, temos muitos amigos
que com uma guerra que estás prestes a
estalar ou com o que se está a passar com nessa cena, mas nunca nos sentimos uma
o serviço nacional de saúde. Tudo o que se
passa nas suas vidas é inconsequente quan- DCPFCFGOGVCN0GOUGSWGTFGKPFWUVTKCNŭ
do comparado com a merda de um gato a
tocar piano. Sabemos que, infelizmente, é
isto que se passa actualmente... e eu sei que
sou um velho rabugento, mas não há sinais Há neste disco elementos que nunca tinhas os gira-discos, em vez de usar teclados.
de que as coisas melhorem nos tempos explorado. Como surgiram as colaborações Tive de o convidar para aparecer também
mais próximos. Sabemos que, num mundo com o Arabian Prince e o DJ Swamp? no estúdio e, na digressão com os Death
perfeito, não seria assim. O povo consegui- É uma história engraçada. Conheci o Ara- Grips, esteve em palco connosco.
ria dar sempre a volta por cima. As pessoas bian Prince através de um amigo de um
têm de acordar, de começar a pensar por amigo de uma amiga. Numa festa a que Acabam por ser mundos com muito em co-
elas próprias. Os governos estão constan- nem queria ir. Não sabia quem ia lá estar. QYQ E JSVQE GSQS GSVXEWXI I GSPEWXI ƤXE
temente a manipular-nos, seja através da Bem, a verdade é que acabei a conversar em discos como o «Psalm 69» tinha muito
ameaça de uma suposta guerra nuclear, de com ele e não sabia quem era depois per- de hip-hop na génese.
uma pandemia qualquer ou seja o que for... e cebi que era o Arabian Prince, dos N.W.A.. Nós nunca nos sentimos confortáveis a fa-
toda a gente engole essas balelas. No disco Ele curtiu as cenas que eu estava a fazer, zer só metal. Tocamos todo aquele metal
de Surgical Meth Machine já tinha tentado incorporou parte disso no estilo dele e... voi- rápido e, claro, temos muitos amigos nessa
alertar para o perigo do suposto paraíso que lá! Apareceu no estúdio, começou a fazer cena, mas nunca nos sentimos uma banda
é a era da informação, mas continua a estar scratching e as coisas foram acontecendo. de metal. Nem sequer de industrial. Porque
tudo na mesma. Lamento informar-vos mas, Depois fui apresentado ao DJ Swamp, tam- uso sequenciadores e samples e merdas as-
caso não estejam a par, vivemos na era da bém por um amigo de um amigo, e ele é sim? Quer dizer, os ZZ Top também usam
desinformação. fantástico, porque mistura os samples com sequenciadores e samples, mas ninguém
os menciona quando pensa numa banda
industrial. Nunca me senti realmente con-
fortável com nenhuma tag que me tenham
colocado. Escrevo aquilo que escrevo e, às

JUST A QUICK FIX vezes, sou mais fotógrafo que músico. Tiro
instantâneos do que está a acontecer à mi-
nha volta. Às vezes isso é muito metal, ou-

P SYGEWƤKYVEWXIVɩSƤKYVEHSREGETEHE039(UYIXIRLEQWMHSQEMWQEV-
cantes para a música extrema que Al Jourgensen. Nascido em Havana, Cuba,
em 1958, Alejandro Ramírez Casas foi um pioneiro na fusão de linguagens mu-
tras nem por isso.

Falando dos teus “amigos no metal”... O


sicais díspares, desde o synth pop de início de carreira (que hoje renega), à mis- Burton C. Bell, dos Fear Factory, colaborou
tura das expressões mais extremas do rock com o legado da primeira geração no disco, correcto?
do industrial, encabeçada por bandas como Throbbing Gristle, Whitehouse ou Sim. A «We’re Tired Of It» é resultado directo
SPK. Discos como «The Land Of Rape And Honey» (de 1988) ou «The Mind Is A de muitas noites passadas a beber cerveja, a
Terrible Thing To Taste» (de 1989) revolucionaram o panorama musical da altura fumar charros e a conversar com o Burton.
e serviram de inspiração a toda uma nova geração de músicos, logo com Trent Somos bons amigos, há muitos anos, e ele
Reznor à cabeça, que tinha nos Ministry uma das suas grandes referências. O escreveu as letras e canta nesse tema, que
ɯ FIQ VɧTMHS I EKVIWWMZS 3 UYI ɯ QEMW Ƥ\I
sucesso comercial surgiria com «Psalm 69: The Way To Succeed And The Way
ɯ UYI GSRƤVQIM Lɧ TSYGS UYI IPI ZEM TEVXMGM-
To Suck Eggs» (de 1992), mas o culto de Jourgensen suplantaria os méritos en-
par na próxima digressão. O Burton vai andar
quanto músico ou produtor, tendo neste papel sido requisitado até por Madonna,
pelo mundo a cantar esse e outros temas
colaboração que declinou devido ao que alega ser o mau odor corporal da estrela
dos Ministry. Vai ser fantástico! Vou adorar
que agora vive em Lisboa. Al Jourgensen é uma daquelas pessoas larger than ter um dos meus BFFs no tour bus.
life, excêntrico e carismático, de quem Jello Biafra, dos Dead Kennedys e que
manteve com Jourgensen o projecto LARD, diz acordar todos os dias para desa- :EMW JE^IV  ERSW IWXI ERS 5YɩS HIWEƤER-
ƤEVEGMɰRGME3WIYGSRWYQSHIHVSKEWUYIHIM\SYIQHITSMWHIHɯGEHEW te é para ti estar em palco?
de vício, excedeu todos os limites, ao ponto de William Burroughs, de quem se A verdade é que quem me conhece sabe
tornou amigo e colaborador, demonstrar a sua preocupação. E se o autor de que nunca gostei propriamente de estar
m.YROMI'SRJIWWMSRW3J%R9RVIHIIQIH(VYK%HHMGX|ƤGETVISGYTEHSMQEKM- em palco. Acho desde sempre que tocar
ne-se o comportamento de Jourgensen. No polémico documentário «Fix», um ao vivo é recriar, não é criar. À excepção
behind the scenes em digressão que conta com testemunhos de Trent Reznor, de uma ou duas pessoas, toda a gente que
Maynard James Keenan ou Jello Biafra, Dave Navarro recorda uma das tour- conheço adora tocar ao vivo, dar concer-
nées Lollapalooza, numa altura em que ele próprio e membros de várias bandas, XSW %HSVEQ EUYIPE KVEXMƤGEɭɩS MRWXERXɨ-
como Alice In Chains, estavam também viciados, e que encontravam conforto nea. E é curioso, porque eu adorei a grati-
por não chegarem ao ponto de Jourgensen: “ao menos não sou como aquele ƤGEɭɩS MRWXERXɨRIE HSW STMɧGISW HYVERXI
gajo”, diziam enquanto espetavam uma agulha no braço. Jourgensen viveu tam- muitos anos, por isso seria de esperar que
bém com Timothy Leary que, não sendo o inventor, é o verdadeiro pai do LSD e fosse propenso a pensar assim também
teve no músico nascido em Havana uma das suas cobaias. Não pretendendo em relação a isso, mas não. É claro que,
glamourizar o uso de drogas, pois representam muito mais que isso, Leary e ao longo dos anos, à medida que foi en-
&YVVSYKLWJSVEQRɩSWɸƤKYVEWQEVGERXIWHSWɯG<<IHEGSRXVEGYPXYVEQEW velhecendo, deixou de ser aquele sacrifício
MKYEPQIRXIƤKYVEWTEXIVREWTEVE%P.SYVKIRWIRXEQFɯQIPIYQEƤKYVEGIRXVEP em tudo comparável a ir ao dentista arran-
no universo da LOUD!. [R.S.A.] car um dente. [risos] Foi-se tornando mais
confortável estar em palco e, hoje, é como
aquele roupão velho que só usas quando
estás por casa.

LOUD! 39
PRIMORDIAL
Ao que parece, este novo disco não foi dos
mais fáceis de fazer em estúdio.
Foi um disco mais espontâneo e fruto das

GUARDIÕES
circunstâncias. Nos seis meses anteriores
à gravação, foi complicado reunir a banda
para ensaios. Tivemos de impor a nós mes-
mos uma data e fomos para estúdio apenas

EUROPA
com uma ideia vaga do que iríamos fazer.

DA
Em vez de termos seis ou nove meses para
alterarmos ideias numa música, tivemos de
condensar esse tempo em semanas. Para
mim foi um bocado penoso porque a espon-
taneidade não é o melhor caminho para a
voz. A voz é um músculo e tem de ser tra-
balhada como qualquer outro músculo. Sem
ensaios, a voz não vai estar ao mesmo nível.
Em Dread Sovereign, por exemplo, não tenho
problemas com isso porque toco baixo e
componho riffs. Ou seja, o ensaio acaba por
ser mais importante para mim do que para
os outros instrumentos, porque preciso de
limar ideias, ver os refrães que funcionam,
por aí fora. Desta vez não pude fazer isso e,
para ser honesto, detestei fazer este disco.
Ao passo que o Ciáran [MacUiliam, guitarris-
ta] adorou, até porque ele não gosta muito de
ensaiar. [risos] Basicamente, fui deixado com
um álbum de 70 minutos para cantar onde,
normalmente, teria a maioria das minhas
ideias já trabalhadas. Para mim, foi muito
mais stressante, mais difícil, mas whatever,
é fuckin’ Primordial, não é power metal. Tem
tudo a ver com uma certa tensão e drama,
uma negatividade que tens de explorar para
TSVIWEXIYJEZSVREQɽWMGEɯSUYIɯ3WƤRW
NYWXMƤGEQSWQIMSW

Não é power metal, mas estás a fazer uma


performance notável neste álbum, incluindo
tons agudos de respeito (e sei que ouves
bastante heavy metal!). Apesar da tensão e
quase improviso em estúdio, estás satisfei-
to com a tua prestação?
Sim, absolutamente. Há algumas coisas
novas com as vozes, ideias com camadas
vocais e conselhos do Ola, o nosso enge-
nheiro de som, que me sugeriu ir atrás da
secção rítmica da banda para as dinâmicas
deste material. Umas vezes funcionou, ou-
tras, nem por isso, até porque eu não sou
dos vocalistas mais disciplinados. Mas tam-
bém costumo cantar numa banda de covers
com uns amigos e fazemos coisas de Riot
e Priest. Nada de mais, mas reparo que os
1U24+/14&+#.UȒQFCSWGNCUDCPFCUSWGPȒQVșO agudos e os registos mais altos parecem
surgir-me com mais facilidade hoje em dia
ȐNDWPUHTCEQU1PQPQGPQXQȐNDWOk'ZKNG#OQPIUV do que acontecia há cinco ou dez anos. Lá
6JG4WKPUzPȒQȘGZEGRȖȒQCGUUCTGITCFGSWCNK- está, essa pontinha de stress envolvida na
concepção deste disco acabou por acres-
dade. Assente num conceito de velhos (mas ainda centar uma convicção extra. À medida que
XȐNKFQU XCNQTGUGWTQRGWUQOGVCNEGNVCFQSWKPVGVQ os anos passam vais aprendendo uns tru-
ques e penso que só ganho em usá-los –
RTKOCRGNQUWDUVTCEVQSWGUWDLC\ȏRTȡRTKCOȦUKEC em fazer uma série de coisas diferentes a
cada álbum. Neste, em particular, há vários.
Quando se ama algo, quando se acredita e se sabe Acho que metade do álbum vai surpreender
QSWGUGFK\ȘUGORTGOCKUHȐEKNXKTCGZEGNșPEKC muita gente.

artística ao de cima. Alan Averill “Nemtheanga” Sim, é quase um álbum de extremos para
é assim, controverso, mas tem uma personalidade Primordial. Se, por um lado, começamos
por ouvir algo practicamente black metal
e uma identidade. Foi com o vocalista de Dublin como «Nail Their Tongues», há também
uma música mais atípica e atmosférica
que tivemos, mais uma vez, o prazer de conversar. como «Stolen Years». «Exile Amongst The
Ruins» pretende ser um disco amplo?
NELSON SANTOS Saiu assim. Talvez seja esse o lado bom da

40 LOUD!
espontaneidade porque tens menos tempo alguém do que é a banda agora. Claro que Sim, embora as pessoas tenham tendência
para analisar e pensar sobre isso. «To Hell quando alguém não pode devido ao trabalho, para interpretar o que eu digo politicamente.
Or The Hangman», «Stolen Years», «Sunken temos alguns amigos que nos ajudam, como Vivemos num tempo muito estranho. Toda
Lungs» são três músicas meio fora daquilo já aconteceu na guitarra com o Gerry Clince E KIRXI IWXɧ ɦ IWTIVE HI ƤGEV SJIRHMHE I
UYINɧƤ^IQSWERXIW%WTIWWSEWTEVIGIQ dos Mael Mórdha. raivosa à mínima oportunidade. O álbum é,
agradavelmente surpreendidas com o que já sobretudo, uma observação. Por um lado,
mostrámos e até os fãs de longa data terão Ao vivo, o grupo é daqueles que continuam
pouco de que se queixar, pois quase todo o a fazer com que um concerto seja uma ex-
material não deixa de ser tipicamente Pri- periência em si mesma. Ou seja, durante
QSVHMEPREQMRLESTMRMɩS3KVERHIHIWEƤS
é que, após nove álbuns e tanto tempo jun-
aquela hora [ou duas] em que estão em pal-
co, há mais do que reprodução de música;
“As redes sociais
tos, temos de tentar o nosso melhor, fora da
bolha que a própria banda criou. Olhar para
com alma é a única forma de encarar um
concerto, certo?
são um cancro
a música de forma muito objectiva e crítica. Nós temos uma vantagem – as nossas mú- social. Se pensas
Perguntarmos a nós mesmos – soamos sicas são, de facto, sobre algo com que as
frescos, vitais, apaixonados, enérgicos? Por- TIWWSEW WI TSHIQ MHIRXMƤGEV -RHITIRHIR- que estás a usar
que o heavy metal é uma cena para gente temente de quão bom seja um concerto,
nova. Após nove álbuns, muita gente já deu cantar sobre zombies ou fantasia até pode o Facebook pelas
o que tinha a dar; na sua fase intermédia, as divertir as pessoas, mas está ao nível super-
bandas já não conseguem atingir a mesma ƤGMEP5YERHSIWXɧWVIEPQIRXIEIRZSPZIVEW tuas próprias mãos,
frescura de quando eram mais novas. Por- pessoas em matérias que lhes interessam,
XERXSSKVERHIHIWEƤSɯGSRWIKYMVSPLEVHI que as tocam, também tu ganhas com essa estás errado, é ele
fora para dentro e questionar se ainda soa- abordagem artística e é mais fácil soltar sen-
mos como devemos. A resposta parece ser timentos verdadeiros. Há ali um crescendo que te usa a ti. (…)
EƤVQEXMZEIIWXSYQYMXSKVEXSTSVMWWS artístico. O heavy metal é sempre melhor ao
vivo e a natureza de Primordial é heavy me- O antigo sentido
A natureza própria dos Primordial é indisso- XEPESZMZSQEWRSƤREPHIGSRXEWXEQFɯQ
ciável do carisma de Alan A. Nemtheanga e estamos comprometidos numa experiência de comunidade
de toda a força que metes em palco e nos comum e é o que importa. Eu gosto das via-
discos. No entanto, já estás com estes mes- gens e de actuar ao vivo, é por isso que faço que passava pela
mos companheiros há muitos anos, quase isto, mais que por qualquer outra coisa. É a
sem mudanças de formação. Isso é impor- recompensa por todo o tédio em estúdio. discussão à mesa
tante para os bons resultados obtidos, a E há esse extra da ligação emocional que
cada novo trabalho? acabamos por criar, porque não falamos de do jantar, a discus-
Acho que sim. Desta formação tivemos uma coisas vazias.
única alteração, mudámos o Simon [O’Lao- são no pátio da es-
ghaire, baterista] em 1997 e adicionámos São pessoas a falar de outras pessoas.
o Micheál [O’Floinn, guitarrista] por volta Reais. No caso deste álbum, mais uma vez, cola, parece que
do ano 2000, e foi isso. Toco com o Ciáran sobre pessoas do passado, em parte, gente
e com o Pól [MacAmlaigh, baixista] desde que fundou os valores da antiga Europa. É LȐPȒQGZKUVGŭ
1991 e somos os mesmos quase desde o QEMWYQEVIƥI\ɩSLMWXɸVMGE GSQ TEVEPIPMW-
início. Não seria a mesma coisa se tirasses mo no presente?

LOUD! 41
mostra a minha percepção sobre os valores tização dos comportamentos, o que ainda coisas para a rua porque, quando se passa
do Iluminismo em que a Europa foi estrutu- suga mais valores à sociedade. uma vida inteira na oposição a algo e vem al-
rada – razão, debate racional, empirismo, É. As pessoas têm de perceber que a sua guém e te diz – olha, já agora aquilo a que te
análise matemática, a separação entre es- raiva dá vida ao algoritmo interno, que é o opões não passa de um exército de fantas-
tado e igreja… e estamos a dirigir-nos para que dá dinheiro a essas instituições. O algo- mas – ninguém desiste, não é da natureza
algo em que as pessoas rejeitam tudo isso. ritmo da publicidade, o clickbait, ou o que lhe humana. É até mais provável que sublinhem
Estamos na direcção de uma nova teocra- queiras chamar, alimenta-se do que fazes na a sua versão, mesmo com os números es-
cia. As identidades políticas assemelham- net. É de todo o interesse dessas instituições parramados à frente. Não há conversação
-se a um novo puritanismo. A Europa pa- que se posicione uma falsa esquerda e uma real. Ninguém se permite a mudar a sua opi-
rece-me estar doente, não preza a positivi- falsa direita, porque dá gás a essa cultura de nião porque estão demasiado enterrados na
dade de alguns dos seus valores. Na minha ódio que, por sua vez, faz com que mais pes- narrativa.
opinião, é um impulso suicida. As ruínas vão soas cliquem em mais coisas. Cada história
ser o ocidente. Os exilados serão os que vão vaga sobre racismo, sexismo, homofobia, 2SƤREPHI1EVɭSGLIKEIRXɩSEUYIPEETI-
ZIVSƤQHSMQTɯVMS2ɩSɯEPKSUYIZIRLE transgénero… esses são os tópicos quentes, tecível hora em que voltam os concertos e
de uma perspectiva de direita ou de esquer- são o que leva as pessoas a clicar. E quanto toda a catarse de mais um árduo trabalho
da, é antes a observação de um longo e len- mais usas o motor de busca, quanto mais de estúdio pode ser gozado em palco. Que
to declínio onde prezamos o que considera- IWXMQYPEW E MRXIPMKɰRGME EVXMƤGMEP UYERXS planos têm para este ano?
mos ser liberdade individual sobre qualquer mais informação dás na média social, mais Bom, temos os concertos de apresentação no
sentido de comunidade. É uma espécie de ajudas essas empresas. É do interesse deles ƤREPHSQɰWRE%PIQERLEXIQSWYQEHMKVIW-
amoralismo vazio sobre qualquer forma de que tenham toda a gente a apertar a gargan- são com os Moonsorrow, temos festivais no
ZEPSVSYWMKRMƤGEHS(IXIVQMREHEWWIGɭɺIW ta uns aos outros. As redes sociais são um Verão, alguns deles curiosos… Fazemos o que
da nossa sociedade foram pelo niilismo, em cancro social. Se pensas que estás a usar o podemos e, se tudo correr bem, voltamos aí.
UYIREHENɧWMKRMƤGEREHE&MSPSKMEGMɰRGME Facebook pelas tuas próprias mãos, estás O problema com a Ibéria é que muitas tours já
matemática, estatística, análises empíricas, errado, é ele que te usa a ti. Digamos que não passam por aí. A cena no sul de França
nada disso já interessa mais do que como te tu és a ferramenta, não é o Facebook que é morreu um pouco, o que tornou mais com-
sentes sobre algo. Quanto a mim, estamos uma ferramenta para ti. E digo isto e estou plicado tocar em Espanha e Portugal. Mas
num navio à deriva. Nem todas as músicas lá. Mas temos de perceber – quando estiver- XIQSW XIRXEHS XSGEV ESW ƤRWHIWIQERE XEP
do álbum têm relação directa com isso, mas mos furiosos, prontos a clicar em algo – há como no ano passado tocámos em Vagos, já
três ou quatro lidam com essa assumpção que pensar duas vezes. Isto entronca na no- tínhamos feito o SWR, um show de clube aqui
TVSJYRHEHIUYIIWXEQSWEEWWMWXMVESƤQ ção de que os velhos grupos sociais estão e ali, mas os dias de andarmos um mês em
da civilização clássica. Estamos a deixar mortos. O antigo sentido de comunidade tour já lá vão. Os dias de tocarmos na tua pe-
que isso aconteça. É uma doença. E pode- que passava pela discussão à mesa do jan- quena cidade, provavelmente, já lá vão; todos
mos dizer que essa doença é a internet. São tar, a discussão no pátio da escola, parece os concertos têm de ser ao sábado à noite e
as redes sociais. Hoje, toda a gente “sabe” que isso já não existe! O activismo e o idea- têm de ter uma forte assistência porque, nes-
tudo, embora, na generalidade, só leiam os lismo são os novos ópios. É como dizer a um ta fase das nossas vidas, em que não somos
títulos. drogado que a heroína lhe vai fazer mal, ele YQE FERHE TVSƤWWMSREP RɩS GSRWIKYMQSW
sabe, mas injecta na mesma. Se disseres a andar a tocar para 120 pessoas numa vila. Se
E a parte perversa é que essa internet e as esta gente que está errada, eles não vão que- RSWZMWXIUYERHSƤ^IQSWMWWSɯYQEFSEQI-
redes sociais estão sob a alçada de grandes rer ouvir porque gostam daquele activismo, mória, mas é muito pouco provável que volte
grupos económicos. Há quase uma mone- gostam de pôr uma máscara de ski e ir gritar a acontecer. No entanto, talvez após o Verão
possamos voltar a tocar aí de novo.

42 LOUD!
MEMORIAM
Não estás com meias palavras, nessa foto.
[risos]
Pois não! É uma opinião que causa sempre
Ŭ5VQRUWRRQTVKPITCEKUVDCPFUКŭ, diz a t-shirt do alguma controvérsia, à escala global, mas
acho que é uma mensagem importante a
NGPFȐTKQXQECNKUVC-CTN9KNNGVUPCUWCHQVQFGRGTƓN transmitir. Estou numa posição de previlégio,
visível assim que estabelecemos a chamada no posso gritar sobre aquilo que me apetecer
e tenho pessoas a ouvir, por isso acho que
5M[RG(QKNQIQRQTCȜSWGEQOGȖȐOQUCEQPXGTUC não estaria a ser correcto comigo próprio se
LȐSWGQȐNDWOPQXQFQU/'/14+#/k6JG5KNGPV não usasse essa plataforma para falar das
coisas que acho que são importantes, para
Vigil», o segundo em menos de um ano da banda mim e para a sociedade. É, aliás, um tema
que sigo bastante neste disco novo.
nova do ex-Bolt Thrower (e do ex-Benediction
(TCPM*GCN[VCODȘOGPVTGQWVTQU VGOWOCHQTVG É importante haver quem faça isso hoje em
dia. Por incrível que pareça, porque já devía-
EQORQPGPVGVGOȐVKECSWGCRQPVCPGUUGUGPVKFQ mos ter evoluído muito mais enquanto socie-
dade, é mais importante agora que nunca.
JOSÉ CARLOS SANTOS 7MQEFWSPYXEQIRXI)RƤQɯEPKSUYIWIQTVI
esteve presente, os supremacistas brancos,
os fascistas, é um problema de longa data…
mas com o virar do século, e com os eventos
mais recentes ao redor do mundo, não só nos
Estados Unidos, parece notório que há um

PELA
44
LIBERDADE
!
crescimento pandémico do fascismo no mun-
do. Têm uma voz, têm “boca”, e usam-na, e por “Tentamos fazer com que esta banda
isso é preciso contrariá-los. É preciso que as
pessoas se façam ouvir, não podemos tolerar seja algo de positivo, algo que possa
isto nem podemos ter a História a repetir-se
novamente. O mundo é um lugar maravilhoso,
através da aceitação das pessoas de diferen-
VGTKPƔWșPEKCRQUKVKXCUQDTGCURGUUQCU
tes culturas. É isso que faz do mundo algo
belo, em vez de construírmos muros e excluír-
GSWGPQUFșCNGITKCVCODȘOŭ
mos pessoas e cultivarmos uma cultura de
medo baseada na separação irracional pela
cor da pele das pessoas ou pela sua sexuali-
dade ou seja o que for. Por isso, orgulho-me com as outras. Depois há o último tema, cla- de experiências traumáticas, como foram a
muito por suportar movimentos anti-fascistas. ro, «Weaponised Fear», que também faz parte perda do Martin [“Kiddie” Kearns, antigo bateris-
desse conjunto, fala de como os políticos de di- ta dos Bolt Thrower], ou o falecimento do pai do
E isso é algo notório no «The Silent Vigil». reita controlam as populações através dos me- Frank, que ocorreu mais ou menos na mesma
Sim, há vários temas que tocam nesses assun- dia, e infelizmente tivemos um exemplo para- EPXYVE ) VIWYPXSY )Q GIVGE HI HSMW ERSW Nɧ Ƥ^I-
tos. Acho, aliás, que, neste disco, deu-se uma digmático disso no meu país, com o Brexit. Foi mos muita coisa, e temo-nos divertido imenso.
grande mudança na forma como escrevo as algo que nos afectou imenso, é algo que está
minhas letras. É algo que já pensava fazer há alinhado com o crescimento do fascismo, cri- Achas que é em parte por isso que os Memo-
EPKYQXIQTSIEKSVEƤREPQIRXIGSRGVIXM^SY- mes de ódio, tudo isso é um resultado directo. VMEQ XɰQ WMHS XɩS TVSPɳƤGSW HIWHI UYI GSQI-
-se. Tudo o que escrevi é baseado na realidade, çaram? Porque apesar da tristeza que está na
simplesmente. No mundo em que vivemos. Problemas que se manifestam até em sítios WYE SVMKIQ ZSGɰW Ƥ^IVEQ HE FERHE EPKS UYI
O que é provavelmente o meu tema favorito, UYI SYXVSVE ƥSVIWGMEQ TVIGMWEQIRXI TIPE vos traz felicidade e libertação, de certa forma?
«The New Dark Ages», fala precisamente do sua diversidade, a tua cidade incluída. Sim, completamente. Esta banda é mesmo
aumento dos discursos de ódio, do obscuran- É verdade, Birmingham é uma cidade orgu- uma experiência libertadora, não há dúvida ne-
tismo que vemos a crescer em todo o lado. lhosamente multicultural. Foi essencialmen- nhuma. Tinha saudades de fazer parte de uma
A «Bleed The Same», para a qual tivemos um te construída por várias gerações de imigran- banda que cria música nova constantemente,
lyric video, também entra por esses assuntos e tes, que vieram de muitos sítios diferentes e confesso. Quando os Bolt Thrower começa-
deu até muita discussão quando pusemos o ví- que se estabeleceram aqui ao longo de déca- ram, o nosso ritmo de produção era mais ou
deo no YouTube. E ainda bem! É exactamente das e décadas… e é precisamente isso que menos este, repara que tivemos álbuns em
isso que pretendo, que o que escrevo fomente faz de Birmingham uma cidade vibrante e 1988, 89, 91, 92… Era um ritmo muito rápido de
discussão e ponha as pessoas a falar umas hospitaleira, um sítio óptimo onde viver. Com desenvolvimento e de coisas entusiasmantes.
a ascensão do Brexit, do Trump, disso tudo, Os Memoriam têm precisamente como objec-
até aqui as ideologias das pessoas foram tivo também recriar o espírito dessa época,
completamente polarizadas. É muito difícil não só em termos sonoros mas também esse
encontrar a razão e o equilíbrio, hoje em dia. entusiasmo. Podes chamar-lhe uma mid-to-la-
te-life crisis. [risos] Queremos recapturar o que
Para além disso, de que é que te apeteceu sentíamos quando começámos as nossas
falar mais ao longo destes malhões? primeiras bandas, e é por isso que acabamos
,ɧEPKYQEW WSFVI XVERWMɭɩS XEQFɯQ 6IƥIG- por trabalhar a este ritmo elevado e por lançar
tem quem nós somos como banda, quem eu um disco todos os anos, até agora. Temo-nos
sou como pessoa. São sobre mudança, sobre dado bem com a “página branca”. Gosto de po-
continuar em frente, quebrando com o pas- der escrever sobre o que quer que me apeteça.
sado, à procura de uma identidade, de algo Todos nós adorávamos as nossas bandas an-
novo. «From The Flames» e «As Bridges Burn» teriores, mas a verdade é que funcionávamos
são dois exemplos dessa temática. Depois dentro de certos parâmetros, obedecíamos a
gostava ainda de referir um tema chamado determinadas fórmulas que se estabeleceram,
«Nothing Remains» que me é muito próximo, e chegámos a um ponto em que também não
porque fala dos efeitos da demência. Vive- queríamos sair muito daí, porque não iria dar
mos todos num mundo onde a população é bom resultado. Só que, nomeadamente nos
bastante envelhecida, e creio que isso é algo Bolt Thrower, chegámos a um ponto em que
que nos afecta a todos de uma forma ou de já não conseguíamos fazer nada de novo. Sen-
outra. A mim afecta-me muito pessoalmen- timos que tínhamos esgotado totalmente a
te neste momento, porque a minha mãe foi fórmula, as estruturas. Depois do «Those Once
diagnosticada à cerca de um ano, e vivo com Loyal», a criatividade na banda morreu. Foi fan-
as consequências disso actualmente. Foi tástico darmos os concertos que demos nos
bom para mim exprimir-me desta forma, da anos seguintes, mas ao mesmo tempo estava
melhor forma que sei, escrevendo letras para frustrado porque queria fazer coisas novas. Iro-
músicas, sobre estas coisas. Muita catarse. nicamente, eu e o Kiddie andávamos a discutir
a ideia de fazer algo aparte dos Bolt Thrower
É muito bom teres este veículo de expres- antes de ele falecer… mais uma razão para eu
são nesta altura, não é? me ter atirado de cabeça para esta nova ban-
Sem dúvida. Temos muita sorte de poder fazer da. E até agora não me arrependo nada.
isto, nesta altura das nossas vidas. Temos no-
ção das tradições que carregamos das nossas ) ƤREPQIRXI ZEQSW XIV SW 1IQSVMEQ IQ
bandas antigas, os Bolt Thrower, os Benedic- Portugal, no Vagos Metal Fest.
tion, por aí fora, e temos noção que é por causa Estamos muito contentes por ir a Portugal em
disso que nos permitem fazer o que fazemos Agosto! Estivemos até há pouco tempo em ne-
com os Memoriam. E é por isso que tentamos gociações com o festival, porque a logística é
fazer com que esta banda seja algo de positi- YQ FSGEHS GSQTPMGEHE ũ ɦ ZSPXE HIWWI ƤQ HI
ZSEPKS UYI TSWWE XIV MRƥYɰRGME TSWMXMZE WSFVI semana temos também o Bloodstock aqui em
as pessoas, e que nos dê alegria também. Era Inglaterra e há um concerto na Alemanha, acho
esse o objectivo inicial disto tudo, criámos esta eu, mas tudo se resolveu. Vemo-nos por lá, po-
banda para tirar algo positivo de um conjunto dem-me pagar uma cerveja à vontade! [risos]

LOUD! 45
NECROPHOBIC

MARCAS
PROFUNDAS
1U0'%412*1$+% RCUUCTCO RQT WOC HCUG EQPVWTDCFC NQIQ CRȡU
QNCPȖCOGPVQFQFKUEQCPVGTKQTk9QOD1H.KNKVJWzFGRQKUFGQGZ-
-vocalista Tobias Sidegard ter sido condenado a pena de prisão por
XKQNșPEKCFQOȘUVKEC#UGRCTCȖȒQHQKKPGXKVȐXGNGEQOGNCUWTIKTCO
OCKUOWFCPȖCUPQUGKQFCDCPFCk/CTM1H6JG0GETQITCOzQQKVC-
XQNQPICFWTCȖȒQFQEQNGEVKXQUWGEQOCTECQTGITGUUQFQXQECNKUVC
Anders Strokirk, que gravou o disco de estreia, «Nocturnal Silence»,
GOGFCFWRNCFGIWKVCTTKUVCUEQORQUVCRQT,QJCP$GTIGDȓEM
GRQT5GDCUVKCP4COUVGFV(QKGUVGȦNVKOQSWGPQUNKIQWFGECUCGO
Estocolmo, para falar com muito entusiasmo deste renascimento,
NQPIGFGRQNȘOKECUGEQOQHQEQCRGPCUPCOȦUKEC
JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO

46 L U !
%SƤQHIUYEWIERSWHIGEVVIMVEGSQS
vês em perspectiva a vosso percurso?
Houve muitas fases diferentes nos Necro-
phobic. Desde sermos uma banda jovem e
«MARK OF THE NECROGRAM» NAS
esfomeada, numa nova cena que começava PALAVRAS DE SEBASTIAN RAMSTEDT:
a fervilhar até sermos uma banda veterana
numa cena morta. É cíclico. A cena morreu
«Mark Of The Necrogram» «Pesta»
várias vezes ao longo dos anos. E renasceu. E
É um tema muito directo de black metal. É a canção que escolhemos para anunciar o
nós, mais ou menos activos, estivemos sem-
Foi escrito para dois vocalistas uma linha regresso dos Necrophobic. Quando ouvimos
pre lá, a tentar seguir em frente. A adversidade
do Anders e uma minha e pensada para a demo soubemos que esta era a canção que
tornou-nos mais fortes, mas também nos en-
tornar as performances ao vivo mais espe- representava a sonoridade desta formação.
WMRSYERɩSRSWƤEVQSWREUYEPMHEHIHIYQ
ciais e intensas.
determinado álbum ou no número de pessoas
«Requiem For A Dying Sun»
que vêm aos concertos, num pico de fama e
«Odium Caecum» Uma abordagem diferente, com uma ve-
atenção que nos possam dar. Para nós isso
Um tema muito atmosférico e bastante di- locidade mais moderada, sem entrar em
pouco ou nada interessa, porque aprendemos
fícil de tocar. Tem a particularidade de ter blastbeat. Há uma tentativa de storytelling,
que queríamos estar nesta banda por nós,
talvez as letras mais odiosas e directas de quisemos transmitir esse tipo de vibração,
porque precisamos de escrever música jun-
todo o disco, escritas pelo Alexander [Fri- daí não haver propriamente um refrão.
tos, porque gostamos da música que escreve-
berg, baixista]
mos. As modas vão e vêm e nós vamos con-
«Crown Of Horns»
tinuar neste navio, cada vez mais resistentes.
«Tsar Bomba» A primeira canção escrita depois do «Death
O único tema que alguma vez escrevemos em To All» e, por isso, a mais antiga das que fa-
De que forma é este «Mark Of The Necro-
tour. Foi escrita num hotel em São Petersbur- zem parte deste disco. Para mim, uma evo-
gram» uma progressão em relação ao que
go, por mim, pelo Anders e pelo Johan [Berge- PYɭɩS REXYVEP HS UYI Ƥ^IQSW RIWWI ɧPFYQ
Ƥ^IVEQ RS TEWWEHS I IQ TEVXMGYPEV RS
bäck, guitarrista]. Olhei para o céu, pela janela,
«Womb Of Lilithu»?
e disse-lhes: esta vai chamar-se «Tsar Bomba». «From The Great Above To The Great Below»
É um disco muito diferente do anterior, que
É o meu tema preferido do disco. Foi a
foi escrito inteiramente pelo Fredrik Folkare
«Lamashtu» primeira canção em que eu e Anders traba-
[ex-guitarrista] e pelo Tobias [Sidegard, ex-
É uma canção menos black metal, assente lhámos juntos e foi um momento especial,
-vocalista]. O «Womb Of Lilithu» é um disco
sobretudo em harmonias fortes e linhas de será sempre muito importante para mim.
muito bom, mas de uma forma que foge ao
baixo muito marcadas. É o tema mais es-
que são os típicos Necrophobic. Diria que o
pecial e distinto deste disco. «Undergången»
«Mark Of The Necrogram» é um disco que
É um instrumental que funciona como outro, o
começa onde terminou o «Death To All» e
«Sacrosanct» único tema escrito pelo Alexander para os Ne-
completa uma trindade composta por esse
As letras mais pessoais que já escrevi. Pa- crophobic. Totalmente composto com base no
disco e também pelo «Hrimthursum».
PEZVEW QYMXS JSVXIW UYI WMKRMƤGEQ QYMXS baixo dele, limito-me a usar as guitarras para
para mim, porque foram escritas no pior dar mais expressão. Foi criado para levar o
Sentes-te confortável a tocar material que
momento da minha vida. ouvinte a manter-se no reino dos Necrophobic.
não foi composto por ti?
Na verdade diverte-me muito fazê-lo e sinto
que me faz crescer como guitarrista. Adoro
aprender solos de guitarra de outros músi-
cos e é muito interessante praticar harmo- novo começo e, por isso, fez sentido mudar, alguns dos vossos pares. Lembro-me dos
nias que normalmente não uso. Muitas vezes HIM\EV XYHS S UYI IVE ŰZIPLSű ƤGEV TEVE XVɧW Dissection no passado ou dos Watain numa
em casa, quando estou preso ou sem ideias, %GLSUYIXSHEWEWTEVXIWƤGEVEQWEXMWJIMXEW fase mais recente. É frustrante para vocês
ponho discos de artistas com um estilo dife- ƤGEVIQRESFWGYVMHEHI#
rente do meu e tento imitá-los. É inspirador. Outro regresso é o do Kristian “Necrolord” Houve momentos em que foi frustrante, não
É o mesmo que me acontece quando toco Wåhlin que assina uma artwork clássica... o vou negar, quando éramos mais novos, ain-
temas do «The Nocturnal Silence»... Sabes o que é a capa, sabes o que represen- da nos nossos “vintes”. Agora estou muito
ta? É a continuação do «Darkside». No meio contente por nos termos mantido no under-
Este disco marca também a vossa estreia da capa do «Darkside», que também é dele, ground todo este tempo, estou orgulhoso por
na Century Media, depois de apenas um ao fundo, vês um cenário vermelho e um RSW XIVQSW QERXMHS ƤɯMW ɦ QɽWMGE HI UYI
álbum na Season Of Mist. A polémica com edifício. Eu sempre quis saber o que estava gostamos e termos trabalhado muito, apesar
o Tobias Sidegard acabou por vos afectar do lado vermelho da capa do «Darkside» e de não contarmos com apoio praticamente
muito e contribuir para esta mudança? então pedi ao Kristian para desvendar. É tam- nenhum e não termos grandes digressões.
Houve muitos rumores e muito tumulto em FɯQ YQE JSVQE HI VIEƤVQEV UYI IWXEQSW E sabes, por um lado sinto que as pessoas
torno dessa situação, muitas coisas acontece- de volta às canções clássicas, tipicamente GSRƤEQ QEMW IQ RɸW TSV MWWS QIWQS 3W
ram e foram ditas, porque as pessoas tendem Necrophobic, longe de inovações estranhas JɩWGSRƤEQIQRɸWSWTVSQSXSVIWIEWIHM-
a ver as coisas a preto e branco. A internet é ou modernices. Continuamos a fazer o que XSVEW GSRƤEQ IQ RɸW 4SVUYI WEFIQ UYI
muito rápida a decidir quem está certo e quem fazemos melhor, que é precisamente o que ETIWEVHIXYHSWSQSWHIGSRƤERɭEWSQSW
está errado. Não há zonas cinzentas, portanto se ouve no «Mark Of The Necrogram». dedicados e somos genuínos no que faze-
SW2IGVSTLSFMGƤGEVEQRYQETSWMɭɩSQYMXS mos. Nunca vamos ser rock stars, somos
complicada. Foi difícil promover o disco e fa- A vida não é justa e os Necrophobic nun- apenas muito apaixonados pela nossa músi-
zer as pessoas concentrarem-se na música ca tiveram a mesma atenção mediática de ca e pelo underground.
em vez de estarem preocupadas com rumores
ou em tentar perceber o que aconteceu ou dei-
xou de acontecer e que nada tinha a ver com
a banda. E, claro, foi muito complicado para
a Season Of Mist, também, gerir a situação e
Ŭ5QOQUFGEQPƓCPȖCUQOQUFGFKECFQUGUQ-
TVSQSZIV S HMWGS 4SVXERXS UYERHS Ƥ^IQSW
E VIJSVQE RE FERHE I ƤGEVEQ ETIREW HSMW mos genuínos no que fazemos. Nunca vamos
membros da anterior formação, a Season Of
Mist teve uma postura impecável e disse-nos ser rock stars, somos apenas muito apaixona-
que podíamos continuar com eles ou ver ou-
tras opções. Era uma banda nova, a tentar um FQURGNCPQUUCOȦUKECGRGNQWPFGTITQWPFŭ
LOUD! 47
COS

PRIMORDIAL
«Exile Amongst The Ruins»
[Metal Blade]

«E
xile Amongst The Ruins» soa mais e exagerado “entusiasmo”, o sempre asser- nations, without names, without a future”. É
trabalhado e amadurecido do que XMZS .SWɯ 'EVPSW 7ERXSW HM^ UYI ŰIPI ?2IQ- niilismo que nos deixa com pele de galinha.
o antecessor, mas na verdade não theanga] é o gajo que chora a perda de um
o foi. Grande parte do que aqui ouvimos aca- irmão num campo de batalha, e aqui chega Tal como um vinho maduro, encorpado e tra-
bou por ser escrito com toda a banda já em a parecer o gajo que canta sobre isso à volta balhado, este disco precisa de tempo para
estúdio, o que, tendo em conta o resultado HE JSKYIMVEű 7ɧFMEW TEPEZVEW UYI ENYHEQ E respirar e abrir, de forma a revelar toda a sua
ƤREP VIZIPE E MRGVɳZIP GETEGMHEHI GSQTSWM- explicar bem como a intensidade da interpre- complexidade. É o trabalho de uma banda
cional desta gente. É um disco de riffs gigan- tação quase chega a ser... too much. Mas a crescida, um portento de sentimento, ho-
tes, melodias marcantes e letras cáusticas. verdade é que sem esse sangue a fervilhar nestidade e dor, que se vai entranhando aos
«Nail Their Tongues», logo a abrir, deixa o nas veias, os Primordial jamais seriam a poucos. Poucos colectivos acreditam tanto
prenúncio para mais uma jornada de glória, FERHE UYI WɩS LSNI 7SFVIXYHS RYQ HMWGS RSUYIJE^IQGSQSSW4VMQSVHMEPIMWWSƤGE
num misto de heavy e doom metal bem vin- GSQ IWXE YVKɰRGME SRHI EXɯ E RɳZIP WSRSVS evidente em cada nota sentida, em cada bati-
GEHS EƤVQEXMZS I TSHIVSWS 5YERHS GLIKE tudo soa mais pungente e in your face do que da sôfrega. Essa é, de resto, uma das marcas
ao black metal gera o primeiro arrepio, regis- no passado, RYQ TSRXS HI IUYMPɳFVMS UYEWI deste disco: a diversidade de tempos, ritmos
to agreste que não mais se volta a repetir e poético com a soturnidade e desespero que e estruturas. Não há dois temas iguais, nem
que, por isso mesmo, tem um impacto muito pauta grande parte destes temas. sequer parecidos, mas todos soam inequivo-
maior. É um daqueles temas com entrada di- camente a Primordial, a música verdadeira,
recta para os alinhamentos ao vivo, ao lado :EVMIHEHI RɩS JEPXE 3 MRɳGMS JSPO HI m;LIVI HEUYIPE UYI HIM\E QEVGE 7I S m8LI +EXLI-
HI GPɧWWMGSW GSQS m8LI 'SJƤR 7LMTW| SY 0MI 8LI +SHW| XVE^ ɦ QIQɸVME S m7XSVQ &IJS- VMRK;MPHIVRIWW|JSMERSWXEPKMESm8S8LI2E-
«Empire Falls». O primeiro de vários. re Calm»; o single HI EZERɭS m7XSPIR =IEVW| meless Dead» o épico, o «Redemption At The
é contemplativo e desavergonhadamente 4YVMXERŭW,ERH|SKVMXSHIVIZSPXEISm;LIVI
A carga dramática deste disco é ainda mais melódico e sofrido, exacerbando um dos Greater Men Have Fallen» um pouco de todos
forte do que no passado e esse factor tam- aspectos mais fortes de todo o disco: o tra- outros, este «Exile Amongst The Ruins» é o la-
FɯQ WI VIƥIGXI RE ZS^ HI %% 2IQXLIERKE balho das guitarras solo, autoras de algumas mento, a constatação crua, assertiva e, ainda
que assina uma prestação quase sempre das mais belas linhas melódicas que a banda assim, majestosa da nossa decadência. Um
brilhante tanto no registo mais rasgado Nɧ GVMSY S XIQEXɳXYPS HIWIRZSPZIWI TEYPEXM- retrato denso pela intensidade, profundo pe-
como na interpretação limpa. O carismático namente e envolve-nos até desembocar num las estruturas, e incrivelmente belo por toda
vocalista canta mais do que nunca e, a espa- GPɳQE\ EVVITMERXI GSQ 2IQXLIERKE E GEVTMV emoção que acarreta. Aqui recuperam-se
ços, parece estar demasiado alto na mistura “We are exiled among the ruins / We are ghos- memórias do passado, de olhos no futuro, e
ƤREP EFEJERHS S VIWXS 7SFVI IWWI TSRXYEP ts among the ruins, without history, without pés bem assentes no presente. [9] J.A.R.

PEDRO SILVA

48 LOUD!
ARKONA AC/DC. O peso regressa em
«Khram» «King’s Harvest» e, em «The
[Napalm] King Wants You», temos um
Fiéis a si próprios e a uma tema que entra facilmente
cadência editorial estabele- no ouvido, tal a sua simpli-
cida em novo disco a cada cidade. Entre o ridículo e o
dois anos, os russos Arkona hilariante está o discurso do
regressam com «Khram», o nono álbum de uma rei em «The King Speaks»
carreira sem mácula, que prima pela honestidade enquanto «Statue Of The
e pela lealdade a uma abordagem musical e con- King» se mostra como a
ceptual agarrada às tradições pagãs e aos ritmos malha mais bem conseguida
folk. No entanto, isso não quer dizer que não haja do disco, com «King After
margem para evolução dentro de limites delibera- /MRK|ERɩSƤGEVQYMXSPSR-
damente delineados, é aliás salutar e recomendá- ge em termos de inspiração.
vel que tal aconteça, para bem dos artistas e de As duas partes instrumen-
quem os segue. Atente-se por isso à envolvência tais de «Silent Songs Of The
de uma faixa como «Tseluya Zhizn’» e à multiface- King» completam um disco
tada deambulação sonora a que nos convida ao que esteve perto de cumprir
longo de mais de dezassete minutos, à belíssima os majestosos desejos do
e inspiradora «Rebionok Bez Imeni» ou à brilhante King para este «Avatar Coun-
ousadia de «V Pogonie Za Beloj Ten’yu», na qual a try». [7.5] C.G.
subtileza da electrónica lhe confere toda uma aura
única, e percebemos que «Khram» não é apenas
mais um disco dos Arkona. O sentimento está
ɦƥSVHETIPIEWIRWMFMPMHEHIIEMRWTMVEɭɩSUYI
poucas vezes encontram um alinhamento perfeito
andam perto de o conseguir aqui e isso sente-se
na forma e no conteúdo daquele que é o registo
simultaneamente mais negro, mais cativante e
mais ambicioso da carreira dos Arkona e no qual AVSLUT
1EWLEŰ7GVIEQűEWYEƤKYVEHITVSEEWWMREYQE «Deceptis»
prestação particularmente memorável. [8] R.A. [Osmose]
No disco de estreia, os
AURI suecos Avslut apresentam
«Auri» um suposto black metal de
[Nuclear Blast] produção declaradamente
Tuomas Holopainen com a moderna, caracterizado por
QYPLIVISƥEYXMWXEHSW2M- um som de guitarra estupi-
ghtwish. Etno-pop romântico damente comprimido, voca-
de atmosferas cinemáticas lizações repletas de truques
e letras inspiradas nos livros de Patrick Rothfuss. de estúdio, melodias bási-
Pronto, está explicado. Como temos de escrever cas e uma irritante tendên-
mais qualquer coisa, sempre se pode dizer que cia para passagens cheias
%YVMQɳWXMGEƤKYVEJIQMRMREHIVMZEHSPEXMQ%YVSVE de groove. É quase como
aquela fase inicial do dia que parece estar na base se alguém tivesse ouvido
fantasista deste projecto “completamente inespe- o death metal da escola de
VEHSűTSVTEVXIHSXIGPMWXEIGSQTSWMXSVƤRPERHɰW Gotemburgo e pensado que
De resto, Holopainen assume que o material em seria engraçado misturar
questão foi o desbloqueador para escrever novas essas técnicas com as de-
músicas dos Nightwish, pois atingira um clímax senvolvidas pelos Emperor
criativo após «Endless Forms Most Beautiful». Não ou Dissection para criar um
seja de estranhar então que «Auri» não contenha black metal de fácil audição.
qualquer distorção, sendo antes uma colecção de Como se depreende de tal
melodias bonitinhas, onde impera a paz, riachos de descrição, não se vislumbra
água límpida, Alice e outras maravilhas. Johanna que tenham de forma alguma compreendido as uma das quais a estreante Federica Gialanze. O
Kurkela é dotada de uma voz etérea e Troy Dono- razões que tornaram discos como «In The Nigh- lado hipnótico de «Buried Hoards» permite ver a
ckley completa as simples texturas tecladas por tside Eclipse» ou «The Somberlain» autênticas faceta mais pop/psych dos Black Moth, apesar
Tuomas com guitarra acústica, bouzouki e gaitas referências no género. A cereja no topo do bolo do solo de guitarra, enquanto «Severed Grace» é o
variadas. Extremamente recomendado para um é a atmosfera de pacote, leia-se tão próxima de mais sabbathiano dos temas, e um dos melhores,
ƤPQIMRJERXMPɦTVSGYVEHIFERHEWSRSVE[4] N.S. black metal digno desse nome como um disco a par da rápida «A Lovers Hate». Com a mudança
actual de Arch Enemy está do death metal a sério, de editora e uma capa que rompe com o desenho
AVATAR e as frases promocionais juvenis como “Avslut is a discreto das anteriores, seria de recear uma mudan-
«Avatar Country» weapon” e “LEGION AVSLUT”. [3.5] L.P. ça profunda neste trabalho, mas falar em tal será
[Century Media] exagerado. Não sendo um título que se diferencie
Antes de mais, é um pouco BLACK MOTH particularmente de outros que se vão editando
difícil levar a sério o con- «Anatomical Venus» dentro do estilo, marca pela variedade sonora, até
ceito do «Avatar Country» [Spinefarm] na “brincadeira” de «Pig Man», permitindo que «Ana-
numa banda que edita ál- Terceiro longa-duração para tomical Venus» nunca se torne maçador. [7] E.F.
buns desde 2006 e que musicalmente já deambu- o quinteto britânico que
lou pelo death metal melódico e pelo nu metal. A caminha entre o stoner e o BLACK VEIL BRIDES
abertura, com «Glory To Our King», tenta colocar- psych, numa abordagem re- «Vale»
-nos no estado de espírito certo para escutarmos tro, muitos anos 60. Quatro anos após o título ante- [Spinefarm]
«Legend Of The King» (que possui um estrondoso rior, este «Anatomical Venus» até nem arranca bem, O novo disco do quinteto
trabalho de guitarra) para levarmos logo de segui- com uma «Istra» pouco interessante, e só quando de Hollywood continua a
da com «The King Welcomes You To Avatar Coun- se chega a «Moonbow» e a «Sisters Of Stone» se explorar a sonoridade glam
try», num registo bluesy e a lembrar por vezes uns percebe porque o grupo dispõe de dois guitarristas, rock, mas num registo

LOUD! 49
mais pop ainda do que em trabalhos anteriores. -RZSGEXMSRZɰTSVƤQEPY^HSHMEGSQSEXVEWS «MenSkinDrums Of Doom». Assinale-se ainda
As músicas são orelhudas, os riffs continuam colmatado entretanto por um lançamento par- um pendor pronunciado para ambientes épicos,
“épicos”, mas no cômputo geral, a linha instru- tilhado com os Thy Darkened Shade. Ora bem, muito graças a um registo vocal mais grave e
mental resume-se basicamente a um conjunto é sabido que há por aí quem ache que estes dramático – adoptado em, por exemplo, «Lucife-
de doze canções insípidas e demasiado pobres, alemães são um dos nomes mais injustamente rian Terror Chorale» –, que lhes dá o dinamismo
facilmente descartáveis após algumas audições. ignorados no underground do black metal con- necessário para suportar um disco com mais de
Apesar de contar com uma produção de alta temporâneo, mas algumas audições de «Reaping 50 minutos. Quando as coisas resultam bem, os
qualidade, essa mascara estética sonora não Season, Bloodshed Beyond» depois, torna-se 'LESW1SSREXɯƤGEQTIVXSHSUYIMQEKMREQSW
disfarça a queda da banda de Andy Biersack óbvio porque nunca chegaram à primeira divisão serem os Merrimack a fazer versões dos Dissec-
(vocalista e o único membro restante da for- do género nem aos círculos mais trve kvlt do tion, mas continua a não haver algo que prenda
mação original) por clichés pop confortáveis, coleccionismo YouTuber. Por um lado, não se realmente a atenção do ouvinte e, por muito
com excepção de alguns bons apontamentos pode negar que os dois álbuns que editaram redondo que seja e bem feitinho que esteja, não
como «When They Call My Name» ou «Dead Man desde que se juntaram há mais de uma década LɧGSQSGLIKEVESƤQHIm6IETMRK7IEWSR
Walking». «Vale» é no fundo um álbum de pop têm os seus pontos de interesse mas, por outro, Bloodshed Beyond» sem sentir um travo a tédio
rock cru, que encarna tanto de (algum) glam RIRLYQXIZIJSVɭEWYƤGMIRXITEVESWJE^IVVIEP- e a cliché. [4.5] J.M.R.
rock como de aborrecimento. [5] A.F.C. mente brilhar. Este terceiro longa-duração sofre
do mesmo mal e, mantendo no sítio o esqueleto CHAOSTAR
CHAOS INVOCATION feito de abordagem musculada ao black que «The Undivided Light»
«Reaping Season, Bloodshed RɩSHIWGYVEMRƥYɰRGMEWHIEXLTVSTɺIWIEWSEV [Season Of Mist]
Beyond» igualmente feroz mas ainda mais envolvente. Segundo registo da “se-
[W.T.C.] O resultado passa por experiências ritualistas gunda vida” dos Chaostar,
Com edição originalmente pouco credíveis e melodia a rodos que, não banda paralela de Christos
apontada para 2016, o fossem as vozes demoníacas, os aproxima peri- %RXSRMSYHSW7ITXMGƥIWL
terceiro álbum dos Chaos gosamente da já muito batida N.W.O.S.D.M. em Para quem não está familiarizado com este
colectivo grego, trata-se de música (neo)clássica
avant-garde de propensão ambiental e darkwave.
A espaços, cinemática, se quiserem. «The Undivi-

THE CROWN ded Light» expõe todo o know-how que Christos


tem vindo a acumular ao longo de várias décadas
de estudos académicos, ele que é um graduado
«Cobra Speed Venom» da London College of Music. A criatividade abun-
HEREGSQTSWMɭɩSHSKYMXEVVMWXEHSW7ITXMGƥIWL
[Metal Blade] cuja banda de raiz não chega para expressar toda
a emoção que nele vibra. Depois de «Anonima»
de 2013 nos ter mostrado a maravilhosa voz de

«C
SFVE 7TIIH :IRSQ| ɯ S HMWGS UYI HIZIVME XIV WI-
guido o «Crowned In Terror» (não contando com o Androniki Skoula – soprano grega que colabora
redundante «Crowned Unholy»). Um registo com um com outras bandas de metal – «The Undivided
TSYGSHIXYHSEUYMPSUYISW8LI'VS[RJE^IQQIPLSVSYWINE Light» abre mais espaço para apontamentos
death/thrash metal bem orelhudo e enérgico, com ocasionais assomos de rock’n’roll e punk. electrónicos, ainda que, momentos como «Taza-
7ITSVYQPEHSRɩSXVE^REHEHITEVXMGYPEVQIRXIMRSZEHSVEZIVHEHIɯUYIXEQFɯQRɩSWI QE.YE|WIEWWIQIPLIQEEPKSGSQS7ITXMGƥIWL
limita a ser mais do mesmo. Os The Crown recuperam a identidade própria que pareceram sem distorção. O quinto álbum de Chaostar é
perder nos dois discos anteriores, com as guitarras a assumirem quase todo o protagonis- amplo na sua área classicista; há instrumentação
mo, quer em bojardas furiosas e directas, carregadas de riffs cortantes, como «Iron Crown» exótica, tanto remete para o distante passado he-
SYSXIQEXɳXYPSUYIVRSYXVEWGERɭɺIWQIRSWɸFZMEWGSQSEI\GIPIRXIm;I%ZIRKI|SRHI lénico, como para o ambient moderno, realçando,
impera o grooveEQIMSXIQTSIWIHIWXEGEYQEWIGɭɩSYPXVEQIPɸHMGEGETE^HIGVMEVYQE sobretudo, a pulsante imaginação de Antoniou e a
dimensão emotiva que o quinteto sueco ainda não havia revelado. Também nos pormeno- paralisante vocalização de Androniki. [7] N.S.
VIW VIWMHI E HMJIVIRɭE TEVE S TEWWEHS GSQ SW WSPSW HI KYMXEVVE ũ EYHE^IW QIPɸHMGSW I
ZIVHEHIMVEQIRXIVIPIZERXIWTEVESWXIQEWũEHMWXVMFYɳVIQZIRIRS3W8LI'VS[RZSPXEQE CHRCH
WSEVGSQSFERHEHIXSTSMRWTMVEHSWGSIWSWIEIWGVIZIVIQZIVHEHIMVEWGERɭɺIWGEWSWHE «Light Will Consume Us All»
FVYXEPm(IWXVS]IH&]1EHRIWW|EMQTVSZɧZIPJYWɩSHI+SH(IXLVSRIHI:SQMXSV]UYIEFVI [Neurot]
o disco, do death’n’roll super catchyHIm-R8LI2EQI3J8LI(IEH|SYHEMRJIGGMSWEm;SVPH Pelos vistos, os Neurosis
;EV1EGLMRI|UYIXERXSETIPEVɧEJɩWHI%X8LI+EXIWGSQSHI1SVFMH%RKIP4EVEGSQTPI- aplicam a mesma as-
tar o ramalhete, e contra a previsão dos mais cépticos (como este escriba), conseguem su- sertividade que lhes tem
TVMVEEYWɰRGMEHSɳQTEV.ERRI7EEVIRTEEGSQYQXEPIRXSWS,IRVMO%\IPWWSRHSRSHIYQ ajudado a proporcionar
IWXMPSWMQMPEVESHSERXIVMSVFEXIVMWXEm'SFVE7TIIH:IRSQ|ɯQIWQSQYMXSFSQ [8] J.A.R. uma carreira imaculada na gestão da “sua” edito-
ra – nos últimos anos em que a Neurot se abriu
mais como uma editora a sério, e não só para
edições da família Neurosis, não nos consegui-
mos honestamente lembrar de um lançamento
que não tenha estado à altura das altíssimas
expectativas com que vem o facto de passar a
ser “uma banda da Neurot”. Diga-se em abono
da verdade que os Chrch também foram uma
aposta relativamente segura – o doom demo-
lidor que apresentaram no seu «Unanswered
Hymns» de estreia, insuportavelmente pesado,
horrendamente belo e com um twist todo só
deles, dava a entender que este quinteto de
Sacramento é de facto invulgar. Assim o provam
com este segundo álbum, onde tudo é bastante
semelhante ao primeiro. Mantém-se a estrutura
de três temas em 45 minutos, as características
sonoras são parecidas, com momentos de rara
beleza em que a vocalista Eva toma a dianteira
são normalmente contrapostas com subsequen-
tes toneladas de lama sonora atiradas para cima

50 LOUD!
de nós, e apesar da toada quase-sludge, da vio- especializada em death
lência em câmara-lenta e da delicadeza amea- metal da porrada e da
ɭEHSVERSƤREPEMQEKIQGSQUYIƤGEQSWɯ brutalidade. Que não se
HII\XVIQEIPIKɨRGMEIWSƤWXMGEɭɩSQɯVMXSHI interprete isto como uma
uma composição riquíssima. A única crítica que crítica – se tematicamen-
se poderá fazer é mesmo essa, é que «Light…» é te, e até sonoramente, não
“mais do mesmo” em relação ao primeiro álbum, apresentam nada de sur-
apesar de ser “mais e melhor” do mesmo. Mas if preendente, isso não quer
it ain’t broke… [8] J.C.S. dizer que a qualidade não
esteja lá, e de facto, para
DAUTHA uma banda em estado
«Brethren Of The Black Soil» quase embrionário, estes
[Ván] cinco temas são muito
O denominado epic doom interessantes. Death com
é um subgénero muito laivos de thrash, vindo de
complicado. Há um número França mas espiritualmen-
reduzido de artistas a pra- te de armas e bagagens
ticá-lo – não só hoje, mas também ao longo dos instaladas na Florida, dão
anos, desde que os Candlemass o “inventaram” –, ares de Monstrosity ou de
quando comparado com praticamente qualquer Cannibal Corpse do tempo
SYXVSWYFKɯRIVSTSVQEMWIWTIGɳƤGSUYIWINEI do Barnes, mais soltos
percebe-se porquê. Precisa de um feeling muito e menos cavernosos. A
particular, de uma composição rica, de um vo- produção é moderna, mas
calista de excepção, e se não tiver algum destes o feeling é totalmente old
elementos, espalha-se logo ao comprido. Não school, e nota-se que o co-
há meio termo. Poucas ou nenhumas bandas se ração destes putos está no
chegaram sequer perto da sopa primordial dos sítio certo. É deixá-los crescer, agora. [6.5] J.C.S. temática. Ainda que seja sempre louvável terem
Candlemass, com a possível excepção dos Soli- EFERHSREHSEWMRƥYɰRGMEWWLSIKE^IUYIHI
tude Aeturnus e um ou outro momento pontual DON BROCO resto nunca conseguiram integrar decentemente
de outras, e é por isso sempre motivo de algum «Technology» nas suas composições, a verdade é que nem tudo
entusiasmo desmedido quando aparece alguma [SharpTone] é perfeito nos tempos que correm. Não é só a
com esse potencial. Temos agora os Cruthu (vão Há por aqui rock e uma falta da sensibilidade atmosférica nas escolhas
lá ouvir o «The Angle Of Eternity» e digam-me pitada de hardcore, há por rítmicas, mas sobretudo as decisões ao nível da
coisas), e também os Dautha. Estes suecos, que aqui funk e um apurado produção. Olhando uma vez mais para o referido
só tinham uma demo até agora («Den Förste», sentido pop, há por aqui período pré-2006, temos em «Autumn Aurora»
de 2016, que chegou a ser reeditada uns tempos uma amálgama electrónica diluída numa base e «The Swan Road» os antecessores espirituais
depois), sabem como capturar a atmosfera certa instrumental na qual as guitarras, ainda assim, HIWXERSZMHEHIHMWGSKVɧƤGESTVMQIMVSTIPS
para cada tema, o que para eles não é especial- assumem a maior preponderância. Depois toque folk e o segundo pelo tempo impresso aos
mente fácil, já que cada um se foca num facto ou ainda há uma miríade de registos vocais, do procedimentos. Infelizmente, concluímos que este
episódio histórico particular, uma selecção con- mais gritado e agressivo ao mais irritantemente IPIZEHSƥY\SHIVɧTMHSWVMJJWGSQTIRHSVɯTMGS
ceptual que é, diga-se, particularmente boa. Há delicodoce, que fazem de «Technology» uma precisa de uma produção mais crua e um mais
um violino que não é sobre-utilizado e que fornece verdadeira torre de babel de sons e paisagens. O frequente corte de andamento para o elevar ao
excelentes contrastes com os riffs carnudos e terceiro disco destes britânicos dá a sensação sublime que tanto almeja. [7] L.P.
paquidérmicos, a imagem de marca do guitarrista de que um maior protagonismo no espectro mais
3PE&PSQOZMWXUYIIVEHSWQEKRɳƤGSW+VMJXIKɫVH agressivo do rock tão melódico quanto pesado EIGENLICHT
Surpreendentemente, a voz vem de Lars Palmq- tem-lhes escapado muito por culpa de quererem «Self-Annihilating Consciou-
vist, que os mais atentos reconhecerão dos… Scar chegar a demasiados locais ao mesmo tempo. A sness»
Symmetry, mas não deixemos essa referência ideia até pode ser fascinante, mas o resultado é [Gilead Media]
menos feliz toldar-nos o raciocínio. A verdade é deveras confuso e não ajuda a que os enormes Estreia destes norte-ameri-
que o homem larga aqui uma performance teatral, e viciantes ganchos melódicos que por aqui se canos para a Gilead Media,
emotiva e dinâmica, sem exageros mas com encontram ganhem espaço para respirar e efecti- que aposta aqui em mais
expressividade notável. São seis temas cativantes va importância, num disco no qual o menos seria uma proposta de death/doom funéreo injectado
que nunca esmorecem ao longo de uma hora, e os claramente mais. [6] R.A. do tremolo picking característico do black metal
Dautha ainda se dão ao luxo de correr um peque- contemporâneo – um som que, graças a bandas
no risco com o último desses seis, «Bogbodies», DRUDKH como Bell Witch, tem gozado de bastante aten-
um tema diferente dos outros, com uma estrutura «They Often See Dreams ção nos últimos anos. Sem serem tão cavernosos
bizarra e uma atitude vanguardista que, uma vez About The Spring» ou sorumbáticos como os companheiros de
mais, representa na perfeição o seu conteúdo [SOM – Underground Acti- editora Cavernlight, que no ano passado soltaram
lírico e nos consegue submergir totalmente na vists] um monólito ainda por igualar chamado «As We
história horrenda que relata. Uma estreia extrema- Os Drudkh, pese as devidas Cup Our Hands And Drink From The Spring Of
mente promissora! [8] J.C.S. distâncias, têm na sua dis- Our Ache» e que vale a pena ir checkar se vos
GSKVEƤEYQGIVXSTEVEPIPSGSQ SW (EVOXLVSRI 8EP passou ao lado, os Eigenlight têm apetência para
DEFENESTRATION como acontece com os noruegueses, há entre os embarcar em crescendos que não soariam, de
«Gutter Perdition» seus fãs uma reverência transversal aos primeiros todo, deslocados num qualquer disco de post
[XenoKorp] discos, neste caso até ao «Blood In Our Wells». black, e é exactamente aí que se safam. Quando
A editora francesa Xe- Depois disso, a preferência por discos distintos é põem o pé no travão e mergulham na adoração
noKorp, pelos vistos, achou tão vasta como o número dos mesmos (convém ao death/doom dos 90s, os músicos colocam-se
que não era underground o lembrar que, em termos de tempo desde o primei- sempre numa posição delicada, quase a resvalar
WYƤGMIRXIIIRXɩSHIGMHMY ro álbum, os Drudkh estão agora no “seu” «Hate para o entediante. Funcionando como um todo
criar uma subdivisão chamada The Militia Series, Them») e a avaliação das novidades é condicio- feito de uma pequena introdução e de três temas
onde vão pegar em jovens bandas, em início de nada pela veneração do passado. «They Often todos com mais de quinze minutos de duração,
carreira, e ajudá-las a começar o seu percurso. See Dreams About The Spring» dá continuidade RSƤREPm7IPJ%RRMLMPEXMRK'SRWGMSYWRIWW|VIZI-
Kudos, é boa ideia. Os Defenestration são a sua ao trabalho apresentado no regresso à forma que la-se uma viagem com picos e vales profundos,
primeira aposta sob este selo, com o seu EP foi «A Furrow Cut Short» e nos três subsequentes que nos deixam divididos entre os momentos
de estreia, «Gutter Perdition», e alinham pelo splits, prosseguindo aliás a tradição de usar poe- que funcionam muitíssimo bem (e há desses em
diapasão do que seria de esperar de uma editora sia ucraniana do começo do séc. XX como âncora todas as canções, se é que se lhes pode chamar

LOUD! 51
isso) e aqueles em que aborrecem, com tempos confrangedora. É verdade que tentam dissimular a
LUÍS RATTUS lentos esticados muito além do que a criatividade coisa com algumas passagens a atirar para o rock
aconselharia. [6] J.M.R. psicadélico setentista, mas esbarram com outra
referência demasiado óbvia: Opeth. Tecnicamente
HAMMR irrepreensível e mesmo surpreendente, este disco
«Unholy Destruction» de estreia peca por algo que lhe é, de alguma
[Hells Headbangers] forma, admissível, que é como quem diz a falta
Para este primeiro longa- de originalidade e colagem demasiado evidente a
-duração como Hammr, referências que instantaneamente nos assaltam a
J. Hammer recrutou Joel QIRXI1EMSVVIƤREQIRXSHITIVWSREPMHEHITVIGM-
Grind dos Toxic Holocaust sa-se, pois o talento está lá e deixa bons indícios
para o masterizar e Commandor Vanik, guitar- para um segundo álbum. [5.5] R.A.
rista de sessão dos Midnight, para a mistura e
solos de guitarra – que, como se escuta logo no LIGHT THE TORCH
ƤQHEm7EXERMG6EMH|WIVZIQQEMWTEVEHEVYQ «Revival»
toque de sleaze do que propriamente uma aura [Nuclear Blast]
HITVSƤGMɰRGMEXɯGRMGE*E^IQSWVIJIVɰRGMEESW No press release editorial, o
dois nomes adicionais porque o seu currículo novo projecto dos músicos
dá uma boa ideia do deboche que se faz ouvir e dos Devil You Know vem
THE DIRTY COAL TRAIN
sentir durante a meia-hora de «Unholy Destruc- rotulado de metalcore,
tion». Como é aliás apanágio nas bandas dos mas se tivessem colocado nu metal, talvez acer-

A
pós o preview da cassete «The Watcher», os CRU- referidos, o foco recai unicamente no selvagem tassem mais. A assumida aposta do vocalista
CIAL CHANGE ETVIWIRXEQ ƤREPQIRXI S UYEVXS sequenciamento de deliciosos riffs de speed Howard Jones por um som, neste terceiro disco,
longa-duração, desta vez em formato CD e através e thrash metal, com uma boa dose de d-beat e com mais “melodia e harmonia”, tentando criar
da editora da banda True Color Records. «The Fire Next vocalizações que remetem para o black metal do músicas mais ambiciosas, resulta perfeitamente,
Time» apresenta o colectivo de Seattle mais forte que ƤREPHSWERSWEUYMPSUYISQɽWMGSREXMZSHS conseguindo um pacote de malhas que tanto
nunca, com temas acutilantes e uma máquina muito bem Ohio descreve como satanic speed. É original? pode agradar a fãs de nu metal, como de Avenged
engrenada. São doze temas musculados com guitarras Nem um bocado, mas cumpre a missão a que Sevenfold ou Trivium. A existirem dúvidas, basta
arrasadoras e refrães de fazer cerrar o punho. Para quem WITVSTɺIGSQYQEI\XVIQEIƤGMɰRGMEIWIQ escutar «Die Alone», primeiro tema do disco e
é fã de bandas que cruzam o hardcore e o oi! na linha de uma pinga de pretensiosismo, oferecendo uma também advance single, pois está lá tudo. E se
Battle Ruins ou Vanity mas com uma personalidade vin- bela pomada para fãs de Bathory, Hellhammer, e gostarem, podem explorar temas como «Raise
cada e muito própria, aqui está um grupo a ter em conta. Sodom. [7] L.P. The Dead», ou a melancólica «The Safety Of
Disbelief», com o baixo pulsante de Ryan Womba-
Com marca da jovem editora Youth 2 Youth Records che- INSANITY ALERT cher, uma constante neste disco. A introspectiva
ga-nos o 7” EP dos BRIGHT LIGHT, «Break It Out». Duas «Insanity Alert» «The Great Divide», com o seu início electrónico,
versões em vinil preto e vinil transparente a transpirar [Season Of Mist] acaba a seguir a fórmula de outros temas quando
hardcore old school e a seguir os passos de bandas como Thrash metal, na sua ver- chega aos refrães catchy, mas emprega alguma
Turning Point. Letras positivas, mente alerta e mensa- são crossover, a lembrar diversidade num disco que resulta engraçado,
gem consciente destes polacos com feeling youth crew. bandas como D.R.I. ou mas em que a ousadia reside apenas no alargar
Também da Polónia nos chegam os VICIOUS X REALITY, Municipal Waste. Falamos horizontes de mercado. E apenas isso. [6.5] E.F.
banda de hardcore straight edge, com o 7” EP «Our Com- de um grupo austríaco com um vocalista holan-
mon Fight», mas este editado na já consagrada editora dês, fundado em 2011 e cujo disco aqui em causa LOATHE / HOLDING
Refuse Records. Hardcore rápido, temas fulminantes e é uma reedição da estreia de 2014. Os Insanity ABSENCE
mensagem sobre a luta sóbria e temas como o vegetaria- Alert estão, presentemente, a compor um terceiro «This Is As One»
nismo e a libertação animal. Hardcore punk feito à imagem trabalho, a sair este ano pela Season Of Mist, [SharpTone]
da velha escola mas com uma paixão bastante actual. editora que neles aposta, apresentando-nos assim Split EP com duas bandas
as fundações do quarteto. São quinze temas que do Reino Unido a mos-
Ainda no hardcore, mas numa linha mais pesada próxi- não chegam a durar meia-hora, ao todo, numa trarem que o rock/metal
ma do metalcore, chegam-nos os ribatejanos NO HOPE. thrashada em modo desbunda que não nos dá, moderno pode ter várias cambiantes que prendem
Nascidos e criados em Santarém desde 2015, apresen- rigorosamente, nada de novo, mas que está bem a atenção, apesar dos clichés. Dois temas de
tam o seu primeiro EP em formato demo CD com oito feita e revela momentos de irresistível headban- cada banda e o primeiro desses tiques difíceis de
temas. «Off The Beaten Path» é o nome deste trabalho, ging como «Glorious Thrash» ou «Shit For Brains». disfarçar é-nos dado pelos Loathe quando surge
apresentando a banda em excelente forma, bastante A fechar, uma espécie de versão de «Run To The uma voz colada ao registo de Chino Moreno dos
GSIWEIGSQYQEPMRLENɧFEWXERXIHIƤRMHERSXERHSWI Hills» com letra adulterada. “Run to the pit, mosh Deftones. A segunda faixa, «Servant And Master»,
uma evolução imensa desde os primeiros tempos onde for your life”. Seja. [6] N.S. alinha mais pela (ainda) contemporânea tonalida-
ainda se estavam a tentar encontrar enquanto banda. de Meshuggah, colocando a banda de Liverpool
LETTERS FROM algures entre o metal alternativo e o djent, com
Mudando de registo para o rockabilly, destaque para THE COLONY assomos de deathcore. Já os Holding Absence
«Rockin’ The Blues» dos enérgicos AJ & THE ROCKIN’ «Vignette» são mais melódicos, lembrando os TesseracT, a
TRIO. Doze temas a deambularem pelo rhythm & [Nuclear Blast] espaços, já que também fazem uso desse lado li-
blues, country e 60s rock’n’roll, com uma execução so- Quanto mais este universo geiramente progressivo, sobretudo na voz. É curio-
berba, não fossem os integrantes da banda malta bati- do metal ultra técnico, ultra so como o segundo tema de Loathe pega com
da e com muitos anos de estrada com passagens por produzido e ultra complexo o primeiro dos Holding Absence, como se «This
outras bandas clássicas. O excelente tema «Done Me se adensa, mais complicado se torna a tarefa de Is As One» fosse, de facto, o trabalho de uma só
Wrong» conta com a participação de Pedro Serra (The distinguir uma banda da multidão e encontrar ar- entidade, apesar de cada par de músicas ter uma
Mean Devils / TT Syndicate) numa toada mais country gumentos que validem o convite a quase uma hora banda diferente a tocá-los. Nada de extraordinário
e «Call Me (I’ll Be Here)» tem a presença de Coral Lee de solos intricados, riffs angulares e estruturas tão aqui, mas nada se perde, também, se mantivermos
*EVVS[%IHMɭɩSƤGSYQEMWYQEZI^EGEVKSHEKIV- complexas quanto maquinais. Os suecos Meshu- ambos os grupos debaixo de olho. [6] N.S.
mânica Rhythm Bomb Records, num apelativo digipak. ggah são a referência a este nível e, com maior
ou menor técnica, com mais ou menos peso, é LONG DISTANCE
Quem não sabe o que é parar são os reis do garage punk um facto que tudo o que lhes é comparável acaba CALLING
luso, os THE DIRTY COAL TRAIN. Após um 2017 repleto por nunca deixar de ser mais um seguidor. Ora, «Boundless»
de edições e de estrada, incluindo extensa tour no Brasil, os seus conterrâneos Letters From The Colony [Century Media]
têm já pronto a sair um duplo LP com uma série de convi- entram directamente para o clube dos fãs confes- Desta vez dispensando
dados de luxo. Com edição através da Groovie Records e WSWHI1IWLYKKELESTSRXSHEQIVEMRƥYɰRGME qualquer tipo de vocali-
+EVEKIQ 6IGSVHWTVSQIXIWIVYQEHEWFSQFEWHI artística soar a uma colagem tão evidente quanto zações, os Long Distance

52 LOUD!
Calling retornam ao som original, recorrendo ape- como «Take Me To The Church», «Night Moods» e ram um dos expoentes máximos. Dito isto, não
nas à instrumentalização post rock característica «The Girl With The Stars In Her Eyes», com «Eve- esperaríamos outra coisa. Música assim requer
do grupo alemão. Ao mesmo tempo que copia rest» a soar um pouco destoado do alinhamento, paciência, não se coaduna com pressas nem
fórmulas passadas de discos anteriores, «Boun- recuperando com o animado «Messing Around» e TVIWWɺIWIIWXIWQMRYXSWUYIEFERHERSW
dless» pretende abrir novos caminhos na sonori- o empolgante «Time Knows When It’s Time». Até oferece agora são claramente produto de muito
dade da banda e nesse sentido deixa um pouco ES ƤREP HIWXEGEWI S MRWXVYQIRXEP m7EPZEXMSR| tempo de maturação e de “deixar assentar”. Pode
a desejar. As melodias atmosféricas perdem-se num alinhamento que vai decaindo de inspiração. parecer mauzinho da nossa parte, do tipo nun-
em deambulações rock pesadas e melancólicas, Mais do que uma ressurreição, este é um tributo a ca-estão-satisfeitos, mas a verdade é que parece
pouco criativas, retendo ainda assim algum en- um passado glorioso. [7.5] C.G. que houve maturação… a mais. Atenção, que
canto. «Out There», «Ascending», «The Fair Side» continuamos a falar, globalmente, de um trabalho
e «Skydivers» são dessas encantadoras canções MOURNFUL com grande mérito, e ainda assim recomendado
que vão crescendo e ganhando corpo, à medida CONGREGATION aos fãs deste estilo, com toda a beleza vagaro-
que a crueza dos riffs se desprende para se incor- «The Incubus Of Karma» samente explanada que viemos a esperar dos
porarem em texturas minimalistas e hipnóticas. [Osmose] Mournful Congregation. Mas é, especialmente em
É um álbum de contemplação e divagação que Foram muitos anos sem comparação com os melhores momentos da car-
entusiasma verdadeiramente por momentos, es- música nova dos Mournful reira da banda (particularmente a segunda demo,
XERHSRSIRXERXSYRWƤSWEFEM\SHSUYISWWIYW Congregation «The Book «An Epic Dream Of Desire», e os dois primeiros
congéneres (os God Is An Astronaut por exemplo) Of Kings» já dista sete anos, e a última vez que os álbuns), também um trabalho mais relaxado,
actualmente atingem. [7] A.F.C. ouvimos foi no EP «Concrescence Of The Sophia» mais arejado, mais simplista, o que nem sempre
de 2014, o que pesa um bocado para todos os JYRGMSRERSGSRXI\XSHIXIQEWHISY
MAMMOTH GRINDER amantes do funeral doom de qualidade, género minutos, como é o caso. Muitas vezes irrompem
«Cosmic Crypt» do qual estes australianos rapidamente se torna- leadsQEKRɳƤGSWɦ1](]MRK&VMHIUYITSYGS
[Relapse]
Se, à semelhança de
99% desta redacção e do
departamento de A&R da
Relapse, são mais uma
daquelas pessoas que acha que “o mundo pre-
cisa sempre de mais Entombed”, então têm aqui
EARTHLESS
um disco capaz de vos encher a alma. Enquanto «Black Heaven»
o Alex, o Uffe e o Nicke continuam a ponderar se
vão efectivamente arriscar escrever e gravar um [Nuclear Blast]
novo disco e o L-G anda a dar voltas ao mundo

O
e a lançar música inconsequente com a versão s pratos seguidos da guitarra, numa intro não assumida
A.D. da lendária banda sueca, as novas gera- GLEQEHEm+MJXIH&]8LI;MRH|KERLEQPSKSSHMWGS(I-
ções de veneradores do HM-2 continuam a dar pois o tema segue numa toada zeppeliana que faria inveja
cartas nas margens. E sim, às vezes, parece que ao quarteto original, sem exagero. Nesta altura já não é preciso
já chega, mas mal a agulha toca no vinil, torna- SYZMVQEMWTEVEWEFIVUYIm&PEGO,IEZIR|ɯFSQ4SWWIKYIWIGSQEHIWFYRHEHIƤQHI
-se óbvio que esta abordagem gutural ao death jam que inicia «End To End», e vem à memória Hendrix ou Cream, qualquer coisa associada
metal, com um pico de punk, nunca vai perder a power trio, neste caso powered by1MXGLIPP6YFEPGEFEI)KMRXSR%QIXEHIƤREPHSXIQEɯ
a graça. Este mês, nesta secção, contam-se YQWSPSHI1MXGLIPPGSQYQEHMRɨQMGEVMXQɳGEEETSMEVIGETE^HIXMVEVSJɹPIKSEQYMXSW
duas homenagens descaradas (e de respeito) «Electric Flame» é uma malha retro TSV ZI^IW E VIGSVHEV 8LI 7[SVH SY WI GEPLEV GSQ EW
ao legado do «Left Hand Path» e do «Clandesti- QIWQEWVIJIVɰRGMEWHSFMKVSGOEQIVMGERSHSWW4SVIWXEEPXYVEXEPZI^WINEFSQMRJSVQEV
ne». São editados, em média, e fazendo a conta UYITIPETVMQIMVEZI^RELMWXɸVMEHSKVYTSLɧ-WEMEL1MXGLIPPREWZS^IWIQUYEXVSHSWWIMW
por baixo, uns três ou quatro álbuns do género XIQEWKERLERHSSHMWGSXSHEYQESYXVEHMQIRWɩSQEWWIQTIVHIVSIWTɳVMXSHIjam que a
todos os meses... e, mesmo assim, «Cosmic GSQTSRIRXIMRWXVYQIRXEPHEZEESGSPIGXMZS%I\IQTPSHMWWSIWXɧSXɳXYPSHSHMWGSXEQFɯQ
Crypt» não deixa de entusiasmar. O segredo ele uma faixa, e designação das jam sessionsIRXVI1MXGLIPPI6YFEPGEFE3ƤQGLIKEGIHS
está, claro, no som granulado que sai das co- GSQERɩSQIRSWFVMPLERXIIFIQXMXYPEHEm7YHHIR)RH|power ballad orelhuda e sentimen-
PYREWũEQTPMƤGEHSEUYMTIPEQEWXIVM^EɭɩSRS XEPSREZIVHEHIMVSQSQIRXSTEVEGSRWXMXYMVJEQɳPMEUYIEXɯHɧHMVIMXSEGSVSWHSWVIWXERXIW
ponto de Joel Grind –, mas também na qualida- elementos. Um disco excessivamente bom, que eleva bastante a curiosidade para a actuação
de dos riffs, na escolha das batidas (o d-beat a HIWXIKVYTSRSTVɸ\MQS:IVɩSRS7SRMG&PEWX [9] E.F.
meio-tempo da «Superior Firepower», mesmo a
XVIWERHEVE%YXSTW]RYRGERSWHIM\EƤGEVQEP 
e a esperteza dos ganchos, que fazem do quar-
to álbum dos Mammoth Grinder um autêntico
festim para quem gosta disto. [8] J.M.R.

MICHAEL SCHENKER
FEST
«Ressurrection»
[Nuclear Blast]
Prestes a completar 50
anos de carreira, com óbvio
destaque para os Scorpions
e U.F.O., Michael Schenker decidiu reunir neste
seu novo projecto quatro fantásticos vocalistas
com os quais já trabalhou no passado. Em «Res-
surrection» temos Gary Barden, Graham Bonnet,
Robin McAuley e Doogie White a interpretar,
sozinhos ou em conjunto, uma colecção de
temas bem ao estilo do guitarrista germânico. O
rápido tema de abertura «Heart Of Soul» conta
com a guitarra de Kirk Hammett dos Metallica,
seguindo-se-lhe o épico «Warrior» onde pode-
remos escutar os quatro vocalistas juntos. O
espírito dos anos 70 mantém-se vivo em malhas

LOUD! 53
PEDRO PEDRA depois desaparecem, sem grande continuidade, e das até chegam a lembrar os Gojira, sem que em
BELA HILÁRIO muitas vezes temos a sensação que determinado nenhum momento consigam, ou tentem sequer,
XIQE IWXɧ Wɸ E ƥYMV GSQS YQ VMS TEGLSVVIRXS ter o groove e a acessibilidade dos franceses. Os
sem grande objectividade ou propósito. Pode ser Nightmarer fazem jus ao nome. São quase sem-
essa a atmosfera cósmica/bucólica que o grupo pre intricados, negros e dissonantes e projectam
pretendia, mas faz com que vários momentos de assim 35 minutos de pesadelo auditivo, neste
«The Incubus Of Karma» dêem vontade de desis- «Cacophony Of Terror». Ao longo de todo o disco
tir, mais do que contemplar. [6] J.C.S. persiste uma sensação de caos controlado, cons-
truído em cima de padrões rítmicos imprevísiveis
MYRKRAVERK e mudanças de direção repentinas. Essa tendên-
«Naer Døden» cia para o espasmo lembra, de facto, os War From
[W.T.C.] A Harlots Mouth, porém numa cacofonia bem
No começo, tresandava a mais coerente e focada. O álbum funciona quase
Isengard. Sete anos desde o como uma única canção, tal é a semelhança
segundo EP, «Nekromantia IRXVIXIQEWQEWEGEFETSVWIVWYƤGMIRXIQIRXI
Muscaria», os Myrkraverk dinâmico para não cansar. A execução técnica é
de Thor Helgesen (vocalista e instrumentista primorosa e o low end está garantido pelas oito
HSW 8LVSRI 3J /EXEVWMW ƤREPQIRXI PERɭEQ EPKS cordas de Simon Hawemann, muito bem acom-
QEMW WYFWXERGMEP % VIJIVMHE MRƥYɰRGME GSRXMRYE panhado por Paul Seidel, actual baterista dos The
presente, mas «Naer Døden» é mais do que uma Ocean, que assina um trabalho sublime. A Season
HEX continuação do passado; a produção é mais equi- Of Mist cita os Dodecahedron e os Ulsect como
librada do que nunca, deixando a nu os diversos referências para o que se passa em «Cacophony
MRWXVYQIRXSW QEW QERXIRHS E FEM\E ƤHIPMHEHI 3J8IVVSV|IVIEPQIRXIRɩSƤGEPSRKIHEZIVHEHI

O
Os ARCHAIC TOMB estreiam-se com «Con- tão importante para a criação da atmosfera ri- Falta apenas conseguirem criar mais ganchos
gregations For Ancient Rituals», no qual abrem tualista a que se propõe. A forma coerente como ou maiores contrastes para fugirem a uma certa
um veio cerimonial cujas preces ecoam nas alterna registos a sequência «Ritual» (black folk undimensionalidade. [7] J.A.R.
profundezas deste planeta. Estamos certos que as tradicional), «Astral» (interlúdio ritualista descon-
criaturas infernais regozijam-se, em absoluto, com as certante), tema-título (uma síntese dos dois), e OF FEATHER AND BONE
lentas tormentas proferidas ao longo desta mão cheia «NatasataN» (novo interlúdio, desta feita à base «Bestial Hymns Of Perversion»
de missas negras. Não descolando muito desta visão, de guitarra acústica e cânticos) é bem ilustrativa [Profound Lore]
mergulhamos para níveis mais fundos de destruição e, sobretudo, o apostar em composições mais Se acham que o catálogo
com os BARBARIC HORDE e a sua segunda apari- out there GSQS m&PɫOZMX| GSRJIVIQ ɦ FERHE YQE da Profound Lore se faz
ção demonológica, intitulada «Tainted Impurity». Bru- identidade muito mais diferenciada e são o maior apenas de death metal
talmente heréticos convencem com o seu fulminante destaque do álbum. Tendo em conta que este cavernoso, black metal frio
TSHIV ɳQTMS RɩS HIM\ERHS QEVKIQ TEVE TEGMƤGEɭɺIW conta com Nocturno Culto, Grutle e Hoest como e noise macabro, aqui têm uma boa prova de que
ou qualquer outro tipo de purezas. convidados, é obra. [8] L.P. SHMETEWɩSTSVUYIEƤRESMRƥYIRXI'LVMW&VYRM
é bastante mais diverso. Para todos os efeitos,
Já os BAS ROTTEN lançam-nos ao chão com a sua NECROPHOBIC caso o nome deixe margem para dúvidas, estes
última demo-tape. Mas se pensam que a queda é suave «Mark Of The Necrogram» Of Feather And Bone são uma banda declara-
desenganem-se, aqui, o impacto é de tal forma violento [Century Media] damente contemporânea, no sentido em que
que até dá vontade de ser atropelado por mais mate- Após um período conturba- WYVKMVEQMRƥYIRGMEHSWTSVYQEWɯVMIHIFERHEW
rial desta jovem banda. Venha ele! Os vizinhos HEX do com o afastamento do formadas no novo milénio. Apesar de invocarem
iniciam a sua carreira da melhor forma com «Let There anterior vocalista devido a o espírito do death metal escandinavo dos 90s, o
Be Darkness». Entre o death e doom castigam sem re- problemas com a justiça, que se ouve aqui é a continuação lógica do que
correrem a adornos românticos despropositados, op- os Necrophobic respiram saúde malévola e foram uma banda como Trap Them andou a pregar du-
tando, antes, por explorar um caminho mais esotérico buscar nada menos que o vocalista do álbum de rante mais de uma década. Reduzindo ao essen-
e vanguardista ao longo desta mistura sonora, levan- estreia em 1993. Escutando a novidade «Mark Of cial o punk, o hardcore e o crust que ainda tinham
do-os a percorrer um caminho com identidade própria. The Necrogram», nem parece que passaram todos dado um ar da sua graça na estreia «Embrace The
estes anos por Anders Strokirk. Tal como é apa- ;VIXGLIH*PIWL|IEYQIRXERHSHIJSVQEWMKRMƤ-
Apresento-vos, agora, os FETID que celebram a vida nágio da banda sueca mérito para o fundador e cativa os níveis de guturalidade, mas mantendo
plena de podridão e peso na sua primeira demo com o resiliente baterista Joakim Sterner cada álbum inalterado aquele som cortante e rugoso das
convidativo nome «Sentient Pile of Amorphous Rot». É lançado é uma garantia de black/death de quali- guitarras encharcadas de HM-2 ultra saturado e
curioso como este título quase fala por si só pois a ex- dade, obscuro e vil, mas burilado com detalhe nas no vermelho, os quatro músicos do Colorado ati-
pressão musical vai totalmente ao encontro desta gra- melodias e estruturas de cada tema. Este oitavo ram-se a blastbeats pulverizantes e meios-tempos
matical decadência sonora bafejada de intermitentes LP não é excepção. Esperem ritmos velozes, 100% demolidores, que abraçam a tradição death metal
arrastamentos e mudanças de velocidades que combi- metal nas veias e excelentes harmonias por parte sem ponta de medo de saltitarem para terrenos
nadas com a brutalidade suja são motivos mais do que de uma dupla de guitarristas regressada à ban- mais pantanosos (sludge) ou gélidos (black).
WYƤGMIRXIW TEVE XIVQSW TIWEHIPSW TEVE S VIWXS HE ZMHE da. Agora na Century Media e com o promissor Feitas as contas, é meia-hora de castanhada
Vamos pôr uma mudança acima com os MESRINE. comeback através do EP «Pesta» lançado no ano directa, sem merdas ou rodeios, que não se pro-
Estes grinders já têm muita rodagem e como tal sabem passado, os Necrophobic despertaram a rugir e põe a reinventar a roda deste tipo de coisa, mas
fazê-lo sem que os atributos deste estilo musical so- levam-nos de volta aos bons velhos anos 90, ao que tem um apelo inegável graças à força brutal e
fram algum tipo de desvio. O mais recente «Source Of sabor de um som personalizado e irresistível, e da inadulterada com que é cuspida. [7] J.M.R.
Hatred» não foge à regra e as 23 aulas que compõem imagética criada por Necrolord. [8] N.S.
este programa curricular tornam-se de frequência obri- OLD TOWER
gatória para qualquer pretendente ao doutoramento NIGHTMARER «Stellary Wisdom»
em grindcore. «Cacophony Of Terror» [Profound Lore]
[Season Of Mist] Mesmo aqui em cima, diz
Entrando em domínios mais esquizofrénicos, mas sem Nascidos das cinzas dos o nosso estimado director
perder a técnica e o foco no extremo, os PYRRHON War From A Harlots Mouth que o catálogo da Profound
brindam-nos com o mais recente «What Passes For e dos Success Will Write Lore não se faz apenas de
Survival». Esta cascata rítmica é estonteantemente Apocalypse Across the Sky, “death metal cavernoso, black metal frio e noise
arrítmica e testa os nossos limites de forma muito os Nightmarer acabam por ter bem mais em co- macabro”, apresentando os Of Feather And Bone
consciente. A sanidade mental e a insanidade musical mum com os primeiros do que com os segundos. como uma boa prova disso. Pois bem, os Old
confundem-se com as maiores das naturalidades e São uma versão aprimorada do colectivo alemão: Tower são um desvio ainda maior dessa norma,
dão expressão ao génio que deve estar presente em mais metálica e musical, menos core e esquizo- e marcam a incursão da editora de Chris Bruni
todas as formas de arte. Horns up for metal! frénica. Nas passagens atmosféricas e balança- pelo muito-em-voga dungeon synth. Não sabe-

54 LOUD!
mos bem até quando é que esta “moda” vai durar mesmo sem isso, a forma como os temas foram coisa má, e os Painted Doll provam isso mesmo
(referimo-nos mesmo à moda, porque o estilo compostos e interpretados não engana. É isso que com cada segundo de uma estreia incrivelmente
em si já é bem antigo, note-se), e já começou a faz com que a infecciosa malha de abertura «Toge- promissora. [8.5] J.C.S.
aparecer muita tralha a poluir o panorama, mas ther Alone», por exemplo, não seja uma quase-cover
enquanto há espaço de manobra, vale a pena ir descarada dos Blue Öyster Cult, mas sim uma RED SUN RISING
escolhendo as coisas boas, e Old Tower é sem homenagem sentida e quase enternecedora que, «Thread»
dúvida das melhores propostas até agora. Faz apesar das óbvias (e assumidas) parecenças com a [Spinefarm]
sentido que tenham acabado na Profound Lore, lá sua inspiração original, consegue de alguma forma Com certeza que os
está, porque todo o ambiente é condizente com o ganhar a sua própria personalidade e lugar na nos- músicos desta banda nor-
que esperamos dos lançamentos da editora ca- sa cabeça. Assim acontece com o resto do álbum – te-americana cresceram
nadiana. É dungeon synth, sim, mas há uns anos cada um dos temas vai referenciando várias lendas a ouvir grunge e todos os
chamar-lhe-íamos apenas de um mais generalista dos 60s e 70s, como os T. Rex, os Golden Earring, seus derivados dos anos 90, pois este «Thread»
“dark ambient” ou algo do género, e ouvíamos isto os Kinks ou os Jefferson Airplane, de forma clara tinha todos os itens necessários para se tornar
sem problemas juntamente com os discos bons e respeitosa mas sempre trilhando o seu próprio um sucesso… se estivéssemos em 1995. Abrindo
do Mortiis e as cenas da Cold Meat Industry. Toda caminho, cheias de ear candy e ganhando pontos a com «Fascination» (que recorda os Cranberries),
a evocação conceptual de «Stellary Wisdom» cada audição extra. Até quando, efectivamente, se o disco segue com o pop/grunge de «Left For
é black metal, e a percussão e os coros vocais lançam numa cover propriamente dita (da lendária Dead», seguindo-se a ritmicamente animada
contribuem para uma espécie de épico negro que, «I Put A Spell On You»), sabem tornar algo tão «Deathwish» e a baladinha «Stealing Life». O
mesmo quase todo tocado num sintetizador, é tão emblemático e enraízado no subconsciente comum sobrolho continua franzido até se levantar com
ou mais macabro que outros discos de berraria e em algo só deles. “Derivativo” pode não ser uma «Veins» e «Clarity», voltando ao seu estado habi-
barulheira infernais, com o added plus da elegân-
cia e da atmosfera envolvente. Até pode servir de
porta de entrada para quem quer provar um boca-
dinho do género sem ter de se atirar já de cabeça
para o catálogo da Ancient Meadow Records ou
semelhante. [7] J.C.S. FU MANCHU
PAINTED BLACK «Clone Of The Universe»
«Raging Light»
[WormHoleDeath]
[At The Dojo]
Sete anos após «Cold

N
Comfort», e três após o EP ɩSRSWGERWEQSWHIHM^ɰPSWITSVYQPEHSɯMRGVMZIPQIR-
«Quarto Vazio», o quinteto te compensador encontrar a ocasional fuga à norma no es-
que começou por terras da pectro da música pesada, por outro também é muito bom
Covilhã e se mudou para Lisboa lança o seu se- sentirmo-nos em território familiar e sabermos exactamente o que esperar de uma banda. Case
gundo longa-duração. As raízes goth/death/doom in pointSW*Y1ERGLYUYIRSWETVIWIRXEQSWIY{PSRKEHYVEɭɩS5YEXVSERSWETɸWm+MKER-
ainda estão presentes, mas a maturidade musical toid» e mais de vinte depois de ter dado os primeiros passos, o grupo californiano formado por
levou o colectivo a incorporar componentes mais 7GSXX,MPP&VEH(EZMW&SF&EPGLI7GSXX6IIHIVGSRXMRYEERɩSŰZIVKEVűEQSPEIEQERXIVWI
rock, por vezes até groovy, como na primeira parte ƤIPESWWIYWTVMRGɳTMSW%IWXɯXMGEHSW*Y1ERGLYRɩSIWXɧRIQRYRGEIWXIZIIQHMWGYWWɩS
de «Dead Time», ou usar elementos do post rock. Apesar de se poder traçar um desenvolvimento gradual ao longo dos anos, não são, nem nunca
Instrumentalmente também se percebe a maturi- foram, uma banda apostada em reinventar-se a cada novo lançamento, sendo que o núcleo de
dade, com cada músico a ter o seu espaço, mes- fuzz TIWEHS TIVQERIGI ƤVQI RS UYI JE^IQ EUYM 0ɧ IWXɧ UYIQ Nɧ SW GSRLIGI WEFI I\EGXE-
mo que em temas diferentes, apesar de por vezes QIRXISUYIIWTIVEVIRɩSWIZEMWIRXMVHIJVEYHEHSUYERHSSɧPFYQGLIKEVESƤQɋI\GITɭɩS
os temas soarem demasiados longos, repetindo da épica «Il Mostro Atomico», que conta com uma participação especial de Alex Lifeson (dos
elementos musicais, o que leva o disco a ultra- Rush) e encerra o disco de forma apoteótica do alto dos seus quase vinte minutos de duração,
passar uma hora de duração. Algo que também SUYIWSFVEHIm'PSRI3J8LI9RMZIVWI|WɩSWIMWXIQEWUYIEWWIRXEQIQVMJJWGSPSWWEMWREZS^
acontece muito por “culpa” da maratona sonora nasalada de Hill e num balanço gingão, pontuado por ganchos que nos colam de imediato «(I’ve
que é «Almagest», cujos dezassete minutos en- &IIR ,I\IH|m2S[LIVI0IJX8S,MHI|SYSXIQEXɳXYPSESGɸVXI\GIVIFVEP6IWYPXEHSm'PSRI3J
cerram o disco. Se tudo resulta bem até aí, com 8LI9RMZIVWI|RɩSƤGEEHIZIVEFWSPYXEQIRXIREHEEHMWGSWMRGSRXSVRɧZIMWGSQSm8LI%GXMSR
«Almagest» o álbum ganha outra dimensão. Um Is Go!», «King Of The Road» ou «California Crossing», sendo que pode bem servir como intro-
tema melódico, introspectivo e que mistura goth HYɭɩSESYRMZIVWSTIGYPMEVHIWXEFERHEɳQTEVTEVEUYIQZɧWIPɧWEFIVTSVUYɰEMRHERɩSWI
e doom, sendo provavelmente aquele que melhor GVY^SYGSQIPESYWɸEGSRLIGIHIRSQI [9] J.M.R.
VIƥIGXIEWSVMKIRWHSW4EMRXIH&PEGO2SFEPERɭS
ƤREPƤGEWɸEWIRWEɭɩSHIEPKYRWXIQEWIWXEVIQ
a mais, não por eles, mas pela duração total do
disco, apenas isso. [7.5] E.F.

PAINTED DOLL
«Painted Doll»
[Tee Pee]
Mais um na série de “o mun-
do é bué cenas”, que parece
ser um dos temas fortes dos
lançamentos focados nesta
edição. Quem diria que íamos ter o Chris Reifert
dos Autopsy a fazer psych pop/rock com um tipo
da comédia e do indie rock, aqui há uns anos? Não
muitos, mas provavelmente o Chris já diria isso, ele
que sempre foi grande fã de muito mais estilos de
música do que o death metal pútrido que pratica
e que o tornou lendário. É isso que se nota, acima
de tudo, à medida que este delicioso disco se vai
desenvolvendo – o amor à música que praticam
é inquestionavelmente genuíno, tanto da parte de
Reifert como do Dave Hill, a outra metade da bone-
ca pintada. É óbvio depois de lermos a entrevista
que tivemos com o Chris na edição anterior, mas
LOUD! 55
tual com este disco com a açucarada «Benny Two conterrâneos e contemporâneos Judas Priest XIQSWXIRHɰRGMEETIVHIVQYMXSXIQTSENYWXMƤGEV
(SKW|IQEMWSYXVEFEPEHMRLEIQFSVEIPIGXVMƤGE- e Iron Maiden. «They Played Rock’n’Roll» é uma a sua inclusão, como que a convencer os outros
da, chamada «Rose». Para terminar temos «Evil sentida homenagem a Lemmy, descrevendo a que sim, isto faz mesmo parte. Vamos evitá-lo,
Like You» onde, fugindo aos trâmites do restante primeira vez que Biff viu os Motörhead, retratando OK? Quem não percebe rapidamente que Scúru
disco, os Red Sun Rising se tornam mais interes- o espírito que se vivia na época. «Predator» é uma Fitchádu é mais que LOUD!ável, seja em espírito
WERXIWm8LVIEH|WIVɧYQZIVHEHIMVSHIWEƤSTEVE das surpresas do disco com o inesperado dueto ou apenas sonoramente falando, só precisa de
UYIQRYRGEKSWXSYHIKVYRKIIEƤRWTEVESW com Johan Hegg dos Amon Amarth, seguido ouvir mais vezes até bater. Porque bate, e de
restantes será um disco a escutar. [6] C.G. apropriadamente do compassado «Sons Of Odin». que maneira. Conforme puderam comprovar os
«Sniper» surge como um dos temas mais agressi- que os viram a tocar antes dos Sinistro há umas
SAXON vos do disco pela forma como é interpretado por semanas atrás, ou os que já tinham tomado
«Thunderbolt» Byford, com «Wizard’s Tale» a fazer a ponte para contacto com este EP de estreia do projecto a
[Silver Lining] SEPYGMRERXIm7TIIH1IVGLERXW|2SƤREPXIQSW solo do músico e produtor Sette Sujidade, que
Prestes a comemorar os 40 a «Roadie’s Song», um tributo bem merecido para já tinha sido editado digitalmente em 2017. Esta
anos da estreia «Saxon», o quem vive na sombra das estrelas. E a estrela dos edição física pela ZeroWorks, com dois temas
Sr. Biff Byford não mostra Saxon continua a brilhar bem alto… [8] C.G. extra em relação ao original, serve para preparar
qualquer sinal da passagem o longa-duração de estreia que aí vem este ano,
do tempo, pois continua a legar-nos grandes ma- SCÚRU FITCHÁDU mas acima de tudo, irá reforçar o impacto de um
lhas de heavy metal em cada disco que edita. O «Scúru Fitchádu» artista que prova que ainda estamos muito longe
tema-título «Thunderbolt» tem todos os traços dos [ZeroWorks] de atingir o limite da “polinização cruzada” na
hinos à Saxon, daquelas malhas que irão colocar Quando deparados por música e que sim, isso é uma coisa muito boa.
os fãs a gritar o refrão de braço no ar durante os misturas um bocado mais Porque ainda é possível misturar funaná (originá-
concertos e a abanar a cabeça durante os solos. fora do normal aqui no rio de Cabo Verde, um género ele próprio outsider,
«The Secret Of Flight» mostra que foi só por acaso nosso mundo por vezes cuja interpretação chegou a estar proibida na
que os Saxon não atingiram o estatuto dos seus demasiado hermético da extremidade musical, capital do país, dominada pelas mais “nobres”
mornas) com batidas brutas, samples de Mão
Morta e Besthöven e uma voz (e atitude) punk
rude e fodida com o mundo (e que canta/cospe

MEMORIAM em crioulo com paixão notável) para criar algo de


inteiramente novo e entusiasmante, que faz jus a
todas as origens de onde vai beber. É preguiçoso
«The Silent Vigil» citar press releases, mas quando eles acertam
em cheio no alvo, também não faz mal nenhum.
[Nuclear Blast] Segundo o texto disponibilizado, Scúru Fitchádu
(que quer dizer “escuro cerrado”, também essa

P
ara quem considerou «For The Fallen» um dos álbuns de uma bela descrição para o que se ouve) tem
death metal (old school HIEWIUYIPEm8LI7MPIRX:M- ŰMRƥYɰRGMEWHI8VMGO]8SQ;EMXW(MWGLEVKI&EH
gil» não deixa de ser uma pequena desilusão. Não exacta- Brains, The Prodigy, Atari Teenage Riot ou Tchota
mente pela música, porque Memoriam é o que hoje temos mais Suari”, e “consiste de uma encruzilhada de linhas
TVɸ\MQSHI&SPX8LVS[IVHITSMWHSITɳPSKSHEVIJIVIRGMEPFERHEFVMXɨRMGE3UYIRɩSWITIVGIFI de baixo distorcidas, baterias aceleradas, noise
mesmo é… este som, esta produção. Acredito que os veteranos músicos que fundaram este pro- e concertina/ferro”. Vendo bem, é mesmo isso
NIGXSLɧETIREWHSMWERSWXMZIWWIQHIGMHMHSMVŰSQEMWEXVɧWűTSWWɳZIPɦWJYRHEɭɺIWHSKɯRIVS XYHSISVIWYPXEHSƤREPɯIWXVSRHSWS,EZIVɧ
UYIGSQIɭEVEQTSVJE^IVGSQSQɳRMQSHIEVXIJEGXSWRYQEEXMXYHIHIWGSQTVSQIXMHETSHVI sempre quem desdenhe as ligações entre os
e PS[TVSƼPI. Pois, conseguiram-no. Acontece que este segundo trabalho soa mais a teste do vários géneros e queira fazer da música um con-
que a própria estreia, que é uma gloriosa demonstração de poderio e qualidade por parte de Karl junto de clubes fechados onde os poetas eléctri-
;MPPIXW%RHVI[;LEPIIHSWHSMWIPIQIRXSWHEWGSVHEWPMKEHSWESW&IRIHMGXMSR2ɩSJEɭEQSW GSWSYSWKYIVVIMVSWEGɽWXMGSWXIRLEQUYIƤGEV
GSRJYWɺIWSUYIXIQSWEUYMɯTYVSHIEXLQIXEPFVMXɨRMGSFɯPMGSQIPERGɸPMGSGSQVMJJWWMQTPIW à porta. Mas felizmente, o mundo é mesmo bué
QEWHIQEWWEGVIKEVERXMHS1IQSVMEQJE^ZIVEQYMXEWFERHEWGSRXIQTSVɨRIEWUYIWIHM^IQ cenas, e vai continuar a ser. [8] J.C.S.
da velha guarda. O problema é mesmo esse – não falamos de putos a gravar numa garagem,
sem conhecimento da poda. O primeiro álbum foi mais do que se esperava meses depois do SOTZ’
MRƥYIRXIKVYTSHI&MVQMRKLEQWIXIVHIWTIHMHS)WXIEXMRKIFIQQIRSWHSUYIIWWEWI\TIG- «Tzak’ Sotz’»
XEXMZEWHIM\EVEQRSEV4EVEFERHEHIXVMFYXSESQEPSKVEHSFEXIVMWXEHSW&SPX8LVS[IV1EVXMR [Raising Legends]
/IEVRWSWTVEXSWQEPWISYZIQŷ7INEGSQSJSVNYPKYIQSPMZVSTIPEGETE1EMWYQI\GIPIRXI *SVQEHSWNɧIQQEW
XVEFEPLSHI(ER7IEKVEZIɯMRHMGMEHSVHIHIEXLQIXEPQSVXIIJEXEPMWQSɋQSHEERXMKE [7] N.S. só se estreando ao vivo
em 2014, os portuenses
Sotz’ só agora gravaram o
primeiro EP, com cinco temas, onde se escuta
uma mistura de death sueco com metalcore, e
vários pormenores interessantes que mantêm o
ouvinte atento ao longo dos quase 30 minutos
de disco. O projecto baseia-se na história da
civilização Maia, sendo que Sotz’ é a palavra
atribuída a “morcego” na língua indígena. Esta
temática explica as letras de temas como «Apo-
calyptic Machine» ou «The End Of Civilization».
Apesar de a actual formação já não corres-
ponder à mesma que gravou este trabalho, o
colectivo fundado por João Rocha ainda conta
com o vocalista Dan Veska, uma das promessas
portuenses nesse capítulo. Há ainda uma boa
construção dos temas e bons pormenores das
duas guitarras. Explorando temas de média
duração, encerram o disco em grande com o
muito bom tema-título onde, ao longo de sete
minutos, se percebe a versatilidade dos Sotz’ e
a sua qualidade temática. Sem dúvida um grupo
com futuro! [8] E.F.

56 LOUD!
SUSPERIA Bank», «Change Your Position» e «All The Medicine» Troll é agora reeditado pela Shadow Kingdom, na
«The Lyricist» são provavelmente os grandes hits deste novo tentativa de levar a um público um pouco mais
[Agonia] trabalho, embora a consistência criativa seja uma abrangente o que de interessante esta banda tem
Quase dez anos volvidos constante ao longo do disco. «Change Your Position» para mostrar. E o que tem para mostrar não vai além
após o ultimo trabalho de é um álbum de rock electrizante, cheio de groove e de pouco mais de 30 minutos de stoner doom metal
estúdio, os noruegueses com reminiscências de uns Royal Blood, acabando em ácidos, cheio de riffs pesadões e de melodias
Susperia dão novamente TSVWIEƤVQEVGSQSEIZSPYɭɩSREXYVEPHEPMRLEMRW- pretensamente hipnóticas, mas que conseguem
sinal de vida e surgem com «The Lyricist», o sexto trumental seguida em «Fed To The Lions». [7] A.F.C maior efectividade pelo sono que geram no ouvinte,
álbum de uma carreira que começou por despertar do que propriamente por qualquer outro efeito
algum burburinho no início dos anos 2000, mais TROLL alucinogénio que poderão sugerir. Os Troll até nem
pelo calibre dos músicos envolvidos – malta dos «Troll» são maus músicos e aquilo que fazem até nem
Dimmu Borgir, Old Man’s Child ou Satyricon – do [Shadow Kingdom] fazem mal, mas quantas vezes já ouvimos isto? Ao
que propriamente pelo brilhantismo dos discos. A Editado originalmente em ƤREPHIGMRGSXIQEWTSYGSSYREHEƤGEERɩSWIV
progressiva incursão da banda pelos meandros do 2016 pela própria banda, o um intenso odor a erva e uma rápida incursão pelo
thrash metal também não abonou a favor de uma disco de estreia auto-intitu- psicadelismo dos anos 70, mas sem a perigosidade
sonoridade que surtia melhor efeito quando o black lado dos norte-americanos e a honestidade próprias da época que algumas
metal melódico ainda dominava atenções, essen-
cialmente na estreia «Predominance». Desde então,
os Testament passaram a ser uma referência cada
vez mais evidente e os discos teimaram em não
sair da mediania, até entrarem num hiato em 2009.
Com nova editora e novo vocalista, o regresso dos
MINISTRY
Susperia não suscita, porém, especial entusiasmo, «AmeriKKKant»
concentrando-se no meio termo entre o thrash
metal americanizado de pendor moderno e um ou [Nuclear Blast]
outro laivo de agressividade melódica própria da

J
Escandinávia e reminiscente de outras experiências ɧ EGEFEVEQ HITSMW EƤREP RɩS EGEFEVEQ HITSMW HIM\EQ HI
musicais dos seus intervenientes. O resultado tocar, depois voltam a tocar, tudo isto pontuado por discos, na
não deixa de ser positivo pela forma polida e sua maior parte, de qualidade altamente duvidosa… tem sido
aprumadinha como tudo se apresenta, faltando no um bocado assim a existência atribulada (como sempre! E para
entanto aquela chama que espicaça o ouvinte e que quem já viu o documentário, percebe que muito sossegada vive a banda hoje em dia, em compara-
alimenta o interesse em malhões que não existem ção…) dos últimos vinte anos dos Ministry. Claro que tudo se perdoa ao tio Al Jourgensen, porque
por aqui, predominando uma aposta segura num SLSQIQɯHIJEGXSSQEMSV7IQHMWGYWWɩS1EWJSGERHSRSWETIREWREHMWGSKVEƤEŷGEVEQFE
inofensivo marasmo criativo. [5] R.A. TVIGMWEZEQHIJEGXSHIUYIQPLIWTYWIWWIQɩSISWENYHEWWIEXSQEVQIPLSVIWHIGMWɺIW(IWHI
SMRGSRXSVRɧZIPm*MPXL4MK|NɧHI IWXEQSWXɩSZIPLSW UYISW1MRMWXV]XɰQTEVEEɳPER-
THE SWORD çamentos de vária ordem (a sério, vão lá ver ao Encyclopaedia Metallum, é um disparate), e pelo
«Used Future» menos em termos de discos longa-duração, pouco se aproveita para além do revoltado «Houses Of
[Spinefarm] 8LI1SPɯ|IHSEKVIWXIm6MS+VERHI&PSSH|*SMTVIGMWSYQTVIWMHIRXIRSZSIMRƤRMXEQIRXITMSVUYI
Por alturas de «Intermezzo» +ISVKI;&YWLũEPKSUYIWIVMEMQTIRWɧZIPREEPXYVEVIEPQIRXIũTEVES%PISW1MRMWXV]WIVIZMXE-
levanta-se a questão sobre PM^EVIQYQEZI^QEMWɔZIVHEHIm%QIVM///ERX|IWXɧSFZMEQIRXIIRGLEVGEHSHIFɳPMWIQVIPEɭɩS
o que faz um disco bom e ESIWXEHSEGXYEPHEWSGMIHEHIRSVXIEQIVMGERE IRɩSWɸ IESWIYEGXYEPKSZIVRSRYQEGVɳXMGE
um disco médio. E quando QSVHE^IZMSPIRXEUYIWɸQIWQSSW1MRMWXV]WEFIQGSQSJE^IV'SMRGMHɰRGMESYRɩSWɩSQYMXEW
se é embalado pela southern softness de «Sea Of as referências ao tal «Filth Pig», desde o andamento mais pesadão, mais “sludge industrial” da maior
Green», talvez aí esteja a resposta: todos os temas TEVXIHSWXIQEWEXɯSYXVSWTSVQIRSVIWWSRSVSWUYIWɩSGPEVSW GSQTEVIQPɧSƤREPHIm8[MPMKLX
de «Used Future» soam bem, encaixam num estilo, Zone», samples ɦTEVXIIEUYIPIŰWSPSűQEVEHSHILEVQɸRMGEHSXIQEXɳXYPSHSm*MPXL4MK|ŷ SUYIɯ
o stoner, mas evitam a repetição, tendo cada um a uma coisa boa – quando resulta, «AmeriKKKant» é quase tão demolidor como esse disco foi, o que
sua própria personalidade, como histórias sonoras, ENYHEKVERHIQIRXIRETEWWEKIQHEQIRWEKIQXEQFɯQ7ɸUYIIWXIW1MRMWXV]NɧRɩSXɰQEUYIPI
mais que como banda-sonora para as histórias de toque de Midas que pareciam ter nos anos 90, e como tal, a coisa não resulta sempre. Por culpa pró-
John D. Cronise. Mas o disco não começa em «In- TVMEIWWIRGMEPQIRXITSVJEPXEHIEYXSIHMɭɩSũɯKMVSTEVEKS^EVGSQS8VYQTQEWɯYQHMWTEVEXI
termezzo», um dos vários instrumentais presentes, começar o disco com o que são, na verdade, duas introsm-/RS[;SVHW|IETVMQIMVEQIXEHIHI
como o belo «Nocturne», inicia-se sim mais rock- «Twilight Zone», e esse exagero de samples, de partes em que só apetece passar à frente para ouvir
-oriented com «Deadly Nightshade» ou «Twilight EQɽWMGEEWɯVMSUYIEɳZIQVITIXIWIHIQEWMEHEWZI^IW%MRHEEWWMQITIPSQɯVMXSHSWUYEXVS
Sunrise», eventualmente mais directos, para quem SYGMRGSQEPLɺIWUYIVIEPQIRXISJIVIGIm%QIVM///ERX|TSHIWINYRXEVESKVYTSHSWHMWGSWFSRW
quer picar e não tem tempo para relaxar e apreciar HSW1MRMWXV]IQSWXVEXEQFɯQUYIRɩSWɩSSWERSWHIMHEHIUYIJE^IQ%P.SYVKIRWIRTIVHIVS
uma «Don’t Get Too Comfortable», ou o piscar de IWTɳVMXSVIFIPHIIETIVXMRɰRGMEHSWWIYWKVMXSWERXMXMVERME9QI\IQTPS. [7] J.C.S.
olho ao grande rock norte-americano dos 70s,
através da tal «Used Future», algo também presen-
te em outros temas, a par de cenários electrónicos
que conferem um ambiente algo WGMƼ ao disco.
Esta sexta obra dos texanos é um trabalho tão rico
em pormenores que pede diversas escutas. Pelos
vistos ainda se usa isso! [9] E.F.

TAX THE HEAT


«Change Your Position»
[Nuclear Blast]
Após o sucesso do seu último
disco de originais, «Fed To
The Lions», os Tax The Heat
elevam a fasquia com um
álbum conceptual dedicado ao estado caótico da
nossa sociedade actual. O rock visceral da banda
de Bristol ganha neste registo uma nova maturidade
sonora e lírica, onde as canções se transformam em
composições igualmente orelhudas mas tecnica-
mente mais agressivas e enérgicas. «Money In The

LOUD! 57
FERHEWEMRHEGSRWIKYIQXVE^IVɦPY^IQQEW da elegância lúgubre dessas bandas e mostrando SYXVSFEXIVMWXES(MQQERHSWQEKRɳƤGSW+Vɧ
que infelizmente os Troll ainda não alcançaram com uma surpreendente e saudável dose de personali- Referem os Helheim e os Hades (os noruegueses,
este disco de estreia. Realce-se o facto de isto ser dade própria. Aliás, é quando estão mais longe do bem entendido) como inspirações principais, e
material com mais de dois anos, pelo que desperta death metal (ainda que a voz se mantenha quase sim, nota-se, se bem que o resultado global de
alguma curiosidade saber como evoluíram as coisas sempre em território growler, profundo, arrastado «Black Celestial Orbs» é tão genérico que podiam
relativamente a um segundo trabalho. [5] R.A. e de grande qualidade, diga-se) que mais fasci- praticamente ter escolhido duas bandas nórdicas
nam, em temas longos e com frequentes passa- ao calhas dentro dessa onda que nós abanáva-
USURPRESS gens mais sinistras que brutas, como «In Books mos a cabeça na mesma a dizer, sim sim, nota-se
«Interregnum» Without Pages» ou a espessamente atmosférica logo. Conforme se percebe, individualidade não é
[Agonia] «Late In The 11th Hour». Até um tema que parece o forte dos Veiled, e se isso não quer dizer neces-
São um trio de respeito, ir directo à jugular como «Ships Of Black Glass» de sariamente falta de qualidade, neste caso o fee-
estes Usurpress, de gente repente nos atira uma curveball e uma secção toda ling sensaborão é pronunciado demais para criar-
com história no death metal cantada/falada absolutamente desconcertante, já mos qualquer tipo de ligação com a música. Eles
sueco, particularmente o para não falar da 69 Eyeszada cheia de estilo que é FIQVIZIWXIQEGSMWEHIWMKRMƤGEHSWQɳWXMGSWI
seu baixista, o famoso Daniel Ekeroth, que para o último tema. Globalmente, tudo resulta, e temos atiram palavras como “rituais” e “magick” com “k”,
além das 300 bandas onde toca/tocou, é também um disco riquíssimo e cheio de twists entusias- mas no fundo o que resta é black metal corriquei-
o autor do celebrado livro «Swedish Death Metal». mantes para descobrir. [8.5] J.C.S. ro com tentativas de passagens místicas que não
«Interregnum» é já o quarto disco da banda, e vão a lado nenhum. Ainda por cima a produção é
TEVIGIWIVEUYIPISRHIƤREPQIRXIEXMRKMVEQE VEILED horrível, e não no bom sentido. [4] J.C.S.
ideia que perseguiam, sem grande sucesso, desde «Black Celestial Orbs»
a sua formação. Havendo elementos do death sue- [Iron Bonehead] VILE CREATURE
co mais tradicional, os Usurpress usam-no apenas Uma proposta relativa- «Cast Of Static And Smoke»
como ponto de partida, levando-o depois para ter- mente recente oriunda dos [Halo Of Flies]
ritórios mais ou menos inesperados, um bocado à Estados Unidos, composta O segundo longa-duração
medida dos Tribulation, dos Morbus Chron ou dos por um duo de provas da- dos canadianos Vile Crea-
Horrendous. É companhia ilustre, realmente, mas das nesta coisa do black metal cósmico – Veiled ture é baseado num conto
ƤREPQIRXISXVMSJE^TSVQIVIGɰPETEVXMPLERHS trata-se na verdade dos Gnosis Of The Witch com homónimo idealizado pelo
duo e escrito pelo guitarrista e vocalista KW. Uma
fábula com um pano de fundo pós-apocalíptico
e uma mensagem contra o afastamento do ser
humano da natureza e contra a imposição de

NIGHTWISH domínio humano sobre outras formas sencientes;


ilustrada com máquinas que ocupam o lugar
dos animais na sociedade actual e ironicamente
«Decades» pecando pela excessiva humanização tanto de
máquinas como da natureza. O conceito é reali-
[Nuclear Blast] zado através de quatro desoladoras canções de
doom à la Thou, ainda que com menos sludge

«D
ecades», mais do que uma simples compilação, é e mais melancolia. No fundo, «Cast Of Static
uma autêntica viagem ao passado dos Nightwish, co- And Smoke» demonstra duas coisas: que os Vile
memorando duas décadas em que, apesar dos altos Creature não se limitam à exploração da temática
I FEM\SW WI EƤVQEVEQ GSQS YQ HSW I\TSIRXIW Qɧ\MQSW HS LGBTQ nas suas composições, e que estas estão
metal sinfónico. É também uma forma de os fãs perceberem que, para além da Tarja, Anette a evoluir a olhos vistos. Talvez porque desta feita
SY*PSSVEGSRWXERXIUYIWIQTVII\MWXMYɯEZIVHEHIMVEEPQEGVMEHSVEHEFERHEƤRPERHIWES estejam mais abstraídos de sentimentos pessoais
teclista Tuomas Holopainen. Este lançamento inicia-se com os 24 minutos de «The Greatest e focados na construção estética através da me-
7LS[3R)EVXL|UYIGSQmɔPER|Im1];EPHIR|VITVIWIRXEQSɽPXMQSHMWGSHISVMKMREMWHSW táfora, as canções dispensam os laivos melódicos
2MKLX[MWLSɽRMGSEXɯESQSQIRXSGSQELSPERHIWE*PSSV.ERWIR(ITEWWEQSWE dos primeiros dois lançamentos e apresentam-se
GSQ%RIXXI3P^SREMRXIVTVIXEVm7XSV]XMQI|Im-;ERX1]8IEVW&EGO|IIQm%QEVER- mais ásperas e brutas. [7.5] L.P.
th» e «The Poet And The Pendulum». De repente estamos em 2004 e saudosamente ouvimos
8EVNE8YVYRIREGERXEVm2IQS|Im;MWL-,EH%R%RKIP|3WTSRXIMVSWHSVIPɸKMSGSRXMRYEQ WHIPSTRIKER
a deslocar-se para a esquerda ao som de malhas como «End Of All Hope», «The Kingslayer», «Merciless Artillery»
m7EGVEQIRX3J;MPHIVRIWW|SYm7PIITMRK7YR|'LIKEQSWTSVƤQESɧPFYQHIIWXVIMEGSQm)P- [Hells Headbangers]
venpath» e «Carpenter», terminando esta viagem no tempo apropriadamente com «Nightwish» Speed metal, tema caído
da demoHI7ɩSQSQIRXSWVITVIWIRXERHSSWERSWUYIRSWWITEVEQHEdemo de em desuso e utilizado nos
IWXVIMEHIYQKVYTSUYIQEVGSYIMRƥYIRGMSYXSHSYQIWXMPSHIRXVSHSLIEZ]QIXEP [8.5] C.G. ERSWTEVEHIWGVIZIVYQ
som novo com raízes em
discos como «Black Metal» ou «Possessed» dos
:IRSQIUYIHYVERXIEPKYQXIQTSHIƤRMYSWSQ
dos Metallica. Depois o rótulo “thrash” abafou
tudo e o termo caiu em desuso, mas é assim que
se descrevem estes brasileiros, com uma década
de história e quatro longa-duração, para lá de
incontáveis splits. E o modo retro em que o quar-
teto, liderado pelo baixista Whipstriker, apresenta
este «Merciless Artillery» é do melhor, com solos
de twin guitar, como em «Mantas’ Black Mass», ou
rápidos como nas fabulosas «Rape Of Freedom» e
«Calm After Destruction». E sim, só por estes três
títulos já se percebe que o espírito dos Venom
está omnipresente, se calhar até mais que em
algumas encarnações actuais com elementos
originais do trio britânico. «Merciless Artillery»
resulta assim em oito temas revivalistas de ho-
menagem ao bom que Venom possui, num disco
sem gorduras e repleto de energia e malhas. Nos
dias que correm já é bastante. [8] E.F.

58 LOUD!
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES STEBBA ÓSK

THEORY OF RUIN
«Counter-Culture Nosebleed»
[Escape Artist, 2002]

O Alex Newport é dos músicos mais injustamente ignorados das +SHƥIWL S HMWGS ɯ GSQTSWXS TSV WIXI TIXEVHSW HI RSMWI VSGO
últimas duas décadas – pronto, está dito. É certo que não será áspero, angular e sem regras. Com a rebeldia de Newport no que
HSWEVXMWXEWQEMWTVSJɳGYSWUYINɧTEWWEVEQTSVIWXEWTɧKMREW ɦGSQTSWMɭɩSHM^VIWTIMXSEZMVESHIGMQESXVMS UYIƤGEZEGSQ-
mas a dada altura, na primeira metade dos anos 90, este britâ- TPIXSGSQ'LIW7QMXLI(EZMH0MROREFEXIVMEIRSFEM\S HɧWIES
nico – cujo maior claim to fame é mesmo a participação nos luxo e à liberdade de passar o primeiro minuto de «A Friendly Re-
Nailbomb ao lado do Max Cavalera – assinou vários registos QMRHIV|SXIVGIMVSXIQEHSEPMRLEQIRXSEŰEƤREVűMRWXVYQIRXSW
GSQTSXIRGMEPQEMWUYIWYƤGMIRXITEVEƤKYVEVIQRIWXEWIGɭɩS saltar de cabeça para uma «Type A Male» que tresanda a Nirvana,
A começar, temos o trio de excelente álbuns que criou com os GYWTMVERXEKSRMWQSIQm4VSƤXIIVMRK|SYIRGIVVEVSɧPFYQGSQ
*YHKI8YRRIPTEVEXSHSWSWIJIMXSWJSVEQm,EXI7SRKW-R)1M- m&PEWXIH|YQQSRɸPMXSHITIWSWYJSGERXIIVITIXMXMZSGSQUYEWI
nor», «Creep Diets» e «The Complicated Futility Of Ignorance», de um quarto de hora de duração.
2001, 2003 e 2004, respectivamente, que colocaram o seu nome
RSGEXɧPSKSHE REEPXYVEGVYGMEP )EVEGLIIREFSGEHSWƤɯMWHS Pese a qualidade da música que se ouve em «Counter-Culture Nose-
som de peso mais angular e avesso a clichés. Recolhidos elo- bleed», sem o suporte de uma estrutura com um departamento de
gios, e feita uma tour em que andaram pelo velho continente a marketing dedicado, porque ao contrário da Earache a Escape Artist
ERXEKSRM^EVthrashersGSQSFERHEWYTSVXIHSW7ITYPXYVESXVMS era essencialmente uma operação de um-homem-só, os Theory Of
desapareceu sem deixar qualquer rasto, face à indiferença gene- Ruin acabaram por gerar ainda menos falatório que os Fudge Tun-
VEPM^EHEHEWQEWWEW RIPũIZIVHEHIWINEHMXEMWWSJE^HIWXIYQXɳXYPSQYMXSQEMWETI-
XIGɳZIPTEVEƤKYVEVRIWXETɧKMRE3TVSNIGXSPERɭEVMEEMRHEYQ)4
5YIQ JSM WIKYMRHS E TVSKVIWWɩS HSW *YHKI 8YRRIP XIVɧ GIVXE- intitulado «Frontline Poster Child», no ano seguinte e, sem grande
mente encontrado alternativas para preencher o lugar deixado alarido, acabaria por eventualmente por desaparecer – face à indife-
ZEKS TIPSW EYXSVIW HI m&IH VIRɭE KIRIVEPM^EHE HEW QEWWEW
Crumbs», mas terá sido com pois claro – muito à semelhança
WEXMWJEɭɩSUYIVIGIFIYRSXɳGMEW de todos os outros projectos em
do regresso de Newport aos dis- UYI%PI\2I[TSVXGEHEZI^QEMW
GSWGSQYQRSZSTVSNIGXS6I^E dedicado ao seu trabalho como
a lenda que, depois de se mu- engenheiro de som e produtor
HEV TEVE 7ɩS *VERGMWGS I JE^IV XIQ RS GYVVɳGYPS GSPEFSVEɭɺIW
RSQI E TVSHY^MV SW %X 8LI (VM- com os The Mars Volta, City And
ve-In, The Icarus Line e Melvins, 'SPSYV I EXɯ &PSG 4EVX]  WI JSM
frustrado com o estado patético envolvendo ao longo dos anos.
da música pesada, o natural de (MWTSRɳZIP Wɸ RE IHMɭɩS SVMKMREP
Nottingham terá um dia decidi- em CD e LP, datada de 2002, mais
do pegar novamente a guitarra. de uma década depois, urge uma
Já na sequência do 7” de es- reedição, para que as camadas
XVIME m3YXƤX| IVE IRXɩS IHMXEHS mais jovens dadas ao peso pou-
«Counter-Culture Nosebleed», GS TVIZMWɳZIP XEQFɯQ XIRLEQ
primeiro e último álbum da fu- acesso ao disco. Este é daqueles
KE^ EZIRXYVE GSQ SW8LISV] 3J UYIRIQRS7TSXMJ]WIIRGSRXVE
6YMR -RƥYIRGMEHS TIPSW ;MVI I e que merece mais que ser ouvi-
+ERK 3J *SYV QEW ƤPXVEHSW TI- do através de um rip manhoso do
PSWQEMWHIWXVYXMZSW&MK&PEGOI =SY8YFI

LOUD! 59
LABEL REPORT

CREPÚSCULO
NEGRO
Na segunda diligência ao submundo do black
metal actual, debruçamo-nos sobre o Black
Twilight Circle e a CREPÚSCULO NEGRO, res-
pectivamente colectivo e editora oriundos do
sul da Califórnia que celebram em 2018 dez
anos de fascinante actividade com mais de 30
lançamentos. Dado que quatro entidades do
colectivo encetaram uma digressão Europeia
no início do ano, nomedamente, Arizmenda,
Blue Hummingbird On The Left, Dolorvotre e
Volahn, é pois a altura perfeita para olharmos
para a obra deixada nesta primeira década de
existência. Como, para além disso, existe uma
ligação do círculo ao punk, trocámos ainda
umas impressões com o Johnny Küso dos
“nossos” Systemik Viølence sobre o assunto.
LUÍS PIRES

ɋ
TVMQIMVEZMWXESETIPSHS&PEGO8[MPMKLX nome próprio). Em 2008, é editado o primeiro XMRLEKVEZEHSRSTIVɳSHSTVɯ&8'IGSQSXEP
'MVGPI &8'  ZIQ Űdo paralelismo com ɧPFYQHI:SPELRWYVKIS&8'IGSRWIUYIR- decidiu aprender a gravar ele mesmo e criar o
as Le Légions Noires,” como argumen- temente, a editora Crepúsculo Negro. Desde espaço para tal. No ano seguinte, o splitm;SV-
XESFEXIVMWXEHSW7]WXIQMO:M‰PIRGI.SLRR] logo que o ethos ɯ (-= QERMJIWXS REW IHM- WLMT&PEGO8[MPMKLX|QEVGESTVMQIMVSVIKMWXS
Küso, um adepto confesso do colectivo e da ɭɺIWIREGSRWXVYGɭɩSHS&PEGO8[MPMKLX7XY- HI %VM^QIRHE %\IQER /EPPEXLSR I /Y\ER
editora. Nesse sentido, o apelo vem da exis- HMS%VE^ɩSHIWIVHSɽPXMQSɯUYIS:SPELR 7YYQ-PYWXVEXMZSHEMQTSVXɨRGMEHI:SPELRRS
tência de um “núcleo duro que faz uma serie de não estava satisfeito com os estúdios onde colectivo é o facto de que nesse split só não
projectos e que mantém um tipo de atmosfera
e temática aos mesmos, actua como ‘selo de
qualidade’.ű%MRƥYɰRGMEHEW002ɯEPMɧWEWWY-
QMHEGSQSTVMQSVHMEPTIPSWQɽWMGSWHS&8'
Não obstante, já há uma identidade musical A LIGAÇÃO PUNK músico dos Systemik Viølence destaca três:
UYINYWXMƤGEEHIWGSFIVXETEVEPɧHIUYEMWUYIV Axeman, Zoloa e Mata Mata, comentando
paralelismos. Para perceber porquê, importa “Apesar das comparações com as LLN, o respectivamente sobre cada um com sim-
SPLEVTEVEEWSVMKIRWHSGSPIGXMZSVE^ɩSTIPE BTC é um bocado mais variado quando toca plicidade desarmante: “Amebix anyone?”,
qual teremos de deixar de fora da discussão a estilos, e não se cinge somente ao black “crust” e “raw punk com pessoal de Volahn e
RSQIW MRXIVIWWERXɳWWMQSW GSQS 7LEXEER metal e derivados,” como explica Johnny com o homem por trás de Tukaaria.” Está ex-
Acualli e Tukaaria, entre outros. Küso, apontando que para além das “varia- plicado! Enquanto os Axeman continuam a
das encarnações de black metal que fazem, fazer parte do BTC, o mesmo não se aplica
A história começa com a ida de um jovem onde destaco Volahn e Arizmenda, são ca- aos Mata Mata, cujo primeiro lançamento
)HYEVHS 6EQMVI^ ɦ +YEXIQEPE SRHI RɩS Wɸ pazes também de fazer incursões no punk. ocorreu pela Crepúsculo Negro na fase ini-
ETVIRHIYXVEHMɭɺIWEMRHELSNITVEXMGEHEWTSV Esta ligação é evidente no modus operandi cial da mesma (em que a coerência estética
familiares, mas, ao subir ao topo do templo D.I.Y. da editora,” refere o baterista, mas ainda não era a de hoje) e nunca se aplicou
local e perante a vista para o vale onde a sua também o é através do envolvimento de aos Zoloa. Apesar disso, “esta sintonia dos
JEQɳPMEZMZIYHYVERXIKIVEɭɺIWGVMSYSTWIY- membros na cena punk de Los Angeles e dois mundos, punk e metal, torna este nú-
dónimo :SPELR3RSQIWMKRMƤGEŰGESWVMXYEPű projectos com ligação à Silenzio Statico. O cleo bastante especial,” conclui Küso.
e tudo o que criou de black metal desde então
foi assinado como tal (o material punk sai sob

60 LOUD!
IWGVIZIYQɽWMGETEVESW%VM^QIRHE ESZMZS
funciona ainda assim como guitarrista de ses-
são), projecto a solo de Juan Caballero, tam-
FɯQIPIYQQɽWMGSEFWYVHEQIRXITVSPɳƤGS A EVOLUÇÃO DO BTC EM QUATRO DISCOS
9Q HSW TSRXSW IQFPIQɧXMGSW HS &8' ɯ S
foco na cultura meso-americana, bem pa-
tente na música de Volahn. Nesse sentido, a
IRXVEHE HI RSQIW GSQS &PYI ,YQQMRKFMVH
3R 8LI 0IJX I 7LEXEER IQ  QEVGE YQ
ponto de viragem. Vale a pena olharmos a
sério para os primeiros e para a sua postu-
ra anti-colonialista, até para desconstruir a
MQEKIQ IVVɸRIE HEHE TSV HIWGVMɭɺIW GSQS
“nacionalismo mexicano”. O nome da banda
é uma vaga tradução do nome do deus as-
XIGE HE KYIVVE ,YMX^MPSTSGLXPM I S ZSGEPMWXE
EƤVQEUYITIRWERSUYIYQKYIVVIMVSEWXIGE
escreveria, sendo a sua abordagem à música
uma tentativa de evocar a visão e estado es- VOLAHN – «Dimensiónes Del Trance VOLAHN – «Aq’Ab’Al», 2014
TɳVMXSHSQIWQS%QɽWMGEIQWMTEVXIHS[EV Kósmico», 2008 Não tem a importância histórica do «Di-
metal à antiga (leia-se, cena brasileira e ca- O primeiro álbum de Volahn é um marco mensiónes Del Trance Kósmico», mas
nadiana dos anos 80) e mergulha essa base na história do BTC. O culminar de quatro é nele que os Volahn concretizam o seu
RYQMQEKMRɧVMSQYWMGEPIPɳVMGSFEWIEHSIQ anos de trabalho é um manifesto de black potencial. O salto nota-se não só na cap-
personalidades e locais da resistência aste- QIXEP GVY GPEVEQIRXI MRƥYIRGMEHS TIPEW tação, mas sobretudo na personalidade e
ca à invasão colonial. Estes conceitos não LLN, nomes clássicos do black metal nór- complexidade patentes nos temas. Estes
só precedem os estados-nação do México dico (com Bathory à cabeça) e as lendas resumem-se como uma sobreposição de
ou Estados Unidos, como são usados como mexicanas Xibalba. É também o primeiro estruturas não convencionais com uma
uma manifestação contra os mesmos. O uso álbum editado pela Crepúsculo Negro e torrente de riffs fenomenais, que tanto
de espanhol nas letras, idioma que não tem o primeiro disco a ser gravado no Black vão beber ao black metal, como ao punk
grande conotação junto dos músicos, deve- Twilight Studio. e até à tradicional ranchera.
WIEWWMQESJEGXSHIWIVYQEHEWPɳRKYEWRE-
XMZEW TEVE SW QIWQSW 1YWMGEPQIRXI ƤGSY
claro pelo que vimos em Leiden que o melhor
QEXIVMEP HI &PYI ,YQQMRKFMVH 3R 8LI 0IJX
ainda está por editar. Vislumbres dessa direc-
ção surgem no entanto no tema «Camino De
Guerra», editado em Janeiro num split com
SW /EPPEXLSR GYNEW VIGIRXIW GSRXVMFYMɭɺIW
para splits também demonstram uma evolu-
ɭɩSMRGVɳZIPHIWHISTIVɳSHS 

2IQXSHEEQɽWMGEHS&8'ERHERSIRXERXS
à volta destes temas. Exemplos disso são os
(SPSVZSXVII%VM^QIRHEHSMWTVSNIGXSWGSQS
cunho do Juan Caballero. Nos primeiros, jun-
ta-se a Volahn para criar black metal cru da V/A – «Tliltic Tlapoyauak», 2013 V/A – «Desert Dances And Serpent Ser-
ZIPLEKYEVHEII\TPSVEVXIQEWUYINYWXETɺIQ Um estúdio, um productor e todas as de- mons», 2015
ritualismo e caos num envelope de drogas e zasseis bandas do BTC com uma música É neste split que o BTC atinge o seu auge
I\EGIVFEHEMRXS\MGEɭɩS.ɧSW%VM^QIRHEWɩS cada. Não admira que tenha demorado criativo até à data. Quatro olhares diferen-
uma besta única, pela forma como encaram uma série de anos a ser editado. Repre- tes sobre o black metal criam a banda so-
a junção de psicadelismo ao black metal. Em senta melhor o período que lhe antecede, nora para um hipotético ritual xamanístico.
ZI^HIRSWPIZEVTEVEYQTWMGEHɯPMGSGLIMSHI até proque as gravações daí em diante A abertura, «Chamalcan», parece criada por
groove, arrasta-nos sem misericórdia para o dão um salto enorme, mas a variedade um clone do Enrio Morricone que cresceu a
meio de um turbilhão de decadência, depres- nele é ilustrativa das correntes artísticas ouvir black metal e continua a ser destaque
são e completa distorção da percepção do que se encontram no BTC, não só pelo nos concertos de Volahn até hoje. Há ainda
mundo real, com os uivos dilacerantes de Ca- Amebix-worship dos Axeman, mas pela temas bem evocativos de Shataan e Kalla-
ballero a revelarem-se fundamentais para o podridão desenfreada dos Blood Play, thon (o último é particularmente catártico), e
efeito, enquanto que os riffs têm o mérito de pelo black/death dos Acualli e Muknal, e a habitual intensidade tresloucada dos Ariz-
extrair o melhor que há nas correntes psica- pelos laivos funeral doom de Kampilan. menda, adaptada na perfeição ao contexto.
délica e depressiva do black metal, evitando
os lugares-comum associados aos dois. Os
dois longa-duração de 2016 são paradigmá-
ticos nisso mesmo, até porque demonstram
uma considerável versatilidade na escrita.

'SQQEMWHIXVɰWHI^IREWHIPERɭEQIRXSW
a cobrir uma quantidade considerável de
EFSVHEKIRWESFPEGOQIXEPS&8'XSVRSYWI “A história começa com a ida de um
uma das mais relevantes fontes de criativi-
dade no género. Ao ponto de a sua digressão
europeia, na qual um total de cinco músicos
jovem Eduardo Ramirez à Guatemala,
se encarregaram de quatro concertos por
noite, ter sido sem dúvida um dos eventos
onde, ao subir ao topo do templo local,
de black metal do ano para quem teve o pri-
vilégio de assistir. criou o pseudónimo Volahn.”
LOUD! 61
LIVE&LOUD!
çam a falta de fulgor de outrora (a idade já começa
a pesar); a acústica desta sala nunca será boa para
bandas de metal. A excitação era crescente, dada
a entrada triunfante, porém acabou por desvanecer
um pouco na fase intermédia do espectáculo, devi-
do a uma junção menos feliz de temas. «Now That
We’re Dead» são sete minutos de malha que podiam
muito bem ser só três, e ao vivo isso nota-se ainda
mais. Para completar o ramalhete, a banda juntou-se
num dispensável solo de percussão, que só serviu
para prolongar ainda mais a chatice. A enfadonha
«Dream No More» não acrescentou nada e foi a sem-
pre excelente «For Whom The Bell Tolls» a quebrar
a monotonia que já se ia instalando. «Halo Of Fire»
ameaçava adormecer de novo o público, com mais
de oito minutos que não teriam lugar no «Load»,
quando surgiu a grande surpresa da noite: a tão
falada homenagem feita por Kirk Hammett e Rob
Trujillo, ao malogrado Zé Pedro e aos Xutos & Pon-
tapés, com uma curta mas intensa interpretação de
«A Minha Casinha». Pouco importa se é um original
ou não, foi um momento inesperado que, também
pelo carácter simbólico, causou impacto tremen-
do. Logo depois veio «Anesthesia (Pulling Teeth)»,

METALLICA
+ KVELERTAK METALLICA
também ela um tributo ao eterno Cliff Burton – e a,
aparentemente obrigatória, «Am I Evil». Uma banda
deixar malhões como «The Four Horsemen», «Bla-
ckened» ou até «Wherever I May Roam», para tocar
pela milésima vez esta cover dos Diamond Head,
FOTO: JORGE BOTAS é, passe o exagero, criminoso. No entanto, eles é
18.02.01 – Altice Arena, Lisboa que mandam e quando acertam nas escolhas, re-
dimem-se de qualquer pecado e provam que ainda
são gigantes ao nível da entrega do rock. A sempre

A
maioria do público que esgotou (apesar de introdução mais emblemática da história da música arrepiante «Creeping Death», a emotiva «One» e a im-
algumas clareiras na plateia) a Altice Arena pesada, seguida de «Hardwired» e «Atlas, Rise», in- placável «Master Of Puppets» devolveram a chama
não devia conhecer os Kvelertak, mas a banda dubitavelmente, os dois melhores temas do último ao concerto e antecederam a primeira saída de pal-
norueguesa entrou apostada em conquistar novos disco dos Metallica, cantados sílaba a sílaba pela le- co. O regresso para o único encore fez-se com «Spit
fãs e, mesmo prejudicada pelo péssimo som, deu gião de devotos fãs. A sequência devastadora com- Out The Bone», tema que em álbum mostra alguma
tudo o que tinha. Com três guitarristas e um total de posta por «Seek & Destroy», «Harvester Of Sorrow» força, por ser thrash rápido a tentar recriar outros
seis elementos em palco, os espaços estiveram bem e «Welcome Home (Sanitarium)», com o impressio- tempos, mas que ao lado de verdadeiros clássicos
ocupados e não faltou animação visual. A escolha nante e dinâmico cenário – vários ecrãs suspensos do género, sai claramente enfraquecida. «Nothing
do alinhamento recaiu maioritariamente nos temas em forma de cubo, que foram projectando imagens Else Matters» serviu para o público se fazer ouvir, e
mais punk e rock dos dois primeiros discos e sentiu- da banda em concerto e outros conteúdos relaciona- «Enter Sandman», a fechar, viu Lars Ulrich a dar um
-se a falta de ênfase na faceta extrema, que tão bem dos com os temas que iam tocando – incendiaram prego que daria para alimentar meio pavilhão. Nada
funcionou no início de «Berserk», um dos únicos dois a arena. Por esta altura três coisas estavam claras: de novo e nada de grave. Mesmo sem a energia de
temas que tocaram do mais recente «Nattesferd». quando tocam os clássicos, os Metallica ainda são outrora, os Metallica deram um bom concerto, que
Foi um concerto giro, mas nada de especial. O delí- uma das bandas mais incríveis de sempre; a expe- podia ter sido ainda melhor com menos temas do
rio instalou-se na sala lisboeta assim que se ouviu a riência em palco e a qualidade das canções disfar- «Hardwired... To Self-Destruct». [J.A.R.]

STEVEN WILSON
ũ7EPE8INS%PXMGI%VIRE0MWFSE

P
rimeira data da digressão europeia de Steven Wilson e a incógnita de como é que o mú-
sico iria apresentar o novo disco, «To The Bone», ao vivo. Um trabalho claramente mais
pop, mas não a pop de Miley Cyrus ou Taylor Swift, como Steven referiu no concerto.
Uma pop ao género dos The Beatles, Abba ou Queen, e como é possível não gostar destas
bandas?, foi a pergunta deixada na sala de Lisboa. A verdade é que os novos temas soam
QYMXSFIQESZMZSJEGXSI\IQTPMƤGEHSREWIUYɰRGMEMRMGMEPm8S8LI&SRI|m2S[LIVI2S[|
e «Pariah». Com os músicos com que Wilson se faz acompanhar, seria de qualquer forma
muito difícil que algo não soasse bem. Todos os temas são acompanhados por projecções,
ora no ecrã atrás dos músicos, ora numa tela “invisível” na frente de palco, que criava um
efeito similar ao 3D. Para além de muitas escolhas do novo trabalho, muitos doces foram
dados com temas dos Porcupine Tree, e até acabariam por ser estes a gerar mais entu-
siasmo, como foi o caso de «The Creator Has A Mastertape», «Arriving Somewhere But Not
Here» ou «Heartattack In A Layby». Neste último, o músico britânico esqueceu-se da letra
RETEVXIƤREPQEWSWJɩWTVIWIRXIWREWEPETIVHSEVEQTEGMƤGEQIRXI*SVEQHSMW sets de
quase 70 minutos cada, onde a mestria dos músicos encontrou alguns problemas típicos
HIMRɳGMSHIHMKVIWWɩSGSQSJSMSGEWSHSEQTPMƤGEHSVHI7XIZIR;MPWSRUYIŰHIYSFIVVSű
e deixou o músico pouco satisfeito, em diálogo em plena Sala Tejo com o roadie de servi-
ço para toda a gente ouvir. A terminar, mais um tema dos Porcupine Tree, «Even Less», e
a fechar a noite em glória, «The Raven That Refused To Sing», perante uma plateia cheia STEVEN WILSON
e rendida ao talento de Steven Wilson e restante banda. [J.B.] FOTO: JORGE BOTAS

62 LOUD!
CAMARRRO
FEST III
18.02.02-03 – SIRB - Os Penicheiros, Barreiro

N
o coração de uma localidade com largas tradições na
música pesada nacional, o Camarro Fest continua a
crescer sustentadamente ano após ano, apresentando
nesta terceira edição um cartaz ainda 100% nacional, e de
qualidade indiscutível. O primeiro dia foi de uma escuridão
sonora assinalável, com a particularidade curiosa de três das
cinco bandas em palco se apresentarem mascaradas, co-
meçando pelos primeiros a actuar, os MY ENCHANTMENT,
banda local como manda a tradição do festival, por trás de
máscaras brancas teatrais que contrastaram com a maior
sobriedade do seu death melódico. Foi uma abertura morna,
ainda sem muita gente na sala, mas rapidamente a tempera-
tura subiu (ou desceu, depende da metáfora que preferirem,
pronto) com os misteriosos GAEREA. Uma actuação muito
mais coesa e aguerrida do que das primeiras vezes que os
tínhamos visto, mais uma prova de que o black metal na- ATTICK DEMONS
cional conta com um leque de praticantes riquíssimo neste FOTOS: ESTEFÂNIA SILVA
momento, do qual este quinteto de… sabe-se lá de onde, é um
excelente exemplo. Mudança total de registo, e caras desta-
TEHEWƤREPQIRXIGSQSWSPEEDEMON, que puseram, como
é seu timbre habitual, o público presente (ainda, infelizmen-
te, reduzido em relação às expectativas – onde é que vocês
andavam todos nesta noite?) a mexer violentamente. Bela
mostra de speed metal, um género que supostamente já não
se usa. Os ANALEPSY mostraram uma vez mais a máquina
de palco tremendamente oleada que são neste momento,
NYWXMƤGERHS EQTPEQIRXI S HIWXEUYI MRXIVREGMSREP UYI XɰQ
tido nos últimos tempos – para se ter ideia da qualidade, são
o tipo de banda que mesmo quem não gosta do estilo con-
segue apreciar e respeitar, conforme vamos percebendo ao
recolher vários depoimentos nesse sentido. Terminou a noi-
XISƤGMEPQIRXIGSQSVIKVIWWSHEWQɧWGEVEWRIKVEWGSV-
tesia dos THE OMINOUS CIRCLE, e digamos que se podem
ecoar as mesmas palavras que atribuímos aos Analepsy. A
negritude e densidade sonora que praticam já nos faz ansiar
por um novo registo, e ainda noutro dia saiu o «Appalling As-
cension». A festa continuou pela noite dentro com javardeira
da boa, como se quer – uma prestação rude e badalhoca dos
SCUM LIQUOR antecedeu mais um DJ set do nosso PEDRO
FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM
ROQUE, que “limpou o chão” com os corajosos resistentes.
Felizmente, mais gente apareceu no segundo dia, fruto talvez
de um cartaz mais “consensual”, se bem que isso não é gran-
de desculpa para os ausentes da primeira noite. Ressacas
curadas – abençoada hora nocturna de começo, um exemplo
para outros eventos do estilo – e mais uma banda local para
abrir hostilidades. Foram os NEW MECANICA desta vez,
que tomaram facilmente conta do palco, cheios de groove e
muito soltos na sua actuação. Já estávamos portanto “lubri-
ƤGEHSWűTEVEQIPLSVEWWMQMPEVEIRIVKMEMRƤRHɧZIPHSLIEZ]
metal dos ATTICK DEMONS, que liderados pelos já emble-
máticos Luis Figueira (guitarrista enorme) e Artur Almeida (o
you-know-who TSVXYKYɰWGPEVS Ƥ^IVEQNYWESXɳXYPSHSWIY
último disco, «Let’s Raise Hell». Para seguir uma banda des-
te calibre, só uma que não tenha nada a ver, tematicamente,
mas cujos níveis de vitalidade sejam semelhantes, ou seja,
os FOR THE GLORY. Únicos representantes do hardcore em
XSHSSGEVXE^Ƥ^IVEQUYIWXɩSEXVEZɯWHSWGSRWXERXIWETI-
los do vocalista Congas, de frisar os méritos da união e da
variedade de estilos no underground. Sábias palavras, bem
recebidas por todos, que foram, como se quer, assentes num
set explosivo e, curiosamente, bem mais “metalizado” do que
ɯ GSWXYQI 3 ƤREP HE JIWXE ETVS\MQEZEWI QEW RɩS WIQ THE OMINOUS CIRCLE
antes recebermos dois nomes icónicos do underground na-

LOUD! 63
cional. Primeiro os SACRED SIN, cuja una- lathauzer, quanto não vale pagar para ver a exaustão por um set dos SYSTEMIK
nimidade de recepção pela plateia é ainda ŰYQEFIWXEEEƤREVYQEKYMXEVVEIQTEPGSű VIØLENCE (ou “Systematik Violence”, con-
mais reforçada quando revisitam temas do mas a verdade é que mesmo com alguma forme adoravelmente anunciados pelo Bela-
seu passado histórico, nomeadamente do HIWEƤREɭɩS EYHɳZIP RSW HSMW TVMQIMVSW XI- thauzer momentos antes), que espalharam o
m(EVOWMHI|IƤREPQIRXISWFILII NIGRAN- mas, o headbanging não parou e já estavam mau ambiente do costume, com bocas e por-
TIUM INFERNALIUM, que até podiam não a ser a melhor banda do festival anyway. O rada, uma imundície que é agora, no entanto,
tocar nada, mas cujos comentários do seu que diz quase tudo. Um tesouro inestimável, assente numa base musical bem mais sólida
impagável frontman já valeriam o preço do os nossos Filii – que o novo álbum venha e menos sloppy do que nos seus inícios. Rica
bilhete mesmo assim. É verdade, caro Be- rápido! Houve ainda tempo para estender TSQEHEIƤREPTIVJIMXSHIJIWXE[J.C.S.]

ROTTING CHRIST
+ CARACH ANGREN + SVART CROWN
ROTTING CHRIST
18.02.10 – RCA Club, Lisboa FOTO: ESTEFÂNIA SILVA

A
proximidade do carnaval foi de um timing aquelas mini-paragens que fazem entrar um riff res. Foram essas, juntamente com «Transform
perfeito para a actuação dos co-headliners ou uma batida forte logo de seguida, pontuadas All Suffering Into Plagues» e até a velhinha «The
desta digressão, os holandeses Carach An- pelos gestos teatrais do frontman Seregor. Mais Forest Of N’Gai» (e uma “cover” – vá, era o Sakis
gren. Pode parecer estranho como uma banda re- as pinturas, e os fatos (havia mesmo gente que na mesma – de «Societas Satanas» dos Thou Art
lativamente recente, formada neste século, já tem parecia saída da capa do «Sgt. Pepper’s Lonely Lord), que nos permitiram a viagem ao passado
pelos vistos estatuto para estar ao mesmo nível Hearts Club Band» no público), e todo o am- glorioso da banda. Se há uma crítica a fazer, é que
no cartaz (apesar de terem tocado antes, mas ain- biente de terror cheesy, e é coisa que nos põe a todo o período que vai do «Non Serviam» ao «Aea-
da assim) que uma lenda como os Rotting Christ, mexer, e que nos impede de desviar o olhar, de lo» (e são dezasseis anos, parecendo que não!)
mas só surpreende mesmo quem não presencia forma quase subconsciente. Kudos extra para o é ignorado nesta setlist actual, o épico «Theogo-
a popularidade de que disfrutam actualmente. É Seregor quando teve a presença de espírito de nia» incluído, o que é uma pena para as pérolas
ainda uma popularidade meio desfazada com a mudar imediatamente o registo, parando mesmo que existem nesses sete álbuns. Seja como for,
qualidade do seu output, diga-se, numa análise o tema, para sugerir a intervenção da segurança, o grosso da actuação, que engloba os três últi-
fria, mas é muito difícil manter qualquer tipo de ao detectar um gesto mais infeliz, chamemos-lhe QSWHMWGSWm%IEPS|m͠ºÉͪͥͰͲ±ºͭͱͰͲº͜ºÊÉͰͷ|
frieza no meio do carnaval (lá está) armado pelo assim, por parte de um elemento do público. Dito I m6MXYEPW| ɯ JSVXI S WYƤGMIRXI TEVE EMRHE TɹV S
trio – enriquecido para quarteto, em palco – dos isto, e perdoem-nos o síndroma de velho, mas RCA em polvorosa, por isso deixemo-nos de lamú-
países baixos. É largar os Powerwolf, os Ramms- esta e outras bandas ainda têm muita cara para rias. Terminámos com os punhos ao alto a gritar
tein e os Cradle Of Filth à solta na antiga Feira pintar para poderem chegar perto da dimensão de orgulhosamente “non serviam!” com o felicíssimo
4STYPEV GSQ HMRLIMVS WYƤGMIRXI TEVE XIVIQ YQE uns Rotting Christ. São gerações diferentes, claro, Sakis, e isso é que interessa. Ah! Na primeira parte
overdose HI EPKSHɩS HSGI I ƤGEWI GSQ YQE e isso notou-se na mudança enorme de público de disto tudo estiveram os franceses Svart Crown,
aproximação do que representa este pessoal, uma banda para outra, mas a diferença é que os UYIVIƥIGXMVEQIQTEPGSEXSEHEKIVEPHSFPEGO
tanto visual como sonoramente, por estes dias. gregos poderiam aparecer de roupão e chinelos HIEXLWIRWEFSVɩSHEWYEHMWGSKVEƤEũQYMXEXIW-
Compreende-se o apelo – toda a composição em palco que «The Sign Of Evil Existence» ou «Non tosterona, muito grito, zero malhas. Serviram para
TEVIGI EƤREHE TEVE E performance ao vivo, com Serviam» continuariam a ser malhões devastado- dar mais valor ainda ao que se seguiu. [J.C.S.]

64 LOUD!
sempre os que mais caos criarão (e sortudos que
somos, até tivemos direito a uma sequência «After
World Obliteration» / «Storm Of Stress» / «Fear Of
Napalm» / «Human Prey» / «Corporation Pull-In» /
«Strategic Warheads», tal e qual como no disco),
mas foi interessante ver como outros temas selec-
cionados dos discos deste século também se inte-
gram bem na castanhada. Com Harrison e Molina
sempre a puxar pelo público e o grande Commando

NILE
a parecer 30 anos mais novo, foi uma sova de criar
bicho da qual nos lembraremos durante muito tem-
po. Padrõezinhos cá em cima para os Nile segui-
rem, portanto, e como é seu apanágio, a banda de

+ TERRORIZER
Karl Sanders soube estar à altura. Aquela parede de
som do lendário concerto do Hard Club em Outubro
HI  HMƤGMPQIRXI WIVɧ MKYEPEHE EPKYQ HME I WMQ
apesar de a formação actual continuar a exibir uma

+ EXARSIS + NO MORE FEAR NILE


FOTO: ESTEFÂNIA SILVA
coesão titânica, a ausência do imponente Dallas To-
ler-Wade ainda se faz sentir um pouco. Mas mesmo
com esses pequenos niggles, a máquina “egípcia”
18.02.16 – RCA Club, Lisboa segue imparável, fruto também dos malhões des-
comunais que tem no seu catálogo. Impressiona

D
eath metal melódico (mais ou menos), meio Expectativas controladas, portanto, antes da subida a capacidade de extrairem colossos mesmo dos
90s, chato. Thrash enérgico, sim, mas sem ao palco, até por não sabermos qual seria a forma discos geralmente menos inspirados – assim foi
ponta de personalidade própria ou qualquer actual do próprio Pete. Os primeiros temas deram GSQ EW KMKERXIW m/EƤV| SY m8LI *MIRHW ;LS 'SQI
momento memorável, estragado por um vocalista “nim” – o “velhote” parecia estar com vontade, os To Steal The Magick Of The Deceased». Só do
horrível. Pronto, estão tratados respectivamente os escudeiros Lee Harrison e Sam Molina (um Mons- «Ityphallic» não houve mesmo nada para retirar, e
No More Fear e os Exarsis, italianos e gregos que trosity e um ex-Monstrosity) também com a “pica” e ainda bem. Sob coros constantes de “fuck yes!” en-
vieram encher chouriços nesta digressão de dois o talento necessário, mas o que se ouvia era apenas corajadores de Sanders, foram naturalmente «Black
nomes lendários do death norte-americano. Siga- competente, não estava a bater imenso. Até que se Seeds Of Vengeance» e «In Their Darkened Shrines»
mos para o que interessa, e é um prazer reportar deu magia, ali por alturas daquela intro de bateria os discos mais focados, com o destaque a ir para
que os Terrorizer ainda interessam muito. Confor- explosiva da velhinha «Crematorium» (que, até ter os desarmantes doze minutos de «Unas, Slayer
me todos sabemos, os Terrorizer que gravaram o sido regravada no «Darker Days Ahead», recorde- Of The Gods», um tema absolutamente épico que
seu nome na história do death/grind com «World -se, já tinha aparecido na primeira demo, e o RCA qualquer ser humano normal imaginaria ser quase
Downfall» não existem há muito tempo – aliás, já pegou fogo. Daí em diante, não mais os Terrorizer impossível tocar ao vivo, e que serviu de “prenda”
nem existiam quando o próprio disco foi gravado! olharam para trás, e perante um nível de movimento a um público activo, participativo, e que fez por a
– e têm consistido, na sua existência intermiten- selvagem de intensidade invulgar por parte do pú- merecer. «Black Seeds Of Vengeance», o tema, foi o
te, do ilustre Pete “Commando” Sandoval e mais blico, arrancaram para uma prestação sempre em TSRXS HI I\GPEQEɭɩS ƤREP ETSXIɸXMGS UYI IRGIVVSY
duas pessoas quaisquer à sua volta, para ser cruel. alta rotação. Os temas do «World Downfall» serão uma grande noite. [J.C.S.]

COMEBACK KID
+ NASTY + BACKFLIP
18.02.04 – RCA Club, Lisboa

A
TIWEV HE GLIKEHE EXIQTEHE ɦ TSVXE HE WEPE E IRSVQI EƥYɰRGME HI TɽFPMGS I E GSR-
sequente demora na entrada para o RCA impediram a LOUD! de assistir ao concerto
HSW &EGOƥMT QEW S VMXQS E UYI E TPEXIME WI QSZMQIRXSY HIWHI SW MRWXERXIW MRMGMEMW HS
concerto de Nasty dava a entender que o aquecimento tinha sido bom. A banda holandesa
apela à postura mais tough do hardcore, mas o que se passou no RCA durante esta actuação
foge ao espírito de partilha e celebração que este escriba testemunhou em vinte anos a ir a
concertos do género. Ver miúdos a darem murros em série na nuca das pessoas que esta-
ZEQ RE TVMQIMVE ƤPE I TWIYHSRMRNEW E TSRXETIEVIQ GEFIɭEW Wɸ TSVUYI WMQ ZEM QYMXS EPɯQ
da loucura “controlada” que se espera nestas ocasiões. Curiosamente, durante o concerto
de Comeback Kid, não mais se viu este tipo de imbecilidade. Adiante. Falando de música,
que é o que mais interessa, os Nasty são uma banda que não agradará, por certo, a gregos
e troianos. No entanto, e apesar de alguma falta de dinâmica entre temas, o hardcore quase
sludgy misturado com beatdown pesadíssimo, os 100% de entrega e a clara empatia com
uma larga fatia do público presente, acabaram por resultar numa prestação competente.
Os Comeback Kid jogam num campeonato completamente diferente e são, por estes dias,
uma banda de “singles”. Num alinhamento com quase duas dezenas de temas, não há um
único que não tenha refrão memorável entoado em uníssono pelo público. Os temas do mais
recente «Outsider» ganham ainda mais peso ao vivo e foram muito bem recebidos, mas foi
com clássicos como «Partners In Crime», «Broadcasting» e «G.M. Vincent & I» que criaram
aquela energia contagiante e transversal a toda a sala. Andrew Neufeld continua a ser um
monstro em palco, tanto pela presença como pela voz, e a coesão instrumental do colectivo
canadiano é impressionante. De resto, quem tem malhas tão bem construídas e versáteis só
TVIGMWE QIWQS HI EW I\IGYXEV FIQ TEVE FVMPLEV GSQS JSM S GEWS 3 ƤREP ETSXIɸXMGS ES WSQ
de «Wake Up The Dead» deixou aquela sensação de que passou tudo demasiado depressa, COMEBACK KID
FOTO: PEDRO ROQUE
embora certamente ninguém tenha saído do RCA desiludido. [J.A.R.]

LOUD! 65
AGENDA

/ Viralata
/ Dark Oath – Largo Pavilhão Municipal, Moita
Moita Metal Fest 2018
07 – Vader [Pol] / Bizarra Locomotiva / Benighted [Fra] /
Iberia / Switchtense / For The Glory / Malevolence
[Ing] / Terror Empire / Equaleft / Dead Meat / Low
Torque / Wells Valley / Toxikull – Largo Pavilhão
Municipal, Moita Moita Metal Fest 2018
09 – Insomnium [Fin] / Tribulation [Sue] – Hard Club, Porto
10 – Insomnium [Fin] / Tribulation [Sue] – RCA Club, 04.09/10 – INSOMNIUM
Lisboa
13 – Dark Tranquillity [Sue] / Equilibrium [Ale] – Lisboa
Ao Vivo, Lisboa
14 – Dawnrider / Shivan / Lyzzärd – Another Place,
Almada Warm Up Metal Keeper Fest
ũHavok [E.U.A.] / Darkest Hour [E.U.A.] / Cephalic JUNHO
03.22/24 – IMMOLATION Carnage [E.U.A.] / Harlott [Aus] – Lisboa Ao Vivo, ũSlapshot [E.U.A.] / Knuckledust [Ing] / (…)
Lisboa – RCA Club, Lisboa Hell Of A Weekend
21 – Infraktor / Analepsy – Stairway Club, Cascais 09 – Balmog [Esp] / Archaic Tomb / (…)
21 – Deez Nuts [Aus] / (…) – Hard Club, Gaia – Another Place, Almada Masmorra Fest II
22 – Deez Nuts [Aus] / (…) – RCA Club, Lisboa 27 – Marilyn Manson [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
MARÇO 23 – Deez Nuts [Aus] / (…) – Bar Bafo de Baco, Loulé 27 – Baroness [E.U.A.] – Lisboa ao Vivo, Lisboa
03 – Pestilence [Hol] / Sacred Sin / Pestifer – RCA Club, 27-29 – Suffocation [E.U.A.] / Carpathian Forest [Nor] 30 – Pain Of Salvation [Sue] – RCA Club, Lisboa
Lisboa Deathmania III / Exhorder [E.U.A.] / Master’s Hammer [R.C.] /
03 – Battalion / A Kausa / Pestox / Veinless / Vodka Nifelheim [Sue] / Cock And Ball Torture [Ale] / JULHO
Pedra / Tributo de Choque – Cine Incrível, Almada Church Of Misery [Jap] / Mortiis [Nor] / Agathocles 02 – Ozzy Osbourne [Ing] / Judas Priest [Ing]
Feijó Rock Celebration 1987 - 2017 [Bel] / Mortuary Drape [Ita] / Filii Nigrantium – Altice Arena, Lisboa
09 – Process Of Guilt – Canecas Bar, Paços de Ferreira Infernalium / Suma [Sue] / Obliteration [Nor] / Evil 10 – Kiss [E.U.A.] / Megadeth [E.U.A.] – Estádio
15 – Anciients [Can] / Black Wizard [Can] / Invaders [Bel] / Interment [Sue] / Looking For An Municipal, Oeiras
Desert’Smoke – Stairway Club, Cascais Answer [Esp] / Inferno [R.C.] / Vulvodynia [A.S.] / 11 – Scorpions [Ale] – Estádio Municipal, Oeiras
16/17 – Irae / Blackevil [Ale] / Lux Ferre / Chotzä [Sui] Sourvein [E.U.A.] / Process Of Guilt / Dyscarnate 13 – Iron Maiden [Ing] / Tremonti [E.U.A.]
/ Surge Assault [Ita] / Ordem Satânica / (…) – Le [Ing] / Hexis [Din] / Nekromantheon [Nor] / – Altice Arena, Lisboa
Baron Rouge, Barcarena Extreme Metal Attack XV Teethgrinder [Hol] / Irae / Black Panda [Esp] / 13 – Queens Of The Stone Age [E.U.A.] / (…)
17 – Hills Have Eyes / For The Glory / Don’t Disturb My Altarage [Esp] / Flageladör [Bra] / Andralls [Bra] / – Passeio Marítimo, Algés NOS Alive 2018
Circles – Music Box, Lisboa 14 – Pearl Jam [E.U.A.] / At The Drive-In [E.U.A.] / (…)
Départe [Aus] / (…) – Barroselas SWR Fest XXI
17 – Darkforce [Ale] / Alkateya / Shivan – Stairway Club, – Passeio Marítimo, Algés NOS Alive 2018
Cascais MAIO 14 – Moonspell / (…) – Peso da Régua
5ª Concentração Motard do Douro
22 – Immolation [E.U.A.] / Full Of Hell [E.U.A.] / Monument 05 – Basement Torture Killings [Ing] / Foetal Juice [Ing] 26 – Cruz de Ferro / Booby Trap / (…) – Famalicão
Of Misanthropy [Aut/Fra] – Hard Club, Porto / Analepsy / Black Alley Lobotomy – Metalpoint, Laurus Nobilis Music 2018
22 – Profanatica [E.U.A.] / Rites Of Thy Degringolade Porto Clash Of The Slashers 27 – 7ITXMGƥIWL [Gre] / Equaleft / Crisix [Esp] / Hills
[Can] / Necrobode – Le Baron Rouge, Barcarena 13 – Graham Bonnet Band [Ing] – RCA Club, Lisboa Have Eyes / Web / Nine O Nine / In Vein / Sotz’
23 – Profanatica [E.U.A.] / Rites Of Thy Degringolade 19 – Tank [Ing] / Killer [Bel] / Witchtower [Esp] / Attick – Famalicão Laurus Nobilis Music 2018
[Can] / Necrobode – Metalpoint, Porto Demons / Alkateya / Wanderer – Another Place, ũDark Tranquillity [Sue] / Tarantula / Mata-Ratos
23 – Bell Witch [E.U.A.] / Löbo – Centro Cultural, Cartaxo Almada Metal Keeper Fest II / The Temple / Revolution Within / Low Torque /
23 – Rasgo / Lâmina – Cine Incrível, Almada 26 – Inverno Eterno / Black Howling / Gaerea – RCA Legacy Of Cynthia / (…)
23 – Toxikull – Rrusstyk Bar, Faro Club, Lisboa – Famalicão Laurus Nobilis Music 2018
24 – Immolation [E.U.A.] / Full Of Hell [E.U.A.] / Monument
Of Misanthropy [Aut/Fra] – RCA Club, Lisboa
24 – Bell Witch [E.U.A.] – Vibe, Viana do Castelo
AGOSTO
09-12 – Cradle Of Filth [Ing] / Moonspell / Converge
24 – Toxikull / Prayers Of Sanity / Terror Empire –
[E.U.A.] / Ensiferum [Fin] / Masterplan [Ale] /
Another Place, Almada
Sinister [Hol] / Dagoba [Fra] / Memoriam [Ing] /
29 – Angra [Bra] / Geoff Tate’s Operation: Mindcrime
Dust Bolt [Ale] / Carach Angren [Hol] / Bölzer [Sui]
[E.U.A.] / Halcyon Way [E.U.A.] – Hard Club, Porto
/ Holocausto Canibal / Attic [Ale] / Theriomorphic
30 – Angra [Bra] / Geoff Tate’s Operation: Mindcrime / Serrabulho / Gwydion / Lost In Pain [Lux]
[E.U.A.] / Halcyon Way [E.U.A.] – RCA Club, Lisboa / Wicked Inc. [Esp] / In Vein / Blame Zeus /
30 – Machine Head [E.U.A.] – Coliseu dos Recreios, Lisboa Stonerust / Invoke / (…) – Quinta do Ega, Vagos
30 – Toxikull / Toxik Attack – Metalpoint, Porto Vagos Metal Fest 2018
31 – Machine Head [E.U.A.] – Coliseu Porto, Porto 10/11 – Kadavar [Ale] / Nebula [E.U.A.] / Conan [Ing] /
31 – Attick Demons / For The Glory / Don’t Disturb Earthless [E.U.A.] / Ufomammut [Ita] / Naxatras
My Circles / Suspeitos do Costume / Systemik [Gre] / Purple Hill Witch [Nor] / Atavismo [Esp] / Ruff
Viølence / Challenge / Thrash Wall / Contra Majik! [A.S.] / (…) – Moledo, Caminha Sonic Blast ‘18
Corrente / Pull The Trigger – Pavilhão B.V.O., 23-25 – Current 93 [Ing] / Ulver [Nor] / (…) – Teatro José
Odemira Mira Fest 2018 Lúcio da Silva, Leiria Extramuralhas
31 – Fields Of The Nephilim [Ing] / (…) – Hard Club, Porto

ABRIL SETEMBRO
24 – Batushka [Pol] / (…) – RCA Club, Lisboa
03 – August Burns Red [E.U.A.] / The Voynich Code / 25 – Batushka [Pol] / (…) – Hard Club, Porto
Borderlands – Hard Club, Porto
04 – August Burns Red [E.U.A.] / The Voynich Code / 03.30/31 – MACHINE HEAD
Borderlands – RCA Club, Lisboa
06 – The Exploited [Ing] / Suicidal Angels [Gre] /

PRÓXIMA LOUD! #205


EAGLE TWIN SEPTIC TANK IHSAHN
CONCEALMENT GNAW THEIR TONGUES WRONG
66 LOUD!
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