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Dieter Duhm
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Trazido para o Brasil por
Tomi Streiff
Tradução
Márcia Neumann
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Sobre este livro:
Sobre o autor:
Em 1995 funda junto com sua parceira Sabine Lichtenfels e outros o Centro de
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Pesquisa de Paz “Tamera”, em Portugal, com o objetivo de unir trabalhos
globais de paz com a construção de um novo modelo de vida e criar um lugar,
no qual as pessoas possam conviver com todas as criaturas em cooperação e
apoio mútuo.
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SUMÁRIO
Prefácio
Introdução
Eros e Apocalipse
A parábola da montanha
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A ninfomania saudável e a fome de nossas células
O mito do orgasmo
Um apelo às mulheres
A dor ancestral
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Um processo mundial de amor emergente
A despsicologização do amor
Eros liberto
Bibliografia
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Prefácio
Nós vemos nosso trabalho para uma cultura erótica livre do medo como uma
parte do trabalho global de liberdade. Não poderá haver paz, enquanto existir
guerra no amor. A guerra dos sexos é a herança de uma época histórica de
cinco mil anos de dominação masculina. Esta dominação ocorreu por meio da
violência, da destruição da vida e da repressão sexual. O poder, que o sexo
masculino quis adquirir, foi o poder do extermínio da vida e não – como nas
culturas antigas – o poder da perpetuação da vida. O poder masculino se volta
primeiramente contra a dominância da mulher nas culturas superiores arcaicas,
mais tarde contra a mulher em geral. Entre as torturas da história (queima das
bruxas etc.) o “sexo fraco” foi transformado no sexo silencioso. O ser humano
“venceu”. Algumas pequenas histórias deste livro tratam de como esta “vitória”
se apresenta e de como ela é sentida na vida amorosa dos dois gêneros. Com
a humilhação da mulher o ser humano destruiu sua própria alegria de viver.
Porque os dois gêneros fazem parte um do outro, eles são as duas metades do
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Ser humano. Os dois sentem agora a mesma dor. É a dor indescritível da
história, que se repete diariamente nos relacionamentos infelizes, nas
esperanças fracassadas, nas resignações silenciosas, nas doenças
psicossomáticas, nos atos sexuais violentos, nas reações em cadeia cotidianas
de decepção e vingança, de vítimas e culpados. Nós vemos esta dor diante do
pano de fundo histórico de nossa sociedade. De forma análoga nós
procuramos em nosso trabalho de terapia ver as causas históricas da doença e
eliminá-las.
Foi o pensamento político, que me induziu como “velho ativista de 68” (1968,
luta anti-imperialista e oposição extraparlamentar) a não abandonar
simplesmente o trabalho marxista, mas enriquecê-lo nos temas íntimos do ser
humano. Eu ainda me admiro até hoje, como esta ideia, que eu já havia
formulado em meu livro “Medo no capitalismo” (1972) pode rapidamente ser
totalmente convertida em posições terapêuticas apolíticas ou posições
esotéricas. Talvez esta despolitização tão rápida tenha sido apenas um
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passageiro reflexo histórico do declínio mundial do comunismo em sua forma
atual. Este fracasso global de um movimento inicialmente tão grande não teria
também resultado da incapacidade de solucionar as questões amorosas? Das
relações sociais de produção não surgem apenas bens materiais, delas surgem
também forças imateriais como amor ou ódio, inteligência ou estupidez, altivez
ou submissão. O comunismo anterior ainda não havia pensado nisto, seus
fundadores quase não tinham conhecimento a respeito destas relações, e
depois dos fundadores era quase impossível para alguém desenvolver
pensamentos próprios. A primeira metade do caminho havia sido percorrida, a
outra metade foi sufocada no cimento ideológico.
A capitulação ante Eros faz parte daqueles processos da história, nos quais
diversas religiões, ideologias, estruturas de poder e ideais culturais se deixam
alinhar. A rendição diante de Eros pertence às causas, que induzem os
homens a procurar a cura de sua alma no Além e a aceitar os eventos
desumanos sobre a Terra. A capitulação ante Eros se encontra por detrás dos
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massacres diários de animais e detrás daquela ética, que permite a guerra e
proíbe o amor. Pessoas nas quais Eros é livre e nas quais o amor se realiza
protegem e cuidam das criaturas de sua comunidade, em vez de matá-las. É o
Eros liberto que nos traz esta profunda alegria de viver, que nós queremos
passar a todas as criaturas. É o amor físico e a felicidade espiritual, que nos
preenchem com verdadeira moralidade e compaixão. Neste ponto a nossa
tradição cultural, primeiro a judaico-cristã, depois a material-capitalista, inverteu
quase todos os valores. Todos os homens anseiam pelo amor sexual, todos
foram punidos por isto de uma forma ou de outra, e quase todos se curvaram
então à mentira coletiva segundo a fórmula: As uvas estão muito altas, então
elas estão azedas. A consequência desta tradição cultural inimiga da
sexualidade é uma estrutura coletiva de caráter, que se afastou tanto das
fontes sexuais da vida e do amor, que já nem mesmo procura a religação com
estas fontes.
Uma vez eu fui convidado junto com Sabine Lichtenfels para participar de uma
discussão sobre sexualidade e amor na televisão, em Friburgo. Quando nós
chegamos vimos diante da entrada uma multidão de pessoas, que fora
impedida de entrar por uma pequena fileira formada por jovens ativistas
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friburguenses. Foram distribuídos panfletos contra os lemas “sexistas” de
Dieter Duhm e Sabine Lichtenfels. Nosso estômago quase deu voltas, quando
vimos, como nestes panfletos, nossas ideias foram grosseiramente distorcidas
em seu contrário. Os distribuidores dos panfletos adquiriram suas
“informações” de uma brochura contra nós, que fora publicada na internet por
um grupo, cujo representante não nos conhecia absolutamente e nem nosso
trabalho. Eles escreveram com a intenção de por meio de compilações
chamativas de citações, impedir nossas apresentações públicas e a divulgação
de nossos escritos. Muitas pessoas leram esta brochura, mas não leram
nossos próprios escritos. Não é estranho o que acontece aqui? Quando nós
observamos os rostos das distribuidoras e dos distribuidores de panfletos, nós
pensamos que também poderíamos ter sido estas pessoas há 20 ou 30 anos.
Diante disso, nós não fomos tomados por nenhum impulso de ódio ou de
violência, mas sim por uma reflexão consternada. Por que eles foram incitados
tão duramente contra nós, e por que eles se deixaram incitar com tanta
disposição, sem ter se informado realmente uma única vez? Eu creio, que
depois de tudo que aconteceu nos últimos trinta anos sob o tema amor, sexo e
companheirismo, que quase todo mundo acabou com tantos hematomas, que
se sente feliz, por não ser mais uma vez tocado nos pontos da profunda
ansiedade e do profundo ferimento. Eu gostaria honestamente de comunicar
neste ponto, que neste livro tenho de abordar alguns temas, nos quais eu não
posso evitar totalmente este contato. Eu espero que nestes trechos não seja
tocada apenas a dor de sonhos de amor não realizados, mas sim a visão de
uma verdadeira e fundamental reconciliação. O conteúdo de todos os capítulos
gira em torno desta direção.
Nós vivemos o início de uma nova era. Abordagens reais para a formação de
uma nova cultura inclusive uma nova imagem do amor sexual estão em marcha
e não se deixarão mais retroceder. Minha motivação não está em seguir a
tendência contemporânea de medo ou repressão, mas sim uma confiança
duradoura, fundamentada historicamente. As colisões com os limites de nossa
época acontecem como consequência, de certa forma elas são nosso ofício.
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Quem hoje quiser deslocar fronteiras, para si pessoalmente ou para um
objetivo social, sempre se colocará em um ponto de decisão interior: Confiança
ou medo? Com os esclarecimentos deste livro eu quero fortalecer a confiança.
Onde quer que esta posição questionadora entre medo e confiança se torne
consciente para nós e estivermos em condição, de nos decidirmos pela
confiança, a vida nos abre novas possibilidades e os caminhos tomam muitas
vezes curvas surpreendentes. Também no amor. Veja teu parceiro amoroso
tua parceira amorosa à luz da confiança e lhe faça então a pergunta, que você
leva contigo há tanto tempo, e você provavelmente se surpreenderá com a
sinceridade da reação dele ou dela. Quem sabe não resulte em um novo
começo? É claro que não é fácil, depois de tudo que aconteceu voltar a ter
confiança, e eu entendo muito bem, porque muitas pessoas não querem mais
ouvir falar sobre isso. Mas por detrás de todas as brigas existe ainda – quase
como um eterno componente de nossa psique – uma quase não danificada
possibilidade de confiança e uma quase não destruída crença no amor. Se no
futuro existir realmente uma nova teologia, então esta é uma teologia da
escolha entre medo e confiança.
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de comunhão, em vez de estruturas de soberania. Eros é a fonte sagrada de
toda a vida. É difícil falar disto como homem depois de um período de quatro
mil anos de violência sexual e humilhação. Mas apesar de tudo é assim. Nós
temos de fazer tudo, para nos unirmos outra vez a esta fonte. Este não é
apenas meu desejo pessoal, mas sim a condição para um futuro digno de ser
vivido sobre o nosso planeta. Reconciliação em vez da continuação do estado
de guerra. Toda a terra espera por isto. Uma cultura livre da violência nasce de
uma nova relação dos sexos e de uma nova relação com nossas fontes. Como
nas culturas arcaicas, estas fontes ainda se chamam Eros e religião. A cura
está lá, no ponto em que as duas se convergem novamente. As novas
operações de paz de nossa época, os caminhos espirituais e os centros
mentais de luz somente poderão desenvolver sua plena força curadora, quando
puderem empregar suas forças espirituais para a libertação total do amor
sexual e não mais para sua repressão. Existem algumas testemunhas e co-
formadores de nosso tempo, que depois de uma longa passagem por
experiências ecológicas, políticas e espirituais também chegaram exatamente a
esta conclusão. Eu penso na ecologista profunda Joana Macy, em Robert
Jungk, em Ernest Bornemann, em Peter Caddy (criador da Fundação
Findhorn). Eles e outros se depararam ao fim de suas obras com o inevitável
significado da sexualidade para a cura da terra. Neste contexto eu gostaria de
aludir às citações, que estão impressas na quarta capa deste livro.
A prática espiritual exige uma prática de vida verdadeira e ela encontra o seu
centro através da verdade no amor. Eu não escrevo isto como guru, mas sim
como questionador, como buscador, como lutador e até mesmo como
duvidante. Mas apesar disto eu sei que é assim. Em sempre soube através de
meus anseios, que existe alguma coisa no mundo que traz a resposta e a
realização. Não haveria absolutamente nenhum anseio, se também não
houvesse uma realização. Também não haveria sede, se não houvesse água.
A realidade existente sempre contém em si mesma esta correspondência de
dentro e fora, de desejo e realidade, de prece e realização – este mistério
ancestral de todo ser humano realmente crente.
Eu dedico este livro a todos os amantes, a todos, que com o coração disposto
ao amor estão a caminho da nova margem; a todos que estão à procura uma
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fidelidade verdadeira, que não mais obrigue à mentira. Eu o dedico às crianças,
que chegam até nós, aos animais e às plantas, que precisam da proteção e da
participação dos homens. Eu o dedico aos trabalhadores da liberdade, que não
se deixam distrair por meio de parolas espirituais precipitadas e de meias
verdades, mas que estão dispostos a se colocar pela incorruptibilidade da vida.
Dieter Duhm
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Introdução
Eu escrevi este livro porque isto foi inevitável. O tema do amor sexual
precisava ser visto e trabalhado por outro ângulo. Este é o tema da nossa
época, mesmo que os motes atuais às vezes digam algo diferente. A temática
do anseio sexual figura no centro de nossos pensamentos e sentimentos
íntimos. Nos dias atuais a quantidade de pessoas que sofrem e que adoecem
em função da sexualidade reprimida é maior do que a quantidade de pessoas
que sofrem e adoecem por causa de toxinas ambientais. Em minha vida, onde
quer que eu tenha me engajado – seja nos grupos revolucionários do
movimento estudantil, no movimento alternativo que surgiu na década de 1970,
ou em meu trabalho como professor e terapeuta – em última instância eu
sempre me deparei com este tema. As tentativas de resolvê-lo em
comunidades ou em experimentos com o amor livre, não tiveram êxito até o
momento. As diferentes abordagens terapêuticas ou espirituais também não
ajudaram muito. O núcleo do problema está profundamente associado aos
nossos hábitos cotidianos de pensamento e de ação. Por este motivo enquanto
estes costumes persistirem o problema pouco pode ser visto e muito menos
solucionado. A era da revolução sexual seria passado, diz-se hoje. No entanto,
na realidade ela ainda não começou de fato no interior do ser humano. Como
se já pudessem conduzir ao centro da coisa, as tentativas realizadas até hoje
foram muito desorientadas e muito emocionais. Também não se trata
primariamente de revolução, mas sim de conhecimento.
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todos os amantes, a encontrar esta possibilidade dentro de si mesmos e a agir
adequadamente. Se existir para nós e nossos filhos um futuro digno de ser
vivido, então ele se encontra em uma nova forma do amor sensual.
Este livro não tem de ser lido do início até o fim. A leitura deve ser iniciada, no
capítulo do índice, no qual o ponto mais interessante é abordado. Quem achar
que os primeiros capítulos apresentam um balanço negativo deve pular estas
páginas sem escrúpulo e primeiro procurar os aspectos mais agradáveis. Com
isto não será perdida nenhuma teoria importante, porque quase todo trecho
constrói por si próprio uma relação, que é compreensível mesmo sem maiores
esclarecimentos. Apesar do peso do tema, eu não desejo às leitoras e aos
leitores nenhum novo pesadelo, mas sim esperança verdadeira e alegria
antecipada. O amor não é mais um conto de fadas, nós podemos realiza-lo, se
o compreendermos.
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CAPITULO I
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É exatamente aí que reside o problema
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É neste último que acontecem nossos dramas íntimos. Em milhões de jovens,
em milhões de adultos. Através de todas as camadas e de todos os partidos
políticos da sociedade. Independente de todas as relações religiosas, políticas
ou morais. Para a vida sexual interior de uma pessoa não importa se ela
pertence ao Partido Verde ou ao Partido da União Democrática Cristã, se ela é
budista ou cristã, se exerce a profissão de um padre ou de um homem de
negócios. Nós todos já conduzimos algum dia uma luta heroica contra nosso
desejo, nós todos já fomos vencidos algum dia por ele, mesmo que tenha sido
apenas na fantasia. Todos nós já lutamos algum dia também contra a fantasia,
para que nos mantivéssemos limpos, e todos nós nos “sujamos” bastante com
isso. Porque a luta contra o impulso é o óleo constante, com o qual
alimentamos nosso fogo escondido.
Para que isto fique claro: Eu não falo de nossos avós, mas sim de nós. Eu não
falo do puritanismo da Era Vitoriana em meados do século dezenove, mas sim
do estado de crise sexual no fim do século vinte. A alegada revolução sexual
pouco modificou até agora as estruturas básicas de nossos sentimentos e
pensamentos. Em cada um de nós ainda se encontra uma semente que não
germinou. O desenvolvimento da espécie humana depende de seu
descobrimento e desabrochar.
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Sexualidade: Potência Mundial
Quem diante de seu anseio não cai mais uma vez nos velhos subterfúgios e
hipocrisias morais, quem não se deixa mais enrolar por meio de explicações
psicológicas ou terapêuticas, quem não se deixa mais acalmar pela cadência
da massa, mas está decidido a acompanhar este tema, sabe alguma coisa
sobre o significado da sexualidade.
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masturbar. Ou a Câmara dos Deputados se reúne para discutir o aborto, e um
deputado revela suas fantasias sexuais, para trazer o tema para uma base
verdadeira e humana. Imagine, que em algum lugar sobre o palco social e
político deste mundo alguém começasse, neste sentido a falar como pessoa e
não como alguém que oculta sua verdadeira aparência atrás de uma máscara!
Os contemporâneos ficariam pasmos. A sinceridade sexual está até agora em
irreconciliável oposição ao modo de vida público, à moral, à ciência, à religião
etc. A franqueza sexual nos colocaria de imediato diante de um fato muito
chocante, ou seja, o de que toda esta vida adaptada tem diante de nossos
desejos e anseios reais alguma coisa de ridícula e de profundamente falsa.
A sexualidade é aquilo, que movimenta tudo. Por este motivo ela é um tema
público de importância primária e tem de ser vista e tratada assim em qualquer
cultura mais ou menos inteligente. É muito importante para a saúde interior de
uma sociedade se o seu sistema nervoso sexual ainda continua na escuridão,
dentro e fora da consciência pública, ou se está integrado consciente e
publicamente na vida social. Enquanto as forças sexuais permanecerem
reprimidas na esfera da fantasia individual existirá o perigo de uma ruptura da
represa, porque a força natural da sexualidade não se deixa reprimir. Em algum
momento se forma no âmago de qualquer sociedade reprimida sexualmente
uma mistura explosiva de sexualidade e violência, que então não conhece mais
nenhum limite em sua descarga apavorante. Cruzadas, Inquisição, guerra e
campo de concentração também são sempre as consequências psicológicas
de uma sociedade programada de forma errada na área sexual. Até agora, a
história do ser humano é marcada por uma violência, que nós não podemos
mais ignorar. Isto continuará assim, se nós não construirmos estruturas básicas
para uma sexualidade sem mentira e repressão e para uma transformação das
energias sexuais da violência para o amor sensual.
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Existem atualmente muitos círculos políticos e espirituais, onde a sexualidade é
tão reprimida, que a luta interior, que aqui ainda continua a acontecer em nome
da repressão, quase não pode ser ignorada. Existem outros círculos onde as
questões sexuais são discutidas o tempo todo. Eu não sei a quem uma ou
outra modalidade ainda pode ser útil. A discussão sobre questões sexuais terá
primeiramente um sentido, quando existirem ou forem possíveis novas
experiências. E então as discussões não serão mais necessárias. Todo homem
e toda mulher gosta de sexo, se pode desfrutá-lo sem medo e humilhação.
Sobre isto a gente não precisa discutir. As discussões acontecem sobre a base
do principio da velha repressão e da antiga dogmatização. Uns constroem seu
dogma sobre a base do casamento e da monogamia, os outros sobre a base
do amor livre, os terceiros sobre a base da ascese, os quartos sobre a do
orgasmo mental da yoga tântrica etc.. Todas estas ideologias e todos estes
dogmas sejam de caráter chauvinista, feminista ou religioso são uma batalha
sem sentido contra a verdade. Enquanto se discutir sobre se o amor
monogâmico ou o amor livre seria “o certo”, eu me decidiria pela abstinência.
Na realidade não existe absolutamente nenhuma diferença entre o amor
monogâmico e o amor livre. Um se desenvolve a partir do outro. A questão é
apenas até que ponto chegam nossa coragem e nosso desejo, para entender
verdadeiramente as experiências. Aqui se encontra de fato uma escolha, que
cada um tem de fazer individualmente. É bom, quando ele tem bons amigos
para isto. (Quando eu digo “ele” eu penso nos dois gêneros; senão seria
linguisticamente muito complicado.)
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questionamento histórico. Aquilo que começou tão confuso na revolução
estudantil foi um primeiro lampejo, mas ainda não era o próprio processo. O
processo em si, a iniciante libertação sexual e transformação do ser humano,
está fora de toda tendência de moda e das vaidades culturais. A libertação
sexual não tem nada a ver com um espírito do tempo “progressista”, porque ela
está como todo passo de desenvolvimento interior do ser humano, fora deste
tipo de futilidade.
O tema sexual não é “in” nem “out”, ele é. É o tema central mais íntimo de
nossa época, em todo caso daquelas culturas e sociedades, que não sejam
diretamente atingidas pela miséria material ou pela guerra. As tentativas de
libertação sexual desde Emma Goldmann (no início do século passado) são o
começo de um movimento histórico, depois do qual não existe mais nenhum
retrocesso.
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Eros e apocalipse
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percepção das correlações intimas.
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participa, ele se mantém imperturbavelmente preso a sua direção. Há muito
que eu me surpreendo com estes seres, eu os chamo de “inabaláveis”. Estes
inabaláveis formam – simplesmente através de sua quantidade – o destaque
na luta mundial contra o amor. E as vítimas desta luta são sempre as crianças.
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abertamente sua vida aos desejos sexuais. Ele se rendeu, mesmo que ele se
comporte como livre e soberano. Através de todos os esforços de libertação
com os quais o ser humano histórico quis se libertar do autoconstruído vale de
lamentações, através de todos os seus sistemas filosóficos ou religiosos ou
políticos, este estigma de sua capitulação diante de Eros se arrasta como uma
particularidade do homo sapiens.
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No jornal havia a seguinte história: Um homem encontra uma mulher em
Düsseldorf. Eles se apaixonam. Mas o homem é casado. Eles foram para o sul
da França. Lá eles subiram em um rochedo amarraram-se aos pulsos e
pularam. – Foi uma viagem de casamento à morte intencional. Eles queriam
estar juntos para sempre. Mas as relações sociais não lhes deixou nenhuma
outra escolha. Eles com certeza não eram loucos, mas foram apanhados pela
impotência do amor sexual.
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verdade. Aqui existe apenas felicidade insuperável e gratidão.
Eu gostaria neste ponto de dizer ainda algo fundamental, que talvez contribua
para evitar mal entendidos: Quando neste livro se fala de um novo conceito de
amor, então o que se pensa é muito mais do que sexualidade. A revolução
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sexual, que é indispensável para a construção de um mundo humano, só
poderá então acontecer no sentido pensado do amor, quando estiver associada
a uma também indispensável revolução psíquica. Um novo conceito de amor
inclui também um novo conceito no convívio com a natureza e com todos os
seus seres. Faz parte da verdadeira liberação da sexualidade uma mudança
psíquica, na qual o principio da não violência seja entendido e vivenciado por
de todos os seres viventes. A total igualdade dos sexos, a sanidade da vida e o
cuidado de todas as criaturas pertencem a este contexto de existência. A
libertação de Eros acontecerá na medida em que estivermos dispostos e em
situação, de ver e de realizar estes fundamentos psíquicos em uma cultura
geral livre da violência. Existem exemplos culturais que podem mostrar alguma
coisa a todos nós, mesmo que se originem em tempos remotos e não possam
ser simplesmente aceitos por nós. Eu penso, por exemplo, na cultura dos
índios Hopi ou ainda mais claramente no povo Bishnoi, na Índia. Aqui foram
desenvolvidas regras básicas da vida, que continuam a existir, quando se trata
da questão da cura humana interior, porque esta cura também continua em
associação com uma integração do ser humano na criação livre da violência e
por isto livre do medo. A esta integração também pertence a total libertação da
sexualidade. Enquanto aqui houver repressão e mentira, também haverá
guerra no amor, e enquanto houver guerra no amor, não pode haver paz sobre
a terra.
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Não pode existir paz no mundo, enquanto houver guerra no
amor
Foi muito bom, que durante a Guerra do Golfo milhares de pessoas tenham ido
às ruas, para protestar fundamentalmente contra a guerra. Mas eu temo que
demonstrações deste tipo permaneçam impotentes enquanto nós não tivermos
nenhuma visão concreta e nenhuma certeza da paz. E nós continuaremos a
não ter nenhuma esperança de paz enquanto não tivermos encontrado a paz
que nos falta em nós e entre nós mesmos.
Eu não gostaria de ofender ninguém, mas quase todo casamento e quase todo
relacionamento a dois, não é um compromisso instável, quando a primeira
euforia de viver juntos passa? A estatística dos divórcios já não diz o bastante
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sobre a necessidade de uma correção de base? Será preciso realmente que
uma grande quantidade de crianças ainda se torne psicologicamente
deformada, criminosa ou alcoólatra, até que isto seja mudado? As crianças
ainda poderão algum dia desenvolver um sentido positivo para a palavra paz,
se em seus primeiros anos de vida já foram magoadas em sua confiança
básica?
Ainda não existe certamente nenhum conceito de paz para esta terra
sangrenta, e também não existe com certeza nenhum conceito pronto para o
amor. No entanto, existem alguns pontos na relação dos sexos, nos quais com
segurança também será decidido, se haverá guerra ou paz na terra. Dois
destes pontos são mencionados rapidamente aqui.
Quando falamos hoje sobre políticas de paz e sobre uma terra livre da
violência, não podemos mais excluir estes dois pontos porque eles são parte
importante da essência de um mundo humano. Se eles tivessem se realizado
em sua totalidade, a guerra dos sexos teria acabado. E então no sentido de
uma visão realista nós poderíamos começar com o trabalho concreto para a
terra. Para isto é necessário que a humanidade faça uma nova escolha, que
talvez seja a mais profunda, desde que descemos das árvores: Nossa
inteligência deveria estar de uma vez por todas não mais a serviço da guerra,
mas sim a serviço do amor.
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Alta tecnologia na guerra, Neandertal no amor
O Homo sapiens até agora investiu sua inteligência na guerra, não no amor.
Pesquisadores da evolução e neurofisiologistas se preocuparam seriamente,
sobre se aqui poderia haver uma má formação cerebral. A espécie humana,
principalmente a masculina colocou demais sua libido em armas, tanques,
navios de guerra e mísseis, que ela enfim acha a guerra mais excitante do que
a paz. A guerra é sexy. Todas as negociações de desarmamento fracassaram
até hoje neste fato intocável da psique masculina. O fervor com o qual os
homens condecorados com medalhas conduzem seus jogos militares
estratégicos supera enormemente o ardor com o qual eles copulam com suas
mulheres. O homem, a criança que não cresceu, encontra aqui sua missão,
seu significado e sua importância sagrada. Ele, que ainda não conhece a
mulher, porque como mãe ela já o abandonara, sabe mais do sacramento da
guerra.
O jogo da guerra é talvez tão antigo quanto o homem. Ele vem de um impulso
arcaico da Era Paleolítica. Quando o homem Cro-Magnon atacou e dizimou os
Neandertais ele provavelmente sentiu algo semelhante ao que sentiram os
soldados de Alexandre em Tiro ou aos soldados americanos em My Lai
(Vietnã). O ser humano é movido por um desejo de destruição, que de vez em
quando supera todos os outros desejos. E quando os comunistas quiseram
conduzir seus irmãos para o sol e a liberdade, sua canção de luta terminava
também para eles, que de costume pouco acreditavam no sagrado, com o
brado: “Sagrada a última de todas as batalhas!” O amor era inalcançável para o
homem como uma poesia distante, mas a guerra era seu juramento e sua
prece. O sexo era uma necessidade, os canhões um sacramento. Se o homem
em sua história tivesse cuidado de suas mulheres e crianças como cuidou de
sua espada e de seus canhões, então teríamos há muito tempo o Jardim do
Éden sobre a terra.
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como um pavão ou branco como um queijo de cabra, quando se trata de amor.
Eles planejam em conjunto a guerra intraestelar, mas pegam no machado de
pedra, quando se trata de mulheres. Enquanto na tecnologia da guerra o lóbulo
frontal é utilizado, em termos de amor o ser humano vive e pensa a partir da
medula espinhal. Enquanto a disciplina e a visão ampla determinam o jogo da
guerra, no amor qualquer emoção ainda é permitida. Nós medimos aqui, sem
refletir muito a este respeito e com enorme naturalidade, com duas medidas,
uma muito alta para a guerra e uma muito pequena para o amor. No que se
refere ao armamento, a barra já se encontra a 2,50 m; no amor a maioria ainda
fracassa na tentativa de pular acima de 50 cm. Eles não querem realmente
pular, porque já aprenderam que o amor seria alguma coisa para o coração e
não objeto de um esforço mental. Que a técnica de armamentos e o sucesso
na guerra estão relacionados à pesquisa, todo mundo sabe. Que o amor da
mesma forma também poderia ter a ver com a pesquisa e o conhecimento está
além da consciência da idade da pedra. Enquanto os homens na guerra estão
preparados para as mais duras provas de resistência, eles procuram no amor a
feliz pastagem verde das vacas, e enquanto nos laboratórios de guerra são
estudadas associações de sistemas e fatos, em termos de amor a gente ainda
se apega aos velhos livros de contos. A gente aqui não deve simplesmente se
enganar. A dinâmica e progressiva geração do tênis esportivo de nosso tempo
se enfeita com cortes de cabelo super eletrônicos e galácticos, mas no fundo
têm os mesmos sonhos de contos de fada de nossas avós. Os automóveis se
tornaram muito mais rápidos e também as mudanças da moda, mas o mesmo
não aconteceu com a reflexão verdadeira sobre as questões do amor.
Se hoje houver uma transição do antigo tempo de violência para uma nova era
sem violência estrutural então esta transição se encontra em uma mudança
fundamental de nossas prioridades. O mesmo amor e a mesma atenção, a
mesma conscienciosidade e confiança, a mesma força de coração e
inteligência, que o ser humano desenvolveu até agora, para se destruir
mutuamente, ele tem agora de desenvolver para as questões do amor sexual.
Nós não podemos mais agir hoje contra a onipotência da guerra com pombas
da paz e canções devotas; a fascinação latente pela guerra e pela destruição é
hoje muito grande, muito sincera e muito profunda, e muito fracas, pouco
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desenvolvidas e muito vacilantes são as ideias desenvolvidas para a paz até
agora. Então nós somente poderemos acreditar em uma superação global da
guerra, quando encontrarmos algo, que ainda seja maior e mais fascinante do
que a guerra e a medição de forças – e isto pode de fato ser o amor sensual no
sentido de um entendimento entre os sexos verdadeiro, amigável, poderoso,
excitante e solidário, a verdadeira reunificação do homem e da mulher. Apenas
uma vontade e uma inteligência, que estejam em condições de criar estruturas
elementares para uma vida amorosa sem medo e sem violência, também
estarão em condições de esvaziar totalmente e para sempre os velhos ninhos
bélicos de almas. O ser humano, que enviou naves espaciais ao Cosmos,
estará também em condições de solucionar a questão do Eros cativo, quando
dirigir a força total de sua vontade a esta tarefa. Ele tem de saber, que as
fontes, as energias e os processos de crescimento da criação estão
direcionados a uma possibilidade real de amor, que nós realmente podemos
torna-las reais, quando as percebemos. Os processos de germinação nas
plantas, os processos de correnteza na água e os processos de aprendizado
nas crianças nos mostram alguma coisa do ser da vida e do amor que nós não
podemos mais ignorar. A vida é leve e grande e não linear, ela não se deixa
comprimir em nenhum programa.
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Nós fizemos ao Eros o mesmo que fizemos aos rios
O que nós fizemos aos rios? Nós lhes fizemos dois tipos de coisas:
Despejamos neles nossos esgotos, e alinhamos seus cursos. Nós também
fizemos as duas coisas a Eros, e nos dois casos alcançamos o mesmo
resultado: Nós tomamos de ambos sua beleza natural e sua força curadora.
Toda energia tem a sua corrente própria, sua própria direção e seu próprio
ritmo. Isto se aplica também à energia das águas e à energia do amor sexual.
Quando a gente transtorna o modo natural da corrente, ocorrem transtornos na
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totalidade do organismo atingido. Quando a gente desvia a correnteza de um
rio, acontecem transtornos em seu biótopo. Os rios seguem a energia da água
através dos movimentos naturais e oscilantes, com os quais eles se movem
pela região. Esta natureza oscilante e sinuosa da água pertence à própria
dinâmica do rio. Ela lhe concede seu poder de autolimpeza e à sua água a
força que cura.
A cama de concreto é para o rio, aquilo que para Eros é o casamento. Também
aqui o ser humano interferiu exatamente da mesma forma e “nivelou” a coisa,
ou seja, libertou-a de toda oscilação, de toda dança e de toda liberdade. Eros é
tortuoso e dançante como a água no rio; ele flui para a direita e flui para a
esquerda, e ele flui até mesmo para trás, então gira em torno de si mesmo e
começa com uma nova direção, mas é sempre a água do mesmo rio. A gente
pode confiar totalmente nesta água, em seu poder curador, em sua
potabilidade, em sua transparência, se a gente não a transtorna. A gente
também pode confiar totalmente na efetividade do amor, em seu calor, seu
charme, sua beleza e sua força benéfica, se a gente também não o transtornar.
No entanto a gente não pode querer amarrá-lo a uma única pessoa. A gente
não deve lhe impor aquilo que pode e que não pode fazer, nós não podemos
querer obrigá-lo a andar nos trilhos dos desejos egoístas individuais, e a gente
não deve principalmente querer diminui-lo tanto, para que caiba em nosso
pequeno conceito individual. Quando a gente lhe faz uma cama tão apertada
como para o rio, então em algum momento ele romperá violentamente a
represa. É então que a gente lê no jornal como de costume a respeito de
“inexplicáveis” transbordamentos, irrupções de ódio, surtos e atos violentos
cometidos por “pais de família antiquados e colegas ilustres”.
38
limita? Perguntou Bert Brecht. O que é mais cruel: Os atos violentos de um
surtado ou o preceito moral, que o levou a isto?
39
Eros e religião – a cura das origens
40
processo perde sua ligação com a base erótica. Surge sexualidade sem Eros,
desnudamento sem encobrimento, revelação sem paraíso reencontrado. O
sexo, que teve sua origem remota no desnudamento e na revelação, é
reduzido a uma satisfação física do instinto. O ser humano se envergonha dele,
mesmo quando ele não percebe rotineiramente mais isto, porque ele sente
instintivamente, que ele aqui faz alguma coisa, que não corresponde de fato ao
ser erótico e psíquico do sexo. A sexualidade não é tão natural e rotineira como
escovar os dentes. Reencontrar este conhecimento em toda sua profundidade,
sem falsas mistificações é a exigência imposta hoje pela vida e pelo amor
sensual.
Eros real está vinculado à origem de todas as coisas assim como a religião
verdadeira. Quando o ser humano vivenciou esta origem, ele desenvolveu um
ritual culto no sentido original, para cuidar dela e protege-la. É deste instinto
que se origina a sinceridade orgânica de uma ética de vida, que mais tarde se
transformou na moral exterior. Mas esta moral, que eu nos próximos capítulos
tenho de desmascarar de forma tão veemente, porque ela se transformou em
mentira, não surgiu simplesmente de uma arbitrariedade ou da maldade
humanas, e também não se originou na mentalidade desejosa de poder dos
padres, como diz Nietzsche em sua obra “Genealogia da moral”, mas sim de
uma concentração primordial do ser humano no ponto sagrado de sua
existência. A postura sagrada da origem é o motivo real de todos os cultos
eróticos e religiosos. Se nós hoje rejeitamos conscientemente as falsas ideias
morais, então nós o fazemos não mais no sentido de uma rebelião anárquica
41
contra valores culturais tradicionais, mas antes a serviço de uma redescoberta,
e um auxílio ao nascimento para as capacidades procriadoras de nossa vida.
Para isto nós não precisamos mais andar por aí encobertos, nós também não
precisamos mais nos envergonhar de nossa “timidez”, porque os degraus do
desenvolvimento interior do amor sensual não podem ser pulados com
violência. Neste sentido os esclarecimentos a seguir não são um apelo à
emancipação demonstrada, mas sim ao entendimento de nosso anseio sexual.
O amor sexual e o amor religioso são as fontes de nossa existência. Nós nos
aproximamos cautelosamente destas fontes, até que elas se encontrem em
42
sua verdadeira base primária. O ser humano em processo de transformação
histórico separou as duas coisas uma da outra e esta foi a razão de sua dor
eterna. Agora, com a libertação do amor sensual, ele pode uni-las outra vez e
reconhecer nesta reunião aquela felicidade, que ele inconsciente por tanto
tempo procurara: A felicidade da chegada. Este é o processo de
reconhecimento interior de nossa época, o processo de uma transformação da
vida humana, que começa a se desenvolver.
43
Se aquele que ama tanto assim não cometer o erro do agarramento
persistente, se ele não agarrar apaixonadamente a amante, como se
abraçasse Deus, se ele sabe que aqui valem regras livres e as segue então ele
se encontra em seu caminho duradouro para a fonte. A experiência erótica já
não é então um sacramento, que ele esconde, mas sim um sacramento da
mais profunda abertura.
Todo ato de amor que for praticado neste sentido, é uma ação para o mundo,
para isto nós não precisamos de aliança de casamento. Deus não é mais uma
força estranha sobre nós e fora de nós; nós o criamos por meio de nossa ação
no amor. Eros é o começo de todas as coisas, sua origem e seu ponto de
criação. Na experiência erótica os mundos do homem e da mulher se unem em
sua origem. É esta origem, que as religiões da História até agora tentaram
impedir. Mas a mais verdadeira religião é a descoberta e o restabelecimento
das origens.
O amor livre não é nenhuma invenção do ser humano, mas sim uma ocorrência
da criação. Na medida em que o ser humano se torna consciente deste fato em
um novo grau, o sacramento do casamento se transforma no sacramento do
amor livre. O sacramento do casamento foi o primeiro degrau de uma direção
experimental, que percebe e segue o profundo sentido religioso do amor
sensual. Neste sentido ele era muito mais do que uma exclusão amedrontada
de terceiros. Ele não teria se tornado um sacramento, se não estivesse tão
próximo à experiência erótica ancestral, na qual o amor sexual se expande ao
amor pelo semelhante e ao amor a Deus. Por este motivo para nós não se trata
hoje apenas de acabar com velho sacramento, porque ele era muito limitado e
muito hipócrita. Trata-se muito mais de entender aquilo que ele pretendia e
tornar realidade em outro nível. Os valores fundamentais do amor, fidelidade e
comunidade, que deviam ser fixados com o casamento, precisam ser elevados
a um outro nível de realização sensorial e psíquico. Por isto o amor livre não é
simplesmente a destruição do casamento. Pelo contrário, ele pega suas ideias
verdadeiras e o ajuda à realização sob condições refletidas.
44
A instituição do casamento em nosso espaço cultural ocidental foi
provavelmente criada por volta do fim do século dois antes de Cristo pelo rei
ateniense Cécrops. Ela se prestava à integração da vida sexual em um sistema
estatal, que não era orientado para o amor, porque naquela época nosso
conceito atual de amor ainda não existia. O desenvolvimento do amor livre, ao
contrário, não serve à sujeição de Eros a um sistema estatal, mas sim à sua
reintrodução consciente na liberdade da criação. O ser humano se tornou um
membro da sociedade através da monogamia, ele se tornou “capaz
socialmente”. Através do amor livre o ser humano se tornará membro da vida e
da criação, ele se tornará “capaz de viver e de criar”. Atrás da mudança de
orientação entre o amor monogâmico e o amor livre se encontra uma mudança
de orientação na direção do todo abrangente: o objetivo da orientação não é
mais a sociedade ou o Estado, mas antes a própria vida. Por detrás das
instituições do casamento e da igreja encontram-se sistemas sociais, nos quais
a vida já não cabe mais. O amor sexual não tem mais de se orientar nos
sistemas sociais, são os novos sistemas que deverão ser criados, que terão de
se orientar no amor. O amor livre conduz a uma tortura sem fim em uma
sociedade, na qual ele não tem lugar. No entanto, para a criação de uma nova
sociedade livre da violência ele se transforma no fermento da cultura humana
global. Esta revolução não se realiza de fora e nem com violência, mas sim de
dentro através do aprofundamento e de uma reestruturação de nossos
relacionamentos amorosos reais.
Por fim, eu gostaria ainda de falar sobre um fenômeno estranho, que poderia
ser de grande importância para todos aqueles que trilham o caminho interior da
experiência individual: toda experiência religiosa verdadeira, mesmo quando
ela nos encontra e nos alegra assim de uma forma tão nova, não é
simplesmente nova, mas em seu intimo um poderoso “Déjà Vu”. Isto significa
que a gente sente com grande surpresa, que a gente na verdade já a
“conhece”. O impressionante e totalmente novo, que nós vivenciamos aqui, nos
é profundamente familiar. A gente se coloca perplexa diante desta sensação.
“Ah, é assim, então isto existe realmente!” Nós chegamos à origem, e ela é
eterna como a vida. Nós já a conhecemos, pois todos nós viemos dela e a
vivenciamos continuamente nas diversas encarnações ou espaços de
45
existência. Nós não vivenciamos agora, que esta experiência ancestral da vida
se apresentou novamente, nada de absolutamente não humano, nós apenas
trocamos de palco. Nós estamos preenchidos por uma gratidão inominável e
contemplamos com admiração aquela redução de vida, que nós percebemos
como “normalidade”.
46
CAPÍTULO II
O TEMA SEXUAL
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Nós todos queremos apenas uma coisa, mas o quê?
Qual é o sentido da vida, para onde vai a viagem? Qual é o sentido profundo
de todas as coisas que fazemos diariamente? Onde se situa nossa “verdadeira”
realização, se é que algo assim existe? “Minha meta é o acesso ao Nirvana”,
diria o nobre do Oriente. “Meu objetivo é a união com Jesus”, disse Hildegard
von Bingen. “O sentido da vida é o reconhecimento e o consenso com a
harmonia pré-estabilizada”, teria dito Leibniz. E Sonneberg, o genial artista
filósofo, escreveu na instituição psiquiátrica: “E quando ele está dentro, a vida
tem seu sentido,” e ele pensava exatamente naquilo. Não importa como as
verdadeiras respostas se apresentem, elas sempre dependerão do local e da
emergência ou da necessidade, na qual o questionador se encontre no
momento. Para um homem, que durante muitos anos foi impotente, ou para
uma mulher, que tenha vivido muitos anos sem contato sexual, a frase de
Sonneberg é possivelmente a mais correta e a mais importante. Eles podem
posteriormente tecer pensamentos sobre outras questões de sentido.
48
destino do romantismo alemão – e até hoje o destino dos seres humanos.
No anseio dos gêneros atua a percepção de uma volúpia vindoura, que todos
nós muitas vezes já antecipamos secretamente em nossas fantasias. Nós
homens nos viramos para observar os corpos femininos, porque trazemos em
nós uma visão de uma intimidade física, que quase não chega à realização,
porque não podemos nos entender e porque todo o nosso sistema social
sucumbiria, se as pessoas começassem a seguir suas visões sexuais. Trata-se
aqui de sexo, e que sexo! A volúpia é a mais profunda e bela exaltação, toque
e grito de alegria, felicidade, lágrima e silêncio da alma diante desta
maravilhosa, possibilidade real existente e um objetivo de vida fundamental e
irrefutável dos gêneros. Ela, esta volúpia, é de fato a meta do anseio, o sentido
da sensualidade, a lágrima final de toda sentimentalidade e a lágrima inicial de
uma grande alegria. Mas ela exige outra maneira de ser na qual possa chegar
a um nascimento permanente. Ela exige outras estruturas sociais para nossos
encontros eróticos, e ela exige outras estruturas mentais, que nos possibilitem
finalmente acreditar na felicidade, que nós trazemos realmente em nós através
de nossa bagagem orgânica. Ela também exige o abandono de todas as
fixações e limitações, com os quais em geral nós logo sufocamos novamente a
pequena porção de felicidade que encontramos. Mas nós podemos ver hoje as
dores, que nós mesmos nos provocamos por meio dos conceitos errados do
amor, e por isto podemos colocar nossas esperanças sobre uma base sólida.
Nesta herança de dor e esperança, que as gerações retransmitiram, nasceu a
visão de uma cultura erótica, que se volta totalmente para a corporalidade, sem
abandonar o ponto espiritual. É uma corporalidade sem proximidades falsas e
sem estreiteza de relacionamento, e no entanto, com todas as cooperações e
responsabilidades concretas das pessoas que participam dela. Aqui surge a
imagem do homem em transformação, que superou a limitação; a beleza
desconhecida da face, que neste momento começa a se iluminar.
49
qualquer forma cada um sabe, mesmo que ele não queira admitir: O assunto
sobre o qual a gente mais pensa, aquele nos movimenta mais e pelo qual a
gente empreende os maiores esforços, é o tema da sexualidade. Eu andaria
quilômetros por um Camel com filtro, dizia a propaganda de cigarro. Eu dirigiria
mil quilômetros por uma única aventura sexual, é o pensamento condutor na
ramo das viagens. As pessoas querem de fato somente aquilo.
50
como, por exemplo, “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, que o jovem Goethe
escreveu e que naquela época provocou lágrimas em toda Europa. Napoleão,
que em geral talvez não fosse tão romântico, após a leitura deste livro quis
incondicionalmente conhecer o homem que foi capaz de escrever algo assim.
De que trata o livro? Do amor e principalmente da falta de saída para o amor.
Werther teve de cometer suicídio, porque ele apesar da afeição de Lotte, não
tem nenhuma chance, de alcançar sua meta. Mas qual era seu objetivo, e o
que ele tinha de tão impossível? Aqui estamos nós de volta ao cerne da
questão. O objetivo era – como sempre em uma história dramática de amor – o
prazer sexual definitivo, arquetípico, e a união com a mulher. Na verdade nem
tanto apenas com Lotte, mas sim com a mulher em geral. A meta não pode ser
alcançada por dois motivos: Primeiro, não havia para Werther a possibilidade
de uma ação sexual direta, ele não saberia de forma alguma, como a gente faz
isto. E segundo, não existia no romantismo iniciante nenhum espaço intelectual
para o amor livre, porque os românticos sempre procuravam sua felicidade
cheia de mistérios apenas na figura idealizada da única e individual, que eles
chamavam de Maria, Diotima, Helena ou Lotte. A veneração e a idealização de
Werther por Lotte foi a intuição de um prazer infinito. Mas como uma mulher
deve reagir a uma intuição masculina, se ela não chega à ação, à realização
física?
Porque no cerne sexual real, ainda existem tesouros ocultos, que nós nos
caminhos atuais do amor ainda não pudemos desenterrar. Ou com outras
palavras: Porque o jeito e a maneira, que usamos até agora para procurar a
realização e agarrar a felicidade, não corresponde à essência do objetivo
procurado. A gente repele uma mulher, quando a gente quer obtê-la com
métodos errados, e a gente rejeita a felicidade, quando a gente ainda não sabe
o suficiente sobre ela e por este motivo quer forçá-la com métodos incorretos.
A realização do anseio exige a entrada em um novo processo de
conhecimento.
51
A mitologia imemorial do tesouro escondido é a mitologia da realização sexual
oculta. Este é o real e atual núcleo da simbologia arquetípica, o verdadeiro
segredo do relaxamento interior, do qual vive o mito e também os contos dos
irmãos Grimm. A história da literatura, da Epopeia de Gilgamesch até O
Castelo de Kafka, é no fundo dominada pelo tema do fruto sexual inatingível. O
tesouro procurado está muitas vezes em lugares da terra muito remotos, como
por exemplo, no fundo do mar, em uma ilha, no alto de um morro íngreme ou
em uma floresta sombria. Ele está cercado por demônios e guardiães
abomináveis. Quem apesar disto quiser encontra-lo, precisará enfrentar um
perigo mortal depois de outro! O que é dito aqui de forma simbólica é
extraordinário. É obviamente mortal, querer aproximar-se do tesouro. Tão
mortal quanto o dragão que cospe fogo, que segura a virgem com suas garras
e lança veneno e fogo contra o herói que quer libertá-la.
Diante das ainda existentes estruturas comuns na área do amor sexual, uma
cultura da realização erótica plena pode parecer a alguém uma utopia muito
distante e não realista, talvez uma idealização conciliatória, mas não
52
exatamente uma realidade potencial. Foi assim que as pessoas sempre
pensaram sobre o amor. Alguma coisa sempre as impediu, de tomar aqui seu
destino nas mãos e modificar finalmente as velhas estruturas com o emprego
de sua inteligência. Elas acreditam hoje na viabilidade de quase todas as
coisas, mas no pensamento sexual e no amor elas em sua maioria ainda estão
fixadas sem reservas nos velhos e arraigados contos de fada do passado.
53
A parábola da montanha
Mas eles chegarão? Seus recursos serão suficientes para em associação com
os outros alcançar afinal uma verdadeira comunicação e comunhão do
homem? Onde estão nesta montanha os caminhantes, que – passo a passo,
gancho a gancho – reconhecem e trabalham o tema do amor sexual? Será que
54
eles permaneceram desconhecidos porque ficaram tontos?
O que eu gostaria de dizer com esta analogia é que certamente nada foi feito
com o trabalho na questão sexual. O ser humano não se constitui apenas de
sexualidade, e a verdade jamais se deixa determinar em um único caminho. O
que os pioneiros espirituais e físicos de nosso tempo – na maioria ainda fora da
atenção pública – realizam e criam, é o novo território, que todos nós
precisamos para a entrada em uma época mais inteligente e grandiosa. Mas
sem o trabalho adicional na questão sexual e sem o trabalho central nas
questões internas obrigatórias ninguém chegará ao topo. Porém, estes
empreendimentos do espírito e da coragem são muito ambíguos e muito
grotescos, muito heroicos e muito individuais, para poderem ser
acompanhados por muitos. Eles permanecerão sempre estranhos em algum
lugar, até que sejam alimentados internamente pela corrente quente do amor
sexual. De fato a luta para a libertação do amor também é uma espécie de
escalada de montanhas. Mas, o objetivo deste empreendimento está na clara
intenção de trazer a felicidade do topo da montanha para a terra e ancorá-la
fortemente e tão profundamente, que também os vales comecem a florescer. O
que poderia ser mais adequado a isto do que uma verdadeira compreensão
dos gêneros a respeito de suas perguntas e de seus desejos mais íntimos?
55
Da felicidade do primeiro amor à monotonia do casamento
Deve existir alguma coisa muito efetiva nas relações dos amantes, que depois
de algum tempo é mais forte do que o amor e que sob todas as circunstâncias
tenta arruiná-lo. Aqui nem mesmo o mais bem intencionado juramento de
fidelidade e também nem mesmo a garantia mútua “até que a morte nos
separe” ajuda. Até agora, contra a força da desconfiança progressiva e do tédio
que começa não foi aparentemente possível fazer nada neste mundo. Eu ainda
não vi realmente em nenhum lugar um relacionamento amoroso, em que os
parceiros após 20 anos ainda mantivessem o erotismo, a paixão e a fidelidade.
Quando eles eram fiéis, então isto ocorria devido à renúncia ao Eros. Quando
eles ainda iam regularmente para a cama um com outro, então isto se devia à
renúncia da lascívia. Quando eles apesar de todas as dificuldades
permaneceram juntos, então muito mais pela necessidade de segurança do
que pelo fogo do amor.
56
exclusivamente à juventude. De certa maneira elas têm razão, mas apenas
estatisticamente. Porque de fato o amor na maioria dos casos morre após a
juventude, os adultos acreditam, que não têm mais nada a ver com ele. Emma
Goldmann se sentiu tão excitada com sua experiência sexual aos 68 anos, que
todas as suas células rejubilaram-se e ela quase se envergonhou, de ainda ter
uma experiência assim na sua idade. Mas na verdade o amor não está preso à
idade, nem também a todas as coisas bonitas, que estão associadas a ele,
como a taquicardia e a alegria antecipada, a felicidade e o desejo. Porém nós
os homens consumamos realmente em nosso sistema de casamento, família e
sociedade o milagre histórico de limitar a felicidade do amor em milhares e
milhões de casais amantes aos primeiros dias ou anos e depois extingui-lo.
Para um observador que vê e pensa, isto faz parte do mais monstruoso
“desempenho cultural” de nossa espécie.
(Schiller)
Aquele que caminha assim sobre os rastros do amor, sabe realmente ainda
pouca coisa de fidelidade e companheirismo, da duração e da resistência do
amor. Ele também não sabe quase nada sobre a pessoa, pela qual se
apaixonou. Ele não tem nada mais do que um sonho infindavelmente grande e
o desejo irreprimível, de juntar-se ao ente adorado e permanecer junto para
sempre. Os apaixonados não têm pais, que lhes tenham apresentado uma vida
significativa a dois, nem um conhecimento humano, de como a gente teria mais
ou menos de viver junto, para dar durabilidade a este amor. Então eles não têm
nada mais rápido a fazer do que assegurar esta felicidade encontrada, protegê-
la, amarra-la a si mesmos de uma vez por todas e possivelmente fazer um
57
contrato para toda a vida, para não perder mais o tesouro. Então eles se
casarão. Bangue. Então eles terão filhos. Bangue. Então eles alugam um
apartamento e enfeitam seu lar. Bangue. Então eles desejarão construir uma
casa própria. Bum!
Eles não prestarão atenção às coisas mais simples e por isto logo chegarão ao
conhecido conflito, no qual eles desconfiam um do outro, vigiam, controlam e
se cobrem de acusações. Se os dois forem atraentes, por exemplo, um não
pensará se o outro poderá também agradar aos outros. Eles ignorarão sem
dizer nada, que o parceiro ou a parceira de fato gostaria muito de aceitar esta
outra oferta. Ambos conhecem bem este desejo secreto de novos contatos,
porque eles mesmos têm este desejo. Por este motivo, por precaução eles se
calarão sobre isso. Mas em algum momento chega inevitavelmente o primeiro
ponto, no qual este equilíbrio instável do silêncio se quebra e um ou outro
começa a explodir.
Eles dirão a si mesmos, que haviam imaginado tudo totalmente diferente, que o
outro quebrou a promessa ou que tenha feito outras coisas terríveis. Eles
começarão a se observar mutuamente, para pegar o outro em flagrante na
menor trapaça, porque eles no fundo sabem o quanto eles mesmos
trapaceiam. Assim surge o conhecido circulo vicioso da desconfiança, do qual
sob as condições habituais de uma tradicional monogamia e sob as
costumeiras necessidades de reconhecimento social, carreira etc. não existe
mais saída. Sob estas estruturas não resta outra coisa além de renunciar cada
vez mais ao sexo e ao amor ou então obtê-los em outro lugar. Tanto em um
caso como no outro, o amor fracassou. Não existe realmente nenhum culpado
nesta peça teatral grotesca. Culpado é o palco do casamento social, que não
combina com a peça, enquanto a peça não se chamar amor. Pouca coisa é
mais brochante do que este palco, e não existe nada mais excitante do que a
peça, que lá deveria ser encenada com desejo ardente. Encenar a peça “Amor
e Desejo” sobre o palco do casamento é na maioria das vezes quase tão
impossível como nos palcos dos cabarés de St. Pauli, nos quais dois artistas
devem apresentar uma peça excitante como o número da noite. Uma coisa é
tão artificial e tão vazia quanto a outra.
58
Com estas exposições eu não tenho a intenção, de tirar de ninguém a vontade
de amar. Também não se trata de uma luta contra a monogamia. Ela não deve
ser destruída, pelo contrário deve ser salva. Mas para isto são necessárias
outras condições. Antes de tudo outras condições psíquicas para os dois
parceiros. Eles precisam saber que não irão muito longe com seu ciúme e com
seu conceito tão estreito de fidelidade. E além destas, outras condições sociais.
O amor somente pode manter conteúdo e brilho no lugar em que não precise
mais se limitar e se proteger do exterior, onde possa seguir sua necessidade
natural de expansão. Ou seja: Os parceiros precisam de uma comunidade de
amigos, na qual, aquilo que eles vivenciam entre si, também possa ser
transmitido aos outros, e na qual de forma verdadeira seja possível falar de
todas as dificuldades e de todos os conflitos, que também são inevitáveis
mesmo nos esforços mais sinceros. Dois amantes estão sempre e em todo
canto sobrecarregados, quando devem corrigir sozinhos todos os temas e
todos os problemas, que no decorrer dos séculos foram associados ao Eros
ultrajado. Mesmo com a melhor das boas intenções e a inteligência mais
superior isto vai além de suas possibilidades. É demasiado, o que o homem no
decorrer da história fez a si mesmo e ao seu desejo, como traiu o amor e para
isto inventou uma falsa moral, como remodelou todos os altos valores originais,
que estavam ligados ao amor, ao Eros, ao sexo, à amizade e à fidelidade na
pequena vida conservadora em sua cabaninha conservadora com seu pequeno
e conservador BMW etc. É claro, que algum dia chega o ponto, no qual a gente
não pode mais falar verdadeiramente de nada. Se a gente fizesse isto, toda
esta vida substituta se acabaria, e quem sabe, se então o emprego e o dinheiro
ainda estariam lá para o próximo automóvel ou a casa planejada. Então, a
gente desiste da verdade. Mas, quando em um relacionamento amoroso se
renuncia à verdade, ao conflito e à critica solidária, a monotonia já está pré-
programada. Nada torna um relacionamento mais excitante do que a verdade e
isto porque não é por meio de outra coisa, que nós começamos a nos descobrir
mutuamente.
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então conseguem ir para a cama um com o outro pela primeira vez, com
frequência eles não têm nenhuma ideia, de quem é o outro, com o qual se
deitam. Muitas vezes eles percebem este fato peculiar, de que jamais
conheceram o parceiro, somente, quando ele se foi para não mais voltar. Eles
esqueceram simplesmente, de perguntar antes, e quando então isto teria sido
necessário, não existe mais nenhuma possibilidade para isto, porque a gente já
se instalou tão definitivamente sobre outra linha. Disto sabe qualquer um, que
já vivenciou este sistema em si mesmo e em seus antigos amigos e não se
entregou totalmente. C’est la vie, e isto continuará assim, se nós não
mudarmos isto. A mudança mais importante consiste em que os dois parceiros
possam seguir seus sonhos e desejos sexuais por outras pessoas, sem que
para isto tenham de sair de seus relacionamentos amorosos. É disto que trata
a próxima seção.
60
Amor livre e monogamia
Então, disse a abelha, após haver encontrado uma flor particularmente bela,
você me pertence agora e não deve ter nenhuma outra abelha além de mim.
Então, disse o goivo-amarelo, eu amo o lilás, mas ele também é amado por
outros, por isto eu não lhe darei meu amor. Disse isto e murchou.
É assim que a maioria das pessoas ainda pensa, sempre que se trata de amor.
Nós poderíamos prosseguir com uma ladainha de frases totalmente absurdas,
que em seu conjunto surpreendem porque de fato são reais na vida amorosa
do homem contemporâneo. No que diz respeito à inteligência e à delicadeza,
parece não existir nenhum limite inferior no amor. A gente ainda não entrou em
acordo sobre um veto positivo, no qual a gente poderia dizer: Até aqui e não
mais fundo. As contas, que temos de pagar na vida, quando se trata de amor e
sexo, não têm absolutamente nada com a coisa em si. Elas se originam da
maneira habitual de pensar de uma sociedade que nunca foi muito longe na
área do erotismo.
61
satisfação, após estes passeios se encontrar mais uma vez em nova amizade.
O amor livre vive amplamente de dar e da ofensiva positiva. Quando você ama
alguém e lhe deixa perceber isto, uma porção disto voltará certamente para
você. A monogamia não deveria se proteger do amor livre, porque o amor livre
é um fato da vida e não uma arbitrariedade do homem. Uma parceria real
precisa do amor livre, para que ela mesma possa crescer e permanecer viçosa.
Ela precisa do amor livre como a flor precisa da água. Quando a água falta
durante muito tempo, a flor murcha. Quando Eros recebe pouca variação e
62
pouco alimento através de outros, então ele mingua até mesmo na melhor
relação de parceria. Aqui todas as culturas e nações podem se levantar com
gritos extremos de protesto, mas nada muda: O amor é livre.
O amor sensual, com seu prazer e sua inebriante felicidade, começa muitas
vezes em uma monogamia feliz. A monogamia é uma fonte natural da
experiência amorosa, por este motivo ela deve ser reconhecida e protegida.
Quando dois parceiros pensam sinceramente, não poder prosseguir com sua
relação, a gente deve apoiá-los em vez de indicar laconicamente o amor livre.
Mas eles devem saber que este é um caminho, que poderia de fato levar seu
relacionamento adiante. A monogamia e o amor livre não estão em contradição
entre si, eles são apenas duas etapas diversas no processo de
desenvolvimento do amor sensual. Quando a monogamia e o amor livre se
chocam e conduzem à conhecida falta de saída interior, existe um erro de
pensamento. Não é um erro no sentimento ou no sistema nervoso, mas um
erro de pensamento verdadeiro. No íntimo, por exemplo, alguém é leal à
monogamia, mas então encontra uma nova pessoa e pensa agora, por causa
da própria crença de lealdade não poder amá-la e deseja-la. Ou ao contrário, a
gente crê no amor livre, mas então se apaixona totalmente por uma pessoa e
pensa agora, não poder prosseguir com esta “monogamia”, porque ela estaria
em contradição com suas ideias de amor livre. – Nos dois casos a gente não
segue o amor nem o desejo, mas sim um pensamento imposto e enganoso,
uma ideologia. Sim, nós fazemos uma ideologia de tudo aquilo que ainda não
compreendemos a partir da experiência individual. No entanto, o amor sensual
é por natureza o princípio que ultrapassa todas as ideologias. A gente não
pode se prender nem a um nem a outro ponto de vista, e não existe a menor
necessidade vital de fazer isto. Mas se, no entanto a gente o fizer sofrerá uma
perda inevitável de vitalidade, de verdade e de capacidade de amar. No amor
não existe nenhum ‘ou – ou’, existe apenas a força crescente de Eros, a alegria
“anárquica” da sexualidade, a intensidade fluente e o desejo de dar o que
recebo. Existe em cada um de nós um desenvolvimento interior, que conduz
aos mais diferentes conceitos eróticos, a depender, de qual deles agora no
momento “se ajusta” organicamente. Aquele que hoje ama a monogamia e
63
confia nela, não precisa trair e nem quebrar nenhum juramento de fidelidade,
se ele talvez apesar disto tiver se tornado alguns anos mais tarde um trovador
do amor livre. As discussões e controvérsias sobre monogamia ou amor livre
são tão desprovidas de sentido como as discussões a respeito do mundo ser
uma unidade ou uma multiplicidade. Na maioria das vezes a gente não conduz
estas polêmicas a partir de um verdadeiro interesse de conhecimento, mas sim
a partir da necessidade de assegurar ideologicamente uma dada situação de
vida. Bem antes que a gente tenha feito a experiência pessoal e a conheça
interiormente, a gente já a avaliou ideologicamente. Este princípio ideológico é
seguido pelos partidários da monogamia e também pelos partidários do amor
livre. Julgamentos no amor são barreiras do conhecimento. O amor sensual é
uma experiência ancestral, que se coloca totalmente fora destes julgamentos.
Ele ainda não é em si mesmo uma parceria. Quando ele conduz a uma
parceria, que não se fecha mais ao exterior surge daí uma nova direção do
amor sensual.
Para finalizar, ainda uma palavra sobre o tema da parceria. A parceria é uma
forma muito superior da relação entre homem e mulher. Ela se desenvolve em
um modelo de relação humana, que na verdade poderia ser válido para todos.
Ela serve à compreensão cada vez mais profunda e à união dos sexos em
geral, não apenas a estes dois amantes. Por este motivo ela se abre a todas as
questões do amor sensual e assim trabalha em uma parte central universal do
tema ser humano. A parceria entre duas pessoas e o amor livre não são
opostos, pelo contrário, eles se completam e precisam um do outro.
Apaixonamento, altos voos sexuais juntos e prazer sexual um com o outro são
coisas maravilhosas, mas isto ainda não é nenhuma parceria. Quando duas
pessoas ficam juntas até uma idade avançada e resmungam uma ao lado da
outra, isto é um fenômeno notável, mas nenhuma parceria no sentido pensado
aqui. Quando duas pessoas estão juntas, porque elas têm medo de ficarem
sozinhas, isto com certeza também não é uma parceria. Um relacionamento,
que para sua automanutenção, depende da interdição sexual para o exterior,
também não está provavelmente no nível de uma verdadeira parceria. A
parceira começa onde duas pessoas ao lado de sua atração sexual constroem
uma base mental mútua, que também lhes possibilita a comunicação, mesmo
64
que emocionalmente o tempo não esteja muito bom. A parceria pressupõe que
os dois parceiros se coloquem responsáveis um em relação ao outro e não
procurem sempre a culpa no outro. Com isto foram ditas duas coisas
essenciais, que nos relacionamentos sexuais e casamentos quase nunca se
realizam: A existência de uma base espiritual e a responsabilidade individual
dos parceiros. Estas coisas até hoje não combinam com a imagem do amor
nem com o papel da mulher, que até mesmo poderia ser um tanto burra, se
tivesse boa aparência e se soubesse cozinhar bem. Sob as condições da
estrutura vigente, uma verdadeira parceria é um objetivo quase inalcançável.
Se a gente está casada, porque ainda deve se entender intelectualmente? Mas
é justamente isto que se discute hoje nos tempos da corretamente entendida
emancipação dos dois sexos: O homem e a mulher devem se colocar diante
um do outro e se entender. A parceria está sempre ligada à igualdade, ou dito
de melhor forma, ao equilibrio dos dois polos. Os dois somente podem construir
uma estrutura de parceria um com o outro, na medida em que são “crescidos” e
possam de fato se colocar em ressonância um com o outro. Uma verdadeira
parceria entre uma mulher inteligente e um homem burro é tão impensável
quanto uma parceria entre uma gordinha voluptuosa e um intelectual
entediante. Os opostos se atraem, dizem; mas também se afastam, e quando
se atraem, por quanto tempo? O estímulo do primeiro contraste se dissipa
rapidamente, quando os níveis são tão diferentes. A construção de uma
parceria verdadeira exige dos dois parceiros um conhecimento no amor, que os
proteja das velhas armadilhas e os induza a abandonar todas as barreiras
exteriores. Somente então pode se preservar aquilo que a gente outrora pode
sempre apenas sonhar. A época da parceria não está no passado, mas sim
diante de nós. É a era do amor livre.
65
O poder da sexualidade anônima
O que é este sinal, que provoca uma excitação assim? Que tipo de sinal
irresistível me enviou este corpo desconhecido de mulher, que eu
simplesmente preciso olhar após vê-lo passar por mim? Quantas vezes eu já
olhei para trás, sem poder entender precisamente alguma coisa desta magia. É
como se debaixo destes invólucros estivesse a grande promessa, a última
superação, a revelação. Mas que promessa e que revelação? Se eu dissesse à
mulher alguma coisa assim, ela acharia isto infinitamente engraçado. Também
seria esquisito, porque as palavras têm pouco sentido, quando todo o
organismo está tão fascinado, que a gente quase não pode conversar
racionalmente e muito menos relaxada. Eu sei, que a maioria dos homens em
66
uma situação deste tipo primeiro nem faria a tentativa. Seria muito embaraçoso
e muito expositivo, se revelar desta maneira. Se a gente não for exatamente
um machão inveterado, no qual o comportamento de imposição se instala mais
rápido que sua excitação real, a gente não tem nenhuma chance de resolver
sensatamente esta situação. No fundo, eu também sei, que isto também
acontece com as mulheres sensíveis, mas elas não tem na verdade nenhuma
possibilidade de tomar uma iniciativa substancial. Assim se arrasta dia após dia
através de todo o mundo dos gêneros alguma coisa não falada e evitada, que
milhões de indivíduos continuam sozinhos a carregar consigo, até que seja
esquecida na rotina cotidiana – e até que aconteça inevitavelmente mais uma
vez.
67
Nós convidaríamos corajosa e educadamente esta mulher para uma cafeteria e
com isto faríamos com que a excitação muda descesse até o nível de nossas
coisas conhecidas? Seria bom, se nós ao menos fizéssemos isto. Mas, na
verdade...? Na verdade trata-se de uma ação autêntica, que Erica Jong
chamou de “trepada espontânea” e pela qual ela e a metade do mundo
procuraram, sem encontrar. Trata-se daquilo e apenas daquilo, sem palavras,
sem acordo, sem cotidiano. Não se trata de violência, mas também não se trata
de suavização e carinhos pessoais. Trata-se da dança arcaica do sexo, de
tomar e de ser tomado, de dar mutuamente, deste ultrapassar de fronteiras
bem individual e único. Eros é o poder da ultrapassagem das fronteiras, é lá
que ele tem sua superação e sua confirmação. Se os dois parceiros puderem
fazer isto um com o outro nesta situação anônima sem mentira e vilania, sem
medo e sem violência, ambos sairão dela com uma alegria semelhante a um
profundo Déjà Vu. Então isto existe realmente, este tipo de aventura, que
sempre deu asas às fantasias secretas!
O texto a seguir é um exemplo que mostra que o sexo é muito mais do que um
acontecimento pessoal entre duas pessoas. Dorothea Zeemann (no livro “O
Desejo Secreto”)* diz que não deseja nenhuma declaração pessoal de amor:
“Eu quero o respeito de uma ereção decente, nada mais.” Aqui é dito em um
nível quase animalesco aquilo que no sexo ultrapassa o limite de tudo que é
pessoal e que talvez nos excite mais do que todo o resto. Isto se aplica
igualmente aos homens e as mulheres. O sexo se enraíza nas camadas
profundas de nossa alma, vive das forças arquetípicas e tem por objetivo uma
união, que está além de todas as regras culturais. Eles se encontram como um
homem e uma mulher, nada mais. E quando o sexo então acontece, este foi
um momento de superação, que está além de qualquer discussão. Se outros
observam a cena e sabem o que os dois estão fazendo agora, então eles
próprios ficam tão excitados, que mal conseguem levar seu copo de cerveja à
boca.
-----------------
*Tradução livre
68
A energia sexual pura é como a energia espiritual de caráter cósmico, ela é
uma verdadeira fonte de energia da vida e nos mostra o caminho além de
todas as barreiras para uma direção, que até agora nós pouco nos atrevemos a
procurar, muito embora todos sintam e pensem nesta direção. Esta direção não
conduz ao rebaixamento de nosso ser, mas sim à elevação. A gente não sai de
uma experiência destas e vai para casa com um sentimento de vergonha, mas
sim de orgulho. A gente “chegou”. A gente pôde se revelar, sem ser traído.
Neste momento, no sentido da sociedade a gente não era nenhuma
determinada pessoa com nome, idade e profissão; os predicados importantes,
com os quais a gente em geral costuma se apresentar, foram desinteressantes,
porque a gente não queria nada além daquilo. Desejo e ação se uniram em
uma unidade. A gente foi vida, tesão, verdade.
Nossa cultura fixou o Eros na esfera pessoal de duas pessoas. Através disto
ela excluiu zonas profundas da magia sexual. Mas assim como é verdade que
somos homens, estas zonas não se deixam excluir. Elas continuam a viver
69
secretamente em fantasias ocultas, elas servem à propaganda como sedutor
secreto, elas rumorejam nos corpos das prostitutas e dos santos, elas
preenchem os sonhos da literatura, e em algum lugar elas sempre saem da
linha em excessos sexuais, sobre os quais então a imprensa relata. A
sociedade baniu o poder explosivo de Eros para a área da pornografia e da
criminalidade. Hoje ela está prestes a sucumbir por este pecado, porque os
homens não podem eternamente viver com uma máscara. É notório que as
forças numinosas de Eros já não cabem mais no espartilho da sociedade;
muitas pessoas afogam seu desejo secreto no álcool, muitas pessoas,
principalmente mulheres, começaram a declarar guerra contra a moral sexual
hipócrita. A ambiguidade da sexualidade, na qual uma parte é reconhecida
socialmente e a outra parte é reprimida, é um motivo para o desastre, no qual a
humanidade se encontra há muito tempo. Aqui a terapia, a religião, a comida
vegetariana e também o esporte não podem ajudar, aqui somente ajudam
mudanças de curso novas e concretas para a libertação de Eros.
70
Desejo de entrega, mas sem desprezo
71
Deus. A mulher quer de fato ser “pegada”, e de uma maneira tão leve e tão
suave e tão firme, que o contato persista; então ela pode se entregar. As
ideias, que ela traz em si mesma sobre este anseio, são muitas vezes
essencialmente mais rudes e “vulgares” do que as que correspondem ao gosto
educado, mas elas também são correspondentemente verdadeiras. No livro
“Salvem o Sexo – um Manifesto de Mulheres por um novo Humanismo Sexual”
há um capítulo intitulado “O Pedaço de Carne”. Eu peço às leitoras e aos
leitores, que não façam um julgamento muito rápido. A autora escreve:
E ela deseja que ele entenda e não comente..., e que ele também não abuse
sadicamente disto. Aqui não existe nenhum apelo ao sadismo masculino, mas
sim o mais profundo pedido de cooperação e equidade. Na desejada redução a
um “pedaço de carne” não há nenhum anseio por sofrimento masoquista, mas
sim um anseio por uma entrega e abertura totalmente impessoal, transpessoal,
total. Trata-se aqui de um fragmento daquela sexualidade selvagem e arcaica,
que jamais se deixa prender a relacionamentos e programas. Esta sexualidade
está na base de nossa alma como um animal agachado, que teve de se fingir
de morto durante muito, muito tempo – e que hoje começa novamente a se
levantar, porque percebe que a velha chicotada já não acontece mais. Eu falo
aqui das imagens brutais, que em consequência da perseguição histórica da
sexualidade estão de fato armazenadas em nosso inconsciente. Nós
precisamos integrar em nossa sexualidade consciente esta área limítrofe, na
qual o mais intenso prazer se encontra com tendências masoquistas ou
sádicas, para que isto não permaneça na velha cisão e esquizofrenia.
72
pedaço de verdade. Eu poderia trazer passagens mais duras de textos de Sina-
Aline Geiβler, Lee Voosen, Heide-Marie Emmermann e muitas outras. Esta é
uma nova linguagem feminina, que é verdadeira. Aqui é dito alguma coisa
sobre um (não o único) aspecto da sexualidade feminina. Aqui se diz ao
homem algo, que ele, porque também ele traz em si o feminino, entende muito
bem, mas que ele sob as condições atuais apenas como um chauvinista que
despreza as mulheres, como criminoso violento ou qualquer outra coisa
semelhante não pôde defender e aceitar. A mulher tem, ao lado de todo calor e
força protetora, uma sexualidade tão elementar, que nós homens domesticados
tremeríamos diante dela, se a defrontássemos em toda a sua magnitude.
Somente quando nesta situação existe um contato livre do medo entre ela e ele
é que este grande desejo pode se realizar sem remorso.
Quando a mulher fala de entrega, então ela também imagina esta espécie de
despersonalização, que é insinuada no parágrafo acima. Esta
despersonalização não tem nada a ver com degradação, mas sim com uma
“materialização” arquetípica do corpo feminino. Ela quer neste momento de fato
ser o objeto de desejo para o homem (porém sempre sob a condição, que ele
não reaja a isto com condenação e desprezo). É assim que escreve Lee
Voosen: “Deixe-me ser teu material!” Existe de fato uma determinada espécie
de humilhação e aparente violência neste anseio feminino. Mas não é uma
violência que causa dor ou fere realmente; e não é nenhuma degradação
diante do homem engrandecido por ela. É curioso, como nos jogos de Senhor e
Escrava do negócio sexual, este jogo ainda mantem sua força e seu sentido
real, no qual os dois parceiros permanecem no mesmo nível, sem humilhar ou
se elevar mutuamente. “Degradação” no sentido sexual da mulher não significa
outra coisa que ser corpo inteiro, ser tomada e desfrutada como corpo. Nisto
algumas vezes existe mais cura do que em um romance de amor. É a
libertação da psique e da breguice. Uma mulher que é tomada assim por um
homem conhecedor e sensível, se torna cada vez mais bonita. Liz Taylor
tornou-se novamente aos 58 anos uma mulher bonita e saudável, porque seu
caminhoneiro sabia como tomá-la e ela apesar disto pôde confiar plenamente
nele. Eu não sei como Alice Schwarzer teria pensado sobre a chamada
“penetração”, se ela tivesse experimentado esta confiança.
73
A sexualidade feminina não consiste naturalmente apenas de entrega. O
espectro sexual da mulher contem – com outras ênfases – quase as mesmas
variantes que o espectro sexual do homem. A mulher também pode, quando
ela é totalmente fêmea, se tornar enormemente conquistadora e ativa. Uma
mulher também pode saborear muito, trabalhar sexualmente um homem, até
que ele “chegue”. Aqui não deve ser encontrado nenhum juízo de valor. Mas
este capítulo do livro trata do tema entrega. É aqui que está a profunda
semente feminina da polaridade sexual, e analogamente muitas vezes também
o mais profundo desejo e a mais profunda vergonha. É maravilhoso, quando
uma mulher diz a um homem: “Eu quero ter você”. Mas será que ela não o quer
ter simplesmente para poder “pertencer” a ele durante um contato? Então ela
também o tem, mas de outra maneira.
74
A propósito, esta incerteza existe dos dois lados. Sina-Aline Geiβler escreve:
“Eu queria lutar, para ser vencida... eu era uma mulher poderosa e desejava
ser domada. Eu desprezo todos estes homens, que ficam vermelhos de
admiração ou insegurança em minha presença, e que até mesmo começam a
gaguejar... Os homens sucumbem na grande admiração, sentem-se inferiores,
ficam complexados, e no fim eu ainda preciso fazer o papel de mãe, reconstruí-
los e consolá-los, não isto é totalmente contra minha inclinação pessoal.”
E os homens que encontram uma mulher assim, ficam realmente com medo.
Eles até fariam aquilo com prazer, mas eles não podem. Aqui ninguém deve
julgar. Eles não são simplesmente fracotes. Pelo contrario, aqui atua muito
mais a história da dor e do medo, uma historia de mal-entendidos ferimentos
mútuos, que nós hoje não podemos simplesmente ignorar. O desejo precisa
estar ligado dos dois lados a um novo conhecimento e a uma nova
possibilidade de entendimento. Senão tudo continuará como sempre: A uma
experiência bem sucedida correspondem cem histórias frustrantes. O mais
constrangedor para os homens não é certamente, que eles não possam mais
ter suas fantasias sujas ou predadoras, mas sim que se eles pudessem agir
desta forma, já não poderiam mais atuar direito.
75
A ninfomania saudável e a fome de nossas células
Existe um problema na ninfomania, que nós temos de ver, para poder lidar
adequadamente com ele. Algumas vezes a necessidade represada é tão
prepotente, que nenhum contato apropriado pode ser estabelecido. Quando
esta necessidade então ainda está associada a exigências, é quase impossível
para o homem satisfazer prazerosamente as exigências femininas. Isto é de
fato válido não apenas para a ninfomania, mas também sempre quando uma
determinada necessidade nos tomou de forma tão predominante, que nós não
podemos pensar em outra coisa. Quanto mais nós nos prendemos a esta
76
necessidade, menos ela será satisfeita pela vida. Isto se aplica àqueles, que
estão ardentemente à procura de sexo, e também àqueles, que procuram
energicamente por um parceiro para a vida, e ainda àqueles que procuram
fervorosamente pela verdade religiosa. A gente rechaça a realização, quando a
procura acontece de forma tão unilateral e drástica. É possível de fato chegar
então a um circulo vicioso de frustração e furor interior, que assume
características patológicas. Qualquer um conhece temporariamente esta
tortura, por experiência própria. Aqui é preciso que primeiro surja uma
determinada tranquilidade, que mate ou suavize a fome exacerbada. A gente
também precisa aqui de um ponto de montagem interno fora da necessidade,
para então provar a coisa a partir de uma perspectiva oportuna.
Demora um bom tempo na vida de uma pessoa, até que a energia sexual vinda
dos grunhidos do fundo das células através de todos os labirintos internos
alcance a luz do dia e lá apareça como uma pura e não dissimulada força da
natureza. Quando este processo ocorre, as crostas e barreiras internas se
quebram e então a energia sexual se assemelha à energia de uma irrupção
vulcânica. O organismo inteiro se transforma em pouco tempo e dirige toda sua
atenção a este foco. É como se de repente a fome de anos e séculos fosse
despertada. O organismo físico-espiritual tem uma necessidade acumulada que
não possui fronteiras. Que ele com isto perca temporariamente o equilíbrio, é
simplesmente natural. Ninguém, que tenha sido tomado por estas forças
remotas da vida, pode permanecer em seu equilíbrio costumeiro. Neste
sentido, uma mulher que se encontra nesta condição precisa de apoio
humanitário. Mas este apoio ela não recebe através de lições hipócritas, e sim
através da possibilidade de contatos sexuais livres do medo e da vergonha. Ah,
se existissem homens suficientes, que pudessem aceitar esta oferta de uma
boa maneira!
77
não deformada da energia sexual, todas as pessoas passariam por esta fase
de infinita fome sexual – passariam e sofreriam, se até lá nós não tivermos
construído uma possibilidade melhor de realização. Se milhões de pessoas no
conflito entre o desejo e a vergonha pudessem se decidir pelo desejo, então os
relacionamentos majoritários logo seriam vistos de outra maneira e as
ninfômanas certamente não mais fariam parte da minoria.
Existem muitas razões para uma mulher se decidir pela vergonha no conflito
entre o desejo e a vergonha, isto porque ela sente instintivamente, que a fome,
que se encontra em seu desejo, não pode ser saciada tão facilmente. Quem
pode saciar a fome feminina? Esta pergunta é séria e de modo algum no
sentido de algum tipo de menosprezo pelas mulheres. Os padres e os escribas
de nossa cultura sempre perceberam a mulher como “o mal”, ou seja, como a
representante da carne, do desejo e da sedução. Com métodos pertinentes –
não apenas na caça às bruxas da Idade Média – eles agiram contra ela. Eles
farejaram e temeram a supremacia da sexualidade feminina.
Ainda será necessário um longo tempo até que o sexo feminino se recupere
das perseguições a que foi submetido durante toda a história. As “lembranças”
estão entalhadas nas camadas mais profundas da alma. Quando hoje uma
mulher se coloca do lado de seu desejo sexual, porque não pode fazer outra
coisa, então ela é inconscientemente confrontada com a perseguição sexual de
toda a história patriarcal. Quando ela tenta superar esta situação ao
autodesignar seu apetite como “anormal” e talvez até comece um tratamento
médico, muitas vezes isto é um pedido de absolvição e perdão. Desta forma,
ela não aplacou seu desejo, mas sim sua consciência. A “ninfômana” tem a má
sorte de viver em uma época errada. Aquilo que lhe parecer ser um abismo
infindável entre seu próprio sentimento e o sentimento das mulheres “normais”
não é na realidade nenhuma diferenciação da estrutura interior, mas sim
apenas uma diferença no grau da manifestação sexual. Nela “ela se mostra
mais claramente”. Mas aquilo, que se mostra para ela, existe estruturalmente
na maioria das outras também, porque a energia sexual existe em todos os
lugares, onde existem pessoas. Se a gente inventasse uma câmara fotográfica
infravermelha, que tivesse condições de fotografar os pensamentos e as
fantasias secretas das pessoas, por exemplo, em um passeio pela cidade, ou a
78
andar pelo supermercado, no intervalo de uma peça teatral, na Feira do Livro
de Frankfurt etc..., se a gente pudesse ver, os pensamentos sexuais que
cintilam em todo canto, na maioria das vezes apenas por segundos, até serem
imediatamente mais uma vez reprimidos – nós nos encontraríamos em um
inferno de sexualidade, que ultrapassaria em muito nossas ideias mais
ousadas. Devemos chamar este fenômeno de ninfomania reprimida? Ele é
muito mais que isto. O mundo dos homens é tão diferente do que parece, que a
gente deseja, que o grande circo termine em uma gargalhada alciônica.
A chamada ninfômana pertence à rara espécie de mulher, que não pode mais
reagir ao seu próprio desejo com o grande não feminino. Mas, em função de
sua intensa tensão e de condições sociais não favoráveis esta mulher ainda
não encontrou seu sim individual, soberano e tranquilo. Com isto ela é
sintomática para todos nós, o desejo apenas a “pegou” de modo intenso. Em
todo caso eu lhe desejo realização sexual e gostaria de ajudar a criar
oportunidades, nas quais isto seja facilmente possível.
79
A compulsão pela eterna mentira
80
poderiam ser poupados a este jovem em seu desenvolvimento sexual.
E por outro lado: Qual a professora que não faria... com prazer com um de
seus alunos, se ela pudesse e se confiasse em si mesma? Ela não seria uma
fêmea, e não teria nenhum sangue quente em suas veias, se pelo menos uma
vez este pensamento não lhe tivesse ocorrido. Imaginemos apenas que estes
pensamentos não tivessem de ser imediatamente reprimidos, mas sim que a
gente pudesse refletir com tranquilidade sobre eles. Apenas imaginemos que
eles pudessem ser falados entre amigas porque seriam considerados naturais.
Imaginemos que uma destas professoras aceitasse esta possibilidade com
alegria crescente, o que haveria então de errado nisto? Ela descobriria clara e
decisivamente, que ela “gosta” destes caras jovens, que ainda não tocaram em
uma mulher. Toda mulher gosta de algo assim. De ser a primeira para ele, de
sua virgindade sedenta, de sua excitação e de sua falta de jeito e mesmo
assim já tão poderoso, que pode cobri-la. O que há de mal nisto?
O que é ruim não é o ato, ruins são as relações sociais, sob as quais ele
acontece. E estas relações dão frequentemente ao ato alguma coisa de
humilhante, como, por exemplo, quando um dos dois depois de algum tempo
começa a chantagear o outro ou algo semelhante. O mal adquire forma porque
o ato não pode ser executado em liberdade e dignidade, porque um meio-
ambiente superexcitado e extremamente falso, observa com os olhos fixos tudo
que combina com suas fantasias pornográficas. O medo de ser descoberto é
por fim mais forte do que a amizade que poderia resultar desta relação. E
quando então se torna público, os dois precisam empurrar a culpa de um para
o outro, porque de outra forma eles não veriam nenhuma possibilidade de viver
satisfatoriamente de alguma maneira. Sob estas circunstâncias surge o ódio
onde o amor seria possível.
81
coagidas a uma vida perversa. Aqui os pensamentos verdadeiros, os anseios,
desejos e de vez em quando também as ações – lá o homem limpo com seu
raciocínio humano saudável, sua opinião pública, seu dedo indicador
levantado, sua rigidez moral e sua dignidade. Esta cisão da própria vida em um
lado que é mostrado e em um lado que é escondido ocorre em geral em todas
as classes, em todas as profissões e em todos os níveis educacionais. A moral
dupla e o jogo enganoso pertencem aos fundamentos de nossa cultura. Quanto
mais rígido com os costumes alguém se apresenta, como juiz, por exemplo,
como padre ou como professor, em seu interior, mais desvalido é
frequentemente este alguém em seu íntimo. O talar e a dignidade lhe protegem
do desmascaramento. Todo jovem deve se conscientizar de que a autoridade
moral que aqui se coloca diante dele, na verdade muitas vezes é ainda pior do
que ele mesmo. Porque alguém com quinze anos ainda não é capaz de tanta
dissimulação.
Já foi dito muitas vezes, mas talvez a gente precise dizer mais uma vez: Na
causa intrínseca de tantas ações desesperadas e de tantas maldades está a
falsa moral sexual; em vez de evitar o mal, ela o criou, em vez de humanizar o
mundo, ela o aterrorizou; a moral sexual não encheu os corpos de amor, sim
de medo e ódio; ela não ajudou aos infelizes, ela os condenou; ela agiu contra
os amantes de todas as épocas com o fogo e com a espada, com a inquisição
e com a difamação; para livrar o mundo do amor ela ameaçou, violentou,
empalou, humilhou e exterminou; ela trouxe a igreja e os dignitários, para
santificar a mentira, e por fim construiu hospitais, para tratar medicinalmente
das consequências psicossomáticas de seus atos destruidores.
Hoje em dia não há mais nenhum sentido, em dizer aquilo, que atualmente é
82
‘in’. O falatório sobre a vida (ocidental) livre continuará a ser absurdo e ridículo
enquanto nesta “liberdade” tantas pessoas perecerem psicologicamente, ao se
isolar sem esperanças, por exemplo. Nós já perdemos tempo demais, em nos
adaptarmos a este circo, com isto muita verdade e muita capacidade de amor
foram irreversivelmente ignoradas. Agora o que importa para todos os
questionadores, para todos aqueles que procuram e também para todos os
amantes, é voltar a confiar em seus próprios pensamentos, para ver o que para
eles é realmente real – e também a dizer isto ocasionalmente mais uma vez,
porque o que para alguém é verdade, para outros muitas vezes também é.
Quando nós estivermos em condições, de nos entendermos com base na
verdade e agirmos de acordo com ela, então Eros terá uma força tão grande,
que fará o asfalto derreter. Está em nossas mãos.
83
Falsa moral e verdadeira ética
Quando neste livro se fala da falsa moral, isto não quer dizer que a moral em
geral seja alguma coisa errada. A gente agora não deve tentar violentamente,
levar uma vida amoral, isto seria apenas o outro lado da moeda. A consciência,
eu falo da verdadeira, é um dos mais nobres e superiores equipamentos da
mente humana e deveria sob todas as circunstâncias, ser redescoberta,
cuidada e seguida. Porém, esta consciência fala uma língua bastante diferente
do que a falada pela moral comum. A moral em seu antigo sentido é o medo da
punição; a verdadeira moral, que se origina na consciência humana, é
responsabilidade, participação e apoio da vida positiva e de todas as suas
forças centrais de crescimento e de amor. A velha moral se alimenta do medo;
a moral autêntica se alimenta da verdade e da confiança e as produz através
de si mesma. Apenas quando houver verdade e confiança é que o homem
poderá vencer a moral do medo e vivenciar um profundo amor, que faz dele um
ser participante e ético. A imoralidade da cultura comum somente pode ser
superada no momento em que os homens começarem a levar entre si outro
tipo de vida. Aqui se trata também da verdade no amor, que sob as condições
gerais de monogamia, casamento e ciúme não é tão fácil de produzir. Nenhum
ser humano pode no velho sentido permanecer fiel a outro durante trinta anos,
sem “traí-lo” pelo menos em pensamento. A verdade no amor, a ética na
sexualidade e a participação duradoura na vida do outro somente serão
possíveis quando forem encontradas formas abertas, livres, mas mesmo assim
não menos conjuntivas, para a vida em comum dos sexos.
84
e sim o sétimo mandamento que o proíbe. Não é a carne pecadora que é fraca,
mas sim o espírito, porque através da Igreja e dos falsos profetas a coragem da
verdade foi tomada. Se de alguma forma houver uma necessidade absoluta
para a reavaliação de todos os valores de Nietzsche, então aqui a temos. Mas
não simplesmente em um sentido da pura negação e inversão. Os novos
valores não surgem através da inversão dos velhos, e também não surgem
absolutamente dos velhos, mas de uma nova, sólida e duradoura experiência
do amor, da verdade e da confiança.
* Referência ao livro de Hans-Willi Haub, 'Liebt das Böse - gut'. Das Mysterium
von Golgatha und die Verwandlung des Bösen.
85
Mas com certeza a verdadeira moral que tem sua força a partir do amor, da
confiança e da verdade, se preserva seguramente também diante das pessoas
que vivem sem esta fonte e por isto mesmo fazem as piores coisas. Nós
poderemos odiá-las cada vez menos, quanto mais estivermos unidos a esta
fonte moral do amor que reconhece. Quem viu as relações entre a infância
destruída e a violência e a mentira posteriores, quem entende as relações, que
Alice Miller descreve em seus livros, não pode mais se entregar simplesmente
aos seus instintos de ódio e de vingança. Ele também não perdoará facilmente
seus inimigos e rezará por seus irmãos maus, mas ele se imporá uma
disciplina humana e espiritual, que agora já não vem mais de uma moral
imposta, mas sim do próprio reconhecimento.
86
O desejo escondido e a vida por viver
“A gente não lamenta os pecados que a gente cometeu; a gente chora por
aqueles, que a gente deixou de cometer.”
A vida sexual do homem ainda acontece até hoje muito mais em suas fantasias
do que na realidade. O que são nossas palavras diante daquelas, que a gente
cala! O que é a vida que nós mostramos ao exterior, diante daquela que nós
ocultamos! O que são dez relações sexuais conjugais diante de uma única
verdadeira e substancial fantasia masturbatória! Será que nós compreendemos
que nesta área central de nossas vidas nós ainda não entramos na esfera
pública, no conhecimento, na relação verdadeira para pessoas reais? Temos
consciência de que o sexo regular que praticamos uns com os outros, algumas
vezes tem a função, de reprimir o sexo verdadeiro, que nos enlouquece? Por
que fazemos isto?
Se perguntássemos aos nossos pais, se eles estão satisfeitos com sua vida,
eles diriam sim, porque eles não conhecem nenhuma outra. Se eu perguntar a
uma esposa, se ela está satisfeita com sua vida amorosa, ela também dirá sim,
porque ela praticamente não tem possibilidade de levar outro tipo de vida. Não
há nenhum sentido em fazer estas perguntas, enquanto não existirem
possibilidades de comparação ou enquanto não houver nenhuma possibilidade
de mudança. Sob estas condições, muitas vezes também não há nenhum
sentido em refletir sobre a verdade, porque ela apenas dói, enquanto não
houver nenhuma saída. No primeiro semestre de meus estudos de Psicologia
nós tivemos de preencher um questionário psicológico genial. Uma de suas
perguntas era: Você está satisfeito com sua vida sexual? Eu marquei um “X” na
resposta afirmativa, porque eu não tinha nenhuma vida sexual. Eu nem mesmo
sei, se eu menti.
Eu sei apenas, que nós não estamos satisfeitos com nossa vida, e eu sempre
me senti feliz, quando ouvia ou lia em algum lugar, que dizia isto claramente,
sem fanfarronadas artificiais e sem o emocionalismo literário do sofrimento.
87
Pois não se trata neste livro científico da encenação de um drama efetivo, mas
sim da constatação daquilo que é, para que possamos fazer um balanço, que
nos motive eventualmente, de agora em diante, a fazer algo diferente. Um
exemplo seguro da sobriedade deste balanço é para mim o prematuramente
falecido professor e escritor suíço Fritz Zorn, que adoeceu de câncer aos 30
anos e nos dois últimos anos ainda restantes não teve mais nenhum tempo
para se preocupar com sentimentalidades e meias verdades. Na luta contra o
fim que se aproximava ele escreveu o livro intitulado “Marte” (veja livros
indicados), no qual ele direta e objetivamente e de forma muito inteligente
retrata o tema de seu tormento sexual. Hoje nós já não o temos mais, pois ele
morreu após concluir seu livro, mas nós temos o livro. Os livros são
documentos de nossa época. Se refletíssemos sobre eles, então talvez
falássemos um pouco menos, produzíssemos mais verdades e olharíamos o
mundo um pouco mais objetivamente. Não existe nenhum motivo para
depressão ou desespero, quando nos decidimos a iniciar este trabalho.
Desespero sentem apenas aqueles que ocultam tudo e têm de se virar
sozinhos. Para alguém sozinho, eu já disse isto sobre o tema da monogamia,
este mundo é muito difícil. – O revigorante e encorajador em Fritz Zorn, apesar
de sua morte prematura de câncer, é o não positivo, que ele escreve sobre sua
vida. Certamente existe também um sim positivo, nós o ouvimos com Nietzsche
e também com Hermann Hesse, certamente existe uma filosofia fundamentada
do estar de acordo, mas eu continuo a sugerir, que devemos aboli-lo pelos
próximos dez anos e antes disto encontrar o grande não em toda sua beleza e
verdade. O que, quando eu olho exatamente, foi tão surpreendente, que eu
pudesse realmente amar nesta vida? Quem ou o que foi então tão importante
para mim, para que eu tenha desejado me engajar totalmente. Que convicção
interna, total e plena pude ganhar até agora, pela qual eu estivesse
sinceramente preparado, para arriscar toda a minha vida e toda a minha força
sem questionamento?
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meninas muito especiais. Com 15 eu não sabia de quase nada, hoje com
quase 50, eu já sei um pouco mais sobre alguma coisa, mas será que por isto
eu já cheguei mais próximo daquilo que sempre foi para mim o sentido e o
objetivo da vida? Todo o esforço empregado, toda severidade contra mim
mesmo, e toda injustiça contra os outros sulcaram mais uma ruga em meu
rosto, mas será que eu já estou seguro, que toda esta luta valeu a pena? Eu
ainda continuo de pé no campo primaveril com o mesmo anseio, ainda tenho
sempre a mesma sensação formigante, quando vejo mulheres, eu continuo a
ter o mesmo sonho de uma vida sem medo e sem compromissos triviais. A vida
ainda não acabou, nem com 50 e certamente também não com 80, mas na
verdade também ainda não foi vivida. De certa forma tudo foi uma preparação.
Se eu fosse mulher, isto teria sido mais difícil. Em algum momento eu teria
perdido o objetivo. Eu teria a partir de uma soma total de rugas corporais e
outras deficiências de fazer um balanço interior com o resultado, de que eu já
estou muito velha, muito frágil, e muito “out” para os prognósticos sexuais desta
vida. As mulheres começam a pensar desta maneira já aos 30. Já nesta idade
começa a ideia ou a certeza da vida perdida. Imaginemos isto com toda
tranquilidade. Pessoas, que na verdade estão no auge de suas possibilidades,
já percebem que elas falharam, que perderam e negligenciaram sua vida. Mas
elas não percebem isto de uma maneira construtiva, que as motive a uma
correção positiva, mas sim de uma forma fatalista e resignada, porque não
veem nenhuma outra possibilidade. A partir deste ponto elas ainda tentam
alguns Comebacks, lançam mão de outros recursos para sobreviver de forma
satisfatória às próximas décadas. Maria Schell foi uma atriz encantadora, e
certamente também uma mulher encantadora. Mas instintivamente ela sabia
exatamente, que a vida no palco não podia ser tudo. Também ela fracassou
por fim na solidão da vida não vivida.
O brilho e a glória desta vida se mostram depois como um fiasco. Da fama, que
nós em algum lugar tivermos conseguido com esforço, muitas vezes não sobra
muito. O que será com o campeão mundial de Boxe Tyson, quando ele tiver
dissipado todo seu dinheiro? O que aconteceu com o campeão de tênis Björn
Borg, depois que seu tempo de jogador terminou? Quanto tempo ainda nós
vamos nos deixar enganar por meio de fases de sucesso temporárias e com
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isto reprimir os temas importantes? Eu sempre fiquei feliz por Boris Becker.
Apesar de todas as seduções sociais ele esteve em condições de colocar os
temas da vida acima dos pontos no tênis. Mais tarde ele não estará no abismo
da vida, quando ele não puder mais lançar as bolas sobre a rede. Ele será,
apoiado por aqueles, que o amam há muito tempo, a trabalhar de alguma
forma boa na vida e não se deixar corromper tão facilmente por ofertas de
publicidade da Adidas (que a propósito hoje já não ocorrem, porque eles
perceberam, que aqui quem joga é uma pessoa e não um boneco).
Eu me alonguei um pouco, para nem sempre falar logo sobre o sexo. Mas
afinal a vida não vivida consiste sempre de amor não vivido e de sexualidade
não vivida. Depois de todos os esclarecimentos anteriores eu não preciso
explicar mais nada a este respeito; eu gostaria apenas de chamar a atenção
mais uma vez para o belo livro sobre o “Desejo Secreto”, no qual mulheres
acima dos 60 relatam sobre sua vida sexual. Todas elas estão em uma idade,
na qual a vida “passou”, e todas elas dizem, que ainda estão cheias de vida,
ativas em seus desejos sexuais, ativas no tema total do amor, Eros, amizade
etc. Elas dizem isto muito mais sinceramente do que outras pessoas, porque
elas não têm mais nada a perder. Como seria, se todas as pessoas falassem
assim, antes de completarem 60 ou 80 anos de idade? Como seria, se a
juventude sonhadora finalmente recebesse uma doutrinação deste tipo, para
que ela não continuasse a incorrer nos mesmos erros?
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nova perspectiva. As pessoas não precisam apenas de algum tipo de contato,
elas precisam principalmente de vontade e de coragem de reconstruir sua vida.
Para cada um solitário, seja homem ou mulher, existem muitas possibilidades,
se ele ou ela estiverem preparados a abandonar a resignação.
Por fim, para que ninguém creia que os solitários sejam os azarados de nossa
sociedade, ainda mais sem saída se encontram muitas vezes as chamadas
relações amorosas e os casamentos. Quando os cônjuges à noite se sentam
juntos em solidão familiar e veem a vida desperdiçada diante da tela... quando
cada um em segredo pensa em alguma coisa, que o outro também pensa e
que eles por isto não podem falar.. quando a parcela culta da humanidade, a
raça branca na Europa e na América se deixa enganar desta maneira e não
empreende nada contra isto... Os Hooligans comentam esta grande loucura de
sua maneira. Eles pegam para si com violência alguma coisa da aventura da
vida, que eles não podem vivenciar de uma maneira mais suave e bela.
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Ontem à noite no bar
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Meu amigo Martin
Martin é uma pessoa que se sobressai, na metade dos 40, arquiteto capaz e
constantemente ativo como filósofo e como artista. Recentemente após uma
longa separação ele teve um reencontro com sua antiga namorada. Ele a
pegou na estação ferroviária e lhe anunciou seu desejo, de estar com ela de
novo para valer. Ela reagiu a isto de forma reticente e um tanto fria. Martin
reagiu interiormente de imediato, mas ele tem a propriedade de parecer
exteriormente como um mestre Zen, quando ele perde intimamente o controle
como um guerreiro selvagem da mitologia nórdica. Eles partiram juntos de
carro por um lugar em Bodensee e chegaram a uma passagem de nível
fechada. Martin acelerou, passou por ela, faltaram apenas poucos metros para
que o trem colidisse com seu automóvel. Existem algumas pessoas que não
sobreviveram a algo assim.
Foi uma ação simbólica. A cancela, que ainda não pôde ser ultrapassada no
interior, foi quebrada exteriormente em determinação eufórica. Martin se
revelou em seu ato. É assim muitas vezes com os homens, quando eles são
pegos “em flagrante” fora de sua meta feminino. Eles não conseguiram ganhar
a menina, e então começam a cometer atos heroicos. Eles vivem em um
mundo simbólico, no qual aquilo que eles verdadeiramente procuram e
desejam, não ocorre, nunca acontece e por isto tem de ser realizado em forma
de ações simbólicas. Aqui nenhum pico é tão alto, nenhum deserto é tão
solitário, nenhuma pista tão difícil, o homem arrisca tudo. Ele não se deita gentil
e intimamente com a mulher, pelo contrário, ele perfura, porque ele é
simbolicamente inclinado a atirar a flecha de seu espírito na matéria do mundo.
Ele é, sem o saber, quase fundamentalmente um filósofo. Ele exercitou isto
durante séculos, ele tinha de praticar isto, porque a fêmea não esteve há muito
tempo com ele e ele também não esteve com ela.
Nós todos levamos mais ou menos uma vida simbólica, do automóvel até a
marca do cigarro enquanto não tivermos chegado ao outro, o homem à mulher
e a mulher ao homem e os sexos um ao outro. É a vida constante diante da
represa, que nos impele a estas ações simbólicas. É a fase pré-natal de um
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processo de nascimento, que se anuncia em nossos excessos. O que deve ou
quer nascer aqui? É sempre o amor, é sempre esta pátria íntima mental e
sensual dos sexos, nunca é alguma outra coisa, ele apenas se mostra diferente
enquanto o caminho ainda estiver impedido. É assim que o heroísmo e o
desprezo pela morte se mostram, onde na realidade o amor é pensado. É a
assim que a dureza se mostra, onde na verdade é a ternura que é pensada. É
assim que se mostra a ação violenta do homem, onde na verdade também ele
gostaria de se entregar. Nós vivemos em uma simbologia de valores invertidos.
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A sexualidade entre o desejo e a vergonha
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vergonha em sua total intensidade já começou muito cedo a se tornar
consciente para nós. Eu não falo agora da vergonha natural, que
provavelmente sentem todas as pessoas quando aparecem as primeiras
excitações sexuais. As primeiras coisas são sempre suaves e delicadamente
tecidas. Uma emoção, um sopro de vergonha, de comedimento e de timidez,
faz parte de todo encontro erótico, não apenas na juventude. Ela afina as
cordas internas para a música sutil dos sentimentos e cuida da velocidade
certa na aproximação. Mas ela também se abre com prazer a mais bela falta de
vergonha, quando a situação é propícia. Na verdade, eu falo da outra
vergonha, daquela que impede esta abertura. Ela não vem da natureza da
coisa, mas sim dos temidos olhares e pensamentos dos outros. Esta vergonha
é o obstáculo, que muitos não conseguem superar, mesmo quando tentam
ultrapassá-lo violentamente.
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descobrir, que ele com seu planeta não estavam no centro do mundo. Na
segunda ele perdeu sua dignidade tradicional, ao ter de aceitar fatos, que não
combinavam com esta dignidade. O mesmo homem, que se movimenta na
cena pública de gravata e calça vincada, de terno e andar ereto, executa na
cama os movimentos tremulantes e peristálticos de uma água-viva. O mesmo
homem que se expressa normalmente por meio de fonemas bem dosados,
agora emite sons carnais não humanos. A transformação não pode ser maior.
E então existem ainda as posições, as posições e gestos desejados
secretamente, o instinto para a total escancarada e desavergonhada abertura!
Nietzsche o maior revolucionário da mente, teria ficado de orelhas vermelhas,
se ele apenas tivesse pensado nisto. E o que dizer de nossa mãe! Eles já
pressentiam a doce delícia desta “vergonha”. E precisavam se distanciar dela
cada vez mais.
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do andar ereto à horizontal, prossegue internamente com a exposição de
partes animais da mente, e termina algumas vezes em uma bonita devastação
e lambança do cenário. Quando este tipo de coisas acontece em uma
sociedade, que de fato pensa o sexo de forma ignóbil e maldosa, então se
unem duas coisas tão fatais, que a gente de preferência se retira da coisa toda.
A sexualidade, que se oferece com prazer como uma forma de humilhação
livre, voluptuosa e controlada e de contato total, corre com isto o perigo, de se
tornar uma humilhação verdadeira, que nada mais tem a ver com o
contentamento erótico original. Ocorre aqui o mesmo que ocorre com a
violência. No jogo sexual algumas vezes cabe uma pequena dose de violência
desejada pelos dois lados, de animalismo e de canibalismo. Aqui existe um
contentamento verdadeiro, quando isto pode acontecer sem violência real, e
aqueles que juntos fizeram isto, permanecem com prazer unidos em “fidelidade
canibalesca”. Mas, é preciso ter cuidado para que a violência representada não
se transforme em violência real; e este perigo existirá naturalmente quase
sempre, enquanto as pessoas se encontrarem umas com as outras inibidas e
ainda desconhecidas. Onde está aqui o limite, onde eu devo começar a arriscar
isto, e onde é melhor me conter? Se as pessoas ainda vivem juntas de uma
maneira tão insensível, moralista, ofensiva e inconsciente, existe o perigo real
de humilhação e de violência e então é melhor manter a si mesmo e também
os próprios desejos sexuais contidos. Também aqui, para a transformação
positiva da vergonha, se aplica o pensamento fundamental de todo este livro:
Permita que nós mesmos construamos as condições e as estruturas, sob as
quais queremos viver!
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novo começo. Nós, os seres humanos, crianças, jovens e adultos, homens e
mulheres, poderíamos começar de novo – mas agora não mais cegos e
devotadamente fiéis a nossa tradição porque esta já não existe mais, mas sim
livres e conhecedores de tudo, que neste meio tempo nós sabemos e
desejamos. Eu escrevo as ideias deste livro sempre diante do pano de fundo
desta possibilidade, de outra forma não haveria nenhum sentido construtivo em
falar claramente destas coisas.
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Mulheres acima dos 40
Isto seria assim, se nosso mundo estivesse em ordem. Nenhuma mulher acima
dos 40 pensaria em se fazer jovem artificialmente, porque ela possui sua
atratividade exatamente através de sua idade natural. Nenhuma teria a ideia,
de se envergonhar por causa de seus desejos sexuais, porque ela ama e
aceita o sexo. Nenhuma se preocuparia por causa de suas obrigações sociais,
porque ela as preenche por meio de seu sentido maduro para o amor e a
responsabilidade. Nenhuma se amedrontaria diante da velhice, porque a
sexualidade na velhice se orienta em outras coisas que não sejam as medidas
ideais do corpo.
100
não percebem que possuem qualidades totalmente diferentes. Em sua
necessidade, lançam mão – quando não podem se satisfazer com os
substitutos de satisfação do consumo – de livros religiosos ou esotéricos. Elas
se ocupam com a macrobiótica e com a medicina natural, com astronomia e
com Tarô (o que não precisa ser necessariamente ruim), com modos de vida
holísticos e com o eu superior. Elas deixam o status sexual e migram para o
status espiritual e com isto aprendem a ver sua renúncia como virtude. Contra
todas estas coisas não há absolutamente nada a objetar, mas elas não atingem
o cerne da questão. Sob as condições existentes, elas são simplesmente a
forma mais inteligente de sobrevivência. “A abstinência é o prazer nas coisas,
que a gente não recebe” (Wilhelm Busch). No entanto, todas poderiam ser
obtidas, se nós começássemos, com todas as forças do conhecimento do amor
e da verdade a quebrar a impiedade da moral sexual oficial e construíssemos
possibilidades reais de realização. A gente precisa hoje de muito tempo para
compreender a sexualidade e é com 40 que a vida começa realmente.
Uma mulher a partir dos 40 anos, que está na plenitude de sua vida, é em
sentido arquetípico sempre também uma “figura materna”. É aqui que se
encontram suas mais profundas qualidades e seu carisma. Infelizmente as
mulheres desta idade têm uma estranha relação com esta palavra. Elas
reagem muito mais com espanto do que com alegria. Elas não percebem o que
é dito com isto. A qualidade da figura materna não está em oposição ao papel
de namoradas e de amantes. Um homem que conhece o amor, não reage a
isto como se ele próprio fosse infantil e se torna impotente, pelo contrário, ele
reage como grande amante. No arquétipo da figura materna positiva existe
alguma coisa terna e, no entanto muito forte, alguma coisa da criação e alguma
coisa do conhecimento, algo de bondade e de segurança. Alguma coisa na
vida, na qual a gente pode confiar.
101
sorriso tem uma autoridade superior à lei. Através de seu papel feminino que
se tornou consciente ela regula as coisas orgânicas da vida, os processos
celulares da comunidade. As velhas imagens do papel feminino não são
simplesmente erradas, elas foram apenas organizadas e exploradas de forma
errada pelo mundo dos homens. Também não se trata de um retorno ao velho
matriarcado, porque o caminho histórico de nosso desenvolvimento humano
sempre segue em frente. Mas existem estruturas matriarcais e forças, que
estão além de todas as culturas e correntes de tempo, porque elas estão
associadas à polaridade universal da criação.
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Clarie Goll transou com a idade de 76 anos com um jovem de vinte anos e teve
com ele sua primeira satisfação sexual. O filme “Harold and Maude” mostra
uma vida amorosa que se coloca acima de todos os limites de idade. Goethe, o
exemplo intelectual da Alemanha, casou-se com 80 anos com Mariane
Willemer, que tinha vinte anos de idade. Onde quer que Eros encontre seu
rastro, ele realiza maravilhas sobre maravilhas. Aqui qualquer lei moral redigida
não tem nada a dizer. Quando Eros consegue quebrar as crostas de nossa
vida, não há nada para julgarmos, mas sim para aprender e entender. Não
descoberto e não libertado ainda são homem e ser humano, disse Nietzsche.
Aqui, no campo erótico, estamos no cerne das coisas, onde nós podemos
começar com a descoberta e a libertação.
As mulheres acima dos quarenta desejam ajudar neste caminho. Elas devem
saber que existem muitos homens que esperam por elas. Elas devem ter a
coragem de mostrar, que estão preparadas. Devem existir possibilidades de
entendimento, e quando não, nós precisamos cria-las. É claro que nós não
podemos andar por aí com uma placa pendurada no peito “Eu estou pronto”,
mas nós podemos seguir nosso instinto e ir para onde nós possamos estar
preparados. Será que existem sinais claros e bonitos desta disposição, que a
gente poderia usar como uma joia?
A perspectiva de vida de uma mulher que já passou dos quarenta depende das
ideias conscientes ou inconscientes a respeito do envelhecimento. A maioria
destas ideias não vem de uma autêntica experiência individual e da intuição,
mas sim das crenças de nossa cultura, que são transmitidas sem
questionamento de geração a geração e que por meio disto recebeu sua quase
biológica solidez e eficiência. Estas noções de crença se originaram de uma
cultura ancestral judaica e cristã e são impregnadas com um medo enraizado
do amor físico. Porém, nós vivemos hoje em uma época de transição histórica
que não deixará mais nenhuma pedra sobre pedra. Por detrás dos processos
apocalípticos de nosso tempo se inicia uma transformação humana, que traz
novas visões dos fatos psicológicos, espirituais e físicos básicos de nossa vida.
Estas não vêm de uma época social e de um modismo temporário, mas sim de
103
um continuo atelier da criação. Aqui se encontram as leis, que não trazem
servidão, mas sim liberdade, que não trazem moral, mas sim humanidade, que
não trazem abandono, mas sim segurança, que não trazem doença, mas sim
cura. E a estas leis também pertence outro princípio de crescimento e de
envelhecimento. Segundo elas envelhecer não significa que a energia diminui,
mas antes que ela se torna complexa. Envelhecer também não significa que o
corpo pare de trabalhar, isto só tem efeito estatístico sob as estruturas da
história que foram construídas até agora. As células do corpo são
condicionadas a se regenerar em qualquer faixa etária, quando o espírito
permanece alerta e vivo. Somente quando o desejo de viver começa a se
apagar é que as células perdem sua energia. Para uma pessoa de setenta
anos que se encontra no ápice de sua energia vital, não existe o menor motivo
para temer sua próxima deterioração. A vida existe a partir de suas origens
ancestrais e constantes, e se elas continuam a existir, então a vida é
constantemente renovável. Quando a primeira metade da vida trabalhosa e
carregada chega ao seu fim, a segunda pode recomeçar. Talvez a primeira
metade da vida tenha sido apenas um terço da vida. O mundo em que vivemos
não tem fim e quase sempre nós o deixamos antes de tê-lo entendido e
também a nós.
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O carinho e o momento depois
Um belo encontro sexual produz uma alegria, que não deve acabar logo, a
gente deseja o “momento depois”. O quanto nós pecamos aqui, principalmente
nós os homens! Ainda há pouco uma amiga me ligou, falou alguma coisa sobre
explosão e assassinato e psicoterapia. Seu namorado, Mario, a abandonou
mais uma vez depois de uma linda noite na cama; ele foi simplesmente
embora. Sempre foi assim e ela não aguenta mais isto. – Eu estou muito longe
de julgar meus colegas de gênero, eu prefiro cuidar de minha vida. Nós temos
frequentemente uma maneira de ir do sexo para o cotidiano, como se a gente
estivesse a escovar os dentes.
Quando um encontro sexual foi bonito, então o que vem depois é uma
sensação natural de agradecimento e de ternura. A gente gostaria de levar os
belos pensamentos para o mundo, para o dia, a gente gostaria de ser acolhida.
Um encontro sexual que termina com o orgasmo e que e se acaba totalmente,
é como um coito interrompido. O processo é interrompido em seu desenrolar. A
qualidade espiritual do amor sensual, este contentamento, de ter se entendido,
de ter se amado como homem e mulher, muitas vezes não é satisfeito pelo
desempenho sexual, mas na verdade despertado. A gente diz muitas vezes
que a união sexual precisa vir da ternura. Esta é com certeza uma limitação,
que não corresponde à essência de Eros. A sexualidade pode surgir de uma
sensação carinhosa, mas ela também pode vir do desejo animal. Não existe
aqui nenhuma diferença de valor moral. Mas quando ela surge e se foi bom,
então se origina uma coisa como ternura animal. O leão lambe a leoa.
Existem situações nas quais o sexo quase se transforma em rotina, como por
exemplo, nos casamentos ou nos grupos com uma compreensão convencional
da sexualidade livre. Também não há nada de errado quando a gente de vez
em quando faz sexo e depois se dedica às coisas costumeiras, sexo também
pode ser como escovar os dentes, se a gente depois tiver um gosto limpo na
boca. Mas aquilo que acontece sobre um colchão de três metros quadrados e
entre quatro pés de cama, não deve se perder simplesmente no dia-a-dia. Em
sua forma carnal Eros também tem uma fina textura espiritual, que anseia por
105
ternura. Mas este anseio só se apresenta na maioria das vezes, quando a
gente de uma grande distância relembra da experiência. Nós precisamos
certamente de uma tolerância muito consciente uns com os outros, para não
sermos finalmente devorados por nossa raiva rastejante. O homem, que depois
do ato consumado abandona sua noiva como um entediado, ficaria ele mesmo
horrorizado, se pudesse ver o que ele faz. Se ele próprio não estivesse tão
inserido em sua eterna ideia de desempenho e obrigação, se ele mesmo não
fosse coagido, a compensar com trabalho seu anseio não realizado, se ele
próprio não tivesse já muito antes ficado preso no canal de nascimento do
amor, então ele reconheceria em sua alma a brutalidade inconsciente de seu
comportamento. Se ele tivesse em sua alma o espaço livre, no qual a ternura
sensual se desenvolve, então ele não faria nada melhor do que seguir esta
emoção, pois o carinho é a continuação da sexualidade com outros recursos.
Se descobrir e receber como um ser sexual e no amor se manter livre da
supremacia de coerções exteriores, requer uma abertura do coração, que na
lista de prioridades de nosso mundo masculino, não está exatamente em
primeiro lugar.
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O mito do orgasmo
Existem muitos homens que têm um problema especial na relação sexual: Eles
não conseguem chegar ao fim. Eles estão interiormente tão fixados no
orgasmo, que este por causa disso não pode chegar. É claro que sua parceira
percebe instintivamente isto e também não pode chegar ao clímax por causa
disto. Mas o homem tem de satisfazer a mulher, não é assim? E ela só está
satisfeita quando chega ao orgasmo, não é? E assim os dois se esforçam até
não poder mais.
Nada contra o orgasmo. A analise de Wilhelm Reich sobre suas funções para a
saúde foi certamente correta e naquela época (há mais de 50 anos) um avanço
importante contra a repressão geral. Mas assim como toda libertação e
realização interiores, o orgasmo também é uma experiência que surge por si
mesma, quando a gente não está impedida de tê-la devido às fixações
incorretas. A sexualidade está ligada ao desejo e não tem nada a ver com
esportes profissionais. Mas isto é esquecido facilmente em uma cultura, que
coloca o princípio do desempenho acima de todos os processos vitais. Até
mesmo de processos reflexivos, que segundo a sua natureza estão fora de
qualquer noção de desempenho – processos e exercícios como sexualidade,
Yoga, Tai Chi, prece e meditação – tornam-se surpreendentemente uma
questão de desempenho. Eu posso ou não posso? Esta questão se posicionou
tanto em primeiro plano, que para o processo real e para a experiência real já
não existe mais nenhum espaço.
Os velhos monges Zen apresentavam aos seus alunos uma charada não
solucionável, que é chamada de “Koan” e com a qual eles deviam se ocupar
até se renderem ao seu destino ou seja, à não solução do problema. Quando
eles permaneciam muito tempo enrolados com o problema, podia acontecer
que o mestre os empurrasse escada abaixo, para que este acontecimento
imprevisto os conduzisse à revelação. O princípio é bastante revelador, porque
assim como o aluno é distraído de seu desempenho por uma ocorrência
inesperada e através desta pode deixar de lado o problema e chegar à solução,
nosso casal maratonista também poderia parar com seu estresse através de
107
um acontecimento não esperado e começar com o desejo. Nós todos
conhecemos isto, nós todos já sentimos a revelação com a qual uma
experiência interveniente nos libera de problemas exaustivos. A revelação
chega, como todas as coisas reveladoras da vida, com sua soberana e
individual casualidade. O próprio céu já esteve diante de nossa porta fechada,
antes que ele pudesse casualmente se apresentar.
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seus seres uma forma de movimento, que não apenas gasta energia, como
também sempre a recebe. O consumo de energia, que a gente dispende em
esportes de desempenho sexual, se coloca em estridente oposição a este
princípio natural de movimento. Aquele que, de qualquer forma, já está
bloqueado e superestressado, talvez deva esquecer por um momento de todos
os desempenhos e celebrar o sexo mais preguiçoso de que é capaz. Ser
preguiçoso, não fazer nada, de vez em quando relaxar e tranquilamente deixar
adormecer, talvez beber uma taça de vinho juntos ou olhar um livro – estas são
todas possibilidades adequadas e agradáveis, de se proteger na cama do terror
do orgasmo.
A temática do orgasmo ainda se torna mais difícil por meio de toda a cafonice
de fusão, que a gente gosta de lhe atribuir poeticamente. O orgasmo, muitos
pensam assim, seria quase uma união mística de duas almas e corpos, e esta
união se anuncia através de um êxtase, que é tão fenomenal, “que os membros
se enroscam e a cabeça gira, até que as lágrimas da libido escoram lá, onde a
bunda se reparte (Dante)”. Estes exageros na maioria das vezes não se
originam de uma experiência real, mas sim de uma real desnutrição do corpo.
A sexualidade é apesar de sua beatitude ocasional é um processo muito
mundano e sóbrio, seu êxtase é maravilho, mas sóbrio. O phatos da fusão até
a perda da consciência vem frequentemente muito mais das fantasias de um
organismo bloqueado de que da realidade. Eu não quero contestar que existam
experiências de união não habituais e quase transcendentais na sexualidade,
mas estas são exceções extremas mesmo na vida amorosa de pessoas
experientes. Ter esperanças e aguardar um orgasmo assim transcendental ou
mesmo torná-lo medida de todas as coisas é tão extravagante, como quando a
gente em oração espera imediatamente pela revelação. O mito do orgasmo
também está associado às fantasias excessivas de união, que se dissipam por
si mesmas na medida em que a união real surge e se desenvolve no cotidiano.
Não é aquilo, que a gente vivencia ou não na sexualidade em alguns minutos
ou segundos, não é a questão do orgasmo que está no centro do tema real da
união entre os gêneros, mas sim a questão de sua cotidiana comunicação,
entendimento, cooperação e sensibilidade. A felicidade será de vez em quando
vivenciada como grande revelação na cama, mas ela é construída na oficina da
109
vida.
110
Impotência – Energia sem saída
“Quando alguém é impotente, então acredita que tem de poder alguma coisa,
que a gente na realidade não tem de poder – e naquilo que a gente então pode
fazer por si mesma, quando a gente não pensa mais em nenhum poder e
nenhum ter de. A exceção, o ter de poder aquilo que a gente na verdade não
precisa poder, porque a gente faz por si mesmo, quando a gente não pensa em
poder, conduz na maioria dos casos a processos transtornadores na área do
poder natural. Quem de fato não pode se sente confirmado em sua falsa ideia
de poder-ter-de. Desta forma o sexo se transforma em um esporte de
desempenho inútil. Quando alguém realmente não pode e não vê mais
nenhuma possibilidade, então nós gostaríamos de pedir-lhe, que não leve isto
tão a sério. Acima de tudo ele não deveria, por favor, agir como se apesar de
tudo ele pudesse. Os que podem, que nós amamos, são ocasionalmente os
que não podem, aqueles que aceitam o seu não poder de uma forma
charmosa, sem se esforçar inutilmente.”
111
ereção, porque as energias congestionadas se paralisam mutuamente e não
chegam aos órgãos corporais certos. Ruim para as pessoas atingidas por ela é
todo o processo interior que está associado à impotência. Elas sentem o
desastre próximo e tentam impedi-lo. A gente avalia as ações adequadas, a
gente dirige estrabicamente um dos olhos ao estado do próprio pênis e o outro
aos pensamentos da parceira. A gente avalia secretamente e sente que ele
ainda está muito adormecido para introduzir. A gente então talvez tente com
fantasias excitantes, mas a gente sente escrúpulos, porque isto na verdade não
tem mais nada a ver com contato e com a parceira. A gente se embaraça em
um jogo duplo e de repente se sentiria feliz, se agora o telefone tocasse. Com
uma desculpa qualquer a gente poderia pegar o telefone e sair desta situação
difícil por algum tempo. Algumas vezes surgem pontos de toque excitantes,
que fazem uma chama de esperança brilhar, mas isto logo passa mais uma
vez. A mulher, na verdade uma fonte do desejo, torna-se vagarosamente uma
fonte de séria ameaça (do que ela não tem o menor conhecimento). Mas
apesar disto, a boa aparência tem naturalmente de ser mantida. Ela está lá
deitada e provavelmente ainda desejável, mas eu não desejo nada mais, eu
procuro apenas por uma boa saída. Eu sei que ela ficou insatisfeita e que ela
havia esperado mais. Devemos falar disso um com o outro? Mas sobre o quê,
sem não tornar tudo ainda pior? Então eu ajo como se tudo estivesse em
ordem. Eu a beijo, nós ficamos ainda algum tempo juntos abraçados, até que
ela me pergunta, se nós não queremos fumar um cigarro. Eu aceito
agradecido.
112
forças interiores, que são um obstáculo à união sensual? A necessidade sexual
está igualmente dividida nos dois seres. Uma mulher que teme ser frígida
passa a cada vez pelo mesmo inferno que o homem impotente. Ela apenas
tem, já que não tem de agir tão abertamente, outras possibilidades de ocultar.
E quanto tem de ser escondido nesta área, onde as palavras seriam apenas
dolorosas? Às mulheres também faltam normalmente as experiências e a
coragem de agir auxiliando em uma situação deste tipo, até mesmo porque ela
na esfera sexual ainda busca – com alguma justificativa – o homem como
condutor. O mundo sexual é construído hoje como um cenário exterior, ao qual
quase nenhum ser humano pode corresponder. Por traz dele está um mundo
invisível de silêncio. Se existisse hoje uma palavra para a libertação do amor
sensual, então esta palavra talvez fosse: Façam seu amor falar. E comecem lá,
onde vocês estão.
O tema da impotência já começa muito antes da cama. Ele na verdade não tem
absolutamente nada a ver com sexo, ele apenas se mostra mais claramente
nesta área. Na realidade nós sempre somos impotentes, quando estamos
bloqueados interiormente pela presença e o olhar dos outros. Quem não
conhece a situação precária, de estar em frente ao mictório e não poder urinar,
porque alguém se colocou ao nosso lado? Isto não é interessante? Eu não
posso mijar porque existem outros no local, que poderiam me observar. Seria
possível citar sem esforço ainda outros exemplos. Eu não posso comer, não
posso cantar, não posso dançar etc., porque outros estão presentes, que me
observam! Existiu um grande conhecedor deste tipo de impotência: O filósofo
francês Jean Paul Sartre. Ele escreveu a seguinte frase em seu livro “O Ser e o
Nada”: “O olhar do outro é a morte oculta de minhas possibilidades”. O principio
generalizado de desempenho corresponde a um principio comum de avaliação.
Assim, em pensamento a vida é sempre levada diante do olhar julgador dos
outros, principalmente na cama. Ninguém escapa deste estresse, nem mesmo
os líderes de nossa época. Mesmo o belo Cônsul Weyer foi, assim a gente
ouviu, um incapaz na cama, e o superastro de Rambo (Sylvester Stallone) teve
de ouvir de mulheres da sociedade as piores piadinhas sobre sua falta de
energia.
113
duro, surge então em sentido literal o pensamento vergonhoso, em geral um
dos mais vergonhosos para o homem: Você é um brocha! Se então ainda
surge uma mulher e confirma este rótulo, a infelicidade é na maioria dos casos
já pré-programada. A dor de tal humilhação e vergonha vai tão fundo, que
muitas vezes não pode ser superada sem álcool. E depois do álcool ocorrem
então os feitos aterrorizantes cotidianos de nosso tempo, aqueles que no dia
seguinte lemos no jornal. Com nada mais o homem é tão identificado do que
com seu pênis e seu comportamento. O pênis é sua comprovação, seu orgulho
ou a sua perdição, seu pertencer ou não pertencer ao clube dos homens, seu
membro de ligação ao mundo das mulheres, seu cilindro, seu bastão de testes,
sua régua e sua carteira de identidade. Porque é aqui que se decide, tanto faz
que o queiramos ou não, a felicidade ou a infelicidade de nossas vidas. Mesmo
que já tenhamos há muito colocado sobre isto uma camada atenuante de
humor e de filosofia indulgente.
114
sim de até que ponto a gente está em condições, de “esquecer” os esforços. A
alegria que nós saboreamos em um contato sexual vem da situação do contato
e não de uma ação orientada para o objetivo. Quem é impotente se encontra
em uma fase, na qual ele se prende demais com seus pensamentos aos
“movimentos manuais” individuais e por isto perde o contato com o todo. Ele
faz o melhor que pode, e apesar disto não pode. Quanto mais ele se esforça
menos ele consegue. Ele talvez então vá ao médico ou à farmácia, para pegar
meios estimulantes da potência. E se ele acredita muito neles, eles talvez até
façam efeito. Mas é a mesma coisa que ocorre com a fé da cura em Lourdes:
Não foi o medicamento, mas sua fé que o ajudou, porque através dela ele pode
modificar seu programa inconsciente de comportamento.
Na maior parte dos casos a impotência não vem de uma fraqueza sexual, mas
da energia sexual congestionada, que não encontra nenhuma saída, porque é
conduzida por falsas ideias. Ela permanece parada em algum lugar, antes que
atinja corretamente a genitália. Frequentemente ela se fixa na mente, que
então não está mais em condições de dar ao corpo impulsos claros e
homogêneos. Quando o comando central está confuso, então o corpo também
está confuso. Quando a mente envia informações contraditórias, então o pênis
também não pode tomar nenhuma decisão clara. Isto por sua vez preocupa
profundamente a mente, o que em geral produz um circulo vicioso com o
resultado habitual de um pênis irreversivelmente em greve. O problema da
impotência se soluciona muitas vezes por si mesmo quando por meio de algum
episódio ou de uma descoberta na consciência surge outro desvio ou outra
direção surge, que traz a solução a partir de si mesma.
115
Então ele se torna sensato e desiste. Por que a gente não poderia viver preso à
arvore? Ele já havia esquecido todo o assunto, quando de repente vê diante
dele um forte e belo elefante, que aparentemente desfruta livre de sua força. E
então ele vê uma imagem em sua mente, sua própria imagem desta força e
desta liberdade. Sem hesitar e sem outros pensamentos sobre sua situação ele
caminha ao encontro do estranho, para cumprimentá-lo. O velho feitiço já não
tinha simplesmente mais efeito sobre ele. A autoidentificação espontânea com
a nova imagem foi mais forte do que a velha imagem do passado. Sem este
acontecimento ele teria de se torturar sem necessidade ainda por anos e de se
limitar. Mas a vida, principalmente a humana, é repleta de acontecimentos
semelhantes. Quando nosso espírito agitado entra em contato com as forças
mais fortes da vida, existe sempre a possibilidade de mudar a direção. Como
nós não somos elefantes, podemos preparar mentalmente esta mudança.
116
O dilema sexual do organismo
A energia sexual é uma parte direta da energia da criação universal. Ela atua
não apenas nas glândulas e nos órgãos sexuais, mas também nas células e
processos fisiológicos do organismo inteiro. O organismo como um todo e não
apenas uma parte dele, é um ser sexual com funções sexuais básicas, que não
se limitam apenas à procriação. Mas a própria reprodução já é algo como uma
prova biológica de que a sexualidade está na origem e no começo de todas as
coisas, de que dela surge a preservação da espécie!
117
medicina moderna, que supere o velho mundo de pensamentos da época do
Eros cativo e que aprenda a usar nossos “recursos” naturais e forças
curadoras, está no desbloqueio e na libertação das energias sexuais. Todos os
centros terapêuticos e sanatórios poderiam multiplicar seus sucessos de cura,
se colocassem à disposição dos pacientes oportunidades de libertação real de
suas energias sexuais.
118
principalmente também um papel simbólico: A gente “não pode ouvir mais isto”,
então a gente tem transtornos auditivos. “Eu não posso mais pensar sobre
isto”, então a gente tem dor de cabeça, quando o tema quente surge
consciente ou inconscientemente mais uma vez.
119
do amor sensual. Ela é, exatamente como a verdadeira descoberta religiosa, a
força superior, que expulsa o duende e conduz o organismo à harmonia. Ela é
a maior força reparadora que a natureza nos presenteou.
120
Será que sou suficientemente atraente? Reflexões a respeito
da atração sexual
121
mulheres que mantenham seus pontos macios e suas curvas, mesmo que elas
sejam um tanto opulentas. Saibam que existem muitos homens que amam e
desejam algo assim. Um corpo feminino de 75 quilos e um rosto simpático
sobre ele é em todo caso sexualmente mais atraente do que as figuras de
confecção sem vida da moda. Vocês talvez não sejam totalmente o padrão
para profissões profundas como modelo fotográfico ou modelos de passarela,
mas em troca disto vocês colherão na cama prazeres totalmente diferentes,
caso não tenham vergonha de sua opulência. – Após esta declaração de
preferência, que eu divido com muitos homens experientes, eu gostaria de
aprofundar a questão da atratividade.
Uma mulher está diante do espelho pela manhã e se embeleza. Ela compara
sua aparência externa com a imagem que deseja para si mesma. Aqui algumas
rugas demais, aqui um pouco de gordura, aqui talvez um pouco de olheiras,
com um pouco de cosmético as deficiências são corrigidas. Ela está bonita. Ela
irá à cidade e perceberá os olhares. Os homens a consideram realmente bonita
e atraente. Ao primeiro olhar, em todo caso. Mas será que isto é bastante ao
segundo olhar e também é suficiente quando ocorre um contato? Ela não tem
um traseiro muito gordo, seios muito pequenos, um andar pesado? Sua
preocupação gira incessantemente em volta de sua aparência exterior. Ela tem,
por exemplo, um nariz relativamente grande, um “narigão”, como suas amigas
maldosas dizem. Por isto ela se acostumou a se deitar na cama com um
homem sempre de maneira que ele não possa ver seu perfil. Através da
preocupação com sua aparência, uma parte de sua atenção é sempre
absorvida e uma parte de seu carisma exterior é também engolida através de
122
seu hábito de se observar com o olhar dos outros. Quando esta contemplação
do próprio umbigo se torna intensa, ela percebe que perde seu carisma sexual.
Se ao contrário ela estiver livre da preocupação, ela sente seu fascínio.
Atratividade sexual e carisma têm alguma coisa a ver com “ser livre de si
mesmo”. A gente fala então de “naturalidade” e de “abertura”. Estas são duas
qualidades básicas de uma pessoa simpática, que a gente sempre ama.
Porém, elas não são suficientes para este determinado fenômeno, que nós
chamamos de “sexappeal”. A ressonância sexual parece vir de uma fonte bem
diferente.
A beleza não é apenas o brilho da verdade, ela é muito mais o brilho do amor.
Uma pessoa é bonita quando a energia do amor está nela. Esta qualidade
básica é então visível também quando rugas de preocupação e dúvidas
cobrem o rosto. A gente ama esta pessoa, porque ela mesma em seu ser é
uma amante. A gente sente a força de seu coração e se aquece com ela. Este
também é um elemento de atratividade erótica, mas também ainda não é tudo.
Mas o total sexappeal tem ainda outro componente, que eu prefiro chamar de
“saber sensual”. É o conhecimento sensual, que é demonstrado por um rosto,
um gesto, uma troca de palavras, mesmo que seja apenas insinuado e que
sempre faz surgir uma peculiar e erótica fascinação. A gente já percebe isto em
crianças, mesmo quando o conhecimento ainda não existe de uma forma
consciente. “Esta será uma”, a gente pensa secretamente e pensa com isto
nesta determinada, decente e intima qualidade, este anúncio de um saber
erótico. Pessoas, que são sexualmente atraentes, tanto homens como
123
mulheres, possuem uma autoconsciência erótica. Em todos os outros casos a
gente tem de primeiro descobri-la. Mas quando esta autoconsciência é sentida,
não há mais necessidade de nenhuma descoberta adicional. Um ser humano,
que saber viver sem vaidade, mas com consciência erótica, irradia aquela
delicadeza, a qual nós sempre reagimos eroticamente. A sexualidade é um
fenômeno de ressonância. Eros tem passe livre onde existe para ele além da
ressonância física também a ressonância espiritual. A sexualidade é
estimulada pelo corpo, mas a direção a favor ou contra a atração sexual está
na mente. Existem estruturas mentais muito eróticas e outras extremamente
não eróticas. O corpo mais bonito empalidece se sobre ele se encontra uma
cabeça dura. Mas corpos feios começam a desabrochar, quando são dirigidos
por um espirito erótico. A gente reconhece os “conhecedores” em sua
fisionomia e na maneira como conduzem seu corpo.
124
Um apelo às mulheres
125
“Vem!” e “Vá embora!”. Esta situação não solucionável de “duplo vinculo” foi
reconhecida já em crianças pelos modernos pesquisadores da esquizofrenia
como a fonte das doenças psíquicas. Enquanto esta estrutura dominar a vida
erótica pública, não poderá haver nenhuma paz no amor sensual. Não poderá
haver nenhum vitorioso nesta guerra inconsciente dos sexos porque afinal
todos são vitimas.
As estruturas inimigas do amor foram feitas pelos homens, mas para sua
superação é necessária a iniciativa das mulheres. As mulheres não deveriam
mais reagir à intolerância masculina com o feminismo militante, porque este
também é apenas um eco dos homens, mas sim com seu próprio e novo
caminho.
Eu peço a todas as mulheres, que ainda têm desejo pelo amor: Quando
encontrarem um homem que lhes agrade, então parem com o não
estereotipado. Não se congelem em sua beleza envergonhada, ponham os pés
no chão e me ajudem a criar uma oportunidade melhor. Existem certamente
homens à moda antiga, com os quais já não faz mais nenhum sentido, tentar
uma aproximação, porque eles logo entendem mal qualquer sim. Mas quando
vocês encontrarem um homem, que lhes interessa, então façam exatamente
aquilo, de que vocês sentem frequentemente falta em nós: Façam contato,
sejam um pouco importunas, tenham confiança em si mesmas, convidem-nos.
Se vocês desejam um homem, então deixem que ele saiba e lhe dê sinais
compreensíveis. Se um de nós já tiver uma mulher ao seu lado, não se deixem
impedir por causa disto. Ninguém está realmente tão “ocupado”, que não tenha
ainda um olhar e um coração livre. A mulher ao seu lado é igual a vocês. Se ela
o ama e deseja, então ela entende que vocês também tenham o mesmo
desejo. Isto já não pode mais ser motivo para se repelir mutuamente. Nós nos
amamos, mas nós não temos nenhuma propriedade sobre o outro porque nós
não somos mais senhores e escravos. Quando eu falo de “nós”, então eu
penso em todos que pensam da mesma forma e que querem atuar nesta
direção.
Não existe nenhuma razão em ir para a cama com algum homem, muito
embora a gente não tenha nenhuma vontade, mas também não existe nenhum
126
motivo para não fazer isto, muito embora a gente tenha vontade. Nenhuma
mulher tem uma obrigação sexual para com o homem. Isto também precisa
acabar. Não existe aqui absolutamente nenhuma obrigação. Também não
existe a obrigação de se apresentar sempre decente e respeitavelmente. Um
pouco mais de “pecado” já deve se tornar visível. Eu sei que a gente para isto
precisa do homem certo. Quando eu observo os homens, que lhes dão
cantadas nas esquinas, então eu entendo bem, que não é fácil para uma
mulher, se impor com autosegurança. É uma arte em si mesma, dizer não dez
vezes e mesmo assim permanecer receptivo. Eu conheço o tipo do incômodo
constante a partir do que me contam minhas amigas mais íntimas. Mas o que
eu mais gostei das histórias que me contaram, foi esta atitude especial, que
elas mantiveram nestas ocasiões, na qual o seu não em lugar de vir da
arrogância ou da luta, vem do fato infeliz, de que a solidariedade que vocês
oferecem é muitas vezes mal entendida pelo homem ou não é aceita
corretamente. Mas mesmo assim não deveria existir a partir dai nenhuma
hostilidade com os homens e também a afirmação depreciativa: “Os homens só
querem aquilo.” – Isto de qualquer forma é verdade.
Infelizmente, os homens que vocês gostariam de ter são muitas vezes menos
importunáveis do que os outros. Quando algum de seus escolhidos se
comporta de forma tímida e reservada demais, então o ajude a vencer seus
bloqueios com suave persistência. Exerçam sua arte de sedução; muitas vezes
pequenos sinais são suficientes. Não se afastem na espera e na passividade.
Nós admiramos há muito tempo suas belas formas à distância. Vocês já
sentiram há muito tempo os olhares desejosos, que foram dirigidos a vocês por
mil olhos masculinos. Levem isto a sério, não se queixem sobre isso,
abandonem sua inocência. Se vocês soubessem do anseio não resolvido que
vocês provocam permanentemente nestes corações masculinos! Se vocês
soubessem o quanto é comum que a cantada mais sem graça seja fruto do
puro despreparo! Quando um homem se torna muito importuno ou usa as
palavras erradas isto nem sempre significa uma humilhação ou um desprezo
secreto pelas mulheres. Nós não podemos permanecer sempre relaxados e
sedutores, depois de ter de andar por aí durante anos com desejos reprimidos.
Com vocês acontece a mesma coisa. Ajudem-me a encontrar uma solução
127
positiva para este problema. Permitamo-nos transformar a dor do anseio não
satisfeito em uma possibilidade real de contentamento mutuo. O raio, que nos
atinge quando algumas vezes nos avistamos, não pode simplesmente passar
por nós. Nós já transamos com vocês em pensamento por tempo bastante.
Agora por favor, ajudem para que o seu sonho e o nosso sonho se encontrem
e ganhe vida. A vida é muito bela para que seja desperdiçada com medos e
segredos. Nós amamos suas opulências e suas almas, nós amamos seus
pudores e seus despudores, nós amamos o amor como vocês e nos
completamos mutuamente no que há de melhor. Eu já posso ver, como nosso
desejo pelo outro se transforma em novo sentimento de gratidão e fidelidade.
Parem com a guerra do mesmo modo que nós queremos acabar com ela. Para
sempre. Amém.
128
Não se trata de sexo?
129
coisas, que podem ser igualmente bonitas e importantes. Cada um está no seu
nível e quando ele passar por todos eles, começa outra vez do inicio. Quando
Henry Miller estava tão velho, que já não podia mais transar direito, ele
descobriu um novo amor por sua Brenda. Ele lhe escrevia declarações diárias
de amor como um estudante. Sua alma encontrou outra forma preenchimento
fora de sua genitália “Opus Pistorum”. Mas por isto ela tinha menos valor?
Muitos não estão interiormente em um lugar, onde sempre gostariam e
desejariam estar. Não a pressione por um sexo rápido demais. Antes que o
movimento chegue ao pênis, vêm os olhos, a boca e o ventre. Todos eles têm
sua própria qualidade espiritual, seu próprio tema e necessidade. Todos eles
estão em ressonância com o mundo e gostariam de permanecer lá por um
tempo. Seu sexo é como uma rua de mão única para baixo, mas também
existe outra direção. “Ai! Duas almas vivem em meu peito”, disse Goethe,
“Você sempre está consciente apenas de uma”. Quem são vocês, que
acreditam, que possam tomar uma decisão, que seja valida para todos nós? Eu
considero os mitos tradicionais de nossa cultura como uma tese madura e sua
teoria como uma antítese inteligente. No entanto, eu não posso acreditar nem
em uma nem na outra.
E então ele, que quase poderia ter sido eu, falou sobre algumas outras coisas,
sobre as facetas do desejo e sobre as emanações da alma. Ele falou de
trovadores e de Minnesang, do amor homossexual e da multiplicidade do ser,
ele falou de Siddharta e de Hermann Hesse. Aparentemente ele estava de fato
movido pelo espirito daquelas ideias, que se opõem a qualquer julgamento,
porque o conhecimento das coisas não mais permite algo assim. Ele me
parece tão semelhante, que eu gostaria de me poupar de controvérsias.
Mesmo assim eu tenho outra posição. Meu interlocutor imaginário teria falado
de outra maneira, se ele tivesse percebido de quem as novas ideias são filhas.
Elas são novas, mas ele acredita que já as conhece. Ele escolheu um modo
muito inteligente e polido de se imunizar contra a vida. Isto talvez também seja
sabedoria. Sabedoria para estóicos e filósofos, mas não para homens que
foram atingidos pela tempestade de Eros. Quem aceitar as ideias deste livro e
as entender perceberá, que os argumentos de nosso estóico são inteiramente
consideráveis.
130
Algumas vezes não se trata realmente de sexo, nem também de amor. Existem
situações internas de decisão de natureza fundamental, nas quais o instinto
interior sente com razão toda a temática sexual apenas como uma
inconveniência. A gente no momento tem de lidar simplesmente com outras
coisas. Isto não é nenhuma repressão e nenhuma trapaça interior, mas sim
uma exigência amigável da voz interior, que agora aponta para uma direção
bem diferente. A gente não deve se tornar vitima deste grande tumulto em
torno do tema número um. Acima de tudo a gente não deve pensar que alguma
coisa não está em ordem conosco, quando no momento está ocupada com
outra coisa. O mundo é muito complexo, para que possamos ou devamos nos
fixar neste tema, e as soluções surgem de qualquer forma por acaso e não por
meio da concentração na perna amarrada do elefante. Trata-se de uma
mensagem de libertação, não da nova fixação, e o menor caminho para a
solução de um problema é muitas vezes o desvio.
Aquele que no momento não consegue seguir adiante no amor não deve, por
favor, ter com isto uma preocupação adicional. Se a gente somente pudesse
131
começar com a vida, se todos os anseios fossem satisfeitos, talvez jamais
chegássemos a viver. A segurança em coisas do amor surge algumas vezes da
visão e da aceitação da tarefa que é atribuída no circulo humano que lhe é
dado. Toda pessoa cria através de sua atividade vital ou sua profissão uma
organização de suas relações com seus semelhantes que surge por si mesma,
que, quando ele age sensatamente, desperta suas forças intelectuais e
amorosas. Aquele que encontra seu tema de vida, também encontra o amor. A
atratividade sexual algumas vezes se desenvolve por si mesma, quando a
gente menos se preocupa com ela.
132
CAPITULO III
133
A dor ancestral
O que acontece na alma de uma criança de um ano de idade, quando é
deixada por seus pais aos cuidados de pais adotivos? O que significa para uma
criança ser abandonada? Eu gostaria de ser breve, o tema da dor ancestral é
muito cruel, para que nós possamos nos demorar nele. Nós todos já
vivenciamos algum dia, nesta ou em uma história de vida anterior, esta dor
monstruosa da separação, a maioria ainda quando criança e ela nos marcou
profundamente. Se não tivesse sido assim também não existiria certamente
nenhum ciúme. A ira, que nos acomete quando adultos é como uma
reminiscência sombria do trauma do passado. A primeira dor, que é vivenciada
pelo ser humano, é com certeza a dor de ser deixado sozinho. – Existem ainda
outras dores antigas, como, por exemplo, interrogatórios sem sentido por
coisas que fizemos inocentemente. O ser humano histórico desenvolveu em
sua luta contra o amor, o sexo e a verdade uma vulnerabilidade interna, que
não pôde mais parar de transmitir estes ferimentos aos outros. Uma espiral de
dor, de ser ferido e de ferir foi transmitida pelos pais às crianças, de geração a
geração. Muitas vezes sem o conhecimento dos pais. Será que os pais de
todas as crianças sabem, o que eles fazem a elas, quando ignoram ou refreiam
suas aproximações amorosas? Será que uma mãe sabe hoje, como seu filho
de três anos a idolatra e deseja? Será que um pai sabe o quanto ele é modelo
e semideus para seu filho e o quanto por causa disto suas ações têm efeito na
vida de seu filho? Na maior parte dos casos eles não sabem nada disso,
porque eles próprios foram educados muito rigidamente ou porque eles estão
tão envolvidos em seus próprios problemas não resolvidos, que não podem
perceber nada mais. A gente não precisa apresentar nenhuma teoria especial
para o surgimento da dor ancestral. É suficiente que tomemos conhecimento
do que até agora aconteceu com as crianças em incontáveis famílias. O
número inacreditável de crianças que são vitimas de maus tratos
absolutamente monstruosos é apenas a ponta do iceberg. E tudo isto em um
país desenvolvido como a Alemanha, tudo isto no Ocidente Livre. Os maus
tratos de crianças são uma ferida aberta e visível da criança. A vivência
traumática que está associada à dor ancestral, também aparece de forma mais
134
frequente através de uma latente e duradoura desatenção à criança que se
expressa na indiferença e na privação emocional, na alimentação consumista e
em coisas semelhantes. Nosso novo mundo comportado desenvolveu seus
próprios métodos, para com “meios suaves” estigmatizar as crianças para
sempre.
Aquele que vivenciou a dor ancestral, não importa se na infância ou mais tarde,
tenta com todos os meios fugir dela e nunca mais se defrontar com ela. Ele
tentará instintivamente evitar todas as situações, todas as pessoas e todos os
acontecimentos, que possam lhe recordar o abominável. Ele constrói – de
forma semelhante ao local assolado pela tuberculose – uma parede protetora
em volta de sua ferida, para que ninguém mais possa tocá-la. Como esta ferida
quase sempre é sentida na área do amor e da sexualidade, é também aqui que
se situa a parede protetora e as estratégias de evitação dos atingidos. A gente
amou algum dia, mas foi tão iludida, decepcionada ou punida, que não quer
mais se envolver com o amor. Este juramento contra o amor acontece
realmente muitas vezes já na infância. A gente precisava ter visto os rostos das
crianças de dois anos de idade quando elas se sentem tratadas injustamente
ou quando elas não podem mais entender o mundo dos adultos. Em seus
rostos se expressa o força do desespero – mas também a força da vontade!
Aqui são tecidos planos de vingança em uma idade na qual os adultos ainda se
alegram com os narizinhos arrebitados. Nós todos, já que somos originários de
semelhantes estruturas inimigas do amor, somos marcados de alguma forma
pela experiência negativa, e todos vivemos esta experiência principalmente no
amor. No ponto onde a confiança de uma criança se encontra com a
indiferença ou o alheamento dos adultos, sempre surgem conflitos no
desenvolvimento do amor, que não são mais tão fáceis de curar. Os chamados
padrões traumáticos se evidenciam. Eles vigoram para a maioria durante toda
a vida e se expressam mais ou menos assim: Seja cuidadoso, quando você
ama. Não se envolva, porque provavelmente você será enganado ou
abandonado. No inconsciente surge uma camada fatal, que é constituída de
amor, medo da perda e vingança. Até hoje o mundo amoroso de nossa
sociedade é composto em maior ou menor escala por esta camada cruel.
É mais do que natural, que sob estas condições muitas pessoas não se deixem
135
mais envolver na aventura do amor e do Eros. Elas escolhem determinadas
estratégias de evitação, com as quais elas manobram seu barco do amor em
torno dos recifes do amor. Elas escolhem, por exemplo, uma pessoa para
amar, que elas na verdade não amam e também não desejam sexualmente,
mas que, no entanto lhes oferece bastante espaço de ação, para não ficarem
totalmente sozinhas. Ou então elas desenvolvem uma moral superior do ofertar
dar e do cuidar diante dos outros, porque elas mesmas já desistiram totalmente
de receber (porque seu maior desejo de qualquer forma não pode se realizar).
Ou então elas amaldiçoam de início tudo aquilo, que elas amam realmente.
Este é hoje provavelmente um método especialmente preferido. Eu o vivenciei
no próprio corpo e o vejo também nos outros: Quanto mais as pessoas amam e
admiram alguém, mais elas se veem na necessidade de ofendê-lo. A
aproximação através de rejeição é a motivação deste método enigmático. A
gente poderia ir muito mais longe com a enumeração destas coisas estranhas.
Durante os sete anos em que eu trabalhei e acompanhei círculos marxistas, eu
não pude libertar-me da suspeita, de que muitos dos companheiros procuram
neste trabalho político uma proteção contra seus próprios problemas amorosos.
Eu percebi aos poucos, que para muitos na verdade tanto faz em que partidos
eles trabalham. Tanto faz se vermelho ou verde ou marrom ou preto, as cores
quase poderiam ser trocadas assim como a camisa, enquanto a dor interior não
fosse aplacada. É monstruoso como somos caracterizados pelos ferimentos
psíquicos do passado. E nós só poderemos criar uma renovação positiva,
quando virmos estas relações e reconheçamos sua verdade. Isto é realmente
simples, porque qualquer um pode ver as relações, se estiver disposto a
observá-las. Mas este é exatamente o problema: Ele tem de estar disposto, a
vê-las. No entanto ele somente terá esta disponibilidade, quando ele puder
acreditar, que isto provocará uma solução e mudança positivas. Enquanto não
houver nada em vista, ele continuará a fazer como até agora. Mas quem, se
não ele mesmo, deve então começar com a libertação deste encantamento?
Todos ainda continuam hoje a esperar pelo Messias? Não, eles não esperam
mais, eles acabaram de esticar os membros. E eles odeiam todos, que têm
esperança. Ulrich Horstmann teria feito uma bela profecia para todos eles em
seu livro “A Besta”, se não existissem estes poucos antagonistas, que ainda
continuam obcecados em amar a vida, proteger o amor e dar às crianças um
136
lar mais bonito. Enquanto estas pessoas existirem existirá também uma
solução para a dor ancestral. Porque a imagem interior, que vem do passado,
precisa se seu próprio alimento para continuar a viver. Sob condições
humanas, que são novas, porque o amor não é mais punido e ameaçado com
o abandono, ela não tem mais nenhum alimento e depois de algum tempo se
dissipará por si mesma.
137
O que é o ciúme e de onde ele vem?
138
da cultura do ciúme, não pode continuar por muito mais tempo. Somente
poderá existir paz na Terra, quando a guerra no amor se acabar.
Para todo aquele, que já esteve uma vez verdadeiramente apaixonado (isto
vale para os dois gêneros), o ciúme tem um motivo muito vivido e mais do que
compreensível. A gente não poderia suportar perder novamente a felicidade
alcançada. Para um jovem de 18 anos, que acabou de iniciar um
relacionamento intimo com uma garota, este achado é o mundo, e ele daria um
mundo para tê-la totalmente. Quando então ele tem o tesouro, o drama
começa. Na defesa e no cerceamento do tesouro encontrado movimenta-se o
medo de que a gente possa perdê-lo outra vez. Então a gente agarra ainda
mais. Quanto mais a gente agarra, mais justificado é o medo, porque a gente
acabou de começar a sufocar o outro e seu amor. É um círculo vicioso até o
amargo fim. O amargo fim consiste em uma separação dramática ou na
extinção de todo impulso amoroso, ou ainda em um ato violento. Quantas
lágrimas já foram vertidas, porque os amantes acreditavam em um sentimento
errôneo de orgulho ferido, que tinham de se separar, muito embora eles não
queriam absolutamente se separar; e quantos momentos felizes iniciais se
encontram enterrados e empoeirados nas cartas de gavetas velhas!
139
Muito embora o ciúme seja uma experiência totalmente pessoal, ele é também
mais do que isto. A gente quase poderia dizer, que ele é um pensamento
profundamente enraizado. Ele pertence a uma imagem mitológica do amor,
assim como o casamento e o conceito de fidelidade conjugal. Esta imagem se
origina – tanto no desenvolvimento do indivíduo como também na história
humana dos gêneros – em uma camada infanto-mitológica da alma, que
desenvolveu sua forma de expressão sob condições externas deploráveis,
como, por exemplo, sob as condições da violência e do medo. No
desenvolvimento individual esta imagem surge frequentemente já na primeira
infância como consequência da situação familiar, na qual o amor já muito cedo
está associado ao perigo de ser abandonado. Na história, o ciúme surge com a
separaçao do indivíduo das relações coletivas dos gêneros e da natureza, por
volta de 3000 – 1000 a.C. Nos dois casos trata-se da perda de uma segurança
antiga. Naquela época histórica desenvolveu-se a mitologia masculina do amor,
à qual pertence o tesouro escondido e a luta contra o dragão, o juramento
eterno e as lutas mortais de rivais, o homem como salvador da mulher e a
união até a morte. Nós ainda estamos hoje facilmente em condições de nos
colocarmos nesta imagem ancestral de nossa cultura porque nós todos a
trazemos em nós como reminiscência arquetípica. As estruturas psíquicas do
passado estão em nosso interior como rochas sedimentares.
Toda época e toda sociedade tem suas ideias centrais, que pertencem ao seu
conteúdo psíquico. Estes “paradigmas” psíquicos decidem sobre a felicidade ou
a infelicidade de seus membros. Assim, por exemplo, o pensamento
fundamental de um Deus punidor na cultura judaica e cristã criou um medo
coletivo quase biológico, que ainda hoje possui efeito celular em todos nós e
que não pode ser superado nem com métodos religiosos nem com métodos
terapêuticos. A estas ideias fundamentais influenciadoras de destinos pertence
também o velho mito do amor e a crença, de que o amor estaria
inseparavelmente ligado ao ciúme. Esta é a mais enganosa de todas as ideias,
porque é em si uma contradição. O ciúme não pertence ao amor, ele o impede.
O ciúme é a morte do amor.
140
Enquanto continuar desta forma não poderá haver nenhuma Terra livre da
violência, nenhuma paz entre os sexos, nenhuma paz sexual e nenhum amor
duradouro, seja entre amantes, seja como fermento da cultura coletiva. Nada
devastou ecologicamente, humanamente e militarmente tanto a nossa Terra do
que o mecanismo mortal da imagem enganosa do amor. Nada impeliu mais o
ser humano ao erro, à solidão e ao desespero, à desesperança e ao cinismo do
que sua imagem errada do amor. E nada produziu mais doenças mentais e
orgânicas do que a eterna espera por uma realização, que sob estas
circunstâncias não foi encontrada em lugar nenhum. E assim deveria estar
atrás dos diagnósticos de quase todas as doenças psicossomáticas a seguinte
frase: Adoeceu de preocupações amorosas insolúveis, que surgiram por meio
de uma falsa imagem do amor.
141
Estas palavras soam muito breves e lacônicas. Mas apesar disto eu não desejo
neste ponto lhes acrescentar nada. Não existe uma receita. Existe apenas uma
compreensão crescente daquilo, que eu descrevo como “amor reconhecido”. A
ela pertence principalmente a aceitação mental do próximo trecho. A próxima
seção sobre a fidelidade também pertence a este contexto.
142
A asma faz parte do respirar?
A asma faz parte do respirar? Sim, sob determinadas condições. No mais, esta
pergunta parece absurda. Porém, ela não é mais absurda do que perguntar se
o ciúme faz parte do amor. Na verdade, a asma não faz parte do respirar. Mas
diga isto a uma cultura de asmáticos! Diante da poluição atmosférica geral e da
também geral oclusão dos corações, o exemplo não é tão exagerado.
Suponhamos que nós vivêssemos há milênios em uma cultura de asmáticos
que nunca conheceram algo diferente. Eles só podem acabar com a asma, se
não respirarem mais. Mas então eles morrem. Por este motivo eles creem que
a salvação só existe no além.
Aquele que diz, que respirar sem asma é possível ou até mesmo que seria
valioso, é considerado um sonhador ou um idealista. Se alguém acreditar nele,
ele é considerado como um líder de seita. Aquele que se apresentasse em um
espetáculo de variedades e quisesse mostrar um método novo de respiração
sem asma, seria admirado por suas capacidades paranormais ou até mesmo
adorado como um Messias. Mas quem começasse sinceramente a preparar
uma cultura sem asma, seria sentido como um perigo para o corpo saudável da
população e excluído como a gaivota Fernão Capelo. Seus amigos lhe diriam
143
que ele deveria pelo menos conhecer os argumentos dos outros, tantos
asmáticos não poderiam simplesmente se enganar. Quando a coisa então
apesar disto se alastra, então começaria nas cidades, nas comunidades e nos
chamados Grupos Nova Era uma discussão coletiva, sobre se a o respirar sem
asma seria possível ou não. E os mais esclarecidos dentre eles diriam: “A
gente não tem de ver a coisa de forma ideológica, mas sim empírica... pois
bem, o que temos de empírico... cem milhões de asmáticos, dois dele com
episódios ocasionais de respiração livre de asma... a coisa nos parece clara,
não existe nenhum indicio seguro de que a respiração sem asma seja possível
(com exceção talvez sob influências psicológicas especiais); nós temos
infelizmente de banir esta tese para a área das ideias fantásticas; nós
supomos, que aqueles que formularam esta tese, não estavam eles mesmos,
em função de suas estruturas neuróticas não solucionadas, em condições de
levar uma vida saudável e plena sem asma!”
144
A contradição fundamental do amor
“Quando o homem ama uma mulher, ele primeiro imagina, que seu amor se
145
volta simplesmente a uma única, que é semelhante a ele, que ele integra à sua
área de poder e a qual ele se une livremente.
Ao trazer meu rosto à luz ele percebe bem, certo brilho, que emociona seu
coração e ilumina todas as coisas...
Ele pensa ter encontrado ao seu lado uma companheira: e então ele percebe,
que ele remexeu em mim a força oculta, a latência misteriosa – que sob esta
forma chega até ele e o leva junto.
Quando ele compreende, que para ele eu sou o mundo, ele pensa que pode
me envolver em seus braços.
Junto comigo ele queria se trancar em um mundo fechado, no qual nós dois
fossemos suficientes um para o outro. Mas neste exato momento eu me
desintegrei sob suas mãos.”
A gente precisa ler este trecho muitas vezes, para entendê-lo totalmente. A
mulher, que para ele representa o amor, começa a se desintegrar quando o
homem queria levá-la para sua cabana fechada. O amor dos sexos, que é
conciliado no padrão de um mundo que vem de seu tamanho e significado,
deve ser talhado na felicidade particular de duas pessoas. A pessoa mesma,
aquela que acabou de encontrar esta fonte de expansão de limites, esta
entrada no mundo, quer imediatamente construir uma cerca em volta da fonte,
para que ela exista apenas para ele. Aqui se situa um engano tão torturante na
ação e na mente da pessoa, que nosso idioma não é suficiente para nomeá-lo
adequadamente. O amor é livre, ele não pode ser aprisionado. A mulher mais
bela também é livre, ela não pode ser privatizada por um único homem, mesmo
que o homem seja muito bom. A privatização do parceiro afetivo, do jeito que
146
ela sempre acontece nas relações amorosas habituais e no casamento, é uma
privação do mundo. (O termo “privado” vem da palavra latina “privare”. Ele
significa “privar, roubar”.)
147
Capítulo IV
A LIBERTAÇÃO DE EROS
148
Um processo mundial de amor emergente
149
contraturas são as dores de expulsão antes de um parto. Não existe mais
nenhum caminho de retrocesso, porque os velhos sonhos se acabaram de fato.
Isto não é mais uma questão de gosto pessoal, mas sim o tema de uma
mudança histórica objetiva.
É claro que a mudança será realizada por nós e não por um abstrato criador de
mundos. Até que ponto ela acontecerá e se ela ainda acontecerá a tempo,
dependerá somente de nós. Mas se ela acontecer, então ela não terá efeito
apenas em indivíduos, mas sim no organismo da humanidade inteira, porque
todos estão ligados a este organismo, poderíamos dizer por meio de um
“campo morfogenético” ou através de informações mutáveis do código
genético. A consciência universal transforma-se por si mesma quando surge na
área central de nossa existência uma nova informação. Esta informação
penetra então no “código” do amor. Nada é mais forte do que o poder de uma
ideia, cujo tempo chegou, disse Victor Hugo. O poder da nova informação não
será imediatamente visível em grande escala. Ele se assemelha ao poder da
germinação das plantas, que quebra uma camada de asfalto. É o poder de uma
transformação individual que está em ressonância com a transformação do
mundo. Por este motivo, a ressonância é a senha do amor liberado.
O caminho para a libertação do amor sexual não precisa mais ser trilhado
apenas com nossa força individual e muito menos enfrentado externamente. O
amor se aninha de preferência onde a luta tenha chegado ao fim. Lutar a gente
precisa no máximo contra os hábitos e falsas estruturas de nossa
personalidade. O caminho precisa em primeiro lugar ser visto, entendido e
desejado. Onde ele não é desejado, até mesmo os deuses lutam em vão.
Alguns prefeririam antes acabar com a própria vida do que aceitar estas novas
ideias. Isto, no entanto, é realmente algo pessoal. Porém, onde através do
novo conhecimento surge uma nova intenção, aqui se associam as forças
individuais com forças superiores. Do consenso interior de um processo
individual com um processo mundial resultam a “evidência” e a força de que
precisamos para prosseguir. Eros não é apenas uma força individual, mas
antes uma força cósmica. Quando este contato superior se torna novamente
livre na vivência do sexo e do amor, cresce através de todas as dificuldades
uma certeza do sucesso. A identidade própria recebe um espaço muito mais
150
amplo do que apenas a força individual. A gente se imuniza, apesar da
sensibilidade crescente, contra os preconceitos dos outros e não perde mais
nenhum tempo com discussões, onde há muito não há o que discutir. Quem
percebe a fonte, quer chegar até ela.
151
Cultura sem repressão sexual
152
partir do interior com uma força torrencial, que jogaria para o alto todas as
nossas autopiedade e preocupações, se nós apenas a permitíssemos. O
segredo da vida cultural da humanidade moderna consiste em responder a esta
força com o mecanismo interiorizado e automático da repressão. Esta também
foi a descoberta incompreensível de Wilhelm Reich, ainda mais veemente e
abrangente do que a de Sigmund Freud. Na verdade, que aqui foi vista, está
fundamentada a possibilidade de uma civilização elementarmente diferente.
Quem puder aprender a ver estas relações, estará logo diante do fato mais
abalador, que uma consciência reconhecedora pode encontrar. O que não
saberíamos sobre o ser humano e sobre a vida, se a repressão não existisse?
O que não foi concebido, adivinhado e inventado no elevado humanismo,
porque a repressão foi mais rápida do que o intelecto e por este motivo o olho
do espírito não pôde ver, o que mantém este mundo no intimo!
Talvez ainda não tenha havido uma época no processo humano atual, na qual
o homem tenha se declarado totalmente responsável por aquilo que faz sobre a
Terra, sem empurrar a responsabilidade por alguma coisa para os poderes do
além. Para a construção de uma cultura erótica sem repressão precisamos de
uma mudança de governo, na qual o ser humano retome para si mesmo toda a
responsabilidade que ele deu aos deuses, aos espíritos, aos astros ou ao
destino. Também a responsabilidade por todas as aparentes naturalidades das
heranças, da tradição e da moral. Desde a grande frase de Nietzsche “Deus
está morto” o ser humano pôde ter uma visão da abrangência total desta
histórica mudança de governo. Tudo que até agora surgiu ou cresceu mais ou
menos por si mesmo – forma de Estado, formas econômicas, formas familiares,
ordens sociais e morais, crença religiosa etc. – teria de ser analisado e
transformado por um ser humano em processo de se tornar autônomo. A isto
pertence também a nova ordem da sexualidade. Em nome da saúde, o médico
Wilhelm Reich exigiu a suspensão de toda forma de dominação e repressão
sexual. Se nós hoje cumprimos ou não esta exigência, não é mais uma questão
de gosto ou de preferência intelectual, mas sim uma questão do saber. Até o
momento tanta pseudocultura, tantos erros filosóficos e tanta crueldade
humana foram colocadas na conta da sexualidade não vivenciada, que nenhum
conhecedor pode ignorar esta frase: A possibilidade de uma cultura humana
153
somente existirá, quando a repressão sexual e a compulsão a ela tiver sido
eliminada.
154
Amor reconhecido
155
própria coerção de sistema, poderia ajudar no lugar em que vive na construção
do amor reconhecido.
Enquanto o amor for apenas um processo emocional, ele não terá resistência.
Tão rápido quanto a gente desliza neste processo, mais rápido a gente desliza
emocionalmente para fora dele, e tão emocionalmente, que da mesma forma
que a gente agora ama uma pessoa, amanhã já pode amar outra. É como na
música: “O amor é um jogo estranho, ele vem e vai de um para outro...” É claro
que os dois parceiros sabem instintivamente disto, e eles – se não tiverem algo
melhor na cabeça – reagirão a este conhecimento secreto também apenas
emocionalmente com raiva e ciúme. Quando a emoção do amor se torna
totalmente autônoma na chamada “paixão”, muitas vezes não existe mais
nenhuma palavra sensata, nenhuma chance mais. A paixão, como ela é
entendida normalmente, como uma tempestade de vento do coração e do
corpo, sem controle, sem reflexão, ou questionamento, é sempre o início do fim
– um tema infinitamente belo para óperas e operetas, um tema infinitamente
terrível para as pessoas reais. A profundidade e a volúpia do amor dos sexos
reconhecido é mais do que paixão: Ela é paixão mais reconhecimento e
reflexão. Ela é paixão que é aprofundada, purificada e acalmada no centro do
espírito. Ela é como um lago, cujo fundo agora se torna visível em uma
profundidade maior, porque a tempestade se acalmou. A gente vê em sua
profundeza e reconhece o que está lá.
156
O amor muitas vezes não permite que se enxergue livremente. O amor, tanto o
sexual, quanto o emocional, gosta de evitar o reconhecimento no jeito infantil
do coração entusiasmado, enquanto ele pode. Mas por fim, se ele quiser
sobreviver, é obrigado ao reconhecimento. Por exemplo, ao reconhecimento de
que a gente tem todos os pensamentos secretos, que a gente teme existir no
parceiro e que por este motivo não há nenhum sentido em condená-los no
outro. Ou o reconhecimento de que a gente por meio da dominação sufoca o
amor e que por isto não faz sentido, querer salvar o relacionamento amoroso
através deste método. Ou o reconhecimento de que o próprio ciúme terá uma
duração longa na vida, da mesma forma que a gente não superou em si
mesma determinadas situações e meias mentiras, muitas vezes na área sexual
e na área intelectual. Ou o reconhecimento de que o amor somente pode
crescer através da confiança e que a confiança somente pode crescer através
da verdade. Aquilo que cresce por meio da mentira, é possessão, não amor.
Ou ainda o reconhecimento de que não há nenhum sentido em querer de
algum modo chantagear o amor e o sexo como se fosse um bebê.
Quem reconhece estas coisas, primeiro se espanta sobre aquilo, que fez até
agora. Ele fica transtornado, com aquilo de que ele mesmo foi capaz, enquanto
ele continuava a suspeitar e a culpar o outro. A monogamia em nossa zona
cultural é quase sempre um sistema de acusação mútua, no qual a acusação
nos parceiros “sensatos” não ocorre mais na forma de uma clara briga
conjugal, mas sim de uma forma sútil e não verbal. Talvez então a gente tenha
uma enxaqueca, problemas respiratórios ou anorexia ou obesidade. Em lugar
das brigas constantes surgiu o silêncio permanente. E porque também isto é
difícil de suportar com o tempo, existem ocasionalmente declarações, terapias
de casais, seminários para questões de casais e outras coisas edificantes, com
as quais o velho carro é mantido andando.
157
conhece e neste sentido vive à margem do outro. A gente sabe muitas coisas
bonitas um do outro, a gente sabe quanto açúcar o outro coloca no café ou
quando ele tem seus momentos ruins. A gente aprende diplomacia e
consideração com o outro e pensa que a gente se conhece, até que um dia a
gente se vê surpresa e sem compreender diante de coisas, que a gente jamais
previu. Nossos pais dividiram sua vida um com o outro, deitaram-se lado a lado
todas as noites. Mas eles se conheciam? E quando então um dos dois faleceu,
será que sabiam quem era aquele, que se foi? O casamento era
frequentemente como uma camada grossa e confiante de coisas cotidianas,
que se colocava sobre as coisas reais.
158
A confiança é o remédio do corpo
A confiança não é uma categoria moral, mas sim biológica, que começa
imediatamente a curar os processos transtornados do corpo. As feridas muito
antigas do medo, as contrações psicossomáticas permanentes, os
congestionamentos de energia e as inflamações são resolvidas totalmente por
meio de uma única situação de confiança (podem, no entanto, ressurgir quando
a situação passar).
Nós não podemos gerar uma confiança permanente entre pessoas, entre
crianças e adultos, mulheres e homens por meio de preceitos morais ou
159
religiosos, mas apenas quando procedemos uns com os outros conforme a
verdade, principalmente na esfera intima, na qual a mentira como diplomacia
de vida já se transformou em um costume enraizado. Proceder segundo a
verdade na área do sexo e do amor é uma inovação cultural e uma descoberta,
com a qual nós estaremos em condição, de acabar com nossa doença. Eu me
refiro à doença que todos têm. A gente deveria parar de correlacionar tão
rapidamente empréstimos de outras culturas e religiões, porque para proceder
segundo a verdade a gente não precisa de nada mais do que nossa mente e
nossa vontade. Nós podemos nos ocupar com culturas indígenas, mas não
podemos esquecer que a confiança se tornou para nós uma questão sexual.
Nós podemos aprender sabedorias tibetanas ou taoistas, mas não podemos
esquecer que a questão da confiança precisa ser trabalhada em contatos
concretos entre as pessoas e não no Nirvana. Nós podemos continuar com a
alimentação sadia ou com a macrobiótica, mas não podemos esquecer que o
pão do amor tem um sabor bem diferente. Nós podemos continuar a ouvir a
voz dos sábios, mas com isto não deveríamos ignorar que nós somente
podemos alcançar a verdade e a beleza do amor, quando seguirmos a voz do
próprio corpo, do próprio coração e do próprio pensamento. Que todas as
abordagens da nova era vindoura sejam plenas de sentido, se não servirem
mais uma vez à repressão. Mas a verdadeira transformação e salvação de
nossa vida poderá e acontecerá, com segurança, quando Eros e a confiança, o
sexo e a verdade, a sensualidade e a amizade se unirem. Quando não
tivermos mais de nos defendermos, nós poderemos seguir adiante juntos. Esta
força gera confiança também nos outros.
160
Um outro conceito de fidelidade
161
o outro faz e o que ele não faz. A fidelidade requer, que a gente tenha se
conhecido. Quando a gente se conheceu e continua a se amar, então a gente é
fiel um ao outro. A gente também não se deixa confundir através das fraquezas
evidentes do outro, porque a gente sabe, que ele para isto também deve ter
tido seus motivos (mesmo que estes talvez sejam falsos). A gente critica, mas
está disposta de coração ao perdão, quando o engano é reconhecido. A gente
não tem nenhuma relação jurídica um com o outro e está muito distante de
sentimentos de vingança. Não existe nenhum ressentimento em uma relação
assim. A fidelidade está no processo de um desenvolvimento mútuo, muitas
vezes durante um longo tempo, e não imediatamente no início. A fidelidade é
um sentimento de amor e de absoluta união; mas ela é também um processo
ativo da vontade e um sim ativo ao parceiro: Com esta pessoa eu quero
conviver, eu não quero mentir para ela, eu quero apoiá-la e servir ao seu
próprio desenvolvimento, tão bem quanto eu puder. Eu quero reconhecer
diariamente minhas negligências em relação a ela e superá-las, quero levar
com ele uma vida sexual, que não caia na rotina. Eu quero cuidar para que
haja sempre tensão suficiente e distância ocasional em nossa relação, para
que possamos constantemente nos reencontrar. Eu quero tomar as decisões
importantes de minha vida com ela, e estou convencido no fundo de minha
alma, de que nós nunca nos separaremos.
É mais ou menos assim que a voz da fidelidade fala, quando vem de um amor
livre. Nossos avós também teriam gostado de falar assim. Mas eles não
podiam, porque através de sua exclusividade sexual foram impedidos ao amor.
Quando alguns deles, mesmo assim envelheceram mais ou menos felizes
juntos, então não foi por causa de seu equivocado juramento de fidelidade,
mas apesar dele. A fidelidade como é descrita acima, se desenvolve na maioria
dos casos entre duas pessoas, homem e mulher, mas ela nunca se deixa
limitar a estas duas pessoas, e também não exige isto. Ela contém em si
mesma um modelo de amor por todas as pessoas, que a gente realmente ama.
Ela tem em si o objetivo e a força, de entrar em contato semelhante com todas
estas pessoas. O amor entre eu e minha companheira de vida é para mim há
muito tempo um modelo para todos os outros relacionamentos, que me são
importantes. O antigo juramento de fidelidade, no qual duas pessoas durante
162
toda sua vida só desejavam se relacionar sexualmente uma com a outra, é
uma violação elementar de um dos maiores e sensatos princípios do amor: O
de que ele a partir de seu foco gostaria de se espalhar em todas as direções.
163
A despsicologização do amor
164
refletia em como libertar sua perna do laço, mais impossível isto se tornava
para ele. Sem perceber ele fornece constantemente novo alimento à sua
situação insolúvel, porque na realidade ele não se concentra na ideia da
libertação, mas na amarra que o prende. Ele “psicologiza” sua situação e tenta
solucioná-la neste estado, em vez de tentar a solução a partir de um aspecto
que esteja livre de seu problema.
O homem não é uma mistura de seus problemas, ele apenas se identificou com
eles sem saber; ele fala bem pessoalmente de “si” e com isto pensa em suas
histórias pessoais e assim ignora a fonte, com a qual ele poderia solucioná-los.
A “alma” também não é a soma de nossas coisas psíquicas, mas sim o espaço
livre interior, que nos preenche quando encontramos coisas maiores. A mente,
que se fragmentou nos milhares de pequenas excitações e reações, tem de ser
primeiro reencontrada na experiência, à qual ela se agrega. Então ela não se
expressa no vai-e-vem dos sentimentos, mas na presença de uma maior
percepção. Todos nós fazemos ideia do que se diz aqui. Quando nós, fora dos
empreendimentos diários, adentramos a zona do silêncio interior, da
suspensão do diálogo, da reflexão e talvez do amor, então o mundo se
aproxima de nós de uma maneira desconhecida e familiar por uma fração de
segundos. E por segundos ocorre neste ponto de contato a experiência
inequívoca, na qual os códigos de nosso universo se tornam claros e
transparentes, no qual todos os sentidos se aguçam, porque alguma coisa em
nós se enche de intuição, expectativa, surpresa e gratidão. Estas são as
verdadeiras emanações da mente, a linguagem da fonte, que nós entendemos
outra vez e devemos manter, para depois de todos os descaminhos do espírito
voltar “à coisa”. A coisa continua sendo o mistério e o abalo original, que nós
designamos com a palavra “amor”.
Nós encontramos esta experiência muitas vezes apenas por alguns segundos,
até que ela é encoberta novamente pelas nuvens do cotidiano. Se nós
quisermos tê-la permanentemente, e este é o objetivo de nossa viagem, então
precisamos de novos espaços para a comunicação sem dissimulações
calculadas, para a verdade sem denunciação, para o desejo sexual sem medo
do julgamento do outro. Eros tem o poder, de libertar a mente e o corpo da
limitação psíquica. Mas para que ele possa realizar isto, temos de entender
165
seus princípios. Então ele vem por si mesmo, quando o caminho está livre para
ele.
166
Criar espaços para um novo encontro dos gêneros
167
conferência, pousadas, terrenos à margem de lagos, hotéis ou outras
construções com estacionamentos grandes, navios para cruzeiros, lugares no
Sul, ilhas etc.
Para fornecer uma impressão mais viva, de como a vida poderia ser lá e qual é
o objetivo da coisa, eu gostaria de citar alguns trechos do livro “Salvem o Sexo
– um Manifesto das Mulheres por um Novo Humanismo Sexual”. Nele é
descrito – como parte de uma ficção científica – um Projeto Eros semelhante:
168
encontram, já por meio desta estada, revelaram que eles desejam contato
sexual ou em todo caso não desejavam excluí-lo. E assim várias vezes foi
excepcionalmente claro e fácil quando duas pessoas se encontravam. Então
uma teria perguntado provavelmente à outra: ‘Será que eu poderia ser um
parceiro para você?’ ou: ‘Eu posso te satisfazer um desejo?’ Ele ou ela saberia
então, o que se queria dizer com isto e diria ‘sim’ segundo a situação e a
simpatia: ‘Sim, com prazer’ ou: ‘Obrigada pelo interesse, mas eu estou a
procura de outra pessoa’. Então a gente seguiria adiante e indagaria a próxima
pessoa atraente, se assim o quisesse. As pessoas de São Diego, os
renascidos, foram espantosamente fáceis neste ponto. E de algum modo todos
os dias neste local foi possível sentir uma alegria antecipada, porque cada um
sabia, que receberia aquilo que desejava. Nós quase poderíamos dizer que
todos eles, de uma determinada maneira foram satisfeitos; todos estavam
certos da realização sexual e por este motivo não tinham tanta pressa. Um
único encontro não tinha a carga e o significado psíquicos como na vida
anterior. As pessoas podiam se encontrar na Taberna ou na casa de chá
chinesa, podia falar sobre Zen Budismo ou Antroposofia. A gente podia mesmo
nas conversas mais interessantes olhar para a blusa da parceira. A vibração
sexual não bloqueia mais a conversa e o pensamento. Pelo contrário. Através
da conjugação em pensamentos na alegria sexual antecipada, e através da
alegria sexual antecipada a conversa se eleva. O quanto a gente foi
antigamente sempre distraída através do desejo não saciado! Quando um
homem tem uma mulher diante de si e fala sobre Deus e o mundo, então ele
fixa com seu olhar interior apenas seus seios ou suas nádegas e tudo que
estiver sob suas roupas. A mente está em um lugar diferente das palavras.
Como era fácil agora, no mesmo momento, satisfazer e saborear igualmente
estes dois polos da vida, o intelectual e o sexual. Na verdade, estas duas
forças estavam em menor oposição uma à outra, e agora podiam se unir muito
mais... Foi interessante observar, quais os parceiros sexuais que foram
procurados e escolhidos por qual pessoa. Foi, por exemplo, interessante ver
como os homens jovens gostavam de se dirigir às mulheres mais velhas e
maduras e como estas mulheres maduras ficavam felizes em ‘transar’ com
estes homens jovens, em aceita-los dentro de si. De um momento para o outro
as diferenças de idade tiveram significado sexual positivo. Foi surpreendente e
169
na verdade não surpreendente como foi fácil para estes jovens recém
chegados se sentirem bem no Instituto e com que facilidade eles utilizaram as
possibilidades existentes, com que facilidade moças de dezesseis anos
encontraram confiança e alegria em todo o estabelecimento; com que timidez e
apesar de tudo facilidade elas podiam se dirigir ao parceiro de amor desejado.
Não houve de modo algum antes ou depois, estes pensamentos
preconceituosos, dos quais a gente tinha de se proteger. Não havia neste local
quase nenhum preconceito ou punição. O sistema vivia segundo um princípio
bem simples de regeneração e compreensão instantaneamente humano. O
interessante neste contexto foi também o desenvolvimento medicinal do
Instituto San Diego. Homens e mulheres que estavam a murchar, floresceram,
os corpos sararam, eles se tornaram roliços ou retesados, segundo a
disposição. Foi a felicidade sensual e a realização sexual, que provocou um
estado de cura, que estava além de todas as possibilidades terapêuticas até
então. E isto foi basicamente natural, ninguém se espantou com isto. É claro
que uma mulher de cinquenta anos floresce mais uma vez, também uma
mulher de setenta anos, quando pode entrar outra vez em uma existência
sexual realizada. É claro que um jovem de dezessete anos também floresce,
quando pode chegar a uma mulher madura, e vivenciar sua sexualidade com
ela. Aconteceu por si mesmo um processo de cura que era familiar a todos os
envolvidos. O surpreendente foi apenas, que a gente talvez secretamente
inconsciente e intuitivamente sabia ou pressentia que isto de fato aconteceria.
O novo aqui encontrado foi simplesmente a alegria de viver.”
170
respeito das questões intelectuais da época, à noite eles deitam nas camas
com o corpo quente e pensam em algo bem diferente. Aqui seria dada a uma
pessoa uma possibilidade concreta de desenvolvimento interior em uma
direção bem diferente.
Mas em um centro para o amor sexual livre não se trata apenas da juventude,
mas sim de todas as faixas etárias. O tema sexual se aguça frequentemente
em uma idade, na qual sob as condições habituais de nossa sociedade existem
poucas possibilidades de contato apropriadas. Tomemos mais uma vez as
mulheres acima de quarenta. Elas ainda são jovens, a maioria já teve pelo
menos um casamento ou diversos relacionamentos fracassados atrás de si e
agora estaria verdadeiramente livre para um novo começo. A sexualidade está
em plena forma, mas faltam as oportunidades, que a gente poderia saborear
sem arrependimento. Como poderia afinal uma sociedade no sentido humano
funcionar, quando um quarto de sua população na melhor idade, vive
obrigatoriamente sem sexualidade? Se a gente já foi tão livre para instituir o
“Baile dos corações solitários” então a gente também deve prosseguir e ainda
dar um ou dois passos e criar grandes centros, que possam ser adentrados
sem embaraços por todos, não importa se seu coração no momento está
solitário ou não, tanto faz também, se estas pessoas procuram o parceiro para
a vida ou para algumas horas prazerosas.
Nós já reconhecemos há muito tempo, que nem o casamento nem o bordel são
soluções para o problema sexual existente. Existem muitos casamentos, que
estão no fim, mas nos quais os dois parceiros não querem simplesmente se
separar, seja pela responsabilidade pelos filhos ou seja porque eles de fato
algum dia se amaram. Eles poderiam visitar este lugar e trazer ao seu coração
uma nova alegria. Através da nova abertura para o exterior se abre
frequentemente também um novo canal para o outro. Eles não precisam se
decidir aqui a favor ou contra o casamento, mas eles ganham um novo material
de experiência, que poderia novamente tornar seu conflito e sua amizade
interessantes. Muitos amantes se separam simplesmente porque não veem
mais nenhuma possibilidade. Se eles vissem uma, então não estariam nestas
imposições exaustivas de decisão, eles poderiam ativamente se conceder mais
tempo.
171
Não é necessário explicar adicionalmente, que a construção destas instalações
para a libertação do amor vem de encontro aos desejos secretos de
incontáveis homens e mulheres. Seria um verdadeiro projeto do século.
Quando se tornar conhecido, que a coisa é verdadeira e que não é nenhum
empreendimento comercial de fachada, a gente deveria se preparar para uma
pequena migração popular. Em uma ilha do sul ou em algum outro lugar
selecionado uma Meca do amor, a realização de um sonho muito antigo, mas
com a vontade definitiva, de solucionar o tema do amor sexual e da
necessidade sexual em nossa época de uma forma interessante e humana.
Projetos para um novo humanismo sexual, projetos pilotos pioneiros para um
futuro mais bonito.
172
Sexpeace e Greenpeace – paz entre sexos e paz com a
natureza
A vida em nosso organismo individual e a vida na biosfera que nos cerca são
construídas por uma energia homogênea: a energia vital universal. No decorrer
173
de sua história de descoberta ela teve muitos nomes, Chi, Mana, Prana, Orgon,
etc., e ela foi descrita sob diversos aspectos, no entanto em sua maioria (com
exceção de Wilhelm Reich) não sob o aspecto sexual. Mas a energia sexual é
um aspecto principal da energia vital universal no interior do organismo. A
energia vital aparece em diferentes estados de reunião da estabilização ou do
refinamento. Ela tem efeito sobre nossos processos sexuais assim como sobre
os processos emocionais e intelectuais e decide sobre a saúde ou a doença de
nosso organismo. Ela atua sobre os processos exteriores do crescimento, da
formação, dos processos circulatórios gerais e da formação do clima. Ela dá
forma à atmosfera psicológica assim como à atmosfera meteorológica.
Mudanças climáticas espontâneas em acontecimentos psíquicos fortes tocam
nesta relação. Toda a biosfera possui um sistema energético homogêneo, um
sistema informacional homogêneo no código genético e um sistema material
homogêneo nos elementos químicos e suas propriedades. Além disso, ela
possui aparentemente uma capacidade monstruosa de preservação e – em
consequência de sua força própria de autoreparação – uma forte força
inesgotável de regeneração. Se não fosse assim, não haveria mais nenhuma
semente, nenhum canto e nenhum sorriso depois de tudo que lhe fizemos
durante milhares de anos. Mas a destruição no exterior, a devastação dos
grandes biótopos e espaços de vida naturais, a extinção de grandes
populações e espécies, a poluição atmosférica e o envenenamento dos lençóis
freáticos, a criação de animais para a pelaria e o abatimento dos animais de
corte, a pesca da baleia e a morte das focas etc., e a destruição no interior, as
crises de sentido e o medo de viver, a perda da capacidade de viver e as
doenças psicossomáticas de todas as espécies resultam juntas em uma
sobrecarga do organismo global, que ele não pode mais suportar por muito
tempo. A crise do meio ambiente e a crise interior são dois lados de um
problema conjunto e somente podem ser compreendidas e talvez ainda
solucionadas em uma visão holística.
174
sociedade futura terá de continuar a permanecer desumana ou se ela pode se
tornar humana, se as crianças desta sociedade crescerão felizes ou infelizes,
continuará a depender de como o ser humano trabalha e soluciona suas
questões interiores. Por este motivo estas questões internas são o tema
principal da humanidade atual – e no interior destas questões está hoje o tema
número um. Em nossas zonas culturais adoecem e morrem atualmente muito
mais pessoas por sexualidade e por amor não resolvidos, do que por todas as
outras doenças da civilização juntas. A espécie humana arruinou o mundo, mas
ela arruinou a si mesma principalmente através de todos os processos
constantes contra a própria energia sexual e espiritual. Todos os sorrisos
Blendax não podem mais encobrir este fato.
“Subjuguem a Terra!” Esta frase bíblica moldou até hoje como quase nenhuma
outra a imagem da Terra. O ser humano empreendeu de fato a tentativa
gigantesca de subjugar a Terra, ao se voltar contra ela e a natureza com os
recursos de uma inteligência mecânica e uma técnica brutal dirigida à quebra
de resistências (em vez de ressonância). Assim surgiram métodos de
exploração, de opressão, de dominação violenta, que ele instituiu não apenas
contra seus semelhantes, mas contra a criação e todos os seres, porém não no
sentido da jardinagem, cuidado e controle positivo e sim no sentido da
destruição. Foram técnicas para a quebra de resistência, ou seja, técnicas de
dominação e não técnicas de cooperação com as energias e forças vitais da
criação. Este pensamento que foi dirigido à quebra de resistências, foi utilizado
na educação de crianças, na formação dos jovens, na criação de animais, na
derrubada de florestas, no nivelamento de rios e em todos os métodos de
guerra e de genocídio. Através deste pensamento o ser humano caiu em um
relacionamento de violência estrutural consigo mesmo e com o mundo. Ele
ignorou as leis da biosfera com suas circulações ecológicas, com suas
sutilezas esféricas, suas emanações espirituais suas milhares de formas de
vida – e ele colocou em seu lugar o poder da violência. Ele criou sistemas
científicos, morais e religiosos que estão em contradição com o modo funcional
dos viventes, com o modo funcional da energia universal e com o modo
funcional de Eros. Quando uma criança abandonada tem de encontrar novos
desvios para o amor e a atenção e por isto recebe punições morais ou físicas,
175
surge uma violência estrutural. Quando sua curiosidade e seu impulso de
brincar são reprimidos por um pensamento unidimensional e racional dos
adultos, se desenvolve violência estrutural. Quando a sexualidade e o amor
são compelidos aos parágrafos muito limitados, aos relacionamentos
monógamos muito fechados e às relações de fidelidade, emerge violência
estrutural. Quando a experiência religiosa fundamental de uma pessoa é
aprisionada em dogmas da igreja, ocorre violência estrutural.
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energia espirituais e intelectuais do mundo não são limitadas às pessoas. Elas
têm efeito rudimentar sobre todas as criaturas. Existem em todas as criaturas
qualidades básicas elementares, que nós podemos denominar de amor ou de
violência. Qual das duas será dominante na vida real depende das
circunstâncias de vida, sob as quais os indivíduos e seus grupos têm de
construir sua existência. Se construirmos relacionamentos de produção da
violência, criaremos violência. Se construirmos relacionamentos de produção
da confiança, então geraremos confiança. O código genético, a informação
fundamental de todos os viventes, permite ambas. Reconhecer este fato e
utilizá-lo em uma direção livre da violência, só pode ser uma tarefa do ser
humano, porque o Homem é o olho da criação e o órgão refletor da vida, com o
qual ele pode ver a si mesmo. O ser humano pode hoje reconhecer estes
contextos, dos quais ele vem e que ele sempre reproduz de um modo ou de
outro. O ser humano é a fonte da violência política, ecológica e sexual. E por
isto ele é também a fonte de sua superação.
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for tocado por estas forças se cura sozinho. Uma biosfera que fosse
preenchida por estas forças também passaria por um processo curador
semelhante. A criação de sistemas de vida livres do medo, nos quais as forças
da confiança e da cura pudessem crescer é um projeto de pesquisa e tarefa
futura de importância planetária.
Uma vez durante uma ação de panfletagem junto com um grupo de artistas nós
criamos a frase: “Na busca pelo contato sexual são queimados diariamente
tantos litros de gasolina, que a libertação da sexualidade já deveria ser exigida
por razões ecológicas.” A ideia que é expressa aqui, se deixa livremente
expandir até nossa relação contemporânea de consumo e à indústria de
produtos de consumo. Elas servem à substituição da felicidade perdida e da
vida não vivida na área do amor. Imaginemos o contexto de forma positiva,
imaginemos, que as pessoas possam conviver sem medo, mentira e
desconfiança; elas não teriam nenhuma velha proibição, que as impedisse no
amor; elas teriam uma vida reconhecida, sensual e criativa; elas teriam
principalmente realização sexual, cada uma em seu nível, sem ter de esconder
178
a metade de seus desejos; elas teriam inteligência suficiente e possibilidades
técnicas para a aventura da pesquisa e desenvolvimento em todas as áreas do
universo e da Terra; elas fariam uma descoberta depois da outra para as
questões de energia, alimentação, reciclagem etc. – em resumo, elas teriam
interior e exteriormente uma vida realizada e não seriam mais dependentes de
nenhum substituto de experiência, de nenhum substituto de vida:
Para finalizar ainda algumas palavras sobre as coisas simples, que nós
pensamos: Um jovem, que acabou de amar uma jovem, poderia torturar um
coelho? Um funcionário do Ministério para a Segurança do Estado (Stasi), que
encontrou a confiança no amor, continuaria a ser um funcionário do Stasi?
Erich Honecker teria podido dar sua ordem de atirar, se seu corpo estivesse
preenchido de amor? Poderia uma mulher, que através da experiência do amor
sensual tivesse entendido a criatura sofredora, usar um casaco de pele? Um
casal de amantes que acabou de transar na praia poderia sujá-la com lixo?
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o amor e a destruição se excluem irreversivelmente. O amor sexual liberado é,
quando é bem aceito, o amor a todas as criaturas. Que a mesma dedicação,
que hoje é empregada na luta pela paz da natureza, esteja preparada com uma
paixão redobrada para a realização da paz entre os sexos.
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Um Lar para as Crianças
Mas, o que quer dizer felicidade das crianças? O que é uma criança? Quais
são os seus talentos, que nós temos de ver e apoiar, para que elas se tornem
pessoas livres e realizadas?
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atual amem seus filhos. Entre os afazeres cotidianos dos adultos e a criança,
que entre as pernas dos adultos descobre seu mundo, quase não existe uma
união espiritual e percepção. Mas é exatamente esta percepção que além de
todos os estados emocionais gera um amor muito mais profundo e segurança
para a criança. Amar uma criança significa reconhecê-la. Isto se aplica a todo
amor verdadeiro por uma pessoa. No lugar em que a criança é amada neste
sentido, ela tem seu lar, mesmo que alguma vez as coisas andem um pouco
ásperas. Ela não exige então outras provas de amor, porque ela vive sem o
medo da separação. Esta talvez seja a base de todo lar verdadeiro: que a
gente no íntimo não tenha mais de temer nenhuma separação. Amor sem
medo da separação.
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Eros Liberto
Imagina que você acorde uma manhã e perceba, que não existe em você mais
nenhum medo e nenhum ódio. Você se recorda das costumeiras preocupações
dos últimos anos, mas você não as tem mais. O passado está em você como
um tesouro de experiência e conhecimento, porém não mais como emoção e
como algum tipo de fonte de dor. Você se lembra de seus amigos e
relacionamentos, de experiências felizes e infelizes, mas você não precisa mais
se defender por nada, porque nada mais te ameaça. Você vê seus antigos
amigos e antigas amigas da mesma forma que antes, quando você os amou, e
você percebe, que na verdade ainda os ama. Você se alegraria em vê-los de
novo, porque toda implicação de medo, de culpa, e de autojustificativa e de luta
não existem mais em você. Você se recorda exatamente e sabe o que
aconteceu, mas em teu espírito e em teu corpo não existe mais medo e
também nenhum ódio, porque este somente surgiu por causa do medo. Você
vê claramente todas estas relações, mas você não fica ruminando sobre isto,
porque agora não existe nada mais para explicar, para solucionar ou para
problematizar. O sol nascente te encontra sobre a neblina de teus problemas.
Você agora está preenchido por este mundo luminoso, que se manteve até
hoje imperturbável. Um sentimento inominável de gratidão e de amor te
preenche tanto, que até mesmo o cigarro, que você teria acendido como de
costume, lhe parece estranho; de algum modo você conhece este estado de
saúde perfeita; é maravilhoso que ele agora – depois de anos e séculos de luta
– esteja de volta.
Estes são momentos em nossa vida, nos quais a visão de outra possibilidade
de existência se ilumina em nós e não podemos tão facilmente voltar à ordem
diária. O vivenciado é realidade. Existe uma vida sem medo; ao lado de toda
fragmentação existe um mundo saudável, existe o estado de graça do amor. O
universo de todas as coisas é estabelecido de tal modo, que nos oferece esta
possibilidade. Todos os que vivenciaram este estado, podem provar isto. Existe
uma percepção nas quais as coisas se aproximam de nós como um presente.
Eu desço até a cafeteria e peço um café. Em geral eu não teria reparado na
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garçonete, mas agora eu a percebo. É uma alegria nos cumprimentarmos; é
uma felicidade estar sentado neste local. Aqui são construídos por acaso e sem
esforço os mais simples contatos humanos. Não é difícil imaginar como um
contato poderia continuar no tumulto do dia-a-dia. Onde não existe mais medo,
também não há nenhum desejo devastador e nenhuma necessidade à moda
antiga e nenhuma compulsão à reação. A gente irradia alguma coisa, que
protege e nesta proteção a gente age com uma leveza que supera todas as
barreiras. Mesmo diante dos mais atraentes representantes do outro sexo.
Quando não existe mais nenhum medo e mais nenhuma barreira, então surge
o puro contentamento. O quanto nós tivemos de problematizar quando se
tratava de iniciar contatos eróticos! Agora ele acontece por si mesmo, sem
nenhuma intenção excepcional. Um ditado oriental diz: As dificuldades são
vencidas pela leveza. Quando esta leveza existe, as dificuldades desaparecem.
Então o mundo se revela em todas as suas possibilidades verdadeiras. A
dificuldade tem a ver com peso e nós somos pesados, quando sentimos uma
energia correspondente. Mas agora, quando esta energia já não se encontra
mais em nós, nos colocamos sólidos e seguros fora desse mundo de
projeções. A gente também não tem nenhuma razão para a raiva, porque em
um estado amoroso a gente não julga ninguém, a gente não precisa de
nenhum impulso de raiva, porque a gente tem a liberdade de agir sem medo.
Se eu agora vir uma mulher que me agrada, então eu pensarei na coisa certa.
E se ela, por medida de segurança, me ignorar, eu posso aceitar sua reação
sem abatimento pessoal. Eu não preciso encontrar nenhuma desculpa e
nenhuma justificativa. Eu gostaria de lhe dizer, que ela me agrada
sexualmente, isto é tudo. Eu sei exatamente, que ela preferiria ouvir nada a
isto. Mas eu posso continuar a viver saudavelmente, se ela apesar de tudo
disser não. Talvez dê certo mais tarde. Eu não preciso mais reagir
emocionalmente a um não, porque eu vejo por trás disto sua temática
individual, seu desejo oculto e sua expectativa. Ela é como eu, apenas de
maneira inversa. Ela precisa assim como eu da situação de leveza, para aceitar
minha oferta de contato com alegria. Eu colho uma margarida e a coloco em
seu decote.
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tão sozinha quanto você? Não é estranho passar um pelo outro sem dizer
palavra? A gente não tem depois disso uma sensação ruim, quase uma
consciência pesada? Em um mundo livre a gente não teria simplesmente se
colocado a seu lado, para junto com ela olhar o mar? E se a gente então, nesta
grandeza dos elementos tivesse naturalmente seguido Eros e se ela não
tivesse nenhum homem zangado que esperasse por ela no próximo bar, a
gente depois deveria se arrepender de um contato assim? O mundo todo não
seria um caso de amor, se a gente não o amarrasse em nossas regras
amedrontadas? Muitos homens e mulheres não poderiam olhar o mundo com
olhos felizes, se contatos deste tipo fossem naturais e claros? Em que pensa a
mulher que se deita com suas formas opulentas em sua espreguiçadeira? Eu
posso convidá-la ou eu posso lhe satisfazer um desejo? Eros liberto vive de
ações deste tipo, também de pequenos gestos. A gente precisa realmente
apenas pagar para a caixa do supermercado? Eu tenho de continuar a ocultar,
que eu percebo seu pescoço e seus seios? É claro que não se trata
imediatamente de ir para a cama, mas se trata do distanciamento das trancas
interiores, que impedem o verdadeiro contato humano e sensual. Em todo
canto, em todo lugar. Nós nos acostumamos tanto à dissimulação que a gente
quase não percebe isto. Nós construímos uma aparência, que nos impede de
viver e de amar. Nós vivemos em um verdadeiro mundo de aparências.
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nos admiramos com a redução da vida, que nós sentíamos como “normalidade”
nas velhas estruturas de fechamento e ciúme. Esta espécie de revelação é
como um milagre, e o mais crível deste milagre é que nós já o conhecíamos em
nosso intimo. Despertos em uma maior possibilidade de existência nós vemos
as ideias e as imagens, que nos são tão familiares como nós mesmos.
Não existe anseio maior e nenhum amor maior do que entre os sexos. E os
sexos, homens e mulheres, se encontram em todo lugar. Mas eles são
compelidos no mundo do Eros aprisionado a se comportar como se não fosse
nada. Na realidade isto é tudo. Sempre e em todo lugar este é o tema absoluto.
Ele não começa quando nós encontramos um homem ou uma mulher para a
vida, e também não acaba nunca com este fato. O tema da atração sexual é o
tema do ser humano, enquanto ele estiver dividido em homens e mulheres, e
assim continuará. Nós temos de nos harmonizar em nome do amor com o fato
elementar de que somos seres sexuais. Em nome do amor, nós temos a tarefa
de libertar a sexualidade de todo o lixo e de toda a maldade para que ele possa
realizar aquilo que é sua intenção: A alegria dos sexos um com o outro e o
renascimento do amor em nosso planeta. Em nome do calor humano para tudo
que tenha pele e pelo e em nome de todas as crianças.
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Bibliografia
Renate Daimler: Verschwiegene Lust. Frauen über 60 erzählen von Liebe und
Sexualität.(Kiepenheuer & Witsch)
Madjana Geusen: Der Heilige Gral des Manenes ist die Frau (Editora Meiga)
Sabine Kleinhammes (edit.): Rettet den Sex. Ein Manifest von Frauen für einen
Sabine Lichtenfels: GRACE. Pilgerschaft für eine Zukunft ohne Krieg (Editora
Meiga)
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Beate Möller (edit.): Die Heilige und die Hure (Editora Meiga)
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