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Júri
Presidente: Prof. Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira
Orientador: Prof. Júlio António da Silva Appleton
Vogal: Prof. Joaquim da Conceição Valente
Outubro 2008
Resumo
i
ii
Abstract
Fire resistance of reinforced concrete structures is very good when compared with the
other structural materials. The non-combustible and low conductivity of concrete makes it
one of the most resistance structural materials against fire.
The evaluation of structures due to the action of fire is normally performed element by ele-
ment, not taking into consideration the interaction between them. However, this phenomenon
is very important because it can cause the anticipate collapse of the structures due to the
increase of shear force in the columns induced by thermal expansion of beams and slabs.
The main objective of this work is to understand the global behaviour of concrete struc-
tures when they are exposed to fire. Hence, it is done a simplified analysis of a building that
suffered a fire, comparing the results with those verified in-situ.
There is also a reference to the most common damages on concrete structures that are
exposed to fire, to the residual strength assessment and some ways to repair and strengthening
them.
iii
iv
Agradecimentos
v
vi
Simbologia
D - difusividade térmica;
vii
viii
K - rigidez;
Olim - factor de abertura reduzido em caso de incêndio controlado pela carga de incêndio;
P i - pilar i;
√
b - inércia térmica da parede envolvente b = ρcλ;
cp - calor especı́fico;
fck (θ) - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à compressão à temperatura elevada
θ;
fck,t (θ) - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à tracção à temperatura elevada
θ;
m - factor de combustão;
qf,d - valor de cálculo da densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento;
qf,k - valor caracterı́stico da densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento;
si - espessura da camada i;
tf i,d - valor de cálculo da resistência ao fogo com base no incêndio padrão ISO 834;
tf i,requ - resistência ao fogo requerida regulamentarmente com base no incêndio padrão ISO
834;
w - teor de humidade;
Φ - factor de configuração;
γQ,1 - factor parcial de segurança para a acção variável base à temperatura ambiente (γQ,1 =
1, 5);
δn - factor parcial que tem em conta as diferentes medidas activas de segurança contra
Q10
incêndio i (sprinklers, detecção, alarme, bombeiros, etc.) (δn = i=1 δni );
δni - factor que tem em conta a existência de uma medida especı́fica i de combate a incêndio;
δq1 - factor parcial que tem em conta o risco de activação do incêndio em função da dimensão
do compartimento;
δq2 - factor parcial que tem em conta o risco de activação do incêndio em função do tipo de
ocupação;
ε - porosidade;
εc - extensão do betão;
xi
εs - extensão do aço;
ηf i - factor de redução a aplicar a Ed para obter o valor de cálculo do efetio das acções em
situação de incêndio Ef i,d ;
θ - temperatura; ângulo;
Simbologia xii
1 Introdução 1
1.1 Enquadramento e Objectivos da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Organização em Capı́tulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
3 Acção do Fogo 13
3.1 Acções Térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1 Propagação do calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1.1 Condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1.2 Convecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1.3 Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1.4 Disposições regulamentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.1.2 O incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.3 Curvas de incêndio nominais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1.4 Curvas de incêndio paramétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.1.5 Densidade de carga de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Combinação de Acções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
xiii
xiv ÍNDICE
4.2 Aço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.1 Distribuição de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2 Propriedades Mecânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2.1 Tensão de cedência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2.2 Relações tensões-extensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.2.2.3 Módulo de elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2.2.4 Extensão térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
8 Conclusão 101
Bibliografia 105
xvii
xviii LISTA DE FIGURAS
7.1 Valores residuais das tensões de cedência e rotura do aço para betão armado e
betão pré-esforçado, em função da temperatura máxima atingida [28]. . . . . 86
7.2 Módulo de elasticidade de vários aços após aquecimento a temperaturas ele-
vadas [21]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.3 Propriedades mecânicas do betão de agregado quartzı́tico após aquecimento a
temperaturas elevadas [21]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.4 Tensão de aderência aço-betão após aquecimento a temperaturas elevadas [21]. 87
7.5 Esfoliação do betão - ”spalling”[29]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.6 Influência da tensão de compressão e da espessura da peça no fenómeno de
”spalling”[30]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.7 Encurvadura das armaduras principais em pilares [18]. . . . . . . . . . . . . . 91
7.8 Nı́veis de dano em pilares de betão armado [32]. . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7.9 Reforço de uma laje com malha electrossoldada [28]. . . . . . . . . . . . . . . 97
7.10 Técnicas de reparação de vigas danificadas por incêndio através de reforço com
armadura longitudinal e transversal suplementar [28]. . . . . . . . . . . . . . 97
7.11 Reparação de um pilar danificado por incêndio através de reforço por encamisa-
mento com armadura longitudinal e transversal suplementar [28]. . . . . . . . 98
C.1 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ6mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
C.2 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ6mm, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
C.3 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
C.4 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
C.5 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
C.6 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
C.7 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ20mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
C.8 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ20mm, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
C.9 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço de pré-esforço, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
C.10 Valores da extensão residual de rotura do aço de pré-esforço, com arrefecimento
ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Lista de Tabelas
xxi
xxii LISTA DE TABELAS
6.13 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.14 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.15 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.16 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.17 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 83
Introdução
1
2 1. Introdução
3
4 2. Segurança Contra Incêndios
Recentemente, em Julho de 2006, realizaram-se três ensaios à escala real num edifı́cio de
habitação de 23 pisos, localizado em Dalmarnock, na Escócia. A figura 2.4 apresenta imagens
desse ensaio.
Os ensaios à escala real são de uma enorme complexidade e bastantes onerosos. No entanto,
existe a necessidade da sua realização, não só para alargar o âmbito do conhecimento da
engenharia de estruturas, no que diz respeito à resistência ao fogo, mas também para validar
modelos analı́ticos, para desenvolver novos procedimentos de cálculo e para identificar modos
de rotura crı́ticos de uma estrutura num incêndio [4].
Em Portugal, só a partir de 1988, após a ocorrência do incêndio dos Armazéns do Chi-
ado na Baixa de Lisboa, é que surgiu a primeira regulamentação relativa à segurança contra
incêndios em edifı́cios. De acordo com este regulamento [5], as construções devem ser pro-
jectadas e construı́das de forma a que, na ocorrência de um incêndio, sejam verificadas as
seguintes condições [3]:
Figura 2.3: Ensaio à escala real num edifı́cio de 7 pisos, em estrutura de betão armado, BRE,
Cardington, Reino Unido [6].
2.1. Considerações Gerais 7
Figura 2.4: Ensaio à escala real num edifı́cio de 23 pisos, em estrutura de betão armado,
Dalmarnock, Escócia [7].
8 2. Segurança Contra Incêndios
De acordo com o Artigo 4.o de [5], no caso de elementos em que se exija apenas a função de
suporte, como é o caso de vigas e pilares, admite-se que esta deixa de ser cumprida quando,
no decurso do processo térmico referido se considera esgotada a capacidade resistente do
elemento sujeito às acções de dimensionamento (exigência de estabilidade). Neste caso, o ele-
mento é classificado de ”Estável ao Fogo”, qualificação representada pelo sı́mbolo EF, durante
o tempo em que satisfaz tal exigência. Para os elementos em que se exija apenas a função
de compartimentação, tais como paredes divisórias, admite-se que esta função deixe de ser
cumprida quando, no decurso do processo térmico referido, se verifique a emissão de chamas
ou gases inflamáveis pela face do elemento não exposta ao fogo, seja por atravessamento ou
produção local devida a elevação de temperatura (exigência de estanquidade), ou quando no
decurso do mesmo processo térmico se atinjam certos limiares de temperatura na face do ele-
mento não exposta ao fogo (exigência de isolamento térmico). Neste caso, quando se considera
apenas a exigência de estanquidade, o elemento é qualificado de ”Pára-Chamas”, qualificação
representada pelo sı́mbolo PC, durante o tempo em que satisfaz tal exigência. Quando se
consideram simultaneamente as exigências de estanquidade e de isolamento térmico, o ele-
mento é qualificado de ”Corta-Fogo”, qualificação representada pelo sı́mbolo CF, durante o
tempo em que satisfaz esta dupla exigência.
Figura 2.5: Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [1].
Tabela 2.1: Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [3].
Qualificação
Exigência
EF - Estável ao Fogo PC - Pára-Chamas CF - Corta-Fogo
Estabilidade Sim Sim Sim
Estanquidade às
Não Sim Sim
chamas e gases
Isolamento térmico Não Não Sim
O Artigo 4.o de [5], refere ainda que a classificação dos elementos estruturais ou de com-
partimentação do ponto de vista da sua resistência ao fogo compreende, para cada uma das
três qualificações anteriores, nove classes, correspondentes aos escalões de tempo a seguir
indicados, em minutos, pelo limite inferior de cada escalão:
Será lançado brevemente, por parte do Ministério da Administração Interna, o novo Reg-
ulamento Geral de Segurança Contra Incêndios em Edifı́cios (RG-SCIE), encontrando-se já
disponı́vel uma versão projecto [8]. Este regulamento estabelece condições de segurança con-
tra incêndio a aplicar a todas as utilizações de edifı́cios, bem como a recintos itinerantes ou ao
ar livre, completando assim o anterior regulamento. Este documento engloba as disposições
regulamentares de segurança contra incêndio aplicáveis a todos os edifı́cios e recintos, dis-
tribuı́dos por 12 utilizações-tipo, cada uma delas classificada em 4 categorias de risco, a que
correspondem exigências de segurança crescentes. Esta classificação é diferente para cada
utilização-tipo, e tem em consideração factores como a altura, a área, o efectivo e a carga de
incêndio. São considerados não apenas os edifı́cios de utilização exclusiva, mas também os
edifı́cios de ocupação mista.
• Eurocódigo 2, Parte 1-2 - Cálculo Estrutural ao Fogo [10], onde se estabelecem regras
para o cálculo da capacidade resistente de estruturas de betão armado e pré-esforçado
em situação de incêndio e se definem as propriedades térmicas e mecânicas do betão e
das armaduras em função da temperatura;
10 2. Segurança Contra Incêndios
• Eurocódigo 1, Parte 1-2 - Acções em Estruturas Sujeitas a Incêndio [11], onde se faz a
caracterização das acções térmicas.
De acordo com a parte 1-2 do Eurocódigo 2, a resistência ao fogo de uma estrutura pode
ser avaliada segundo cinco nı́veis de complexidade crescente [12]:
• verificação da resistência ao fogo, que pode ser feita em três domı́nios diferentes (figura
2.7):
1. no domı́nio do tempo:
tf i,d ≥ tf i,requ (2.1)
2. no domı́nio da resistência:
3. no domı́nio da temperatura:
onde,
1 - Domı́nio do tempo.
2 - Domı́nio da resistência.
3 - Domı́nio da temperatura.
Acção do Fogo
No cálculo estrutural ao fogo é necessário definir dois tipos de efeitos: térmicos e mecânicos.
Os primeiros, que dependem sobretudo das caracterı́sticas dos elementos expostos e da en-
volvente do incêndio, avaliam a evolução da temperatura nos elementos e estão definidos na
Parte 1-2 do Eurocódigo 1. Os segundos, dizem respeito à combinação de acções a considerar
no cálculo estrutural, envolvendo não só as acções permanentes e variáveis habituais, mas
também as consequências das acções térmicas nos elementos estruturais, estando definidos na
EN 1990 e nos vários Eurocódigos especı́ficos para cada tipo de material estrutural.
3.1.1.1 Condução
13
14 3. Acção do Fogo
dθ(x)
ḣc = −k · [W/m2 ] (3.1)
dx
onde,
3.1.1.2 Convecção
3.1.1.3 Radiação
As acções térmicas são definidas através de uma densidade de fluxo de calor incidente
na fronteira do elemento, ḣnet,d , que inclui duas parcelas, uma relacionada com a convecção
ḣnet,c e a outra com a radiação ḣnet,r . A densidade de fluxo de calor por unidade de área é,
segundo a equação 3.1 de [11], dada por:
onde,
εf - emissividade do compartimento de incêndio que segundo [11] deve ser igual a 1,0;
εm - emissividade da superfı́cie do elemento e que deverá valer segundo [15] e [16] 0,7 para
os aços de carbono e para o betão, e 0,4 para os aços inoxidáveis;
αc [W/m2 K]
Modelo
Faces expostas Faces não expostas
Incêndio padrão ISO 834 25,0
Incêndio para elementos exteriores 25,0 4,01
Incêndio de hidrocarbonetos 50,0
1 Caso se pretenda englobar o efeito da transmissão de calor por radiação o coeficiente de transmissão de
calor por convecção deverá valer αc = 9 W/m2 K.
16 3. Acção do Fogo
3.1.2 O incêndio
Para a ocorrência de um incêndio é necessária a existência simultânea de três factores:
combustı́vel, comburente (oxigénio) e uma fonte de calor. Quando a mistura combustı́vel/oxi-
génio está suficientemente quente para que possa ocorrer a combustão, dá-se inı́cio ao incêndio
[3].
O progresso de um incêndio num edifı́cio pode ser descrito em quatro fases principais:
ignição, propagação, desenvolvimento pleno e arrefecimento ou fase de extinção. A curva de
incêndio natural tı́pica está representada na figura 3.2.
A fase de ignição tem inı́cio se existir energia suficiente capaz de activar o material com-
bustı́vel na presença de oxigénio. Esta energia normalmente tem origem numa causa aciden-
tal como um curto-circuito, pontas de cigarros, faı́scas de uma operação de soldadura, ou
máquinas que não estejam a operar correctamente. Nesta fase, as temperaturas permanecem
baixas não tendo qualquer influência no comportamento estrutural do edifico [12].
Para o fogo se desenvolver para a fase de propagação e desenvolvimento pleno é necessária
a presença de oxigénio sob alguma forma de ventilação. Na fase de propagação, a energia
térmica é transferida por radiação ou por contacto directo, ocorrendo então o fenómeno co-
nhecido por flashover que se caracteriza por uma inflamação súbita dos gases e a generalização
do fogo a todo o compartimento. Este acontecimento ocorre geralmente entre os 450 o C e os
600 o C e a partir desse instante as temperaturas aumentam drasticamente [3].
Na fase de desenvolvimento pleno dá-se a queima do material combustı́vel e as tempera-
turas mantêm-se constantes.
Posteriormente ocorre uma fase de declı́nio (extinção ou arrefecimento) onde se consome
o resto do combustı́vel ainda existente ou existe intervenção dos bombeiros, diminuindo a
quantidade de calor libertada.
Figura 3.2: Curva de incêndio natural; a - fase de ignição, b - fase de propagação, c - fase
de desenvolvimento pleno, d - fase de extinção [17].
onde,
onde,
onde,
A figura 3.3 mostra o desenvolvimento destas três curvas que, como se observa, não pos-
suem fase de ignição, extinção e arrefecimento. No entanto, a experiência mostra que os efeitos
produzidos nas estruturas em incêndios correntes aproximam-se destes modelos matemáticos.
Desta forma, estabelece-se um bom paralelismo entre os modelos de fogo normalizados e os
modelos de fogo reais [18].
18 3. Acção do Fogo
A curva ISO 834 é a mais usada para avaliar a capacidade resistente de estruturas de
edifı́cios. A maioria dos ensaios experimentais e métodos de cálculo são baseados nesta curva.
Representa um incêndio num edifı́cio tipo onde a carga de incêndio provém de madeira,
papel, tecido, etc. A temperatura cresce infinitamente ao passo que num incêndio real esta
diminuirá quando a maioria dos materiais combustı́veis tiver ardido. A temperatura aumenta
rapidamente dos 20 o C até aos 842 o C após os primeiros 30 minutos, atingindo posteriormente
os 1000 o C ao fim de 87 minutos.
A curva de hidrocarbonetos foi desenvolvida nos anos 70 especialmente para representar o
incêndio em indústrias offshore e petroquı́micas. O seu rápido crescimento chega aos 900 o C
nos primeiros 5 minutos e atinge um pico de 1100 o C após 45 minutos. Esta curva representa
uma densidade de fluxo de calor de 200 kW/m2 . Nos anos 90 foram desenvolvidas curvas
de hidrocarbonetos mais severas com densidades de fluxos de calor que podem atingir os 300
kW/m2 cujo objectivo é simular incêndios em túneis [12].
A curva de incêndio de elementos exteriores é a menos severa já que estas soluções têm
a vantagem, do ponto de vista estrutural, de colocar a estrutura resistente fora do contacto
directo com o incêndio [3].
Cada curva paramétrica possui uma expressão para a fase de aquecimento e outra para a
fase de arrefecimento. Estas expressões encontram-se no anexo A desta dissertação.
Como se observa na figura 3.4, para incêndios controlados pela ventilação (instante cor-
respondente à temperatura máxima dado por 0, 2 · 10−3 · qt,d /O) o aumento do factor de
abertura provoca incêndios mais curtos mas que atingem temperaturas mais elevadas. A
partir de determinado valor de O, o incêndio passa a ser controlado pela carga de incêndio
(instante correspondente à temperatura máxima dado por tlim , que para este exemplo vale
20 minutos) e o factor de abertura apenas se manifesta na velocidade de arrefecimento.
O exemplo seguinte (figura 3.5) mostra as curvas paramétricas para o mesmo compar-
timento de habitação, mas neste caso fixou-se o factor de abertura em O = 0, 1 m1/2 e
fez-se variar a densidade de carga de incêndio entre 300 M J/m2 e 2000 M J/m2 . Neste caso,
verifica-se que quando o incêndio é controlado pela ventilação (com temperaturas máximas
correspondentes a instantes superiores a tlim igual a 25 minutos), a fase de aquecimento é
influenciada pela densidade de carga de incêndio [3].
Hui - poder calorı́fico efectivo de cada constituinte material combustı́vel existente no com-
partimento de incêndio [M J/kg];
ψi - factor opcional para avaliar as cargas de incêndio protegidas que, segundo [3], para a
maioria das aplicações práticas ψi = 1, 0 é um valor realista.
O poder calorı́fico efectivo Hu de alguns sólidos, lı́quidos e gases são indicados na tabela
E.3 de [11].
A expressão seguinte fornece o valor de cálculo da densidade de carga de incêndio:
onde,
m - factor de combustão que para materiais celulósicos pode ser considerado igual a 0,8;
δq1 - factor que tem em conta o risco de activação de incêndio devido à dimensão do com-
partimento (tabela E.1 de [11]);
δq2 - factor que tem em conta o risco de activação de incêndio devido ao tipo de ocupação
(tabela E.1 de [11]);
Q10
δn = i=1 δni - factor que tem em conta as diferentes medidas activas de combate a incêndios
(sprinkler, detecção, alarme automático, bombeiros, etc.). Estas medidas activas são
impostas por razões de protecção de vidas (tabela E.2 de [11] e cláusulas (4) e (5) do
ponto E.1 do anexo E do mesmo documento).
qf,k - valor caracterı́stico da densidade de carga de incêndio por unidade de área de pavimento
[M J/m2 ] (tabela E.1 de [11]).
X X X
Ef i,d,t = Gk + ψ1,1 · Qk,1 + ψ2,i · Q2,i + Ad (3.11)
onde,
Ad - valor de cálculo das acções que por via indirecta são originadas pelo incêndio (esforços
internos resultantes das restrições à dilatação térmica dos elementos da estrutura e efeito
da temperatura nas propriedades mecânicas dos materiais);
22 3. Acção do Fogo
onde,
Ef i,d - valor de cálculo dos efeitos produzidos na estrutura em situação de incêndio dado por
(3.11).
ηf i - factor de redução para o valor de cálculo do nı́vel de carga em situação de incêndio dado
por:
Gk + ψ1,1 Qk,1
ηf i = (3.13)
γG Gk + γQ,1 Qk,1
onde,
γQ,1 - coeficiente parcial de segurança para da acção variável base à temperatura ambiente
[γQ,1 = 1, 5].
Figura 3.6: Variação do factor de redução ηf i com o quociente de cargas ξ = Qk,1 /Gk .
24 3. Acção do Fogo
Capı́tulo 4
Propriedades Termo-Mecânicas
do Betão e do Aço
4.1 Betão
4.1.1 Distribuição de temperatura
A distribuição de temperatura no interior de uma secção é geralmente definida pela
equação (4.1), baseada no princı́pio da conservação de energia:
δT
ρcp · = div(λ grad T ) + H (4.1)
δt
onde,
ρ - densidade [kg/m3 ];
Se for admitida nula a produção interna de calor, a equação (4.1) reduz-se à equação de
Fourier.
25
26 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
Mais recentemente, o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10], propõe que a condutividade térmica do
betão de densidade normal se situe entre um limite superior e inferior, para uma temperatura
entre 20 e 1200 o C, de acordo com as equações (4.2) e (4.3) e a figura 4.2.
Limite superior:
Limite inferior:
que o tipo de agregado usado tem pouca influência na variação desta grandeza, podendo-se
por isso adoptar uma curva que represente o calor especı́fico para todos os tipos de betão.
Por volta dos 100 o C dá-se a evaporação da humidade presente no betão. Este fenómeno
tem consequências positivas na resistência ao fogo das peças estruturais de betão, uma vez que,
durante o processo de evaporação, grande parte do calor que lhes é fornecido não contribui
para o aumento de temperatura [2] do betão.
Figura 4.3: Calor especı́fico do betão para diferentes tipos de betão [20].
Por sua vez, o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10] fornece as seguintes expressões para o cálculo
do calor especı́fico de betões com agregados calcários e siliciosos e com um teor de humidade
28 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
de 0%:
Em relação ao valor do calor especı́fico nas imediações dos 100o C, o Eurocódigo fornece
um valor de pico constante (cp.peak ) entre os 100 e os 115o C descendo de seguida linearmente
entre os 115 e os 120o C:
A figura 4.4 ilustra a variação do calor especı́fico com a temperatura segundo o Eurocódigo
2 parte 1-2 [10] de acordo com as expressões anteriores.
Figura 4.4: Calor especı́fico cp (θ) em função da temperatura para 3 teores de humidade dife-
rentes, u, de 0, 1,5 e 3% do peso do betão.
4.1.1.3 Densidade
a partir dos 80o C, perda da água retida por capilaridade entre os 100 e os 300o C, a dissociação
do hidróxido de cálcio entre os 400-500o C, e a descarbonatação do calcário a partir dos 600o C.
Figura 4.5: Variação da densidade real, densidade aparente e porosidade da pasta de cimento
com a temperatura [12].
Figura 4.6: Variação da densidade de betões com diferentes tipos de agregados com a tempe-
ratura. Nota: Calcário I e Calcário II resulta de 2 autores diferentes [12].
30 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
Influência da LITS
A LITS é obtida através da diferença entre a dilatação térmica de um provete não car-
regado e a dilatação de um provete sob carga constante antes e durante o aquecimento (figura
4.9).
A deformação imposta por este fenómeno é muito maior que a deformação elástica e
contribui de maneira significativa para a relaxação e redistribuição dos esforços térmicos no
betão sujeito a incêndio. Importa ainda referir que a LITS existe na compressão mas não na
tracção.
No entanto, este fenómeno não é ainda totalmente considerado pelos engenheiros de es-
truturas e, segundo [12], deveria ser incorporado com mais rigor nas normas e regulamentos.
Figura 4.9: ”Load Induced Thermal Strain”(LITS) para um betão de agregados basálticos,
determinada através da diferença entre dilatações térmicas com nı́veis de carga de 0 e 10%
da resistência fck [12].
Influência da temperatura
peratura para betões de densidade normal de agregados siliciosos e calcários. Para valores
intermédios poderá ser usada uma interpolação linear. Os valores de εcu1,θ que definem o
intervalo do ramo descendente podem também ser retirados da tabela 4.1.
O Eurocódigo refere ainda que qualquer ganho de resistência do betão na fase de arrefe-
cimento não deverá ser tida em conta.
εc1,θ < ε ≤ εcu1,θ Podem ser adoptados modelos lineares ou não lineares.
Figura 4.11: Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões do betão sob com-
pressão a temperaturas elevadas [10].
Figura 4.12: Factor de redução da resistência à compressão do betão kc (θ) segundo o Eu-
rocódigo 2.
Na ausência de melhor informação, o factor de redução kc,t (θ) deve respeitar os seguintes
valores (figura 4.13):
O efeito do aumento da temperatura no módulo de elasticidade é, como já se referiu an-
teriormente em 4.1.2.1, similar ao da resistência à compressão. Os betões leves sofrem uma
4.1. Betão 35
Figura 4.13: Factor de redução da resistência à tracção do betão kc,t (θ) segundo o Eurocódigo
2.
variação menor que os de densidade normal. Na figura 4.14 representam-se os resultados obti-
dos pelo CEB [20] para vários tipos de betão. Resultados mais recentes podem ser observados
na figura 4.10.
Os gradientes térmicos que um incêndio impõe numa peça de betão armado provocam res-
trições nas fibras desse elemento. A extensão que uma fibra sofre ao ser aquecida, é restringida
pelas fibras vizinhas que se encontram a temperaturas diferentes. É portanto necessário co-
36 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
nhecer a evolução do coeficiente de dilatação térmica linear do betão com a temperatura para
proceder ao cálculo dos estados de tensão e deformação.
Segundo o Eurocódigo 2 [10] a extensão térmica do betão a altas temperaturas pode ser
determinada de acordo com as seguintes expressões (figura 4.16):
Agregados siliciosos:
Agregados calcários:
4.2 Aço
A temperaturas elevadas o patamar de cedência dos aços deixa de existir para dar lugar
a uma plastificação gradual. Desta forma, a altas temperaturas, chama-se tensão de cedência
à tensão a que corresponde uma extensão de 0,2%. O valor dessa tensão é variável com a
temperatura e a lei de variação depende do tipo de aço. Na figura 4.17 encontra-se a faixa
38 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
de variação destes valores bem como as curvas propostas pelo CEB para efeitos de utilização
prática para aços laminados a quente e endurecidos a frio [2].
Figura 4.17: Diminuição da tensão de cedência dos aços de armadura com a temperatura
[20].
Segundo o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10], as tensões e extensões dos aços de armadura a
altas temperaturas, devem ser obtidas a partir da figura 4.18, onde Es,θ é a inclinação do
domı́nio elástico linear, fsp,θ a tensão limite de proporcionalidade e fsy,θ a tensão máxima. Os
valores para cada um desses parâmetros são dados na tabela 4.2 em função da temperatura.
Para valores intermédios poderá ser usada uma interpolação linear. Refere-se ainda que estas
relações são válidas também para a armadura à compressão. Para aços de pré-esforço, os
ı́ndices ”s”deverão ser substituı́dos por ”p”. Os factores de redução da resistência dos aços à
compressão/tracção (ks (θ) no caso do aço de armadura e kp (θ) no caso de aço de pré-esforço)
encontram-se representados nas figuras 4.19 e 4.20.
Tabela 4.2: Variação das propriedades dos aços com a temperatura [21].
Es,θ Ep,θ fsp,θ fpp,θ fsy,θ fpy,θ
Temperatura Es Ep fyk fyk ks (θ) = fyk kp (θ) = fyk
no aço (o C) A B C D A B C D A B C D
20 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
100 1,00 1,00 0,76 0,98 1,00 0,96 0,77 0,68 1,00 1,00 0,98 0,99
200 0,90 0,87 0,61 0,95 0,81 0,92 0,62 0,51 1,00 1,00 0,92 0,87
300 0,80 0,72 0,52 0,88 0,61 0,81 0,58 0,32 1,00 1,00 0,86 0,72
400 0,70 0,56 0,41 0,81 0,42 0,63 0,52 0,13 1,00 0,94 0,69 0,46
500 0,60 0,40 0,20 0,54 0,36 0,44 0,14 0,07 0,78 0,67 0,26 0,22
600 0,31 0,24 0,15 0,41 0,18 0,26 0,11 0,05 0,47 0,40 0,21 0,10
700 0,13 0,08 0,10 0,10 0,07 0,08 0,09 0,03 0,23 0,12 0,15 0,08
800 0,09 0,06 0,06 0,07 0,05 0,06 0,06 0,02 0,11 0,11 0,09 0,05
900 0,07 0,05 0,03 0,03 0,04 0,05 0,03 0,01 0,06 0,08 0,04 0,03
1000 0,04 0,03 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 0,00 0,04 0,05 0,00 0,00
1100 0,02 0,02 0,00 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 0,00
1200 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
A - aço de armadura laminado a quente, B - aço de armadura endurecido a frio, C - aço de pré-esforço temperado e
revenido, D - aço de pré-esforço endurecido a frio
4.2. Aço 39
Figura 4.18: Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões dos aços de armadura
ordinária e de pré-esforço a temperaturas elevadas (no caso do aço de pré-esforço os ı́ndices
”s”deverão ser substituı́dos por ”p”.
Figura 4.19: Factor de Redução dos aços Figura 4.20: Factor de Redução dos aços
de armadura ks (θ) segundo o Eurocódigo de pré-esforço kp (θ) segundo o Eurocódigo
2. 2.
40 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
Figura 4.21: Efeito da temperatura no módulo de elasticidade dos aço de betão armado [20].
Aço de pré-esforço:
Figura 4.22: Extensão térmica dos aços de armadura e de pré-esforço (provetes não carrega-
dos) [20].
Comportamento Global de
Estruturas em Situação de
Incêndio
Numa análise de elementos individuais, o grande problema que surge é a não consideração
das acções indirectas do incêndio na estrutura. Estas acções, provocam esforços devido às
restrições impostas pela estrutura à livre dilatação térmica. Por esta razão, ao analisar a
segurança de uma estrutura hiperstática em relação ao fogo elemento a elemento, os resultados
obtidos poderão não estar do lado da segurança.
No caso, por exemplo, de vigas bi-encastradas, um gradiente térmico induz um momento
flector constante que gera tracções na face não aquecida. Este momento levará, em princı́pio,
ao colapso antecipado das secções extremas da viga devido à restrição à dilatação térmica. A
restrição ao esforço axial destas estruturas, gera também um esforço de compressão durante
o aquecimento. O efeito deste, combinado com a deformação considerável atingida durante
o incêndio, cria um efeito de segunda ordem que poderá ser suficiente para a viga atingir o
colapso.
Em pórticos, a continuidade entre vigas e pilares, poderá induzir um esforço axial não
desprezável nas vigas que, por sua vez, provocará um aumento de esforço transverso nos
pilares, podendo gerar uma rotura por esforço transverso, causa esta responsável por bastantes
colapsos de edifı́cios no caso de incêndios reais [22].
Os regulamentos e normas internacionais permitem a análise de membros individuais, o
que despreza os efeitos das acções indirectas do incêndio. Normalmente, quando é realizada
uma análise de membros individuais, o fogo é descrito por uma lei convencional temperatura-
tempo que, apesar de representar um cenário mais severo que o fogo real, subestima os
esforços internos. Desta forma, este método não permite uma boa avaliação da redistribuição
dos esforços internos quando ocorre uma perda de rigidez, nomeadamente nas secções junto
aos nós, no caso de um incêndio. Além do mais, a tendência para a utilização de curvas
de incêndio reais, remove o efeito favorável da curva convencional e requer uma avaliação
adicional dos esforços internos, através de métodos de análise globais e da identificação da
localização mais severa do incêndio [23].
43
44 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio
A resistência ao fogo foi verificada através das tabelas presentes em [10] (viga exposta ao
incêndio por três lados), assumindo uma exposição ao fogo de 60 minutos (R60).
Na figura 5.2, representam-se os resultados obtidos para a viga com o vão de 6 m e rigidez
axial EA/L. Os seguintes aspectos podem ser salientados:
Figura 5.2: Comportamento da viga de secção rectangular com 6 m de vão e rigidez axial
k = EA/L [22].
• O colapso é controlado pelas secções extremas devido aos enormes danos do betão nestas
zonas, sendo atingido por volta dos 180 minutos de exposição ao fogo. No entanto, a
resistência ao fogo de dimensionamento era de 60 minutos (R60), o que mostra que os
métodos tabelados revelam soluções conservativas quando comparadas com os resultados
analı́ticos.
Através dos resultados obtidos, que se encontram na figura 5.4, concluem-se os seguintes
pontos:
• O momento flector nos pilares de baixo, aumenta aproximadamente sete vezes em relação
ao seu valor inicial devido às deformações térmicas da viga (dilatação e rotações nos
extremos), enquanto o momento flector nos pilares superiores muda de sinal e os seus
valores aumentam mais do dobro do seu valor inicial à temperatura ambiente.
48 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio
Figura 5.4: Pórtico de betão armado com os pilares expostos ao fogo numa face e com uma
viga de 6 m de vão (secção rectangular) [22].
isoladas têm menos rigidez de rotação que as sapatas em vigas continuas e ainda menos
que no caso de um ensoleiramento geral.
Através desta análise é possı́vel concluir que, do ponto de vista prático, para melhorar
a resistência ao fogo de pilares, deverá recorrer-se a pormenorizações semelhantes às usadas
no dimensionamento sı́smico. De facto, a adopção de cintas pouco espaçadas aumenta a
resistência e a ductilidade da secção para a combinação do esforço axial com a flexão, melho-
rando também o risco de destacamento do betão (spalling) [22].
Para o pilar aquecido em três lados não foram registadas grandes diferenças em relação
ao caso anterior, excepto no aumento do momento flector e esforço transverso que foi menor,
devido ao menor gradiente de temperaturas no pilar.
Para avaliar a segurança de pórticos de betão armado sujeitos a incêndio, Ilaria Venanzi
e Marco Breccolotti [23] estudaram um método analı́tico global, capaz de ter em conta os
efeitos das restrições à expansão térmica e variação das propriedades mecânicas dos materiais
devido ao aumento de temperatura. Para isso, usaram um programa de cálculo automático
denominado FIRES-RC II, usado para avaliar a resposta estrutural de pórticos sujeitos a
incêndio, tendo em conta a degradação das propriedades mecânicas do betão e do aço com o
aumento da temperatura. Modelaram pórticos de dois e três pisos e submeteram-nos a uma
curva de incêndio paramétrica, em diferentes compartimentos, dada pela figura 5.5 e expressa
pela seguinte relação:
δ
Tg − T0 t t
= exp 1 − (5.1)
Tgm − T0 tm tm
onde,
Tg - temperatura do ar [o C];
t - tempo, em minutos;
δ - coeficiente de forma da curva, que toma valores diferentes para as fases ascendente e
descendente. Os valores δ = 0, 5 para a fase ascendente e δ = 1, 0 para a fase descente
podem ser usados no dimensionamento, na medida em que fornecem aproximadamente
os valores máximos (figura 5.5).
50 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio
Na tabela 5.1 e figura 5.6 representam-se as caracterı́sticas dos pórticos estudados. O facto
de existirem dois vãos diferentes (6 m e 8 m) para cada tipo de pórtico (dois e três pisos),
está relacionado com objectivo de estudar a influência da relação entre a rigidez das vigas e
colunas.
Estas três exposições diferentes, devem-se ao facto de a radiação na zona lateral da viga
não ser directa, como acontece na zona inferior. Para cada caso da tabela 5.2, foram utilizados
os três tipos de aquecimento das vigas, perfazendo um total de 60 casos de análise diferentes.
Na tabela 5.3 apresentam-se as dimensões e as armaduras das vigas e pilares dos pórticos,
obtidas a partir das cargas de dimensionamento sugeridas pelo EC1 [11].
Tabela 5.3: Dimensões e armaduras das secções das vigas e pilares [23].
Vigas Pilares
Pórtico
BxH Armaduras BxH Armaduras
A 30 x 60 cm 5φ20 mm (superior) + 4φ18 mm (inferior) 30 x 30 cm 8φ18 mm
B 35 x 70 cm 5φ24 mm (superior) + 4φ20 mm (inferior) 35 x 35 cm 12φ18 mm
C 30 x 60 cm 5φ20 mm (superior) + 4φ18 mm (inferior) 30 x 30 cm 8φ20 mm
D 35 x 70 cm 5φ24 mm (superior) + 4φ20 mm (inferior) 40 x 40 cm 8φ24 mm
Tabela 5.4: Esforços no pórtico A (secção de meio vão da viga aquecida) [23].
Condições a Condições
Compartimento Superfı́cie aquecida altas temperaturas ambientais Incremento
de incêndio Mmáx Nmáx Mmáx MM ÁX
(kNm) (kN) (kNm)
I inferior -47,3 -9,8 81,2 -158
I-II inferior -54,2 -28,0 81,2 -167
III inferior -12,0 -65,4 95,3 -113
III-IV inferior -23,2 -63,6 95,3 -124
I inferior e parte da lateral -58,1 -8,9 81,2 -172
I-II inferior e parte da lateral -63,8 -20,0 81,2 -179
III inferior e parte da lateral -16,7 -58,3 95,3 -118
III-IV inferior e parte da lateral -28,3 -75,6 95,3 -130
I inferior e lateral -61,5 -12,9 81,2 -176
I-II inferior e lateral -65,2 -7,5 81,2 -180
III inferior e lateral -13,5 -64,9 95,3 -114
III-IV inferior e lateral -25,5 -75,6 95,3 -127
Tabela 5.5: Esforços no pórtico A (secção de ligação da viga aquecida com o pilar central)[23].
Condições a Condições
Compartimento Superfı́cie aquecida Colapso altas temperaturas ambientais Incremento
de incêndio Mmáx Nmáx Mmáx MM ÁX
(kNm) (kN) (kNm)
I inferior não -353,2 -9,8 -171,2 106
I-II inferior não -387,5 -28,0 -171,2 126
III inferior sim (46’) -362,4 -65,4 -185,3 96
III-IV inferior não -395,5 -63,6 -185,3 113
I inferior e parte da lateral não -357,3 -8,9 -171,2 109
I-II inferior e parte da lateral não -383,9 -20,0 -171,2 124
III inferior e parte da lateral não -370,9 -58,3 -185,3 100
III-IV inferior e parte da lateral sim (37’) -395,3 -75,6 -185,3 113
I inferior e lateral não -359,1 -12,9 -171,2 110
I-II inferior e lateral sim (47’) -385,4 -7,5 -171,2 125
III inferior e lateral sim (38’) -369,7 -64,9 -185,3 99
III-IV inferior e lateral sim (35’) -363,7 -75,6 -185,3 96
Figura 5.9: Momentos flectores máximos para o incêndio localizado nos compartimentos I e
II [23].
5.1. Exemplos de Casos Práticos 55
onde,
As,req (0) - é a área da secção de armadura superior sobre o apoio, de acordo com a EN
1992-1-1;
As,req (x) - é a área mı́nima da secção de armadura superior exigida para uma secção à
distância (x) do eixo do apoio mas nunca menos que As exigida pela EN 1992-1-1;
lef f - é o comprimento efectivo do vão. Se o comprimento efectivo dos vãos adjacentes for
maior, deverá ser usado esse valor.
Figura 5.10: Envolvente dos momentos flectores resistentes sobre os apoios em situação de
incêndio [10].
56 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio
Figura 5.11: Colapso num armazém no porto de Gante devido ao incêndio [22].
Como resultado, ocorreu uma rotura por esforço transverso no topo de um pilar crı́tico, que
levou ao colapso progressivo de uma parte do edifı́cio. Na figura 5.14 está representado o
perfil de temperatura calculado, assumindo a curva de incêndio padrão ISO 834, ao longo
da secção da laje, e na figura 5.15 a temperatura média calculada. Do gráfico anterior pode
ler-se que, após 30 minutos de exposição ao fogo, a temperatura média calculada na laje é
cerca de 165o C [22].
6.1 Introdução
No dia 24 de Agosto de 1991, ocorreu um incêndio num edifı́cio em Sacavém destinado à
armazenagem de produtos das empresas Triunfo Internacional e Molaflex.
O edifı́cio, localizado entre a Rua Vasco da Gama e a Estrada Nacional 1 (figura 6.1),
tem uma área total de pavimentos de cerca de 8400 m2 (1820 m2 de pavimentos apoiados
directamente sobre o solo e 6580 m2 de pavimentos elevados). O edifı́cio está dividido em dois
corpos, A e B, estruturalmente independentes, por uma junta de dilatação. A sua estrutura
foi executada, em geral, com uma estrutura de betão armado e com algumas lajes em betão
armado pré-esforçado.
59
60 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém
De acordo com [26], a consulta do processo da Câmara Municipal de Loures sobre o imóvel,
permitiu identificar que o projecto data de 1965 e foi realizado com a regulamentação então
em vigor:
Este caso de estudo tem como principal objectivo, estudar o comportamento global de um
edifı́cio quando sujeito a incêndio, nomeadamente, o efeito nos pilares das restrições impostas
pela estrutura à livre dilatação térmica das vigas e lajes. Para tal, apenas se modelou o Corpo
A do edifı́cio, por ter sido aquele onde este efeito foi mais desfavorável.
A estrutura do edifı́cio é formada por uma estrutura porticada (vigas e pilares) e lajes.
Os pilares e vigas foram realizados em betão armado, assim como a laje do r/c, com 10
cm de espessura. As restantes lajes elevadas são, na sua generalidade, realizadas com lajes
aligeiradas com blocos cerâmicos e vigotas pré-esforçadas do tipo comercial Cerval/Patial ou
equivalente.
6.1. Introdução 61
• Utilização de lajes muito finas (10 cm de espessura) para lajes destinadas a cargas
elevadas. No entanto, era uma solução corrente nessa época.
Em seguida são descritos os danos estruturais e não estruturais provocados pelo incêndio
apenas no corpo A, registados em [26].
Rés-do-chão
Actualmente, o r/c continua a ter uma ocupação significativa, mesmo não tendo o edifı́cio
sido, até à data, alvo de qualquer reabilitação. O pavimento do r/c do corpo A está assente
no terreno e não são visı́veis danos. As lajes têm uma betonilha de revestimento que conferiu
uma protecção adicional à estrutura.
A laje da rampa apresenta danos severos. A sua ligação aos pilares impôs um deslocamento
a estes durante a ocorrência do incêndio, com a direcção da rampa, associado à dilatação do
betão resultante do aumento da temperatura. Os pilares não têm capacidade para suportar
o deslocamento referido, apresentando assim danos elevados. A laje da rampa encontra-se de
momento escorada, aguardando a sua substituição.
A estrutura do tecto do r/c, uma laje em betão armado com apenas 10 cm de espessura,
apresenta uma deformação permanente significativa, que já para a carga permanente seria
relevante. A sua pequena espessura confere-lhe uma menor resistência ao fogo, conduzindo
assim a uma perda de rigidez permanente e a uma provável redução de resistência.
Nas vigas e pilares observam-se, para além da zona da rampa, armaduras à vista (figuras
6.3 e 6.4).
62 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém
Primeiro andar
No primeiro andar do Corpo A não foram registados danos severos, ao contrário do Corpo
B. Apenas se verifica a queda do reboco em algumas zonas da laje, que poderá ter ocorrido
devido à acção da temperatura durante o incêndio ou devido às infiltrações de água utilizada
no combate ao incêndio.
Os danos nos pilares e vigas no primeiro andar são muito reduzidos, quase irrelevantes.
6.1. Introdução 63
O método de avaliação da segurança em relação ao sismo que foi adoptado, era um pro-
cedimento usual na época. Consistia num método simplificado de avaliação dos momentos
flectores devidos à acção dos sismos, só nos pilares.
Os danos existentes nos pilares da rampa correspondem a uma situação de ruı́na desses
elementos, tendo por isso uma contribuição nula para a resistência sı́smica. Como os vãos
adjacentes à rampa são grandes, a capacidade de redistribuição de esforços é reduzida pelo
que a capacidade da estrutura do Corpo A para suportar a acção de um sismo intenso está
comprometida.
64 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém
Como já foi referido, a estrutura analisada foi o Corpo A do edifı́cio, por ser o local onde se
verificaram os danos mais severos. O acesso aos elementos do projecto foi limitado, pelo que
toda a modelação do Corpo A foi executada através das peças desenhadas de dimensionamento
do tecto do r/c e tecto do 1o andar (anexo B).
Para a modelação estrutural, recorreu-se ao programa de cálculo automático SAP2000.
Foram utilizados elementos de barra para simular os pilares e as vigas. As lajes, foram simu-
ladas através de elementos finitos do tipo Shell-Thick, cujas relações constitutivas prevêem o
equilı́brio através de momentos e esforço transverso. A malha de elementos finitos nas lajes
foi criada automaticamente pelo programa, onde se limitou os elementos rectangulares a 1,0
m de lado.
As lajes do tecto do 1.o andar e superiores, apesar de serem lajes aligeiradas com blo-
cos cerâmicos e vigotas pré-esforçadas (também cerâmicas), foram modeladas como sendo
maciças. Tendo em conta que apenas se teve acesso a um número reduzido de dados, cor-
respondente a uma alteração aos cálculos iniciais do projecto [27] onde se encontra referido
o valor do peso próprio da laje usada, modelou-se uma laje com a mesma espessura da laje
maciça (10 cm) e com um material com as mesmas propriedades que o betão mas sem peso
associado, tendo sido este adicionado à estrutura como carga exterior. Esta aproximação é
válida, na medida em que as propriedades destas lajes pouca influência tiveram na análise
realizada (exceptuando-se o seu peso próprio).
No que diz respeito às fundações, estas foram representadas através de encastramentos na
base dos pilares.
Na figura 6.6, apresenta-se uma imagem tridimensional do modelo (Corpo A).
Nas tabelas 6.1 e 6.2 apresentam-se as os materiais e as dimensões das secções usadas na
análise.
6.2. Modelação e Análise 65
A acção do aumento de temperatura proveniente do incêndio numa secção pode ser divi-
dida, simplificadamente, em duas parcelas, uma linear e outra auto-equilibrada (figura 6.7).
Por sua vez, a parcela linear corresponde à soma de de uma parcela uniforme com uma
diferencial.
Na análise realizada, procurou-se estudar a influência das duas parcelas anteriores, sepa-
radamente, no comportamento global da estrutura, nomeadamente nos pilares do r/c, grave-
mente afectados com o incêndio. Para tal, foram realizados dois tipos de análises (variações de
temperatura aplicadas às vigas ou às lajes) em três casos diferentes. No primeiro, aplicou-se as
variações de temperatura apenas às vigas da rampa e, posteriormente, à laje da rampa (figura
6.8). No segundo caso, foram submetidas todas as vigas e lajes do r/c (tecto e rampa) às
acções de temperatura, separadamente (figura 6.9). Por fim, no terceiro caso, submeteram-se
os mesmos elementos do caso 2 às mesmas variações de temperatura, no entanto, considerando
a inexistência de uma rampa monolı́tica com os pilares do edifı́cio (figura 6.10). Não foram
aplicadas variações de temperatura aos pisos superiores pois estes foram pouco afectados com
o incêndio.
Figura 6.11: Peso próprio e revestimentos na laje do tecto do 1.o e 2.o piso (kN/m2 ). Laje
L10 a azul escuro e laje L11 a azul claro.
X X
Ef i,d,t = Gk + ψ1 · Qk + Ad (6.1)
onde,
Ef i,d,t - valor de cálculo dos efeitos das acções em situação de incêndio;
Ad - valor de cálculo das acções que por via indirecta são originadas pelo incêndio (esforços in-
ternos resultantes das restrições à dilatação térmica dos elementos da estrutura, obtidos
através das variações de temperatura aplicadas às vigas e lajes - figura 6.7);
6.3 Dimensionamento
Como não foi encontrado nenhum registo relativamente às armaduras existentes nos pi-
lares do edifı́cio em estudo, procedeu-se ao dimensionamento destas, procurando sempre usar
métodos de análise em vigor na época em que a estrutura foi projectada.
Desta forma, começou por calcular-se a força de corte basal Hb para a combinação quase
permanente de acções, sabendo que o coeficiente sı́smico β adoptado foi 0, 1 [27]:
n
X n
X
Hb = Fki = β (Gi + ψ2 Qi ) = 2454, 33kN (6.2)
i=1 i=1
onde,
Na tabela 6.4 e figura 6.12, encontram-se os valores usados para o dimensionamento dos
pilares do edifı́cio, obtidos através das expressões (6.2) a (6.13), e as suas respectivas por-
menorizações.
Hb × Iy
Vx = (6.3)
Iy × n.o pilares
Hb × Ix
Vy = (6.4)
Ix × n.o pilares
Vy × L
Mx = (6.5)
2
Vx × L
My = (6.6)
2
VEd = 1, 5 × V (6.7)
MEd = 1, 5 × M (6.8)
Msd,x
µx = (6.9)
b × h2 × fcd
Msd,y
µy = (6.10)
b2 × h × fcd
N
ν= (6.11)
b × h × fcd
ωtot × b × h × fcd
As,tot = (6.12)
fsyd
Vsd − Vcd
Asw /s = (6.13)
0, 9 × d × fsyd
onde,
6.3. Dimensionamento 69
Hb = 2454, 3 kN
Parâmetro Pilar 70 x 20 cm Pilar 30 x 70 cm
o
n. de pilares 19 18
L (m) 5 5
−4
Ix (m ) 4
4, 667 · 10 8, 575 · 10−3
Iy (m4 ) 5, 717 · 10−3 1, 575 · 10−3
Vx (kN ) 102,4 28,2
Vy (kN ) 7,0 128,9
Mx (kN m) 17,5 322,4
My (kN m) 256,1 70,6
N (kN ) 499,7 2086,0
VEd,x (kN ) 153,7 42,3
VEd,y (kN ) 10,5 193,4
MEd,x (kN m) 26,3 483,5
MEd,y (kN m) 384,1 105,8
ν 0,21 0,59
µx 0,06 0,20
µy 0,23 0,10
ωtot 0,55 0,60
2
As,tot (cm ) 29,56 48,37
2
Asw /s (cm /m) 2,21 1,85
Armadura longitudinal adoptada 4φ25 + 4φ20 16φ20
Armadura transversal adoptada φ8//30 φ8//30
70 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém
O Eurocódigo 2 [24] permite dividir um problema de flexão desviada nas duas direcções,
resolvendo-o como se de um problema de flexão composta em cada direcção se tratasse. Neste
caso, é necessário verificar no final a seguinte condição:
α α
MEd,x MEd,y
+ ≤ 1, 0 (6.14)
MRd,x MRd,y
Devido ao facto do esforço normal actuante nos pilares depender da acção da temperatura,
por simplicidade e pelo lado da segurança considerou-se na análise α = 1, 0.
Os momentos resistentes MRd em cada direcção, foram obtidos através de tabelas de flexão
composta e apresentam-se em seguida:
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 71
Asw
VRd = · 0, 9 · d · fsyd · cot θ = 2 × 1, 68 × 0, 9 × 0, 65 × 435 · 10−1 cot 26 = 175, 3 kN (6.17)
s
Refere-se ainda que para compreensão dos resultados obtidos é indispensável a consulta das
peças desenhadas que se encontram no anexo B desta dissertação. A nomenclatura utilizada
para os pilares está também definida no mesmo anexo.
Variação uniforme
Na tabela 6.6, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de tem-
peratura, aplicados à laje da rampa, para que ocorra a primeira rótula plástica nos respectivos
pilares.
Tabela 6.6: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
uniforme aplicada à laje da rampa.
Como se pode observar nos resultados obtidos, os pilares P10 e P16 são os mais afectados.
A maior direcção do pilar disposta segundo y, aliada ao facto de ter a rampa rigidamente
ligada, originando um pilar curto com 84 cm, provoca a ocorrência de uma rotura por esforço
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 73
Figura 6.14: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme na laje da rampa.
Variação diferencial
Tabela 6.7: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
diferencial aplicada à laje da rampa.
Pelos resultados da tabela 6.7, pode-se observar que os valores de ∆Td obtidos são bastante
mais elevados que no caso da aplicação da componente uniforme de temperatura. Apenas
existem roturas por corte nos pilares em que a sua continuidade é interrompida pelo atraves-
samento da rampa. Estas roturas ocorrem para valores de ∆Td elevados, excepto nos pilares
P10 e P16 que, tal como no exemplo anterior, continuam a ser os mais afectados pelo incêndio.
Na figura 6.15 apresenta-se a deformação na laje da rampa aquando a aplicação da com-
ponente diferencial de temperatura para ∆Td = 1o C. Como se observa, esta variação provoca
deformações significativas na laje, afectando pouco os pilares.
Figura 6.15: Deformação da laje da rampa para a acção da componente diferencial de tem-
peratura.
Variação uniforme
Tabela 6.8: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
uniforme aplicada às vigas da rampa.
da expansão térmica da viga inclinada. Desta forma, os pilar P13 e P19, apresentam uma
rotura por corte segundo x para valores de temperatura média nas vigas de 121 e 128 o C,
respectivamente. Esta rotura ocorreu na realidade e encontra-se representada da figura 6.16.
Refere-se ainda que, no caso de um incêndio real, devido à elevada altura da viga em
comparação com a espessura da laje, será necessário menos tempo de incêndio para atingir
um incremento de 1o C na laje do que na viga.
Variação diferencial
Tabela 6.9: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
diferencial aplicada às vigas da rampa.
Os valores de ∆T obtidos são bastante mais elevados que no caso de uma variação uni-
forme, não ocorrendo rótulas plásticas no pilar P8, que não se encontra em contacto com a
76 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém
rampa, nem nos pilares P9 e P15, que partilham a mesma fundação da rampa. No entanto,
os pilares P10 e P16 continuam a ser os mais afectados atingindo a rotura por corte mais
cedo que os restantes.
Variação uniforme
Tabela 6.10: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa.
Como se observa mais uma vez, os pilares P10 e P16 continuam a ser os pilares mais
afectados, atingindo a rotura por corte para um incremento de temperatura média nas lajes
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 77
Figura 6.17: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c e da rampa.
Variação diferencial
tal como ocorreu no Caso 1, bastante mais elevados que no caso da aplicação da componente
uniforme. Apenas os pilares da rampa atingem o colapso, continuando a ser os pilares P10 e
P16 os mais esforçados.
Tabela 6.11: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa.
Variação uniforme
Variação diferencial
Tabela 6.12: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa.
Tabela 6.13: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa.
que esta não deveria ser monolı́tica com os pilares. Para isso, as variações de temperatura
(uniformes e diferenciais) foram aplicadas às lajes e vigas do r/c (figura 6.10).
Variação uniforme
Tabela 6.14: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).
Na figura 6.18, apresenta-se a deformação esquemática dos pilares P8 a P20 para a acção
da componente de temperatura uniforme (∆T = 1o C) aplicada às lajes do tecto do r/c.
Figura 6.18: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).
Em relação aos pilares P21 e P22, estes apresentam uma diminuição do valor de ∆T de
103 C para 91o C e 112o C para 98o C, respectivamente. Este comportamento está relacionado
o
com a dilatação da rampa que se dá apenas num sentido, por se encontrar fundada numa
extremidade, enquanto que no caso da laje a dilatação dá-se nos dois sentidos, afectando
então estes pilares. Pela mesma razão, ocorre também uma diminuição no valor de ∆T nos
pilares P1, P8, P9 e P15.
Quanto ao pilar P25, os resultados obtidos estão próximos dos do Caso 2, continuando
este a colapsar por esforço transverso antes de formar rótulas plásticas por flexão.
Variação diferencial
Variação uniforme
Tabela 6.15: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).
Tabela 6.16: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa).
Variação diferencial
Tabela 6.17: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa).
Mais uma vez, os resultados obtidos mostram uma melhoria significativa em relação ao
Caso 2, não ocorrendo roturas prematuras por esforço transverso nos pilares do edifı́cio.
6.6 Conclusões
A partir da análise efectuada, podem-se concluir vários aspectos:
• A componente uniforme de temperatura induz esforços mais elevados nos pilares que a
componente diferencial. O esforço axial nas lajes e nas vigas, provocado pela restrição da
estrutura à expansão térmica, induz maior incremento de esforço transverso nos pilares
que o momento flector constante provocado pela componente diferencial de temperatura.
• Na secção 5.2 desta dissertação, são referidos alguns valores de temperatura média
atingida em elementos de edifı́cios para a qual se deu o colapso. Segundo uma análise
computacional, no armazém do porto de Gante, após 1h20min de incêndio, a tem-
peratura média nas vigas estava compreendida entre 150-200 o C. No caso porém da
biblioteca de Linköping, o colapso ocorreu após 30 minutos de incêndio para uma tem-
peratura média na laje de 165 o C. No entanto, esta última trata-se de uma laje com
25 cm de espessura mas que foi aquecida nas duas superfı́cies.
Comparando com os resultados obtidos, principalmente no Caso 2 - Incêndio no r/c,
observam-se valores de ∆T bastante inferiores aos calculados nos exemplos anteriores
de fogos reais (um incremento de temperatura média nas lajes ∆T = 15o C e nas vigas
∆T = 8o C). No Caso 3 - Incêndio no r/c - inexistência de rampa, o primeiro pilar a
colapsar por esforço transverso é o pilar P25 para um incremento de temperatura média
nas lajes ∆T = 146o C ou um incremento de temperatura média nas vigas ∆T = 266o C.
Os valores obtidos para o Caso 2, mostram claramente a influência do fenómeno ”pilar
curto”para a ocorrência do colapso antecipado, sendo os valores obtidos para o Caso 3
próximos dos observados em incêndios reais, onde este condicionalismo não é posto em
causa.
• Os pilares curtos, tal como no dimensionamento sı́smico, devem ser evitados de modo
a melhorar a resistência ao fogo. Aliás, do ponto de vista prático, para melhorar o
comportamento ao fogo de pilares, deverão ser adoptadas pormenorizações semelhantes
às usadas no dimensionamento sı́smico. A adopção de cintas pouco espaçadas aumenta
a resistência e a ductilidade da secção para a combinação do esforço axial com a flexão,
melhorando também o risco de destacamento do betão. As cintas utilizadas na análise
são bastante espaçadas, no entanto, usuais na época em que o edifı́cio foi projectado.
• As acções indirectas do incêndio provocam esforços devido às restrições impostas pela
estrutura à livre dilatação térmica, esforços estes que devem ser tidos em conta caso se
pretenda obter um edifı́cio com uma boa resistência ao fogo. Numa análise de elementos
individuais, estas acções não são consideradas e, como se verificou nas secções 5.1.1 e
5.1.2 desta dissertação, podem levar a resultados conservativos no caso de vigas e a
resultados contra a segurança no caso de pilares. Em relação às vigas, verificou-se em
5.1.1 que a degradação do betão nas suas secções extremas, aliada à contribuição do
esforço axial para o momento flector positivo, levam à ocorrência de um redistribuição
de esforços ao longo da viga, adiando o colapso desta. Quanto aos pilares, o aumento
do esforço transverso proveniente do esforço axial das vigas nos primeiros 30 minutos,
pode originar o colapso antecipado destes elementos e, como consequência, do edifı́cio.
Capı́tulo 7
Avaliação e Reparação de
Estruturas de Betão Danificadas
pelo Fogo
As estruturas de betão armado são conhecidas por possuı́rem uma boa resistência ao fogo,
graças à incombustibilidade e baixa difusividade térmica do material. Desta forma, apenas
em casos de incêndios de duração bastante longa e na presença de secções relativamente finas,
expostas a temperaturas elevadas, é que poderá ocorrer a perda da capacidade resistente dos
elementos estruturais. Neste caso, uma ajuda adicional poderá ser fornecida pela redundância
estrutural, atrasando assim o colapso prematuro das secções crı́ticas.
Por estas razões, as estruturas de betão normalmente resistem aos incêndios sem colap-
sarem e a avaliação das suas capacidades residuais ganha especial interesse nas possibilidades
de reforço e reparação.
85
86 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
Figura 7.1: Valores residuais das tensões de cedência e rotura do aço para betão armado e
betão pré-esforçado, em função da temperatura máxima atingida [28].
7.1. Propriedades Residuais dos Materiais Após Aquecimento 87
Figura 7.2: Módulo de elasticidade de vários aços após aquecimento a temperaturas elevadas
[21].
Figura 7.4: Tensão de aderência aço-betão após aquecimento a temperaturas elevadas [21].
88 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
7.2.2 Fissuração
Nos elementos de betão armado é bastante frequente o aparecimento de fissuras em
situação de incêndio. A sua ocorrência afecta negativamente a capacidade resistente das
secções, aumenta a deformabilidade dos elementos e permite um avanço mais rápido dos
mecanismos de deterioração dos materiais (carbonatação e penetração de cloretos). Entre os
diversos fenómenos que explicam a fissuração nos elementos de betão durante um incêndio,
salientam-se os seguintes [18]:
Este fenómeno pode ser evitado limitando as tensões no betão e mantendo o seu teor de
humidade inferior a 4 % do seu peso, como se observa na figura 7.6. O betão de alta resistência
(HSC - hight strength concrete) tem uma porosidade bastante baixa, sendo mais sensı́vel ao
spalling que o betão normal. O betão leve é também mais sensı́vel a este fenómeno que o
betão normal uma vez que apresenta um teor de humidade relativamente alto armazenado
nos seus poros. Para reduzir o spalling é possı́vel adicionar ao betão fibras plásticas. Este
tipo de fibras derretem quando são submetidas a incêndio, criando aberturas no betão para
a saı́da do vapor de água [30].
90 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
cionado para analisar os efeitos da acção do fogo. Os outros ensaios são de aplicação corrente
em estruturas existentes e encontram-se descritos em [31]. Na secção seguinte é feita uma
breve descrição deste ensaio.
A termoluminiscência é a propriedade que certos materiais têm de emitir luz visı́vel quando
são aquecidos. Entre esses materiais, encontram-se o quartzo e o feldespato. Assim, ao
aquecer-se uma amostra de areia com minerais de quartzo, a emissão de luz ocorre para uma
gama de temperaturas compreendida entre os 300 o C e os 500 o C, sendo a potência luminosa
bastante inferior caso o material esteja a sofrer um reaquecimento. Este princı́pio básico da
termoluminiscência, permite estimar de forma rápida e pouco destrutiva, a profundidade da
isotérmica crı́tica relativa ao comportamento do betão sob a acção do fogo.
O traçado dos perfis de temperaturas máximas nas secções obtém-se com relativa facili-
dade, extraindo amostras a diferentes profundidades e calibrando os resultados em função da
isotérmica crı́tica.
Este ensaio é realizado extraindo por brocagem, amostras de areia dos elementos de betão
armado. O equipamento de brocagem deve ser de baixa rotação para evitar o aquecimento
excessivo dos minerais da amostra e para garantir a total eficiência do teste. Posteriormente,
as amostras são lavadas numa solução ácida de elevada concentração para remover minerais
que possam alterar os resultados [21].
Nı́vel Descrição
Inexistência de danos excepto sinais de fuligem. Algum descasque mı́nimo
A
de betão ou de acabamento.
Perda substancial dos acabamentos e algum descasque do betão, com exposição
B eventual de armaduras em zonas restritas. A superfı́cie de betão denota
microfissuração generalizada e possivelmente uma cor amarelada ou rosa.
Perda quase completa dos acabamentos. Existe descasque de betão em largas
áreas com exposição de armaduras. A superfı́cie de betão tem possivelmente
C
uma cor amarelada. Os varões estão ainda aderentes ao betão sem que mais
de um varão ou até 10% da armadura principal tenha encurvado
Danos severos. Descasque generalizado deixando à vista praticamente toda a
armadura. Encurvadura de pelo menos 2 varões de armadura ou até 50% da
D
armadura principal. Eventual aparecimento de fendas de corte, com alguns
milimetros de largura.
E Colapso parcial dos elementos estruturais.
Nı́vel de danos
Edifı́cio
A B C D
Novo 0,95 0,80 0,60 0,40
Antigo 0,85 0,70 0,50 0,30
94 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
• Placas e lajes
• Vigas
• Pilares
A reparação de estruturas de betão, envolve sempre a remoção do betão que esteve sujeito
a temperaturas superiores a 300 o C. A esta temperatura, como se referiu anteriormente, o
betão apresenta uma coloração rosada. Através da extracção de pequenas carotes ou através
do cálculo analı́tico, elaborado com conhecimento da duração do incêndio e das suas carac-
terı́sticas, é possı́vel identificar a profundidade da posição desta isotérmica na secção.
Após ter sido feita a remoção do material alterado, deverá tratar-se a superfı́cie com um
jacto de areia, limpando assim não só a superfı́cie de fuligem e outras impurezas como também
retirando a pequena fissuração superficial que possa existir. Após este tratamento, a obra
deve ser examinada por um perito, de forma a observar e a analisar a existência de fendas
contı́nuas de maior profundidade (agora visı́veis) e que possam comprometer a estabilidade
do próprio elemento.
Depois de devidamente tratadas, as superfı́cies são em geral revestidas com betão projec-
tado, material este que é o mais utilizado na reparação deste tipo de estruturas [28].
Normalmente, as lajes são os elementos mais afectados pelo fogo, devido à sua reduzida
espessura e consequentemente ao pequeno recobrimento que as armaduras possuem. Estas
poderão apresentar-se bastante danificadas, sendo o grau de danos superior no caso da uti-
lização do aço endurecido a frio, com a sua resistência bastante afectada pelas temperaturas
elevadas. Por esta razão, as lajes construı́das com este tipo de armadura, apresentam quase
sempre após o incêndio deformações bastante elevadas, sendo a sua demolição e reconstrução
o processo mais viável. Caso a laje não apresente deformações excessivas e as propriedades
mecânicas dos materiais não estejam muito alteradas, deverá proceder-se à sua reparação.
As reparações ligeiras são executadas com betão projectado, após a retirada do betão
danificado (que atingiu temperaturas superiores a 300 o C) e posterior limpeza da superfı́cie
com jacto de areia. Reparações mais elaboradas poderão envolver a necessidade de utilização
de uma armadura de reforço. Neste caso, a malha electrossoldada é normalmente utilizada,
sendo fixa à armadura existente através de amarração ou soldadura, ou soldada a espigões de
aço cravados e fixados na laje através de resina epoxi ou argamassa especial (figura 7.9) [28].
Caso o elemento apresenta uma fissuração elevada, deverá injectar-se nas fissuras resina
epoxi de modo a conferir o monolitismo ao conjunto.
7.5. Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo 97
Uma das consequências dos incêndios sobre o betão das vigas consiste na calcinação deste,
com possı́vel esfoliação ou desprendimento do recobrimento. A calcinação é caracterizada
por uma perda de água no betão e uma diminuição da sua resistência. Desta forma, antes
de se proceder aos trabalhos de reparação, é necessário eliminar as camadas calcinadas e
aplicar-lhes um jacto de areia, de forma a obter uma superfı́cie sã sobre a qual se possa
aplicar o novo betão. Caso as armaduras percam a sua aderência ao betão, deverá limpar-se
a fundo as superfı́cies de betão e de aço. Caso estas se encontrem bastante deformadas deverá
proceder-se ao seu corte e substituição (figura 7.10) [21].
Figura 7.10: Técnicas de reparação de vigas danificadas por incêndio através de reforço com
armadura longitudinal e transversal suplementar [28].
98 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
Figura 7.11: Reparação de um pilar danificado por incêndio através de reforço por encamisa-
mento com armadura longitudinal e transversal suplementar [28].
ca = 1, 30cd (7.1)
7.5. Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo 99
cn ≥ ca = 1, 30cd (7.2)
onde,
cr - resistência do betão existente depois de retirada toda a camada com coloração rosada.
Conclusão
Como se verificou ao longo deste trabalho, a resistência ao fogo de estruturas de betão ar-
mado é um fenómeno extremamente complexo. No entanto, os danos causados pelos incêndios
na população e nas estruturas, exigem que este aspecto seja o mais explorado possı́vel, havendo
já um forte movimento no sentido do estabelecimento de uma nova especialidade da engenha-
ria: a engenharia de segurança contra incêndios.
Os Eurocódigos são menos prescritivos que a antiga regulamentação e mais baseados no
desempenho, isto é, permitem ter em conta vários aspectos relacionados com a segurança das
pessoas e bens, não se baseando apenas no incêndio normalizado.
Ter em conta o efeito global da estrutura, juntamente com a diminuição da resistência
dos materiais que a constituem, na verificação de segurança de um edifı́cio de betão armado
ao fogo, é ainda praticamente impossı́vel devido à enorme concentração de informação. No
entanto, as análises efectuadas para estruturas simples mostram que estes dois aspectos devem
ser tidos em conta conjuntamente, pois a análise de elementos individuais revela-se muito
conservativa no caso do dimensionamento de vigas e contra a segurança no caso de pilares.
Aliás, no caso de incêndios reais, o colapso de edifı́cios é muitas vezes causado por uma rotura
de esforço transverso nos pilares, induzido pela expansão térmica de vigas e lajes.
Na análise efectuada a um edifı́cio que esteve sujeito a incêndio, verificou-se que os re-
sultados obtidos foram os previsı́veis, mostrando que as dilatações térmicas das lajes e vigas
da rampa do edifı́cio foram as responsáveis pelo colapso de alguns pilares. No entanto, o
incêndio poucos danos causou aos restantes elementos do edifı́cio. Desta forma, a substi-
tuição dos troços de alguns pilares do r/c, a substituição da laje da rampa que não deverá
ficar monolı́tica com os pilares e o reforço local de algumas zonas afectadas no r/c e 1.o andar,
é suficiente para reparar os danos causados pelo incêndio no Corpo A do edifı́cio. Salienta-se
mais uma vez que a segurança sı́smica do edifı́cio está bastante comprometida devido aos
danos causados nos pilares da rampa.
O método de análise utilizado, apesar de não ter em conta os parâmetros relacionados
com a degradação dos materiais, que devem ser usados numa avaliação rigorosa da resistência
ao fogo, poderá ser usado ao nı́vel da concepção global de um edifı́cio. Com a ajuda dum
programa de cálculo automático comum, através da simples aplicação de uma componente
uniforme de temperatura ∆T ao longo das secções das lajes do edifı́cio, é possı́vel avaliar zonas
de risco. Esta zonas poderão ser pilares curtos, como por exemplo zonas de escadas, onde
101
102 8. Conclusão
os vãos ”cortam”por vezes os pilares a meio, mas também zonas onde se localizam pilares
crı́ticos, cuja sua rotura através do aumento de esforço transverso poderá provocar o colapso
do edifı́cio.
Também ainda ao nı́vel da concepção global, o posicionamento de elementos verticais de
grande secção nos cantos do edifı́cio, apesar de ser uma medida favorável do ponto de vista
sı́smico, evitando modos de torção antecipados, não o é do ponto de vista da resistência ao
fogo, onde os elementos mais afastados do centro de rigidez são sujeitos a maiores esforços.
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[13] COELHO, António Leça. Segurança Contra Incêndio em Edifı́cios de Habitação. Edições
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[14] http://users.femanet.com.br/quimica/.
103
104 BIBLIOGRAFIA
[17] LOPES, Abı́lio José Sequeira. Avaliação do risco de incêndio em edifı́cios. Tese de
mestrado, Instituto Superior Técnico Universidade Técnica de Lisboa, 2004.
[18] CORREIA, Pedro Mira. Comportamento das estruturas de betão armado e pré-esforçado
face à acção do fogo. Monografia, Instituto Superior Técnico Universidade Técnica de
Lisboa, 1999.
[20] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 145 - Design of
Concrete Structures for Fire Resistance, 1981.
[22] TAERWE, Luc. From member design to global structural behaviour. Proceedings of the
International Workshop: Fire Design of Concrete Structures - From Materials Modelling
to Structural Permormance, Coimbra, Portugal, 2007.
[23] VENANZI, Ilaria; BRECCOLOTTI, Marco. Analytical safety assessment of r.c. frames
exposed to fire. Proceedings of the International Workshop: Fire Design of Concrete
Structures - From Materials Modelling to Structural Permormance, Coimbra, Portugal,
2007.
[29] COSTA, António. Avaliação de Estruturas de Betão Armado Sujeitas ao Fogo. Re-
abilitação e Reforço de Estruturas, Instituto Superior Técnico, 2007.
BIBLIOGRAFIA 105
[31] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 192 - Diagnosis
and Assessment of Concrete Structures - State of the art Report, 1983.
[32] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 162 - Assess-
ment of Concrete Structures and Design Procedures for Upgrading (Redesign), 1983.
[33] BRITO, J.; BRANCO, F.; NEVES, I. C.; BAPTISTA, A. Comportamento de Betão
Armado sob a Acção do Fogo - Estudo de um Caso. Relatório CMEST, AI n.o 14/1986.
Instituto Superior Técnico, 1986.
[35] DENOËL, Ir. J.F. Fire Safety and Concrete Structures. FEBELCEM, 2007.
106 BIBLIOGRAFIA
Anexo A
107
108 A. Expressões das curvas paramétricas
As expressões das curvas paramétricas são válidas, de acordo com [11], para compartimen-
tos até 500 m2 de área de pavimento, sem aberturas no tecto e com um máximo de 4 metros
de altura. Assume-se também que a carga de incêndio é totalmente consumida. Por outro
lado, se a carga de incêndio for definida sem um comportamento de combustão detalhado,
deverá limitar-se as expressões do anexo A de [11] a compartimentos com cargas de incêndio
predominantemente celulósicas.
∗ ∗ ∗
θg = 20 + 1325 · (1 − 0, 324e−0,2t − 0, 204e−1,7t − 0, 472e−19t ) [o C] (A.1)
onde,
t∗ = t · Γ [h] (A.2)
t - tempo [h];
Γ = [O/b]2 /(0, 04/1160)2 (A.3)
p
b= (ρcλ) com 100 ≤ b ≤ 2200 [J/m2 s1/2 K] (A.4)
heq - média pesada da altura das aberturas verticais em todas as paredes dada por:
P
Ai Hi
heq = [m] (A.6)
Av
Faz-se notar que no caso de Γ = 1 (O = 0, 04 m1/2 e b = 1160 J/m2 s1/2 K), a curva de
temperatura-tempo na fase de aquecimento (A.1) se aproxima da curva de incêndio padrão
ISO 834 (figura A.1).
109
- se b1 > b2 , é calculada uma espessura limite slim para o material exposto ao fogo de
acordo com:
s
3600tmax λ1
slim = , com tmax dado pela equação (A.14) [m] (A.8)
c1 ρ1
s1 s1
- se s1 < slim < s1 + s2 , então b = b1 + 1 − b2 (A.10)
slim slim
s1 s2 s1 + s2
- se s1 + s2 < slim < s1 + s2 + s3 , então b = b1 + b2 + 1 − b3
slim slim slim
(A.11)
onde,
o ı́ndice 1 representa a camada directamente exposta ao fogo, o ı́ndice 2 a camada
seguinte...
si - é a espessura da camada i;
p
bi = (ρi ci λi );
Para ter em conta os diferentes factores b nas paredes, tectos e pavimentos, a expressão
(A.4) deve ser calculada da seguinte forma:
X
b=( bj Aj )/(At − Av ) (A.12)
onde,
com
tmax = max[(0, 2 · 10−3 · qt,d /O) ; tlim ] [h] (A.14)
onde,
qt,d - valor de cálculo da densidade de carga de incêndio referente à área da superfı́cie en-
volvente At e é dada por qt,d = qf,d · Af /At [M J/m2 ]. O valor de qt,d deve estar
compreendido no intervalo 50 ≤ qt,d ≤ 1000 [M J/m2 ];
tlim - dado na tabela A.1 em minutos mas que na equação (A.14) deve ser considerado em
horas.
Se o tempo tmax correspondente à temperatura máxima θmax for dado por tlim , o incêndio
é controlado pela carga de incêndio. Se tmax for dado por (0, 2 · 10−3 · qt,d /O) o incêndio é
controlado pela ventilação.
Quando tmax = tlim , o valor de t∗ na equação (A.1) deve ser substituı́do por:
com,
Γlim = (Olim /b)2 /(0, 04/1160)2 (A.16)
onde,
Olim = 0, 1 · 10−3 · qt,d /tlim (A.17)
Se (O > 0, 04 e qt,d < 75 e b < 1160), Γlim na equação (A.16) tem de ser multiplicado por
uma factor k dado por:
O − 0, 04 qt,d − 75 1160 − b
k =1+ (A.18)
0, 04 75 1160
onde,
t∗ é dado pela equação (A.2)
Peças Desenhadas
113
114 B. Peças Desenhadas
Figura B.2: Planta esquemática do tecto do 1.o e 2.o andares (dimensões em metros).
116 B. Peças Desenhadas
117
118 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado
Figura C.1: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ6mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
Figura C.2: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ6mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].
119
Figura C.3: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
Figura C.4: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].
120 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado
Figura C.5: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura
máxima atingida [28].
Figura C.6: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
121
Figura C.7: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ20mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
Figura C.8: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ20mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
122 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado
Figura C.9: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço de pré-esforço, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].
Figura C.10: Valores da extensão residual de rotura do aço de pré-esforço, com arrefecimento
ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima atingida
[28].