Sei sulla pagina 1di 146

Resistência ao Fogo de Estruturas de Betão

Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

Tiago Filipe Domingos Gonçalves

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Civil

Júri
Presidente: Prof. Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira
Orientador: Prof. Júlio António da Silva Appleton
Vogal: Prof. Joaquim da Conceição Valente

Outubro 2008
Resumo

A resistência ao fogo de estruturas de betão armado é bastante boa quando comparada


com a dos restantes materiais estruturais. A não-combustibilidade e fraca condutividade do
betão fazem com que este seja um dos materiais estruturais mais resistentes ao fogo.
A avaliação de estruturas face à acção do fogo é normalmente feita elemento a elemento,
não tendo em consideração a interacção entre eles. No entanto, este fenómeno é bastante
importante, podendo originar o colapso antecipado das estruturas devido ao aumento de
esforço transverso nos pilares causado pela expansão térmica das vigas e lajes.
Este trabalho tem como objectivo principal, a compreensão do comportamento global de
estruturas de betão face ao fogo. Para isso, é realizada uma análise simplificada a um edifı́cio
que esteve sujeito a incêndio, comparando os resultados obtidos com os verificados in-situ.
Referem-se ainda os danos mais comuns em estruturas de betão armado sujeitas a incêndio,
a avaliação da capacidade resistente residual e algumas medidas de reparação e reforço.

Palavras-chave: betão armado, resistência ao fogo, comportamento global, expansão


térmica, pilar.

i
ii
Abstract

Fire resistance of reinforced concrete structures is very good when compared with the
other structural materials. The non-combustible and low conductivity of concrete makes it
one of the most resistance structural materials against fire.
The evaluation of structures due to the action of fire is normally performed element by ele-
ment, not taking into consideration the interaction between them. However, this phenomenon
is very important because it can cause the anticipate collapse of the structures due to the
increase of shear force in the columns induced by thermal expansion of beams and slabs.
The main objective of this work is to understand the global behaviour of concrete struc-
tures when they are exposed to fire. Hence, it is done a simplified analysis of a building that
suffered a fire, comparing the results with those verified in-situ.
There is also a reference to the most common damages on concrete structures that are
exposed to fire, to the residual strength assessment and some ways to repair and strengthening
them.

Keywords: reinforced concrete, fire resistance, global behaviour, thermal expansion,


column.

iii
iv
Agradecimentos

Ao Professor Júlio Appleton, orientador desta dissertação, agradeço a disponibilidade de-


monstrada para o esclarecimento de todas as dúvidas e a cedência da bibliografia necessária
à realização do trabalho.
Aos meus pais, agradeço todos os incentivos, conselhos e o apoio que me transmitiram ao
longo de toda a minha vida.

v
vi
Simbologia

Letras maiúsculas do alfabeto latino

A - área do compartimento de incêndio; área da secção transversal do elemento;

Ad - valor de cálculo da acção de acidente;

Af - área do pavimento do compartimento de incêndio;

Ai - área da abertura vertical i;

As,tot - área de armadura longitudinal no elemento;

Asw/s - área de armadura transversal no elemento por unidade de área;

At - área total do compartimento de incêndio (incluindo paredes, pavimento, tecto e aber-


turas);
P
Av - área total das aberturas verticais nas paredes (Av = i=1 Av,i );

B - largura da secção transversal do elemento;

D - difusividade térmica;

Ec,28 - módulo de elasticidade do betão aos 28 dias à temperatura ambiente;

Ec,θ - módulo de elasticidade do betão à temperatura elevada θ;

Ed - valor de cálculo do efeito das acções à temperatura ambiente (20 o C);

Ef i,d - valor de cálculo do efeito das acções em situação de incêndio;

Ef i,d,t - valor de cálculo do efeito das acções em situação de incêndio no instante t;

Es - módulo de elasticidade do aço à temperatura ambiente;

Es,θ - módulo de elasticidade do aço à temperatura elevada θ;

Fki - força estática equivalente ao nı́vel do piso i;

Gk - valor caracterı́stico da acção permanente;

H - altura da secção transversal do elemento; calor gerado internamente por unidade de


volume e de tempo;

vii
viii

Hb - força de corte basal;

Hi - altura da abertura vertical i;

Hui - poder calorı́fico efectivo do material i;

I - inércia da secção do elemento;

K - rigidez;

L - comprimento teórico do elemento;

Mk,i - quantidade de material combustı́vel i;

MRd - valor de cálculo do momento flector resistente;

MEd - valor de cálculo do momento flector de dimensionamento;

NRd - valor de cálculo do esforço normal resistente;

NEd - valor de cálculo do esforço normal de dimensionamento;


p
O - factor de abertura do fogo de compartimento (O = Av heq /At );

Olim - factor de abertura reduzido em caso de incêndio controlado pela carga de incêndio;

P i - pilar i;

Qk,1 - valor caracterı́stico da acção variável principal;

Q2,i - valor caracterı́stico de uma acção variável distinta da acção de base;

Rf i,d,t - valor de cálculo da capacidade resistente em situação de incêndio no instante t;

VRd - valor de cálculo do esforço transverso resistente;

VEd - valor de cálculo do esforço transverso de dimensionamento;

Letras minúsculas do alfabeto latino


b - inércia térmica da parede envolvente b = ρcλ;

bi - inércia térmica da camada i da parede envolvente;

bj - inércia térmica da camada j da parede envolvente;

cp - calor especı́fico;

d - densidade real; altura útil de uma secção;

fcd - valor de cálculo da tensão de rotura do betão à compressão a 20 o C;

fck - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à compressão a 20 o C;


ix

fck (θ) - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à compressão à temperatura elevada
θ;

fck,t - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à tracção a 20 o C;

fck,t (θ) - valor caracterı́stico da tensão de rotura do betão à tracção à temperatura elevada
θ;

fctm - valor médio da tensão de rotura do betão à tracção;

fsyd - valor de cálculo da tensão de cedência do aço de armadura ordinária;

fsy,θ - valor de cálculo da tensão de cedência do aço de armadura ordinária à temperatura


elevada θ;

fsyk - valor caracterı́stico da tensão de cedência do aço;


P
heq - média pesada da altura das aberturas verticais em todas as paredes (heq = ( Ai Hi /Av ));

ḣc - densidade de fluxo de calor no interior de um corpo;

ḣnet,c - densidade de fluxo de calor incidente na fronteira do devido à convecção;

ḣnet,d - densidade de fluxo de calor incidente na fronteira do elemento;

ḣnet,r - densidade de fluxo de calor incidente na fronteira do elemento devido à radiação;

kc (θ) - factor de redução da resistência do betão à compressão;

kc,t (θ) - factor de redução da resistência do betão à tracção;

kp (θ) - factor de redução da resistência dos aços de pré-esforço;

ks (θ) - factor de redução da resistência dos aços de armadura;

m - factor de combustão;

qf - densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento;

qf,d - valor de cálculo da densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento;

qf,k - valor caracterı́stico da densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento;

qt - densidade de carga de incêndio por unidade de área da superfı́cie envolvente;

si - espessura da camada i;

t - tempo de exposição ao fogo;

tf i,d - valor de cálculo da resistência ao fogo com base no incêndio padrão ISO 834;

tf i,requ - resistência ao fogo requerida regulamentarmente com base no incêndio padrão ISO
834;

tlim - tempo correspondente à temperatura máxima no compartimento de incêndio no caso


do incêndio ser controlado pela carga de incêndio;
x

tmax - tempo correspondente à temperatura máxima no compartimento de incêndio no caso


do incêndio;

w - teor de humidade;

Letras maiúsculas do alfabeto grego

∆T - variação de temperatura uniforme no elemento;

∆Td - variação de temperatura diferencial no elemento;

Φ - factor de configuração;

Γ - factor tempo, função do factor de abertura O e da inércia térmica b;

Γlim - factor tempo, função do factor de abertura Olim e da inércia térmica b;

Letras minúsculas do alfabeto grego

αc - coeficiente de transmissão de calor por convecção; coeficiente de dilatação térmica do


betão;

αs - coeficiente de dilatação térmica do aço;

γG - factor parcial de segurança para a acção permanente à temperatura ambiente (γG =


1, 35);

γQ,1 - factor parcial de segurança para a acção variável base à temperatura ambiente (γQ,1 =
1, 5);

δn - factor parcial que tem em conta as diferentes medidas activas de segurança contra
Q10
incêndio i (sprinklers, detecção, alarme, bombeiros, etc.) (δn = i=1 δni );

δni - factor que tem em conta a existência de uma medida especı́fica i de combate a incêndio;

δq1 - factor parcial que tem em conta o risco de activação do incêndio em função da dimensão
do compartimento;

δq2 - factor parcial que tem em conta o risco de activação do incêndio em função do tipo de
ocupação;

ε - porosidade;

εc - extensão do betão;
xi

εc (θ) - extensão do betão à temperatura elevada θ;

εf - emissividade do compartimento de incêndio;

εm - emissividade da superfı́cie do elemento;

εs - extensão do aço;

εs (θ) - extensão do aço à temperatura elevada θ;

ηf i - factor de redução a aplicar a Ed para obter o valor de cálculo do efetio das acções em
situação de incêndio Ef i,d ;

θ - temperatura; ângulo;

θcr,d - valor de cálculo da temperatura crı́tica do elemento;

θd - valor de cálculo da temperatura do elemento;

θg - temperatura do compartimento de incêndio;

θm - temperatura na superfı́cie do elemento;

θr - temperatura de radiação na vizinhança do elemento;

λ - condutividade térmica da envolvente do compartimento;

λc - condutividade térmica do betão;

λi - condutividade térmica da camada i;

µ - momento flector reduzido;

ν - esforço normal reduzido;

ρ - massa especı́fica da envolvente do compartimento; densidade aparente;

ρi - massa especı́fica da camada i;

ρcp - calor especı́fico volumétrico;

σ - constante de Stephan-Boltzmann (= 5, 67 · 10−8 W/m2 K 4 );

φ - diâmetro dos varões;

ψi - factor das cargas de incêndio protegidas;

ψ1,1 - factor de combinação para o valor frequente da acção variável;

ψ2,i - factor de combinação para o valor quase-permanente da acção variável i;

ωtot - percentagem mecânica de armadura.


xii
Índice

Simbologia xii

1 Introdução 1
1.1 Enquadramento e Objectivos da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Organização em Capı́tulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

2 Segurança Contra Incêndios 3


2.1 Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Procedimentos Gerais para a Verificação da Resistência ao Fogo . . . . . . . . 11

3 Acção do Fogo 13
3.1 Acções Térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1 Propagação do calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1.1 Condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1.2 Convecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1.3 Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1.4 Disposições regulamentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.1.2 O incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.3 Curvas de incêndio nominais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1.4 Curvas de incêndio paramétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.1.5 Densidade de carga de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Combinação de Acções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

4 Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço 25


4.1 Betão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.1.1 Distribuição de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.1.1.1 Condutividade térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.1.1.2 Calor especı́fico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.1.1.3 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.1.1.4 Difusividade térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.2 Propriedades mecânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.2.1 Resistência à compressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.2.2 Resistência à tracção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.1.2.3 Módulo de elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.1.2.4 Extensão térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

xiii
xiv ÍNDICE

4.2 Aço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.1 Distribuição de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2 Propriedades Mecânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2.1 Tensão de cedência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2.2.2 Relações tensões-extensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.2.2.3 Módulo de elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2.2.4 Extensão térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5 Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio 43


5.1 Exemplos de Casos Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1.1 Caso 1 - Estudo paramétrico de vigas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1.2 Caso 2 - Estudo paramétrico de pórticos . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5.1.3 Caso 3 - Avaliação da segurança de pórticos submetidos a incêndio . . 49
5.1.4 Disposições regulamentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.2 Fogos Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2.1 Armazém no porto de Gante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2.2 Biblioteca de Linköping . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6 Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém 59


6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.1.1 Descrição do edifı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.1.2 Danos provocados pelo incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.1.2.1 Danos Estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.1.2.2 Danos Não Estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
6.1.3 Segurança sı́smica do imóvel após o incêndio . . . . . . . . . . . . . . 63
6.2 Modelação e Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.3 Dimensionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
6.4 Avaliação da Capacidade Resistente dos Pilares . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.4.1 Momentos flectores resistentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.4.2 Esforço transverso resistente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
6.5 Apresentação e Análise de Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
6.5.1 Caso 1 - Incêndio na Rampa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
6.5.1.1 Variações de temperatura aplicadas à laje da rampa . . . . . 72
6.5.1.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas da rampa . . . . 74
6.5.2 Caso 2 - Incêndio no R/c . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.5.2.1 Variações de temperatura aplicadas às lajes do r/c e da rampa 76
6.5.2.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas do r/c e da rampa 78
6.5.3 Caso 3 - Incêndio no R/c - Inexistência de rampa . . . . . . . . . . . . 79
6.5.3.1 Variações de temperatura aplicadas às lajes do r/c . . . . . . 80
6.5.3.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas do r/c . . . . . 81
6.6 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
ÍNDICE xv

7 Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo 85


7.1 Propriedades Residuais dos Materiais Após Aquecimento . . . . . . . . . . . . 85
7.2 Caracterização dos Danos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.2.1 Coloração do betão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.2.2 Fissuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.2.3 Esfoliação do betão - Spalling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.2.4 Deformação dos elementos estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.2.5 Encurvadura das armaduras principais em elementos comprimidos . . 90
7.2.6 Ataque quı́mico de cloretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
7.3 Ensaios Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
7.3.1 Teste da termoluminiscência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
7.4 Avaliação da Segurança Estrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
7.5 Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo . . . . . . . . . . . 95
7.5.1 Estruturas de betão armado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7.5.1.1 Reparação de lajes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7.5.1.2 Reparação de vigas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
7.5.1.3 Reparação de pilares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
7.5.2 Estruturas de betão pré-esforçado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

8 Conclusão 101

Bibliografia 105

A Expressões das curvas paramétricas 107

B Peças Desenhadas 113

C Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado 117


xvi ÍNDICE
Lista de Figuras

2.1 Fraca condutividade térmica do betão [1]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3


2.2 Procedimentos de cálculo alternativos segundo o Eurocódigo 2 [3]. . . . . . . . 4
2.3 Ensaio à escala real num edifı́cio de 7 pisos, em estrutura de betão armado,
BRE, Cardington, Reino Unido [6]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.4 Ensaio à escala real num edifı́cio de 23 pisos, em estrutura de betão armado,
Dalmarnock, Escócia [7]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.5 Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [1]. 8
2.6 Métodos de avaliação da resistência ao fogo de estruturas [12]. . . . . . . . . 11
2.7 Domı́nios da verificação da resistência ao fogo [3]. . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.1 Convecção, Radiação e Condução, respectivamente [14]. . . . . . . . . . . . . 13


3.2 Curva de incêndio natural; a - fase de ignição, b - fase de propagação, c - fase
de desenvolvimento pleno, d - fase de extinção [17]. . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Curvas de incêndio nominais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4 Curvas paramétricas em função do factor de abertura. . . . . . . . . . . . . . 19
3.5 Curvas paramétricas em função da densidade de carga de incêndio. . . . . . . 20
3.6 Variação do factor de redução ηf i com o quociente de cargas ξ = Qk,1 /Gk . . . 23

4.1 Condutividade térmica para diferentes tipos de betão [20]. . . . . . . . . . . . 26


4.2 Condutividade térmica do betão segundo o Eurocódigo 2. . . . . . . . . . . . . 27
4.3 Calor especı́fico do betão para diferentes tipos de betão [20]. . . . . . . . . . . 27
4.4 Calor especı́fico cp (θ) em função da temperatura para 3 teores de humidade
diferentes, u, de 0, 1,5 e 3% do peso do betão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.5 Variação da densidade real, densidade aparente e porosidade da pasta de ci-
mento com a temperatura [12]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.6 Variação da densidade de betões com diferentes tipos de agregados com a tem-
peratura. Nota: Calcário I e Calcário II resulta de 2 autores diferentes [12]. . 29
4.7 Difusividade térmica para diferentes tipos de betão [20]. . . . . . . . . . . . . 30
4.8 Incompatibilidade térmica entre o agregado e a pasta de cimento [12]. . . . . 31
4.9 ”Load Induced Thermal Strain”(LITS) para um betão de agregados basálticos,
determinada através da diferença entre dilatações térmicas com nı́veis de carga
de 0 e 10% da resistência fck [12]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.10 Redução da resistência residual e do módulo de elasticidade de um betão C70
aquecido sem carga e com um carregamento de 20% de fck [12]. . . . . . . . . 32

xvii
xviii LISTA DE FIGURAS

4.11 Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões do betão sob com-


pressão a temperaturas elevadas [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.12 Factor de redução da resistência à compressão do betão kc (θ) segundo o Eu-
rocódigo 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.13 Factor de redução da resistência à tracção do betão kc,t (θ) segundo o Eu-
rocódigo 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.14 Efeito da temperatura no módulo de elasticidade [20]. . . . . . . . . . . . . . 35
4.15 Extensão térmica do betão de vários tipos de agregados [20]. . . . . . . . . . . 36
4.16 Extensão térmica do betão segundo o Eurocódigo 2. . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.17 Diminuição da tensão de cedência dos aços de armadura com a temperatura [20]. 38
4.18 Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões dos aços de armadura
ordinária e de pré-esforço a temperaturas elevadas (no caso do aço de pré-
esforço os ı́ndices ”s”deverão ser substituı́dos por ”p”. . . . . . . . . . . . . . 39
4.19 Factor de Redução dos aços de armadura ks (θ) segundo o Eurocódigo 2. . . . 39
4.20 Factor de Redução dos aços de pré-esforço kp (θ) segundo o Eurocódigo 2. . . 39
4.21 Efeito da temperatura no módulo de elasticidade dos aço de betão armado [20]. 40
4.22 Extensão térmica dos aços de armadura e de pré-esforço (provetes não car-
regados) [20]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.23 Extensão térmica do aço de armadura e de pré-esforço segundo o Eurocódigo 2. 41

5.1 Estudo paramétrico de vigas [22]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44


5.2 Comportamento da viga de secção rectangular com 6 m de vão e rigidez axial
k = EA/L [22]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.3 Estudo paramétrico de pórticos [22]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.4 Pórtico de betão armado com os pilares expostos ao fogo numa face e com uma
viga de 6 m de vão (secção rectangular) [22]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.5 Curva de incêndio paramétrica adoptada na análise [23]. . . . . . . . . . . . . 50
5.6 Geometria e dimensões dos pórticos analisados [23]. . . . . . . . . . . . . . . 50
5.7 Condições de aquecimento das vigas [23]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.8 Momentos flectores máximos no pórtico A [23]. . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.9 Momentos flectores máximos para o incêndio localizado nos compartimentos I
e II [23]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.10 Envolvente dos momentos flectores resistentes sobre os apoios em situação de
incêndio [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.11 Colapso num armazém no porto de Gante devido ao incêndio [22]. . . . . . . 56
5.12 Colapso do edifı́cio da biblioteca de Linköping devido ao incêndio [25]. . . . . 57
5.13 Corte esquemático do edifı́cio da biblioteca de Linköping [25]. . . . . . . . . . 57
5.14 Perfil de temperatura calculado ao longo da secção da laje de acordo com a
curva de incêndio padrão ISO 834 [25]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.15 Evolução da temperatura média ao longo da secção da laje [25]. . . . . . . . . 57

6.1 Vista aérea do edifı́cio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59


6.2 Fachada frontal do edifı́cio (Corpo A). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.3 Armaduras à vista numa viga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
LISTA DE FIGURAS xix

6.4 Armaduras à vista num pilar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62


6.5 Pinturas e revestimentos deteriorados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
6.6 Vista 3D do modelo (Corpo A). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.7 Processo de linearização de temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
6.8 Caso 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
6.9 Caso 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
6.10 Caso 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
6.11 Peso próprio e revestimentos na laje do tecto do 1.o e 2.o piso (kN/m2 ). Laje
L10 a azul escuro e laje L11 a azul claro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.12 Pormenorizações adoptadas para os pilares do edifı́cio. . . . . . . . . . . . . . 70
6.13 ∆T e ∆Td . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
6.14 Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme na laje da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.15 Deformação da laje da rampa para a acção da componente diferencial de tem-
peratura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.16 Rotura por corte segundo x no pilar P19. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.17 Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c e da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.18 Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . 81

7.1 Valores residuais das tensões de cedência e rotura do aço para betão armado e
betão pré-esforçado, em função da temperatura máxima atingida [28]. . . . . 86
7.2 Módulo de elasticidade de vários aços após aquecimento a temperaturas ele-
vadas [21]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.3 Propriedades mecânicas do betão de agregado quartzı́tico após aquecimento a
temperaturas elevadas [21]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.4 Tensão de aderência aço-betão após aquecimento a temperaturas elevadas [21]. 87
7.5 Esfoliação do betão - ”spalling”[29]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.6 Influência da tensão de compressão e da espessura da peça no fenómeno de
”spalling”[30]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.7 Encurvadura das armaduras principais em pilares [18]. . . . . . . . . . . . . . 91
7.8 Nı́veis de dano em pilares de betão armado [32]. . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7.9 Reforço de uma laje com malha electrossoldada [28]. . . . . . . . . . . . . . . 97
7.10 Técnicas de reparação de vigas danificadas por incêndio através de reforço com
armadura longitudinal e transversal suplementar [28]. . . . . . . . . . . . . . 97
7.11 Reparação de um pilar danificado por incêndio através de reforço por encamisa-
mento com armadura longitudinal e transversal suplementar [28]. . . . . . . . 98

A.1 Curva ISO 834 e curva paramétrica para Γ = 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

B.1 Planta esquemática do tecto do r/c (dimensões em metros). . . . . . . . . . . 114


o o
B.2 Planta esquemática do tecto do 1. e 2. andares (dimensões em metros). . . 115
B.3 Planta esquemática da cobertura (dimensões em metros). . . . . . . . . . . . . 116
xx LISTA DE FIGURAS

C.1 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ6mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
C.2 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ6mm, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
C.3 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
C.4 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
C.5 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
C.6 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
C.7 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ20mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da tempe-
ratura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
C.8 Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ20mm, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da
temperatura máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
C.9 Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço de pré-esforço, com arre-
fecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
C.10 Valores da extensão residual de rotura do aço de pré-esforço, com arrefecimento
ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura
máxima atingida [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Lista de Tabelas

2.1 Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [3]. 9


2.2 Correspondência para as qualificações de resistência ao fogo de elementos es-
truturais entre as especificações LNEC e os Eurocódigos [8]. . . . . . . . . . . 10

3.1 Valores do coeficiente de transmissão de calor por convecção αc . . . . . . . . 15

4.1 Principais parâmetros do diagrama de tensões-extensões do betão a temperatu-


ras elevadas [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Variação das propriedades dos aços com a temperatura [21]. . . . . . . . . . . 38

5.1 Descrição dos pórticos analisados [23]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51


5.2 Descrição dos casos analisados [23]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.3 Dimensões e armaduras das secções das vigas e pilares [23]. . . . . . . . . . . 52
5.4 Esforços no pórtico A (secção de meio vão da viga aquecida) [23]. . . . . . . 53
5.5 Esforços no pórtico A (secção de ligação da viga aquecida com o pilar central)[23]. 53

6.1 Caracterı́sticas dos materiais estruturais utilizados. . . . . . . . . . . . . . . . 65


6.2 Dimensões das secções usadas na análise. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
6.3 Acções permanentes e variáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.4 Cálculo das armaduras dos pilares do edifı́cio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
6.5 Momentos flectores resistentes dos dois tipos de pilares. . . . . . . . . . . . . 71
6.6 Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de tempe-
ratura uniforme aplicada à laje da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
6.7 Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de tempe-
ratura diferencial aplicada à laje da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.8 Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de tempe-
ratura uniforme aplicada às vigas da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.9 Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de tempe-
ratura diferencial aplicada às vigas da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.10 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.11 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.12 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . 79

xxi
xxii LISTA DE TABELAS

6.13 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa. . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.14 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.15 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.16 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.17 Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa). . . . . . . . . . . . . . . . 83

7.1 Classificação de danos devido ao fogo [32]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93


7.2 Estimativa pseudo-quantitativa da relação entre a capacidade resistente resid-
ual e a inicial para elementos estruturais de betão armado de edifı́cios recentes
e antigos danificados por incêndios [32]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7.3 Factores de redução da resistência à compressão do betão [21]. . . . . . . . . 94

A.1 Valores de tlim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110


Capı́tulo 1

Introdução

1.1 Enquadramento e Objectivos da Dissertação


Como é do conhecimento geral, o betão apresenta uma boa resistência quando sujeito a
altas temperaturas. A sua não-combustibilidade e fraca condutividade, aliada ao facto de não
produzir fumo nem emitir vapores tóxicos, faz com que seja um dos materiais mais resistentes
ao fogo de que se dispõe. Aliás, esta foi uma das razões que conduziu ao sucesso deste material
durante o século XX.
As elevadas temperaturas a que os materiais de construção e a própria estrutura estão
sujeitos na ocorrência de um incêndio, originam diversas transformações capaz de afectar
gravemente as suas caracterı́sticas mecânicas e a sua distribuição global de esforços.
A actual regulamentação em vigor, permite analisar a segurança de uma estrutura contra
incêndio elemento a elemento, não tendo em conta a interacção entre eles. No entanto, quando
esta análise de elementos individuais é realizada, os resultados obtidos poderão ser bastante
conservativos ou, pelo contrário, contra a segurança.
Esta dissertação tem como principal objectivo a compreensão do comportamento global
de estruturas de betão armado quando sujeitas a incêndio. Na realidade, este é um fenómeno
ainda pouco explorado devido à sua enorme complexidade. A elevada concentração de in-
formação que é necessária para realizar uma análise global, tendo em conta a alteração das
propriedades dos materiais com o decorrer do incêndio, limita a utilização dos programas de
cálculo automático existentes e capazes de simular estes fenómenos, a estruturas simples, de
tal forma que, as estruturas mais complexas analisadas foram pórticos 2D. Assim, através
de um programa de cálculo automático usual (SAP2000), pretende-se analisar de uma forma
simplificada a influência da expansão térmica das vigas e das lajes nos pilares de um edifı́cio,
aspecto este muitas vezes responsável pelo colapso de estruturas reais.

1.2 Organização em Capı́tulos


A presente dissertação está organizada em 8 capı́tulos, o primeiro dos quais constituı́do
pela presente introdução.
No capı́tulo 2 procura-se fazer um balanço da actual regulamentação de segurança contra
incêndios em edifı́cios de betão armado.

1
2 1. Introdução

No capı́tulo 3 descrevem-se as acções a considerar no dimensionamento de estruturas


sujeitas a incêndio, referindo-se as acções térmicas e a combinação de acções.
O capı́tulo 4 descreve as propriedades térmicas e mecânicas do betão e do aço, mostrando
as suas evoluções com o aumento da temperatura.
No capı́tulo 5 apresentam-se três casos de estudo relacionados com comportamento global
de estruturas de betão armado perante o fogo, mostrando-se que este aspecto ainda se encontra
pouco explorado. São apresentados também dois exemplos de edifı́cios que colapsaram devido
às acções indirectas provocadas pelo incêndio na estrutura.
O capı́tulo 6 é dedicado ao caso prático desta dissertação. Nele procura-se estudar a
influência da dilatação térmica em lajes e vigas nos pilares de um edifı́cio.
No capı́tulo 7 salientam-se os danos mais comuns em estruturas expostas ao fogo, as
propriedades residuais dos materiais após incêndio e algumas formas simplificadas de avaliar
a resistência residual de estruturas. Descrevem-se também algumas técnicas de reparação e
reforço de estruturas danificadas pelo fogo.
O capı́tulo 8 apresenta uma sı́ntese do trabalho realizado, salientando as conclusões mais
importantes.
Por fim, em anexo, apresentam-se as expressões para a obtenção das curvas paramétricas
de incêndio referidas no capı́tulo 3 (anexo A) e as plantas esquemáticas do edifı́cio analisado
no capı́tulo 6 (anexo B).
Capı́tulo 2

Segurança Contra Incêndios

2.1 Considerações Gerais


O betão é o material estrutural mais usado nos dias de hoje. As suas principais vantagens
prendem-se com o facto de ser provavelmente o material mais versátil de todos e as suas es-
truturas poderem ser projectadas para fornecer a protecção desejada. Pode ser moldado em
quase todas as formas e projectado para resistir aos esforços estáticos e dinâmicos previstos.
Mas uma das maiores vantagens do betão em relação a outros materiais, é o seu desempenho
ao fogo. É um material não-combustı́vel (não arde), não produz fumo e não emite vapores
tóxicos, não necessitando, na maioria dos casos, de uma protecção adicional. O seu exce-
lente desempenho deve-se aos materiais que o constituem (cimento e agregados) que, quando
combinados quimicamente, formam um material essencialmente inerte e com uma fraca con-
dutividade térmica (figura 2.1). É esta fraca condutividade que permite que o betão actue
como uma barreira eficiente de protecção contra ao fogo, não apenas entre espaços adjacentes,
mas também protegendo as armaduras no seu interior. O projecto de estruturas em relação
ao fogo envolve a concepção, a verificação da resistência, de continuidade das armaduras e
um adequado detalhe das ligações [1].

Figura 2.1: Fraca condutividade térmica do betão [1].

3
4 2. Segurança Contra Incêndios

Os prejuı́zos causados pelos incêndios são bastante elevados. Estes devem-se, de um


modo geral, à perda de bens móveis e imóveis ou impossibilidade da sua utilização e à perda
de vidas ou incapacidade humana. Como é óbvio, a protecção da vida dos ocupantes é
considerada a importância primordial na segurança contra incêndios em edifı́cios, sendo no
entanto impossı́vel realizar uma construção com 100% de segurança [2]. Desta forma, os
edifı́cios devem possuir uma resistência ao fogo que permita a evacuação dos seus ocupantes e
a segurança das equipas de intervenção durante um perı́odo de tempo considerado adequado.
Em termos de dimensionamento de elementos estruturais em situação de incêndio, o
primeiro método internacionalmente aceite, consiste em colocar o elemento numa fornalha
e fazer variar a temperatura ao longo do tempo, de acordo com uma função normalizada -
curva de incêndio padrão ISO 834. O dimensionamento consiste em mostrar que o material
tem uma resistência ao fogo igual ou superior à resistência requerida regulamentarmente. No
entanto, o ensaio tem vindo a cair em desuso devido aos seus inconvenientes. É difı́cil repro-
duzir as condições reais de aquecimento e de ligação dos elementos à restante estrutura, as
caracterı́sticas das fornalhas variam de laboratório para laboratório apresentando diferentes
resultados. Para além destes inconvenientes, o tamanho dos elementos a ensaiar é também
limitado à dimensão da fornalha [3].
Os regulamentos nacionais que se referem ao dimensionamento de elementos à acção do
fogo são baseados no ensaio normalizado, sendo por isso de carácter prescritivo, não fazendo
distinção do tipo de incêndio, consequências da exposição ao fogo, condições de carregamento
e da interacção entre os vários elementos estruturais. No entanto, a tendência actual, é a de
abandonar o incêndio padrão e tornar os regulamentos menos prescritivos, passando a conside-
rar o desempenho dos elementos estruturais e de todos os factores que condicionam o incêndio
e a estrutura. Os Eurocódigos permitem a utilização de procedimentos prescritivos ou de pro-
cedimentos baseados no desempenho, como se observa na figura 2.2. Os métodos baseados
no desempenho levam à adopção de estratégias alternativas mais racionais e económicas [3].

Figura 2.2: Procedimentos de cálculo alternativos segundo o Eurocódigo 2 [3].


2.1. Considerações Gerais 5

Com o objectivo de melhorar a regulamentação de segurança contra incêndios em edifı́cios,


em especial no desenvolvimento de novos métodos baseados no desempenho, têm vindo a ser
desenvolvidos desde 1994, no Cardington Laboratory of the Building Research Establishment,
no Reino Unido, ensaios à escala real, sendo o primeiro realizado num edifı́cio com estrutura
metálica de 8 pisos. Entre Julho e Setembro de 2001, ensaiou-se um edifı́cio com estrutura
de betão com 7 pisos. A figura 2.3 mostra imagens desse ensaio.

Recentemente, em Julho de 2006, realizaram-se três ensaios à escala real num edifı́cio de
habitação de 23 pisos, localizado em Dalmarnock, na Escócia. A figura 2.4 apresenta imagens
desse ensaio.

Os ensaios à escala real são de uma enorme complexidade e bastantes onerosos. No entanto,
existe a necessidade da sua realização, não só para alargar o âmbito do conhecimento da
engenharia de estruturas, no que diz respeito à resistência ao fogo, mas também para validar
modelos analı́ticos, para desenvolver novos procedimentos de cálculo e para identificar modos
de rotura crı́ticos de uma estrutura num incêndio [4].

Em Portugal, só a partir de 1988, após a ocorrência do incêndio dos Armazéns do Chi-
ado na Baixa de Lisboa, é que surgiu a primeira regulamentação relativa à segurança contra
incêndios em edifı́cios. De acordo com este regulamento [5], as construções devem ser pro-
jectadas e construı́das de forma a que, na ocorrência de um incêndio, sejam verificadas as
seguintes condições [3]:

• Se possam evacuar os seus ocupantes ou salvá-los por outros meios;

• A segurança das equipas de intervenção seja tida em consideração;

• A produção e propagação de fogo e fumo, no interior da construção, sejam limitadas;

• A propagação do incêndio a construções vizinhas seja limitada;

• A capacidade resistente da construção possa ser garantida durante um perı́odo de tempo


pré-determinado.

O regulamento de segurança contra incêndios define, em função da utilização, altura e risco


de incêndio local e independentemente dos materiais de construção, a classe de resistência ao
fogo a que os edifı́cios devem pertencer. Essa resistência, de elementos ou compartimentos
estruturais, é avaliada pelo tempo que decorre desde o inı́cio do processo térmico normalizado
(por exemplo, a curva de incêndio padrão ISO 834) a que são submetidos, até deixarem
de satisfazer as funções para as quais foram projectados. Cada tipo de elemento terá uma
exigência particular, do tipo EF (Estável ao Fogo), PC (Pára-Chamas) ou CF (Corta-Fogo).
6 2. Segurança Contra Incêndios

a) - Vista geral do edifı́cio. b) - Carga de incêndio através de bar-


rotes de madeira.

c) - Sobrecarga através de sacos de d) - Incêndio durante a realização do


areia. ensaio.

f) - Destacamento do betão num e) - Destacamento do betão após o


canto de um pilar. ensaio.

Figura 2.3: Ensaio à escala real num edifı́cio de 7 pisos, em estrutura de betão armado, BRE,
Cardington, Reino Unido [6].
2.1. Considerações Gerais 7

a) - Vista geral do edifı́cio. b) - Carga de incêndio.

c) - Carga de incêndio. d) - Medidores de temperatura e


extensómetros por cima da laje do
compartimento incendiado.

f) - Incêndio durante a realização do e) - Aspecto final do compartimento


ensaio. após o incêndio.

Figura 2.4: Ensaio à escala real num edifı́cio de 23 pisos, em estrutura de betão armado,
Dalmarnock, Escócia [7].
8 2. Segurança Contra Incêndios

De acordo com o Artigo 4.o de [5], no caso de elementos em que se exija apenas a função de
suporte, como é o caso de vigas e pilares, admite-se que esta deixa de ser cumprida quando,
no decurso do processo térmico referido se considera esgotada a capacidade resistente do
elemento sujeito às acções de dimensionamento (exigência de estabilidade). Neste caso, o ele-
mento é classificado de ”Estável ao Fogo”, qualificação representada pelo sı́mbolo EF, durante
o tempo em que satisfaz tal exigência. Para os elementos em que se exija apenas a função
de compartimentação, tais como paredes divisórias, admite-se que esta função deixe de ser
cumprida quando, no decurso do processo térmico referido, se verifique a emissão de chamas
ou gases inflamáveis pela face do elemento não exposta ao fogo, seja por atravessamento ou
produção local devida a elevação de temperatura (exigência de estanquidade), ou quando no
decurso do mesmo processo térmico se atinjam certos limiares de temperatura na face do ele-
mento não exposta ao fogo (exigência de isolamento térmico). Neste caso, quando se considera
apenas a exigência de estanquidade, o elemento é qualificado de ”Pára-Chamas”, qualificação
representada pelo sı́mbolo PC, durante o tempo em que satisfaz tal exigência. Quando se
consideram simultaneamente as exigências de estanquidade e de isolamento térmico, o ele-
mento é qualificado de ”Corta-Fogo”, qualificação representada pelo sı́mbolo CF, durante o
tempo em que satisfaz esta dupla exigência.

A figura 2.5 ilustra estes três tipos de exigência.

A - A estrutura deve manter a sua capacidade de suporte (estável ao fogo).


B - A estrutura deve proteger as pessoas das chamas e gases (estanquidade às chamas e gases).
C - A estrutura deve proteger as pessoas do calor (isolamento térmico).

Figura 2.5: Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [1].

Na tabela 2.1 resume-se as exigências requeridas aos elementos de construção em função


da sua qualificação.
2.1. Considerações Gerais 9

Tabela 2.1: Exigências requeridas aos elementos de construção em situação de incêndio [3].

Qualificação
Exigência
EF - Estável ao Fogo PC - Pára-Chamas CF - Corta-Fogo
Estabilidade Sim Sim Sim
Estanquidade às
Não Sim Sim
chamas e gases
Isolamento térmico Não Não Sim

O Artigo 4.o de [5], refere ainda que a classificação dos elementos estruturais ou de com-
partimentação do ponto de vista da sua resistência ao fogo compreende, para cada uma das
três qualificações anteriores, nove classes, correspondentes aos escalões de tempo a seguir
indicados, em minutos, pelo limite inferior de cada escalão:

15 30 45 60 90 120 180 240 360

A representação da classe de resistência ao fogo de um elemento é constituı́da pela in-


dicação do sı́mbolo que designa a qualificação do elemento, seguida da indicação do escalão
de tempo em que é válida a qualificação atribuı́da. A tı́tulo de exemplo, um elemento que
deve ser estável ao fogo durante noventa minutos é representado por EF90.

Será lançado brevemente, por parte do Ministério da Administração Interna, o novo Reg-
ulamento Geral de Segurança Contra Incêndios em Edifı́cios (RG-SCIE), encontrando-se já
disponı́vel uma versão projecto [8]. Este regulamento estabelece condições de segurança con-
tra incêndio a aplicar a todas as utilizações de edifı́cios, bem como a recintos itinerantes ou ao
ar livre, completando assim o anterior regulamento. Este documento engloba as disposições
regulamentares de segurança contra incêndio aplicáveis a todos os edifı́cios e recintos, dis-
tribuı́dos por 12 utilizações-tipo, cada uma delas classificada em 4 categorias de risco, a que
correspondem exigências de segurança crescentes. Esta classificação é diferente para cada
utilização-tipo, e tem em consideração factores como a altura, a área, o efectivo e a carga de
incêndio. São considerados não apenas os edifı́cios de utilização exclusiva, mas também os
edifı́cios de ocupação mista.

No que diz respeito ao cálculo estrutural, em 1990 o LNEC publicou um conjunto de


recomendações para verificar a segurança de estruturas de betão armado e pré-esforço em
relação ao fogo [9]. Até à data, não existia ainda informação suficiente que permitisse o
tratamento com generalidade desta matéria. Surge então nesta publicação, um conjunto
de simplificações que permite estabelecer procedimentos práticos, com aplicabilidade bem
delimitada e suficientemente seguros.
Actualmente, deverá utilizar-se a seguinte regulamentação estrangeira para o cálculo es-
trutural, onde se encontram incluı́das as simplificações do documento anterior:

• Eurocódigo 2, Parte 1-2 - Cálculo Estrutural ao Fogo [10], onde se estabelecem regras
para o cálculo da capacidade resistente de estruturas de betão armado e pré-esforçado
em situação de incêndio e se definem as propriedades térmicas e mecânicas do betão e
das armaduras em função da temperatura;
10 2. Segurança Contra Incêndios

• Eurocódigo 1, Parte 1-2 - Acções em Estruturas Sujeitas a Incêndio [11], onde se faz a
caracterização das acções térmicas.

Conforme as qualificações anteriormente referidas, presentes no regulamento de segurança


contra incêndios e também no novo regulamento do LNEC, deverá ser estabelecida a corres-
pondência da tabela 2.2 com os Eurocódigos:

Tabela 2.2: Correspondência para as qualificações de resistência ao fogo de elementos estru-


turais entre as especificações LNEC e os Eurocódigos [8].

Classificação de acordo Classificação segundo


Função do elemento com as especificações o sistema europeu
LNEC
Suporte de cargas EF R
Suporte de cargas e
estanquidade a chamas e PC RE
gases quentes
Suporte de cargas,
estanquidade a chamas e CF REI
gases quentes e
isolamento térmico
Estanquidade a chamas PC E
e gases quentes
Estanquidade a chamas
e gases quentes e CF EI
isolamento térmico

De acordo com a parte 1-2 do Eurocódigo 2, a resistência ao fogo de uma estrutura pode
ser avaliada segundo cinco nı́veis de complexidade crescente [12]:

• Ensaios experimentais, realizados em fornalhas;

• Utilização de tabelas, obtidas a partir de ensaios experimentais;

• Métodos de cálculo simplificados, usando fórmulas analı́ticas aplicáveis apenas a


elementos estruturais isolados;

• Métodos de cálculo avançados, que podem ser usados na simulação do compor-


tamento da estrutura global, partes da estrutura (pórticos, por exemplo) e elementos
estruturais isolados (vigas, pilares ou lajes), desprezando qualquer interacção entre eles;

• Ensaios à escala real.

Estes métodos estão ilustrados na figura 2.6.


2.2. Procedimentos Gerais para a Verificação da Resistência ao Fogo 11

Figura 2.6: Métodos de avaliação da resistência ao fogo de estruturas [12].

2.2 Procedimentos Gerais para a Verificação da Resistência


ao Fogo
Segundo a parte 1-2 do Eurocódigo 1, o cálculo da resistência ao fogo dos elementos
estruturais passa pelas seguintes fases [3]:

• definição da acção térmica;

• definição das acções mecânicas a considerar na situação de incêndio;

• cálculo da evolução da temperatura θd nos elementos estruturais;

• determinação do valor de cálculo dos efeitos das acções em situação de incêndio no


instante de tempo t, Ef i,d,t ;

• determinação do valor de cálculo da capacidade resistente em situação de incêndio no


instante de tempo t, Rf i,d,t ;

• verificação da resistência ao fogo, que pode ser feita em três domı́nios diferentes (figura
2.7):

1. no domı́nio do tempo:
tf i,d ≥ tf i,requ (2.1)

2. no domı́nio da resistência:

Rf i,d,t ≥ Ef i,d,t , no instante tf i,requ (2.2)


12 2. Segurança Contra Incêndios

3. no domı́nio da temperatura:

θd ≤ θcr,d , no instante tf i,requ (2.3)

onde,

tf i,d - é o valor de cálculo da resistência ao fogo;

tf i,requ - é o tempo de resistência ao fogo requerido regulamentarmente;

θd - é o valor de cálculo da temperatura do elemento;

θcr,d - é o valor de cálculo da temperatura crı́tica do elemento.

1 - Domı́nio do tempo.
2 - Domı́nio da resistência.
3 - Domı́nio da temperatura.

Figura 2.7: Domı́nios da verificação da resistência ao fogo [3].


Capı́tulo 3

Acção do Fogo

No cálculo estrutural ao fogo é necessário definir dois tipos de efeitos: térmicos e mecânicos.
Os primeiros, que dependem sobretudo das caracterı́sticas dos elementos expostos e da en-
volvente do incêndio, avaliam a evolução da temperatura nos elementos e estão definidos na
Parte 1-2 do Eurocódigo 1. Os segundos, dizem respeito à combinação de acções a considerar
no cálculo estrutural, envolvendo não só as acções permanentes e variáveis habituais, mas
também as consequências das acções térmicas nos elementos estruturais, estando definidos na
EN 1990 e nos vários Eurocódigos especı́ficos para cada tipo de material estrutural.

3.1 Acções Térmicas


3.1.1 Propagação do calor
Os três modos de transmissão de calor habitualmente considerados são a condução, a
convecção e a radiação.
As propagações de calor são feitas por convecção dos gases quentes sobre as paredes e
tectos, sobre os elementos visı́veis por radiação das chamas e fumos e por fim, por condução
no seio das paredes e dos materiais que não sofreram combustão (figura 3.1) [13].

Figura 3.1: Convecção, Radiação e Condução, respectivamente [14].

3.1.1.1 Condução

É o processo de propagação de calor no interior dos sólidos e fluidos em repouso por


contacto ou por aquecimento, das partes mais quentes para as partes mais frias, sem que haja

13
14 3. Acção do Fogo

transporte de matéria. O fenómeno da condução de calor pode ser regido matematicamente


pela lei de Fourier. No caso unidimensional, se for admitida nula a produção interna de calor,
a expressão da condução é dada pela equação (3.1).

dθ(x)
ḣc = −k · [W/m2 ] (3.1)
dx

onde,

ḣc - densidade de fluxo de calor no interior do corpo [W/m2 ];

k - coeficiente de condutibilidade térmica [W/mo C];

θ - temperatura no interior do elemento [o C];

x - coordenada de posição [m].

3.1.1.2 Convecção

A convecção verifica-se quando determinadas partes de um sistema estão em movimento


e transportam com elas o calor que receberam, seja por contacto com partes fixas mais
quentes, seja ainda no seu próprio seio, devido a uma dissipação interna (reacção quı́mica).
A convecção depende bastante da geometria do compartimento, da natureza do escoamento
(natural ou forçado) e das propriedades termodinâmicas dos gases. Quando o escoamento
é devido a uma reacção mecânica exterior a convecção é forçada, no entanto, se este ocorre
devido aos próprios efeitos térmicos da reacção, a convecção é natural.
O fenómeno da convecção ocorre quando surge uma diferença de massa volúmica entre
partı́culas fluidas quentes e frias.
Pode-se traduzir matematicamente a convecção através da lei de Newton (equação (3.3))
respeitando as disposições indicadas na Parte 1-2 do Eurocódigo 1 e que se apresentam na
tabela 3.1.

3.1.1.3 Radiação

Segundo as leis da termodinâmica, o calor à superfı́cie de um corpo é transformado em


radiação electromagnética que se propaga no vazio. Esta radiação tem comprimento de onda
superior à luz visı́vel e situa-se no domı́nio dos infravermelhos. Desta forma, ao atingir a
superfı́cie de um outro meio, uma parte é reflectida, outra transmitida e outra absorvida,
degradando-se em calor. Tem-se assim uma transferência de calor de um corpo para outro
sob a forma de radiação electromagnética.
À transformação de calor em radiação dá-se o nome de emissão, e ao processo de trans-
formação de radiação em calor chama-se absorção.
Os corpos sólidos emitem uma grande radiação ao contrário do que sucede com os gases
quentes e a radiação da chama.
Para descrever o fenómeno da radiação usa-se a expressão de Stefan-Boltzmann (equação
(3.4)). O modelo numérico usado para caracterizar a acção do fogo sobre as estruturas usado
pelo Eurocódigo 1 é baseado nessa equação.
3.1. Acções Térmicas 15

3.1.1.4 Disposições regulamentares

As acções térmicas são definidas através de uma densidade de fluxo de calor incidente
na fronteira do elemento, ḣnet,d , que inclui duas parcelas, uma relacionada com a convecção
ḣnet,c e a outra com a radiação ḣnet,r . A densidade de fluxo de calor por unidade de área é,
segundo a equação 3.1 de [11], dada por:

ḣnet,d = ḣnet,c + ḣnet,r [W/m2 ] (3.2)

onde,

ḣnet,c = αc · (θg − θm ) [W/m2 ] (3.3)

ḣnet,c - densidade de fluxo de calor incidente na superfı́cie fronteira do elemento devido à


convecção [W/m2 ];

αc - coeficiente de transmissão de calor por convecção [W/m2 K] - tabela 3.1;

θg - temperatura dos gases na vizinhança do elemento [o C];

θm - temperatura na superfı́cie do elemento [o C].

ḣnet,r = Φ · εf · εm · σ · [(θr + 273)4 − (θm + 273)4 ] [W/m2 ] (3.4)

ḣnet,r - densidade de fluxo de calor incidente na superfı́cie fronteira do elemento devido à


radiação [W/m2 ];

Φ - factor de configuração e que segundo [11] deve ser considerado 1,0;

εf - emissividade do compartimento de incêndio que segundo [11] deve ser igual a 1,0;

εm - emissividade da superfı́cie do elemento e que deverá valer segundo [15] e [16] 0,7 para
os aços de carbono e para o betão, e 0,4 para os aços inoxidáveis;

σ - constante de Stefan-Boltzmann [= 5, 67 · 10−8 W/m2 K 4 ];

θr - temperatura de radiação na vizinhança do elemento (podendo tomar-se igual à tempe-


ratura da massa de ar) [o C];

θm - temperatura na superfı́cie do elemento [o C].

Tabela 3.1: Valores do coeficiente de transmissão de calor por convecção αc .

αc [W/m2 K]
Modelo
Faces expostas Faces não expostas
Incêndio padrão ISO 834 25,0
Incêndio para elementos exteriores 25,0 4,01
Incêndio de hidrocarbonetos 50,0

1 Caso se pretenda englobar o efeito da transmissão de calor por radiação o coeficiente de transmissão de
calor por convecção deverá valer αc = 9 W/m2 K.
16 3. Acção do Fogo

3.1.2 O incêndio
Para a ocorrência de um incêndio é necessária a existência simultânea de três factores:
combustı́vel, comburente (oxigénio) e uma fonte de calor. Quando a mistura combustı́vel/oxi-
génio está suficientemente quente para que possa ocorrer a combustão, dá-se inı́cio ao incêndio
[3].
O progresso de um incêndio num edifı́cio pode ser descrito em quatro fases principais:
ignição, propagação, desenvolvimento pleno e arrefecimento ou fase de extinção. A curva de
incêndio natural tı́pica está representada na figura 3.2.
A fase de ignição tem inı́cio se existir energia suficiente capaz de activar o material com-
bustı́vel na presença de oxigénio. Esta energia normalmente tem origem numa causa aciden-
tal como um curto-circuito, pontas de cigarros, faı́scas de uma operação de soldadura, ou
máquinas que não estejam a operar correctamente. Nesta fase, as temperaturas permanecem
baixas não tendo qualquer influência no comportamento estrutural do edifico [12].
Para o fogo se desenvolver para a fase de propagação e desenvolvimento pleno é necessária
a presença de oxigénio sob alguma forma de ventilação. Na fase de propagação, a energia
térmica é transferida por radiação ou por contacto directo, ocorrendo então o fenómeno co-
nhecido por flashover que se caracteriza por uma inflamação súbita dos gases e a generalização
do fogo a todo o compartimento. Este acontecimento ocorre geralmente entre os 450 o C e os
600 o C e a partir desse instante as temperaturas aumentam drasticamente [3].
Na fase de desenvolvimento pleno dá-se a queima do material combustı́vel e as tempera-
turas mantêm-se constantes.
Posteriormente ocorre uma fase de declı́nio (extinção ou arrefecimento) onde se consome
o resto do combustı́vel ainda existente ou existe intervenção dos bombeiros, diminuindo a
quantidade de calor libertada.

Figura 3.2: Curva de incêndio natural; a - fase de ignição, b - fase de propagação, c - fase
de desenvolvimento pleno, d - fase de extinção [17].

Normalmente classificam-se os incêndios naturais em dois tipos: incêndios controlados


3.1. Acções Térmicas 17

pela ventilação e incêndios controlados pela carga de incêndio.


Quando se verifica a existência de oxigénio em quantidade suficiente e a taxa de combustão
depende apenas das caracterı́sticas e quantidade de combustı́vel diz-se que o fogo é controlado
pela carga de incêndio. Por outro lado, se as aberturas de ventilação são demasiado pequenas
comparadas com a dimensão do incêndio, não permitindo a presença de oxigénio suficiente
para que este se desenvolva, está-se na presença de um fogo controlado pela ventilação [3].

3.1.3 Curvas de incêndio nominais


Devido à grande dificuldade em simular um incêndio real num compartimento foram
definidos modelos normalizados de curvas tipo da temperatura no interior do compartimento
em função do tempo. Estes modelos foram determinados resolvendo a equação de balanço de
energia para o compartimento. Desta forma, a parte 1-2 do Eurocódigo 1 define três curvas
nominais:

• Curva de incêndio padrão ISO 834:

θg = 20 + 345 log10 (8t + 1) [o C] (3.5)

onde,

θg - temperatura em graus Celsius no compartimento de incêndio ao fim do tempo t,


em minutos;
t - tempo, em minutos.

• Curva de incêndio para elementos exteriores:

θg = 660 · (1 − 0, 687e−0,32t − 0, 313e−3,8t ) + 20 [o C] (3.6)

onde,

θg - temperatura em graus Celsius à superfı́cie do elemento ao fim do tempo t, em


minutos;
t - tempo, em minutos.

• Curva de incêndio de hidrocarbonetos:

θg = 1080 · (1 − 0, 325e−0,167t − 0, 675e−2,5t ) + 20 [o C] (3.7)

onde,

θg - temperatura em graus Celsius no compartimento de incêndio ao fim do tempo t,


em minutos;
t - tempo, em minutos.

A figura 3.3 mostra o desenvolvimento destas três curvas que, como se observa, não pos-
suem fase de ignição, extinção e arrefecimento. No entanto, a experiência mostra que os efeitos
produzidos nas estruturas em incêndios correntes aproximam-se destes modelos matemáticos.
Desta forma, estabelece-se um bom paralelismo entre os modelos de fogo normalizados e os
modelos de fogo reais [18].
18 3. Acção do Fogo

Figura 3.3: Curvas de incêndio nominais.

A curva ISO 834 é a mais usada para avaliar a capacidade resistente de estruturas de
edifı́cios. A maioria dos ensaios experimentais e métodos de cálculo são baseados nesta curva.
Representa um incêndio num edifı́cio tipo onde a carga de incêndio provém de madeira,
papel, tecido, etc. A temperatura cresce infinitamente ao passo que num incêndio real esta
diminuirá quando a maioria dos materiais combustı́veis tiver ardido. A temperatura aumenta
rapidamente dos 20 o C até aos 842 o C após os primeiros 30 minutos, atingindo posteriormente
os 1000 o C ao fim de 87 minutos.
A curva de hidrocarbonetos foi desenvolvida nos anos 70 especialmente para representar o
incêndio em indústrias offshore e petroquı́micas. O seu rápido crescimento chega aos 900 o C
nos primeiros 5 minutos e atinge um pico de 1100 o C após 45 minutos. Esta curva representa
uma densidade de fluxo de calor de 200 kW/m2 . Nos anos 90 foram desenvolvidas curvas
de hidrocarbonetos mais severas com densidades de fluxos de calor que podem atingir os 300
kW/m2 cujo objectivo é simular incêndios em túneis [12].
A curva de incêndio de elementos exteriores é a menos severa já que estas soluções têm
a vantagem, do ponto de vista estrutural, de colocar a estrutura resistente fora do contacto
directo com o incêndio [3].

3.1.4 Curvas de incêndio paramétricas


As curvas paramétricas são, tal como as nominais, curvas que pretendem reproduzir a
evolução da temperatura em função do tempo. No entanto, estas dependem de certos aspectos
tais como a densidade de carga de incêndio, condições de arejamento e das paredes envolventes
do compartimento. No que diz respeito ao primeiro parâmetro, quanto maior for a carga de
incêndio maior será a duração do incêndio. Por outro lado, grandes aberturas de ventilação
aumentam a rapidez do incêndio tornando-os mais perigosos. O terceiro aspecto tem influência
na evolução da temperatura na medida em que se as paredes absorverem energia, estas limitam
3.1. Acções Térmicas 19

a temperatura do incêndio. Para além destes aspectos, as curvas paramétricas distinguem-se


também das nominais por possuı́rem fase de extinção, traduzindo assim melhor o incêndio
real. Em termos regulamentares, estas encontram-se definidas detalhadamente no anexo A
da parte 1-2 do Eurocódigo 1 [3].

Cada curva paramétrica possui uma expressão para a fase de aquecimento e outra para a
fase de arrefecimento. Estas expressões encontram-se no anexo A desta dissertação.

A tı́tulo de exemplo, apresentam-se na figura 3.4 várias curvas paramétricas para um


compartimento de habitação com paredes envolventes de betão, a que corresponde uma inércia
térmica das paredes b = 1900 J/m2 s1/2 K, uma densidade de carga de incêndio relativa à
área do pavimento de qf,d = 780 M J/m2 , uma área envolvente de At = 100 m2 , uma área de
pavimento de Af = 20 m2 , um tlim igual a 20 minutos (velocidade de propagação do incêndio
média) e onde se fez variar o factor de abertura O entre os seus valores limites, isto é, de
0, 02 m1/2 a 0, 20 m1/2 .

Como se observa na figura 3.4, para incêndios controlados pela ventilação (instante cor-
respondente à temperatura máxima dado por 0, 2 · 10−3 · qt,d /O) o aumento do factor de
abertura provoca incêndios mais curtos mas que atingem temperaturas mais elevadas. A
partir de determinado valor de O, o incêndio passa a ser controlado pela carga de incêndio
(instante correspondente à temperatura máxima dado por tlim , que para este exemplo vale
20 minutos) e o factor de abertura apenas se manifesta na velocidade de arrefecimento.

O exemplo seguinte (figura 3.5) mostra as curvas paramétricas para o mesmo compar-
timento de habitação, mas neste caso fixou-se o factor de abertura em O = 0, 1 m1/2 e
fez-se variar a densidade de carga de incêndio entre 300 M J/m2 e 2000 M J/m2 . Neste caso,
verifica-se que quando o incêndio é controlado pela ventilação (com temperaturas máximas
correspondentes a instantes superiores a tlim igual a 25 minutos), a fase de aquecimento é
influenciada pela densidade de carga de incêndio [3].

Figura 3.4: Curvas paramétricas em função do factor de abertura.


20 3. Acção do Fogo

Figura 3.5: Curvas paramétricas em função da densidade de carga de incêndio.

3.1.5 Densidade de carga de incêndio


A carga de incêndio no interior de um compartimento de incêndio é definida como a quan-
tidade total de calor Q libertada de uma combustão completa de todo o material combustı́vel
nele contido, incluindo mobiliário, revestimentos de paredes, pavimentos ou tectos, bem como
a estrutura resistente e não resistente. Quando se divide Q por uma área de referência obtém-
se uma densidade de carga de incêndio. A maioria dos paı́ses usam como área de referência
a área do pavimento Af , no entanto alguns usam a área interior total At das superfı́cies que
envolvem o compartimento de incêndio, incluindo todas as aberturas. O uso de At como área
de referência reside no facto desta quantidade ser um parâmetro fundamental no balanço de
calor do compartimento de incêndio [2].
Os valores caracterı́sticos das duas densidades de cargas de incêndio são dados por:
1 X
qf = Mk,i Hui ψi [M J/m2 ] (3.8)
Af
1 X
qt = Mk,i Hui ψi [M J/m2 ] (3.9)
At
onde,

qf - densidade de carga de incêndio por unidade de área do pavimento [M J/m2 ];

qt - densidade de carga de incêndio por unidade de área envolvente [M J/m2 ];

Mk,i - massa total de cada constituinte material combustı́vel existente no compartimento de


incêndio [kg];

Hui - poder calorı́fico efectivo de cada constituinte material combustı́vel existente no com-
partimento de incêndio [M J/kg];

Af - área do pavimento do compartimento de incêndio [m2 ];


3.2. Combinação de Acções 21

At - área total da superfı́cie interior do compartimento de incêndio, incluindo as aberturas


[m2 ].

ψi - factor opcional para avaliar as cargas de incêndio protegidas que, segundo [3], para a
maioria das aplicações práticas ψi = 1, 0 é um valor realista.

O poder calorı́fico efectivo Hu de alguns sólidos, lı́quidos e gases são indicados na tabela
E.3 de [11].
A expressão seguinte fornece o valor de cálculo da densidade de carga de incêndio:

qf,d = qf,k · m · δq1 · δq2 · δn [M J/m2 ] (3.10)

onde,

m - factor de combustão que para materiais celulósicos pode ser considerado igual a 0,8;

δq1 - factor que tem em conta o risco de activação de incêndio devido à dimensão do com-
partimento (tabela E.1 de [11]);

δq2 - factor que tem em conta o risco de activação de incêndio devido ao tipo de ocupação
(tabela E.1 de [11]);
Q10
δn = i=1 δni - factor que tem em conta as diferentes medidas activas de combate a incêndios
(sprinkler, detecção, alarme automático, bombeiros, etc.). Estas medidas activas são
impostas por razões de protecção de vidas (tabela E.2 de [11] e cláusulas (4) e (5) do
ponto E.1 do anexo E do mesmo documento).

qf,k - valor caracterı́stico da densidade de carga de incêndio por unidade de área de pavimento
[M J/m2 ] (tabela E.1 de [11]).

3.2 Combinação de Acções


De acordo com a regulamentação em vigor, o fogo é considerado uma acção acidental.
Deste modo, na verificação da segurança é necessário considerar ainda combinações de acções
que entrem em conta com a possibilidade de actuarem em simultâneo várias solicitações.
Sendo assim, segundo [19], a combinação de acções a considerar é definida por:

X X X
Ef i,d,t = Gk + ψ1,1 · Qk,1 + ψ2,i · Q2,i + Ad (3.11)

onde,

Ef i,d,t - valor de cálculo dos efeitos das acções em situação de incêndio;

Gk - valor caracterı́stico das acções permanentes;

Qk,1 - valor caracterı́stico da acção variável de base;

Q2,i - valor caracterı́stico de uma acção variável distinta da acção de base;

Ad - valor de cálculo das acções que por via indirecta são originadas pelo incêndio (esforços
internos resultantes das restrições à dilatação térmica dos elementos da estrutura e efeito
da temperatura nas propriedades mecânicas dos materiais);
22 3. Acção do Fogo

ψ1,1 - coeficiente de combinação associado à acção variável de base;

ψ2,i - coeficiente de combinação associado às restantes acções variáveis.

Os valores dos coeficientes de combinação ψ1,1 e ψ2,i encontram-se na tabela A1.1 do


anexo A1 da EN 1990 [19].

No caso de uma análise por elementos e com o objectivo de simplificar os cálculos, a EN


1992-1-2 [10] permite que os efeitos das acções em situação de incêndio Ef i,d sejam obtidos a
partir dos efeitos das acções à temperatura ambiente Ed , afectados de uma percentagem ηf i
de acordo com a equação (3.12).

Ef i,d,t = Ef i,d = ηf i · Ed (3.12)

onde,

Ed - valor de cálculo dos efeitos produzidos na estrutura para a combinação fundamental de


acções de acordo com [19];

Ef i,d - valor de cálculo dos efeitos produzidos na estrutura em situação de incêndio dado por
(3.11).

ηf i - factor de redução para o valor de cálculo do nı́vel de carga em situação de incêndio dado
por:

Gk + ψ1,1 Qk,1
ηf i = (3.13)
γG Gk + γQ,1 Qk,1

onde,

γG - coeficiente parcial de segurança para a acção permanente à temperatura ambiente [γG =


1, 35];

γQ,1 - coeficiente parcial de segurança para da acção variável base à temperatura ambiente
[γQ,1 = 1, 5].

Na figura 3.6 indica-se a variação do factor de redução ηf i com o quociente de cargas


ξ = Qk,1 /Gk para diferentes valores de ψ1,1 , tal como está definido em [10]. O mesmo
documento refere que o factor ηf i = 0, 7 poderá ser usado como simplificação pelo lado da
segurança.
3.2. Combinação de Acções 23

Figura 3.6: Variação do factor de redução ηf i com o quociente de cargas ξ = Qk,1 /Gk .
24 3. Acção do Fogo
Capı́tulo 4

Propriedades Termo-Mecânicas
do Betão e do Aço

4.1 Betão
4.1.1 Distribuição de temperatura
A distribuição de temperatura no interior de uma secção é geralmente definida pela
equação (4.1), baseada no princı́pio da conservação de energia:

δT
ρcp · = div(λ grad T ) + H (4.1)
δt
onde,

λ - condutividade térmica [W/mK];

cp - calor especı́fico [J/kgK];

ρ - densidade [kg/m3 ];

ρcp - calor especı́fico volumétrico [J/m3 K];

H - calor gerado internamente por unidade de volume e de tempo.

Se for admitida nula a produção interna de calor, a equação (4.1) reduz-se à equação de
Fourier.

4.1.1.1 Condutividade térmica

A condutividade térmica do betão λ é bastante importante na avaliação dos campos de


temperaturas instaladas em elementos de betão armado sujeitos a incêndio, pois traduz a
maior ou menor facilidade com que o calor é transmitido desde a superfı́cie exterior da peça
até às armaduras [2]. Na figura 4.1 encontram-se três curvas propostas pelo CEB [20] para
a variação desta propriedade com a temperatura para diferentes tipos de betão. Como se
observa na figura 4.1, para qualquer tipo de betão verifica-se uma diminuição da condutividade
térmica à medida que a temperatura aumenta. Deste modo, se o valor de cálculo considerado

25
26 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

Figura 4.1: Condutividade térmica para diferentes tipos de betão [20].

para a condutividade térmica for o valor a 20 o C, obter-se-ão temperaturas no aço mais


elevadas e por conseguinte menores resistências ao fogo, estando-se por tanto do lado da
segurança [2].
A figura 4.1 mostra também que o tipo de agregado tem uma influência significativa na
condutividade. O betão leve tem uma condutividade térmica consideravelmente menor que
o betão normal. Os agregados calcários têm uma condutividade entre 15 a 20% menor que
os agregados siliciosos. O efeito das reacções endotérmicas a altas temperaturas devido ao
carbonato de cálcio, deve ser considerado separadamente [20].

Mais recentemente, o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10], propõe que a condutividade térmica do
betão de densidade normal se situe entre um limite superior e inferior, para uma temperatura
entre 20 e 1200 o C, de acordo com as equações (4.2) e (4.3) e a figura 4.2.

Limite superior:

λc = 2 − 0, 2451 · (θ/100) + 0, 0107 · (θ/100)2 [W/mK] (4.2)

Limite inferior:

λc = 1, 36 − 0, 136 · (θ/100) + 0, 0057 · (θ/100)2 [W/mK] (4.3)

4.1.1.2 Calor especı́fico

A resistência ao fogo de uma peça de betão armado é fundamentalmente influenciada pela


temperatura que as suas armaduras atingem. Desta forma, o calor especı́fico do betão (cp )
é um parâmetro de enorme importância, já que condiciona os gradientes térmicos instalados
em cada instante no elemento [2].
Como se observa na figura 4.3, o calor especı́fico aumenta com a temperatura até cerca
dos 400 o C mantendo-se depois praticamente constante. Da mesma figura conclui-se também
4.1. Betão 27

Figura 4.2: Condutividade térmica do betão segundo o Eurocódigo 2.

que o tipo de agregado usado tem pouca influência na variação desta grandeza, podendo-se
por isso adoptar uma curva que represente o calor especı́fico para todos os tipos de betão.

Por volta dos 100 o C dá-se a evaporação da humidade presente no betão. Este fenómeno
tem consequências positivas na resistência ao fogo das peças estruturais de betão, uma vez que,
durante o processo de evaporação, grande parte do calor que lhes é fornecido não contribui
para o aumento de temperatura [2] do betão.

Figura 4.3: Calor especı́fico do betão para diferentes tipos de betão [20].

Por sua vez, o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10] fornece as seguintes expressões para o cálculo
do calor especı́fico de betões com agregados calcários e siliciosos e com um teor de humidade
28 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

de 0%:

cp (θ) = 900 [J/kgK] se 20o C ≤ θ ≤ 100o C (4.4)


cp (θ) = 900 + (θ − 100) [J/kgK] se 100o C < θ ≤ 200o C (4.5)
cp (θ) = 1000 + (θ − 200)/2 [J/kgK] se 200o C < θ ≤ 400o C (4.6)
o o
cp (θ) = 1100 [J/kgK] se 400 C < θ ≤ 1200 C (4.7)

onde θ é a temperatura do betão (o C).

Em relação ao valor do calor especı́fico nas imediações dos 100o C, o Eurocódigo fornece
um valor de pico constante (cp.peak ) entre os 100 e os 115o C descendo de seguida linearmente
entre os 115 e os 120o C:

cp.peak = 900 J/kgK para um teor de humidade de 0,0% do peso do betão

cp.peak = 1470 J/kgK para um teor de humidade de 1,5% do peso do betão

cp.peak = 2020 J/kgK para um teor de humidade de 3,0% do peso do betão

A figura 4.4 ilustra a variação do calor especı́fico com a temperatura segundo o Eurocódigo
2 parte 1-2 [10] de acordo com as expressões anteriores.

Figura 4.4: Calor especı́fico cp (θ) em função da temperatura para 3 teores de humidade dife-
rentes, u, de 0, 1,5 e 3% do peso do betão.

4.1.1.3 Densidade

As alterações na densidade do betão estão relacionadas com mudanças de peso, dilatação


térmica e alterações na porosidade. A figura 4.5 mostra as variações da densidade real,
densidade aparente e porosidade da pasta de cimento com a temperatura. Estas variações
são originadas pelas reacções fı́sico-quı́micas que ocorrem no betão como a dilatação da água
4.1. Betão 29

a partir dos 80o C, perda da água retida por capilaridade entre os 100 e os 300o C, a dissociação
do hidróxido de cálcio entre os 400-500o C, e a descarbonatação do calcário a partir dos 600o C.

Figura 4.5: Variação da densidade real, densidade aparente e porosidade da pasta de cimento
com a temperatura [12].

Os agregados do betão assumem um papel importante na variação da densidade devido à


sua dissociação e dilatação com o aumento da temperatura. Os agregados carbonáticos, por
exemplo, apresentam uma redução da densidade muito significativa a partir dos 600o C e um
aumento acentuado da porosidade. Já os agregados basálticos e quartzı́ticos apresentam uma
redução da densidade mais gradual (figura 4.6) [12].

Figura 4.6: Variação da densidade de betões com diferentes tipos de agregados com a tempe-
ratura. Nota: Calcário I e Calcário II resulta de 2 autores diferentes [12].
30 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

4.1.1.4 Difusividade térmica

A difusividade térmica D indica como o calor se difunde através de um material e é


normalmente dada por:
λ
D= [m2 /s] (4.8)
ρcp
No caso de problemas de incêndios, onde as propriedades térmicas variam com a tempe-
ratura, a difusividade térmica nunca aparece na equação de Fourier. No entanto, dado que
este factor oferece uma ideia global do comportamento térmico do material, é interessante
conhecer a sua variação com a temperatura.
A figura 4.7 mostra a variação da difusividade térmica com a temperatura para diferentes
tipos de betão. Como se observa, o tipo de agregado tem influência significativa na difusivi-
dade. Regista-se também uma importante redução deste factor por volta dos 100 o C, redução
esta que se explica pela evaporação da humidade presente [20].

Figura 4.7: Difusividade térmica para diferentes tipos de betão [20].

4.1.2 Propriedades mecânicas


A temperaturas elevadas ocorrem também mudanças fı́sicas no betão provocando assim
alterações nas suas propriedades mecânicas. Para além da influência dos agregados, do tipo
e da quantidade de cimento, relação água/cimento, cura e teor de humidade, o comporta-
mento do betão é também afectado pelo grau de aquecimento e temperatura atingida durante
um incêndio. Os esforços mecânicos no betão deverão ser também considerados durante o
perı́odo de aquecimento. Devido aos fenómenos de fluência e relaxação, amostras carregadas
durante ensaios realizados, apresentam uma maior resistência à compressão que aquelas que
se encontram descarregadas.

4.1.2.1 Resistência à compressão

Antes de se explicar a influência do aumento de temperatura na resistência à compressão


do betão, existem dois aspectos positivos que importa ter em conta.
4.1. Betão 31

Influência da LITS

O facto da diferença de deformação, resultante da expansão do agregado e da retracção da


pasta de cimento quando o betão é aquecido acima dos 100o C, ser bastante grande (figura 4.8)
para ser acomodada por deformações elásticas deveria, no entender dos engenheiros nos anos
70, originar a rotura do betão. No entanto, a descoberta do fenómeno de LITS - Load Induced
Thermal Strain (”carga induzida pela deformação térmica”), veio esclarecer essa questão.

Figura 4.8: Incompatibilidade térmica entre o agregado e a pasta de cimento [12].

A LITS é obtida através da diferença entre a dilatação térmica de um provete não car-
regado e a dilatação de um provete sob carga constante antes e durante o aquecimento (figura
4.9).
A deformação imposta por este fenómeno é muito maior que a deformação elástica e
contribui de maneira significativa para a relaxação e redistribuição dos esforços térmicos no
betão sujeito a incêndio. Importa ainda referir que a LITS existe na compressão mas não na
tracção.
No entanto, este fenómeno não é ainda totalmente considerado pelos engenheiros de es-
truturas e, segundo [12], deveria ser incorporado com mais rigor nas normas e regulamentos.

Influência do carregamento durante o aquecimento

O outro aspecto positivo do betão a altas temperaturas é a influência do carregamento,


que coloca o material em compressão e ”compacta”o betão durante o aquecimento, impedindo
a formação de fendas. Tal como a LITS, é também um fenómeno de fraca consideração por
parte dos engenheiros e não se encontra adequadamente explorado nas normas e regulamentos.
A influência da temperatura no betão pode ser claramente diminuı́da quando este se en-
contra carregado. Tanto o módulo de elasticidade como a resistência à compressão diminuem
bastante menos com o aumento da temperatura quando o betão está carregado. No entanto,
o betão aquecido sem carga, sofre uma percentagem de redução no módulo de elasticidade
em relação ao seu valor inicial, muito maior que a resistência à compressão (figura 4.10) [12].
32 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

Figura 4.9: ”Load Induced Thermal Strain”(LITS) para um betão de agregados basálticos,
determinada através da diferença entre dilatações térmicas com nı́veis de carga de 0 e 10%
da resistência fck [12].

Figura 4.10: Redução da resistência residual e do módulo de elasticidade de um betão C70


aquecido sem carga e com um carregamento de 20% de fck [12].

Influência da temperatura

O Eurocódigo 2 [10] propõe que a resistência e deformação de um betão comprimido


uniaxialmente a elevadas temperaturas, devam ser obtidas através das relações tensões-
extensões presente na figura 4.11, onde fc,θ representa a resistência à compressão e εc1,θ
a extensão correspondente.
Os valores para cada um desses parâmetros são dados na tabela 4.1 em função da tem-
4.1. Betão 33

peratura para betões de densidade normal de agregados siliciosos e calcários. Para valores
intermédios poderá ser usada uma interpolação linear. Os valores de εcu1,θ que definem o
intervalo do ramo descendente podem também ser retirados da tabela 4.1.
O Eurocódigo refere ainda que qualquer ganho de resistência do betão na fase de arrefe-
cimento não deverá ser tida em conta.

Intervalo Tensão σc (θ)


3εf
ε ≤ εc1,θ  c,θ 2 
εc1,θ 2+ ε ε
c1,θ

εc1,θ < ε ≤ εcu1,θ Podem ser adoptados modelos lineares ou não lineares.

Figura 4.11: Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões do betão sob com-
pressão a temperaturas elevadas [10].

Tabela 4.1: Principais parâmetros do diagrama de tensões-extensões do betão a temperaturas


elevadas [10].

Agregados siliciosos Agregados calcários


Temperatura no betão (o C)
fc,θ /fck εc1,θ εcu1,θ fc,θ /fck εc1,θ εcu1,θ
o
[ C] [-] [-] [-] [-] [-] [-]
20 1,00 0,0025 0,0200 1,00 0,0025 0,0200
100 1,00 0,0040 0,0225 1,00 0,0040 0,0225
200 0,95 0,0055 0,0250 0,97 0,0055 0,0250
300 0,85 0,0070 0,0275 0,91 0,0070 0,0275
400 0,75 0,0100 0,0300 0,85 0,0100 0,0300
500 0,60 0,0150 0,0325 0,74 0,0150 0,0325
600 0,45 0,0250 0,0350 0,60 0,0250 0,0350
700 0,30 0,0250 0,0375 0,43 0,0250 0,0375
800 0,15 0,0250 0,0400 0,27 0,0250 0,0400
900 0,08 0,0250 0,0425 0,15 0,0250 0,0425
1000 0,04 0,0250 0,0450 0,06 0,0250 0,0450
1100 0,01 0,0250 0,0475 0,02 0,0250 0,0475
1200 0,00 - - 0,00 - -
34 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

Na figura 4.12 encontra-se representado o factor de redução kc (θ) da resistência do betão


à compressão (equação 4.9).
fck (θ) = kc (θ) · fck (4.9)

Figura 4.12: Factor de redução da resistência à compressão do betão kc (θ) segundo o Eu-
rocódigo 2.

4.1.2.2 Resistência à tracção

A resistência do betão à tracção diminui com o aumento da temperatura.


O Eurocódigo 2 parte 1-2 [10] recomenda que esta resistência seja desprezada. No entanto,
caso seja necessário ter em conta os efeitos da resistência à tracção ao utilizar métodos de
cálculo simplificados ou avançados, estes devem ser tidos em conta através de um factor de
redução kc,t (θ) de acordo com a expressão (4.13).

fck,t (θ) = kc,t (θ) · fck,t (4.10)

Na ausência de melhor informação, o factor de redução kc,t (θ) deve respeitar os seguintes
valores (figura 4.13):

kc,t (θ) = 1, 0 se 20o C ≤ θ ≤ 100o C (4.11)


kc,t (θ) = 1, 0 − 1, 0 · (θ − 100)/500 se 100o C < θ ≤ 600o C (4.12)

onde θ é a temperatura do betão (o C).

4.1.2.3 Módulo de elasticidade

O efeito do aumento da temperatura no módulo de elasticidade é, como já se referiu an-
teriormente em 4.1.2.1, similar ao da resistência à compressão. Os betões leves sofrem uma
4.1. Betão 35

Figura 4.13: Factor de redução da resistência à tracção do betão kc,t (θ) segundo o Eurocódigo
2.

variação menor que os de densidade normal. Na figura 4.14 representam-se os resultados obti-
dos pelo CEB [20] para vários tipos de betão. Resultados mais recentes podem ser observados
na figura 4.10.

Figura 4.14: Efeito da temperatura no módulo de elasticidade [20].

4.1.2.4 Extensão térmica

Os gradientes térmicos que um incêndio impõe numa peça de betão armado provocam res-
trições nas fibras desse elemento. A extensão que uma fibra sofre ao ser aquecida, é restringida
pelas fibras vizinhas que se encontram a temperaturas diferentes. É portanto necessário co-
36 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

nhecer a evolução do coeficiente de dilatação térmica linear do betão com a temperatura para
proceder ao cálculo dos estados de tensão e deformação.

O coeficiente de dilatação térmica aumenta com a temperatura, no entanto de formas dife-


rentes consoante se trate de betões leves ou de densidade normal. Na figura 4.15 encontram-se
as curvas propostas pelo CEB para a variação desta propriedade [2].

Figura 4.15: Extensão térmica do betão de vários tipos de agregados [20].

Segundo o Eurocódigo 2 [10] a extensão térmica do betão a altas temperaturas pode ser
determinada de acordo com as seguintes expressões (figura 4.16):

Agregados siliciosos:

εc (θ) = −1, 8 · 10−4 + 9 · 10−6 θ + 2, 3 · 10−11 θ3 se 20o C ≤ θ ≤ 700o C (4.13)


εc (θ) = 14 · 10−3 se 700o C < θ ≤ 1200o C (4.14)

Agregados calcários:

εc (θ) = −1, 2 · 10−4 + 6 · 10−6 θ + 1, 4 · 10−11 θ3 se 20o C ≤ θ ≤ 805o C (4.15)


εc (θ) = 12 · 10−3 se 805o C < θ ≤ 1200o C (4.16)

onde θ é a temperatura do betão (o C).


4.2. Aço 37

Figura 4.16: Extensão térmica do betão segundo o Eurocódigo 2.

4.2 Aço

4.2.1 Distribuição de temperatura


As propriedades térmicas do aço em elementos de betão armado e pré-esforçado são nor-
malmente desprezadas dado que a influência da armadura no aumento de temperatura da
secção tem pouca influência.

4.2.2 Propriedades Mecânicas


As propriedades mecânicas de qualquer tipo de aço são afectadas pela temperatura. Tal
como no betão, existem vários aspectos que têm de ser considerados, tais como a máxima
temperatura atingida, o grau de aquecimento e o carregamento.
A composição e o processo de manufactura do aço afectam o seu comportamento. A partir
de cerca dos 350o C, dá-se inı́cio a uma recristalização da microestrutura diminuindo assim os
efeitos do endurecimento. Daı́ advêm as diferenças entre os aços endurecidos a frio e os aços
de liga de alta resistência. Da mesma forma, os efeitos do tratamento térmico do aço de pré-
esforço desaparecem quando a temperatura de tratamento é novamente atingida. Isto explica
as diferenças do comportamento a altas temperaturas dos aços estabilizados endurecidos a
frio e dos aços temperados com a mesma resistência original [20].

4.2.2.1 Tensão de cedência

A temperaturas elevadas o patamar de cedência dos aços deixa de existir para dar lugar
a uma plastificação gradual. Desta forma, a altas temperaturas, chama-se tensão de cedência
à tensão a que corresponde uma extensão de 0,2%. O valor dessa tensão é variável com a
temperatura e a lei de variação depende do tipo de aço. Na figura 4.17 encontra-se a faixa
38 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

de variação destes valores bem como as curvas propostas pelo CEB para efeitos de utilização
prática para aços laminados a quente e endurecidos a frio [2].

Figura 4.17: Diminuição da tensão de cedência dos aços de armadura com a temperatura
[20].

4.2.2.2 Relações tensões-extensões

Segundo o Eurocódigo 2 parte 1-2 [10], as tensões e extensões dos aços de armadura a
altas temperaturas, devem ser obtidas a partir da figura 4.18, onde Es,θ é a inclinação do
domı́nio elástico linear, fsp,θ a tensão limite de proporcionalidade e fsy,θ a tensão máxima. Os
valores para cada um desses parâmetros são dados na tabela 4.2 em função da temperatura.
Para valores intermédios poderá ser usada uma interpolação linear. Refere-se ainda que estas
relações são válidas também para a armadura à compressão. Para aços de pré-esforço, os
ı́ndices ”s”deverão ser substituı́dos por ”p”. Os factores de redução da resistência dos aços à
compressão/tracção (ks (θ) no caso do aço de armadura e kp (θ) no caso de aço de pré-esforço)
encontram-se representados nas figuras 4.19 e 4.20.

Tabela 4.2: Variação das propriedades dos aços com a temperatura [21].
Es,θ Ep,θ fsp,θ fpp,θ fsy,θ fpy,θ
Temperatura Es Ep fyk fyk ks (θ) = fyk kp (θ) = fyk
no aço (o C) A B C D A B C D A B C D
20 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
100 1,00 1,00 0,76 0,98 1,00 0,96 0,77 0,68 1,00 1,00 0,98 0,99
200 0,90 0,87 0,61 0,95 0,81 0,92 0,62 0,51 1,00 1,00 0,92 0,87
300 0,80 0,72 0,52 0,88 0,61 0,81 0,58 0,32 1,00 1,00 0,86 0,72
400 0,70 0,56 0,41 0,81 0,42 0,63 0,52 0,13 1,00 0,94 0,69 0,46
500 0,60 0,40 0,20 0,54 0,36 0,44 0,14 0,07 0,78 0,67 0,26 0,22
600 0,31 0,24 0,15 0,41 0,18 0,26 0,11 0,05 0,47 0,40 0,21 0,10
700 0,13 0,08 0,10 0,10 0,07 0,08 0,09 0,03 0,23 0,12 0,15 0,08
800 0,09 0,06 0,06 0,07 0,05 0,06 0,06 0,02 0,11 0,11 0,09 0,05
900 0,07 0,05 0,03 0,03 0,04 0,05 0,03 0,01 0,06 0,08 0,04 0,03
1000 0,04 0,03 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 0,00 0,04 0,05 0,00 0,00
1100 0,02 0,02 0,00 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 0,00
1200 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
A - aço de armadura laminado a quente, B - aço de armadura endurecido a frio, C - aço de pré-esforço temperado e
revenido, D - aço de pré-esforço endurecido a frio
4.2. Aço 39

Intervalo Tensão Módulo de Elasticidade


εsp,θ εEs,θ Es,θ
2 2 0,5 b(εsy,θ −ε)
εsp,θ ≤ ε ≤ εsy,θ fsp,θ − c + (b/a)[a − (εsy,θ − ε) ] a[a2 −(ε−εsy,θ )2 ]0,5
εsy,θ ≤ ε ≤ εst,θ fsy,θ 0
εst,θ ≤ ε ≤ εsu,θ fsy,θ [1 − (ε − εst,θ )/(εsu,θ − εst,θ )] -
ε = εsu,θ 0,00 -
Parâmetro εsp,θ = fsp,θ /Es,θ εsy,θ = 0, 02 εst,θ = 0, 15 εsu,θ = 0, 20
1
Armadura de Classe A : εst,θ = 0, 05 εsu,θ = 0, 10
2
Funções a = (εsy,θ − εsp,θ )(εsy,θ − εsp,θ + c/Es,θ )
b2 = c(εsy,θ − εsp,θ )Es,θ + c2
(fsy,θ −fsp,θ )2
c= (εsy,θ −εsp,θ )Es,θ −2(fsy,θ −fsp,θ )

Figura 4.18: Modelo matemático para o diagrama de tensões-extensões dos aços de armadura
ordinária e de pré-esforço a temperaturas elevadas (no caso do aço de pré-esforço os ı́ndices
”s”deverão ser substituı́dos por ”p”.

Figura 4.19: Factor de Redução dos aços Figura 4.20: Factor de Redução dos aços
de armadura ks (θ) segundo o Eurocódigo de pré-esforço kp (θ) segundo o Eurocódigo
2. 2.
40 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço

4.2.2.3 Módulo de elasticidade

Ao observar o diagrama de tensões-extensões do aço a temperaturas elevadas, é perceptı́vel


que associado a uma redução da tensão de cedência, esteja uma redução do módulo de elas-
ticidade para σ = 0 com o aumento da temperatura.
A redução do módulo de elasticidade com a temperatura encontra-se representada na
figura 4.21

Figura 4.21: Efeito da temperatura no módulo de elasticidade dos aço de betão armado [20].

Tal como para a tensão de cedência, o módulo de elasticidade reduz-se a cerca de 50 %


do seu valor inicial quando a temperatura do aço atinge os 500 o C. Este aumento de de-
formabilidade do aço é de enorme importância em peças de comportamento geometricamente
não-linear, pois é muitas vezes responsável pelo seu colapso prematuro [2].

4.2.2.4 Extensão térmica

O coeficiente de dilatação térmica aumenta ligeiramente com o aumento da temperatura.


A sua variação tem interesse prático, geralmente em peças cujas ligações impeçam parcial ou
totalmente a dilatação térmica. É fundamental no cálculo das forças de restrição à dilatação
térmica, as quais são bastante importantes no cálculo da resistência ao fogo de uma estrutura
[2].
Na figura 4.22 encontram-se as curvas de variação da extensão térmica com a temperatura
propostas pelo CEB. As zonas instáveis entre os 700 e os 800o C devem-se a mudanças na
microestrutura do aço.
A EN 1992-1-2 [10] sugere que a extensão térmica dos aços seja determinada pelas ex-
pressões seguintes com referência ao comprimento a 20o C (figura 4.23):
Aço de armadura:

εs (θ) = −2, 416 · 10−4 + 1, 2 · 10−5 θ + 0, 4 · 10−8 θ2 se 20o C ≤ θ ≤ 750o C (4.17)


εs (θ) = 11 · 10−3 se 750o C < θ ≤ 860o C (4.18)
−3 −5 o o
εs (θ) = −6, 2 · 10 + 2 · 10 θ se 860 C < θ ≤ 1200 C (4.19)
4.2. Aço 41

Aço de pré-esforço:

εs (θ) = −2, 016 · 10−4 + 10−5 θ + 0, 4 · 10−8 θ2 se 20o C ≤ θ ≤ 1200o C (4.20)

onde θ é a temperatura do aço (o C).

Figura 4.22: Extensão térmica dos aços de armadura e de pré-esforço (provetes não carrega-
dos) [20].

Figura 4.23: Extensão térmica do aço de armadura e de pré-esforço segundo o Eurocódigo 2.


42 4. Propriedades Termo-Mecânicas do Betão e do Aço
Capı́tulo 5

Comportamento Global de
Estruturas em Situação de
Incêndio

Numa análise de elementos individuais, o grande problema que surge é a não consideração
das acções indirectas do incêndio na estrutura. Estas acções, provocam esforços devido às
restrições impostas pela estrutura à livre dilatação térmica. Por esta razão, ao analisar a
segurança de uma estrutura hiperstática em relação ao fogo elemento a elemento, os resultados
obtidos poderão não estar do lado da segurança.
No caso, por exemplo, de vigas bi-encastradas, um gradiente térmico induz um momento
flector constante que gera tracções na face não aquecida. Este momento levará, em princı́pio,
ao colapso antecipado das secções extremas da viga devido à restrição à dilatação térmica. A
restrição ao esforço axial destas estruturas, gera também um esforço de compressão durante
o aquecimento. O efeito deste, combinado com a deformação considerável atingida durante
o incêndio, cria um efeito de segunda ordem que poderá ser suficiente para a viga atingir o
colapso.
Em pórticos, a continuidade entre vigas e pilares, poderá induzir um esforço axial não
desprezável nas vigas que, por sua vez, provocará um aumento de esforço transverso nos
pilares, podendo gerar uma rotura por esforço transverso, causa esta responsável por bastantes
colapsos de edifı́cios no caso de incêndios reais [22].
Os regulamentos e normas internacionais permitem a análise de membros individuais, o
que despreza os efeitos das acções indirectas do incêndio. Normalmente, quando é realizada
uma análise de membros individuais, o fogo é descrito por uma lei convencional temperatura-
tempo que, apesar de representar um cenário mais severo que o fogo real, subestima os
esforços internos. Desta forma, este método não permite uma boa avaliação da redistribuição
dos esforços internos quando ocorre uma perda de rigidez, nomeadamente nas secções junto
aos nós, no caso de um incêndio. Além do mais, a tendência para a utilização de curvas
de incêndio reais, remove o efeito favorável da curva convencional e requer uma avaliação
adicional dos esforços internos, através de métodos de análise globais e da identificação da
localização mais severa do incêndio [23].

43
44 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

5.1 Exemplos de Casos Práticos


Nesta secção, apresentam-se 3 casos práticos recentes relacionados com o estudo do com-
portamento global de estruturas de betão armado sujeitas a incêndio. Como se irá observar, o
estudo deste aspecto encontra-se ainda bastante limitado, sendo as estruturas mais complexas
analisadas pórtico 2D.
Os dois primeiros casos apresentados foram levados a cabo por Paolo Riva e encontram-
se resumidos em [22]. O terceiro caso de estudo foi realizado por Ilaria Venanzi e Marco
Breccolotti.

5.1.1 Caso 1 - Estudo paramétrico de vigas


Segundo [22], Paolo Riva realizou um estudo com o objectivo de analisar o comportamento
de vigas encastradas em situação de incêndio. Pretendeu estudar a influência das condições
de fronteira quando uma viga contı́nua é sujeita a incêndio num dos seus vãos (compartimento
de incêndio), enquanto os restantes se mantêm à temperatura ambiente com rigidez axial e
de flexão constantes.
As caracterı́sticas das vigas e os valores relevantes da análise, encontram-se representados
na figura 5.1.

Figura 5.1: Estudo paramétrico de vigas [22].

Consideraram-se ainda os deslocamentos para a contribuição dos efeitos de segunda ordem,


estando estes directamente relacionados com a rigidez axial das vigas.
5.1. Exemplos de Casos Práticos 45

A resistência ao fogo foi verificada através das tabelas presentes em [10] (viga exposta ao
incêndio por três lados), assumindo uma exposição ao fogo de 60 minutos (R60).
Na figura 5.2, representam-se os resultados obtidos para a viga com o vão de 6 m e rigidez
axial EA/L. Os seguintes aspectos podem ser salientados:

• Durante os primeiros 30 minutos de exposição ao fogo, o diagrama de momentos flectores


sobe em relação à sua posição inicial, devido ao momento negativo constante gerado pelo
aumento de temperatura. Durante este perı́odo, não foi observada nenhuma diminuição
da rigidez ao longo da viga.

Figura 5.2: Comportamento da viga de secção rectangular com 6 m de vão e rigidez axial
k = EA/L [22].

• Entre os 30 e os 60 minutos, observa-se uma redução no momento flector nas secções


das extremidades, assim como um aumento do mesmo no meio vão. Esta redução, está
relacionada com a danificação das camadas de betão superficiais, e provoca dois efeitos:
46 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

1. uma degradação enorme da rigidez nas secções extremas comparativamente com a


de meio vão;
2. o centro de aplicação do esforço axial sobe em relação ao eixo geométrico da viga,
o que provoca um momento flector positivo constante.

• Entre os 60 e os 120 minutos, devido ao aumento dos danos na viga e ao aumento


da contribuição do esforço axial para o momento positivo, o diagrama de momentos
flectores desce, e o seu valor aproxima-se do inicial.

• O colapso é controlado pelas secções extremas devido aos enormes danos do betão nestas
zonas, sendo atingido por volta dos 180 minutos de exposição ao fogo. No entanto, a
resistência ao fogo de dimensionamento era de 60 minutos (R60), o que mostra que os
métodos tabelados revelam soluções conservativas quando comparadas com os resultados
analı́ticos.

• O momento flector devido ao efeito N δ aumenta quase linearmente com o tempo, e


após 180 minutos é aproximadamente 20% maior do que o momento de primeira ordem
(figura 5.2 b).

• O esforço axial (compressão) aumenta rapidamente nos primeiros 30 minutos, sendo o


seu aumento posterior menos significativo devido à degradação do betão. Dos 30 aos
180 minutos o aumento de esforço axial é de apenas 6% do aumento nos primeiros 30
minutos. A linha de acção do esforço axial tende a subir em relação ao eixo da viga
devido à degradação progressiva do betão com o fogo.

• Desprezar o esforço axial no dimensionamento ao fogo de vigas de betão armado poderá


levar a resultados conservativos.

5.1.2 Caso 2 - Estudo paramétrico de pórticos


Paolo Riva (referenciado em [22]) estudou também o comportamento ao fogo de pórticos
pertencentes a um edifı́cio de vários andares, com o objectivo de clarificar a forma como a
resposta estrutural é afectada pela secção da viga (secção rectangular, secção em T, secção
rasa representando uma laje armada numa direcção), o vão (6 m e 9 m) e pela exposição ao
fogo dos pilares.
Para os pilares, foram consideradas duas exposições ao fogo diferentes: três lados expostos,
com o quarto lado à temperatura ambiente, e um lado exposto, estando os outros três à
temperatura ambiente. O primeiro caso representa um pilar com o lado externo alinhado
com a parede do compartimento de incêndio e, o segundo caso, um pilar com o lado interno
alinhado com a parede do compartimento de incêndio. No caso das vigas, consideraram-se
três lados expostos ao fogo.
Nesta análise, a existência dos pisos superiores foi representada considerando a con-
tinuidade das colunas, assumindo que os pontos de inflecção estariam localizados a meio
do piso e aplicando a estas uma força axial de 1000 kN, representando assim o peso dos
restantes pisos. Os pilares pertencentes ao piso superior, exteriores ao compartimento de
incêndio, foram considerados à temperatura ambiente. Na base, os pilares foram considera-
dos completamente encastrados.
5.1. Exemplos de Casos Práticos 47

Os pórticos analisados e as suas caracterı́sticas apresentam-se na figura 5.3. A geometria


dos elementos e a armadura da secção crı́tica, satisfazem os valores tabelados em [10] para uma
estabilidade ao fogo de 60 minutos (R60). Em seguida, comentam-se os resultados obtidos
para um pórtico com uma viga de secção rectangular (6 m de vão) e pilares aquecidos num
só lado.

Figura 5.3: Estudo paramétrico de pórticos [22].

Através dos resultados obtidos, que se encontram na figura 5.4, concluem-se os seguintes
pontos:

• Tanto o momento flector como o esforço transverso aumentam substancialmente nos


pilares nos primeiros 30 minutos, devido ao aquecimento da viga. No entanto, não são
observados aumentos posteriores, devido à degradação da viga, como já foi discutido no
caso 1 (Estudo paramétrico de vigas).

• O momento flector nos pilares de baixo, aumenta aproximadamente sete vezes em relação
ao seu valor inicial devido às deformações térmicas da viga (dilatação e rotações nos
extremos), enquanto o momento flector nos pilares superiores muda de sinal e os seus
valores aumentam mais do dobro do seu valor inicial à temperatura ambiente.
48 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

Figura 5.4: Pórtico de betão armado com os pilares expostos ao fogo numa face e com uma
viga de 6 m de vão (secção rectangular) [22].

• O esforço transverso nos pilares inferiores aumenta aproximadamente quatro vezes em


relação aos valores em condições ambientais normais. Consequentemente, os pilares que
não estão sobre-dimensionados em relação ao corte nem confinados, poderão exibir uma
rotura por esforço transverso, muitas vezes observada em fogos reais.

• Em relação à secção da viga, aplicam-se os mesmos comentários feitos para a vigas


restringidas ao esforço axial (caso 1).

• Desprezar os efeitos do fogo na viga no dimensionamento de pórticos de betão armado,


poderá levar a resultados não conservativos devido aos aumentos dos momentos flectores
e esforços de corte nos pilares durante os primeiros 30 minutos de exposição ao fogo.
No entanto, os efeitos térmicos nos momentos flectores e esforços transversos dependem
do tipo de fundação adoptado no dimensionamento dos pilares. De facto, as sapatas
5.1. Exemplos de Casos Práticos 49

isoladas têm menos rigidez de rotação que as sapatas em vigas continuas e ainda menos
que no caso de um ensoleiramento geral.

Através desta análise é possı́vel concluir que, do ponto de vista prático, para melhorar
a resistência ao fogo de pilares, deverá recorrer-se a pormenorizações semelhantes às usadas
no dimensionamento sı́smico. De facto, a adopção de cintas pouco espaçadas aumenta a
resistência e a ductilidade da secção para a combinação do esforço axial com a flexão, melho-
rando também o risco de destacamento do betão (spalling) [22].
Para o pilar aquecido em três lados não foram registadas grandes diferenças em relação
ao caso anterior, excepto no aumento do momento flector e esforço transverso que foi menor,
devido ao menor gradiente de temperaturas no pilar.

5.1.3 Caso 3 - Avaliação da segurança de pórticos submetidos a


incêndio

Para avaliar a segurança de pórticos de betão armado sujeitos a incêndio, Ilaria Venanzi
e Marco Breccolotti [23] estudaram um método analı́tico global, capaz de ter em conta os
efeitos das restrições à expansão térmica e variação das propriedades mecânicas dos materiais
devido ao aumento de temperatura. Para isso, usaram um programa de cálculo automático
denominado FIRES-RC II, usado para avaliar a resposta estrutural de pórticos sujeitos a
incêndio, tendo em conta a degradação das propriedades mecânicas do betão e do aço com o
aumento da temperatura. Modelaram pórticos de dois e três pisos e submeteram-nos a uma
curva de incêndio paramétrica, em diferentes compartimentos, dada pela figura 5.5 e expressa
pela seguinte relação:

  δ
Tg − T0 t t
= exp 1 − (5.1)
Tgm − T0 tm tm

onde,

Tg - temperatura do ar [o C];

T0 - temperatura ambiente (20o C);

Tgm - temperatura máxima do ar [o C];

t - tempo, em minutos;

tm - tempo correspondente à temperatura máxima do ar, em minutos;

δ - coeficiente de forma da curva, que toma valores diferentes para as fases ascendente e
descendente. Os valores δ = 0, 5 para a fase ascendente e δ = 1, 0 para a fase descente
podem ser usados no dimensionamento, na medida em que fornecem aproximadamente
os valores máximos (figura 5.5).
50 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

Figura 5.5: Curva de incêndio paramétrica adoptada na análise [23].

Na tabela 5.1 e figura 5.6 representam-se as caracterı́sticas dos pórticos estudados. O facto
de existirem dois vãos diferentes (6 m e 8 m) para cada tipo de pórtico (dois e três pisos),
está relacionado com objectivo de estudar a influência da relação entre a rigidez das vigas e
colunas.

Figura 5.6: Geometria e dimensões dos pórticos analisados [23].


5.1. Exemplos de Casos Práticos 51

Tabela 5.1: Descrição dos pórticos analisados [23].

Pórtico Número de pisos Vão das vigas


A 2 6m
B 2 8m
C 3 6m
D 3 8m

Na tabela 5.2 descrevem-se os casos analisados, variando a localização do incêndio e o


número de compartimentos expostos. Foram também utilizadas três condições diferentes de
aquecimento das vigas (figura 5.7):

• aquecimento na zona inferior da viga;

• aquecimento na zona inferior e numa parte da superfı́cie lateral da viga;

• aquecimento na zona inferior e na totalidade da superfı́cie lateral da viga.

Tabela 5.2: Descrição dos casos analisados [23].

Caso de análise Vão das vigas Número de pisos Compartimento de incêndio


1 6m 2 I
2 6m 2 I-II
3 6m 2 III
4 6m 2 III-IV
5 8m 2 I
6 8m 2 I-II
7 8m 2 III
8 8m 2 III-IV
9 6m 3 I
10 6m 3 I-II
11 6m 3 III
12 6m 3 III-IV
13 6m 3 V
14 6m 3 V-VI
15 8m 3 I
16 8m 3 I-II
17 8m 3 III
18 8m 3 III-IV
19 8m 3 V
20 8m 3 V-VI
52 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

Figura 5.7: Condições de aquecimento das vigas [23].

Estas três exposições diferentes, devem-se ao facto de a radiação na zona lateral da viga
não ser directa, como acontece na zona inferior. Para cada caso da tabela 5.2, foram utilizados
os três tipos de aquecimento das vigas, perfazendo um total de 60 casos de análise diferentes.
Na tabela 5.3 apresentam-se as dimensões e as armaduras das vigas e pilares dos pórticos,
obtidas a partir das cargas de dimensionamento sugeridas pelo EC1 [11].

Tabela 5.3: Dimensões e armaduras das secções das vigas e pilares [23].

Vigas Pilares
Pórtico
BxH Armaduras BxH Armaduras
A 30 x 60 cm 5φ20 mm (superior) + 4φ18 mm (inferior) 30 x 30 cm 8φ18 mm
B 35 x 70 cm 5φ24 mm (superior) + 4φ20 mm (inferior) 35 x 35 cm 12φ18 mm
C 30 x 60 cm 5φ20 mm (superior) + 4φ18 mm (inferior) 30 x 30 cm 8φ20 mm
D 35 x 70 cm 5φ24 mm (superior) + 4φ20 mm (inferior) 40 x 40 cm 8φ24 mm

Os resultados obtidos da análise, mostram que existe uma redistribuição e um aumento


significativo das forças internas, em comparação com as que o pórtico tinha sido dimensionado.
As secções de meio vão das vigas, chegam mesmo a atingir valores negativos de momento
flector (tabela 5.4). Junto aos nós da viga, o aumento do momento flector negativo devido
às restrições à livre deformação da estrutura, provoca um aumento da força de tracção nas
armaduras e um maior esforço de compressão no betão que, em alguns casos, leva mesmo à
plastificação das secções (tabela 5.5).
A tabela 5.4 mostra os resultados obtidos para o pórtico A, nomeadamente o momento
flector máximo e o correspondente esforço axial na secção de meio vão das vigas aquecidas.
A tabela 5.5 mostra os mesmos resultados mas para a secção de ligação da viga aquecida com
o pilar central. Comparam-se também os momentos obtidos com aqueles que foram obtidos
à temperatura ambiente. O aumento do esforço transverso não é apresentado pois a sua
variação é pequena em comparação com o momento flector , nunca causando o colapso da
estrutura. Quando o momento último é atingido, a tabela 5.5 mostra também o tempo em
minutos para o qual se dá o colapso. Como os momentos resistentes dependem do valor do
esforço axial obtido durante o aquecimento, é complicado especificar os seus valores exactos.
No entanto, quando o esforço axial é nulo, o momento resistente positivo vale 231,7 kNm e o
negativo -353,8 kNm.
Os resultados obtidos mostram também que, enquanto o incremento do momento flector
é significativo (180% no meio vão e 126% na zona de ligação), o aumento de esforço normal
torna-se desprezável à medida que o coeficiente de expansão térmica diminui com a tempe-
5.1. Exemplos de Casos Práticos 53

ratura. Observa-se também que a localização do incêndio e as condições de aquecimento das


vigas, têm pouca influência nos valores máximos dos esforços obtidos.

Tabela 5.4: Esforços no pórtico A (secção de meio vão da viga aquecida) [23].

Condições a Condições
Compartimento Superfı́cie aquecida altas temperaturas ambientais Incremento
de incêndio Mmáx Nmáx Mmáx MM ÁX
(kNm) (kN) (kNm)
I inferior -47,3 -9,8 81,2 -158
I-II inferior -54,2 -28,0 81,2 -167
III inferior -12,0 -65,4 95,3 -113
III-IV inferior -23,2 -63,6 95,3 -124
I inferior e parte da lateral -58,1 -8,9 81,2 -172
I-II inferior e parte da lateral -63,8 -20,0 81,2 -179
III inferior e parte da lateral -16,7 -58,3 95,3 -118
III-IV inferior e parte da lateral -28,3 -75,6 95,3 -130
I inferior e lateral -61,5 -12,9 81,2 -176
I-II inferior e lateral -65,2 -7,5 81,2 -180
III inferior e lateral -13,5 -64,9 95,3 -114
III-IV inferior e lateral -25,5 -75,6 95,3 -127

Tabela 5.5: Esforços no pórtico A (secção de ligação da viga aquecida com o pilar central)[23].

Condições a Condições
Compartimento Superfı́cie aquecida Colapso altas temperaturas ambientais Incremento
de incêndio Mmáx Nmáx Mmáx MM ÁX
(kNm) (kN) (kNm)
I inferior não -353,2 -9,8 -171,2 106
I-II inferior não -387,5 -28,0 -171,2 126
III inferior sim (46’) -362,4 -65,4 -185,3 96
III-IV inferior não -395,5 -63,6 -185,3 113
I inferior e parte da lateral não -357,3 -8,9 -171,2 109
I-II inferior e parte da lateral não -383,9 -20,0 -171,2 124
III inferior e parte da lateral não -370,9 -58,3 -185,3 100
III-IV inferior e parte da lateral sim (37’) -395,3 -75,6 -185,3 113
I inferior e lateral não -359,1 -12,9 -171,2 110
I-II inferior e lateral sim (47’) -385,4 -7,5 -171,2 125
III inferior e lateral sim (38’) -369,7 -64,9 -185,3 99
III-IV inferior e lateral sim (35’) -363,7 -75,6 -185,3 96

Na figura 5.8, apresentam-se os momentos flectores máximos no pórtico A para as quatro


possı́veis localizações do incêndio (indicado pela letra F) e para a viga aquecida na zona
inferior e numa parte da superfı́cie lateral. As linhas a tracejado representam os diagramas
de momentos flectores obtidos para as cargas de dimensionamento, e as linhas a cheio os
momentos flectores devido ao incêndio e às cargas externas actuantes. Como se pode observar,
ocorre uma inversão de sinal do momento flector na secção de meio vão das vigas e um aumento
significativo na zona de ligação, entre a viga aquecida e os pilares adjacentes. O momento
flector nos pilares do compartimento exposto ao fogo aumenta também significativamente.
Chama-se a atenção para o facto da inversão de sinal do momento flector próximo da secção
de meio vão das vigas aquecidas ser bastante perigosa, uma vez que estas secções não são
dimensionadas para estes momentos negativos.
54 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

Figura 5.8: Momentos flectores máximos no pórtico A [23].

Na figura 5.9 mostram-se os diagramas de momentos flectores para os quatro pórticos


analisados e o incêndio localizado nos compartimentos I e II. Verifica-se que o número de pisos
não influencia significativamente os esforços máximos atingidos, ao contrário do comprimento
da viga. O maior incremento de momento flector ocorre para a viga de menor comprimento,
visto ser aquela que apresenta uma maior rigidez [23].

Figura 5.9: Momentos flectores máximos para o incêndio localizado nos compartimentos I e
II [23].
5.1. Exemplos de Casos Práticos 55

5.1.4 Disposições regulamentares


A EN 1992-1-2 [10] sugere que, para obter uma resistência ao fogo igual ou superior a R90
em vigas contı́nuas, tendo em conta o aumento de momento flector nas extremidades destas
(ver casos práticos anteriores), a área de armadura superior para cada um dos apoios e para
uma distância de 0, 3lef f (como define a secção 5 da EN 1992-1-1 [24]), medida a partir do
eixo do apoio, não deva ser inferior a (figura 5.10):

As,req (x) = As,req (0) · (1 − 2, 5x/lef f ) (5.2)

onde,

x - é a distância da secção considerada ao eixo do apoio onde x ≤ 0, 3lef f ;

As,req (0) - é a área da secção de armadura superior sobre o apoio, de acordo com a EN
1992-1-1;

As,req (x) - é a área mı́nima da secção de armadura superior exigida para uma secção à
distância (x) do eixo do apoio mas nunca menos que As exigida pela EN 1992-1-1;

lef f - é o comprimento efectivo do vão. Se o comprimento efectivo dos vãos adjacentes for
maior, deverá ser usado esse valor.

1 - Diagrama de momentos flectores para as acções em situação de incêndio no instante de tempo


t = 0.
2 - Linha envolvente do momento flector actuante para ser resistido por armadura de tracção de
acordo com a EN 1992-1-1.
3 - Diagrama de momentos flectores em situação de incêndio.
4 - Linha envolvente do momento flector resistente de acordo com a expressão 5.2.

Figura 5.10: Envolvente dos momentos flectores resistentes sobre os apoios em situação de
incêndio [10].
56 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio

5.2 Fogos Reais

5.2.1 Armazém no porto de Gante


Em 1974 ocorreu um incêndio num armazém no porto de Gante, Bélgica, onde estavam
armazenados fardos de algodão. Os três pisos do armazém, construı́dos em betão armado
executado in-situ e com uma área em planta de 50x50 m, satisfaziam todos os critérios de
segurança, nomeadamente, as dimensões mı́nimas das secções e os recobrimentos. No entanto,
após 1h20min de incêndio, parte do edifı́cio começou a colapsar. As vigas, com uma altura
considerável, na zona do incêndio foram aquecidas em três faces, provocando uma expansão
longitudinal importante. Esta expansão, restringida pela parte do edifı́cio que não estava
submetida ao incêndio, ocorreu essencialmente numa direcção. Consequentemente, o esforço
transverso nos pilares aumentou, provocando assim a rotura destes, resultando no colapso
duma parte substancial do edifı́cio (figura 5.11). Uma simulação computacional mostrou que
esse colapso ocorreu para uma temperatura média nas vigas localizada no intervalo 150-200o C
[22].

Figura 5.11: Colapso num armazém no porto de Gante devido ao incêndio [22].

5.2.2 Biblioteca de Linköping


No ano de 1996 ocorreu um colapso semelhante ao anterior na biblioteca da cidade de
Linköping, Suécia, que sofreu um grave incêndio, caracterizado por uma propagação bastante
rápida (figura 5.12). Os dois pisos do edifı́cio acima do solo colapsaram após 30 minutos do
inı́cio do flashover, apesar do edifı́cio ter sido dimensionado para possuir uma resistência ao
fogo de 60 minutos. O edifı́cio era constituı́do por uma estrutura de betão armado em laje
vigada. A razão principal para o colapso prematuro foi atribuı́da ao facto de existir uma
abertura com 52 m de comprimento e 3,6 m de largura na laje entre o primeiro e o segundo
piso acima do solo (figura 5.13). Devido a esta abertura, os dois pisos foram combinados num
só compartimento (zona a tracejado na figura 5.13). Além do mais, a abertura serviu como
uma ”chaminé”durante o incêndio, resultando no aquecimento intensivo de dois ou mais lados
das vigas do contorno da abertura, assim como das partes vizinhas ao segundo piso. Após a
selagem dos 30 mm da junta de dilatação, devido à dilatação térmica dos elementos do piso
adjacente, a expansão térmica adicional foi restringida e a força de compressão resultante
causou uma rotura súbita por esforço transverso nas paredes de estabilização do edifı́cio.
5.2. Fogos Reais 57

Como resultado, ocorreu uma rotura por esforço transverso no topo de um pilar crı́tico, que
levou ao colapso progressivo de uma parte do edifı́cio. Na figura 5.14 está representado o
perfil de temperatura calculado, assumindo a curva de incêndio padrão ISO 834, ao longo
da secção da laje, e na figura 5.15 a temperatura média calculada. Do gráfico anterior pode
ler-se que, após 30 minutos de exposição ao fogo, a temperatura média calculada na laje é
cerca de 165o C [22].

Figura 5.12: Colapso do edifı́cio da biblioteca de Linköping devido ao incêndio [25].

Figura 5.13: Corte esquemático do edifı́cio da biblioteca de Linköping [25].

Figura 5.14: Perfil de temperatura calcu- Figura 5.15: Evolução da temperatura


lado ao longo da secção da laje de acordo média ao longo da secção da laje [25].
com a curva de incêndio padrão ISO 834
[25].
58 5. Comportamento Global de Estruturas em Situação de Incêndio
Capı́tulo 6

Caso de Estudo - Bloco de


Armazéns em Sacavém

6.1 Introdução
No dia 24 de Agosto de 1991, ocorreu um incêndio num edifı́cio em Sacavém destinado à
armazenagem de produtos das empresas Triunfo Internacional e Molaflex.
O edifı́cio, localizado entre a Rua Vasco da Gama e a Estrada Nacional 1 (figura 6.1),
tem uma área total de pavimentos de cerca de 8400 m2 (1820 m2 de pavimentos apoiados
directamente sobre o solo e 6580 m2 de pavimentos elevados). O edifı́cio está dividido em dois
corpos, A e B, estruturalmente independentes, por uma junta de dilatação. A sua estrutura
foi executada, em geral, com uma estrutura de betão armado e com algumas lajes em betão
armado pré-esforçado.

Figura 6.1: Vista aérea do edifı́cio.

59
60 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

De acordo com [26], a consulta do processo da Câmara Municipal de Loures sobre o imóvel,
permitiu identificar que o projecto data de 1965 e foi realizado com a regulamentação então
em vigor:

• Regulamento de Betão Armado, Dec. 25948 de 16.10.1935;

• Regulamento de Solicitações em Edifı́cios e Pontes, Dec. 44041 de 18.11.1961;

• Regulamento de Segurança das Construções Contra os Sismos, Dec. 41658 de 31.05.1958.

O edifı́cio corresponde a dois processos de alterações ao projecto inicial, um para o Corpo


A e outro para o Corpo B, ambas datadas de 1965 e da autoria do Eng. João Guterres.

Este caso de estudo tem como principal objectivo, estudar o comportamento global de um
edifı́cio quando sujeito a incêndio, nomeadamente, o efeito nos pilares das restrições impostas
pela estrutura à livre dilatação térmica das vigas e lajes. Para tal, apenas se modelou o Corpo
A do edifı́cio, por ter sido aquele onde este efeito foi mais desfavorável.

6.1.1 Descrição do edifı́cio


O edifı́cio tem uma área de implantação de cerca de 1500 m2 , estando dividido por uma
junta de dilatação nos corpos A e B. O Corpo A tem 4 pisos - r/c e 3 pisos elevados - e o Corpo
B, com os mesmos pisos, apresenta ainda uma cave que se estende por parte do logradouro.
O Corpo A dispõe de uma rampa de acesso de camiões ao 1.o piso. Na figura 6.2 mostra-se
a fachada frontal do edifı́cio, correspondente ao Corpo A.

Figura 6.2: Fachada frontal do edifı́cio (Corpo A).

A estrutura do edifı́cio é formada por uma estrutura porticada (vigas e pilares) e lajes.
Os pilares e vigas foram realizados em betão armado, assim como a laje do r/c, com 10
cm de espessura. As restantes lajes elevadas são, na sua generalidade, realizadas com lajes
aligeiradas com blocos cerâmicos e vigotas pré-esforçadas do tipo comercial Cerval/Patial ou
equivalente.
6.1. Introdução 61

No projecto adoptou-se um betão B30 e três tipos de aço - A 24, A 50 e Bi.


A sobrecarga considerada foi de 600 kg/m2 . O peso do revestimento dos pisos e tectos foi
considerado igual a 40 e 70 kg/m2 .
Em seguida, salientam-se alguns aspectos menos positivos do edifı́cio na resistência ao
fogo [26]:

• Integração da rampa na estrutura principal do edifı́cio e inexistência de uma análise


adequada para essa zona da estrutura.

• Utilização de lajes muito finas (10 cm de espessura) para lajes destinadas a cargas
elevadas. No entanto, era uma solução corrente nessa época.

• Utilização de aços com baixa ductilidade, embora estivessem à data aprovados.

Os recobrimentos não são indicados no projecto. No entanto, de acordo com a Regula-


mentação em vigor, os recobrimentos mı́nimos eram de 1 cm em lajes e 1,5 cm em vigas e
pilares.

6.1.2 Danos provocados pelo incêndio

Em seguida são descritos os danos estruturais e não estruturais provocados pelo incêndio
apenas no corpo A, registados em [26].

6.1.2.1 Danos Estruturais

Rés-do-chão

Actualmente, o r/c continua a ter uma ocupação significativa, mesmo não tendo o edifı́cio
sido, até à data, alvo de qualquer reabilitação. O pavimento do r/c do corpo A está assente
no terreno e não são visı́veis danos. As lajes têm uma betonilha de revestimento que conferiu
uma protecção adicional à estrutura.
A laje da rampa apresenta danos severos. A sua ligação aos pilares impôs um deslocamento
a estes durante a ocorrência do incêndio, com a direcção da rampa, associado à dilatação do
betão resultante do aumento da temperatura. Os pilares não têm capacidade para suportar
o deslocamento referido, apresentando assim danos elevados. A laje da rampa encontra-se de
momento escorada, aguardando a sua substituição.
A estrutura do tecto do r/c, uma laje em betão armado com apenas 10 cm de espessura,
apresenta uma deformação permanente significativa, que já para a carga permanente seria
relevante. A sua pequena espessura confere-lhe uma menor resistência ao fogo, conduzindo
assim a uma perda de rigidez permanente e a uma provável redução de resistência.
Nas vigas e pilares observam-se, para além da zona da rampa, armaduras à vista (figuras
6.3 e 6.4).
62 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Figura 6.3: Armaduras à vista numa viga.

Figura 6.4: Armaduras à vista num pilar.

Primeiro andar

No primeiro andar do Corpo A não foram registados danos severos, ao contrário do Corpo
B. Apenas se verifica a queda do reboco em algumas zonas da laje, que poderá ter ocorrido
devido à acção da temperatura durante o incêndio ou devido às infiltrações de água utilizada
no combate ao incêndio.
Os danos nos pilares e vigas no primeiro andar são muito reduzidos, quase irrelevantes.
6.1. Introdução 63

Segundo e terceiro andares

Não são visı́veis quaisquer danos estruturais nestes pisos do edifı́cio.

6.1.2.2 Danos Não Estruturais

Os principais danos não estruturais são os seguintes:

• Fachadas com caixilharia e vidros destruı́dos;

• Rebocos, pinturas e revestimentos caı́dos ou deteriorados (figura 6.5);

• Fendilhação localizada em alvenarias.

Figura 6.5: Pinturas e revestimentos deteriorados.

6.1.3 Segurança sı́smica do imóvel após o incêndio

O método de avaliação da segurança em relação ao sismo que foi adoptado, era um pro-
cedimento usual na época. Consistia num método simplificado de avaliação dos momentos
flectores devidos à acção dos sismos, só nos pilares.
Os danos existentes nos pilares da rampa correspondem a uma situação de ruı́na desses
elementos, tendo por isso uma contribuição nula para a resistência sı́smica. Como os vãos
adjacentes à rampa são grandes, a capacidade de redistribuição de esforços é reduzida pelo
que a capacidade da estrutura do Corpo A para suportar a acção de um sismo intenso está
comprometida.
64 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

6.2 Modelação e Análise

Como já foi referido, a estrutura analisada foi o Corpo A do edifı́cio, por ser o local onde se
verificaram os danos mais severos. O acesso aos elementos do projecto foi limitado, pelo que
toda a modelação do Corpo A foi executada através das peças desenhadas de dimensionamento
do tecto do r/c e tecto do 1o andar (anexo B).
Para a modelação estrutural, recorreu-se ao programa de cálculo automático SAP2000.
Foram utilizados elementos de barra para simular os pilares e as vigas. As lajes, foram simu-
ladas através de elementos finitos do tipo Shell-Thick, cujas relações constitutivas prevêem o
equilı́brio através de momentos e esforço transverso. A malha de elementos finitos nas lajes
foi criada automaticamente pelo programa, onde se limitou os elementos rectangulares a 1,0
m de lado.
As lajes do tecto do 1.o andar e superiores, apesar de serem lajes aligeiradas com blo-
cos cerâmicos e vigotas pré-esforçadas (também cerâmicas), foram modeladas como sendo
maciças. Tendo em conta que apenas se teve acesso a um número reduzido de dados, cor-
respondente a uma alteração aos cálculos iniciais do projecto [27] onde se encontra referido
o valor do peso próprio da laje usada, modelou-se uma laje com a mesma espessura da laje
maciça (10 cm) e com um material com as mesmas propriedades que o betão mas sem peso
associado, tendo sido este adicionado à estrutura como carga exterior. Esta aproximação é
válida, na medida em que as propriedades destas lajes pouca influência tiveram na análise
realizada (exceptuando-se o seu peso próprio).
No que diz respeito às fundações, estas foram representadas através de encastramentos na
base dos pilares.
Na figura 6.6, apresenta-se uma imagem tridimensional do modelo (Corpo A).

Figura 6.6: Vista 3D do modelo (Corpo A).

Nas tabelas 6.1 e 6.2 apresentam-se as os materiais e as dimensões das secções usadas na
análise.
6.2. Modelação e Análise 65

Tabela 6.1: Caracterı́sticas dos materiais estruturais utilizados.

fcd 16, 7 MPa


fck 25, 0 MPa
C25/30 (B30) fctm 2, 6 MPa
Ec,28 31, 0 GPa
αc 10−5 /o C
fsyk 500, 0 MPa
fsyd 435, 0
A500 Es 200,0 GPa
αs 10−5 /o C

Tabela 6.2: Dimensões das secções usadas na análise.

Elemento Dimensões (cm) - BxH


Pilares do contorno 70x20
Pilares interiores 30x70
Vigas V1 20x70
Vigas V2 30x70
Vigas V3 30x70
Lajes 10 (espessura)

A acção do aumento de temperatura proveniente do incêndio numa secção pode ser divi-
dida, simplificadamente, em duas parcelas, uma linear e outra auto-equilibrada (figura 6.7).
Por sua vez, a parcela linear corresponde à soma de de uma parcela uniforme com uma
diferencial.

Figura 6.7: Processo de linearização de temperatura.


66 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Na análise realizada, procurou-se estudar a influência das duas parcelas anteriores, sepa-
radamente, no comportamento global da estrutura, nomeadamente nos pilares do r/c, grave-
mente afectados com o incêndio. Para tal, foram realizados dois tipos de análises (variações de
temperatura aplicadas às vigas ou às lajes) em três casos diferentes. No primeiro, aplicou-se as
variações de temperatura apenas às vigas da rampa e, posteriormente, à laje da rampa (figura
6.8). No segundo caso, foram submetidas todas as vigas e lajes do r/c (tecto e rampa) às
acções de temperatura, separadamente (figura 6.9). Por fim, no terceiro caso, submeteram-se
os mesmos elementos do caso 2 às mesmas variações de temperatura, no entanto, considerando
a inexistência de uma rampa monolı́tica com os pilares do edifı́cio (figura 6.10). Não foram
aplicadas variações de temperatura aos pisos superiores pois estes foram pouco afectados com
o incêndio.

Figura 6.8: Caso 1.

Figura 6.9: Caso 2.

Figura 6.10: Caso 3.


6.2. Modelação e Análise 67

Em seguida, na tabela 6.3 e figura 6.11, apresentam-se as acções permanentes e variáveis


usadas na análise.

Tabela 6.3: Acções permanentes e variáveis.

Laje Peso próprio Revestimentos e Sobrecarga


2 2
(kN/m ) tectos (kN/m ) (kN/m2 )
Tecto do r/c e rampa 2,5 0,4 6,0
o o
Tecto do 1. e 2. piso (L10 - figura 6.11) 2,3 0,7 6,0
o o
Tecto do 1. e 2. piso (L11 - figura 6.11) 1,9 0,7 6,0
Cobertura 2,3 0,7 2,0

Figura 6.11: Peso próprio e revestimentos na laje do tecto do 1.o e 2.o piso (kN/m2 ). Laje
L10 a azul escuro e laje L11 a azul claro.

A combinação de acções utilizada na análise foi a seguinte:

X X
Ef i,d,t = Gk + ψ1 · Qk + Ad (6.1)
onde,
Ef i,d,t - valor de cálculo dos efeitos das acções em situação de incêndio;

Gk - valor caracterı́stico das acções permanentes;

Qk - valor caracterı́stico da acção variável de base (sobrecarga);

Ad - valor de cálculo das acções que por via indirecta são originadas pelo incêndio (esforços in-
ternos resultantes das restrições à dilatação térmica dos elementos da estrutura, obtidos
através das variações de temperatura aplicadas às vigas e lajes - figura 6.7);

ψ1 - coeficiente de combinação frequente associado à acção variável de base segundo o Eu-


rocódigo 0 [19]. Considerou-se ψ1 = 0 para a laje de cobertura e ψ1 = 0, 9 para as
restantes lajes (armazém).
68 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

6.3 Dimensionamento
Como não foi encontrado nenhum registo relativamente às armaduras existentes nos pi-
lares do edifı́cio em estudo, procedeu-se ao dimensionamento destas, procurando sempre usar
métodos de análise em vigor na época em que a estrutura foi projectada.
Desta forma, começou por calcular-se a força de corte basal Hb para a combinação quase
permanente de acções, sabendo que o coeficiente sı́smico β adoptado foi 0, 1 [27]:

n
X n
X
Hb = Fki = β (Gi + ψ2 Qi ) = 2454, 33kN (6.2)
i=1 i=1

onde,

Hb - força de corte basal [kN ];

Fki - força estática equivalente ao nı́vel do piso i [kN ];

β - coeficiente sı́smico (0,1);

Gi - valor caracterı́stico das acções permanentes no piso i [kN ];

Qi - valor caracterı́stico das acções variáveis de base (sobrecarga) no piso i [kN ];

ψ2 - coeficiente de combinação quase permanente. Considerou-se ψ2 = 0, 6 para as lajes dos


pisos 1 a 3 e ψ2 = 0, 2 para a laje da cobertura.

Na tabela 6.4 e figura 6.12, encontram-se os valores usados para o dimensionamento dos
pilares do edifı́cio, obtidos através das expressões (6.2) a (6.13), e as suas respectivas por-
menorizações.

Hb × Iy
Vx = (6.3)
Iy × n.o pilares
Hb × Ix
Vy = (6.4)
Ix × n.o pilares
Vy × L
Mx = (6.5)
2
Vx × L
My = (6.6)
2
VEd = 1, 5 × V (6.7)

MEd = 1, 5 × M (6.8)
Msd,x
µx = (6.9)
b × h2 × fcd
Msd,y
µy = (6.10)
b2 × h × fcd
N
ν= (6.11)
b × h × fcd
ωtot × b × h × fcd
As,tot = (6.12)
fsyd
Vsd − Vcd
Asw /s = (6.13)
0, 9 × d × fsyd
onde,
6.3. Dimensionamento 69

I - inércia da secção do pilar;

V - esforço transverso na base do pilar para a combinação quase permanente de acções;

M - momento flector na base do pilar para a combinação quase permanente de acções;

L - altura do pilar no r/c;

VEd - esforço transverso de dimensionamento na base do pilar;

MEd - momento flector de dimensionamento na base do pilar;

µ - momento flector reduzido;

ν - esforço normal reduzido;

b - largura da secção do pilar;

h - altura da secção do pilar (0,70 m);

d - altura útil da secção do pilar (0,65 m);

wtot - percentagem mecânica de armadura;

Vcd = τ1 × b × d = 0, 75 · 103 × 0, 3 × 0, 65 = 146, 3 kN .

Tabela 6.4: Cálculo das armaduras dos pilares do edifı́cio.

Hb = 2454, 3 kN
Parâmetro Pilar 70 x 20 cm Pilar 30 x 70 cm
o
n. de pilares 19 18
L (m) 5 5
−4
Ix (m ) 4
4, 667 · 10 8, 575 · 10−3
Iy (m4 ) 5, 717 · 10−3 1, 575 · 10−3
Vx (kN ) 102,4 28,2
Vy (kN ) 7,0 128,9
Mx (kN m) 17,5 322,4
My (kN m) 256,1 70,6
N (kN ) 499,7 2086,0
VEd,x (kN ) 153,7 42,3
VEd,y (kN ) 10,5 193,4
MEd,x (kN m) 26,3 483,5
MEd,y (kN m) 384,1 105,8
ν 0,21 0,59
µx 0,06 0,20
µy 0,23 0,10
ωtot 0,55 0,60
2
As,tot (cm ) 29,56 48,37
2
Asw /s (cm /m) 2,21 1,85
Armadura longitudinal adoptada 4φ25 + 4φ20 16φ20
Armadura transversal adoptada φ8//30 φ8//30
70 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Figura 6.12: Pormenorizações adoptadas para os pilares do edifı́cio.

6.4 Avaliação da Capacidade Resistente dos Pilares

6.4.1 Momentos flectores resistentes

O Eurocódigo 2 [24] permite dividir um problema de flexão desviada nas duas direcções,
resolvendo-o como se de um problema de flexão composta em cada direcção se tratasse. Neste
caso, é necessário verificar no final a seguinte condição:

 α  α
MEd,x MEd,y
+ ≤ 1, 0 (6.14)
MRd,x MRd,y

onde α é um coeficiente que depende da forma da secção transversal e que tomas os


seguintes valores:

• Secções transversais circulares ou elı́pticas: α = 2, 0

• Secções transversais rectangulares:

NEd /NRd ≤ 0, 1 0,7 1,0


α 1,0 1,5 2,0

Devido ao facto do esforço normal actuante nos pilares depender da acção da temperatura,
por simplicidade e pelo lado da segurança considerou-se na análise α = 1, 0.

Os momentos resistentes MRd em cada direcção, foram obtidos através de tabelas de flexão
composta e apresentam-se em seguida:
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 71

Tabela 6.5: Momentos flectores resistentes dos dois tipos de pilares.

Pilar 70x20 cm Pilar 30x70 cm


Direcção x Direcção y Direcção x Direcção y
2
Área de armadura disponı́vel (cm ) 25,91 25,91 31,42 31,42
ωtot 0,48 0,48 0,39 0,39
ν 0,21 0,21 0,59 0,59
µ 0,29 0,29 0,25 0,25
MRd (kN m) 135,6 474,6 613,7 263,0

A parcela de variação de temperatura ∆T que provoca a rotura da secção de um pilar por


flexão, é obtida resolvendo a equação (6.14) realizando as seguintes substituições:

MEd,x = MEd,x,(G+ψ1 Q) + ∆T × MEd,x,∆T =1o C (6.15)

MEd,y = MEd,y,(G+ψ1 Q) + ∆T × MEd,y,∆T =1o C (6.16)

6.4.2 Esforço transverso resistente


O cálculo do esforço transverso resistente foi realizado através da seguinte expressão pre-
sente no Eurocódigo 2 [24]:

Asw
VRd = · 0, 9 · d · fsyd · cot θ = 2 × 1, 68 × 0, 9 × 0, 65 × 435 · 10−1 cot 26 = 175, 3 kN (6.17)
s

A parcela de variação de temperatura ∆T que provoca a rotura da secção de um pilar por


esforço transverso, é obtida resolvendo as seguintes equações:

VRd = VEd,x,(G+ψ1 Q) + ∆T × VEd,x,∆T =1o C (6.18)

VRd = VEd,y,(G+ψ1 Q) + ∆T × VEd,y,∆T =1o C (6.19)

6.5 Apresentação e Análise de Resultados


Nos casos de estudo seguintes, aplicou-se às lajes e vigas as duas componentes de tempe-
ratura (separadamente) ao longo das suas secções, conforme é ilustrado na figura 6.13. Estas
componentes foram aplicadas apenas às lajes ou apenas às vigas, não representando portanto
a realidade. No entanto, caso fossem aplicadas a ambos os elementos conjuntamente, tornaria-
se complicado relacionar os valores de temperatura (média e diferencial) que provocariam o
colapso dos pilares, visto as vigas apresentarem uma altura muito maior que a espessura das
lajes. Por outras palavras e a tı́tulo de exemplo, quando se atinge um incremento de tem-
peratura média de 1 o C nas vigas, o incremento de temperatura média nas lajes já terá sido
maior.
72 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Refere-se ainda que para compreensão dos resultados obtidos é indispensável a consulta das
peças desenhadas que se encontram no anexo B desta dissertação. A nomenclatura utilizada
para os pilares está também definida no mesmo anexo.

Figura 6.13: ∆T e ∆Td .

6.5.1 Caso 1 - Incêndio na Rampa


Neste caso de estudo, pretende-se avaliar apenas a influência da rampa nos seus pilares
adjacentes. As variações de temperatura (uniformes e diferenciais) foram aplicadas à laje da
rampa e às vigas que dela fazem parte e que se encontram representadas na figura 6.8.

6.5.1.1 Variações de temperatura aplicadas à laje da rampa

Variação uniforme

Na tabela 6.6, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de tem-
peratura, aplicados à laje da rampa, para que ocorra a primeira rótula plástica nos respectivos
pilares.

Tabela 6.6: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
uniforme aplicada à laje da rampa.

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P8 -182,5 0,5 1,1 1,7 2,8 1,01 0,97 0,02 0,05 2,61 168 M −0
P9 -472,3 -0,4 -12,0 -22,0 -0,2 -0,58 0,33 0,19 0,57 0,84 252 M −0
P10 -885,5 4,1 43,3 -13,5 3,6 1,30 4,92 9,49 5,79 2,35 14 Vy − 0 − 0, 84
P11 -911,3 1,9 28,2 6,3 2,5 0,26 2,37 2,81 2,86 2,09 53 Vy − 0 − 1, 66
P12 -879,4 0,7 16,1 8,0 1,6 0,12 1,27 1,10 1,47 1,66 113 M −0
P13 -1263,7 -54,3 -65,0 110,9 46,8 -0,28 1,52 -1,08 0,58 -1,36 103 Vy − 3, 33 − 5
P14 -912,2 9,0 -8,1 -14,5 15,5 2,59 0,37 -0,03 -0,15 0,94 241 M −0
P15 -711,1 1,7 16,2 25,0 3,4 0,13 0,30 0,24 0,67 0,76 238 M −0
P16 -899,0 0,2 -50,1 3,9 1,9 1,46 4,78 -9,08 -5,20 2,28 14 Vy − 0 − 0, 84
P17 -938,4 0,6 -35,0 -15,8 1,5 0,37 2,26 -2,88 -2,80 2,00 49 Vy − 0 − 1, 66
P18 -909,6 0,2 -20,6 -17,3 1,0 0,04 1,19 -1,41 -1,89 1,56 108 M −0
P19 -1313,7 -53,6 63,4 -111,8 46,0 -0,22 1,44 1,05 -0,48 -1,29 107 Vy − 3, 33 − 5
P20 -947,3 8,8 6,4 8,8 15,2 2,24 0,35 -0,45 -1,18 0,88 182 M −0

Como se pode observar nos resultados obtidos, os pilares P10 e P16 são os mais afectados.
A maior direcção do pilar disposta segundo y, aliada ao facto de ter a rampa rigidamente
ligada, originando um pilar curto com 84 cm, provoca a ocorrência de uma rotura por esforço
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 73

transverso para um incremento de temperatura média de apenas 14 o C. Deve referir-se que,


numa laje com apenas 10 cm de espessura, este incremento de temperatura média ocorre para
poucos minutos de incêndio decorridos.
Os restantes pilares que sofrem rotura por esforço transverso segundo y (direcção da maior
dimensão do pilar - 70 cm), são também os pilares ”cortados”pela rampa. Apenas os pilares
P12 e P18, ligados à rampa mas próximo de meia altura (2,49 m), sofrem uma rótula plástica
por flexão na zona do encastramento antes de atingirem a rotura por esforço transverso.
O pilar P8 é o que absorve maiores momentos segundo y, o que se explica pelo seu
posicionamento, com a maior dimensão disposta segundo x.
Na figura 6.14, apresenta-se a deformação esquemática dos pilares P8 a P20 para a acção
da componente de temperatura uniforme (∆T = 1o C) na laje da rampa. A deformação
na direcção x direcção é maior que na direcção y pois os pilares apresentam menor rigidez
segundo x.

Figura 6.14: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme na laje da rampa.

Variação diferencial

Na tabela 6.7, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às laje da rampa, para que ocorra a primeira rótula plástica nos
respectivos pilares.

Tabela 6.7: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
diferencial aplicada à laje da rampa.

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P8 -182,5 0,5 1,1 1,7 2,8 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,01 - -
P9 -472,3 -0,4 -12,0 -22,0 -0,2 0,00 0,00 -0,01 -0,01 0,00 - -
P10 -881,1 4,1 43,3 -49,9 0,2 -0,15 0,04 0,75 -0,73 -0,02 176 Vy − 0 − 0, 84
P11 -902,6 1,9 28,2 -40,5 -0,6 0,03 0,00 0,43 -0,56 0,00 339 Vy − 0 − 1, 66
P12 -866,3 0,7 16,1 -32,0 -0,2 0,03 0,00 0,28 -0,49 -0,01 580 Vy − 0 − 2, 49
P13 -1413,2 -4,6 8,1 -21,5 11,6 -0,10 -0,01 0,17 -0,40 0,02 961 Vy − 0 − 3, 33
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 0,07 0,01 0,02 -0,05 -0,04 - -
P15 -711,1 1,7 16,2 25,0 3,4 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 - -
P16 -894,6 0,2 -50,1 46,1 1,7 -0,16 0,03 -0,76 0,72 -0,02 164 Vy − 0 − 0, 84
P17 -929,7 0,6 -35,0 42,2 0,5 0,03 0,00 -0,44 0,56 0,01 317 Vy − 0 − 1, 66
P18 -896,6 0,2 -20,6 33,9 0,5 0,03 0,00 -0,28 0,49 -0,01 555 Vy − 0 − 2, 49
P19 -1322,5 -53,6 63,4 -5,9 -43,4 -0,01 -0,05 -0,26 -0,45 -0,05 905 Vy − 3, 33 − 5
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 0,09 0,01 -0,02 0,05 -0,04 - -
74 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Pelos resultados da tabela 6.7, pode-se observar que os valores de ∆Td obtidos são bastante
mais elevados que no caso da aplicação da componente uniforme de temperatura. Apenas
existem roturas por corte nos pilares em que a sua continuidade é interrompida pelo atraves-
samento da rampa. Estas roturas ocorrem para valores de ∆Td elevados, excepto nos pilares
P10 e P16 que, tal como no exemplo anterior, continuam a ser os mais afectados pelo incêndio.
Na figura 6.15 apresenta-se a deformação na laje da rampa aquando a aplicação da com-
ponente diferencial de temperatura para ∆Td = 1o C. Como se observa, esta variação provoca
deformações significativas na laje, afectando pouco os pilares.

Figura 6.15: Deformação da laje da rampa para a acção da componente diferencial de tem-
peratura.

6.5.1.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas da rampa

Variação uniforme

Na tabela 6.8, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de


temperatura, aplicados às vigas da rampa, para que ocorra a primeira rótula plástica nos
pilares analisados.

Tabela 6.8: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
uniforme aplicada às vigas da rampa.

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P8 -182,5 0,5 1,1 1,7 2,8 1,10 1,11 0,02 0,06 2,96 148 M −0
P9 -472,3 -0,4 -12,0 -22,0 -0,2 -0,64 0,38 0,20 0,62 0,95 225 M −0
P10 -885,5 4,1 43,3 -13,5 3,6 2,27 8,72 11,13 6,79 4,10 12 Vy − 0 − 0, 84
P11 -911,3 1,9 28,2 6,3 2,5 0,19 3,06 3,10 3,19 2,68 48 Vy − 0 − 1, 66
P12 -879,4 0,7 16,1 8,0 1,6 0,19 1,46 1,19 1,63 1,91 99 M −0
P13 -1263,7 -54,3 -65,0 110,9 46,8 -0,31 1,91 -0,77 0,22 -1,69 121 Vx − 3, 33 − 5
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 2,88 0,42 0,13 -0,43 -1,05 199 M −5
P15 -711,1 1,7 16,2 25,0 3,4 0,14 0,34 0,26 0,74 0,86 212 M −0
P16 -899,0 0,2 -50,1 3,9 1,9 2,45 8,58 -10,67 -6,15 4,03 12 Vy − 0 − 0, 84
P17 -938,4 0,6 -35,0 -15,8 1,5 0,31 2,96 -3,15 -3,08 2,59 45 Vy − 0 − 1, 66
P18 -909,6 0,2 -20,6 -17,3 1,0 0,12 1,39 -1,48 -2,02 1,81 96 M −0
P19 -1313,7 -53,6 63,4 -111,8 46,0 -0,26 1,79 0,75 -0,18 -1,59 128 Vx − 3, 33 − 5
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 2,49 0,40 -0,60 1,46 -0,99 151 M −5

Os resultados obtidos são semelhantes ao caso da componente uniforme aplicada à laje, no


entanto, as rótulas plásticas ocorrem, em geral, para valores mais reduzidos de ∆T . Os valores
de Vx para ∆T = 1o C são também mais elevados que no caso anterior devido à influência
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 75

da expansão térmica da viga inclinada. Desta forma, os pilar P13 e P19, apresentam uma
rotura por corte segundo x para valores de temperatura média nas vigas de 121 e 128 o C,
respectivamente. Esta rotura ocorreu na realidade e encontra-se representada da figura 6.16.
Refere-se ainda que, no caso de um incêndio real, devido à elevada altura da viga em
comparação com a espessura da laje, será necessário menos tempo de incêndio para atingir
um incremento de 1o C na laje do que na viga.

Figura 6.16: Rotura por corte segundo x no pilar P19.

Variação diferencial

Na tabela 6.9, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às vigas da rampa, para que ocorra a primeira rótula plástica nos
pilares analisados.

Tabela 6.9: Rótulas plásticas nos pilares adjacentes à rampa para uma variação de temperatura
diferencial aplicada às vigas da rampa.

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P8 -182,5 0,5 1,1 1,7 2,8 -0,03 -0,01 0,00 0,00 -0,02 - -
P9 -472,3 -0,4 -12,0 -22,0 -0,2 0,02 0,00 -0,02 -0,06 -0,01 - -
P10 -881,1 4,1 43,3 -49,9 0,2 0,03 0,01 2,45 -2,37 0,00 54 Vy − 0 − 0, 84
P11 -902,6 1,9 28,2 -40,5 -0,6 0,02 0,00 1,64 -2,11 0,00 90 Vy − 0 − 1, 66
P12 -866,3 0,7 16,1 -32,0 -0,2 0,17 0,01 1,01 -1,79 -0,01 159 Vy − 0 − 2, 49
P13 -1272,5 -54,3 -65,0 2,3 -43,9 -0,27 -0,24 0,87 1,58 -0,20 249 M − 3, 33
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 0,37 0,12 0,31 -1,06 -0,41 285 M −5
P15 -711,1 1,7 16,2 25,0 3,4 0,00 0,00 0,02 0,03 -0,01 - -
P16 -894,6 0,2 -50,1 46,1 1,7 0,01 -0,01 -2,50 2,36 0,00 51 Vy − 0 − 0, 84
P17 -929,7 0,6 -35,0 42,2 0,5 0,00 0,00 -1,67 2,11 0,00 84 Vy − 0 − 1, 66
P18 -896,6 0,2 -20,6 33,9 0,5 0,15 0,01 -1,03 1,79 -0,01 151 Vy − 0 − 2, 49
P19 -1322,5 -53,6 63,4 -5,9 -43,4 -0,25 -0,26 -0,98 -1,66 -0,22 235 M − 3, 33
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 0,42 0,12 -0,31 1,06 -0,41 284 M −5

Os valores de ∆T obtidos são bastante mais elevados que no caso de uma variação uni-
forme, não ocorrendo rótulas plásticas no pilar P8, que não se encontra em contacto com a
76 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

rampa, nem nos pilares P9 e P15, que partilham a mesma fundação da rampa. No entanto,
os pilares P10 e P16 continuam a ser os mais afectados atingindo a rotura por corte mais
cedo que os restantes.

6.5.2 Caso 2 - Incêndio no R/c


Neste caso de estudo, as variações de temperatura (uniformes e diferenciais) foram apli-
cadas às lajes e vigas do tecto e rampa do r/c (figura 6.9). Escolheu-se este piso visto ter sido
aquele onde incêndio causou maiores danos estruturais. Pretende-se avaliar a resistência dos
pilares do piso, nomeadamente os da rampa.
Devido à extensão dos resultados, apenas se apresentam nas tabelas seguintes os valores
de ∆T obtidos para os pilares da rampa, os pilares de canto, o P21, o P22 e o P25 (ver planta
no anexo B). Quanto aos de canto, os seus valores são apresentados por estes estarem sujeitos
a maiores deslocamentos (mais afastados do centro de rigidez), e por conseguinte, a maiores
esforços. Os valores dos pilares P21, P22 e P25 são referidos, pelo facto de estes apresentarem
rotura por esforço transverso antes de formarem rótulas plásticas por flexão.

6.5.2.1 Variações de temperatura aplicadas às lajes do r/c e da rampa

Variação uniforme

Na tabela 6.10, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de


temperatura, aplicados às lajes do tecto do r/c e da rampa, para que ocorra a primeira rótula
plástica nos pilares analisados.

Tabela 6.10: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa.

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -249,8 -0,4 1,8 -6,3 3,1 1,14 -0,79 0,10 -0,25 2,10 152 M −5
P7 -306,9 4,3 2,1 -7,0 -12,7 1,23 1,71 0,09 -0,22 -4,34 86 M −5
P8 -165,0 0,5 1,1 -3,6 0,2 1,63 -0,76 0,04 -0,09 2,03 198 M −5
P9 -446,1 -0,4 -12,0 38,2 2,0 -0,74 -0,18 0,96 -2,49 0,45 184 M −5
P10 -885,5 4,1 43,3 -13,5 3,6 1,02 6,01 9,17 6,37 2,74 15 Vy − 0 − 0, 84
P11 -911,3 1,9 28,2 6,3 2,5 -0,10 2,77 2,95 3,51 2,38 50 Vy − 0 − 1, 66
P12 -879,4 0,7 16,1 8,0 1,6 -0,34 1,49 1,46 2,38 1,90 89 M −0
P13 -1430,6 -4,6 8,1 5,6 -3,8 -0,18 0,90 0,95 1,88 1,54 113 M −0
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 1,12 0,45 0,65 -1,68 -1,14 132 M −5
P15 -684,8 1,7 16,2 -55,9 -5,2 -0,41 -0,17 0,06 -0,14 0,43 496 M −5
P16 -899,0 0,2 -50,1 3,9 1,9 1,64 6,78 -8,01 -4,83 3,09 16 Vy − 0 − 0, 84
P17 -938,4 0,6 -35,0 -15,8 1,5 0,46 3,02 -1,80 -1,79 2,60 58 Vx − 0 − 1, 66
P18 -909,6 0,2 -20,6 -17,3 1,0 0,49 1,59 -0,46 -0,55 2,03 110 Vx − 0 − 2, 49
P19 -1322,5 -53,6 63,4 -5,9 -43,4 -0,27 -0,34 1,45 1,19 -0,46 78 Vy − 3, 33 − 5
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 -1,04 0,49 0,33 -0,88 -1,25 139 M −5
P21 -218,7 1,3 3,4 -11,5 -2,4 3,14 -1,72 -0,04 0,09 4,52 103 Vx − 0 − 5
P22 -272,3 0,8 -0,7 2,3 -0,9 -2,86 -1,58 0,00 -0,01 4,17 112 Vx − 0 − 5
P25 -2068,0 0,3 4,4 -16,2 -0,3 -0,29 0,02 -1,19 3,08 -0,04 151 Vy − 0 − 5
P30 -151,6 -2,0 -0,1 0,4 8,4 1,44 -1,25 -0,14 0,36 3,27 103 M −5
P37 -336,9 3,6 -2,9 9,7 -10,5 1,60 2,01 -0,13 0,33 -5,15 69 M −5

Como se observa mais uma vez, os pilares P10 e P16 continuam a ser os pilares mais
afectados, atingindo a rotura por corte para um incremento de temperatura média nas lajes
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 77

de apenas 15 e 16 o C, respectivamente. Este incremento deverá ser facilmente atingido num


incêndio real, visto a laje ter apenas 10 cm de espessura.
Os pilares da rampa do alinhamento B (P9 a P14), apresentam momentos flectores Mx ,
para a acção da temperatura, maiores que os pilares que lhes são paralelos (alinhamento C).
Por essa razão, os pilares P12 e P13, sofrem uma rótula plástica por flexão antes de atingirem
a rotura por esforço transverso. O facto dos momentos Mx serem maiores no alinhamento
B que no C, deve-se à proximidade dos pilares do alinhamento B com os pilares exteriores
(alinhamento A), bastante deformáveis segundo y, impondo ao alinhamento B uma maior
restrição a esta deformação.
Os restantes ”pilares curtos”, sofrem também rotura por corte para temperaturas relati-
vamente baixas.
Os pilares P21 e P22, colapsam por esforço transverso para valores de temperatura rela-
tivamente baixos (∆T = 103o C e ∆T = 112o C, respectivamente). Isto deve-se ao facto do
alinhamento D ser composto por apenas estes dois pilares, existindo assim uma maior so-
licitação destes para a acção da temperatura, nomeadamente na direcção em que apresentam
maior rigidez (direcção x).
Refere-se ainda a rotura por esforço transverso no pilar P25 para ∆T = 151o C que, apesar
de ser um valor relativamente alto quando comparado com os valores de ∆T para os pilares da
rampa, não deixa de ser um valor perfeitamente alcançável num incêndio real e na presença
de uma laje com 10 cm de espessura.
O pilar P37, por ser o que se encontra mais afastado do centro de rigidez do edifı́cio,
apresenta uma rótula plástica por flexão na zona de ligação pilar-viga, para um valor de ∆T
relativamente baixo (69o C).
Na figura 6.17, apresenta-se a deformação esquemática dos pilares P8 a P20 para a acção
da componente de temperatura uniforme (∆T = 1o C) aplicada às lajes do tecto do r/c e da
rampa.

Figura 6.17: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c e da rampa.

Variação diferencial

Na tabela 6.11, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às lajes do tecto do r/c e da rampa, para que ocorra a primeira rótula
plástica nos pilares analisados.
Os valores de ∆Td obtidos para a aplicação da componente diferencial de temperatura são,
78 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

tal como ocorreu no Caso 1, bastante mais elevados que no caso da aplicação da componente
uniforme. Apenas os pilares da rampa atingem o colapso, continuando a ser os pilares P10 e
P16 os mais esforçados.

Tabela 6.11: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c e à laje da rampa.

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -249,8 -0,4 1,8 -6,3 3,1 0,31 -0,02 0,00 0,01 0,07 - -
P7 -306,9 4,3 2,1 -7,0 -12,7 0,28 0,02 0,00 0,01 -0,06 - -
P8 -165,0 0,5 1,1 -3,6 0,2 0,22 -0,01 0,00 0,02 0,04 - -
P9 -446,1 -0,4 -12,0 38,2 2,0 0,23 0,00 0,04 -0,12 0,00 - -
P10 -881,1 4,1 43,3 -49,9 0,2 -0,58 0,05 0,85 -0,92 -0,03 104 Vy − 0 − 0, 84
P11 -902,6 1,9 28,2 -40,5 -0,6 -0,04 0,00 0,47 -0,63 0,00 218 Vy − 0 − 1, 66
P12 -866,3 0,7 16,1 -32,0 -0,2 -0,03 0,00 0,30 -0,55 0,00 383 Vy − 0 − 2, 49
P13 -1263,7 -54,3 -65,0 110,9 46,8 -0,26 -0,11 -0,17 0,71 0,10 382 Vy − 3, 33 − 5
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 0,29 0,03 0,04 -0,12 -0,10 - -
P15 -684,8 1,7 16,2 -55,9 -5,2 -0,13 -0,01 0,10 -0,34 0,03 1148 Vy − 0 − 5
P16 -894,6 0,2 -50,1 46,1 1,7 -0,27 0,03 -0,97 0,87 -0,02 84 Vy − 0 − 0, 84
P17 -929,7 0,6 -35,0 42,2 0,5 0,05 0,00 -0,55 0,68 0,00 175 Vy − 0 − 1, 66
P18 -896,6 0,2 -20,6 33,9 0,5 0,08 0,00 -0,34 0,58 -0,01 329 Vy − 0 − 2, 49
P19 -1313,7 -53,6 63,4 -111,8 46,0 -0,05 -0,08 0,07 -0,50 0,07 604 M −5
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 0,44 0,02 -0,03 0,12 -0,08 - -
P21 -218,7 1,3 3,4 -11,5 -2,4 0,46 -0,02 -0,02 0,06 0,07 - -
P22 -272,3 0,8 -0,7 2,3 -0,9 -0,10 -0,04 0,02 -0,07 0,12 - -
P25 -2068,0 0,3 4,4 -16,2 -0,3 -0,26 0,00 0,03 -0,10 0,00 - -
P30 -151,6 -2,0 -0,1 0,4 8,4 0,16 -0,01 -0,01 0,02 0,05 - -
P37 -336,9 3,6 -2,9 9,7 -10,5 0,33 0,03 0,01 -0,03 -0,08 - -

6.5.2.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas do r/c e da rampa

Variação uniforme

Na tabela 6.12, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de


temperatura, aplicados às vigas do tecto do r/c e da rampa, para que ocorra a primeira rótula
plástica nos pilares analisados.
Mais uma vez, os resultados obtidos mostram claramente a severidade dos danos causados
nos pilares da rampa. Os pilares P10 e P16, colapsam para um incremento de temperatura
média de apenas 8o C. Os 8 pilares ligados à rampa sem ser nas extremidades, atingem
a rotura por corte para temperaturas médias inferiores a 63o C. O facto desta rotura por
esforço transverso ser sempre segundo y, está relacionada com a posição dos pilares, que
apresentam a maior dimensão segundo esta direcção.

Variação diferencial

Na tabela 6.13, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às vigas do tecto do r/c e da rampa, para que ocorra a primeira rótula
plástica dos pilares analisados.
Os resultados obtidos mostram, mais uma vez, o colapso antecipado dos pilares da rampa
(por esforço transverso).
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 79

Tabela 6.12: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa.

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -267,3 -0,4 1,8 2,9 1,0 0,95 0,21 0,07 0,17 0,75 343 M −0
P7 -324,4 4,3 2,1 3,4 8,8 0,00 1,22 0,08 0,19 3,18 104 Vx − 0 − 5
P8 -165,0 0,5 1,1 -3,6 0,2 1,71 -0,16 0,04 -0,11 0,59 478 M −5
P9 -472,3 -0,4 -12,0 -22,0 -0,2 -0,99 0,08 0,14 0,38 0,20 745 M −0
P10 -885,5 4,1 43,3 -13,5 3,6 2,10 9,25 11,70 6,94 4,29 8 Vy − 0 − 0, 84
P11 -911,3 1,9 28,2 6,3 2,5 0,05 3,26 3,87 3,82 2,83 27 Vy − 0 − 1, 66
P12 -866,3 0,7 16,1 -32,0 -0,2 -0,05 1,58 1,94 2,54 2,04 60 Vy − 0 − 2, 49
P13 -1263,7 -54,3 -65,0 110,9 46,8 -0,07 0,32 -1,53 -1,96 0,14 43 Vy − 3, 33 − 5
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 0,97 0,48 0,43 -1,19 -1,21 143 M −5
P15 -684,8 1,7 16,2 -55,9 -5,2 0,01 0,05 0,44 -1,10 -0,11 263 Vy − 0 − 5
P16 -899,0 0,2 -50,1 3,9 1,9 2,53 9,63 -10,69 -5,81 4,46 8 Vy − 0 − 0, 84
P17 -938,4 0,6 -35,0 -15,8 1,5 0,36 3,36 -3,01 -2,65 2,91 32 Vy − 0 − 1, 66
P18 -813,7 1,3 32,1 3,8 1,3 -0,34 0,03 1,59 -1,86 -0,10 63 Vy − 2, 49 − 5
P19 -1322,5 -53,6 63,4 -5,9 -43,4 -0,24 -0,27 2,06 -1,74 0,10 33 Vy − 3, 33 − 5
P20 -947,3 8,8 6,4 8,8 15,2 1,58 0,45 -0,28 -0,73 1,13 174 M −0
P21 -236,2 1,3 3,4 5,6 4,0 0,68 0,48 0,02 0,05 1,31 271 Vx − 0 − 5
P22 -289,8 0,8 -0,7 -1,2 3,3 -0,60 0,68 -0,02 -0,05 1,80 191 Vx − 0 − 5
P25 -2068,0 0,3 4,4 -16,2 -0,3 -0,13 0,12 -0,61 -1,48 0,34 223 Vy − 0 − 5
P30 -151,6 -2,0 -0,1 0,4 8,4 0,76 -0,18 -0,07 0,18 0,59 378 M −5
P37 -336,9 3,6 -2,9 9,7 -10,5 0,13 0,77 -0,12 0,31 -1,87 146 M −5

Tabela 6.13: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c e às vigas da rampa.

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -249,8 -0,4 1,8 -6,3 3,1 0,68 -0,21 0,10 -0,32 0,72 246 M −5
P7 -306,9 4,3 2,1 -7,0 -12,7 0,71 0,22 0,09 -0,29 -0,74 251 M −5
P8 -165,0 0,5 1,1 -3,6 0,2 1,57 -0,25 0,05 -0,18 0,84 315 M −5
P9 -446,1 -0,4 -12,0 38,2 2,0 -0,86 0,00 -0,57 1,94 -0,01 210 Vy − 0 − 5
P10 -881,1 4,1 43,3 -49,9 0,2 -0,40 0,03 2,74 -2,80 -0,01 32 Vy − 0 − 0, 84
P11 -902,6 1,9 28,2 -40,5 -0,6 -0,37 0,00 1,85 -2,44 0,00 56 Vy − 0 − 1, 66
P12 -866,3 0,7 16,1 -32,0 -0,2 -0,10 0,02 1,10 -1,98 -0,02 105 Vy − 0 − 2, 49
P13 -1263,7 -54,3 -65,0 110,9 46,8 -0,86 -0,42 -0,68 2,72 0,34 97 Vy − 3, 33 − 5
P14 -886,0 9,0 -8,1 25,8 -29,3 0,34 0,24 -0,12 0,42 -0,79 231 M −5
P15 -684,8 1,7 16,2 -55,9 -5,2 -1,99 0,04 0,39 -1,26 -0,12 298 Vy − 0 − 5
P16 -894,6 0,2 -50,1 46,1 1,7 0,11 -0,02 -2,99 2,81 0,01 28 Vy − 0 − 0, 84
P17 -929,7 0,6 -35,0 42,2 0,5 0,03 -0,01 -2,03 2,55 0,01 48 Vy − 0 − 1, 66
P18 -896,6 0,2 -20,6 33,9 0,5 0,30 0,02 -1,22 2,13 -0,03 91 Vy − 0 − 2, 49
P19 -1465,9 -4,8 -11,5 24,6 11,9 -0,82 -0,05 -0,72 1,65 0,12 150 M −5
P20 -921,0 8,8 6,4 -23,3 -28,8 1,32 0,22 0,02 -0,06 -0,75 290 M −5
P21 -218,7 1,3 3,4 -11,5 -2,4 0,54 -0,21 0,09 -0,31 0,69 248 M −5
P22 -272,3 0,8 -0,7 2,3 -0,9 0,84 0,21 -0,05 0,16 -0,70 371 M −5
P25 -2068,0 0,3 4,4 -16,2 -0,3 -0,63 0,00 0,13 -0,40 0,00 974 Vy − 0 − 5
P30 -151,6 -2,0 -0,1 0,4 8,4 1,21 -0,24 -0,05 0,17 0,78 337 M −5
P37 -336,9 3,6 -2,9 9,7 -10,5 0,74 0,21 -0,09 0,31 -0,71 243 M −5

6.5.3 Caso 3 - Incêndio no R/c - Inexistência de rampa


O Caso de estudo 3, tem como objectivo principal, comparar o comportamento de um
edifı́cio igual ao anterior mas com uma excepção: a inexistência da rampa. Pretende-se avaliar
o comportamento dos mesmos pilares do Caso 2, na ausência de rampa, para demonstrar
80 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

que esta não deveria ser monolı́tica com os pilares. Para isso, as variações de temperatura
(uniformes e diferenciais) foram aplicadas às lajes e vigas do r/c (figura 6.10).

6.5.3.1 Variações de temperatura aplicadas às lajes do r/c

Variação uniforme

Na tabela 6.14, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de


temperatura, aplicados às lajes do tecto do r/c do edifı́cio sem rampa, para que ocorra a
primeira rótula plástica nos pilares analisados.

Tabela 6.14: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -251,53 -3,08 1,75 -6,02 8,97 0,99 -0,92 0,11 -0,27 2,40 133 M −5
P7 -302,08 1,50 2,00 -6,75 -6,36 1,45 1,63 0,12 -0,29 -4,21 86 M −5
P8 -166,51 -2,27 0,89 -3,13 6,71 1,73 -1,11 0,04 -0,09 2,90 143 M −5
P9 -473,51 -1,82 -10,87 33,48 5,81 -0,81 -0,27 1,06 -2,74 0,67 148 M −5
P10 -844,44 -0,45 -16,74 53,58 1,24 -0,28 -0,15 0,83 -2,12 0,36 224 M −5
P11 -870,25 -0,32 -15,60 50,02 0,83 -0,11 -0,02 0,83 -2,11 0,05 232 Vy − 0 − 5
P12 -824,60 0,27 -15,43 49,75 -1,14 -0,09 0,11 0,86 -2,20 -0,28 222 Vy − 0 − 5
P13 -1413,53 -6,91 -15,47 -27,14 -11,69 -0,08 0,24 0,91 2,22 0,60 185 M −0
P14 -875,99 12,41 -7,85 25,13 -41,64 0,56 0,50 1,00 -2,55 -1,29 98 M −5
P15 -712,41 0,38 12,83 -46,44 -1,45 -0,41 -0,27 -0,03 0,10 0,68 387 M −5
P16 -879,36 -0,49 9,98 13,35 -0,99 -0,53 -0,14 0,11 0,31 -0,35 532 M −0
P17 -923,37 -0,26 11,56 16,17 -0,61 -0,61 -0,01 0,17 0,43 -0,03 981 M −0
P18 -869,65 0,43 9,85 13,69 0,54 -0,44 0,13 0,18 0,48 0,31 496 M −0
P19 -1480,76 -7,59 13,17 19,39 -12,76 -0,58 0,26 0,26 0,66 0,65 287 M −0
P20 -918,72 13,72 6,36 -22,86 -45,98 -0,17 0,52 0,47 -1,18 -1,34 113 M −5
P21 -221,7 -0,9 3,3 -11,1 2,7 3,12 -1,92 -0,05 0,11 5,01 91 Vx − 0 − 5
P22 -269,7 -1,4 -0,8 2,5 4,3 -2,83 -1,79 -0,01 0,01 4,67 98 Vx − 0 − 5
P25 -2066,42 -0,20 3,84 -15,62 0,61 -0,33 -0,01 -1,24 3,22 0,03 146 Vy − 0 − 5
P30 -152,84 -3,18 -0,29 0,76 10,85 1,41 -1,30 -0,15 0,38 3,39 98 M −5
P37 -335,83 2,51 -2,91 9,61 -8,11 1,67 1,94 -0,13 0,32 -4,99 72 M −5

Os resultados obtidos para a aplicação da componente uniforme de temperatura às lajes


do tecto do r/c, na ausência de rampa, mostram claramente uma melhoria significativa no
comportamento dos pilares. Os pilares mais afectados deixaram de ser os posicionados na zona
da ”antiga”rampa, para passarem a ser os pilares dos cantos do edifı́cio e do contorno. Mesmo
assim, o pilar de canto P37 (primeira rótula plástica por flexão), sofre uma ligeira melhoria
quando comparado com o resultado obtido na tabela 6.10, passando de um incremento de
69o C para 72o C.
Os pilares que anteriormente eram mais afectados (P10 e P16), deixam de colapsar por
corte para valores de incrementos de temperatura reduzidos, passando a ter um comporta-
mento semelhante aos outros pilares. Ainda em relação aos pilares da ”antiga”rampa, apenas
o P11 e o P12 continuam a atingir a rotura por esforço transverso, no entanto para valores de
∆T muito mais elevados. Esta rotura está relacionada com o aumento de Vy nestes pilares,
devido à incapacidade dos pilares do alinhamento A para ”travarem”a dilatação térmica nesta
direcção.
6.5. Apresentação e Análise de Resultados 81

Na figura 6.18, apresenta-se a deformação esquemática dos pilares P8 a P20 para a acção
da componente de temperatura uniforme (∆T = 1o C) aplicada às lajes do tecto do r/c.

Figura 6.18: Deformação dos pilares P8 a P20 para a acção da componente de temperatura
uniforme nas lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).

Em relação aos pilares P21 e P22, estes apresentam uma diminuição do valor de ∆T de
103 C para 91o C e 112o C para 98o C, respectivamente. Este comportamento está relacionado
o

com a dilatação da rampa que se dá apenas num sentido, por se encontrar fundada numa
extremidade, enquanto que no caso da laje a dilatação dá-se nos dois sentidos, afectando
então estes pilares. Pela mesma razão, ocorre também uma diminuição no valor de ∆T nos
pilares P1, P8, P9 e P15.
Quanto ao pilar P25, os resultados obtidos estão próximos dos do Caso 2, continuando
este a colapsar por esforço transverso antes de formar rótulas plásticas por flexão.

Variação diferencial

Na tabela 6.15, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às lajes do tecto do r/c do edifı́cio sem rampa, para que ocorra a
primeira rótula plástica nos pilares analisados.
Como se pode observar pela tabela 6.15, os resultados obtidos mostram claramente uma
melhoria significativa na ausência de rampa. Apenas os pilares P14 e P20 formam rótulas
plásticas por flexão, apresentando ainda assim, valores de ∆Td bastante elevados.

6.5.3.2 Variações de temperatura aplicadas às vigas do r/c

Variação uniforme

Na tabela 6.16, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação uniforme de


temperatura, aplicados às vigas do tecto do r/c do edifı́cio sem rampa, para que ocorra a
primeira rótula plástica nos pilares analisados.
82 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

Tabela 6.15: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às lajes do tecto do r/c (ausência de rampa).

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -251,5 -3,1 1,8 -6,0 9,0 0,34 -0,03 -0,01 0,03 0,08 - -
P7 -302,1 1,5 2,0 -6,8 -6,4 0,33 0,01 0,00 0,02 -0,05 - -
P8 -166,5 -2,3 0,9 -3,1 6,7 0,48 -0,02 -0,01 0,04 0,05 - -
P9 -473,5 -1,8 -10,9 33,5 5,8 -0,03 -0,01 0,10 -0,36 0,04 - -
P10 -844,4 -0,4 -16,7 53,6 1,2 -0,66 0,00 -0,11 0,36 -0,01 - -
P11 -870,3 -0,3 -15,6 50,0 0,8 -0,15 0,00 -0,04 0,11 0,01 - -
P12 -824,6 0,3 -15,4 49,7 -1,1 -0,08 0,00 -0,05 0,15 -0,01 - -
P13 -1387,3 -6,9 -15,5 50,2 22,8 -0,62 -0,02 -0,04 0,11 0,08 - -
P14 -876,0 12,4 -7,8 25,1 -41,6 0,13 0,08 0,04 -0,13 -0,27 716 M −5
P15 -712,4 0,4 12,8 -46,4 -1,5 -0,09 -0,03 0,02 -0,07 0,10 - -
P16 -879,4 -0,5 10,0 13,3 -1,0 -0,11 0,01 -0,01 -0,03 0,01 - -
P17 -897,1 -0,3 11,6 -41,6 0,7 0,03 0,00 -0,01 0,03 0,01 - -
P18 -869,7 0,4 9,9 13,7 0,5 0,12 0,00 -0,01 -0,02 0,00 - -
P19 -1480,8 -7,6 13,2 19,4 -12,8 -0,28 -0,02 -0,01 -0,03 -0,03 - -
P20 -918,7 13,7 6,4 -22,9 -46,0 0,28 0,07 -0,05 0,16 -0,23 761 M −5
P21 -221,7 -0,9 3,3 -11,1 2,7 0,46 -0,02 -0,02 0,06 0,07 - -
P22 -269,7 -1,4 -0,8 2,5 4,3 -0,08 -0,04 0,02 -0,07 0,13 - -
P25 -2066,4 -0,2 3,8 -15,6 0,6 -0,21 0,00 0,03 -0,12 0,00 - -
P30 -152,8 -3,2 -0,3 0,8 10,8 0,16 -0,01 -0,01 0,02 0,04 - -
P37 -335,8 2,5 -2,9 9,6 -8,1 0,32 0,03 0,01 -0,03 -0,08 - -

Tabela 6.16: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura uniforme apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa).

G + ψ1 Q ∆T = 1o C ∆T para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -251,5 -3,1 1,8 -6,0 9,0 0,44 -0,51 0,07 -0,18 1,32 227 M −5
P7 -302,1 1,5 2,0 -6,8 -6,4 0,51 0,55 0,09 -0,22 -1,42 204 M −5
P8 -166,5 -2,3 0,9 -3,1 6,7 0,72 -0,58 0,04 -0,09 1,50 253 M −5
P9 -473,5 -1,8 -10,9 33,5 5,8 -0,41 -0,10 0,20 -0,49 0,24 599 M −5
P10 -870,7 -0,4 -16,7 -30,1 -1,0 -0,09 -0,04 0,47 1,15 -0,11 411 Vy − 0 − 5
P11 -870,3 -0,3 -15,6 50,0 0,8 0,04 -0,01 0,51 -1,29 0,02 379 Vy − 0 − 5
P12 -824,6 0,3 -15,4 49,7 -1,1 0,05 0,03 0,52 -1,32 -0,06 369 Vy − 0 − 5
P13 -1413,5 -6,9 -15,5 -27,1 -11,7 -0,03 0,06 0,52 1,28 0,15 366 Vy − 0 − 5
P14 -876,0 12,4 -7,8 25,1 -41,6 0,17 0,18 0,57 -1,46 -0,47 213 M −5
P15 -712,4 0,4 12,8 -46,4 -1,5 -0,13 -0,09 0,31 -0,80 0,23 429 M −5
P16 -879,4 -0,5 10,0 13,3 -1,0 -0,23 -0,04 0,15 0,39 -0,10 978 M −0
P17 -897,1 -0,3 11,6 -41,6 0,7 -0,29 -0,01 0,18 -0,44 0,01 931 Vy − 0 − 5
P18 -869,7 0,4 9,9 13,7 0,5 -0,20 0,03 0,17 0,43 0,06 997 Vy − 0 − 5
P19 -1480,8 -7,6 13,2 19,4 -12,8 -0,34 0,06 0,18 0,45 0,14 807 M −0
P20 -918,7 13,7 6,4 -22,9 -46,0 -0,18 0,17 0,09 -0,22 -0,44 391 M −5
P21 -221,7 -0,9 3,3 -11,1 2,7 -0,14 0,00 0,01 -0,03 0,01 - -
P22 -269,7 -1,4 -0,8 2,5 4,3 0,12 0,20 -0,03 0,08 -0,51 601 M −5
P25 -2066,4 -0,2 3,8 -15,6 0,6 -0,12 0,00 -0,68 1,77 -0,01 266 Vy − 0 − 5
P30 -152,8 -3,2 -0,3 0,8 10,8 0,52 -0,52 -0,08 0,21 1,34 221 M −5
P37 -335,8 2,5 -2,9 9,6 -8,1 0,48 0,47 -0,10 0,24 -1,23 209 M −5

Apesar da maioria dos pilares da ”antiga”rampa continuarem a colapsar por esforço


transverso, a rotura dá-se para valores de ∆T muito mais elevados que no Caso 2. Neste
caso, os pilares de canto são os mais afectados.
6.6. Conclusões 83

Variação diferencial

Na tabela 6.17, apresentam-se os valores dos incrementos de uma variação diferencial de


temperatura, aplicados às vigas do tecto do r/c do edifı́cio sem rampa, para que ocorra a
primeira rótula plástica nos pilares analisados.

Tabela 6.17: Rótulas plásticas nos pilares para uma variação de temperatura diferencial apli-
cada às vigas do tecto do r/c (ausência de rampa).

G + ψ1 Q ∆Td = 1o C ∆Td para rótula Tipo de


Pilar N Vx Vy Mx My N Vx Vy Mx My plástica rótula - secção
(kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (kN ) (kN ) (kN ) (kN m) (kN m) (o C) (m)
P1 -251,5 -3,1 1,8 -6,0 9,0 0,70 -0,22 0,09 -0,31 0,74 243 M −5
P7 -302,1 1,5 2,0 -6,8 -6,4 0,78 0,21 0,08 -0,28 -0,72 262 M −5
P8 -166,5 -2,3 0,9 -3,1 6,7 1,58 -0,26 0,05 -0,17 0,86 314 M −5
P9 -473,5 -1,8 -10,9 33,5 5,8 -0,89 0,00 -0,57 1,92 -0,01 289 Vy − 0 − 5
P10 -844,4 -0,4 -16,7 53,6 1,2 -0,71 0,00 -0,13 0,42 0,01 - -
P11 -870,3 -0,3 -15,6 50,0 0,8 -0,67 0,00 -0,12 0,41 0,01 - -
P12 -824,6 0,3 -15,4 49,7 -1,1 -0,43 0,01 -0,12 0,40 -0,02 - -
P13 -1387,3 -6,9 -15,5 50,2 22,8 -1,47 -0,05 -0,13 0,43 0,15 651 M −5
P14 -876,0 12,4 -7,8 25,1 -41,6 -0,46 0,22 -0,13 0,42 -0,73 232 M −5
P15 -712,4 0,4 12,8 -46,4 -1,5 -1,97 0,03 0,34 -1,17 -0,12 392 M −5
P16 -879,4 -0,5 10,0 13,3 -1,0 0,19 -0,01 -0,01 -0,01 -0,01 - -
P17 -897,1 -0,3 11,6 -41,6 0,7 0,13 0,00 -0,01 0,02 0,00 - -
P18 -869,7 0,4 9,9 13,7 0,5 0,30 0,00 -0,01 -0,02 0,00 - -
P19 -1480,8 -7,6 13,2 19,4 -12,8 -0,37 -0,03 0,00 -0,01 -0,05 - -
P20 -918,7 13,7 6,4 -22,9 -46,0 0,51 0,19 0,00 0,00 -0,62 333 M −5
P21 -221,7 -0,9 3,3 -11,1 2,7 0,56 -0,21 0,09 -0,30 0,70 248 M −5
P22 -269,7 -1,4 -0,8 2,5 4,3 0,82 0,20 -0,05 0,17 -0,68 371 M −5
P25 -2066,4 -0,2 3,8 -15,6 0,6 -0,52 0,00 0,13 -0,44 0,00 - -
P30 -152,8 -3,2 -0,3 0,8 10,8 1,22 -0,23 -0,05 0,18 0,77 329 M −5
P37 -335,8 2,5 -2,9 9,6 -8,1 0,72 0,21 -0,09 0,31 -0,73 239 M −5

Mais uma vez, os resultados obtidos mostram uma melhoria significativa em relação ao
Caso 2, não ocorrendo roturas prematuras por esforço transverso nos pilares do edifı́cio.

6.6 Conclusões
A partir da análise efectuada, podem-se concluir vários aspectos:

• A existência da rampa no edifı́cio, foi o fenómeno responsável pela rotura prematura


por esforço transverso dos pilares P10 a P13 e P16 a P19. No caso de ocorrer a
reparação/substituição da laje da rampa, esta não deverá ficar monolı́tica, ou seja,
rigidamente ligada com os pilares do edifı́cio. Estes pilares deverão ser reforçados ou
mesmo substituı́dos, pois a segurança sı́smica do edifı́cio poderá estar comprometida.

• Como se referiu na secção 5.1.2 desta dissertação, no caso de pórticos, o aumento do


momento flector e do esforço transverso nos pilares é substancial nos primeiros 30 minu-
tos de incêndio devido ao aquecimento das vigas. De seguida, devido à degradação das
secções extremas das vigas, a transmissão de esforços aos pilares por esta zona passa
a ser bastante menor, não ocorrendo, a partir dos 30 minutos de incêndio, um grande
aumento de esforços nos pilares. Como a degradação dos elementos não foi considerada
na análise, os valores de ∆T e ∆Td obtidos deverão ser válidos se forem atingidos nos
primeiros 30 minutos de incêndio.
84 6. Caso de Estudo - Bloco de Armazéns em Sacavém

• A componente uniforme de temperatura induz esforços mais elevados nos pilares que a
componente diferencial. O esforço axial nas lajes e nas vigas, provocado pela restrição da
estrutura à expansão térmica, induz maior incremento de esforço transverso nos pilares
que o momento flector constante provocado pela componente diferencial de temperatura.

• Na secção 5.2 desta dissertação, são referidos alguns valores de temperatura média
atingida em elementos de edifı́cios para a qual se deu o colapso. Segundo uma análise
computacional, no armazém do porto de Gante, após 1h20min de incêndio, a tem-
peratura média nas vigas estava compreendida entre 150-200 o C. No caso porém da
biblioteca de Linköping, o colapso ocorreu após 30 minutos de incêndio para uma tem-
peratura média na laje de 165 o C. No entanto, esta última trata-se de uma laje com
25 cm de espessura mas que foi aquecida nas duas superfı́cies.
Comparando com os resultados obtidos, principalmente no Caso 2 - Incêndio no r/c,
observam-se valores de ∆T bastante inferiores aos calculados nos exemplos anteriores
de fogos reais (um incremento de temperatura média nas lajes ∆T = 15o C e nas vigas
∆T = 8o C). No Caso 3 - Incêndio no r/c - inexistência de rampa, o primeiro pilar a
colapsar por esforço transverso é o pilar P25 para um incremento de temperatura média
nas lajes ∆T = 146o C ou um incremento de temperatura média nas vigas ∆T = 266o C.
Os valores obtidos para o Caso 2, mostram claramente a influência do fenómeno ”pilar
curto”para a ocorrência do colapso antecipado, sendo os valores obtidos para o Caso 3
próximos dos observados em incêndios reais, onde este condicionalismo não é posto em
causa.

• Os pilares curtos, tal como no dimensionamento sı́smico, devem ser evitados de modo
a melhorar a resistência ao fogo. Aliás, do ponto de vista prático, para melhorar o
comportamento ao fogo de pilares, deverão ser adoptadas pormenorizações semelhantes
às usadas no dimensionamento sı́smico. A adopção de cintas pouco espaçadas aumenta
a resistência e a ductilidade da secção para a combinação do esforço axial com a flexão,
melhorando também o risco de destacamento do betão. As cintas utilizadas na análise
são bastante espaçadas, no entanto, usuais na época em que o edifı́cio foi projectado.

• As acções indirectas do incêndio provocam esforços devido às restrições impostas pela
estrutura à livre dilatação térmica, esforços estes que devem ser tidos em conta caso se
pretenda obter um edifı́cio com uma boa resistência ao fogo. Numa análise de elementos
individuais, estas acções não são consideradas e, como se verificou nas secções 5.1.1 e
5.1.2 desta dissertação, podem levar a resultados conservativos no caso de vigas e a
resultados contra a segurança no caso de pilares. Em relação às vigas, verificou-se em
5.1.1 que a degradação do betão nas suas secções extremas, aliada à contribuição do
esforço axial para o momento flector positivo, levam à ocorrência de um redistribuição
de esforços ao longo da viga, adiando o colapso desta. Quanto aos pilares, o aumento
do esforço transverso proveniente do esforço axial das vigas nos primeiros 30 minutos,
pode originar o colapso antecipado destes elementos e, como consequência, do edifı́cio.
Capı́tulo 7

Avaliação e Reparação de
Estruturas de Betão Danificadas
pelo Fogo

As estruturas de betão armado são conhecidas por possuı́rem uma boa resistência ao fogo,
graças à incombustibilidade e baixa difusividade térmica do material. Desta forma, apenas
em casos de incêndios de duração bastante longa e na presença de secções relativamente finas,
expostas a temperaturas elevadas, é que poderá ocorrer a perda da capacidade resistente dos
elementos estruturais. Neste caso, uma ajuda adicional poderá ser fornecida pela redundância
estrutural, atrasando assim o colapso prematuro das secções crı́ticas.
Por estas razões, as estruturas de betão normalmente resistem aos incêndios sem colap-
sarem e a avaliação das suas capacidades residuais ganha especial interesse nas possibilidades
de reforço e reparação.

7.1 Propriedades Residuais dos Materiais Após Aqueci-


mento
As propriedades que os materiais apresentam depois de terem sido submetidos a um ciclo
completo de aquecimento/arrefecimento designam-se por propriedades residuais.
As alterações que o aço maciço sofre durante o aquecimento são praticamente reversı́veis,
de tal modo que, após o arrefecimento, os valores das suas propriedades não diferem substanci-
almente em relação aos iniciais, a menos que tenham sido submetidos a temperaturas bastante
elevadas, seguidas de arrefecimento brusco pela água de extinção utilizada pelos bombeiros.
Neste caso, a sua estrutura poderá ter-se tornado frágil, com aumento da tensão de rotura e
diminuição da extensão de rotura, como se observa no anexo C. Os aços endurecidos a frio e
de pré-esforço tratados termicamente, sofrem alterações irreversı́veis nas suas propriedades.
Os betões, pelo contrário, além de perderem resistência durante a fase de aquecimento,
continuam a perdê-la durante o arrefecimento [21].
A tensão de aderência entre o aço e o betão é também uma propriedade afectada pelo

85
86 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

processo térmico de aquecimento/arrefecimento. Esta depende de diversos parâmetros tais


como o tipo de agregado, a proporção de combinação entre o cimento e os agregados, o aspecto
da superfı́cie do varão, o diâmetro do varão e o tipo de aço. No entanto, na prática, verifica-se
que os parâmetros que mais influenciam esta propriedade são o aspecto da superfı́cie do varão
e o tipo de agregados utilizados na composição do betão, sendo os outros aspectos pouco
significativos.

Nas figuras 7.1 a 7.4, apresentam-se as perdas permanentes de algumas propriedades


mecânicas de aços e betões em função da temperatura máxima atingida durante o incêndio, em
percentagem dos seus valores no inı́cio do aquecimento. No gráfico da figura 7.1, comparam-
se os aços laminados a quente com os aços de pré-esforço e endurecidos a frio, mostrando
as maiores susceptibilidades destes dois últimos, sendo por isso necessário dedicar-lhes uma
atenção especial em estruturas danificadas por incêndio.

Figura 7.1: Valores residuais das tensões de cedência e rotura do aço para betão armado e
betão pré-esforçado, em função da temperatura máxima atingida [28].
7.1. Propriedades Residuais dos Materiais Após Aquecimento 87

Figura 7.2: Módulo de elasticidade de vários aços após aquecimento a temperaturas elevadas
[21].

Figura 7.3: Propriedades mecânicas do betão de agregado quartzı́tico após aquecimento a


temperaturas elevadas [21].

Figura 7.4: Tensão de aderência aço-betão após aquecimento a temperaturas elevadas [21].
88 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

7.2 Caracterização dos Danos


Normalmente, os danos estruturais criados pelos incêndios devem-se aos enormes gradi-
entes térmicos a que os materiais são sujeitos e aos gases libertados durante a combustão. Em
seguida, descrevem-se em pormenor os danos caracterı́sticos nas estruturas de betão armado
e pré-esforçado em situações de incêndio.

7.2.1 Coloração do betão


Devido às alterações quı́micas durante a fase de aquecimento, a coloração que o betão
apresenta após o incêndio, constitui uma informação valiosa sobre o nı́vel de temperatura a
que o material foi sujeito. Este parâmetro constitui uma avaliação meramente qualitativa,
pelo que a sua utilização no decurso do processo de análise estrutural deverá merecer uma
atenção particular. Para além do mais, esta coloração não se mantém por tempo indefinido,
sendo aconselhável a realização de vistorias preliminares ao local dias após a extinção do
incêndio [18].
Quando o betão é submetido a temperaturas na ordem dos 300 o C, apresenta uma cor
rosada. Esta cor torna-se mais evidente para betões com inertes silicosos do que para os
betões com inertes calcários ou basálticos. Quando o betão é submetido a temperaturas entre
os 300 o C e os 600o C, a cor deste varia de rosa a cinzento escuro, enquanto que, entre os 600
o
C e os 800 o C, varia de cinzento escuro a cinzento esbranquiçado [21].

7.2.2 Fissuração
Nos elementos de betão armado é bastante frequente o aparecimento de fissuras em
situação de incêndio. A sua ocorrência afecta negativamente a capacidade resistente das
secções, aumenta a deformabilidade dos elementos e permite um avanço mais rápido dos
mecanismos de deterioração dos materiais (carbonatação e penetração de cloretos). Entre os
diversos fenómenos que explicam a fissuração nos elementos de betão durante um incêndio,
salientam-se os seguintes [18]:

• deslocamentos diferenciais nos elementos estruturais, originados quer pela hiperstatia da


estrutura, quer pela não uniformidade das temperaturas em compartimentos adjacentes;

• expansão térmica diferenciada entre o betão e as armaduras;

• comportamento térmico não uniforme dos diversos materiais existentes no interior da


matriz de betão (agregado e ligante);

• efeitos de retracção originados pelos processos de combate ao incêndio. O arrefeci-


mento por intermédio de jacto de água é mais gravoso para a estrutura, neste aspecto
particular, do que o arrefecimento natural ao ar.

7.2.3 Esfoliação do betão - Spalling


O spalling é um termo de origem anglo-saxónica, bastante generalizado na área da segu-
rança ao fogo, que pretende designar o efeito de esfoliação do betão. Durante o incêndio, a
esfoliação das superfı́cies de betão pode ocorrer gradualmente, através da separação de várias
7.2. Caracterização dos Danos 89

camadas, ou de forma explosiva (explosive spalling). Na figura 7.5, apresenta-se um exemplo


de uma laje que esteve sujeita a este fenómeno.

Figura 7.5: Esfoliação do betão - ”spalling”[29].

O spalling pode ocorrer durante os primeiros 10-20 minutos de um incêndio severo. É


originado pelas tensões intersticiais geradas no interior do betão pela passagem de água ao
estado gasoso e a probabilidade da sua ocorrência depende sobretudo do teor de humidade,
da compacidade do betão e das condições de aquecimento. Refere-se ainda que os elementos
esbeltos comprimidos são bastante sensı́veis ao spalling explosivo [18].

Este fenómeno pode ser evitado limitando as tensões no betão e mantendo o seu teor de
humidade inferior a 4 % do seu peso, como se observa na figura 7.6. O betão de alta resistência
(HSC - hight strength concrete) tem uma porosidade bastante baixa, sendo mais sensı́vel ao
spalling que o betão normal. O betão leve é também mais sensı́vel a este fenómeno que o
betão normal uma vez que apresenta um teor de humidade relativamente alto armazenado
nos seus poros. Para reduzir o spalling é possı́vel adicionar ao betão fibras plásticas. Este
tipo de fibras derretem quando são submetidas a incêndio, criando aberturas no betão para
a saı́da do vapor de água [30].
90 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

Figura 7.6: Influência da tensão de compressão e da espessura da peça no fenómeno de


”spalling”[30].

7.2.4 Deformação dos elementos estruturais

A acção das temperaturas elevadas do incêndio produzem, frequentemente, deformações


permanentes bastante significativas, especialmente em lajes de pavimento esbeltas. A queda
do recobrimento nas lajes de betão origina a plastificação dos troços de armadura directamente
expostos ao fogo, contribuindo este factor para um incremento das flechas. Nas lajes de
vigotas pré-esforçadas com abobadilhas, pode ocorrer a queda de abobadilhas como resultado
das grandes flechas que estas lajes podem adquirir devido à perda de tensão nos cordões de
pré-esforço [21].

7.2.5 Encurvadura das armaduras principais em elementos com-


primidos

Nos elementos estruturais sujeitos a compressões significativas, o destacamento prematuro


do betão de recobrimento (spalling) pode originar a encurvadura localizada (entre cintas) dos
varões de armadura principal, como se representa na figura 7.7.
7.3. Ensaios Experimentais 91

Figura 7.7: Encurvadura das armaduras principais em pilares [18].

7.2.6 Ataque quı́mico de cloretos


A libertação de iões de cloro, como produto da combustão de plásticos, é extremamente
nociva para os elementos de betão armado e pré-esforçado, potenciando o aparecimento de
focos de corrosão ao longo das armaduras. Em caso de incêndio, o risco de corrosão pode ser
agravado pela eventual destruição das camadas de recobrimento (spalling e fissuração) e pela
presença de elevadas concentrações de dióxido de carbono. Este fenómeno electroquı́mico
é bastante prejudicial para o betão, pois corresponde a uma perda de secção dos varões de
armaduras e a uma diminuição da aderência entre o aço e o betão [18].

7.3 Ensaios Experimentais


Para determinar as propriedades residuais dos materiais, recorrem-se a ensaios de labo-
ratório ou in-situ, sendo estes condicionados pelo tipo de material.
Para determinar a resistência residual à compressão do betão recorrem-se, normalmente,
aos seguintes ensaios: extracção de carotes (Core Test), ensaio de esclerómetro (Rebound,
Impact, Schmidt ou Swiss Hammer test), ensaio de ultra-sons (PUNDIT-Ultrasonic Pulse Ve-
locity test), ensaio de penetração (Penetration Resistence ou Windsor Probe test), teste da
fractura interna - BRE (Internal Fracture method) e teste da termoluminiscência (Thermolu-
minescence test). Para determinação das zonas afectadas por carbonatação, utiliza-se o teste
da carbonatação (carbonation test). Poderão ser ainda realizadas análises quı́micas, para a
determinação da água residual combinada e a quantidade residual de cloretos.
No caso do aço de armaduras, a sua resistência residual é determinada através de ensaios
de tracção [28].
Dos ensaios anteriormente referidos, o da termoluminiscência está exclusivamente voca-
92 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

cionado para analisar os efeitos da acção do fogo. Os outros ensaios são de aplicação corrente
em estruturas existentes e encontram-se descritos em [31]. Na secção seguinte é feita uma
breve descrição deste ensaio.

7.3.1 Teste da termoluminiscência

A termoluminiscência é a propriedade que certos materiais têm de emitir luz visı́vel quando
são aquecidos. Entre esses materiais, encontram-se o quartzo e o feldespato. Assim, ao
aquecer-se uma amostra de areia com minerais de quartzo, a emissão de luz ocorre para uma
gama de temperaturas compreendida entre os 300 o C e os 500 o C, sendo a potência luminosa
bastante inferior caso o material esteja a sofrer um reaquecimento. Este princı́pio básico da
termoluminiscência, permite estimar de forma rápida e pouco destrutiva, a profundidade da
isotérmica crı́tica relativa ao comportamento do betão sob a acção do fogo.
O traçado dos perfis de temperaturas máximas nas secções obtém-se com relativa facili-
dade, extraindo amostras a diferentes profundidades e calibrando os resultados em função da
isotérmica crı́tica.
Este ensaio é realizado extraindo por brocagem, amostras de areia dos elementos de betão
armado. O equipamento de brocagem deve ser de baixa rotação para evitar o aquecimento
excessivo dos minerais da amostra e para garantir a total eficiência do teste. Posteriormente,
as amostras são lavadas numa solução ácida de elevada concentração para remover minerais
que possam alterar os resultados [21].

7.4 Avaliação da Segurança Estrutural

A complexidade que envolve o cálculo da resistência residual de estruturas afectadas pelos


incêndios leva, normalmente, à adopção de métodos aproximados. Nas avaliações preliminares
é comum a utilização de métodos expeditos baseados em apreciações de carácter subjectivo,
devido aos elevados custos económicos e às questões de segurança que se colocam. Estes
métodos consistem essencialmente na redução das caracterı́sticas resistentes dos elementos
em função do nı́vel de danos que estes apresentam. É possı́vel, através destes métodos e da
experiência dos técnicos, solucionar questões primárias como por exemplo a evacuação dos
residentes, a realização de escoramentos provisórios e a eventual necessidade de proceder a
demolições parciais.
O procedimento mais simples para abordar a segurança de estruturas danificadas pelo
fogo, consiste em exprimir a capacidade resistente residual em função dos seus valores originais
multiplicados por um coeficiente minorativo, que depende do tipo de danos na estrutura. O
documento [32] propõe uma metodologia baseada na adopção de factores pseudo-quantitativos
para o cálculo da resistência residual dos elementos estruturais em edifı́cios. Esses factores
encontram-se na tabela 7.2 em função do nı́vel de danos nos elementos estruturais. A tabela
7.1 e figura 7.8 apresentam um exemplo de critérios de avaliação dos danos para o caso de
pilares de betão armado danificados pelo fogo.
7.4. Avaliação da Segurança Estrutural 93

Tabela 7.1: Classificação de danos devido ao fogo [32].

Nı́vel Descrição
Inexistência de danos excepto sinais de fuligem. Algum descasque mı́nimo
A
de betão ou de acabamento.
Perda substancial dos acabamentos e algum descasque do betão, com exposição
B eventual de armaduras em zonas restritas. A superfı́cie de betão denota
microfissuração generalizada e possivelmente uma cor amarelada ou rosa.
Perda quase completa dos acabamentos. Existe descasque de betão em largas
áreas com exposição de armaduras. A superfı́cie de betão tem possivelmente
C
uma cor amarelada. Os varões estão ainda aderentes ao betão sem que mais
de um varão ou até 10% da armadura principal tenha encurvado
Danos severos. Descasque generalizado deixando à vista praticamente toda a
armadura. Encurvadura de pelo menos 2 varões de armadura ou até 50% da
D
armadura principal. Eventual aparecimento de fendas de corte, com alguns
milimetros de largura.
E Colapso parcial dos elementos estruturais.

Figura 7.8: Nı́veis de dano em pilares de betão armado [32].

Tabela 7.2: Estimativa pseudo-quantitativa da relação entre a capacidade resistente residual e


a inicial para elementos estruturais de betão armado de edifı́cios recentes e antigos danificados
por incêndios [32].

Nı́vel de danos
Edifı́cio
A B C D
Novo 0,95 0,80 0,60 0,40
Antigo 0,85 0,70 0,50 0,30
94 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

No entanto, o recurso a métodos expeditos tão simplificados para a avaliação da segurança


não é consensual, surgindo outros tipos de abordagens ao problema. Uma das abordagens
mais usuais consiste em traçar um paralelismo entre a verificação da segurança em estruturas
existentes e aquelas que sofreram incêndio, através dos gráficos das figuras 7.1 a 7.4. O uso
destes gráficos pressupõe uma avaliação prévia das distribuições de temperaturas máximas
atingidas no interior das secções transversais dos elementos de betão armado. Para isso, a
localização da isotérmica relativa aos 300 o C assume um papel bastante importante, pois
permite, através da determinação do ”tempo equivalente de duração de incêndio”, utilizar
gráficos de distribuição de temperaturas obtidos experimentalmente a partir de condições de
incêndio normalizadas (curva de incêndio padrão ISO 834), avaliando assim a distribuição de
temperaturas no elemento em causa em consequência do incêndio real [21].
A utilização da isotérmica dos 300 o C como referência deve-se, sobretudo, à facilidade da
sua detecção. O betão adquire a essa temperatura uma coloração rosada e tornam-se mais
visı́veis as modificações que o betão sofre em consequência do aquecimento, apresentando uma
textura manifestamente alterada.
Após identificada in-situ a isotérmica das 300 o C, existem duas hipóteses para o traçado
das restantes isotérmicas. A menos trabalhosa consiste na utilização dos resultados experi-
mentais que se apresentam nos regulamentos europeus, nomeadamente, as distribuições de
temperatura em secções de betão armado corrente disponibilizadas na parte 1-2 do Eurocódigo
2 [10]. No entanto, este método é bastante limitativo, restringindo a análise ao modelo de
incêndio padrão (curva ISO 834) e aos tipos de secção transversal definidos no regulamento.
Se estas limitações não estiverem em causa, resta seleccionar o diagrama de temperaturas
que satisfaz as condições observadas no incêndio real. Caso o incêndio real não possa ser
aproximado pela curva padrão ou se a secção transversal em estudo não está inserida no lote
dos exemplares referenciados no Eurocódigo, é necessário recorrer à segunda hipótese. Neste
caso, o modelo de incêndio deve ser construı́do em conformidade com as condições reais,
respeitando factores como a natureza da carga de incêndio e o tipo de ventilação do compar-
timento (capı́tulo 3); é possı́vel calibrar posteriormente este modelo à custa da localização da
isotérmica de referência. O diagrama das temperaturas no interior da secção transversal pode
ser determinado através da imposição do equilı́brio térmico e o recurso a métodos numéricos
simplificados.
A avaliação da resistência residual de uma secção de betão armado pode ser efectuada
de forma simplificada, dividindo-a em zonas de acordo com o nı́vel máximo de temperatura
atingida e atribuindo factores de redução à resistência à compressão do betão para cada uma
dessas zonas, de acordo com a tabela 7.3. Quanto à resistência do aço, poderão ser utilizados
valores obtidos em ensaios experimentais, como os gráficos da figura 7.1 e do anexo C.

Tabela 7.3: Factores de redução da resistência à compressão do betão [21].

Temperatura Factor de redução


≤ 100 o C 1,00
100-300 o C 0,85
300-500 o C 0,40
o
≥ 500 C 0,00
7.5. Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo 95

7.5 Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo


Fogo
A primeira atitude perante uma estrutura danificada pelo fogo consiste na análise e
na avaliação dos seus danos e capacidade residual. Resumidamente, esse passo engloba as
seguintes acções: visita de inspecção à construção por uma equipa técnica com experiência
no tipo de construção em causa; análise do projecto ou outra documentação acompanhada de
comparação com a obra existente; estimativa das solicitações que actuam sobre a estrutura
e esforços por elas provocados; diagnóstico; análise retrospectiva; avaliação da capacidade
estrutural (prognóstico). É ainda indispensável, nesta fase, o recurso a ensaios de materiais
e da estrutura, tanto in-situ como no laboratório [33].
Ao reparar-se um elemento de uma estrutura, pretende-se dotá-lo das funções para as
quais tinha inicialmente sido concebido e que se perderam durante o incêndio. Propriedades
como a resistência à flexão, à corrosão e ao fogo, são restabelecidas mediante critérios de
reparação escolhidos em função dos danos sofridos. A cada categoria de danos e a cada
tipo de estrutura corresponde uma categoria de reparação, podendo consistir apenas numa
ligeira lavagem de superfı́cies sujas com fuligem ou conduzir mesmo à substituição total dos
elementos. Os critérios gerais de reparação devem obedecer à documentação normativa da
construção [28].
As principais medidas a tomar na reparação de peças de betão danificadas pelo fogo em
função do tipo de elemento estrutural e do nı́vel de danos, podem ser resumidas da seguinte
forma [21]:

• Placas e lajes

– Estragos grandes ou moderados - eliminação dos elementos e sua reconstrução. As


lajes apenas moderadamente danificadas são demolidas pois, neste tipo de elemento
o custo de reparação é, em geral, superior ao custo de reconstrução.
– Estragos ligeiros - reparação com betão projectado (gunitagem) e reforço de ar-
maduras.

• Vigas

– Estragos grandes - demolição e reconstrução.


– Estragos moderados - corte de troços de betão seleccionados incluı́dos na zona de
compressão adjacente aos pilares. Colocação de armaduras longitudinais, estribos
e malha electrossoldada e recobrimento de todo o conjunto por gunitagem. Como
alternativas, pode recorrer-se ao pré-esforço exterior (com protecção contra o fogo)
ou à colagem de chapas metálicas com resina epoxi e/ou rebites.
– Estragos ligeiros - eliminação das zonas danificadas e reparação por gunitagem.

• Pilares

– Estragos grandes ou moderados - reforço com uma camada de betão colocada em


todo o perı́metro do pilar e confinada por cofragem exterior, após se ter eliminado
todo o betão danificado. Poderão ainda ser introduzidas cintas helicoidais ou
96 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

perfis metálicos de canto. Se as armaduras existentes ficarem afectadas, haverá


que colocar novos varões que se amarrarão ou soldarão aos existentes antes de se
proceder à gunitagem.

– Estragos ligeiros - eliminação das zonas danificadas e reparação por gunitagem.

7.5.1 Estruturas de betão armado

A reparação de estruturas de betão, envolve sempre a remoção do betão que esteve sujeito
a temperaturas superiores a 300 o C. A esta temperatura, como se referiu anteriormente, o
betão apresenta uma coloração rosada. Através da extracção de pequenas carotes ou através
do cálculo analı́tico, elaborado com conhecimento da duração do incêndio e das suas carac-
terı́sticas, é possı́vel identificar a profundidade da posição desta isotérmica na secção.

Após ter sido feita a remoção do material alterado, deverá tratar-se a superfı́cie com um
jacto de areia, limpando assim não só a superfı́cie de fuligem e outras impurezas como também
retirando a pequena fissuração superficial que possa existir. Após este tratamento, a obra
deve ser examinada por um perito, de forma a observar e a analisar a existência de fendas
contı́nuas de maior profundidade (agora visı́veis) e que possam comprometer a estabilidade
do próprio elemento.

Depois de devidamente tratadas, as superfı́cies são em geral revestidas com betão projec-
tado, material este que é o mais utilizado na reparação deste tipo de estruturas [28].

7.5.1.1 Reparação de lajes

Normalmente, as lajes são os elementos mais afectados pelo fogo, devido à sua reduzida
espessura e consequentemente ao pequeno recobrimento que as armaduras possuem. Estas
poderão apresentar-se bastante danificadas, sendo o grau de danos superior no caso da uti-
lização do aço endurecido a frio, com a sua resistência bastante afectada pelas temperaturas
elevadas. Por esta razão, as lajes construı́das com este tipo de armadura, apresentam quase
sempre após o incêndio deformações bastante elevadas, sendo a sua demolição e reconstrução
o processo mais viável. Caso a laje não apresente deformações excessivas e as propriedades
mecânicas dos materiais não estejam muito alteradas, deverá proceder-se à sua reparação.

As reparações ligeiras são executadas com betão projectado, após a retirada do betão
danificado (que atingiu temperaturas superiores a 300 o C) e posterior limpeza da superfı́cie
com jacto de areia. Reparações mais elaboradas poderão envolver a necessidade de utilização
de uma armadura de reforço. Neste caso, a malha electrossoldada é normalmente utilizada,
sendo fixa à armadura existente através de amarração ou soldadura, ou soldada a espigões de
aço cravados e fixados na laje através de resina epoxi ou argamassa especial (figura 7.9) [28].

Caso o elemento apresenta uma fissuração elevada, deverá injectar-se nas fissuras resina
epoxi de modo a conferir o monolitismo ao conjunto.
7.5. Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo 97

Figura 7.9: Reforço de uma laje com malha electrossoldada [28].

7.5.1.2 Reparação de vigas

Uma das consequências dos incêndios sobre o betão das vigas consiste na calcinação deste,
com possı́vel esfoliação ou desprendimento do recobrimento. A calcinação é caracterizada
por uma perda de água no betão e uma diminuição da sua resistência. Desta forma, antes
de se proceder aos trabalhos de reparação, é necessário eliminar as camadas calcinadas e
aplicar-lhes um jacto de areia, de forma a obter uma superfı́cie sã sobre a qual se possa
aplicar o novo betão. Caso as armaduras percam a sua aderência ao betão, deverá limpar-se
a fundo as superfı́cies de betão e de aço. Caso estas se encontrem bastante deformadas deverá
proceder-se ao seu corte e substituição (figura 7.10) [21].

Figura 7.10: Técnicas de reparação de vigas danificadas por incêndio através de reforço com
armadura longitudinal e transversal suplementar [28].
98 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo

7.5.1.3 Reparação de pilares

As reparações de pilares poderão envolver questões arquitectónicas, pois nem sempre é


possı́vel manter as dimensões originais da secção transversal destes. Caso as espessuras o
permitam, poderá recorrer-se à betonagem usual com auxı́lio de cofragem. No caso de se
pretender diminuir as espessuras do recobrimento, poderão ser utilizados betões de alta re-
sistência, evitando assim o aumento excessivo da secção do pilar.
Para a reparação de danos ligeiros, é suficiente uma simples remoção do betão danificado,
seguido de limpeza da superfı́cie com jacto de areia e recobrimento com betão projectado.
Para danos mais extensos, poderá recorrer-se ao reforço do pilar por encamisamento com
armadura longitudinal e transversal suplementar (figura 7.11).

Figura 7.11: Reparação de um pilar danificado por incêndio através de reforço por encamisa-
mento com armadura longitudinal e transversal suplementar [28].

Como já se referiu anteriormente, no caso de elementos comprimidos poderá ocorrer a


encurvadura de varões longitudinais, caso as armaduras sejam expostas ao incêndio. Se o
deslocamento lateral desses varões for superior a metade do respectivo diâmetro, deverão ser
retirados para reparação. Estes são cortados, endireitados e recolocado através de soldadura.
No entanto, este processo envolve bastante mão de obra e por vezes de difı́cil execução, sendo
normalmente mais prático a colocação de armadura suplementar [28].
Um elemento depois de reparado deverá possuir uma resistência pelo menos igual à que
tinha no seu estado original aos 28 dias. A avaliação da capacidade resistente não é fácil e,
segundo [34], no caso de pilares de betão danificados pelo fogo e reforçados por encamisamento,
deveria ser feita de acordo com as seguintes regras:

ca = 1, 30cd (7.1)
7.5. Reparação e Reforço de Estruturas Danificadas pelo Fogo 99

cn ≥ ca = 1, 30cd (7.2)

cr = 0, 50ca = 0, 65cd (7.3)

onde,

ca - resistência do betão existente antes da ocorrência do incêndio;

cd - resistência do betão existente aos 28 dias;

cn - resistência do betão novo usado na reparação;

cr - resistência do betão existente depois de retirada toda a camada com coloração rosada.

7.5.2 Estruturas de betão pré-esforçado


As estruturas pré-esforçadas são muito sensı́veis às temperaturas elevadas, originando per-
das significativas de pré-esforço e, consequentemente, grandes deformações. No entanto, neste
tipo de estruturas o recobrimento do betão em relação às armaduras de pré-esforço é normal-
mente elevado, sendo por isso a temperatura do betão a esse nı́vel inferior à temperatura do
betão ao nı́vel das armaduras ordinárias.
Quando o aço de pré-esforço é bastante afectado pelo aumento de temperatura e os ele-
mentos possuem grandes deformações, é normalmente preferı́vel optar-se pela sua demolição
e substituição. Se o aço de pré-esforço não tiver sido afectado, a reparação deste tipo de es-
truturas é realizada unicamente para o betão e para as armaduras de aço normal que existam,
através de métodos semelhantes aos descritos anteriormente.
100 7. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danificadas pelo Fogo
Capı́tulo 8

Conclusão

Como se verificou ao longo deste trabalho, a resistência ao fogo de estruturas de betão ar-
mado é um fenómeno extremamente complexo. No entanto, os danos causados pelos incêndios
na população e nas estruturas, exigem que este aspecto seja o mais explorado possı́vel, havendo
já um forte movimento no sentido do estabelecimento de uma nova especialidade da engenha-
ria: a engenharia de segurança contra incêndios.
Os Eurocódigos são menos prescritivos que a antiga regulamentação e mais baseados no
desempenho, isto é, permitem ter em conta vários aspectos relacionados com a segurança das
pessoas e bens, não se baseando apenas no incêndio normalizado.
Ter em conta o efeito global da estrutura, juntamente com a diminuição da resistência
dos materiais que a constituem, na verificação de segurança de um edifı́cio de betão armado
ao fogo, é ainda praticamente impossı́vel devido à enorme concentração de informação. No
entanto, as análises efectuadas para estruturas simples mostram que estes dois aspectos devem
ser tidos em conta conjuntamente, pois a análise de elementos individuais revela-se muito
conservativa no caso do dimensionamento de vigas e contra a segurança no caso de pilares.
Aliás, no caso de incêndios reais, o colapso de edifı́cios é muitas vezes causado por uma rotura
de esforço transverso nos pilares, induzido pela expansão térmica de vigas e lajes.
Na análise efectuada a um edifı́cio que esteve sujeito a incêndio, verificou-se que os re-
sultados obtidos foram os previsı́veis, mostrando que as dilatações térmicas das lajes e vigas
da rampa do edifı́cio foram as responsáveis pelo colapso de alguns pilares. No entanto, o
incêndio poucos danos causou aos restantes elementos do edifı́cio. Desta forma, a substi-
tuição dos troços de alguns pilares do r/c, a substituição da laje da rampa que não deverá
ficar monolı́tica com os pilares e o reforço local de algumas zonas afectadas no r/c e 1.o andar,
é suficiente para reparar os danos causados pelo incêndio no Corpo A do edifı́cio. Salienta-se
mais uma vez que a segurança sı́smica do edifı́cio está bastante comprometida devido aos
danos causados nos pilares da rampa.
O método de análise utilizado, apesar de não ter em conta os parâmetros relacionados
com a degradação dos materiais, que devem ser usados numa avaliação rigorosa da resistência
ao fogo, poderá ser usado ao nı́vel da concepção global de um edifı́cio. Com a ajuda dum
programa de cálculo automático comum, através da simples aplicação de uma componente
uniforme de temperatura ∆T ao longo das secções das lajes do edifı́cio, é possı́vel avaliar zonas
de risco. Esta zonas poderão ser pilares curtos, como por exemplo zonas de escadas, onde

101
102 8. Conclusão

os vãos ”cortam”por vezes os pilares a meio, mas também zonas onde se localizam pilares
crı́ticos, cuja sua rotura através do aumento de esforço transverso poderá provocar o colapso
do edifı́cio.
Também ainda ao nı́vel da concepção global, o posicionamento de elementos verticais de
grande secção nos cantos do edifı́cio, apesar de ser uma medida favorável do ponto de vista
sı́smico, evitando modos de torção antecipados, não o é do ponto de vista da resistência ao
fogo, onde os elementos mais afastados do centro de rigidez são sujeitos a maiores esforços.
Bibliografia

[1] The Concrete Center. Concrete and Fire - Using concrete to achieve safe, efficient
buildings and structures, 2004.

[2] NEVES, I. C. Segurança ao Fogo - Fundamentos. Instituto Superior Técnico Universi-


dade Técnica de Lisboa, 1984.

[3] VILA REAL, Paulo M. M. Incêndio em Estruturas Metálicas - Cálculo Estrutural.


Edições Orion, 2003.

[4] LENNON, Tom. The need for large-scale fire tests. Proceedings of the International
Workshop: Fire Design of Concrete Structures - From Materials Modelling to Structural
Permormance, Coimbra, Portugal, 2008.

[5] Regulamento de Segurança Contra Incêndios em Edifı́cios de Habitação, Dec. Lei n.o
64/90 de 21 de Fevereiro.

[6] BAILEY, Colin. Holistic behaviour of concrete buildings in fire. Proceedings of the
Institution of Civil Engineers, Structures and Buildings 152, 2002.

[7] FLETCHER, Ian. The dalmarnock fire tests. 2006.

[8] Ministério da Administração Interna. Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndios


em Edifı́cios (RG-SCIE) - Versão de Projecto, Janeiro de 2007.

[9] LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Verificação da Segurança de Estru-


turas de Betão Armado e Pré-Esforçado em Relação à Acção do Fogo - Recomendações,
1990.

[10] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1992-1-2, Eurocode 2: Design of concrete


structures - Part 1-2: General rules - Structural fire design, December 2003.

[11] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1991-1-2, Eurocode 1: Actions on struc-


tures - Part 1-2: General actions - Actions on structures exposed to fire, April 2002.

[12] FIB - Fédération Internationale du Béton. State-of-art Report - Bulletin 38 - Fire Design
of Concrete Structures - Materials, Structures and Modelling, 2007.

[13] COELHO, António Leça. Segurança Contra Incêndio em Edifı́cios de Habitação. Edições
Orion, 1998.

[14] http://users.femanet.com.br/quimica/.

103
104 BIBLIOGRAFIA

[15] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1993-1-2, Eurocode 3: Design of steel


structures - Part 1-2: General rules - Structural fire design, April 2003.

[16] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1994-1-2, Eurocode 4: Design of compo-


site steel and concrete structures - Part 1-2: General rules - Structural fire design, May
2003.

[17] LOPES, Abı́lio José Sequeira. Avaliação do risco de incêndio em edifı́cios. Tese de
mestrado, Instituto Superior Técnico Universidade Técnica de Lisboa, 2004.

[18] CORREIA, Pedro Mira. Comportamento das estruturas de betão armado e pré-esforçado
face à acção do fogo. Monografia, Instituto Superior Técnico Universidade Técnica de
Lisboa, 1999.

[19] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1990, Eurocode - Basis of structural


design, July 2001.

[20] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 145 - Design of
Concrete Structures for Fire Resistance, 1981.

[21] NEVES, I. Cabrita; BRITO, J. Avaliação e Reparação de Estruturas de Betão Danifi-


cadas pelo Fogo. Relatório IC/IST, DT 11/97. Instituto Superior Técnico, 1997.

[22] TAERWE, Luc. From member design to global structural behaviour. Proceedings of the
International Workshop: Fire Design of Concrete Structures - From Materials Modelling
to Structural Permormance, Coimbra, Portugal, 2007.

[23] VENANZI, Ilaria; BRECCOLOTTI, Marco. Analytical safety assessment of r.c. frames
exposed to fire. Proceedings of the International Workshop: Fire Design of Concrete
Structures - From Materials Modelling to Structural Permormance, Coimbra, Portugal,
2007.

[24] CEN - Comité Européen de Normalisation. EN 1992-1-1, Eurocode 2: Design of concrete


structures - Part 1-1: General rules and rules for buildings, December 2003.

[25] ANDERBERG, Y.; BERNANDER, K. Biblioteksbranden i linköping den 21 september


1996: studium av orsaken till tidigt ras. Fire Safety Design AB (FSD), Lund.

[26] APPLETON, Júlio. Parecer Técnico - Condições de Segurança de um Edifı́cio Danificado


por um Incêndio, Sacavém. Fevereiro 1999.

[27] GUTERRES, João. Albino Vicente Lopes - Bloco de Armazéns a construir na EN 1, km


0,400, (Sacavém) - Alteração aos Cálculos. 1965.

[28] RODRIGUES, J. P. C. Recuperação de estruturas danificadas por incêndio: Propriedades


mecânicas residuais do aço e do betão. Tese de mestrado, Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra, Abril 1994.

[29] COSTA, António. Avaliação de Estruturas de Betão Armado Sujeitas ao Fogo. Re-
abilitação e Reforço de Estruturas, Instituto Superior Técnico, 2007.
BIBLIOGRAFIA 105

[30] FIB - Fédération Internationale du Béton. Structural concrete: textbook on behaviour,


design and performance: updated knowledge of the CEB/FIP model code 1990, 1999.

[31] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 192 - Diagnosis
and Assessment of Concrete Structures - State of the art Report, 1983.

[32] CEB - Comité Euro-Internacional du Béton. Bulletin d´Information n.o 162 - Assess-
ment of Concrete Structures and Design Procedures for Upgrading (Redesign), 1983.

[33] BRITO, J.; BRANCO, F.; NEVES, I. C.; BAPTISTA, A. Comportamento de Betão
Armado sob a Acção do Fogo - Estudo de um Caso. Relatório CMEST, AI n.o 14/1986.
Instituto Superior Técnico, 1986.

[34] CÁNOVAS, M. F. Patologia e Terapia do Concreto Armado. Edição Brasileira, 1988.

[35] DENOËL, Ir. J.F. Fire Safety and Concrete Structures. FEBELCEM, 2007.
106 BIBLIOGRAFIA
Anexo A

Expressões das curvas


paramétricas

107
108 A. Expressões das curvas paramétricas

As expressões das curvas paramétricas são válidas, de acordo com [11], para compartimen-
tos até 500 m2 de área de pavimento, sem aberturas no tecto e com um máximo de 4 metros
de altura. Assume-se também que a carga de incêndio é totalmente consumida. Por outro
lado, se a carga de incêndio for definida sem um comportamento de combustão detalhado,
deverá limitar-se as expressões do anexo A de [11] a compartimentos com cargas de incêndio
predominantemente celulósicas.

As curvas temperatura-tempo na fase de aquecimento são dadas por:

∗ ∗ ∗
θg = 20 + 1325 · (1 − 0, 324e−0,2t − 0, 204e−1,7t − 0, 472e−19t ) [o C] (A.1)

onde,

θg - temperatura no compartimento de incêndio [o C];

t∗ = t · Γ [h] (A.2)

t - tempo [h];
Γ = [O/b]2 /(0, 04/1160)2 (A.3)

p
b= (ρcλ) com 100 ≤ b ≤ 2200 [J/m2 s1/2 K] (A.4)

ρ - massa especı́fica da envolvente do compartimento [kg/m3 ];

c - calor especı́fico da envolvente do compartimento [J/kgK];

λ - condutividade térmica da envolvente do compartimento [W/mK];

O - factor de abertura dado por:


p
O = Av heq /At com 0, 02 ≤ O ≤ 0, 20 [m1/2 ] (A.5)

Av - área total das aberturas verticais em todas as paredes [m2 ];

heq - média pesada da altura das aberturas verticais em todas as paredes dada por:
P
Ai Hi
heq = [m] (A.6)
Av

Ai - área da abertura i [m2 ];

Hi - altura da abertura i [m];

At - área total da superfı́cie envolvente (paredes, tecto e pavimento, incluindo as aberturas)


[m2 ].

Faz-se notar que no caso de Γ = 1 (O = 0, 04 m1/2 e b = 1160 J/m2 s1/2 K), a curva de
temperatura-tempo na fase de aquecimento (A.1) se aproxima da curva de incêndio padrão
ISO 834 (figura A.1).
109

Figura A.1: Curva ISO 834 e curva paramétrica para Γ = 1.

Para o cálculo do factor b, os valores da densidade ρ, do calor especı́fico c e da condutivi-


dade térmica λ, deverão ser considerados à temperatura ambiente. Se por outro lado, a envol-
p
vente do compartimento for composta por diferentes camadas de material, então b = (ρcλ)
deverá ser calculado a partir das seguintes condições:

- se b1 < b2 , então b = b1 (A.7)

- se b1 > b2 , é calculada uma espessura limite slim para o material exposto ao fogo de
acordo com:
s
3600tmax λ1
slim = , com tmax dado pela equação (A.14) [m] (A.8)
c1 ρ1

- se s1 > slim , então b = b1 (A.9)

 
s1 s1
- se s1 < slim < s1 + s2 , então b = b1 + 1 − b2 (A.10)
slim slim

 
s1 s2 s1 + s2
- se s1 + s2 < slim < s1 + s2 + s3 , então b = b1 + b2 + 1 − b3
slim slim slim
(A.11)

onde,
o ı́ndice 1 representa a camada directamente exposta ao fogo, o ı́ndice 2 a camada
seguinte...

si - é a espessura da camada i;
p
bi = (ρi ci λi );

ρi - é a massa especı́fica da camada i;

ci - é o calor especı́fico da camada i;


110 A. Expressões das curvas paramétricas

λi - é a condutividade térmica da camada i.

Para ter em conta os diferentes factores b nas paredes, tectos e pavimentos, a expressão
(A.4) deve ser calculada da seguinte forma:

X
b=( bj Aj )/(At − Av ) (A.12)

onde,

Aj - área da superfı́cie envolvente j, não incluindo as aberturas;

bj - propriedade térmica da superfı́cie envolvente j de acordo com as equações (A.7) e (A.8).

A temperatura máxima θmax na fase de aquecimento acontece para t∗ = t∗max

t∗max = tmax · Γ [h] (A.13)

com
tmax = max[(0, 2 · 10−3 · qt,d /O) ; tlim ] [h] (A.14)

onde,

qt,d - valor de cálculo da densidade de carga de incêndio referente à área da superfı́cie en-
volvente At e é dada por qt,d = qf,d · Af /At [M J/m2 ]. O valor de qt,d deve estar
compreendido no intervalo 50 ≤ qt,d ≤ 1000 [M J/m2 ];

qf,d - valor de cálculo da densidade de carga de incêndio referente à área da superfı́cie do


pavimento Af [M J/m2 ] dada pela equação (3.10);

tlim - dado na tabela A.1 em minutos mas que na equação (A.14) deve ser considerado em
horas.

Tabela A.1: Valores de tlim

Velocidade de propagação do incêndio1 tlim


Lenta 25 minutos
Média 20 minutos
Rápida 15 minutos

Se o tempo tmax correspondente à temperatura máxima θmax for dado por tlim , o incêndio
é controlado pela carga de incêndio. Se tmax for dado por (0, 2 · 10−3 · qt,d /O) o incêndio é
controlado pela ventilação.

Quando tmax = tlim , o valor de t∗ na equação (A.1) deve ser substituı́do por:

t∗ = t · Γlim [h] (A.15)


1 As velocidades de propagação de incêndio para cada tipo de ocupação são definidas na tabela E.5 do
anexo E do Eurocódigo 1 parte 1-2 [11].
111

com,
Γlim = (Olim /b)2 /(0, 04/1160)2 (A.16)

onde,
Olim = 0, 1 · 10−3 · qt,d /tlim (A.17)

Se (O > 0, 04 e qt,d < 75 e b < 1160), Γlim na equação (A.16) tem de ser multiplicado por
uma factor k dado por:
   
O − 0, 04 qt,d − 75 1160 − b
k =1+ (A.18)
0, 04 75 1160

As curvas temperatura-tempo na fase de arrefecimento são dadas por:

θg = θmax − 625(t∗ − t∗max · x) para t∗max ≤ 0, 5 (A.19)


θg = θmax − 250(3 − t∗max )(t∗ − t∗max · x) para 0, 5 < t∗max <2 (A.20)
θg = θmax − 250(t∗ − t∗max · x) para t∗max ≥ 2 (A.21)

onde,
t∗ é dado pela equação (A.2)

t∗max = (0, 2 · 10−3 · qt,d /O) · Γ (A.22)

x = 1, 0 se tmax > tmin ou



x = tlim · Γ/tmax se tmax = tlim
112 A. Expressões das curvas paramétricas
Anexo B

Peças Desenhadas

113
114 B. Peças Desenhadas

Figura B.1: Planta esquemática do tecto do r/c (dimensões em metros).


115

Figura B.2: Planta esquemática do tecto do 1.o e 2.o andares (dimensões em metros).
116 B. Peças Desenhadas

Figura B.3: Planta esquemática da cobertura (dimensões em metros).


Anexo C

Propriedades Residuais do Aço


para Betão-Armado

117
118 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado

Figura C.1: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ6mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].

Figura C.2: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ6mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].
119

Figura C.3: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].

Figura C.4: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].
120 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado

Figura C.5: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ12mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura
máxima atingida [28].

Figura C.6: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ12mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
121

Figura C.7: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço A400 NR, φ20mm, com
arrefecimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima
atingida [28].

Figura C.8: Valores da extensão residual de rotura do aço A400 NR, φ20mm, com arrefeci-
mento ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima
atingida [28].
122 C. Propriedades Residuais do Aço para Betão-Armado

Figura C.9: Valores da tensão residual de rotura à tracção do aço de pré-esforço, com arrefe-
cimento ao ar e arrefecimento com jacto de água, em função da temperatura máxima atingida
[28].

Figura C.10: Valores da extensão residual de rotura do aço de pré-esforço, com arrefecimento
ao ar e arrefecimento com imersão total em água, em função da temperatura máxima atingida
[28].

Potrebbero piacerti anche