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INTRODUÇÃO
Ele nasceu na cidade macedônica de Estagira em 384 a.C e viveu até 322 a.C. Foi tutor
de Alexandre Magno e abriu o Liceu, a sua própria escola, em 335 a.C. Nela havia uma
biblioteca, zoológico e uma extensa coleção de mapas.
E mesmo tendo vivido há vinte e cinco séculos não teria sido melhor professor do que
se tivesse vivido hoje, apesar de todas as descobertas da Ciência moderna, tendo em
vista que teve as mesmas experiências do senso comum que temos nos dias atuais.
Experiências expressas através de palavras como "coisa", "mente", " causa", "parte"
"muitos"... que usamos para tratar das plantas que crescem, dos animais que nascem
e morrem, dos sofrimentos, de dormir, sonhar, de exercitar o corpo e tomar decisões. O
seu modo de refletir sobre elas nos ajuda a compreender melhor a nossa vida, o mundo
e a sociedade em que vivemos. Partiu do senso comum, das experiências que todos
temos (e não nos foram ensinadas na escola, pois constituem patrimônio comum do
pensamento humano a respeito de tudo), diferentes das experiências especiais dos
cientistas feitas nos laboratórios e que normalmente não testemunhamos. Mas não
parou no senso comum, foi muito além, chegando a percepções e entendimentos
profundos, incomuns, sendo o objetivo deste livro tornar este pensamento mais fácil de
entender.
PARTE I
I – Jogos filosóficos
Dois jogos muitos comuns: “Animal, Vegetal, Mineral” e “Vinte Perguntas” consistem em
fazer perguntas. O primeiro é o que mais nos faz pensar filosoficamente, pois trata de
um esquema de categorias, de classificação, algo muito comum no nosso
cotidiano. Estamos sempre catalogando, dividindo.
E para compreender melhor isto precisamos de Aristóteles, quem teve uma grande
capacidade de fazer perguntas e reflexões a partir do senso comum. Dentro da
categoria “Mineral”, por exemplo, Aristóteles nos faria distinguir não apenas seres
inanimados dos não vivos, mas inanimados simples e compostos, embora para ele a
principal divisão é a que separa as coisas vivas das não vivas.
O animado é superior ao inanimado. Animais são superiores às plantas. Eles nascem,
crescem, reproduzem, se locomovem, a maioria tem órgãos dos sentidos e são capazes
de desempenhar funções que as plantas não desempenham.
O homem está no topo da escala. É um tipo peculiar, animal racional, capaz de
raciocinar, elaborar perguntas a respeito do quê, porquê e para quê, dar respostas e
fazer reflexões. Só o ser humano é capaz de pensar filosoficamente. Nenhum outro
animal joga jogos filosóficos. As diferenças de cor da pele, tamanho, formato da cabeça,
cabelo são acidentais, não essenciais, como as que separam os homens dos
animais. O importante são as características essenciais comuns, a humanidade
comum.
2 – A Grande Divisória
A grande divisória é a linha que separa o mundo físico (apenas parte de tudo o que
existe) de todo o universo que pode ser pensado. Objetos matemáticos, personagens,
Deus, ideias e teorias... não são corpos.
Ao pensar o mundo físico Aristóteles traçou uma linha divisória, de um lado pôs os
corpos e do outro os seus atributos, como as fragrâncias e as cores. Na verdade são
aspectos relacionados com a quantidade, qualidade e lugar ou posição. Tamanho e
peso, por exemplo, não existem por si mesmos. São características que existem nas
coisas físicas. E as coisas físicas existem por si mesmas e são mutáveis, enquanto os
seus atributos não estão sujeitos à mudança. O verde nunca se torna vermelho, mas é
o tomate verde que fica vermelho quando amadurece.
Os atributos que permanecem durante a vida toda é o que faz a coisa pertencer a
determinado grupo particular de coisas e diferenciam uma coisa da outra. Por exemplo,
a capacidade de levantar este tipo de questão é um atributo permanente do ser humano
e o que o diferencia dos outros animais e mostra que os animais racionais não são
apenas coisas físicas. E por isso são chamados pessoas, o que é diferente de coisa.
Palavra problemática, pois pode dizer respeito tanto às coisas físicas quanto aos seus
atributos. Cabe então prestar a atenção aos diferentes sentidos das palavras que
usamos.
Como pessoa o ser humano possui três dimensões: Fazer, agir e conhecer. Na
primeira temos o homem que é artista, artesão, produtor de uma diversidade enorme de
coisas. A Poética de Aristóteles é um tratado sobre o homem fazedor. A palavra grega
da qual vem a palavra “poesia” significa fazer. Na segunda o homem como capaz de
buscar a felicidade, um ser moral que distingue entre o certo e o errado e na terceira o
homem como um ser que aprende sobre a sociedade, a natureza e sobre o próprio
conhecimento.
Aristóteles distingue três tipos de pensamento: “o pensamento produtivo”, que descreve
o homem fazedor; “o pensamento prático”, que o homem elabora como ator e o
“pensamento especulativo”, que descreve o homem como conhecedor.
Estes três aspectos das atividades humanas estão relacionados com a verdade,
objetivo do conhecimento, com a bondade, pois individualmente e vivendo em
sociedade temos interesse em buscar o certo e o errado, com a beleza, que diz respeito
a produzir coisas bem feitas.
PARTE II
5 – Mudança e permanência
6 – As quatro causas
1- Ela vai ser feita de quê? A resposta desta questão é a causa material, aquilo de que
alguma coisa é feita. Couro é a causa material do sapato.
2- Quem fez? A resposta desta questão é a causa eficiente, que é o fazedor. Diz
respeito aquilo com que alguma coisa é feita. O sapateiro é a causa eficiente do sapato.
3 – O que está sendo feito? A resposta desta questão é a causa formal, diz respeito
aquilo no que alguma coisa é feita. Não é a forma, mas uma ideia que é comum a todos
os sapatos, por exemplo, a sapaticidade (ser sapato).
4 – Está sendo feito para quê? A resposta desta questão é a causa final, diz respeito
aos objetivos, finalidades que se tem em vista ao produzir algo. Não é possível que
alguém produza algo sem nenhum propósito.
E toda matéria tem uma forma e tem uma potência limitada para adquirir outras formas.
Madeira não pode tornar-se uma lâmpada. Uma matéria que não tivesse forma teria
uma capacidade ilimitada de adquirir outras formas. Então não seria nada em ato, mas
o nada não existe. A matéria informe não existe.
O nascimento e a morte de animais não são tão fáceis de entender. Quando um lobo
devora um coelho a matéria do coelho desintegra, desaparece e ele não possui a sua
forma, tornando-se forma de outro tipo de coisa, a do lobo.
O pensamento produtivo ou ideias produtivas envolve tudo aquilo que podemos chamar
de ideias criativas, que estão relacionadas com as formas que a matéria pode
assumir. As ideias produtivas de um artesão é o que lhe permite transformar a matéria-
prima em uma cadeira, por exemplo. Tais ideias estão presentes nos planejamentos
preparados (o que nem sempre acontece), no papel, para a produção de uma casa ou
de qualquer outra coisa. Quem prepara o plano tem a ideia produtiva (o arquiteto no
caso da casa) e quem executa tem o saber prático, aquele que utiliza as matérias-
primas, materializando a ideia (o construtor).
O saber prático envolve a escolha das matérias-primas, dos materiais apropriados e das
ferramentas e o domínio das etapas e sequência correta da produção. A mente, as mãos
e as ferramentas são a causa eficiente do que foi produzido, atuando sobre os materiais.
Mas a mente é o principal, fonte das ideias produtivas e do saber prático, sem os quais
seria impossível fazer qualquer coisa.
As artes produtivas diferem de muitas maneiras umas das outras e são de grande
variedade. Vão de casas, roupas, sapatos, cadeiras até pinturas, estátuas, poemas e
canções. Algumas são obras para usar por um determinado propósito e outras
para fruir, que satisfazem as pessoas que sentem prazer ao percebê-las, seja olhando,
ouvindo ou lendo.
Aristóteles relaciona o belo e a beleza com o fato de fazer bem feito as coisas e com
o prazer que sentimos em contemplá-las. Podemos contemplar uma estátua, uma
música, uma mesa, uma casa. Tais obras demonstram a qualificação de quem as fez
e pessoas qualificadas talvez sejam mais sensatas para emitir opiniões se uma obra de
arte foi bem feita ou não. E assim como uma pessoa pode ser mais qualificada do que
outra, pessoas podem melhor gosto do que outras, sendo mais sensato conversar com
tais pessoas sobre a beleza das obras de arte, embora possamos dizer que a beleza de
uma obra de arte depende também de outros fatores.
PARTE III
Aristóteles afirma que normalmente os seres humanos agem com um fim em vista, o
que é pensado primeiro a fim de agir propositadamente. E para atingir tal finalidade têm
que pensar nos meios, que vem primeiro na ordem da execução. Ele relaciona o fim
com um bem, pois não tem razão de ser agir para buscar o que seria um mal para nós.
Para atingir um fim que almejamos podemos dizer que os meios são bons e maus. Bons
porque agimos para buscar um bem e maus porque podem atingir consequências
indesejáveis por razões bem distantes do objetivo desejado. O roubo de dinheiro para
comprar um carro nos colocaria em sérias encrencas, que devemos evitar.
Aristóteles afirma que há coisas que buscamos por causa delas mesmas, pois se todos
os fins fossem meios não existiria o pensamento prático, que começa justamente com
o fim a ser alcançado. E começamos a agir através de meios que nos permitam chegar
ao objetivo, nesse caso são puramente meios. Mas há fins que também são meios para
outros fins.
Pressupomos que o fim que temos em mente é definitivo e que não seria possível fazer
mais perguntas a respeito dele, mesmo que elas possam ser feitas. Mas poderíamos
perguntar por que e sua resposta levar até a outro por que até chegar a uma resposta
que não admitiria mais um por que e assim chegar de fato ao fim último, para o qual
tudo o mais seria meio. Mesmo não tendo tal fim definitivo em mente pode-se começar
o pensamento prático e a sua ação propositada.
Quanto mais velhos somos é provável que tenhamos um plano de vida mais cuidadoso
e que nossas ações sejam mais sérias, embora haja exceções, pois muitos conservam
suas atitudes pelo prazer como finalidade de vida, buscando essencialmente objetivos
imediatos.
Sócrates afirma que uma vida não planejada não vale a pena ser vivida e para
Aristóteles não vale a pena examinar uma vida não planejada. Planejar uma vida é
cuidar para que ela seja boa, o que significa pensar sobre os objetivos e meios para
consegui-la. Aristóteles afirma ainda que é preciso ter o plano certo, aquele que almeja
o fim que todos devemos buscar, o bem que todos devemos almejar, identificado por
ele como a busca da felicidade.
Uma vida boa é aquela onde atendemos as nossas necessidades essenciais e/ou
tomamos as atitudes necessárias para tal: nutrir, trabalhar, cuidar da saúde, estudar e
obter certos prazeres. A vida é um meio para se viver bem, o que deve ser um fim em
si mesmo, um bem por causa dele mesmo. E viver bem é obter a felicidade, um fim
definitivo. Ninguém faz a opção por uma vida de tristeza, infeliz.
Mas como pode haver um plano correto se somos tão diferentes em nossos desejos e
aquilo que faz a felicidade para alguns pode ter o efeito contrário em outros? Como pode
então haver um fim último que todos devemos buscar? Há resposta. No entanto ela é
simples e ao mesmo tempo incompleta: felicidade, viver bem, uma boa vida como um
todo.
11 – Bom, melhor, o melhor
Consideramos bom algo que é desejável e melhor uma coisa que é mais desejável do
que outra. E embora as pessoas sejam diferentes compartilham uma humanidade
comum, os atributos comuns porque somos humanos, sendo que as diferenças em tais
atributos (capacidade de raciocinar, por exemplo) são apenas de graus.
As necessidades são desejos intrínsecos, inerentes à natureza humana, para os quais
temos certas tendências naturais. Todos temos a necessidade biológica da nutrição
para manter a vida, expressa através da fome, presente em todas as pessoas de todos
os lugares. Embora as circunstâncias diferentes estimulem desejos por comidas
diferentes.
Para Aristóteles as coisas realmente boas são aquelas que satisfazem as necessidades
naturais, aqueles que necessitamos, tenhamos consciência ou não. O que é bom para
nós deve sempre ser desejado porque necessitamos desse algo, mas o que só parece
bom para nós é algo que podemos desejar erradamente.
O único plano necessário para obter uma vida boa, a felicidade, é o plano que nos leva
a desejar e obter as coisas necessárias, realmente boas, não apenas importantes para
viver, mas para viver bem. E como somos humanos o que vale para um é necessário
para todos, pois a nossa natureza e as tendências são comuns. A felicidade é a mesma
para todos os seres humanos.
Thomas Jefferson parece ter tido a ideia aristotélica de que todos os seres humanos
possuem a mesma natureza, tendo os mesmos direitos naturais, o que equivale às
mesmas necessidades naturais. Escreveu na Declaração de Independência dos EUA
que todos têm o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. A felicidade deve
ser o fim último de todas as nossas ações e consiste na aquisição de todos os
verdadeiros, necessários para nós e é por isso que temos direito a eles, como disse
Jefferson. Precisamos da vida para viver bem e da liberdade para proceder nossas
escolhas e para fazer um esforço planejado para viver bem.
A virtude moral consiste nas escolhas certas, dos bens verdadeiros, daqueles que
atendem as nossas necessidades a longo prazo e, portanto são os mais importantes na
hierarquia dos bens. A riqueza e o prazer, por exemplo, são bens, mas limitados, pois
podemos querer mais do que o necessário para uma vida boa e se tornarem prejudiciais
para nós. Outros bens, como o conhecimento, são ilimitados, nunca são demais. Daí a
necessidade dos bons hábitos de escolha, que tornam uma pessoa virtuosa, condição
essencial para a busca da felicidade. Os nossos arrependimentos demonstram quantas
vezes fazemos escolhas erradas.
Os bons hábitos são criados e praticados repetidas vezes geram prazer e nos permitem
realizar tarefas com menos dificuldades. A pontualidade, por exemplo, se adquiri com
mais facilidade sendo pontual com frequência.
E como no Estado raramente os homens são amigos uns dos outros e falta o amor, se
faz necessária a justiça, o que faz com que o indivíduo obtenha aquilo que tem o direito
de esperar, para que haja a paz e a harmonia. O amor significa querer o bem do outro,
agir com benevolência, onde cada um busque a felicidade do outro, mas nem sempre é
assim e o que existe é o egoísmo. As verdadeiras amizades são raridade. Aí a justiça
tem de intervir para o bem de todos.
O que os outros têm o direito de esperar de nós? Que não façamos nada que possa
ser obstáculo para a busca da sua felicidade; que cumpramos as promessas feitas; que
respeitemos os seus direitos, digamos a verdade, devolvamos o que foi emprestado e
que possamos contribuir para que os outros tenham posse dos verdadeiros bens, o que
é uma generosidade do amor, não uma exigência da justiça. Cabe ao Estado aplicar as
leis, promover o bem estar da sociedade como forma de que todos alcancem a
felicidade.
A nossa relação com os outros deve ser pautada deve ser pautada na máxima “amar
o próximo como a si mesmo e agir com os outros como gostaria que agissem com
você”. Primeiro devemos buscar os bens verdadeiros para nós mesmos e como os
direitos são intrínsecos a natureza humana e temos as mesmas necessidades temos de
esperar dos outros o mesmo que devem esperar de nós.
O fato de o governo ser necessário e então bom em si mesmo não torna todas as formas
de governo boas. Para Aristóteles o bom governo é aquele que promove o bem dos
governados, que tem uma autoridade reconhecida e aceita, não o despótico, o que age
pela força ou pelo bem único dos governantes. Deve ser constitucional, baseado em
leis, que sejam justas. Este é o governo dos homens justos e iguais. No entanto
Aristóteles cometeu o erro de achar que muitos seres humanos tinham naturezas
inferiores (os escravos e as mulheres, por exemplo), não percebendo que apenas
pareciam inferiores por conta da maneira que eram tratados na sociedade, não porque
seus dons fossem inadequados. Hoje é preciso considerar que todos devem ser
governados como cidadãos, com voz no próprio governo, como livres e iguais. E as
diferenças de dons devem ser levadas em consideração apenas para o exercício dos
cargos públicos, não para o exercício da cidadania.
O melhor Estado para Aristóteles é aquele que faz o máximo para promover a busca da
felicidade para os seus cidadãos, ajudando-os a conseguir todos os bens reais de que
precisam e têm direito, suprindo as privações por causa do azar ou da má forma, e não
por causa da má conduta. Ou seja, fazer pelos cidadãos o que não podem fazer por si
mesmos, colaborar estabelecendo as condições necessárias para viver bem e
incentivando tal fim, sabendo que as virtudes morais dependem de cada pessoa.
PARTE IV
2 -Com as ideias são formulados juízos, algo que afirma ou nega, expressos por
sentenças declarativas onde aparecem o “é” ou “não é”.
3 -O raciocínio ou inferência envolve o dar razões para aquilo que pensamos. Neste
aspecto o que pensamos pode ser verdadeiro ou falso, mas também lógico ou ilógico.
Aristóteles é o fundador da ciência da Lógica. E ainda que o pensamento lógico seja
melhor que o ilógico, nem sempre chega a proposições verdadeiras, podendo cometer
erros pensando logicamente e acertos pensando de forma ilógica. Por isso torna-se
necessário ao que torna o pensamento lógico e verdadeiro ou falso.
A lei da Contradição é uma regra de pensamento e uma asserção sobre o mundo. Ela
diz o que não pensar e nos ordena a evitar contradizer-nos em palavras e pensamentos,
prescreve como devemos pensar a respeito das coisas de forma que nosso pensamento
esteja em conformidade com elas. Não podemos afirmar e negar a mesma proposição.
Uma coisa não pode existir e não existir ao mesmo tempo, o que é auto evidente e daí
inegável.
“Ou Platão foi professor de Aristóteles ou não foi”. “Todos os cisnes são brancos ou
alguns cisnes não são”. Tais asserções são contraditórias, pois não podem ser ambas
verdadeiras ou ambas falsas. Uma tem de ser verdadeira e outra falsa.
As asserções “Todos os cisnes são brancos” e “nenhum cisne é branco” são contrárias.
Alguns cisnes podem ser brancos e outros pretos. Duas asserções são contrárias
quando ambas não podem ser verdadeiras, mas ambas podem ser falsas.
“Alguns cisnes são brancos” e “alguns cisnes não são brancos” são
asserções subcontrárias. Ambas são verdadeiras e não falsas.
“Diferente de “preto” e “branco”, alguns pares de termos que são contrários esgotam
as alternativas, são excludentes. Ex. “Todos os números inteiros são pares ou ímpares”.
Tais regras do pensamento são importantes para nos ajudar a fazer asserções
coerentes e perceber incoerências nas asserções feitas por outras pessoas e a
questionar tudo aquilo que dizem.
Equívocos podem ser cometidos. “Todos os cisnes são brancos”; “alguns objetos
brancos são cisnes” e “todos os objetos brancos são cisnes” dizem respeito a uma
conversão ilícita. A classe de objetos brancos é maior do que a classe de cisnes, que
são alguns objetos brancos do mundo.
“Se” e “então” e “já que” e “logo” são dois pares de palavras que funcionam como
operadores na inferência imediata e no processo mais complexo do raciocínio. “Se” e
“então” são asserções de inferências corretas e incorretas logicamente, não dependem
das asserções serem verdadeiras, cada uma podendo ser falsa. “Todos os cisnes são
brancos”, pode ser falso, mesmo assim pode-se inferir que alguns cisnes são brancos.
“Se todos os cisnes são brancos, então segue-se necessariamente que alguns cisnes
são brancos”. “Se todos os cisnes são brancos, então não se segue que todos os
objetos brancos são cisnes”.
“Já que todos os cisnes são brancos, logo segue-se que alguns cisnes são brancos”.
Neste caso a veracidade ou a falsidade da primeira asserção afeta a veracidade ou a
falsidade da segunda. A conclusão da minha inferência pode ser falsa, porque a
asserção inicial é falsa. A verdade pode ser que nenhum cisne é branco, falso concluir
que alguns são. “Se todos os cisnes são brancos”, estou apenas dizendo se todos são,
não que todos são. Isto é diferente de afirmar “já que todos os cisnes são brancos”.
Tais regras de Aristóteles para a inferência imediata são a base para resumir as regras
de raciocínio que constituem o silogismo, como no modelo:
Logo, não teria exitado em negar que os homens são anjos. Negar a consequente
(asserção então) no raciocínio hipotético lhe dá o direito de negar a antecedente (ou a
asserção se).
Verdade e falsidade são ideias do senso comum, que todos compreendemos. Todos
sabemos da diferença entre contar uma mentira e contar uma verdade.
As sentenças declarativas, que de alguma forma contém as palavras “é” ou “não é”,
descrevem os fatos, como as coisas são, e, portanto são verdadeiras ou falsas. Já as
asserções prescritivas, que prescrevem o que devemos fazer e os meios que devem ser
utilizados são verdadeiras quando estão em conformidade com a realidade, com o
desejo certo, aquele que realmente é bom para nós, que satisfaz as nossas
necessidades humanas. Desejar o conhecimento, por exemplo, está de acordo com
um desejo certo, por isso devemos desejar conhecer.
Muitas asserções não são tão auto evidentes, como por exemplo, dizer que aquilo que
é realmente bom deve ser desejado. Muitas asserções são aceitas sem maiores
discussões. É o caso do que foi afirmado por Thomas Jefferson quando escreveu que
todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos direitos
inalienáveis, o que demandaria extensos raciocínios para ser provado.
PARTE V
20 – A Infinitude
Aristóteles, contra a Leucipo e Demócrito, pensou ter demonstrado que não havia
átomos indivisíveis, mas unidades da matéria muito pequenas, podendo sempre ser
divididas. E não haveria um número infinito de átomos no mundo. Imenso mas não
infinito, pois seria impossível que um número infinito de coisas coexista em ato em
qualquer momento do tempo. Aristóteles julga que pode haver dois infinitos potenciais,
mas não atuais. Recordando: potencial diz respeito a aquilo que pode ser e atual
é aquilo que é.
Outro é o infinito potencial da divisão. Potencial, mas não atual. A divisão continua sem
parar. O número de frações entre 2 e 3 é infinito.
Os dois infinitos são potenciais, mas não atuais. Não existem em ato em nenhum
momento. Aristóteles negava uma infinitude em ato de coisas existentes, como diziam
os atomistas. Nada pode ser atual e indefinido, então não é infinito, logo não pode haver
um infinito em ato de nenhuma espécie. Os infinitos potenciais é que existem. Fazem
parte dos processos infindáveis de adição ou divisão.
Um momento de tempo sempre sucede ou precede outro. E dois momentos do tempo
não coexistem em ato, podendo o tempo ser infinito.
21- A Eternidade
Aristóteles considerava que um número infinito de momentos sucederia uns aos outros,
sendo o tempo infinito e o mundo eterno (sem começo nem fim), não no mesmo sentido
da eternidade de Deus. Mas o Deus de Aristóteles, ao contrário do Deus bíblico, não
criou o mundo, porque não via qualquer razão para chegar a pensar que o mundo teve
um começo.
Para ele a medida do tempo é a medida da mudança, do movimento, a dimensão em
que o movimento ocorre. E o espaço é a dimensão em que as coisas materiais existem.
O movimento não tem começo nem fim, pois tudo tem causa (causa e efeito), ocorrendo
sempre uma sucessão de causas. Afirmava a necessidade da existência de um primeiro
motor, mas não era a primeira causa de uma série de coisas que movem e são movidas.
Passar a existir e deixar de existir são um tipo de mudança, que nunca começa nem
termina. E pode haver um número infinito de coisas que passam a existir e deixam de
existir num tempo infinito, embora não possa haver um número infinito de coisas
individuais que coexistam em nenhum momento do tempo. Ele tinha em mente o
movimento dos corpos celestes, exemplificando a eternidade do movimento e com ela,
a eternidade do mundo.
A mente conhecedora pega ideias das coisas naturais do mundo físico, tirando as
formas das coisas materiais da matéria desses objetos compostos, sejam árvores ou
cavalos. Saber não é como o ato de comer através do qual assimilamos a matéria e a
forma do alimento. Saber é entender a coisa tirando a forma da mesma, algo individual,
a formação de uma ideia nas nossas mentes. Quando entendemos uma maçã, por
exemplo, entendemos as maçãs em geral, não essa ou aquela individual. Percebemos
pelos sentidos a individualidade dessa ou daquela maçã, mas não podemos, pelas
ideias que temos em nossas mentes, entender a sua individualidade. Por isso Aristóteles
chama a mente a forma das formas, o lugar onde a forma das coisas pode existir
separada da sua matéria.
Porque a mente humana guarda, segura a forma das coisas, tem de ser imaterial.
Quando conhecemos o tipo de coisa em geral, não envolve a ação de nenhum órgão
material. É um ato da nossa mente, um elemento imaterial em nossa composição, que
pode ser relacionado ao cérebro como órgão material, mas que é distinto dele. A mente
é distinta do cérebro.
23- DEUS
Mas é difícil determinar se a concepção de Deus como criador teria surgido na mente
dos pensadores do Ocidente sem a sentença inicial do Gênesis: “No princípio Deus
criou o céu e a terra”. Aristóteles poderia ter concebido Deus simultaneamente como 1º
MOTOR e como Criador no sentido de causar a existência daquilo que pode existir ou
não, sem considerar o fato de aquilo passar a existir.