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XXI
Resumo
As propagandas publicitárias, como veículo comunicativo, objetivam persuadir e
convencer o público das mais diversas formas, levando-o a adquirir determinado
produto, realizar determinada ação ou agir de determinada maneira. Para tal, a utilização
da linguagem deve ser clara, objetiva e convincente, a fim de que a propaganda seja
efetiva. Assim, não é surpresa que, em muitas ocasiões, o uso da língua seja inovador,
utilizando unidades lexicais criadas ou recontextualizadas, ou seja, os chamados,
respectivamente, neologismos e recontextualizações lexicais. Levando-se isso em
consideração, o objetivo deste artigo é investigar como as propagandas publicitárias
utilizam a inovação lexical a seu favor nas divulgações e veiculações de seus produtos.
A análise é feita a partir de propagandas publicitárias retiradas de três revistas
brasileiras veiculadas no século XXI.
Abstract
Advertisements are a comunicative vehicle that aim to persuade and convince people in
a variety of forms, leading them to buy some product, do some action or act some way.
Thus, it constantly intent innovating things, surprising and even shocking people.
Hence, it’s not new that language on advertisements become innovative, using lexical
unities as recent created and recontextualizated as the advertisements in which they are
in. These lexical unities are called neologisms and lexical recontextualizations.
Therefore, the aim of this paper is to investigate how advertisements use lexical
innovation to sell products. The analysis was made by taking some advertisements from
brazilian magazines of the 21st century.
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Graduado em Letras (Licenciatura em Português e Inglês) pela Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM). CEP: 14027-175. Ribeirão Preto – SP. E-mail: csantillioranges@gmail.com
Keywords: Advertisements; neologisms; lexical recontextualization; lexicon.
1. Introdução
Assim sendo, nota-se que a inovação lexical, seja ela por meio dos neologismos
ou pela recontextualização lexical, são atos sociais. Neste sentido, constata-se que a
língua é “um patrimônio de toda uma comunidade linguística, a todos os membros dessa
sociedade é facultado o direito de criatividade léxica” (ALVES, 1990, p. 6). Ou nas
palavras de Biderman:
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No presente trabalho, utiliza-se “unidade lexical” e “lexia” como equivalentes.
Vê-se, assim, que as sociedades têm a disposição uma série de ferramentas para
contribuir com a inovação lexical. O avanço tecnológico e a mídia possibilitam a troca
de informações culturais entre as sociedades, afetando, naturalmente, a língua. No
campo publicitário, é, por meio do léxico, que o autor emprega este importante recurso
linguístico.
Dessa forma, coadunam-se as palavras de Alves (2010), a qual afirma que, para
se analisar a lexia neológica, deve-se também analisar o desenvolvimento social da
comunidade linguística.
Dessa maneira, foram revisados alguns trabalhos que serviram de base para o
presente estudo e que demonstram como a linguagem publicitária trabalha com o léxico
de forma a modificá-lo e, consequentemente, inová-lo.
Ferraz (2010) também analisa morfossintaticamente as ocorrências neológicas
retiradas de mensagens publicitárias. No entanto, este autor reserva um espaço para
dissertar sobre a neologia semântica, conceito aqui adotado como recontextualização
lexical. Em sua análise, o autor encontra formações neológicas de diversos tipos,
corroborando com o título de seu texto: a mensagem publicitária é a linguagem da
inovação lexical. Para Ferraz, por meio da linguagem publicitária:
5. Metodologia e corpus
Tal unidade foi encontrada apenas no Dicionário Aurélio (2010). Isto mostra que
ela possivelmente foi incorporada no PB em um período próximo a 2010, já que sua
veiculação ocorreu neste ano. Isso se deve ao fato de não existir correspondente para ela
em PB4, portanto sua incorporação se deu mais facilmente, isto é, ela foi aceita
rapidamente, pois designava uma realidade impossível de ser nomeada com os
mecanismos disponíveis do PB. Da mesma forma, é possível pensar que a utilização
desta lexia ocorra em contextos mais restritos, especificamente o da moda, o qual é
explorado pela propaganda publicitária por meio da associação dos recursos linguístico
e imagético, visto que a “loja” à qual se refere a sentença é apresentada pela imagem
propagandística, contextualizando o interlocutor para a construção do significado.
Os subgrupos (IIa) e (IIb) trazem as unidades lexicais que sofreram fenômenos
de recontextualização lexical. O primeiro traz um fenômeno semântico-lexical, a saber,
o da polissemia. Observe-se o caso da unidade lexical “buraco”:
Apesar de ter sido encontrada nos três dicionários, em nenhum deles o sentido
em que foi utilizada na propaganda publicitária estava atestado. Geralmente utilizado
com o sentido espacial, de “cavidade”, “abertura” ou “orifício”, na propaganda
veiculada a unidade “buraco” tem o sema temporal adicionado ao seu sentido. No
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Por “correspondente” se entendem aqui unidades que nomeiam a mesma realidade que a lexia
estrangeira. São os casos de “hermano” (irmão), “capisci” (entende) e “pause” (pausar, parar), ocorrências
que compõem o corpus.
contexto da propaganda, “buraco” ainda traz consigo o aspecto espacial, mas, atrelado a
ele, está o aspecto temporal. Um “buraco na agenda” seria, portanto, um espaço de
tempo livre.
Por outro lado, uma possível explicação para o fato de nenhum dos três
dicionários utilizados como filtro terem apresentado a acepção temporal na unidade
lexical referida se deve ao fato de este significado ser utilizado em contextos mais
espontâneos de fala e, portanto, suprindo necessidades momentâneas dos usuários da
língua. Assim, não é surpresa que não estejam atestados nas obras consultadas, visto que
a maioria delas costuma trabalhar com registros escritos, ou seja, menos expressivos do
ponto de vista da espontaneidade.
Outra possível explicação para “buraco” com sentido temporal é a restrição do
contexto de uso da unidade ao mundo dos negócios, o que pode ser evidenciado pela
utilização em uma propaganda veiculada em uma edição especial de uma das revistas
consultadas, a saber, uma edição voltada ao mundo dos negócios. Não seria exagero
postular, portanto, que o criador da propaganda tenha criado este anúncio
propositalmente para veiculação nesta edição específica da revista.
Por fim, o subgrupo (IIb) traz unidades interessantes: trata-se dos empréstimos já
dicionarizados porém recontextualizados. Vale ressaltar que Borba (2003) afirma que,
quando um empréstimo sofre um fenômeno de qualquer natureza da língua de chegada,
esta é a prova de que a unidade lexical faz parte do léxico desta língua:
Em “top”, encontrado nos três dicionários, apenas o UNESP (2004) traz a ideia
de “o melhor”, “o que está por cima”; os outros dois trazem apenas a noção da
vestimenta feminina. É possível afirmar que isso se deve ao fato de apenas o Dicionário
UNESP (2004) utilizar um corpus de língua em sua elaboração, o qual apresenta usos
linguísticos reais, visto que o sentido de “top” como o pretendido pela propaganda
publicitária é característica da expressividade da fala, muitas vezes mais informal. Além
disso, a propaganda publicitária objetiva duas formas de expressividade: a primeira
consiste na utilização de três lexias estrangeiras combinadas, revelando coerência com o
mundo tecnológico, usualmente originário de países estrangeiros; a segunda é o jogo de
“top” e “up”, visto que a segunda unidade tem seu significado original na língua inglesa
denotando elevação, sempre com significado positivo ou de movimentos para cima, o
que pode ter influenciado o sentido de “top” da mesma forma, recontextualizando-a.
Bréal (2008) denominou este fenômeno como contágio: “resultado de uma associação
de ideias pela qual o significado de uma palavra recebe influência do contexto
linguístico no qual está inserida” (SEIDE, 2006, p. 114).
7. Considerações finais
8. Referências bibliográficas
ALVES, I. M. A neologia do português brasileiro de 1990 a 2009: tradição e mudança.
In: Ieda Maria Alves (Org.). Neologia e neologismos em diferentes perspectivas. São
Paulo: Paulistana, 2010. P.63-82.
CÂMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 19ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1989
(1ª Ed. 1970).