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FUNDAÇÃO DO CRISTIANISMO CAP. 3-o. O Cristianismo da fase do mesmo Jesus

ENCICLOPÉDIA SIMPOZIO
(Versão em Português do original em Esperanto)
© Copyright 1997 Evaldo Pauli

ART. 3-o. ASPECTOS BIOGRÁFICOS DE JESUS. 4251y236.

237. Certamente Jesus foi uma personalidade significativa, sobretudo um homem bom. Isto se pode
afirmar independentemente da interpretação que ele tenha feito de si mesmo e do que outros acreditaram ele
fosse.
Considerável número de biografias de Jesus o tem examinado por este lado humano advertindo para
sua grandeza de espírito e bondade, bem como para sua qualidade de conselheiro moral.
Uns, como o erudito Ernesto Renan (1823-1892), quer que ele houvesse sido apenas um homem;
outros, como os islamitas, o vêem como um profeta; finalmente outros, os cristãos, crêem que ele fosse Deus.
Qualquer seja a efetiva identidade de Jesus, - divina ou humana, - importa primeiramente cuidar de sua
biografia, examinando os documentos que em conjunto se chamam Novo Testamento.
Esta biografia apresenta dois momentos muito distintos, do ponto de vista do rigor histórico. Sua
infância se apresenta um tanto lendária, ao passo que sua vida pública é bem mais definida do ponto de vista
da historicidade.

A ordem didática se apresenta uma sequência óbvia:


- Nascimento e infância de Jesus (vd 4251y239);
- A vida pública de Jesus (vd 4251y255).
- Conflito de Jesus com o Sinédrio e morte (vd 4251y277).

§ 1. Nascimento e infância de Jesus. 4251y239.

240. A nova cronologia. Falando em termos cronológicos antigos, Jesus nasceu cerca do ano 749 ou
748 da fundação de Roma. Se se houvesse mantido a cronologia de Roma, estar-se-ia agora vivendo os anos
acima de 2750 daquela cronologia. Não muito diferente era a contagem pelas Olimpíadas.
Mas em 825 (ou século 9-o) um monge, de nome Dionísio o Exiguo (ou o Pequeno), propôs a datação
a partir da concepção de Jesus. Aos poucos admitida, a Cúria Romana passou a usá-la contudo apenas no
século 10-o.
No Oriente bizantino o Imperador Leão IV (886-911) introduziu a contagem a partir da criação do
mundo, com base na Bíblia, em que foi seguido também pela Rússia; esta só passou à contagem a partir de
Jesus em 1700, por iniciativa do Czar Pedro o Grande.

241. O equívoco da nova cronologia. O monge Dionísio cometeu um erro de pelo menos meia dúzia de
anos, se valerem alguns detalhes das narrativas dos Evangelhos sobre o nascimento de Jesus.
Não obstante o monge Dionísio foi bastante feliz no seu esforço, porquanto, em virtude da falta de
recursos documentais em sua época, o erro ainda poderia ter sido maior.

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Começa-se por perceber o equívoco examinando a data da efetiva morte de Herodes Magno.
E aqui se vai saber que a nova cronologia errou pelo menos 4 anos ao calcular o nascimento de Jesus
em 753 da fundação de Roma. Ora, Jesus nasceu no tempo do rei Herodes o Grande (Mt. 2, 1). Cálculos
posteriores, fundados em Josefo Flávio e num eclipse da Lua (Antiguidades Judaicas XVIII, 6, 4), fazem
estabelecer a morte do referido rei da Judéia no ano 4 antes da nova era cristã.

Vindo-se a saber que Herodes morreu no ano 4 a.C. e atendendo à referência de Mateus, que Herodes
era vivo ao tempo do nascimento de Jesus, deve-se concluir que a data deste nascimento recua pelo menos 4
anos sobre a indicada pela nova cronologia criada pelo monge Dionísio o Exíguo.

241. Outros indícios vão obrigar,- se forem válidos os detalhes das narrativas bíblicas, - a retroceder
mais um ano, ou dois. Diz o Evangelista que os Magos procuraram a Herodes em Jerusalém. Ora, em
setembro ou outubro do ano 5 a.C. adoecera o monarca, retirando-se para o outro lado do Mar Morto, onde
morreria em Jericó após um eclipse da lua.
Assim já se vai chegando ao ano 5 antes da era atual, sendo Jesus já nascido e procurado para ser
adorado.
Deve-se recuar talvez ainda mais no tempo. Herodes certificou-se dos Magos há quanto tempo lhes
tinha aparecido a estrela do Messias, para, de acordo com as informações obtidas, calcular a idade do menino
e poder exterminá-lo. E, se a ordem foi a de matar todos os meninos de menos de dois anos, certamente o
nascimento de Jesus se teria dado há já alguns meses, isto é, no decorrer do ano 6 ou 7 antes do ano 1 da era
de Dionísio o Exíguo.

242. Não se deveria descer mais ainda no tempo? Nenhum documento histórico parece exigi-lo.
Pelo contrário, em função a uma referência do Evangelista Lucas, vai-se poder fixar a data do
nascimento de Jesus precisamente a esta altura, retendo o recuo. Diz ele que Jesus principiara a vida pública
"pelos trinta".
Indícios cronológicos seguros permitem localizar para janeiro do ano 28 de nossa era o começo das
atividades de Jesus (vd ).
Somando os mencionados 28 anos com os 6 que fora preciso recuar para além de nossa era, tem-se 34
anos para ter sido a idade de Jesus ao iniciar sua pregação.
Se o Evangelista afirma que começou "pelos trinta", importa manter-se o mais próximo possível de
número 30, esta idade, evitando aproximá-las das quarenta, porque então não teria principiado "pelos trinta",
mas "pelos quarenta".
Considerando que a narração de Mateus em torno de Herodes tende a fazer retroceder, e a indicação
de Lucas a avançar, pode-se tomar por definitiva a determinação dos anos 6 ou 7, números em que se vão
neutralizar as duas tendências, para data provável do nascimento de Jesus.
Considere-se ainda a coerência com a atividade pública que entre os judeus se dava pelos 30 anos, e
isto efetivamente se constata em Jesus, porque do falecimentos de Herodes em 4 a.C. ao início de sua
pregação em 28 d.C. se mede mais ou menos o espaço para esta idade.

243. Crueldade, ou uma lenda? Não nos podemos apoiar sem reservas no episódio da matança dos
inocentes meninos de Belém, porque apresenta conotações lendárias muito fantasiosas.
Mais seguro é simplesmente supor que Jesus nasceu ao tempo em que Herodes o Grande era vivo e
lembrado como reconstrutor do templo.
A matança dos inocentes meninos de Belém é uma narrativa que contém algo intrinsecamente
impossível.
Supõe ela ainda uma facilidade incrível de encontrar soldados capazes de apunhalar crianças do
mesmo povo a que pertenciam. Supõe ainda mais, que isto se fizesse sem resistência e sem consequências em
um pacato vilarejo das proximidades de Jerusalém.
Um tipo de narrativa como o da matança dos inocentes só era possível de ser veiculado posteriormente
em forma de fantasia. Então servia como ilustração de outras barbaridades que o mesmo Herodes houvera

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cometido.
A narrativa ocorre apenas em Mateus, não sendo retomada pelos outros Evangelhos Sinóticos (Marcos
e Lucas), e nem por João.
"Vendo então Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar
em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia
indagado dos magos" (Mt 3, 16).

244. Mais razões ainda revelam a insegurança a respeito da verdadeira data do nascimento de Jesus.

Tem-se teorizado muito a respeito da informação de que o nascimento de Jesus ocorrera por ocasião do
recenseamento de Cirino, em que a informação diz com detalhe:
"Este primeiro recenseamento foi feito sendo Cirino o Governador da Síria" (Lc. 2,2).
Ora, enquanto vivo Herodes, não estava seu reino subordinado às leis das Províncias Romanas. Nem
Cirino fora governador da Síria ao tempo de Herodes.
Tem-se procurado provar a existência de outros recenseamentos anteriores. Mas, o que parece ocorrer
é a desinformação, em virtude da qual o historiador viu o quadro histórico apenas como que de longe,
dizendo: lá pelos tempos quando Herodes era o rei, ou então lá pelos tempos em que Cirino era o governador
da Síria.
Com este dizer o evangelista Lucas não dava um tempo preciso, porque efetivamente o ignorava, e por
isso mesmo caiu em erros de detalhe. Contudo deu uma indicação geral suficiente para situar mais ou menos a
época do nascimento de Jesus (vd REB dez, 1956 p. 870).

245. A estrela, mais uma fantasia? E que dizer da "estrela" do nascimento de Jesus (a estrela de
natal)?
Se ela fosse uma narrativa verdadeira e se a estrela fosse melhor caracterizada, ou mesmo descrita
como um cometa, valeria muito aos que devessem esperar o Messias. Diz Mateus:
"E tendo nascido Jesus em Belém da Judéia no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do
Oriente a Jerusalém, dizendo: onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no
Oriente, e viemos adorá-lo" (2, 1-2).
"Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em
que a estrela lhes aparecera (2,7).
"E tendo eles ouvido o rei, partiram: e eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles,
até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E vendo eles a estrela, alegraram-se muito"
(2, 9-10).

246. A narrativa da estrela do Natal contém vários elementos incoerentes:


Por que somente os magos tiveram na estrela um aviso e somente a eles servia?
E por que, situados no Oriente distante e sem serem judeus, sabiam que a estrela era do rei dos judeus
nascido mais a Ocidente?
Herodes era o rei. A ele e aos sacerdote é que deveria ter aparecido a estrela. O Messias parece nascer
sem se anunciar adequadamente.
O contexto da narrativa mostra o menino em uma casa e não em uma gruta, o que permite interpretar
que os magos teriam vindo algum tempo após o nascimento do mesmo. A estrela não é advertida pelo público
em geral, embora tivesse parado sobre a casa onde estava menino.

247. Não se descreve a estrela de maneira a se poder identificá-la com um cometa. Mas como seria se
tivesse sido um cometa?
Hoje se possuem conhecimentos astronômicos para dizer algo mais a propósito da narrativa. Em nosso
sistema há 40 ou mais cometas e seu curso é de 3 a 150 anos, com ligeiras oscilações tanto no espaço como
no tempo de retorno. Aumenta a cauda na proporção que se aproxima do sol. Torna-se o cometa praticamente
invisível quando atravessa a uma distância maior, quer do Sol, que da Terra.

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E por que um planeta seria o sinal do nascimento de Jesus, se ele passa periodicamente? E se os
planetas são 40 ou mais, qual deles seria o arauto? O sinal é inadequado, em vista de serem muitos e passarem
periodicamente; em vez de darem o sinal certo, poderiam dar alarme falso.
O cometa de Halley retorna num período 76,03 anos. Em dois milênios terão ocorrido portanto 26
retornos de Halley. Feitos os cálculos com relação a Jesus, teria passado pelo ano 11 a.C. e outra vez no ano
66 d.C.
Com período quase igual ao de Halley, o cometa de Olbers (período 72,4 anos) teria passado no ano 15
a.C.
O cometa Herschel-Rigollet (período 150 anos) teria passado no ano 139.
Mais próximo ao nascimento de Jesus terão feito passagens os planetas de curto período.
O cometa Comas Solá (período 8, 55 anos) terá passado no ano 1 a.C.; portanto, teria passado logo
após o nascimento de Jesus e depois da morte de Herodes, este falecido no ano 4 a.C.
O cometa Schaumasse (período 8,7 anos) teria passado no ano zero entre as duas eras.
E quem teriam sido os magos a que se refere Mateus (2, 1-12)? As versões posteriores passaram a
denominá-las fantasiosamente como reis, o que prestigiava ao episódio do nascimento de Jesus.
De fato, porém, pela expressão mago entendia-se um tipo social de homem dotado de saber, ao modo
oriental, que se encontrava na Mesopotâmia. Também são de tradição tardia e dúbia seus três nomes: Gaspar,
Baltasar, Melquior.

248. Natal de Mitra em 25 de dezembro. O nascimento de Jesus, ainda que envolvido em alguns
episódios de muito detalhe, não teve só ausência do registro do ano, como também não do mês e nem do dia.
Basta um fato lendário comprovado, para que os demais elementos da narrativa passem a estar igualmente
comprometidos.
Que dizer da anunciação pelo anjo? do recenseamento? da encantadora gruta de Belém? Dos pastores
visitados por um coral de anjos?, da fuga para o Egito? do episódio do menino entre os doutores da lei,
perdido durante três dias, até que os pais o encontraram?.
Tudo é possível, mas nada é seguro. Um vago conteúdo, já desconhecido, poderá ter servido de núcleo
em torno do qual a fantasia teria criado o resto. E assim também por fora do texto sagrado muitos outros
episódios foram gerados pela fantasia piedosa dos simples, que criaram os Evangelhos apócrifos.
A festa do Natal Cristão em 25 de dezembro surgiu por paralelismo com as solenidades do Deus Mitra,
cujo nascimento era comemorado no Solstício de inverno do hemisfério norte (Solstício de verão, no
hemisfério sul). No calendário romano tardio este solstício acontecia erradamente neste dia 25, em vez de 21
ou 22, como se faz constar melhor no calendário o dia em que para o hemisfério sul principia o verão.
Consta o dia 25 no calendário do astrólogo Antíoco, no ano 200.
Também o Imperador Juliano celebrava neste dia o Sol Invicto (Sol Invictus).
Os romanos comemoravam na madrugada de 24 de dezembro o "Nascimento do Invicto" (Natalis
Invicti) imaginando-se o alvorecer de um novo sol, como se imaginava fosse o Menino Mitra.
Uma figura do pequeno Mitra foi achada em Treveris e que surpreende pela semelhança com as
representações cristãs do Menino Jesus.
Os cultos órficos (referentes a Orfeu e aos pitagóricos), a cujo grupo pertence o culto de Mitra, já
haviam iniciado sua penetração no Ocidente ali pelo século 6-o a.C., com a expansão do poderio persa.
Mas na forma como se desenvolvia agora, o culto a Mitra foi trazido para o Ocidente pelos Soldados
sobretudo a começar de Pompeu, morto em 48 a.C. O Imperador romano Heliogábalo (218-222) o incluiu
entre os cultos oficiais.
Também Constantino está ligado a ele, até porque o culto a Mitra oferecia semelhanças com o
cristianismo, porquanto já muito antes usava o batismo e outros mistérios (no latim sacramentos), que também
passaram aos cristãos.
A propósito da discussão suscitada no Oriente sobre o dia da comemoração do nascimento de Jesus,
celebrado juntamente com a festa dos Reis Magos em 6 de janeiro, - já advertia pela volta do ano 200
Clemente de Alexandria, - que a data era desconhecida (Strômata I, XXI; Padres Gregos, Migne 8, 887).

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249. O Natal Cristão. Com a oficialização do cristianismo no Império Romano, a partir do Edito de
Milão (313), expedido por Constantino (+337), os cristãos rapidamente tomaram os postos dos sacerdotes
pagãos na sociedade, com os respectivos usos e festas religiosas. Em Roma o papa cristão passou a ser o
Pontífice, substituindo pomposamente o anterior chefe religioso pagão.
Atribui-se ao papa Silvestre I (314-337) o estímulo à comemoração do Natal. Tem-se notícia da
primeira comemoração litúrgica do Natal cristão em 336. De Júlio I (341-352) se diz que a oficializou. O papa
Libério (352-366) deu também, desenvolvimento à celebração do Natal cristão.
Há notícia da comemoração do Natal em Constantinopla, ano 379; em Antioquia, no ano 388.
É pois, o Natal cristão em 25 de dezembro senão mais uma das transposições pagãs para o
cristianismo, na forma de simples assimilação, o que era fácil de acontecer em questões indiferentes.
Outras transposições pagãs se conhecem. Os "Ludi Apollinares" que ocorriam de 5 a 13 de julho, se
converteram em festividade das "Coletas" quando se passou a angariar donativos para o culto cristão,
incluindo porção para o pobres. A "Ladainha maior" resultou das Robigalia (ou Rubigalia)aos deuses
campestres. Encontravam-se estes em contraste com Apólo, adorado por gregos e romanos, como Deus da
luz, da inteligência, da beleza masculina.
A conceituação de Deus como um sol se repete no cristianismo, não somente por causa da facilidade
com que esta alegoria se aplica a Deus, mas ainda porque os cristãos já a encontraram pronta nos cultos em
seu em torno.
Exortando agora para o natal cristão, os pregadores passam ao uso de imagens similares e que não
contêm contradição interna que impeçam a transposição.
Sobre as imagens do natal cristão e festividades em geral se encontram as primeiras referências nas
admoestações do Papa Leão Magno (440-461) (Sermão22, Padres latinos 54, 198) e São Máximo de Turim,
contemporâneo do precedente (Homilia 103, Padres latinos 51, 491).
O profeta Malaquias diz do Messias que seria o "Sol da justiça" (Mal. 4,2). Simão o chama "Luz dos
gentios" (Lc. 2,32).
No terceiro século São Cipriano se refere a Jesus como "o verdadeiro sol e o dia verdadeiro" (De
oratione dominica, 35).
No 4-o século, Santo Ambrósio, sobre o Salvador: "este é o sol novo" (Sermão7, Padres latinos 17,
614).
No Oriente usaram expressões similares João Crisóstomo e Gregório Magno.

250. Virgem e mãe?. Seria Jesus filho de uma Virgem, que o teria concebido por ação do Espírito
Santo, sem a participação deste honesto varão chamado José, o qual portanto seria apenas um pai de criação?
Se esta verdade foi inicialmente secretamente conhecida só pela virgem, não teria sido melhor que
conservasse o segredo apenas para si? . A discussão em torno da virgindade Maria suscitou tantas discussões e
divisões inúteis, que melhor seria se todos tivessem tido a oportunidade de se manter calados.
A Igreja católica estabeleceu como dogma oficial a virgindade de Maria só em 1854, tendo por base o
argumento de uma tradição bastante obscura e que não escapa de ter um fundo pagão.

Há um paralelismo da versão do nascimento virginal de Jesus com versões similares sobre a concepção
de homens ilustres pelo acoplamento de mulheres com deuses varões. Acreditava-se por isso mesmo que os
referidos homens eram extraordinários pelas suas obras e saber.
Esta crença atingiu mesmo o filósofo Platão (437-347 a.C.) o qual passou a ser referido
consequentemente como "Divino Platão". Refere Diógenes Laércio, situado no terceiro século d. C., citando
fontes várias:
"Segundo um rumor acreditado em Atenas e reproduzido por Espeusipo em Banquete fúnebre de
Platão; por Clearco em Elogio de Platão, e por Anaxíledes, no livro segundo Dos filósofos, desejando Áriston
consumar sua união com Periccione, que era muito formosa, não pôde levá-la a efeito, e, quando renunciou às
suas tentativas, e viu em sonho Apólo nos braços de sua mulher, o qual determinou que não fosse tocada até
quando o menino nascesse" (Diógenes Laércio, Vida dos filósofos III, 2).

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Era Apólo o mais belo dos deuses, chamado da luz e da verdade.


Zeus, o pai todo poderoso dos deuses, também teria feito nascer homens extraordinários, entre outros
aos filhos de Leda, à qual ele mesmo penetrou, visitando-a na forma de cisne, quando ela se banhava
belamente desnuda.
Também Buda "o iluminado", - que a partir do budismo fundou um novo movimento, como Jesus ao
cristianismo a partir do judaísmo, - era considerado filho de uma princesa virgem, por obra de uma divindade,
figurada por uma elefante branco, que a atingira por uma raio de luz.
Ora, tudo isto não deve ser desconsiderado para avaliar histórico-criticamente a tradição que faz Jesus
ser filho de uma virgem e por obra do Altíssimo.

251. O texto bíblico é vago demais para só por si sustentar o dogma, o qual entretanto é juntado à
tradição, aliás também muito vaga e de informações distantes de sua origem. O evangelista Lucas, que é
aquele que narra estas intimidades de Maria, apresenta-as da seguinte forma:
"Foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem
desposada com um varão que se chamava José, da casa de David, e o nome da virgem era Maria.
Entrando pois o anjo onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça! O senhor é contigo.
Bendita és tu entre as mulheres.
Ela quando o ouviu, turbou-se do seu falar e discorria pensativa, sobre que saudação seria esta.
Então o anjo lhe disse: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás em
teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-às o nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do
Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David: e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu
reino não terá fim.
E disse Maria ao anjo: Como se fará isso, pois eu não conheço varão.
E respondendo, o anjo lhe disse: O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá
da sua sombra. E por isso mesmo o Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus. Que aí tens tu
a Isabel, tua parente, que até concebeu um filho na sua velhice: e este é o sexto mês da que se diz estéril.
Porque a Deus nada é impossível.
Então disse Maria: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo se
apartou dela" (Lc. 1, 26-38).
O texto admite especulações várias, não fugindo todavia do contexto antigo em virtude do qual as
mulheres poderiam conceber, sem a participação do homem que eventualmente fosse o seu marido, e sim por
obra de um Deus. Por isso tanto mais facilmente poderia surgir tal versão, cujo fundamento reclama provas.
Ainda na Idade Média cristã se acreditava, que mulheres concebessem por obra do diabo, e por isso
eram levadas ao tribunal da Inquisição da Igreja Católica. Assim sendo, a versão de que Jesus era filho de
Maria por obra do Espírito Santo tinha trânsito fácil, apesar de em si mesma um fenômeno muito singular.
Não obstante parecer jogar sombras sobre a honestidade do concúbito de homem e mulher, - por
parecer indigno a Jesus, como Deus, ser filho de uma ação sexual,- outra poderia ser a razão da crença
antiga, a qual entendia que os grandes homens deviam ser filhos de deuses. Por esta razão cultural, os cristãos
não teriam deixado que seu chefe fosse menos expressivo, e talvez por isso tenham imaginado a Jesus como
sendo um tal indivíduo extraordinário, nascido por obra do Altíssimo.
O Messias dito "filho do homem". É o mesmo que dizer "filho de mulher e de homem", e que nesta
condição é um ser humano. Mas, para os antigos era mais adequado dizer "filho do homem", porque
supunham que um nascido fosse apenas filho deste.
Supunham os antigos que a mulher fosse apenas um vaso do sêmen masculino, e que portanto o ser
humano era apenas um "filho do homem".
Dali decorre perguntar, o que efetivamente pensaram os antigos, - se Jesus era apenas um "filho do
homem", - no caso, filho do Altíssimo,- ou se também de um óvulo gerado por Maria?
Importa ainda ressalvar que na linguagem judaica "Espírito Santo" não era necessariamente uma
pessoa, mas podia significar apenas uma força divina, como quando se diz a graça concedida por Deus.
Só mais tarde aparecerá o uso da expressão Espírito Santo (vd) para significar uma pessoa divina.

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252. Belém. Com referência ao local, Jesus nasceu em Belém, conforme os relatos de Mateus (2,1) e
Lucas (2,4).
Teria mesmo Jesus nascido em Belém? Omitiu-se Marcos sobre Belém; ocupando-se de Jesus adulto,
dizendo que veio de Nazaré como sua pátria (Mc. 6,1). João Evangelista também se omitiu sobre Belém.
Há um espaço relativamente grande entre Belém (da Judéia) e Nazaré (da Galiléia). Dificuldades
políticas na região de Samaria podiam obrigar a comunicação mais longa através da Jordânia. Tratando-se de
cidades então sobre governos distintos, importam perguntas sobre as ligações de Jesus, ora com Belém, ora
com Nazaré.
E como inserir neste quadro o Egito, para onde se teria retirado a família de José e Maria? Era o Egito
um país distante, para ser alcançado com os métodos de locomoção antiga. Estava também sob um outro
regime, o dos Ptolomeus. Que de distância entre o Egito e Nazaré, situada no norte da Palestina! E por que
iniciativas tão radicais e difíceis, para resolver um problema de simples ocultação? O episódio, como um todo,
parece apenas imaginado.
A ótica de Mateus e de Lucas não parecem conferir com referência à Belém, Egito e Nazaré.
Ao retornar do Egito José receou ficar na Judéia (a que pertencia Belém) e "foi para as partes da
Galiléia" (Mt. 2, 22). Este texto de Mateus parece sugerir que a Judéia fora um expediente. Parece até que a
informação de Mateus é meramente especulativa, quando diz "E chegou e habitou numa cidade chamada
Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: ele será chamado Nazareno" (Mt. 2, 23).

Lucas fez o anjo Gabriel anunciar o nascimento de Jesus, aparecendo a Maria em Nazaré (Lc. 1, 26).
Depois move o cenário do nascimento para a longínqua Belém em função a um recenseamento:
"E todos iam alistar-se cada uma na sua própria cidade. E subiu também José da Galiléia da cidade de
Nazaré, à Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa da família de David), a fim de
alistar-se com Maria, sua mulher que estava grávida" (Lc. 3, 3-5).
Mateus e Lucas invertem, pois, as direções, ao que parece. Ficava Nazaré, na Galiléia, norte da
Palestina, e Belém na Judéia, ao Sul, e ainda assim 10 quilômetros de Jerusalém.

Pelo visto não há muita clareza nas informações, nem muita coerência na movimentação entre grandes
e difíceis espaços geográficos. A localização do nascimento em Belém assume até mesmo aspecto de ser
especulativa (Mt. 2,6), em vista da profecia de Miquéias (Miq. 5,2).
Ora, sendo convicção cristã de que Jesus era o dito Messias, não se poderia pensar diferentemente
sobre seu lugar de nascimento senão em Belém. Ainda que não houvesse informação direta, de que lá
nascera, a especulação exegética levava a dizer que lá fora o lugar de seu nascimento.

253. A peregrinação cristã para Belém se tornou um hábito bastante cedo.


O Imperador Adriano (76-138) criou nas vizinhanças da gruta um bosque sagrado dedicado a Adonis, -
mancebo famoso que foi amante de Afrodite, a Deusa grega correspondente a Vênus romana.
Dali a observação posterior de São Jerônimo (347-419): "Onde se ouviram os primeiros vagidos de
Deus feito homem, chorava-se a morte do favorito de Vênus" (Epístola 58, ad. Paulinum). No contexto
romano, após a destruição de Jerusalém, tratava-se da helenização dos usos.
Constantino, desde 324 Imperador também do Oriente, ao promover a grande virada em favor do
cristianismo, fez construir em Belém, ano 330 um grande santuário, - Basílica da Natividade, - com amplo
átrio e quatro pórticos que abriam para um edifício octogonal cobrindo a gruta; tal acontecia porque uma das
amantes do Imperador era a cristã Helena, depois conhecida como Santa Helena.
Em consequência aumentou a peregrinação para Belém, ali também se instalando casas monásticas,
algumas subsistindo até hoje. Em 384 estabeleceu residência em Belém o estudioso da Bíblia, São Jerônimo,
também notável tradutor.
Mas, por ocasião da revolta dos Samaritanos (521-530) o templo foi incendiado. Justiniano (Imperador
de 527-565) reconstruirá o edifício, abandonando porém a cúpula octogonal.
Conserva-se ainda hoje a velha basílica, convertida em centro de peregrinações, cada vez mais
frequentes, dada a facilidade dos transportes.

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Para atingir a gruta atravessa-se pelo coro da basílica, depois descendo-se por uma escada que termina
diante do altar da Natividade. A gruta é de rocha calcária mole, formando um retângulo de 12,30 de
comprimento por 3,15 de largura, tendo hoje o piso e as paredes revestidas de mármore e outros materiais
consistentes. Do teto pendem lâmpadas.

§ 2. A vida pública Jesus, de 28 a 30. 4251y255.

256. Conspecto da vida pública de Jesus. A cronologia da vida pública de Jesus é relativamente clara.
Depois de um longo espaço obscuro de sua biografia, subitamente aparece no cenário, com um roteiro mais
ou menos bem definido, no curso do qual surgem episódios, ao mesmo tempo que se marca a sua
personalidade, como visionário, curandeiro, pregador escatológico,
O quadro a seguir apresenta esquematicamentes os breves anos da vida pública de Jesus:
Ano 28.

Janeiro Preparação da vida pública de Jesus.


(inverno) Pregação de João Batista.
Batismo de Jesus
Jesus no deserto: jejum, tentação.

Fevereiro
Março Jesus vai a João na Transjord.
(primavera) Primeiros discípulos
Sobem à Galiléia. Bodas de Caná.
Residência em Cafarnaum.

Abril Primeiro ano (de Páscoa à Páscoa)


Páscoa (João 2,13): em Jerusalém
Na Judéia... João em Salim

Maio João encarcerado.


Jesus sobe pela Samaria (Jo. 4,35)

Junho Na Galiléia: Caná


(verão) Discípulos. Sábado em Cafarnaum: Leproso
Captura dos peixes
Conflito com os fariseus (espigas Mc. 2,23)

Julho Eleição dos apóstolos


Sermão da montanha (Mt. 5-7)
Servo do Centurião, Parentes de Jesus,
Agosto Jovem de Naím
Legação de Batista. A Pecadora

Setembro
(outono)
Outubro Sermão das parábolas (Mt. 13): Semeador,
A tempestade, Na terra dos Gerasenos.
Novembro Filha de Jairo. Em Nazaré.

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Dezembro

Ano 29.

Janeiro Sermão aos apóstolos (Mt. 10).


(inverno) Missão dos Apóstolos.

Fevereiro Morte de Batista.


Herodes houve de Jesus.
Março Volta dos Apóstolos
Antes da Páscoa (Jo. 6,4).
Multiplicação dos pães, Jesus sobre as ondas
Em Genezaré. Sermão Eucarístico. Descrença
Abril Segundo ano (de Páscoa à Páscoa) (Jo. 6,4)
Jesus de novo na Galiléia (Mt. 6,55)
Muitos o deixam (Jo. 6, 66).
Maio Pentecostes em Jerusalém.
Cura do paralítico
De retorno na Galiléia (Jo. 7,1).
Vem fariseus de Jerusalém a Jesus.
Junho Viagem à Fenícia. Decapolis.
Junto ao Lago de Genezaré.
2-a multiplicação dos pães.
Atravessam o lago à Masedan.
Julho Atravessam de novo à Betsaida.
Agosto Viagem a Cesaréa Filipe
Confissão de Pedro. Predicação da Paixão.
Às ocultas pela Galiléia. Sermão aos discip.
Setembro
(outono)
Outubro Jesus deixa a Galiléia. Defin.
À Jerusalém (Lc. 9,51)
Festa dos Tabernáculos em Jerusalém
Missão dos 70 discípulos.
Novembro O bom samaritano (Jericó)
Em Betânia (Maria e Marta)
Padre Nosso
Dezembro Festa da Dedicação em Jerusalém
(inverno) Na Peréia: muitos crêem
10 leprosos.

Ano 30.

Janeiro Bênção dos meninos. Fevereiro Na Judéia: Betânia, Lázaro ressusc.


O Sinédrio decide matar Jesus.
Jesus se esconde em Efraem.
Março
(primavera)

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Abril Vem à Jericó. O cego. Zaqueu.


Em Betânia: unção dos pés.
Semana da Páscoa. Paixão em Jerusalém.
Morte, ressurreição.
Maio Ascensão.

257. A equivocada cronologia, que estabelecer o ano 1, como tendo sido o do nascimento de Jesus,
produz também o equívoco, de que, se começou a pregar pelos 30 anos, teria iniciado esta função no ano 30 e
morrido no ano 33.
Na verdade porém Jesus pregou de 28 a 30.
Por duas razões a vida pública de Jesus se fixa como a tendo iniciado em começos do ano 28 e
terminado na primeira parte do ano 30, ou seja na semana da Páscoa.

258. Serve de primeira razão para fixar o ano 28, como aquele em que Jesus iniciou a pregação, uma
breve indicação cronológica encontrada no Evangelho Lucas:
"Ora, no ano 15-o do Império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos, Governador da Judéia... O
senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele foi por toda a terra do Jordão, pregando o batismo de
penitência..." (Lc. 3,1).
Ora Tibério, sucessor de Augusto, subiu ao trono no dia 19 de agosto do ano 14. Basta acrescentar a
cifra indicada por Lucas, que se coloca no 15-o ano do Império de Tibério, para se ter o ano 28, ou no
máximo 29, como data, de quando o Senhor teria falado a João Batista.

Não é porém fácil decidir entre o ano 28, ou 29, pois havia dois modos de contar os anos de reinado. O
primeiro, em voga no Oriente, onde escreveu Lucas, contava a parte restante dos meses do ano, como
primeiro ano de reinado. No início do novo ano civil, começava o 2-o ano de reinado. Neste contar, Tibério
teria seu 1-o ano de Império, de 19 de agosto do ano 14 até o fim do mesmo. Então 15- o ano seria o ano 28.
No Ocidente, vigorava o costume contrário, e conforme este, o 15-o de Tibério viria a ser o ano 29, de
nossa era. Razões várias (vd ), fazem preferir a data do ano 28.
Em qualquer hipótese, porém, se possuí, com a indicação do Evangelho de Lucas, um apoio valioso,
evitando as grandes flutuações cronológicas.
Jesus era 6 meses mais moço que João e se haveria de se encontrar com ele no Jordão e dele receber o
batismo antes de começar o ministério público. Fixa-se, portanto, a pregação de Jesus, como tendo iniciado
em data não anterior ao ano 28. Saber isto, já é um ponto de partida importante.
Acrescentou ainda o texto de Lucas:
"E o mesmo Jesus, quando começou (o seu ministério) tinha cerca de trinta anos"
(Lc. 3, 23).
Ora, se Jesus nasceu uns 5 anos antes de nossa era, fora preciso que começasse logo que João
principiara, porque senão avançaria muito na casa dos trinta. Na hipótese de haver começado Jesus no ano
28, teria então tido já 34 anos de idade.

259. A segunda razão que permite fixar o início do ministério público de Jesus pelo ano 28, é uma
incidente ocorrido na primeira Páscoa, quando se diz haver expulsado os vendilhões do templo e ali
ensinado. Haviam-lhe perguntado então os principais dos judeus:

"Com que sinal nos mostras que tens autoridade para fazer estas coisas? Jesus respondeu-lhes, e disse:
desfazei este templo, e eu o reedificarei em três dias. Replicaram então os judeus: Este templo foi
edificado em 46 anos e tu o reedificarás em três dias?" (João 2, 18-29).

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Ora o templo havia sido construído a começar do ano 19 a.C. Feitas as contas, pelo acréscimo de 46
anos, chega-se ao ano 28 ou 27, quando se dá o incidente entre Jesus e os judeus.
Mesmo que a provocação de Jesus venha a ser interpretada como bravata de invenção posterior, pode o
número de 46 anos ter procedência.
Quanto à morte de Jesus no ano 30 ela se calcula pela soma dos meses de sua pregação, pois os fatos se
distribuem em dois anos e poucos meses. Citando o início no ano 28, deverão então estar concluídos no
ano 30.

260. Mapa da Palestino. Para acompanhar o roteiro da pregação de Jesus importa, habituar-nos
previamente com o mapa da Palestina, caracterizada pelo Mar Morto e o Lago de Genezaré, ligados entre si
pelo Rio Jordão.
Atento às proporções, e partindo do sul (pé do mapa), cabem 4 unidades ao Mar Morto, 5 ao Jordão, 2
ao Lago de Genezaré, mais 2 ao Jordão Superior, até o pequeno lago de Meron.
Invertendo, três nascentes convergem no lago Merom; daí sai o rio Jordão em sinuosidades até o Lago
de Genezaré, que tem forma de pêra, e de onde continua até o Mar Morto, cuja forma é oblonga.
Em paralela, pelo ocidente, a esquerda do mapa, está o Mar Mediterrâneo, cujo risco se afasta
vagarosamente ao descer, com a curva típica do Monte Carmelo a altura do Lago de Genezaré.
Situamento das cidades:
Jericó está na foz do Jordão;
Jerusalém, em paralela, quase a meio caminho entre o Jordão e o Mar;
Belém, fica ao Sul de Jerusalém, à pequena distância, apenas 6 quilômetros.

Mais para o Norte:


Nazaré também a meio caminho do Rio Jordão e do Mar, porém, a altura da base do Lago de
Genezaré;
Samaria entre Nazaré e Jerusalém.
Junto ao Lago de Genezaré, na banda ocidental, situam-se do sul para o norte as cidades de Tibérias,
Mágdala, Betsaida, Cafarnaum.
O país se distribui também por regiões, as quais importa distinguir, para acompanhar o roteiro das
peregrinações maiores de Jesus.
A Judéia consiste na parte sul, com Jerusalém, por Capital.
A Galiléia constitui a região Norte, estendendo-se de Nazaré a Cafarnaum.
Do outro lado do Jordão situa-se a Peréia.
A Fenícia, e as cidades de Tiro e Sídon, já estão fora da Palestina, mais ao norte, à altura dos nascentes
do rio Jordão. Mais além nasce o rio Orontes, que segue para a Síria, cuja capital é Antioquia, onde os cristãos
primeiramente se desenvolveram na expansão para fora da Palestina.

261 O roteiro da pregação. As atividades de Jesus se desenrolaram principalmente na Galiléia, junto


ao Lago de Genezaré, onde principiou sua pregação.
Ao tempo das grandes festas descia a Jerusalém, para logo depois retornar. Mas por toda a parte tem
ido. Antes da grande atividade na Galiléia ocorrendo então o caso com a Samaritana no Poço de Jacó.
Na Galiléia por um ano inteiro a popularidade de Jesus cresceu, para eclipsar- se no sermão
Eucarístico (João 6).
Depois do sermão Eucarístico veio Jesus para Jerusalém, onde esteve a sua 2-a Páscoa, da vida
pública. Por toda a parte crescem as oposições.
No segundo ano de atividades concentrou-se Jesus na instrução de seus apóstolos, e também saiu com
mais frequência da Galiléia. Subiu finalmente para o norte, atingindo Cesareia Filipe, reino gentio. Na volta,
desceu rapidamente até Jerusalém. Agora, deixou definitivamente a Galiléia.
Entre a festa dos Tabernáculos (novembro) e a festa da Dedicação (dezembro) fez da Judéia
novamente o campo de seu apostolado, aproveitando-se já dos discípulos formados em sua escola. Depois da

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festa da Dedicação atravessou o Jordão, levando sua doutrinação à Peréia.


Agora, a missão de Jesus estava como que completa. Todo o povo de Israel receberá a "visitação". Em
Betânia se demora em um lar amigo, de Maria e Marte, como para descansar. Ali estava também Lázaro, a
quem ressuscitara. Este grupo de irmãos solteiros apresenta o aspecto essênio. Jesus era ali mais um solteiro.

262. Jesus o visionário. Os criadores de religiões costumam ter a personalidade do visionário, o qual vê
imagens representando formas como se procedessem de um além.
Supõem tais visões um enfoque antropomórfico muito pronunciado, em que as entidades
transcendentes comparecem como figuras ao modo do ser humano.
Há as visões que se apresentam simplesmente como visão, e outras que tomam o aspecto de realidade
exterior efetiva, em cujo cenário participa o visionário.
As informações sobre tais visões chegam ao conhecimento do público, ora por narrativas de terceiros,
ora por declarações diretas dos mesmos visionários. Em um e outro caso são de difícil tratamento do ponto de
vista da veracidade subjetiva e objetiva, tanto do visionário, como do narrador.
As visões de Jesus, como hoje se conhecem, chegaram ao conhecimento de hoje, através dos
Evangelhos, escritos muitos anos após as referidas visões se dizerem haver acontecido. No caso dos
Evangelhos Sinóticos costumam ter uma fonte única, - conforme se acredita, - e portanto representam um só
testemunho, e não três, devendo-se preferir começar pelo exame do texto de Mateus, possivelmente o mais
antigo.

263. Visão ocorrida por ocasião do batismo de Jesus: "Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água.
Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou
uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição" (Mt.3, 16-17).
A narrativa reaparece nos dois outros Evangelhos Sinóticos, Marcos (1, 9 ss) e Lucas (3, 21 ss), quase
com os mesmos detalhes.
João (1, 31-34), que não é um sinótico, destacou a visão a partir do Batista, o qual teria tido também a
revelação sobre a identidade de Jesus:
"Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água, disse-me: sobre quem vires descer e
repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo. Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de
Deus" (1, 33-34).
O Espírito de Deus não é uma pessoa, mas uma força divina (vd). Depois o Espírito de Deus impelirá
Jesus ao Deserto, onde fará uma penitência preparatória à sua vida pública.

264. Jesus teve a visão do Diabo, por quem foi tentado, depois da fome após 40 dias de jejum:
"O tenta aproximou-se dele e lhe disse: Se és o Filho de Deus, ordene que estas pedras se tornem pães.
Respondeu Jesus: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus
[Deuteronômio, 8,3].
O demônio o transportou à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: Se és o
Filho de Deus, lança-te abaixo, porque está escrito: Ele deu ordens aos seus anjos a teu respeito;
proteger-te-ão com as mãos, com cuidado para não machucares o teu pé n'alguma pedra [Salmo 90,11].
Disse-lhe Jesus: Também está escrito, - Não tentarás o Senhor teu Deus [Deut. 6,16].
O demônio o transportou uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do
mundo e a sua glória, e disse-lhe: dar-te-ei tudo isto, se, prostrando-te diante de mim, me adorares.
Respondeu-lhe Jesus: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás [Deut., 6,13].
Em seguida , o demônio o deixou e os anjos se aproximaram dele para servi-lo" (Mt. 4,2-11).
O sinótico Marcos (1, 12 ss) foi brevíssimo. Lucas (4,11-13) inverte a ordem cronológica da segunda e
terceira cena da tentação.

265. Transfiguração. Já era o segundo ano da pregação de Jesus, quando se deram visões em que
participam três discípulos de Jesus, de acordo com a narrativa:
"Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá

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se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de
brancura. E eis que apareceu Moisés e Elias conversando com ele. Pedro tomou então a palavra e disse-lhe:
Senhor é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas, uma para ti, uma para Moisés e outra para
Elias.
Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma
voz que dizia: Eis o meu Filho muito amado em quem pus toda minha afeição: ouvi-o.
Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. Mas Jesus aproximou-se
deles e tocou-os, dizendo: levantai-vos e não temais. Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém,
senão unicamente Jesus" (Mt 17, 1-8).
Os sinóticos Marcos (9,2-13), Lucas (9,28-36) praticamente repetem a mesma narrativa.
Qual seria a figura de Moisés, e qual a de Elias, para que fossem reconhecidos como tais? Não o diz o
texto, como também em parte alguma se descreve a fisionomia de Jesus. Mas deveria haver entre os judeus
alguma figuração, ou símbolo, para se pudesse identificá-los de algum forma.
Em nenhum outro lugar do Novo Testamento se faz referência à narrativa dos Sinóticos.
O nome do monte não é citado por nenhuma das narrativas. Antiga tradição diz ter sido o Monte
Tabor, ao norte da Palestina, e 595 m. acima do nível do Mediterrâneo.

267. Jesus curandeiro popular. Com frequência dizem os Evangelhos, que Jesus curava e que
mandava aos discípulos que curassem.
Recomendou Jesus aos seus doze apóstolos, quando os escolheu: "Por onde andardes, anunciai que o
Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os
demônios. Recebestes de graça, de graça dai" (Mt. 10,7-8).
A medicina popular, por não ter ainda alcançado o conceito de medicina profissional, opera
empiricamente pela acumulação dos resultados.
Combina frequentemente causas físicas e a fé psicológica, inclusive a religião. Frequentes vezes a
doença, com efeitos psíquicos, é interpretada como ação de um espírito do mal, ao qual importa exorcizar.
Usualmente os curandeiros usam fazer gestos acompanhados ainda de palavras expressando o que
desejam alcançar. Os gestos e as palavras dos curandeiros costumam fixar-se como rituais, com formas bem
precisas. Podem alcançar a forma do que se denomina benzedura.
Os resultados mais inesperados do curandeirismo são interpretados como milagres e prestigiam
notoriamente aos indivíduos que comandaram todo o procedimento.
A história oral das curas tende a selecionar os sucessos maiores, esquecendo progressivamente os
inúmeros casos de tentativas menos bem sucedidas, ou de resultados temporários.
Importa, por conseguinte, acautelar-se com as narrativas que tratam de curas milagrosas e expulsão de
maus espíritos, mesmo com aquelas dos Evangelhos. Importa determinar previamente se o narrador tinha
condições epistemológicas para avaliar os fenômenos de que se ocupa, ou seja da veracidade objetiva (vd
226)...
Foi o curandeirismo de fundo religioso bastante prestigiado pelos pitagóricos. No meio judaico foi uma
prática frequente dos essênios, e que se transferiu aos primeiros cristãos. A unção dos doentes com óleo, de
origem pitagórica, poderá ter sido o antecedente de um dos 7 sacramentos da Igreja Católica, e parece estar
descrita na Epístola de Tiago (7,14).

268 Curas de Jesus, sobretudo na Galiléia. Dezenas são as curas relatadas pelos Evangelhos
Sinóticos. Teriam sido realizadas em grande número logo de início no curso da pregação de Jesus na Galiléia.
Os relatos talvez tenham sua redação mais antiga no texto de Mateus.
Mas o texto atual de Mateus, redigido em grego, parece ter tido origem em outro mais antigo, a partir
do qual também os demais Sinópticos (Marcos e Lucas) as suas respectivas versões (vd ...).
Ainda que não importem as oscilações nos detalhes, estes revelam todavia que os fatos não foram
criticamente colhidos e por isso também não se pode dar valor absoluto ao que avaliam como milagroso.
Muito mais moderado é o 4-o Evangelho, de João, em narrativas referentes a curas. Refere-se a cura
do filho de um oficial, da Galiléia (Jo 4,45). À curas em Jerusalém, - de um paralítico (Jo 5,2-9), de um cego

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(Jo, 9, 1-7), ressurreição de Lázaro (Jo, 11, 1-44).


De qualquer maneira, quando ocorre um grande número de lendas em torno do mesmo homem,
apresenta-se todavia a verdade fundamental de que ele era significativo no meio em que as referidas lendas se
formaram.

269. Cura de um leproso: "Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo:
Senhor, se queres, podes curar-me. Jesus estendeu a ; mão, tocou-o e disse: Eu quero, sê curado. No mesmo
instante, a lepra desapareceu" (Mt. 8,2-3).
Compare-se com as narrativas sinópticas de Marcos (1, 40-45) e de Lucas (5, 12-16).
Lucas ainda se refere a cura de outros leprosos: "Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus passava
pelos confins da Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que
pararam ao longe, clamando: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! Jesus viu-os e disse-lhes: Ide, mostrai-vos
ao sacerdote. E quando eles iam andando, ficaram curados.
Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. Prostou-se aos pés de Jesus, e lhe
agradecia. E era um samaritano. Jesus lhe disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros
nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus? E acrescentou : Levanta-te e
vai, tua fé te salvou." (Lc 17, 11-19).

270. Cura do servo do centurião, que veio a Jesus, pedindo que lhe curasse o servo: "Dirigindo-se ao
centurião, disse: Vai, seja-te feito conforme a tua fé. Na mesma hora o servo ficou curado" (Mt 8,13).
Comparece-se com o texto sinótico de Lucas (7, 1-10).

271. Cura de mulher febril: "Foi então Jesus à casa de Pedro, cuja sogra estava de cama, com febre.
Tomou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela levantou e pôs-se a serví-los (Mt 8, 14-15).
Os equivalentes sinóticos de Marcos (1, 29-34) e Lucas (4,38-41).

273. Exorcismo de muitos possessos: "Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios.
Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos. Assim se cumpriu a predição do
profeta Isaías: Tomou as nossas enfermidades sobrecarregou-se dos nossos males, - Isaías 53,4. " (Mt., 8, 16).
Comparem-se as narrativas sinóticas de Marcos (5, 1-20) e Lucas (8, 26-39).
É notório o número de possessos do demônio cujos exorcismos são atribuídos a Jesus.
Exorcismo de um mudo: "Logo que se foram [os cegos curados], apresentaram-lhe um mudo, possuído
do demônio. O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo
semelhante em Israel. Os fariseus, porém, diziam: é pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os
demônios"(Mt. 9, 32-34).
Exorcismo de um cego e mudo: "Apresentaram-lhe depois um possesso cego e mudo. Jesus o curo de
tal modo que este falava e via. A multidão admirada dizia: Não será este o Filho de David??"(Mt 12, 22-23).
Sinóticos: Marcos (3, 20-27), somente sobre a expulsão do demônio; Lucas (11, 14-23), diz
curiosamente "Jesus expeliu um demônio que era mudo; tendo o demônio saído, pôs-se o mudo a falar" (11,
14).
Exorcismo do menino epiléptico: "E quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles
e mostrou-se diante de Jesus, dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito. Ora
cai no fogo, ora na água... Já o apresentei a teus discípulos, mas eles não o puderam curar. Respondeu Jesus:
raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo. Jesus
ameaçou o demônio, e este saiu do menino que ficou curado na mesma hora. Então os discípulos lhe
perguntaram em particular: por que não pudemos nós expulsar este demônio? Jesus de vossa falta de fé. Em
verdade vos digo, se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha:: Transporta-te daqui para
lá, e ela irá, e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de
oração e de jejum"(Mt 17, 14-20).
O sinótico de Marcos (9, 14-29) descreve o episódio com mais detalhes, e o de Lucas (9, 37-43) com
mais brevidade.

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Cura de uma mulher encurvada e possessa: "Estava Jesus ensinando na sinagoga em um sábado. Havia
ali uma mulher que, havia l8 anos, era possessa de um espírito que a detinha doente: andava curvada e não
podia absolutamente erguer-se. Ao vê-la, Jesus a chamou e disse-lhe: Estás livre de tua doença. Impôs- lhe as
mãos, e no mesmo instante ela se endireitou, glorificando a Deus" (Lc 13, 10-13). A cura é narrada apenas
por Lucas.

274. Demônios são passados aos porcos: "No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois
possessos de demônios, saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Eram tão furiosos que pessoa
alguma ousava passar por ali.
Eis que se puseram a gritar: Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar
antes do tempo? Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava. Os demônios imploraram
a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos.
- Ide, disse-lhes Eles saíram e entraram nos porcos. Neste instante toda a manada se precipitou pelo
declive escarpado para o lago, e morreram nas águas" (Mt. 8, 28-32).
Narrativas sinóticas de Marcos (5, 1-20) e Lucas (8,26-39).

275. Cura de um paralítico: "Eis que lhe apresentaram um paralítico numa padiola. Jesus vendo a fé
daquela gente, disse ao paralítico: Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados [...]. Levanta-te, disse
ele ao paralítico - toma a tua cama e volta para tua casa. Levantou-se aquele homem e foi para casa" (Mt 9,
2- 6).

276. Cura de um hidrópico em dia de Sábado: "Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu
notável, para uma refeição. Eles o observam. Havia ali um homem hidrópico. Jesus dirigiu-se aos doutores da
lei e aos fariseus: É permitido, ou não, fazer curas no dia de sábado? Eles nada disseram. Então Jesus,
tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. Depois, dirigindo-se a eles, disse: Qual de vós que, se lhe
cair o jumento ou o boi num poço , não tira imediatamente, mesmo em dia de sábado? A isto nada lhe podiam
replicar" (Lc 14, 1-6).

277. Ressuscitou aos mortos. Dois são os principais episódios arrolados neste sentido para destacar o
caráter taumaturgo de Jesus.
Ressurreição da filha de Jairo: "Falava ele (Jesus) ainda, quando se apresentou um chefe de sinagoga.
Prostou-se diante dele e lhe disse: Senhor a minha filha acaba de morrer. Masa vem, impõe-lhe as mãos e ela
viverá [...]. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão
alvoroçada. Disse-lhes: retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles porém zombaram dele.
Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se" (Mt. 9, 18-25).
O sinótico Marcos (5, 21-43), deu quantidade maior de detalhes, inclusive o nome do chefe da
Sinagoga, - Jairo (5, 22). Também Lucas (8, 40-56) deu o nome Jairo (8,40) e detalhes mais.

278. A ressurreição de Lázaro foi narrada por João, referindo-se a um grupo com aspecto de serem
celibatários essênios, e este fato podia ser porque eram conhecidos por Jesus. A narrativa de João insere como
estribilho constante, a imagem de Jesus como ser divino e que tem nos seus atos a contraprova deste sua
posição. Este caráter de sermãozinho dilatou o espaço da narrativa:
"Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era quem ungira o
Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era
seu irmão. Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas, está enfermo.
A estas palavras lhes disse Jesus: Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a
glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus.
Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse ouvido que ele estava
enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar. Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para Judéia.
Mestre, responderam eles, há pouco os judeus te queriam apedrejar, e voltas para lá?
Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz

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deste mundo. Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz. Depois destas palavras ele acrescentou:
Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo.
Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há de sarar. Jesus entretanto falara de sua
morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal. Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro
morreu. Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas, vamos a ele.
A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com
ele.
à chegada de Jesus já havia quatro dias que Lázaro estava na sepulcro. Ora, Betânia distava de
Jerusalém cerca de 15 estádios [3 quilômetros]. Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes
apresentar condolências pela morte de seu irmão. Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro.
Maria porém está sentada em casa.
Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei também
agora que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá.
Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá.
Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição do último dia.
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto,
viverá. E todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
Respondeu ela: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo.
A estas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e te chama.
Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao encontra dele. (Pois Jesus não tinha chegado à
aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado). Os judeus que estavam com ela em
casa, em visita de Pêsames, ao verem Maria levanta-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela ia ao
sepulcro para ali chorar.
Quando porém Maria chegou aonde Jesus estava e o ; viu, lançou-se aos seus pé e disse-lhe: Senhor, se
tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!
Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente
comovido em espírito. E sob o impulso de profunda emoção, perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe:
Senhor, vinde ver.
Jesus pôs-se a chorar. Observaram por isso os judeus: Vede, como ele o amava! Mas, alguns deles
disseram: Não poderia ele, que abriu os olhos ao cego de nascença, fazer que este não morresse?
Tomado novamente de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta de uma pedra.
Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que
ele está aí...
Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se creres, verás a glória de Deus?
Tiraram pois a pedra. Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me
ouviste. Eu sei bem que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo que está em roda, para que
creiam que tu me enviaste!
Depois destas palavras, exclamou em volta alta: Lázaro, vem para fora!
E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto com um sudário. Ordenou
então Jesus: Desligai-o e deixai-o ir" (Jo.11,1-44).
O texto de João foi redigido cerca de 50 anos após. Se apresenta o caráter de diálogo cênico, em que
até a linguagem dos atores é direta, pode o texto ser interpretado como uma reconstrução literária e não como
um documento estritamente histórico.
Quanto ao mesmo conteúdo, que afirma a ressurreição de um morto 4 dias na sepultura, o fato é tão
contundente, que admira não haver sido narrado também pelos Evangelhos Sinóticos.

279. Cura da mulher com fluxo de sangue: Ã caminho da casa de Jairo: "Uma mulher atormentada
por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele por trás, e tocou-lhe a orla do manto. Dizia
consigo: se eu somente tocar a sua vestimenta, serei curada. Jesus virou-se , viu-a e disse-lhe: tem confiança,
minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada instantaneamente" (Mt 9, 20-22).
Versões sinóticas de Marcos (5, 25-34), com maiores detalhes do episódio, e de Lucas (8,43-48),

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também com mais detalhes.

280. Cura da cegueira. Três episódios diferentes de cura de cegos ocorrem nos Evangelhos Sinóticos,
além de outros narrados por João.
O primeiro episódio: "Dois cegos o seguiram, gritando: Filho de David, tende piedade de nós! Jesus
entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse- lhes: Credes que eu posso fazer isso? - Sim Senhor,
responderam eles. Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé. No mesmo
instante os seus olhos se abriram" (Mt. 9, 27-30).
Segundo episódio de cura de cego, se encontra em Marcos, se é que não o mesmo narrado por Mateus,
todavia alterado:
"Chegando eles a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e suplicaram-lhe que o tocasse. Jesus tomou o cego
pela mão, levou-o para fora da aldeia. Pôs-lhe saliva nos olhos, e, impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe; vês
alguma coisa. O cego levantou os olhos e respondeu: vejo os homens como árvores que andam. Em seguida
Jesus lhe impôs as mãos nos olhos, e ele começou a ver e ficou curado, de modo que via distintamente de
longe. E mandou-o para casa, dizendo-lhe: Não entres nem mesmo na aldeia" (8, 22-26).
Terceiro episódio é referido por Lucas (18, 35-43), que não se havia referido nem ao primeiro, nem ao
segundo. Deste terceiro episódio também se ocupam Mateus (20, 29-34) e Marcos (10, 46-52). Trata-se da
cura do cego de Jericó, acontecida mais tarde.
Na versão de Mateus, talvez a mais antiga:
"Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar:
Senhor, Filho de David, tem piedade de nós. A multidão porém os repreendia para que se calassem. Mas eles
gritavam ainda mais forte: Senhor, Filho de David, tem piedade de nós! Jesus parou, chamou-os e
perguntou-lhes: Que quereis que eu faça? Senhor, que nossos olhos se abram! Jesus, cheio de compaixão,
tocou-lhes os olhos. Instantaneamente recobraram a vista e puseram- se a segui-lo" (Mt. 20, 29-34).
Na versão de Marcos aparece o nome do cego, - Bartimeu. Não varia a versão de Lucas, mas sem dar
nome ao cego.
João narra: "Caminhando, viu Jesus um cego de nascença. Os seus discípulos indagaram dele: Mestre,
quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem este pecou, nem seus
pais, mas é necessário ;que nele se manifestem as obras de Deus. Enquanto for dia, cumpre- me terminar as
obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar. Por isso, enquanto estou no
mundo, sou a luz do mundo.
Dito isto, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego.
Depois lhe disse: Vai, lava-te na piscina de Siloé (esta palavra significa Emissário). O cego foi, lavou-se e
voltou com vista" (Jo. 9,1-7).

282. Milagres de Jesus. Não é possível imaginar a história da vida pública de Jesus, sem os milagres,
que a respeito os Evangelhos relatam. As curas, além do seu caráter próprio, são dadas também como
milagres. Todavia também se apresentam os milagres contundentes, como ações extraordinárias em que o
espetacular é a contrariedade às leis ordinárias da natureza.
São os milagres apresentados como capazes de mostrar que Deus está acima das forças da natureza.
Desta sorte, dentro de uma certa sintaxe, eles provam a presença de Deus e ainda a autoridade de quem se
apresenta em nome de Deus, para dirigir e ensinar.
As curas podem ser milagrosas, todavia nesta área os fenômenos são mais difíceis de serem avaliados.
O milagre deve ter coerência.
Epistemologicamente, importa provar se o milagre efetivamente ocorreu. No caso dos Evangelhos, o
Evangelista relator deverá ser veraz subjetivamente (na intenção) e objetivamente (na capacidade de avaliar o
fenômeno de que trata).

283. São milagres atribuídos a Jesus:

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Tempestade acalmada (Mt.8, 23-27); Mc 4, 35-41; Lc 8, 22-25).


Caminhada sobre as ondas (Mt 14, 22-32; Mc 6, 45-56; Jo. 6, 16-21);
Multiplicação dos pães (Mt 14, 14-21) (Mc 6, 30-44) ((Lc 9, 10-17);
2-a. multiplicação dos pães (Mt 15, 29-38; Mc 7, 31-37; 8, 1-10);
Figueira amaldiçoada (Mt.21, 18-20; Mc 11,12-14).
As bodas de Caná (Jo 2, 1-11).

284. Milagres à hora da crucificação. Curiosos fenômenos, dados com o caráter de milagre, teriam
ocorrido por ocasião da morte de Jesus:
"Desde a hora sexta até a hora nona cobriu-se toda a terra de trevas" (Mt. 27, 45).
"E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo. A terra tremeu. Fenderam-se as
rochas. Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos ;justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas,
entraram na cidade santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.
O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo
que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente este homem era Filho de
Deus" (Mt. 27, 51-55).
O sinótico Marcos se omite sobre a ressurreição de mortos, limitando-se ao seguinte:
"Chegada a hora sexta, se cobriu toda a terra de trevas até à hora nona" (Mc. 15,33). "Então Jesus,
dando um grande brado, expirou. E o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo" (Mc. 15,
37-37).
Lucas modera-se como Marcos, todavia com uma referência especial ao Sol: "Era então quase a hora
sexta e toda a terra ficou coberta de trevas até a hora nona. Escureceu-se também o sol: e rasgou-se pelo
meio o véu do templo (Lc. 23, 44-45).
Afirmou-se também "houve um violento tremor de terra" quando o anjo rolou a pedra da sepultura de
Jesus (Mt.28, 2).
O Evangelho de João omitiu-se totalmente sobre as trevas, sobre as pedras, sobre o sol, sobre os
mortos ressuretos. Afinal, quanto de milagroso para ressurreição de mortos, se os corpos corrompidos já estão
diluídos e os elementos dispersos? Teriam eles continuado ressurgido? Teriam retornado à sepultura? Que
verdade teria tudo isso? Por que somente Mateus se refere a um fato tão contundente?

286. É difícil opinar sobre os fenômenos extraordinários mencionados como se tivessem ocorrido por
ocasião da morte de Jesus.
De uma parte, para terem ocorrido efetivamente, parece não terem sido proporcionais com os seus
efeitos.
De outra parte, para serem dados como lendários, esta suposição parece comprometer por demais a
veracidade objetiva de todas as narrações mais contundentes dos Evangelhos.
Os fenômenos descritos se apresentam com uma incoerência interna difícil de aceitar, porque eles são
de tal porte, que não deveriam ter passado despercebidos do grande público, com efeitos eficazes sobre a
opinião a propósito de Jesus.
Além disso, aqueles fenômenos não são apresentados como isolados. Outros mais como o de
Pentecostes, são igualmente por demais extraordinários, para terem ficado sem efeito maior, se fossem
verdadeiros.

288. A ressurreição de Jesus, como é apresentada pelos evangelistas, deve comprovar a missão
mesma de Jesus. Não se alinha na mesma sequência dos demais milagres. O assunto é tratado com atenção
especial pela fé cristã.
A prova da ressurreição de Jesus seria fácil, se ele houvesse passado a viver normalmente entre a
população, como anteriormente à morte. Mas isto não aconteceu.
Assevera-se a ressurreição de Jesus à base dos que afirmam que encontraram vazia a sepultura e

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sobretudo à base de aparições.


Narrou Mateus: Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia semana, Maria Madalena e a
outra Maria foram ver o túmulo. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do
céu rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a
neve. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor.
Mas o anjo disse à mulheres: Não temais. Sei que procurais a Jesus que foi crucificado. Não está aqui;
ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou. Ide depressa e dizei aos discípulos que ele
ressuscitou dos mortos. Ele vos precede na Galiléia. Lá o haveis de rever, eu vô-lo disse.
Elas se afastaram prontamente do túmulo com certo receio, mas ao mesmo tempo com alegria, e
correram a dar a boa nova aos discípulos. Neste momento Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes:
Salve! Aproximaram-se elas, e prostadas diante dele, beijaram-lhe os pés. Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide
dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia; pois é lá que eles me verão" (Mt 28, 1-10).
Os sinóticos Marcos (16, 1-11) e Lucas (24, 1-12) são mais breves, com algumas variantes narrativas,
sem se referir ao terremoto.
João, diferentemente, inclui a si mesmo e a Pedro na ida ao sepulcro (20, 1- 18).

289. Aparição de Jesus na Galiléia. "Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que
Jesus lhes tinha designado. Quando o viram, adoraram-no. Alguns hesitavam ainda. Mas Jesus
aproximando-se, lhes disse: Toda a autoridade me foi das no céu e na terra. Ides, pois ensinai a todas as
nações: batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos
prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt.28, 16-20).

§ 3. Conflito com o Sinédrio e morte de Jesus. 4251y292.

293. A peregrinação ao templo de Jerusalém. De todas as partes do Império afluíam mais ou menos
uma vez ao ano os devotos judeus. E assim também Jesus visitou várias vezes Jerusalém, por ocasião das
festas religiosas.
O culto do templo de Jerusalém a esta época chegara a ser deslumbrante. O templo reconstruído era
mesmo uma das maravilhas da região.
As contribuições obrigatórias dos peregrinos para a manutenção do culto somente podiam ser em
moeda do templo. Em consequência ganhavam os cambistas. E quem estabelecesse uma banca na área do
templo pagava aos sacerdotes uma porcentagem. Esta situação oferecia oportunidades para críticas do povo.
Também Jesus foi um destes críticos e foi à ação, se for válida a narrativa com caráter de valentia:
"Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as
mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas, e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma
casa de oração (Isaías 56,7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jer 7,11)". Com variantes, também se
referem à cena, os sinóticos Marcos (11, 15-19) e Lucas, brevemente (19, 45-46). Finalmente ainda João (2,
13-22).
A pregação populista de Jesus despeitava certamente aos saduceus, além das diferenças doutrinárias
messianistas, crença nos profetas, nos anjos e demônios, na vinda eminente do fim do mundo.
Pregou em diferentes ajuntamentos populares, ora aclamado pelos seus, ora contestado pelos que se
lhe opunham.
As inovações doutrinárias de Jesus provocaram o conflito com a fé judaica vigente. Desagradou
também a sua linguagem, por vezes populista, em favor dos desprotegidos, outras vezes agressiva,
condenando fariseus e saduceus. Assim foi que o assunto passou ao exame do Sinédrio.

294. O Sinédrio. Dirigia-se a comunidade judaica por um Conselho, denominado Sinédrio (ou
Sinedrim), dotado de autoridade para julgar em questões religiosas e mesmo civis.
Dispunha de tribunais locais, constituídos de 3 a 23 membros, conforme o tamanho da cidade, além do

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Sinédio Nacional, ou Grande Conselho dos Judeus.


Com sede em Jerusalém, o Sinédrio funcionava geralmente no Templo, mas também na residência do
Sumo Sacerdote, o qual usualmente era o seu Presidente.
Constituído o Sinédrio Nacional de 72 membros, derivavam estes de três grupos, - sacerdotes, escribas,
anciões. Ideologicamente predominavam os saduceus, a classe menos messianista do Judaísmo, e que
compartilhava com a cultura helênica.
Era sobretudo forte o poder teocrático dos sacerdotes junto aos de sua nação, em vista da falta do
poder civil judaico, substituído pela ocupação romana. Este poder se manifestava sobretudo através do
Sinédrio. Passado ao Sinédrio a questão suscitada por Jesus, este acabou sendo condenado e entregue à
autoridade romana.
As autoridades romanas admitiam a ação do Sinédrio e assistiam mesmo às suas reuniões, de sorte a
haver uma espécie de governo conjunto. Também as autoridades civis, acatando as decisões dos juízos do
Sinédrio, as executavam. Todavia, não tinha o Sinédrio poder sobre a vida do cidadão, o que somente cabia à
autoridade romana.

295. O processo do sinédrio. Sem maiores detalhes técnicos, o julgamento de Jesus pelo sinédrio foi
descrito pelos três Evangelhos sinóticos. Referiu Mateus:
"Os que haviam prendido a Jesus, levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos
os escribas e os anciãos do povo. Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se
junto aos criados para ver como terminaria aquilo.
Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um falso testemunho contra
Jesus a fim de o levarem à morte. Mas não o conseguiram, embora se apresentassem muitas falsas
testemunhas.
Por fim, apresentaram-se duas testemunhas que disseram: "Este homem disse: posso destruir o templo
de Deus e reedificá-lo em três dias".
Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra
ti?"
Jesus entretanto permanecia calado. Disse-lhe o sumo sacerdote: Por Deus vivo, conjuro-te que nos
diga: se és o Cristo, o Filho de Deus?"
Jesus respondeu: "Sim. Além disso eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à
direita do Todo-Poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu."
À estas palavras, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, exclamando: "Que necessidade temos ainda
de testemunhas? Acabaste de ouvir a blasfêmia! Qual vosso parecer?"
Eles responderam: "Merece a morte!"
Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas, dizendo: Adivinha, ó
Cristo quem te bateu?" (Mt 26, 577-67).
Pouco adiante: "E chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo
reuniram-se em Conselho para entregarem Jesus à morte. Ligaram-no e o levaram ao governador Pilatos" (Mt
27, 1-2).
Similar é a descrição de Marcos(Mc. 14,53-65) (Mc. 15,1).
Lucas, ainda que mais breve, deslocou a atenção maior para a reunião do amanhecer.
"Prenderam-no, e o conduziram à casa do príncipe dos sacerdotes" (Lc 22, 54).
Depois de se referir Lucas a Pedro, continua:
"Entretanto , os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. Cobriam-lhe o
rosto e diziam: "Adivinha quem te bateu!" E injuriavam-no ainda de outros modos.
Ao amanhecer, reuniram-se os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas e mandaram
trazer Jesus ao seu conselho. Perguntaram-lhe: "Dize-nos se és o Cristo!"
Respondeu-lhe ele: "Se eu vô-lo disser, não me acreditareis, e se vos fizer qualquer pergunta, não me
respondereis. Mas doravante o Filho do homem estará sentado à direita do poder de Deus.
Então perguntaram todos: "Logo tu és o Filho de Deus?"
Respondeu: "Sim, eu sou".

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Eles então exclamaram: "Temos nós ainda necessidade de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos da sua
boca" (Lc.22, 63-71).
Depois de colhidos os detalhes mais ou menos iguais dos três Evangelhos Sinóticos sobre a ação do
Sinédrio no processo movido contra Jesus, cabe ainda atender ao que informou o texto de João. Apesar de
muito breve, não procedeu com o mesmo roteiro:
"Então a corte, e tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus e o ataram.
Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
Caifás foi quem dera aos judeu o conselho: "Convém que um só homem morra em lugar do povo" (Jo
18, 13-14).
"O sumo sacerdote indagou de Jesus a cerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
Jesus respondeu-lhe: "Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem
os judeus, e nada falei às ocultas. Por que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse.
Estes sabem o que ensinei."
A estas palavras um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: "É assim que
respondes ao sumo sacerdote?
Replicou-lhe Jesus: "Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?"
Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás" (Jo 18, 19-24). Depois de nada dizer sobre o que
sucedeu diante do sumo sacerdote, apenas aduziu:
"Da casa de Caifás conduziram Jesus ao Pretório. Era de manhã cedo" (Jo 18, 28).
O conteúdo das respostas de Jesus é uma nítida convicção escatológica e messianista. Ora, é sabido
que a moderação doutrinária dos saduceus não admitia estes pontos de vista, e os consideravam
inconvenientes para o exercício de um bom relacionamento com os romanos.

296. Diante de Pilatos. A diplomacia romana tratava com cuidado as exacerbações religiosas dos
judeus, ainda que não raro reagisse violentamente aos atos dos ativistas (vd).
Assim é que Pilatos chegou a negociar por ocasião da páscoa a libertação de um preso, à escolha dos
judeus. Se a preferência popular recaiu sobre Barrabás, foi certamente porque fora um herói ativista da causa
nacional dos judeus, e por isso mesmo chamado de malfeitor pela interpretação oficial romana.
Conforme já advertido, a condenação à morte não era facultada ao poder sacerdotal judeu, ainda que
ele fosse prevista pelo texto bíblico. Mas os romanos podiam condenar e o faziam facilmente com referência
aos conspiradores. Assim eram mortos muitos patriotas da seita dos zelotas, a título da ladrões e assaltantes.
Barrabás talvez fosse um desses patriotas, razão porque o povo o aplaudiu, preferindo-o a Jesus.
"Jesus compareceu diante do Governador, que o interroga: És o Rei dos Judeus? Sim!, respondeu-lhe
Jesus, Ele porém nada respondia às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos.
Perguntou-lhe Pilatos: Não ouves todos os testemunhos que levantam contra ti? Mas para grande
admiração do Governador, não quis responder a nenhuma acusação.
Era costume que o Governador soltasse um preso a pedido do povo em cada festa de Páscoa. Ora,
havia naquela ocasião um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: Qual
quereis que eu vos solte, Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo? (Ele sabia que tinham entregue Jesus por
Inveja.
Enquanto estava sentado no tribunal, a sua mulher lhe mandou dizer: Nada faças a esse justo. Fui hoje
atormentada por um sonho que lhe diz respeito.
Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram ao povo que pedisse a liberdade de
Barrabás, e fizesse morrer Jesus. O Governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que vos solte?
Responderam: Barrabás!
Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo?
Todos responderam, seja crucificado!
O Governador tornou a pergunta: Mas que mal fez ele?
E gritavam ainda mais forte: Seja crucificado.
Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem
água, e lavou as mãos diante do povo, e disse: Sou inocente do sangue deste homem! Isto é lá convosco.

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E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!
Libertou então Barrabás e mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado."(Mt 27, 11-26).
O sinótico Marcos (15, 1-15) foi mais breve, enquanto Lucas mais detalhado (23, 1-23).
Finalmente o Evangelho isolado de João (18, 28 - 19, 16) faz uma descrição bastante objetiva, na qual
Jesus responde às indagações de Pilatos, esclarecendo-o com a frase, "o meu reino não é deste mundo" (Jo
18, 36)

298. O Calvário era uma pequena barranca junto aos muros de Jerusalém não mais alta do que estas
pequenas colinas sobre as quais hoje se costumam erguer os templos.
Nesta barranca morreu aquele que, na semana da Páscoa do ano 30, contrariou aos saduceus do
Sinédrio, os quais, por obra de uma trama de efeito muito rápido, o condenaram e o fizeram crucificar, sem
que do fato ficasse sinal na documentação contemporânea.

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