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Pós-Graduação

MBA EM GESTÃO AMBIENTAL

Disciplina

Legislação e Política Ambiental

Prof. Dr. Paulo de Tarso Lara Pires

2017

Programa de Educação Continuada em


Ciências Agrárias (PECCA)
INTRODUÇÃO

A humanidade atravessa uma fase de transição e


luta para ultrapassar obstáculos criados pela civilização
contemporânea. A descoberta de novas tecnologias leva o
homem a desencadear, principalmente a partir dos séculos
XIX e XX, um intenso processo de ocupação territorial, de
uso desordenado dos recursos naturais e destruição de
áreas verdes.
Apesar da reconhecida importância do meio
ambiente e das fortes pressões de movimentos
ambientalistas nacionais e internacionais, no Brasil, os
remanescentes de florestas foram e prosseguem sendo
devastados. Este processo, que ocorreu de forma intensa na
Região Sul e Sudeste do País, teve seu auge na segunda
metade do século passado, e segue indomável na região
amazônica. Tendo como bandeira a abertura de novas
fronteiras agrícolas, a geração de novos empregos e o
desenvolvimento social, espécies florestais preciosas vêm
sendo dizimadas.
As dificuldades econômicas e sociais do País soma-
se a dimensão territorial como fator dificultador da
fiscalização e do estabelecimento de uma política nacional
de desenvolvimento florestal. A diversidade de tipologias
florestais deve ser também considerada e, apesar do pacto
federativo, que indubitavelmente deve ser respeitado, a
autonomia dos Estados e municípios, como entes da
Federação, deve ser estimulada, possibilitando a criação de
políticas próprias, adaptadas às realidades locais e às
características diferenciadas de cada bioma.
Apreciando a exuberância da Floresta Amazônica,
passando pela resistente caatinga e chegando à rica
biodiversidade da Mata Atlântica, pode-se começar a
aquilatar a heterogeneidade dos ecossistemas brasileiros.
Dentre eles, o Bioma Florestal com Araucária destaca-se por
suas peculiares espécies e riqueza de recursos madeireiros.
As florestas nacionais são fundamentais, tanto pela
importância econômica, com vultosos recursos gerados pela
madeira e outros produtos da floresta, quanto pelo vínculo
afetivo, incontestável para o seu povo.
É fato notório que os instrumentos de repressão e
coerção têm se mostrado insuficientes para a proteção dos
bens ambientais e para a alteração do quadro ambiental
atual. Apesar da severa legislação florestal, a pressão sobre
os últimos remanescentes florestais ainda é elevada.
Percebe-se, então, que uma eficiência maior poderia ser
conseguida mediante a agregação de novos instrumentos
legais e de política, como incentivos fiscais e criação de
linhas especiais de crédito.
Um grande desafio se estabelece na busca da
criação de um programa de gestão ambiental para o País,
que vislumbre a conservação e a recuperação dos
ambientes, sem onerar de forma excessiva a região de
influência, nem refrear o crescimento econômico.
A EXPRESSÃO “MEIO AMBIENTE”

A definição legal de meio ambiente surgiu com o


advento da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente,
segundo a qual, o meio ambiente é “o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas” (art. 3º).
A expressão Meio Ambiente não é uma expressão
jurídica propriamente dita, mas sim, de outras ciências,
notadamente das ciências naturais ou biológicas, da qual o
Direito apropriou-se, como faz com muitos outros termos.
O meio, conforme léxicos consagrados, como o de
Caldas Aulete1, consiste no ambiente em que se realizam
certos fenômenos. A palavra ambiente indica o lugar, o sítio,
o recinto, o espaço que envolve os seres vivos ou as coisas.

Redundante, portanto, a expressão meio ambiente,


uma vez que o ambiente já inclui a noção de meio. De
qualquer forma, trata-se de expressão consagrada na língua
portuguesa, pacificamente utilizada pela doutrina, lei e
jurisprudência de nosso país que, amiúde, falam em meio
ambiente, em vez de ambiente apenas.

1
CALDAS AULETE, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa
(sic), v. IV, Rio de Janeiro, Delta, 1964, p. 3227.
A esse fenômeno se chama transposição, e ocorre
toda vez que a Ciência Jurídica toma determinados fatos da
realidade (recortes da realidade) natural ou social, e
juridiciza, fazendo incidir normas de valor ou desvalor,
impondo sanções ou atribuindo efeito jurídico criador,
modificador ou extintivo de direitos.

Em sentido estrito, meio ambiente é o patrimônio


natural, a natureza, considerada estática e dinamicamente,
isto é, o conjunto de todos os seres vivos em suas relações
entre si e com os elementos componentes do planeta (crosta
terrestre a atmosfera). Juridicamente falando, quando o
direito recepcionou a preocupação ambiental, estabelecendo
valores jurídico-ambientais e estabelecendo sanções para
toda pessoa física ou jurídica que ofendesse tais regras,
tratou mais amplamente de meio ambiente abrangendo não
só a natureza ou meio ambiente natural mas também bens
criados, construídos pela humanidade.

O meio ambiente é uno e indivisível, porém,


didaticamente, pode ser dividido em uma taxonomia que
facilita seu entendimento. A divisão do meio ambiente se dá
em: meio ambiente natural; meio ambiente laboral ou do
trabalho; meio ambiente artificial e; meio ambiente cultural.
Meio ambiente Natural: que é próprio da natureza.
Compreende os recursos naturais de forma ampla, tais
como: a flora, fauna, ar, água, solo.
Meio ambiente laboral ou do trabalho: trata da saúde,
vida e bem estar do trabalhador e da população
circunvizinha do ambiente de trabalho (art. 200, VIII,
CRFB/88).

Meio ambiente artificial: construído ou urbano. Que


tem interferência humana. Ex: cidades, edificações,
represas.

Meio ambiente cultural: o que se protege não é o bem


em si, mas seu valor. Patrimônio cultural (art. 216 CF), bens
de natureza material (monumentos, pinturas, bens
tombados, patrimônio arquitetônico, etc) e imaterial (formas
de expressão, poesia, música).
Quando se fala em Direito Ambiental, a primeira
pergunta a exigir resposta é se, realmente, existe um ramo
autônomo dentro da Ciência Jurídica a que se possa
denominar Direito Ambiental.

Apesar de não existir um Código de Direito Ambiental


ou uma Consolidação das Leis Ambientais e das normas
ambientais guardarem uma relação muito íntima com outros
ramos consolidados do direito, como é o caso do Direito
Administrativo, a tendência é da aceitação cada vez maior
de um direito novo, com conceito, método e princípios
próprios.
Não se pode confundir Legislação Ambiental com
Direito Ambiental, pois, quando se trata de um Direito (Civil,
Comercial etc.) está a se cuidar de algo muito maior que a
legislação sobre um determinado assunto.

Admitir-se que existe um Direito Ambiental exige, no


mínimo, que se conceitue e se apresentem os princípios
norteadores da aplicação da legislação ambiental, dentro de
uma concepção sistêmica e organizada.
Pode-se conceituar Direito Ambiental como: “conjunto
de princípios, institutos e normas sistematizadas para
disciplinar o comportamento humano, objetivando proteger o
meio ambiente”.
Relativamente à legislação, podem-se mencionar a
legislação ambiental propriamente dita, como por exemplo a
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) e a
legislação com repercussão ambiental, a exemplo da Nova
Lei Florestal Brasileira2 (Lei 12.651/12).

2
Ainda que se tenha consagrado o uso do termo “Código Florestal”, desde a
edição de sua primeira versão em 1934, o atual diploma legal, sancionado em
2012, não usou esta terminologia. Assim, nesta obra será adotada a nomenclatura
“Nova Lei Florestal”.
PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

a) Princípio do Desenvolvimento Sustentável: o


princípio do desenvolvimento sustentável é basilar à medida
que prega que todo aquele que desenvolve atividades
produtivas faze-lo-á buscando atender às necessidades do
presente sem comprometer o direito das gerações futuras de
fruir e usufruir dos recursos naturais.
b) Princípio da Precaução: quando não houver
domínio técnico e científico quanto ao impacto ambiental de
um empreendimento, este não deve ser aprovado.
c) Princípio da Prevenção: este verdadeiramente um
dos mais importante do ordenamento jurídico ambiental,
visto que parte do pressuposto incontestável de que a
prevenção é o grande objetivo de todas as normas
ambientais, pois, uma vez desequilibrado o meio ambiente, a
reparação ou a recomposição é, na maior parte das vezes,
difícil ou impossível. É aplicado quando há conhecimento
científico suficiente a respeito do risco ou do potencial
danoso ambiental, devendo o poder público exigir as medida
para conter ou minimizar tal risco/dano.
d) Princípio da Cooperação: significa dizer que todos,
o Estado e a Sociedade, através de seus entes e
organismos, devem colaborar para a implementação da
legislação ambiental, pois este não é só papel do governo ou
das autoridades, mas de cada um e de todos nós.

e) Princípio da Publicidade: importa afirmar que não


se podem admitir segredos em questões ambientais, pois
afetam a vida de todos. Tudo deve ser feito, pelo Poder
Público principalmente, com a maior transparência possível,
de modo a permitir a participação na discussão dos projetos
e problemas dos cidadãos de um modo geral. Os maiores
exemplos de aplicação deste princípio são as audiências
públicas e as consultas públicas.
f) Princípio da Participação Popular: toda a sociedade
deve participar na preservação ambiental, pois os problemas
ambientais são globais. Os maiores exemplos da aplicação
deste princípio são as ações civis públicas, ações populares
e ONG’s.

g) Princípio In dubio pro natura: é uma regra


fundamental de interpretação da legislação ambiental, que
leva para a preponderância do interesse maior da sociedade
em detrimento do interesse individual e menor do
empreendedor ou de um dado projeto.

h) Princípio do Protetor Beneficiário: é o


reconhecimento jurídico da sociedade ao premiar àqueles
que preservam o meio ambiente e adotam técnicas
sustentáveis para o uso e aproveitamento dos recursos
naturais, como uma contrapartida da sociedade, que pode
ou não ser monetária, pelos serviços prestados na
conservação do meio ambiente.
i) Princípio da Função Socioambiental da Propriedade:
se caracteriza não só pela superação da concepção
absolutista do direito de propriedade comum conjunto de
poderes que permitia ao dono da terra fazer o que
bem entendesse inclusive apropriar-se e destruir a natureza,
mas acima de tudo pelo entrelaçamento do direito de
propriedade com o dever de desempenhar a função social
da coisa, utilizando-a de acordo com o interesse coletivo,
que por sua vez se concretiza com a função ambiental. Foi
consagrado no Direito brasileiro pela Constituição de 1988.
j) Usuário-pagador: é o princípio segundo o qual todo
aquele que fizer uso econômico de recursos naturais, que
integram o patrimônio social, deverá remunerar a sociedade
titular destes bens.

k) Princípio do Poluidor-Pagador: apesar de ser um


princípio lógico, pois quem estraga deve consertar, às vezes
não é bem aceito na prática, ficando para o Estado a
obrigação de recuperar, para a sociedade o prejuízo, e para
o mau empreendedor somente o lucro.
MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

O Legislador Constituinte de 1988 dedicou especial


atenção ao tema, reservando um capítulo do Texto
Constitucional para tratar exclusivamente do Meio Ambiente.
O Capítulo VI do Título VIII, no art. 225, cuja transcrição é
obrigatória, diz:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”

O primeiro aspecto a se destacar é a titularidade


difusa do direito ao ambiente equilibrado, isto é, um direito
da sociedade e de cada um em particular, legitimando-se
para sua defesa as associações legalmente constituídas e
com este objetivo e o Ministério Público, instituição
encarregada da advocacia da sociedade.
Em outras palavras, tudo que possa afetar o equilíbrio
ambiental é de interesse de todos e tudo que o Estado faz
ou deixa de fazer nesta seara deve ser de conhecimento
geral. Este também é o fundamento para se criminalizar as
condutas que atentem contra este valor fundamental.
Ao dizer que o meio ambiente é bem de uso comum
do povoa Constituição usa antiga categoria de bens para
significar patrimônio social, ou seja, valores que não
pertencem ao Estado e nem aos particulares isoladamente.
É o novo conceito de direito transindividual que vem
consagrado neste Art. 225.

A Constituição Brasileira de 1988 inaugura um novo


patamar de proteção da vida, eis que todas as Cartas
anteriores asseguravam proteção quantitativa e esta garante
qualidade de vida. Assim se conclui da leitura sistêmica do
Art. 5º, caput e Art. 225, caput.

O máximo valor do sistema jurídico brasileiro já não é


mais a vida, mas a sadia qualidade de vida, que por sua vez
requer um ambiente saudável. Diante deste valor todos os
demais integrantes da escala axiológica devem ceder, isto é,
em conflitos de interesses envolvendo questões econômicas
e ambientais deve prevalecer a proteção ao suporte da vida.

Trata-se de direito fundamental porque se não for


garantido põe em risco as bases que sustentam a vida
humana e todas as demais formas de vida do planeta. Cria-
se uma rede de proteção da cadeia biológica que contem
inclusive a vida humana.

O Brasil passou a tutelar o equilíbrio ambiental


visando com essa proteção meio atingir a meta ultima de
assegurar a todos sadia qualidade de vida. Há uma
correlação direta entre meio ambiente e saúde publica e
individual, pilares que podem garantir qualidade de vida.
A expressão Poder Público, contida na cabeça do Art.
225, se amolda à abrangência do papel do Estado nesta
nova ordem constitucional, pois inclui todos os poderes e
todos os entes da federação e até mesmo a Administração
Pública indireta formada pelas Autarquias e outras
entidades.

O vocábulo coletividade não é o mais adequado e


melhor seria que o constituinte empregasse sociedade, que
é mais atual e tem o sentido difuso atribuído a este direito
maiúsculo. A melhor explicação para usar-se coletividade
está em aproximar-se da tutela coletiva, inaugurada três
anos antes da promulgação da Constituição de 1988 pela Lei
da Ação Civil Pública – Lei 7.347/85.
Por fim o Art. 225 se refere ao direito das futuras
gerações, isto é, àqueles que ainda não nasceram, mas que
devem ser respeitados em seu direito de ter as bases
ambientais que sustentam a vida. Ao tempo que se
asseguram direitos para a presente geração se impõem a
esta o dever de não esgotar os recursos ambientais
necessários àquela.
É o princípio da transgeneracionalidade do Direito
Ambiental aqui consagrado.

COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS

Trata-se de fazer uma análise das competências


ambientais, conforme delineadas na Constituição Brasileira
de 1988 e na recente Lei Complementar 140/11, com ênfase
na competência administrativa ou político-administrativa, ou
ainda denominada por alguns doutrinadores de executiva.

Ainda que pródiga ao tratar do meio ambiente,


consagrando um Capítulo próprio ao tema, a Constituição
Brasileira enseja margem para diversos conflitos federativos
ao prever que todos os entes federativos – União, Estados e
Municípios – podem exercer todas as competências ao
mesmo tempo.

Destarte, há três esferas legislando sobre meio


ambiente ao mesmo tempo, bem como aplicando a lei. A
competência para julgar, por sua vez, está repartida entre a
União (Justiça Federal) e os Estados (Justiça Estadual).
No campo administrativo, a competência é comum
para a implementação desta complexa atividade de gestão e
proteção ambiental, que implica no exercício do poder de
policia nesta seara, partindo da fiscalização e aplicação das
sanções correspondentes às infrações constatadas e
chegando ao intrincado processo de licenciamento.
A raiz destes conflitos está na regra constitucional
insculpida no Art. 23, consagradora da competência
denominada comum e que significa a horizontalização de
tais atribuições nos três níveis da Federação e também em
razão de conflitos existentes entre a legislação que vem
sendo editada pelos Estados versando sobre meio ambiente
e as leis federais editadas antes ou após as estaduais.
Existem três tipos ou espécies de competência, quais
sejam:
- Legislativa (para fazer a lei)

- Administrativa ou Executiva (para executar a lei)

- Judicial (para julgar os conflitos de interesses


decorrentes da lei)

A seguir será analisada cada uma dessas espécies.

Privativa da União: significa que em determinadas


matérias ou assuntos somente a União, através do
Congresso Nacional, pode editar leis. Está disciplinada no
Art. 22 da Constituição Brasileira, a seguir transcrito naquilo
que interessa ao meio ambiente:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
[...]
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e
radiodifusão;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima,
aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIV - populações indígenas;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias
militares e corpos de bombeiros militares;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas
as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI,
e para as empresas públicas e sociedades de economia
mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os
Estados a legislar sobre questões específicas das matérias
relacionadas neste artigo.

Define-se competência concorrente como a


possibilidade de dois ou mais entes legislarem ao mesmo
tempo sobre as mesmas matérias, porém obedecendo ao
princípio da hierarquia das leis. No campo ambiental significa
que tanto a União como os Estados e Distrito Federal pode
legislar sobre os assuntos especificados nos incisos do Art.
24 da Constituição Brasileira, a seguir transcritos:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico,
turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino e desporto;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de
pequenas causas;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;

Competência Local ou Municipal: aos Municípios, o


Art. 30, inciso I, da Constituição Brasileira lhes confere
competência privativa para legislar sobre assuntos de
interesse local, ou seja, sobre as suas especificidades ou
particularidades, conforme se pode conferir a seguir:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
[...]

Mas onde os Municípios têm grande contribuição a


prestar é no âmbito da competência comum (Arts. 23 e 225,
§§ 1º, 2°, 3° e 5°), especialmente em matéria ambiental,
organizando e executando os seus próprios serviços, com
respeito à legislação federal e estadual, integrados ao
Sistema Nacional do Meio Ambiente instituído pela Lei
federal, 6.938.

Dentro dessa competência comum, o art. 30 da CF


ainda prevê três importantes atribuições municipais: serviços
de atendimento à saúde (inciso VII), ordenando do uso do
solo urbano (inciso VIII) e proteção do patrimônio histórico-
cultural local (in. IX).
A competência administrativa comum: é exercida em
comum pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
nos termos do Art. 23 da Constituição Brasileira, a seguir
transcrito:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e
garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de
valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou
cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e
à ciência;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o
abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a
melhoria das condições habitacionais e de saneamento
básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de
marginalização, promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e
minerais em seus territórios;
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para
a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

Isto significa que todos os entes da Federação


brasileira estão legitimados para atuar administrativamente,
exercendo o Poder de Polícia Ambiental, que envolve as
atividades de licenciamento e fiscalização ambiental, entre
outras.
Diante desta previsão constitucional que não
estabelece o que cabe a União, aos Estados e aos
Municípios originaram-se inúmeros conflitos de atuação,
sobreposição e omissão. Em algumas situações mais de um
órgão entrava em ação e em outros casos nenhum agia,
gerando confusão e insegurança jurídica. Para resolver
referidos conflitos, evitar desgastes e disciplinar a atuação
de cada nível da federação foi editadas a Lei Complementar
nº 140, de 8 de dezembro de 2011.
O Art. 6º desse diploma prevê ações de cooperação
entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
com o propósito de garantir o desenvolvimento sustentável,
harmonizando e integrando todas as políticas
governamentais, bem como atingir os objetivos apontados
no Art. 3º, quais sejam:

a) proteger, defender e conservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado, promovendo gestão
descentralizada, democrática e eficiente;

b) garantir o equilíbrio do desenvolvimento


socioeconômico com a proteção do meio ambiente,
observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação
da pobreza e a redução das desigualdades sociais e
regionais;
c) harmonizar as políticas e ações administrativas
para evitar a sobreposição de atuação entre os entes
federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e
garantir uma atuação administrativa eficiente;

d) garantir a uniformidade da política ambiental para


todo o País, respeitadas as peculiaridades regionais e
locais.

Na sequencia a Lei Complementar nº 140/2011, por


sua vez, buscou distribuir as ações administrativas de forma
taxativa entre a União, os Estados e os Municípios, conforme
dispõem as regras contidas nos artigos 7º, 8º e 9º a seguir
analisados.

Da análise do novo diploma infere-se que o legislador


não usou de um critério único, mas de uma combinação de
critérios, com preponderância da abrangência geográfica dos
prováveis impactos do empreendimento submetido ao
licenciamento ambiental.
Surge uma regra básica e que se reveste de
incontestável lógica jurídica: quem licencia fiscaliza, isto é, a
competência para fiscalizar é do ente publico licenciador.
Este critério, sem dúvida alguma, aperfeiçoa o jogo das
competências e resolve significativa parte das dúvidas e
conflitos que pairavam neste campo.

Porém, nem tudo está equacionado, pois há diversas


atividades, obras e serviços sujeitos ao controle ambiental e
nem sempre passaram pelo licenciamento ambiental.

Com a edição da L.C. 140/11 foram fixadas diretrizes


básicas e gerais definindo a missão da União e seus órgãos
na execução da Política Nacional do Meio Ambiente,
conforme se pode auferir da redação do Art. 7º.
Evidencia-se, de antemão, o papel supletivo da União
e a redução, ao mínimo, das hipóteses de sua intervenção
no licenciamento ambiental e outras autorizações desta
natureza.

Após relacionar diversas ações administrativas


voltadas à formulação e execução da Política Nacional do
Meio Ambiente, sempre no âmbito nacional, o citado Art. 7º
define, no inciso XIV, as hipóteses de licenciamento
ambiental a cargo do IBAMA, com a seguinte redação:

Art. 7º [...]
[...]
XIV - promover o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e
em país limítrofe;
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na
plataforma continental ou na zona econômica exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de
conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de
Proteção Ambiental (APAs);
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais
Estados;
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento
ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles
previstos no preparo e emprego das Forças Armadas,
conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de
junho de 1999;
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar,
transportar, armazenar e dispor material radioativo, em
qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em
qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder
Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite
Nacional, assegurada a participação de um membro do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e
considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento;

Os Estados, como se destacou no tópico anterior,


tiveram ampliado seu leque de atribuições na proteção e
gestão ambiental a partir da edição da LC 140/11, de modo
que terão de ampliar suas estruturas e capacidade técnica
para corresponder aos comandos do novo diploma legal.
Senão vejamos.

A situação mais evidente de ampliação da


competência administrativa estadual está na zona costeira,
isto é, cabe aos órgãos estaduais promover o licenciamento,
por exemplo, de todos os empreendimentos que venham a
se instalar no imenso litoral brasileiro, além de renovar as
licenças daqueles que já estão operando e exercer a
fiscalização preventiva e repressiva em relação aos
mesmos.
Não obstante, a LC 140/11 compensou este aumento
de atribuições dos Estados transferindo para os Municípios o
licenciamento de grande parte dos empreendimentos, isto é,
de todos aqueles cujos impactos não ultrapassem o âmbito
local, segundo se pode extrair do Art. 9º, XIV, letra a, adiante
transcrito:

Art. 9º São ações administrativas dos Municípios:


[...]
XIV - observadas as atribuições dos demais entes
federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o
licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos:
que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito
local, conforme tipologia definida pelos respectivos
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade;
[...]

No balanço final foram os Municípios os destinatários


da maior parte da tarefa de licenciar e fiscalizar, como se
verá no próximo tópico.
A LC 140/11 confirma uma tendência que vem se
observando há muito tempo: a municipalização da gestão
ambiental como melhor caminho para enfrentar e resolver os
problemas desta natureza. Esta orientação é resultante de
três vetores:
a) é no município que nascemos, crescemos e
vivemos a maior parte do tempo e neste espaço sentimos
mais os impactos decorrentes das diversas atividades
urbanas e industriais que se concentram nas cidades ou em
seu entorno (Distritos Industriais). São as populações
urbanas as mais afetadas diretamente e imediatamente
porque as fontes poluidoras estão muito próximas dos
habitantes;
b) é no município que a Administração Pública é mais
visível e próxima do cidadão, que assim, pode reclamar
imediata e diretamente aos gestores públicos encarregados
da proteção ambiental;

c) são os gestores locais aqueles que vivem mais


perto dos problemas e, portanto, conhecendo melhor a
realidade podem apresentar a resposta mais rápida e eficaz
para a população afetada.

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - PNMA

O mais importante diploma legal brasileiro na área


ambiental é, sem dúvida alguma, a Lei 6.938/81. Assim é por
uma razão muito simples: essa lei materializa a tradução
jurídica da Política Nacional do Meio Ambiente, traçada no
início dos anos oitenta como reflexo de toda uma evolução
política internacional, cujo registro histórico mais importante
é o Encontro de Nações realizado em Estocolmo no ano de
1972.

O artigo 2º da Lei trata da questão dos princípios,


dando ênfase ao desenvolvimento sustentável quando
preconiza a racionalização do uso do solo, subsolo, da água
e do ar, e a necessidade de um planejamento para o uso dos
recursos naturais.
Já na década de 80 preocupou-se o legislador com a
proteção de ecossistemas e a preservação de áreas
representativas, princípio este consagrado anos depois
através da Lei do SNUC3.

Finalmente, a educação ambiental a todos os níveis


de ensino incluindo a educação da comunidade é destacada
como um princípio inafastável para o cumprimento da
política ambiental brasileira. Infelizmente, apesar desta
antiga previsão, pouco ainda evoluiu-se em matéria de
educação ambiental em nosso País.
Na questão conceitual, a Lei da Política Nacional de
Meio Ambiente preocupo-se em detalhar termos que,
aparentemente, já estavam consagrados em nossa
sociedade. Apesar da consagração, essas definições foram
muito úteis àquele tempo considerando a necessidade de
uma abordagem técnica-legal sobre o tema, senão vejamos:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa
das características do meio ambiente;

3
Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências.
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental
resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

O SISNAMA é constituído por uma rede articulada e


descentralizada de entidades encarregadas de promover a
gestão ambiental do país. Integrando e harmonizando regras
e práticas específicas nos três níveis de governo. Importante
destacar que somente os órgãos que compõem o SISNAMA
podem exercer poder de polícia ambiental4.

Atualmente, em concordância com o artigo 6º da Lei


6.938, o SISNAMA encontra-se estruturado da seguinte
forma:

4
As polícias militares estaduais que atuam através de batalhões ambientais,
apesar de cooperarem para a proteção dos recursos naturais, não integram o
SISNAMA. Devem atuar na prevenção geral de crimes contra o meio ambiente,
mas não tem atribuição para autuar e impor sanções administrativas.
a) Órgão Superior: Conselho de Governo. Sua função
é assessorar o Presidente da República na formulação da
política nacional e diretrizes governamentais para o meio
ambiente e recursos ambientais.
b) Órgão Consultivo e Deliberativo5: Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Com formação
tripartite, é integrado por representantes dos governos, da
sociedade civil e da iniciativa privada. Tem a função de
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo,
diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente
e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o
meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à
sadia qualidade de vida. A obrigatoriedade do estudo de
impacto ambiental, por exemplo, foi estabelecida por meio
de uma resolução do CONAMA.
c) Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente –
MMA, da Amazônia Legal e dos Recursos Hídricos, em que
se transformou a antiga Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República. Com a finalidade de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a
política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para

5
Antes também exercia a função recursal, o que foi revogado pela Lei
11.941/2009.
o meio ambiente. A Lei 10.683 de 28 de maio de 2003, que
dispõe sobre a organização da Presidência da República e
dos ministérios, constituiu como área de competência do
Ministério do Meio Ambiente os seguintes assuntos:

I - política nacional do meio ambiente e dos recursos


hídricos;
II - política de preservação, conservação e utilização
sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas;
III - proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos
econômicos e sociais para a melhoria da qualidade
ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais;
IV - políticas para a integração do meio ambiente e
produção;
V - políticas e programas ambientais para a Amazônia
Legal; e
VI - zoneamento ecológico-econômico.

d) Órgãos executores:

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos


Naturais Renováveis – IBAMA. Criado em fevereiro de 1989
pela fusão de quatro órgãos então extintos: Secretaria
Especial de Meio Ambiente, Superintendência do
Desenvolvimento da Borracha, Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca e IBDF – Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal. Tem sede em Brasília e
superintendências em todos os Estados brasileiros. É uma
entidade autárquica, de regime especial, dotada de
personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira,
com a finalidade de formular, coordenar, executar e fazer a
política nacional do meio ambiente e preservação,
conservação e uso racional, fiscalização, controle e fomento
dos recursos naturais. A ele estão subordinados os parques
nacionais e outras unidades de conservação nacionais, além
de centros de pesquisa e projetos, como o TAMAR
(Tartaruga Marinha).
Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio. Trata-se de uma autarquia em
regime especial, que foi criado por meio da Lei 11.516/07.
Cabe ao Instituto executar as ações do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, podendo propor, implantar, gerir,
proteger, fiscalizar e monitorar as Unidades de Conservação
– UCs instituídas pela União. Ainda é atribuição do Instituto,
fomentar e executar programas de pesquisa, proteção,
preservação e conservação da biodiversidade e exercer o
poder de polícia ambiental para a proteção das Unidades de
Conservação Federais.

e) Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais


responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo
controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a
degradação ambiental (ex. Secretarias Estaduais do Meio
Ambiente, Conselhos Estaduais do Meio Ambiente, Agências
ambientais etc.).
f) Órgãos locais: órgãos ou entidades municipais
responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades,
nas respectivas áreas de jurisdição.

ESFERAS DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

a) CIVIL

Via de regra, a primeira sanção que o infrator da


legislação ambiental recebe é a administrativa, aplicada
pelos agentes dos órgãos ambientais no exercício do poder
de polícia, variando desde uma singular multa até a
suspensão parcial ou total da atividade lesiva ou demolição
de obra.

A aplicação de sanções administrativas decorre do


poder de polícia ambiental da Administração Pública, que
tem o poder-dever de agir diante das situações de
desrespeito à Lei ou de mero perigo de dano ao ambiente,
sempre em atividade vinculada, isto é, dentro do princípio da
legalidade.

Nesta esfera de responsabilidade ambiental, o Poder


Público age por iniciativa própria, de ofício, ou mediante
provocação ou denúncia da sociedade ou de algum cidadão
isolado.
O poder de polícia visa garantir a segurança e a
integridade ambiental, e pode ser exercido pelas três esferas
de governo: federal, estadual e municipal, através dos
órgãos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente –
SISNAMA.
Recentemente assistimos a uma profunda mudança
no campo da responsabilização administrativa ambiental no
Brasil, com a edição da Lei 9.605, de 12.02.98, nominada de
Lei de Crimes Ambientais, que dedicou o Capítulo VI
especificamente para a matéria de infrações administrativas,
e com a edição do Decreto 3.179, do dia 21.09.99,
especificando as sanções administrativas aplicáveis às
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
regulamentando nesta parte o citado Capítulo VI.

A Lei 9.605/98 dedicou um capítulo específico às


infrações administrativas, abrindo uma nova fase no
aperfeiçoamento jurídico-ambiental, pois anteriormente as
infrações e as sanções estavam previstas em diversos
diplomas legais, da forma mais esparsa possível, sem
nenhuma sistematização, dificultando extremamente a
aplicação, sem contar as contestações frequentes em
relação às infrações previstas em Resoluções, Portarias,
Circulares e outros instrumentos sem a necessária força e
autoridade da lei, ou sem falar dos disparates na fixação dos
valores de multas, que eram estabelecidas em UFIR, OTN,
ORTN, Valor de Referência e outros índices.

Para pôr fim a esta situação confusa e sistematizar as


infrações administrativas ambientais, foi encaminhado
Projeto de Lei pelo Executivo que, após muitos debates no
Congresso Nacional, resultou na Lei 9.605/98, que trata de
crimes e infrações administrativas, de forma consolidada e
orgânica, seguida do Decreto regulamentador 3.179, de
21.09.99, que, de uma vez por todas, definiu o que é
infração administrativa ambiental, especificou e sistematizou
tais infrações, classificando-as pelo bem ambiental atingido,
além de unificar o referencial de valor das multas em Real,
que podem ir de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais). Em 22 de julho
de 2008 o Decreto Regulamentador 3.179 foi revogado pelo
Decreto 6.514.

A grande maioria das infrações administrativas


corresponde às mesmas condutas consideradas crimes na
Lei 9.605/98, valendo afirmar que todo crime ambiental é, ao
mesmo tempo, uma infração administrativa, mas nem toda
infração administrativa corresponde a um crime.
O conceito de infração administrativa ambiental vem
delineado no art. 2° do Decreto regulamentador 6.514 como
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente,
repetindo exatamente a redação do art. 70 da Lei 9.605/98.

O § 1° do art. 70 da Lei dos Crimes Ambientais definiu


como autoridade competente para lavrar o auto de infração
ambiental e instaurar o processo administrativo os
funcionários de órgãos ambientais integrantes do SISNAMA,
designados para as atividades de fiscalização.

O art. 72 da Lei 9.605/98 e o art. 3º do Decreto


6.514/08 especificam as sanções aplicáveis pela
Administração Ambiental aos infratores ambientais, em
ordem crescente de gravidade da lesão, começando pela
advertência, que é uma novidade salutar, e terminando com
a sanção restritiva de direitos, num total de dez tipos de
punição, que podem ser aplicadas cumulativamente.

Para evitar conflito de atribuições e duplo


sancionamento pelo mesmo fato, o art. 76 da Lei de Crimes
Ambientais previu que o pagamento de multa imposta pelos
Estados, Municípios, Distrito Federal ou Território substitui a
multa federal na mesma hipótese de incidência. Privilegia-se,
assim, a atuação ambiental local e regional.
Finalmente, digno de nota é o estabelecimento de
regras procedimentais para a apuração da infração
administrativa ambiental, delineadas no art. 71 da Lei
9.605/98 que prevê prazos certos para oferecimento de
defesa ou impugnação (vinte dias contados da ciência da
autuação), para a autoridade competente julgar o auto de
infração (trinta dias contados da data da lavratura), para
recurso da decisão condenatória (vinte dias), e para
pagamento da multa (cinco dias) contados da data do
recebimento da notificação.
Em matéria de infrações administrativas ambientais e
sanções aplicáveis, restou revogado o art. 14 da Lei
6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
Cabe lembrar que os valores arrecadados pelos
órgãos ambientais da União em pagamento às multas por
infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do
Meio Ambiente, nos termos do art. 73 da Lei 9.605/98.
Os Estados e os Municípios também podem prever
infrações e sanções em suas respectivas legislações, com a
fixação de procedimento próprio, observadas as normas
gerais da União, revertendo aos fundos estaduais e
municipais correspondentes os valores arrecadados pelos
respectivos órgãos ambientais em pagamento de multas por
infração ambiental.

b) PENAL
A Constituição Brasileira de 1988 consagra um
Capítulo ao Meio Ambiente, e muito mais do que isso:
garante a todos os brasileiros o equilíbrio ecológico,
considerando o ambiente como bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder
Público e à Coletividade o direito-dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações, prevendo
a responsabilidade administrativa, civil e penal das pessoas
físicas e jurídicas que causarem dano ao meio ambiente.

Para regulamentar esta responsabilidade penal da


pessoa física e jurídica por lesão ao ambiente, foi editada a
Lei 9.605/98, que sistematizou e deu tratamento orgânico à
questão penal ambiental no Brasil, conforme análise a
seguir.

Como já se frisou, a responsabilização penal e


administrativa das pessoas físicas e jurídicas foi consagrada
pelo próprio Legislador constituinte no art. 225, § 3°, da
Constituição Brasileira de 1988, e, com dez anos de atraso,
edita-se a Lei 9.605/98 com o intuito de regulamentar a
norma constitucional, abrindo-se uma nova página na
repressão penal ambiental.

Assim sendo, a tutela penal ambiental no Brasil sofreu


profunda mudança com a edição da Lei 9.605, de 12.02.98,
denominada Lei de Crimes Ambientais, que, além de tratar
dos crimes, cuida também das infrações administrativas
ambientais, regulamentada neste último aspecto pelo
Decreto 6.514, de 22.07.08.

O Projeto de Lei originalmente tinha por objetivo


sistematizar as infrações administrativas e os valores das
multas aplicadas pelos órgãos ambientais integrantes do
SISNAMA, já que havia diversos diplomas legais dispondo
de forma difusa e contraditória sobre a matéria, inclusive
com valores de multa em diferentes referenciais (ORTN,
MVR, R$, Cr$ etc.). Entretanto, o Congresso Nacional
acabou optando por ir além e sistematizar também as
infrações penais.
A pretensão inicial foi no sentido de consolidar num
único diploma todos os crimes ambientais. E assim ficou dito
no art. 1° do Projeto aprovado nos seguintes termos:

“Art. 1°. As condutas e atividades lesivas ao meio ambiente são


punidas com sanções administrativas, civis e penais, na forma
estabelecida nesta Lei.
Parágrafo único. As sanções administrativas, civis e penais
poderão cumular-se, sendo independentes entre si.”

Citado artigo foi vetado pela Presidência da República


por não ter a nova Lei a abrangência que se lhe pretendeu
imprimir, pois não incluiu todas as condutas que já eram
punidas por nocivas ao meio ambiente no Código Penal e
em outros diplomas legais.

Com o veto ao art. 1°, permanecem em vigor as


normas incriminadoras anteriores, mesmo que não incluídas
na Lei 9605/98.

A referida Lei vai além de definir crimes ambientais,


pois apresenta alternativas à pena privativa de liberdade e
prevê a não-aplicação da pena, desde que o infrator
recupere o dano ou, de outra forma, pague seu débito para
com a sociedade. Trata-se de uma lei de dupla natureza:
material-penal e processual.

RECURSOS HÍDRICOS

Com a edição da Lei 9.433, de 08.01.97, as


denominadas bacias hidrográficas passaram definitivamente
e legalmente a ser tratadas como unidades de
gerenciamento hídrico, dada a importância estratégica e vital
da água na vida humana e animal e no equilíbrio ambiental,
superando-se o paradigma linear do velho Código de Águas
da década de trinta e adotando-se a proteção integral dos
recursos hídricos como elemento indissociável de garantia
da vida sobre a terra.
A Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, institui a
Política Nacional de Recursos Hídricos, e ainda cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
cuja menor parcela é exatamente a bacia hidrográfica, que
vem definida da seguinte forma:

“Art. 1º. A Política Nacional dos Recursos Hídricos baseia-se


nos seguintes fundamentos:
[...]
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e
atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos;
[...]”

A água é reconhecida como um bem de domínio


público, destacado do domínio privado, e como um recurso
natural limitado, dotado de valor econômico, tendo como uso
prioritário, em caso de escassez, o consumo humano e
animal, com gestão descentralizada e participativa do poder
público, dos usuários e das comunidades.
A maior inovação e, talvez, o ponto de maior contato
com o presente trabalho, é a previsão de cobrança pelo uso
da água, inclusive dos proprietários rurais, conforme
estabelecido no art. 5º da Lei 9.433/97, que passam a ser
denominados usuários de recursos hídricos. Aqui reside o
ponto de mutação, o aspecto que, por certo, vai gerar reação
imediata das organizações que congregam os donos da terra
no Brasil, que de repente não se sentem mais proprietários
tendo que pagar até pelo uso da água, recurso sempre
abundante e desconsiderado em seu valor econômico.

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos


Hídricos:
[…]
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
[…]

Segundo a lei, a cobrança pelo uso da água objetiva o


reconhecimento do valor econômico deste recurso natural
dando ao usuário uma indicação de seu real valor, incentiva
a racionalização e proporciona a obtenção de recursos
financeiros para financiamento dos programas e
intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

A água passa a ser mensurada por valores


econômicos, o que, de modo algum, pode fazer com que se
tenha a falsa ideia de que, através do pagamento de um
valor monetário, seja possível usar a água de forma
irresponsável. O valoração econômica não paga pelo
recurso, mas por sua conservação, recuperação e melhor
distribuição do bem.

São criados, ainda, pela legislação das águas, o


Conselho Nacional de Recursos Hídricos, composto por
representantes do poder público, dos usuários e de
organizações civis, com diversas atribuições, entre as quais
promover a articulação do planejamento de recursos hídricos
nas várias esferas políticas regionais, e os Comitês de Bacia
Hidrográfica, compostos igualmente por representantes
governamentais, dos usuários e das organizações civis, e
com atribuição para aprovar o Plano de Recursos Hídricos
de cada bacia, além de acompanhar a sua execução e
estabelecer mecanismos de cobrança pelo uso da água.
A exemplo da legislação nacional, cada Estado da
Federação deverá criar seu próprio Conselho Estadual de
Recursos Hídricos, adaptando-se assim ao novo modelo de
gestão hídrica no Brasil, inclusive estabelecendo os
parâmetros para cobrança pelo uso da água, parte mais
espinhosa para os Legislativos Estaduais, em razão da
elevação de custos da produção agropecuária, atividade
econômica primordial no país.
Enfim, são diversos os instrumentos jurídicos
previstos na citada lei para garantir não somente a qualidade
da água mas também a sua disponibilidade presente e
futura, dentre os quais merecem destaque os seguintes:

a) planos de Recursos Hídricos;

b) enquadramento dos corpos d’água em classes,


segundo os usos;
c) outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
d) cobrança pelo uso de recursos hídricos;

e) compensação a Municípios fornecedores;

f) criação do Sistema de Informações sobre Recursos


Hídricos.

Trata-se, sem dúvida, não obstante as dificuldades


para implantação imediata, de um passo fundamental no
reconhecimento da necessidade de se assegurar às futuras
gerações condições de vida saudável, através da
racionalização dos usos da água e prevenção de situações
de escassez, que possam comprometer o equilíbrio
ecológico garantido pela Constituição Brasileira.

NOVA LEI FLORESTAL (Lei 12.651 DE 25.05.2012)

Como bem ambiental integrante dos recursos naturais


previstos na Política Nacional do Meio Ambiente, as florestas
são os mais diferenciados e complexos de todos os biomas,
tendo em vista que a sua função transcende o próprio meio
ambiente florestal6.

O art. 2º da Lei Florestal dispõe que “as florestas


existentes no território nacional e as demais formas de
vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que

6
FIORILLO, C. & RODRIGUEZ, M. Manual de Direito Ambiental e
Legislação Aplicável. Editora Max Limonad. São Paulo, 1997.
revestem, são bem de interesse comum a todos os
habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade
com as limitações que a legislação em geral e especialmente
esta Lei estabelecem”. Deste modo o legislador demonstra,
a preocupação em estabelecer que o direito de propriedade
não é absoluto, cabendo ao proprietário zelar pela
preservação das florestas. Essa regra vale não somente
para o agricultor como também para os que se dedicam à
indústria, ao comércio, ao transporte de madeiras.
No art. 3º, a Lei define as florestas e demais formas
de vegetação permanente, dentre as quais aquelas situadas
ao longo dos rios e cursos d’água, ao redor das lagoas,
lagos ou reservatórios de águas naturais ou artificiais.

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Cônscio da importância do “bioma floresta”, o


legislador, ao definir o termo “floresta de preservação
permanente”, antes de avaliar os recursos florestais, ou
durante essa avaliação, atenta muito para outros valores da
floresta, que não somente o da madeira. Isso porque todo o
seu papel ecológico foi levado em consideração.
Dessa forma, no desenvolvimento de qualquer estudo
sobre o seguinte tema, deve se ter em mente que o termo
“Floresta de Preservação Permanente” é de escopo
eminentemente legal, com base em estudos técnicos, e que,
portanto, deve seguir o estabelecido na legislação em vigor,
e que são equivocadas quaisquer tentativas de variações
sobre a lei (Machado, 1995)7.

O legislador, ao construir a Lei, preocupou-se em


atender a diversos fins ao classificar as florestas de
preservação permanente como: florestas de proteção física
do solo e dos mananciais, florestas de proteção de rodovias
e ferrovias, florestas de defesa do território nacional,
florestas de conservação dos valores cultural, florestas de
conservação dos valores científicos, florestas de proteção
dos valores históricos, florestas de preservação do
ecossistema local, florestas para a conservação do bem-
estar público.

Temos assim, nos incisos “I”, “II”, “III” e “IV” do art. 4º,
a descrição de florestas que têm a função de proteção dos
mananciais e das águas em geral, quando dispõe que
“Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas
rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

7
MACHADO, P. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiro Editores. São Paulo.
5. ed. 1994.
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene
e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha
do leito regular, em largura mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10
(dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de
10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham
de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham
largura superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa
com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo
d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa
marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais,
decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água
naturais, na faixa definida na licença ambiental do
empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água
perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros;”

Nos incisos “V”, “VI”, “VII”, “VIII, “IX”, “X” e “XI”, a lei
dá uma ênfase maior à proteção do solo quando dispõe que
são áreas de preservação permanente:

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a


45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior
declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras
de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de
ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros
em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com
altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior
que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da
elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo
plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água
adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de
sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos)
metros, qualquer que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com
largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço
permanentemente brejoso e encharcado.

De forma sintética, destacamos do art. 4º as duas


finalidades principais das APP’s, que são: a proteção dos
recursos hídricos e mananciais (incisos “I”, “II”, “III” e “IV”); a
proteção física dos solos (incisos “V”, “VI”, “VII”, “VIII, “IX”,
“X” e “XI”).

O art. 6º da lei permite que, por ato do Chefe do


Poder Executivo, seja declarado de preservação permanente
as áreas cobertas com florestas ou outras formas de
vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes
finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e


deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de
extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico,
cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das
autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância
internacional.

RESERVA LEGA

Reserva Legal Florestal pode ser conceituada


previamente como sendo uma parte percentual de cada
imóvel rural que a legislação impõe que permaneça com a
cobertura vegetal nativa, para servir de reserva de mata. Sua
localização deve ser aprovada pelo órgão estadual
integrante do SISNAMA após a inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Nasceu com o objetivo de ser um estoque de madeira
e outros derivados florestais, de maneira a prevenir o risco
da extinção ou supressão completa de matéria prima vegetal
no país. Uma espécie de estoque regulador.

Tal conceito primitivo evolui no decorrer do tempo e


passou a ter outras funções: conservação e reabilitação dos
processos ecológicos, conservação da biodiversidade,
abrigo e proteção à fauna e flora nativas, e, finalmente,
assegurar o uso econômico de modo sustentável dos
recursos naturais do imóvel rural.
A Nova Lei Florestal de 2012 definiu a Reserva Legal
como sendo uma parcela ou percentual, variável de 20 a
80% conforme a Região em que se localize, de cobertura
vegetal nativa de cada propriedade ou posse rural privada,
usando a seguinte redação:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de
vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da
aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em
relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de
florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de
cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos
gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por
cento).

O mesmo artigo 12 da Lei em comento trata em seus


parágrafos, de questões relacionadas ao fracionamento do
imóvel, casos de redução do percentual referente à Reserva
Legal e ainda, casos em que não se exige a constituição da
Reserva Legal, como se lê:

§ 1º Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer


título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma
Agrária, será considerada, para fins do disposto do caput, a
área do imóvel antes do fracionamento.
§ 2º O percentual de Reserva Legal em imóvel situado em
área de formações florestais, de cerrado ou de campos gerais
na Amazônia Legal será definido considerando separadamente
os índices contidos nas alíneas a, b e c do inciso I do caput.
§ 3º Após a implantação do CAR, a supressão de novas áreas
de floresta ou outras formas de vegetação nativa apenas será
autorizada pelo órgão ambiental estadual integrante do
Sisnama se o imóvel estiver inserido no mencionado cadastro,
ressalvado o previsto no art. 30.
§ 4º Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público poderá
reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento),
para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de
50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de
conservação da natureza de domínio público e por terras
indígenas homologadas.
§ 5º Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público
estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente,
poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por
cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-
Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por
cento) do seu território ocupado por unidades de conservação
da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e
por terras indígenas homologadas.
§ 6º Os empreendimentos de abastecimento público de água e
tratamento de esgoto não estão sujeitos à constituição de
Reserva Legal.
§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão,
permissão ou autorização para exploração de potencial de
energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de
geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas
linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.
§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas
adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e
ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL – CAR

O Cadastro Ambiental Rural foi criado pela Lei


12.651/2012 e é obrigatório para todos os imóveis rurais.
Tem como finalidade principal integrar as informações
ambientais das propriedades e posses rurais, compondo
base de dados para controle, monitoramento, planejamento
ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Deve conter no mínimo as seguintes informações:
I - identificação do proprietário;
II- comprovação da propriedade ou posse;
III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial
descritivo, com as coordenadas geográficas com pelo menos
um ponto de amarração, informando a localização das APP,
das áreas consolidadas e da RL.

Poderá ser importante ferramenta do Poder Público


para a gestão do uso e ocupação do solo quanto às
questões ambientais. É um registro público, onde são
inscritas as propriedades, com perímetro identificado e
delimitado a partir de coordenadas geográficas, assim como
todos os espaços protegidos no interior do imóvel,
especialmente as áreas de Preservação Permanente e
Reserva Legal.
Importante ponto é que o Sistema de Cadastro
Ambiental Rural (SICAR) trará não apenas o perímetro do
imóvel georreferenciado, mas também a delimitação
geográfica das áreas do interior da propriedade, cujo
acompanhamento e fiscalização poderá ser feito por
imagens de satélite. A efetividade do cadastro, no entanto,
dependerá da capacidade do Poder Público em implementar
essa ferramenta e a participação dos estados na gestão
direta do processo.
A Portaria nº 100 de 4 de maio de 2015 prorrogou o
prazo para a inscrição do CAR por mais um ano, ou seja, até
05 de maio de 2016.
Finalmente, vale destacar que o registro da Reserva
Legal no Cadastro Ambiental Rural desobriga a averbação
no Cartório de Registro de Imóveis.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

De acordo com a Resolução 11/87 do Conama, as


Unidades de Conservação são áreas naturais protegidas e
sítios ecológicos com características naturais relevantes, de
domínio público ou privado, legalmente instituídas pelo
Poder Público para proteger a natureza, com objetivos e
limites definidos e com regimes específicos de manejo e
administração, ao quais se aplicam garantias adequadas de
proteção.
A CF/88, art. 225, § 1º, inc. III, prevê que sejam
definidas, em todas as unidades da federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos.

De forma inovadora, o Congresso Nacional, aprovou


em 18.07.2000 a Lei 9.985, que regula o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação – SNUC. Tal diploma legal
vem preencher uma lacuna no relevante tema do Direito
Ambiental, que é a disposição sobre o uso sustentável e
gerenciamento das unidades de conservação brasileira. Para
tanto o legislador adotou uma nova sistemática, dividindo as
unidades de conservação em dois grupos. O primeiro é o
das Unidades de Proteção Integral, e o segundo, da Unidade
de Uso Sustentável.
Estações Ecológicas – são áreas com um
ecossistema representativo, de posse e domínio públicos,
que tem como objetivo a preservação da natureza e a
realização de pesquisas científicas, sendo que esta última
dependerá de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e
restrições por este estabelecidas, bem como àquelas
previstas em regulamento.
Reservas Biológicas – são as florestas e demais
formas de vegetação que têm como objetivo a preservação
integral da biota e demais atributos naturais existentes em
seus limites, sem interferência humana direta ou
modificações ambientais, excetuando-se as medidas de
recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de
manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio
natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos
naturais.
Parques Florestais – são áreas extensas e
delimitadas que têm como finalidade a preservação de
ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e
beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas
científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato com a
natureza e de turismo ecológico.
Podem ser Parque Nacional, Parque Estadual ou
Parque Municipal dependendo da esfera onde for criado.
Tem uso e visitação sujeitos às normas estabelecidas no
Plano de manejo da unidade, ou às normas estabelecidas
pelo órgão responsável.
Monumentos Naturais – são áreas que têm como
objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou
de grande beleza cênica, podendo ser constituídos por áreas
particulares, desde que seja possível compatibilizar os
objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos
naturais do local pelos proprietários.
Refúgios de Vida Silvestre – são áreas que têm
como objetivo proteger ambientes naturais onde se
asseguram condições para a existência ou reprodução de
espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente
ou migratória. Assim como os monumentos naturais, podem
ser constituídos por áreas particulares nas mesmas
condições do exposto no item anterior.

Áreas de Proteção Ambiental – são, em geral, áreas


extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotada
de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem-estar das populações humanas, que têm a finalidade de
proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais.
O SNUC prevê que as Áreas de Proteção Ambiental
deverão dispor de um Conselho presidido pelo órgão
responsável por sua administração e constituído por
representantes dos órgãos públicos, de organizações da
sociedade civil e da população residente.

Áreas de Relevante Interesse Ecológico – são


áreas, em geral, de pequena extensão, com pouca ou
nenhuma ocupação humana, com características naturais
extraordinárias ou que abrigam exemplares raros da biota
regional, que têm como objetivo manter os ecossistemas
naturais de importância regional ou local e regular o uso
admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os
objetivos de conservação da natureza.
Florestas Nacionais – são áreas com uma cobertura
florestal de espécies predominantemente nativas e têm
como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos
florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos
para exploração sustentável de florestas nativas.
Reservas Extrativistas – são áreas utilizadas por
populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência
baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na
agricultura de subsistência e na criação de animais de
pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os
meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o
uso sustentável dos recursos naturais da unidade. São de
domínio público, com uso concedido às populações
extrativistas tradicionais.

Reservas de Fauna – são áreas naturais com


populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para
estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico
sustentável de recursos faunísticos. Nesses locais é vedado
o exercício da caça amadorística ou profissional.
Reservas de Desenvolvimento Sustentável – são
áreas que abrigam populações tradicionais, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos
recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e
adaptados às condições ecológicas locais e que
desempenham um papel fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da diversidade biológica. Têm
como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo
tempo, assegurar as condições e os meios necessários para
a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida
e exploração dos recursos naturais das populações
tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o
conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,
desenvolvido por estas populações.

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) –


são áreas privadas, gravadas com perpetuidade, com o
objetivo de conservar a diversidade biológica. O gravame de
que trata este artigo constará de termo de compromisso
assinado perante o órgão ambiental, que verificará a
existência de interesse público, e será averbado à margem
da inscrição no Registro Público de Imóveis.
Dentro da RPPN, será permitida a extração de
recursos naturais, exceto madeira, que não coloque em risco
as espécies ou os ecossistemas que justificaram a criação
da unidade.

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