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TEMPO:
Entre 10590 da terceira era após a escuridão a 10634 da terceira era após a
escuridão
desenrola.
Entre a sucessão de Tantalus Dágoras do Sol e fim da guerra dos povos.
por :
-com alteração da ordem temporal, recorrendo à analepse ou à prolepse
ESPAÇO:
- Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as
personagens se movem.
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Plataformar continetal Oriental e arquipelagos costeiros.
-O espaço ou ambiente: pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo
com espaço ou ambiente é que os fatos da narração se desenrolam.
PERSONAGENS:
Bet. Aron Sat Geb. Lis. Mascate. Mestre Agenor. Tantalus Ágoras do Sol.
Edir Gramateus de Shadai. Lokar. Velha do Córrego. Irmãos flores. Amazonas. Íco.
Mago Verde. Conselho clerical . Gema.
-Tudo o que ocupa um espaço e pratica uma ação,mesmo que involuntaria, pode ser
considerado um personagem.
FOCO NARRATIVO:
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-Foco narrativo, ou ponto de vista: É o elemento estrutural da narrativa que
narração, conta a história. Os pontos de vista mais conhecidos são dois: narrador-
observador & narrador-personagem.
fora da história, isto é, ele não se confunde com nenhum dos personagens. Este
foco narrativo se dá, predominantemente, em terceira pessoa.
do Sol.
Primeiro ato
Da Luz
seu lugar no Parlatório da Escolas de Mistérios da Ordem da Lua. Ben Adam fez
uma mesura ao Patrono de Letras Átticus de Penhascoforte, que acabara de deixar
nas Passagem Poética da Liturgia “O Terceiro Filho de D’us”. O público era grande
dia, naquela que era uma das mais prestigiadas Escolas de Mistérios do continente.
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Be, tomou o Livro dos Mistérios, na liturgia da criação, e incíciou a leitura
“Havia uma pedra, Ptah, no topo do existência. Ele leu, e continuou, Criada
por D’us, ao despertar de seu sono. Acima da pirâmide do mundo. O olho onisciente
da prórpia criação, se abriu. E ela passou a brilhar como uma estrela, todo o tempo.
dom.
Sete foram as palavras de h e também foram as notas musicais. As cores
criação espontânea. Tal qual a natureza. Ele é parte do todo, porque veio do Nosso
Senhor da Primeira Consicência. Cada homem com seu ímpeto, é amado pela
poderosos, por diversas vezes, tentaram roubar a Pedra de seu lugar na criação. h
zangou-se com o comportamento dos filhos, e para castigá-los, ordenou que a
pelos irmãos. O buraco era muito pronfundo, e não conseguia sair dali. Tão
entranhado era, que atingia as fundações da terra. E ficou sozinho ali, por longas
eras. Estendeu seus braços para o topo, tocando quem ali passasse, mas todos
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tinham medo, daquela escuridão profunda. E Seth ficou lá, amargurado e só, e
jamais foi retirado, por ninguém. No início ficou triste e muito infeliz. Ressentido de
que ninguém fora resgatá-lo. Depois ficou com raiva. E ódio. E seu coração ficou
intoxicado com aqueles sentimentos. Então ele quis vingança, e com passar das
eras ele se tornou vicioso.”
seres conscientes e de vontade própria. O Sétimo escolheu ser dominado por seus
sentimentos mais viciosos, assim, o colapso dos bons sentimentos dentro de si, o
levaram à sua ruína. Ninguém quis se aproximar dele, pois ele queria ferir aqueles
que o faziam. Mas continuemos:
criou um sol, que chamou de Havdalá, quente e avermelhado para iluminar os dias.
E três luas. Uma delas, muito lenta e fria, para clarear a noite, afastando o breu da
escuridão completa. E uma terceira, que cruzava tão rápido o céu que surgia uma
vez no horizonte, junto com o sol, indicando o início do dia e seu fim, depois junto
com a lua fria marcando, o início da noite. Porém, havia uma lua negra. Que cruzava
o céu uma vez ao mês, marcando o início de tudo, lembrando a todos da escuridão
profunda, essa lua, a lua negra, era capaz de encerrar até o dia. E levava uma
manhã , uma tarde e uma noite para cruzar o céu.”
Algum de vocês consegue nos dizer sobre o que se trata essa passagem?
Uma mulher levantou a mão, e falou, em Copta: Sobre o amor dos pais.
genuíno. Essa passagem fala sobre a compaixão, e como ela, sendo um sentimento
tão honesto, pode modificar completamente a realidade. A sua e a de todos. Um
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gesto de bondade e compaixão, nos arranca da dureza, aquece o nosso interior, de
fora para dentro. A bondade pode tocar alguém e modificá-la de tal maneira, que ela
mesma passará a ser um agente de mudança, para si e para os outros. Ela vê que
Ele prosseguiu a leitura “Uma vez que tornou a ver a face da terra, h não conseguiu
encontrar dois de seus filhos. O primeiro e o sétimo. Todos então foram procurá-los,
porém sem sucesso.
a fazer parte de tudo aquilo que não existe, ao menos nas circunstâncias e da forma
como estamos acostumados a ver. As aparências das condições dessa vida, elas se
Essas são as suas regras, e os prisma pelo qual enxergamos a realidade que nos
cerca. Essa é a dádiva, que tenhamos a nossa independência de consciência.
Vejam, isso é lindo e bom. É o que um Pai e uma Mãe fazem a um filho, el++es tem
o poder de criar a vida, uma nova consciência. São Deuses em seu mundo, daquele
ser que vem ali, e que é totalmente independente, e ao mesmo tempo não o é. E
então, essa é a sua criação. E um dia ele morre. E O pai, a mãe, eles não
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compreendem naquele momento a perda. E vejam, os sentimentos dolorosos, eles
são criados pela ignorância. Então, os pais, eles choram a perda do filho, e não
entendem que aquilo que chamam de morte, é o retorno á Primeira Consciência, o
Assim, meus tão pacientes ouvintes, eis o Mistério da Vida, escrito nas
pétalas da flor da criação. Tu a tu. E bebeu mais do vinho, inclinando a taça na
permaneceu quieto, nas entranhas da Terra, para que ninguém viesse a roubar o
seu tesouro.
usufruírem. Esse pão, que comemos agora. Ele vem da aveia plantada pelas mãos
de um homem, doado ao Templo para que nosso moinho a tornasse farinha, e as
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mãos dessas mulheres, junto com a água do Rio Mãe, fizesse o pão, no calor do
fogo, que nos foi dado por h. A natureza não pode sofrer apropriação. O que vem do
homem sim, cada um é dono daquilo que consegue fazer e erigir com suas próprias
mãos. O suor do trabalho do homem deve ser recompensado. Mas, ao passo que o
trabalho do homem e da mullher contrói e é infinito, na razão da existência dos
maneira igual. Quando algém se apropria da natureza, um outro alguém não terá
acesso a ela. E essa desigualdade se intensifica, na medida que a propriedade é
maior.
E se um tem muito e muitos não tem nada, qual a justiça nisso? Se a
natureza não é fruto do trabalho do homem, então não há razão para receber
remuneração pela propriedade que possui. Ao homem só pertence o seu trabalho, e
isso que se trata essa passagem, um alerta sobre a origem da explrorção dos
homens, pelas maãos dos seus prórpios irmãos. Sobre a aleinação da propriedade,
por h na interpretação dos Mistérios da Escola da Lua. É isso que colocamos aqui
todo Havdalá, e que as outras escolas de mistérios distorcem. Eles querem
Mas que também há o dia escuro e que ele não pode ser o nosso fim.
Na fé sem reflexão, não há Luz, somente escuridão.
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O Parlatório foi esvaziando, e Aticcus, que permaneceu ouvindo a
Patronagem de Ben, foi ao seu encontro. O saudou e abraçou com muito
entusiasmo e sorrisos.
Meu amigo, é sempre tão bom ouví-lo! É muito bom retornar à esse Parlotório,
sempre muito bem Patronado. Grandes nomes passaram aqui nessa temporada, eu
soube. Joyce de Mataguda, Baruc de Shadai, Parmínedes de Niceia, Nossa
rapidamente será a Sumindade Oriental, e riu, apertando o braço de Ben Adam, que
ocupava o cargo atualmente. E Ainda bem que, bem aqui, na frente, há uma Escola
famosa pela tradição Jusnaturalista. Mas vou indicar alguns nomes de Patronos
Patrícios para que, Vossa Sumindade Clerical, querendo, nomeie-os para essas
galgar os céus.
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Ambos riram do gracejo. Ben continuou: Fiquei encarregado de Organizar a
Convenção Jusnaturalista daqui uma Quaresma. Podemos fazer uma moção para
indicar indicar Patronos dispostos, para lugares onde não ocupamos nenhuma
cadeira fixa. Eu sei das das difculdades que os Patronos vêm passando, afinal estão
tendo que reconstruir alguns templo e Parlatórios, muitos do zero. E não podemos
obrigar ninguém, nesses condições, a ficar em uma comunidade que não deseja.
Essa guerra foi devastadora, e os animos em determinadas regiões ainda não são
A bem da verdade, passei muito rapidamente por lá. Fui recebido pelo
comissário, naquelas condições achei que foi muito gentil da parte dele me receber
por duas noites numa zona safa de Represagorda. Veio a mando de Endro, que
estava combatendo imperialistas perto de Everskaya. Sempre há conflitos para
restauração do Imepério Khazan naquela região. Mas acredito que não tenhamos
mais problemas com esses homens por lá. Uma praga horrível se alastrou na
região. Matou o Rei Jassen. A região foi isolada e uma zona safa foi construída para
abrigar os povos de Evreskaya. Eu vi com meus proprios olhos, Ben, muita pobreza.
Represagorda, após a minha saída. Os boatos correram rápido, falam que Vossa
Sumidade Ocidental, Fineas de Penhascoforte, esteve em Evreskaya para auxiliar
contaminação. Foi a única vítima de Represagorda. Eu soube disso por lá. Foi o
próprio Finéias que a encontrou morta.
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Ben Adam pediu a aprendiz que trouxesse água quente para os pés dos dois. E
Dágoras. E me juntei a eles, homens de quem tenho muito apreço e elevada estima.
Soube de tudo porque ambos estiveram no Sepultamento do Rei Jassem, em
casar, finalmente!
E Atticus abriu um sorriso tão largo quanto. E os dois se aproximaram, riram e
Ai, ai... Então é isso. Disse a si mesmo inebriado, o Patrono Átticus, lembrando de
quando fora o Preletor daquele homem na infância. Acho até, (e levantou-se
O Enigma de Shadai
Mas uma pista dada por Jena Represagorda, o levara, depois de tantos anos,
a desembarcar em Shadai. E somente subornando um escriba, conseguiu a
confirmação de que lá estava o homem que procurava. Mas ficou com pena dele.
Tinha um aspecto muito senil, com as costas encurvadas, poucos dentes na boca. E
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repetidamente. Olhou para Fineas, mas estava alheio ao mundo. Fez um voto de
Há uma jovem mulher que vem por ele, umas duas ou três vezes. E fez
exatamente o que o Senhor está fazendo agora. Fica aqui, olhando e acariciando o
entender os fatos.
O homem colocou a sua mão entre as do Sacerdote. E ficou lá, parado, o
acariciou aquelas mãos tortas, de pele fina, e ossos salientes, espiando seus
pecados.
Francamente!
O Rei permanece em silêncio, com um rosto severo, ignorando
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De onde veio tal idéia, de tamanha insanidade? Cobrava o interlocutor,
Salões de Jade… Increditável... Você poderia tê-lo mandado para qualquer Escola
de Mistérios, Dágoras. Qualquer uma o acolheria, como acolheriam a você. Miriam
Fortaleza do Sol, Sumidade Oriental. Foram seis pajéns, duas serviçais, dois
Prestantes e dois meninos de sua idade foram com ele, Goim de Solar das
Laranjeiras e MIguel Tocaspretas, para que não se sentisse sozinho. E não será por
muito tempo. Dez, doze anos talvez. Ele não podia mais ficar aqui. Não sei mais se
Fineas e os Patronos da Lua seriam uma boa influência, afinal. No final do verão de
cada triênio, um barco sairá de lá, para que ele possa passar alguns aniversários
Veja Dágoras. Seu filho está do outro lado do continente, sozinho, depois de
tudo o que aconteceu. Ele deveria ficar ao lado do pai! De amigos, pessoas que o
amam!
Mas o Rei se fechou, e retornou a um silêncio inquebrável. Passando o
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Um Amigo Preocupado
O barulho das pessoas na rua era motivo de alegria. Risos, gracejos, e
conversas tolas. Muitos estrangeiros lá fora nas vielas apinhadas. Mas assim que
Fineas entrou, logo após a mulher fechar a porta às suas costas, sentiu que aquele
dias. Estava com um lenço na mão, e uma fita preta amarrada no pescoço.
Fineas desceu o capuz imediatamente. Meus sentimentos. Ele disse.
Ela meneou com a cabeça, e apertou a boca, como quem vai chorar.
Está difícil, muito difícil. Fineas aproximou-se dela, e a puxou em um abraço
Ainda que o pesar fosse grande, e ainda quisesse chorar a sua morte, deveria
afastar esse sentimento, pois sabia que agora, aquele bom e justo homem, estava
junto de h. E ele necessitaria, nessa hora crucial, fazer perguntas a essa mulher,
chamada Elaia. Perguntas que iriam remexer as feridas recém abertas em seu
coração.
Elaia, eu preciso saber de algumas coisas…
Ele disse, afastando a mulher e a conduzindo até uma cadeira. Ele mesmo
não sentou, ficou ajoelhado, segurando a mão, a confortando.
Era uma casa humilde, dentro dos muros da Fortaleza, como a maioria das
casas de lá. Precisando de pequenos reparos por fora. Mas não era pobre. Lá
dentro, havia coisas finas. Bacias de louça, Essência de cacharréis queimando nas
lamparinas. Os pés da mulher, vestiam sapatos com bordados finos de Saigão. E ela
era robusta, e forte, uma mulher tão alta quanto Fineas. De longos cabelos melados,
e apesar do estado em que se encontrava, ainda se via que era muito bonita.
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Não, Fineias. Não faça isso comigo… a mulher meneava a cabeça.
Eu sinto muito, mas preciso saber dessas coisas, Elaia. Eu acredito que
tenham conspirado contra ele… Escute, não há ninguém na Fortaleza do Sol em
quem eu possa confiar nesse momento. E ele sempre me viu como um amigo, um
confidente. Tu bem sabes. Mas isso aconteceu, eu estava longe. Não nos víamos há
cerca de seis anos quando ele.. Bem, ele me pediu que procurasse respostas para
dúvidas que tínhamos. Então, depois de muito tempo, e depois de andar por muitos
lugares, eu as encontrei, embora ainda não tenha uma confirmação. E andei muito,
Elaia. Eu as encontrei em Shadai. E quando eu finalmente estava retornando, ainda
em Mataguda, recebi a notícia. E larguei tudo, vim direto para cá. Escute, Elaia, eu
preciso saber se você deitou algum filho dele. Elaia.. Alguma vez, eu vou
importaria também se tivesse, afinal era só isso entre nós. Fineas, eu fiquei aqui,
eternamente esperando por ele. Então ele vinha com frequência, e depois começou
a vir cada vez menos. E quando o seu filho voltou, ele não veio mais. Está ali, para
que veja. E apontou na direção de um aposento tapado com uma cortina. Desde
então eu tenho dormido pela sala. Nunca mais me deitei naquela cama. Só olho
para lá atrás dessa cortina. Mas ele nunca deixou de mandar nada. Embora isso me
doesse mais que tudo. Me fazia saber que ele ainda lembrava de mim, e no entanto,
nunca mais… nem o porquê…
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A Aposta do Alto Sacerdote
É bem sabido pelos aprendizes das Escolas de Mistérios, que não existem
profecias inexoráveis, pois aos vivos é dada a liberdade da autoderminação. Eles
mulheres proibidas. E ela o levou até o interior da sua cabine, diversas vezes.
Quer ver sua sorte? Perguntou, atrás de um biombo de seda que havia
Por um momento pensou ter visto presas enormes entre seus dentes, como
uma cobra. E seu olho ficar branco como leite. Mas fora só uma ilusão. A mordida
sim fora real. Um pouco de sangue escorria entre seus lábios. Mas ela sorriu,
acariciando o dedo do jovem com a língua.
Uma profecia, você pergunta. Talvez, eu respondo. Eu aposto que sim, falou
com a voz melosa, cheia de um sotoque desconhecido, enquanto o olhava por trás
do tecido.
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Ainda na luz pouca da cabine, ele via a jovem de pele negra, brilhando
sinuosa no ar.
O jovem sentou na beira do jirau, admirando a mulher. Quero, e engoloiu a
Sacerdócio. Eu vi na magia que somente com sangue se paga, que tu, terás muito
poder. Transformarás um jovem em Rei. Obterás vitória perantes muitos poderosos.
Sujarás tuas mãos com Sangue de um ente querido. E quando teus cabelos
estiverem brancos, e teus lábios azuis, um gume negro atravessará o teu pescoço,
tempos. Parecia, afinal, que a profecia estava prestes a se realizar. Um jovem Rei.
Hermínedes de Saigon o sacudiu, estava na hora de se manifestar em favor do
jovem Príncipe.
Seus cabelos ainda estavam bem escuros. Não havia com o que se
todos os Anciões, ecoavam pelo salão. Ele balançava a mão, pulando em cima da
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cadeira, tentando chamar a atenção dos presentes, para requerer o silêncio
niguém o visse, e tenha não apenas tentado roubar a coroa que estava na cabeça
do Rei, mas também entrado numa luta corporal que custou a vida de Tantalus
Dágoras. O que tornava a situação mais difícil de ser creditada, era o fato de que o
suposto ladino estaria vestido como um homem da guarda. Fazendo supor que
não tenha sido por ele reconhecido e colocado morto. Tampouco tenha despertado a
prontidão do Rei, posto que foi pego em desvantagem, momento em que foi
assassinado. Isso sem falar nos diversos guardas e toda a segurança de que
gozava o governante, no seio do seu Reino. E, para tornar a situação ainda mais
obtusa, o príncipe fora ferido, quando, ao ouvir os sons da luta, adentrou nos
aposentos reais, e teve o rosto atingido pelo atiçador em brasa.
era digno.
Mas Tantalus Ágoras insistiu nessa versão.
quando o Sacerdote demandou pelo elixir dos honestos. E todo o conselho, que
estava inclinado pela hipótese de Parricídio e Conspiração do Herdeiro, demonstrou
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desenrolar do procedimento, auscutando o coração do Príncipe e contanto as
batidas calmas em seu peito. Passou o Mel de Esteno em seus lábios, de forma que
qualquer palavra mentirosa que lhe saísse da boca, transformaria imediata e
boca, com uma expressão de aprovação. Não havia nenhum sinal da mentira.
O que foi seguido de uma agitação entre todos os Anciões, todos os líderes e
Dágoras do Sol fora morto por um ladrão, ao ter sua coroa substraída dentro do
domínio Real; que seu filho sofrera injúria durante o evento; que os responsáveis já
haviam sido sentencidados e punidos; que era inocente diante às acusações que a
ele era imputadas. Que estava livre para Governar no lugar de seu pai.
Esse que era o único filho de Dágoras, trazido ao mundo por Rejane, no dia
de Havdalá. Ela, que morreu queimada, sob circunstâncias incertas. Tinha fama de
louca.
Então Tantalus Ágoras foi Sagrado o novo Rei e governante da Cidade do Sol.
E mesmo não felizes ou crentes dos acontecimentos, todos os Senhores que ali
estavam, comemoraram a festa tradicional da banda oriental das cidades gêmeas, o
Festival da Roda.
O Conselho Clerical fora reunido, nessa oportunidade, em razão de que todos
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das circunstâncias da morte do Rei, e à possível elevação de seu filho único ao
trono.
O evento se repetiria dentro de vinte anos, quando todos retornariam à Coptset, a
Fortaleza da Cidade do Sol. Então a roda voltaria a girar, nas mãos do Decano do
Conselho, e a cidade que receberia o fragmento da Gema pelos próximos vinte
O Parlatório da Propriedade
Os conselheiros haviam sentado em seus lugares. Com todas as cadeiras e mesas
Muito bem organizado estava o evento, que era parte tradicional do Festival da
Roda. O tema do Parlatório do ano era a Propriedade. Um tema muito polêmico para
propriedade. Até que fosse votada a necessidade de um novo parlatório para rever o
tema.
ornamentada com riscas horizontais de cor púrpura. Era usada pelos áugures e
sacerdotes Decanos, durante os atos rituais.
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Ele estava atrapalhado com todas aquelas vestes, pois o peso da
indumentária já não servia para alguém tão velho como ele. Novecentos anos.
Trezentos como Decanato. Mestre Egídio da Guilda dos Artífices. Sua estatura
para referir que na data de hoje comemoramos vinte anos da assinatura do Tratado
da Aliança Libertadora, tema do último Parlatório, incluindo a moção do Sumo
incluindo o texto da bula de ações para paz. Tal aditamento instituiu a necessidade,
de que seja decretado por esse Conselho, o estado de Guerra Geral, para a prática
arbitrária, de qualquer povo. A Aliança Libertadora foi bem sucedida, e pôs fim à
implacável guerra que devastou, tanto Ocidente, quanto Oriente. Estirpando a
marco para toda a civilização dos vivos, jamais na história tinham os povos se
reunido para defender e discutir o bem comum. Naquela oportunidade, se bem em
lembro, ficou estipulada uma agenda, para os proximos três séculos, que eu espero
poder cumprir juntamente com os Senhores, se a idade permitir. E deu uma
risadinha, retribuída pela audiência. Hoje, vinte anos depois, inauguramos a pauta,
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que irá tratar da propriedade. Mas, digo a todos aqui presentes, que não podemos
esquecer, diante do gozo das boas condições que se estabeleceram nesses vinte
anos, dessa ferida tão recente, e que ainda nos dói tanto, que deve ser relembrada.
Não podemos nos esquecer dessa dor, e do tanto que ela dói. Para, Senhores e
Senhoras, que não retornemos, nunca mais, àquele estado de miséria espiritual.
Não foi à toa que na ultima reunião do Conselho tenhamos deliberado por uma
moção de honra, àquele homem que nos liderou tão brilhantemente para a paz dos
povos, e que no entanto por uma brutalidade do destino, não pode recebê-la hoje,
pois já não está mais entre os vivos, tendo retornado para o lugar de onde tudo vem.
Meus mais sinceros pesares pelo passamento do rei Tantalus Dágoras do Sol, O
Justo, um homem de muito valor.
todas as esferas do conhecimento, que hoje, nos reunimos aqui, ouvindo as falas
dos Conhecedores mais renomados sobre o assunto. Para, ao final, deliberar um
nascido. Após vivido e então morrido. E ao viver, erigimos aquilo que será deixado
para os demais, aos que aqui permanecerão. Nosso entendimento, nossas
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da construção do legado, que nem ao menos podemos cogitar deixar de de discutí-
admitir que ela possa coexistir hamoniosamente com a igualdade entre os vivos, se
lhe forem atribuídos limites. Há aqueles que acreditam que ela não deva existir em
nenhuma circunstância, de modo que a natureza não pode ser apropriada pelos
vivos, o que lhes cabe é tão somente a remuneração a ser atribuída ao esforço do
para defender as duas correntes que serão debatidas nesse Parlatório. Cada
Sapiência terá uma queda de ampulheta para defender as suas correntes. Em
unânimidade. Caso queiram acolher uma tese na sua maioria, porém com
divergência interna, apreciem o voto da Sapiência, apontando o membro, ou
para a audiência. Vestido com a toga Candida, subiu ao púlpito e iniciou a defesa de
sua tese, entitulada A Propriedade como Direito Intrinseco da Existência, Concedido
nisso não havia bem ou mal, e portanto a propriedade não é boa nem má, por ser
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criação dos vivos. Ela é o relfexo daquele vivo que faz com ela o que quer, e que faz
dela um desdobramento das suas ações. Se o homem é ganacioso, logo fará mau
uso da propriedade. Se for bom, fará uso digno da propriedade. E por ela não
possuir existência senão pelas ações dos vivos, ela não pode ser classificada como
boa ou má. Mas sim os vivos que fazem com que ela exista, esses sim são bons ou
todo o conselho. Foram poucos os que puseram a venda preta sobre seus olhos e
permaneceram sentados. Ben Adam e Susana, entre eles.
seus povos entenderam que essa era a tese que explicava porque continuariam
mantendo seus bens e suas posses. Autoridades Seculares das Guildas, ficaram
divididas. As Guildas Científicas e Dos Artistas Unidos optaram por vendar os olhos.
Já as Guildas dos Artítífices, em sua maioria, aplaudiu, sem muito entender o teor
permaneceram em silêncio.
Edir Gramateus de Shadai, ao descer do púlpito, foi recebido pelo seu novo
Rei, com um aperto de mãos, e um beijo reverencial sobre o seu anel de Alto de
Sacerdote. E muitos levantaram-se para parabeniza-lo pela belíssima defesa.
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do Sol, O Justo. Olhando para todos os presentes, com o rosto severo que era sua
uma releitura do Livro dos Mistérios sob o enfoque da Teoria do Mundo Natural.
Fineas iniciou uma pausa dramática. Eu venho com uma tarefa que nasceu morta. É
árdua. Pois vejo em seus rostos uma querela de insatisfação. As pessoas querem
ter. São egoístas.
ainda que eu saiba que as vendas decerão sobre os olhos dessa audiência, é uma
fala para a reflexão. E tenho certeza que, ainda que não os faça mudar de opinião
nesse momento, sairão com uma semente plantada no peito. E amanhã ou depois,
quando a guerra bater à porta dos Senhores, essa minha fala será recordada. E
muitos hão de querer voltar atrás, compreendendo plenamente o reflexo futuro dos
votos de seus conselheiros hoje. E nesse momento já estarão mudados, e meu
objetivo terá sido alcançado. Quero aqui, à partir de agora, tentar convertê-los ao
entendimento de que a propriedade é um fato social que causará o colapso da
Mundo Natural com as demais coisas, é que o ato de apropriar-se fica vinculado à
sentimentos hedonistas, de autosatisfação. E apropriar-se de algo, é arrebatar-lhe a
Natural com as demais coisas, logo o ser humano como obra do mundo natural,
também pode ser apropriado pela lógica dos vivos. Pensamento esse que legitima a
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apertada, no Primeiro Parlatório desse Século. A teoria da Propriedade, defendida
pelo Alto Sacerdote que falou anteriormente, diz que o vivo pode apropriar-se
daquilo que lhe aprouver, porque a propriedade não possui valor senão aquele que
lhe é atribuído pelo próprio vivo. E eu concordo com meu convivas nesse sentido.
Tanto é verdade, que a prova maior disso é a própria escravidão. E porque quando
uma coisa que não tendo valor em si, somente aquele que lhe é atribuído pelo vivo,
ela deva ser considerada inofensiva, mesmo existindo a possibilidade de dar
não é bom nem mau, não pe que se deva refendá-la porque dela não se extrai coisa
ruim em seu estado natural. Mas esse parlatório é porque deve-se proibí-la, em
todos nós, que dividimos a existência nessas circunstâncias que nos colocam em
par de igualdade ideológica, temos o mesmo direito de gozar a existência. E se
substituir a propriedade pelo bem comum. Remunerando o vivo pelo seu trabalho,
que o fruto natural daquilo que dele vem. Não podemos mais consumir esse mundo,
devemos dar a ele o nosso labor. Trabalhar a terra e extender a existência, como
nos foi dito por inúmeros sábios, desde o tempo da escuridão. Agradeço a atenção
sabido.
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No máximo vinte rostos, dentre as duas centenas que ali estavam, olharam nos
inúmeras vezes. Baixando o tom, após, olhar rapidamente para os lados, tomando
certeza de que ninguém os ouvia.
Se quiséssemos ter certeza de que o serviço seria bem feito, deveríamos tê-
lo feito nós mesmos. Possuímos meios muito eficazes. Uma vez que ele esteja
Veja bem, minha Senhora, disse Ben Adam, num tom beligerante, se persistirmos
nos aliando a esses homens, que, muito embora tenham boa noção de justiça, creio
que sua falta de diligência poderá nos colocar numa posição frágil. Aquele rapaz, se
foi capaz de fazer aquilo que acreditamos que fez, seja lá como o tenha feito, foi
muito bem arquitetado. E pela dimensão dos acontecimentos ele não está sozinho.
Não quero levantar falsas suspeitas contra nossos irmãos da Escolas oriental, mas
já o fazendo, acredito que não tenha sido possível que tudo tenha acontecido sem a
intervenção do Alto Clero da Fortaleza. A maneira como testemunhou no conselho…
Seus lábios diziam uma coisa, mas a Deusa me fazia crer que era uma mentira. Se
esse homem permanecer no poder, nós cairemos. Cairemos, minha consorte, pois
estamos perto demais para que nosso poder não o ameace, seja agora ou adiante.
Eu penso o mesmo. Assentiu a Rainha. Nisso estamos de acordo. Mas por essa
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aparências. Prestemos reverência ao governo de Tantalus Ágoras na luz do sol,
quarto, tentando convencer a si de que aquela era a melhor coisa a ser feita.
ocorrências recentes em relação ao seu pai. Ele tivera tempo e disposição para
organizar um grande Festival da Roda: feiras de comércio nas ruas, tendas de
visitantes apreciarem.
Estava sentado numa mesa, em posição privilegiada. Muitas tochas iluminavam a
arena, naquela noite que antecedia ao Havdalá. Havia festa, risadas, bebidas e uma
grande fogueira, em meio à noite mais escura.
Ele era um homem muito educado, apesar de sua inclinação para evitar os toques e
gracejos das pessoas.
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Jamais apertava a mão de alguém, sem que a sua estivesse enluvada. E em
nenhuma ocasião oferecia companha a uma dama. Preferindo manter distância das
moças que lhe cercavam.
dizia dele sobre ficar, durante longos períodos, encarando as chamas, nas centenas
de lareiras espalhadas pela Fortaleza.
Não foi à toa que mandou que fosse construída, uma fogueira do tamanho de
doze corpos, encimado por um sol finamente esculpido em madeira e alabastrino,
untado em óleo.
No início das festividades vespertinas, acendeu a chama ele mesmo. E a luz
À estrela maior da manhã, pelo meu pai, Tantalus Dágoras do Sol. Que essa
fogueria queime, tanto quanto a chama da glória que rurgirá em meu reinado.
Visivelmente alcolizado.
A filha do Nobre Mercador de Saigão se aproximara, ele que estava cercado
por seu Mentor, Edir Gramateus de Shadai, e por alguns Nobres, que vinham lhe
desejar êxito na governança. Ela sussurou algo, sorrindo com malícia, muito
atrevidamente, em seu ouvido. Algo que o deixou sério e sem reação. Tirou-lhe o
riso do rosto, e fez com que fosse ignorada de forma severa.
cerimonial a anunciou.
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Um homem com uma longa capa e capuz negros, carregando uma tocha
numa mão e um cetro na outra, caminhou lentamente até o centro da arena. Muitos
cochichos e interjeições de ansiedade foram ouvidas na platéia atenta. Lá no meio
retórica. E se esse mesmo homem não pudesse ser atingido por qualquer faca ou
arma feita pelos vivos?
um suporte próximo.
Três músicos acompanharam a apresentação, um no tambor, um na flauta e
outro no na rabeca.
Os artistas trouxeram para dentro do palco um aro de aço de meia
facas do aro, O apresentador desenrolou uma longa fazenda de seda de seu punho,
e desencaixando as facas, as deslizava suavemente pelo tecido, que ao menor
foi levada a arena. Debaixo da escuridão do capuz, surgiu uma luz, então uma
pequena esfera de fogo atingiu o tonel. Um baque surdo, seguido de uma explosão.
A caldeira estava em chamas. Então, uma das contorcionistas puxaram lanças com
pontas finas debaixo do manto do ator. Cada qual mergulhou a sua dentro do tonel,
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lança por vez, as colocou goela adentro. Engoliu o equivalente ao tamanho de um
madeira fora trazida para o centro da arena. Uma das atrizes estava presa ali, pelos
pés e pelos punhos, de ponta cabeça. Várias facas já haviam sido atiradas, e todas
A platéia levantou-se para aplaudir o atirador. E ele devoleu com uma reverência,
enquanto rumava à grande roda, parando a estrutura. Demonstrou que ela estava
ilesa. Foi supreendido quando Tantalus pulou a mesa e correu em direção à Arena,
tropego. Segurou a mão do Homem e a levantou, pedindo mais aplausos do público.
E mergulhou uma faca no óleo, que tirara muito rápido da manga do artista,
arremessando-a com muita força na direção da mulher. Um grito estridente. A lâmina
lhe entrou com força na perna, mas ainda estava em chamas, e ela se contorceu,
tentando livrar-se das amarras. O rei ria tanto que se curvou, com a mão na barriga.
espetáculo, vaiou.
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O rei continuou rindo, ignorando total e complemente as reações da assistência.
Gritos por todos os lados, e uma convulsão entre o público. Pessoas imediatamente
começaram a se deslocar.
entender, afinal, o que havia acontecido. Antes de cair, ainda virou-se para mirar o
algoz, porém ele desapareceu no ar, deixando as vestes vazias no chão da arena.
O Banquete da Roda
Não fosse o socorro prestado pelo Sumo Sacerdote Fineas, estaria morto. O homem
certo, no lugar e na hora certos.
Foi interpelado mais tarde por Varr Bar , do porquê curara o homem, que se
mostrava claramente uma ameaça à paz. Fineas , pensara em responder que essa
era sua missão Divina, mas ficou em silêncio, refletindo. Talvez, Varr, tivesse razão.
Se aquele homem viesse a se tornar um Senhor da Guerra, talvez o seu ato tenha
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Susana se desviara dos que vinham ter com ela, deixando com muita descrição, o
salão e seus convivas. Pedira ao guarda pessoal do Rei que lhe facilitasse uma
visita, com vistas a utilizar suas habilidades de cura em benefício do Monarca.
estavam sobre a mesa vestal. Um é tançadeira, o outro é bella dona, para acalmar
Nosso Senhor, disse Hermínedes. Mas já lhe ministramos outros elixeres, para
sacudiu a cabeça.
Me dê a espada dele. O Sacerdote acenou para o Preletor, que foi até a
cintura. Umideceu a ponta dos dedos e muito rapidamente o pôs de volta no lugar.
Ficou ali, observando a imagem da espada se distorcer no calor das chamas.
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Remexeu o ferimento com a mão, pedindo que todos o segurassem com
Susana repousou o cabo da espada na sebe da lareira, e foi até o Rei. Onde
rezou. Com muita sinceridade, pedindo perdão à D'us pelo crime que cometera. Ela
A cerimônia do Havdalá
O banquete seria servido, mas não antes da cerimônia da chegada da luz, recitando
o Havdalá.
Todas as luzes foram apagadas. E somente três velas permanceram acesas. Então
todos os convidados elevaram suas taças às alturas, e recitaram em Bo:
“D'us é minha salvação; a escuridão não temerei, pois o Eterno é minha força e
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E quando as lamparinas foram acesas, o banquete foi posto nas mesas.
muito. Ben, viu que seus lábios e o interior da boca estavam azulados. Um cheiro
caracterísco exalava da garganta. Estava gélida e incosnciente. Misericórdia.
Pensou o Bardo. Talvez não haja mais tempo. Acônito. Ele pediu à Herminedes. Dê-
me acônito.
todo, ajudou a tratar Vossa Majestade da Fortaleza do Sol. E depois saímos dos
aposentos reais e ela passou mal…
então vocês deverão partir. Vou me reportar à Edir Gramateus de Shadai, tão logo
saiam. Isso se não descobrirem o Rei antes, nesse caso não poderei fazer nada.
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Ele deitou Susana na cama, e tomou um jarro com água que estava na
Ele pegou o frasco vazio e escondeu dentro do seu baú, bem longe dos seus
antídotos.
para Tantalus Ágoras, minutos antes da Sacerdotisa entrar. Afinal pensara que ela
não seria tão pouco prudente, colocando as mãos nos olhos. Sentia o cheiro de
misericórida à milhas de distância: já entra queimando, sem nem mesmo ter entrado
ainda.
desjejum, de três corpos de comprimento, era farta. Uma variedade imensa de frutas
Ocidentais e Orientais. Leite de amêndoas. Carne de carneiro. Tâmargueiras os
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Ele levantou-se um pouco da cadeira para apontar na direção do Templo da
Lua. A ponte já não existe desde tempos imemoriais, exceto pelos seus restos, que
jazem no leito do rio. Então essa Área, foi todas readaptada pelo Rei Tantalus
Harpis, para compor os elevados desse Jardim. Neles foram esculpidos doze lagos,
apresentando o maior oito corpos de largura. Cuja água é trazida até aqui através de
possibilitar em breve que seja revogada a lei da paz, instituída pelo Tratado da
Última Vila Mais ou Menos ao Norte para Ações de Paz, que imepede atos de guerra
dos povos, quando o conselho Clerical não deliberar pelo estado Geral de Guerra.
Vejam que somos dominados pelas entidades religiosas, pelos Conselhos,
Guildas, Magirus, entre outros. Nós Senhores Governantes, temos nosso poder
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limitado a todo instante pela atuação das forças clericais. Eles nos dizem no que
acreditar. Como ordenar que nosso povo se comporte, como, quando e quanto
custarão as taxas, serviços e impostos. A remuneração pelo trabalho do vivo.
riquezas científicas e nosso povo não pode usufruir de tudo isso, não podemos
querer mais. Não podemos querer ser medíocres. Porque as escolas de mistérios
dentro… Ali há um crocodilo de três metros, ele vai comê-la. Essa é a lei da
natureza. Não podemos deixar que nos imponham a ideologia dos fracos, do
prostrados, dos perdedores. Nós não somos iguais a eles. Somos melhores. Por
isso estamos aqui, vendo o mundo de cima. Senhores, eu proponho que deixem-me
guiá-los para uma nova era. Onde seremos reis de verdade, governaremos sobre o
futuro. Assinem a moção de revogação.
Filho, isso é um absurdo. Se eu faço guerra perco homens, meus negócios não
prosperam. Preciso de baleeiros, não soldados. A guerra é como cavar uma grande
catacumba, e depois querer viver nela, filho. Não nos traz nada de bom. Vejam que
o que ele….Então Tantalus Ágoras o pegou por trás com um garrote, enquanto o
homem se debatia na cadeira. Ele o subjugou com facilidade, puxando suas mãos
em direções contrárias. O Senhor ainda tentou agarrá-lo, colocou o dedo no
ferimento do Rei e apertou com força. Mas Ágoras não soltou. Seu cabelo de
desprendeu da mascara e ficou esvoaçando, enquanto esganava o homem, entre as
acabar. Tantalus tinha a camisa manchada por uma grande quantidade de sangue.
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Mas sentou na cadeira, e ficou admirando a vista com seus convidados. Então ele
Porto das Gaivotas. Xing Woo, Senhor da Baía de Ouro e de Tocaspretas. Doutor
João do Vãodebaixo, Prefeito Geral da Ùltima Vila Mais ou Menos ao Norte. E por
fim, Alan Costarreal, Senhor das Terras Ocidentais desde Solar das Laranjeiras,
Passando por Mataguda, até Penhascoforte, onde fica a Escolas de Mistérios da
aos demais Vejo que concordam comigo. Serviu-se com carneiro frio. Não sei dos
Senhores, mas eu estou faminto.
As sete atalaias
única bagunça, na qual somente o velho Mestre Agenor conseguia se guiar. Uma
bagunça organizada, dizia ele.
Mas ele estava nervoso, com a tarefa que recebera. Bons amigos, pensava.
Mas quais bons amigos planejariam metê-lo numa confusão tamanha?
Sete atalaias, murmava ele sem parar. Sete atalaias. Uma para as
profundezas do mundo. Outra para as ilhas distantes. Uma atalaia para o deserto
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instransponível e uma atalaia para os ares. Uma atalaia para o fogo e uma última
atalaia, para a vigilia final, quando todas as outras falharem no seu dever.
Um louco pediria isso. Seus inimigos. Sua velha esposa ranzinza como a
minha. Seus amigos não. Era um trabalho de uma vida, e a sua, vinha sentindo,
estava mais para perto do fim. Setecentos anos bem vividos, afinal. Quatrocentos e
vinte filho (na útlima contagem), nove esposas e milhares, e centenas de incontáveis
invenções maravilhosas. Mas era sempre a mesma conversa, a guerra, o rei mau, a
pobre rainha, e rei honesto. E ele já estava comprometido com uma idéia
mirabolante, sem nem mesmo ter dito sim. Nesse mundo de hoje abusa-se dos
velhos, pensava.
Estava magro, muito magro. As pernas tortas, mais tortas, e a cada ano mais baixo.
aparelho, mas definitivamente o som não vinha dali. Não, não, pensou. Seria o
ferreiro autômato? Onde ele estaria… Ah, só pode ser o coça-pansas! E as batidas
continuavam. Girou a manivela do aparelho e deu uma bela coçada nas costas. Era
muito relaxante! Mas não era ali o barulho, definitivamente.
Foi quando a Senhora Arlinda gritou lá do fundo da oficina: Atenda a porta, Agenor!
Eram visitas, afinal. Sim, meus velhos amigos.
Ele saltou de um banco e foi balançando, de um lado para outro, para atender a
porta. E o fez ele mesmo, a despeito das cinquenta invenções que havia construído,
somente para atender a porta. Fê-lo pessoalmente, afinal aos amigos, recebemos
Egídio.
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Medo em casa
instante.
A Sacerdotisa tinha os olhos molhados, e observava, ali da varanda, a
Aquilo o deixava desesperado. Aquela letargia, uma tenaz morbidez que não
a abandonava desde o incidente na Fortaleza do Sol. Sua saúde estava ótima, mas
força da esposa. Não havia paz naquela mente, ficava sob a sensação constante de
que, a qualquer momento, Hapis seria invadida. Seriam todos mortos ou
aprisionados.
Mas os soldados não vinham. Ninguém chegava dizendo ordens do Rei da Cidade
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Veja, Susana. Vamos seguir nosso caminho. Deixe que tudo seja. A despeito
do que quer que tenha ocorrido, não podemos fulminar nossas almas com tamanho
sofrimento. Estamos esgotados. Eja, você esta bem, viva. Nossa filha brinca sobre a
Ouvindo aquelas palavras, inspirou tão profundamente que seu peito tremeu.
Ela segurou o fetiche do colar entre as mãos, e soltou o ar todo de uma vez pelas
iremos morrer.
Os músculos de Ben congelaram, e ele ficou sem reação. Em seguida
segurou Susana pelos braços, de frente para si, e a sacudiu: O que foi que
disseste? Perdeste o juízo? Resolva isso em seu íntimo, siga a vida!
à beira da morte, e depois me deu uma chance. Uma oportunidade para que eu me
redima da heresia que cometi.
Isso não faz sentido. Vamos todos para o mesmo lugar, bons e maus. Você o
envenenou, e o resto foi um acidente. Um acidente, Susana! Não há culpados.
Me prometa que vai melhorar. Eu lhe prometo que vou resolver tudo isso. Farei
algumas viagens, procurarei aliados contra essa insanidade que está crescendo.
bochechas. Ela olhava para o jardim, na direção daquela cena bucólica, mas seus
olhos estavam olhando para dentro.
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Estava calor. O Rei nú sobre a bancada de mármore, aguardava que o Alto
Sacedote tratasse o seu ferimento. Sentiu uma pressão fria, e depois um fogo
consumir a ferida, mas não era quente. Suportar aquela dor o fazia sentir poderoso.
Sentir os nervos retesando e depois, com o coração batendo forte, subia uma agonia
em forma de frêmito, que ele abafava. E depois de novo. E de novo. Abrindo e
O que há com a Rainha de Harpis que não envelhece? Essa dúvida era tanto
pertinente, quanto interessante.
Ela não é uma ilusionista de taverna, Nosso Senhor! É uma Sacerdotiza, tal
como eu. Os Sacerdotes são canalizadores do poder de D'us, através da fé e das
O sorriso de Edir secou de imediato, e pulou para trás, evitando ser atingido
pelo acesso de raiva do Rei.
bramido, meio preso, contínuo e grave. Ficando debruçado sobre a mesa, com o
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rosto entre os braços, coberto pelos finos e leves cabelos loiros. Em seguida soltou
muito pequeno. Era comum que o pai o trancasse por longos períodos em um
quarto, cujos objetos ele destruía. Ficava lá por dias. Batia nas coisas, esmurrava
Agora vinham piorando. E sua pele clara ficava muito vermelha, rapidamente.
E seus olhos verdes vibrantes pareciam afundar dentro das órbitas escurecidas.
revela que ele não tem muito tempo, pois o Rei Tantalus está se aliando às Torres
Verde, Cinza e Vermelha, para lançar uma grande guerra. Diz que vem organizando
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Ben chega em Tocasnegras procurando pela Patronesa MIriam dos Salões de
Jade. Miriam lhe revela durante uma conversa que os salões de jade são lugares
horriveis, onde a escuridão do homem é maior que aquela que precede o Havdalá.
Que lá, crianças inocentes tem suas almas derretidas, e é vertido para dentro do seu
corpo, a racha líquida, da guerra, da frieza, da capacidade de suportar qualquer
injúria. Uma poesia triste sobre crianças que são demanchadas, endurecidas, para
tornarem-se invergastáveis homens, para virar jade. Quando abandonam a
existência de mulheres lá. Que muito embora tenha nascido naquele local, as
mulheres não vão para o coração da montanha, para onde são levados os meninos.
Mas que para as mulheres é reservado um destino tão ou mais perverso, verem
seus filhos serem arrastados para a ruína. É como uma morte que se repete para
Voto de Miriam, decide apoiar uma rebelião contra Ágoras. Ela tem consciência das
conseuências trágicas que esse ato implicará, pois o Senhor de Tocasnegras é
aliado de Ágoras.
O que mais a preocupa é o fato de que a Torre Negra ainda não escolheu seu
lado.
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vem Patronando nas praças e lugares públicos para os ouvinte, Meu Senhor. Inscita
Laranja de Alta Magia, Nosso Senhor. O Mestre das Verdades falou com ele, Nosso
Senhor. Mas muito embora não possa mentir, quando perguntado pelo informante,
não houve uma resposta. O mago relatou que quando é pago pelo interlocutor, não
pode revelar quaisquer conversas ou informações que tenha adquirido, Vossa
da cicatriz e remexeu os omoplatas, para frente e para trás. Bateu no peito com
força, soltando urros e partiu para cima dos oponentes com as mãos nuas.
Fineas digeria, no caminho de volta para casa, aquela derrota amarga. A segunda
perante o conselho. Primeiro foi a deliberação pela corrente majoritária em matéria
de propriedade, que deu Origem à Lei de Propriedades. Sim, sua primeira grande
derrota. Agora a revogação do Tratado da Última Cidade Mais ou Menos ao Norte
para Ações de Paz. Uma moção com a assinatura de seis Senhores dos Povos, dois
Reis, da Liga de Mercadores de Saigão, Três Torres de Alta Magia (Malditos Magos!,
pensou), cujo único fundamento era uma crescente ameaça aos povos de que
diversos reinos estavam sendo atacados, e precisavam de autorização do conselhos
para contratacar. Mas a única coisa de concreta que tinham, eram as pilhagens em
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Evreskaya. Por essa razão, colocaram o velho Edron para falar, em meio ao pânico
guerra.
Então Edron falou confiante, que vivia em constante guerra, sofrendo com
pensou Fineas), de alguma forma. E disse que Khazan lhe batia às portas sempre
que chegavam caravanas de mendigos, ladrões, quadrilhas e quadrilhas de Egirões.
E que há muito ele pedia ajuda para a antiga Aliança, e socorro, porém ninguém lhes
mandava soldados ou suporte de qualquer natureza. Mas que Ágoras vinha
alcançando reforço militar, para ajudar-lhe, mas que não poderiam eliminar os focos
de rebeldes, tendo em vista o Tratado de Paz.
Pior foi quando Varr Reykjavik Bar, se pronunciou. Ele mesmo, que teve o pai
Varr Jötun Bar, friamente assassinado por Tantalus Ágoras nos Jardins de Pedra.
Disse que a Ilha vinha sendo atacada, e seus negócios iam de mal à pior. Que os
ataques eram desconhecidos.
Então muitos dos Senhores que não haviam assinado a moção, começaram a
relatar pequenos ataques isolados em seus territórios, com razão aparentemente
Uma bandeira que não era vista há muito. Ankset fora destruída pelo próprio,
Khazam, que passou a reinar sobre os escombros. Sua bandeira, totalmente negra,
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Não havia provas, apenas evidencias que precisariam de investigação. Mas
muitos pediram pela revogaçao imediata do Tratado de Paz, querendo com isso
iniciarem medidas urgentes de proteção.
pararam de imediato para escutá-lo. E fez essas observações. Afirmou que com a
medida, iniciariam-se uma série de atos de guerra, e que tais atos fomentariam o
uso das mesmas (e antigas) estratégias militares para defender interesses escusos
de cada povo e seu governante. Usariam seus recursos militares para prática de
intolerâncias aos povos dos continentes sofreriam relativização, o tão eficaz, e ainda
jovem, sistema de repatrição de espólios ilegítimos de guerra (que vinham
das desigualdes e realocação dos usos das riquezas naturais comuns encontraria
seu fim.
elevados que estão sob a tutela dessa Lei serão aniquilados, por um fantasma da
guerra que vocês mesmos não conseguem exorcizar de seus corações. E cuja
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seus temores terão se tornado uma realidade, construída unicamente por si
mesmos.
Mas a longa e tortuosa votação teve início e quebrou o coração de Fineas. Uma
maioria esmagadora seguiu a moção. “Sim, pelo povo de Vaudeferro e pelos sonhos
de aço”, falou Edmundo. “Pelos tão sofridos Kolbis em suas tocas nos pântanos,
Sim.’, falou a Matriarca Kolbi. “Pela glória intocada das Montanhas de Gelo, Sim.”,
disse o Senhor de Picoalvo do Leste. “Pela opulência dos antigos pincípios. Sim.”,
E cada “sim”, enterrava mais aquela faca afiada na paz dos povos. Até que ao final
da reunião, rastejando pelo salão, ela teve a cabeça esmagada por Tantalus Ágoras,
seu amigo e pacificador, Tantalus Dágoras do Sol, estava conspirando para a guerra,
com os mesmos homens que se submeteram à vontade de seu pai, unificando o
não muito extensa para que falava, ali na praça pública de Inkaar. Uma cidade livre,
um refúgio intocado em meio às areias do deserto. Também chamada de entreposto
de Inkaar, muitos que vinham do deserto ou fugiam dele, passavam por ali, para
descansar. A cidade amarela, como era conhecida. Não eram incomuns
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depositando-se sobre as casas de pedra, cobrindo a comida e temperando as águas
eram vistos cruzandos as terras. E não era sempre que As Irmãs das Areias
estavam por lá para defender os locais. Elas andavam pelo deserto, expulsando os
escutando o Patrono falar sobre uma nova Lei de Propriedades, sobre como o Rei
Tantalus Ágoras estava trabalhando para a revogação do Tratado da Da Última Vila
Mais ou Menos ao Norte para ações de Paz. Kandrini cuspiu, balela, ela disse. E
replicou o Patrono, Porque o Conselho votaria pela revogação? Os Mercadores não
hamonia há muitos anos, por causa do 3º parlatório do século, por causa do Aliança
Libertadora. Não há como falar sobre essas coisas sem cogitar a explosão de uma
uma guerra.
O Patrono diz que é examente isso que acontecerá. As ostes de Tantalus
Ágoras crescem a cada dia, do caos da guerra ele se erguerá como o grande
Imperador do Oriente. Kandrini cospe novamente e puxa Inladris pelo braço. Velho
louco. Ela diz colocando o lenço sobre o rosto. O horizonte estava escuro, uma
tempestade estava chegando. Froam até o ferreiro e quando cruzaram rua, as areias
coisa. Fala velhote. Ela cumprimentou o homem. Quer dizer então que vai ter uma
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guerra, das grandes e das boas. É isso que cê tá dizendo? - então Inladris se
colocou no meio dos dois e interferiu no assunto, puxando seu lenço do rosto.
Desculpe, Senhor, ela não é muito polida. Meu nome é Inladris e o dela é Kandrini.
Somos Irmãs das Areias, protetoras e amigas do entreposto de Inkaar. E fez uma
mesura, batendo com dedo na aba do chapéu, fazendo saltar bastante areia para
todos os lados.
É uma honra conhecê-las. Meu nome é Ben Adam de Quran, Sacerdote da
Escolas de Mistérios da Lua, Rei de Hárpis. E baixou seu lenço, desvelando a lua
crescente tatuada no lado esquerdo do rosto.
conhecida por alguns em Harpis. Elas tinham contato com as Amazonas da banda
Ocidental, que estavam trabalhando no recente desaparecimento do Sumo
Sacerdote Fineas. Porém não tinham idéia que o “fedelho da fortaleza do sol’, como
disse Kandrini, era tão perigoso assim. Eles prometeram se encontrar com
de Hárpis.
Os bons companheiros
Goim amava Tantalus. E sabia que esse amor era recíproco.
E tão profundo e fraterna era a sua admiração por aquele que ele escolheu
chamar de irmão, que ficava cada vez mais orgulhoso do Rei em que seu amigo se
tornara. Esse mesmo Rei, que também escolhera, prometeu servir e seguir.
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Estava ali, agora, ao lado de Tantalus, içando a flâmula gigante sobre os Jardins de
Pedra. O sol que fende a escuridão. Era o lema na bandeira. Agora ela flamulava no
céu, maior, o pano dourado e o sol alvo sobre o olho negro, O espaço da cidade é o
durante um treinamento, lá nos Salões de Jade, que “os Bons Companheiros”, como
chamavam-se os três, iriam governar o mundo. Miguel se recuperou, virara grande
amigo de Azimov. Hoje estavam ali, hasteando a flâmula dos Bons Companheiros.
Tomaram como regras as quatro leis de Jade: fortaleza, lealdade, respeito,
misericórdia nunca. Tal como aprenderam com seus mestres nos salões.
Seu coração apertava quando lembrava de Jade. Mas depois endurecia,
virava pedra. Virava Jade. Teve a alma triturada, e esmagada mil vezes, quebrada, e
derretida no calor do pedra líquida. Assim é que se faz um Homem de Pedra.
No fundo da montanha é onde os homens viram pedra, Jade; mais duro que o
aço. Lembrou do lema da academia militar que frequentaram.
A conquista de Vaudeferro
Ágoras decide tomar Vaudeferro, cujo Senhor, Edmundo, recusou-se a enviar
ho exército de Ágoras.
de vulcão. Mestre Agenor tentou pegar-la, mas queimou a ponta dos dedos. Ficou
soprando com um bico pronunciado. Tentou beber, um tantinho, pela beirola.
Queimou os lábios. Au! E esfregou a mão na boca, tentando fazer passar a dor.
Puxou um braço articulado da parede, com um leque de plumas esvoaçantes
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manivela impulsionava uma engrenagem na ponta do braço articulado, essa, através
de um cabo, movia o leque para trás e para frente. Em breve estará na temperatura
ideal, dizia Agenor, sem perceber que as plumas chapinhavam na superfície do chá.
Como eu dizia, -retomou o Decano, Mestre Egídio-, ele era um homem de seu
tempo, esse Seth. Um tanto esnobe desde de o início. Mas certamente que tinha as
qualidades necessárias para ser reconhecido por aqueles que lhe eram
Sempre falei para o Senhor, e todos os demais artífices, que deveríamos nos
unir no ímpeto de construir um dispositivo. Um que fosse capaz de lembrar aos
homens exatamente tudo o que ocorreu no passado. Para que não fiquem insistindo
nos mesmos erros. Eu me sento aqui, como em minha oficina, e fico refletindo sobre
quantas vezes eu já vi esse ciclo se repetir. E sei que até o final de meus dias, ainda
verei muitas guerras, enquanto nos tornamos meros espectadores de toda essa
perda de tempo.
Mestre Egídio voltou-se para Agenor, mas ele parecia não ter ouvido o que
dissera, estava rindo com as cócegas que as plumas faziam no seu rosto, com o vai
e vem do abanador.
sombrios.
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Mestre Agenor, finalmente tomou o chá. Mas ficou cuspindo os muitos fiapos
aquilo resignado.
Nunca tive dúvidas de que ele seria o vivo perfeito para a tarefa, pensou o
montanhas dos Ermos do Norte, uma maravilha da engenharia de alta precisão. Não
empena, não quebra e não é facilmente abatida pela intemperie. Garantia de dois
mil anos na magia de preservação. Paredes, piso e teto, portas, caibros e dutos,
tudo do mais puro cristal da Fundição Caldeiraquente F/P (filhos e primos). Veja, é
para ser Cristalina. Portanto, tão invisível quanto os ventos. Portas de travamento
magico, toda automatizada com cabos e arranjos. Possui autonomia energética de
seis mil anos, alimentada pelo grão de Uranina 30ton. Uma cortesia, é claro, da
Guilda de Cientistas de Vaudesílica.
Está em fase final de acabamento, Meu caro amigo. As outras seis estão a
caminho. Umas mais adiantadas que outras. E se for do seu interesse conferir tudo,
de artifícios, Mestre Egídio, se viu sem palavras. Logo ele. E só conseguiu dizer:
Sim, meu amigo, com certeza eu gostaria. E sorveu o seu chá, que já estava na
temperatura perfeita.
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O velho comedor de larvas
Na conquista de Vaudefero é dado um banquete onde um misterioso vidente está. E
diz ue opde ver o futuro. Então o Rei quer saber o seu futuro. Uma larva que come
sangue é posta na mao do rei e o vidente a come. Um tesouro procurado, sob mil
Os caminhos do profeta
Agoras insiste na ideia de encontrar a pedra, edir tenta dissuadí-lo daa ideia, falando
que a pedra é uma lenda, que foi feita uma visão de um velho bruxo e tola, sem
validade. Então ele pede a edir que procure nas tais lendas onde se encontra a
pedra.
Oliveiras perfumadas
Lis conhece Geb
O Sacerdote encontra uma magia de sangue capaz de dizer onde está a a pedra
procurada. E uma gota de sangue indica no mapa o vilrejo do córrego.
Meu poder
que o calor intenso pudesse vir a causar. Parecia que o movimento das sinuosas
labaredas fascinava de forma hipnótica o Nosso Senhor da Fortaleza do Sol. Estava
55
Adiante, segurando uma mulher em farrapos, estava seu fiel General, Goim. Um
jovem militar, que prosperara muito rápido, ajudando o Rei a executar uma sucessão
de eventos que o levaram ao poder, tonando-o o governante mais novo que a
um menino, de no máximo três anos, procurava o abrigo das vestes daquela mãe,
subjugada.
bater na mulher. Ela disse que não sabe de nada. Esses gritos… Já chega! O
General a libertou com um empurrão. E ela ficou no chão, chorando copiosamente
nome do menino. Extremecendo, ela disse baixinho, entre um suspiro e outro: Lokar,
Senhor.
56
E o Rei prosseguiu. E se eu , seu Senhor, perguntasse igualmente a esse menino,
Lokar, se essa história, que sua mãe lhe conta à beira do leito, e que ele tanto tem
apreço em ouvir (e ela em contar); se eu lhe mostrasse a figura de uma pedra,
lágrimas haviam deixados caminhos de lama pela suas bochechas. Ela babava e
abraçava desesperadamente o filho. Eu não sei, prosseguiu. Seu choro repetia um
gã, puxado junto com ar, e depois um xiado, grave e salteado por fungadas curtas.
Reverbernando intensamente pelo salão.
Não, não, não, não... Suplicava a mulher, meio que segurando os pés de
Tantalus Ágoras.
Lokar, é esse o seu nome, não é? Você gosta de histórias, sua mãe já nos
disse isso. Aquele homem ali, e apontou na direção de Edir Gramateus, ele tem
lo ir. As mãos ainda tentavam se tocar, mas Edir Gramateus não precisou fazer
muita força para separar o miúdo, que mal falava, dos braços da mulher.
inexorável do esquecimento.
57
Os homens foram até a Vila. Os soldados vasculharam as casas.
homens é que não foram capazes de encontrá-la, naquela ocasião. Mande homens
competentes, e resolva de uma vez esse problema. Tão logo traga a gema para cá,
eu farei o que estiver ao meu alcance para extrair o que for necessário dela. Seis
grandes volumes estão à caminho. Os encomendei na visita à Shadai. E serão muito
58
Então ele foi acompanhar pela janela, o movimento dos homens no pátio, até a
Visitas inconvenientes
cresceu.
Soler era o único filho homem do patriarca Geb, e Liz, a jovem Oliveira de cabelos
com a acusação de desonra por uma gravidez recusada pelo pai, indo embora para
os burgos da Fortaleza do Sol.
A mãe, não suportara o peso da tristeza na ida da filha. E após alguns anos,
ao parir um menino atemporão, que chamaram de Soler, foi arrebatada por uma
letargia, que a consumiu até secar seu leite, até nada mais importar. E quando a
criança tinha meses, morreu de uma infelicidade aguda.
Restara ele, e somente ele, depois da morte do pai, já velho, levado pela
consumação. Soler recebera a gema no leito de morte de seu pai. Lembrava-se do
pedido do velho, que após fazê-lo jurar que jamais a venderia, disse que deveria
guardá-la e mantê-la na família, devendo preservá-la de todo perigo.
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O velho dizia que a honra dos Geb não deveria ser manchada pela ocasião
da perda de um bem tão precioso, do qual eram guardiões, embora vivessem sob o
estigma de ladrões. Mas Soler, ainda que por demais justo, não compreendia tão
bem a missão que o avô lhe delegou, antes de morrer. Ele entendeu, no íntimo de
seu coração, que aquele era o bem mais precioso que possuía, e assim seria sua
que talvez valesse muito mais que um templo, ou um reino, lançava sua luz
fantasmagórica nas tábuas do humilde casebre, deixando escapar por entre reflexos
estanho e bronze. O adorno ainda que moldado em metais não nobres, resultou
numa peça bela, cuja atenção central era a gema. A pedra, herança carregada à
gerações pela família, reluzia sua beleza mágica por entre o fino metal moldado por
Soler: acreditava ser uma Lápis-lazúli, com um fulgor vivo em seu interior, uma
massa que parecia ter vida própria se convulcionava. Incrustada entre folhas de
lótus, ornadas pelo artesão, parecia ser ainda mais altiva. Uma pedra tão vultosa
com carinho, e foi correndo buscar Lis, querendo logo por a peça em torno do
pescoço da amada.
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Ele correu entre as pastagens, através das oliveiras, dos cedros e das
ela conjecturava o porquê da pressa e do desgaste. Mas podia ler nas feições do
jovem que era algo bom, e ela estava feliz com isso.
No caminho a jovem pensou que esta seria uma boa hora para dizer ao
artesão, para falar-lhe que suas regras estavam atrasadas há duas cinco Luas e que
não seria mal irem morar juntos, arrumar as coisas para três. Ela mal podia esperar
para dar a noticia à Soler, pois sabia que seria bem-vinda. Suas almas diziam sim,
Na cabana, o Geb não deixou que ela falasse, tapou seus lábios com as
mãos e caminhou na direção da mesa. Uma refeição estava servida, com água pura
uma vez, e contar-lhe o que a Velha do Córrego havia lhe dito, porém Soler pediu
silêncio.
Não ouviram os gritos das mulheres sendo violentadas. Não ouviram as portas
sendo estraçalhadas com o vigor das maças e tampouco as espadas sendo
desembainhadas.
Não ouviram os homens e mulheres tentando evitar o ferro. Seus amores, seus
irmãos e seus parentes sendo fendidos na noite sangrenta. Suas famílias sendo
deixadas para morrer dentro das casas em chamas. Se houvessem escutado,
poderiam ter corrido, saído noite à dentro, fugido daquele destino horrível.
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Soler entregou o embrulho à Liz. Ao abrí-lo, uma luz cegante saiu da pedra, e
antes mesmo que ela pudesse olhar o colar, levou suas mãos às vistas,
mergulhando, imediatamente, em uma cortina de escuridão e ardência. Soler a
Entre passos e tilintar de ferros não pôde distinguir nada a não ser o gemido de seu
amado logo após um forte salavanco. Ela o puxou com toda força para si. No
negra que ali se depositou. As mãos quentes espalhavam a massa rubra pela face
da jovem. Algo aproximava-se.
Lis, se debateu, tentando livrar o braço da mão forte que a apertava, com o toque
frio de metal. Segurou-lhe do punho, torcendo seu ante-braço para fora. Enforcou o
pulso para tomar-lhe o objeto que estava cerrava na palma das mãos. A jovem
resistia, porém a fraqueza infringida pelo medo, fê-la ceder.
com sua vida. Sentiu aquilo lhe cortando a carne, mas investiu contra aquela pessoa
que estava à sua frente. Um grito subiu pela garganta, e saiu pela boca, empurrando
seu corpo na direção daquele alguém. Mesmo sem poder ver, ela sentiu a cerâmica
cravando a carne macia, rasgando a resistência da pele. Ela foi arremessada longe.
Mas em seguida foi pega e erguida pelo braço, enquanto gritos de dor ecoavam pelo
casebre.
-Veja o que fez com o General! Vais pagar caro pelo olho dele, rameira!
-Ela não pode ver! Mira seus olhos, é cega!- uma voz rouca dispontou.
Ela se debatia e socava o ar, tentando esganar qualquer coisa à sua frente.
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Então a voz que gritava parou, e rugindo se dirigiu a ela, como que aproximando-se:
-Não é de mim certamente que deverás te vingar! – a voz ordenou aos outros que
estavam no casebre- Quebrem todas as coisas, procurem a pedra. Tenho um serviço
para terminar.
Liz sentiu o movimento das mãos do homem ante seu rosto. Muito provavelmente
testando seu olhar e tirando a conclusão inevitável de que Liz estava cega.
Um momento de hesitação pairou por segundos entre o homem e a jovem. E então
a dor, talvez se livrasse do pulso firme que a continha, porém ela não pode e estava
cega. Não saberia para onde fugir.
Antes que ela tentasse uma nova investida, sentiu uma pancada na cabeça, e
o mundo se tornou lento. E novamente outro baque com sua cabeça sobre a
madeira. Até ser arremessada no chão. Uma mão tensa e apurada segurou sua
saia, puxando-a de qualquer maneira, porém sem sucesso em retirá-la. Em seguida
63
muitas mãos a apertavam com força, nos seios, no rosto, nas partes íntimas. E
quer que fosse o lugar seguro onde desejava estar. Porém sentiu erguerem-na pela
nuca e em seguida bater seu rosto contra a mesa novamente, diversas vezes,
Entre repetidos desmaios ouvia vozes, algumas conversas sobre a morte do Rei.
Falas sobre o novo governante e sua promessa de opulência.
tudo o que tinha no estômago. Em seguida pensou em morrer e seu coração foi aos
poucos abraçando a idéia.
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Então, despontaram abaixo do morro, um bando de homens à cavalo,
olhos e dirigiu-se para o chalé, com a bacia de roupas apoiada na cintura bateu com
os calcanhares à porta. Boa coisa não era.
corpo violado e dolorido, que desfalecera sobre o chão, agora, tentava agarrar-se.
Porém, aos poucos se prostrou, para que tateando os espaços, encontrasse o
terrível pudesse ter acontecido. Virou em direção à saída e correu para a porteira.
No fim da estrada da vila viu vários focos de fumaça negra subir aos céus.
feridas, ao lado dos corpos de suas mães. Jovens mortos e casas em chamas. O
mundo havia ruido na sua casa. Caído sobre seus estertores, e uma lembrança
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Ela correu. Correu para o lugar onde encontrara a pedra no passado, aquela
gema que havia curado suas feridas, o seixo de vida brilhante que pulpitou nas suas
mãos, muito tempo atrás. Queria curar a todos, desfazer o estrago dos homens no
velha levou a mão aos olhos para proteger-se. A Porta da casa inexistia, e com
dificuldade, enxergou lá dentro dois corpos:
A Velha foi à margem do rio e apanhou um pouco d’gua com as mãos, sorveu
um gole dizendo algumas palavras. Seu corpo destilou uma secreção viscosa, como
se fosse untada. Chegou até a porta, onde o fogo parecia não surtir efeito sobre ela.
Caminhou entre os destroços e encontrou o corpo do ourives já em chamas e
alguns objetos, mas desistiu. Arrastou Liz pelos braços até uma parede ao lado do
forno de barro. Empurrou algumas madeiras e chutou outras para fora. Puxou a
jovem através da senda e parou somente quando considerou estar à uma distância
segura da casa. A Velha afagou-lhe o cabelo, e viu a mesma dor que sentira há
muito tempo atrás. Ela então chorou pela jovem. Pela vila. E presenciou mais uma
vez o rigor da vida, quando estranha ao amor e alheia à alteridade entre os homens.
Ela ainda voltou à cabana mais tarde, onde a única coisa que encontrou,
entre os restos quentes de madeiras, metais retorcidos, ossos e cinzas, foi um lindo
colar de folhas de lótus, encrustando uma pedra negra brilhante. Julgou que tinha
valor e levou consigo.
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A Velha disse a Liz que os soldados da Fortaleza destruíram a Vila. Não fora
uma pilhagem comum, não carregavam objetos de valor, nem grande volumes
consigo. Eles procuravam por algo. Porém não teve coragem de revelar à jovem o
segredo que carregava, aquele sobre a gema dos Geb e a desconfiança de que
estavam atrás dela.
poderia ver a realidade da aldeia. Sabia da destruição e das mortes. Dos corpos que
a Velha e os outros moradores queimaram. Sabia de tudo. Mas não tinha coragem.
Simplesmente ficou ali, deixando-se ser aturdida pela letargia, pelas profundas
marcas infringidas em sua alma. O corpo doía, pesava e ainda estava ferido, mas
recuperava-se. Porém uma mácula irrecuperável caiu sobre a alma, sobre a mente e
as vistas. Isso não seria modificado, não agora, não tão cedo.
A cada semana que passava, ela tinha certeza de que aquele sofrimento era
irreversível.
tronco sobre o catre. Estava frio, cada vez mais frio. Esfregou os pés, procurando
aquecê-los, estavam magros, com ossos protuberantes. Lutando contra a
dormência, pôs-se de pé. Uma vertigem repentina caiu sobre ela, a empurrando em
direção à cama.
Caiu sentada e chorou. Chorou muito, tanto que seus olhos estavam inchados. Ela
podia sentir a pele apertada entre as pálpebras. Mas combateu aquele sentimento
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Mas ela persistiu. E foi tateando a escuridão, tropeçando em objetos, tocando
as paredes até a abertura. Lá um leve calor encostou sobre a pele translucida. Ela
quase podia ver novamente. Mas quis imaginar o vilarejo, como o vira da última vez.
la desmoronar. Mas um cavalo relinchou no pátio, e Lis tentou voltar para dentro.
Desesperada deu alguns passos para trás, até bater em alguma coisa, e caiu sobre
eram, ao menos fora de seu coração, não eram. Porém Lis ficou desesperada e tudo
que soube fazer foi chorar. O choro logo se transformou numa raiva. E ela viu que
isso afastava o medo. E ainda que sua espinha estivesse congelando, ela se
agarrou àquela sensação que a empoderava, a sustentando. O ódio por aquele
lábio sendo fendido pelos dentes. Então, das dores se ergueu. E ficou ali, de pé e
resistindo.
Assim prosseguiu, por algumas semanas, usando uma raiva crescente como
bengala.
seus passos e monólogos sem fim. Sobre como estavam reconstruindo a vila. Sobre
como os soldados perambulavam por aquelas bandas. Exigiam coisas, favores e
pertences, plantios e impostos, pessoas e terras. Dizia sobre rumores, sobre que o
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filho do Rei lhe assassinara, usurpando-lhe o trono. Que faziam companhas pela
saído dos arredores do córrego. Talvez ela não ousasse, e ficasse lá como os
outros, como escrava de seus limites. Ela nunca falara com a Velha, resumia-se a
com as unhas ouvindo tais histórias. Um plano íntimo se formava e tornava-se claro
conforme iam os dias.
Guiando-se no escuro, cada vez com mais cuidado, Lis, saíra fora do casebre
pela primeira vez. E embora aterrorizada, escutando os ruídos da natureza à sua
volta (talvez nunca notados, como agora os percebia), decidiu que faria algo,
abandonando a letargia.
dos anos, uma busca egóica, que incluiria não verter nenhuma lágrima a mais
sequer.
preletora.
A velha a aconselhava: ande com cuidado, sinta os cheiros, toque as coisas e
memorize os lugares. Tome cuidado com o que escuta, e por certo deve estar
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escutando muito mais. Contes os passos, guarde as passagens. O gosto do ferro, o
cheiro do veneno. Veja o mundo com seus ouvidos, sinta tudo com o seu corpo. Os
movimentos, o ar se deslocando, os suores e corações batendo. Veja a verdade e a
mentira na voz de quem fala. Toque quando puder, evite quando convier.
Ela escutava calada todas as falas da condutora.
Isso porque sabia que a Velha havia nutrido por ela um sentimento de
proteção.
Mas Liz não pôde ficar, e sem dizer nada decidiu partir para a Fortaleza. Isso
porque foi consumida pela idéia crescente de abandonar a Vila, buscar vingança,
suas, frias e suadas, a acariciou. Eram mãos de pele flácida e ossos protuberantes,
duras e calejadas. Ela sussurrou para Lis: “Vá, siga teu destino, e que a Deusa te
e entregou um vidro pequeno contendo um líquido escuro- estes serão teus olhos
acolhedor que percebeu na Velha. Quis dizer algo, mas a voz lhe faltou. Depois de
todo esse tempo, nunca trocara uma frase sequer com a sua cuidora. A Velha a
segurava firme. Porém, suas mãos se retorceram, ela afogou todo o sentimento, e
as puxou para si, fugindo do toque daquela Senhora, que a cuidara por muitas
70
nas palmas da mão. Sentiu a dor que lhe fazia viva. Deu as costas para o mundo e
Ali ela partiu, pois quando virou as costas para o vilarejo, ela já não sentia
mais vontade de chorar.
Só respirou fundo e engoliu a seco uma promessa. Que ela cumpriu durante
muito tempo e a duras penas, a de que jamais voltaria a verter uma lágrima sequer
em sua vida.
Os espinhos no caminho
“Quem bate?” Disse uma voz abafada do outro lado do portão.
Lis tentou falar, mas não sabia se ainda podia fazê-lo. Um tempo de silêncio
veio até a próxima pergunta. “Quem é e o que quer?”, perguntou a voz novamente,
Então o rosto na porta se apertou e fechando o postigo com força não mais
mirou a rua.
De fato era mais um pedinte faminto. Como aqueles que batem à porta da
Fortaleza todos os dias. Como aqueles que dormem ao abrigo dos burgos. Que
matam por uma migalha. Mas aquela parecia delicada. E tinha feições adequadas e
boas de se ver.
disse, com a voz que há muito não lhe subia pela boca: “Sou quem bate.”. “Logo
vejo!”, disse o alguém. “A que vens?”, lhe devolveu. “Eu venho ao que quiseres,
Senhor.”.
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Então o postigo se fechou.
tremeu e bateu com força para trás. O homem se pôs de frente, e aquela moça era
pequena e frágil. Então uma voz forte e cheia de pensamentos lhe dirigiu: “É você
que dorme nesses muros já há dias? Veja, eu tenho pão. - e lhe estendeu um
pedaço de pão duro e mofado.- Porém não será de graça.”
Ele a levou para trás da guarita, longe dos olhos de aldeões e nobres. Liz
cerrou o punho, protegeu a sua alma no local onde cultivava a vingança. Se cobriu
da raiva que a alimentava, enquanto o guarda a penetrava. Aquele ódio a
seguinte, e apontou para o portão do muro: “É uma novinha muito bem comportada.
Fique certo que não come muito, só um pouco de pão velho lhe fará feliz.” E
gargalhou. Antes de sair ainda puxou uma gamela, onde alimentavam os cães, deu
duas batidinhas e sem abaixar-se jogou água ali. “Dê-lhe de beber antes de usá-la.
correu tropeçando nas pedras, sumindo por entre as ruas estreitas e entrecruzadas
da velha Cidade do Sol.
Pedro, Izar, Altanar, Baltazar, Apolineu, Eger, Izac, Rosart, Endrio. Nunca
esqueceria esses nomes.
Ela caminhou, gravando-os na mente, por entre as vielas da Cidade, até bater
numa nova porta, cheia de música e risadas feminas. Onde sentia um bafo quente,
Dava para sentir a porta abrindo, com todo o som de música e gargalhadas
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aumentando, um vento morno batendo nas pernas. “O que eu posso conseguir?”, Lis
O Sangue desconhecido
“Tu não és sangue do meu sangue”, ressoava a fatídica última frase de
Dágoras, na cabeça do seu filho. Fora cuspida de seus lábios, num misto de
escármio e último suspiro, enquanto a adaga de ouro e aço, que jamais havia
fendido nenhuma carne, lhe deslizava com força no meio do bucho. Porém, por mais
supreendido que tenha ficado com a traição de Tantalus, o rei morto não fora sem
lutar. Forçou o tição incandecente no rosto do assassino, deixando-lhe o cenho
desfigurado.
Tantalus Ágoras ficava irritado com essa memória, e mais ainda com a
possibilidade de que tais palavras fossem verdade, ou ainda, sendo uma verdade,
alguém mais soubesse do fato.
A luz do fogo refletia sobre a máscara de trama fina de couro, pintada a ouro.
Escondia do mundo a pele retorcida, cortada e sulcada. Lembrança eterna do preço
que lhe custou o poder. Mandara moldar diversas máscaras, mas na solidão dos
seus aposentos, era essa a que prefiria. Gostava do cheiro do couro e do toque
a criada aguardava pelas ordens de seu Senhor, tremendo e suando num canto mal
iluminado. Seu rosto brilhava de suor, muito embora aquela fosse uma noite
atipicamente fria.
Traga-me vinho. Disse à copeira.
Ela se aproximou com o jarro, para servir a taça que estava na mesa, ao lado
de Rei.
73
Ele fitava o fogo, como vislumbrando algo que não estava ali. A jovem deitou
a bebida devagar, e antes que pudesse largar o jarro, Ágoras, num movimento
rápido, a segurou pelo pulso. A copeira estremeceu, e começou a tremer o fino jarro
fogo não é bom, nem mau. Ele é o que é, e queima. Essa é a sua natureza. E pela
sua natureza, ele é o que é, faz o que faz. Ele fere porque é forte e avança sobre a
carne que é fraca. -e apertou ainda mais o pulso da criada- Por ser quente ele
espanta o frio, derrete o gelo, esquenta o corpo e cozinha o alimento. Mas ele
queima. Acima de tudo. Aquilo que pode lhe ferir deve ser respeitado. Mas somente
a ponto de você poder dominá-lo. Eu digo que o fogo é poder. E quem tem fogo
deve ser temido.” Então, com a outra mão ele removeu lentamente a máscara do
rosto, e girou o tronco, ainda sentado, na direção da copeira. “Eu controlo o fogo na
minha casa, na minha lareira.” E, segurando com mais força ainda o braço da moça
“Olhe para mim. Olhe para o meu rosto.”, ordenou o Rei com tom severo. A
copeira olhou para Tantalus Ágoras, no fundo do seus olhos. Sua expressão mudou
completamente, de uma menina acoada no canto do quarto, para uma mulher com
gestos vacilantes de criadas. E há muito que lhe observo. Seu pisar firme, sempre
observando no cantos. Planejando seus movimentos. Você não é quem diz ser. E
esse seu olhar… Você não teme, me desafia e não baixa os olhos. O que tem nas
mãos? Ora, ora…” E torceu-lhe o punho para revelar um pequeno frasco nas mãos
da copeira. “Veja se não é esperta! Quer saborear o brio de uma vingança. Botar
morte no meu cálice, não é? Vou lembrá-la que EU sou o fogo. EU sou aquele que
comanda. Vou provar-lhe, Senhorita, que EU sou o poder.” Ele apanhou o atiçador
incandescente.
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Sussurros nos corredores
Ele disse que o Senhor seria o homem ideal para descobrir tais segredos. E disse
penduradas na velha e grande argola de ferro que trazia na cintura. Sua boca
fumegava, por debaixo do capuz grosso de caxemira. Estava frio, muito frio. E ali,
qualificações, pois sua reputação o precede. A mim não me importam seus métodos,
desde que obtenha dela as informações necessárias. O que sabemos sobre o caso
até o momento é o que dizem os sussurros nos corredores. Que é uma assassina.
Mercenária, fanática, rebelde? Não sabemos. Mas chegou onde chegou, muito perto
do Rei.
O homem de capa verde entrou na sala da masmorra. Deixe-nos. Ele disse. A porta
O rosto do homem permaneceu encoberto. Do estalar de seus dedos surgiu uma luz
verde, fraca e farfalhante, na palma da sua mão. Ele a transferiu para uma esfera de
copeira. O cheiro de escrementos era forte, porém parecia não incomodar o homem
encapuzado.
Ela não levantou o rosto. Só encolheu-se ainda mais, ao sentir a presença de outro
alguém no recinto.
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Eu estou aqui para lhe oferecer misericória. Disse o homem com uma voz
sussurrada, que ecoou pela cela. A misericórida dos homens, não a dos Deuses.
A mulher levantou o rosto, que estava marcado por multiplas feridas de
imagem de uma meia lua pulsante. Cintilando azul, em meio às sombras que
dançavam na cela. Seu olhar para aquele homem era de espanto. De incredulidade.
E esse mesmo olhar foi capturado pelos olhos do encapuzado misterioso, que
desvelando o semblante, repousou suas fitas verdes, no fundo da alma da
prisioneira. E esses olhos brilharam sob a luz esmeralda, como duas velas
incandescendo no entardecer. Sua pele era pálida e esverdeada e possuía dentes
seu corpo.
Ele permaneceu bebendo do seu olhar por muito tempo. Quando sentiu-se satisfeito.
Cerrou as vistas e desceu o capuz. Deu algumas batidas na porta e aguardou o Alto
Sacerdote retornar.
Edir ficou perplexo quando ao abrir a cela, deparou-se com a Jovem se debatendo
no chão, enquanto uma espuma grossa saía pela sua boca, e seus olhos, como
duas bolas de leite, saltavam das óbitas encoleiradas por sangue. NUX VOMICA,
pensou.
Lis sentiu o toque macio da linda peça de seda de Vauparaíso, que fora
estendida sobre a mesa central. Dedilhou as sandálias de plumas e saltos do
76
texturas diversas de lãs nobres, de carneiro-de-caxemira. Frascos de diversos
que trazes aqui, deixá-lo inebriado com esses odores orientais, ela quer ser sábia. E
tomou o livro das mãos de Lis. Edmina sentou-se na cama e colocou o livro no colo,
a capa do livro, um relevo em couro. Com tom de deboche, disse: Aposto que você
sabe o que é isso. Afinal, sabe muito bem, só de tocar.
Chega, chega, disse Edir afastando as mãos de Edmina e Lis do livro. Não
estou aqui para perder um tempo precioso, que não possuo. Senhoritas, o que me
meninas que aqui se encontram, vinte companheiras com potencial para entreter a
corte e servir ao novo Rei, Tantalus Ágoras. Tornem-se apresentáveis e sairão
Gostaria de ter muitos anos a menos do que possuía, e muito menos do que aqueles
que sua aparência dizia que tinha. Anos a fio trabalhando naquela vida cruel lhe
ensinaram que tal ofício era difcil de se manter com idade. Hoje explorava meninas
mais novas, como Lis, que batera à sua porta há algumas luas atrás. Estava prenha,
bem se sabia, e desde que sua barriga crescera, não conseguia mais nenhum
cliente. Servia à casa como uma empregada, limpando e arrumando o
estabelecimento.
77
Nem Lis, nem Edmina foram escolhidas pelo Preletor. Ele apontou seu dedo severo
mulheres. E arremessou um saco de moedas ao chão. O preço que pago por elas
vai lhe custar mais caro, a cada dia, quando teu bordel estiver vazio e tuas carnes
moles não te puderem sustentar. Edmina ficou atônita, porém retorquiu insegura de
sua afirmação: O preço que minhas carnes moles recebem e receberão pelo serviço
que eu fizer, será pago por homens que tem a carne mole como a tua, no meio das
pernas. Que mal usam aquilo que compram, porque não conseguem. Apa, desculpe!
Esqueci-me que os preletores não possuem carnes no meio das pernas. São os
rufiões de voz fina do Harãm de nosso Senhor.
da blusa.
Edir segurou o Preletor pelo braço, fazendo uma mesura de complacência. Dirigiu-se
à Edmina pedindo desculpas, porém dizendo que precisaria ainda de um favor. “Não
se esqueça também que das facas afiadas dos Preletores. Muito boas para linguas
igualmente afiadas. Tome. - jogou uma moeda para Edmina- Por uma moeda de
prata levo a criada grávida e cega, tendo em vista que necessito de uma nova
copeira. Em breve haverá mais uma boca para comer, e uma mulher a menos para
trabalhar, se acaso morrer no parto. Ela nos servirá até ganhar o filho. Se sobreviver
Edmina, concordou com relutância. E pensou se não seria melhor resistir, manter Lis
consigo. Mas uma outra moeda caiu aos seus pés, e ela então a agarrou, e em
silêncio deu as costas. Muito embora no seu íntimo temesse pela pequena e seu
porvir, aquilo não passou de um assombro, ao qual ela pode resisitir. Acompanhou a
pequena ser carregada pelo braço, com uma certa indiferença pela sua condição. A
78
puseram numa carroça, separada das demais. Junto com os porcos que serviriam o
Um serviço eficiente
Eu pedi há um tempo que viessem a mim mulheres jovens e capazes de
agradar meus convidados, meus generais. Meus homens relatam que chegam que
choram. Disse Tantalus Ágoras ao Preletor, num tom de insatisfação.
servir vinho ao pedido de sua Majestade. Aquela brincadeira agradava Tantalus. Ela
colocou o dedo na borda da taça, parando de servir ao toque do líquido.
forma negativa, desde que a primeira jovem, que retornou naquele estado… E então
aconteceu novamente. E a terceira moça... Bem, essa não retornou para o Harãm…
Não posso compreender o que tenha sido para Vossa Alteza tamanha falta
diligência no cumprimento de minha tarefa. Mas prometo ao Senhor, diante de
minhas própria vida, que tentarei retratar meus atos falhos, de forma a proporcionar
a satisfação das vicissitudes pessoais de quem for do seu agrado.
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O rei moveu uma pedra para uma das pontas do papel, que insistia em
enrolar-se. Ele então apoiou as mãos sobre a mesa, refletindo sobre as informações
que nele estavam contidas.
Então o Rei emergiu daquela leitura, e retornou sua atenção para a conversa
com o Preletor. Após uma pausa prolongada, continuou, Trate de prover meu
voltarmos da longa viagem para qual me preparo. Que ela estejam preparadas.
Toda a musculatura do encarregado soltou-se naquele instante. E o aceno de
dispensa lhe caiu tão bem, como se o fio da espada houvesse sido retirado da sua
nuca. E o Preletor se retirou com uma mesura.
ficara lá, desconsolado, depois que o Rei lhe contara seus planos para Saigão.
Ficou impedido de deixar a tenda, até que tudo estivesse resolvido.
80
um batedor, General Miguel, que com muita antecedência providenciasse anunciá-
lo, requerendo autorização do Senhor de Saigão para ficar em suas terras, antes de
seguirem rumo aos desertos mais ao sul, para treinamento militar preventivo.
recepção não foi a esperada. O batedor estava lá, mas falou-lhe que o Senhor de
Saigão estava ofendido com o trânsito das tropas por suas terras. E ficou muito
de Saigão, um rélis criados de camelos, nascido como visionário, que lançou-se nas
areias quentes e perigosas de Terra de Areia, levando as maravilhas do interior do
que vieram depois dele, trabalharam para ampliar e vesificar os produtos ofertados.
E a opulência de Saigão ficou conhecida, muito rapidamente em todos os lugares do
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Saigão nunca tivera vocação militar. E isso era um problema, pois muitos
povos de dentro e fora do deserto começaram a saquear a cidade. Ali havia dinheiro.
E dinheiro compra coisas, inclusive a segurança.
Foi então que Raj Mohamed de Saigão passou a utilizar proteção militar
financiada pelo ouro. O primeiro contrato foi com a Companhia das Cimitarras. Um
bando dos próprios beduínos que os saqueavam, viram que poderiam obter mais
lucro com menos risco, evitando que outros larapios organizados das areias,
Foi então que uma forte organização militar chegou, com poder de expulsar
os Beduínos Egirãos em seu próprio território. Chamavam-se de Lanceiros de Jade
Muito famoso por sofrer de uma paixão arrebatadora por sua companhia.
Um Homem de Pedra é um homem de honra. Ele é o que ele faz. Ele faz o
que promete.
E foi isso que Azimov fez, há alguns aos atrás, quando ainda treinava nas
quando seu peito endureceu como jade, aquele sentimento ficou cristalizado,
protegido num pequeno bolsão.
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Ele prometeu à Miguel que daria sua vida pela dele.
se aproximar.
Coberto por uma túnica amarelo mostarda, trazendo o estandarte Da
Fortaleza do Sol
Era um batedor, anunciando a vinda do Rei Tantalus, que também fora
promessa.
Então, quando Ágoras vestiu as luvas e entrou pelos portões do Palácio de
homens de Pedra. Pensou que estava seguro, mas conforme o Rei avançou, os
guardas abriram passagem, e o Raj de Saigão ficou sem reação, sem entender o
das escadas, perante o Homem de Pedra, duro, que reconhecia como Rei. E
cumpriu a promessa que fizera à Miguel, no seu valor de lealdade, e não o valor
pago em dinheiro.
E o Rei o recebeu, batendo com a mão no ombro, naquele antigo ferimento. E
desceu, pegou a lança do chão, a colocando nas mãos do seu amigo. Mais duro que
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o aço! Disse, olhando bem nos olhos daquele homem. Mais duro que o aço! - ele
respondeu.
O Preço
Raj Arik, o governo do Reino funciona tal qual uma corrente de elos. Se um elo está
fraco, você o remove. A corrente fica menor, porém sólida. Eu não pretendo perder
elos, nem removê-los, até que isso se faça necessário. Mas é natural, que quando
esse elo quando parte da corrente, ele deve forcejar com os demais, a fim de evitar
dar causa a um rompimento.
dúvidas. Mas o que tornava tudo difícil, é que Tantalus usava uma máscara, e
diferentemente de todas as outras pessoas, não se podia ler a sua expressão, para
conduzir um diálogo.
Ficava sempre uma dúvida quando dito algo à Tantalus, que nececitasse de
aprovação. E sabia que isso incomodava, porque costumava fazer longas pausas e
muito silêncio após ouvir o que lhe era dito.
o café da manhã nos Jardins de Pedra. Varr Jötunn Bar, foi, e por muito menos eu o
84
matei. Ele não quis assinar a moção para revogação do Tratado de Paz, mas o filho
dele assinou. Ninguém é inssubstituível, Senhor Arik. Haverá um Raj após o Senhor.
Nossos termos não são discutíveis. Eu gostaria muito que o Senhor os aceitasse,
porque o Senhor é bem relacionado e influente. Isso é bom, mas não é precípuo.
O Administrador estava chorando. Saigão, pensava ele, estava quebrado. Mas
legais dos impostos instituídos pela Bula Tantalus Regnus, os percentuais de: trinta
porcento do lucro presumido na venda das mercadorias em estoque na data
posso pagar imposto todo o Havdalá sobre uma mercadoria que não vendi, e que
posso nunca vir a vender. Se assinar isso, estarei decretando o fim de Saigão”
Tantalus levantou, empurrando a cadeira para trás.
O Raj deu um salto. Muito bem. Mesmo que eu tenha lhe ofertado proteção das
rotas de comércio, oferecido suporte irrestrito para transporte de mercadorias, tenha
dito que vou comprar os seus insumos para alimentar os meus exércitos. Que vou
construir um império consumindo os seus produtos para fazê-lo, o Senhor me diz
convocá-lo, e eu vou ficar aqui como seu hóspede. Até que o Novo Raj seja eleito. E
sentou, cruzando os pés sobre a mesa.
Porque não me mata de uma vez?, disse o mercador sendo segurado na cadeira
pelos guardas de Tantalus. Eu não o mato agora, Raj Arik, - e engoliu o vinho da
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taça, de uma só vez- porque EU POSSO matá-lo depois. Assim, desde o momento
Mas foi direto, cruzou por entre as barracas como se traçasse uma linha reta,
evitando todos que vinham na sua direção, empurrando e gritando para que saíssem
da frente.
Puxou o pano grosso da entrada com força, colocando-o nas alturas.
E respirou fundo muitas vezes, mas ele sentia aquele tremor e fogo intenso
subindo e apertando o peito. E então sentiu uma movimentação atrás de si. Uma
parar. Ele não podia ver o rosto dela, mas somente seus olhos através de um fino e
quase transparente véu preto. Ela estendeu o braço. Um documento.
fundo, na direção do peito, rasgando. Tantalus apertou a boca, com raiva e devolveu
o olhar para a mulher. Como? Ele insistiu.
Eu tenho meus meios. Ela disse, projetando ainda a sua pungente fita verde
nos olhos igualmente verdes do Jovem Rei que a amaeaçava. Mas há um preço. Ela
disse, colocando as mãos no meio das pernas de Tantalus. Quero sua semente.
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Ele segurou a mulher pelo pescoço, como que fosse enforcá-la. E então a
dele tremiam. Ela não tinha medo, como os outros, Aquele fogo e frêmito que ele
bem conhecia, como quando ele rangia o maxilar e aguentava tudo, tinha poder. E
dedos sobre a máscara de couro, a empurrando para cima. Ágoras estava ofegante,
e seu olhos eram como duas chamas alaranjadas, flamejando na escuridão. Então a
máscara caiu, e seu rosto ficou á mostra, com aquela longa e profunda cicatriz, que
atravessava todo o lado esquerdo. Então seus olhos mudaram de expressão, como
se ela o reconhecesse.
Tantalus se deixou ser visto por ela, com o prazer iníquo que lhe era
característico.
Ela estava prestes a tocá-lo novamente, ao que foi segurada com muita força
no pulso. Ágoras forçou mais o corpo dela contra mesa, mantendo-se distante.
Sentia aquela agonia vindo, como se fosse arrrancar a goela dela, como se fosse
esmurrá-la tanto, que colocaria crânio exposto. Mas não, ele puxou a camisa com a
mão, rasgando a flanela, e baixou a calça de montaria, ficando nú. Então seus
dedos se fecharam com tanta força em torno do pescoço dela… Um força que ele
não sabia que tinha. Mas ela não morreu. Ficaram com seus olhares vidrados um no
outro.
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Tantalus Ágoras levantou, de qualquer jeito, as vestes dela, e de forma
Ágoras foi encontrado nú, no chão, ardendo em febre. Com ele estavam os
documentos que fizeram daquele momento, o marco do seu império.
Uma fratura
sozinha e ele nada podia fazer. Achava afinal, que era realmente feito de Jade.
Jamais colapsou, apesar dos horrores que viveu ainda menino. Às vezes o
Sacerdote se perguntava se Tantalus sabia que sua mãe havia lhe inflingido um
ferimento mortal. Se pergunta se sabendo teria ficado o menino em silêncio,
carregando aquele fardo sozinho. Aquela cicatriz enorme que carregava abaixo das
costelas. Se ele não sabia, seria uma benção. Afinal, que tipo de veneno pode
considerar que aquela forma como Ágoras se revelava, era uma fratura para o
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Homem de Pedra que ali estava. Sua impotência externada diante daquela fala
estranha, que o Sacerdote chamou de “um ato de confidência”, era como um fôlego
novo para o Alto Clerista. Vinha se sentido ameaçado e desprestigiado pelo Rei.
Muitos se recusaram a acreditar, mas Tantalus não ia à Luz, falar aos seus,
dando provas do contrário. E há tanto tempo estava assim, que nem mesmo os
do Jovem Rei. Mas ele escutou atentamente tudo, ficou intrigado e achou até
instigante a parte final onde foi dito a Tantalus “Procure pela Gema. E, a resposta
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Fez isso na intenção de aliviar a angústia daquele homem. Chamava-se O mito do
herói na litúrgica do Primeiro Filho, por Patrono Parminedes de Niceia. Talvez tenha
lido aquele livro um vez. Folheado mais algumas vezes. Acreditava tratar-se de um
trabalho raso, com linguagem pobre e pouca força retórica. Esses jusnaturalistas,
sempre tentando subverter as grandes reflexões litúrgicas, transformá-las nas suas
Tamanho era o seu desespero em perdê-la, que ao saber das ostes que se moviam
contra ele, para resgatar a pedra das profundezas das montanhas, ele a engoliu. E a
sombra daquela pedra o envenenou. E ele foi corrompido pela avareza, pela
mesquinhês e pelo ódio…” Blá, blá, blá, blá. E há essa outra passagem aqui “…
quando tomou a poção do vomitório, arrependeu-se dos seus crimes. E sumiu para
sempre, deixando a gema com as ‘parideiras de luz’. Veja-se bem, que o termo
nobres mulheres. O texto indica que o Primeiro teria caminhado “através das
montanhas”, sugerindo que ele tenha atravessado alguma cadeia montanhosa. Ora,
“chegou a uma gruta’, e que ‘depois partiu pelos campos’. Pode-se identicar a região
geográfica situada entre o Rio Ausar e as Terras de Evreskaya, passando por
senão a única, de que tenho conhecimento, que se refere à “Gema”. Essa gema que
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jamais foi encontrada. Essa gema que muitos procuram, cujo fragmento está na
irmos à Shadai, encontrar uma resposta. Então irei. E trarei a localização da pedra,
custe o que custar.
E fechou o livro, puxando os cobertores para cima do Rei, que havia pegado
no sono, sobre o catre humilde do Alto Sacerdote.
Nos primeiros dias a sineta tocava incessantemente. Àgua, frio, alívio, abre
janela, fecha janela. Vinho, vinho, vinho.
Uma noite ele saiu porta à fora, na madrugada. Voltou no outro dia, direito
para a cama. Ali ficou deitado e pouco saía de lá, desde então.
batendo.
Não comia há dias. Pelo cheiro a copeira presumia que andava se aliviando
por ali mesmo. Ela só fazia arrumar algumas coisas, cujo barulho não fosse
incomodá-lo. E depois se deitava na enxerga, esperando ser chamada. A barriga
lareira, desde que entrou para o quarto. Frio.- de novo. No canto, não se enganva.
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Ele estava encolhido e não vinha nenhum calor do seu corpo. Então com dificuldade
já sem espaço, o chão estava muito frio. E eram fisgadas muito fortes, que faziam-
na sentir uma quentura no meio das pernas, como se fosse explodir. E o bebê
remexeu muito, de um lado para o outro. E ela tentou sentar, mas as dores nas
costas estavam muito fortes. E ela aguentou aquela dor e empurrou muito as mãos
dura, como se fosse rasgar ao meio. O bebê não parava e amontoava-se de um lado
para o outro. Mas ela ficou de pé.
Foi que o peso do chales sobre seus ombros foi diminuindo. A lã grossa foi
escorregando lentamente, como se estivesse viva, saindo sozinha. Uma vibração
gelada e magra puxou os cordões da camisola que ela vestia, pressionando com
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delicadeza o pano para baixo, fazendo-o escorregar sobre os seios, sentido uma
lufada tênue, até chegar ao chão. Movimentos à sua frente traziam-no para mais
próximo dela.
O toque frio de uma mão vacilante, foi aos poucos se fazendo sobre a pele da
barriga. Então veio um espasmo, o bebê se contraíra num grande movimento. A mão
estar lhe sugando o calor do corpo todo por ali, de uma só vez. E aquelas mãos
trêmulas se espalharam desajeitadas, sobre a barriga, trazendo consigo a
confinidade de uma respiração cada vez mais exasperada, como de alguém tiritante
soltando ar pela boca. E veio um abalo, uma tensão estabelecida entre o sim e não,
pelos hirsutos.
Então ela aproximou a sua mão daquele que ali estava. E a extremidade dos
cabelo. E havia olhos fundos, molhados e pequenos. Deixou o pouco de carne dos
indicadores passarem lentamente sobre seus cílios, os levando de um lado para o
outro. Eram longos e não eram muitos. E descendo havia uma barba, farta, porém
aveludada, que ela apalpou com muita leveza. Depois, moveu as mãos de volta ao
rosto, notara algo ali. Algo muito diferente das faces que já conhecera na escuridão.
Com candidez deslizou o pomo do dedo onde havia um sulco profundo, cujo
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depois se perdia entre a barba. Seus dedos subiram delidacamente até a boca.
foram ficando umidos, assim como aquele rosto todo. Então as mãos dela estavam
se afastando, enquanto a copeira permanecia imóvel. O homem levantara. Era muito
mais alto que ela, porque quando estendeu os braços para tocá-lo, alcançou os seus
quadris.
Então duas mãos encontraram as suas, aquelas mãos frias, de dedos longos
e duros. E a conduziram para cima, através do tronco. Os músculos pelos quais ela
de pele dura. E havia um declive, uma cavidade no ombro, onde a pele convergia
para o centro. Tinha textura de ranhuras, como uma lâmina dágua, que ao colapsar
congelou. E era grande e seus dedos se demoraram naquela pele lisa e dura. Até
serem conduzidos, lentamente para baixo, através das costelas, magras e salientes.
gélida foi a deixando aos poucos. E sumiu, entre as paredes frias, entre os espaços
escuros. Entre as vagas de ar que cruzavam todas as frestas daquele quarto. Sumiu
nas profundezas de um silêncio tão punjente, que só as fitas brancas de Liz eram
capazes de compreender.
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Mas havia algo nas suas mãos, algo como uma poeira, feita de pequenos
grãos. E eles, ainda que finos e muitos pequenos, eram pontudos e ásperos, como
pequenos cristais. No entanto eram duros, muito duros. Duros como a própria pedra.
oferece uma troca de informações ele quer a cópia do mapa das novas rotas de
comécio, que estão em seu navio, em troc vai lhe a página de um livro onde é
Fofocas na cozinha
Meus dedos doem e estão com calos. E ainda tenho todo aquele cerro de
tostar em fogo brando com mel de laranja, cortados ao meio. Setenta pojos
1 destrinchados que estão chegando pelo Rio, que queira D’us, não se atrazem. Uma
carroça de aveia para o pão. Nove quilos de amêndoas para esmagar na pedra e
depois cozer seu leite. E ainda decorar o bolo, que virá da Casa Doce, na Vila
Oeste. -Retrucou Marlene, chefe da cozinha, enquanto trazia para dentro, no muque,
duas caixas de madeira repletas de beterrabas.
Mal saiu daquela pocilga que virou o aposento real, já nos ordenou trabalho!,
retrucou, Ailin.
Já lhe mandei calar a boca!- ralhou Marlene, lhe jogando uma beterraba. Por
fim acabou-se a agonia de ver o pobre menino naquele sofrimento lá em cima. Já
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colocar um piso de madeira por cima daquelas pedras horríveis e escorregadias.
Aquele é ainda um dos únicos quartos que possuem cara de caverna nesse lugar!
É! -e continuou Ameli, destrinchando um quarto de carneiro,- E parece que já
foi enviado um homem à Shadai, para que avise o Alto Sacerdote que o Rei saiu do
claustro. E quando chegar aqui, vai nos forçar a cozinhar outro banquete
novamente. Vai precisar comer muito, nosso Reizinho, dizem que está tão magro
como um mendigo. E ficou pensando, parada, Mas depois continuou cortando a
carne. Se bem que os magros são mais bonitos e charmosos. Não tão magros
assim, é claro! Na Vila Oeste são todos muito magros, bem assim. E quando não,
são gordos e mal podem subir nas carroças sem ajuda. E lá na Vila Sul, Ailin, como
são?, interpelou, chupando a ponta do dedo que cortara com o cutelo.
Ah.. São meio que homens. Como.. - Gaguejou Ameli.- São iguais, todos
iguais. E não prefiro nenhum deles, falam de guerra, te deixam com todo o trabalho
devemos erguer nossas vozes. E ela disse que há uma passagem no Livro dos
Mistérios que fala bem disso. O Quarto filho foi uma mulher. Uma Leoa Guerreira.
Que só era tocada quando permitia, que libertava mulheres escravas e as ensinava
a lutar contra a opressão masculina, lá no meio do deserto. Que elas destruíram
exércitos e só tinham filhos quando queriam, não sendo obrigadas a isso por
nenhum homem. Explicou Ameli, levanto-se para pegar mais batatas.
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Estranho é ser espancada no meio da noite quando seu pai chega bêbado em casa,
e sua mãe está com tanto medo que não pode te defender. Ou quando riem na sua
cara por dizer que quer ser soldado, mas que mulher não é feita para a guerra. Ou
ainda quando te fazem descascar batatas na cozinha, e você queriam estar lá fora,
pondo arreios nos cavalos. Isso é estranho. E estranho também é achar que tudo
que falei é normal e certo. Ameli foi firme e não se importava em ser desabonada
pelas caretas de Ailin.
casa real. E quando Susana a pediu que ela ficasse na Fortaleza, para que se
tornasse seus ouvidos ali, ela sempre soube que a cozinha seria o melhor lugar para
isso. E desde então ouvira tudo que se dizia no castelo. Desde a menina cega que
tornara-se copeira do Rei no lugar de sua amiga, Selena, que fora pega tentando o
e da estranha insistência do Rei em fazer ser atendido por uma copeira grávida e
cega.
Rash, rash.
palavras adequadas.
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Meu Senhor, disse, rompendo o silêncio que sucedia as ordens de Tantalus
Ágoras. E fez uma pausa dramática e longa. Ouvia-se somente o ir e vir do escovão
sobre o assoalho, nas mãos firmes da nova copeira, de olhos brancos leitosos,
mirando o chão. Temo que um sítio ou até mesmo o fechamento do Templo possam
ser medidas precipitadas e impopulares. Muitos vêm ao Porto, querendo aliviar as
dores da alma. Negar-lhes seus Deuses… Bem, isso seria uma postura tirana, que o
colocaria contra os peregrinos. Contra o Alto Conselho, e até mesmo contra a
Rainha e o Alto Sacedote da Cidade da Lua, Fineas seria uma grande preocupação
também. A relação entre as cidades gêmeas está fragilizada, meu Senhor. Como
poderemos viver por muito mais tempo sem guerras? Necessitamos da velha
harmonia entre os lideres religiosos e militares. Precisamos do apoio da Cidade da
Nâo podemos deslegitimá-los sem começar uma guerra. Uma grande e imprevisível
guerra bem nos nossos portões. E além do mais, Nosso Senhor acaba de sair de
As chamas crepitantes que ardiam na sua lareira ainda não haviam sido
acesas desde que saíra do claustro. Mas ele mirava a madeira apagada, e seu
extinto pensamento de fogo, em silêncio. Então foi arrebatado por uma série de
pensamentos que o arremessaram para fora de si.
Eu pouco ligo para o que o Alto conselho delibera. Pouco ligo para essa maré
de famintos e miseráveis que batem ao Portões da Cidade da Lua. Não há
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representatividade das figuras Clericais, suas vestes são drapejantes e seus
acontecimentos, eu serei o Egirão 2 dos povos. Aqui, nessa mesma sala, eu quase fui
envenenado por uma assecla da Rainha da Cidade da Lua. São mais de meu
somente aos seus próprios interesses. Aquilo que não me serve, irei eliminar.
Portanto, meu caro e fiel Edir Gramateus de Shadai, eu lhe digo, eu vou tomar o que
quiser. E farei como me aprouver. Eu ressurgi das minhas próprias cinzas.- e olhou
para a lareira escura- Eu vou voltar a ser uma chama que arde e se alastra. Vou
como bem colocado pelo Senhor, que poderei executar para colaborar de maneira
menos invaisva para a consecussão da sua vontade. Na Lua sangrenta de hoje,
elimanaremos seus inimigos na cidade gêmea. Que a sua vontade seja feita. Tu a
tu.
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O Alt Alto Sacerdote cruzava de um lado a outro do seu cômodo modesto, no alto da
Fortaleza.
Um perdigueiro. Pensou. Poderia enviar um perdigueiro com uma mensagem nas
Mas um perdigueiro ofereceria riscos. Poderia ser morto, ter seu caminho e destino
evitados. Mensageiros são pontas soltas. Concluiu. Não se daria ao luxo de arriscar
demais.
Seu orgulho estava ferido; truques, disse o rei. Uma ordem milenar resumida, por
Clerical, fazendo aquela maldita magia de sangue, que transferiu os efeitos do soro
dos honestos e do Mel de estenio para mim.
inimigos do rei, para trair os seus, precisaria de muitos ingredientes. Um velo intacto
de lobo negro. Uma tina de banha morna. Um punhal de ouro e aço, banhado em
sangue de Rei. Uma liturgia em Copta. Um objeto de Susana. Sangue. Uma magia
de Sangue.
Aquela caixa. Aquela pequena, escondida e empoeirada caixa, que Edir Gramateus
visitava com frequência. Uma mecha dos cabelos da jovem Susana, com que fora
100
mulher que era. Seus pensamentos deveriam se voltar para a Rainha da Cidade da
Talvez avisando Ben Adam de Quran, o Rei da Cidade da Lua, através de uma
profecia… Sim! Faria com que tudo parecesse uma profecia. Ninguém desconfiaria
de si. Ben teria tempo de evitar que Susana fosse ferida. Tudo fazia sentido.
O ritual estava escrito em um velho livro, copiado e glosado na Biblioteca de Shadai,
sua terra natal. Era uma obra grande, com meio corpo de comprimento. Grandes
desenhos e diagramas. Com liturgias desenhadas em três línguas: Copta, Bo e
Yadish. Carregá-lo era uma tarefa que envolvia no mínimo, duas pessoas. Suas
folhas eram de linho dupla, prensado à óleo quente. Lavadas com água régia diluída
e secadas nas estufas da costa de Shadai. A ilha seca e desértica que abrigava a
bliblioteca de mesmo nome. Copistas, estudiosos glosadores e Senhores de
Bardo naquela época, sequer sabia que ela se tratava de uma proscrita de alguma
ordem. Provavelmente mandada embora de sua terra, proscrita, e condenada a usar
a burca negra. Mas ela lhe dissera, e aquilo mudará sua vida, que a magia de
sangue era forte. E assim que sagrou-se Sacerdote, começou a adicinar pequenas
quantidades de sangue em suas magias, ainda que sabendo ser proibido. Uma
profanação.
Depois abandora o hábito. MAs como uma droga aquilo voltava à sua mente. E
quando precisava de uma magia poderosa, recorria aos livros de magia de sangue,
disso.
101
Mas o livro, não era um livro difícil de encontrar entre seus pertences,
e cuidado, embora seus olhos estivem enuveados, marejados, não por causa da
poeira.
Edir Gramateus orou por algum tempo. Tomou uma vela de sebo preto, a acendeu.
Quando chegasse no fim, e houvesse a chama já extinta, após ser consumida, então
Ben Adam seria chamado a receber suas mensagens, na forma de uma Divinação.
O Bardo do Sol mergulhou as mãos na tina de pedra, onde ainda estava a
água Sagrada pelos primeiros raio da Estrela do Dia. Começou entoando um Liturgia
em Copta. E assim continuou até perder os sentidos.
Quando acordou, sacudido pelo seu Fiel Prestante, O Rei já estava nos seus
aposentos e a vela começava a derramar suas primeiras gotas de suor.
Vejo que se prepara, meu caro Mestre. Disse Tantalus Ágoras, dispensando com um
aceno os três guardas que o acompanhavam. Ele foi retirando as luvas e as
desdém. Que ironoia! Rituais de Fineas… Velho e antiquado. Vamos, faça seu
truque. Quero o Rei e a Rainha mortos.
conseguí-los...
Uma queda. Interrompeu o Rei, rispidamente, virando uma ampulheta de ponta
cabeça. O Senhor tem uma queda, precisamente. Uma queda da areia que está
nesse conta-tempo, para fazer o seu truque e provar que este local ainda é útil ao
reino. Seu madeiramento está bem seco, e todos esses livros… Demorarão muito
102
menos que o tempo que lhe dei para provar a real utilidade desse local, caso não
Tantalus deu às costas. Ia saindo pela porta, quando voltou para pegar suas luvas,
nas mãos do incrédulo Prestante.
Edir Gramateus lembrou da noite em que acolheu Tantalus, ali naquela cama, em
meio à uma desolação jamais vista. Sentiu raiva de si mesmo por tê-lo feito e
Um chamado na noite
O Leito do Rei estava morno quando ele despertou de sobressalto, e vazio. A
Sacerdotisa não estava ao seu lado. E por entre os véus de linho fino, penetrava a
claridade acinzentada da noite. O óleo ainda queimava na lâmpada, e o aroma
fresco de olíbano ainda vagueava pelo aposento. Ben Adam de Quran calçou as
sandálias e apanhou suas vestes, que descansavam à cabeceira, em um pequeno
altar de granito. O manto branco, vestiu, por sobre a camisola de linho grosso, e,
unindo suas pontas ao meio do peito, atou um nó. Tomou o amuleto do abutre,
sobre as Cidades Anciãs ao abandonar sua morada ao lado Hor-ohus. Emerges dos
pântanos e curas meu ombro direito. Tornar-me-ás membro do Barco Divino quando
O Sacerdote tinha o coração acelerado. E seu sono fora interrompido por uma
sensação de desconforto. Uma necessidade de ir à Pia Batismal, ao Templo, às
103
vestes Sacerdotais. Ele tomou, também, do descanso sobre o altar, o Cetro de Íbis e
dirigiu-se ao salão principal para fazer os ofertórios e orações finais da noite, que
seriam seguidas pelas matutinas, no outro lado do rio mãe, pelo Sacerdote Edir. No
entanto a paz não estava com ele naquele momento. Uma estranha motivação o
tirara com muita antecedência do sono.
sozinho.
O Sacerdote Cruzou a Casa Real e tomou a passadela que levava ao templo.
na cama. Para sua filha, que estava como todos os outros, dormindo.
Na saleta das vestimentas paramentou-se. Um medo crescia dentro de si,
Era Habet, enrolada no seu chales, fumegando na noite fria, com pressa e
imolada por alguma perturbação que a trouxera até o Bardo.
104
O Rei abandonou a saleta com pressa e partiu em direção ao templo. No
gelada.
Pediu a Habet que preparasse dois cavalos e acordasse Bet.
Ele então fechou os olhos e entoou uma liturgia em Copta. Até desabar no
chão. E numa visão, presenciou acontecimentos que jamais pensou que
sucederiam.
Viu a Rainha Susana, com a Crescente tatuada em seu cenho adquirindo a
Noite. Em torno da lua havia uma auréola vermelha. Sangue na lua. Então soldados
com bandeiras negras. Uma velha ressequida queimando numa pira fúnebre. Um
colar de folhas de lótus com uma jóía negra. Uma mulher numa armadura negra.
Uma onda de sangue varrendo a plataforma continental. Uma mulher cega montada
neve amarela.
A dor era tão insuportável que Ben acordou de súbto ainda com a sensação
de estar com a lâmina enfiada na barriga. Levou a mão ao tronco. Mas não havia
nada, estava só, no chão do templo.
105
Traidores na escuridão
Era noite alta quando Susana acordou, e foi conduzida por um chamado
urzes e pedras. Galhos e pedregulhos afiados. Vestia somente uma fina camisola de
linho, fumegava e tinha o rosto branco como uma louça. Foi quando avistou a
lágrimas, que lhe inundavam os olhos, turvando a visão: “Mãe, Deusa, Primeira, o
que queres tu, de tão humilde e fiel serva?”, “Marcada pelos segredos de Harpis, Da
Lua, Primeira, Água Viva! Que queres de mim, deste oráculo cansado? Dize-me! ”. A
Rainha caiu de joelhos às margens frias de inverno. Unindo suas lágrimas às aguas
amarela. Quando por um instante, quando estava plena, por sobre o rio, viu o sinal:
uma auréola vermelha a circundava. Então aquele chamado de desvaneceu. E uma
sozinha. Só depois de algum tempo, saída do transe, Susana percebeu que suas
106
pernas estavam quebradas. Uma dor imensa percorria seu corpo, deveras, era hora
de usar o fetiche. Seu peito estremecia, estava muito frio. Ela tentou morder o colar.
Quebrá-lo para ativar seu poder. Mas estava frio, sua madíbula batia sem parar.
Uma pedra do rio. Não havia nada ali. Suas mãos, estavam enegrecidas. Seus
braços tremiam tanto que mal podia controlá-los. Uma bruma prateada jazia sobre a
superfície do rio, e tudo estava azulado. Mas uma nuvem prateada brilhou por cima
das águas e veio em sua direção, saindo do Grande Rio, contrariando a correnteza.
Ela esfregou os olhos, já não conseguia distinguir com precisão. Abaixo daquela
nuvem, bem na lâmina dágua, uma sombra densa arrastava-se. O lobo caminhava
sobre as águas. E pisou sobre as pedras ribeirinhas. Com o pelo negro, levemente
tocado por pequenos cristais de gelo. Seu manto varria o chão como um nevoeiro de
brancos; ficou ali, vigiando, com a respiração curta e gélida. Uma magia de sangue
chamada quimera. Uma magia proibida para os Sacerdotes das escolas de
Mistérios. Não era Divina, vinha do sangue do homem na chama. Ele a atraíu para
aquela armadilha, e talvez o sangue que eu via na lua pudesse ser o seu prórpio.0
Nas vagas do seu pensamento, a imagem do jovem bardo que um dia quis ter
como companheiro, do habilidoso homem de fé em que se tornou, comandando a
uma das luas, a cheia, encaminhava-se ao horizonte. Ela contava o tempo, que
pareciam instantes, e percebiam-se já, os raios do alvorecer. Seu coração disparou
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brumas no Rio. Viu sua vida esvair-se, quando a lua tocou seu seio no infinito leste e
mãe. Seu corpo já estava duro, antes mesmos da última imagem que permaneceria
em suas fitas, se cristalizar no fundo da retina.
Era Noite ainda quando a Princesa fora acordada por iniciadas do Templo. A
luz bruxuleava na lamparina fazendo sua sombra dançar na parede de mármore,
brincando com o movimento do ar. Lançava sobre o rosto de Hebet e Sunamon uma
treva obliqua. Mas a jovem via além das feições cerimoniosas das servas, via mais
que músculos inertes sob a pele escura dos povos do rio: via tristeza e
cumplicidade. E via preocupação. Sunamon de Harpis, mas estava tatuado na sua
nuca, Mirnov de Sabo, sua cabeça havia sido raspada recentemente para o ritual de
iniciação, onde todas as aprendizes recebem um novo nome. Aquele fica ali, atrás,
tatuado na nuca o seu nomes antigo, Betsheba de Lakismi. Agora Bet de Harpis. Era
um costume daqui.
Vestiram-na em silêncio.
Conduziram-na até o salão principal do palácio, onde Ben Adam esperava. O
silêncio era ritualístico, como de costume, o que a preocupava era a angústia que
vinha do Sacerdote: de pé a esperar, andava de um lado para outro. Seus passos
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acompanharam até os cavalos que estavam na saída continental do palácio, nos
estábulos.
O sol não havia nascido quando montaram, o Sacerdote de Harpis e a
Pensou.
As urzes, durante a noite, tornavam a paisagem estéril e triste, emprestando
opacos do Sacerdote havia preocupação. Seu olhar distante era uma porta aberta
por onde a alma havia fugido, o abandonado. Ora agitado, ora trêfego, como se
Onde estão?
O rei fica puo quando invade harpis e não encontra o rei.
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Mais ao norte de Harpis
A Lua brilhante os acompanhou até os rochedos Cerpa, onde aos poucos ela
foi dando lugar a um majestoso nascer do sol, que entre as montanhas parecia ser
ainda mais brilhante. Bet contemplava a beleza ao seu redor, que ao longo do
caminho era deixada para trás, e que até então vinha saltando os olhos. Dos
rochedos era possível mirar a cidade do alto, incrustada no vale, à beira do Rio Mãe,
largo e caudaloso. Algo acontecia no Templo, pessoas se moviam numa agitação
os planos dos homens e aquele que a Deusa havia guardado para a Cidade.
Ela não entendia ainda como Tantalus podia espalhar tanta morte em um
mundo tão gentil. Crescera dentro dos portões de Cidade da Lua, educada e
treinada assim como ele, para tornar-se uma rainha, tornar-me uma Sacerdotisa,
que deve levar ao mundo a energia dos deuses, e não a dor ou a guerra, como ele
trouxe à Fortaleza do Sol.
do Sol.
Era inevitável pensar em sua mãe... O que havia lhe acontecido?
Não havia mais sinais para ela, que não o olhar temeroso de Ben Adam e a lua
cheia encoleirada por uma auréola de sangue. Uma perturbação que indicava que
montanhas que cerca A Cidade da Lua, afim de alcançar dentro de dois dias as
planícies, para encontrar um lugar afim de atravessar o rio. Viajar pelas terras
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de Tantalus Ágoras poderiam interceptá-los e isto levaria a dar satisfações aos
Uma vez completo o ritual de elevação ao trono, não haveria quem o pudesse tomar
com legitimidade de Bet, somente com a força da espada.
dançava para cima e para baixo. Não havia estrada, apenas um chão desgasto que
se abria de forma estreita entre as rochas, galgando a encosta em forma de zig-zag,
Difíceis de transpor.
Seguiram este caminho pedregoso um dia além do previsto, posto que era
ardil e estava em péssimas condições. À noite a encosta era fria por demais,
fazendo-os se abrigarem em grutas, quando as encontravam, e dormiram à volta de
da lua e pelos primeiros raios do alvorecer. Este era um dos únicos momentos em
que ambos se sentiam em paz, observando o nascer do sol. Durante o dia e a noite,
suas almas sussurravam medo e incerteza. Mas era o astro-rei, símbolo da Cidade
Oriental, que lhes trazia esperança ao coração: se um novo amanhecer é possível,
então será possível também um mundo livre. Bet assim pensava, tal qual seu pai.
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Lokar, O Grande Mão Direita, como ficara conhecido, sentia-se satisfeito
desde muito jovem, servindo como escudeiro aos grande Senhores Generais.
Sempre fora um soldado esforçado. Porém vinha se empenhando de forma
que lhe fora ordenado. O sucesso da missão rendera uma boa reputação, quando
confirmou mediante interrogatório, um homem chamado Soler tinha a gema. Ele
mesmo havia as obtido dos vilerinhos. Sua mãe vinha de lá, e lembrava-se
vagamente, das histórias que ela lhe contava, embora não tivesse nenhuma
lembrança do fato. Sua mãe o abandonara nos burgos da Fortaleza, e jamais voltara
para buscá-lo, o Preletor havia o criado, confirmando a história. Quando foi até a
Vila, nenhuma sombra de curiosidade pousou no seu coração. Ele ficou endurecido
por um ressentimento do abandono, alimentado anos a fio. Nada. Aquelas pessoas
dissera.
Desde então uma determinação havia instalado-se dentro de si. Não era apenas um
112
Queria contribuir tanto quanto possível para as campanhas de anexação, e havia,
sob às ordens de seu General, obtido informações sob a localização das Irmãs de
Areia. Quando numa emboscada acabaram capturando duas delas, e conquistando
como estabelecer tal comércio senão seguindo as rotas continentais que passavam
pelas suas terras, pois de um lado há um deserto intransponível e do outro uma
insubordinação, foi visto pelo próprio Rei como uma idéia visionária, que o fez
crescer na estima de Vossa Majestade. Fora levado para uma reunião interna, onde
número. Capturar homens como escravos e torná-los soldados não era uma
manobra eficaz. Era grande o números de relatórios sobre insubordinação, motim e
conspiração.
Então, quando não tinha voz, entre um pedido do Rei por outras idéias de expansão
de seus números, Lokar interrompeu o silêncio para propor o que seria conhecido
como “O grande torneio de exibição militar”. Seu General estava prestes a sensurá-
lo, porém o Rei ficou interessado em ouvir o que o jovem tinha a dizer.
Uma competição, Vossa Majestade, nosso Senhor da Fortaleza do Sol, onde os
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competir, e os vitoriosos receberão prêmios. Muitos deles virão porque necessitam
Senhor da Fortaleza do Sol será imperador do Oriente, com ostes tão fortes e
eficientes que nada restará para se opor ao poder militar.
O Rei fitou Lokar, por algum tempo. Um enígma se escondia atrás da máscara de
Tantalus. Em seguida soltou uma grande gargalhada e engoliu seu vinho de uma vez
só. Brilhante, disse ele por trás da sua moldura de couro favorita. Que seja feito.
Há poucas luas recebera uma ordem de promoção. Uma companhia sua, a título de
experiência, para comandar e fazer cumprir a vontade do Reino. Tão forte quanto o
sol, seria o lema da sua companhia. Ao final de três provas, uma a cada lua, ela
pelo seu superior. Mas ele era astuto, e ousado. E isso era uma qualidade nova,
entre todas as companhias, que vinha destacando Lokar entre, até mesmo, os mais
antigos.
Fora a sua companhia que recentemente interceptara o mapa de uma rota de fuga
114
Assim, o rei mandou chamá-lo, e encontrava-se indo à saleta de conferências.
Estava orgulhoso e radiante, na sua armadura nova, uma lamelar dourada, que
cobria meio peito e o ombro até o cotovelo, do lado direito, seu lado forte. O lado da
espada.
Ele bateu à porta e aguardou que fosse aberta, fazendo continência.
central.
Era a primeira vez que tivera acesso à sala frequentada pelos homens do alto
comando. E de alguma forma aquilo significava que o Rei lhe prestava confiança.
Não era um General maior, mas sim subordinado a um General do Primeiro
haveria porquê estar ali. Mas estava, e essa era a sua oportunidade, não iria
desperdiça-la.
Demando os seus soldados de confiança para esse serviço. Mas para o Senhor
delegarei uma tarefa de elite. Vá, siga a rota. Me traga o Rei em fuga. Me traga a
imediatamente. Escolha os homens que quiser, arme a sua expição e traga-os para
mim.
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Um fervor percorreu seu corpo, e as palavras saíram de sua boca,
Chegada a Vaudeferro
O vale Cerpa, mais conhecido como Vaudoferro, era de uma beleza ímpar: sua terra
fértil permitia que muitos animais ali habitassem. Havia comida em abundância e
águas puras e límpidas para beber. Fêmeas procriavam no vale, e criavam seus
filhotes em meio à fartura. Algumas feras também vinham até Cerpa em busca de
caça fácil. No interior do vale corria um regato de águas claras que estendia-se
Ausar, Rio Mãe. O vale ainda tinha sua beleza intocada e uma magia morna e antiga
corria o ar e descia ao chão, junto à névoa prata que dormia um sono de sonhos
etéreos.
Logo no fim da tarde alcançaram o fim de Cerpa e a passagem através de um
corredor formado pelas paredes de duas rochas gigantescas, com cerca de vinte
corpos de altura cada uma. Do outro lado, à espera, estava a mata aberta de Rapha,
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O sol ainda não havia despontado quando Ben acordou. A Princesa inquietou-
do bosque. O mesmo tempo teriam que caminhar até chegar ao afluente do Rio
Mãe, o qual vinham acompanhando, para cruzar a floresta de aberta. A medida que
A mata deu lugar a um prado pobre e triste, à terra dura e infértil, onde já se sentia o
gosto salobro do vento do deserto.
Betsheba de Lakismi
O Sacerdote estava acordado, mas ficou tão quieto e com os olhos fechados,
que parecia dormir. Afinal, seria ela, Betsheba de Lakismi, uma Rainha, como
prometera. Isso o enchia de orgulho.
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aproximou, para acudí-la, seus olhos abriram muito lentamente. Escorregou os
braços, tapados pelo véu preto, e muito sujos de sangue, mostrando que carregava
uma criança. Dias, ela tinha.
Tentou levá-la para dentro do Templo, mas se debatia muito, e puxou pela
mão branca e lisa do Rei, dizendo com uma voz quase inaudível ao seu ouvido: Não
tenho leite. O bardo ficou compadecido. Cuide dela, eu imploro, sussurrou. A criança
tinha olhos verdes vibrantes. E era negra, como o ébano, também possuía uma
mancha branca no pescoço, que cobria todo o lado esquerdo. Estava gelada. O
bardo perguntou à mulher se a menina tinha um nome. Betsheba, disse ela, nascida
de uma promessa. E sorriu para Ben. Era apenas uma mãe desesperada. Qual o
seu nome?, perguntou, segurando a bebê nos braços. Ela negou com a cabeça, e
baixou os olhos. Depois, levantou o pano que escondia o seu rosto e mostrou uma
marca, idêntica à da menina. Lakismi5, me chamam. Ben aguardou que ela se
braços, procurou aquecê-la como pôde, e lhe disse, encostando a boca no seu
rosto: Princesa Betsheba de Lakismi, seja bem vinda.
Quando voltou, com pão, leite de amêndoas e uma lão de caxemira, a mãe
não estava mais lá.
Folhetins, homens de anúncio, cartas, bilhetes nos murais nas tavernas. Os campos
ao redor da fortaleza estavam cobertos de barracas. E as exibições e competições
iriam começar naquela tarde. Uma grande arena fora montada do lado de fora da
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Fortaleza. Um círculo grande de arquibancadas, cujo centro era protegido por uma
sebe rústica circular de troncos encaixados. Uma mesa fora colada um nível acima,
onde quatro dos seus sete generais avaliariam as exibições dos candidatos e
preferida do Rei. O vencedor receberia uma corsa e dez moedas de ouro como
prêmio.
chão significava que o competidor estava fora. O início foi tímido. Mas no primeiro
soco, dado por uma mulher, bem no rim de um grandalhão musculoso, arrancou os
Estava fora. Era um Lanças Douradas. Isso fez a plateia soltar uma vaia. A luta dele
parecia coreografada e era diferente de tudo que Tantalus já vira. Ele voava, batia
O kolbi veio abrindo a bocarra. O homem ficou atônito, recebeu uma mordida
no tronco, foi arremessado. A patéia levantou acompanhando a queda. Mais um
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rosto no chão. E surgiram silvos entre as mã e palavras de incentivo. Alguns já
joelhos e em seguida mais um na nuca, e caiu para frente. Boca no chão. Fora.
Na sequência o soldado bailarino foi derrubado pelas mulheres também.
À frente do Rei uma Amazona lutava com um saldado livre de Saigão. A luta
estava taco a taco. A Amazona agarrou o soldado por debaixo do braço, cruzando
cambaloeou e sacudiu a cabeça, mas estava de pé. Tantalus começou a vibrar com
o pé em cima da cadeira e batendo na mesa. Os Generais viram o comportamento
cotolovelo de forma ângula para frente, O homem desviou, e ela passou reto. Levou
um soco forte nas costas, deu a volta cuspindo sangue pela boca. Procurou um
brecha para atingí-lo, protegendo o rosto com os punhos. Ele aproximou-se dela da
mesma maneira. Então so dois dançaram e ela deu um soco no ar. O Saigão fez o
seu movimento, e a Amazona esquivou, mas aproveitou a chance para atingí-lo com
muito força do lado da orelha, o botando de joelhos. Ela continuou batendo direto na
cabeça, e o homem levou às mão para se proteger. Então ela iniciou uma
sequências de socos, um, dois, três, quatro, e as mãos dele baixaram e os olhos
reviraram. E a adrenalina dela era tão alta que foi possível parar. Cinco, seis, sete.
Ágoras balançava os braços no ar e gritava junto com a platéia. Oito nove, e o rosto
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Tantalus pulou para dentro da arena, excitado, gritando e esbravejando. Foi
Ele urra, convidando a audiência a vir com ele. Soldados, homens e mulheres
das companhias livres e de seus regimentos, explodiram numa onda de vibração.
escarificação em seu rosto, e chamou mais uma vez a platéia, urrando e dando
socos com a mão direita na cicatriz do ombro. Seus músculos e a pele ficaram
dela com um impacto forte a desestabilizou. Agarrou a sua mão esquerda e girou o
corpo dela no mesmo sentido, forçando para baixo. O braço da mulher estremeu e
Tantalus continuou forçando, até a tensão ceder e seus ossos colapsarem. Colocou
o pé nas costas da Amazona, fazendo força no sentido contrário, enquanto ela ficou
levantaram os braços e bradaram. Tantalus girava o corpo para bramir junto com
demais. As pessoas desceram das arquibancadas e foram para o meio da arena
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bramindo, e defendeu-se com um soco, mas Tantalus segurou sua mão e deu uma
arena trocando os pés, e foi caminhando e caindo, só parou com os rosto na areia,
aos pés do vencedor.
Então veio o proximo, uma mulher. Ela tirou uma faca da bota. Os generais
ficaram atentos. Tantalus olhou para ela e sorriu. Meneou com a cabeça, e dançou,
imodéstia, torcendo os dedos da mulher e a puxando para si. Segurou-a pelo cabelo
e colou seu rosto no dela. Isso, enquanto virava a mão da faca para dentro,
empurrando a faca entre seus seios. Tantalus tinha os olhos tal qual duas bolas de
fogo, refletindo nas fitas vacilantes da mulher.
Então todos começaram a fazer barulho e bater no peito “ruh, ruh, ruh, ruh”. As
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nos olhos, até que ela engasgou com o próprio sangue. Ele atirou o corpo para o
Um chacal avançou para dentro do círculo e ele olhou com determinação para o seu
oponente. O chacal era meio corpo mais alto que o Rei. Ele nem estava inscrito na
contra Tantalus, e o acertou em cheio. O Rei voou sobre a roda, mas levantou.
Seguiu batendo do ferimento, e seus olhos ardiam como duas chamas. Então o
chacal bateu na lateral de Tantalus, o arremessando para o alto, e ele caiu por cima
da audiência. Os homens o empurram devolta para o centro do círculo. Ele
continuou a sua dança. O chacal investiu com uma mordida no rosto de Ágoras, mas
a destreza e rapidez do Rei foram maiores. Quando a boca do cachorro estava
aberta, ele já projetava o braço na goela do chacal. Sua mão atravessou a nucal,
banhando o público em sangue. Tantalus tirou o braço dali, estava ferido. O plateia
Ágoras pediu que o colocassem no chão. Ele subiu na mesa, onde estavam os
generais, e virou para o público. Goim alcançou um saco de moedas para Tantalus.
O prêmio.
Após a alvoroçada multidão se acalmar, ele que estava exausto, fez um discurso,
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admirar, que lhes traga inspiração. Escolham seguir um homem ou serem pagos
para seguí-lo. Das duas maneiras eu os quero, para construir comigo, um império!
Ele foi mais ovacionado ainda. Os homens e mulheres presentes tremeram e
Ele abriu a gibera, espalhando todas as moedas de ouro sobre os copos dos
sobrepujados.
Naquele torneio, Tantalus Ágoras selou seu destino como grande líder. Ao
final, enquanto todos se aglomeravam à volta do Rei, ele ouviu na multidão “ Mais
duro que o aço!”, e mesmo se esticando, e procurando, não pode ver o rosto de
quem gritara aquilo.
Varr Bar fora morto friamento por tnatalus, o que fora jamais esquecido pelos
filhos do Senhorio. Desde então conflitos constantes eram comuns nas ilhas dos
E foi assim, que no Primeiro Torneio dos Homens Livres da Fortaleza do Sol,
Zorba, capitão dos Lanceiros de Jade do Poente, viu, surpresa, aquele homem com
quem treinara, com quem virou um Homem de Pedra, ir ao meio da arena e
estraçalhar vivos com as mãos. E aquele Homem de Pedra virara Rei na Fortaleza
do Sol. E uma paixão e respeito
Finalmente fogo
A copeira estava lá, encostada ao lado da porta, como de costume, quando a sineta
tocou. Vinha da mesa. E ela estava escutando o costumeiro barulho dos papéis.
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Os barulhos lá fora, risos, a agitação dos soldados, pessoas às portas do pátio da
fortaleza, com flores. Isso desde o dia em que foi anunciado um banquete em
comemoração. Tantalus já havia se superado o confinamento, sua tez retomava a
conduzindo até uma barra de sabão aveludado, que exalava um perfume que ela
nunca havia sentido na vida. Um cheiro pungente, agudo. Lhe remetia a uma corsa,
junto as dela na bacia. E fez com que esfregassem o sabão. E então, a conduziu até
o seu rosto, e fez com que a esfregasse, espalhando a espuma, em pequenos
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O rosto estava macio e perfumado. Àgoras engoliu, e seu pescoço se moveu, como
palma da mão. Tudo que ela quiria naquele momento era poder gritar. Mas não
podia. Podia passar a lâmina no pescoço de Ágoras, mas não podia. Então as unhas
“Fui estuprada.”, era uma mentira e uma verdade. A Velha do Córrego lhe dissera
para falar quando necessário, pensou que havia errado naquele momento.
como nunca.
se queria deitar o filho antes do tempo, para que não fosse gerado um incômodo. O
que ela não queria. Tampouco queria que fosse levada, se menina, para o
Depois, Edir quis acolher o fruto da gestação e ser o Tutor da criança. Torná-
lo um Prestante. Mas Lis também não queria. Ela tinha um destino cruel, sabia
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disso, não queria seu amado filho envolvido nas amarras do mesmo destino. Mas
conhecedora das coisas do campo, teria feito e isso teria lhe custado a vida da
criança. Por certo que seu entesamento era devido ao fato de o Rei lhe tinha
como toda mulher sabe, ela sentia que a hora estava próxima.
Tantalus terminava de se vestir quando ela sentiu um líquido quente escorrer
pelas pernas, e mexendo os pés viu que era muito, sentiu uma poça no chão, e seus
dedos chapinharam. Ela ficou imóvel, para que ninguém notasse nada, na meia luz
do seu canto.
Mas então vieram pequenos espasmos no lombo. Uma dor corria suas
espaldas. Ela contraiu o rosto porque não pode suportá-la. E pediu por tudo que era
mais sagrado, que ninguém a notasse ali, como costumavam não notar.
E ninguém notou. Saíram todos, e quando o fizeram, ela correu até o seu
catre e virou o conteúdo do frasco na boca, todo de uma vez.
O Banquete da prosperidade.
Caminho de casa
Ela tocava a barriga, cuja pele reluzia ao sol do entardecer, negra e hirta,
como uma cerâmica envernizada. Correu pelo bosque, entre árvores de retorcidos
troncos, refazendo os passos que a levaram onde estava, os caminhos por onde
passara.
Ainda segurava com força o frasco vazio da poção desconhecida, cujo efeito a
estava levando para casa, onde quer que fosse. Agarrava a minúscula urna, como
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se aquele fosse o elo que a mantinha com a realidade; mesmo que involuntário o
que jaz entre minhas palavras: luz tão bela, porém que não faz-me esquecer que
pungistes meus olhos! Lembro ainda de tocar aquele rosto quente e úmido…
Implorando estava, desmedida escuridão! Até perceber que no seio da face alva de
meu amado eu não tocava lágrimas: um gosto cáustico e ocre tomou meus lábios no
um último beijo. Era a morte! Daria tudo pelo brilho do sol interludiando o breu de
minhas vistas! Mas a vigança grita em meio à minha cegueira. Agora soa o sino da
magia de retorno, amiga minha. Já não sou mais inocente e indefesa, tantas dores,
tanto ódio! Agora nem as cores, nem as luzes! Tomada fui, pelas brutais armas da
virilidade: amanheci flor e anoiteci espinho. Para onde foi levada a pequena menina?
que vim, e para lá retornarei. Agora correndo entre urzes e mata, sou uma mulher às
vezes do parto, defender um filho do mundo, apesar dos horrores diários a que me
submeto, nas mãos de um tirano! Tudo pela vingança. Tudo pela promessa ofertada
pelos Deuses, que na escuridão de minhas vistas aceitei. Que na escuridão do meu
ourives.
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E parindo, ela corria pelo Bosque Torto, em direção ao Vilarejo, à casa da Velha do
Córrego, carregando pela ultima vez em seu peito o colar que ganhara de seu
amado Soler. Sentia as dores do parto, estava desesperada. Por sorte seguiu os
Seus pais não estavam mais lá. Seus amigos estavam mortos. Seus sonhos
dilacerados.
Ela sentiu o córrego gelado banhando seus pés. Faltava pouco, pensou. A
água deslizava por entre um cerro de pedras gastas e desaparecia em uma gruta no
chão. Deixando somente um filete a brotar por sobre uma pedreira limosa. A cascata
parecia inerte aos horrores da guerra de Nosso Senhor.
Quando Liz, colocou os pés sobre a terra preta do vilarejo, sentiu o cheiro da
lenha do bosque queimando nas chaminé. Sabia que estava em casa. Respirou
fundo, e apesar de sentir uma forte contração, prosseguiu pelo caminho até o
casebre de uma velha amiga, no início do outro dia.
A velha do córrego
A velha amassava as ervas com vigor. O emplasto tinha que ficar pronto,
afinal, desde que Liz saíra, havia-se passado as quarenta e duas Luas.
poderia irromper pela porta à qualquer momento, e seria preciso água quente, panos
e o catre pronto para o trabalho de parto.
melhor cortar mais madeira. Devolveu o tição para seu lugar, limpando as mãos no
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avental pendurado na cintura. Dirigia-se até a porta quando resolveu voltar e
recobrar o fogo novamente. Com uma acha de lenha remexeu as brasas, jogou o
pau ali. Balançou o corpo indecisa na direção da mesa. Mas lembrou das lenhas.
Catou da parede o machado, e cobrindo-se com seu velho e batido xales, foi para o
quintal fender as toras e levá-las para dentro.
Suas costas doíam, porque ultimamente começaram a doer nos dias muito
úmidos, anunciando uma chuva forte ou tempestade. Já estava difícil fazer o
que se fazia presente desde que passou a sentir a idade pesando, como nunca
havia sentido enquanto a pedra ainda estava na aldeia.
Nem flores, nem sol. Estava opaco e nebuloso, sem sorrisos, sem pássaros ou
animais. A natureza se acalmava para receber chuva e frio. Todos nos seus abrigos.
lenha, a despeito de tudo que já ouvira sobre o mundo, de todos os viajantes que
passaram por ali, ou aquém, sobre tudo o que viveu dentro dos limites da vila.
E vira muito nos longos anos que permaneceu ali, vendo todos envelhecerem,
morrerem e tornarem a nascer. Todas as gerações de Gebs, Florentes, Amassa-
Nem lhe era do agrado passar por este mundo vendo os seus amados morrerem.
Preferia a solidão à dor de perder alguém próximo, novamente. Tornou-se triste e um
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aquela amargura novamente, que afinal, hoje só vinha como uma sombra na sua
lembrança. Como uma imagem tão longínqua que mal podia visualizar com clareza.
Estava cada vez mais no passado, porque ela assim quis.
E por todos os séculos que passou, ainda sabia a história de como tudo começou.
Mas já não tinha certeza se tudo fora verdade ou se o que sabia era uma lenda da
fundação. Aquela parábola misteriosa sobre as mulheres do início dos dias daquelas
bandas. Sobre as rezadeiras da gruta.
tempo muito distante, porém posterior à chegada dos homens e mulheres que
fundaram a Fortaleza do Sol. Eles vinham do Norte, da Primeira Cidade Anciã. E
uma pedra maravilhosa, dada a elas pelo próprio Rei da Primeira Cidade Anciã, o
Primeiro Filho. Ele, que estava na superfície, abandonou o reino dos subterrâneos
gruta. As rezadeiras lhe deram uma poção para que vomitasse a pedra, libertando o
Rei de todo o sofrimento que carregava. O homem partiu, deixando-a para trás.
viveram por muito, muito tempo até que a pedra foi roubada da gruta.
A mesma lenda também conta que a família dos Geb passou a ser mau vista na vila.
cujo roubo ocasionou a morte das matriarcas. No entanto, tal pedra nunca mais foi
vista por ninguém, o que restou do burburinho foi a idéia de que os Geb a haviam
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roubado. O patriarca Geb, defendeu-se das acusações, porém os únicos que
criança, durante um saque na vila, viu as casas serem queimadas. E junto das
cinzas a luz brilhante de uma pedra maravilhosa destacava-se entre os detritos. Um
brilho pulsante a chamava a olhar para o interior da pedra, onde uma luz se revolvia
e rodopiava com velocidade. Mal enconstara na superfície quando o velho Geb, que
da pedra.
Ela permaneceu em silêncio e jamais voltou a ver aquele seixo divino.
Porém algo fantástico lhe aconteceu, ela viveu por um longo período, de forma
sobrenatural. Atribuía, silenciosamente, o fato a algum poder que absorvera da
Sentia sua vida como uma grande colcha de retalhos enorme e esburacada.
Faltando tantos pedaços, que ela mal podia identificar que se tratava de uma colcha,
puída e sem utilidade. Muito do mundo não fazia sentido, exceto os acontecimentos
do dia a dia. O fogo, a lenha, o córrego e os animais dos arredores. Todo o resto do
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mundo era um desafio invencível, obscuro e inconciliável com a modesta vida que
levava.
Mas algo havia mudado desde que Lis deixara o córrego, desde que o último filho
dos Geb fora assassinado. Sentia-se cansada, com o peso dos anos a desabar, todo
de uma vez só, sobre suas costas, sobre as juntas, sobre o diafragma cansado. Que
se movia com dificuldade durante a tosse noturna, durante aquele outono úmido e
mofado que chegara.
Afinal sentia-se velha e tentava visitar todas as lembranças estranhas que ainda
conseguia acessar, como quem se despede de seus livros, suas músicas preferidas
machado. Fazendo cavacos voarem entre a neblina densa. Quase uma chuva,
descia leve, como uma pluma sobre os cabelos grisalhos e longos da Velha do
Córrego.
Estava assim quando viu ouviu a respiração ofegante e a voz de socorro às suas
costas. Ela havia chegado e, apesar de estar velha e cansada, ainda conseguia
calcular as luas de uma mulher até o seu parto.
Ele convence ela que pode ficar com a criança e tal. Pede pro Edir dar um soro da
verdade pra ela e ela desembucha.
O rei sai obcecado pra pegar a crinaça, vai no vilarejo pega o menino, mata a velha
e ainda acha o colar. Lembra da profecia “folhas de lotus e tal” e leva pra asa a joia.
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Liz pariu a um menino, que chamou de Aron-sat-geb. Seu filho foi a última
lembrança do amor de Soler, porém, devido à cegueira, não podia ao menos lhe
admirar o rosto.
Pediu ao pai e à feiticeira que tomassem guarda do filho, e que deveria sair assim,
às pressas, com a dor do parto ainda no corpo, antes que chegassem os guardas ou
o próprio Tantalus Ágoras atrás dela, e lhe tomassem a criança. Explicou ao pai que
o menino seria morto na mesma hora, posto que era filho de Soler, e seria
assassinado, em virtude de um ódio sem limites, pelas mãos do próprio Rei.
entregou o colar que carregava ao pai, e pediu-lhe em nome do que havia de mais
sagrado que entregasse ao filho quando este pudesse entender o que havia
acontecido; aquela era a herança que seu progenitor havia deixado. E pediu ao
velho Aron, que assim que o neto crescesse na idade de dez anos, que o enviasse
ao Templo do Sol para tornar-se um aprendiz, porém sua identidade deveria ser
mantida em segredo. Então, depois dos pedidos, foi conduzida novamente à cidade
pela feiticeira.
com flechas. Correrram até sua rainha morinbunda e a conduziram seus aposentos,
gritando por um enfermeiro.
montanhas, deitar o próprio filho com poções. O que lhe foi doloroso em todos os
sentidos, deixando-a prostrada pela imensa perda de sangue.
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Deixando os aposentos precocemente, uma vez que ainda expuragava o sangue do
A pequena foi envenenando sua mente com ódio e loucura, até alcançar caminhos
perigosos, cuja trilha de retorno era então desconhecida. Caminhos que a levariam a
vitórias pouco significativas, há três noites o cerco à cidade havia acabado, porém
com sucesso.
Liz tratou de estabelecer-se por lá, posto que alguém deveria tomar as rédeas da
cidade e comandá-la de perto.
E foi lá que, durante os cincos anos que se passaram até o ingresso de Aron na
Escola dos Mistérios, a Rainha Tornou-se também a Sacerdotisa do Porto da Morte,
Porto da Morte ela nomeou uma sucessora para ocupar o seu lugar: Hebet, uma
Oradora da Lua, vinda da Cidade Gêmea.
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Hebet permaneceu no poder tempo suficiente para Ilgada acabar com sua trajetória
na Fortaleza do Sol e no Templo da Ordem do Sol, uma vez que o herege Sacerdote
cobiçava o cargo e faria de tudo para tê-lo novamente. Ilgada acompanhava de perto
Ágoras domine. Ele deposita sua confiança no maior conselheiro de guerra que
possui: seu fiel clérigo Edir Gramateus de Shadai.
colocou sua imediata como Sacerdotisa Mor do Templo da Ordem do Sol, aos
poucos foi se desligando da Cidade do Sol. Permanecia no seu trono, cada vez mais
obscuro, até chegar ao ponto de ignorar a existência das cidades gÊmeas, ignorar a
existÊncia de qualquer outra forma de vida, caindo-lhe na face uma mascara negra e
desforme de injúria e ódio. Era certo que seu poder crescia gigantescamente, suas
ações se espalhavam tanto quanto as de Tantalus Ágoras.
Este foi o momento em que a Sacerdotisa Liz anunciou-se como Rainha de sátima
cidade anciã. Exortando suas intenções de vingança e oposição ao rei e marido, lhe
declarou guerra.
Com o rompimento oficial entre os reinos a liderança da imediata de Liz na Cidade
seguidor da magia divina, fornecida pela revelação dos mistérios dos Deuses, ele
seguia as tradições herméticas, cuja fonte de poder não era a fé, mas sim a
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dedicação ao estudo dos elementos mágicos. Através de pactos com seres antigos,
Foi então que convocando a última reunião do Conselho Matra, com a intenção de
atacar sua esposa e oponente, Tantalus Ágoras declarou o desvinculamento da
divina. No entanto, nesta altura dos acontecementos, a Sacerdotiza não mais ligava
para a escola do Lua ou do Sol, tampouco para a magia divina. Ela tinha outros
aliados mais fortes e neste tempo em que esteve ocupando o trono da sétima
cidade, ganhou forças e aliados inesperados, enquanto arquitetava planos contra,
da antiga religião do outro lado do rio, rumaram à Fortaleza para Patronar. edir
percebeu que o povo aos poucos começava a questionar sua Intolerância com os
De imediato ordenou a prisão da clériga Hebet, que foi humilhada em praça pública.
Onde foi publicamente torturada e obrigada a quebrar seu amuleto da lua, teve o
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senho desfigurado por ferro em brasa, pois carregava na altura dos olhos a
A Sacerdotisa Liz, que estabeleceu seu reino ao norte, perdeu-se nas escuridão por
longos anos. E sentada em seu trono, fomentou a vingança e o ódio em seu
coração. Esqueceu-se de suas razões, sua alma foi consumida pelo mal. Assim, a
escuridão da Sétima Cidade Anciã encontrou um novo governante: uma nova rainha.
E ela tramou uma vingança secreta contra Tantalus Ágoras e contra os Deuses, que
julgava ela, terem abandonado seu coração.
Senhores da escuridão
Foi então, que despertado das entranhas da morte o ancestral aliou-se à Liz. Ambos
firmaram um acordo: ele a ensinava a antiga palavra de poder que tinha
conhecimento, e isto a tornaria invencível, e ela deveria lhe trazer aquela que
revelar-se-ia para assumir o trono da Rainha Negra profetizada.
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Corromper Liz foi o primeiro passo. Destruir a magia divina sua maior conquista até
agora, pois se algum poder poderia rivalizar com o da Sacerdotiza, esse poder era
aquele que vem dos deuses. Para aniquilar de vez com este poder ele precisaria de
algo maior. Ele precisaria daquela que representa o poder dos deuses no mundo.
Porém trazer a Rainha do Templo da Lua para o lado mais sombrio seria uma obra
inatingível. Ele deveria fazer com que uma nova Rainha e Sacerdotiza do Templo da
que ele mais almejava Rainha da Estrela Fria. Para isto seria necessário mais que a
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Livro II
Capítulo I
1. O lamento da Sacerdotisa
2.
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Uma Jornada Tranquila
Os sonhos bons não os visitaram aquela noite. Bet acordou atordoada por
pesadelos que nem ao menos ousava lembrar. Em um salto se pôs sentada e ao
olhar para o lado assustou-se com Ben que lhe observava com olhos atentos e
inquiridores. Parecia não ter dormido, nem ao menos descansado. Ficara ali velando
seu sono.
O bardo movimentou os olhos em direção à margem do rio, onde uma pequena
luminosidade rompia a noite. Calmamente levantou-se e foi até lá. Ela o segui.
Um calafrio percorreu-lhe a carne ao ver que entre algumas urzes jazia um
esqueleto. Ben Adam abaixou e do chão, ao lado dos restos mortais, tomou uma
peça brilhante: um amuleto.
Hesitou por alguns instantes e ali ficou prostrado por muito tempo, até que por fim
virou-se em direção à Princesa e nelo o vestiu. Com os olhos tomados por lágrimas
Às margens do rio Mãe jaziam os restos mortais da Rainha da Cidade da Lua. Ali, no
silêncio, no anonimato, entre as urzes seu corpo se decompôs.
Juntaram vegetação seca e construíram uma pequena pira. Ben Adam ateou óleo
sobre ela e colocaram os restos da Rainha. Ele incendiou o monte funerário e
o fim de uma tempestade, cujas nuvens se dissipavam, fendida por raios de sol
tímidos.
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transpô-la, jogava-se e esmerava-se, porém apenas uma parte das águas avançava.
dificuldades por dois dias onde apenas dunas infinitas cruzavam a paisagem.
Deixavam para trás as margens do Rio Mãe.
A Travessia de Selqet
Nem o sol podia esquentar as areias de Selqet, pois o vento que ali soprava vinha
das montanhas de gelo, que ficavam ao norte, para onde rumavam. O lado Oriental
Cadeias Geladas , foi empurrado para fora do continente deixando apenas o Grande
Rio, Ausar, como legado de suas águas salgadas.
O vento que soprava por entre os combros sinuosos do deserto ressecava a boca.
Os lábios calados de Ben Adam adquiram uma coloração azulada e estavam
Trilharam assim, o deserto de Selqet com pernas e passos débeis, que eram
consumidos pela fome das areias e dunas.
Porém, Ben Adam mostrava-se seguro: ele era o guardião do caminho de Água Viva,
sabia exatamente como chegar à Neferthot. Ele parecia saber a direção da
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montanha como se ela estivesse ali, logo à frente, diante de seus olhos. O
quais sabia que Ben Adam não dormia, entrava em uma espécie de estado de
vigília, um estado meditativo.
Em Selqet não há dia, pois os ventos carregam as dunas, soprando seus braços
arenosos até as alturas, tapando o sol e enegrecendo o céu. Ao olhar para cima, o
Astro Rei parecia uma lua perene a pairar sobre um pano de linho cru.
Quatro dias de cansaço, mantendo às vistas dunas e mais dunas, areias
suntuosa cidade abandonada, onde o segundo Net, Tef-Annafat A Leoa, ergueu seu
reino.
Ben Adam ao ver a bela e colossal cidade parou e a admirou por um tempo, e
quebrando o tão derradeiro silêncio, por fim disse:
são tão antigos quanto os Nets. Surgiram da dor dos filhos das consciências, como
Belphegor, que surgiu da inveja de Utul, o espírito dos mares. Aqui habita
surge então carregado da ira de Amani e tocado pela força de Arameth, e não pôde
ser contido desde então, tomando a Segunda Cidade Anciã como morada. Abalou o
ventos famigerados. Uma ira sem fim encontra-se ali, Bet, adormecida na maldade
dos braços de Mastemah.
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Um calafrio percorreu a alma da clériga. “Evitei então olhar para dentro dos ventos
que giravam em torno da cidade.” disse, ainda que curiosa, o medo e o repeito pelas
ordens do Sacerdote a motivavam a não fazê-lo. As vestes drapejavam, açoitando-
Ao sexto dia a ração animal estava quase acabando e um dos cavalos não resistiria.
O animal gambeteava, desidratado, magro e fraquejante, até que finalmente caiu
morte. O cavalo relinchava desesperadamente, mas por fim cedeu aos abutres. Com
tristeza afastaram-se escutando gritos disformes perdidos entre o vento do deserto.
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Continuaram a caminhada durante a noite, prosseguindo além das forças que
dispunham, para poder deixar para trás o medonho deserto que os castigava de
sede, de fome e de frio. E esta última noite parecia mais gelada que as demais. A
pele ressecada e sulcada pelas intempéries do deserto ardia por debaixo das
vestes, fazia-os sentir como se houvessem cotados seus corpos com lâminas e
depois os banhado em sal. De fato, a areia salobra entrava nas ranhuras da pele
queimando.
Pararam para descansar pela manhã e puderam ao longe vislumbrar um lago que
mostrei ao Bardo, ele, no entanto, sacudiu a cabeça em um não.
-Aquilo não é água Bet! É uma miragem, um feitiço do deserto. Algo que pensas
estar vendo e não existe.
quando já estava bem à frente. Parou e virou-se na direção Bardo esperando que
ele a alcançasse. No entanto ele não se movia, olhava ao seu redor procurando algo
nas areias. A princesa nada via ao olhar em volta, mas persistia uma sensação de
que algo estava se mexendo sob as areias. Neste instante sentiu uma pequena e
veloz ondulação sob meus pés, porém não conseguiu ver o que havia a causado.
Então novamente o mesmo deslocamento na superfície. Só aí tudo tornou-se visível:
do deserto.
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Ben Adam gritou:
tomou uma certa distância, mas tornava-se maior a cada instante, agregando mais e
mais areia à sua forma. Cresceu até a altura de uns seis corpos mais ou menos e
inúmeros fossos negros como estes se formaram. Os escorpiões cada vez mais se
aproximavam, também os ameaçando.
O Sacerdote cerrou os olhos e uma grande altivez lhe moldou o cenho, onde a
marca da meia pedra cintilou. Ben Adam pegou seu odre e derramou o que restava
detentor das palavras da vida! Ordeno que venhas à mim, que sou teu Deus, ó
glorioso elemental! Venha à mim!
pedículo do turbilhão até alcançá-lo. A princesa não poderia ficar parada e se pôs a
esmagar os escorpiões inutilmente, que se esfacelavam, como se fossem apenas
uma fina casca, como insetos mortos cuja armadura foi a única coisa que restou.
Da poça mãos começaram a tomar forma, mãos de lama. Elas esgarçavam o circulo
sugado.
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Bet deseseprou-se mais ainda: estava sozinha e diante de uma força atroz a qual
para dentro do chão. Ela escorregou pelo funil de barro e caiu sentada em lugar que
não podia ver, pois tudo o mais era escuridão e o ar irrespirável.
estivera encoberta por uma nuvem de poeira, deu lugar a uma frágil transarência.
Ela identificou a silhueta do Clérigo.
-Escute minha querida, logo sairemos daqui. Vamos esperar a poeira ceder um
pouco para que possamos enxergar o caminho.
-Ben Adam, onde estamos? O que são aquelas coisas que nos atacaram?
-Estamos dentro da terra, Bet. Aquelas “coisas”? Não sei! Mas com certeza foram
enviadas por alguém para nos atacar. Não existe nada no deserto. Nenhuma criatura
viva.
-Esmaguei alguns escorpiões, mas eles pareciam apenas uma muda, uma carapaça
abandonada. Ao serem pisados se esfacelavam.
-De quê?
-Que estejamos lidando com uma coisa muito maior do que apenas escorpiões
mortos.
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-O quê, então?
A poeira por fim se dissipou e a princesa pôde ver onde se encontrava: estavam sob
o abrigo de uma gruta de areia desértica sustentada por uma viga de lodo em forma
pequena esfera de cor azul, de onde emanava a luz perene e fria que iluminava a
bizarra gruta. Tapados de poeira, por todos os lugares, enxergava nos cílios
dois grandes rios que encerram as terras daquela que foi a Guerreira Leoa, Rainha
do Povo da Segunda Cidade Anciã. Este túnel foi construído durante as guerras
entre o povo das Amazonas Leoas contra Ankset, para levar as tropas em segurança
até o porto. Iremos por aqui.
longo para que o Elemental continue sustentando esse túnel. Talvez sejamos
soterrados, e não há mais água para um encantamento. Se passarmos pela
segunda cidade Anciã… Há razão em seus temores, pequena. A cidade poderá nos
expor a toda sorte de perigos. Vamo direto para os túneis, ao chegar lá pensaremos
em algo.
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O elemental se fundia à areia do teto e do chão, e quanto mais caminhavam mais
trôpegas.
Até, que por fim, Bet tombou.
A Passagem Movediça
A aprendiz acordou friccionando os olhos, ardidos, ressecados, inchados e
-Quando caíste tive que invocar um novo elemental para carrega-la. Como não
tínhamos água, cortei o braço com os dentes para poder fazer um pouco de barro.
O elemental surrou o muro por muito tempo até conseguir abrir um buraco de mais
ou menos um quarto de corpo.
A areia do teto começava a se esvair cada vez mais rápido; alguma coisa não estava
certa.
-Ben Adam, a areia esta caindo cada vez mais depressa. O que está havendo?
Estou assustada!
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-A magia não dura para sempre Bet! O elemental está morrendo. Se o outro não
-Estou exausto demais, não consigo me concentrar. Meus últimos esforços foram
para das vida ao outro elemental.
A areia cedia numa velocidade maior a cada instante, e então Bet pôs-se a socar a
parede junto com o elemental. Sentia-se inútil ao ver que nada ocorria, exceto o
pesadelo. Que esperança havia naquele momento? O que pensar a não ser no
derradeiro?
Ela percebia que não estava pronta para ser Rainha da Cidade da Lua. Seu
treinamento não fora completo, a única coisa que sabia era rezar. Mas sem a força
da Deusa... Sem ela não poderia sequer rezar para uma morte sem sofrimentos.
Algo lhe dizia que deveria socar a parede: e esse “algo” era seu instinto, e não sua
fé.
-Bet! Deixe a parede, é inútil, reza! Usa tua fé, reza para a Deusa! És a princesa de
Harpis, futura guardiã dos segredos da Primeira! Não deves surrar uma parede, mas
sim rezar! Foi para isto que serviu tua instrução? Honra teu reino, reza!
Em meio ao desespero ainda pôde ouvir os pedidos de Ben Adam, e se pôs a rezar.
No entanto rezou achando aquilo tudo muito inútil, e não conseguia parar de olhar o
A parede havia cedido um pouco mais, e num ímpeto a princesa deixou de rezar e
se espremeu pelo buraco. Ela passaria, mas pelos seus cálculos o buraco era
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Atravessou com dificuldades a parede espessa, e do outro lado chamou por Ben
Adam.
O Sacerdote esticou as mãos pela passagem para que o puxasse. A princesa o
segurou e colocou os pés contra abertura e o trouxe para si; seu tronco estava
passando pela fenda quando toda a areia começou a desmoronar atrás dele.
Em seguida uma lufada escapou pelo buraco empurrando uma grande quantidade
de areia para dentro do túnel, obstruíndo a passagem.
O Túnel da Leoa
Quando Betsheba acordou, acreditava ter cochilado por segundos, no entanto o
Sacerdote estava acordado e com um ar contrariado lhe disse que ambos haviam
pegado no sono, por horas talvez.
Percebeu a frieza e aspereza na voz de Ben Adam que lhe eram dirigidas. Escolheu
não dizer mais nada, pois sabia o que estava errado: ela não era uma sacerdotisa!
Com certeza não são aqueles que serão reis ou rainhas, com certeza não ela.
O silêncio entre os dois pulsava, gritava aquele acontecimento. Martelava. Toda vez
que ela olhava para Ben Adam via em sua face o reflexo da decepção.
Acima do túnel, no deserto, o frio era um inimigo, no túnel ele era um algoz. Uma
corrente gélida soprava no seu interior, porém foi isso que fez com que pudessem se
guiar, certamente estavam perto da saída.
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A luz farfalhante da pedra era bastante para enxergar os desenhos maravilhosos
pintados nas paredes, agora empoeiradas: cenas e mais cenas de guerra, exércitos
de mulheres e hordas de criaturas terríveis.
até desembocarem numa sala oval, com não mais que quatro corpos de tamanho.
Era pequena e não muito alta, no entanto era sombria. Pairava ali uma aura de
Adiante na sala havia uma duna do tamanho de um corpo, e no topo dela ,duas
saliências de pedra triangulares.
Ben Adam removeu a terra com as mãos, revelando o rosto de um ídolo, a Deusa do
deserto, a Guerreira Leoa.
A boca do ídolo tinha uma cavidade: por onde entrava a seiva da vida que lhe era
ofertada. Segundo as cenas dos murais o povo da Leoa praticava sacrifícios
-Ben Adam, eu vi nos painéis que as belas rainhas guerreiras praticavam sacrifícios
à sua Deusa. Esta é uma sala de sacrifícios?
durantes as batalhas.
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-Que sombrio!
-Sombrio? Não sei onde quer chegar Bet! Não se pode contestar a fé! Estamos
falando da crença de alguém e nisso não existe certo nem errado, existem apenas
visões de mundo diferentes. Veja que estes guerreiros rezavam, assim como há
clérigos que esmurram paredes. Você nunca vai chegar a lugar algum, Bet, se não
oradora era algo inadmissível para alguém destinado ao trono da Cidade da Lua. E
ela não era uma oradora. Urgia no meu peito uma chama que se revelava aos
se o fracasso.
Estudara sua vida toda para ser uma Sacerdotisa e não conseguia fazer mais
truques além daqueles tolos, como bolinhas de areia. Nunca havia se deparado com
uma situação real de perigo e urgência, até então. E quando tudo aconteceu, se viu
no seu âmago. Seus esforços para ser o que dela esperavam, se opunham a um
grito desconhecido no seu íntimo. Deveria prosseguir. Por si, pelos outros.
passagens laterais tinham o teto bem mais alto, cerca de dois corpos, mais ou
menos. O acesso do meio era tão baixo e estreito que um humano só passaria por
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-Tomaremos o caminho do meio. Essas veredas- e apontou para as passagens
laterais- são túneis de minagem. O inimigo só poderia vir pelo trilho central; os túneis
das pontas, em toda sua extensão, possuem fendas por onde as guerreiras
apunhalavam quem passasse por ali. Ele possui essas dimensões para que fossem
obrigados a deixar seu equipamento na rua, ou o abandonassem pelo caminho.
armaduras e pequenos objetos. O caminho que fora cavado na argila vermelha, era
oval, como se uma minhoca gigante houvesse fendido a plataforma, em direção ao
na escuridão.
esfarelados aos pés de uma grande abertura com de seis corpos de altura e três de
largura. Pelo chão se espalhavam pedaços de espadas, escudos, ossos de criaturas
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e carroças. No entanto o cheiro do vento havia mudado: era um cheiro molhado, um
sentido da correnteza, como uma cabeleira debaixo d'água: uma longa faixa ciliar
que adornava a lâmina bravia. Àquela altura o rio era tão escuro quanto a pelagem
da Leoa e nada se via além da incipiente superfície. Por debaixo daquela fúria
castanha, nada havia de constante na revolução das areias e das águas. Segredos
A ponte era feita de corda. Inúmeras cordas finas trançadas, que por sua vez
tramadas entre si formavam um cordame da largura do um punho cerrado. È claro,
coletada. Deu início ao ritual de purificação pedindo em silêncio que a Deusa não a
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deixasse à mercê da vergonha ante ao Sacerdote lhe ajudando a tornar a água
Sentia os olhos de Ben Adam sobre si esperando que ao menos pudesse realizar a
purificação, um ritual básico de iniciação. No entanto não foi capaz.
Tudo o que mais queria naquele instante era que nada daquilo houvesse existido,
que tudo, todo o poder dos deuses no mundo, toda a confiança que lhe foi
estivesse viva e pudesse livrá-la deste fardo para o qual foi criada, e que descobriu
não poder suportar.
O que mais queria era salvar seu povo, seu mundo, porém não sabia como usar a
fé.
No seu íntimo, talvez não brilhasse a centelha do amor ao Deuses, o talento Divino
de erguer a vida. Era algo como uma força própria, um grito desesperado que
olhar de Ben Adam. Sua expressão, não viu, pois não teve coragem de erguer o
rosto.
Ben Adam retirou da bolsa um apito. E soprou em direção à subida do rio. Não havia
som algum, ao menos nenhum audível para a princesa.
Silenciosamente o Bardo sentou-se sobre a ponte e deixou seu olhar vagar perdido
por sobre as águas do rio.
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A vida segue seu curso como aquelas águas descem o rio. Sem perguntar para
onde têm que ir, elas simplesmente vão. Talvez seguindo o destino do rio, que já
estaria traçado. O destino não estava traçado para Betsheba. Ela acreditava que
poderia mudá-lo. Pensam que não é possível mudar o curso de rio aqueles que
acreditam que isso só poderia acontecer pela força de algo Divino, e não pelo pode
de suas próprias mãos. Pensam assim aqueles que acreditam que não há um rumo
independente do querer celestial, que ignoram a inclinação do relevo, o movimento
magia sem fim, que é o conhecimento. Assim poderão moldar a vida e, alterando
quaisquer destes fatores, modificarão o curso do rio de acordo com a sua vontade.
Mas só o farão aqueles que possuírem força de vontade e perspicácia para tal para
saber que nós é que os homens vão aos deuses, não como eles vem à terra.
Bet não poderia mudar o curso de um rio, pelo menos por enquanto. Ela não poderia
mudar o curso da sua vida, não nesse momento. Não poderia mudar o destino tão
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Ben Adam vendo aquilo meneou a cabeça, como quem diz “minha decepção não
tem fim”.
apenas um comando seu, entrepondo Ben Adam e o crocodilo. A lâmina d'água era
um escudo impenetrável. O animal bateu a face na lâmina e caiu sobre o cordame,
do rio.
Eram muitos crocodilos e eles subiram facilmente a margem inclinada, escalando
do norte.
Eles correram em sua direção, ela tapou a cabeça com o escudo. Sentiu uma
pressão enorme sobre o braço, em seguida surgiu no bronze, sulcado, uma fileira de
muitos dentes afiados. Deslocando o escudo um pouco para o lado, viu uma boca
enorme lançar-se novamente, a clériga enfiou o escudo para dentro dela e empurrou
o monstro que caiu sobre os outros soldados que vinham atrás. Alguns se
encosta arenosa do rio uma mão de barro enorme, agarrando os soldados que
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estavam mais atrás. Ela os ergueu há dez corpos, aproximadamente e os
para destruir a ponte enquanto o aquele que estava em frente ao Bardo guinchava e
recuava. Debaixo das águas caudalosas do rio emergiu uma criatura, um crocodilo
negro, com cerca de seis corpos de tamanho, pelo seu dorso subia uma faixa de
espinhos encouraçados que terminavam no alto da cabeça, se projetando ao alto
como uma coroa. Seus olhos eram duros e negros. A criatura guinchou e submergiu
no rio novamente. Após subiu a margem do pântano, desaparecendo entre os
juncos. Antes tornou a guinchar, projetando a cabeça para trás. Todos, ao ouvirem o
chamado, pararam e entraram no rio, para sumir entre as margens do charco, junto
margem seca e deitou sua cabeça no colo. Ficou atenta a cada movimento, com o
coração batendo na garganta e os olhos vidrados em todos os lugares. Algumas
lágrimas caíam. Talvez pelo susto ou por não conseguir acreditar que tenham saído
vivos da empreitada inimiga.
guiava nos céus, surgia duas vezes ao dia dos pés das montanhas do desfiladeiro
dos Chacais. E por fim, o grande olho azul. Sempre observado a todos durante os
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Porém, no charco, outros pontos brilhavam à luz da lua, refletiam uma constante
coisa que prestasse para queimar. Algumas armas com cabos de madeira e outros
objetos que estavam enterrados nas areias. Pedaços de carroça também serviriam.
Escudos quebrados dariam um bom fogo. Entre as areias encontrou uma medalha.
Parecia um encruste ou emblema, um broche de armadura talvez. Era um olho de
punhos e rebites. Talvez o encruste que achara tenha alimentado uma fogueira como
esta.
muita água das têmporas e seu cabelo estava completamente molhado, bem como
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suas vestes. Cobriu o sacerdote com o manto e retirou-lhe a bata, deixando à beira
do fogo afim de que evaporasse a umidade. Seu corpo tremia e estava quente.
Se os crocodilos tomassem a decisão de atacar, certamente poderiam estraçalha-los
com facilidade, pois o estado do Sacerdote não possibilitava sequer uma remoção
do local com rapidez, a tempo de evitar um desastre. Não havia esconderijo senão
Poderiam escapar pelo deserto, porém a morte os esperaria por lá tão logo o sol
viesse a nascer ou tão logo mais armadilhas as areias os impusessem. Bet decidiu
permanecer ali, enquanto o Bardo não recuperasse os sentidos, e tão logo ele
pudesse abrir seus olhos e apontar a direção certa, ela o tomaria nos braços e
seguiriam o caminho.
Uma lança jazia à frente, com sua ponteira longilínea enferrujada, atada por um
cordame corroído a um galho mal lixado e mal acabado. A princesa apanhou a lança
e rasgando uma tira da barra do manto improvisou uma tocha. Apanhou da sacola
porém ela resvalou e acabou caindo bem próxima à entrada do túnel, iluminando a
escuridão que havia ali. Porém a tocha foi misteriosamente tragada para dentro da
escuridão, não restando nenhum vestígio de luminosidade, como se uma boca negra
a houvesse engolido, com lábios tenebrosos e densos. Havia algo assustador e vivo
naquela escuridão!
A princesa recuou e colocou-se ao lado do Bardo. Agora seus sentidos deveriam
estar atentos não somente a uma das margens do rio, deveria neste momento ter
um olho na face e outro nas costas.
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Não tardou o sol começar a ruir no horizonte trazendo consigo o mínimo de
estado de saúde em que se encontrava não iria lhe fazer nada bem.
Ela apanhou dois galhos e os cravou no chão, de forma que um ficasse junto à
cabeça do Bardo e outro aos seus pés. Por cima colocou o manto que lhe apoiava a
cabeça. Pegou o odre, afim de enchê-lo com mais água. Com o cinto do Sacerdote
estava pintado de lama e seu corpo era coberto de cicatrizes que lembravam o
dorso daquele crocodilo.
Ela colocou as mãos para cima, para que ele visse que não carregava nada que
pudesse machucá-lo.
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• Povo crocodilo mata amigo grande sombra preta.- e o jovem apontou na
direção da entrada do túnel.- Gente cruzá túnel saí viva é amigo sombra
preta. Amigo sombra preta guerreiro crocodilo matá. Sombra preta ataca
povo. Rei Crocodilo manda lutá pra sombra preta não passá campo molhado.
este é o Rei. Viajamos porque devo assumir o trono e não somos ameaça à
• Rei já ver Sacerdote. Manda não atacá. Rei manda planta que cura pra botá
corpo Sacerdote. Rei manda guarda vigiá princesa e Rei quando Lua da
• Vocês estavam vigiando a escuridão ontem à noite, e não a nós? Oh, muito
obrigada!
• Guarda ir. Você chamar povo Grande Cão pra proteger. Guarda ter que sair
agora.
• Espere!- ela puxou o garoto pela mão e a beijou.- Muito obrigada. Diga a seu
ajudando.
Sobre o chamado do “povo grande cão”, de sobresalto, remexeu a bolsa de Ben
Adam e pegou o encruste nas mãos. Dentro da íris o Chacal. É claro! O povo do
“Grande Cão”, pensou, era o Povo Chacal. Enquanto procurava o encruste, entre
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Ao longe, na direção do deserto, uma grande nuvem de poeira se aproximava.
Porém sentiu-se segura sabendo que os amigos no charco estavam olhando por
ambos.
Seu coração parecia bater no alto da boca, pulsando com a expectativa do encontro.
Quatro Chacais da altura de dois corpos surgiram entre as nuvens e colocaram-se
do meu povo. Meu Senhor utilizou o fetiche na tarde de ontem, porém está
exausto e um mal lhe acometeu a saúde, estando muito debilitado.
• Nosso Alfa nos enviou por esse motivo, e nos aguarda. Devemos deixar este
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-Permita-me ajudá-la Senhorita.
Então, segurando a princesa por debaixo dos braços, a colocou sobre as costas de
um dos Chacais. Sobre seu dorso estava uma espécie de encilho. Duas tiras de
couro, uma de cada lado das costas do Chacal, unidas por um assento, do mesmo
material, possibilitava encaixar as pernas por dentro da tira. Na altura dos ombros
uma outra faixa de couro perpendicular unia as amarras paralelas e servia como
espécie de cinta para segurar-se à montaria.
-Este é Pata Veloz.-disse o arauto, e fez uma menção ao chacal que a jovem
montara.- Seu nome diz tudo princesa, segure-se firme e cubra o rosto.
Ela pensou que o chacal cairia de quatro e correria como uma cavalo. No entanto
ele seguiu de pé, enquanto seus companheiros, vinham logo atrás, parecendo
músculos se contraírem. Seu pelo era baixo e ligeiramente mais escuro que o do
arauto. Usava sobre a cabeça uma espécie de proteção de couro com uma série de
inscrições. Seu peito forte era guarnecido por uma armadura de couro com um
encruste semelhante ao que encontrara na entrada do Túnel. Seu pelo tinha um
cheiro forte de lobo e seu espírito era dono de uma sensação de liberdade quase
tangível.
tramada, que lembrava a Flor da Vida, e pendurado logo abaixo, uma porção de
dentes de diferentes animais.
O outro, que também carregava uma armadura de couro, tinha um semblante mais
sombrio e sobre o olho direito uma enorme cicatriz que lhe desfigurava o cenho.
Montar um chacal era diferente, ao invés de sentir-se como um cavaleiro que doma
sua montaria, sentia-se como uma carga, arremessada de um lado para outro.
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Como uma criança que se equilibra na garupa do pai em busca de um frio na
barriga.
Viajaram pela margem desértica do rio, pulando por sobre rochas e saltando entre
as dunas. Os chacais lançavam-se acima das areias, cerca de duas vezes o seu
tamanho.
por cerca de cem corpos de altura, e batiam nas pedras desgastadas que se
projetavam da encosta, e em seguida corriam ao fundo, formando um redemoinho
violento. Aos poucos as águas escapavam à força circular e deixavam o seio, ainda
enfurecidas, rumando em direção às margens pedregosas.
mão repousava sobre o peito. Seus olhos dirigiam-se aos visitantes, fitando com
olhar duro, quem quer que entrasse no domínio dos chacais.
A luz do sol era retida pelo vapor da cascata, que transparecia um fraco circulo
amarelado no céu. Os chacais beberam um pouco e conversaram por algum tempo,
Seu estado de saúde não havia melhorado. Parecia viver, ainda que inconsciente,
uma batalha mental. Deitava muita água pelas extremidades, murmurava e revirava
os olhos. Uma febre lhe consumia as entranhas fazendo com que o Bardo tremesse
incontrolavelmente.
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A princesa estava preocupada com seu estado de saúde, e pensando em apressar
os chacais, aproximou-se.
Ela não compreendia a fala dos enviados, mas entendia a severidade dos olhares
que lhe dirigiram quando aproximou-se demais. Ela pôde ver no chão um pequeno
objeto de madeira, semelhante a um peão, girando e desenhando um mapa na
areia, sem que ninguém o tocasse. O fetiche brilhava e emitia uma luz azul pálida,
semelhante à do colar de sua mãe.
chacal a observou por alguns instantes e então lhe disse com voz hirta, porém
desprovida de rudeza:
bardo. Eles ainda conversaram por alguns instantes enquanto organizavam o local,
apagaram o mapa desenhado no chão. Os batedores alinharam suas vestes e
Canção dos Ventos virou-se para a Princesa e aproximando-se colocou o rei sobre
suas costas. Dirigindo-se à lateral esquerda da queda não mais falou, viu que ela
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A princesa estudou atentamente os movimentos ágeis desferidos pelos braços e
pernas fortes do seu guia. Galgava as pedras úmidas com facilidade, uma vez que
as garras fortes de suas patas engalfinhavam-se nos cascotes. Seus músculos
Ela colocou a mão sobre a parede e procurou um lugar onde pudesse segurar. Fez o
mesmo com os pés. Porém seus músculos fracos não eram capazes de erguê-la ,
muito embora fosse mulher de constituição forte, muito mais forte que sua aparência
frágil representava. Faltava-lhe o exercício, a desenvoltura do músculo, a qualidade
para torná-lo hirto, torná-lo capaz de sustentar o corpo além do limite do peso. Suas
pernas tremiam enquanto ela depreendia de si mais esforço do que conseguia
produzir naquele momento. Estava faminta, fraca, sem energias. Estava por cair e
não havia subido nem um corpo de altura, no entanto não sentia medo da queda,
ocorreu e talvez a escalada lhe cairia bem, compensando sua falta de diplomacia
instantes atrás.
O Bardo foi carregado nos braços até a entrada da aldeia. Fora anunciado aos
homens guarnecedores dos marcos, que uma viajante ficara para trás e chegaria
muito em breve.
O Rei foi entregue aos cuidados do curandeiro enquanto Canção dos ventos se foi
rumo à cascata, mas não para acompanhar Bet, e sim para dirigir seu olhar
preocupado e inquieto à tempestade que se movia no horizonte. Naquele momento
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Ele permaneceu ali, estudando as nuvens negras enquanto avançavam. Nuvens que
lhe despertavam desconfiança e não pareciam carregar uma simples chuva consigo.
Eram estranhas e de um negrume profundo. Inspiravam um medo e enchiam a
uma vez que aquelas nuvens vinham da direção das terras ao norte, dos Portos da
Morte, e lhes precediam um vento cheirando a morte, sangue e maldade. Este olhar
era igual aquele desferido pelo próprio Deus Chacal, que banhava-se logo abaixo na
cascata, ele com certeza mirava as mesmas nuvens naquelas condições, e
Seu olhar aguçado fora desviado pela nuvem de poeira que levantava-se a uma
certa distância, denunciando o retorno dos batedores, pela margem arenosa do
deserto.
Era certa a notícia de que a tempestade mudara seu rumo, e vinham os guerreiros
A Missão de Ventania
O Chacal corria tão velozmente, como jamais correra antes. Suas patas ardiam,
como se estivessem em chamas, pois a ele fora dada uma grande tarefa, da qual
dependia a vida do Rei da Cidade da Lua, que se encontrava em estado febril
mortal. Uma doença comum àqueles que perambulam pelo deserto tomando sol no
olho da alma (assim diziam os chacais do ponto mais externo do crânio), sem
169
Ventania fora chamado pelo círculo dos sete anciões Chacais, decidiram enviá-lo por
ser o mais veloz da aldeia, ainda mais veloz que Pata Veloz! Sua missão consistia
em encontrar um ervateiro Chamado Floresbaldo, na Última Vila Mais ou Menos ao
Norte (era chamada pejorativamente assim porque seu nome era Última Vila ao
Norte, porém ela ficava na região meridiana do continente, no entanto era
certamente, a última vila antes dos desabitados ermos do Pico da Neblina), e pedir-
lhe a erva do Santo Rubor, que crescia na Ilha do Farol, extremo leste do continente.
Porém naquele momento o lugar mais próximo a se encontrar a tal medicina era a
velha loja de ervas do Sr. Floresbaldo, e somente ele poderia ter a preciosa planta
em mãos, única saída para o estado febril do Rei e Sacerdote da Cidade da Lua.
Uma manhã de corrida era preciso para que Ventania alcançasse a vila. Ele não
pensou em mais nada, quando foi acordado ao alvorecer por Arauto dos Ventos,
conduzindo-o à reunião que começara durante a noite e estendera-se até aquele
nuvens que enfumaçavam o topo dos morros de seu lar, o Corredor do Chacais.
Tão rapidamente o Chacal cruzara seu território que no meio da manhã chegou ao
morro que dá acesso à vila, o Morro da Caminho Peludo. O caminho consistia em
povo do Chacal que vivia no corredor de montanhas que lhe eram adjacentes.
170
O caminho desembocava à beira de uma estrada bem sulcada na terra,
O Chacal, sem saber que caminho tomar, decidiu aproximar-se do homem para
pedir informações.
No entanto Ventania, percebendo que ele estava com medo, diminuiu a velocidade,
aproximando-se pode escutá-lo gaguejar lá de dentro:
O Chacal assustou-se quando viu o pano que cobria a entrada voar pelos ares e um
olhar vivaz despontar na cara feia e suja do velho que o atendia com ar impetuoso:
vila?
-Cinco peças de metal valem a resposta.
bom homem e meu coração não suportará lhe ver perdido. A reposta é qualquer
caminho.
-Eu lhe dei a informação que as suas duas peças de metal mereciam! Se quiser uma
explicação detalhada sobre a resposta me pague as três peças de metal que me
deve por ela! -respondeu o velho, em tom arrogante e deu as costas ao chacal.
171
Ventania estava irado por achar que o velhote havia lhe roubado.
mascateiro.
-Escute aqui seu velho matreiro, - e o chacal falava com as presas à mostra- não
tens noção do perigo? Roubas-te a mim! Cobraste por uma informação desonesta,
porque qualquer caminho que eu tomasse me levaria até a cidade. Portanto, ao
do velho. Após urinar-se por completo ele revirou os olhos e caiu amolecido nas
mãos de Ventania. Parecia que o guerreiro segurava um boneco de pano nas
alturas.
Atordoado o chacal tomou o velho junto de si e o deitou cuidadosamente na grama,
Logo adiante parou para beber um pouco d'água. Ao recolocar o odre na cintura deu
falta da sacola que carregava consigo, contendo as informações sobre aquilo que
procurava. Num instante percebeu que havia sido roubado, e retornou pelo caminho
por onde viera, querendo chegar a tenda do velho mascateiro, porém no caminho
começou a sentir-se cansado, como se suas forças estivessem sendo drenadas, até
que caiu pelo caminho, exausto, como jamais havia se sentido.
172
Dois cilindros de cristal unidos por um encaixe cuja estrutura de sustentação
brilhante.
Separando os cilindros eles acionaram a Ampulheta, que marcava o passar do
um dia inteiro. Ao final do prazo o portador da metade que esteve se enchendo seria
transportado para junto da metade que esvaziara-se.
Ventania haurido de forças colocou a mão no lugar onde deveria estar guardada a
Ampulheta, dentro da sacola, que infelizmente havia sido roubada.
O velhote vasculhou o saco de couro que havia adquirido de maneira ardil, que era a
maneira que adquiria a maioria dos pertences que acabava vendendo por aí. A
primeira coisa que viu foi a luz pálida da Ampulheta brilhando no fundo do saco.
Havia uma adaga de cabo rusticamente trabalhado, que parecia poderia lhe valer
algumas boas peças de metal. Encontrou também uma carta que continha as
seguintes informações:
“Encontre o ervateiro Florisbaldo, na Última Aldeia Mais ou Menos ao Norte (ao ler
esta parte meneou a cabeça e chaçou da Ironia ao nome da Vila dizendo: 'quem
pensam que são este cachorros avantajados!'), peça a ele que lhe dê a erva do
Santo Rubor, pois depende dela a cura para uma grave enfermidade que sofre o Rei
da Cidade da Lua. Explique-lhe a situação, é um grande favor que ficaremos lhe
que deve estar em posse da erva assim que a parte da Ampulheta que carregas
173
estiver completamente cheia, pois ela te transportará para o centro de nossa aldeia.
curar. E ficou ali, parado, pensando no seu ato incauto e na maneira como seria
caçado pelos “cães farejadores” do povo Chacal. Ele calculou o preço que valeria a
relíquia dos Chacais e comparou com o preço que pagaria para fugir eternamente do
faro aguçado da raça. Fez o que chamava de matemática da compensação e
saúde.
Ventania abriu os olhos porém não conseguia distinguir nada, nem na visão, nem na
audição. Uma confusão lhe atordoou os sentidos e uma dor, semelhante à da fadiga,
lhe percorria o corpo inteiro. Mas, como qualquer outro chacal, seu faro mais que
-Veja, serei sincero e prometo lhe ajudar, se poupar minha vida. Posso lhe ajudar em
sua missão pois o velho ervateiro, Florisbaldo, é meu tio. Escute (gritava o mascate),
174
eu retirá-lo. No entanto você só sobreviverá (blefava o velho) se eu puder me
aproximar e extingui-lo. Ele está em um papel que apregoei em suas costas. Você
consegue se mexer? Posso me aproximar? Quero que entenda que se me matar
surdo! Portanto cale a boca e venha me acudir, se possui algum juízo na cabeça!
O velho paralisou-se com a voz de Ventania, mas seguiu em frente, ainda que
tremendo. O estado do chacal era terrível, seus músculos tremiam, com um frio que
o corroía por dentro. Com muita dificuldade levantou a criatura peluda o suficiente
para enfiar a mão embaixo do corpo e retirar a fita encantada que mantinha o feitiço.
Em seguida, com muita dificuldade o arrastou, da maneira que pode e até onde
abater o cheiro, que dizia “a catinga das montanhas”, que na verdade era o odor do
corpo do guerreiro.
dele a ampulheta, viu que adiantava-se o tempo, uma vez que um terço dela estava
cheia.
velho, porém não pôde esgana-lhe com força suficiente para matá-lo, pois uma dor
atroz acometeu-lhe o corpo, uma vez que ainda se recuperava do encantamento.
O mascate caiu para trás esfregando a marca funda das unhas na esganadura que o
chacal lhe fez.
-Seu velho desgraçado, posso ouví-lo, por sua sorte não posso matá-lo!- retrucou o
guerreiro, contraindo-se de dor.
175
• A sua sorte, seu cachorro fedorento, é que não me matou, pois só se
recuperará no final da tarde, tempo que não é suficiente para que complete
sua missão. Faremos assim, sob a condição de me deixar seguir livre e vivo,
para sempre, viu: irei pegar as ervas para você e as trarei até aqui, com todos
os seus pertences. E você, além de não precisar mover uma palha para fazer
a missão, passará a tarde deitado curtindo a sombra de lindos carvalhos, com
a brisa fresca das montanhas de gelo na sua face felpudinha. Que acha?
• Far-me-ia feliz estrangulá-lo neste momento, velho fedido! Mas não posso,
não tenho outra opção! Vá! Se trair-me, juro, sairei à tua caça, e comerei tuas
grande fardo. Mas, que julgava fácil, muito fácil. Teria apenas um pequeno
contratempo, visto que a brisa que pensara vir das montanhas ao norte da vila, era
Os Batedores Chacais
As lágrimas vertiam dos olhos de Bet e misturavam-se à areia que lhe cobria a face,
deixando uma trilha por onde rolaram. A princesa, sentada no chão, amassava e
puxava a grama, quando percebeu que os chacais batedores estavam parados atras
dela havia algum tempo. O barulho constante da queda tornava impossível auscultar
movimentações que não quisessem ser percebidas. Apenas ouvidos chacais, bem
176
Fingiram ridiculamente não terem sequer a visto e punham-se a escalar a encosta
aldeia. O que não era verdade, pois Ventania encontrava-se em uma situação bem
delicada.
água.
Os anciões deixaram de falar quando o arauto entrou na tenda e anunciou a
chegada dos batedores. Logo Pata Veloz, entrou, curvando-se para o concelho,
olhando para o chão, então, iniciou a litania intitulada Canção do Guerreiro Chacal,
de um tambor de pele frouxa, de som profundo e nota grave. Ela falava sobre a
bravura do guerreiro chacal e como cada um deles carregava um pouco daquele que
emitiu uma série de uivos, ainda sob as batidas ritmadas do tambor, e cantou a
notícia que viera trazer sobre a tempestade. Ela dizia que uma bocarra negra
desceu das nuvens no céu e abrira-se sobre a cabeceira da ponte dos kolbis e de lá
foi vomitada uma treva negra e lamacenta, que espalhou-se pelo charco, tingindo a
177
corpos, e após ceifar a vida daqueles que investiam contra ela, se juntou ao
negrume que boiava na superfície. Detinha vida própria, pois não se movia nem com
a forte turbulência do Braço da Leoa, ficou lá e foi-se também contra os demais,
sugando-os para dentro de si, e então subiu aos céus e foi em direção ao oeste, em
questão de um piscar de olhos.
Todos ouviram a canção triste e puseram-se a olhar uns para os outros, sem
compreender a natureza daquilo que lhes fora relatado.
O Contratempo do Mascate
morte), decidiu utilizar um de seus preciosos manuscritos. Ele sabia que tratava-se
de um rolo de papel velho, de extremidades amareladas e atado por uma fita verde.
O alforje estava molhado, não por causa da chuva, mas por causa do incidente de
mais cedo, e agora, todo o material que carregava por debaixo do casaco estava
úmido.
Havia três pergaminhos de fita verde, e todas, quando molhadas, apresentavam a
verdade nunca havia usado e adquirira porque estava ali, na borda de uma sacola,
relativamente abandonada, cujo dono não parecia dar muita importância. Enfim, a
comum, muito utilizado por aqueles que resgatam os objetos mal cuidados daqueles
que os possuem sem muita vigilância. Era chamado oficialmente de “magia intensa
178
para escapada”. As palavras eram capazes de aumentar cerca de cinquenta vezes a
espécie.
Na sorte pegou um deles e abrindo-o pronunciou:
- A cabeça ergo,
Para que saia das entranhas,
ruídos. O velho bateu nos ouvidos acreditando ter ensurdecido. Enquanto o rumor se
movia nos céus, em direção ao vilarejo, o velho o observou cruzar sobre sua
cabeça, sem derramar nenhuma gota de água. Na verdade, vendo melhor, não havia
sinais de lampejos na terra, apenas um clarão intermitente que percorria o interior
caminho, mas estava certo que não era uma tempestade e ficou aliviado porque
evitaria a ira e o cheiro de um chacal molhado na relva.
179
Assim que as nuvens estacionaram sobre a aldeia e passaram completamente sobre
Ainda babando aquela gosma verde sentiu os pés formigarem e um vigor vermelho
lhe enrijecer as pernas, assim se pôs de pé na estrada e correu como uma lebre em
direção ao povoado.
A Escuridão de Perto
O olho da escuridão estava estacionado sobre a praça central da vila. O mesmo
silêncio que o velho testemunhara antes se fez habitar sobre a Última Vila ao Norte,
que ele viu, escondido dentro do poço da casa do Prefeito Geral, as nuvens
objetos abandonados pelo chão, para que nenhum ladrão solo por aí, levasse as
coisas valiosas consigo.
Antes de partir em direção à estufa do velho Floresbaldo, ele ainda presenciou a tal
escuridão tomar a forma de um grande cavalheiro feito unicamente de sombras. A
para dentro do negrume. A bocarra nas nuvens abriu-se novamente e cuspiu outras
180
poças daquela lama. O mascate, logicamente, não quis ficar para observar os
acontecimentos.
Correu em direção à loja de ervas, que ficava um pouco afastada da vila. O tio, Papa
Floresbaldo, já não morava mais na loja e havia deixado os negócios para os filhos e
fora viver com mama Floribisco na Floresta Oculta das Minas Azuis. Longe da
agitada Última Vila Mais ou Menos ao Norte. Sem saber de nada, foi para lá que o
mascate correu.
O velho ervateiro assoviava a mesma canção há anos. Aquela melodia caía como
uma luva nos beiços moles e finos, que guardavam meia dúzia de dentes, alvo de
Uma escada simpática, coberta por trepadeiras levava ao andar superior onde uma
abafada e pequena estufa dava abrigo a uma selva inteira. Ao fundo uma mesa e
cadeiras para o chá. Andando pela estufa o irmão Flordovale catalogava suas
plantas com o lápis atrás da orelha e uma lupa acoplada numa bandana de couro.
Flordovale era mais velho que Flordovau, no entanto já não aparentava mais os
cinco anos que o distanciavam do irmão: a barba, o cabelo e as sobrancelhas eram
grandes, duras e cinza, iguais em ambos. Mas bastava abrir a boca que uma
rabugice lhe enchia a goela e fazia os olhos saltarem. Como um bom irmão mais
velho, Flordovale, esbrabejava e bufava pela estufa quando as coisas não lhe
agradavam. Bastava uma patetice do irmão mais novo, que Flordovale despontava
181
um olhar sisudo, debaixo da hirta sobrancelha arquejada, e bufava seus “hãs” e
exemplares raros, cultivados na estufa. Era chegada a hora da ceia da tarde, e foi aí
que tudo aconteceu.
Aos fundos do Chalé havia uma choupana, que havia sido transformada em uma
cozinha, dirigida pelos punhos de ferro da Mama Alda Bonachona.
Mama Alda Bonachona era chamada assim, no entanto não era parente, nem mãe
de nenhum dos onze irmãos Flores, nem ao menos membro da família ela era. E
também não era bonachona, posto que falava da mesma maneira que cortava
troncos de madeira como fossem um torrão de manteiga. Nem a cozinha, que era
sua casa, não era uma cozinha, e tão pouco era sua.
Papa Floresbaldo construíra uma cabana para Mama Floribisca moldar, cozinhar e
guardar suas cerâmicas. Quando nasceu o primogênito, Mama Alda Bonachona já
havia tomado a cozinha para si e feito dela sua cozinha. Como e quando chegara ali
ninguém sabia, nem Papa Floresbaldo, nem Mama Floribisca. Ambos
embasbacavam e fim.
Sabem dizer apenas que quando ela chegou se fez Mama Bonachona e assim
fornalha fender o céu cinzento, carregando o perfume de lenha seca. Mama Alda
vivia lá e pronto, desde antes e para sempre.
182
Ela pôs a mesa e os irmãos preparavam-se para a ceia da tarde quando a sineta da
porta balançou.
Entreolharam-se com estranheza, pois faziam muitos anos que ninguém os visitava
na hora da ceia, muito menos sem avisar. Isto não era de costume, pois a hora da
ceia é a hora em que todos ceiam, e se todos estão ceando não estão à porta da
Flordovau coçou a barba e pensou que deveria atender a porta. Mas se ele a
atendesse alguém que não está em sua própria casa ceando entraria e isto leva a
crer que este alguém cearia com eles. Coisa que não deveria acontecer pois na
mesa havia apenas duas xícaras. A sua, que era de costume, e a de Flordovale, que
era cativa. E havia apenas dez pães, que eram divididos entre os dois, migalha a
migalha. E também a quantidade exata da exuberante geleia de laranja da Mama e
também uma porção de mel. Sem falar nos biscoitos de ervas, em número exato de
doze.
Flordovau, vendo o irmão, percebeu que pensavam igualmente, uma vez que
olhavam a comida, a xícara e a porta da mesma maneira.
Diz-se das pessoas que convivem juntas por muito tempo que acabam tendo as
mesmas ideias, ocorre que naquele momento os irmão presumindo que teriam que
camisão. Os pães enfiou dentro a manga e atou o punho com um pedaço de cipó.
Encheram suas canecas com areia da estufa e gritaram para que Mama atendesse
a porta.
A barriga saliente pendia de um lao para o outro, na batuta do andar desajustado da
Mama Alda Bonachona, o que fazia com que parecesse uma pata velha. Descia um
183
ombro após o outro afim de impulsionar o corpo e jpgar os pés roliços para frente, o
que fazia sem dobrar os joelhos, coisa impossível para ela, na verdade.
Mama assoou o nariz e jogou o velho pano de cozinha surrado sobre o ombro e
abriu a porta. Antes mesmo que uma pequena fenda fosse aberta, o velho jogou-se
loja adentro.
Se houvesse alguém mais feio, fedido, sujo e mal educado que aquele velho, na
Última Vila ao Norte, este alguém seria Alda Bonachona, mas ela não era. Ninguém
pela pecha do que pelo nome, “os Biscates”. Até trabalhara com o velho Floresbaldo,
quando este, do alto da sua indulgência, decidira dar uma chance ao pobre
primogênito de seu primo irmão, convidando-o a ganhar uns trocos por ajudá-lo na
loja. Foi um período ruim para os negócios, muitos adiantamentos e baixas
limpar as latrinas. O rapaz passava as tardes fora até o dia que uma uma grande
bomba de cocô explodiu parte da loja, tamanho era o acúmulo dos gases no
entupimento da latrina.
O velhote tinha mais de vinte irmãos e todos eram mascateiros e estavam
disparou:
-Carniça, cada vez mais velho, fedido e feio! - e gritou por cima do ombro, em
184
vivo! A morte deve tá muito ocupada pra ainda não ter te carregado! Mas pelo jeito já
tá morrendo, botando essa baba verde pela boca, hein! Que que esse menino anda
comendo? Não me diga que tá fazendo dieta de estrume de novo! Pelo cheiro eu
acho que é! Porco, imundo! Vai lavá essa boca, pega um esfregão menino!
Carniça iria falar algo quando Mama lhe atropelou enfiando-lhe o dedo no meio do
Carniça mantinha-se imóvel enquanto era alvejado pela saliva afoita e despudorada
da Mama Alda. Estava pregado no chão e todas as suas quinquilharias espalhadas
pelo assoalho, e tão logo ela ordenou que ele subisse, se pôs a juntar as coisas e
levantar do chão, como soldado quando escuta alvorada. Tão rápido reuniu os
-Primos! Achei que chegaria na hora da ceia farta! Mas vejo que continuam
poupando e economizando, sorvem alimento da terra! Vejam suas xícaras!- os
irmãos que não podiam mover sequer um músculo, mexeram minimamente a face,
num esboço de sorriso-. Bom, já que não estou aqui para cear, vou esclarecer o
O velho sacou da bolsa uma caixa de madeira com uma bola de vidro em cima e
uma manivela do lado. Após girar a manivela algumas faíscas começaram a se
185
bola, como se vislumbrasse coisas dentro da máquina mirabolante, coisas que
É?
Carniça revirou os bolsos, aparentemente esforçando-se para encontrar alguma,
• Vocês não teriam nenhuma consigo? Não a geléia, digo, mas uma moeda?
Teriam?
Flordovale tateou os bolsos, enquanto biscoitos lhe caíam das mangas, e de súbto
lembrou-se que aa guardara no esconderijo. Retirou a bota e entregou uma peça de
O mascate colocou a peça em uma fenda na caixa de madeira e uma sirene aguda
soou e girando a manivela algumas vezes rumores elétricos começaram a se
186
Neste momento uma luz dentro da estufa começou a diminuir e um relâmpago
assustador cruzou o céu da Última Vila Mais ou Menos ao Norte, fazendo o chalé de
madeira dos Flores estremecer.
Vemos que a morte se anuncia para ti também, cospes bile pela boca e tens as
pernas arrematadas por uma doença vermelha e desconhecida!
Carniça se ofendera profundamente com a ofensa do primo, uma vez que lhes
apresentava boas intenções e até mesmo heróicas, ele acreditava.
No entanto estas intenções deveriam ser evidentes aos primos, e não o eram. Para
Carniça o que importava era salvar-se, não importa de que maneira, da encrenca
vos livrarei do fim. E digo mais, terão de me pagar no ato! Está dito! A intenção paga
o bolso reconhece, a de graça se pega na praça, assim é o ditado.
tipo, ainda mais vinda de Carniça. Estando em jogo o bem maior da vida.
Carniça então prosseguiu:
-Não há quantia que paga não seja pechincha diante do derradeiro, que ameaça
lhes cessar a vida. Sendo assim lhes considerarei a satisfação de poderem usufruir
-Mas Carniça, não possuímos este valor. Piedade! Piedade aos deuses! Suplicamos!
Faça com que fiquemos salvos, pegue o chalé, com tudo que esta dentro, não
possuímos mais nada! Por favor, nos salve do fim! -Flordovau estava desesperado e
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implorava aos prantos. Um pão caía-lhe da manga, ele o apanhou e entregou a
digo isto porque sou um homem bom e tenho piedade de todos que estão diante da
morte iminente, poderão fazer um pequeno serviço para mim. Neste momento os
raios cruzavam o céu do vilarejo e uma escuridão desceu sobre ele fazendo a luz da
tarde se consumir no breu. A única claridade que iluminava a estufa era a dos
como se fosse mandá-los colher verduras no jardim. - Para que permaneçam vivos
devem fazer exatamente o que eu mandar: sairão da cidade, assim que os tornar
guiarem acaso precisem. Deverão levar consigo esta bolsa e enchê-la de erva do
Santo Rubor.
Os irmãos tremiam como uma pilha de graxa fresca em cima de uma carroça.
Um raio desceu sobre o vilarejo iluminando-o bruscamente, luz e escuridão
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-Rápido seus ratos gordos e medrosos! Gritou Alda Bonachona, do final das
do fundo da garganta. Repetiu o movimento várias vezes e por fim disse aos irmãos:
-Não consigo me concentrar de estômago vazio!
• Não adianta! Meu bucho ronca mais que cantil vazio, mais que soprador de
forja, mais que bomba d'água bombeando ar! Preciso comer algo algo!
Flordovau pegou um pão do saco, o examinou e ao seu contento, achando que um
pão inteiro seria demais, partiu um terço e enfiou nas mão de Carniça:
- Isso é suficiente para tua concentração! Prossiga, por favor, pois os pães da Mama
-Muito bem seu sovina! -retorquiu Carniça. Naquele momento ele pensou que uma
vingança cairia bem. Aquela migalha de pão lhes custaria bem caro. E prosseguiu
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O velho tirou as roupas imundas, urinadas e vestiu o traje de Flordovau. O ervateiro
sentiu que estava sendo enganado, mas prosseguiu com a enrolação para não
contrariar seu salvador. Saltavam, é claro, pães, bolachas e o resto da ceia que o
do alforje e recitou:
“Carniça seu velho desgraçado...”
explodiu, como se algo a acertasse com uma pressão demasiada. Assim recitou:
“Para passar imperceptível
Ao olho inimigo
Que faça ao meu redor
o círculo do invisível”
Naquele momento uma redoma brilhante cobriu tudo o que encontrava-se na estufa,
O velho mascote olhou para cima e como teto invisível pode olhar para o centro
horrível da tempestade, lá uma boca enorme estava aberta, cheia de dentes afiados,
uma garganta profunda se projetava acima das nuvens, e era escura e densa, como
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lodo. Clarões e escuridão, cingiam aquele fenômeno, que parecia, para ele, uma
terrível criatura. Não pode olhar por muito tempo aquilo pois um pavor indescritível
lhe paralisou, enregelando seus ossos. Seus olhos mergulharam numa escuridão, tal
antes carregar uma porção de sacolas, dentre as quais acreditavam estar as ervas
que deveriam levar consigo.
Correram como nunca haviam corrido em toda a sua vida, e se não estivessem
invisíveis, ninguém se assustaria de ver milhares de migalhas saltando do nada para
o chão.
Correram até o local onde lhes havia indicado o primo e encontraram o chacal, que
estava sentando, encostado em uma árvore, remexendo uma pedra para passar o
tempo.
Retiraram da sacola que o primo lhes dera a ampulheta e trataram de iniciar o ritual.
Ambos segurando o fetiche faziam exatamente o que o lhes foi instruído.
Se alguém pudesse os ver teria dado boas gargalhadas. No entanto o Chacal viu a
ampulheta bailar no ar, sozinha. Porém farejou um cheiro familiar, a urina do velho
Ventania viu que a areia da ampulheta estava se no fim e resolveu reavê-la. Porém
ao tentar apanhá-la sentiu que algo resistia. Tentou puxá-la novamente com um
pouco mais de força. Mas a ampulheta não lhe veio. Neste instante o último grão
azul surgia sobre os demais, acionando o fetiche.
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O círculo dos anciões permaneceu imóvel entoando os cânticos de sorte dos
juntamente com dois velhos cobertos de ervas engrenhadas no cabelo e nas barbas,
migalhas de comida voavam para todos os lados e um cheiro repugnante de urina
Não sabiam ao certo por quanto tempo estiveram ali, com todos aqueles cães os
olhando com ar confuso. Como se mirassem um acontecimento ininteligível. No
-Este é o antigo ritual do povo “uli-uli”, eis que, através dele trazemos até Vós, a
Erva do Santo Rubor.
incontrolavelmente.
Ele diz vem teme que as sombras, a escuridão do Porto da Morte e a única maneira
de impedir que ela destrua o mundo é sagração da nova rainha, pois só o poder da
pedra e a fé na Deusa serão capazes de inibir a escuridão.
O chacal entende.
192
Os guerreiros chacais detectam as sombras que perseguiam a princesa e o Bardo,
capaz de cumprir seu destino como a salvadora de seu povo. Ela começa a
demonstrar sinais de derrota e Ben Adam dá início a um comportamento
desesperador.
Ambos dão sinais de cansaço e desesperança.
O espírito da Montanha
Neste capítulo Ben Adam conversa com o espírito da montanha que os conduz à
passagem ao reino subterrâneo.
Neste capítulo a princesa carrega o sacerdote através dos túneis com as sombras
no encalço ela chega a um grande salão com inúmeros túneis e ela tem que
escolher um. Ela não sabe qual direção seguir, ela vê que seu colar cintila mais
quando se aproxima de uma das entradas e resolve segui-la. Desemboca em um
túnel muito estreito, ela então entra de ré no túnel e puxa o sacerdote pelas mãos. O
túnel desemboca em um salão extremamente iluminado.
O Salão de Luz
193
Neste capítulo a princesa e o sacerdote encontram o salão de luz onde está a
pedra e invoque a deusa. Porém ela se sente apavorada e só chora. Tenta rezar e
nada acontece. O sacerdote está esmorecendo.
destrói os soldados.
O sacerdote morre dizendo a princesa que ela deve lutar contra o mal e que a única
forma de acabar com a magia da escuridão é fé na deusa e a luz da pedra que ela
engoliu. A princesa consegue sair do salão, que começa a desabar, porém é
golpeada na cabeça, fato que origina a sua perda de memória. Ela está muito ferida
e cai após uma hora de caminhada entre as montanhas.
Da escuridão
som era capaz de atravessar. Ela não podia ver, mas aquela escuridão
assemelhava-se à que carregava dentro de si e sobre suas vistas. A sacerdotisa
local. Qualquer um que pudesse ver o salão jamais estaria ali. Mas , privada da
visão, Liz ousou adentrar os decadentes portões do aposento, valendo-se da
194
coragem e ambição como guias. Sua ousadia sempre a levara ao extremo, sem
temer nem mesmo a morte. Fora assim, que afinal, tornara-se tão poderosa, uma
Rainha, como igual, há muito não ascendia.
das mais ricas e exóticas de todo o mundo, hoje a cidade borbulhava todos os tipos
de seres sem perspectivas, todos pertencentes a povos vítimas da guerra.
morte”, como era mais conhecida. A brisa bochorna era quase um estertor das vielas
intrincadas. A arquitetura bizarra da cidade fora legado de sua religiosidade: ídolos
As construções tinham seus tijolos feitos do lodo negro que repousava no seio do
pântano e eram calafetados com algum tipo de pasta betuminosa que dava à tudo
juntos.
195
Após o massacre, Liz sabia onde deveria chegar. Pediu que Lokar, seu fiel general,
a levasse ao palácio real de Coptset. Os vassalos e servos mais próximos da Rainha
não ousaram cruzar os dormentes do velho castelo central. Todos abandonaram sua
líder quando depararam-se com uma barreira invisível de horror que repousava nos
portões.
Havia algo ali. E não havia nada.
Muito entulho jazia pela pela praça. Indicando a entrada estavam duas colunas
pretas, com cerca de quatro corpos de altura. Uma deitava-se gentilmente sobre a
outra. Repousando ali por muitos e muitos anos. No topo de cada coluna, cavidades
denunciavam o lugar onde outrora, alguma gema repousara.
primeiro salão um dia estiveram de pé. Mesmo sem poder ver o lugar, ela andava
sem vacilar. E examente por não ver nada, pôde adentrar sem que o medo a
imediatamente após.
Liz não entrou sozinha.
Conforme avançava, deixava para trás os sons da guerra na praça central, todos os
gritos daqueles que lá estavam sendo trespassados pelo aço amargo, pela adaga
196
Ali, parecia que imergiam numa mortalha que nem o som podia penetrar.
Não era gelada, mas sim morna. Carregava um gosto intenso e trufado. Uma
pungente nota de terra, ocre, levemente molhada.
Sacerdotiza e o General Lokar. Do teto pendiam plantas tocando seu rosto. Suave,
como plumas. Mais cheiros e sabores invadiram as memórias de Liz. Bolores e uma
Foi então, que, apesar de todo o ambiente estar estranhamente quente, o corpo de
Liz começou a ficar gélido. Primeiro seus pés, e então as pernas. E pouco a pouco,
estremecendo cada parte daquela pequena mulher, repentinamente foi invadida por
uma sensação desconfortável de ansiedade. E logo aquilo deu lugar ao medo. Ela
hesitou por alguns momentos. Um hálito moveu-se contra ela, no meio daquela
escuridão que não podia ver. Veio forte e rebatendo-se contra as paredes, chegou e
agarraou-se à razão. Uma vertigem repentina abonou a sua mente. Mas era tarde.
ela estava ali, onde quer que fosse. Aquilo a estava chamando a caminhar por um
misterioso silêncio vivo. Nunca saberia como era o lugar, não fosse a sua
obstinação. Não saberia o que havia ali, exceto que, no seu íntimo, algo dizia que
era ali que deveria chegar. Ali era o centro de toda a sua caminhada. O detino de
sua vida.
Uma vantagem significativa lhe era proporcionada pela cegueira: lhe poupava a
visão do interior das masmorras do castelo. Objetos de tortura e as reminiscências
humanas, atadas aos seus grilhões. Corpos atravessados por lanças, achatados por
197
garrotes, encoleirados ao teto. Caveiras, ossos e restos mortais esperavam em
silêncio para contar a história de seu fim. Se alguma luz caísse ali, revelaria os
segredos que a escuridão guardava por muito tempo, sob os dormentes de Coptset.
Uma esccuridão leitosa que dormia nos olhos de Lis, desde a fatídica noite na
cabana, misturava-se à escuridão ao seu redor. Um véu negro cobria tudo. Duro,
quente e imepnetrável.
Somente ela poderia ver ali. Ver com os olhos que há muito aprendera a usar. Os
Porém, passos decididos e firmes deram lugar à dúvida. Liz, titubeavam à medida
que avançava dentre os corredores apinhados de escombros. Tropeçava
lhe tocava. Foi quando, paralisou. Uma sensação de medo lhe segurou das pernas,
tremeu seus musculos e a fez pensar em desistir. A Sacerdotisa sentiu novamente
uma brisa morna e densa soprar às suas costas, uma mão imaterial tomar a sua. A
mão escorregou de dentro da escuridão e a conduziu até o salão central. A
carregando como se flutuasse por sobre os cascotes, por entre as ramas crescidas,
por sobre um leito morno de pixe, tão denso que não não podia afundar. E foi
deslizando pelo pavimento, até parar bruscamente nun declive acentuado. Onde
uma sensação de não-mais-chão fez um frêmito imediato percorrer seus pés. Então
198
O fosso era uma garganta escura, densa, viscosa e profunda. Só a própria escuridão
Uma vida estática jazia entre os vazios escuros da construção: cada centímetro do
poço outrora banhou-se em sangue. Torrentes rubras eram derramadas pela
aos destroços. E uma mão segurou a sua, Lokar. Ela bateu com a face em uma
rocha aguda. Uma dor resistível e depois uma gota morna. Escorreu-lhe sobre a
pele, abrindo caminho entre a tisna escura da guerra. Uma lembrança antiga
invadira momentaneamente seu pensamento, fazendo-a arquejar. Ergueu os braço,
lentamente, sendo ajudada pelo seu General. Colocou uma perna acima, depois a
outra, empurrando o anteparo para baixo, e colocando o tronco sobre a borda rolou
para a plataforma.
A sacerdotisa ergueu-se.
Inclinando o rosto para dentro da boca escura do fosso a Rainha mais uma vez
sentiu a brisa morna vacilar nos pêlos da face.
confusa e distorcida. Falou-lhe sobre a fome. Sobre a dor que a fome traz. Sobre o
199
poder. Lis de imediato sentiu-se ameaçada, mas como seu velho habito a ensinara,
cravando as unhas na palma da mãe, ignorou qualquer voz interior que resistia
aquele chamado. Chegara até ali, tudo o mais seria fraqueza.
aquela atmosfera e sussurrou ao seu ouvido. Então um grito, como quem se acorda
de sobressalto, de algum pesadelo. A Rainha tomou-se por algo, um sentimento
arrebatador contra o qual não conseguia lutar. Um raio de dor cruzou-lhe a espinha.
Um fim. Uma morte apunhalou sua alma fazendo-na cair de joelhos. Suas pernas
fez por todos os lugares, todos os cantos. Sugou a vida de Lis para si. Apossou-se
de todos os sentidos que poderiam ser despertos na Rainha, mostrando-se a ela na
instantes algo havia acordado e dito à Liz quem era, e qual o destino de tudo. A
Sacerdotiza arquejou. Incrédula das revelações que lhe foram trazidas. Existou por
um breve momento, até afundar as unhas nas palmas das mãos, aceitando o
encargo oferecido. Então aquela voz surgiu do fundo do fosso, “mais”, ela sussurou,
“mais”.
A Rainha chamou por Lokar. E o abraçou por trás, com muita suavidade. Como o
fizera tantas outras vezes. Ele não pode ver na escuridão a lâmina fria do punhal
atravessar sua garganta, de um lado a outro, mas escutou uma frase antiga, que há
muito estava entalada na sua boca: “Eu sigo e deixo com a Senhora os
200
E no silêncio que antes havia, pode-se ouvir cada vez mais alto, a voz dizendo
O Porto da Morte
nos deparamos com uma estrada. Aquela era a principal estrada de Ankset, por
Depois que a esposa de Tantalus Ágoras assumira o trono de Ankset, uma estranha
agitação tomou conta do lado oriental. Inicialmente as hordas estavam
Antes das guerras de anexação todos naquela região viviam em regime tribal. As
principal foi tomada pelas tropas ocidentais da Fortaleza do Sol, guiadas pela
Rainha e Sacerdotisa do Templo do Sol, esposa de Tantalus Ágoras.
Porém não muito tempo transcorreu até que um inimigo inesperado se apresentasse
ao Rei da Fortaleza. Um inimigo que aos poucos cresceria até que sua oposição ao
Rei, Seus Senhores e Condestáveis deixando de ser uma mera afronta e se
O tempo que transcorrera era suficiente para que a Sacerdotisa Lis, que houvera
tomado para si as terras as conquistadas por Tantalus Ágoras, se opusesse com
201
Sua esposa e inimiga, em pouco tempo ergueu um exército nos arredores da Sétima
passeios e diplomáticos.
Quando a Sacerdotisa declarou guerra ao Rei Tantalus Ágoras, o fez sob a bandeira
da injustiça pregada naquelas terras antigas pelo povo imaturo do oriente. O fez
deveria fazer com que todos conhecessem o poder de seus asseclas. Utilizou-se do
medo para controlar os insurgentes. As táticas utilizadas pelas hordas como matar,
Com isto os exércitos cresciam sob a bandeira do medo e uma onda de violência
sem limites tomou conta do lado oriental.
202
Notícias dos acontecimentos chegavam às cidades gêmeas que logo temeram o
Todos temiam as hordas orientais pois cometiam o mal pelo mal, nada lhes
O medo e incerteza desceram dias sombrios naquelas bandas sem deixar nem ao
menos a esperança de um alvorecer futuro menos cinzento. ESTA PARTE EU não
vigília. Uma sensação que é inerente ao espírito do fogo e da lâmina Leoa. Fora
obrigada a acendê-la, pois a noite havia sido bem mais fria que costumava ser nesta
época do ano. Saiu da barraca ainda antes do sol nascer e foi tratar e selar seu
cavalo. Nas demais barracas a fumaça tímida, de fogo não recobrado, escapava
pelo topo, a aldeia cheirava a lenha, e este era o cheiro de casa. As guerreiras
estavam descansando depois de tanto tempo fora do lar.
O espírito vigilante de Neferhiri não poderia descansar, não depois dos sonhos
medonhos que a visitaram durante a noite. Foi então amolar a espada e olhando
203
para oeste percebeu que o sol não nasceria naquela manhã, mas uma grande
dos Reis e Rainhas da Cidade do Sol. No entanto toda aquela profusão de cores era
maculada por uma quantidade crescente de nuvens negras. Uma terrível
a agitação veio tocada pelo viração, o vento trazia um cheiro familiar, o cheiro dos
pântanos que ela bem conhecia e não desejava sentir nunca mais.
segurança.
Ela então tomou da cintura uma corda amarrada a um par de pedras e girando
acima da cabeça produziu um som contínuo e vibrante, que soou por todo o
204
Habet levantou-se do leito e correu para fechar a janela de seu aposento, foi
arrancada do sono por uma rajada de vento que escancarou a janela, trazendo
consigo o ar úmido e frio de uma tempestade. Logo os trovões tomaram conta do
oeste e ela soube que seria uma tormenta como há muito não se via (nem em
sonhos). Tratou de dirigir-se ao templo e cerrá-lo para evitar alagações, antes de sair
até a cidade da Lua com o obséquio piedoso de Ilgada. Lá procurou tornar sua vida
algo próximo ao que fora. Foi nomeada responsável por Harpis na ausência dos
Ao cruzar o pátio segurou-se ao manto e aninhou-se dentro dele, e ao ver que tudo
o mais rodopiava ao tocar da ventania, olhou para cima; as nuvens corriam no céu
como uma treva sem fim. Habet viu então que algo estranho habitava o temporal,
quando um arrepio percorreu-lhe a espinha. A tormenta alinhou-se sobre Harpis,
roupa coberta de um líquido negro cheirava mal e quase não se podia enxergar o
amuleto no peito, a peitoral do sol também estava matizada e os ventos daquela
manhã não estavam nada agradáveis. Tantalus Ágoras parou diante da janela onde
estupefato fixou os olhos na tempestade que pairava sobre Harpis. Imediatamente
gritou o nome de Ilgada. Três ou quatro homens que montavam guarda na porta
correram desorientados em busca do sacerdote.
O rei de Coptset temeu a tempestade assim que a viu. Porém não mais que à
ameaça que batia aos seus portões: soldados indestrutíveis de sombra e lama.
205
Tomou uma garrafa que jazia sobre uma cômoda no quarto e bebeu, o polkum dos
deuses, fabricado nas terras ao sul. Retorceu o cenho e tentou pensar no que
poderia acabar com aquelas malditas criaturas que chegaram aos portões da cidade
no início da manhã, vindas ninguém sabe de onde, querendo sabe-se lá o quê.
daqui, agora!
-É que, Senhor...
-Mais um passo e o próximo que dará será sobre o cadafalso! Suma, sua escória
imprestável da torre! Suma daqui seu ilusionista barato!
Tantalus Ágoras mal podia imaginar, mas Edir Gramateus de Shadai, naquele
momento cruzava o rio para chegar à Harpis, onde pairava a grande tempestade.
Não havia mais tempo para o medo e a dúvida, as nuvens estavam se abrindo e um
turbilhão se formando: Neferhiri já havia visto esta cena na última batalha no
pântano de Ankset e sabia que não era um bom sinal. Foram aqueles malditos
206
soldados lamacentos que forçaram-nas a recuar e agora o inimigo estava em sua
casa.
grande e as guerreiras que não estão machucadas estão cansadas e fracas. Não
devemos nos arriscar. È melhor bater em retirada antes que o pior aconteça.
-Você tem razão, Dêmora. Pouparemos a tribo. Diga para todas tomarem suas
montarias, vamos cavalgar!
Logo que tomaram uma distância segura Neferhiri parou olhando para trás e vendo
o turbilhão disse:
-Dêmora, a floresta não é mais segura, nem seus arredores. Devemos levar as
guerreiras para outro lugar, o mais distante daqui, e o mais depressa possível, ou
seremos aniquiladas!
-Sim, minha Capitã! Um lugar distante e seguro. Um lugar onde possamos nos
esconder e eu já tenho em mente onde: Neferthot! – e se dirigiu às demais - Vamos
207
1.4 Bet e a jornada ao Porto da Morte
Capítulo II
Nasce a Guerreira
1. As amazonas
2. Um novo lar
3. A guerreira sem nome
4.
208
Cromm II
209
Cromm II
Livro I
Começa a Guerra das Sombras
Capítulo I
2. A aliança
3. As hordas de Ankset
8. Os campos sangrentos
9.
Capítulo II
A Esperança
1. O Cativeiro de Bet
210
Capítulo I
A Primeira Guerra das sombras
3. As hordas de Ankset
4. Aron é prisioneiro nos pântanos de Ankset
sobre o inimigo, talvez mais rápido que uma flecha. Kandrini escondia-se por detrás
dos arbustos juntamente comigo. Dêmora estava nas valas, do outro lado da
estrada.
211
O comboio vindo de Ankset passaria por ali a qualquer momento. Inladris, nossa
melhor batedora, estava a postos escondida entre os galhos de uma árvore, e daria
o sinal: uma flechada certeira no condutor do primeiro carro.
Eu suava, o sol estava a pino, e meu odre vazio. Foi quando escutamos ao longe um
sino. O barulho ficava cada vez mais próximo, misturava-se ao som de latas e outros
objetos batendo-se. Podíamos ouvir alguém cantarolar, com uma voz balbuciante,
uma destas canções de taverna:
- Hic! Mais um gole de polcum para mim! Mais um! E mais outro... Para mim! Não
podemos esquecer de você velhote! – e o homem encenava uma outra voz- Claro,
-Cuidado velho mascate, não caia! Cuidado, não podemos deixar nosso polcum cair
do odre. Nenhuma gota, não mesmo! Nenhuma, nenhuma, nenhuma! Hic! Podemos
balançar e tropeçar, seu velho, mas não devemos deixar nossa poção mágica ser
212
desperdiçada! Portanto, seu velho bêbado, tome cuidado!- dizia, fazendo um jogral
consigo.
Kandrini riu. Logo Édolas coloca o dedo sobre os lábios pedindo silêncio à amazona,
que sussurra:
Neste momento Inladris desfere uma flechada certeira no odre do bêbado. E, logo,
escutamos:
- Seu velho! -Pragueja consigo mesmo.- Veja o que fez! Quebrou nosso vasilhame!
Seu tolo, falei para tomar cuidado! Agora está ai: nosso ouro derramado no chão!
todas amarradas umas nas outras, para fora da estrada e voltaram aos seus postos,
preparadas para a emboscada.
Kandrini colocou-o aos seus pés, para que ao acordar, podessem interrogá-lo. Muito
embora ele não parecesse mais que um bêbado carregando entulhos e artigos sem
muito valor.
Ela apanhou um jarro, dentre os muitos que ele tinha, a fim de matar sua sede. Ao
destampar o vasilhame um cheiro terrível tomou conta dos ares. Como se estivesse
respirando na boca de um morto.
- Por Selqet! Que cheiro medonho! O que será isto?! Fios e punhos, isto fede muito!
Arremessou o pequeno jarro ao longe. Ao atingir o chão, quebrou-se, fazendo com
213
ar quase irrespirável. O tal líquido roeu a relva que estava ao redor, deixando à
um de seus vidros, porém não quis abri-los. Vislumbrou o conteúdo contra a luz até
encontrar algo que parecesse água. De dentro do alforje do bêbado retirou um odre,
-Não! Esta é minha última dose de polcum, por favor! Sou um pobre e velho
mascate, Oh grande guerreira, eu lhe imploro: leve todas as poções que quiser, mais
insetos!
-Minha intenção não era fazer mal, grande guerreira, sou um velho fatigado e
castigado pelo tempo. Apenas não poderia lutar contra nenhuma de vocês, então me
fingi. Pegue o que quiser de mim, mas deixe o polcum!
-Vá com calma velhote! O que está procurando?! Pela lâmina de Selqet! Se tirar
mais um maldito truque de dentro dos bolsos eu arranco sua cabeça!
-Achei! Esta aqui!- e retirou de um dos bolsos vários canudos, e dentre eles,
escolheu um azul, e o abriu-. Deixe-me lembrar como devem ser ditas as palavras...
214
E esticando o tecido que estava enrolado, preparou-se para pronunciar as palavras
com a sede de todas vocês! Assim como posso fazer água, posso fazer ouro e
torná-las ricas!
lançará uma magia com sua voz! Conheço os feiticeiros, são todos ardilosos, é isto
que fazem!
-Eu não sou um feiticeiro! Sou um mascate, e serei um mascate velho e cego se
afundar mais um pouco a espada no meu olho!- disse, ainda vertendo copiosas
lágrimas.
Tutteb sentia pena do velho, mas Kandrini estava decidida a acabar com ele ali
Podia sentir ao longe o cheiro dos Kolbis, que não fediam mais que seus ninhos
imundos e cheios de armadilhas; suas tocas podres cavadas na lama dos pântanos
de Ankset.
Eles se aproximavam, e já podíam ouví-los grunhindo.
215
Brandiram suas espadas contra as claves espinhosas dos kolbis, dois deles fugiram,
Acordaram ainda no mesmo lugar e meio confusas podiam escutar a voz ríspida de
Dêmora dizendo:
- Trovões e raios! Poderíamos ter morrido! Fui a única a permanecer de pé! E você
não daria conta dos dois kolbis que também não tombaram em sono!
-Oh grande guerreira, minha intenção era unicamente ajudar... Sou apenas um
mascate velho, oh grande...
soldados de Ankset-.
As outras guerreiras estavam acordando também, e logo tudo foi explicado a elas.
-Não há nada de importante nos carros.- disse o feiticeiro batendo uma mão na outra
livrando-se de alguma espécie de pó verde-.
Kandrini dispara:
- Ora trovões! Nós não vamos confiar neste mascate traiçoeiro, vamos?
prisioneiro, até que ele nos diga quem é e o que faz nestas bandas. Depois disto,
216
podemos deixá-lo ir. Muito embora estas bandas estejam cheias de perigos e as
estradas ocupadas por inúmeros kolbis, bem mais fortes que estes!-respondeu
Nefehiri, com ar de ameaça.
viagem-.
-Porém,-interrompeu Neferhiri-, seguirá conosco com a boca amordaçada, para
evitar que pronuncie seus feitiços, e com as mãos amarradas, para que não tire mais
nenhuma surpresa dos bolsos!
certeza que não é um kolbi?! -e todas gargalharam-. Se tivéssemos que lhe dar um
nome, este seria Carniça.
rumando para a Segunda Cidade Anciã, ou seus arredores. Algum ataque deveria
estar sendo tramado em meio à escuridão da mente da Sacerdotisa de Ankset.
217
O sol despontava no horizonte ferindo a retina dos arqueiros, que concentrados,
controla-los –para isto balançavam tochas de fogo na frente dos ogros -. Todos
urravam ferozmente, e a batida dos tambores retumbava no peito das guerreiras,
Anciã.
O olhar temeroso de Aralti titubeava ao mirar as hordas quase a avançarem sobre a
muralha. Seu cavalo inquieto espinoteava e o negro dos olhos parecia mais
brilhante, tal como o pêlo ainda úmido pela neblina da noite. Porém percebia, a
chefe da infantaria montada, que suas guerreiras pareciam temer algo. Por certo o
olhar enfurecido das hordas, por certo abaladas pelo descaso do Povo do Sol
Dirigiu-se então Neferhiri a Tutteb, que permanecia firme sobre o lombo do cavalo
inquieto, que resfolegava e renegava, a guerreira apenas deixava-se balançar pelo
movimento do animal, porém quieta , com o rosto coberto pelo negro manto que
recebeu de Aron em sua partida, não se permitia deixar ver o rosto.
218
• Logo presenciaremos algo que ainda não posso saber o que é. Porém há
O sol tratava de despontar com toda força e logo irromperia fuzilando a visão dos
growls. Tutteb permanecia inquieta sobre o cavalo, e pelo rosto sentia correr-lhe um
suor frio, porém em seu interior uma chama lhe fervia o peito e se espalhava pelo
corpo, como se algo mágico estivesse para acontecer.
E logo não tardou para que do horizonte tentáculos negros surgissem, gigantescos.
Espalharam-se e esgueiraram-se, a princípio surgiram dois, depois destes brotaram
outros, pelo campo de batalha. E como estes, surgiram outros em torno do exercito
de Ankset, e subindo todos como para encontrarem-se no centro e formar uma
O exército inimigo batia seus tambores e enfurecidos, e agora mais, inflamados pela
magia, urravam contra o exército no forte. E os arqueiros mais novos sentiam o
inúmeros dos que ali se encontravam. Nesse instante o exército inimigo cai em
silêncio ao olhar os corpos tombarem. Ao perceber que as guerreiras temiam um
massacre, Dêmora que a princípio sentia uma força para blefar contra si mesma,
logo deixou uma esperança desafiadora tomar conta de seu coração e lançou as
219
-Guerreiras, suas espadas estão empunhadas, seus arcos preparados, e seus
corações não devem temer desafio algum, pois poderá não ser um dia de vitória,
mas será um dia, que digo, com a certeza dos deuses; o dia de hoje será o dia em
que a coragem nos abençoou, e para eles hoje é um dia de morte! Tomem suas
espadas, brandem-nas como se a fúria em seu fio estivesse, e lá estará, preparem
e então, a vontade de vencer estará dentro de vocês, atiçada pelo fogo da guerra. E
lembrem-se: eu jamais desistirei, por nenhuma de vocês, pois aqui divido a fúria da
guerra que queima no meu punho! Por isso matem, ainda que estejam feridas,
matem, pela liberdade que nossos antepassados conquistaram. Matem, para
exército do forte. O capitão da guarda inimiga tentou detê-los, porém alguns ainda
avançaram contra as guerreiras nos portões do forte, mas foram derrubados pelos
1. Os campos sangrentos
2.
Bet olhou ao redor, e observando os corpos espalhados pelo chão pensou realmente
se valia a pena lutar. Dêmora, Alexia, Kandrini, inúmeras guerreiras que neste
momento poderiam estar ao seu lado; faziam parte de um mundo habitado pela alma
220
nome, eternamente a imagem de suas companheiras de batalha no reflexo do
tempo.
........................................................................................................
Juntar seus corpos em silêncio era o que restava. Acolher a culpa de não poder tê-
até minha última batalha; porém não na ponta da flecha, não no arremesso da
azagaia, não no brandir da espada, não no avanço da lança inimiga, mas morrerei
cada vez mais após o fim de cada luta que me permitir ver toda esta morte, este fim.
Muitas vezes em uma batalha, não há perdedores nem vencedores, há apenas a
dizer. Porém as lágrimas que caminham pela minha face falam as caladas palavras
de todos que se foram. E o lamento do meu coração é certamente o lamento de
inúmeros outros guerreiros que perderam amigos, família, sua própria vontade de
viver; ao mesmo tempo tornando-se este o motivo pelo qual continuam a batalhar.
A Esperança
221
1. O Cativeiro de Bet
Cromm III
222
Cromm III
Livro I
Aron, o Guerreiro.
Capítulo I
6. A foz de Ausar
7.
Capítulo II
O Eremita
1. Os fantasmas do Arquipélago de Geb
2. As cavernas de Chamur
3. O despertar do Guerreiro
223
4. Chegada à Ankset
5.
Livro II
A Rainha Negra
Capítulo I
Os Exércitos da Luz
1. O levante das Amazonas
2. O Conselho de Matra
3.
Capítulo II
2. A Sacerdotisa Negra
3. O mal assume uma forma
4. A batalha de Ankset
5. A libertação
224
6.
Capítulo III
2. Tua-a-tu
3.
Livro I
Aron, o Guerreiro.
Capítulo I
225
Aron chega ao porto de Copset
tépido jogando-se lentamente nas paredes do porto. Ao lado dele uma grande placa
estampava em língua geral mal escrita: “Proibido o desembarque de conjuradores
-Lhe dou vinte peças de ouro por essa espada - interpelou uma voz grave, atrás de
mim.
-Seus olhos jamais irão captar-lhe o verdadeiro valor! Esta é Amonroth, a espada
entre as espadas!
mensageiro lá.
-Não seja tolo Bijin, se queres viajar, terás de negociar algo! Ou achas que abarco
qualquer insano que chega ao porto e se diz um herói, ainda por cima sai ditando
regras! Pelas barbas de Utul! Poderás viajar comigo se pagá-la como tributo. E
acredite, é uma troca favorável para ti. Estás a ver aquele grande navio ancorado?
226
Pertence-me! Porém muitos de meus marujos foram mortos nesta última viajem:
foram degolados misteriosamente durante a noite. Ainda não sei o que causou
tamanho estrago, pois nossa carga não era um carregamento de morcegos e sim
aparência muito agradável: sujo, com as roupas comidas pela maresia, um tapa-
olho, na cabeça algo que parecia ter sido um chapéu um dia, hoje estava escondido
pela sujeira. Ao aproximar-se sorri, deixando à mostra os dois dentes e meio que
ainda lhe restavam e diz:
-Está aqui o ladrão!- suspendendo pelo congote um velho, igualmente sujo, que se
encontrava aos prantos. - Ele estava em meio aos escravos, Senhor, e quando
dissemos que revistaríamos todos até encontrar seu dente de ouro, ele o jogou no
chão, porém um dos escravos viu e entregou o ladrão á nós.
-Mas é apenas um velho! O que ele poderia fazer?! É notável que não pode nem
com as próprias calças!- e o velho chorou ainda mais e disse:
-O rapaz tem razão! Sou um pobre velho, venda-me como escravo, mas não me
mate, por favor!-E jogou-se aos pés do capitão beijando-lhe as botas.
-É o que veremos!- Baradum ergueu o suposto ladrão pelo cangote e pôs a mão em
seu alforje, vasculhando os bolsos; de onde saíram quinquilharias sem fim; pedaços
227
de pão, ferramentas, botões, charutos queimados, panos rasgados e dois anéis de
ouro.
-Seu velho fraudulento! Um destes anéis me pertence!- disse o capitão furioso-. O
outro não era meu, mas agora me pertencerá também! Mate-o Carcaça!
-Capitão, Senhor de todo o mar, deixe-me pelo menos dizer minhas últimas palavras
Neste momento o pirata já tinha em mãos uma cimitarra afiada apontada no pescoço
do velho.
o velho.
-Pronto! Morrerás absolvido e remissado de seus pecados!-resumiu o capitão -
morte-. Além de ladrão sou um feiticeiro! Poderia lhe ser útil no navio, já que está
precisando de marujos...
-Sim! Mas não de marujos que roubem seu capitão! O pior pirata é aquele que rouba
dos seus!- ironizava o capitão - Já disse para matar o infeliz, Carcaça!
curar homens, fazer água, e posso também fabricar ouro... Sim! Muito ouro! E Torná-
lo rico!- Neste instante os olhos do pirata que o ameaça com a espada brilharam-.
-Então não precisarei mais pilhar! E não serei mais Baradum! Cale-se seu medroso!
Carcaça leve-o daqui e mate-o de uma vez!
-Sim, Senhor!
O pirata saiu carregando o velhote aos trancos, ainda ao longe podíamos escutar o
choro dele.
228
-São as leis: roube antes de ser roubado, mate antes de ser morto!-gargalhou -
E foi assim que conheci Baradum, o capitão de Ulgar. Esse foi o início de uma longa
jornada.
..................................
O pirata levou o velho até uma viela vazia, distante do navio. Iria cumprir as ordens
-Sou apenas um pobre velho, que mal pode caminhar!- disse Carniça, sendo posto
de joelhos e com a espada em sua nuca.
Pôde sentir a lâmina gelada e fina encostar-se à pele, logo acima da gola da camisa.
-Deixe-me viver!-implorou ao pirata, que levantou a espada-. Deixe-me viver! Tenho
-Não posso comer e beber com uma espada apontada para mim! Por favor, abaixe
as armas, sou um indefeso, não vê?! E quero um pingo de dignidade ao fazer minha
ultima refeição!
229
O Pirata franziu o cenho e retirou a espada do pescoço do velho, aguardando que
ele comesse. Porém estava impaciente: esperava que logo acabasse aquela
enrolação toda.
-E agora, deu?!
-Não! Pelas barbas do salgueiro pirata infame! Acredito que ainda enxerga com o
agüentar!
Irado o pirata arremessa a garrafa e chuta o pedaço de pernil. Ergue a espada e
-Me poupe velhote! Você lá tem cara de ser um homem de fé! És um ladrão
mentiroso!- e desceu a espada, porém antes de golpear o ladrão, este dispara:
-Ouro, ouro! Poço fazer ouro com uma magia que tenho guardada!
-Ouro?- e brilharam novamente os olhos do pirata- Faça então! E logo estarei rico!
Uma fumaça espalhou-se pela viela, e caiu o pirata em um sono profundo. Nunca
correu, Carniça, com tanta rapidez assim!
230
.............................................................................................................
A galera iria partir no fim da lua negra, e Aron teria três dias, ainda, no porto de
Coptset. Uma peça de ouro era o que guardava no bolso. O odre vazio. A roupa
rasgada. Estava à procura de uma estalagem, um bom pára-barros, para se trocar,
-Onde há uma estalagem por aqui, bons homens? Hum... Eu os conheço... Você é o
pirata- apontando para Carcaça- e você o velho ladrão - apontando para Carniça.
bateu nas costas de Carcaça, que inventou um sorriso muito amarelo e artificial.
-Mas... Onde há uma estalagem?!
Porém naquele momento Amonroth, reluzindo suas safiras, deixou-se entrever pelo
alforje.
Os olhos da dupla brilharam mais que as pedras da espada, e logo o mascate diz à
Aron:
- É uma pena... O Senhor precisaria de bem mais uma peça para comer e
descansar. Mas como sou um bom homem –e sorriu cinicamente- vou lhe ajudar.
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velho mau, muito mau lá. Ele está em alguma das mesas, é um velho anão, muito
barbudo, tome dele as moedas que carrega em seu saco, ele me deve há algum
tempo já. Não o quis cobrar, por que sou um bom homem e não estou necessitando
do dinheiro no momento. Mas será útil para você. Ah, não o acorde, ele está
dormindo um sono profundo. Ele se importará mais se acordá-lo do que se pegar
-Obrigada pela generosidade. Assim que pegar o saco tomarei aquilo que for
necessário para um descanso e lhe devolverei a outra parte, que é sua por direito.
E o pirata completa:
-Acredito que isto servirá para um homem desprevenido, digo, desprovido. - e riu -
um homem desprevenido não carrega uma espada destas...
dois estavam um a esganar o outro com as mãos, no que parecia uma briga.
Mas ele seguiu.
Confiando nas boas intenções dos homens ele foi até a taverna. Ao longe se
escutava a música e gargalhadas sem fim ressonando dentro daquela casa pequena
e pouco iluminada. Na entrada farfalhavam duas tochas, uma de cada lado da porta,
não haverá polcum nem mulheres!”. Á entrada, dois Kolbis conversavam bêbados,
tentando se equilibrar com as mãos no marco.
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Nunca havia colocado seus pés em uma taverna da cidade, era um proscrito dos
ermos. Preferia lidar com as amazonas ou ainda com as tribos primitivas de Tef-
Annafat.
Pois bem, quando entrou ninguém percebeu sua presença, e logo Aron-Sat-Geb
pôde avistar o tal velho que procurava, estava dormindo sobre à mesa em meio
aquele alvoroço todo: ele era muito baixo, e seus pés ficavam dependurados na
cadeira, porém a largura de seu peitoral era metade da envergadura do bardo, e o
devia ao homem. Tomou o saco nas mãos novamente. Todos tornaram a olhá-lo com
as mesmas expressões de terror. Aron deu um puxão na algibeira, e alguns se
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diversas línguas, enquanto sua barba enorme roçava o rosto do bardo, cravejada de
pedaços de pernil.
-É a segunda vez que tentam me roubar esta noite, e eu estou furioso! Preste
atenção, sua ratazana, eu já bebi demais esta noite, mas fio pequeno ainda está
com sede! – e apontou no pescoço do bardo a lâmina afiada do machado que
provavelmente teria sido armada pelos dois homens do navio. Então o anão
encontrou Amonroth debaixo do capeirão:
- E vejo que este é um ladrão ardiloso, pois conseguiu roubar esta bela espada de
seu dono. Com uma das mãos empunhou a espada e todos que estavam na taverna
interjeitaram admirados, pois as pedras da espada brilhavam, porém não mais que
sua lâmina, parecia ao bardo que a arma despertava de seu profundo sono.
chama!
O anão leu o nome da espada em sua lâmina e a entregou ao capitão.
roubado a espada, suas moedas, e por todos os crimes que cometeu no passado!
-Eu irei junto para me certificar que o ladrão caolho pagará pelo que me fez, de outra
Baradum.
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-Marujos! Humpf.- desdenhou o anão- desde quando os anões são marujos? Sou
-Muito bem. Então irá conosco Groud. Sei que é um ótimo guerreiro, por isto o quero
em minha tripulação. Seja bem vindo à Ulgar!
O anão recompôs-se ajeitando as vestes e estufando o peito com orgulho, não sem
antes fulminar Aron com seu olhar feroz encorajado pelas palavras de Baradum.
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-Foi tudo culpa sua, seu velhote maldito! Que os monstros dos mares o devorem! –
dizia o pirata, quase matando o pobre velho.
-Sim seu desgraçado, eu podia ter matado o anão e pego suas moedas para mim
enquanto ele dormia!
- Solte-me... Estou morrendo.cof, cof. Salvei sua vida, seu pirata imbecil!
O pirata franziu o cenho, tentando assimilar o que o velhote dizia, mas as coisas
antes que seja morto.”. Mas felizmente as palavras do velho começavam a fazer
sentido para Carcaça e ele assentiu que o velho havia lhe salvado a vida: estava
roubando o anão Groud quando foi descoberto com as mãos na algibeira. Mais que
rápido a lâmina do machado do anão estava em seu pescoço, e graças a astúcia do
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velho que estava escondido entre a multidão na taverna, foi salvo. O mascate pôs o
anão para dormir. Mas eles tiveram que abandonar a taverna sem que o pirata
pudesse pegar as moedas do anão, pois todos apontavam na direção do mascate,
um conjurador de magia.
Então o pirata soltou aos poucos o pescoço do velho.
-Você quase me matou, seu pirata desgraçado, da próxima vez deixo você virar
guisado de anão. –resmungou o velho apalpando o pescoço quase dilacerado.
por ter sido perdoado, afinal o velho tinha salvado sua vida.
Mas o mascate sabia que conjuradores de magia não eram bem-vindos em Coptset,
e depois do incidente na taverna, rapidamente os Kolbis estariam procurando-o.
Carniça era astuto, e graças a sua inteligência ainda estava vivo. Ele sabia que
agora Coptset tornara-se perigosa para ele e teria que sair o mais rápido possível de
lá. Então, mais que instantaneamente seu cérebro tramou um plano perfeito de fuga
vida, mas eu não serei injusto, não pedirei nada de grandioso: quero que me
esconda no navio para que eu possa deixar Coptset são e salvo.
O pirata não imaginava como o faria, mas o mascate sabia exatamente como, e
explicou ao pirata seu plano.
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Orco era o marujo mais antigo de Baradum, seu fiel companheiro há quinze anos,
praticamente criado pelo Capitão, por quem tinha um apreço quase paterno. Seu
irmão, Irion, também amigo do Capitão, depois de cinco anos de viagens pelo mar
irmão que acreditava que ele seria um grande ilusionista destas caravanas circenses
que passavam por Coptset: negócio mesmo era aventurar-se ao lado de Baradum,
ser um guerreiro dos mares temido e respeitado. Ambos se odiavam: irmão e irmão.
Seu passado era triste demais, mas Orco escondia atrás da muralha de músculos
um homem sofrido e triste, mas não frio; Irion era a sombra de sua amargura, depois
destes cinco anos na Torre de Coptset, o único lugar habilitado a formar
conjuradores naquelas bandas, parecia que algo mal havia instalado-se na aura do
irmão mais velho.
Mas Orço Lâmina Cega, não era um grande guerreiro, tinha conquistado o respeito
de Baradum por sua lealdade e dedicação: grande no tamanho e pequeno na
agilidade. Possuía uma força fora do comum, ótimo para carregar e descarregar os
fardos do navio.
e cheio de parcimônia.
-Acho que sei mais coisas que você, meu caro irmão.- a malícia de Irion tomava
espaço.
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-Suma da minha frente Irion, estou ocupado, não tenho tempo para balelas.
-Se eu fosse você Orco, tomaria cuidado. Escutei a conversa deles quando se
conheceram no aqui no porto, parece que ele é um proscrito, e mais, parece que
tem uma missão e é um grande guerreiro. Disse à Baradum que possuía a espada
de Kimsalon, dada a ele pelo próprio rei morto.
ouvidos as palavras do irmão, que no entanto haviam lhe cativado uma dúvida
profunda.
-Sou seu irmão Orco, se falo isto é por que me preocupo com você. –apelou Irion.
Orco largou o saco de farinha e agarrou o irmão pela gola da roupa, erguendo-o até
entendedor. Algo de sinistro você deve estar tramando e não farei parte de seus
planos . Sei que você não tem bondade em seu coração, eu tento ser um guerreiro,
mas você é um assassino destes que não prestam. Que existem aos turros aqui em
Coptset, portanto não diga que se preocupa comigo. Dispenso sua preocupação.
Volte para a torre de seu mestre na cidade, não deveria ter saído de lá esta noite.
-Você não deveria ter me tratado desta forma.
furioso, e aquilo havia sido a gota d’agua: Irion havia relembrado coisas do passado
duras demais para o irmão mais novo.
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Orco estava tentando acordar o irmão quando escutou a voz do capitão que
Orco viu um velho com vestes femininas e longas patas de aranha. Logo atrás dele
vinha o Capitão, Carcaça, Aron e bem mais atrás Groud, e no encalço deles
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Baradum, Aron e Groud deixavam a taverna Caneca Salgada topando com alguns
guardas que foram chamados para dar conta da confusão que havia se formado na
taverna. No bloco seguinte encontraram com Carcaça e uma bela dama
encapuzada.
-Carcaça, mas que bela dama nos fará companhia esta noite! – disse o Capitão
Aron estava rindo, mas logo recebeu um cutucão do anão, que achava que aquele
ladrão não estava em condições de esbanjar alegria. Aron calou-se, mas ficou
desfrutar a primeira noite de sua dama, visto que seria uma honra para qualquer
um... Não é mesmo Carcaça?
-Sim, quer dizer, não. - e a dama lhe deu alguns cutucões - Sim. É uma honra,
mas... Senhor Capitão.. Ela...
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-Deixe-me ver seu rostinho então bela princesinha - e Baradum foi removendo o véu,
mas a dama insistia em não deixar. - Um beijinho apenas... Hum... – e baradum foi
aproximando-se da moça - Nossa, a senhorita deveria tomar um banho antes das
núpcias! Mas casou-se com Carcaça... Dizem que é pelo cheiro que os animais se
reconhecem, isto deve estar certo. - o Capitão afastou-se, franzindo o cenho, com
nojo.
Baradum não possuía um ângulo de visão privilegiado, mas Groud certamente tinha,
parte da barba:
-Mas veja, é aquele velho ladrão!
Eles correram o máximo que podiam até o navio. Mas arrastaram pelo caminho mais
guardas e alguns Kolbis que vigiavam o porto.
Cerca de vinte homens e Kolbis os seguiam, mas o velho anão fora deixado para
trás e teria que lutar, Aron parou ao perceber que Groud não estava entre eles e
retornou. Puxou a flauta da cintura e correu ao encontro do anão, mas ele notou que
mais alguém havia voltado: Carniça e pôde ver o velho vestido de mulher
vasculhando sua mochila, o anão corria o mais rápido que suas pernas curtas
podiam agüentar. O velho estava quase sendo apanhado quando retirou da bolsa
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Inúmeros guardas caíram em um sono profundo, e Carniça correu revistando os
Patas de aranhas!
Aron assistiu aterrorizado brotarem debaixo do vestido do velho, no lugar das
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O navio afastava-se do porto, alvejado pelas flechas dos guardas e dos kolbis. O
velho estava na proa da embarcação apontando a varinha para os botes que os
sim?
O rosto do Capitão encheu-se de uma expressão medonha de ódio, achando um
241
-Bem vindo à tripulação de Ulgar, Filishart, o feiticeiro!
problema.
-Mas eu não falo dele, Capitão. Meu irmão Irion encontrava-se acidentalmente à
bordo quando tivemos que zarpar. Não sei o que podemos fazer...
-Diga a ele que apenas deixe sua língua feroz bem longe dos ouvidos de minha
tripulação. E diga também para ele carregar alguns sacos de farinha para a cozinha,
já temos um cozinheiro.- e apontou para o velho.
Orco riu com tanta vontade como jamais faria em muito tempo: seu irmão
carregando sacos de farinha seria a coisa mais engraçada que poderia ver na vida:
ele era um alto sacerdote de Coptset, ambicioso e prepotente, não carregava nem a
própria sombra quanto mais fardos.
as vozes dos marujos acima podiam ser ouvidas. Verde, Groud olhava para o
suposto ladrão Aron, com o machado nas mãos. Baradum adentrou a gabine:
-Anão, o que há com você? Acho que deve ter comido algo estragado na taverna.
Não estás com uma cor normal...
3. A morte de Baradum
4. A foz de Ausar
5.
Capítulo II
O Eremita
242
1. Os fantasmas do Arquipélago de Geb
2. As cavernas de Chamur
3. O despertar do Guerreiro
4. Chegada à Ankset
5.
Livro II
A Rainha Negra
243
Capítulo I
Os Exércitos da Luz
2. O Conselho de Matra
3.
Capítulo II
A Segunda Guerra das Sombras
1. Bet, a profetizada
2. A Sacerdotisa Negra
3.
244
O mal assume uma forma
Uma tenebrosidade indizível corria para a borda do fosso, galgando seus espaços,
seus tijolos e pedras, engolindo cada espaço. O fosso e Bet estavam frente a frente.
Ela podia sentir o pavor inominável que habitava a escuridão, o próprio medo se
conjugava impronunciável ali.
por horas parecia tomar formas, como se dentro dela pessoas estivem aprisionadas,
contorcendo-se, e estendendo suas mãos em busca de socorro. Formas gritavam
Aquela lama permanecia à caminho de Tutteb, que a temia cada vez mais. E neste
momento a princiesa se arrependeu de tudo; tentou escapar. Fugir. Sua mente
acelerada estava viva. Seu corpo imóvel, de gelo, de medo e de transe estava
rígido.
245
A tenebrosidade tocou-lhe os pés, e foi subindo. Ao devorar-lhe a carne, hirta que
estava pelo horror, sentia os ossos enregelarem, como que cada indivisível parte de
si transformasse-se em mínimos cristais pontiagudos e apinhados. O corpo
mãos e garras. Seu corpo estava coberto com uma armadura viva de lama: a
densidade do nada na forma do medo.
A princesa ainda tentou respirar e livrar a boca e o nariz do piche negro sufocante,
enquanto se debatia inútililmente: seu último grito foi abafado pela mão pesada e
gélida do mal. Penetrou pela garganta e desceu horripilante até o peito, em um tirão
explodiu-lhe o coração.
246
1. A batalha de Ankset
2.
O céu era cortado por rajadas de fogo e raios. As nuvens negras, revulsivas,
uma redoma de medo defendia-na. Seu manto tenebroso flamulava ao tocar daquele
vento gélido, e nele retorciam-se faces mortas, aprisionadas, uma couraça de
matou toda sua prole para temendo traição. A lâmina construída por Set-Apher-
Alguma-Coisa tornou-se maldita: a obra destrói o criador.-E, no punho, espledorosa
uma caveira negra reluzia suas pedras mágicas. E, pronunciando o antigo idioma da
primeira cidade anciã, reuniu inúmeras nuvens acima de nós. Minhas mãos tremiam,
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terrível Rainha. Ela desembainhou a espada e desceu do animal, caminhando em
minha direção. E retirando o elmo pediu que a olhasse nos olhos. Era Tutteb. Minha
amada.
1. A libertação
2.
Capítulo III
1. O primeiro reinado
2. Tua-a-tu
3.
1 Galinhas de cativeiro.
2Conquistador, adaptado do Bo. Chamavam-se a si mesmo de egirões os homens que
subjugavam outros povos.
3 A Lenda de Chésteb conta, que a gema foi gerada do amor entre Nahmail e Amani, e entregue à
Primeira Consciência, que a admirou por longas era, e quando foi habitar em Cromm a tomou como
morada. ( Cromm- A Gênese).
4 Conselho formado pelos Sacerdotes e pelas Sacerdotisas de Harpis e Copset.
5 Aquela que carrega a marca, em Bo.
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