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Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.

Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a


forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora
esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a
mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança
não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é
primeiramente, a irradiação da subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é
através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que aprendem o universo. O drama do
nascimento, o da desmama desenvolvem-se da mesma maneira para as duas crianças dos dois
sexos [...].
[...] Uma segunda desmama, menos brutal, mais lenta do que a primeira subtrai o corpo da mãe aos
carinhos da criança; mas é principalmente aos meninos que se recusam pouco a pouco beijos e
carícias; enquanto à menina, continuam a acariciá-la, permitem-lhe que viva grudada às saias da
mãe, no colo do pai que lhe faz festas;vestem-na com roupas macias como beijos, são indulgentes
com as lágrimas e caprichos, penteiam-na com cuidado, divertem-se com seus trejeitos e
coquetismos: contatos carnais e olhares complacentes protegem-na contra a angústia da solidão. Ao
menino, ao contrário, proíbe-se o coquetismo; suas manobras sedutoras, suas comédias aborrecem.
“Um homem não pede beijos... um homem não se olha no espelho... Um homem não chora”, dizem-
lhe. Querem que ele seja um “homenzinho”;e libertando-se dos adultos que ele conquista o sufrágio
deles. Agrada se não demonstra que não procura agradar.
Muitos meninos, assustados com a dura independência a que são condenados, almejam então ser
meninas; nos tempos em que no início se vestiam como elas, era muitas vezes com lágrimas que
abandonavam o vestido pelas calças, e viam cortar-lhes os cachos. Alguns escolhem
obstinadamente a feminilidade, o que é uma das maneiras de se orientar para a homossexualidade
[...].
[...] O privilégio que o homem detém, e que se faz sentir desde sua infância, está em que sua
vocação de ser humano não contraria seu destino de ser homem. Da assimilação do falo e da
transcendência, resulta seus êxitos sociais ou espirituais lhe dão privilegio viril. Ele não se divide,
pede-se que se faça objeto e presa, isto é, que renuncie as suas reivindicações de sujeito soberano.
É esse conflito que caracteriza singularmente a situação da mulher libertada. Ela se recusa a
confinar-se em seu papel de fêmea porque não quer mutilar-se, mas repudiar o sexo seria também
uma mutilação. O homem é um ser sexuado: a mulher só é um individuo completo, e igual ao
homem, se também for um ser sexuado.
(BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 9, 12, 452).

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