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Português: “Os Maias”

 A representação de espaços sociais e a crítica de costumes

A ação d’ Os Maias, decorre em vários lugares de Lisboa e de Sintra; no entanto, na infância e na


juventude de Carlos da Maia, o leitor vai encontrar a personagem e o seu avô na quinta de família de
Santa Olávia e em Coimbra.

Estes lugares, que constituem o espaço físico do enredo, são olhados de outra forma quando criam
ambientes povoados com personagens da narrativa e proporcionam momentos de caracterização de
grupos socias, de figuras individuais e de crítica de costumes. A estes cenários que convidam à análise
de comportamentos e de personagens dá-se o nome de espaço social.

Em Lisboa assistimos à decadência da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX.


Estabelecem-se contrastes entre Lisboa e outras capitais, como Paris e Londres, para melhor dar a
conhecer os vícios cívicos e civilizacionais do nosso país.

Na capital, a zona que se destaca mais é o Ramalhete, a casa dos Maias em Lisboa, que alberga a
família durante várias gerações, e que por isso assiste aos seus reverses e aos momentos trágicos.

Por outro lado, a quinta de Santa Olávia, propriedade dos Maias no Douro, representa as origens
rurais da família, o que lhe confere uma ligação ao campo, à natureza e ao que há de mais
genuinamente português e não foi corrompido pela cidade. Funciona também como um santuário
onde Carlos cresce e o avô Afonso se refugia.

A Toca, vivenda dos Olivais com um nome simbólico e que serve de ninho ao amor de Carlos e Maria
Eduarda, é um lugar afastado do epicentro da vida social de Lisboa, e até certa altura de rumores e de
maledicência. A Vila Balzac é a casa que acolhe Ega e Raquel Cohen. Ambas as casas estão marcadas
pelo signo dos sentimentos impuros: a 1ª de adultério, e a 2ª ao incesto.

Coimbra é onde Carlos estuda, é a cidade que forma a futura classe dirigente do reino.

Sintra é a vila pitoresca aonde Carlos se desloca na esperança de encontrar Maria Eduarda. Pela sua
beleza natural, este local afigura-se como um cenário que convida aos amores, tantos aos puros como
impuros.

 Episódios

Episódio I - O jantar no Hotel Central: Propósito do jantar: Ega pretende adular Cohen, para poder estar
mais perto da mulher deste, Raquel.

No Hotel Central, onde jantam Carlos e Ega, e outras personagens, podemos assistir a uma discussão
literária e às reflexões trocistas sobre a situação política e económica de Portugal.
Nesta confraternização entre personagens
com formação e relevo na vida nacional
(Cohen é banqueiro e um homem
influente; Alencar poeta ultrarromântico),
não só observamos a indiferença e a
insensibilidade perante a decadência do
país, como a incapacidade de alguns
membros da elite lisboeta se
comportarem com civismo e dignidade.
Episódio II - Corridas no Hipódromo de Belém: Artificialismo e incapacidade organização

No episódio das corridas de cavalos, é denunciado o culto da aparência da sociedade burguesa e a sua
aspiração de se mostrar requintada e cosmopolita, imitando a realidade das corridas inglesas. No entanto, o
evento revela-se entediante, e os comportamentos artificiais.

O ambiente apenas anima quando o provincianismo lusitano vem à superfície numa cena de discussão e
pugilato que põe a nu a genuína falta de civismo português.

Episódio III - A corneta do Diabo e A tarde: Corrupção, sensacionalismo e parcialidade no jornalismo

Os vícios do jornalismo e a aspiração da burguesia são tratados neste episódio, que decorrem nas redações
dos jornais.

Episódio IV - Sarau literário no Teatro da Trindade: Crítica ao discurso vazio e retoricamente exuberante

Critica-se a futilidade da sociedade burguesa. A cultura das classes privilegiadas é pobre e falta-lhes o gosto
e a sensibilidade pela arte mais exigente.
Episódio V - O passeio final: Último diagnóstico do país: epílogo

 Espaços e seu valor simbólico e emotivo

Jardim do Ramalhete

Antes deste espaço ser habitado, era constituído apenas por um pobre quintal inculto e abandonado.

Depois de ser habitado, o jardim é descrito: tinha um ar simpático, cheio de flores e estátuas (como a de
Vénus Citereia), e fontes.

10 anos depois, quando Ega e Carlos visitam o espaço: era “limpo e frio na sua nudez de inverno, tinha a
melancolia de um retiro esquecido (…), uma ferrugem verde, de humidade.”

Dado que Maria Monforte surge aos olhos de Pedro como uma deusa, é possível associá-la à estátua de
Vénus Citereia na sua primeira fase. É como se a presença desta figura feminina fosse sugerida obscuramente
no quintal do Ramalhete simbolizando a possibilidade de uma nova tragédia.

Com a vinda de Afonso e de Carlos para Lisboa, a estátua renova-se passando a simbolizar uma nova deusa
que surge em Lisboa: Maria Eduarda. Apesar de a alegria proporcionada pela nova estátua, a verdade é que o
ambiente de melancolia se mantém parcialmente, sendo sugerido pela comparação do cipreste e do cedro a
dois “amigos tristes” e pela alusão ao “pranto de náiade doméstica”. É possível pois, considerar que se
aponta desta forma para a presença de um destino funesto, cuja ameaça, mesmo em momentos felizes,
parece estar latente.

Quando pratica o incesto, Carlos começa a sentir alterações na forma como via o corpo de Maria Eduarda:
adorado desde sempre, de repente parecia-lhe como era na realidade, forte de mais, musculoso, de grossos
membros de amazona bárbara, com todas as suas belezas copiosas do animal de prazer.

Interior do Ramalhete no epílogo

No epílogo, Carlos e Ega visitam o Ramalhete. O primeiro afirma que tinha vivido pouco tempo naquela casa
mas parecia que tinha passado lá uma vida inteira. O seu amigo refere que fica-se a dever ao facto de ter sido
naquele espaço que Carlos viveu a sua paixão. Sendo assim, o protagonista tem uma intensa relação emotiva
com este espaço não só pelo facto de estar associado à sua relação com Maria Eduarda, mas também pelas
recordações que o seu avô (Afonso da Maia) lhe proporcionara.

Nesta medida, a redução do Ramalhete à condição de um depósito de recordações do passado torna-se


muito doloroso, sendo possível interpretar a destruição que neste espaço se operou como um símbolo da
efemeridade da vida.

A morte é também simbolicamente representada neste espaço, devido aos panos brancos que
cobrem os móveis no escritório de Afonso de Maia.
 Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga amorosa (Pedro da Maia,
Carlos da Maia e Ega).

Intriga amorosa

Pedro da Maia João da Ega Carlos da Maia


e e e
Maria Monforte Raquel Cohen Maria Eduarda

 Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia e Maria Eduarda)

Afonso de Maia

Apesar de ter alguns traços de diletantismo (que o levarão a esquecer facilmente a dura luta travada pelos
seus companheiros liberais em Portugal, enquanto vivia uma vida luxuosa em Inglaterra), é uma personagem
admirável.
Apesar de os princípios morais o terem levado a desaprovar o casamento de Pedro, quando este regressa,
humilhado, após a partida de Maria Monforte, o seu amor paternal leva-o a reconciliar-se com o filho e a
apoiá-lo ao invés de o recriminar.
A sua força interior é demonstrada pela capacidade de sobreviver á morte do filho de se dedicar com
entusiasmo à educação do neto.
Finalmente, é uma personagem digna, que não se deixa seduzir pelo luxo que Carlos tanto aprecia, vivendo
de forma simples e austera. É ainda inteligente, culto e caridoso (tanto ás pessoas como aos animais).

Carlos da Maia

Apesar do seu carácter diletante que prejudicou os seus estudos universitários e o impediu de concretizar os
seus projetos no campo da medicina, Carlos é uma personagem na qual ressaltam características positivas.
Destaca-se a sua inteligência, cultura e sentido de humor, assumindo uma atitude crítica e irónica em relação
à sociedade portuguesa.

Maria Eduarda

Apesar das circunstâncias da vida a terem obrigado a viver com Mac Gren sem se casar, e mais tarde tornar-
se amante de Castro Gomes, nunca perde a sua dignidade.
É inteligente e culta. Herda de Afonso a capacidade de se compadecer dos mais fracos.
 Linguagem, estilo e estrutura

Enquanto romance

 Os Maias são classificados como um romance, isto porque, segundo as regras deste género literário,
se trata de uma narrativa longa, em que existe mais do que uma linha de ação e um número
considerável de personagens. Por esse motivo, multiplicam-se os espaços em que o enredo se
desenvolve e a organização temporal torna-se mais complexa.
 A ação principal d’ Os Maias é a relação amorosa de Carlos e Maria Eduarda: esta linha narrativa
funciona como um motor do romance, e é a vida e o destino destas personagens centrais que
dinamizam o texto. A linha de ação secundária é o casamento de Pedro de Maia e Maria Monforte.

O título e o subtítulo

 O título do romance é uma referência direta à família, que ocupa uma posição central na narrativa.
De facto, se Carlos da Maia é a personagem nuclear da ação principal, a vida do seu pai e do seu avô
assumem relevância no romance. Aliás, o enredo d’ Os Maias remonta a algumas décadas anteriores
ao nascimento do protagonista.
A pertinência do título manifesta-se também na relação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda, visto
que foram uma consequência dos infortúnios e dos desencontros da família.
 A vida das quatro gerações d’ Os Maias, representando os diferentes períodos do século XIX
português:

 Caetano da Maia – adepto do absolutismo*;


 Afonso da Maia - defende o liberalismo;
 Pedro da Maia – representa a segunda geração liberal e mentalidade romântica;
 Carlos da Maia – contemporâneo da Regeneração.

*Caetano manterá uma relação tensa com o seu filho Afonso pois este defende o liberalismo

 O subtítulo, Episódios da vida romântica, abre o leque para a narrativa se tornar um estudo da
sociedade portuguesa, sobretudo, da segunda metade do século XIX.
Este subtítulo aponta para a crónica de costumes que atravessa o romance e se desenvolver a par
da intriga principal. Nesse estudo da sociedade portuguesa analisam-se os comportamentos, os
hábitos, as práticas de um povo, criticam-se os vícios, incongruências e falhas.
 Nos episódios do romance, manifestam-se as características dos portugueses. Desmarcam-se traços
da identidade coletiva portuguesa, como o parasitismo, o oportunismo, a inércia, a falta de cultura,
e outros vícios.

Linguagem e estilo

 A prosa revela-se admiravelmente versátil e maleável. Por outro lado, atinge rasgos de grande
beleza com construção frásica elegante e cuidada. Ainda por outro lado, sobretudo na reprodução
das falas das personagens, recorre-se aos registos de uma fala familiar e corrente, ocasionalmente
ao calão.
 Na “reprodução do discurso no discurso”, o discurso direto e o discurso indireto livre revelam-se
estratégias do gosto da literatura realista na medida em que se colocam as personagens em
interação de forma a exporem-se através do que dizem e a denunciarem o seu caráter.

Recursos expressivos

 Ironia: serve de crítica social, pois este recurso confere leveza, encanto e humor à narrativa; revela-
se adequada para denunciar contradições, incongruências e as falhas das personagens e dos
comportamentos socias;
 Comparação e metáfora: são formas de caracterização insultuosa;
 Uso expressivo do adjetivo e do advérbio: O adjetivo pode ser usado de forma surpreendente
associando-se a elementos a que não se ligava semanticamente. Nesses casos projeta na frase a
subjetividade e o juízo do enunciador (narrador ou personagem). Os casos de adjetivação dupla
revestem-se de particular significado, sobretudo quando os adjetivos contrastam entre si o concreto
e o abstrato, o físico e o psicológico, etc.
O advérbio tem uma presença inesperada pois tal como o adjetivo corresponde a um comentário ou
constatação do enunciador; noutras situações desencadeia um efeito humorístico.

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