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Este artigo tem como objetivo investigar a relação entre o fracasso escolar e o ambiente
familiar e escolar para subsidiar propostas de possíveis caminhos para a resolução de tal
fenômeno patológico em nossas crianças, que hoje se encontram em uma sociedade
imediatista e em constantes transformações.
À medida que foi instaurada a escolaridade obrigatória e a sociedade sofria mudanças radicais
rumo à modernidade, o fracasso escolar passou a ser considerado patologia no final do séc.
XIX. Essas mudanças passam a cobrar novos valores do desenvolvimento humano, entre os
quais o êxito social, passando pelo desempenho escolar. A inserção social do sujeito que não
cumpre esses novos paradigmas da modernidade e pós-modernidade fica comprometida,
sendo, quase sempre, excluído ou desvalorizado
De acordo com Rogers (1985), há dois tipos de aprendizagem, aquela por memorização, que
não envolve sentimentos ou significados pessoais, não sendo contextualizada e por isso torna-
se fútil. Já a aprendizagem experimental é significante, cheia de sentido, envolve, além da
mente, tanto os pensamentos quanto sensações do aprendiz e por isso é criativa e duradoura.
Dessa forma, então, é necessário que se alinhem conhecimentos e instituições, como escola e
família, para que a incongruência não prejudique o funcionamento organísmico do aluno.
Segundo Rogers (1985, apud Gobbi, 2005, p. 20-21) vivências, inicialmente incongruentes, com
a estrutura do self das crianças, são geradoras de ameaças, que provocam, por conseqüência,
ansiedades. Essas ameaças fazem com que a criança –fique ciente seja de maneira plenamente
consciente, seja de maneira subliminar – de que certos elementos de sua experiência não
estão de acordo com a idéia que ela faz de si mesma, levando-a a inautenticidade. E toda vez
que a ameaça se sobrepõe à autenticidade, abala a segurança emocional, a auto-estima e os
verdadeiros objetivos da pessoa, tornando-a prisioneira da cadeia ameaçadora vivenciada no
meio, impedindo a autenticidade e liberdade psicológica.
Fatos como esses, relacionados acima, elucidam a necessidade de ter para com o aluno uma
visão holística de seu eu aprendiz, pois o fracasso escolar do aluno denuncia uma idiossincrasia
entre o seu self e suas experiências. E essas, muitas vezes, são desconsideradas pelo ambiente
escolar. De acordo com Gobbi (2005 apud ROGERS & KINGET, 2007, p. 56), o resultado do
desacordo ou da incongruência entre o self e a experiência provoca desajustamento psíquico,
deformando ou interceptando elementos importantes da experiência, originando conflitos,
tensões e confusões.
O ambiente escolar e o familiar são determinantes no rumo da trajetória que o aluno escolhe,
pois o primeiro deve reforçar e estimular potenciais e habilidades do aluno, mostrando a ele as
possibilidades de sucesso, com o despertar para a aprendizagem, e a segunda é vital para a
potencialização e segurança à tendência atualizante. E essa nada mais é do que um movimento
natural de um organismo sadio, que procura manter o equilíbrio, ou seja, é uma reorganização
da defesa contra a ameaça consciente. E o modo de enfrentamento à ameaça é definido à
partir dos modelos defensivos de cada organismo, é aí, então, que entra a importância da
relação parental e comunidade próxima, como modelo para tal defesa.
Segundo Rogers (1985), o ambiente, quando em harmonia, promove uma congruência entre
experiência e sentimentos do self da criança, propiciando o aparecimento de recursos que
promovem processos de aproximação com o aprendizado. Atividades que sinalizam
estabilidade na vida familiar e práticas parentais que promovem a ligação família-escola são
fatores que propiciam um bom desempenho escolar e potencializam o mesmo na criança.
Maturano (2006), seguindo a mesma visão, vem confirmar o dito acima ao pesquisar o
inventário de recursos do ambiente familiar (RAF), que avalia recursos desse ambiente que
contribuem para o aprendizado acadêmico nos anos do ensino fundamental em três domínios:
recursos que promovem processos proximais (mecanismo primário do desenvolvimento
humano); atividades que sinalizam estabilidade na vida familiar; práticas parentais que
promovem a ligação família escola. Uma revisão da pesquisa efetuada desses recursos do
ambiente familiar veio confirmar índices aceitáveis de consistência interna e associação entre
escores do (RAF) e indicadores do desempenho escolar e ajustamento, quando há participação
ativa e interação dos pais, em casa, com a vida de seu filho como um todo.
Ainda de acordo com a mesma autora, os pais e a família têm um papel importante na
aprendizagem escolar das crianças, uma vez que o resultado da pesquisa desenvolvida sugere
que os pais e a família, com envolvimento direto na vida escolar dos filhos, são preditores
significativos de progresso acadêmico. Na pós-modernidade, o que observamos são os mesmos
atribuindo à escola papéis que somente a eles, pais, pertencem. Dessa forma, com esse
distanciamento da vida escolar do filho, muitos pais só tornam-se presentes com o fracasso na
aprendizagem do mesmo. Deve-se atentar para o fato que, de uma forma ou de outra, a
criança sente a necessidade de uma interação com os pais, mesmo que obtenha a atenção dos
mesmos somente ao fracassar.
A escola, por sua vez, despreparada para tal acolhimento, por vários motivos, não promove
uma aprendizagem significante na qual os professores sintam-se suficientemente seguros
interiormente e em seus relacionamentos pessoais, de modo a confiarem na capacidade de
outras pessoas de pensar, sentir e aprender por si mesmas, a ponto de instigar nas crianças
interesse pela aprendizagem. Quando esta segurança existe, o professor facilita a
aprendizagem, compartilhando responsabilidades, explorando interesses, promovendo a
organização do próprio aluno, promovendo a disciplina como conseqüência da tendência à
aprendizagem desenvolvida no aluno a partir dessa atmosfera instigadora na qual o aluno
descobre a aprendizagem.
Num ensino centrado no estudante, a partir de um clima facilitador, o próprio aluno se faz, se
realiza, torna-se ele mesmo. Para tanto, a educação parte dos problemas reais do aluno, de sua
motivação pessoal.
De acordo com Tedesco (2006), é preciso tentar superar dois aspectos críticos do paradigma
cognitivo tradicional pós-moderno, como a fragmentação imposta pela lógica das disciplinas e
o imediatismo dos enfoques de curto prazo e a ênfase tecnocrática nos procedimentos.
Para tal superação, a instituição família-escola deve alinhar-se, pois de acordo com Rogers:
Quando um facilitador cria, mesmo em grau modesto, um clima de sala de aula caracterizado
por tudo que ele pode conseguir de autenticidade, apreço e empatia, quando confia na
tendência construtiva do indivíduo e do grupo, descobre então que inaugurou uma revolução
educacional. Ocorre uma aprendizagem de qualidade diferente, avançando num ritmo
diferente, com um grau maior de abrangência. Os sentimentos – positivos, negativos, confusos
– tornam-se parte da experiência da sala de aula. A aprendizagem se transforma em vida,
numa vida até mesmo muito viva, o estudante acha-se a caminho, às vezes excitadamente, às
vezes relutantemente, de tornar um ser em mudança, de aprender (ROGERS, 1985, p. 135).
A escola, com o apoio governamental, deve subsidiar programas de apoio aos pais de crianças
com dificuldades escolares, com profissionais especializados, que visem proporcionar meios de
ajudar aos pais a otimizar recursos, já disponíveis no contexto familiar, de modo a despertar na
criança a verdadeira aprendizagem que é auto-apropriada e autodescoberta, melhorando,
assim, também, a qualidade de apoio ao desenvolvimento dos filhos.
REFERÊNCIAS
GOBBI, Sérgio Leonardo. Vocabulário e noções básicas da abordagem centrada na pessoa. 2ª
Ed. São Paulo: Vetor, 2005.
MATURANO, Edna Maria. O inventário de recursos do ambiente familiar. São Paulo, 2006. 1-
16 p. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722006000300019> . Acesso em 14/10/2008.
ROGERS, Carl. Liberdade de Aprender em nossa Década. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
ROGERS, C. R. Liberdade para Aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973 apud GOBBI, Sérgio
Leonardo.Vocabulário e noções básicas da abordagem centrada na pessoa. 2ª Ed. São Paulo:
Vetor, 2005.
ROGERS, C. R. & KINGET, G.M. Psicoterapia e relações humanas. Belo Horizonte: Interlivros,
1977.
TEDESCO, Juan Carlos. Uma ética de responsabilidade com o futuro. São Paulo, 2006. 1–
13 p. Disponível em: <http://www.congressomoderna.com.br/docs/juantedesco.doc.> Acesso
em 14/10/2008.