O que acontece com os contratos de trabalho suspensos no
caso de encerramento da empresa?
A jurisprudência sobre o assunto é realmente escassa.
Além da jurisprudência que me foi passada (00303-2015-057-03-00-
1-RO), encontrei apenas mais uma, também retratando caso de falência da empresa:
Conforme asseverou a sentença recorrida, “decretada a falência em
23.06.2003, tendo a reclamada expressamente declarado que a partir de tal data houve a extinção da empresa e dos contratos de trabalho de seus empregados, considera-se extinto o vínculo empregatício mantido entre as partes em 23.06.2003, devendo ser anotada a data de saída na CTPS da obreira, fazendo constar 23.07.2003, observada a projeção do aviso prévio” (fl. 100). Sendo assim, ainda que a execução do contrato de trabalho da Reclamante estivesse suspensa em razão do gozo de benefício previdenciário, não há como deixar de considerar que, em face da decretação da falência em 23/06/2003, com a extinção da atividade empresarial, os contratos de trabalho até então existentes fossem rescindidos naquela mesma data.
(TRT 3ª Região/00531-2007-052-03-00-0 RO)
O que se tem de mais consolidado sobre o assunto é que o
encerramento da empresa extingue, sim, o contrato de trabalho, todavia, trata- se de uma extinção sem justa causa, não tendo como escapar, o empregador, do pagamento das verbas indenizatórias.
Cito um artigo que cita Maurício Godinho Delgado sobre o assunto:
A extinção da empresa é uma forma de extinção do contrato de trabalho dos empregados por iniciativa da empregadora. Neste sentido, é o escólio de Maurício Godinho Delgado:[1]
“g) Extinção da empresa ou do estabelecimento – Trata-se de modalidade
de ruptura contratual que tem merecido do Direito do Trabalho, regra geral, tratamento semelhante ao da dispensa injusta. Considera-se que a extinção da empresa no país, por exemplo, ou do estabelecimento, em certo local ou município, é decisão que se coloca dentro do âmbito do poder diretivo do empregador, sendo, em consequência, inerente ao risco do empresarial por ele assumido (princípio da alteridade; art. 2º, caput, CLT; arts. 497 e 498, CLT; Súmula 44, TST). Nesse quadro, de maneira geral, o término do contrato em virtude do fechamento da empresa ou do estabelecimento provoca o pagamento das verbas rescisórias próprias à resilição unilateral por ato do empregador; ou seja, próprias à dispensa sem justa causa. Trata-se, em síntese das verbas especificadas na alínea a do presente item 2, supra)” Nada obstante, permanece a dúvida quando os contratos de trabalho encontram-se suspensos (tais como auxílio doença, aposentadoria por invalidez, licença gestante) quanto a possibilidade ou não da sua extinção.
Entretanto, ocorrendo a extinção da atividade da empresa, os contratos de
trabalho suspensos também se dissolvem, em face da impossibilidade da continuidade do liame empregatício. Inclusive, a título de jurisprudência, colaciona-se a Súmula 173 do TST.
Súmula 173 - SALÁRIO. EMPRESA. CESSAÇÃO DE ATIVIDADES (mantida)
- Extinto, automaticamente, o vínculo empregatício com a cessação das atividades da empresa, os salários só são devidos até a data da extinção (ex- Prejulgado nº 53).
Corroborando esse entendimento estão os seguintes julgados oriundos do
TST.
“Ocorrendo extinção da empresa, estando o empregado estável em gozo de
auxílio-doença e, consequentemente, com o contrato de trabalho suspenso, a paralisação, que era temporária, se tornou definitiva, ensejando ao empregado o direito ao recebimento das verbas rescisórias. A suspensão na qual persiste o vínculo de emprego, cedeu, no caso, lugar a terminação do contrato, em virtude do desaparecimento do empregador (TST, 2ª Turma, Ac. 1226, RR 4896/1999, Relator Ministro Hylo Gurgel, DJ 15.06.1990, p. 5.618) Outros autores (não relevantes) expõem que o contrato de trabalho suspenso pode ser extinto por justa causa ou por causa do encerramento da empresa, também dando a ideia de que jamais um caso de encerramento da empresa possibilita que um empregador deixe de pagar as indenizações devidas.
Outro importante efeito está a preservação do emprego, o que significa que o
empregado não poderá ser dispensado quando o contrato estiver suspenso ou interrompido, salvo por justa causa ou encerramento da empresa.
Enquanto o contrato de trabalho encontra-se suspenso ou interrompido é
possível haver a demissão por justa causa do empregado, apesar de ausente a prestação de serviço, uma vez que o vínculo persiste. Sendo, portanto, manutenidas as obrigações contratuais em face dos deveres alusivos à fidelidade do pacto laboral.