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“Nova legislação canadense permite governo retirar crianças de pais que não aceitarem
a identidade de gênero delas”; “Ontário aprova medida permitindo o governo afastar
filhos de pais que se oponham à ideologia de gênero”; “Ontário aprova lei ‘totalitária’
que permite o governo tirar crianças de lares cristãos”; “Lei permite que autoridades
tomem crianças de pais que se recusem a aceitar ideologia de gênero”. Essas são só
algumas das várias manchetes que estamparam sites conservadores dos Estados
Unidos e do Brasil após o governo da província de Ontário, no Canadá, aprovar a “Lei
89”, em junho de 2017.
Diversas manchetes falsas e tendenciosas circularam no Brasil e no mundo após aprovação da “Lei 89”.
Imagem: Colagem sobre foto de Ishmael Daro / BuzzFeed News
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Reportagem produzida como projeto de conclusão da disciplina Gênero, Sexualidade e Redes Sociais,
oferecida pelo Departamento de Comunicação Social da UFPE.
A lei, também chamada de Decreto de Serviços para a Criança, Juventude e Família
(Child, Youth and Family Services Act, em tradução livre), na verdade, apenas
determina a modernização, respeitando os direitos humanos, das diretrizes legais da
província canadense que envolvem o zelo e o bem-estar de crianças e adolescentes.
Contudo, desde que o projeto de lei começou a tramitar na Assembleia Legislativa de
Ontário, em março deste ano, diversos sites de notícias passaram a publicar inverdades
a respeito da então proposta.
“A ‘Lei 89’ não confere ao governo o poder de arrancar crianças de famílias tendo como
justificativa casos de pais que não concordem com a identificação de gênero de seus
filhos. Qualquer alegação do tipo é falsa”, diz Alicia Ali, porta-voz do deputado Michael
Coteau, que elaborou o Decreto. “O que essa lei faz é fortalecer os direitos das crianças
e dos adolescentes para que suas perspectivas sejam respeitadas. Na verdade, as
atuais condições de proteção não mudaram. O abuso físico, sexual e emocional, a
negligência e o risco de maus-tratos, continuam sendo a força motriz de qualquer
decisão de remoção de uma criança de sua casa”.
Aliado a essa propagação, está o fato de que identificar fake news não é uma tarefa
fácil para muita gente. É o que comprova um recente estudo da Universidade de
Stanford. Nele, pesquisadores desenvolveram avaliações com mais de 7 mil estudantes
norte-americanos, nas quais analisaram o chamado “raciocínio cívico online”, ou seja, a
capacidade desses alunos de pesquisar, avaliar e verificar informações sociais e
políticas no mundo digital. Com isso, os professores de Stanford obtiveram resultados
alarmantes: entre os alunos avaliados, 80% dos que cursam o Ensino Fundamental e
82% dos que estão no Ensino Médio não conseguiram distinguir uma reportagem de um
anúncio publicitário e outros 30% do alunos do Médio não conseguiram identificar como
falsa uma notícia no Facebook que simulava um veículo de comunicação de verdade.
Teresa Ortega, uma das coautoras do estudo, acredita que, embora as empresas de
tecnologia devam ser responsabilizadas pela promoção de desinformações em suas
plataformas, não devemos depositar total responsabilidade nelas. “As redes sociais e os
motores de buscas são essencialmente agências de publicidade”, alerta ela. “O
principal compromisso dessas empresas é maximizar seus lucros; não é assegurar o
intercâmbio de informações precisas. Não vamos confiar nelas para determinar o que é
e o que não é verossímil”. Contudo, Ortega faz uma sugestão: “Precisamos cultivar um
compromisso com a precisão para que possamos tomar decisões bem informadas que
estejam em nosso melhor interesse. Dito isto, acho que essas empresas fariam bem em
investir em esforços de divulgação pública para garantir que as pessoas estejam
preparadas para avaliar com sucesso o conteúdo que elas encontram em suas
plataformas”.
Judith Butler
Ao longo de sua recente visita ao Brasil, a filósofa americana Judith Butler, uma das
convidadas do seminário Os Fins da Democracia, realizado no Sesc Pompeia, em São
Paulo, sofreu uma série de protestos e manifestações de discurso de ódio, que
culminaram também em ataques à Wendy Brown, esposa de Butler. Enquanto ambas
embarcavam de volta para os EUA, manifestantes perseguiram as duas no saguão do
Aeroporto de Congonhas, gritando ofensas e acusando Brown (confundida pelos
presentes por Butler) de pedófila. Em entrevista por e-mail a reportagem, Butler relata o
episódio: “Fiquei chocada porque as pessoas que se opuseram à minha presença no
Brasil estavam gritando sobre pedofilia. Qual seria a possível ligação? Estas são
pessoas que não leram, mas que confiam nas informações obtidas de fontes de notícias
de Direita”.
A filósofa estadunidense, Judith Butler, numa palestra na Universidade de Hamburgo, em Abril de 2007.
Imagem: Jreberlein / Domínio público via Wikimedia Commons
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http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2017/11/01/video-professoras-menino-batom/
ensina ninguém a viver de acordo com novas ou antigas normas de gênero, e
certamente nunca instruiu ninguém em práticas sexuais”.