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Hermenêutica e educação: o sentido gadameriano de diálogo

ressignificando as relações pedagógicas


Raimundo José Barros Cruz*

Resumo
O significativo êxito alcançado pela Hermenêutica no interior do debate atual
das ciências deve-se a seu posicionamento crítico sobre o modo de pensar e
proceder das ciências naturais, e à tendência legitimadora de um sujeito
racional, dominador dos contextos possíveis. Tratar das relações pedagógicas,
tomando o diálogo hermenêutico como condição e mediação indispensáveis ao
processo de formação e educação do envolvidos no processo pedagógico,
remete-nos, portanto, ao enfrentamento crítico das estruturas monológicas de
uma sociedade contemporânea reveladora da incapacidade para o diálogo. A
Hermenêutica Filosófica de Hans-Georg Gadamer, será terreno fértil para que a
discussão seja levada em frente; ajudando-nos a pensar as relações pedagógicas
numa perspectiva dialógica rompendo com qualquer pretensão dominadora,
contribuindo para a fundamentação de uma educação pautada no crescimento
mútuo e construção de infinitos saberes.
Palavras-chave: Hermenêutica, Educação, Racionalidade, Diálogo.
Abstract
The significant achievement by the Hermeneutics of the current debate within
the sciences is due to his critical position on how to think and do the natural
sciences, and the trend of legitimizing a rational subject, ruler of possible
contexts. Address the pedagogical relationships, taking the hermeneutic
dialogue and mediation as a condition indispensable to the process of training
and education involved in the educational process, leads us therefore to face
critical of monological structures of contemporary society reveals an inability
to dialogue. The Philosophical Hermeneutics of Hans-Georg Gadamer, is
fertile ground for that discussion is carried forward, helping us to think the
relationship dialogic pedagogical perspective breaking any pretense
dominating, contributing to the reasons for a guided education in mutual
growth and construction of endless knowledge.
Key words: Hermeneutics, Education, Rationality, Dialogue.

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RAIMUNDO JOSÉ BARROS CRUZ é Mestre em Educação pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de Educação da (UPF) Universidade de Passo Fundo.

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aceitar o desinteresse do filho por tais
estudos. Conviveu por um longo tempo
com as tentativas do pai em despertar
seu interesse pelas pesquisas nas
ciências naturais. Afirma Gadamer:
“isso porque soube desde o começo de
meus estudos universitários, que eu
simpatizava com os ‘professores
charlatães’. Ele não impediu, mas
durante toda sua vida esteve
Hans-Georg Gadamer (1900-2000) – Fotos de Philipp decepcionado comigo” (2002, p. 545).
Rothe disponível em http://www.uni- Atraído por inúmeras disciplinas e
heidelberg.de/press/news/press72_e.html
experimentando várias delas, Gadamer
1. A Hermenêutica Gadameriana dá início a sua odisséia universitária, a
qual culminará, dentre outras coisas,
Hans-Georg Gadamer, nascido em 2 de com seus estudos hermenêuticos. Mais
fevereiro de 1900 e falecido em 13 de tarde, ao deixar de lado sua fixação pela
março de 2000, foi filósofo alemão, literatura da história e da história da
principal representante da corrente arte, desperta pela filosofia, o que “não
hermenêutica em seu país. Foi aluno de era simplesmente o abandono de uma
Heidegger e sucedeu Karl Jasper na tendência para dedicar-se a uma outra,
cadeira de filosofia da Universidade de mas a lenta iniciação em um trabalho
Heidelberg (1949). Seu pensamento disciplinado” (GADAMER, 2002,
encontra-se marcado pelas influências p.545). O tumultuado cenário histórico
de Diltey, Heidegger e toda a tradição advindo do evento da segunda grande
hermenêutica alemã. Procurou com seus guerra, e a situação em que se
trabalhos desenvolver uma tentativa de encontrava naquele momento a
interpretação do ser histórico através de Alemanha, não favoreciam segundo
sua manifestação na linguagem, uma Gadamer, “uma conformação com uma
vez que esta se apresenta em seu longa tradição. Desse modo, a
pensamento, como uma forma básica da desorientação reinante, foi um incentivo
experiência humana. a mais para abordar as questões
Esse processo se inicia em 1918, filosóficas” (2002, p. 545).
quando Gadamer deixa o Instituto do No campo da própria filosofia, não se
Espírito Santo, em Breslau, e no último fazia mais possível, principalmente para
ano da primeira grande guerra realiza os jovens filósofos, uma simples
suas primeiras visitas à Universidade de reprodução do que havia sido criado
Breslau. Durante este período, nenhuma pela geração anterior. “Nós na época
decisão definitiva em relação aos jovens, buscávamos uma nova
estudos acadêmicos de filosofia, surgia orientação em um mundo desorientado”
como prioridade em sua vida. O conflito (GADAMER, 2002, p. 545). Uma
de Gadamer com as ciências naturais orientação que se posicionasse para
tem raízes profundas, se faz presente além de um neokantismo derrotado,
nos primórdios de sua formação mesmo que na época gozasse de uma
intelectual. Filho de um ortodoxo significativa e contestada vigência
pesquisador das ciências naturais, teve mundial, e uma nova posição frente ao
que conviver com o sentimento de desmoronamento da orgulhosa
decepção por parte do pai, por não consciência cultural da época liberal de

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crença fundamentalista no progresso Neste contexto ganhava destaque ainda
cientifico. a experiência da arte, que de certo modo
afetava também a filosofia. Esta surgia
O predomínio das ciências naturais
como “um verdadeiro órgão da filosofia
continuou sendo determinante neste
ou quem sabe até seu interlocutor
contexto e também posteriormente.
maior, era uma verdade que preocupou
“Imperava um sentimento catastrofista
a filosofia do romantismo alemão até o
nos setores ideológicos da literatura e da
final da era idealista” (GADAMER,
ciência, sentimento que induzia a
2002, p. 548). O lugar ocupado pela
recolher-se em si mesmo propiciando a
arte, em meio às aspirações dos grandes
ruptura com as antigas tradições”
filósofos, sugeria uma verdadeira busca
(GADAMER, 2002, p. 546). Todo esse
pela verdade submetida às leis objetivas
contexto conflituoso, onde se tornava
da cientificidade e do progresso
cada vez mais claro o embate entre
novos saberes e os saberes apresentados científico. Deixa claro Gadamer: “esse
sentimento foi caracterizado na
pela tradição, moldava-se a passos
Alemanha como existencial, sob a
lentos fazendo emergir as possibilidades
influência de uma apropriação de
para uma nova forma de racionalidade,
Kierkegaard” (GADAMER, 2002, p.
que se apresentará em Gadamer como
548).
Hermenêutica. Emergem deste contexto
os olhares relativizantes de toda a O contexto histórico, cultural e
tradição ocidental, principalmente intelectual da época emergia, portanto,
quando os questionamentos tinham com esse modo diverso de ser. Os
como alvo a forma objetiva e jovens pensadores lançavam-se numa
dominadora herdada pelo ocidente com batalha titânica em busca de novas
o advento da ciência moderna. saídas para o pensar. Pergunta então
Gadamer: “onde está o pensador cuja
Em 1919 Gadamer chega a Marburgo
força filosófica podia fazer frente a
para uma nova experiência de estudos.
esses desafios? Donde poderia surgir
Dentre a rica experiência que pode ter
algum amparo intelectual?”
durante este período, não pode deixar de
(GADAMER, 2002, p. 549). Husserl
ser destacada a contundente crítica feita
apresentou-se de início como a nova
à teologia histórica, empreitada pela
saída, todavia, sua busca por uma
denominada teologia dialética e pelo
evidência última, assessorada por seu
neokantismo. Motivados pelo espírito
rigor metodológico que acabou por
inovador, os jovens estudantes
encontrar seu melhor apoio filosófico
deixavam estes saberes e exaltavam
no neokantismo. No entanto, o amparo
cada vez mais a descrição
intelectual onde os jovens pensadores
fenomenológica husserliana; sobretudo
puderam se alimentar se fez possível
a filosofia da vida, por trás da qual esta
com Heidegger. Estabelecido este novo
Friedrich Nietzsche, o “acontecimento”
paradigma, abriram-se os novos
europeu que impreguinou todo nosso
caminhos para o pensar da época.
sentimento cósmico, e em conexão com
Gadamer se auto-professa discípulo de
ele, ocupou os jovens pensadores com o
Heidegger e reorientando suas
problema do relativismo histórico
investigações filosóficas abrirá os novos
debatido à luz de Wilhelm Dilthey e de
caminhos de onde se erguerá o
Ernest Troeltsch (GADAMER, 2002, p.
gigantesco universo hermenêutico.
547).

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Foi em 1924, por ocasião do aniversário encontramos os traços fundamentais de
de Pau Natorp, declara Gadamer, que a uma hermenêutica filosófica, e junto à
nova redução filosófica às experiências sua teoria, conceitos chaves, tais como o
básicas da existência humana encontrou sentimento de pertença e familiaridade a
um primeiro principiado em seu artigo. uma determinada tradição.
Tornando-se o documento de sua Esses conceitos trabalhados por
imaturidade e da mesma forma, o Gadamer surgem exatamente contra o
testemunho do seu novo compromisso e distanciamento alienado que é
inspiração em Heidegger (2002, p. 550). provocado pelo modo de proceder da
O atrativo heideggeriano residia no ciência moderna. Sua intenção é
modo com que as estruturas do tematizar a compreensão da experiência
pensamento ocidental ganhavam nova humana no mundo, mundo este que
dinâmica em consonância com novas desde já se dá interpretado. A
perguntas e respostas. “A descoberta da hermenêutica de Gadamer procura se
história de sua motivação dava a essas afirmar como uma racionalidade. As
perguntas um caráter de exigências de tal racionalidade surgem
ineludibilidade” (GADAMER, 2002, p. exatamente da oposição a uma época
551). Sistematiza-se neste uma onde a procura pelo saber segue de
condução do pensamento histórico em forma estreita a racionalidade dos
busca da recuperação dos procedimentos empíricos-formais.
questionamentos da tradição, que em Portanto, a hermenêutica pocura propor
Heidegger tornara-se vivo pela um exercício metódológico adequado às
intensidade com que ele fazia reviver a ciências humanas. A hemenêutica
filosofia grega. Este foi o caminho, gadameriana “quer fazer valer o
traçado aqui de forma genérica, fenomêno da compreensão diante da
vivenciado por Gadamer ao introduzir- pretensão de universalidade da
se na universalidade da Hermenêutica. metodologia científica (HERMANN,
O inicio dos estudos sobre filologia 2002, p. 16). Assim. tratar do diálogo
clássica, em especial os filósofos hermenêutico exige a consciência de
gregos, foi o marco decisivo para o todo esse processo histórico, e do
novo caminho a ser percorrido pelo esforço proprio da hermenêutica que se
pensamento gadameriano. Dentre outros constitui em superar a objetividade
estudos, Platão continuou sendo o estática das ciências naturais e
centro de seus interesses. apresentar um novo modo de realcionar,
O ano de 1949, depois de anos como onde o diálogo hermenêutico mantem-
estudante e docente, em Marburgo, se como pivor central.
Gadamer aceita o convite para a
2. Da incapacidade para o Diálogo
sucessão de Karl Jasper em Heidelberg.
Foi, além das muitas atividades, um A modernidade carrega consigo a
momento favorável à concentração em substancial herança resultante da
seus planos de trabalho, resultando em superestima iluminista em relação ao
1960 em sua monumental obra Verdade impulso dominador da racionalidade
e método. O debate é levado em instrumental. O favorecimento
frente por Gadamer em três esferas, as impositivo ao desenvolvimento técnico-
quais, segundo ele, encontram-se científico, próprio da modernidade, veio
presentes na experiência hermenêutica: resultar na auto-intrumentalização do
a esfera estética, a esfera histórica e a próprio homem. É nesse contexto que o
esfera da linguagem. Em sua filosofia método das ciências naturais legitima a

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posição de um sujeito dominador. A reconhecidos por Gadamer: o diálogo
modernidade converte, portanto, as pedagógico, a negociação oral, o
relações epistemológicas, “num diálogo terapêutico e o diálogo
conhecimento de contextos domináveis confidencial. Ao tratar do diálogo
através da investigação isolada” pedagógico, o teórico toma o diálogo
(GADAMER, 1983, p. 42). entre professor e aluno – mestre e
Encontramo-nos no interior de uma discípulo – com um das formas mais
sociedade influenciada e determinada remotas de diálogo. E alerta para a
pelo avanço técnico-científico, o que comum dificuldade que os professores
nos obriga a refletir sobre as relações possuem, de manter posturas e relações
pedagógicas e as condições dialógicas. O que pode acontecer,
instrumentais de sua condução. afirma Gadamer, é que, “aquele que tem
que ensinar acredita dever e poder falar,
O diálogo é tratado por Gadamer em
e quanto mais consistente e articulado
vários momentos em sua obra. Em
por sua fala, tanto mais imagina estar se
Verdade e Método II, esta temática é
comunicando com seus alunos” (2002,
tratada mais especificamente no ensaio
p. 248). Nesta perspectiva, “a
sobre “A incapacidade para o Diálogo”.
incapacidade para dialogar dá-se
Deteremos-nos por um instante em
principalmente por parte do professor, e
clarear o entendimento sobre o
sendo o professor o autêntico
diagnóstico gadameriano de uma
transmissor da ciência, essa
sociedade contemporânea reveladora da
incapacidade radica-se na estrutura de
incapacidade para o diálogo a partir
monólogo da ciência moderna e da
deste seu ensaio, e num item seguinte
formação teórica” (GADAMER, 2002,
trataremos do diálogo hermenêutico e
p. 248).
sua produtividade para se pensar
relações pedagógicas. Gadamer está Outro tipo de diálogo é a negociação
convencido de que a sociedade oral, uma práxis social comum entre
contemporânea revela-se incapaz para o sócios comerciais e também nas
diálogo, condição esta que se apresenta negociações políticas. Ao tratar da
associada ao desenvolvimento técnico- questão Hermann esclarece que o êxito
científico. Quanto mais a sociedade desse tipo de diálogo ocorre quando
contemporânea se desenvolve no que surge um acordo, o que pressupõe que
diz respeito aos aspectos técnicos e sempre se precisa saber ouvir, de modo
científicos, mais ela se mostra incapaz a superar nossas próprias limitações.
para o diálogo. Nesta condição, a Contudo os envolvidos não são tocados
sociedade contemporânea inviabiliza as enquanto pessoas, mas somente na
possibilidades de relações dialógicas, o media em que administram seus
que, segundo Hermann, significa não próprios interesses (2002, p. 92).
tomar o diálogo em seu sentido mais O diálogo terapêutico, próprio da
exigente, ou seja, aquele diálogo prática psicanalista, é impossibilitado
próprio do modo da hermenêutica pelo fato de a relação dialogal que deve
filosófica se estruturar, que busca a proceder naturalmente entre as pessoas,
espontaneidade viva do perguntar e encontrar-se impedida por existir uma
responder, do dizer e deixar dizer (2002, condição patológica de outrem. O que
p. 90). procede é a impossibilidade de
A incapacidade para o diálogo pode ser comunicação natural do doente preso a
identificada nos vários tipos de diálogos representações delirantes, com o mundo

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que o rodeia. Preso a seu mundo O modelo dialético platônico é por
delirante, o doente perde a total excelência a base a partir da qual
capacidade de ouvir realmente a Gadamer procura justificar a estrutura
linguagem do outro. Assim, o específico especulativo-dialógica da linguagem.
no “diálogo terapêutico psicanalítico é, Para este autor, “a linguagem é o meio
pois, que se propõe curar a incapacidade em que se realizam o acordo dos
para o diálogo, que constitui aqui a interlocutores e o entendimento sobre a
própria enfermidade, sem seguir outra coisa em questão” (GADAMER, 1997,
via que não seja o diálogo mesmo” p. 497). O autor encontra na dialética
(GADAMER Apud ALMEIDA, 2002, platônica, centrada na pergunta e
p. 130). resposta, o caminho para uma melhor
compreensão. Para Gadamer, a
O diálogo confidencial é tomado como
conversação é um processo de acordo.
a incapacidade que não se confessa a si
Toda verdadeira conversação implica
mesma; flagrada na atitude de alguém
nossa reação frente ao outro, implica
que não põe a si mesmo em diálogo,
deixar realmente espaço para seus
identificando apenas em outrem esta
pontos de vista e colocar-se no seu
incapacidade, como no caso da famosa
lugar, não no sentido de querer
expressão: “contigo não se pode falar”.
compreendê-lo com essa
Para Gadamer essa incapacidade pode
individualidade, mas compreender
ser tanto subjetiva, relacionada à
aquilo que ele diz. Importa respeitar o
incapacidade de ouvir; como objetiva,
direito objetivo da sua opinião, a fim de
associada à crescente degradação da
podermos chegar a um acordo em
linguagem comum entre os seres
relação ao assunto em questão (1997, p.
humanos, por conta da forte tendência
499).
que tem o homem moderno de se
adaptar à situação monológica própria Para este autor, “a capacidade para o
da cientificidade que marca a sociedade diálogo é um atributo natural do ser
contemporânea. humano” (GADAMER, 2000, p. 130).
Portanto, a linguagem, como dimensão
3. O diálogo como dimensão
inerente ao ser humano, só existe no
constituiva das relações pedagógicas
diálogo. O diálogo nos remete a “um
O esforço em tratar das relações processo entre seres humanos, o que
pedagógicas numa perspectiva apesar de toda extensão e infinitude
hermenêutica encontra-se ligado ao que potencial possui uma unidade e
Dalbosco propõe ao afirmar que para harmonia próprios” (GADAMER, 2000,
levar a sério as ciências humanas e a p. 134). É possuidor de uma “força
própria pedagogia temos que tratar transformadora” (GADAMER, 2000, p.
desta questão do quanto nossa vida e 134). Revela o que é próprio do ser
nosso fazer pedagógico são invadidos humano e só realmente se efetiva,
pelo poder da técnica e, por exemplo, o “quando deixou algo dentro de nós”
quanto somos bombardeados (GADAMER, 2000, p. 134). Um
cotidianamente por informações e, ao diálogo só se torna verdadeiramente
mesmo tempo, tornamo-nos incapazes diálogo, quando “algo outro veio ao
de dialogar. É no contexto desta nosso encontro que ainda não havíamos
problemática que o diálogo deve ser encontrado em nossa experiência
resgatado como núcleo central das própria do mundo” (GADAMER, 2000,
ciências humanas e da própria p. 134). É com esta reflexão em torno
pedagogia (2007, p. 58).

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diálogo que Gadamer justifica sua diálogo que favoreça, não um
filosofia hermenêutica. aprendizado forçado por uma postura
autoritária, ma sim um crescimento
Ajudando-nos na compreensão das
mútuo e humano. O tratamento
razões pelas quais Gadamer atribui
adequado da educação numa
fundamental valor ao diálogo, Dalbosco
perspectiva hermenêutica significa a
nos afirma que o teórico se apóia em
retomada do diálogo como centro das
duas razões fundamentais: uma de
relações, o qual “não é um
ordem sistemática e outra histórica. A
procedimento metodológico, mas se
sistemática é buscada na própria história
constitui na força do próprio educar –
da filosofia, principalmente na filosofia
que é educar-se – no sentido de uma
socrática, na qual o diálogo maiêutico
constante confrontação do sujeito
assume condição de possibilidade do
consigo mesmo, com suas opiniões e
exercício filosófico e de outras
crenças, pela condição interrogativa na
atividades humanas num sentido mais
qual vivemos” (HERMANN, 2002, p.
amplo. A filosofia nasce dialogando e
94).
só tem sentido pelo diálogo e isso vale
também para a pedagogia. A razão Numa relação verdadeiramente
histórica se deve a uma constatação dialógica não existe superposição entre
feita sobre um fato preocupante na interlocutores. Todos se relacionam
sociedade contemporânea: quanto mais contribuindo com sua individualidade
ela se desenvolve técnico- para o crescimento e aprendizado
cientificamente, mais incapazes as mútuo. A hermenêutica gadameriana
pessoas se tornam para o diálogo. Isto é, oferece grandes contribuições quando se
parece que quanto mais o ser humano pretende repensar as relações
aprende a manusear instrumentos pedagógicas numa perspectiva
tecnológicos e quanto mais é invadido dialógica, pois, segundo Hermann A
por eles em seu cotidiano, mais ele se educação é, por excelência, o lugar do
torna insensível ou incapaz de dialogar diálogo, portanto o lugar da palavra e da
(2006, p. 51). reflexão, que ultrapassa a apropriação
dos conhecimentos para nos conduzir à
O sentido gadameriano de diálogo
formação pessoal. Desde que podemos
apresenta-se com esse profundo
dizer a palavra, estamos em constante
sentimento humano, procurando
conversação com o mundo, instaurando
expressar a imensurável riqueza
a própria possibilidade de educar.
resultante da relação entre as pessoas.
Embora o homem possa se reconhecer
Faz-se importante um resgate do
em outros símbolos, a palavra é o
diálogo, pois a incapacidade para o
império universal no qual ele pode ver a
mesmo, “volta-se contra a própria
si mesmo. A palavra que circula no
sociedade, uma vez que o diálogo é
diálogo também é a palavra da
constitutivo da ação humana e tudo o
pergunta: a pergunta que desde os
que produzimos e significamos
gregos nos conduz à investigação
culturalmente brota dessa capacidade de
incessante, a um caminho que não tem
dialogar com os outros e ouvi-los”
fim, porque sempre se renova pelas
(DALBOSCO, 1997, p. 52). Ao
novas maneiras de dizer o mundo. Fazer
transladar essa discussão para o âmbito
a pergunta significa declarar a
das relações pedagógicas, o que se
relatividade, a limitação de nosso
pretende é justificar uma relação
conhecimento e reconhecer nossa
pedagógica centrada no diálogo. Um
finitude (2002, p. 95).

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O diálogo hermenêutica, assumido com Referências
princípio no interior das relações ALMEIDA, Custódio Luís Silva de.
pedagógicas, supera qualquer postura Hermenêutica e dialética: dos estudos
autoritária, permitindo “à educação platônicos ao encontro em Hegel. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2002.
fazer valer a polissemia dos discursos e
criar um espaço de compreensão mútua ALMEIDA, Custódio Luís Silva de;
entre os envolvidos” (HERMANN, FLICKINGER, H.; RODEN, L. Hermenêutica
Filosófica: nas trilhas de Hans-Gerg Gadamer.
2002, p.95). Ele torna possível o Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
sentimento de estar com o outro no
domínio da compreensão, de onde surge DALBOSCO, Cláudio Almir. Pedagogia
Filosófica: Cercanias de um diálogo. São Paulo:
a experiência viva da comunicação entre Paulinas. 2007.
individualidades. Nas relações
FLICKINGER, Hans-Georg. O Fundamento
pedagógicas esta a experiência
Ético da Hermenêutica Contemporânea.
produzida pela relação dialógica, Veritas. Porto Alegre. n. 2, p. 169-179, jun.,
favorecendo o surgimento de novos 2003.
horizontes construtores de infinitos GADAMER, Hans-Georg. A Razão na época da
saberes. Ciência. Trad. Ângela Dias. Rio de Janeiro:
Tempos Brasileiro, 1983.
__________. Verdade e Método: Complemento
e índices. Trad. Ênio Paulo Giachini. Petrópolis:
Vozes, 2002.
__________. Verdade e Método: Traços
fundamentais de uma hermenêutica filosófica.
Trad. Flávio Paulo Meurer. 4 ed. Petrópolis:
Vozes, 1997.
GRONDIN, Jean. Introdução à Hermenêutica
Filosófica. Trad. Benno Dischinger. São
Leolpodo, 1998.
HERMANN, Nadja. Hermenêutica e Educação.
Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

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