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PROCESSO
CIVIL
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Jurídicas
CERS
2014
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SUMÁRIO
1. JURISDIÇÃO ............................................................................................................. 3
1.1. Conceitos e Características ................................................................................. 3
1.2 Equivalentes Jurisdicionais .................................................................................. 4
1.3 Princípios aplicados a Jurisdição ........................................................................ 6
1.4 Espécies de Jurisdição .......................................................................................... 9
2. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL DAS LIBERDADES ................................. 14
2.1 Mandado de Segurança Individual e Coletivo ................................................. 14
2.2 Ação Civil Pública ............................................................................................... 18
2.3 Ação Popular ....................................................................................................... 30
2.4 Habeas Data......................................................................................................... 38
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1. JURISDIÇÃO
Segundo o prof. Daniel Assumpção “A jurisdição pode ser entendida como a atuação
estatal visando à aplicação do direito objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com
definitividade (transito em julgado) uma situação de crise jurídica e gerando com tal
solução a pacificação social”.
O prof. Giuseppe Chiovenda leciona que a jurisdição é “a função do Estado que tem
como escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela
atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos
públicos”.
O Mestre Cândido Rangel Dinamarco entende que a jurisdição possui três aspectos
distintos: poder, função e atividade.
A jurisdição como poder representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos
jurisdicionados, aplicando o direito objetivo ao caso concreto. Atualmente o poder
jurisdicional não se limita a “dizer” o direito, ele também tem a função de “impor” o
direito.
A função jurisdicional não é função privativa do Poder Judiciário, como se constata nos
processos de impeachment do Presidente da República, que é realizado pelo Poder
Legislativo (49, IX e 52, I da CF), ou nas sindicâncias e processos administrativos
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conduzidos pelo Poder Executivo (41, § 1º, II, da CF). Vale lembrar que nestas
hipóteses, as decisões não são revestidas com a proteção da definitividade.
Como por exemplo, a legítima defesa (188, I do CC/02), desforço imediato (1210, § 1º
do CC/02), direito de greve, direito de retenção, estado de necessidade, guerra etc.
Na autocomposição existe uma certa hibridez substancial, pois uma sentença judicial
deve homologar o acordo.
Previsão Legal: A arbitragem é regulamentada pela Lei Federal 9.307/96, é não tem
o condão de afastar o princípio da inafastabilidade da jurisdição previsto no art. 5,
inciso XXXV da CF “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”.
A decisão arbitral faz coisa julgada material, podendo ser invalidada quando for
encontrado a presença de vícios formais pela via judicial no prazo de 90 (noventa)
dias após o recebimento da intimação da sentença arbitral (art. 33, § 1º da Lei de
Arbitragem).
Súmula 485 do STJ “A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham
cláusula arbitral, ainda que celebrados antes da sua edição”.
O STJ entendeu no REsp 127725/AM que ainda que conste de contrato inadimplido a
previsão de resolução de conflitos por meio da arbitragem, é possível ao credor ajuizar
pedido de falência do devedor ou mesmo execução sem a prévia realização de juízo
arbitral. Asseverou o referido acórdão que a celebração da convenção de arbitragem não
é causa impeditiva da deflagração do processo de falência perante o Judiciário, eis que
“a executividade de um título de crédito não é afetada pela convenção de arbitragem”.
Princípio da Inércia:
Art. 2o do CPC “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o
interessado a requerer, nos casos e forma legais”.
Art. 262 do CPC “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve
por impulso oficial”.
Princípio da Investidura: a jurisdição somente pode ser exercida por aquele que
tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz mediante concurso público
(art. 93, I da CF/88) ou por indicação pelo Poder Executivo, por meio do quinto
constitucional (art. 94 da CF/88). Esse princípio é considerado pressuposto
processual de existência;
Art. 107 do CPC “Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca,
determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade
do imóvel”.
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Art. 230 do CPC “Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem
na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar citações ou
intimações em qualquer delas”.
Atenção: O lugar onde a decisão deve ser proferida não se confunde com o lugar em
que ela deve produzir efeitos (decisão brasileira produzir efeitos no Japão, divórcio feito
numa determinada comarca e mudança do ex-casal para outras comarcas etc.).
Nas cartas precatórias não há delegação, pois não há delegação de competência, apenas
um pedido de cooperação. O juiz deprecante não pode praticar o ato deprecado, daí
porque não poderia delegá-lo.
O art. 93, XIV da CF/88, ainda, autoriza a delegação, a serventuário da justiça, do poder
de praticar atos de administração (não autoriza a delegação de poder de polícia, como a
presidência de uma audiência de instrução) e de mero expediente sem caráter decisório.
O art. 162, § 4º do CPC autoriza a prática, de ofício, dos chamados atos meramente
ordinatórios (juntada e vista obrigatória) que podem ser revistos pelo juiz quando
necessários.
Não há, portanto, matéria que possa ser excluída da apreciação pelo Poder Judiciário,
ressalvadas raríssimas exceções, como a do processamento e julgamento de certas
autoridades em certas hipóteses (art. 52, I e II da CF).
A nossa jurisdição é una (não há jurisdição administrativa, como ocorre em países como
Itália, Portugal, Espanha, França e Argentina), imposição que advém da CF de 1891.
Juiz natural é o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas previamente
estabelecidas (aspecto formal), bem como aquele que seja imparcial e independente
(aspecto substancial).
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As regras de distribuição dos feitos servem exatamente para fazer valer a garantia do
juiz natural (impossibilidade de escolha pelo juiz), sendo que o desrespeito às regras de
distribuição por dependência implica incompetência absoluta.
O legislador tenta evitar a escolha do juiz pelo autor com a previsão do art. 253, II do
CPC, ao criar uma regra de competência absoluta do juízo que extingue o processo sem
resolução do mérito (art. 267 do CPC) quando essa demanda é novamente proposta.
Segundo o art. 2° do CPC, que “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão
quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais”.
Dito isso, o princípio da inércia é aquele que orienta no sentido de que a jurisdição
somente poderá ser exercida caso seja provocada pela parte ou pelo interessado. Tal
princípio trabalha com a função de também, preservar a imparcialidade do julgador.
Dentro da codificação processual, o art. 262 do CPC, ratifica essa assertiva quando diz
que “o processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso
oficial”. Contudo, como toda regra tem sua exceção, tal postulado também possui as
suas. Dessa forma, ele é mitigado na jurisdição voluntária (arts. 1.129, 1.142 e 1.160 do
CPC).
Outras exceções se apresentam com relação ao inventário de ofício (art. 989 do CPC),
as medidas cautelares “ex officio” (art. 797 do CPC – medidas, mas não processos), a
decretação da falência no curso da recuperação judicial (arts. 53, 56, § 4°, 61, § 1°, 72, §
único, e 73 da Lei n.11.101/05), além do habeas corpus de ofício (art. 654, § 2° do CPP)
e a execução trabalhista (art. 114, VIII da CF/88).
A jurisdição é una e indivisível, razão pela qual a única forma de conceber a “divisão”
da jurisdição em diferentes espécies é adotando-se determinados critérios com a
finalidade meramente acadêmica.
Aquilo que não cabe à jurisdição penal ou especial, a ela pertencerá. Ela pode ser ainda
contenciosa ou voluntária, sendo essa, apenas homologatória de acordos feitos entre as
partes, e aquela é presumida de haver um litígio que origina um processo que produz a
coisa julgada.
a iniciativa do procedimento, como nos arts. 1.129, 1.142, 1.160 e 1.171 do CPC. É
a característica da possibilidade de decisão fundada em equidade, que não observar
a legalidade estrita e usar de discricionariedade, decidindo de acordo com os
critérios de conveniência e oportunidade, como afirma o art. 1.109 do CPC, ainda
que contrariamente à lei, situação que, para a época, era bem interessante, mas que,
hoje, somente diz o que já se sabe);
b) aquela tem função meramente declaratória enquanto esta tem função constitutiva,
haja vista que se destina à formação de atos e negócio jurídicos;
a) não se pode dizer que não há lide, bastando, para tanto, os exemplos da interdição e
da retificação de registro. A lide não precisa vir afirmada em petição inicial. Os casos de
jurisdição voluntária são potencialmente conflituosos e é por isso que são submetidos à
apreciação do Poder Judiciário e que se impõe a citação dos possíveis interessados;
c) processo é categoria que pertence à teoria geral do direito e é por isso que se fala em
processo legislativos, administrativo, negocial e jurisdicional. Não se pode negar,
portanto, a existência de um processo na jurisdição voluntária (que se exerce por meio
das formas processuais conhecidas, como a petição inicial, sentença, apelação etc.),
ainda que um processo administrativo. É, também, procedimento em contraditório;
d) o juiz atua para atender interesse privado, como terceiro imparcial. A administração,
por sua vez, age no seu próprio interesse, no interesse do Estado, da coletividade como
um todo;
f) há partes, com todos os direitos e deveres dela decorrentes. Dizer que porque não há
litígio não há partes é desconhecer comezinha distinção dogmática. Parte em sentido
substancial é a parte do litígio, enquanto que parte no sentido processual é o sujeito da
relação jurídica processual;
g) a redação do art. 1.111 do CPC, ratifica a existência de coisa julgada quando afirma
que tais decisões somente poderão ser modificadas por fato superveniente. Exemplo é o
pedido de alteração de nome que pode, inicialmente, ser negado, mas, posteriormente,
ser apresentado com base em fatos supervenientes. Assim, se há indiscutibilidade, para
dentro e para fora do processo, há coisa julgada;
Considerações iniciais:
Art. 5, inciso LXX da CF/88 “o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
por:a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização
sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados”.
Art. 21 da Lei 12.016/09 “O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por
partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da
totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e
desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial. Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si
ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; II - individuais homogêneos,
assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade
ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
impetrante”.
Art. 22 da Lei 12.016/09 “No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa
julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante. § 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as
ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a
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Exceções: Se o prazo encerar em feriado forense ele será prorrogado para o primeiro dia
útil seguinte. Se o mandado de segurança for impetrado em razão de omissões, como
não ato que pode ser atacado, razão pela qual não fluirá o ato.
Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual
emane a ordem para a sua prática. Vale ressaltar que equiparam-se às autoridade
públicas os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de
entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas
naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que diz respeito a
essa atribuições.
Petição Inicial:
Art. 7o da Lei 12.016/09 “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: I - que se notifique o
coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as
cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as
informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da
pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que,
querendo, ingresse no feito; III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido,
quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução,
fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. §
1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá
agravo de instrumento, observado o disposto na Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973
- Código de Processo Civil. § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por
objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a
concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza. § 3o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão
até a prolação da sentença. § 4o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade
para julgamento. § 5o As vedações relacionadas com a concessão de liminares
previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts.
273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil”.
Art. 10 da Lei 12.016/09 “A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada,
quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos
legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração. § 1o Do indeferimento da
inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação e, quando a competência para o
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Art. 12 da Lei 12.016/09 “Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art.
7o desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro
do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com ou sem o parecer do
Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser
necessariamente proferida em 30 (trinta) dias”.
Sentença:
Art. 26 da Lei 12.016/09 “Constitui crime de desobediência, nos termos do art. 330 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o não cumprimento das decisões
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Considerações Iniciais:
Nos arts. 3º a 7º da Lei 7.853/89 disciplinam a tutela dos direitos e interesses coletivos
e difusos das pessoas portadoras de deficiência;
Nos arts. 81 a 104 do CDC disciplina a questão dos direitos individuais homogêneos;
Na ação civil pública, a denominação não está relacionada com a pretensão do direito
material nela deduzida (que é, invariavelmente, uma das espécies de direito
transindividual). Não diz respeito, tampouco, às providências de natureza processual
que podem ser requeridas como pedido imediato no processo (condenação, constituição,
declaração, ordem, mandado). Trata-se, a exemplo da ação popular e das ações penais,
de denominação relacionada com a legitimação ativa.
Fazendo contraponto com as ações (civis) “privadas”, isto é, propostas por particulares,
em defesa de seus próprios interesses privados, a ação civil pública tem como titular
ativo o Ministério Público ou outro ente eleito pelo legislador, a quem cabe tutelar não
direito próprio seu (= particular), e sim direito pertencente a uma coletividade
indeterminada de pessoas.
Embora se saiba que a denominação, em si, não constitui elemento essencial para
identificar a natureza dos procedimentos, é certo que ela desempenha um papel de
inegável realce prático e didático, que não deve ser desprezado. Qualquer que seja o
nome que se atribua a um procedimento (= qualquer que seja o rótulo que se aponha a
uma vasilha), é importante que se saiba que, sob aquela denominação (= sob aquele
rótulo), existe um instrumento (= um conteúdo) especial, diferente do contido em outros
procedimentos (= em outros recipientes).
No domínio do processo coletivo, seria importante ter presente que, quando se fala em
ação civil pública (seja adequada ou não essa denominação que a Lei 7.347/85 lhe
atribuiu), está se falando de um procedimento destinado a implementar judicialmente a
tutela de direitos transindividuais, e não de outros direitos, nomeadamente de direitos
individuais, ainda que de direitos individuais homogêneos se trate. Para esses, o
procedimento próprio é outro, ao qual também seria importante, para efeitos práticos e
didáticos, atribuir por isso mesmo outra denominação (“ação coletiva” e “ação civil
coletiva” foi como denominou o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 91).
Todavia, essa distinção terminológica, é bom reiterar, não constitui exigência científica.
Sua importância é apenas prática e didática. Convém anotar, também, que ela não está
sendo observada nem pelo legislador nem pela jurisprudência, que, de um modo geral,
conferem a denominação de ação civil pública para todas, ou quase todas, as ações
relacionadas com o processo coletivo, inclusive para as que tratam de direitos
individuais homogêneos.
A Lei 7.913/89, por exemplo, denomina de ação civil pública a “de responsabilidade
por danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários”, embora seja
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patente que os direitos dos lesados têm, na espécie, típico caráter de direitos individuais
homogêneos. Fenômenos semelhantes são comuns na jurisprudência, inclusive do STF
(2ª T., RE 204200 (AgR), rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08.11.2002) e do STJ (1ª T., AI
491195 (AgR), rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 07.07.2004).
A ação civil pública é procedimento moldado à natureza dos direitos e interesses a que
se destina tutelar: direitos transindividuais (difusos e coletivos). A variedade e a
amplitude das pretensões que nela podem ser requeridas são identificáveis por exame
sistemático das disposições normativas antes referidas, especialmente as da Lei
7347/85, devendo-se evitar, com especial cuidado, interpretações isoladas e literais de
seus dispositivos.
Assim, a teor do art. 1º, a ação civil pública é via apta a deduzir pretensões decorrentes
de responsabilidade por danos morais e patrimoniais, causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, por infração da ordem econômica e da economia popular, à ordem
urbanística e, em geral, a qualquer outro interesse difuso e coletivo.
Visto isoladamente, o art. 1º poderia conduzir à suposição de que a ação civil pública
tem finalidade puramente reparatória, ou seja, seria destinada unicamente a obter
condenação de ressarcimento de danos já causados.
Ora, apesar de denominada de cautelar, a ação destinada a evitar dano a direito material
é evidentemente vocacionada a obter tutela preventiva. Não se trata, portanto, de tutela
cautelar (= provisória, formada à base de juízos de verossimilhança, para conferir
garantia à utilidade do processo, sujeita a modificação ou revogação), mas de tutela
definitiva (embora preventiva) do próprio direito material (= tutela formada à base de
cognição exauriente, apta a formar coisa julgada material).
Bem se vê, destarte, à luz desses dispositivos, que a ação civil pública é instrumento
commúltipla aptidão, o que a torna meio eficiente para conferir integral tutela aos
direitos transindividuais: tutela preventiva e reparatória, para obter prestações de
natureza pecuniária (indenizações em dinheiro) ou pessoal (de cumprir obrigações de
fazer ou de não fazer), o que comporta todo o leque de provimentos jurisdicionais:
condenatórios, constitutivos, inibitórios, executivos, mandamentais e meramente
declaratórios.
Nesse particular, o art. 11, Lei 7.347/85, já trouxera dispositivo de largo alcance,
inovador do regime processual vigente à época da sua edição, permitindo tutela
jurisdicional mandamental, inclusive inibitória, a ser garantida com aplicação de
astreintes, de acordo com as circunstâncias do caso.
Cumulação de pedidos:
Segundo dispõe o art. 3º, Lei 7.347/85, “a ação civil poderá ter por objeto a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”, o que
levou certa corrente jurisprudencial a ver aí um comando de alternatividade, a impedir a
cumulação de pedidos condenatórios de obrigação de prestação pessoal (fazer e não
fazer) com obrigação de pagar quantia. Essa conclusão, fundada em exegese literal, traz,
como se percebe, consequências extremamente limitadoras da eficácia da ação civil
pública, comprometendo sua aptidão para viabilizar adequadamente a tutela dos direitos
coletivos e difusos.
Não raras vezes a conjugação está associada ao significado de adição, expressando ideia
de exemplificação, em substituição a “ou também” e a “e”. Por isso, o sentido da norma,
quando aquele conectivo se faz presente, não é aferível de modo suficiente e seguro
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Em se tratando de interpretar norma processual, como é o caso, deve-se ter presente que
processo é instrumento de “programação do debate judicial”, é meio para servir a um
fim: a tutela do direito material. Como todo instrumento, o processo está
necessariamente submetido ao princípio da adequação: suas regras e ritos devem
adequar-se, simultaneamente, aos sujeitos, ao objeto e ao fim.
Ora, a ação civil pública destina-se a tutelar direitos e interesses difusos e coletivos. Há
de se entender, consequentemente, que é instrumento com aptidão suficiente para
operacionalizar, no plano jurisdicional, a proteção ao direito material da melhor forma e
na maior extensão possível. Somente assim será adequado e útil. Se não puder servir ao
direito material, a ação civil pública será ferramenta desprezável. Tome-se, a título
ilustrativo, a tutela, por ação civil pública, do direito transindividual ao meio ambiente
sadio (art. 129, III, CF). Segundo a Constituição, “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações” (art. 225, caput, CF); e “as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados” (§ 3º).
Não há dúvida, portanto, que, examinada à luz do direito material, a tutela do meio
ambiente comporta deveres e obrigações de variada natureza, impondo aos seus
destinatários prestações de natureza pessoal (fazer e não fazer) e de pagar quantia
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(ressarcimento pecuniário), prestações essas que não se excluem, mas, pelo contrário, se
cumulam, se for o caso.
Acentua-se, para o que interessa à questão aqui em debate, o disposto no art. 4º, VII, Lei
6.938/81, acima aludida, que, ao tratar da responsabilização do poluidor, refere à
obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados. E do princípio da prevenção,
de que nasce o dever jurídico de evitar a consumação de danos ao meio ambiente,
decorre, ainda, necessariamente, a obrigação pessoal negativa de não fazer.
enganosa e com o transporte irregular de produtos tóxicos, fatos que acarretam ameaça a
pessoas indeterminadas (consumidores em geral) e ao meio ambiente (direito de
natureza transindividual e difusa), e, havendo aquisição da mercadoria objeto da
publicidade ou o derramamento do produto tóxico transportado, acarretam também
danos a patrimônios jurídicos de pessoas determinadas.
Ora, os arts. 292 e parágrafos, CPC permitem cumulação de pedidos contra o mesmo
réu, desde que sejam compatíveis entre si, que o juízo para conhecer de todos. Salvo,
quem sabe, o requisito da competência (que, em algumas hipóteses, poderá ser de
autoridades judiciárias distintas, em razão das pessoas envolvidas na causa), nenhum
outro desses empecilhos existe, em princípio, que possa inibir a cumulação de causas,
nas situações acima aventadas.
É certo, de qualquer modo, no que diz respeito aos direitos individuais homogêneos,
que a sentença de procedência, eventualmente proferida no processo em que se der a
cumulação, deverá ter natureza genérica. Para o seu posterior cumprimento, as pessoas
lesadas haverão de promover demanda autônoma, em nome próprio (ação de
cumprimento), na qual serão identificados e liquidados os danos individualmente
indenizáveis, cujo produto reverterá ao seu próprio patrimônio individual (e não, como
ocorre com os direitos transindividuais, ao Fundo a que se refere o art. 13, Lei
7.347/85). É que a possibilidade de cumulação é questão de natureza processual, que
não altera nem compromete a natureza processual, que não altera nem compromete a
natureza material do direito lesado ou ameaçado.
Não é porque podem ter sua proteção postulada em ação civil pública que os direitos
individuais homogêneos vão deixar de ser direitos individuais para se transformar em
transindividuais. O direito material não nasce com o processo ou por causa dele – é
anterior a ele. O processo, que é logicamente um posterius, somente terá razão de ser
quando o direito – afirmado como já existe – estiver ameaçado ou for atacado por ato
lesivo.
Competência:
Segundo o entendimento de Hely Lopes Meirelles "a ação civil pública e as respectivas
medidas cautelares deverão ser propostas no foro do local onde ocorrer o dano (...)
justifica-se (...) pela facilidade de obtenção da prova testemunhal e realização de
perícia que forem necessárias à comprovação do dano. (...) a competência para
processamento da ação civil pública é de natureza funcional (...), e, portanto absoluta e
improrrogável”.
Dispõe o art. 5º, Lei 7.347/85, com a redação dada pela Lei 11.448/07: “Têm
legitimidade para propor ação principal e a ação cautelar: I – o Ministério Público; II – a
Defensoria Pública; III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV – a
autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V – a associação
que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico”.
Isso significa que as ações civis públicas suscetíveis de serem por ela propostas
restringem-se àquelas em que os bens a serem tutelados digam respeito a interesse de
pessoas reconhecidamente carentes de recursos financeiros. Essa mesma relação de
interesse jurídico deve estar presente quando a demanda for promovida pelos demais
legitimados do art. 5º, Lei 7.347/85: autarquias, empresas públicas, fundações,
sociedades de economia mista e associações.
Também para a adequada legitimação ativa de qualquer delas há que ficar evidenciada a
situação de vantagem, ainda que em sentido genérico, para seus próprios interesses, da
eventual procedência do pedido. Relativamente às associações, há, ainda, os limitadores
das alíneas a e b, inciso V: o primeiro reserva a legitimação ativa a associações com
certa estabilidade (um ano de existência), o que desestimula eventuais excessos ou
abusos na propositura de ações civis públicas; e o segundo, mais diretamente ligado ao
interesse de agir, impõe liame objetivo, expresso nos estatutos, entre a pretensão
deduzida na demanda e os fins institucionais da demandante.
Na ação civil pública, a sentença fará, desde logo, juízo amplo e específico, o mais
completo possível, a respeito da controvérsia. A ela se aplica a regra estrita do caput do
art. 286, CPC, segundo o qual o pedido deve ser certo, e não genérico, do que resultará,
pelo princípio da congruência (art. 460, CPC), uma sentença com caráter semelhante.
Estabelece o art. 16 da Lei 7.347/85, que na ação civil pública, a sentença “fará coisa
julgada com efeito erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator,
exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em
que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-
se de nova prova”.
Entende-se por coisa julgada material, na definição do art. 467, CPC, “a eficácia, que
torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
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O conceito de coisa julgada, como previsto no art. 467, CPC, é universal para todas as
sentenças de mérito. Também em relação às sentenças proferidas nas ações civis
públicas, a coisa julgada é a eficácia que as torna “imutáveis e indiscutíveis”. O que
distingue essas das demais sentenças são (a) os pressupostos para adquirir a
imutabilidade e (b) os limites de sua eficácia.
Aplica-se também à coisa julgada nas ações civis públicas a limitação, constante do art.
472, CPC: os terceiros, embora possam ser beneficiados, jamais poderão ser atingidos
negativamente pela sentença proferida em processo em que não tenham sido partes.
Há, no art. 16, Lei 7.347/85, um segundo limitador à eficácia da coisa julgada: o dos
“limites da competência territorial do órgão prolator”. Interpretação literal do
dispositivo sugere que a coisa julgada estaria circunscrita a um determinado espaço
físico. Ora, seria difícil compatibilizar essa espécie de limitação com a natureza jurídica
da coisa julgada (que nada mais é do que uma qualidade da sentença, a da sua
imutabilidade). O que faz coisa julgada (ou seja, o que se torna imutável) nas sentenças
de mérito é o juízo, que nelas se contém, a respeito da existência ou da inexistência ou
do modo de ser da relação jurídica objeto do litígio, e isso não é diferente nas ações
civis públicas.
Contudo, o STJ vem adotando comportamento diverso e assim julgando: A Lei da Ação
Civil Pública, originariamente, foi criada para regular a defesa em juízo de direitos
difusos e coletivos. A figura dos direitos individuais homogênios surgiu a partir do
Código de Defesa do Consumidor, como uma terceira categoria equiparada aos
primeiros, porém ontologicamente diversa. - A distinção, defendida inicialmente por
Liebman, entre os conceitos de eficácia e de autoridade da sentença, torna inóqua a
limitação territorial dos efeitos da coisa julgada estabelecida pelo art. 16 da LAP. A
coisa julgada é meramente a imutabilidade dos efeitos da sentença. Mesmo limitada
aquela, os efeitos da sentença produzem-se erga omnes, para além dos limites da
competência territorial do órgão julgador. - O procedimento regulado pela Ação Civil
Pública pode ser utilizado para a defesa dos direitos do consumidor em juízo, porém
somente no que não contrariar as regras do CDC, que contem, em seu art. 103, uma
disciplina exaustiva para regular a produção de efeitos pela sentença que decide uma
relação de consumo. Assim, não é possível a aplicação do art. 16 da LAP para essas
hipóteses. Recurso especial conhecido e provido” (REsp 411.529-SP, 3ª Turma, rel.
Min. Nancy Andringhi, j. 4.10.2007).
Tal qual ocorre com a sentença penal condenatória, que tem como efeito secundário,
produzido ex lege, o de “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime” (art. 91, I, CP), também a sentença de procedência na ação civil pública produz,
automaticamente, o efeito de tornar certa a obrigação do réu de indenizar os danos
individuais decorrentes do ilícito civil objeto da demanda, permitindo aos respectivos
titulares do direito à reparação (vítimas e seus sucessores) a imediata liquidação e
execução, independentemente de nova sentença condenatória. É o que estabelece o art.
103, § 3º, Lei 8.078/90 (CDC), a saber: “Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art.
16, combinado com o art. 13 da Lei 7.347/1985, não prejudicarão as ações de
29
Não há, na Lei 7.347/1985, previsão do prazo prescricional para ação civil pública
destinada a tutelar direitos e interesses transindividuais, difusos e coletivos. Na ausência
de norma específica, a prescrição deve ser determinada pelas normas previstas no CC ou
em leis especiais, que fixam o prazo ora por critério material (em razão da natureza do
direito pretendido), ora por critério subjetivo (em razão da pessoa contra quem a
pretensão é deduzida).
Segundo a regra geral do CC, “a prescrição ocorre em 10 anos, quando a lei não lhe haja
fixado prazo menor” (art. 205). Prazos menores, de um a cinco anos, estão estabelecidos
para diferentes demandas no art. 206 do Código, nenhum deles enquadrável no âmbito
dos direitos transindividuais.
É possível concluir dessa ressalva, que toda e qualquer ação indenizatória em favor do
erário é imprescritível? Se a prescritibilidade das ações e pretensões é a regra, a
imprescritibilidade é a exceção e, por isso mesmo, a norma que a contempla deve ser
interpretada restritivamente.
O Art. 5, inciso LXXIII da CF/88 prevê que “Qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência”.
O que caracteriza a ação popular, desde as suas mais remotas origens romanas, “é o
exercício da ação por qualquer membro da coletividade, com maior ou menor
amplitude, para a defesa de interesses coletivos”. Essa peculiaridade é extremamente
significativa, tanto do ponto de vista processual quanto do ponto de vista da cidadania.
Processualmente, atribuir a alguém a legitimidade ativa para defender direito de que não
é titular representou um desafio ao dogma, cuja essência ainda hoje é preservada com
regra pelo art. 6º do CPC, o qual estabelece a necessária identidade entre o titular da
relação de direito processual e o da relação de direito material deduzida na demanda.
Por outro lado, a faculdade de promover a ação popular, com o poder que dela decorre
no controle de atos da Administração Pública, conferiu aos membros da comunidade um
meio de participação na vida política, um significativo marco de afirmação dos direitos
de cidadania.
A transindividualidade dos interesses tutelados por ação popular fica evidenciada não
apenas quando seu objeto é a proteção do meio ambiente ou do patrimônio histórico e
cultural (direitos tipicamente difusos, sem titular determinado), mas também quando
busca anular atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou de entidades
de que o Estado tenha participação. Nesse caso, embora o patrimônio tutelado esteja sob
32
A dimensão e o sentido que atualmente detêm a administração pública vão muito além
do núcleo fechado da chamada “administração direta”. Também as entidades da
administração indireta e das suas subsidiárias, ainda quando voltadas imediatamente à
exploração de atividade econômica, têm por finalidade primordial, ainda que indireta, o
cumprimento de uma função social, e estão sujeitas, por isso mesmo, à “fiscalização
pela Estado e pela sociedade”, por expressa determinação constitucional (art. 173, § 1º,
I da CF/88).
Não há dúvida, portanto, que a ação popular, ao zelar pela higidez e boa administração
do patrimônio pertencente às pessoas de direito público e às entidades direta ou
indiretamente controladas pelo estado, está defendendo não apenas interesses
particulares dessas pessoas, mas, sobretudo, os interesses superiores da própria
coletividade a que servem. Eis aí plasmada, portanto, a transindividualidade dos
interesses tutelados.
a) ao patrimônio público;
b) à moralidade administrativa;
A lesividade constitui, portanto, requisito indispensável para que o ato fique submetido
a controle por essa especial via judicial. É certo que, ao especificar os casos de nulidade
e de anulabilidade de atos administrativos a que se referia, a Lei da Ação Popular fez
menção explícita ao requisito da lesividade em relação a uns (os alinhados em seus arts.
2º e 3º), mas não o fez em relação a outros (os alinhados em seu art. 4º). Para
compatibilizar a falta de referência específica, por parte da lei, com a exigência
afirmada expressamente na Constituição, a doutrina assentou entendimento de que, nos
casos do art. 4º da Lei da Ação Popular, a lesividade é presumida (presunção iuris
tantum). Ela, portanto, não está dispensada. O autor é que está dispensado de
demonstrá-la, cabendo ao réu, se for o caso, provar que, naqueles casos, a lesão não
ocorreu.
33
Ora, conforme prevê o art. 55 da Lei 9.784/99, são passíveis de convalidação os atos
administrativos, atingidos por irregularidades sanáveis, quando “se evidencie não
acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros”. A convalidação,
nesses casos, não é mero ato discricionário, cuja prática fica a critério do administrador,
mas é ato inválido não causou lesão, ele poderá, ou melhor, deverá (desde que presentes
os demais requisitos para tanto) ser convalidado, sendo descabida, consequentemente, a
sua anulação, mesmo por ação popular.
A discussão não tem sentido algum quando se trata de ato lesivo à moralidade
administrativa, já que o princípio da moralidade pertence ao mundo da normatividade
(=legalidade), e isso significa dizer que o ato que o lesa é, por natureza, um ato
juridicamente ilegítimo (=ilegal, lato sensu). A lesão à moralidade administrativa é,
pois, em si mesma, uma ilegalidade.
Com efeito, nem todos os atos que provocam redução no patrimônio público ou de
terceiro são, só por isso, nulos ou anuláveis. A cobrança de um tributo, por exemplo,
importa invasão coativa no patrimônio do contribuinte, causando-lhe uma redução
material, mas essa circunstância de fato não acarreta necessariamente a invalidade do
ato, não podendo, juridicamente, ser qualificada como “lesão”.
Tenha-se presente que a nulidade é uma sanção jurídica, e, como tal, opera em plano
exclusivamente jurídico, pois decorre (= tem como causa necessária) da injuridicidade
(=ilegitimidade, ilegalidade) do ato, e não dos efeitos materiais que ele acarreta. Sob
essa ótica, é evidente que o ato legítimo não pode ser anulado, nem por ação popular
nem por qualquer outra ação judicial. É preciso considerar, nessa discussão, que, ao
submeter certos atos a invalidação por via de ação popular, o legislador certamente não
quis ampliar as causas de nulidade de tais atos, matéria, aliás, estranha ao direito
processual. Pelo contrário, resulta claro do texto normativo a intenção do legislador de
34
selecionar certos atos (e selecionar importa reduzir o número) que, por estarem
revestidos de uma característica especial e adicional em relação aos demais atos nulos
ou anuláveis (= a sua lesividade), ficaram submetidos ao controle jurisdicional também
por iniciativa popular.
Ora, está dito no art. 1º, § único da CF/88, que “todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (...)”. Seria absurdo, portanto,
imaginar que o conteúdo do princípio da moralidade fugisse ao regime democrático de
direito e fosse ou pudesse ser, validamente, aquele porventura definido a posteriori, por
parâmetros fixados ou só conhecidos do próprio aplicador ou do julgador. Seria a
consagração da pura arbitrariedade: o ato seria válido ou não, o agente seria penalizado
ou não, segundo o que viesse a ser estabelecido no futuro, por padrões extraídos de
origens incertas e desconhecidas.
E por isso mesmo que o enunciado do princípio da moralidade administrativa que está
associado à gama de virtudes e valores de natureza moral e ética: honestidade, lealdade,
boa-fé, bons costumes, equidade, justiça. São valores e virtudes que dizem respeito à
pessoa do agente administrativo.
A ação popular teve ampliado seus horizontes a partir da Lei 6.513/77, inserindo no
conceito de patrimônio público os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético,
histórico ou turístico.
Com a CF inseriram-se nos objetivos da ação também os de anular atos lesivos ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Ao admitir a propositura de ação popular em tais situações, o que a CF fez foi conferir
ao cidadão a legitimidade para promover uma peculiar ação popular em defesa daqueles
específicos direitos transindividuais.
Por outro lado, para que haja proteção integral e completa dos bens jurídicos, se for o
caso, é possível determinar procedências complementares para eliminar os efeitos
danosos causados pelo ato nulo (art. 11 da Lei 4.717/65 e art. 461 do CPC).
O art. 14, § 4º da Lei 4.717/65, prevê, também, medida cautelar no sentido de que a
parte condenada a restituir bens ou valores ficará sujeita ao sequestro e penhora, desde a
prolação da sentença condenatória.
Assim, o pedido de liminar será concedido na ação popular, desde que atendidos os
requisitos específicos do periculum in mora e do fumus boni juris, sendo admitido
expressamente pelo § 4.º do art. 5º da Lei 4.717/65.
Natureza da ação popular: Gregório Almeida entende que a ação popular tem
natureza jurídica dupla. Para ele, primeiramente, é um direito constitucionalmente
político de participação que possibilita a fiscalização direta da Administração
Pública e também, uma garantia processual constitucional que se exerce desse
direito político mencionado. Ela pode ter natureza preventiva, de modo a prevenir
que o ato aconteça gerando dano, como também, regressiva, aplicada após o
cometimento do ato, anulando o ato indevido. Ainda há a possibilidade de ação de
natureza corretiva da atividade administrativa, aqui o ato já aconteceu, mas age para
corrigir os que já foram praticados há algum tempo, e por fim, natureza supletiva da
inatividade do poder público, quando houver omissão, quando ela deixa de praticar
certos atos dos quais ela está obrigada a praticar.
6º, § 5º), ou assumir o seu lugar em caso de desistência (art. 9º). O Ministério
Público é um deles. Urge lembrar que a Súmula 365 do Supremo Tribunal Federal
entende que a pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
Legitimação passiva: os sujeitos passivos da ação, segundo o art. 6º, § 2º, da Lei
4.717/65, são as pessoas públicas ou privadas, os autores e participantes do ato e os
beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público.
Lembrando que o Ministério Público funciona, em regra, como custos legis (art. 6º, § 4°
da Lei 4.717/65), porém, o mesmo detém capacidade para juntar documentos e pedido
de provas.
A sentença que extinguir o processo sem julgar o mérito e a que julgar improcedente o
pedido estarão sujeitas a reexame necessário (art. 19 da Lei 4.717/65), sem prejuízo do
recurso de apelação, que poderá ser interposto, não só pelo autor, como também pelo
MP e qualquer cidadão (art. 19, § 2º da Lei 4.717/65).
Cumpre ressaltar que a procedência do feito gera a produção de efeitos de coisa julgada
erga omnes.
Alexandre de Morais em seus ensinamentos leciona que “se a ação popular for julgada
improcedente por ser infundada, a sentença produzirá efeitos de coisa julgada erga
omnes, permanecendo válido o ato. Porém, se a improcedência decorrer de deficiência
probatória, apensar da manutenção da validade do ato impugnado, a decisão de mérito
não terá eficácia de coisa julgada erga omnes, havendo possibilidade de ajuizamento de
uma nova ação popular com o mesmo objeto e fundamento, por prevalecer o interesse
público de defesa da legalidade e da moralidade administrativas, em busca da verdade
real (Direito Constitucional, 9ª ed., São Paulo, Atlas, 2001, p. 187).
Súmula do 365 STF “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular”.
A época do regime militar foi marcada pela formação sigilosa de dossiês e a coleta de
informações a respeito de determinadas pessoas.
Cabimento:
O art. 7º, III, da Lei 9.507/97 traz uma nova hipótese de cabimento do habeas data, que
é a averbação.
Art. 7º, inciso III da Lei 9.507/97 “Conceder-se-á habeas data: para a anotação nos
assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro,
mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável”.
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Nesse caso, poderá uma lei infraconstitucional trazer nova hipótese de cabimento, pois
alarga o direito fundamental (não diminui).
Exceção:
Há uma exceção prevista na parte final do art. 5º, XXXIII da CF/88 “todos têm direito a
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado”.
Objeto: O objeto desse instituto é o ato de agente ou órgão estatal ou de quem age
com atribuição pública que inviabiliza o direito de conhecer e/ou retificar os dados
sobre a pessoa do impetrante. É o direito de provocar o Judiciário a conceder a
ordem de habeas data para que o impetrante tenha acesso às informações constantes
de bancos de dados de caráter público.
Uma condição para impetrar este remédio constitucional é a tentativa pela via
administrativa à informação e que haja a recusa da autoridade em dar tal informação.
Segundo o art. 8º, § único da lei do Habeas Data “A petição inicial deverá ser instruída
com prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão; II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze
dias, sem decisão; ou III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2º do
art. 4º ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão”.
Atenção: A recusa poderá ser expressa ou tácita. Passado o prazo acima estabelecido,
poderá a pessoa lesada impetrar o Habeas Data.
A Súmula 2 do STJ prescreve que: “Não cabe habeas data (CR, art. 5, LXXII, letra
“a”) se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”.
Legitimidade:
40
Nada obstante o caráter personalíssimo do direito protegido via Habeas Datas, entende-
se possível a sua impetração por terceiros nas estritas hipóteses de os impetrantes serem
herdeiros ou cônjuge supérstite de um falecido, com a finalidade de proteger a sua
memória em face de dados indevidos ou incorretos.
O art. 1º§ único da Lei 9.507/97 prevê que "Considera-se de caráter público todo
registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou possam ser
transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade
produtora ou depositária das informações".
Todavia, conforme diz a lei, se a informação for de uso privativo ou não puder ser
transmitida a terceiro ou for do interesse social ou estatal o seu sigilo, não será o caso de
concessão da ordem de Habeas Datas.
Então, através do depositário dos dados é possível saber qual será o órgão competente.
O art. 20, Lei 9.507/97, traz o rol dos órgãos competentes para processar e julgar
originalmente o Habeas Datas, a saber:
a) o STF (contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da
República e do próprio Supremo Tribunal Federal);
b) o STJ (contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal e segundo o art. 105,
I, b da CF/88 contra atos dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica);
Atenção: Vale destacar a necessidade de que o “Habeas Data” seja impetrado por
advogado.
Procedimento:
Como os prazos são muito curtos, torna-se difícil cumpri-los. Observa-se, ainda, que no
caso de descumprimento do prazo, não há uma sanção, em que pese a nova lei de acesso
à informação prever.
b) Informações: As informações prestadas pela autoridade coatora nada têm a ver com
as informações que a pessoa quer ter acesso. A autoridade coatora presta informações,
esclarecimentos sobre o fato. Tais “informações” constituem a peça de defesa, embora
existam entendimentos de que não se trata de defesa.
Reza o art. 9º da Lei 9.507/97 “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique
o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo
impetrante, com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de dez dias, preste as
informações que julgar necessárias”.
É obrigatório que se abra oportunidade para que o MP se manifeste, muito embora não
seja obrigatório que o MP o faça. Se o juiz prolatar sentença sem a manifestação
ministerial no processo, este não será anulado se comprovado que houve abertura de
oportunidade para a manifestação.
d) Sentença: a sentença no Habeas Data tem caráter mandamental (tomando como base
a classificação quinaria de Pontes de Miranda), no sentido de que o juiz ordenará que o
depositário do banco de dados, a depender do pedido, apresente documentos, ou faça a
anotação, retificação ou averbação.
e) Recurso:
42
Segundo o art. 15 da Lei do Habeas Data“da sentença que conceder ou negar o habeas
data cabe apelação”.
Liminar: Não há na lei previsão de liminar, o que causa muita polêmica sobre a
matéria. Alguns doutrinadores afirmam que se não há previsão legal, e pela decisão
gerar um efeito satisfatório (pois tem efeito apenas devolutivo), não há possibilidade
da concessão de liminar.
Por outro lado, há quem defenda que no caso de ameaça de lesão irreparável (periculum
in mora) e comprovado o fumus bonis iuris, há possibilidade de liminar.
Já aqueles que defendem pela não existência de prazo decadencial algum, afirmam que
ele poderá ser renovado a qualquer tempo, desde que não haja apreciação de mérito.
Custas processuais:
O impetrante está isento de custas processuais, nos termos do art. 5º, LXXVII da CF/88
“são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania” e segundo o art. 21 da Lei que regulamenta o
Habeas Data “São gratuitos o procedimento administrativo para acesso a informações
e retificação de dados e para anotação de justificação, bem como a ação de habeas
data”.
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3. AÇÃO
B- Teorias da Ação:
Para a teoria imanentista não existe direito de ação sem existir direito material , até
porque se trata do mesmo direito em diferentes estados (estático e em movimento).
A teoria concreta defendia que o direito de ação só existe se o direito material existir,
condicionando a existência do primeiro à existência do segundo.
O direito de ação, portanto, passou a ser entendido como o direito abstrato de obter um
pronunciamento do Estado, por meio de uma decisão judicial, inexistindo requisito que
precise ser preenchido para sua existência.
Nessa concepção, não existem condições para o exercício da ação, muito menos quando
tais condições só podem ser analisadas à luz do direito material, que para a teoria
abstrata é absolutamente irrelevante para fins de existência do direito de ação.
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Teoria eclética:
Para essa teoria, as condições da ação não se confundem com o mérito, ainda que sejam
aferidas à luz da relação jurídica de direito material discutida no processo, sendo
analisadas preliminarmente e, quando ausentes, geram uma sentença terminativa de
carência de ação (art. 267, VI do CPC) sem a formação de coisa julgada material.
Estando presentes no caso concreto, o juiz profere sentença de mérito, que tanto poderá
acolher como rejeitar o pedido do autor. Tratando-se de matéria de ordem pública não
há preclusão, entendendo os defensores da teoria eclética que a qualquer momento do
processo e com qualquer grau de cognição o juiz deve extinguir o processo sem
resolução de mérito por carência de ação se entender ausente uma das condições da
ação.
Art. 267,VI, do CPC “Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: quando não
concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual”.
Para essa teoria a presença das condições da ação deve ser analisada pelo juiz com os
elementos fornecidos pelo próprio autor em sua petição inicial, sem nenhum
desenvolvimento cognitivo.
Para os defensores da teoria da asserção, sendo possível ao juiz mediante uma cognição
sumária perceber a ausência de uma ou mais condições da ação, deve extinguir o
processo sem a resolução do mérito por carência de ação (art. 267, VI, do CPC), pois já
teria condições desde o limiar do processo de extingui-lo e assim evitar o
desenvolvimento de uma atividade inútil.
Por outro lado, caso o juiz precise no caso concreto de uma cognição mais aprofundada
para então decidir sobre a presença ou não das condições da ação, não mais haverá tais
condições da ação, que passarão a ser entendidas como matérias de mérito. Dessa
forma, aprofundada a cognição, a ausência daquilo que no início do processo poderia ter
sido considerado uma condição da ação passa a ser matéria de mérito, gerando uma
sentença de rejeição do pedido do autor (art. 269, I, do CPC), com a geração de coisa
julgada material. Nesses termos, a teoria da asserção não difere da teoria abstrata pura.
O STJ entendeu no REsp 879188/RS que "se mostra saudável a lembrança de que a
doutrina moderna, bem como, em decisões recentes, também o Superior Tribunal de
Justiça, têm entendido que o momento de verificação das condições da ação se dá no
primeiro contato que o julgador tem com a petição inicial, ou seja, no instante da
prolação do juízo de admissibilidade inicial do procedimento. Trata-se da aplicação da
teoria da asserção, segundo a qual a análise das condições da ação seria feita à luz das
afirmações do demandante contida em sua petição inicial. Assim, basta que seja
positivo o juízo inicial de admissibilidade, para que tudo o mais seria decisão de
mérito”.
O STJ entendeu no REsp 1358754/RJ “Sobre a apontada afronta ao artigo 267, VI, do
CPC, nos termos da teoria da asserção, o momento de verificação das condições da
ação dá-se no primeiro contato que o julgador tem com a petição inicial”.
Não se pode aqui confundir mérito com condições da ação. Segundo o prof. Fredie
Didier há diferenciação entre “mérito” e “condição da ação”.
O prof. Fredie Didier entende que “realmente, há uma dificuldade muito grande de
diferenciar aquilo que é mérito daquilo que seja simples condição da ação. A
discordância reside em ponto fundamental, notadamente porque, de acordo com nosso
sistema, a sentença de carência de ação, por não ser sentença de mérito, não poderia
ficar acobertada com a imutabilidade da coisa julgada material, o que permite que a
demanda seja repetida. Se de mérito se tratasse, este problema não existiria”.
Enfim, o criador da teoria eclética foi Liebman, o qual, em seus primeiros estudos sobre
o tema entendia existirem 3 (três) espécies de condições da ação:
Art. 295, § único do CPC “Considera-se inepta a petição inicial quando: I - Ihe faltar
pedido ou causa de pedir; II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a
conclusão; III - o pedido for juridicamente impossível; IV - contiver pedidos
incompatíveis entre si”.
Moniz de Aragão ensina que a possibilidade jurídica não deve ser considerada com
vistas à existência de uma previsão no ordenamento jurídico, que torne o pedido viável
em tese, mas, sim, com vistas à inexistência, no ordenamento jurídico, de uma previsão
que o torne inviável.
Interesse de agir:
Cabe ao autor demonstrar que o provimento jurisdicional pretendido será capaz de lhe
proporcionar uma melhora em sua situação fática , o que será o suficiente para justificar
o tempo, a energia e o dinheiro que serão gastos pelo Poder Judiciário na resolução da
demanda.
O STJ entendeu no REsp 796.533/PE que não existe nulidade prática e, por
consequência, interesse de agir, em execução de valor ínfimo pela Fazenda Pública.
O STJ entendeu ainda no AgRg MC 20632/RJ que “não restou configurada a presença
do requisito do fumus boni iuris, de maneira que falta à medida cautelar a condição da
ação consistente no interesse de agir, pela qual só se autoriza a ingressar em Juízo –
47
Legitimidade:
Sucessão Processual: Sempre que um sujeito que compõe o polo ativo ou passivo é
retirado da relação jurídica processual para que um terceiro tome o seu lugar
ocorrerá a sucessão processual.
Partes;
Pedido;
Causa de pedir.
Partes:
Segundo Chiovenda parte é o sujeito que pede ou contra quem se pede tutela
jurisdicional.
Liebman lecionava que parte é todo sujeito que participa da relação jurídica processual
em contraditório defendendo interesse próprio ou alheio.
Há outra corrente doutrinária que entende que parte só é o sujeito que participa da lide,
sendo que os demais sujeitos, apesar de serem considerados participantes do processo,
são terceiros.
O STF entendeu na ADI 4.163/SP que o “amicus curiae não tem legitimidade para
opor Embargos de Declaração em ações de controle concentrado”.
Dessa forma, mesmo que não seja o titular dessa relação de direito material, mas
participe do processo, o sujeito será considerado “parte processual”,
independentemente da legalidade de sua presença no processo pelo simples fato de
participar do processo. Por outro lado, mesmo sendo parte legítima, não há necessidade
de a parte processual ser também parte material, como bem demonstra o fenômeno da
“substituição processual”.
Pedido:
Apesar de tradicional a afirmação de que o réu não pede, mas apenas impede, não tenho
dúvida de que o réu formula pedido em sua contestação, afinal, a improcedência do
pedido é um pedido do réu por uma sentença meramente declaratória.
AULA 4
Requisitos: certeza e determinação do pedido
Não obstante o art. 286, caput, CPC, disponha que o pedido deverá ser certo “ou”
determinado, a verdade é que o pedido deve ser certo “e” determinado, porque os
requisitos da certeza e determinação são cumulativos, e não alternativos, como a
interpretação literal do dispositivo legal leva a crer.
Pedidos genéricos:
Registre-se nesse tocante que nas ações de indenização caberá ao autor especificar o
prejuízo que pretende ver ressarcido, ainda que não tenha condições de indicar o
quantum debeatur. Ainda que não seja necessária a indicação do valor que se pretende
obter, o pedido deverá conter elementos identificadores da pretensão do autor, a fim de
que seja possível o exercício do direito de defesa por parte do réu e limitar a atuação do
juiz em sua eventual condenação.
Relativamente aos danos morais, o STJ no REsp 777.219/RJ entendeu que no admite,
de forma pacífica, o pedido de condenação ao pagamento de danos morais pode ser
genérico (3ª Turma, , rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5.10.2006). Entendendo que não
parece ser a melhor solução colocar a valoração dos danos nas mãos de terceiro que não
participou da relação de direito material, posicionam-se Daniel Assumpção, Nélson
Nery Jr, Cassio Scarpinella Bueno e Fredie Didier.
Valor depender de ato a ser praticado pelo réu Hipótese prevista no art. 286, III, CPC, a
impossibilidade de indicação do valor deriva do fato de o réu ser o responsável pela
indicação, como ocorre na prestação de contas, quando o autor faz pedido de
condenação em prestar as contas e em pagar o eventual saldo remanescente, sendo que
esse segundo pedido poderá ser genérico quando o valor só puder ser determinado após
a efetiva prestação das contas a ser praticada pelo réu.
Pedido implícito:
O pedido deve ser expresso, não podendo o juiz conceder aquilo que não tenha sido
expressamente requerido pelo autor, bastando, para se chegar a tal conclusão, a redação
da leitura do art. 460, CPC, que proíbe o juiz de conceder diferente (extra) ou a mais
(ultra) do que foi pedido pelo autor.
Deve ser entendido por pedido implícito qualquer tutela não pedida pelo autor que a lei
permite que o juiz conceda ex officio. São hipóteses de pedido implícito:
Lembrar, quanto aos juros moratórios, o teor da Súmula 254, STF, que admite sua
inclusão na liquidação de sentença mesmo quando omissa a sentença liquidanda. Tal
entendimento torna os juros moratórios uma verdadeira condenação implícita, pois o
autor terá direito a eles mesmo que o juiz não os conceda expressamente na sentença.
Cumulação de pedidos:
O STJ já decidiu que a cumulação de pedidos é admissível mesmo que a demanda seja
proposta com formação de litisconsórcio passivo, dirigindo-se diferentes pedidos para
cada um dos réus (2ª Turma, AgRg no REsp 953.731/SP, rel. Min. Herman Benjamin, j.
2.10.2008). Entretanto, tal entendimento não encontra pacificado na citada corte uma
vez que, em decisão recente assim se pronunciou:
São requisitos:
a) pedidos não podem ser incompatíveis entre si (art. 292, § 1º, I, CPC) – não há
problema em cumular pedidos incompatíveis; o problema existe na concessão de
pedidos incompatíveis.
b) mesmo juízo competente para todos os pedidos (art. 292, § 1º, II, CPC);
Espécies de cumulação
A cumulação própria, por sua vez, pode ser simples (pedidos absolutamente
independentes entre si e o resultado de um pedido não interfere no resultado dos demais,
sendo possível, inclusive, o acolhimento de todos os pedidos cumulados), ou sucessiva
(quando a análise do pedido posterior depender da procedência do pedido que lhe
precede, há uma relação de prejudicialidade entre os pedidos, sendo exemplos a ação de
investigação de paternidade cumulada como alimentos e a ação de rescisão contratual
cumulada com reintegração de posse).
Causa de pedir: É, dos elementos da ação, o mais difícil de precisar. A ela se refere
o CPC, ao exigir que o autor, na petição inicial, indique o fato e os fundamentos
jurídicos do pedido (art. 282, III, CPC). Para Chiovenda, causa de pedir é o
fundamento, a razão de uma pretensão, isto é, do pedido do autor. Já para Liebman,
causa de pedir é o fato ou relação jurídica que o autor põe como fundamento de sua
demanda. Contudo, existem 2 (duas) teorias doutrinárias que explicam do que é
composta a causa de pedir.
Já teoria da substanciação, também criada pelo direito alemão, determina que a causa
de pedir, independentemente da natureza da ação, é formada apenas pelos fatos
jurídicos narrados pelo autor (amplamente acolhida pela doutrina pátria, tendo
demonstração cabal conforme disposto no art. 282, III do CPC, sendo curioso o fato de
ser afirmado, pela mesma doutrina, que a causa de pedir é formada não somente pelos
fatos jurídicos, mas, também, pela fundamentação jurídica).
A distinção entre causa de pedir próxima e remota, porém, revela uma doutrina confusa,
alguns afirmando que a primeira se assentaria nos fatos e a segunda nos fundamentos
jurídicos, outras apontando, justamente, o inverso. Para Daniel Assumpção, a causa de
pedir próxima são os fatos e a causa de pedir remota é o fundamento jurídico.
A doutrina também distingue entre fatos jurídicos (fatos principais, essenciais), que
compõem a causa de pedir, e fatos simples (secundários, instrumentais), que não
compõem a causa de pedir.
56
4. PROCESSO
4.1 Introdução
Da mesma maneira que ocorre no tocante às teorias criadas para explicar o direito de
ação, reconhecem-se na doutrina diversas teorias a respeito da natureza jurídica do
processo, algumas com interesse meramente histórico, outras com interesse atual.
Como são muitas, vamos destacar aquelas que podem ser consideradas como teorias
principais, representativas de três momentos históricos distintos: fase imanentista, fase
privatista e fase publicista, que é a atual.
Em época na qual o Estado ainda não era forte o suficiente para intervir na vida dos
cidadãos, tudo dependia da concordância dos sujeitos envolvidos no conflito de se
sujeitarem à tutela prestada, acatando o respectivo julgamento.
Esse acordo de vontade das partes representado pela litiscontestatio romana fez com que
os defensores dessa teoria entendessem pela existência de um negócio jurídico de direito
privado, concluindo-se a partir dessa premissa que o processo seria um contrato.
Atualmente, a teoria guarda importância meramente histórica porque a ideia de sujeição
das partes ao processo e a seus resultados é um dos princípios da jurisdição, não
havendo contemporaneamente nada nem parecido com a antiga litiscontestatio.
C- Processo como quase contrato: Ainda sob a ótica privatista, no século XIX, o
francês Arnault de Guényvau cria a teoria do processo como quase contrato.
Necessitando descobrir uma natureza jurídica de direito privado ao processo e não
aceitando tratar-se de um contrato, nem de um delito, a única saída viável seria entendê-
lo como um quase contrato. A fragilidade do raciocínio fez com que a teoria fosse logo
abandonada.
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D- Processo como relação jurídica: A doutrina credita a Oskar Von Büllow, em sua
famosa obra “Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias”, o mérito
por retirar o processo do âmbito privatista, finalmente alçando-o ao âmbito publicista,
em que até hoje se encontra. Tratando-se daquilo que é considerado como a primeira
obra jurídica a respeito do direito processual, a ideia principal do doutrinador que
interessa no momento é a nítida distinção entre relação jurídica processual e relação
jurídica material. Para Büllow, a relação de direito material é o objeto de discussão no
processo, enquanto a relação de direito processual é a estrutura por meio da qual essa
discussão ocorrerá.
A diferença nítida entre os dois planos permitiu ao doutrinador perceber que, em seus
três elementos essenciais, a relação jurídica processual não se confunde com a relação
jurídica material. Observou diferenças nos sujeitos que dela participam, dos seus objetos
e de seus requisitos formais (para a relação processual chamou-os de pressupostos
processuais, em consagrada nomenclatura até os dias atuais acolhida). A existência no
processo de múltiplos e variados liames jurídicos entre o Estado-juiz e as partes, criando
a esses sujeitos a titularidade de situações jurídicas a exigir uma espécie de conduta ou a
permitir a prática de um ato, representaria a relação jurídica processual. Essa relação
jurídica é complexa e continuada, sendo composta de inúmeras posições jurídicas ativas
(poderes, ônus, faculdades e direitos) e passivas (sujeição e deveres e obrigações).
Segundo forte entendimento doutrinário nacional essa corrente é até os dias atuais a
mais aceita, entendendo-se o processo como a relação jurídica de direito processual,
exteriorizada por meio do procedimento.
Em suma, procurou mostrar que no processo inexistiam direitos e deveres, mas sim
expectativas, possibilidades e ônus, considerando a situação processual como um
“estado generalizado de incerteza”.
Ainda que o entendimento de Goldschmidt não tenha sido recepcionado pela doutrina,
algumas de suas observações são válidas até os dias atuais, ainda que aplicáveis à teoria
do processo como relação jurídica processual.
Dessa forma, é corrente hoje afirmar que a relação jurídica processual cria em relação
aos seus sujeitos sucessivas situações jurídicas ativas e passivas no decorrer do
procedimento, o que, inclusive, torna tal relação jurídica complexa, conforme se verá
adiante.
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F- Processo como instituição: Para Jaime Guasp, o processo seria uma instituição
jurídica, não porque a teoria da relação jurídica fosse em si mesma inexata, mas antes
porque a reputava insuficiente para explicar todos os fenômenos que se desenrolam
dentro do processo. Seu principal representante foi Eduardo J. Couture, sendo a maior
dificuldade esclarecer o que significaria a expressão “instituição” jurídica, mesmo
porque o conceito de “instituição” possui origem eminentemente sociológica, e não
jurídica.
4.2 Procedimento
Ainda que não seja possível confundir o procedimento com o processo, como feito à
época imanentista, o certo é que o processo não vive sem o procedimento. Tanto essa
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A- Composição:
É importante observar que, ainda que se admita ser a relação jurídica processual tríplice,
com a propositura da demanda pelo autor já existirá uma relação jurídica, ainda que
limitada ao autor e juiz (relação linear entre esses dois sujeitos). Pode-se falar em
relação jurídica incompleta, que será definitivamente formada com a citação válida do
60
réu, mas não seria correto entender que só a partir desse momento passa a existir a
relação jurídica processual.
a) autonomia;
b) complexidade;
c) dinamismo;
d) unidade;
e) natureza pública.
Diferente das relações de direito material, que em regra são instantâneas, a relação
jurídica processual é continuada, desenvolvendo-se durante o tempo. Ainda que
atualmente esse tempo venha sendo exagerado na maioria das demandas em nosso país,
é impossível imaginar um processo instantâneo sem ofensa aos princípios processuais.
Dessa maneira, existe uma continuidade da relação jurídica processual que envolve um
dinamismo porque esse desenvolvimento faz com que o procedimento caminhe rumo ao
seu final durante certo lapso temporal. A atuação dos sujeitos processuais torna
dinâmica a relação jurídica processual.
Por unidade da relação jurídica processual entende-se que os atos praticados pelos
sujeitos processuais estão todos interligados de forma lógica, dependendo o posterior de
61
como foi praticado o anterior, o que forma a unidade. Praticado o ato dependerá de
como esse primeiro foi praticado; o reconhecimento da incompetência absoluta, a
emenda da petição inicial, seu indeferimento, julgamento de improcedência liminar ou
determinação de citação do réu, são atos que dependerão de como foi praticado o ato da
petição inicial.
a) agente capaz;
b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
c) forma prescrita ou não defesa em lei.
Pode-se afirmar que são esses os requisitos mínimos de validade de uma relação jurídica
de direito material.
a) investidura;
b) imparcialidade;
c) competência;
d) capacidade de ser parte;
e) capacidade de estar em juízo;
f) capacidade postulatória.
a) coisa julgada;
62
b) litispendência;
c) perempção;
d) transação;
e) convenção de arbitragem;
f) falta de pagamento de custas em demanda idêntica extinta sem resolução de mérito;
g) demanda;
h) petição inicial apta;
i) citação válida;
j) regularidade formal.
Investidura:
Imparcialidade:
Competência:
O tema da competência não diz respeito ao juiz, mas ao juízo. Ainda assim, é
tradicionalmente incluída a competência como pressuposto processual subjetivo.
Parcela da doutrina defende que a competência relativa não é pressuposto processual,
porque a incompetência relativa não gera nulidade em razão de sua convalidação.
Julgada a demanda antes da citação do réu, a sentença até pode ser proferida por juízo
incompetente, mas esse vício não será capaz de anular a sentença. Depois da citação do
réu, de duas uma, ou o réu não ingressa com a exceção de incompetência, ocorrendo
prorrogação de competência, ou o réu excepciona o juiz, quando a incompetência será
afastada no caso concreto.
As partes no processo terão necessariamente que praticar atos processuais, que são uma
espécie de ato jurídico. Dessa forma, as partes precisam ter capacidade processual
(legitimatio ad processum) para a prática de tais atos. No tocante às pessoas físicas, é
preciso observar que a incapacidade civil relativa e absoluta é resolvida no âmbito das
relações jurídicas de direito material com a intervenção de um assistente ou um
representante, respectivamente. No âmbito processual, a representação importará a
realização de atos de parte exclusivamente pelo representante, enquanto na assistência
haverá realização conjunta dos atos.
64
A capacidade de estar em juízo das pessoas jurídicas e formais está prevista no art. 12,
CPC, porque, sendo pessoas inanimadas, é indispensável a presença de uma pessoa
física que a represente em juízo. Interessante que o art. 12, I, CPC, prevê que a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Territórios serão representados em juízo por seus
procuradores; já o art. 12, II, CPC, prevê que o Município será representado
judicialmente pelos procuradores ou pelo prefeito, considerando que nem todos os
municípios têm procuradores, o que não ocorre com as pessoas de direito público
previstas no inciso antecedente. Também interessante notar que não existe pessoa
jurídica processualmente incapaz, havendo o que parcela da doutrina prefere chamar de
“presentação”, e não de representação propriamente dita.
Capacidade postulatória:
Em regra, as partes deverão ser assistidas por um advogado devidamente habilitado pela
OAB, ou seja, as partes deverão ter capacidade postulatória. Por vezes, a capacidade
postulatória é dispensada, como ocorre nos Juizados Especiais, Justiça Trabalhista, no
HC e na ADIn/Adecon. Também o art. 36, CPC, permite a exclusão da capacidade
postulatória sempre que no local não existir advogado ou os que existirem se recusarem
a defender a parte ou estiverem impedidos de atuar, sendo que nesse caso a parte,
mesmo sem habilitação para tanto, poderá litigar em causa própria. No caso do
promotor de justiça, existe uma capacidade postulatória sui generis, que pode ser
chamada de capacidade postulatória funcional, já que limitada aos fins institucionais do
Ministério Público.
Registre-se, somente, o sofrível enunciado da Súmula 115, STJ: “Na instância especial
é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração”. O entendimento é de
todo lamentável, até mesmo porque a melhor doutrina aponta para a capacidade
postulatória como vício sanável e, por consequência lógica, jamais situada no plano da
existência jurídica.
Não resta maior dúvida a respeito de serem pressupostos processuais de validade, salvo
na hipótese da coisa julgada material. A doutrina majoritária entende que também nesse
caso o pressuposto processual objetivo é de validade, o que inclusive é corroborado pelo
art. 485, IV, CPC, que prevê ação rescisória contra a decisão que afronta a coisa julgada
material. Só é possível rescindir uma decisão que juridicamente exista, já que não se
concebe a desconstituição de um nada jurídico. Mas a doutrina minoritária entende que
o pressuposto é de existência jurídica, porque a decisão que afronta a coisa julgada é tão
viciada, tão agressiva ao sistema, que não reúne os elementos mínimos para
juridicamente existir.
Adotando-se a doutrina majoritária, que parece ser a mais acertada, surge interessante
questão a respeito do conflito de coisas julgadas, o que evidentemente será
extremamente raro, mas que, quando ocorre, deverá ser resolvido. Durante o prazo de
ação rescisória da decisão que produziu coisa julgada material afrontando coisa julgada
anterior, a primeira terá validade, considerando-se que a segunda decisão torna-se
soberanamente imutável e indiscutível, tomando o lugar da primeira decisão, aplicando-
se nesse caso a regra de que o posterior substitui o anterior.
Demanda:
O primeiro ato processual praticado pelo interessado quando exerce o ato de demandar é
a petição inicial. Tratando-se do primeiro ato praticado no procedimento, o legislador
entendeu por bem exigir o preenchimento de determinados requisitos formais. Em razão
disso, é unânime a doutrina em apontar a petição inicial como um ato processual solene.
Sendo o primeiro ato do procedimento, é natural que se exija o preenchimento dos
requisitos formais previstos pela lei para que a petição inicial seja considerada apta. A
inépcia da petição inicial está prevista no art. 295, I, § único, CPC.
Citação válida:
sistema jurídico a convalidação desse vício, entende-se que esse vício não se convalida
nunca, podendo a qualquer momento ser alegado pela parte, até mesmo após o prazo de
ação rescisória, por meio de ação de querela nullitatis. Trata-se de vício transrescisório
que, apesar de situado no plano da validade, jamais se convalida.
Por outro, mesmo não havendo citação do réu quando esse ato deverá ter ocorrido,
sendo julgado improcedente o pedido do autor, o processo não só terá juridicamente
existido, como será válido e eficaz. Não tem qualquer sentido lógico e/ou jurídico
anular um processo que deu ao réu não citado o melhor resultado que poderia obter.
Regularidade formal:
Os atos processuais devem ser praticados na forma prevista pela lei, tratando-se a
formalidade de uma medida que prestigia a segurança para as partes, que sabem que, se
respeitada a forma legal, atingirão os efeitos programados em lei para o ato processual.
É impossível, nesse momento, a análise de todos os requisitos formais exigidos durante
o procedimento, sendo importante ressaltar que a formalidade deve sempre ser afastado
quando o ato processual atingir a sua finalidade e não gerar prejuízo, ainda que
praticado em desconformidade com a forma legal. Trata-se do princípio da
instrumentalidade das formas.
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5. COMPETÊNCIA
Importante também estudar as regras do CPC, quase uma teoria geral da competência,
linhas mestras (p.e., fixação, modificação e controle da competência).
(b) se sim, se aquele caso é reservado originariamente para algum Tribunal Superior
(STF ou STJ);
(e) com a resposta negativa à última questão, o caso é da Justiça Estadual, verificando-
se, ainda, o foro e se as respectivas Constituições Estaduais entendem pela competência
originária dos TJ´s, bem como se a hipótese é afeta aos Juizados Especiais Estaduais;
Kompetenz Kompetenz lesiona que “todo juízo tem competência para julgar sua
própria competência. O juiz é, sempre, o juiz da sua competência. Assim, para todo
órgão jurisdicional há sempre uma competência mínima (atômica): a competência para
o controle da própria competência. Por mais incompetente que seja o órgão
jurisdicional, ele sempre terá competência para decidir se é ou não competente”.
Atributos: não é pressuposto de validade do processo; pode ser modificada por vontade
das partes pela chamada “eleição de foro” ou pela inércia do réu em argui-la a tempo e
modo devidos pela “exceção” (112 e 114); não é passível de declaração de ofício, daí
porque seu reconhecimento depende de manifestação de vontade da parte; não-
observância não gera qualquer nulidade para o processo.
Competência objetiva: definida pela matéria, pelo valor da causa e pelo território.
Competência subjetiva: definida pelas pessoas envolvidas na causa (I, 109, CF); CPC
não faz menção.
Foros concorrentes: arts. 95, 2ª parte; 100, § único; 475-P, § único, CPC.
(MC 15398/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2.4.2009, não admitiu, mas, segundo
Fredie Didier Jr , são institutos plenamente aplicáveis).
Competência internacional
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88 retrata os casos em que o direito brasileiro aceita que as decisões dos órgãos
jurisdicionais podem vir a surtir efeitos no território nacional (concorrente), sendo
imprescindível, porém, a concessão do “exequatur”, homologação, que se dá perante o
STJ (483/484, CPC e “i”, I, 105, CF), com posterior execução pela Justiça Federal (X,
109, CF); a sentença estrangeira é título executivo judicial (475-N, IV); antes do
“exequatur”, tem plena aplicabilidade o 90; reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa
jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal (88, p. único). Verificar o
12, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
O art. 89 do CPC retrata os casos em que o ordenamento jurídico brasileiro não aceita a
manifestação dos órgãos jurisdicionais estrangeiros (competência exclusiva ou
privativa).
Item 5.2