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Os cortes são rápidos e a câmera segue o casal na segunda cena, composta pelas linhas
arquitetônicas de escadaria. Corta para a terceira cena e a câmera olha de cima, mais
uma vez a cena composta por linhas bem definidas da sombra projetada pela ponte
acima deles, que caminham seguindo a linha de uma das projeções. Na quarta cena,
agora sabemos, estamos em Moscou, como um cartão postal, a rua pavimentada de
pedras em primeiro plano, o casal que brinca com as linhas e segue no sentido do prédio
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ao fundo, que se parece com uma igreja. Câmera fecha na torre, que tem um relógio
marcando as horas.
Há quem reduza o filme a panfletário. Há, ainda, quem não compreenda o sentimento de
patriotismo. Há que se compreender que o filme é contextualizado em uma terra que
enfrentou – e venceu – a guerra contra o fascismo e que está a construir uma nova
sociedade, uma nova humanidade. Um povo recém saído de um estado de miséria e
exploração sob a ditadura do Czar, derrotada em 1917, e que passou por duas
revoluções para que o povo tomasse o poder, além de estar agora – na realização - em
pleno pós guerra. A tendência do Cinema realizado pelos diretores próximos ao
construtivismo era contar histórias que dissessem respeito ao coletivo, sem
individualização. Mikhail Kalatozov, que havia tido alguns filmes censurados, durante o
período Stalin, não arrefeceu sua fé na construção da sociedade. O filme demonstra isso.
Conta um drama humano, particular, associado, porém ao coletivo. É leve, mais aberto
para o mundo, com elementos artísticos, a presença de sonhos, delírios, impressões.
Sem, contudo, desviar-se da mensagem socialista.
avenida assistidos pela multidão nas laterais - até a perdermos de vista. Isso tudo em um
único Plano Sequência! É incrível.
Nas cenas de rua com multidão é muito impressionante o domínio e o cuidado com a
composição em todos os níveis. Os figurantes dão ideia do cuidado de Kalatozov com
os mínimos detalhes. Todos parecem ter a sua própria história, todos estão participando
da cena, não apenas figurando. Frações de falas, gestuais significativos, expressões de
sentimentos diversificados de despedida, de procura, de romance, de tristeza. A
montagem aqui é muito dinâmica e passa verdade. Remete ao que Eisenstein dizia sobre
a montagem no filme que, entre outros aspectos,
Nos ambientes internos é tudo simples, com poucos objetos colocados de forma que
auxilia o espectador na compreensão das relações e dos personagens. Rolos de papel
vegetal presos na parede no quarto de Boris, por exemplo; panelas no fogão com claro
vestígio de estar sendo usada, uma cadeira fora do lugar, mostrando rastros de alguém
que passou por ali. No quarto dos pais de Verônica, uma bicicleta encostada à parede
discretamente quando ela passa para o próprio quarto (por dentro do quarto do casal),
quando chega do encontro com Boris logo nas primeiras cenas. O casal finge dormir,
em primeiríssimo plano, enquanto vemos a mocinha, pé ante pé, passar por trás e bater a
porta.
A escada do prédio onde mora Verônica com os pais tem um papel relevante. Nas cenas
iniciais, Boris leva a namorada em casa e se despedem em várias etapas, como dois
adolescentes apaixonados, A câmera se movimenta como se bailasse em torno dos
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namorados. Ela vai subindo as escadas, que vemos em um plano conjunto e com boa
profundidade de campo, no primeiro plano Boris de costas, câmera de baixo para cima.
A escada, em alguns momentos é destacada em primeiro plano dando ao espectador
oportunidade de observar detalhes do design arquitetônico. A câmera ainda de baixo
para cima, com profundidade de campo, tem Boris em primeiro plano e Verônica, já
dois lances acima, olha para namorado e podemos ver o design geral do vão interno, a
escada em destaque. A câmera, em plano sequência, faz um travelling em torno do
próprio eixo, acompanhando a corrida do rapaz que sobe as escadas para chegar até a
namorada. Mais tarde é essa mesma escada que nos sinaliza ser aquela que Verônica
sobe, semi destruída após as bombas dos alemães atingirem a casa dos pais. A cena é
desoladora. Ela sobe e entra na sala onde costumavam estar os seus pais, a sala em
ruínas e, intacto, um relógio com o pêndulo em movimento, como se eternizasse aquele
momento. Close no rosto da moça horrorizada e corta para close dela, com o rosto ainda
sujo de fuligem, já na casa dos pais de Boris, sendo amparada por eles.
Referências Bibliográficas
EISENSTEIN, Serguei. O Sentido do Filme. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2002;