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Trovas a Inês de Castro

Trovas que Garcia de Resende fez à morte de D. Inês de Castro, que el-rei D. Afonso, o Quarto, de Portugal, matou
em Coimbra por o príncipe D. Pedro, seu filho, a ter como mulher, e, polo bem que lhe queria, nam queria casar.
Enderençadas às damas.

Garcia de Resende: Nascimento: 1470, Évora, Portugal - Falecimento: 1536, Évora, Portugal

"Estes homens d'onde irão?" Estava mui acatada,


como princesa servida,
Qual será o coração em meus paços mui honrada,
tão cru e sem piedade, de tudo mui abastada,
que lhe não cause paixão de meu senhor mui querida.
uma tão grã crueldade Estando mui de vagar,
e morte tão sem razão? bem fora de tal cuidar,
Triste de mim, inocente, em Coimbra, d’assossego,
que, por ter muito fervente pelos campos do Mondego
lealdade, fé, amor cavaleiros vi somar.
ao príncipe, meu senhor,
me mataram cruamente! Como as cousas qu’hão de ser
logo dão no coração,
A minha desaventura comecei entristecer
não contente d’acabar-me, e comigo só dizer:
por me dar maior tristura “Estes homens onde irão?”
me foi pôr em tant’altura, E tanto que perguntei,
para d’alto derribar-me; soube logo qu’era el-rei.
que, se me matara alguém, Quando o vi tão apressado,
antes de ter tanto bem, meu coração trespassado
em tais chamas não ardera, foi, que nunca mais falei.
pai, filhos não conhecera,
nem me chorara ninguém. E quando vi que descia,
saí a porta da sala,
Eu era moça, menina, devinhando o que queria;
por nome Dona Inês com grão choro e cortesia
de Castro, e de tal doutrina lhe fiz uma triste fala.
e virtudes, qu’era dina Meus filhos pus de redor
de meu mal ser ao revés. de mim com grande humildade;
Vivia sem me lembrar mui cortada de temor
que paixão podia dar lhe disse: - “Havei, senhor,
nem dá-la ninguém a mim: desta triste piedade!
foi-m’o príncipe olhar,
por seu nojo e minha fim. “Não possa mais a paixão
que o que deveis fazer;
Começou-m’a desejar metei nisso bem a mão,
trabalhou por me servir; qu’é de fraco coração
Fortuna foi ordenar sem porquê matar mulher;
dous corações conformar quanto mais a mim, que dão
a uma vontade vir. culpa não sendo razão,
Conheceu-me, conheci-o, por ser mãe dos inocentes
quis-me bem e eu a ele, qu’ante vós estão presentes,
perdeu-me, também perdi-o; os quais vossos netos são.
nunca té morte foi frio
o bem que, triste, pus nele. “E tem tão pouca idade
que, se não forem criados
Dei-lhe minha liberdade, de mim, só com saudade
não senti perda de fama; e sua grande orfandade
pus nele minha verdade, morrerão desamparados.
quis fazer sua vontade, Olhe bem quanta crueza
sendo mui formosa dama. fará nisto Voss’Alteza,
Por m’estas obras pagar e também, senhor, olhai
nunca jamais quis casar; pois do príncipe sois pai,
pelo qual, aconselhado não lhe deis tanta tristeza.
foi el-rei qu’era forçado,
pelo seu, de me matar. “Lembre-vos o grand’amor
que me vosso filho tem,
e que sentir grã dor De vós mais me maravilho
morrer-lhe tal servidor que dele, qu’é namorado.
por lhe querer grande bem.
Que, s’algum erro fizera, “Se a logo não matais,
fora bem que padecera não sereis nunca temido
e qu’estes filhos ficaram nem farão o que mandais,
orfãos tristes e buscaram pois tão cedo vos mudais
quem deles paixão houvera; do conselho qu’era havido.
Olhai quão justa querela
“Mas, pois eu nunca errei tendes, pois, por amor dela,
e sempre mereci mais, vosso filho quer estar
deveis, poderoso rei, sem casar e nos quer dar
não quebrantar vossa lei, muita guerra com Castela.
que, se morro, quebrantais.
Usai mais de piedade “Com sua morte escusareis
que de rigor nem vontade, muitas mortes, muitos danos;
havei dó, senhor, de mim, vós, senhor, descansareis,
não me deis tão triste fim, e a vós e a nós dareis
pois que nunca fiz maldade!” paz para duzentos anos.
O príncipe casará
El-rei, vendo como estava, filhos de benção terá,
houve de mim compaixão será fora de pecado;
e viu o que não olhava: qu’agora será anojado,
qu’eu a ele não errava amanhã lh’esquecerá.”
nem fizera traição.
E vendo quão de verdade E ouvindo seu dizer,
tive amor e lealdade el-rei ficou mui torvado
ao príncipe, cuja são, por em tais estremos ver,
pôde mais a piedade e que havia de fazer
que a determinação; ou um ou outro, forçado.
Desejava dar-me vida,
Que, se m’ele defendera por lhe não ter merecida
que seu filho não amasse, a morte nem nenhum mal:
e lh’eu não obedecera, sentia pena mortal
então com razão pudera por ter feito tal partida.
dar-m’a morte qu’ordenasse;
mas vendo que nenhum’hora, E vendo que se lhe dava
dês que nasci até’gora, a ele tod’esta culpa,
nunca disso me falou, e que tanto o apertava,
quando se disto lembrou, disse àquele que bradava:
foi-se pela porta fora. “-Minha tenção me desculpa.
Se o vós quereis fazer,
Com seu rosto lagrimoso, fazei-o sem mo dizer,
co propósito mudado, qu’eu nisso não mando nada,
muito triste, mui cuidoso, nem vejo essa coitada
como rei mui piedoso, por que deva de morrer.”
mui cristão e esforçado.
Um daqueles que trazia Fim
consigo na companhia,
cavaleiro desalmado, Dous cavaleiros irosos,
de trás dele, mui irado, que tais palavras lh’ouviram,
estas palavras dizia: mui crus e não piedosos,
perversos, desamorosos,
“-Senhor, vossa piedade contra mim rijo se viram;
é digna de reprender, com as espadas na mão
pois que, sem necessidade, m’atravessam o coração,
mudaram vossa vontade a confissão me tolheram:
lágrimas duma mulher. este é o galardão
E quereis qu’abarregado, que meus amores me deram.
com filhos, como casado,
estê, senhor, vosso filho?

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