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em busca do equilíbrio
A nova edição da Revista Agroecologia e De- O artigo de Cidonea Machado Deponti e Francis-
senvolvimento Rural Sustentável chega para seus co Emílio Manteze, acerca das “mariazinhas” de Al-
leitores com entrevista, artigos técnico-científicos, fama, realiza uma análise do Grupo Organizado do
textos para reflexão, dicas e resenhas. O entrevis- Lar (Gol) e das ações da Emater/RS-Ascar, investi-
tado deste número é o professor espanhol Fran- gando as relações que estão além das reuniões prota-
cisco Garrido Peña, da Universidade de Jaen, que gonizadas por esses atores sociais, apontando para os
trata dos desafios ambientais impostos pelo modo processos de autonomia, organização e melhoria da
de vida adotado no Ocidente em geral e sobre a autoestima das mulheres participantes desse grupo,
necessidade de se investir em ações que resultem revelando ainda facetas do trabalho de extensão ru-
em um futuro com maior equilíbrio entre as ideias ral que estão além da produção de alimentos.
de desenvolvimento e sustentabilidade. No artigo sobre formação profissional na agricul-
O relato de experiência apresenta o caso de tura familiar, Nelton Dresch realiza uma investiga-
uma cooperativa de agricultores familiares, mos- ção sobre esse outro braço do serviço de assistência
trando que é possível que as organizações de pe- técnica e extensão rural: a capacitação de agriculto-
quenos produtores possam se inserir de forma res nos centros de formação mantidos pela Emater/
diferenciada no mercado, graças às políticas públi- RS-Ascar no Rio Grande do Sul. A análise de Dresch
cas que tornam esse gênero de organização viável é voltada especificamente para o Centro de Forma-
do ponto de vista econômico e social. Assim a expe- ção de Agricultores de Bom Progresso (Cetreb) e para
riência da Coomafit revela-se como um modelo de a proposta de avaliação participativa, enquanto prá-
dinâmica, e inserção não-subordinada ao sistema tica que permite aos participantes dos cursos papel
mercadológico tradicional, figurando como um me- de protagonistas na análise do processo de aprendi-
canismo, até certo ponto, autônomo. zagem, um método salutar tanto para os agricultores
O artigo Colostro: a redescoberta de um alimen- como para os extensionistas que atuam nos centros
to saudável, nutritivo e com potencial probiótico, de de formação que, a partir de então, podem refletir so-
autoria da médica veterinária da Emater/RS-Ascar bre suas atuações enquanto educadores.
Mara Helena Saafeld e de Daniela Pereira, Mariane No artigo de Opinião, a nutricionista da Emater/
Alves, Fábio Leite, Kathleen d Silveira, Laurice Diniz, RS-Ascar Regina Miranda reflete sobre o tema da
Dianini Kringel e Márcia Gularte apresenta um bom alimentação nos dias de hoje, analisando o quanto
exemplo de tecnologia social, cientificamente valida- os alimentos tornaram-se mercadorias muito mais
da, que pode ser facilmente incorporada em nível de do que fontes de nutrientes garantidores de uma
propriedade rural, de fácil aplicação e que cujo grande vida saudável. Em seu ensaio, a autora observa as
investimento é o conhecimento. Além disso, os autores relações consumo/consumidor e produção/produtor
demonstram na pesquisa os potenciais nutricionais que envolvem os alimentos na atualidade, e analisa
das bebidas feitas a partir do leite materno produzido o quanto o poder sobre a produção e o consumo de
pelas vacas nas primeiras horas após o parto e que, ge- alimentos passou a ser um objeto mercadológico, em
ralmente, é descartado pelos produtores. que tanto produtores como consumidores perderam
Em Mapa dos conflitos ambientais: um pouco a soberania, os primeiros sobre o que produzem e os
das contradições socioambientais em Minas Gerais, segundos sobre o que consomem.
os pesquisadores Anna Vasconcelos, Helena Lopes e Consolidando o conjunto de textos da última edi-
Eder Carneiro apresentam uma ferramenta partici- ção de 2012, estão as colunas de Ecodicas e Ecolinks,
pativa para identificação e reconhecimento dos em- além das resenhas de duas obras importantes para
bates ambientais naquele Estado brasileiro, ofere- quem se interessa pelo tema dos sistemas agroflores-
cendo um panorama de alguns eventos em que há o tais e/ou performance dos assentamentos da reforma
que os pesquisadores chamam de ações de “injustiça agrária a partir de dados censitários.
ambiental” no meio rural, identificadas a partir de A todos desejamos uma boa leitura.
sistematizações que verificam ocorrências de risco,
características das populações afetadas e estratégias Gervásio Paulus
de organização e mobilização dos atores envolvidos. Diretor técnico da Emater/RS-Ascar
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, maio/ago. 2012
Sumário © Emater/RS-Ascar 2012
Relato de Experiência ...................................................... 9 Conselho Editorial: Ari Henrique Uriartt, Carlos Guilherme
COOMAFITT: um dispositivo coletivo em construção e muitas Adalberto Mielitz Netto, Claudio Fioreze, Códula Eckert, Décio
Souza Cotrim, Dulphe Pinheiro Machado Neto, Emma Siliprandi,
possibilidades para o fortalecimento da agricultura familiar do
Fábio Kessler Dal Soglio, Flávia Charão Marques, Francisco Manteze,
Litoral Norte do Rio Grande do Sul Francisco Roberto Caporal, Gervásio Paulus, Ivaldo Gehlen, Jaime
Medeiros, Monique et al. Miguel Weber, José Antônio Costa Beber, José Ernani Schwengber,
Leonardo Melgarejo, Luiz Antonio Rocha Barcellos, Luiz Fernando
Dica Agroecológica ......................................................... 16
Fleck, Maria Virgínia de Almeida Aguiar, Marta Helena Dornelles
Delícias da primavera - Flores comestíveis: alimento que Tejera, Paulo Sérgio Mendes Filho e Pedro Urubatan Neto da Costa.
encanta os olhos e o paladar
Pereira, Sonia Regina de Mello Editora Responsável: Jornalista Marta Helena Dornelles
Tejera – RP 1352
Artigo ............................................................................... 18 Normalização: Bibliotecária Cleusa Alves da Rocha – CRB
Colostro: A redescoberta de um alimento saudável, nutritivo e 10/2127
com potencial probiótico. Projeto Gráfico: Wilmar de Oliveira Marques
Saalfeld, Mara Helena et al. Revisão Textual: Greice Santini Galvão
Fotografia: Kátia Marcon e acervo fotográfico da Emater/RS-
Opinião ............................................................................. 25 Ascar - Capa: “Artesanato kaingang” de Kátia Marcon
Segurança e soberania alimentar - alimento ou mercadoria? Periodicidade: Quadrimestral
Um tema a refletir Tiragem: 1.500 exemplares
Miranda, Regina da Silva Impressão: Gráfica Calabria
Distribuição: Biblioteca da Emater/RS-Ascar
Artigo ............................................................................... 33 Apoio: Fepagro
Mapa dos conflitos ambientais: um pouco das contradições
Emater/RS-Ascar
socioambientais em Minas Gerais Rua Botafogo, 1051
Vasconcelos, Anna et al. Bairro Menino Deus
Econotas ........................................................................... 38 CEP 90150-153
Porto Alegre-RS – Brasil
Artigo ............................................................................... 40 Fone: 51 2125 3144
Interface Social e Autonomia: inter-relações entre o grupo FAX: 51 21253156
organizado do lar (GOL) - “as mariazinhas” e a Emater/RS- Endereço eletrônico da revista:
Ascar http://www.emater.tche.br/hotsite/revista/
Deponti, Cidonea Machado et al.
E-mail: revistaagroecologia@emater.tche.br
Ecolinks ............................................................................ 47
A Revista Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável é uma pu-
Artigo ............................................................................... 49 blicação quadrimestral da Associação Rio-grandense de Empreen-
Avaliação Participativa da formação profissional na Agricultura dimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e da
Familiar: uma modalidade de ATER e de Educação de Jovens Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Ascar). Os artigos
publicados nesta Revista são de inteira responsabilidade dos autores.
e Adultos Contemporânea no Campo
Dresch, Nelton Luis Cartas
Cartas podem ser endereçadas para a biblioteca da Emater/RS-Ascar,
Resenha ............................................................................ 58 rua Botafogo, 1051, 2º andar, bairro Menino Deus, CEP 90150-053,
Normas para publicação ................................................ 61 Porto Alegre, RS ou para revistaagroecologia@emater.tche.br.
Medeiros, Monique 1, Tozzi, Marcelo Xavier 2 distanciam quem produz de quem consome, e
engajados em fatores sociopolíticos mais am-
Resumo plos como a obtenção da soberania alimentar.
Este artigo retrata a experiência da Coopera-
tiva Mista de Agricultores Familiares de Itati, Palavras-chave: Construção Social de
Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMA- Mercados. Agricultura Familiar. COOMAFITT.
FITT), apresentando como debate central as
relações entre agricultores familiares e o mer- Abstract
cado institucional abrangendo suas interfaces This article sign the experience of the Coo-
de cooperação e conflitos, e o papel e a influ- perativa Mista de Agricultores Familiares
ência da extensão rural, do Estado e das polí- de Itati, Terra de Areia and Três Forqui-
ticas públicas, com ênfase no PAA e no PNAE lhas (COOMAFITT), presenting as central
na determinação de modelos agroalimentares debate the relationship between farmers
localizados. A análise aponta que esses agri- and the institutional market covering their
cultores familiares, apoiados por projetos de interfaces cooperation and conflict, and the
assistência técnica e políticas públicas, desen- role and influence in rural areas, the State
volvem processos criativos, organizados em and public policies, with emphasis on the
sentido oposto às transações comerciais que PAA and PNAE in determining localized
agri-food models. The analysis shows that
1
Mestre em Desenvolvimento Rural, Agrônoma da
Emater/RS-Ascar, e-mail: mmedeiros@ymail.com
these farmers, supported by technical as-
2
Especialista em Gestão de Agronegócios, Agrônomo da sistance projects and policies, develop crea-
Emater/RS-Ascar, e-mail: tozzi@emater.tche.br tive processes, arranged in the opposite di-
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 9-15, maio/ago 2012
rection to the business transactions apart balho em grupo que facilitava a utilização de
from those who consume those who produ- ferramentas úteis à atividade, bem como na
ce, and engaged in socio-political broader, troca de experiências relacionadas a especifici-
such as obtaining food sovereignty. dades de produção. Esse trabalho em conjunto
facilitou a esses agricultores familiares conse-
Keywords: Social Construction of Markets. guirem instalações e equipamentos adequados
Family Farms. COOMAFITT. para a extração de mel, localizados na RS 486
- Rota do Sol, utilizando recursos provenientes
1 INTRODUÇÃO do Programa RS Rural.
Diante da necessidade de fortalecer as ini- Esse Programa foi desenvolvido pela Secre-
ciativas da agricultura familiar, por meio da taria da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
união de agricultores marginalizados pelas to do Estado do Rio Grande do Sul (Seapa), com
consequências negativas da modernização recursos provenientes de empréstimo do Ban-
conservadora da agricultura como descapitali- co Mundial (BIRD) e contrapartida do Estado
zação, dificuldades de integração a mercados do Rio Grande do Sul. O foco do RS Rural foi
para comercialização de seus produtos ou mes- promover o desenvolvimento rural direcionan-
mo no acesso a algumas políticas públicas, e do-se aos agricultores familiares e agricultores
frente a algumas lacunas deixadas pelo Esta- assentados, pecuaristas familiares, pescado-
do, foi criada a Cooperativa Mista de Agricul- res profissionais artesanais, povos indígenas
tores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três e comunidades remanescentes de quilombos.
Forquilhas (COOMAFITT), cuja sede está si- O Projeto concentrava suas ações na conser-
tuada às margens da RS 486 - Rota do Sol, a vação e no manejo dos recursos naturais, na
qual pode ser visualizada na Figura 1. melhoria da infraestrutura social básica e da
renda familiar, buscando diminuir os níveis de
Figura 1 - Sede da COOMAFITT, situada às margens pobreza e degradação ambiental.
da RS 486 - Rota do Sol. Itati/RS. Outubro/2011
O importante a des-
tacar é que o trabalho
coletivo incentivado
pela construção da
sala de extração aca-
bou por impulsionar
esses agricultores fa-
miliares a buscarem
outras ferramentas
para o enfrentamen-
to das adversidades
de seus cotidianos.
Como a comercializa-
ção sempre foi uma
das grandes dificul-
dades dos agriculto-
res familiares, em
Fonte: Emater/RS-Ascar (2011). particular dos agricultores do Litoral Norte
do Rio Grande do Sul, esses produtores fami-
A história da cooperativa teve início no ano liares começaram a pensar em como construir
de 2004, quando oito agricultores familiares vias que facilitassem a comercialização para
envolvidos com a produção de mel, respalda- seus produtos que não se restringiam ao mel.
dos pela Emater-RS/Ascar, iniciaram um tra- Sendo a região uma tradicional produtora
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 9-15, maio/ago. 2012
de hortaliças e frutíferas como a banana, a A organização desses agricultores, bem como
oportunidade de comercialização para os pro- o incentivo recebido pela assistência técnica,
dutos da agricultura familiar se restringia à abriu portas para uma integração ampliada a
Central de Abastecimento do Rio Grande do outras formas de comercialização para os pro-
Sul (Ceasa/RS), de Porto Alegre, e às cidades dutos da agricultura familiar. Após a aquisição
da região litorânea no verão. Essas vias de do meio de transporte e a ampliação do espaço
comercialização, no caso da Ceasa, contavam da cooperativa, foi facilitado à COOMAFITT
com muitos atravessadores que transporta- integrar o Programa de Aquisição de Alimen-
vam os produtos dos municípios do litoral tos (PAA), implementado pelo Governo federal
até Porto Alegre e angariavam maior parte em 2004, e o Programa Nacional da Alimen-
do dinheiro conseguido com as vendas, e, no tação Escolar (PNAE), implementado pelo Go-
caso da venda no litoral, era centralizada em verno federal, mais tarde, em 2009.
uma única época do ano, pois dependia do O mais relevante é que essas vias de comer-
consumo dos veranistas. cialização acabaram se constituindo nos mais
Esses fatos fizeram com que os agriculto- importantes mercados consumidores para a
res projetassem uma organização destinada venda da produção das famílias cooperadas,
a viabilizar o acesso a diferentes mercados de que hoje totalizam 106 e distribuem-se nos
comercialização para a grande parte dos pro- três municípios.
dutos oriundos de suas unidades de produção. Dessa forma, em meio a relações e proces-
Dessa forma, no dia 5 de setembro de 2006 sos de reação e adaptação, aprendizagem,
foi inaugurada a COOMAFITT, em resposta busca por autonomia e, consequentemente,
à necessidade dos agricultores familiares, as- transformações sociais, econômicas, culturais
sistidos pela Emater/RS-Ascar, de terem uma e ambientais, esses agricultores estão, através
entidade que lhes representasse frente aos de políticas públicas, ação de projetos de apoio
mercados e os auxiliasse na organização e no técnico e, principalmente, intercâmbio de co-
planejamento da produção. nhecimento, buscando melhorias em suas con-
Vale salientar que a visão da cooperativa é dições de vida.
focada na promoção do desenvolvimento por
meio da organização dos agricultores familia- 2 APRENDENDO A DESMITIFICAR OS
res e da comercialização de produtos de quali- MERCADOS
dade com preços justos em busca da melhoria Uma das chaves para o apoio ao desenvolvi-
da qualidade de vida que abrange responsabi- mento rural consiste em identificar e qualificar
lidades sociais e ambientais. diferentes sistemas de produção e abastecimen-
Os agricultores já organizados construíram to, bem como as relações sociais envolvidas em
em um espaço disponível na frente da sala de determinados processos do trabalho agrícola.
extração um ponto de comercialização de suas No Brasil, as feiras locais e o mercado institu-
hortaliças e frutas; o trabalho de venda direta cional proporcionam exemplos de mercados que
ao consumidor não obteve o êxito esperado e produzem vínculos sociais e mobilizam a socie-
resultou em alguns prejuízos que culminaram dade por meio das relações diretas entre produ-
posteriormente, no ano de 2009, com o seu de- tores e consumidores (SABOURIN, 2009), fato
saparecimento. Para tanto, é importante en- que diferencia esses mercados dos mercados
fatizar que um fato significativo ocorreu no conduzidos em sistemas oligopolizados e cen-
ano de 2007, quando a cooperativa recebeu da tralizados de comercialização.
prefeitura do município de Itati um caminhão Como mencionado anteriormente, nos muni-
e a expansão do ponto de comercialização da cípios de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas,
COOMAFITT, obtidos por meio de um repasse são apresentados aos agricultores familiares como
de recursos proveniente do Ministério do De- opções de comercialização, essencialmente, mer-
senvolvimento Agrário (MDA). cados locais específicos como o PAA e o PNAE.
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 9-15, maio/ago 2012
Instituído pela Lei nº 10.696, de 2 de julho ticas públicas relacionadas à comercialização
de 2003 (e regulamentado pelo Decreto nº de produtos da agricultura familiar, como os
6.447, de 7 de maio de 2008), o PAA adquire dois programas mencionados, é necessário que
alimentos das entidades participantes sem a os agricultores estejam vinculados a uma or-
necessidade de licitação, por preços de refe- ganização social como, por exemplo, uma co-
rência estabelecidos com base em uma média operativa. É essa organização que realizará
daqueles praticados nos mercados regionais. uma mediação entre as possibilidades e as li-
Os alimentos adquiridos pelo Programa são mitações de produção dos agricultores e a de-
destinados à população atendida por progra- manda, os preços e os padrões de qualidades
mas sociais locais, situação que demanda uma exigidos pelos consumidores. Essa mediação
complexa articulação entre os atores envolvi- resultará em uma série de decisões que serão
dos, pois, já na apresentação de propostas de permeadas pelo comprometimento de todos
projetos por parte das organizações locais, é os atores sociais envolvidos no processo. Esse
necessário o ajuste entre os alimentos que comprometimento é materializado em um pla-
serão produzidos e os que são demandados nejamento realizado pela Cooperativa, no qual
pelos programas sociais, envolvendo desde o são previstas a produção, o transporte, o arma-
planejamento da produção até a entrega sis- zenamento, a entrega dos alimentos, e, o mais
temática dos produtos aos beneficiados. Essa importante, a qualidade dos mesmos.
exigência compulsória da articulação coletiva A opção pelos mercados institucionais pos-
compõe uma diferença significativa em rela- sibilitou as condições necessárias para que os
ção aos demais programas destinados à agri- sócios da COOMAFITT conseguissem, com a
cultura familiar (PINHEIRO, 2010). mediação da Emater/RS-Ascar e o apoio de
O PNAE, conhecido como “Merenda Esco- atores sociais como o Sindicato de Trabalha-
lar”, consiste na transferência de recursos fi- dores Rurais, as prefeituras dos três municí-
nanceiros do Governo federal, em caráter su- pios, a Companhia Nacional de Abastecimen-
plementar, aos Estados, ao Distrito Federal e to (CONAB), o MDA, entre outros, elaborar o
aos municípios, para a aquisição de gêneros planejamento de sua produção considerando
alimentícios destinados à alimentação esco- as particularidades de cada unidade de produ-
lar. O Fundo Nacional de Desenvolvimento ção, dos sistemas de produção local e das exi-
da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao gências dos consumidores desses produtos.
Ministério da Educação, é o responsável pela Nesses projetos é previsto o fornecimento de
normatização, assistência financeira, coor- diversos alimentos, dentre os quais se desta-
denação, acompanhamento, monitoramento, cam o abacaxi, a abóbora, a abobrinha, o açú-
cooperação técnica e fiscalização da execução car mascavo, o aipim, as alfaces crespa e roxa,
do Programa. As entidades executoras (Esta- o alho, as bananas maçã, prata e caturra, a
dos, Distrito Federal e municípios) não podem batata-doce, a beterraba, o brócoli, a cana-de-
gastar os recursos do Programa com qualquer -açúcar, a cebola, a cenoura, a couve-manteiga,
tipo de gênero alimentício e devem adquirir os a couve-flor, a laranja, o limão, o maracujá, o
alimentos definidos nos cardápios do progra- melado, o milho, o pepino, o pimentão, o repo-
ma de alimentação escolar, que são de respon- lho roxo, a tangerina, o tempero verde, os to-
sabilidade da entidade executora, elaborados mates gaúcho e cereja e a uva.
por nutricionistas, com a participação do con- Atualmente a Cooperativa atende, por meio
selho de alimentação escolar e respeitando os do PAA, os municípios de Caxias do Sul, Terra
hábitos alimentares de cada localidade, sua de Areia e Capão da Canoa fornecendo cestas
vocação agrícola e preferência por produtos de alimentos para 1.025 famílias em situação
básicos, dando prioridade, dentre esses, aos de insegurança alimentar. Por meio da Meren-
semielaborados e aos in natura (FNDE, 2011). da Escolar, a COOMAFITT atende, hoje, os
É válido enfatizar que, para o acesso a polí- municípios de Porto Alegre, Caxias do Sul, São
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 9-15, maio/ago. 2012
Leopoldo, Estância Velha, Capão da Canoa, mas que encontram na solução dessas ques-
Tramandaí, Imbé, Terra de Areia (como pode tões. A grande diversidade de produtos, as
ser visualizado na Figura 2, a seguir), Três diferenças climáticas entre as propriedades,
Forquilhas e Itati. os diferentes manejos adotados na produção,
a logística necessária para recolher e distri-
Figura 2 - Distribuição de alimentos da COOMAFITT buir esses produtos, os custos de manutenção
via PAA no município de Terra de Areia. Terra de Areia/
da estrutura e o envolvimento de mão de obra
RS. Agosto/2009.
necessário para a elaboração,
execução e controle desses
projetos são adversidades que
fazem parte do cotidiano dos
produtores envolvidos com a
cooperativa e o mercado insti-
tucional.
A agroindustrialização é
um dos grandes desafios da
COOMAFITT. A região onde
está localizada é tradicional-
mente produtora de deriva-
dos de cana-de-açúcar, como
o açúcar mascavo e o melado,
produtos que juntamente com
a farinha de mandioca, frutas
e hortaliças processadas, ne-
cessitariam de agroindústrias
legalizadas para serem bene-
Fonte: Emater/RS-Ascar (2009). ficiados e então comercializados via mercado
institucional.
No ano de 2011, até o mês de setembro, A legalização aparece como um dos fatores
a Cooperativa já recebeu a quantia de R$ mais críticos que afetam diretamente o fun-
97.429,85 pelas entregas realizadas via cionamento das agroindústrias familiares. As
PAA e R$ 262.355,08 referentes às entre- dificuldades iniciam no simples fato de que
gas via PNAE. muitos desses pequenos empreendimentos,
A entrega de produtos da agricultura fa- ainda que identificados com a introdução de
miliar para os programas institucionais de transformações técnicas, são baseadas em es-
aquisição de alimentos busca uma garantia tratégias dinâmicas, essencialmente familia-
de venda e de preço justo. Nesse processo, res no meio rural, o que determina que esses
surgem diversas questões que abrangem des- “donos” de agroindústrias, ao mesmo tempo
de a programação da produção (para garan- em que são obrigados a se estabelecer como
tir as entregas), a classificação dos produtos microempresários, continuam exercendo suas
(como forma de estimular a qualidade), a di- funções de agricultores familiares, dependen-
versificação (buscando ampliar o mercado), o tes de outras formas de alternativas na su-
processamento (como destino dos produtos de peração dos seus problemas, principalmente
menor valor comercial), até a certificação or- econômicos como, nesse caso, o acesso à apo-
gânica (garantia de acesso a novos mercados sentadoria rural.
e melhores preços). Visando à ampliação do espaço de comer-
Em grande parte das vezes, esses agriculto- cialização de seus produtos, determinados
res familiares deparam-se com novos proble- agricultores familiares estão transformando
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 9-15, maio/ago 2012
suas agroindústrias, outrora artesanais, em reconstruções desses mercados, assim como
microempresas, uma vez que passam a ser o estabelecimento de novos e seguros espaços
obrigados a possuir CNPJ, por ser imprescin- de comercialização para esses agricultores.
dível legalmente para a produção, circulação, O reconhecimento público das iniciativas
transporte e comercialização dos produtos fa- de gestão ou de produção de bens comuns pe-
bricados pelas agroindústrias. los grupos de agricultores abre novas pers-
Não contar com o CNPJ restringe o acesso pectivas. Com ele é possível fundar, a partir
desses agricultores a oportunidades de coloca- de práticas locais, por um lado, mecanismos
ção de seus produtos à disposição de consumi- de construção conjunta entre ação coletiva lo-
dores mais distantes dos mercados regionais, cal e poder público, de instrumentos de polí-
o que pode surgir como obstáculo, desencora- ticas públicas. Os apoios públicos podem pro-
jando o agricultor a seguir adiante em seu ob- duzir um efeito alavanca sobre as dinâmicas
jetivo inicial. Abre-se, portanto, uma “janela” locais, graças à concentração dos esforços e
para um debate sobre o duvidoso caminho que dos recursos que fortalecem a constituição, o
esses agricultores familiares devem percorrer funcionamento inicial e a institucionalização
ao almejar a transformação de sua empresa das dinâmicas locais ou de suas estruturas
de caráter artesanal em microempresa. Ou, portadoras, fazendo com que novas conexões
ainda, a discussão de como manter-se “arte- e redes sociais sejam constituídas (SABOU-
sanal”, já que esse é o diferencial e a identida- RIN, 2009).
de dos produtos assim obtidos, porém, com a
tranquilidade de estar cumprindo as exigên- 3 IDENTIFICANDO LIMITAÇÕES E
cias legais necessárias e sem ter de abrir mão SUPERANDO ALGUNS REVESES
do estatuto de agricultor. Um entrave às experiências de integra-
Entre passos e tropeços vinculados a essa ção da agricultura familiar com campa-
problemática, a cooperativa realizou uma nhas de segurança alimentar é o fato de
parceria com um de seus cooperados, mo- que, muitas vezes, elas acabam sendo lo-
rador do município de Itati, que possui um calizadas e descontínuas no tempo. A falta
engenho licenciado para produção de açúcar de continuidade no desenvolvimento des-
mascavo. A matéria prima vinda dos demais sas experiências por governos municipais
agricultores familiares associados é processa- e estaduais faz com que os agricultores
da, transformada em açúcar mascavo, emba- desistam dessa alternativa de mercado de
lada e rotulada com o logotipo da cooperativa um momento para o outro. Uma evidência
nessa propriedade. Essa parceria viabilizou a disto é o atraso nas renovações contratuais
inserção desse produto no mercado institucio- do Programa, que pode ocasionar a perda
nal, o qual representou 14,34% do valor total da produção ou a venda por meio de outras
do projeto da Merenda Escolar de 2010, assim vias diferentes da cooperativa.
como contribuiu para que esse cooperado au- No entanto, como lembram Schmitt e
mentasse sua fonte de renda. Guimarães (2008), a atuação desses agri-
Apesar de esses mercados serem vias mui- cultores familiares em outros circuitos de
to significativas para a reprodução econômi- comercialização, de forma a minimizar a
ca de algumas famílias vinculadas à produ- dependência em relação ao mercado insti-
ção familiar, eles ainda são pouco ampliados, tucional, é extremamente importante.
possuindo restrições com relação ao número O debate sobre a necessidade de acesso a
de agricultores envolvidos, e limitações de outros circuitos de comercialização é sem-
funcionamento, como momentos de baixa pre presente entre os sócios da cooperati-
rentabilidade, que podem fazer com que o va. Os limites de venda anual para cada
agricultor tenha consideráveis prejuízos, o agricultor é de R$ 4.500.00 e R$ 9.000,00
que evidencia a necessidade de adaptações e para o PAA e para o PNAE, respectiva-
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 9-15, maio/ago. 2012
mente, e a diversidade e a quantidade da neiras de contornar esses obstáculos, que
produção local são significativas, o que faz muitas vezes aparecem de maneira ines-
com que boa parte da produção individu- perada a esses agricultores, parece ser
al desses agricultores não seja absorvida justamente o que tem os impulsionado a
pela COOMAFITT e, consequentemente, construírem soluções criativas para tais
o leve a buscar outras relações comerciais, limitações.
que na maioria das vezes são firmadas com Fatores intrínsecos à identificação,
atravessadores locais que transportam os compreensão e superação de limitações
produtos desses agricultores familiares até dos Programas por esses agricultores fa-
a Central de Abastecimento do Rio Gran- miliares, como os processos de aprendiza-
de do Sul (Ceasa/RS), cobrando-lhes uma do mútuo, o estabelecimento das relações
grande quantia para tal função. Nesse pro- de reciprocidade, a construção de cone-
cesso, o agricultor tem seu produto desva- xões que levam ao reordenamento no uso
lorizado ao mesmo tempo em que perde a de recursos naturais e sociais e a forma-
autonomia na venda desses alimentos. ção de redes sociais nas transposições de
A mesma garantia conseguida no mo- fronteiras das unidades produtivas, aca-
mento da assinatura dos projetos, em que bam por incorporar diversas iniciativas
são definidos o preço e a quantidade a ser relacionadas à melhoria da qualidade de
comercializada, possibilitando aos sócios vida. Ainda não foram encontradas mui-
a organização das atividades produtivas tas das respostas e soluções aos questio-
dentro de sua propriedade, também gera namentos e às preocupações desses agri-
o debate sobre as dificuldades da adap- cultores, mas é a incansável busca por
tação dessa ferramenta de planejamento elas que nos faz crer que a COOMAFITT
nos outros circuitos de comercialização. Os parece estar criando uma nova dinâmica
agricultores que são direcionados por esses de desenvolvimento rural, mais territo-
Programas a realizarem esse planejamen- rializada e adaptada às especificidades
to de produção e entrega de alimentos pos- locais, dinâmica a qual abrange uma série
suem grande dificuldade quando se veem de iniciativas que emergem da mobiliza-
na necessidade de buscar outros mercados ção dos agricultores em favor da conquis-
mais competitivos. ta da autonomia, mas também associada
A ciência dessas dificuldades existen- a processos de geração de conhecimento e
tes e, principalmente, a busca por ma- a distintas trajetórias de construção.
REFERÊNCIAS
EMATER.RIO GRANDE DO SUL/ASCAR. Escritório PINHEIRO, P. S. Saberes, plantas e caldas: a rede socio-
Municipal de Terra de Areia. [Acervo fotográfico ins- técnica de produção agrícola de base ecológica no sul do Rio
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 9-15, maio/ago 2012
DELÍCIAS DA PRIMAVERA
Flores comestíveis: alimento que encanta os olhos e o paladar
Ingredientes
200 g de tomate-cereja
1 pé de alface-roxa
1 pé de alface-romana
flores: capuchinha, borago e amor perfeito
Molho
350 g de mussarela ralada grossa
30 ml de azeite de oliva
20 ml de vinagre branco
cebolinha, sal e pimenta a gosto
5 ml de mostarda
Preparo
Rasgar as folhas da alface e dispor alterna-
damente a roxa e a romana em um reci-
piente. Misturar os ingredientes do molho
e colocar por cima, espalhando bem. Por
último, o toque especial das flores, dispon-
do suas pétalas por cima, enfeitando bem.
Servir em seguida, dispondo um pouco da
mostarda.
Rende 4 porções.
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
é a principal motivação do progresso, no se- a serem consideradas, pois os componen-
tor alimentar. tes adicionados também incorporam efeitos
Dessa forma, os itens industrializados são inesperados e ainda pouco conhecidos para
planejados e manipulados através de proce- a saúde humana. Seria ingenuidade pensar
dimentos que permitem ampliar ao máximo o que aqueles elementos não interferem tam-
controle sobre a atividade enzimática, função bém na bioquímica digestiva e na realização
natural que dita o tempo hábil para o consu- das funções nutritivas como um todo, quan-
mo de qualquer alimento. Para dominar essa do ingeridos pelos consumidores. As ativida-
função natural, os alimentos-mercadorias re- des biológicas daqueles redutores de funções
cebem cargas planejadas de componentes que metabólicas, bem como dos outros elemen-
lhes são alheios e que atuam no sentido de es- tos estranhos à biologia dos alimentos, não
tabilizá-la ou mesmo desativá-la, alterando o se restringem somente aos produtos em si,
ciclo de vida que determina sua utilidade para repercutindo nos corpos dos seres que conso-
o consumo humano. mem aquelas mercadorias.
Isso se dá em respeito a características Nessa perspectiva, é possível afirmar que
da mercadoria que contrariam as condições tanto os agrotóxicos como os conservantes e
fundamentais do alimento, pois quanto mais todo um leque de componentes químicos e al-
inativo na sua função metabólica, tanto me- terações biológicas adicionados nos produtos
nos nutritivo ele será. A contradição entre industrializados constituem no mínimo in-
os interesses do dono, expresso na busca do cógnitas alimentares.
lucro, e as necessidades do cidadão consumi- Irônico é perceber que ao mesmo tempo
dor, expressas na qualidade do alimento, não em que a indústria de alimentos trabalha na
é considerada pelos instrumentos de contro- contramão da atividade biológica, ela busca
le como merecedora de maior cautela, a pon- reconfigurar esse mesmo produto, libertan-
to de que a essência da nutrição metabólica, do-o de seus atributos originais, como a cor,
que decorre das trocas enzimáticas, torna-se o sabor, a consistência, o cheiro e o paladar.
irrelevante aos processos de manipulação Então, adicionando aromatizantes, edulco-
com vistas ao mercado. rantes, corantes, estabilizantes, saborizantes
Ora, um alimento reduzido em sua função etc, pretende-se criar novos produtos, que são
metabólica é, sem dúvida, menos nutriti- apresentados como similares aos originais,
vo. Mas essa é apenas uma das dimensões porém “melhores”, porque são artificialmente
27
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
mais duráveis, mais bonitos, mais resistentes carbono simples) colorido, aromatizado e sabo-
ao transporte ou mais perfumados. Trata-se, rizado artificialmente, acrescido de sal de cozi-
claramente, de condições que atendem ao in- nha (cloreto de sódio) em excesso, adicionado
teresse dos negócios e justificam preocupações de um outro sal que provoca ingestão ilimitada
e temores dos consumidores, pois não conhe- (glutamato-monossádico), evidentemente será
cemos as consequências daquelas transforma- necessária uma contraordem biológica. Qual o
ções sobre as funções orgânicas dos indivíduos reflexo dessas contradições, em situações con-
que vierem a ingerir os produtos modificados. tinuadas? Não temos resposta.
Bom lembrar que essas funções orgânicas
sensoriais receptoras de cor, sabor, cheiro e “Isso é mercadoria, não é alimento.”
consistência são a base das trocas nutriti- “Uma base tecnológica intolerante com
vas. Nossos sentidos captam esses estímu- o princípio da precaução: quem quer ter
los externos e os transformam em respostas lucros tem pressa”.
metabólicas internas, preparando-nos para
receber determinados princípios nutritivos Podemos refletir que o fato de uma matriz
dos alimentos e transformá-los em nutrição tecnológica possibilitar o aumento no volume de
celular. Como as condições naturais e seus produção de um alimento, e manipulando sua
reflexos biológicos são afetados quando os es- condição natural, expandir sua vida útil de for-
tímulos são falsos? Não temos respostas para ma a provocar barateamento, não valida o pres-
essa pergunta. suposto de que aquele alimento corresponda a
Entretanto, sabemos que se aquilo que tem um veículo de segurança alimentar. Conside-
sabor de queijo não é queijo (proteína de ori- rando que a base bioquímica alimentar é alte-
gem animal, qualificada com vitamina A e rada pela adição de substâncias de natureza no
ácidos graxos essenciais), o organismo defla- mínimo duvidosa para a saúde humana, e que
grará processos para desdobrar um produto, seus princípios nutritivos podem estar diminu-
liberando enzimas ajustadas ao mesmo, mas ídos ou mesmo indisponíveis, podemos dizer,
talvez inadequadas para outras atividades, contrariando aquele pressuposto, que se dá o
necessárias na medida em que o organismo es- contrário: uma matriz tecnológica que expande
pera queijo, mas se deparará com algo diferen- a oferta e reduz os preços transformando a con-
te. Se, ao invés de queijo, o metabolismo tenha dição biológica do alimento corresponde, na ver-
que lidar com processados de milho (hidrato de dade, a uma proposta tecnológica insegura.
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
Ainda há que considerar o fato de que a sim- comprometem a segurança biológica, essas
ples disponibilização de acesso amplo a ali- ameaças também alcançam a base genética
mentos de baixo valor nutritivo, impondo um dos principais grãos de consumo humano.
padrão alimentar precário, monótono do pon- Na prática, os processos de patenteamento
to de vista da qualidade dos alimentos, revela genético reforçam essa tendência de transfor-
presença de uma base produtiva geradora mação dos alimentos em mercadorias, negan-
de insegurança alimentar. do o direito de controle, dos povos, sobre as
Já uma reflexão mais ampla, no nível inter- sementes em que se baseiam suas próprias
nacional, mostra que os códigos de conduta, culturas. Forçando uma uniformização que
a normatização, a padronização e os regra- contraria a trajetória histórica dos diferentes
mentos a que se subordinam a produção e a grupos sociais, nas várias regiões do planeta,
comercialização dos alimentos (Codex, OMC esse modelo que constrange as possibilidades
etc.) são motivados antes pelas garantias de de autonomia e desenvolvimento autogerido
controle e reserva de mercado, do que pela para grandes massas populacionais é impul-
promoção do direito humano à alimen- sionado por (e reforça) as tendências de con-
tação adequada e saudável. Essas ferra- centração de capital, impactando sobre as
mentas constituem-se mais em armadilhas regulamentações e acordos internacionais.
que interferem sobre a liberdade de autode- Repete-se, dessa forma, no plano dos direitos
terminação dos povos, com relação a sua pro- internacionais o que já ocorre no contexto das
dução e ao abastecimento de alimentos, do possibilidades de acesso à terra e aos demais
que contribuem para a promoção da sobera- meios de produção, reduzindo mais ainda as
nia alimentar, conforme se autoatribuem. perspectivas de garantia de alimentos sadios,
Os mecanismos internacionais de regulamen- como direito humano universal.
tação, na medida em que focalizam apenas Portanto, as relações entre o modo moderno
a sanidade biológica considerada a partir de de alimentação e os problemas de saúde emer-
aspectos de higiene e atribuem pouco valor à gentes não são irrelevantes nem aleatórias.
efetiva qualificação dos alimentos, permitem Este é um fenômeno complexo: “a emergên-
ameaças ao desenvolvimento humano. Con- cia do comportamento alimentar moderno”
substanciadas na erosão do potencial nutri- que conjuga o uso de agrotóxicos e dos demais
cional dos alimentos e traduzidas pelo uso aditivos aos alimentos, desde sua produção
generalizado de ingredientes e processos que até o consumo, incluído o estilo de embalagens
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
que fazem trocas bioquímicas inseguras com envolve sua produção e distribuição, orien-
os alimentos (plásticos), somado ao padrão tou os equipamentos sociais de acesso dos
comportamental imposto pela mídia alimen- mesmos e as informações de amplo alcance
tar que amplia a oferta de alimentos indus- das massas, dessa forma redefiniu uma nova
trializados e a crescente onda apelativa de relação ser humano-alimento, redefiniu o
acesso a redes altamente capitalizadas de es- próprio perfil daquele que vai se alimentar,
tabelecimentos alimentares do tipo fast food, redefiniu o ser humano.
ambos cada vez mais baratos. Ainda esses ali- O novo usuário do alimento tem uma única
mentos caracterizam-se pela alta concentra- função, estritamente de consumo, impesso-
ção de sal, de gorduras de baixa qualidade e/ al, desprovida de saberes e afetos sob a qual,
ou açúcar. Alia-se a isso um estilo de vida no nessa nova relação, não tem poder nem auto-
qual o tempo para a produção do alimento no nomia, contrariando conquistas cumulativas
domicílio é escasso e a atividade física é di- que a humanidade havia galgado tradicional-
minuída ou nula. Tudo isso junto não é uma mente. O único poder que necessariamente
simples soma e sim um fenômeno que se po- deve ter é o de compra.
tencializa em escala geométrica produzindo, Já existem comprovações da repercussão
inegavelmente, mudanças nos corpos moder- desse modelo na saúde humana, que articu-
nos. Não seria diferente, pois o genoma huma- la a composição insegura dos alimentos, bai-
no é um resultado ancestral das trocas entre xa realização de atividade física, estresse e o
o ser e a natureza, a mais de 50.000 anos, na comportamento alimentar inadequado, o dito
busca de sua sobrevivência, em que a alimen- “estilo de vida moderno”. A carcinogênese, a
tação, beber água, a respiração e a atividade depressão, as deficiências de micronutrientes,
física desempenharam função primordial. o crescimento de doenças crônico-degenerati-
Ora, na modernidade alimentar nossos corpos vas, a prevalência da obesidade, os desvios no
continuam receptando os estímulos e emitin- comportamento alimentar, a hipoespermia e
do respostas, reagindo e agindo com relação, e outras conexões inquietantes são somente as
esses padrões são imposto pelo ambiente. primeiras respostas do organismo humano a
Ainda para refletirmos: esse modelo pro- tantas mudanças em tão pouco tempo. O que
dutivo reorientou a qualidade do alimento, mais nos aguarda?
restringiu sua variedade, padronizou, con- Mesmo que haja recomendações dos Mi-
centrou e globalizou toda a tecnologia que nistérios da Saúde e da Agricultura para
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
os níveis aceitáveis de utilização de resídu- aditivos por si só não são alimentos e nem
os, é preocupante o fato óbvio de que uma mesmo suplementos, pois nosso corpo não os
mesma pessoa consome quantidade variada recebe como tal. São remédios, drogas, estimu-
de alimentos com diferentes cargas desses lantes, e é assim que nosso organismo os per-
aditivos, em um mesmo dia, e que esses ali- cebe. Logo o resultado da ingestão daqueles
mentos ainda podem interagir com consequ- suplementos não é coerente com o prometido.
ências desconhecidas. Aqueles produtos não suprirão lacunas nutri-
Também é interessante observar que a cionais abertas pelos alimentos da moder-
própria indústria de alimentos reconhece o nidade. Alguns daqueles aditivos, ao contrá-
fato de que os processados resultam desqua- rio, vêm se constituindo como agentes tóxicos,
lificados do ponto de vista nutricional, e que a exemplo dos suplementos de vitaminas A e
o impacto é tão relevante que, quanto mais E encapsuladas. Como nosso organismo não
processado, menor será o valor nutritivo de consegue excretar os excessos imprevisíveis
qualquer alimento. daquelas megadoses, as conexões metabólicas
Então, para recuperar o prejuízo, essa mes- deflagradas interferem em diversos sistemas,
ma indústria propõe suplementos alimentares resultando em problemas.
para corrigir perdas nutricionais, vitaminas, Esses suplementos também são mercado-
sais minerais, cápsulas de alho, cápsulas de rias prontas para serem consumidas e gera-
berinjela, antioxidantes, combatentes de ra- rem lucros, sem preocupações com garantias
dicais livres etc. Mais uma vez Frankens- de segurança relativamente a seus resulta-
tein alimentares. dos nutricionais.
A questão fundamental é que na biodinâ- Muito embora, os investimentos em pesqui-
mica orgânica os alimentos agem em conexão sas nessa área mostrem-se escassos, tímidos
com o microecossistema alimentar e metabóli- e inconstantes, devido à relevância do assun-
co. Funcionam em sinergismo com outros nu- to, é possível afirmar que eles já apontam a
trientes, a biota própria, em dadas condições urgência de cautela e de maior conhecimento
de temperatura e pressão, em um determina- sobre esses produtos e suas atividades no or-
do pH, em uma dada consistência, combinados ganismo humano. Entretanto, a maior parte
com determinados pigmentos, tudo somado a dos investimentos aplicados na geração de
uma ação digestiva alimentar singular por ela informações sobre esse assunto provém da
desencadeada. Portanto cápsulas e demais iniciativa privada, sendo direcionados para a
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
validação do modelo tecnológico atual. Essas Elas aparentemente não se propõem a ga-
pesquisas focalizam principalmente a combi- rantir segurança e soberania alimentar dos
nação dos aditivos e os alimentos, e atribuem povos, em perspectiva de longo prazo. Em re-
pouca atenção a suas repercussões para saúde alidade, aqueles mecanismos e instrumentos
dos corpos vivos. vêm se constituindo em elemento de bloqueio
É verdadeiramente um grande atrevimento à livre determinação dos povos quanto à so-
“científico” sustentar a hipótese de que pode- berania alimentar.
mos produzir algo mais perfeito que o ato de se É urgente estabelecermos instâncias para
alimentar, acreditando que em menos de 200 defesa organizada de interesses da humanida-
anos poderemos reformar (e paradoxalmente, de, que vem sendo desprezados nesse processo
para pior) toda uma base genético-metabólica globalizado de mercantilização dos alimentos.
construída há mais de 50.000 anos. A necessidade atual exige a fundação de uma
Existem outras possibilidades, caminhos nova ética, que se imponha e modifique a atu-
diferentes, metodologias investigatórias al lógica de produção de alimentos, redefinin-
pautadas no princípio da observação de evi- do seus objetivos e bases tecnológicas, desde
dências do ato de alimentar-se, que é histori- a produção, industrialização e abastecimento
camente construído, observar suas conexões até a distribuição e consumo.
sociais, ambientais e emocionais que ainda Há necessidade de todo um complexo
estão por serem decodificadas. Acaso não é novo, que seja facilitador da emergência
suficientemente intrigante do ponto de vista de novos sistemas agroalimentares. Eles
científico a diversidade de comportamentos devem ser centrados na soberania e na se-
alimentares estratégicos em diferentes par- gurança alimentar, tendo como princípio a
tes do planeta? Suas relações com a dispo- garantia dos direitos humanos no campo da
nibilidade local de alimentos? As conexões alimentação, que deve ser necessariamente
fisiológicas que dela derivam? adequada e saudável.
Há atitudes alimentares, observadas em Carecemos de modelos de produção e consumo
comunidades tradicionais, que são verdadei- comprometidos com a sustentabilidade ambien-
ros comportamentos gastronômicos de resis- tal, pautados pela justiça social, valorizadores
tência, isso ainda está por ser revelado, tan- da diversidade social, cultural e étnica. Funda-
to em seus aspectos antropológicos e sociais mentalmente isso só será possível com redis-
quanto no seu correspondente nutricional e tribuição da terra, dos meios necessários para
metabólico. Construir uma nova ética inves- a produção e com investimentos financeiros e
tigativa baseada na lógica do respeito aos di- técnicos que priorizem as pequenas agricultoras
reitos humanos e no pleno desenvolvimento e possibilitem a inclusão produtiva e, da mesma
das potencialidades fisiológicas, anatômicas e forma, com outros segmentos de pequeno porte,
funcionais para que, assim, reordenemos nos- envolvendo redes e cadeias de agroindústrias e
so capital biológico, social, ambiental e cultu- de varejo, articulando esses elementos a proces-
ral no sentido de propiciar o pleno desenvol- sos de organização dos destinatários finais, em
vimento físico, social, emocional e espiritual cooperativas e mercados de consumo solidário.
do ser humano, conforme propõe a Organi- Finalmente, outro desafio é o de construir, de
zação Mundial de Saúde (OMS) quando forma dialógica, a qualificação dos indivíduos
conceitua SAÚDE. para o consumo consciente e ético de alimentos
As convenções internacionais relacionadas saudáveis e adequados.
ao modelo de conduta de sanidade alimen-
tar, bem como as regras de comercialização,
A autora agradece a contribuição do enge-
funcionam mais como mediadoras de gran-
nheiro agrônomo Leonardo Melgarejo na com-
des interesses no macrossistema do que pro-
posição deste ensaio.
priamente como defensoras da humanidade.
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 25-32, maio/ago. 2012
Mapa dos conflitos ambientais: um pouco das
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 40-46, maio/ago. 2012
http://comunidades.mda.gov.br/ produtos agroecológicos. Entre os temas dessa
Este link está incluído no Portal da Cidadania categoria estão logotipo e etiquetas de certifica-
mantido pelo governo federal. Aqui o internauta ção, inspeção, qualidade dos alimentos e deman-
pode conhecer a Rede Temática de Agroecolo- das do consumidor. Esse último item tem como
gia, que tem a intenção de contribuir para a efe- base pesquisas estatísticas sobre o mercado de
tivação da Agroecologia, além de dar vazão às produtos agroecológicos na EU.
ações públicas de assistência técnica e extensão
rural em todo o Brasil, divulgando ainda a Polí-
tica Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural. Esta rede é constituída por extensionistas
que atuam como multiplicadores desses temas
nas instituições governamentais ou não, e que in-
tegram o Sistema Brasileiro de Ater. Neste link,
o visitante poderá navegar pelas seguintes cate-
gorias: Agroecologia, biodiversidade, gênero, di-
versidade socioambiental, Agroecologia nas polí-
ticas públicas para a agricultura familiar, impacto
dos agrotóxicos e da biotecnologia agrícola, ma-
nejo dos recursos hídricos, manejo ecológico
dos solos, produção animal, produção agrícola,
manejo ecológico de organismos espontâneos, www.aba-agroecologia.org.br/aba
entre outras. Site da Associação Brasileira de Agroecologia
(ABA), entidade fundada em 2004, durante o II
Congresso Brasileiro de Agroecologia, com o ob-
jetivo de organizar ações em prol de um novo
modelo de desenvolvimento e de agricultura.
Nesse espaço, o internauta pode acessar docu-
mentos como as publicações da Revista Brasileira
de Agroecologia e dos Cadernos de Agroecolo-
gia, bem como ter conhecimento a respeito de
temas atuais, entre eles os temas agrários deba-
tidos na Rio+20.
http://ec.europa.eu/agriculture/organic/
Disponível em vários idiomas, o site sobre agri-
cultura ecológica na União Europeia (EU) ofere-
ce um panorama geral sobre o funcionamento
e as políticas públicas adotadas pelos países que
compõem a EU no que diz respeito à Agroeco-
logia. Interessante observar, por exemplo, a ca-
tegoria “Confiança do Consumidor”, que trata
das regras que devem ser cumpridas pelos pro-
dutores no sentido de atestar a idoneidade dos
47
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 47/48, maio/ago. 2012
www.wwoof.org www.contraosagrotoxicos.org
Interessado em trabalhar como voluntário em uma Site da Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela
fazenda de alimentos orgânicos? Então você precisa Vida, com informações sobre essa mobilização
conhecer o World Wide Opportunities on Organic que tem o objetivo de sensibilizar a população
Farms ou Wwoof. Trata-se de uma rede mundial brasileira para os riscos que os agrotóxicos re-
de organizações que liga voluntários a agricultores presentam, e a partir daí tomar medidas para
orgânicos na Europa com a intenção de favorecer conter o uso desses produtos no Brasil. Confor-
o compartilhamento de experiências em Agroeco- me descrito na página, a Campanha Contra os
logia e formas de vida mais sustentáveis. O sistema Agrotóxicos e Pela Vida propõe a luta por um ou-
funciona como uma troca: em troca de ajuda volun- tro modelo de desenvolvimento agrário, basea-
tária nos trabalhos na fazenda, os anfitriões ofere- do na Agroecologia e que aposta na agricultura
cem alojamento, alimentação e a oportunidade de familiar. Nesse site, além dos dados relativos à
aprender sobre estilos de vida associados à produ- campanha, há informações gerais sobre o tema
ção orgânica. Neste site o internauta pode consultar agrotóxicos, notícias sobre o tema e outros as-
as oportunidades espalhadas em todo o mundo. suntos similares, filmes e vídeos.
www.gentequecresce.cnpab.embrapa.br
Para quem tem filhos, a dica é o site criado pela
Embrapa e que simula uma visita em uma pro-
priedade agroecológica a partir do ponto de
vista de um personagem escolhido pela criança. www.fgaia.org.br
Assim, o internauta pode ter informações sobre Espaço virtual da Fundação Gaia, fundada pelo
a horta da propriedade, o pomar, o minhocário, ambientalista José Lutzenberger, e que funciona
a composteira, entre outros espaços. É possível em Porto Alegre. Essa fundação foi criada com
acessar vídeos, fotos e jogos interativos que pro- a proposta de unir esforços na implantação de
põem a familiarização da criança com os animais alternativas capazes de garantir a construção de
e plantas comuns na zona rural. uma sociedade mais sustentável ambiental e so-
cialmente. Nesse sentido, a Fundação Gaia atua
na área de Educação Ambiental e na promoção
de tecnologias, como o que a Fundação Gaia
classifica como agricultura regenerativa, manejo
sustentável dos recursos naturais, medicina na-
tural, alternativas em saneamento e energia. O
site, além de oferecer um panorama das ações
da Fundação Gaia, oferece uma ideia geral do le-
gado de Lutzenberger para os defensores e estu-
diosos da área ambiental.
48
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 47/48, maio/ago. 2012
Avaliação participativa da formação profissional na
agricultura familiar: uma modalidade de ATER e de
educação de jovens e adultos no campo
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A Figura 1 abaixo representa as diferen- nova rodada de estudo das informações cole-
tes instâncias que configuraram a Avaliação tadas. O conjunto destas, devidamente ana-
Participativa desenvolvida na pesquisa já re- lisadas constituíam, então, a “Base de Dados
ferida, na seguinte sequência: 1) iniciávamos Territoriais” a partir da qual cruzávamos as
pela elaboração dos IndicATER no CETREB; informações dos diferentes IndicATER para
2) realizávamos as visitas do “Pós-Curso”; 3) definirmos, finalmente, quais seriam aprovei-
de volta ao CETREB, estudávamos as infor- tadas tanto no redesenho dos currículos dos
mações coletadas de modo a replanejar as cursos do CETREB, quanto nas possíveis ade-
próximas visitas, configurando as Bases de quações das respectivas práticas educadoras,
Dados Empírica e Analítica; 4) realizávamos além das implicações para as demais ações de
novas visitas; 5) voltávamos ao CETREB para ATER locais.
BRANDÃO, C.R. Repensando a pesquisa Tellus, Campo Grande, MS, Ano 2, n.3, p.33-
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O CENSO 2006 E A REFORMA sultados apresentados neste documento constituem
AGRÁRIA - Aspectos metodológicos marco zero para análises subsequentes, permitindo
não apenas acompanhar performances regionais como
e primeiros resultados
também propor medidas de qualificação para essa e
outras políticas (a exemplo do Luz Para Todos, do Mi-
nha Casa Minha Vida, do Pronaf, do PAA etc.), inte-
grantes do esforço de desenvolvimento nacional, em
sua inserção rural.
A razão disso está no fato de que esse livro (embora
não se limite a isto) dimensiona, distingue e compara,
a partir do universo verificado pelo IBGE, resultados
obtidos pelos agricultores assentados face aos demais
estabelecimentos rurais, em abordagens regionalizadas
e agregadas nacionalmente, focalizando os parâmetros
mais relevantes para compreensão deste assunto,
quais sejam a utilização de terras, o pessoal ocupado
e o valor da produção gerada (destacando os produtos
mais expressivos) e suas importâncias relativas.
Em que pesem as dificuldades decorrentes de seu ca-
ráter pioneiro e a ausência (pois o Censo não coleta) de
Autores: Vicente P. M. de Azevedo Marques, Mauro
informações relativas à venda de trabalho e à produção
Eduardo del Grossi e Caio Galvão de França. Série
para o autoconsumo (que se revelam de enorme rele-
NEAD Debates N. 25. Publicação do Núcleo de Es-
vância durante a fase de consolidação dos assentamen-
tudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), Mi-
tos), essa publicação mostra que - na base de dados do
nistério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Brasília,
censo - os agricultores assentados oferecem tamanha
2012. Disponível em www.nead.gov.br
contribuição para a produção de determinados itens
alimentares e para a preservação de áreas florestadas,
Trata-se de documento inédito em termos de re- em algumas regiões, que o crescimento de um ponto
levância e abrangência, capaz de oferecer importante percentual no território ocupado pela reforma agrária
contribuição a avaliações sobre a performance dos as- expandiria em mais de 2% a oferta de vários itens, es-
sentamentos e, portanto, da Política Nacional de Re- pecialmente nas regiões Norte e Nordeste.
forma Agrária (PNRA). Esse fato, que por si só já justificaria a expansão no
Construindo e aplicando metodologia singular, que número de famílias assentadas (na região Norte, con-
permite leitura inovadora dos dados do IBGE, os auto- forme os dados do censo agropecuário, a expansão de
res examinaram o Censo Agropecuário de 2006 e esta- 1% nas áreas reformadas ampliaria em mais de 2% a
beleceram novos paradigmas para a discussão do desen- produção de arroz, de feijão, de frutas, de bovinos de
volvimento rural, alterando uma realidade que até então corte, de suínos caprinos e galináceos, entre outros),
dependia de análises setoriais e de estudos de caso. cresce em relevância quando se percebe que, apesar
Nessa perspectiva, desmascarando e tornando dis- de disporem de terras em que cerca de 21% da área é
pensáveis análises condicionadas por interesses so- inaproveitável (média de 15% no Sul e 25% no Nor-
ciopolíticos, invariavelmente distorcidas por critérios te), os agricultores assentados mantêm, no restante,
amostrais, O CENSO 2006 E A REFORMA AGRÁRIA 31% coberto com matas nativas (13% no Sul, 39% no
constitui-se em leitura obrigatória para os estudiosos Norte) e exploram de forma expressiva a parte apro-
do tema e provavelmente será recordista de citações veitável, 59% com pastagens e criações, 18% com
em publicações especializadas, dissertações e teses ao lavouras, 4% com sistemas agroflorestais (no Norte,
longo dos próximos 5 anos. 6% com agricultura e 65% com pastagens; no Sul,
Após superadas, pelo esforço dos autores, as difi- 57% com agricultura e 32% com pastagens).
culdades associadas à discriminação de informações Ocupando 9% da área (5% no Sul; 8% no Norte;
relativas aos assentamentos dentre a massa de dados 23% no Nordeste), os assentamentos reúnem 12%
coletada pelo Censo, a metodologia proposta e os re- dos estabelecimentos rurais do Brasil, gerando ocupa-
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ções produtivas para 1,9 milhão de pessoas (11% do economia rural brasileira, que apesar das dificuldades
total de indivíduos nessa condição, em estabelecimen- enfrentadas pelas famílias assentadas a maturidade da
tos rurais brasileiros). Evidentemente esses números PNRA já determina que, em média, os agricultores as-
apresentam enorme flutuação regional, como pode ser sentados mostram-se mais produtivos e mais eficientes
verificado em tabelas que os autores do livro construí- que o conjunto que os cerca.
ram de maneira a facilitar comparações entre diferen- Resta afirmar que esse livro, ao estabelecer novos
tes regiões e Estados do Brasil. parâmetros para discussão da PNRA, também sugere
Os grandes números apresentados desautorizam caminhos para sua qualificação, devendo ser estudado
leituras frequentemente encontradas na grande mídia, por todos aqueles que se preocupam com o tema do
nas quais os assentamentos rurais são interpretados desenvolvimento nacional, desde uma perspectiva in-
como parcela pouco expressiva ou pouco relevante cludente, voltada ao mercado interno, à segurança e
no contexto nacional. Ao contrário, percebe-se que soberania alimentar.
sua participação é fundamental para o desenvolvimen- Finalmente, cabe mencionar o estilo e a clareza com
to do rural brasileiro, para a geração de renda e de que os autores expõem seus argumentos, bem como a
ocupações produtivas, bem como para a preservação contribuição que oferecem para que os leitores com-
ambiental e para a oferta de alimentos, merecendo in- preendam tanto o trabalho do IBGE como as dificulda-
cremento de estímulos, créditos e políticas especiais. des e os equívocos mais frequentemente observados,
A renda média anual, subestimada porque o Cen- em tentativas de extrapolação ou de comparação de
so de 2006 não incorporou valores associados ao au- informações coletadas em bases pouco representati-
toconsumo e à venda de trabalho (responsáveis por vas, com os resultados do Censo.
aproximadamente 40% da renda total), oscilou entre
pouco mais de R$ 10mil e pouco menos de R$ 33 mil Resenha elaborada por Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo,
Msc Economia Rural, Doutor em Engenharia de Produção. Extensionista
por estabelecimento. Esses valores resultam majorita- Rural da EMATER, no momento atuando junto ao INCRA e como
riamente (69% do total) de explorações agrícolas e, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio.
em menor escala, de atividades pecuárias (30%), com
variações regionais importantes (no Nordeste, 85%
provêm da pecuária e 14%, da agricultura; no Sul,
73%, da agricultura e 27%, da pecuária). Sistemas Agroflorestais -
Considerando a produção nacional total, mesmo restauração ecológica e agricultura
ocupando apenas 9% do território, os assentados co- sustentável
mercializam 9% do leite de vaca, 9% do arroz, 9%
do feijão-preto, 11% da banana e 15% da mandioca. O livro Sistemas Agroflorestais, de autoria do biólogo
No caso do milho, em 2006, os assentados colheram Geraldo Ceni Coelho, vem suprir uma demanda atual
e venderam mais de 2,5 milhões de toneladas (6% da acerca de alternativas para sistemas de produção e res-
produção nacional). tauração ambiental para técnicos das Ciências Agrárias
No cômputo total, os valores identificados pelo e de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul. A partir da
Censo alcançaram R$ 9,5 bilhões, número que deve experiência de professor universitário e pesquisador, bus-
ser interpretado levando em conta o fato de que a ren- cando intercambiar conhecimentos sobre Sistemas Agro-
da auferida pelos agricultores assentados tende a girar florestais (SAF) com os agricultores, principalmente os das
no micromundo das pequenas comunidades situadas regiões do Médio Uruguai e do Planalto Médio, o autor
no entorno dos assentamentos, com efeitos multiplica- desenvolve um abrangente trabalho sobre conceitos, ti-
dores que animam os pequenos negócios e armazéns pologias, interações ecológicas fundamentais, conservação
de comunidades do interior. e promoção da vida do solo e inserção dos SAF como
Não há de ser pequena a surpresa de muitos lei- alternativa para sistemas de produção no atual contexto
tores, quando confrontados com elementos resul- de mudanças climáticas, além de relatar de forma breve
tantes dos grandes números do Censo que não ape- as experiências mais significativas desenvolvidas no Sul do
nas contrariam o imaginário coletivo construído por Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul.
campanhas de desinformação apoiadas por interesses Inicialmente o autor propõe uma classificação para os
contrários à democratização do acesso à terra, como SAF de acordo com o grau de adesão ao processo de
também demonstram, pela primeira vez na história da sucessão ecológica, convencionando três categorias: SAF
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Concomitantes; Quintais agroflorestais; e SAF
Sucessionais, respectivamente os sistemas que
apresentam menor, intermediária e maior ade-
são ao processo de sucessão ecológica. Tam-
bém apresenta o conceito de sucessão ecoló-
gica, as mudanças nas condições dos solos e as
interações interespecíficas com o avanço desse
processo.
Desenvolve uma abrangente revisão so-
bre os trabalhos de pesquisa sobre seques-
tro de carbono e ciclagem de nutrientes em
florestas tropicais, sistemas convencionais
de cultivo de plantas anuais e pastagens e
SAF no Brasil e no mundo. Demonstra que
os SAF apresentam eficiência intermediária
na acumulação de carbono e ciclagem de
nutrientes, quando comparados às florestas tropicais uma relação de equivalência por área entre culturas em
e aos agroecossistemas convencionais, com monocul- SAF e as culturas em sistemas solteiros (monoculturas),
turas agrícolas e pastagens sem a presença do compo- como forma de avaliar a eficiência econômica de SAF.
nente arbóreo. Finalmente, o autor descreve as experiências de
É abordada no livro a importância da matéria orgâni- SAF mais significativas no Sul do Brasil e no Rio Gran-
ca na manutenção da fertilidade e na promoção da vida de do Sul, especificamente os sistemas com erva-mate
dos solos, com o relevante papel desempenhado pelas sombreada, os sistemas silvipastoris, citricultura som-
árvores nesses sistemas, mostrando que a decompo- breada, fruticultura tropical em área de mata atlântica
sição da serapilheira, com maiores teores de lignina, e SAF sucessionais, desenvolvidos a partir dos conhe-
proporciona uma oferta de compostos orgânicos recal- cimentos e das práticas desenvolvidas por Ernst Göts-
citrantes (húmus) que melhoram a estrutura e a capa- ch. Apresenta os desafios para a implantação de SAF e
cidade de troca de cátions dos solos, além do controle Sistemas Silvipastoris, os quais requerem uma melhor
dos processos erosivos causados por chuva e ventos. compreensão das interações entre as espécies em sis-
O autor também revisa os efeitos microclimáticos temas mais complexos, como forma de ultrapassar os
como o quebra-vento, a otimização da radiação so- sistemas em monocultivos, dependentes de insumos
lar devido à estratificação vertical de plantas em SAF, externos e insensíveis às demandas e condições ob-
absorvendo e filtrando diferentes comprimentos de jetivas de produção e modo de vida dos agricultores
onda, criando efeitos microclimáticos que favorecem o familiares, assentados da reforma agrária e comunida-
desenvolvimento vegetativo e reprodutivo de plantas des e povos tradicionais. Aborda os limites da legisla-
de interesse econômico dos agricultores, como nos ca- ção visando ao uso econômico de espécies nativas e as
sos de cítrus e erva-mate. Quanto às interações entre perspectivas para pesquisas em SAF no Sul do Brasil.
os componentes bióticos dos ecossistemas, apresenta Enfim, é um livro que apresenta uma síntese dos tra-
informações de pesquisas sobre os efeitos sinérgicos balhos científicos e as contribuições derivadas das ex-
de micorrizas e minhocas do solo, relacionados à ab- periências do autor na implantação e no manejo de SAF
sorção de nutrientes pelas plantas e melhoria na estru- no Sul do Brasil, sendo uma importante e rica fonte de
tura dos solos, respectivamente, e mutualismos entre informações técnicas para todos aqueles que acreditam
insetos e predadores no controle de pragas e doenças. na necessidade e na oportunidade da reconversão dos
Apresenta critérios para a seleção de espécies arbó- sistemas de produção, para sistemas mais sustentáveis,
reas, com ênfase nas espécies nativas, descrevendo al- que promovam a biodiversidade e a produção agrope-
gumas espécies arbóreas de uso múltiplo, preferenciais cuária de acordo com os princípios da agroecologia.
para SAF, com aproveitamento para adubação verde,
forragem, lenha, madeira, sombreamento e melíferas. Resenha elaborada por Antonio Carlos Leite de Borba, engenheiro
Mostra a viabilidade de implantação de SAF como Florestal, coordenador da Rede Temática em Sistemas Agroflorestais da
estratégia de restauração ecológica, além de propor Emater/RS-Ascar.
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portantes para o melhor entendimento do texto.
7 Os textos deverão se enquadrar nos seguintes te-
mas: Desenvolvimento Rural Sustentável, Agricultura 12 Serão enviados 3 exemplares do número da Revista
Sustentável, Agroecologia, Agricultura Familiar, Extensão para todos os autores que tiverem seus artigos ou textos
Rural, Relações Sociais nos Processos de Desenvolvimen- publicados. Em qualquer caso, os textos não aceitos para
to Rural, Manejo Sustentável de Agroecossistemas, Socie- publicação não serão devolvidos aos seus autores.
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