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Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

Revista trimestral publicada pela EMATER/RS

Porto Alegre/RS - BRASIL - V. 1, n° 4 Out/Dez 2000

Editorial

Intercalando idéias para a sustentabilidade

Neste final de milênio, os editores de Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável se sentem muito
animados pelo conjunto de fatos que vêm consolidando o enfoque agroecológico como via adequada para a
promoção do desenvolvimento rural. Vale mencionar que a preparação deste quarto número coincidiu com a
realização do I Seminário Internacional sobre Agroecologia, em Porto Alegre. Contando com mais de mil
participantes, este evento pemitiu que colaboradores altamente qualificados abordassem temas de caráter
socioambiental da maior relevância. A matéria especial sobre o evento demonstra um esforço de síntese do que
representou o Seminário e dos encaminhamentos dele resultantes. Aliás, em Opinião, Rosset evidencia que a
suposta Revolução Verde II, baseada nos avanços da engenharia genética, constitui apenas mais um sonho.
Assim como a Revolução Verde I, ela não acabará com a fome no mundo: é preciso que os pobres tenham
dinheiro para comprar sua comida, ao mesmo tempo em que se reconheça a inviabilidade dos modelos de
produção altamente dependentes de recursos não-renováveis. Rosset não hesita em afirmar que o único
caminho para acabar com a pobreza rural, proteger o ambiente e preservar a produtividade da terra para as
futuras gerações é uma agricultura de pequenas propriedades que, ademais, siga os princípios da agroecologia.
A questão da segurança alimentar também aparece na entrevista com Deere, professora da Universidade de
Massachussets que, em Porto Alegre, palestrou no Seminário Mulher, Trabalho e Propriedade da Terra. Sua tese
é de que a propriedade da terra fortalece processos de afirmação da mulher, melhorando sua auto-estima e
ampliando oportunidades de participação nas decisões, tanto no lar como nas atividades produtivas e
comunitárias. Significa que, quando a mulher tem o controle sobre a propriedade, geram-se condições que
permitem uma maior garantia de segurança alimentar para as famílias.

Abordagens de ordem conceitual também merecem destaque neste número. Entre elas, destaca-se o Tópico
Especial, assinado por Ahumada Arenas, coordenador-geral do Movimento Agroecológico da América Latina e
Caribe, apontando a importância de que a sociedade enfrente a crise provocada pelo modelo hegemônico de
desenvolvimento rural, crise esta que muitos governos e instituições de pesquisa e extensão insistem em não
reconhecer. Sob a perspectiva institucional, os principais desafios incluem a necessidade de incorporar a noção
de sustentabilidade, o fortalecimento das organizações populares, a transformação gradual de valores e práticas
atuais, assim como correspondentes programas de capacitação voltados à sociedade. Em linha similar, o
professor Cimadevilla, da Universidade de Río Cuarto, Argentina, analisa a evolução de conhecimentos sobre
processos de adoção de novas tecnologias de caráter agroambiental, o que sugere novas orientações e desafios
para a pesquisa e extensão rural, face às exigências impostas pela realidade contemporânea. Já o artigo de
Costabeber e Moyano examina, sob um enfoque conceitual e com apoio de evidências empíricas observadas no
Rio Grande do Sul, a convergência entre processos de ação coletiva e de ecologização na agricultura familiar,
evidenciando que a transição agroecológica exige avaliação em espectro multidimensional. Suas análises
revelam que, embora a ação social coletiva surja como conseqüência de desafios que extrapolam a capacidade
de resposta individual, dependendo de seu êxito transforma-se no principal motor que impulsiona a transição
para estilos de agricultura de base ecológica, com maiores níveis de sustentabilidade econômica, social e
ambiental.

A Revista também apresenta exemplos concretos de alterações bem sucedidas em práticas tradicionais da
agricultura. Em Relato de Experiência, Cotrim e seus colegas mostram resultados positivos que vêm sendo
alcançados através da integração entre orizicultura e piscicultura, enquanto Kirchof, em Alternativa Tecnológica,
aborda alguns avanços obtidos na pecuária leiteira via adoção do pastoreio racional. No âmbito da pesquisa,
Schaffrath e Miller trazem informações reveladoras da importância do cultivo consorciado de mandioca com
adubos verdes, apontando redução significativa na ocorrência de plantas espontâneas nos cultivos consorciados
em relação aos solteiros. Por fim, sugere-se aos leitores que visitem os sites apresentados na seção Eco-Links,
onde poderão encontrar valiosas informações de caráter socioambiental. Ademais, acreditando que em 2001 se
consolidarão maiores e melhores oportunidades para o debate e intercâmbio de idéias, conhecimentos e
experiências produtivas, os editores desejam, a todos, sinceros votos de saúde, paz, alegria e realizações. Boa
leitura.
Entrevista

Carmen Deere

Propriedade da terra garante poder às mulheres

por Fellipi, Ângela - Jornalista da EMATER/RS

Há uma relação direta entre a posse da terra e o poder das mulheres no meio rural. A tese é defendida pela
professora de economia da Universidade de Massachussets, Carmen Diana Deere, que pesquisa a situação da
propriedade da terra na América Latina e a questão de gênero. Ela esteve no Rio Grande do Sul em novembro,
participando do Seminário Mulher, Trabalho e Propriedade da Terra, realizado na Emater/RS, em Porto Alegre.

Carmen dirige o Centro de Estudos sobre América Latina e Caribe da Universidade onde dá aulas. Tem livros e
artigos publicados sobre mulheres rurais, políticas públicas e direito à terra na América Latina. No Brasil, está
desde fevereiro, participando de uma pesquisa sobre a situação das mulheres do campo no país, na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, através da Fundação Fullbright.

Para ela, quando a mulher tem a posse da terra, participa mais das decisões na propriedade. No entanto, na
América Latina, ainda é baixo o percentual de mulheres com o título da terra. É do que ela fala nessa entrevista.

Revista - Por que na América Latina a propriedade da terra se concentra nas mãos dos homens?

Carmem Deere - Há três formas principais de acesso à propriedade da terra: primeiro, por herança, segundo,
através do mercado e terceiro, pelo Estado. Pesquisamos cada forma de acesso para ver quais têm sido as
bases da discriminação da mulher. No caso da herança da terra privada da família, o que vemos em toda a
América Latina é que a terra é um privilégio masculino. Em quase todos os países, os pais tendem a favorecer
os filhos e quando se faz uma distribuição eqüitativa, são os homens que ficam com as áreas maiores ou
melhores. Isso, em parte, compreende-se como uma estratégia familiar de reproduzir a gleba campesina através
da transmissão para os homens, com a esperança de que as mulheres vão sair, casar-se, e, então, por que dar
a elas terras. Mas é uma forma de discriminação.

No caso do mercado de terras, os dados disponíveis indicam que o homem quase sempre participa muito mais
no mercado de terras, comprando ou vendendo-as. As mulheres, muitas vezes, gostariam de comprar, mas
estão em piores condições, porque para comprar terras é preciso um capital e esse capital depende do tipo de
renda, de empregos que homens e mulheres podem conseguir. Então, como há uma discriminação da mulher no
mercado de trabalho - ela ganha menos, não pode trabalhar em atividades agrícolas todo o ano -, não tem esse
poder de poupança, de acumulação para poder comprar terras. Então, ela não participa. Também, outra situação
é que uma família compra terras usando tanto a renda da mulher quanto a renda do homem. Como o homem
socialmente se considera o chefe da família, a escritura dessa terra fica no nome dele, quando foi o esforço de
ambos que resultou nessa compra. Mas, se o nome dela não aparece no título, então nem sempre seus direitos
legais se cumprem, e se o casal se separa, é ela que fica sem a terra.

R -Esta situação tem avançado na América Latina?

CD - Sim, sem dúvida. Tem avançado pela terceira forma de aquisição, pelo Estado, através da reforma agrária
e dos projetos de colonização, que resultam na distribuição de terra, na maioria dos casos aos homens, como
chefes de família. A idéia do governo pode ser a de estar beneficiando a família na sua totalidade, com o título
de propriedade em nome do chefe. Desta forma, a mulher não tem segurança de que ela também vai ter
benefícios de ser proprietária, beneficiada com a reforma agrária. O que tem mudado nos últimos anos é que,
devido a um conjunto de mudanças, em nível internacional, já há uma maior consciência da importância da terra
para a mulher. A propriedade da terra está vinculada ao bem-estar da mulher e de sua família. Se ela tem o
controle sobre uma propriedade é muito mais seguro que a alimentação da família esteja garantida. Também, a
terra é importante para criar as bases de uma igualdade real entre homem e mulher. E, por fim, que a terra e a
propriedade em geral são importantes para os processos de empowerment (aumento de poder) da mulher, tanto
para melhorar sua auto-estima, quanto sua possibilidade de participar das decisões no lar, das decisões na
produção e na comunidade, etc.

R - Há uma relação direta entre a posse da terra e o poder de decisão no negócio familiar?

CD - Esse é o resultado das minhas pesquisas na América Latina. No Brasil, ainda estou investigando, mas há
indicativos que as mulheres proprietárias têm maior poder de barganha.

R - Quais os avanços na América Latina?

CD - São duas políticas públicas que têm sido bem importantes. Primeiro, a adjudicação e titulação conjunta (da
terra) a casais. Em segundo, a prioridade na distribuição da terra a mulheres chefes de família. A política pública
mais comum, que foi adotada na Colômbia, Nicarágua, Costa Rica, Peru, República Dominicana, Equador,
Guatemala, é a que coloca como requisito nos programas de redistribuição de terras a titulação no nome do
casal. No Brasil, essa é uma opção que foi colocada na Constituição de 1988, mas não é um requisito. É algo
que o casal tem que pedir. No entanto, dada a socialização, a cultura etc no campo, são poucos casais que
pedem. Por isso, eu acho que a participação da mulher aqui no Brasil na reforma agrária é muito menor do que
em outros países que têm como requisito a titulação conjunta.

Da mesma forma, a prioridade (de distribuição da terra) às chefes de família, adotada em Colômbia, Nicarágua e
Chile. O que isso significa é o reconhecimento por parte dos governos que muitas vezes as mulheres chefes de
família na zona rural são os grupos mais pobres dentro dos pobres. Assim, pode-se melhorar a situação dessas
famílias e crianças. Também é, um pouco, uma maneira de compensar as mulheres pela discriminação que
tiveram no passado, incrementando e melhorando a distribuição das terras, da propriedades entre os sexos.

R - E a aquisição de terras através de herança e de compra por parte da mulher tem avançado?

CD - Acho que não. Só através de políticas públicas. O Estado, através da legislação, pode criar mecanismos
de inclusão da mulher, não somente a igualdade formal, de direitos iguais, mas colocar a titulação a casais
como prioritária na reforma agrária, em que homens e mulheres participem juntos nos assentamentos,
cooperativas, associações. E o que assegura isso é que o nome de ambos apareça na titulação.

No caso da herança, a coisa curiosa é que na América Latina, desde os tempos coloniais, a herança deveria
beneficiar todos os filhos igualmente, mas, na realidade, isso não acontece. Pode ser que as mulheres
herdavam também dos pais, porém não herdaram terra na mesma proporção. Herdaram uma vaca, as coisas da
cozinha, mas a terra, que é o bem mais importante, não.

R - No Brasil, hoje, não é assim?

CD - Legalmente talvez não seja, mas, na prática, a cultura ainda favorece o filho homem. Muitas vezes,
compensam-se as filhas com educação. O que se torna um fator de saída do campo. São as mulheres que
migram mais para os centros urbanos. Se elas são discriminadas na família, se não são socializadas, não lhes
dão capacitação para serem administradoras da terra, então elas não vão ver possibilidades no meio rural e,
obviamente, vão buscar outras maneiras de sobreviver. A educação e o emprego urbano são possibilidades.
Mas quando não tem muito emprego urbano, como nos últimos anos, a situação, tanto para homens quanto para
mulheres, é difícil nas capitais, centros urbanos. Isso põe a mulher numa situação muito insegura.

R - E depois da posse da terra, como se dá a relação de poder no assentamento?

CD - Aqui no Brasil, não trabalhei ainda essa questão. Mas é certo que a terra sozinha não resolve o problema,
mas é bem importante para mudar as relações de gênero porque incrementa o fator de barganha. Conforme as
pesquisas que estou fazendo no Brasil, quase sempre as únicas mulheres que participam das decisões nos
assentamentos são as que são as cadastradas. As esposas não participam porque não têm o direito e nem o
dever. Tem que ser o proprietário. Por isso, argumentamos que se o governo quer fortalecer os assentamentos,
fortalecer a agricultura familiar, é muito importante que se dê atenção à propriedade e à titulação da mulher junto
com o marido.
R - Quais os índices de participação das mulheres assentadas no Brasil como proprietárias?

CD - Doze por cento das terras em assentamentos pertencem às mulheres. Os índices são mais altos no
Nordeste e Norte. É mais baixo no Sul - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - este com 9%. Os fatores
dessa distribuição é o que vou pesquisar agora aqui no Brasil. Minha hipótese é de que nesses Estados, onde o
índice é maior, o percentual de mulheres chefes de família também é maior, o percentual de migração masculina
é alta. Em três dos Estados - Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco - a produção da cana-de-açúcar é
importante e as mulheres têm uma alta participação. Nas entrevistas que fiz, um fator que apareceu é que as
mulheres desses Estados foram sindicalizadas muito mais cedo que nos outros Estados, no começo dos anos
80, através de um movimento forte para incrementar a participação das mulheres nos sindicatos. Foi devido à
contribuição da Paraíba e de Pernambuco que o direito da mulher - ou do casal - ser proprietária da terra entrou
para a Constituição de 1988.

R - Por outro lado, aqui no Sul também houve um movimento sindicalista forte e berço do movimento
pela reforma agrária. Então, como se explica?

CD - Isso é uma das coisas que quero perguntar à Fetag (Federação dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul),
ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na pesquisa que estou fazendo.
REPORTAGEM

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE AGROECOLOGIA REÚNE MIL PESSOAS.

Matéria elaborada por Ângela Felippi e Roberto Villar, jornalistas da Emater/RS e Pró-Guaíba, respectivamente.
Colaboraram Guta Teixeira e José Otávio Ferlauto, do Pró-Guaíba, e Marlei Ferreira, da Secretaria da Agricultura
e Abastecimento.

Os participantes do I Seminário Internacional sobre Agroecologia, II Seminário Estadual sobre Agroecologia e II


Encontro Nacional sobre Pesquisa em Agroecologia, que aconteceu em Porto Alegre, dias 20, 21 e 22 de
novembro de 2000, consideram que a resolução dos problemas socioambientais deve estar baseada na
construção participativa de um conjunto de políticas e atividades. O evento reuniu mais de mil pessoas, entre
agricultores, técnicos, professores, pesquisadores e estudantes, vindos de oito países

O governo do RS tem na Agroecologia uma das linhas de seu programa de desenvolvimento para o setor
agropecuário. Os seminários e o encontro fazem parte de uma série de ações que visam estimular a produção
de alimentos limpos e o desenvolvimento rural sustentável. Conforme os organizadores, é preciso o engajamento
permanente da sociedade civil na reflexão e definição de alternativas viáveis para o desenvolvimento rural
sustentável.

O Seminário Internacional trouxe nomes como os pesquisadores Miguel Altieri e Clara Nichols, da Universidade
da Califórnia/EUA, o ecologista Ramón Fernández Durán, do Ecologistas en Acción e Movimiento Anti-
Maastricht/Espanha, o professor Xavier Simón, da Universidade de Vigo/Espanha e o extensionista Demetrio
José Neschuk, do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária/Argentina (leia depoimentos dos participantes
na seqüência).

Nos eventos, foram aprovadas a Carta Agroecológica 2000 e a Moção de Apoio para o RS ser zona livre de
transgênicos. A Carta é uma recomendação ao governo federal e aos demais Estados brasileiros para
estabelecimento de políticas públicas de apoio à agricultura familiar e à transição para sistemas agroecológicos.
Também destaca a necessidade e a urgência das instituições de ensino e extensão rural desenvolverem suas
pesquisas voltadas a estes dois temas.

A Moção alerta sobre os riscos dos transgênicos, exigindo moratória à produção e importação e EIA-Rima antes
da liberação. Ainda responsabiliza o Ministério do Meio Ambiente e da Saúde, afirmando que o acompanhamento
não deve ser apenas da Comissão Técnica Nacional de biosssegurança (CTNbio). A Carta e a Moção foram
encaminhadas para todo o país, para instituições de ensino, pesquisa e governos.

O evento foi promovido pelas secretarias da Agricultura e Abastecimento, por meio da EMATER/RS, de
Coordenação e Planejamento, através do Pró-Guaíba e da Ciência e Tecnologia, com a FEPAGRO. O Encontro
deverá se repetir em 2001 e já tem data: de 26 a 28 de novembro.

Sugestões podem ser enviadas para o email:seminario.agroecologia@emater.tche.br

Carta agroecológica

Na Carta Agroecológica aprovada, os participantes recomendam o seguinte:

1) Que os governos federal, estaduais e municipais estabeleçam políticas públicas e propostas de


desenvolvimento baseadas nos princípios ecológicos e centradas na agricultura familiar. O espaço público deve
incorporar gradativamente aspectos de participação organizada e controle social, opondo-se às políticas
neoliberais e priorizando o atendimento das necessidades ambientais e demandas sociais.

2) Que as instituições públicas e privadas de ensino, pesquisa e extensão incorporem em suas missões
institucionais a dimensão socioambiental e valorizem as atividades desenvolvidas por organizações de
agricultores, entidades governamentais e não-governamentais, adotando os princípios da Agroecologia como
eixo orientador de suas ações.
3) Que a agricultura familiar e comunitária receba suportes e estímulos especificamente direcionados à
consolidação e à expansão dos processos de transição agroecológica.

4) Que os participantes deste evento se responsabilizem pela implementação, multiplicação e articulação de


ações concretas, em defesa da vida e do meio ambiente, em todas as suas dimensões.

Moção de apoio

Rio Grande do Sul Livre de Transgênicos

Os 1.090 participantes do I Seminário Internacional sobre Agroecologia, II Seminário Estadual sobre


Agroecologia e II Encontro Nacional sobre Pesquisa em Agroecologia, reunidos no Clube Farrapos, em Porto
Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil), nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2000, preocupados com o agravamento
da dependência dos agricultores às empresas transnacionais e com a ameaça à biodiversidade, à saúde humana
e animal imposta pelo cultivo de plantas transgênicas, decidem:

a) Reafirmar nosso compromisso de apoiar medida concretas, tomadas pelo Governo do Estado do Rio Grande
do Sul, no sentido de manter este Estado como zona livre de transgênicos. Este compromisso é extensivo a
outras propostas neste sentido, em âmbito nacional.

b) Exigir do Governo Federal que sejam realizados Estudos de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e que os
Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente assumam sua parcela de responsabilidade no que respeita à avaliação
toxocológica e ambiental dos transgênicos, cuja liberação para o cultivo não é nem poderá ser atribuição
exclusiva da CTNBio.

c) Propor que seja decretada moratória, no Brasil, para o cultivo e importação de produtos transgênicos, até que
sejam apresentadas à sociedade evidências científicas conclusivas de que os mesmos não provocam impactos
negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

Porto Alegre, 22 de novembro de 2000.

COMENTÁRIOS :

"Estou muito impressionado com o que conseguiu o Rio Grande do Sul: institucionalizar a
Agroecologia. É fundamental para a região a prática da Agroecologia, tendo em conta as características
dos produtores agropecuários, que muitas vezes não têm dinheiro para comprar insumos agrícolas.
Creio que a Agroecologia não só é uma alternativa. É a única solução possível para toda a América
Latina".

Santiago Sarandón, professor da Universidad Nacional de La Plata/Argentina

"É uma experiência que está servindo de referência não só para o Rio Grande do Sul, mas para todo o
Brasil, e para nós de Santa Catarina, em especial. É uma experiência em que se verifica a possibilidade
de uma mudança de um paradigma de desenvolvimento e essa mudança vem alicerçada numa opção
política. Isso é muito importante."

Eros Mussoi, diretor técnico da Epagri/SC

"O mundo está olhando para o Rio Grande do Sul. É o único governo da
América Latina que está levantando a bandeira da Agroecologia e da pesquisa
participativa com os agricultores."

Miguel Altieri, pesquisador da Universidade da Califórnia/EUA


"Não é possível sustentá-la [a forma tradicional de exploração econômica] ao
longo do tempo, já que estamos destruindo nossos recursos naturais, estamos
consumindo reservas de recursos minerais. Uma minoria de pessoas desfruta
desses recursos".

Xavier Simón, professor da Universidade de Vigo/Espanha

"Eu creio que é uma coisa única no mundo o que está acontecendo no Rio
Grande do Sul e temos que aprender com os debates e com a participação
horizontal que há aqui".

Ramón Fernández Durán, membro do Ecologistas en Acción e Movimiento anti-


Maastricht/Espanha
Opinião

A nova revolução verde é um sonho

Rosset, Peter*

Diante do problema das 786 milhões de pessoas que sofrem de fome no mundo, os propagandistas de nossa
ordem social têm uma solução fácil: obtermos mais alimentos através dos prodígios da engenharia química e
genética.

Monsanto, Novartis, AgrEvo, DuPont e outras companhias químicas, junto com o Banco Mundial e outros
organismos internacionais, asseguram que o mundo pode ser salvo se permitirmos a essas mesmas empresas,
estimuladas pelo livre mercado, que façam sua mágica.

Para os que recordam da promessa original da Revolução Verde de acabar com a fome através do emprego de
sementes milagrosas, este chamado em favor da Revolução Verde II deveria soar vazio. De fato, se para
enfrentar o problema da fome a fórmula limita-se a aumentar a produção de alimentos, ela fracassará, já que não
serão modificados a pronunciada concentração do poder econômico e, especialmente, o acesso à terra.

Inclusive, o Banco Mundial chegou à conclusão, num importante estudo realizado em 1986, que a fome mundial
só pode ser aliviada por meio da "redistribuição do poder de compra e dos recursos em favor dos que estão
desnutridos". Em poucas palavras, se os pobres não têm o dinheiro para comprar alimentos, o aumento da
produção não os ajudará.

Apesar das décadas de rápida expansão da produção de alimentos, ainda existem 786 milhões de pessoas que
passam fome no mundo. Cerca de dois terços delas vivem na Ásia, precisamente onde as sementes da
Revolução Verde contribuíram para o maior êxito produtivo. Segundo a revista Business Week, "embora os silos
da Índia estejam abarrotados, atualmente, cinco mil crianças morrem por dia devido à desnutrição nesse país.
Como os pobres não podem comprar o que é produzido, só resta ao governo armazenar milhões de toneladas de
alimentos".

Tanto a Revolução Verde como qualquer outra estratégia para estimular a produção de alimentos depende das
regras econômicas, políticas, culturais, que determinam quem se beneficia como provedor da incrementada
produção e quem se beneficia como consumidor, quem obtém os alimentos e a que preço. Os pobres pagam
mais e obtêm menos. Os agricultores pobres não podem comprar fertilizantes e outros produtos nas quantidades
necessárias e nem oferecer melhores preços, como fazem os grandes produtores agrícolas. Os créditos ou os
subsídios governamentais beneficiam enormemente os grandes agricultores.

Além disso, a Revolução Verde faz com que a atividade agrícola seja dependente do petróleo. Na Índia, a
adoção de novas sementes esteve acompanhada por um aumento exponencial do uso de fertilizantes.
Entretanto, o aumento da produção agrícola para cada tonelada de fertilizante utilizada nesse país caiu em dois
terços. De fato, durante os últimos 30 anos, o crescimento anual do uso de fertilizantes nos cultivos asiáticos de
arroz foi de três a 40 vezes mais rápido do que o crescimento da produção. Nos Estados Unidos, as sementes
melhoradas combinadas com fertilizantes permitiram maiores colheitas que, por sua vez, fizeram baixar os
preços que os agricultores obtêm por sua produção. Entretanto, os cursos da atividade agrícola aumentaram
vertiginosamente, diminuindo drasticamente as margens de lucro dos agricultores.

Diante desse estado de coisas, quem sobrevive agora? Dois grupos muito diferentes: os poucos agricultores que
escolhem não depender da agricultura industrializada e os que são capazes de continuar aumentando sua
extensão de terra. Entre este último e seleto grupo estão 1,2% de estabelecimentos com altas rendas, os que
têm, pelo menos, US$ 500 mil de vendas anuais. Em 1969, as superfazendas ficaram com 16% da renda líquida
do total da produção agrícola, mas, no final da década de 80, respondiam por quase 40%.

Os Estados Unidos viram diminuir o número de fazendas em dois terços, enquanto o tamanho médio das
propriedades aumentou mais que o dobro, desde a Segunda Guerra Mundial. A decadência das comunidades
rurais, o surgimento de bairros marginalizados no centro das cidades e o aumento exagerado do desemprego
aconteceram depois da vasta migração do campo para a cidade. Pensemos o que significa o equivalente êxodo
rural no Terceiro Mundo, onde o número de desempregados já é o dobro ou o triplo do registrado nos Estados
Unidos.
O único modelo com o potencial para acabar com a pobreza rural e para proteger o meio ambiente e a
produtividade da terra para as futuras gerações é uma agricultura baseada na exploração de pequenas fazendas
que sigam os princípios da Agroecologia. Dos Estados Unidos à Índia, a agricultura alternativa está se
mostrando viável. Nos Estados Unidos, um estudo que representou um marco, feito pelo National Research
Council, diz que os agricultores alternativos produzem mais por acre, com custos mais baixos por unidade
colhida, embora muitas políticas federais desestimulem a adoção de práticas alternativas.

Numa análise final, se a história da Revolução Verde nos ensina algo, é que o incremento da produção de
alimentos pode, e freqüentemente é assim, seguir de mãos dadas com o aumento da fome. É por isso que
devemos ser céticos quando à Monsanto, DuPont, Novartis e outras companhias químico-biotecnológicas nos
dizem que a engenharia genética estimulará o rendimento das colheitas e alimentará os famintos. Tudo leva a
pensar que a Revolução Verde II, do mesmo modo que a primeira, não acabará com a fome (IPS).

* Ph.D., Co-Diretor Food Firts/The Institute for Food and Development Policy, Califórnia, e co-autor do livro
"World Hunger". Este artigo foi extraído do site da Envolverde, http://www.envolverde.com.br, dia 6 de outubro de
2000.
Relato de Experiência

Rizipiscicultura: um sistema agroecológico de produção

* Cotrim, D. S.; Valente, L. A. L.; Rojahn, P. R.; Sacknies, R. G. S.; Oliveira, R. G.; Severo, J. C. P., Rojahn, L.
A.; Leal, D. R.; Lara, V. H.

Rizipiscicultura é um sistema sustentável caracterizado pelo cultivo consorciado


de arroz irrigado e criação de peixe, sem o uso de agrotóxicos, sem o uso de
adubo mineral solúvel e reduzindo o uso de máquinas.

Introdução

Este trabalho busca informar e orientar sobre os princípios ecológicos que regem o ecossistema simbiótico
arroz/peixe desde a sistematização do solo até a despesca. Sintetiza o resultado de experiências práticas
acumuladas nos trabalhos de extensão rural desenvolvidos por extensionistas da EMATER/RS em parceria com
técnicos de outras instituições, bem como com produtores que atuam na atividade de rizipiscicultura. Espera-se
que os conceitos, orientações e recomendações aqui contidos possam representar uma ferramenta e um
referencial para produtores e extensionistas rurais que venham a ingressar na atividade. Salienta-se, ademais,
que as técnicas agroecológicas de produção de arroz permanecem como um conjunto de princípios, para
adaptação e adequação às condições específicas dos mais diversos agroecossistemas.

Proposta do sistema

Rizipiscicultura é um sistema sustentável caracterizado pelo cultivo consorciado de arroz irrigado e criação de
peixes, sem o uso de agrotóxicos, sem o uso de adubo mineral solúvel e reduzindo o uso de máquinas (restam
mecanizadas a semeadura e a colheita). Este sistema conserva o meio ambiente e proporciona o aumento de
renda por área. O trabalho baseia-se no plantio de arroz no sistema pré-germinado e/ou mudas com quadros
sistematizados e a criação de peixes na técnica do policultivo de carpas.

Por que rizipiscicultura?

a) O consórcio de arroz com peixes é uma alternativa de redução de custos da lavoura arrozeira.

b) O peixe prepara o solo para o próximo cultivo do arroz irrigado, recicla a matéria orgânica e consome
sementes de plantas invasoras contidas neste solo, como arroz vermelho, capim arroz, ciperáceas e outras
plantas aquáticas. O peixe também consome larvas de insetos, caramujo e bicheira da raiz do arroz. São
alimentos, também, sementes de arroz perdidas na colheita e restos culturais da lavoura que, por vezes, são
focos de doenças, como por exemplo a bruzone. É importante salientar que, ao realizar o trabalho de limpeza do
quadro, desde a fase inicial até a colheita, os peixes não consomem as plantas de arroz e, conseqüentemente,
não causam prejuízos econômicos.

c) Existe uma adição de renda gerada pelo peixe que entra na propriedade em um momento de pouca
disponibilidade de recursos, na época da formação da nova lavoura.

Calendário da rizipiscicultura

Para ter-se uma noção, no tempo e espaço, das ações no sistema, apresentamos abaixo o calendário da
rizipiscicultura:
p

Descrição do calendário

Para iniciar-se o sistema, o quadro de arroz deve sofrer o processo de sistematização, com nivelamento de solo,
construção de taipas reforçadas e montagem de um refúgio para os peixes. O arroz pré-germinado deve ser
semeado entre os meses de outubro e dezembro, respeitando-se sempre o zoneamento agroclimático da região.
Passados 20 dias da germinação do arroz, deve-se realizar a alevinagem no quadro. Durante os meses de
verão, a lavoura arrozeira e o policultivo de carpas convivem harmoniosamente. Normalmente no mês de março
ocorre o rebaixamento do nível da água e a colheita mecânica do arroz. Nesta fase os peixes sobrevivem no
refúgio do quadro. Após a colheita, é elevado o nível da água de modo que os peixes possam consumir a
resteva da lavoura na totalidade do quadro. Os peixes habitam este quadro por aproximadamente oito meses,
aproveitando como alimento a resteva do arroz, o plâncton formado naturalmente na água e os alimentos do lodo
(bentônicos, sementes de invasoras e larvas de insetos). Nestes meses existe a redução do banco de sementes
de invasoras do solo, o preparo e a fertilização do solo através da ação do peixe e o crescimento dos peixes. No
mês de outubro ocorre a despesca dos peixes adultos e a semeadura da nova safra de arroz, reiniciando o ciclo.

O peixe no sistema

As funções do peixe no sistema de rizipiscicultura são o preparo do solo (com eliminação da resteva), o controle
de invasoras (inços) e o controle de pragas. Para obter tais resultados, são utilizadas espécies de peixes
(carpas) que possuem hábitos alimentares diferenciados, facilitando a execução deste trabalho. Descreveremos,
a seguir, as principais ações destes animais:

Carpa Húngara (Cyprinus carpio variedade húngara): É a espécie de peixe que revolve o solo à procura de
insetos, organismos do lodo e sementes de invasoras. Por ter hábito alimentar onívoro (come de tudo), "engole"
o lodo, separa o seu alimento e regurgita as sobras, realizando, assim, o trabalho de preparo do solo. É a
espécie mais importante no sistema, pois é através dela que obtemos o preparo do solo para a semeadura da
próxima safra de arroz, sem a utilização de máquinas e a fertilização do solo através da incorporação do
esterco.

Carpa Capim (Ctenopharyngodon idella): Esta espécie alimenta-se de vegetais superiores, como por exemplo a
planta do arroz e gramas boiadeiras. A carpa capim é a responsável pela eliminação da resteva e das ervas
invasoras .

Carpa Prateada e Carpa Cabeça Grande (Hypophthalmicthys molitrix e Aristichthys nobilis): Estas duas espécies
possuem hábitos alimentares semelhantes, são filtradoras de plâncton. A carpa prateada filtra somente o
fitoplâncton e a cabeça grande somente o zooplâncton, aproveitando assim o alimento natural na água.

A criação conjunta destas quatro espécies é o que caracteriza o sistema chamado "Policultivo de Carpas".

Densidade de peixes
Os trabalhos desenvolvidos em propriedades mostraram bons resultados (preparo de solo satisfatório) com
lotação de 3.000 alevinos por hectare. Pode-se, todavia, utilizar densidade média de até 4.500 alevinos se o
técnico estiver em dúvida sobre a existência de fatores que aumentem o índice de mortalidade como, por
exemplo, predadores.

Percentual das espécies de peixe

Para obter um bom preparo de solo, com a densidade referida, utiliza-se o seguinte percentual por espécie.

Carpa Húngara 70%

Carpa Capim 20%

Carpas Filtradoras 10%

Limite detectado no processo: os predadores

É importante ter presente que o descuido no controle da ação dos predadores pode inviabilizar o sistema
proposto. Deste modo, o ponto-chave para o sucesso da rizipiscicultura depende do cuidado do produtor com
estes predadores. Uma técnica recomendada sugere que, ao final de cada ciclo (outubro, após a despesca), seja
feita a desinfecção do refúgio com cal virgem. Em condições de campo, observa-se que o índice normal de
mortalidade dos alevinos, desde a colocação no quadro até a despesca, é da ordem 50%.

Muitos são os predadores que atacam os peixes, principalmente na fase inicial, quando os cuidados devem ser
redobrados. Os predadores aquáticos são: traíra, jundiá, lambari, muçum, jacaré, tartaruga e cobra d'água, entre
outros. Recomenda-se a utilização de barreiras físicas como filtros nas entradas e saídas de água. As telas
plásticas de malha fina são úteis na entrada de canos de PVC. No caso de canais de terra que alimentam os
quadros, recomenda-se filtro com britas grossas.

Os predadores aéreos são: garça, martim-pescador, bem-te-vi e biguá, entre outros pássaros. Recomenda-se a
utilização de espantalhos mecânicos (canhões a gás), o uso de espantalhos luminosos e/ou de cachorro
adestrado.

Alguns outros limitadores podem ser arrolados, como por exemplo áreas inundáveis ou de topografia acidentada,
porém, esses são fatores que também inviabilizam o arroz pré-germinado e, conseqüentemente, a
rizipiscicultura.

Resultados do sistema

a) Arroz irrigado

Os resultados das lavouras testadas demonstram valores de produtividades similares às lavouras de arroz no
sistema pré-germinado (6.500 kg/ha), dentro da mesma propriedade. Salienta-se que o uso do peixe no sistema
tem reduzido para próximo de zero o aparecimento de plantas de arroz vermelho, devido à redução do banco de
sementes invasoras no solo. Conseqüentemente, o arroz colhido tem sido comercializado na forma de semente
com maiores ganhos financeiros.

Deste modo, existem ganhos econômicos na redução de custos operacionais da lavoura (redução do uso de
máquinas, eliminação do uso de agroquímicos e eliminação do uso de adubação mineral solúvel) e ganhos nos
valores de comercialização, devido à ausência de arroz vermelho, permitindo a venda como sementes. Existe
ainda a possibilidade de venda como "arroz orgânico", aumentando ainda mais as vantagens econômicas.
Com o objetivo de instrumentalizar avaliações das vantagens econômicas do sistema rizipiscicultura, está
disponível no anexo 1 o quadro "Análise receita/custos dos sistemas de cultivo de arroz: rizipiscicultura,
convencional e pré-germinado" .

b) Peixe

O resultado médio das despescas nos quadros testados é de 1.000 quilogramas de biomassa de peixe por
hectare no período de 12 meses. Salienta-se que os peixes têm peso individual de 600 a 800 gramas, não
estando adequados ao atual mercado consumidor, exigindo uma fase posterior de engorda em açudes de
piscicultura ou a reutilização destes mesmos animais, a partir de março, nas lavouras de arroz que não
realizaram a alevinagem em outubro.

A aceitação dos peixes da rizipiscicultura no mercado consumidor de peixe cultivado é muito boa, tendo
ocupado espaço relevante. Do mesmo modo que o arroz da rizipiscicultura, o peixe do sistema pode ser
comercializado como "peixe ecológico", ampliando-se as vantagens econômicas.

Conclusões

1. O sistema proposto apresenta-se potencialmente como uma forma sustentável, agroecológica e


economicamente viável de produção de arroz que, entretanto, necessita de adequação e adaptação aos
diversos agroecossistemas.

2. Devido ao trabalho dos peixes, restam apenas como operações mecanizadas a semeadura e a colheita.
Deste modo, no sistema há uma forte redução no uso de máquinas.

3. Não é necessário o uso de nenhum agroquímico no decorrer do sistema.

4. Houve vantagens econômicas na utilização do sistema devido à redução dos custos da lavoura arrozeira
e incremento de venda devido à venda dos peixes.

Anexo 1
Análise receita/custo dos sistemas de cultivo de arroz: rizipiscicultura, convencional e
pré-germinado

Custos totais (ha)


Sistema de produção de arroz Receita Total (ha) Margem Bruta (ha)
Custos diretos +
Rizipiscicultura 2.560,00 1.219,00 1.314,00

Pré-germinado 1.560,00 888,00 672,00

Convencional 1.074,00 1.058,00 16,00

Manual Prático de Rizipiscicultura, EMATER/RS, 1999.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDO, S. Manual de irrigação. 3.ed.. Viçosa: UFV, 1984. 463 p.

COTRIM , Decio. Manual Prático de Piscicultura. Porto Alegre: EMATER/RS, 1998. 38p.
COTRIM, Decio et al. Manual Prático de Rizipiscicultura. Porto Alegre: EMATER/RS, 1999.

DÍAZ, A., Carboneli, J. Adecuación de tierras para la siembra de arroz. In: ARROZ: investigación y
producción. Cali: CIAT, 1985. p. 159-181

BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria Nacional da Produção Agropecuária. Provárzeas Nacional: 1 ha


vale por 10 . Brasilía, 1982. 254 p .

CAI, Renkui, NI, Dashu, WANG, Jianguo. Rice-Fish Culture in China: the past, present and future.,1998.
(http://www.idrc.ca/books/focus/776/cairenk.html)

VERONEZZI, L. Aproveitando o esterco. A Granja, Porto Alegre, v.40, n.435, p.16-18, abr.1984.

* (1) Eng. Agr., Extensionista Rural da EMATER/RS, Escritório Regional Metropolitano. Rua Botafogo, 1051,
Bairro Menino Deus, Porto Alegre (RS), Fone 233-3144 ramal 2220, (e-mail: metropol@emater.tche.br), (2) Eng.
Agr., Extensionista Rural da EMATER/RS, Divisão Técnica. Escritório Central, (3) Eng. Agr., Extensionista Rural
da EMATER/RS, Escritório Municipal de Santo Antônio da Patrulha, (4) Eng. Agr., Extensionista Rural da
EMATER/RS, Escritório Regional Metropolitano, (5) Med. Vet., Extensionista Rural da EMATER/RS, Escritório
Regional Metropolitano, (6) Med. Vet., Extensionista Rural da EMATER/RS, Divisão Técnica. Escritório Central,
(7) Tec. Agr., Extensionista Rural da EMATER/RS, Escritório Municipal de Santo Antônio da Patrulha, (8) Tec.
Agr., Extensionista Rural da EMATER/RS, Escritório Municipal de São Sebastião do Caí, (9) Tec. Agr.,
Extensionista Rural da EMATER/RS, Escritório Municipal de Pantano Grande.
Artigo

Consórcio de mandioca com crotalária - efeitos sobre plantas espontâneas*

Schaffrath, V. R** e. Miller, P. R. M.***

O objetivo deste trabalho é identificar novas espécies de leguminosas que se adaptem a este tipo de manejo, tolerantes a
baixa fertilidade do solo e de uso exclusivo para a adubação verde.

Resumo

O cultivo de mandioca consorciado com adubos verdes apresenta características interessantes ecológica, econômica e
socialmente. Bem manejado, traz vantagens para a pequena propriedade familiar. Este trabalho comparou mandioca solteira com
adubação nitrogenada e mandioca consorciada com leguminosas, para avaliar os efeitos dos dois sistemas sobre as plantas
espontâneas. Observou-se uma redução muito significativa na ocorrência de plantas espontâneas nos tratamentos consorciados
(13,68%) em relação aos de cultivos solteiros (66,08%), demonstrando a eficiência do cultivo consorciado. A análise de co-
variância explicou melhor a variação entre parcelas do que a análise de variância simples, demonstrando a utilidade desta
ferramenta estatística para pesquisa em sistemas de produção da pequena propriedade familiar.

Foi utilizado um delineamento experimental de blocos casualizados, e a análise estatística foi feita com e sem uma co-variável, a
altura da mandioca aos 150 dias.

Introdução

O consórcio da cultura da mandioca com outras culturas é bastante tradicional, nas pequenas propriedades familiares, em Santa
Catarina, e apresenta características distintas dos seus respectivos monocultivos, pois surgem várias interações que não
ocorreriam no cultivo solteiro. As principais vantagens potenciais dos cultivos consorciados são: maior estabilidade de produção
(principalmente em áreas de instabilidade climática), interceptação mais efetiva da radiação luminosa, melhor utilização da terra,
maior retorno por unidade de área, melhor exploração de água e nutrientes nas diferentes camadas de solo, melhor utilização da
força de trabalho (muito importante em pequenas propriedades familiares), maior eficiência no controle de plantas espontâneas _
melhor equilíbrio da população de pragas e doenças, melhor proteção do solo pela cobertura foliar e sistema radicular,
disponibilidade de mais de uma fonte alimentar e maiores retornos econômicos _ Leihner, (1983), Mattos & Dantas, (1981) e Mattos
& Souza, (1981) citados por Zanatta et al., (1993).

A consorciação da mandioca com leguminosas para adubação verde também não é inédita. Porém, os resultados de outros
pesquisadores no Estado de Santa Catarina não são muito animadores, no sentido de que as leguminosas competem com a
cultura de interesse (Mondardo et al, 1983). No nosso trabalho buscamos identificar métodos de manejo das leguminosas, que
permitam um bom desempenho das plantas envolvidas no consórcio; diminua a intervenção do homem e permita um manejo da
fertilidade do solo por tempo indeterminado, aportando nitrogênio através das leguminosas, e reciclando os demais nutrientes.
Estes atributos são particularmente importantes em areias quartzosas, que caracterizam uma extensa faixa de solos que ocupa
todo o litoral de Santa Catarina, (2,2 % da área cultivada do Estado). Estes solos são de baixa fertilidade química e apresentam
problemas de erosão eólica e hídrica. O uso de culturas de cobertura do solo podem atenuar os problemas de erosão e
principalmente melhorar a fertilidade, permitindo melhores colheitas das culturas subseqüentes ou intercalares (Amabile et al.,
1994).

A mandioca é uma cultura de desenvolvimento inicial lento e de ciclo longo, por isso, uma cultura intercalar que auxilie na
cobertura do solo, aporte nutrientes e permita um maior equilíbrio biológico do sistema, é extremamente interessante sob todos os
aspectos, quando comparada com os sistemas tradicionais de monocultivo. Nas areias quartzosas, mais que em outros solos,
outras culturas comerciais exigem maior aporte de insumos do que a mandioca. Portanto, em sistemas com poucos insumos
externos e sem pousios prolongados para recuperar a fertilidade do solo, a mandioca tem sido cultivada em monocultura, o que
acaba por acelerar a degradação do solo.

O objetivo geral deste trabalho é identificar novas espécies de leguminosas que se adaptem a este tipo de manejo, tolerantes à
baixa fertilidade do solo e de uso exclusivo para a adubação verde. A presença de uma cultura intercalada tem ainda efeitos
benéficos no sentido de diminuir os espaços biológicos vazios no solo, que certamente viriam a ser ocupados por outras espécies,
muitas vezes indesejadas (Widdowson, 1993). O objetivo específico foi a avaliação fitossociológica das espécies de plantas
espontâneas das parcelas experimentais e buscou-se fazer uma relação dos fatores envolvidos para explicar a maior ou menor
presença de plantas espontâneas e também das espécies de maior ocorrência.

Material e métodos

Este experimento foi realizado na fazenda experimental do Centro de Ciências Agrárias - UFSC, no bairro da Ressacada, em
Florianópolis, Santa Catarina., no período de setembro de 1994 à julho de 1995. O solo, classificado como areia quartzosa
hidromórfica (UFSM, 1973), foi preparado pelo sistema convencional, com aração e gradagem, numa área com histórico de
utilização como pastagem. Uma coleta de amostras de solo foi realizada, seguindo-se os padrões de altura da mandioca: alta,
média e baixa, aos 84 dias do plantio, cujos resultados estão apresentados na Tabela 1.

O ensaio foi realizado com cinco tratamentos e quatro repetições (Tabela 2). A adubação nitrogenada em cobertura foi comparada
com o uso de leguminosas intercaladas na fase inicial de crescimento da mandioca. O tratamento testemunha não recebeu
adubação e foi cultivado solteiro. As parcelas utilizadas foram de 6 x 8 m ( 48 m2); a mandioca foi plantada com 0,8 m entre linhas
e entre manivas, com um total de 7 linhas de mandioca em cada parcela. O ensaio foi realizado em blocos completos
casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições.

As leguminosas foram semeadas nas entrelinhas simultaneamente com o plantio das manivas. As adubações nitrogenadas foram
efetuadas em duas etapas, aos 56 e 70 dias do plantio, com metade da dose em cada etapa, (89 kg de uréia no tratamento com 80
kg de N/ha, e 44,5 kg de uréia no tratamento com 40 kg de N/ha, em cada etapa). Aos 90 dias do plantio, as entrelinhas de todos
os tratamentos foram roçadas, a 15 cm do solo, com uma roçadeira costal motorizada, objetivando-se manejar as leguminosas e
as demais plantas espontâneas do sistema.

A avaliação da cobertura do solo nas entrelinhas, por leguminosas ou por outras plantas foi realizada em 25/02/95, 150 dias após o
plantio. Foi esticado uma trena, transversalmente, dentro da 2ª e 5ª entrelinha de cada parcela, em baixo da mandioca; foram
observados pontos perpendiculares à trena a cada 20 cm, num total de 80 por parcela, que permitiram avaliar a presença ou
ausência de cobertura do solo. A altura da mandioca foi mensurada com uma régua de madeira a cada duas fileiras e dois metros
dentro de cada uma delas, num total de 15 amostras por parcela, na mesma época da avaliação da cobertura do solo. Os dados
foram avaliados estatisticamente através de análise de variância, co-variância e testes de separação de médias.

Resultados e discussão

Cobertura do Solo

O consórcio com crotalárias diminuiu significativamente a ocorrência de outras espécies de plantas no sistema (13,68 %), quando
comparada com os tratamentos sem crotalárias (66,08 % em média). A figura 1 demonstra as interações entre a crotalária e as
plantas espontâneas. A cobertura do solo por espécies plantadas e espontâneas demonstram a eficiência do consórcio de culturas
para diminuir a interferência humana no manejo das plantas espontâneas. Isto é um indicativo de que sendo o sistema bem
manejado, a interferência do homem pode ser reduzida, principalmente no controle de plantas espontâneas, que é a maior
demanda de mão-de-obra nos sistemas em monocultivo de mandioca tradicionais, em pequenas propriedades.

A amostragem da altura da mandioca aos 150 dias do plantio mostra que não houve efeito dos tratamentos sobre a altura da
mandioca (tabela 3). Nos tratamentos com nitrogênio solúvel esperava-se maior altura das plantas de mandioca, o que não
ocorreu, isto pode ser justificado pelo fato de que normalmente ocorrem perdas significativas de nitrogênio por lixiviação,
especialmente nos solos de areia quartzosa.

Composição florística

As espécies de plantas espontâneas de maior ocorrência cobrindo o solo no sistema foram: Paspalum conjugatum (grama forquilha
- 20,0 %), Borreria latifolia (erva quente - 7,3 %), Waltheria indica (malva branca - 3,15 %), Commelina benghalensis (comelina -
1,85 %) e Cyperus esculentus (tiririca - 1,0 %). Houve uma especialização de determinadas plantas em determinados tratamentos
refletindo, provavelmente, a fertilidade natural do solo e as diferenças de nutrição dentro dos tratamentos (Figura 2).

A testemunha apresentou uma miscelânea de espécies, com predominância de gramíneas que refletem o menor teor de fertilidade
e maior incidência de luz no estrato inferior do tratamento. Enquanto que os tratamentos com adubação nitrogenada apresentaram
espécies mais específicas, provavelmente com maior capacidade de aproveitamento do nitrogênio em abundância, no início do
experimento - como exemplo se pode citar a erva quente (B. latifolia), além das gramineas. Já os tratamentos com crotalárias
apresentaram situação intermediária entre os dois extremos, demonstrando um maior equilíbrio do sistema, onde algumas
espécies vegetais, além da leguminosa e mandioca, conseguiram se manter de forma mais equilibrada, com um menor número de
indivíduos de cada espécie.

Pôde-se comprovar que houve uma especialização das plantas que ocupam o estrato inferior do sistema consorciado, onde as
condições criadas pela altura da mandioca (sombreamento) e a ocupação deste estrato pela leguminosa acabam por impedir o
surgimento e/ou a permanência de outras espécies de plantas espontâneas. Algumas plantas se adaptam às condições criadas e
permaneçem vegetando no sistema consorciado. Este sistema mantém um número reduzido de espécies espontâneas, que
normalmente acabam por não afetar o rendimento das culturas de interesse econômico.

Análise estatística

Na Tabela 4, são apresentados os valores da análise de variância e co-variância, para os dados de cobertura do solo por plantas
espontâneas. A co-variável é significativa e reduz a soma dos quadrados do resíduo. A co-variável introduzida, altura da mandioca,
fácil de avaliar e que reflete as condições de fertilidade do solo (Tabela 1) pode melhorar a nossa compreensão a respeito do
comportamento biológico dos tratamentos analisados.

Fazendo-se um estudo comparativo da separação de médias usando análise de variância e de co-variância, podemos ver como a
introdução de uma co-variável melhora a separação das médias do tratamentos na tabela 5. Em experimentos futuros, com
métodos que levam em conta a variabilidade dos solos, pode-se obter resultados mais exatos dos efeitos que cada variável
biológica tenha sobre os resultados obtidos. Os autores Souza, Diniz e Caldas (1996) obtiveram resultados semelhantes, quando,
além do uso da co-variância, utilizaram a análise do vizinho mais próximo, e conseguiram melhorar o coeficiente de variação de
um experimento com clones de mandioca, onde a grande variabilidade do solo era o fator de maior dispersão dos dados.

Considerações finais

O consórcio com crotalárias diminuiu a ocorrência de plantas espontâneas de 66,08% nos tratamentos sem consórcio, para
13,68% nos tratamentos com consórcio. Houve predominância de gramíneas no tratamento testemunha, gramíneas e erva quente
nos tratamentos com adubação nitrogenada, e uma miscelânea de espécie em número reduzido nos tratamentos com
leguminosas, refletindo uma tendência do sistema se manter em equilíbrio, sem que uma espécie domine totalmente as outras.

Culturas consorciadas costumam ter mais interações entre as espécies e estas interações são mais afetadas por pequenas
variações no ambiente físico. Isso acaba elevando a variação entre parcelas em ensaios com delineamento convencional, muitas
vezes inviabilizando a interpretação dos dados com os métodos normais de análise. A análise de covariância explicou melhor a
variação entre parcelas do que a análise de variância simples, demonstrando a utilidade desta ferramenta estatística. Estas e
outras ferramentas são necessárias para adaptar os métodos convencionais de pesquisa aos sistemas de produção da agricultura
familiar.

Tabela 1: Resultados da análise de solo, coletado sob mandioca com altura inicial diferente, CCA - UFSC, 1997.
M.O. K Ca+Mg Al
Altura da mandioca pH P **
*** * * *
Porte baixo 4,20 1,90 2,95 26 1,5 0,8
Porte médio 4,17 2,90 3,70 30 1,4 0,8
Porte alto 4,05 3,70 2,10 26 1,2 0,8
*** em %; ** em ppm; * em m.eq./dl

Tabela 2: Tratamentos utilizados no cultivo de mandioca com leguminosas, para a análise das plantas espontâneas, CCA -
UFSC, 1997.
TRATAMENTOS SÍMBOLOS
Mandioca solteira com adubação nitrogenada de 40 kg/ha 40 kg N/ha
Mandioca solteira com adubação nitrogenada de 80 kg/ha, 80 kg N/ha
Mandioca consorciada com crotalária grantiana C. grantiana
Mandioca consorciada com C. grantiana e crotalaria lanceolata C. grant. + C. lanc.
Mandioca solteira sem adubação nitrogenada e sem consórcio Testemunha

Tabela 4: Valores comparativos da análise de variância e co-variância para a percentagem de cobertura do solo por
plantas espontâneas, CCA - UFSC, 1997.
Graus de
Soma dos
Análise de variância Quadrado médio Valor de F Valor de P
Quadrados
liberdade
Blocos 3 1.596 533 1,04 .4026
Tratamentos 4 15.994 3.999 7,79 * .0011 *
Resíduo 16 8.205 513 -- --
Análise de co-variância Graus de Soma dos
Quadrado médio Valor de F Valor de P
Fatores liberdade Quadrados
Blocos 3 2.564 855 2,62 .0893
Tratamentos 4 14.721 3.680 11,27 * .0002 *
Altura 1 3.305 3.305 10,12 * .0062 *
Resíduo 15 4.900 327 -- --
· Demonstra que os valores são significativos a 5%.

Tabela 5: Valores médios de cobertura do solo por plantas espontâneas e a sua significância frente duas análises estatísticas
diferenciadas, usando-se os tratamentos na análise de variância e os tratamentos e a altura na análise de co-variância, CCA -
UFSC, 1997.
% de cobertura do solo separação de médias com separação de médias com análise de
Tratamento
por plantas espontâneas análise de variância co-variância
C. grantiana + C. lanceolata 1 a a
C. grantiana 26 ab a
Testemunha 62 bc b
Adubação 40 kg N/ha 63 bc b
Adubação 80 kg N/ha 74 c b
* Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste Tukey a 5%.

Referências Bibliográficas
AMABILE, R. F., CORREIA, J. R., FREITAS, P. L. de, BLANCENEAUX, P., GAMALIEL, J. Efeito do manejo de adubos verdes na produção de mandioca (Manihot
esculenta Crantz). Pesq. Agrop. Bras. Brasília, v. 29, n. 8, p1199, ago. 1994.

LEIHNER, D. Yuca en cultivos associados: manejo e evaluación. Cali. CIAT, 1983. 80 p. apud ZANATA, J. C., SCHIOCCHJET, M. A ., NADAL, R. de, Mandioca
Consorciada com milho, feijão ou arroz de sequeiro no Oeste Catarinense. Florianópolis: EPAGRI, 1993, 37 p. (EPAGRI Boletim Técnico, 64)

MATTOS, P. L. P. de; DANTAS, J. L. L. Utilização do cultivo da mandioca consorciada com feijão. Cruz das Almas. EMBRAPA-CNPMF, 1981. 22p. (EMBRAPA-
CNPMF. Circular Técnica, 2) apud ZANATTA, J. C., SCHIOCCHET, M. A ., NADAL, R. de, Mandioca consorciada com milho, feijão ou arroz de sequeiro no Oeste
Catarinense. Florianópolis: EPAGRI, 1993. 37 p. (EPAGRI Boletim Técnico, 64).

MATTOS, P. L. P. de; DANTA, J. L. L. Utilização do cultivo de mandioca consorciada com feijão. Cruz das Almas. EMBRAPA-CNPMF, 1981. 22p. (EMBRAPA-
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MATTOS, P. L. P. de; SOUZA, A. da S. Mandioca em consorciação no Brasil: problemas, situação atual e resultados de pesquisa. Cruz das Almas. EMBRAPA-
CNPMF, 1981. 51p. (EMBRAPA-CNPMF. Documentos, 1) apud ZANATTA, J. C., SCHIOCCHET, M. A., NADAL, R. de, Mandioca consorciada com milho, feijão ou
arroz de sequeiro no Oeste Catarinense. Florianópolis: EPAGRI, 1993. 37 p. (EPAGRI Boletim Técnico, 64).

MONDARDO, E., MORAES, O. De, FROSI, J. F., TERNES, M. Mandioca em fileira dupla consorciada com leguminosas no Sul de Santa Catarina. Florianópolis:
EMPASC, 1983, 7 p. (comunicado técnico, 63).

ZANATTA, J. C., SCHIOCCHET, M. A., NADAL, R. de. Mandioca consorciada com milho, feijão ou arroz de sequeiro no Oeste Catarinense. Florianópolis:
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SOUZA, L. da S., DINIZ, M. de S., CALDAS, R. C. Correlação da interferência da variabilidade do solo na interpretação dos resultados de um experimento de
cultivares/clones de mandioca. R. Bras. Ci. Solo, Campinas, v. 20, p.441-445, 1996.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de Santa Catarina. Porto Alegre: 1973. 490 p.

WIDDOWSON, R. W. Hacia una agricultura holistica. Un enfoque científico. Buenos Aires: hemisfério Sur, 1993. 270 p.

* Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado em Agroecossistemas do primeiro autor.

** Eng. agro. MSc em Agroecossistemas. CREA-PR 55099-D, Rua Tietê, 43, Bairro Zona 7, CEP 87020-210 - Maringá (PR) e-mail:
vschaffrath@bol.com.br

*** Dr. Em Ecologia. Professor do Depto.Eng. Rural, Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina CP
476, Florianópolis, SC 88010-970 e-mail: rick@mbox1.ufsc.br
Alternativa Tecnológica

Produção de leite a pasto / Pastoreio Rotativo

Kirchof, Breno*

As pequenas propriedades familiares podem obter maior produção de leite, com menor custo, usando melhor as pastagens.
Hoje, como antigamente, as pequenas propriedades agrícolas possuem somente um, ou no máximo dois, potreiros para
seus animais. Como conseqüência, algumas partes do potreiro nunca são pastejadas e as partes pastejadas não
conseguem se recuperar porque, quando rebrotam, são imediatamente consumidas. As pastagens começam a se degradar
e acabam sendo tomadas pelos pastos menos produtivos, pelos inços e arbustos.

A mudança do pastoreio num potreiro para o pastoreio rotativo (vários piquetes) é a primeira atitude para melhorar a
rentabilidade da exploração leiteira.

Com isto, estarão melhorando a sustentabilidade de suas propriedades e produzindo um leite mais barato e mais ecológico.
Também, é importante que o produtor tenha boas pastagens, tenha um número de vacas com razoável padrão zootécnico
e que saibam manejar adequadamente estes pastos.

A EMATER/RS vem trabalhando esta idéia com os pequenos produtores de leite, faz três anos. Os resultados alcançados
foram além da expectativa, tanto que hoje já existe um número muito grande de produtores que adotaram este esquema,
principalmente na Região Noroeste do Estado.

O manejo é uma parte fundamental na produção e durabilidade dos pastos. O manejo tem por objetivo ter disponível um
pasto jovem e abundante para as vacas na maior parte do ano e que este pasto não se degrade. Isso é conseguido
dividindo-se a área dos pastos, fazendo pastoreio rotativo e fazendo-se adubação orgânica.

Para dividir a área de pastagens usa-se a cerca elétrica fixa. Os piquetes devem estar localizados perto da sala de ordenha
e da casa para facilitar o controle. O pastejo das vacas dura, no máximo, um dia e deve-se ter, no mínimo, 30 piquetes.
Calcula-se o tamanho de cada piquete em 50 metros quadrados por vaca por dia. A quantidade de vacas na propriedade é
a chave para determinar o tamanho dos piquetes.

Os piquetes devem ser desenhados com um corredor que permita o manejo fácil das vacas e sendo possível, permita às
vacas procurarem sombra nos dias mais quentes do ano. Cada dois piquetes devem ter uma torneira com água que
permita acoplar um pequeno bebedouro móvel. A água nos piquetes é muito importante, uma vaca necessita de 50 litros de
água por dia que deve estar à disposição nos piquetes. Os piquetes também devem ter um cocho móvel para sal mineral.

No manejo, um fator importante é que não deve sobrar pasto após a passagem das vacas. No caso de haver sobra esta
deve ser ceifada. Há a possibilidade de integração das vacas leiteiras com ovinos. Os ovinos devem seguir as vacas nos
piquetes onde comerão o pasto que as vacas não consumiram. Com esta integração não necessitamos cortar o pasto que
sobrou e temos outra fonte de renda com os ovinos. Após a saída dos animais, deve-se espalhar o esterco e se for o caso
aplicar a adubação orgânica.

No primeiro pastoreio devemos usar animais mais leves (jovens). O esquema é fazer o primeiro uso deixando os animais
apenas pela manhã. No segundo uso deixar os animais de manhã e à tarde e no terceiro uso o dia inteiro. Em agosto,
setembro e outubro é o início do uso mais intenso dos pastos, deve-se acompanhar a sobra ou falta de pasto. Em
novembro, dezembro, janeiro e fevereiro considera-se o uso normal, as sobras de pasto devem ser cortadas para feno ou
silagem. Em março, abril e maio deve-se readequar o uso à disponibilidade do pasto. Nos meses de junho e julho o uso
visa sempre a manutenção do pasto e é mais esporádico. O pastejo inicia somente quando o pasto jovem está na altura
adequada.

Se a pastagem sofrer por seca ou geada, a primeira providência é diminuir o tempo de permanência dos animais e nos
casos mais graves retirar os animais. Na época de muito pasto cuidar para não passar do ponto porque os animais não dão
conta. Neste caso deve-se ceifar os piquetes que sobram para fazer feno ou silagem. Se deixar o pasto passar do ponto
ele ficará velho, aumentará a fibra, baixará a proteína e a digestibilidade.

No pastoreio rotativo aumenta a produção de leite porque há um aumento da proteína e da energia nos pastos, que ficam
com um valor muito mais alto do que num pasto sem este manejo, conforme podemos ver na informação a seguir:

Com o pastoreio rotativo, a produção de leite é maior e mais estável porque as vacas estão recebendo, todos os dias,
pasto no ponto ótimo de consumo para a época. Os dados de produção de leite, a seguir, são de duas propriedade
semelhantes quanto ao rebanho:
Propriedade A- Pastoreio rotativo: nenhuma queda brusca na produção de leite que lentamente diminui a produção da
primavera ao outono.

Propriedade B- Potreiro único: menor produção de leite, quedas bruscas de produção e queda acentuada na entrada do
outono.

Com o pastejo rotativo diminui os inços e melhora a digestibilidade do pasto, como podemos ver pelos dados a seguir:

Através do corte regular, com sobra adequada e boa adubação do esterco, melhora a produção do conjunto de gramíneas e
leguminosas no piquete. O pasto duro e os inços diminuem bastante. A melhora da qualidade do pasto traz como
conseqüência uma maior produção de leite e das sobras de pasto um feno ou silagem de melhor qualidade.

Junto aos piquetes deve haver uma área de sombra para que os animais possam se abrigar nas horas mais quentes do
dia. Esta área de sombra pode ser um mato limpo, algumas árvores ou uma área coberta. Nas horas mais quentes do
verão, mais ou menos das 10 horas até as 16 horas as vacas devem permanecer na sombra. Num bom pasto as vacas
não necessitam mais do que 4 a 5 horas para encher o rúmen, o que pode ser feito pela manhã e a tardinha sem prejuízo
para a produção.

Com este sistema, usamos em torno de 1.600 metros quadrados por vaca, contra, no mínimo, 5.000 metros quadrados
usados no método convencional.

Bibliografia

KLAPP, E. Wiesen und Weiden. 4.ed. Berlim: Paul Parey, 1971. 620p.

*Engenheiro Agrônomo da EMATER/RS. Escritório Central, fone (51)233-3144


Artigo

Comunicación de innovaciones ambientales


Para un replanteo de la teoría clásica
Cimadevilla, Gustavo*

Resumen

La teoría clásica sobre la difusión y adopción de innovaciones, así como los enfoques teóricos de la
macroeconomía, han dejado de lado el análisis de la circulación y adopción de innovaciones vinculadas a
racionalidades que no siempre responden a principios económicos, como por ejemplo las ambientales. Las
clásicas categorías de la capacidad de difusión de esos bienes merecen entonces revisarse a la luz de la
complejidad comunicacional que suponen y sus posibilidades de extensión.

Palabras-clave: innovaciones, adopción, difusión, tecnología, ambiente

Introducción

La teoría clásica sobre la difusión y adopción de innovaciones (Rogers, 1962), centrada en los procesos de
información, decisión y caracterización de los adoptantes y la tecnología y racionalidades modernas, así como
los enfoques teóricos del campo de la macroeconomía sobre los paradigmas tecnoeconómicos dominantes y
sus procesos de hegemonización (Schumpeter, 1939; Mandel, 1986; Huber, 1986; Ominami, 1986), o los
estudios del valor relativo o determinante del impacto tecnológico en el medio social (Elster, 1990), han dejado
de lado, por ejemplo, el análisis de la circulación y adopción de innovaciones ambientalmente compatibles (IAC)
con una racionalidad social crítica, por lo general no vinculada a una necesaria búsqueda de mayor producción y
productividad económica, sino de una preocupación con el ambiente y el futuro de existencia y calidad de vida
de las especies.

Para ese marco, las clásicas categorías evaluativas de la capacidad de difusión de las tecnologías según su: a)
ventaja relativa; b) grado de compatibilidad; c) complejidad; d) divisibilidad; y e) observabilidad -ligadas en mayor
grado y específicamente a la lógica de la producción-, parecen no dar cuenta de los procesos sociales en los
que aquellas tengan cabida y requieren de un nuevo enfoque comunicativo que privilegie la lectura de su
capacidad de difusión como bienes intangibles y de alta complejidad conceptual. Algunos resultados de nuestras
investigaciones recientes (Cimadevilla, Carniglia, 1994; 1995; 1996; 1997) permiten iniciar esa discusión.

Acerca de las innovaciones

Pero ¿de qué estamos hablando cuando el objeto de análisis son las innovaciones? En general hay acuerdo en
designar como innovaciones a las ideas, métodos u objetos que pasan a considerarse nuevos en un determinado
ambiente sociocultural. Si bien para ciertos intelectuales de mediados de este siglo -Barnett, Douglas - no hay
una diferencia sustantiva entre este término y el de invención, en la tradición schumpeteriana, la literatura
difusionista y los aportes posteriores se prefirió discriminar ambos conceptos. Así, la innovación se asocia a la
idea de que algo es percibido como nuevo, independientemente de cuándo o dónde haya sido generado. Se
reserva el término invención, por el contrario, para el descubrimiento o generación de lo nuevo (Rogers, 1971;
Quesada, 1980; Van den Van y Hawkins, 1996). Elster (1990) y Pérez (1986) -siguiendo a Schumpeter-, en tanto,
prefieren hablar de invención para referirse a la creación de alguna idea científica, teoría o concepto que,
trasladado al campo de los procesos productivos, luego pasará a convertirse en innovación.

Las múltiples discusiones a su entorno, se han detenido también en el análisis de los calificativos que
acompañan al término. Por ejemplo, en cuanto a si necesariamente una innovación se supone un bien
tecnológico o no (innovación tecnológica), si el término se reserva sólo para los bienes con valor económico
(innovación productiva) o si podemos hablar de innovaciones sociales o culturales (como bien podría designarse,
respectivamente, a los graffitis o a ciertas instituciones antes no conocidas y ahora más o menos generalizadas
como los movimientos de defensa del ambiente, por citar dos casos). Lo cierto es que, más allá del encuadre
que puede asumir un determinado análisis, el concepto ha sido útil para analizar como en los procesos de
cambio social aparecen elementos nuevos que lo explican y que, a decir de Barnett (op. cit., 1986), difieren
cualitativamente por ser diferentes de los antes existentes.

Ahora, como en la literatura vinculada al cambio social decididamente la dimensión de lo económico ha sido
dominante, quizás porque es el terreno obligado en donde se dirime el modo por el cual el hombre resuelve su
existencia material, el término ha cobrado especial relevancia en los análisis económicos. Desde la obra de
Marx, en la que el cambio técnico ocupa un capítulo específico para explicar el desarrollo del capitalismo , hasta
el replanteo Schumpeteriano o los enfoques contemporáneos de los paradigmas tecnoeconómicos , la
innovación -particularmente tecnológica y productiva- ha cobrado dimensión en la literatura como responsable de
peso en las grandes transformaciones de los dos últimos siglos.

Para Marx, sostiene Elster (1990), el cambio tecnológico -en cuanto desarrollo de las fuerzas productivas- era el
principal motor de la historia. La innovación, en ese marco, estaba en función del desarrollo de las fuerzas
productivas y, por tanto, era una variable explicativa con significado propio. Al igual que en el pensamiento
neoclásico, se interpretaba la aparición de una innovación en cuanto ésta se debía a cierta elección racional del
empresario que estaba en busca de una maximización de sus ganancias. Esa lectura racional de una
combinación de medios para la obtención de fines, tuvo posteriormente con Schumpeter cierto replanteo de su
lógica de funcionamiento. Si bien para este autor la innovación era la principal causa de las fluctuaciones
cíclicas de la economía y el motor del desarrollo productivo, la explicación de su irrupción en la economía tenía
que ver con factores muchas veces irracionales vinculados a la psicología del empresario, más que a una
decisión de calculada especulación económica. Este acento en el costado menos predecible de la conducta
humana, se apoyaba en la tesis de que el empresario tiene sueños y voluntades de encontrar un reino privado; la
voluntad de conquistar y de tener éxito no por los frutos, sino por el éxito mismo; y finalmente por disfrutar de la
alegría de crear, de ¨que las cosas se hagan¨ (Elster, 1990:107) .

Los planteos actuales del cambio tecnológico a nivel de macroestructuras, por su parte, parecen rescatar el
papel paradigmático atribuido a la tecnología cuando de innovaciones se trata . Así, se sostiene que cuando
cierta innovación radical tiene la capacidad de conformar una constelación de sistemas tecnológicos , su
difusión se concreta a lo largo y ancho del sistema productivo transformándolo: ¨La revolución industrial en
Inglaterra, la ¨era del ferrocarril¨ a mediados del siglo pasado, la electricidad y el acero Bessemer en la ¨Belle
Epoque¨, el motor de combustión interna, la línea de ensamblaje y la petroquímica en el reciente ¨boom¨ de
postguerra (y la microelectrónica de nuestra era), son todos ejemplos de este tipo de revoluciones de impacto
generalizado capaces de transformar el modo de producir, el modo de vivir y la geografía económica mundial¨,
resalta Pérez (1986:48).

Ahora bien, aún cuando cambie el enfoque o el carácter más o menos determinista de las tesis que se
propongan para explicar el impacto tecnológico sobre el medio social, una constante sigue todos los
razonamientos, cual es, la de ambientar los planteos en torno a las funciones económicas que cumplen las
innovaciones. O dicho de otra forma, la de procurar entender cómo se multiplica la presencia de una innovación
y por qué esta es aceptada a partir de los análisis de costo beneficio que determinado bien potencialmente
puede generar en un contexto productivo o social. Así, sea más o menos racional o irracional la conducta,
macroestructural o localizada, es la economía la que le da sentido estratégico a las lecturas y la que en
definitiva justifica los análisis.

Acerca de los estudios

En la década de 60, E. Rogers (1962) - reconociendo múltiples tradiciones anteriores - se dispuso a sistematizar
el conocimiento sobre el camino que las innovaciones seguían en su proceso de adopción. Para ello propuso
observar, a partir del cúmulo de investigaciones existentes, las cinco características que permitían discutir por
qué variaba el índice de adopción entre unas y otras . Estas características eran: a) ventaja relativa; b) grado de
compatibilidad; c) complejidad; d) divisibilidad; y e) observabilidad (comunicabilidad). Entendiendo por ello que
toda innovación implicaba o no: a) cierta superioridad en relación a la que suplantaba, b) cierto reconocimiento y
conciliabilidad con los valores y costumbres vigentes en el lugar, c) cierto grado de comprensión de
funcionamiento y uso, d) cierta experiencia de manipulación previa, y e) cierta visibilidad de los resultados o
consecuencias esperadas.
En ese marco, entonces, una tarea significativa es la de tratar de identificar la serie de supuestos que dan
sentido a la selección de los criterios de análisis y permitan discutir su alcance. En primer lugar, la ventaja
relativa como superioridad implica un procedimiento de juicio de valor respecto a cualidades que siempre serán
relativas a cierta dimensión de análisis. Por ejemplo, si un bien es superior a otro por ser más eficaz, lo será en
términos de los resultados que brinda y en un esquema valorativo donde el resultado sea el fin último para el
sistema de valoración. Pero también podría ser superior por la regularidad en el funcionamiento, durabilidad,
posibilidad de predicción mecánica o la combinación de varias de esas propiedades, entre otras, etc. La
superioridad, entonces, puede juzgarse por múltiples factores. La pregunta, en todo caso, es a través de qué
factor(es) es juzgada y qué nivel de coincidencia tiene o no ese criterio con el que la propia innovación define y
propone para su adopción. Dicho de otra manera, hasta qué punto esta característica es independiente de la
propia definición con la que el difusor establece el sentido de la innovación. Así, si por ejemplo el marco en que
una innovación cobra existencia como tal es el productivo, su superioridad o no será necesariamente valorada
desde esa dimensión económica de análisis.

Pero esto nos lleva a otra pregunta: ¿qué innovación no está en función de la producción o de un
comportamiento instrumental, en cuanto interesa a partir de la mensuración de costos y beneficios estrictamente
económicos a los que se atiene? Para el marco general y sistémico de nuestro contexto inmediato, sociedades
de mercado, de industrialización y de consumo, la respuesta no puede ser otra que la de la generalización
productiva y, por tanto, de una lógica instrumental dominante. Y ello, aún cuando se aplique a políticas sociales,
en las que se verifica -por ejemplo en el campo de la salud- que, salvo excepciones, las decisiones de vacunar o
promocionar determinada profilaxis social se vincula más a la existencia de presupuestos y estrategias por
costos comparativos que a la estricta resolución del problema existente.

Ahora bien, este último aspecto nos lleva al análisis de la segunda característica tenida en cuenta, la de la
compatibilidad de la innovación con su medio de recepción. En ese sentido, para la evaluación tradicional se
supone que la no concordancia de valores vigentes y presentes en el bien pueden ser determinantes para el
rechazo. Pero, ¿tienen los bienes por sí mismos valores intrínsecos o es el contexto de su aplicación el que les
guarda su sentido ideológico? Para el pensamiento marxiano, por ejemplo, los instrumentos carecían de
ideología fuera de su modo de producción. Serán sus seguidores , en todo caso, los que insistirán en el devenir
técnico ligado a los intereses de clase y a considerar a la ¨ciencia y técnica en cuanto ideología¨, dando lugar a
una popularización de las lecturas que específicamente valoraban la técnica en sí. Lo cierto es que, desde una u
otra perspectiva, si se busca el paradigma dominante de referencia para comparar o no la adecuación de una
innovación con su medio de recepción será fundamentalmente el de los valores que antes asociáramos a la
sociedad de mercado, industrialización y consumo.

Si esto es así, en realidad lo que se juzga al evaluar la compatibilidad de una innovación es hasta qué punto
quien adopta ha incorporado ya o no esos valores dominantes. Por cuanto la innovación de por sí ya se supone
funcional a los intereses que están por detrás de su difusión.

Ahora bien, el tercer elemento a tener en cuenta es la complejidad que implica la innovación en cuanto grado de
dificultad que presenta para que se comprenda y use. La dificultad en este caso es poder separar la experiencia
que tiene su usuario o adoptante, y por tanto de lo que resulte en su relación con la innovación, de las
propiedades específicas del bien. Ejercicio que fácticamente no tiene sentido si lo que se busca es analizarlo en
términos de su potencial difusión y, por tanto, de su relación con los adoptantes. Así, se verifica entonces que
su grado de complejidad siempre es relativo a las audiencias que se toman como referentes y a su conocimiento
práctico o sistematizado, por tanto, a cierto sentido de vivencialidad sobre la innovación.

Este último punto, que deriva en el problema de la posibilidad de manipulación de lo que pueda adoptarse, esto
es, de la divisibilidad de lo que se difunde en tanto pueda ser experimentado sobre una base limitada -a decir de
Rogers-, lleva el análisis al plano de lo tangible y mensurable. O sea, a la posibilidad de prueba y medición de lo
que resulta y su proyección a lo potencialmente alcanzable. El acto de la manipulación, entonces, puede
comprenderse como un reaseguro o evidencia para la decisión de lo que se adoptará, en términos de haber
sometido al bien a la experiencia en un marco de condiciones limitadas.

Para quien manipula el bien, entonces, será el resultado que pueda exteriorizar a otros - con o sin intención - un
indicador que no sólo hablará de las propiedades de la innovación, sino del grado de acierto o no que tuvo la
decisión de experimentación y posible adopción de la innovación. El planteo de la difusión, en ese marco, se
hace sobre la base de que puede aspirarse a adoptar sólo aquello que es al menos conocido.

Sintetizando, el razonamiento evaluativo que tradicionalmente se ha seguido para analizar la capacidad que tiene
una innovación de trascender a un medio a través de la adopción se ha basado en los siguientes principios de
complementariedad: i) el reconocimiento de un contexto de sociedad industrial, de mercado de producción y
consumo que se toma como referencia para valorar la superioridad del bien y, por tanto y subyacente a ello, de
una valoración de la búsqueda de maximización de la ganancia en el menor tiempo posible; ii) el carácter
tangible del bien; y iii) los valores, experiencias y conocimientos del propio y posible adoptante como parámetro
para explicar parte significativa del nivel de circulación. Así, en realidad ese esquema evaluativo encierra dos
dimensiones conjugadas. Una que podríamos designar como objetiva, en tanto realidad exterior o envolvente del
sujeto (el propio contexto de la sociedad de mercado) y la existencia real y no virtual de la innovación, y otra
subjetiva, en tanto depende de las propiedades relativas al propio sujeto (esto es, a sus valores, experiencias y
conocimientos adquiridos).

Visto así, veremos que ese tipo de razonamiento encaja más o menos ajustadamente para analizar la capacidad
de difusión de innovaciones compatibles con el mercado, pero tiene dificultades para dar cuenta de otras
alternativas como las compatibles con el ambiente.

Ello, por las siguientes razones:

1. Las innovaciones ambientalmente compatibles pueden definirse, en términos muy generales, como un
conjunto de propuestas procedimentales y técnicas orientadas por la búsqueda de una interacción y uso más
saludable de los recursos naturales por parte del hombre y la sociedad organizada .

2. Porque su finalidad gira en torno a la preservación y respeto del ambiente, su funcionalidad capitalista es
secundaria.

3. Por tanto, su capacidad instrumental sigue modelos temporales y productivos más ligados a las condiciones y
procesos ambientales que a cualquier lógica artificial de transformación del entorno.

4. En consecuencia, los retornos de su adopción no son evaluados principalmente por el lucro obtenido, sino por
los estados ambientales resultantes.

5. Esto, en muchos casos y según el grado de deterioro ambiental, supone plazos temporales que exceden la
experiencia de los ciclos productivos o incluso de los horizontes de vida del propio sujeto adoptante, con lo cual,
los resultados esperados son virtuales, en el sentido de que sólo serán probablemente observables en períodos
correspondientes a futuros generacionales.

Cuadro Comparativo: Principales características a tener en cuenta para evaluar la capacidad de


difusión de las innovaciones productivistas y ambientales
Características de las Innovaciones Características de las Innovaciones
Productivistas Ambientalmente Compatibles
Ventaja alternativa: grado por el cual la innovación
Ventaja Relativa: grado por el cual la innovación
es superior por su compatibilidad ambiental a la que
es productivamente superior a la que suplanta.
suplanta
Valores Asociados: cualidades y juicios que la
Compatibilidad: grado por el cual la innovación
innovación sugiere al adoptante y su relación a la
es conciliable con los valores y experiencias
posición que éste asigna al ambiente entre los
existentes.
factores productivos.
Facticidad: grado de posibilidad cierta que una
Complejidad: grado por el cual la innovación es innovación tiene de ser aplicada, sin que por ello
difícil de comprender o usar. ponga en riesgo la continuidad de la unidad
productiva.
Complementariedad: grado de articulación posible
Divisibilidad: grado por el cual una innovación de la innovación con el resto del conjunto de
puede ser experimentada en una base limitada. técnicas y procedimientos utilizados en la unidad
productiva.
Virtualidad: rango de posibilidad que se le asigne a
Comunicabilidad: grado por el cual los la innovación de transformar a futuro y con mayor
Comunicabilidad: grado por el cual los y y
resultados consecuencia de la innovación son grado de deseabilidad ambiental el sistema
visibles a otros. productivo.

Las innovaciones ambientales compatibles: una reformulación característica

Así planteado, el clásico esquema evaluativo de la capacidad de difusión puede replantearse, desde una
perspectiva complementaria, en los siguientes términos:

I) Dado que el referente paradigmático es ambientalista, más que productivo, aunque aplicable en un sistema de
producción que sigue los principios del modo de producción capitalista, correspondería evaluar la ventaja
alternativa (y no únicamente la relativa) de la IAC. Esto es, el grado por el cual la innovación es superior a otra
en términos de no agresión y degradación del ambiente (o de rangos de modificación tolerables) y de respeto de
los procesos de reproducción naturales y de la conservación y mejora de las cualidades ambientales existentes.

II) Definido el marco anterior y partiendo del supuesto que los razonamientos dominantes son productivistas,
resulta conveniente analizar las cualidades y valores asociados a la IAC y cómo estos se vinculan a la posición
que el sujeto le asigna al ambiente en términos de los factores de la producción con los que interactúa.

III) En tercer término, además de analizar la complejidad como grado de dificultad de comprensión y uso de la
innovación, observar la facticidad de la adopción, en términos del grado de posibilidad cierta que una innovación
tiene de ser aplicada en un ambiente productivo sin que involucre como costo de oportunidad el riesgo extremo
de su desaparición como unidad productiva y, por tanto, de la expulsión de la unidad social dependiente de ella.

IV) Como desprendimiento anterior, luego de analizar la divisibilidad de la innovación, estudiar su


complementariedad, en cuanto grado de articulación posible de la innovación con el resto del conjunto de
técnicas y procedimientos utilizados en la unidad productiva. Esto es, de la posible compatibilidad tecnológica
de las innovaciones correspondientes a paradigmas productivos diferenciados.

V) Finalmente, y dado que entre el subconjunto considerado las IAC suelen actuar en marcos temporales de
largo plazo y bajo condiciones de baja comunicabilidad, dado la intangibilidad primaria de sus resultados ,
observar su virtualidad, en tanto rango de posibilidad que se le asigne a la innovación de transformar a futuro y
con mayor grado de deseabilidad ambiental el sistema productivo.

Así planteado, la propuesta de actualizar los esquemas de análisis de la capacidad de difusión de las
innovaciones de este tipo, puede regirse complementariamente adoptando el esquema abajo:

La teoría en terreno

Pero veamos ahora en un ejemplo el sentido instrumental y la capacidad explicativa que las categorías
propuestas tienen para dar cuenta -de modo complementario- de la capacidad de difusión de las innovaciones
ambientalmente compatibles.

En un estudio de años recientes, Marcellino (1992) se abocó a identificar y analizar el conjunto de innovaciones
que facilitaban la conservación del suelo en una región próxima a Río Cuarto (provincia de Córdoba, Argentina),
caracterizada por la presencia de empresas agropecuarias de pequeños y medianos productores con sistemas
mixtos y, desde el punto de vista ambiental, significativos procesos erosivos (hídricos y eólicos) que
comprometen la rentabilidad de las unidades y la capacidad de sus recursos naturales.

En la ocasión los investigadores utilizaron una encuesta de carácter cerrado, con preguntas de opciones
múltiples, voluntaria y anónima. La tarea permitió recoger 66 cuestionarios que, en todos los casos, fueron
respondidos por los titulares de la explotación. La población consultada se caracterizó por contener en un 80% a
los propietarios de sus unidades -algunos de ellos con arrendamientos complementarios-, con una gran mayoría
de entrevistados que estaban por encima de los 40 años de edad (dos terceras partes del grupo).

Uno de los objetivos principales del estudio fue identificar la disponibilidad y uso de maquinaria de labranza y
siembra compatibles con sistemas conservacionistas.

Así, ante la consulta sobre la disponibilidad y el uso de herramientas, se observó que en un 80% de los casos
se disponía de arados a reja (labranza tradicional), aunque su uso se manifestaba en el 64% de la muestra. El
arado a cincel, en tanto, más apropiado para la conservación del suelo, estaba disponible en el 73% de los
campos y utilizado en la totalidad de los casos. Se observaba, no obstante, que ese dato no permitía inferir que
el manejo de los rastrojos y las operaciones de siembra resultasen luego adecuadas para responder a la finalidad
conservacionista. Otros implementos de labranza vertical, incluso de difusión reciente para la época, se hallaban
presentes y eran de uso habitual para una tercera parte de la muestra.

La encuesta también se orientó a conocer la disponibilidad de sembradoras equipadas con sistemas (plantador
de discos dobles) que se complementaban con el uso del cincel para obtener una labranza reducida. En ese
punto se observó que en la mayoría de los casos existía cierta ¨brecha de complementación¨. Esto es, en
cuanto se contaba que en un 73% de los casos se utilizaba el arado de cinceles, sólo un 20% aplicaba luego
sembradoras con sistema plantador de discos dobles que complementaba la práctica conservacionista.

En ese sentido se observó que, de acuerdo a lo manifestado por los productores, las prácticas conocidas,
probadas y adoptadas -aunque en algunos casos discontinuas- seguían la siguiente distribución de casos:

a) Un 45% de los productores manifestó realizar cultivos que permitían cortar las pendientes;

b) Un 19% expresó efectuar labranza reducida (con rastrojo en superficie);

c) En un 17% de los casos se dijo practicar la siembra directa;

d) Un 13% empastaba los desagues;

e) Finalmente un 4% decía cultivar en curvas de nivel y un solo caso (1,5%) en terrazas paralelas.

f) En lo que refiere a la las rotaciones planificadas, en tanto, un 71% decía tenerlas en cuenta para el manejo de
su explotación, pero al analizar las prácticas habituales se reconocía que la relación pasturas perennes/cultivos
era muy baja y, por tanto, generalmente insuficiente la restitución de los nutrientes extraídos por los cultivos.

La percepción que del problema de la conservación de suelos en el campo propio y en la zona tenían los
productores, permitió observar que para los casos individuales un 61% los reconocía en sus terrenos, un 33% no
los consideraba y un 6% decía desconocer si tenía o no problemas. Llevado al plano de la zona, un 8% no le
asignaba importancia, un 6% lo consideraba moderado, un 35% lo reconocía importante, un 6% moderadamente
importante y un 45% muy importante. Esto es, en un 86% de los casos se reconocía su importancia, por tanto,
se percibía como problema existente para la región, en tanto -por lo visto anteriormente- la cifra disminuía un
poco para el reconocimiento del problema en el terreno propio.

Cómo explicar entonces algunas de las características propias que asume la adopción en la región. Cómo
explicar, por ejemplo, que para una población en la que 8 de cada 10 productores reconoce la importancia de los
problemas de conservación del suelo sólo la mitad realiza prácticas de cultivos para cortar las pendientes, una
cuarta parte efectúa labranza reducida y una mínima proporción hace curvas de nivel o terrazas paralelas. Cómo
explicar la alta convivencia de laboreos tradicionales (con arados de rejas) y conservacionistas (arado a cincel) y
la presencia de herramientas innovadoras de labranza vertical en una tercera parte de los casos al mismo tiempo
que la brecha de complementación entre arados y sembradoras compatibles coloca aproximadamente en uno
sobre tres a la relación (un 73% de aplicación de arado a cincel y un 20% de sembradoras compatibles).

El estudio, llevado a explicitar en la percepción de los propios productores su opinión acerca de las limitantes
para la expansión de las tareas conservacionistas, permitió observar que, según su manifestación, la ¨falta de
maquinaria¨ y ¨crédito¨ (con un 32% y 26% de las opiniones), la ¨preferencia por el laboreo tradicional¨ (27%) y
finalmente la falta de ¨información¨ y ¨asesoramiento¨ (11% y 4% respectivamente) incidían significativamente
ante la posibilidad de innovación. De ese modo, variables de mayor condicionamiento estructural vinculadas a la
capitalización de las empresas o al acceso de apoyo profesional compartían con otros aspectos más
dependientes del sujeto -sus hábitos, cultura de trabajo y valoración ambiental- ese escenario de convivencia y
combinación tecnológica.

Las consideraciones sobre las ventajas relativas de una tecnología, su compatibilidad, complejidad, divisibilidad
u observabilidad no alcanzan, desde esa perspectiva, para explicar en ese marco el parque tecnológico existente
y utilizable y el complejo combinatorio resultante. Una profundización de tipo más cualitativa respecto al conjunto
de razonamientos productivos que reconocen los productores y las valoraciones que éstos les adjudican y
aplican en sus prácticas; así como la viabilidad que le atribuyen a las propuestas tecnológicas conservacionistas
que adoptan total o parcialmente y/o sólo conocen o rechazan, parece fundamental para interpretar ese cuadro y
que adopta tota o pa c a e te y/o só o co oce o ec a a , pa ece u da e ta pa a te p eta ese cuad o y
conocer qué conjunto de razonamientos orienta sus tomas de decisiones para la adopción o rechazo de las
innovaciones que se les ofrecen o están presentes.

La complementariedad entre el enfoque tradicional - rogeriano - y el análisis de las ventajas alternativas, valores
asociados, facticidad, complementariedad y virtualidad de las innovaciones, pretende cubrir ese vacío.

Desafíos para la investigación y la comunicación: consideraciones finales

Si el razonamiento que se postula propone que para explicar la difusión y adopción de innovaciones
ambientalmente compatibles es necesario, al tiempo que se presta atención a aquellas características
convencionales de los estudios -ligados particularmente a las lecturas instrumentales de la circulación-, también
observar a aquellas características vinculadas al nuevo paradigma de orientación productiva preocupado por el
ambiente, es porque supone que la acción social no sólo se orienta por principios instrumentales, sino también
por otras racionalidades igualmente presentes en el quehacer social. Desde esa perspectiva, entonces, lo que se
toma como marco referencial para analizar la existencia y difusión de una probable cultura productiva
proambiental es la coexistencia entre un paradigma dominante instrumental y otro emergente que no lo
desconoce. En ese sentido, la propuesta de cierta ecologización de la economía y una economización de la
ecología para que la difusión de innovaciones ambientalmente compatibles sea viable, parece ser la más realista
en términos de la forma que adopta, se presenta y evoluciona el modo de producción capitalista.

Profundizar con un enfoque complementario ambas dimensiones de análisis, entonces, es avanzar en una
propuesta con mayor capacidad explicativa de lo emergente, en cuanto nuevo paradigma innovativo, pero
también del modo en que el sujeto razona frente a la innovación, más allá de los componentes instrumentales
que esta suponga. En ese sentido, la recuperación que Leff (1994) hace de las clásicas categorías de Weber
sobre la acción social resulta auspiciosa para observar tanto las premisas racionales como las marginales a la
cultura instrumental. Una investigación de ese tipo tendrá que revisar, también, el sentido de lo que en el análisis
clásico se postula para categorizar a los sujetos según el momento en que se posicionan como adoptantes
frente a la innovación (innovadores, adoptantes rápidos, mayoría inicial, mayoría tardía y retardatarios).

Si esto sigue cierta lógica plausible, el planteo podrá ser útil para quienes trabajan con estrategias
comunicacionales de intervención para un desarrollo más sustentable y llamará la atención de quienes tienen
capacidad de decisión respecto a cómo se instrumenta la difusión de esos proyectos. En ese sentido, el
reconocimiento de que además de lo instrumental también orienta la acción innovativa lo vinculado a otro tipo de
racionalidades, por ejemplo ambiental, permite ubicar el terreno de la discusión en las consecuencias de la
intervención únicamente a largo plazo. En ese marco, la problemática de la intervención para el desarrollo
requiere revisar la orientación hipodérmica (Cimadevilla, Carniglia, 1995; Cimadevilla, 1998) que han seguido las
políticas de comunicación y extensión y reconocer, por ejemplo, que -como plantea Etzoini - no habrá progresos
en el ambiente natural si no se revitaliza antes el medio ambiente social (Logan, 1995). Desde esa perspectiva,
por tanto, la comunicación tiene frente a sí problemas de información pública y acciones colectivas que
trascienden las propias lógicas de las agencias de intervención y traslada la problemática de la difusión a las
políticas del Estado (Cimadevilla, Carniglia, 1997) y a los compromisos de la sociedad civil (Redclift, 1996).

Referências Bibliográficas

Canuto, J. A controversia agrotóxicos x defensivos em jornais brasileiros, Jn da Silveira M, y Canuto, J.


Estudos de Comunicação Rural. São Paulo: Loyola, INTERCOM, 1988.

Cimadevilla, G. Nuevas preguntas y reformulación del modelo para una teoría de la difusión de
innovaciones. GT Comunicação Rural, XXI Congresso INTERCOM, Recife: setiembre de 1998.

Cimadevilla, G. y Carniglia, E. Programa de Investigación Nuevos Actores y Demandas en el Contexto


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Notas

1 Programa de Investigación Nuevos Actores y Demandas en el Contexto Institucional de la Extensión Rural


Pampeana, SECYT-UNRC, CONICOR, Fase I y II.

2 En Diccionário de Ciencias Sociais, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 1986. Págs. 607-8.

3 Como lo plantea desde una perspectiva de la difusión cultural el clásico trabajo de Linton, The Study of Man
(New York, Appleton-Century, 1936). En Quesada (1980: 34).

4 El Capital, tomo I, capítulo XIII (Maquinaria y Gran Industria), México, Fondo Cult. Económica, 1986.

5 Principalmente en la obra Business Cycles: A theoretical and statistical analysis of the capitalist process. New
York and London, Mc Graw Hill-Book Company, 1939.

6 Del cual es un clásico el trabajo de G. Dosi, ¨Technological Paradigms and Technological Trajetories¨ en
Research Policy, Vol. 11, Nro. 3, 1982.

7 Planteo particularmente desarrollado en su obra Theory of Economic Development (1934), publicado por
Cambridge, Mass, Harvard University Press.

8 Ver, por ejemplo, la obra editada por Carlos Ominami (1986) La tercera revolución industrial. Impactos
internacionales del actual viraje tecnológico. Buenos Aires, RIAL-Grupo Editor Latinoamericano.

9 Definido en términos de sistemas de ¨innovaciones interrelacionadas técnica y económicamente que afectan


varias ramas del aparato productivo (...) Desde la perspectiva de un nuevo sistema tecnológico, se establece
una lógica que encadena sucesivas innovaciones radicales interrelacionadas en una trayectoria natural global.
Una vez establecida la lógica del sistema, es posible predecir una sucesión creciente de nuevos productos y
procesos, cada uno de los cuales visto individualmente aparece como una innovación radical, pero, dentro del
conjunto del sistema puede considerarse como un cambio incremental¨ (Pérez, 1986 :47).

10 Rogers (op. cit.), capítulo 4, ¨Perceived attributes of innovations and their rate of adoption¨. Para este trabajo
se consultó la segunda edición de la obra: Rogers, E. & Shoemaker, F. (1971) Communication of Innovations.
New York, London, The Free Press-Collier Macmillan Publlishers.

11 Decía Marx en su obra cumbre: ¨Los antagonismos y las contradicciones inseparables del empleo capitalista
de la maquinaria no brotan de la maquinaria misma, sino de su empleo capitalista¨ (El Capital, 1986:366).

12 Particularmente los intelectuales francfortianos como Horkheimer, Adorno y Marcuse en su crítica a la razón
instrumental. Habermas (1968), escribirá al respecto un trabajo que cobró particular difusión, denominado
¨Ciencia y técnica como ideología¨. Edición española de Tecnos, Madrid, 1984. Para este trabajo se consultó la
versión portuguesa de Ed. Abril Cultural (1980).

13 No discutimos aquí el carácter armónico o no que puede asumir la relación economía-ambiente, sino que
partimos del supuesto de sutensión permanente. Tampoco suponemos que la interacción del hombre con la
naturaleza pueda suponer un grado ¨0¨ de transformación de sus condiciones ambientales, por cuanto la propia
evolución del ambiente supone una dinámica de transformaciones constantes. Se plantea si, una interacción
tolerable en términos de que esta no inhiba o ponga en riesgo la propia regeneración del sistema. Para una
discusión de estos tópicos pueden consultarse los trabajos de Huber (1986), Martínez Alier y Klaus Schlüpmann
(1993), Tamames (1995) y Jiménez Herrero (1996), entre otros.

14 En ese sentido, las innovaciones ambientalmente compatibles han de entenderse como un subconjunto de
las propuestas contenidas en los planteos del desarrollo sustentable. Desde esa perspectiva, aún cuando no
haya acuerdo sobre una definición generalizable este se vincula o caracteriza a partir de plantear su
haya acuerdo sobre una definición generalizable, este se vincula o caracteriza a partir de plantear su
preocupación con el ambiente, la capacidad de reproducción de los recursos naturales, la conservación de las
condiciones naturales para las futuras generaciones y las relaciones del ambiente con la marginalidad, la
pobreza y la búsqueda de equidad entre los grupos humanos y entre estos y la explotación de los recursos.
Puede consultarse, entre otras, las siguientes obras: WCED (Informe Brundtland) (1987), Our common future,
New York, Oxford University Press; versión castellana: Nuestro Futuro Común, Madrid, Alianza Edit. (1987) y
Goodland et alli (1997) Medio ambiente y desarrollo sostenible. Más allá del Informe Brundtland, Madrid, Edit.
Trotta.

15 Con el concepto de intangibilidad primaria de sus resultados hacemos hincapié en la idea de que los efectos
esperados de una tecnología que pretende actuar a favor del ambiente generalmente puede evaluarse sólo a
largo plazo, por tanto, no genera indicadores inmediatos que puedan demostrar las consecuencias buscadas. Por
ejemplo, una planificación de laboreos que contemple la rotación de cultivos con períodos de pasturas perennes
no necesariamente permitirá verificar a corto plazo que la restitución de nutrientes sea la suficiente para
compensar la extraída por los cultivos (Marcellino, 1992:10).

16 El estudio se desarrolló en la localidad de Gigena, a unos 45 km. al norte de la ciudad de Río Cuarto.

17 La tecnología o prácticas aplicadas, merecen también otras discusiones en torno a consecuencias


ambientales no deseadas. Por ejemplo, en cuanto la siembra directa permite una mayor preservación del suelo
frente a la erosión, no obstante también agrega contaminantes químicos fatales para el ambiente. Un ejemplo de
ello es la mortandad considerable de aguiluchos langosteros (una variedad de pájaros que combate naturalmente
la langosta de los cultivos y que, por ingestión de venenos químicos, hoy peligra su existencia), lo que por su
vez exige mayor aplicación de venenos para proteger los cultivos. Esto es, se inhibe una fuente de agresión,
pero se potencia otra. Este aspecto, que escapa al objetivo de este trabajo, requiere sin dudas de una discusión
y profundización específica. Para un análisis, por ejemplo, de usos de agroquímicos y condiciones de
sustentabilidad mediante la comparación de indicadores en distintos países, puede consultarse a Verde y
Viglizzo (1994 y 1995). Para un análisis de aspectos comunicacionales vinculados al fenémeno puede
consultarse a Canuto (1988).

18 Discusión que se sigue en los planteos de Martínez Alier (op. cit.) y Huber (op. cit.), entre otros.

19 En el proyecto Los productores rurales frente a la sustentabilidad seguimos esta orientación teórica y
metodológica (Programa de Investigación Nuevos Actores y Demandas en el Contexto Institucional de la
Extensión Rural Pampeana, op. cit.).

20 Weber plantea que la acción social, como toda acción, puede ser: a) racional con arreglo a fines ; b) racional
con arreglo a valores ; c) afectiva ; y/o d) tradicional. Weber (1996:20).

21 Aspecto que comenzamos a discutir en nuestro trabajo Nuevas preguntas y reformulación del modelo para
una teoría de la difusión de innovaciones. GT Comunicação Rural, XXI Congresso INTERCOM, Recife,
setiembre de 1998.

22 Etzoini, A. (1993) The spirit of community rigths, responsibilities and the Communitarian Agenda. New York,
Crown.

* Docente-investigador. Departamento de Ciencias de la Comunicación. Universidad Nacional de Río Cuarto


(gcimadevilla@hum.unrc.edu.ar) Agencia Postal Nro. 3 / 5800 RIO CUARTO, ARGENTINA
Tópico Especial

A pesquisa agrícola: mudanças e inovações institucionais*

Ahumada Arenas, Mario**

Os conteúdos deste documento são o resultado de uma recompilação de opiniões, trabalhos e experiências que
muitos profissionais, técnicos, camponeses e produtores vêm propondo à opinião pública, desde ONGs,
universidades, redes, organizações e do Fórum Mundial de Dresden, sobre a crise do modelo produtivo da
Revolução Verde, as novas estratégias de manejo dos recursos naturais e as mudanças necessárias no
processo de geração e difusão de inovações.

Nos últimos 30 anos, a agricultura convencional ou moderna, baseada no modelo produtivo da Revolução Verde,
tem dominado a pesquisa e os processos de câmbio tecnológico no âmbito mundial e, especialmente, na
América Latina. O propósito fundamental tem sido incrementar a produção e a produtividade agropecuária, o que
foi conseguido com relativo êxito, porém, lamentavelmente, sem importar a questão social e ambiental. O mundo
sofre, atualmente, os efeitos e seqüelas deste processo implementado às custas do homem e da natureza, entre
os quais merecem ser destacados:

Efeitos nocivos sobre a população por contaminação e envenenamento do solo, do ar e da água.

Destruição do equilíbrio natural dos ecossistemas pela erosão e morte dos solos, redução da
biodiversidade e desertificação etc.

Maior dependência e custos de produção pelos aumentos crescentes nas doses de fertilizantes,
agrotóxicos e no uso de insumos externos.

Perdas econômicas pela diminuição de horas de trabalho devido às intoxicações, pelo aumento dos
gastos médicos das pessoas intoxicadas e os efeitos na saúde e pelos custos de implementação de
sistemas de vigilância epidemiológica.

Deterioração das condições sociais e laborais dos trabalhadores agrícolas por baixos salários,
instabilidade do emprego, falta de previsão e exploração no trabalho.

Marginalização dos processos tecnológicos de muitos pequenos agricultores que carecem de recursos
econômicos e que não têm acesso aos programas de capacitação e assistência técnica.

Entretanto, ainda se insiste em continuar com esta forma de produção, o que significa que os impactos ainda
não são suficientes para convencer os governos e as instituições de pesquisa e de extensão de que se requer
um enfoque distinto, no qual se considerem os efeitos negativos mencionados anteriormente e se incorporem as
centenas de milhões de famílias rurais que ficaram à margem das tecnologias porque essas não foram
apropriadas às condições sociais, ambientais e econômicas existentes nessas comunidades.

A situação nos obriga a enfrentar este novo milênio necessariamente através de um modelo de desenvolvimento
rural que busque reduzir a pobreza, alcançar a segurança e a auto-suficiência alimentar, conservar os recursos
naturais e a biodiversidade, assim como fortalecer as comunidades rurais. Estes propósitos somente poderão
ser atingidos se nos propusermos a encarar os seguintes desafios:

Compreender que as mudanças que apresenta o futuro da produção agropecuária são um problema de
todos, de empresários, agricultores, trabalhadores, consumidores, técnicos e governos.

Iniciar um processo de transformação paulatina dos sistemas produtivos convencionais a orgânicos ou


limpos, para responder às tendências do mercado, alcançar a segurança alimentar, proteger a saúde dos
consumidores e trabalhadores e preservar o meio ambiente.
Estabelecer mudanças na normativa legal e na fiscalização dos aspectos laborais dos trabalhadores
relacionados à produção agropecuária, assim como do uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos,
biotecnologias etc.

Prevenir efeitos sobre a saúde humana com a implementação de sistemas de vigilância epidemiológica,
fortalecimento das políticas de prevenção da saúde, coordenação intersetorial e capacitação dos
trabalhadores e empresários sobre os efeitos dos insumos químicos e das biotecnologias.

Incorporar a sustentabilidade ambiental nos programas públicos de apoio, escolas, universidades e


municípios para impulsionar a produção agropecuária sustentável.

Fortalecer as organizações de trabalhadores e as instâncias de coordenação com setores empresariais e


de governo.

Implementar programas de capacitação para trabalhadores e empresários, abarcando todos os aspectos


da problemática: cívicos, técnicos, consciência ambiental e direitos civis.

Os efeitos e desafios, mencionados anteriormente, nos indicam que devemos ingressar num caminho de
transformações em tudo o que se refere ao mundo da ruralidade, pela grande e heterogênea população que
envolve e pela importância econômica e riqueza ambiental que ainda possui. As mudanças devem ser
orientadas para que se possa desenvolver e implementar uma estratégia de manejo dos recursos naturais
alicerçada nos seguintes princípios básicos: a) alívio da pobreza; b) segurança alimentar; c) fortalecimento das
comunidades rurais; d) incorporação das diversas condições de vida dos habitantes rurais; e) manejo e uso
sustentável dos recursos locais; f) melhoramento integral dos sistemas agrícolas em nível de propriedades ou
bacias.

Neste cenário, a proposta de agricultura ecológica surge como um processo produtivo integral e holístico,
necessário e fundamental para esta nova estratégia que se distingue porque engloba pelo menos quatro
importantes âmbitos.

Político: como o desenvolvimento de políticas agrárias de mercados e preços, ambientais, laborais etc.

Econômico: como a produção estável e eficiente de recursos produtivos, alimentos e matérias-primas em


qualidade e quantidade, ademais da eqüidade e viabilidade econômica.

Ambiental: como a preservação dos recursos naturais e a biodiversidade, a estabilidade produtiva e a


função ecossistêmica.

Social: como a sustentabilidade das comunidades, através da segurança e auto-suficiência alimentar, da


preservação da cultura local e da pequena propriedade e do incremento da participação e da autogestão
das comunidades.

Em conseqüência e sob estes preceitos, devemos impulsionar o desenvolvimento de um novo processo


de geração e difusão de conhecimentos e tecnologias, o qual deve atender uma série de propósitos, tais
como se expõem a seguir.

Construir o processo sob um corpo de conhecimentos amplos, incluindo as distintas especificidades


profissionais, porém também a riqueza e experiência do saber local.

Adequar as tecnologias à demanda dos produtores, camponeses ou habitantes rurais, isto é, que surjam
de baixo para cima com o propósito de satisfazer necessidades reais, sejam sociais, ambientais ou
econômicas, e que, além disso, se coloquem ao alcance dos sujeitos do desenvolvimento.

Desenvolver as tecnologias incorporando os recursos e conhecimentos locais para assegurar a auto-


sustentação e a independência produtiva e alimentar.
Incorporar voluntariamente aos atores e/ou comunidades rurais em todo o processo de criação de
estratégias de manejo de recursos naturais e de agendas de pesquisa, evitando a aplicação de pacotes
tecnológicos e estimulando formas conscientes de geração, difusão e reprodução de conhecimentos e
tecnologias.

Incluir na geração de inovações tecnológicas tanto as instituições de pesquisa, como as universidades,


ONGs, organizações de agricultores, de modo a incorporar neste processo as experiências e idéias
recolhidas no trabalho direto com os habitantes rurais.

Gerar conhecimentos e tecnologias não apenas nos laboratórios dos centros de pesquisa, mas também
na realidade onde se aplicarão, de maneira a permitir sua viabilidade econômica e acessibilidade aos
agricultores, devendo referir-se tanto a temas técnicos como também aos processos produtivos.

Baseados nesta nova forma de gerar e difundir conhecimentos, se torna indispensável uma série de
transformações na institucionalidade da investigação, com o objetivo de que o trabalho e os resultados
sejam mais pertinentes e eficientes.

Transformações relacionadas à pertinência

Relacionamento dos sistemas de pesquisa entre si e também com as instâncias públicas e privadas de
educação, capacitação e assistência técnica, com a finalidade de obter-se um acordo institucional
orientado a difundir, do local ao nacional e regional, os benefícios das experiências de agricultura
ecológica e de manejo sustentável dos recursos naturais.

Interação horizontal e eqüitativa dos institutos de pesquisa nacionais com a sociedade civil, sejam ONGs,
organizações de agricultores, redes ou universidades, com o objetivo de criar instrumentos para que, em
conjunto, se estabeleçam agendas e prioridades de pesquisa e se alcance uma participação mais ampla
no processo de geração e difusão de conhecimentos e tecnologias.

Geração de espaços de participação para que antropólogos e cientistas sociais ajudem os biólogos e
físicos a elaborar métodos de participação e a valorizar e entender o conhecimento e as culturas locais.

Criação e funcionamento permanente de mesas de acordos entre as instituições de pesquisa, a


sociedade civil e os agentes que tomam decisões nacionais e internacionais, as quais possibilitam
informar sobre as agendas de investigação e influir na formulação de políticas.

Os atores primordiais, como os pequenos agricultores, os sem-terra, os pescadores, os trabalhadores


florestais, os povos indígenas, os consumidores pobres e as ONGs, devem ser reconhecidos pelos
sistemas de pesquisa agrícola como os atores-chave do processo de geração de conhecimentos e
tecnologias e ser envolvidos em todos os níveis: nacional, regional e mundial.

Transformações relacionadas à eficiência

Reciclagem dos cientistas ou pesquisadores para que possam entender esta nova forma de gerar
conhecimentos, modificar sua linguagem e idear metodologias de participação etc.

Reorientação do trabalho dos institutos nacionais de pesquisa e dos recursos públicos para investigação
em direção às necessidades dos setores produtivos mais pobres, já que as empresas privadas ou os
grandes produtores podem produzir ou comprar a pesquisa sem necessidade dos recursos estatais.

Ampliação do campo de ação dos sistemas nacionais e regionais de pesquisa agrícola, englobando o
agrícola e também os assuntos que afetam os pequenos agricultores em todo o mundo, tais como a
reforma agrária, o acesso eqüitativo aos recursos naturais, a formulação de políticas para definição de
preços e a organização de mercados, assim como as política de rendas e direitos de agricultores e
consumidores.
*Título da versão original em espanhol: La investigación agrícola. Cambios e innovaciones institucionales.
Tradução ao português: José Antônio Costabeber.

**Médico Veterinário, Mestre em Desenvolvimento Rural, Coordenador Geral do Movimento Agroecológico da


América Latina e Caribe (MAELA).

E-mail: maa@ctcreuna.cl
ECONOTAS

Efeito Estufa - de kioto a Haia

A emissão de gases de efeito estufa, que são capazes de provocar o aquecimento do planeta, deve ser reduzida
nos próximos anos. Só que isto significa investimentos de muitos bilhões de dólares.

A conferência de Kyoto, realizada há três anos no Japão, definiu que os países desenvolvidos, responsáveis por
75% do CO2 emitido em 1990, têm de reduzir suas emissões. Este gás (CO2) permanece até 150 anos no ar.

De um modo geral os países industrializados, apesar de terem assinado o Protocolo de Kyoto, estão hesitantes.

Países como Alemanha e Reino Unido já vêm reduzindo as emissões, mas o grupo que engloba Estados
Unidos, Canadá, Japão e Austrália está mais resistente a aceitar mecanismos de redução.

O grupo G-77, que reúne cerca de 140 países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, acha que os países ricos
têm que fazer a parte deles porque são os grandes poluidores mundiais e nada mais justo de que eles paguem
essa conta.

A conferência de Haia discutiu três questões fundamentais sobre o problema: as penalidades financeiras para os
países que estão descumprindo as metas firmadas em Kyoto, os mecanismos de flexibilização para se chegar a
um consenso e a transferência de tecnologia limpa para os países em desenvolvimento.

Arrozais ecológicos aumentam a produtividade

Agricultores chineses, liderados por uma equipe internacional de cientistas, dobraram a produção de arroz e
praticamente eliminaram a brusone, doença devastadora causada por fungo, sem usar química ou gastar um
centavo a mais. Isto aconteceu na província de Yunnan, onde os camponeses em vez de plantarem um único
tipo de arroz, como sempre fizeram, plantaram fileiras intercaladas com dois tipos de arroz diferentes. Com isto
a incidência da brusone ficou radicalmente restrita.

"O que realmente importa nesse estudo é que ele mostra como perdemos de vista o fato de que existem
algumas coisas simples que podemos fazer no campo para controlar as colheitas", disse Shahid Naeem,
ecologista da Universidade de Washington.

Adubos verdes

Em Uganda, África, um grupo de pesquisadores, em conjunto com agricultores, desenvolveu alternativas de


manejo do solo usando crotalária, mucuna, lab-lab e feijão de porco como adubos verdes em sistemas de pousio
de ciclo curto. Este trabalho mostrou que nas culturas de feijão e milho a produtividade aumentou em mais de
50% nos sistemas de pousio enriquecidos com as plantas utilizadas como adubos verdes. Além do milho e do
feijão, as culturas de batata doce, café e banana também tiveram benefícios com estes consórcios de adubos
verdes. Os agricultores também verificaram uma melhoria na fertilidade do solo (textura e umidade), controle de
erosão e supressão de plantas invasoras.

McDonalds não usará transgênicos

A partir de abril de 2001, a McDonalds, multinacional do lanche rápido, servirá somente carne de frango isenta de
ingredientes transgênicos. Mas isto só ocorrerá na Alemanha, Dinamarca e Suécia, fruto de intensa campanha e
pressão por parte da ONG Greenpeace da Alemanha, que provou que o McDonalds alimentava frangos com soja
geneticamente modificada.

Novo golpe contra transgênicos nos EUA


Uma das grandes companhias americanas processadoras de milho está sugerindo, por carta, aos agricultores
que "a única forma de se selecionar sementes verdadeiramente seguras é ter sementes de milho livres de
qualquer modificação genética". A Tate & Lyle mandou cartas aos agricultores que abastecem as suas quatro
unidades processadoras de milho, nos EUA. Como esta empresa processa, diariamente, milhares de toneladas
de milho e não tem como separar grãos convencionais dos geneticamente modificados, e também pelos recalls
de alimentos contendo milho transgênico, achou mais prudente sugerir aos agricultores que evitem plantações
transgênicas.

Aventis negocia sua divisão agroquímica

O conglomerado franco-alemão Aventis está vendendo sua divisão agroquímica. A justificativa para esta decisão
são as dificuldades que o seu milho StarLink, geneticamente modificado, vem enfrentando no mercado
americano e europeu. Este milho, por causar reações alérgicas nos consumidores, levou a uma onda de
protestos, recalls de consumidores e produtores e chegou a prejudicar as exportações de milho dos Estados
Unidos. Com isso, o produto foi banido e cresceram as pressões para que a Aventis acabasse com a lavoura
desta variedade de milho transgênico.

Soja não-transgênica atrai europeus

Os produtores franceses, ingleses, espanhóis e alemães, que estão proibidos de alimentar suas criações com a
farinha animal, em função da doença da vaca louca, terão que importar maiores quantidades de soja. Há uma
preferência clara, do mercado europeu, em consumir alimentos sem a presença de transgênicos. A soja vendida
pelos americanos e argentinos, especialmente, é transgênica. Por isso, abrem-se enormes perspectivas para a
soja brasileira.

Também a Noruega, através da companhia Denofa, do grupo Orkla, enviou para a Europa mais de um milhão de
toneladas de grãos de soja brasileira. Esta empresa, através da GenLab, verifica se o produto enviado é ou não-
transgênico, pois o mercado europeu é exigente quanto à origem do produto.

Agricultura ecológica na Costa Rica

Os produtores da Jugar del Valle S.A., na Costa Rica, têm conseguido reduzir custos, aumentar a produtividade
e a lucratividade com a produção de diversas hortaliças, como a beterraba, o brócolis e a cebola.

Estes produtores conseguiram, utilizando sistemas de produção ecológicos, reduzir o ciclo de produção e com
um melhor controle, reduziram as perdas. Comparados os resultados do sistema de produção ecológico com a
forma de produção convencional, o sistema ecológico apresentou lucratividade superior a 50%.

Empresas de testes e certificação se instalam no Brasil

A Genetic ID, dos Estados Unidos, e a alemã GeneScan Europe AG vão instalar laboratórios próprios no Brasil,
em 2001. Isto se deve à crescente demanda das empresas brasileiras por testes que eliminem suspeitas sobre
a presença de transgênicos em seus produtos.

Estas duas empresas de biotecnologia disputam o mercado mundial de testes e certificação de produtos não-
transgênicos e são especializadas em analisar o DNA em alimentos.
Dica Agroecológica

Uso de Alho (Allium sativum) para controle fitossanitário.

O alho é considerado um antibiótico natural e pode ser usado como inibidor ou repelente de parasitas de plantas
ou animais. A seguir seguem algumas dicas sobre maneiras de fazer preparados caseiros a base de alho e
como usá-los. Bom proveito!

ALHO - 1

3 cabeças de alho

1 colher grande de sabão de côco picado

2 colheres de sopa de parafina líquida

Amassar as cabeças de alho misturando em parafina líquida. Diluir este preparado para 10 litros de água, com o
sabãopicado. Pulverizar logo em seguida.

Indicação: Repelente de insetos, bactérias, fungos, nematóides, inibidor de digestão de insetos e repelente de
carrapatos.

ALHO - 2

100g de alho

0,5 litro de água

10g de sabão de côco

2 colheres (de café) de óleo mineral

Os dentes de alho devem ser finamente moídos e deixados em repouso por 24 horas em 2 colheres de óleo
mineral. À parte, dissolver 10 gramas de sabão em 0,5 litro de água.

Misturar então todos os ingredientes e filtrar. Antes de usar o preparado, diluir o mesmo em 10 litros de água,
podendo, no entanto, ser utilizado em outras concentrações de acordo com a situação.

ALHO - 3
1 pedaço de sabão de côco (50g)

4 litros de água quente

2 cabeças de alho finamente picadas

4 colheres pequenas de pimenta vermelha picada

Dissolver um pedaço de sabão do tamanho de um polegar (50 gramas) em 4 litros de água. Juntar 2 cabeças
picadas de alho e 4 colheres de pimenta vermelha picada. Coar com pano fino e aplicar.

Indicação para Alho 2 e 3: Trips, pulgões, mosca doméstica, lagarta do cartucho do milho (Spodoptera sp.),
mosquito da dengue (Aedes aegupti), Xanthomonas campestris, míldio, brusone, podridão do colmo e da espiga,
mancha de Alternaria, macha de Helminthosporium, podridão negra, ferrugem, mosca dos chifres e mosquitos.

Fonte: STOLL (1989), SABILLÓN & BUSTAMANTE (1996)

ALHO - 4

1Kg Alho

5 Kg de Sal mineral

Moer dentes de alho, se necessário, juntar milho, para facilitar a mistura com o sal.

Fornecer em períodos de maior infestação.

Indicação: Vermífugo, repelência para mosca dos chifres e ectoparasitas.

Fonte: Normas da AAO

As indicações acima estão publicadas em:

ABREU JUNIOR, H. de (coord.) Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura:


coletânea de receitas. Campinas: EMOPI, 1998. 115 p.
Eco Links

http://www.planetaorganico.com.br

Idioma: português

Planeta Orgânico

Este portal nacional disponibiliza diversas informações ligadas a produção, comercialização e


consumo de produtos orgânicos. A linha editorial tem cunho comercial, porém apresenta
informações interessantes e relevantes.

http://members.fortunecity.com/consciencia/ecolinks.html

Idioma: português

Eco-links

Este site fornece inúmeras referências de links sobre agricultura ecológica e atividades afins.
Trata-se de uma "porta de entrada" para outros sites, fornecendo acesso facilitado através de uma
classificação de temas relacionados à questão do meio ambiente e ecologia.

http://www.alternet.com.br/bionatur/

Idioma: português

Bionatur

A Bionatur representa uma das conquistas produtivas do processo de reforma agrária no Rio
Grande do Sul. Através de uma cooperativa (Cooperal), os agricultores assentados produzem
sementes agroecológicas, sendo que "o uso destas são a garantia do resgate da biodiversidade,
dos cultivares, das questões sociais, culturais e econômicas, que formam a base da agricultura
sustentável".

http://www.biodiversidadla.org/

Idioma: espanhol

Biodiversidad em América Latina

Local de intercâmbio entre organizações latino-americanas que trabalham em defesa da


biodiversidade. Existem diversos documentos e notícias ligadas à questão de recursos genéticos
(OGMs, Biopirataria, Biodiversidade) e desenvolvimento local sustentável.

http://www.worldwatch.org.br/

Idioma: português

Worldwatch Institute

O Worldwatch Institute , sediado em Washington, trabalha na promoção de uma sociedade sustentável.


Disponibiliza diversos artigos sobre a questão da sustentabilidade, tal como a questão de sustentabilidade,
transgênicos etc. Publicação interessante deste Instituo é o livro Estado do Mundo 200, que pode ser adquirido
através deste endereço.
Artigo

Transição agroecológica e ação social coletiva*

Costabeber, José Antônio** e Moyano, Eduardo***

Resumo: O objetivo deste artigo é oferecer um marco teórico para analisar o processo de introdução de estilos de
agricultura mais sustentáveis, prestando especial atenção às formas de ação social coletiva como via para favorecer a
transição agroecológica no âmbito da agricultura familiar. As análises tomam como referência básica pesquisa mais ampla
que se centrou na evolução de experiências associativas de agricultura de base ecológica no Rio Grande do Sul (Brasil). A
aplicação do modelo proposto permite concluir que a transição do modelo de agricultura convencional para estilos de
agricultura de base ecológica não é um processo unilinear, mas sim de múltiplas dimensões. Além disso, a ação coletiva
se converte de conseqüência à motor da transição agroecológica, apoiando a continuidade das mudanças em direção a
estágios mais avançados de sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Palavras-chave: Transição agroecológica, ação coletiva, agricultura familiar, processo de mudança, ecologização, análise
multidimensional, Rio Grande do Sul.

1. Introdução

O processo de ecologização da agricultura consiste na introdução de novas práticas, mais respeitosas com o ambiente, em
sintonia com o novo paradigma da sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável. Dentro deste processo, a agricultura
de base ecológica tem se convertido em uma via utilizada por agricultores familiares para fazer frente à exclusão
econômica e social e à deterioração ambiental, utilizando-se distintas formas associativas. Neste trabalho, se analisa o
papel do associativismo como uma das formas de ação coletiva utilizada por agricultores familiares para pôr em marcha
projetos de agricultura ecológica. Tomando-se como referência empírica algumas experiências associativas de agricultura
ecológica no Rio Grande do Sul (Costabeber, 1998), se conclui, em primeiro lugar, que o associativismo vem sendo
utilizado por agricultores familiares para enfrentar problemas que surgem ao introduzir-se novas práticas agrícolas e de
gestão de suas propriedades, problemas estes que não podem ser solucionados pela via da ação individual. Em segundo
lugar, ademais de ser resultado do processo de ecologização, a ação coletiva se converte em motor de dito processo, já
que graças a ela os agricultores familiares encontram condições de evoluir em direção a estágios mais avançados de
sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável.

2. Sobre a transição

O termo transição, em sua acepção semântica, pode designar simplesmente a ação e efeito de passar de um modo de ser
ou estar a outro distinto. Isto implica, desde logo, a idéia mesma de processo, ou seja, um curso de ação mais ou menos
rápido que se manifesta na realidade concreta a partir de uma intrincada e complexa configuração de causas - passadas,
presentes ou futuras -, e que sempre há de provocar conseqüências e efeitos, previsíveis ou não, na nova situação que se
estabelece. Fenômenos físico-naturais podem representar, por si mesmos, processos de transição, tais como são os
câmbios climáticos em distintos períodos de tempo e em um dado contexto espacial. Isto não depende necessariamente da
ação, da intenção ou da interação humanas; a observação de sua repetição cronológica e espacial, assim como a
identificação de suas causas, pode aumentar os graus de previsibilidade de sua ocorrência, evolução e estado futuro.

No entanto, onde interferem processos sociais, costumam ocorrer externalidades na transição. Estas externalidades, fruto
de complexas redes de relações e interações entre os atores sociais e entre estes e o meio ambiente, implicam novas e
maiores dificuldades para a previsibilidade de seu desenvolvimento, evolução e estado final. Isto é, "não há regras
predeterminadas que regem à evolução das sociedades em seu conjunto à margem das sociedades mesmas". O que se
pode observar, não obstante, são regularidades no fato de que sociedades concretas têm evoluído como conseqüência de
estratégias desenvolvidas com base na consecução de seus interesses específicos. Com efeito, a transição - como
processo de mudança social - pode ser entendida como o resultado de estratégias mais ou menos conscientes dos
diversos atores e grupos sociais, surgidas como conseqüência da confrontação de interesses distintos e contraditórios.
Antes que a um processo unilinear de câmbio, mais bem parece, pois, que o conceito de transição se adequaria à noção de
multilinearidade, como resultado das intrincadas e complexas relações sociais que lhe são subjacentes (González de
Molina e Sevilla Guzmán, 1993: 59-60).

Ademais da multilinearidade de seu desenvolvimento e evolução, a transição supõe também a noção de coexistência. A
passagem da sociedade tradicional para a sociedade moderna pode resultar útil como exemplo: a modernização
representou um processo de transição que, antes de generalizar-se de maneira homogênea, converteu-se, ao contrário, em
fonte geradora de heterogeneidade e diferenciação social. A coexistência do tradicional e do moderno, inclusive no seio das
atuais sociedades pós-industriais, mostra a pertinência de considerar-se a transição como processo social multilinear e
dinâmico, onde a diferença e a coexistência estão presentes. "Seu êxito ou fracasso dependeria, em todo caso, do
resultado de um conflito de interesses (...) que dinamiza processos de resistência, confrontação ou, finalmente, de
adaptação" (González de Molina e Sevilla Guzmán, 1993: 60).

Cremos que estas breves notas sobre a transição, como conceito sociológico, podem ser adequadas para contextualizar
teoricamente os câmbios que se produzem nos processos de transição agroecológica. Isto é, a crise sócioambiental exige,
por uma parte, pensar globalmente sobre suas causas e efeitos, assim como sobre as formas de frear sua evolução. Por
outra parte, sugere a necessidade de atuar em nível local e/ou comunitário, com a finalidade de ampliar os espaços para a
emergência e viabilidade de formas alternativas de produção, gerando novos caminhos que conduzam à conformação de
uma sociedade sustentável, desde os pontos de vista social, econômico e ambiental.

Quando se analisam os limites do modelo tecnológico herdado da Revolução Verde, e se examinam as propostas
orientadas ao desenvolvimento sustentável, se evidencia que a transição a uma agricultura de base ecológica não é um
processo unilinear, mas sim de múltiplas dimensões, o que reflete a própria complexidade da noção de sustentabilidade
agrária, enquanto meta a ser alcançada a médio e longo prazos.

Sob esta perspectiva, o processo de transição agroecológica não pode ser compreendido a partir de apenas uma dimensão.
Embora a dimensão econômica costume representar uma categoria fundamental nas análises teóricas e empíricas que
tratam esta questão, aqui propomos a inclusão das dimensões social e ambiental, a fim de estabelecer um quadro teórico
que permita a compreensão das razões e atitudes dos atores sociais que se envolvem em processos de câmbio
tecnológico e em formas associativas dirigidas à construção e experimentação de estilos de agricultura de base ecológica.

3. A multidimensionalidade do processo de mudança

Um dos traços mais significativos do processo de introdução de práticas agrícolas mais respeitosas com o meio ambiente
é o papel que desempenham as formas associativas, de tal modo que pode afirmar-se que a ação coletiva é um elemento
fundamental para compreender-se a consolidação de novos estilos de agricultura. Este aspecto constitui uma das principais
contribuições deste artigo, motivo pelo qual aqui se analisa a convergência entre o processo de transição agroecológica e
os processos de ação coletiva na agricultura.

Nosso ponto de partida sustenta que o enfoque da unidimensionalidade _ que enfatiza a dimensão econômica e que é tão
freqüente nas explicações dos processos de câmbio na agricultura, enquanto atividade orientada ao mercado _ é
insuficiente para dar conta da complexa e heterogênea realidade da agricultura enquanto espaço de produção e reprodução
sociocultural, econômica e ambiental. Por isto, adotamos um enfoque multidimensional para referir-nos às dimensões
econômica, social e ambiental, enfoque este que conformaria um marco teórico mais idôneo para compreender-se as
razões que movem alguns segmentos da agricultura familiar a aderirem-se a processos de câmbio tecnológico e
organizacional orientados a ecologização da agricultura. Sob esta ótica, adquire relevância uma visão mais ampla da
agricultura não só como espaço de transações econômicas, mas também como cenário de atividades socioculturais,
interações ecológicas e relações ambientais.

Nosso modelo explicativo (Diagrama 1) conjuga, portanto, as três dimensões básicas que estariam determinando a busca
de alternativas por parte daqueles segmentos da agricultura familiar que se vêem gradualmente submetidos às pressões da
estagnação econômica (dimensão econômica), da exclusão social (dimensão social) e da degradação do meio ambiente
(dimensão ambiental).

Neste modelo, a transição agroecológica _ enquanto processo social orientado à obtenção de níveis mais equilibrados de
sustentabilidade, produtividade, estabilidade e eqüidade na atividade agrária, utilizando estilos mais respeitosos com o meio
ambiente _ supõe, pois, a consideração das três dimensões articuladas entre si, porém, em constante processo de
adaptação e retroalimentação. Seus pontos de articulação funcionam umas vezes favorecendo o estabelecimento de uma
relação harmônica entre os propósitos e metas das distintas dimensões do processo em curso, e, outras vezes, como
elementos de conflito entre elas. Por exemplo, embora a obtenção de melhores níveis de rentabilidade na agricultura possa
ser valorada em termos positivos desde o ponto de vista econômico, seus resultados ecológicos serão opostos nos casos
em que isto determinar novas agressões nos agroecossistemas. Além disso, tomando-se como referência apenas os
supostos maximizadores implícitos na racionalidade produtiva dominante, objetivos como o respeito ao meio ambiente e a
melhoria da qualidade de vida podem resultar incompatíveis com o desejo de alcançar a máxima rentabilidade econômica
da exploração agrícola (que provocaria, em conseqüência, novas formas de agressão ambiental e de deterioração das
condições de vida nas comunidades rurais). Em qualquer caso, o processo de mudança estaria dirigido à busca de novos
pontos de equilíbrio entre as ditas dimensões, com o propósito de superar a crise enfrentada pelos agricultores. Esta crise
pode ser percebida tanto sob o ponto de vista "econômico", como "ecológico" ou "social"; "combinadas duas a duas"; ou
"conjugadas as três ao mesmo tempo".

Entre as alternativas elegidas, que variarão segundo a percepção da crise e segundo as possibilidades e limitações que
tenham os agricultores, em termos de recursos e apoio externo, poderia optar-se por estilos de agricultura de "base
ecológica", cujo suposto implícito principal seria sua potencialidade para gerar maiores níveis de sustentabilidade mediante
a ecologização das práticas agrárias. Porém, também, e como processo que se manifesta de modo quase paralelo ao
anterior, poderiam desenvolver-se estratégias de ação coletiva, como forma de dinamizar e potencializar os recursos
humanos, naturais e materiais existentes, possibilitando o avanço do processo de transição agroecológica e a consolidação
de novas formas de agricultura sustentável.

Como se pode observar (Diagrama 2), este processo de transição agroecológica _ que estaria se manifestando mediante a
ecologização das práticas agrárias _ e o processo de ação social coletiva _ que estaria se caracterizando pela adesão de
seus autores sociais a projetos coletivos baseados em seus interesses, expectativas, crenças e valores compartilhados _
poderiam representar, em seu conjunto, uma alternativa para superar a crise sócioambiental percebida pelos agricultores
familiares.

Diagrama 1 - As dimensões do processo de mudança

Diagrama 2 - A ecologização e a ação coletiva como processos complementares

O Quadro 1 (abaixo) representa uma síntese dos fundamentos básicos destes dois processos em relação às três
dimensões consideradas básicas para explicar a adesão dos agricultores familiares a formas de agricultura de base
ecológica. Para efeitos analíticos, estas três dimensões podem ser tratadas como "tipos ideais", no sentido weberiano,
cujos elementos característicos são expostos a seguir. Vale lembrar que sua consideração de "tipos ideais" significa que
são categorias analíticas de um certo nível de abstração teórica e que, na prática, nunca poderão ser encontradas de forma
isolada, mas combinadas entre si.

Quadro 1 - Fundamentos básicos da ecologização e da ação coletiva sob a perspectiva multidimensional

Dimensões e Processos Ecologização Ação coletiva


Dimensões e Processos Ecologização Ação coletiva
Econômica Incorporação e intensificação
Estratégias para incrementar e diversificar as
tecnológica via implementação de
rendas agrárias via organização da produção e
Luta contra a estagnação e a estilos alternativos de produção
conquista de novos mercados.
marginalização econômica poupadores de capital energia.
Social Incremento da qualidade de vida
Estratégias para a inclusão social e direito a
mediante a produção de alimentos
participação cidadã na construção de alternativas
Luta contra a exclusão social e a sadios e a melhoria das condições de
orientadas às necessidades locais.
perda da qualidade de vida trabalho e de saúde.
Ambiental
Recuperação da capacidade
produtiva dos agroecossistemas Estratégias para o intercâmbio de experiências e
Luta contra a degradação
através da adoção de métodos e geração de conhecimentos aplicados ao
ambiental e a perda da
técnicas mais prudentes aperfeiçoamento do processo produtivo.
capacidade produtiva do
ecologicamente.
agroecossistema

·Uma dimensão econômica, determinada pela resistência dos pequenos agricultores e suas famílias à estagnação e
marginalização econômica a que se vêem submetidos sob o avanço do processo de acumulação capitalista na agricultura,
processo este seletivo e excludente e que gera um desenvolvimento desigual das oportunidades de participação e das
"bondades" das tecnologias agrícolas intensivas em capital.

Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que a agricultura, como atividade econômica orientada ao mercado, está inserida
em uma dinâmica que privilegia o uso de recursos naturais em direção à maximização de seu valor de troca, o que costuma
dificultar ou impedir o uso planejado dos agroecossistemas, de maneira que pudessem atender a outros valores, orientados
a preservação do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida ou eqüidade social. As contradições que se geram entre os
objetivos econômicos e as necessidades de renovação agroecossistêmica põem em risco a manutenção dos níveis de
produção de biomassa através do tempo, assim como sua distribuição eqüitativa intra e inter-geracional. Ou seja, a
racionalidade instrumental _ que se estabelece com base em supostos meramente economicistas _ se sobrepõe à
racionalidade substantiva, portadora de valores que vão mais além da mera apropriação da natureza como forma de
acumulação de capital.

A dimensão econômica, pois, adquire notável relevância no momento de explicar a intensificação e incorporação
tecnológica, já que os atores sociais envolvidos na lógica de mercado são induzidos a maximizar seus benefícios
econômicos como forma de manter-se no negócio. O treadmill of technology de Cochrane seria ilustrativo desta dinâmica
de mudança tecnológica imposta aos agricultores desde a perspectiva econômica, uma dinâmica que não leva em conta se
os processos produtivos são ou não são poupadores de recursos naturais, se deterioram ou não deterioram o meio
ambiente, e se causam ou não causam desequilíbrios sociais e perda de qualidade de vida nas comunidades rurais.

Por outro lado, seria a percepção mesma das dificuldades econômicas e financeiras para seguir o ritmo marcado por estes
avanços tecnológicos, o que poderia explicar a opção por um "novo" padrão tecnológico por parte dos agricultores. No
centro do processo de ecologização, desde a dimensão econômica, estaria, pois, a incorporação e intensificação
tecnológica via adoção de estilos de produção agrícola poupadores de capital e energia, abrindo caminho, assim, para a
implementação de uma agricultura de base ecológica.

Paralelamente ao processo de ecologização, se geraria um processo de ação coletiva, através do qual os atores sociais
identificam seus interesses, necessidades e expectativas comuns a respeito do desenvolvimento das alternativas elegidas.
Neste caso, a elaboração e colocação em prática de estratégias coletivas dirigidas ao incremento da renda agrária _ via a
organização da produção e conquista de mercados alternativos, por exemplo _ constituiriam o fundamento principal da luta
dos agricultores para superar a estagnação e a marginalização econômica a que estariam submetidos.

· Uma dimensão social, caracterizada pela resistência dos pequenos agricultores ante o processo de exclusão que
experimentam sob o avanço do processo de acumulação capitalista na agricultura. Esta luta incluiria também a busca de
melhores níveis de qualidade de vida e de trabalho, mediante a produção e consumo de alimentos mais sadios, o que
comporta a eliminação do uso de insumos agrotóxicos no processo produtivo agrícola.

Com efeito, se consideramos que o patrimônio de recursos naturais existente na biosfera (insumos energéticos,
biodiversidade, solos, ar) está formado por bens públicos à disposição da humanidade para seu desenvolvimento e
evolução, veremos que sua apropriação privada geram externalidades que passam a ser socialmente compartilhadas. Por
uma parte, as externalidades negativas, tão comuns nessas transações econômico-ecológicas, costumam incluir a
contaminação do meio ambiente, a concentração da posse da terra, a perda da qualidade dos alimentos, a destruição das
culturas locais e a exclusão socioeconômica das camadas sociais menos favorecidas pelos padrões de produção e de
consumo dominantes.

Por outra parte, as externalidades também incluiriam a perda de importância de valores substantivos (éticos, morais,
culturais, estéticos, religiosos) capazes de contribuir para a conformação de novos padrões sustentáveis de relação
homem-natureza na agricultura, não só como negócio, mas como espaço de reprodução sociocultural e relações
ambientais. A tecnologia agrícola convencional, enquanto materialização da ciência que representa a racionalidade
instrumental desde a ótica da acumulação de capital, passa a constituir, por um lado, uma fonte geradora de rendas para
aqueles agricultores que reúnem as condições para a sua adoção, ao menos quando se consideram os resultados
econômicos de curto prazo sem a devida consideração dos efeitos ecológicos e sociais de médio e longo prazos. Porém,
por outro lado, essa mesma tecnologia também constitui uma fonte geradora de desigualdades sociais ao não ser acessível
a uma grande massa de agricultores com menos recursos ou pouco motivados e preparados para inserir-se na espiral
tecnológica com a velocidade e a dinâmica por esta exigidas.

Neste contexto, é a percepção mesma das externalidades e suas conseqüências negativas sobre as oportunidades de
reprodução econômica e de participação social, assim como sobre a qualidade de vida e condições de trabalho destes
agricultores, o que poderia gerar atitudes favoráveis a uma mudança em suas orientações tecnológicas e formas
organizacionais. Pode-se assinalar, portanto, que determinados segmentos da agricultura familiar, menos integrados nos
circuitos agroindustriais e comerciais e com menor nível de intensificação tecnológica no processo produtivo, poderão
atribuir distintos valores a determinados bens e serviços proporcionados pela natureza, valores estes que não
necessariamente estarão em concordância com a racionalidade instrumental que determina formas de uso e exploração dos
recursos naturais e a incorporação tecnológica dominante nos processos produtivos agrícolas.

Efetivamente, o processo de ecologização, quando observado desde a dimensão social, pode ser explicado a partir de uma
maior valorização, por parte dos agricultores, de certos benefícios materiais e não materiais, tais como a melhoria da saúde
via produção e consumo de alimentos isentos de contaminantes químicos, assim como a melhoria das condições de
trabalho mediante a redução ou eliminação do uso de produtos agrotóxicos no processo produtivo. É um processo que pode
oferecer, também, benefícios sociais mais amplos ao conjunto da sociedade, como seria a oferta destes produtos com
maior qualidade biológica aos consumidores. É evidente que estas mudanças somente são possíveis com base em uma
racionalidade substantiva e não instrumental por parte do agricultor, ao aceitar a utilização de alternativas tecnológicas que
nem sempre são capazes de assegurar os mesmos níveis de produção e produtividade alcançados via o modelo
agroquímico dominante, o que supõe assumir riscos econômicos na utilização de tais alternativas.

A dimensão social contempla, também, um processo de ação coletiva de caráter identitário. Através deste, os atores
estabelecem relações de interesse comum no sentido de buscar o reconhecimento, a inclusão social e a construção de
alternativas orientadas a resolução de seus próprios problemas. Como exemplo disso, estaria a conquista de oportunidades
para expressar seus pontos de vista, desejos, crenças e expectativas em torno ao seu futuro como agricultor e cidadão.
Em síntese, a satisfação e a realização pessoal, como ganho derivado da participação cidadã na discussão, planejamento
e experimentação de alternativas (sejam de aplicação individual ou coletiva, sejam de natureza tecnológica ou
organizacional), poderiam representar uma importante razão social para certos tipos de mudanças por parte dos
agricultores.

Uma dimensão ambiental, representada pela luta dos atores locais contra a degradação do meio ambiente, assim como
contra a perda da capacidade produtiva dos ecossistemas utilizados para fins agrícolas. É necessário levar em conta que,
desde uma perspectiva ambiental, a agricultura familiar _ enquanto atividade de natureza sócioecológica _ supõe também a
mobilização de uma maior diversidade de recursos naturais e humanos, promovendo e abrindo espaço para um maior
protagonismo e participação de seus atores locais na geração de alternativas e na busca de soluções tecnológicas e
organizacionais com base nas necessidades, capacidades, potencialidades e limitações humanas, materiais e naturais.

No centro da dimensão ambiental, e sob a perspectiva do processo de ecologização, estaria o objetivo de recuperar e
manter a capacidade produtiva dos agroecossistemas, através da adoção de métodos, técnicas e processos de produção
ecologicamente mais prudentes. Seu fundamento seria a opção por um novo estilo de agricultura, no qual sua "base
ecológica" destaca-se como suposto inicial e necessário para o alcance de maiores níveis de sustentabilidade. A
artificialização agroecossistêmica, baseada em insumos químicos de origem industrial, passa a ser substituída pela noção
de potencialização do uso de recursos localmente existentes, numa nova conjugação e combinação de insumos e produtos
na agricultura. Isto também supõe a necessidade de novos conhecimentos e experiências aplicadas a ecossistemas
específicos.

Sob a perspectiva do processo de ação coletiva, as ações concertadas pelos atores locais, para o manejo ecológico dos
recursos naturais, poderão ser entendidas como uma estratégia de enfrentar as atuais tendências à homogeneização e
centralização produtiva, buscando, a partir disso, um novo ponto de equilíbrio ambiental mediante a ampliação das
possibilidades de participação nos âmbitos local e regional. Entre as estratégias elegidas, se destacariam as ações
coletivas para fortalecer o processo de intercâmbio de experiências de natureza ecológico-ambiental entre os agricultores e
entre estes e os agentes mediadores do processo de câmbio tecnológico e organizacional.

Assim, sob a perspectiva do manejo sustentável dos recursos naturais, os atores sociais estariam envolvidos em uma
nova dinâmica _ agora de caráter participativo _ orientada para a geração e a construção social de conhecimentos e
tecnologias, cujo fundamento seria o próprio aperfeiçoamento do processo de produção agrícola com base ecológica. Dito
de outro modo, a produção e socialização de informações e conhecimentos se apresentariam como elementos com
potencialidade para apoiar o desenvolvimento do processo de ecologização da agricultura, isto é, para a recuperação e
manutenção da capacidade produtiva do agroecossistema, agora com base em uma orientação de natureza ecológica.

4. A ação coletiva como "motor" da transição agroecológica

As análises do material empírico realizadas em nossa investigação mostram que, antes que um processo autônomo,
endógeno ou espontâneo, a transição agroecológica supõe, primeiramente, a adesão dos agricultores às propostas de
extensionistas rurais do serviço público ou de outras instituições vinculadas ao meio rural (no caso do Rio Grande do Sul, o
papel exercido por algumas ONGs neste sentido tem sido muito importante), gerando expectativas e originando
experiências dirigidas à colocação em prática de métodos, técnicas ou estilos de produção agrícola que se afastam do
padrão tecnológico dominante. Embora estas manifestações de adesão nem sempre se dêem a partir de estruturas
organizacionais consolidadas, costumam estar acompanhadas de interação social, onde a intervenção de líderes de opinião
também sofre um primeiro processo de filtração por parte dos atores sociais submetidos a dita intervenção.

Em um segundo momento, a partir das análises e diagnósticos sobre as possibilidades e limites para o desenvolvimento
das propostas dirigidas às mudanças nas estratégias tecnológicas e produtivas, a dispersão dos agricultores _ enquanto
atores sociais envolvidos em uma atividade atomizada, como é a agricultura _ tende a ser substituída pela idéia de
agrupação, enquanto estratégia para apoiar atividades e ações fundamentais, porém nem sempre alcançáveis pela atuação
individualizada dos atores sociais.

Nosso argumento é que, se bem o começo da transição agroecológica dependa muito mais de ações isoladas de indivíduos
com atitudes favoráveis ao câmbio, sua consolidação como processo de ecologização gera, paralelamente, novos desafios
e incertezas sobre suas conseqüências e resultados futuros, originando, a partir disso, a necessidade e a pertinência de
abordar-se de forma coletiva os novos desafios que se estabelecem. A ação coletiva e as estratégias associativas não são
apenas resultados deste processo, mas incidem e afetam o seu desenvolvimento e evolução. As ações sociais coletivas
são, pois, ao mesmo tempo, o resultado e a causa do processo de transição em direção à conformação de estilos de
agricultura de base ecológica.

Dito em outras palavras, os agricultores que se aderem às propostas de agricultura com base ecológica se vêem na
necessidade de articular seus interesses particulares mediante estratégias de ação coletiva. Estas ações de tipo coletivo
incidem _ dependendo de seu êxito e da capacidade dos empresários políticos _ na própria determinação dos agricultores
de aperfeiçoar seu trabalho e buscar os instrumentos e apoios para seguir em frente com seus projetos de ecologização
das práticas agrícolas. O processo de ação social coletiva se transforma, assim, de "conseqüência" a "motor" do processo
de transição agroecológica, dependendo de seu êxito o alcance de resultados econômicos, sociais e ambientais que
assegurem a continuidade do processo de mudança.

Do exposto até aqui, é preciso reter que, em determinadas circunstâncias socioeconômicas e ambientais, estes dois
processos _ a ecologização e a ação coletiva _ podem resultar em uma interação positiva e necessária para orientar a
busca e a construção de uma alternativa superadora da atual crise socioambiental na agricultura. Esta crise, percebida em
diferentes graus de intensidade e desde diversas perspectivas pelos atores sociais por ela afetados, estaria proporcionando
o fermento para a elaboração de novas estratégias por parte dos agricultores familiares, cujos objetivos estão orientados a
assegurar maiores graus de autonomia a respeito do processo produtivo; diversificar e ampliar as rendas agrárias; oferecer
a possibilidade de participar na geração e socialização de tecnologias e conhecimentos; aumentar a qualidade de vida e
melhorar as condições de trabalho; e recuperar e preservar os recursos do meio ambiente, como forma de ampliar seus
espaços de produção e reprodução social e econômica desde uma perspectiva de gestão sustentável dos
agroecossistemas.

Em qualquer caso, a interação entre os processos de ecologização e de ação social coletiva expressaria a busca e o
desejo de construção de uma alternativa tecnológica e organizacional capaz de superar a mencionada crise socioambiental
que afeta e põe em risco a continuidade da reprodução socioeconômica daqueles segmentos da agricultura familiar que não
querem, ou já não podem, seguir ou ingressar no processo de modernização agrária segundo o padrão convencional de
intensificação tecnológica.

Referências Bibliográficas

COSTABEBER, J. A. Acción colectiva y procesos de transición agroecológica en Rio Grande do Sul, Brasil.
Córdoba, 1998. 422p. (Tese de Doutorado) Programa de Doctorado en Agroecología, Campesinado e Historia, ISEC-
ETSIAN, Universidad de Córdoba, España, 1998.

GONZÁLEZ DE MOLINA, M.; SEVILLA GUZMÁN, E. Ecología, campesinado e historia. Para una reinterpretación del
desarrollo del capitalismo en la agricultura. In: SEVILLA GUZMÁN, E.; GONZÁLEZ DE MOLINA, M. (ed.): Ecología,
campesinado e historia. Madrid: La Piqueta, 1993. p. 23-129.
*Versão simplificada do Capítulo V da Tese de Doutorado do primeiro autor.

**Eng. Agr., MSc., Dr., Extensionista Rural e Assessor Especial da EMATER/RS-ASCAR. Rua
Botafogo, n° 1051. Bairro Menino Deus. CEP 90.150-053 - Porto Alegre (RS). E-mail
costabeber@emater.tche.br

*** Eng. Agr., Dr., Pesquisador e Vice-diretor do Instituto de Estudios Sociales Avanzados de
Andalucía - Consejo Superior de Investigaciones Científicas (IESAA-CSIC). Campo Santo de los
Mártires, n° 7, CEP 14004 - Córdoba, España.

E-mail emoyano@iesaa.csic.es
RESENHAS

A transnacionalização da indústria de sementes no Brasil

Economía ecológica y política ambiental

Estratégias de transição para o século XX

Agricultura sustentável

Acción colectiva y processos de transición agroecológica en Rio Grande do Sul, Brasil

WILKINSON, J. (Coord.) & CASTELLI, P. G.

A transnacionalização da indústria de sementes no Brasil: biotecnologias, patentes e biodiversidade. Rio de


Janeiro: ActionAid Brasil, 2000. 138p.

O livro: A Transnacionalização da Indústria de Sementes no Brasil é obra de autoria de dois renomados


especialistas, o Prof. John Wilkinson e a doutoranda, engenheira agrônoma Pierina German Castelli, ambos
vinculados ao Curso de Pós-graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA), da UFRRJ.

Na verdade, trata-se do resultado de uma pesquisa sobre a internacionalização da indústria de sementes no


Brasil, coordenada pelo Prof. Wilkinson, e executada pela doutoranda Pierina Castelli, com o apoio financeiro da
ActionAid, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, com sua matriz instalada na Inglaterra, cuja
missão é apoiar esforços para a eliminação da pobreza e injustiça social na África, Ásia, América do Sul e
Caribe.

Apresentado de forma didática, em três capítulos distintos, o livro em foco torna-se deveras acessível e prático,
pois encerra, além das oportunas definições de termos (glossário e siglas utilizadas), dezenas de quadros e
gráficos elucidativos do conteúdo desenvolvido, tudo respaldado por um apreciável volume de referência
bibliográficas, que certamente serão úteis aos leitores que desejarem avançar na busca de mais e melhores
informações relacionadas à temática abordada.

Ao se iniciar a leitura do livro, depara-se com a apresentação feita pela ActionAid Brasil, da qual destacamos o
seguinte trecho: "Há algumas décadas o debate sobre a segurança alimentar era dominado pela noção de que a
fome seria solucionada pelo aumento da produção de alimentos. Hoje, contudo, cada vez mais fica claro que a
capacidade de acesso dos povos à alimentação tornou-se o elemento crucial. Segurança alimentar e nutricional
significa garantir a todos o acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo
permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares
saudáveis."

"A compreensão de que o acesso ao alimento está na raiz da problemática da fome nos remete ao debate sobre
o controle da produção, (...) ou seja, sobre a unidade básica da produção agrícola - a semente - um dos insumos
mais essenciais à produção de alimentos"

Aborda, também, de forma inteligível a relação existente entre o mercado de sementes e a (in)segurança
alimentar, considerando que "cerca de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo (...) e no Brasil, cerca
de 32 milhões se encontram em situação de indigência e fome".

A publicação chancelada pela ActionAid Brasil é parte integrante da "Campanha por um Brasil Livre de
Transgênicos", iniciada em 1999, com o objetivo de conscientizar a opinião pública sobre os riscos que isso
pode causar à saúde humana e ao meio ambiente, além da ameaça que a nefasta concentração do mercado de
sementes pelas empresas multinacionais representa para a agricultura familiar, à conservação da biodiversidade
e à segurança alimentar da população brasileira.

Surge, daí, uma série de questionamentos, por exemplo: qual foi a evolução do mercado de sementes e quais
são as tendências mundiais do setor? Como e por que aconteceram as grandes mudanças estruturais no setor
de sementes, em várias partes do mundo? Que impactos trouxe, tem trazido e ainda trará o monopólio da
indústria de sementes e quais os cenários que buscam captar as implicações das novas tecnologias à
propriedade familiar?

São questões que podem ser feitas, e que nos estudos realizados por Pierina Castelli e John Wilkinson, fazendo
uma verdadeira radiografia do setor sementeiro, não só respondem, mas mostram preocupação com os impactos
da transnacionalização, principalmente sobre a agricultura familiar.

Os autores relatam que ao longo do século XX, a semente tornou-se uma mercadoria no quadro da divisão do
trabalho entre o agricultor e a indústria. O começo de uma verdadeira indústria de semente, se deu quando
pesquisadores norte-americanos concluíram pesquisas sobre o milho híbrido.

Com a emergência das novas biotecnologias, a partir da década de 70, a indústria de sementes se reorganizou
com base em um novo paradigma científico, tornando o setor o objeto de outros ramos industriais, como as
empresas de insumos químicos e farmacêuticos.

Anteriormente, os métodos de melhoramento genético eram os tradicionais e as firmas líderes eram empresas
nacionais ou multinacionais, cujo principal negócio consistia na própria atividade sementeira, no comércio ou na
transformação de grãos.

Existia um grupo de empresas emergentes que mantinham estratégias de elevados gastos em pesquisa e
desenvolvimento na área de biotecnologia, sem participação significativa no mercado de sementes. A partir de
1994, se acentuam as mudanças na indústria de sementes que estavam acontecendo desde a década de 80,
quando começaram ocorrer as maiores transformações, mediante fusões e aquisições por parte das grandes
companhias agroquímicas e biotecnológicas. A convergência de interesses aumentou o impacto potencial das
biotecnologias, onde as firmas de biotecnologia agrícola, de sementes e agroquímicos estão num processo de
fusão/aquisição, baseado no reconhecimento de que essas tecnologias são complementares. Essas
companhias estão criando relações com a indústria a jusante, para agregar valor nos mercados industriais de
alimentos, reportam os autores. As biotecnologias estão se convertendo num componente crítico na evolução e
execução de estratégias das companhias das "ciências da vida".

A partir da comercialização das primeiras plantas transgênicas nos EUA, a indústria sementeira tem-se
caracterizado por mudanças estruturais (fusões/aquisições), surgindo algumas megafirmas que combinam
competências em biotecnologias, agroquímicos e sementes, e estão disputando a área do genoma das plantas.

A reestruturação da indústria de sementes no final da década de 90, mostrada no Quadro 2, mostra-nos a


seguinte situação: a Monsanto (EUA) adquire 29 empresas de sementes, sendo que quatro são do Brasil; a
DuPont (EUA) cinco, sendo que uma é do Brasil; a Novartis (Suíça) 16; a Aventis (Alemanha/França) nove,
sendo quatro do Brasil; a Dow AgroScience (EUA) 13, sendo cinco do Brasil; a Sakata Seed Crop (Japão) e
Savia S.A. (México) assumiram o controle de 31 empresas, sendo três do Brasil, de onde se depreende que,
pelo menos, 22 firmas brasileiras foram compradas pelas multinacionais.

A propósito, as cinco maiores companhias mundiais no mercado de sementes são: DuPont (mais de US$1,8
bilhão); Monsanto (US$1,8 bilhão); Novartis (cerca de US$1 bilhão), seguindo-se a Aventis e Savia.

"Cabe refletir sobre o porquê das compras de empresas de sementes em diversos países por parte das
transnacionais", alertam os autores. As inovações vegetais (cultivares) devem adaptar-se às condições
edafoclimáticas e ecológicas nas quais são introduzidas. Portanto, trata-se de um tipo de invenção que não pode
ser transferida de seu país de origem para o resto do mundo sem modificações e adaptações subseqüentes.
Nesse sentido, as empresas transnacionais detinham o know-how e os genes de interesse econômico para
introduzir na criação dos cultivos transgênicos, "mas não contavam com o germoplasma de cultivares adaptadas
aos diferentes ambientes agrícolas dos diversos países". Para poder levar adiante as inovações tecnológicas,
as transnacionais precisam adquirir empresas de sementes, "a fim de acessar um banco de germoplasma
adaptado às condições ambientais de cada lugar ou, alternativamente, poder estabelecer convênios com
entidades públicas de pesquisa no setor vegetal", acrescentam os autores.

No período de 1997 a 1999, observa-se forte mudança nas empresas presentes no mercado de milho. Até 1997,
o número de empresas foi mais diversificado: as quatro maiores empresas (Agroceres, Cargill, Pionner e
Novartis) detinham 77% do mercado de sementes. Em 1999, observa-se um aumento na concentração e
mudanças em posições relativas: as quatro maiores empresas detêm 90% do mercado de sementes de milho,
todas transnacionais. "A Monsanto, por intermédio de sua filial Monsoy, no Brasil, revelam os autores,
abocanham as fatias da Agroceres, da Cargill, da Braskalb, e atualmente, reina absoluta, com 60% do mercado".
A segunda maior empresa é a Pioneer, controlada pela DuPont, com 14%, seguidas pela Novartis (11%), e Dow,
que comprou a Dinamilho Carol, com 5%. O restante do mercado é dividido entre a Zeneca (3%), Agr-Evo (2%),
e a Unimilho - única empresa de capital nacional -, que reúne 17 empresas de produção de híbridos em franquia
da Embrapa, detém 5% do mercado.

Segundo os autores, a Monsoy, uma divisão da Monsanto no Brasil, investiu US$100 milhões no mercado de
milho. O trabalho desenvolvido com os cooperantes funciona como a integração nas criações de frangos e
suínos; ela entrega a semente, o produtor planta, colhe e devolve a semente à empresa, que a beneficia, embala
e vende. O franqueado recebe entre 30% e 70% acima do valor do mercado.

Em 1999, na tentativa de atenuar o impacto da entrada das transnacionais, pesquisadores, produtores e


dirigentes de cooperativas criaram o Grupo Pró-Sementes/RS, integrado pela Embrapa (trigo, clima temperado e
sementes básicas), Fepagro, Fundacep UPF, Fecoagro e Apassul, cujo principal objetivo é a utilização da
semente para aumentar a produtividade do grão colhido.

A obra apresenta, ainda, uma análise sobre os acordos e legislações básicas que regulam ou interferem com a
questão de sementes no panorama nacional e internacional. Discutem-se as leis: 9.279/96 (Lei de Patentes),
9.456/97 (Lei de Proteção de Cultivares), 8.974/95 (CNTBio), e Lei de Acesso aos Recursos Genéticos (Projetos
de lei nº 306/95 e 4751/98, em discussão no Congresso Federal).

O terceiro e último capítulo aborda os impactos da transnacionalização, dos transgênicos e do novo quadro
regulatório sobre a agricultura familiar. Nele se descortinam cenários sobre: a) organização da indústria de
sementes, a partir de 1970 e os espaços da agricultura familiar; b) implicações do novo marco jurídico da
indústria de sementes para o agricultor familiar; c) a indústria de sementes sob o domínio das transnacionais; d)
a luta contra os transgênicos implica maior regulação do setor; e) os aspectos favoráveis do novo marco
regulatório diante da atuação das transnacionais; f) situação mais favorável do agricultor familiar em algumas
novas rubricas dinâmicas da produção em massa; g) mercados artesanais - uma nova oportunidade para a
agricultura familiar; h) a Convenção sobre a biodiversidade biológica e os direitos das comunidades locais.

Os autores enriquecem a obra com experiências inovadoras sobre a conservação e uso da biodiversidade
agrícola, quando, a AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Tecnologia Alternativa), no início da década
de 90, implementou trabalho de resgate de variedades crioulas e raças tradicionais de pequenos animais
domésticos em comunidades de agricultores familiares.

Hoje, este trabalho envolve cerca de 8 mil famílias na região do Centro-Sul do Paraná e no Agreste Paraibano,
onde realizam métodos participativos junto à comunidade, para organizar campos de multiplicação de sementes;
melhorar variedades crioulas; promover o intercâmbio entre agricultores e conservar o patrimônio genético local
por meio de bancos de sementes comunitários.

Uma das conclusões retirada da análise realizada pelos autores "é de que há tendência de forte concentração no
setor de produção de sementes por parte das transnacionais, devido às estratégias de levar a cabo as
absorções".

MARTÍNEZ Alier, Joan y ROCA Jusmet, Jordi. Economía ecológica y política ambiental. México:
PNUMA/FCE, 2000. 487 p.

Temos aí uma leitura indispensável para todos os profissionais e formuladores de políticas públicas que estão
atuando na perspectiva da sustentabilidade.

Como é sabido, a economia ecológica vem se destacando como um novo enfoque científico ou campo do
estudo alternativo com respeito à economia neo-clássica e suas vertentes ambientalistas, a economia do meio
ambiente ou economia ambiental, cujas diferenças e princípios são cotejados nesta obra.

Os autores tratam de demonstrar que, ao contrário das correntes convencionais que estudam a economia como
um sistema fechado, partir da economia ecológica, a economia é entendida como "um subsistema dentro de um
ecossistema global finito" no qual ocorrem inter-relações entre o uso dos recursos naturais e os impactos
ambientais. Como destacam, a economia ecológica pode ser entendida como a "ciência e gestão da
sustentabilidade".

Já no primeiro capítulo, os autores tratam de explicar o que significa entender a economia como um sistema
aberto. Destacando aspectos importantes e pouco considerados em nossas políticas de desenvolvimento, como
os fluxos e balanços energéticos e os limites ao crescimento determinados pela chamada "segunda contradição
do capitalismo".

O segundo capítulo está dedicado a aprofundar o assunto a partir de uma nova perspectiva de análise do PIB e
das "contas nacionais". Critica, por exemplo, o tratamento dado pela macroeconomia convencional à noção de
"patrimônio ambiental", destacando a diferença-chave que há entre recursos naturais e bens fabricados, quanto
aos primeiros não se pode aplicar cálculos de autorização. Assim mesmo, trata sobre a noção de PIB Verde, e
sobre os conceitos de "Gastos Defensivos ou Compensatórios", concluindo com uma reflexão sobre a idéia de
bem-estar econômico sustentável, proposto por Daly e Cobb.

A partir do terceiro capítulo, os autores resgatam um pouco da histórica construção teórica da economia
ecológica, e aprofundam o debate sobre "instrumentos de política ambiental", abordando temas como a relação
entre custos privados e custos sociais, a negociação coasiana, impostos sobre contaminação, destacando a
questão dos "impostos ecológicos ou ambientais", tão em voga nos nossos dias, apontando suas possibilidades
e limitações.

Na seqüência, o livro nos leva ao problema crítico do estabelecimento de valor e critérios de decisão, quando o
objeto são os recursos naturais. Partindo de uma reflexão sobre o conceito de eficiência e da análise de custo-
benefício.

Os autores alertam, já de saída, para a contradição entre eficiência e distribuição do ingresso, inerente às
políticas convencionais. A maior parte do capítulo quadro está dedicado ao debate sobre a lógica e as limitações
da aplicação da perspectiva de custo-benefício. Depois de uma reflexão crítica, os autores sugerem uma
alternativa concreta, afirmando que "é possível decidir de forma racional e bem informada - "multicriterialmente,
sem apelar para uma redução de todos os custos e benefícios a uma mesma unidade: o dinheiro".

Os capítulos seis e sete tratam sobre economia dos recursos não-renováveis e sobre exploração dos recursos
renováveis, mas que são esgotáveis. Neles, uma vez mais, fica evidente a diferença de tratamento que pode ser
dada pela economia neoclássica e pela economia ecológica à análise destes temas. Há, no capítulo sete, um
quadro interessante sobre o enfoque convencional da economia florestal e proposições alternativas apresentadas
pela economia ecológica. Igualmente interessantes são as reflexões e exemplos sobre a economia pesqueira,
um problema presente e que merece estudos no Rio Grande do Sul.

O debate conceitual sobre sustentabilidade, ainda que presente ao longo da obra, é tratado de forma detalhada
no capítulo oito. Entretanto, além do debate teórico, os autores partem para a discussão sobre "critérios práticos
de sustentabilidade" e os limites e graus de incerteza dos diferentes critérios que podem ser usados. Ademais,
abordam temas relevantes como a questão da "capacidade de carga", as "pegadas ecológicas", os impactos da
urbanização, entre outros.

Por fim, o capítulo nove se dedica à economia política, ou seja, o "estudo dos conflitos de distribuição
ecológica" e sua relação com a "sustentabilidade ecológica da economia".

O livro termina com um instigante debate sobre "intercâmbio ecológico desigual", dívida ecológica e dívida
externa, entretanto também em temas da maior relevância como a institucionalização da biopirataria.
Igualmente, são tratados diferentes tipos de conflitos sociais derivados da externalização dos custos,
abordados, inclusive, sob a ótica da justiça ambiental ou do "imperialismo tóxico", ficando os últimos parágrafos
reservados a uma reflexão sobre "os direitos dos agricultores" sobre a biodiversidade.

Sachs, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo:
Estúdio Nobel/ Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP)
"Temos fé no futuro da humanidade neste planeta. Acreditamos na possibilidade de modos de vida e sistemas
mais justos, menos arrogantes em suas exigências materiais, mais respeitadores do ambiente planetário ..."
(UNEP - In Defense of Earth, citado na obra)

A partir da ECO-92, o marco histórico na luta por um mundo com menos desperdício, o debate em torno de um
projeto de "desenvolvimento sustentável" passou a fazer parte da busca por uma sociedade mais justa e que
consiga administrar um processo de segurança ambiental.

Segundo o autor, a união entre desenvolvimento e meio ambiente é o único caminho viável tanto para ricos
como para pobres, que, apesar de apresentarem-se como "castas" totalmente segregadas, vivem dentro do
mesmo limite geográfico (o limite da biosfera) e compartilham, as mesmas necessidades quanto à preservação
do ar e de todos os outros recursos naturais.

O padrão de consumo existente nos países ditos "desenvolvidos" assume algumas proporções insustentáveis,
por exemplo: apenas 16% da população mundial que ocupa cerca de 24% da área do globo é responsável por
50% do consumo de energia do planeta e por 60% da emissão de resíduos industriais lançados à atmosfera todo
o ano. Foi exatamente esse padrão que gerou o esgotamento ambiental global. Será então que o padrão de
consumo destes 16% da população pode ser incentivado como objetivo para os outros 84%? Certamente não. É
preciso retomar então, a própria noção de desenvolvido/subdesenvolvido; rico/pobre. O crescimento econômico
não pode mais ser considerado um parâmetro confiável para avaliar o desenvolvimento que vem ocorrendo nas
nações.

Nesta obra há uma ênfase especial na questão do desenvolvimento agrícola e rural sustentável. O autor cita
inclusive algumas mudanças fundamentais que precisam ocorrer na estrutura desse setor: aumento da
participação da população agrícola nas decisões (fortalecendo assim grupos locais); investimento na reabilitação
e na conservação dos recursos naturais; esforços científicos em forma de pesquisas que busquem combinar as
tecnologias tradicionais e as de ponta.

A partir da participação da sociedade nas tomadas de decisão, o autor sugere como o instrumento principal
dessa reorganização a chamada Agenda 21. Esse documento é formado por um conjunto de ações práticas
estabelecidas localmente e que contribuem de forma decisiva para a nova política de desenvolvimento.

Sachs estabelece alguns fatores-chave que devem ser abordados no momento de qualquer discussão sobre
desenvolvimento sustentável:

1) necessidade de conter o consumo excessivo;

2) a concepção de que os sistemas econômicos dependem dos sistemas ecológicos;

3) é preferível subestimar o "poder" do ajuste tecnológico;

4) introdução do conceito de capital natural;

5) ampliação dos critérios para estimar valor.

Toda a discussão em torno do desenvolvimento sustentável tem encontrado um importante arcabouço teórico na
chamada economia ecológica. Esse setor da ciência econômica tem feito esforços que buscam conciliar o "eco"
das duas ciências que durante muito tempo andaram separadas, a economia e a ecologia.

A ECO-92 reuniu representantes de 180 países. Eles discutiram, durante duas semanas, medidas comuns para
um novo padrão de desenvolvimento.

Muitas pessoas podem ter ficado, de certa forma, decepcionadas com os resultados práticos de tantas reuniões,
entretanto, se analisarmos o que vinha sendo feito (absolutamente nada), podemos considerar a ECO-92 como
um marco na história da luta por um mundo mais "ecológico" (a discussão começou efetivamente a ser feita).

O assunto saiu dos bancos acadêmicos. Várias entidades civis reuniram-se paralelamente à reunião dos
dirigentes e procuraram também estabelecer metas comuns. Havia simpósios e conferências a todo momento
com os mais diversificados setores sociais. Neste evento é que se pode dizer que a relação entre meio
ambiente e desenvolvimento foi definitivamente estabelecida.
Existem ainda muitos problemas que devem ser solucionados para a efetivação de um projeto comum de
desenvolvimento sustentável: a relação entre cientistas e a sociedade civil ainda está sendo construída de uma
forma lenta; as declarações assinadas (Declaração sobre as Florestas, Convenção sobre Biodiversidade,...)
ainda não saíram do papel para a prática; a Agenda 21 ainda vem sendo estudada e discutida em vários países
(o Brasil determinou a sua, na metade do ano 2000, ou seja, 8 anos depois do evento e agora é que deve
começar a colocá-la em prática).

Além de toda a discussão teórica e a exposição dos resultados da ECO-92, nos apêndices do livro conseguimos
visualizar, através de alguns dados, as situações a que se refere o autor durante a sua argumentação.
Indicadores de desenvolvimento humano, dados estatísticos e a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento enriquecem ainda mais o excelente trabalho.

Ignacy Sachs consegue em poucas páginas descrever o processo de desenvolvimento em que vivemos e
explicar a insustentabilidade desse processo de uma forma clara. Não é necessário ao leitor qualquer
especialização ou curso prévio sobre o assunto para tornar "Estratégia de Transição para o Século XXI -
Desenvolvimento e Meio Ambiente" uma leitura agradável e de grande valor para todos aqueles que, de uma
forma ou de outra, buscam um mundo mais justo orientado para o desenvolvimento sustentável.

Ehlers, Eduardo. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. São Paulo: Livros da
Terra, 1996.

"Apesar da experiência milenar, o domínio sobre as técnicas... de produção de alimentos sempre foi um dos
maiores desafios da humanidade." (Ehlers)

É relativamente comum a utilização da expressão agricultura sustentável na literatura mais recente sobre os
métodos de produção agrícola. Entretanto, quando surge a necessidade de definir e estabelecer as principais
características desse suposto modo de produção alternativo para a agricultura, não há consenso entre os
pesquisadores.

A partir da identificação da necessidade de definir e buscar uma construção teórica para essa nova alternativa,
Ehlers desenvolveu sua tese de mestrado na USP sob a orientação de José Eli da Veiga (que dispensa qualquer
apresentação no meio da pesquisa de desenvolvimento rural). Dada linguagem acessível da obra e a
abrangência do assunto numa área em que a bibliografia brasileira ainda está muito carente, a tese foi publicada
pela editora paulista Livros da Terra e está a disposição dos interessados na Biblioteca da EMATER, no
escritório central em Porto Alegre.

Ehlers identifica três revoluções no padrão de produção agrícola. Vale a pena analisar melhor quais as
características de cada uma. A Primeira Revolução Agrícola caracteriza-se essencialmente pela aproximação da
produção animal e vegetal.

A "agricultura moderna", que surge com a Segunda Revolução Agrícola, é caracterizada pelas descobertas
científicas e o desenvolvimento de vários avanços tecnológicos (fertilizantes químicos, melhoramento genético
das plantas, motores a combustão interna etc). Durante esse período, que culminou com a divulgação ampla do
pacote tecnológico característico da Revolução Verde, havia uma idéia amplamente aceita entre os produtores
agrícolas e cientistas ligados a essa área que o aumento da produção agrícola seria diretamente proporcional à
quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo.

Houve um abandono quase que total das práticas "tradicionais" de produção. Conforme cita o autor: ".... em
meados do século XIX, ... muitas indústrias empenharam-se em fazer propaganda contrária aos processos de
fertilização orgânica (que faziam parte do conhecimento tradicional do produtor), procurando mostrar que se
tratava de uma prática antiquada". Com a ocorrência das duas grandes guerras, uma nova geração de produtos
químicos foi desenvolvida (já que diversos compostos químicos desenvolvidos como armas químicas acabaram
por ser amplamente utilizados na agricultura como agrotóxicos ou inseticidas), o que resultou num abandono
cada vez maior das técnicas tradicionais.

Esse padrão teve conseqüências ambientais que começaram a ser notadas ainda na década de 30 ,
especialmente após o dust bowl, ("caldeirão de poeira") que ocorre nos EUA. Nessa ocasião milhares de
toneladas de solos férteis do Estado de Oklahoma foram carregados pelo processo de erosão e o governo
toneladas de solos férteis do Estado de Oklahoma foram carregados pelo processo de erosão e o governo
americano admitiu, tempo depois, que a catástrofe poderia ter ocorrido devido ao erro no enfoque dado à
mecanização.

No Brasil, além das conseqüências ambientais, a adoção desse pacote tecnológico causou um problema social.
As grandes fazendas foram consideradas as mais adequadas para a adoção desse padrão (certamente por
questões políticas, já que outros países centrais optaram claramente pelo padrão de agricultura familiar mesmo
durante a Revolução Verde), o que acabou incrementando de uma maneira sem precedentes o êxodo rural.

A constatação dos problemas gerados pelo padrão de produção tradicional aumentou o interesse pelo
desenvolvimento de um padrão alternativo. A partir da década de 60, começa a estruturar-se um movimento em
busca de uma nova forma de produzir e modelos de sociedade alternativa. São desenvolvidos sistemas
alternativos que buscam formar um conjunto de práticas sustentáveis para a produção agrícola: produção
biodinâmica, produção orgânica, produção biológica e produção natural.

A idéia de agricultura sustentável começa, então, a aparecer na literatura. Entretanto, como no caso da
expressão desenvolvimento sustentável, não existe uma definição clara, única, que possa ser aplicada a esse
conceito sem ressalvas. Pode-se considerar que a agricultura sustentável não constitui algum conjunto de
práticas especiais (como o "pacote tecnológico" da Revolução Verde), mas um objetivo a ser alcançado. O autor
nos mostra que existem algumas diretrizes gerais que conseguem reunir grande parte dos interesses em torno
de um modo alternativo de produção: incentivo a substituição dos sistemas produtivos simplificados, ou
monoculturais, por sistemas rotacionais diversificados; a reorientação da pesquisa agropecuária para um
enfoque sistêmico e o fortalecimento da agricultura familiar.

Surge ainda uma outra discussão abordada por Ehlers: a agricultura sustentável é realmente uma "revolução"
para as práticas agrícolas ou é uma "evolução" da própria agricultura convencional, como resposta aos
problemas ambientais que gerou?

A discussão está ainda em aberto e tem se constituído como um campo de pesquisa para os cientistas da área
social.

Enfim, as práticas de uma agricultura sustentável não significam uma volta ao passado. É fácil constatar que os
sistemas alternativos são mais diversificados do que os convencionais. Exigem uma maior capacidade de
gerenciamento, uma mão-de-obra qualificada (daí considera o autor, a fundamentalidade da educação ambiental
para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável) e especialmente o conhecimento técnico sobre as
interações que ocorrem entre os diferentes componentes dos ecossistemas.

O desafio principal de um projeto alternativo para a produção agrícola, não só no Brasil, mas em todo o mundo
atualmente é provocar, o que foi chamado por José Eli da Veiga de, uma "revolução super ou duplamente
verde". O caráter duplo decorre da necessidade de atender aos dois problemas básicos da agricultura hoje:
promover uma revolução ainda mais produtiva do que a "simplesmente verde" e que ao mesmo tempo consiga
preservar os recursos naturais e o meio ambiente.

"Agricultura sustentável: ..." traz uma interessante revisão teórica da história da produção agrícola e, através de
uma leitura agradável, mostra ao leitor os principais problemas existentes atualmente na agricultura, que tipo de
alternativas tem sido apresentadas e quais são os resultados da aplicação dessas práticas alternativas no
mundo.

Costabeber, José Antônio. Acción colectiva y processos de transición agroecológica en Rio Grande do
Sul, Brasil. Córdoba, 1998. 422 p. (Tese de Doutorado) Programa de Doctorado en Agroecologia, Campesinado
e História, ISEC-ETSIAN, Universidad de Córdoba, España, 1998.

"... el paciente se murió, pero lá operación fue un êxito". (Costabeber)

A busca por um planejamento que contemple bases mais sustentáveis vem sendo assunto cada vez mais
freqüente nas discussões sobre desenvolvimento econômico. O desenvolvimento sustentável, na sua
concepção mais abrangente, é aquele que satisfaz as necessidades das gerações presentes sem comprometer
a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades.

A agricultura, por suprir grande parte dessas necessidades e por causar ainda uma porção considerável da
degradação ambiental, é parte importante do sistema que busca uma transformação. A produção agrícola foi
sempre essencial ao sistema de produção como um todo, entretanto ele deixou de ser apenas um setor
fornecedor de matéria-prima, para transformar-se também em um grande mercado consumidor. Essa
transformação, decorrente da chamada Revolução Verde, foi capaz de mudar o modo de vida dos agricultores,
especialmente daqueles responsáveis pelas pequenas produções no meio rural. Os pacotes tecnológicos que
revolucionaram os índices de produtividade do setor também foram responsáveis pela exclusão de grande parte
dos produtores, uma vez que o "mercado consumidor agrícola", como qualquer outro, está submetido a uma
aprovação de crédito (geralmente garantido àqueles que conseguem demonstrar maior segurança frente aos
"choques" do mercado).

Conhecendo os antecedentes desse processo, Costabeber analisa a mudança do padrão de produção que vem
aos poucos ocorrendo no Rio Grande do Sul. A agroecologia tem sido um dos sistemas mais bem sucedidos no
Estado, na busca por um padrão alternativo de produção. Foi a partir da experiência dos pequenos agricultores
gaúchos que o autor baseou-se na realização da sua tese. Costabeber desenvolveu o seguinte conjunto de
hipóteses para discutir dentro do seu trabalho:

1ª) Os agricultores familiares do Rio Grande do Sul optam por estilos de agricultura ecológica como forma de
garantir sua reprodução social como agricultores. A lógica que substancia esta opção é fundamentalmente de
natureza econômica e social e responde a uma racionalidade do tipo instrumental.

2ª) Os agricultores familiares gaúchos são os que estão em melhores condições para conscientizar-se dos
efeitos negativos sobre o meio ambiente que têm práticas agrícolas baseadas no paradigma produtivista. Por
isso suas opções pela agricultura ecológica respondem também a uma racionalidade substantiva orientada em
valores em que está presente o desejo de construir uma nova ética referente à atuação sobre o meio ambiente.

3ª) Os agricultores familiares gaúchos agrupam-se em forma de ações coletivas para superar as dificuldades
decorrentes da introdução dos novos estilos de agricultura ecológica em um contexto pouco favorável marcado
pelo paradigma da modernização produtivista. Este processo de integração baseado em experiências
associativistas não é somente um instrumental. Ele tem na sua base a busca por identidade e a construção de
interesses compartilhados, isto converte as associações de agricultores ecológicos em organizações próximas a
movimentos sociais.

4ª) As instituições públicas, como a extensão rural, ou privadas, como as ONGs, desempenham um papel
fundamental na dinamização dos agricultores familiares na busca da ecologização de suas práticas agrícolas.
Os discursos e as concepções destas instituições a respeito dos problemas ecológicos da agricultura estão em
sintonia com a realidade que experimentam os agricultores familiares no Rio Grande do Sul.

Consideradas as hipóteses expostas, o objetivo geral da tese é o de identificar as razões que fundamentam as
ações coletivas orientadas a gerar os processos de transição agroecológica no contexto das associações dos
agricultores ecológicos. São estudados os casos específicos de quatro instituições gaúchas, selecionadas
segundo critérios estabelecidos pelo autor.

Costabeber leva o leitor a uma revisão teórica dos principais pensadores que analisaram o comportamento
camponês e posteriormente a inserção da agricultura familiar no ambiente econômico. A perspectiva marxista
tradicional, representada especialmente por Lênin, Kautsky e Jenry, considera o camponês como um estado de
transição do capitalismo. A agricultura familiar é aí um resíduo e será eliminada.

A agricultura tradicional, de acordo com a perspectiva liberal tradicional, busca transformar-se numa agricultura
moderna, baseada em valores urbanos industrial. Schultz e Rogers centram suas análises na difusão da
inovação. Ambos consideram que é preciso alterar radicalmente os fatores de produção.

Chayanov, como um dos importantes teóricos da agricultura camponesa, não poderia ficar de fora da revisão
teórica feita pelo autor. O equilíbrio entre trabalho e consumo da unidade de produção familiar determina, de
forma subjetiva, a intensidade do trabalho na propriedade.

A perspectiva agroecológica, que assim como as demais formas de pensamento busca constituir um referencial
teórico e analítico, considera como uma das características fundamentais da agricultura, a heterogeneidade. De
acordo com essa análise os pacotes tecnológicos homogêneos (estilo Revolução Verde) desrespeitam as
acordo com essa análise, os pacotes tecnológicos homogêneos (estilo Revolução Verde) desrespeitam as
relações com o meio ambiente. É preciso um esforço pela manutenção da diversidade biológica dos
agrossistemas.

Costabeber dedica-se também a analisar os aspectos mais significativos da agricultura e da sociedade rural no
estado do Rio Grande do Sul. O processo de modernização da agricultura gaúcha e a atuação dos atores sociais
envolvidos na transformação da produção agrícola fazem parte de uma ampla análise que mostra como vem
ocorrendo a inserção/exclusão dos produtores familiares no RS. É importante salientar que ao mesmo tempo em
que famílias são expulsas do campo, agravando o problema do êxodo rural, outras unidades produtivas estão
completamente integradas ao complexo agroindustrial.

É baseado na análise de quatro experiências de associativismo entre pequenos produtores que buscavam uma
alternativa ao complexo agroindustrial que o autor desenvolve o estudo referente às hipóteses levantadas. As
associações são as seguintes: 1) Associação de Fruticultores Ecológicos de Sobradinho; 2) Associação dos
Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado; 3) Associação dos Produtores Ecologistas da Linha Pereira
Lima; 4) Associação dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí. Cada instituição é amplamente analisada no
trabalho (base social e organizacional, como foi feita a opção pelo novo padrão de produção etc).

O autor conclui, depois de analisar no trabalho exaustivamente as hipóteses, que o processo de ecologização da
agricultura no Rio Grande do Sul não pode ser atribuída somente a concepção ecológica dos agricultores.
Razões econômicas e a exclusão social são os fatores principais para essa mudança na forma de produzir.
Sendo assim, não causa surpresa a constatação de que nas associações, os protagonistas das experiências
são agricultores familiares periféricos, ou seja, os mais pobres do campo. Com menos espanto ainda pode-se
considerar a idéia de que a agricultura agroecológica tem sido a alternativa, que além de viabilizar
ambientalmente a produção agrícola, torna possível a inclusão social rural.

Há ainda, como bem salienta o autor, um processo amplo de difusão deste trabalho a ser feito para outras
comunidades que também se encontram em processo de exclusão da produção familiar. Antes de ser um
trabalho que encerra alguma discussão teórica, o esforço do autor é um ponto de partida para novos estudos e o
desenvolvimento de novas experiências de produção agroecológicas.

A tese escrita por José Antônio Costabeber, e à disposição na Biblioteca da EMATER/RS, abre uma série de
discussões ainda não resolvidas em torno da sustentabilidade da agricultura. Não há como negar que a análise
das experiências apresentadas pelo autor torna o associativismo e o mecanismo de ações coletivas como
algumas das grandes esperanças para a exclusão ainda hoje existente no meio rural. Mais do que "esperanças",
o trabalho indica um caminho concreto de trabalho para os interessados na questão social imposta atualmente
pelo modo de produção capitalista.
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

1. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é uma publicação da EMATER/RS,


destinada à divulgação de trabalhos de agricultores, extensionistas, professores, pesquisadores e
outros profissionais dedicados aos temas centrais de interesse da Revista.

2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é um periódico de publicação trimestral


que tem como público referencial todas aquelas pessoas que estão empenhadas na construção da
Agricultura e do Desenvolvimento Rural Sustentáveis.

3. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável publica artigos científicos, resultados de


pesquisa, estudos de caso, resenhas de teses e livros, assim como experiências e relatos de
trabalhos orientados pelos princípios da Agroecologia. Além disso, aceita artigos com enfoques
teóricos e/ou práticos nos campos do Desenvolvimento Rural Sustentável e da Agricultura
Sustentável, esta entendida como toda a forma ou estilo de agricultura de base ecológica,
independentemente da orientação teórica sobre a qual se assenta. Como não poderia deixar de ser,
a Revista dedica especial interesse à Agricultura Familiar, que constitui o público exclusivo da
Extensão Rural gaúcha. Neste sentido, são aceitos para publicação artigos e textos que tratem
teoricamente este tema e/ou abordem estratégias e práticas que promovam o fortalecimento da
Agricultura Familiar.

4. Os artigos e textos devem ser enviados em papel e em disquete à Biblioteca da EMATER/RS


(A/C Mariléa Fabião Borralho, Rua Botafogo, 1051 – Bairro Menino Deus – CEP 90150-053 – Porto
Alegre – RS) ou por correio eletrônico (para agroeco@emater.tche.br) até o último dia dos meses
de março, junho, setembro e dezembro de cada ano. Ademais, devem ser acompanhados de carta
autorizando sua publicação na Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável,
devendo constar o endereço completo do autor.

5. Serão aceitos para publicação textos escritos em Português ou Espanhol, assim como tradução
de textos para estes idiomas. Salienta-se que, no caso das traduções, deve ser mencionado de
forma explícita, em pé de página, "Tradução autorizada e revisada pelo autor" ou "Tradução
autorizada e não revisada pelo autor", conforme for o caso.

6. Terão prioridade na ordem de publicação os textos inéditos, ainda não publicados, assim como
aqueles que estejam centrados em temas da atualidade e contemporâneos ao debate e ao "estado
da arte" do campo de estudo a que se refere. Assim mesmo, terão prioridade os textos
encomendados pela Revista.

7. Serão enviados 5 (cinco) exemplares do número da Revista para todos os autores que tiverem
seus artigos ou textos publicados. Em qualquer caso, os textos não aceitos para publicação não
serão devolvidos aos seus autores.

8. As contribuições devem ter no máximo 10 (dez) laudas (usando editor de textos Word) em
formato A-4, devendo ser utilizada letra Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5 entre linhas
(dois espaços entre parágrafos). Poderão ser utilizadas notas de pé de página ou notas ao final,
devidamente numeradas, devendo ser escritas em letra Times New Roman, tamanho 10 e espaço
simples. Quando for o caso, fotos, mapas, gráficos e figuras devem ser enviados,
obrigatoriamente, em formato digital e preparados em softwares compatíveis com a plataforma
windows, de preferência em formato JPG ou GIF.

9. Os artigos devem seguir as normas da ABNT (NBR 6022/2000). Recomenda-se que sejam
inseridas no corpo do texto todas as citações bibliográficas, destacando, entre parênteses, o
sobrenome do autor, ano de publicação e, se for o caso, o número da página citada ou letras
minúsculas quando houver mais de uma citação do mesmo autor e ano. Exemplos: Como já
mencionou Silva (1999, p.42); como já mencionou Souza (1999 a,b); ou, no final da citação,
usando (Silva, 1999, p.42).

10. As referências bibliográficas devem ser reunidas no fim do texto, na Bibliografia, seguindo as
normas da ABNT (NBR 6023/2000).

11. Sobre a estrutura dos artigos técnico-científicos:

a) Título do artigo: em negrito e centrado

b) Nome(s) do(s) autor(es): iniciando pelo(s) sobrenome(s), acompanhado(s) de nota


de rodapé onde conste: profissão, titulação, atividade profissional, local de trabalho,
endereço e E-mail.

c) Resumo: no máximo em 10 linhas.

d) Corpo do trabalho: deve contemplar, no mínimo, 4 (quatro) tópicos, a saber:


introdução, desenvolvimento, conclusões e bibliografia. Poderão ainda constar listas
de quadros, tabelas e figuras, relação de abreviaturas e outros itens julgados
importantes para o melhor entendimento do texto.

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