LEMOS, Renato. A alternativa republicana e o fim da monarquia.
In: GRIBERG, Keila; SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial, volume III: 1870 – 1889. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
Este capítulo trabalha a perspectiva republicana como um movimento que
nasce e tem sua ascensão no Império. Não sendo de interesse exclusivo de uma só classe, o autor aponta que bastava uma maior flexibilidade por parte da monarquia para que a mesma não tivesse seu fim, aceitando o federalismo e aprovando as demais reformas das classes dominantes.
O modelo republicano esteve ligado ao longo processo de
transformações que ocorreram a partir da segunda metade do século XIX: “extinção do tráfico internacional de escravos, Lei de Terras, intensas migrações internas, Guerra do Paraguai (p.405)”. Esses acontecimentos deram vida ao movimento e modificaram as estruturas sociais herdadas do período colonial. A grande máquina de reprodução de capital foi o setor cafeeiro, sendo no período de 1810-1870 o principal produto de exportação e elemento que possibilitou a consolidação da independência.
Nesse período é possível perceber uma propensão ao desenvolvimento
econômico, com transformações em outros setores da economia. A proibição do tráfico internacional de escravos, por exemplo, possibilitou uma grande mobilização capital para setores como o de transporte e financeiro. Embora houvesse avanço na conjuntura do país, as classes dirigentes tinham certa aversão às mudanças, optando por defender os interesses de uma economia agrícola e latifundiária.
Conforme a economia ia se tornando mais complexa com o surgimento
de novas atividades, as classes dominantes sofriam cada vez mais com sua baixa produtividade nas lavouras, em decorrência da competitividade com o mercado internacional e a inviabilidade de se utilizar a mão de obra escrava, que começou a ser substituída pelo trabalho livre. O autor explica nas páginas 408 e 409, que o poder político no império era constituído de grupos conservadores, que exerciam sua dominação por meio das grandes propriedades rurais e do trabalho escravo. Os dois partidos (Conservador e Liberal) se revezavam no poder, e o Imperador exercia o poder Moderador e Executivo, em um sistema representativo completamente seletivo.
O Império se organizava de forma com que as demandas políticas e
econômicas dos grupos emergentes não fossem atendidas, promovendo um antagonismo entre esses poderes. Os interesses entre o oeste paulista e os fazendeiros das áreas tradicionais eram diferentes devido às perspectivas desiguais dessas áreas econômicas. Como o autor aponta na página 411, havia uma enorme discrepância entre poder econômico (que esses grupos já possuíam) e poder político. A província de São Paulo, por exemplo, possuía uma representação política irrisória, tendo em 1889 na Câmara dos Deputados apenas 1 deputado a mais que o Ceará.
A Guerra do Paraguai (1865-1870) potencializou os conflitos internos do
sistema político brasileiro. Como o autor aponta na página 412, o Império nunca deu a devida importância ao exército, e teve a “imprudência de abandoná-lo’’. Esse exército começa a querer participar da política, e juntamente com os movimentos abolicionistas, esses dois elementos atacam diretamente o pilar principal das classes dominantes. A exploração da mão de obra escrava era incompatível com o processo de grande expansão do capital.
Politicamente falando, a “alternativa republicana’’ só começou a se
tornar possível a partir de 1870, como o autor aponta na página 413, com uma das correntes do partido Liberal que havia sofrido uma cisão. Em 3 de novembro desse mesmo ano, o Partido Republicano deixa claro por meio de seu manifesto, que seus objetivos eram de liberdade econômica e não intervenção estatal, deixando claro que suas propostas tinham um caráter não revolucionário e nada reformista.
O autor trabalha a questão da adesão do republicanismo nas páginas
414 e 415, e aponta que em cidades como Minas Gerais e Pernambuco, as aceitações ao republicanismo foram quase que imediatas, mas não chegaram a representar uma organização partidária. Foi apenas em São Paulo que o partido republicano realmente surge, tendo adesão de vários segmentos da sociedade, além dos grandes fazendeiros de café.
O surgimento do partido Republicano coincide com as questões à
respeito do abolicionismo, e a questão da escravidão é tratada como uma oportunidade política. Do ponto de vista econômico, o capital exigia que a substituição de mão de obra fosse realizada, pois a cafeicultura estava em expansão e a posse de escravos se tornara inviável.
Na página 416, é possível perceber o caráter oportunista do partido. Os
republicanos esperavam que o problema da escravidão fosse resolvido pela monarquia, esperando “capitalizar” o descontentamento dos donos de escravos e chegando até a defender a indenização dos mesmos. É possível perceber um receio contrarrevolucionário entre os republicanos, conservadores e liberais, de maneira com que a forma de resolver o problema, poderia desencadear uma série de convulsões sociais, e optando por uma resolução “pacífica”.
Dentro do movimento republicano, a relação com as questões
escravistas se dividiam em basicamente duas vertentes, como é apontado na página 418. Havia uma corrente adepta de um caminho evolucionista para a república, tendo seu principal líder o jornalista Quintino Bocaiúva. E outra corrente revolucionária, inspirada no jacobinismo francês.
Os militares estiveram fora do debate político até a década de 1870,
quando gradualmente muitos de seus membros passaram a ter envolvimento que geraram uma série de tensões entre os membros das Forças Armadas e o Governo. Na página 419 o texto aborda que em 1879, a Câmara dos Deputados dirigiu uma tentativa de corte nos gastos da Armada e do Exército. Esses conflitos resultaram na participação ainda mais dos militares na esfera política, defendendo seus interesses corporativos e tentando ingressar candidatos militares ao Congresso, como ocorreu em 1881.
Episódios polêmicos como o citado na página 421, do tenente-coronel
Sena Madureira, acentuaram ainda mais o conflito entre miliares e o império, chamando cada vez mais atenção para questões dos direitos dos militares. Dentro do exército falava-se da possibilidade de uma revolução, e os mesmos passaram a discutir livremente todo e qualquer assunto que fosse de seus interesses. A própria candidatura de militares em 1881, mostrou o antagonismo entre militares e as autoridades imperiais, onde os grupos políticos dominantes eram responsabilizados por diversos problemas do Exército (como baixo valor dos soldos, inexistência de uma lei de aposentadoria, etc.).
Nas páginas 424 e 425 o autor mostra como os militares passaram a se
organizar na tentativa de pressionar ainda mais o imperador. Em março de 1889, republicanos se reuniram e decidiram que o golpe deveria ser aplicado pelo exército, sob a direção do Partido Republicano. Oficiais do exército também se organizavam e passaram a defender a investida do exército contra o império. Mais do que uma crise do império ou conflitos entre Liberais e Conservadores, todo esse contexto resultou na decadência do modelo monárquico centralizado, que como diz o autor na página 428: “era um dos pilares principais do regime político”.