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Resumo: A integralização de quotas com imóvel comum a pessoas casadas pelo regime da
comunhão universal de bens demanda que os dois figurem como futuros sócios, ou que haja
transferência por meio de negócio jurídico diverso da integralização.
Palabras claves: Intégration de quote - Pars - Intégration par biens immeubles - Futur associé
marié sous le régime de la communauté universelle - Nécessité d’un instrument public
Sumário:
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o pedido de não incidência do ITBI sobre a transmissão dos imóveis à sociedade em realização de
capital, e, no mérito, sustenta que é direito do cônjuge, com o consentimento do outro, dispor do
patrimônio comum, e que em razão da nova legislação civil, não é apenas a escritura pública a
única forma de transferência de bem imóvel.
A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo provimento do recurso.
É o relatório.
2. A r. sentença deve ser mantida.
A recorrente pretende o ingresso no registro imobiliário do instrumento particular de constituição
da sociedade, pelo qual um dos sócios, J.R.G.P., integraliza quotas mediante transferência de bens
imóveis de sua propriedade.
O mencionado sócio é casado com E.R.P., sob o regime da comunhão universal de bens, a qual
não é sócia e assinou o documento de constituição da sociedade como anuente. O regime da
comunhão universal de bens, consoante dispõe o art. 1.667 do CC/2002, implica a comunicação
de todos os bens e dívidas dos cônjuges, exceto nas hipóteses do art. 1.668 do CC/2002.
Portanto, os bens de cada cônjuge passam a pertencer ao patrimônio comum, fazem parte de uma
massa patrimonial, de modo que ambos são meeiros de todo o acervo.
Assim, embora não haja óbice algum à transferência dos bens imóveis para o fim de integrar quota
social, conforme previsto no art. 167, I, 32 , da Lei 6.015/1973 - Lei de Registros Públicos, e por
meio de instrumento particular, o fato de o regime de bens do casamento do aludido sócio ser o
da comunhão universal, reclama a efetiva transferência e não a simples anuência por parte de sua
mulher, porque esta também é proprietária dos imóveis.
Ainda que a mulher fosse sócia, a transferência seria possível pelo registro do instrumento
particular de constituição da sociedade, somente se ambos os cônjuges estivessem integrando as
quotas sociais por conferência dos bens imóveis de sua titularidade, não bastaria a simples
anuência de um ou de outro.
Ademais, a exemplo do precedente trazido aos autos (ApCív 217-6/2, da Comarca da Capital) o
contrato de constituição da sociedade apresentado menciona a transferência dos imóveis de
propriedade de J.R., o que deixa dúvida se a anuência da mulher é restrita à integralização da
parte pertencente ao marido ou se abrange também a parte que lhe pertence, contudo, ainda que
a intenção fosse a de transferir também sua meação, e, portanto, a totalidade de cada um dos
imóveis, não seria possível, conforme já exposto, por mera anuência.
O art. 108 do CC/2002 assim dispõe:
"Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios que visem
à constituição, transferência, modific ação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País".
O art. 64 da Lei 8.934/1994, que trata do registro público de empresas mercantis e atividades
afins, dispõe:
"A certidão dos atos de constituição e de alteração de sociedades mercantis, passada pelas
juntas comerciais em que foram arquivadas, será o documento hábil para a transferência, por
transcrição no registro público competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuído para
a formação ou aumento do capital social".
Da leitura deste último dispositivo legal transcrito, a conclusão não é outra senão a de que, no
caso em tela, seria necessário que a mulher também fosse sócia e que estivesse conferindo estes
bens imóveis em pagamento das quotas sociais, para que a totalidade fosse transferida à
sociedade, e, se não é assim, e se o art. 64 da Lei 8.934/1994 ora comentado não autoriza a
transmissão da propriedade por mera anuência, a transferência da titularidade do domínio da parte
que lhe cabe, em favor do cônjuge, só é possível mediante escritura pública, conforme previsto no
art. 108 do CC/2002.
Quanto à possibilidade de registro da conferência de bens por instrumento particular, este Colendo
Conselho Superior da Magistratura assim já decidiu na ApCív 9.581-0/6, da Comarca de Campinas.
Diante do exposto, nego provimento ao recurso.
(a) Gilberto Passos de Freitas, Corregedor Geral da Justiça e Relator ( DOE 16.05.2007).
COMENTÁRIO
Este acórdão do E. Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo é muito importante,
pelas lições de interpretação conjunta, que desenvolve. Isso porque a matéria, em resumo,
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envolve questões tanto afetas ao Código Civil, como à Lei de Registros Públicos, à Lei de Notários
e Registradores e ao Registro de Empresas Mercantis.
O acórdão tem como centro duas questões: a primeira de âmbito civil (transmissão de bens
imóveis por pessoas casadas, sob regime da comunhão universal de bens). E, a segunda diz
respeito à necessidade dessa transferência ser realizada por instrumento público ou não.
Vejamos.
Como é possível aferir pela simples leitura do art. 1.667 do CC/2002, no regime de comunhão
universal de bens todos os bens formam um patrimônio comum do casal, sendo que cada consorte
torna-se meeiro dos bens do outro, salvo nas hipóteses previstas no art. 1.668 do CC/2002 - que
relaciona os bens excluídos da comunhão nesse regime. Em análise sistemática com o disposto no
art. 1.647 do CC/2002, nenhum dos c ônjuges pode, sem a autorização do outro, praticar os atos
descritos em seus incisos, dentre eles, o de "alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis". Em
que pese a lei trazer a expressão "autorização", em se tratando de regime de comunhão universal
de bens, entretanto, a chamada anuência, ou outorga conjugal, ao negócio jurídico envolvendo
bens imóveis, tem natureza de uma verdadeira alienação de sua meação, ainda que conste na
respectiva matrícula do Registro de Imóveis como proprietário somente um dos cônjuges. Como o
artigo supracitado não faz essa ressalva, tratando-se de interpretação, muitas vezes o cônjuge
anui com a alienação, mediante a exteriorização da vênia conjugal, entendendo que, com ela, o
negócio jurídico encontra-se perfeito e acabado. Mas não está, pois, como acima exposto, trata-
se de alienação.
É o caso do julgado em comento.
E não foi outro o entendimento do E. Tribunal. De fato, a Lei 8.934 (LGL\1994\69) , de 1994 - Lei
do Registro Público de Empresas Mercantis - admite a dispensa de escritura pública para fins de
transmissão de bens para a pessoa jurídica - sociedade - em caso de integralização de quotas ou
ações, para formar o capital social. Tratou-se, à época, de um estímulo ou uma simplificação legal
para fomentar a integralização de quotas com bens imóveis e, por meio dessa dispensa, facilitar os
trâmites de formação de uma empresa. 1
No entanto, é muito claro o art. 64 da Lei 8.934/1994, quando dispõe:
"A certidão dos atos de constituição e de alteração de sociedades mercantis, passada pelas
juntas comerciais em que foram arquivadas, será o documento hábil para a transferência, por
transcrição no registro público competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuído para
a formação ou aumento do capital social".
Como se vê, a lei dispensou a escritura pública para os casos em que o próprio subscritor das
quotas as integralize utilizando-se de seu bem imóvel. Ou seja, utilizá-lo para tornar-se sócio da
sociedade ou aumentar o capital da mesma, desde que, repita-se, para o fim de tornar-se sócio
ou ampliar sua participação na sociedade. O procedimento seguido pelo recorrente, in casu,
estaria correto se sua cônjuge figurasse, como ele, no contrato social da sociedade em questão,
cada qual integralizando suas próprias quotas, cada um com a meação que lhe cabe do imóvel.
Trata-se de uma verdadeira alienação à sociedade constituída, pois, a partir da integralização e
subseqüente registro, o imóvel será de propriedade da pessoa jurídica, e não mais do sócio
(pessoa física). E, como alienação que é, o recorrente, no caso do julgado, não tem como sua a
totalidade do imóvel integralizado, mas tão-somente 50% do mesmo, pois a outra metade é de
propriedade pessoal da esposa, não podendo, por mera anuência, ser desse modo transferido à
sociedade em que apenas o recorrente, de modo unilateral, figura como sócio. A anuência nada
mais é senão a prova de que um cônjuge não discorda da atuação do outro, mas não é modo de
alienação.
Não há duvida de que, em se tratando de regime universal de bens, todas as quotas em uma
sociedade, pertencentes a um dos cônjuges, comunicam-se ao outro, ou seja, passam a integrar
o patrimônio do outro.
No presente caso, não é o fato do imóvel ser comum ao casal que gera a comunhão das quotas.
Essa comunhão existirá de qualquer forma, em decorrência do regime patrimonial escolhido pelos
cônjuges. Assim, a mera anuência serviria para a transferência de 50% do imóvel e não para a
transferência da totalidade do mesmo. A integralização de quotas com imóvel comum ao casal
demanda que os dois figurem como futuros sócios, ou que haja transferência por meio de negócio
jurídico diverso da integralização (doação, venda, permuta, dação em pagamento) à sociedade.
Pois bem, tendo sido estabelecida a necessidade de alienação lato sensu, a forma determinada por
Lei para que esta ocorra é a escritura pública, salvo se incursa na hipótese de dispensa trazida
pelo art. 108 do CC/2002 brasileiro (desnecessidade de escritura pública em negócios jurídicos
sobre imóveis de valor até trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país). Outra não foi a
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FIUZA, César. Direito civil - Curso completo. 8. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro - Direito de família. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
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RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
2. Miriam Sacol Comassetto. A função notarial como forma de prevenção de litígios. Porto Alegre:
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