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Universidade do Sul de Santa Catarina

Direito Internacional
Disciplina na modalidade a distância

Direito Internacional
Universidade do Sul de Santa Catarina

Direito Internacional
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor Coordenadores Graduação Marilene de Fátima Capeleto Patrícia de Souza Amorim Karine Augusta Zanoni
Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
Aline Pimentel
Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
Joseane Borges de Miranda Gerência de Produção
Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
Ana Luise Wehrle Isabel Zoldan da Veiga Rambo Design Visual
Maria da Graça Poyer
Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
Milene Pacheco Kindermann Nélio Herzmann Naiara Jeremias da Rocha Lygia Pereira Alex Sandro Xavier
Onei Tadeu Dutra Rafael Bourdot Back Lis Airê Fogolari Anne Cristyne Pereira
Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
Universitário UnisulVirtual Horácio Dutra Mello Carolina Hoeller da Silva Boing
Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Oberdan Porto Leal Piantino
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
Equipe UnisulVirtual José Carlos Noronha de Oliveira Verônica Ribas Cúrcio
José Gabriel da Silva Multimídia
Reconhecimento de Curso Acessibilidade Sérgio Giron (Coord.)
Diretor Adjunto José Humberto Dias de Toledo Maria de Fátima Martins
Luciana Manfroi Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo
Moacir Heerdt Letícia Regiane Da Silva Tobal Cleber Magri
Rogério Santos da Costa Extensão
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Fernando Gustav Soares Lima
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Josué Lange
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem Conferência (e-OLA)
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Bruno Augusto Zunino
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Gabriel Barbosa
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Produção Industrial
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Marcelo Bittencourt (Coord.)
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Gerência Serviço de Atenção
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Integral ao Acadêmico
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Maria Isabel Aragon (Gerente)
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Ana Paula Batista Detóni
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano André Luiz Portes
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel Carolina Dias Damasceno
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Cleide Inácio Goulart Seeman
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Denise Fernandes
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Francielle Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Holdrin Milet Brandão
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Jenniffer Camargo
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jessica da Silva Bruchado
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jonatas Collaço de Souza
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Juliana Cardoso da Silva
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Elen Tizian
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Kamilla Rosa
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Mariana Souza
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Marilene Fátima Capeleto
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Maurício dos Santos Augusto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maycon de Sousa Candido
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Monique Napoli Ribeiro
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Priscilla Geovana Pagani
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Scheila Cristina Martins
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Taize Muller
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Tatiane Crestani Trentin
Marcio Ventura
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
Milene Pacheco Kindermann

Direito Internacional
Livro didático

Design instrucional
Carolina Hoeller da Silva Boeing

Revisão e atualização de conteúdo


Deise Cristini Schveitzer

3ª edição

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Milene Pacheco Kindermann

Design Instrucional
Carolina Hoeller da Silva Boing
Ana Cláudia Taú (2ª. Edição)

Assistente Acadêmico
Sabrina Paula Soares Scaranto (2ª. Edição)
Roberta de Fátima Martins (3ª Edição)

Revisão e atualização de conteúdo


Deise Cristini Schveitze (3ª. Edição)

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Adriana Ferreira dos Santos
Anne Cristyne Pereira (3ª Edição)

Revisão
B2B

342.12
K63 Kindermann, Milene Pacheco
Direito internacional : livro didático / Milene Pacheco Kindermann;
revisão e atualização de conteúdo Deisi Cristini Schveitzer ; design
instrucional Carolina Hoeller da Silva Boeing ; [assistente acadêmico
Roberta de Fátima Martins]. – 3. ed., rev. e atual. – Palhoça : UnisulVirtual,
2011.
176 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Direito internacional público. I. Schveitzer, Deisi Cristini. II. Boeing,


Carolina Hoeller da Silva. III. Martins, Roberta de Fátima. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Noções de Direito Internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 - Fontes do Direito Internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
UNIDADE 3 - Sujeitos do Direito Internacional Público. . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
UNIDADE 4 - Conflitos internacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
UNIDADE 5 - Direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
UNIDADE 6 - Conflitos de leis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
Sobre a professora conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Direito


Internacional.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso, a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e
instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso, tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras da professora

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo à disciplina de Direito Internacional! Nosso


compromisso, a partir de agora, é o de buscar entender como
acontecem, sob a ótica do Direito, os movimentos da sociedade
internacional, sempre fazendo um link com a sociedade
nacional.

Os conteúdos da disciplina Direito Internacional serão


abordados de forma progressiva, permitindo que, ao longo da
jornada, você faça algumas discussões sobre acontecimentos da
atualidade e sua repercussão na sociedade internacional, uns de
acordo com o Direito Internacional posto, outros nem tanto.

Você verá que vai ser muito gostoso aprender os conceitos de


Direito Internacional e aplicá-los na formação do gestor em
comércio exterior.

— Já pensou você visitando outro país, ou recebendo


um cliente de outro país, e podendo discutir os temas
internacionais com conhecimento de causa?

Ingresse no conteúdo da disciplina e bom estudo!

Profª Milene Pacheco Kindermann.


Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Noções gerais. Sujeitos de Direito Internacional. Tratados
internacionais. Nacionalidade. Direitos humanos. Solução de
conflitos internacionais. Conflitos de leis. Globalização.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral:
O objetivo maior desta disciplina é possibilitar ao aluno o
conhecimento dos principais institutos do Direito Internacional,
para que, a partir desses, ele possa entender como funcionam as
questões jurídicas dentro da sociedade internacional.

Específicos:
„„ Compreender o significado dos principais conceitos
jurídicos (noções gerais) utilizados nas relações de caráter
internacional (globalizadas).

„„ Realizar análises sobre as inter-relações existentes entre


os institutos da esfera jurídica internacional.

„„ Depreender das fontes do Direito Internacional


(especialmente os tratados) temas e condutas legais que,
no seu futuro cotidiano profissional, influenciarão a
prática profissional.

„„ Entender como a sociedade internacional se organiza,


por meio do conhecimento das peculiaridades dos seus
principais sujeitos (Estados e organizações internacionais
governamentais e suas relações com o indivíduo –
nacionalidade, direitos humanos).

„„ Estudar as formas de solucionar, amigavelmente ou não,


os conflitos entre os Estados.

„„ Conhecer como os países se utilizam de elementos


de conexão para evitar ou resolver possíveis conflitos
de aplicação das suas legislações em situações da vida
pública ou privada.

12
Direito Internacional

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é de 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 6

Unidade 1 - Noções de Direito Internacional


Nesta unidade, você aprenderá os conceitos e características do
Direito Internacional, as relações entre o Direito Internacional e
o Direito Nacional e os princípios do Direito Internacional.

Como objetivos de aprendizagem desta unidade, espera-se


que você possa compreender como se organiza a sociedade
internacional, na ótica jurídica, e qual o papel do Direito nesta
sociedade; entender como o Direito Internacional se inter-
relaciona com o Direito interno dos países; e conhecer quais são
os princípios basilares desta disciplina em constante construção.

Unidade 2 – Fontes do Direito Internacional


Nesta unidade, você aprenderá quais são as fontes do Direito
Internacional Público e do Direito Internacional Privado;
e a realizar um estudo dos tratados: conceito, condições de
validade, processo de elaboração, efeitos, interpretação, extinção,
tratamento brasileiro dos tratados internacionais.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O objetivo desta unidade é possibilitar a você compreender


como são as fontes do Direito Internacional Público e do Direito
Internacional Privado; estudar os tratados e identificar, a partir
desse estudo, como os países passam a adotar condutas legais no
plano internacional.

Unidade 3 – Sujeitos do Direito Internacional Público


Nesta unidade, você vai aprender sobre o Estado e suas
características no plano político, físico e pessoal; as características
da Santa Sé e os conceitos e características das organizações
internacionais.

Os objetivos desta unidade são os de possibilitar o seu


conhecimento dos sujeitos do Direito Internacional Público, que
são os Estados (incluindo-se aí a Santa Sé) e as organizações
internacionais. E, ainda, compreender o Estado, que é o principal
sujeito do DIP, e suas vertentes política, pessoal e física.

Unidade 4 – Conflitos internacionais


Nesta unidade, você conhecerá as causas dos conflitos
internacionais, os meios pacíficos e os meios bélicos para solução
desses conflitos.

O objetivo desta aprendizagem é o de conhecer como são


tratados os casos de conflitos entre os países e quais são os
possíveis meios utilizados para a solução desses conflitos, como
eles são utilizados e as diferenças entre cada um deles.

Unidade 5 – Direitos humanos


Na Unidade 5, você estudará sobre a classificação dos direitos
humanos e a proteção internacional desses direitos.

14
Direito Internacional

O objetivo é o de compreender a proteção internacional dos


direitos humanos, trazendo para a discussão um histórico das
principais convenções internacionais de proteção aos direitos
humanos e como as principais organizações internacionais atuam
no sentido de garantir a proteção a esses direitos.

Unidade 6 – Conflitos de leis


Na última unidade de estudo, você verá os conflitos de leis e
as formas de solução, e conhecerá os principais elementos de
conexão utilizados em questões civis, comerciais e processuais,
presentes na legislação brasileira.

Como objetivos de aprendizagem estão: conhecer os conflitos


de normas existentes nas relações internacionais de caráter
privado, além das soluções encontradas pelos sistemas jurídicos
para evitar, minimizar ou resolver esses possíveis conflitos;
compreender o Direito Internacional Privado brasileiro, ou seja,
como o Direito brasileiro resolve os conflitos de normas nas
relações privadas internacionais; compreender como se aplicam
as teorias de remessa e os elementos de conexão, decifrando que
legislação nacional será aplicada num caso privado de relações
internacionais.

15
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/ Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da
realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação
com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas


ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

16
1
unidade 1

Noções de Direito Internacional

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender como se organiza a sociedade
internacional na ótica jurídica e qual o papel do Direito
nessa sociedade.
„„ Entender como o Direito Internacional se inter-
relaciona com o direito interno dos países.

„„ Conhecer quais são os princípios basilares desta


disciplina em constante construção.

Seções de estudo
Seção 1 Conceitos e características do Direito Internacional

Seção 2 Relações entre o Direito Internacional e o Direito


Nacional

Seção 3 Princípios do Direito Internacional Público


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Para começar a entender porque se estuda o Direito Internacional
e porque ele foi criado, vale a pena perguntar: estamos sozinhos
no planeta?

A resposta parece óbvia... Claro que não! Basta olhar o mapa-


múndi ou um globo terrestre, que você verá um aglomerado de
países pintados em cores diferentes, sinalizando que cada unidade
daquelas é composta de um território, pessoas que ali habitam e
um Governo que as organiza.

Você sabe também que cada unidade dessas constitui-se


num país diferente. Essas diferenças é que tornam o mundo
interessante! Olhos puxados, cabelos crespos, peles brancas
como o leite, negras como chocolate, comidas diferentes, bebidas
“malucas”, hábitos... Quanta diversidade! No meio de tudo
isso, há o relacionamento entre os Governos e entre as pessoas
desses países. Com tanta diversidade, como garantir que os
relacionamentos dêem certo? Não é fácil!

Pense em você e em seu círculo de parentes, amigos, colegas


e companheiros de trabalho... Vocês sempre concordam em
tudo, ou há divergências? E como resolvem tais divergências?
Amigavelmente? Entram num acordo? Um cede para o outro?
Brigam? Discutem? Rompem a amizade? Ficam meses sem se
falar? Pois é, lá no mundo exterior os relacionamentos também
passam por essas situações.

Em razão disso, por meio das normas do Direito Internacional,


a comunidade de nações procura se organizar, usando regras
jurídicas para criar um ambiente favorável às boas relações
internacionais, tentando organizar a sociedade (se auto-organizar)
e criar meios pacíficos de resolver as divergências (nem sempre se
consegue isso, mas se tenta).

Bom, nesta unidade, você estudará os conceitos iniciais para


tentar entender como funciona todo este processo!

18
Direito Internacional

Seção 1 - Conceito e características do Direito


Internacional
A expressão direito Internacional (international law) surge com
Jeremias Bentham, em 1780, utilizada em oposição a national
law ou a municipal law. Ela foi traduzida para o francês e demais
línguas latinas como direito internacional. (ACCIOLY, 2009).

Conceito do Direito Internacional


Na lição de Sidney Guerra (2009, p. 33), o Direito Internacional
se caracteriza pelo conjunto de normas que regulam as diversas
relações existentes entre os múltiplos atores que compões a
sociedade internacional.

Neste sentido, podemos dizer que:

O Direito Internacional é a parte do Direito que


cuida (busca disciplinar) das relações internacionais
existentes entre países ou entre pessoas de
nacionalidades diferentes.

O Direito Internacional tem profunda relação com a área das


Relações Internacionais, servindo de instrumento das mesmas. É
por meio do Direito Internacional que as relações internacionais
entre os Estados acontecem com maior segurança, e as relações
privadas de caráter internacional são facilitadas.

O Direito Internacional divide-se em duas áreas de estudo: a


pública e a privada.

1. Direito Internacional Público - trata dos interesses


internacionais públicos, regulando os direitos e deveres
internacionais dos Estados, dos organismos internacionais
e dos indivíduos perante os Estados. O objetivo do Direito
Internacional Público é o de regular os interesses dos países,

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

objetivando a diminuição de conflitos e o alcance da paz


mundial.

Os países do Mercosul chegam a um acordo sobre


a tarifa de imposto de importação e exportação
de carnes. Isso vai facilitar (ou, dependendo, pode
dificultar) o comércio de carnes entre os países que
fazem parte do bloco.

2. Direito Internacional Privado - pode ser conceituado como


o conjunto de normas reguladoras das relações de ordem privada
da sociedade internacional, conjugando leis de ordenamentos
jurídicos distintos e indicando a lei competente a ser aplicada. O
Ordenamento jurídico objetivo do Direito Internacional Privado é decidir qual lei será
é o conjunto de normas aplicada quando houver divergências entre as leis internas de dois
jurídicas existentes dentro países em questões de interesse privado.
de um país. O Brasil, por
exemplo, tem uma infinidade
de normas jurídicas de Aproveitando a situação do comércio de carnes
diferentes assuntos: penais, do Mercosul, citada anteriormente, quando duas
civis, constitucionais, empresas vão realizar um contrato internacional de
administrativas, comerciais, compra e venda (importação e exportação), a lei
tributárias, processuais, de que país será aplicada nesse contrato? A do país
trabalhistas, previdenciárias, exportador ou a do país importador?
etc. Todas essas normas
compõem o ordenamento
jurídico interno do país. Cada
país tem o direito de definir O Direito Internacional Público auxilia, por meio de tratados,
suas normas internas como
a formação do Direito Internacional Privado. Assim, dois ou
lhe convier, de acordo com os
valores de sua sociedade, seus mais países firmam um tratado de comércio (DIPubl) e, com
costumes e necessidades. base nesse tratado, as empresas dos países envolvidos assinam
Chama-se ordenamento contratos e realizam negócios (DIPriv).
porque as normas seguem
uma ordem entre si, evitando
que uma não se sobreponha
à outra.
Características do Direito Internacional Público
No plano internacional, não existe autoridade superior nem
milícia (força militar) permanente. Os Estados se organizam
horizontalmente e se prontificam a proceder de acordo com
as normas jurídicas na exata medida em que essas tenham
constituído objeto de seu consentimento.

20
Direito Internacional

Os Estados possuem direitos formalmente iguais (igualdade


soberana) e devem fazer suas próprias leis.

A coordenação é o princípio que preside a


convivência organizada de tantas soberanias.

O Estado soberano não é originalmente submetido a uma


jurisdição internacional diante de Corte de Justiça Internacional
alguma. Sua concordância em ser julgado por uma Corte é Poder de julgar de
que confirma a autoridade da mesma, de modo que a sentença um tribunal ou de
(decisão da Corte) se torne obrigatória e que seu eventual uma autoridade.
Por exemplo, no seu
descumprimento configure um ato ilícito.
município, o juiz
local tem o poder
Para que você possa observar como a sociedade internacional se de julgar os casos
organiza de forma diferente da sociedade nacional, observe as que acontecem na
duas figuras apresentadas a seguir. cidade. Esse poder
é chamado de
jurisdição.
Para a sociedade internacional, costuma-se, em razão do
princípio da coordenação, usar uma linha reta, na qual um
Estado instala-se ao lado do outro, nem acima, nem abaixo, Que se opõe
observe: ao princípio da
subordinação, no
qual um Estado
manda no outro.

Figura 1.1 - Horizontalidade de Estados.


Fonte: Elborado pelo autor.

Isso se encontra confirmado na Carta da ONU (Carta


de São Francisco), que criou a organização, no que
diz respeito à composição da Assembleia Geral das
nações unidas, órgão de caráter decisório, no qual
todos os países membros da entidade, independente
de seu tamanho territorial, potência financeira ou
bélica, população, ou outro fator, têm o mesmo voto
igualitário. Cada país vale um voto!

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já no plano interno dos Estados, nota-se outra figura, uma


pirâmide, sendo que no seu topo está o Estado e na sua base os
cidadãos (é a sociedade de pessoas físicas e jurídicas do país).

Figura 1.2 - Pirâmide de relacionamento Estado-cidadão.


Fonte. Elaborada pelo autor.

Isso significa que o Estado tem poder sobre os seus subordinados,


gerando uma relação de poder em que os indivíduos se submetem
ao poder exercido pelo Governo que eles mesmos elegeram.

As regras do Direito Internacional são obrigatórias. Não se trata


de cortesia internacional, de conveniência ou comodidade. As
normas não são apenas uma espécie de moral internacional e,
há muito tempo, ultrapassaram a condição de meros enunciados
de direito natural. Entretanto, elas não compõem um direito
É um direito inerente ao ser homogêneo.
humano, naturalmente estabelecido
por Deus ou pela natureza humana. O caráter jurídico de uma regra internacional decorre da
objetividade do seu enunciado, da generalidade de sua aplicação e
de sua compatibilidade com o conjunto de regras já admitidas no
sistema. (SEITENFUS; VENTURA, 1999, p. 23).

O Direito Internacional é histórico e conjuntural, vindo a


desenvolver-se de acordo com a conjuntura política da época. Ele
acompanha a sociedade internacional nos seus movimentos.

22
Direito Internacional

Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, após


todos os horrores sofridos na Europa, os países
resolveram criar a ONU – Organização das Nações
Unidas, com a finalidade de estabelecer um sistema
que evitasse, no futuro, uma nova guerra mundial,
criando um Conselho de Segurança, que, embora as
críticas à sua atuação (ou à falta dela), até o momento
conseguiu evitá-la.

Realizadas estas considerações iniciais, outros aspectos relevantes


serão examinados na seção 2, iniciando com a relação entre o
direito internacional e o direito nacional.

Seção 2 - Relações entre o Direito Internacional e o


Direito Nacional
Enquanto o direito interno subordina os sujeitos de direito a um
poder central, que estabelece a lei e os faz respeitá-la, graças a
um aparelho institucional, que pode recorrer à força, o Direito
Internacional pressupõe a promulgação em comum, por meio de
acordo, de uma regulamentação, cabendo a cada Estado avaliar
a dimensão do dever que lhe incumbe e as condições de sua
execução. (SEITENFUS; VENTURA, 1999, p. 25).

O âmbito de aplicação do Direito Internacional


não é outro que não o território dos Estados. O
Direito Internacional não é celebrado para execução
somente nos espaços internacionais (alto-mar, polo
antártico, espaço ultraterrestre). Pelo contrário, nos
limites territoriais de cada Estado é que a aplicação
das normas internacionais se torna mais importante,
permitindo a harmonização da sociedade.

O problema surge, muitas vezes, quando há divergência entre as


normas criadas internacionalmente e as normas do plano interno

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

do Estado. Há, nessa situação, um conflito de normas (entre o


internacional e o nacional), que pode gerar duas possibilidades:

„„ seguir o Direito Internacional e estar de acordo com a


comunidade internacional;

„„ observar apenas o Direito Interno.

Para estudar os efeitos desse embate entre normas de diferentes


origens, foram estabelecidas algumas teorias.

Dualismo – Surgiu em 1914, denominada pelo jurista austríaco,


Alfred Verdross. Segundo Rezek (1994, p. 4), para os dualistas
(Carl Heinrich Triepel, na Alemanha, e Dionízio Anzilotti, na
Itália), o Direito Internacional e o Direito Interno são sistemas
rigorosamente independentes e distintos, de tal modo que a
validade jurídica de uma norma interna não se condiciona à sua
sintonia com a ordem internacional. Essa teoria lembra os limites
de validade das normas jurídicas no Direito Nacional e que as
normas do Direito Externo somente são aceitas internamente
quando introduzidas no plano doméstico. Ou seja, no caso de
igualdade entre as normas internacionais e nacionais, aplicam-se
ambas, mas, no caso de desigualdade, há a prevalência da norma
interna, até que essa mude o suficiente para permitir a aplicação
da norma internacional. Ainda, para os dualistas, não há a
necessidade premente de harmonizar os dois Direitos, porque eles
acreditam na possibilidade de haver a dualidade de ambientes de
aplicação das normas. Neste sentido, Sidney Guerra (2009, p.46)
afirma que a norma interna vale independentemente da norma
internacional.

Monismo - conforme apregoa Seitenfus (1999, p. 26), prevê uma


unidade lógica e sistemática das regras internas e internacionais,
o que implica em um imperativo de subordinação entre uma e
outra. O monismo se manifesta pela introdução, geralmente nos
textos constitucionais dos Estados, de uma cláusula que estipula
a supremacia de um direito sobre o outro, hierarquizando suas
fontes. Para os monistas, é importante a harmonização das
normas, pois elas compõem um único ordenamento jurídico. O
que se propõe é a eliminação da dualidade de regras, evitando o
conflito de normas. E, em razão dessa característica, a corrente
dividiu-se em duas:

24
Direito Internacional

„„ monista internacionalista - prevê a unicidade da ordem


jurídica sob o primado do Direito Internacional, a que
se ajustariam todas as ordens internas (Hans Kelsen é o
maior expoente dessa corrente). Prega a ordem jurídica
única e a impossibilidade de o Estado sobreviver em clima
de hostilidade com a comunidade internacional em razão
da não aceitação interna do direito externo (RESEK,
1996);

Em um parecer de 1930, a CPJI declarou que é


princípio geralmente reconhecido, do direito
internacional, que, nas relações entre potências
contratantes de um tratado, as disposições de uma
lei interna não podem prevalecer sobre o tratado.
(GUERRA, 2009, p. 49).

„„ monista nacionalista - prevê o primado do Direito


Nacional de cada Estado soberano, sob cuja ótica a adoção
dos preceitos de Direito Internacional reponta como
faculdade discricionária. Prega a soberania dos Estados
sobre a da comunidade internacional e a supremacia da
Constituição de cada país. (SEITENFUS; VENTURA,
1999). Nesse caso, cada Estado possui a soberania de
definir qual aplicação terá a norma internacional dentro do
seu ordenamento jurídico interno (se será lei ordinária, lei
complementar, status constitucional).

O Nazismo, que considerava o direito alemão superior


a todos os outros, devendo predominar sobre os
demais. (GUERRA, 2009, p. 49).

O predomínio do dualismo ou do monismo repercute em soluções


práticas, exigidas pelo convívio internacional. No tratamento
constitucional, em função dos tratados internacionais, verificam-se
três possibilidades:

a) há cláusulas que conferem aos tratados o valor de Direito


Interno;

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) há cláusulas determinando a supremacia dos tratados


sobre o Direito Interno, podendo haver prevalência sobre
a Constituição, sobre as demais leis ou sobre outros
tratados;

c) há cláusulas que prevêem a necessidade de incorporação


do texto do tratado ao ordenamento interno, logo a
internalização do acordo, para que ele encontre sua
vigência – equiparação dos tratados à lei ordinária.
(SEITENFUS; VENTURA, 1999).

Seção 3 - Princípios do Direito Internacional Público


Os princípios do DIP são divididos em três grupos
Os princípios são regras (MONSERRAT FILHO, 1986), de acordo com seus objetivos,
que se impõem a todos e servem para guiar as ações dos Estados no plano internacional.
os Estados, qualquer Acompanhe.
que seja o seu grau de
civilização, e por eles
obedecidas por serem as
1) Princípios relativos à defesa da paz mundial:
mesmas ilações lógicas do
direito à sua existência. „„ renúncia à ameaça ou uso da força;
(ARAÚJO, 1997, p. 27).
„„ solução pacífica das controvérsias;

„„ segurança coletiva;

„„ busca do desarmamento;

„„ proibição de propaganda de guerra.

2) Princípios relativos à cooperação entre todos os Estados e


povos, independentemente de qualquer diferença:

„„ respeito à soberania e igualdade de direitos de todos os


Estados;

„„ não intervenção nos assuntos internos;

26
Direito Internacional

„„ obrigação de cooperar com todos os Estados em base


equitativa;

„„ cumprimento de boa-fé das obrigações assumidas.

3) Princípios relativos ao livre desenvolvimento de todos os


povos:

„„ igualdade de direitos e autodeterminação dos povos;

„„ respeito aos direitos humanos.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88) fez


constar no art. 4º os princípios das Relações Internacionais:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas


relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da


humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil


buscará a integração econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de
uma comunidade latino-americana de nações.

Os princípios mencionados no artigo acima citado orientarão a


ação brasileira junto aos órgãos internacionais e a outros Estados
soberanos da sociedade internacional.

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

Se, por ventura, tais princípios sejam contrariados, implicará


na violação da Constituição, podendo, por exemplo, ocorrer
impeachment do Presidente da República.
Processo político-
criminal instaurado
por denúncia no Síntese
Congresso para apurar
a responsabilidade,
por grave delito ou má Nesta unidade, você aprendeu que o Direito Internacional disciplina
conduta no exercício as relações internacionais. Se essas relações acontecerem no âmbito
de suas funções , dos Estados e das Organizações Internacionais Governamentais,
do Presidente da
será usado o Direito Internacional Público. Se essas relações
República , ministros
de Supremo Tribunal acontecerem no âmbito privado, entre pessoas de diferentes
ou de qualquer outro nacionalidades, elas usarão o Direito Internacional Privado.
funcionário da alta
categoria. (HOUAISS, Você viu que a sociedade internacional se organiza de forma
2001, p. 1.578). horizontal, baseada no princípio da cooperação entre os Estados,
sendo que nenhum Estado é naturalmente submetido à jurisdição de
outro ou de alguma Corte Internacional de Justiça. Assim, o Direito
Internacional tem característica obrigatória em razão da força dos
pactos assumidos pelos Estados, e é histórico e conjuntural, pois
acompanha os movimentos da sociedade internacional.

Você estudou, também, como se relacionam o Direito Internacional


Público e o Direito Interno por meio da aplicação das teorias
dualista e monista nacionalista e internacionalista.

E, por último, foram listados os princípios utilizados pelo Direito


Internacional.

Atividades de autoavaliação

Vamos exercitar o raciocínio?


Você viu que o Direito Internacional disciplina as relações internacionais entre
Estados. Quando aplicado, ele funciona dentro do território dos Estados,
relacionando-se com o Direito Interno, chegando ao dia a dia do cidadão, das
empresas e de toda a organização do país.
Então, vamos imaginar como é a relação desses dois Direitos (interno e
internacional), na prática. O Estado assina um tratado de proibição de uso
de armas de fogo pelo cidadão comum. Só os agentes de segurança do
país é que podem usá-las. Dentro do país há uma legislação de permite o

28
Direito Internacional

uso de armas de fogo pelo cidadão comum, desde que ele solicite uma
autorização junto ao Governo.
Indique e justifique a sua escola de qual dos direitos será aplicado no país
(Direito Internacional – tratado – ou Direito Nacional – lei interna), no caso
de uso das seguintes teorias:

1) da teoria dualista.

2) da teoria monista internacionalista.

3) da teoria monista nacionalista.

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Para saber mais, você pode ler:

ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional


público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público. 4.


ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2009.

REZEK, Francisco. Direito Internacional público: curso


elementar. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SEITENFUS, R.; VENTURA, D. Introdução ao Direito


Internacional Público. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001.

30
2
unidade 2

Fontes do Direito Internacional

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender o Direito Internacional Público e o
Direito Internacional Privado.

„„ Verificar o estudo dos tratados, que é a principal fonte


do Direito Internacional.

„„ Identificar a partir das fontes do Direito Internacional


(especialmente os tratados) temas e condutas legais.

Seções de estudo
Seção 1 Fontes do Direito Internacional Público e do Direito
Internacional Privado

Seção 2 Estudo dos tratados


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Agora que você já sabe para que serve o Direito Internacional e
como ele interage com o Direito interno dos países, você estudará
as fontes do DI.

Este estudo é importante, talvez até mesmo um dos mais


importantes dentro da disciplina, uma vez que é justamente por
meio do entendimento dessas fontes que você perceberá como
o Direito Internacional nasce e é aplicado, como os Estados
compõem as regras internacionais de convivência e em que nível
elas são cumpridas pelos países, quando passam a fazer parte do
ordenamento jurídico do Estado.

Por exemplo, se o Brasil assina um tratado no âmbito da OMC –


Organização Mundial do Comércio causará um grande benefício
para a empresa em que você trabalha, porque vai facilitar a
exportação dos produtos que ela produz para um determinado
grupo de países.

– Mas a partir de quando esse tratado pode ser aplicado? Será que
no dia seguinte à sua assinatura pelo Presidente da República você já
pode usar os benefícios deste tratado para exportar os produtos da sua
empresa para um dos países que fazem parte do tratado?

Isto é o que você vai descobrir a partir de agora... Bom estudo!

Seção 1 - Fontes do Direito Internacional Público e do


Direito Internacional Privado
Imagine-se fazendo um contrato internacional. Você representa
os interesses de uma empresa brasileira e a outra pessoa com
quem você está negociando representa os interesses de uma
empresa canadense. Você descobriu esse contato via internet.
Agora, você quer saber se é possível realizar tal contrato com a
empresa canadense.

32
Direito Internacional

– Você vai se perguntar: o Brasil e o Canadá têm relações diplomáticas


e comerciais? O produto, objeto desse contrato, pode ser vendido no
Canadá e no Brasil? Que legislação você deve usar para realizar o
contrato, a brasileira ou a canadense? E se esse contrato gerar algum
problema depois, ele será resolvido via justiça brasileira ou canadense?
Você terá muito que pesquisar antes de fechar o contrato, não é mesmo?
Mas, para isso, você vai buscar uma fonte de consulta.

Primeiramente, é necessário que você saiba o conceito de fonte,


observe!

Considera-se fonte do direito o “lugar” de onde este


direito nasce.

No entanto, observe que importa para esse estudo também a


“forma” como esse direito nasce. Segundo Husek (2002, p. 31), a
fonte do direito representa o modo pelo qual este se manifesta.

O art. 38 do Estatuto da Corte Internacional elenca as fontes do


Direito Internacional:

1. A Corte, cuja função seja decidir de acordo com o


direito internacional as controvérsias que lhe forem
submetidas, aplicará:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais,
que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos
Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática
geral aceita como sendo o direito;
c) os princípios gerais do direito, reconhecidos pelas nações
civilizadas;
d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões
judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das
diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação
das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da
Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as
partes com isto concordarem.

Unidade 2 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você deve estar questionando se todas as fontes de direito


internacional estão elencadas no artigo acima mencionado,
correto?

E a resposta é não. Não há uma enumeração taxativa das fontes.


Veja os tipos de fontes a seguir.

O primeiro tipo de fonte é chamado de fonte material


ou primária. Dela sai a matéria do Direito Internacional,
isto é, do que ele é feito. São os movimentos da sociedade
internacional. Esses movimentos históricos, sociais, religiosos,
culturais, bélicos, entre outros, são a matéria-prima do Direito
Internacional.

Por exemplo, se o assunto é meio ambiente, cada país


vai expor a sua posição quanto ao tema, negociando
um meio termo, que resuma o acordo de vontades
das partes envolvidas. Se o planeta está precisando de
mais proteção ao meio ambiente, essa será a tônica do
Direito Internacional a ser convencionada pelos países
que estão discutindo o tema.

O segundo tipo de fonte é chamado de fonte formal ou


secundária. Ela indica a forma como foi feito o direito. A
matéria discutida pelos Estados (a questão de meio ambiente,
por exemplo) pode ser apresentada por meio das fontes formais
do Direito Internacional, que são os tratados e convenções
internacionais, o costume, os atos unilaterais, os princípios gerais
do Direito e as resoluções das organizações internacionais.

Os tratados e convenções internacionais são as


manifestações expressas (escritas) dos acordos de
vontades (consenso) entre Estados.

Essas manifestações surgem de duas formas: a de tratados


especiais ou tratados-contratos, que estipulam as regras, uma a
uma, de como se deve cumprir a obrigação; e a de tratados gerais
ou tratados-lei (também chamados normativos), que estipulam

34
Direito Internacional

as normas gerais e os princípios que devem seguir os países sobre


determinado assunto.

Por exemplo, se os países que compõem a Floresta


Amazônica fazem um tratado dizendo que o uso dos
recursos da Amazônia será feito de forma sustentável,
mantendo o equilíbrio do ecossistema, esse tratado
terá um princípio normativo, será um tratado-lei.
Mas se, além disso, os Estados estabelecem também
cláusulas dizendo que os países deverão proibir
o uso de queimadas para limitar a extração de
madeira somente quando houver um programa de
reflorestamento e estabelecerem normas quanto à
pesca nos rios da região, estabelecendo também
prazos para cumprimento dessas regras e penalidades
no caso de seu descumprimento, aí estarão fazendo,
também, um tratado-contrato.

Atualmente, é muito comum que sejam construídos tratados que


tragam esses dois tipos em seu texto, gerando, assim, uma norma
e um contrato.

O costume é o conjunto de normas consagradas por


longo uso e observadas nas relações internacionais
como obrigatórias.

O costume distingue-se do uso pela ideia de obrigação. Sua


força obrigatória procede, antes de tudo, de uma prática geral,
admitida como lei.

Por exemplo, um Chefe de Estado quando visita outro


país deve ser recebido com honras, pompas e com
toda a proteção diplomática cabível. Isso decorre de
um costume internacional.

– Compreendeu? Então prossiga e observe agora o que são os atos


unilaterais.

Unidade 2 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os atos unilaterais são aqueles atos em que a


manifestação da vontade de um sujeito de direito
(nesse caso do Estado) é suficiente para produzir efeito
jurídico, não necessitando do consentimento do outro
sujeito envolvido.

Tais atos são assumidos pelo sujeito do DIP, restringindo sua


própria competência ou assumindo obrigações de caráter jurídico.
São atos unilaterais:

„„ O reconhecimento - que é a admissão e um direito ou


pretensão de outro sujeito. Por exemplo, quando um
Estado reconhece o nascimento de um novo Estado.

„„ O protesto - que é a negação de um direito ou pretensão


de outro sujeito. A reclamação feita por um Estado
a outro, não reconhecendo determinado direito que
infringiu uma norma de Direito Internacional, não
reconhecendo determinado direito que o Estado infrator
imagina ter, é um exemplo. Por exemplo, quando
o Governo americano declarou guerra ao Iraque, o
Governo brasileiro manifestou-se de forma contrária a
essa atitude. Isso é um protesto.

„„ O silêncio - expressa a concordância, ou seja, é a


ausência de protesto.

„„ A notificação - que é a manifestação da vontade ou do


posicionamento de um sujeito perante outro. A título de
exemplo, a carta de ratificação, que é uma informação
remetida às partes envolvidas no tratado, de que o país já
confirmou no plano interno (no seu território) o texto do
tratado.

„„ A renúncia - que é o abandono a um direito. Por


exemplo, um Estado que renúncia ao direito de cobrar as
dívidas do Estado devedor, perdoando-as.

„„ A denúncia - que é o desligamento de um sujeito de


um acordo ou tratado. O Tratado de Assunção, por
exemplo, permite a denúncia do tratado, possibilitando
aos Estados desligarem-se do Mercosul.

36
Direito Internacional

„„ A promessa - é o compromisso assumido por um Estado


de ter no futuro certa atitude. Por exemplo, um Estado,
de forma espontânea, promete que no próximo ano
ajudará o Haiti enviando alimentos e remédios.

„„ A adesão - que é aderência a um pacto. Exemplo:


o Tratado de Assunção permite a terceiros países
integrantes da ALADI a entrada no Mercosul.

No dia 15 de dezembro de 2009, o Senado Federal


brasileiro aprovou, após votação apertada, por trinta e
cinco a vinte e sete votos, o ingresso da Venezuela no
Mercosul. A adesão final ainda está sujeita à aprovação
pelo Congresso do Paraguai, porque Argentina e
Uruguai já manifestaram voto favorável. (disponível
em: http://ultimainstancia.uol.com.br/artigos_ver.
php?idConteudo=63483)

Os Princípios Gerais do Direito são as normas de justiça objetiva


(valores obrigatórios para a convivência em sociedade), de onde
o direito tira o seu fundamento. Esses princípios são inúmeros e
apontados como já consagrados na jurisprudência internacional:

„„ Proibição do abuso do direito; Patrícia Fontenella (2003,


p.9) define abuso do direito com sendo o “excesso de
exercício de um direito. Uso irregular de um direito, por
parte do titular.”

„„ “Pacta sun servanda”, que significa o respeito à boa-fé


nas obrigações internacionais, a responsabilidade
internacional pela prática de ato ilícito e restituição do
que foi obtido por enriquecimento ilícito.

„„ A obrigação de reparar não apenas o dano emergente,


mas também o lucro cessante.

„„ A exceção da prescrição liberatória etc.

Neste sentido, é importante distinguir o dano emergente e o


lucro cessante:

Unidade 2 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Emergente é o dano que provocou a diminuição do


patrimônio de outrem, o qual deverá ser recomposto,
e lucro cessante é a perda de ganhos esperados pelo
cumprimento de obrigação. (FONTANELLA, 2003, p. 83).

Para Clóvis Beviláqua, “é a perda da ação atribuída a um direito,


e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não-uso
delas, durante um determinado espaço de tempo”. (1980, p. 286).

Você pode observar que a origem de tais princípios está no


Direito Civil e no Direito Processual Civil. Recentemente foi
incorporada a essa lista de princípios a noção de “patrimônio
comum da humanidade” (MELLO, 1996, p. 54).
1
A doutrina é o
posicionamento sobre os
assuntos jurídicos escritos As resoluções internacionais são resoluções (decisões)
em livros e artigos por de organizações internacionais, obrigatórias para os
estudiosos da área por Estados-membros da organização, como é o caso das
estudiosos da área (juristas). resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Já a jurisprudência
internacional é a decisão
dada pelos juízes das Cortes
Internacionais de Justiça, que
vira sentença judicial e serve
São, ainda, fontes de integração, interpretação ou aplicação
de base para novas decisões do DIP, que venham a suprir lacunas deixadas pelas outras
de casos semelhantes. A fontes formais, a doutrina, a jurisprudência internacional e a
equidade é o uso do senso equidade 1.
comum na busca do que for
mais próximo da justiça (no Na área do Direito Internacional Privado, além das fontes citadas
sentido de justo) para o caso.
acima, também são usadas a legislação interna dos países, que
serão aplicadas de forma comparada com a legislação do outro
2
Um exemplo é comparar país envolvido 2, e a jurisprudência dos Estados, ou seja, as
a legislação do Brasil e do
Canadá, como no caso do
decisões dadas nos tribunais dos países.
contrato que mencionamos
no início desta unidade.

38
Direito Internacional

Seção 2 - Estudo dos tratados


A principal fonte material do DIP são os tratados. Nesta
seção, você vai aprender a definir esse instrumento jurídico, as
condições que ele deve preencher para que possa ter validade e o
passo a passo para a elaboração de um tratado.

Aproveite para observar os efeitos dos tratados junto aos Estados


envolvidos e junto a terceiros, saber como são interpretados e
quais são as causas de extinção de um pacto.

Siga em frente!

Conceito

Os tratados são atos jurídicos, por meio dos quais se


manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais
pessoas internacionais (ACCIOLY; SILVA, 1996). De
acordo com Rezek (1996), tratado é todo ato formal
concluído entre sujeitos de Direito Internacional
Público, e destinado a produzir efeitos jurídicos.

No artigo 2º da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados,


assinada em 23 de maio de 1969, consta como conceito de
tratado:

[...] um acordo internacional celebrado por escrito


entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer
conste de um instrumento único, quer conste de dois
ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua
denominação particular. (RANGEL, 1993, p. 243).

Sendo assim, o tratado é um acordo produzido por Estados


(inclui-se aí a Santa Sé) ou por organizações internacionais
governamentais, gerando efeitos de ato jurídico e de norma,
celebrado por escrito, além de ser regido pelo Direito
Internacional Público.

Unidade 2 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

As normas que estabelecem as regras sobre a elaboração, efeitos


1
A Convenção de e validade dos tratados são a Convenções de Havana 1 (CH), de
Havana foi celebrada 1928 (ratificada pelo Brasil), e a Convenção de Viena 2 (CV), de
na VI Conferência 1969 (não ratificada), ambas sobre direito dos tratados.
Interamericana, em
Havana, Cuba, em 20
de fevereiro de 1928,
Os tratados podem ser convencionados por dois sujeitos (tratados
congregando somente bilaterais) ou por mais de dois sujeitos (multilaterais). Segundo
Estados do continente a sua natureza jurídica, eles podem ser tratados-lei, que fixam
americano. normas gerais de Direito Internacional ou tratados-contrato, que
procuram regular os interesses recíprocos dos Estados. Podem
2
A Convenção de Viena dividir-se ainda em executados (quando a execução se dá de uma
foi celebrada em 23 de só vez) e executórios (quando a execução se dá sempre que ocorre
maio de 1969, em Viena, uma situação).
Áustria, e tem caráter
universal, podendo ser
aplicada a países de Os tratados podem receber várias denominações, que nem
todos os continentes. sempre indicam diferenças entre um e outro, pois o uso dessas
denominações não é padrão no mundo todo. Assim, podemos
encontrar tratados que se chamam: convenção (Convenção
de Viena), declaração (Declaração Universal dos Direito
Humanos), protocolo (Protocolo de Kyoto), carta (Carta da
ONU), tratado (Tratado de Assunção), acordo (Acordo Quadro
entre União Europeia e Mercosul), concordata (esse é utilizado
para fins religiosos), Pacto (Pacto da Liga das Nações) e outras
nomenclaturas possíveis, mas todas consideradas tratados.

Condição de validade dos tratados


Para que um tratado possa produzir todos os efeitos desejados, há
que se observar a presença de condições de validade (requisitos
que não podem faltar), que são:

„„ Capacidade das partes - são capazes os Estados (art. 1º


da Convenção de Havana – CH, e art. 6º da Convenção
de Viena – CV) e os organismos internacionais, ambos
sujeitos de Direito Internacional Público (art. 3º da CV).

„„ Habilitação dos agentes signatários - é representada pela


apresentação dos plenos poderes. Os Chefes de Estado e
respectivos Ministros de Relações Exteriores geralmente
têm reconhecida a sua competência originária por meio
das Constituições dos países. E deles é dispensável a

40
Direito Internacional

apresentação de credenciais (carta de plenos poderes). No


entanto, no caso de não serem eles os agentes a firmarem
os tratados, exige-se a apresentação da carta de plenos
poderes, que deverá ser firmada pelo Chefe de Estado ou
pelo Ministro das Relações Exteriores dos países. A pessoa
designada na carta de chancelaria para representar o país
recebe o nome de plenipotenciário (arts. 2º e 7º da CV);

„„ Objeto lícito e possível - o objeto do tratado deve visar


a uma coisa materialmente possível e permitida pelo
Direito e pela moral internacional.

„„ Consentimento mútuo - é a expressão do acordo de


vontades. Nos tratados multilaterais, vale a vontade da
maioria de dois terços dos Estados contratantes. No
caso de vício de consentimento (erro, dolo, corrupção
do representante do Estado, coerção exercida sobre o
referido representante e coerção decorrente de ameaça
ou emprego de força, além de adoção de tratado com
desconhecimento de direitos obrigatórios), o tratado pode
ser anulado ou simplesmente não ser ratificado. A CV
prevê a manifestação da vontade nos artigos 9º a 17 e,
no caso de vício de consentimento que cause a anulação,
aplicam-se as regras contidas nos arts. 42 a 53.

„„ Forma e redação dos tratados - (art. 3º da CH e art. 2º


da CV) a redação de um tratado pode ocorrer em tantas
línguas quantos forem os idiomas oficiais dos signatários,
ou ele pode ser lavrado em apenas um idioma, a critério
das partes. O formato de um tratado baseia-se nos
seguintes itens:

»» preâmbulo - introdução ao tratado, que segue logo


abaixo do título do mesmo, com a indicação das partes
contratantes e dos motivos ou objetivos do tratado;

»» articulado - as disposições do tratado, convencionadas


entre as partes e apresentadas em forma de cláusulas
ou artigos;

„„ Declaração - as partes declaram que assinam o tratado,


assumindo o pacto (pode ser feita de forma expressa,
por meio de um artigo específico, ou implícita, pela

Unidade 2 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

simples presença das palavras acordam, concordam,


convencionam ou declaram geralmente escritas no
final do preâmbulo).

„„ Indicação do lugar e da data em que está sendo escrito


o tratado.

„„ Assinaturas dos agentes habilitados – representantes


dos Estados que fazem parte do tratado, sendo que a
ordem de assinaturas pode ser lado a lado, alfabética
ou por sorteio, o que não indica qualquer grau ou
ordem de importância de um Estado sobre o outro
(princípio da coordenação).

Ao final do tratado podem ser feitas as reservas ou ressalvas,


que são as declarações unilaterais dos Estados signatários,
desobrigando-se de alguma cláusula do tratado. Estão previstas
nos arts. 6º e 7º da CH e nos arts. 2º, 19 a 23 da CV.

Processo de elaboração dos tratados


Os tratados obedecem a um processo de elaboração que segue
(em sua maioria) os determinados passos.

Negociação é a fase em que os sujeitos interessados


discutem o tema do tratado, chegando a um
consenso. Geralmente, são utilizados nas negociações
protocolos de intenções, nos quais os Estados ou a
organização internacional definem seus interesses a
respeito daquele tema.

As negociações podem se dar de forma bilateral ou por


assembleia (organismos internacionais). Encerram com a
lavratura do texto final do tratado e sua assinatura pelo
representante do Estado ou da organização internacional.

42
Direito Internacional

Ratificação é o ato administrativo mediante o qual


um Chefe de Estado confirma um tratado firmado em
seu nome ou em nome de Estado, declarando aceito o
que foi convencionado pelo agente signatário.

Geralmente, a ratificação só ocorre depois que o tratado foi


devidamente aprovado pelo Parlamento (referendado). Essa
ratificação (confirmação) é que faz com que o tratado passe a
valer plenamente.

No Brasil, cabe ao Congresso Nacional aprovar internamente um


tratado. O Chefe de Estado (Presidente da República), por meio
de seu Ministério de Relações Exteriores, encaminha à Câmara
dos Deputados um pedido de referendo do tratado. Analisado o
tratado e aprovado pela Câmara, o texto do tratado segue para o
Referendo é um ato do
Senado. Lá, uma vez aprovado o texto, será emitido um decreto Congresso Nacional, em
legislativo. que o texto de lei será
integralmente aprovado
ou integralmente
Convém salientar que por ser o tratado um rejeitado, não cabendo
procedimento de referendo, ele não admite modificação no texto que
mudanças, supressões ou acréscimos ao seu texto. Ele está sendo votado. No
deve ser aprovado ou reprovado na sua totalidade. caso dos tratados, o texto
O quorum exigido às duas casas legislativas (Câmara não pode ser modificado
dos Deputados e Senado Federal) para a aprovação de porque foi assinado
tratados é o da maioria simples, utilizando o mesmo em consenso com os
procedimento de lei ordinária, com exceção dos demais países na fase da
tratados sobre direitos humanos, cujo quorum exigido negociação.
é de três quintos dos votos.

O Estado deve abster-se de atos contrários ao tratado mesmo


antes de sua ratificação. Aprovado o tratado pelo legislativo, por
meio de referendo, o Chefe de Estado pode emitir a ratificação.
São tratados multilaterais,
Em geral, a ratificação é feita por meio de um documento, ao em que se escolhe um
dos países para guardar
qual se dá o nome de carta de ratificação, assinado pelo Chefe
o original do tratado
do Estado e pelo Ministro das Relações Exteriores. Com a troca e receber as cartas de
de cartas (tratados bilaterais) ou o depósito das mesmas em um ratificação.
depositário, oficializa-se o pacto. A CH prevê a ratificação nos
arts. 5º e 6º. Já a CV prevê este instituto nos arts. 2º e 14.

Unidade 2 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

A constituição de cada Estado fixa o poder competente para


efetuar a ratificação de um tratado.

Nas monarquias absolutas (Itália fascista), o executivo


exercia a competência exclusiva. A intervenção do
Congresso em todos os tratados é obrigatória no
Brasil. Já na França, apenas em alguns.
O sistema da Suíça consagra a primazia do Legislativo.

O registro e publicação do tratado acontece quando o acordo


envolve uma organização internacional. O registro deverá ser
feito perante a sua Secretaria, que se encarrega da publicação do
tratado.

Se não envolve uma OIG, o registro e a publicação serão feitos


pelo depositário. Internamente, a publicação segue as regras do
Direito de cada país e implica na produção dos efeitos dentro
do país. É importante ressaltar que a publicação dará efeito
internacional ao tratado (arts. 4º e 8º da CH, e art. 24 da CV).

No caso da adesão a um tratado, o Estado não participa da


negociação do seu texto, mas quer fazer parte do tratado, mesmo
posteriormente, porque esse tratado está correspondendo aos seus
interesses. Tal adesão é um ato unilateral do Estado e consiste na
emissão da carta de adesão ao depositário do tratado, pelo Chefe
de Estado do país aderente, uma vez já aprovado o texto do
tratado internamente pelo seu Parlamento (arts. 9º e 19 da CH
e art. 15 da CV). No momento da adesão, cabe fazer reservas ou
ressalvas.

Competências constitucionais brasileiras


O procedimento brasileiro quanto aos tratados não é claro e
direto. Não há uma definição expressa de qual posição os tratados
assumem na hierarquia de normas brasileira e nem como é o
procedimento que devem utilizar para sua inserção interna. Na
Constituição Brasileira de 1988, verificam-se as atribuições do
Chefe de Estado.

44
Direito Internacional

Das atribuições do Presidente da República

Art. 84 - Compete privativamente ao Presidente da


República:
[…]
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução;
[…]
VII - manter relações com Estados estrangeiros e
acreditar seus representantes diplomáticos;

Das atribuições do congresso nacional


Quanto ao Congresso Nacional, verifica-se na Constituição:

Art. 49 - É da competência exclusiva do Congresso


Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos
ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar
guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei
complementar.

Efeitos dos tratados

Um tratado passa a gerar efeitos a partir de sua


ratificação pelos membros envolvidos. A regra geral é
de que os efeitos dos tratados devem ser produzidos
somente entre as partes envolvidas (arts. 10, 11 e 13 da
CH, e arts. 26 a 30 da CV).

Unidade 2 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

No caso de atingirem um terceiro país, seguem-se regras


diferentes, conforme o seu efeito. Assim, se o tratado causa
prejuízo aos interesses de outro Estado, deve-se proceder à
reparação, no caso de danos, ou ao pedido formal de desculpas, se
não houver danos.

Já se há o benefício de terceiro país, ele pode usufruir do benefício


enquanto durar, mas não tem o poder de executar o tratado. Isso
somente poderá ocorrer se o Estado vier a fazer parte do tratado
por adesão (art. 9º da CH, e arts. 34 a 38 da CV).

Posição dos tratados na legislação brasileira


A Constituição Federal é totalmente omissa quanto ao tratamento
que deva ser dado aos tratados. Assim, a jurisprudência do STF
– Supremo Tribunal Federal criou a regra de que os tratados,
por passarem pelo mesmo procedimento da lei ordinária, devem
receber o status desse tipo legal.

Dessa forma, os tratados em geral aparecem no mesmo patamar


das leis ordinárias, devendo obedecer a hierarquia definida no
artigo 59 da Constituição Federal:

Art. 59 - O processo legislativo compreende a elaboração


de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.

Esse artigo legal remete a uma pirâmide de normas, que estabelece


a relação de hierarquia entre elas, sendo que o topo da pirâmide

46
Direito Internacional

indica a lei mais importante e a base da pirâmide a lei de menor


força legal.

Figura 2.1 - Pirâmede de normas.

Os tratados, transformados em leis ordinárias, obedecem as


normas constitucionais e as leis complementares, e revogam
(derrubam) as leis ordinárias de mesmo patamar, as leis delegadas,
as medidas provisórias, os decretos legislativos e as resoluções.

Exceções a essa regra aparecem no caso do Direito Tributário,


sendo que o Código Tributário Nacional fixou uma regra de
obediência aos tratados em matéria tributária, conforme segue:

Art. 96 - A expressão “legislação tributária” compreende


as leis, os tratados e as convenções internacionais, os
decretos e as normas complementares que versem, no
todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles
pertinentes.
Art. 98 - Os tratados e as convenções internacionais
revogam ou modificam a legislação tributária interna, e
serão observados pela que lhes sobrevenha.

Há, ainda, o tratamento diferenciado que a Constituição Federal


aponta para os tratados de direitos humanos, que venham a
acrescentar novos direitos, dando o mesmo status de norma
constitucional. Os parágrafos do art. 5º da CF/88 assim dispõem:

Unidade 2 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

Art. 5º [...]
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais.
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
(acréscimo da Emenda Constitucional nº 45/2004).

Interpretação dos tratados

São utilizadas as seguintes regras para a interpretação dos


tratados:

a) A interpretação autêntica (art. 3º da CH e art. 33


da CV), utilizando como critério a interpretação das
palavras em sentido próprio e usual; as palavras devem
possuir o sentido da época da celebração do tratado; as
palavras devem ser interpretadas conforme o seu uso
no Estado; se as palavras se apresentam contrárias a
todo o tratado, deve-se optar pela interpretação mais
ampla; quando redigido em duas línguas, e, havendo
discrepância no conteúdo, cada Estado se obriga pelo
texto em sua língua; se feito numa terceira língua;
deve-se buscar o significado do termo nessa língua.

b) A relevância do princípio da boa-fé (art. 31 da CV),


no qual se deve buscar a verdadeira intenção das
partes à época da celebração dos tratados, podendo ser
consultados os trabalhos preparatórios para solucionar as
obscuridades (arts. 31 e 32 da CV).

c) Deve-se buscar o procedimento costumeiro das partes no


cumprimento de um tratado.

48
Direito Internacional

d) As cláusulas ambíguas devem ser interpretadas de acordo


com seu efeito útil; opta-se pela menos favorável ao país
que redigiu a cláusula, porque ele tinha a opção de fazer de
modo claro. (VARELLA, 2009, p. 106).

e) As estipulações especiais prevalecem sobre as gerais.

f) A cláusula proibitiva prevalece sobre a imperativa, que


prevalece sobre a permissiva.

g) A analogia. Para Rezek (2009, p. 147), o uso da analogia


consiste em fazer valer, para determinada situação de fato,
a norma jurídica concebida para aplicar-se a uma situação
semelhante, na falta de regra que se ajuste ao exato
contorno do caso posto ante o intérprete.

Extinção dos tratados


São causas de extinção dos tratados:

„„ execução integral do tratado;

„„ expiração do prazo convencionado;

„„ verificação de uma condição resolutiva prevista no tratado;

„„ acordo mútuo entre as partes;

„„ renúncia unilateral por parte de Estado ao qual o tratado


beneficia de modo exclusivo;

„„ denúncia admitida expressa ou tacitamente pelo próprio


tratado;

„„ impossibilidade de execução;

„„ inexecução do tratado por uma das partes contratantes;

„„ a guerra sobrevinda entre as partes contratantes;

„„ prescrição liberatória.

As causas de extinção de um tratado podem ser analisadas à luz


dos arts. 14 a 17 da CH e arts. 54 a 64 da CV.

Unidade 2 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você aprendeu que o Direito Internacional


é proveniente do movimento da sociedade internacional,
acompanhando a sua evolução e o seu cenário. As normas de DIP
se materializam sob diversas maneiras (fontes materiais), mas a
principal delas é o tratado.

Você aprendeu que o tratado é um instrumento escrito e assinado


pelos sujeitos do DIP (Estados e organizações internacionais).
Aprendeu que eles podem ser bilaterais ou multilaterais e receber
várias denominações.

Você viu que, para ter validade, o tratado tem que preencher
certas condições, que são a capacidade das partes, a habilitação
dos agentes signatários, um objeto lícito e possível, obedecer uma
forma e ter presente a manifestação do consentimento das partes
envolvidas.

Acompanhou também o processo de elaboração de um tratado,


divido em três fases: negociação, ratificação e registro e
publicação. Ademais, você estudou quais são as competências do
Presidente da República e do Congresso Nacional na elaboração
do tratado.

Nesta unidade, foi possível observar como devem ser produzidos


os efeitos de um tratado, como devem ser interpretados e as
causas de sua extinção, e, ainda, a controversa posição dos
tratados dentro do ordenamento jurídico brasileiro (posição
na esfera constitucional, como lei complementar ou como lei
ordinária).

De posse de todos esses conhecimentos, você agora deve fazer um


exercício de reflexão, respondendo as atividades de autoavaliação.
Com o estudo feito nesta unidade em mente, você já pode passar
para a próxima unidade, na qual estudaremos os sujeitos de DIP
(aqueles que elaboram os tratados que você estudou aqui).

50
Direito Internacional

Atividades de autoavaliação

Agora que você está no final do capítulo, vamos exercitar o que aprendeu.

1) O tratado é um ato bilateral ou multilateral. Relacione como os atos


unilaterais podem incidir num tratado.

2) Analisando as fases de elaboração de um tratado, a partir de qual fase


(negociação, ratificação ou publicação) esse tratado passa a vigorar
dentro do território nacional brasileiro?

Unidade 2 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) A partir do momento em que o tratado entra em vigor no território


nacional, ele passa a conviver com as demais leis aqui existentes,
podendo revogá-las, complementá-las, alterá-las ou simplesmente criar
um novo direito. Como os tratados se posicionam perante as leis do
ordenamento jurídico brasileiro?

Saiba mais

MELLO, C. D. de A. Direito Internacional da integração. Rio


de Janeiro: Renovar, 1996.

RANGEL, Vicente Marotta. Direito e relações internacionais. 8.


ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

REZEK, J. F. Direito Internacional Público: curso elementar. 6


ed.São Paulo: Saraiva, 1996.

52
3
unidade 3

Sujeitos do Direito
Internacional Público

Objetivos de aprendizagem
„„ onhecer os sujeitos do Direito Internacional Público:
C
Estados (incluindo-se aí a Santa Sé) e organizações
internacionais.

„„ Compreender o Estado, que é o principal sujeito do DIP,


e suas vertentes política, pessoal e física.

Seções de estudo
Seção 1 O Estado e suas características

Seção 2 O Estado no plano físico

Seção 3 O Estado no plano pessoal

Seção 4 As características da Santa Sé

Seção 5 As organizações internacionais: conceitos e


características
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, você conhecerá mais sobre os sujeitos do DIP, ou
seja: os Estados e as organizações internacionais.

Você verá que o Estado é o principal sujeito do DIP. E, em razão


disso, você irá explorá-lo sob três ênfases: a política, a pessoal e a
física.

Neste sentido você estudará como o Estado se comporta nas


relações com outros membros da sociedade internacional, sempre
com ênfase no âmbito político. No que se refere ao aspecto
pessoal, você vai estudar como o Estado se relaciona com as
pessoas, sejam estas relações com sujeito da mesma nação ou
estrangeiros.

No que diz respeito ao aspecto físico, você vai descobrir como o


Estado exerce seu poder sobre o território.

Você verá também que as organizações internacionais só existem


em razão da vontade dos Estados de fundarem entidades que
agrupem a si próprias, mediante objetivos comuns. Os Estados,
por ficção jurídica, conferem a essas entidades uma personalidade
jurídica própria, diferente das personalidades jurídicas dos
Como se fosse um Estados. Essas organizações internacionais desempenham um
clube, uma fundação ou importante papel na sociedade internacional, tentando aproximar
mesmo uma empresa, mais os Estados e evitar conflitos.
que tem personalidade
jurídica diferente de seus
Passe, agora, a estudar esses sujeitos.
fundadores.

Seção 1 - O Estado e suas características


O principal sujeito das relações internacionais públicas (e, por
consequência, do DIP) é o Estado. Para melhor estudá-lo, vamos
dissecá-lo em três partes: o Estado no plano político, o Estado no
plano físico e o Estado no plano pessoal. Assim, você vai estudar
como o Estado se relaciona com os outros Estados da comunidade

54
Direito Internacional

internacional, como exerce poderes sobre um território e como


se relaciona com as pessoas físicas que entram e saem de seu
território. Inicie agora o estudo e descubra como o Estado
funciona.

O Estado no plano político


O Estado é a ordem política sob a qual vive o homem moderno.
Ela caracteriza-se por se a resultante de um povo vivendo sobre
um território delimitado e governado por leis que se fundam
num poder não sobrepujado por nenhum outro externamente e
supremo internamente. (BASTOS, 1995, p. 10).

Constituição do Estado (requisitos, modelos e formas de nascimento)


Conforme estabelece a Convenção Interamericana sobre os
Direitos e Deveres dos Estados, firmada em Montevidéu, em
1933, são elementos constitutivos de um Estado:
São os requisitos
„„ Uma população permanente - massa de indivíduos, para que o Estado
nacionais e estrangeiros, que habitam o território em seja considerado
determinado momento histórico. “Assim, temos que como um Estado
o povo é o componente humano do Estado e, pelo pela comunidade
internacional.
fato de o Estado surgir em função das pessoas que o
compõem, não o imagina sem a existência de um povo.”
(GUERRA, 2009, p.101).

„„ Um território determinado - com fronteiras definidas e


devidamente ocupado. O território é a área terrestre do
Estado, somada àqueles espaços hídricos de topografia
puramente interna, como os rios e lagos que se
circunscrevem no interior dessa área sólida. (REZEK,
2010, p.165).

„„ Um Governo próprio - com poder interno (autonomia)


e poder externo (independência). A existência de um
governo, com autoridades encarregadas de estabelecer e
fazer cumprir as normas existentes no âmbito interno,

Unidade 3 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

bem como conduzir as relações internacionais, é a


evidência que existe uma organização política estável
e apta a ser reconhecida no plano internacional.
(GUERRA, 2009, p.102).

„„ Capacidade de entrar em relação com os demais Estados


- reconhecida pelos demais membros da comunidade
internacional. Este quarto elemento completa o terceiro.

A existência desses elementos, e de todos eles em conjunto, é de


suma importância, uma vez que se não estiverem todos presentes,
não se considerará um Estado plenamente. Veja o caso da
Palestina, em que se discute se é ou não é um Estado:

A Palestina possui um Governo (autoridade palestina),


possui uma população permanente (as pessoas que
residem no território desenhado da Palestina), mas lhe
falta o domínio sobre o território (situação que parece
estar sendo equacionada neste nosso momento
histórico), o que faz com que muitos países não
reconheçam a Palestina como um Estado.

Em razão da capacidade de exercer seus direitos e obrigações,


os Estados classificam-se em razão de diferentes modelos de
organização de poder.

a) Simples ou unitários - são os Estados plenamente


soberanos em relação aos negócios externos e sem divisão
de autonomias no tocante aos internos. Ex.: a maioria
dos Estados europeus.

b) Compostos - são entidades estatais que se agrupam por


vontade (coordenação) ou por força de um Estado mais
poderoso sobre outro (subordinação):

„„ por coordenação - associação de Estados soberanos


ou de unidades estatais que, em pé de igualdade,
conservam apenas uma autonomia de ordem
interna, enquanto o poder externo é investido num
órgão central. Existiam vários modelos de Estados
compostos, como a união real, a união pessoal e a
confederação de Estados, mas, atualmente, só existe

56
Direito Internacional

o modelo federação. Na Federação de Estados, a


personalidade externa existe somente no superestado, o
Estado Federal. Os seus membros, ou seja, os Estados
Federados, possuem simplesmente a autonomia
interna, sujeita essa, entretanto, às restrições que forem
impostas pela Constituição Federal. Brasil, Argentina,
Estados Unidos são exemplos de Estados Federados;

„„ por subordinação – atualmente, não existem mais


Estados compostos por subordinação. Tratava-se de
uniões em que os integrantes não se achavam em
pé de igualdade, ou não possuíam plena autonomia,
ou se achavam despidos do gozo de determinados
direitos, entregues a outros. Eram os Estados vassalos,
protetorados ou Estados clientes, países satélites (o
caso da ex-URSS), e países sob tutela (colônias). No
momento, podemos indicar como uma situação de
subordinação a intervenção norte-americana no Iraque.

A Comunidade Britânica de Nações é uma associação de Estados


que não se inclui em nenhuma dessas categorias. Trata-se de
livre associação, que mantém a plena soberania dos Estados
membros e a igualdade de posição.

Quando os elementos constitutivos se agrupam, ocorre o


nascimento de um novo Estado. Como atualmente os territórios
do globo já se encontram ocupados, o nascimento de um Estado
novo pode acontecer em razão dos seguintes fatos:

a) Separação de parte da população e do território de


um Estado, subsistindo a personalidade internacional
da pátria-mãe. Foi o caso do Brasil, quando se tornou
independente de Portugal. A pátria-mãe (Portugal)
continuou a existir no cenário internacional, mas nasceu
uma nova personalidade jurídica (o Brasil), com território
definido, uma população permanente, um Governo
próprio (autônomo e autoproclamado independente),
sendo que nos faltava o reconhecimento internacional,
que foi comprado da Inglaterra. Mais recentemente
vimos o caso do Timor Leste, que se separou da
Indonésia.

Unidade 3 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) Dissolução total de um Estado, não subsistindo


a personalidade do antigo Estado. É o caso da
Tchecoslováquia, que deu origem à República Tcheca e à
Eslováquia.

c) Fusão, que é a junção de dois ou mais países sob uma


nova personalidade. É o caso da Alemanha, que fundiu
a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, divididas
no pós-Segunda Guerra em torno de um Estado novo,
a Alemanha (lembre-se da divisão com a construção do
muro de Berlim e da unificação com a queda do muro).

Reconhecimento (de Governo, de beligerância e de Estado)


O reconhecimento é um ato unilateral praticado por um Estado
e pode ocorrer por diversas situações. Interessa- nos, neste
momento, o reconhecimento de um Estado, ou seja, a decisão
do Governo de outro Estado já existente de aceitar uma nova
entidade como um Estado. O reconhecimento pode ter efeito
declaratório (apenas reconhecendo uma situação já existente)
ou constitutivo (criando um novo Estado), podendo ser feito de
forma:

„„ expressa - formalmente por meio de ato escrito;

„„ tácita - de forma indireta, como é o caso de receber o


Chefe do Estado novo com honras e pompas de Chefe de
Estado dentro do território do país;

„„ individual - ou seja, de país para país;

„„ coletiva - quando vários Estados declaram o


reconhecimento do novo Estado por meio de um tratado
multilateral;

„„ condicionada - subordinada ao pagamento de certo valor,


por exemplo;

„„ sem a imposição de condições.

58
Direito Internacional

No entanto, nos casos de separação, nem sempre o


reconhecimento de um novo Estado se dá de forma tranquila pela
pátria-mãe. Se estiver havendo um problema interno (tumulto,
situação de beligerância, motim, guerra civil), pode acontecer de
a pátria-mãe valer-se (ou receber) de uma declaração de cunho
internacional, que se chama reconhecimento de beligerância.

O reconhecimento de beligerância ocorre quando uma


parte da população se subleva (revolta) para criar novo estado
ou, então, para modificar a forma de governo existente, ou
quando os demais estados resolvem tratar ambas as partes
como beligerantes num conflito, aplicando as regras de Direito
Internacional a respeito.
Se a luta atinge vastas proporções, de tal sorte que o grupo
sublevado se mostra suficientemente forte para possuir e
exercer de fato poderes comparados aos do Governo do
estado, constitui-se um Governo responsável, que mantém sua
autoridade sobre uma parte definida do território do estado,
possui uma força armada regularmente organizada, submetida
à disciplina militar, e se mostra disposto a respeitar os direitos
e deveres de neutralidade. Os Governos estrangeiros poderão
pôr as duas partes em luta no mesmo pé de igualdade jurídica,
reconhecendo-lhes a qualidade de beligerantes.
Disso decorre a conferência das responsabilidades ao grupo
insurreto de um estado, no tocante ao direito da guerra.
Também exonera a pátria-mãe de suas responsabilidades
quanto ao grupo insurreto e passa a não tratá-lo como rebelde. Estes são direitos
O que significa que o grupo insurreto pode sofrer as sanções provenientes
específicas para os casos de guerra (mesmo o estado não de convenções
estando numa guerra). internacionais que
disciplinam a guerra,
Perante outros estados, a pátria-mãe não responde pelos atos punindo com regras
do grupo insurreto (sequestro de estrangeiros, sequestro de especiais os infratores
cargas e transportes, por exemplo). Atualmente, temos um caso, das normas de guerra.
aqui na América do Sul, com a Colômbia, em que há constituído
um grupo paramilitar que domina determinada região territorial
(as FARC – Forças Armadas Revolucionárias Colombianas),
pleiteando o reconhecimento de beligerância como o passo
inicial para constituir-se em um novo país.

Unidade 3 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

Uma vez reconhecido um Estado, a regra é que seja reconhecido


o seu Governo quando ele mude.

O reconhecimento de um novo Governo ocorre em


razão das modificações da organização política de um
Estado e são da alçada do Direito Interno (autonomia).
No entanto, quando a modificação se dá em razão
da violação da Constituição, por um golpe de Estado,
é necessário o reconhecimento do novo Governo
pela comunidade internacional, e isso se dá em razão
exclusivamente de conveniências políticas.

Sobre a questão do reconhecimento surgiram duas doutrinas,


observe:

1. A doutrina Tobar (Ministro das Relações Exteriores do


Equador) prega que só deve ser reconhecido o novo Governo
após o povo ter escolhido livremente seus representantes, ou, no
caso de revolução (tomada de poder pela força), a população já
tenha aceitado o novo Governo.

2. A doutrina formulada em Cannes, em 1922, que diz que


o novo Governo deveria aceitar a proteção da propriedade
individual, o reconhecimento das dívidas do Estado, a garantia
de execução dos contratos e o compromisso da abstenção de
propaganda subversiva contra outros países, para só então ser
aceito.

Na maioria dos casos, fica valendo a regra de que, nos assuntos


internos do Estado, esse tem autonomia e que a comunidade
internacional deve reconhecer o novo governante.

Figura 3.1 – Desfile oficial da posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003
Fonte: Técnica de Produção, Reportagem e Redação Jornalística, 2010.

60
Direito Internacional

Você já deve ter visto que, quando há a posse de um novo (ou


mesmo reempossado) Presidente da República aqui no Brasil (ou
em qualquer parte do mundo), é feita uma solenidade de posse
e uma festa comemorativa, em que participam os representantes
de outros países (Chefes de Estados ou diplomatas). Esta é uma
forma de se fazer o reconhecimento de um novo Governo.

Sucessão de Estados
Você já deve ter notado que, quando surge um novo país,
acontecem efeitos dessa novidade. Esse processo denomina-se
sucessão de Estados.

Sucessão é o conjunto de efeitos que decorrem da


morte de um país.

No caso da separação de Estados, esse fato gera efeitos para a


pátria-mãe e para o Estado novo. Os tratados assumidos pela
pátria-mãe não são transmitidos para o Estado novo, que deverá
contratar seus próprios tratados.

O Estado novo receberá da pátria-mãe os bens públicos existentes


na parte do seu território (ruas, rios, solo, subsolo, escolas, etc.).
Mas, nas questões financeiras, o Estado novo assumirá as dívidas
contraídas sobre a razão de seu território (por exemplo, um
empréstimo feito para construir uma represa na região que agora
pertence ao Estado novo).

Quanto à legislação, o Estado novo criará a sua própria lei, assim


como a pátria-mãe continuará exigindo, no seu território, a
legislação até então em vigor. Quanto à nacionalidade, as pessoas
que residirem no território do Estado novo deverão receber uma
nova nacionalidade, ou poderão permanecer como nacionais da
pátria-mãe, ou, ainda, poderão ter dupla nacionalidade.

Unidade 3 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

Um exemplo de separação de Estados é o caso da


Indonésia e do Timor Leste.

No caso de dissolução de Estados, como a pátria-mãe deixa


de existir, somente haverá efeitos para os Estados novos, que
contratarão novos tratados, pagarão as dívidas contraídas pela
pátria-mãe, receberão as partes do patrimônio da pátria-mãe,
conferirão novas nacionalidades e comporão novas leis internas.

Um exemplo de dissolução de Estados é o caso da


Tchecoslováquia, que deu origem a dois novos países:
a República Tcheca e a Eslováquia.

No caso de fusão de Estados, ao contrário da dissolução, os


Estados antigos deixarão de existir, criando um novo, que
adotará uma nova nacionalidade, novas leis internas, novos
tratados e absorverá as dívidas e o patrimônio dos Estados
antigos.

Exemplo de fusão é o caso da Alemanha, que fundiu


as duas Alemanhas numa só.

Por fim, há, ainda, uma situação que merece ser estudada, a da
anexação de território de um Estado.

A anexação de um território pode ocorrer de forma


total, quando um país anexa para si o território
completo de outro Estado, como foi o caso do Tibet,
que foi anexado pela China. Nesse caso, o Estado
anexante (China) assume todos os bens e as dívidas
do Estado anexado (Tibet), impõe ao anexado a sua
legislação, os seus tratados e a sua nacionalidade (a
nacionalidade do Estado anexado deixa de existir).

62
Direito Internacional

No caso de anexação parcial (como o caso do Acre, que foi


anexado pelo Brasil, da Bolívia), os bens e dívidas públicos
referentes àquele território passam para o Estado anexante
(Brasil), os tratados do anexante se estendem sobre o território
anexado, bem como a legislação interna.

Com relação à nacionalidade, a população pode ser beneficiada


com a nacionalidade do anexante, em substituição à
nacionalidade do Estado anexado, ou pode ser concomitante a
essa, criando a situação de dupla nacionalidade, uma vez que
a pátria de onde foi retirada a parcela do território continua
existindo.

Direitos e deveres dos Estados


Como cada Estado é uma peça dentro da sociedade
internacional, as suas relações internacionais são relações de
direitos e de deveres. Além do que consta nos tratados, que
geram direitos e deveres entre as partes contratantes, existem
direitos e deveres universais dos Estados, que podem ser
resumidos nos itens a seguir.

São direitos dos Estados:

„„ O direito à existência e à igualdade formal, que consiste


no direito que têm os Estados soberanos de serem iguais
perante a lei internacional. Isso significa que cada Estado
terá direito igualitário de voto e um não poderá reclamar
jurisdição (poder) sobre o outro.

„„ O direito ao respeito mútuo, que é o direito de ser


tratado com consideração e reconhecido como pessoa
internacional.

„„ O direito à liberdade, que compreende a soberania


externa (independência) e interna (autonomia). A
soberania interna compreende os direitos de organização
política, de legislação e de jurisdição sobre as pessoas,
e de domínio sobre o território. A soberania externa
compreende os direitos de ajustar tratados, de
representação, de fazer a guerra e a paz.

Unidade 3 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ O direito de defesa e conservação, que consiste na prática


de todos os atos necessários à defesa do Estado contra os
inimigos externos ou internos.

São deveres dos Estados:

„„ O dever moral de assistência mútua, por exemplo. nos


casos de calamidades e catástrofes.

„„ O dever jurídico de respeitar os direitos fundamentais dos


outros Estados (tratados, soberania etc.).

„„ O dever de não intervenção, pois a intervenção é um ato


abusivo, visando à imposição de uma vontade estranha ao
Estado. Esse dever admite exceções, como a intervenção
em nome do direito de defesa e conservação, para
preservar os direitos humanos e, em caso de guerra civil,
para proteção dos nacionais. É o caso da intervenção
coletiva, prevista na Carta da ONU, que é promovida pelo
seu Conselho de Segurança, em casos de ameaça à paz ou
outros atos de agressão.

Veja o caso do Haiti, em que está sendo feita uma


intervenção coletiva, comandada pelo exército
brasileiro, por designação do Conselho de Segurança
da ONU.

Responsabilidades dos Estados

Todo Estado, como membro da comunidade


internacional, ao se relacionar é responsável pelos
seus atos, tantos os positivos, que causem bons
efeitos, quanto os negativos, atos que causem danos a
outros países.

Na situação de dano, cabe à responsabilidade do Estado reparar


o mal causado, tenha ele efeito moral (desrespeito ao Chefe de
Estado de outro país, por exemplo) ou patrimonial (destruir a sede
da Embaixada de outro país, por exemplo).

64
Direito Internacional

Você sabia?
No Direito chama-se de responsabilidade objetiva
a obrigação do Estado de manter os compromissos
assumidos e reparar o mal injustamente causado a outrem,
seja ele praticado por vontade do Estado ou não. O simples
fato de um ato do Estado ter gerado um dano a outrem é
suficiente para que se caracterize a responsabilidade do
Estado.
Esse ato pode ser por parte do Poder Executivo, quando
decide, por exemplo, não cumprir um tratado; por parte
do Poder Legislativo, quando edita uma nova lei que
derruba (revoga) um tratado; ou, então, por parte do Poder
Judiciário, quando se recusa a decidir conforme um tratado
assinado pelo país. O ato lesivo, ainda, pode ser praticado
pelos funcionários do Estado, por atos de indivíduos
nacionais, mas de natureza internacional (atentado contra
Chefes de Estado, por exemplo).

A regra geral para cobrar a responsabilidade de um Estado é


que, antes de esgotados todos os meios internos para reparação
do dano, não seja feita a reclamação diplomática, que poderá ser
feita em favor de um Estado, de seu nacional ou de pessoa que se
encontre sob proteção diplomática.

Os Estados possuem a obrigação de reparar os danos causados


e de dar uma satisfação adequada (pedido formal de desculpas,
manifestação de pesar). No entanto, existem circunstâncias que
excluem a responsabilidade, como a legítima defesa, as represálias
(atos ilícitos, mas que justificam o combate a outros atos ilícitos),
a prescrição liberatória (levou tanto tempo para exercer o direito
que o perdeu), a culpa do próprio lesado, a renúncia do indivíduo
lesado, e o estado de necessidade, em nome do direito de
conservação.

Unidade 3 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

Órgãos da representação internacional dos Estados


Quando os Estados se relacionam, fazem isto por meio de seus
órgãos de relações internacionais, que são o Chefe de Estado, o
Ministro de Relações Exteriores e os órgãos da diplomacia do país.

A partir de agora, você estudará um pouco sobre esses órgãos.


Acompanhe

Chefe de Estado

O Chefe de Estado é o sujeito encarregado de mediar


as relações internacionais dos Estados (art. 84, VII e VIII,
Constituição Federal Brasileira). As Constituições dos
países fixam os poderes dos Chefes de Estado, que
podem estar vinculados ao Parlamento (Congresso).

Para que o Chefe de Estado possa desempenhar bem as suas


funções de representante maior do país, ele recebe tratamento
diferenciado, com prerrogativas e imunidades, entre elas a
inviolabilidade da pessoa, de sua residência, seu carro, seus
papéis, a isenção de impostos diretos nos países onde se encontra,
e a isenção da jurisdição territorial (será julgado no seu país de
origem), que poderá ser renunciada.

Ministros das Relações Exteriores (Chanceler)

Os ministros das relações exteriores são auxiliares


dos Chefes de Estado na formulação e na execução
da política exterior do país. É o chefe hierárquico dos
funcionários diplomáticos e consulares do país.

As funções do chanceler são de natureza interna e de caráter


internacional. Possui atribuições especiais de receber agentes
diplomáticos, ouvir e negociar propostas ou reclamações, assinar
acordos internacionais, representar o país e gerenciar a atuação dos
agentes diplomáticos (subordinados).

66
Direito Internacional

No caso do Brasil, cabe ao chanceler referendar os atos


e decretos assinados pelo Presidente da República
junto ao Congresso.

Missões diplomáticas

As missões diplomáticas de caráter político destinam-


se a manter boas relações com os outros Estados e
a proteger os seus nacionais que estiverem no país
em que estão sediadas. Os agentes diplomáticos
se dividem em embaixadores (legados ou núncios),
enviados, ministros ou similares, e encarregados
de negócios. O corpo diplomático é o conjunto de
agentes acreditados num mesmo Estado, sendo
presidido pelo decano, o agente mais antigo.

A sede da missão diplomática é a Embaixada, que se encontra


sempre localizada na capital do país.

A missão é composta pelo chefe da missão, membros


do pessoal diplomático, pessoal administrativo e
técnico, e pessoal de serviço da missão.

Cada Estado determina as qualidades e condições de idoneidade


que devem possuir os agentes. No Brasil constitui-se de um corpo
de funcionários de carreira. O documento de identificação desses
funcionários é o passaporte diplomático e a credencial (carta de
chancelaria) assinada pelo Chefe de Estado e referendada pelo
Ministro das Relações Exteriores.

As pessoas que estão em missões diplomáticas possuem os deveres


de lealdade para com seu país, respeito e consideração às autoridades
locais e às leis locais dos países onde cumprem missão. Não devem
intervir na política interna do país onde cumprem missão, não
participação em intrigas partidárias, proteger os interesses do país
e de seus nacionais no Estado onde cumprem missão, manter o
Estado de origem informado sobre as evoluções do Estado onde
está acreditado.

Unidade 3 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esses agentes têm direito de representação, podendo falar em


nome de seu Governo, manter relações amistosas, intercâmbio
econômico, cultural e científico. Possuem prerrogativas e
imunidades de inviolabilidade da pessoa e da residência, de
jurisdição local e isenção de impostos.

As missões diplomáticas terminam geralmente em virtude de ato


administrativo do Governo ou de outro posto, de chamado de
volta para a Secretaria do Estado, por demissão ou aposentadoria.

A missão do diplomata também pode terminar em decorrência de


o Estado de residência declarar o diplomata persona non grata (ou
seja, revogar a autorização de exercício de atividade diplomática –
agrément).

Ocorrendo ruptura de relações diplomáticas, extinção do Estado


acreditado, ou na hipótese de o Governo se decidir a fechar a
missão, por considerá-la desnecessária, terminam as funções do
agente diplomático. No exercício da atividade diplomática são
aplicadas as disposições da Convenção de Viena sobre missões
diplomáticas, de 1961.

Delegações junto a organizações internacionais


As delegações possuem funções semelhantes às missões
diplomáticas, mas funcionam junto às organizações internacionais
(ONU, OEA, Mercosul, por exemplo), gozando de imunidades de
inviolabilidade e isenção fiscal, e seus membros, além dessas, de
imunidade de jurisdição penal, civil, administrativa e isenção da
legislação social.

Repartições consulares
Os consulados são repartições públicas estabelecidas pelos Estados,
mediante tratados, em portos ou cidades de outros Estados, com a
missão de velar pelos interesses do país de origem (principalmente
os comerciais), prestar assistência e proteção a seus nacionais,
legalizar documentos, exercer a polícia da navegação com os portos
nacionais, fornecer informações de natureza econômica e comercial
sobre o país ou o distrito onde se acham estabelecidas.

68
Direito Internacional

Nomeado um Cônsul (funcionário de carreira ou honorário)


lhe é conferido o exequatur, reconhecendo-lhe a autoridade e a
permissão para que entre em função. Exequatur é o poder
conferido pelo Estado que
As funções consulares constam da legislação interna dos países, recebe o Cônsul, para que
podendo sofrer restrições de acordo com a legislação do Estado ele exerça as atividades
receptor. consulares.

Os cônsules possuem obrigações genéricas


de proteção, informação e a de fomentar o
desenvolvimento de relações com o Estado receptor,
além das funções de emitir passaportes, conceder
vistos, funções de notários e de oficial de registro
civil, velar pela sucessão de nacionais, comunicar
decisões judiciais e extrajudiciais, executar comissões
rogatórias, controle e inspeção sobre embarcações
de sua nacionalidade e prestar assistência às
embarcações e aeronaves e às suas tripulações.

Devem ainda respeitar as leis e as autoridades do Estado onde


estão, evitando atos ofensivos, além de cumprir os deveres
para com o seu país, recebendo, em troca, prerrogativas de
inviolabilidade pessoal dos locais consulares, de imunidade de
jurisdição e de isenção fiscal.

A missão do funcionário consular termina com a demissão, a


remoção, a aposentadoria, o falecimento, a anulação do exequatur
e a declaração de guerra entre os dois Estados. Aplicam-se para
a atividade consular as disposições da Convenção de Viena sobre
Repartições Consulares, de 1963.

Unidade 3 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - O Estado no plano físico


Agora que você já conhece como se organiza o Estado no plano
político, acompanhe como funciona outra importante feição do
Estado: o plano físico.

Muitas vezes, o exercício de poder do Estado nos domínios do


seu território, de seu espaço aéreo e de suas águas é fonte de
conflitos internacionais, por quebra de convenções ou por invasão
de fronteiras. Siga em frente e bom estudo!

Domínio terrestre, fluvial, marítimo e aéreo


Considera-se domínio do Estado a porção da superfície do globo
terrestre sobre a qual o Estado exerce soberania.

Essa soberania compreende os poderes de imperium (soberania


sobre as pessoas) e dominium (soberania sobre o território). O
território de um Estado pode ser íntegro (compacto, como o
território brasileiro), desmembrado (dividido, como o território
inglês, que possui uma parte nas Ilhas Falklands ou Ilhas
Malvinas) ou encravado (dentro de outro país, como o Estado do
Vaticano).

Considera-se território o domínio terrestre, fluvial,


marítimo, lacustre e aéreo.

A partir de agora, você estudará como as regras internacionais


estão organizadas para definir o dominium do Estado.

Domínio terrestre
O domínio sobre o território do Estado compreende a
propriedade sobre o solo e o subsolo, delimitados pela fronteiras.

70
Direito Internacional

A extensão de um Estado depende de seus limites e fronteiras.


Os limites podem ser naturais (ex.: um rio) ou artificiais (ex.:
um meridiano). Para a demarcação de uma fronteira elege-se
uma comissão mista, técnicos dos países limítrofes, que seguirão
regras ajustadas previamente em um tratado de delimitação
de fronteiras para elaborarem os trabalhos de demarcação dos
limites territoriais dos países vizinhos.

Tais trabalhos são consignados em atas e indicados em mapas.


A linha divisória é demarcada por marcos, postes, balizas,
boias, etc. Existem fatores naturais que influem nos trabalhos de
demarcação, que são as montanhas, os rios, as ilhas e os lagos ou
mares internos, que devem ser observados quando da elaboração
das regras para demarcação das fronteiras dos Estados.

Ao consultar um mapa mundial, você poderá ver que


o território do Reino Unido é espalhado em diversos
continentes.

Domínio fluvial
O domínio fluvial diz respeito aos rios existentes no território
do Estado. Esse domínio está regulado na Convenção sobre o
Direito do Mar, assinada em 10 de dezembro de 1982, e que
entrou em vigor no dia 16 de novembro de 1994.

Nessa questão, é necessário dividir os rios em duas categorias: os


rios nacionais, como o Rio São Francisco, cuja nascente e foz
percorrem somente o território de um Estado (o Brasil); e os rios
internacionais, que passam por dois ou mais países, como é o caso
dos rios contíguos, que correm entre os territórios de dois ou mais
Estados (é o caso dos rios Paraná e Uruguai, que servem de limite
entre o Brasil e os Estados do Paraguai, Argentina e Uruguai), ou
os rios sucessivos, que atravessam os territórios de dois ou mais
Estados (é o caso do Rio Amazonas e seus afluentes).

As regras internacionais para os rios nacionais são as de que a


soberania desse rio é exclusiva do Estado ao qual pertence, mas
eles devem ser abertos à navegação internacional civil (comercial
ou turística).

Unidade 3 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já a soberania nos rios contíguos deve ser compartilhada pelos


Estados que margeiam o rio, respeitando uma linha divisória
imaginária. Nos rios sucessivos, cada país tem o direito de exercer a
soberania no limite do seu território, mas ele tem também o dever
de utilizar o rio de forma adequada, sem causar danos aos demais
países em que o rio passa.

Referente à navegação internacional, a regra é que ela deve ser


livre para navios civis (comerciais ou turísticos). Tal liberdade, no
entanto, admite que o Estado ou os Estados exerçam soberania
quanto à fiscalização, à permissão para pesca, passagem e
desempenho de atividades.

Domínio marítimo
O domínio marítimo diz respeito ao mar territorial que margeia o
solo do Estado.

Esse domínio também está regulado na Convenção sobre o Direito


do Mar, assinada em 10 de dezembro de 1982 e que entrou em
vigor no dia 16 de novembro de 1994. As regras internacionais
dizem respeito ao mar territorial, à zona econômica exclusiva e ao
alto-mar.

O mar territorial é a faixa marítima marginal à costa de um


território, que se estende até certa distância.

A extensão do limite do mar territorial passou, ao longo dos


tempos, por uma evolução, iniciando como critério de medida
o limite do raio visual, depois o alcance de um tiro de canhão,
três milhas náuticas, doze milhas (critério internacionalmente
aceito hoje), até duzentas milhas (alguns países, entre eles o
Brasil, adotaram unilateralmente essa medida, mas não houve
o reconhecimento da comunidade internacional, o que causou
uma série de conflitos internacionais). No Brasil vigora, desde a
Direito de cabotagem é a
navegação mercante entre expedição da lei 8.617/93, o limite de doze milhas.
os portos de um mesmo
país. São geralmente reconhecidos ao Estado marginal, os direitos de
pesca, de polícia e de cabotagem. Cabe aos navios civis, em tempos
de paz, o direito de passagem inocente, o que restringe a soberania
do Estado. Os navios estatais de guerra não têm esse direito
reconhecido.
72
Direito Internacional

O direito de livre passagem não impossibilita a adoção de


medidas de segurança. Se as leis estabelecidas pelo Estado que
margeia o mar territorial são violadas, o Estado tem o direito
de perseguir o navio infrator com seus navios de guerra, o que
poderá se estender até fora dos limites territoriais, chegando até a
destruição do navio estrangeiro.

A jurisdição que será aplicada no mar territorial é a do Estado


marginal, e deriva da sua soberania, porém, com certas restrições.
Quando se trata de navios nacionais, todos os atos dependem da
jurisdição de dito Estado. Se tratar-se de navios internacionais,
os de guerra estão isentos da jurisdição do Estado, já os navios
mercantes, obedecem à jurisdição do país em cujo mar territorial
eles estão.

Existem outros dois conceitos importantes para compreender


como se dá o domínio do Estado no diz respeito ao ambiente
marítimo:

1. A zona econômica exclusiva - é a faixa marítima entre o


mar territorial e o alto-mar na medida de duzentas a trezentas
e cinquenta milhas marítimas (no caso de plataforma), onde
o Estado costeiro exerce direitos de soberania para fins de
exploração dos recursos naturais, vivos ou não vivos, de
exploração e aproveitamento da zona para fins econômicos,
como a produção de energia a partir da água, das correntes e
dos ventos, bem como a jurisdição no tocante à colocação e
utilização de ilhas artificiais (plataformas de petróleo), instalações
e estruturas, investigação científica, marinha e proteção e
preservação do meio marinho.

2- A plataforma continental - é uma planície (ou um planalto)


submersa, que acompanha a costa de um Estado, onde a água
pouco profunda se estende a uma distância considerável a
partir da terra e depois da qual o leito do mar se precipita a
grandes profundidades. São suscetíveis, em seu subsolo, de
aproveitamento pelo homem de suas riquezas naturais. Fazem
parte da soberania exclusiva do Estado, que a explora com
exclusividade.

Unidade 3 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

A exploração da plataforma continental deve visar


à obtenção dos recursos que ela oferece, de forma
exclusiva ao Estado proprietário, mas sempre
privilegiando princípios internacionais de livre
navegação, de pesca, de instalação de oleodutos e
cabos submarinos e de proteção a agentes nocivos ao
mar.

O Brasil dispõe sobre a matéria nos decretos nº 28.840/50 e nº


63.164/69. Na esfera internacional, a Convenção Sobre o Direito
do Mar define como plataforma continental o leito do mar e o
subsolo adjacente às costas, mas fora do mar territorial, até uma
profundidade de 200 metros ou que possa ser feito o aproveitamento,
e as situações análogas, adjacentes às costas das ilhas.

O alto-mar é a porção dos oceanos e mares que segue


após as zonas econômicas exclusivas. Ele não pertence
a ninguém e o seu uso é comum a todos os países,
tenham eles águas territoriais ou não.

Vigora no alto-mar o princípio geral da liberdade dos mares,


definido em 1958 na Convenção sobre o Alto-Mar, e compreende
a liberdade de navegação, de pesca, de colocação de cabos e
oleodutos submarinos e de sobrevôo.

Sobre abalroamentos nessa área, se for possível auferir a culpa,


o culpado responde pelos danos, se isso não for possível (casos
de culpa recíproca ou de caso fortuito), quem sofreu paga seus
próprios danos. São regras no alto-mar a repressão geral ao
tráfico de escravos e à pirataria, a proteção internacional dos
É quando um navio, por cabos submarinos, e a proteção a espécies transzonais e altamente
conta própria, percorre migratórias (Convenção de 1982).
os mares com objetivo de
cometer atos de violência
e depredação.

74
Direito Internacional

Domínio aéreo

O domínio aéreo diz respeito ao exercício da


soberania no espaço aéreo acima do solo e do mar
territorial (quando há) do Estado. Sua extensão
alcança os limites que uma aeronave (avião) pode
alcançar.

Sobre esse domínio foi elaborada a Convenção Internacional


sobre Aviação Civil, em 07 de dezembro de 1944, que estabelece
que cada Estado tem soberania exclusiva sobre o espaço aéreo
acima do seu território, restringida pela concessão, em tempo de
paz, da liberdade de passagem inocente, para aeronaves civis. Há
também as liberdades de pouso, de embarque e de desembarque
de passageiros e mercadorias.

Navios e aeronaves
Os navios e aeronaves podem ser classificados em dois tipos: os
civis e os estatais. São considerados como imóveis, por ficção
jurídica, uma vez que possuem nacionalidade e seu interior é
considerado como uma extensão territorial do país ao qual tem a
nacionalidade.

Os navios e aeronaves possuem bandeira, nome, domicílio (local


onde são inscritos), arqueação (formato) e papéis de bordo. Entre
as aeronaves, o principal elemento de identificação é a marca da
nacionalidade (cores da pintura ou letreiro).

Mas você deve estar se perguntando, o que isso


importa?

Importa, pois, tendo uma nacionalidade e sendo a extensão


territorial de um país, as regras que valem dentro da embarcação
ou do avião são as regras do seu Estado nacional, tendo esse a
jurisdição sobre as situações (nascimentos, casamentos, óbitos,
crimes, etc.) que acontecerem no recinto.

Unidade 3 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quando o navio/avião nacional estiver no domínio territorial


do Estado nacional aplica-se exclusivamente a sua lei. Se os
transportes estiverem em alto-mar, a regra de jurisdição é
semelhante. Mas se o navio/avião estiver no domínio territorial
de outro Estado, cabem duas considerações:

„„ Se o transporte for civil, a jurisdição que será aplicada é


a territorial, isto é, cabe ao Estado onde está o transporte
aplicar suas normas.

„„ Se o transporte for estatal, não se aplica a ele o direito de


livre navegação ou passagem inocente. Ele só adentrará
no domínio territorial do outro Estado mediante
sua autorização. E esse, quando o recebe, sabe que
dentro dele não poderá aplicar a sua jurisdição, por
tratar-se, justamente, de um navio ou de uma aeronave
de representação do outro Estado. Acaso aconteça
alguma situação no interior do transporte, competirá às
autoridades da marinha ou da aeronáutica do Estado de
origem aplicar as regras de seu Estado nacional.

Áreas internacionais
São consideradas áreas internacionais o alto-mar, o espaço
ultraterrestre, os corpos celestes e a Antártida (Polo Sul), uma
vez que o Polo Ártico é coberto apenas de gelo, sendo cabíveis as
regras da zona econômica exclusiva e do alto-mar.

Esses espaços são considerados patrimônio comum da


humanidade, não podendo haver apropriação deles por parte
de qualquer Estado. No caso da Antártida, há o Tratado da
Antártida, assinado por vários países em 1959, cujo objetivo
é o de possibilitar a utilização do território da Antártida para
fins pacíficos, preservando e conservando os recursos vivos,
e proibindo explorações nucleares e lançamento de resíduos
radioativos.

76
Direito Internacional

Seção 3 - O Estado no plano pessoal


No estudo do plano pessoal do Estado, você vai conferir
o conceito de nacionalidade e o que ele implica na relação
indivíduo X Estado.

Você também vai estudar como o Brasil concede e tira a


nacionalidade brasileira e como é o tratamento do Estado
Brasileiro para brasileiros no exterior e para estrangeiros no
território nacional.

Esta parte tem ainda um complemento relativo aos casos de


crimes cometidos por estrangeiros em território nacional ou por
brasileiros em território estrangeiro. Estude bem esta parte e
prepare-se para suas futuras viagens internacionais!

Nacionalidade: aquisição, perda, relações do nacional quando está em


território estrangeiro

A população do Estado soberano é o conjunto de


pessoas instaladas em caráter permanente sobre seu
território. Essa população forma a comunidade do
país, sobre a qual o Estado exerce jurisdição territorial
(dentro do seu território, incluindo nacionais e
estrangeiros) e jurisdição pessoal (sobre os nacionais
que estão fora do seu território).

Os nacionais são as pessoas submetidas à autoridade direta de


um Estado, às quais se reconhecem direitos civis e políticos, e
se deve proteção além das fronteiras. Já os estrangeiros são as
pessoas que têm a nacionalidade de seu país de origem, mas
que vivem (ou apenas se encontram) no solo de outro Estado.
Considera-se apátrida aquele indivíduo que, por algum motivo,
perdeu a sua nacionalidade ou não teve o direito de adquiri-la.

A nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano


e o indivíduo, que faz desse um membro da comunidade
constitutiva da dimensão pessoal do Estado. A nacionalidade

Unidade 3 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

pode ser originária, quando decorrente do nascimento, ou


adquirida, quando provém de uma mudança de nacionalidade.

A cada Estado incumbe legislar sobre sua própria nacionalidade,


desde que respeitados os princípios e as regras de Direito
Internacional sobre o assunto. Cada país, então, fixa suas regras
sobre a nacionalidade, tanto para concedê-la, como para cancelá-la.

No tocante à aquisição da nacionalidade originária, aquela


que deriva do nascimento, duas teorias se aplicam: a do jus soli,
que determina que a nacionalidade seja conferida em razão do
local de nascimento (direito do solo), não importando, nesse
caso, a nacionalidade dos pais da criança; e a do jus sangüinis,
que determina que a nacionalidade seja conferida em razão da
nacionalidade dos pais da criança, não importando, neste caso, o
local onde nasceu o indivíduo.

Atualmente, a maior parte dos Estados adota os dois


sistemas (ou sistema misto), no intuito de evitar que
aconteçam casos de apatridia originária.

Na aquisição de nacionalidade derivada ou adquirida, cada


país estabelece também as regras de concessão de naturalização,
ou seja, como concederá a sua nacionalidade a pessoas que não
nasceram no seu território e nem são filhos de seus nacionais.

Os sistemas legais dos países admitem a naturalização por meio


de pedido, que se dá mediante o preenchimento das condições
que cada país estipula (decurso de tempo, conduta legal e moral,
adaptação à língua e aos costumes locais, etc.). Admitem a
naturalização por imposição ou por benefício de lei, como nos
casos de anexação territorial, fusão, dissolução ou separação
de Estados, e admitem também a concessão da nacionalidade
derivada por via do casamento.

Geralmente, a aquisição de uma nova nacionalidade faz com


que o indivíduo perca a nacionalidade de origem, devendo
optar por uma delas e renunciar a outra. Mas quando isso não
acontece, o indivíduo passa a ter dupla nacionalidade. O fato de
um indivíduo ter dupla nacionalidade, sejam elas originárias ou

78
Direito Internacional

adquiridas, pode ser encarado como um problema para os Estados,


uma vez que o indivíduo passa a ser súdito de dois países, devendo
obrigações a ambos, o que pode ser um fato complicador quando,
por exemplo, ambos os Estados se acham no direito de convocar esse
nacional para compor suas forças de defesa em caso de guerra.

A concessão da nacionalidade de um Estado a um indivíduo


traz a ele uma relação de direitos e deveres para com o Estado,
permanecendo esse no território nacional, ou mesmo, quando ele se
encontra em solo estrangeiro.

Lembre-se que todo cidadão nacional deve


obediência às leis de seu país, uma vez que o Estado
exerce sobre ele o seu poder de jurisdição, mesmo
que esteja em território alheio.

O exercício da jurisdição do Estado pode dar-se por meio do jus


avocandi (direito de chamar de volta, avocar), quando o Estado se
considera autorizado a chamar de volta o nacional, por motivos de
ordem pública ou militar, ou quando o nacional pratica um crime ou
delito e o Estado se julga competente para julgá-lo.

De outra forma, o indivíduo também tem direitos perante o


Estado, que passa a ter o dever de prestar ao seu nacional, quando
em território alheio, o que se chama de proteção diplomática,
que acontece quando outro Estado deixa de oferecer ao nacional o
mínimo de direitos, e o Estado desse passa a ter o dever de intervir
em seu favor.

A proteção se manifesta por meio de comunicações por escrito ao


Ministério das Relações Exteriores do outro Estado, e tem como
objetivo evitar um prejuízo ao indivíduo, ou obter a sua reparação.
Essa pode ocorrer no caso de um nacional estar sendo julgado no
estrangeiro por um crime e o Estado não lhe oferecer o direito de se
defender. Nesse caso cabe ao país de sua nacionalidade intervir em
seu favor, exigindo que o Estado onde está transcorrendo o processo
lhe permita apresentar a sua defesa. Dependendo da política externa
de cada país, o próprio Estado poderá fornecer advogado para a
defesa de seu nacional.

Unidade 3 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

O tratamento que o Estado deve dar aos seus nacionais não


deve admitir distinções entre natos (nacionalidade de origem)
ou naturalizados (nacionalidade adquirida). Mas, conforme a lei
interna de cada país, poderá haver situações privativas para os
nacionais natos.

Também, entre os Estados, poderá haver situações de benefícios


mútuos para os nacionais de seus países. Brasil e Portugal
possuem um tratado de benefícios (estatuto da igualdade) para
os portugueses e brasileiros nos seus territórios, possibilitando-
lhes o exercício dos direitos civis e políticos em ambos os países,
desde que esses direitos lhes sejam conferidos nos seus Estados
de origem.

No caso do tratamento da nacionalidade pelo Estado brasileiro,


aplica-se o artigo 12 da Constituição Federal. (BRASIL, 2008)

Da Nacionalidade:
Art. 12 - São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes
na República Federativa do Brasil há mais de quinze
anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.
§ 1º - Aos portugueses com residência permanente no
País, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros,

80
Direito Internacional

serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo


os casos previstos nesta Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos
nesta Constituição.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado e da Defesa.
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do
brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença
judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira,
ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis.

Esse artigo estabelece a nacionalidade de origem no seu inciso


I, sendo que a alínea a trata da concessão da nacionalidade
originária pelo sistema do jus soli, com exceção dos filhos de
indivíduos que estejam aqui a serviço de seu país (diplomatas, por
exemplo). As alíneas b e c estipulam a nacionalidade originária
pelo sistema do jus sangüinis. Assim, pode-se ver que o Brasil
adota os dois sistemas, evitando a apatridia.

No inciso II, a Constituição estabelece os casos de concessão


de nacionalidade adquirida (naturalização). Estabelece a
nacionalidade originária aos que, na forma da lei, adquirirem a
nacionalidade brasileira. Essa lei é o Estatuto do Estrangeiro,
lei nº 6.815/80, e exige cinco anos de permanência no país e
o preenchimento de outras condições, como boa conduta, por

Unidade 3 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

exemplo. Estabelece a alínea a que aos indivíduos originários de


países de língua portuguesa será exigida a permanência mínima
de um ano ininterrupto e idoneidade moral, uma vez que esses
estrangeiros são provenientes de países com língua e cultura
similares às nossas. Na alínea b desse inciso, temos a situação dos
estrangeiros que não preenchem as condições da alínea a. Para
esses, a lei exige, então, a permanência no solo brasileiro por 15
anos e a falta de condenação penal.

No parágrafo primeiro do artigo 12, a Constituição estabelece a


igualdade de tratamento para os portugueses, na mesma linha do
que estabelece o tratado da igualdade mencionado acima, com
exceção para as situações específicas de brasileiros natos.

No segundo parágrafo, a Constituição decreta o tratamento


igualitário entre natos e naturalizados brasileiro, ressalvando-se
os casos previstos na própria Constituição e que aparecem logo
em seguida, no parágrafo terceiro, que lista os cargos que somente
os brasileiros natos poderão ocupar, entre eles o de Presidente da
República.

No quarto parágrafo, a Constituição estipula os dois casos de


perda da nacionalidade brasileira. O primeiro diz respeito ao
cancelamento da nacionalidade, por parte do Governo brasileiro,
para os estrangeiros naturalizados brasileiros. O segundo caso
trata da perda da nacionalidade brasileira para brasileiros natos
ou naturalizados que adquiram outra nacionalidade. Isso significa
que ao adquirir a segunda nacionalidade os brasileiros renunciam
à nacionalidade brasileira.

No caso de aquisição de outra nacionalidade, existem duas


exceções em que o Brasil aceita a dupla nacionalidade, previstas
nas alíneas a e b do inciso II do parágrafo 4º do artigo 12 da
Constituição Federal. São os casos de uma segunda nacionalidade
originária (muito comum no Brasil para os descendentes de
italianos, uma vez que a Itália confere a sua nacionalidade por
jus sangüinis) ou de exigência da aquisição de nacionalidade do
país em que está o brasileiro para sua permanência lá ou para o
exercício de direitos civis (poder casar-se, por exemplo).

82
Direito Internacional

Tratamento do estrangeiro em solo nacional: vistos, deportação,


expulsão, extradição
Um dos direitos consagrados ao ser humano, registrado na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em
10/12/48 pela Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU, é o
de livre locomoção dentro das fronteiras de cada Estado.

Além dessa regra prevista no artigo XIII, o seu parágrafo


segundo estabelece que toda pessoa tem o direito deixar
qualquer país, inclusive o próprio, e a esse regressar.
(SABATOVSKI; FONTOURA; FOLMANN, 2002.
p. 189).

Neste caso é preciso uma legislação que defenda o cidadão.

Com base nesse princípio, consagra-se ao cidadão o direito à


imigração, que é quando um estrangeiro se domicilia no território
de um Estado, se instalando no país com ânimo definitivo.

Cada Estado, no entanto, tem soberania para definir


internamente as regras de receptividade de estrangeiros, mas
deverá abrir suas fronteiras aos estrangeiros, exceto quando para
preservar o interesse da própria conservação.

Os países estabeleceram como documento de identidade


internacional o passaporte, que é um documento de natureza
policial, entregue pela autoridade competente e destinado a
garantir a livre passagem de seu portador de um lugar a outro.

Para permitir a entrada, estada e saída legalmente de cada país,


adotou-se o sistema de vistos. Assim, pode ser dado visto a um
indivíduo em caráter permanente (imigrante), temporário (para
trabalho, estudo, turismo ou trânsito), diplomático, oficial ou de
cortesia (especial para representantes do Estado ou convidados
ilustres do país).

No Brasil, os vistos estão definidos nos artigos 4º a 19 da lei


6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro). O Brasil adota o sistema
de visto de entrada, que é solicitado pelo estrangeiro junto a
um Consulado ou Embaixada brasileira no exterior, e que tem
a validade de cinco anos, e o sistema de visto de permanência,

Unidade 3 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

que é dado pela autoridade aduaneira brasileira, nos portos,


aeroportos e em postos aduaneiros de fronteiras, em razão do
motivo da estada do estrangeiro.

Quando a autoridade, por qualquer motivo, não concede o


visto pretendido pelo estrangeiro, ele não é aceito dentro do
território nacional e deve retornar ao país de origem, nem
chegando a ingressar em solo brasileiro, situação conhecida como
repatriação.

O fato de ser estrangeiro em um país dá ao cidadão o


reconhecimento de direitos decorrentes de duas circunstâncias: a
personalidade humana e a situação do Estado como membro da
comunidade internacional.

Os direitos que devem ser reconhecidos ao estrangeiro são os


direitos do homem ou individuais, isto é, a liberdade individual
e a inviolabilidade da pessoa, com todas as consequências daí
decorrentes, tais como a liberdade de consciência, de culto, a
inviolabilidade do domicílio, o direito de comerciar, o direito
de propriedade, etc., além de direitos civis e de família. Os
estrangeiros, em regra, não têm direitos políticos fora de seu
país natal. Mas há Estados que concedem esses direitos a
determinados estrangeiros, possibilitando-lhes o direito de votar
e serem votados.

Os estrangeiros também têm deveres perante o Estado em que


No Brasil, o Estatuto do se encontram, como o pagamento de impostos e o respeito às leis
Estrangeiro disciplina a locais, sendo que o seu desrespeito é passível de punição. Quanto
matéria nos artigos 95 a à jurisdição civil e comercial, aplica-se a lei local do país onde
110 e 125 a 126. se encontram, especialmente tratando-se de ações reais sobre
imóveis. Quanto à jurisdição criminal, em princípio, sujeitam-se
os estrangeiros aos tribunais locais (princípio da territorialidade).

Nas relações entre o estrangeiro e o Estado em que se encontra


surge a possibilidade de algumas ações do Estado para retirar o
indivíduo de seu território. Poderão ser aplicados os institutos da
deportação, da expulsão e da deportação.

84
Direito Internacional

A deportação de estrangeiros é uma forma de


exclusão, do território nacional, daquele estrangeiro
que aqui se encontra após uma entrada irregular,
geralmente clandestina, ou cuja estada tenha se
tornado irregular, por exemplo, por excesso de
prazo (deixou expirar o prazo do visto sem pedir a
renovação).

Quem cuida das exclusões são as autoridades locais (no Brasil


é a Polícia Federal que cuida desse assunto), sem envolvimento
da cúpula do Governo. O deportado pode voltar ao país desde
que regularizada sua situação. A deportação dos estrangeiros
pelo Estado Brasileiro está prevista no Estatuto do Estrangeiro,
artigos 57 a 64.

A expulsão dos estrangeiros consiste no direito


do Estado de expulsar os estrangeiros que não se
submetem às leis locais ou às medidas de polícia que
lhes são impostas.

Os atos que podem determinar a expulsão são: ofensa à dignidade


nacional, mendicidade e vagabundagem, atos de devassidão,
propaganda subversiva, provocação de desordens, conspirações,
espionagem, intrigas contra países amigos ou entrada ilegal no
território nacional (quando já não couber a deportação).

A expulsão pressupõe um inquérito que é realizado no âmbito


do Ministério da Justiça, e ao longo do qual se assegura ao
estrangeiro o direito de defesa. Verificada no inquérito a
existência da circunstância que motiva a expulsão, cabe ao
Presidente da República decidir, ao final, sobre a expulsão
e materializá-la por meio de decreto presidencial, que será
publicado no Diário Oficial da União, determinando, em
seguida, a retirada do estrangeiro do território do país.

A expulsão importa na impossibilidade de retorno ao país. Só a


edição de um decreto futuro, revogando o primeiro, faculta ao
expulso o retorno ao Brasil. A volta do expulso ao Estado, sem a
revogação do decreto, poderá resultar em sua prisão. A expulsão

Unidade 3 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

dos estrangeiros pelo Estado Brasileiro está prevista no Estatuto


do Estrangeiro, artigos 65 a 75.

A extradição de estrangeiros é o ato pelo qual um


Estado entrega um indivíduo estrangeiro, acusado
de fato delituoso ou já condenado como criminoso, a
outro Estado para ser julgado e/ou punido.

Um Estado deve concordar com a extradição, salvo se a julgar


injusta ou irregular. A extradição pressupõe sempre um processo
penal. O fundamento jurídico de todo pedido de extradição é um
tratado de extradição celebrado entre os dois países envolvidos,
no qual se estabelece que, em presença de determinadas
condições, o Estado requerido entregará a pessoa reclamada
(criminoso) ao Estado requerente. Na falta de tratado, poderá ser
firmada uma promessa de reciprocidade, que poderá ser acolhida
ou rejeitada pelo Estado, pois é um mero acordo de cavalheiros.

O Estatuto do Estrangeiro disciplina a matéria nos artigos 76


a 94. Aplicam-se ainda as regras da Convenção de Havana de
Direito Internacional Privado, assinada em 1928, artigos. 344 a
381.

Para a realização da extradição são observadas as seguintes


condições:

a) Quanto ao lugar da infração – em geral, os atos


criminosos foram praticados fora do Estado requerido
A prescrição da pena acontece e dentro dos limites territoriais do Estado requerente
quando o Estado levou tanto tempo (princípio da territorialidade).
para terminar o processo-crime que
esse já não terá mais validade. É
como um perdão da pena pelo fato
b) O fato deve ser punível nos Estados requerente
de o Estado ter sido inerte por tanto e requerido – o Estado requerido não concederá a
tempo. extradição quando a infração ou a pena estiverem
prescritas.

c) O fato de ainda não ter sido julgado no Estado


requerido – não se concede a extradição por fato que
determine o pedido e que esteja sob julgamento ou já
julgado no país requerido.

86
Direito Internacional

d) O não julgamento por tribunal de exceção – a


extradição não será concedida se o delito for julgado no
tribunal de exceção no país requerente. O crime deve ser
julgado pelos tribunais legalmente constituídos dentro do
país requerente.

e) A nacionalidade do indivíduo extraditando – não


importa se o Estado extraditar um estrangeiro, mas
sendo um nacional seu, por regra geral, o Estado se
nega a extraditar. Admite-se exceções, como é o caso
de envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes. A
falta de extradição não pode gerar a de punição, sendo
obrigação do Estado que se nega a extraditar aplicá-la.

f) Trata-se de indivíduo condenado à morte no país


onde cometeu o delito – a regra é que os países que não
admitem a pena de morte negam a extradição ou só a
concedem mediante a substituição da pena.

g)Condições particulares do extraditando – o


extraditando é um Chefe de Estado, não se admite a
extradição. Quando não é mais, dependendo da situação,
admite-se a extradição.

h) Quanto à gravidade das infrações – os atos mais graves


dão origem à extradição. As infrações terão que ser
puníveis nos Estados requerente e requerido. Excluem-
se dos tratados de extradição certas categorias de delitos,
como os crimes políticos (exceção ao terrorismo), delitos de
imprensa e contra a religião, delitos militares e puramente
militares (abandono de posto, insubordinação, deserção,
covardia), e delitos especiais, como os de caça e pesca, as
contravenções fiscais etc.

No Brasil, os pedidos de extradição passam pela análise de dois


órgãos: o Supremo Tribunal Federal (STF) verifica se o pedido
de extradição apresenta as condições de legalidade exigidas pela
legislação interna e pelo tratado que vigora entre os dois países.
Se verificada a legalidade, o Presidente da República define, por
último, sobre o cumprimento do tratado e a entrega do indivíduo
às autoridades estrangeiras.

Unidade 3 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

Direito Penal Internacional

O Direito Penal Internacional foi concebido como


forma de punir, internacionalmente, os atos
considerados pela comunidade internacional como
nocivos a essa sociedade.

Assim, foram celebradas convenções que buscam punir os


criminosos e coibir as práticas delituosas por todo o globo
terrestre. Nessa vertente, cabe fazer a distinção entre os crimes
internacionais e os crimes comuns cometidos no estrangeiro por
nacionais ou cometidos no território nacional por estrangeiros.

Os crimes internacionais são aqueles definidos em


tratados internacionais e puníveis pelos tribunais
penais internacionais. São os casos de crimes de
ameaça à paz, crimes de guerra, genocídio, tráfico
internacional de entorpecentes, tráfico de escravos, de
mulheres e crianças, terrorismo, segregação racial.

Tratando-se de crimes comuns cometidos no estrangeiro por


nacionais ou cometidos no território nacional por estrangeiros,
aplicam-se as regras de Direito Penal Internacional, advindas
do Direito Internacional Privado, que definem a competência
para julgamento e aplicação de lei penal.

No caso de crimes nacionais, sobre os quais há uma disputa


de Estados para o seu julgamento, podemos dizer que o
Direito Penal Internacional passa a definir quais regras penais
serão aplicadas aos atos dos indivíduos, definindo que país é
competente para julgá-los e que legislação deverá ser aplicada
no julgamento, para garantir a repressão dos delitos nas relações
internacionais.

Neste sentido é importante conhecer que elementos de conexão


deverão ser utilizados. Esses elementos são fornecidos a partir da
aplicação dos princípios relativos à competência de julgar:

88
Direito Internacional

a) Princípio da territorialidade – o delito será punido pelo


Estado em cujo território foi praticado. A lei do local onde foi
cometido o ato é que o define como crime. Tal princípio decorre
da soberania do Estado, pois esse tem a jurisdição sobre as
pessoas (nacionais ou estrangeiras) que se encontram em seu
território.

O princípio da territorialidade é defendido pela razão de que


a pena é mais útil se for mais próxima do crime, no tempo e
no espaço, o que fará com que tenha maiores repercussões e,
em consequência, seja produzido o efeito de intimidação. O
Estado em cujo território foi praticado o crime é mais capacitado
para puni-lo, o que pode ser mostrado pela facilidade para
o recolhimento de provas. No Código Penal Brasileiro, esse
princípio encontra-se consagrado no artigo 5º, conforme segue:
(BRASIL, 2006).

Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de


convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.
§ 1º. Para os efeitos penais, consideram-se como extensão
do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem respectivamente, no
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º. É também aplicável a lei brasileira nos crimes
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas
em pouso no território nacional ou em vôo no espaço
aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial
do Brasil.

b) Princípio da extraterritorialidade – é a exceção ao


princípio da territorialidade, porque mesmo que o crime tenha
ocorrido no território de um Estado ele não é competente para
julgá-lo. São os casos dos agentes diplomáticos, do pessoal

Unidade 3 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

administrativo e técnico da Missão Diplomática, dos funcionários de


organizações internacionais, dos Chefes de Estados e Ministros das
Relações Exteriores, dos cônsules, e os casos de tropas estrangeiras
(que devem jurisdição ao Estado de sua bandeira). O princípio da
extraterritorialidade pode ainda ser convencionado pelos Estados por
meio de tratados para conceder imunidade a determinadas pessoas civis.

c) Princípio da pessoalidade ou da nacionalidade – é aquele


em que a jurisdição penal do Estado se exerce com fundamento
na nacionalidade do agente ou da vítima do crime. A base
desse princípio é que as leis penais são elaboradas levando em
consideração os padrões morais dos nacionais, o que significa que
elas devem ser aplicadas sempre aos nacionais, não importando o
local do delito. A utilização desse princípio dá-se nos casos que
constituem exceção ao princípio da territorialidade, evitando que
o crime fique impune, e encontra-se no artigo 7º do Código Penal
(BRASIL, 2006).

Código Penal Brasileiro


Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro:
I – [...]
II – os crimes:
a) [...]
b) praticados por brasileiro;
c) [...]
§ 1º. [...]
§ 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que for praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter
aí cumprido pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei
mais favorável.

90
Direito Internacional

§ 3º. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido


por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas
as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

d) Princípio da competência real, ou de proteção, ou objetivo –


visa à punição do delito, seja qual for a nacionalidade do agente ou
da vítima, ou o local do crime. O que importa é a nacionalidade
do bem jurídico atingido pelo delito (em razão da importância que
as leis internas de um país lhe dão), é assim uma defesa de que o
Estado considera fundamental, sendo admitido a título excepcional
e complementar. O que está em jogo aqui é o interesse do Estado
como ente público. É previsto no artigo 7º do Código Penal
(BRASIL, 2006).

Código Penal Brasileiro:

Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro:

I – os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do


Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu


serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou


domiciliado no Brasil;

II - [...]

§ 1º. Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo


a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.

§ 2º. [...]

§ 3º. [...]

Unidade 3 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

e) Princípio da competência universal – é aquele que permite


a qualquer Estado punir qualquer delito. O fundamento dessa
teoria é ser o crime um mal universal, e, por isso, todos os
Estados têm interesse em coibir a sua prática e proteger os bens
jurídicos da lesão provocada pela infração penal. Está previsto no
artigo 7º do Código Penal. (BRASIL, 2005).

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:

[...]
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir;
[...]
§ 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que for
praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não
ter aí cumprido pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por


outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a
lei mais favorável.

f) Princípio da representação – estende ao país da nacionalidade


de navios e aeronaves privados o direito de julgar crimes
cometidos em território estrangeiro e não punidos pelas leis do
local do crime.

Asilo político
É o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido em
outro país por causa de dissidência política, de delitos de opinião
ou por crimes que relacionados com a segurança do Estado. Eles
não configuram quebra do Direito Penal Comum.

92
Direito Internacional

O asilo político, na sua forma perfeita e acabada, é territorial:


concede-o o Estado àquele estrangeiro que, havendo cruzado
a fronteira, colocou-se no âmbito espacial de sua soberania,
e aí requereu o benefício. Mas o asilo pode dar-se na forma
diplomática, isto é, no caso de ter sido solicitado junto a uma
Embaixada ou a um Consulado do país asilante dentro do
território onde este estrangeiro se encontra.

Os pressupostos do asilo político são a natureza política dos


delitos e o estado de urgência.

Aplicam-se as Convenções de Havana, de 1928, de Montevidéu,


de 1933 e de Caracas, de 1954. O asilo político está previsto no
Estatuto do Estrangeiro, nos artigos 28 e 29.

Seção 4 - As características da Santa Sé

A Santa Sé é a personalidade jurídica do Estado


do Vaticano. O Estado do Vaticano é um estado
encravado dentro da cidade de Roma, capital da Itália.
É atualmente considerado como um Estado, pela
comunidade internacional, sendo seu Chefe de Estado
o Papa.

Até 1870, o poder papal se dividia em temporal, sobre os


Estados pontifícios, possuindo a Santa Sé personalidade
internacional, territórios e poder de mando; e espiritual, da
Igreja Católica, exercido além das fronteiras do território da
Santa Sé.

Em 1870, o poder do Papa cedeu lugar ao poder do Rei, gerando


a queda do poder temporal (político) do Papa. Em face disso,
alguns países passaram a negar a personalidade internacional
da Santa Sé. Tempos depois foi criada a Lei das Garantias,
que assegurou ao Papa a “personalidade internacional”, como

Unidade 3 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

representante espiritual da Igreja Católica, com prerrogativas de


Chefe de Estado.

Em 11 de fevereiro de 1929 foram concluídos os Tratados de


Latrão (cidade italiana), que deram a base legal da autoridade
soberana do Papa, reconheceram a soberania da Santa Sé,
criando a cidade do Vaticano, com independência e autonomia
próprias, e reconheceram, também, certas prerrogativas ao Papa e
propriedades à Santa Sé.

A Santa Sé possui soberania sobre as pessoas que têm residência


fixa na cidade do Vaticano, mas não lhes confere nacionalidade.

Admite receber representação diplomática de outros países e,


no caso de ruptura de relações de países acreditados na cidade
do Vaticano com a Itália, o costume é que os diplomatas sejam
retirados do Vaticano.

Apesar de ser considerado legalmente como um país, o Estado


do Vaticano possui algumas diferenças com os demais. Como é
um país com território minúsculo e totalmente encravado, passa
a ter uma relação de dependência de fato da Itália, seja para fins
de ingresso e saída de pessoas e mercadorias, seja para fins de
defesa. Também, uma das suas diferenças com os demais países é
que não confere nacionalidade. Todos os indivíduos que residem
no território do Vaticano permanecem com a sua nacionalidade
anterior.

Figura 3.2 - Mapa do estado do Vaticano


Fonte: Photobucket, 2010.

94
Direito Internacional

Figura 3.3 - Mapa do estado do Vaticano


Fonte: Christus Rex et Redemptor Mundi, 2010.

Seção 5 - As organizações internacionais: conceitos e


características

As OIGs – Organizações Internacionais


Governamentais são conjuntos de Estados soberanos,
que se reúnem e criam, por meio de um tratado
constitutivo, uma nova personalidade jurídica,
diferente das personalidades dos Estados que a
compõe.

A essa personalidade jurídica os Estados estipulam objetivos,


delegam poderes e determinam uma estrutura para que o seu
funcionamento possa ser tal que atinja os objetivos previstos.

A partir de sua criação, a OIG passa a funcionar e desempenhar o


papel para o qual foi criada. Ela o faz por intermédio de pessoas que
vêm a ser os representantes dessa organização. E, assim como os
Estados, esses representantes são agentes habilitados para celebrar
obrigações, por meio de tratados, em nome da OIG, e, assim o

Unidade 3 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

fazendo, está agindo na medida dos poderes delegados pelos seus


Estados-membros.

Cada OIG pode apresentar características diferentes. Mas


algumas características das OIGs são comuns, entre elas o fato
de serem constituídas por Estados soberanos, o fato desses
Estados estarem participando por livre vontade, de terem o
mesmo objetivo que os une na OIG, e a condição de ter uma
personalidade jurídica própria.

Algumas OIGs têm caráter universal, como a ONU –


Organização das Nações Unidas, e outras têm caráter regional,
como o Mercosul – Mercado Comum do Sul. Umas podem
ter um caráter meramente político, como o Grupo de Cairns, e
outras podem ter o caráter meramente econômico, como o FMI
– Fundo Monetário Internacional. Algumas podem ser ainda
cooperativas, nas quais o nível de soberania delegado à OIG é
baixo, e outras podem ser integracionistas, em que o nível de
soberania delegado à OIG passa a ser maior.

Atualmente, há um grande número de OIGs espalhadas nos


diversos continentes do globo. E, paralelamente às OIGs, a
sociedade internacional ainda conta com a atuação de ONGs
– Organizações Não Governamentais que têm atuação além
das fronteiras de um só país, como é o caso da Cruz Vermelha
e Crescente Vermelho, dos Médicos Sem Fronteiras, do Green
Peace, da Anistia Internacional, da Human Rights Watch e de
tantas outras, cada qual com uma finalidade.

Algumas organizações internacionais de caráter universal ou regional


Apesar do grande número e da importância das organizações
internacionais, algumas merecem, pela sua destacada atuação, um
pouco do nosso estudo.

96
Direito Internacional

Entre as OIGs de caráter universal, certamente a que


mais se destaca é a ONU, criada em 1945, em São
Francisco, EUA, por meio de um tratado que uniu os
países que combateram o eixo durante a Segunda
Guerra Mundial, em torno de dois objetivos maiores: a
manutenção da paz mundial e o desenvolvimento dos
povos pela cooperação e pelo respeito aos direitos
humanos.

Esses objetivos e toda a estrutura de organização da ONU


foram selados na Carta da ONU, ou Carta de São Francisco.
Atualmente a maioria dos países do globo participa dessa
organização.

Para que seus objetivos sejam alcançados, foi criada uma


estrutura central da ONU, composta por cinco órgãos.

„„ Assembleia Geral – composta por todos os membros


da ONU, pode discutir qualquer assunto dentro do seu
campo de atuação. Toma decisões aprovadas pela maioria
de dois terços dos presentes sobre questões “importantes”
e, por maioria simples, sobre outros assuntos. Cada
membro representa um voto.

„„ Conselho de Segurança – órgão principal para


manutenção da paz e segurança internacionais. Possui
cinco membros permanentes (China, França, Rússia,
Inglaterra e EUA, que foram os países aliados na
Segunda Guerra Mundial e que combateram os países
do eixo) e dez países-membros não permanentes, que
ocupam cadeiras no Conselho em sistema de rodízio. As
decisões são tomadas por, no mínimo, nove dos quinze
membros, sendo que aos permanentes é concedido o
direito de veto, o que significa derrubar a decisão tomada
por maioria, impossibilitando a ação.

„„ Conselho Econômico e Social – possui 54 membros


e atua como coordenador das diversas agências
especializadas criadas pela ONU para atingir a
cooperação internacional em áreas econômicas e sociais.

Unidade 3 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Corte Internacional de Justiça – principal órgão


judiciário da ONU, ele oferece normas legais para
solucionar os casos que lhe forem apresentados. Você vai
estudar mais sobre a CIJ na Unidade 4.

„„ Secretariado – administrado pelo Secretário Geral,


que é um indivíduo aprovado pela Assembleia Geral da
ONU, possui tarefas de administrar a organização e de
promover a mediação nos conflitos.

Além dessa estrutura central, a ONU possui uma série de


órgãos e agências especializadas, que desenvolvem as ações da
organização, formando um grande sistema.

Com finalidade de cooperação econômica, formam o sistema


ONU o BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento, o FMI – Fundo Monetário Internacional, a
OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura, a ONUDI – Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial, a OMC – Organização Mundial do
Comércio e o GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio.

Com a finalidade de promover a cooperação social, formam


o sistema a OIT – Organização Internacional do Trabalho, a
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, a OMS – Organização Mundial de Saúde, o
UNHCR – Alto Comissariado para Refugiados e o UNICEF –
Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Para a cooperação na área das comunicações e transportes, estão


a UPU – União Postal Universal, a UIT – União Internacional
de Telecomunicações, a OACI – Organização da Aviação Civil
Internacional e a OMI – Organização Marítima Internacional.

Para cooperação com fins específicos, encontram-se a AIEA


– Agência Internacional de Energia Atômica, a OMM –
Organização Meteorológica Mundial e a OMT – Organização
Mundial de Turismo.

Além da ONU, destaca-se na esfera regional, para o continente


americano, a OEA – Organização dos Estados Americanos,

98
Direito Internacional

que foi criada nos mesmos objetivos da ONU, só que focados


para o continente americano, em 1948, em Bogotá.

Sua estrutura está organizada em órgãos que são: a Assembleia


Geral, a quem cabe decidir a ação e a política da organização;
o Conselho Permanente, para finalidade de manutenção da paz
americana; o Conselho Interamericano Econômico e Social;
o Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura;
a Secretaria Geral, que promove entre os membros relações
econômicas, jurídicas, sociais, educacionais e outras; a Comissão
Jurídica Interamericana; a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos; e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que
promovem o respeito e a defesa dos direitos humanos.

Como organismos auxiliares na OEA estão: a Comissão


Interamericana de Mulheres, o Instituto Indigenista
Interamericano, o Instituto Interamericano de Ciências
Agrícolas, o Instituto Interamericano da Criança, o Instituto
Pan-Americano de Geografia e História, e a Organização Pan-
Americana de Saúde.

Ainda na América, podemos citar como OIGs importantes


a ALADI – Associação Latino-Americana de Integração
e Desenvolvimento, o BID – Banco Interamericano de
Desenvolvimento, a ODECA – Organização dos Estados
Centro-Americanos, o MCCA – Mercado Comum Centro –
Americano e o Caricom – Comunidade do Caribe.

Em outros continentes, podem ser mencionadas a UE –


União Europeia, a OCDE – Organização de Cooperação
e Desenvolvimento Econômico, a OTAN – Organização
do Tratado do Atlântico Norte, a Liga Árabe e a OUA –
Organização dos Estados Africanos.

Globalização e regionalização: organizações internacionais de caráter


econômico
Pode-se dizer que o fenômeno atual da globalização aparece com
a quebra do sistema bipolar de organização de poderes que o
globo apresentava até o final dos anos oitenta; com a queda do
muro de Berlim e o fim do regime socialista da extinta URSS,

Unidade 3 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

que deu origem à Rússia e à criação de outros tantos países do


leste europeu. A partir daí, com a multipolarização de forças
(Estados Unidos, a China, o Japão e a União Europeia como
exemplos de centros de poder), o avanço da tecnologia e da
ciência, a criação e disseminação da internet, a melhoria dos
sistemas de transportes e dos meios de comunicação, geraram
este fenômeno da globalização.

Por outro lado, percebe-se um novo enfoque da soberania estatal,


com o enfraquecimento do Estado-nação, e a importância
das organizações internacionais, como novo sujeito no plano
internacional. A globalização ou mundialização é o crescimento
da interdependência de todos os povos e países da superfície da
terra (VESENTINI, 1998, p. 69).

A abertura do mercado competitivo gerado pela globalização


apresenta fatores positivos e negativos, pois, por um lado, amplia
as possibilidades de negócios para o mundo todo e, por outro,
amplia também os possíveis concorrentes de uma organização.

Como meio de conviver com a globalização, surge um


movimento antágono, a regionalização, que é o agrupamento
de países em torno de interesses comuns de cooperarem
economicamente e se integrarem em blocos econômicos, tentando
proteger as suas economias dos efeitos nocivos da globalização,
criando benefícios entre si, e competindo em bloco com os outros
países do globo.

Trata-se da união de países no intuito de somarem forças,


por meio de trocas de mercadorias, tecnologia e capital, para
competirem mais fortalecidos num mundo global, em diferentes
níveis de integração, como define CASELLA (1996, p.34): a
zona de livre comércio, a união aduaneira, e o mercado comum.

A partir do mercado comum, surge a possibilidade de evolução


subsequente rumo ao mercado interno orgânico ou mercado
único, podendo chegar a uma união econômica, onde, além
da supressão de barreiras, seja institucionalizada a unidade e
organicidade do mercado abrangido por esse território, podendo
alcançar os patamares de união monetária ou, mesmo, de grau
maior ou menor de união política.

100
Direito Internacional

Em razão destas formas de agrupamento, há alguns blocos


econômicos (OIGs com finalidade econômica), que são destaque
na atualidade: a União Europeia, o NAFTA – Tratado de Livre
Comércio da América do Norte, e o MERCOSUL – Mercado
Comum do Sul. Mas, não são estas as únicas OIGs com Supranacional é o órgão
finalidade de integração econômica, a exemplo da ALCA, do que recebe a delegação
de soberania dos Estados
Pacto Andino, da Asean, etc.
e tem o poder de decidir
por eles. Os Estados
A União Europeia é o bloco com nível de integração mais simplesmente acatam
avançado. Nasceu em 1951, com o Tratado de Paris (participaram o que foi definido no
a França, Alemanha, Itália e os países do BENELUX, Bélgica, órgão supranacional, sem
Holanda e Luxemburgo). Para atingir seus objetivos, os Estados- necessidade de ratificar a
decisão.
membros criaram órgãos de caráter supranacional, com
completa independência, destacando-se a Alta Autoridade, que
emitia decisões de caráter obrigatório.

Em 1957 foi criada a Comunidade Econômica Europeia – CEE


(ALMEIDA, 1996), que, em 1993, foi substituída pela União
Europeia, por meio do Tratado de Maastrich. Atualmente a
União Europeia possui 25 países-membros.

Assim, desde 1º de novembro de 1993, vigora na


Europa o Tratado da União Europeia ou Tratado de
Maastrich, que instituiu a União Europeia. Neste tratado,
os objetivos traçados são os de implementação de
uma moeda única (o euro, que entrou em vigor em
janeiro de 1999), como a finalidade da união monetária,
a implantação de uma união social e política e a
instituição de uma cidadania da União e de uma
política comum de defesa.

O NAFTA pode ser definido como um acordo de cooperação,


objetivando a integração comercial entre os três parceiros,
Estados Unidos, Canadá e México (SEITENFUS, 1997), por
meio de uma zona de livre comércio, sendo que sua implantação
deu-se em janeiro de 1994.

O MERCOSUL nasceu em decorrência de uma série de tratados


bilaterais argentino-brasileiros de caráter econômico. Em 26 de
março de 1991 foi assinado o Tratado de Assunção, que criou o

Unidade 3 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

MERCOSUL — Mercado Comum do Sul, com a participação


dos quatro países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em
17 de dezembro de 1994, em Ouro Preto, Minas Gerais, foi
celebrado o Protocolo que leva o nome da cidade, revisando
as instituições do MERCOSUL. O Protocolo de Ouro Preto
conferiu, ainda, ao MERCOSUL a condição de personalidade
jurídica de Direito Internacional (OIG). Em 1996, Chile
e Bolívia associaram-se ao MERCOSUL, com o status de
“parceiros”.

Chegamos ao final da unidade cujo objetivo era conhecer o


Estado no plano político, físico e pessoal.

Síntese

Nesta unidade, você aprendeu que, para ser considerado um


Estado, a entidade deverá possuir um território determinado,
uma população permanente, um Governo soberano e o
reconhecimento internacional como um Estado.

Você aprendeu, também, que a partir do momento que o


Estado passa a ser reconhecido, ele tem direitos e obrigações
perante a comunidade internacional e, por essa razão, assume a
responsabilidade pelos seus atos.

Aprendeu, ainda, que, para realizar os atos internacionais em


nome do Estado, existem os órgãos de representação, que são
o Chefe do Estado, o Ministro das Relações Exteriores, os
diplomatas e cônsules.

O Estado pode fiscalizar o ingresso e a permanência de pessoas


em seu território, e, no caso de irregularidades, pode valer-se da
deportação e da expulsão dos estrangeiros.

Deve ainda comprometer-se na perseguição dos criminosos,


evitando a impunidade dos crimes, o que ele deve fazer por meio
da extradição, da punição pelos tribunais internacionais penais,
ou, no caso de punição pelos tribunais nacionais, aplicar algum
princípio penal que lhe possibilite punir o culpado.

102
Direito Internacional

Você pôde estudar nesta disciplina que não cabe a extradição


por crime político, e que nos casos de crimes ou perseguições
políticas, o que cabe é o asilo político.

Com relação à Santa Sé, você estudou aqui que o Estado do


Vaticano é considerado, apesar de suas peculiaridades, um Estado
pela comunidade internacional. E que além dos Estados, as
OIGs desempenham um importante papel, organizando melhor
a sociedade internacional. Essas OIGs podem possuir uma
abrangência mundial ou regional, e podem servir de meio para
integrar economicamente os países.

Atividades de autoavaliação

Agora que você está no final da unidade, vamos exercitar o que você
aprendeu.

1) Imagine que hoje a Palestina é um Estado plenamente constituído.


Como é possível descrever a situação de criação desse novo país? E
quais os efeitos que a sua criação gerará?

2) Imagine-se na seguinte situação: você está viajando a trabalho em um


navio grego, que está transportando mercadoria brasileira (você fez a
venda dessa carga e deve acompanhar o seu transporte). A carga foi
embarcada via Porto de Itajaí, de onde você zarpou. Já dentro do navio,
vem a acontecer um crime de homicídio de um dos funcionários do
navio, de nacionalidade italiana, e você está sendo acusado de tê-lo
cometido. Como será definida a situação da legislação a ser aplicada e
da jurisdição do Estado que pode punir esse crime, caso o momento do
crime se verificar em três diferentes tempos:

Unidade 3 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

a) se o crime aconteceu enquanto o navio estava em mar territorial


brasileiro?
b) se o crime aconteceu quando o navio estava em alto-mar?
c) se o crime aconteceu quando o navio estava no mar territorial de
outro país (Portugal, por exemplo)?

3) Crie uma tabela comparativa entre repatriação, deportação, expulsão


e extradição, apontando as características mais marcantes e que
diferenciam uma situação da outra.

Tratamento dado Característica


ao estrangeiro

Repartição
Deportação
Expulsão
Extradição

104
Direito Internacional

Saiba mais

ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional


público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público. 4.


ed. Rio de Janeiro : Lúmen Juris, 2009.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Direito internacional


americano. Rio de Janeiro: Renovar, 1995.

REZEK, Francisco. Direito Internacional público: curso


elementar. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

Sobre a questão do Tibet, assista ao filme: Sete Anos no Tibet.


(Seven Years in Tibet) Ano 1997. EUA. Direção: Jean-Jacques
Annaud

Justiça Vermelha. (Red Corner). 1995 .EUA. Direção: Jon


Avnet.

Unidade 3 105
4
unidade 4

Conflitos internacionais

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer como são tratados os casos de conflitos entre
os países e quais são os possíveis meios utilizados para
a solução desses conflitos.

„„ Compreender quais são os meios de solução de


conflitos, como são utilizados e a diferença entre cada
um deles.

Seções de estudo
Seção 1 As causas dos conflitos internacionais

Seção 2 Meios pacíficos de solução de conflitos


internacionais

Seção 3 Meios bélicos de solução de conflitos internacionais


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Você estudará como os sujeitos do Direito Internacional Público
agem quando há um conflito de interesses. Imagine uma simples
situação em que um país deixa de cumprir um dos termos de
um tratado internacional. Isso gera um conflito perante os
demais países que assinaram o acordo. É neste sentido que
segue seus estudos aqui, entender como esse tipo de conflito será
solucionado.

Você verá que certa concordância e parcela de concessão de


soberania devem existir para que os meios oferecidos pelo DIP
possam alcançar a solução de um conflito internacional.

Bom estudo!

Seção 1 - As causas dos conflitos internacionais


No plano internacional, sendo o Estado o seu grande sujeito,
e convivendo esse em situação de igualdade com seus pares,
outros meios são utilizados para a solução dos litígios, diferentes
do meio utilizado pelo Estado no plano interno, que é o Poder
Judiciário.

Esses litígios podem ter como causas de caráter jurídico:

„„ a violação dos tratados;

„„ o desconhecimento, por um Estado, dos direitos do


outro;

„„ a ofensa dos princípios de Direito Internacional na


pessoa de um cidadão estrangeiro.

Podem ser originados, ainda por motivos políticos, tais como:

„„ choques de interesses políticos ou econômicos;

108
Direito Internacional

„„ ofensas à honra ou à dignidade de um Estado.

Existem vários meios reconhecidos pelo Direito Internacional


como legítimos para o fim pretendido, que é o de solucionar os
conflitos entre os Estados. Os meios mais recomendados para a
solução de um conflito internacional, independente do motivo de
sua origem, são os meios pacíficos, mas também são considerados
outros, de caráter coercitivo e bélico, estudados pelo Direito
Internacional Público.

Para melhor entendê-los, os doutrinadores costumam classificá-los


de várias formas.

Veja, a seguir, a explicação mais detalhada de cada um deles!

Seção 2 - Meios pacíficos de solução de conflitos


internacionais
Os meios pacíficos de solução de controvérsias – ou conflitos
– internacionais são divididos nos seguintes, conforme ensina
Guerra (2010):

„„ meios diplomáticos – negociação, congressos e


conferências, bons ofícios, mediação e conciliação.

„„ meios jurisdicionais – solução judiciária e arbitragem.

„„ meios políticos – soluções proferidas pela Assembléia


Geral e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

„„ meios coercitivos – a retorsão, represálias, embargo,


boicote e rompimento das relações diplomáticas.

Os meios diplomáticos têm por objetivo principal criar um cenário


favorável às partes para que cheguem a um acordo no litígio.
(VARELLA, p. 400, 2009). Em outras palavras, pode-se dizer

Unidade 4 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

que as partes buscam um acordo sem a preocupação com a


responsabilização da divergência.

Vamos agora analisar os principais mecanismos dos meios


diplomáticos:

1. Negociação – Compreende as iniciativas dos próprios


Estados envolvidos para equacionarem o máximo possível suas
controvérsias. (VARELLA, p. 400, 2009). Normalmente,
não há intervenção de terceiros para a solução do conflito.Ex.:
negociação para delimitação do território do Brasil e da Bolívia
(envolvendo o Acre) com a celebração do Tratado de Petrópolis,
de 1903. (GUERRA, p. 338, 2010)

Essas negociações variam segundo a gravidade do problema e,


naqueles de menor importância, basta, na maioria dos casos, um
entendimento verbal entre a missão diplomática e o Ministério
das Relações Exteriores local.

Nos casos mais graves, porém, a solução poderá ser alcançada


mediante entendimentos entre altos funcionários dos dois
Governos, os quais poderão ser os próprios Ministros das
Relações Exteriores. Na maioria dos casos, a solução da
controvérsia constará de uma troca de notas (ACCIOLY, 1996).

As negociações diretas podem ser resumidas no entendimento


direto, em sua forma simples, entre os Estados envolvidos no litígio.
Não existe diferença alguma entre
congressos e conferências. Houve A negociação direta é o meio mais usual de solução
um tempo em que a denominação de conflitos, e, geralmente, o de melhor resultado.
de congresso foi reservada às Prevê o contato direto entre os envolvidos, sem a
reuniões de soberanos ou chefes intermediação de nenhuma outra força externa ao
de Estados, ou, pelo menos, às de litígio.
maior importância, destinando-se
o nome de conferência às outras
reuniões. (GUERRA, p. 338, 2010).
2. Congressos e conferências – reuniões de representantes de
Estados, devidamente autorizados, para a discussão de questões
internacionais. (GUERRA, p. 338, 2010).

Atualmente, é comum que a solução de problemas coletivos


resulte de reuniões da Assembleia Geral das Nações Unidas, que
se apresenta como um foro de reunião universal, mas existe em

110
Direito Internacional

outras organizações internacionais regionalizadas, a exemplo a


OEA – Organização dos Estados Americanos, sendo geralmente
utilizada como foro de encontro para solução de litígios entre os
países americanos.

Na Conferência de Algeciras, de 1906, que evitou a


guerra entre a Alemanha e a França por causa de
Marrocos. (GUERRA, p. 338, 2010).

Os congressos e conferências ocorrem quando a


matéria em litígio interessa a diversos Estados, ou
quando se procura a solução de um conjunto de
divergências ou questões.

3. Bons ofícios – caracterizam-se pela tentativa amistosa de um


terceiro Estado ou até mesmo vários Estados, estranhos à contenda
internacional, de levarem os envolvidos em um determinado litígio
a chegarem a um consenso. (GUERRA, p. 338, 2010) Instrumental, aqui,
vale dizer que o terceiro
não propõe solução
Os bons ofícios são a tentativa amistosa de uma para o conflito. Na
terceira potência, um terceiro Estado, ou de várias realidade, ele sequer
potências, no sentido de levar os Estados litigantes a toma conhecimento
se porem de acordo (ACCIOLY, 1996). das razões de uma ou
de outra das partes:
limita-se a aproximá-las,
a proporcionar-lhes,
Para Rezek (1996, p. 345), cuida-se, aqui também, de um muitas vezes, um campo
entendimento direto entre os contendores, entretanto, facilitado neutro de negociação, por
pela ação amistosa de um terceiro. Esse – o chamado prestador haver-se convencido de
de bons ofícios – é um sujeito de Direito Internacional, vale que a desconfiança ou o
ressentimento reinantes
dizer, um Estado ou organização, embora não seja raro que se
impedirão o diálogo
individualize coloquialmente a iniciativa, indicando pelo nome espontâneo entre os
do Chefe de Estado ou o Ministro que exterioriza esse apoio Estados contendores.
instrumental aos litigantes.

Neste meio de solução de litígios percebe-se, diferente dos


anteriores, a presença de um terceiro, não envolvido no conflito,
mas que interfere no sentido de promover o bom entendimento
dos litigantes.

Unidade 4 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

No caso em que o Brasil valeu-se dos bons ofícios de


Portugal, em 1864, na questão relativa à ocupação da
Ilha da Trindade por parte dos Ingleses. (GUERRA, p.
339, 2010).

4. Mediação – aproxima-se bastante dos bons ofícios, no sentido


de um Estado alheio ao conflito internacional se apresentar para
a solução da contenda internacional que envolve dois outros
Estados. Entretando, observa-se como traço distintivo, o fato de
o Estado mediador tomar conhecimento dos fatos que motivaram
a contenda internacional. (GUERRA, p. 339, 2010).

Na mediação também se verifica a presença de um ou mais


Estados, entre os Estados-partes do conflito, na busca de uma
solução amistosa para o litígio. Desta vez, a pedido das partes,
ou por oferecimento próprio, uma terceira potência intermedia
diretamente a conclusão do óbice.

O mediador desempenha a função de apontar às partes


os benefícios de adotarem um acordo como solução do
conflito, bem como oferece argumentos favoráveis e
desfavoráveis às razões que envolvem a causa.

De acordo com Rezek (1996, p. 347), tal como sucede no caso


dos bons ofícios, a mediação importa o envolvimento de terceiro
no conflito. Aqui, entretanto, esse não atua instrumentalmente
aproximando as partes: ele toma conhecimento do desacordo
e das razões de cada um dos contendores, para, finalmente,
propor- lhes uma solução. É imprescindível que o mediador conte
com a confiança dos Estados envolvidos no litígio. Ao final das
negociações, ele emite um parecer (ou uma proposta), indicando
um final para o conflito, o que não obriga os contendores. Eles
se sentem livres para acatar a proposta, se a acharem satisfatória,
agindo, a partir de então, nos termos que foram acordados.

No entanto, basta que uma das partes se recuse a aceitar a


proposta – o que não resulta em qualquer ilícito – que restará
fracassado esse meio de resolver o litígio.

112
Direito Internacional

Os Estados Unidos exerceram a função de mediador


no conflito entre Israel e os Estados árabes, na
segunda metade dos anos setenta. Os resultados
foram os acordos de Camp David, de 1978, e o Tratado
de Paz, de 1979. (VARELLA, p. 403, 2009).

5. Conciliação – a conciliação é um procedimento facultativo


de negociação, conduzido por uma comissão de conciliadores,
que irão indicar o direito aplicável ao caso e os fatos apurados na
investigação. (VARELLA, p. 404, 2009). Caracteriza-se pelo
fato de ser coletivo seu exercício, ou seja, não há um conciliador
e, sim, uma comissão de conciliação.

6. Sistema de consultas - O que esse nome (sistema de consultas)


significa não é senão um entendimento direto programado.
Não são todos os
Não há, no caso da consulta, intervenção substancial ou sequer doutrinadores que
instrumental de terceiro Estado. As partes consultam-se tratam como um meio
mutuamente sobre seus desacordos e o fazem não de improviso, de solucionar conflito
mas porque previamente o haviam combinado, como uma escala internacional.
de agendas. Dessa forma, o chamado sistema de consultas nada
mais é do que a previsão – normalmente expressa em tratado
– de encontros periódicos nos quais os Estados trarão à mesa
de discussões suas reclamações mútuas, acumuladas durante
o período, e buscarão solucionar, à base desse diálogo direto e
programado, suas pendências (REZEK, 1996).

O sistema de consultas foi adotado no continente


americano, por via, principalmente, da previsão
contida na Carta da OEA. É um sistema de troca de
opiniões entre dois ou mais Estados interessados
direta ou indiretamente num litígio internacional, no
intuito de alcançarem um acordo (ACCIOLY, 1996).

Compreendido os meios diplomáticos, vamos estudar, a seguir, os


meios jurisdicionais.

Unidade 4 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os meios jurisdicionais no plano internacional comportam a


solução judiciária e a arbitral, que se distinguem no seu aspecto
formal. (GUERRA, p. 342, 2010).

1- Solução Judiciária

O meio judiciário caracteriza-se pela jurisdição, que é


um foro especializado e independente, que examina
litígios (os conflitos) à luz do Direito e profere decisões
obrigatórias.

Assim definidos por resolverem os conflitos à luz do Direito,


com imparcialidade, gerando uma sentença que dá solução ao
litígio, os tribunais permanentes (as Cortes Internacionais de
Justiça), as comissões internacionais de inquérito e conciliação,
e as comissões mistas apresentam-se como meios judiciários ou
judiciais de solução de conflitos internacionais.

Na solução judiciária, você pode observar a presença


da concessão de parcela da soberania dos Estados
envolvidos no conflito, no sentido de aceitarem e
reconhecerem a decisão de uma corte já existente
como obrigatória, antes mesmo de estarem cientes de
seu resultado.

Ocorrido o fato conflituoso, as partes em litígio contam com


a existência, já prévia ao conflito, de uma corte (ou tribunal)
permanente de solução de conflitos, com estrutura própria,
regras próprias e juízes independentes, cujo objetivo seja o de
julgar conforme as regras de Direito Internacional, na busca da
justiça. Isto é feito a partir de um processo preestabelecido e cujas
sentenças são obrigatórias para as partes.

Um Estado ou uma organização internacional podem ser autores


de um processo junto a uma corte de justiça internacional.

114
Direito Internacional

História das cortes Internacionais


A primeira corte permanente de que se tem
registro é a Corte Centro-Americana de
Justiça, criada em 1907, com funcionamento
entre 1908 e 1918. Inicialmente instalada em
Cartagena, ela teve sua sede transferida para San José da
Costa Rica. Era constituída por cinco juízes, um de cada
país-membro do centro-americano (Costa Rica, El Salvador,
Guatemala, Honduras e Nicarágua). Tinha jurisdição ampla,
recebendo pedidos de indivíduos e de pessoas jurídicas.
Durante sua existência, julgou dez casos, dos quais cinco
referentes a indivíduos.
A Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI),
vinculada à Liga das Nações (antecessora da ONU) foi
fundada em 1921 e instalada na cidade de Haia, Holanda.
Teve seu funcionamento até 1940, com extinção em abril de
1946.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU sucedeu a
CPJI e se estabeleceu no mesmo local.

Agora que você sabe um pouco mais sobre as cortes


internacionais, veja melhor como funciona a CIJ.

A corte Internacional de Justiça


O Estatuto da CIJ tem 70 artigos e é baseado ipsis verbis (tal
qual) no Estatuto da CPJI, em razão da preocupação de ser
mantida a numeração dos artigos. Isso permitiu a continuidade
na jurisprudência emanada Corte Permanente de Justiça
Internacional.

Os juízes da CIJ são em número de quinze, não sendo admitidos


dois de mesma nacionalidade, todos efetivos (não há suplência),
com mandato de nove anos, permitida a reeleição, e procedendo-
se à renovação pelo terço a cada três anos. Isto significa que a
cada três anos termina o mandato de cinco juízes. Preserva-se, de
tal modo, certa continuidade, evitando-se a mudança abrupta de
todo o quadro.

Unidade 4 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

Conforme a regra do artigo segundo do Estatuto


da Corte, será ela composta de um corpo de juízes
A Corte Permanente independentes, eleitos sem atenção à sua nacionalidade,
de Arbitragem teve dentre pessoas que gozem de alta consideração moral e
determinada sua criação possuam as condições exigidas em seus respectivos países
em 1899, pela Convenção para o desempenho das mais altas funções judiciárias ou
de Haia, passando a que sejam jurisconsultos de conhecida competência em
funcionar em 1907, quando Direito Internacional. (RANGEL, 1993, p. 57).
se repetiu a Convenção. É
uma instituição particular,
à qual podem recorrer os Os membros da Corte são eleitos pelo Conselho de Segurança
Estados litigantes, em caso e pela Assembleia Geral, de uma lista de pessoas apresentadas
de arbitragem. pelos grupos nacionais da Corte Permanente de Arbitragem.

A competência da CIJ é relativa aos litígios que envolvem os


Estados, não tendo por competência a solução de controvérsias
Nesse caso, os Estados
devem eleger a Corte como
que envolvam organismos internacionais ou particulares. É
competente para dirimir necessário, no entanto, que os Estados que busquem a Corte,
um conflito já existente ou para solução de seus conflitos, aceitem a sua jurisdição, por via de
que possa vir a acontecer. tratado, por via tácita (ajuizando questão ou contestando-a), ou
por cláusula facultativa de jurisdição obrigatória.
Esta deve ser inserida,
facultativamente, como uma No primeiro e terceiro casos, não há como, depois de firmado o
cláusula, no corpo de um compromisso, o Estado, unilateralmente, deixar de reconhecer a
tratado geral, e que obrigue competência da Corte, sob pena de descumprimento do tratado.
os Estados signatários a se
utilizarem da corte como
meio de solução de futuros
Os processos perante a Corte e seus procedimentos estão
litígios. determinados nos artigos 39 e seguintes do Estatuto da Corte, e
constam dos seguintes itens:

a) o idioma utilizado é o francês e o inglês, mas, a pedido


das partes, poderá a Corte determinar a utilização de
outro;

b) as questões submetidas à Corte serão apresentadas em


forma de notificação do acordo especial, ou por petição
escrita dirigida ao Escrivão, contendo, em ambos os
casos, o objeto da controvérsia e a indicação das partes;

c) as partes serão representadas por agentes, com a


assistência de consultores ou advogados, assegurados a
todos os privilégios e imunidades necessários ao livre
exercício de suas atribuições;

116
Direito Internacional

d) recebida a petição ou a notificação, o escrivão procederá


a sua comunicação aos demais interessados, bem como
notificará os membros da ONU, por intermédio do
Secretário-Geral, além de quaisquer outros Estados
com direito a comparecer perante a Corte. Um Estado
externo ao conflito, mas que entender que a decisão
afetará seus interesses de ordem jurídica, poderá intervir
na causa, mediante pedido à Corte, que acatará ou não a
sua intervenção. Da mesma forma, poderão intervir no
processo os Estados signatários de uma convenção que
estiver sob pedido de interpretação;

e) a Corte poderá indicar, conforme as circunstâncias do


litígio, medidas provisórias para preservar o direito das
partes, informando disso às partes e ao Conselho de
Segurança;

f) o processo terá duas fases, uma escrita e outra oral. A


fase escrita compreenderá a comunicação à Corte e às
partes conflitantes de memoriais, contra memoriais,
réplicas, peças e documentos encaminhados ao escrivão,
que providenciará a ciência às demais partes envolvidas
no litígio. O processo oral consistirá na audiência, pela
Corte, de testemunhas, peritos, agentes, consultores e
advogados. Se houver necessidade de citar pessoas, que
não os agentes, consultores e advogados, a Corte contará
com a colaboração dos Estados em cujo território deva-
se proceder ao ato. O mesmo procedimento ocorrerá no
caso de prática de outros atos no território dos Estados;

g) as audiências serão, em regra, públicas. De cada


audiência será lavrada ata, assinada pelo escrivão e pelo
Presidente da Corte (que é competente para dirigir os
debates), que dará fé ao ato;

h) à Corte incumbirá proferir decisões sobre o andamento


do processo, a forma e o prazo em que cada parte
terminará suas alegações, além das medidas necessárias
para a apresentação das provas, podendo recusar-se a
receber novas provas fora do prazo, a menos que as outras
partes com isso concordem;

Unidade 4 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

i) a Corte poderá determinar, à sua escolha, a qualquer


indivíduo, companhia, repartição, comissão ou outra
organização, a tarefa de proceder a um inquérito ou a
uma perícia;

j) o processo poderá correr à revelia, no caso de não


comparecimento à Corte da parte processada ou de
ausência de sua defesa;

k) encerrados os debates, a Corte recolher-se-á de forma


privativa e secreta para proferir a decisão;

l) as questões levadas à Corte serão decididas por maioria


dos juízes presentes, e, no caso de empate, pelo
Presidente ou seu substituto para o caso. Na sentença
constarão as razões de seu fundamento e o nome dos
juízes que tomaram parte na decisão. A sentença será
assinada pelo Presidente e pelo escrivão, devendo ser
lida em sessão pública após a notificação dos agentes
representantes dos Estados envolvidos;

m) a sentença só será obrigatória para as partes envolvidas,


sendo definitiva e inapelável. No entanto, admite pedido
de interpretação, no caso de controvérsia quanto ao seu
sentido ou alcance;

n) da sentença caberá pedido de revisão, até dez anos


contados de sua data, observados os procedimentos
do artigo 61 do estatuto da Corte, e no caso de
descobrimento de algum fato suscetível de exercer
influência decisiva sobre a sentença já proferida;

o) em regra, cada parte pagará suas custas no processo,


podendo, no entanto, decidir diferentemente a Corte.

Pode, ainda, a Corte ser acionada para emitir parecer consultivo


(e não decisório) sobre qualquer questão jurídica.

Além da Corte Internacional de Justiça, algumas organizações


internacionais possuem tribunais administrativos, como a OIT,
o Banco Mundial, a OEA (cujo tribunal tem por sigla OASAT)
e a própria ONU (UNAT), nos quais se resolvem problemas
concernentes à função pública internacional, oriundos da relação

118
Direito Internacional

entre a organização internacional e um prestador de serviços ou


funcionário contratado.

Existe, ainda, a Corte de Justiça da União Europeia,


especializada em assegurar a correta aplicação e interpretação
do Direito Comunitário nos conflitos oriundos das relações na
União Europeia. Direito Comunitário é a
ordem jurídica própria das
Também, as Cortes Europeia e Interamericana, nas questões Comunidades Europeias,
relativas a direitos humanos. E, ainda, o Tribunal Internacional embora, no estado atual
da evolução da integração
do Direito do Mar, recentemente criado pela Convenção
europeia, o Direito
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada a 10 de Comunitário não abrace as
dezembro de 1982, em Montego Bay (Jamaica). ordens jurídicas internas
dos Estados-membros
e se componha apenas
do direito gerado pelos
tratados que instruíram
2. Arbitragem as três comunidades
e por aqueles que
A arbitragem é o meio de solução pacífica de controvérsias entre os completaram e
Estados, em que os Estados litigantes escolhem livremente, por modificaram, ou seja,
meio de um compromisso arbitral, uma ou mais pessoas, que o Direito Comunitário
julgarão o conflito, por meio de um procedimento (estabelecido originário, e pelos atos
jurídicos provindos dos
no próprio compromisso arbitral) e da observância de normas ou
órgãos comunitários, que
de equidade, o que resultará numa decisão formatada num laudo, desenvolvem e aplicam
que as partes se comprometem a cumprir, mesmo antes de saber tratados, quer dizer,
o seu resultado. o Direito Comunitário
derivado.

A arbitragem é considerada uma via jurisdicional,


mas não judiciária, de solução de controvérsias.
Funciona como um tribunal ou uma instância ad
hoc de julgamento, criada para dirimir apenas uma Significa nomeada para
questão, com prazo de funcionamento do início dos o ato.
procedimentos para solucionar o conflito até o seu
encerramento, momento em que deixa de existir.

Meio de solução mais antigo do que a própria criação do Estado


Moderno, a arbitragem já era conhecida nas cidades gregas.
Não é considerada meio judicial exatamente pelo fato de não ser
permanente, nem institucionalizada. Assim, o tribunal arbitral,
ou o árbitro, é escolhido pelas partes, nomeado por elas para
julgar aquele conflito específico, remunerado por esse serviço e
dispensado da função após o término do litígio.

Unidade 4 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quando da existência de novo conflito, se as partes decidirem


por solucioná-lo via arbitragem, convocam novo tribunal, ou
selecionam novo árbitro. Daí, elas definem as regras que o árbitro
deverá seguir, procedimentos e prazos, podendo chegar a definir
que direito deverá ser levado em consideração ou, mesmo, a
dispensa de julgamento com base em direito positivado, caso em
que a decisão poderá ser tomada tendo por base a equidade.

A arbitragem é escolhida pelas partes litigantes como meio de


resolverem o conflito existente entre elas, por meio de tratado
específico, denominado compromisso ou compromisso arbitral,
ou de uma cláusula compromissória ou cláusula arbitral existente
em um tratado geral.

O compromisso arbitral é um tratado acessório


a outro tratado (principal) ou decorrente de uma
relação jurídica lesada (atos de violação de direitos
de um Estado contra outro Estado), que tem por
objetivo definir a arbitragem como forma de solução
do litígio oriundo do tratado principal ou da violação
de direitos.

O compromisso é um tratado bilateral em que os contendores:

a) descrevem o litígio entre eles reinante;

b) mencionam as regras do direito aplicável;

c) designam o árbitro ou o tribunal;

d) eventualmente estabelecem prazos e regras de


procedimento;

e) comprometem-se a cumprir fielmente, como preceito


jurídico obrigatório, a sentença arbitral.

No caso do compromisso arbitral, verifica-se a existência


primária do conflito e secundária do compromisso, uma vez
que sua configuração só teve sentido em razão do conflito

120
Direito Internacional

aparente. Não havendo entre as partes concordância, via


negociação direta ou outro meio diplomático, para resolver o
litígio, o consentimento mútuo passa a existir no momento de
decidir o meio a ser utilizado para a resolução da lide. Cumpre
ressaltar que, para a validade do compromisso, é necessário
observar os requisitos fundamentais para a confecção de tratados
quanto à capacidade das partes e de seus agentes signatários, a
forma, a licitude do objeto do tratado e a manifestação livre do
consentimento.

Já a cláusula compromissória não é apresentada como tratado


acessório, uma vez que compõe o próprio texto do tratado
principal. Isso significa que as partes resolvem contratar sobre
determinada matéria, lavrando o termo do tratado e concordam,
neste mesmo ato, que, na possibilidade de existir futuro conflito
acerca dos termos daquele pacto, resolverão o litígio pela forma
arbitral.

A cláusula poderá descer a detalhes, como os já explicitados no


compromisso arbitral, ou apenas comprometer as partes no uso
da arbitragem. No caso da cláusula, a arbitragem é definida antes
da existência do conflito, o que já a diferencia do compromisso
arbitral.

Em muitos casos, as partes resolvem, por meio de tratados gerais


de arbitragem, escolher esse meio para resolver quaisquer espécies
de conflitos entre si ou, mesmo, de uma gama de relações que se
originam de tratados-lei, como é o caso do Tratado de Assunção,
que cria o Mercosul.

O que se verifica na arbitragem é que o Estado, por meio do


compromisso (via tratado ou cláusula), cede parcela de sua
soberania para o árbitro ou tribunal arbitral, assim como no caso
das cortes internacionais, no sentido de contratar uma decisão,
antes mesmo de conhecê-la, passando a esse terceiro o poder de
decidir pelo Estado. Não é outro o seu consentimento, que o de
acatar, desde o início, a sentença arbitral, e comprometer-se a
cumpri-la, seja ela favorável ou desfavorável às suas pretensões.

Podemos dizer que a arbitragem tem como principais


características o acordo de vontades das partes, para a fixação do

Unidade 4 121
Universidade do Sul de Santa Catarina

objeto do litígio e o pedido de sua solução a um ou mais árbitros;


a livre escolha dos árbitros; e a obrigatoriedade da decisão.

A escolha dos árbitros cabe, então, às partes envolvidas no litígio,


uma vez que esses devem ser da confiança de ambas as partes.
A escolha das partes poderá recair sobre uma pessoa (árbitro) ou
sobre várias (tribunal arbitral). Esta poderá ser feita de comum
acordo pelas partes, ou, na ausência de concordância, cada qual
indicará os seus árbitros, em número igual, e esses elegerão
um superárbitro, que geralmente funciona como presidente do
tribunal e voto de desempate. Podem ser árbitros reis, chefes de
Estado, diplomatas, juristas, técnicos na matéria em causa ou
qualquer pessoa da confiança das partes.

Para facilitar o procedimento de escolha dos árbitros e das regras


de arbitragem, foi criada, pelas Convenções de Haia, de 1899 e de
1907, a Corte Permanente de Arbitragem. Localizada na cidade
que sediou a convenção, trata-se não de uma Corte permanente
de justiça (como a CIJ), mas de uma secretaria patrocinada
pelos Estados que compõem a entidade, que tem por objetivo
disponibilizar uma lista de possíveis árbitros a qualquer Estado.

Essa lista é formada por indicação dos Estados membros da


Corte, cada qual indicando, no máximo, quatro pessoas. No
entanto, o fato de ser membro da Corte ou de indicar árbitros,
não obriga o Estado a recorrer a ela sempre que estiver litigando.

O procedimento utilizado no processo de arbitragem é regulado


pelas partes, bem como os próprios árbitros poderão formulá-lo.
No entanto, poderão escolher de seguir o procedimento oferecido
pela Corte Permanente de Arbitragem.

O procedimento da Corte, estipulado nas Convenções de Haia,


compreende uma parte escrita e outra oral. Os debates orais
poderão ser feitos em público ou não, a critério das partes. As
decisões do tribunal serão tomadas em secreto, por maioria dos
votos dos seus membros.

A sentença arbitral é definitiva. Dela não cabe recurso a não ser


que para tal haja previsão no compromisso.

122
Direito Internacional

Pode, ainda, ser a decisão objeto de nulidade ou anulação, nos


seguintes casos:

„„ quando o árbitro ou o tribunal arbitral exceder,


evidentemente, os seus poderes;

„„ quando a sentença for o resultado da fraude ou da


deslealdade do árbitro ou árbitros;

„„ quando a sentença tiver sido pronunciada por árbitro


ou árbitros em situação de incapacidade, de fato ou de
direito;

„„ quando uma das partes não tiver sido ouvida, ou tiver


sido violado algum outro princípio fundamental do
processo;

„„ a ausência de motivação da sentença.

A sentença pode, também, sofrer pedido de interpretação ou


aclaramento.

Mesmo definitiva, a sentença é obrigatória, porém não é


executória. Primeiro, por falta de uma autoridade internacional
incumbida de assegurar a execução das sentenças. Segundo,
porque o poder do árbitro encerra-se na definição da solução
do litígio. Ele não possui uma milícia que obrigue o Estado
perdedor a executar o laudo.

O cumprimento da sentença, isto é, a sua execução, baseia-


se na honradez e na boa-fé dos Estados-partes em observar o
compromisso assumido quando da assinatura do tratado arbitral
ou da cláusula de arbitragem. O descumprimento gera um ato
ilícito, passível de repulsa nos moldes conhecidos pelo Direito
Internacional.

Além dos meios diplomáticos e jurisdicionais, temos os meios


políticos, em que as soluções proferidas pela Assembleia Geral
e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas podem ser
utilizadas como instâncias políticas de solução de conflitos
internacionais.

Unidade 4 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para finalizar os meios de solução de conflitos, vamos passar


agora à análise dos meios coercitivos.

Os meios coercitivos encontram-se entre as soluções


pacíficas de controvérsias (diplomáticas, jurisdicional,
político) e a luta armada (guerra ou solução bélica).
São meios de que os Estados muitas vezes se valem
como sanções, por não terem os outros Estados dado
cumprimento aos compromissos assumidos, ou como
meio de forçar o cumprimento de decisões.
1- retorsão - pode ser definida como o ato por meio
do qual um Estado ofendido aplica ao Estado que
tenha sido o seu agressor as mesmas medidas ou os
mesmos processos que esse empregou ou emprega
contra ele. É, pois, uma espécie de aplicação da pena
de talião (REZEK, 1996, p. 435).

Podem ser causas legítimas de retorsão o aumento exagerado


de direito de importação, a proibição ou o dificultamento de
circulação de produtos, interdição de acesso a portos de navios
do Estado agressor, a concessão de vantagens a nacionais de um
Estado em detrimento a nacionais de outros países, etc.

Os atos praticados pelo Estado, em retorsão a outros, estão


geralmente dentro de sua esfera jurídica e nem sempre
se caracterizam como prática de ato contrário ao Direito
Internacional.

2 - represálias são medidas coercitivas, contrárias a


certas regras de Direito Internacional, adotadas por
um Estado em resposta aos atos ilícitos praticados
por outro Estado contra ele. Elas não se configuram
como um delito, por se tratarem de reações a outros
delitos. As represálias podem ser positivas, no sentido
de prática de ato pelo Estado que se defende, ou
negativas, quando este se abstém de cumprir
obrigação, prejudicando o Estado agressor.

As represálias só devem ser admitidas em caso de violação


flagrante do Direito Internacional por parte do Estado que a
recebe. Devem constituir atos de legítima defesa, proporcionais

124
Direito Internacional

ao dano sofrido pelo Estado que a pratica e devem cessar quando


conseguida a solução do conflito original.

3 - embargo consiste no sequestro, em tempos de


paz, de navios e cargas de nacionais de um Estado
estrangeiro, ancorados em águas territoriais ou portos
do Estado que se utiliza dessa coerção.

Esse tipo de embargo não deve ser confundido com o embargo


de príncipe, geralmente motivado por questões sanitárias,
judiciais ou policiais.

O bloqueio pacífico ou bloqueio comercial é utilizado


para impedir, por meio das forças armadas de um país, as
comunicações com os portos ou as costas de outro país, ao qual se
pretende obrigar a proceder de determinado modo.

O Instituto de Direito Internacional, em 1887, indicou como


condições para que o bloqueio seja considerado legítimo:

a) que os navios de pavilhão estrangeiro de terceiros


Estados, que não os bloqueados, possam entrar
livremente na área de bloqueio;

b) que o bloqueio seja declarado e notificado oficialmente e


mantido por força suficiente;

c) que os navios violadores do bloqueio sejam suscetíveis


somente de sequestro, sendo que, findo o bloqueio, sejam
restituídos, com suas cargas, os proprietários, mas sem
direito à indenização.

4 - Boicote – é a interrupção de relações comerciais com um


Estado considerado ofensor dos nacionais ou dos interesses de
outro Estado (GUERRA, p. 348, 2010).

Unidade 4 125
Universidade do Sul de Santa Catarina

A boicotagem é comumente vista nos dias atuais.


Trata-se da ruptura das relações comerciais com o
Estado ofensor, impossibilitando-o de fazer trocas
comerciais (importar ou exportar) com os demais
países.

A Carta da ONU prevê em seu artigo 41 a possibilidade de uso


de boicote para tornar efetiva suas decisões no caso de ameaças
à paz mundial. Foi o caso do boicote imprimido contra o Iraque
após a Guerra do Golfo.

5 - ruptura de relações diplomáticas ou cessão


temporária das relações oficiais entre os Estados é
usada como sinal de protesto contra o Estado ofensor
do Direito Internacional ou como meio de coerção
para o cumprimento de compromissos.

A ruptura das relações materializa-se pela entrega de passaportes


ao agente diplomático do Estado a que se aplica, ou pela retirada,
da capital de tal Estado, do agente diplomático do Estado que
lança mão desse recurso.

Seção 3 - Meios bélicos de solução de conflitos


internacionais

A guerra pode ser conceituada como a luta armada,


durante certo lapso temporal, entre dois ou mais
Estados. Geralmente, inicia-se com uma declaração
oficial de guerra e termina com um tratado de paz.

A Carta das Nações Unidas, em seu preâmbulo, enfatiza o valor


que se dá, atualmente, à guerra, quando menciona o propósito
de “preservar as gerações futuras do flagelo da guerra”, e, em

126
Direito Internacional

seu artigo segundo, item 3, estabelece que “todos os Membros


deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios
pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e
a justiça internacionais” (RANGEL, 1993, p. 31-33).

Isto é, o jus in bello (Direito a guerra), que nasce do direito de


soberania de cada Estado de fazer a guerra, deixou de ser um
direito livremente exercido pelos países e transformou-se num
dever: de não fazer a guerra, enquanto houver a possibilidade de
resolver pacificamente um conflito internacional.

Isso quer dizer que, de um direito exercido a bel prazer


pelo Estado, a guerra passou a ser o último meio de
que se deve valer o Estado para resolver um conflito.

Pela comunidade internacional foram feitas várias convenções


no sentido de humanizar a guerra e atribuir direitos e deveres
aos Estados beligerantes. Dessas convenções conclui-se que
a comunidade internacional, atualmente, busca a preservação
das relações amistosas entre os Estados, o que se percebe pela
valorização dos meios diplomáticos, judiciários e arbitrais de
solucionar os conflitos. Veja as convenções que se seguiram ao
longo dos tempos.

„„ Normas Costumeiras (séc. XVI): visavam a proteger os


feridos e enfermos, os médicos, enfermeiros e capelães,
os hospitais, os prisioneiros de guerra e a população civil.

„„ Declaração de Paris, de 1856: dispõe sobre a guerra


marítima, proibindo a pirataria e protegendo navios
mercantes civis.

„„ Convenção de Genebra, de 1864: marco inicial do


direito humanitário.

„„ Declaração de São Petersburgo, de 1868: proíbe o uso,


na guerra terrestre, de certas armas.

„„ Declaração de Bruxelas, de 1874: dá garantias às


pessoas que não participam do combate.

Unidade 4 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Conferência Internacional da Paz, em Haia, de 1899:


proibição dos balões para lançamento de bombas e
emprego de gás asfixiante.

„„ Convenções de Haia, 1907: lança regras proibitivas à


guerra, protegendo certas pessoas e lugares e proibindo o
uso de certas armas.

„„ Pacto da Sociedade das Nações, 1919: limita-se a fazer


da guerra uma alternativa secundária e não mais uma
opção perfeitamente legítima de solucionar conflitos.

„„ Pacto de Paris, 1928 (ou Pacto Briand-Kellog –


Ministros das Relações Exteriores da França e dos
EUA): condenava o recurso da guerra como meio de
solução de conflitos.

„„ Carta da ONU, 1945: proibição da guerra (art. 2º, § 4º).

„„ Convenções de Genebra, 1949: apontava a guerra como


ilícito internacional.

„„ Protocolos de Genebra, 1977: alargavam os horizontes


da proibição da guerra, incluindo as guerras de libertação
nacional.

„„ Adesão do Brasil aos Protocolos de 1977, em 1992.

Para Guerra (p. 351, 2010), a evolução humana, desde os seus


primórdios, sempre teve a presença marcante do conceito de
Guerra em torno da figura do homem. A intolerância, o egoísmo
e a falta de amor ao próximo conduziram a raça humana para
muitas contendas, o que, indubitavelmente, acabou por resultar
em danos irreversíveis para milhares de pessoas.

128
Direito Internacional

Síntese

Nesta unidade, você estudou que existem muitos meios de


solução de conflitos, mas eles basicamente se dividem em dois
grupos: os pacíficos e os bélicos.

Você viu que os meios pacíficos podem obter o fim do conflito


pelo acordo (meios diplomáticos, com ou sem a ajuda de terceiros
países), por uma decisão (meios judiciários e arbitragem) ou pela
força (meios coercitivos). E, se nada resolver a situação, cabe a
utilização do meio bélico, ou seja, a declaração da guerra.

No que se refere aos meios diplomáticos, você estudou que


eles são utilizados diretamente pelos Estados conflitantes
e se caracterizam por: as negociações diretas, congressos e
conferências, e sistema de consultas, contando com a participação
de um terceiro não envolvido no conflito. Aparecem como meios
diplomáticos os bons ofícios e a mediação.

Você viu também que, quando há a necessidade de buscar-se uma


decisão, pois o acordo já não é mais possível, os Estados podem
recorrer a meios judiciários, como os tribunais internacionais
permanentes, as comissões de inquérito e conciliação, e as
comissões mistas. Ou, ainda, valer-se da arbitragem.

Por último, você viu que, para forçar o cumprimento de um


acordo ou decisão, os Estados podem recorrer ao uso de meios
coercitivos: a retorsão, a represália, o embargo, o bloqueio
pacífico, a boicotagem e a ruptura de relações diplomáticas.

E se, ainda assim, não for resolvido o conflito, cabe a declaração


de guerra, sendo que a comunidade internacional celebrou
diversas convenções internacionais na busca de suavizar os efeitos
da guerra, tentando humanizá-la e discipliná-la.

Unidade 4 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

Agora que você está no final do capítulo, vamos exercitar o que você
aprendeu.

1) Faça numa tabela a distinção entre a solução judiciária e a arbitragem.

Meios de solução de conflitos Características


Solução judiciária

Arbitragem

2) Diferencie retorsão de represália.

3) Diferencie a atuação do mediador da atuação do árbitro.

130
Direito Internacional

Saiba mais

GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público. 4.


ed. Rio de Janeiro : Lúmen Juris, 2009.

REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso


elementar. 12. ed. São Paulo : Saraiva, 2010.

VARELLA, Marcelo D. Direito internacional público. São


Paulo : Saraiva, 2009.

Unidade 4 131
5
unidade 5

Direitos humanos

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender a proteção internacional dos direitos
humanos, trazendo para a discussão um histórico das
principais convenções internacionais de proteção aos
direitos humanos e como as principais organizações
internacionais atuam no sentido de garantir a proteção
a esses direitos.

„„ Conhecer o quanto a sociedade internacional tem se


preocupado com esse assunto inerente à condição
humana.

Seções de estudo
Seção 1 Classificação dos direitos humanos

Seção 2 A proteção internacional dos direitos humanos


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Você estudará o que se tem trabalhado, no plano internacional,
para definir e proteger os direitos humanos. Devido às rotineiras
agressões às pessoas e ao meio (situações de tortura, de racismo,
de pobreza, entre outras), você pode até pensar que todos os
esforços em manter as políticas de direitos humanos sejam em
vão, porém elas se fazem necessárias e urgem dentro da realidade
atual de contradições.

Você também pode pensar que os Estados pouco fazem pela


proteção aos direitos humanos e que as ONGs, como a Cruz
Vermelha e a Human Rights Watch, têm exercido um papel
mais importante do que os Estados na proteção dos direitos
do homem. Porém, os tratados internacionais acordados entre
nações e os mecanismos de proteção dos direitos humanos por
eles criados são essenciais neste novo contexto mundial que se
instaura. Como você verá a seguir.

Seção 1 - Classificação dos direitos humanos


Primeiramente cabe dizer que são considerados direitos humanos
aqueles direitos que são inerentes à condição humana, seja como
indivíduo, seja como ente social.

Os Direitos humanos são os direitos consagrados nas Declarações


de Direitos, concebidos no âmbito da sociedade internacional, e,
portanto, reconhecidos por Estados soberanos, que produzirão
efeitos no plano doméstico em conformidade com a própria
Classificação proposta
ordem jurídica interna de cada Estado. (GUERRA, p. 445,
por Karel Vasak, em
palestra realizada no
2010).
Instituto Internacional
de Direitos do Homem, Com a evolução das convenções internacionais, que trataram de
em Estrasburgo, no reconhecer os direitos humanos e criar mecanismos de proteção,
ano de 1979. foi-se formando uma classificação desses direitos em direitos de
primeira geração, de segunda geração e de terceira geração.

134
Direito Internacional

São reconhecidos como de primeira geração os direitos mais


primários do ser humano como um ser individual. Valorizava a
liberdade.

São reconhecidos como de segunda geração os direitos do homem


como um ser social, que vive em comunidade e que precisa ter
acesso a determinados direitos para integrar-se com dignidade. A
igualdade era o seu alicerce.

E os direitos de terceira geração são os considerados direitos


coletivos ou difusos, que não dizem respeito a apenas um
indivíduo ou a um grupo social, mas a toda uma coletividade,
sem necessidade de quantificação de seus membros. Eles refletem
os valores da fraternidade.

Nesse sentido, partindo da formulação de Vasak, poderíamos


identificar os direitos de primeira geração como sendo os direitos
de liberdade, os de segunda geração como sendo os direitos de
igualdade e os de terceira geração como sendo os de fraternidade,
associando-os aos fundamentos que nortearam a Revolução
Francesa: a liberdade, a igualdade e a fraternidade. (GUERRA,
p. 449, 2010).

Dessa forma, classificam-se os direitos humanos em:

„„ Direitos de primeira geração – Surgiram com as


revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII.
(GUERRA, p. 447, 2010). São os direitos emergentes
do direito à liberdade, em oposição à ação dos Estados.
Compreendem os direitos civis e políticos, nos quais
estão inseridos o direito à vida, à nacionalidade, à
liberdade de movimento, ao asilo, à liberdade de opinião
e de atividades políticas. Proíbem a tortura, o tratamento
cruel, desumano e degradante, e a escravidão.

„„ Direitos de segunda geração – decorrentes dos


movimentos sociais democratas da Revolução Russa.
(GUERRA, p. 447, 2010). São os direitos econômicos,
sociais e culturais, nos quais se inserem os de cunho
trabalhista (condições justas e favoráveis de trabalho), o
direito de sindicalização, o direito à educação, à cultura,
a um nível adequado de vida, à seguridade social.

Unidade 5 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Direitos de terceira geração – se nutrem das duras


experiências passadas pela Humanidade durante a
Segunda Guerra Munidal e da onda de descolonização
que a seguiu. (GUERRA, p. 447, 2010). Caracterizam-se
por serem desfrutados de maneira coletiva. São os
direitos à paz, a um ambiente sadio (proteção ao meio
ambiente), ao desenvolvimento e ao patrimônio comum
da humanidade.

A doutrina internacional vem complementando a classificação


apresentada com os direitos de quarta e quinta geração.
Corresponde ao direito de quarta geração o direito à democracia,
à informação e ao direito ao pluralismo; já, os de quinta geração à
identidade individual, ao patrimônio genético e à proteção contra
o abuso das técnicas de clonagem. (SAMPAIO, p. 303, 2004).

O eventual desrespeito dos direitos humanos de primeira e


segunda geração, mesmo encontrando dificuldades para reparar o
dano causado, implica a fácil identificação de responsabilidade: o
Estado e seus agentes é que respondem pelas infrações. No caso
dos direitos de terceira geração, a imputabilidade é problemática,

Identificação de culpa em um ato ilícito. À medida que tanto


os queixosos, quanto os culpados são de difícil identificação
(SEITENFUS; VENTURA, 1999, p. 131).

Seção 2 - A proteção internacional dos direitos


humanos

A proteção internacional dos direitos humanos


caracteriza-se pela construção de convenções
internacionais, sejam elas de cunho universal ou
regional, que tentam definir ou listar quais são os
direitos humanos que a convenção quer proteger e
como os Estados que dela participam devem agir para
que essa proteção aconteça de fato.

136
Direito Internacional

Assim, as principais convenções internacionais de proteção aos


direitos humanos são:

„„ No âmbito da ONU, a Carta da ONU, de 1945, a


Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1948, a Convenção para a prevenção e
a repressão do crime de genocídio, de 1948, o Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
de 1966 e o Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos, de 1966.

„„ No âmbito da OEA, encontramos no ano de 1948 várias


convenções sendo assinadas, que são a Carta da OEA, a
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem,
a Convenção Interamericana sobre a Concessão de Direitos
Políticos à Mulher e a Convenção Interamericana sobre
a Concessão de Direitos Civis à Mulher. Em 1964, foi
celebrada a Convenção Interamericana para prevenir,
punir e erradicar a violência contra a mulher, e, em 1969, a
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San
José da Costa Rica), certamente um dos mais completos
tratados de proteção de direitos humanos do mundo.
Em 1985 foi assinada a Convenção Interamericana para
prevenir e punir a tortura.

„„ No que se refere ao âmbito Europeu, há a Convenção


Europeia para proteção dos direitos humanos e das
liberdades individuais, de 1950.

„„ No que se refere à África, há a Carta Africana dos direitos


do homem e dos povos, de 1981.

Conforme ensinam Seitenfus e Ventura (1999, p. 129-131), a


redação da Carta Constitutiva das Nações Unidas e de organismos
regionais, como a Organização dos Estados Americanos, faz surgir
um Direito Internacional convencional de proteção aos direitos
fundamentais do homem.

Os Estados permanecem sendo os sujeitos do Direito Internacional.


Porém, a proteção que é devida ao indivíduo, que se torna sujeito de
Direito Internacional em certos casos, transforma-se em paradigma
dessa nova fase do Direito Internacional.

Unidade 5 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

A Carta da ONU explicita que um de seus propósitos


consiste em promover e estimular o respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais para
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião
(art. 1º, § 3º). Por sua vez, a Carta da OEA enfatiza
que os Estados americanos proclamam os direitos
fundamentais da pessoa, sem fazer distinção de raça,
nacionalidade, credo ou sexo (art. 3º, § k).

A assinatura, em 10 de dezembro de 1948, no âmbito da


Assembleia Geral das Nações Unidas, de um documento sob o
título Declaração Universal dos Direitos do Homem constituiu
um marco referencial para a proteção internacional dos direitos
humanos.

Trata-se de uma declaração emanada em forma de resolução da


Assembleia Geral. Infelizmente, as declarações possuem um peso
político e moral, descartando-se a obrigatoriedade jurídica. Por
sinal, não foi previsto nessa declaração um instituto de controle
da aplicabilidade das normas sugerindo uma escassa eficácia.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem não é um


tratado e, por isso, seus dispositivos não constituem exatamente
uma obrigação jurídica para cada um dos Estados representados
na Assembleia Geral quando, sem qualquer voto contrário,
adotou-se o respectivo texto sob a forma de uma resolução da
Assembleia. Por mais de uma vez, ante gestões externas fundadas
no zelo pelos direitos humanos, certos países reagiram lembrando
a natureza não convencional da Declaração. (REZEK, p. 226,
2010).

Ampliando o conteúdo da declaração de 1948, foram redigidos,


no âmbito das Nações Unidas, a partir de 1966, os Pactos
sobre direitos civis, políticos, econômicos e sociais. A mudança
fundamental introduzida pelo sistema de pactos consiste na
possibilidade de eficácia de execução, pois tais documentos se
beneficiam de força jurídica convencional, o que a declaração de
1948 não tinha.

Dois textos sobressaem-se, no que concerne à implementação


dos direitos do homem: o Euro-ocidental, firmado em 1950,

138
Direito Internacional

que institui uma Corte Europeia de Direitos Humanos


(Estrasburgo); e o das Américas, firmado em 1969, criando uma
Corte Interamericana de Direitos Humanos, localizada em São
José da Costa Rica.

O caso europeu apresenta uma importante peculiaridade.


Conforme a Convenção Europeia de Proteção aos Direitos do
Homem e das Liberdades Fundamentais, de 4 de novembro de
1950, todo indivíduo, organização não governamental ou grupo
de particulares, pode litigar diretamente junto à Comissão de
Direitos do Homem, órgão vinculado à Corte de Estrasburgo
(artigo 25).

Essa Comissão desempenha, na verdade, papel de “filtro” em


relação aos processos que chegarão definitivamente à Corte,
construindo uma fase preliminar do rito. A jurisprudência da
Corte estendeu essa capacidade às pessoas jurídicas, inclusive
às sociedades comerciais. A Comissão e a Corte de Direitos
Humanos da OEA (Pacto de San José da Costa Rica) seguiram o
mesmo caminho.

Como mecanismos internacionais de proteção aos direitos


humanos aparecem:

„„ O Comitê de Direitos Humanos da ONU – composto


de 18 membros eleitos para mandatos de quatro anos,
tem por objetivo fazer com que os direitos previstos
na Convenção sobre Direitos Civis e Políticos sejam
aplicados, recebendo relatórios dos Estados sobre sua
aplicação e examinando questões de descumprimento
do pacto. O Comitê, por meio de bons ofícios, tentará
aproximar as partes de uma solução amigável do conflito.
Não logrando êxito, poderá ser composta uma Comissão
de Conciliação. Os Estados poderão, ainda, utilizar-se de
outros meios de solução de controvérsias.

„„ A Comissão Interamericana de Direitos Humanos –


OEA – composta de sete membros eleitos para mandatos
de quatro anos, tem por objetivo promover a observância
e defesa dos direitos humanos. A Comissão, por meio
de processo, comunicará ao Estado infrator, buscando
chegar a uma solução amigável do conflito, e, em não
alcançando a solução, poderá fazer recomendações ao

Unidade 5 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

Estado, para solucionar o conflito, com prazo para


atendimento do relatório emitido. O particular poderá
ser o autor de uma denúncia perante a Comissão.

„„ A Corte Interamericana de Direitos Humanos – OEA


– composta por sete juízes eleitos para mandatos de seis
anos, a Corte é sediada em San Jose, Costa Rica. Tem
por função conhecer qualquer caso de interpretação
ou aplicação da Convenção Americana de Direitos
Humanos. Resolve conflitos por meio da solução
judiciária, emitindo sentenças definitivas e inapeláveis.

Nos casos de sentenças indenizatórias, a decisão da Corte serve


como título executivo judicial, procedendo-se sua execução no
território do Estado infrator, junto ao Poder Judiciário interno.

Cabe, ainda, ressaltar a proteção internacional dos trabalhadores,


realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
criada em 1919, junto com a Liga das Nações. Desempenha papel
fundamental na elaboração das normas laborais e de controle do
seu respeito.

A OIT procura dar conteúdo concreto e tornar prática corrente


certos direitos fundamentais do homem, em particular os de
cunho social e econômico. As normas contidas nas Convenções e
nas recomendações da OIT objetivam estabelecer níveis comuns
de proteção laboral.

Conforme Guerra (p. 258, 2010), os princípios orientadores da


OIT são:

„„ o trabalho não é uma mercadoria;

„„ a liberdade de expressão e de associação é uma condição


indispensável para um progresso constante;

„„ a pobreza, onde quer que exista, constitui um perigo para


a prosperidade de todos;

„„ a luta contra a necessidade deve ser conduzida com uma


energia inesgotável por cada nação e por meio de um
esforço internacional contínuo e organizado, pelo qual

140
Direito Internacional

os representantes dos trabalhadores e dos empregadores,


colaborando em pé de igualdade com os Governos,
participem em discussões livres e em decisões de caráter
democrático tendo em vista promover o bem comum.

Além da OIT, existem ainda organismos ou agências


especializados da ONU, como o Alto Comissariado para
Refugiados (ACNUR), a Comissão de Direitos Humanos e a
Unesco.
Constituída em 16 de
novembro de 1945,
Síntese na Conferência de
Londres, com intuito
de levar educação
Nesta unidade, você aprendeu que a proteção de direitos e cultura a todos
os povos, com o
humanos é um tema relativamente jovem na agenda da sociedade objetivo de erradicar
internacional, pois os primeiros instrumentos que trataram do o analfabetismo no
assunto surgiram a partir de 1945. mundo.

De lá para cá muito se evoluiu na tentativa de consolidar o


cumprimento dos direitos humanos, mas, apesar das inúmeras
convenções que tratam do assunto, muito ainda há a ser feito.

Você estudou, nesta unidade, a classificação dos direitos


humanos, em primeira geração (direitos do indivíduo como ser
humano), segunda geração (direitos do indivíduo como ser social)
e em terceira geração (direitos de uma coletividade).

Estudou, também, como as OIGs estão tratando este tema,


sendo que, no caso da OEA, já houve a evolução ao ponto de se
criar um tribunal permanente de justiça para julgar as infrações
aos direitos humanos dentro dos Estados americanos, e, além
disso, você pôde perceber que as OIGs e as ONGs desempenham
um papel importante na defesa dos direitos humanos.

Agora, para reforçar seu estudo, realize as atividades de


autoavaliação que seguem.

Unidade 5 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) No Brasil, você acha que os direitos humanos são respeitados? Pense


em situações que você conheça em nível nacional, estadual ou mesmo
municipal.

2) A doutrina internacional vem complementando a classificação das três


gerações com os direitos de quarta e quinta geração. De acordo com
SAMPAIO (p. 303, 2004), os de quinta geração são direitos à identidade
individual, ao patrimônio genético e à proteção contra o abuso das
técnicas de clonagem.

142
Direito Internacional

3) Analise a assertiva abaixo e disserte utilizando de 5 a 8 linhas.

“A clonagem humana é uma afronta à inerente dignidade e


individualidade da vida humana. ”

Disponível em: <http://providafamilia.org/doc.php?doc=doc92185>

Saiba mais

GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público. 4.


ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2009.

REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso


elementar. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SAMPAIO, José Adércio Leite. Direitos fundamentais. Belo


Horizonte: Del Rey, 2004.

Unidade 5 143
6
unidade 6

Conflitos de leis

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer os conflitos de normas existentes nas
relações internacionais de caráter privado, além das
soluções encontradas pelos sistemas jurídicos para
evitar, minimizar ou resolver esses possíveis conflitos.

„„ ompreender o Direito Internacional privado brasileiro,


C
ou seja, como o Direito Brasileiro resolve os conflitos de
normas nas relações privadas internacionais.

„„ Entender como se aplicam as teorias de remessa e


os elementos de conexão, decifrando que legislação
nacional será aplicada num caso privado de relações
internacionais.

Seções de estudo
Seção 1 Os conflitos de leis e as formas de solução

Seção 2 Principais elementos de conexão presentes na


legislação brasileira
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, você entrará na seara do Direito Internacional
Privado.

Imagine-se visitando um cliente em outro país e oferecendo um


produto fabricado no Brasil. Você pretende vender esse produto
ao seu cliente, mas, conhecendo um pouco como o mundo dos
negócios lícitos funciona, você se enche de perguntas.

Será que esse cliente é legalmente capaz para fazer o negócio?


Será que o produto está legalmente habilitado para ser vendido
no país onde estou? Será que tenho que fazer um contrato
escrito? Será que o cliente cumprirá com o pagamento? Será
que posso usar esse contrato para processar o cliente no caso
de inadimplência ou de qualquer outro problema? Qual será a
legislação que devo aplicar para sanar essas dúvidas, e qual será o
juízo competente para o caso de processo?

Nossa, são tantas perguntas e detalhes para realizar esse negócio,


não?

Pois é, por isso é que foi criado o Direito Internacional Privado,


para ajudar você a elucidar todas essas dúvidas.

Vamos atrás das respostas?

146
Direito Internacional

Seção 1 – Os conflitos de leis e as formas de solução

O Direito Internacional Privado (DIPRI) é o conjunto


de preceitos reguladores das relações de ordem
privada da sociedade internacional. É o confronto de
normas tendentes a conjugar leis de diferentes países,
indicando a lei competente a ser aplicada no caso
concreto.

O objetivo do DIPRI é definir qual lei será aplicada nos conflitos


legais internacionais de ordem privada. É o ramo da ciência
jurídica que tem por objetivo definir e regular a condição legal
das pessoas físicas e jurídicas, seus bens, atos e direitos, visando
a aplicar-lhes as leis e sentenças dos seus respectivos países, em
conexão com as dos países que as recepcionam.

Por fim, segundo Souto (2000, p. 94), o chamado Direito


Internacional Privado tem por missão escolher que norma deve
ser aplicada a certa situação quando podem ser invocados dois ou
mais sistemas normativos para a regulação da mesma.

A nacionalidade é um conceito importante nesta questão, pois,


na maioria dos casos, estaremos trabalhando com pessoas físicas
e jurídicas de diferentes nacionalidades. Se você já se esqueceu
desse conceito volte para a Unidade 3.

Os conflitos de normas são as situações em que, por determinada


conjuntura, há a possibilidade, ou não, de se aplicar duas ou até
mais legislações de diferentes países. É o que você estudará com o
DIPRI.

Com uma boa pesquisa legislativa, você descobre facilmente qual


dessas leis será a que deve ser aplicada. Assim, com a aplicação
da lei correta, realiza-se um negócio revestido de todas as
formalidades legais exigidas para que se torne um ato jurídico
perfeito e acabado, gerando os efeitos desejados pelas partes
contratantes.

Unidade 6 147
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esses conflitos podem aparecer sob dois prismas: o da eficácia,


quando surge aí um conflito no espaço, e o da vigência, quando
surge um conflito no tempo.

Quando estamos numa situação-problema, isto é, em que as pessoas


que estão realizando o negócio têm diferentes nacionalidades,
residem em diferentes países e estão realizando um negócio fora
de seu território de origem, cabe saber qual é a lei que deve ser
aplicada.

Pode acontecer que tanto a lei do país de nacionalidade ou de


residência das pessoas possa ser aplicada, quanto a lei do Estado
onde elas estão realizando o negócio. Daí, percebemos um conflito
positivo de competência legal.

Ou pode ainda acontecer que nenhuma das legislações seja


competente para ser aplicada. Temos então um conflito negativo de
competência. Para que saibamos resolver tanto o conflito positivo
como o negativo, temos de conhecer as regras de DIPRI, que são
parte do ordenamento jurídico de cada país e nos indicam como
agir.

Imagine a seguinte situação:

Um argentino, residente na Argentina, está viajando


a trabalho numa feira internacional, na qual
representará os produtos de uma empresa argentina.
A feira está acontecendo em São Paulo, Brasil. Nessa
feira, ele faz contato com um inglês, que vive no
Chile, e está visitando os estandes, com interesse
de identificar produtos que possam ser comprados
por sua empresa chilena e distribuídos no Chile com
exclusividade. O argentino e o inglês vêm a fechar um
contrato de compra e venda internacional ali mesmo
na feira.

Agora observe!

Indivíduo 1 – Argentino, residente na Argentina, representa


empresa argentina.

148
Direito Internacional

Indivíduo 2 – Inglês, residente no Chile, representa empresa


chilena.

Local onde está acontecendo o contrato – São Paulo, Brasil.

Pode acontecer que tanto a lei do país de nacionalidade (Argentina


e Inglaterra) ou de residência (Argentina ou Chile) das pessoas
possa ser aplicada, quanto a lei do Estado onde elas estão
realizando o negócio (Brasil).

Para começar a definir a situação, começaremos sempre a fazer a


análise pela lei do local onde a situação está acontecendo. Neste
caso, será pela lei brasileira.

Dentro do ordenamento jurídico de cada país, temos as leis de


DIPRI (que são chamadas de leis de foro) e o restante das normas
jurídicas (que são chamadas de leis de fundo). São elas:

A Lei de Foro é o conjunto de artigos que tratam de dois assuntos:


como resolver os conflitos de leis no tempo e como resolver os
conflitos de leis no espaço (aqui definindo a teoria de remessa que
o país adota e o elemento de conexão que deve ser utilizado em
cada caso).

A Lei de Fundo é a gama de legislação que disciplina toda


a ordem de situações dentro do território do país (penais,
trabalhistas, civis, tributárias, previdenciárias, processuais, etc.).

Voltando à situação descrita anteriormente, comece analisando a


lei de foro brasileira, porque o contrato está acontecendo em São
Paulo.

A primeira pergunta é se a lei brasileira cabe nesse contrato de


compra e venda.

Verificando a Lei de Foro Brasileira, você verá dois assuntos: a


teoria da remessa e o elemento de conexão que o Brasil utiliza no
caso de criação de obrigações (contrato).

Unidade 6 149
Universidade do Sul de Santa Catarina

Segundo a Lei de Foro Brasileira (Lei de Introdução ao Código


Civil – LICC), a teoria que o Brasil adota é a chamada teoria do
envio.

Existem duas teorias de remessa:

1. A teoria do envio acontece quando não é possível utilizar a lei do


próprio país (por indicação do elemento de conexão nacional). Ela
permite a remessa da pesquisa para a Lei de Fundo de outro país.
2. A teoria do reenvio faz a remessa para a Lei de Foro do outro
país e, se essa Lei de Foro indicar, por meio de seus elementos
de conexão, a lei de um terceiro país, deverá ser feita a pesquisa
nesse terceiro país, e assim sucessivamente, até que se encontre
o país cuja Lei de Foro indique como competente para o caso
da sua Lei de Fundo. Por isso, essa segunda teoria se chama
de reenvio, porque permite tantas remessas quantas forem
necessárias, diferentemente da primeira teoria, que só permite a
primeira remessa, buscando diretamente a Lei de Fundo do outro
país.

Abaixo uma representação das teorias:

Conforme você pode perceber, a seta que sai da Lei de Foro


Brasileira está indicando a competência da Lei de Fundo
Argentina. Esse fenômeno, nós chamamos de envio. Assim, a
lei brasileira recepciona a lei da Argentina para ser aplicada num
caso concreto.

150
Direito Internacional

Conforme você pode perceber, a seta que sai da Lei de


Foro Brasileira está indicando a competência da Lei de
Foro Argentina. Mas a Lei de Foro Argentina indica como
competente, por força de seus elementos de conexão, a Lei de
Fundo Brasileira. Esse fenômeno, nós chamamos de reenvio.

Assim, a lei brasileira recepciona a lei da Argentina, que indica


novamente a Lei de Fundo Brasileira, para ser aplicada num caso
concreto a lei brasileira, mesmo que, inicialmente, essa mesma
tenha indicado a lei da Argentina.

A teoria do envio está prevista no artigo 16 da LICC:

Art. 16 - Quando, nos termos dos artigos precedentes,


se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a
disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por
ela feita a outra lei.

O artigo indica que, nos casos dos artigos anteriores (7 ao 15),


que estabelecem os elementos de conexão da lei brasileira, se tiver
que ser buscada a lei estrangeira, essa busca será feita diretamente
na Lei de Fundo, porque esse artigo não permite que seja feita a
busca em “qualquer remissão por ela feita a outra lei”.

Então, o segundo passo da pesquisa é saber o elemento de


conexão da lei brasileira, que, nesse caso específico, está no artigo
9º da LICC, que diz:

Art. 9º - Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-


se-á a lei do país em que se constituírem.

Nesse caso, a constituição da obrigação. Isto é, o local onde o


contrato está sendo feito é o Brasil, portanto, o elemento de
conexão indica como competente para o caso a própria Lei de
Fundo Brasileira, ou seja, se aplicaria o Código Civil Brasileiro.

Unidade 6 151
Universidade do Sul de Santa Catarina

Elemento de conexão é um instituto jurídico


(nacionalidade, território, domicílio, situação do
imóvel, local onde acontece um fato, local onde é
ajuizada uma ação) escolhido pelo legislador de um
país e ajuda a determinar (conectar) qual é a lei a ser
aplicada num caso entre nacionais e estrangeiros ou
que sua celebração e execução aconteça em países
diferentes.

Pode ser que a lei chilena ou argentina também tivessem


elementos de conexão que indicassem elas próprias para serem
utilizadas. Estaríamos aí frente a um conflito positivo de
competência.

Se a lei brasileira, ao invés de indicar como elemento de conexão


o país em que se constituir a obrigação, tivesse indicado o país
em que se cumprirá a obrigação, caberia a lei de fundo da Chile.

Neste caso, a lei brasileira seria negativamente competente (ou


incompetente) para ser aplicada no caso. E seria competente a
lei chilena, sendo feita a remessa diretamente à Lei de Fundo
Chilena, ou seja, ao Código Civil Chileno.

No entanto, se o Brasil adotasse, ainda nessa situação, a teoria


do reenvio, seria feita a remessa, inicialmente, à Lei de Foro
Chilena.

Verificando os elementos de conexão que a Lei de Foro Chilena


indica, poderiam se configurar duas situações: a primeira, em
que o elemento de conexão chileno indicasse, também, o país de
cumprimento da obrigação, remetendo para a sua própria Lei
de Fundo a pesquisa; a segunda, em que o elemento de conexão
do Chile indicasse elemento de conexão diferente, que poderia
ser o do país em que se constituísse a obrigação, devolvendo a
competência para a Lei de Fundo Brasileira, ou que indicasse
como elemento de conexão o país de origem dos produtos, no
caso a Argentina, caso em que seria feita a remessa para a Lei de
Foro Argentino, que poderia indicar a sua própria Lei de Fundo
ou a Lei de Foro de outro país, fazendo mais uma remessa.

A teoria do reenvio parece complicar mais a pesquisa, no entanto,


ela respeita a soberania do ordenamento jurídico estrangeiro

152
Direito Internacional

por inteiro, ao passo que a teoria do envio faz um corte no


ordenamento estrangeiro, destacando e rejeitando as suas regras
de foro.

Quando acontece um conflito de normas no tempo, temos a


realização de um ato (um contrato) na vigência de uma lei e a
execução desse ato (contrato) na vigência de uma nova lei.

Não se enquadrando em nenhuma dessas situações, o artigo 6º


da LICC prevê que a lei nova seja aplicada às situações:

Art. 6º - A lei em vigor terá efeito imediato e geral,


respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.

Nesses casos, a LICC prevê que a lei mais nova sempre


será aplicada, a não ser que se trate de três situações: direito
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. São eles:

1. Direito adquirido, significa que, quando a lei nova entrou em


vigor, o direito do indivíduo já tinha se materializado conforme o
que preceituava a lei mais antiga, adquirindo o direito.
2. Ato jurídico perfeito diz respeito aos atos que, ainda na
vigência da antiga lei, já tinham sido finalizados, cumprindo
todas as formalidades legais para sua concretização que a lei
antiga exigia.

3. Coisa julgada diz respeito aos processos que já se encontravam


julgados ainda na vigência da antiga lei e que não seja possível
mais nenhuma forma de recurso da sentença.

Nesta seção, você analisou os conflitos de leis e as formas de


solução, com ênfase no objetivo do DIPRI, que é definir qual lei
será aplicada nos conflitos legais internacionais de ordem privada.

Unidade 6 153
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - Principais elementos de conexão presentes


na legislação brasileira
Agora que você já conhece o que são elementos de conexão e o
que é a teoria do envio, vamos conhecer os principais elementos
de conexão utilizados pela lei brasileira.

O primeiro elemento de conexão que nos interessa é aquele


que diz respeito às pessoas, que define o início e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

As leis pessoais (que dizem respeito às pessoas) podem ser


definidas por três diferentes elementos de conexão:

„„ pela lei da nacionalidade da pessoa;

„„ pela lei do território em que se encontre;

„„ pela lei do local de seu domicílio.

Na Legislação Brasileira, foi escolhido como elemento de


conexão o domicílio (residência) do indivíduo para determinar as
leis pessoais, conforme o artigo 7º da LICC:

Art. 7º - A lei do país em que for domiciliada a


pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família.

Assim, na situação-problema, para identificar se os sujeitos


envolvidos eram ou não capazes civilmente para realizarem o
contrato, deve-se procurar pela lei do domicílio deles.

No nosso exemplo, para o argentino, como ele reside na


Argentina, deve-se pesquisar a lei argentina para saber se ele já é
civilmente capaz. Para o inglês, como sua residência é no Chile,
deve-se pesquisar a lei chilena para saber da sua capacidade civil.
Como o Brasil adota a teoria do envio, basta buscar diretamente
a Lei de Fundo do Chile e da Argentina.

154
Direito Internacional

Para as pessoas jurídicas, a LICC estabelece como elemento de


conexão a lei do país em que se constituíram, ou seja, onde a
pessoa jurídica for inscrita:

Art. 11 - As organizações destinadas a fins de interesse


coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei
do Estado em que se constituírem.

A legislação aplicável para os atos em geral e para as obrigações


tem como elemento de conexão a lei do local em que se
constituíram, isto é, o lugar aonde esses atos venham a acontecer.
O artigo 9º da LICC é que trata desse elemento:

Art. 9 - Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a


lei do país em que se constituírem.
§ 1º. Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil
e dependendo de forma essencial, será esta observada,
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos
requisitos extrínsecos do ato.
§ 2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se
constituída no lugar em que residir o proponente.

Conforme o artigo, o local em que se constituir a obrigação é


elemento que define a lei a ser aplicada. Mas se a obrigação for
feita em outro país e tiver que ser executada no Brasil, deverão ser
respeitadas as exigências que a Legislação Brasileira tiver para o
cumprimento da obrigação.

Essa regra também vale quando a obrigação for contraída aqui


no Brasil para ser cumprida em outro país. Quando se faz uma
proposta e essa é aceita pela outra parte, de outro país, vale como
local do contrato o domicílio do proponente.

Já quando o assunto diz respeito a bens imóveis, aplica-se a


lei do local onde está situado o imóvel. Assim, se for o caso
de transferência de imóvel, de questões de posse sobre o bem,
sempre será aplicada a lei do país em que estiver situado o imóvel,
conforme prevê o artigo 8º da LICC:

Unidade 6 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

Art. 8º - Para qualificar os bens e regular as relações


a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que
estiverem situados.

No caso de bens móveis, aplica-se a lei do país do domicílio do


indivíduo que possui o bem. O parágrafo primeiro do artigo 8º
da LICC é que define:

§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o


proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou se
destinarem a transporte para outros lugares.

Nos casos de casamento, aplica-se o critério do domicílio para


definir as leis pessoais dos noivos, e o critério da territorialidade
(onde acontece o ato) para definir a lei que regulará o ato do
matrimônio.

Averbação do divórcio significa


No caso de anulação do casamento, vale a lei do primeiro
registrar na própria certidão domicílio conjugal. Já no caso de dissolução do vínculo, por
de casamento, no cartório separação judicial ou divórcio, vale qualquer dos domicílios dos
onde aconteceu o matrimônio, cônjuges, não sendo necessário entrar com o processo somente no
a separação ou o divórcio, local onde aconteceu a celebração do casamento. Mas é necessário
decretados judicialmente.
que seja feita a averbação do divórcio junto à autoridade em que
foi celebrado o casamento, observando o que diz a lei desse país
para esse tipo de ato.

Ainda, no caso de sucessão, o artigo 10 da LICC estabelece


como elemento de conexão para regular o direito à herança, a lei
do país em que era domiciliado o defunto:

Art. 10 - A sucessão por morte ou por ausência obedece


à lei do país em que era domiciliado o defunto ou o
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.
Legatária é a pessoa que recebe
uma doação de um falecido, por
declaração de última vontade ou por Para o processo de inventário, vale a lei do país em que for dada
testamento. a entrada o processo. E, para determinar a capacidade de ser
herdeiro ou legatário, vale a lei pessoal dos mesmos.

156
Direito Internacional

Para o processo de inventário, vale a lei do país em que for dada


a entrada o processo. E, para determinar a capacidade de ser
herdeiro ou legatário, vale a lei pessoal desses.

Nas questões comerciais, o que vale é a lei pessoal do comerciante


para definir sua condição de comerciante, bem como a lei do local
dos atos definem se eles são atos caracterizados como comerciais
ou como civis.

Quanto à definição de competência para julgar, define-se a


jurisdição pelo domicílio do réu ou pelo local de cumprimento
da obrigação. Também se define pela localização do imóvel, se
disser respeito a ações relativas a esse tipo de bem. O artigo 12 da
LICC é que define esses elementos de conexão:

Art. 12 - É competente a autoridade brasileira quando


o réu for domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser
cumprida a obrigação.
§ 1º. Só a autoridade judiciária brasileira compete
conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil.

Ainda, com relação ao cumprimento, no Brasil, de atos


processuais provenientes de outros países, há a necessidade que
estes atos recebam, do STF – Supremo Tribunal Federal, o
exequatur, que é o reconhecimento de legitimidade e autoridade
do ato. O parágrafo segundo do artigo 12 da LICC é que
estabelece esta formalidade:

§ 2º. A autoridade judiciária brasileira cumprirá,


concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida
pela lei brasileira, as diligências deprecadas por
autoridade estrangeira competente, observando a lei
desta, quanto ao objeto das diligências.

Já para o levantamento de provas judiciais, vale a lei do país onde


estas provas foram produzidas, não se admitindo provas que lei
brasileira desconheça (produzidas sob tortura, por exemplo). O
artigo 13 da LICC é que estabelece este elemento:

Unidade 6 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

Art. 13 - A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro


rege-se pela lei que nele vigorar quanto ao ônus e aos
meios de produzir-se, não se admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei desconheça.

Para o cumprimento de sentenças estrangeiras no Brasil, a LICC


estabelece como exigência, no artigo 15, a homologação da
sentença pelo STF:

Art. 15 - Será executada no Brasil a sentença proferida no


estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente
verificado a revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das
formalidades necessárias para a execução no lugar em que
foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as
sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas.

Para finalizar, vamos lembrar que os elementos de conexão são o


domicílio, o local da constituição das pessoas jurídicas, o local do
ato, o local da situação do bem e o domicílio do defunto.

Síntese

Nesta última unidade, você estudou que nas relações privadas


de caráter internacional deve ser pesquisada a legislação correta
referente a vários aspectos que envolvem essa relação.

Para tanto, são estabelecidas regras de Direito Internacional


privado nos países, nas leis de foro, que definem a teoria de
remessa e os elementos de conexão.

As teorias de remessa podem ser a do envio, quando a pesquisa é


feita diretamente na Lei de Fundo estrangeira, ou a do reenvio,
quando a pesquisa é feita na Lei de Foro estrangeira, obedecendo

158
Direito Internacional

às possíveis remessas que essa lei fizer à lei de outro país ou


devolvendo a competência à lei do próprio país de onde se iniciou
a pesquisa. Você viu que, no caso do Brasil, adota-se a teoria do
envio.

No Brasil, os elementos de conexão utilizados são: o domicílio


para leis pessoais, o local da constituição das pessoas jurídicas
para definir a sua personalidade, o local do ato para as
obrigações, o local da situação do bem para imóveis, o último
domicílio do defunto para definir regras de sucessão.

Nas questões processuais, valem o domicílio do réu, o lugar de


cumprimento da obrigação e a situação do bem imóvel.

Aplicando esses elementos de conexão e a teoria do envio às


situações vivenciadas aqui no Brasil, mas que envolvam pessoas
domiciliadas fora do país ou estrangeiras, é possível identificar
qual é a lei correta a ser aplicada no caso. Agindo assim, você
sempre estará resguardado legalmente para os casos de problemas
judiciais.

Atividades de autoavaliação

1) Resolva a seguinte situação: Alberto, domiciliado em seu país de


nacionalidade (o Chile) comprou, no Brasil, de um russo, residente na
Venezuela e que estava aqui no Brasil de férias, um imóvel situado
no Peru. Quantas legislações deverão ser levadas em conta para a
realização desse negócio jurídico (deve ser contado tanto o contrato
quanto a sua execução)? Justifique a sua escolha.

( ) Uma.
( ) Duas.
( ) Três.
( ) Quatro.
( ) Cinco.

Unidade 6 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Com base nessas informações hipotéticas, responda as questões abaixo.


• Legislação alemã – maioridade civil aos 16 anos. O elemento de
conexão para definir leis pessoais é a territorialidade, e os contratos são
regidos pela lei do foro de eleição.

• Legislação Brasileira – maioridade civil aos 18 anos. O elemento de


conexão para definir leis pessoais é o domicílio, e os contratos são
regidos pela lei do local do ato.

• Legislação egípcia – maioridade civil aos 21 anos. O elemento de


conexão para definir leis pessoais é a nacionalidade, e os contratos são
regidos pela lei do local da sua execução.

Situação 1: numa relação jurídica entre uma brasileira, residente no


Egito, e um alemão, residente na Alemanha, que esteja sendo realizada
no Brasil, a partir de qual idade as partes serão consideradas capazes?
Analise sobre dois prismas.
a) Utilizando a teoria do envio.

160
Direito Internacional

b) Utilizando a teoria do reenvio.

Situação 2: numa relação contratual entre uma brasileira, residente no


Egito, e um alemão, residente na Alemanha, que esteja sendo realizada
no Brasil, para execução no Egito, qual será a lei a ser aplicada no
contrato? Analise sobre dois prismas.
a) Utilizando a teoria do envio.

b) Utilizando a teoria do reenvio.

Situação 3: numa relação contratual entre uma brasileira, residente no


Egito, e um alemão, residente na Alemanha, que esteja sendo realizada
no Egito, para execução no Brasil, qual será a lei a ser aplicada no
contrato? Analise sobre dois prismas.

Unidade 6 161
Universidade do Sul de Santa Catarina

a) Utilizando a teoria do envio.

b) Utilizando a teoria do reenvio.

Saiba mais

Sobre as regras internacionais de DIPRI, conheça o Código de


Bustamante, ou Código de Direito Internacional Privado, ou
Convenção de Havana, que é um tratado internacional que busca
uniformizar a aplicação dos mesmos elementos de conexão nos
países americanos, evitando conflitos de normas.

BRASIL. Lei de Introdução ao Código Civil. Decreto-Lei no.


4.657, de 04/09/1942. <http: //WWW.presidencia.gov.br>.

DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: parte


geral. 6. ed. Rio de Janeiro : Renovar, 2001.

162
Para concluir o estudo

Caro(a) aluno(a):

Enfim, chegamos ao final do estudo deste livro, mas espero


que seus estudos de Direito Internacional tenham apenas
iniciado. Este livro, como todo trabalho no mundo do
conhecimento, é limitado. Muito mais poderia ter sido
escrito, mas o objetivo maior aqui é o de introduzi-lo na
área do Direito Internacional. Então, pequenas porções
foram suficientes.

Como você está concluindo esta disciplina, pôde saborear


cada porção de conhecimento aqui trazido. Com certeza, você
passou pela experiência de gostar mais de um tema do que de
outro. Mas lembre-se: todos são temas importantes na área.

Como professora conteudista, espero que tenha conseguido


traduzir, em linguagem atraente, os conhecimentos
básicos da disciplina, dentre os quais destaco os tratados
internacionais, a figura do Estado e os meios de solução de
conflitos.

Como apaixonada pelo Direito Internacional e pelas relações


internacionais, espero que você também tenha se apaixonado
pelo DIP e pelo DIPRI. E que goste, na sua carreira
profissional, de estar sempre lendo algo sobre o tema.

Agora, lanço um desafio: abra um jornal e leia as notícias


internacionais. Com certeza, você terá condições de fazer
uma leitura muito mais interessante delas e, em alguns
casos, conhecendo o que você já conhece, poderá fazer
previsões acertadas.

Bons estudos, continue na sua caminhada e sucesso. E não


se esqueça de utilizar os conhecimentos em benefício da
humanidade.
Referências

ACCIOLY, H.; SILVA, G. E. do N. Manual de Direito Internacional


Público. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
_________ Manual de Direito Internacional Público. 17 ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.
ALMEIDA, E. A. P. de. Mercosul e União Européia: estrutura jurídico-
institucional. Curitiba: Juruá, 1996.
CASELLA, P. de B. Mercosul: exigências e perspectivas – integração e
consolidação de espaço econômico (1995-2001-2006). São Paulo: LTr,
1996.
Christus Rex et Redemptor Mundi. Città del Vaticano. Disponível em:
<http://www.christusrex.org/www1/citta/Bb-Basilica.jpg>. Acesso
em: 02 jun 2010 [il.]
Comunicação Social - Jornalismo UFS (Turmas A0 e B0). Técnica
de Produção, Reportagem e Redação Jornalística.Disponível
em: <http://empautaufs.files.wordpress.com/2009/07/lula_
posse_2003_632.jpg>. Acesso em: 03 maio 2010. [il.]GUERRA, Sidney.
Direito Internacional Público. 4 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009.
MELLO, C. D. de A. Direito Internacional da integração. Rio de
Janeiro: Renovar, 1996.
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional
público. 15. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. 2 v..
MONSERRAT FILHO, J. O que é Direito Internacional. Coleção
Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
Photobucket. Vaticano Mapa photos. Disponível em: <http://media.
photobucket.com/image/vaticano%20mapa/GN30/vaticano.jpg>.
Acesso em: 02 jun. 2010. [il]
RANGEL, V. M. Direito e relações internacionais. 4 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993.
RANGEL, Vicente Marotta. Direito e relações internacionais. 8. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
REZEK, J. F. Direito Internacional Público: curso elementar. 6 ed.
São Paulo: Saraiva, 1996.
Universidade do Sul de Santa Catarina

_________ Direito Internacional Público: curso elementar. 12 ed. São


Paulo: Saraiva, 1996.
SABATOVSKI, E.; FONTOURA, I. P.; FOLMANN, M. (org.). Constituição
Federal 1988 e convenções internacionais. Curitiba: Juruá, 2002.
SEITENFUS, R. A. S. Manual das organizações internacionais. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 1997.
SEITENFUS, R.; VENTURA, D. Introdução ao Direito Internacional Público.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999.
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e; ACCIOLY, Hildebrando; CASELLA,
Paulo B. Manual de direito internacional público. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2010.
SOUTO, C. Introdução crítica ao Direito Internacional Privado. 2 ed.
Porto Alegre: S.A.Fabris, 2000.
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva,
2009.
VESENTINI, J. W. Sociedade e espaço: geografia geral e do Brasil. 40 ed.
São Paulo: Ática, 1998.

166
Sobre a professora conteudista

Milene Pacheco Kindermann

Graduada em Direito pela UNISUL - Universidade


do Sul de Santa Catarina. Especialista em Teoria
Econômica e em Dogmática Jurídica, ambas pela
UNISUL. Doutora em Derecho y Ciências Sociales pela
Universidad del Museo Social Argentino, de Buenos
Aires, Argentina. Professora de Direito Internacional
Público e de Direito Internacional Privado no Curso
de Relações Internacionais da UNISUL, no campus
de Tubarão. Coordenadora do Curso de Relações
Internacionais da UNISUL.

Deisi Cristini Schveitzer

Mestre em Relações Internacionais para o


MERCOSUL. Professora Universitária da UNISUL
Coordenadora Pedagógica dos Cursos de Especialização
Unisul - LFG - Direito Constitucional e Direito
Processual Grandes Transformações.
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Confira se a sua resposta atingiu a expectativa desejada. Se


você ficou muito distante da resposta, reveja o conteúdo.
Sugerimos que não passe adiante sem ter se apropriado do
assunto:

Unidade 1
1) Usando a teoria dualista, o Estado não fica obrigado a inserir
o tratado dentro do seu ordenamento jurídico de imediato,
porque os direitos vivem em dois ambientes distintos, que
só se inter-relacionam quando há convergência entre as
duas normas. Nesse caso, como há divergência de normas,
prevalece a norma interna e há a necessidade de esperar que
a legislação interna se modifique, proibindo o uso de armas
de fogo pelo cidadão comum, para que o tratado possa ser
aplicado no território do país.
2) Usando a teoria monista internacionalista, o Estado trata
os dois direitos como um só e, nesse caso, dá preferência
para o Direito Internacional. Na prática, o tratado prevalece
sobre a lei interna e passa a ser proibido o uso de armas
de fogo pelo cidadão comum dentro do território do país,
dando cumprimento ao Direito Internacional e derrubando
(revogando) a lei interna.
3) No caso de uso da teoria monista nacionalista, o Estado
trata os dois direitos como um só e, neste caso, o tratado
fica condicionado ao tratamento (importância) que a
norma interna (geralmente a Constituição do país) lhe der.
Assim, assinado o tratado, devem-se obedecer as regras de
internalização (como entra no ordenamento interno) do
tratado e saber em que posição legal ele será usado. Após
esse processo, passa a valer o tratado dentro do país. Até o
processo ser terminado, ainda vale a lei interna.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 2
1) Praticamente todos os atos unilaterais podem incidir sobre um
tratado. É o caso do reconhecimento, quando os Estados criam uma
organização internacional e os demais Estados que não participam
do tratado, reconhecem a criação dessa organização como uma
personalidade nova no cenário internacional. O protesto também pode
ser feito perante um tratado, quando um Estado, que não participa do
tratado, sente-se ofendido pelo que está sendo acordado no tratado,
protestando.
A notificação incide quando uma parte do tratado quer informar
oficialmente a outra parte (ou as outras partes) de algum ato, por
exemplo, a ratificação do tratado. A renúncia incide diretamente no
tratado quando um dos países, que tem um direito ou uma vantagem
a receber no tratado, renuncia a esse direito. A denúncia incide no
tratado quando um país membro do tratado resolve retirar-se do pacto,
deixando de fazer parte daquele tratado. A adesão, ao contrário da
denúncia, incide num tratado quando um Estado quer entrar para o
grupo que compõe o tratado, pedindo o seu ingresso no tratado.
2) O tratado somente passa a vigorar no território nacional após a
publicação do decreto presidencial no Diário Oficial da União, que
introduz o texto do tratado, conforme foi assinado na primeira fase do
processo, dentro do ordenamento jurídico interno. Somente depois
disso é que nós, brasileiros, passamos a usar o tratado como lei interna.
3) Dependendo do assunto do tratado, ele pode assumir três posições
diferentes. Se for um tratado em matéria de direitos humanos, ele
passará a vigorar como uma emenda à Constituição, derrubando
todas as leis contrárias ao seu conteúdo, que estiverem abaixo da
Constituição. Se for um tratado em matéria tributária, ele obedecerá a
Constituição, mas revogará as leis complementares mais antigas e todas
as leis abaixo das leis complementares (leis ordinárias, leis delegadas,
etc.).
Já, se for um tratado em qualquer outra matéria, ele entrará em vigor
na posição de lei ordinária, obedecendo o que dispõem a Constituição
e as leis complementares. Ele revogará as leis ordinárias mais antigas
(anteriores ao tratado) e vai revogar as leis inferiores (leis delegadas,
medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções).

170
Direito Internacional

Unidade 3
1) Se a Palestina atualmente fosse um Estado plenamente reconhecido,
essa situação se daria por separação da pátria-mãe, neste caso Israel,
que permaneceria existindo, mas com diminuição de seu território. A
autoridade palestina (OLP), atualmente reconhecida, seria o Governo
soberano do país, com poderes de autonomia e independência. A
Palestina poderia conceder nova nacionalidade à população que reside
em seu território, seja em sistema de nacionalidade exclusiva ou com
dupla nacionalidade. Celebraria novos tratados, herdaria de Israel os
bens públicos referentes ao seu território, mas, também, as dívidas
concebidas em função de seu território.
2) Trata-se de crime ocorrido a bordo de embarcação civil e não estatal.
Nesses casos, aplica-se o princípio da territorialidade. Se o navio
estiver em mar territorial brasileiro, serão aplicadas a lei e a jurisdição
brasileiras. Se estiver em alto-mar, será aplicada a lei do seu território
de origem, ou seja, como em alto-mar considera-se patrimônio comum,
sendo que nenhum Estado tem jurisdição nessa área, o que vale é a
legislação e a jurisdição do Estado do navio, ou seja, como o navio é
grego, valerão a legislação e a jurisdição gregas. Já se o navio estiver
em mar territorial de outro país, como Portugal, vale a lei do país em
que se encontra, pelo princípio da territorialidade. Assim, no terceiro
caso, serão aplicadas a lei e a jurisdição portuguesas.
3) Tabela comparativa entre repatriação, deportação, expulsão e
extradição:

Repatriação Deportação Expulsão Extradição

O estrangeiro já é O estrangeiro é O estrangeiro está no O estrangeiro está regular no


rejeitado, por medida pego em situação território regularmente território do país, mas está
de polícia, antes do irregular dentro do (ou não) e comete atos sendo requerido por outro
ingresso no país, nem território do país e nocivos ao país, como um país, em cujo território
chegando a entrar. retirado por medida crime, sendo processado, cometeu um crime. Por força
Pode retornar ao país de polícia, condenado, e tendo de tratado de extradição,
novamente. sendo que pode decretada a sua expulsão verificadas as condições
retornar ao território pelo Chefe de Estado, necessárias, esse indivíduo é
do país, uma vez via decreto, o que o entregue ao país solicitante,
regularizada a sua impossibilita de retornar podendo retornar após ter
situação. futuramente ao país. cumprido sua pena.

171
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 4
1)

Solução judiciária Arbitragem

Existe antes do conflito. Pode existir antes ou após o conflito.

Pode ser convencionada ou aceita Só existe mediante convenção (compromisso


tacitamente. arbitral ou cláusula compromissória).

Os juízes são permanentes na Corte e não Os árbitros são livremente escolhidos pelas
podem ser escolhidos pelas partes. partes.

O procedimento é o previsto no estatuto da O procedimento é escolhido pelas partes


Corte, não podendo ser modificado pelas envolvidas no litígio, quando da elaboração do
partes. compromisso arbitral.

A decisão da Corte é baseada no Direito A decisão arbitral pode ser baseada em direito
Internacional e vira jurisprudência ou em equidade e somente se aplica a cada caso
internacional. em particular.

2) A retorsão é conhecida como a Lei de Talião (olho por olho, dente por
dente), e consiste na aplicação, quando possível, da mesma medida
coercitiva, forçando o outro país a voltar atrás ou deixar de praticar
o ato ofensor. Já a represália é conhecida como legítima defesa. Ela é
aplicada quando não é possível a retorsão, ou seja, não dá para agir na
mesma moeda, mas é preciso agir coagindo o Estado ofensor a parar
com a ofensa, por meio de outro tipo de ato agressor.
3) O mediador, assim como o árbitro, é uma pessoa da confiança das
partes, mas sua atuação se diferencia do árbitro porque ele busca
solucionar o conflito convencendo as partes a chegarem num acordo,
enquanto que o árbitro chega à solução do conflito por meio de uma
decisão (laudo arbitral) imposta. O mediador faz a figura do “advogado
do diabo”, falando a favor e contra as duas partes, isto é, advoga em
favor de ambas, mostrando os prós e os contras da situação conflituosa
e os benefícios de se chegar a um acordo. Já o árbitro funciona como
um verdadeiro juiz, dizendo quem tem o direito a quê.

Unidade 5
1) A segunda questão é de livre resposta.

172
Direito Internacional

Unidade 6
1) A resposta correta é quatro. Observe: o negócio (contrato) está sendo
feito no Brasil, portanto, a primeira lei a ser pesquisada é a do Brasil, pois
aqui é o local do ato. Como o negócio envolve imóvel, cabe a lei do local
do imóvel para o cumprimento do contrato, isto é, para a transferência
posterior do imóvel. Como o imóvel está situado no Peru, a segunda lei a
ser utilizada é a do Peru.
Para que esse negócio tenha validade, é preciso saber se as partes são
capazes para realizar o contrato. E isso é visto a partir da lei pessoal de
cada parte contratante. Como o elemento de conexão que define as leis
pessoais é o domicílio, deve ser feita a pesquisa na lei do domicílio de
cada contratante. Assim, para Alberto aplica-se a lei de seu domicílio,
sendo que a terceira lei a ser consultada é a lei do Chile. Já para o
vendedor, apesar de ser russo, aplica-se a lei do seu domicílio, sendo que
a quarta lei a ser consultada é a da Venezuela. Portanto, são quatro leis a
serem pesquisadas.

2) Situação 1.
a) Como o negócio está acontecendo aqui no Brasil, utilizando-se a teoria
do envio, deve-se buscar diretamente na lei de fundo do outro país,
caso haja remessa. Neste caso, a lei brasileira indica o domicílio como
elemento de conexão para leis pessoais. Assim, a brasileira que está
contratando é residente no Egito. Para ela, então, aplica-se a legislação de
fundo egípcia. Ela tem que possuir mais de 21 anos para poder contratar.
Já o alemão é residente na Alemanha e para ele se aplica a lei de fundo
alemã. Portanto, o alemão tem que possuir mais de 16 anos para poder
contratar.
b) Como o negócio está ocorrendo no Brasil, utilizando-se a teoria
do reenvio, deve-se buscar a Lei de Foro do outro país, e, se essa fizer
remessas, deve-se atender a essas remessas. Nesse caso, a lei brasileira
indica o domicílio como elemento de conexão para leis pessoais. No caso
da brasileira, seu domicílio é o Egito, então deve-se pesquisar a Lei de
Foro do Egito.
A Lei de Foro egípcia indica o critério de nacionalidade como elemento
de conexão para leis pessoais. Assim, sendo a brasileira nacional do
Brasil, a lei que se deve buscar é a Lei de Foro brasileira. Como ela já foi
pesquisada, vemos aqui a ocorrência do fenômeno da devolução. Por
isso, aplica-se a ela a Lei de Fundo brasileira. Portanto, para fazer este
negócio, ela deve ter mais de 18 anos.
Já para o alemão, a Lei de Foro brasileira indicará a Lei de Foro alemã.
Essa, por sua vez, indica o critério da territorialidade como elemento de
conexão. Sendo o território onde está acontecendo o ato o território
brasileiro, há a devolução para a lei brasileira. Assim, também para o
alemão aplica-se a Lei de Fundo brasileira, exigindo-se que ele tenha
mais de 18 anos para realizar o negócio.

173
Universidade do Sul de Santa Catarina

Situação 2.
a) Neste caso, como o negócio está sendo feito no Brasil, a legislação
de foro brasileira indica o local do ato como elemento de conexão.
Como o local do ato é no Brasil, significa que a lei brasileira de fundo
é competente para ser aplicada ao caso, não havendo necessidade de
remessa à lei estrangeira, seja pela teoria do envio ou pela teoria do
reenvio.
b) Neste outro caso, como o negócio está sendo feito no Brasil, a
legislação de foro brasileira indica o local do ato como elemento de
conexão. Como o local do ato é no Brasil, significa que a lei brasileira
de fundo é competente para ser aplicada ao caso, não havendo
necessidade de remessa à lei estrangeira, seja pela teoria do envio ou
pela teoria do reenvio.

Situação 3.
a) Neste caso, o negócio está sendo feito no Egito. Como a Lei de Foro
Egípcia indica o elemento de conexão “lei do local da execução” para
reger os contratos, há que se buscar a lei deste local de execução (no
caso o Brasil) para ser aplicada. Como a teoria do envio não admite
novas remessas, neste caso, será aplicada, no Egito, diretamente, a Lei
de Fundo brasileira.
b) Neste caso, o negócio está sendo feito no Egito. Como a Lei de Foro
egípcia indica o elemento de conexão “lei do local da execução” para
reger os contratos, há que se buscar a lei desse local de execução (no
caso o Brasil) para ser aplicada. Como a teoria do reenvio remete para
a Lei de Foro do outro país, deve-se verificar o elemento de conexão
da Lei de Foro brasileira. Essa indica o “local do ato”como elemento de
conexão. Como o ato está acontecendo no Egito, a Lei de Foro brasileira
indica a lei egípcia como a lei a ser aplicada, ocorrendo a devolução.
Nesta situação, a lei cabível é a Lei de Fundo egípcia.

174
Biblioteca Virtual

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9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.
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