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José Luís de Castro Neto

Renata Sena Gomes Sérgio

Análise de Risco e Crédito

2009
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito
dos autores e do detentor dos direitos autorais.

C355 Castro Neto, José Luís de; Sérgio, Renata Sena Gomes. / Aná-
lise de Risco e Crédito. / José Luís de Castro Neto; Renata
Sena Gomes Sérgio. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009.
212 p.

ISBN: 978-85-387-0805-6

1. Crédito – Administração. 2. Administração de risco. 3. Cré-


ditos. I. Título.

CDD 658.88

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Istock Photo e Jupiter Images/DPI Images

Todos os direitos reservados.

IESDE Brasil S.A.


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José Luís de Castro Neto

Doutor em Controladoria e Contabilidade pela


Universidade de São Paulo (USP), com formação com-
plementar na University Of Illinois at Urbana Cham-
paign, UIUC, Estados Unidos. Mestre em Controlado-
ria e Contabilidade pela USP. Graduado em Ciências
Contábeis pelo Centro Unificado de Brasília (CEUB),
em Brasília. Atualmente é professor assistente gra-
duado da Faculdade Trevisan Ltda, e professor assis-
tente associado da Universidade Presbiteriana Ma-
ckenzie. Tem experiência na área de Contabilidade,
com ênfase em Contabilidade Internacional, atuando
principalmente nos seguintes temas: convergência as
normas contábeis internacionais, diferenças culturais
na prática da contabilidade, governança corporativa,
evidenciação contábil e negócios internacionais.

Renata Sena Gomes Sérgio

Mestre em Ciências Contábeis com ênfase em


gestão empresarial pela Fundação Visconde de Cairu
(FVC). Especialista em Contabilidade Gerencial pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialis-
ta em Controladoria pela FVC. Bacharel em Ciências
Contábeis pela FVC. Atualmente é coordenadora pe-
dagógica do curso de ciências contábeis na União
Metropolitana de Ensino (Unime). Tem experiência na
área de Ciências Contábeis, atuando principalmente
nos seguintes temas: contabilidade financeira, geren-
cial, tributária, hospitalar, estratégias competitivas e
microempresas.
Sumário
Intermediação financeira....................................................................................13
Introdução...................................................................................................................................................13
Moeda...........................................................................................................................................................14
Intermediários financeiros.....................................................................................................................14
Sistema Financeiro Nacional (SFN).....................................................................................................16
Conceito e relevância do crédito.........................................................................................................20
Introdução ao risco de crédito.............................................................................................................21

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições).............31


Introdução...................................................................................................................................................31
Caráter...........................................................................................................................................................32
Capacidade..................................................................................................................................................33
Capital...........................................................................................................................................................36
Condições....................................................................................................................................................38
Considerações finais.................................................................................................................................42

Garantias...................................................................................................................47
Introdução...................................................................................................................................................47
Formalização...............................................................................................................................................50
Garantias pessoais....................................................................................................................................51
Garantias reais............................................................................................................................................55
Conclusão.....................................................................................................................................................59

Risco e crédito.........................................................................................................67
Introdução...................................................................................................................................................67
Conceito e classificação..........................................................................................................................68
Diversificação de riscos...........................................................................................................................73
Rating.............................................................................................................................................................76
Conclusão.....................................................................................................................................................77
Análise de crédito..................................................................................................85
Introdução...................................................................................................................................................85
Análise subjetiva........................................................................................................................................86
Indicadores econômico-financeiros . ................................................................................................93
Conclusão.....................................................................................................................................................96

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I............................ 103


Introdução.................................................................................................................................................103
Principais demonstrações contábeis, financeiras e complementares.................................104
Relatório da administração..................................................................................................................104
Balanço Patrimonial................................................................................................................................105
Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE).....................................................................111
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)................................................112
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)......................................................................................113
Demonstração do Valor Adicionado (DVA)....................................................................................116
Notas explicativas...................................................................................................................................118
Parecer da auditoria...............................................................................................................................118
Conclusão...................................................................................................................................................119

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II.......................... 127


Introdução.................................................................................................................................................127
Análise horizontal e vertical................................................................................................................127
Análise através de índices econômico-financeiros.....................................................................131
Conclusão...................................................................................................................................................138

Análise de capital de giro................................................................................. 145


Introdução.................................................................................................................................................145
Investimento Operacional em Giro (IOG)
ou Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG).................................................................147
Efeito tesoura............................................................................................................................................150
Capital Permanente Líquido (CPL)....................................................................................................152
O ciclo financeiro e o saldo em tesouraria.....................................................................................152
Conclusão...................................................................................................................................................156
Controle e qualidade do crédito.................................................................... 163
Introdução.................................................................................................................................................163
Monitoramento do crédito..................................................................................................................163
Deterioração dos créditos concedidos............................................................................................164
Causas de créditos problemáticos....................................................................................................165
Meios legais para recuperação de crédito.....................................................................................170
Conclusão...................................................................................................................................................174

Processo de cobrança........................................................................................ 181


Introdução.................................................................................................................................................181
Alertas de risco.........................................................................................................................................182
Medidas preventivas..............................................................................................................................183
O processo de cobrança.......................................................................................................................183
Renegociação...........................................................................................................................................184
Recuperação judicial..............................................................................................................................186
Recuperação extrajudicial....................................................................................................................187
Falência.......................................................................................................................................................188
Conclusão...................................................................................................................................................191

Gabarito.................................................................................................................. 199

Referências............................................................................................................ 205

Anotações.............................................................................................................. 211
Apresentação
A disciplina “Análise de Risco de Crédito” tem o escopo
de fornecer informações básicas e essenciais sobre as ativi-
dades de análise do risco de crédito feitas pelas instituições
financeiras de seus clientes. Para isso, este livro está estru-
turado em 10 capítulos, organizados de forma sequencial
e lógica para que o aluno tenha bom aproveitamento.

O capítulo 1 fala sobre a intermediação financeira


que mostra o cotidiano das instituições que manipulam e
intermediam o papel-moeda, a moeda metálica e os títu-
los financeiros e de crédito.

O assunto do capítulo 2 é os “4 (quatro) Cs do crédito”.


Este capítulo pretende fornecer condições para a identi-
ficação de alguns critérios subjetivos e financeiros, geral-
mente adotados pelas instituições financeiras, na análise
do eventual tomador de empréstimos. O que se preten-
de destacar são os diferentes critérios que são aplicados
às propostas de negócio pelos gerentes das instituições
financeiras.

O capítulo 3 trata das garantias, esse capítulo mostra


que todo estabelecimento que concede crédito ao consu-
midor exige uma garantia do seu cliente, como forma de
minimizar o risco do não recebimento do valor empres-
tado. As instituições financeiras que concedem crédito a
seus clientes exigem, igualmente, uma garantia para fazer
face ao risco da operação. Caso o devedor não pague a
obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um
ressarcimento de parte ou do total do valor emprestado.

O capítulo 4, sobre risco de crédito, explica que o


conceito do risco está relacionado à possibilidade de
perigo de não se receber o valor emprestado. No mundo
empresarial, mais especificamente em relação ao risco de
crédito, o conceito está relacionado às incertezas e às pos-
sibilidades de perda em determinadas operações.

O capítulo 5, “Análise de crédito”, compreende a apli-


cação de técnicas subjetivas, financeiras e refere-se às
medidas estatísticas comumente utilizadas para avaliar a
capacidade de pagamento do tomador de recursos, que
é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados
alguns critérios subjetivos, financeiros e estatísticos geral-
mente adotados pelas instituições financeiras na análise
de crédito.

O capítulo 6, “Análise das demonstrações contábeis


e financeiras I”, mostra as demonstrações contábeis que
são instrumentos comumente usados pelos analistas de
crédito para investigar a saúde financeira das empresas.
As demonstrações referidas são: balanços patrimoniais,
demonstrações do resultado do exercício, demonstração
das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos
fluxos de caixa e demonstração do valor adicionado. (De
acordo com a Lei 11.638/07).

O capítulo 7, “Análise das demonstrações contábeis


e financeiras II”, estuda, de um modo geral, a análise eco-
nômico-financeira, que tem como elementos básicos as
demonstrações contábeis, particularmente o balanço pa-
trimonial e a demonstração dos resultados do exercício. A
partir dessas demonstrações é possível obter informações
relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco
nas operações contratadas pela empresa.

O capítulo 8, “Análise do capital de giro”, estuda seu


principal objetivo que é avaliar a capacidade da empresa
em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, o
cálculo dos índices de liquidez não são suficientes “para ava-
liar a capacidade da empresa de pagar seus compromissos
imediatos”. Portanto, os analistas recorrem a outras técnicas
para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa
sobre a liquidez da empresa e sua estrutura de capital.
O capítulo 9, “Controle e qualidade do crédito, mostra
que as empresas necessitam de recursos para atenderem
às suas necessidades de investimento e suprimento de ca-
pital de giro. Cabe às instituições financeiras financiar esses
recursos, desde que as empresas atendam às exigências
normativas dos bancos. O crédito aparece para avaliar o
risco e apoiar na decisão e formalização da operação.

E por último, o capítulo 10, “Processo de cobran-


ça”, mostra como ele deve ser precedido por ações que
deixem a cobrança judicial para último caso, devido à len-
tidão burocrática excessiva que costuma acompanhar os
processos. Devem as instituições responderem aos alertas
de risco de inadimplência do devedor com ações firmes,
mas cordatas, rumo à renegociação para reaver o montan-
te emprestado.
Intermediação financeira

Introdução
No cotidiano de nossas vidas, necessitamos de instituições que nos ajudem a manipu-
lar e a intermediar o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos financeiros e de crédito.

Existem tipos de entidades que servem como intermediários financeiros, colo-


cando-se entre nós e o dinheiro. Essas entidades são úteis na Economia, pois fazem
circular a riqueza.

Para Silva (2000, p. 26), a satisfação das necessidades fundamentais como alimen-
tação, saúde, habitação e segurança é facilitada pelos serviços financeiros, e eles são
proporcionados pelos intermediários que são os bancos e outras entidades que fazem
parte do Sistema Financeiro Nacional.

Fortuna (1999, p. 12) faz uma conceituação abrangente para o sistema financeiro:“con-
junto de instituições que se dedica, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições
satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores”.

A atividade principal das instituições financeiras é a intermediação de recursos,


pois é ela que viabiliza a captação de recursos de seus clientes, do mercado financeiro
e de capitais, repassando-os, posteriormente, sob a forma de empréstimos, na expec-
tativa de auferirem ganhos.

“Banco” é umas das instituições financeiras componentes do Sistema Financeiro


Nacional (SFN), organizada para intermediar recursos. Esses são expressos principal-
mente sob forma de moeda e títulos, sendo a moeda o facilitador de trocas entre os
agentes econômicos.

Quando se pensa em moeda, imagina-se, logo, que o dinheiro seja em moeda-


-papel (nota simples) ou em moedas-metálicas (frações de papel-moeda), mas quando
fazemos depósitos em dinheiro na nossa conta em determinado banco, tais recursos
nos habilitam a emitir cheques para pagar compras diversas, nessa situação, tais che-
ques desempenham a mesma função do dinheiro. Assim, por uma questão de lógica,
devemos incluir no conceito de moeda os depósitos à vista. Segundo a teoria econô-
mica existem outros conceitos de moeda, mas não serão abordados neste curso.

13
Moeda
A moeda é um bem de aceitação geral que tem várias funções, sendo as principais
de servir de intermediário de trocas, medida de valor e reserva de valor.

Como intermediária de trocas, a moeda superou a economia do escambo (simples


troca, sem moeda) e passou, então, a ser utilizada para troca entre as pessoas, repre-
sentando bens e mercadorias. Na fase do escambo e na ausência de moeda, os povos
trocavam bens entre si, avaliando cada um pelo valor relativo que eles apresentavam
para as partes.

Como medida de valor, a moeda serve como padrão de medida. Assim, todos os
bens e serviços que são avaliados por ela serve de denominador comum de preços.

Como reserva de valor, a moeda constitui-se em reservatório de poder e de compra.


Em diversos povos, a quantidade menor ou maior de moeda confere ao seu titular de-
terminada posição na sociedade. No entanto, existem outros ativos que também de-
sempenham o papel de reserva de valor como: ouro, diamantes, terras etc.

Intermediários financeiros
O mercado financeiro pode ser classificado como elemento dinâmico no processo
de crescimento econômico. Ele também é o responsável pelo controle das taxas de
poupança e investimento.

O mercado financeiro opera através dos intermediários financeiros e agentes eco-


nômicos. Os intermediários financeiros são instituições financeiras, como os bancos,
que negociam a moeda, emprestando-a ou tomando-a emprestado. São autorizados
a emitir títulos contra si mesmos para obterem recursos (moeda) junto aos agentes
econômicos (SILVA, 2000, p. 31).

O intermediário financeiro aproxima-se dos ofertadores e tomadores de recursos,


cobrando spreads e taxas de prestação de serviço. Definição corrente de mercado in-
forma que spread é a
Análise de Risco e Crédito

[...] diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e
aquela que recebem ao aplicá-los - seja emprestando ao governo ou ao setor privado
(pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em
Administração) considera nos cálculos do “spread” total também as taxas de serviços
cobradas pelas instituições financeiras. (BALBI, 2006)

Os ofertadores de recursos são os agentes econômicos que acumularam poupan-


ça, apresentando situação orçamentária de excesso de recursos.

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Os tomadores de recursos são os agentes econômicos que necessitam de volume
determinado de moeda para realizar objetivo de interesse próprio, quer seja saldando
dívidas, ou realizando investimentos lucrativos.

Custo da intermediação financeira


Um aspecto relevante quando se trata de intermediação financeira é o custo
dessa atividade. Ela está diretamente ligada à taxa de juros praticada pela instituição
financeira e balizada pelo Banco Central.

As instituições financeiras e o mercado criaram mecanismo através do qual os


recursos fluem entre poupadores e investidores. O nível do fluxo desses fundos pode
afetar significativamente o crescimento econômico do país. A taxa de juros atua como
um regulador que controla o fluxo de recursos entre poupadores e investidores. Sobre
o assunto, Gitman pondera:
“[...] quanto mais baixas as taxas de juros, maior será o fluxo de fundos e, consequentemente, maior
será o crescimento econômico; quanto mais altas as taxas de juros, menor será o fluxo de fundos e
menor será o crescimento econômico”. (Gitman, 2004, p. 41)

Segundo o mesmo autor, a taxa de juros é a compensação paga pelo tomador


dos fundos ao credor; do ponto de vista do tomador de fundos, é o custo de tomar
emprestado os recursos.

A taxa de juros (ou preço do capital emprestado) está baseada na escassez dos
bens e destina-se, também, a remunerar o emprestador pelo risco assumido no caso
de não receber as parcelas do empréstimo concedido na data acordada.

A taxa de juros ou o retorno requerido representa o custo do dinheiro que é o alu-


guel que um tomador de recursos deve pagar a um fornecedor pelo uso dos recursos
no prazo acordado. Assim, podemos dizer que:

Quando os fundos são emprestados, o custo de tomar os fundos é a taxa de


juros;

Quando os fundos são obtidos através da venda de um direito de propriedade


– como na vendas de ações – o custo do emissor é normalmente chamado de
retorno requerido, o qual reflete o nível de retorno esperado pelo fornecedor
Intermediação financeira

de fundos.

Outra conceituação atribuída ao juro é dada por Assaf Neto (2008, p. 98) “para
quem o juro é a remuneração que o tomador (captador) de um empréstimo paga a um
doador (aplicador) de recursos”.

15
A taxa de juros está ligada às operações de intermediação financeira por repre-
sentar o preço de troca dos ativos disponíveis em diferentes momentos ou períodos de
tempo. Ela também reflete o preço pago pelo sacrifício de poupar, ou seja, é a remune-
ração de um agente econômico ao decidir postergar o próprio consumo, transferindo
seus recursos a outro agente.

Sistema Financeiro Nacional (SFN)


O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por “um conjunto de instrumentos
e instituições que funcionam como meio para realização da intermediação financeira
[...]” (SILVA, 2000, p. 42).

Aproximando os agentes superavitários – ofertadores de recursos – dos agentes


deficitários – tomadores de recursos –, o SFN viabiliza a realização dos objetivos de
ambos os grupos, fazendo com que contribuam para a circulação da riqueza no país.

As entidades que formam o SFN podem ser subdivididas em dois subsistemas: a)


Normativo; e b) Operativo.

O subsistema normativo é responsável pela normatização e controle das insti-


tuições que operam no mercado. É formado pelo Conselho Monetário Nacional, Banco
Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social e pela Comissão de Valores Mobiliários (SILVA, 2000, p. 42). Essas instituições
encontram-se descritas abaixo:

Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão responsável pela fixação de


diretrizes das políticas monetária, creditícia e cambial do país.

Banco Central do Brasil (BACEN) – órgão encarregado de fazer cumprir as


disposições que regulam o funcionamento do SFN e as normas expedidas
pelo CMN. Outra função do Banco Central é a de controlar a oferta de dinheiro
no mercado.

Se o BACEN deseja estimular a economia, ele aumenta a oferta de dinheiro. Uma


forma de fazer isso é reduzindo a taxa de juros. No entanto, a grande oferta de dinheiro
pode levar a um aumento da taxa de inflação, cabendo ao próprio BACEN servir de
Análise de Risco e Crédito

balizador nesse processo.

Além do CMN e do BACEN existem as autoridades de apoio ao SFN, que são:

Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – o órgão normativo do Sistema


Financeiro Nacional, especificamente voltado para o desenvolvimento, dis-
ciplina e fiscalização do mercado de valores mobiliários (títulos). Seu poder

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de normatizar abrange todas as matérias referentes ao mercado de valores
mobiliários.

Banco do Brasil – considerado um conglomerado financeiro que atua como


banco múltiplo tradicional, embora ainda opere como agente financeiro do go-
verno federal, sendo o principal executor da política financeira do governo.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – res-


ponsável pela política de investimentos de longo prazo do governo federal.

Caixa Econômica Federal (CEF) – responsável pela operacionalização das po-


líticas do governo federal para a habitação popular e saneamento básico.

De modo geral, as instituições financeiras são responsáveis pela transmissão e


manutenção da política monetária nacional, além de manter a economia em plena ca-
pacidade produtiva. A figura a seguir mostra um organograma que evidencia a relação
do CMN com os principais órgãos do SFN.

(BOVESPA, 2006. Adaptado.)


Conselho Monetário Nacional
CMN

Banco Central do Brasil Comissão de Valores Mobiliários


BCB CVM

Sociedades Corretoras Bolsa de Valores

Figura 1 – Organograma dos principais órgãos vinculados ao Sistema Monetário Nacional (SMN).

O subsistema operativo é formado pelas instituições financeiras (bancárias e não


bancárias) que operam diretamente na intermediação financeira. As instituições que
fazem parte desse subsistema são compostas por bancos comerciais, caixas econômi-
cas estaduais, bancos de desenvolvimento, bancos de investimentos, sociedades de
crédito, financiamento e investimento (financeiras), sociedades corretoras, sociedades
distribuidoras, sociedades de arrendamento mercantil (leasing), sociedades de crédito
Intermediação financeira

imobiliário e bancos múltiplos. A descrição dessas instituições encontra-se abaixo:

Bancos Comerciais – têm como objetivo proporcionar o suprimento opor-


tuno e adequado dos recursos necessários para financiar, a curto e médio
prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e as pes-
soas físicas. Para tanto, os bancos comerciais podem descontar títulos, reali-
zar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente (contas

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garantidas), realizar operações especiais, inclusive crédito rural, de câmbio e
comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo fixo, obter recursos
junto às instituições oficiais para repasse aos clientes, obter recursos externos
para repasse, efetuar prestação de serviços, inclusive mediante convênio com
outras instituições e outros.

Bancos de Investimento – têm como principal objetivo o aumento do prazo


de operações de empréstimos e financiamentos, sobretudo para fortalecer o
processo de capitalização das empresas, através da compra de máquinas e da
subscrição de debêntures e ações. Esses bancos estão impedidos, legalmen-
te, de manter contas correntes em outras instituições financeiras. Elas captam
recursos pela emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e Reci-
bos de Depósitos Bancários (RDB) através de captação e repasse de valores de
origem interna ou externa, ou pela venda de cotas de fundos de investimento
por eles administrados.

Fortuna (2008, p. 33) sintetiza as operações ativas que podem ser praticadas pelos
bancos de investimento:
empréstimos a prazo mínimo de um ano para financiamento de capital fixo;

empréstimos a prazo mínimo de um ano para financiamento de capital de giro;

aquisição de ações, obrigações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para investimento
ou revenda no mercado de capitais (operações de underwriting);

repasses de empréstimos obtidos no exterior;

repasses de recursos obtidos no país;

prestação de garantia de empréstimos no país e provenientes do exterior.

Bancos de Desenvolvimento – são instituições responsáveis pela política de


investimento de médio e longo prazo do Governo Federal, sendo o BNDES o
seu principal representante para financiar em médio e longo prazo os setores
primário, secundário e terciário.

Caixas Econômicas – sua atividade principal integra o Sistema Brasileiro de


Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. Podem ser equi-
paradas aos bancos comerciais por captar depósitos à vista, realizar operações
Análise de Risco e Crédito

ativas (empréstimos, financiamentos etc.) e efetuar prestação de serviços, na


maioria das vezes para pessoas físicas. Também realiza atividades de financia-
mento de bens de consumo, empréstimo sob garantia de penhor industrial e
caução de títulos, e operações de empréstimo sob penhor de bens pessoais e

18
sob consignação. Atua como centralizadora do recolhimento e aplicação dos
recursos depositados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Sociedades de Crédito Imobiliário – foram criadas pelo Governo para finan-


ciar o mercado imobiliário, utilizando os recursos da caderneta de poupança.

Associações de Poupança e Empréstimo – são constituídas na forma de so-


ciedades civis, restritas a determinadas regiões, sendo de propriedade comum
de seus associados. Suas operações são semelhantes às sociedades de crédito
imobiliário.

Sociedades Corretoras – são sociedades típicas do mercado acionário e


operam na compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (in-
clusive ouro) por conta de terceiros. Elas operam nas bolsas de valores e de
mercadorias, e efetuam lançamentos públicos de ações, administram carteiras
e custodiam valores mobiliários, instituem, organizam e administram fundos
de investimento, operam no mercado aberto e intermediam operações de
câmbio.

Sociedades de Arrendamento Mercantil – a operação de leasing asseme-


lha-se a uma locação, tendo o cliente, ao final do contrato, as opções de reno-
vá-la, adquirir o equipamento pelo valor residual fixado em contrato, ou ainda
devolvê-lo à empresa. As empresas de leasing geralmente captam recursos de
longo prazo, como por exemplo, através da emissão de debêntures. A debêntu-
re é um valor mobiliário emitido por sociedades anônimas, representativo de
dívida que assegura o direito de crédito de seus detentores contra a compa-
nhia emissora.

Bancos Múltiplos – têm o objetivo de racionalizar a administração das insti-


tuições financeiras. De acordo com Fortuna (2008, p. 41), permite que institui-
ções, empresas de um mesmo grupo, constituam-se em uma única instituição
financeira com personalidade jurídica própria e, portanto, com um balanço
único, um único caixa e, consequentemente, significativa redução de custos.
Em tese, mantêm as mesmas funções de cada instituição em separado, com as
vantagens de contabilizar as operações como uma só instituição.

Por normas legais, as carteiras de um banco múltiplo envolvem a carteira co-


mercial (regulamentação do BACEN), carteira de investimento (regulamentação dos
Intermediação financeira

bancos de investimentos), carteira de crédito imobiliário (regulamentação das socie-


dades de crédito imobiliário), carteira de aceite (regulamentação das sociedades de
crédito, financiamento e investimento) e carteira de desenvolvimento (regulamenta-
ção dos bancos de desenvolvimento) e a carteira de leasing.

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Conceito e relevância do crédito
Schrickel (2000, p. 24) escreve que “crédito é todo ato de vontade ou disposição de
alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro,
com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente após decorrido
o tempo estipulado”.

O patrimônio referido deve ser próprio e pode estar na forma de dinheiro (em-
préstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento
parcelado).

Silva (2000, p. 63) conceitua “crédito, em sentido restrito e específico, como con-
sistindo na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento”.
Assim, em uma loja de produtos de informática, uma venda a crédito é caracterizada
pela entrega da mercadoria (computador, por exemplo) ao cliente, mediante promes-
sa de pagamento do comprador à loja, em uma ou mais parcelas, em um prazo futuro
estabelecido de comum acordo entre as partes.

Embora existam empréstimos gratuitos, não onerosos, no caso de operações


entre pessoas físicas, entre membros de mesma família, por exemplo, normalmente o
vendedor estipula uma taxa a ser paga pelo comprador pelo pagamento dos valores
no futuro, e não à vista.

No comércio e na indústria, o crédito geralmente assume o papel de facilitador da


venda (SILVA, 2000, p. 64). O crédito possibilita que o cliente veja atendida sua necessi-
dade, e que o comerciante aumente suas receitas de venda.

O crédito deve ser visto como um “produto” para as instituições financeiras. Assim,
negociar “crédito” pressupõe um adequado sistema de cadastro com informações de-
talhadas sobre seus clientes, e um sistema de avaliação do risco que, além de avaliá-los
pelo risco de não devolverem os recursos emprestados no prazo acordado, calcule o
limite de crédito máximo e mínimo para cada um. Enquanto que, em empresas comer-
ciais e industriais, é possível vender à vista ou a prazo, em bancos não há como fazer
empréstimo ou financiamento à vista (SILVA, 2000, p. 65).

Deve-se atentar para o fato de que, quando o banco está captando recursos (aco-
lhendo depósitos ou aplicações), quem assume o risco de crédito é o cliente. O banco
Análise de Risco e Crédito

nessa condição, não costuma exigir cadastro de seus clientes, mas eles poderiam (se
quisessem) exigir o “cadastro” do banco na forma de demonstrações contábeis e outras
informações que o gerente pudesse fornecer para provar que a instituição é idônea.

O crédito está inserido no contexto da intermediação financeira, sendo parte re-


levante da geração de receita do banco.

20
O crédito cumpre relevante papel econômico e social, pois viabiliza a circulação
da riqueza e o atendimento às necessidades dos agentes econômicos. Silva (2000, p.
68) escreve que o crédito a) possibilita que as empresas aumentem o seu nível de ati-
vidade; b) estimula o consumo, influenciando na demanda; c) ajuda as pessoas a ob-
terem moradia, bens e alimentos; d) facilitam a execução de projetos para os quais as
empresas não dispõem de recursos próprios suficientes.

Introdução ao risco de crédito


Intuitivamente, “risco” significa “incerteza”, “imprevisibilidade”, um fato que pode
acontecer e contrariar as expectativas iniciais.

“Risco de crédito” pode ser definido como a probabilidade de que o recebimento


não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. O risco está
presente nas decisões de crédito e está vinculado à “saúde financeira” do tomador de
empréstimo. Para avaliar o risco do tomador de empréstimo, a instituição financeira
deverá possuir funcionários capacitados, além de softwares e aplicativos específicos
para estimar o risco de cada cliente.

A importância da análise de risco nas decisões de crédito pode ser avaliada pela
seguinte citação de Schrickel (2000, p. 36) “a imprevisibilidade quanto ao futuro e ao
risco, deve ser adequada e suficientemente ponderada, a fim de minimizar os riscos
expostos do banco”.

A gestão do risco de crédito é motivo de preocupação do sistema financeiro inter-


nacional, que criou o Comitê da Basileia para reestruturar a “indústria” bancária, geren-
ciando e emitindo normas reguladoras do Sistema.

O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia congrega autoridades de supervisão


bancária e foi estabelecido pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do então,
“Grupo dos 10 (G-10)”, em 1975. É constituído por representantes de autoridades de
supervisão bancária e pelo Banco Central, reunindo-se no Banco de Compensações
Internacionais (BIS), na Basileia, Suíça, onde se localiza a sua secretaria permanente.
Em 1997, o Comitê da Basileia declarou que os mais sérios problemas bancários conti-
nuam se originando diretamente de problemas de administração de crédito. (CATTANI;
STADUTO, 2003).
Intermediação financeira

O Banco Central do Brasil vem implementando relevantes medidas com o intuito


de estimular as instituições financeiras a melhorar seus procedimentos de avaliação e
acompanhamento do risco de clientes, garantindo o funcionamento sem sobressaltos
do SFN.

21
As instituições financeiras tiveram de se adequar às novas normas que lhes foram
dirigidas pelo Banco Central, em um cenário de baixa inflação e aumento das disponi-
bilidades para empréstimos.

A Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999, do Banco Central do Brasil, com-


plementadas por resoluções posteriores, estabelece os critérios que devem ser obser-
vados pelas instituições financeiras na avaliação do risco de seus clientes e operações,
para fins do cálculo e constituição de provisão para risco de crédito.

Silva (2000, p. 75) escreve que os riscos de crédito de um banco podem ser classi-
ficados em quatro grupos: a) risco do cliente ou risco intrínseco; b) risco da operação;
c) risco de concentração; e d) risco da administração do crédito.

a) Risco do cliente ou risco intrínseco

Esse tipo de risco independe da vontade do cliente-tomador de empréstimos/fi-


nanciamentos do banco. Ele existe devido à possibilidade do não pagamento do valor
ao banco devido a conjunto de fatores associados ao devedor.

O crédito consiste em colocar à disposição do tomador determinado valor sob a


forma de empréstimo ou financiamento mediante promessa de pagamento. Essa pro-
messa de pagamento, em forma de documento, obriga o devedor a devolver os recur-
sos tomados. Silva (2000, p. 78-79) informa que os chamados “Cs do crédito” (Caráter,
Capacidade, Condições, Capital e Conglomerado) contêm as variáveis relacionadas ao
risco do cliente (intrínseco), as quais poderão fornecer a base para a classificação do
risco (rating).

b) Risco da operação

Silva (2000, p. 80) escreve que os principais elementos integrantes de uma ope-
ração são: (I) produto; (II) montante; (III) prazo; (IV) forma de pagamento; (V) garan-
tias; e (VI) preço. Segundo Silva, acima, cada um desses elementos apresenta um po-
tencial de risco. Assim, a inadequação da especificação do produto, ou em seu valor,
pode levar o cliente-tomador a descumprir a promessa de pagamento, ocasionando a
inadimplência.

Se o montante emprestado for acima da capacidade de pagamento do cliente-


-tomador, existe aí, também, risco de inadimplência. O mesmo raciocínio vale para o
Análise de Risco e Crédito

prazo no caso de ele ser muito longo, num contexto de crescente alta de juros, aumen-
ta-se o risco do não pagamento do empréstimo/financiamento concedido.

A forma de pagamento, associado ao prazo, pode constituir-se em fonte de risco


adicional, na medida em que dificulta o acesso do cliente-tomador aos recursos para
fazer o pagamento.

22
A garantia exigida do banco ao cliente-tomador tem influência significativa no
risco da operação. Assim, quanto maior for a garantia exigida, menor é o risco, pois
pressupõe-se que a garantia é executável (seu valor recuperável por venda ou utiliza-
ção) em valor suficiente para ressarcir o banco pelos recursos não devolvidos.

c) Risco de concentração

Silva (2000, p. 80) escreve que o risco de concentração decorre da composição da


carteira de recebíveis do banco quanto ao maior ou menor volume de recursos aplica-
dos em um só produto ou em uma mesma área geográfica.

Uma carteira de recebíveis é o volume de títulos a receber que o banco possui


derivados de operações firmadas com clientes-tomadores e outras contas.

A operação de endividamento de uma instituição dando como garantia títulos a


receber de clientes que ela têm em sua carteira leva o nome de securitização de recebí-
veis. As operações com recebíveis têm sua origem nos Estados Unidos e Europa. Essa
operação visa captar recursos no mercado, via emissão de títulos próprios, dando-se
como garantia as contas a receber que a instituição possui.
Tais operações oferecem grandes vantagens tanto para o investidor quanto para o tomador
de recursos financeiros. A estruturação destas operações faz com que haja uma venda
dos recebíveis a uma entidade neutra (Trust) que os usa como lastro para a emissão de
endividamento de tal modo que o comprador destes títulos não fique exposto ao risco do
gerador do seu lastro. O Trust, além de isolado do grupo comercial gerador dos recebíveis,
tem seu fluxo de caixa monitorado pelo Trustee (supervisor do “Trust”) o que assegura uma
boa liquidação dos títulos independentemente da necessidade do acionamento jurídico
das garantias constituídas. (pavarini, 2008)

A concentração de operações em um só cliente aumenta o risco da empresa.


Assim, quanto maior for a concentração de empréstimos para capital de giro a poucos
clientes, maior será o risco do não recebimento de valores dessa carteira.

Silva (2000, p. 80) acrescenta que o risco de uma carteira de crédito é diferente
dos riscos de suas operações individuais, em razão das correlações que possa haver
entre os diversos segmentos. Correlação é uma medida estatística padronizada da rela-
ção entre duas variáveis. Seu valor varia de –1 a +1. A correlação nunca pode ser maior
do que 1 ou menor do que menos 1.

Uma correlação próxima a zero indica que as duas variáveis não estão relaciona-
das. Sendo cada variável um segmento de negócio do banco (industrial, comercial,
Intermediação financeira

leasing etc.), uma correlação positiva indica que as duas variáveis (segmentos) movem
juntas, e a relação fica forte quanto mais a correlação se aproxima de um. Uma corre-
lação negativa indica que as duas variáveis movem-se em direções opostas, e que a
relação também fica mais forte quanto mais próxima de menos 1. Duas variáveis que
estão perfeitamente correlacionadas positivamente (r=1) movem-se essencialmente

23
em perfeita proporção na mesma direção, enquanto dois conjuntos que estão per-
feitamente correlacionados negativamente movem-se em perfeita proporção em di-
reções opostas. Exemplificando: suponha que o Banco Y conceda empréstimos para
clientes do segmento industrial e de leasing em determinado período. Alguns desses
clientes são os mesmos para as duas modalidades de operação e, por isso, as variáveis
(empréstimos) deverão apresentar correlação positiva, próximo de 1 (um), estando po-
sitivamente correlacionadas. O valor do índice de correlação é apurado através de uma
planilha estatística (Excel, SPSS, SAS e outras).

Silva (2000, p. 80) acrescenta: “[...] se um banco distribuir suas aplicações em seg-
mentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de
risco, não representará diversificação”, portanto apresentará maior risco.

d) Risco de administração de crédito

É o risco derivado da gestão indevida dos créditos concedidos. Os recursos huma-


nos e materiais têm papel relevante nos índices de inadimplência apresentados pelo
banco. Schrickel escreve sobre o assunto:
“Se de um lado a incerteza quanto ao futuro torna a análise de crédito extremamente desafiadora e
exige capacitação técnica específica, de outro, tal atividade depende primordialmente do elemento
humano, do profissional da instituição financeira, que, mais que certamente, não poderá ser
suficientemente substituído por qualquer instrumento cibernético, por mais avançado que seja [...]”.
(Schrickel, 2000, p. 36)

A instituição financeira deve munir-se dos melhores recursos humanos disponíveis,


assim como estrutura material e logística para reduzir o nível de risco de suas operações.

Texto complementar

Banco fica com parcela maior do “spread”


(BALBI, 2006)

Os cinco maiores bancos do país que já divulgaram os balanços de 2005, exibin-


Análise de Risco e Crédito

do lucros recordes, aumentando seu spread nos últimos cinco anos, segundo estudo
realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) com exclu-
sividade para a Folha.

Bradesco, Itaú, Unibanco, Banespa e o estatal Banco do Brasil obtiveram spread


total de 12,2% no ano passado, enquanto em 2001 essa taxa era de 11%. Ao mesmo

24
tempo cresceu a parcela do lucro na composição do spread nesse período. Em 2001,
15,6% do spread total eram destinados aos resultados (lucros); no ano passado, essa
mesma parcela chegou a 21,9%.

Em 2005, o Itaú foi o banco com o maior spread total, segundo o Inepad, segui-
do pelo Banespa, o Unibanco e o Bradesco. O menor spread verificado foi o do Banco
do Brasil, que opera com crédito agrícola a taxas de juro mais baixas.

Spread, na definição corrente no mercado, é a diferença entre a taxa média de


juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los
– seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No
entanto, o Inepad considera nos cálculos do spread total também as taxas de servi-
ços cobradas pelas instituições financeiras.

“No caso do Brasil, como há mais demanda por crédito do que oferta, os bancos
condicionam a concessão de empréstimos à aquisição de outros produtos como
seguros, títulos de capitalização ou planos de previdência. Assim, na taxa de juro
paga pelo cliente está embutida também a prestação desses produtos. Portanto
o spread deve incluir também as receitas de serviços dos bancos, afirma Alberto
Borges Matias, presidente do Inepad e professor da Faculdade de Economia da USP
de Ribeirão Preto.

O instituto reconhece que adota um conceito polêmico de spread. Por isso,


também calculou o chamado spread financeiro dessas instituições nos últimos cinco
anos. Essa taxa é a diferença entre o juro pago na captação e o recebido na aplicação.

Em 2001, a taxa média do spread financeiro dos cinco maiores bancos era de
7,5% e, no ano passado, foi de 8,4%. Todos os cálculos foram feitos com base nos
balanços das instituições financeiras.

Formação do spread
Entram na formação do spread bancário, a taxa de inadimplência, as despesas
estruturais – pessoal e administrativas –, os gastos com impostos e os resultados do
banco, segundo informa o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração.
Intermediação financeira

Ao analisar esses quatro componentes, o Inepad concluiu que o crescimento


do spread total dos bancos ocorreu para sustentar os resultados das instituições fi-
nanceiras e o aumento dos gastos com impostos, segundo informa Edson Carminat-
ti, analista financeiro do instituto e responsável pelo levantamento.

25
“Os bancos conseguiram aumentar o spread reduzindo os custos de captação,
pois estão conseguindo levantar recursos a taxas mais baixas no mercado externo e
aplicando aqui a taxas altas”, afirma o analista.

Em 2001, as instituições financeiras captavam a uma taxa média de juros de 9%


ao ano e, no ano passado, a 6,7%. Nesses cálculos estão incluídos desde a captação
mais barata – que é a da caderneta de poupança e a parcela do saldo das contas
correntes que fica no banco sem remuneração – até as taxas dos CDBs (Certificados
de Depósitos Bancários).

“Os resultados dos bancos é um dos formadores do spread que mais cresceu. Só
perde para o crescimento dos impostos”, observa Carminatti.

Em 2001, eles representavam 15,6% dos spread total e pularam para 21,9% no
ano passado.

Já a parcela do spread total que ia para impostos subiu de 8,1% para 16,5%
no mesmo período. “Isso é preocupante, pois o peso dos impostos cresceu muito”,
afirma Carminatti.

Despesas
A maior parte da formação do spread bancário, entretanto, ainda é decorrente
das despesas estruturais – como a de pessoal e as administrativas. As despesas res-
ponderam por 45,8% do spread total em 2005 – um forte recuo ante os 61,8% que
representavam em 2001.

Segundo Carminatti, os bancos ganharam eficiência conseguindo operar


melhor com a mesma estrutura. Para Borges Matias, a redução das despesas é con-
seqüência do aumento da escala na operação bancária.

“Os bancos aumentaram suas carteiras de crédito e sua base de clientes, enxu-
garam a estrutura e hoje conseguem ter lucros maiores e despesas menores”, afirma
o presidente do Inepad.

Já a inadimplência – à qual sempre os bancos atribuem a responsabilidade


Análise de Risco e Crédito

pelos juros e spreads elevados – cresceu pouco no período analisado. Em 2001, ela
representava 14,5% do spread e, no ano passado, chegou a 15,8%.

“Como as operações de crédito cresceram muito, era de se esperar um aumen-


to da inadimplência. Mas não foi ela que fez o spread crescer”, diz Carminatti.

26
Atividades

1. O que é risco de crédito?

2. Para o autor Silva (2000) qual é a definição de crédito em sentido estrito e es-
pecífico?

3. “São instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo


prazo do governo federal”. Esse conceito refere-se a qual alternativa abaixo?

a) Bancos comerciais.

b) Bancos de investimento.

c) Caixas econômicas.

d) Bancos de desenvolvimento.

4. Qual dessas instituições permite que empresas de um mesmo grupo consti-


tuam-se em uma única instituição com personalidade jurídica própria e balanço
único?

a) Sociedades corretoras.

b) Sociedades de arrendamento mercantil.

c) Bancos múltiplos.

d) Associações de poupança e empréstimo.

Ampliando conhecimentos
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2000.
Intermediação financeira

O autor aborda todas as fases da gestão e análise de crédito, sendo leitura útil no
acompanhamento dos capítulos. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver
dúvidas sobre pontos abordados no capítulo.

SCHRICKEL, Kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de emprésti-


mos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

27
Obra clássica em Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use complementar-
mente à obra de Silva, acima.

FORTUNA. Eduardo, Mercado Financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 1999.

O autor aborda o funcionamento do mercado financeiro como um todo e apre-


senta um resumo dos principais órgãos responsáveis pela manutenção da política mo-
netária nacional.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

O autor apresenta o funcionamento e as funções do mercado financeiro e trata


de como a compreensão da economia permite que se estabeleçam relações entre os
resultados agregados e o desempenho dos agentes econômicos (indivíduos, empresa
e governo).

Wall Street – Poder e Cobiça

O filme ambienta o espectador numa trama em que estão presente o dinheiro, a


negociação, o poder conferido pelo dinheiro e a procura por prestígio. É um filme útil
para ambientar o aluno.
Análise de Risco e Crédito

28
Intermediação financeira

29
Os “4 Cs do crédito”
(Caráter; Capacidade; Capital; Condições)

Introdução
Existem diversas maneiras de analisar os riscos de crédito, dentre elas a aplicação
de metodologias subjetivas e financeiras, aparentemente simples, mas que deman-
dam cautela e responsabilidade.

Este capítulo pretende fornecer condições para a identificação de alguns critérios


subjetivos e financeiros, geralmente adotados pelas instituições financeiras na análise do
eventual tomador de empréstimos. O que se pretende destacar são os diferentes critérios
que são aplicados às propostas de negócio pelos gerentes das instituições financeiras.

“Creditar” consiste no ato da instituição financeira colocar à disposição dos toma-


dores de recursos determinados valores sob a forma de empréstimos, financiamentos
ou outra operação bancária mediante promessa de pagamento.

As instituições financeiras têm como costume realizar operações somente com


pessoas que sejam seus clientes. Quando esses clientes necessitam de recursos, eles
recorrem ao banco, que tem como norma elaborar uma análise minuciosa para a con-
cessão do crédito pretendido, baseados primordialmente em critérios pessoais e finan-
ceiros. O banco busca com isso colher indícios de insolvência de clientes, pois a preo-
cupação é que a quantia emprestada não retorne mais com os respectivos encargos
financeiros, que são juros e correção monetária.

Referindo-nos aos critérios geralmente utilizados para a concessão de crédito, as


instituições financeiras identificaram quatro critérios básicos para análise dos clientes,
iniciados com a letra “C”: Caráter, Capacidade (critérios subjetivos), Capital e Condi-
ções (aspectos financeiros).

O autor Preisler afirma que


o método lógico utilizado para analisar cada situação é baseado nos ‘Cs’ de crédito. Embora este
método não aborde todo o conjunto de instrumentos disponíveis para a avaliação de riscos e

31
crédito, na realidade ele se constitui numa das ferramentas mais modernas de análise de risco e
crédito, voltados para situações concretas. (PREISLER, 2003, p. 48)

Ao analisar uma proposta de crédito, a instituição financeira costuma fazer,


no mínimo, dois tipos de análises: uma análise subjetiva composta por critérios não
mensuráveis (caráter e capacidade), e uma análise objetiva composta por parâme-
tros mensuráveis e concretos (capital e condições). Os quatro critérios referidos não
esgotam todos aqueles aplicados pelas instituições financeiras, cada uma delas
pode ter critérios próprios, subjetivos e objetivos para efetuar a análise global de
seus clientes.

Existem dois critérios adicionais, que também fariam parte desse grupo, mas cuja
aceitação não é consenso entre os estudiosos, o Colateral, que significa garantia, e o
Conglomerado, que é o exame conjunto das empresas do grupo empresarial, ou das
pessoas físicas do grupo que pleiteiam o crédito. Não basta apenas conhecer a situa-
ção econômica e financeira de uma empresa, é preciso que se conheça também todas
as empresas do grupo empresarial para se formar um conceito único sobre a solidez
do conglomerado.

As palavras “caráter” e “capacidade” derivam do inglês, e compõem os critérios


pessoais na análise de crédito (SCHRICKEL, 2000, p. 48).

Aborda-se, abaixo, os quatro critérios de análise iniciados com a letra “C”.

Caráter
Gitman (1997) acredita que um dos critérios mais importantes na tomada de de-
cisão de crédito é o julgamento subjetivo que o analista financeiro faz para decidir se é
válido ou não, assumir riscos com determinado cliente.

Para Silva (2008, p. 60), o Caráter está relacionado com a intenção do devedor (ou
mesmo do fiador ou avalista) em cumprir a promessa de pagamento.

O caráter do cliente está relacionado ao pagamento da dívida que tem com a


instituição financeira emprestadora. Assim, essas entidades devem fazer uma pesquisa
minuciosa sobre a vida do cliente, seus antecedentes, informações normalmente colhi-
das através da “ficha cadastral”.
Análise de Risco e Crédito

Para Santi Filho (1997, p. 15)


[...] o documento resultante do trabalho de levantamento de informações é a Ficha
Cadastral do Cliente. Para o profissional do crédito e no que se refere especificamente
à avaliação do caráter do cliente, este documento é sua base mais importante. Na ficha
cadastral do cliente deve estar refletida a performance do eventual tomador de crédito,

32
destacando-se os seguintes aspectos: identificação, pontualidade, existência de restrições,
experiência em negócios e atuação na praça.

A ficha cadastral, entretanto, não esgota a pesquisa sobre a verdadeira intenção


do tomador de recursos. Schrickel (2000, p. 49) escreve que a ficha cadastral elaborada
pela instituição financeira possibilita o levantamento de informações do potencial to-
mador de recursos do banco sobre a identificação e qualificação do indivíduo (nome,
endereço, registros, profissão etc.) e sobre experiências de outras instituições com a
pessoa (pontualidade de pagamentos, protestos, anotações diversas e outras).

Schrickel (2000, p. 49) lembra que “o emprestador deve construir um conjunto de


informações adicionais sobre o tomador [do empréstimo], alicerçado na sensibilidade
de seus contatos diretos com o mesmo, e com o mercado ou segmento social em que
o tomador atua”.

Assim, as instituições financeiras devem pesquisar os hábitos e a cultura do cliente,


além de sua postura ética e honestidade. A finalidade é reunir o máximo de informações
com o intuito de diminuir o risco do não recebimento da quantia emprestada.

Um ponto importante, quando se analisa o caráter da pessoa, é analisar as restri-


ções de empregabilidade, crédito junto a outras instituições e outros fatos cerceadores
do livre arbítrio do tomador de empréstimos. Schrickel (2000, p. 49) acrescenta que “é
no momento de aperto (desemprego ou vendas e lucros abaixo das expectativas ou
necessidades) que o caráter é colocado à prova, não só em termos factuais – disponibi-
lidade de recursos –, como também em termos de criatividade e pragmatismo”.

O caráter é um conceito que transcende ao indivíduo, ensina Schrickel (2000, p.


49) ele alcança a camada social e econômica da qual o indivíduo faz parte, de modo

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


que as decisões que envolvem crédito devem levar em conta a integridade ética do
grupo social à qual pertence o cliente.

Em um processo de análise de crédito, a análise do caráter do tomador do recurso


é um fator dos mais relevantes. Assim, Preisler (2003, p. 61) escreve que “o caráter é
fator eliminatório, insubstituível no processo de análise de risco e crédito”.

Capacidade
A capacidade está relacionada à habilidade do indivíduo ou grupo de gerir estra-
tégica e operacionalmente os negócios da empresa. A pesquisa sobre o cliente cos-
tuma ser feita através da análise do currículo de seus administradores para verificar
se eles conhecem o ramo de atividade em que atuam e das atribuições que exercem.
Silva (2008, p. 67) entende que a capacidade “deve estar relacionada aos fatores que
contribuem para a empresa ser competente e competitiva”.

33
Preisler (2003, p. 51) escreve que a
[...] previsão da capacidade de pagar, ou seja, da competência empresarial do cliente, é a parte mais
difícil da avaliação do risco. Embora ainda não sejam dispensadas utilizações de balanços, análises
de fluxo de caixa e qualidade das garantias prestadas, existem outros elementos a serem avaliados,
por exemplo, a capacidade gerencial do administrador e o relacionamento que a empresa mantém
com o banco são tão importantes quanto os demais itens, como afirmam alguns autores.

Para Santos (2000, p. 46), a capacidade refere-se ao julgamento subjetivo daquele


que analisa a proposta de crédito sobre os critérios de habilidade dos clientes no ge-
renciamento e conversão de seus negócios em renda ou receita.

Schrickel (2000) diferencia caráter e capacidade, escrevendo que, se caráter diz


respeito à vontade de pagar, a capacidade refere-se à habilidade de pagar.

O conceito de capacidade não se confunde com o conceito de caráter, pois o


cliente-tomador de empréstimos pode ser honesto e não ter a capacidade para pagar
naquele momento em virtude de algum fato que desorganizou a sua vida pessoal,
como a perda do emprego, um sinistro em seus bens ou outro fato da vida corrente.

Para analisar a capacidade do tomador de empréstimos, a instituição financeira


emprestadora deverá, em termos práticos e objetivos, obter respostas claras às seguin-
tes perguntas (SCRINCKEL 2000, p. 50):
Qual é a sua idade?

Qual é o seu grau de educação?

Qual é a sua formação acadêmica, se for o caso?

Qual é a sua experiência profissional?

Como foi construída a sua carreira profissional?

Ele é um indivíduo de sucesso? Já fez ou está fazendo sucesso? Qual? Como esse sucesso pode
ser medido?

Os membros de sua família sempre atuaram (ou já atuaram) no setor a que está se dedicando no
momento?

Qual é o seu posicionamento gerencial sobre os negócios? É conservador ou arrojado? É espe-


culador? Sabe antecipar-se aos problemas? É inovador? É econômico ou perdulário? É centrali-
zador ou adota a gerência colegiada (team work)?
Análise de Risco e Crédito

Os negócios são do tipo familiar? Existe linha sucessória definida? Os sucessores são igualmente
capacitados (assumindo que o indivíduo em análise o seja)? Qual é a idade, formação e experiência
dos sucessores? Como se materializa o processo de decisão e sucessão nos negócios? Quando
isto ocorrerá?

Ele é mais ou menos capaz, comparativamente, a outros indivíduos de seu setor de atividade?

Ele exerce algum tipo de liderança em seu setor de atuação?

34
Ele tem algum passatempo ou hobbie que, além de custoso, é perigoso?

Será que ele utilizará o empréstimo na essência de seus negócios ou o aplicará em seu hobbie
ou em outra área? Os fins do empréstimo são lícitos e/ou produtivos? Haverá retorno suficiente,
ou existem meios de “produzir” recursos, de tal sorte a permitir o repagamento do crédito?

Santi Filho (1997, p. 30 e 31) escreve que os pontos fundamentais a serem obser-
vados na concessão do crédito são:

estratégia empresarial – está condicionada à meta, assim, se a meta é aumentar


a fatia do mercado, a estratégia é a necessidade de forte assistência financeira;

organização e funcionamento – a atenção deve estar voltada para a gerên-


cia e para a gestão do negócio, alterações na administração, seja no controle
acionário, ou nas pessoas-chave, devem ser vistas como fatores de risco do
negócio;

capacitação dos dirigentes – administradores/sócios-dirigentes têm forma-


ção técnica/acadêmica e experiência compatíveis com área de atuação, têm
melhores condições para conduzir o negócio de forma a reduzir seus riscos.

A capacidade é a análise subjetiva das condições do devedor em retornar ao


credor a quantia emprestada, no prazo acordado. O conceito de capacidade torna-se
mais relevante para as instituições financeiras a partir do momento em que o sistema
econômico torna-se mais volátil, expondo crises originárias de desequilíbrios estrutu-
rais do sistema globalizado, atingindo os tomadores de empréstimos e financiamen-
tos. Essas crises, de caráter global, costumam afetar a quantidade de crédito disponível,
pois geralmente vêm acompanhadas da intervenção dos Bancos Centrais, reguladores
do sistema financeiro, ora aumentando juros, ora adotando medidas para restringir ou

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


aumentar a quantidade de crédito disponível.

Analisar a capacidade do cliente em condições de instabilidade econômica torna


a tarefa mais difícil, por que aumenta o risco da operação, dado que as novas condi-
ções pós-crise podem afetar a sua capacidade de pagamento.

Não obstante os problemas que possam surgir ao se avaliar a capacidade do to-


mador de empréstimos/financiamentos, “a atenta observação de como o indivíduo ad-
ministra suas finanças pessoais [...] é valiosa fonte de informação para a construção do
conceito de qual seja sua Capacidade de Crédito” (SCRINCKEL, 2000, p. 51).

Schrickel (2000, p. 51) lembra que a “análise do currículo profissional” do toma-


dor é outro ângulo a ser considerado na diferenciação da capacidade entre indiví-
duos. Assim, através da análise da estabilidade no emprego, assunção de cargos de
mais alto nível e responsabilidade, atingimento de resultados relevantes ao longo
de sua carreira profissional, o cliente demonstrará mais capacidade do que outro em
situação inversa.

35
Sobre os critérios subjetivos de caráter e capacidade, Preisler (2003, p. 52) afirma:
“trata-se de dois atributos que se misturam ou se confundem a partir do momento
em que se depara com uma situação do tipo ‘quero pagar, mas não posso’”. No que diz
respeito ao caráter, por princípio não se questiona a vontade e disposição para pagar o
devedor, porém essa vontade não se concretiza quando há incapacidade para fazê-lo.

Capital
O critério “capital” refere-se à situação econômico-financeira do tomador de em-
préstimos/financiamento, ou seja, diz respeito à qualidade do montante de recursos
que esse possui para saldar seus débitos. No capital, procura-se analisar as demonstra-
ções contábeis para se obter informações sobre a solidez e o desempenho do cliente.

O capital é critério próprio de análise de crédito de pessoas jurídicas, e não de


pessoas físicas. Assim, é oportuno referir-se à capital quando se analisa o potencial de
crédito de uma pessoa jurídica que deseja operar com um Banco. Com pessoas físicas,
é mais conveniente referir-se às expressões “fonte de renda”, “ganhos mensais”, “salários
percebidos”.

A ideia de capital em análise de crédito tem duas acepções: 1) critério geral em-
pregado na investigação da capacidade de pagamento do cliente; e 2) à rubrica do
Balanço Patrimonial das empresas, que abriga os recursos dos sócios, e que compõe
o grupo Patrimônio Líquido. Tratando-se de análise de crédito de pessoas jurídicas,
Preisler (2003, p. 76) escreve que “a ideia de capital não deve restringir-se à mera rubri-
ca [“Capital Social”] do Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial, mas transcendê-la,
alcançando toda estrutura econômico-financeira da empresa.” No Balanço das empre-
sas, o patrimônio líquido é formado pelo grupo de contas que abriga os investimentos
dos proprietários, ou sócios, (conta capital social), as Reservas, destinatárias dos lucros
apurados, e os prejuízos (conta prejuízos acumulados).

A pergunta subjacente à análise do critério pode ser formulada assim: será que o
tomador potencial de crédito tem bastante capital para operar em níveis adequados
de eficiência e retorno? “Eficiência” e “retorno” são variáveis relevantes na análise do
cliente-tomador de empréstimos, pois as instituições financeiras, quando emprestam,
buscam eficiência na alocação de seus recursos disponíveis, e retorno dos valores em-
Análise de Risco e Crédito

prestados para voltarem a emprestar, auferindo ganhos na intermediação financeira.

O capital costuma ser o primeiro critério não subjetivo a ser analisado, pois ele
lida com o montante de recursos a ser devolvido pelo cliente à instituição que os em-
prestou. O critério começa a ser analisado após o cliente ter recebido aprovação nos
critérios subjetivos anteriores.

36
Referindo-se ao critério de análise de capital, Silva (2008, p. 76) escreve que “o
capital é medido por meio de análise de índices financeiros, tendo, evidentemente,
um significado muito mais amplo do que aquele que é dado à conta de capital na
contabilidade”. Portanto, o “C” de capital equivale à situação econômica, financeira e
patrimonial do cliente.

Schrickel (2001, p. 52) escreve que “o aspecto capital nas empresas tomadoras de
empréstimos implica em uma análise global, as chamadas Análise de Balanço e Aná-
lise Econômico-Financeira”, através das quais “será possível detectar, por exemplo, o
quanto dos recursos próprios está investido em Ativos Fixos”. Sabe-se que o Ativo do
Balanço Patrimonial das empresas abrigam seus bens e direitos. Localizam-se do lado
esquerdo do Balanço, enquanto o Passivo e Patrimônio Líquido registram as obriga-
ções e os recursos próprios da empresa, respectivamente.

Schrickel escreve:
Ato contínuo será necessário ponderar o quão adequados e eficientes são tais ativos: há espaço físico
suficiente e adequado? As instalações são planejadas? As máquinas são modernas e comparáveis
as dos concorrentes? Há seguros? Podem ser acomodadas novas expansões? Por outro lado, deve-
se ponderar quanto dos recursos está aplicado em Ativos Circulantes e Semifixos, notadamente
em Contas a Receber e Estoques: os produtos são vendáveis? O mercado está em expansão? A
participação no mercado é expressiva ou relevante? Os clientes são de boa qualidade e têm pago
pontualmente? Há diversificação de clientes? Há contas incobráveis de valor expressivo? (Schrickel
2001, p. 52)

O conceito do capital difere nas micro e pequenas empresas. Essas entidades ne-
cessitam de cuidados especiais quando se analisa sua capacidade, devido à precarie-
dade dos dados geralmente fornecidos às instituições financeiras. Santi Filho (1997, p.
61), escreve:

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


[...] Nas micros e, em boa parte, nas pequenas empresas, os relatórios contábeis fornecidos –
base importante para a análise [...] – não estão em completo acordo com a respectiva realidade.
Geralmente, são elaborados por escritórios de contabilidade externos à empresa e cumprem
finalidades basicamente fiscais. A avaliação de riscos relacionados ao “C” capital, neste caso, é feita
mais em função dos números inerentes aos proprietários – patrimônio, etc. – do que a partir dos
demonstrativos contábeis.[...]

Não existe um só conceito de micro e pequenas empresas no Brasil, Idriunas (2008)


informa que de acordo com “a Lei Geral para Micro e Pequenas Empresas, promulgada
em dezembro de 2006, as micro empresas são as que possuem faturamento anual de,
no máximo, R$ 240 mil por ano. As pequenas devem faturar entre R$ 240.000,01 e R$
2,4 milhões anualmente para ser enquadradas.

Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as mi-


cro-empresas são aquelas que empregam até nove pessoas no caso do comércio e
serviços, ou até 19, no caso dos setor industrial ou de construção. Já as pequenas são
definidas como as que empregam de 10 a 49 pessoas, no caso de comércio e serviços,
e 20 a 99 pessoas, no caso de indústria e empresas de construção (IDRIUNAS, 2008).

37
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), organismo
federal, enquadra a microempresa como sendo aquela que tem receita bruta anual
de até R$ 1,2 milhão, enquanto as pequenas empresas devem tê-la superior a R$ 1,2
milhão e inferior a R$ 10,5 milhões (IDRIUNAS, 2008).

Schrickel (1995, p. 82 e 83) escreve a respeito dos balanços das micro e pequenas
empresas:
[...] Quanto aos balanços das micros, pequenas e médias empresas, não raro ouve-se a alegação
de que os balanços das empresas em geral não revelam, em absoluto, a sua realidade operacional
ou factual [...]. Os demonstrativos destas empresas seriam, portanto, invariavelmente ajustados
a fim de poder esquivar-se da carga tributária, sem dúvida elevada, consoante as mais recentes
discussões nos mais diferentes canais, o que conduziria, inclusive, a uma ampla reforma fiscal num
futuro próximo [...].

Embora a qualidade das fontes de pesquisa do capital dos tomadores de emprés-


timos de instituições financeiras fosse questionável até pouco tempo atrás (Santos,
2000, p. 46), ressalta-se que, existem no Brasil fontes de pesquisa disponíveis usadas
pelas instituições financeiras para investigar as condições de pagamento do cliente.
São elas: a Centralização dos Serviços Bancários SA – SERASA –, empresa privada que
permite a consulta em tempo real das condições do cliente, o Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC), mantido pelas Associações Comerciais, além dos bancos de dados das
próprias instituições financeiras.

Condições
Este é o quarto “C” financeiro dos “Cs” de crédito estudados. Refere-se aos cenários
micros e macroeconômicos em que o cliente está inserido.

Tratam-se dos fatores externos e macroeconômicos que podem afetar o funcio-


namento e a situação econômica e financeira da empresa-cliente (SCHRICKEL, 2000,
p. 53). A análise das condições visa avaliar o momento em que o crédito é solicitado
(timing) e quando será eventualmente desembolsado.

A análise de condições está associada ao estudo dos impactos sistemáticos e ex-


ternos sobre a receita da empresa postulante ao crédito. A adequada avaliação do risco
do cliente está ligada a esse critério, pois ele pode influenciar as condições necessárias
Análise de Risco e Crédito

para a devolução da quantia emprestada.

Um exemplo contemporâneo de avaliação das condições para a concessão de


empréstimos diz respeito ao seguinte fato: em outubro de 2008, por ocasião da crise
financeira norte-americana, a expectativa de aprovação pelo Congresso dos Estados
Unidos do aporte de US$850 bilhões ao mercado americano ocasionou oscilações

38
acentuadas nas cotações das ações “listadas” nas principais Bolsas de Valores de todo o
mundo, além de impactos no mercado financeiro como um todo (CALLIGARIS, 2008).
Esse fato aumentou o risco de crédito dos tomadores de empréstimos e das institui-
ções financeiras emprestadoras, pois afetou a confiança no mercado e, em decorrên-
cia, a quantidade de recursos disponível para se emprestar.

Em outubro de 2008, os Estados Unidos passaram por uma crise financeira ade-
quadamente analisada por João Antônio Castillo Perea, executivo da Finabank Corre-
tora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários Ltda, localizada em São Paulo, através de
um exemplo didático:

Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 1990, por 300.000 dólares
financiados em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de
dólares. Aí, um banco perguntou para Paul se ele não queria um dinheiro emprestado,
algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o em-
préstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, com-
prou três casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. À di-
ferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou
carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do
dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1 634 cuecas, tudo
financiado a crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis esta-
vam caindo, as casas que Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram
vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez.

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas
e revender com lucro. Parecia fácil, só que todo mundo teve a mesma ideia ao mesmo
tempo, as taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-fixadas) e ele
percebeu que seu investimento em imóveis se transformou em um desastre. Milhões
tiveram a mesma ideia de Paul, tinha casa para vender como nunca.

Paul foi aguentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas
que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações
dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar
uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as três
casas, mas não havia compradores, ou os que haviam só pagariam um preço muito
menor que Paul havia pago. Então Paul começou a não pagar aos bancos as hipotecas
da casa que ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento.
Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

39
Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que
não quiseram acordo. Ele entregou aos bancos as três casas que comprou como inves-
timento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou, e ele e sua família pararam
de consumir.

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito
baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de mi-
lhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor
de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer bem pouco.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a valer quase nada e esses títulos esta-
vam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas
também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram


feitos baseados num preço de mercado desse imóvel. Com os preços despencando,
um empréstimo que foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares de re-
pente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como
os esquemas de pirâmide, era especulação pura. A inadimplência dos milhões de
Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de
dólares.

Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar


por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito,
mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha cré-
dito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia
travar, a recessão é sentimento de medo. Mesmo quem pode, para de consumir.

O FED1 começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de


juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bi-
lhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano
de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago,
visando incrementar o consumo, porém essas ações levam meses para surtir efeitos
práticos. Essas ações foram corretas e não é possível afirmar que os EUA está tecnica-
mente em recessão.
Análise de Risco e Crédito

O FED trabalhava e o mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na


semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconte-

1
FED: é o “Sistema Federal de Reservas” (ou Sistema Bancário Central), dos Estados Unidos, como a Wikipédia define: “The Federal Reserve System (also the
Federal Reserve; informally The Fed) is the central banking system of the United States”.

40
ceu: a crise bancária. Correntistas saíram correndo para sacar suas economias. Um dos
grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado e insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP


Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para
o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta
semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos.

O que começou com o Paul afeta o mundo inteiro. E dia 15 de setembro de 2008, o
Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocan-
do uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no Indice Dow Jones, que mede o
valor ponderado das ações das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores
de Nova York – a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929.

Outro exemplo das alterações das condições de mercado, e que afetam o risco de
operações de crédito, refere-se aos Planos de Ajustamento Econômico que foram apli-
cados na economia brasileira no ano de 2007. Tais planos envolveram a alteração de
padrão monetário e da relação entre os agentes econômicos – indivíduos e empresas,
além do “congelamento” de recursos dos indivíduos nas instituições financeiras, altera-
ção da política cambial, modificação da política monetária e outras providências.

Os Planos de Ajustamento Econômico que ocorreram no Brasil, em 2007, altera-


ram as condições micro e macroeconômicas do mercado, abalando a confiança dos
agentes econômicos nas instituições e nos contratos assinados, pois tais planos cos-
tumavam alterar as condições previamente acordadas entre credor e devedor, ocasio-
nando mudança nas condições de risco dos tomadores de recursos.

De 1942 a 2008, a moeda brasileira passou de réis para cruzeiros (1942), de cruzei-

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


ro para cruzeiro novo (1967), de cruzeiro novo para cruzeiro (1970), de cruzeiro novo
para cruzado (1986), de cruzado para cruzado novo (1989), de cruzado novo para cru-
zeiro (1990), de cruzeiro para cruzeiro real (1993) e do cruzeiro real para real (1994).

Schrickel (2000, p. 54) escreve que os fatores derivados dos Planos Econômicos,
[...] associados ao momento peculiar em que foram adotadas as medidas e à realidade
particular dos indivíduos e empresas em cada momento, introduziram profundas
alterações nas condições gerais dos negócios, tomadores e empréstimos, da economia [...].
“As condições do empréstimo em si devem ser bem entabuladas. Se o ciclo operacional
de uma empresa é de 180 dias, pouco provavelmente ela terá condições de saldar
compromissos em 45 dias [...] se alguém tem um salário de $20 mil, não poderá assumir
compromissos de $30 mil para pagar “no fim do mês, a não ser que haja alguma outra
fonte de recursos, que é preciso identificar e avaliar clara e corretamente.

41
Considerações finais
Essa aula teve o intuito de proporcionar as condições de identificar os principais
critérios subjetivos e financeiros pelos quais a análise de crédito faz em grande parte
das instituições financeiras brasileiras.

Os principais critérios utilizados pelos bancos para analisar o risco de crédito divi-
dem-se em critérios subjetivos e critérios objetivos (financeiros), que podem ser iden-
tificados como iniciando com a letra “C”. Assim, os critérios subjetivos são o caráter e a
capacidade e os critérios objetivos são o capital e as condições.

Tais critérios não esgotam a fonte de instrumentos que estão à disposição do ana-
lista de crédito, mas constituem-se em parâmetros úteis na análise do risco de crédito.

Texto complementar

Mercado Financeiro e o Sistema de Risco


(CATTANI; STADUTO, 2003)

[...] Para que o crédito seja bem concedido é necessário o gerenciamento do


risco. A adoção de um sistema eficiente de risco não é apenas para o provisionamen-
to, mas, também, para o adequado julgamento das propostas de crédito. O provisio-
namento funcionaria como um seguro contra eventuais problemas de perdas dos
recursos emprestados.

A atividade bancária é um setor que está sujeito ao risco sistêmico, além de


serem alavancados valores financeiros vultuosos; assim, buscam-se ferramentas
mais eficazes para combater ou minimizar o risco.

As instituições financeiras analisavam o risco de seus clientes e das suas opera-


ções de crédito com base em critérios variados, no entanto apresentavam-se alguns
Análise de Risco e Crédito

problemas que resultavam em muitas surpresas desagradáveis, os quais podiam


culminar com o problema de insolvência. A contabilização era feita com base na
Resolução 1.748 do Bacen, que previa o provisionamento para os créditos em liqui-
dação duvidosa apenas para as operações que ultrapassassem 61 dias vencidos.

42
Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou
os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir
dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da
concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde-
rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor financiado, prazo
da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de
AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%.

A Resolução 2.697, que complementa a 2.682, estabelece que, nas operações


de crédito com o valor superior a R$50.000,00, a provisão deve ser feita, no mínimo,
a cada seis meses. Dessa forma, no momento da concessão do crédito, é possível
atribuir o risco do cliente e da operação e prever se é viável ou não ao agente finan-
ceiro, inclusive monitorá-lo do ponto de vista do risco.

A grande diferença entre a Resolução 1.748 (antiga) e a 2.682 (nova) reside no


fato de que, na antiga, só se tomava conhecimento da gravidade de determinada
operação de crédito depois de vencida, quando as ações para minimizar o risco
do agente financeiro já eram mais limitadas, ao passo que, pela resolução 2.682, o
agente financeiro atua com ações prévias, avaliando as operações desde o início, o
que possibilita uma correção de possíveis distorções durante a vigência da mesma,
evitando, assim, a inadimplência e possibilitando resultados mais confiáveis.

O mercado financeiro, tradicionalmente, costuma identificar os cincos Cs do


crédito, definidos originalmente por Weston (apud SILVA, 1997). Silva (1997) acres-
centa um sexto C (conglomerado), completando os componentes do risco de crédi-

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


to, simplificadamente expostos a seguir:

caráter: refere-se à intenção de pagar; traduz-se pela identificação do con-


junto de boas ou más qualidades de um tomador em face do hábito de pa-
gar suas contas;

capacidade: refere-se à habilidade, à competência empresarial do indivíduo


ou do grupo de indivíduos e ao potencial de produção, administração e co-
mercialização da empresa;

condições: tão importante quanto avaliar as condições internas à empresa é


considerar os aspectos macroeconômicos que a envolvem e afetam;

capital: refere-se à situação econômico-financeira da empresa no que diz


respeito aos seus bens e recursos possuídos para saldar seus débitos;

43
colateral: refere-se à capacidade do cliente em oferecer garantias comple-
mentares;

conglomerado: além dos tradicionais Cs apresentados, deve-se considerar


o exame do conjunto, do conglomerado de empresas ou pessoas físicas re-
lacionadas, que pleiteiam o crédito. Não basta conhecer a situação de uma
empresa; é preciso que se conheça sua controladora (ou controladoras) e
suas controladas e coligadas para se formar um conceito sobre a solidez do
conglomerado.

Com base nas variáveis de risco e sua interdependência e interação, podem-se


classificar os clientes, definindo seu grau de risco, ou seja, a probabilidade de esses
virem a não cumprir seus compromissos junto à instituição.

O enquadramento de clientes/operações nos graus de risco deve ser realiza-


do com base em fatores quantitativos ajustados por valores qualitativos. Os crité-
rios devem estar tecnicamente fixados, buscando evitar julgamentos pessoais que
possam não coincidir com a política de crédito da instituição.

Atividades

1. Quais são os critérios subjetivos de análise de crédito geralmente aplicados pe-


las instituições financeiras às propostas de operações feitas por clientes?

2. Explique o critério “capital” de análise de crédito?

3. Por que Schrickel (2000) afirma “que é no momento de aperto (desemprego


ou vendas e lucros abaixo das expectativas ou necessidades) que o caráter é
colocado à prova”?

a) Porque no momento de aperto, o devedor endivida-se mais facilmente e,


assim, tem recursos para pagar seus débitos.
Análise de Risco e Crédito

b) Porque no momento de aperto, as instituições financeiras abaixam a taxa de


juros e, assim, tornam mais fácil o pagamento da dívida.

c) Porque no momento de aperto, o devedor paga suas dívidas como forma de


cumprir o contrato pré-estabelecido.

44
d) Porque no momento de aperto, as instituições financeiras consultam a ficha
cadastral do cliente e verificam sua idoneidade.

4. Os efeitos da crise financeira norte-americana de 2008 é um exemplo de que


critério a ser analisado em propostas de crédito?

a) Caráter.

b) Capacidade.

c) Capital.

d) Condições.

Ampliando conhecimentos
SANTI FILHO, A. Avaliação de Riscos de Crédito – para gerentes de opera-
ções. São Paulo: Atlas, 1997.

Obra considerada clássica em “crédito”, o autor faz abordagem ampla sobre o ciclo
de crédito completo. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para solidificar os con-
ceitos expostos neste capítulo.

SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


O autor faz abordagem dos critérios de análise conhecidos como os “Cs do
crédito”.

Sugere-se que o aluno consulte essa obra complementarmente a cada “C” estu-
dado neste livro.

SCHRICKEL, Kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de emprésti-


mos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

Obra das mais relevantes sobre Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use
preferentemente para fixar conceitos expostos neste livro.

PREISLER, Adriano M. Análise de Risco e Crédito para Micro e Pequenas Em-


presas – uma proposta orientativa – Dissertação de Mestrado apresentada ao
Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa
Catarina, 2003. Disponível em: <http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/8565.pdf>.
Acesso em: 25 set. 2008.

45
Garantias

Introdução
Todo estabelecimento que concede crédito ao consumidor exige uma garantia
do seu cliente, como forma de minimizar o risco do não recebimento do valor empres-
tado. As instituições financeiras que concedem crédito a seus clientes exigem, igual-
mente, uma garantia para fazer face ao risco da operação. Caso o devedor não pague
a obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um ressarcimento de parte ou
do total do valor emprestado.

“Garantia é definida, em seu aspecto de risco como a vinculação de um bem ou


de uma responsabilidade conversível em numerário que assegure a liquidação do em-
préstimo” (SANTOS, 2000, p. 33).

Já Silva (2008, p. 328) afirma que a garantia “é uma espécie de segurança adicional
e, em alguns casos, a concessão de crédito precisará dela para compensar as fraquezas
decorrentes dos outros fatores de risco”. No entanto, vale ressaltar que a garantia, por
si só, não é suficiente para a concessão do crédito. Outros fatores deverão ser avaliados
para classificar o cliente em um grau de risco apropriado ao limite de crédito pretendi-
do como o caráter, capacidade, capital e condições de pagamento do tomador.

O vocábulo “garantia” origina-se da palavra inglesa collateral, que deu origem ao


vocábulo “colateral”. As palavras “colateral” e “garantia” são sinônimas. Em uma deci-
são de conceder crédito, a garantia serve para atenuar os impactos desfavoráveis de-
correntes da análise negativa dos outros “Cs” do crédito1, além do colateral. Schrickel
(2000, p. 55) afirma que o colateral serve para compensar essa elevação de risco.

A função prática da garantia é a de gerar um comprometimento pessoal ou pa-


trimonial/financeiro do tomador de recursos, gerando uma relação de confiança do
indivíduo com o estabelecimento que o emprestou.

Escrevendo sobre a origem das garantias em operações de crédito, Brealey (2005)


pondera que os bancos, antes de conceder crédito, costumam pedir aos devedores
1
“Cs” do crédito: caráter, capacidade, capital e condições.

47
que forneçam garantias para os empréstimos, especialmente se eles estiverem preo-
cupados com o risco de crédito.

A garantia tem a função de evitar que fatores imprevisíveis, ocorridos após a


concessão do crédito, impossibilitem seu pagamento. Esses fatores costumam ser de
ordem externa, econômica e conjuntural. Podem ser resultantes de medidas gover-
namentais (aumento da taxa de juros básica da economia, a taxa Selic, desvalorização
da moeda nacional em relação à moeda estrangeira), ou ainda, alterações na política
fiscal, creditícia e outras. Tais fatores podem impactar a situação econômica e financei-
ra do devedor de tal forma a dificultar o pagamento da dívida. A garantia, então, exerce
o papel de suavizar os efeitos de tais acontecimentos, a liquidação da garantia serve
para pagar (amortizar) parte do valor devido.

Galvão et al. (2006, p.106) afirmam que “a utilização das garantias em empréstimo
foi um mecanismo importante para incrementar a intermediação financeira no mer-
cado de crédito”, ou seja, foi o meio encontrado pelas instituições financeiras para se
resguardar contra a insolvência.

Para Galvão et al. (2006), os empréstimos baseados em garantias são aqueles em


que o credor busca proteção em ativos do tomador e de seus controladores, e o não
cumprimento das obrigações pactuadas dá ao credor o direito sobre os ativos.

Santos (2000, p. 33) informa que o Banco Central do Brasil considera a exigên-
cia de garantias como uma das normas da boa técnica bancária e “estabelece que os
bancos comerciais, na realização de operações de crédito, devem exigir dos clientes
garantias adequadas e suficientes para assegurar o retorno do capital aplicado. Mais
além, o Banco Central determina que a garantia seja adequada ao tipo, montante e ao
prazo de crédito”.
As garantias estão associadas com a análise da riqueza patrimonial das pessoas físicas
e das empresas, que consideram a possibilidade futura de uma vinculação dos bens ao
contrato de crédito, em casos de perda parcial ou total da fonte primária de pagamento.
(SANTOS, 2000, p. 47)

As instituições financeiras, antes de conceder crédito, procuram certificar-se das


reais possibilidades de receberem os valores emprestados e atualizados de volta aos
seus cofres. Para tanto, as garantias podem ser consideradas como uma forma de ob-
tenção de maior segurança no cumprimento da obrigação por parte do devedor.
Análise de Risco e Crédito

Schrickel (2000, p. 147) escreve que “cada instituição pode eleger internamente
os tipos de garantias que entenda como sendo mais ou menos valiosas para refor-
çar sua segurança nos empréstimos concedidos”. Schrickel continua afirmando que a
instituição que empresta pode exigir garantias de acordo com as determinações do
Código Civil e Comercial, além da legislação complementar, ou pode sofisticar a clas-
sificação da legislação “discriminando entre os chamados direitos reais de garantia,

48
aqueles que internamente à sua organização para efeitos de concessão de alçadas de
crédito, se entende como sendo mais “líquidos” que outros, considerando apenas estes
casos como “garantidos”. (SCHRICKEL, 2000, p. 148). Ou seja, Schrickel quis dizer que
fica a critério dos bancos emprestadores seguir as determinações dos Códigos Civil
e Comercial, exigindo as garantias estabelecidas nesses normativos, ou ainda exigir
outras garantias mais “líquidas” do que outras, no sentido de serem mais facilmente
conversíveis em dinheiro.

Entende-se por “alçada de crédito” o limite de competência de um sujeito (pes-


-soa física ou instituição) para deferir crédito até um montante prédeterminado pela
instituição. Os limites referidos são geralmente determinados por um Comitê de Crédi-
to interno ou instância equivalente.

Exemplificando, supondo-se que as instâncias que deferem crédito sejam as men-


cionadas abaixo, as alçadas de crédito de um banco nacional de grande porte podem
ser as seguintes:

comitê de crédito – R$1.000.000,00

superintendente – até R$500.000,00

gerente-executivo – até R$250.000,00

gerente de contas – R$100.000,00

comitê diretor – negociações de valores acima de R$1.000.000,00

As alçadas de crédito costumam variar segundo o porte das instituições financeiras.

As melhores garantias exigidas pelas instituições financeiras são as que têm


maior liquidez, isto é, a sua liquidação é mais facilmente transformada em dinheiro
do que as outras.

Mas, a simples existência de garantia não isenta o estabelecimento bancário de


riscos. Schrickel (2000, p. 45) escreve que a qualidade da garantia é fator relevante a
ser considerado pelos bancos, pois algumas garantias são mais líquidas que outras.
Ou seja, a liquidez significa a maior facilidade em converter o bem dado em garantia
em dinheiro.

Schrickel (2000, p. 45-46) acrescenta que “em disputas judiciais, algumas garantias
têm uma exequibilidade mais simples e rápida que outras. Há garantias formalmente
constituídas, mas que são simplesmente não executáveis consoantes a prática proces-
sualista”. Isto quer dizer que, em contendas judiciais, um dos litigantes pode dar em
garantia de uma dívida ora sendo questionado um bem de difícil execução, como uma
Garantias

caldeira de usina de cana-de-açúcar, de mercado restrito, ou uma perfuratriz, também


de difícil alienação.

49
O risco de contratar uma operação de crédito sem conhecer detalhes da vida do
cliente, acrescido de garantidas duvidosas pode elevar o risco da operação a um grau
elevado. Assim, Schrickel (2000, p. 46) escreve que “o risco de um empréstimo concedi-
do baseado sobre garantias questionáveis é verdadeiramente incalculável”.

A exigência de garantias em operação de crédito não é sinônimo de bom negó-


cio. Schrickel (2000, p. 46) acrescenta que “o risco de se emprestar, baseado inicial e
principalmente nas garantias, é um mau empréstimo desde o início, o que significa
que “o banco empresta sob garantia e [...] não compra a garantia, notadamente se
forem elefantes brancos”. Esclarece-se que e expressão “elefante branco” quer dizer,
no caso, uma garantia imponente e grande, mas inexecutável, ou insuficiente. Assim,
Schrickel (2000, p. 46) afirma que “não existe crédito mal dado, o que existe é crédito
mal julgado”.

“As operações de empréstimos e financiamentos não devem ser concedidas ex-


clusivamente em função das garantias oferecidas” (SANTOS, 2000, p. 33). Pelo contrá-
rio, a garantia deve servir somente para tranquilizar a instituição financeira de que os
recursos ora emprestados serão devolvidos independentemente das garantias asso-
ciadas à operação.

Formalização
A liberação dos recursos envolvidos em operações de crédito dá-se após apresen-
tação da proposta de crédito, com a formalização do instrumento de crédito.

A proposta de crédito é um documento formal da instituição concedente, assi-


nado por seus representantes e pelo eventual tomador de recursos, em que consta os
montantes envolvidos, as modalidades de empréstimos, os prazos e as garantias.

Schrickel (2000, p. 94) escreve que toda “proposta de crédito” é fundamentalmen-


te construída por meio de informações, que, necessariamente devem ser confiáveis –
logo, avaliadas previamente –, as quais serão levadas na devida conta pelo aprovador
para a formulação de sua respectiva decisão no estrito campo profissional.”

Schrickel (2000) adverte que podem existir situações em que o volume de informa-
ções disponíveis sobre o eventual tomador de recursos é escasso. Esse pode ser o caso
Análise de Risco e Crédito

das micro e pequenas empresas, caso em que o emprestador deverá “adotar as medidas
cautelatórias e apropriadas para assegurar a manutenção do controle sobre o risco que
ele está assumindo ao conceder crédito nestas condições” (SCHRICKEL, 2000, p. 95).

Na aceitação da garantia na proposta de crédito, alguns fatores importantes


devem ser observados pela instituição emprestadora (SILVA, 2008):

50
o risco representado pela empresa e pela operação;

a praticidade de sua constituição;

os custos incorridos para sua constituição;

o valor da garantia em relação ao valor da dívida;

a depreciabilidade do bem objeto da garantia;

o controle do credor sobre a própria garantia;

a liquidez.

A avaliação das garantias é um aspecto relevante na formalização da proposta


de crédito e para o adequado resultado do processo de análise das operações. Cabe
ao avaliador identificar o risco e as fragilidades do devedor e da operação, bem como
indicar o tipo de garantia, considerando a liquidez e a segurança propiciada por ela.

As garantias regulamentadas pelo novo Código Civil Brasileiro, em vigor a partir


de 11 de janeiro de 2003 que classifica as garantias em duas categorias: garantias pes-
soais e garantias reais.

Garantias pessoais
Schrickel (2000, p. 164) escreve que as garantias pessoais têm como principal ca-
racterística a pressuposição de que existe uma relação estreita de confiança entre o
emprestador e o tomador. Essa relação de confiança decorre, geralmente, do histórico
de relacionamento entre ambos, relação reforçada pela boa fé que o credor (Banco)
acredita haver no devedor (cliente).

Para Silva (2008, p. 329) a garantia pessoal “ocorre quando se exige do devedor
apenas a promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia comum
que lhe possa dar o patrimônio presente e futuro do devedor ou garantidor”. Ou seja,
Silva quis dizer que a garantia pessoal é uma garantia comum em que o credor só tem
o patrimônio de devedor ou avalista/fiador como garantia do débito.

A garantia pessoal não vincula qualquer bem específico do cliente ou garantidor,


mas recai sobre a totalidade dos bens que um ou outro possuir no momento da liqui-
dação do empréstimo. Com isso, os bancos expõem-se a elevados riscos de crédito, em
situações em que o valor de mercado do patrimônio do devedor for inferior ao valor
da dívida (SANTOS 2000, p. 34).
Garantias

51
As garantias pessoais são representadas pelo aval ou pela fiança. Elas são presta-
das por terceiros na qualidade de devedores solidários e principais pagadores de todas
as obrigações decorrentes do contrato. Nas garantias pessoais, o devedor não vincula
um bem específico à dívida, apenas apresenta o devedor solidário, ou avalista, para
garantir o pagamento da dívida.

Aval
A normatização do aval deu-se em 31 de dezembro de 1908, pelo Decreto-Lei
2.044. Trata-se de uma garantia fornecida por uma terceira pessoa, que se torna, a
partir de então, um devedor solidário do devedor principal.

O aval é representado pela assinatura do devedor solidário no corpo do docu-


mento de crédito. Apesar do avalista ser um devedor solidário, sua “responsabilidade
limita-se ao valor inserido no título de crédito, sendo-lhe indiferentes quaisquer outros
compromissos eventualmente assumidos entre o emprestador e o tomador no tocan-
te a juros, comissões e outros encargos” (SCHRICKEL 2000, p. 166).

Schrickel (2000, p. 166) lembra que é por essa razão que os emprestadores costu-
mam fazer “contratos de crédito” com os tomadores, em que esses se obrigam a pagar
os encargos remuneratórios relativos ao valor tomado em empréstimo, vinculando tais
encargos ao título de crédito assinado. Tais contratos se configuram, na opinião de
Schrikel em uma “fiança disfarçada”, pois transforma o “mero avalista, que tem sua obri-
gação limitada aos estritos dizeres do título de crédito em interveniente solidário”.

Tais contratos de crédito também podem prever a emissão de notas promissórias


ou letras de câmbio, à conveniência do emprestador.
A nota promissória é um título de crédito emitido pelo devedor, sob a forma de promessa de
pagamento, a determinada pessoa, de certa quantia em certa data. A nota promissória, portanto,
é uma promessa direta e unilateral de pagamento, à vista ou a prazo, efetuada, em caráter solene,
pelo promitente-devedor ao promissário-credor. (FORTES, 2004)

Embora o aval seja uma garantia pessoal que não vincula qualquer bem específico
do garantidor, mas todo o seu patrimônio pessoal, as instituições credoras costumam
exigir que o avalista tenha seu patrimônio livre, sem gravames de qualquer espécie,
para que possam garantir o retorno do capital emprestado. Ou seja, o aval é uma garan-
Análise de Risco e Crédito

tia pessoal, em que não se tem um bem específico vinculado à dívida, mas todo o patri-
mônio do avalista deve estar livre de gravames para que a instituição aceite o avalista.

O aval é utilizado em caso de títulos cambiais e é formalizado pela assinatura do


avalista, ou de seu procurador com poderes específicos, no anverso2 do respectivo

2
Anverso é a expressão que se usa no mercado bancário, significa a frente do documento. A exigência da assinatura no documento no anverso do documento
e no verso, se não houver espaço, é legal.

52
título. Santos (2000, p. 35) escreve que, se não houver espaço suficiente na frente, pode
ser feita no verso, após a expressão avalista ou por aval. Há a necessidade da assinatura
do cônjuge, sob pena de invalidação da garantia outorgada.

O aval costuma ser exigido de todas as operações de crédito por ser a forma mais
usual de garantia e por minimizar a exposição ao risco em casos de inadimplência do
cliente, ou de concordata ou falência da empresa devedora.

Santos (2000, p. 35) lembra que o avalista é responsável pela amortização do em-
préstimo, da mesma maneira que o devedor principal, não havendo prioridade de um
ou de outro na exigência do valor devido. Santos (2000, p. 35) escreve que, “todavia,
nunca poderá ser cobrado um valor superior ao do próprio título, salvo se o título for
emitido com “pacto adjeto de correção”.

Segundo o Guia do Cidadão o pacto adjeto ou pacto acessório, é uma “convenção


acessória firmada, num contrato, junto a uma convenção principal. Apartada do con-
trato ou convenção principal, a substância desta não é afetada. É também chamado
pacto acessório, e dele temos, como exemplo, a cláusula de multa” (GUIA DO CIDADÃO,
2008).

Silva (2008) considera o aval como uma obrigação autônoma em relação à obri-
gação principal, que pode ter vários avalistas, e, caso o devedor principal não cumpra
com o pagamento, é facultado ao credor cobrar a dívida de qualquer um dos avalistas,
inclusive sem cobrar do devedor principal.

Santos (2000, p. 35) relaciona alguns cuidados que devem ser tomados sobre ga-
rantias em aval:

o título de crédito deve estar bem formalizado (preenchimento, valores, ende-


reços, dados corretos, ausência de rasuras);

conferência das assinaturas, com a colocação do visto de conferência;

conferência dos poderes de quem assinou (procuração e estatutos ou contra-


to social);

que o(s) avalista(s) seja(m) o(s) mesmo(s) citado(s) no contrato a que o título
estiver vinculado, e que os dados sejam os mesmos citados no contrato;

que o valor do título seja suficiente para cobrir o valor do crédito com os res-
pectivos encargos;

normalmente as promissórias tenham vencimento à vista, porque, em caso de


vencimento antecipado do contrato, o título poderá ser protestado e cobrado,
Garantias

sem a necessidade de aguardar um vencimento posterior.

53
Fiança
Fiança é uma garantia pessoal, mediante a qual uma pessoa (fiador) garante, no
todo ou em parte, o cumprimento de obrigação que outra pessoa (afiançado/devedor)
assumiu com um concessor de financiamento (beneficiário) (SANTOS 2000, p. 36).

O novo Código Civil Brasileiro, através da lei 10.406 de 10/01/2002, artigo 818,
assim conceitua o contrato de fiança: “Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante
satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra.

Na fiança, o fiador se compromete a satisfazer à obrigação de um terceiro para


maior segurança do credor. Silva (2008) ressalta que, na fiança, poderá haver o deno-
minado “benefício de ordem”, ou seja, o credor poderá acionar primeiro e diretamente
o devedor e, após, o fiador, salvo se este renunciar ao benefício. Tanto a fiança, como o
aval, só tem validade se houver a concordância e assinatura do cônjuge, caso contrário
a garantia assim prestada será considerada nula.

A fiança geralmente abarca, além do valor do principal garantido, os encargos finan-


ceiros, como juros, despesas acessórias, comissão de permanência e outras despesas.

Schrickel (2000, p. 168) escreve que, para ser eficiente perante terceiros, a fiança
deve ser materializada em documento individualizado. Já Santos (2000, p. 36) lembra
que a execução do processo de fiança é mais lenta do que o do aval, dado que o “fiador,
demandado pelo pagamento da dívida, tem o direito de exigir, até a constatação do
processo, que primeiramente sejam penhorados os bens do devedor”. Mas, continua
Santos (2000), caso o fiador tenha concordado formalmente em renunciar ao “benefício
de ordem” e obrigar-se como devedor solidário nos casos em que o devedor principal
tornar-se insolvente ou falido, ele perderá essa oportunidade. Ou seja, a oportunidade
é alegar o benefício de ordem nos casos em que o devedor principal ficar insolvente
ou falido, o que é impossível de ser feito, pois nesses casos o fiador é tão responsável
quanto o devedor principal.

“A fiança, para ser eficiente perante terceiros, deve estar materializada em um


documento individualizado, ou integrando-se ao corpo do contrato principal para ser
registrada no Cartório de Títulos e Documentos” (Schrickel 2000, p. 168).

Schrickel (2000, p. 168) escreve que pelo Estatuto da Mulher Casada - Lei 4.121, de
Análise de Risco e Crédito

27/08/62 - “a fiança obriga a anuência da esposa do fiador casado, em razão do princípio


da outorga uxória, isto é, o consentimento do cônjuge para a assunção de uma obriga-
ção que compromete potencialmente o patrimônio comum do casal”. Acrescenta ainda
Schrickel (2000, p. 168) que, “pelo dispositivo legal, a execução da fiança não poderá
ferir o preceito da meação, ou seja, comprometer bens que ultrapassem a metade do
patrimônio comum do casal, se apenas um dos cônjuges atuou como fiador”.

54
Santos (2000, p. 36) enumera alguns cuidados a serem tomados nas garantias
por fiança:

verificar se a fiança foi prestada por escrito;

se é suficientemente clara quanto à obrigação assumida pelo fiador;

se tem vencimento compatível com a obrigação garantida;

se houve renúncia expressa aos benefícios de ordem;

se quem assinou tinha poderes suficientes para assinar a obrigação;

se a(s) assinatura(s) é(são) autêntica(s);

se quem assinou é pessoa física casada – caso em que o outro cônjuge deve
também assinar;

se o limite garantido é corrigido ou não, e de que forma, para que a dívida


esteja suficientemente coberta ao longo do tempo.

Garantias reais
São as aquelas que se constituem sobre a vinculação de bens tangíveis (corpóre-
os) do tomador, como, por exemplo, veículos, imóveis, máquinas, equipamentos, mer-
cadorias e duplicatas (SANTOS 2000, p. 37).

Silva (2000, p. 331) escreve que “as garantias ocorrem quando, além da promessa
de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia sobre uma
coisa ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis”. No caso da garantia real, o
garantidor destaca um bem de seu patrimônio, que seja aceito pela entidade empres-
tadora, para servir como garantia de devolução dos recursos tomados.

Assim, as exigências de garantias reais acontecem quando, além da promessa de


pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de execução de um bem ou
uma universalidade de coisas móveis ou imóveis. Silva (2008) afirma que, no caso da
garantia real, o garantido destaca um ou mais bens de seu patrimônio para assegurar
o cumprimento da obrigação.
[...] quando se constitui uma garantia sobre determinado bem, ele estará comprometido legalmente
com o contrato de crédito ao qual se vincula. Caso o cliente não apresente condições financeiras de
amortizar o valor total do empréstimo, o bem estará à disposição do credor que, mediante processo,
poderá recorrer à recuperação do empréstimo, via venda judicial. (SANTOS, 2000, p. 37)
Garantias

55
As garantias reais são indivisíveis, no sentido de que elas não sofrerão alteração
no decorrer do contrato de empréstimos do qual elas são garantia. Independentemen-
te da amortização do contrato, as garantias reais prevalecerão por inteiro.

As características das principais garantias exigidas pelas instituições financeiras bra-


sileiras em operações de crédito são: hipoteca, anticrese, alienação fiduciária e penhor.

Hipoteca
É uma modalidade de garantia real, acessório de dívida, que incide sobre os bens
imóveis. Nesta modalidade, o bem hipotecado permanece em poder do devedor ou
de terceiro. Tanto no penhor como na hipoteca, o credor não tem a posse do bem, mas
tem a preferência de compra, em venda judicial, visando à liquidação da dívida.

Outra característica da hipoteca, segundo Silva (2008), é o fato de “conferir ao


credor o direito de sequela, ou seja, a eventual venda do bem não afeta o gravame,
podendo o credor executar judicialmente a garantia, mesmo que o bem já esteja na
propriedade de terceiros”. Ou seja, se um bem hipotecado for vendido, ela leva consigo
o gravame, não constituindo a venda uma extinção do ônus, podendo assim o credor
executar a hipoteca.

A hipoteca de um bem contempla, salvo cláusula em contrário, todas as suas ben-


feitorias. Ou seja, a hipoteca incide sobre o bem e as benfeitorias nele feitas, e não
sobre o bem sem elas.

Anticrese
É uma modalidade específica de garantia real na qual a posse do bem imóvel é
transferida ao credor que se beneficia dos rendimentos resultantes do objeto da ga-
rantia até que a dívida seja paga. Assim, na anticrese o credor passa a usufruir do bem
dado em garantia, usufruindo de eventuais rendimentos que ele possa produzir até a
quitação da dívida. Esses rendimentos podem ser os aluguéis, se o bem dado em ga-
rantia for um imóvel que se encontra alugado a terceiros.

A anticrese difere do penhor pelo fato de versar sobre bem imóvel, enquanto os
Análise de Risco e Crédito

objetos de penhor devem ser bens móveis.

A anticrese difere da hipoteca pelo fato de, nesta última, o devedor hipotecário
ficar com a posse do bem dado em garantia, enquanto na anticrese a posse do bem
fica com o credor.

56
Alienação fiduciária
Forma especial de garantia que tem por objeto bens móveis identificáveis (má-
quina, veículos, equipamentos etc.) e opera com a transferência da posse indireta (pro-
priedade resolúvel) do bem para o credor, ficando o devedor apenas com sua posse
direta.

O devedor alienante não é o proprietário do bem alienado, apenas faz uso dele. O
devedor assume o papel de “fiel depositário”, não podendo vendê-lo ou onerá-lo sem
a prévia concordância do credor. Após a liquidação do financiamento, a posse do bem
retorna ao devedor, que passa a ser titular do domínio pleno do bem.

De acordo com Silva (2008), existe, também, a alienação fiduciária de imóvel, que
é a garantia constituída por meio de negócio jurídico em que o devedor, ou fiduciante,
contrata a transferência ao credor da propriedade resolúvel de coisa imóvel.

Penhor
É a garantia real que recai sobre os bens móveis, suscetíveis de alienação, cuja
posse, salvo no caso do penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, será transferi-
da ao credor. Este poderá efetuar a venda, judicial ou amigável do bem, para liquidar a
dívida da qual o penhor é acessório. Assim, no penhor, os objetos de garantia devem
ser bens móveis, suscetíveis de venda, que devem ser transferidas ao credor, salvo se a
modalidade de garantia for penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, casos em
que os bens podem ficar na posse do devedor.

O penhor tem vasta abrangência, que pode englobar:

bens móveis corpóreos ou incorpóreos (joias, quadros, mobílias valiosas, direi-


tos e outros);

os imóveis;

os direitos; e

títulos de crédito.

O credor de operações de penhor é conhecido como “credor pignoratício”. Ele é


apenas o depositário do bem que recebe. Se o devedor não pagar a dívida, pode o credor
executar a venda, judicial, sendo-lhe vedado apropriar-se do bem. Silva (2000, p. 332) es-
creve que “o penhor permite, no caso de falência, que o credor seja pago preferencialmen-
Garantias

te em relação aos demais credores e desde que respeitada a preferência dos créditos”.

57
Um exemplo clássico de penhor são os de joias e bens não-perecíveis que podem
servir de garantia real para valores emprestados pela Caixa Econômica Federal.

Silva (2000) lembra que o penhor em que o devedor entrega ao credor (depositá-
rio) coisa móvel em garantia é chamado penhor comum. No penhor especial, que com-
preende o penhor rural e o penhor industrial, não há transferência do bem ao credor,
ficando os próprios devedores como depositários. Quando o penhor incide sobre títu-
los de crédito, ele recebe o nome de caução.

Para Silva (2000) a caução é uma garantia real representada pelo penhor de bens
intangíveis (incorpóreos). Esse autor relaciona os títulos e documentos viáveis de serem
caucionados, em operações de crédito:

Ações – fração do capital social de uma sociedade anônima, representado


por títulos de propriedade negociável. Assim, ação é a parcela mínima do ca-
pital, equivalente à escritura de um título de propriedade da parte ideal da
empresa.

Cédula hipotecária – título de crédito, nominativo, endossável, garantido por


hipoteca. É um título que representa um direito (crédito) que caracteriza uma
promessa de pagamento com uma garantia real de hipoteca. É um instrumen-
to suficiente para a representação de créditos hipotecários.

Certificado de Depósito Bancário (CDB) – aplicação financeira baseada em


Títulos de Renda Fixa que permite ao investidor saber com antecedência quais
serão os rendimentos oferecidos pela aplicação. É um investimento com baixo
risco podendo ser transferido mediante endosso pelo depositante.

Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) – título de crédito nominativo,


de livre negociação, lastreado em créditos imobiliários, que constitui promes-
sa de pagamento em dinheiro. Ao adquirir um CRI, o investidor está adquirin-
do, na verdade, o fluxo de recebimento de crédito concedido para a efetivação
do empreendimento imobiliário. Os CRIs são emitidos exclusivamente pelas
companhias securitizadoras que transformam em títulos (CRIs) os créditos (re-
cebíveis) imobiliários descontados pelos incorporadores imobiliários, institui-
ções financeiras, imobiliárias etc.

Debêntures – título de crédito representativo de empréstimo que uma com-


Análise de Risco e Crédito

panhia faz junto a terceiros e que confere direitos aos seus detentores, nas
condições constantes da escritura de emissão.

58
Duplicata – título de crédito formal, nominativo, emitido por empresário ou
prestador de serviço e representativo de uma compra e venda de bens ou de
prestação de serviços, destinado ao aceite e pagamento por parte do compra-
dor, circulável por meio do endosso e sujeito à disciplina do direito cambiário.

Letra de câmbio (cambial) – título de crédito formal e completo, nominativo,


circulável por endosso, em que alguém (sacador) ordena a outrem (sacado)
que pague a um terceiro (tomador) ou a si mesmo, em certo tempo e lugar,
determinada quantia.

Nota promissória – título de crédito formal que contém promessa direta de pa-
gamento feita pelo emitente (devedor) a favor do beneficiário (credor), sendo
nominativo e circulável mediante endosso, salvo cláusula em contrário.

Título de dívida pública – títulos emitidos pelo Estado como, por exemplo,
apólices, obrigações do tesouro e bônus.

Warrants – documento de crédito que consubstancia um penhor de merca-


dorias depositadas em armazém geral.

Conclusão
Em operações de crédito, a garantia é geralmente exigida por toda instituição
financeira como forma de mitigar o risco do eventual não recebimento dos valores
emprestados ou financiados.

Existem duas categorias de garantia, as pessoais e as reais. As garantias pessoais


são representadas pelo aval e a fiança e ocorrem quando se exige do devedor apenas a
promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia que lhe possa dar o
patrimônio presente e futuro do devedor ou do garantidor (avalista ou fiador).

As garantias reais ocorrem quando, além da promessa de pagamento, o devedor


confere ao credor o direito especial de garantia sobre bens móveis ou imóveis. São
exemplos de garantias reais: hipoteca, anticrese, alienação fiduciária, penhor e caução.

A qualidade da garantia atrelada na operação crédito é fator relevante a ser con-


siderado pelas instituições financeiras. Deve-se priorizar garantias mais líquidas que
outras, que possam reverter em dinheiro mais rapidamente quando as instituições em-
prestadoras enfrentarem determinada situação de inadimplência.
Garantias

59
Texto complementar

Sistema de garantia de crédito para micro e


pequenas empresas no Brasil: proposta de um modelo
(ZICA; MARTINS, 2008)

Formas de garantia de crédito


Segundo Neves (1997), no direito brasileiro a garantia pode ser definida como
“meio de assegurar ou acautelar o direito de outrem, contra qualquer lesão resul-
tante da inexecução de uma obrigação”. A garantia, continua o autor, é a “proteção
que a ordem jurídica dispensa à pessoa ou ao direito de cada um”. As regras sobre
as exigências e cumprimento das garantias a um determinado empréstimo foram
evoluindo, culminando em dois tipos vigentes de garantias pessoais, também cha-
madas de fidejussórias; e garantias reais. Conforme Souza (2002), nas garantias pes-
soais, uma terceira pessoa se compromete, perante o credor, a pagar a obrigação
acertada, caso o devedor não a concretize. Subdividem-se em fiança e aval.

Já as garantias reais são representadas por uma coisa (bem), que pertença ao
devedor ou a algum terceiro e que possua valor suficiente para eventual ressarci-
mento do credor, em caso de não pagamento da obrigação contratada. Subdivi-
dem-se em penhor, caução, hipoteca, alienação fiduciária e anticrese.

O que as diferencia variará em função do direito de propriedade e da posse do


bem ofertado em garantia, durante a vigência do contrato.

Modelos gerais de sistemas de garantia de crédito


Segundo Cassiolato, Britto e Vargas (2002), os mecanismos de garantia de cré-
Análise de Risco e Crédito

dito vêm sendo amplamente empregados em âmbito mundial. Para os autores, os


esquemas de garantia de crédito ou esquemas de garantia mútua possibilitam a
oportunidade de acesso ao sistema financeiro nacional, àquelas empresas que não
apresentam as condições necessárias para contratar financiamento pela falta de ga-
rantias e de informações sobre o desempenho passado.

60
De acordo com Pombo e Herrero (2003), o objetivo dos sistemas de garantias
de crédito é a integração das micro e pequenas empresas com o sistema financeiro
formal, sob melhores condições de juros e prazo. Além disso, esse sistema apresenta
outras possibilidades de atuação, como o oferecimento de avais técnicos, comer-
ciais e de serviços de assessoramento empresarial aos clientes. Os estudos realizados
pelos autores identificaram a existência de três modelos gerais que englobam todos
os sistemas de garantias: fundos de garantia – esse tipo de fundo dispõe de recursos
limitados e transitórios, oriundos de programas públicos (estatais), fundações, ONGs
ou de alguma cooperação internacional, destinados a prestar garantias de crédito.
As atividades operacionais de análise, concessão e recuperação ficam delegadas às
entidades financeiras e o postulante solicita o crédito e geralmente paga pelo uso
da garantia; programas de garantia – são programas voltados para a garantia do cré-
dito, com articulação e administração, normalmente, por meio de uma agência de
desenvolvimento estatal, do banco central do país envolvido ou por algum banco
público. Seus recursos podem ser limitados e renováveis, procedentes do Estado
ou de organismos de cooperação multilaterais e bilaterais; sociedades de garantia
de crédito – são sociedades destinadas à prestação de garantias complementares a
seus associados, conforme exigência do sistema financeiro. Possuem também o ob-
jetivo de prestação de avais técnicos e comerciais, bem como de serviços correlatos
ao assessoramento financeiro de seus sócios, micro, pequenas e médias empresas.
Podem ser de âmbito local, regional ou estatal.

A própria sociedade realiza os serviços de análise e de concessão das garantias


pleiteadas, assumindo a inadimplência e eventuais falências, se encarregando dire-
tamente da atividade de recuperação das perdas.

Conforme Lloréns (1996), as sociedades de garantia de crédito subdividem-se


em: mutualista, realizada por instituição privada, com dotação de recursos privados
e públicos; e corporativa, onde os recursos são mistos, mas tem predominância de
participação de entidades do setor público.

Destacam-se como principais características do modelo de Sociedade de Ga-


rantia de Crédito (SGC): possuir âmbito local, regional ou estatal; realizar serviços de
análise e concessão de garantias complementares aos seus usuários; prestar avais
técnicos e comerciais; realizar serviços de assessoramento financeiro a seus sócios;
garantia individual; relacionamento entre cliente e entidade gerador de fidelização,
visto que o cliente estabelece relação e pagamentos diretamente à Sociedade de
Garantia de Crédito; assumir inadimplência, eventuais falências e se encarregar da
recuperação das perdas; aumentar o poder de barganha com as instituições finan-
ceiras por melhores condições das formas de financiamento e potencializar a redu-
Garantias

ção da assimetria de informações entre a oferta e a demanda.

61
Como apontaram Pombo e Herrero (2003) e Llisterri (2006), baseando-se nas
melhores práticas das experiências internacionais, existem certas vantagens na uti-
lização das SGCs em relação aos fundos de avais.

As SGCs podem ser mais interessantes que os fundos, se vistas pelos seguintes
prismas: possibilidade de efetuar convênios com diversas instituições financeiras,
ampliando o leque de oportunidades para os associados; menor nível médio de
inadimplência que os fundos, dada a redução do risco moral e da melhora da quali-
dade das análises de outorga das garantias; possibilidade de aproximação entre os
parceiros, gerando negócios entre si, complementaridade de atividades, prestígio e
engajamento social-empresarial, aprendizado mútuo; os fundos têm participação
pequena em relação à grande carência de crédito e sua relação com a deficiência de
apresentação de garantias; estímulo do protagonismo local; possibilidade de atra-
ção de novos negócios na região, e aumento do poder de barganha perante as insti-
tuições financeiras (podendo, eventualmente, ocorrer um “leilão reverso”).

Segundo Llisterri (2006), o valor médio das garantias prestadas nos modelos
das sociedades de garantia de crédito é bem superior ao dos valores médios garan-
tidos pelos fundos de aval.

Existem três fundos de aval em funcionamento no Brasil: o Fundo de Aval às


Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae; o Fundo de Aval
para a Geração de Emprego e Renda (Funproger), administrado pelo Banco do Brasil;
e o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade (FGPC), criado e admi-
nistrado pelo BNDES, todos de abrangência nacional.

Entretanto, a partir das definições de Pombo e Herrero (2003), compreendemos


que os fundos existentes no país comportam-se mais dentro do conceito de “progra-
mas de garantia” do que de “fundos de garantia”. De acordo com Baumgartner (2004),
tal afirmação se dá em função de que os fundos no Brasil não possuem característica
de recursos transitórios, mas renováveis e perenes.

Sob a sistemática de sociedade de garantia de crédito, existe um modelo em fun-


cionamento no Brasil denominado Associação de Garantia de Crédito (AGC) da Serra
Gaúcha, com atuação específica naquela região e com características mutualistas.
Análise de Risco e Crédito

62
Atividades

1. Em que situação específica citada, a garantia pessoal, exigida pelas instituições


financeiras na concessão de empréstimos, pode expô-las a elevados riscos nas
operações de crédito?

2. Qual o tipo de garantia que ocorre a transferência da propriedade resolúvel do


bem ao credor?

a) Alienação fiduciária.

b) Penhor comum.

c) Hipoteca.

d) Aval.

3. Segundo Galvão “[...] os objetos da garantia são bens móveis e imóveis. E deve
ser constituída por meio de uma escritura pública”. Qual é a alternativa correta
sobre a garantia referida?

a) Penhor.

b) Hipoteca.

c) Aval.

d) Alienação fiduciária.

4. “É uma modalidade específica de garantia real na qual a posse do bem imóvel


é transferida ao credor, que se beneficia dessa forma dos rendimentos resultan-
tes do objeto da garantia até que a dívida seja paga”. Essa definição correspon-
de à qual garantia?

a) Fiança.

b) Penhor.

c) Hipoteca.

d) Anticrese.
Garantias

63
Ampliando conhecimentos
SANTOS, José O. Análise de Crédito – Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo:
Atlas, 2000.

O autor sintetiza, de forma prática e interessante, as principais garantias pessoais


e reais adotadas no mercado de crédito brasileiro. Sugere-se a consulta ao capítulo
“garantias” para firmar os conceitos estudados.

SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

O autor apresenta um capítulo dedicado ao estudo das garantias e suas principais


modalidades. Relaciona cada uma delas e apresenta as características e semelhanças
entre as garantias. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver dúvidas sobre
pontos abordados no capítulo.
Análise de Risco e Crédito

64
Garantias

65
Risco e crédito

Introdução
O conceito do risco está relacionado à possibilidade de perigo. No mundo empre-
sarial, mais especificamente em relação ao risco de crédito, o conceito está relacionado
às incertezas e às possibilidades de perda em determinadas operações.

Solomon e Pringle (1981) escrevem que “risco é o grau de incerteza a respeito de


um evento”. No entanto, Silva (2008) pondera que, em Finanças, costuma-se diferenciar
os conceitos de risco e incerteza. O autor traz as seguintes definições:
a) Risco: existe quando o tomador de decisões pode basear-se em probabilidades objetivas para
estimar diferentes resultados, de modo que sua expectativa se baseia em dados históricos e,
portanto, a decisão é tomada a partir de estimativas julgadas aceitáveis pelo tomador de
decisões.

b) Incerteza: ocorre quando não se dispõe de dados históricos acerca de um fato, o que poderá
exigir que o tomador de decisões faça uma distribuição probabilística subjetiva, isto é, baseado
em sua sensibilidade pessoal. (SILVA, 2008, p. 56)

Do ponto de vista da instituição financeira, o grau de incerteza do recebimento de


um valor emprestado é medido através da probabilidade de ocorrência do evento. Assim,
se o recebimento do empréstimo feito for um “evento certo”, isto é, se estiver sendo con-
siderado como garantido, a probabilidade do evento será de 100%. Assim, para cada
evento pode-se associar a uma probabilidade correspondente à sua ocorrência.

O risco e a incerteza costumam estar presentes em grande número de decisões


financeiras dos executivos das empresas. Tais decisões podem levar ao sucesso ou ao
fracasso da empresa.

Assaf Neto (2008, p. 207) escreve que a ideia de risco “está diretamente associada
às probabilidades de ocorrência de determinados resultados em relação a um valor
médio esperado”. Tal conceito é voltado para o futuro, analisando uma possibilidade
de perda.

Securato (1996, p. 21) escreve que são conhecidas as histórias do mercado finan-
ceiro, onde “operações praticamente sem riscos em determinado dia levam, no dia

67
seguinte, bancos e corretoras à liquidação, como o ocorrido em junho de 1989 (caso
Nahas) nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro”. O autor continua, afirman-
do: “outro exemplo é o caso de carregamento de títulos públicos com ganhos pratica-
mente seguros que se transformam em razoáveis prejuízos”.

O caso do investidor libanês Naji Nahas, nascido no Egito, é o do escândalo finan-


ceiro que abalou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro que estourou no dia 9 de junho de
1989, quando Nahas emitiu um cheque do Digibanco no valor de NCz$38.921.760,12
(cruzados novos), cerca de US$10 milhões, devolvido sem fundos pelo Banco de Cré-
dito Nacional.
Nahas foi proprietário de empreendimentos tão díspares quanto o Banco Sogeral e a boate Regine’s.
Tudo parecia ir bem até que descobriu o mercado financeiro. Nahas afirma ter perdido com a crise
da Bolsa carioca uma carteira de ações que valia US$ 480 milhões à época – hoje, mais de US$ 2
bilhões. Sempre considerou como virtudes suas estar bem informado e antecipar acontecimentos.
‘A genialidade é ser capaz de prever o que vai acontecer no futuro’, disse em março de 1988, um ano
antes de a crise estourar. (ALMEIDA ; VIEIRA, 1997)

Embora o estudo do risco seja um procedimento moderno e relevante para insti-


tuições financeiras, Securato faz a seguinte ressalva:
Com todo o esforço realizado e por mais positiva que seja nossa avaliação com relação ao crédito a
ser concedido, só conheceremos o resultado da operação no seu vencimento, quando recebermos
ou não o valor pactuado pela operação de crédito. Essa falta de certeza quanto ao resultado do
processo é que cria a condição de risco na operação de crédito! (SECURATO, 2002, p. 181)

Conceito e classificação
Uma compreensão intuitiva de “risco de crédito” é dada por Securato (2002), que
afirma ser comum tratarmos o termo “risco de crédito” no sentido de operação que as
vezes não se encerra da forma como gostaríamos, ou seja, de recebermos sem proble-
ma o resultado da operação de crédito. O risco de crédito pressupõe a possibilidade da
quantia emprestada não ser devolvida no valor e no tempo originalmente acordado.

As operações de crédito são objeto de minuciosas investigações dos órgãos regu-


ladores, geralmente atentos para adotar medidas de regularização do mercado finan-
ceiro, se necessário.

Nos últimos 30 anos, o mundo financeiro presenciou grandes colapsos. Em princí-


Análise de Risco e Crédito

pios da década de 1970, houve excesso de liquidez na economia americana, resultado da


entrada dos Estados Unidos aos petrodólares1 que, juntamente, com a pressão inflacio-
nária interna, redundou na elevação da inflação e a taxa de juros no país. Tais aconteci-
mentos, aliados ao aumento dos recursos disponíveis e do crescimento desordenado do
crédito, ocasionou um aumento das taxas de inadimplência (SECURATO, 2002).
1
Petrodólares: são as divisas (em geral, dólares) originárias da exportação de petróleo.

68
No final da década de 1990, a crise financeira estourou nos países conhecidos
como Tigres Asiáticos2. Essa crise ficou conhecida como “crise asiática”, caracterizada
principalmente pela fuga de capitais dos investidores estrangeiros. A liquidez do sis-
tema bancário chegou a quase zero e expandiu-se para outros países que tinham rela-
ções comerciais mais intensas com aqueles países: Tailândia, Indonésia, Brasil e Repú-
blica Tcheca.

A crise mexicana ocorreu em 1995. Ela ocasionou a desvalorização do peso me-


xicano em 60%, em um espaço de 15 dias. Esse fato provocou uma fuga em massa
de divisas do país, desencadeando uma onda de desconfiança em todos os mercados
financeiros dos países em desenvolvimento, o chamado “efeito tequila”. Essa crise oca-
sionou um “pacote” de ajuda ao México, no valor de 47,5 bilhões de dólares, feita pelo
governo norte-americano.

Em 2007, a crise financeira mundial eclodiu nos Estados Unidos. As financeiras


americanas confiaram excessivamente em clientes que não tinham boa ficha cadastral,
resultando no não pagamento de dívidas nos últimos anos. Com isso, as financeiras
refinanciaram clientes com má ficha cadastral. Esses refinanciamentos são conhecidos
como subprime (traduzido como “de segunda linha”).

A crise americana iniciada em meados de 2007 é tida como a mais grave depois
da crise financeira de 1929, nos Estados Unidos. A crise de 2007 se originou quando os
clientes deixaram de pagar a prestação de financiamentos de seus imóveis, dado como
garantia na operação, ocasionando uma crise no mercado imobiliário. Os preços dos
imóveis caíram, reduzindo as garantias dos empréstimos.

As instituições, temerosas, dificultaram novos empréstimos, fazendo cair o número


de compradores de imóveis, agravando ainda mais a crise no setor, que começou a ser
sentida em julho de 2007.

Essa crise financeira espalhou-se por todos os países do globo, devido ao fato de
que os bancos transformaram os empréstimos hipotecários em papéis negociáveis (se-
curitização), vendendo-os a diversas instituições financeiras em todo o mundo. Essas,
pelo fato das hipotecas não estarem sendo pagas nos Estados Unidos, acabaram so-
frendo perdas financeiras.

O resultado da crise financeira mundial, iniciada em 2007, deve afetar o nível de


emprego e consumo de vários países, causando, provavelmente, recessão geral na
economia de todos, ou em grande parte, dos países envolvidos.

Devido às crises financeiras referidas acima, que envolveram número elevado de


Risco e crédito

países, o risco de se conceder crédito passou a ser melhor analisado pelas instituições
financeiras, porque em épocas de crise de liquidez e confiança na quantidade de

2
Tigres Asiáticos: Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan.

69
recursos disponíveis para operações de crédito costuma reduzir-se, elevando as taxas
de juros incidente sobre elas.

Gitman (2004) traz a seguinte definição sobre risco de crédito, “o risco, em seu
sentido fundamental, pode ser definido como a possibilidade de prejuízo financeiro”.
Segundo o autor, observa-se que o termo “risco” é usado alternativamente para deno-
tar “incerteza” quando trata da variabilidade de retorno associada a um ativo.

O grau de risco é uma qualificação atribuída em função de indicadores financeiros,


combinados com informações de caráter qualitativo, que indicam com que severidade
o cliente deverá ser tratado, tanto no momento do estabelecimento do limite de crédi-
to ou de aprovação de uma operação específica, quanto no posterior gerenciamento
de risco (SECURATO, 2002).

Um aspecto relevante em relação ao risco é a forma como as empresas expõem-se


a ele e até que ponto elas se arriscam em operações de crédito que representam varia-
bilidade em relação ao retorno esperado. A depender da forma como as empresas acei-
tam o risco, as preferências empresariais podem ser classificadas da seguinte forma:

Indiferentes ao risco – quando nenhuma mudança no retorno seria exigida


em vista de um aumento de risco. É o exemplo do cliente que apresenta um
risco elevado, mas a empresa resolve operar com ele, pois se trata de cliente
tradicional que apresenta boas garantias.

Aversos ao risco – quando um incremento de retorno seria exigido em vista


de um aumento de risco. É o caso do cliente que apresenta certo grau de risco
e a empresa ou instituição financeira cobra um valor maior pelo risco maior
detectado.

Tendência ao risco – quando uma diminuição de retorno poderia ser aceita


em vista de um aumento de risco. É o exemplo, geralmente não muito ob-
servado, de uma empresa reduzir os encargos (juros e correção monetária)
incidentes na operação realizada com um cliente de risco elevado.

De um modo geral, os gestores de empresas e instituições financeiras tendem a


ser aversos aos riscos. Em cenários mais arriscados costumam exigir retornos maiores
para as operações, incorporando o risco ao preço. A regra geral é que os emprestado-
res aceitem o risco apenas até o ponto em que sentem seguros quanto à devolução da
Análise de Risco e Crédito

soma emprestada ou financiada ao cliente.

Existem diversos mecanismos, de natureza quantitativa e qualitativa, para se avaliar


os riscos de operações de crédito. Descreve-se, abaixo, os julgados mais representativos.

70
Análise de sensibilidade – é um mecanismo utilizado para avaliar os riscos das
operações. Para Gitman (2004, p. 2005), a análise de sensibilidade “usa inúmeras
estimativas de retorno possíveis para obter a percepção da variabilidade entre
os resultados”. Segundo ele, o método envolve a estimativa dos retornos pessi-
mistas, dos mais prováveis e dos otimistas relacionados a determinado ativo.

De acordo com esta análise, o risco é medido por uma faixa que é encontrada
subtraindo os resultados pessimistas dos resultados otimistas. Segundo a análise de
sensibilidade, quanto maior a faixa dada a um ativo, maior a variabilidade e o risco que
ele representa.

Para melhor ilustrar a análise de sensibilidade, apresenta-se, abaixo, um exemplo


de duas operações com mesmo investimento ($50.000), porém com diferentes expec-
tativas de retorno, vejamos:
Tabela 1 – Exemplo de análise de sensibilidade

(GITMAN, 2002)
Análise de sensibilidade Operação A Operação B
Investimento inicial 50.000 50.000

Taxa de retorno

Pessimista 12% 6%

Mais provável 15 % 15%

Otimista 18 % 24 %

Faixa 6% 18%

O valor da faixa apresentado no exemplo foi obtido pela subtração das expectati-
vas pessimistas das otimistas de retorno (8% - 2% = 6%) da operação A. O valor da faixa
da operação B é calculada assim (18% = 24% - 6%). A variação apresentada pela opera-
ção B representa um risco mais elevado, isso significa que ela é uma operação com um
maior risco para o investidor, pois 18% da operação B é maior que 6% da operação A.

No Brasil, o Banco Central expediu a Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999,


que determinou as escalas de classificação de riscos e fixou os percentuais de provisio-
namento para os créditos de recebimento duvidoso, como demonstrado na tabela a
seguir. O provisionamento é o registro contábil de constituição de uma provisão, em
que se debita uma conta de “despesa”, de saldo devedor, e se credita a Provisão, conta
de saldo credor. A Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa tem a função de
Risco e crédito

contrabalancear os créditos incobráveis dos Bancos.

71
A tabela abaixo mostra as classificações de risco para os empréstimos concedidos
por instituições financeiras:

Classe de AA A B C D E F G H
Risco
Provisionamento 0,00% 0,50% 1% 3% 10% 30% 50% 70% 100%

A tabela mostra que a classe AA apresenta o menor risco, não sendo necessária
a constituição de provisão para crédito de liquidação duvidosa, já no caso da classe H,
segundo orientação do Banco Central, há necessidade da provisão de 100% dos em-
préstimos concedidos.

A Resolução 2.682/99 considera que as operações devem considerar os fatores


abaixo na classificação dos clientes, de “AA” até “H”.

Devedor/Garantidor

situação econômico-financeira;

grau de endividamento;

capacidade de geração de resultado;

fluxo de caixa;

administração e qualidade dos controles;

pontualidade e atrasos de pagamentos;

contingências;

setor de atividade econômica.

Operação

natureza e finalidade;

suficiência e liquidez das garantias;

valor.
Análise de Risco e Crédito

Referindo-se à Resolução 2.682/99, Silva escreve que a graduação de risco pres-


crita na norma
[...] serve como referencial para identificar a chance de perda de uma determinada operação e,
dessa forma, orientar na precificação do empréstimo e financiamento” e “atende às exigências
das autoridades monetárias do país, que seguem uma tendência internacional de utilização de
sistemas de classificação de risco (rating) como forma de graduar o risco da carteira de crédito do

72
banco (portfolio risk) e, consequentemente, orientar o provisionamento dos créditos de liquidação
duvidosa. (SILVA, 2000, p. 75)

No mercado de crédito, de um modo geral, os riscos são classificados em quatro


grupos:

Risco do cliente ou risco intrínseco (intrinsic risk) – está relacionado à aná-


lise da situação econômico-financeira da empresa, sua administração e con-
trole, pontualidade em quitar operações de crédito, possíveis contingências e
setor de atividade econômica que atua.

Para Silva (2008, p. 58) este risco “é inerente ao tomador e decorre de suas
características”. Segundo o autor, o não pagamento do empréstimo pelo de-
vedor pode estar associado a fatores relacionados ao próprio devedor.

Risco de operação (transaction risk) – está relacionado a aspectos e carac-


terísticas inerentes à finalidade e à natureza das operações. São considerados
componentes de uma operação de crédito: I) produto; II) montante; III) prazo;
IV) forma de pagamento; V) as garantias; e VI) preço.

Risco de concentração (concentration risk) – está relacionado à composição


da carteira de recebíveis de uma instituição quanto ao volume de concentra-
ção de operações que a mesma apresenta. O risco de uma carteira de crédito
é diferente dos riscos de suas operações individuais, em razão das correla-
ções3 que possam haver entre os diversos segmentos. Por outro lado se, por
exemplo, um banco distribuir suas aplicações em segmentos econômicos que
tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de risco, não represen-
tará diversificação. Em decorrência do risco de concentração, muitas institui-
ções optam por diversificar sua carteira de recebíveis (SILVA 2000, p. 80).

Risco da administração do crédito – está relacionado às medidas adotadas


pelas instituições financeiras para mitigar os riscos envolvidos na gestão dos
valores emprestados, tais como: diversificação da carteira de crédito, treina-
mento da equipe de profissionais, divisão lógica das tarefas envolvidas na
gestão do crédito concedido, capacidade humana e tecnológica, estrutura ju-
rídica, entre outros.

Diversificação de riscos
Risco e crédito

As informações sobre a situação financeira e patrimonial dos clientes das instituições


e empresas financeiras não são homogeneamente distribuídas no mercado de crédito
(SANTOS 2000, p. 126). Tal acontecimento é conhecido como assimetria informacional.
3
Correlação é um indicador estatístico, também chamado de coeficiente de correlação, que indica a força e a direção do relacionamento linear entre duas
variáveis.
73
O mercado de crédito abriga informações imperfeitas, onde os bancos costumam
ter apenas ideias aproximadas do risco total de suas carteiras de crédito, ao contrá-
rio dos tomadores de empréstimos que conseguem avaliar com alguma precisão, na
maioria dos casos, suas condições de pagamento.

Toda operação de empréstimos e financiamentos concedidos (ativo da instituição


financeira) apresenta algum tipo de risco para as instituições credoras.

Segundo a moderna teoria das carteiras,


[...] a diversificação de ativos em carteiras é indicada como ação redutora do risco ao
considerar que o valor de um ativo deva ser visto, não de forma isolada, mas quanto à
contribuição que proporciona ao risco total da carteira. (SANTOS 2000, p. 126)

Diversificar uma carteira de empréstimos ou de outros ativos pressupõe que a


tarefa seja feita com critério e cautela. Assim, dentro da carteira podem-se ter ativos
com maior ou menor retorno esperado, e com maior ou menor variabilidade.

Enquanto o “risco” pode ser definido como a possibilidade de prejuízo financeiro


ou volatilidade (variabilidade) de retorno associada a um ativo, o “retorno” pode ser
conceituado como ganhos ou prejuízos dos proprietários decorrentes de um inves-
timento durante determinado período de tempo. Demonstrando esse conceito de
forma matemática, tem-se:

Pt – Pt – 1 + C
ke =
Pt – 1

Onde:
ke = taxa de retorno exigida ou esperada
Pt = valor do ativo no tempo t
Pt-1 = valor do ativo no tempo t – 1 (anterior)
C = fluxo de caixa do investimento no período de t – 1 até t

Assim, se em 2007 um investimento tinha um valor de mercado de R$30.000,


gerando um fluxo de caixa durante esse ano de R$2.500, e considerando-se que, em
19/11/2008, o valor de mercado do investimento é de R$35.000, a taxa de retorno do
investimento é de 0,25, ou, 25%, calculada da seguinte forma:
Análise de Risco e Crédito

ke = 35.000 – 30.000 + 2.500 = 0,25 ou 25%


30.000
Santos (2000, p. 126) cita Bennet e Sharpe (1984), Alexander e Bailey (1999) para
afirmar que mesmo se retornos isolados (um único ativo) estejam sujeitos a grande

74
variabilidade, os resultados podem ser positivos para a carteira, caso o ativo individual
apresente correlação negativa com os outros ativos, ele contribuirá, assim, para a redu-
ção do custo total, isto é, se o ativo individual estiver com força e sinais contrários dos
outros ativos (coeficiente de correlação).

O risco apresentado pelos ativos está relacionado à variabilidade dos retornos


projetados em torno do retorno esperado. De acordo com Assaf Neto (2008), o risco
está relacionado com o grau de dispersão dos retornos em relação à média. Para a
mensuração do risco de um ativo, usualmente é utilizada a medida estatística conheci-
da como “desvio-padrão”. O desvio-padrão é uma medida estatística de dispersão cal-
culada pelo quadrado da distância entre o ponto e a média.

A diversificação é utilizada para a combinação de ativos de uma carteira (portfólio)


de modo que se apure um risco menor que o risco calculado para cada um de seus
componentes individualmente.

No entanto, Assaf Neto (2008, p. 217) afirma que “essa redução constatada em
uma carteira diversificada ocorre até certo limite, sendo impraticável a eliminação total
do risco da carteira”. O autor constata que a diversificação consegue minimizar o risco,
e não eliminá-lo.

Para entender melhor o risco diversificável faz-se necessário apresentar duas clas-
sificações de risco:

a) Risco sistemático (ou não diversificável)

Assaf Neto (2008, p. 209) afirma que esse risco é “inerente a todos os ativos negociados
no mercado, sendo determinado por eventos de natureza política, econômica e social”.

O risco sistemático está ligado às alterações do mercado, e cada ativo tem um


comportamento diferente diante das mudanças do mercado. E como não há possibi-
lidade de evitar totalmente o risco sistemático, a diversificação acaba sendo utilizada
como medida preventiva para a redução desses riscos.

Segundo Leite, o risco sistemático “tem origem nas flutuações a que está sujeito o
sistema econômico como um todo” (LEITE, 1994, p. 407).

As principais fontes de alterações do risco sistemático são: variações nas taxas de


juros da economia, o processo inflacionário, a situação política e o comportamento das
cotações no mercado de títulos.

b) Risco não sistemático (risco diversificável)


Risco e crédito

Esse risco está relacionado às características individuais de cada ativo. É um risco


intrínseco, próprio de cada investimento realizado. Um exemplo disso é o fato das car-

75
teiras diversificadas conterem títulos de renda fixa e renda variável, os quais são atingi-
dos de maneira diferente diante de uma elevação na taxa de juros da economia.

Outro exemplo citado por Assaf Neto (2008) são as ações de empresas cíclicas
(montadoras de veículos, construção civil) de maior risco, que costumam compor car-
teiras com negócios mais estáveis diante das alterações no mercado, como as indús-
trias de alimentos.

O denominado risco diversificável ou não sistemático está diretamente relacio-


nado à diversificação dos riscos. Assim, o risco diversificável é o que pode ser total
ou parcialmente diluído pela diversificação da carteira. Para Assaf Neto (2008), o risco
diversificável relaciona-se diretamente às características básicas dos títulos e do mer-
cado em que é negociado.

A diversificação pode ser adotada em carteiras de naturezas diferentes, como:


ações, projetos de investimentos, títulos de renda fixa, produtos comerciais etc.

Rating
Noção intuitiva de rating pode ser dada pela seguinte definição:
O rating é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos
financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que
emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor
risco de ocorrência de um “default”, isto é, de suspensão de pagamentos. (SECURATO, 2002, p. 183)

As instituições financeiras costumam classificar seus clientes segundo a capa-


cidade de cada um de saldar seus compromissos. Por outro lado, as instituições são
também avaliadas por agências especializadas. O critério de classificação costuma
variar entre as instituições financeiras e entre as agências, mas o parâmetro funda-
mental é o fator “risco”.

As agências de rating são empresas especializadas que “fornecem serviços de


análise, operando sob os princípios de independência, objetividade, credibilidade e
disclosure” (SECURATO 2002, p. 183). Entende-se disclosure por “transparência” das in-
formações evidenciadas.

Existem diversas agências internacionais de rating como, por exemplo, a Standard


Análise de Risco e Crédito

& Poor, Moody’s, Fitch IBCA, Duff & Phelps Credit Rating Co., dentre outras. Securato
(2002, p. 183) escreve que a classificação de risco de crédito, por instituições financeiras,

76
apesar de estar sendo feita há décadas, somente tomou impulso após o Acordo da Ba-
sileia. Esse acordo foi dividido em dois: o Acordo da Basileia I e Acordo de Basileia II.

O Acordo de Basileia, denominado International Convergence of Capital Measure-


ment and Capital Standards, também designado por Basileia I, foi um acordo firmado
em 1988, na cidade de Basileia (Suíça), por iniciativa do Comitê da Basileia e ratificado
por mais de 100 países.

Salienta-se que uma classificação de risco é uma opinião sobre a capacidade


futura, responsabilidade jurídica e sobre a disposição do cliente em efetuar o paga-
mento do valor devido, dentro do prazo. Essa classificação avalia a probabilidade de
inadimplência do devedor, baseada em uma série de variáveis subjetivas e objetivas,
seguindo metodologia própria de cada agência.

Ressalta-se que, apesar dos controles existentes, os riscos de crédito não são eli-
mináveis, mas mitigados através dos mecanismos de controle exigidos pelas normas
próprias das instituições financeiras, pelo Banco Central do Brasil e pelos Acordos de
Basileia I e II.

Tais controles pressupõem a estimação do risco da perda e a exigência de prê-


mios pelos riscos incorridos. Assim, o rating é uma avaliação de risco. De acordo com
o Banco Central, o rating é avaliado pelas instituições independentes referidas acima,
especializadas na determinação e divulgação do risco das corporações, instituições fi-
nanceiras e países (neste último caso, o chamado risco soberano).

Conclusão
O conceito de risco está intrinsicamente relacionado às operações de crédito, em
que existe a possibilidade do não recebimento do valor emprestado. O grau de incerte-
za quanto ao recebimento de um valor emprestado é medido através da probabilidade
de ocorrência do evento. Um evento certo, garantido, terá a probabilidade de 100% de
recebimento.

O risco está presente nas operações de crédito das instituições financeiras, das
empresas comerciais, industriais e de prestação de serviços, em que há um tomador e
um emprestador de recursos. O risco nas operações de crédito pode ser mitigado, mas
nunca extinto.
Risco e crédito

77
Textos complementares

Entenda o que é rating ou risco de crédito


(FOLHA, 2007)

O rating é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar


seus compromissos financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as
agências de classificação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e
sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um
default, isto é, de suspensão de pagamentos.

Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências


avaliam, além da situação financeira de um país, as condições do mercado mundial
e a opinião de especialistas da iniciativa privada, fontes oficiais e acadêmicas.

O rating é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma em-


presa quer captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investi-
dores, a agência prepara o rating desses títulos para que os potenciais compradores
avaliem os riscos.

As agências, portanto, classificam debêntures, medium-term notes, títulos de


dívida conversível, mas não ações.

Grau de investimento
A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa
de rating. As empresas de classificação de risco alegam que, mesmo sob encomen-
da, o rating é uma avaliação independente porque também há preocupação com a
credibilidade da própria agência.

O chamado rating global de um país, por exemplo, é sempre a avaliação que


uma determinada agência tem sobre o risco dessa nação não pagar os títulos, de
Análise de Risco e Crédito

longo prazo, que lançou no mercado internacional.

Esses países também são encaixados em categorias. Se a agência considera um


país como “bom pagador”, ele é classificado na categoria “grau de investimento”. Se
é visto apenas como um pagador de risco razoável, fica na categoria “grau especula-
tivo”, que também inclui nações que declararam moratória de suas dívidas.

78
As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma,
quando lançam um rating, também avisam quais as chances dessa nota ser revisada
no curto prazo.

Se o panorama é positivo significa que a nota tem maiores chances de ser me-
lhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um downgrade (seja
revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja
mudada nos dois anos seguintes.

Letras e sinais
As três agências de classificação de risco de maior visibilidade são a Standard &
Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings.

As agências usam praticamente o mesmo sistema de letras e sinais. Assim, a


melhor classificação que um país pode obter é Aaa (Moody’s) ou AAA (Standard &
Poor’s) que, conceitualmente, significam “capacidade extremamente forte de aten-
der compromissos financeiros”.

Na ponta oposta, um título classificado como “C”, para a S&P ou a Moody’s, tem
altíssimo risco de não ser pago.

“A taxa média de default (moratória) entre 1970-2000 para títulos (classificados


como) Aaa sobre um período de 10 anos foi de apenas 0,67”, afirma a Moody’s.

A Nova Sistemática de Risco de Crédito:


Uma Avaliação da Cooperativa de Crédito Siscredi
(CATTANI; STADUTO, 2003)

Mercado Financeiro e o Sistema de Risco


Segundo Rocha (1999), o SFN, ao contrário de outros países, sempre foi marca-
Risco e crédito

do por estabilidade. No entanto, após a implantação do Plano Real, toda a sistemá-


tica financeira nacional teve de ser revista, já que o sistema não estava adaptado às
novas políticas adotadas.

79
A partir dessa situação, o SFN teve de passar por uma nova avaliação e rever as
medidas que vinham sendo adotadas para prevenir as crises e para proceder quando
essas fossem inevitáveis. Essa avaliação considerou que a prevenção consiste em
aperfeiçoar a regulamentação, tornando-a mais rígida e mais bem supervisionada.

Uma das formas utilizadas para o controle foi a elaboração de uma nova classi-
ficação de risco feita pelo Bacen. Elas atuavam em duas direções. a) a primeira orien-
tava a forma e a ordem na qual se devem classificar as operações de crédito; definir
a forma de análise para se aceitar ou não o garantidor do crédito e a finalidade da
operação; o prazo para a fiscalização das operações e a sistemática de fiscalização;
b) a segunda permitia ao Bacen maior controle, já que este tem buscado levar o SFN
a patamares aceitos internacionalmente, visando, principalmente, manter a quali-
dade e o adequado controle sobre o risco do sistema financeiro nacional; estimular
o crescimento ordenado da oferta de crédito, buscando evitar problemas de insol-
vência e liquidez, e aumentar a atratividade ao capital externo, em especial para
recursos voltados à expansão de crédito.

Globalmente, foram verificados os efeitos danosos que podem causar as econo-


mias em crescimento desordenado nos volumes de crédito. Isso fica claro no parecer
do Fundo Monetário Internacional sobre as crises bancárias dos chamados “Tigres
Asiáticos: Taiwan, Coreia e Japão” – e nas ações do comitê da Basileia. Todas essas
ações atingem não somente aos bancos, mas, também, as cooperativas de crédito,
sendo bastante real a necessidade de se tornar cada vez mais técnica a concessão e
administração das carteiras das instituições (BANSICREDI, 2000).

Para que o crédito seja bem concedido é necessário o gerenciamento do risco.


A adoção de um sistema eficiente de risco não é apenas para o provisionamento,
mas, também, para o adequado julgamento das propostas de crédito. O provisio-
namento funcionaria como um seguro contra eventuais problemas de perdas dos
recursos emprestados.

A atividade bancária é um setor que está sujeito ao risco sistêmico, além de


serem alavancados valores financeiros vultuosos; assim, buscam-se ferramentas
mais eficazes para combater ou minimizar o risco.
Análise de Risco e Crédito

As instituições financeiras analisavam o risco de seus clientes e das suas opera-


ções de crédito com base em critérios variados, no entanto, apresentavam-se alguns
problemas que resultavam em muitas surpresas desagradáveis para essas, os quais
podiam culminar com o problema de insolvência. A contabilização era feita com
base na resolução 1.748 do Bacen, que previa o provisionamento para os créditos em
liquidação duvidosas apenas para as operações que ultrapassassem 61 dias ven-

80
cidos. Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou
os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir
dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da
concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde-
rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor financiado, prazo
da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de
AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%.

A Resolução 2.697, que complementa a 2.682, estabelece que, nas operações


de crédito com o valor superior a R$50.000,00, a provisão deve ser feita, no mínimo,
a cada seis meses. Dessa forma, no momento da concessão do crédito, é possível
atribuir o risco do cliente e da operação e prever se é viável ou não ao agente finan-
ceiro, inclusive monitorá-lo do ponto de vista do risco.

A grande diferença entre a Resolução 1.748 (antiga) e a 2.682 (nova) reside no


fato de que, na antiga, só se tomava conhecimento da gravidade de determinada
operação de crédito depois de vencida, quando as ações para minimizar o risco
do agente financeiro já eram mais limitadas, ao passo que, pela resolução 2.682, o
agente financeiro atua com ações prévias, avaliando as operações desde o início, o
que possibilita uma correção de possíveis distorções durante a vigência da mesma,
evitando, assim, a inadimplência e possibilitando resultados mais confiáveis.

Atividades

1. O que caracteriza o risco de crédito?

a) As incertezas e as possibilidades de perda em determinadas operações.

b) As possibilidades de certezas do mercado em operações de crédito.

c) A possibilidade do investidor ter garantia do sucesso em determinada


operação.

d) A possibilidade do investidor conhecer o cenário do mercado.

2. Qual o conceito de risco de crédito?


Risco e crédito

a) A possibilidade de atitudes empresariais.

81
b) A visão dos empresários em relação ao mercado financeiro.

c) A possibilidade de prejuízo financeiro.

d) A possibilidade de conquistar novos mercados.

3. Qual é a diferença entre risco e incerteza?

4. Classifique as preferências empresariais em relação ao risco.

Ampliando conhecimentos
GOMES, Adriano. Gerenciamento do Crédito e Mensuração do Risco. São
Paulo: Manole, 2002.

A segunda parte do livro é de especial interesse, pois aborda a análise e mensura-


ção do crédito. Discute com bastante ênfase as questões ligadas à inadimplência. Livro
para consulta e reforço de conceito.

SECURATO, José R. Decisões Financeiras em Condições de Risco. São Paulo:


Atlas, 1996.

O autor, de formação quantitativa, aborda de maneira peculiar os assuntos liga-


dos ao risco de crédito, particularmente da análise de crédito das pessoas físicas e jurí-
dicas e da classificação dos riscos de crédito. Sugere-se a leitura dos dois capítulos para
reforçar os conceitos expostos.

SANTOS, José O. Análise de Crédito – Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo:


Atlas, 2000.

O autor faz interessante abordagem sobre a diversificação de riscos em cenário de


informações imperfeitas. Sugere-se a leitura complementar do capítulo para reforço
do assunto.
Análise de Risco e Crédito

82
Risco e crédito

83
Análise de crédito

Introdução
A análise de crédito compreende a aplicação de técnicas subjetivas, financeiras
e estatísticas para avaliar a capacidade de pagamento do tomador de recursos, que
é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados alguns critérios subjetivos,
financeiros e estatísticos geralmente adotados pelas instituições financeiras na análise
de crédito.

Dentre os vários critérios subjetivos de análise de crédito existentes, utilizados


pelas instituições financeiras, os mais comuns são o caráter e a capacidade. Esses são
dois dos quatro “Cs do crédito”, compostos de: Caráter, Capacidade, Capital e Condi-
ções. Para Schrickel (2000) o caráter está relacionado com a vontade de pagar, já a
capacidade refere-se à habilidade de pagar do devedor, dado ao modo como admi-
nistra suas finanças pessoais. Assim, a capacidade refere-se à habilidade do tomador
de recursos de gerir seus negócios de forma favorável a manter renda suficiente para
pagar a dívida.

A análise de crédito envolve, ainda, a análise das demonstrações contábeis que,


segundo Matarazzo (1998, p. 29) tem a finalidade de “determinar quais os pontos crí-
ticos e permitir, de imediato, apresentar um esboço das prioridades para a solução de
seus problemas”.

No crédito, o que se pretende com a análise das demonstrações contábeis é avaliar


a qualidade do capital (outro C do crédito) do tomador, para que se tomem decisões
com relação à concessão de empréstimos e financiamentos, ou ainda, à concessão de
garantias (avais, finanças, cartas de crédito).

Também são aqui abordados aspectos relevantes de algumas técnicas de análise


econômico-financeira como a análise horizontal e análise vertical, indicadores econô-
micos-financeiros e técnicas estatísticas.

85
Análise subjetiva
A análise de crédito por critérios subjetivos também faz parte do julgamento dos
analistas na avaliação do risco de crédito de clientes. Abordar-se-ão, abaixo, os pontos
principais de cada item.

Silva (2008) escreve que tanto à habilidade administrativa ou técnica do pesso-


al, pode ser feita por “uma análise do currículo de seus sócios e administradores, vi-
sando identificar se são conhecedores do ramo em que atuam e das atribuições que
exercem”.

O mesmo autor afirma que a capacidade está relacionada aos fatores que contri-
buem para a empresa ser competente e competitiva. Isto facilita a condição da empre-
sa de pagar sua dívida. Daí a importância da análise financeira para medir a capacidade
da empresa.

Dois dos quadro Cs do crédito, Caráter e Capacidade são critérios subjetivos de


análise de crédito. Eles embasam os procedimentos de análises subjetivas de crédito,
que são: análise documental, análise de idoneidade, análise do negócio, análise econô-
mico-financeira e análise cadastral.

Análise documental
É a análise que se faz dos documentos apresentados pelo proponente tomador
dos recursos da instituição financeira ou empresa.
Compreende o levantamento da situação legal da empresa e de seus proprietários, baseando-se
na verificação do contrato social ou estatuto da empresa, da declaração do imposto de renda da
empresa e dos sócios, dos comprovantes de identificação dos sócios (RG e CPF) e das contas dos
sócios e da empresa (água, luz, telefone, IPTU etc). (SANTOS, 2000, p. 64)

A instituição credora deve manter pastas atualizadas de cada cliente, segundo


determinações do Banco Central do Brasil.

Análise de idoneidade
Análise de Risco e Crédito

A pesquisa sobre a idoneidade do cliente é uma das principais informações co-


lhidas e analisadas no processo de concessão de crédito. Inexistindo informações res-
tritivas (derivadas de empréstimos não pagos ou em atraso), as outras informações
colhidas sobre a idoneidade do cliente servirão para compor o risco total do clien-
te. Existindo informações restritivas, o procedimento normal é a recusa em conceder
qualquer tipo de crédito ao cliente.

86
Segundo Santos (2000, p. 64), a idoneidade do cliente pode ser classificada nas
seguintes categorias: sem restrições, alerta, restritivo ou impeditivo.

Antes de disponibilizar os recursos para os tomadores, as instituições financeiras


fazem um levantamento do histórico dos clientes, ou seja, pesquisam sobre os antece-
dentes dos proponentes ao crédito.

De acordo com Silva (2008) o caráter está relacionado com a intenção “do devedor
(ou mesmo do garantidor) de cumprir a promessa de pagamento”.

Para Gitman (2002, p. 696) o caráter envolve “o histórico do solicitante quanto


ao cumprimento de suas obrigações financeiras, contratuais e morais”. Por exemplo,
pagamentos e causas judiciais pendentes e/ou concluídas contra o cliente seriam utili-
zadas na avaliação de seu “caráter”.

O resultado do trabalho de pesquisa das informações do solicitante é chamado


de ficha cadastral. Nessa ficha, devem-se observar as características do cliente, tais
como: identificação, pontualidade, existência de restrições, experiência em negócios
e atuação na praça.

Geralmente, a ficha cadastral elaborada pela instituição financeira permite o le-


vantamento de informações relevantes sobre a identificação do tomador do crédito
(nome, endereço, registros, profissão etc.) e sobre experiências de outras instituições
com a pessoa (pontualidade de pagamentos, protestos, anotações diversas e outras).

A ficha cadastral contém informações da análise que se faz para apurar a con-
duta e o grau de idoneidade do tomador de recursos no mercado de crédito. Assim,
as entidades emprestadoras costumam levantar as informações de clientes em em-
presas especializadas, como a Serasa, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Equifax
e outros.

Análise do negócio
Ao empreender a análise de crédito da proposta do cliente, a entidade empresta-
dora faz análise prévia sobre a quem pertence a empresa, qual é a capacidade admi-
nistrativa e financeira de seus dirigentes, o domínio da tecnologia e o conhecimento
do mercado onde atua.

A análise do risco do negócio verifica, primeiramente, se a empresa conseguirá


Análise de crédito

gerar receitas suficientes para cobrir suas despesas operacionais. O conceito de cober-
tura das despesas operacionais pelas receitas é conhecido como EBTIDA:
Erning before interest, taxes, depreciation and amortization é a origem da sigla EBTIDA, que em
português pode ser traduzida para LAJIDA, ou “lucro antes de juros, impostos, depreciação e

87
amortização”. É um termo importado dos balanços americanos. Passou a ser adotada a partir de
1997. Juntamente com outros indicadores, a sua formulação é útil aos analistas e investidores [...].
(LEAL, 2008)

A análise do negócio constitui-se na análise da atividade operacional da empresa,


considerando-se todos os fatores internos e externos de risco que podem afetar a ge-
ração de caixa (SANTOS, 2000, p. 65).
Os fatores internos de risco são aqueles originários da falta de experiência, incom-
petência, desonestidade dos gestores no gerenciamento da atividade operacional da
empresa, ou da pessoa física no trato de suas finanças pessoais. O autor salienta que
os fatores internos são controláveis, porém dependente da formação educacional e
técnica dos gestores do empreendimento, ou dos tomadores de recursos (SANTOS,
2000, p. 65).
Os fatores externos de risco são os eventos não controláveis pela empresa e que
afetam o sistema econômico onde ela está inserida. Exemplos de tais eventos são:
crises econômicas, alterações relevantes no meio ambiente, ações tomadas pelo go-
verno, como a fixação ou alteração da taxa básica de juros. Tais eventos podem alterar
a capacidade econômica da empresa.

Análise econômico-financeira
A análise das demonstrações contábeis, especialmente através de indicadores
econômico-financeiros (liquidez, endividamento e outros) é geralmente utilizada para
avaliar a capacidade de pagamento do tomador do crédito. Os indicadores financeiros
serão estudados em um capítulo específico.
No crédito, o que se pretende com a elaboração da análise das demonstrações é
avaliar a capacidade de pagamento do cliente. Não obstante esse aspecto quantitativo
da análise de crédito, a capacidade é um aspecto subjetivo e nem sempre é fácil de
ser avaliado. Está relacionado ao potencial de gestão e da visão estratégica para gerir
os negócios. No que se refere à capacidade física, envolve aspectos como: instalações,
métodos de trabalho, grau de tecnologia utilizado e outros.
A análise financeira é conceituada, segundo Silva (2008, p. 180), como sendo o
exame das informações obtidas por meio das demonstrações financeiras, com o intuito de
compreender aspectos como:
Análise de Risco e Crédito

a) capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa;

b) capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatíveis com suas


expectativas;

c) nível de endividamento, motivo e qualidade e endividamento;

d) políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa;

e) diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da análise.

88
No entanto, a análise financeira não se limita às demonstrações contábeis. Ela
abrange outros aspectos que requerem do analista a compreensão de outras discipli-
nas como: Economia, Administração, Marketing, Direito, Dentre outras.

Alguns tipos de análises são usadas para avaliar a situação econômico-financei-


ra das empresas como a análise de balanços, que pode ser desenvolvida por meio
de técnica de áreas como distintas como: Contabilidade, Matemática e Estatística.
Para a análise das demonstrações contábeis, algumas técnicas serão apresentadas a
seguir.

Análise horizontal
Identifica a evolução dos diversos elementos patrimoniais e de resultados ao
longo de determinado período de tempo. É uma análise temporal do crescimento da
empresa, que permite avaliar: evolução das vendas, custos e despesas, aumento dos
investimentos realizados nos diversos itens ativos, evolução das dívidas etc.

A Análise Horizontal (AH) permite o exame da evolução histórica de uma série


de valores, ou seja, mostra a evolução de cada conta das demonstrações financeiras.
Segundo Matarazzo (1998, p. 257) pela comparação das contas entre si, é possível “tirar
conclusões sobre a evolução da empresa”.

Através da análise horizontal, pode-se identificar alterações anormais nas de-


monstrações contábeis de uma empresa ao longo do tempo, através da observação
do comportamento histórico de cada item analisado.

Assaf Neto (2001) resume o estudo comparativo da evolução horizontal em três


segmentos:

evolução dos ativos (investimento) e passivos (financiamentos) de curto


prazo – é possível avaliar a folga financeira (liquidez de curto prazo) na even-
tualidade dos ativos circulantes terem crescido com maior rapidez que os pas-
sivos circulantes, ou de uma redução na liquidez, caso ocorra o inverso;

evolução do ativo permanente produtivo – reflete a capacidade de produ-


ção/vendas de uma empresa, devendo corresponder um nível maior de inves-
timento em bens fixos a um adequado crescimento de vendas;

evolução na estrutura de capital – verifica-se como a empresa está financian-


do seus investimentos em ativos, isto é, se houve maior preferência por em-
Análise de crédito

préstimos e financiamentos em relação ao uso do capital próprio e se é visível


algum desequilíbrio na estrutura de capital, notada pela presença de um maior
volume de dívidas de curto prazo em relação a capitais de longo prazo etc.

89
Na demonstração de resultado, através da análise horizontal, é possível verificar a
evolução dos custos e despesas em relação ao volume de vendas e seus reflexos sobre
o resultado do exercício.

Existem diferentes metodologias de análise horizontal, mas a mais utilizada, para


fins de análise de crédito, é a variação anual por números-índices, ou a também co-
nhecida como variações percentuais, que expressam o comportamento relativo de
determinado item contábil em função de um período-base ou do período anterior.

O índice geralmente aplicado segue a fórmula:

Valor do item contábil no ano analisado x 100


índice (ano 2, ano 1) =
Valor do item contábil no ano base

Exemplo: suponha que nos anos de 2005 e 2006 os valores do item caixa tenha
sido de

2005: $100.000

2006: $120.000
120.000 x 100
índice (2005, 2006) = = 120%
100.000
Veja-se o exemplo a seguir:

(ASSAF NETO, 2001, p. 107. Adaptado.)


Balanço Patrimonial da Empresa X

ATIVO 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH%

Ativo Circulante 100.000 — 110.000 110 95.000 86

Ativo Não circulante 460.000 — 574.000 125 192.000 33

Total 560.000 — 684.000 122 287.000 42

PASSIVO 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH%

Passivo Circulante 70.000 — 90.300 129 16.400 18


Análise de Risco e Crédito

Passivo Não circulante

Exigível a Longo Prazo 150.000 — 200.000 133 35.000 18

Patrimônio Líquido 340.000 — 393.700 115 235.600 60

Total 560.000 — 684.000 122 287.000 42

90
(ASSAF NETO, 2001, p. 107. Adaptado.)
Demonstração do Resultado do Exercício da Empresa X
Contas 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH%
Receita de vendas 830.000 — 1.260.000 152 2.050.000 163

CMV -524.867 — 840.500 160 -1.594.600 190

Lucro Bruto 305.133 — 419.500 137 455.400 109

Despesas Operacionais -139.500 — 190.000 136 -277.500 146

Despesas Financeiras -88.000 — 140.000 159 -186.000 133

Resultado “Operacional” 77.633 — 89.500 114 -8.100 -9

Provisão para IR -31.333 — 35.800 114 0 0

Resultado Líquido 46.300 — 53.700 114 -8.100 -15

Das demonstrações contábeis apresentadas anteriormente é possível perceber


que, ao longo dos três anos houver:

uma sensível redução na liquidez e lucratividade;

redução na capacidade de pagamento a curto prazo e o aumento de suas


obrigações (Passivo Circulante) em relação às suas disponibilidades;

aumento da participação de capital de terceiros e a redução da participação


dos recursos próprios no financiamento da empresa;

aumento nos custos maior que o crescimento das receitas resulta na redução
do lucro bruto.

Análise vertical
Na análise vertical, as contas de uma demonstração são padronizadas como per-
centuais de uma mesma base. Aplicada ao balanço patrimonial, essa análise propicia
uma visão imediata dos itens que demandam maior volume de recursos, a cada exercí-
cio ou a cada período (SECURATO, 2000, p. 72-73).

De maneira idêntica à análise horizontal, a análise vertical objetiva basicamente


o estudo das tendências da empresa. Complementando as informações da análise ho-
rizontal, a análise dos indicadores econômico-financeiros na perspectiva vertical per-
Análise de crédito

mite conhecer a estrutura econômico-financeira da empresa, ou seja, a participação


relativa de cada elemento patrimonial e de resultados em relação ao total do grupo.
Por exemplo, a análise vertical permite responder à questão: qual é a porcentagem das
vendas que representa o lucro líquido, ou o total de suas obrigações (passivo) quanto
a empresa deve a curto e longo prazos etc.

91
Apesar da relevância das duas técnicas acima, suas aplicações práticas têm so-
frido alguns desgastes em razão, principalmente pelas características do sistema de
apuração do lucro no Brasil, do tratamento adotado pela contabilidade legal em am-
bientes inflacionários e das bruscas e constantes modificações verificadas na econo-
mia brasileira.

O objetivo da análise vertical é demonstrar a participação relativa de cada conta


de uma demonstração contábil em relação a determinado referencial. No balanço, por
exemplo, é comum determinarmos a percentagem que representa cada rubrica (e
grupo de rubricas) em relação ao ativo total.

Para o cálculo dos percentuais da coluna da Análise Vertical (AV) divide-se o saldo
da conta que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando-se o resultado por 100.
O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total e o passivo total, e na demonstra-
ção de resultados do exercício, a receita líquida de vendas. A fórmula respectiva é:

Saldo da conta no balanço x 100


Participação da conta =
Saldo do ativo total

Exemplo:

Saldo da conta “Caixa”, em 31/12/2008: $30.000

Saldo do grupo “Ativo Circulante” (da qual faz parte a conta “Caixa”): $100.000

Participação da conta “Caixa”: 30%


30.000 x 100
PC = = 30%
100.000
Abaixo, apresenta-se exemplo adaptado de Assaf Neto (2008):
(ASSAF NETO, 2001, p. 109. Adaptado.)

ATIVO 31/12/2006 AV% 31/12/2007 AV% 31/12/2008 AV%


Ativo Circulante 100.000 18 184.000 30 95.000 10

Ativo Não circulante 460.000 82 500.000 70 637.000 90


Total 560.000 100 684.000 100 732.000 100

PASSIVO 31/12/2006 AV 31/12/2007 AV 31/12/2008 AV


Análise de Risco e Crédito

Passivo Circulante 70.000 13 90.300 13 106.400 14,5

Passivo Não circulante 490.000 87 593.700 87 625.600 85,5

Total 560.000 100 684.000 100 732.000 100

92
(ASSAF NETO, 2001, p. 109. Adaptado.)
DRE 31/12/2006 AV% 31/12/2007 AV 31/12/2008 AV%
Receita de Vendas 830.000 100 1.260.000 100 2.050.000 100

CMV -524.167 60 -840.500 66,7 -1.594.600 77,8

Lucro Bruto 305.833 40 419.500 33,3 455.400 22,2

Despesas Operacionais -139.500 20 -190.000 15 -277.500 13,5

Despesas Financeiras -88.000 10 -140.000 11 -186.000 9,1

Resultado Operacional 78.333 10 89.500 7 -8.100 -0,4

Provisão para IR -31.333 4 -35.800 2,8 0 0,0

Resultado Líquido 47.000 6 53.700 4,2 -8.100 -0,4

Da análise vertical, considerando-se a proporção relativa calculada de grandes


grupos, é possível inferir que:

houve redução na proporção de direitos de longo prazo do ano de 2006 para


2007 e um aumento no ano de 2008 (ativo não circulante);

ocorreu aumento na proporção das dívidas de curto prazo (passivo circulante)


no período analisado;

houve aumento de recursos de longo prazo no período estudado (passivo não


circulante).

Salienta-se que, quanto mais “abertas” (discriminadas) estiverem as demonstra-


ções contábeis, maiores serão as possibilidades de investigação da situação financeira
da empresa.

De acordo com Matarazzo (1998, p. 255), a análise vertical “mostra a importância de


cada conta em relação à demonstração financeira a que pertence” e, através de compa-
ração com anos anteriores, que permite inferir se há itens fora das proporções normais.

Indicadores econômico-financeiros
A análise por índices compreende o cálculo de quocientes resultado do inter-re-
lacionamento dos saldos de diversas contas das demonstrações contábeis. Por meio
de quocientes calculados, denotados na forma decimal ou percentual, associados a
Análise de crédito

outras técnicas de análise, além de informações setoriais e conjunturais, o analista pro-


curará interpretar os números obtidos e vislumbrar qual a perspectiva de desempenho
futuro da empresa (SECURATO, 2000, p. 76).

93
Através dos indicadores referidos, procura-se relacionar elementos das demons-
trações contábeis entre si, de forma a melhor extrair conclusões sobre a situação eco-
nômico-financeira da empresa.

Existem diversos índices úteis para o processo de análise, sendo que uma de suas
divisões metodológicas em grupos é a seguinte: liquidez, imobilização, endividamen-
to, lucratividade, rentabilidade, cobertura, estrutura e análise de ações.

Comparações
De acordo com Assaf Neto (2001, p. 55), a análise de balanços “é fundamentalmen-
te comparativa”, e quando determinado índice é avaliado isoladamente, não produz in-
formações suficientes para uma correta conclusão. Torna-se indispensável a compara-
ção do comportamento e evolução dos resultados das empresa e de seus concorrentes
nos últimos anos, para extrair uma conclusão mais acurada sobre o desempenho da
empresa no período considerado.

Segundo o autor, a comparação advinda da análise de balanços apresenta duas


formas:

Temporal – envolve resultados de períodos anteriores, através da observação


de, no mínimo, dois exercícios sociais para se avaliar a tendência apresentada
pelos indicadores de desempenho.

Interempresarial – relaciona-se ao desempenho de uma empresa com o setor


de atividade e o mercado em geral.

Assaf Neto (2008, p. 182) escreve: “os métodos de análise vertical e horizontal
prestam valiosas contribuições na interpretação da estrutura e da tendência dos nú-
meros de uma empresa”.

Análise baseada em métodos estatísticos


Securato (2000, p. 170) escreve que o risco em análise de crédito e finanças pode
ser definido como a incerteza de resultados futuros, ou também como a possibilidade de
perda. No caso de uma decisão de crédito, esse risco está relacionado, dentre outros, a:
Análise de Risco e Crédito

não recebimentos;

recebimentos com atrasos;

elevação da taxa de captação.

94
Assaf Neto (2008, p. 86) conceitua a estatística como “um método científico que
permite que seus usuários tomem as melhores decisões em condições de incertezas”.
As medidas estatísticas vêm se aperfeiçoando e alargando o campo de atuação. No
mercado financeiro, as técnicas estatísticas são utilizadas no processo de avaliação de
ativos e nos riscos das decisões. Serão apresentadas algumas medidas estatísticas uti-
lizadas no cenário financeiro:

medidas de posição – essas medidas visam identificar as características de


concentração dos elementos de uma amostra. Esses valores são conhecidos
como medidas de tendência central por estarem, geralmente, agrupados em
torno da posição central da distribuição. Essas medidas são a média, mediana,
moda, quartis e decis.

média – por sua vez, desdobra-se em alguns tipos como: aritmética sim-
ples, aritmética ponderada, média harmônica e média geométrica.

a média aritmética simples – é calculada pela divisão da soma do con-


junto de informações (valores de uma distribuição) pelo número de va-
lores contidos nesse conjunto.

a média aritmética ponderada – é usada quando são atribuídos dife-


rentes pesos a cada um dos elementos do conjunto de informação.

a média harmônica – é obtida por meio do inverso da média aritméti-


ca dos inversos dos valores considerados.

mediana – é expressa pela divisão de um conjunto de valores pela metade,


ou seja, exatamente em duas partes iguais.

medidas de dispersão – indicam como os valores de um conjunto distribuem-


-se (dispersam-se) em relação a um ponto central (média). Assaf Neto (2008, p.
89) escreve: “quanto maior se apresentar o intervalo entre os valores extremos
de um conjunto, menor a representatividade estatística da média, pois os va-
lores em observação distanciam-se desta medida central”.

As principais medidas de dispersão são o desvio-padrão, a variância e o coeficien-


te de variação. Um entendimento intuitivo e não-formal dessas medidas estatísticas
pode ser obtido se consideramos o desvio-padrão como sendo a raiz quadrada da va-
riância, que é a distância entre o ponto considerado e a média aritmética que o inclui.

O coeficiente de variação é o resultado da divisão do desvio-padrão sobre a média.


Análise de crédito

É uma medida útil para se comparar resultados de distribuições diferentes. Exemplifi-


cando, uma distribuição com média aritmética igual a 40 e desvio-padrão igual a 4, não
é comparável a uma outra distribuição com média aritmética igual a 5 e um desvio-
-padrão igual a 4. Mas, calculando-se o coeficiente de variação 0,1 (4/40) com 0,8 os
resultados tornam-se comparáveis.
95
Conclusão
No crédito, o que se pretende com a análise das demonstrações é avaliar a capa-
cidade de pagamento do cliente. O trabalho de analisar crédito envolve a aplicação de
técnicas subjetivas, financeiras e estatísticas. Envolve, ainda, o exame e estudo das de-
monstrações contábeis e dos demais relatórios que deverão apontar e determinar os
pontos críticos a serem investigados em maior profundidade para se ter informações
hábeis a tomada de decisão dos gestores das instituições.

Ao analisar as demonstrações contábeis de empresas, as entidades emprestadoras


de recursos costumam fazer uso de diferentes técnicas, dentre elas, utilizam a análise
horizontal, a análise vertical, o cálculo e avaliação dos índices econômicos-financeiros.

Ao se perpetrar a análise econômico-financeira das empresas, normalmente são


empregados técnicas de áreas diferenciadas do conhecimento, como: Contabilidade,
Matemática e Estatística.

A Estatística está sendo cada vez mais usada na prospecção do risco de cada ope-
ração efetuada pelas instituições. Esse risco está relacionado, dentre outros, ao não
recebimento, aos recebimentos com atrasos e à elevação da taxa de captação das en-
tidades emprestadoras.

Texto complementar

Reconhecimento de padrões na análise


econômico-financeira de empresas
(Barboza; Sampaio; Adamowicz, 2002)

Introdução
Análise de Risco e Crédito

O crédito é hoje um instrumento tão importante na vida das pessoas e das em-
presas, de modo que o uso inadequado do crédito em escalas elevadas poderá levar
uma empresa à quebra ou um indivíduo à insolvência (SILVA, 1993).

Os efeitos da crise financeira de origem externa que surgiram principalmente


com a globalização da economia mundial, também atingiu o Brasil, espalhando-se

96
para outros países da América Latina em 1998, fez com que os maiores bancos deste
continente repensassem a sua política de concessão de crédito.

Os bancos tiveram que contentar-se com lucros mais baixos, uma vez que esta-
vam acostumados a lucrar com cada crise pela qual o país atravessasse através dos
efeitos inflacionários. E para que os índices de rentabilidade não fossem menores
ainda, houve a necessidade de enfrentar a inadimplência dos clientes reforçando os
cuidados com a análise de crédito.

A soma dos lucros líquidos dos 200 maiores bancos que operam na América
Latina caiu nada menos que 23,5% em relação a 1997, levando a grande maioria a
registrar índices de rentabilidade bem inferiores ao do ano interior e à moderação
no modo de atuar no mercado.

A instabilidade que se seguiu à maxidesvalorização do real levou os bancos a


colocarem o pé no freio e reduzirem a alavancagem no primeiro semestre de 1999.
Isto pode ser um sinal de que os bancos decidiram ser mais conservadores, reduzin-
do o volume de crédito com medo do aumento da inadimplência.

Isto quer dizer que os bancos estão apostando numa melhor análise de crédi-
to, evitando trabalhar com empresas que ofereçam risco, diminuindo o índice de
inadimplência.

Esse cuidado em relação ao crédito vem a ser uma vantagem para os bancos,
visto que com a diminuição da inadimplência, obtém-se um lucro maior, uma vez
que metade dos ativos dos bancos são operações de crédito.

Verifica-se então, a necessidade de uma atenção maior à análise e concessão


de crédito. Os bancos estão utilizando, além da experiência do analista, métodos e
técnicas que auxiliam na tarefa de decidir se uma empresa é merecedora de crédito
ou não, visto que a correta decisão de crédito é essencial para a sobrevivência dos
bancos.

O que é crédito?
Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, tem-
porariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta par-
Análise de crédito

cela volte a sua posse integralmente após decorrido o tempo previamente estipulado.

Sendo um ato de vontade, sempre caberá ao cedente do patrimônio, seu titular


ou, popularmente, seu dono, a decisão de cedê-lo ou não (SCHRICKEL, 1998).

97
Em finanças, o vocábulo crédito define um instrumento de política financeira
a ser utilizado por uma empresa comercial ou industrial na venda a prazo de seus
produtos ou por um banco comercial, por exemplo, na concessão de empréstimo,
financiamento ou fiança.

Para um banco comercial, as operações de crédito se constituem em seu pró-


prio negócio. Dessa forma, o banco empresta dinheiro ou financia bens aos seus
clientes, funcionando como uma espécie de “intermediário financeiro”, pois os re-
cursos que aplica são captados no mercado através dos depósitos efetuados por
milhares de clientes depositantes.

A função do “intermediário financeiro” é a de atuar como receptor de recur-


sos com o objetivo de canalizá-los para fontes produtivas (SILVA, 1993). Essa função
torna o crédito um dos fatores de maior importância num banco comercial. Além
das operações de empréstimo, existem outras operações de crédito, como financia-
mentos de bens para os clientes, concessão de fianças, desconto de duplicatas etc.

O crédito pode aumentar o nível de atividade de uma empresa, estimular o


consumo influenciando na demanda, ou, por outro lado, pode tornar empresas ou
pessoa físicas altamente endividadas, bem como forte componente de um processo
inflacionário (SILVA, 1993).

Objetivo da análise de crédito


Numa instituição financeira (como para qualquer emprestador) o principal ob-
jetivo da análise de crédito é o de identificar os riscos nas situações de emprésti-
mo, evidenciando conclusões quanto à capacidade de repagamento do tomador
e fazendo recomendações relativas à melhor estruturação e tipo de empréstimo a
conceder, à luz das necessidades financeiras do solicitante, dos riscos identificados e
mantendo, adicionalmente, sob perspectiva, a maximização do lucro da instituição
(SCHRICKEL, 1998).

Análise econômico-financeira
Análise de Risco e Crédito

No mundo dos negócios os termos “econômico” e “financeiro” são diariamente


empregados. É preciso defini-los bem, para não se chegar a falsas conclusões:

análise econômica – é o estudo do patrimônio líquido e do lucro ou prejuízo;

análise financeira – é o estudo das disponibilidades como forma de saldar


suas dívidas. Estuda a capacidade de pagamento da empresa.

98
Indicadores econômico-financeiros
Para o exame da situação econômico-financeira de uma empresa, com vistas à
avaliação de sua capacidade, em termos de segurança, liquidez e rentabilidade, o
analista deve valer-se de Demonstrativos Financeiros de pelo menos três exercícios
sucessivos, e extrair deles os diversos indicadores que lhe forneçam as informações
desejadas.

Índices de Estrutura – avaliam a segurança oferecida pela empresa aos ca-


pitais alheios e revelam sua política de obtenção de recursos, bem como a
sua alocação nos diversos itens do Ativo.

Índices de Liquidez – medem a posição financeira da empresa, em termos


de capacidade de pagamento.

Índices de Rentabilidade – avaliam o desempenho global da empresa, em


termos de capacidade de gerar lucros.

Análise de balanço através de índices


Existe um número muito grande de informações que podem ser extraídas das
demonstrações financeiras. Estas informações são traduzidas através dos índices
que relacionam números do balanço e da demonstração de resultado. Tais índices
avaliam aspectos genéricos e globais da empresa.

Estudar os índices é a técnica de análise mais empregada, que tem como carac-
terística fundamental prover uma visão ampla da situação econômica ou financeira
da empresa, pois servem de medida dos diversos aspectos econômicos e financeiros
das empresas.

Atividades

1. Quais são os procedimentos geralmente utilizados na análise subjetiva do crédito?


Análise de crédito

2. Conceitue a análise horizontal e vertical.

3. A visão estratégica, o potencial de administração, produção e comercialização


da empresa fazem parte de qual característica subjetiva?

99
a) Capacidade.

b) Condições.

c) Caráter.

d) Capital.

4. Na análise de balanços, qual é o objetivo da análise de crédito vertical?

Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

O autor faz abordagem dos critérios de análise das demonstrações financeiras


e dos aspectos subjetivos de análise de crédito. Sugere-se que o aluno consulte essa
obra para a compreensão do assunto.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco-


nômico-financeiro. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

O auto dedica um capítulo ao estudo dos intermediários de análise onde são


apresenta e as características da análise horizontal e vertical

SECURATO, José R. Crédito. Análise e Avaliação do Risco – Pessoas Físicas e


Jurídicas. São Paulo: Saint Paul Institute of Finance, 2002.
Análise de Risco e Crédito

100
101
Análise de crédito
Análise das demonstrações
contábeis e financeiras I

Introdução
Um dos instrumentos comumente usados pelos analistas de crédito para investi-
gar a saúde financeira das empresas são as demonstrações contábeis compostas pelos
balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício e a demonstração das
mutações do patrimônio líquido. A partir do exercício social findo em 31 de dezembro
de 2008, por força da Lei 11.638/2007, as demonstrações contábeis serão acrescidas
da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e da Demonstração do Valor Adicionado
(DVA). Salienta-se que a Lei 11.638/2007 substituiu a Demonstração das Origens e Apli-
cações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

As demonstrações contábeis são compostas pelos seguintes documentos: balan-


ço patrimonial, demonstração dos resultados do exercício, demonstração dos fluxos
de caixa e demonstração do valor adicionado. As duas últimas foram introduzidas pela
Lei 11.638/2007, que reformou a Lei 6.404/76. Silva (2008, p. 150) considera o fato de
que as demonstrações contábeis e financeiras constituem-se “numa das grandes fontes
de informações para decisão de crédito”. Doravante, os documentos acima serão de-
nominados “demonstrações contábeis e financeiras”, embora se saiba que qualquer
explanação escrita pelo corpo técnico de uma empresa que envolva valores, como o
orçamento, por exemplo, é considerada uma demonstração financeira.

Por determinação legal, no fim de cada exercício social, a empresa fará com base
na escrituração da empresa as demonstrações contábeis. É através delas que se faz a
análise da situação econômico-financeira da empresa.

103
Principais demonstrações
contábeis, financeiras e complementares
Periodicamente, as sociedades anônimas costumam publicar um conjunto de in-
formações que compreendem as seguintes peças:

relatório da administração;

demonstrações contábeis e financeiras, que compreendem:

Balanço Patrimonial;

demonstração dos resultados do exercício;

demonstração das mutações do patrimônio líquido;

demonstração do Fluxo de Caixa;

demonstração do Valor Adicionado;

notas explicativas;

parecer dos auditores.

Geralmente, as informações publicadas pelas sociedades de capital aberto (anô-


nimas) são apresentadas de forma comparada com as dos dois últimos exercícios. Isso
permite aos usuários uma avaliação mais adequada do desempenho da empresa no
período estudado.

Além das demonstrações contábeis e financeiras relacionadas acima, tem-se o re-


latório de administração, que é o reporte da avaliação dos gestores da empresa sobre
o período considerado. As notas explicativas são observações complementares ao Ba-
lanço Patrimonial, que auxiliam na interpretação das demonstrações contábeis e finan-
ceiras. O parecer dos auditores constitui-se na opinião sobre a qualidade dos relatórios
apresentados, verificando se eles retratam fielmente a situação econômico-financeira
da companhia.
Análise de Risco e Crédito

Relatório da administração
O relatório da administração varia de empresa para empresa e funciona como
uma prestação de contas dos gestores da empresa para os acionistas.

104
Em linhas gerais, as principais informações contidas nesse relatório são: histórico
da empresa, estratégias, planos futuros, políticas de recursos humanos e investimentos
em pesquisa e desenvolvimento.

Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial retrata a posição patrimonial da entidade em determinado
momento e é composto pelos bens, direitos e obrigações possuídos pela empresa em
uma data específica.

O Ativo retrata o lugar onde estão aplicados os recursos da empresa, ou seja, os


bens e direitos que a empresa adquiriu com os recursos captados por ela, e que estão
evidenciados no Passivo do balanço. O Passivo retrata a origem de recursos, sejam eles
de terceiros ou próprios.

Quadro 1 – Composição do ativo e passivo

Os autores.
Ativo Passivo
Indica onde a empresa APLICA os Indica a FONTE que os fornecem.
recursos de que dispõe. Terceiros e Próprios: dos sócios e
São os BENS e DIREITOS. dos lucros.

Apresenta-se, a seguir, a estrutura básica do Balanço Patrimonial, de acordo com


as novas orientações da Lei 11.638, de 27 de dezembro de 2008.

Quadro 2 – Estrutura básica do balanço patrimonial

(SILVA, 2008, p. 162. Adaptado.)


Ativo Passivo

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


Circulante Circulante

Disponibilidades: Fornecedores.
Caixa e bancos; Salários e encargos sociais.
Aplicações de liquidez imediata; Impostos e taxas.
Direitos realizáveis no exercício social subsequente: Dividendos a pagar.
Contas a receber de clientes: Imposto de renda a recolher.
(-) Duplicatas descontadas; Instituições de crédito.
(-) Provisão para devedores duvidosos.
Estoques:
Adiantamentos a fornecedores; Não circulante
Aplicações de liquidez não imediata; exigível a longo prazo:
Outros valores a receber. Financiamentos;
Despesas do exercício seguinte: Debêntures;
Seguros antecipados. Impostos parcelados.

105
(SILVA, 2008, p. 162. Adaptado.)
Ativo Passivo
Circulante Circulante

Não circulante Não circulante


Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo
Direitos realizáveis após o término do exercício Resultado de exercícios futuros
subsequente:
Débitos judiciais;
Impostos a recuperar; Patrimônio líquido
Valores a receber de controladas; Capital Social:
Valores a receber de acionistas. (-) Capital a integralizar.

Investimentos Reservas de capital:


Aplicações permanentes em outras sociedades: Ágio na emissão de ações;
Controladas e coligadas; Produto da alienação de partes bene-
Outras participações. ficiárias;
Doações de bens.

Imobilizado:
Imóveis e terrenos; Reservas de lucro:
Máquinas e equipamentos; Reserva legal;
Veículos; Reservas estatutárias;
Móveis, utensílios e instalações. Reservas para contingências;
Reservas de lucro a realizar;
Reservas de incentivos fiscais.
Intangível:
Marcas e patentes.
Ágio por expectativa de rentabilidade futura Ações em tesouraria:
(goodwill). (-) Ajustes de avaliação patrimonial.

(*) Diferido Prejuízos acumulados


Gastos pré-operacionais:
* Em processo de extinção.

Os principais grupos de contas do Balanço Patrimonial estão assim dispostos:


Análise de Risco e Crédito

Ativo
As contas do Ativo estão dispostas de acordo com a ordem liquidez, ou seja, as
contas mais líquidas (aquelas mais rapidamente conversíveis em dinheiro) aparecem
na parte superior do ativo seguidas daquelas de menor liquidez, na parte inferior.

106
Ativo circulante
Compreendem as disponibilidades, os direitos realizáveis no exercício subsequen-
te e as aplicações de recursos em despesas de exercício seguinte.

Caixa
Representa o dinheiro em espécie ou cheques recebidos de clientes.

Bancos
Compreendem os saldos bancários mantidos em conta corrente de instituições
financeiras, na data do balanço.

Aplicações de liquidez imediata


São aplicações financeiras, facilmente convertidas em dinheiro.

Contas a receber de clientes


Valores a receber dos clientes em decorrência da venda de produtos, mercadorias
ou serviços.

Duplicatas descontadas
Trata-se de duplicatas já descontadas (portanto, não são mais direitos da em-
presa) e aparecem no balanço como rubrica redutora das duplicatas a receber que,

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


uma vez negociadas, não podem constar como ativo da empresa e, sim, ser redutora
desse ativo.

Estoques
Nesta conta, estão inscritas as mercadorias adquiridas para revenda a clientes.

Adiantamento a fornecedores
Adiantamentos concedidos aos fornecedores de bens, mercadorias e serviços, por
conta de entrega futura de matéria-prima, mercadorias (ou qualquer tipo de produto)
pelos fornecedores.

107
Despesas do exercício seguinte
Despesas pagas, mas que se referem a exercícios seguintes.

Ativo não circulante


Compreendem as contas realizáveis com prazo superior a um ano, e não classificá-
veis como capital circulante da empresa. Abrigam aplicações feitas em bens e direitos
com características permanentes, que se classificam em Investimentos, Imobilizado,
Intangível e Diferido. O subgrupo “Diferido” encontra-se em fase de extinção.

Realizável a longo prazo


Contas com prazo de realização superior ao término do exercício seguinte ao do
balanço.

O artigo 179, inciso II, da Lei 6.404/76 estabelece que não só os direitos reali-
záveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas,
adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores,
acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios
usuais na exploração do objeto da companhia, devem ser classificado no Realizável
a Longo Prazo.

Investimentos
Conforme o artigo 179, inciso III da Lei 6.404/76, os investimentos compreendem
“[...] as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer na-
tureza, não classificados no ativo circulante, e que não destinem à manutenção da ati-
vidade da companhia ou da empresa”.

Imobilizado
Também de acordo com a Lei 6.404, artigo 179 inciso IV, o imobilizado compre-
ende os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das
Análise de Risco e Crédito

atividades da companhia, ou da empresa, ou exercidos com essa finalidade, inclusive


os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e con-
trole desses bens.

O imobilizado é representado por bens tangíveis com as seguintes características


básicas:

108
utilizados na atividade da empresa;

não estão destinados à venda;

apresentam vida útil superior a um ano;

têm valor relevante.

Intangível
São aqui classificados os direitos e bens incorpóreos destinados à manutenção da
companhia ou exercidos com essa finalidade.

Diferido
São classificadas, aqui, as despesas pré-operacionais e os gastos de reestrutura-
ção da empresa que contribuirão efetivamente para o aumento do resultado de mais
de um exercício social.

Passivo
Representa as fontes de recursos utilizadas pela empresa, que podem ser prove-
nientes de terceiros que emprestam recursos, ou dos sócios que aportam capital, ou de
lucro gerado pela própria empresa.

Passivo circulante

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


Compreende obrigações vencíveis no exercício social seguinte, compostas geral-
mente pelas seguintes rubricas contábeis:

Fornecedores
Representa as compras a prazo feitas pela empresa.

Salários e encargos sociais


Compreende os salários e obrigações relativas a cada mês e que são pagas no
início do mês subsequente.

109
Instituições financeiras
São os empréstimos obtidos pela empresa junto aos bancos.

Passivo não circulante


Compreende obrigações vencíveis após o exercício social seguinte e não classifi-
cáveis no passivo circulante.

Exigível a longo prazo


Composto pelas obrigações cujos vencimentos ocorrem após o término do exer-
cício seguinte.

Financiamentos
Compreende recursos obtidos pela empresas para financiar, geralmente, bens do
ativo permanente.

Resultado de exercícios futuros


Composto pelas receitas de exercícios futuros, deduzidos dos custos e despesas
a elas correspondentes.

Patrimônio líquido
Demonstra os recursos pertencentes aos proprietários – é composto por
capital social, capital a integralizar, reservas de capital, reservas de lucros e pre-
juízos acumulados.

Capital social – é a parcela do patrimônio líquido de uma entidade, que re-


presenta investimento de acionistas ou proprietários na forma de ações ou
quotas de responsabilidade limitada. O valor da ação ou da quota é previa-
Análise de Risco e Crédito

mente estabelecida na ata da constituição da empresa, ou no contrato social.


A integralização pode ser feita em dinheiro ou em bens.

110
Capital a integralizar – corresponde à parcela de capital subscrito e ainda
não integralizado pelos proprietários da empresa e é uma conta redutora do
capital social subscrito.

Reservas de Capital – Iudícibus, Martins e Gelbke (2003, p. 295) escrevem


que estas reservas “são constituídas com valores recebidos pela companhia
e que não transitam pelo Resultado como Receitas, por se referirem a valores
destinados a reforço do seu capital, sem terem como contrapartidas qual-
quer esforço da empresa em termos de entrega de bens ou de prestação de
serviços”.

Reservas de lucros – são reservas constituídas a partir do lucro da empresa:

reserva legal;

reserva estatutária;

reserva para contingência;

reserva de lucros a realizar;

reserva de incentivos fiscais.

Observa-se que a lei 11.638/2007 estabelece que os valores dos lucros obtidos
pela empresa e não distribuídos aos sócios devem ser distribuídos pelas reservas que
as empresas possuem dentro das referidas acima.

Outro aspecto importante sobre esta rubrica é o fato de não poder exceder o
valor do capital social.

Prejuízos acumulados – são registrados, aqui, os resultados negativos apura-


dos pela empresa decorrentes de suas atividades.

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE)
A Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) evidencia os resultados da
empresa em determinado período, que geralmente equivale ao exercício social.

A DRE representa o acúmulo das receitas, dos custos e das despesas, possibili-
tando a apuração do lucro ou prejuízo no período. A seguir, apresenta-se a estrutura
básica de uma DRE:

111
Quadro 3 – Demonstração dos Resultados do Exercício

(SILVA, 2008, p. 173)


Demonstração dos Resultados do Exercício
Receita Operacional Bruta
(-) Vendas canceladas
(-) Abatimentos sobre vendas
(-) Impostos sobre vendas
Receita Operacional Líquida
(-) Custo dos produtos, mercadorias ou serviços vendidos
Lucro Bruto
(-) Despesas com vendas
(-) Despesas administrativas
(-) Despesas financeiras, líquida das receitas
(-) Outras despesas operacionais
(+/-) Resultado da equivalência patrimonial
Lucro Operacional
(+) Receitas não operacionais
(-) Despesas não operacionais
Lucro antes dos Impostos, Contribuições e Participações
(-) Provisão para imposto de renda
(-) Provisão para contribuição social
(-) Participações
Lucro Líquido do Exercício
Lucro Líquido por Ação

Demonstração das Mutações


do Patrimônio Líquido (DMPL)
Esta demonstração evidencia todos os eventos que modificaram o patrimônio
líquido de um período para o outro, denotado pelas movimentações das contas do
Patrimônio Líquido. Exemplos desses eventos são: lucro, o aumento de capital com
integralização pelos sócios ou distribuições de dividendos.

Apresenta-se, abaixo, um modelo de Demonstração das Mutações do Patrimônio


Análise de Risco e Crédito

Líquido (DMPL):

112
Quadro 4 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

(GELBCKE; MARTINS; IUDÍCIBUS, 2007, p. 499)


Demonstração das mutações do PL X2 X1
Patrimônio líquido inicial
Ajuste de exercícios anteriores
Saldo conforme esta publicação
Aumento de capital com novas integralizações
Aquisição de ações próprias
Lucro líquido do exercício
Dividendos propostos
Patrimônio Líquido final

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)


Com a entrada em vigor da Lei 11.638/2007, houve a exigência adicional obri-
gatória da apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa, que substituiu a De-
monstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e da Demonstração do Valor
Adicionado.

Azevedo (2008, p. 40) considera que a Demonstração dos Fluxos de Caixa e a De-
monstração do Valor Adicionado permitem “aos investidores conhecerem melhor o
fluxo de dinheiro da empresa e o quanto ela produz de riqueza ao longo do ano”.

A lei 11.638, artigo 188, estabelece:


As demonstrações referidas nos incisos IV e V do caput do art. 176 desta Lei indicarão, no mínimo:

I – demonstração dos fluxos de caixa – as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos:

a) das operações;

b) dos financiamentos; e

c) dos investimentos.

Os três fluxos da DFC podem ser organizados de duas maneiras diferenciadas,


que dão origem a dois métodos distintos de elaboração da demonstração:

113
Método Direto – são demonstrados os recebimentos e pagamentos origina-
dos das atividades da empresa e os fluxos que geram ou consomem caixa das
operações. Demonstra-se diretamente as alterações ocorridas no caixa (entra-
das e saídas), e sua principal vantagem é a simplicidade.

Segue o modelo da demonstração do fluxo de caixa pelo método direto:

Quadro 5 – Demonstração do fluxo de caixa pelo método direto

(GELBCKE; MARTINS; IUDÍCIBUS, 2007, p. 496)


Atividades Operacionais X2 X1
Recebimento de clientes
Pagamento de fornecedores
Recebimentos de outros ativos circulantes
Pagamento de salários
Pagamento de despesas a pagar
Pagamento de despesas antecipadas
Recebimento de juros
Pagamento de juros
Recebimento de dividendos
Outros recebimentos
Outros pagamentos

Caixa Líquido Gerado (consumido)


pelas atividades operacionais
Atividades de investimento
Investimento no realizável a longo prazo
Outros investimentos de longo prazo
Investimento no imobilizado
Investimento no diferido
Investimentos em participações societárias
Outros investimentos permanentes

Caixa Líquido Gerado (consumido)


pelas atividades de investimento
Atividades de financiamento
Aumento de capital
Captações de longo prazo
Pagamentos de empréstimos
Pagamentos de dividendos
Análise de Risco e Crédito

Caixa Líquido Gerado (consumido)


pelas atividades de financiamento
Variação Líquida do Caixa
Caixa mais equivalentes de caixa iniciais
Caixa mais equivalentes de caixa finais

114
Método Indireto – origina-se do resultado líquido do exercício até chegar ao
fluxo de caixa, ou seja, apura o fluxo dos recursos provenientes das atividades
operacionais, apresentados a partir do lucro líquido, ajustados pelos itens que
não afetaram o caixa da empresa.

A dificuldade de se aplicar esse método é a necessidade de se converter o resulta-


do do exercício de “Competência” para “Caixa”.

Segue o modelo da demonstração do fluxo de caixa pelo método indireto:

Quadro 6 – Demonstração do fluxo de caixa pelo método indireto

(GELBCKE; MARTINS; IUDÍCIBUS, 2007 p. 495)


Atividades Operacionais X2 X1
Lucro líquido
Ajustes ao lucro
Depreciação
Lucro da venda do imobilizado
Despesas financeiras de longo prazo
Resultado de equivalência patrimonial
Investimentos de curto prazo
Variação das contas a receber
Variação da PCLD
Variação dos estoques
Variação das despesas antecipadas
Variação de outros ativos circulantes
Variação de fornecedores
Variação de despesas a pagar
Variação da provisão para IR e CS
Variação de outros passivos circulantes

Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades operacionais

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


Atividades de Investimento
Investimento no realizável a longo prazo
Outros investimentos de longo prazo
Investimento no imobilizado
Investimento no diferido
Investimentos em participações societárias
Outros investimentos permanentes

Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de investimento


Atividades de Financiamento
Aumento de capital
Captações de longo prazo
Pagamentos de empréstimos
Pagamentos de dividendos

115
Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de financiamento
Variação Líquida do Caixa
Caixa mais equivalentes de caixa iniciais
Caixa mais equivalentes de caixa finais

Azevedo (2008 p. 41) afirma que o objetivo da DFC “é prover informações rele-
vantes sobre os pagamentos e recebimentos (dinheiro à mão, conta corrente bancária
e aplicações de sobras de caixa) de uma empresa, ocorridos durante um determinado
período”.

Em geral, esta demonstração indica a origem de todo dinheiro que entrou no


caixa em determinado período, bem como o resultado do fluxo financeiro, permitindo
ao administrador melhorar o planejamento financeiro da entidade.

Estão obrigadas à elaboração do fluxo de caixa:

companhia de capital aberto ou sociedade anônima.

companhia de capital fechado. No entanto pode ficar dispensada dessa ela-


boração e publicação quando o seu patrimônio for inferior a R$ 2.000.000,00
(dois milhões de reais).

sociedade de grande porte quando a sociedade (Ltda, Cia fechado). Pela


norma, podem ser classificadas como tal empresas que tiverem ativo total su-
perior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual maior que R$ 300 milhões.

Demonstração do Valor Adicionado (DVA)


Para Azevedo (2008, p. 45) “a demonstração do valor adicionado surgiu para evi-
denciar o quanto de valor adicionado a empresa adiciona aos insumos que adquire,
bem como sua distribuição aos elementos que contribuíram para essa adição”.

Sobre a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), a Lei 11.638/2007, art. 188 es-
tabelece que essa demonstração corresponde ao “valor da riqueza gerada pela com-
panhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa
riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como
Análise de Risco e Crédito

a parcela da riqueza não distribuída”.

Da receita gerada pela empresa, são subtraídos os consumos intermediários (in-


sumos), e o que fica é o valor adicionado, sendo necessário indicar como tal valor adi-
cionado foi distribuído.

116
Para Azevedo (2008, p. 45), trata-se de identificar “os agentes econômicos que
receberam pagamentos, obtendo, portanto, renda e que contribuíram para aquela
adição de valor à entidade”. Esses agentes são os empregados, os capitais de terceiros,
os governos e os sócios/acionistas e o valor retido para o crescimento da empresa.

A seguir, apresenta-se o modelo simplificado elaborado pela Fundação de Pesqui-


sas contábeis, Atuariais e Financeiras da USP (Fipecafi):

Quadro 7 – Demonstração do Valor Adicionado

(GELBCKE; MARTINS; IUDÍCIBUS, 2007, p. 501)


Descrição Mil
1. Receitas
1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2 Provisão para devedores duvidosos
1.3 Não operacionais
2. Insumos adquiridos de terceiros (inclui ICMS, PIS, Cofins)
2.1 Matérias-primas consumidas
2.2 Custo das mercadorias e serviços vendidos
2.3 Materiais, energia, serviços de terceiros
2.4 Perdas/recuperação de valores ativos
3. Valor adicionado bruto
4. Retenções
4.1 Depreciação, amortização e exaustão
5. Valor adicionado líquido produzido pela entidade
6. Valor adicionado recebido em transferência
6.1 Resultado da equivalência patrimonial
6.2 Receitas financeiras
7. Valor adicionado total a distribuir
8. Distribuição do valor adicionado
8.1 Pessoal e encargos

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


8.2 Impostos, taxas e contribuições
8.3 Juros e aluguéis
8.4 Juros de capital próprio e dividendos
8.5 Lucros retidos/prejuízo do exercício

Em síntese, a elaboração da DVA apresenta a riqueza gerada pela empresa, di-


vidida pelos elementos que a geram (empregados, financiadores, acionistas) e a sua
distribuição.

O objetivo é mostrar como o resultado da empresa é obtido através da contribui-


ção de cada parte envolvida para a produção de riqueza e como foi distribuída.

Estão obrigadas à elaboração da DVA:

Cia. aberta;

117
sociedade de grande porte quando a sociedade (Ltda. Cia. fechado), desde
que a regulamentação societária venha a confirmar essa obrigatoriedade,
uma vez que se prevalecer a interpretação gramatical do inciso V do art. 176, a
Sociedade de Grande Porte ficará dispensada.

Notas explicativas
As notas explicativas apresentam informações complementares às demonstra-
ções contábeis, além de quadros analíticos sobre a situação patrimonial da empresas.

De acordo com Silva (2008, p. 160), “as notas explicativas dão informações gerais
sobre o contexto operacional da empresa, mostrando as principais atividades”.

A Lei 6.404/76 no artigo 176 estabelece:


§5.º - As notas deverão indicar:
a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos
cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou
riscos e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo;
b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único);
c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, §3.º);
d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras
responsabilidades eventuais ou contingentes;
e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo;
f ) o número, espécies e classes das ações do capital social;
g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício;
h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, §1.º);
i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possa vir a ter,
efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia.

Parecer da auditoria
As companhias abertas são obrigadas a apresentar suas demonstrações contá-
Análise de Risco e Crédito

beis auditadas por auditores independentes devidamente registrados na Comissão de


Valores Mobiliários (CVM).
Segundo Attie (1998, p. 67) o “objetivo da auditoria independente é expressar
opinião sobre a propriedade das demonstrações financeiras e se estas representam,
efetivamente, a situação patrimonial e financeira e o resultado da empresa auditada”.

118
O instrumento utilizado para expressar a opinião dos auditores é justamente o
parecer de auditoria.

Conclusão
Os instrumentos comumente mais utilizados pelos analistas de crédito para in-
vestigar a saúde financeira das empresas são as demonstrações contábeis-financeiras,
compostas pelos balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício, de-
monstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos fluxos de caixa,
demonstração do valor adicionado, notas explicativas e parecer dos auditories. Elas
servem de base para que os usuários das informações tenham visão geral sobre a posi-
ção da entidade no mercado, possibilitando uma tomada de decisão mais embasada.

Para se perpetrar uma análise de risco adequada, um dos requisitos relevantes é


conhecer as demonstrações contábeis-financeiras.

Texto complementar

Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007


Mensagem de veto
Altera e revoga dispositivos da Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da
Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte dis-

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


posições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1.º Os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, passam a vigorar com a seguinte redação:

Art. 176 (...)

IV - demonstração dos fluxos de caixa; e

V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. [...]

119
§6.º A companhia fechada com patrimônio líquido, na data do balanço, inferior
a R$2.000.000,00 (dois milhões de reais) não será obrigada à elaboração e publica-
ção da demonstração dos fluxos de caixa. (NR)

Art. 177 [...]

§2.º As disposições da lei tributária ou de legislação especial sobre atividade


que constitui o objeto da companhia que conduzam à utilização de métodos ou
critérios contábeis diferentes ou à elaboração de outras demonstrações não elidem
a obrigação de elaborar, para todos os fins desta Lei, demonstrações financeiras em
consonância com o disposto no caput deste artigo e deverão ser alternativamente
observadas mediante registro:

I – em livros auxiliares, sem modificação da escrituração mercantil; ou

II – no caso da elaboração das demonstrações para fins tributários, na escritu-


ração mercantil, desde que sejam efetuados em seguida lançamentos con-
tábeis adicionais que assegurem a preparação e a divulgação de demons-
trações financeiras com observância do disposto no caput deste artigo,
devendo ser essas demonstrações auditadas por auditor independente re-
gistrado na Comissão de Valores Mobiliários.

[...]

§5.º As normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários a que se refere


o §3.º deste artigo deverão ser elaboradas em consonância com os padrões interna-
cionais de contabilidade adotados nos principais mercados de valores mobiliários.

§6.º As companhias fechadas poderão optar por observar as normas sobre de-
monstrações financeiras expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários para as
companhias abertas.

§7.º Os lançamentos de ajuste efetuados exclusivamente para harmonização


de normas contábeis, nos termos do §2.º deste artigo, e as demonstrações e apura-
ções com eles elaboradas não poderão ser base de incidência de impostos e contri-
buições nem ter quaisquer outros efeitos tributários. (NR)
Análise de Risco e Crédito

Art. 178

c) ativo permanente, dividido em investimentos, imobilizado, intangível e diferido.

§2.º [...]

120
d) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de
avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos
acumulados. [...] ” (NR)

Art. 179 [...]

IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos


destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou
exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que
transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens;

V – no diferido: as despesas pré-operacionais e os gastos de reestruturação


que contribuirão, efetivamente, para o aumento do resultado de mais de
um exercício social e que não configurem tão-somente uma redução de
custos ou acréscimo na eficiência operacional;

VI – no intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destina-


dos à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusi-
ve o fundo de comércio adquirido.

[...] (NR)

Patrimônio Líquido

Art. 182 [...]

§3.º Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não


computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as
contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuído a elementos do ativo
(§5.º do art. 177, inciso I do caput do art. 183 e §3.º do art. 226 desta Lei) e do passivo,

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


em decorrência da sua avaliação a preço de mercado. (...) (NR)

Critérios de Avaliação do Ativo

Art. 183 [...]

I – as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direi-


tos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a
longo prazo:

a) pelo seu valor de mercado ou valor equivalente, quando se tratar de aplica-


ções destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e

121
b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme
disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização,
quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos
de crédito;

[...]

VII – os direitos classificados no intangível, pelo custo incorrido na aquisição


deduzido do saldo da respectiva conta de amortização;

VIII – os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão


ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver
efeito relevante.

§1.º [...]

d) dos instrumentos financeiros, o valor que pode se obter em um mercado


ativo, decorrente de transação não compulsória realizada entre partes in-
dependentes; e, na ausência de um mercado ativo para um determinado
instrumento financeiro:

1) o valor que se pode obter em um mercado ativo com a negociação de outro


instrumento financeiro de natureza, prazo e risco similares;

2) o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros para instrumentos finan-
ceiros de natureza, prazo e risco similares; ou

3) o valor obtido por meio de modelos matemático-estatísticos de precifica-


ção de instrumentos financeiros.

§2.º A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado, intangível e


diferido será registrada periodicamente nas contas de:

[...]

§3.º A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação


dos valores registrados no imobilizado, no intangível e no diferido, a fim de que
sejam:
Análise de Risco e Crédito

I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão


de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou
quando comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para
recuperação desse valor; ou

122
II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil
econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortiza-
ção. [...] (NR)

[...]

Atividades

1. Qual a importância das demonstrações contábeis para a análise de risco de


crédito?

2. A Lei 11.638/2007 instituiu um novo subgrupo ao Ativo Não circulante que


abrange “os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à ma-
nutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de
comércio adquirido”. A qual subgrupo o trecho se refere?

a) Imobilizado.

b) Investimento.

c) Diferido.

d) Intangível.

3. Qual demonstração abaixo demonstra a riqueza gerada pela empresa e sua dis-

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


tribuição?

a) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

b) Demonstração do Valor Adicionado (DVA).

c) Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR).

d) Demonstração de Resultado do Exercício (DRE).

4. Qual é a demonstração financeira que melhor demonstra o resultado obtido


pela empresa no exercício e por quê?

123
Ampliando conhecimentos
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

O autor aborda os critérios de análise das demonstrações contábeis e os aspectos


subjetivos de análise de crédito. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para plena
compreensão do assunto.

AZEVEDO, Osmar Reis. Comentários às Novas Regras Contábeis Brasileiras.


São Paulo: IOB, 2008.

Este livro é o estudo das principais alterações nas demonstrações financeiras após
a promulgação da Lei 11.638, que altera a Lei 6.404/76.

IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de


Contabilidade das Sociedades por Ações. São Paulo: Atlas, 2007.

Esta obra é indispensável aos que querem se aprofundar nos componentes das
principais demonstrações financeiras e nas práticas contábeis adotadas no Brasil. Deve
ser consultado ao longo deste capítulo.
Análise de Risco e Crédito

124
125
Análise das demonstrações contábeis e financeiras I
Análise das demonstrações
contábeis e financeiras II

Introdução
De um modo geral, a análise econômico-financeira tem como elementos básicos
as demonstrações contábeis, particularmente o balanço patrimonial e a demonstração
dos resultados do exercício. A partir dessas demonstrações é possível obter informa-
ções relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco na empresa.

Para Gitman (2002), os índices servem para “comparar o desempenho e a situação


de uma empresa com outras empresas ou consigo mesma ao longo do tempo”. Ou
seja, funcionam como sinais para os problemas potenciais que podem ocorrer.

No entanto, é importante lembrar que a análise por meio de índices não é suficiente
para verificar o desempenho econômico-financeiro da empresa, pois pode fornecer um re-
trato distorcido em alguns casos. Portanto, a análise deve ser feita em conjunto com outras
ferramentas de análise para se chegar ao conhecimento mais profundo dos negócios.

Os gestores utilizam, além da análise através dos índices econômico-financeiros, a


análise horizontal e vertical. Sobre o assunto Silva (2008, p. 182) esclarece que “os mé-
todos de análise vertical e horizontal prestam valiosas contribuições na interpretação
da estrutura e da tendência dos números de uma empresa”. É possível perceber que,
para uma completa análise financeira, essas ferramentas se complementam e auxiliam
gestores, credores e acionistas.

Análise horizontal e vertical


Análise vertical
O principal objetivo da análise vertical é mostrar a participação relativa de
cada conta de uma demonstração financeira em relação a determinado referencial.
127
Geralmente, utiliza-se a percentagem do valor de cada conta em relação ao ativo total,
passivo total ou resultado líquido.

Para Assaf Neto (1998, p. 108), a análise vertical é “processo comparativo, expresso
em porcentagem, que se aplica ao se relacionar uma conta ou um grupo de contas
com um valor afim ou relacionável, identificado no mesmo demonstrativo”.

Para o cálculo dos percentuais da coluna da análise vertical (AV), divide-se o valor
da rubrica que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando o valor encontrado por
cem. O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total, e na demonstração de resul-
tado é a receita líquida de vendas. Alguns autores propõem a seguinte fórmula abaixo.
Exemplo de cálculo encontra-se abaixo.

Rubrica x 100
AVn =
Base

Exemplo: sobre os resultados obtidos através da análise vertical, Silva (2008, p.


184) esclarece que “a simples representatividade de um item do ativo ou do passivo em
relação a determinado referencial pode não ser suficiente para possibilitar ao analista
tirar conclusão sobre a situação da empresa”.

Por essa razão, os analistas costumam observar a tendência do comportamento


do valor de um item ao longo de mais de um exercício. Isso permite a observação de
mudanças expressivas na estrutura da demonstração analisada.

Para Matarazzo (1998, p. 255), a análise vertical “mostra a importância de cada


conta em relação à demonstração financeira a que pertence” e, através das compa-
rações com a própria empresa em anos anteriores, permite inferir se há itens fora das
proporções normais.

Análise horizontal
A análise horizontal, segundo Assaf Neto (2008, p. 101) “é a comparação que se
faz entre os valores de uma mesma conta ou grupo de contas, em diferentes exercícios
sociais”.
Análise de Risco e Crédito

Na análise horizontal é possível verificar a evolução histórica de uma série de va-


lores, ou seja, a evolução de cada conta das demonstrações financeiras.

Segundo Matarazzo (1998, p. 57), pela comparação das contas entre si é possível
“tirar conclusões sobre a evolução da empresa”.

128
Assaf Neto (2001) resume o estudo comparativo da evolução horizontal em três
segmentos:

Evolução dos ativos (investimento) e passivos (financiamentos) de curto


prazo – é possível avaliar a folga financeira (liquidez de curto prazo) na even-
tualidade dos ativos circulantes terem crescido com maior rapidez que os pas-
sivos circulantes, ou de uma redução na liquidez, caso ocorra o inverso.

Evolução do ativo permanente produtivo – reflete a capacidade de produ-


ção/vendas de uma empresa, devendo corresponder a um nível maior de in-
vestimentos em bens fixos a um adequado crescimento de vendas.

Evolução na estrutura de capital – verifica-se como a empresa está finan-


ciando seus investimentos em ativos, isto é, se houve maior preferência por
empréstimos e financiamentos em relação ao uso de capital próprio e se é vi-
sível algum desequilíbrio na estrutura de capital, notadamente pela presença
de um maior volume de dívidas de curto prazo em relação a capitais de longo
prazo etc.

Exemplo de análise vertical e horizontal


Tabela 1 - Exemplo hipotético de análises vertical e horizontal

Os autores.
ATIVO 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH% 31/12/X3 AV% AH%

Circulante

Caixa e bancos 20.000 3,6 100 15.000 2,19 75,0 25.000 3,28 125,0

Clientes 30.000 5,4 100 35.000 5,12 116,7 75.000 9,84 250,0

Estoques 50.000 8,9 100 60.000 8,77 120,0 25.000 3,28 50,0

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


Total do circulante 100.000 17,9 100 110.000 16,1 110,0 125.000 16,4 125,0

Não circulante
realizável a longo prazo

Empresas controladas 160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0

Total realizável
160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0
a longo prazo

Investimentos 80.000 14,3 100 92.000 13,5 115,0 96.000 12,6 120,0

Imobilizado 150.000 26,8 100 248.000 36,3 165,3 299.000 39,4 199,3

Intangível 20.000 3,6 100 20.000 2,9 100 30.000 3,9 150,0

Diferido 50.000 8,9 100 30.000 4,4 60,0 20.000 2,6 40,0

Total do não circulante 460.000 82,1 100 574.000 83,9 124,8 637.000 83,6 138,5

Total 560.000 100 684.000 100 762.000

129
Os autores
PASSIVO 31/12/X1 AV AH 684.000 AV AH 31/12/X3 AV AH

Circulante

Fornecedores 35.000 6,3 100 67.500 9,9 192,9 46.400 6,1 132,6

Salários e encargos 15.000 2,7 100 25.000 3,7 166,7 39.000 5,1 260,0

Impostos e contribuições 20.000 3,6 100 30.000 4,4 150,0 21.000 2,8 105,0

Total do circulante 70.000 12,5 100 122.500 17,9 175,0 106.400 14,0 152,0

Não circulante

Exigível a longo prazo

Empresas controladas 85.000 15,2 100 75.000 11,0 88,2 89.000 11,7 104,7

Financiamentos 65.000 11,6 100 92.800 13,6 142,8 176.000 23,1 270,8

Total do
150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7
exigível a longo

Total do não circulante 150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7

Patrimônio Líquido

Capital 200.000 35,7 100 200.000 29,2 100,0 200.000 26,2 100,0

Reservas de capital 60.000 10,7 100 60.000 8,8 100,0 60.000 7,9 100,0

Reservas de lucros 80.000 14,3 100 133.700 19,5 167,1 130.600 17,1 163,6

Total Patrimônio Líquido 340.000 60,7 100 393.700 57,6 115,8 390.600 51,3 114,9

Total 560.000 100 684.000 100 762.000 100 136,1

Na demonstração de resultado, através da análise horizontal, é possível verificar a


evolução dos custos e despesas em relação ao volume de vendas e seus reflexos sobre
o resultado do exercício.

Os autores.
DRE 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH 31/12/X3 AV% AH%

Receita de Vendas 830.000 100 100 1.260.000 100 151,8 2.050.000 100,0 247,0

CMV -524.167 63,2 100 -840.500 66,7 160,3 -1.594.600 77,8 304,2

Lucro Bruto 305.833 36,8 100 419.500 33,3 137,2 455.400 22,2 148,9

Despesas Operacionais -139.500 16,8 100 -190.000 15,1 136,2 -277.500 13,5 198,9

Despesas Financeiras -88.000 10,6 100 -140.000 11,1 159,1 -186.000 9,1 211,4

78.333
Análise de Risco e Crédito

Resultado “Operacional” 9,4 100 89.500 7,1 114,3 -8.100 0,4 -10,3

Provisão para IR -31.333 3,8 100 -35.800 2,8 114,3 0 0,0 0

Resultado Líquido 47.000 5,6 100 53.700 4,3 114,3 -8.100 0,4 -17,2

Quanto à análise vertical das demonstrações apresentadas acima, é possível in-


ferir que:

130
houve uma pequena redução nos investimentos no período estudado;

ocorreu um aumento elevado das dívidas de curto prazo;

houve um aumento na participação de terceiros para financiamento do capi-


tal circulante.

Quanto à análise horizontal é possível perceber:

sensível redução na liquidez e lucratividade;

redução na capacidade de pagamento a curto prazo e o aumento de suas


obrigações (passivo circulante) em relação às suas disponibilidades;

aumento da participação de capital de terceiros e a redução da participação


dos recursos próprios no financiamento da empresa;

aumento nos custos maior que o crescimento das receitas, o que resulta na
redução do lucro bruto.

Análise através de índices econômico-financeiros


A análise através de índices envolve métodos de cálculo e interpretação dos resul-
tados para avaliar o desempenho e a situação da empresa. Essa análise utiliza os saldos
das rubricas da demonstração de resultado e do balanço patrimonial referentes aos
períodos examinados.

Esta análise é importante para credores, acionistas e à própria administração da


empresa. Os credores geralmente querem saber se a empresa pode liquidar suas obri-
gações em curto prazo. Os acionistas necessitam avaliar se a empresa é sólida, se os

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


riscos potenciais estão sob controle e qual é o retorno sobre o investimento efetua-
do. Os administradores precisam verificar a eficiência operacional e o desempenho da
empresa.

Considerado assim, a análise dos índices é instrumento relevante na avaliação


sobre o desempenho da empresa. Aos usuários das informações provenientes da aná-
lise requisita-se preparo para interpretar corretamente essas informações e dar à elas a
correta dimensão de sua representatividade no patrimônio da empresa.

Sobre a conceituação de índices financeiros, Silva (2008, p. 188) apresenta a se-


guinte definição: “os índices financeiros são relações entre as contas das demonstra-
ções financeiras que têm como objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis
de serem visualizadas de forma direta nas demonstrações financeiras”.

131
Por se tratar de medidas de grandeza, os índices podem ser comparados ano a
ano para verificação de suas tendências e comportamento.

Gitman (2002) subdivide os índices em quatro grupos ou categorias: 1. Índi-


ces de liquidez; 2. Índices de atividade; 3. Índices de endividamento; e 4. Índices de
lucratividade.

Índices de liquidez – de acordo com Gitman (2002), é medida pela capaci-


dade da empresa de satisfazer no vencimento às obrigações de curto prazo e
refere-se à solvência da empresa e à facilidade com a qual ela pode pagar suas
contas.

Índice de liquidez corrente – mede a capacidade da empresa em quitar


suas obrigações de curto prazo. Para Gitman (2002, p. 110) é “uma medida
de liquidez calculada que divide o ativo circulante pelo passivo circulante
da empresa”.

ativo circulante
índice de liquidez corrente =
passivo circulante

Entende-se que o capital circulante líquido de uma empresa é o resultado da


equação “Ativo Circulante – Passivo Circulante”. Se o índice for igual a 1,0, o capital
circulante líquido será igual a zero, isto porque o ativo circulante e o passivo circulante
têm o mesmo valor. Se o índice for menor que 1,0, o capital circulante líquido será ne-
gativo. Caso o índice seja maior que 1,0, o capital circulante líquido é positivo.

Exemplo: a empresa Chateau de Chapon, localizada em Estraburgo, França, apre-


sentou para o exercício findo em 2007 um balanço patrimonial em que as contas de
seu Ativo Circulante totalizaram R$700 mil. As obrigações de curto prazo somaram
R$350 mil no mesmo período. Aplicando-se a fórmula acima, o índice de liquidez cor-
rente do Chateau para o período é igual a 2.
700.000
Índice de liquidez corrente = =2
350.000
Índice de liquidez seco – guarda semelhança com o índice de liquidez cor-
rente. Difere-se apenas por excluir os estoques do ativo circulante.
Análise de Risco e Crédito

ativo circulante – estoques


índice de liquidez seco =
passivo circulante

Exemplo: a empresa Chateau de Chapon, acima, apresentou para o exercício


findo em 2006 um balanço patrimonial em que as contas de seu Passivo Circulante

132
totalizaram R$800 mil. Seu Ativo Circulante totalizou R$1.200 mil, incluindo o saldo
de Estoques de R$200 mil. Aplicando-se a fórmula acima, o índice de liquidez seco do
Chateau para o período é igual a 1,25.

Índice de liquidez corrente seco = 1.200.000 – 200.000 = 1,25


800.000
A literatura sobre o assunto recomenda que as empresas mantenham esse índice
em número acima de 1,0, observando-se que quanto maior for o índice, mais “líquida”
será a empresa.

Índices de atividade – estes índices são usados para medir a rapidez com que
várias contas são convertidas em dinheiro, ou vendas.

Giro dos estoques – é utilizado para medir a velocidade da atividade da


empresa, ou a velocidade da liquidez da venda e compra de seus estoques.
É calculado pela fórmula:

custo dos produtos vendidos


giro de estoques =
estoques

Exemplo: a empresa Chateau de Chapon apresentou para o exercício findo em


2008 uma demonstração de resultados do exercício, em que os custos das mercadorias
vendidas totalizaram R$600 mil. Considerando que os estoques da empresa somaram
R$300 mil, o giro dos estoques do Chateau para o período é igual 2.
600.000
Giro de estoques = =2
300.000
Prazo médio de cobrança – O período médio de cobrança é útil na avaliação
das políticas de crédito e cobrança da empresa. É calculado pela fórmula:

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


duplicatas a receber
período médio de cobrança =
vendas médias por dia

Exemplo: a empresa Chateau de Chapon apresentou para o exercício findo em


2005 um balanço patrimonial em que as duplicatas a receber emitidas contra clientes
totalizaram R$500 mil. As vendas médias por dia somaram R$25 mil. Aplicando-se a
fórmula acima, tem-se que o período médio de cobrança é de 20 dias.
500.000
Período médio de cobrança = = 20
25.000
Prazo médio de pagamento – o período médio de pagamento é obtido atra-
vés da seguinte fórmula:

133
duplicatas a pagar duplicatas a pagar
prazo médio de pagamento = =
compras médias por dia compras anuais

Exemplo: a empresa Kohler, empresa familiar fabricante de papel na Alema-


nha, apresentou em seu balanço patrimonial de 2006 duplicatas a pagar no valor de
R$300 mil. Considerando que o valor médio das compras diárias efetuadas no ano foi
de R$5 mil, o prazo médio de pagamento da empresa é de 60 dias (300.000/5.000).
300.000
Prazo médio de pagamento = = 60
5.000
Giro do ativo não circulante – avalia a eficiência com a qual a empresa utiliza
os ativos não circulantes. É calculado através da seguinte fórmula:

vendas
giro do ativo permanente =
ativo não circulante líquido

Exemplo: o Supermercado Monotrix, em Colmar, região da Alsácia, França, apre-


sentou em sua demonstracão de resultados vendas no valor de R$2 milhões, em 2006.
O ativo não circulante da empresa no final desse ano era de R$1 milhão. O giro do ativo
não circulante líquido é de 2,0 (2.000.000/1.000.000).
2.000.000
Prazo médio de pagamento = =2
1.000.000
Giro do ativo total – indica a eficiência com a qual a empresa utiliza os ativos
para gerar vendas. Geralmente, quanto maior o giro total da empresa, mais
eficiente foram usados os ativos. É calculado através da seguinte fórmula:

vendas
giro do ativo total =
ativos totais

Exemplo: o Supermercado Monotrix, em Colmar, apresentou em sua demonstra-


cão de resultados vendas no valor de R$2 milhões, em 2006, e em seu balanço, o ativo
total somou R$1,5 milhão. O giro do ativo total do Monotrix para o ano de 2006 é de
1,33 (2.000.000/1.500.000).
Análise de Risco e Crédito

2.000.000
Prazo médio de pagamento = = 1,33
1.500.000
Índices de endividamento – os índices de endividamento medem o montan-
te de recursos de terceiros que estão sendo usados para gerar lucros.

Índice de endividamento geral – de acordo com Gitman (2002, p. 117),


”o índice de endividamento geral mede a proporção dos ativos totais

134
financiadas pelos credores”. Quanto maior for o resultado, maior será o
montante do capital de terceiros que vem sendo utilizado para gerar lucros.

exigível total
índice de endividamento geral =
ativo total

Exemplo: o Supermercado ATAC, localizado em Robert Sau, localizado na Franca,


região fronteiriça com Alemanha, apresentou em seu balanço patrimonial de 2007 um
exigibilidades totais no valor de R$3 milhões. Seu ativo total nesse ano era de R$5 mi-
lhões. Aplicando a fórmula acima, o índice de endividamento do ATAC é de 0,6 ou, se
multiplicarmos por 100, de 60%.
3.000.000
Índice de endividamento geral = = 0,6
5.000.000
Índices de lucratividade – existem várias formas de medir a lucratividade
de um negócio e elas estão relacionadas aos retornos da empresa em suas
vendas, seus ativos, ao patrimônio, ou valor das ações.

Margem bruta – a margem bruta mede a percentagem de cada unidade mo-


netária de venda que ficou para a empresa após o pagamento dos custos dos
produtos. Quanto maior a margem bruta, melhor o resultado da empresa.

vendas – custo dos produtos vendidos lucro bruto


margem bruta = =
vendas vendas

Exemplo: o Supermercado ATAC apresentou em sua demonstração de resul-


tados de 2007 vendas no valor de R$3 milhões. Os custos dessa venda totalizaram
R$1.5  milhão. Aplicando-se a fórmula acima, a margem de bruta das vendas foi de

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


0,5, ou, 50% .

Margem bruta = 3.000.000 – 1.500.000 = 0,5


3.000.000
Margem operacional – a margem operacional representa o lucro da empresa
sem considerar as despesas financeiras, os juros ou obrigações fiscais como o
imposto de renda.

lucro operacional
Margem operacional =
vendas

Exemplo: o County Market, localizado em Urbana, Illinois, Estados Unidos, apre-


sentou a demonstração de resultados do exercício de 2007 com um lucro operacional

135
de US$48 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões.
A margem operacional do County Market em 2007 foi de 0,4, ou de 40%, se multipli-
carmos o resultado por 100.
48.000.000
Margem operacional = = 0,4
120.000.000
Margem líquida – mede o percentual obtido com as vendas, após abatidas
todas as despesas. Geralmente, quanto maior for a margem líquida da empre-
sa, mais resultado líquido ela estará obtendo com suas vendas.

lucro líquido após o imposto de renda


Margem líquida =
vendas

Exemplo: o County Market, acima, apresentou a demonstração de resultados do


exercício de 2007 com um lucro líquido, após o provisionamento do imposto de renda,
de US$30 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões.
A margem líquida do County Market em 2007 foi de 0,25 ou de 25%, se multiplicarmos
o resultado por 100 (30.000.000/120.000.000).
30.000.000
Margem operacional = = 0,25
120.000.000
Taxa de Retorno sobre o Ativo Total (ROA) (return on total assets) – é utili-
zado para medir a eficiência global da administração de lucros com os ativos
disponíveis. Quanto maior a taxa, melhor. É assim calculada:

lucro líquido depois do imposto de renda


Taxa de retorno sobre o ativo total =
ativo total

Exemplo: o County Market, acima, apresentou a demonstração de resultados do


exercício de 2007 com um lucro líquido, após o provisionamento do imposto de renda,
de US$30 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões.
A margem líquida do County Market em 2007 foi de 0,25 ou de 25%, se multiplicarmos
o resultado por 100.
30.000.000
Taxa de retorno sobre o ativo total = = 0,25
120.000.000
Análise de Risco e Crédito

Taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) (return on equity) – é


utilizado para medir o retorno obtido sobre os capitais próprios (ações prefe-
renciais e ordinárias). Geralmente, quanto maior for a taxa de retorno, melhor
para os acionistas. É assim calculada:

136
lucro líquido depois do imposto de renda
Taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido =
patrimônio líquido

Exemplo: as Lojas Kehl, produtora e revendedora de gravatas em Stuttgart, Ale-


manha, apresentou um lucro líquido (após o imposto de renda) em 2005 de R$700 mil.
O Balanço Patrimonial da empresa nesse ano acusou um Patrimônio Líquido de
R$1 milhão. A taxa de retorno da empresa para o ano de 2005 foi de 0,7 ou de 70%, se
multiplicarmos o resultado por 100.
700.000
Taxa de retorno sobre o ativo total = = 0,7
1.000.000
Lucro por ação (LPA) – O lucro por ação representa o valor auferido sobre
cada ação ordinária emitida.

lucro disponível aos acionistas ordinários


Lucro por ação =
número de ações ordinárias emitidas

Exemplo: a empresa Mantisse, produtora e vendedora de gravatas em Lyon,


Franca, apresentou um lucro líquido disponível para os acionistas de R$3 milhões, em
2006. O número de ações da empresa era de 500.000 ações naquela data. O lucro por
ação da Matisse, em 2006, foi de R$6.
3.000.000
Taxa de retorno sobre o ativo total = =6
500.000

Exemplos de índices
Índices extraídos das demonstrações apresentadas anteriormente.

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


Os autores.
Índices Fórmula 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 Interpretação

Liquidez geral LG = AC + RLP/PC + ELP 1,18 1,01 0,85 Quanto maior, melhor

Liquidez corrente LC = AC/ PC 1,43 0,90 1,17 Quanto maior, melhor

Liquidez seca LS = AC-Estoque/PC 0,71 0,41 0,94 Quanto maior, melhor

Giro do estoque G EST = CPV/EST -10,48 -14,01 -63,78 Quanto maior, melhor

Giro do ativo permanente GAP = V /APL 2,77 3,23 4,61 Quanto maior, melhor

Giro do ativo total GA = VL/AT 1,48 1,84 2,69 Quanto maior, melhor

Endividamento geral EG = EX /AT 0,39 0,42 0,49 Quanto menor, melhor

Margem bruta MB = LB/V 0,37 0,33 0,22 Quanto maior, melhor

Margem operacional MO = LO/V 0,09 0,07 0,00 Quanto maior, melhor

137
Índices Fórmula 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 Interpretação

Margem líquida ML = LL/V 0,06 0,04 0,00 Quanto maior, melhor

Retorno sobre o ativo RSA = LL/AT 0,08 0,08 -0,01 Quanto maior, melhor

Retorno sobre o PL RPL= LL/PL 0,14 0,14 -0,02 Quanto maior, melhor

Índices-padrão
De acordo com a conceituação de Silva (2008, p. 207), o índice-padrão “é um refe-
rencial de comparação”, ou seja, deve-se comparar o índice calculado com o índice-pa-
drão e daí tirar-se conclusões válidas do indicador calculado. Ainda segundo o mesmo
autor, é possível verificar dois padrões básicos:
I. Padrão interno, definido pela direção da empresa como sendo uma meta a ser atingida. Por
exemplo, em termos de estruturas de capitais (relação da dívida total com o patrimônio líquido),
a direção define que para cada unidade monetária ($) de capital próprio, utilizará igual montante
de recursos de terceiros. Esse tipo de padrão funciona como uma meta a ser perseguida e
mantida.

II. Padrão externo, como sendo um referencial constituído a partir de um conjunto de empresas
que sejam representativas das características que julgamos relevantes para a formação do
padrão. Há três fatores que precisam ser considerados na elaboração de um padrão: (a) região
geográfica; (b) segmento de atuação; e (c) porte. (SILVA, 2008, p. 207)

Os índices-padrão são utilizados como referência de determinados setores da


economia, e são normalmente publicados por revistas especializadas em negócios
empresariais.

Conclusão
A análise econômico-financeira de empresas é um procedimento utilizado na
avaliação do risco de crédito. Ela tem como elementos básicos as demonstrações con-
tábeis, que são utilizadas na detecção de problemas que o tomador de recursos pode
apresentar através daqueles relatórios.

Para a análise referida, geralmente se utiliza o cálculo de índices e as análises hori-


zontal e vertical para se capturar tendências sobre os negócios da empresa.
Análise de Risco e Crédito

Existem diversos indicadores que podem investigar a situação econômico-finan-


ceira das empresas tomadoras de recursos das instituições financeiras. Neste capítulo,
abordou-se alguns indicadores considerados relevantes: liquidez, eficiência, endivida-
mento, lucratividade, rentabilidade, além dos retornos sobre o ativo e patrimônio líqui-
do. Abordou-se, por último, o cálculo do lucro por ação. Acredita-se que os indicadores

138
citados fornecem as informações necessárias e suficientes para amparar uma decisão
adequada e segura.

Importante ressaltar que uma grande quantidade de indicadores não é garantia


de boa análise econômico-financeira. Ela depende, também, de outro tipo de análise:
a subjetiva.

Texto complementar

Análise econômica e financeira de empresas


(DEUS, 2009)

[...]

Comparação com padrões


Os índices extraídos das demonstrações financeiras de uma determinada em-
presa só adquirem consistência e objetividade quando comparados com padrões,
pois do contrário, as conclusões se sujeitam à opinião do analista.

A reação imediata de quem se defronta com as demonstrações e querer delas


tirar algumas informações é fazer comparações. Os índices de balanços expressam
relações entre partes das demonstrações financeiras e a análise de balanços está
toda baseada neles. A pergunta que o analista deve fazer é:

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


Como avaliar esses índices?
Basicamente, deve-se comparar um índice com índices de outras empresas.
Assim as coisas se encadeiam logicamente.

O principal problema para se comparar o índice de uma empresa com os de


outras é exatamente com que empresas comparam. Como comparar os diversos
índices de diversas empresas com os índices da empresa objeto da análise?

A estatística possui mecanismos para se extrair algumas medidas de determi-


nado universo de elementos. Estas medidas são:

139
Média: é a medida utilizada para indicar algo que é característico do universo.

Moda: é a medida que objetiva mostra aquilo que é mais comum em determi-
nado universo.

Mediana: é a medida que busca um valor tal que, colocados os elementos do


universo em ordem crescente, 50% dos elementos ficam abaixo de si e 50% acima. O
papel da mediana é possibilitar a comparação de um elemento do universo com os
demais a fim de conhecer sua posição relativa na ordem de grandeza do universo.

Podemos observar que a mediana é uma medida mais consistente, que possui
características que visam corrigir maiores distorções em um determinado universo
analisado.

Exemplo: 20 empresas de um determinado ramo de atividade, classificada


como porte médio, índices de liquidez corrente.

1,7 - 1,58 - 1,70 - 1,65 - 1,45 - 1,60 - 0,52 - 0,65 - 0,80 - 1,80 - 0,50 - 1,75 - 1,70 - 1,30 -
1,40 - 1,60 - 0,72 - 1,45 - 1,18 - 1,22

1.º Passo: ordenar a amostra em ordem crescente.

0,50 - 0,52 - 0,60 - 0,65 - 0,72 - 0,80 - 1,18 - 1,22 - 1,30 - 1,40 1,45 - 1,45 - 1,47 - 1,58 -
1,60 - 1,65 - 1,70 - 1,70 - 1,75 - 1,80

2.º Passo: aplicação de definição de mediana.

“Valor tal que colocados os elementos em ordem crescente 50% ficam acima
de 57 e 50% abaixo”. Portanto tomam-se os elementos 10 e 11 do universo, tira-se a
média e obtem-se a mediana:
1,40 + 1,45 2,85
= = 1,43
2 2
A média é a somatória dos elementos dividido pelo número de elementos.
25,04
= 1,43
20
Análise de Risco e Crédito

Fica claro, neste exemplo, que a média não é uma boa medida para compara-
ção como padrão, pois notamos uma diferença de 0,18 entre a média e a mediana.
Podemos classificar esta diferença como sendo relevante no estudo da análise.

Após extrairmos os índices das demonstrações financeiras da empresa em aná-


lise, e de posse da mediana dos índices das empresas do seu ramo e porte, devemos
tabular as informações com segue:

140
Índices Empresa Ramo/setor
19 x1 19 x 2 19 x 3 mediana x 3
CT/PL 146%
PC/CT 86%
AP/PL 57%
AP/PL +ELP 47%
LG 1,23
LC 1,54
LS 0,98
VL/ATM 1,53
LL/VL 3,40
LL/ x ATM 5,80
LL/ PLM 18%

O quadro fornece uma visão global dos três últimos exercícios em análise, bem
como a comparação do último exercício com os índices-padrão das empresas do
ramo e será de grande utilidade para a emissão do relatório de análise.

Atividades

1. Qual é a importância dos índices econômico-financeiros na análise e interpre-


tação das demonstrações contábeis?

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


2. Assaf Neto (2001, p. 101) enfatiza que “as duas principais características da aná-
lise de uma empresa são a comparação dos valores obtidos em determinado
período com aqueles levantados em períodos anteriores e o relacionamento
desses valores com outros afins”. Qual é o instrumento de análise que utiliza a
comparação de diferentes exercícios tomando deles como base?

a) Análise vertical.

b) Análise horizontal.

c) Análise de índices de liquidez.

d) Análise de endividamento.

141
3. Sobre a análise vertical é correto afirmar:

a) A análise vertical é mais informativa que a análise horizontal e só pode ser


utilizada para avaliar o balanço patrimonial.

b) A análise vertical possibilita identificar a representatividade de um item em


relação a um referencial. No balanço patrimonial, esse referencial, normal-
mente, é o valor do ativo, passivo e patrimônio líquido, enquanto na de-
monstração de resultado é o resultado líquido.

c) A análise vertical é conflitante com a análise horizontal, e por esse fato con-
vém utilizar somente a última para calcular a evolução das vendas. Para os
demais itens da DRE e do Balanço Patrimonial é usada a análise vertical.

d) A análise vertical demonstra o crescimento do ativo em exercícios sucessi-


vos através da comparação dos mesmos.

4. De acordo com Silva (2008) “uma grande quantidade de índices pode chegar a
confundir o analista e uma quantidade pequena pode não ser suficiente para
tirarmos conclusões acerca da saúde financeira da empresa”. Sendo assim, qual
o papel do analista neste contexto?

Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

O autor aborda os critérios de análise das demonstrações financeiras e dos ins-


trumentos utilizados para esta análise. O aluno deve consultar os capítulos desse livro
para firmar os conceitos expostos neste capítulo.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco-


nômico-financeiro. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Neste livro também é abordada a utilização dos índices econômico-financeiros


Análise de Risco e Crédito

para a análise de crédito. O autor apresenta os principais índices utilizados na análise


financeira, enfatizando a maneira de interpretar os indicadores. Esta obra deve ser con-
sultada como reforço de aprendizado.

142
143
Análise das demonstrações contábeis e financeiras II
Análise de capital de giro

Introdução
O principal objetivo da análise de capital de giro é avaliar a capacidade da em-
presa em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, segundo Silva (2008, p.
235), o cálculo dos índices de liquidez não são suficientes “para avaliar a capacidade
da empresa de pagar seus compromissos imediatos”. Portanto, os analistas recorrem
a outras técnicas para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa sobre a
liquidez da empresa e sua estrutura de capital.

A análise de capital de giro surge como mecanismo capaz de acrescentar informa-


ções relevantes para melhor compreender e verificar a capacidade da empresa para pagar
seus débitos. Tal análise é conhecida como “modelo dinâmico de análise financeira”.

Gimenes e Gimenes escrevem (2006) que para utilizar o modelo dinâmico de


análise financeira é necessário reclassificar as contas do Balanço Patrimonial em ativos
circulantes e não circulantes e o grupo dos ativos circulantes em ativos circulantes ope-
racionais (cíclicos) e ativos circulantes financeiros (erráticos).

Gimenes e Gimenes (2006) continuam afirmando que o grupo dos ativos não-
-circulantes é composto pelos ativos realizáveis a longo prazo e pelos investimentos,
imobilizado, diferido e intangível. O grupo dos passivos não circulantes é composto
pelos passivos exigíveis a longo prazo, pelos resultados de exercícios futuros e pelo
patrimônio líquido da empresa.

Gimenes e Gimenes (2006) acrescentam que o ativo circulante operacional é o inves-


timento que resulta das atividades operacionais da empresa (compra, produção, estoca-
gem e venda), enquanto o passivo circulante operacional é a fonte denominada passivo
de funcionamento, ou seja, a que decorre das atividades operacionais (Matarazzo, 1998).

Gitman (2002, p. 619) escreve que o capital de giro representa “a parcela do inves-
timento que circula de uma forma a outra, durante a condução normal dos negócios”,
esse conceito está relacionado com o ciclo operacional da empresa. Compreende, pois,
a transferência periódica de recursos do caixa para estoques, depois para duplicatas a
receber e, em seguida, de volta para o caixa.

145
O capital de giro é obtido pela subtração do passivo circulante do ativo circulante.

Capital de giro ou capital circulante líquido = Passivo circulante – Ativo circulante

Exemplo: a Marinalva Ltda., empresa de prestação de serviços, apresenta em seu


balanço de final de ano valores do Ativo ciculante igual a R$840.000. Seus compromis-
sos de curso prazo (Passivo circulante) totaliza R$380.000 no mesmo período. O capital
circulante líquido da empresa no mesmo período é igual a R$460.000.

Capital de giro = 840.000 – 380.000 = 460.000

O capital de giro, ou capital circulante líquido, pode ser positivo ou negativo.


Quando os ativos circulantes superam os passivos circulantes, a empresa apresenta
capital de giro positivo. Quando os ativos circulantes são menores que os passivos cir-
culantes, a empresa apresenta capital de giro negativo. São esses resultados que dão
indícios sobre a situação dos recursos disponíveis da empresa.

Gitman (2002, p. 619) escreve que “quanto maior a margem pela qual os ativos cir-
culantes de uma empresa cobrem suas obrigações a curto prazo (passivos circulantes),
mais apta ela estará para pagar suas contas no seu vencimento.

Para Assaf Neto (2008), o capital de giro pode ser considerado como elemento
básico da avaliação do equilíbrio financeiro de uma empresa, pois pela análise de seus
elementos patrimoniais são identificados os prazos operacionais, o volume de recur-
sos permanentes (longo prazo) que financiam o giro e as necessidades de investimen-
to operacional.

Assaf Neto acrescenta:


O comportamento do capital de giro é extremamente dinâmico, exigindo modelos eficientes e
rápidos de avaliação da situação financeira da empresa. Uma necessidade mal dimensionada é
certamente uma fonte de comprometimento da solvência da empresa, com reflexos sobre sua
posição econômica de rentabilidade. (ASSAF NETO, 2008, p. 211)

A boa gestão dos negócios recomenda que os administradores das empresas


devem atentar para o adequado controle do volume de capital de giro necessário para
manter a “saúde” do negócio, ou seja, deter capital suficiente para pagar as contas de
curtíssimo prazo e movimentar os negócios sem que haja solução de continuidade.
Análise de Risco e Crédito

Para tanto, internamente, os gestores podem tomar medidas que facilitem a manuten-
ção do capital de giro.

Sobre as medidas mencionadas, Marion (2008, p.127) escreve:


[...] ampliar prazos, negociar com fornecedores são iniciativas louváveis, já que é praticamente
impossível negociar prazo com funcionários (salários), governo (impostos) etc. O autor continua

146
ponderando que é saudável a redução do prazo do giro do estoque, como também uma redução do
prazo de recebimento das duplicatas (política de crédito mais adequada, cobrança mais eficiente).

Outro conceito de capital de giro é apresentado por Padoveze e Benedicto:


A terminologia “capital de giro” vem da visão circular do processo operacional de geração de
lucros, ou seja, comprar estoques, produzir, vender e receber, voltar a comprar estoques, produzir e
vender/receber. Em termos contábeis, o capital de giro é representado pelo total do ativo circulante,
também denominado capital de giro bruto. (PADOVEZE; BENEDICTO, 2007, p. 247)

Padoveze e Benedicto (2007) ainda trazem outro conceito de capital de giro, que
é o Capital de Giro Próprio (CGP) que é determinado pela diferença entre ativo circu-
lante e passivo circulante.

São considerados elementos do capital de giro próprio:

disponibilidade – caixa, bancos e aplicações financeiras;

contas a receber de clientes – duplicatas a receber;

estoques – materiais em processo e acabados;

contas a pagar a fornecedores – duplicatas a pagar;

outras contas a pagar – despesas provisionadas;

salários e encargos a pagar;

impostos a recolher sobre mercadorias.

As contas do balanço ligados ao capital de giro que devem merecer estudo apro-
fundado são: estoques, clientes e fornecedores que formam a espinha dorsal do con-
ceito de capital de giro próprio.

Investimento Operacional em Giro (IOG) ou


Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG)
Silva (2007, p. 414) escreve que “Investimento Operacional em Giro”, ou simples-
mente IOG, “é uma metodologia de análise de grande utilidade no auxílio da determi-
Análise de capital de giro

nação da saúde financeira de uma empresa, fornecendo uma visão sistêmica do im-
pacto das diversas áreas de decisão na empresa e de suas interações”.

O termo “Investimento Operacional” é o desdobramento do conceito de Capital


Circulante Líquido. Vejamos a fórmula proposta por Silva (2007).

CCL = AC – PC

147
Onde:

CCL – capital circulante líquido

AC – ativo circulante

PC – passivo circulante

De acordo com Silva (2007, p. 415) “o desdobramento conceitual do CCL nos


dará outros conceitos como o Investimento Operacional em Giro (IOG) e o saldo de
Tesouraria (T).

Para Silva (2008), o investimento operacional em giro (IOG) é composto por contas
de caráter operacional que normalmente são classificadas dentro do ativo e do passi-
vo circulantes e estão relacionadas ao ciclo operacional das empresas. Já o “Saldo em
Tesouraria” é composto por rubricas de caráter financeiro como disponibilidades, apli-
cações financeiras e empréstimos de curto prazo.

Silva (2007) ainda apresenta a diferenciação entre o Capital Circulante Líquido


(CCL) e o Capital de Giro Próprio (CGP). Para ele, o CCL baseia-se na diferença entre os
ativos e passivos circulantes; já o CGP é a parcela do ativo circulante financiada pelos
recursos próprios da entidade, ou seja, o que sobra do patrimônio líquido após o com-
prometimento dos recursos próprios com o ativo permanente e o realizável a longo
prazo. A seguir, apresenta-se balanço estruturado para fins de estruturação do IOG.

Quadro 1 – Balanço Patrimonial reestruturado para apresentação do Investimento


Operacional em Giro (IOG)

(SILVA, 2008. Adaptado.)


Ativo Passivo e patrimônio líquido
Ativo circulante financeiro (ACF) Passivo circulante financeiro (PCF)

C * Caixa e bancos *Instituições de crédito C

I * Aplicações de liquidez imediata *Duplicatas/títulos descontados I

R * Aplicações de liquidez não-imediata *Dividendos a pagar R

C C

U Ativo circulante cíclico (ACC) Passivo circulante cíclico (ACC) U

L *Contas a receber de clientes * Fornecedores L


Análise de Risco e Crédito

A * Estoques * Salários e encargos sociais A

N * Adiantamentos a fornecedores * Impostos e taxas N

T * Outros valores a receber T

E * Despesas do exercício seguinte E

148
Ativo Passivo e patrimônio líquido
N Realizável a longo prazo (RLP) Exigível a longo prazo (ELP) N

Direitos realizáveis após o término do


à *Financiamentos Ã
exercício

O Valores a receber de controladas *Debêntures O

– *Impostos parcelados –

C C

I Investimentos Resultado de exercícios futuros (REF) I

R Imobilizado R

C Intangível Patrimônio líquido C

U * Diferido * Capital Social U

* Reservas
L L
* Ajustes a valor de mercado

A * Prejuízos acumulados A

N  N

T T

E E

*Em extinção

Ativo total Passivo total

Para essa reestruturação do balanço, o ativo e o passivo circulantes foram divididos


em duas partes: uma cíclica e a outra financeira. Silva (2008, p. 230) assim esclarece:

Ativo circulante

uma parte cíclica que contém os itens relacionados de forma direta com o
ciclo operacional da empresa, o Ativo Circulante Cíclico (ACC); e

outra de cunho financeiro, isto é, a parte que chamamos de ativo financeiro, o


Ativo Circulante Financeiro (ACF).

Passivo circulante
Análise de capital de giro

uma parte diretamente relacionada ao ciclo operacional da empresa (exceto


no que se refere a empréstimos bancários), o Passivo Circulante Cíclico (PCC);

outra de natureza financeira, que compreende os empréstimos bancários,


descontos de títulos e outras operações que não decorrem de forma direta do
ciclo operacional da empresa (PCF).

149
As contas não circulantes foram divididas em: Ativo Não circulante (ANC), com-
posto pelo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, diferido e intangível,
e Passivo Não circulante (PNC), composto pelo exigível a longo prazo, o resultado de
exercícios futuros e o patrimônio líquido.

No estudo do IOG, as contas do ACC, como qualquer grupo do ativo, retratam


aplicações de recursos e as contas do PCC indicam as fontes dos recursos utilizados.
Ambos são o reflexo da atividade operacional da empresa.

O IOG é obtido através da fórmula:

IOG = ACC – PCC

Pela equação imediatamente acima, o IOG é o resultado de: (contas a receber de clien-
tes, estoque, adiantamentos, outros valores) – (fornecedores, salários, impostos e taxas).

Nas situações em que o resultado dessa equação é positivo, costuma-se inter-


pretar como se a empresa estivesse com boa liquidez financeira, estando aplicando as
folgas de recursos nas atividades operacionais. Assim, em situações favoráveis, a em-
presa apresenta IOG positivo. No entanto, o resultado pode ser negativo, o que indica
que ao invés de ocorrer investimento das atividades operacionais, está ocorrendo fi-
nanciamento das atividades em volume superior aos investimentos operacionais.

IOG positivo = investimento operacional de giro;

IOG negativo = financiamento operacional de giro.

Gimenes e Gimenes (2006) escrevem que mudanças nas políticas de compras,


estocagem e crédito podem produzir efeitos imediatos sobre o fluxo de caixa e no IOG
(chamado por aqueles autores de NLCDG), ressaltando-se a importância deste tipo de
análise para se caracterizar o equilíbrio financeiro de curto prazo das empresas.

Efeito tesoura
As empresas necessitam acompanhar de maneira eficiente o incremento de suas
Análise de Risco e Crédito

atividades operacionais para realizar um crescimento ajustado que não comprometa


suas finanças.

Mas, nem sempre as organizações estão preparadas para o aumento das suas ati-
vidades e, consequentemente, para o aumento da necessidade de capital de giro. Assaf
Neto (2008, p. 219) escreve que “o acompanhamento da evolução da Necessidade de

150
Investimento em Giro (NIG) e do Capital Circulante Líquido (CCL) é fundamental para
uma melhor avaliação da saúde financeira da empresa”.

A avaliação da NIG é tarefa normalmente incorporada à rotina das empresas. Sem


essa avaliação pode haver um comprometimento da estrutura financeira da entidade,
pois à medida que se deixa de prever os futuros desembolsos dadas as entradas de
recursos previstas, o capital circulante líquido pode não ser suficiente para cobrir os
recursos aplicados.

Assaf Neto (2008) argumenta que o desempenho pode ocorrer de maneira de-
sequilibrada, com um crescimento da atividade empresarial acima da capacidade de
financiamento. Ou seja, a expansão da atividade exige uma aplicação de recursos no
capital de giro, ultrapassando o nível do capital circulante líquido.

Caso a empresa apresente, em vários exercícios seguidos, um crescimento da NIG


superior ao do CCL, em administração financeira afirma-se que ela está sofrendo o
“efeito tesoura” que é caracterizado por um crescente saldo de disponível negativo.

Segundo Assaf Neto (2008, p. 219), “a medida que as necessidades cíclicas de giro
são financiadas por dívidas de curto prazo, há aumento na diferença entre o NIG e o
CCL, agravando o “efeito tesoura”.

Ainda segundo o mesmo autor, o saldo disponível negativo, que é uma caracte-
rística do “efeito tesoura”, demonstra a incapacidade da empresa de financiar adequa-
damente seus investimentos operacionais em giro, operando com recursos incompatí-
veis com as suas efetivas necessidades financeiras.

O “efeito tesoura” pode acontecer por diversas razões, entre elas:

crescimento elevado do nível de atividade empresarial (overtrade);

desvio de recursos do capital de giro para imobilizações;

inflação.

Para Silva (2008, p. 245) “a palavra overtrade significa o ato de uma empresa fazer
negócios superiores aos seus recursos financeiros”. O overtrade quer dizer que a empre-
sa efetua volume elevado de negócios sem dispor de recursos suficientes para finan-
ciar suas necessidades de capital de giro.
Análise de capital de giro

Santi Filho e Olinquevitch (1995) escrevem que toda empresa convive com o
“efeito tesoura” quando ela apresenta por vários exercícios seguidos a Necessidade de
Capital de Giro superior ao Capital de Giro liquido. Tal efeito evidencia que a empresa é
incapaz de financiar adequadamente as suas dívidas.

151
Capital Permanente Líquido (CPL)
Como já foi estudado, o investimento operacional em giro é conhecido como
aplicação de recursos decorrentes da própria atividade da empresa. De acordo com
Silva (2008), a efetiva avaliação da saúde da empresa é o resultado de como a empresa
financia tal aplicação.

Para Silva (2008, p. 237) “enquanto o IOG caracteriza uma necessidade, o CPL será
a fonte a financiá-lo”.

O capital circulante líquido está relacionado às contas não circulantes e obtido


através da fórmula:

CPL = PNC – ANC

Onde:

CPL – Capital Permanente Líquido

PNC – Passivo Não circulante

ANC – Ativo Não circulante

Ressalta-se que o valor do Capital Permanente Líquido (CPL) é exatamente igual


ao valor do Capital Circulante Líquido (CCL), isto porque o ativo é composto dos itens
circulantes e itens não circulantes. Se considerar que o CCL é composto somente de
itens circulantes (AC – PC) e o capital permanente líquido é composto somente de
itens não circulantes, temos que o ativo é igual ao CCL e CPL. Se o ativo é igual ao CCL
e CPL em proporções iguais, CCL = CPL.

O ciclo financeiro e o saldo em tesouraria


Santi Filho e Olinquevitch (1995) escrevem que o ciclo financeiro é o período com-
preendido entre o pagamento de fornecedores e o recebimento de clientes incluindo
Análise de Risco e Crédito

no intervalo de vários desembolsos referentes a salários, impostos, encargos etc. O


ciclo operacional financeiro possui todos os componentes da necessidade de capital
de giro como duplicatas a receber, estoques, fornecedores, impostos etc.

A diferença entre Ativo Circulante Financeiro (ACF) e o Passivo Circulante Finan-


ceiro (PCF) também é conhecido como saldo em Tesouraria (T).

152
O saldo em tesouraria é obtido através da fórmula:

T = ACF – PCF

O saldo em tesouraria (T) pode ser maior ou menor que zero. Se for maior do que
zero, significa que a empresa possui mais aplicações em moeda do que deve. Caso esse
saldo seja menor que zero, significa que a empresa tem obrigações de curto prazo, não
relacionadas ao ciclo operacional, superiores aos recursos financeiros de curto prazo.

De acordo com Silva (2008), ao longo de um exercício social podem ocorrer varia-
ções que provocam mudanças na saúde financeira da empresa. Veja o exemplo:

A Empresa Gigolek S.A. apresentou seu balanço patrimonial de 2005 e 2006 as


seguintes configurações:

Tabela 1 – Balanço patrimonial de 2005 – Em $ milhões

Os autores.
2005
Ativo Passivo
Circulante Circulante
Caixa 30 Instituições de crédito 50
Aplicações financeiras de curto prazo 40 Fornecedores 30

Não circulante

Duplicatas a receber 30 Financiamentos a longo prazo 30


Estoques 20 Patrimônio Líquido 190
Adiantamentos a fornecedores 65
Não circulante
Aplicações financeiras de longo prazo 15
Imobilizado 100
Total Ativo 300 Total Passivo + PL 300

Tabela 2 – Balanço patrimonial de 2006


Análise de capital de giro
Os autores.

2006
Ativo Passivo
Circulante Circulante
Caixa 10 Instituições de crédito 60
Aplicações financeiras de curto prazo 30 Fornecedores 30

153
Os autores
2006
Não circulante

Duplicatas a receber 45 Financiamentos a longo prazo 50

Estoques 25 Patrimônio Líquido 170


Adiantamentos a fornecedores 70
Não circulante
Aplicações financeiras de longo prazo 30
Imobilizado 100
Total Ativo 310 Total Passivo + PL 310

O IOG é, então, calculado segundo a fórmula imediatamente abaixo:


IOG = ACC – PCC
Onde,
IOG: Investimento Operacional em Giro
ACC: Ativo Circulante Cíclico
PCC: Passivo Circulante Cíclico
T = ACF – PCF
Onde,
T= Tesouraria
ACF = Ativo Circulante Financeiro
PCF = Passivo Circulante Financeiro
Pelos balanços e fórmulas acima, tem-se:
CCL = AC – PC
Onde,
CCL = Capital Circulante Líquido
AC = Ativo Circulante
PC = Passivo Circulante
Análise de Risco e Crédito

CCL = AC – PC
CCL (2005) = (30+40+30+20+65) – (50 + 30)
CCL (2005) = 185 – 80
CCL (2005) = 105

154
CCL (2006) = (10 + 30 +45 +25 + 70) – (60+30)
CCL (2006) = 180 – 90
CCL (2006) = 90

Δ = Variação. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.


Δ CCL = (15)

ACC 2005 = (30+20+65)


ACC 2005 = 115

ACC 2006 = (45+25+70)


ACC 2006 = 140
Δ ACC = 25. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.

PCC 2005 = 30
PCC 2006 = 30

Δ PCC 2005 = 0
Obs: A única conta do PCC é fornecedores nos dois anos, com os saldos sem
variação.

ANC 2005 = 115


ANC 2006 = 130
Δ ANC = 15. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.

PNC 2005 = 220


PNC 2006 = 220
Δ=0
Obs: Os passivos não circulantes não se alteram nos dois anos.

IOG = ACC - PCC


IOG 2005 = 115 – 30 = 85
IOG 2006 = 140 – 30 = 110
Δ IOG = 25. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.

T = ACF - PCF
Análise de capital de giro

T 2005 = 85 – 80 = 5
T 2006 = 70 – 110 = (40)
Δ T = (45). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.

155
CPL 2005 = 220 – 115 = 105
CPL 2006 = 220 – 130 = 90
Δ CPL = (15). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.

Variação do saldo em tesouraria (ΔT)

Δ CPL1 > Δ IOG » T cresce

Δ CPL < Δ IOG » T diminui

Pelo exemplo dos balanços acima, o Δ CPL = (15), e o Δ IOG = 25. Como o Δ CPL <
Δ IOG, temos que o saldo em tesouraria, T diminuiu de 5 para -40.

Variação no IOG (Δ IOG)

Δ ACC > Δ PCC » IOG cresce.

Pelos dados da Tabela 1, segue-se que o Δ ACC = 25 (140 – 115), e o Δ PCC = 0


(30 – 30). Observa-se que o IOG cresceu de 2005 para 2006, de 85 para 110.

Δ ACC < Δ PCC » IOG diminui

O raciocínio desta configuração segue o do exemplo acima.

Variação no IOG (Δ IOG)

Δ PNC > Δ ANC » CPL cresce

Δ PNC < Δ ANC » CPL diminui

Na situação proposta, as variações do ANC e do PNC são iguais a 15 e 0. Portanto,


o Δ do ANC é maior que o Δ do PNC. Por sua vez, a variação (Δ) do CPL diminuiu de 105
para 90, comprovando a segunda das alternativas acima da variação do IOG.

Santi Filho e Olinquevitch (1995, p. 25) escrevem que “a variável Tesouraria, é, sem
dúvida, aquela que melhor expressa a situação financeira de curto prazo das empresas. O
seu saldo positivo indica uma situação financeira folgada; se o saldo for negativo, indica a
utilização de recursos de terceiros para financiar as atividades operacionais da empresa.

Conclusão
Análise de Risco e Crédito

Os analistas de crédito costumam recorrer ao estudo do capital de giro do cliente


para avaliar a capacidade de pagamento desses tomadores de recursos. Essa análise é
feita conjuntamente com a análise de quocientes, análise de estatísticas, análise
1
CPL: Capital Permanente Líquido.

156
subjetiva e outras. A intenção dos gestores das instituições credoras é mitigar o risco
do não recebimento dos valores concedidos quando das operações realizadas.

O capital de giro é elemento básico da avaliação do equilíbrio financeiro de qual-


quer empresa. Para analisar o capital de giro de uma cliente, faz-se necessário reclassi-
ficar as contas do balanço patrimonial em ativos e passivos cíclicos e financeiros, além
de ativos e passivos circulantes e não circulantes.

Ao se analisar o capital de giro de uma empresa, a adequada mensuração do in-


vestimento operacional em giro, ou necessidade líquida de capital de giro, do saldo
em tesouraria e dos ativos e passivos não circulantes é relevante para se avaliar se os
gestores estão conduzindo a empresa de forma equilibrada.

Texto complementar

Gestão do capital de giro


(GENTIL, 2005)

As contas circulantes da empresa, ativos e passivos circulantes, fazem parte da


administração do capital de giro. Portanto, o objetivo da administração de capital de
giro é administrar as contas circulantes para que possa garantir um nível aceitável de
capital circulante líquido.

É interessante ressaltar que toda empresa deve manter um mínimo possível de


capital de giro, pois os ativos circulantes têm que ser capazes de cobrir os passivos
circulantes e, é claro, com alguma margem de segurança. Os ativos circulantes que
têm mais destaque são: caixa, títulos negociáveis, duplicatas a receber e estoques.

Cada um desses ativos circulantes deve ser bem administrado para que se possa
garantir a liquidez da empresa. Em se tratando dos passivos circulantes, os mais im-
portantes são: duplicatas a pagar, títulos a pagar e despesas provisionadas. É preciso
que seja bem administrado para garantir que cada uma das fontes de financiamento
Análise de capital de giro

a curto prazo seja utilizada da melhor maneira possível.

A administração do capital de giro é a atividade mais conhecida da Administra-


ção Financeira. A maior parte do tempo do administrador financeiro é tomado pela
administração dos ativos correntes: o capital.

157
O capital constitui o recurso financeiro básico de qualquer empresa. Existem
dois tipos de capital: capital próprio – é o capital que pertence aos proprietários
ou acionistas da empresa (não-exigível); capital de terceiros – são os empréstimos,
debêntures e ações preferenciais (exigibilidades da empresa). Sempre que algum
acionista da empresa entra com algum capital, espera sempre ter um retorno e corre
um determinado risco. “Retorno” significa um rendimento maior e “risco” é uma pos-
sibilidade de perda. Existem dois tipos de riscos: econômico e financeiro.

“Risco econômico” é o risco inerente ao negócio da empresa e o “risco financei-


ro” é o risco de não obter remuneração do investimento. Ainda se falando um pouco
sobre capital, podemos ainda classificá-lo em capital fixo ou capital de giro. O capital
fixo é formado pelos ativos imobilizados e o capital de giro pelos ativos circulantes.

O capital de giro pode ser bruto (ativo circulante) ou líquido (ativo circulante
– passivo circulante). O que temos que ressaltar é que o capital de giro funciona no
curto prazo. A administração do capital de giro tem que levar em conta três dilemas:
Os ativos devem ter uma liquidez compatível; O dilema entre liquidez e rentabilida-
de; A administração dos ativos circulantes.

Os ativos circulantes formam o capital da empresa que gira até transformar-se


em dinheiro dentro do chamado ciclo de operações ou ciclo de caixa. Ciclo de caixa
nada mais é do que o tempo que o capital que saiu do caixa leva para voltar ao caixa.
Previsão e controle de gastos: fluxo de caixa.

O fluxo de caixa é o movimento de todas as entradas e saídas de recursos fi-


nanceiros do caixa, ou seja, das origens de caixa (fatores que aumentam o caixa da
empresa) e das aplicações de caixa (reduzem o caixa da empresa). O planejamento
financeiro de curto prazo é denominado de planejamento de caixa ou orçamento
de caixa. Com este orçamento de caixa permite planejar as necessidades de caixa a
curto prazo, pois proporciona uma visão dos recebimentos e dos pagamentos pre-
vistos que ocorrerão durante um certo período de tempo. A administração de caixa
deve trabalhar num nível ótimo de caixa para a empresa.

1. Quando as entradas (recebimentos) > saídas (pagamentos) – Liquidez alta


– Rentabilidade baixa 2: Quando as entradas (recebimentos) < saídas (pagamen-
Análise de Risco e Crédito

tos) – Liquidez baixa – Rentabilidade alta. A administração do caixa requer alguns


princípios básicos: – retardar ao máximo o pagamento de duplicatas a pagar; –
aproveitar ao máximo quaisquer desconto financeiro nos pagamentos; – girar os
estoques com maior liquidez possível; – obter as duplicatas a receber no menor
tempo possível. O fluxo de caixa é o termômetro do cotidiano da empresa, isto é,

158
como a empresa está se comportando quantos aos pagamentos e recebimentos
das suas operações diárias.

Administração de ativos circulantes


Os principais ativos circulantes mantidos pela maioria das empresas são as contas
a receber e estoque, ambos formam 80% de todos os ativos circulantes da maioria
das empresas industriais de porte médio. Por isso, é fundamental a administração
dos ativos circulantes da empresa. Administração de contas a receber: as contas a
receber representam a concessão de créditos em conta corrente aos clientes.

Na verdade, contas a receber existem para conservar atuais clientes e atrair


novos clientes. A administração de contas a receber tem como papel minimizar o in-
vestimento e, em contrapartida, manter um nível de serviço adequado aos clientes.
Existem três aspectos importantes a ressaltar: política de crédito; condições de cré-
dito; políticas de cobrança. Estes três aspectos devem ser adequados às necessida-
des da empresa pela administração de contas a receber. Administração financeira de
estoques: estoque nada mais é do que a composição física de materiais (matérias-
primas, materiais em processo, materiais semiacabados, materiais acabados, produ-
tos acabados etc.) que não é utilizada em determinado momento na empresa, mas
que será utilizada futuramente.

Quanto mais complexo ou diversificado for o produto final, tanto maior será
a diversidade de itens estocados e mais complicada será a administração dos es-
toques. Os estoques representam um meio de investimento de recursos e podem
alcançar uma proporção enorme dos ativos totais.

A administração de estoques tem que estar relacionada com os órgãos da em-


presa que cuidam do estoque (produção, almoxarifado ou as vendas) e com o órgão
de Administração Financeira. Existem três tipos de estoque: Estoque de matérias-
-primas (MP); Estoque de materiais em processamento; Estoque de produtos acaba-
dos (PA). As principais técnicas utilizadas na administração de estoques são: Sistema
Análise de capital de giro

ABC (Curva de Pareto) – baseia-se no princípio de que maior parte do investimento


está concentrada em um pequeno número de itens; Modelo do lote econômico –
serve para determinar a quantidade ótima de estoque para cada item. Existem três
grupos de custos relacionados com a estocagem de produtos: custo da emissão de
pedidos; custo de manter estoque; custos totais.

159
Atividades

1. Qual é o requisito básico para a utilização do modelo básico de análise financei-


ra segundo os autores Gimenes e Gimenes?

2. O que significa a obtenção de um Capital Circulante Líquido positivo por parte


de uma empresa?

3. Sobre o saldo em tesouraria é correto afirmar:

a) É obtido pela diferença entre ativos circulantes e passivos não circulantes.

b) É o resultado da diferença entre ativos circulantes financeiros e passivos cir-


culantes cíclicos.

c) Quando a variação do CPL é maior que o IOG ocorre um aumento no saldo


em tesouraria.

d) É favorável quando seu resultado é maior que zero. Nessa situação, a empre-
sa possui recursos para pagar dívidas de curto prazo.

4. Sobre o overtrade é correto afirmar:

a) Situação favorável, pois indica crescimento da empresa.

b) Situação desfavorável por indicar necessidade de capital de giro superior ao


que a empresa é capaz de cobrir.

c) Situação favorável, apesar de a empresa possuir capital inferior a sua neces-


sidade de capital de giro.

d) Situação desfavorável na qual a empresa possui necessidade de capital infe-


rior aos recursos disponíveis.
Análise de Risco e Crédito

160
Ampliando conhecimento
ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco-
nômico-financeiro. 8. ed. 3. reimp. – São Paulo: Atlas, 2008.

O autor apresenta os conceitos de capital de giro, capital circulante líquido e saldo


em tesouraria, possibilitando ao aluno uma maior compreensão desses termos e a sua
importância para a análise de risco de crédito.

SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

O autor dedica um capítulo desta obra para a iniciação do estudo do capital de


giro. Além desse conceito, o aluno também encontrará tópicos relevantes sobre a aná-
lise financeira das empresas.

Análise de capital de giro

161
Controle e qualidade do crédito

Introdução
As empresas necessitam de recursos para atenderem às suas necessidades de in-
vestimento e suprimento de capital de giro. Cabe às instituições financeiras financiar
esses recursos, desde que aquelas empresas atendam às exigências normativas dos
bancos. O crédito aparece para avaliar o risco e apoiar na decisão e formalização da
operação (SILVA, 2003, p. 21).

A primeira etapa de uma análise de crédito é o estudo da viabilidade da operação.


No entanto, é importante que todas as fases do processo do crédito sejam acompa-
nhadas cuidadosamente até a sua liquidação para evitar problemas como o não rece-
bimento dos recursos emprestados.

O analista financeiro deve ter a sensibilidade para avaliar fatores internos e


externos que poderão comprometer a saúde financeira do tomador de crédito. Ao
longo deste capítulo, veremos os vários sinais que podem ser percebidos por esses
analistas para que não efetuem operações cujo recebimento pode se tornar inviável
ao longo do tempo.

Ressalta-se que existem no mercado programas de computador (softwares) que


monitoram os créditos concedidos com eficiência, emitindo sinais de anormalidades,
quando acontecem.

Monitoramento do crédito
As instituições que concedem crédito aos clientes costumam estabelecer políti-
cas para avaliar o risco da operação. De acordo com Silva (2008, p. 402), essas políticas
definem “os critérios de classificação do risco, as formas de acompanhamento e revi-
são de crédito, as alçadas de decisão para transferência de operações para crédito em
liquidação”.

O monitoramento do crédito é fator relevante tanto para a concessão como para


o recebimento dos recursos emprestados e deve acompanhar a operação do início ao

163
fim. Silva (2008) acrescenta que o monitoramento só será eficaz na medida em que
houver uma cultura e uma consciência de que o controle e o acompanhamento do
crédito devem fazer parte de um processo contínuo e de responsabilidade de todas as
pessoas envolvidas na operação.

As instituições financeiras adotam mecanismos para o controle dos créditos e os


sistemas de informações exercem papel relevante nesse processo, ajudando a minimi-
zar fraudes e evitar operações de maior risco. Os sistemas podem sinalizar operações
cujos processos não estejam de acordo com as normas da instituição.

Além de contar com a ajuda dos sistemas de informações, os bancos costumam


manter os serviços de auditoria e revisão de crédito, que auxiliam no controle e na
qualidade do crédito.

Serviços de auditoria de crédito e de revisão de crédito


Silva (2003, p. 402) escreve que muitos bancos implantaram os serviços de au-
ditoria interna de crédito, auditoria essa composta por especialistas em assuntos de
crédito. Os auditores analisam as operações de crédito, quanto aos aspectos formais e
quanto as políticas de crédito, emitindo um relatório de trabalho. Essa auditoria segue
as orientações das normas e políticas de crédito da instituição, bem como as normas
estabelecidas pelas autoridades do país.

A revisão dos créditos ocorre com um dos serviços ligados ao acompanhamento


da operação. O prazo para esse procedimento varia de acordo com a classificação de
risco atribuída ao cliente. Quanto melhor a classificação do cliente, maior será o prazo
para revisão de crédito.

Silva (2008, p. 403) afirma que “o acompanhamento de crédito é um processo con-


tínuo e de responsabilidade de todas as pessoas ligadas ao crédito e aos negócios, que
alimentam os registros para que o banco disponha de informações atualizadas”.

Deterioração dos créditos concedidos


As medidas de monitoramento do crédito visam manter a carteira de recebíveis
Análise de Risco e Crédito

saudável, embora longe da meta de inadimplência zero, pois se operassem com essa
meta, não poderiam emprestar recursos. Elas tentam minimizar da melhor maneira o
risco das operações de crédito e manter a inadimplência dentro de uma margem espe-
rada ou aceitável pela instituição.

164
“Créditos problemáticos são aqueles que apresentam dificuldades de serem rece-
bidos e consequentes perdas para o credor” (SILVA 2008, p. 403).

O monitoramento dos créditos concedidos é um procedimento para evitar os cré-


ditos problemáticos, ou minimizar os seus efeitos. Mas, mesmo com as medidas ado-
tadas para o controle e monitoramento desses créditos, algumas operações acabam
saindo do padrão estabelecido.

Causas de créditos problemáticos


O estudo dos Cs do crédito (caráter, capacidade, condições e capital) funciona
como ferramenta para evitar a concessão de créditos que passem a ser problemáticos.
A inobservância dos Cs do crédito pode ser considerada como uma das causas de cré-
ditos problemáticos.

Georg E. Ruth apud Silva (2008) agrupou as causas de créditos problemáticos


em três categorias: erros por parte do credor, “práticas fracas” de negócios, e eventos
adversos.

Erros por parte do credor – os erros que podem ser cometidos pelo credor e
causando créditos problemáticos como:

fraca entrevista de empréstimo – quando o credor não é hábil em tirar


informações importantes do cliente;

análise financeira inadequada – pode ocorrer por falta de conhecimento


de muitos analistas nesse tipo de análise;

estruturação inadequada do empréstimo – ocorre no momento em que


se aprova uma linha de crédito em desacordo com a capacidade de paga-
mento do cliente, tal aprovação pode levar à inadimplência;

suporte inadequado ao empréstimo – quando não há análise suficiente


e investigação necessária para a aceitação de garantias;
Controle e qualidade do crédito

gerenciamento inadequado – acontece quando não são feitas visitas e aná-


lises periódicas nas demonstrações contábeis dos tomadores de recursos.

Práticas fracas de negócios – nesse grupo estão estendidos procedimentos e


políticas adotadas pelo devedor como:

mau gerenciamento do negócio – sem um estabelecimento de cargos es-


pecíficos e sem a clara sucessão sobre a direção e o comando dos negócios;

165
deterioração de produtos – pela inadequação dos preços utilizados em
relação àqueles praticados pela concorrência;

políticas fracas de marketing – sem a presença de planos bem definidos


para anunciar, vender e distribuir os produtos.

controles financeiros fracos – sem conhecimento das importantes rubricas


para a liquidez dos negócios, entre elas: contas a receber, estoques, despesas.

Eventos externos adversos – o último tópico apresentado pelos autores diz


respeito à necessidade de uma visão estratégica dos negócios para perceber
novas perspectivas ou ameaças que podem ocorrer como aquelas que costu-
mam fugir do controle do alcance humano, tais como:

fatores ambientais – secas, inundações e sustentabilidade ambiental, ecolo-


gia e etc. também precisam fazer parte da atenção dos analistas de crédito;

fatores econômicos do mercado em geral – podem afetar a estrutura de


custos e elasticidade da demanda;

fatores competitivos – também afetam as empresas que não estejam pre-


paradas para a economia de mercado;

fatores reguladores – como política salarial, impostos, taxas de juros e


prazos de financiamentos decorrentes da política econômica também
afetam diretamente as empresas;

fatores tecnológicos – estão relacionados ao grau de tecnologia das em-


presas com o objetivo de torná-las competentes e competitivas.

É importante que os analistas de crédito observem esses fatores com o intuito de


evitar a liberação de créditos que venham a se tornar créditos problemáticos e de difícil
recebimento.

Análise das demonstrações contábeis


A análise das demonstrações contábeis merece destaque quando se trata da aná-
lise de riscos de crédito. Suas informações favorecem a observação da situação eco-
Análise de Risco e Crédito

nômico-financeira da empresa, e podem inclusive indicar quando os créditos podem


não ser recebidos. Silva (2008, p. 407) relaciona alguns sinais de alarme que podem ser
observados a partir das demonstrações financeiras:

166
inadequada pontualidade e frequência na publicação ou na entrega das de-
monstrações contábeis pelas empresas;

variações expressivas no volume e valor das vendas;

modificações na representatividade dos custos dos produtos, mercadorias ou


serviços em relação às vendas;

modificações expressivas na representatividade das despesas operacionais


(administrativas, vendas e gerais), em relação às vendas;

modificações na representatividade das despesas e receitas financeiras, em


relação às vendas, às dívidas e às aplicações financeiras;

resultado não operacional expressivo;

equivalência patrimonial negativa;

provisão para contingências;

distribuição de dividendos, ou resultados, em volumes incomparáveis com os


lucros gerados;

mudanças significativas nos volumes e prazos de duplicatas a receber;

mudanças significativas nos volumes e prazos de rotação dos estoques;

mudanças significativas nos volumes e prazos de pagamento aos fornecedores;

participação expressiva de contas com rubricas genéricas do tipo “outros valo-


res a receber”, “outros créditos”, “outros valores a pagar”;

crescimento e representatividade do ativo intangível;

crescimento de valores a pagar relativo a impostos, tributos, salários e encar-


gos sociais;

ausência de valores a pagar relativos a impostos, tributos, salários e encargos;

realizável a longo prazo expressivo e valores a receber de partes relacionadas;


Controle e qualidade do crédito

modificações na representatividade das contas do ativo não circulante;

modificações na representatividade do patrimônio líquido;

modificações na representatividade e na composição do passivo não circulante.

167
Análise dos clientes
Além da análise das demonstrações contábeis, é relevante também a análise dos
clientes para se observar características ou comportamentos que podem comprome-
ter os recebimentos dos créditos. Silva (2008, p. 408) apresenta alguns sinais de alarme
provenientes dos clientes:

hábitos relacionados a vícios – que ponham em risco o patrimônio ou a vida


do cliente, bem como jogos e outras práticas perigosas;

hábitos e vida social – incompatíveis com a condição financeira do cliente;

mudanças no comportamento ou nos hábitos – das pessoas-chave na vida


do tomador de empréstimos;

problemas conjugais e familiares – que ponham em risco ou gerem instabi-


lidade no gerenciamento dos negócios;

mudanças bruscas de atitude – com relação ao credor ou aos profissio-


nais da empresa credora, demonstrada por meio do excesso ou da falta de
cooperação;

problemas financeiros – demonstrados pelos sócios;

conduta que põe em dúvida – o caráter dos sócios ou administradores;

mudanças de controle – do capital da empresa ou de sua direção, bem como


troca de contador;

ausência de uma estrutura – que independa de uma única pessoa ou morte


de algum membro da equipe-chave;

estrutura organizacional frágil – quanto às pessoas, recursos materiais e ins-


trumentos de administração, especialmente em situações de crescimento da
empresa;

fábrica, equipamentos e espaços – inadequados ou mal conservados e pes-


soas deprimidas e desmotivadas;

inexistência de um sistema – de informação gerencial e de planejamento,


Análise de Risco e Crédito

com consequentes informações financeiras fracas e desatualizadas;

inexistência de uma estrutura – que identifique de forma clara as atribuições


e responsabilidades dos sócios diretores;

168
falta de visão estratégica e de competência – para avaliar as oportunidades
de negócios e prever os riscos decorrentes;

falta de formação – acadêmica e de vivência prática para o desempenho das


funções;

falta de visão mercadológica – quanto às linhas de produtos, ao mercado e


aos clientes;

pendências – fiscais, trabalhistas e processos movidos por consumidores;

perda – de clientes importantes, de linhas e produtos-chave, franquias, direi-


tos de distribuição ou fontes de suprimento;

aceitação de encomendas ou contratos – que possam ir muito além da ca-


pacidade de produção existente;

postura especulativa – com bolsa de valores ou de mercadorias, com esto-


que ou com outras atividades fora dos objetivos da empresa;

baixa qualidade – dos estoques da empresa e de sua carteira de duplicatas a


receber;

declaração pública – do cliente quanto a sua incapacidade de pagamento.

Análise de informações obtidas através de terceiros


O analista ainda pode fazer uso de informações obtidas de outras pessoas jurídi-
cas que tenham ligação direta com o credor para avaliar o comportamento das ope-
rações realizadas. Os sinais de alarme proveniente de terceiros, segundo Silva (2008,
p. 409), são:

pedido de informação por fornecedores atuais ou novos para avaliar forneci-


mento de mercadorias ou produtos;

a existência, por parte de fornecedores, para pagamento antecipado, à vista


Controle e qualidade do crédito

ou contra a apresentação, para fins de fornecimento de mercadorias ou


produtos;

a evidência de atraso no pagamento a fornecedores, bem como solicitação de


aumento de prazos;

modificação ou ampliação dos credores e bancos, especialmente com exigên-


cia adicional de garantia real;

169
cancelamento de apólices de seguros, de contratos de assistência médica ou
de fornecimento de vale-refeição por não pagamento;

ações judiciais de qualquer tipo, especialmente por desrespeito ao cliente, por


questões trabalhistas ou pelo não cumprimento de obrigações contratuais;

atraso no pagamento a funcionários ou pagamento com cheques sem fundos.

Análise do credor
Por último, mas não menos importante, está é a análise do credor e suas opera-
ções com o mercado para se verificar a recorrência a empréstimo e a capital de terceiros
para manter as atividades operacionais da empresa solicitante de crédito. O resultado
dessas informações também dão subsídios importantes aos analistas financeiros. Silva
(2008, p. 409) cita itens comumente observados nesse tipo de análise:

compras frequentes de cheques administrativos;

declínio dos saldos bancários ou aumento no uso de contas garantidas;

renovações sucessivas de empréstimos de curto prazo;

pagamento no caixa de duplicata descontada de clientes;

antecipação quanto à ocasião da solicitação de empréstimos sazonais;

evidências de que foram dados cheques sem fundos.

Meios legais para recuperação de crédito


O primeiro passo para reaver os créditos problemáticos é a negociação. Caso não
haja acordo com o devedor, existem providências legais a serem tomadas pelo bancos,
como a execução das garantias ou dos garantidores. E se ainda assim o crédito conti-
nuar pendente existem as ações legais que podem ser tomadas como: protesto, recu-
peração e falência.
Análise de Risco e Crédito

Protesto

Para Silva (2008, p. 413), o principal efeito do protesto “é que ele prova a impon-
tualidade (inadimplência) do devedor” e, em alguns casos, possibilita o pedido de fa-
lência do mesmo.

170
No entanto, é necessária a observação de alguns prazos para garantir o direito de
cobrar a dívida dos “devedores de regresso” (sacador, endossante e respectivos avalis-
tas). Esses prazos podem variar de acordo com a natureza dos títulos (notas promis-
sórias, cheques, duplicatas).

Silva (2003, p. 414) acrescenta que o protesto tem outro efeito, o de impedir o
pedido de concordata preventiva, que é uma moratória solicitada por empresários
que se encontrem em dificuldades financeiras, visando evitar que eles cheguem à
falência.

Recuperação

A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, implantou a figura da recuperação judicial


e extrajudicial como forma de manter as unidades produtivas e de seus benefícios para
geração de riqueza, emprego e renda para a sociedade.

O artigo 47 desta lei define que


Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Sobre o assunto, Silva (2008, p. 415) afirma que o devedor poderá requerer a re-
cuperação judicial desde que “no momento do pedido exerça sua atividade há mais de
dois anos e atenda a algumas condições como: não ser falido e não ter menos de cinco
anos obtido concessão de recuperação judicial, entre outras.

De acordo com a Lei 11.101, no artigo 50.


Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso,
dentre outros:

I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou


vincendas;

II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral,


ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;

III – alteração do controle societário;


Controle e qualidade do crédito

IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos


administrativos;

V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de


veto em relação às matérias que o plano especificar;

VI – aumento de capital social;

VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos


próprios empregados;

171
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;

IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia


própria ou de terceiro;

X – constituição de sociedade de credores;

XI – venda parcial dos bens;

XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;

XIII – usufruto da empresa;

XIV – administração compartilhada;

XV – emissão de valores mobiliários;

XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
os ativos do devedor.

§1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.

§2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial.

De acordo com Silva (2008, p. 415) “estão sujeitos a recuperação judicial todos os
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, conservando os mesmos
seus direitos e privilégios contra coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.

O pedido de recuperação judicial é feito mediante a exposição das causas concre-


tas da situação patrimonial do devedor e das razões de ordem econômico-financeira,
bem como da apresentação de suas demonstrações contábeis relativas aos três últi-
mos exercícios e das demonstrações levantadas para instituir o pedido.

Por sua vez, o plano de recuperação judicial deve conter a discriminação dos
meios que a entidade vai utilizar em seu processo de recuperação, viabilidade e laudo
de avaliação dos bens e ativos do devedor. O plano deverá ser apresentado pelo deve-
dor no prazo de 60 dias da publicação da decisão que deferi no processo de recupera-
ção judicial. Caso contrário, poderá haver a transformação em falência.
Análise de Risco e Crédito

O plano de recuperação não poderá prever um prazo superior a um ano no


caso dos créditos relativos a legislação do trabalho. No caso dos valores até cinco
salários mínimos, por empregado, referentes a créditos de salários e vencidos nos
três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, esse prazo não poderá ser
superior a 30 dias.

172
Falência

A falência ocorre quando a organização está com as finanças bastante compro-


metidas e dificilmente os gestores conseguiriam reorganizá-la. Geralmente, é iniciado
o processo de falência quando a entidade se encontra financeiramente debilitada e
não pode cumprir as obrigações.

Sobre a falência Brigham, Gapenski, Ehrhardt (2001, p. 926) fazem as seguintes


considerações:
Se uma empresa está “muito comprometida” para ser reorganizada, então ela deve ser liquidada. A
liquidação deve ocorrer quando a empresa vale mais morta do que viva, ou quando a possibilidade
de restabelecimento de sua saúde financeira é remota e os credores estão expostos a um alto risco
de maior perda se as operações continuarem.

A nossa atual lei de falência, Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 que, em seu
artigo 75, discorre sobre o objetivo da falência:
Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da
empresa.

A utilização desses bens é justamente para liquidar as obrigações dos credores


da empresa em processo de falência. A mesma lei estabelece a ordem de prioridades
desses credores para a quitação das obrigações:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-


-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas


as multas tributárias;

IV – créditos com privilégio especial, a saber:

a) os previstos no art. 964 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
Controle e qualidade do crédito

c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;

V – créditos com privilégio geral, a saber:

a) os previstos no art. 965 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;

c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

173
VI – créditos quirografários, a saber:

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento;

c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido
no inciso I do caput deste artigo;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas,
inclusive as multas tributárias;

VIII – créditos subordinados, a saber:

a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

§1.º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de
garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em
bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.

§2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua
parcela do capital social na liquidação da sociedade.

§3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles
estipuladas se vencerem em virtude da falência.

§4.º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.

Conclusão
Existe uma relação negocial necessária entre as empresas e as instituições finan-
ceiras. Aquelas necessitam de recursos, disponíveis nos bancos, para atenderem às
suas necessidades de investimento e capital de giro. Ao postularem créditos, na forma
de empréstimos ou financiamentos, as empresas são avaliadas quanto ao risco do não
pagamento dos recursos emprestados.

As instituições que concedem crédito aos clientes costumam estabelecer políti-


cas para avaliar o risco da operação. De acordo com Silva (2008, p. 402), essas políticas
definem “os critérios de classificação do risco, as formas de acompanhamento e revi-
Análise de Risco e Crédito

são de crédito, as alçadas de decisão para transferência de operações para crédito em


liquidação”.

O monitoramento do crédito deve ser um procedimento necessário em todo o


processo de concessão de crédito, pois o monitoramento da operação é para tentar
detectar eventual falha não percebida no ato da concessão do crédito.

174
Para perpetrar o monitoramento do crédito, as instituições costumam adotar pro-
vidências, tais como formar auditores internos de crédito para detecção de sinais de
deterioramento dos créditos concedidos, identificando suas causas.

Caso se detecte crédito problemático e se identifique suas causas, o primeiro


passo para reaver os créditos problemáticos é a negociação com o devedor. Caso não
haja acordo com o devedor, existem meios legais, como a execução das garantias ou
dos respectivos garantidores. E, se ainda assim o crédito continuar pendente, existem
as ações legais, como o protesto, recuperação e falência.

Texto complementar

O processo de concessão de crédito no varejo


de eletroeletrônicos na cidade de Caxias do Sul
(ROVEDA, 2002)

Aspectos pós-concessão de crédito


A política de crédito não se restringe à aprovação de limites e/ou à concessão
de crédito aos consumidores, mas emprega as formas de monitoramento do desem-
penho dos clientes na liquidação dos compromissos, e os instrumentos ou técnicas
utilizadas para a recuperação de valores a receber em atraso.

Monitoramento do crédito
Um ingrediente básico para o analista de crédito é monitorar permanentemen-
te o seu cliente, mesmo depois de concedido o crédito. Certo número de créditos
Controle e qualidade do crédito

deve ser selecionado para ser monitorado periodicamente. A quantidade de crédi-


tos a serem monitorados deve ser a maior possível, dentro da capacidade de revisão
do credor.

A adoção de estratégias de monitoramento dos valores a receber acontece


principalmente em razão de falhas que podem ocorrer nas premissas da concessão
de crédito. Uma empresa que vende a prazo assume que parte dessas dívidas não
será recebida imediatamente, contudo, se durante o processo de recebimento essas

175
previsões não se materializarem, os gestores devem agir de forma pró-ativa para
ajustar o nível de inadimplência aos valores iniciais cobrados.
A administração deveria monitorar constantemente o prazo médio de recebimento e o
cronograma de vencimentos para detectar tendências ver como a experiência de cobrança da
empresa se equipara, com seus termos de crédito e com que eficiência o departamento de crédito
está operando em comparação a outras empresas do setor. (WESTON e BRIGHAM, 2000, p. 436)

Processo de cobrança
As políticas de cobrança e recuperação de crédito inadimplente de uma em-
presa indicam os processos adotados para recebimento das dívidas vencidas. A
eficiência dessa política pode ser medida observando-se a quantidade de clientes
inadimplentes ou insolventes da carteira. Existem vários procedimentos que podem
ser aplicados ao processo de cobrança quando um valor não é liquidado até a data
do vencimento. Os principais são:

carta – alguns poucos dias após o vencimento da duplicata a empresa cre-


dora costuma enviar um comunicado na forma de lembrete. A partir da pri-
meira carta, outras serão enviadas até acontecer a liquidação do valor por
parte do cliente devedor. A carta representa a primeira forma de cobrança;

telefonema – enviadas algumas cartas a empresa passa a procurar clientes


inadimplentes por meio de telefonemas, aconselhando-os a liquidarem as
dívidas. Mediante esses contatos, e em função da demonstração do desejo
de acordo, é possível realizar a renegociação da dívida com os clientes dire-
tamente pelo telefone de maneira mais rápida e eficiente;

visita pessoal – a visita pessoal ocorre sempre que se esgotarem as possibi-


lidades de acordo prévio. Normalmente, na visita, são levantados os princi-
pais problemas de caixa do cliente; então, procura-se elaborar uma solução
que agrade tanto o credor como o devedor;

protesto judicial – este é o último expediente de que a empresa deve lançar


mão, pois implica acionar o poder judiciário, o que gera custos adicionais e
poderá garantir o recebimento do valor somente no final do processo.
Análise de Risco e Crédito

Uma intensificação dos esforços de cobrança deve reduzir tanto o investimen-


to em duplicatas a receber como as perdas com débitos incobráveis, elevando o
lucro. Contudo, o custo desta estratégia pode incluir a perda de vendas, em razão

176
da quebra da relação empresa-cliente, e do aumento nos gastos com a cobrança
de devedores. Uma decisão na alteração da política de cobrança deve considerar
todos esses efeitos e ser tomada sempre que o valor presente líquido da decisão
seja positivo.

Indicadores de inadimplência
Para se ter um bom acompanhamento dos créditos de uma organização é ne-
cessário à implantação de indicadores que venham a subsidiar o processo de tomada
de decisão. O indicador de inadimplência é um instrumento importante para as em-
presas que querem avaliar o risco que estão correndo

Inicialmente, é necessário fazer uma distinção entre inadimplência e solvên-


cia. Enquanto a insolvência tem um caráter de incapacidade de uma pessoa liquidar
suas obrigações, traduzido pelo evento de falência da pessoa física, a inadimplência
é entendida como um conjunto de eventos, considerados graves, que podem levar
uma pessoa à situação de insolvência (ASSAF NETO; SILVA, 1997).

Esse conjunto de eventos abrange desde apontamentos negativos como siste-


mas de proteção ao crédito (SPC), cheques sem fundos, ações judiciais, até a situa-
ção de dívida atrasada por um determinado período de tempo.

No desenvolvimento de um modelo, é importante definir claramente o que


se entende por inadimplente. Essa etapa é importante, pois define o objetivo do
modelo, estabelecendo o evento que será o objeto de mensuração da probabili-
dade de ocorrência. É na definição do conceito de inadimplência que começam as
diferenças entre os modelos.

Se uma determinada empresa, ao desenvolver seu modelo, definir que inadim-


plente é a pessoa que não paga o crédito que tomou na data do vencimento, e outra
empresa definir que inadimplente é a pessoa que atrasa o pagamento por mais de
trinta dias. Por exemplo, uma empresa que possui um crédito atrasado há dez dias
para um modelo será considerada inadimplente, pois não quitou a operação na data
Controle e qualidade do crédito

do vencimento, porém, para o outro modelo, não será considerada inadimplente,


pois ainda não atingiu trinta dias de atraso.

Outro aspecto importante a ser observado é que inadimplência mede-se levan-


do em consideração o volume de recursos envolvidos. Vários indicadores do merca-

177
do estão relacionando o volume de registro, por exemplo, o aumento do registro
de cheques sem fundos pode não ser um indicador de inadimplência. Pode- se em
determinado momento aumentar o número de registro de cheques sem fundos,
mas ter-se uma redução da inadimplência em volumes de recursos. Normalmente, a
inadimplência é calculada como o modelo abaixo segue:

Índice de inadimplência = Devedores em atraso/Vendas totais

(ASSAF NETO e SILVA, 1997, p. 131)

Para Assaf Neto e Silva (1997, p. 131), “idealmente, o índice de inadimplência


deve ser apurado relacionando os devedores duvidosos com as vendas de compe-
tência do período que lhe derem origem, e não com as vendas do mês que foram
levantados os problemas.”

No cálculo do índice de inadimplência as organizações devem ter alguns cuida-


dos para não distorcerem os resultados. Um dos cuidados principais é não relacionar
créditos não recebidos com vendas de períodos diferentes daqueles que lhe deram
origem.

A definição de inadimplência e os critérios de classificação são as fases mais


importantes na formulação de um indicador de inadimplência. Para o varejo as em-
presas deveriam acompanhar as vendas através da cronologia de vendas e levantar
indicadores para cada período.

Atividades

1. O objetivo principal do controle de crédito estabelecido pelas instituições fi-


nanceiras é:

a) Evitar operações de alto risco.

b) Revisar as operações de crédito periodicamente para garantir o recebimen-


Análise de Risco e Crédito

to do mesmo.

c) Verificar os aspectos formais do crédito e sua adequação as normas estabe-


lecidas.

d) Manter em zero o nível de inadimplência.

178
2. Defina o que é um crédito problemático.

3. De onde vêm os principais sinais que indicam “créditos problemáticos”?

4. Quais, dentre os sinais de créditos problemáticos abaixo, podem ser verificados


nas demonstrações contábeis?

a) Problemas financeiros demonstrados pelos sócios.

b) Atrasos nos pagamentos dos funcionários.

c) Renovações sucessivas de empréstimos de curto prazo.

d) Modificações expressivas no volume de venda.

Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

Nessa obra, o autor traz um capítulo dedicado ao controle e qualidade de cré-


ditos. Apresenta, de maneira clara, a importância do analista estar atento às variáveis
que envolvem aspectos formais e subjetivos dos créditos para se evitar a inadimplên-
cia dos mesmos.

Controle e qualidade do crédito

179
Processo de cobrança

Introdução
As concessões de crédito estão cada vez mais presentes nas relações negociais,
nas quais é possível financiar quase tudo o que se queira adquirir. Silva (2007) continua,
informando que a relação entre o estoque de crédito concedido no Brasil e o Produto
Interno Bruto (PIB) é de 32%, baixo mesmo se comparado aos países em desenvolvi-
mento e aos países desenvolvidos. No Japão e Portugal, aquela relação apresenta os
percentuais de 111% e 100%, respectivamente (SILVA, 2007).

Pode-se afirmar que os indivíduos e empresas de todos os lugares do mundo en-


frentam “descasamentos” em seu fluxo de caixa. Isso significa que, em determinado
período, as entradas de caixa ficam desbalanceadas em relação às saídas de caixa, oca-
sionando as dificuldades financeiras.

As empresas brasileiras podem passar por situações de dificuldades financeiras, que


as impedem de cumprir com suas obrigações pecuniárias, ou ainda, não conseguem au-
ferir fluxos de caixa operacionais suficientes para atender os compromissos financeiros
nas datas de vencimento. Dificuldades financeiras geralmente fazem com que o valor
dos ativos da empresa seja insuficiente para cobrir seus débitos junto a credores.

Nas organizações, de acordo com Securato (2007, p. 50), “o risco financeiro é en-
tendido como a falta de liquidez da empresa para saldar seus compromissos e está
intimamente ligado à questão do endividamento da empresa, do controle de custos,
da variabilidade das vendas”.

Quando as empresas estão passando pelo processo de dificuldades financeiras,


elas costumam deixar de honrar seus compromissos, fazendo com que as instituições
emprestadoras considerem esses créditos como “problemáticos”.

Após a verificação de que o crédito tornou-se problemático, as instituições em-


prestadoras adotam estratégias diversas para reaver o crédito. Esse é o momento que
deflagra o processo de cobrança. Através desse processo, os cedentes do crédito visam
manter o nível esperado de resultado, diminuindo a inadimplência e mantendo o bom
relacionamento com o tomador do crédito.

181
Para Silva (2008, p. 411), a política de crédito do banco, ou da empresa fornecedo-
ra de crédito, juntamente com o contexto macroeconômico do momento da operação,
dão as diretrizes para a adoção da ação mais adequada para se negociar com o toma-
dor inadimplente.

Preventivamente, é usual fazer-se o acompanhamento do crédito para evitar os


passos extremos do processo de cobrança. De acordo com Silva (2008, p. 411), “quando
a operação não é paga, o credor vai fechando o cerco, às vezes reduzindo o nível de
cordialidade na cobrança e podendo até chegar ao envio do título para cartório, à exe-
cução das garantias ou ao pedido de falência do devedor”.

É do interesse das instituições resolverem a questão através das negociações e


muitas vezes evitam as execuções mais drásticas. Só depois de esgotadas todas as ten-
tativas de negociações passam-se à recuperação judicial e ao pedido de falência.

O processo de cobrança judicial no Brasil costuma ser lento e burocrático. A co-


brança de uma dívida, através da justiça, pode levar até oito anos para ser resolvida.

Alertas de risco
As empresas cedentes de crédito precisam estar atentas ao andamento dos crédi-
tos concedidos, monitorando-os adequadamente para detectar possíveis sinais. Vários
sinais podem ser percebidos pelos analistas de crédito que indicam as possibilidades
dos créditos tornarem de difícil recebimento. Entre esses sinais podemos citar:

Alerta das demonstrações contábeis

O analista de crédito necessita estar atento ao desempenho econômico-finan-


ceiro dos clientes devedores para verificar se existem sinais de risco de inadimplência.
Através de análises de indicadores econômico-financeiros, das informações produzi-
das pela análise horizontal e vertical, das notas explicativas e pareceres de auditoria,
o profissional especializado procurará sinais que detectem possibilidades de perda
futura, que possam indicar dificuldades da empresa em liquidar suas obrigações. Um
exemplo desses sinais de risco pode ser resultados negativos crescentes apresentados
pela empresa. Nesse caso, além de outros indícios, observa-se uma notável diminuição
nos índices de liquidez.
Análise de Risco e Crédito

Alerta dos clientes

Além das informações objetivas quanto ao desempenho e compromisso em


quitar débitos, também se faz necessário que o analista de crédito verifique os fatores
subjetivos relacionados à postura do tomador do crédito. Embora sejam subjetivos,
portanto mais passíveis de erros, alguns perfis de devedores podem indicar proble-

182
mas no futuro. Por exemplo, o tomador de crédito tem um estilo arrojado de operar,
investindo os recursos disponíveis no mercado financeiro. Em momento de crise, suas
finanças poderão ficar comprometidas.

Alerta de terceiros

As informações obtidas junto a terceiros sobre as operações realizadas pelos to-


madores de crédito também podem indicar o grau de comprometimento das dispo-
nibilidades desses últimos para quitar débitos de curto prazo, além de colher indícios
sobre a assiduidade do cliente em cumprir suas obrigações. Por exemplo, um propo-
nente tomador de crédito possui vários contratos junto a outras instituições financei-
ras, que também podem comprometer sua capacidade de honrar seus débitos.

Medidas preventivas
As principais medidas preventivas a serem tomadas pelas empresas cedentes de
crédito dizem respeito à fase que antecede a cessão do crédito que é a análise prelimi-
nar do cliente e de sua real situação econômico-financeira.

Mesmo após a cessão do crédito há a necessidade de acompanhamento e moni-


toramento do tomador do crédito para detectar possíveis dificuldades. É nesse aspec-
to que a análise de desempenho financeiro, através de índices e das próprias demons-
trações contábeis, torna-se bastante relevante.

Além disso, o cedente deverá, para sua segurança, manter auditoria constante
nesses créditos para se certificar sobre seu desempenho.

Hoje em dia, os sistemas computadorizados e integrados podem facilitar o traba-


lho dos analistas de crédito, fornecendo informações seguras sobre clientes e créditos,
indicando mais facilmente os que representam risco de recebimento na empresa.

Silva (2007, p. 22) adverte que


[...] se o concedente de crédito mudasse o foco [da inadimplência] para a causa ao invés da
consequência, não se teriam, talvez, elevados índices de inadimplência. É preciso manter o foco na
avaliação creditícia e na formalização das operações, pois o sucesso da cobrança dependerá muito
de como o crédito foi concedido.
Processo de cobrança

O processo de cobrança
Silva (2007, p. 175) define política de cobrança como “um conjunto de fatores,
normas, métodos e diretrizes criadas pelos gestores da empresa e que normatiza as

183
ações e procedimentos de recuperação de créditos”. Continua o autor, afirmando que
na definição de política serão determinados as ações e procedimentos a serem adota-
dos no processo de cobrança.

De acordo com o dicionário de finanças Bovespa (2008), a cobrança pode ser con-
ceituada como:

arrecadação de quantias;

ato de receber;

ato de fazer com que seja pago;

ato de exigir cumprimento de compromisso ou obrigação.

A cobrança pode ser satisfeita até a data de vencimento do compromisso ou obri-


gação, ou em data posterior a essa. Ainda de acordo com o dicionário financeiro Bo-
vespa (2008), quando há exigência do cumprimento do compromisso, ou obrigação, a
cobrança pode ser:

amigável – quando procedimentos administrativos denominados ação de co-


brança concluem pela quitação do compromisso;

judicial – quando o credor aciona a justiça para haver o que lhe é devido.

De um modo geral, a negociação e a renegociação são considerados processos


amigáveis de cobrança. Por sua vez, a recuperação judicial e a falência correspondem
ao procedimento jurídico para recebimento do crédito.

Renegociação
Silva (2007) elege 10 mandamentos da negociação em geral, que são:

se vai realizar um negócio somente com o oponente, seja competitivo;

se quer realizar vários negócios, seja cooperativo;

planeje a negociação;
Análise de Risco e Crédito

defina metas;

aprimore seus “atributos artísticos” (saber controlar suas emoções, por exemplo);

busque ficar com a “gordura”, que ficará com quem negociar melhor;

não faça a primeira oferta;

184
não aceite a primeira oferta;

peça alto, ofereça baixo;

evite “rachar a diferença”.

Silva (2007) também relaciona as oito táticas e antídotos da negociação, que são:

intimidação;

insultos;

blefe;

jogos emocionais;

desrespeito aos termos;

perguntas diretas;

caldeirão;

choro.

Silva (2008, p. 412) afirma que “além da avaliação financeira e jurídica, é necessário
ao negociador sensibilidade para captar as sutilezas de cada contexto de negociação”.
A fase que antecede a cobrança do crédito pode indicar ao credor o perfil e o desem-
penho dos devedores. Com base nessas informações, essas instituições estabelecem a
forma e os meios para cobrar os créditos.

Geralmente, no contexto da renegociação, Silva (2008) destaca alguns pontos:


negociação de taxas;
prorrogação de prazos;
substituição de garantias;
redução de multas e juros;
conceder descontos;
estabelecer cronograma compatível com o fluxo de caixa do cliente.
Processo de cobrança

A negociação e a renegociação são muito importantes para definir a forma pela


qual o crédito será quitado. Uma avaliação coerente sobre a situação do crédito permi-
te ao analista avaliar a real possibilidade de reaver o crédito.

De acordo com o dicionário financeiro da Bovespa (2008), a cobrança judicial é um


processo de cobrança de débito feita perante a justiça e controlada por ela. Ela é feita

185
em duas etapas chamadas “fase do conhecimento”, quando o juiz reconhece o débito,
e a “fase da execução”, quando se localiza o devedor para o pagamento da dívida.

Recuperação judicial
É o instrumento utilizado pelo credor para tentar reaver seu crédito judicialmente.
Seu objetivo é viabilizar a superação das dificuldades enfrentadas pelo credor. Vejamos
o que diz a Lei 11.101/2005, no artigo 47:
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Sobre quem pode requerer a recuperação judicial, a mesma lei assim estabelece:
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano
especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada
por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.

De acordo com o texto legal, os meios para a recuperação judicial são os seguintes:
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso,
dentre outros:

I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou


vincendas;
Análise de Risco e Crédito

II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral,


ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;

III – alteração do controle societário;

IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos


administrativos;

186
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de
veto em relação às matérias que o plano especificar;

VI – aumento de capital social;

VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos


próprios empregados;

VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou


convenção coletiva;

IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia


própria ou de terceiro;

X – constituição de sociedade de credores;

XI – venda parcial dos bens;

XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;

XIII – usufruto da empresa;

XIV – administração compartilhada;

XV – emissão de valores mobiliários;

XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
os ativos do devedor.

§1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.

§2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial.

A respeito dos benefícios da recuperação judicial, Silva (2008) destaca que a ma-
nutenção da fonte produtora e o empenho em manter o emprego do devedor e salva-
guardar o interesse do credor.

Recuperação extrajudicial
Processo de cobrança

A recuperação extrajudicial tem por objetivos permitir ao devedor negociar fora


dos tribunais com seus principais credores e aprovar um plano de pagamento para
suas dívidas, dentro de suas reais possibilidades. Essa recuperação não inclui os débi-
tos de natureza tributária nem trabalhista e também não prevê o pagamento anteci-
pado de dívidas.

187
Segundo Silva (2008, p. 418), “a recuperação extrajudicial pode ser um caminho
para empresa que passa por dificuldades transitórias, porém que sejam viáveis”.

Essa modalidade de recuperação é viável para empresas que possuam um peque-


no número de credores, tornando relativamente fácil a sua negociação.

Falência
Para Lemes Júnior et al. (2005, p. 470) escrevem que “a falência é um processo ju-
rídico que, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa preservar e
aperfeiçoar a utilização produtora dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os
intangíveis da empresa”.

A empresa passa a ser considerada falida quando suas dívidas de curto prazo e
longo prazo são maiores que seu ativo, ou seja, quando apresenta um patrimônio líqui-
do negativo, ou passivo a descoberto.

O pedido de falência pode ser solicitado tanto pelo próprio devedor como
também pelos credores. O art. 97 da Lei 11.101/2005 assim estabelece:
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;

II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;

IV – qualquer credor.

§1.º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a
regularidade de suas atividades.

§2.º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao
pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

Para ser o administrador judicial em caso de falência, a lei estabelece em seu


artigo 21 que “o administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente
advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica
Análise de Risco e Crédito

especializada”.

A Lei 11.101/2005, em seu artigo 3.º, estabelece que “é competente para homo-
logar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a
falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empre-
sa que tenha sede fora do Brasil”.

188
Em caso de falência, é formado um comitê de credores que, segundo Silva (2008,
p. 414), apresenta a seguinte composição:
a) um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplentes;

b) um representante indicado pela classe dos credores com direitos reais de garantias ou privilégios
especiais, com dois suplentes; e

c) um representante indicado pela classe dos credores quirografários ou com privilégios gerais,
com dois suplentes.

Ainda de acordo com Silva (2008, p. 414), a assembleia geral de credores, em caso
de decretação de falência, será composta pelos seguintes credores:
a) titulares de créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho;

b) titulares de crédito com garantia real; e

c) titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, privilégio geral ou subordinados.

Para verificarmos detalhadamente a classificação dos credores, vejamos a ordem


estabelecida pelo art. 83 da Lei 11.101:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-


-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas


as multas tributárias;

IV – créditos com privilégio especial, a saber:

a) os previstos no art. 964 da Lei 10.406, de janeiro de 2002;

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;

V – créditos com privilégio geral, a saber:

a) os previstos no art. 965 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;


Processo de cobrança

c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

VI – créditos quirografários, a saber:

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

189
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento;

c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido
no inciso I do caput deste artigo;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas,
inclusive as multas tributárias;

VIII – créditos subordinados, a saber:

a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

§1.º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de
garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em
bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.

§2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua
parcela do capital social na liquidação da sociedade.

§3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles
estipuladas se vencerem em virtude da falência.

§4.º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.

A mesma lei discorre sobre o pedido de falência assim estabelece:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em
título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-
-mínimos na data do pedido de falência;

II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens
suficientes dentro do prazo legal;

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento
para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar
credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor
ou não;
Análise de Risco e Crédito

c) transfere estabelecimento a terceiros, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores


e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou


a fiscalização ou para prejudicar credor;

190
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e
desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f ) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores,
abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu
principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.

§1.º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o pedido de
falência com base no inciso I do caput deste artigo.

§2.º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam
reclamar.

§3.º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos
executivos na forma do parágrafo único do art. 9.º desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos
respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.

§4.º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão
expedida pelo juízo em que se processa a execução.

§5.º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a
caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas.

Conclusão
O monitoramento do crédito concedido é um procedimento que faz parte do
processo de crédito. As dificuldades financeiras que acometem indivíduos e empresas
são o resultado de inúmeros fatores que ocasionam um desbalanceamento no fluxo
de caixa da empresa, inviabilizando o pagamento dos recursos tomados emprestados,
aumentando sobremaneira o risco financeiro do devedor.

Quando as empresas estão passando pelo processo de dificuldades financeiras,


elas costumam deixar de honrar seus compromissos fazendo com que as instituições
emprestadoras considerem esses créditos como “problemáticos”.

Após a verificação de que o crédito tornou-se problemático, as instituições em-


prestadoras adotam estratégias diversas para reaver o crédito. Esse é o momento que
deflagra o processo de cobrança.

O processo de cobrança deve ser precedido por ações que deixem a cobrança ju-
Processo de cobrança

dicial para último caso, devido à lentidão burocrática excessiva que costuma acompa-
nhar os processos. Devem as instituições responderem aos alertas de risco de inadim-
plência do devedor com ações firmes, mas cordatas, rumo à renegociação para reaver
o montante emprestado.

191
Textos complementares

Nova Lei de Execução Civil vai agilizar processos de cobrança


(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006)

Entrou em vigor na sexta-feira (23), a nova Lei de Execução Civil (11.232/2005)


que define novos procedimentos a fim de agilizar a tramitação das ações de cobran-
ça, uma das maiores responsáveis pelo congestionamento dos tribunais brasileiros.
Uma das determinações da nova lei une as fases de conhecimento e de execução
do processo judicial e simplifica essa última fase uma vez que dispensa nova citação
pessoal do devedor para executar a dívida.

Antes, o credor era obrigado a entrar com uma ação para ter o seu crédito reco-
nhecido por uma sentença e depois outra para forçar o devedor a pagá-lo. A sepa-
ração desses dois processos tornava o procedimento judicial excessivamente lento,
já que a maioria dos atos realizados no primeiro processo deveria ser repetida no
processo execução.

“Essa medida tornará mais ágil e efetivo o cumprimento da sentença dos juízes.
É mais um passo importante para terminar com a morosidade nesta etapa, pois o
réu poderá ser notificado apenas pelo seu advogado”, afirma o secretário da Refor-
ma do Judiciário, Pierpaolo Bottini.

Com a nova lei, após a sentença do juiz, o réu será intimado a pagar o valor
devido no prazo de 15 dias. No caso de não-pagamento, será aplicada multa no
valor de 10% do valor devido. O devedor também não poderá mais oferecer bens à
penhora para saldar as dívidas, o que evitará discussões sobre a idoneidade e valor
dos bens.

Estudos do Banco Central demonstram que um crédito cobrado na Justiça


pode perder até 70% do seu valor. Segundo Pierpaolo Bottini, o mau funcionamen-
to da Justiça também afeta o sistema de crédito no país devido à dificuldade para se
Análise de Risco e Crédito

recuperar valores emprestados pela via judicial. “Em muitos casos, é mais vantajoso
fazer um acordo, mesmo com deságio, do que levar a causa aos tribunais. Esse fato
deslegitima o judiciário como instituição formal de resolução de litígios”, completa.

A nova lei também acaba com o efeito suspensivo dos recursos interpostos
contra a execução da sentença, de modo a evitar que o sistema judiciário seja utilizado

192
para protelar o pagamento de dívidas. Dessa forma, o processo de execução trami-
tará normalmente, ainda que existam recursos pendentes. Essa modificação deverá
desestimular a interposição de recursos infundados, os quais não terão mais vanta-
gens para o devedor.

A Lei de Execução Civil (Lei 11.232/2005 (PL 52/04)) foi sancionada no dia 22
de dezembro de 2005 e é um dos projetos mais importantes da reforma infracons-
titucional que tem como objetivo agilizar a tramitação de processos, racionalizar a
sistemática de recursos judiciais e inibir a utilização da Justiça com fins meramente
protelatórios. A reforma infraconstitucional foi elaborada pela Secretaria de Reforma
do Judiciário do Ministério da Justiça em conjunto com o Supremo Tribunal Federal,
o Instituto Brasileiro de Direito Processual e entidades de magistrados, promotores
e advogados. Esse trabalho resultou no encaminhamento de 26 projetos de lei com
propostas para a alteração das leis processuais civil, trabalhista e penal. Com a nova
Lei de Execução Civil, são cinco os projetos apresentados que entraram em vigor.

Dos crimes em espécie – fraude a credores


Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder
a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de
que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos e multa.


Aumento da pena

§1.º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:

I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;

II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deve-


ria constar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros;
Processo de cobrança

III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados


em computador ou sistema informatizado;

IV – simula a composição do capital social;

193
V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escri-
turação contábil obrigatórios.

Contabilidade paralela

§2.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou
movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação.

Concurso de pessoas

§3.º Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e


outros profissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas crimino-
sas descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade.

Redução ou substituição da pena

§4.º Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno


porte, e não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do
falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços)
ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou
pelas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.

Violação de sigilo empresarial

Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou
dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do
devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Divulgação de informações falsas

Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre deve-
dor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem:
Análise de Risco e Crédito

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Indução a erro

Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no pro-


cesso de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o

194
fim de induzir ao erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de
credores, o comitê ou o administrador judicial:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Favorecimento de credores

Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conce-
der a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, ato de
disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer
um ou mais credores em prejuízo dos demais:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa
beneficiar-se de ato previsto no caput deste artigo.

Desvio, ocultação ou apropriação de bens

Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob re-
cuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta
pessoa:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens

Art. 174. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa
falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Habilitação ilegal de crédito
Processo de cobrança

Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extraju-


dicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a
elas título falso ou simulado:

195
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
Exercício ilegal de atividade

Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por deci-
são judicial, nos termos desta Lei:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.


Violação de impedimento

Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador


judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o
leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em
recuperação judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro,
quando tenham atuado nos respectivos processos:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.


Omissão dos documentos contábeis obrigatórios

Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da senten-


ça que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de
recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa, se o fato não


constitui crime mais grave.

Atividades
Análise de Risco e Crédito

1. Quais medidas devem ser adotadas antes de se iniciar o processo de cobrança?

2. O que pode levar os credores a terem dificuldades de reaver os créditos?

3. Fazem parte dos componentes da recuperação judicial:

196
a) execução de garantias.

b) plano de recuperação judicial.

c) pedido de falência.

d) protesto.

4. Qual é a característica conjuntural marcante do processo de cobrança no Brasil?

Ampliando conhecimentos
A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005.

Esta lei trata especificamente as questões relacionadas ao processo de cobrança


e pode favorecer ao aluno a compreensão do trâmite legal referente à cobrança de
créditos.

BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial,


a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, 9 de maio de 2005. Disponível em:
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 jan. 2009.

Processo de cobrança

197
Gabarito

Intermediação financeira
1. Risco de crédito é a probabilidade de que o recebimento dos recursos empres-
tados não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento.
Por isso, é importante a análise do risco nas decisões de crédito.

2. Para Silva a definição de crédito é a entrega de um valor presente mediante


uma promessa de pagamento.

3. D

4. C

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições)


1. Os critérios são o caráter e a capacidade. O caráter julga subjetivamente o que o
analista financeiro faz para decidir se é valido ou não assumir riscos com deter-
minado cliente; já a capacidade está relacionada à habilidade do indivíduo ou
grupo de gerir estrategicamente e operacionalmente os negócios da empresa.

2. O capital refere-se à situação econômico-financeira do tomador de emprésti-


mos/financiamento, ou seja, diz respeito à qualidade do montante de recursos
que esse possui para saldar seus débitos. Em outras palavras é a entrega de um
valor presente mediante uma promessa de pagamento.

3. D

4. C

199
Garantias
1. Nas situações em que o valor de mercado do patrimônio do devedor for inferior
ao valor da dívida.

2. A

3. B

4. D

Risco e crédito
1. A

2. C

3. O risco existe quando o tomador de decisões pode basear-se em possibilidades


objetivas para estimar diferentes resultados, de modo que sua expectativa se
baseia em dados históricos e, portanto, a decisão é tomada a partir de estima-
tivas julgadas aceitáveis pelo tomador de decisões. Já as incertezas ocorrem
quando não se dispõe de dados históricos acerca de um fato, o que poderá exi-
gir que o tomador de decisões faça uma distribuição probabilística subjetiva,
isto é, baseado em sua sensibilidade pessoal.

4. Indiferentes aos riscos (quando nenhuma mudança no retorno seria exigida


em vista de um aumento no risco). Aversos aos riscos (quando um incremento
de retorno seria exigido em vista de um aumento no risco). Tendência ao risco
(quando uma diminuição de retorno poderia ser aceita em vista de um aumen-
to de risco).
Análise de Risco e Crédito

Análise de crédito
1. Análise documental, análise de idoneidade, análise do negócio, análise econô-
mico-financeira e análise cadastral.

200
2. A análise vertical mostra a participação relativa de cada item de uma demons-
tração contábil em relação a determinado referencial. Por exemplo, quantos
por cento representa cada rubrica contábil em relação ao ativo total. Por sua
vez, a análise horizontal permite o exame da evolução histórica de uma série de
valores, ou seja, o comportamento das contas em mais de um exercício.

3. A

4. O objetivo da análise vertical é demonstrar a participação relativa de cada con-


ta de uma demonstração contábil em relação a um determinado referencial.

Análise das demonstrações contábeis e financeiras I


1. A importância da Demonstração dos Resultados do Exercício é que ela repre-
senta o resultado do confronto ente as receitas geradas pela entidade e todos
os custos e despesas decorrentes do ciclo operacional.

2. B

3. D

4. A demonstração financeira que demonstra o resultado obtido é a análise das


demonstrações contábeis, que é possível verificar o desempenho da empresa e
a sua capacidade para quitar seus débitos.

Análise das demonstrações contábeis e financeiras II


1. A importância é que eles funcionam como ferramenta de análise, extraindo da-
dos das demonstrações contábeis que permitem compreender e avaliar aspectos
relevantes da empresa como capacidade de pagamento de curto prazo, liquidez,
capacidade de remunerar investidores e seu nível de endividamento e outros.

2. B
Gabarito

3. B

201
4. O analista precisa atentar para os aspectos que são mais importantes na análise
e verificar quais os pontos que demonstram maior vulnerabilidade da empresa.

Análise de capital de giro


1. O requisito é reclassificar as contas do balanço patrimonial em ativos circulan-
tes e não circulantes e o grupo dos ativos circulantes em ativos circulantes ope-
racionais (cíclicos) e ativos circulantes financeiros (erráticos).

2. Significa que um valor de ativo circulante superior ao passivo circulante pode


ser entendido como uma folga financeira da empresa. Logo, toda empresa que
tem ativo circulante maior que o passivo circulante é uma empresa financeira-
mente sólida e de boa liquidez que não terá dificuldade para pagar suas obri-
gações.

3. D

4. B

Controle e qualidade do crédito


1. A

2. Os créditos são considerados problemáticos quando passam a indicar dificul-


dades para sua liquidação.

3. Dentre os sinais que indicam os créditos problemáticos podemos citar os sinais


vindos das demonstrações contábeis, dos clientes, dos próprios credores e ain-
da de terceiros.
Análise de Risco e Crédito

4. D

202
Processo de cobrança
1. As instituições cedentes devem monitorar os tomadores do crédito para evitar
que eles se tornem irrecuperáveis.

2. Os tomadores de crédito podem enfrentar dificuldades financeiras que com-


prometam sua liquidez e sua capacidade de quitar seus débitos.

3. B

4. De modo geral, o processo de cobrança no Brasil é lento e burocrático e o go-


verno tem tomado medidas para agilizar o processo e não prejudicar ainda
mais os cedentes de créditos e as instituições financeiras.

Gabarito

203
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Referências

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Anotações

211

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