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2009
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito
dos autores e do detentor dos direitos autorais.
C355 Castro Neto, José Luís de; Sérgio, Renata Sena Gomes. / Aná-
lise de Risco e Crédito. / José Luís de Castro Neto; Renata
Sena Gomes Sérgio. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009.
212 p.
ISBN: 978-85-387-0805-6
CDD 658.88
Garantias...................................................................................................................47
Introdução...................................................................................................................................................47
Formalização...............................................................................................................................................50
Garantias pessoais....................................................................................................................................51
Garantias reais............................................................................................................................................55
Conclusão.....................................................................................................................................................59
Risco e crédito.........................................................................................................67
Introdução...................................................................................................................................................67
Conceito e classificação..........................................................................................................................68
Diversificação de riscos...........................................................................................................................73
Rating.............................................................................................................................................................76
Conclusão.....................................................................................................................................................77
Análise de crédito..................................................................................................85
Introdução...................................................................................................................................................85
Análise subjetiva........................................................................................................................................86
Indicadores econômico-financeiros . ................................................................................................93
Conclusão.....................................................................................................................................................96
Gabarito.................................................................................................................. 199
Referências............................................................................................................ 205
Anotações.............................................................................................................. 211
Apresentação
A disciplina “Análise de Risco de Crédito” tem o escopo
de fornecer informações básicas e essenciais sobre as ativi-
dades de análise do risco de crédito feitas pelas instituições
financeiras de seus clientes. Para isso, este livro está estru-
turado em 10 capítulos, organizados de forma sequencial
e lógica para que o aluno tenha bom aproveitamento.
Introdução
No cotidiano de nossas vidas, necessitamos de instituições que nos ajudem a manipu-
lar e a intermediar o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos financeiros e de crédito.
Para Silva (2000, p. 26), a satisfação das necessidades fundamentais como alimen-
tação, saúde, habitação e segurança é facilitada pelos serviços financeiros, e eles são
proporcionados pelos intermediários que são os bancos e outras entidades que fazem
parte do Sistema Financeiro Nacional.
Fortuna (1999, p. 12) faz uma conceituação abrangente para o sistema financeiro:“con-
junto de instituições que se dedica, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições
satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores”.
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Moeda
A moeda é um bem de aceitação geral que tem várias funções, sendo as principais
de servir de intermediário de trocas, medida de valor e reserva de valor.
Como medida de valor, a moeda serve como padrão de medida. Assim, todos os
bens e serviços que são avaliados por ela serve de denominador comum de preços.
Intermediários financeiros
O mercado financeiro pode ser classificado como elemento dinâmico no processo
de crescimento econômico. Ele também é o responsável pelo controle das taxas de
poupança e investimento.
[...] diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e
aquela que recebem ao aplicá-los - seja emprestando ao governo ou ao setor privado
(pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em
Administração) considera nos cálculos do “spread” total também as taxas de serviços
cobradas pelas instituições financeiras. (BALBI, 2006)
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Os tomadores de recursos são os agentes econômicos que necessitam de volume
determinado de moeda para realizar objetivo de interesse próprio, quer seja saldando
dívidas, ou realizando investimentos lucrativos.
A taxa de juros (ou preço do capital emprestado) está baseada na escassez dos
bens e destina-se, também, a remunerar o emprestador pelo risco assumido no caso
de não receber as parcelas do empréstimo concedido na data acordada.
de fundos.
Outra conceituação atribuída ao juro é dada por Assaf Neto (2008, p. 98) “para
quem o juro é a remuneração que o tomador (captador) de um empréstimo paga a um
doador (aplicador) de recursos”.
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A taxa de juros está ligada às operações de intermediação financeira por repre-
sentar o preço de troca dos ativos disponíveis em diferentes momentos ou períodos de
tempo. Ela também reflete o preço pago pelo sacrifício de poupar, ou seja, é a remune-
ração de um agente econômico ao decidir postergar o próprio consumo, transferindo
seus recursos a outro agente.
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de normatizar abrange todas as matérias referentes ao mercado de valores
mobiliários.
Figura 1 – Organograma dos principais órgãos vinculados ao Sistema Monetário Nacional (SMN).
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garantidas), realizar operações especiais, inclusive crédito rural, de câmbio e
comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo fixo, obter recursos
junto às instituições oficiais para repasse aos clientes, obter recursos externos
para repasse, efetuar prestação de serviços, inclusive mediante convênio com
outras instituições e outros.
Fortuna (2008, p. 33) sintetiza as operações ativas que podem ser praticadas pelos
bancos de investimento:
empréstimos a prazo mínimo de um ano para financiamento de capital fixo;
aquisição de ações, obrigações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para investimento
ou revenda no mercado de capitais (operações de underwriting);
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sob consignação. Atua como centralizadora do recolhimento e aplicação dos
recursos depositados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
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Conceito e relevância do crédito
Schrickel (2000, p. 24) escreve que “crédito é todo ato de vontade ou disposição de
alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro,
com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente após decorrido
o tempo estipulado”.
O patrimônio referido deve ser próprio e pode estar na forma de dinheiro (em-
préstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento
parcelado).
Silva (2000, p. 63) conceitua “crédito, em sentido restrito e específico, como con-
sistindo na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento”.
Assim, em uma loja de produtos de informática, uma venda a crédito é caracterizada
pela entrega da mercadoria (computador, por exemplo) ao cliente, mediante promes-
sa de pagamento do comprador à loja, em uma ou mais parcelas, em um prazo futuro
estabelecido de comum acordo entre as partes.
O crédito deve ser visto como um “produto” para as instituições financeiras. Assim,
negociar “crédito” pressupõe um adequado sistema de cadastro com informações de-
talhadas sobre seus clientes, e um sistema de avaliação do risco que, além de avaliá-los
pelo risco de não devolverem os recursos emprestados no prazo acordado, calcule o
limite de crédito máximo e mínimo para cada um. Enquanto que, em empresas comer-
ciais e industriais, é possível vender à vista ou a prazo, em bancos não há como fazer
empréstimo ou financiamento à vista (SILVA, 2000, p. 65).
Deve-se atentar para o fato de que, quando o banco está captando recursos (aco-
lhendo depósitos ou aplicações), quem assume o risco de crédito é o cliente. O banco
Análise de Risco e Crédito
nessa condição, não costuma exigir cadastro de seus clientes, mas eles poderiam (se
quisessem) exigir o “cadastro” do banco na forma de demonstrações contábeis e outras
informações que o gerente pudesse fornecer para provar que a instituição é idônea.
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O crédito cumpre relevante papel econômico e social, pois viabiliza a circulação
da riqueza e o atendimento às necessidades dos agentes econômicos. Silva (2000, p.
68) escreve que o crédito a) possibilita que as empresas aumentem o seu nível de ati-
vidade; b) estimula o consumo, influenciando na demanda; c) ajuda as pessoas a ob-
terem moradia, bens e alimentos; d) facilitam a execução de projetos para os quais as
empresas não dispõem de recursos próprios suficientes.
A importância da análise de risco nas decisões de crédito pode ser avaliada pela
seguinte citação de Schrickel (2000, p. 36) “a imprevisibilidade quanto ao futuro e ao
risco, deve ser adequada e suficientemente ponderada, a fim de minimizar os riscos
expostos do banco”.
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As instituições financeiras tiveram de se adequar às novas normas que lhes foram
dirigidas pelo Banco Central, em um cenário de baixa inflação e aumento das disponi-
bilidades para empréstimos.
Silva (2000, p. 75) escreve que os riscos de crédito de um banco podem ser classi-
ficados em quatro grupos: a) risco do cliente ou risco intrínseco; b) risco da operação;
c) risco de concentração; e d) risco da administração do crédito.
b) Risco da operação
Silva (2000, p. 80) escreve que os principais elementos integrantes de uma ope-
ração são: (I) produto; (II) montante; (III) prazo; (IV) forma de pagamento; (V) garan-
tias; e (VI) preço. Segundo Silva, acima, cada um desses elementos apresenta um po-
tencial de risco. Assim, a inadequação da especificação do produto, ou em seu valor,
pode levar o cliente-tomador a descumprir a promessa de pagamento, ocasionando a
inadimplência.
prazo no caso de ele ser muito longo, num contexto de crescente alta de juros, aumen-
ta-se o risco do não pagamento do empréstimo/financiamento concedido.
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A garantia exigida do banco ao cliente-tomador tem influência significativa no
risco da operação. Assim, quanto maior for a garantia exigida, menor é o risco, pois
pressupõe-se que a garantia é executável (seu valor recuperável por venda ou utiliza-
ção) em valor suficiente para ressarcir o banco pelos recursos não devolvidos.
c) Risco de concentração
Silva (2000, p. 80) acrescenta que o risco de uma carteira de crédito é diferente
dos riscos de suas operações individuais, em razão das correlações que possa haver
entre os diversos segmentos. Correlação é uma medida estatística padronizada da rela-
ção entre duas variáveis. Seu valor varia de –1 a +1. A correlação nunca pode ser maior
do que 1 ou menor do que menos 1.
Uma correlação próxima a zero indica que as duas variáveis não estão relaciona-
das. Sendo cada variável um segmento de negócio do banco (industrial, comercial,
Intermediação financeira
leasing etc.), uma correlação positiva indica que as duas variáveis (segmentos) movem
juntas, e a relação fica forte quanto mais a correlação se aproxima de um. Uma corre-
lação negativa indica que as duas variáveis movem-se em direções opostas, e que a
relação também fica mais forte quanto mais próxima de menos 1. Duas variáveis que
estão perfeitamente correlacionadas positivamente (r=1) movem-se essencialmente
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em perfeita proporção na mesma direção, enquanto dois conjuntos que estão per-
feitamente correlacionados negativamente movem-se em perfeita proporção em di-
reções opostas. Exemplificando: suponha que o Banco Y conceda empréstimos para
clientes do segmento industrial e de leasing em determinado período. Alguns desses
clientes são os mesmos para as duas modalidades de operação e, por isso, as variáveis
(empréstimos) deverão apresentar correlação positiva, próximo de 1 (um), estando po-
sitivamente correlacionadas. O valor do índice de correlação é apurado através de uma
planilha estatística (Excel, SPSS, SAS e outras).
Silva (2000, p. 80) acrescenta: “[...] se um banco distribuir suas aplicações em seg-
mentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de
risco, não representará diversificação”, portanto apresentará maior risco.
Texto complementar
do lucros recordes, aumentando seu spread nos últimos cinco anos, segundo estudo
realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) com exclu-
sividade para a Folha.
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tempo cresceu a parcela do lucro na composição do spread nesse período. Em 2001,
15,6% do spread total eram destinados aos resultados (lucros); no ano passado, essa
mesma parcela chegou a 21,9%.
Em 2005, o Itaú foi o banco com o maior spread total, segundo o Inepad, segui-
do pelo Banespa, o Unibanco e o Bradesco. O menor spread verificado foi o do Banco
do Brasil, que opera com crédito agrícola a taxas de juro mais baixas.
“No caso do Brasil, como há mais demanda por crédito do que oferta, os bancos
condicionam a concessão de empréstimos à aquisição de outros produtos como
seguros, títulos de capitalização ou planos de previdência. Assim, na taxa de juro
paga pelo cliente está embutida também a prestação desses produtos. Portanto
o spread deve incluir também as receitas de serviços dos bancos, afirma Alberto
Borges Matias, presidente do Inepad e professor da Faculdade de Economia da USP
de Ribeirão Preto.
Em 2001, a taxa média do spread financeiro dos cinco maiores bancos era de
7,5% e, no ano passado, foi de 8,4%. Todos os cálculos foram feitos com base nos
balanços das instituições financeiras.
Formação do spread
Entram na formação do spread bancário, a taxa de inadimplência, as despesas
estruturais – pessoal e administrativas –, os gastos com impostos e os resultados do
banco, segundo informa o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração.
Intermediação financeira
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“Os bancos conseguiram aumentar o spread reduzindo os custos de captação,
pois estão conseguindo levantar recursos a taxas mais baixas no mercado externo e
aplicando aqui a taxas altas”, afirma o analista.
“Os resultados dos bancos é um dos formadores do spread que mais cresceu. Só
perde para o crescimento dos impostos”, observa Carminatti.
Em 2001, eles representavam 15,6% dos spread total e pularam para 21,9% no
ano passado.
Já a parcela do spread total que ia para impostos subiu de 8,1% para 16,5%
no mesmo período. “Isso é preocupante, pois o peso dos impostos cresceu muito”,
afirma Carminatti.
Despesas
A maior parte da formação do spread bancário, entretanto, ainda é decorrente
das despesas estruturais – como a de pessoal e as administrativas. As despesas res-
ponderam por 45,8% do spread total em 2005 – um forte recuo ante os 61,8% que
representavam em 2001.
“Os bancos aumentaram suas carteiras de crédito e sua base de clientes, enxu-
garam a estrutura e hoje conseguem ter lucros maiores e despesas menores”, afirma
o presidente do Inepad.
pelos juros e spreads elevados – cresceu pouco no período analisado. Em 2001, ela
representava 14,5% do spread e, no ano passado, chegou a 15,8%.
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Atividades
2. Para o autor Silva (2000) qual é a definição de crédito em sentido estrito e es-
pecífico?
a) Bancos comerciais.
b) Bancos de investimento.
c) Caixas econômicas.
d) Bancos de desenvolvimento.
a) Sociedades corretoras.
c) Bancos múltiplos.
Ampliando conhecimentos
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2000.
Intermediação financeira
O autor aborda todas as fases da gestão e análise de crédito, sendo leitura útil no
acompanhamento dos capítulos. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver
dúvidas sobre pontos abordados no capítulo.
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Obra clássica em Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use complementar-
mente à obra de Silva, acima.
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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Intermediação financeira
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Os “4 Cs do crédito”
(Caráter; Capacidade; Capital; Condições)
Introdução
Existem diversas maneiras de analisar os riscos de crédito, dentre elas a aplicação
de metodologias subjetivas e financeiras, aparentemente simples, mas que deman-
dam cautela e responsabilidade.
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crédito, na realidade ele se constitui numa das ferramentas mais modernas de análise de risco e
crédito, voltados para situações concretas. (PREISLER, 2003, p. 48)
Existem dois critérios adicionais, que também fariam parte desse grupo, mas cuja
aceitação não é consenso entre os estudiosos, o Colateral, que significa garantia, e o
Conglomerado, que é o exame conjunto das empresas do grupo empresarial, ou das
pessoas físicas do grupo que pleiteiam o crédito. Não basta apenas conhecer a situa-
ção econômica e financeira de uma empresa, é preciso que se conheça também todas
as empresas do grupo empresarial para se formar um conceito único sobre a solidez
do conglomerado.
Caráter
Gitman (1997) acredita que um dos critérios mais importantes na tomada de de-
cisão de crédito é o julgamento subjetivo que o analista financeiro faz para decidir se é
válido ou não, assumir riscos com determinado cliente.
Para Silva (2008, p. 60), o Caráter está relacionado com a intenção do devedor (ou
mesmo do fiador ou avalista) em cumprir a promessa de pagamento.
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destacando-se os seguintes aspectos: identificação, pontualidade, existência de restrições,
experiência em negócios e atuação na praça.
Capacidade
A capacidade está relacionada à habilidade do indivíduo ou grupo de gerir estra-
tégica e operacionalmente os negócios da empresa. A pesquisa sobre o cliente cos-
tuma ser feita através da análise do currículo de seus administradores para verificar
se eles conhecem o ramo de atividade em que atuam e das atribuições que exercem.
Silva (2008, p. 67) entende que a capacidade “deve estar relacionada aos fatores que
contribuem para a empresa ser competente e competitiva”.
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Preisler (2003, p. 51) escreve que a
[...] previsão da capacidade de pagar, ou seja, da competência empresarial do cliente, é a parte mais
difícil da avaliação do risco. Embora ainda não sejam dispensadas utilizações de balanços, análises
de fluxo de caixa e qualidade das garantias prestadas, existem outros elementos a serem avaliados,
por exemplo, a capacidade gerencial do administrador e o relacionamento que a empresa mantém
com o banco são tão importantes quanto os demais itens, como afirmam alguns autores.
Ele é um indivíduo de sucesso? Já fez ou está fazendo sucesso? Qual? Como esse sucesso pode
ser medido?
Os membros de sua família sempre atuaram (ou já atuaram) no setor a que está se dedicando no
momento?
Os negócios são do tipo familiar? Existe linha sucessória definida? Os sucessores são igualmente
capacitados (assumindo que o indivíduo em análise o seja)? Qual é a idade, formação e experiência
dos sucessores? Como se materializa o processo de decisão e sucessão nos negócios? Quando
isto ocorrerá?
Ele é mais ou menos capaz, comparativamente, a outros indivíduos de seu setor de atividade?
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Ele tem algum passatempo ou hobbie que, além de custoso, é perigoso?
Será que ele utilizará o empréstimo na essência de seus negócios ou o aplicará em seu hobbie
ou em outra área? Os fins do empréstimo são lícitos e/ou produtivos? Haverá retorno suficiente,
ou existem meios de “produzir” recursos, de tal sorte a permitir o repagamento do crédito?
Santi Filho (1997, p. 30 e 31) escreve que os pontos fundamentais a serem obser-
vados na concessão do crédito são:
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Sobre os critérios subjetivos de caráter e capacidade, Preisler (2003, p. 52) afirma:
“trata-se de dois atributos que se misturam ou se confundem a partir do momento
em que se depara com uma situação do tipo ‘quero pagar, mas não posso’”. No que diz
respeito ao caráter, por princípio não se questiona a vontade e disposição para pagar o
devedor, porém essa vontade não se concretiza quando há incapacidade para fazê-lo.
Capital
O critério “capital” refere-se à situação econômico-financeira do tomador de em-
préstimos/financiamento, ou seja, diz respeito à qualidade do montante de recursos
que esse possui para saldar seus débitos. No capital, procura-se analisar as demonstra-
ções contábeis para se obter informações sobre a solidez e o desempenho do cliente.
A ideia de capital em análise de crédito tem duas acepções: 1) critério geral em-
pregado na investigação da capacidade de pagamento do cliente; e 2) à rubrica do
Balanço Patrimonial das empresas, que abriga os recursos dos sócios, e que compõe
o grupo Patrimônio Líquido. Tratando-se de análise de crédito de pessoas jurídicas,
Preisler (2003, p. 76) escreve que “a ideia de capital não deve restringir-se à mera rubri-
ca [“Capital Social”] do Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial, mas transcendê-la,
alcançando toda estrutura econômico-financeira da empresa.” No Balanço das empre-
sas, o patrimônio líquido é formado pelo grupo de contas que abriga os investimentos
dos proprietários, ou sócios, (conta capital social), as Reservas, destinatárias dos lucros
apurados, e os prejuízos (conta prejuízos acumulados).
A pergunta subjacente à análise do critério pode ser formulada assim: será que o
tomador potencial de crédito tem bastante capital para operar em níveis adequados
de eficiência e retorno? “Eficiência” e “retorno” são variáveis relevantes na análise do
cliente-tomador de empréstimos, pois as instituições financeiras, quando emprestam,
buscam eficiência na alocação de seus recursos disponíveis, e retorno dos valores em-
Análise de Risco e Crédito
O capital costuma ser o primeiro critério não subjetivo a ser analisado, pois ele
lida com o montante de recursos a ser devolvido pelo cliente à instituição que os em-
prestou. O critério começa a ser analisado após o cliente ter recebido aprovação nos
critérios subjetivos anteriores.
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Referindo-se ao critério de análise de capital, Silva (2008, p. 76) escreve que “o
capital é medido por meio de análise de índices financeiros, tendo, evidentemente,
um significado muito mais amplo do que aquele que é dado à conta de capital na
contabilidade”. Portanto, o “C” de capital equivale à situação econômica, financeira e
patrimonial do cliente.
Schrickel (2001, p. 52) escreve que “o aspecto capital nas empresas tomadoras de
empréstimos implica em uma análise global, as chamadas Análise de Balanço e Aná-
lise Econômico-Financeira”, através das quais “será possível detectar, por exemplo, o
quanto dos recursos próprios está investido em Ativos Fixos”. Sabe-se que o Ativo do
Balanço Patrimonial das empresas abrigam seus bens e direitos. Localizam-se do lado
esquerdo do Balanço, enquanto o Passivo e Patrimônio Líquido registram as obriga-
ções e os recursos próprios da empresa, respectivamente.
Schrickel escreve:
Ato contínuo será necessário ponderar o quão adequados e eficientes são tais ativos: há espaço físico
suficiente e adequado? As instalações são planejadas? As máquinas são modernas e comparáveis
as dos concorrentes? Há seguros? Podem ser acomodadas novas expansões? Por outro lado, deve-
se ponderar quanto dos recursos está aplicado em Ativos Circulantes e Semifixos, notadamente
em Contas a Receber e Estoques: os produtos são vendáveis? O mercado está em expansão? A
participação no mercado é expressiva ou relevante? Os clientes são de boa qualidade e têm pago
pontualmente? Há diversificação de clientes? Há contas incobráveis de valor expressivo? (Schrickel
2001, p. 52)
O conceito do capital difere nas micro e pequenas empresas. Essas entidades ne-
cessitam de cuidados especiais quando se analisa sua capacidade, devido à precarie-
dade dos dados geralmente fornecidos às instituições financeiras. Santi Filho (1997, p.
61), escreve:
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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), organismo
federal, enquadra a microempresa como sendo aquela que tem receita bruta anual
de até R$ 1,2 milhão, enquanto as pequenas empresas devem tê-la superior a R$ 1,2
milhão e inferior a R$ 10,5 milhões (IDRIUNAS, 2008).
Schrickel (1995, p. 82 e 83) escreve a respeito dos balanços das micro e pequenas
empresas:
[...] Quanto aos balanços das micros, pequenas e médias empresas, não raro ouve-se a alegação
de que os balanços das empresas em geral não revelam, em absoluto, a sua realidade operacional
ou factual [...]. Os demonstrativos destas empresas seriam, portanto, invariavelmente ajustados
a fim de poder esquivar-se da carga tributária, sem dúvida elevada, consoante as mais recentes
discussões nos mais diferentes canais, o que conduziria, inclusive, a uma ampla reforma fiscal num
futuro próximo [...].
Condições
Este é o quarto “C” financeiro dos “Cs” de crédito estudados. Refere-se aos cenários
micros e macroeconômicos em que o cliente está inserido.
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acentuadas nas cotações das ações “listadas” nas principais Bolsas de Valores de todo o
mundo, além de impactos no mercado financeiro como um todo (CALLIGARIS, 2008).
Esse fato aumentou o risco de crédito dos tomadores de empréstimos e das institui-
ções financeiras emprestadoras, pois afetou a confiança no mercado e, em decorrên-
cia, a quantidade de recursos disponível para se emprestar.
Em outubro de 2008, os Estados Unidos passaram por uma crise financeira ade-
quadamente analisada por João Antônio Castillo Perea, executivo da Finabank Corre-
tora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários Ltda, localizada em São Paulo, através de
um exemplo didático:
Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 1990, por 300.000 dólares
financiados em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de
dólares. Aí, um banco perguntou para Paul se ele não queria um dinheiro emprestado,
algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o em-
préstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.
Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, com-
prou três casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. À di-
ferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou
carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do
dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1 634 cuecas, tudo
financiado a crédito.
Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis esta-
vam caindo, as casas que Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram
vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez.
Paul foi aguentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas
que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações
dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito.
Aí as casas que Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar
uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as três
casas, mas não havia compradores, ou os que haviam só pagariam um preço muito
menor que Paul havia pago. Então Paul começou a não pagar aos bancos as hipotecas
da casa que ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento.
Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
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Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que
não quiseram acordo. Ele entregou aos bancos as três casas que comprou como inves-
timento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou, e ele e sua família pararam
de consumir.
Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito
baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de mi-
lhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor
de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer bem pouco.
Bilhões e bilhões em títulos passaram a valer quase nada e esses títulos esta-
vam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas
também em bancos europeus e asiáticos.
Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como
os esquemas de pirâmide, era especulação pura. A inadimplência dos milhões de
Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de
dólares.
1
FED: é o “Sistema Federal de Reservas” (ou Sistema Bancário Central), dos Estados Unidos, como a Wikipédia define: “The Federal Reserve System (also the
Federal Reserve; informally The Fed) is the central banking system of the United States”.
40
ceu: a crise bancária. Correntistas saíram correndo para sacar suas economias. Um dos
grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado e insolvente.
O que começou com o Paul afeta o mundo inteiro. E dia 15 de setembro de 2008, o
Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocan-
do uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no Indice Dow Jones, que mede o
valor ponderado das ações das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores
de Nova York – a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929.
Outro exemplo das alterações das condições de mercado, e que afetam o risco de
operações de crédito, refere-se aos Planos de Ajustamento Econômico que foram apli-
cados na economia brasileira no ano de 2007. Tais planos envolveram a alteração de
padrão monetário e da relação entre os agentes econômicos – indivíduos e empresas,
além do “congelamento” de recursos dos indivíduos nas instituições financeiras, altera-
ção da política cambial, modificação da política monetária e outras providências.
De 1942 a 2008, a moeda brasileira passou de réis para cruzeiros (1942), de cruzei-
Schrickel (2000, p. 54) escreve que os fatores derivados dos Planos Econômicos,
[...] associados ao momento peculiar em que foram adotadas as medidas e à realidade
particular dos indivíduos e empresas em cada momento, introduziram profundas
alterações nas condições gerais dos negócios, tomadores e empréstimos, da economia [...].
“As condições do empréstimo em si devem ser bem entabuladas. Se o ciclo operacional
de uma empresa é de 180 dias, pouco provavelmente ela terá condições de saldar
compromissos em 45 dias [...] se alguém tem um salário de $20 mil, não poderá assumir
compromissos de $30 mil para pagar “no fim do mês, a não ser que haja alguma outra
fonte de recursos, que é preciso identificar e avaliar clara e corretamente.
41
Considerações finais
Essa aula teve o intuito de proporcionar as condições de identificar os principais
critérios subjetivos e financeiros pelos quais a análise de crédito faz em grande parte
das instituições financeiras brasileiras.
Os principais critérios utilizados pelos bancos para analisar o risco de crédito divi-
dem-se em critérios subjetivos e critérios objetivos (financeiros), que podem ser iden-
tificados como iniciando com a letra “C”. Assim, os critérios subjetivos são o caráter e a
capacidade e os critérios objetivos são o capital e as condições.
Tais critérios não esgotam a fonte de instrumentos que estão à disposição do ana-
lista de crédito, mas constituem-se em parâmetros úteis na análise do risco de crédito.
Texto complementar
42
Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou
os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir
dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da
concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde-
rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor financiado, prazo
da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de
AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%.
43
colateral: refere-se à capacidade do cliente em oferecer garantias comple-
mentares;
Atividades
44
d) Porque no momento de aperto, as instituições financeiras consultam a ficha
cadastral do cliente e verificam sua idoneidade.
a) Caráter.
b) Capacidade.
c) Capital.
d) Condições.
Ampliando conhecimentos
SANTI FILHO, A. Avaliação de Riscos de Crédito – para gerentes de opera-
ções. São Paulo: Atlas, 1997.
Obra considerada clássica em “crédito”, o autor faz abordagem ampla sobre o ciclo
de crédito completo. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para solidificar os con-
ceitos expostos neste capítulo.
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
Sugere-se que o aluno consulte essa obra complementarmente a cada “C” estu-
dado neste livro.
Obra das mais relevantes sobre Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use
preferentemente para fixar conceitos expostos neste livro.
45
Garantias
Introdução
Todo estabelecimento que concede crédito ao consumidor exige uma garantia
do seu cliente, como forma de minimizar o risco do não recebimento do valor empres-
tado. As instituições financeiras que concedem crédito a seus clientes exigem, igual-
mente, uma garantia para fazer face ao risco da operação. Caso o devedor não pague
a obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um ressarcimento de parte ou
do total do valor emprestado.
Já Silva (2008, p. 328) afirma que a garantia “é uma espécie de segurança adicional
e, em alguns casos, a concessão de crédito precisará dela para compensar as fraquezas
decorrentes dos outros fatores de risco”. No entanto, vale ressaltar que a garantia, por
si só, não é suficiente para a concessão do crédito. Outros fatores deverão ser avaliados
para classificar o cliente em um grau de risco apropriado ao limite de crédito pretendi-
do como o caráter, capacidade, capital e condições de pagamento do tomador.
47
que forneçam garantias para os empréstimos, especialmente se eles estiverem preo-
cupados com o risco de crédito.
Galvão et al. (2006, p.106) afirmam que “a utilização das garantias em empréstimo
foi um mecanismo importante para incrementar a intermediação financeira no mer-
cado de crédito”, ou seja, foi o meio encontrado pelas instituições financeiras para se
resguardar contra a insolvência.
Santos (2000, p. 33) informa que o Banco Central do Brasil considera a exigên-
cia de garantias como uma das normas da boa técnica bancária e “estabelece que os
bancos comerciais, na realização de operações de crédito, devem exigir dos clientes
garantias adequadas e suficientes para assegurar o retorno do capital aplicado. Mais
além, o Banco Central determina que a garantia seja adequada ao tipo, montante e ao
prazo de crédito”.
As garantias estão associadas com a análise da riqueza patrimonial das pessoas físicas
e das empresas, que consideram a possibilidade futura de uma vinculação dos bens ao
contrato de crédito, em casos de perda parcial ou total da fonte primária de pagamento.
(SANTOS, 2000, p. 47)
Schrickel (2000, p. 147) escreve que “cada instituição pode eleger internamente
os tipos de garantias que entenda como sendo mais ou menos valiosas para refor-
çar sua segurança nos empréstimos concedidos”. Schrickel continua afirmando que a
instituição que empresta pode exigir garantias de acordo com as determinações do
Código Civil e Comercial, além da legislação complementar, ou pode sofisticar a clas-
sificação da legislação “discriminando entre os chamados direitos reais de garantia,
48
aqueles que internamente à sua organização para efeitos de concessão de alçadas de
crédito, se entende como sendo mais “líquidos” que outros, considerando apenas estes
casos como “garantidos”. (SCHRICKEL, 2000, p. 148). Ou seja, Schrickel quis dizer que
fica a critério dos bancos emprestadores seguir as determinações dos Códigos Civil
e Comercial, exigindo as garantias estabelecidas nesses normativos, ou ainda exigir
outras garantias mais “líquidas” do que outras, no sentido de serem mais facilmente
conversíveis em dinheiro.
Schrickel (2000, p. 45-46) acrescenta que “em disputas judiciais, algumas garantias
têm uma exequibilidade mais simples e rápida que outras. Há garantias formalmente
constituídas, mas que são simplesmente não executáveis consoantes a prática proces-
sualista”. Isto quer dizer que, em contendas judiciais, um dos litigantes pode dar em
garantia de uma dívida ora sendo questionado um bem de difícil execução, como uma
Garantias
49
O risco de contratar uma operação de crédito sem conhecer detalhes da vida do
cliente, acrescido de garantidas duvidosas pode elevar o risco da operação a um grau
elevado. Assim, Schrickel (2000, p. 46) escreve que “o risco de um empréstimo concedi-
do baseado sobre garantias questionáveis é verdadeiramente incalculável”.
Formalização
A liberação dos recursos envolvidos em operações de crédito dá-se após apresen-
tação da proposta de crédito, com a formalização do instrumento de crédito.
Schrickel (2000) adverte que podem existir situações em que o volume de informa-
ções disponíveis sobre o eventual tomador de recursos é escasso. Esse pode ser o caso
Análise de Risco e Crédito
das micro e pequenas empresas, caso em que o emprestador deverá “adotar as medidas
cautelatórias e apropriadas para assegurar a manutenção do controle sobre o risco que
ele está assumindo ao conceder crédito nestas condições” (SCHRICKEL, 2000, p. 95).
50
o risco representado pela empresa e pela operação;
a liquidez.
Garantias pessoais
Schrickel (2000, p. 164) escreve que as garantias pessoais têm como principal ca-
racterística a pressuposição de que existe uma relação estreita de confiança entre o
emprestador e o tomador. Essa relação de confiança decorre, geralmente, do histórico
de relacionamento entre ambos, relação reforçada pela boa fé que o credor (Banco)
acredita haver no devedor (cliente).
Para Silva (2008, p. 329) a garantia pessoal “ocorre quando se exige do devedor
apenas a promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia comum
que lhe possa dar o patrimônio presente e futuro do devedor ou garantidor”. Ou seja,
Silva quis dizer que a garantia pessoal é uma garantia comum em que o credor só tem
o patrimônio de devedor ou avalista/fiador como garantia do débito.
51
As garantias pessoais são representadas pelo aval ou pela fiança. Elas são presta-
das por terceiros na qualidade de devedores solidários e principais pagadores de todas
as obrigações decorrentes do contrato. Nas garantias pessoais, o devedor não vincula
um bem específico à dívida, apenas apresenta o devedor solidário, ou avalista, para
garantir o pagamento da dívida.
Aval
A normatização do aval deu-se em 31 de dezembro de 1908, pelo Decreto-Lei
2.044. Trata-se de uma garantia fornecida por uma terceira pessoa, que se torna, a
partir de então, um devedor solidário do devedor principal.
Schrickel (2000, p. 166) lembra que é por essa razão que os emprestadores costu-
mam fazer “contratos de crédito” com os tomadores, em que esses se obrigam a pagar
os encargos remuneratórios relativos ao valor tomado em empréstimo, vinculando tais
encargos ao título de crédito assinado. Tais contratos se configuram, na opinião de
Schrikel em uma “fiança disfarçada”, pois transforma o “mero avalista, que tem sua obri-
gação limitada aos estritos dizeres do título de crédito em interveniente solidário”.
Embora o aval seja uma garantia pessoal que não vincula qualquer bem específico
do garantidor, mas todo o seu patrimônio pessoal, as instituições credoras costumam
exigir que o avalista tenha seu patrimônio livre, sem gravames de qualquer espécie,
para que possam garantir o retorno do capital emprestado. Ou seja, o aval é uma garan-
Análise de Risco e Crédito
tia pessoal, em que não se tem um bem específico vinculado à dívida, mas todo o patri-
mônio do avalista deve estar livre de gravames para que a instituição aceite o avalista.
2
Anverso é a expressão que se usa no mercado bancário, significa a frente do documento. A exigência da assinatura no documento no anverso do documento
e no verso, se não houver espaço, é legal.
52
título. Santos (2000, p. 35) escreve que, se não houver espaço suficiente na frente, pode
ser feita no verso, após a expressão avalista ou por aval. Há a necessidade da assinatura
do cônjuge, sob pena de invalidação da garantia outorgada.
O aval costuma ser exigido de todas as operações de crédito por ser a forma mais
usual de garantia e por minimizar a exposição ao risco em casos de inadimplência do
cliente, ou de concordata ou falência da empresa devedora.
Santos (2000, p. 35) lembra que o avalista é responsável pela amortização do em-
préstimo, da mesma maneira que o devedor principal, não havendo prioridade de um
ou de outro na exigência do valor devido. Santos (2000, p. 35) escreve que, “todavia,
nunca poderá ser cobrado um valor superior ao do próprio título, salvo se o título for
emitido com “pacto adjeto de correção”.
Silva (2008) considera o aval como uma obrigação autônoma em relação à obri-
gação principal, que pode ter vários avalistas, e, caso o devedor principal não cumpra
com o pagamento, é facultado ao credor cobrar a dívida de qualquer um dos avalistas,
inclusive sem cobrar do devedor principal.
Santos (2000, p. 35) relaciona alguns cuidados que devem ser tomados sobre ga-
rantias em aval:
que o(s) avalista(s) seja(m) o(s) mesmo(s) citado(s) no contrato a que o título
estiver vinculado, e que os dados sejam os mesmos citados no contrato;
que o valor do título seja suficiente para cobrir o valor do crédito com os res-
pectivos encargos;
53
Fiança
Fiança é uma garantia pessoal, mediante a qual uma pessoa (fiador) garante, no
todo ou em parte, o cumprimento de obrigação que outra pessoa (afiançado/devedor)
assumiu com um concessor de financiamento (beneficiário) (SANTOS 2000, p. 36).
O novo Código Civil Brasileiro, através da lei 10.406 de 10/01/2002, artigo 818,
assim conceitua o contrato de fiança: “Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante
satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra.
Schrickel (2000, p. 168) escreve que, para ser eficiente perante terceiros, a fiança
deve ser materializada em documento individualizado. Já Santos (2000, p. 36) lembra
que a execução do processo de fiança é mais lenta do que o do aval, dado que o “fiador,
demandado pelo pagamento da dívida, tem o direito de exigir, até a constatação do
processo, que primeiramente sejam penhorados os bens do devedor”. Mas, continua
Santos (2000), caso o fiador tenha concordado formalmente em renunciar ao “benefício
de ordem” e obrigar-se como devedor solidário nos casos em que o devedor principal
tornar-se insolvente ou falido, ele perderá essa oportunidade. Ou seja, a oportunidade
é alegar o benefício de ordem nos casos em que o devedor principal ficar insolvente
ou falido, o que é impossível de ser feito, pois nesses casos o fiador é tão responsável
quanto o devedor principal.
Schrickel (2000, p. 168) escreve que pelo Estatuto da Mulher Casada - Lei 4.121, de
Análise de Risco e Crédito
54
Santos (2000, p. 36) enumera alguns cuidados a serem tomados nas garantias
por fiança:
se quem assinou é pessoa física casada – caso em que o outro cônjuge deve
também assinar;
Garantias reais
São as aquelas que se constituem sobre a vinculação de bens tangíveis (corpóre-
os) do tomador, como, por exemplo, veículos, imóveis, máquinas, equipamentos, mer-
cadorias e duplicatas (SANTOS 2000, p. 37).
Silva (2000, p. 331) escreve que “as garantias ocorrem quando, além da promessa
de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia sobre uma
coisa ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis”. No caso da garantia real, o
garantidor destaca um bem de seu patrimônio, que seja aceito pela entidade empres-
tadora, para servir como garantia de devolução dos recursos tomados.
55
As garantias reais são indivisíveis, no sentido de que elas não sofrerão alteração
no decorrer do contrato de empréstimos do qual elas são garantia. Independentemen-
te da amortização do contrato, as garantias reais prevalecerão por inteiro.
Hipoteca
É uma modalidade de garantia real, acessório de dívida, que incide sobre os bens
imóveis. Nesta modalidade, o bem hipotecado permanece em poder do devedor ou
de terceiro. Tanto no penhor como na hipoteca, o credor não tem a posse do bem, mas
tem a preferência de compra, em venda judicial, visando à liquidação da dívida.
Anticrese
É uma modalidade específica de garantia real na qual a posse do bem imóvel é
transferida ao credor que se beneficia dos rendimentos resultantes do objeto da ga-
rantia até que a dívida seja paga. Assim, na anticrese o credor passa a usufruir do bem
dado em garantia, usufruindo de eventuais rendimentos que ele possa produzir até a
quitação da dívida. Esses rendimentos podem ser os aluguéis, se o bem dado em ga-
rantia for um imóvel que se encontra alugado a terceiros.
A anticrese difere do penhor pelo fato de versar sobre bem imóvel, enquanto os
Análise de Risco e Crédito
A anticrese difere da hipoteca pelo fato de, nesta última, o devedor hipotecário
ficar com a posse do bem dado em garantia, enquanto na anticrese a posse do bem
fica com o credor.
56
Alienação fiduciária
Forma especial de garantia que tem por objeto bens móveis identificáveis (má-
quina, veículos, equipamentos etc.) e opera com a transferência da posse indireta (pro-
priedade resolúvel) do bem para o credor, ficando o devedor apenas com sua posse
direta.
O devedor alienante não é o proprietário do bem alienado, apenas faz uso dele. O
devedor assume o papel de “fiel depositário”, não podendo vendê-lo ou onerá-lo sem
a prévia concordância do credor. Após a liquidação do financiamento, a posse do bem
retorna ao devedor, que passa a ser titular do domínio pleno do bem.
De acordo com Silva (2008), existe, também, a alienação fiduciária de imóvel, que
é a garantia constituída por meio de negócio jurídico em que o devedor, ou fiduciante,
contrata a transferência ao credor da propriedade resolúvel de coisa imóvel.
Penhor
É a garantia real que recai sobre os bens móveis, suscetíveis de alienação, cuja
posse, salvo no caso do penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, será transferi-
da ao credor. Este poderá efetuar a venda, judicial ou amigável do bem, para liquidar a
dívida da qual o penhor é acessório. Assim, no penhor, os objetos de garantia devem
ser bens móveis, suscetíveis de venda, que devem ser transferidas ao credor, salvo se a
modalidade de garantia for penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, casos em
que os bens podem ficar na posse do devedor.
os imóveis;
os direitos; e
títulos de crédito.
te em relação aos demais credores e desde que respeitada a preferência dos créditos”.
57
Um exemplo clássico de penhor são os de joias e bens não-perecíveis que podem
servir de garantia real para valores emprestados pela Caixa Econômica Federal.
Silva (2000) lembra que o penhor em que o devedor entrega ao credor (depositá-
rio) coisa móvel em garantia é chamado penhor comum. No penhor especial, que com-
preende o penhor rural e o penhor industrial, não há transferência do bem ao credor,
ficando os próprios devedores como depositários. Quando o penhor incide sobre títu-
los de crédito, ele recebe o nome de caução.
Para Silva (2000) a caução é uma garantia real representada pelo penhor de bens
intangíveis (incorpóreos). Esse autor relaciona os títulos e documentos viáveis de serem
caucionados, em operações de crédito:
panhia faz junto a terceiros e que confere direitos aos seus detentores, nas
condições constantes da escritura de emissão.
58
Duplicata – título de crédito formal, nominativo, emitido por empresário ou
prestador de serviço e representativo de uma compra e venda de bens ou de
prestação de serviços, destinado ao aceite e pagamento por parte do compra-
dor, circulável por meio do endosso e sujeito à disciplina do direito cambiário.
Nota promissória – título de crédito formal que contém promessa direta de pa-
gamento feita pelo emitente (devedor) a favor do beneficiário (credor), sendo
nominativo e circulável mediante endosso, salvo cláusula em contrário.
Título de dívida pública – títulos emitidos pelo Estado como, por exemplo,
apólices, obrigações do tesouro e bônus.
Conclusão
Em operações de crédito, a garantia é geralmente exigida por toda instituição
financeira como forma de mitigar o risco do eventual não recebimento dos valores
emprestados ou financiados.
59
Texto complementar
Já as garantias reais são representadas por uma coisa (bem), que pertença ao
devedor ou a algum terceiro e que possua valor suficiente para eventual ressarci-
mento do credor, em caso de não pagamento da obrigação contratada. Subdivi-
dem-se em penhor, caução, hipoteca, alienação fiduciária e anticrese.
60
De acordo com Pombo e Herrero (2003), o objetivo dos sistemas de garantias
de crédito é a integração das micro e pequenas empresas com o sistema financeiro
formal, sob melhores condições de juros e prazo. Além disso, esse sistema apresenta
outras possibilidades de atuação, como o oferecimento de avais técnicos, comer-
ciais e de serviços de assessoramento empresarial aos clientes. Os estudos realizados
pelos autores identificaram a existência de três modelos gerais que englobam todos
os sistemas de garantias: fundos de garantia – esse tipo de fundo dispõe de recursos
limitados e transitórios, oriundos de programas públicos (estatais), fundações, ONGs
ou de alguma cooperação internacional, destinados a prestar garantias de crédito.
As atividades operacionais de análise, concessão e recuperação ficam delegadas às
entidades financeiras e o postulante solicita o crédito e geralmente paga pelo uso
da garantia; programas de garantia – são programas voltados para a garantia do cré-
dito, com articulação e administração, normalmente, por meio de uma agência de
desenvolvimento estatal, do banco central do país envolvido ou por algum banco
público. Seus recursos podem ser limitados e renováveis, procedentes do Estado
ou de organismos de cooperação multilaterais e bilaterais; sociedades de garantia
de crédito – são sociedades destinadas à prestação de garantias complementares a
seus associados, conforme exigência do sistema financeiro. Possuem também o ob-
jetivo de prestação de avais técnicos e comerciais, bem como de serviços correlatos
ao assessoramento financeiro de seus sócios, micro, pequenas e médias empresas.
Podem ser de âmbito local, regional ou estatal.
61
Como apontaram Pombo e Herrero (2003) e Llisterri (2006), baseando-se nas
melhores práticas das experiências internacionais, existem certas vantagens na uti-
lização das SGCs em relação aos fundos de avais.
As SGCs podem ser mais interessantes que os fundos, se vistas pelos seguintes
prismas: possibilidade de efetuar convênios com diversas instituições financeiras,
ampliando o leque de oportunidades para os associados; menor nível médio de
inadimplência que os fundos, dada a redução do risco moral e da melhora da quali-
dade das análises de outorga das garantias; possibilidade de aproximação entre os
parceiros, gerando negócios entre si, complementaridade de atividades, prestígio e
engajamento social-empresarial, aprendizado mútuo; os fundos têm participação
pequena em relação à grande carência de crédito e sua relação com a deficiência de
apresentação de garantias; estímulo do protagonismo local; possibilidade de atra-
ção de novos negócios na região, e aumento do poder de barganha perante as insti-
tuições financeiras (podendo, eventualmente, ocorrer um “leilão reverso”).
Segundo Llisterri (2006), o valor médio das garantias prestadas nos modelos
das sociedades de garantia de crédito é bem superior ao dos valores médios garan-
tidos pelos fundos de aval.
62
Atividades
a) Alienação fiduciária.
b) Penhor comum.
c) Hipoteca.
d) Aval.
3. Segundo Galvão “[...] os objetos da garantia são bens móveis e imóveis. E deve
ser constituída por meio de uma escritura pública”. Qual é a alternativa correta
sobre a garantia referida?
a) Penhor.
b) Hipoteca.
c) Aval.
d) Alienação fiduciária.
a) Fiança.
b) Penhor.
c) Hipoteca.
d) Anticrese.
Garantias
63
Ampliando conhecimentos
SANTOS, José O. Análise de Crédito – Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo:
Atlas, 2000.
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
64
Garantias
65
Risco e crédito
Introdução
O conceito do risco está relacionado à possibilidade de perigo. No mundo empre-
sarial, mais especificamente em relação ao risco de crédito, o conceito está relacionado
às incertezas e às possibilidades de perda em determinadas operações.
b) Incerteza: ocorre quando não se dispõe de dados históricos acerca de um fato, o que poderá
exigir que o tomador de decisões faça uma distribuição probabilística subjetiva, isto é, baseado
em sua sensibilidade pessoal. (SILVA, 2008, p. 56)
Assaf Neto (2008, p. 207) escreve que a ideia de risco “está diretamente associada
às probabilidades de ocorrência de determinados resultados em relação a um valor
médio esperado”. Tal conceito é voltado para o futuro, analisando uma possibilidade
de perda.
Securato (1996, p. 21) escreve que são conhecidas as histórias do mercado finan-
ceiro, onde “operações praticamente sem riscos em determinado dia levam, no dia
67
seguinte, bancos e corretoras à liquidação, como o ocorrido em junho de 1989 (caso
Nahas) nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro”. O autor continua, afirman-
do: “outro exemplo é o caso de carregamento de títulos públicos com ganhos pratica-
mente seguros que se transformam em razoáveis prejuízos”.
Conceito e classificação
Uma compreensão intuitiva de “risco de crédito” é dada por Securato (2002), que
afirma ser comum tratarmos o termo “risco de crédito” no sentido de operação que as
vezes não se encerra da forma como gostaríamos, ou seja, de recebermos sem proble-
ma o resultado da operação de crédito. O risco de crédito pressupõe a possibilidade da
quantia emprestada não ser devolvida no valor e no tempo originalmente acordado.
68
No final da década de 1990, a crise financeira estourou nos países conhecidos
como Tigres Asiáticos2. Essa crise ficou conhecida como “crise asiática”, caracterizada
principalmente pela fuga de capitais dos investidores estrangeiros. A liquidez do sis-
tema bancário chegou a quase zero e expandiu-se para outros países que tinham rela-
ções comerciais mais intensas com aqueles países: Tailândia, Indonésia, Brasil e Repú-
blica Tcheca.
A crise americana iniciada em meados de 2007 é tida como a mais grave depois
da crise financeira de 1929, nos Estados Unidos. A crise de 2007 se originou quando os
clientes deixaram de pagar a prestação de financiamentos de seus imóveis, dado como
garantia na operação, ocasionando uma crise no mercado imobiliário. Os preços dos
imóveis caíram, reduzindo as garantias dos empréstimos.
Essa crise financeira espalhou-se por todos os países do globo, devido ao fato de
que os bancos transformaram os empréstimos hipotecários em papéis negociáveis (se-
curitização), vendendo-os a diversas instituições financeiras em todo o mundo. Essas,
pelo fato das hipotecas não estarem sendo pagas nos Estados Unidos, acabaram so-
frendo perdas financeiras.
países, o risco de se conceder crédito passou a ser melhor analisado pelas instituições
financeiras, porque em épocas de crise de liquidez e confiança na quantidade de
2
Tigres Asiáticos: Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan.
69
recursos disponíveis para operações de crédito costuma reduzir-se, elevando as taxas
de juros incidente sobre elas.
Gitman (2004) traz a seguinte definição sobre risco de crédito, “o risco, em seu
sentido fundamental, pode ser definido como a possibilidade de prejuízo financeiro”.
Segundo o autor, observa-se que o termo “risco” é usado alternativamente para deno-
tar “incerteza” quando trata da variabilidade de retorno associada a um ativo.
70
Análise de sensibilidade – é um mecanismo utilizado para avaliar os riscos das
operações. Para Gitman (2004, p. 2005), a análise de sensibilidade “usa inúmeras
estimativas de retorno possíveis para obter a percepção da variabilidade entre
os resultados”. Segundo ele, o método envolve a estimativa dos retornos pessi-
mistas, dos mais prováveis e dos otimistas relacionados a determinado ativo.
De acordo com esta análise, o risco é medido por uma faixa que é encontrada
subtraindo os resultados pessimistas dos resultados otimistas. Segundo a análise de
sensibilidade, quanto maior a faixa dada a um ativo, maior a variabilidade e o risco que
ele representa.
(GITMAN, 2002)
Análise de sensibilidade Operação A Operação B
Investimento inicial 50.000 50.000
Taxa de retorno
Pessimista 12% 6%
Otimista 18 % 24 %
Faixa 6% 18%
O valor da faixa apresentado no exemplo foi obtido pela subtração das expectati-
vas pessimistas das otimistas de retorno (8% - 2% = 6%) da operação A. O valor da faixa
da operação B é calculada assim (18% = 24% - 6%). A variação apresentada pela opera-
ção B representa um risco mais elevado, isso significa que ela é uma operação com um
maior risco para o investidor, pois 18% da operação B é maior que 6% da operação A.
71
A tabela abaixo mostra as classificações de risco para os empréstimos concedidos
por instituições financeiras:
Classe de AA A B C D E F G H
Risco
Provisionamento 0,00% 0,50% 1% 3% 10% 30% 50% 70% 100%
A tabela mostra que a classe AA apresenta o menor risco, não sendo necessária
a constituição de provisão para crédito de liquidação duvidosa, já no caso da classe H,
segundo orientação do Banco Central, há necessidade da provisão de 100% dos em-
préstimos concedidos.
Devedor/Garantidor
situação econômico-financeira;
grau de endividamento;
fluxo de caixa;
contingências;
Operação
natureza e finalidade;
valor.
Análise de Risco e Crédito
72
banco (portfolio risk) e, consequentemente, orientar o provisionamento dos créditos de liquidação
duvidosa. (SILVA, 2000, p. 75)
Para Silva (2008, p. 58) este risco “é inerente ao tomador e decorre de suas
características”. Segundo o autor, o não pagamento do empréstimo pelo de-
vedor pode estar associado a fatores relacionados ao próprio devedor.
Diversificação de riscos
Risco e crédito
Pt – Pt – 1 + C
ke =
Pt – 1
Onde:
ke = taxa de retorno exigida ou esperada
Pt = valor do ativo no tempo t
Pt-1 = valor do ativo no tempo t – 1 (anterior)
C = fluxo de caixa do investimento no período de t – 1 até t
74
variabilidade, os resultados podem ser positivos para a carteira, caso o ativo individual
apresente correlação negativa com os outros ativos, ele contribuirá, assim, para a redu-
ção do custo total, isto é, se o ativo individual estiver com força e sinais contrários dos
outros ativos (coeficiente de correlação).
No entanto, Assaf Neto (2008, p. 217) afirma que “essa redução constatada em
uma carteira diversificada ocorre até certo limite, sendo impraticável a eliminação total
do risco da carteira”. O autor constata que a diversificação consegue minimizar o risco,
e não eliminá-lo.
Para entender melhor o risco diversificável faz-se necessário apresentar duas clas-
sificações de risco:
Assaf Neto (2008, p. 209) afirma que esse risco é “inerente a todos os ativos negociados
no mercado, sendo determinado por eventos de natureza política, econômica e social”.
Segundo Leite, o risco sistemático “tem origem nas flutuações a que está sujeito o
sistema econômico como um todo” (LEITE, 1994, p. 407).
75
teiras diversificadas conterem títulos de renda fixa e renda variável, os quais são atingi-
dos de maneira diferente diante de uma elevação na taxa de juros da economia.
Outro exemplo citado por Assaf Neto (2008) são as ações de empresas cíclicas
(montadoras de veículos, construção civil) de maior risco, que costumam compor car-
teiras com negócios mais estáveis diante das alterações no mercado, como as indús-
trias de alimentos.
Rating
Noção intuitiva de rating pode ser dada pela seguinte definição:
O rating é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos
financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que
emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor
risco de ocorrência de um “default”, isto é, de suspensão de pagamentos. (SECURATO, 2002, p. 183)
& Poor, Moody’s, Fitch IBCA, Duff & Phelps Credit Rating Co., dentre outras. Securato
(2002, p. 183) escreve que a classificação de risco de crédito, por instituições financeiras,
76
apesar de estar sendo feita há décadas, somente tomou impulso após o Acordo da Ba-
sileia. Esse acordo foi dividido em dois: o Acordo da Basileia I e Acordo de Basileia II.
Ressalta-se que, apesar dos controles existentes, os riscos de crédito não são eli-
mináveis, mas mitigados através dos mecanismos de controle exigidos pelas normas
próprias das instituições financeiras, pelo Banco Central do Brasil e pelos Acordos de
Basileia I e II.
Conclusão
O conceito de risco está intrinsicamente relacionado às operações de crédito, em
que existe a possibilidade do não recebimento do valor emprestado. O grau de incerte-
za quanto ao recebimento de um valor emprestado é medido através da probabilidade
de ocorrência do evento. Um evento certo, garantido, terá a probabilidade de 100% de
recebimento.
O risco está presente nas operações de crédito das instituições financeiras, das
empresas comerciais, industriais e de prestação de serviços, em que há um tomador e
um emprestador de recursos. O risco nas operações de crédito pode ser mitigado, mas
nunca extinto.
Risco e crédito
77
Textos complementares
Grau de investimento
A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa
de rating. As empresas de classificação de risco alegam que, mesmo sob encomen-
da, o rating é uma avaliação independente porque também há preocupação com a
credibilidade da própria agência.
78
As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma,
quando lançam um rating, também avisam quais as chances dessa nota ser revisada
no curto prazo.
Se o panorama é positivo significa que a nota tem maiores chances de ser me-
lhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um downgrade (seja
revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja
mudada nos dois anos seguintes.
Letras e sinais
As três agências de classificação de risco de maior visibilidade são a Standard &
Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings.
Na ponta oposta, um título classificado como “C”, para a S&P ou a Moody’s, tem
altíssimo risco de não ser pago.
79
A partir dessa situação, o SFN teve de passar por uma nova avaliação e rever as
medidas que vinham sendo adotadas para prevenir as crises e para proceder quando
essas fossem inevitáveis. Essa avaliação considerou que a prevenção consiste em
aperfeiçoar a regulamentação, tornando-a mais rígida e mais bem supervisionada.
Uma das formas utilizadas para o controle foi a elaboração de uma nova classi-
ficação de risco feita pelo Bacen. Elas atuavam em duas direções. a) a primeira orien-
tava a forma e a ordem na qual se devem classificar as operações de crédito; definir
a forma de análise para se aceitar ou não o garantidor do crédito e a finalidade da
operação; o prazo para a fiscalização das operações e a sistemática de fiscalização;
b) a segunda permitia ao Bacen maior controle, já que este tem buscado levar o SFN
a patamares aceitos internacionalmente, visando, principalmente, manter a quali-
dade e o adequado controle sobre o risco do sistema financeiro nacional; estimular
o crescimento ordenado da oferta de crédito, buscando evitar problemas de insol-
vência e liquidez, e aumentar a atratividade ao capital externo, em especial para
recursos voltados à expansão de crédito.
80
cidos. Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou
os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir
dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da
concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde-
rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor financiado, prazo
da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de
AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%.
Atividades
81
b) A visão dos empresários em relação ao mercado financeiro.
Ampliando conhecimentos
GOMES, Adriano. Gerenciamento do Crédito e Mensuração do Risco. São
Paulo: Manole, 2002.
82
Risco e crédito
83
Análise de crédito
Introdução
A análise de crédito compreende a aplicação de técnicas subjetivas, financeiras
e estatísticas para avaliar a capacidade de pagamento do tomador de recursos, que
é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados alguns critérios subjetivos,
financeiros e estatísticos geralmente adotados pelas instituições financeiras na análise
de crédito.
85
Análise subjetiva
A análise de crédito por critérios subjetivos também faz parte do julgamento dos
analistas na avaliação do risco de crédito de clientes. Abordar-se-ão, abaixo, os pontos
principais de cada item.
O mesmo autor afirma que a capacidade está relacionada aos fatores que contri-
buem para a empresa ser competente e competitiva. Isto facilita a condição da empre-
sa de pagar sua dívida. Daí a importância da análise financeira para medir a capacidade
da empresa.
Análise documental
É a análise que se faz dos documentos apresentados pelo proponente tomador
dos recursos da instituição financeira ou empresa.
Compreende o levantamento da situação legal da empresa e de seus proprietários, baseando-se
na verificação do contrato social ou estatuto da empresa, da declaração do imposto de renda da
empresa e dos sócios, dos comprovantes de identificação dos sócios (RG e CPF) e das contas dos
sócios e da empresa (água, luz, telefone, IPTU etc). (SANTOS, 2000, p. 64)
Análise de idoneidade
Análise de Risco e Crédito
86
Segundo Santos (2000, p. 64), a idoneidade do cliente pode ser classificada nas
seguintes categorias: sem restrições, alerta, restritivo ou impeditivo.
De acordo com Silva (2008) o caráter está relacionado com a intenção “do devedor
(ou mesmo do garantidor) de cumprir a promessa de pagamento”.
A ficha cadastral contém informações da análise que se faz para apurar a con-
duta e o grau de idoneidade do tomador de recursos no mercado de crédito. Assim,
as entidades emprestadoras costumam levantar as informações de clientes em em-
presas especializadas, como a Serasa, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Equifax
e outros.
Análise do negócio
Ao empreender a análise de crédito da proposta do cliente, a entidade empresta-
dora faz análise prévia sobre a quem pertence a empresa, qual é a capacidade admi-
nistrativa e financeira de seus dirigentes, o domínio da tecnologia e o conhecimento
do mercado onde atua.
gerar receitas suficientes para cobrir suas despesas operacionais. O conceito de cober-
tura das despesas operacionais pelas receitas é conhecido como EBTIDA:
Erning before interest, taxes, depreciation and amortization é a origem da sigla EBTIDA, que em
português pode ser traduzida para LAJIDA, ou “lucro antes de juros, impostos, depreciação e
87
amortização”. É um termo importado dos balanços americanos. Passou a ser adotada a partir de
1997. Juntamente com outros indicadores, a sua formulação é útil aos analistas e investidores [...].
(LEAL, 2008)
Análise econômico-financeira
A análise das demonstrações contábeis, especialmente através de indicadores
econômico-financeiros (liquidez, endividamento e outros) é geralmente utilizada para
avaliar a capacidade de pagamento do tomador do crédito. Os indicadores financeiros
serão estudados em um capítulo específico.
No crédito, o que se pretende com a elaboração da análise das demonstrações é
avaliar a capacidade de pagamento do cliente. Não obstante esse aspecto quantitativo
da análise de crédito, a capacidade é um aspecto subjetivo e nem sempre é fácil de
ser avaliado. Está relacionado ao potencial de gestão e da visão estratégica para gerir
os negócios. No que se refere à capacidade física, envolve aspectos como: instalações,
métodos de trabalho, grau de tecnologia utilizado e outros.
A análise financeira é conceituada, segundo Silva (2008, p. 180), como sendo o
exame das informações obtidas por meio das demonstrações financeiras, com o intuito de
compreender aspectos como:
Análise de Risco e Crédito
88
No entanto, a análise financeira não se limita às demonstrações contábeis. Ela
abrange outros aspectos que requerem do analista a compreensão de outras discipli-
nas como: Economia, Administração, Marketing, Direito, Dentre outras.
Análise horizontal
Identifica a evolução dos diversos elementos patrimoniais e de resultados ao
longo de determinado período de tempo. É uma análise temporal do crescimento da
empresa, que permite avaliar: evolução das vendas, custos e despesas, aumento dos
investimentos realizados nos diversos itens ativos, evolução das dívidas etc.
89
Na demonstração de resultado, através da análise horizontal, é possível verificar a
evolução dos custos e despesas em relação ao volume de vendas e seus reflexos sobre
o resultado do exercício.
Exemplo: suponha que nos anos de 2005 e 2006 os valores do item caixa tenha
sido de
2005: $100.000
2006: $120.000
120.000 x 100
índice (2005, 2006) = = 120%
100.000
Veja-se o exemplo a seguir:
90
(ASSAF NETO, 2001, p. 107. Adaptado.)
Demonstração do Resultado do Exercício da Empresa X
Contas 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH%
Receita de vendas 830.000 — 1.260.000 152 2.050.000 163
aumento nos custos maior que o crescimento das receitas resulta na redução
do lucro bruto.
Análise vertical
Na análise vertical, as contas de uma demonstração são padronizadas como per-
centuais de uma mesma base. Aplicada ao balanço patrimonial, essa análise propicia
uma visão imediata dos itens que demandam maior volume de recursos, a cada exercí-
cio ou a cada período (SECURATO, 2000, p. 72-73).
91
Apesar da relevância das duas técnicas acima, suas aplicações práticas têm so-
frido alguns desgastes em razão, principalmente pelas características do sistema de
apuração do lucro no Brasil, do tratamento adotado pela contabilidade legal em am-
bientes inflacionários e das bruscas e constantes modificações verificadas na econo-
mia brasileira.
Para o cálculo dos percentuais da coluna da Análise Vertical (AV) divide-se o saldo
da conta que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando-se o resultado por 100.
O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total e o passivo total, e na demonstra-
ção de resultados do exercício, a receita líquida de vendas. A fórmula respectiva é:
Exemplo:
Saldo do grupo “Ativo Circulante” (da qual faz parte a conta “Caixa”): $100.000
92
(ASSAF NETO, 2001, p. 109. Adaptado.)
DRE 31/12/2006 AV% 31/12/2007 AV 31/12/2008 AV%
Receita de Vendas 830.000 100 1.260.000 100 2.050.000 100
Indicadores econômico-financeiros
A análise por índices compreende o cálculo de quocientes resultado do inter-re-
lacionamento dos saldos de diversas contas das demonstrações contábeis. Por meio
de quocientes calculados, denotados na forma decimal ou percentual, associados a
Análise de crédito
93
Através dos indicadores referidos, procura-se relacionar elementos das demons-
trações contábeis entre si, de forma a melhor extrair conclusões sobre a situação eco-
nômico-financeira da empresa.
Existem diversos índices úteis para o processo de análise, sendo que uma de suas
divisões metodológicas em grupos é a seguinte: liquidez, imobilização, endividamen-
to, lucratividade, rentabilidade, cobertura, estrutura e análise de ações.
Comparações
De acordo com Assaf Neto (2001, p. 55), a análise de balanços “é fundamentalmen-
te comparativa”, e quando determinado índice é avaliado isoladamente, não produz in-
formações suficientes para uma correta conclusão. Torna-se indispensável a compara-
ção do comportamento e evolução dos resultados das empresa e de seus concorrentes
nos últimos anos, para extrair uma conclusão mais acurada sobre o desempenho da
empresa no período considerado.
Assaf Neto (2008, p. 182) escreve: “os métodos de análise vertical e horizontal
prestam valiosas contribuições na interpretação da estrutura e da tendência dos nú-
meros de uma empresa”.
não recebimentos;
94
Assaf Neto (2008, p. 86) conceitua a estatística como “um método científico que
permite que seus usuários tomem as melhores decisões em condições de incertezas”.
As medidas estatísticas vêm se aperfeiçoando e alargando o campo de atuação. No
mercado financeiro, as técnicas estatísticas são utilizadas no processo de avaliação de
ativos e nos riscos das decisões. Serão apresentadas algumas medidas estatísticas uti-
lizadas no cenário financeiro:
média – por sua vez, desdobra-se em alguns tipos como: aritmética sim-
ples, aritmética ponderada, média harmônica e média geométrica.
A Estatística está sendo cada vez mais usada na prospecção do risco de cada ope-
ração efetuada pelas instituições. Esse risco está relacionado, dentre outros, ao não
recebimento, aos recebimentos com atrasos e à elevação da taxa de captação das en-
tidades emprestadoras.
Texto complementar
Introdução
Análise de Risco e Crédito
O crédito é hoje um instrumento tão importante na vida das pessoas e das em-
presas, de modo que o uso inadequado do crédito em escalas elevadas poderá levar
uma empresa à quebra ou um indivíduo à insolvência (SILVA, 1993).
96
para outros países da América Latina em 1998, fez com que os maiores bancos deste
continente repensassem a sua política de concessão de crédito.
Os bancos tiveram que contentar-se com lucros mais baixos, uma vez que esta-
vam acostumados a lucrar com cada crise pela qual o país atravessasse através dos
efeitos inflacionários. E para que os índices de rentabilidade não fossem menores
ainda, houve a necessidade de enfrentar a inadimplência dos clientes reforçando os
cuidados com a análise de crédito.
A soma dos lucros líquidos dos 200 maiores bancos que operam na América
Latina caiu nada menos que 23,5% em relação a 1997, levando a grande maioria a
registrar índices de rentabilidade bem inferiores ao do ano interior e à moderação
no modo de atuar no mercado.
Isto quer dizer que os bancos estão apostando numa melhor análise de crédi-
to, evitando trabalhar com empresas que ofereçam risco, diminuindo o índice de
inadimplência.
Esse cuidado em relação ao crédito vem a ser uma vantagem para os bancos,
visto que com a diminuição da inadimplência, obtém-se um lucro maior, uma vez
que metade dos ativos dos bancos são operações de crédito.
O que é crédito?
Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, tem-
porariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta par-
Análise de crédito
cela volte a sua posse integralmente após decorrido o tempo previamente estipulado.
97
Em finanças, o vocábulo crédito define um instrumento de política financeira
a ser utilizado por uma empresa comercial ou industrial na venda a prazo de seus
produtos ou por um banco comercial, por exemplo, na concessão de empréstimo,
financiamento ou fiança.
Análise econômico-financeira
Análise de Risco e Crédito
98
Indicadores econômico-financeiros
Para o exame da situação econômico-financeira de uma empresa, com vistas à
avaliação de sua capacidade, em termos de segurança, liquidez e rentabilidade, o
analista deve valer-se de Demonstrativos Financeiros de pelo menos três exercícios
sucessivos, e extrair deles os diversos indicadores que lhe forneçam as informações
desejadas.
Estudar os índices é a técnica de análise mais empregada, que tem como carac-
terística fundamental prover uma visão ampla da situação econômica ou financeira
da empresa, pois servem de medida dos diversos aspectos econômicos e financeiros
das empresas.
Atividades
99
a) Capacidade.
b) Condições.
c) Caráter.
d) Capital.
Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
100
101
Análise de crédito
Análise das demonstrações
contábeis e financeiras I
Introdução
Um dos instrumentos comumente usados pelos analistas de crédito para investi-
gar a saúde financeira das empresas são as demonstrações contábeis compostas pelos
balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício e a demonstração das
mutações do patrimônio líquido. A partir do exercício social findo em 31 de dezembro
de 2008, por força da Lei 11.638/2007, as demonstrações contábeis serão acrescidas
da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e da Demonstração do Valor Adicionado
(DVA). Salienta-se que a Lei 11.638/2007 substituiu a Demonstração das Origens e Apli-
cações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).
Por determinação legal, no fim de cada exercício social, a empresa fará com base
na escrituração da empresa as demonstrações contábeis. É através delas que se faz a
análise da situação econômico-financeira da empresa.
103
Principais demonstrações
contábeis, financeiras e complementares
Periodicamente, as sociedades anônimas costumam publicar um conjunto de in-
formações que compreendem as seguintes peças:
relatório da administração;
Balanço Patrimonial;
notas explicativas;
Relatório da administração
O relatório da administração varia de empresa para empresa e funciona como
uma prestação de contas dos gestores da empresa para os acionistas.
104
Em linhas gerais, as principais informações contidas nesse relatório são: histórico
da empresa, estratégias, planos futuros, políticas de recursos humanos e investimentos
em pesquisa e desenvolvimento.
Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial retrata a posição patrimonial da entidade em determinado
momento e é composto pelos bens, direitos e obrigações possuídos pela empresa em
uma data específica.
Os autores.
Ativo Passivo
Indica onde a empresa APLICA os Indica a FONTE que os fornecem.
recursos de que dispõe. Terceiros e Próprios: dos sócios e
São os BENS e DIREITOS. dos lucros.
Disponibilidades: Fornecedores.
Caixa e bancos; Salários e encargos sociais.
Aplicações de liquidez imediata; Impostos e taxas.
Direitos realizáveis no exercício social subsequente: Dividendos a pagar.
Contas a receber de clientes: Imposto de renda a recolher.
(-) Duplicatas descontadas; Instituições de crédito.
(-) Provisão para devedores duvidosos.
Estoques:
Adiantamentos a fornecedores; Não circulante
Aplicações de liquidez não imediata; exigível a longo prazo:
Outros valores a receber. Financiamentos;
Despesas do exercício seguinte: Debêntures;
Seguros antecipados. Impostos parcelados.
105
(SILVA, 2008, p. 162. Adaptado.)
Ativo Passivo
Circulante Circulante
Imobilizado:
Imóveis e terrenos; Reservas de lucro:
Máquinas e equipamentos; Reserva legal;
Veículos; Reservas estatutárias;
Móveis, utensílios e instalações. Reservas para contingências;
Reservas de lucro a realizar;
Reservas de incentivos fiscais.
Intangível:
Marcas e patentes.
Ágio por expectativa de rentabilidade futura Ações em tesouraria:
(goodwill). (-) Ajustes de avaliação patrimonial.
Ativo
As contas do Ativo estão dispostas de acordo com a ordem liquidez, ou seja, as
contas mais líquidas (aquelas mais rapidamente conversíveis em dinheiro) aparecem
na parte superior do ativo seguidas daquelas de menor liquidez, na parte inferior.
106
Ativo circulante
Compreendem as disponibilidades, os direitos realizáveis no exercício subsequen-
te e as aplicações de recursos em despesas de exercício seguinte.
Caixa
Representa o dinheiro em espécie ou cheques recebidos de clientes.
Bancos
Compreendem os saldos bancários mantidos em conta corrente de instituições
financeiras, na data do balanço.
Duplicatas descontadas
Trata-se de duplicatas já descontadas (portanto, não são mais direitos da em-
presa) e aparecem no balanço como rubrica redutora das duplicatas a receber que,
Estoques
Nesta conta, estão inscritas as mercadorias adquiridas para revenda a clientes.
Adiantamento a fornecedores
Adiantamentos concedidos aos fornecedores de bens, mercadorias e serviços, por
conta de entrega futura de matéria-prima, mercadorias (ou qualquer tipo de produto)
pelos fornecedores.
107
Despesas do exercício seguinte
Despesas pagas, mas que se referem a exercícios seguintes.
O artigo 179, inciso II, da Lei 6.404/76 estabelece que não só os direitos reali-
záveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas,
adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores,
acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios
usuais na exploração do objeto da companhia, devem ser classificado no Realizável
a Longo Prazo.
Investimentos
Conforme o artigo 179, inciso III da Lei 6.404/76, os investimentos compreendem
“[...] as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer na-
tureza, não classificados no ativo circulante, e que não destinem à manutenção da ati-
vidade da companhia ou da empresa”.
Imobilizado
Também de acordo com a Lei 6.404, artigo 179 inciso IV, o imobilizado compre-
ende os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das
Análise de Risco e Crédito
108
utilizados na atividade da empresa;
Intangível
São aqui classificados os direitos e bens incorpóreos destinados à manutenção da
companhia ou exercidos com essa finalidade.
Diferido
São classificadas, aqui, as despesas pré-operacionais e os gastos de reestrutura-
ção da empresa que contribuirão efetivamente para o aumento do resultado de mais
de um exercício social.
Passivo
Representa as fontes de recursos utilizadas pela empresa, que podem ser prove-
nientes de terceiros que emprestam recursos, ou dos sócios que aportam capital, ou de
lucro gerado pela própria empresa.
Passivo circulante
Fornecedores
Representa as compras a prazo feitas pela empresa.
109
Instituições financeiras
São os empréstimos obtidos pela empresa junto aos bancos.
Financiamentos
Compreende recursos obtidos pela empresas para financiar, geralmente, bens do
ativo permanente.
Patrimônio líquido
Demonstra os recursos pertencentes aos proprietários – é composto por
capital social, capital a integralizar, reservas de capital, reservas de lucros e pre-
juízos acumulados.
110
Capital a integralizar – corresponde à parcela de capital subscrito e ainda
não integralizado pelos proprietários da empresa e é uma conta redutora do
capital social subscrito.
reserva legal;
reserva estatutária;
Observa-se que a lei 11.638/2007 estabelece que os valores dos lucros obtidos
pela empresa e não distribuídos aos sócios devem ser distribuídos pelas reservas que
as empresas possuem dentro das referidas acima.
Outro aspecto importante sobre esta rubrica é o fato de não poder exceder o
valor do capital social.
A DRE representa o acúmulo das receitas, dos custos e das despesas, possibili-
tando a apuração do lucro ou prejuízo no período. A seguir, apresenta-se a estrutura
básica de uma DRE:
111
Quadro 3 – Demonstração dos Resultados do Exercício
Líquido (DMPL):
112
Quadro 4 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
Azevedo (2008, p. 40) considera que a Demonstração dos Fluxos de Caixa e a De-
monstração do Valor Adicionado permitem “aos investidores conhecerem melhor o
fluxo de dinheiro da empresa e o quanto ela produz de riqueza ao longo do ano”.
I – demonstração dos fluxos de caixa – as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa
a) das operações;
b) dos financiamentos; e
c) dos investimentos.
113
Método Direto – são demonstrados os recebimentos e pagamentos origina-
dos das atividades da empresa e os fluxos que geram ou consomem caixa das
operações. Demonstra-se diretamente as alterações ocorridas no caixa (entra-
das e saídas), e sua principal vantagem é a simplicidade.
114
Método Indireto – origina-se do resultado líquido do exercício até chegar ao
fluxo de caixa, ou seja, apura o fluxo dos recursos provenientes das atividades
operacionais, apresentados a partir do lucro líquido, ajustados pelos itens que
não afetaram o caixa da empresa.
115
Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de financiamento
Variação Líquida do Caixa
Caixa mais equivalentes de caixa iniciais
Caixa mais equivalentes de caixa finais
Azevedo (2008 p. 41) afirma que o objetivo da DFC “é prover informações rele-
vantes sobre os pagamentos e recebimentos (dinheiro à mão, conta corrente bancária
e aplicações de sobras de caixa) de uma empresa, ocorridos durante um determinado
período”.
Sobre a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), a Lei 11.638/2007, art. 188 es-
tabelece que essa demonstração corresponde ao “valor da riqueza gerada pela com-
panhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa
riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como
Análise de Risco e Crédito
116
Para Azevedo (2008, p. 45), trata-se de identificar “os agentes econômicos que
receberam pagamentos, obtendo, portanto, renda e que contribuíram para aquela
adição de valor à entidade”. Esses agentes são os empregados, os capitais de terceiros,
os governos e os sócios/acionistas e o valor retido para o crescimento da empresa.
Cia. aberta;
117
sociedade de grande porte quando a sociedade (Ltda. Cia. fechado), desde
que a regulamentação societária venha a confirmar essa obrigatoriedade,
uma vez que se prevalecer a interpretação gramatical do inciso V do art. 176, a
Sociedade de Grande Porte ficará dispensada.
Notas explicativas
As notas explicativas apresentam informações complementares às demonstra-
ções contábeis, além de quadros analíticos sobre a situação patrimonial da empresas.
De acordo com Silva (2008, p. 160), “as notas explicativas dão informações gerais
sobre o contexto operacional da empresa, mostrando as principais atividades”.
Parecer da auditoria
As companhias abertas são obrigadas a apresentar suas demonstrações contá-
Análise de Risco e Crédito
118
O instrumento utilizado para expressar a opinião dos auditores é justamente o
parecer de auditoria.
Conclusão
Os instrumentos comumente mais utilizados pelos analistas de crédito para in-
vestigar a saúde financeira das empresas são as demonstrações contábeis-financeiras,
compostas pelos balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício, de-
monstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos fluxos de caixa,
demonstração do valor adicionado, notas explicativas e parecer dos auditories. Elas
servem de base para que os usuários das informações tenham visão geral sobre a posi-
ção da entidade no mercado, possibilitando uma tomada de decisão mais embasada.
Texto complementar
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 1.º Os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, passam a vigorar com a seguinte redação:
119
§6.º A companhia fechada com patrimônio líquido, na data do balanço, inferior
a R$2.000.000,00 (dois milhões de reais) não será obrigada à elaboração e publica-
ção da demonstração dos fluxos de caixa. (NR)
[...]
§6.º As companhias fechadas poderão optar por observar as normas sobre de-
monstrações financeiras expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários para as
companhias abertas.
Art. 178
§2.º [...]
120
d) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de
avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos
acumulados. [...] ” (NR)
[...] (NR)
Patrimônio Líquido
121
b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme
disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização,
quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos
de crédito;
[...]
§1.º [...]
2) o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros para instrumentos finan-
ceiros de natureza, prazo e risco similares; ou
[...]
122
II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil
econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortiza-
ção. [...] (NR)
[...]
Atividades
a) Imobilizado.
b) Investimento.
c) Diferido.
d) Intangível.
3. Qual demonstração abaixo demonstra a riqueza gerada pela empresa e sua dis-
123
Ampliando conhecimentos
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
Este livro é o estudo das principais alterações nas demonstrações financeiras após
a promulgação da Lei 11.638, que altera a Lei 6.404/76.
Esta obra é indispensável aos que querem se aprofundar nos componentes das
principais demonstrações financeiras e nas práticas contábeis adotadas no Brasil. Deve
ser consultado ao longo deste capítulo.
Análise de Risco e Crédito
124
125
Análise das demonstrações contábeis e financeiras I
Análise das demonstrações
contábeis e financeiras II
Introdução
De um modo geral, a análise econômico-financeira tem como elementos básicos
as demonstrações contábeis, particularmente o balanço patrimonial e a demonstração
dos resultados do exercício. A partir dessas demonstrações é possível obter informa-
ções relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco na empresa.
No entanto, é importante lembrar que a análise por meio de índices não é suficiente
para verificar o desempenho econômico-financeiro da empresa, pois pode fornecer um re-
trato distorcido em alguns casos. Portanto, a análise deve ser feita em conjunto com outras
ferramentas de análise para se chegar ao conhecimento mais profundo dos negócios.
Para Assaf Neto (1998, p. 108), a análise vertical é “processo comparativo, expresso
em porcentagem, que se aplica ao se relacionar uma conta ou um grupo de contas
com um valor afim ou relacionável, identificado no mesmo demonstrativo”.
Para o cálculo dos percentuais da coluna da análise vertical (AV), divide-se o valor
da rubrica que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando o valor encontrado por
cem. O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total, e na demonstração de resul-
tado é a receita líquida de vendas. Alguns autores propõem a seguinte fórmula abaixo.
Exemplo de cálculo encontra-se abaixo.
Rubrica x 100
AVn =
Base
Análise horizontal
A análise horizontal, segundo Assaf Neto (2008, p. 101) “é a comparação que se
faz entre os valores de uma mesma conta ou grupo de contas, em diferentes exercícios
sociais”.
Análise de Risco e Crédito
Segundo Matarazzo (1998, p. 57), pela comparação das contas entre si é possível
“tirar conclusões sobre a evolução da empresa”.
128
Assaf Neto (2001) resume o estudo comparativo da evolução horizontal em três
segmentos:
Os autores.
ATIVO 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH% 31/12/X3 AV% AH%
Circulante
Caixa e bancos 20.000 3,6 100 15.000 2,19 75,0 25.000 3,28 125,0
Clientes 30.000 5,4 100 35.000 5,12 116,7 75.000 9,84 250,0
Estoques 50.000 8,9 100 60.000 8,77 120,0 25.000 3,28 50,0
Não circulante
realizável a longo prazo
Empresas controladas 160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0
Total realizável
160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0
a longo prazo
Investimentos 80.000 14,3 100 92.000 13,5 115,0 96.000 12,6 120,0
Imobilizado 150.000 26,8 100 248.000 36,3 165,3 299.000 39,4 199,3
Intangível 20.000 3,6 100 20.000 2,9 100 30.000 3,9 150,0
Diferido 50.000 8,9 100 30.000 4,4 60,0 20.000 2,6 40,0
Total do não circulante 460.000 82,1 100 574.000 83,9 124,8 637.000 83,6 138,5
129
Os autores
PASSIVO 31/12/X1 AV AH 684.000 AV AH 31/12/X3 AV AH
Circulante
Fornecedores 35.000 6,3 100 67.500 9,9 192,9 46.400 6,1 132,6
Salários e encargos 15.000 2,7 100 25.000 3,7 166,7 39.000 5,1 260,0
Impostos e contribuições 20.000 3,6 100 30.000 4,4 150,0 21.000 2,8 105,0
Total do circulante 70.000 12,5 100 122.500 17,9 175,0 106.400 14,0 152,0
Não circulante
Empresas controladas 85.000 15,2 100 75.000 11,0 88,2 89.000 11,7 104,7
Financiamentos 65.000 11,6 100 92.800 13,6 142,8 176.000 23,1 270,8
Total do
150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7
exigível a longo
Total do não circulante 150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7
Patrimônio Líquido
Capital 200.000 35,7 100 200.000 29,2 100,0 200.000 26,2 100,0
Reservas de capital 60.000 10,7 100 60.000 8,8 100,0 60.000 7,9 100,0
Reservas de lucros 80.000 14,3 100 133.700 19,5 167,1 130.600 17,1 163,6
Total Patrimônio Líquido 340.000 60,7 100 393.700 57,6 115,8 390.600 51,3 114,9
Os autores.
DRE 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH 31/12/X3 AV% AH%
Receita de Vendas 830.000 100 100 1.260.000 100 151,8 2.050.000 100,0 247,0
CMV -524.167 63,2 100 -840.500 66,7 160,3 -1.594.600 77,8 304,2
Lucro Bruto 305.833 36,8 100 419.500 33,3 137,2 455.400 22,2 148,9
Despesas Operacionais -139.500 16,8 100 -190.000 15,1 136,2 -277.500 13,5 198,9
Despesas Financeiras -88.000 10,6 100 -140.000 11,1 159,1 -186.000 9,1 211,4
78.333
Análise de Risco e Crédito
Resultado “Operacional” 9,4 100 89.500 7,1 114,3 -8.100 0,4 -10,3
Resultado Líquido 47.000 5,6 100 53.700 4,3 114,3 -8.100 0,4 -17,2
130
houve uma pequena redução nos investimentos no período estudado;
aumento nos custos maior que o crescimento das receitas, o que resulta na
redução do lucro bruto.
131
Por se tratar de medidas de grandeza, os índices podem ser comparados ano a
ano para verificação de suas tendências e comportamento.
ativo circulante
índice de liquidez corrente =
passivo circulante
132
totalizaram R$800 mil. Seu Ativo Circulante totalizou R$1.200 mil, incluindo o saldo
de Estoques de R$200 mil. Aplicando-se a fórmula acima, o índice de liquidez seco do
Chateau para o período é igual a 1,25.
Índices de atividade – estes índices são usados para medir a rapidez com que
várias contas são convertidas em dinheiro, ou vendas.
133
duplicatas a pagar duplicatas a pagar
prazo médio de pagamento = =
compras médias por dia compras anuais
vendas
giro do ativo permanente =
ativo não circulante líquido
vendas
giro do ativo total =
ativos totais
2.000.000
Prazo médio de pagamento = = 1,33
1.500.000
Índices de endividamento – os índices de endividamento medem o montan-
te de recursos de terceiros que estão sendo usados para gerar lucros.
134
financiadas pelos credores”. Quanto maior for o resultado, maior será o
montante do capital de terceiros que vem sendo utilizado para gerar lucros.
exigível total
índice de endividamento geral =
ativo total
lucro operacional
Margem operacional =
vendas
135
de US$48 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões.
A margem operacional do County Market em 2007 foi de 0,4, ou de 40%, se multipli-
carmos o resultado por 100.
48.000.000
Margem operacional = = 0,4
120.000.000
Margem líquida – mede o percentual obtido com as vendas, após abatidas
todas as despesas. Geralmente, quanto maior for a margem líquida da empre-
sa, mais resultado líquido ela estará obtendo com suas vendas.
136
lucro líquido depois do imposto de renda
Taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido =
patrimônio líquido
Exemplos de índices
Índices extraídos das demonstrações apresentadas anteriormente.
Liquidez geral LG = AC + RLP/PC + ELP 1,18 1,01 0,85 Quanto maior, melhor
Giro do estoque G EST = CPV/EST -10,48 -14,01 -63,78 Quanto maior, melhor
Giro do ativo permanente GAP = V /APL 2,77 3,23 4,61 Quanto maior, melhor
Giro do ativo total GA = VL/AT 1,48 1,84 2,69 Quanto maior, melhor
137
Índices Fórmula 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 Interpretação
Retorno sobre o ativo RSA = LL/AT 0,08 0,08 -0,01 Quanto maior, melhor
Retorno sobre o PL RPL= LL/PL 0,14 0,14 -0,02 Quanto maior, melhor
Índices-padrão
De acordo com a conceituação de Silva (2008, p. 207), o índice-padrão “é um refe-
rencial de comparação”, ou seja, deve-se comparar o índice calculado com o índice-pa-
drão e daí tirar-se conclusões válidas do indicador calculado. Ainda segundo o mesmo
autor, é possível verificar dois padrões básicos:
I. Padrão interno, definido pela direção da empresa como sendo uma meta a ser atingida. Por
exemplo, em termos de estruturas de capitais (relação da dívida total com o patrimônio líquido),
a direção define que para cada unidade monetária ($) de capital próprio, utilizará igual montante
de recursos de terceiros. Esse tipo de padrão funciona como uma meta a ser perseguida e
mantida.
II. Padrão externo, como sendo um referencial constituído a partir de um conjunto de empresas
que sejam representativas das características que julgamos relevantes para a formação do
padrão. Há três fatores que precisam ser considerados na elaboração de um padrão: (a) região
geográfica; (b) segmento de atuação; e (c) porte. (SILVA, 2008, p. 207)
Conclusão
A análise econômico-financeira de empresas é um procedimento utilizado na
avaliação do risco de crédito. Ela tem como elementos básicos as demonstrações con-
tábeis, que são utilizadas na detecção de problemas que o tomador de recursos pode
apresentar através daqueles relatórios.
138
citados fornecem as informações necessárias e suficientes para amparar uma decisão
adequada e segura.
Texto complementar
[...]
139
Média: é a medida utilizada para indicar algo que é característico do universo.
Moda: é a medida que objetiva mostra aquilo que é mais comum em determi-
nado universo.
Podemos observar que a mediana é uma medida mais consistente, que possui
características que visam corrigir maiores distorções em um determinado universo
analisado.
1,7 - 1,58 - 1,70 - 1,65 - 1,45 - 1,60 - 0,52 - 0,65 - 0,80 - 1,80 - 0,50 - 1,75 - 1,70 - 1,30 -
1,40 - 1,60 - 0,72 - 1,45 - 1,18 - 1,22
0,50 - 0,52 - 0,60 - 0,65 - 0,72 - 0,80 - 1,18 - 1,22 - 1,30 - 1,40 1,45 - 1,45 - 1,47 - 1,58 -
1,60 - 1,65 - 1,70 - 1,70 - 1,75 - 1,80
“Valor tal que colocados os elementos em ordem crescente 50% ficam acima
de 57 e 50% abaixo”. Portanto tomam-se os elementos 10 e 11 do universo, tira-se a
média e obtem-se a mediana:
1,40 + 1,45 2,85
= = 1,43
2 2
A média é a somatória dos elementos dividido pelo número de elementos.
25,04
= 1,43
20
Análise de Risco e Crédito
Fica claro, neste exemplo, que a média não é uma boa medida para compara-
ção como padrão, pois notamos uma diferença de 0,18 entre a média e a mediana.
Podemos classificar esta diferença como sendo relevante no estudo da análise.
140
Índices Empresa Ramo/setor
19 x1 19 x 2 19 x 3 mediana x 3
CT/PL 146%
PC/CT 86%
AP/PL 57%
AP/PL +ELP 47%
LG 1,23
LC 1,54
LS 0,98
VL/ATM 1,53
LL/VL 3,40
LL/ x ATM 5,80
LL/ PLM 18%
O quadro fornece uma visão global dos três últimos exercícios em análise, bem
como a comparação do último exercício com os índices-padrão das empresas do
ramo e será de grande utilidade para a emissão do relatório de análise.
Atividades
a) Análise vertical.
b) Análise horizontal.
d) Análise de endividamento.
141
3. Sobre a análise vertical é correto afirmar:
c) A análise vertical é conflitante com a análise horizontal, e por esse fato con-
vém utilizar somente a última para calcular a evolução das vendas. Para os
demais itens da DRE e do Balanço Patrimonial é usada a análise vertical.
4. De acordo com Silva (2008) “uma grande quantidade de índices pode chegar a
confundir o analista e uma quantidade pequena pode não ser suficiente para
tirarmos conclusões acerca da saúde financeira da empresa”. Sendo assim, qual
o papel do analista neste contexto?
Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
142
143
Análise das demonstrações contábeis e financeiras II
Análise de capital de giro
Introdução
O principal objetivo da análise de capital de giro é avaliar a capacidade da em-
presa em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, segundo Silva (2008, p.
235), o cálculo dos índices de liquidez não são suficientes “para avaliar a capacidade
da empresa de pagar seus compromissos imediatos”. Portanto, os analistas recorrem
a outras técnicas para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa sobre a
liquidez da empresa e sua estrutura de capital.
Gimenes e Gimenes (2006) continuam afirmando que o grupo dos ativos não-
-circulantes é composto pelos ativos realizáveis a longo prazo e pelos investimentos,
imobilizado, diferido e intangível. O grupo dos passivos não circulantes é composto
pelos passivos exigíveis a longo prazo, pelos resultados de exercícios futuros e pelo
patrimônio líquido da empresa.
Gitman (2002, p. 619) escreve que o capital de giro representa “a parcela do inves-
timento que circula de uma forma a outra, durante a condução normal dos negócios”,
esse conceito está relacionado com o ciclo operacional da empresa. Compreende, pois,
a transferência periódica de recursos do caixa para estoques, depois para duplicatas a
receber e, em seguida, de volta para o caixa.
145
O capital de giro é obtido pela subtração do passivo circulante do ativo circulante.
Gitman (2002, p. 619) escreve que “quanto maior a margem pela qual os ativos cir-
culantes de uma empresa cobrem suas obrigações a curto prazo (passivos circulantes),
mais apta ela estará para pagar suas contas no seu vencimento.
Para Assaf Neto (2008), o capital de giro pode ser considerado como elemento
básico da avaliação do equilíbrio financeiro de uma empresa, pois pela análise de seus
elementos patrimoniais são identificados os prazos operacionais, o volume de recur-
sos permanentes (longo prazo) que financiam o giro e as necessidades de investimen-
to operacional.
Para tanto, internamente, os gestores podem tomar medidas que facilitem a manuten-
ção do capital de giro.
146
ponderando que é saudável a redução do prazo do giro do estoque, como também uma redução do
prazo de recebimento das duplicatas (política de crédito mais adequada, cobrança mais eficiente).
Padoveze e Benedicto (2007) ainda trazem outro conceito de capital de giro, que
é o Capital de Giro Próprio (CGP) que é determinado pela diferença entre ativo circu-
lante e passivo circulante.
As contas do balanço ligados ao capital de giro que devem merecer estudo apro-
fundado são: estoques, clientes e fornecedores que formam a espinha dorsal do con-
ceito de capital de giro próprio.
nação da saúde financeira de uma empresa, fornecendo uma visão sistêmica do im-
pacto das diversas áreas de decisão na empresa e de suas interações”.
CCL = AC – PC
147
Onde:
AC – ativo circulante
PC – passivo circulante
Para Silva (2008), o investimento operacional em giro (IOG) é composto por contas
de caráter operacional que normalmente são classificadas dentro do ativo e do passi-
vo circulantes e estão relacionadas ao ciclo operacional das empresas. Já o “Saldo em
Tesouraria” é composto por rubricas de caráter financeiro como disponibilidades, apli-
cações financeiras e empréstimos de curto prazo.
C C
148
Ativo Passivo e patrimônio líquido
N Realizável a longo prazo (RLP) Exigível a longo prazo (ELP) N
– *Impostos parcelados –
C C
R Imobilizado R
* Reservas
L L
* Ajustes a valor de mercado
A * Prejuízos acumulados A
N N
T T
E E
*Em extinção
Ativo circulante
uma parte cíclica que contém os itens relacionados de forma direta com o
ciclo operacional da empresa, o Ativo Circulante Cíclico (ACC); e
Passivo circulante
Análise de capital de giro
149
As contas não circulantes foram divididas em: Ativo Não circulante (ANC), com-
posto pelo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, diferido e intangível,
e Passivo Não circulante (PNC), composto pelo exigível a longo prazo, o resultado de
exercícios futuros e o patrimônio líquido.
Pela equação imediatamente acima, o IOG é o resultado de: (contas a receber de clien-
tes, estoque, adiantamentos, outros valores) – (fornecedores, salários, impostos e taxas).
Efeito tesoura
As empresas necessitam acompanhar de maneira eficiente o incremento de suas
Análise de Risco e Crédito
Mas, nem sempre as organizações estão preparadas para o aumento das suas ati-
vidades e, consequentemente, para o aumento da necessidade de capital de giro. Assaf
Neto (2008, p. 219) escreve que “o acompanhamento da evolução da Necessidade de
150
Investimento em Giro (NIG) e do Capital Circulante Líquido (CCL) é fundamental para
uma melhor avaliação da saúde financeira da empresa”.
Assaf Neto (2008) argumenta que o desempenho pode ocorrer de maneira de-
sequilibrada, com um crescimento da atividade empresarial acima da capacidade de
financiamento. Ou seja, a expansão da atividade exige uma aplicação de recursos no
capital de giro, ultrapassando o nível do capital circulante líquido.
Segundo Assaf Neto (2008, p. 219), “a medida que as necessidades cíclicas de giro
são financiadas por dívidas de curto prazo, há aumento na diferença entre o NIG e o
CCL, agravando o “efeito tesoura”.
Ainda segundo o mesmo autor, o saldo disponível negativo, que é uma caracte-
rística do “efeito tesoura”, demonstra a incapacidade da empresa de financiar adequa-
damente seus investimentos operacionais em giro, operando com recursos incompatí-
veis com as suas efetivas necessidades financeiras.
inflação.
Para Silva (2008, p. 245) “a palavra overtrade significa o ato de uma empresa fazer
negócios superiores aos seus recursos financeiros”. O overtrade quer dizer que a empre-
sa efetua volume elevado de negócios sem dispor de recursos suficientes para finan-
ciar suas necessidades de capital de giro.
Análise de capital de giro
Santi Filho e Olinquevitch (1995) escrevem que toda empresa convive com o
“efeito tesoura” quando ela apresenta por vários exercícios seguidos a Necessidade de
Capital de Giro superior ao Capital de Giro liquido. Tal efeito evidencia que a empresa é
incapaz de financiar adequadamente as suas dívidas.
151
Capital Permanente Líquido (CPL)
Como já foi estudado, o investimento operacional em giro é conhecido como
aplicação de recursos decorrentes da própria atividade da empresa. De acordo com
Silva (2008), a efetiva avaliação da saúde da empresa é o resultado de como a empresa
financia tal aplicação.
Para Silva (2008, p. 237) “enquanto o IOG caracteriza uma necessidade, o CPL será
a fonte a financiá-lo”.
Onde:
152
O saldo em tesouraria é obtido através da fórmula:
T = ACF – PCF
O saldo em tesouraria (T) pode ser maior ou menor que zero. Se for maior do que
zero, significa que a empresa possui mais aplicações em moeda do que deve. Caso esse
saldo seja menor que zero, significa que a empresa tem obrigações de curto prazo, não
relacionadas ao ciclo operacional, superiores aos recursos financeiros de curto prazo.
De acordo com Silva (2008), ao longo de um exercício social podem ocorrer varia-
ções que provocam mudanças na saúde financeira da empresa. Veja o exemplo:
Os autores.
2005
Ativo Passivo
Circulante Circulante
Caixa 30 Instituições de crédito 50
Aplicações financeiras de curto prazo 40 Fornecedores 30
Não circulante
2006
Ativo Passivo
Circulante Circulante
Caixa 10 Instituições de crédito 60
Aplicações financeiras de curto prazo 30 Fornecedores 30
153
Os autores
2006
Não circulante
CCL = AC – PC
CCL (2005) = (30+40+30+20+65) – (50 + 30)
CCL (2005) = 185 – 80
CCL (2005) = 105
154
CCL (2006) = (10 + 30 +45 +25 + 70) – (60+30)
CCL (2006) = 180 – 90
CCL (2006) = 90
PCC 2005 = 30
PCC 2006 = 30
Δ PCC 2005 = 0
Obs: A única conta do PCC é fornecedores nos dois anos, com os saldos sem
variação.
T = ACF - PCF
Análise de capital de giro
T 2005 = 85 – 80 = 5
T 2006 = 70 – 110 = (40)
Δ T = (45). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.
155
CPL 2005 = 220 – 115 = 105
CPL 2006 = 220 – 130 = 90
Δ CPL = (15). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005.
Pelo exemplo dos balanços acima, o Δ CPL = (15), e o Δ IOG = 25. Como o Δ CPL <
Δ IOG, temos que o saldo em tesouraria, T diminuiu de 5 para -40.
Santi Filho e Olinquevitch (1995, p. 25) escrevem que “a variável Tesouraria, é, sem
dúvida, aquela que melhor expressa a situação financeira de curto prazo das empresas. O
seu saldo positivo indica uma situação financeira folgada; se o saldo for negativo, indica a
utilização de recursos de terceiros para financiar as atividades operacionais da empresa.
Conclusão
Análise de Risco e Crédito
156
subjetiva e outras. A intenção dos gestores das instituições credoras é mitigar o risco
do não recebimento dos valores concedidos quando das operações realizadas.
Texto complementar
Cada um desses ativos circulantes deve ser bem administrado para que se possa
garantir a liquidez da empresa. Em se tratando dos passivos circulantes, os mais im-
portantes são: duplicatas a pagar, títulos a pagar e despesas provisionadas. É preciso
que seja bem administrado para garantir que cada uma das fontes de financiamento
Análise de capital de giro
157
O capital constitui o recurso financeiro básico de qualquer empresa. Existem
dois tipos de capital: capital próprio – é o capital que pertence aos proprietários
ou acionistas da empresa (não-exigível); capital de terceiros – são os empréstimos,
debêntures e ações preferenciais (exigibilidades da empresa). Sempre que algum
acionista da empresa entra com algum capital, espera sempre ter um retorno e corre
um determinado risco. “Retorno” significa um rendimento maior e “risco” é uma pos-
sibilidade de perda. Existem dois tipos de riscos: econômico e financeiro.
O capital de giro pode ser bruto (ativo circulante) ou líquido (ativo circulante
– passivo circulante). O que temos que ressaltar é que o capital de giro funciona no
curto prazo. A administração do capital de giro tem que levar em conta três dilemas:
Os ativos devem ter uma liquidez compatível; O dilema entre liquidez e rentabilida-
de; A administração dos ativos circulantes.
158
como a empresa está se comportando quantos aos pagamentos e recebimentos
das suas operações diárias.
Quanto mais complexo ou diversificado for o produto final, tanto maior será
a diversidade de itens estocados e mais complicada será a administração dos es-
toques. Os estoques representam um meio de investimento de recursos e podem
alcançar uma proporção enorme dos ativos totais.
159
Atividades
d) É favorável quando seu resultado é maior que zero. Nessa situação, a empre-
sa possui recursos para pagar dívidas de curto prazo.
160
Ampliando conhecimento
ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco-
nômico-financeiro. 8. ed. 3. reimp. – São Paulo: Atlas, 2008.
SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
161
Controle e qualidade do crédito
Introdução
As empresas necessitam de recursos para atenderem às suas necessidades de in-
vestimento e suprimento de capital de giro. Cabe às instituições financeiras financiar
esses recursos, desde que aquelas empresas atendam às exigências normativas dos
bancos. O crédito aparece para avaliar o risco e apoiar na decisão e formalização da
operação (SILVA, 2003, p. 21).
Monitoramento do crédito
As instituições que concedem crédito aos clientes costumam estabelecer políti-
cas para avaliar o risco da operação. De acordo com Silva (2008, p. 402), essas políticas
definem “os critérios de classificação do risco, as formas de acompanhamento e revi-
são de crédito, as alçadas de decisão para transferência de operações para crédito em
liquidação”.
163
fim. Silva (2008) acrescenta que o monitoramento só será eficaz na medida em que
houver uma cultura e uma consciência de que o controle e o acompanhamento do
crédito devem fazer parte de um processo contínuo e de responsabilidade de todas as
pessoas envolvidas na operação.
saudável, embora longe da meta de inadimplência zero, pois se operassem com essa
meta, não poderiam emprestar recursos. Elas tentam minimizar da melhor maneira o
risco das operações de crédito e manter a inadimplência dentro de uma margem espe-
rada ou aceitável pela instituição.
164
“Créditos problemáticos são aqueles que apresentam dificuldades de serem rece-
bidos e consequentes perdas para o credor” (SILVA 2008, p. 403).
Erros por parte do credor – os erros que podem ser cometidos pelo credor e
causando créditos problemáticos como:
165
deterioração de produtos – pela inadequação dos preços utilizados em
relação àqueles praticados pela concorrência;
166
inadequada pontualidade e frequência na publicação ou na entrega das de-
monstrações contábeis pelas empresas;
167
Análise dos clientes
Além da análise das demonstrações contábeis, é relevante também a análise dos
clientes para se observar características ou comportamentos que podem comprome-
ter os recebimentos dos créditos. Silva (2008, p. 408) apresenta alguns sinais de alarme
provenientes dos clientes:
168
falta de visão estratégica e de competência – para avaliar as oportunidades
de negócios e prever os riscos decorrentes;
169
cancelamento de apólices de seguros, de contratos de assistência médica ou
de fornecimento de vale-refeição por não pagamento;
Análise do credor
Por último, mas não menos importante, está é a análise do credor e suas opera-
ções com o mercado para se verificar a recorrência a empréstimo e a capital de terceiros
para manter as atividades operacionais da empresa solicitante de crédito. O resultado
dessas informações também dão subsídios importantes aos analistas financeiros. Silva
(2008, p. 409) cita itens comumente observados nesse tipo de análise:
Protesto
Para Silva (2008, p. 413), o principal efeito do protesto “é que ele prova a impon-
tualidade (inadimplência) do devedor” e, em alguns casos, possibilita o pedido de fa-
lência do mesmo.
170
No entanto, é necessária a observação de alguns prazos para garantir o direito de
cobrar a dívida dos “devedores de regresso” (sacador, endossante e respectivos avalis-
tas). Esses prazos podem variar de acordo com a natureza dos títulos (notas promis-
sórias, cheques, duplicatas).
Silva (2003, p. 414) acrescenta que o protesto tem outro efeito, o de impedir o
pedido de concordata preventiva, que é uma moratória solicitada por empresários
que se encontrem em dificuldades financeiras, visando evitar que eles cheguem à
falência.
Recuperação
Sobre o assunto, Silva (2008, p. 415) afirma que o devedor poderá requerer a re-
cuperação judicial desde que “no momento do pedido exerça sua atividade há mais de
dois anos e atenda a algumas condições como: não ser falido e não ter menos de cinco
anos obtido concessão de recuperação judicial, entre outras.
171
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
os ativos do devedor.
§1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.
§2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial.
De acordo com Silva (2008, p. 415) “estão sujeitos a recuperação judicial todos os
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, conservando os mesmos
seus direitos e privilégios contra coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.
Por sua vez, o plano de recuperação judicial deve conter a discriminação dos
meios que a entidade vai utilizar em seu processo de recuperação, viabilidade e laudo
de avaliação dos bens e ativos do devedor. O plano deverá ser apresentado pelo deve-
dor no prazo de 60 dias da publicação da decisão que deferi no processo de recupera-
ção judicial. Caso contrário, poderá haver a transformação em falência.
Análise de Risco e Crédito
172
Falência
A nossa atual lei de falência, Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 que, em seu
artigo 75, discorre sobre o objetivo da falência:
Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da
empresa.
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
Controle e qualidade do crédito
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
173
VI – créditos quirografários, a saber:
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido
no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas,
inclusive as multas tributárias;
§1.º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de
garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em
bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
§2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua
parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles
estipuladas se vencerem em virtude da falência.
Conclusão
Existe uma relação negocial necessária entre as empresas e as instituições finan-
ceiras. Aquelas necessitam de recursos, disponíveis nos bancos, para atenderem às
suas necessidades de investimento e capital de giro. Ao postularem créditos, na forma
de empréstimos ou financiamentos, as empresas são avaliadas quanto ao risco do não
pagamento dos recursos emprestados.
174
Para perpetrar o monitoramento do crédito, as instituições costumam adotar pro-
vidências, tais como formar auditores internos de crédito para detecção de sinais de
deterioramento dos créditos concedidos, identificando suas causas.
Texto complementar
Monitoramento do crédito
Um ingrediente básico para o analista de crédito é monitorar permanentemen-
te o seu cliente, mesmo depois de concedido o crédito. Certo número de créditos
Controle e qualidade do crédito
175
previsões não se materializarem, os gestores devem agir de forma pró-ativa para
ajustar o nível de inadimplência aos valores iniciais cobrados.
A administração deveria monitorar constantemente o prazo médio de recebimento e o
cronograma de vencimentos para detectar tendências ver como a experiência de cobrança da
empresa se equipara, com seus termos de crédito e com que eficiência o departamento de crédito
está operando em comparação a outras empresas do setor. (WESTON e BRIGHAM, 2000, p. 436)
Processo de cobrança
As políticas de cobrança e recuperação de crédito inadimplente de uma em-
presa indicam os processos adotados para recebimento das dívidas vencidas. A
eficiência dessa política pode ser medida observando-se a quantidade de clientes
inadimplentes ou insolventes da carteira. Existem vários procedimentos que podem
ser aplicados ao processo de cobrança quando um valor não é liquidado até a data
do vencimento. Os principais são:
176
da quebra da relação empresa-cliente, e do aumento nos gastos com a cobrança
de devedores. Uma decisão na alteração da política de cobrança deve considerar
todos esses efeitos e ser tomada sempre que o valor presente líquido da decisão
seja positivo.
Indicadores de inadimplência
Para se ter um bom acompanhamento dos créditos de uma organização é ne-
cessário à implantação de indicadores que venham a subsidiar o processo de tomada
de decisão. O indicador de inadimplência é um instrumento importante para as em-
presas que querem avaliar o risco que estão correndo
177
do estão relacionando o volume de registro, por exemplo, o aumento do registro
de cheques sem fundos pode não ser um indicador de inadimplência. Pode- se em
determinado momento aumentar o número de registro de cheques sem fundos,
mas ter-se uma redução da inadimplência em volumes de recursos. Normalmente, a
inadimplência é calculada como o modelo abaixo segue:
Atividades
to do mesmo.
178
2. Defina o que é um crédito problemático.
Ampliando conhecimento
SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
179
Processo de cobrança
Introdução
As concessões de crédito estão cada vez mais presentes nas relações negociais,
nas quais é possível financiar quase tudo o que se queira adquirir. Silva (2007) continua,
informando que a relação entre o estoque de crédito concedido no Brasil e o Produto
Interno Bruto (PIB) é de 32%, baixo mesmo se comparado aos países em desenvolvi-
mento e aos países desenvolvidos. No Japão e Portugal, aquela relação apresenta os
percentuais de 111% e 100%, respectivamente (SILVA, 2007).
Nas organizações, de acordo com Securato (2007, p. 50), “o risco financeiro é en-
tendido como a falta de liquidez da empresa para saldar seus compromissos e está
intimamente ligado à questão do endividamento da empresa, do controle de custos,
da variabilidade das vendas”.
181
Para Silva (2008, p. 411), a política de crédito do banco, ou da empresa fornecedo-
ra de crédito, juntamente com o contexto macroeconômico do momento da operação,
dão as diretrizes para a adoção da ação mais adequada para se negociar com o toma-
dor inadimplente.
Alertas de risco
As empresas cedentes de crédito precisam estar atentas ao andamento dos crédi-
tos concedidos, monitorando-os adequadamente para detectar possíveis sinais. Vários
sinais podem ser percebidos pelos analistas de crédito que indicam as possibilidades
dos créditos tornarem de difícil recebimento. Entre esses sinais podemos citar:
182
mas no futuro. Por exemplo, o tomador de crédito tem um estilo arrojado de operar,
investindo os recursos disponíveis no mercado financeiro. Em momento de crise, suas
finanças poderão ficar comprometidas.
Alerta de terceiros
Medidas preventivas
As principais medidas preventivas a serem tomadas pelas empresas cedentes de
crédito dizem respeito à fase que antecede a cessão do crédito que é a análise prelimi-
nar do cliente e de sua real situação econômico-financeira.
Além disso, o cedente deverá, para sua segurança, manter auditoria constante
nesses créditos para se certificar sobre seu desempenho.
O processo de cobrança
Silva (2007, p. 175) define política de cobrança como “um conjunto de fatores,
normas, métodos e diretrizes criadas pelos gestores da empresa e que normatiza as
183
ações e procedimentos de recuperação de créditos”. Continua o autor, afirmando que
na definição de política serão determinados as ações e procedimentos a serem adota-
dos no processo de cobrança.
De acordo com o dicionário de finanças Bovespa (2008), a cobrança pode ser con-
ceituada como:
arrecadação de quantias;
ato de receber;
judicial – quando o credor aciona a justiça para haver o que lhe é devido.
Renegociação
Silva (2007) elege 10 mandamentos da negociação em geral, que são:
planeje a negociação;
Análise de Risco e Crédito
defina metas;
aprimore seus “atributos artísticos” (saber controlar suas emoções, por exemplo);
busque ficar com a “gordura”, que ficará com quem negociar melhor;
184
não aceite a primeira oferta;
Silva (2007) também relaciona as oito táticas e antídotos da negociação, que são:
intimidação;
insultos;
blefe;
jogos emocionais;
perguntas diretas;
caldeirão;
choro.
Silva (2008, p. 412) afirma que “além da avaliação financeira e jurídica, é necessário
ao negociador sensibilidade para captar as sutilezas de cada contexto de negociação”.
A fase que antecede a cobrança do crédito pode indicar ao credor o perfil e o desem-
penho dos devedores. Com base nessas informações, essas instituições estabelecem a
forma e os meios para cobrar os créditos.
185
em duas etapas chamadas “fase do conhecimento”, quando o juiz reconhece o débito,
e a “fase da execução”, quando se localiza o devedor para o pagamento da dívida.
Recuperação judicial
É o instrumento utilizado pelo credor para tentar reaver seu crédito judicialmente.
Seu objetivo é viabilizar a superação das dificuldades enfrentadas pelo credor. Vejamos
o que diz a Lei 11.101/2005, no artigo 47:
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.
Sobre quem pode requerer a recuperação judicial, a mesma lei assim estabelece:
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes;
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano
especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada
por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
De acordo com o texto legal, os meios para a recuperação judicial são os seguintes:
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso,
dentre outros:
186
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de
veto em relação às matérias que o plano especificar;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
os ativos do devedor.
§1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição
somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.
§2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial.
A respeito dos benefícios da recuperação judicial, Silva (2008) destaca que a ma-
nutenção da fonte produtora e o empenho em manter o emprego do devedor e salva-
guardar o interesse do credor.
Recuperação extrajudicial
Processo de cobrança
187
Segundo Silva (2008, p. 418), “a recuperação extrajudicial pode ser um caminho
para empresa que passa por dificuldades transitórias, porém que sejam viáveis”.
Falência
Para Lemes Júnior et al. (2005, p. 470) escrevem que “a falência é um processo ju-
rídico que, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa preservar e
aperfeiçoar a utilização produtora dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os
intangíveis da empresa”.
A empresa passa a ser considerada falida quando suas dívidas de curto prazo e
longo prazo são maiores que seu ativo, ou seja, quando apresenta um patrimônio líqui-
do negativo, ou passivo a descoberto.
O pedido de falência pode ser solicitado tanto pelo próprio devedor como
também pelos credores. O art. 97 da Lei 11.101/2005 assim estabelece:
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
IV – qualquer credor.
§1.º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a
regularidade de suas atividades.
§2.º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao
pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.
especializada”.
A Lei 11.101/2005, em seu artigo 3.º, estabelece que “é competente para homo-
logar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a
falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empre-
sa que tenha sede fora do Brasil”.
188
Em caso de falência, é formado um comitê de credores que, segundo Silva (2008,
p. 414), apresenta a seguinte composição:
a) um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplentes;
b) um representante indicado pela classe dos credores com direitos reais de garantias ou privilégios
especiais, com dois suplentes; e
c) um representante indicado pela classe dos credores quirografários ou com privilégios gerais,
com dois suplentes.
Ainda de acordo com Silva (2008, p. 414), a assembleia geral de credores, em caso
de decretação de falência, será composta pelos seguintes credores:
a) titulares de créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
189
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido
no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas,
inclusive as multas tributárias;
§1.º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de
garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em
bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
§2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua
parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles
estipuladas se vencerem em virtude da falência.
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em
título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-
-mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens
suficientes dentro do prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento
para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar
credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor
ou não;
Análise de Risco e Crédito
190
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e
desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f ) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores,
abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu
principal estabelecimento;
§1.º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o pedido de
falência com base no inciso I do caput deste artigo.
§2.º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam
reclamar.
§3.º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos
executivos na forma do parágrafo único do art. 9.º desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos
respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.
§4.º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão
expedida pelo juízo em que se processa a execução.
§5.º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a
caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas.
Conclusão
O monitoramento do crédito concedido é um procedimento que faz parte do
processo de crédito. As dificuldades financeiras que acometem indivíduos e empresas
são o resultado de inúmeros fatores que ocasionam um desbalanceamento no fluxo
de caixa da empresa, inviabilizando o pagamento dos recursos tomados emprestados,
aumentando sobremaneira o risco financeiro do devedor.
O processo de cobrança deve ser precedido por ações que deixem a cobrança ju-
Processo de cobrança
dicial para último caso, devido à lentidão burocrática excessiva que costuma acompa-
nhar os processos. Devem as instituições responderem aos alertas de risco de inadim-
plência do devedor com ações firmes, mas cordatas, rumo à renegociação para reaver
o montante emprestado.
191
Textos complementares
Antes, o credor era obrigado a entrar com uma ação para ter o seu crédito reco-
nhecido por uma sentença e depois outra para forçar o devedor a pagá-lo. A sepa-
ração desses dois processos tornava o procedimento judicial excessivamente lento,
já que a maioria dos atos realizados no primeiro processo deveria ser repetida no
processo execução.
“Essa medida tornará mais ágil e efetivo o cumprimento da sentença dos juízes.
É mais um passo importante para terminar com a morosidade nesta etapa, pois o
réu poderá ser notificado apenas pelo seu advogado”, afirma o secretário da Refor-
ma do Judiciário, Pierpaolo Bottini.
Com a nova lei, após a sentença do juiz, o réu será intimado a pagar o valor
devido no prazo de 15 dias. No caso de não-pagamento, será aplicada multa no
valor de 10% do valor devido. O devedor também não poderá mais oferecer bens à
penhora para saldar as dívidas, o que evitará discussões sobre a idoneidade e valor
dos bens.
recuperar valores emprestados pela via judicial. “Em muitos casos, é mais vantajoso
fazer um acordo, mesmo com deságio, do que levar a causa aos tribunais. Esse fato
deslegitima o judiciário como instituição formal de resolução de litígios”, completa.
A nova lei também acaba com o efeito suspensivo dos recursos interpostos
contra a execução da sentença, de modo a evitar que o sistema judiciário seja utilizado
192
para protelar o pagamento de dívidas. Dessa forma, o processo de execução trami-
tará normalmente, ainda que existam recursos pendentes. Essa modificação deverá
desestimular a interposição de recursos infundados, os quais não terão mais vanta-
gens para o devedor.
A Lei de Execução Civil (Lei 11.232/2005 (PL 52/04)) foi sancionada no dia 22
de dezembro de 2005 e é um dos projetos mais importantes da reforma infracons-
titucional que tem como objetivo agilizar a tramitação de processos, racionalizar a
sistemática de recursos judiciais e inibir a utilização da Justiça com fins meramente
protelatórios. A reforma infraconstitucional foi elaborada pela Secretaria de Reforma
do Judiciário do Ministério da Justiça em conjunto com o Supremo Tribunal Federal,
o Instituto Brasileiro de Direito Processual e entidades de magistrados, promotores
e advogados. Esse trabalho resultou no encaminhamento de 26 projetos de lei com
propostas para a alteração das leis processuais civil, trabalhista e penal. Com a nova
Lei de Execução Civil, são cinco os projetos apresentados que entraram em vigor.
§1.º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:
193
V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escri-
turação contábil obrigatórios.
Contabilidade paralela
§2.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou
movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação.
Concurso de pessoas
Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou
dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do
devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira:
Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre deve-
dor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem:
Análise de Risco e Crédito
194
fim de induzir ao erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de
credores, o comitê ou o administrador judicial:
Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conce-
der a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, ato de
disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer
um ou mais credores em prejuízo dos demais:
Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob re-
cuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta
pessoa:
Art. 174. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa
falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use:
195
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
Exercício ilegal de atividade
Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por deci-
são judicial, nos termos desta Lei:
Atividades
Análise de Risco e Crédito
196
a) execução de garantias.
c) pedido de falência.
d) protesto.
Ampliando conhecimentos
A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005.
Processo de cobrança
197
Gabarito
Intermediação financeira
1. Risco de crédito é a probabilidade de que o recebimento dos recursos empres-
tados não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento.
Por isso, é importante a análise do risco nas decisões de crédito.
3. D
4. C
3. D
4. C
199
Garantias
1. Nas situações em que o valor de mercado do patrimônio do devedor for inferior
ao valor da dívida.
2. A
3. B
4. D
Risco e crédito
1. A
2. C
Análise de crédito
1. Análise documental, análise de idoneidade, análise do negócio, análise econô-
mico-financeira e análise cadastral.
200
2. A análise vertical mostra a participação relativa de cada item de uma demons-
tração contábil em relação a determinado referencial. Por exemplo, quantos
por cento representa cada rubrica contábil em relação ao ativo total. Por sua
vez, a análise horizontal permite o exame da evolução histórica de uma série de
valores, ou seja, o comportamento das contas em mais de um exercício.
3. A
2. B
3. D
2. B
Gabarito
3. B
201
4. O analista precisa atentar para os aspectos que são mais importantes na análise
e verificar quais os pontos que demonstram maior vulnerabilidade da empresa.
3. D
4. B
4. D
202
Processo de cobrança
1. As instituições cedentes devem monitorar os tomadores do crédito para evitar
que eles se tornem irrecuperáveis.
3. B
Gabarito
203
Referências
ALMEIDA, Álvaro; VIEIRA, André. O Condenado Vai à Ópera. Publicado em: 23 out.
1997. Disponível em: <www.terra.com.br/istoe/economia/146430.htm>. Acesso em:
14 nov. 2008.
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 17 de dezembro de 1976. Disponível
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