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«O que nos interessa é, antes de mais nada, o rico e heterogêneo mundo perceptivo que nos rodeia e,

em segundo lugar, o mundo que captamos simbolicamente com nossa linguagem e nossos conceitos
— em resumo, a história. 1 A teoria é um mero instrumento para iluminar a história. Porém a história
é sempre hipotética e insegura. Somente os teoremas frios e vazios da teoria são seguros, pois nada
dizem acerca do mundo. [Por exemplo,] podemos estar certos de que, em um sistema econômico
que tenha estrutura de mercado livre, os preços sempre se formarão de acordo com as leis da teoria
microeconômica de formação de preços. Porém nunca podemos estar absolutamente certos de que o
sistema econômico que temos diante de nós possua tal estrutura. A teoria microeconômica de
formação de preços é uma teoria matemática, a mera descrição de uma estrutura, sobre cuja real
encarnação no mundo empírico nós, frequentemente, nada sabemos. E o mesmo ocorre com
qualquer outra teoria.
Toda teoria é matemática. E, como dizia Goethe, “toda teoria é cinzenta, porém verde é a
árvore da vida”. 2 Como já sabia Platão, só de estruturas é que cabe fazer teoria, e somente das
estruturas é que nós podemos estar seguros. Porém, diferentemente de Platão, sabemos que as
estruturas não são a verdadeira realidade, mas meros esquemas projetivos nas cabeças (e nos livros)
de certos animais: nós mesmos. Com o mundo real, somente é possível fazer a história, 3 e por isso
ela é tão insegura.
Enfim, nós possuímos um saber perfeito e seguro sobre o irreal, o vazio e o formal (as
estruturas, objeto das teorias), porém somente um saber imperfeito e inseguro sobre o real, o vivo e
o material (os sistemas, objeto da história).
Reconhecer esta situação não deixará de nos causar uma certa melancolia. No entanto,
dentro da longa cadeia de avanços decisivos de nossa espécie (a postura ereta, as ferramentas, a
linguagem...), a teorização, a construção dessas tramas complicadas que são as teorias, sem dúvida,
não é o menor entre eles.»
(Jesús Mosterín, “Historia y teoría abstracta”, in: Conceptos y teorías en la ciencia, pp. 145-146.
Madrid: Alianza Editorial, 1984.)

1
O autor utiliza aqui o termo “história”, porém não no sentido mais usual — i.e. denotando a disciplina que elabora
narrativas e interpretações acerca dos eventos e sequências de eventos no tempo, envolvendo o ser humano (e que faz
parte das chamadas humanidades ou, segundo alguns, das ciências humanas). Em vez disso, ele recupera um sentido
mais arcaico do termo, o de “história natural”, de “história” como sucessão e descrição dos fenômenos, i.e. o estudo dos
estados sucessivos dos sistemas — em outras palavras, aquilo que usualmente denominamos ciência natural.
2
Goethe, fala de Mefistófeles, in Fausto, Parte I, Cena 4 (“No estúdio de Fausto”), l. 2038.
3
Cf. nota 1.

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