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TIC E EDUCAÇÃO NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO E POSSIBILIDADES ATUAIS DE


APROPRIAÇÃO

ALMEIDA, Doriedson Alves de

RESUMO

O trabalho apresenta uma breve retrospectiva sobre alguns conceitos, usos e significados que
permearam o processo de apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pela escola
pública no Brasil nas três últimas décadas. Aborda, de forma sintética, a crise educacional brasileira nesse
período e a forma compartimentalizada como as TIC são percebidas nos currículos. Propõe uma transição
que possibilite o avanço das práticas pedagógicas disciplinarizantes para uma perspectiva de apropriação
cultural e crítica.

PALAVRAS-CHAVE

Tecnologias de Informação e Comunicação. Práxis. Currículo.

E A ESCOLA SE FEZ BYTE desmonte, fato esse que se agravou nas décadas
seguintes, contribuindo para levá-la ao caos, em
Neste trabalho, apresento algumas todos os níveis de ensino, do fundamental ao
reflexões sobre a forma como as Tecnologias de universitário. Boaventura Santos (2002) ao
Informação e Comunicação - TIC vem sendo analisar a influência das economias hegemônicas
apropriadas pela educação. Reflito sobre as práxis nos mercados dos países considerados em
disciplinarizante que embasam a forma como desenvolvimento, considerou que os processos de
muitas escolas, políticas públicas e/ou ações de subordinação sofridos por esses países, dentre eles
governo concebem o uso das tecnologias no os relacionados às políticas educacionais,
processo de ensino/aprendizagem. Neção que invariavelmente, adotam uma lógica de
permeiam o uso das TIC pela escola pública no obediência e subordinação ao mercado. Nessa
Brasil, fazendo referência a alguns contextos em perspectiva, o autor destaca que as ações foram
que são utilizadas. pensadas e implementadas a partir de países
hegemônicos, muitas vezes associados às
Recentes avanços técnicos, diminuição de empresas transnacionais, sem inserção técnica,
preços, somados às facilidades operacionais dos cultural e econômica nos territórios nacionais.
computadores, filmadoras, câmeras digitais e
outros equipamentos digitais, disponíveis Foi nesse contexto econômico e
atualmente, fazem com que sejam cada vez mais geopolítico de supremacia do ideário neoliberal
utilizados por empresas, governos, escolas e que a escola pública brasileira inicia seu contato
aumentam sua presença nos lares brasileiros. com as TIC. As primeiras iniciativas foram
Muitas vezes, tais recursos são tratados como respaldadas por um discurso modernizante que
panacéia para os problemas da educação. Esses reservava à escola um papel de formadora da
avanços técnicos e o aumento de disponibilidade mão-de-obra capaz de possibilitar aos alunos o
ocorrem em meio à ausência de políticas e/ou manuseio das tecnologias emergentes, julgando
ações governamentais capazes de garantir uma que se deveriam desenvolver as mesmas
escola pública laica e universal de qualidade, que habilidades técnicas capazes de torná-los aptos ao
seja percebida pela sociedade como um direito manuseio dos novos ferramentais tecnológicos,
inalienável e fundamental ao desenvolvimento então, incorporados ou em processo de
econômico e social do país. incorporação pelas empresas.

Na década de 60 o sociólogo Florestan Essa postura ideológica e metodológica


Fernandes (1960), apontava que a escola pública contribuiu para que a forma como os usos dessas
era objeto de uma conspiração visando seu “novidades tecnológicas” fossem integrados à

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práxis pedagógica, em muitos casos, apenas como rápidas mudanças e evoluções ocorridas, se
“velhas novidades”, com um forte viés tecnicista, deixavam levar quase a deriva nesse universo em
preocupado apenas em readequação e preparação transformação.
de profissionais para os novos contextos
tecnológicos vivenciados pelas empresas. A partir Em artigo no qual aborda a trajetória do
dessa postura e, com o rápido desenvolvimento Grupo de Trabalho (GT) 16 da ANPED
técnico que possibilitou o surgimento de inúmeros (Educação e comunicação), Pretto (2007) analisa
avanços nesse campo, professores e alunos as influências dos avanços e estudos no campo da
passam a utilizar essas novas interfaces e recursos Ciência da Computação para uma aproximação
tecnológicos. Contudo, essa utilização ocorria sem dos dois campos do conhecimento.
nenhuma preocupação com a construção de
métodos capazes de agregar conteúdos culturais e Correndo em paralelo, e agora ganhando cada
curriculares que pudessem promover mudanças vez mais espaço, por conta da intensificação
qualitativas e/ou avanços nos modos de ensinar e do uso das TIC na sociedade contemporânea,
aprender já consolidados. Isso fazia com que as encontramos a área da ciência da computação,
que desde muito volta-se para a pesquisa sobre
possibilidades de possíveis inovações a partir dos
a educação. Esta sempre foi uma temática que
novos recursos fossem incorporadas apenas envolveu bastante os profissionais da
enquanto uma forma diferente de fazer o mesmo, informática, e uma análise da história da
conforme observa Pretto (1999). informática educativa no pais nos leva a
década de 70 (PRETTO, 2007, p. 13).
As origens dessas práxis remontam à
instalação de centros de pesquisas e de unidades Após relacionar diversos estudos visando
piloto para o uso experimental desses recursos por demonstrar o crescente intercâmbio entre essas
pesquisadores, professores e alunos tendo, desde o duas áreas de conhecimento a partir da década de
início em seus referenciais, práticas verticalizantes 70, Pretto (2007) observa que:
e unas, originadas nos modelos e matrizes
pensadas pelo MEC nas décadas de 80/90, com Todos esses artigos trazem uma precisa
forte influência dos projetos concebidos no MIT1 retrospectiva e análise da aproximação da
e difundidos no Brasil principalmente pela Ciência da Computação com a Educação,
UNICAMP2. Tais experiências evoluíram para resgatando os primeiros movimentos no Brasil
grandes programas governamentais formulados e os impasses colocados para o campo durante
a segunda metade do século XX (PRETTO,
para inserção de tecnologias em escolas, como o
2007, p. 13-14).
atual PROINFO3 e seus antecessores e similares.
Durante as três últimas décadas as práticas
Nesse universo em mutação, onde esses
homogeneizadoras e a não observância das
dois campos do conhecimento se aproximaram
singularidades e diversidades culturais locais
cada vez mais, consideramos ser possível uma
fizeram com que as tecnologias fossem
breve análise das mudanças ocorridas durante
percebidas, prioritariamente, como “ferramentas”
essas décadas, destacando algumas características
e ou como partes de conteúdos finalísticos que
inerentes à forma como os profissionais de
deveriam ser ensinados aos alunos, práticas que
educação e de informática conduziram seus
ainda persistem enquanto obstáculos a serem
estudos para apropriar-se das TIC, considerando
superados.
diferentes fases:
Essas matrizes macros que direcionaram
• Primeira fase – em um primeiro
as formas de apropriação das TIC pelas escolas
momento, o uso de computadores foi
brasileiras, resultaram em um conjunto de práticas
fortemente influenciado pelos discípulos
e crenças que influenciam os modos pelos quais
de Papert e Piaget, chamados loguistas,
foram se construindo posturas e formas de
que a partir de um universo cartesiano,
compreensão e utilização das TIC no cotidiano
demasiadamente lógico-matemático,
escolar que, uma vez incapazes de acompanhar as
marcaram a época em que os
computadores pré-PC, ou os PC com
1
Massassuchets Institute of Technology. pouca memória e baixo poder de
2
Universidade Estadual de Campinas. processamento eram utilizados segundo a
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Programa Nacional de Informática na Educação lógica de interação com a máquina a partir
(MEC).
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de possibilidades de programação no transferindo poder de criação e


universo lógico-formal de interação entre compartilhamento de conteúdos para os
aluno/professor, a partir da utilização das usuários, novas possibilidades se abrem,
interfaces e comandos da linguagem entretanto, ainda devem ser analisadas
LOGO4; enquanto potencial, pois são poucas as
iniciativas educacionais de apropriação
• Segunda fase - em um segundo momento, desses recursos numa perspectiva de
com a evolução do poder de aproveitar todo o seu potencial. Numa
processamento dos microcomputadores, análise mais superficial, podemos dizer
entra em cena a concepção skineriana, que que há uma tendência em muitas escolas e
se baseia na transferência da visão de redes de ensino de restringir o acesso a
máquina de aprender instrucionista para o esses recursos a partir de justificativas
mundo digital e em rede. Essa perspectiva diversas, que vão desde os argumentos
foi fortalecida a partir dos projetos relacionados a segurança da informação
governamentais para a instalação de até a necessidade de resguardar os alunos
microcomputadores em escolas, dos perigos inerentes a tais ambientes.
concretizadas, por exemplo, com a grande
utilização de softwares para automação de Esses são apenas alguns dos aspectos que
escritórios e/ou aplicações específicas que influenciaram e continuam influenciando a forma
transformavam o micro computador em como as TIC são apropriadas em muitas escolas.
máquina de ensinar, a partir de uma lógica Se analisarmos com mais profundidade tais
estímulo/resposta; aspectos, veremos que as novas propostas
curriculares, os avanços tecnológicos e nas práxis
• Terceira fase - o fortalecimento e a pedagógicas ocorridas ao longo das últimas
popularização da internet fazem surgir décadas continuam à margem desses processos.
diversos projetos na lógica dos chamados Assim, não é raro observar na estrutura curricular
“portais educacionais” que buscam dos diversos níveis de ensino, a disciplina
disseminar conteúdos e informações numa “informática educativa”, ou mesmo com outra
perspectiva de produção centralizada e de denominação, mas, que leva às mesmas práticas e
disseminação em massa, segundo formas disciplinarizantes de apropriação das TIC
métodos já amplamente difundidos pelos pela escola.
padrões de mídia broad-casting5.
Porém, não desconsideramos algumas
• Fase atual - como resultado da evolução propostas de apropriação não homogeneizadas em
das tecnologias e práticas meio aos contextos de apropriação hegemônica
comunicacionais para os padrões das TIC que impregnam a maioria das escolas na
interativos da chamada web 2.06, onde as contemporaneidade, entretanto, essas iniciativas
interfaces e recursos de navegação ocorrem a partir de universos tensionados, onde as
tornam-se mais simples e intuitivos, experiências para apropriação das TIC pelas
escolas são fortemente orientadas para
4
obedecerem as lógicas reprodutivistas, impostas
Trata-se uma linguagem de programação interpretada, pelos mercados e pela mídia de massa, fazendo
voltada principalmente para crianças e aprendizes em das experiências diferenciadas, exceções à regra,
programação. O LOGO implementa, em certos
fato que torna cada vez mais difícil romper a
aspectos, a filosofia construcionista (construtivismo)
segundo a interpretação de Seymour Papert (2002) co-
lógica disciplinar e subordinada ao mercado que
criador da linguagem junto com Wally Feurzeig. em geral o uso das TIC pelas escolas está
5
Termo derivado da linguagem militar para descrever submetida.
uma lógica de transmissão e produção de informações
e conteúdos na lógica de um para muitos. Presididas por tal lógica, as formas de
6
Conjunto de protocolos, tecnologias e interfaces que apropriação que prosperam, quase sempre são
permitem conexões e a convergência de mídias na marcadas por uma relação de endeusamento e
internet, de forma mais ágeis e dinâmicos, possíveis a temor, amor e ódio, fetichização estética7
partir de uma maior largura de banda para transmissão
de dados na infra-estrutura física que controla os meios
7
físicos usados para conectar computadores e Nesse contexto, fetichização estética deve ser
dispositivos digitais diversos. entendida como uma forma de apropriar-se das TIC em
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(explicar em rodapé) e ausência de reflexão condição docente, posto em marcha


crítica, onde os processos singulares que pelo Estado.
envolvem o potencial das TIC para a melhoria na
qualidade do ensino e para uma incorporação das É em meio a essas questões que são
tecnologias digitais na práxis pedagógica construídos o imaginário social determinante da
brasileira, vistas enquanto um conjunto de forma como as TIC são utilizadas na escola. Essas
recursos estruturantes e desencadeadores de novas posturas fazem com que, em muitos casos, o
formas de relacionar-se com o saber, dão lugar a potencial das TIC seja percebido como meros
práticas pedagógicas onde a tônica é a forma livros didáticos animados e/ou apenas como um
tensionada pelas quais essas possibilidades são recurso sofisticado para acessar informações, fato
apresentadas e percebidas pelos currículos e que contribui para transformar os espaços onde
práxis docentes cotidianas. Dentre esses aspectos, são instalados em verdadeiros templos sacro-
destacarei alguns pontos, por considerá-los santos e invioláveis, onde o acesso dos alunos e
representativos desse universo tensionado: professores deve ser objeto de controle e regras
rígidas, ou, como o espaço ideal para onde os
• O uso de métodos e tecnologias professores devem encaminhar seus alunos
exógenas permeados pela ausência de quando pretendem livrar-se deles.
reflexão crítica sobre o real
significado e as possibilidades de uso Outro aspecto sob o qual faremos breve
das TIC para pensar a escola enquanto reflexão é a concepção arquitetônica desses
vetor para uma apropriação social, espaços, a forma como estes surgiram na escola,
técnica e cultural das tecnologias a quase sempre a partir de adequações e
partir de referenciais mais críticos; sobreposições realizadas em espaços físicos já
existentes para dar lugar aos espaços denominados
• O comprometimento da formação de “salas de informática”, onde os computadores
discente, a partir de métodos que foram instalados em formato de U8, ou
concebem as TIC como um fim, numa enfileirados no formato tradicional das salas de
perspectiva instrumentalizadora, aula. Esses seriam os locais que deveriam
desconsiderando os aspectos sociais, configurar-se enquanto “teleportos” por onde
políticos e culturais inerentes a esses deveriam incorporar-se ao cotidiano escolar os
processos; “000001111110000000111119” transportados
pelos fachos de luz transmitidos por suportes
• O engessamento curricular e ótico-digitais em forma de fios de cobre e/ou em
pedagógico, que ao invés de promover pares trançados, que conectam a escola aos
uma postura mais exploratória no universos cognoscentes e extramuros, concebidos
sentido de promover maior integração nos espaços desterritorializados da imensidão
entre diferentes conteúdos e áreas do digital que constitui o ciberespaço.
conhecimento, força uma prática
disciplinar e compartimentalizada, Sobre as possibilidades de apropriação
negando assim uma das características das novas mídias em universos interconectados
fundamentais das TIC, seu poder pela sociedade e a tendência natural de uma maior
comunicacional para integrar e apropriação pelos jovens Pretto e Bonilla (2008)
disseminar saberes; afirmam:

• A postura cética e distanciada, Com as novas mídias, com a conexão digital, a


adotada por muitos professores, que televisão – pela internet ou pelo celular -,
em muitos casos é fruto de novas redes começam, potencialmente, a se
inexistência ou inadequação na configurar e o principal, começam a ser
apropriadas especialmente pela juventude.
formação, do medo de interagir, das
Implantam-se redes de economias solidárias
incertezas, etc. Tais fatores são que articulam produtores distribuídos por
agravados pelo esmagamento da todos os cantos do país que, via rede, trocam

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que apenas o seu potencial estético é potencializado e Lay-out padrão dos ambientes informatizados em
disseminado, colocando em segundo plano os conteúdo escolas.
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para valorizar as formas. Código computacional em formato binário.
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experiências e sobrevivem ao mercado que muitos casos, fruto da própria tensão cotidiana
tudo buscam padronizar (p. 84). que se estabelece entre as formas de apropriação
preconizadas pelos currículos escolares e as práxis
Na contra-corrente dessas tendências, juvenis que caminham em sentidos opostos.
observamos que mesmo com o avanço das Considero que apesar dessa aparente divergência
possibilidades de conexão por meios de redes sem entre os modos de apropriação escolar e dos
fio e o surgimento de um sem número de jovens, com o passar do tempo torna-se inevitável
apetrechos digitais que apontam para universos uma simbiose decorrente do que denomino
comunicacionais cada vez mais intensos e contaminação/impregnação invisível e irreversível
interconectados, onde as barreiras espaço- que a escola sofre a partir do relacionamento
temporais são superadas a cada dia, não é fácil estabelecido com as diferentes formas de
romper a forma tradicional como esses espaços aprendizados e apropriações das TIC, vivenciadas
foram e ainda são pensados e apropriados pela pelos alunos, ocorridos em diferentes espaços para
escola. Formular estratégias capazes de estimular além de seus muros.
e encorajar o espraiamento10 das tecnologias para
todos os ambientes da escola é mais um desafio No universo da escola formal, o que
que se impõe aos pedagogos e professores observo é uma apropriação das diferentes
contemporâneos. Essa espécie de arrebatação11 da interfaces e estéticas das TIC de uma forma um
escola pelos universos digitais, conduzem-na para tanto fetichizada, sem maiores reflexões sobre as
um mundo onde as interações sociais ocorrerão transformações e efeitos que diferentes formas e
cada vez mais nesses universos complexos, mas, possibilidades de apropriação, ou, a ausência
que ainda não são percebidos e apropriados de dessa apropriação, pode provocar nos processos
forma adequada pela escola, onde as TIC, salvo sociais e culturais em que os alunos estão
poucas exceções continuam sendo utilizadas de inseridos.
forma finalística e apartada das questões culturais,
sociais e políticas que as permeiam. Um conjunto de variáveis complexas
nesse contexto, contribui para a inércia e/ou
Professores, pedagogos e outros atores manutenção do atual estado de coisas. Dentre elas,
sociais que interferem nas questões educacionais enumeramos: baixos salários; ausência de
devem estar atentos aos contextos em que autonomia escolar; ausência de políticas públicas
ocorrem as inovações metodológicas e bem formuladas e contínuas; opções equivocadas
tecnológicas de hardware, software e, às formas de governantes; ausência e/ou formação
contemporâneas pelas quais a comunicação instrumentalizada para pessoal de apoio técnico e
descentralizada e em rede interfere nas questões pedagógico; ausência de formação e reflexão
relacionadas à cultura e a sociedade. Acredito que crítica para os professores, dentre tantos outros
esse é um dos caminhos para a construção de fatores.
formas de intervenções capazes de favorecer as
apropriações mais críticas, onde as TIC possam Nesse fluxo de movimentos contrários e
ser compreendidas enquanto meios para conflitantes, onde os jovens apropriam-se de
estratégias inovadoras de relacionar-se com a recursos tecnológicos e informacionais de forma
informação e o conhecimento. inversa e mais criativa, muitas vezes conflitante
com as formas de apropriação propostas pelas
escolas, não é difícil detectar nas falas e ações de
TECNOLOGIAS, IDÉIAS E PRÁXIS EM discentes o seu desencanto, sobretudo, quando
MUTAÇÃO comparam o uso de computadores em espaços
escolares com o uso que fazem em espaços não-
Tais quais as tecnologias, as formas como escolares, tais como: salas de jogos em rede;
as incorporamos em nosso cotidiano e a práxis telecentros e outros espaços concebidos para uso e
pedagógica avançam. Esses avanços são, em apropriação de tecnologias como instrumentos de
comunicação, lazer e aprendizagem. Além disso,
10
Espraiamento no contexto que proponho significa não são comuns as propostas curriculares que
permitir que as TIC sejam incorporadas tanto aos proponham práticas dialógicas entre esses
espaços físicos quanto aos currículos escolares. universos, cada um é concebido para uma
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O termo arrebatar é empregado nesse contexto para
finalidade específica, e assim permanece.
significar a forma instantânea como a escola é atingida
pelas TIC, utilizando-se ou não das mesmas.
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Nos últimos anos, movidos pela compreendem e reconhecem a essência humana,


importância dispensada pela mídia ao assunto e presente em toda evolução técnica.
pela intensa utilização desses recursos, temos Invariavelmente, esse modo de pensar age a
observado o esforço e dedicação de muitos serviço dos interesses mercadológicos e dos
professores para apropriarem-se das técnicas mecanismos de produção e apropriação culturais
inerentes aos universos digitais e exógenos, que interessam aos pretensos detentores
comunicacionais. Entretanto, sua diversidade e dessas tecnologias.
velocidade de evolução, diferenciadas dos tempos
e desafios vivenciados por professores e alunos Milton Santos (2006), enxerga nas
nas escolas, torna impossível que os professores técnicas contemporâneas uma certa docilidade que
estejam sempre na vanguarda desses processos, poderá contribuir para o rompimento das formas
isso reforça ainda mais a nossa tese da inadequadas como são apropriadas em muitos
necessidade de apropriação crítica, que nesse casos.
caso, poderá funcionar como filtro para as
melhores práticas, dentre as muitas existentes. O grau de “docilidade” das técnicas
contemporâneas, que se apresentam mais
Esses filtros fazem-se necessários, pois, propícias à liberação do esforço, ao exercício
na maioria dos casos tais processos de mudança, da inventividade e à floração e multiplicação
das demandas sociais e individuais, conduzirá
inovações e surgimento de novos padrões
a um necessário e hoje possível renascimento
tecnológicos e/ou fluxos de informação, são da técnica (SANTOS, 2006, p. 143).
definidos segundo uma lógica de mercado que
atinge as escolas e seus membros de forma Nesse contexto, professores e alunos
subliminar e, na maioria das vezes, influenciam de geralmente são levados a pensar que é impossível
forma negativa, devido a inexistência de reflexão uma inserção/reflexão no/sobre o universo de
crítica sobre tais aspectos. Nesse sentido, faz-se produção de conteúdos digitais, pois, estes
necessário pensar a técnica a partir da ocorrem quase sempre a partir de lógicas
compreensão de seu real conceito, centralizadas e monopolistas, pensamento que
compreendendo a sua relação intrínseca com a considero refutável, devido às possibilidades de
vida e situando-a “no germe de um apropriações contra-hegemônicas, inerentes e
desenvolvimento lógico, que dialeticamente inseparáveis das TIC, cujos usos podem ser
conduzido, levaria a uma compreensível teoria amplamente verificadas no contexto
filosófica da técnica” (PINTO, 2005, p. 146). contemporâneo, por exemplo, o uso de blogs e
plataformas de mensagens instantâneas, para
Nesse sentido, é necessária uma reflexão denunciar desmandos de governos que às vezes
filosófica sobre o processo de hominização e de são ignorados pela grande mídia.
apropriação da técnica ao longo da história
humana, o que geraria a partir daí, mudanças em
nossa práxis e na forma como concebemos nossas SOBRE POSSIBILIDADES PARA UMA
apropriações das tecnologias ao longo da história, APROPRIAÇÃO TÉCNICA, CULTURAL E
passando a entendê-las como resultado natural do SOCIAL A PARTIR DA ESCOLA PÚBLICA
processo de contradição do homem com um meio,
e como significado histórico do sucesso resultante Propor uma atitude ativa e reflexiva na
do esforço humano para superar os desafios que a relação com as TIC, implica uma apropriação dos
natureza lhe impõe. recursos computacionais e comunicacionais como
meios para a produção e difusão de conteúdos a
Dentre as correntes de pensamento mais partir das práxis e realidades onde estão inseridos.
difundidas sobre a filosofia da técnica, Nesse sentido, faz-se necessário desenvolver as
predominam as que se prevalecem das grandes capacidades operacionais e as possibilidades de
estruturas midiáticas criadas para produção e uso e intervenção local a partir de uma
difusão de conteúdos ideológicos, operadas por apropriação que compreenda e busque articular as
governos e corporações multinacionais, a partir três vertentes enunciadas no título deste tópico: a
das nações hegemônicas centrais. Elas tendem a técnica; a cultural e a social.
compreender o conceito de tecnologia a partir de
pontos de vista quase totalitários, onde a lógica A vertente técnica, no sentido de oferecer
formal prevalece sobre as reflexões dialéticas, que aos professores e alunos os meios e possibilidades
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de formação para uma compreensão da disseminado enquanto bem comum e patrimônio


complexidade envolvida no seu funcionamento, cultural universal da humanidade.
para que o uso e a apropriação dos recursos
digitais não ocorra a partir do estabelecimento de Lessig (2004) formulou conceitos sobre
tensões e/ou de propostas mecanicistas e cultura livre, compartilhamento e disseminação de
instrumentalizadoras, sejam nos seus conhecimento a partir dos novos contextos
componentes de software, hardware e/ou em tecnológicos; sobre as práxis relacionadas a
relação às interfaces comunicacionais liberdade e cultura no ciberespaço ele diz que as
responsáveis pela interação entre as pessoas e os
universos virtuais. Culturas livres são culturas que deixam uma
grande parcela de si aberta para outros
Atualmente, práticas que propõem o uso e poderem trabalhar em cima; conteúdo
compartilhamento de softwares, hardwares e bens controlado ou que exige permissão, representa
muito menos da cultura. A nossa cultura era
culturais sob licenças GPL12 e iniciativas para
uma cultura livre, mas está ficando cada vez
facilitar o acesso a obras autorais como o Creative mais menos livre (p. 28).
Commons13, a partir de uma perspectiva
colaborativa e isentos de direitos de patentes, são Diante de um contexto em que o exercício
práticas louváveis e exemplos a serem praticados, de liberdades no ciberespaço caminha para
se desejarmos utilizar e compreender as TIC a cenários onde os conteúdos tendem a ser cada vez
partir de outras perspectivas, que não sejam mais controlados, uma postura escolar que aponte
apenas aquelas relacionadas às propostas para o enfrentamento a tal perspectiva de
mercadológicas vinculadas aos discursos que apropriação, ampliará as possibilidades de
conferem ao uso das TIC na escola apenas um aprendizagem e criação através desses meios, e,
papel formativo, destinado a qualificar para o contribuirá para uma utilização mais criativa
mercado de trabalho, conforme apontamos dessas técnicas, contribuindo para uma melhoria
anteriormente. das condições sociais e culturais. A apropriação
social está intimamente ligada à possibilidade de
Em uma perspectiva cultural é importante disseminação das técnicas e das informações que
observar que os avanços tecnológicos resultantes as TIC em potência podem fazer circular, e que
das conquistas humanas em seu processo de será neutralizada se prevalecer um ambiente de
hominização, conforme apontados por Pinto controle excessivo, contrárias à sua apropriação
(2005), são parte do conjunto das evoluções enquanto bem cultural universal, que só se
circunscritas no universo constitutivo dos traços concretizará a partir de pressupostos de uso livre,
culturais que caracterizam a vida em sociedade ao irrestrito, democrático, sem destinação de classe
longo da história. Estes traços culturais são ou de renda, onde a escola desempenha
constantemente utilizados como meios para novos importante papel para a consolidação.
avanços, numa contínua espiral recursiva de
criações e mutações, constantemente assimilados Por outro lado, se não pensarmos
e incorporados enquanto elementos para novas estratégias que permitam uma apropriação
manifestações e avanços tanto no campo da heterogênea, em um mundo onde as relações
técnica quanto no cultural e social. Assim, todo sociais são altamente estratificados e complexas,
aparato técnico produzido, que possa ser usado como na maioria das sociedades contemporâneas,
para a produção e o registro das manifestações da estaremos impedindo que imensas parcelas da
cultura de um povo, deve ser considerado e população (aliás, essa é a realidade atual em
relação ao uso e apropriação das TIC em quase
12
Sigla de General Public License (Licença Pública todas as regiões do globo) possam comunicar-se e
Geral), a licença utilizada pelas comunidades que expressar-se culturalmente de forma livre,
disseminam programas com o livre acesso ao código- compartilhando bens materiais e imateriais (sejam
fonte, como a Free Software Foundation (FSF). culturais e/ou tecnológicos), numa perspectiva de
13
O Creative Commons (CC) pode denominar tanto
produção cultural do conhecimento.
um conjunto de licenças padronizadas para gestão
aberta, livre e compartilhada de conteúdos e
informação, como a sinalização de permissão de uso Outro aspecto importante a ser
livre de determinada, obra, respeitados os limites considerado, é a possibilidade de uso desses
estabelecidos pelo seu autor. recursos enquanto meios para construção e
afirmação da cidadania e de organização da
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sociedade na busca por direitos civis, tão negados computacionais inteligentes, que segundo algumas
em sociedades como a brasileira. Consideradas dessas revisões, seriam capazes de verdadeiras
tais possibilidades, acredito que avançaremos para revoluções na forma de produzir e difundir
uma compreensão de que a relação entre Escola, conhecimento. Entretanto, cabe-nos alertar que,
TIC e sociedade não deve ser entendida apenas por enquanto, muitas dessas possibilidades
enquanto algo estanque e engessado. Ao contrário, existem apenas em potência, sua concretização
deve estar sempre evoluindo, por sua dependerá de nossas escolhas e das formas como
complexidade e caráter fluído, altamente mutante, nos apropriaremos das suas possibilidades
que não devem ser reduzidos a processos isolados pedagógicas nesse futuro cada vez mais presente.
e compartimentalizados.
Embora reconheçamos o estado da arte
dessas tecnologias do ponto de vista de seu
REFLEXÕES INCONCLUSAS SOBRE potencial técnico, é preciso estar atento para seu
ALGUMAS TENDÊNCIAS caráter hegemônico e para a sua subordinação às
forças motrizes do atual sistema-mundo, conforme
Encerrando essa breve reflexão sobre o apontou Santos (2006), vinculadas às concepções
percurso histórico recente da apropriação das TIC geopolíticas atuais. Cabe, então, para finalizar, a
pela escola e desejando abrir novos caminhos para formulação de algumas questões/reflexões que
reflexões futuras, resta-nos abordar algumas ainda pairam e para as quais ainda não se tem
tendências relacionadas à diminuição dos custos respostas:
de produção e ao aumento do poder de
processamento e armazenamento da informação 1) Como serão conduzidas as políticas de
dos dispositivos eletrônicos verificados formação de professores? Essas novas propostas
atualmente. Tal fato tornou o exercício da conseguirão superar o caráter instrumentalista e
fetichização tecnológica acessível a todos e a homogeneizado verificado até aqui?
escola não escapou a esse fenômeno. Lap-tops,
celulares, palms, netbooks14 e lousas de cristal 2) Como se dará a universalização do
líquido sensíveis ao toque, todos prometendo acesso e a condução das propostas para
conexão em banda larga à conteúdos educacionais possibilitar conexão de qualidade à internet,
pretensamente disponíveis na internet, além de sobretudo nos rincões ainda “não iluminados” e,
outros apetrechos digitais, são vistos como a por conseqüência, vítimas do apagão digital15?
última fronteira epistemológica no horizonte que
se anuncia. 3) Que estratégias serão traçadas para
superar a prática disciplinarizante como às TIC
Essas interfaces e espaços virtuais vem sendo apropriadas pela escola de forma a
atrelam-se a um sem número de hardwares e permitir maior autonomia e o seu espraiamento
dispositivos digitais diversos, fazendo surgir pelos espaços escolares, não só em relação às suas
propostas, muitas das quais especulativas, que possibilidades técnicas, mas também em relação
apontam para as magníficas possibilidades às curriculares?
advindas da interatividade, rapidez, inteligência
artificial, etc, da WEB 2.0 e das novas interfaces Reafirmamos, então, nossa descrença na
lógica disciplinarizante, por acreditar que a partir
14 de tal modelo não será possível conceber formas
Mini notebooks especialmente projetados para
de apropriação capazes de avançar no uso das
acesso à internet e uso em rede. Projetos nesse sentido
estão em Avaliação pelo MEC/Presidência da
técnicas digitais, propondo uma ressignificação
República e por centros de pesquisa localizados em das práxis atual, apontando para apropriações das
Universidades brasileiras. Pesquisadores denominam- TIC numa perspectiva capaz de provocar
no de UCA (Um Computador por A)luno, três modelos mudanças
de laptops estão em avaliação: o Class-mate, protótipo
baseado em tecnologias proprietárias com
processadores da Intel Inc.™; O XO, desenvolvido
pelo projeto OLPC/MIT (One Laptop Per Children do
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Massachusetts Institute of Techologies) com licença de Ser iluminado é o termo que os técnicos usam para
fabricação em caso de aprovação para a Quanta definir localidades com cobertura de redes sem fio.
Computers (empresa com sede em Taiwan); e o Nesse sentido, podemos afirmar que ainda vivemos
Mobilis, da Indiana Encore. num apagão digital.
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Por último, cabe reconhecer alguns estes também se configuram para mim apenas
avanços: temos mais computadores em escolas; como pistas que podem desvelar caminhos,
mais escolas conectadas; redes mais velozes; etc. certamente, em meio a muitos outros, ainda por
Entretanto, a lógica e a práxis disciplinar (que serem trilhados.
preconiza uma apropriação dos recursos das TIC
de forma compartimentalizada e estanque)
continuam intactas, imutáveis, incrustadas nos REFERÊNCIAS
currículos e na estética arquitetônica e espacial de
nossas escolas, de nosso quadro de horários, e, por FERNANDES, F. Ensaios de sociologia geral e
conseqüência, em nossos alunos e professores. aplicada. São Paulo. Pioneira 1960.
Essas breves reflexões sobre temáticas tão
complexas não se destinam a apontar soluções LESSIG, L. Cultura Livre: como a mídia usa a
definitivas, elas buscam apenas estimular uma tecnologia e a lei para barrar a criação cultural e
reflexão crítica e ativa sobre a temática, pois controlar a criatividade. Tradução de Fábio Emílio
acreditamos que comportamentos passivos não Costa. New York: The Penguim Press, 2004.
são adequados, se desejarmos avançar em direção
a práxis inovadoras, por isso, proponho uma PAPERT, S. A máquina das crianças. 2. ed.
reflexão ao leitor a partir de duas vertentes que Porto Alegre: Artmed, 2002.
considero importantes para o desencadeamento
dessas práxis inovadoras: PINTO, Á. V. O Conceito de Tecnologia. v. 1.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
• A necessidade de pautar novas
aprendizagens a partir de perspectivas PRETTO, N. de L. Políticas públicas
autorais e ativas, de forma a permitir aos educacionais: dos materiais didáticos aos
professores e alunos uma reflexão e visão multimídias.Trabalho apresentado na 22. Reunião
crítica a pautada em mais e melhores Anual da ANPED Caxambu-MG, 1999.
interações com esses espaços, sejam em
escolas ou em ambientes não-escolares, ______. Educação, comunicação e a ANPED:
como telecentros, casa de jogos, video- uma história em movimento. GT 16: Educação e
games, etc; comunicação. Trabalho apresentado na 20a.
Reunião Anual da ANPED Caxambu-MG, 2007.
• Pensar e propor dinâmicas que
contribuam para uma ressignificação pró- PRETTO, N. de L.; BONILLA. M. H.
ativa em relação aos conteúdos Construindo redes colaborativas para
produzidos, contribuindo assim para educação. Belo Horizonte: Revista Fonte –
despadronizar, desmistificando e Prodemge, 2008, dez, p. 83-87.
desfetichizando o que circula e é
apropriado a partir dos ambientes SANTOS, B. de. Souza. Os processos da
midiáticos interativos. Globalização. In: A globalização e as ciências
sociais. São Paulo: Cortez, 2002.
Essas são apenas provocações que faço,
na tentativa de mostrar o caráter infinito dessas SANTOS, M. Por uma outra Globalização: do
questões e a necessidade de reflexão constante pensamento único à consciência universal. 13. ed.
acerca da temática por parte de professores, Rio de Janeiro: Record, 2006.
alunos e profissionais de educação. Devo alertar
que ao apontar para a necessidade de tais posturas
reflexivas por parte de professores e alunos, o
faço também enquanto questionamentos, pois,

Informações do autor: doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da


Faculdade de Educação da UFBA. E-mail: doriedson.almeida@gmail.com

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