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Maria Fernanda Arruda: A Pátria

Educadora está formando


analfabetos; 75% dos brasileiros não
sabem ler adequadamente
27 de outubro de 2015 às 11h54

A pátria educadora está formando analfabetos

Por Maria Fernanda Arruda. no Correio do Brasil, em 23.10.2015

No seu nível inferior, a alfabetização rudimentar permite a leitura e


compreensão de títulos de textos e frases curtas, bem como a
compreensão de números menores e capacidade para operações
aritméticas básicas. Em seguida, a alfabetização básica, que permite a
leitura de textos curtos, extrair deles informações esparsas, mas não uma
conclusão sobre o que se leu.

A soma dos dois estágios ganha o nome de analfabetismo funcional. No


Brasil, em 2005, os dados disponíveis, indicam que ele chega a 68% da
população. Como 7% dela é composta por analfabetos, tem-se que 75%
dos brasileiros não sabe ler e escrever adequadamente.
Em 2012, o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa
informaram o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), mostrando 38%
dos estudantes universitários são analfabetos funcionais. Esses são
números que não surpreendem. Como assim?

É sabido, por exemplo, que menos de 10% dos advogados formados são
aprovados em provas de habilitação promovidas pela OAB; e a leitura de
uma mostra das provas escritas pelos candidatos deixa claro que em
torno de 40% deles é formada por analfabetos funcionais.

De acordo com a Constituição, a União é responsável por elaborar o


Plano Nacional de Educação, com a colaboração dos Estados e
Municípios. A União deverá organizar e manter órgãos de ensino,
compondo um sistema federal (basicamente, as Universidades Federais).

Os Estados, da mesma forma, irão organizar e manter órgãos de ensino,


concentrando sua ação direta no Ensino Médio.

Os municípios atuarão nos níveis de ensino fundamental (especialmente),


médio e educação infantil.

E assim coloca-se o primeiro problema: a descentralização constitucional


é totalmente irreal. As prefeituras mal mantém uma rede insuficiente de
creches e os prefeitos, em regra negociantes-políticos, associam-se às
empresas privadas que mercadejam ensino. Não são muitos os Estados
que contam com competências para organizar e manter escolas.

Com olhos para enxergar a realidade, não se pode negar que a grande
autoridade e responsabilidade pelo ensino devem ser de competência da
União, cabendo aos Estados e Municípios a execução de tarefas definidas
detalhadamente pelo Ministério da Educação (MEC).

O mal-feito constitucional tem permitido uma interpretação nebulosa


quanto às responsabilidades, inclusive no que diz respeito à rede privada
de ensino. As interpretações nebulosas são como regra mal intencionadas
e de conotação política.

Um caso gritante: o governo do Estado de São Paulo negou-se a cumprir


a determinação do MEC que torna obrigatórias as matérias de Filosofia e
Sociologia no Ensino Médio.
É que as escolas privadas orientam-se em primeiro lugar pelas
preferências ditadas pelo mercado (que é imediatista e consumista; no
caso, os pais), o que permitiu, por exemplo, a transformação do Ensino
Médio em “pré-vestibular”, uma vez que as famílias não estão
preocupadas na formação dos filhos, mas nas informações que os levem
à faculdade.

A criação de monstros, os universitários analfabetos funcionais, tem a sua


origem na desnaturação do Ensino Médio. A própria Constituição
reconhece a importância imensa desse nível de ensino, dando a ele a
responsabilidade pelo aprimoramento do educando como pessoa
humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico.

Para existir com qualidade, a Universidade precisa receber, não os


aprovados em vestibulares montados de forma convencional e primária,
mas os que tenham durante três anos aprendido a pensar criticamente,
para serem indivíduos e cidadãos maduros. Mas o desafio do vestibular
faz com que a grande maioria dos pais procurem as escolas que se
ajustaram para ser “cursinhos”.

Durante o governo FHC, o MEC, sob orientação de Paulo Renato Souza


preparou o cometimento do crime da privatização do ensino. Mas deixou
um legado positivo, na forma dos Parâmetros Curriculares que elaborou e
divulgou.

Esses parâmetros criaram a possibilidade de avanços muito expressivos


na orientação pedagógica e didática das escolas brasileiras, ensinando a
ênfase a ser dada aos chamados temas transversais, à
interdisciplinaridade, à contextualização, e valorizando a visão ética e a
pluralidade cultural.

Foi a partir daí que a História abandonou a versão anacronicamente


oficial, para abrir espaços para o papel desempenhado pelo povo
brasileiro, oferecendo aos alunos a possibilidade de aprender e valorizar
culturas, tanto as indígenas, como as africanas.

Os parâmetros propostos pelo MEC teriam colhido resultados muito


melhores, não fossem: aquela distribuição de atribuições definidas na
Constituição, já comentadas, e que obriga a ser dado a esses parâmetros
o caráter de propostas flexíveis; o irrealismo dos que imaginam fazer o
Brasil em Brasília; a aceitação do pressuposto neoliberal, segundo ele não
cabendo numa sociedade democrática a intervenção do Estado,

Cabe sim, e mesmo os governos do PT não se deram conta disso. O


Estado, eleito pelo povo democraticamente, traz consigo a proposta de
uma organização social e de Nação. E a escola precisa ser orientada para
a formação de indivíduos e cidadãos que possam conviver
harmoniosamente nessa sociedade nacional.

Toda a “paidéia” grega é orientada nesse sentido, levando à formação do


cidadão. O MEC nasceu em 1930 com esse objetivo e teve competência
para levar às escolas os valores culturais do povo brasileiro.

Sejamos coerentes. O Estado não pode aceitar a escola que transmita


valores culturais de outros povos, produzindo etnocentrismos
equivocados, que menosprezam a cultura nacional. O Estado não pode
aceitar escolas confessionais que reneguem a cultura nacional, que
transformem o Saci, o Curupira, a Iara … em símbolos demoníacos,
divulgando a intolerância religiosa.

A existência e convivência da escola pública e escola privada é histórica


no Brasil. Mas havia no MEC a competência para harmonização, definição
de currículos, aprovação de material didático a ser utilizado, cargas
horárias, qualificação dos professores. Não só eram emitidos normas e
procedimentos, como o MEC inspecionava as escolas e avaliava os
alunos.

Com a renúncia a essa autoridade, criou-se a liberdade de improvisação


comercial do ensino. Ainda durante grande parte do século XX, o Brasil
teve uma rede de escolas públicas de alta qualidade, juntando-se a ela o
conjunto de escolas privadas, mais frequentemente confessionais,
católicas, voltadas para educação das elites e por isso mesmo oferecendo
qualidade, somando-se a elas as que nasciam da vocação pedagógica de
professores competentes. O processo de aviltamento é recente.
A escola pública foi propositadamente empobrecida, colocando
professores, pagos miseravelmente e despreparados ao máximo do
absurdo, a lecionar em prédios impróprios, sujos, desequipados.

Objetivo alcançado: a escola pública é hoje sinônimo de falta completa de


qualidade. E enquanto isso, as facilidades e atrações criadas fizeram
proliferarem as escolas privadas, negócios montados por comerciantes
que querem ganhar dinheiro e fazer fortuna, tendo preterido o açougue
ou a quitanda para instalarem uma aparência de “escola”.

Os donos de escolas não precisam demonstrar competência para coisa


alguma, além das qualificações que os fazem argentários.

Nas escolas privadas, um professor, explorado ao máximo inaceitável,


deve ter três empregos, lecionar em três escolas, fazer 40 aulas
semanais, para ter padrão de vida de quase mendigo.

Essas escolas têm adotado cada vez mais a assessoria dos chamados
“sistemas de ensino”, conjunto de matérias pré-elaboradas, cadernos
para os alunos (material não submetido a exame pelo MEC) e mais
manuais dos professores, que são assim transformados em pequenos
“repetidores de aula”.

Restaram e muito poucas e caríssimas as escolas privadas de alto padrão,


destinadas com exclusividade às elites, formando elitistas, agrupando-os
em estamentos, preparando-os para gerir a Nação.

Pouco, quase nada, nada mesmo, para um Brasil que se apresentou


como Pátria Educadora.

Se pretendem enxergar e entender o Brasil, o MEC e o Governo devem


entender uma realidade que não chega até Brasília. Há o óbvio ululante:
a falta de recursos materiais e humanos, o que todos reconhecem. Mas é
o começo de um drama muito mais extenso.

O neoliberalismo de oito anos de governo fortaleceu uma rede de escolas


lastimável. Então, o que significa tornar obrigatórios o ensino de Filosofia
e Sociologia no Ensino Médio? Onde estarão os professores preparados
para assumir isso? Como fazer, se a escola privada não abre mão de 22
aulas semanais, contra aquelas 30, que existiram até recentemente?
Como adotar procedimentos e padrões competentes, se a escola está
preocupada em agradar à clientela, formada por pais criados à sobra das
ditaduras, primeiro a política, em seguida a mercadológica?

Pai de aluno quer vê-lo entrando na Faculdade, sem influências deletérias


de professores de esquerda; e já existem deputados bem orientados e
que estão empenhados em impedir isso, pleiteando o professor que seja
o antípoda do Professor.

Caso a Pátria Educadora possa oferecer creches em número suficiente


para mal abrigar todos os filhos de pais que vão para o trabalho; caso
adote sistemas de avaliação que levem a um rápido diploma; caso
dispense a participação dos pais e aceite a indisciplina e banditismos de
pequenos heróis-predadores; caso assegure a universidade para todos, e
então ela será reconhecida e elogiada por todos.

Reconheça-se: grande parte dos problemas educacionais no Brasil não


são mais do que problemas de má ou falta total de educação familiar.

Sociedade ainda estruturada nos moldes da casa grande & senzala, a


brasilidade armazena o ideal da ‘doutoragem’: o que não é doutor de
nada e por nada, mas que saiu de uma faculdade.

No mundo da República Velha, do mandonismo dos coronéis, os filhos


desnecessários ao zelo do patrimônio, ao menos doutores precisavam
ser. E o que mudou na modernidade dos nossos tempos?

Inevitável, a visão de mundo da casa-grande é hegemônica. Só o


trabalho do doutor advogado, ou médico, ou engenheiro é capaz de
enobrecer.

Muito abaixo disso ficam as pequenas profissões das classes médias que
precisam de ordenado a receber no fim do mês: bancários, balconistas,
enfermeiros e taxistas.

No final: a classe operária, segregada, posta nos bairros operários de


periferia.

Vetados a ela, sejamos claros e bem honestos: os bairros melhores, os


clubes, as livrarias (elas, também e sim senhor). Até o surgimento do
Bradesco do Amador Aguiar, operário não devia entrar em banco (anos
de 1960) e a lei mandava que ele fosse pago em moeda nacional
corrente.

Em meados dos anos de 1970, apenas entre os operários qualificados (já


experimentando nível salarial bem superior ao de gerente de banco)
havia uma porcentagem mais expressiva (algo como 40%) que aceitava
ter filho operário e sindicalizado.

Entre os semi-qualificados, a grande maioria do proletariado, não admitia


simplesmente essa hipótese: “trabalho para por o meu filho na
faculdade”.

Lula, torneiro mecânico, foi um operário qualificado. Lula, Presidente da


República quer a universidade para todos. E para isso criou o PROUNI, o
FIES.

Faltou quem lhe dissesse: “Lula, isso é utópico e uma utopia equivocada.
Primeiro, vamos lutar por uma sociedade democrática, botar abaixo os
valores da casa grande. É preciso antes ter uma democracia, para que
ela construa a universidade do povo e para o povo. A que está aí foi
criada pelas elites, para as elites e mais recentemente vulgarizada como
mais um produto de consumo, comprável a prestação”.

Na busca desse objetivo, o da “Universidade para Todos”, foram criadas


18 novas universidades, rompendo-se com a política neoliberal do
período FHC. Isso não foi entendido como suficiente, adotando-se então
o uso alternativo de universidades privadas.

Há nisso uma renúncia à qualidade? Fora de dúvida: mesmo as


universidades públicas enfrentam muitas carências, mas mantém sempre
padrões de seriedade e compostura. Mas, entre as 50 melhores,
conforme critérios do próprio MEC, apenas as Universidades Católicas e a
do Vale dos Sinos têm presença constante.

Ao prestigiar as universidades privadas, na sua grande maioria empresas


que fazem negócios de ensino, com a concessão de bolsas e
financiamentos, o MEC assume um triste papel de agente ativo em contos
do vigário: não estão dando nada de valor ao estudante brasileiro, mas
vendendo-lhe o sonho vão de ascensão social.
Na verdade, o MEC acaba instituindo um PROER dessas empresas, que se
dimensionaram para uma demanda inflada pelas facilidades criadas por
ele. Como resultado final é termos a formação em linha-de-montagem
dos analfabetos funcionais.

O excesso absurdo de facilidades embutidas no FIES foram recentemente


podadas e o sistema foi moralizado. Mas o grande problema permanece:
não é pelo caminho da “universidade para todos” que estarão sendo
abertos caminhos para integração social plena do povo.

A Universidade nasceu da iniciativa das elites e para as elites. É preciso


que se lute por uma estrutura social humana e justa, para que então o
povo construa a Universidade do Povo. Uma vez estivemos próximos
disso, com o modelo de Darcy Ribeiro para a Universidade de Brasília; a
gana com que a Ditadura a destruiu confirma isso.

Sempre existirá numa sociedade nova espaço para a atividade


acadêmica, que poderá ser exercitada então em moldes democráticos.
Mas não se confundirá com a formação técnica competente que
efetivamente qualifique o cidadão para ocupar e desempenhar com
eficiência funções no processo de produção de bens e serviços.

O modelo de Darcy Ribeiro contemplava isso e libertava o ensino técnico


da marca de inferioridade que a sociedade elitista impõe a ele.

Os governos do PT foram os primeiros a ter preocupação real com o


ensino a ser oferecido ao povo. Mas tiveram que se empenhar em
oferecer quantidade, que antes estava sendo quase nenhuma.

Quando a primavera voltar, deseja-se que se criem condições para


oferecer qualidade. Então, será necessário ser menos reformista e mais
revolucionário; não é a Universidade que construirá uma nova sociedade,
ela é que criará a nova Universidade.

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do


Brasil, sempre às sextas-feiras.

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