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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

TCSD
Nº 70057960007 (N° CNJ: 0520627-07.2013.8.21.7000)
2013/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.


QUEDA DE ARQUIBANCADA. EVENTO
“ARRANCADÃO. RESPONSABILIDADE DO
ENGENHEIRO QUE INSTALOU A ARQUIBANCADA
E DO MUNICÍPIO QUE AUTORIZOU O EVENTO EM
INOBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO VIGENTE.
CONFIGURAÇÃO DO DEVER DE INDENIZAR.
SOLIDARIEDADE.
Caso em que evidenciada a responsabilidade do
engenheiro codemandado que instalou a arquibancada
que ruiu em evento denominado “Arrancadão”, em
especial diante da prova pericial que constatou a
inobservância de normas técnicas de segurança, no
caso, a ausência de peças de contravento na região
de encaixe dos quadros metálicos de apoio dos
degraus, bem como a montagem em trecho íngreme
da via pública.
Responsabilidade do Município de Erechim pela
autorização indevida para a realização do evento,
mesmo ciente da situação irregular da promotora do
evento, a codemandada Liga Independente de
Automobilismo do RS, bem como pela inobservância
do disposto no art. 67, I, do CTB, evidenciando a
ilegalidade do ato administrativo que autorizou o
evento.
Responsabilidade solidária de todos os
codemandados, nos termos do art. 7º, parágrafo único
do CDC e art. 942 do CCB, não sendo caso de
individuação dos valores devidos pelos
codemandados.
DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS. MANUTENÇÃO.
Ausência de controvérsia recursal quanto à
configuração dos danos morais e estéticos.
Caracterizados os danos morais e estéticos, há de ser
fixada a indenização, observados os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, de modo que
com a indenização traga uma satisfação para o
ofendido, sem configurar enriquecimento sem causa,
e, ainda, uma sanção para o ofensor. Sopesadas tais
circunstâncias, se mostra adequada à manutenção da
verba indenizatória arbitrada na origem.
JUROS DE MORA. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO
PÚBLICO. ART. 1º-F DA LEI 9.494/97 COM
REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/09. TERMO
INICIAL.

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O valor da indenização deverá ser atualizado


monetariamente pelo IGP-M, ante a declaração de
inconstitucionalidade parcial do artigo 5º da Lei n.
11.960, de 2009, por arrastamento. Sobre a
condenação, incidirá, ainda, juros de mora de 1% ao
mês, a contar do evento danos (Súmula 54, STJ), até
a publicação da Lei n. 11.960, de 2009, quando, então,
passarão a incidir os juros aplicáveis à caderneta de
poupança.
À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO
APELO DE CODEMANDADO TIAGO JOSÉ
ZANETTE. POR MAIORIA, DERAM PARCIAL
PROVIMENTO AO APELO DO CODEMANDADO
MUNICÍPIO DE ERECHIM, VENCIDA A VOGAL QUE
PROVIA EM MENOR EXTENSÃO.

APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70057960007 (N° CNJ: 0520627- COMARCA DE ERECHIM


07.2013.8.21.7000)

TIAGO JOSE ZANETTE APELANTE

MUNICIPIO DE ERECHIM APELANTE

OLIMAR JOAO ZYS APELADO

LIGA INDEPENDENETE DE APELADO


AUTOMOBILISMO DO RIO GRANDE
DO SUL

SUL AMERICA SEGUROS DE VIDA E APELADO


PREVIDENCIA S A

ANDRE LUIS MENIN APELADO

GRACIANA LAZZAROTTO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


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Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento
ao apelo do codemandado Tiago José Zanette e, por maioria, dar parcial
provimento ao apelo do codemandado Município de Erechim, vencida a
vogal que provia em menor extensão.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE) E
DES. EUGÊNIO FACCHINI NETO.
Porto Alegre, 31 de janeiro de 2014.

DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY,


Relator.

RELATÓRIO
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)
De início, adoto o relatório da sentença:
“Trata-se de “AÇÃO INDENIZATÓRIA” ajuizada por ANDRÉ
LUÍS MENIN e GRACIANA LAZZAROTO contra OLIMAR JOÃO
ZYS, TIAGO JOSÉ ZANETTE, LIGA INDEPENDENTE DE
AUTOMOBILISMO DO RIO GRANDE DO SUL - LIA/RS,
MUNICÍPIO DE ERECHIM e o ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL. Na inicial, sustentaram, em síntese, que no dia 08 de agosto
de 2004 foi promovida na Rua Pernambuco, em Erechim,
competição desportiva denominada “Arrancadão”, como parte da
terceira etapa do campeonato estadual de arrancadas.
Deslocaram-se até o local com o intuito de prestigiar o evento, no
entanto, durante a realização do mesmo, inclusive antes de serem
iniciadas as provas de arrancada, houve a queda da
arquibancada onde estavam acomodados, o que causou tumulto
e lesões em várias pessoas, tendo o demandante André sofrido
lesões no pé direito e a autora Graciana estava grávida, tendo
sofrido abalo psicológico. Em razão da natureza das lesões,
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André foi atendido no Hospital de Caridade, tendo sido


imobilizado o seu pé e, após, realizado procedimento cirúrgico.
Sustentaram que cabia ao Município de Erechim fiscalizar e
impedir a realização do evento, porém concedeu autorização sem
que fossem observados os requisitos necessários. Mencionaram
que o Corpo de Bombeiros liberou a utilização da estrutura com
defeito, devendo também ser responsabilizado o Estado do Rio
Grande do Sul. Sustentaram que o engenheiro Tiago José Zanetti
foi o profissional responsável pela montagem da arquibancada
que ruiu e, portanto, também tem responsabilidade. Aduziram que
também são responsáveis a Liga Independente de Automobilismo
e seu presidente Olimar João Zys, os quais promoveram o evento.
Requereram a condenação dos demandados ao pagamento das
despesas com o tratamento até então efetuado e a continuidade
do tratamento médico-hospitalar, ambulatorial e terapêutico, bem
como qualquer procedimento necessário para a pronta
recuperação motora e estética do demandante, decorrente do fato
descrito na inicial; e ao pagamento de indenização por dano
moral, estético e motor/funcional. Pleitearam, ainda, o benefício
da AJG e acostaram documentos (fls. 30/452).
Foi deferida a gratuidade processual (fl. 453).
Citado (fl. 473v.), Olimar João Zys contestou (fls. 476/483),
sustentando, preliminarmente, sua ilegitimidade, aduzindo que é
apenas presidente da demandada LIA, não devendo responder
pessoalmente por eventual responsabilidade desta. No mérito,
alegou que a responsabilidade pelo ocorrido é integralmente do
público, que descumpriu a ordem direta de desocupar a
arquibancada quando determinado insistentemente através do
equipamento de som. Pugnou pelo acolhimento da prefacial ou,
em sendo outro o entendimento, pela improcedência da demanda.
Acostou documentos (fls. 484/485).
Citado (fl. 472v.), Tiago José Zanette apresentou
contestação (fls. 486/491). Alegou que não mantém vínculo com a
LIA/RS e foi contratado somente para a montagem da
arquibancada, composta de quadros metálicos e assentos de
madeira, tal como originariamente concebida, não tendo projetado
o conjunto e nem ter sido responsável pela aquisição dos
materiais empregados. Alegou ter cobrado apenas R$ 100,00
(cem reais) de honorários, sendo que, após montada, a estrutura
foi vistoriada pelo Corpo de Bombeiros e aprovada. Afirmou que a
queda não ocorreria em condições normais e que a causa foi o
excessivo número de pessoas e a falha da organização em
promover a retirada das pessoas do local. Salientou que eventual
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falha do projeto não lhe pode ser atribuída, pois apenas montou a
estrutura. Sustentou que, no caso de eventual condenação,
devem ser abatidos os valores recebidos a título de indenização
securitária, evitando-se o enriquecimento ilícito. Juntou
documentos (fls. 492/494).
Citado (fl. 459v.), o Município de Erechim apresentou
contestação (fls. 498/515), requerendo, preliminarmente, o
reconhecimento de sua ilegitimidade passiva, alegando que não
contribuiu para o evento danoso. No mérito, sustentou a
legalidade do ato administrativo, pois a LIA/RS teria formulado
solicitação que deu azo a processo administrativo, estando a
entidade ao abrigo da Lei nº 9.615/98, tendo sido cumpridas todas
as exigências. Destacou que a LIA/RS era a proprietária da
arquibancada e responsável por sua montagem. Asseverou
acerca da ausência de responsabilidade objetiva, pois não é
fornecedor, bem como ausência de nexo de causalidade entre
ações de agentes públicos e o sinistro. Afirmou que a
responsabilidade do sinistro é de terceiros, causa, portanto,
excludente de sua responsabilidade. Quanto ao pedido de
indenização por danos materiais e motores/funcionais, referiu que
as despesas da autora foram cobertas pelo plano de saúde que
mencionou possuir, também afirmou que não há comprovação
nos autos de que a autora trabalhasse anteriormente ao acidente
não lhe cabendo tal indenização. Relativamente aos danos morais
e estéticos, referiu que para eventual condenação, deve ser
observado se houve lesão aos direitos relacionados à
personalidade da autora, não podendo o município ser condenado
para tanto, visto que não era o responsável pelo evento.
Argumentou que, em caso de procedência do pedido, deverá ser
o mesmo adequado à realidade fática, a fim de não haver
enriquecimento ilícito. Requereu a total improcedência da
demanda e juntou documentos (fls. 516/630).
Citado (fl. 496v.), o Estado do Rio Grande do Sul apresentou
contestação (fls. 631/667), sustentando, preliminarmente,
ilegitimidade passiva, referindo que o evento danoso não foi
ocasionado por ação ou omissão de qualquer agente público
estatal. Referiu que o Corpo de Bombeiros limita-se a fiscalizar e
aprovar as condições de prevenção e proteção contra incêndios.
No mérito, sustentou que o evento danoso decorreu de falhas nas
ações dos demais co-demandados, inexistindo nexo de
causalidade entre a ação ou omissão do ente público estatal e o
acidente relatado na inicial. Postulou pela sua exclusão do polo

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passivo da demanda ou, no mérito, pela improcedência da ação.


Juntou documentos (fls. 668/678).
Citada (fl. 475v.), a Liga Independente de Automobilismo do
Rio Grande do Sul – LIA- RS apresentou contestação (fls.
704/714), requerendo, preliminarmente, a denunciação da lide à
América Seguros de Vida e Previdência S.A. No mérito, afirmou
que tomou todas as precauções legais exigidas para a boa
realização do evento e que a causa dos ferimentos se deu por
culpa exclusiva da autora, que ignorou a ordem de desocupar a
arquibancada. Requereu o acolhimento da preliminar e, no mérito,
a improcedência da demanda. Juntou documento (fl. 715).
Réplica às folhas 680/692.
Em decisão saneadora, foi deferida a denunciação da lide à
Sul América Seguros de Vida e Previdência, bem como
postergada a análise das preliminares ventiladas pelos
demandados por ocasião da sentença (fl. 721).
Citada (fl. 727), a Sul América Seguros de Vida e
Previdência S.A. apresentou contestação (fls. 729/737), arguindo,
preliminarmente, a conexão da presente demanda com outras que
foram propostas, onde a causa de pedir é a mesma. Pugnou pela
reunião das ações. No mérito, alegou a improcedência da
denunciação da lide, pois o seguro contratado só tem cobertura
para morte e invalidez permanente, que não é o caso dos autos, e
com limite individual de R$ 3.000,00 para cada risco. Mencionou
que não cabe a aplicação de indenização por danos morais e
materiais, visto que não há comprovação dos mesmos. Aduziu
que as verbas pleiteadas não estão cobertas pela apólice. Juntou
documentos (fls. 738/755).
Manifestação do Ministério Público às fls. 768/773.
Foi deferida a produção de prova emprestada oriunda da
ação coletiva (fl. 797), a qual foi anexada aos autos (fls. 801/829).
Deferida a realização da prova pericial, bem como
designada audiência (fls. 863/863v.).
Realizada audiência de instrução (fl. 894), foram ouvidas
duas testemunhas (fls. 895/898).
Após a formulação de quesitos, sobreveio laudo pericial às
folhas 959/962, tendo as partes apresentado manifestações (fls.
964/965, 966/969, 972 e 973).
O Ministério Público declinou da intervenção (fls. 974/974v.).
Encerrada a instrução (fl. 975), as partes apresentaram
memoriais (fls. 979, 980/985, 986/988, 989/990, 991/995 e
996/998).”

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Sobreveio dispositivo declarando a parcial procedência dos


pedidos, nos termos do dispositivo:
“ANTE O EXPOSTO:
a) com fundamento no art. 269, inciso I, do Código de
Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação
proposta por ANDRÉ LUÍS MENIN e GRACIANA LAZZAROTO
em desfavor do MUNICÍPIO DE ERECHIM, LIGA
INDEPENDENTE DE AUTOMOBILISMO DO RIO GRANDE DO
SUL - LIA/RS, OLIMAR JOÃO ZYS e TIAGO JOSÉ ZANETTE
para o fim de CONDENAR os demandados à obrigação solidária
de indenizar os danos materiais causados aos requerentes, em
relação às despesas já realizadas, no montante de R$ 1.911,85
(um mil novecentos e onze reais e oitenta e cinco centavos),
devendo ser corrigidos pelo IGP-M, a contar do desembolso e
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação;
CONDENO, ainda, os demandados supra referidos,
solidariamente, ao pagamento dos danos morais causados ao
requerente André, fixados em R$ 20.000,00 (vinte mil reais); e
danos estéticos, estes arbitrados em R$ 10.000,00 (dez mil
reais). O valor do dano moral devido à autora Graciana é fixado
em R$ 7.000,00. As quantias serão corrigidas pelo IGP-M e
acrescidas de juros de mora de 1% ao mês, a contar do evento
danoso até o efetivo pagamento.
b) com fundamento no artigo 267, inciso VI, do CPC, JULGO
EXTINTA a presente ação ajuizada por ANDRÉ LUÍS MENIN e
GRACIANA LAZZAROTO em desfavor do ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL, em virtude do acolhimento da prefacial de
ilegitimidade passiva;
c) com fundamento no art. 269, inciso I, do CPC, JULGO
IMPROCEDENTE a lide secundária proposta em face da SUL
AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S/A.
Custas processuais da ação indenizatória na proporção de
60% pela parte autora, em razão do acolhimento da preliminar de
ilegitimidade passiva do Estado do Rio Grande do Sul e da parcial
procedência do pedido; e os 40% restantes pelos demandados
Município de Erechim, LIA/RS, Olimar João Zis e Tiago José
Zanette, em proporção.
Quanto aos honorários do perito, arbitrados em R$ 350,00,
nos termos do Ato nº 051/2009-P, considerando que a prova foi
postulada pela parte autora na inicial, que litiga sob o abrigo da
AJG, e pela Sul América Seguros, que foi vencedora em sua
postulação, encaminhe-se pedido de pagamento conforme
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determina referido ato, após solicitados os dados para depósito da


quantia ao perito.
Arbitro honorários advocatícios, em R$ 2.500,00 (dois mil e
quinhentos reais), a serem suportados pelas partes sucumbentes
acima, igualmente em proporção ao decaimento do pedido (art. 23
do CPC), suspensa a exigibilidade em relação à autora, a Tiago
José Zanette e a Olimar João Zys, tendo em vista a gratuidade
processual que ora defiro a estes e deferida à requerente na fl.
453 .
Relativamente à lide secundária, custas pela denunciante
LIA/RS, bem como honorários advocatícios, estes fixados em R$
800,00 (oitocentos reais), tendo em vista a baixa complexidade da
causa e o trabalho do profissional desenvolvido nos autos, nos
termos do artigo 23 do CPC.”

Inconformados, os codemandados Tiago José Zanette e


Município de Erechim interpõem recurso de apelação.
Tiago José Zanette, em suas razões recursais (fls. 1015/1025),
sustenta não possuir responsabilidade pelo evento danoso, pois contratado
somente para montar a arquibancada composta de quadros metálicos e
assentos de madeira, não tendo assumido qualquer responsabilidade pela
fiscalização da utilização desta. Afirma que o serviço foi realizado de forma
satisfatória, com a higidez da estrutura aprovada pelo Corpo de Bombeiros
previamente ao evento. Alega que a causa eficiente da queda da
arquibancada foi o excessivo número de pessoas e a falha da organização
do evento em não promover a retirada das pessoas quando a estrutura deu
sinais de que não agüentaria o esforço, transcrevendo trecho da prova oral.
Aduz que o parecer técnico acostado pelo demandado contrapõe as
conclusões da perícia extrajudicial realizada pelo IGP. Argumenta ser
indevida a sua condenação na mesma proporção dos demais
codemandados, defendendo ter menor responsabilidade pelo evento danoso
em relação aos demais. Pugna pela incidência dos juros de mora a contar do
arbitramento. Requer o provimento do apelo.

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O Município de Erechim, em suas razões recursais (fls.


1026/1046), sustenta a ausência de responsabilidade pelos danos sofridos
pelos autores, pois não promoveu o evento automobilístico objeto da lide,
apenas autorizando sua realização, tendo agido da forma usual e na
conformidade da lei. Alega que a perícia técnica concluiu que a causa do
acidente foi a deficiência da estrutura da arquibancada montada e a
instalação em trecho inclinado em via pública, não fazendo parte de suas
atribuições a vistoria das arquibancadas. Afirma que a responsabilidade
pelos danos é dos codemandados LIA-RS e do engenheiro Tiago José
Zanette, e da seguradora que se responsabilizou pela reparação dos danos
pela cobertura securitária. Argumenta que fato da codemandada LIA-RS não
ter registro na Confederação Gaúcha de Automobilismo ou na Confederação
Brasileira de Automobilismo não tem o condão de atribuir ao Município o
dever de indenizar as vítimas do acidente, posto que a codemandada
LIA/RS não estava em situação irregular, nos termos da Lei 9.615/98, e que
a autorização para a realização da prova deu-se em conformidade com o
CTB. Refere não haver nexo de causalidade entre a conduta da
municipalidade e os danos sofridos, pois não era responsável pela
fiscalização das arquibancadas, agindo em conformidade com a lei no
tocante à autorização pelo evento, acrescentando que não pode ser
considerado fornecedor de serviços. Assevera que a culpa recai sobre a Liga
Independente de Automobilismo do Rio Grande do Sul, sobre o engenheiro
Tiago José Zanette e sobre o Estado do Rio Grande do Sul, o qual, através
do Corpo de Bombeiros, liberou a estrutura da arquibancada, fazendo
menção ao termo de responsabilidade assinado pelo presidente da LIA/RS,
defendendo a excludente de culpa de terceiro. Sustenta a inexistência dos
pressupostos da responsabilidade civil quanto ao Município. Pugna,
subsidiariamente, pela minoração do valor das indenizações, e pela
incidência do disposto no art. 1º-F da Lei 9.494/97, com a redação dada pela
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Lei 10.960/09, quanto aos consectários de mora. Requer o provimento do


apelo.
Apresentadas as contrarrazões pelos codemandados LIA/RS e
Olimar (fls. 1050/1052) pela seguradora denunciada à lide (fls. 1053/1061) e
pelos autores (fls. 1062/1076), subiram os autos a este Tribunal e vieram a
mim distribuídos por sorteio.
Após parecer do Ministério Público pelo conhecimento e parcial
provimento do apelo (fls. 1080/1092v), vieram os autos conclusos.
Registro terem sido cumpridas as formalidades dos artigos 549,
551 e 552 do CPC, considerando a adoção do sistema informatizado.
É o relatório.

VOTOS
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)
Eminentes Colegas.
Conheço dos recursos, porquanto preenchidos os
pressupostos de admissibilidade.
Cuida-se de ação em que os autores postulam a condenação
dos demandados ao pagamento de indenização pelos danos morais e
estéticos sofridos em 08.08.2004, quando da queda da arquibancada em
evento denominado “Arrancadão”, devidamente autorizado pelo Município de
Erechim, promovido pela codemandada Liga Independente de
Automobilismo do Rio Grande do Sul – LIA/RS, arquibancada esta montada
pelo engenheiro codemandado Tiago José Zanette. Diante da parcial
procedência dos pedidos, recorrem os codemandados LIA/RS e Tiago José
Zanette sustentando a ausência de responsabilidade pelo evento danoso.
Cumpre consignar que o fato jurídico que ampara a pretensão
já foi objeto de análise por esta Colenda Nona Câmara Cível quando do
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julgamento de Ação Coletiva ajuizada pelo Ministério Público contra os


mesmos demandados, na qual definida a responsabilidade de cada um dos
participantes pelo evento danoso.
Dessa forma, a fim de evitar desnecessária tautologia, e
mantendo o entendimento já manifestado quando do julgamento da
apelação cível nº 70036942381 nos autos da referida ação coletiva em que
atuei na condição de Revisor, sob a Relatoria da eminente Desª. Marilene
Bonzanini, peço vênia para transcrever trecho de seus fundamentos na parte
em que analisa a responsabilidade dos ora apelantes pelo evento danoso,
fazendo-os parte integrante de minhas razões de decidir:
O Código do Consumidor, em seu artigo 7º, parágrafo único,
disciplina a legitimação passiva, em casos como o ora analisado,
dispondo que “tendo mais de um autor a ofensa, todos
responderão solidariamente pela violação das normas de
consumo”.
Assim, todos os envolvidos na prestação do serviço ou
fornecimento do produto, no caso, na realização do evento dito
“Arrancadão”, são igualmente responsáveis pelos danos
originados.
A responsabilidade do Município de Erechim, como
assentado, decorre de haver autorizado a realização do evento
ciente previamente das irregularidades. E o engenheiro Tiago
José Zanette é igualmente responsável pois a perícia foi
categórica na indicação das falhas técnicas de projeto e
montagem da arquibancada, nenhuma causa de exclusão tendo
sido demonstrada de molde a afastar o nexo de causalidade entre
os dois comportamentos lesivos e culposos.
Nesse sentido, modo igual, com percuciência destacado
enfaticamente a legitimação passiva pela já citada Procuradora de
Justiça, nas fls. 652/664:

“(...). Nos termos do artigo 7º, parágrafo único, do CDC, “tendo


mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela
violação das normas de consumo”, de sorte que, havendo dano
experimentado em decorrência de relação de consumo, não há dúvida
da legitimidade passiva de todos aqueles envolvidos na prestação do
serviço ou no fornecimento do produto, ou seja, que contribuíram na
causação do resultado.

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No caso dos autos, nessa linha, não há como excluir a


responsabilidade do Município de Erechim e do engenheiro Tiago José
Zanette, responsável pela montagem da arquibancada, não tendo sido
comprovadas quaisquer causas de exclusão desses réus do nexo de
causalidade que acarretou o sinistro ocorrido no evento “Arrancadão”.
Vale, a propósito, transcrever parte das percucientes razões de
apelação do Ministério Público de 1º Grau, da lavra do operoso
Promotor de Justiça João Francisco Campello Dill, que, analisando a
prova constante dos autos, obtempera:

“2.2.1. Do acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva


suscitada pelo Município de Erechim:
O douto Magistrado, ao proferir a sentença recorrida, acolheu
questão preliminar ventilada pelo Município de Erechim, afastando-o do
pólo passivo da ação e extinguindo-a sem resolução de mérito quanto
ao ente público demandado.
Para embasar sua decisão, o julgador, muito embora não tenha
afastado a responsabilidade civil do Município de Erechim pelos danos
decorrentes do acidente de consumo objeto da presente demanda,
considerou, sem apresentar fundamentos de direito, que o ente público
não pode figurar na relação de consumo, uma vez que não se enquadra
na condição de fornecedor, motivo pelo qual sua responsabilidade
cingir-se-ia à responsabilidade administrativa, cujo reconhecimento
somente pode se dar mediante o ajuizamento de ações individuais
pelos interessados. E, neste contexto, concluiu que o Ministério Público
não possuiria legitimidade para ajuizar demanda coletiva contra o
Município.
Completamente desprovido de razão o Magistrado a quo, indo sua
decisão de encontro com as normas e princípios insculpidos na
legislação consumerista e com os elementos produzidos nos autos,
merecendo, por conseguinte, reparo.
O Município de Erechim, na oportunidade em que contestou a
ação, suscitou preliminar de ilegitimidade passiva, aduzindo, para tanto,
que, por não se tratar de fornecedor, não poderia integrar a relação de
consumo, o que afastaria sua responsabilização por danos decorrentes
do acidente de consumo objeto do feito em tela.
Além de ter sustentado que não pode ser enquadrado no conceito
de consumidor, o Município aduziu outros argumentos que impediriam
que ele fizesse parte da relação de consumo em tela, quais sejam: de
que o ato administrativo mediante o qual foi autorizada a realização do
evento “Arrancadão” teria sido praticado mediante observância estrita
ao princípio da legalidade; de que, após autorizar a realização de
evento, teria adotado as medidas necessárias tendentes a fiscalizá-lo;
de que não teria praticado qualquer ação ou omissão que possua nexo
de causalidade com o acidente de consumo, sustentando, ainda, que
estaria abrigado por excludente da responsabilidade civil, uma vez que
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não colocou produto no mercado e que o acidente teria decorrido de


culpa exclusiva de terceiros.
Contudo, consoante já sustentado pelo Ministério Público em sede
de réplica, todos os argumentos acima referidos não encontram
fundamentos que os embasem, não podendo, por conseqüência, dar
ensejo à exclusão do Município de Erechim do pólo passivo da ação.
Com efeito, na senda da argumentação articulada na peça
inaugural, o Município de Erechim possui responsabilidade direta pelo
acidente de consumo ocorrido no evento “Arrancadão”, de forma que
sua responsabilização origina-se dos fatos de ter autorizado a co-ré LIA-
RS a organizar e promover tal evento em desacordo com as normas
previstas na legislação pertinente e de não ter fiscalizado a organização
do referido evento.
A respeito disto, ao contrário do que afirmou o ora recorrido, o ato
administrativo mediante o qual foi autorizada a realização do evento
automobilístico foi praticado em afronta ao princípio da legalidade.
Efetivamente, no curso das investigações levadas a efeito no
Inquérito Civil que instrui a inicial, constatou-se que a demandada LIA-
RS trata-se de uma liga de automobilismo que não efetuou o registro e
arquivamento de seus estatutos junto à Confederação Brasileira de
Automobilismo, assim como não o fez junto à Federação Gaúcha de
Automobilismo, conforme documentos das fls. 23 e 26 do expediente
investigatório em apenso.
A referida irregularidade foi comunicada ao Município de Erechim
pela Federação Gaúcha de Automobilismo, a qual alertou a
Administração Municipal acerca do fato de a LIA-RS não se encontrar
devidamente registrada, seja junto a ela, seja junto à Confederação
Brasileira de Automobilismo, e isto por não atender aos requisitos
legalmente exigidos para sua constituição (fls. 19/23 do expediente
investigatório em apenso).
A situação irregular da LIA/RS e a sua comunicação ao Município
de Erechim foram integralmente confirmadas em Juízo por NESTOR
VALDUGA, Presidente da Federação Gaúcha de Automobilismo (fls.
504/505), o qual também prestou esclarecimentos acerca da legislação
que regulamenta a realização de eventos automobilísticos e dos
critérios que devem ser observados para tal fim, quando o evento
ocorrer na via pública.
NESTOR afirmou que:
O único envolvimento que a gente tem com o fato é que eu sou
Presidente da Federação Gaúcha de Automobilismo e na época quando
a Federação tomou ciência dessa prova, nós comunicamos o município
de Erechim e demais autoridades locais de que a Liga Independente era
órgão não reconhecido no Brasil como promotora de automobilismo.
Nós então enviamos uma série de documentos à prefeitura solicitando
cancelamento da prova, pois nós não acreditávamos de que ela
dispusesse de toda a segurança necessária. Nosso esporte é um
esporte de alto risco, principalmente quando realizado em vias públicas
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e é o único envolvimento que a gente tem. A gente tentou trancar a


prova e não foi acatada a nossa solicitação.(grifou-se).
Ao ser questionado acerca do procedimento necessário para que
uma entidade ligada ao automobilismo seja regular, a testemunha
respondeu:
Bom, vou falar dentro do meu conceito, é o piloto, o clube, a
Federação Estadual e a Confederação, essa é a escada de
funcionamento do automobilismo. Existe uma possibilidade de filiar ligas
na Confederação Brasileira de Automobilismo, mas essa ligas
dependem de que faça parta das ligas clubes estaduais e aí sim pode
fazer a filiação à Confederação e essa liga independente nunca foi
filiada à confederação, ela sempre trabalhou na clandestinidade. Esse
não é o único fato que aconteceu com eles. Nós tivemos inúmeros fatos
em que a irresponsabilidade imperou durante os eventos e a gente
sempre tentou trancar, mas infelizmente algumas vezes a gente não
consegue.(grifou-se).
Nestor destacou que a LIA/RS não possui estatuto registrado junto
à Confederação de Automobilismo, dizendo que: “Ela não tem nenhum
vínculo com o automobilismo brasileiro.” (fl. 504).
Perguntado se uma liga na situação da LIA/RS pode promover
eventos automobilísticos, Nestor afirmou: “De jeito nenhuma. Isso está
bem claro na lei.”. Esclareceu, ainda, que, toda a vez em que um evento
automobilístico vier a ser promovido por uma liga, é imprescindível, de
acordo com a legislação vigente, a aprovação da Federação ou da
Confederação de Automobilismo, de uma ou de outra.
Inquirido especificamente se a questão supra havia sido informada
ao Município de Erechim, Nestor aduziu: “Exatamente, ao prefeito. Deve
existir dentro dos autos toda essa correspondência.” (grifou-se).
Ao responder à questão referente a quem compete a derradeira
decisão acerca da autorização de um evento automobilístico, a
testemunha esclareceu:
Normalmente, é um fato importante que eu deixe claro é que,
quando chega no nosso conhecimento, já está muito em cima da hora
porque eles têm, eles usam desse artifício de não divulgar com
antecedência. Eles fazem uma divulgação fechada e aí a gente fica
sabendo normalmente na quarta ou na quinta-feira. Nesse caso a gente
ficou sabendo antes porque em Erechim tem um clube filiado à
Federação e a Confederação muito forte que faz inclusive eventos
internacionais e aí o pessoal do clube nos avisou. Nós envolvemos
inclusive a Confederação na época para tentar segurar esse prova e
infelizmente a prefeitura autorizou igual.
Assim, inarredável o fato de que a Administração Municipal
possuía plena ciência da situação irregular da LIA/RS antes de autorizar
a realização do evento “Arrancadão”, fato que, apesar da sucinta
fundamentação, foi reconhecido pelo Magistrado a quo.
Os fatos até então articulados implicam a responsabilização do
Município de Erechim, uma vez que, de acordo com o artigo 67, inciso I,
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do Código de Trânsito Brasileiro, provas ou competições


automobilísticas somente podem ser realizadas, em via aberta à
circulação, mediante prévia permissão da autoridade com circunscrição
sobre a via (no caso, o Prefeito Municipal), e dependerão de
autorização expressa da confederação desportiva ou de entidades
estaduais a ela filiadas.
A respeito disto, oportuno analisar o argumento defensivo no
sentido de que a exigência contida no Código de Trânsito Brasileiro,
relacionada com autorização da confederação desportiva para a
realização de evento automobilístico, teria sido revogada pela Lei n.º
9.615/98, a qual não exige que as ligas desportivas filiem-se ou
vinculem-se a entidades nacionais de administração do desporto.
Efetivamente, referido diploma legal faculta às ligas desportivas a
vinculação às confederações nacionais de desporto, o que importa dizer
que as primeiras podem existir legalmente e desenvolver suas
atividades ainda que não se encontrem registradas na respectiva
confederação desportiva. Porém, isso não implica dizer que a Lei n.º
9.615/98 tenha revogado, tacitamente, o inciso I do artigo 67 da Lei n.º
9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), pelo simples fato de ter
entrado em vigência em data posterior à de entrada em vigência da
última.
O conflito de normas delineado não pode ser resolvido da forma
simplória exposta pela defesa do Município ora recorrido, por meio da
aplicação do princípio que preceitua que a lei mais nova revoga a mais
antiga.
Isto porque as referidas leis tratam-se de leis especiais que não
regem a mesma matéria, portanto somente se poderia cogitar a
hipótese de revogação do aludido dispositivo do Código de Trânsito
Brasileiro, por meio da edição da Lei n.º 9.615/98, caso esta tivesse
revogado expressamente o primeiro.
Dessarte, o conflito aparente de normas deve ser solucionado
através da aplicação dos princípios da especialidade e da continuidade
da lei, concluindo-se que, por tratar-se a Lei n.º 9.503/97 de lei especial,
e por não ter ocorrido sua revogação expressa através de lei posterior,
continua ela em vigência.
De outra banda, não bastasse a ilegalidade relacionada com o
fato de a LIA-RS não possuir registro junto à Confederação Brasileira de
Automobilismo, o parágrafo único do artigo 67 do Código de Trânsito
Brasileiro dispõe que a autoridade com circunscrição sobre a via deve
arbitrar valores mínimos da caução ou fiança e do contrato de seguro.
E, conforme se constata da análise do processo administrativo no qual
foi autorizada a realização do evento, o Executivo Municipal não arbitrou
referidos valores, tendo apenas exigido a confirmação da apólice de
seguro (fl. 132, do expediente investigatório em anexo), seguro este
que, salienta-se, somente contempla o pagamento de prêmio para os
eventos morte e invalidez permanente.

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Considerando as irregularidades supra apontadas, e estando


demonstrado que o inciso I do artigo 67 do Código de Trânsito Brasileiro
encontra-se em plena vigência, fica estreme de dúvida a ilegalidade do
ato administrativo que autorizou a realização do evento “Arrancadão”, o
que, por conseqüência, importa na responsabilidade direta do Município
de Erechim pelo acidente de consumo nele ocorrido.
Ademais, após autorizar a realização do evento, o Município não
fiscalizou a estrutura montada para tal fim, tanto que, após o acidente,
verificou-se a ocorrência de falha técnica na estrutura das
arquibancadas sem que a Administração Municipal tenha tomado
qualquer providência prévia que a tivesse constatado e corrigido.
Nesse diapasão, demonstrada está a impertinência de toda a
argumentação sustentada pelo Município de Erechim no sentido de que
este não teria praticado qualquer ação ou omissão que possua nexo de
causalidade com o acidente de consumo e de que estaria abrigado por
excludente da responsabilidade civil, uma vez que o acidente teria
decorrido de culpa exclusiva de terceiros.
A respeito do assunto, oportuno referir que essa Egrégia Corte, ao
julgar a Apelação Cível n.º 70015001233, atacando decisão proferida
em mandado de segurança que considerou ilegal ato praticado por
Comandante do Corpo de Bombeiros do Município de Três Passos que
exigiu a apresentação de Plano de Prevenção Contra Incêndios para a
realização de evento para cerca de 5.000 pessoas a ser promovido pela
Primeira Igreja Batista de Três Passos, como condição para a sua
realização. Em Primeiro Grau de Jurisdição, foi deferida liminar,
autorizando a nominada Igreja a promover a realização do evento, que
foi levada a efeito.
Na apreciação do mérito do recurso, os eminentes
Desembargadores da Terceira Câmara Cível dessa Corte lhe deram
provimento, entendendo não haver qualquer ilegalidade ou abuso no ato
da autoridade coatora. E, para fundamentar a decisão, destacaram que
o evento previa a presença de milhares de pessoas e que a Igreja que o
estava promovendo possuía a obrigação de atender as requisitos
exigidos pela lei, in casu, a Lei Estadual n.º 10.987/97, tendo em vista a
sua regularidade e a garantia da segurança do público, destacando que,
caso o Poder Público agisse de forma diversa, seria civilmente
responsável por eventual acidente que viesse a ocorrer que tivesse
relação com a inobservância da legislação pertinente, respondendo
pelos danos sofridos pelas vítimas.” (fls. 565/573, grifos no original)
(...)
“Dito isto, impõe-se abordar a questão relacionada com o amparo
legal da inclusão do Município na relação de consumo em apreço, o que
exige uma análise sistêmica de alguns dispositivos previstos no Código
de Defesa do Consumidor, a partir do que será possível concluir que o
ente público demandado integra sim a relação de consumo objeto da
ação em tela, ao contrário do entendimento adotado pelo Magistrado a
quo.
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Em que pese o Município de Erechim efetivamente não se


enquadre no conceito de fornecedor (argumento que consiste no
principal fundamento da decisão recorrida), o ente público integra a
presente relação de consumo em decorrência da regra positivada no
artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor, mediante o qual o
legislador incluiu o Estado, em sentido lato, nas relações de consumo,
determinando que este possui a obrigação de atuar no mercado de
consumo, visando a garantir que os direitos básicos do consumidor,
entre eles, os direitos de proteção à vida, à saúde e à segurança e da
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais em morais, sejam
respeitados.
À luz da citada norma consumerista, o Município de Erechim
possuía a obrigação legal de fiscalizar o evento “Arrancadão e de ter se
valido dos poderes que lhe conferem condição de supremacia em face
dos administrados para o fim de impedir sua realização, o que não
ocorreu, já que o demandado não somente a autorizou, irregularmente,
uma vez que foi desrespeitada a legislação pertinente, como não
fiscalizou a estrutura montada para o público, que, conforme
comprovado nos autos e reconhecido em sentença, possuía vício de
segurança que deu causa a um acidente de consumo.
De outra banda, necessário ressaltar que, na relação de consumo
em análise, configurou-se caso de periculosidade exagerada, a qual se
encontra prevista no e vedada pelo caput do artigo 10 do Código de
Defesa do Consumidor, cujo parágrafo 3º dispõe que a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm a obrigação de informar
aos consumidores a respeito de produtos ou serviços que representem
perigo à saúde e segurança, reforçando a idéia de que o Poder Público
é parte atuante no mercado de consumo, devendo garantir a segurança
dos consumidores.
Por conseguinte, não paira dúvida de que o Município de Erechim
integra a presente relação de consumo, muito embora não se enquadre
no conceito de fornecedor, possuindo responsabilidade direta pelos
danos patrimoniais e morais decorrentes do acidente nela ocorrido.
Em face de todos os argumentos expostos e considerando que a
legislação consumerista incluiu o Poder Público nas relações de
consumo; que, no caso tela, a Administração Municipal possuía
competência para autorizar a realização do evento em que ocorreu o
acidente de consumo, assim como possuía o dever legal de fiscalizar a
observância pelo seus promotores da legislação que regulamenta a
matéria; que o Município autorizou, em afronta a tal legislação, a
realização do evento; e que o Município não adotou, no exercício do
poder de polícia, qualquer medida fiscalizatória para garantir a
segurança dos consumidores, impõe-se a reforma da decisão recorrida,
para fins de que seja o Município de Erechim condenado solidariamente
com os demais réus às obrigações indenizatórias explicitadas no
dispositivo da sentença.” (fls. 575/577, grifos no original).

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Assim, não há dúvida de que o Município de Erechim deve ser


mantido no pólo passivo da presente demanda, com a sua condenação
solidária à reparação pelos danos havidos.
Da mesma sorte, o engenheiro Tiago José Zanette se reveste de
legitimidade passiva, sendo solidária a sua responsabilidade pela
reparação dos danos havidos, já que, ao contrário do que afirma, a
queda da arquibancada não decorreu exclusivamente da sua
superlotação, mas sim do seu projeto, que não foi levado a efeito de
forma adequada.
Basta verificar os laudos de fls. 211/215 e 225/226, bem assim o
laudo complementar de fls. 506/507, para concluir-se, sem qualquer
dúvida, no sentido da responsabilidade do engenheiro responsável pela
instalação da arquibancada, nomeadamente em decorrência da sua
colocação em terreno inclinado sem as necessárias peças de peças de
contraventamento.
Nesse sentido, pede-se vênia para transcrever excerto das lúcidas
contra-razões do Ministério Público de 1º Grau, subscritas pelo
Promotor de Justiça Mauricio Sanchotene de Aguiar que, com
autoridade, pondera:
“Atinente à responsabilidade de Tiago José Zanette, restou ela
devida e fartamente comprovada.
De fato, de acordo com o laudo pericial produzido nos autos do
inquérito policial n.º 1448/04151302A, autuado sob o n.º 2.04.0007356-0
e instaurado para apurar eventual responsabilidade penal dos
promotores do evento automobilístico (fls. 359/372 do expediente
investigatório em apenso), o acidente de consumo apurado no presente
feito ocorreu em razão da inobservância de normas técnicas,
consubstanciadas em falhas no projeto e na estrutura da arquibancada
que desabou, inexistindo qualquer nexo de causalidade entre o
desabamento e a taxa de ocupação da arquibancada.
Com efeito, os experts que elaboraram o laudo pericial em
questão concluíram que a causa do desabamento foi a conjugação de
dois fatores, quais sejam:
(...)
Instalação da arquibancada em trecho inclinado da via pública, no
sentido lateral da estrutura;
Insuficiência de rigidez estrutural do conjunto, no sentido lateral,
basicamente pela ausência de peças de contraventamento na região de
encaixe dos quadros metálicos de apoio dos degraus (...). (fl. 361/362
do expediente investigatório) (grifou-se).
Ainda, em resposta aos quesitos, os peritos afirmaram que a
quantidade de pessoas que se encontrava sobre a arquibancada que
desabou NÃO foi a causadora do colapso da estrutura. Outrossim,
ressaltaram que não foram constatadas deformações causadas por
esforços axiais (verticais) decorrentes da ocupação dos assentos pelo
público (fl. 363 do expediente investigatório).

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As conclusões a que os peritos firmatários do laudo inicialmente


chegaram foram por eles integralmente ratificadas ao responderem à
quesitação complementar, como evidencia o laudo complementar das
fls. 506/507, remetido pelo Instituto Geral de Perícias em atendimento a
requisição desse Juízo.
Portanto, considerando que o laudo pericial supramencionado
comprova que a arquibancada desabou em razão de falhas estruturais,
uma vez que foi montada/construída sem a observância das normas
técnicas específicas, resta estreme de dúvida que o demandado Tiago
José Zanette, profissional habilitado que se responsabilizou pelo projeto
e execução da referida arquibancada, fato comprovado pelo Anotação
de Responsabilidade Técnica – ART, acostada nas fl. 137 do Inquérito
Civil em apenso, incorreu em culpa, na modalidade de imperícia.
Atinente a isto, não bastasse a referida ART comprovar, per si,
que o Engenheiro Civil Tiago José Zanette era o responsável técnico
pelo projeto de execução da arquibancada que ruiu, os elementos
colhidos em audiência de instrução e julgamento confirmam a prova
documental.
Com efeito, na oportunidade em que prestou depoimento pessoal
em Juízo, o demandado TIAGO, a despeito de ter negado qualquer
culpa no acidente de consumo, afirmou ter “trabalhado na aprovação da
montagem da arquibancada”. Embora tenha aduzido não ter sido quem
projetou ou construiu a arquibancada, bem como que a sua estrutura
era de propriedade de Olimar João Zys, presidente da demandada
LIA/RS, confirmou ter sido o responsável técnico por sua montagem,
inclusive para a realização de eventos que antecederam o evento
“Arrancadão”.
Tiago seguiu seu relato efetuando declarações que evidenciam
que ele efetivamente conhecia a estrutura da arquibancada, que teve
contato direto com a obra de montagem, que a inspecionou, e que, em
sua concepção, a estrutura montada estava em conformidade e respeito
às normas técnicas, nos termos que se transcrevem:
(...) a estrutura era de ferro com assentos de madeira, essa
estrutura já havia sido utilizada em outras ocasiões, não foi a primeira
montagem, utilizou critérios técnicos de montagem para aferir a
regularidade da obra, ela é feita em módulos, que são encaixados,
houve a inspeção visual da obra, acredita que tenha inspecionado esta
mesma arquibancada em outra ocasião antes de AGOSTO/2004, em
que foi montada em frente ao Sponchiado (...). A arquibancada foi
montada no sábado e no domingo seria o evento, o depoente no
sábado inspecionou a arquibancada depois de montada, diz que não fez
o projeto, mas sabe que cada 0,5m suporta uma pessoa, pelo CREA
tem habilitação para inspecionar montagem de arquibancada (...). (fl.
439) (grifou-se).
Cumpre destacar, por oportuno, serem completamente
irrelevantes, para fins de responsabilização do demandado Tiago, os
fatos de ter ele ou não elaborado o projeto da arquibancada e de ser ele
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ou não o proprietário de sua estrutura, tendo em vista que a sua


responsabilização decorre do fato de ser ele o técnico que assumiu,
formal (emitiu a ART em seu nome) e faticamente, a responsabilidade
pela construção da arquibancada, já que efetivamente inspecionou e
fiscalizou a respectiva obra.
Neste diapasão, clarividente a existência de nexo causal entre a
conduta do demandado Tiago e o acidente de consumo ocorrido
durante o evento “Arrancadão”, não havendo dúvida de que este, ou foi
negligente com relação aos conhecimentos e critérios técnicos que
deveriam ter sido observados e aplicados na montagem da
arquibancada, ou é imperito, por não ter ciência ou domínio de tais
conhecimentos e critérios.” (fls. 611/613, grifos no original).

Aliás, exatamente em decorrência da responsabilidade tanto da


LIA/RS, quanto do engenheiro responsável pela instalação da estrutura
da arquibancada, não se pode cogitar da redução da responsabilidade
deste, ou da individuação dos valores que cada qual deve satisfazer
para fins de reparação dos danos impostos aos consumidores.
Assim, tendo ocorrido os danos e havendo o dever de reparação,
esta pode ser exigida de quaisquer dos devedores solidários,
desimportando a contribuição maior ou menor para o evento danoso,
bem assim os proveitos obtidos por cada um em decorrência da
atividade desenvolvida, que acarretou o sinistro.
Nesse sentido, mutatis mutandis, a jurisprudência dessa Corte
Estadual:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


CONTRATAÇÃO DE SERVIÇO DE BANDA LARGA.
RESPONSABILIDADE CIVIL. MÁ PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO. FORNECIMENTO DE MODEM
DEFEITUOSO. DANO MORAL IN RE IPSA
CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
MAJORAÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA BRASIL
TELECOM S/A. Responsabilidade solidária das
empresas co-demandadas pela pretensão, eis que
fornecedoras de serviço e produto com defeito, nos
termos do artigo 7º, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor. Sendo as rés empresas
prestadoras de serviços de internet e banda larga, com
fornecimento de modem defeituoso para o autor, o que
lhe impossibilitou o acesso à prestação de serviços
ofertados por estas empresas, gerando, em
conseqüência, inúmeros problemas de ordem
profissional e familiar, imperioso é o acolhimento da
pretensão indenizatória. Dano moral in re ipsa. Danos
extrapatrimoniais majorados frente às peculiaridades
da situação em concreto. APELO DO AUTOR
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PROVIDO E DA RÉ IMPROVIDO.” (Apelação Cível n.°


70019961119, 19ª Câmara Cível, Des.-Relator
Guinther Spode, j. 26/06/2007).”

As transcrições efetivadas já evidenciam a própria análise


fática e de mérito, destacando-se que por ocasião da sentença
que veio a ser desconstituída por esta Câmara, em razão de
cerceamento de defesa tipificado, o então magistrado prolator
havia afastado o Município de Erechim entendendo por sua
ilegitimação passiva, situação revista na nova sentença, de lavra
da douta magistrada MARLI INÊS MIOZZO, que adequadamente
concluiu pela legitimidade do ente público à luz da análise da
prova produzida, portanto, no mérito, já que sua
responsabilização fica assente ante a ilegalidade do ato
administrativo de autorização do evento, frente ao prévio
conhecimento das irregularidades, e com manifesto
descumprimento do que determina o artigo 67 e incisos da Lei
9.503/97 (Código de Trânsito).
Peço vênia para transcrever excerto da douta sentença, em
homenagem à sua prolatora:
Conforme sustentado pelo Ministério Público, o ato
administrativo mediante o qual foi autorizada a realização do
evento automobilístico foi praticado em afronta ao princípio da
legalidade.
Dispõe o artigo 67 e incisos da Lei n.º 9.503/1997 (Código
de Trânsito Brasileiro):

Art. 67 - As provas ou competições desportivas, inclusive


seus ensaios, em via aberta à circulação, só poderão ser realizadas
mediante prévia permissão da autoridade de trânsito com
circunscrição sobre a via e dependerão de:
I - autorização expressa da respectiva confederação
desportiva ou de entidades estaduais a elas filiadas;
II - caução ou fiança para cobrir possíveis danos materiais à
via;
III - contrato de seguro contra riscos e acidentes em favor de
terceiros;
IV - prévio recolhimento do valor correspondente dos custos
operacionais em que o órgão ou entidade permissionária incorrerá.
Parágrafo único - A autoridade com circunscrição sobre a via
arbitrará os valores mínimos da caução ou fiança e do contrato de
seguro.

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A prova produzida nos autos demonstrou que a demandada


Liga Independente de Automobilismo do Rio Grande do Sul não
efetuou o registro e arquivamento de seus estatutos junto à
Confederação Brasileira de Automobilismo, assim como não o fez
junto à Federação Gaúcha de Automobilismo, conforme
documentos de fls. 23 e 26 do expediente investigatório em
apenso.
A Federação Gaúcha de Automobilismo comunicou o
Município de Erechim acerca de tal irregularidade, tendo alertado
a Administração Municipal acerca do fato de a LIA/RS não se
encontrar devidamente registrada, seja junto a ela, seja junto à
Confederação Brasileira de Automobilismo, e isto por não
atender aos requisitos legalmente exigidos para sua
constituição (fls. 19/23 do referido expediente). Grifei.
A situação irregular da LIA/RS e a sua comunicação ao
Município de Erechim foram integralmente confirmadas em Juízo
por NESTOR VALDUGA, Presidente da Federação Gaúcha de
Automobilismo, o qual relatou:

O único envolvimento que a gente tem com o fato é que eu


sou Presidente da Federação Gaúcha de Automobilismo e na
época quando a Federação tomou ciência dessa prova, nós
comunicamos o município de Erechim e demais autoridades locais
de que a Liga Independente era órgão não reconhecido no Brasil
como promotora de automobilismo. Nós então enviamos uma série
de documentos à prefeitura solicitando cancelamento da prova,
pois nós não acreditávamos de que ela dispusesse de toda a
segurança necessária. Nosso esporte é um esporte de alto risco,
principalmente quando realizado em vias públicas e é o único
envolvimento que a agente tem. A gente tentou trancar a prova e
não foi acatada a nossa solicitação. (fls. 504/505).

Ao responder à questão referente a quem compete a


derradeira decisão acerca da autorização de um evento
automobilístico, a testemunha esclareceu:

Normalmente, é um fato importante que eu deixe claro é que,


quando chega no nosso conhecimento, já está muito em cima da
hora porque eles têm, eles usam desse artifício de não divulgar
com antecedência. Eles fazem uma divulgação fechada e aí a gente
fica sabendo normalmente na quarta ou na quinta-feira. Nesse caso
a gente ficou sabendo antes porque em Erechim tem um clube
filiado à Federação e à Confederação muito forte que faz inclusive
eventos internacionais e aí o pessoal do clube nos avisou. Nós

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envolvemos inclusive a Confederação na época para tentar segurar


essa prova e infelizmente a prefeitura autorizou igual.

Da análise do depoimento acima transcrito, bem como dos


documentos acostados aos autos, decorre a conclusão
inarredável de que a Administração Municipal possuía plena
ciência da situação irregular da LIA/RS antes de autorizar a
realização do evento “Arrancadão”.
Inafastável também a responsabilidade do Município de
Erechim, uma vez que, de acordo com o art. 67, inciso I, do
Código de Trânsito Brasileiro, provas ou competições
automobilísticas somente podem ser realizadas, em via aberta à
circulação, mediante prévia permissão da autoridade com
circunscrição sobre a via (no caso, o Prefeito Municipal), e
dependerão de autorização expressa da confederação desportiva
ou de entidades estaduais a ela filiadas, não a tendo a LIA/RS.
Não calha o argumento defensivo no sentido de que a
exigência contida no Código de Trânsito Brasileiro, relacionada
com autorização da confederação desportiva para a realização de
evento automobilístico, teria sido revogada pela Lei n.º 9.615/98,
a qual não exige que as ligas desportivas filiem-se ou vinculem-se
a entidades nacionais de administração do desporto.
Conforme sustentado pelo autor, efetivamente, referido
diploma legal faculta às ligas desportivas a vinculação às
confederações nacionais de desporto, o que importa dizer que as
primeiras podem existir legalmente e desenvolver suas atividades
ainda que não se encontrem registradas na respectiva
confederação desportiva. Porém, isso não implica dizer que a Lei
n.º 9.615/98 tenha revogado, tacitamente, o inciso I do artigo 67
da Lei n.º 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), pelo simples
fato de ter entrado em vigência em data posterior à de entrada em
vigência da última.
O conflito de normas delineado não pode ser resolvido da
forma simplória exposta pela defesa do Município de Erechim, por
meio da aplicação do princípio que preceitua que a lei mais nova
revoga a mais antiga. Isto porque as referidas leis tratam-se de
leis especiais que não regulam a mesma matéria, portanto,
somente se poderia cogitar a hipótese de revogação do aludido
dispositivo do Código de Trânsito Brasileiro, por meio da edição
da Lei n.º 9.615/98, caso esta tivesse revogado expressamente o
primeiro.
Dessarte, o conflito aparente de normas deve ser
solucionado através da aplicação dos princípios da especialidade
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e da continuidade da lei, concluindo-se que, por tratar-se a Lei n.º


9.503/97 de lei especial, e por não ter ocorrido sua revogação
expressa através de lei posterior, continua ela em vigência.
Considerando as irregularidades acima apontadas, e
estando demonstrado que o inciso I do artigo 67 do Código de
Trânsito Brasileiro encontra-se em plena vigência, fica estreme de
dúvida a ilegalidade do ato administrativo que autorizou a
realização do evento “Arrancadão”, o que, por consequência,
importa na responsabilidade direta do Município de Erechim pelo
acidente de consumo nele ocorrido.
De outra banda, após autorizar a realização do evento, o
Município não fiscalizou a estrutura montada para tal fim, tanto
que, após o acidente, verificou-se a ocorrência de falha técnica na
estrutura das arquibancadas sem que a Administração Municipal
tenha tomado qualquer providência prévia que a tivesse
constatado e corrigido.
O Poder Público manifesta-se praticando atos das mais
variadas espécies, seja na gerência de seus interesses, seja no
desempenho de suas funções. Dentro desta última classificação
encontram-se os atos relacionados com a atividade do particular
que dependem de autorização ou fiscalização da administração,
como as atividades destinadas a grandes públicos, atos
estes que se enquadram na configuração jurídica do poder de
polícia.
Segundo Yussef Said Cahali, o Estado, na amplitude de seu
poder de polícia, “avoca para si o encargo de disciplinar e
regulamentar atividades particulares, visando com isto a preservação de
interesses coletivos superiores de segurança, saúde, desenvolvimento
urbano, tranquilidade social; cumprindo-lhe, ao mesmo tempo, ordenar
e fiscalizar as obras e os serviços que digam respeito a tais atividades”
(Responsabilidade Civil do Estado, 2ª Ed., São Paulo, Malheiros,
1995, p. 387.
E, mais adiante, complementa:
“Na preservação daqueles interesses sociais, multiplica-se a cada
dia a exigência legal de alvarás administrativos, licenças e permissão
para a execução de obras ou prestação de serviços profissionais, com a
obrigação correlata da entidade estatal de fiscalizar a observância de
exigência legal e a execução da obra ou a prestação do serviço
autorizado.”
“Os abusos, as falhas e as deficiências verificadas no
desempenho desse poder de polícia são causa geradora da
responsabilidade civil do Estado por danos que venham sobre os
administrados.” (op.cit. p.). 387
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“O Estado caracteriza-se por seu dinamismo; como o lendário


príncipe dos Argos, deve ter cem olhos, dos quais cinquenta
permanecerão sempre abertos, quando os outros cinquenta se fecham
durante o sono. Por isso, entre as funções ativas do Estado, que se
dividem em espontânea e provocadas, as primeiras são exercidas pela
Administração, sempre, continuamente, independentemente de
solicitação de quem quer que seja, sob pena de faltar a seus deveres. A
segurança das pessoas e das coisas é elemento básico das condições
universais, fator indispensável para o natural desenvolvimento da
personalidade humana.” (op. cit., p. 300..
Pode-se dizer que a abstenção da administração produziu o
efeito lesivo, pois era sua obrigação, mediante o poder de polícia
que lhe é inerente, fiscalizar e, caso o evento não se enquadrasse
nos padrões de segurança, impedir sua realização.
O Município em sua defesa alega que não se enquadra no
conceito de fornecedor e que não teria praticado qualquer ação ou
omissão que possua nexo de causalidade com o acidente de
consumo e de que estaria abrigado por excludente de
responsabilidade civil, uma vez que o acidente teria ocorrido por
culpa exclusiva de terceiros.
Tal argumentação deve ser repelida.
Uma análise sistêmica de alguns dispositivos previstos no
Código de Defesa do Consumidor permite concluir acerca do
acerto da inclusão do Município de Erechim na relação de
consumo em apreço.
Em que pese o Município efetivamente não se enquadrar
no conceito de fornecedor, o ente público integra a presente
relação de consumo em decorrência da regra positivada no
artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor, mediante o
qual o legislador incluiu o Estado, em sentido lato, nas
relações de consumo, determinando que este possui a
obrigação de atuar no mercado de consumo, visando a
garantir que os direitos básicos do consumidor, entre eles,
os direitos de proteção à vida, à saúde e à segurança e da
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais sejam respeitados.
Da citada norma consumerista decorre que o Município
de Erechim possuía a obrigação legal de fiscalizar o evento
“Arrancadão” e ter se valido dos poderes que lhe conferem
condição de supremacia em face dos administrados para
impedir sua realização, o que não ocorreu, já que o
demandado não somente a autorizou, irregularmente, uma
vez que foi desrespeitada a legislação pertinente, como não
fiscalizou a estrutura montada para o público, que, conforme
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comprovado nos autos, possuía vício de segurança que deu


causa a acidente de consumo, sendo solidariamente
responsável pelos danos decorrentes do acidente de
consumo.

Inafastável pois a responsabilização solidária de todos os


envolvidos no evento, sendo a lei expressa em responsabilizar
solidariamente todos os envolvidos no serviço defeituoso.
O engenheiro foi responsável pelo projeto e execução com
inadequações técnicas comprovadas, assentando a perícia que o
desabamento se deu não pelo volume de pessoas que subiram na
arquibancada, mas sim pelos defeitos de montagem com infração
às normas de segurança.
A demandada LIA, promotora do evento, pela condição
irregular, e pelo fato de ter sido por ela efetivada a contratação do
serviço de montagem da arquibancada que ruiu, e o Município,
pelo descumprimento de norma legal que lhe impunha controle
prévio à autorização, ciente que estava das irregularidades,
assumindo o risco ao autorizar evento em infringência às normas
de segurança.
(…)”

Com efeito, evidenciada a responsabilidade dos


codemandados, ora recorrentes, pelo evento danoso. O engenheiro Tiago
José Zanette pela montagem deficitária da arquibancada que desabou, em
inobservância às normas técnicas, eis que responsável pelo projeto e pela
execução da estrutura. E o Município de Erechim pelo descumprimento das
disposições legais que determinava o controle prévio à autorização do
evento, evidenciada a ilegalidade do ato administrativo que autorizou o
evento.
Nesse sentido, precedentes desta Corte acerca do mesmo fato
jurídico:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
QUEDA DE ARQUIBANCADA EM EVENTO
AUTOMOBILÍSTICO. PRELIMINARES DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADAS.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS

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DEMANDADOS MUNICÍPIO DE ERECHIM, LIGA


INDEPENDENTE DE AUTOMOBILISMO DO RGS, E
TIAGO, ENGENHEIRO QUE INSTALOU A
ARQUIBANCADA QUE VEIO A RUIR. DANOS
MOTORES/FUNCIONAIS. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. DANOS MORAIS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO MAJORADO. JUROS DE MORA.
TERMO INICIAL. SUCUMBÊNCIA. 1. Todos os
envolvidos na prestação do serviço ou fornecimento do
produto que contribuíram para a ocorrência do evento
danoso possuem legitimidade para figurar no pólo
passivo da demanda que busca reparação pelos
danos daí advindos. Inteligência do artigo 7º,
parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor
2. Não há como excluir a responsabilidade do
Município de Erechim e do engenheiro Tiago José
Zanette, uma vez que o primeiro, mesmo tendo ciência
da situação irregular da organizadora do evento,
concedeu autorização para sua realização, e o
segundo, responsável pela montagem da
arquibancada que veio a ruir, olvidando normas
técnicas de execução e segurança. 3. O quantum da
indenização por danos morais é fixado pelo juiz,
mediante a soma das circunstâncias que possa extrair
dos autos. Valor da indenização majorado para R$
8.000,00 (oito mil reais). 4. Os juros de mora sobre o
valor da indenização incidem a contar de seu
arbitramento, pois é no momento da decisão que
delimitado o quantum indenizatório. 5. Mantida a
sentença de improcedência quanto ao pedido de
indenização por danos motores/funcionais, diante da
ausência de prova de que do acidente tenha advindo
sequela incapacitante. 6. Mantidos os ônus
sucumbenciais. PRELIMINARES AFASTADAS.
APELO DO CO-DEMANDADO MUNICÍPIO DE
ERECHIM DESPROVIDO. APELO DA PARTE
AUTORA E DO CO-DEMANDADO TIAGO
PARCIALMENTE PROVIDOS. UNÂNIME. (Apelação
Cível Nº 70040239063, Nona Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros
Nogueira, Julgado em 26/01/2011)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


QUEDA DE ARQUIBANCADA. EVENTO
AUTOMOBÍLISTICO. RESPONSABILIDADE DO
MUNICÍPIO E DO ENGENHEIRO RESPONSÁVEL

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TÉCNICO PELO PROJETO DE EXECUÇÃO DA


ARQUIBANCADA. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. DANOS MORAIS. JUROS
MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. Todos os envolvidos
na prestação de serviço ou fornecimento de produto
que contribuíram para a ocorrência do evento danos
possuem legitimidade passiva para demanda que
busca reparação destes danos, nos termos do
parágrafo único do artigo 7° do CDC. Configuração da
responsabilidade do Município de Erechim que,
mesmo ciente da situação irregular da organizadora do
evento, concedeu autorização para sua realização.
Ausência de fiscalização do ente público das
condições da estrutura montada para o evento,
permitindo a realização de evento com falhas de
segurança e que causaram os danos experimentados
pelo autor. A responsabilidade do engenheiro
responsável técnico pelo projeto de execução da
arquibancada é inequívoca, diante das conclusões
expostas na perícia técnica das falhas técnicas de
projeto e montagem da arquibancada.
Responsabilidade solidária de todos os co-
demandados e que pode ser exigida de qualquer um
deles, não havendo que se falar em individuação dos
valores devidos por cada um dos requeridos.
Precedentes desta Câmara Cível. O entendimento
consolidado por este órgão fracionário nas ações de
indenização por dano moral é de fixação da incidência
dos juros moratórios a partir da data do arbitramento
do quantum indenizatório. APELO DO MUNICÍPIO DE
ERECHIM DESPROVIDO. APELO DO DEMANDADO
TIAGO JOSÉ ZANETTI PARCIALMENTE PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70040374860, Nona Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires
Ohlweiler, Julgado em 14/09/2011)

Dessa forma, resta mantida a condenação solidária dos


recorrentes pelos danos sofridos pelos autores. Nesse particular, não
prospera a irresignação do recorrente Tiago José Zanette quanto à alegação
de que sua responsabilidade deve ser arbitrada em menor grau a dos
demais condenados, pois a solidariedade prevista no art. 7º, parágrafo
único, do CDC como cediço, importa na possibilidade do credor exigir a

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totalidade do crédito a qualquer um dos codevedores, sub-rogando-se o que


pagar à quota dos demais; ainda, não se há falar em menor
responsabilidade de um ou de outro condenado, pois a ação/omissão de
todos foram determinantes para a ocorrência do evento danoso.
Inexistindo irresignação recursal quanto à configuração dos
danos morais e estéticos, passo à análise do valor das indenizações.
Em relação ao valor da indenização, portanto, à vista da
inexistência de parâmetros legais, o julgador deve observar os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade1. Outrossim, deve atentar para a natureza
jurídica da indenização2, que deve constituir uma pena ao causador do dano
e, concomitantemente, compensação ao lesado, além de cumprir seu cunho
pedagógico sem caracterizar enriquecimento ilícito.
Nesse sentido é a lição de Caio Mário da Silva Pereira (in
Responsabilidade Civil, 4ª ed., 1993, p. 60), nos seguintes termos:
A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho
patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos
casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes de seu
patrimônio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o
sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às circunstâncias de
cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal
do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de
enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva.

1
REsp 797.836/MG, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, j. 02.05.2006.
2
“A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. (...). Penal,
constituindo uma sanção imposta ao ofensor. (...). Satisfatória ou compensatória, (...) a reparação
pecuniária visa proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada.” (DINIZ,
Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 16ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 94, V. 7)
"Segundo nosso entendimento a indenização da dor moral, sem descurar desses critérios e
circunstâncias que o caso concreto exigir, há de buscar, como regra, duplo objetivo: caráter
compensatório e função punitiva da sanção (prevenção e repressão), ou seja: a) condenar o agente
causador do dano ao pagamento de certa importância em dinheiro, de modo a puni-lo e desestimulá-lo
da prática futura de atos semelhantes; b) compensar a vítima com uma importância mais ou menos
aleatória, em valor fixo e pago de uma só vez, pela perda que se mostrar irreparável, ou pela dor e
humilhação impostas." (STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil, 6ª ed., São Paulo: RT, 2004,
p. 1709.)
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Sergio Cavalieri Filho (na obra Programa de Responsabilidade


Civil, 8ª ed., Editora Atlas S/A, 2009, p. 93), ao tratar do arbitramento do
dano moral, assim se manifestou:

Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica


do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Razoável é
aquilo que é sensato, comedido, moderado; que guarda uma certa
proporcionalidade. A razoabilidade é o critério que permite cotejar meios
e fins, causas e conseqüências, de modo a aferir a lógica da decisão.
Para que a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela
estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram; que os
meios escolhidos sejam compatíveis com os fins visados; que a sanção
seja proporcional ao dano. Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano
moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a
intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a
capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do
ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes.

Partindo de tais premissas, entendo que o valor da indenização


a título de dano moral e estéticos arbitrado pelo juízo a quo no valor de R$
20.000,00 (vinte mil reais) e R$ 10.000,00 (dez mil reais), respectivamente,
em favor do coautor André – o qual, conforme o laudo pericial (fls. 959/962),
restou com sequelas físicas e psicológicas, necessitando ser submetido à
procedimento cirúrgico com a colocação de pinos no pé, com invalidez
parcial e permanente – e em R$ 7.000,00 (sete mil reais) de dano moral para
a coautora Graciana, revela-se adequada para o cumprimento das funções
compensatória e pedagógico-repressiva.
Quanto ao termo inicial dos juros, sem reparos a sentença,
uma vez em se tratando de responsabilidade extracontratual, os juros de
mora incidem a contar da data do evento danoso, nos termos do disposto na
Súmula nº 54 do STJ.

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Quanto aos consectários de mora conforme o disposto no art.


1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Leinº 11.960/09, assiste
parcial razão ao Município.
Ressalto que o Pretório Excelso, via controle concentrado de
constitucionalidade, declarou a inconstitucionalidade parcial do artigo 5º da
Lei nº 11.960/2009, que alterou o artigo 1º - F da Lei nº 9.494/1997, que
normatizava a incidência dos consectários legais aplicáveis sobre as
condenações da Fazenda Pública.
Nesse sentido:
INFORMATIVO Nº 698
TÍTULO
Precatório: regime especial e EC 62/2009 - 20
PROCESSO
ADI ADI 4425/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o
acórdão Min. Luiz Fux, 13 e 14.3.2013. (ADI-4425) - 4357
ARTIGO
Em conclusão, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ações diretas, propostas pelo
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e pela
Confederação Nacional das Indústrias - CNI, para declarar a
inconstitucionalidade: a) da expressão “na data de expedição do
precatório”, contida no § 2º do art. 100 da CF; b) dos §§ 9º e 10 do art.
100 da CF; c) da expressão “índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF, do inciso
II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do ADCT; d) do fraseado
“independentemente de sua natureza”, inserido no § 12 do art. 100 da
CF, para que aos precatórios de natureza tributária se apliquem os
mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário; e) por
arrastamento, do art. 5º da Lei 11.960/2009; e f) do § 15 do art. 100
da CF e de todo o art. 97 do ADCT (especificamente o caput e os §§ 1º,
2º, 4º, 6º, 8º, 9º, 14 e 15, sendo os demais por arrastamento ou
reverberação normativa) — v. Informativos 631, 643 e 697. ADI
4357/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 13
e 14.3.2013. (ADI-4357)

No corpo de seu venerando voto, o eminente Min. Ayres Britto


(Relator), assim referiu:

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28. Prossigo neste voto para assentar, agora, a


inconstitucionalidade parcial do atual § 12 do art. 100 da Constituição da
República. Dispositivo assim vernacularmente posto pela Emenda
Constitucional n.º 62/2009:
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a
atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o
efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo
índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para
fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo
percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando
excluída a incidência de juros compensatórios.
30. Observa-se, então, que, em princípio, o novo § 12 do art. 100
da Constituição Federal retratou a jurisprudência consolidada desta
nossa Corte, ao deixar mais clara: a) a exigência da "atualização de
valores de requisitórios, após sua expedição [e] até o efetivo
pagamento"; b) a incidência de juros simples "para fins de
compensação da mora"; c) a não incidência de juros compensatórios
(parte final do § 12 do art. 100 da CF). Mas o fato é que o dispositivo em
exame foi além: fixou, desde logo, como referência para correção
monetária, o índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança, bem como, "para fins de compensação de mora", o mesmo
percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança. E contra
esse plus normativo é que se insurgem os requerentes.
31. Insurgência, a meu ver, que é de ser acolhida quanto à
utilização do "índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança" para a atualização monetária dos débitos inscritos em
precatório. É que a correção monetária, consoante já defendi em artigo
doutrinário, é instituto jurídico-constitucional, porque tema específico ou
a própria matéria de algumas normas figurantes do nosso Magno Texto,
tracejadoras de um peculiar regime jurídica para ela. (...)
33. Convém insistir no raciocínio. Se há um direito subjetivo à
correção monetária de determinado crédito, direito que, como visto, não
difere do crédito originário, fica evidente que o reajuste há de
corresponder ao preciso índice de desvalorização da moeda, ao cabo
de um certo período; quer dizer, conhecido que seja o índice de
depreciação do valor real da moeda – a cada período legalmente
estabelecido para a respectiva medição – , é ele que por inteiro vai
recair sobre a expressão financeira do instituto jurídico protegido com a
cláusula de permanente atualização monetária. É o mesmo que dizer:
medido que seja o tamanho da inflação num dado período, tem-se,
naturalmente, o percentual de defasagem ou de efetiva perda de poder
aquisitivo da moeda que vai servir de critério matemático para a
necessária preservação do valor real do bem ou direito
constitucionalmente protegido.
34. O que determinou, no entanto, a Emenda Constitucional nº
62/2009? Que a atualização monetária dos valores inscritos em

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precatório, após sua expedição e até o efetivo pagamento, se dará pelo


“índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”.
Índice que, segundo já assentou este Supremo Tribunal Federal
na ADI 493, não reflete a perda de poder aquisitivo da moeda. Cito
passagem do minucioso voto do Ministro Moreira Alves:
"Como se vê, a TR é a taxa que resulta, com a utilização das
complexas e sucessivas fórmulas contidas na Resolução nº 1085 do
Conselho Monetário Nacional, do cálculo da taxa média ponderada da
remuneração dos CDB/RDB das vinte instituições selecionadas,
expurgada esta de dois por cento que representam genericamente o
valor da tributação e da ‘taxa real histórica de juros da economia’
embutidos nessa remuneração. Seria a TR índice de correção
monetária, e, portanto, índice de desvalorização da moeda, se
inequivocamente essa taxa média ponderada da remuneração dos
CDB/RDB com o expurgo de 2% fosse constituída apenas do valor
correspondente à desvalorização esperada da moeda em virtude da
inflação. Em se tratando, porém, de taxa de remuneração de títulos para
efeito de captação de recursos por parte de entidades financeiras, isso
não ocorre por causa dos diversos fatores que influem na fixação do
custo do dinheiro a ser captado.
(...)
A variação dos valores das taxas desse custo prefixados por
essas entidades decorre de fatores econômicos vários, inclusive
peculiares a cada uma delas (assim, suas necessidades de liquidez) ou
comuns a todas (como, por exemplo, a concorrência com outras fontes
de captação de dinheiro, a política de juros adotada pelo Banco Central,
a maior ou menor oferta de moeda), e fatores esses que nada têm que
ver com o valor de troca da moeda, mas, sim – o que é diverso -, com o
custo da captação desta".
35. O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da
Constituição acabou por artificializar o conceito de atualização
monetária. Conceito que está ontologicamente associado à manutenção
do valor real da moeda. Valor real que só se mantém pela aplicação de
índice que reflita a desvalorização dessa moeda em determinado
período. Ora, se a correção monetária dos valores inscritos em
precatório deixa de corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda,
o direito reconhecido por sentença judicial transitada em julgado será
satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as
hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação
jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será,
quase que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver
que, nos últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de
remuneração da poupança) foi de 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de
acordo com o IPCA.
36. Não há como, portanto, deixar de reconhecer a
inconstitucionalidade da norma atacada, na medida em que a fixação da
remuneração básica da caderneta de poupança como índice de
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correção monetária dos valores inscritos em precatório implica indevida


e intolerável constrição à eficácia da atividade jurisdicional. Uma afronta
à garantia da coisa julgada e, por reverberação, ao protoprincípio da
separação dos Poderes.
37. Certo que, bem pontuou o Advogado-Geral da União, o § 12
do art. 100 da Constituição Federal não se reporta à correção monetária
já aplicada pelo Juízo competente. Trata, isto sim, de atualização dos
valores constantes de ofícios requisitórios, após sua expedição e até a
data do efetivo pagamento. Também correta a assertiva de que pode a
lei, a fim de evitar "dissensos jurisprudenciais e morosos debates acerca
do índice a ser aplicado" , fixar, desde logo, um índice oficial. Mas nem
por isso deixa de haver violação à coisa julgada e à separação dos
Poderes. Primeiro, porque de nada adianta o direito reconhecido pelo
Judiciário ser corretamente atualizado até a data de expedição do
precatório, se, entre a expedição do requisitório e seu efetivo
pagamento, pode ele (o direito) sofrer depreciação de 10, 20, 40%.
Qualquer ideia de incidência mutilada da correção monetária, isto é,
qualquer tentativa de aplicá-la a partir de um percentualizado redutor,
caracteriza fraude à Constituição. Segundo, o que jaz à disponibilidade
do legislador (inclusive o de reforma da Constituição) não é o percentual
da inflação. Esse percentual, seja qual for, já estará constitucionalmente
recepcionado como o próprio reajuste nominal da moeda. O que fica à
mercê do poder normativo do Estado é a indicação de providências
viabilizadoras de uma isenta aferição do crescimento inflacionário, tais
como: a) o lapso temporal em que se fará a medida da inflação,
compreendendo a data-base e a periodicidade; b) as mercadorias ou os
bens de consumo que servirão de objeto de pesquisa para o fim
daquela aferição, com o que se terá um índice geral, ou, então, um
índice setorial de preços; c) o órgão ou entidade encarregada da
pesquisa de mercado. Daí que um dado índice oficial de correção
monetária de precatórios possa constar de lei, desde que tal índice
traduza o grau de desvalorização da moeda.
Principalmente se se levar em conta que o art. 97 do ADCT
(acrescentado pela EC nº 62/2009) instituiu nova moratória de 15
(quinze) anos para pagamento de precatórios por Estados, Distrito
Federal e Municípios. Do que resulta o óbvio: se a "preservação do
valor real" do patrimônio particular é constitucionalmente assegurada,
mesmo nos casos de descumprimento da função social da propriedade
(inciso III do § 4º do art. 182 e caput do art. 184, ambos da CF), como
justificar o sacrifício ao crédito daquele que tem a seu favor uma
sentença judicial transitada em julgado?
38. Com estes fundamentos, tenho por inconstitucional a
expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança”, constante do § 12 do art. 100 da Constituição Federal, do
inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.

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39. Já no tocante à "compensação da mora", estabeleceu o novo


§ 12 do art. 100 da Constituição Federal que "incidirão juros simples no
mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança”.
Incidência que se dará sobre os valores dos ofícios requisitórios, após
sua expedição e até o efetivo pagamento, "independentemente de sua
natureza". Pelo que os autores arguem violação ao princípio da
isonomia, devido a que foi adotado critério de discriminação, sem
motivo razoável, entre a aplicação de juros aos débitos do Estado e aos
do contribuinte.
40. Muito bem. Este Supremo Tribunal Federal já se debruçou
sobre o tema no RE 453.740. Naquela oportunidade, o Plenário desta
nossa Corte julgou constitucional o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, em sua
redação originária, que dispunha não poderem ultrapassar o percentual
de seis por cento ao ano os juros de mora, "nas condenações impostas
à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a
servidores e empregados públicos". Lembro que fiquei vencido, na
honrosa companhia da Ministra Cármen Lúcia e dos Ministros Marco
Aurélio e Sepúlveda Pertence, por entender preterido o princípio da
isonomia, pela discriminação que se abria entre a parte processual
privada credora e a parte estatal eventualmente credora, também em
Juízo, sabido que, pelo § 1º do art. 161 do Código Tributário Nacional,
os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês em favor do
Estado, salvo expressa determinação legal em contrário.
41. Ora, no caso dos autos, as mesmas razões me parecem
socorrer os requerentes.
Há, porém, uma outra: no julgamento do RE 453.740, esta nossa
Corte julgou constitucional o art. 1º-F da Lei nº 9.494, em sua redação
originária, porque o dispositivo legal se referia à específica condenação
do Estado ao pagamento de verbas remuneratórias devidas a
servidores e empregados públicos. Aduziu o eminente relator, Ministro
Gilmar Mendes, no que foi acompanhado pela maioria deste Supremo
Tribunal, que a situação não era comparável aos juros incidentes sobre
o crédito tributário. Isso porque, "o indébito tributário é resolvido por
meio de compensação ou restituição, nos termos do § 4º do art. 39 da
Lei nº 9.250, e 1995, que nos remete à taxa SELIC". "Remunera-se do
mesmo modo como se exige o pagamento" , asseverou Sua Excelência.
Sucede que o § 12 do art. 100 da Constituição da República, com a
redação dada pela Emenda Constitucional nº 62/2009, ordenou que se
aplicassem os juros de mora incidentes sobre a caderneta de poupança
aos valores constantes de ofícios requisitórios, "independentemente de
sua natureza". Logo, até mesmo aos precatórios concernentes a
restituições tributárias. Daí porque tenho por inconstitucional, se não
todo o § 12 do art. 100 da Constituição, pelo menos o fraseado
"independentemente de sua natureza" , para que aos precatórios de
natureza tributária se apliquem os mesmos juros de mora incidentes
sobre todo e qualquer crédito tributário.

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56. Por todo o exposto, julgo procedente a ação para declarar a


inconstitucionalidade formal de toda a Emenda Constitucional nº 62, de
09 de dezembro de 2009. Caso vencido quanto ao vício de
inconstitucionalidade formal, julgo parcialmente procedente a ação para
o fim de: a) declarar a inconstitucionalidade da expressão "na data de
expedição do precatório" , contida no § 2º do art. 100 da Constituição
Federal; b) declarar inconstitucionais os §§ 9º e 10 do art. 100 da
Constituição da República; c) assentar a inconstitucionalidade da
expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança" , constante do § 12 do art. 100 da Constituição Federal, do
inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias; d) declarar inconstitucional o fraseado
"independentemente de sua natureza" , contido no § 12 do art. 100 da
Constituição, para que aos precatórios de natureza tributária se
apliquem os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário;
e) declarar a inconstitucionalidade, por arrastamento (itens "c" e "d"
acima), do art. 5º da Lei nº 11.960/2009; f) assentar a
inconstitucionalidade do § 15 do art. 100 da Constituição Federal e de
todo o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(especificamente o caput e os §§ 1º, 2º, 4º, 6º, 8º, 9º, 14 e 15, sendo os
demais por arrastamento ou reverberação normativa).
57. É como voto.

Destarte, a razão maior de ser do controle de


constitucionalidade é a proteção dos direitos fundamentais e da supremacia
da Carta Magna.
Assim sendo, se o plenário do Supremo Tribunal Federal já
apreciou a (des)conformidade da lei em face da Carta Republicana,
entendendo que o artigo 5º da Lei nº 11.960/2009 é, parcialmente,
inconstitucional, não havendo razão para essa lei continuar tendo eficácia no
ordenamento jurídico, especialmente porque os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade da Corte Suprema, via controle concentrado, atingem a
todos (erga omnes), e opera efeitos ex tunc, quando não modulados.
In concreto, não houve a modulação dos efeitos da declaração
de inconstitucionalidade, sendo de rigor reconhecer que os efeitos da
declaração da Corte Constitucional atingem a todos, bem como retroage à

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data em que a lei entrou em vigor, vinculando, ainda, os demais órgãos do


Poder Judiciário.
Observe-se, ainda, que a declaração de inconstitucionalidade
do Pretório Excelso, proferida no julgamento da ADI nº 4.425, foi
amplamente publicizada pela própria Corte Constitucional através do seu
Informativo de Jurisprudência e publicada em 19.12.2013.
Postas essas premissas, e considerando a ineficácia da
aplicação da lei reconhecida inconstitucional, insuscetível de gerar direito, de
rigor, estabelecer a incidência do IGP-M, como índice de correção
monetária, e acrescido de juros de mora a contar da data do evento danoso,
no percentual de 1% ao mês até a publicação da Lei n. 11.960, de 2009,
quando, então, passarão a incidir os juros aplicáveis à caderneta de
poupança, uma vez que não se trata de dívida de natureza tributária.
Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. JUROS DE MORA E


CORREÇÃO MONETÁRIA. MATÉRIA PENDENTE DE
JULGAMENTO NO STF. ADI 4.357/DF.
SOBRESTAMENTO DO FEITO. DESCABIMENTO.
ART. 1°-F DA LEI 9.494/1999. LEI 11.960/2009.
APLICAÇÃO IMEDIATA. INCONSTITUCIONALIDADE
PARCIAL POR ARRASTAMENTO. ENTENDIMENTO
FIRMADO PELA PRIMEIRA SEÇÃO NO
JULGAMENTO DO RESP 1.270.439/PR, MEDIANTE
A UTILIZAÇÃO DA SISTEMÁTICA PREVISTA NO
ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO STJ
08/2008.
1. O STJ orienta-se no sentido de que, para fins de
aplicação do art. 543-C do CPC, é desnecessário que
o Recurso Especial representativo de matéria
repetitiva tenha transitado em julgado.
[...]
4. A Primeira Seção do STJ, alinhando-se ao
entendimento do STF, no julgamento do REsp
1.270.439/PR, sob o rito dos recursos especiais
repetitivos (art. 543-C do CPC), estabeleceu que, a
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partir da declaração de inconstitucionalidade parcial do


art. 5º da Lei 11.960/2009, a) "a correção monetária
das dívidas fazendárias deve observar índices que
reflitam a inflação acumulada do período, a ela não se
aplicando os índices de remuneração básica da
caderneta de poupança"; b) "os juros moratórios serão
equivalentes aos índices oficiais de remuneração
básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança,
exceto quando a dívida ostentar natureza tributária,
para a qual prevalecerão as regras específicas" (REsp
1.270.439/PR, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira
Seção, DJe 2.8.2013).
5. No caso dos autos, como a condenação imposta à
União é de natureza não tributária, os juros moratórios
devem ser calculados com respaldo no índice oficial
de remuneração básica e juros incidentes sobre a
caderneta de poupança, nos termos da regra do art.
1º-F da Lei 9.494/1999, com redação dada pela Lei
11.960/2009.
[...]
6. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no AREsp 50407/RS, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/09/2013, DJe 26/09/2013)

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E
RESOLUÇÃO STJ N.º 08/2008. ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. INCORPORAÇÃO
DE QUINTOS. MEDIDA PROVISÓRIA N.º 2.225-
45/2001. PERÍODO DE 08.04.1998 A 05.09.2001.
MATÉRIA JÁ DECIDIDA NA SISTEMÁTICA DO ART.
543-C DO CPC. POSSIBILIDADE EM ABSTRATO.
AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL NO
CASO CONCRETO. RECONHECIMENTO
ADMINISTRATIVO DO DIREITO. AÇÃO DE
COBRANÇA EM QUE SE BUSCA APENAS O
PAGAMENTO DAS PARCELAS DE RETROATIVOS
AINDA NÃO PAGAS.
[...]
14. O Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art.
5º da Lei 11.960/09, que deu nova redação ao art. 1º-F
da Lei 9.494/97, ao examinar a ADIn 4.357/DF, Rel.
Min. Ayres Britto.
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15. A Suprema Corte declarou inconstitucional a


expressão "índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança"contida no § 12 do art. 100 da
CF/88. Assim entendeu porque a taxa básica de
remuneração da poupança não mede a inflação
acumulada do período e, portanto, não pode servir de
parâmetro para a correção monetária a ser aplicada
aos débitos da Fazenda Pública.
16. Igualmente reconheceu a inconstitucionalidade da
expressão "independentemente de sua natureza"
quando os débitos fazendários ostentarem natureza
tributária. Isso porque, quando credora a Fazenda de
dívida de natureza tributária, incidem os juros pela
taxa SELIC como compensação pela mora, devendo
esse mesmo índice, por força do princípio da
equidade, ser aplicado quando for ela devedora nas
repetições de indébito tributário.
17. Como o art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação da
Lei 11.960/09, praticamente reproduz a norma do § 12
do art. 100 da CF/88, o Supremo declarou a
inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, desse
dispositivo legal.
18. Em virtude da declaração de inconstitucionalidade
parcial do art. 5º da Lei 11.960/09: (a) a correção
monetária das dívidas fazendárias deve observar
índices que reflitam a inflação acumulada do período,
a ela não se aplicando os índices de remuneração
básica da caderneta de poupança; e (b) os juros
moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de
poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza
tributária, para as quais prevalecerão as regras
específicas.
[...].
21. Recurso especial provido em parte. Acórdão
sujeito à sistemática do art. 543-C do CPC e da
Resolução STJ n.º 08/2008.
(REsp 1270439/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/06/2013, DJe
02/08/2013)

Ante o exposto, nego provimento ao apelo do codemandado


Tiago José Zanette e dou parcial provimento ao apelo do Município de

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Erechim apenas quanto aos juros de mora incidentes sobre a condenação,


os quais incidem no percentual de 1% ao mês a contar da data do evento
danoso até a publicação da Lei n. 11.960, de 2009, quando, então, passarão
a incidir os juros aplicáveis à caderneta de poupança.
É como voto.

DES. EUGÊNIO FACCHINI NETO (REVISOR)


Acompanho integralmente o brilhante voto do eminente
Relator, que fez profunda análise das questões jurídicas e fáticas envolvida
no caso.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE)


Colegas.
Acompanho o voto condutor quanto ao mérito da
demanda, contudo, com a devida vênia do Nobre Relator, divirjo em
relação aos consectários legais incidentes sobre as indenizações
fixadas.
Isso, pois, revisando posicionamento anterior, deixo de aplicar
o artigo 5º da Lei nº 11.960/2009, que alterou o art. 1º-F da Lei nº
9.494/1997, tendo em vista que o plenário do Supremo Tribunal Federal
declarou a inconstitucionalidade do aludido comando normativo, nos termos
do julgamento da ADI 4425/DF:

INFORMATIVO Nº 698
TÍTULO
Precatório: regime especial e EC 62/2009 - 20
PROCESSO
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ADI ADI 4425/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/


o acórdão Min. Luiz Fux, 13 e 14.3.2013. (ADI-4425)
- 4357
ARTIGO
Em conclusão, o Plenário, por maioria, julgou
parcialmente procedente pedido formulado em ações
diretas, propostas pelo Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil e pela Confederação
Nacional das Indústrias - CNI, para declarar a
inconstitucionalidade: a) da expressão “na data de
expedição do precatório”, contida no § 2º do art. 100
da CF; b) dos §§ 9º e 10 do art. 100 da CF; c) da
expressão “índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100
da CF, do inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97
do ADCT; d) do fraseado “independentemente de sua
natureza”, inserido no § 12 do art. 100 da CF, para que
aos precatórios de natureza tributária se apliquem os
mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito
tributário; e) por arrastamento, do art. 5º da Lei
11.960/2009; e f) do § 15 do art. 100 da CF e de todo
o art. 97 do ADCT (especificamente o caput e os §§
1º, 2º, 4º, 6º, 8º, 9º, 14 e 15, sendo os demais por
arrastamento ou reverberação normativa) — v.
Informativos 631, 643 e 697. ADI 4357/DF, rel. orig.
Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 13 e
14.3.2013. (ADI-4357)

Nesse sentido já se manifestou esta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. JULGAMENTO NA FORMA DO


ART. 557 DO CPC. AÇÃO ACIDENTÁRIA. INSS.
PROCESSO CIVIL. INTERESSE DE AGIR. O fato do
INSS proceder na via administrativa a revisão da RMI
não afasta o direito de ação do segurado de proceder
a revisão judicial da forma de cálculo do benefício para
adequação as disposições da Lei de Benefícios. Ainda
que tenha sido homologado acordo, em que se
compromete o INSS a efetuar a devida revisão nos
benefícios em que couber, a implementação efetiva
dessa revisão não foi contundentemente comprovada,
podendo ser observado, no máximo, o reconhecimento
do pedido da parte autora por parte da Previdência
Social. APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.960/2009.
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CONSECTÁRIOS LEGAIS. MODIFICAÇÃO DE


POSICIONAMENTO. O Supremo Tribunal Federal
via controle concentrado, declarou a
inconstitucionalidade do art. 5º da Lei nº
11.960/2009, que alterou o art. 1º-F da Lei nº
9.494/1997, que normatizava a incidência dos
consectários legais aplicáveis sobre as
condenações da Fazenda Pública (ADI 4425/DF). In
concreto, não houve a modulação dos efeitos da
declaração de inconstitucionalidade, sendo de rigor
reconhecer que os efeitos da declaração da Corte
Constitucional atingem a todos, bem como retroage à
data em que a lei entrou em vigor, vinculando, ainda,
os demais órgãos do Poder Judiciário. CORREÇÃO
MONETÁRIA. JUROS. As parcelas vencidas deverão
ser corrigidas monetariamente pelo IGP-DI até março
de 2006 (Lei nº 9.711/1998) e pelo INPC a partir de
abril/2006, nos termos do art. 41-A, da Lei 8.213/1991,
desde quando deveriam ter sido pagas, e acrescidas
de juros de mora de 1% ao mês, desde a citação.
Precedentes desta Corte e STJ. VERBA
HONORÁRIA. ISENÇÃO DE CUSTAS. Não obstante a
irresignação do INSS quanto à necessidade de
aplicação da Súmula 111 do STJ e de isenção do
pagamento das custas processuais, não há interesse
recursal da Autarquia previdenciária, no particular,
haja vista que a douta sentença é convergente com a
pretensão recursal. REVISÃO DE RENDA MENSAL
INICIAL - RMI. AUXÍLIO DOENÇA POR ACIDENTE
DO TRABALHO. Tanto para os segurados já inscritos
na Previdência Social à época da vigência da Lei nº
9.876/1999, quanto para aqueles que se filiaram
depois, é pertinente a aplicação da mesma forma de
cálculo, qual seja, aquela prevista no art. 29, inciso II,
da Lei nº 8.213/1991 (cálculo do salário de benefício
com base na média aritmética simples dos maiores
salários de contribuição correspondentes a 80% de
todo o período contributivo decorrido desde a
competência julho de 1994). Precedentes do TJRS.
APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA
EXTENSÃO CONHECIDA, NEGADO PROVIMENTO.
SENTENÇA PARCIALMENTE MODIFICADA EM
REEXAME NECESSÁRIO. (Apelação Cível Nº
70054826250, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary,
Julgado em 28/06/2013)

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Da mesma forma, registro que não coaduno com o


entendimento já exposto em outros casos pelo Revisor de que a cautelar
referida na ADI 4425 deve ser observada em todos os casos de fixação de
consectários legais em condenação fazendária.
Ao que se depreende da decisão do Ministro Luiz Fux,
prolatada em 11.04.2013, e ratificada pelo plenário em 24.10.2013, a
determinação judicial objetivou dar continuidade apenas aos pagamentos de
precatórios que haviam sido suspensos nos Tribunais de Justiça em todos
os Estados e do Distrito Federal, “respeitando-se a vinculação de receitas
para fins de quitação da dívida pública, sob pena de sequestro”.

Dessa forma, afasto a aplicação dos consectários legais


previstos no art. 5º da Lei nº 11.960/2009, devendo incidir, sobre o
montante reparatório por danos morais, correção monetária pelo IGP-
M, a contar desta data, nos termos da Súmula 362 do Superior Tribunal
de Justiça, bem como juros moratórios de 1% ao mês desde a data de
ocorrência do evento danoso (no caso, 08.08.2004/fls. 47-49), em
consonância com a disposição contida da Súmula 54 também do STJ.

Quanto aos demais pontos, acompanho o Relator.


É como voto.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA - Presidente - Apelação Cível


nº 70057960007, Comarca de Erechim: "À UNANIMIDADE, NEGARAM
PROVIMENTO AO APELO DO CODEMANDADO TIAGO JOSÉ ZANETTE
E, POR MAIORIA, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DO
MUNICÍPIO DE ERECHIM, VENCIDA A VOGAL QUE PROVIA EM MENOR
EXTENSÃO."
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

TCSD
Nº 70057960007 (N° CNJ: 0520627-07.2013.8.21.7000)
2013/CÍVEL

Julgador(a) de 1º Grau: MARLI INES MIOZZO

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