Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
CONCEITOS......................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – ASPECTOS
ÉTICO-LEGAIS......................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – RECURSOS INVESTIGATIVOS.......................................................... 50
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 59
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A investigação criminal é o conjunto de ações que tem início com a avaliação do local do crime, com
o objetivo de esclarecer a autoria, a motivação e os meios utilizados para o cometimento de um ilícito
penal. Envolve diferentes questões e habilidades, embora possa parecer fácil, em filmes policiais,
na prática revela-se como sendo um processo extremamente complexo, uma vez que possui sérias
consequências. A condenação de um inocente é tão grave quanto à absolvição de um culpado.
Há algumas diferenças no processo de investigação criminal quando fazemos uma comparação com
outros países, inclusive no que diz respeito às questões legais, o que também será apresentado nesta
disciplina.
O Capítulo 2 está voltado para o estudo dos recursos investigativos, ou seja, como se dá o processo
da investigação propriamente dita. Desde a avaliação da cena do crime, já estudada na disciplina
anterior até a conclusão do processo.
Objetivos
»» Conceituar Investigação Criminal, dimensionando sua importância e papel na
resolução de crimes.
7
8
CONCEITOS UNIDADE ÚNICA
CAPÍTULO 1
Investigação Criminal – Aspectos
Ético-Legais
Investigação é a “verificação de um fato por meio de informes obtidos em diversas fontes. / Indagação
pormenorizada. / Inquirição. / Pesquisa”.
Fonte: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>
Ou seja, a investigação requer a utilização de diferentes fontes e não pode ser simplesmente o
resultado de um “achismo” ou de suposições que não foram devidamente apuradas.
9
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
No Brasil, o modelo investigativo na área criminal tem sido motivo de muita discussão nos últimos
anos. O Código de Processo Penal prevê a realização do inquérito policial, defendido por alguns e
criticado por outros. Os críticos alegam que este é um processo burocrático, que pode ser contestado
pelo Ministério Público, que poderia ser substituído por um relatório com as conclusões periciais
e investigativas e que acaba por retardar a ação penal. Poucos países utilizam modelo similar. Nos
Estados Unidos, por exemplo, o processo é bem mais ágil e não possui nada semelhante ao inquérito
policial.
DO INQUÉRITO POLICIAL
I - de ofício;
10
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais; (Redação dada pela Lei no 8.862, de 28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
11
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade
policial.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito
serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
12
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma
circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos
inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição
de outra, independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim
providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer
fato que ocorra em sua presença, noutra circunscrição.
I - polícia federal;
IV - polícias civis;
13
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Uma proposta de emenda constitucional chegou a ser apresentada (PEC 37/2011) visando
acrescentar ao art.144, o seguinte texto: “A apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1o
e 4o deste artigo, incumbem privativamente às polícias federal e civis dos Estados e do Distrito
Federal, respectivamente”. Se aprovada, impediria a possibilidade de investigação de crimes por
outros órgãos e em especial pelo Ministério Público. A emenda foi rejeitada por ampla maioria em
25/06/2013, após grande número de manifestações populares contra a medida.
A previsão das Polícias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal está nos artigos 51 e 52 da
Constituição Federal:
14
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
(grifo nosso)
Este curso não tem por objetivo estudar o processo penal brasileiro, mas tão somente a investigação
criminal, como sendo o processo de elucidação de um crime. O foco será nos recursos e viés
investigativo e menos nos aspectos da legislação brasileira e seus pormenores, sobretudo no que
diz respeito à ação penal. Uma investigação bem feita e bem conduzida possibilita uma ação penal
adequada e com baixo risco de incertezas.
Crimes Transnacionais
Os crimes transnacionais como o próprio nome já indica, são aqueles em que há uma organização
e um envolvimento que transcende a jurisdição de um determinado país. Como exemplos, temos o
crime organizado (inclui o tráfico de pessoas, tráfico de drogas, contrabando, biopirataria, tráfico de
animais, tráfico de armas, pedofilia, dentre outros) e os grupos terroristas internacionais.
Este não é um conceito novo, uma vez que a atuação das máfias e do terrorismo com atuação em
diferentes países não é recente.
Por vezes, uma investigação de um crime aparentemente local, acaba por revelar-se como um crime
transnacional. Um caso que ficou conhecido foi o de uma mulher que foi encontrada morta com um
tiro na cabeça em um bar. Tudo indicava para um homicídio simples, com motivação que parecia ser
passional. Ela havia marcado um encontro com um suposto conhecido ou namorado e dali não saiu
viva. As investigações, contudo, mostraram que na verdade, tratava-se de um caso transnacional.
Alguns meses antes ela havia sido traficada para um país europeu, havia conseguido fugir e então foi
assassinada a mando da organização criminosa que a traficou.
Os atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos também são exemplos de crimes
transnacionais. Percebam, no entanto, que um crime transnacional não precisa ter sido cometido
por um estrangeiro. Não é a nacionalidade do criminoso que qualifica o tipo de crime como
transnacional, mas a extensão de sua organização. Ele diz respeito ao terrorismo doméstico e o
internacional. Em 2013, um atentado terrorista em Boston provocou três mortes e vários feridos.
Os suspeitos foram apontados como sendo os irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev, de origem
chechena. Os dois imigraram para os Estados Unidos, na condição de asilados e em 2012, Dzhokhar
tornou-se cidadão americano. O irmão dele não conseguiu naturalizar-se. Assim, sob o aspecto
15
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
legal, os atentados foram cometidos por um americano e um estrangeiro. O crime foi transnacional?
Até o momento, tudo indica que não. Teria sido um atentado cometido por duas pessoas que agiram
de forma independente, sem que tivessem ligadas a um grupo internacional. Com o seguimento das
investigações, contudo, pode-se chegar a outra conclusão no futuro.
Assim, é fundamental que os países possuam instrumentos para aprofundar suas investigações
e, assim, descobrir a autoria de crimes transnacionais, a extensão da rede do crime organizado
e adoção de medidas preventivas, mas também que permitam a prisão dos criminosos. Uma das
medidas utilizadas com esta finalidade é o acordo de extradição. Este instrumento é assinado entre
países, que estabelecem as condições para que seja utilizado e permite a prisão e extradição de seus
nacionais quando se encontra no país com quem há este tipo de acordo. Com frequência, contudo,
vemos casos de criminosos valendo-se de dupla cidadania que encontram abrigo em um dos países
em que é cidadão, com vistas a impedir a extradição.
A INTERPOL, com frequência retratada em filmes e novelas, como sendo uma agência policial que
possui agentes internacionais com missão de prender foragidos de outros países, não corresponde
à realidade. A INTERPOL não possui agentes próprios para realizar prisões. Não existe um presídio
da INTERPOL. Trata-se na verdade, da maior organização policial do mundo com 190 países
membros. O papel da INTERPOL é permitir a troca de informações entre as polícias dos países
membros, de tal forma a permitir que todos envolvidos possam ter ciência, além de suporte técnico
e operacional para realizar investigações e combater o crime. Quem realiza as prisões, portanto,
são os policiais de cada país. Digamos que um criminoso brasileiro está foragido. A Polícia Federal,
poderá emitir uma solicitação de alerta para a INTERPOL, que repassará a todos países membros,
de que aquele criminoso está sendo procurado e caso ele tente ingressar em um desses países,
poderá ser preso e extraditado para o país em que está sendo procurado, dependendo da existência
de tratado nesse sentido. A Secretaria Geral da Interpol está localizada em Lyon na França, e possui
sete escritórios regionais em diferentes regiões do mundo, além de um representante na ONU, em
New York e outro na União Europeia, em Bruxelas. Cada um dos países membros mantém um
Escritório Central Nacional composto por policiais nacionais, no caso do Brasil, da Polícia Federal,
devidamente treinados para o exercício de suas funções.
Fonte: <www.interpol.int>
16
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
De acordo com a página eletrônica da Interpol, a sigla ICPO vista na logo acima, é a abreviação
de ‘International Criminal Police Organization’, enquanto que “O.I.P.C.”, significa “Organisation
Internationale de Police Criminelle”. Ambas denominações podem ser traduzidas em português
como “Organização Internacional de Polícia Criminal”. As oliveiras de cada lado do globo terrestre
representam a paz, a espada simboliza a ação da polícia e as balanças, são o símbolo da justiça. A
utilização do globo terrestre deve-se à ação internacional da organização.
2. Apoio permanente (24h por dia/7 dias por semana) às forças policiais e
instituições encarregadas de cumprir a lei.
17
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_16173_enron.os.mais.
espertos.da.sala.html>
18
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Tropa de Elite 2
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-189340/>
»» Armas de Fogo - Com relação a este tema, nós brasileiros sabemos o que
significa os milhares de mortos anualmente, a maioria jovens, em nosso país. No
entanto, esta é uma ameaça internacional e aflige todos os continentes. A Interpol
possui neste tema, as seguintes ações:
Rede de Informação sobre Balística (IBIN). Trata-se de um banco de dados com informações
balísticas sobre armas utilizadas em crimes, de tal forma a auxiliar os investigadores de diferentes
países na identificação de crimes que possam ter sido cometidos pela mesma arma, por exemplo, e
conexões correlatas.
19
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
<http://www.interpol.int/en/Internet/Crime-areas/Firearms/Firearms> (inglês)
Sugestão de filme:
O Senhor das Armas (2005)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54676/>
Crimes contra Crianças – Infelizmente são comuns os crimes envolvendo crianças, o que inclui
o sequestro, o rapto, a pedofilia, o tráfico, a violência, a escravidão, dentre outros. Muitos destes
crimes são de jurisdição nacional ou local, mas há alguns casos, em que há conexões internacionais.
A INTERPOL possui as seguintes estratégias e ações para estes crimes:
20
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
<http://www.interpol.int/en/Crime-areas/Crimes-against-children/Crimes-against-
children> (inglês)
Sugestão de filmes:
Tráfico de Bebês (2004)
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_16393_
trafico.de.bebes.html>
21
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-140936/>
Confiar (2011)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-174066/>
»» Crime cibernético – Com a expansão dos serviços oferecidos pela internet, uma
série de crimes também passou a ser praticado por causa dessa facilidade. Muitos,
semelhantes ao que ocorre fora do mundo virtual, como fraude, estelionato,
pedofilia, ataques contra computadores, furtos, disseminação de vírus, terrorismo
cibernético, dentre outros. É comum que criminosos possuam endereços em outros
países e que a identidade deles seja de difícil detecção. Espionagem também tem
sido realizada e mais recentemente, funcionários de governos têm divulgado
informações sigilosas a eles confiadas, cometendo crimes de traição e colocando em
risco a vida de milhares de agentes e funcionários. Nem todos os países possuem
legislação voltada para crimes cibernéticos, o que dificulta o indiciamento e a
investigação.
22
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
A INTERPOL tem atuado de tal forma para promover a troca de informações entre seus membros,
capacitar e manter protocolos atualizados, coordenar e dar suporte a operações internacionais,
estabelecer uma lista global de especialistas para crimes cibernéticos, dar assistência aos países
vítimas desses crimes, desenvolver parcerias com órgãos privados, identificar parceiros estratégicos,
elencar ameaças emergentes e compartilhar as informações, bem como fornecer ambiente seguro
para o acesso ao banco de dados e documentos da organização.
Sugestão de filmes:
Sem Vestígios (2008)
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_17204_
sem.vestigios.html>
A Rede (1995)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-13212/>
23
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Sugestão de Filmes:
Traffic (2001)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-27443/>
24
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-31057/>
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-146072/>
25
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
<http://www.interpol.int/en/Crime-areas/Environmental-crime/Environmental-
crime> (inglês)
Sugestão de Filme:
Erin Brockovich (2001)
Fonte: <http://www.cineclick.com.br/erin-brockovich-uma-mulher-de-
talento>
Os crimes financeiros podem arruinar a vida de pessoas, sociedades, organizações e até mesmo a
economia nacional. A INTERPOL atua com iniciativas voltadas para crimes envolvendo cartões de
26
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
crédito, lavagem de dinheiro, falsificação de moedas e documentos sigilosos, bem como fraudes,
o que inclui cartas e e-mails falsos frequentemente enviados, em que alguém se diz milionário ou
que recebeu uma herança e pede os dados do destinatário, para realizar o depósito. Há pessoas que
acreditam nessas mensagens, conhecidas como “Cartas Nigerianas”, pois muitas vieram da Nigéria e
acabam sendo vítimas de crimes, inclusive assassinatos. As diferenças em leis e tratados, no entanto,
muitas vezes dificultam as investigações, sobretudo quando envolvem os chamados paraísos fiscais,
com bancos que sequer conhecem a identidade de seus clientes, dentre outros problemas.
Sugestão de Filme:
27
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <www.interpol.int>
28
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Sugestão de filmes:
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-17261/>
»» Pirataria Marítima – Para alguns pode parecer curioso que em pleno século XXI
ainda estejamos falando de piratas marítimos, no entanto, este é um tema que possui
diferentes abordagens. A pirataria é com frequência praticada em portos regionais e
nacionais, incluindo em nosso país, para roubo de cargas e assalto a embarcações e
neste caso, a menos que os criminosos estejam conectados a grupos internacionais
ou que embarcações de outros países tenham sido vítimas, a investigação não está
relacionada com a INTERPOL. No entanto, inúmeros são os casos de pirataria
marítima internacional, com destaque para os crimes ocorridos no chamado “chifre
da África”, nas costas da Somália e do Iêmen.
A INTERPOL diante da captura de navios por piratas tem condições de enviar uma equipe de
especialistas, denominada de “Equipe de Resposta de Incidentes” (Incident Response Team-IRT)
de tal forma a colaborar na investigação no local do crime (CSI) e na coleta de evidências.
De acordo com a INTERPOL, o primeiro caso envolvendo uma equipe, foi em abril de 2011, em
Durban na África do Sul, para dar suporte aos policiais daquele país diante da tomada de um navio
grego por piratas somalis. O papel da equipe neste episódio compreendeu a coleta de evidências
físicas, o que incluiu impressões digitais, DNA e a obtenção de informações pela equipe de tripulantes,
contribuindo para a investigação da polícia sul-africana.
29
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Sugestão de Filme:
A Hijacking (2013)
Fonte: <http://blogs.pop.com.br/cinema/piratas-selvagens/>
O projeto Pink Panthers (Panteras Cor de rosa) está voltado para o enfrentamento de organizações
que praticam o roubo (armado) de joias. O projeto AOC está focado nas organizações criminosas
asiáticas e o Millennium, para organizações criminosas da Eurásia.
30
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
<www.interpol.int>
<http://www.interpol.int/Crime-areas/Organized-crime/Organized-crime> (inglês)
Sugestão de filmes:
Gomorra (2008)
<http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134985/>
31
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <http://telecine.globo.com/filmes/400-contra-1-uma-
historia-do-crime-organizado/>
Donnie Brasco
(1997)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-13896/>
32
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
A atuação da INTERPOL tem se dado por diversas formas e operações que receberam os nomes de
Pangea, Mamba, Storm e Cobra.
A Operação Pangea tem por objetivo o combate à venda ilegal de medicamentos pela internet. .
A Operação Mamba tem por objetivo interromper as atividades criminais que envolvam a falsificação
de produtos médicos na África Ocidental.
A Operação Storm por sua vez atua no combate à falsificação de medicamentos no Sudeste Asiático.
A Operação Cobra envolve uma série de ações na África Ocidental, com vistas a identificar, investigar
e desbaratar esquemas criminosos envolvendo desde a falsificação de medicamentos à produção
ilícita e distribuição de medicamentos.
<http://www.interpol.int/Crime-areas/Pharmaceutical-crime/Operations>
33
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Sugestão de filme:
O Jardineiro fiel (2005)
A INTERPOL ciente desta ameaça global definiu diversas ações e programas voltados para o
enfrentamento do terrorismo.
Uma das grandes preocupações de quem atua no combate ao terrorismo, é o chamado CBRNE, ou
seja, Terrorismo Químico, Biológico, Radioativo, Nuclear e Explosivos.
Com esse escopo, a INTERPOL, possui programas voltados para a prevenção do terrorismo CBRNE,
como também regularmente circulam alertas e avisos com relações a deslocamentos de terroristas,
criminosos e armas. Estes alertas são conhecidos como “Alertas Laranjas” (Orange Notices). Além
disso, para qualquer grupo ou entidade relacionada a Al-Qaeda ou Taliban identificado, alertas são
enviados. Na ocorrência de atentados, se necessário, à pedido do país atingido, a INTERPOL poderá
34
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
despachar equipes de resposta a incidentes, como já vimos anteriormente, as IRT, para atuar em
suporte às equipes locais.
Sugestão de filmes:
O Reino (2007)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-62537/>
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-16896/>
35
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-108587/>
O Lobo (2004)
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_15152_o.lobo.html>
36
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-129305/>
Homeland (seriado)
Fonte: <http://www.minhaserie.com.br/serie/566-homeland>
37
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Podemos ter diferentes tipos de tráfico, conforme o objetivo a ser alcançado pelos criminosos:
»» Tráfico de órgãos.
Há uma série de outros crimes que possuem conexão com o tráfico de pessoas, como o tráfico de
drogas, a pedofilia, bem como grupos que contratam criminosos para ingresso ilegal em outros
países.
A resposta da INTERPOL a estes crimes se dá por meio de programas e operações, bem como do
compartilhamento de informações e suporte aos países-membros.
<http://www.interpol.int/Crime-areas/Trafficking-in-human-beings/Trafficking-in-
human-beings>
Sugestão de Filme:
A Informante (2010)
Fonte: <http://telecine.globo.com/filmes/a-informante/>
38
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
<http://www.interpol.int/Crime -areas/Trafficking-in-illicit-goods-and-
counterfeiting/Trafficking-in-illicit-goods-and-counterfeiting>
Sugestão de filme:
Diamante de Sangue (2007)
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-61469/>
39
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <www.interpol.int>
Sugestão de filmes:
40
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-20498/>
Considerações Éticas
As investigações de um modo geral assumem questões extremamente sensíveis e que precisam ser
tratadas com muito cuidado. O fato de um policial agir estritamente no cumprimento às normas
legais não necessariamente significa que ele tenha agido de forma legal. Há diversos momentos em
uma investigação, que embora legais, são desprovidos de comportamentos éticos ou morais. Para
uma diferenciação rápida entre ética e moral, os dois conceitos são muito próximos e semelhantes,
a ética deriva da palavra grega Ethos, que pode ser traduzida como “modo de ser” e diz respeito ao
caráter e a conduta individual do profissional. Por esta razão existem códigos de ética que visam
disciplinar a forma como determinada profissão deve ser exercida. Já a moral, vem da palavra
latina “morales” e diz respeito aos costumes. Por essa razão, o que pode ser considerado imoral em
algumas culturas, não é em outras. Em alguns países, mulheres podem ser presas se estiverem na rua
andando sozinhas ou na companhia de homens que não sejam parentes, ou ainda, sem determinado
tipo de vestimenta. Em outros, a homossexualidade ainda é tratada como crime e penas severas
podem ser aplicadas. Assim, não podemos falar de um comportamento moral sob o ponto de vista
mundial, mas há alguns costumes e valores que são mais compartilhados pelos países ocidentais,
enquanto outros se guiam pelos costumes orientais, assim como depende da religião de países
teocratas, como os que adotam a lei da Sharia e seguem fielmente os livros sagrados islâmicos, com
pouca flexibilidade para interpretações. Era o caso do Afeganistão quando governado pelo Taliban,
no qual as mulheres deviam andar cobertas por burcas e eram proibidas de estudar.
Apesar de não existir um Código de Ética federal para policiais, ministério público e todos que
estão responsáveis por investigações, alguns princípios podem ser encontrados em Leis Orgânicas
de Policiais, como a da Polícia Civil do Mato Grosso, previsto na Lei Complementar no 114, de
19/12/2005, que assim dispõe:
Art. 153. O policial civil manterá observância dos seguintes preceitos éticos:
41
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Cada caso é um caso. O investigador deve partir dos seguintes pressupostos para cada crime a ser
investigado:
1. O que aconteceu?
4. Quem são os principais suspeitos? Por quê? O que eles têm a dizer?
42
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
O investigador deve ter atenção e foco no que está sendo investigado. Histórias paralelas ou pré-
convicções são altamente prejudiciais. Um dos grandes erros é acompanhar os trabalhos pela
imprensa e se deixar impressionar pelo que está sendo dito.
Um caso que ficou tristemente famoso no Brasil, foi o da Escola Base em São Paulo:
No dia 27 de março de 1994, as mães de Fábio e Carla, ambos com quatro anos
na época foram à 6º DP, no Cambuci, bairro da zona sul de São Paulo, para
registrar uma queixa contra os diretores da Escola de Educação Infantil Base.
A essa altura, a imprensa já sabia sobre o caso. Achando que não havia
recebido a atenção necessária, Cléa, mãe de Carla, entrou em contato com a
Rede Globo. Naquela mesma noite, o Jornal Nacional noticiava o acontecido.
Mesmo com nada realmente comprovado, todos os grandes veículos de São
Paulo abraçaram a denúncia e deram manchete sobre o caso. Notícias que
resultaram na depredação da escola e também no linchamento moral dos
envolvidos.
Para quebrar o silêncio, Icushiro, Cida e Paula resolvem falar à imprensa. Mas
a percepção do erro veio tarde. O delegado já havia ganhado bastante espaço e
era amparado em qualquer atitude que tomasse. Sendo assim, ele decretou a
prisão preventiva de todos os suspeitos. A advogada do casal Saulo e Mara teve
acesso ao resultado do IML, que constava como inconclusivo.
43
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Fonte: <http://equipemidianamira.wordpress.com/2009/04/08/breve-resumo-do-
caso-escola-base/>
Há diversos filmes que retratam investigações mal-realizadas e conduzem à prisão de suspeitos que
na verdade eram inocentes. Como sugestão temos:
Fonte: <http://www.cultvideo.com.br/site/detalhe.
asp?id=7644&sec=cult>
44
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
A Caça (2013)
<http://www.timeout.com.br/sao-paulo/cinema/features/498/os-filmes-
da-semana-22313>
Cuidados devem ser adotados durante a investigação. Por exemplo, as digitais do suspeito no objeto
que provocou a morte da vítima são sem dúvida alguma relevante. Mas a única possibilidade real
é a de que ele seja o autor ou o objeto poderia ter sido manuseado previamente? Recentemente
foi amplamente divulgado o caso de médicos que fraudavam o sistema eletrônico de registro de
frequências de uma prefeitura, utilizando “dedos de silicone” com as impressões digitais dos
servidores, de tal forma a marcar presença para eles quando na verdade não estavam lá. E se um deles
estivesse cometendo um crime em outro local? Poderia utilizar como álibi, o fato de, oficialmente,
estar trabalhando, inclusive com o registro feito por sua digital. Percebem? Fatos devem ser
investigados. Outra questão diz respeito a investigadores que simplesmente reconstituem ou criem
em suas “cabeças” e tentam dirigir a investigação para provar a sua teoria.
Outra questão diz respeito às testemunhas: Qual o grau de convicção do que se alega ter sido
visto? Era tecnicamente possível que o que está sendo afirmado de fato possa ter ocorrido? Se uma
testemunha afirma que viu o suspeito no local do crime, é fundamental saber com a reconstituição,
feita no mesmo horário, com as mesmas condições de luminosidade, de clima (estava chovendo?) e
distância, dentre outras considerações com vistas a verificar a veracidade do depoimento.
Uma outra questão ética diz respeito ao envolvimento emocional do investigador com a vítima
e os suspeitos. A neutralidade fica bastante comprometida quando a vítima possui ou possuía
algum grau de intimidade com o investigador. Seja porque eram amigos íntimos ou ao contrário,
inimigos. Nessas situações o investigador deve declarar-se impedido. Da mesma forma, pode
haver o surgimento de sentimentos positivos e até mesmo paixão, por parte de testemunha ou de
algum suspeito com relação ao investigador. Ou o oposto, uma relação de ódio. Quando isso ocorre,
dizemos que está havendo um mecanismo de transferência. Quando este sentimento existe do
investigador com relação aos depoentes, à vítima (até então desconhecida) ou suspeito, falamos de
contratransferência. Tanto um quanto o outro são prejudiciais à investigação e cabe ao profissional
ou seu supervisor identificar o surgimento deste tipo de relação danosa ao processo e que pode
comprometer a ética.
Ainda com relação às questões éticas, é fácil de entender o porquê de ser condenável o recebimento
de qualquer tipo de facilidade ou presente por parte de suspeitos aos investigadores. Sob qualquer
45
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Outro ponto importante é com relação às evidências coletadas. Nada pode ser direcionado para se
tentar uma condenação. O material coletado deve complementar a investigação e não o contrário.
Há necessidade de contextualização e um erro grave é tentar colocar um suspeito no local do crime,
pelo achado de uma evidência não contextualizada. Por exemplo, você como investigador acredita
que determinado suspeito realmente cometeu o crime que está sendo apurado. No entanto, você
não tem evidências. Descobre então, que havia marcas de calçado número 42 no local do crime e que
o suspeito calça o mesmo número e que tem um sapato sujo na casa dele. Pronto, era tudo que você
queria para relacionar o suspeito ao local do crime. Contudo, de forma imparcial, precisa responder
as seguintes perguntas:
Há muitas outras perguntas e questões que devem ser devidamente analisadas, sempre de forma
imparcial e neutra. Uma técnica de investigação muito utilizada por analistas de perfis criminosos
é aquela em que eles constroem primeiro o perfil com base na análise da cena do crime e evidências
encontradas, sem saber dos suspeitos, para que não haja “contaminação” do raciocínio deles e acabe
por influenciar o curso da investigação.
Há ainda um ponto a ser levantado com relação à ética, que diz respeito às minorias de toda espécie
e preconceitos. Nenhum tipo de preconceito pode ser admitido em uma investigação. Qualquer um
pode ser um criminoso. Hoje temos com frequência pressa em buscarmos culpados e não raramente,
inocentes podem ser apontados.
46
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/11-marco-2004-434060.
shtml>
As prisões, entrevistas e interrogatórios devem seguir estritamente o que é previsto na lei e não são
toleráveis ameaças e nem o emprego de violência ou tortura para se obter confissões ou delações.
O Código de Ética Europeu da Polícia adotado em 19 de setembro de 2001 pelo Conselho de Ministros
dos países membros da União Europeia assim dispõe sobre a ética nas investigações:
Art. 48. A polícia deve seguir os princípios que todos estão sujeitos ao serem
indiciados por crimes, o que significa dizer que todos devem ser considerados
inocentes até que sejam condenados por um tribunal e que todos indiciados
tem alguns direitos, inclusive o de ser imediatamente informado das razões
pelas quais está sendo acusado, contra quem e o direito de preparar sua
defesa ou de contratar um advogado para fazê-la.
47
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Por fim, gostaria de lembrar o que prevê o artigo 5oda Constituição Brasileira:
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
Continua:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Assim, ninguém será exposto à mídia, nem detalhes de investigação podem ser divulgados sem que
haja devida comprovação de fatos e sempre de tal forma a não prejudicar as investigações. Há duas
48
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
hipóteses que devem ser seguidas ao se dar informações sobre o andamento de investigações para
a mídia:
Contudo, deve-se ter em mente, sempre que a imprensa é importante e poderosa colaboradora
do Poder Público e dos investigadores e de forma alguma deve ser alijada do processo ou receber
informações incorretas ou deixar de ser atualizada. A falta de informações é fábrica para rumores e
boatos. Há, no entanto, necessidade de planejamento e coordenação na forma como as informações
serão divulgadas, que devem ser concentradas em um único canal. Ou seja, não é qualquer pessoa
que deve ser autorizada para dar entrevistas, mas apenas aqueles designados para tal e que isso seja
feito de forma regular e não apenas quando a imprensa solicita. Deve ser assegurado à imprensa:
»» Jamais mentir;
»» Jamais se recusar a falar com a imprensa ou dizer “nada a declarar”. A polícia deve
informações à Sociedade e, portanto, sempre haverá algo a ser dito.
»» Permitir o livre trabalho dos jornalistas dentro dos princípios legais, da ética e da
moral.
49
CAPÍTULO 2
Investigação Criminal – Recursos
Investigativos
“Aos vivos devemos respeito, mas aos mortos devemos apenas a verdade.”
Voltaire
O primeiro passo é tomar conhecimento da existência de um crime. Estar certo de que o fato
denunciado realmente corresponde a uma ofensa prevista em lei e dirigir-se ao local que faça parte
de sua jurisdição. É importante lembrarmos que há prerrogativas legais para diferentes tipos de
crimes. A jurisdição não diz respeito apenas a áreas físicas, mas também a competências legais.
Um crime pode ser federal independente da área em que ocorra desde que os elementos para que
o configurem estejam presentes. Por exemplo, uma pessoa presa por tráfico de drogas, mas que
pertença a um esquema de tráfico internacional passa a configurar um crime que deve ser investigado
pela Polícia Federal, o que não significa que as demais polícias não possam atuar em apoio, se assim
solicitado pelo órgão responsável pela investigação.
Uma vez resolvida a questão da competência legal, o investigador deve conversar o quanto antes
com os peritos criminais, se possível ainda na cena do crime, para buscar as primeiras informações,
ao mesmo tempo em que pode iniciar o trabalho de busca de testemunhas. Quanto mais cedo as
testemunhas são ouvidas, mais recentes são as lembranças do ocorrido e maior a chance de se obter
detalhes. A conversa com as testemunhas deve sempre ser feita de forma adequada, reservada e
respeitosa. Observe e fotografe a multidão que está assistindo o trabalho dos peritos. Em alguns
casos, o criminoso permanece ou volta ao local para acompanhar o trabalho policial.
1. O que aconteceu?
2. Houve mortos? Quem morreu? Qual foi a causa da morte? Há indícios de suicídio,
homicídio ou acidente? Quais? Em casos suspeitos, o que pode ter provocado
a morte? Quem encontrou as vítimas? A que hora se deu a morte? Quem eram
as vítimas? Faça um estudo de vitimologia (nome, idade, profissão, ocupação,
residência, amigos, inimigos, namorados, grau de estudo, hobbies, filhos, parentes
etc). Se houve mais de um morto, de que forma as mortes estão relacionadas? Há
indícios de que uma única pessoa cometeu o crime? Converse com os familiares e
amigos mais próximos.
50
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
4. Há testemunhas? Quem são? O que viram? Onde estavam? O que estavam fazendo
no local? Onde moram? Converse com eles.
8. Há algum suspeito? Por quê? Como chegou até ele? Por que ele cometeria o crime?
Qual motivação? De que forma? Com uso de que meios? Onde ele está? Onde ele
estava na hora do crime? Há álibis? Quem são? Quais são? Houve alguma confissão?
É verossímil? Em que condições foi obtida? Houve alguma coerção? Há algum
ganho secundário?
10. Qual a sua hipótese? Por quê? Como chegou até ela?
A investigação não pode ser conduzida sem um planejamento. Simplesmente pelo “faro policial”.
Uma hipótese (ou mais) deve ser levantada com base nos relatórios do legista, dos peritos, dos
policiais que chegaram primeiro ao local do crime, das testemunhas, do suspeito (ou suspeitos),
do estudo da vitimologia e quando necessário da análise de perfis criminais, especialmente úteis
em crimes em série. Outras análises, exames e entrevistas podem ser requeridas e necessárias.
Mantenha sempre informado o encarregado das investigações ou seus superiores, do que está sendo
investigado. Em alguns casos, pode ser necessária a solicitação de mandados de busca e apreensão
na casa ou local de trabalho de suspeitos, como também pode ser solicitada autorização judicial para
escuta telefônica (é crime a escuta não autorizada).
Se a hipótese pode ser comprovada é hora de apresentar as conclusões e seguir para viabilizar a
ação penal e conforme o caso, nos termos da legislação em vigor.
Entrevistas e Interrogatórios
Todos que já assistiram algum filme policial já viram cenas de interrogatórios e de entrevistas.
Necessariamente esses filmes não reproduzem a realidade ou a legalidade desses procedimentos
como na vida real, já que o objetivo das produções cinematográficas é o do entretenimento. A
exceção são os documentários.
51
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Antes de começarmos a falar de entrevistas e interrogatórios, devemos nos lembrar que cada
país tem legislação própria e que há métodos e medidas que não podem ser utilizados por serem
desumanos ou ilegais, já que os presos também possuem direitos.
Entrevista não é sinônimo de interrogatório. A entrevista é uma conversa em que não existe
confrontação e nem acusação, que são típicas do interrogatório. A entrevista geralmente é feita com
vítimas, testemunhas, mas também pode ser feita com suspeitos, sobretudo em uma fase inicial em
que se pretende buscar indícios ou provas. No Brasil, durante o inquérito policial, um suspeito pode
ser ouvido em uma delegacia de polícia, sobre os fatos que estão sendo apurados. Ele, no entanto,
tem o direito de permanecer calado e de ter um advogado a seu lado. Na fase de ação penal, já
indiciado, o procedimento realizado pelo Juiz, é o do interrogatório e mesmo nesta condição, o réu
tem direito a advogado e a permanecer calado também sobre os fatos que está sendo acusado. Os
aspectos legais do interrogatório estão no Código de Processo Penal Brasileiro, a partir do art.185,
alterado pela Lei no 10.792, de 1 de dezembro de 2003.
As entrevistas como também os interrogatórios devem sempre que possível ser gravadas, o que
é lei em alguns países. Esta medida visa não apenas garantir que os direitos do preso não foram
desrespeitados, o que poderia acarretar em anulação de depoimento mais tarde ou acusação de
coerção ou tortura, como também permite a análise do comportamento e das respostas do suspeito
por uma equipe especializada que não precisa estar presente durante a oitiva do suspeito.
52
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Na Inglaterra, um Comitê Nacional composto por policiais, advogados e psicólogos, criou alguns
princípios para serem utilizados nas entrevistas e interrogatórios (WILLIAMSON, 2006):
3. O entrevistador deve sempre agir de forma justa e razoável em acordo com que cada
circunstância exige;
6. Durante as entrevistas os investigadores são livres para fazer perguntas para checar
a verdade, exceto nos casos de crianças vítimas de abuso sexual ou de violência,
cujos questionamentos serão utilizados em procedimentos criminais;
O que faz com que uma pessoa seja considerada vulnerável, não é a posição social ou o cargo público
que ocupa, mas, deficiências físicas, condições de saúde ou idade muito avançada, por exemplo.
53
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
Segundo Gudjonsson (2003), existe uma série de situações em que um interrogatório pode resultar
em resultados insatisfatórios ou mesmo representarem sérios problemas à unidade de investigação:
1. A confissão ainda que verdadeira, é considerada ilegal, por ter sido obtida com
utilização de coerção, violência ou tortura;
Dentre as muitas técnicas aceitáveis de interrogatório, Leo (1996) apresenta as seguintes, que
considera como efetivas para obtenção da confissão de suspeitos (que efetivamente tenham
cometido o crime):
54
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
Nos Estados Unidos, o uso do polígrafo é bastante difundido e muito utilizado, incluindo como teste
pré-admissional em alguns órgãos públicos, como sendo um instrumento confiável para detecção
da veracidade de depoimentos. Não é, contudo, aceito no Brasil.
Há muitos filmes comerciais que abordam interrogatórios. Assista aqueles que puder e faça sua
própria crítica ao que está correta e ao que não funciona ou mesmo é ilegal.
Fazer entrevistas e interrogatórios não é algo que se aprende apenas com livros, sendo fundamental
àqueles que pretendem atuar nessa área, que acompanhem profissionais mais experientes.
A literatura, contudo, nos ensina muito sobre o embasamento teórico a ser utilizado para esses
procedimentos e é fundamental para que o processo não seja realizado de forma descoordenada e
nem improvisada ou pior, que seja feita de forma ilegal ou desumana.
Perfil de suspeitos
Em muitos crimes, não se tem um suspeito, sobretudo, os cometidos em série e há necessidade de
que um perfil seja estabelecido. Em alguns países, como os Estados Unidos, há unidades destinadas
especificamente à elaboração de perfis criminais.
Ault e Reese (1980) propõem as informações que devem fazer parte do perfil criminal:
1. Etnicidade do criminoso;
2. Sexo do criminoso;
3. Faixa etária;
4. Estado Civil;
55
UNIDADE ÚNICA │ CONCEITOS
A unidade comportamental do FBI conhecida como BSU, com base em entrevistas de presos e estudo
de características comuns encontradas em crimes de natureza semelhante, propôs uma classificação
em que denomina o criminoso de organizado ou desorganizado, conforme a forma com que o crime
foi praticado.
Organizado Desorganizado
Crime planejado Crime espontâneo
Conversação controlada Mínima conversação
A cena reflete controle Cena é aleatória
Mostra que a vítima foi subjugada Violência súbita contra a vítima
Uso de algemas ou imobilização Uso mínimo de imobilização
Agressivo antes da morte Sexo após a morte
Corpo da vítima é escondido Corpo deixado à mostra
Ausência evidente de arma Presença evidente de arma
Corpo da vítima transportado Corpo deixado no local
O criminoso desorganizado está fora de controle, não planejou o ato e a cena do crime é descrita
como caótica. O ataque geralmente é por impulso e com frequência as vítimas são feitas diante de
oportunidades. As vítimas são pegas desprevenidas, não há preocupação em ocultar o cadáver e
nem de esconder a arma utilizada. Não raramente, são presos momentos após o crime, ainda com
as roupas sujas de sangue. Geralmente este tipo de criminoso possui dificuldade em manter relações
estáveis, tem baixa condição social e é comum que more sozinho e perto do local do crime. Pode
sofrer de transtornos de personalidade ou ser psicótico.
56
CONCEITOS │ UNIDADE ÚNICA
As descrições acima não são voltadas para crimes comuns, como o assalto a uma padaria em que
na fuga, o criminoso comete um assassinato. Estamos falando de crimes seriados ou de natureza
sexual, com emprego de violência e no qual o criminoso é desconhecido.
57
Para (não) finalizar
A investigação criminal é uma área com muitos desafios e que requer a adoção de técnicas intuitivas,
dedutivas, mas, sobretudo, respaldadas em conhecimentos teóricos bem embasados e do apoio
técnico-científico. Não há espaço na investigação criminal para a adoção de métodos desumanos ou
cruéis com vistas a obtenção de confissões e tampouco, o investigador pode agir apenas com base
em suas próprias convicções, abrindo “mão” de evidências e de depoimentos de testemunhas, do
estudo da vitimologia e da análise da cena do crime, sem falar na entrevista e no interrogatório de
suspeitos, que deve ser feito dentro das normas éticas e legais.
Foram propostos diversos filmes para complementarem o estudo e naturalmente, por não
serem documentários, possuem muitas informações que são partes da ficção e muitas outras
não correspondem ao sistema jurídico brasileiro. No entanto, possuem como mérito e por isso a
indicação, buscam retratar o que ocorre no submundo do crime em diferentes áreas. O filme Traffic,
por exemplo, ganhador de vários prêmios, mostra de forma bastante convincente, a complexidade
do tráfico de drogas, as relações de corrupção existentes, a luta de cartéis, a atuação de órgãos
policiais e algumas linhas investigativas que de fato são adotadas, bem como a questão da cooperação
internacional de agências. Este é o objetivo da indicação dos filmes e ao mesmo tempo, permitir a
comparação do que está sendo apresentado com o referencial teórico.
A apostila é tão somente um guia de estudos e as referências devem ser consultadas e o estudo
aprofundado. Da mesma forma, é necessário que todos que se disponham a atuar como investigadores,
adquiram a experiência prática diária, acompanhando os mais experientes e discutindo casos.
Nosso curso possui, ainda, uma outra disciplina, na qual são apresentados e discutidos casos
envolvendo investigações criminais e psicologia forense.
58
Referências
ADAMS, T; Krutsinger, J. Crime Scene Investigation; Prentice Hall: Upper Saddle
River, NJ. 2000.
LEO, R.A.. “Inside the Interrogation Room”. Journal of Criminal Law and
Criminology, 1996.
RITTER, N. DNA Solves Property Crimes (But Are We Ready for That?). NIJ
Journal. [Online] 2010 (accessed April 28, 2012)
60