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ESTUDANDO Variação linguística

Para o Vestibular
1 (Unirio-RJ) A norma culta não prevê o emprego dos pronomes tal
como aparecem no texto. Levando em consideração a
Sagrado dever proposta de linguagem do movimento literário em que
o poema se insere, justifique o uso dos pronomes no
Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não põe a mão
primeiro verso.
na boca. Menino, não coma doce antes do almoço. Vai
fazer a lição de casa. Sai daí. Vai dormir. O uso desses pronomes não corresponde à norma culta
BRANDãO, Inácio de Loyola.
porque o poema pertence à segunda fase do
a) Reescreva o texto, utilizando o registro culto da Modernismo brasileiro, que se propôs a romper com os
língua.
padrões tradicionais.
Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não ponhas

a mão na boca. Menino, não comas doce antes 3 (Unicamp-SP)


do almoço. Vai fazer a lição de casa. Sai daí. No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, in-
vasivo, pouco interessado na vida da comunidade,
Vai dormir. preferindo visitar o espaço como se visita um zooló-

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gico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo.
Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um
pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas
b) O tipo de linguagem do texto caracteriza a relação apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem
existente entre pais e filhos. Explique a afirmativa. turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão den-
tro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável.
Há emprego indiferenciado da segunda e da terceira Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozi-
nhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista
pessoa do singular nas ordens (imperativo), além de
passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da pa-
transgressão gramatical, permitida no registro nela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”.
HAAG, Carlos. Laje cheia de turista: como funcionam
informal (familiar, coloquial). os tours pelas favelas cariocas. Pesquisa Fapesp,
n. 165, 2009, p. 90-93. (Adaptado.)

O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto a


fala do guia, contém marcas típicas da linguagem colo-
2 (UFRJ) quial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto,
adequando-a à linguagem escrita formal.
Balada do amor através das idades O guia afirmou que o turismo na favela é um pouco
Eu te gosto, você me gosta
invasivo. Anda-se em ruelas apertadas nas quais
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana, as janelas abertas expõem os moradores a turistas
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau inconvenientes, que invadem a privacidade alheia,
para matar seu irmão. gerando mal-estar. A propósito, o guia relatou o que foi
Matei, brigamos, morremos.
(...) presenciado por um colega de trabalho durante uma
Hoje sou moço moderno, visita: um turista introduziu sua mão pela janela de
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco. uma casa e tirou a tampa da panela de uma moradora
Você é uma loura notável, que cozinhava no momento. Irritada, a moradora o
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto. repreendeu com um tapa em sua mão.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount, 4 (Fuvest-SP) Responda ao que se pede:
te abraço, beijo e casamos. a) Noticiando o lançamento de um dicionário de filmes
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia, 1930. brasileiros, um jornal fez o seguinte comentário a
propósito do filme Aluga-se moças, de 1981:

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O título traz um dos maiores erros ortográficos 6 (UFSC) Leia as citações a seguir e responda à questão.
já vistos no cinema brasileiro. O título correto do
longa seria “Alugam-se moças”. Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda
aos doentes, aos velhos, aos solitários.
O comentário e a correção feitos pelo jornal são jus- BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas.
tificáveis do ponto de vista gramatical? Por quê? Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004. p. 486.

Não há dúvida de que a correção feita pelo jornal


Sinhô e Sinhá num mêis ou dois mêis se há de
é perfeitamente justificável do ponto de vista casá!
LIMA, Jorge de. Novos poemas.
gramatical. A frase correta é “Alugam-se moças”. Rio de Janeiro: Lacerda, 1997. p. 3.

Equivocado é o comentário segundo o qual o erro


(...) eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo (...)
que o título traz é de natureza ortográfica. Trata-se, CASCAES, Franklin. O fantástico na Ilha de Santa Catarina.
Florianópolis: UFSC, 2004. p. 27.
na verdade, de um erro sintático de concordância

verbal. No caso, como o “se” é pronome apassivador, (...) morreu segunda que passou de uma anemia

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nos rim (...)
o sujeito da oração é “moças”, e o verbo deve,
MACHADO, A. de A. Brás, Bexiga e Barra Funda.
São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 55.
portanto, ir para o plural: “Alugam-se moças”
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equivale a “Moças são alugadas”. Levando em conta as diferentes formas linguísticas


utilizadas pelos autores na composição de suas obras,
b) Ao lado de um caixa eletrônico de um grande banco, comente a linguagem usada como recurso na cons-
pode ser lido o seguinte aviso: trução dos textos. Para tanto, considere as duas pro-
posições a seguir:
Em caso de dúvida, somente aceite ajuda de • variação linguística versus erro linguístico;
funcionário do banco. • funções da linguagem na literatura.
Reescreva a frase, posicionando adequadamente o
No primeiro texto, houve uso de linguagem formal.
termo destacado, de modo a eliminar a ambiguidade
nela existente. Nos outros, percebe-se que os autores têm
Em caso de dúvida, aceite ajuda somente de a intenção de mostrar uma linguagem informal,
funcionário do banco. dando ênfase ao regionalismo e também à classe social

dos falantes.

5 (ITA-SP) O texto abaixo, de divulgação científica, apresen-


ta termos coloquiais que, apesar de muito expressivos,
não são comuns em textos científicos. Reescreva o pri-
meiro período, utilizando a linguagem no nível formal.

Gene “vira-casaca” derruba tumor 7 (Mackenzie-SP)


A ciência vive atrás de truques para dar uma ras-
Se, pela pronúncia, você está desconfiado de que
teira genética no câncer, mas desta vez parece que
a nossa palavra “xará” surgiu de alguma expressão
pesquisadores americanos deram de cara com um
indígena, acertou. “Ela tem origem em ‘sa rara’, um
ovo de Colombo. Desligando um só gene, eles para-
derivado de ‘se rera’, que significa aquele que tem o
ram o crescimento do tumor. Melhor ainda: quando
mesmo nome, em tupi”, diz o etimologista Cláudio
a substância que suprimia o gene parava de agir, ele
Moreno. No sul do Brasil, usa-se também a palavra
se ativava, outra vez – mas a favor do organismo,
“tocaio” com o mesmo significado. Vem do espanhol
ordenando a morte do câncer.
“tocayo” que, por sua vez, tem origem na frase ritual
LOPES, José Reinaldo. Folha de S.Paulo, A16, 5 jul. 2002. latina que a noiva dizia ao noivo quando a comitiva
nupcial vinha buscá-la em casa: “Ubi’tu Caius, ibi
ego Caia” (Onde fores chamado Caio, ali eu serei
A ciência sempre procura meios para superar, através da Caia). Por transmitir a ideia de que a noiva, ao se ca-
sar, passava a ter o mesmo nome do noivo, a palavra
genética, o câncer. Pesquisadores americanos podem
passou a ser usada como sinônimo de xará.
ter encontrado uma nova solução. CAVALCANTE, Rodrigo. (Adaptado.)

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Sobre o trecho “Se, pela pronúncia, você está descon-
de um pé no outro, impaciente de assumir o seu pos-
fiado de que a nossa palavra ‘xará’ surgiu de alguma ex-
to no mundo, assim que o bonde chegue – o navio
pressão indígena, acertou”, é correto afirmar que:
fantasma fundeia nos verdes olhos.
a) corresponde a um trecho de diálogo real travado en- Não dói o calo no pé esquerdo, nem pesa o guarda-
tre o redator do texto e os especialistas em língua -chuva no braço, a um flibusteiro que bebe rum em
portuguesa. crânio humano daria o Capitão Kidd desconto de 3%
b) explora a função referencial da linguagem, que im- para vendas à vista? Desafia os vagalhões na sua nau
põe certa distância entre o texto e o leitor. Catarineta, eis que um pirata lhe bateu no braço e o
c) exemplifica o que chamamos de discurso direto livre, herói saltou em terra.
já que reproduz uma pergunta do leitor, tal como foi – Seu moço, para onde vai esse bonde?
elaborada.
TREVISAN, Dalton. Bonde.
d) corresponde a um trecho de diálogo entre o redator
do texto e o leitor Cláudio Moreno.
Considere as afirmações que se seguem.
e) explora o recurso de simular um diálogo entre o re-
dator e o leitor do texto, a fim de motivar a leitura. I. “beber rum da Jamaica”, “beijar Mercedes” e “saquear
uma ilha” são orações cuja função é esclarecer o sen-
tido de grandes coisas.
8 (Fuvest-SP) II. A expressão “na fila das seis da tarde” é predominan-
temente indicativa de tempo.
Eu te amo
III. “solteiro”, “comerciário” e “herói” mencionam, nesse
Ah, se já perdemos a noção da hora, fragmento, a mesma personagem.
Se juntos já jogamos tudo fora, IV. A expressão “para onde” (“para onde vai esse bon-

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Me conta agora como hei de partir de?”) poderia ser corretamente substituída por “onde”
(“onde vai esse bonde?”).
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios Dentre essas afirmações, estão corretas apenas:
Me diz pra onde é que inda posso ir a) I e III. c) II e IV. e) III e IV.
b) I e II. d) II e III.
(...)

Se entornaste a nossa sorte pelo chão, 10 (FGV-SP)


Se na bagunça do teu coração

Calvin & Hobbes, bill Watterson © 1992 Watterson/Dist. by Universal UCliCk


Meu sangue errou de veia e se perdeu

(...)

Como, se nos amamos feito dois pagãos


Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta


Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
JOBIM, Tom; BUARQUE, Chico.

Nesse texto, em que predomina a linguagem culta, ocor-


re também a seguinte marca da linguagem coloquial:
a) emprego de “hei” no lugar de “tenho”.
b) falta de concordância quanto à pessoa nas formas
verbais “estás”, “tomares” e “conta”.
c) emprego de verbos predominantemente na segunda
pessoa do singular.
d) redundância semântica, pelo emprego repetido da
palavra “conta” na última estrofe.
e) emprego das palavras “bagunça” e “cara”.

9 (Fatec-SP)
O Estado de S. Paulo, 14 abr. 2001. (Adaptado.)
Solteiro, comerciário, ele se desespera na fila das
seis da tarde. Na meia hora de vida roubada por este
bonde, José podia ter feito grandes coisas: beber rum Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é
da Jamaica, beijar Mercedes, saquear uma ilha. Pula mais formal e, no último, mais informal. Assinale a alter-
nativa que traga, primeiro, uma marca da formalidade

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e, depois, uma marca da informalidade presentes nos Analise as afirmações abaixo acerca do segundo quadro
quadrinhos. da tira.
a) Vilania; vosso. d) Tenhais; segui. I. Quando em sua forma preposicionada, a expressão “es-
b) Vós; você. e) Notícias; falem. tar a fim” é equivalente à expressão “estar disposto a”.
c) Estou; você. II. No uso culto, a expressão “estar a fim” pode ser usada
com qualquer preposição da Língua Portuguesa.
11 (Fuvest-SP) Entre as mensagens abaixo, a única que está III. O uso da expressão “estar a fim”, sem a preposição
de acordo com a norma escrita culta é: “de”, é típico do registro coloquial.
a) Confira as receitas incríveis preparadas para você.
Quais estão corretas?
Clica aqui!
b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a a) Apenas I.
campanha do agasalho! b) Apenas II.
c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz! c) Apenas I e III.
d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de
boa procedência. d) Apenas II e III.
e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio e) I, II e III.
de um policial.

Gramática • Variação linguística


14 (Uesb-BA)
12 (PUC-PR)

© JoaqUín salvaDor lavaDo (qUino) –


toDa MaFalDa – Martins Fontes, 1991
Tem um contrato em que o Ronaldo tem que jogar
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todos os jogos, os noventa minutos.


EDMUNDO, Veja, ago. 1998.

A frase anterior está expressa em uma variante informal


da língua. Quais das versões seguintes a transformariam
em variante formal?
I. Há um contrato em que o Ronaldo tem que jogar os
noventa minutos de todos os jogos.
II. Segundo um contrato, o Ronaldo tem de jogar os no-
venta minutos de todos os jogos.
III. Há um contrato segundo o qual o Ronaldo tem de
jogar os noventa minutos de todos os jogos.
IV. Existe um contrato prescrevendo que o Ronaldo deve
jogar os noventa minutos de todos os jogos.
a) Todas.
b) Apenas II, III e IV.
c) Apenas I e IV.
d) Apenas III e IV. QUINO. Toda Mafalda.
e) Nenhuma. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 183.

O diálogo entre Mafalda (a menina) e o moço da farmá-


13 (UFRGS-RS) cia apresenta:
a) uma situação embaraçosa, fundamentada em uma
© 2011 king FeatUres synDiCate/ipress

visão negativista da ciência.


b) uma visão crítica dos experimentos científicos em
face de suas limitações em pesquisa.
c) uma impossibilidade de comunicação dos interlocu-
tores, devido à inadequação da linguagem usada ao
contexto situacional.
d) o humor decorrente de uma suposta resposta nega-
tiva do segundo interlocutor e a pertinente reflexão
crítico-irônica de Mafalda.
e) o primeiro enunciado contendo uma fala de conteú-
do ambíguo, razão do não entendimento da pergun-
ta por parte do segundo interlocutor.

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15 (Fuvest-SP) de algum modo de maneira diferente em relação a ou-
tro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais dife-
Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente
rentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma
quando tem pouco que fazer; começou portanto a
razão, a distância – só que esta é social) acabam carac-
puxar conversa com o freguês. Foi a sua salvação
terizando sua fala por traços diversos em relação aos de
e fortuna.
outra classe. O mesmo vale para diferentes sexos, ida-
O navio a que o marujo pertencia viajava para a
des, etnias, profissões. De uma forma um pouco simpli-
Costa e ocupava-se no comércio de negros; era um
ficada: assim como certos grupos se caracterizam através
dos comboios que traziam fornecimento para o Va-
de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes,
longo, e estava pronto a largar.
por terem determinados hábitos etc.), também podem
– Ó mestre!, disse o marujo no meio da conversa,
caracterizar-se por traços linguísticos.
você também não é sangrador?
(...)
– Sim, eu também sangro...
– Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola.
conosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali Campinas: ALB/Mercado Aberto, 2005. p. 34.
que é uma praga.
– Homem, eu da cirurgia não entendo muito... Texto 2
– Pois já não disse que sabe também sangrar?
– Sim... Xaxado chiado
– Então já sabe até demais. Eu botei o som na caixa e testei o microfone no capri-
No dia seguinte saiu o nosso homem pela bar- [cho mas o som saiu chiado
ra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria Eu tentei fazer um xote, um chorinho ou um maxixe
sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um [mas não sei quem foi que disse que o que eu fiz
salto mortal a médico de navio negreiro; restava era xaxado

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unicamente saber fazer render a nova posição. Isso 3 Ó xente, vixe! Um xaxado diferente, de repente tá
ficou por sua conta. [chegando pra ficar
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de via- Resolvi dar uma chegada lá no Sul pra mostrar o meu
gem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o mé- [xaxado porque achei que lá embaixo iam gostar
dico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes,
Chinelo, chapéu, xampu
e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com
6 Enchi minha mochila e parti pro Sul
isto ganhou imensa reputação, e começou a ser es-
timado. Encaixei um toca-fitas no chevete e achei o meu cas-
Chegaram com feliz viagem ao seu destino; to- [sete do Raul
maram o seu carregamento de gente, e voltaram Na estrada eu nem parei na lanchonete porque eu ti-
para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem [nha pouco cash e esperei até chegar
um só negro morreu, o que muito contribuiu para 9 Em território gaúcho só pra rechear o bucho de chu-
aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do [leta na chapa na churrascada de lá
riscado. Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe!
Não se avexe, chefe, chega nesse show só de chinfra
ALMEIDA, Manuel Antônio de.
Memórias de um sargento de milícias. 12 Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe!
Não se avexe, se mexe, meu chefe, chama na xinxa!
Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que
A linguagem de cunho popular, presente tanto na fala [troço doido é esse?
dos personagens quanto no discurso do narrador do ro- 15 Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que
mance de Manuel Antônio de Almeida, está mais bem [trem bão!
exemplificada em: (...)
a) “quando tem pouco que fazer”; “cumpria sabê-lo GABRIEL O PENSADOR; GOMES, André. Disponível em:
aproveitar”. <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 8 jun. 2010.
b) “Foi a sua salvação”; “a que o marujo pertencia”.
c) “saber fazer render a nova posição”; “Chegaram com
feliz viagem ao seu destino”. 16 Com relação ao uso diferenciado da língua:
d) “puxar conversa”; “entendedor do riscado”. a) no texto 1, discutem-se os vários fatores que pro-
e) “adoeceram dois marinheiros”; “sólida reputação”. vocam as diferenças na fala. Essas diferenças são
ilustradas nas linhas 13 e 14 do texto 2.
b) no texto 2, o uso repetido de palavras com ch e x
(UFRN) A questão 16 refere-se aos textos 1 e 2 a seguir.
provoca uma sonoridade. Essa repetição compro-
mete o propósito comunicativo do texto.
Texto 1
c) no texto 2, essas diferenças revelam a classe social e
(...) o nível de escolaridade dos autores da canção. Isso
Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na se comprova nas linhas 14 e 15 desse texto.
fala de pessoas é externo à língua. Os principais são os
d) nos textos 1 e 2, apresenta-se um conteúdo que
fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, de et-
reforça o preconceito quanto às diferentes formas
nia, de profissão etc. Ou seja: as pessoas que moram em
de falar. Esse preconceito é, predominantemente,
lugares diferentes acabam caracterizando-se por falar
regional.

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17 (UFSCar-SP) Considere a tirinha. diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais pro-
fundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito

CUstóDio
que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congres-
so Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e
nacional do povo brasileiro.
O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos
que militam em favor de sua ideia, pede vênia para lembrar
que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de
um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a
emancipação política do país requer como complemento e
consequência a sua emancipação idiomática.
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua
originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir as
nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natu-
reza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais
e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e
ainda vivem, portanto possuidores da organização fisio-
lógica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa

Gramática • Variação linguística


forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de
uma difícil adaptação de uma língua de outra região à
nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal –
controvérsias que tanto empecem* o progresso da nossa
cultura científica e filosófica.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá en-


Disponível em: <www.custodio.net>. contrar meios para realizar semelhante medida e côns-
Na situação comunicativa em que se encontram, os per- cio* de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance
sonagens valem-se de uma variedade linguística mar- e utilidade.
cada pela informalidade. Reescreva as frases a seguir, P. e E. deferimento.
adequando-as à norma-padrão, e justifique as altera- BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.
ções realizadas.
* Empecem: prejudicam, impedem.
a) “Onde ele foi?” e “Vai onde for preciso!”. * Cônscio: consciente.

“Aonde ele foi?” e “Vai aonde for preciso!”. Nessas


18 Entre as marcas linguísticas presentes no texto, destaca-se:
frases, o verbo “ir” exige o uso da preposição “a”, que a) o emprego de linguagem figurada, com a finalidade
de reforçar a argumentação.
se aglutina ao pronome “onde”.
b) o predomínio da coordenação, visando torná-lo mais
descritivo.
b) “Você conhece ele...” e “A gente tem camisa pro frio?”.
c) a originalidade de sua estruturação, em contraste
“Você o conhece...”: não se pode utilizar o pronome com a do romance em que se insere.
d) a incorporação de coloquialismos para disfarçar a ori-
pessoal do caso reto “ele” na função de objeto direto; gem nobre do autor do pedido.
é necessário utilizar o pronome oblíquo “o”. “Nós e) o uso de linguagem estereotipada, tendo em vista
sua finalidade.
temos camisas para o clima frio?”: “a gente”, “pro” e
19 A única frase que está redigida de acordo com a norma
“frio” (com omissão do substantivo a que se refere o escrita padrão é:
adjetivo) são marcas de oralidade, substituídas, a) Os resultados da tendência de redução do índice de
natalidade só poderá ser sentido dentro de aproxi-
respectivamente, por “nós”, “para o” e “clima frio”. madamente vinte anos.
b) Com o aumento das pessoas com mais de 60 anos
(FGV-RJ) aumentou consideravelmente as despesas de nosso
sistema previdenciário.
Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário c) A queda nas taxas de fecundidade de vários países
público, certo de que a língua portuguesa é emprestada costuma ser reflexo de seu desenvolvimento econô-
ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e mico e social.
o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se d) Inúmeros fatores modificaram a pirâmide etária bra-
veem na humilhante contingência de sofrer continua-
sileira e pode causarem uma séria consequência,
mente censuras ásperas dos proprietários da língua;
caso seja mantido.
sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e
os escritores, com especialidade os gramáticos, não se e) Em países onde os problemas do controle da nata-
entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, lidade já se tornou realidade, propõe-se incentivos
econômicos para o aumento de filhos.

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ESTUDANDO Variação linguística

Para o eneM
1 (Enem) muito mais variantes do que se imagina. E a gen-
H25 te se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo
H26 mundo ri, porque parece impossível que um praia-
no de beira-mar não chegue sequer perto de um
sertanejo de Quixeramobim. O pessoal de Cariri,
Calvin & Hobbes, bill Watterson © 1990

então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês


Watterson/Dist. by Universal UCliCk

doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos,


fazemos um duro au ou eu de todos os terminais
em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos
trocam o l pelo r. José Américo só me chamava,
afetuosamente, de Raquer.
QUEIROZ, R. O Estado de S. Paulo, 9 maio 1998.
(Adaptado.)

Rachel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de


variação linguística que se percebe no falar de pessoas
de diferentes regiões. As características regionais explo-

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radas no texto manifestam-se:
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.

3 (Enem)
H27

Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br>. Maurício e o leão chamado Millôr


Acesso em: 27 abr. 2010. Livro de Flavia Maria ilustrado por cartunista nasce
como um dos grandes títulos do gênero infantil
Calvin apresenta a Haroldo (seu tigre de estimação) sua
escultura na neve, fazendo uso de uma linguagem espe- Um livro infantil ilustrado por Millôr há de ter
cializada. Os quadrinhos rompem com a expectativa do alguma grandeza natural, um viço qualquer que o
leitor, porque: destaque de um gênero que invade as livrarias (2 mil
títulos novos, todo ano) nem sempre com qualidade.
a) Calvin, na sua última fala, emprega um registro for- Uma pegada que o afaste do risco de fazer sombra ao
mal e adequado para a expressão de uma criança. fato de ser ilustrado por Millôr: Maurício – O Leão de
b) Haroldo, no último quadrinho, apropria-se do regis- Menino (Cosac Naify, 24 páginas, R$ 35), de Flavia
tro linguístico usado por Calvin na apresentação de Maria, tem essa pegada.
sua obra de arte. Disponível em: <www.revistalingua.com.br>.
c) Calvin emprega um registro de linguagem incompa- Acesso em: 30 abr. 2010. (Fragmento.)
tível com a linguagem de quadrinhos.
d) Calvin, no último quadrinho, utiliza um registro lin- Como qualquer outra variedade linguística, a norma-
guístico informal. -padrão tem suas especificidades. No texto, observam-
e) Haroldo não compreende o que Calvin lhe explica, em -se marcas da norma-padrão que são determinadas
razão do registro formal utilizado por este último. pelo veículo em que ele circula, que é a revista Língua
Portuguesa. Entre essas marcas, evidencia-se:
2 (Enem) a) a obediência às normas gramaticais, como a concor-
H25
dância em “um gênero que invade as livrarias”.
Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao b) a presença de vocabulário arcaico, como em “há de
mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque ter alguma grandeza natural”.
geral dos nordestinos, onipresentes, mas para con- c) o predomínio de linguagem figurada, como em “um
ferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam viço qualquer que o destaque”.
que todo nordestino fala igual; contudo as varia-
d) o emprego de expressões regionais, como em “tem
ções são mais numerosas que as notas de uma es-
essa pegada”.
cala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos e) o uso de termos técnicos, como em “grandes títulos
do gênero infantil”.

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4 (Enem) Texto 2
H19
H21 O “politicamente correto” tem seus exageros, Constitui incorreção, na língua literária, o emprego
H22 como chamar baixinho de “verticalmente prejudica- do verbo ter em lugar de haver em orações como:
H23 do”, mas, no fundo, vem de uma louvável preocu- “Tem livros na mesa” por “Há livros na mesa”.
pação em não ofender os diferentes. É muito mais Esse emprego corre vitorioso na conversação de todos
gentil chamar estrabismo de “idiossincrasia ótica” os momentos e já vai ganhando aceitação nos escrito-
do que de vesguice. res modernos brasileiros que procuram aproximar a
O linguajar brasileiro está cheio de expressões língua literária da espontaneidade do falar coloquial (...).
racistas e preconceituosas que precisam de uma BECHARA, E. Lições de português pela análise sintática.
correção, e até as várias denominações para bêbado Rio de Janeiro: Grifo, 1976.
(pinguço, bebo, pé de cana) poderiam ser substi-
tuídas por algo como “contumaz etílico”, para lhe Considerando as observações sobre o emprego de ter
poupar os sentimentos. em lugar de haver, pode-se afirmar que:
O tratamento verbal dado aos negros é o melhor
a) na opinião dos gramáticos, o emprego de ter com
exemplo da condescendência que passa por tolerân-
sentido de existir corrompe a língua portuguesa e,
cia racial no Brasil. Termos como “crioulo”, “negão”
por isso, deve ser evitado em qualquer situação.
etc. são até considerados carinhosos, do tipo de ca-
rinho que se dá a inferiores, e, felizmente, cada vez b) os dois autores desaconselham o emprego de ter com

Gramática • Variação linguística


menos ouvidos. “Negro” também não é mais correto. sentido de existir em qualquer situação comunicativa.
Foi substituído por “afrodescendente”, por influên- c) de acordo com o texto 2, a língua escrita culta não é
cia dos afro-americans, num caso de colonialismo receptiva ao emprego de ter em lugar de haver, mui-
cultural positivo. Está certo. Enquanto o racismo que to embora construções como “tem livros na mesa”,
frequentes na fala espontânea, sejam encontradas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

não quer dizer seu nome continua no Brasil, uma in-


tegração real pode começar pela linguagem. em alguns textos literários.
d) de acordo com o texto 1, o emprego de ter em lu-
VERISSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de Pernambuco,
gar de haver deve ser evitado apenas em situações
10 jun. 2006. (Adaptado.)
formais, quando devemos recorrer a uma linguagem
mais cuidada, sem marcas do falar coloquial.
Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada no Brasil e e) ao contrário do autor do texto 1, o autor do texto 2 de-
as exigências do comportamento “politicamente corre- fende que ter precisa ser empregado em lugar de haver
to”, o autor tem a intenção de: na conversação espontânea, mas não na linguagem
literária, que necessariamente adota a norma-padrão.
a) criticar o racismo declarado do brasileiro, que convi-
ve com a discriminação camuflada em certas expres- 6 (Enem) Diante do número de óbitos provocados pela
sões linguísticas. H27 gripe H1N1 – gripe suína – no Brasil, em 2009, o minis-
b) defender o uso de termos que revelam a despreocu- tro da Saúde fez um pronunciamento público na TV e
pação do brasileiro quanto ao preconceito racial, que no rádio. Seu objetivo era esclarecer a população e as
inexiste no Brasil. autoridades locais sobre a necessidade do adiamento
c) mostrar que os problemas de intolerância racial, no do retorno às aulas, em agosto, para que se evitassem a
Brasil, já estão superados, o que se evidencia na lin- aglomeração de pessoas e a propagação do vírus.
guagem cotidiana. Fazendo uso da norma-padrão da língua, que se pauta
d) questionar a condenação de certas expressões consi- pela correção gramatical, seria correto o ministro ler, em
deradas “politicamente incorretas”, o que impede os seu pronunciamento, o seguinte trecho:
falantes de usarem a linguagem espontaneamente. a) Diante da gravidade da situação e do risco de que
e) sugerir que o país adote, além de uma postura lin- nos expomos, há a necessidade de se evitar aglome-
guística “politicamente correta”, uma política de con- rações de pessoas, para que se possa conter o avanço
vivência sem preconceito racial. da epidemia.
b) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos
expomos, há a necessidade de se evitarem aglomera-
5 (Enem) ções de pessoas, para que se possam conter o avanço
H27 da epidemia.
Texto 1 c) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos
Dos quatro verbos auxiliares, somente ter não pode expomos, há a necessidade de se evitarem aglomera-
ser impessoal; constitui erro grave, e todo o possível ções de pessoas, para que se possa conter o avanço
devemos fazer para evitá-lo, empregar o verbo ter da epidemia.
com a significação de existir. Não devemos permitir d) Diante da gravidade da situação e do risco os quais
frases como estas: “Não tem nada na mala” (em vez nos expomos, há a necessidade de se evitar aglome-
de: “Não há nada...”) – “Não tem de quê” (em vez rações de pessoas, para que se possa conter o avanço
de: “Não há de quê”) – “Não tem lugar” (em vez de: da epidemia.
“Não há lugar”). e) Diante da gravidade da situação e do risco com que
ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa.
nos expomos, tem a necessidade de se evitarem
São Paulo: Saraiva, 2005. aglomerações de pessoas, para que se possa conter
o avanço da epidemia.

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ESTUDANDO Elementos da comunicação e funções da linguagem

Para o vestibular
1 (Uerj, adaptada) Você sabe o que é um palíndromo? (par. 1)
Por que estou dizendo essas coisas? (par. 7)
Brincar com palavras nos jogos verbais,
exercícios de literatura Observando os parágrafos compreendidos entre as per­
guntas acima, identifique a função da linguagem predo­
1 Você sabe o que é um palíndromo? minante nesses parágrafos e justifique sua resposta.
2 É uma palavra ou mesmo uma frase que pode ser
lida de frente pra trás e de trás pra frente. Por exem- Função metalinguística.
plo, em português: [osso]; em espanhol: “Anita lava la
tina”. Ou, então, a frase latina: “Sator arepo tenet opera Uma entre as justificativas: os parágrafos explicam
rotas”, que não só pode ser lida de trás pra frente, mas
pode ser lida na vertical, na horizontal, de baixo pra os significados das palavras.
cima, de cima pra baixo, girando os olhos em redor
deste quadrado: Os parágrafos contêm definição de palavras por

S A T O R outras palavras.
A R E P O
T E N E T
O P E R A
R O T A S

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3 Essa frase latina polivalente foi criada pelo es-
cravo romano Loreius, 200 anos antes de Cristo, e
tem dois significados: “O lavrador mantém cuida-
dosamente a charrua nos sulcos” e/ou “o lavrador
sustém cuidadosamente o mundo em sua órbi-
ta”. Osman Lins construiu o romance Avalovara 2 (Fuvest-SP) Considere este trecho de um diálogo en­
(1973) em torno desse palíndromo. tre pai e filho (do romance Lavoura arcaica, de Raduan
4 Muita gente sabe o que é um caligrama – aque- Nassar):
les textos que existiam desde a Grécia, em que as
letras e frases iam desenhando o objeto a que se
referiam – um vaso, um ovo, ou então, como num – Quero te entender, meu filho, mas já não entendo
autor moderno tipo Apollinaire, as frases do poe- nada.
ma se inscrevendo em forma de cavalo ou na per- – Misturo coisas quando falo, não desconheço, são
pendicular imitando o feitio da chuva. as palavras que me empurram, mas estou lúcido, pai,
5 Mas pouca gente sabe o que é um lipograma. sei onde me contradigo, piso quem sabe em falso,
6 Lipo significa tirar, aspirar, esconder. Portanto, pode até parecer que exorbito, e se há farelo nisso
um lipograma é um texto que sofreu a lipoaspi-
tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão intei-
ração de uma letra. O autor resolve esconder essa
letra por razões lúdicas. Já o grego Píndaro havia ro. Mesmo confundindo, nunca me perco, distingo
escrito uma ode, sem a letra “s”. Os autores bar- para o meu uso os fios do que estou dizendo.
rocos no século XVII também usavam este tipo de
ocultação, porque estavam envolvidos com o ocul- No trecho, ao qualificar o seu próprio discurso, o filho se
tismo, com a cabala e com a numerologia. vale tanto de linguagem denotativa quanto de lingua­
7 Por que estou dizendo essas coisas? gem conotativa.
8 Culpa da internet. a) A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo” é
9 Esses jogos verbais que vinham sendo feitos desde as um exemplo de linguagem de sentido denotativo ou
cavernas agora foram potencializados com a informá- conotativo? Justifique sua resposta.
tica. Dizia eu numa entrevista outro dia que estamos
vivendo um paradoxo riquíssimo: a mais avançada A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo”
tecnologia eletrônica está resgatando o uso lúdico da
linguagem e uma das mais arcaicas atividades huma- é de sentido denotativo, pois expressa de forma
nas – a poesia. Os poetas, mais que quaisquer outros
escritores, invadiram a internet. Se em relação às inequívoca um significado de base: a consciência do
coisas prosaicas se diz que a vingança vem a cavalo,
no caso da poesia a vingança veio a cabo, galopando filho da lucidez diante de seu discurso desconexo.
eletronicamente. Por isto que toda vez que um jovem
iniciante me procura com a angústia de publicar seu
livro, aconselho-o logo: “Meu filho, abra uma página
sua na internet para não mais se constranger e se sentir
constrangido diante dos editores e críticos. Estampe
seu texto na internet e deixe rolar”.
Sant’anna, affonso Romano de. O Globo, 15 set. 1999 (adaptado.)

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b) Traduza em linguagem de sentido denotativo o que
Um país como a Alemanha, menos vulnerável à in-
está dito de forma figurada na frase: “se há farelo nisso
fluência da colonização da língua inglesa, discute hoje
tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão inteiro”. uma reforma ortográfica para “germanizar” expressões
estrangeiras, o que já é regra na França. O risco de se

Gramática • Elementos da comunicação e funções da linguagem


Uma tradução possível é: se no que eu digo pode
cair no nacionalismo tosco e na xenofobia é evidente.
haver alguma obscuridade ou desconexão, tenha Não é preciso, porém, agir como Policarpo Qua-
resma, personagem de Lima Barreto, que queria
certeza, meu pai, de que muita coisa aí contida transformar o tupi em língua oficial do Brasil para
recuperar o instinto de nacionalidade. No Brasil de
também é coerente e muito bem pensada. hoje já seria um avanço se as pessoas passassem a
usar, entre outros exemplos, a palavra “entrega” em
vez de delivery.
Folha de S.Paulo, 20 out. 1997.
3 (UFG-GO) Uma propaganda a respeito das facilidades
oferecidas por um estabelecimento bancário traz a se- “No Brasil de hoje já seria um avanço se as pessoas pas-
guinte recomendação: sassem a usar, entre outros exemplos, a palavra ‘entrega’
em vez de delivery.“
Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça:
Nessa frase a linguagem está empregada em função:
vírgulas significam pausas.
a) poética. d) conativa.
Veja, São Paulo, n. 1918, p. 17, 17 ago. 2005.
b) fática. e) emotiva.
c) metalinguística.
Nesse texto, observa-se um exercício de natureza meta-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

linguística. Explique como esse recurso auxilia a cons-


trução do sentido pretendido para persuadir o leitor. 5 Considere a campanha a seguir.
O exercício metalinguístico dá a possibilidade de uma

comparação entre a função da vírgula na organização

do texto e as consequências do uso dos serviços

oferecidos pelo banco.

4 (Ufal)

reprodução
Língua para inglês ver
A incorporação da língua inglesa aos idiomas nati- Ministério da Saúde. Fôlder da Campanha contra
vos dos mais diversos países não é novidade. Traduz, a dengue (capa). 2011.
no âmbito da linguagem, uma hegemonia que os
Estados Unidos consolidaram desde a década de 50. O texto publicitário acima é parte de um fôlder produ-
Com a globalização e o encurtamento das distâncias zido pelo Ministério da Saúde para a campanha de ação
entre as nações obtido pelo avanço dos meios de co- contra a proliferação da dengue. Em relação à função
municação, a contaminação das demais línguas pelo comunicativa predominante nesse texto, pode-se afir-
inglês ficou ainda mais patente. mar que:
O fenômeno não é em si mesmo nocivo. Pode até a) é um texto que apela para a atenção do leitor, com o
enriquecer um idioma ao permitir que se incorpo- uso de verbos no imperativo; portanto, predomina a
rem informações vindas de fora que ainda não têm função conativa.
correspondência local. A internet é um exemplo
nesse sentido. b) é um texto predominantemente referencial, por
Outra coisa, porém, bem diferente, é o uso gratuito apresentar uma série de informações referentes à
de palavras em inglês como o que se verifica hoje no dengue.
Brasil. A não ser pela vocação novidadeira – e caipi- c) o fato de o fôlder apresentar referências a sites e ou-
ra – de quem se deslumbra diante de qualquer coisa tras instituições públicas ligadas à campanha nos faz
que o aproxima do “estrangeiro”, não há nenhuma ver que é um texto referencial.
razão para que se diga sale no lugar de liquidação, ou d) está claramente estabelecida no texto a função meta-
qualquer motivo para falar off em vez de desconto.
linguística, por haver explicações sobre os cuidados
Tais anomalias são um dos sintomas do subdesenvol-
que se deve ter contra a dengue.
vimento e exprimem, no seu ridículo involuntário, a
mentalidade de quem confunde modernidade com e) a fim de motivar a adesão dos leitores à campanha,
uma temporada em Miami. no fôlder predomina a função emotiva, perceptível
pelo uso do pronome “você”.

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(Cefet-CE) Texto para as questões 6 e 7. 7 As frases a seguir constituem exemplos da função ex­
pressiva da linguagem, exceto:
Voracidade a) “Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade
Estávamos num cinema nos Estados Unidos. Na nossa é feito para saciar apetites infantis (...)”.
frente sentou-se um americano imenso decidido a não pas- b) “Somos cada vez mais fascinados e menos críticos
sar fome antes do filme acabar. Trouxera do saguão um bal- diante do grande apetite americano (...)”.
de – literalmente um balde – de pipocas, sobre as quais eles c) “De vez em quando uma daquelas crianças grandes
derramam um líquido amarelo que pode até ser manteiga, resolve sair matando todo mundo (...)”.
e um pacote de M&M, uma espécie de pastilha envolta em d) “O que atrai nos Estados Unidos é justamente a opor­
chocolate. Intercalava pipocas, pastilhas de chocolates e tunidade de sermos infantis sem parecermos débeis
goles de sua small Coke, que era gigantesca, e parecia feliz. mentais (...)”.
Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade é feito
para saciar apetites infantis, que se caracterizam por serem 8 (PUC-SP)
simples mas vorazes. As nossas poltronas eram ótimas, a
projeção do filme era perfeita, o filme era um exemplar im- A questão é começar
pecável de engenhosidade técnica e agradável imbecilida- Coçar e comer é só começar. Conversar e escre-
de. Essa competência é o melhor subproduto da voracidade ver também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa
americana por prazeres simples. O que atrai nos Estados livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em
Unidos é justamente a oportunidade de sermos infantis sem nossa civilização apressada, o “bom-dia”, o “boa-
parecermos débeis mentais, ou pelo menos sem destoarmos -tarde, como vai?” já não funcionam para engatar
da mentalidade à nossa volta, e de termos ao nosso alcance conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do

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a realização de todos os nossos sonhos de criança, quando tempo ou de futebol. No escrever também poderia
ninguém tinha senso crítico ou remorso. ser assim, e deveria haver para a escrita algo como
Mas o infantilismo dominante tem seu lado assustador. conversa vadia, com que se divaga até encontrar
Nenhum carro de polícia ou de socorro do mundo é tão assunto para um discurso encadeado. Mas, à dife-
espalhafatoso quanto os americanos. Numa sociedade de rença da conversa falada, nos ensinaram a escrever
brinquedos caros, quanto mais luzes e sirenas mais diver- e na lamentável forma mecânica que supunha texto
prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que
tido, mas o espalhafato também parece criar uma necessi-
antes se pensara. Agora entendo o contrário: escre-
dade infantil de catástrofes cada vez maiores. O caminho
ver para pensar; uma outra forma de conversar.
natural do apetite sem restrições é para o caldeirão de pi-
Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a cer-
pocas, para a Mega Coke e para a chacina. Existe realiza- tos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escre-
ção infantil mais atraente do que poder entrar numa loja ver bonito e certo. Era preciso ter um começo, um
e comprar não um brinquedo igualzinho a uma arma de desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso
verdade mas a própria arma? Nos Estados Unidos pode. estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto.
De vez em quando uma daquelas crianças grandes resolve Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor), conver-
sair matando todo mundo, como no cinema, mas a maio- sando, entender como necessitamos nos reeducar
ria dos que compram as armas e as munições só quer ter para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas
os brinquedos em casa. transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi
Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar.
ingênua e terrível, mas ela não parece entrar nas nossas “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o
equações econômicas ou no cálculo dos nossos interes- leitor lê depois.” “Não”, lhe respondo, “Não consigo
ses. Somos cada vez mais fascinados e menos críticos escrever sem pensar em você por perto, espiando o
diante do grande apetite americano e de um projeto de que escrevo. Não me deixe falando sozinho”.
Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com
hegemonia chauvinista e prepotente como sempre, agora
interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais ape-
camuflado pelos mitos de “globalização”. Quando a pru-
nas, nem sequer imaginados de carne e ossos, mas
dência ensina que se deve olhar os americanos do ponto sempre ativamente presentes. Depois é espichar
de vista das pipocas. conversas e novos interlocutores surgem, entram na
VERISSIMO, Luis Fernando. A mesa voadora. roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 63-64.
MARQUES, M. O. Escrever é preciso. Ijuí: Unijuí, 1997. p. 13.

6 A linguagem denotativa foi utilizada em: Observe a seguinte afirmação feita pelo autor: “Em nos­
a) “As nossas poltronas eram ótimas, a projeção do fil­ sa civilização apressada, o ‘bom­dia’, o ‘boa­tarde, como
me era perfeita (...)”. vai?’ já não funcionam para engatar conversa. Qualquer
b) “Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo assunto servindo, fala­se do tempo ou de futebol”. Ele faz
tempo ingênua e terrível (...)”. referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o
c) “Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade gelo”. Indique a alternativa que explicita essa função.
é feito para saciar apetites infantis (...)”. a) Função emotiva d) Função conativa
d) “(...) mas a maioria dos que compram as armas e as b) Função referencial e) Função poética
munições só quer ter os brinquedos em casa”. c) Função fática

206

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9 (Cefet-CE) 11 (Uerj)

Os jovens velhos franceses Não coisa


A juventude francesa parece ter envelhecido. Em O que o poeta quer dizer

Gramática • Elementos da comunicação e funções da linguagem


maio de 1968, os jovens saíram às ruas em Paris e no discurso não cabe
nas principais cidades para pôr a imaginação no po- e se o diz é pra saber
der, como dizia um slogan das míticas manifestações o que ainda não sabe.
estudantis da época. Era um tempo de expansão eco- 5 Uma fruta uma flor
nômica no país e os jovens queriam mais que apenas um odor que relume...
terminar os estudos e arrumar um emprego. Como dizer o sabor,
Para os manifestantes que ameaçam paralisar o país seu clarão seu perfume?
hoje, um emprego estável protegido pelo Estado é tudo
com que eles sonham. Milhares de estudantes se mo- Como enfim traduzir
bilizaram na França contra a lei do primeiro emprego 10 na lógica do ouvido
proposta pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin. o que na coisa é coisa
A nova lei visa combater a alta taxa de desemprego en- e que não tem sentido?
tre jovens na França, hoje em dia oscilando na casa dos
A linguagem dispõe
22%. Villepin quer flexibilizar a legislação, permitindo
de conceitos, de nomes
que as empresas contratem jovens para seu primeiro
15 mas o gosto da fruta
emprego sem as garantias da legislação comum. O pon- só o sabes se a comes
to mais polêmico da proposta de Villepin é a precarieda-
de do primeiro emprego. Por um período de dois anos, (...)
os contratados pela nova legislação podem ser demitidos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sem os empecilhos da legislação trabalhista vigente. Os No entanto, o poeta


estudantes alegam que o resultado será a oficialização desafia o impossível
do contrato de trabalho com prazo fixo: dois anos. e tenta no poema
O fato é que a discussão sobre a necessidade de dimi- 20 dizer o indizível:
nuir o custo da proteção estatal na economia já se encer-
rou na Europa. A conclusão é que é preciso diminuir os subverte a sintaxe
gastos do generoso Estado de Bem-Estar para aumentar implode a fala, ousa
a produtividade, ganhar competitividade e voltar a cres- incutir na linguagem
cer. Cada país da União Europeia vem tentando seus densidade de coisa
métodos. Mas os jovens, paralisados pela falta de imagi- 25 sem permitir, porém,
nação, só conseguem lutar contra as mudanças. que perca a transparência
Maio de 1968 acabou derrubando o presidente já que a coisa é fechada
Charles de Gaulle, símbolo de uma França arcaica à humana consciência.
que se queria superar. Os jovens de hoje pedem a
cabeça de Villepin com medo do futuro. O que o poeta faz
30 mais do que mencioná-la
Época, Primeiro plano, 27 mar. 2006.
é torná-la aparência
pura – e iluminá-la.
No texto “Os jovens velhos franceses”:
Toda coisa tem peso:
a) não há características de reportagem. uma noite em seu centro.
b) a função da linguagem predominante é a referencial. 35 O poema é uma coisa
c) muitas palavras foram empregadas em sentido cono- que não tem nada dentro,
tativo. a não ser o ressoar
d) o autor não deixa transparecer sua posição ante os de uma imprecisa voz
fatos relatados. que não quer se apagar
– essa voz somos nós.
e) os fatos relatados não estão em ordem cronológica.
GULLAR, Ferreira. Cadernos de literatura brasileira.
São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1998.
10 (Ufal) Está incorreta a classificação da função da lingua-
gem na frase:
a) Comunicação é a transferência de informação por A primeira estrofe expõe ideias no campo da metalin-
meio de mensagem = função metalinguística. guagem, já que apresenta concepções acerca da própria
b) Psiu! Atenção! Olhe aqui! Aonde vai? = função fática. linguagem poética. Os versos que mais se aproximam
c) Não percas tempo em mentir. Não te aborreças = dessas ideias são:
função apelativa. a) Uma fruta uma flor / um odor que relume... (l. 5-6)
d) Nem todos os alunos são capazes de valorizar devida- b) sem permitir, porém, / que perca a transparência
mente a escola onde estudam = função referencial. (l. 25-26)
e) Os moradores da periferia dirigiam-se ao prefeito so- c) é torná-la aparência / pura – e iluminá-la. (l. 31-32)
licitando verbas para a canalização do rio = função d) Toda coisa tem peso: / uma noite em seu centro.
emotiva. (l. 33-34)

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12 (UFRN) Os trechos abaixo são as frases iniciais de crô- Bechara. Não sei se é badulaque, o fato é que a língua,
nicas de Luis Fernando Verissimo presentes no livro que não tem vida independente, também admite modismos,
Comédias para se ler na escola. Identifique em qual deles além de refletir todas as qualidades e os defeitos do povo
há um tratamento metalinguístico. que a fala. Estrangeirismos aparecem, somem e podem ser
a) Sou fascinado pela linguagem náutica, embora mi- substituídos por termos nossos. Foi o que aconteceu com
nha experiência no mar se resuma a algumas pas- a terminologia clássica e introdutória do futebol no Brasil,
sagens em transatlânticos, onde a única linguagem quando se falava em goalkeeper, off side e corner. Com a pas-
técnica que você precisa saber é “a que horas servem sar do tempo, e sem nenhuma atitude controladora, os ter-
o bufê?”. (O jargão, p. 67.) mos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões
feitas no Brasil, como goleiro, impedimento, escanteio.
b) Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que,
logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, Entrevista com Evanildo Bechara. Disponível em:
não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma <www.jornaldaciencia.org.br>. Acesso em: 30 mar. 2008. (Adaptado.)
escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e
provavelmente nunca mais dormir. (Sozinhos, p. 33.) 13 Considerando alguns aspectos que, globalmente, carac-
c) Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na terizam o texto, analise as seguintes observações.
redação. Os olhares que recebeu quando se enca- I. No texto predomina a função referencial, uma fun-
minhou para a mesa do editor. De curiosidade. De ção centrada no contexto de produção e de circula-
superioridade. Ou apenas indiferença. Do editor não ção do texto.
recebeu olhar nenhum. (A novata, p. 79.) II. Do ponto de vista da tipologia textual, podemos reco-
d) Quando a gente aprende a ler, as letras, nos livros, nhecer no texto um exemplar dos textos narrativos.
são grandes. Nas cartilhas – pelo menos nas cartilhas III. Por se tratar de uma entrevista, o texto apresenta,
do meu tempo – as letras eram enormes. Lá estava entre outras, formulações próprias do diálogo oral.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o A, como uma grande tenda. O B, com seu grande IV. O fato de não se tratar de um texto literário leva a que
busto e sua barriga ainda maior. (ABC, p. 113.) o entrevistado não use palavras em sentido figurado.
V. O professor entrevistado apresenta seus argumen-
(Ufal) Texto para as questões 13 e 14. tos, mas se omite quanto à apresentação de exem-
plos que pudessem reforçá-los.
Entrevista com Evanildo Bechara Estão corretas:
Jornalista. É fato que o português está sendo invadi-
a) I, II, III, IV e V. d) I e V apenas.
do por expressões inglesas ou americanizadas – como
background, playground, delivery, fast-food, download... b) I e II apenas. e) IV e V apenas.
Isso o preocupa? c) I e III apenas.
Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura. O
sistema da língua não sofre nada com a introdução de 14 A compreensão global do texto – que resulta da arti-
termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses termos culação entre os elementos contextuais e o material
entram no sistema têm de se submeter às regras de fun- linguístico presente – nos leva a reconhecer como afir-
cionamento da língua, no caso, o português. Um exem- mações principais do texto as seguintes:
plo: nós recebemos a palavra xerox. Ao entrar na língua,
I. O português está sendo invadido por expressões in-
ela acabou por se submeter a uma série de normas. Daí
surgiram xerocar, xerocopiar, xerografar, enfim, nasceu glesas ou americanizadas.
uma constelação de palavras dentro do sistema da língua II. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran-
portuguesa. geirismos.
Jornalista. Então esse processo não é ruim? III. A língua se enriquece quando você tem dois modos
Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras. de dizer a mesma coisa.
Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran- IV. O sistema da língua não sofre nada com a introdu-
geirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, ção de termos estrangeiros.
é o inglês, por ser um idioma voltado para o mundo.
V. Os termos estrangeiros do futebol foram dando lu-
Hoje, fala-se delivery, mas poderíamos dizer “entrega a
gar a expressões feitas no Brasil.
domicílio”. E há quem diga que o correto é “entrega
em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem fique com o Estão corretas:
delivery. A palavra inglesa delivery não chegou a entrar a) I, II, III e V apenas. d) I, II e IV apenas.
nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam b) II, III e IV apenas. e) I, II, III, IV e V.
outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia c) III e V apenas.
a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar
que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega a
domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo 15 No texto a seguir, predomina o uso da função referen-
entregar normalmente se constrói com a preposição a. cial. Que alternativa não corresponde às pistas dadas
Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a pelo texto que justificam essa afirmação?
língua se enriquece quando você tem dois modos de di-
zer a mesma coisa. Das pequenas tábuas de argila, passando pelo surgi-
Jornalista. E por que usar delivery, se temos uma ex- mento do papel, ao suporte virtualizado, onde, hoje,
pressão própria em português? Não é mais um badulaque nos expressamos, o sistema de símbolos gráficos a que
desnecessário? damos o nome de escrita conheceu revoluções que al-

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teraram profundamente a maneira como produzimos tos em talhadas. São tão saborosos, que, a juízo de todos,
e trocamos informações, sentimentos e ideias. Geral- não há fruta neste reino que no gosto lhe faça vantagem.
mente atrelada aos recursos e condições materiais dos GANDAVO, Pero de Magalhães. História da província de Santa
diferentes contextos históricos em que se desenvolveu,

Gramática • Elementos da comunicação e funções da linguagem


Cruz. São Paulo: Hedra, 2008. p. 91.
a escrita tornou-se protagonista de convulsões sociais, Texto 2
culturais e religiosas numa Europa que ainda não havia
compreendido completamente os significados da revolu- ananás (s.m.) Fruta de casca espinhosa e coroa de flores
ção nas técnicas de impressão iniciada por Gutenberg. longas, muito semelhante ao abacaxi.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário escolar
ALBERGARIA, Danilo. A internet e a cultura escrita. da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2008.
Revista Comciência, n. 113, nov. 2009. Disponível em:
<www.comciencia.br>. Acesso em: 15 maio 2011. Texto 3
Vereis os Ananases,
a) A organização das informações iniciais em uma espé- Que para Rei das frutas são capazes;
cie de linha do tempo. Vestem-se de escarlata,
b) O uso de orações subordinadas adjetivas restritivas. Com majestade grata,
c) O uso de linguagem técnica adequada aos textos in- Que para ter do Império a gravidade,
formativos. Logram da verde c’roa* a majestade;
Mas, como têm a c’roa levantada,
d) A menção a lugares e personagens importantes para
a explicação do assunto. De picantes espinhos adornada,
Nos mostram que entre Reis, entre Rainhas,
e) A generalização de informações tratadas anterior-
Não há c’roa no Mundo sem espinhas.
mente de modo específico.
Este pomo celebra toda a gente,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É muito mais que o pêssego excelente,


16 (UFG-GO) Pois lhe leva vantagem, gracioso,
Por maior, por mais doce, e mais cheiroso.
Hulton ArcHive/Apic/Getty imAGes

OLIVEIRA, Manuel Botelho. Música do Parnaso. Cotia: Ateliê


Editorial, 2005. p. 132-133. (Adaptado.)
* C’roa: coroa.

17 A alternativa que apresenta uma análise correta das fun-


ções comunicativas predominantes nos textos é:
a) Os textos 1 e 3 são predominantemente poéticos.
b) Os textos 1 e 3 são predominantemente conativos.
c) Os textos 1, 2 e 3 são predominantemente metalin-
guísticos.
d) Os textos 1 e 2 são predominantemente referenciais.
e) O texto 3 é predominantemente fático.
Einstein com a língua de fora é uma das imagens mais
exploradas pela publicidade. Essa foto é produtiva como
recurso persuasivo no discurso publicitário porque: 18 Em relação aos efeitos de sentido dos diferentes usos
a) instiga o leitor a recuperar valores emocionais des- das funções comunicativas, nos textos lidos, pode-se
pertados em um dos maiores físicos da história. afirmar que:
b) estimula o público consumidor a questionar as ver- a) o excesso de descrição do texto 1, que é referencial,
dades científicas estabelecidas antes do século XX. e, portanto, deveria apresentar linguagem clara e
c) vincula a credibilidade da propaganda ao princípio objetiva, prejudica a compreensão de sentidos pelo
físico de que a percepção da realidade é relativa. destinatário.
d) concorre para a promoção do jogo com o inesperado, b) no texto 1, o uso da comparação com a erva-babosa,
ao mostrar a irreverência de um renomado cientista. a alcachofra e as pinhas facilita a compreensão do
leitor em relação ao tamanho, forma e desenvolvi-
e) sugere que os textos das propagandas devem ser tão
mento do ananás.
atuais quanto as inovações tecnológicas.
c) o texto 2, que exerce a função referencial, apresenta
uma linguagem tão concisa que chega a prejudicar a
Textos para as questões 17 e 18. compreensão do enunciado, a ponto de ser necessá-
ria uma comparação com o abacaxi.
Texto 1 d) embora o texto 3 apresente características claramen-
Outra fruta há nesta terra muito melhor, e mais prezada te poéticas, como os versos ornamentados por figu-
dos moradores de todas, que se cria em uma planta hu- ras de linguagem, as sequências descritivas sobre o
milde junto do chão; a qual tem umas pencas como de ananás nos levam a crer que a função predominante
erva-babosa. A esta fruta chamam ananases e nascem como é a referencial.
alcachofras, os quais parecem naturalmente pinhas, e são
e) o texto 3 apresenta uma linguagem técnica e, assim,
do mesmo tamanho e alguns maiores. Depois que são ma-
duros, tem um cheiro mui suave, e comem-se aparados fei- poderia ser adaptado, para fins didáticos, a um texto
em que predominasse a função referencial.

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ESTUDANDO Elementos da comunicação e funções da linguagem

Para o ENEM
1 (Enem) 3 (Enem)
H18 H18
H19 A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se H19 Transtorno do comer compulsivo
desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades O transtorno do comer compulsivo vem sendo reco-
menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma nhecido, nos últimos anos, como uma síndrome caracte-
floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema rizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva
tem múltiplos mecanismos que regulam o número de alimentos. Porém, diferentemente da bulimia nervosa,
de organismos dentro dele, controlando sua repro- essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os
dução, crescimento e migrações. métodos compensatórios. Os episódios vêm acompanha-
DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: dos de uma sensação de falta de controle sobre o ato de
Companhia das Letras, 1995. comer, sentimentos de culpa e de vergonha.
Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresen-
Predomina no texto a função da linguagem: tando uma história de variação de peso, pois a comida é
a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em usada para lidar com problemas psicológicos. O transtor-
relação à ecologia. no do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2%
b) fática, porque o texto testa o funcionamento do ca- da população em geral, mais frequentemente acometen-
do mulheres entre 20 e 30 anos de idade.
nal de comunicação.
Pesquisas demonstram que 30% das pessoas que pro-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os re- curam tratamento para obesidade ou para perda de peso
cursos de linguagem. são portadoras de transtorno do comer compulsivo.
d) conativa, porque o texto procura orientar comporta-
Disponível em: <www.abcdasaude.com.br>.
mentos do leitor. Acesso em: 1o maio 2009. (Adaptado.)
e) referencial, porque o texto trata de noções e informa-
ções conceituais. Considerando as ideias desenvolvidas pelo autor, con-
clui-se que o texto tem a finalidade de:
2 (Enem) a) descrever e fornecer orientações sobre a síndrome
H25 da compulsão alimentícia.
H26 b) narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do
S.O.S. português
comer compulsivo.
Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito
c) aconselhar as pessoas obesas a perder peso com mé-
diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse as-
todos simples.
pecto da língua com base em duas perspectivas. Na
primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que d) expor de forma geral o transtorno compulsivo por
restringe o ensino da língua ao código. Daí vem o alimentação.
entendimento de que a escrita é mais complexa que e) encaminhar as pessoas para a mudança de hábitos
a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das alimentícios.
regras gramaticais, sem a preocupação com situações
de uso. Outra abordagem permite encarar as diferen- 4 (Enem)
ças como um produto distinto de duas modalidades H18
da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem H19 Texto 1
sempre nos damos conta disso. Chão de esmeralda
S.O.S. português. Nova Escola, São Paulo, Me sinto pisando
Abril, ano XXV, n. 231, abr. 2010. (Adaptado.) Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
O assunto tratado no fragmento é relativo à língua À Mangueira
portuguesa e foi publicado em uma revista destinada Sob uma chuva de rosas
a professores. Entre as características próprias desse Meu sangue jorra das veias
tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas pró- E tinge um tapete
prias do uso: Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
a) regional, pela presença de léxico de determinada re- Que quer se mostrar
gião do Brasil. Soberba, garbosa
b) literário, pela conformidade com as normas da gra- Minha escola é um cata-vento a girar
mática. É verde, é rosa
c) técnico, por meio de expressões próprias de textos Oh, abre alas pra Mangueira passar
científicos. BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de
d) coloquial, por meio do registro de informalidade. Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG, 1997.
Disponível em: <www.chicobuarque.com.br>.
e) oral, por meio do uso de expressões típicas da orali-
Acesso em: 30 abr. 2010.
dade.

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c) divulgar as várias expressões idiomáticas existentes e
Texto 2
controlar a atenção do interlocutor, ativando o canal
Quando a escola de samba entra na Marquês de de comunicação entre ambos.
Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componen-
d) definir o que são expressões idiomáticas e como elas

Gramática • Elementos da comunicação e funções da linguagem


tes bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas,
fazem parte do cotidiano do falante pertencente a
para que esse verdadeiro espetáculo entre em cena,
grupos regionais diferentes.
por trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício,
existe um verdadeiro batalhão de alegria: são costu- e) preocupar-se em elaborar esteticamente os sentidos
reiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, das expressões idiomáticas existentes em regiões
pesquisadores de enredo e uma infinidade de pro- distintas.
fissionais que garantem que tudo esteja perfeito na
hora do desfile. 6 (Enem)
AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. H21
Revista de Carnaval 2010: Mangueira. H23
Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010. H24

Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição


e o compromisso dos dirigentes e de todos os com-
ponentes com a escola de samba Estação Primeira de
Mangueira. Uma das diferenças que se estabelecem en-
tre os textos é que:
a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

emoções e sensações, mais do que a letra de música.


b) a letra de música privilegia a função social de comu-
nicar a seu público a crítica em relação ao samba e
aos sambistas.
c) a linguagem poética, no Texto 1, valoriza imagens
metafóricas e a própria escola, enquanto a lingua-
gem, no Texto 2, cumpre a função de informar e en-
volver o leitor.
d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o
Texto 1 acende a rivalidade entre escolas de samba,
enquanto o Texto 2 é neutro.
e) o Texto 1 sugere a riqueza material da Mangueira,
Ziraldo alves Pinto

enquanto o Texto 2 destaca o trabalho na escola


de samba.

5 (Enem)
H18
Disponível em: <http://ziraldo.blogtv.uol.com.br>.
H19
Expressões idiomáticas Acesso em: 27 jul. 2010.

Expressões idiomáticas ou idiomatismos são ex-


pressões que se caracterizam por não identificar
seu significado através de suas palavras individuais O cartaz de Ziraldo faz parte de uma campanha contra o
ou no sentido literal. Não é possível traduzi-las em uso de drogas. Essa abordagem, que se diferencia da de
outra língua e se originam de gírias e culturas de outras campanhas, pode ser identificada:
cada região. Nas diversas regiões do país, há várias
a) pela seleção do público-alvo da campanha, represen-
expressões idiomáticas que integram os chamados
tado, no cartaz, pelo casal de jovens.
dialetos.
Disponível em: <www.brasilescola.com>.
b) pela escolha temática do cartaz, cujo texto configura
Acesso em: 24 abr. 2010. (Adaptado.) uma ordem aos usuários e não usuários: diga não às
drogas.

O texto esclarece o leitor sobre as expressões idiomáti- c) pela ausência intencional do acento grave, que cons-
cas, utilizando-se de um recurso metalinguístico que se trói a ideia de que não é a droga que faz a cabeça do
caracteriza por: jovem.
a) influenciar o leitor sobre atitudes a serem tomadas d) pelo uso da ironia, na oposição imposta entre a se-
em relação ao preconceito contra os falantes que uti- riedade do tema e a ambiência amena que envolve a
lizam expressões idiomáticas. cena.
b) externar atitudes preconceituosas em relação às e) pela criação de um texto de sátira à postura dos jo-
classes menos favorecidas que utilizam expressões vens, que não possuem autonomia para seguir seus
idiomáticas. caminhos.

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ESTUDANDO Substantivo

Para o veStibular
1 (UFRJ) b) reescreva-os na forma vigente.
compram / pagá-la / moça / escritório
A Maria dos Povos, sua futura esposa
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol, e o dia: 3 (Cefet-CE)
Enquanto com gentil descortesia Pensar é viver
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora, (...) Discernir e escolher fica mais difícil, porque o
Quando vem passear-te pela fria: excesso de informações nos atordoa, a troca de mitos
nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure.
Goza, goza da flor da mocidade, Para ter algum controle de nossa vida é necessário des-
Que o tempo trata a toda ligeireza, cobrir quem somos ou queremos ser – à revelia dos
E imprime em toda flor sua pisada. modelos generalizantes.
Oh não aguardes, que a madura idade, Dura empreitada, num momento em que tudo pa-
Te converta essa flor, essa beleza, rece colaborar para que se aceitem modelos prontos
para servir. Pensamento independente passou a ser

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
excentricidade, quando não agressão. Família, escola e
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico
(Seleção de José Miguel Wisnik.) São Paulo: Cultrix, [s.d.]. e a capacidade de avaliar – e questionar – para poder
escolher. (...)
O texto se constrói por meio da oposição entre dois
LUFT, Lya. Pensar é transgredir.
campos semânticos, especialmente no contraste entre Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-78.
a primeira e a última estrofes.
Explicite essa oposição e retire, dessas estrofes, dois vocábu- No 1o parágrafo selecionado do texto, Lya Luft defende
los com valor substantivo – um de cada campo semântico –, a ideia de que devemos buscar nossa identidade. Que
identificando a que campo cada vocábulo pertence. expressão, formada por substantivo mais adjetivo, utili-
Os dois campos semânticos presentes na construção zada no parágrafo seguinte retoma essa ideia ao mesmo
tempo em que transmite uma opinião da cronista?
do poema indicam aspectos positivos e negativos:
A expressão é “Dura empreitada”.
juventude versus maturidade; beleza versus

decrepitude; nascimento versus morte; luminosidade 4 (Cefet-CE)


versus sombra. Os vocábulos representativos desses Quem é o criminoso?
campos semânticos são aurora, sol, dia, flor, beleza Outro dia, durante uma conversa despretensiosa, um
dos líderes da Central Única de Favelas (Cufa), entida-
versus terra, cinza, pó, sombra, nada. de surgida no Rio de Janeiro para representar os fave-
lados do país, descrevia uma cena que presenciou du-
rante anos a fio em sua vida: “É o bacana da Zona Sul
2 (UFRJ)
estacionar seu Mitsubishi no pé do morro e comprar
cocaína de um garotinho de 12 anos”. Em seguida, fez
Almeida e Costa comprão para remeterem para fora
uma pergunta perturbadora: “Quem é o criminoso? O
da Província, huma escrava que seja perfeita costurei-
ra, engomadeira, e que entenda igualmente de cozinha, bacana da Zona Sul ou o garoto de 12 anos?”. E deu
sendo mossa, de bôa figura, e afiançada conduta para a resposta: “Para vocês, o garoto de 12 anos tem de
o que não terão duvida pagala mais vantajosamente; ser preso porque ele é um traficante de drogas. Para
quem a tiver e queira dispor, pode dirija-se ao escripto- nós, tem de prender o bacana da Zona Sul porque ele
rio dos mesmos na rua da fonte dos Padres, n. 91. está aliciando menores para o crime”. Não resta dúvida
de que a situação retrata um dilema poderoso: de um
Gazeta Commercial da Bahia, 19 set. 1832. lado, tem-se uma vítima do vício induzida ao crime
de comprar drogas e, de outro, tem-se uma vítima da
Do texto: pobreza e da desigualdade induzida ao crime de ven-
a) selecione 2 (dois) verbos e 2 (dois) substantivos que dê-las. Na cegueira legal em que vivemos, a solução é
apresentem forma ou emprego diferentes da (do) atual. simples: prendem-se vendedor e comprador.
comprão / pagala / mossa / escriptorio (...)

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Começa agora a surgir uma alternativa mais rea- 6 No texto, as palavras “sinusitezinha” e “trabalhandinho”
lista com a intenção do governo federal de implan- exprimem, respectivamente:
tar a chamada “política de redução de danos”. Ou a) delicadeza e raiva. d) irritação e atenuação.
seja: em vez de punir os usuários, tratando-os como b) modéstia e desgosto. e) euforia e ternura.
criminosos, passa-se a encará-los como doentes e c) carinho e desdém.
atendê-los de modo a reduzir os riscos a que estão
expostos – como a overdose, aids, hepatite e outras
doenças. É mais realista porque a repressão do uso 7 (Unifesp)
de drogas é uma política bem-intencionada, na qual
se pretende a purificação pela via da punição, mas Meus oito anos
que tem se mostrado sistematicamente falha. A ideia
brasileira – já em uso em outros países, e não apenas Oh! que saudades que tenho
na Holanda – é um pedaço de bom senso e humilda- Da aurora da minha vida,
de. Encarar um viciado como doente é um enfoque Da minha infância querida
justo e generoso. Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
PETRY, André. Veja, p. 50, 24 nov. 2004.
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
No último período do 1o parágrafo do texto, há Debaixo dos laranjais!
substantivos. ABREU, Casimiro de.
a) 5 b) 6 c) 2 d) 4 e) 3
No primeiro verso, a palavra “que” antecede o substantivo

Gramática • Substantivo
“saudades”. Nesse contexto, ela só pode ser substituída por:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(Fuvest-SP) O texto abaixo refere-se às questões 5 e 6. a) muita. d) bastante.


b) quais. e) algumas.
S. Paulo, 13-XI-42
c) quantas.
Murilo
São 23 horas e estou honestissimamente em casa, ima-
gine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. To-
8 Leia o texto a seguir, extraído do blog do jornalista Tutty
mei com uma gripe na semana passada, depois, desen- Vasques.
sarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado
foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais Jeitinho de presidenta
esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze 19 de junho de 2011
dias que não faço nada, com o desânimo de após-gripe, Que diabos Tasso Jereissati quis dizer ao se referir
uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. a Dilma Rousseff como “alguém com jeitão de pre-
Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei sidente”?
trabalhandinho por aí. (...) Homofobia agora é crime!
Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe Ou não?
mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/tutty>.
“propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está fican- Acesso em: 20 jun. 2011.
do escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar
do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o a) O grau aumentativo, na expressão “jeitão de presi-
gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. dente”, ressalta determinada qualidade daquele a
As palavras são postas de propósito pra não gostar, devi- quem ela é atribuída. Aponte essa qualidade.
do à elevação declamatória do coral que precisa ser um
bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece Trata-se de virilidade ou autoridade inquebrantável,
botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não
deixar a coisa muito benfeitinha.(...) De todas as palavras características supostamente apropriadas ao
que você recusou só uma continua me desagradando “lar
fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um exercício austero do Poder Executivo.
desfalecimento no grandioso do coral.
b) Por que, segundo o próprio título do comentário,
ANDRADE, Mário de. seria mais adequado atribuir a Dilma Rousseff um
Cartas a Murilo Miranda.
“jeitinho de presidenta” em vez do “jeitão” ao qual se
referiu Tasso Jereissati?
5 No trecho “... o gosto consciente aí é da gente não gostar O diminutivo “jeitinho”, na referida expressão, denota
sensitivamente”, apresenta-se um jogo de ideias contrá-
rias, que também ocorre em: feminilidade e maleabilidade, qualidades que,
a) “dores e tratamento atrozes”.
segundo Tutty Vasques, seriam mais aceitáveis e
b) “reservas a palavras do poema”.
c) “insatisfação no prazer estético”. esperadas que a suposta aspereza de um “jeitão”
d) “a coisa muito benfeitinha”.
e) “o carinhoso do diminutivo”. masculino.

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(UFV-MG, adaptada) As questões de 9 a 11 baseiam-se em c) “Os substantivos variam desinencialmente [também]
fragmentos da obra Grammatica portugueza pelo methodo em caso... Ex.: João come frutas. João é aí um caso no-
confuso, de 1927, na qual o autor apresenta uma visão car- minativo. Maria lê jornais. Maria é aí um caso nomi-
navalizada da gramática. A grafia foi atualizada. nativo. Excetuam-se: Pedro toma o trem da Central,
porque aí Pedro é um caso perdido.”
d) “Quanto ao gênero, podem os substantivos ser mas-
9 “Procedamos acurada e pachorrentamente ao estudo (...)
culinos, femininos ou neutros. Masculino: Mesquita
da gramática, porque na melhor das hipóteses não ficare-
Cabral; feminino: Marion; neutro: preguiça, que é co-
mos sabendo coisa alguma...”
mum ao masculino e ao feminino.”
O autor tem razão diante de afirmativa como:
e) “O substantivo pode ser simples ou composto. O
a) “Os adjetivos se caracterizam morfologicamente substantivo é ‘simples’ quando é simples mesmo. Ex.:
por receberem as mesmas marcas de gênero e nú- café pequeno. É ‘composto’ quando acompanhado
mero que distinguem os nomes, com a diferença de de entrepitíveis. Ex.: média com pão quente.”
que estas marcas, no adjetivo, resultam de regras
de concordância.”
11 “O substantivo varia segundo o grau, dando uma ideia de
b) “Substantivo é a palavra com que designamos ou aumento no aumentativo; de diminuição no diminutivo
nomeamos os seres em geral. São, por conseguin- (...). aumentativo se forma com a terminação inho (...); di-
te, substantivos: a) os nomes de pessoas, animais, minutivo se forma com a terminação ão.”
vegetais, lugares e coisas: Maria, cão, ipê, Brasil,
A exemplificação que completa a doutrina carnavalizada
livro; b) os nomes de ações, estados e qualidades,
do autor foi quebrada por um exemplo, que é nosso, em:
tomados como seres: colheita, patriotismo, velhice,
bondade, largura.” a) aumentativo: moinho – mó grande.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c) “O emprego facultativo do infinito flexionado. Regra: b) diminutivo: pedrinha – pedra pequena.
Quando o infinito, apesar de não ter sujeito próprio c) diminutivo: cartão – carta pequena.
(...) exprime, contudo, uma ação exercida por um d) diminutivo: limão – lima pequena (e azeda).
agente que conhecemos do contexto e ao qual esta
e) aumentativo: fossinho – fossa grande (nasal).
se atribui, pode ser flexionado ou invariável, embora
frequentemente se dê preferência ora a uma, ora a
outra, das duas formas do infinito.” 12 (FGV-RJ)
d) “Os substantivos, todos os artigos, a maioria dos ad-
Com a sociedade de consumo nasce a figura do con-
jetivos, alguns numerais e alguns pronomes podem
tribuinte. Tanto quanto a palavra consumo ou consu-
sofrer uma variação de forma para dar ideia de um
midor, a palavra contribuinte está sendo usada aqui
ou mais de um. A isso nós chamamos de flexão de
numa acepção particular. No capitalismo clássico, os
número.”
impostos que recaíam sobre os salários o faziam de
e) “Raiz é o morfema comum a várias palavras de um uma forma sempre indireta.
mesmo grupo lexical, portador da significação bási- Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira
ca desse grupo de palavras. Assim em ‘claro, clarear, necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o
aclarar, esclarecer, esclarecimento e clarividência’, a contracheque era coisa, salvo engano, inexistente. Com
raiz é ‘clar-’. Em ‘livro, livrinho, livreiro, livraria e livres- o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram-
co’, a raiz é ‘livr-.’” -se as condições políticas para que o imposto de renda
afetasse uma parcela significativa da classe trabalhadora.
Quem pode se dar ao luxo de consumir supér-
10 Na sua intenção carnavalizadora, Mendes Fradique, ao fluos ou mesmo poupar, pode igualmente pagar
tratar do substantivo, mescla a nomenclatura usual com impostos.
o que lhe serve ao propósito humorístico. Em termos de
HADDAD, Fernando. Trabalho e classes sociais.
Nomenclatura Gramatical Brasileira – e apenas em termos Em: Tempo Social, out. 1997.
dela –, ele somente não inovou em:
a) “O substantivo pode ser próprio ou de aluguel. No plural, a frase – “Imposto direto sobre o contrache-
O substantivo é ‘próprio’ quando nomeia pessoa. que era coisa, salvo engano, inexistente.” – assume a se-
Ex.: Presidente da República, Prefeito, Ministro etc. guinte forma:
Esses substantivos só não nomeiam pessoa quan-
a) Impostos direto sobre os contracheque eram coisa,
do a pessoa não tem pistolão. O substantivo é de
salvo engano, inexistente.
‘aluguel’ quando o morador paga a renda ao se-
nhorio...” b) Impostos diretos sobre os contracheques eram coi-
sas, salvo engano, inexistentes.
b) “O substantivo pode ser real ou abstrato. É ‘real’
c) Impostos diretos sobre os contras-cheques eram coi-
quando se relaciona com o rei ou quando serve de
sa, salvo engano, inexistentes.
padrão monetário. O substantivo é ‘abstrato’ quando
não passa de conversa fiada. Ex.: câmbio estável, pla- d) Impostos direto sobre os contras-cheque eram coisas
taforma governamental, opinião pública, soberania salvos enganos, inexistentes.
popular, democracia, sorte grande, camarão de em- e) Impostos diretos sobre os contracheque era coisas,
pada, Tesouro Nacional etc.” salvo enganos, inexistente.

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13 (Fuvest-SP) 16 (UFRGS-RS)

Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infân- Se escapar do bombardeio ao qual está sendo sub-
cia, nunca em toda a minha vida, achei um menino metido, um achado divulgado anteontem por pesqui-
mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já sadores do Reino Unido poderá mudar a história da
da escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com ocupação humana da América. Segundo eles, pega-
alguma cousa de seu, adorava o filho e trazia-o amima- das de pessoas descobertas no centro do México te-
do, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um riam 40 mil anos – embora os registros mais antigos
pajem que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de presença humana no continente não ultrapassem
de pássaros, ou perseguir lagartixas nos morros do Li- 13 mil anos.
vramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à A equipe, liderada pela geoarqueóloga mexicana
toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Silvia González, achou os rastros na beira de um
Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador antigo lago assolado por chuvas de cinza vulcânica.
nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos Imagina-se que, depois de um desses episódios, um
pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, grupo de pessoas (entre as quais crianças, a julgar
general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha pelas dimensões das pegadas) teria caminhado sobre
garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas a cinza, deixando sua marca.
atitudes, nos meneios. Quem diria que... Suspendamos
Usando uma série de métodos diferentes, o grupo
a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto
britânico datou fósseis de animais no mesmo nível da
a 1822, data da nossa independência política, e do meu
pegada, assim como sedimentos em volta da própria,
primeiro cativeiro pessoal.
chegando à data de por volta de 40 mil anos antes

Gramática • Substantivo
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. do presente. Hoje, o sítio arqueológico das Américas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mais antigo cujas datas são aceitas pelos cientistas


A enumeração de substantivos expressa gradação as- é Monte Verde, no extremo sul do Chile, com seus
cendente em: 12,5 mil anos. Poucos pesquisadores põem em dúvi-
da a ideia de que os primeiros americanos cruzaram
a) “menino mais gracioso, inventivo e travesso”.
o estreito de Bering, vindos do extremo nordeste da
b) “trazia-o amimado, asseado, enfeitado”. Ásia, para chegar ao Novo Mundo.
c) “gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou per-
“Novas rotas de migração que expliquem a existência
seguir lagartixas”.
desses sítios mais antigos precisam ser consideradas.
d) “papel de rei, ministro, general”. Nossos achados reforçam a teoria de que esses primei-
e) “tinha garbo (...), e gravidade, certa magnificência”. ros colonos tenham vindo pela água, usando a rota da
costa do Pacífico”, disse González em comunicado.
14 (PUC-PR) Assinale a alternativa em que não há corres- “Nunca se deve dar a conhecer um achado tão im-
pondência semântica entre as duas palavras. portante numa entrevista coletiva”, critica o antro-
a) gelo – glacial pólogo argentino Rolando González-José, do Centro
Nacional Patagônico. O pesquisador já chegou a es-
b) cabeça – cefálico
tudar os antigos mexicanos junto com a arqueólo-
c) fogo – ígneo ga, mas teve “divergências inconciliáveis” com ela.
d) pele – capilar “Uma data de 40 mil anos não necessariamente leva
e) costas – dorsal a modelos alternativos de povoamento, muito menos
recorrendo a rotas transpacíficas”, diz.
15 (UFSM-RS) LOPES, Reinaldo José.
Folha de S.Paulo, p. A16, 6 jul. 2005.
Os mensaleiros, os sanguessugas, os corruptos de to-
das as grandezas continuam aí, expondo suas “caras de Considere as seguintes afirmações sobre referentes de
pau” envernizadas, afrontando os que pensam e agem segmentos do texto.
honestamente. Tudo isso, entretanto, não é motivo para I. O substantivo “bombardeio” (1o par.) refere-se às
anular o voto ou votar em branco. frequentes chuvas de cinza vulcânica que atingem
BLATTES, Sergio. Diário de Santa Maria, 3 ago. 2006. o achado.
II. O substantivo “marca” (2o par.) refere-se essencial-
Assinale a frase em que os substantivos compostos tam- mente a pegadas de crianças.
bém estão flexionados corretamente. III. A expressão “esses primeiros colonos” (4o par.) refe-
a) As autoridades desconsideraram os abaixos-assina- re-se aos migrantes que deixaram suas pegadas no
dos dos cirurgiões-dentistas. centro do México.
b) Os vice-diretores foram chamados pelos alto-falantes. Quais estão corretas?
c) Trouxe-lhe um ramalhete com sempre-vivas e amor- a) Apenas I
-perfeitos. b) Apenas II
d) Alguns populares ouviram os bate-bocas entre os c) Apenas III
guardas-costas do Presidente. d) Apenas I e II
e) Alguns boias-frias comiam pés de moleques. e) Apenas II e III

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17 (Unesp) A questão toma por base um fragmento do livro Efeitos mil revolve o pensamento,
Comunicação e folclore, de Luiz Beltrão (1918-1986). E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que vida e morte
O Bumba meu Boi Que não o alcança o humano entendimento.
Entre os autos populares conhecidos e praticados
no Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, Doutos varões darão razões subidas,
congada, etc. – aquele em que melhor o povo ex- Mas são experiências mais provadas,
prime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo E por isto é melhor ter muito visto.
jornalístico, é, realmente, o Bumba meu Boi, ou sim-
plesmente Boi. Cousas há i que passam sem ser cridas,
Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do E cousas cridas há sem ser passadas.
Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação es- Mas o melhor de tudo é crer em Cristo.
tética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu tur- CAMÕES, Luís de. Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 301.
no, observou a sua superioridade porque “enquanto
os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de
outrora, o Bumba meu Boi é sempre atual, incluindo a) Para maior efeito de solenidade na primeira estrofe,
soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sen- concorre o emprego reiterado de iniciais maiúscu-
sação, percepção contemporânea. Na época da escra- las em substantivos comuns como “Verdade”, “Amor”,
vidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela “Razão” e “Merecimento”. Essa afirmação é verdadei-
inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, ra? Justifique sua resposta.
a materialidade, o sensualismo de doutores, padres,
A afirmação é verdadeira, pois o emprego de iniciais
delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram con-
fissões estertóricas. O capitão do mato, preador de maiúsculas em substantivos comuns atribui-lhes

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos ne-
grinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da características próprias e, mais do que isso, confere-lhes
morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarra-
do, humilhado, tremendo de medo. O valentão mes- certa personificação ou até divinização, uma vez que
tiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que
todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e “Verdade”, “Amor”, “Razão” e “Merecimento” teriam
ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da
o poder de dar segurança e força a “qualquer alma”,
casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos
pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos ainda que “Fortuna”, “Caso”, “Tempo” e “Sorte” –
padres, os padres do interior, vinha arrastada com a
violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, substantivos também deificados pelo emprego da
metido a entender de tudo, o delegado autoritário, va-
lente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria inicial maiúscula – sejam, segundo o eu poético, os
perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoe-
tes, olhada por uma assistência onde estavam muitas verdadeiros regentes “do confuso mundo”.
vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela
virulência do desabafo”.
(...)
BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore.
São Paulo: Melhoramentos, 1971.

“O capitão do mato, preador de escravos, assombro dos b) Reescreva os dois últimos versos da primeira estrofe
moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros substituindo o substantivo “Fortuna” por outro que
que fugiram (...)” cumpra a mesma função semântica e comunicativa
Nessa passagem, levando-se em conta o contexto, a fun- que ele tem no texto.
ção sintática e o significado, verifica-se que “faz-sono” é: Resposta possível:
a) substantivo.
b) adjetivo. “Porém, Destino, Caso, Tempo e Sorte
c) verbo. Têm do confuso mundo o regimento.”
d) advérbio.
e) interjeição.

19 Leia o texto que segue.


18 Leia o seguinte soneto do poeta clássico português Luís
de Camões (1524?-1580). – Pelos últimos cálculos, replicou Meyer com vá-
rias pausas durante as quais introduzia enormes co-
Verdade, Amor, Razão, Merecimento lheradas da mistura que lhe aconselhara o anfitrião,
Qualquer alma farão segura e forte, é sabido que em Londres morrem no inverno oito
Porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte pessoas à míngua, em Berlim cinco, em Viena qua-
Têm do confuso mundo o regimento. tro, em Pequim doze, em Iedo sete, em...

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– Salta! atalhou Pereira exultando de prazer, então 20 O texto abaixo é um excerto do poema “José”, de Carlos
viva cá o nosso Brasil! Nele ninguém se lembra até Drummond de Andrade (1902-1987).
de ter fome. Quando nada se tenha que comer, vai-se
no mato, e fura-se mel de jataí e manduri, ou chupa- E agora, José?
-se miolo de macaubeira. Isto é cá por estas bandas; A festa acabou,
porque nas cidades, basta estender a mão, logo cho- a luz apagou,
vem esmolas... Assim é que entendo uma terra... o o povo sumiu,
mais é desgraça e consumição... a noite esfriou,
– Decerto! corroborou o alemão, o Brasil é um país e agora, José?
muito fértil e muito rico. Dá café para meio mundo e agora, você?
beber e ainda há de dar para todo o globo, quando você que é sem nome,
tiver mais gente... mais população... que zomba dos outros,
– Bem, eu sempre digo, acudiu Pereira tocando no você que faz versos,
ombro de Cirino e deitando-lhe uns olhos de triun- que ama, protesta?
fo. Lá fora é que nos conhecem, nos fazem justiça... e agora, José?
Não acha, patrício? Homem, agora reparo... vosmecê
está tão calado!... meio casmurro, que é isso? sempre Está sem mulher,
aquele negócio? está sem discurso,
De fato, Cirino, depois que ouvira o convite a está sem carinho,
Meyer para conviver no interior da casa de Pereira,
já não pode beber,
tornara-se sombrio, inquieto, meditabundo. O cor-
já não pode fumar,
po ali estava, mas a sua imaginação vigiava zelosa o
cuspir já não pode,

Gramática • Substantivo
quartinho onde repousava aquela menina febricitan-
a noite esfriou,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

te, tão bela na sua fraqueza e palidez enferma.


o dia não veio,
TAUNAY, Visconde de. Inocência. São Paulo: Ática, 1991. o bonde não veio,
(Série Bom Livro.)
o riso não veio,
não veio a utopia
Muitas obras do Romantismo brasileiro ressaltam ma-
e tudo acabou
tizes linguísticos regionais em sua composição, espe-
e tudo fugiu
cialmente na descrição de cenários e em discursos dire-
e tudo mofou,
tos. É o que acontece no romance Inocência (1872), de
e agora, José?
Visconde de Taunay (1843-1899), obra da qual se extraiu
(...)
o excerto apresentado. Justifique convincentemente o ANDRADE, Carlos Drummond de. José. Em: Literatura
emprego dos substantivos comuns “jataí”, “manduri” e comentada. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 61-62.
“macaubeira” pelo personagem Pereira, cujas palavras
aparecem, acima, em dois momentos nos quais se em- Apesar de ser um nome próprio, o vocábulo “José” tam-
prega o discurso direto. bém pode ser entendido, no contexto do poema, como
Os substantivos “jataí”, “manduri” e “macaubeira”, substantivo comum. Justifique esse fato com base na
personalidade que o poeta atribui a José ao longo das
todos de origem tupi, evidenciam a filiação duas estrofes lidas.

regionalista do texto (o regionalismo é uma De tão empregado e recorrente, o nome próprio “José”

destacada vertente da prosa romântica brasileira). acaba por perder sua individualidade e se confundir

Extrapolando os propósitos do projeto literário com a massa dos homens. No poema, além disso, José é

do momento, é possível, ainda, afirmar que esses um sujeito desprovido de notáveis qualidades individuais,

substantivos, devido exatamente a seu tom o que o torna, de fato, comum aos olhos do eu lírico.

pitoresco, assumem um significado muito próprio,

inerente à sensibilidade e à identidade do homem

mato-grossense – fato que lança tais palavras a um

campo semântico muito mais próximo ao de nomes

próprios, ainda que sejam compreendidos como

substantivos comuns.

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ESTUDANDO Substantivo

Para o eneM
Texto para as questões 1 e 2. a) A sequência de substantivos, ordenados logica-
mente, representa a materialidade das ações e dis-
Circuito fechado (1) pensa a presença de outros termos, como verbos.
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, b) Os substantivos demonstram o apego material do
creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, protagonista; não lhe importa, por exemplo, a ca-
espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água racterização (adjetivação) dos seres do mundo.
quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, cami- c) Subentendemos, com base nos substantivos, certas
sa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. ações que representam o cotidiano de um homem,
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, re- cuja vida circular o levará a um fim trágico.
lógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, d) A presença de substantivos demonstra que não há
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardana- espaço para outra pessoa e outros eventos na vida
po. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e pol- do protagonista, já que as ações subentendidas se
trona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo dão em um “circuito fechado”.
com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas,
e) Trata-se de uma escolha estilística do narrador, que
caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros,
produz um texto sem coerência e coesão.
papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigar-
ro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas,
3

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. O assassino era o escriba
Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de H18 Meu professor de análise sintática era o tipo do su-
anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, jeito inexistente.
projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósfo- Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
ro, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. regular como um paradigma da 1a conjugação.
Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, Entre uma oração subordinada e um adjunto adver-
guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. bial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, assindético de nos torturar com um aposto.
telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefo- Casou com uma regência.
ne interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta Foi infeliz.
e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e Era possessivo como um pronome.
caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folhe-
E ela era bitransitiva.
to, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Car-
Tentou ir para os EUA.
ro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, Não deu.
talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. A interjeição de bigode declinava partículas ex-
Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, pletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo
calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, todo.
escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
cama, travesseiro. LEMINSKI, Paulo. O assassino era
o escriba. Em: Caprichos e relaxos.
RAMOS, Ricardo. Circuito fechado (1). Em: Melhores contos.
São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 144.
(Seleção Bella Jozef.) São Paulo: Global, 2001. p. 59-60.

Sobre o texto lido, é válido afirmar que:


1 A leitura do conto revela: a) vários termos da gramática servem apenas para en-
H18 a) o manejo de uma linguagem arcaica, estranha a épo- cobrir a fúria assassina de um ex-aluno que detestava
cas mais atuais. um professor.
b) o uso de expressões linguísticas próprias do meio b) não se pode dizer que a vida escolar tenha marcado,
urbano, onde as novidades e a presença de ações de algum modo, a vida do narrador.
inusitadas são surpreendentes. c) os muitos termos gramaticais abordados pelo nar-
c) a circularidade do cotidiano do protagonista. rador revelam a convivência difícil entre um pro-
d) o uso de um vocabulário próprio do jargão empre- fessor em crise e um aluno dotado para o aprendi-
sarial. zado de gramática.
e) a intenção comunicativa de marcar o isolamento so- d) a vida amorosa do professor foi tão desastrosa quan-
cial do protagonista. to a do aluno.
e) as referências gramaticais dizem respeito tanto à
2 Entre as alternativas a seguir, aponte a que explica de terminologia técnica da área quanto a substantivos,
H27 forma mais convincente a presença quase exclusiva de ou seja, a nomes de seres do mundo (como “artigo”,
substantivos no texto “Circuito fechado (1)”. “partículas” ou “objeto”).

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Texto para as questões 4 e 5.
– Senhor Presidente, meus nobres colegas!
Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o pei-
Eloquência singular to e desfechou:
Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou: – Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.
– Senhor Presidente: não sou daqueles que... Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as pal-
O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo in- mas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vi-
dicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o vamente cumprimentado.
singular:
SABINO, Fernando. Eloquência singular.
– Não sou daqueles que... Em: Para gostar de ler: crônicas. São Paulo:
Não sou daqueles que recusam... No plural soava me- Ática, 1979. v. 4, p. 35-38. (Fragmento.)
lhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas
da linguagem – que recusa? – ele que tão facilmente caía 4 Como se percebe pela leitura do texto, o discurso do
nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou deputado encobre, na verdade, uma dúvida sobre a
H27
daqueles que... Resolveu ganhar tempo: concordância de certa palavra. Para “ganhar tempo”,
– ... embora perfeitamente cônscio das minhas altas res- ele tece uma fala praticamente esvaziada de sentido e
ponsabilidades, como representante do povo nesta Casa caracterizada por fórmulas oratórias. Dentre os enun-
não sou... ciados (em discurso direto ou indireto) e os pensa-
Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia mentos do deputado listados abaixo, escolha aquele
ter pensado em plural? Era um desses casos que os gra- em que o substantivo destacado ressalta sua secreta
máticos registram nas suas questiúnculas de português: preocupação com a norma culta gramatical.

Gramática • Substantivo
ia para o singular, não tinha dúvidas. Idiotismo de lin-
a) “(...) embora perfeitamente cônscio das minhas altas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

guagem, devia ser.


responsabilidades (...)”
– ... daqueles que, em momentos de extrema gravidade,
como este que o Brasil atravessa... b) “Idiotismo de linguagem, devia ser.”
Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pre- c) “(...) os imperativos de minha consciência cívica (...).”
tendia usar: d) “– Senhor Presidente, meus nobres colegas!”
– Não sou daqueles que... e) “(...) em momentos de extrema gravidade, como este
Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atra- que o Brasil atravessa...”
vessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical
em que sua oratória lamentavelmente se havia metido
5 No trecho “Era um desses casos que os gramáticos re-
logo de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo ser-
H26 gistram nas suas questiúnculas de português: ia para
via, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou H27 o singular, não tinha dúvidas” (7o parágrafo), o subs-
no plural:
tantivo em destaque, cujo significado é “questão me-
– Não sou daqueles que, dizia eu – e é bom que se re- nor, sem importância”, está empregado no diminutivo
pita sempre, senhor Presidente, para que possamos ser erudito. Evidentemente, o uso desse termo revela a
dignos da confiança em nós depositada. preferência por uma linguagem formal. Dentre as as-
Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao sertivas dispostas a seguir, aponte a que justifique de
ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aque- modo mais convincente a escolha do deputado por
la concordância. Ambas com aparência castiça. Ambas uma terminologia erudita.
legítimas. Ambas gramaticalmente lídimas, segundo o
a) Termos eruditos são protocolares no ambiente po-
vernáculo:
lítico, em que o emprego de palavras populares ou
– Neste momento, tão grave para os destinos da nossa
chulas é terminantemente proibido.
nacionalidade.
b) O uso de diminutivos eruditos é regra em ambientes
– Ambas legítimas? Não, não podia ser. Sabia bem que a
refinados, como uma Câmara de Deputados; tama-
expressão “daqueles que” era coisa já estudada e decidida
nha preocupação com a linguagem, aliás, justifica
por tudo quanto é gramaticoide por aí, qualquer um sabia
o receio do protagonista quanto à flexão correta de
que levava sempre o verbo ao plural:
uma forma verbal.
– ... não sou daqueles que, conforme afirmava...
c) O deputado opta pelo diminutivo “questiúnculas”
Ou ao singular? Há exceções, e aquela bem podia ser
para criticar o abusivo poder dos gramáticos nos
uma delas. Daqueles que. Não sou UM daqueles que. Um
mais variados meios sociais; de fato, é espantoso
que recusa, daqueles que recusam. Ah! O verbo era re-
imaginar que suas ridículas preocupações linguísti-
cusar:
cas afetem até mesmo os discursos dos líderes po-
– Senhor Presidente. Meus nobres colegas.
pulares.
(...)
d) O substantivo “questiúnculas” se mostra aparen-
E entrava por novos desvios:
temente adequado à solenidade pertinente a uma
– Muito embora... sabendo perfeitamente... os imperati-
Câmara de Deputados, onde um discurso cerimonio-
vos de minha consciência cívica... senhor Presidente... e
so decerto causaria boa impressão.
o declaro peremptoriamente... não sou daqueles que...
e) O deputado demonstra pura afetação ao cogitar pro-
O Presidente voltou a adverti-lo de que seu tempo se
nunciar o substantivo “questiúnculas”, cujo efeito de
esgotara. Não havia mais por onde fugir:
sentido seria idêntico ao de “questõezinhas”.

223

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ESTUDANDO Adjetivo

Para o vestibulAr
1 (UFRJ) nisso! Embora fosse impossível e inútil dizer em que
rosto parecia pensar, e também impossível e inútil
Texto 1 dizer no que ela mesma pensava.
A produção cultural do corpo Ao redor as coisas frescas, uma história para a fren-
Pensar o corpo como algo produzido na e pela te, e o vento, o vento... Enquanto seu ventre cres-
cultura é, simultaneamente, um desafio e uma ne- cia e as pernas engrossavam, e os cabelos se haviam
cessidade. Um desafio porque rompe, de certa for- acomodado num penteado natural e modesto que se
ma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas formara sozinho.
vezes o corpo é observado, explicado, classificado e LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo.
tratado. Uma necessidade porque ao desnaturalizá- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 291.
-lo revela, sobretudo, que o corpo é histórico. Isto
é, mais do que um dado natural cuja materialidade a) Do primeiro parágrafo do texto 1, retire os quatro
nos presentifica no mundo, o corpo é uma constru- adjetivos que melhor caracterizam a noção de corpo
ção sobre a qual são conferidas diferentes marcas nele apresentada.
em diferentes tempos, espaços, conjunturas econô-
micas, grupos sociais, étnicos etc. Não é portanto Os quatro adjetivos são: histórico, provisório,
algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo
mutável e mutante.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é provisório, mutável e mutante, suscetível a inú-
meras intervenções consoante o desenvolvimento b) Estabeleça a relação entre esses adjetivos e a temáti-
científico e tecnológico de cada cultura bem como ca central do texto 2.
suas leis, seus códigos morais, as representações
que cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele No texto 2 é abordada a transformação do corpo,
produz e reproduz.
que, com o passar dos anos, muda e envelhece,
Um corpo não é apenas um corpo. É também o
seu entorno. Mais do que um conjunto de múscu- assim como mostram os adjetivos do texto 1.
los, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é
também a roupa e os acessórios que o adornam, as
intervenções que nele se operam, a imagem que dele
se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sen-
tidos que nele se incorporam, os silêncios que por
ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educa- 2 (UFV-MG)
ção de seus gestos... enfim, é um sem limite de possi-
bilidades sempre reinventadas e a serem descobertas. Pensar é viver
Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o
Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador
definem mas, fundamentalmente, os significados cul-
para se entender a vida: ela é confusão mesmo.
turais e sociais que a ele se atribuem.
A gente avança no escuro, teimosamente, porque
GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. recuar não dá. (...)
Em: LOURO, Guacira Lopes (Org.). Corpo, gênero e Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo
sexualidade; um debate contemporâneo na educação.
faz algum sentido, e que nós precisamos descobrir –
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 28-29.
ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua
“filosofia de vida”. (...)
Texto 2 Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente
A não aceitação aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de ca-
Desde que começou a envelhecer realmente come- bides de roupas ou de ideias alheias. (...)
çou a querer ficar em casa. Parece-me que achava Dura empreitada, num momento em que tudo pa-
feio passear quando não se era mais jovem: o ar tão rece colaborar para que se aceitem modelos prontos
limpo, o corpo sujo de gordura e rugas. Sobretudo a para servir. Pensamento independente passou a ser
claridade do mar como desnuda. Não era para os ou- excentricidade, quando não agressão. Família, esco-
la e sociedade deviam desenvolver o distanciamento
tros que era feio ela passear, todos admitem que os
crítico e a capacidade de avaliar – e questionar – para
outros sejam velhos. Mas para si mesma. Que ânsia,
poder escolher.
que cuidado com o corpo perdido, o espírito aflito
Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia
nos olhos, ah, mas as pupilas essas límpidas. mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos
Outra coisa: antigamente no seu rosto não se via encara irônico: como estamos vivendo a nossa vida,
o que ela pensava, era só aquela face destacada, em esse breve sopro...?
oferta. Agora, quando se vê sem querer ao espelho,
LUFT, Lya. Pensar é transgredir.
quase grita horrorizada: mas eu não estava pensando
Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-178.

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No 5o parágrafo do texto, Lya Luft defende a ideia de
em que diria isto ou aquilo, já isto ou aquilo lhe não
que devemos buscar nossa identidade. Que expressão,
parecia bom. (...) Enfim, depois de muitas lutas con-
formada por substantivo mais adjetivo, utilizada no pa-
sigo mesmo para vencer o acanhamento, tomou um
rágrafo seguinte, retoma essa ideia ao mesmo tempo
dia a resolução de acabar com o medo, dizer-lhe a
que transmite uma opinião da cronista?
primeira coisa que lhe viesse à boca.
A expressão é “Dura empreitada”. Luizinha estava no vão de uma janela a espiar para
a rua pela rótula: Leonardo aproximou-se tremendo,
pé ante pé, parou e ficou imóvel como uma estátua
3 (Ufla-MG) Complete com a locução adjetiva adequada. atrás dela. (...)
Ouvindo passos no corredor, entendeu que alguém
No romance Dom Casmurro, de Machado de As-
se aproximava, e tomado de terror (...) deu repen-
sis, o autor faz referência aos olhos da personagem tinamente dois passos para trás, e soltou um – ah!
Capitu, “grandes e abertos, como a vaga do mar lá – muito engasgado. Luizinha, voltando-se (...) e re-
fora, como se quisesse tragar também o nadador cuando espremeu-se de costas contra a rótula: veio-
da manhã”. -lhe também outro – ah! (...)
(...) Leonardo, por um supremo esforço, rom-
atraentes
Isso nos permite afirmar que eram olhos peu o silêncio, e com voz trêmula e em tom o
de ressaca (ou olhos que atraem). mais sem graça que se possa imaginar perguntou
.
desenxabidamente:
– A senhora... sabe... uma coisa?
4 (Cesgranrio-RJ) E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.

Gramática • Adjetivo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Luizinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:


Perfeição – Então... a senhora... sabe ou... não sabe?
Vamos celebrar a estupidez humana E tornou a rir-se do mesmo modo. Luizinha con-
A estupidez de todas as nações (...) servou-se muda.
Vamos celebrar a estupidez do povo – A senhora bem sabe... é porque não quer dizer...
Nossa polícia e televisão (...) Nada de resposta.
Vamos celebrar a fome (...) – Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia...
Silêncio.
Vamos celebrar nossa bandeira
– Está bom... Eu digo sempre... mas a senhora fica
Nosso passado de absurdos gloriosos (...)
ou não fica zangada?
Tudo o que é normal
Luizinha fez um gesto de quem estava impacientada.
Vamos cantar juntos o Hino Nacional (...)
– Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
lhe quero... muito bem...
E vem chegando a primavera
Luizinha fez-se cor de uma cereja; e fazendo meia-
Nosso futuro recomeça:
-volta à direita, foi dando as costas ao Leonardo e
Venha, que o que vem é perfeição.
caminhando pelo corredor. Era tempo, pois alguém
Legião Urbana se aproximava.
Leonardo viu-a ir-se, um pouco estupefato pela
No verso “Nosso passado de absurdos gloriosos” resposta que ela lhe dera, porém, não de todo des-
(v. 7), substantivo e adjetivo se associam de forma a criar contente: seu olhar de amante percebera que o que
uma figura que se caracteriza pelo(a): se acabava de passar não tinha sido totalmente desa-
a) emprego de palavras desnecessárias ao sentido gradável a Luizinha.
da frase. Quando ela desapareceu, soltou o rapaz um suspiro
b) ênfase no exagero da verdade das coisas. de desabafo e assentou-se, pois se achava tão fatiga-
c) interpenetração de planos sensoriais diferentes. do como se tivesse acabado de lutar braço a braço
com um gigante.
d) relação de semelhança entre o sentido denotativo e
o sentido conotativo do texto. ALMEIDA, Manuel Antônio de.
Memórias de um sargento de milícias.
e) reunião de ideias contraditórias num só pensamento.

A opção em que o adjetivo determina o substantivo,


5 (Unirio-RJ) mas, na verdade, qualifica o referente a que o substanti-
vo está associado é:
Declaração
a) “Achava com facilidade milhares de ideias brilhantes”
Devia começar, como o sabe de cor e salteado a maio- (2o par.)
ria dos leitores, que é sem dúvida nenhuma muito en-
b) “... e com voz trêmula...” (5o par.)
tendida na matéria, por uma declaração em forma.
c) “E riu-se com uma risada pálida e tola” (7o par.)
Mas em amor, assim como em tudo, a primeira saí-
da é o mais difícil. (...) Achava com facilidade milha- d) “Luizinha fez-se cor de uma cereja” (18o par.)
res de ideias brilhantes: porém, mal tinha assentado e) “Leonardo viu-a rir-se, um pouco estupefato” (19o
par.)

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6 (Unirio-RJ) trivializada pela repetição): “O preço da estabilidade
é a eterna vigilância”.
Antes do nome Entretanto, a estabilidade não deve se converter em
Não me importa a palavra, esta corriqueira. estagnação. Ou seja, o que queremos é a estabilidade
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a da moeda nacional, mas não a estabilidade dos níveis
[sintaxe, de produção e de emprego.
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, A aceleração do crescimento não parece trazer
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível grande risco para o controle da inflação. Ela não
muleta que me apoia. tem nada de excepcional. O Brasil está se recupe-
Quem entender a linguagem entende Deus rando de um longo período de crescimento eco-
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. nômico quase sempre medíocre, inferior à média
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, mundial e bastante inferior ao de quase todos os
[surda-muda, principais emergentes.
foi inventada para ser calada. O Brasil apenas começou a tomar um certo impul-
Em momentos de graça, infrequentíssimos, so. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Folha de S.Paulo, 13 set. 2007. (Adaptado.)
Puro susto e terror.
PRADO, Adélia. Bagagem.
Assinale a alternativa em que a mudança da posição do
adjetivo no texto altera o sentido da frase.
As palavras incompreensível e infrequentíssimos pos-
suem o mesmo prefixo com valor semântico idêntico. a) O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas face-
Porém, seus sufixos apresentam funções distintas, uma tas. (1o parágrafo)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vez que -(í)vel forma adjetivo a partir de: b) Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz
da bufunfa... (4o parágrafo)
a) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao adjetivo.
b) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao subs- c) ... (parafraseando uma outra máxima trivializada pela
tantivo. repetição)... (4o parágrafo)
c) substantivo e -íssimo atribui um valor de grau ao d) O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso...
adjetivo. (7o parágrafo)
d) substantivo e -íssimo forma adjetivo a partir de e) O Brasil está se recuperando de um longo período de
adjetivo. crescimento... (6o parágrafo)
e) adjetivo e -íssimo forma adjetivo a partir de verbo.
8 (FGV-SP) Aponte a alternativa que traga os superlativos
7 (FGV-SP) absolutos sintéticos de acordo com a norma culta.
a) celebérrimo, crudelésimo, dulcíssimo, nigérrimo,
Estamos crescendo demais? nobilíssimo
O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas fa- b) celebésimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo,
cetas. Uma delas é o medo de crescer. Sempre que a nobérrimo
economia brasileira mostra um pouco mais de vigor, c) celebérrimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo,
ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em “ex- nobilíssimo
cesso de demanda”, “retorno da inflação” e pedindo d) celebríssimo, cruelérrimo, dulcésimo, negérrimo,
medidas de contenção. nobérrimo
O IBGE divulgou as Contas Nacionais do segundo
e) celebríssimo, crudelérrimo, dulcíssimo, negérrimo,
trimestre de 2007. Não há dúvidas de que a eco-
nobérrimo
nomia está pegando ritmo. O crescimento foi sig-
nificativo, embora tenha ficado um pouco abaixo
do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao 9 (ITA-SP) Durante a Copa do Mundo deste ano, foi veicu-
segundo trimestre do ano passado. A expansão do lada, em programa esportivo de uma emissora de TV, a
primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com notícia de que um apostador inglês acertou o resultado
igual período de 2006. (...) de uma partida, porque seguiu os prognósticos de seu
A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os burro de estimação. Um dos comentaristas fez, então, a
subsetores do setor serviços, o segmento que está seguinte observação: “Já vi muito comentarista burro,
“bombando” é o de intermediação financeira e segu- mas burro comentarista é a primeira vez”.
ros – crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo
o paraíso dos bancos e das instituições financeiras. Percebe-se que a classe gramatical das palavras se altera
Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financei- em função da ordem que elas assumem na expressão.
ra, pelo menos alguns deles, parecem razoavelmente Assinale a alternativa em que isso não ocorre:
inquietos. Há razões para esse medo? É muito duvi- a) obra grandiosa
doso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Ban-
b) jovem estudante
co Central nunca podem descuidar da inflação. Se
eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da c) brasileiro trabalhador
bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima d) velho chinês
e) fanático religioso

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10 (UFRN) fica bem o problema constatado pela fonoaudióloga
paulista Ana Maria Maaz Alvarez, que há mais de 20
Uma visão do futuro anos estuda a relação entre audição e recordação.
(1) Estamos às portas de um milênio miraculoso A pedido de duas empresas, ela realizou uma pes-
(2). A pessoa tem a mão decepada por uma ser- quisa para saber o que estava ocorrendo com os fun-
ra elétrica, e os médicos conseguirão fazer crescer cionários que reclamavam com frequência de lapsos
uma nova (3) no mesmo lugar. Casas e carros serão de memória. Foram entrevistados 71 homens e mu-
feitos de materiais (4) que podem consertar-se a si lheres, com idade de 18 e 42 anos. A maioria dos es-
próprios. Um alimento em pó incolor com 90% de quecimentos era de natureza auditiva, como nomes
proteína em sua fórmula poderá ser modificado para que acabavam de ser ouvidos ou assuntos discutidos.
ter o sabor que se deseje. (Por falar nisso, responda sem olhar no parágrafo an-
As previsões acima podem parecer ousadas, mas, terior: você lembra o nome da pesquisadora citada?)
no fundo, são até conservadoras. Membros reimplan- Ana Maria descobriu que os lapsos de memória
táveis? Os cientistas (5) começaram a regenerar a resultavam basicamente do excesso de informação
pele humana ainda nos anos 70, e atualmente alguns em consequência do tipo de trabalho que essas pes-
laboratórios conseguem produzir válvulas cardíacas soas exerciam nas empresas, e do pouco tempo que
com base em algumas poucas células. O dia chegará dispunham para processá-las, somados à angústia de
em que substituir órgãos humanos defeituosos será querer saber mais e ao excesso de atribuições. “Elas
rotina. No campo dos materiais, já existe um metal, não se detinham no que estava sendo dito (lido, ou-
o nitinol, que consegue desamassar sua própria su- vido ou visto) e, consequentemente, não conseguiam
perfície sem esforço. Basta aplicar um pouco de ca- gravar os dados na memória”, afirma.
lor. A comida milagrosa? Já existe. É um derivado
COLAVITTI, Fernanda. Superinteressante, 2001.
(6) da soja produzido pela empresa Archer Daniels
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Midland desde meados dos anos 80.

Gramática • adjetivo
Assinale a alternativa em que todas as expressões desta-
Especial do Milênio.
Veja, ano 31, n. 51, p. 126, 23 dez. 1998. (Adaptado.) cadas têm valor de adjetivo.
a) Era digital trouxe inovações e facilidades que supe-
raram o que previa a ficção.
Do ponto de vista morfológico, o vocábulo que perten- b) Deixemos de lado atividades que envolvem diversas
ce à mesma classe de miraculoso (ref. 2) é: funções do cérebro.
a) nova (ref. 3). c) derivado (ref. 6). c) Hoje, úteis ou não, as informações é que nos assediam.
b) materiais (ref. 4). d) cientistas (ref. 5). d) Responda qual era a manchete do jornal de ontem.

11 (Uece) 12 (Fuvest-SP)
Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam
A memória e o caos digital o Terceiro Mundo de várias formas:
A era digital trouxe inovações e facilidades para o 1. mantêm baixos os preços internacionais, desvalo-
homem que superou de longe o que a ficção previa rizando as exportações dos países pobres;
até pouco tempo atrás. Se antes precisávamos correr 2. excluem os pobres de vender para os mercados
em busca de informações de nosso interesse, hoje, ricos;
úteis ou não, elas é que nos assediam: resultados de 3. expõem os produtores pobres à concorrência de
loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofer- produtos mais baratos em seus próprios países.
tas de compras, notícias de atentados, ganhadores
Folha de S.Paulo, E-12, 2 nov. 1997.
de gincanas, etc. Por outro lado, enquanto cresce a
capacidade dos discos rígidos e a velocidade das in-
formações, o desempenho da memória humana está Neste texto, as palavras em destaque “ricos” e “pobres”
ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são pertencem a diferentes classes de palavras, conforme o
unânimes ao associar a rapidez das informações ge- grupo sintático em que estão inseridas.
radas pelo mundo digital com a restrição de nosso a) Obedecendo à ordem em que aparecem no texto,
“disco rígido” natural. Eles ressaltam, porém, que o identifique a classe a que pertencem, em cada ocor-
problema não está propriamente nas novas tecno- rência em destaque, as palavras “ricos” e “pobres”.
logias, mas no uso exagerado delas, o que faz com
que deixemos de lado atividades mais estimulantes, Seguindo a sequência temos:
como a leitura, que envolvem diversas funções do
cérebro. Os mais prejudicados por esse processo têm “ricos”: substantivo; “pobres”: adjetivo; “pobres”:
sido crianças e adolescentes, cujo desenvolvimento
neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente. substantivo; “ricos”: adjetivo
Responda sem pensar: qual era a manchete do jor-
nal de ontem? Você lembra o nome da novela que b) Escreva duas frases com a palavra brasileiro, empre-
antecedeu O clone? E quem era o técnico da Seleção gando-a cada vez em uma dessas classes.
Brasileira na Copa do Mundo de 1994? Não ter uma Substantivo: Como o brasileiro é solidário!
resposta imediata para essas perguntas não deve ser
causa de preocupação para ninguém, mas exempli- Adjetivo: O povo brasileiro quer justiça.

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(UEL-PR) Leia o texto a seguir e responda às questões 13 e 14. (FGV-SP) Texto para as questões 15 e 16.

Poema obsceno Achado


1 Façam a festa Aqui, talvez, o tesouro enterrado
2 cantem e dancem há cem anos pelo guarda-mor.
3 que eu faço o poema duro Se tanto o guardou, foi para os trinetos,
4 o poema-murro principalmente este: o menor.
5 sujo Cavo com faca de cozinha, cavo
6 como a miséria brasileira até, no outro extremo, o Japão
e não encontro o saco de ouro
de que tenho a mor precisão
7 Não se detenham:
para galopar no lombo dos longes
8 façam a festa fugindo a esta vidinha choca.
9 Bethânia Martinho Mas só encontro, e rabeia, e foge
10 Clementina uma indignada minhoca.
11 Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
ANDRADE, Carlos Drummond de.
12 gente de Vila Isabel e Madureira
13 todos
façam
15 Está de acordo com a mensagem principal do texto a
14
seguinte frase:
15 a nossa festa
16 enquanto eu soco este pilão a) Sonho e realidade, muitas vezes, são contrastantes.
17 este surdo b) O insucesso não deve desestimular a busca da
18 poema aventura.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
19 que não toca no rádio c) A natureza, com frequência, nos traz revelações sur-
20 que o povo não cantará preendentes.
21 (mas que nasce dele) d) A ambição pode ser um obstáculo para se alcançar a
22 Não se prestará a análises estruturalistas felicidade.
23 Não entrará nas antologias oficiais e) As coisas simples do cotidiano é que valem a pena
24 Obsceno ser vividas.
25 como o salário de um trabalhador aposentado
26 o poema 16 Sobre a expressão “vidinha choca”, entendida no contex-
27 terá o destino dos que habitam o lado escuro do país to do poema, é correto afirmar:
28 – e espreitam. a) O diminutivo exprime carinho, ao contrário do termo
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. que o acompanha.
São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 338. b) A ideia aí presente é de tempo: sugere-se que a vida
é passageira.
13 O adjetivo “obsceno” presente no título e no poema c) Seu sentido se opõe àquilo que, poeticamente, “mi-
refere-se: nhoca” está representando.
a) à permissividade característica de festas populares d) O adjetivo deve ser entendido denotativamente, ao
como o carnaval. contrário do substantivo.
b) ao tom de poemas de Gullar, proibidos de figurar em e) O segundo termo reforça o sentido negativo do pri-
antologias oficiais. meiro.
c) à situação dos que habitam o lado escuro do país.
17 (Uece)
d) à denúncia de uma condição social.
e) à indignação para com a corrupção política do país. Mensagem de Natal
Um cartão de Natal com um desenho colorido de Pa-
pai Noel e uma menina, postado em 1914, chegou a seu
14 Considerando os recursos de composição do poema, destino na cidade americana de Oberlin, no estado do
assinale a alternativa correta. Kansas, depois de ficar extraviado durante 93 anos.
a) As negativas presentes nos versos 19 a 23 desqualifi- O cartão, datado de 23 de dezembro de 1914, tinha
cam o poema e seu potencial crítico. sido enviado a Ethel Martin, de Oberlin. Ethel Martin
b) O termo comparativo “como” é utilizado para apro- nunca chegou a ler a mensagem de Natal. Ela morreu
ximar a experiência pessoal do eu lírico da miséria antes de receber o cartão. (17/12/2007)
social brasileira. Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura,
c) O uso do imperativo constitui uma metáfora da es- difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza mór-
trutura de opressão típica da época da ditadura. bida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal
d) Os “que habitam o lado escuro do país / – e esprei- e de Ano Novo.
tam” são uma metáfora dos militares responsáveis No seu caso havia uma razão óbvia para isso: aos 70
anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha
pela censura da produção artística.
com quem celebrar, ninguém o convidava para festa al-
e) Os versos 19 a 23 são formas de adjetivação do termo guma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas
“poema”, assim como “sujo” e “duro”.

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c) Na segunda retomada do referente, o narrador em-
o resultado era melancólico: além da solidão, tinha de
prega o substantivo “coisa”, que empresta uma cono-
suportar a ressaca. No passado, convivera muito tempo
com a mãe. Filho único, sentia-se obrigado a cuidar da tação negativa ao referente.
velhinha que cedo enviuvara. Não se tratava de tarefa d) Os adjetivos “antiga” e “amarelada”, no contexto em
fácil: como ele, a mãe era uma mulher amargurada. questão, não têm valor sensorial, somente valor afetivo.
Contra sua vontade, tinha casado, em 31 de dezem-
bro de 1914 (o ano em que começou a Grande Guerra, 18 Leia o texto a seguir.
como ela fazia questão de lembrar), com um homem de
quem não gostava, mas que pais e familiares achavam Verdes mares bravios de minha terra natal, onde
um bom partido. Resultado desse matrimônio: um filho canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
e longos anos de sofrimento e frustração. Verdes mares, que brilhais como líquida esmeral-
O filho tinha de ouvir suas constantes e ressentidas da aos raios do sol nascente, perlongando as alvas
queixas. Coisa que suportava estoicamente; não dei- praias ensombradas de coqueiros;
xou, contudo, de sentir certo alívio quando de seu Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga
falecimento, em 1984. Este alívio resultou em culpa, impetuosa, para que o barco aventureiro manso res-
uma culpa que retornava a cada Natal. Porque a mãe vale à flor das águas.
falecera exatamente na noite de Natal. Na véspera, no Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa
hospital, ela lhe fizera uma confissão surpreendente: cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
muito jovem, apaixonara-se por um primo, que acabou Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo
se transformando no grande amor de sua vida. Mas a pátrio nas solidões do oceano?
família do primo mudara-se e ela nunca mais tivera no- Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai
tícias dele. Nunca recebera uma carta, uma mensagem, singrando veloce, mar em fora.
nada. Nem ao menos um cartão de Natal.

Gramática • Adjetivo
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o
No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sangue americano; uma criança e um rafeiro que vi-


na caixa do correio. Como em geral não recebia cor-
ram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos,
respondência alguma, foi com alguma estranheza que
filhos ambos da mesma terra selvagem.
abriu o envelope. Era um cartão de Natal, e tinha a fale-
A lufada intermitente traz da praia um eco vibran-
cida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma
te, que ressoa entre o marulho das vagas:
coisa muito antiga, amarelada pelo tempo. De um lado,
— Iracema!
um desenho do Papai Noel sorrindo para uma meni-
na. Do outro lado, a data: 23 de dezembro de 1914. E ALENCAR, José de. Iracema. 24. ed.
uma única frase: “Eu te amo”. A assinatura era ilegível, São Paulo: Ática, 1991. (Série Bom Livro.)
mas ele sabia quem era o remetente: o primo, claro. O
primo por quem a mãe se apaixonara, e que, através da- No excerto acima, pertencente à obra romântica Iracema
quele cartão, quisera associar o Natal a uma mensagem (1865), de José de Alencar, é especialmente marcante o
de amor. Uma nova vida, era o que estava prometendo. emprego de adjetivos, além de outros recursos que atri-
Esta mensagem e esta promessa jamais tinham chegado buem grande expressividade ao texto. No que se refere
a seu destino. Mas de algum modo o recado chegara a ao uso de adjetivos e suas funções no fragmento lido, as-
ele. Por quê? Que secreto desígnio haveria atrás daqui- sinale a alternativa correta.
lo? Cartão na mão, aproximou-se da janela. Ali, parada
a) Na primeira frase do texto, há somente o emprego
sob o poste de iluminação, e provavelmente esperando
o ônibus, estava uma mulher já madura, modestamente de adjetivos expressivos (e jamais descritivos) como
vestida, uma mulher ainda bonita. Uma desconhecida, “verdes” e “bravios”.
claro, mas o que importava? Seguramente o destino a b) Na frase “Onde vai como branca alcíone buscando o ro-
trouxera ali, assim como trouxera o cartão de Natal. chedo pátrio nas solidões do oceano?” (5o parágrafo),
Num impulso, abriu a porta do apartamento e, sempre a aproximação entre a imagem do “barco aventureiro”
segurando o cartão, correu para fora. Tinha uma men- (3o parágrafo) e da “alcíone” se dá unicamente pela cor
sagem para entregar àquela mulher. Uma mensagem “branca”, adjetivo que qualifica ambos os termos.
que poderia transformar a vida de ambos, e que era, c) Considerando o fragmento de texto “(...) brincam
por isso, um verdadeiro presente de Natal. irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem” (7o
SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. parágrafo), nota-se que o substantivo “irmãos”, ape-
sar de sua classificação morfológica, assume função
Em “Era um cartão de Natal, e tinha a falecida mãe como adjetiva, pois qualifica outros termos anteriormente
destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito anti- referidos (“guerreiro”, “criança” e “rafeiro” – os “três en-
ga, amarelada pelo tempo”, o narrador emprega a expres- tes” que se aventuram no barco).
são “um cartão de Natal”; depois, substitui essa expressão d) Na frase “A lufada intermitente traz da praia um eco vi-
por “um velhíssimo cartão” e, por fim, torna a substituí-la brante, que ressoa entre o marulho das vagas” (8o pará-
por “uma coisa muito antiga, amarelada pelo tempo”. grafo), a expressão “das vagas” tem função adjetiva, em-
Assinale a assertiva incorreta sobre os elementos que entram bora não qualifique claramente nenhum nome anterior.
no processo referencial que acontece no excerto transcrito. e) O fragmento lido atende aos propósitos românticos
a) O artigo indefinido “um” em “um cartão de Natal” in- de idealização da terra natal (no caso, o Ceará de José
dica que o referente ainda não aparecera no texto. de Alencar); para tanto, concorre o emprego expres-
b) Com a expressão “um velhíssimo cartão”, além de re- sivo de muitos adjetivos, necessários à personificação
tomar o referente, o narrador o altera, expressando dos elementos naturais e à descrição exata e realista
uma reação afetiva. do ambiente.

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ESTUDANDO Adjetivo

Para o eNeM
1 O jeito cearense de ser único
Levando em conta as intenções comunicativas do au-
H25 tor, bem como os recursos linguísticos do poema, assina-
Cearense não briga... ele risca a faca! le a alternativa mais pertinente quanto à interpretação
Cearense não vai em festa... ele cai na gandaia! do texto.
Cearense não vai embora... ele pega o beco!
a) No primeiro verso, o termo “de nada” caracteriza a
Cearense não bate... ele senta o sarrafo!
humildade inicial da condição humana, que, infeliz-
Cearense não bebe um drink... ele toma uma!
Cearense não joga fora... ele rebola no mato! mente, terminará por levar o herói à revolta final.
Cearense não discute... ele bota boneco! b) O emprego sequencial dos adjetivos “aguda”, “irra-
Cearense não ri... ele se abre! cional” e “intensa” (dispostos entre o quinto e o sexto
Cearense não toma água com açúcar... ele toma garapa! verso do poema) estabelece uma progressão carac-
Cearense não percebe... ele dá fé! terizadora do substantivo “certeza”, anteriormente
Cearense não vigia as coisas... ele pastora! referido.
Cearense não sobe na árvore... ele se trepa no pé de pau! c) O texto, como um todo, imita a linguagem instru-
Cearense não passa a roupa... ele engoma a roupa! cional de uma receita, fato justificável pela explícita
(...) referência ao substantivo “fome”, que é um termo
Cearense não é homem... ele é macho ou é cabra danado! próprio do jargão culinário.
Ser cearense é ser único! Ô orgulho véi besta!!!
d) A palavra “morto”, no último verso, determina a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Da tradição popular. Disponível em: condição à qual todo e qualquer alimento deve se
<www.nordesterural.com.br>. Acesso em: 18 abr. 2011. adequar antes de ser levado à mesa; até mesmo “um
homem feito de nada” (v. 1) deve se conformar a tal
Sobre o texto, é possível afirmar que: situação.
a) Acentua-se o completo desprezo do enunciador em e) A expressão “de herói”, presente no título do poe-
relação ao registro formal culto, pois este não adjetiva ma, funciona como locução adjetiva e caracteriza o
(ou seja, não qualifica) o iletrado homem cearense. substantivo “receita”. Trata-se, também, de uma mar-
b) Todas as referências às qualidades do homem cearen- ca de autoria, já que a expressão “receita de herói”
se reafirmam o pitoresco de sua situação e o opõem revela também a condição heroica do inventor de
à cultura letrada do sulista. tal “receita”.
c) Ele dá exemplos de traços típicos do caráter e das
atitudes do homem cearense, ridicularizando-o pela 3 Pelé: 1000
exposição caricatural de suas qualidades mais acen- H18 O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols,
tuadas, as quais se evidenciam pelo emprego de ad-
como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol
jetivos chulos.
que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos
d) Em “ele é macho ou é cabra danado”, o adjetivo “da- maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não
nado” é empregado em seu sentido específico, indi- se deixa fazer. O gol. Que adianta escrever mil li-
cando que a danação (ou infelicidade) do cearense vros, como simples resultado de aplicação mecâ-
se deve a seu linguajar inculto e popularesco. nica, mãos batendo máquina de manhã à noite,
e) O último verso compreende a frase exclamativa traseiro posto na almofada, palavras dóceis e resig-
“Ô orgulho véi besta!!!”; nela, percebe-se o emprego nadas ao uso incolor? O livro único, este não há
de uma expressão coloquial de valor adjetivo, que, condições, regras, receitas, códigos, cólicas que o
ao caracterizar o substantivo “orgulho”, atribui-lhe façam existir, e só ele conta – negativamente – em
grande expressividade. nossa bibliografia. Romancistas que não capturam
o romance, poetas de que o poema está se rindo a
2 Receita de herói distância, pensadores que palmilham o batido pen-
H4 samento alheio, em vão circulamos na pista durante
Tome-se um homem feito de nada
50 anos. O muito papel que sujamos continua alvo,
Como nós em tamanho natural
alheio às letras que nele se imprimem, pois aquela
Embeba-se-lhe a carne
Lentamente não era a combinação de letras que ele exigia de
De uma certeza aguda, irracional nós. E quantos metros cúbicos de suor, para chegar
Intensa como o ódio ou como a fome. a esse não resultado!
Depois perto do fim Então o gol independe de nossa vontade, formação
Agite-se um pendão e mestria? Receio que sim. Produto divino, talvez?
E toque-se um clarim. Mas, se não valem exortações, apelos cabalísticos,
Serve-se morto. bossas mágicas para que ele se manifeste... Se é de
Deus, Deus se diverte negando-o aos que o implo-
FERREIRA, Reinaldo. Receita de herói.
ram, e, distribuindo-o a seu capricho, Deus sabe a
Em: GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem.
São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 185. quem, às vezes um mau elemento. A obra de arte, em

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Sabendo que o Parnasianismo (estilo de época ao qual se
forma de gol ou de texto, casa, pintura, som, dança
liga a obra poética de Olavo Bilac) preza a riqueza voca-
e outras mais, parece antes coisa-em-ser da nature-
bular como uma de suas qualidades máximas, indique a
za, revelada arbitrariamente, quase que à revelia do
alternativa que justifique mais propriamente o emprego
instrumento humano usado para a revelação. Se a de adjetivos como “fulvo” e “espectral”.
obrigação é aprender, por que todos que aprendem
não a realizam? a) São meros termos descritivos, sem outra função a não
Por que só este ou aquele chega a realizá-la? Por ser caracterizar objetivamente a paisagem de Ouro
que não há 11 Pelés em cada time? Ou 10, para dar Preto.
uma chance ao time adversário? O Rei chega ao mi- b) Trata-se de termos pomposos e gastos, marcantes do
lésimo gol (sem pressa, até se permitindo o charme elitismo da linguagem e do puro jogo de aparências
de retificar para menos a contagem) por uma fata- da escola parnasiana.
lidade à margem do seu saber técnico e artístico.
c) Tais termos se revestem de certo preciosismo voca-
Na realidade, está lavrando sempre o mesmo tento
bular, tão caro à formalidade parnasiana.
perfeito, pois outros tentos menos apurados não são
de sua competência. Sabe apenas fazer o máximo, e d) Adjetivos como “fulvo” e “espectral” demonstram, por
quando deixa de destacar-se no campo é porque até parte do poeta, o domínio de termos técnicos das
ele tem instantes de não Pelé, como os não Pelés artes visuais, surpreendentemente empregados no
que somos todos. lirismo sentimental do Parnasianismo.
ANDRADE, Carlos Drummond de. O poder ultrajovem. Rio e) O poeta mal esconde o apelo sentimental, próprio
de Janeiro: Record, 1986. p. 133. (Fragmento.) da escola romântica; no entanto, para se adequar aos
dogmas do Parnasianismo, lança mão de um vocabu-
“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como lário raríssimo e da forma fixa do soneto, de inspira-

Gramática • Adjetivo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pelé.” Observando a frase de abertura do texto, é correto ção clássica.


afirmar que:
a) Drummond antecipa que o futebol é um esporte
5 (...) se algum dia fosse poeta, e quisesse cantar a
marcado por grande facilidade e gratuidade: afinal,
H16
uma contagem de “mil gols” para um único atleta se- minha terra e as suas belezas, se quisesse compor um
ria ordinária. poema nacional, pediria a Deus que me fizesse es-
b) o autor menospreza a marca simbólica dos mil gols, quecer por um momento as minhas ideias de homem
admitindo que tal feito não implica qualquer dificul- civilizado.
dade. Filho da natureza, embrenhar-me-ia por essas ma-
c) Drummond se vale de adjetivos (“difícil” e “extraordi- tas seculares; contemplaria as maravilhas de Deus,
nário”) para caracterizar as proezas de Pelé, mais sig- veria o sol erguer-se no seu mar de ouro, a lua desli-
nificativas que uma simbólica marca numérica (“mil zar-se no azul do céu; ouviria o murmúrio das ondas
gols”). e o eco profundo e solene das florestas.
d) há predominância de termos caracterizadores, como ALENCAR, José de. Cartas sobre a Confederação
adjetivos (“difícil” e “extraordinário”), e quantitativos dos Tamoios. Em: Obra completa.
Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960. p. 865, v. IV.
(“mil”), todos em referência ao nome próprio “Pelé”.
e) a expressão “fazer mil gols” recebe as qualificações de
José de Alencar (1825-1877) é um dos expoentes má-
“extraordinário” e “difícil”. ximos do Romantismo brasileiro. Em sua diversificada
obra, encontram-se exemplos bem acabados de distin-
4 Vila Rica
tas vertentes da prosa do período, como narrativas ur-
H16 banas (Diva, Lucíola, Senhora), regionalistas (O gaúcho,
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; O sertanejo), históricas (Alfarrábios, As minas de prata) e
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição indianistas (O guarani, Iracema e Ubirajara). Levando em
Na torturada entranha abriu da terra nobre: conta as características convencionais da escrita român-
E cada cicatriz brilha como um brasão. tica, pode-se afirmar seguramente que:

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre. a) o adjetivo “civilizado”, empregado de início por Alencar,
O último ouro de sol morre na cerração. relaciona-se à condição do indígena brasileiro.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, b) no primeiro parágrafo, por caracterizar o substantivo
O crepúsculo cai como uma extrema-unção. “terra”, o termo “minha” recebe unicamente a classifi-
cação morfológica de adjetivo.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... c) predomina, ao longo de todo o texto, uma termino-
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, logia puramente coloquial.
d) no segundo parágrafo, termos como “da natureza” e
Como uma procissão espectral que se move... “de ouro” podem ser entendidos como locuções ad-
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... jetivas.
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
e) a maioria dos adjetivos empregados no texto carac-
BILAC, Olavo. Vila Rica. Em: Poesias. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1985. p. 203. (Coleção Poetas de Sempre, v. 5.)
teriza o ambiente idealizado da Corte, que é o cená-
rio predominante nos romances de Alencar.

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ESTUDANDO Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos

Para o vestibular
1 (UFRJ) IV. “Curió, infância em parte decorrera num asilo
de menores dirigido por padres, buscava na embota-
O padeiro da memória uma oração completa.” (J. Amado)
Tomo meu café com pão dormido, que não é tão
Assinale, a seguir, a alternativa correta.
ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando
de um homem modesto que conheci antigamente. a) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-
Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento nome relativo “cujo” (a).
ele apertava a campainha, mas, para não incomodar b) III e IV podem ser preenchidas com o pronome relati-
os moradores, avisava gritando: vo “cujo” (a).
– Não é ninguém, é o padeiro! c) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar nome relativo “que”.
aquilo?
d) I e II podem ser preenchidas com o pronome relativo
“Então você não é ninguém?”
“onde”.
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera
aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a e) II e III podem ser preenchidas com o pronome relati-
campainha de uma casa e ser atendido por uma em- vo “que”.
pregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz
que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir 3 (UFPR) Considerando os provérbios a seguir, assinale

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a pessoa que o atendera dizer para dentro: “Não é nin- a(s) alternativa(s) em que os termos destacados são
guém, não senhora, é o padeiro”. assim ficara sabendo pronomes relativos, ou seja, que retomam um termo
que não era ninguém... antecedente.
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despe-
diu ainda sorrindo. (01) É de pequenino que se torce o pepino.
(02) A vingança é um prato que se serve frio.
BraGa, rubem. Ai de ti, Copacabana.
rio de Janeiro: Editora do autor, 1964. p. 44-45. (Fragmento.) (04) Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
(08) Isso é do tempo em que se amarrava cachorro com
linguiça.
a) Que sentido assume o pronome indefinido “ninguém”
no texto acima? (16) Ele(a) não é flor que se cheire.
Soma: 02 + 08 + 16 = 26
O pronome “ninguém” significa “pessoa
4 (UFC-CE) No trecho: “Eu não creio, não posso mais acre-
sem importância”. ditar na bondade ou na virtude de homem algum; todos
são mais ou menos ruins, falsos e indignos; há porém al-
b) Quando esse pronome indefinido é usado na função guns que sem dúvida com o fim de ser mais nocivos aos
sintática de sujeito, a dupla negação pode ou não outros, e para produzir maior dano, têm o merecimento
ocorrer. Justifique essa afirmativa, exemplificando-a. de dizer a verdade nua e crua (...)”:
Se o pronome (sujeito) é anteposto ao verbo, não I. “algum” e “alguns” são pronomes indefinidos.
II. “alguns” é sujeito do verbo haver.
ocorre a dupla negação: “Ninguém veio”. Se, porém, III. “algum” equivale a nenhum.
ele é posposto ao verbo, a dupla negação ocorre: Assinale a alternativa correta sobre as assertivas acima.
a) Apenas I é verdadeira.
“Não veio ninguém”.
b) Apenas II é verdadeira.
c) Apenas I e II são verdadeiras.
d) Apenas I e III são verdadeiras.
e) I, II e III são verdadeiras.

2 (UFU-MG) Preencha, com pronomes relativos, as lacunas 5 (UFRGS-RS)


das orações abaixo.
I. “Fisionomia melancólica, fitou o cadáver. Sapatos lus- desenvolveu-se nos Estados Unidos, nos meios in-
trosos, brilhava a luz das velas, calça de vinco telectuais (1) que (2) defendem as minorias, a ideia
perfeito, paletó negro assentado, as mãos devotas do “politicamente correto” – ou seja, a substituição
cruzadas no peito.” (J. Amado) de termos com conotação preconceituosa por outros
carregados de positividade. assim, a própria palavra
II. “Cabo Martim, em matéria de educação só per-
“negro” não seria desejável, devendo-se preferir “afro-
dia para o próprio Quincas, retirou da cabeça o surra-
-americano”. o mesmo vale para várias outras pala-
do chapéu, cumprimentou os presentes.” (J. Amado) vras, como “deficiente”, “solteirão” – em suma, todo
III. “Não gostava dessas magricelas, cintura a gen- termo que possa dar a entender uma falha, um de-
te nem podia apertar.” (J. Amado)

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a) que – que – os
feito. E isso se acentua quando comunidades fortes
– como os homossexuais da Califórnia – interferem b) por que – a qual – lhe
em roteiros de filmes, ou quando figuras históricas (3) c) porque – na qual – lhes
são condenadas mediante critérios morais fora de sua d) porque – pela qual – lhe
(4) época (como sucedeu quando um condado da e) por que – pela qual – os

Gramática • Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos


luisiana resolveu que nenhuma escola pública (5) de
(6) sua jurisdição deveria ostentar o nome de quem
tivesse possuído escravos – o que eliminava, por exem- 7 (UFF-RJ)
plo, Thomas Jefferson). Tudo isso parece exagerado
e, no Brasil, é apresentado como ridículo. Entretanto, 1 acompanho com assombro o que andam dizendo
há que destacar o que é positivo no chamado politica- sobre os primeiros 500 anos do brasileiro. Concordo
mente correto: a ideia – óbvia para qualquer linguista, com todas as opiniões emitidas e com as minhas em
psicólogo ou psicanalista – de que a linguagem não é primeiríssimo lugar. Tenho para mim que há dois
neutra, mas expressa, produz e reproduz uma visão de referenciais literários para nos definir. de um lado, o
mundo. Se a linguagem não se limita a traduzir fatos, produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de ca-
mas tende a expressar pontos de vista (7), é preciso sa-grande e senzala, o homem miscigenado, potente
expô-los (8) e eventualmente combatê-los. aqui está e tendendo a ser feliz. de outro, o Macunaíma, herói
o que a zombaria contra o politicamente correto (9) sem nenhuma definição, ou sem nenhum caráter –
dissimula: ele (10) reage contra velhas ideias conserva- como queria o próprio Mário de andrade.
doras. o que dizem ainda hoje nossos livros escolares, 2 Somos e seremos assim, em nossa essência, embora
a despeito de elogiáveis iniciativas (inclusive oficiais), as circunstâncias mudem e nós mudemos com elas.
sobre o negro e o índio? Quantos preconceitos não retomando a imagem literária, citemos a Capitu me-
rodam por aí, moldando a mente das crianças assim nina – e teremos como sempre a intervenção sobera-
na de Machado de assis.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

como moldaram as nossas? antes de se zombar dos


exageros de certos movimentos norte-americanos, não 3 Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o ho-
seria preciso romper a cumplicidade que ata nossa mem de Guimarães rosa – outra coordenada que nos
opinião pública a quem incita à violência nas rádios ajuda a definir o brasileiro. Evidente que o universo
matutinas, a quem ridiculariza e humilha a mulher nos de rosa é sobretudo verbal, mas o homem é causa e
programas de humor? Se alguma cultura pode dar-se efeito do verbo. Por isso mesmo, o personagem ro-
ao luxo de achar risível o excesso nos direitos huma- siano tem a ver com o homem de Gilberto Freyre
nos, não é a nossa, certamente. e de Mário de andrade. É um refugo consciente da
rIBEIro, r. J. A sociedade contra o social.
casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de ou-
São Paulo: Cia. das letras, 2000. (adaptado.) tra, criando a sua própria vereda, mas sem esquecer
o ressentimento social do qual se afastou e contra o
Vários pronomes do texto retomam elementos anterior- qual procura lutar.
mente referidos. Assinale a alternativa em que a asso- 4 É também macunaímico, pois sem definição catalo-
ciação entre o pronome e o elemento substituído está gada na escala de valores culturais oriundos de sua
incorreta. formação racial. Nem por acaso um dos personagens
mais importantes do mundo de rosa é uma mulher
a) que (ref. 2) – meios intelectuais (ref. 1) que se faz passar por jagunço. ou seja, um herói –
b) sua (ref. 4) – figuras históricas (ref. 3) ou heroína – sem nenhum caráter.
c) sua (ref. 6) – escola pública (ref. 5) 5 Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e
d) los (ref. 8) – pontos de vista (ref. 7) Mário de andrade como a linha horizontal de um
ângulo reto, teríamos Guimarães rosa como a hipo-
e) ele (ref. 10) – o politicamente correto (ref. 9)
tenusa fechando o triângulo. a imagem geométrica
pode ser forçada, mas foi a que me veio na hora – e
6 (ITA-SP) Em relação ao texto a seguir, assinale a opção acho que fui entendido.
que preenche corretamente as lacunas. CoNY, Carlos heitor. Folha de S.Paulo,
São Paulo, Ilustrada, p. 12, 21 abr. 2000.
Nos ecossistemas naturais, como as matas, os cerrados
e os campos nativos, há um perfeito equilíbrio entre os Assinale a opção em que o pronome em destaque rece-
seres vivos, e entre estes e o meio. Essa condição resulta be uma referência a elemento anteriormente expresso
da interação entre as espécies, e da adaptação destas ao no texto.
meio ao longo de extensos períodos de tempo. São sis-
a) “mas foi a que me veio na hora – e acho que fui en-
temas quase fechados (1) , devido a razões pouco
tendido” (par. 5)
conhecidas, novas espécies dificilmente se estabelecem
neles de modo natural. Em qualquer deles, a densidade b) “De um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre
populacional de um inseto fitófago, isto é, que se alimen- chamou de casa-grande e senzala” (par. 1)
ta de plantas, é controlada principalmente pela densida- c) “De outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma defini-
de populacional da espécie de planta (2) ele tem ção, ou sem nenhum caráter” (par. 1)
preferência e por seus inimigos naturais (parasitos, pre- d) “Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o
dadores e patógenos, ou seja, seres que (3) causam
homem de Guimarães Rosa – outra coordenada que
doenças), além evidentemente dos fatores físicos como a
nos ajuda a definir o brasileiro” (par. 3)
temperatura, a umidade e a luz, entre outros.
e) “Acompanho com assombro o que andam dizendo
Ciência Hoje, n. 6, maio/jun. 1983.
sobre os primeiros 500 anos do brasileiro” (par. 1)

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8 (Fuvest-SP) a) ser mais preciso no emprego da forma pronominal.
b) tratar respeitosamente o leitor.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por c) valorizar o rio Tejo, dando-lhe status de pessoa.
meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa via- d) desvalorizar o rio Tejo em suas memórias.
jar por si, com seus olhos e pés, para entender o que
e) valorizar o rio da sua aldeia, o Almonda.
é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e
dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor.
E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar 10 (UFRGS-RS)
bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para
lugares que não conhece para quebrar essa arrogância O problema Neruda
que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não
há cem anos nasceu o poeta mais popular de língua
simplesmente como é ou pode ser; que nos faz profes-
espanhola, com uma obra cuja força lírica supera todos
sores e doutores do que não vimos, quando devería-
os seus defeitos (1).
mos ser alunos, e simplesmente ir ver.
Sem dúvida, há um “problema Pablo Neruda”. Foi
KlINK, amyr. Mar sem fim.
o outro grande poeta chileno, seu contemporâneo
Nicanor Parra (depois de passar toda uma longa
Na frase “que nos faz professores e doutores do que vida injustamente à sombra de Neruda), quem o
não vimos”, o pronome destacado retoma a expressão formulou com maliciosa concisão: “Existem duas
antecedente: maneiras de refutar Neruda: uma é não lê-lo; a ou-
a) “para lugares”. d) “essa arrogância”. tra, lê-lo de má-fé. Tenho praticado as duas, mas
nenhuma deu resultado”. a frase de Parra descreve
b) “o mundo”. e) “como o imaginamos”.
o dilema de várias gerações de leitores. Ninguém
c) “um homem”. duvida, ou nega seriamente, que Neruda, cujo cen-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tenário de nascimento se comemora no dia 12 deste
9 (FGV-SP) mês, seja um grande poeta – dos maiores do século
20. Mas quase todos os leitores mais exigentes pre-
À aldeia chamam-lhe azinhaga, está naquele lugar ferem outros poetas, enquanto os mais fiéis neru-
por assim dizer desde os alvores da nacionalidade (já distas admiram incondicionalmente o pior de uma
tinha foral no século décimo terceiro), mas dessa es- vasta obra muito desigual na sua qualidade. Entre
tupenda veterania nada ficou, salvo o rio que lhe pas- matronas sentimentais, Neruda parece quase nau-
sa mesmo ao lado (imagino que desde a criação do fragar sob o peso de sua popularidade. Mas sempre
mundo), e que, até onde alcançam as minhas poucas volta a emergir, triunfante e definitivo, de toda lei-
luzes, nunca mudou de rumo, embora das suas mar- tura de boa-fé.
gens tenha saído um número infinito de vezes. a me- ESTENSSoro, hugo.
nos de um quilómetro das últimas casas, para o sul, o Bravo, v. 7, n. 82, p. 65, jul. 2004. (adaptado.)
almonda, que é esse o nome do rio da minha aldeia,
encontra-se com o Tejo, ao qual (ou a quem (1), Entre as alterações sugeridas a seguir, assinale a que
se a licença me é permitida), ajudava, em tempos mantém o sentido original e a correção do trecho “com
idos, na medida dos seus limitados caudais, a alagar uma obra cuja força lírica supera todos os seus defei-
a lezíria* quando as nuvens despejavam cá para bai- tos” (ref. 1).
xo as chuvas torrenciais do Inverno e as barragens a
a) com uma obra cujos defeitos são todos superados
montante, pletóricas, congestionadas, eram obrigadas
pela sua força lírica.
a descarregar o excesso de água acumulada. a ter-
ra é plana, lisa como a palma da mão, sem acidentes b) cuja força lírica da obra supera todos os seus defeitos.
orográficos dignos de tal nome, um ou outro dique c) cujos defeitos são todos superados pela força lírica
que por ali se tivesse levantado mais servia para guiar de sua obra.
a corrente aonde causasse menos dano do que para d) com cuja força lírica superou todos os defeitos de
conter o ímpeto poderoso das cheias. desde tão dis- sua obra.
tantes épocas a gente nascida e vivida na minha aldeia e) cuja obra supera todos os defeitos através de sua for-
aprendeu a negociar com os dois rios que acabaram ça lírica.
por lhe configurar o carácter, o almonda, que a seus
pés desliza, o Tejo, lá mais adiante, meio oculto por
trás da muralha de choupos, freixos e salgueiros que 11 (UBC-SP)
lhe vai acompanhando o curso, e um e outro, por
boas ou más razões, omnipresentes na memória e nas Alguém, antes que Pedro o fizesse, teve vontade de
falas das famílias. falar o que foi dito.
SaraMaGo, José. As pequenas memórias.
São Paulo: Companhia das letras, 2006. Os pronomes assinalados dispõem-se nesta ordem:
* Lezíria: planície de inundação junto a certos rios. a) de tratamento, pessoal, oblíquo, demonstrativo
b) indefinido, relativo, pessoal, relativo
Observe na referência 1: “ao qual (ou a quem, se a licen- c) demonstrativo, relativo, pessoal, indefinido
ça me é permitida), ajudava”. A licença a que o autor se d) indefinido, relativo, demonstrativo, relativo
refere é uma forma de: e) indefinido, demonstrativo, demonstrativo, relativo

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12 (UGF-RJ) Assinale a opção que preenche corretamente É a única coisa em que sou bom.
as lacunas da frase a seguir: “Quando o cidadão levar Demonstre que você também tem esse domínio, indi-
frente tudo aquilo sonha, todo o grupo so- cando a opção em que o período, resultante da ligação
cial ele pertence se movimentará em ”. entre as frases, está bem estruturado.
a) a – com que – a que – ascenção a) Frases: “Mas existe uma responsabilidade estrutural

Gramática • Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos


b) à – com que – a que – ascensão que não é imposta de fora para dentro. Todos que-
c) a – o qual – ao qual – ascenção rem fugir dela.”
d) em – que – que – ascensão IstoÉ, 15/7/98.

e) a – que – ao qual – ascenção Período: Mas existe uma responsabilidade estrutural


que não é imposta de fora para dentro, que todos
13 (UCPel-RS) Assinale a opção que completa corretamen- querem fugir dela.
te as lacunas das frases.
I. O lugar moro é muito pequeno. b) Frases: “Mas eles são artistas de cinema. A atividade
deles é fazer show usando movimentos extremamen-
II. Esse foi o número gostei mais.
te plásticos.”
III. O filme enredo é fraco tem dado grande prejuízo.
Veja, 8/10/97.
a) onde / que / cujo
b) em que / de que / cujo o Período: Mas eles são artistas de cinema, cuja a ativi-
c) no qual / o qual / do qual o dade é fazer show usando movimentos extremamen-
d) que / que / cujo o te plásticos.
e) em que / de que / cujo
c) Frases: “Um bom exemplo de gestão pública criativa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

é o mutirão do reflorestamento. Por meio dele, em


14 (UEL-PR) Pergunta-se quantos são ao certo os que fo- 12 anos, foi plantado 1,7 milhão de mudas de árvo-
ram premiados. res nativas da Mata Atlântica em morros urbanos do
As classes a que pertencem as expressões em destaque Grande Rio (...).”
na frase acima são, respectivamente: Época, 27/7/98.
a) advérbio de intensidade, locução prepositiva, artigo
definido. Período: Um bom exemplo de gestão pública cria-
tiva é o mutirão do reflorestamento que por meio
b) pronome interrogativo, advérbio de modo, artigo de-
dele, em 12 anos, foi plantado 1,7 milhão de mudas
finido.
de árvores nativas da Mata Atlântica em morros ur-
c) advérbio de intensidade, locução prepositiva, prono- banos do Grande Rio.
me demonstrativo.
d) pronome interrogativo, locução adverbial, pronome
d) Frases: “A secura do ar na Indonésia e na Malásia
demonstrativo.
provocou incêndios florestais, poluiu cidades e en-
e) pronome indefinido, locução adverbial, artigo de- fumaçou o céu de tal forma que até a semana pas-
finido. sada havia provocado dois desastres horrendos.
Num deles, um jato de passageiros estatelou-se no
15 (Ufes) Não, Hagar não tem como única habilidade aparar chão da Indonésia matando todas as 234 pessoas
as flechadas dos adversários nas batalhas. Veja, na figura a bordo.”
adiante, como ele estruturou bem sua frase, demonstran- Veja, 8/10/97.
do dominar a norma culta, no tocante ao uso do pronome
relativo e da preposição, quando necessária. Período: A secura do ar na Indonésia e na Malásia
provocou incêndios florestais, poluiu cidades e enfu-
@ 2011 KING FEaTUrES
SYNdICaTE/IprESS

maçou o céu de tal forma que até a semana passada


havia provocado dois desastres horrendos, num dos
quais um jato de passageiros estatelou-se no chão
matando todas as 234 pessoas a bordo.

e) Frases: “Para a Maritel, com 19 anos no mercado, a


invasão dos bichos importados atrapalha o cres-
cimento da empresa. Por essa razão, assim como
os concorrentes, trabalha com personagens licen-
ciados.”
Folha de S.Paulo, 2/9/98.

Período: Para a Maritel, com 19 anos no merca-


do, a invasão dos bichos importados atrapalha
o crescimento da empresa, razão porque, assim
como os concorrentes, trabalha com personagens
licenciados.

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16 (UFMS) Leia os provérbios abaixo e assinale a(s) propo- Sobre o trecho “(...) que é que ela vai fazer de mim?” (li-
sição(ões) correta(s). nha 33), é correto afirmar que:
I. Quem casa muito prontamente, arrepende-se... a) o primeiro “que” é pronome interrogativo e o segun-
II. Quem casa, muito prontamente arrepende-se... do, integrante da expressão expletiva “é que”.
(001) Em I e II, a palavra “quem” pode ser substituída por b) o segundo “que” é pronome relativo.
“aquele que”. c) o primeiro “que” corresponde a “que coisa” e o segun-
(002) Tanto em I como em II a interpretação dos provér- do é um pronome interrogativo que aparece no inte-
bios é a mesma. rior do período.
d) o primeiro “que” tem a função de sujeito da oração e
(004) A posição da vírgula provoca mudança de sentido
o segundo não tem função sintática.
entre os provérbios I e II.
e) nenhum dos “ques” tem função sintática.
(008) “Quem” é um pronome demonstrativo em I e II.
(016) Em I, está subentendida a palavra “para”.
18 (Mackenzie-SP, adaptada)
Soma: 001 + 004 = 5
17 (Cefet-CE) 1 Chicó: Por que essa raiva dela?
2 João Grilo: Ó homem sem-vergonha! Você inda
O Beato Romano 3 pergunta? Está esquecido de que ela dei-
1 Saí dali zonzo. Tinha sido fácil demais. Meu deus, 4 xou você? Está esquecido da exploração
2 eu que pensava ir encontrar uma fera – encontrei o 5 que eles fazem conosco naquela pada-
3 quê? Um chefe de bando, um comandante, uma si- 6 ria do inferno? Pensam que são o Cão
4 nhá governando a sua senzala? 7 só porque enriqueceram, mas um dia
5 Ela mandou que o João rufo me arranjasse uma 8 hão de me pagar. E a raiva que eu tenho

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
6 rede. Jogaram no chão a trouxa que eu trazia e o 9 é porque quando estava doente, me aca-
7 João rufo disse: 10 bando em cima de uma cama, via passar
8 – Tome os seus molambos! 11 o prato de comida que ela mandava pr’o
9 Mas falou quase como se fosse uma prosa, uma 12 cachorro. até carne passada na mantei-
10 brincadeira. Via-se que não estava seguro a meu 13 ga tinha. Pra mim nada, João Grilo que
11 respeito; no começo me tratou com pouco caso, ar- 14 se danasse. Um dia eu me vingo!
12 rogante, mas agora parecia desconfiado. Não sei se 15 Chicó: João, deixe de ser vingativo que você
13 engoliu a história do Beato romano; eu não tinha 16 se desgraça! Qualquer dia você inda se
14 chegado ali com roupa de beato, mas de calça e blu- 17 mete numa embrulhada séria!
15 sa, como um homem qualquer. E a espingardinha
16 velha não era de cabra de respeito, a faca só servia SUaSSUNa, ariano. Auto da Compadecida. (Fragmento.)
17 pra picar fumo. Que é que eu vinha fazer para a
18 dona Moura, se não era um guerreiro? Assinale a alternativa correta.
19 E João rufo chegou a me fazer essas perguntas, a) Do ponto de vista da norma culta, a forma verbal
20 enquanto eu atava as cordas da minha rede. Peque- “deixe” deveria ser substituída por “deixa” (linha 15),
21 na e ruim, por sinal. Me deram também um prato já que o pronome usado é “você” (linha 15).
22 com pirão de peixe cozido, e um taco de rapadura.
b) Nas linhas 1 e 7, a palavra “porque” está grafada cor-
23 Eu ainda pedi ao homem notícias do meu cavalo.
24 – Se não morrer de tão estropiado que está, vai retamente, assim como em “Não sei porque você
25 engordar solto. ainda tem por aí muita capoeira insiste nisso”.
26 com pasto. c) Em “um dia hão de me pagar” (linhas 7 e 8), a forma
27 Na rede, onde eu caí, não devia parecer um ador- verbal foi usada incorretamente, assim como em “Eu
28 mecido, mas um defunto em caminho da cova. Só me lembro que havia ainda alguns casos a resolver”.
29 de ceroulas, sem camisa, o calor tão forte... Que- d) A frase “Está esquecido de que ela deixou você?”
30 ria pensar, mas morria de cansado. deus do céu,
(linhas 3 e 4) admite também, de acordo com a nor-
31 o que iria pela cabeça da dona? lembrar, ela lem-
32 brou, disso eu tenho certeza... Mas a minha dúvida ma-padrão, a seguinte pontuação: “Está esquecido,
33 é outra: que é que ela vai fazer de mim? Não sei de que ela deixou você?”.
34 se acreditou na minha história e se a aceita. Quem e) A palavra “que” (linha 11) funciona como pronome
35 sabe me mata? relativo e, portanto, substitui o termo imediatamente
36 ora, se quisesse me matar já tinha feito... Mas, anterior: “o prato de comida”.
37 por outro lado, para que ela vai me querer vivo?
Que serventia eu posso ter, nesta praça de guerra?
38
39 Talvez ela ainda mande os cabras me darem um
19 (PUC-RJ) Em uma passagem do livro O que é o tempo?, o
40 aperto. E pode ser que eu aguente. afinal, mesmo matemático e filósofo inglês Gerald James Whitrow nos
41 debaixo de confissão, não posso dizer nada que diz o seguinte:
42 interesse à dona. Nada. Toda a minha tragédia se
43 passou depois que ela foi embora. Na gente com a primeira questão é a origem da ideia de que o
44 quem eu andei e ando, ela nunca ouviu nem fa- tempo é uma espécie de progressão linear medida
45 lar. Gente sem poder... sem dinheiro... sem força... pelo relógio e pelo calendário. Na civilização mo-
46 deus do céu, creio que, pelo menos por agora, eu derna, esse conceito de tempo domina de tal forma a
47 já posso dormir. nossa vida que parece ser uma necessidade inevitável
do pensamento. Mas isso está longe de ser verdade.
QUEIroZ, rachel de. Memorial de Maria Moura.
São Paulo: Siciliano, 1992. p. 15-16. (...) a maioria das civilizações anteriores à nossa,

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nos últimos 200 a 300 anos, tendia a considerar o a) Para comparar a visão de tempo dos maias à nossa
tempo essencialmente cíclico na natureza. À luz da moderna concepção, o autor do texto evoca duas
história, nossa concepção de tempo é tão excepcio- imagens geométricas distintas. Diga quais são elas
nal quanto a nossa rejeição ao mágico. e, com base no texto, explique por que servem para
Embora nossa ideia de tempo seja uma das caracte- descrever a diferença fundamental entre as duas
rísticas peculiares do mundo moderno, a importân- ideias de tempo comparadas.

Gramática • Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos


cia que damos a ele não é inteiramente desprovida
de precedente cultural. Nem tampouco o presente As duas imagens geométricas que o autor evoca
calendário gregoriano – assim chamado em home-
nagem ao papa Gregório XIII, que o introduziu em são a linha reta e o círculo. A linha reta descreve
março de 1582 – é o mais preciso de todas as civili-
bem a concepção de tempo da civilização moderna,
zações. Nosso calendário, por muito sofisticado que
seja, não é tão exato quanto aquele criado, há mais porque tendemos a percebê-lo como algo que se
de mil anos, pelos sacerdotes maias da américa Cen-
tral. o ano gregoriano é um tanto longo demais, e o desenvolve de modo sequencial e unidirecional.
erro chega a três dias em dez mil anos. a duração do
ano dos astrônomos maias pecava por ser um tanto O círculo, por sua vez, caracteriza bem a visão dos
curta demais, mas o erro era de apenas dois dias em
dez mil anos. maias, porque estes pensavam o tempo como algo
de todos os povos que conhecemos, os maias eram
os mais obcecados pela ideia de tempo. Enquanto na que recorre ou retorna periodicamente, num tipo de
antiguidade europeia considerava-se que os dias da
movimento que encontra no círculo uma imagem
semana eram influenciados pelos principais corpos
celestes – Saturn-day, Sun-day, Moon-day (dia de Sa-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bastante usual.
turno, dia do Sol, dia da lua e assim por diante) –,
para os maias cada dia era por si só divino. Todos os
monumentos e altares eram erigidos para marcar a
passagem do tempo, nenhum glorificava governantes
ou conquistadores.
os maias viam as divisões do tempo como cargas
transportadas por uma hierarquia de portadores di-
vinos que personificavam os números pelos quais os b) Retire do texto um período que contrarie a seguinte
vários períodos – dias, meses, anos, décadas e sécu- afirmação: “Nunca houve sociedade que tenha dado
los – se distinguiam. apesar dessa constante preo- ao tempo um lugar tão central como a nossa”.
cupação com os fenômenos temporais e da incrível
exatidão de seu calendário, os maias nunca chegaram “Embora nossa ideia de tempo seja uma das
à ideia de tempo como a jornada de um portador
com a sua carga. Seu conceito de tempo era mágico características peculiares do mundo moderno, a
e politeísta. Embora a estrada na qual os portadores
divinos caminhassem em revezamento não tivesse importância que damos a ele não é inteiramente
começo nem fim, os eventos ocorriam em um círculo
representado por períodos recorrentes de serviço a desprovida de precedente cultural.” ou “De todos
cada deus na sucessão dos portadores.
os povos que conhecemos, os maias eram os mais
dias, meses, anos, e assim por diante, eram mem-
bros dos grupos que caminhavam em revezamento obcecados pela ideia de tempo.”
pela eternidade. a carga de cada deus era o presságio
para o intervalo de tempo em questão. Num ano a
carga podia ser a seca; no outro, uma boa colheita.
Pelo cálculo dos deuses que estariam caminhando
juntos em um determinado dia, os sacerdotes podiam c) Forme um único período com as orações abaixo, uti-
determinar a influência combinada de todos os cami- lizando para isso o pronome relativo “cujo”. Faça as
nhantes, e assim prever o destino da humanidade. adaptações necessárias.
a hierarquia dos ciclos de cada divisão de tempo I. Não vemos a relação entre passado, presente e
levou os maias a dedicar mais atenção ao passado futuro da mesma forma que os maias.
que ao futuro. Esperava-se que a história se repetisse II. O conceito de tempo dos maias era mágico e po-
em ciclos de 260 anos, e que os eventos significativos liteísta.
tendessem a seguir um padrão geral pré-ordenado.
Por exemplo, a religião cristã introduzida pelos es- Não vemos a relação entre passado, presente e
panhóis era identificada com a adoração de um culto
alienígena imposto aos maias vários séculos antes. futuro da mesma forma que os maias, cujo
os eventos passados, presentes e futuros mescla-
vam-se, na visão global dos maias, porque resulta- conceito de tempo era mágico e politeísta.
vam da mesma carga divina do ciclo de 260 anos.
WhITroW, G. J. O que é o tempo?
rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 15-17. (adaptado.)

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ESTUDANDO Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos

Para o enem
1 6. o que é nascido da carne é carne, e o que é nas- 2
H23 H21
cido do Espírito é espírito. nÍQuel nÁusea fernando gonsales
H24
7. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos

FErNaNdo GoNSalES
é nascer de novo.
8. o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; as-
sim é todo aquele que é nascido do Espírito.
(...)
16. Porque deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17. Porque deus enviou o seu Filho ao mundo, não
para que condenasse o mundo, mas para que o mun-
do fosse salvo por ele.
18. Quem crê nele não é condenado; mas quem não
crê já está condenado, porquanto não crê no nome
do Unigênito Filho de deus.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
19. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mun-
do, e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
porque as suas obras eram más.
20. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a
luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não
sejam reprovadas. A tira acima opõe dois personagens: um carrancudo aten-
21. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a dente e um jovem vestibulando (chamado Benedito Cujo)
fim de que as suas obras sejam manifestas, porque que pretende efetuar a inscrição para o exame. Nas falas
são feitas em deus. de ambos, é notável não só a oposição visual (maturidade
Evangelho segundo São João (cap. 3, v. 16-21). e juventude), mas também a oposição entre a tagarelice
Em: Bíblia sagrada. Tradução João Ferreira de almeida. do vestibulando e o laconismo do atendente. No último
rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1995. p. 108. quadrinho, Benedito emprega o pronome “quem” em
sua fala. Assinale a alternativa que define corretamente
Sendo um texto amplamente conhecido, o evange- o efeito de sentido provocado pelo uso desse pronome
lho traz um discurso de matiz universal e, em excertos no contexto da tira.
como o citado anteriormente, faz uso marcante de pro- a) O pronome “quem” assume valor interrogativo.
nomes indefinidos, como em “Porque todo aquele que Portanto, seria mais correto se a fala de Benedito Cujo
faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que se encerrasse com um ponto de interrogação.
as suas obras não sejam reprovadas” (v. 20). Quanto ao b) O atendente é o verdadeiro neurótico, pois nada jus-
emprego da expressão pronominal “todo aquele”, no tifica a agressão contra o rapaz; afinal, este apenas
versículo citado, escolha a alternativa que justifique lhe dirigira inofensivas questões, as quais, apesar de
mais convincentemente seu emprego, adequando-o inapropriadas, são compreensíveis se atribuídas a um
aos propósitos instrucionais e persuasivos do texto jovem em vias de prestar um concorrido exame.
como um todo. c) A fala de Benedito Cujo denuncia a existência de um
a) A expressão particulariza o receptor do texto, refe- julgamento comum sobre o vestibulando em geral:
rindo-se, no caso em questão, àqueles ouvintes já o de que ele seria “neurótico”. O segundo quadrinho,
predispostos a acatar a mensagem. em que o rapaz interpela o atendente com perguntas
b) “Todo aquele” generaliza e universaliza o referente, prolixas, demonstra com humor a suposta validade do
sem restringi-lo; o apelo do texto ganha, assim, mais senso comum.
alcance e repercussão. d) Ambos seriam “neuróticos”, pois o vestibulando perde
a consciência por conta do nervosismo, e o atenden-
c) O apelo da expressão não repercute particularmente
te reage de modo violento, por causa da impaciência.
em nenhum receptor, pois o discurso é vago e incoe-
Assim, o pronome “quem”, no último quadrinho, faz
rente.
referência aos dois personagens.
d) O discurso religioso tem seu viés apelativo enfraque- e) O emprego de linguagem informal nas falas de
cido pela expressão “todo aquele”, pois esta não defi- Benedito Cujo (no segundo quadrinho) causa impa-
ne claramente o receptor da mensagem. ciência e indignação no atendente; por isso, o jovem
e) A expressão “todo aquele” tem valor enfático, embora (no último quadrinho) lhe atribui a tal neurose erro-
as intenções do enunciador não estejam claras. neamente creditada aos vestibulandos em geral.

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3 Ninguém: Que andas tu aí buscando?
c) “Todo o Mundo” tem acesso à riqueza e outros bens,
H16 ainda que, para isso, seja necessário sacrificar a ho-
Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar nestidade de caráter – virtude que a personagem
delas não posso achar, “Ninguém” também demonstra desprezar.
porém ando porfiando
d) Gil Vicente emprega os pronomes indefinidos de ma-
por quão bom é porfiar.
neira simultaneamente irônica e moralizante, o que é

Gramática • Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos


Ninguém: Como hás nome, cavaleiro? próprio do teatro clássico, ao qual se filia.
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo e) A presença dos demônios Dinato e Belzebu (dois no-
e meu tempo todo inteiro mes próprios) atenuam a indefinição sugerida pelas
sempre é buscar dinheiro formas “Todo o Mundo” e “Ninguém”.
e sempre nisto me fundo.
Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
4 Alguém me disse
e busco a consciência.
H12
Belzebu: Esta é boa experiência: 1 alguém me disse
dinato, escreve isto bem. 2 Que tu andas novamente
3 de novo amor, nova paixão
Dinato: Que escreverei, companheiro?
4 Toda contente
Belzebu: Que Ninguém busca consciência.
e Todo o Mundo dinheiro. 5 Conheço bem tuas promessas
6 outras ouvi iguais a essas
Ninguém: E agora que buscas lá?
7 E esse teu jeito de enganar
Todo o Mundo: Busco honra muito grande. 8 Conheço bem
Ninguém: E eu virtude, que deus mande 9 Pouco me importa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que tope com ela já. 10 Que te beijem tantas vezes


Belzebu: outra adição nos acude: 11 E que tu mudes de paixão
escreve logo aí, a fundo, 12 Todos os meses
que busca honra Todo o Mundo
e Ninguém busca virtude. 13 Se vais beijar, como eu bem sei
14 Fazer sonhar, como eu sonhei
Ninguém: Buscas outro mor bem qu’esse? 15 Mas sem ter nunca
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse 16 amor igual ao que eu te dei.
tudo quanto eu fizesse.
GoUVEIa, Evaldo; aMorIM; Jair. alguém me disse. Em:
Ninguém: E eu quem me repreendesse CoSTa, Gal. Plural. BMG, 1990. Faixa 9.
em cada cousa que errasse.
(...)
Assinada por Evaldo Gouveia e Jair Amorim, a canção
Todo o Mundo: Folgo muito d’enganar, “Alguém me disse” ganhou prestígio na voz de Anisio Silva
e mentir nasceu comigo. (1920-1989), cantor e compositor brasileiro que a gravou
Ninguém: Eu sempre verdade digo em 1960. A mesma composição, regravada por Gal Costa
sem nunca me desviar. em 1988, tornou-se, então, novamente reconhecida. Em sua
Belzebu: ora escreve lá, compadre, letra, é recorrente a presença de variados pronomes, como
não sejas tu preguiçoso. os indefinidos e relativos. Reconhecendo sua importância
Dinato: Quê? para a composição e os efeitos de sentido decorrentes de seu
emprego, assinale a alternativa que discorra mais adequada-
Belzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso, mente sobre o uso expressivo desses pronomes na canção.
E Ninguém diz a verdade.
a) No verso 4, o termo “toda” tem função exclusivamente
VICENTE, Gil. auto da lusitânia. Em: Obras completas. pronominal, referindo-se à figura feminina evocada.
São Paulo: Cultura, 1946. t. 2, p. 471. (Fragmento.)
b) No verso 6, o emprego do pronome indefinido “ou-
tras” demonstra, por parte do eu poético, o conheci-
O texto acima, trecho de um conhecido diálogo do mento da desfaçatez e dos enganos implicados nas
Auto da Lusitânia, originalmente composto em 1531 “promessas” da mulher.
por Gil Vicente, faz uso dos termos indefinidos “Todo c) Nos versos 2 e 10, o vocábulo “que” assume, morfo-
o Mundo” e “Ninguém” para nomear dois personagens. logicamente, a função de pronome relativo. Em cada
O uso desses termos pronominais, no texto, pode ser verso, refere-se, respectivamente, aos termos antece-
justificado pela seguinte assertiva: dentes “alguém” e “jeito de enganar”.
a) Os nomes “Todo o Mundo” e “Ninguém” são ale- d) No verso 12, o pronome indefinido “todos” alude à su-
góricos; representam, respectivamente, a presun- posição de que a mulher, caracterizada pelo gosto da
çosa vaidade da maioria absoluta das pessoas e a infidelidade, entregava-se ao amor de muitos homens.
honesta virtude dos mais simples (comprovando, e) No último verso, o desalento e a melancolia da com-
portanto, que praticamente nenhuma pessoa é posição – elementos característicos do bolero, gênero
virtuosa). musical de tendência popularmente romântica – apa-
b) “Todo o Mundo” é o nome que demonstra virtude e recem surpreendentemente contidos e ocultos na dis-
legitimidade de caráter, enquanto “Ninguém” é deso- crição do eu poético, que prefere, modestamente, não
nesto e inescrupuloso. comparar seu amor ao de outras pessoas.

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