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Para o Vestibular
1 (Unirio-RJ) A norma culta não prevê o emprego dos pronomes tal
como aparecem no texto. Levando em consideração a
Sagrado dever proposta de linguagem do movimento literário em que
o poema se insere, justifique o uso dos pronomes no
Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não põe a mão
primeiro verso.
na boca. Menino, não coma doce antes do almoço. Vai
fazer a lição de casa. Sai daí. Vai dormir. O uso desses pronomes não corresponde à norma culta
BRANDãO, Inácio de Loyola.
porque o poema pertence à segunda fase do
a) Reescreva o texto, utilizando o registro culto da Modernismo brasileiro, que se propôs a romper com os
língua.
padrões tradicionais.
Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não ponhas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo.
Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um
pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas
b) O tipo de linguagem do texto caracteriza a relação apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem
existente entre pais e filhos. Explique a afirmativa. turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão den-
tro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável.
Há emprego indiferenciado da segunda e da terceira Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozi-
nhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista
pessoa do singular nas ordens (imperativo), além de
passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da pa-
transgressão gramatical, permitida no registro nela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”.
HAAG, Carlos. Laje cheia de turista: como funcionam
informal (familiar, coloquial). os tours pelas favelas cariocas. Pesquisa Fapesp,
n. 165, 2009, p. 90-93. (Adaptado.)
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verbal. No caso, como o “se” é pronome apassivador, (...) morreu segunda que passou de uma anemia
dos falantes.
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Me conta agora como hei de partir de?”) poderia ser corretamente substituída por “onde”
(“onde vai esse bonde?”).
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios Dentre essas afirmações, estão corretas apenas:
Me diz pra onde é que inda posso ir a) I e III. c) II e IV. e) III e IV.
b) I e II. d) II e III.
(...)
(...)
9 (Fatec-SP)
O Estado de S. Paulo, 14 abr. 2001. (Adaptado.)
Solteiro, comerciário, ele se desespera na fila das
seis da tarde. Na meia hora de vida roubada por este
bonde, José podia ter feito grandes coisas: beber rum Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é
da Jamaica, beijar Mercedes, saquear uma ilha. Pula mais formal e, no último, mais informal. Assinale a alter-
nativa que traga, primeiro, uma marca da formalidade
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unicamente saber fazer render a nova posição. Isso 3 Ó xente, vixe! Um xaxado diferente, de repente tá
ficou por sua conta. [chegando pra ficar
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de via- Resolvi dar uma chegada lá no Sul pra mostrar o meu
gem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o mé- [xaxado porque achei que lá embaixo iam gostar
dico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes,
Chinelo, chapéu, xampu
e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com
6 Enchi minha mochila e parti pro Sul
isto ganhou imensa reputação, e começou a ser es-
timado. Encaixei um toca-fitas no chevete e achei o meu cas-
Chegaram com feliz viagem ao seu destino; to- [sete do Raul
maram o seu carregamento de gente, e voltaram Na estrada eu nem parei na lanchonete porque eu ti-
para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem [nha pouco cash e esperei até chegar
um só negro morreu, o que muito contribuiu para 9 Em território gaúcho só pra rechear o bucho de chu-
aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do [leta na chapa na churrascada de lá
riscado. Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe!
Não se avexe, chefe, chega nesse show só de chinfra
ALMEIDA, Manuel Antônio de.
Memórias de um sargento de milícias. 12 Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe!
Não se avexe, se mexe, meu chefe, chama na xinxa!
Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que
A linguagem de cunho popular, presente tanto na fala [troço doido é esse?
dos personagens quanto no discurso do narrador do ro- 15 Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que
mance de Manuel Antônio de Almeida, está mais bem [trem bão!
exemplificada em: (...)
a) “quando tem pouco que fazer”; “cumpria sabê-lo GABRIEL O PENSADOR; GOMES, André. Disponível em:
aproveitar”. <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 8 jun. 2010.
b) “Foi a sua salvação”; “a que o marujo pertencia”.
c) “saber fazer render a nova posição”; “Chegaram com
feliz viagem ao seu destino”. 16 Com relação ao uso diferenciado da língua:
d) “puxar conversa”; “entendedor do riscado”. a) no texto 1, discutem-se os vários fatores que pro-
e) “adoeceram dois marinheiros”; “sólida reputação”. vocam as diferenças na fala. Essas diferenças são
ilustradas nas linhas 13 e 14 do texto 2.
b) no texto 2, o uso repetido de palavras com ch e x
(UFRN) A questão 16 refere-se aos textos 1 e 2 a seguir.
provoca uma sonoridade. Essa repetição compro-
mete o propósito comunicativo do texto.
Texto 1
c) no texto 2, essas diferenças revelam a classe social e
(...) o nível de escolaridade dos autores da canção. Isso
Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na se comprova nas linhas 14 e 15 desse texto.
fala de pessoas é externo à língua. Os principais são os
d) nos textos 1 e 2, apresenta-se um conteúdo que
fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, de et-
reforça o preconceito quanto às diferentes formas
nia, de profissão etc. Ou seja: as pessoas que moram em
de falar. Esse preconceito é, predominantemente,
lugares diferentes acabam caracterizando-se por falar
regional.
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CUstóDio
que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congres-
so Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e
nacional do povo brasileiro.
O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos
que militam em favor de sua ideia, pede vênia para lembrar
que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de
um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a
emancipação política do país requer como complemento e
consequência a sua emancipação idiomática.
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua
originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir as
nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natu-
reza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais
e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e
ainda vivem, portanto possuidores da organização fisio-
lógica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa
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Para o eneM
1 (Enem) muito mais variantes do que se imagina. E a gen-
H25 te se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo
H26 mundo ri, porque parece impossível que um praia-
no de beira-mar não chegue sequer perto de um
sertanejo de Quixeramobim. O pessoal de Cariri,
Calvin & Hobbes, bill Watterson © 1990
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radas no texto manifestam-se:
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.
3 (Enem)
H27
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Para o vestibular
1 (Uerj, adaptada) Você sabe o que é um palíndromo? (par. 1)
Por que estou dizendo essas coisas? (par. 7)
Brincar com palavras nos jogos verbais,
exercícios de literatura Observando os parágrafos compreendidos entre as per
guntas acima, identifique a função da linguagem predo
1 Você sabe o que é um palíndromo? minante nesses parágrafos e justifique sua resposta.
2 É uma palavra ou mesmo uma frase que pode ser
lida de frente pra trás e de trás pra frente. Por exem- Função metalinguística.
plo, em português: [osso]; em espanhol: “Anita lava la
tina”. Ou, então, a frase latina: “Sator arepo tenet opera Uma entre as justificativas: os parágrafos explicam
rotas”, que não só pode ser lida de trás pra frente, mas
pode ser lida na vertical, na horizontal, de baixo pra os significados das palavras.
cima, de cima pra baixo, girando os olhos em redor
deste quadrado: Os parágrafos contêm definição de palavras por
S A T O R outras palavras.
A R E P O
T E N E T
O P E R A
R O T A S
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3 Essa frase latina polivalente foi criada pelo es-
cravo romano Loreius, 200 anos antes de Cristo, e
tem dois significados: “O lavrador mantém cuida-
dosamente a charrua nos sulcos” e/ou “o lavrador
sustém cuidadosamente o mundo em sua órbi-
ta”. Osman Lins construiu o romance Avalovara 2 (Fuvest-SP) Considere este trecho de um diálogo en
(1973) em torno desse palíndromo. tre pai e filho (do romance Lavoura arcaica, de Raduan
4 Muita gente sabe o que é um caligrama – aque- Nassar):
les textos que existiam desde a Grécia, em que as
letras e frases iam desenhando o objeto a que se
referiam – um vaso, um ovo, ou então, como num – Quero te entender, meu filho, mas já não entendo
autor moderno tipo Apollinaire, as frases do poe- nada.
ma se inscrevendo em forma de cavalo ou na per- – Misturo coisas quando falo, não desconheço, são
pendicular imitando o feitio da chuva. as palavras que me empurram, mas estou lúcido, pai,
5 Mas pouca gente sabe o que é um lipograma. sei onde me contradigo, piso quem sabe em falso,
6 Lipo significa tirar, aspirar, esconder. Portanto, pode até parecer que exorbito, e se há farelo nisso
um lipograma é um texto que sofreu a lipoaspi-
tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão intei-
ração de uma letra. O autor resolve esconder essa
letra por razões lúdicas. Já o grego Píndaro havia ro. Mesmo confundindo, nunca me perco, distingo
escrito uma ode, sem a letra “s”. Os autores bar- para o meu uso os fios do que estou dizendo.
rocos no século XVII também usavam este tipo de
ocultação, porque estavam envolvidos com o ocul- No trecho, ao qualificar o seu próprio discurso, o filho se
tismo, com a cabala e com a numerologia. vale tanto de linguagem denotativa quanto de lingua
7 Por que estou dizendo essas coisas? gem conotativa.
8 Culpa da internet. a) A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo” é
9 Esses jogos verbais que vinham sendo feitos desde as um exemplo de linguagem de sentido denotativo ou
cavernas agora foram potencializados com a informá- conotativo? Justifique sua resposta.
tica. Dizia eu numa entrevista outro dia que estamos
vivendo um paradoxo riquíssimo: a mais avançada A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo”
tecnologia eletrônica está resgatando o uso lúdico da
linguagem e uma das mais arcaicas atividades huma- é de sentido denotativo, pois expressa de forma
nas – a poesia. Os poetas, mais que quaisquer outros
escritores, invadiram a internet. Se em relação às inequívoca um significado de base: a consciência do
coisas prosaicas se diz que a vingança vem a cavalo,
no caso da poesia a vingança veio a cabo, galopando filho da lucidez diante de seu discurso desconexo.
eletronicamente. Por isto que toda vez que um jovem
iniciante me procura com a angústia de publicar seu
livro, aconselho-o logo: “Meu filho, abra uma página
sua na internet para não mais se constranger e se sentir
constrangido diante dos editores e críticos. Estampe
seu texto na internet e deixe rolar”.
Sant’anna, affonso Romano de. O Globo, 15 set. 1999 (adaptado.)
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4 (Ufal)
reprodução
Língua para inglês ver
A incorporação da língua inglesa aos idiomas nati- Ministério da Saúde. Fôlder da Campanha contra
vos dos mais diversos países não é novidade. Traduz, a dengue (capa). 2011.
no âmbito da linguagem, uma hegemonia que os
Estados Unidos consolidaram desde a década de 50. O texto publicitário acima é parte de um fôlder produ-
Com a globalização e o encurtamento das distâncias zido pelo Ministério da Saúde para a campanha de ação
entre as nações obtido pelo avanço dos meios de co- contra a proliferação da dengue. Em relação à função
municação, a contaminação das demais línguas pelo comunicativa predominante nesse texto, pode-se afir-
inglês ficou ainda mais patente. mar que:
O fenômeno não é em si mesmo nocivo. Pode até a) é um texto que apela para a atenção do leitor, com o
enriquecer um idioma ao permitir que se incorpo- uso de verbos no imperativo; portanto, predomina a
rem informações vindas de fora que ainda não têm função conativa.
correspondência local. A internet é um exemplo
nesse sentido. b) é um texto predominantemente referencial, por
Outra coisa, porém, bem diferente, é o uso gratuito apresentar uma série de informações referentes à
de palavras em inglês como o que se verifica hoje no dengue.
Brasil. A não ser pela vocação novidadeira – e caipi- c) o fato de o fôlder apresentar referências a sites e ou-
ra – de quem se deslumbra diante de qualquer coisa tras instituições públicas ligadas à campanha nos faz
que o aproxima do “estrangeiro”, não há nenhuma ver que é um texto referencial.
razão para que se diga sale no lugar de liquidação, ou d) está claramente estabelecida no texto a função meta-
qualquer motivo para falar off em vez de desconto.
linguística, por haver explicações sobre os cuidados
Tais anomalias são um dos sintomas do subdesenvol-
que se deve ter contra a dengue.
vimento e exprimem, no seu ridículo involuntário, a
mentalidade de quem confunde modernidade com e) a fim de motivar a adesão dos leitores à campanha,
uma temporada em Miami. no fôlder predomina a função emotiva, perceptível
pelo uso do pronome “você”.
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a realização de todos os nossos sonhos de criança, quando tempo ou de futebol. No escrever também poderia
ninguém tinha senso crítico ou remorso. ser assim, e deveria haver para a escrita algo como
Mas o infantilismo dominante tem seu lado assustador. conversa vadia, com que se divaga até encontrar
Nenhum carro de polícia ou de socorro do mundo é tão assunto para um discurso encadeado. Mas, à dife-
espalhafatoso quanto os americanos. Numa sociedade de rença da conversa falada, nos ensinaram a escrever
brinquedos caros, quanto mais luzes e sirenas mais diver- e na lamentável forma mecânica que supunha texto
prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que
tido, mas o espalhafato também parece criar uma necessi-
antes se pensara. Agora entendo o contrário: escre-
dade infantil de catástrofes cada vez maiores. O caminho
ver para pensar; uma outra forma de conversar.
natural do apetite sem restrições é para o caldeirão de pi-
Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a cer-
pocas, para a Mega Coke e para a chacina. Existe realiza- tos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escre-
ção infantil mais atraente do que poder entrar numa loja ver bonito e certo. Era preciso ter um começo, um
e comprar não um brinquedo igualzinho a uma arma de desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso
verdade mas a própria arma? Nos Estados Unidos pode. estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto.
De vez em quando uma daquelas crianças grandes resolve Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor), conver-
sair matando todo mundo, como no cinema, mas a maio- sando, entender como necessitamos nos reeducar
ria dos que compram as armas e as munições só quer ter para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas
os brinquedos em casa. transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi
Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar.
ingênua e terrível, mas ela não parece entrar nas nossas “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o
equações econômicas ou no cálculo dos nossos interes- leitor lê depois.” “Não”, lhe respondo, “Não consigo
ses. Somos cada vez mais fascinados e menos críticos escrever sem pensar em você por perto, espiando o
diante do grande apetite americano e de um projeto de que escrevo. Não me deixe falando sozinho”.
Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com
hegemonia chauvinista e prepotente como sempre, agora
interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais ape-
camuflado pelos mitos de “globalização”. Quando a pru-
nas, nem sequer imaginados de carne e ossos, mas
dência ensina que se deve olhar os americanos do ponto sempre ativamente presentes. Depois é espichar
de vista das pipocas. conversas e novos interlocutores surgem, entram na
VERISSIMO, Luis Fernando. A mesa voadora. roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 63-64.
MARQUES, M. O. Escrever é preciso. Ijuí: Unijuí, 1997. p. 13.
6 A linguagem denotativa foi utilizada em: Observe a seguinte afirmação feita pelo autor: “Em nos
a) “As nossas poltronas eram ótimas, a projeção do fil sa civilização apressada, o ‘bomdia’, o ‘boatarde, como
me era perfeita (...)”. vai?’ já não funcionam para engatar conversa. Qualquer
b) “Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo assunto servindo, falase do tempo ou de futebol”. Ele faz
tempo ingênua e terrível (...)”. referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o
c) “Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade gelo”. Indique a alternativa que explicita essa função.
é feito para saciar apetites infantis (...)”. a) Função emotiva d) Função conativa
d) “(...) mas a maioria dos que compram as armas e as b) Função referencial e) Função poética
munições só quer ter os brinquedos em casa”. c) Função fática
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o A, como uma grande tenda. O B, com seu grande IV. O fato de não se tratar de um texto literário leva a que
busto e sua barriga ainda maior. (ABC, p. 113.) o entrevistado não use palavras em sentido figurado.
V. O professor entrevistado apresenta seus argumen-
(Ufal) Texto para as questões 13 e 14. tos, mas se omite quanto à apresentação de exem-
plos que pudessem reforçá-los.
Entrevista com Evanildo Bechara Estão corretas:
Jornalista. É fato que o português está sendo invadi-
a) I, II, III, IV e V. d) I e V apenas.
do por expressões inglesas ou americanizadas – como
background, playground, delivery, fast-food, download... b) I e II apenas. e) IV e V apenas.
Isso o preocupa? c) I e III apenas.
Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura. O
sistema da língua não sofre nada com a introdução de 14 A compreensão global do texto – que resulta da arti-
termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses termos culação entre os elementos contextuais e o material
entram no sistema têm de se submeter às regras de fun- linguístico presente – nos leva a reconhecer como afir-
cionamento da língua, no caso, o português. Um exem- mações principais do texto as seguintes:
plo: nós recebemos a palavra xerox. Ao entrar na língua,
I. O português está sendo invadido por expressões in-
ela acabou por se submeter a uma série de normas. Daí
surgiram xerocar, xerocopiar, xerografar, enfim, nasceu glesas ou americanizadas.
uma constelação de palavras dentro do sistema da língua II. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran-
portuguesa. geirismos.
Jornalista. Então esse processo não é ruim? III. A língua se enriquece quando você tem dois modos
Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras. de dizer a mesma coisa.
Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran- IV. O sistema da língua não sofre nada com a introdu-
geirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, ção de termos estrangeiros.
é o inglês, por ser um idioma voltado para o mundo.
V. Os termos estrangeiros do futebol foram dando lu-
Hoje, fala-se delivery, mas poderíamos dizer “entrega a
gar a expressões feitas no Brasil.
domicílio”. E há quem diga que o correto é “entrega
em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem fique com o Estão corretas:
delivery. A palavra inglesa delivery não chegou a entrar a) I, II, III e V apenas. d) I, II e IV apenas.
nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam b) II, III e IV apenas. e) I, II, III, IV e V.
outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia c) III e V apenas.
a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar
que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega a
domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo 15 No texto a seguir, predomina o uso da função referen-
entregar normalmente se constrói com a preposição a. cial. Que alternativa não corresponde às pistas dadas
Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a pelo texto que justificam essa afirmação?
língua se enriquece quando você tem dois modos de di-
zer a mesma coisa. Das pequenas tábuas de argila, passando pelo surgi-
Jornalista. E por que usar delivery, se temos uma ex- mento do papel, ao suporte virtualizado, onde, hoje,
pressão própria em português? Não é mais um badulaque nos expressamos, o sistema de símbolos gráficos a que
desnecessário? damos o nome de escrita conheceu revoluções que al-
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Para o ENEM
1 (Enem) 3 (Enem)
H18 H18
H19 A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se H19 Transtorno do comer compulsivo
desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades O transtorno do comer compulsivo vem sendo reco-
menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma nhecido, nos últimos anos, como uma síndrome caracte-
floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema rizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva
tem múltiplos mecanismos que regulam o número de alimentos. Porém, diferentemente da bulimia nervosa,
de organismos dentro dele, controlando sua repro- essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os
dução, crescimento e migrações. métodos compensatórios. Os episódios vêm acompanha-
DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: dos de uma sensação de falta de controle sobre o ato de
Companhia das Letras, 1995. comer, sentimentos de culpa e de vergonha.
Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresen-
Predomina no texto a função da linguagem: tando uma história de variação de peso, pois a comida é
a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em usada para lidar com problemas psicológicos. O transtor-
relação à ecologia. no do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2%
b) fática, porque o texto testa o funcionamento do ca- da população em geral, mais frequentemente acometen-
do mulheres entre 20 e 30 anos de idade.
nal de comunicação.
Pesquisas demonstram que 30% das pessoas que pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os re- curam tratamento para obesidade ou para perda de peso
cursos de linguagem. são portadoras de transtorno do comer compulsivo.
d) conativa, porque o texto procura orientar comporta-
Disponível em: <www.abcdasaude.com.br>.
mentos do leitor. Acesso em: 1o maio 2009. (Adaptado.)
e) referencial, porque o texto trata de noções e informa-
ções conceituais. Considerando as ideias desenvolvidas pelo autor, con-
clui-se que o texto tem a finalidade de:
2 (Enem) a) descrever e fornecer orientações sobre a síndrome
H25 da compulsão alimentícia.
H26 b) narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do
S.O.S. português
comer compulsivo.
Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito
c) aconselhar as pessoas obesas a perder peso com mé-
diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse as-
todos simples.
pecto da língua com base em duas perspectivas. Na
primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que d) expor de forma geral o transtorno compulsivo por
restringe o ensino da língua ao código. Daí vem o alimentação.
entendimento de que a escrita é mais complexa que e) encaminhar as pessoas para a mudança de hábitos
a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das alimentícios.
regras gramaticais, sem a preocupação com situações
de uso. Outra abordagem permite encarar as diferen- 4 (Enem)
ças como um produto distinto de duas modalidades H18
da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem H19 Texto 1
sempre nos damos conta disso. Chão de esmeralda
S.O.S. português. Nova Escola, São Paulo, Me sinto pisando
Abril, ano XXV, n. 231, abr. 2010. (Adaptado.) Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
O assunto tratado no fragmento é relativo à língua À Mangueira
portuguesa e foi publicado em uma revista destinada Sob uma chuva de rosas
a professores. Entre as características próprias desse Meu sangue jorra das veias
tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas pró- E tinge um tapete
prias do uso: Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
a) regional, pela presença de léxico de determinada re- Que quer se mostrar
gião do Brasil. Soberba, garbosa
b) literário, pela conformidade com as normas da gra- Minha escola é um cata-vento a girar
mática. É verde, é rosa
c) técnico, por meio de expressões próprias de textos Oh, abre alas pra Mangueira passar
científicos. BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de
d) coloquial, por meio do registro de informalidade. Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG, 1997.
Disponível em: <www.chicobuarque.com.br>.
e) oral, por meio do uso de expressões típicas da orali-
Acesso em: 30 abr. 2010.
dade.
210
5 (Enem)
H18
Disponível em: <http://ziraldo.blogtv.uol.com.br>.
H19
Expressões idiomáticas Acesso em: 27 jul. 2010.
O texto esclarece o leitor sobre as expressões idiomáti- c) pela ausência intencional do acento grave, que cons-
cas, utilizando-se de um recurso metalinguístico que se trói a ideia de que não é a droga que faz a cabeça do
caracteriza por: jovem.
a) influenciar o leitor sobre atitudes a serem tomadas d) pelo uso da ironia, na oposição imposta entre a se-
em relação ao preconceito contra os falantes que uti- riedade do tema e a ambiência amena que envolve a
lizam expressões idiomáticas. cena.
b) externar atitudes preconceituosas em relação às e) pela criação de um texto de sátira à postura dos jo-
classes menos favorecidas que utilizam expressões vens, que não possuem autonomia para seguir seus
idiomáticas. caminhos.
211
Para o veStibular
1 (UFRJ) b) reescreva-os na forma vigente.
compram / pagá-la / moça / escritório
A Maria dos Povos, sua futura esposa
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol, e o dia: 3 (Cefet-CE)
Enquanto com gentil descortesia Pensar é viver
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora, (...) Discernir e escolher fica mais difícil, porque o
Quando vem passear-te pela fria: excesso de informações nos atordoa, a troca de mitos
nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure.
Goza, goza da flor da mocidade, Para ter algum controle de nossa vida é necessário des-
Que o tempo trata a toda ligeireza, cobrir quem somos ou queremos ser – à revelia dos
E imprime em toda flor sua pisada. modelos generalizantes.
Oh não aguardes, que a madura idade, Dura empreitada, num momento em que tudo pa-
Te converta essa flor, essa beleza, rece colaborar para que se aceitem modelos prontos
para servir. Pensamento independente passou a ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
excentricidade, quando não agressão. Família, escola e
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico
(Seleção de José Miguel Wisnik.) São Paulo: Cultrix, [s.d.]. e a capacidade de avaliar – e questionar – para poder
escolher. (...)
O texto se constrói por meio da oposição entre dois
LUFT, Lya. Pensar é transgredir.
campos semânticos, especialmente no contraste entre Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-78.
a primeira e a última estrofes.
Explicite essa oposição e retire, dessas estrofes, dois vocábu- No 1o parágrafo selecionado do texto, Lya Luft defende
los com valor substantivo – um de cada campo semântico –, a ideia de que devemos buscar nossa identidade. Que
identificando a que campo cada vocábulo pertence. expressão, formada por substantivo mais adjetivo, utili-
Os dois campos semânticos presentes na construção zada no parágrafo seguinte retoma essa ideia ao mesmo
tempo em que transmite uma opinião da cronista?
do poema indicam aspectos positivos e negativos:
A expressão é “Dura empreitada”.
juventude versus maturidade; beleza versus
216
Gramática • Substantivo
“saudades”. Nesse contexto, ela só pode ser substituída por:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
217
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c) “O emprego facultativo do infinito flexionado. Regra: b) diminutivo: pedrinha – pedra pequena.
Quando o infinito, apesar de não ter sujeito próprio c) diminutivo: cartão – carta pequena.
(...) exprime, contudo, uma ação exercida por um d) diminutivo: limão – lima pequena (e azeda).
agente que conhecemos do contexto e ao qual esta
e) aumentativo: fossinho – fossa grande (nasal).
se atribui, pode ser flexionado ou invariável, embora
frequentemente se dê preferência ora a uma, ora a
outra, das duas formas do infinito.” 12 (FGV-RJ)
d) “Os substantivos, todos os artigos, a maioria dos ad-
Com a sociedade de consumo nasce a figura do con-
jetivos, alguns numerais e alguns pronomes podem
tribuinte. Tanto quanto a palavra consumo ou consu-
sofrer uma variação de forma para dar ideia de um
midor, a palavra contribuinte está sendo usada aqui
ou mais de um. A isso nós chamamos de flexão de
numa acepção particular. No capitalismo clássico, os
número.”
impostos que recaíam sobre os salários o faziam de
e) “Raiz é o morfema comum a várias palavras de um uma forma sempre indireta.
mesmo grupo lexical, portador da significação bási- Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira
ca desse grupo de palavras. Assim em ‘claro, clarear, necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o
aclarar, esclarecer, esclarecimento e clarividência’, a contracheque era coisa, salvo engano, inexistente. Com
raiz é ‘clar-’. Em ‘livro, livrinho, livreiro, livraria e livres- o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram-
co’, a raiz é ‘livr-.’” -se as condições políticas para que o imposto de renda
afetasse uma parcela significativa da classe trabalhadora.
Quem pode se dar ao luxo de consumir supér-
10 Na sua intenção carnavalizadora, Mendes Fradique, ao fluos ou mesmo poupar, pode igualmente pagar
tratar do substantivo, mescla a nomenclatura usual com impostos.
o que lhe serve ao propósito humorístico. Em termos de
HADDAD, Fernando. Trabalho e classes sociais.
Nomenclatura Gramatical Brasileira – e apenas em termos Em: Tempo Social, out. 1997.
dela –, ele somente não inovou em:
a) “O substantivo pode ser próprio ou de aluguel. No plural, a frase – “Imposto direto sobre o contrache-
O substantivo é ‘próprio’ quando nomeia pessoa. que era coisa, salvo engano, inexistente.” – assume a se-
Ex.: Presidente da República, Prefeito, Ministro etc. guinte forma:
Esses substantivos só não nomeiam pessoa quan-
a) Impostos direto sobre os contracheque eram coisa,
do a pessoa não tem pistolão. O substantivo é de
salvo engano, inexistente.
‘aluguel’ quando o morador paga a renda ao se-
nhorio...” b) Impostos diretos sobre os contracheques eram coi-
sas, salvo engano, inexistentes.
b) “O substantivo pode ser real ou abstrato. É ‘real’
c) Impostos diretos sobre os contras-cheques eram coi-
quando se relaciona com o rei ou quando serve de
sa, salvo engano, inexistentes.
padrão monetário. O substantivo é ‘abstrato’ quando
não passa de conversa fiada. Ex.: câmbio estável, pla- d) Impostos direto sobre os contras-cheque eram coisas
taforma governamental, opinião pública, soberania salvos enganos, inexistentes.
popular, democracia, sorte grande, camarão de em- e) Impostos diretos sobre os contracheque era coisas,
pada, Tesouro Nacional etc.” salvo enganos, inexistente.
218
Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infân- Se escapar do bombardeio ao qual está sendo sub-
cia, nunca em toda a minha vida, achei um menino metido, um achado divulgado anteontem por pesqui-
mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já sadores do Reino Unido poderá mudar a história da
da escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com ocupação humana da América. Segundo eles, pega-
alguma cousa de seu, adorava o filho e trazia-o amima- das de pessoas descobertas no centro do México te-
do, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um riam 40 mil anos – embora os registros mais antigos
pajem que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de presença humana no continente não ultrapassem
de pássaros, ou perseguir lagartixas nos morros do Li- 13 mil anos.
vramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à A equipe, liderada pela geoarqueóloga mexicana
toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Silvia González, achou os rastros na beira de um
Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador antigo lago assolado por chuvas de cinza vulcânica.
nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos Imagina-se que, depois de um desses episódios, um
pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, grupo de pessoas (entre as quais crianças, a julgar
general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha pelas dimensões das pegadas) teria caminhado sobre
garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas a cinza, deixando sua marca.
atitudes, nos meneios. Quem diria que... Suspendamos
Usando uma série de métodos diferentes, o grupo
a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto
britânico datou fósseis de animais no mesmo nível da
a 1822, data da nossa independência política, e do meu
pegada, assim como sedimentos em volta da própria,
primeiro cativeiro pessoal.
chegando à data de por volta de 40 mil anos antes
Gramática • Substantivo
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. do presente. Hoje, o sítio arqueológico das Américas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos ne-
grinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da características próprias e, mais do que isso, confere-lhes
morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarra-
do, humilhado, tremendo de medo. O valentão mes- certa personificação ou até divinização, uma vez que
tiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que
todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e “Verdade”, “Amor”, “Razão” e “Merecimento” teriam
ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da
o poder de dar segurança e força a “qualquer alma”,
casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos
pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos ainda que “Fortuna”, “Caso”, “Tempo” e “Sorte” –
padres, os padres do interior, vinha arrastada com a
violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, substantivos também deificados pelo emprego da
metido a entender de tudo, o delegado autoritário, va-
lente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria inicial maiúscula – sejam, segundo o eu poético, os
perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoe-
tes, olhada por uma assistência onde estavam muitas verdadeiros regentes “do confuso mundo”.
vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela
virulência do desabafo”.
(...)
BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore.
São Paulo: Melhoramentos, 1971.
“O capitão do mato, preador de escravos, assombro dos b) Reescreva os dois últimos versos da primeira estrofe
moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros substituindo o substantivo “Fortuna” por outro que
que fugiram (...)” cumpra a mesma função semântica e comunicativa
Nessa passagem, levando-se em conta o contexto, a fun- que ele tem no texto.
ção sintática e o significado, verifica-se que “faz-sono” é: Resposta possível:
a) substantivo.
b) adjetivo. “Porém, Destino, Caso, Tempo e Sorte
c) verbo. Têm do confuso mundo o regimento.”
d) advérbio.
e) interjeição.
220
Gramática • Substantivo
quartinho onde repousava aquela menina febricitan-
a noite esfriou,
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regionalista do texto (o regionalismo é uma De tão empregado e recorrente, o nome próprio “José”
destacada vertente da prosa romântica brasileira). acaba por perder sua individualidade e se confundir
Extrapolando os propósitos do projeto literário com a massa dos homens. No poema, além disso, José é
do momento, é possível, ainda, afirmar que esses um sujeito desprovido de notáveis qualidades individuais,
substantivos, devido exatamente a seu tom o que o torna, de fato, comum aos olhos do eu lírico.
substantivos comuns.
221
Para o eneM
Texto para as questões 1 e 2. a) A sequência de substantivos, ordenados logica-
mente, representa a materialidade das ações e dis-
Circuito fechado (1) pensa a presença de outros termos, como verbos.
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, b) Os substantivos demonstram o apego material do
creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, protagonista; não lhe importa, por exemplo, a ca-
espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água racterização (adjetivação) dos seres do mundo.
quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, cami- c) Subentendemos, com base nos substantivos, certas
sa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. ações que representam o cotidiano de um homem,
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, re- cuja vida circular o levará a um fim trágico.
lógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, d) A presença de substantivos demonstra que não há
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardana- espaço para outra pessoa e outros eventos na vida
po. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e pol- do protagonista, já que as ações subentendidas se
trona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo dão em um “circuito fechado”.
com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas,
e) Trata-se de uma escolha estilística do narrador, que
caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros,
produz um texto sem coerência e coesão.
papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigar-
ro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas,
3
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vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. O assassino era o escriba
Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de H18 Meu professor de análise sintática era o tipo do su-
anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, jeito inexistente.
projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósfo- Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
ro, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. regular como um paradigma da 1a conjugação.
Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, Entre uma oração subordinada e um adjunto adver-
guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. bial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, assindético de nos torturar com um aposto.
telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefo- Casou com uma regência.
ne interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta Foi infeliz.
e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e Era possessivo como um pronome.
caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folhe-
E ela era bitransitiva.
to, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Car-
Tentou ir para os EUA.
ro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, Não deu.
talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. A interjeição de bigode declinava partículas ex-
Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, pletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo
calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, todo.
escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
cama, travesseiro. LEMINSKI, Paulo. O assassino era
o escriba. Em: Caprichos e relaxos.
RAMOS, Ricardo. Circuito fechado (1). Em: Melhores contos.
São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 144.
(Seleção Bella Jozef.) São Paulo: Global, 2001. p. 59-60.
222
Gramática • Substantivo
ia para o singular, não tinha dúvidas. Idiotismo de lin-
a) “(...) embora perfeitamente cônscio das minhas altas
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223
Para o vestibulAr
1 (UFRJ) nisso! Embora fosse impossível e inútil dizer em que
rosto parecia pensar, e também impossível e inútil
Texto 1 dizer no que ela mesma pensava.
A produção cultural do corpo Ao redor as coisas frescas, uma história para a fren-
Pensar o corpo como algo produzido na e pela te, e o vento, o vento... Enquanto seu ventre cres-
cultura é, simultaneamente, um desafio e uma ne- cia e as pernas engrossavam, e os cabelos se haviam
cessidade. Um desafio porque rompe, de certa for- acomodado num penteado natural e modesto que se
ma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas formara sozinho.
vezes o corpo é observado, explicado, classificado e LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo.
tratado. Uma necessidade porque ao desnaturalizá- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 291.
-lo revela, sobretudo, que o corpo é histórico. Isto
é, mais do que um dado natural cuja materialidade a) Do primeiro parágrafo do texto 1, retire os quatro
nos presentifica no mundo, o corpo é uma constru- adjetivos que melhor caracterizam a noção de corpo
ção sobre a qual são conferidas diferentes marcas nele apresentada.
em diferentes tempos, espaços, conjunturas econô-
micas, grupos sociais, étnicos etc. Não é portanto Os quatro adjetivos são: histórico, provisório,
algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo
mutável e mutante.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é provisório, mutável e mutante, suscetível a inú-
meras intervenções consoante o desenvolvimento b) Estabeleça a relação entre esses adjetivos e a temáti-
científico e tecnológico de cada cultura bem como ca central do texto 2.
suas leis, seus códigos morais, as representações
que cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele No texto 2 é abordada a transformação do corpo,
produz e reproduz.
que, com o passar dos anos, muda e envelhece,
Um corpo não é apenas um corpo. É também o
seu entorno. Mais do que um conjunto de múscu- assim como mostram os adjetivos do texto 1.
los, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é
também a roupa e os acessórios que o adornam, as
intervenções que nele se operam, a imagem que dele
se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sen-
tidos que nele se incorporam, os silêncios que por
ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educa- 2 (UFV-MG)
ção de seus gestos... enfim, é um sem limite de possi-
bilidades sempre reinventadas e a serem descobertas. Pensar é viver
Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o
Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador
definem mas, fundamentalmente, os significados cul-
para se entender a vida: ela é confusão mesmo.
turais e sociais que a ele se atribuem.
A gente avança no escuro, teimosamente, porque
GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. recuar não dá. (...)
Em: LOURO, Guacira Lopes (Org.). Corpo, gênero e Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo
sexualidade; um debate contemporâneo na educação.
faz algum sentido, e que nós precisamos descobrir –
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 28-29.
ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua
“filosofia de vida”. (...)
Texto 2 Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente
A não aceitação aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de ca-
Desde que começou a envelhecer realmente come- bides de roupas ou de ideias alheias. (...)
çou a querer ficar em casa. Parece-me que achava Dura empreitada, num momento em que tudo pa-
feio passear quando não se era mais jovem: o ar tão rece colaborar para que se aceitem modelos prontos
limpo, o corpo sujo de gordura e rugas. Sobretudo a para servir. Pensamento independente passou a ser
claridade do mar como desnuda. Não era para os ou- excentricidade, quando não agressão. Família, esco-
la e sociedade deviam desenvolver o distanciamento
tros que era feio ela passear, todos admitem que os
crítico e a capacidade de avaliar – e questionar – para
outros sejam velhos. Mas para si mesma. Que ânsia,
poder escolher.
que cuidado com o corpo perdido, o espírito aflito
Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia
nos olhos, ah, mas as pupilas essas límpidas. mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos
Outra coisa: antigamente no seu rosto não se via encara irônico: como estamos vivendo a nossa vida,
o que ela pensava, era só aquela face destacada, em esse breve sopro...?
oferta. Agora, quando se vê sem querer ao espelho,
LUFT, Lya. Pensar é transgredir.
quase grita horrorizada: mas eu não estava pensando
Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-178.
228
Gramática • Adjetivo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vez que -(í)vel forma adjetivo a partir de: b) Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz
da bufunfa... (4o parágrafo)
a) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao adjetivo.
b) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao subs- c) ... (parafraseando uma outra máxima trivializada pela
tantivo. repetição)... (4o parágrafo)
c) substantivo e -íssimo atribui um valor de grau ao d) O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso...
adjetivo. (7o parágrafo)
d) substantivo e -íssimo forma adjetivo a partir de e) O Brasil está se recuperando de um longo período de
adjetivo. crescimento... (6o parágrafo)
e) adjetivo e -íssimo forma adjetivo a partir de verbo.
8 (FGV-SP) Aponte a alternativa que traga os superlativos
7 (FGV-SP) absolutos sintéticos de acordo com a norma culta.
a) celebérrimo, crudelésimo, dulcíssimo, nigérrimo,
Estamos crescendo demais? nobilíssimo
O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas fa- b) celebésimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo,
cetas. Uma delas é o medo de crescer. Sempre que a nobérrimo
economia brasileira mostra um pouco mais de vigor, c) celebérrimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo,
ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em “ex- nobilíssimo
cesso de demanda”, “retorno da inflação” e pedindo d) celebríssimo, cruelérrimo, dulcésimo, negérrimo,
medidas de contenção. nobérrimo
O IBGE divulgou as Contas Nacionais do segundo
e) celebríssimo, crudelérrimo, dulcíssimo, negérrimo,
trimestre de 2007. Não há dúvidas de que a eco-
nobérrimo
nomia está pegando ritmo. O crescimento foi sig-
nificativo, embora tenha ficado um pouco abaixo
do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao 9 (ITA-SP) Durante a Copa do Mundo deste ano, foi veicu-
segundo trimestre do ano passado. A expansão do lada, em programa esportivo de uma emissora de TV, a
primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com notícia de que um apostador inglês acertou o resultado
igual período de 2006. (...) de uma partida, porque seguiu os prognósticos de seu
A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os burro de estimação. Um dos comentaristas fez, então, a
subsetores do setor serviços, o segmento que está seguinte observação: “Já vi muito comentarista burro,
“bombando” é o de intermediação financeira e segu- mas burro comentarista é a primeira vez”.
ros – crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo
o paraíso dos bancos e das instituições financeiras. Percebe-se que a classe gramatical das palavras se altera
Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financei- em função da ordem que elas assumem na expressão.
ra, pelo menos alguns deles, parecem razoavelmente Assinale a alternativa em que isso não ocorre:
inquietos. Há razões para esse medo? É muito duvi- a) obra grandiosa
doso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Ban-
b) jovem estudante
co Central nunca podem descuidar da inflação. Se
eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da c) brasileiro trabalhador
bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima d) velho chinês
e) fanático religioso
230
Gramática • adjetivo
Assinale a alternativa em que todas as expressões desta-
Especial do Milênio.
Veja, ano 31, n. 51, p. 126, 23 dez. 1998. (Adaptado.) cadas têm valor de adjetivo.
a) Era digital trouxe inovações e facilidades que supe-
raram o que previa a ficção.
Do ponto de vista morfológico, o vocábulo que perten- b) Deixemos de lado atividades que envolvem diversas
ce à mesma classe de miraculoso (ref. 2) é: funções do cérebro.
a) nova (ref. 3). c) derivado (ref. 6). c) Hoje, úteis ou não, as informações é que nos assediam.
b) materiais (ref. 4). d) cientistas (ref. 5). d) Responda qual era a manchete do jornal de ontem.
11 (Uece) 12 (Fuvest-SP)
Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam
A memória e o caos digital o Terceiro Mundo de várias formas:
A era digital trouxe inovações e facilidades para o 1. mantêm baixos os preços internacionais, desvalo-
homem que superou de longe o que a ficção previa rizando as exportações dos países pobres;
até pouco tempo atrás. Se antes precisávamos correr 2. excluem os pobres de vender para os mercados
em busca de informações de nosso interesse, hoje, ricos;
úteis ou não, elas é que nos assediam: resultados de 3. expõem os produtores pobres à concorrência de
loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofer- produtos mais baratos em seus próprios países.
tas de compras, notícias de atentados, ganhadores
Folha de S.Paulo, E-12, 2 nov. 1997.
de gincanas, etc. Por outro lado, enquanto cresce a
capacidade dos discos rígidos e a velocidade das in-
formações, o desempenho da memória humana está Neste texto, as palavras em destaque “ricos” e “pobres”
ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são pertencem a diferentes classes de palavras, conforme o
unânimes ao associar a rapidez das informações ge- grupo sintático em que estão inseridas.
radas pelo mundo digital com a restrição de nosso a) Obedecendo à ordem em que aparecem no texto,
“disco rígido” natural. Eles ressaltam, porém, que o identifique a classe a que pertencem, em cada ocor-
problema não está propriamente nas novas tecno- rência em destaque, as palavras “ricos” e “pobres”.
logias, mas no uso exagerado delas, o que faz com
que deixemos de lado atividades mais estimulantes, Seguindo a sequência temos:
como a leitura, que envolvem diversas funções do
cérebro. Os mais prejudicados por esse processo têm “ricos”: substantivo; “pobres”: adjetivo; “pobres”:
sido crianças e adolescentes, cujo desenvolvimento
neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente. substantivo; “ricos”: adjetivo
Responda sem pensar: qual era a manchete do jor-
nal de ontem? Você lembra o nome da novela que b) Escreva duas frases com a palavra brasileiro, empre-
antecedeu O clone? E quem era o técnico da Seleção gando-a cada vez em uma dessas classes.
Brasileira na Copa do Mundo de 1994? Não ter uma Substantivo: Como o brasileiro é solidário!
resposta imediata para essas perguntas não deve ser
causa de preocupação para ninguém, mas exempli- Adjetivo: O povo brasileiro quer justiça.
231
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
19 que não toca no rádio c) A natureza, com frequência, nos traz revelações sur-
20 que o povo não cantará preendentes.
21 (mas que nasce dele) d) A ambição pode ser um obstáculo para se alcançar a
22 Não se prestará a análises estruturalistas felicidade.
23 Não entrará nas antologias oficiais e) As coisas simples do cotidiano é que valem a pena
24 Obsceno ser vividas.
25 como o salário de um trabalhador aposentado
26 o poema 16 Sobre a expressão “vidinha choca”, entendida no contex-
27 terá o destino dos que habitam o lado escuro do país to do poema, é correto afirmar:
28 – e espreitam. a) O diminutivo exprime carinho, ao contrário do termo
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. que o acompanha.
São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 338. b) A ideia aí presente é de tempo: sugere-se que a vida
é passageira.
13 O adjetivo “obsceno” presente no título e no poema c) Seu sentido se opõe àquilo que, poeticamente, “mi-
refere-se: nhoca” está representando.
a) à permissividade característica de festas populares d) O adjetivo deve ser entendido denotativamente, ao
como o carnaval. contrário do substantivo.
b) ao tom de poemas de Gullar, proibidos de figurar em e) O segundo termo reforça o sentido negativo do pri-
antologias oficiais. meiro.
c) à situação dos que habitam o lado escuro do país.
17 (Uece)
d) à denúncia de uma condição social.
e) à indignação para com a corrupção política do país. Mensagem de Natal
Um cartão de Natal com um desenho colorido de Pa-
pai Noel e uma menina, postado em 1914, chegou a seu
14 Considerando os recursos de composição do poema, destino na cidade americana de Oberlin, no estado do
assinale a alternativa correta. Kansas, depois de ficar extraviado durante 93 anos.
a) As negativas presentes nos versos 19 a 23 desqualifi- O cartão, datado de 23 de dezembro de 1914, tinha
cam o poema e seu potencial crítico. sido enviado a Ethel Martin, de Oberlin. Ethel Martin
b) O termo comparativo “como” é utilizado para apro- nunca chegou a ler a mensagem de Natal. Ela morreu
ximar a experiência pessoal do eu lírico da miséria antes de receber o cartão. (17/12/2007)
social brasileira. Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura,
c) O uso do imperativo constitui uma metáfora da es- difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza mór-
trutura de opressão típica da época da ditadura. bida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal
d) Os “que habitam o lado escuro do país / – e esprei- e de Ano Novo.
tam” são uma metáfora dos militares responsáveis No seu caso havia uma razão óbvia para isso: aos 70
anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha
pela censura da produção artística.
com quem celebrar, ninguém o convidava para festa al-
e) Os versos 19 a 23 são formas de adjetivação do termo guma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas
“poema”, assim como “sujo” e “duro”.
232
Gramática • Adjetivo
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o
No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope
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Para o eNeM
1 O jeito cearense de ser único
Levando em conta as intenções comunicativas do au-
H25 tor, bem como os recursos linguísticos do poema, assina-
Cearense não briga... ele risca a faca! le a alternativa mais pertinente quanto à interpretação
Cearense não vai em festa... ele cai na gandaia! do texto.
Cearense não vai embora... ele pega o beco!
a) No primeiro verso, o termo “de nada” caracteriza a
Cearense não bate... ele senta o sarrafo!
humildade inicial da condição humana, que, infeliz-
Cearense não bebe um drink... ele toma uma!
Cearense não joga fora... ele rebola no mato! mente, terminará por levar o herói à revolta final.
Cearense não discute... ele bota boneco! b) O emprego sequencial dos adjetivos “aguda”, “irra-
Cearense não ri... ele se abre! cional” e “intensa” (dispostos entre o quinto e o sexto
Cearense não toma água com açúcar... ele toma garapa! verso do poema) estabelece uma progressão carac-
Cearense não percebe... ele dá fé! terizadora do substantivo “certeza”, anteriormente
Cearense não vigia as coisas... ele pastora! referido.
Cearense não sobe na árvore... ele se trepa no pé de pau! c) O texto, como um todo, imita a linguagem instru-
Cearense não passa a roupa... ele engoma a roupa! cional de uma receita, fato justificável pela explícita
(...) referência ao substantivo “fome”, que é um termo
Cearense não é homem... ele é macho ou é cabra danado! próprio do jargão culinário.
Ser cearense é ser único! Ô orgulho véi besta!!!
d) A palavra “morto”, no último verso, determina a
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Da tradição popular. Disponível em: condição à qual todo e qualquer alimento deve se
<www.nordesterural.com.br>. Acesso em: 18 abr. 2011. adequar antes de ser levado à mesa; até mesmo “um
homem feito de nada” (v. 1) deve se conformar a tal
Sobre o texto, é possível afirmar que: situação.
a) Acentua-se o completo desprezo do enunciador em e) A expressão “de herói”, presente no título do poe-
relação ao registro formal culto, pois este não adjetiva ma, funciona como locução adjetiva e caracteriza o
(ou seja, não qualifica) o iletrado homem cearense. substantivo “receita”. Trata-se, também, de uma mar-
b) Todas as referências às qualidades do homem cearen- ca de autoria, já que a expressão “receita de herói”
se reafirmam o pitoresco de sua situação e o opõem revela também a condição heroica do inventor de
à cultura letrada do sulista. tal “receita”.
c) Ele dá exemplos de traços típicos do caráter e das
atitudes do homem cearense, ridicularizando-o pela 3 Pelé: 1000
exposição caricatural de suas qualidades mais acen- H18 O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols,
tuadas, as quais se evidenciam pelo emprego de ad-
como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol
jetivos chulos.
que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos
d) Em “ele é macho ou é cabra danado”, o adjetivo “da- maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não
nado” é empregado em seu sentido específico, indi- se deixa fazer. O gol. Que adianta escrever mil li-
cando que a danação (ou infelicidade) do cearense vros, como simples resultado de aplicação mecâ-
se deve a seu linguajar inculto e popularesco. nica, mãos batendo máquina de manhã à noite,
e) O último verso compreende a frase exclamativa traseiro posto na almofada, palavras dóceis e resig-
“Ô orgulho véi besta!!!”; nela, percebe-se o emprego nadas ao uso incolor? O livro único, este não há
de uma expressão coloquial de valor adjetivo, que, condições, regras, receitas, códigos, cólicas que o
ao caracterizar o substantivo “orgulho”, atribui-lhe façam existir, e só ele conta – negativamente – em
grande expressividade. nossa bibliografia. Romancistas que não capturam
o romance, poetas de que o poema está se rindo a
2 Receita de herói distância, pensadores que palmilham o batido pen-
H4 samento alheio, em vão circulamos na pista durante
Tome-se um homem feito de nada
50 anos. O muito papel que sujamos continua alvo,
Como nós em tamanho natural
alheio às letras que nele se imprimem, pois aquela
Embeba-se-lhe a carne
Lentamente não era a combinação de letras que ele exigia de
De uma certeza aguda, irracional nós. E quantos metros cúbicos de suor, para chegar
Intensa como o ódio ou como a fome. a esse não resultado!
Depois perto do fim Então o gol independe de nossa vontade, formação
Agite-se um pendão e mestria? Receio que sim. Produto divino, talvez?
E toque-se um clarim. Mas, se não valem exortações, apelos cabalísticos,
Serve-se morto. bossas mágicas para que ele se manifeste... Se é de
Deus, Deus se diverte negando-o aos que o implo-
FERREIRA, Reinaldo. Receita de herói.
ram, e, distribuindo-o a seu capricho, Deus sabe a
Em: GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem.
São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 185. quem, às vezes um mau elemento. A obra de arte, em
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Gramática • Adjetivo
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O ângelus plange ao longe em doloroso dobre. a) o adjetivo “civilizado”, empregado de início por Alencar,
O último ouro de sol morre na cerração. relaciona-se à condição do indígena brasileiro.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, b) no primeiro parágrafo, por caracterizar o substantivo
O crepúsculo cai como uma extrema-unção. “terra”, o termo “minha” recebe unicamente a classifi-
cação morfológica de adjetivo.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... c) predomina, ao longo de todo o texto, uma termino-
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, logia puramente coloquial.
d) no segundo parágrafo, termos como “da natureza” e
Como uma procissão espectral que se move... “de ouro” podem ser entendidos como locuções ad-
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... jetivas.
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
e) a maioria dos adjetivos empregados no texto carac-
BILAC, Olavo. Vila Rica. Em: Poesias. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1985. p. 203. (Coleção Poetas de Sempre, v. 5.)
teriza o ambiente idealizado da Corte, que é o cená-
rio predominante nos romances de Alencar.
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Para o vestibular
1 (UFRJ) IV. “Curió, infância em parte decorrera num asilo
de menores dirigido por padres, buscava na embota-
O padeiro da memória uma oração completa.” (J. Amado)
Tomo meu café com pão dormido, que não é tão
Assinale, a seguir, a alternativa correta.
ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando
de um homem modesto que conheci antigamente. a) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-
Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento nome relativo “cujo” (a).
ele apertava a campainha, mas, para não incomodar b) III e IV podem ser preenchidas com o pronome relati-
os moradores, avisava gritando: vo “cujo” (a).
– Não é ninguém, é o padeiro! c) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar nome relativo “que”.
aquilo?
d) I e II podem ser preenchidas com o pronome relativo
“Então você não é ninguém?”
“onde”.
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera
aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a e) II e III podem ser preenchidas com o pronome relati-
campainha de uma casa e ser atendido por uma em- vo “que”.
pregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz
que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir 3 (UFPR) Considerando os provérbios a seguir, assinale
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a pessoa que o atendera dizer para dentro: “Não é nin- a(s) alternativa(s) em que os termos destacados são
guém, não senhora, é o padeiro”. assim ficara sabendo pronomes relativos, ou seja, que retomam um termo
que não era ninguém... antecedente.
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despe-
diu ainda sorrindo. (01) É de pequenino que se torce o pepino.
(02) A vingança é um prato que se serve frio.
BraGa, rubem. Ai de ti, Copacabana.
rio de Janeiro: Editora do autor, 1964. p. 44-45. (Fragmento.) (04) Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
(08) Isso é do tempo em que se amarrava cachorro com
linguiça.
a) Que sentido assume o pronome indefinido “ninguém”
no texto acima? (16) Ele(a) não é flor que se cheire.
Soma: 02 + 08 + 16 = 26
O pronome “ninguém” significa “pessoa
4 (UFC-CE) No trecho: “Eu não creio, não posso mais acre-
sem importância”. ditar na bondade ou na virtude de homem algum; todos
são mais ou menos ruins, falsos e indignos; há porém al-
b) Quando esse pronome indefinido é usado na função guns que sem dúvida com o fim de ser mais nocivos aos
sintática de sujeito, a dupla negação pode ou não outros, e para produzir maior dano, têm o merecimento
ocorrer. Justifique essa afirmativa, exemplificando-a. de dizer a verdade nua e crua (...)”:
Se o pronome (sujeito) é anteposto ao verbo, não I. “algum” e “alguns” são pronomes indefinidos.
II. “alguns” é sujeito do verbo haver.
ocorre a dupla negação: “Ninguém veio”. Se, porém, III. “algum” equivale a nenhum.
ele é posposto ao verbo, a dupla negação ocorre: Assinale a alternativa correta sobre as assertivas acima.
a) Apenas I é verdadeira.
“Não veio ninguém”.
b) Apenas II é verdadeira.
c) Apenas I e II são verdadeiras.
d) Apenas I e III são verdadeiras.
e) I, II e III são verdadeiras.
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tenário de nascimento se comemora no dia 12 deste
9 (FGV-SP) mês, seja um grande poeta – dos maiores do século
20. Mas quase todos os leitores mais exigentes pre-
À aldeia chamam-lhe azinhaga, está naquele lugar ferem outros poetas, enquanto os mais fiéis neru-
por assim dizer desde os alvores da nacionalidade (já distas admiram incondicionalmente o pior de uma
tinha foral no século décimo terceiro), mas dessa es- vasta obra muito desigual na sua qualidade. Entre
tupenda veterania nada ficou, salvo o rio que lhe pas- matronas sentimentais, Neruda parece quase nau-
sa mesmo ao lado (imagino que desde a criação do fragar sob o peso de sua popularidade. Mas sempre
mundo), e que, até onde alcançam as minhas poucas volta a emergir, triunfante e definitivo, de toda lei-
luzes, nunca mudou de rumo, embora das suas mar- tura de boa-fé.
gens tenha saído um número infinito de vezes. a me- ESTENSSoro, hugo.
nos de um quilómetro das últimas casas, para o sul, o Bravo, v. 7, n. 82, p. 65, jul. 2004. (adaptado.)
almonda, que é esse o nome do rio da minha aldeia,
encontra-se com o Tejo, ao qual (ou a quem (1), Entre as alterações sugeridas a seguir, assinale a que
se a licença me é permitida), ajudava, em tempos mantém o sentido original e a correção do trecho “com
idos, na medida dos seus limitados caudais, a alagar uma obra cuja força lírica supera todos os seus defei-
a lezíria* quando as nuvens despejavam cá para bai- tos” (ref. 1).
xo as chuvas torrenciais do Inverno e as barragens a
a) com uma obra cujos defeitos são todos superados
montante, pletóricas, congestionadas, eram obrigadas
pela sua força lírica.
a descarregar o excesso de água acumulada. a ter-
ra é plana, lisa como a palma da mão, sem acidentes b) cuja força lírica da obra supera todos os seus defeitos.
orográficos dignos de tal nome, um ou outro dique c) cujos defeitos são todos superados pela força lírica
que por ali se tivesse levantado mais servia para guiar de sua obra.
a corrente aonde causasse menos dano do que para d) com cuja força lírica superou todos os defeitos de
conter o ímpeto poderoso das cheias. desde tão dis- sua obra.
tantes épocas a gente nascida e vivida na minha aldeia e) cuja obra supera todos os defeitos através de sua for-
aprendeu a negociar com os dois rios que acabaram ça lírica.
por lhe configurar o carácter, o almonda, que a seus
pés desliza, o Tejo, lá mais adiante, meio oculto por
trás da muralha de choupos, freixos e salgueiros que 11 (UBC-SP)
lhe vai acompanhando o curso, e um e outro, por
boas ou más razões, omnipresentes na memória e nas Alguém, antes que Pedro o fizesse, teve vontade de
falas das famílias. falar o que foi dito.
SaraMaGo, José. As pequenas memórias.
São Paulo: Companhia das letras, 2006. Os pronomes assinalados dispõem-se nesta ordem:
* Lezíria: planície de inundação junto a certos rios. a) de tratamento, pessoal, oblíquo, demonstrativo
b) indefinido, relativo, pessoal, relativo
Observe na referência 1: “ao qual (ou a quem, se a licen- c) demonstrativo, relativo, pessoal, indefinido
ça me é permitida), ajudava”. A licença a que o autor se d) indefinido, relativo, demonstrativo, relativo
refere é uma forma de: e) indefinido, demonstrativo, demonstrativo, relativo
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6 rede. Jogaram no chão a trouxa que eu trazia e o 9 é porque quando estava doente, me aca-
7 João rufo disse: 10 bando em cima de uma cama, via passar
8 – Tome os seus molambos! 11 o prato de comida que ela mandava pr’o
9 Mas falou quase como se fosse uma prosa, uma 12 cachorro. até carne passada na mantei-
10 brincadeira. Via-se que não estava seguro a meu 13 ga tinha. Pra mim nada, João Grilo que
11 respeito; no começo me tratou com pouco caso, ar- 14 se danasse. Um dia eu me vingo!
12 rogante, mas agora parecia desconfiado. Não sei se 15 Chicó: João, deixe de ser vingativo que você
13 engoliu a história do Beato romano; eu não tinha 16 se desgraça! Qualquer dia você inda se
14 chegado ali com roupa de beato, mas de calça e blu- 17 mete numa embrulhada séria!
15 sa, como um homem qualquer. E a espingardinha
16 velha não era de cabra de respeito, a faca só servia SUaSSUNa, ariano. Auto da Compadecida. (Fragmento.)
17 pra picar fumo. Que é que eu vinha fazer para a
18 dona Moura, se não era um guerreiro? Assinale a alternativa correta.
19 E João rufo chegou a me fazer essas perguntas, a) Do ponto de vista da norma culta, a forma verbal
20 enquanto eu atava as cordas da minha rede. Peque- “deixe” deveria ser substituída por “deixa” (linha 15),
21 na e ruim, por sinal. Me deram também um prato já que o pronome usado é “você” (linha 15).
22 com pirão de peixe cozido, e um taco de rapadura.
b) Nas linhas 1 e 7, a palavra “porque” está grafada cor-
23 Eu ainda pedi ao homem notícias do meu cavalo.
24 – Se não morrer de tão estropiado que está, vai retamente, assim como em “Não sei porque você
25 engordar solto. ainda tem por aí muita capoeira insiste nisso”.
26 com pasto. c) Em “um dia hão de me pagar” (linhas 7 e 8), a forma
27 Na rede, onde eu caí, não devia parecer um ador- verbal foi usada incorretamente, assim como em “Eu
28 mecido, mas um defunto em caminho da cova. Só me lembro que havia ainda alguns casos a resolver”.
29 de ceroulas, sem camisa, o calor tão forte... Que- d) A frase “Está esquecido de que ela deixou você?”
30 ria pensar, mas morria de cansado. deus do céu,
(linhas 3 e 4) admite também, de acordo com a nor-
31 o que iria pela cabeça da dona? lembrar, ela lem-
32 brou, disso eu tenho certeza... Mas a minha dúvida ma-padrão, a seguinte pontuação: “Está esquecido,
33 é outra: que é que ela vai fazer de mim? Não sei de que ela deixou você?”.
34 se acreditou na minha história e se a aceita. Quem e) A palavra “que” (linha 11) funciona como pronome
35 sabe me mata? relativo e, portanto, substitui o termo imediatamente
36 ora, se quisesse me matar já tinha feito... Mas, anterior: “o prato de comida”.
37 por outro lado, para que ela vai me querer vivo?
Que serventia eu posso ter, nesta praça de guerra?
38
39 Talvez ela ainda mande os cabras me darem um
19 (PUC-RJ) Em uma passagem do livro O que é o tempo?, o
40 aperto. E pode ser que eu aguente. afinal, mesmo matemático e filósofo inglês Gerald James Whitrow nos
41 debaixo de confissão, não posso dizer nada que diz o seguinte:
42 interesse à dona. Nada. Toda a minha tragédia se
43 passou depois que ela foi embora. Na gente com a primeira questão é a origem da ideia de que o
44 quem eu andei e ando, ela nunca ouviu nem fa- tempo é uma espécie de progressão linear medida
45 lar. Gente sem poder... sem dinheiro... sem força... pelo relógio e pelo calendário. Na civilização mo-
46 deus do céu, creio que, pelo menos por agora, eu derna, esse conceito de tempo domina de tal forma a
47 já posso dormir. nossa vida que parece ser uma necessidade inevitável
do pensamento. Mas isso está longe de ser verdade.
QUEIroZ, rachel de. Memorial de Maria Moura.
São Paulo: Siciliano, 1992. p. 15-16. (...) a maioria das civilizações anteriores à nossa,
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bastante usual.
turno, dia do Sol, dia da lua e assim por diante) –,
para os maias cada dia era por si só divino. Todos os
monumentos e altares eram erigidos para marcar a
passagem do tempo, nenhum glorificava governantes
ou conquistadores.
os maias viam as divisões do tempo como cargas
transportadas por uma hierarquia de portadores di-
vinos que personificavam os números pelos quais os b) Retire do texto um período que contrarie a seguinte
vários períodos – dias, meses, anos, décadas e sécu- afirmação: “Nunca houve sociedade que tenha dado
los – se distinguiam. apesar dessa constante preo- ao tempo um lugar tão central como a nossa”.
cupação com os fenômenos temporais e da incrível
exatidão de seu calendário, os maias nunca chegaram “Embora nossa ideia de tempo seja uma das
à ideia de tempo como a jornada de um portador
com a sua carga. Seu conceito de tempo era mágico características peculiares do mundo moderno, a
e politeísta. Embora a estrada na qual os portadores
divinos caminhassem em revezamento não tivesse importância que damos a ele não é inteiramente
começo nem fim, os eventos ocorriam em um círculo
representado por períodos recorrentes de serviço a desprovida de precedente cultural.” ou “De todos
cada deus na sucessão dos portadores.
os povos que conhecemos, os maias eram os mais
dias, meses, anos, e assim por diante, eram mem-
bros dos grupos que caminhavam em revezamento obcecados pela ideia de tempo.”
pela eternidade. a carga de cada deus era o presságio
para o intervalo de tempo em questão. Num ano a
carga podia ser a seca; no outro, uma boa colheita.
Pelo cálculo dos deuses que estariam caminhando
juntos em um determinado dia, os sacerdotes podiam c) Forme um único período com as orações abaixo, uti-
determinar a influência combinada de todos os cami- lizando para isso o pronome relativo “cujo”. Faça as
nhantes, e assim prever o destino da humanidade. adaptações necessárias.
a hierarquia dos ciclos de cada divisão de tempo I. Não vemos a relação entre passado, presente e
levou os maias a dedicar mais atenção ao passado futuro da mesma forma que os maias.
que ao futuro. Esperava-se que a história se repetisse II. O conceito de tempo dos maias era mágico e po-
em ciclos de 260 anos, e que os eventos significativos liteísta.
tendessem a seguir um padrão geral pré-ordenado.
Por exemplo, a religião cristã introduzida pelos es- Não vemos a relação entre passado, presente e
panhóis era identificada com a adoração de um culto
alienígena imposto aos maias vários séculos antes. futuro da mesma forma que os maias, cujo
os eventos passados, presentes e futuros mescla-
vam-se, na visão global dos maias, porque resulta- conceito de tempo era mágico e politeísta.
vam da mesma carga divina do ciclo de 260 anos.
WhITroW, G. J. O que é o tempo?
rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 15-17. (adaptado.)
245
Para o enem
1 6. o que é nascido da carne é carne, e o que é nas- 2
H23 H21
cido do Espírito é espírito. nÍQuel nÁusea fernando gonsales
H24
7. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos
FErNaNdo GoNSalES
é nascer de novo.
8. o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; as-
sim é todo aquele que é nascido do Espírito.
(...)
16. Porque deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17. Porque deus enviou o seu Filho ao mundo, não
para que condenasse o mundo, mas para que o mun-
do fosse salvo por ele.
18. Quem crê nele não é condenado; mas quem não
crê já está condenado, porquanto não crê no nome
do Unigênito Filho de deus.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
19. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mun-
do, e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
porque as suas obras eram más.
20. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a
luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não
sejam reprovadas. A tira acima opõe dois personagens: um carrancudo aten-
21. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a dente e um jovem vestibulando (chamado Benedito Cujo)
fim de que as suas obras sejam manifestas, porque que pretende efetuar a inscrição para o exame. Nas falas
são feitas em deus. de ambos, é notável não só a oposição visual (maturidade
Evangelho segundo São João (cap. 3, v. 16-21). e juventude), mas também a oposição entre a tagarelice
Em: Bíblia sagrada. Tradução João Ferreira de almeida. do vestibulando e o laconismo do atendente. No último
rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1995. p. 108. quadrinho, Benedito emprega o pronome “quem” em
sua fala. Assinale a alternativa que define corretamente
Sendo um texto amplamente conhecido, o evange- o efeito de sentido provocado pelo uso desse pronome
lho traz um discurso de matiz universal e, em excertos no contexto da tira.
como o citado anteriormente, faz uso marcante de pro- a) O pronome “quem” assume valor interrogativo.
nomes indefinidos, como em “Porque todo aquele que Portanto, seria mais correto se a fala de Benedito Cujo
faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que se encerrasse com um ponto de interrogação.
as suas obras não sejam reprovadas” (v. 20). Quanto ao b) O atendente é o verdadeiro neurótico, pois nada jus-
emprego da expressão pronominal “todo aquele”, no tifica a agressão contra o rapaz; afinal, este apenas
versículo citado, escolha a alternativa que justifique lhe dirigira inofensivas questões, as quais, apesar de
mais convincentemente seu emprego, adequando-o inapropriadas, são compreensíveis se atribuídas a um
aos propósitos instrucionais e persuasivos do texto jovem em vias de prestar um concorrido exame.
como um todo. c) A fala de Benedito Cujo denuncia a existência de um
a) A expressão particulariza o receptor do texto, refe- julgamento comum sobre o vestibulando em geral:
rindo-se, no caso em questão, àqueles ouvintes já o de que ele seria “neurótico”. O segundo quadrinho,
predispostos a acatar a mensagem. em que o rapaz interpela o atendente com perguntas
b) “Todo aquele” generaliza e universaliza o referente, prolixas, demonstra com humor a suposta validade do
sem restringi-lo; o apelo do texto ganha, assim, mais senso comum.
alcance e repercussão. d) Ambos seriam “neuróticos”, pois o vestibulando perde
a consciência por conta do nervosismo, e o atenden-
c) O apelo da expressão não repercute particularmente
te reage de modo violento, por causa da impaciência.
em nenhum receptor, pois o discurso é vago e incoe-
Assim, o pronome “quem”, no último quadrinho, faz
rente.
referência aos dois personagens.
d) O discurso religioso tem seu viés apelativo enfraque- e) O emprego de linguagem informal nas falas de
cido pela expressão “todo aquele”, pois esta não defi- Benedito Cujo (no segundo quadrinho) causa impa-
ne claramente o receptor da mensagem. ciência e indignação no atendente; por isso, o jovem
e) A expressão “todo aquele” tem valor enfático, embora (no último quadrinho) lhe atribui a tal neurose erro-
as intenções do enunciador não estejam claras. neamente creditada aos vestibulandos em geral.
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