JOÃO MASCARENHAS MATEUS

TÉCNICAS TRADICIONAIS DE CONSTRUÇÃO DE ALVENARIAS

A LITERATURA TÉCNICA DE 1750 A 1900
E O SEU CONTRIBUTO PARA A CONSERVAÇÃO DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
 O trabalho de pesquisa que está na base da presente publicação foi
apoiado financeiramente pelo Subprograma Ciência e Tecnologia do
Segundo Quadro Comunitário de Apoio.

Agradecimentos:
Prof. António Ressano Garcia Lamas, do Instituto Superior Técnico;
Prof. Giovanni Carbonara, da Universidade “La Sapienza” de Roma;
Dr. Eng.º Trigo de Abreu, Fundação para a Ciência e Tecnologia do
Ministério da Ciência e Tecnologia; Embaixador de Portugal em Itália,
Dr. João Diogo Nunes Barata; Dr. Jaime Raposo Costa, Conselheiro
Cultural e D. Luísa Serra da mesma Embaixada; Eng.º Eduardo Ri-
título beiro Pereira; Eng.º Jorge Pinto Ganhão; Prof. Raymond Lemaire (1921-
TÉCNICAS TRADICIONAIS DE CONSTRUÇÃO DE ALVENARIAS -1997) Universidade Católica de Leuven, Bélgica; Arq.o Giangiacomo
A LITERATURA TÉCNICA DE 1750 A 1900 E O SEU CONTRIBUTO Martinez e Dr.ª Cinzia Conti, “Soprintendenza Archeologica” de Roma;
PARA A CONSERVAÇÃO DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Arq.o Luciano Garella, “Soprintendenza per i Beni Ambientali e Archi-
autor tettonici” de Roma; Arq. o Raphaele Viola, Arquivo Histórico da
JOÃO MASCARENHAS MATEUS “Soprintendenza per i Beni Ambientali e Architettonici” de Roma;
revisor Dr.ª Monica Garcia, Dr.ª Marie Christine Uginet e Dr. Alejandro d’Alva,
JOÃO VIDIGAL ICCROM ; Prof. Antonino Giuffré (1930-1997) e Dr. Eng.º Ceradini,

paginação e capa
Faculdade de Engenharia da Universidade “La Sapienza” de Roma;
CARLOS VIEIRA REIS Prof. Luís Aires Barros e Prof.a Cristina Rebelo Dias do IST; Dr. José
Alfredo Patrício; Dr. Isaías Hipólito; Rev.mo Monsenhor José Ribeiro
© LIVROS HORIZONTE, 2002
ISBN 972-24-1234-5
Gomes (1952-1999), Secretaria de Estado do Vaticano; Rev.mo Mon-
senhor Agostinho da Costa Borges e António Cimini, Instituto Portu-
fotólitos
guês de S. António em Roma; General Damiani, “Istituto Storico e di
GRÁFICA 99
Cultura dell’Arma del Genio” de Roma; Enza Biamonte, Escola de
impressão e acabamento Especialização em Restauro de Monumentos da Universidade “La Sa-
ROLO & FILHOS, LDA.
pienza”; Carla Razzano, Departamento de História de Arquitectura
dep. legal n.º 185216/02 da “Sapienza”; Paula Marques e Dr.ª Sílvia Santos, Departamento de
2002
Engenharia Civil do IST; Eng.ª Ana Soveral Dias, Biblioteca Histórica
do IST; Philippe Jarjat; Antonieta De Lorenzo; Prof.ª Beatriz Mugayar
© 2002, João Carlos de Oliveira Mascarenhas Mateus Kühl, Universidade de São Paulo (Brasil); Prof. Paulo Mugayar Kühl,
Todos os direitos reservados. Esta publicação, no seu todo ou em parte, Universidade de Campinas (Brasil); Dr.ª Isabel Cruz de Almeida, Mos-
não pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo, electrónico,
teiro dos Jerónimos; Eng.º Vítor Cóias e Silva, GECORPA; Eng.º Rogério
mecânico, fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia, ou gravação,
Madeira, SECIL; Dr.ª Carlotta Belloni, Cristina Zavaroni. Dr. Marco
sem autorização prévia e escrita do autor.
Solari, Arq.o Luís Marino Ucha, Dr.ª Jane Ross, Dr.ª Elizabeth Stoney,
LIVROS HORIZONTE, LDA Dr.ª Victoria Palau, Arqa. Carlota Proença de Almeida. Por fim, e no
Rua das Chagas, 17, 1.º Dto. – 1200-106 LISBOA princípio, a Eng.ª Margarida Mateus, o Eng.ª Adalberto Mascarenhas
E-mail: livroshorizonte@mail.telepac.pt Mateus e o Dr. Terry Little, do ICCROM.
 Passaram já mais de 70 anos desde a criação da SECIL, empresa que continua a desen-
volver como principal actividade a produção e comercialização de cimento e dos pro-
dutos dele derivados.
Poderia achar-se estranha a associação desta empresa, cujo produto está frequente-
mente associado à construção nova e industrializada, a uma publicação que trata de
técnicas tradicionais de construção. Porém, objectivos que, à partida, parecerão diver-
gentes, não o serão numa óptica de responsabilidade, que a SECIL assume, na promoção
de uma esclarecida utilização dos seus produtos e na promoção de uma cultura da
construção que conduza à adequada utilização de métodos e materiais, tradicionais ou
mais recentes.
Este trabalho sobre “Técnicas Tradicionais de Construção de Alvenarias”, cuja publi-
cação a SECIL apoiou em co-patrocínio com o GECORPA, constituirá certamente uma refe-
rência para os profissionais envolvidos nas várias fases da conservação e reabilitação
do património edificado.
Esperamos que lhes permita encarar os problemas da intervenção em antigas cons-
truções compatibilizando o que de melhor há nas soluções tradicionais com as possibi-
lidades oferecidas pelos novos materiais e pelas modernas tecnologias.
Para a SECIL esta publicação constituirá também uma base para discussão da forma
como se deverá adaptar aos desafios, que urge enfrentar, de revalorização e reintegração
do património herdado na vivência urbana contemporânea.

O Conselho de Administração da SECIL

 As intervenções de conservação do património arquitectónico envolvem uma elevada
especificidade, pressupondo uma adequada consciencialização e formação dos vários
intervenientes. Revestem-se, também, de uma grande complexidade, quer ao nível estra-
tégico e metodológico, quer ao nível operacional e tecnológico. A especificidade e a
complexidade desta área resultam, basicamente:
a) De uma filosofia e métodos especializados de estudo, avaliação e intervenção,
capazes de se adaptarem a cada monumento ou edifício histórico;
b) De uma necessidade de trabalho em equipas multidisciplinares, envolvendo arqui-
tectos, engenheiros, historiadores, conservadores-restauradores, químicos, mineralo-
gistas…
c) Da necessidade de conhecimentos técnicos de materiais e sistemas construtivos
tradicionais e contemporâneos.

Os estudos sobre as construções de alvenaria levados a cabo pelo Eng.º João Masca-
renhas Mateus, no âmbito da sua tese de doutoramento, constituem um importante
contributo para o conhecimento da antiga “Arte de Bem Construir” e enquadram-se,
directamente, no último dos três vectores acima.
Sendo o GECORPA uma associação empresarial que, partindo do reconhecimento da
importância transcendente do património arquitectónico para a sociedade, visa a valori-
zação do papel das empresas na sua conservação e restauro através da promoção de
objectivos de excelência, facilmente se compreende o apoio que, desde a primeira hora,
deu ao presente trabalho.
Saudando a Autor pela qualidade e profundidade dos seus estudos, o GECORPA congra-
tula-se por poder contribuir para que eles constituam uma útil ferramenta de trabalho
para as empresas e profissionais que se dedicam à conservação do património arquitectó-
nico do nosso país.

V. Cóias e Silva
Presidente do GECORPA
 A presente obra constitui o resultado de diversos anos de
pesquisa de doutoramento desenvolvida entre a Universidade
“La Sapienza” de Roma e o Instituto Superior Técnico de Lisboa.
O objectivo inicial da investigação era o de estudar de forma
crítica as fontes sobre a arte de construir em alvenaria, que têm
permanecido adormecidas nas bibliotecas, sistematizar a infor-
mação obtida e, por fim, discutir à luz das teorias e conheci-
mentos mais recentes a sua utilidade para a conservação de
edifícios históricos.
O autor conseguiu ir mais além destes objectivos e o resulta-
do final é uma original contribuição para o conhecimento euro-
peu da “Arte de Bem Construir”, tão necessária aos engenheiros
e arquitectos envolvidos em processos de restauro e de conser-
vação do património construído. Esta obra apresenta três com-
ponentes principais:
1. Constitui uma primeira bibliografia comentada das fontes
técnico-literárias necessárias ao conhecimento das construções
em alvenaria, à imagem de obras tais como a de Kruft, destinada
às fontes da história da Arquitectura, ou a de Von Schlosser,
dedicada às técnicas artísticas;
2. Consiste no primeiro repertório estruturado, comentado
e traduzido para a linguagem técnica contemporânea, do antigo
conhecimento construtivo dos sistemas de fundações, maciços
portantes, arcos, abóbadas e respectivos revestimentos;
3. Compreende uma reflexão sistemática e completa sobre o
uso desses princípios e técnicas nos diversos momentos do pro-
cesso de conservação arquitectónica, ou seja durante o levanta-
mento cognitivo, na fase de tomada de decisões e, por fim, na
fase de intervenção propriamente dita.
Este livro coloca, de forma original, as antigas técnicas cons-
trutivas ao lado das modernas técnicas de intervenção, como
instrumentos úteis e fundamentais para a actividade conserva-
tiva. Não caindo em simples comparações entre eficácia de uma
ou outra técnica, vista a multiplicidade infinita da casuística
possível, o saber tradicional é tratado em pé de igualdade com o
conhecimento contemporâneo, contrapondo as vantagens de um
e de outro, estabelecendo assim a difícil relação entre o antigo e
o moderno.
Este trabalho inovador não só é importante para engenhei-
ros e arquitectos como para historiadores da Arte, estabelecendo
uma forte proposição para a preservação dos edifícios antigos e
em particular para a formação de uma cultura do restauro em
Portugal. Espero que possa vir a constituir uma referência basilar
para a ciência das construções e da sua conservação e um ponto
de partida para investigações futuras na área dos sistemas cons-
trutivos tradicionais.
Giovanni Carbonara
Catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade
“La Sapienza” de Roma
 A tese de doutoramento do Eng.º João Mascarenhas Mateus,
que tive o gosto de orientar, resultou fundamentalmente da con-
sulta, análise e comparação de muitos livros sobre a arte de bem
construir ao longo do tempo que precedeu a industrialização e
as modernas tecnologias. É essa arte, fruto de descobertas, expe-
riências e observações do comportamento de materiais e arte-
factos, que permitiu que o património construído, suporte da
cultura europeia, chegasse até nós.
Esta tese situa-se bem ao lado desses tratados porque inclui
o seu digest e porque lhes dá um significado novo e uma utilidade
para a construção actual. Explico melhor.
O presente trabalho não é mais uma memória para os vindou-
ros sobre uma sabedoria pessoal acumulada, nem ambiciona ser
uma história da construção.
O objectivo, que foi conseguido, era o de compreender as
antigas construções em alvenaria à luz do saber que presidiu ao
seu fabrico e recuperar para a actividade do projectista de hoje,
que nelas é chamado a intervir, os saberes artesanais que se per-
deram e explicam a durabilidade dessas construções e podem,
com vantagem, ser reutilizados.
A perspectiva é a de que, para actuar sobre uma construção
existente, para além da cultura histórica e artística necessárias à
explicação da sua origem, valor cultural e contexto, importa co-
nhecer profundamente a sua constituição física e a sua evolução.
O reconhecimento desta premissa e o gosto pelo objecto de inter-
venção, conduzem naturalmente ao seu estudo e explicação dos
valores e defeitos que encerra. E só dispondo dessa compreen-
são é possível actuar respeitando todos os valores em causa, pres-
crever os materiais, o reforço e as adições mais adequadas e acres-
centar ao bem herdado contributos contemporâneos positivos.
Ao mesmo tempo, uma intervenção adequada no património
construído exige humildade face ao saber e trabalho humano
que representa e que dificilmente hoje conseguiríamos mobilizar.
Esta atitude e o desejo de que as gerações futuras também pos-
sam fruir do património que herdámos incentivam o domínio
das técnicas tradicionais e o desenvolvimento de processos e
métodos de intervenção compatíveis com a peça recebida, sobre-
tudo em termos de durabilidade, para que o que lhe acrescen-
tamos de novo possa ter um tempo de vida semelhante.
Nesta perspectiva, importa transmitir a noção de que são raros
os modernos materiais e técnicas que podem resistir ao tempo
como essas peças resistiram, simplesmente porque não os elege-
mos e usamos com essa intenção. Perdemos neste aspecto um
conceito básico da ética da profissão que importa recuperar:
construir para durar.
Não estando ainda em causa uma preocupação com a preser-
vação do património como valor cultural, ressalta dos antigos
tratados de construção, que os autores dedicavam sistemática
atenção à observação e registo do comportamento dos materiais
e técnicas que conheciam, e à transmissão e acumulação dessa
informação numa base temporal suficientemente longa para que
fossem válidos os conselhos de um bom construtor.
Transportando esta visão para a actualidade, para a construção
em geral e para os conceitos de qualidade, hoje mais associados
à adequação funcional e à economia do produto construído, ela
terá como consequência uma maior consciência na quantificação
do ciclo de vida em que essa economia é avaliada e dar-lhes-á
maior robustez.
É portanto em todas estas dimensões que devemos procurar
incentivo para recuperar materiais e processos que se julgam
perdidos, prescrever intervenções contemporâneas de qualidade
e entender a tese do Doutor Engenheiro João Mateus. Muitos
outros materiais e processos poderiam ser abordados com o
mesmo método e objectivos. Que este trabalho sirva de exemplo.
António Ressano Garcia Lamas
Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico
 ÍNDICE

INTRODUÇÃO

O CONTEXTO DA OBRA. ..................................................................................................................................................................................................... 16

O TEMA E OS SEUS LIMITES .............................................................................................................................................................................................. 16
A METODOLOGIA USADA NA PESQUISA ........................................................................................................................................................................ 17
A ESTRUTURA DA OBRA .................................................................................................................................................................................................... 18
ADVERTÊNCIA GERAL À LEITURA .................................................................................................................................................................................... 19

CAPÍTULO I — A BIBLIOGRAFIA E A TRANSMISSÃO DO SABER AOS PROTAGONISTAS DA CONSTRUÇÃO

ANTECEDENTES DOS TRATADOS DO SÉCULO XVIII .................................................................................................................................................................. 23

A ANTIGUIDADE .................................................................................................................................................................................................................. 23
A IDADE MÉDIA ................................................................................................................................................................................................................... 25
O RENASCIMENTO. PRIMEIRAS EDIÇÕES DE VITRÚVIO E PRIMEIROS TRATADOS IMPRESSOS ............................................................................. 27
ACADEMIAS DE FORTIFICAÇÃO E TRATADOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL E MILITAR ............................................................. .................................... 30
A TRATADÍSTICA ENTRE 1750 E O INÍCIO DO SÉCULO XX ........................................................................................................................................................ 34
AS OBRAS PUBLICADAS NO SÉCULO XVIII ..................................................................................................................................................................... 34
O Iluminismo e a institucionalização do ensino da Ciência das Construções .............................................................................................................. 34
Cursos e Resumos de Lições ........................................................................................................................................................................................... 38
Tratados Gerais e Manuais de Arquitectura e Construção Civil .................................................................................................................................... 38
Literatura técnica especializada ..................................................................................................................................................................................... 39
Enciclopédias e Dicionários ........................................................................................................................................................................................... 44
O SÉCULO XIX E A LITERATURA TÉCNICA NA ERA DA INDUSTRIALIZAÇÃO ........................................................................................................... 44
Cursos e Resumos de Lições ........................................................................................................................................................................................... 46
Tratados Gerais e Manuais de Arquitectura e Engenharia Civil .................................................................................................................................... 47
Representação gráfica, Geometria e Estereotomia .......................................................................................................................................................... 49
Mecânica e Resistência das alvenarias ........................................................................................................................................................................... 50
Teoria e prática da produção de materiais de construção .............................................................................................................................................. 52
Obras relacionadas com a execução e protecção de alvenarias ..................................................................................................................................... 53
Dicionários e Enciclopédias ........................................................................................................................................................................................... 54
A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUEOLOGIA E DA HISTÓRIA DA ARQUITECTURA ............................................................................................................ 55
O ADVENTO DO BETÃO ARMADO E O DECLÍNIO DA CONSTRUÇÃO EM ALVENARIA ............................................................................................. 57
A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO E A RELEITURA DA TRATADÍSTICA .................................................................................................................... 60
UMA VISÃO GLOBAL DO CONTEÚDO DOS TRATADOS ESTUDADOS .......................................................................................................................... 65

9
 CAPÍTULO II — A CONCEPÇÃO GEOMÉTRICA E O DIMENSIONAMENTO DE EDIFÍCIOS EM ALVENARIA

O ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DOS GRANDES SISTEMAS CONSTRUTIVOS TRADICIONAIS ......................................................................................... 71

TIPOLOGIAS DE COMBINAÇÕES DE BLOCOS E ARGAMASSAS .................................................................................................................................... 71
SISTEMAS DE TRANSMISSÃO DE CARGAS NA COBERTURA DE VÃOS E DE ESPAÇOS ............................................................................................. 74
A pedra talhada ............................................................................................................................................................................................................... 74
Alvenarias ordinárias e de concreção ............................................................................................................................................................................. 77
A CONCEPÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS PRINCIPAIS .................................................................................................................................................. 80
ARCOS E ABÓBADAS .......................................................................................................................................................................................................... 80
A Arte do Desenho .......................................................................................................................................................................................................... 81
A definição do perfil dos arcos ....................................................................................................................................................................................... 82
A escolha e o desenho das abóbadas .............................................................................................................................................................................. 84
Aparelhos em pedra talhada e as regras de Estereotomia .............................................................................................................................................. 86
Arcos e abóbadas em alvenaria ordinária ...................................................................................................................................................................... 91
PAREDES, PÉS-DIREITOS, COLUNAS E PILASTRAS ......................................................................................................................................................... 95
Aparelhos na Antiguidade .............................................................................................................................................................................................. 95
Aparelhos “modernos” recomendados pelos tratados ................................................................................................................................................... 99
Em pedra talhada ...................................................................................................................................................................................................... 99
Alvenarias ordinárias ............................................................................................................................................................................................. 100
Alvenarias mistas ................................................................................................................................................................................................... 103
SISTEMAS DE TRAVAMENTO HORIZONTAL .................................................................................................................................................................. 105
FAIXAS, CORNIJAS E VARANDAS .................................................................................................................................................................................... 107
FUNDAÇÕES ....................................................................................................................................................................................................................... 108
AS TÉCNICAS TRADICIONAIS DE DIMENSIONAMENTO .......................................................................................................................................................... 112
COLUNAS E ARQUITRAVES ............................................................................................................................................................................................. 114
PAREDES ............................................................................................................................................................................................................................. 117
Pré-dimensionamento de paredes em edifícios térreos ............................................................................................................................................... 118
Pré-dimensionamento de paredes em edifícios de vários pisos .................................................................................................................................. 121
Verificação da resistência ............................................................................................................................................................................................. 123
ELEMENTOS EM CONSOLA .............................................................................................................................................................................................. 127
FUNDAÇÕES ....................................................................................................................................................................................................................... 128
ARCOS, ABÓBODAS E PÉS-DIREITOS ............................................................................................................................................................................. 130
Regras empíricas tradicionais ....................................................................................................................................................................................... 131
Algoritmos baseados em mecanismos de colapso ....................................................................................................................................................... 136
Regras empíricas melhoradas ....................................................................................................................................................................................... 141
O método do funicular de pressões .............................................................................................................................................................................. 144
Os métodos contemporâneos e a validade dos antigos ................................................................................................................................................ 149

CAPÍTULO III — A PREPARAÇÃO E A COMPOSIÇÃO DE MATERIAIS

A PREPARAÇÃO DOS BLOCOS ELEMENTARES ........................................................................................................................................................................... 157

BLOCOS DE PEDRA ..................................................................................................................................................................................................... 158
Os cuidados tidos na extracção e a importância da primeira triagem ......................................................................................................................... 158
A importância do leito natural da pedra ...................................................................................................................................................................... 160
A arte do talhe da pedra ............................................................................................................................................................................................... 160

10
 O primeiro desbaste e a regularização das superfícies .......................................................................................................................................... 161
O traço e o corte propriamente dito ....................................................................................................................................................................... 162
O acabamento das superfícies ................................................................................................................................................................................ 164
O transporte e o armazenamento dos blocos de pedra .......................................................................................................................................... 166
BLOCOS CERÂMICOS ........................................................................................................................................................................................................ 167
Os cuidados na escolha e na extracção da argila ......................................................................................................................................................... 168
As regras de preparação e moldagem da argila ............................................................................................................................................................ 168
A cozedura em fornos intermitentes e contínuos ........................................................................................................................................................ 169
O controlo da qualidade ............................................................................................................................................................................................... 171
A mistura de aditivos .................................................................................................................................................................................................... 172
A PREPARAÇÃO DAS ARGAMASSAS E DOS BETÕES TRADICIONAIS ...................................................................................................................................... 173
FABRICAÇÃO DAS CAIS AÉREAS E HIDRÁULICAS NATURAIS .................................................................................................................................... 174
Escolha da pedra e classificação das diversas cais ...................................................................................................................................................... 175
Processos e temperaturas de cozedura ......................................................................................................................................................................... 177
Critérios tradicionais de qualidade e novas normas de produção ............................................................................................................................... 182
POZOLANAS, CAIS HIDRÁULICAS ARTIFICIAIS E CIMENTOS .................................................................................................................................... 183
Pozolanas naturais ........................................................................................................................................................................................................ 184
Pozolanas artificiais ou materiais cerâmicos pulverizados ......................................................................................................................................... 186
Cais hidráulicas artificiais e cimentos ......................................................................................................................................................................... 187
TÉCNICAS TRADICIONAIS DE EXTINÇÃO DAS CAIS .................................................................................................................................................... 188
Método por fusão .......................................................................................................................................................................................................... 189
A extinção ao ar ............................................................................................................................................................................................................ 189
Método por imersão ...................................................................................................................................................................................................... 189
PENEIRAÇÃO, ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇÃO DAS CAIS, POZOLANAS E TIJOLOS PILADOS .................................................................... 190
A ÁGUA ............................................................................................................................................................................................................................... 191
O GESSO ............................................................................................................................................................................................................................. 192
OS AGREGADOS ................................................................................................................................................................................................................ 193
Areia .............................................................................................................................................................................................................................. 193
Britas e fragmentos de tijolos ....................................................................................................................................................................................... 196
Pó de pedra ................................................................................................................................................................................................................... 197
A PRESA E A HIDRAULICIDADE. EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO ........................................................................................................................................ 198
TEORIAS DA PRESA ........................................................................................................................................................................................................... 198
TEORIAS DA HIDRAULICIDADE ....................................................................................................................................................................................... 201
MÉTODOS PRÁTICOS PARA OBTENÇÃO DE ARGAMASSAS HIDRÁULICAS ............................................................................................................. 203
REGRAS E PROCEDIMENTOS PARA A MISTURA DOS MATERIAIS BÁSICOS ......................................................................................................................... 205
ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO ............................................................................................................................................................................... 206
Traços com cais aéreas e hidráulicas ............................................................................................................................................................................ 207
Traços com pozolana e tijolo pilado e argamassas de presa rápida ............................................................................................................................. 209
ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTOS .......................................................................................................................................................................... 211
Dosagem de rebocos ...................................................................................................................................................................................................... 212
Dosagens de estuques ................................................................................................................................................................................................... 214
Composição de pavimentos .......................................................................................................................................................................................... 216
Betumes e mastiques .................................................................................................................................................................................................... 219
COMPOSIÇÃO DOS BETÕES ............................................................................................................................................................................................ 219
AMASSADURA DAS ARGAMASSAS ................................................................................................................................................................................ 221
AMASSADURA DOS BETÕES ........................................................................................................................................................................................... 223

11
 CAPÍTULO IV — A MONTAGEM E A EXECUÇÃO DE ALVENARIAS

EXECUÇÃO DAS FUNDAÇÕES ...................................................................................................................................................................................................... 226

CONSTRUÇÃO DOS MACIÇOS EM ELEVAÇÃO ........................................................................................................................................................................... 229
ALVENARIAS DE PEDRA TALHADA ................................................................................................................................................................................. 230
ALVENARIAS DE PEDRA ORDINÁRIAS ............................................................................................................................................................................ 232
ALVENARIAS DE TIJOLO ................................................................................................................................................................................................... 232
USO DE GATOS E GRAMPOS ............................................................................................................................................................................................ 233
CONDIÇÕES PARTICULARES DE PRESA DAS ARGAMASSAS ....................................................................................................................................... 234
EXECUÇÃO DOS ARCOS E ABÓBADAS ........................................................................................................................................................................................ 235
CIMBRAMENTO E ASSENTAMENTO ............................................................................................................................................................................... 235
DESCIMBRAMENTO .......................................................................................................................................................................................................... 241
EXECUÇÃO DOS ACABAMENTOS ................................................................................................................................................................................................. 243
PARAMENTOS SEM REVESTIMENTO .............................................................................................................................................................................. 243
Paramentos em pedra .................................................................................................................................................................................................... 243
Paramentos em tijolo ..................................................................................................................................................................................................... 245
PARAMENTOS REVESTIDOS ............................................................................................................................................................................................ 247
Revestimentos lapídeos ................................................................................................................................................................................................ 247
Rebocos e pinturas ........................................................................................................................................................................................................ 248
Estuques ........................................................................................................................................................................................................................ 252
PAVIMENTOS ..................................................................................................................................................................................................................... 253

CAPÍTULO V — A PROTECÇÃO E A DURABILIDADE DAS ALVENARIAS

O CONHECIMENTO DOS FENÓMENOS DE DETERIORAÇÃO .................................................................................................................................................... 259

TÉCNICAS DE PROTECÇÃO TRADICIONAL .................................................................................................................................................................... 262
Protecção à infiltração da água das chuvas por gravidade .......................................................................................................................................... 263
Protecção ao escorrimento e incidência lateral da chuva sobre as fachadas .............................................................................................................. 266
Protecção à ascensão de água por capilaridade ............................................................................................................................................................ 269
TÉCNICAS TRADICIONAIS DE CONSERVAÇÃO DAS ALVENARIAS ............................................................................................................................. 271
Acções de manutenção ordinária ................................................................................................................................................................................. 271
Consolidação e reforço extraordinário ......................................................................................................................................................................... 272

CAPÍTULO VI — METODOLOGIA DA UTILIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS E TÉCNICAS TRADICIONAIS NOS PROCESSOS DE CONSERVAÇÃO

O PROCESSO DE CONSERVAÇÃO DE UM EDIFÍCIO NAS SUAS DIVERSAS FASES. OS DEBATES TEÓRICOS RECENTES ..................................... 281
A TRATADÍSTICA E AS OUTRAS FONTES DE CONHECIMENTO .................................................................................................................................. 287
O USO DAS TÉCNICAS TRADICIONAIS NA FASE DE COMPREENSÃO E AVALIAÇÃO DO EDIFÍCIO ....................................................................... 288
A importância dos princípios e regras de concepção geométrica ............................................................................................................................... 289
O contributo das regras do aparelho ............................................................................................................................................................................ 290
A utilidade dos métodos de dimensionamento ........................................................................................................................................................... 291
O uso do conhecimento da fabricação dos materiais .................................................................................................................................................. 292
A avaliação da qualidade da execução tradicional ...................................................................................................................................................... 294
A utilidade dos sistemas de protecção e dos cuidados com a durabilidade ............................................................................................................... 295

12
 AS TÉCNICAS TRADICIONAIS NA FASE DE DECISÃO DO PROCESSO CONSERVATIVO ........................................................................................... 297
Construção tradicional e acções de manutenção ......................................................................................................................................................... 299
Construção tradicional e intervenções de consolidação e reforço ............................................................................................................................... 301
Limitações relacionadas com uma inadequada consideração das técnicas tradicionais ............................................................................................ 304
AS TÉCNICAS TRADICIONAIS NA EXECUÇÃO DAS INTERVENÇÕES ......................................................................................................................... 307
A produção e utilização dos blocos elementares tradicionais na actualidade ............................................................................................................ 307
A importância da cal na prática da conservação de alvenarias ................................................................................................................................... 311
O CONHECIMENTO TRADICIONAL E O CONHECIMENTO CONTEMPORÂNEO ........................................................................................................ 312

CAPÍTULO VII — CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES DA PESQUISA

PRIMEIRA SÉRIE DE CONCLUSÕES ............................................................................................................................................................................................. 315

SEGUNDA SÉRIE DE CONCLUSÕES ............................................................................................................................................................................................. 317
TERCEIRA SÉRIE DE CONCLUSÕES ............................................................................................................................................................................................. 319
CONCLUSÃO FINAL ....................................................................................................................................................................................................................... 322
NOTAS .............................................................................................................................................................................................................................................. 323

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE DA BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................................................................................ 348

ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO DE AUTORES ........................................................................................................................................................................................ 349
ADVERTÊNCIAS À LEITURA .......................................................................................................................................................................................................... 357
BIBLIOTECAS E ARQUIVOS ........................................................................................................................................................................................................... 414
FONTES COMPUTADORIZADAS ................................................................................................................................................................................................... 414

ORIGEM DAS FIGURAS

CAPÍTULO I ..................................................................................................................................................................................................................................... 415

CAPÍTULO II .................................................................................................................................................................................................................................... 416
CAPÍTULO III ................................................................................................................................................................................................................................... 419
CAPÍTULO IV ................................................................................................................................................................................................................................... 420
CAPÍTULO V .................................................................................................................................................................................................................................... 421
CAPÍTULO VI ................................................................................................................................................................................................................................... 422

ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................................................................................................................... 424

ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS ................................................................................................................................................................................................ 429

13
A Maria Margarida, Adalberto e Margarida Maria

Il est nécessaire aux médecins […] de comprendre ce qu’est

l’homme, ce qu’est la vie, ce qu’est la santé, et comment une parité
ou une harmonie des éléments maintient celle-ci et comment leur
désaccord provoque sa ruine […].
Il faut la même chose à un (édifice) malade, c’est-à-dire un médecin
architecte qui comprenne ce qu’est une construction et les règles qui
font qu’on édifie correctement.

Leonardo da Vinci*

* A comparação de um arquitecto a um médico, no conceito máquina-edifício

de Leonardo da Vinci, in GALLUZZI, Paolo, Les ingénieurs de la Renaissance de
Brunelleschi à Léonard de Vinci, Firenze, Giunti, 1995, p. 238.

14
 INTRODUÇÃO
As técnicas tradicionais de construção de edifícios em alvenaria
constituem um domínio do conhecimento que não faz parte actual-
mente do curriculum da formação da maioria dos engenheiros e
arquitectos. Formados na “linguagem” do betão e do aço, face aos
edifícios em alvenaria tradicional defrontam-se com a dificuldade
de desconhecerem a “linguagem” com que estes foram construídos.
Apesar desta lacuna de formação, acabam frequentemente por ficar
responsáveis pela gestão global de projectos de conservação e por
ter de “concertar”, ou seja, fazer funcionar em conjunto as várias
especialidades envolvidas. Nestas situações, pelo desconheci-
mento da metodologia própria da conservação e pelo reduzido
acesso a estudos sobre as técnicas tradicionais, a avaliação, as
decisões e as formas de intervenção correm o risco de serem leva-
das a cabo de forma incompleta e por vezes incorrecta.
Na conservação de um edifício antigo, para além do conheci-
mento das técnicas tradicionais e modernas de construção, é neces-
sário uma metodologia histórico-crítica capaz de avaliar todos os
valores de que ele é testemunho. Entre outros há que referir o
valor histórico, o valor arquitectónico, o valor estético, o valor da
memória, o valor ambiental e o valor económico.
A estes valores deve ser adicionado o “valor tecnológico” de
um edifício. Este valor, ao qual só recentemente se começou a dar
a devida importância, era já implicitamente salvaguardado nas
primeiras cartas internacionais de conservação do património
construído. O “valor tecnológico” consiste no valor das soluções
técnicas espelhadas nas intenções, na construção e na execução
das alterações de um edifício.
Para salvaguardar este e outros valores de um modo integrado,
tanto a Carta do Restauro Italiana de 1932 (no seu artigo 9.º) como
a Carta Internacional de Veneza de 1964 (artigos 2.º e 10.º) propuse-
ram o uso das técnicas e materiais tradicionais como repositório da
Arte de Construir, fruto da experiência e do esforço de sucessivas
15
gerações de artesãos, com características gerais e locais. As técni-
cas e os materiais contemporâneos deveriam ser usados só quando
as técnicas tradicionais se revelassem inadequadas. Apesar destas
intenções, a investigação neste domínio não correspondeu ime-
diatamente a estas exigências de método.
Com a publicação das referidas cartas, teve início alguma pes-
quisa especializada na análise das características físicas, quími-
cas e mineralógicas de certos materiais tradicionais como a cal,
as pedras e os tijolos. Começou-se a estudar os rebocos e as cores
tradicionais e retomou-se alguma da investigação no campo do
cálculo de arcos e abóbadas. O estudo dos sistemas de construção
com alvenarias, em especial os dos egípcios, romanos e góticos, foi
também continuado no campo da História da Arquitectura, da His-
tória das Técnicas e da Arqueologia Clássica e Medieval. A cata-
logação dos detalhes arquitectónicos específicos e característicos
de uma cidade ou região foram objecto de iniciativas localizadas,
sobretudo em Itália.
Estas vertentes de pesquisa, de grande utilidade para cada um
dos especialistas envolvidos na conservação de edifícios (quími-
cos, arquitectos, historiadores, engenheiros, artesãos), têm-se
mostrado porém pouco eficazes para a obtenção de uma visão
global, coerente e concertada da complexidade dos problemas
envolvidos num projecto completo de conservação de alvenarias,
precisamente pelo seu carácter específico. O presente trabalho
procurou exactamente responder a esta necessidade.
Como engenheiro civil e depois do mestrado em conservação
de edifícios e sítios históricos na Universidade Católica de Lovaina,
o autor sentiu durante as suas experiências de investigação, de
projecto e de estaleiro, que o conhecimento das alvenarias tradicio-
nais constituía um domínio cheio de lacunas para as quais só eram
possíveis respostas localizadas e demasiado específicas. O objec-
tivo do presente trabalho é exactamente fornecer uma visão global
do “saber tradicional” que até ao presente tem vindo a ser revelado
somente por alguns estudos e artigos dispersos.
O CONTEXTO DA OBRA
Por todas estas razões considerou-se necessário e de grande
actualidade, conhecer e reabilitar a informação acessível relativa
a estes princípios técnicos, em conjunto e em pé de igualdade
com as técnicas contemporâneas.
Dos esforços que recentemente se têm vindo a fazer neste cam-
po, destaca-se a Escola de Especialização em Restauro de Monu-
mentos da Universidade “La Sapienza” de Roma. Fruto da sua
corrente investigativa foi publicado, em 1996, o Tratado de Res-
tauro Arquitectónico, sob a orientação do Prof. Giovanni Carbonara,
que constitui um dos primeiros exemplos em que a consideração
integrada de técnicas tradicionais e técnicas modernas é apresen-
tada a todos os níveis da complexa actividade do engenheiro ou
do arquitecto conservador1. Esta mesma preocupação tem sido
tomada em conta em Portugal pelo Prof. António Lamas, na di-
recção dos Cursos de Conservação do Instituto Superior Técnico.
O presente trabalho de investigação entra nesta linha de pensa-
mento e foi realizado em estreita colaboração com estes dois acadé-
micos.
O estudo procurou também situar-se na área dos conceitos da
Conservação Sustentável e da Conservação Preventiva.
Para conseguir uma Conservação Sustentável dos edifícios e
monumentos históricos é necessária a coexistência, física e tem-
poral, das “artes e dos ofícios” usados na sua construção original,
indispensáveis à manutenção e à continuidade da sua existência.
A Conservação Preventiva, aplicada até muito recentemente
só a objectos de arte móveis, baseia-se em acções periódicas de
manutenção e de prevenção das degradações, após uma primeira
campanha de grande conservação, necessária por anos de aban-
dono ou por intervenções erradas. Este conceito, que estava na
base da manutenção tradicional, permite justificar acções mínimas
e menos espaçadas no tempo, por oposição às acções urgentes só
quando o nível de deteriorações é tão elevado que uma intervenção
se revela evidente e indispensável.
A identificação das regras e das técnicas de construção tradi-
cionais faz parte do conhecimento indispensável à definição de
16
instrumentos e práticas capazes de assegurar a aplicação destes
dois conceitos.
O TEMA E OS SEUS LIMITES
Para além das fontes orais obtidas no meio artesão, da icono-
grafia e da simples análise de estruturas e materiais, os tratados e
manuais antigos de construção começaram gradualmente a ser
usados como fontes sistemáticas para o conhecimento da antiga
Arte de Construir. Os primeiros estudos, datados dos anos 30 do
século XX, dedicaram-se à recolha e ao comentário das bibliografias
necessárias ao estudo das artes decorativas e das teorias arquitec-
tónicas.
A partir dos anos 70, sobretudo em França e Itália, começaram
também a ser realizados diversos estudos, à luz da tratadística,
relacionados com as antigas técnicas construtivas:
• Pela listagem e catalogação dos diversos tratados e manuais
de construção publicados num determinado período histó-
rico, com reprodução de um limitado número das ilustrações
originais, de modo a transmitir o “gosto” da tradição e do
saber antigo;
• Com a reprodução anastática ou fac-similada de um determi-
nado tratado, associada a um ensaio crítico à luz dos conheci-
mentos actuais;
• Pela análise de um determinado campo do conhecimento,
através da leitura das obras mais relevantes para a sua evo-
lução, como é o caso do estudo da evolução dos métodos de
dimensionamento de arcos e abóbadas, da composição de
argamassas ou de sistemas construtivos particulares.
No entanto, sobre o conteúdo global destas obras e sobre a “Arte
de Bem Construir” no seu todo, foi feito pouco. De forma a obter
esta visão global, o primeiro objectivo do estudo foi o de identi-
ficar e estruturar o conhecimento contido na tratadística, à pri-
meira vista muito extenso, complexo e disperso, centrando a aten-
ção sobre a construção de alvenarias de pedra e tijolo. As estruturas
de madeira só foram consideradas quando influíam como estru-
turas independentes apoiadas ou servindo de apoio provisório às
ditas alvenarias. Não foram desta maneira consideradas as estru-
turas mistas de madeira e alvenaria, por implicarem o alargamento
da pesquisa a obras especializadas em carpintaria ou aos capítulos
dos tratados que tratam desse tema.
O período de publicação das fontes estudadas foi definido,
não de forma demasiado rígida, entre os anos de 1750 e de 1900.
A primeira data corresponde praticamente à edição do primeiro
volume da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert. O espírito ilu-
minado que deu início à sistematização da grande “aventura” da
pesquisa científica interessada em conhecer tudo pela experiên-
cia, começou por se preocupar com a compilação do saber relativo
a todas as artes e ofícios. Este primeiro esforço foi feito associando
a narração de métodos empíricos e ancestrais, garantidos por sécu-
los de praxis, à preocupação da sua explicação racional à luz das
diversas ciências. Esta visão na base do espírito científico moderno
foi impulsionadora da publicação da grande literatura técnica ao
longo de todo o século XVIII e XIX.
A última data, 1900, corresponde ao apogeu da investigação
sobre a construção de alvenarias não armadas e ao mesmo tempo
ao declínio do ensino destas técnicas nas escolas profissionais e
nas universidades com o advento do cimento Portland, do betão e
do aço.
O período definido por estas duas datas corresponde por isso
ao período histórico durante o qual a prática tecnológica das alve-
narias foi expressa de maneira mais completa e sistemática.
Em toda o presente trabalho teve-se sempre presente a necessi-
dade de analisar a utilidade dessa informação tecnológica nos pro-
cessos de Conservação dos nossos dias, procurando enquadrar a
sua aplicação prática nas teorias e debates em curso.
A METODOLOGIA USADA NA PESQUISA
A pesquisa relatada nesta obra iniciou-se com o levantamento
da bibliografia, compilando cronologicamente não só as obras,
como as diversas edições conhecidas para cada uma delas, de
modo a conhecer o período da sua real difusão no mercado técni-
co-literário. Procurou-se assim avaliar a influência de um determi-
nado livro na formação dos construtores de um determinado país
e nas obras escritas que se lhe seguiram.
Compreendendo o contexto em que cada uma das obras foi
escrita em relação aos momentos mais importantes da evolução
17
do Saber Construir foi possível compreender a génese de cada
uma delas. Para esta análise foi útil um primeiro estudo da organi-
zação do ensino da Construção antes da descoberta da Imprensa,
da importância das obras da Antiguidade, da sua cópia ao longo
da Idade Média e do modo como estas constituíram a referência
primordial dos primeiros tratados impressos.
Estudou-se também o processo de criação das principais Acade-
mias Militares e escolas de Arquitectura, do ensino da Engenharia
e dos Institutos Politécnicos que surgiram por toda a Europa ao
longo dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Se as fontes de estudo prioritárias foram, no início, limitadas
aos grandes tratados de Arquitectura e Construção, depressa se
percebeu, pelo seu carácter generalista ou menos relacionado com
as técnicas construtivas, que estas fontes não bastavam. A pes-
quisa bibliográfica foi assim alargada a outro tipo de obras e a um
“espectro” de fontes muito mais vasto, que se ordenou selectiva-
mente segundo diversas categorias úteis à análise posterior do
seu conteúdo. A estas categorias juntaram-se também a dos estudos
compilados no final do século XIX e especializados em técnicas
construtivas da Antiguidade, no âmbito da História da Arquitec-
tura e da História das Técnicas.
Pensa-se ter deste modo considerado todas as principais cate-
gorias de obras de carácter técnico directa ou indirectamente
relacionadas com a Ciência das Construções, em particular com
a tecnologia dos edifícios. Naturalmente, no grande número de
obras identificadas, encontraram-se diversos níveis de informa-
ção empírica ou científica, desde estudos expeditos e “recorda-
tivos” das principais “receitas” ou “regras”, a estudos que consti-
tuíram verdadeiros marcos do desenvolvimento da tecnologia
das alvenarias.
As obras consultadas foram sobretudo as escritas em português,
italiano, espanhol, francês e inglês e algumas, poucas, em holan-
dês. As obras em alemão, consideradas indispensáveis, foram
analisadas nas suas traduções italianas, francesas ou inglesas.
Passou-se depois à análise da estrutura das diversas obras,
sendo estabelecidas classes de regras e de técnicas onde a infor-
mação que ia sendo analisada podia ser arrumada e apresentada
de uma forma sintética.
A análise gradual dos diversos textos forneceu parte dos crité-
rios necessários a esta classificação. Na verdade, rapidamente se
chegou à conclusão que a arte das alvenarias consistia basicamente
na “arte” de preparar os materiais, de os combinar e de os montar
em conjunto. Por outras palavras, era feita de diversas componen-
tes: das artes de conceber e dimensionar, da arte da preparação
dos materiais e da arte da combinação e pose dos mesmos.
Esta primeira divisão foi seguida do reordenamento deste
conhecimento de modo a poder ser usado eficazmente por quem
tenha que compreender, decidir e intervir num edifício antigo de
alvenaria. Obedecendo a esta exigência, a informação contida nas
diversas obras foi “desmembrada” e “reunida” de ordem diversa,
para ser lida com uma perspectiva utilitária e orientada. Esta
reordenação foi feita de forma temática, crítica e comparada,
sendo ilustrada, sempre que possível, com as figuras mais
significativas das obras analisadas. Obteve-se assim uma visão
global dos princípios e das técnicas gerais, comuns à maioria dos
textos. Consideraram-se como regras de arte as recomendações,
leis ou conselhos caracterizados por uma referência constante e
confirmados pela citação em obras de diferentes origens e perío-
dos.
A descrição destas regras, dos princípios em que elas se baseiam
e dos procedimentos executivos associados, foi levada até ao limite
onde as excepções começavam. Na verdade, na maioria das obras
e na realidade de qualquer edifício, existem excepções e adapta-
ções, dependentes de factores relacionados com as culturas e tra-
dições locais, com a mão-de-obra, com o equipamento e com os
meios económicos disponíveis.
Por fim, cada uma das categorias de princípios e técnicas foi
discutida sob o ponto de vista da sua utilidade nas diversas fases
do processo de conservação de um edifício antigo. Para este efeito
foi realizada uma avaliação sistemática da sua observância nas
seguintes situações limite:
• A observância da regra e a sua influência no comportamento
de uma dada alvenaria ao longo do tempo;
• A não verificação da regra e as suas consequências na dura-
bilidade dum edifício.
Para o efeito, a discussão do contributo de cada uma destas
categorias foi analisada nos momentos principais do processo de
Conservação, sintetizados na fase de estudo e compreensão do
edifício, na fase de decisão e na fase de intervenção. Procurou-se
ilustrar esta parte do estudo com:
18
• casos práticos e comunicações científicas recentes relativas
à utilização das técnicas tradicionais, associadas a técnicas
contemporâneas;
• casos práticos de antigas intervenções realizadas com as técni-
cas tradicionais, quando estas eram as únicas disponíveis.
Os resultados obtidos permitiram formular, por fim, conclusões
sobre a metodologia da utilização deste conhecimento na actuali-
dade e do seu contributo para a Engenharia Civil.
A ESTRUTURA DA OBRA
A obra é apresentada em três partes principais, dedicadas res-
pectivamente:
1. Ao Contexto;
2. Ao Conteúdo;
3. À Utilidade das técnicas tradicionais de construção de alve-
narias.
No Capítulo I expõem-se os resultados obtidos relativos ao
contexto da produção das fontes de estudo. Este contexto é relacio-
nado com as formas de transmissão de conhecimento e de aprendi-
zagem, desde a Antiguidade, passando pelos primeiros tratados
impressos durante o Renascimento e pela tratadística militar, antes
de se analisar o período que constitui o objectivo do estudo.
Conhecidos os seus precedentes, as diversas obras são depois
avaliadas e apresentadas no seu próprio contexto, integradas na
evolução científica e cultural europeia e, sobretudo, na evolução
do ensino académico e politécnico. Seguem-se os resultados do
levantamento dos momentos mais importantes do desenvolvi-
mento dos métodos de cálculo elástico e da afirmação dos sistemas
construtivos metálicos e em betão armado. Situa-se assim a perda
de importância das alvenarias tradicionais como tecnologia cons-
trutiva.
O capítulo é concluído com a apresentação do estado da arte e
dos esforços mais recentes na leitura e reutilização dos tratados
estudados.
A apresentação das principais fontes é feita com referência
sistemática à bibliografia, onde todas as obras são catalogadas cro-
nologicamente e com a indicação de todas as edições e línguas de
publicação conhecidas. Esta bibliografia é dividida em doze capí-
tulos temáticos sendo apresentada com um índice de conteúdo e
um índice de autores, no final da obra.
Os Capítulos II, II, IV e V são dedicados ao conteúdo, à identifi-
cação e à classificação da informação contida nas obras analisadas.
A ordem seguida procura obedecer cognitiva e cronologicamente
às operações necessárias à erecção de um edifício. Os princípios
e as técnicas são deste modo classificados em quatro capítulos
distintos, correspondentes às quatro fases de fabricação das alve-
narias:
• A fase de projecto – que comporta os princípios que deter-
minam a escolha de uma determinada solução estrutural e
a obtenção da geometria dos diversos elementos estruturais
elementares: arcos e abóbadas, paredes, pés-direitos, colunas
e pilastras, sistemas de travamento horizontal e fundações.
(Capítulo II);
• A fase de produção e aquisição dos materiais básicos para a
construção – que se baseia nas técnicas de produção dos blo-
cos elementares, das argamassas e dos betões. (Capítulo III);
• A fase de execução – que inclui as regras e os procedimen-
tos de assemblagem dos blocos com as argamassas de modo
a obter as estruturas verticais, os arcos e as abóbadas e as
superfícies de acabamento dos edifícios. (Capítulo IV);
• A fase de aplicação e instalação dos elementos de protecção
das alvenarias acabadas de construir – que se relaciona com
as formas de completar as estruturas de forma a assegurar a
sua protecção e durabilidade e a permitir a sua fácil manuten-
ção (Capítulo V).
A identificação, classificação e compilação sintética das princi-
pais regras e procedimentos de arte é obtida e apresentada acima
de tudo com o objectivo, já referido, de ser utilizada e aplicada
hoje na conservação de edifícios. Esta forma de “olhar”, diversa
do simples “olhar” de leitura passiva, passa não só pela compre-
ensão da informação à luz dos últimos desenvolvimentos cientí-
ficos, mas também pela compreensão das intenções e dos cuidados
tidos tradicionalmente com a construção. Estes cuidados e inten-
ções, enunciados sob a forma de princípios e técnicas, destina-
19
vam-se antes de mais a assegurar a durabilidade dos edifícios e é
exactamente com a durabilidade que a conservação está interes-
sada.
O último capítulo, o Capítulo VI, começa por discutir a especi-
ficidade e a complexidade da metodologia da Conservação Arqui-
tectónica. Segue-se a integração da pesquisa efectuada nos últimos
debates teóricos. Com este fim, apresenta-se um resumo do estado
da arte relativo às discussões mais recentes sobre a utilização das
técnicas a aplicar nos processos conservativos.
Segue-se a avaliação do contributo da aplicação dos princípios
e técnicas tradicionais na conservação de edifícios históricos, asso-
ciados às técnicas e às normas contemporâneas. Estes resultados
são articulados em três vertentes, correspondentes ao seu contri-
buto para os três momentos principais do processo de Conser-
vação:
• A compreensão e o estudo do edifício;
• A decisão sobre as formas de intervenção;
• A execução das intervenções.
No final, apresentam-se os comentários e as conclusões gerais
obtidas, acompanhadas de considerações sobre pesquisas futuras
que se poderão basear nos resultados da presente obra.
ADVERTÊNCIA GERAL À LEITURA
Para a citação dos textos, utilizou-se normalmente a língua
original em que eles foram escritos, tendo apenas sido traduzido
um número reduzido de textos que se apresentavam de difícil
compreensão na língua original. A forma arcaica de algumas das
citações foi também transcrita literalmente, de modo a não perder
significado e valor na tradução.
Foi igualmente respeitada a notação geométrica original dos
diversos métodos de cálculo. Os métodos apresentados têm o seu
valor particular e correspondem a épocas, períodos e países diver-
sos. A conservação das diferentes notações originais reflectem esta
variedade de “perspectivas”. Adoptaram-se, no entanto, sempre
que possível, os símbolos usados no Eurocódigo 6 relativos aos
parâmetros de cálculo de alvenarias não armadas.
 I
A BIBLIOGRAFIA E A TRANSMISSÃO DO SABER
AOS PROTAGONISTAS DA CONSTRUÇÃO
Os tratados escritos durante o período que vai do Iluminismo
ao início do século XX reflectem a evolução de um campo do conhe-
cimento que encontra a sua origem nas civilizações da Antiguidade
e se desenvolve ao longo de séculos de melhoramentos técnicos
que tiveram como consequência os processos optimizados da cons-
trução moderna de edifícios. Estas obras foram publicadas num
período que se inicia com a consolidação e o estabelecimento das
teorias construtivas de alvenarias, passa pela sua compreensão
científica e optimização, e termina com o declínio do uso das alve-
narias em detrimento das construções em aço e betão, materiais
de “produção industrial controlada”.
De modo a compreender a génese de todas essas obras, a pri-
meira parte do estudo, como já referido na introdução, teve os
seguintes objectivos:
1. Situar as fontes de estudo, ou seja, os tratados, os manuais
e os diversos livros técnicos publicados entre 1750 e 1900
relacionados com a Construção de edifícios, no contexto
do conhecimento enciclopédico geral e do conhecimento
científico em particular.
2. Distinguir de forma selectiva as diversas categorias de obras
necessárias à identificação e classificação das técnicas de
construção de alvenarias.
3. Referir os momentos fundamentais da evolução científica
e tecnológica, em particular a afirmação das estruturas metá-
licas e em betão como sistemas construtivos independentes,
de modo a compreender a sua relação com o desapareci-
mento gradual do uso das alvenarias como sistema geral de
construção.
4. Fazer um levantamento sumário dos estudos recentes que
retomaram a leitura destas obras e contribuíram para o
renascimento do interesse pelo seu estudo.
21
Para atingir o primeiro objectivo era necessário compreender
de forma sintética:
• Os antecedentes escritos e a forma como os conhecimentos
da Construção foram sendo transmitidos aos principais pro-
tagonistas da realização de edifícios, desde a Antiguidade
até ao período do Iluminismo;
• Os contextos do Iluminismo e da Revolução Industrial, anali-
sando as motivações e os objectivos da publicação de todas
as obras estudadas.
À medida que se procurava atingir o primeiro objectivo, foram
definidas as chaves para a classificação selectiva da bibliografia.
A compreensão do contexto histórico em que os diversos tratados
de construção foram publicados revelou-se fundamental para a
avaliação da importância do conhecimento que eles transmitem.
Com os movimentos do Renascimento e do Iluminismo teve de
ser recordado o nascimento da Ciência das Construções conjun-
tamente com o estabelecimento e a evolução das ciências relaciona-
das, entre as quais a Mecânica, a Física, a Química, a Matemática,
a Arqueologia e a História da Arte. A análise das sobreposições,
variações e diferenças nas obras destinadas a engenheiros e arqui-
tectos permitiram uma melhor avaliação preliminar e foram funda-
mentais para a leitura propriamente dita do seu conteúdo.
Compreendendo o desenvolvimento das teorias dos ligantes
hidráulicos e da mecânica dos corpos elásticos, foi possível avaliar
o percurso da bibliografia especializada durante todo o século XIX
e compreender a perda gradual de interesse pelas alvenarias tradi-
cionais.
Finalmente, com a identificação dos interesses actuais pela
Conservação de edifícios, o estudo foi enquadrado nas diversas
direcções de investigação que usam actualmente estas obras como
fontes de estudo, atingindo-se assim o quarto objectivo da pri- 10. Periódicos especializados publicados nos séculos XVIII e
meira fase da pesquisa. XIX.
Ao longo da primeira fase do estudo, a bibliografia recolhi- 11. Bibliografia recente sobre História das Técnicas e Conserva-
da, apresentada no final do presente volume, foi classificada em ção de edifícios.
diversas categorias, definidas à medida que a análise avançava. 12. Normas, Regulamentos e Bibliografia de carácter geral.
As categorias definidas foram as seguintes2:
Toda esta resenha bibliográfica foi ordenada cronologicamente
1. Principais Tratados e Manuais de Arquitectura e Constru- por datas das primeiras edições, de modo a obter uma ideia da
ção Civil (impressos e anteriores a 1750). sequência temporal das diversas publicações, da sua influência e
2. Tratados, Manuais de Construção Militar e Civil: (séculos interdependência recíprocas.
XVII-XIX e antecedentes mais relevantes). Houve também a preocupação de indicar as diversas edições
3. Cursos e Resumos de lições de teoria geral e de prática das de cada um dos tratados, ordenado-as por línguas, avaliando o
construções (séculos XVIII-XIX e antecedentes mais impor- grau de difusão geográfica e a importância de uma determinada
tantes). obra na formação de várias gerações de engenheiros e arquitectos.
3.1 – Destinados a Academias e Escolas Civis. Para a resenha de obras foi também estabelecido um índice de
3.2 – Destinados a Academias e Escolas Militares. autores apresentado a seguir ao índice das diversas categorias bi-
4. Principais Tratados e Manuais de Arquitectura e Construção bliográficas.
Civil (publicados entre 1750 e 1900).
5. Manuais gerais de bolso e Prontuários de Construção dos
séculos XVIII e XIX.
6. Bibliografia selectiva publicada essencialmente nos séculos
XVIII e XIX.
6.1 – Geometria, Perspectiva e Desenho.
6.2 – Estereotomia.
6.3 – Mecânica das alvenarias e Resistência dos Materiais.
6.4 – Orçamentação, medições e regulamentos de cons-
trução.
6.5 – Fabricação de blocos, ligantes, inertes e argamassas.
6.6 – Métodos de execução da fundação de edifícios.
6.7 – Técnicas construtivas específicas das alvenarias de
tijolo.
6.8 – Acabamentos e revestimentos.
6.9 – Coberturas, humidade, salubridade e protecção às
águas.
6.10 – Manutenção e durabilidade das alvenarias.
7. Enciclopédias e dicionários de Arquitectura e Engenharia
(séculos XVIII-XIX e antecedentes mais importantes). N.B. – Neste primeiro capítulo dedicado à introdução geral à bibliografia, por
uma questão de simplicidade e de forma a não sobrecarregar o texto com demasia-
8. Bibliografia sobre a História da Arquitectura e das Técnicas
das notas de pé de página, não foram indicadas uma a uma as referências bibliográ-
Construtivas publicada nos séculos XVIII e XIX. ficas completas destes tratados, convidando-se o leitor a reportar-se à Bibliografia
9. Antigos manuscritos publicados pela primeira vez nos e ao Índice de Autores. No texto serão indicadas em itálico e em negrito, à medida
séculos XIX e XX. que vão sendo tratadas, cada uma das diversas categorias bibliográficas em análise.

22
 ANTECEDENTES DOS TRATADOS DO SÉCULO XVIII
A ANTIGUIDADE
Das antigas civilizações Assíria, Egípcia e Grega não sobreviveu
nenhuma obra a que se possa chamar propriamente um tratado
de construção. No entanto determinados textos, muitos deles não
especificamente dedicados à Arquitectura, escritos durante o pe-
ríodo Grego, influenciaram os autores Romanos e juntamente com
estes últimos foram citados frequentemente na tratadística estu-
dada dos séculos XVIII e XIX. Como será apresentado mais adiante,
a referência às práticas construtivas da Antiguidade constituirá a
base e o modelo ideal de que resultaram os processos “modernos”
de construção.
Estes textos clássicos chegaram até à época da invenção da
Imprensa através de cópias sucessivas executadas sobretudo por
monges ao longo de toda a Idade Média, a partir dos volumines3,
dos pergaminhos manuscritos4 Romanos e Gregos e dos codices
romanos5 que sobreviveram à queda do Império do Ocidente e à
censura da Igreja.
Durante todo o período da Antiguidade é lícito pensar que a
maior parte da tecnologia construtiva era
passada de geração em geração por tradi-
ção oral entre corporações de artífices na
aprendizagem prática em estaleiro.
Ao mesmo tempo, os textos produzi-
dos pelas primeiras civilizações que che-
garam até nós, revelam, de forma pontual,
as preocupações principais dos constru-
tores desses períodos remotos.
As primeiras referências escritas relati-
vas às práticas construtivas da Civilização
Egípcia foram feitas por alguns escritores
Romanos, preocupados com a simples
descrição de viagens, como é possível
constatar em algumas passagens da des-
Fig. 1.1 / Detalhe de um fresco de Pompeia (séc. I
a. C.) que representa uma jovem mulher lendo um
volumen.
23
crição do Egipto no décimo sétimo e último volume da obra Geo-
grafia 6 de Estrabão (autor que viveu entre c. 64/63 a. C. e 23 d. C.).
Outros textos, preocupados sobretudo com a transmissão do
conhecimento da Matemática, fornecem alguma informação sobre
as relações aritméticas e geométricas necessárias à composição e
à obtenção das proporções das fachadas e das plantas. É o caso da
obra Moralia7 atribuída a Plutarco (c. 45-119 d. C), dedicada a Ísis
e Osíris, onde é exposta a regra utilizada para definir um ângulo
recto, com a ajuda de um triângulo cujos lados estão na propor-
ção de 3, 4 e 5.
No que se refere às descrições do conhecimento técnico da
arquitectura Grega, também não chegou até nós nenhum verda-
deiro tratado de construção, embora tenham sobrevivido diversos
textos da Escola de Alexandria que têm a ver com o conhecimento
da Mecânica, da Geometria e da Matemática.
Determinadas passagens das Leis (Livros VIII e XII) de Platão8
(428-348 a. C.) e da Ciropedia9 (Livro VIII, 2) de Xenofonte (431-
-349 a. C.) reflectem o elevado grau de especialização das diversas
profissões envolvidas na construção dos Gregos e a forma como
os edifícios eram concebidos do ponto de vista funcional10. Os tra-
balhos de Euclides11 (c. 330-275 a. C.) permitem apreciar o conhe-
cimento básico das leis da Geometria.
Paralelamente, a descrição das primeiras máquinas simples
de elevação e a determinação dos centros de gravidade de figuras
planas, discutidas no tratado de Arquimedes dedicado aos equilí-
brios planos12, revelam a importância do transporte de grandes
blocos de pedra necessários aos edifícios públicos e religiosos da
Grécia Antiga.
O tratado de Mecânica13 de Heron de Alexandria (c.125 a. C.),
continuando os trabalhos sobre as Alavancas de Arquimedes, tenta
pela primeira vez, de modo aproximativo, resolver o problema de
um sistema de alavancas e o de uma viga contínua apoiada sobre
uma série de colunas14.
No entanto, e apesar das referências aos problemas da cons-
trução de edifícios dispersas nos textos gregos, o verdadeiro trata-
do de construção que sobreviveu completo até aos nossos dias
data do período do Império Romano.
O tratado De Architectura libri decem, escrito por Marcus
Vitruvius Polliom (em português Vitrúvio), arquitecto e engenheiro
do tempo de Júlio César (séc. I a. C.), não terá sido o único referido
na literatura Clássica Romana15, mas por ter sido o único que
sobreviveu à destruição constituiu mais tarde, a partir do Renasci- quentemente também escultor), conhecedor das leis da composi-
mento, a referência primordial de todos os futuros tratados de ção e das técnicas de execução.
Arquitectura e Construção. Esta universalidade do conhecimento necessária à construção
Esta obra, dividida em dez livros, apresenta pela primeira de uma imagem do Universo sob a forma de um edifício reflectiu-
vez de forma ordenada e sistemática, a Arquitectura em geral, as -se em outras obras desta época, principalmente as de carácter
regras urbanísticas do Império, a preparação e aplicação dos ma- enciclopédico e militar que não foram destruídas com o tempo.
teriais de construção, as ordens de composição arquitectónica, O primeiro trabalho enciclopédico de que se conhece o texto
as regras de disposição funcional dos espaços, os cuidados a ter foi escrito por Plínio (Gaius Plinius Secundus, 23-70 d. C). Denomi-
na execução de fundações, de paredes, muros e muralhas, para nou-se Naturalis Historiae e era composto por 38 livros dedicados
além de noções de pintura, de hidráulica, cosmografia, mecânica a temas tão variados como Astronomia, Meteorologia, Geografia,
civil e militar. Antropologia, Animais, Plantas, Medicina, Metais, Pigmentos,
Antes de mais, o tratado de Vitrúvio faz referência ao saber de Pintura, Escultura, Arquitectura, Materiais de construção e Pedras
construir alexandrino, embora o conhecimento que apresenta Preciosas. A “Arte de Construir”, em particular, é apresentada nos
corresponda à fusão do saber grego com o saber romano16. Consti- seguintes subcapítulos dos livros 34, 35 e 36:
tuem parte fundamental deste conhecimento as regras de concep-
ção das estruturas baseadas nas colunas e arquitraves, que consis- O trabalho do ferro (Livro XXXIV, 39-46, de ferrariis metallis)
tiam basicamente em regras de proporção ou métodos modulares. O trabalho do chumbo (Livro XXXIV, 47-56, de plumbi metallis)
Técnicas da pintura e (Livro XXXIV, 12-32, de pigmentis praeter
A dimensão do módulo era deduzida da dimensão média do raio preparação dos dife- metallica)
das colunas. O desenho das construções era obtido por meio de rentes pigmentos
relações numéricas entre cada parte da estrutura (coluna, capitel, Fabricação e utilização (Livro XXXV, 48, de parietibus formaceis;
fuste) e por meio de relações gráficas baseadas num sistema de de tijolos 49, de latericiis et laterum ratione)
Utilização do mármore (Livro XXXVI, 5, de quando primum marmo
triângulos. Estas regras incluíam, para além de um conhecimento nos edifícios rum in aedificiis usus)
estético, um conhecimento de resistência e estabilidade dos ma- Da construção em geral (Livro XXXVI, 51, genera structurae)
teriais que estava na posse do arquitecto-engenheiro (que era fre- Cisternas (Livro XXXVI, 52, de cisternis)
Cal (Livro XXXVI, 53, de calce)
Areia e areia com cal (Livro XXXVI, 54, harenae genera. mixtura
harenae et calcis)
Coberturas (Livro XXXVI, 55, vitia structurae. De tectoriis)
Colunas (Livro XXXVI, 56, de columnis. Genera
columnarum)
Argamassas (Livro XXXVI, 58, de maltha)
Estuques (Livro XXXVI, 59, de gypso)
Pavimentos (Livro XXXVI, 60-64, de pavimentis, subdia-
libus pavimentis)

Como referências bibliográficas Plínio refere um grande nú-

Fig. 1.2 / Maqueta representando um grande edifício romano de apartamentos em
Óstia Antiga.
mero de autores gregos entre os quais Metrodoro (Metrodoro qui
de architectonice scripsit) e de outros romanos entre os quais o
próprio Vitrúvio.
Para além da Enciclopédia de Plínio sobreviveu também um
tratado militar romano, intitulado De Re militari e atribuído a Vegé-
cio (Flavius Vegetius Renatus, c. 385-400). Este texto, para além
de fornecer preciosas informações sobre a organização das legiões

24
romanas, dedica-se também às exigências construtivas dos castros
ou fortalezas, principalmente nos livros 22 a 25:
XXII – In qualibus locis constituenda sint castra.
XXIII – Quali specie castra delinianda sint.
XXIIII – Quo genere munienda sint castra.
XXV – Quemadmodum munienda sint castra, cum hostis immineat.
Todas estas três obras baseadas nos seus antecedentes Gregos,
tiveram uma repercussão fundamental e determinante em todos os
textos que se lhes seguiram, e correspondem, grosso modo, aos gran-
des grupos da bibliografia referida no presente estudo. Na ver-
dade, até ao século XX foi sempre possível encontrar o saber da
Arte de Construir explicado de forma directa em obras especiali-
zadas, e de forma mais ou menos indirecta em obras gerais de
carácter enciclopédico e em obras dedicadas à arquitectura militar.
A IDADE MÉDIA
Com a queda do Império Romano do Ocidente, o conhecimento
da construção clássica até aí predominante sofreu influências di-
versas, entre as quais as que chegaram do Oriente por via das
trocas comerciais com Bizâncio. Com as invasões árabes do Sul
da Europa e depois com as Cruzadas, estes contactos, com a arte
de construir oriental e com o conhecimento matemático, intensifi-
caram-se.
A partir do século XI, a construção em pedra e tijolo foi reto-
mada para a construção de edifícios, destinados sobretudo à de-
fesa, como os castelos e outras residências privadas. Até essa época
e também depois da queda do Império Romano do Ocidente, a
maior parte das construções privadas na Europa era feita em ma-
deira, à excepção dos edifícios eclesiásticos17.
Com a supremacia da Igreja e com a afirmação do latim como
língua oficial, os scriptoria monásticos encarregaram-se de copiar
em pergaminho e traduzir do Grego, para além de textos litúrgicos,
diversas obras relacionadas com a Arquitectura escritas na Antigui-
dade Clássica e que tinham sobrevivido à destruição e às pilhagens
das grandes bibliotecas.
No final do século XII, com a criação das primeiras universida-
des, a actividade das corporações de pergaminheiros, copistas,
25
iluminadores e encadernadores sofreu um grande incremento,
juntamente com o sistema dito da pecia (peça ou caderno) que
consistia na execução a partir de um “exemplar”18 de várias cópias
menos elaboradas destinadas a um grupo de estudantes determi-
nado.
Com a consolidação do poder das abadias e do poder feudal, a
transmissão da arte de construir aos diversos protagonistas das
edificações foi determinada por esta nova ordem social. Muitos
dos superiores das grandes abadias eram eles próprios construtores
e arquitectos. A sua ânsia de dominar regiões de dimensão cada
vez maior, levou-os a desenvolver e a exportar formas de construir
normalizadas destinadas à criação de complexos monásticos filia-
dos na casa mãe.
Esta “regra de construir” era assegurada pelas ordens religio-
sas que tinham jurisdição sobre grandes territórios, sobressaindo
neste caso a escola alemã do Reno, a da ordem de Cluny, a escola
normanda e outras escolas francesas.
Em Portugal, salientaram-se no período gótico a escola dos
Beneditinos dos núcleos durienses e minhotos, a escola Cister-
ciense e a de Borgonha em Tarouca19. Como máximas realizações
de referir a grande abadia de Alcobaça segundo o modelo cister-
ciense de Borgonha e mais tarde o mosteiro da Batalha, com a
sala do capítulo realizada por Huguet20.
Apesar da criação de todas estas escolas e no que se refere a
tratados medievais de construção, não se tem conhecimento de
nenhum texto que verdadeiramente seja digno desse nome, embora
tenham começado a ser descobertas, no final do século XIX, em
particular em França e na Alemanha, algumas obras manuscritas
próximas desta designação, reservadas possivelmente a uma elite
restrita. Destas obras destacam-se os cadernos21 de Villard d’Honne-
court, escritos por volta de 1235, que se compõem essencialmente
de esboços de plantas e alçados e de alguns croquis de detalhe
destinados à escolha das formas finais de uma construção.
Mais tardio é o Manual das Justas medidas (Das Büchlein von der
fialen Gerechtigkeit) e o Geometria Alemã (Die Geometria Deutsch)
de Matthäus Roriczer22, mestre da Catedral de Ratisbona que data
de 1486, que constitui sobretudo um repositório de receitas reser-
vadas a “homens da arte”.
Associadas à Arquitectura desenvolveram-se diversas artes
decorativas, como a pintura, a douradura e os vitrais. Sobre estas
técnicas, sobreviveram alguns documentos, entre os quais três
manuscritos De diversis artibus – Das diversas artes (c.1150), im-
pressos também pela primeira vez no século XIX e atribuídos ao
presbítero alemão Theophilus ou ao ourives Roger von Helmar-
shausen23.
Para além dos poucos textos disponíveis e da sua divulgação
muito limitada, a transmissão do conhecimento era feita pela reali-
zação de um número restrito de construções exemplares que eram
executadas por arquitectos que se deslocavam a outros países e
deixavam nos edifícios que realizavam o cunho da sua escola. As
proporções, as dimensões e as soluções técnicas usadas por uns,
eram posteriormente copiadas, aperfeiçoadas e adaptadas por
outros, constituindo-se assim um dos mecanismos principais de
transmissão do conhecimento da arte construtiva.
Os métodos a adoptar no estaleiro consistiam em adaptar às
condições locais disponíveis métodos que tinham dado bons
resultados noutros sítios. Foram deste modo construídas abóba-
das com vãos cada vez mais significativos que muitas vezes atin-
giam o colapso. Quando se mantinham estáveis, para além de
significarem a consagração ou a confirmação do prestígio do mes-
tre construtor, passavam a servir de modelo que poderia ser
repetido, copiado, importado e adaptado por outros construtores
noutros locais.
Fig. 1.3 / Desenhos relativos à catedral de Reims apresentados no Carnet
de Villard d’Honnecourt.
Como os documentos escritos eram poucos e poucas eram as
representações em elevação dos edifícios a construir, era frequente
utilizar maquetas em madeira, gesso ou mesmo pedra para repre-
sentar tanto a totalidade como o detalhe mais importante de uma
construção. Os desenhos eram também raros porque o pergaminho
implicava um custo elevado. Conhecem-se no entanto represen-
tações de fachadas, plantas e cortes sobre pergaminho, como as
da Catedral de Estrasburgo, que datam de 1250-126024 ou das cate-
drais de Orvieto, Siena, ou Milão, do século XIV25. O projecto basea-
va-se nesses desenhos onde não eram indicadas normalmente
medidas ou escalas, o que permite supor que se destinassem a ser
copiadas e adaptadas às unidades de medida locais.
Outras vezes os desenhos sobre pergaminho constituíam so-
mente esboços ou serviam de aide-mémoire do arquitecto, como
no caso dos pergaminhos de Reims, estudados por Branner nos
anos 50 do século XX26.
A partir de uma representação em planta, o mestre constru-
tor deduzia, com auxílio do esquadro e do compasso, o desenho
da fachada. Ambas as representações baseavam-se em módulos
dimensionais pré-estabelecidos relacionados por proporções
aritméticas. Em construções importantes, a este método era asso-
ciada a composição de formas geométricas simples como o triân-
gulo ou o quadrado (ad quadra-
tum ou ad triangulum), que tinha
as suas origens nas Escolas de
Alexandria27.
A transmissão do conheci-
mento técnico medieval relevava
por todas essas razões de um se-
cretismo essencialmente verbal.
A formação de um aprendiz era
feita em diversos estaleiros após
um estágio no atelier de um mes-
tre28, que era regulamentado pelas
corporações de cada especialida-
de. Estas associações de profissio-
nais destinavam-se a manter a
solidariedade entre as classes
artesãs e contribuíram certa-
Fig. 1.4 / Plantas e alçados de um pináculo apre- mente para a uniformização e a
sentado no manual de Roriczer. melhoria de métodos e técnicas29.
26
 Para obras importantes, os desenhos, croquis ou maquetas eram
completados por outros elementos de detalhe referentes sobretudo
à estereotomia e entregues aos mestres canteiros. Os desenhos
destinados ao corte das pedras eram frequentemente realizados à
escala natural e executados sobre paramentos ou fachadas já rea-
lizadas, como é possível ainda observar em certas construções
islâmicas como a Arca Santa de Oviedo (séc. XI), em Espanha; em
construções românicas como as igrejas francesas de Notre Dame
em Beauvoir (séc. X-XI) e de Baumont de Pertuis (séc. X-XI) ou a
igreja italiana de Santa Maria in Ponte de Cerreto di Spoleto (séc.
XIII). Do período gótico referem-se as incisões de projecto e mon-
tagem encontradas no Reino Unido, na Abadia de Bylan (séc. XIII),
no St. John’s College em Cambridge (séc. XIII), na Igreja de Saint-
-Matthew de Roslin (séc. XII), na catedral de Winchester (séc. XIII);
em França nas catedrais de Bourges, Dommartin, Limoges, Reims,
Soissons e Estrasburgo (sécs. XII a XIV); em Espanha, na Catedral
de Sevilha (séc. XIV) 30.
Num menor número de casos, os desenhos de estaleiro e mon-
tagem eram executados em “salas do traço” propriamente ditas,
sobre materiais de fraca durabilidade como pastas de gesso apli-
cadas sobre os pavimentos sendo depois transpostos sobre os blo-
cos de rocha a talhar. Destas representações gráficas de execução
são conhecidos entre outros, os desenhos sobrepostos, datados
entre 1360 e 1500, elaborados sobre o estrato superior da arga-
massa do pavimento da “tracing house” da Catedral de York31.
Para a leitura deste subcapítulo consultar o Índice de Autores e as se-
guintes categorias indicadas no Índice da Bibliografia:
8. Bibliografia sobre a História da Arquitectura e das técnicas cons-
trutivas publicada nos séculos XVIII e XIX.
9. Antigos manuscritos publicados pela primeira vez nos séculos XIX
e XX.
11. Bibliografia recente sobre a História das Técnicas e Conservação
de edifícios.
O RENASCIMENTO. PRIMEIRAS EDIÇÕES DE VITRÚVIO
E PRIMEIROS TRATADOS IMPRESSOS
Até à época da publicação dos primeiros textos impressos, que
ocorreu por volta de 1454, era certamente muito reduzido o nú-
mero de arquitectos e engenheiros construtores que tinham acesso
27
a documentos que descrevessem as regras da arte. Com a invenção
da Imprensa o saber, que até então era passado de geração em
geração sobretudo pela tradição oral e pela aprendizagem prática
quotidiana, começou a ser explicado e exposto sob a forma de
livro de uma forma sistemática, destinando-se a uma difusão cada
vez mais alargada. Prova desta realidade é a profusão de livros e
tratados de arquitectura publicados a partir do fim do século XV,
destinados ao mesmo tempo a alimentar o interesse renascimental
pela Arquitectura.
No início do mesmo século em que surgiu a Imprensa, foram
executadas as primeiras obras arquitectónicas do Renascimento,
entre as quais os projectos em Florença, da Catedral em 1420 e da
fachada do Hospital dos Inocentes, em 1421. Este novo estilo de
Arquitectura e todo o pensamento filosófico que esteve na sua
base, associado à possibilidade de reproduzir textos e gravuras,
deu início a uma nova fase da transmissão do conhecimento da
Arte de Construir.
O Renascimento foi caracterizado por um interesse crescente
pelos exemplos da Arquitectura Antiga que tinham sobrevivido
ao tempo, às destruições e às adaptações ao culto cristão. Para
esta redescoberta da Construção da Antiguidade Clássica, consti-
tuíram fontes fundamentais as primeiras impressões de Vitrúvio,
de Plínio, de Vegécio, de Euclides e de Arquimedes.
Paralelamente às primeiras impressões de Vitrúvio em latim e
nas diversas línguas europeias, começaram a ser publicados di-
versos tratados escritos na sua maioria por importantes arquitec-
tos, dedicados à Arquitectura, à Perspectiva, ao Desenho e à Geo-
metria, à Estereotomia e à Mecânica.
No que se refere especificamente ao tratado de Vitrúvio, este foi
inicialmente conhecido sob a forma de cópia do manuscrito origi-
nal em latim, sendo do século IX a mais antiga cópia. “Redesco-
berto” pelo humanista Poggio Bracciolini no Mosteiro de St. Gal32,
foi impresso pela primeira vez ainda em latim, em Roma, em
148633. Seguiu-se a primeira reedição ilustrada por Fra Giocondo34
em 1511 e uma nova versão em italiano por Cesare Cesarini em 1521.
A primeira tradução em castelhano da autoria de Diego de Sa-
gredo foi publicada em Toledo em 1526, com o título Medidas del
Romano. Esta obra seria traduzida para francês e publicada em
Paris sob o título Raison d’Architecture antique, em 1542.
Em Portugal, a obra de Vitrúvio terá sido traduzida pela pri-
meira vez por Pedro Nunes, entre 1537 e 1541, para ensino na

Fig. 1.5 / Frontispício da obra de Vitrúvio por Daniele Barbaro (1556) e as cinco
ordens de colunas segundo Sebastiano Serlio (1569).
Escola Particular de Moços Fidalgos do Paço da Ribeira, criada
pela regente D. Catarina em 156235. No entanto, a primeira obra a
ser impressa sobre Vitrúvio no nosso país terá sido uma reedição
das Medidas del Romano, de Sagredo, editada em Lisboa por Luís
Rodrigues, com três edições entre 1541 e 154236.
Para além das impressões mais ou menos literais do texto ori-
ginal, a publicação dos Dez Livros de Arquitectura, constituiu mais
tarde um pretexto para a exposição de comentários pessoais por
parte de arquitectos experimentados como o italiano Daniele Bar-
baro. Seguiram-se arquitectos como Palladio com I quatro libri
dell’architettura (1570), e Scamozzi com L’idea dell’ architettura
universale (1615), que passaram a ilustrar os seus textos com dese-
nhos de edifícios por eles mesmo construídos, acompanhando-os
de complementos relativos à arte de bem construir, com noções
de perspectiva, economia, detalhes técnicos, topografia, medições
e estimativas. Foi surgindo assim, pouco a pouco, o conceito de
Manual Prático de Arquitectura.
Conjuntamente com as impressões do tratado de Vitrúvio, foi
iniciado o estudo dos monumentos romanos ainda existentes nessa
época. O espaço geográfico que corresponde actualmente à Itália
apresentava o maior número de vestígios bem conservados do
28
período romano. Estes vestígios começaram gradualmente a consti-
tuir o destino de quem quisesse estudar a Arquitectura, e a ilustrar
a maioria dos tratados produzidos a partir desta época. Por esta
razão, os monumentos da Roma Antiga passaram a constituir mo-
delos ideais da maneira de construir. Foi o caso da parte visível do
Fórum Romano, das ruínas do Coliseu, do Panteão, do que restava
da Domus Aurea de Nero, das ruínas do Septizonium (composto de
três níveis de ordem coríntia), dos templos da Paz de Vespasiano,
de Vénus, de Fauno, de Baco, da Deusa Tossa, de Apolo, dos arcos
comemorativos como os de Constantino e Septimio Severo, das
basílicas romanas de Constantino e do Batistério Lateranense37.
No caso português, antes da perda da independência, em 1580,
foram poucos os portugueses que se preocuparam em escrever
sobre a “Nova Arquitectura”. Deste pequeno grupo destacou-se
Francisco de Holanda que se deslocou a Roma e produziu os ma-
nuscritos Da Pintura Antigua, em 1548, Da fábrica que falece à
cidade de Lisboa, de 1571, e as Antigualhas d’Italia desenhadas
entre 1538 e 1541. Todas estas obras permaneceram manuscritas
e não tiveram, por isso, grande divulgação em Portugal38.
Neste período eram já poucos os edifícios que tinham conser-
vado intacto o seu interior, e por isso os arquitectos renascentistas
tinham diante de si um “puzzle” de certa maneira incompleto39.
Todos estes edifícios, construídos com colunas, apresentavam di-
versas ordens sobrepostas, ou seja, diversas proporções entre os
seus elementos. Por esta razão, os primeiros tratados gerais publi-
cados, como o De re aedificatoria (1485) de Leon Battista Alberti
e os Livros de Arquitectura (1537) de Sebastiano Serlio, incidiram
sobretudo no detalhe das fachadas, em particular nas proporções
das colunas, pedestais e entablamentos, nas dimensões de pilastras
e arquitraves, no perfilar de molduras e na composição de arca-
das, pórticos e frontões. A Serlio deve-se um dos primeiros textos
impressos sobre a reutilização de edifícios antigos, apresentado
no seu sétimo e último livro de Arquitectura.
Esta redescoberta da Arquitectura Antiga teve diversas conse-
quências na construção de edifícios, nomeadamente nos sistemas
estruturais utilizados e na sistematização da abertura de vãos, atra-
vés de regras que foram pela primeira vez estabelecidas de forma
impressa e difundidas assim a um público cada vez mais vasto.
No campo dos sistemas estruturais, é de referir a difusão do uso
de elementos arquitectónicos como a abóbada de berço, o arco
romano, a arquitrave grega horizontal entre duas colunas, as plan-
componente fundamental na formação dos arquitectos e engenhei-
ros militares portugueses, como é facilmente observável por aná-
lise dos títulos em depósito na Biblioteca do Exército e na Biblio-
teca Nacional de Lisboa.
Para a leitura deste subcapítulo consultar o Índice de Autores e as cate-
gorias indicadas no Índice da Bibliografia:
2. Tratados e Manuais de construção militar e civil (séculos XVII-XIX
e antecedentes mais relevantes).
3. Cursos e resumos de lições de teoria geral e de prática das constru-
ções (séculos XVIII e XIX e principais antecedentes).
3.2 – Destinados a Academias e Escolas Militares.
6. Bibliografia Selectiva publicada essencialmente nos séculos XVIII
e XX.
6.1 – Geometria, Perspectiva e Desenho.
Fig. 1.7 / Prancha intitulada Tenalha de hum Exagono do novo Systema de Mr. de
Vauban, do livro O Engenheiro Português, de Manuel de Azevedo Fortes, publicado
em Lisboa em 1729.
34
A TRATADÍSTICA ENTRE 1750 E O INÍCIO DO SÉCULO XX
AS OBRAS PUBLICADAS NO SÉCULO XVIII
O Iluminismo e a institucionalização do ensino da Ciência
das Construções
Depois da análise dos principais antecedentes, a avaliação geral
dos tratados publicados durante todo o século XVIII, que constituem
parte fundamental das fontes bibliográficas do presente estudo,
envolveu sublinhar os aspectos fundamentais do seu contexto filo-
sófico e cultural. Na verdade, os primeiros tratados de Arquitec-
tura Militar e Civil destinados à nova profissão da Engenharia
foram escritos numa nova era do conhecimento – o Iluminismo.
A este movimento associou-se uma revolução científica que alterou
profundamente a produção da literatura em geral e a produção da
literatura técnica de edifícios em particular.
Asssim, para obter uma visão geral da grande variedade de
obras relacionadas com a Construção produzidas durante os sécu-
los XVII e XVIII, foi, antes de mais, necessário recordar as princi-
pais influências do Iluminismo na definição das diversas ciências
e da ciência da Construção em particular. Seguiu-se depois uma
pequena pesquisa destinada a situar a criação das novas Acade-
mias, Escolas e Institutos que, directa ou indirectamente, tiveram
a ver com a administração do ensino da Construção Civil.
Compreendendo a forma como as diversas ciências foram estru-
turadas e ensinadas, os autores e as obras mais importantes (iden-
tificados durante a recolha bibliográfica) foram contextualizados
e analisados separadamente nos seguintes grupos principais:
• Tratados gerais de Arquitectura e Construção.
• Cursos e resumos de lições destinados a Escolas e Academias.
• Obras especializadas dedicadas às técnicas associadas à
concepção e dimensionamento de edifícios, à preparação
dos materiais, aos problemas práticos da sua execução e às
questões da durabilidade.
• Dicionários e Enciclopédias.
O Iluminismo consistiu numa transformação na forma de pen-
sar europeia e nomeadamente numa revolução dos valores relacio-
nados com o Conhecimento. Este movimento teve raízes alguns
séculos antes, no espírito dos alquimistas da Idade Média e nas
primeiras academias italianas do Renascimento, já referidas, pre-
ocupadas com o estudo dos fenómenos da Natureza. O verdadeiro
cientista seria aquele que fosse capaz de testar todas as hipóteses
e desafiar as opiniões estabelecidas, consciente de que o conheci-
mento está em constante evolução, sempre sujeito a aperfeiçoa-
mentos e jamais absoluto. Esta forma de pensar encontrou prede-
cessores nos textos dos franceses Descartes e Montaigne60 que
desenvolveram respectivamente as virtudes da dúvida sistemática
e uma visão mecanicista do mundo baseada na explicação da maio-
ria dos fenómenos naturais pela Matemática. O espírito da Razão
tentava, à imagem das matemáticas, valorizar o inteligível sobre o
sensível, construindo uma ciência geral e universal capaz de com-
preender e manipular todas as realidades61.
Com este novo sistema de valores, o conhecimento humano
organizou-se em diversas artes e ciências até então estudadas de
uma forma curiosa e não sistemática. As primeiras classificações
das diferentes formas do saber surgiram na tabela denominada
Encyclopédie ou la suite et liaison de tous les arts et sciences, de
Christophle de Savigny, composta em 1587 e reeditada em 1619,
na Encyclopaedia de Johann Heinrich Alsted publicada em 163062
e nos estudos do inglês Francis Bacon, De Augmento Scientiarium
e Novum Organum Scientiarium, publicados em Londres em
174063.
Esta divisão das várias ciências inspirou e serviu de estrutura
ao grande projecto da Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des
Sciences des Arts et des Métiers par une Société de gens de lettres.
Mis en ordre et publié par M. Diderot et quant à la partie mathéma-
tique par M. d’Alembert, publicada pela primeira vez entre 1751 e
1758, em 17 volumes, e objecto de diversas actualizações ao longo
de todo o século XIX.
A publicação da Encyclopédie teve a intenção de fundar racio-
nalmente cada um dos grandes domínios das Ciências Naturais,
constituindo ao mesmo tempo uma resposta editorial à obra Cyclo-
pædia or an Universal Dictionary of Arts and Sciences, de Ephraïm
Chambers publicada em Londres em 1728. Foi precedida em
França pelo Dictionnaire des Arts et des Sciences, de Corneille,
publicado entre 1694 e 1720; no campo específico da Arquitectura
pelo Cours d’architecture avec une ample explication par ordre
alphabétique de tous les termes, de d’Aviler, publicado entre 1691
35
e 1756, e ainda na re-
colha de desenhos e
pranchas efectuada
por Réaumur para a
Academia das Ciên-
cias de Paris, deno-
minada Description
et perfection des arts
et métiers.
Na “Árvore Enci-
clopédica” podiam
distinguir-se as gran-
Fig. 1.8 / Frontispício do primeiro volume da En-
des classes do conhe-
cyclopédie de Diderot e d’Alembert, primeira edição
cimento humano: a de 1751.
História, as Artes Li-
berais e Mecânicas e as Ciências Teóricas ou Filosofia. Nestas últi-
mas, destinadas ao estudo de assuntos ligados à Razão e ao Racio-
cínio, eram incluídas a Matemática e a Mecânica, consideradas
no grupo da Metafísica Geral. A Arquitectura era dividida em três
ramos: a Civil, a Militar e a Naval, e era classificada como o resul-
tado da Imaginação, muito próxima dos ramos da Poesia e da Mú-
sica.
Com a catalogação das diversas ciências estabelecida, o eclec-
tismo do Século das Luzes abriu caminho para a especialização e
o desenvolvimento autónomo dos vários domínios do conheci-
mento. Esta autonomia teve como consequência a criação a partir
do século XVII das diversas Academias europeias das Ciências,
com a publicação dos últimos resultados da investigação científica
dos seus membros. Surgiram assim os primeiros periódicos cientí-
ficos, dos quais se salientam as Philosophical Transactions da
“Royal Academy” de Londres, a partir de 1664, o Journal des
Fig. 1.9 / Detalhe esquemático da Table Analytique da Enciclopédia de Diderot et
d’Alembert extraído do Essai d’une distribution génèalogique des Sciences et des
Arts principaux, publicado em 1769.
Paz Branco, editado pelo LNEC, e alguns artigos esparsos como o
de Sílvia d’Affonseca, Constituição de antigas argamassas de cal,
apresentado ao “2.º Encore” realizado no LNEC em Lisboa, em 1994,
que refere algumas dosagens de Vitrúvio, Scamozzi, Milizia e Al-
berti, comparando-as com outras tradicionais de S. Salvador, no
Brasil.
Para além deste último artigo, que se baseia directamente em
algumas fontes antigas, salienta-se ainda a tese de doutoramento
Caracterização de argamassas tradicionais utilizadas nos reves-
timentos, de Abdias Gomes, apresentada no Instituto Superior
Técnico em 1998, dedicada sobretudo à análise do comportamento
de rebocos antigos.
Por último, a obra Diálogos de edificação, de Gabriela Teixeira
e Margarida Belém, publicada em 1998, indica na sua bibliografia
comentada alguns dos tratados e manuais portugueses antigos.
65
UMA VISÃO GLOBAL DO CONTEÚDO
DOS TRATADOS ESTUDADOS
Para o presente trabalho, todos estes estudos mais ou menos
recentes apresentavam-se potencialmente úteis para a Conserva-
ção de alvenarias de edifícios porque abordavam o problema das
alvenarias de um ponto de vista específico. Não permitiam, no
entanto, obter uma visão global da problemática ligada à constru-
ção, protecção e conservação das alvenarias tradicionais.
Como também tinha sido possível observar, o saber tradicional
está não só presente nos grandes tratados e manuais como em
outras obras especializadas. Por outro lado, a compreensão destas
construções só poderia ser feita de forma completa se associada a
diversos aspectos, entre os quais: uma completa relação entre tipo-
logias construtivas, os métodos de cálculo, a tecnologia dos mate-
riais, os processos de execução e os detalhes construtivos, todos
eles componentes indispensáveis a um processo de Conservação.
O valor da leitura especializada já existente, focada em um
único aspecto construtivo de um edifício antigo, necessitava ser
integrado no quadro geral da denominada Ciência das Constru-
ções em Alvenaria que tinha sido ensinada até ao início do século
XX, que tinha sido em parte interrompida e que se revelava neces-
sário redescobrir.
Por estas razões e uma vez identificada e recolhida a bibliografia
de uma forma sistemática e estruturada, passou-se à avaliação e à
análise do conteúdo desta Ciência das Construções no que se re-
fere às alvenarias e à sua Conservação.
Com este objectivo, foi realizada a análise preliminar do con-
teúdo dos diversos tratados e manuais de modo a poder compilar
as técnicas tradicionais de construção de alvenarias propriamente
ditas.
Esta fase foi iniciada com a análise de um necessariamente
limitado número de livros representativos da grande variedade
de títulos e autores. Escolheram-se à partida obras que tivessem
sido publicadas ao longo de todo o período de estudo (1750-1900),
escritas nas línguas estrangeiras conhecidas para além do por-
tuguês: o espanhol, o francês, o italiano, o inglês, e o alemão tra-
duzido em uma das línguas precedentes. Para leitura prioritária
reservaram-se num primeiro momento os títulos citados frequen-
temente quer na maior parte da bibliografia reunida, quer nas
resenhas mais exaustivas publicadas recentemente por Galli,
Ramazzotti e Guenzi, referidas anteriormente.
As regras e as técnicas de bem construir apresentavam-se orde-
nadas de forma muito variada, em diferentes hierarquias, sob a
forma de descrições genéricas, instruções, regras, leis, conselhos,
prescrições de execução, relatos de experiências e casos práticos.
A estrutura e a ordem pela qual os diversos assuntos eram abor-
dados variavam de tratado para tratado.
Impunha-se por isso como primeira prioridade, o estabeleci-
mento de critérios bem definidos para a sua análise e compilação
para que, numa fase mais adiantada, viesse a ser possível a sua
avaliação sistemática e a sua justificação.
O critério básico utilizado foi o de listar unicamente os títulos
dos capítulos que contivessem “regras de arte” e procedimentos
executivos que pudessem ser utilizados actualmente em obras de
conservação de edifícios antigos. As exigências actuais da activi-
dade de conservação são, na verdade, de natureza diversa, po-
dendo traduzir-se em acções com objectivos tão distintos como:
• a simples consolidação dos materiais;
• a demolição de adições que não permitem a leitura dos valo-
res originais;
• a reconstrução localizada das estruturas ou dos acabamen-
tos;
• a construção de uma nova estrutura no espaço envolvente
do edifício histórico;
• a simples manutenção periódica.
Em certos casos estas acções podem ou têm que ser aplicadas inde-
pendentemente, noutros casos são simultâneas ou complementares.
Paralelamente punha-se a questão de saber como é que um
conhecimento destinado a construir do nada, “de raiz”, podia ser
identificado, classificado e avaliado em relação à sua utilidade na
conservação de edifícios. Ou seja, como é que se poderiam estru-
turar e reutilizar “regras construtivas” como “regras conservativas”.
De forma a encontrar uma resposta, orientou-se o estudo do pro-
blema segundo duas vertentes:
1. Conhecer e identificar de forma sistemática e estruturada
os princípios e técnicas apresentados em um elevado
número de textos e figuras.
66
2. Classificar as regras e as técnicas tradicionais segundo uma
estrutura diversa daquela usada antigamente e expô-las de
forma nova, de modo a serem utilizadas nos nosso dias, na
conservação de edifícios.
A listagem comparativa dos índices de matérias de diversas
obras foi fundamental para estabelecer a estrutura de classifica-
ção e identificação dos diversos princípios e técnicas, conforme
se pode ver no Quadro 1.3.
Paralelamente, a estrutura de um tipo particular de livros, os
dedicados especificamente aos erros cometidos correntemente
pelos construtores tradicionais, contribuiu para a distinção dos
principais grupos de técnicas e fases construtivas de alvenarias.
O tratado de Teofilo Gallaccini, Trattato sopra gli errori degli archi-
tetti136, publicado em 1767, em Veneza, constitui disso um belís-
simo exemplo, reflectindo claramente a preocupação principal
dos construtores tradicionais, enquanto aos cuidados a ter
(Quadro 1.4):
• antes da construção;
• durante a construção;
• após a construção.
Associando à organização dos índices típicos das obras a ana-
lisar, as exigências próprias da actividade da conservação, foram
estabelecidos diversos “filtros” de modo a “isolar” de forma siste-
mática as regras de bem construir.
Estabeleceu-se assim que se deveria reter aquelas regras que
tivessem a ver com:
1 – A concepção das dimensões e da forma:
• de cada um dos blocos integrados num determinado ele-
mento estrutural;
• de cada elemento estrutural elementar;
• da relação dos diversos elementos na ossatura complexa
da alvenaria.
2 – O cálculo da espessura dos elementos principais como:
fundações, paredes, arcos e abóbadas.
3 – Os cuidados no fabrico, extracção e manipulação dos di-
versos materiais, de modo a optimizar a sua qualidade no
que se refere à:
 • sua resistência mecânica; 6 – Os cuidados na montagem e execução que permitissem
• seu comportamento em relação à absorção da água; um melhor comportamento mecânico, físico e químico dos
• sua capacidade de ligação e aderência a outros mate- materiais combinados e integrados em sistemas estruturais
riais; específicos.
• sua aparência estética (textura e cor). 7 – A durabilidade e resistência dos diversos materiais isolados
4 – O controlo de qualidade dos materiais antes da sua combi- e combinados, através do controlo dos processos de dete-
nação e a sua conservação, de modo a garantir as proprie- rioração mais comuns, a saber:
dades necessárias ao fabrico de alvenarias. • infiltrações de água;
5 – A dosagem e a mistura, de modo a assegurar uma boa com- • ascensão por capilaridade;
binação com outros materiais. • gelo e degelo;
• assentamentos do terreno de fundação;
• acções sísmicas.
Quadro 1.4 / Índice do tratado de Teofilo Gallaccini
Cada uma destas regras:
Trattato sopra gli errori degli architetti ora per la prima volta
pubblicato Venezia, MDCCLXVII
• reflecte-se no comportamento das estruturas em relação aos
factores de deterioração;
Parte Prima
Capitolo I Degli errori che si commettono avanti il fabbricare • constitui um conhecimento histórico-tecnológico do qual
Cap. III Elezione dei siti cada edifício é a imagem e o produto.
Cap. IV Scelta delle materie
Cap. V Mala elezione dei fabbricatori
Por estas razões as referidas regras são indispensáveis à Con-
Cap. VI Mala elezione del tempo
Cap. VII Mala disposizione del disegno, cattivo comparto servação de edifícios antigos.
Cap. VIII Provvedimento usato dagli autori Romani contro gli No entanto esta classificação necessitava também de ser adap-
errori delle fabbriche tada à linguagem técnica actual, compreensível por engenheiros
Parte Seconda e arquitectos, que se formaram no conhecimento da construção
Capitolo I Degli errori che occorrono nel fabbricare em betão e em aço.
Cap. II Fondamenti Analisou-se por isso a maneira como estão estruturados os
Cap. III Proporzione delle parti
regulamentos portugueses137 de:
Cap. IV Disposizione del compartimento
Cap. VI Abuso di alcuni ornamenti introdotti dagli Architetti
moderni • Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes;
Cap.VIII Degli errori che dagli Architetti si permettono mentre i • Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado.
ministri usano cattivo ammassamento e mala struttura di
mattoni e di pietra, facendo mala composizione di muraglie
e o regulamento europeu:
Parte Terza
Capitolo I Degli errori che si scoprono poiché è stato fabbricato • Eurocódigo 6 – Projecto de estruturas em alvenaria armada
Cap. II Errori nei coprimenti e não armada, também denominado Norma Experimental
Cap. III Poca e non diligente cura intorno alle fabbriche fatte
Europeia ENV 1996-1138.
Cap. IV Poca avvertenza nei condotti dell’acqua
Cap. V Cavamenti sotterranei vicini ai fondamenti
Cap. VI Tagliamento delle muraglie Constatou-se que estas normas estão estruturadas de forma
Cap. VII Degli errori che procedono delle nuove cariche sopra i semelhante aos grandes manuais e tratados de construção do fi-
muri vecchi
nal do século XIX. Enquanto o Regulamento de Betão se preocupa
Cap. VIII Degli errori che accadono nei restauramenti
com a concepção e o dimensionamento das estruturas no que se

68
refere a acções e critérios de verificação da segurança, o Regula-
mento de Segurança é dedicado:
• à verificação da segurança em relação aos estados limites
últimos de resistência em função de esforços actuantes e
esforços resistentes;
• às disposições gerais de preparação dos materiais;
• às disposições de projecto e disposições construtivas de ele-
mentos estruturais;
• à execução dos trabalhos e garantia de qualidade.
O Eurocódigo 6 está organizado em:
• Bases de cálculo
• Materiais
• Projecto e concepção
• Particulares construtivos estruturais
• Execução
• Manutenção e durabilidade
e faz a distinção entre princípios, regras de aplicação e proce-
dimento executivo139:
• Os princípios – compreendem afirmações e definições ge-
rais para as quais não há possibilidade de alternativa ou
requisitos e modelos analíticos para os quais não se permite
nenhuma alternativa, se não especificamente indicado.
• As regras de aplicação – são regras geralmente aceites que
seguem os princípios e que satisfazem os seus requisitos.
• Os processos construtivos – consistem nos modos como as
construções são executadas.
De forma a conciliar os métodos de “bem construir” actuais e
os métodos de “bem construir” tradicionais, e depois de uma
primeira análise da estrutura em que a informação era dada nos
tratados antigos, foi adoptada a seguinte grande divisão das regras
de arte:
A – Sistemas de concepção geométrica e dimensionamento de
edifícios. A resolução de coberturas de vãos e espaços
Þ que equivalem ao Regulamento de Acções e às dis-
posições construtivas e de projecto dos elementos estru-
turais.
69
B – Princípios e técnicas de preparação e composição de mate-
riais
Þ que correspondem às disposições gerais de prepa-
ração dos materiais e por outro lado à garantia de quali-
dade de conservação e recepção em estaleiro.
C – Princípios e técnicas de montagem de materiais e execu-
ção em obra
Þ que correspondem às exigências de execução dos tra-
balhos e à garantia de qualidade.
D – Detalhes construtivos de manutenção e protecção de pare-
des e coberturas
Þ que estão implícitos em todas as disposições regula-
mentares contemporâneas e correspondem principal-
mente à manutenção e à garantia da qualidade após a
execução.
Cada um destes grupos foi discutido em capítulos separados
(Capítulos II, III, IV e V). Esta primeira divisão permitiu a classifi-
cação sintética das diversas regras por grandes grupos compatí-
veis tanto com a maioria dos índices dos tratados e manuais, como
com a sua estrutura organizativa.
A fase de compilação que obedece a esta estrutura pré-defi-
nida, teve os seguintes objectivos:
• a apresentação sintética da grande quantidade de informa-
ção analisada, tendo em vista numa segunda fase do estudo,
estabelecer propostas para a utilização nos estaleiros con-
temporâneos das diversas regras antigas de bem construir;
• a utilização de um conhecimento estruturado, utilizando
uma linguagem acessível aos operadores contemporâneos,
de modo a responder às necessidades e objectivos dos pro-
cessos de Conservação.
De forma a avaliar a sua utilidade na conservação de edifícios,
cada uma das regras foram identificadas e listadas obedecendo à
seguinte ordem:
• O que é que os tratados dizem de novo em relação ao que se
conhece presentemente.
• Quais os princípios e os procedimentos executivos a reter e
qual a sua finalidade.
70
 II
A CONCEPÇÃO GEOMÉTRICA E O DIMENSIONAMENTO
DE EDIFÍCIOS EM ALVENARIA
Os primeiros princípios e técnicas analisados foram os relativos
à concepção dos elementos estruturais principais: os arcos, as
abóbadas, os pilares e colunas e as fundações.
Esses conhecimentos permitiam resolver os problemas funda-
mentais do projecto de edifícios em alvenaria. Resolver estes pro-
blemas significava, resumidamente, responder às seguintes ques-
tões básicas:
• Que forma geométrica utilizar para os elementos estruturais,
de modo a cobrir um espaço ou um vão?
• Como combinar os diversos blocos por forma a obter os perfis
geométricos desejados?
• Que dimensões dar às secções resistentes de cada elemento
estrutural, de modo a suportarem os pesos permanentes e a
resistirem o melhor possível às calamidades naturais?
O ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DOS GRANDES
SISTEMAS CONSTRUTIVOS TRADICIONAIS
Na análise feita procurou-se primeiro enquadrar historicamente
as soluções arquitectónicas e o desenvolvimento da concepção
das estruturas em alvenaria. As informações gerais das introdu-
ções e as explicações históricas de uma determinada técnica, dadas
pela maioria dos tratados gerais, não eram porém suficientes. Reve-
lou-se, por isso, fundamental o recurso a um conjunto de obras
que foram publicadas, na sua maior parte no final do século XIX,
nas quais se reflectia sobre as diversas formas de conceber estrutu-
ras em alvenaria para edifícios, ao longo da História. Neste campo
constituíram referência obrigatória os autores já referidos no capí-
71
tulo I a propósito das obras dedicadas à História da Arquitectura
e das Técnicas Construtivas1.
O edifício em alvenaria é uma estrutura tridimensional em
que a combinação dos vários elementos estruturais delimitadores
de um espaço serve à constituição de células que se associam
lateralmente ou se sobrepõem. Esta associação de células consti-
tui os complexos murais – os edifícios.
Estes vários aspectos foram sempre tidos em conta na concep-
ção de edifícios em alvenaria e nas soluções directamente relacio-
nadas com:
• a escolha do tipo de associação e de combinação dos blocos
rígidos e das argamassas, de forma a obter um determinado
elemento estrutural;
• a definição do tipo de combinação e de ligação dos diversos
elementos estruturais para obter estruturas capazes de cobrir
um ou vários espaços.
Estas formas de composição dos diferentes elementos estrutu-
rais que compunham uma célula, e por sua vez as formas de com-
posição das células entre si, eram condicionadas pelo conhecimento
tecnológico e pela cultura arquitectónica dos seus construtores.
TIPOLOGIAS DE COMBINAÇÕES DE BLOCOS E ARGAMASSAS
Na identificação dos sistemas construtivos seguiu-se a classifi-
cação das estruturas tradicionais segundo a sua constituição in-
terna ou “esqueleto” estabelecida por Milani2:
1. Estruturas com esqueleto anelástico ou rígido: obtidas
por blocos elementares em pedra (talhada ou mais ou
 menos irregular) ligados por argamassa, ou por tijolos e Portugal ou aos sistemas “ingabbiati” dos italianos. Sobre a sua
argamassa. utilização uma das primeiras referências existentes é a apresen-
2. Estruturas com esqueleto elástico: totalmente realizadas em tada, em 1751, na Encyclopédie de Diderot e d’Alembert, na parte
madeira ou em ferro; alvenarias armadas com madeira ou dedicada à Carpintaria. Nesta referência são apresentados os “últi-
com ferro; estruturas em betão armado. mos aperfeiçoamentos” do sistema e mostrados diversos alçados
com o esqueleto em madeira, comme on les faisait il ya environ
A distinção entre o primeiro e o segundo grupo é uma cons- 150 ans, et à la moderne.
tante nos tratados analisados. As alvenarias eram tratadas, regra
geral, num volume independente, frequentemente intitulado Cons-
trução em Pedra ou Alvenarias, enquanto que as construções em
madeira eram tratadas num outro volume denominado Constru-
ções em Madeira ou Carpintaria.
Paralelamente aos tratados gerais, surge, ao longo de todo o
período estudado, a publicação de obras específicas dedicadas à
construção em alvenaria de pedra ou tijolo e outras dedicadas
à arte da carpintaria. Esta distinção não era baseada somente no
diferente comportamento estrutural destes dois grupos de estrutu-
ras mas também na divisão de profissões e de actividades, entre
maçons e carpinteiros, entre a arte da alvenaria e a arte da carpin-
taria.
Os pontos de contacto destas duas artes, na construção de alve-
narias, eram porém vários, salientando-se:

• a construção de estruturas auxiliares e provisórias: andai-

mes e simples3 para arcos e abóbadas;
• a arte da Estereotomia que, como se verá mais adiante, era
tratada nas mesmas obras especializadas;
• a construção dos telhados e, por vezes a construção dos
pavimentos, tectos e paredes divisórias.
Obedecendo a esta divisão geral da Arte de Construir, as cons-
truções com esqueleto em madeira preenchido por alvenaria de
pedra irregular, eram apresentadas sempre nos volumes dedica-
dos à Carpintaria. Este tipo de construção já era usado pelos Roma-
nos como opus craticium4, em paredes divisórias rebocadas. Con-
sistia no enchimento de estruturas reticuladas em madeira por
alvenaria de pedra irregular, aligeirada com argamassa de pedaços
de cerâmica numa pasta de palha e argila.
Estes sistemas continuaram, depois do período Romano, a ser
utilizados durante a Idade Média, dando origem à construção em
“collombage” muito difundida em França, à chamada “gaiola” em
Fig. 2.1 / Sistemas “modernos” de gaiola propostos na Encyclopédie.
A estes sistemas com esqueleto em madeira estava associada a
construção antisísmica de edifícios. Milizia refere-se, em 1781,
às suas vantagens no capítulo do seu tratado Delle case per i tre-
muoti:
Per difendersi da’ tremuoti vogliono esser case di legno, ma in maniera
che ciascuno pezzo sia cosi ben connesso e incassato cogli altri, che
formino tutti insieme una sola massa. Non devesi questa massa
piantare o fondare in terra, ma posare soltanto sopra un pavimento di
pietre più grande della casa. L’altezza di questa casa non deve eccedere
la sua larghezza o la sua lunghezza, piuttosto sia un tantino minore.
In questa guisa per qualunque scossa il centro di gravità rimarrà sem-
pre dentro la sua base. Le scosse potranno farla tremare, ma non mai
rovesciare, né precipitare, come le case di muro: ella è una cassa.5

72
 Não é por isso de estranhar a utilização deste sistema na recons-
trução da baixa pombalina de Lisboa, alguns anos depois da sua
descrição detalhada na Encyclopédie, entre outras razões, porque:
• o sistema de gaiola se baseava num esqueleto de madeira
conceituado pela sua boa resistência aos sismos;
• o sistema em gaiola era na altura o sistema “mais moderno”
existente para esqueletos de madeira.
Retomando o grupo de estruturas com esqueleto anelástico ou
rígido, é possível afirmar que a sua subdivisão encontra origem, em
parte, na primeira classificação apresentada por Vitrúvio, citada
sempre de forma mais ou menos explícita em todos os tratados ana-
lisados. Esta divisão pode ser resumida em três tipologias principais:
da argamassa usada para os ligar. A forma e dimensões de
cada bloco são geralmente condicionadas pelo processo uti-
lizado para a extracção e para o talhe das pedras ou pelas
dimensões e tipo de tijolos. Os blocos chegam ao local de
construção sem serem individualizados e cada bloco pode
ser utilizado à priori em qualquer zona da alvenaria.
As alvenarias ordinárias distinguem-se em grandes gru-
pos, dependendo do modo como são posicionados cada um
dos blocos entre si.
No caso das alvenarias de tijolo, em que cada bloco tem
uma dimensão estandardizada e, de modo a garantir o mono-
litismo, a sua posição e ordem de assentamento, obedecem
a regras precisas e bem definidas: o “aparelho”. No caso de
uma alvenaria ordinária de pedras irregulares a disposição

a) Alvenarias de pedra talhada – nas quais os blocos de pedra

desempenham a parte resistente propriamente dita, depen-
dendo a sua forma e as suas dimensões da posição específica
que ocupam no resto da estrutura.
A esta tipologia correspondem as estruturas de sistema
trilítico6 e as estruturas de sistema abobadado. No primeiro
caso o esqueleto é constituído por colunas e arquitraves
(ordem arquitectónica arquitravada). No segundo caso o
esqueleto é constituído pela combinação de aduelas e juntas
radiais, em que cada aduela tem uma função resistente e
ocupa uma posição específica (ordem arquitectónica de arco
e abóbada)7.
b) Alvenarias ordinárias – usadas sobretudo no sistema de arco
e abóbada, são tradicionalmente apresentadas de uma forma
muito genérica, congregando diversos tipos de alvenarias:
• alvenarias de pedra irregular e argamassa – grosseira-
mente esboçadas ou em bruto, com blocos de dimensões
variadas;
• alvenarias de tijolo, ou de tijolo e pedra, misturados com
argamassa;
• alvenarias de concreção, obtidas por moldagem de betões
tradicionais.
Este grupo é caracterizado pela pouca relevância assu-
mida pela forma dos blocos antes de serem assentes em Fig. 2.2 / Alvenarias de pedra talhada e mistas usadas na Antiguidade Clássica,
obra e pela importante função de aderência e de resistência segundo Girolamo Masi.

73
 de cada pedra é escolhida para assegurar o melhor trava-
mento entre blocos, reduzindo o espaço entre eles.
Por fim, e no caso dos betões primitivos, formigões e alve-
narias cimentícias ou concrecionais, as dimensões dos blo-
cos são tão reduzidas que a forma de cada um deles não é
relevante. No entanto, e de modo a garantir a homogenei-
dade e a evitar a segregação dos inertes, são seguidas regras
simples tais como a disposição em camadas de uma espes-
sura limitada, seguida de apilonamento e compactação. Este
grande grupo de alvenarias nascido com o opus caementi-
tium e o opus lateritium dos romanos, como se verá mais
adiante em detalhe, nunca deixou de ser utilizado, pela sua
versatilidade e construção expedita, na construção dos
diversos elementos estruturais simples (fundações, paredes,
arcos e abóbadas).
c) Finalmente, uma terceira tipologia consiste nas alvenarias
constituídas por um núcleo resistente de alvenaria ordiná-
ria, revestido de pedra talhada, de tijolo ou de reboco. Em
certos casos, a pedra talhada ou os tijolos têm só funções
de revestimento e de decoração, enquanto que noutros, esses
elementos assumem funções resistentes na cobertura de
vãos e em detalhes construtivos vários.
Este último grupo de alvenarias teve o seu grande impulso
durante o Império Romano e deu origem ao sistema de cons-
trução reutilizado em Itália a partir do Renascimento e bas-
tante difundido em Portugal, Espanha e França.
A utilização de cada um destes tipos de alvenaria implicou, ao
longo dos séculos, o desenvolvimento de sistemas abobadados
específicos para a cobertura de vãos e espaços.
SISTEMAS DE TRANSMISSÃO DE CARGAS
NA COBERTURA DE VÃOS E DE ESPAÇOS
A pedra talhada
A construção em pedra de talha, largamente utilizada na Anti-
guidade pelos Egípcios, Persas, Gregos e Romanos, utilizou como
sistemas construtivos principais:
74
• o sistema trilítico;
• o sistema de arcos e abóbadas.
No primeiro caso, o esqueleto é constituído por arquitraves
que vencem os vãos principais, apoiando-se sobre paredes, pilas-
tras ou colunas. Estas descarregam por sua vez sobre maciços de
fundação, denominados “plateias”. Sobre as arquitraves são geral-
mente colocadas lastras de pedra de modo a cobrirem os diversos
espaços ou divisões de um edifício. Este sistema está na base das
ordens arquitectónicas denominadas arquitravadas.
No segundo caso, o esqueleto é constituído pela combinação
de blocos denominados “aduelas”, dispostos radialmente em estru-
turas denominadas arcos ou abóbadas. Cada aduela é indispensá-
vel à estabilidade da estrutura, ocupando uma posição específica
que é função da sua forma.
Os sistemas abobadados caracterizam-se por conduzir as cargas
a zonas singulares da estrutura complexa. As abóbadas, destinadas
a cobrir os espaços e a suportar pavimentos, podem descarregar o
seu peso sobre arcos ou directamente sobre as paredes.
Os arcos por sua vez podem ter como apoio colunas, pilastras
ou paredes. As pilastras, colunas e paredes apoiam-se sobre maci-
ços de fundação.
O sistema arquitravado foi utilizado essencialmente por Egíp-
cios e Gregos, obedecendo a determinadas proporções entre fuste,
pedestal e entablamento de colunas, de pilastras, de arquitraves e
de cornijas. Essas relações geométricas e aritméticas eram tradu-
zidas por construções gráficas, destinadas a obter simetrias, efeitos
de repetição e ilusões ópticas8.
Este sistema teria a sua origem na arquitectura de madeira.
Segundo Vitrúvio, na Grécia, a construção dos primeiros templos
teria sido inicialmente executada com troncos, vigas e tábuas de
madeira, sobre um podium de pedra, servindo o frontão para intro-
duzir a luz na construção. O tronco teria dado lugar à coluna, as
vigas teriam sido substituídas pelas arquitraves e as tábuas entre
vigas, imitadas com lajes de pedra. Em certos casos, as próprias
telhas de cobertura e de decoração em argila teriam passado a ser
executadas em pedra.
Esta “petrificação” das construções teria ocorrido a partir do
século VII a. C, segundo Choisy, e corresponderia a uma etapa
inicial na execução do talhe da pedra, acompanhada por um aper-
feiçoamento dos utensílios metálicos de corte.
 A CONCEPÇÃO DOS ELEMENTOS
ESTRUTURAIS PRINCIPAIS
Neste subcapítulo abordam-se as regras de concepção propria-
mente ditas, dos elementos estruturais principais: arcos, abóbadas,
paredes, colunas e pilastras, elementos salientes e em consola e
finalmente fundações.
As abóbadas ocupavam geralmente a maior superfície em
planta e eram posicionadas superiormente a arcos, a paredes, a
colunas e pilastras sobre os quais descarregavam o seu peso
próprio e eventuais sobrecargas de utilização. Os arcos, se repre-
sentados em planta, não eram geralmente mais largos que a espes-
sura das paredes portantes.
As abóbadas eram concebidas de modo a:
• cobrir um determinado espaço e definir um determinado
volume de um edifício;
• a resistir às cargas e sobrecargas de um pavimento instalado
sobre o seu extradorso;
• transmitir as sobrecargas e o seu peso próprio aos arcos ou
directamente aos pés-direitos;
• apresentar um intradorso com um aspecto estético determi-
nado.
Um arco era concebido de modo a:
• vencer o vão entre os apoios;
• resistir às cargas descarregadas sobre o seu extradorso (por
exemplo parte do peso de uma abóbada ou de um pavimento
de madeira);
• transmitir aos pés-direitos as sobrecargas e o seu peso pró-
prio;
• limitar o movimento dos pés-direitos que suportavam as
abóbadas, quando a estrutura estivesse sujeita a acções hori-
zontais.
Para facilidade de exposição, dividiram-se estas regras de con-
cepção em três grandes categorias:
• Princípios e regras do Desenho.
• Princípios e Regras de Estereotomia e de Aparelho.
80
ARCOS E ABÓBADAS
A compreensão dos princípios e regras de concepção de arcos
e abóbadas exige conhecer em primeiro lugar a variedade dos perfis
descritos nas diversas obras, que obedeciam a leis precisas classi-
ficadas de Leis do Desenho.
Para este fim importa distinguir as obras que descrevem as
regras do aparelho da pedra talhada, das obras relativas à constru-
ção com tijolos. Essas regras foram classificadas em “Leis da Este-
reotomia para a pedra talhada” e em “Regras de aparelho de alvena-
rias ordinárias”, embora em geral as leis da Estereotomia para a
pedra talhada constituíssem a base e o “modelo” para a concepção
de qualquer arco ou abóbada.
Para a compreensão das regras de concepção de arcos e abóba-
das com alvenarias de tijolo, revelaram-se suficientes os tratados
genéricos de Rondelet, Breymann e Formenti, complementados
com obras especializadas, como a Description des appareils de
maçonnerie les plus remarquables employés dans la construction
en brique (1865) de Gautry ou as Observaciones sobre la pratica del
arte de edificar por el arquitecto (1841) do espanhol Manuel Fornés
Gurrea, relativas às abóbadas de tijolo. Para as abóbadas de tijolo
ao chato foi fundamental a consulta da obra de Félix François
d’Espie (1754) e do manual de Claudel e Laroque. Para as aboba-
dilhas à alentejana foi muito importante o artigo de João Maria
d’Aguiar publicado em 1891 na Revista de Engenharia Militar29.
Para arcos e abóbadas em pedra talhada, as obras indispensá-
veis foram sem dúvida os tratados de Estereotomia de Frézier, La
théorie et la pratique de la coupe des pierres et des bois pour la
construction des voûte (1737-39); de Leroy, Traité de stéreotomie
(1845); e de Toussaint, Nouveau manuel complet de la coupe des
pierres (1845)30.
A Estereotomia preocupava-se com o estudo do corte a dar a
um volume sólido qualquer, de modo a obter um volume com
uma forma geométrica definida. Baseava-se na representação num
plano, de superfícies cilíndricas, esféricas, elípticas, cónicas,
ovóides, tóricas e helicoidais de modo a definir a forma de um
arco ou de uma abóbada.
Para além da definição geométrica de toda a estrutura em pe-
dra procurava resolver o problema da sua divisão em blocos e os
problemas práticos de execução. Nestes tratados, a informação
útil pôde ser dividida em três componentes principais:
 1. As regras relativas à construção geométrica dos perfis dos
arcos e abóbadas.
2. As regras relativas à determinação do número, ordem e
forma dos blocos, destinados a uma geometria particular
dos arcos e abóbadas.
3. As regras relativas à execução prática do corte a partir de
moldes, cérceas e escantilhões aplicados sucessivamente a
cada uma das faces do bloco a talhar31.
Os dois primeiros grupos de regras eram do conhecimento de
um número restrito de arquitectos, de mestres e de aparelhadores
e tinham dois objectivos principais:
• A concepção e definição da solução arquitectónica e estru-
tural.
• A elaboração e produção dos moldes ou cérceas, escantilhões
e sutas.
Todos os esforços desenvolvidos na fase de definição estereotó-
mica traduziam-se finalmente em desenhos de execução em tama-
nho natural que eram depois aplicados pelos canteiros para o corte
dos diversos blocos. O conhecimento dos executantes limitava-se
geralmente à terceira e última categoria de regras. Não é por isso
de estranhar a auréola de mistério e segredo com que arte da can-
taria esteve e está ainda hoje envolvida. A definição estereotómica
era desempenhada por uma categoria de profissionais distinta
daquela à qual era entregue a execução do corte propriamente
dito. Cada uma das operações era realizada muito provavelmente
em momentos e locais específicos e diversos, de modo a não deixar
revelar o “segredo” do processo total. Do canteiro-aparelhador, a
Enciclopédia fornece uma definição detalhada:
Appareilleur, s. m. (Architecture) est le principal ouvrier chargé de
l’appareil des pierres pour la construction d’un bâtiment; c’est lui qui
trace les épures par panneaux ou par écarissement, qui préside à la
pose, au raccordement, &c. Il serait nécessaire que ces sortes d’ouvriers
sûssent dessiner l’Architecture, cette science leur apprendrait l’art de
profiler, & de former des courbes élégantes, gracieuses, & sans jarrets;
il serait aussi très important qu’ils fûssent mathématiciens, afin de
pouvoir se rendre compte de la poussée des voûtes, du poids, de la
charge & du fruit qu’il convient de donner au mur, selon la diversité
des occasions qu’ils ont d’être employés dans les bâtimens; mais la
81
plûpart de ceux qui se donnent pour tels, n’ont que le métier de leur
art, malgré les cours publics qui leur sont offerts à Paris pour
s’instruire.32
Todas estas regras estavam intimamente relacionadas entre si
e implicavam posteriormente processos específicos de montagem
dos blocos, que serão apresentadas no quarto capítulo.
A Arte do Desenho
O estudo geométrico dos arcos e abóbadas esteve sempre liga-
do ao conhecimento da Estereotomia. Saber desenhar o perfil de
um arco ou abóbada significava saber “traçar”.
Esta “Arte do traço” nasce da fusão de diversas técnicas que
até ao século XVIII eram ensinadas de forma autónoma. Frézier
divide ainda o seu tratado em quatro partes relativas a técnicas de
representação distintas33:
• A Tomorfia – representação das curvas obtidas pela inter-
secção de sólidos côncavos ou convexos com superfícies
planas ou curvas.
• A Tomografia – representação das linhas curvas sobre super-
fícies planas ou curvas.
• A Iconografia – representação da projecção de um sólido
sobre um plano horizontal e a Ortografia – projecção do
mesmo sólido sobre um plano vertical.
• A Tomotécnia ou “Arte da talha” – a produção de moldes e
medidas de ângulos e a sua aplicação a blocos em bruto,
normalmente paralelepipédicos, de modo a talhá-los e redu-
zi-los às formas pretendidas.
Para poder representar as superfícies, cortes e perfis dos arcos
e abóbadas (procedimento que passou a ser feito sistematicamente
em planta e alçado a partir do tratado de Frézier) começava-se
pelo estudo das figuras geométricas resultantes:
• das intersecções de cilindros, cones e esferas por planos;
• das intersecções de duas esferas, de dois cones, de dois cilin-
dros, de um cilindro com um cone, de um cilindro com uma
esfera, de uma esfera com um cone.
 Passava-se depois ao traçado de curvas sobre uma superfície
plana (arco de circunferência conhecido ou não o centro, elipse,
parábola, hipérbole, espiral), sobre superfícies convexas ou côn-
cavas (representação do círculo ou da elipse sobre uma esfera,
um cone ou um cilindro) e ao desenho de poliedros e figuras espa-
ciais, em particular os anéis circulares ou elípticos e os volumes
de revolução baseados em ciclóides e elipses.
Após a descrição geral de curvas, superfícies e volumes, estu-
dava-se a construção geométrica dos arcos e das abóbadas. Estas
últimas podiam ser:
• Simples – abóbadas planas horizontais ou inclinadas, cilín-
dricas ou de berço elevadas ou rebaixadas, cónicas ou trom-
pas, esféricas, esferóides elevadas ou rebaixadas, anulares,
helicoidais.
• Compostas – abóbadas obtidas pela composição de superfí-
cies cónicas com superfícies cilíndricas ou obtidas a partir
de superfícies anulares e conóidais.
As abóbadas compostas constituíam o grupo de construção
geométrica mais complexa.
Para além da construção geométrica das abóbadas singulares,
estudavam-se também as composições obtidas pelas suas inter-
secções:
• de cilíndricas com cónicas;
• de cilíndricas com esféricas;
• entre cilíndricas, entre cónicas e entre esféricas;
• de cónicas com esféricas;
• de cilíndricas, cónicas e esféricas com anulares;
• de helicoidais com esferóides e cilíndricas.
No entanto, todo este conhecimento teórico da geometria não
bastava para a definição na prática de um determinado perfil de
um arco ou abóbada. Para esta definição contribuíam outras regras
que se destinavam a tipos de alvenaria específicos, a determinadas
limitações funcionais dos edifícios, a soluções estruturais preci-
sas ou que resultavam de uma prática empírica que se ia transmi-
tindo ao longo das diversas gerações.
82
A definição do perfil dos arcos
A escolha da forma de um arco dependia, para além do gosto
estético do período em que a construção era executada:
• da função a que se destinava;
• da dimensão do vão a vencer e da secção dos pés-direitos;
• do volume de alvenaria e das cargas que eram descarregadas
sobre o seu extradorso;
• do tipo de alvenaria utilizado;
• da mão-de-obra disponível e da dificuldade no corte dos
blocos.
Os perfis mais comuns eram traçados a partir de construções
geométricas baseadas em arcos de círculo. Tomando a relação entre
o vão “v” e a flecha “f ” era comum a seguinte classificação:
v
=2 para arcos de volta inteira ou volta perfeita;
f
v
5> >2 para arcos abatidos;
f
v
1 <
3 <2 para arcos elevados34.
f
Sempre que o arco de círculo fosse superior a 180º, o arco era
denominado ultrapassado ou em ferradura.
Os arcos abatidos, também denominados de sarapanel, podiam
ser obtidos a partir de um segmento de arco de volta perfeita e
denominavam-se arcos abaulados. Eram também correntes os
arcos abatidos semi-elípticos, semi-ovais ou em asa de cesto ou
ansa. Os arcos em asa de cesto eram traçados a partir de um nú-
mero ímpar de arcos de círculo (com 3, 5, 7, 9 ou 11 centros)
unidos tangencialmente e denominados segundo o número de
centros. No caso por exemplo de 3 centros eram chamados arcos
v
de escarção. Estes arcos eram utilizados para relações 2< f <3.
Os arcos elevados mais comuns em Portugal e Itália eram em
geral quebrados no fecho, também denominados pontiagudos ou
de ponto, constituídos por dois arcos de círculo que se intersecta-
vam no fecho. Os centros dos arcos de círculo podiam encontrar-
-se a um nível superior ao da imposta. Neste caso chamavam-se
lanceolados ou em forma de lança.
Fig. 2.10 / Traçado de abóbadas em leque. À direita exemplo de pendural.

Fig. 2.11 / Construção geométrica de uma abóbada ogival de liernes e terciarões.

Para as abóbadas, ambos os grupos de regras eram indispensá-

veis, pois estavam intimamente ligados e dependentes uns dos
outros. No que se refere aos arcos, a divisão em blocos era sobre-
tudo determinada pelo segundo grupo.
Nas obras estudadas identificaram-se quatro grandes tipos de
aparelho para as fiadas das abóbadas em pedra talhada:

• O aparelho por anéis adjacentes – com as fiadas dispostas

em arco e adjacentes umas às outras, perpendiculares ao
eixo principal da abóbada48.
• O aparelho por fiadas longitudinais ou por bancadas49 – em
que as juntas dos leitos dos blocos são paralelas à linha de
fileira ou fecho.
• O aparelho por travessões ou barrotins50 – com as fiadas
dispostas obliquamente em relação aos eixos principais das
abóbadas, reunindo-se duas a duas, em V, sobre as linhas
de fileira.
• O aparelho em “panache”51 – usado em abóbadas cónicas,
com fiadas segundo o eixo de revolução, de altura decres-
cente e convergente à medida que se aproximava do vértice.
O aparelho por anéis adjacentes corresponderia ao aparelho
usado pelos Romanos nas abóbadas de berço52, sendo aconselha-
do sobretudo para as abóbadas cilíndricas ou de canhão.
O aparelho por fiadas longitudinais ou bancadas era recomen-
dado para as abóbadas cilíndricas, de canhão, de barrete de clérigo,
para os quartos das abóbadas de aresta e de ogiva, para os compar-
timentos das abóbadas de painéis independentes sobre nervuras
e para as abóbadas de pendentes53. O aparelho por travessões era
sobretudo utilizado para a realização dos quartos das abóbadas
de aresta e para o preenchimento dos compartimentos das abóba-

87
 III
A PREPARAÇÃO E A COMPOSIÇÃO DE MATERIAIS
Neste capítulo abordam-se os processos operativos de pre-
paração dos materiais singulares utilizados na fabricação de alve-
narias, descritos na bibliografia recolhida. Para este efeito foram
revistos os cuidados na:
• Preparação dos blocos elementares:
– Extracção e trabalho da pedra antes da colocação;
– Fabricação de blocos cerâmicos;
• Escolha dos materiais ligantes e dos agregados destinados
às argamassas;
• Preparação da argamassa como material compósito de liga-
ção dos blocos elementares;
• Preparação da argamassa como material básico dos betões.
Presentemente, os fenómenos envolvidos nestes processos são
explicáveis do ponto de vista da Física, da Química e da Minera-
logia. No entanto, em tempos passados, a sua apresentação era
feita à luz dos conhecimentos científicos da época, correspon-
dendo à evolução e aprofundamento das diversas ciências.
A citação e a análise de grande parte das recomendações recolhi-
das foram por isso devidamente contextualizadas no estado do
conhecimento científico do período em que foram escritas. A utili-
zação destas referências justifica-se, ao longo do texto que se segue,
porque:
• se trata de recomendações mencionadas frequentemente,
mesmo em épocas e regiões geográficas distintas;
• revelam o aperfeiçoamento e ou a confirmação de práticas
ancestrais;
• mesmo que não apresentadas com base científica, encon-
tram a sua confirmação e reforço à luz dos conhecimentos
actuais.
157
A compreensão destes princípios e procedimentos executivos
requereu, como a Ciência de Conservação de edifícios o exige,
uma abordagem combinada do ponto de vista da Mecânica, da
Matemática, da História, da Física, da Química, da Petrografia e
da Mineralogia.
A PREPARAÇÃO DOS BLOCOS ELEMENTARES
Hoje em dia, a produção industrial de tijolos é objecto de nor-
mativas nacionais e de normativas experimentais europeias relati-
vas aos testes de recepção e de controlo da qualidade. Em Portugal,
está disponível a norma NP 80 – Tijolos para alvenaria. Caracte-
rísticas e ensaios, de 1964, e foi recentemente publicada a pré-
-norma europeia EN 771-1 para a produção controlada de elementos
resistentes em cerâmica. Brevemente será publicada a EN 771-2
para a produção controlada de elementos resistentes em pedra
natural1. Contudo, para a conservação de edifícios antigos em alve-
naria realizados com materiais que não obedeciam aos mesmos
critérios de controlo de qualidade de hoje, ao conhecimento das
presentes prescrições normativas, deve ser associado o das varian-
tes e limitações das antigas produções.
Nos diversos tratados gerais estudados, a informação relativa
ao corte das pedras era normalmente incluída nos capítulos dedi-
cados aos materiais de construção. Trata-se normalmente de infor-
mação relativa aos tipos mais comuns de pedra existentes na região
ou país conhecidos pelos autores dos tratados, aos diversos modos
de extracção, de transporte e de acabamento das suas superfícies.
A componente da informação relativa à extracção e ao trans-
porte revelou-se de utilização limitada para os objectivos do
presente estudo. Pelo contrário, as diversas formas de trabalho
das superfícies dos blocos descritas nestas obras permitiram iden-
tificar os instrumentos utilizados nos paramentos, nas juntas e
nos leitos, e compreender a sua finalidade em cada uma das fases
de acabamento.
É também possível constatar que as obras dedicadas exclusiva-
mente aos materiais de construção, sobretudo a partir da segunda
metade do século XIX, preocupavam-se nomeadamente com a ex-
plicação dos últimos conhecimentos (para a época) relativos à
classificação das pedras.
O nível de informação indicado, no que se refere à escolha da
qualidade das pedras, reflectia em geral a evolução do conheci-
mento no campo da Química e da Mineralogia, mas pouco ou
nada era dito sobre a prática quotidiana nos estaleiros ocupados
com a preparação dos blocos. Por estas razões foram os tratados
de Estereotomia uma vez mais, como para as técnicas de concep-
ção, a constituir as fontes bibliográficas mais úteis à investigação.
No que se refere ao conhecimento dos processos de fabricação
tradicionais de tijolos revelou-se muito útil o artigo da Enciclopé-
dia de Diderot e d’Alembert dedicado à palavra “brique”, assim
como o artigo de Pareto e Sacheri da Enciclopedia delle arti e indus-
trie (1878-1898). Foram depois consultadas obras especializadas2
como o Manual de Tecnologia do alemão Von Poppe, na sua versão
italiana de 1821, e as descrições detalhadas dedicadas à manu-
factura de tijolos nos tratados de Rondelet, Valadier, Milizia e
DeCesare, de Musso e Copperi e de Formenti.
BLOCOS DE PEDRA
Os cuidados tidos na extracção e a importância da primeira triagem
Nos casos de construções simples ou de pouca importância,
as pedras a utilizar na construção de muros eram geralmente obti-
das por simples recolha nas zonas fluviais (calhaus rolados, seixos)
ou encontradas à superfície dos solos de forma errática.
As “cavas” de pedreiras, por sua vez, foram exploradas tradi-
cionalmente com processos manuais muito simples, executados
pelos “cavouqueiros”, sendo as dimensões máximas dos blocos
trabalhados limitadas pelo tipo de pedra e pelos meios disponíveis
para a sua extracção.
158
A vulgarização da mecanização nesta fase ocorreu só no final
do século XIX, com a introdução de perfuradoras, primeiro a vapor
(a partir de 1860) e depois pneumáticas (a partir de 1890). Sensi-
velmente neste período, apareceram também as serras sem fim
(ou fios torcidos em hélice), que começaram por permitir um
avanço de corte de 10 cm por hora para os calcários mais duros3.
Em Portugal, os métodos tradicionais utilizados até ao final do
século XIX, consistiam no desmonte por entalhes, introduzindo
cunhas de madeira, palmetas de ferro, ou alavancas. As cunhas
de madeira eram banhadas de modo a dilatarem e fissurarem a
pedra envolvente. As picotas de ferro eram manobradas indivi-
dualmente ou batidas alternadamente com duas marretas e segu-
radas por uma terceira pessoa4. Outro método corrente era o deno-
minado “por arranque” e consistia na abertura de galerias debaixo
da zona a desmontar, de modo a provocar o abatimento do tecto
de escavação.
As serras eram utilizadas só numa fase posterior, para cortar
blocos mais pequenos prontos para serem talhados com dimensões
precisas. No caso de blocos em bruto de pequenas dimensões,
utilizou-se com frequência a pólvora a partir do século XVII e a
dinamite já no final do século XIX.
O aceno superficial aos antigos métodos de extracção, de pouca
aplicação actualmente, serve sobretudo para recordar a morosida-
de, o custo económico e as limitações físicas, que todo o processo
de extracção tradicional dos blocos de pedra, implicava. Na ver-
dade, a escolha das pedras utilizadas nos edifícios que chegaram
até nós dependia:
• do método de extracção e do seu custo;
• da facilidade e custo do transporte;
• da facilidade de laboração e do custo da mão-de-obra.
Independentemente de se desejarem blocos irregulares ou ta-
lhados, era fundamental a primeira escolha feita logo na pedreira.
O leito era primeiramente analisado, seguindo-se o primeiro des-
baste grosseiro. Consideravam-se as pedras da bancada mais super-
ficial as mais resistentes, se intactas, pois teriam sido directamente
sujeitas às intempéries. Se defeituosas, eram rejeitadas e explora-
das as bancadas subjacentes.
As pedras eram inicialmente classificadas em função da facili-
dade com que poderiam ser trabalhadas, em:
 • duras ou compactas (certos calcários, granitos, ardósias);
• macias ou brandas (calcários, grés, arenitos).
À maior dureza e compacidade estava associada uma maior
durabilidade às acções da água sob a forma de escorrimento, humi-
dade e gelo. A “reputação” de uma determinada pedra provinha
das provas de comportamento dadas pelo seu uso em construções
anteriores. Para pedreiras novas eram previstos testes empíricos
de durabilidade, como os descritos na seguinte citação:
Lorsque ce sont de nouvelles carrières que l’on exploite, il est bon
d’en tirer des blocs dans toutes les saisons de l’année; d’en exposera à
l’air, à l’eau, à l’humidité, à la gelée et même à l’action du feu. 5
Por sua vez, a escolha e a definição da qualidade da pedra era
feita tendo em conta a posição e a função do bloco na alvenaria.
A partir de um espectro de vários tipos de pedra conhecidos pelo
projectista ou pelo mestre da obra e disponíveis na zona a edificar,
eram escolhidas as diversas qualidades de pedra para as diferen-
tes posições a ocupar no futuro edifício de alvenaria. As pedras
macias, embora menos duráveis, eram as preferidas para os blo-
cos que seriam mais decorados e para o preenchimento das zonas
alveolares das abóbadas. As pedras duras, pouco porosas e mais
resistentes, eram reservadas às fundações e aos elementos por-
tantes.
Nas obras analisadas esta correspondência entre função-posi-
ção de um bloco de pedra e a sua natureza é raramente explicitada.
No entanto, são comuns as referências a Vitrúvio que no Livro II,
Cap. VII, faz uma primeira distinção entre pedras macias (desti-
nadas a elementos decorativos e a zonas em elevação protegidas,
mas em geral pouco resistentes ao gelo e ao fogo) e pedras duras
menos gelivas.
Assim, as pedras que pareciam comportar-se melhor à geada e
à humidade, sem inclusões ou veios passíveis de induzir descola-
mentos ou fracturas, eram as destinadas às superfícies aparentes.
As outras eram reservadas para o interior dos muros e zonas de
fundações.
Outros autores, como Rondelet, descrevem estes critérios empí-
ricos de escolha, assumindo-os como uma prática corrente:
Il est certain que toutes les parties extérieures d’un édifice ne sont
pas également exposées à l’action destructive du froid et de l’air; ainsi,
159
par exemple, les angles des corniches, les colonnes et leurs chapiteaux
surtout, qui sont frappés dans tous les sens et par la pluie et par l’air
humide, sont bien plus fortement exposés à leur action destructive
que le parement d’un mur, qui n’offre qu’une face plane à l’air.[…] Il
s’agissait de choisir parmi les pierres des environs de Paris celles qui,
par leur solidité, la hauteur de leur appareil et la finesse de leur grain,
seraient susceptibles de servir à exécuter les grands chapiteaux
corinthiens de l’Eglise de la Madeleine.6
No final do século XIX, aos processos mais comuns de degra-
dação, veio juntar-se a poluição atmosférica. A partir da elevada
produção de gases de combustão de carvão e lenha nas cidades
industrializadas da Europa, como Londres e Paris, as pedras bran-
das tradicionalmente usadas foram sendo substituídas por outras
mais resistentes à poluição e às intempéries. Esta tendência foi
potenciada pelo advento do caminho-de-ferro que passou a per-
mitir o transporte de grandes quantidades de pedra de natureza
diversa, de pedreiras que podiam assim já situar-se a maiores dis-
tâncias7.
Definida por vezes logo na fase do projecto, a natureza e a
qualidade das pedras a utilizar eram finalmente confirmadas ou
alteradas na fase de preparação dos blocos elementares, em fun-
ção da sua disponibilidade em pedreiras vizinhas do estaleiro, e
dos meios económicos ao dispor do dono da obra.
As pedras duras eram primeiramente cortadas em grandes blo-
cos e só depois divididas em blocos mais pequenos, segundo as
necessidades. Consoante a espessura das bancadas nas pedreiras,
assim se chamavam pedras de alto (superior a 35 cm), médio (en-
tre 20 e 35 cm) ou baixo aparelho (menor que 20 cm)8. As pedras
de alto aparelho eram destinadas aos tambores de colunas, a
arquitraves e a basamentos. As de médio e baixo aparelho eram
destinadas a aduelas de abóbadas e arcos assim como a forros de
cantaria em geral, cimalhas, espelhos, e cobertores de escada. Os
blocos mais pequenos eram reservados às fundações e ao enchi-
mento dos núcleos dos muros em alvenaria ordinária.
Appareil – On dit aussi qu’une pierre ou assise est de bas appareil,
quand elle ne porte que douze ou quinze pouces de hauteur, & de
haut appareil quand elle en porte vingt quatre ou trente. 9
Os blocos irregulares destinados às alvenarias ordinárias não
eram quase trabalhados. Estes blocos de diversas dimensões10 e
parcialmente talhados são objecto de uma descrição na obra de
 Para esse efeito, usavam-se estrados de
madeira, de modo a isolar os blocos do ter-
reno, cobrindo-se as zonas de armazenagem
para proteger os blocos da chuva. Para ele-
mentos decorativos importantes procedia-
-se ao seu empacotamento com palha e ma-
deira. Na fase de transporte, era comum o
uso de estopa ou de palmetas de madeira
que evitavam a quebra das arestas ou o corte
das cordas.
Para além dos cuidados de acondiciona-
mento, as obras analisadas são ainda ricas
na apresentação dos diversos métodos de
transporte de blocos de grande dimensão.
Na Antiguidade Clássica, os blocos seriam
içados um a um por máquinas simples des-
multiplicadoras e frequentemente talhados
de forma a apresentar “orelhas” salientes ou
embutiduras às quais eram ligadas cordas
que permitiam a elevação e assentamento.
Estas saliências eram depois cortadas in situ
e, no caso das embutiduras, estas eram
Fig. 3.11 / Transporte de blocos de grandes dimen-
cheias com argamassa. sões, segundo Valadier.
Zabaglia e Fontana descrevem o trans-
30
porte do obelisco da Praça de S. Pedro em Roma. Rondelet, no
quarto tomo do seu tratado dedica diversas páginas à descrição
dos meios empregados para o transporte da base da estátua de
Pedro I, em São Petesburgo. É no entanto Valadier a apresentar de
forma detalhada o acondicionamento e as estruturas provisórias
de madeira usadas correntemente para o transporte de blocos de
grandes dimensões.
BLOCOS CERÂMICOS
Segundo a Enciclopédia de Diderot e d’Alembert, a origem das
palavras “brique” e “brick” (respectivamente, palavras francesa e
inglesa para “tijolo”) pode ser atribuída à expressão em Latim
rubrica fabrilis. A rubrica fabrilis tinha já sido descrita por Vitrúvio
e outros autores clássicos como um barro vermelho escuro que
podia ser encontrado na região de Sinope, na Anatólia da Grécia
167
Antiga, e que foi depois utilizado pelos Ro-
manos para trabalhos artísticos.
A utilização do tijolo remontaria a tem-
pos muito mais antigos. Os primeiros tijolos
utilizados nas antigas civilizações asiáticas
seriam apenas secos ao Sol. Na Babilónia, a
alvenaria de tijolos era ligada com uma arga-
massa, misturada com palha e caniços.
Sobre este assunto, a Enciclopédia, na pala-
vra “Brique” começa por citar a descrição
de Goux de la Boulaye, um viajante que atra-
vessou a Mesopotâmia, em 1645:
Outros há que falam de uma área com um perí-
metro de cerca de trezentos passos, situada a
um dia e meio do ponta da Mesopotâmia e pra-
ticamente equidistante do Tigre e do Eufrates e
que consideramos serem as ruínas da famosa
Torre de Babel; dizem que é construída com ti-
jolos crus secos ao Sol o qual, nestas regiões, é
muito forte; que cada tijolo tem dez polegadas
quadradas por três de profundidade; que cada
tijolo é separado por uma camada de canas ou
de caniços esmagados e misturados com palha,
com uma espessura de uma polegada e meia e
que, em certos pontos onde era necessário um
apoio mais forte, podemos encontrar outros tijolos com as mesmas
dimensões que os anteriores, mas cozidos ao fogo, mais fortes e fei-
tos com betume.31
O mesmo texto passa depois à descrição da utilização dos tijolos
durante a Antiguidade Clássica. A arte da construção com tijolos
ter-se-ia expandido da Babilónia à Arménia, Geórgia, Egipto e
Grécia. Os Gregos passariam a utilizar os tijolos em paredes com-
postas, com arquitraves e colunas de pedra. Os primeiros tijolos
(em Latim, lateres) utilizados pelos Romanos seriam ainda, como
os que os precederam, secos ao Sol.
A informação contida na tratadística não aborda, contudo, só
a história da fabricação e uso dos tijolos na Antiguidade. São inú-
meras as regras e as recomendações relativas à:
• Escolha e extracção da argila;
• Preparação e moldagem da argila;
• Cozedura em fornos tradicionais;
 A PREPARAÇÃO DAS ARGAMASSAS
E DOS BETÕES TRADICIONAIS
A produção de argamassas e betões é actualmente objecto de
normas e regulamentos europeus e nacionais. No que se refere à
preparação das cais, as acções de normalização a nível europeu,
denominadas Ciments et Chaux de Construction (CEN/TC 51),
conduziram à preparação da norma europeia publicada em 1993
denominada EN 459 – Cais de construção58. Para as argamassas,
foi recentemente publicado (entre 1998 e 2000) o projecto de norma
europeia EN 1015 – Métodos de teste para argamassas para alve-
narias59, dividido em 21 grupos de métodos de ensaio, e as duas
primeiras partes da pré-norma prEN 998 – Especificações para arga-
massas para alvenaria destinadas à produção industrial de arga-
massas prontas para assentamento e rebocos.
O conhecimento destas prescrições de produção e de ensaios
revela-se certamente útil para o estudo das argamassas existentes
em antigos edifícios e na preparação de argamassas para o restauro.
No entanto, a aplicação destas directivas não é suficiente para a
conservação e o restauro de antigos edifícios em alvenaria, deven-
do-lhe ser associado o conhecimento das antigas regras e procedi-
mentos de preparação e composição de argamassas e betões que
foram identificados na literatura estudada.
Nesta secção, analisa-se a preparação dos materiais básicos:
as cais aéreas e hidráulicas naturais, as pozolanas naturais e artifi-
ciais, as cais hidráulicas artificiais e os cimentos, o gesso, os agre-
gados e a água. Segue-se a análise da evolução do conhecimento
do fenómeno de presa e da hidraulicidade de modo a avaliar os
aperfeiçoamentos de materiais e técnicas. Termina-se com as regras
e procedimentos gerais para a mistura e amassadura de modo a
obter argamassas e betões.
Antes do início da discussão de todos estes aspectos deve
referir-se que uma primeira leitura da bibliografia implicou o
estabelecimento e a adopção prévia de determinadas definições
relativas à terminologia dos materiais e processos e à função das
argamassas e dos betões numa alvenaria. De facto, a utilização
dos materiais e processos tradicionais obedecia a uma lingua-
gem especifica, baseada em conceitos um pouco diversos dos
actuais. As argamassas e betões tradicionais, eram compostos
basicamente por:
173
• Ligantes: as cais e o gesso;
• Agregados: a areia, o pó de pedra, as britas;
• Materiais agregados capazes de transmitir a hidraulicidade às
misturas, como as pozolanas, o pó de tijolo ou o trass;
• Água.
No que respeita à função e posicionamento no corpo das alve-
narias, as argamassas estavam geralmente presentes em diversos
níveis ou profundidades:
• no interior das paredes, pilastras, arcos e abóbadas: as arga-
massas de assentamento dos blocos elementares de pedra
ou cerâmicos;
• na interface externa entre blocos constituintes da alvena-
ria, de modo a selar o interior dos maciços: as argamassas
de refechamento de juntas e de assentamento de placas nos
paramentos;
• nos estratos exteriores protectivos ou decorativos: as arga-
massas dos rebocos e dos estuques e as argamassas usadas
no assentamento de pavimentos.
Relativamente aos betões tradicionais, estes diferiam dos be-
tões actuais à base de cimento Portland, não só no modo de fabri-
cação como no modo de utilização e combinação com outros
materiais60. A sua fabricação requeria a preparação prévia de uma
argamassa que era depois amassada intimamente com inertes de
maiores dimensões denominados actualmente em Portugal meio
cascalho (entre 3 e 6 cm). A sua preparação era por isso diversa
da praticada actualmente, em que os inertes são amassados simul-
taneamente com o cimento Portland, têm dimensões variadas
(areias até 5 mm e britas entre 5 e 150 mm) e são doseados de
forma a seguir curvas granulométricas bem definidas.
Às argamassas de cal eram por vezes adicionadas pozolanas
ou tijolos pilados, sempre que se quisesse obter um betão hidráu-
lico, como por exemplo para as fundações. Os inertes de maiores
dimensões eram constituídos por fragmentos de tijolos61 ou de
pedras calcárias densas, de diversas dimensões sempre que se
quisessem realizar maciços de fundação ou paredes resistentes.
Os fragmentos ligeiros de pedras porosas ou de tufo vulcânico
eram destinados a betões utilizados no enchimento e moldagem
de abóbadas.
 Tabela 3.20 / Estuques à base de cal e gesso (partes em volume)

Cal aérea A r e i a f i n a Argamassa Gesso passado Outros Água Indicados para Autores / Obras
em pasta branca cal/areia fina ao peneiro materiais de cola
Massas de esboçar
1 2 q.b. cornijas e capitéis Rondelet, Traité de l'art de bâtir , Tom. II, Cap. III, 1812-17
1 leite de cal 1 q.b. De Cesare, La scienza dell'architettura, Sez. II, Cap.VII, 1855
revestimentos
1 2 q.b. De Cesare, La scienza dell'architettura, Sez. II, Cap.VII, 1855
interiores
rev. alvenarias ou
X q.b. Cantalupi, Istituzioni pratiche , Vol.I, Cap.IV, 1862
madeira
2 leite de cal 1 com pouca cola Breymann Trattato generale di Costruzioni Civili , Vol. I, Cap. VII, c. 1910
1 4 1 q.b. Segurado, Acabamentos das construções , Cap. VIII, c. 1910
Massas de estender ou dobrar
X q.b. Quatremère de Quincy, Encyclopédie méthodique , Vol. II, 1788-1832
1 0,33 q.b. cornijas e capitéis Rondelet, Traité de l'art de bâtir , Tom. II, Cap. III, 1812-17
revestimentos
1 0,25 q.b. De Cesare, La scienza dell'architettura, Sez. II, Cap.VII, 1855
interiores
q.b. p/ obter um rev. alvenarias ou
X Cantalupi, Istituzioni pratiche , Vol.I, Cap.IV, 1862
leite madeira
1 2,5 0,3 Cerone G., Manuale degli ingegneri, architetti e misuratori, Sez. 26, 1900
X q.b. Breymann Trattato generale di Costruzioni Civili , Vol. I, Cap. VII, c. 1910
1 1 q.b. Segurado, Acabamentos das construções , Cap. VIII, c. 1910
Massas de brunir ou polir
60 g de sabão 2 litros Rondelet, Traité de l'art de bâtir , Tom. II, Cap. III, 1812-17
30 g resíduo de vinho

Nota geral – Um "X" significa que a receita não indicava de forma precisa a dosagem de um componente.

Tabela 3.21 / Estuques fortes à base de pasta de cal e pó de pedra (partes em volume)

Cal aérea Areia Argamassa Pó de Outros Indicados para Autores / Obras

em pasta branca cal/areia fina pedra materiais
Massas de esboçar
Primeira camada:
X X (grosso) revestimentos internos Vitrúvio, De Architettura, Libri dieci , Liv. VII, Cap. VI
X (fina) X X tectos, fasquiados Valério Martins de Oliveira, Advertências aos modernos , "Argamaça", 1739
1 2 grossa "estuque à italiana" Leitão, Curso elementar de construçõe s, Parte IV, Cap. VII, 1896
X X (angulosa) Breymann Trattato generale di Costruzioni Civili , Vol. I, Cap. VII, c. 1910
Camadas intermédias:
X X médio Vitruvius, De Architettura, Libri dieci , Liv. VII, Cap. VI
1 2 fina "estuque à italiana" Leitão, Curso elementar de construções , Parte IV, Cap. VII, 1896
1 1fina 1 escaiola Leitão, Curso elementar de construções , Parte IV, Cap. VII, 1896
1 2 Breymann Trattato generale di Costruzioni Civili , Vol. I, Cap. VII, c. 1910
X X Breymann Trattato generale di Costruzioni Civili , Vol. I, Cap. VII, c. 1910
Massas de estender ou dobrar
X X (fino) Vitruvius, De Architettura, Libri dieci , Liv. VII, Cap. VI
1 0,5 mármore cornijas De Cesare, La scienza dell'architettura, Sez. II, Cap.VII, 1855
X X (finíssima) X ornamentos a pintar Cantalupi, Istituzioni pratiche , Vol.I, Cap.IV, 1862
1 1 "estuque à italiana" Leitão, Curso elementar de construçõe s, Parte IV, Cap. VII, 1896
"estuque à italiana"
X Leitão, Curso elementar de construçõe s, Parte IV, Cap. VII, 1896
pintado a têmpera
X pigmentos, ocre, terras Cerone G., Manuale degli ingegneri, architetti e misuratori , Sez. 26, 1900
Massas de polir e brunir
água-raz e cera branca "estuque à italiana" Leitão, Curso elementar de construçõe s, Parte IV, Cap. VII, 1896

Nota geral – Um "X" significa que a receita não indicava de forma precisa a dosagem de um componente.

215
 Estes estuques permitiam realizar superfícies muito lisas, cor-
nijas e molduras ou outras decorações que requeressem uma varia-
ção em espessura.
O “pardo” ou “emboço” era a denominação dada em Portugal
para o primeiro estrato mais rugoso, composto em geral de pasta de
cal e areia, ou de pasta de cal e pozolana (se sobre suportes húmi-
dos). Este primeiro estrato era já bastante fino e aplicado de acordo
com o acabamento desejado, ou seja, consoante se desejassem
estuques simples ou estuques brunidos, mais lisos e brilhantes.
Na segunda camada, aplicada sobre o pardo e denominada
“esboço” ou “massa de esboçar”, eram usadas misturas mais ricas
em gesso ou em cal, com inertes mais finos e em menor proporção.
O “esboço” podia ser “armado” com palha, corda, pelos ou crinas,
sempre que se quisessem realizar molduras e elementos decorati-
vos de espessura reduzida259.
Na última camada dos estuques comuns ou lisos, eram utiliza-
das massas, denominadas de estender ou dobrar, que podiam ser
constituídas de cal em pasta e gesso, cal em pasta e pó de mármore
ou somente de uma pasta de gesso. No caso de se utilizar cal e pó
de mármore, eram por vezes adicionados pigmentos ou terras de
modo a obter estuques coloridos.
Os estuques brunidos eram estuques ainda mais compactos e
finos. Neste caso, as massas de estender eram realizadas a partir
de uma pasta de cal ou leite de cal, à qual era adicionada areia
branca muito fina; ou simplesmente a partir de uma pasta de gesso
e água de cola, denominada também falso mármore ou escaiola.
Seguiam-se os estratos finais destinados ao brunido e polido, reali-
zados com pasta de cal e cera, gesso e água de cola ou cera e
sabão, consoante a textura desejada.
Para os “veios” e “manchas” dos falsos mármores era utilizado
um “molho”, normalmente composto ou de água de cola, gesso e
pigmentos, ou de água de cola, pigmentos e gelatina animal.
As dosagens neste caso não eram indicadas com grande precisão,
deixando ao cuidado do executante a escolha das melhores pro-
porções de modo a facilitar uma boa laboração.
Composição de pavimentos
À imagem dos rebocos e estuques, as argamassas destinadas à
realização de pavimentos obedeciam também a classes especiais
de materiais, consoante o suporte em que eram executados, as
216
dosagens usadas nas diversas camadas e os acabamentos preten-
didos, como indicado nas tabelas 3.22, 3.23, 3.24 e 3.25.
Sempre que os pavimentos fossem executados directamente
sobre o solo, eram usados inertes pesados. Sobre sobrados de
madeira ou sobre o extradorso de abóbadas, os inertes eram fre-
quentemente de materiais ligeiros e de granulometrias mais finas.
Embora na literatura técnica portuguesa não seja feita uma dis-
tinção clara baseada nestas duas classes principais de pavimentos,
adoptou-se a denominação de formigões para pavimentos assentes
directamente sobre o solo e de betonilhas para os pavimentos exe-
cutados sobre sobrados e abóbadas.
Tanto para formigões como para betonilhas, as massas dos pavi-
mentos eram constituídas por um número mínimo de duas cama-
das: a primeira, denominada camada de fundação ou “fundo”,
mais espessa; e a segunda, denominada massame ou camada de
forma, de espessura inferior.
Nas camadas de fundação em contacto com o solo, eram usados
enrocamentos realizados com meios cascalhos e fragmentos gros-
seiros de tijolo260. Sobre o extradorso das abóbadas, era frequente
o uso de pedras de tufo ligeiro. Sobre pavimentos de madeira, eram
usados seixos dispostos sobre um leito de palha.
Os massames propriamente ditos, ou camadas de forma, podiam
ter composições muito diversas, dependendo das tradições e dos
materiais locais. As composições mais comuns consistiam em:
• pasta de cal misturada com saibro ou com areia média;
• pasta de cal com rapilho, que em Itália se denominava “las-
trico napolitano”;
• pasta de cal com cacos de tijolo e com cacos de telha;
• argamassas de cal e areia;
• argamassas hidráulicas.
Estas camadas de forma podiam ser:
• simplesmente afagadas;
• afagadas depois de misturadas com pigmentos;
• cobertas com estratos impermeabilizantes.
Na camada superior era utilizado pó de tijolo, pó de mármore
e areia fina, misturados com a pasta de cal, recebendo eventual-
mente a inclusão de mosaicos ou pedras duras.
 IV
A MONTAGEM E A EXECUÇÃO DE ALVENARIAS
Depois de identificados e apresentados os conhecimentos
necessários às fases de:
A. Concepção e projecto da geometria, definição da função e
ocupação dos espaços e dimensionamento das estruturas;
B. Produção e preparação dos blocos elementares e das arga-
massas
para a concretização do futuro edifício de alvenaria, revela-
va-se fundamental uma outra classe de conhecimentos: “A Arte
de bem fazer ou de bem construir”.
Como já foi referido, muitas exigências e decisões tomadas na
fase de concepção reflectiam-se directamente na fase de produção
e de preparação dos materiais. Por exemplo, o traçado de uma
abóbada implicava a execução do talhe das suas aduelas numa
determinada forma e em número específico.
Por outro lado, as formas de concepção de edifícios e as técni-
cas de produção dos materiais básicos tinham implícitas exigên-
cias relativas à montagem. Conceber, por exemplo, uma abóbada
com tijolos ao chato implicava prever um determinada sequência
de operações na assemblagem, diferente da necessária para abó-
badas com tijolos ao cutelo ou com pedra talhada.
A execução de um determinado elemento em alvenaria estava
pois dependente não só da natureza dos blocos e das argamassas
a assemblar, mas também da forma como ele tinha sido concebido
geométrica e estruturalmente, e da sua relação com os outros ele-
mentos na estrutura global do edifício.
Aquando da leitura dos diversos tratados, procurou-se respon-
der à pergunta fundamental: ”Quais as técnicas tradicionais que
se podiam denominar verdadeiramente de técnicas de execução?”
Para uma primeira resposta, procurou-se isolar as técnicas relati-
225
vas à produção dos materiais básicos das técnicas destinadas à
assemblagem e montagem destes materiais, de modo a obter de
facto uma alvenaria.
Paralelamente, colocou-se a questão adicional (como já fora
feito para as fases A e B): “Quais destas técnicas podem ser úteis
para o conhecimento e a conservação de antigos edifícios?”
Responder a esta pergunta significou aplicar o critério que guiou
toda a pesquisa, permitindo limitar de novo o número de técnicas
a estudar. A ordem de trabalhos de execução consistia natural-
mente em:
1. Execução de fundações e alicerces;
2. Levantamento de paredes;
3. Cimbramento e descimbramento de arcos e abóbadas;
4. Construção de telhados;
5. Aplicação de revestimentos;
6. Execução de elementos protectivos dos diversos materiais
e elementos estruturais1.
As duas primeiras operações foram agrupadas numa primeira
categoria dedicada ao assentamento dos elementos estruturais ver-
ticais. A seguir foi analisada a especificidade das operações de
cimbramento e descimbramento de arcos e abóbadas. Finalmente,
foram analisadas as técnicas destinadas à execução da “pele”, ou
seja, os revestimentos das paredes externas e internas.
Os conhecimentos sobre a construção dos telhados, na maio-
ria dos casos executados em madeira, só foram abordados indi-
rectamente. A execução dos elementos protectivos foi incluída
nos revestimentos, descritos complementarmente no capítulo V,
dedicado às técnicas de protecção e às preocupações tradicionais
com a durabilidade das alvenarias.
 EXECUÇÃO DAS FUNDAÇÕES
Os cuidados e os procedimentos a respeitar no assentamento
das fundações e dos maciços em elevação (paredes, pés-direitos,
pilastras e contrafortes), relacionavam-se com diversas fases
intermédias:
• A implantação no terreno, da posição dos alicerces e do
alinhamento das paredes;
• A realização dos diversos tipos de fundações;
• As construções provisórias durante a elevação das paredes;
• A operação de colocação dos blocos e argamassas.
No que se refere à implantação, a maioria das obras estudadas
indicam com maior ou menor detalhe os cuidados na escolha do
local do futuro edifício e os métodos topográficos a usar para a
marcação da planta. Estes últimos basearam-se até meados do
século XIX, no uso da cadeia e do esquadro de agrimensor, na
prancheta, no pantómetro, na bússola, nos níveis de água e de ar.
O uso destes instrumentos é descrito sumariamente nas obras de
carácter geral e, pela primeira vez, com grande detalhe, no tratado
de Nicolas Bion, publicado em 1723, do qual se transcreve aqui o
título com a lista dos principais instrumentos:
Traité de la Construction des Principaux Usages des Instruments
Mathématiques qui servent à travailler à la campagne, pour arpenter
les terres, lever les plans, mesurer les distances & prendre les hauteurs.
§ sivos, de modo a garantir a segurança dos operários. Estas expli-
Les plus utilisez sont les Biquets, les Cordeaux, la Toise, la Chaîne, les
Equerres d’arpenteurs, les Recipiangles ou Mesurangles, les Planchet-
tes, le Quart de Cercle, le demi Cercle & la Boussole.2
Naturalmente, o ensino da disciplina de medi-
ção e implantação passou a constituir uma das
componentes fundamentais da tratadística mili-
tar, de modo a preparar os futuros engenheiros
militares na implantação das fortificações, que
ocupavam grandes superfícies3. Em Portugal, os
primeiros exemplos desta preocupação traduzem-
-se nas obras de Luís Serrão Pimentel e de Manuel Fig. 4.1 / Sistema de poços drenantes associados a uma vala de condução de águas subterrâneas e
de Azevedo Fortes. secções típicas de valas tradicionais.
226
Antes da escavação, em terrenos com nível freático elevado, o
terreno de fundação era posto a seco com a realização prévia de
poços drenantes ou de ensecadeiras de estacas-prancha.
A drenagem dos terrenos era proposta como um método ideal,
a realizar sempre que possível, de modo a facilitar a execução e a
manutenção das alvenarias da fundação e em elevação, embora
exigisse tempos de espera relativamente longos. O estudo da drena-
gem dos solos foi iniciado em Inglaterra (donde aliás nos chega a
etimologia da palavra) e destinou-se primeiramente à melhoria
dos solos agrícolas. A sua aplicação foi gradualmente alargada ao
sector da construção de edifícios e de obras públicas, através da
publicação de obras específicas4 como a do francês Leclerc5 (fig.
4.1).
É possível apreciar a evolução dos métodos de bombagem pro-
postos pelos diversos tratados ao longo das diversas épocas, des-
de os processos manuais, baseados numa cadeia de operários com
baldes, até à mecanização com bombas a vapor.
O revestimento das valas era tradicionalmente feito em madei-
ra, que funcionava como parede de contenção de terras, e como
cofragem perdida uma vez realizada a alvenaria da fundação. Só
no final do século XIX são propostas as estacas-prancha metálicas,
sobretudo para a execução de ensecadeiras de obras públicas hi-
dráulicas.
Apresentados os cuidados com a drenagem, as obras estuda-
das passavam depois, quase sempre, à descrição dos métodos de
escavação dos futuros alicerces. Para as fundações directas eram
apresentadas as profundidades médias a atingir, por troços suces-
cações eram acompanhadas de ilustrações que permitiam explicar Encontram-se neste caso as alvenarias de cabeçaria7, a alvenaria
os métodos mais comuns de entivação e escoramento das valas. ordinária e os betões8:

Paralelamente, era dada uma especial atenção às larguras míni-
mas de escavação em torno dos maciços a executar, de modo a
permitir o trabalho em segurança. Estes valores, válidos para as
fundações directas e pilastras de fundação, variavam consoante
se previsse o seu enchimento com betões ou com alvenaria mon-
tada à mão6 (tabela 4.1).
Para a execução dos maciços e das pilastras de fundação pro-
priamente ditos, as regras e os procedimentos eram os mesmos
preconizados para as paredes e muros em elevação (que se apresen-
tam um pouco mais adiante), embora existissem tipos de alvenaria
mais frequentemente aconselhados para a execução de fundações.
Tabela 4.1 / Larguras mínimas de escavação para a execução de fundações
Le murature di pietrame debbono tutte essere lavorate a mano con
eguale e costante diligenza, tanto sopra terra che in fondazione.9
A alvenaria ordinária era executada de preferência com as
pedras mais duras e menos porosas, tentando sempre que possível
criar uma fiada perimetral mais impermeável, imediatamente
acima do terreno. Estas fiadas eram executadas geralmente com
perpianhos da maior espessura possível.
Como alternativa aos perpianhos, de modo a impedir a humi-
dade ascensional, começaram a ser propostos, a partir do século XIX,
os diafragmas de betume asfáltico, de betume de resina e pó de
carvão10, ou em chapa de chumbo na “arrasadura”
ou fiada de transição entre o terreno e a fundação.

Ainsi, pour les pierres de soubassement qui sont assez

Tipo de Profundidade Largura mínima de escavação
souvent posées sur un sol humide, on fera bien d’inter-
fundação máxima (m) em torno da fundação (m)
poser une couche de bitume ou de mastic bitumineux à
la séparation de la première assise du soubassement
Directa executada à mão 5-6 0,90 d’avec la fondation.11
idem >6 1,05-1,25
Lorsque les murs d’une construction sont élevés au
Pilastras de fundação, à mão 5-6 1,10 niveau du sol, on étend sur l’arase au pourtour une feuille
idem >6 1,05-1,40 de plomb laminé d’une faible épaisseur (généralement
un millimètre).12

Fig. 4.3 / Antigo esquema que indica a humidade ascensio-

Fig. 4.2 / Desenho de Giovanonni para vários tipos de escoramento de fundações directas. nal, com e sem a interposição de um diafragma isolante.

227
 Sempre que se utilizassem betões de enchimento, a regra prin-
cipal consistia em realizar o preenchimento dos caboucos por
camadas sucessivas de espessura limitada (15 a 20 cm), batidas
com pilões (de 15 a 100 kg) até que a argamassa refluísse sobre os
grandes inertes13.
La muratura a getto (a sacco) per fondazioni deve costruirsi con gettate
alternate di malta e di scheggioni di pietra, assestando e spianando
regolarmente ogni strato, riempiendo con schegge minute di pietra
gli interstizi maggiori e distribuendo la malta in modo da ottenere
strati regolari di muratura.14
Toda a alvenaria do alicerce deve ser de boa pedra, e das mais grossas
cabeças ensopadas em cal, e batidas até que a cal espremida suba por
toda a parte, e os pequenos vazios se encherão com pedra mais miúda,
também batida ao martelo, para que nesses vazios não fique a cal
sossa.15
Se o trabalho fosse interrompido ao fim do dia, a última camada
era coberta com telas humedecidas. Quando a “betonagem” era
retomada, raspava-se a parte superior da última camada, molha-
vam-se de novo as superfícies horizontais e prosseguia-se com o
enchimento de betão. O acabamento dos topos, que ficariam visí-
veis na zona do contacto com o solo, era feito no dia seguinte ao
enchimento das cofragens, sendo as suas superfícies batidas perio-
dicamente16.
Na execução da estacaria, para além da indicação em planta
de cada uma das estacas cravadas, recomendavam-se os seguintes
registos, a anotar no “carnet” de cravação:
• a data da cravação;
• o número de operários aplicado no bate estacas;
• o número de ordem da estaca;
• o comprimento total da estaca;
• o diâmetro médio;
• a profundidade atingida;
• o peso do malho;
• a altura de queda do malho;
• a nega atingida.
Uma vez cravadas as estacas, os intervalos entre as cabeças
eram preenchidos com betão batido a maço, ou com pedra irregu-
lar das maiores dimensões disponíveis e possíveis de arrumar à
228
mão. Noutros casos, sobre a estacaria era apoiada uma grade de
madeira17 que ficava geralmente a 0,50 m abaixo do nível das águas
mais baixas, de modo a assegurar a imersão permanente das ma-
deiras. Esta grade era formada de travessas entalhadas sobre as
estacas, e de longarinas (ou longrinas) assentes sobre as travessas
também através de entalhes. A ligação da grade era consolidada
com cavilhas de ferro.
Sobre as estacas se põem de través pranchões de meio palmo de grosso
e de 10 a 12 polegadas de largo cravadas nas cabeças das estacas com
cavilhas de ferro e a cabeça perdida, (sendo os espaços entre as esta-
cas cheios de pedra rija batida ao martelo, como fica dito) para sobre
tudo isto assentar um leito de vigas pregadas, e cavilhadas com cavi-
lhas de ferro bem compridas, que passem pelos pranchões e entrem
pelas cabeças das estacas. 18
A cidade de Lisboa é tão limitada pelos outeiros, que ultimamente
alguma das mais baixas porções da margem do rio tem sido aterrada e
aí se têm edificado várias construções sobre estacarias A disposição
das estacas é semelhante à usada em Amsterdam; ficam colocadas em
fileiras de três ou mais segundo a espessura da parede, e ligadas por
fortes travessas de madeira, e as fileiras estão ligadas por cintas de
madeira de Flandres, uma para cada fila de estaca. Os espaços entre
as estacas é de um ou dois pés abaixo dos topos, são cheios de cascalho
até ao nível das travessas longitudinais, formando uma sólida plata-
forma onde assentam os alicerces em geral de alvenaria.19
A grade era substituída nalguns casos por um simples maciço
de pedra ligado com argamassa hidráulica.
O bater de uma nova estaca, em terrenos argilosos, fazia por
vezes sair a estaca previamente cravada. De modo a fazer face a
este inconveniente, as estacas eram batidas com a parte mais grossa
para baixo, depois de serem abertos dentes no topo a cravar.
Para além de todos estes aspectos da execução, era frequente-
mente explicada a forma de arrancamento de estacas não verticais,
ou de estacas que se destinavam só a abrir no terreno, os espaços
necessários para a realização de estacas de areia para a consolida-
ção do terreno. O arrancamento, inicialmente executado por in-
termédio de alavancas simples, accionadas por um grande núme-
ro de operários, passou gradualmente a ser operado com sarilhos
adaptados a bate-estacas manuais ou mecânicos.
 CONSTRUÇÃO DOS MACIÇOS EM ELEVAÇÃO executada com o auxílio de varas e travessas de madeira que permi-
tiam esticar cordéis, destinados a assegurar a horizontalidade das
fiadas e a verticalidade dos muros (fig. 4.5).
Uma vez executadas as fundações, seguia-se a montagem das Seguia-se a construção propriamente dita das paredes e pés-
estruturas provisórias necessárias ao acesso dos operários e dos -direitos acima do elegimento ou ensoleiramento. A colocação
materiais a níveis sucessivamente mais elevados. Só algumas das devia obedecer, não só às decisões da fase de concepção e de prepa-
obras analisadas dedicam uma secção exclusiva a estas constru- ração de materiais, como também a novos cuidados relacionados
ções, tradicionalmente em madeira. sobretudo com:
Os andaimes não eram necessários até à altura de um homem
médio. Para alturas mais elevadas, eram “crescidas” estruturas • a melhor ligação entre blocos e argamassa;
apoiadas não só no solo, mas sistemática e sucessivamente em • o alinhamento das fiadas e a verticalidade dos paramentos;
zonas da estrutura já construídas e depois de feita a presa das • as condições de presa das argamassas à base de cal.
argamassas.
Era prática frequente o apoio dos andaimes sobre barrotes intro-
duzidos em aberturas denominadas agulheiros, deixadas nas pare-
des com esse objectivo. Estes barrotes recebiam as pranchas corres-
pondentes a diversas plataformas de trabalho.
Paralelamente, procedia-se à implantação das envolventes das
paredes ou seja das guias ou linhas mestras. Esta operação era

Fig. 4.5 / Alinhamento durante a execução.

Fig. 4.4 / Andaimes apoiados no solo e nas próprias alvenarias em construção. Fig. 4.6 / Instrumentos usados no assentamento de alvenarias.

229
 Diversos instrumentos (alguns já usados nas fases precedentes
e outros mais específicos) estavam associados à fase de assenta-
mento. São de referir:
• o coche, onde eram depositados pequenos volumes de arga-
massa;
• a trolha, para trabalhar a argamassa destinada à colocação
de um bloco;
• a vassoura, para molhar as pedras ou os tijolos;
• a colher e a ficha para introduzir a argamassa nas juntas;
• os maços de madeira para bater os blocos sobre a argamassa
de ligação;
• a picadeira para escacilhamentos de última hora;
• as réguas de dois e quatro metros de comprimento;
• os níveis;
• o gaivel, destinado a controlar a verticalidade (ou o jorra-
mento) dos paramentos.
ALVENARIAS DE PEDRA TALHADA
Como já referido, as construções da Antiguidade Clássica cons-
tituíam a referência primordial de perfeição para qualquer cons-
trução de uma parede “moderna”. A alvenaria “modelar” seria
pois a alvenaria de pedra de talha, inicialmente posada a seco,
isto é sem argamassa de ligação, como se pode ainda observar em
monumentos Egípcios, Gregos e Romanos. Idealmente, cada bloco
deveria ter os planos das juntas em contacto directo com os blocos
adjacentes, subjacentes e sobrejacentes. Na Antiguidade, esta exi-
gência era assegurada pelo grande número de operários destinados
ao talhe e acabamento.
Nos casos de pedras muito duras, e de maneira a completar o
trabalho dos instrumentos de talhe, os planos de assentamento
eram “borneados”, isto é, regularizados com pó de pedra ou areia,
de modo a aumentar o contacto entre as faces de cada elemento.
Para obter o contacto perfeito entre os blocos, recorria-se a uma
técnica parecida com a técnica de ortodontia usada actualmente,
esfregando com ervas, pó de tijolo ou carvão, uma das superfícies
que ficasse em contacto20. O bloco de pedra era colocado a seco
sobre o bloco inferior e era verificada a verticalidade do paramento
com um fio de prumo e a horizontalidade das juntas com um
230
nível. As zonas da face do outro bloco que não tivessem ficado
borradas, deveriam ser desbastadas de modo a assegurar o contacto
regular entre faces adjacentes. Frequentemente, quando o bloco
já estava assente, passava-se então à execução dos detalhes deco-
rativos.
Esta ausência de argamassa nas juntas horizontais era possí-
vel devido ao acabamento das superfícies do leito e do sobreleito
e devido à estabilidade obtida pelas grandes dimensões dos blo-
cos, à imagem das chamadas alvenarias pelágicas ou ciclópicas,
mais antigas. A argamassa revelava-se no entanto fundamental
para assegurar a estanqueidade sobretudo nas juntas verticais,
em fontes e aquedutos.
Associado a este modelo ideal, as regras básicas da colocação
dos blocos podiam resumir-se a três leis fundamentais:
1. Horizontalidade das fiadas e dos planos de assentamento;
2. Verticalidade das juntas entre blocos de uma mesma fiada;
3. Respeito pelas regras de aparelho, de modo a assegurar o
comportamento monolítico das alvenarias.
A primeira regra é facilmente compreensível sempre que se
utilizem blocos paralelepipédicos, prismáticos ou cilíndricos regu-
lares. Dispô-los por fiadas horizontais, segundo as suas faces maio-
res, significava dispô-los na posição de máxima estabilidade à
rotação e ao deslizamento21. Este conhecimento, inicialmente
empírico, passou a ser explicado através do estudo de equilíbrio
de corpos rígidos e pelo cálculo dos centros de gravidade (fig.
2.13). Rondelet, um dos primeiros autores a apresentá-lo, definia
a regra da horizontalidade das juntas como “princípio geral do
aparelho”, assimilando a construção em pedra de talha a
uma combinação ou disposição de corpos rígidos que se sustêm, resis-
tindo pela sua forma e posição relativas, aos esforços combinados
que resultam do seu peso específico e de outras forças actuantes. 22
Para blocos de faces ortogonais, o respeito da lei da horizonta-
lidade implicava o respeito da lei da verticalidade. À verticalidade
dos paramentos correspondia, não só uma maior estabilidade,
como também um melhor escorrimento das águas. Os paramen-
tos inclinados e saliências eram evitados de modo a não “retarda-
rem” o escoamento das águas, aumentando assim a sua durabili-
dade. Finalmente, o respeito das regras do aparelho implicava
garantir um travamento ideal entre blocos, o que contribuía para
a estabilidade dos maciços.
Estas eram as regras para a execução da alvenaria ideal de pedra
talhada. No entanto, pela leitura dos tratados, é possível constatar
que em momentos de menores recursos económicos, de materiais
ou de mão-de-obra, ou ainda sempre que a construção devesse
ser executada em pouco tempo, se procedia a:
• uma diminuição da superfície de pedra a trabalhar;
• um aumento dos volumes de argamassa;
• uma diminuição das dimensões dos blocos.
Todos estes factores contribuíam para a obtenção de tipos de
alvenarias diferentes. É possível encontrar ao longo da maior parte
das obras analisadas, exemplos destas “adaptações do modelo
ideal” aos meios disponíveis (materiais, mão-de-obra, instrumen-
tos), referentes sobretudo às várias vicissitudes do Império Romano
e mais tarde à Idade Média.
Para além destes aspectos, diferentes graus de precisão do talhe
implicaram desde cedo outras formas de adaptação do “modelo”.
Como se viu no capítulo III, foram os próprios Romanos os primei-
ros a tentar a optimização da superfície a talhar com a esquadria
de anatirosis periférica.
No período das obras estudadas, esta optimização era normal-
mente feita de forma muito parcial e in-
completa. Foram, no entanto, vários os
autores a denunciar a prática de talhar
perfeitamente só a face aparente e deixar
irregulares as outras faces dos blocos. Isto
implicava um insuficiente contacto entre
as superfícies contíguas e justificava o
uso de inúmeros calços de pedra ou de
ferro. Rondelet, Valadier e Prud’homme
são alguns dos autores que referem esta
prática como um “vício das construções
modernas de pedra de talhe”, responsá-
vel pela degradação de muitos edifícios23.
Estes autores só admitiam os calços
de modo meramente provisório, nos ca-
sos em que estes ajudassem ao posiciona- Fig. 4.7 / A ficha e a operação de selagem por gravidade.
231
mento exacto dos blocos. Nestes casos especiais, as juntas horizon-
tais ou verticais eram primeiro tamponadas à face dos paramentos
acessíveis e opostos à face de introdução da argamassa. Estes
tamponamentos eram feitos com cordas velhas introduzidas entre
os dois blocos, ou com uma pasta de gesso de selagem. A arga-
massa era então introduzida sob pressão, com o auxílio de colheres
dentadas, denominadas fichas, que não arrastavam consigo a
argamassa à saída. Chamava-se a esta operação “fichagem“ de jun-
tas verticais e horizontais.
Somente para as juntas verticais, e sempre que os blocos fossem
colocados com calços provisórios, a argamassa de ligação podia
ser introduzida num modo diverso pelo método de “colagem”24.
Este procedimento consistia, como para a fichagem, em começar
por tamponar as juntas horizontais e verticais, seguindo-se a intro-
dução de água, a partir de um godé ou um caco de cerâmica, de
modo a eliminar o ar contido entre os blocos. Finalmente derrama-
va-se a argamassa liquefeita até encher completamente a junta,
por gravidade.
Dans la plupart des constructions modernes, ce sont malheureusement
les surfaces apparentes, préparées sur le chantier, qui dirigent les
tailleurs de pierre et les poseurs. Cette négligence est fondée sur ce
que, par un abus inconcevable, on ne mesure l’ouvrage des tailleurs
de pierre que sur les surfaces apparentes, en comprenant dans le prix
qu’on leur accorde, celui des lits et des joints sans les mesurer, d’où il
résulte un prix insuffisant pour les bien faire.
Pour faciliter la pose des pierres sur mortier,
on peut, après l’avoir étendu sur la pierre,
mettre des cales de bois aux quatre angles pour
la renverser dessus. On ôte ces cales dès que
la pierre est en place, pour la lâcher sur le
mortier et la battre. Lorsque les ouvriers seront
familiarisés avec cette méthode, ils verront
qu’elle est plus expéditive et moins compli-
quée que celle de ficher et de poser sur cales,
que devrait être proscrite dans toutes les
constructions publiques. 25
A utilização da argamassa nas jun-
tas horizontais implicava cuidados
adicionais que tinham que ver com as
operações de colocação “ideais da Anti-
guidade”, que consistiam resumida-
mente em:
 V
A PROTECÇÃO E A DURABILIDADE DAS ALVENARIAS
Era grande a preocupação dos antigos construtores com a dura-
bilidade dos materiais e estruturas. Aumentar a durabilidade con-
sistia em assegurar o melhor comportamento durante e após a exe-
cução, de cada um dos materiais de per si, ou quando assemblados
em estruturas de complexidade variável. Estas preocupações, como
já apresentado, estavam presentes na maioria das regras de con-
cepção e dimensionamento, na preparação dos blocos elementares
e argamassas, assim como nos cuidados na sua assemblagem.
Complementarmente, o construtor tradicional preocupava-se em
proteger o que tinha acabado de ser construído, de modo a garantir
que o edifício se comportasse da melhor maneira face aos proces-
sos de degradação. Estas técnicas eram utilizadas na parte final da
construção ou imediatamente após a construção do esqueleto estru-
tural. Tinham sobretudo a ver com o comportamento no tempo dos
materiais, directa ou indirectamente em contacto com o meio
envolvente, ou seja, na interface com os diversos agentes de degra-
dação: a humidade e os sais contidos nos terrenos de fundação; os
fenómenos atmosféricos, em especial o vento, a chuva e a neve1.
Os materiais directamente em contacto com os fenómenos de
degradação eram sobretudo os constituintes da “pele” das estru-
turas, ou seja, os rebocos, os tijolos ou as pedras de revestimento.
Estes revestimentos constituíam o “invólucro” do edifício, para o
qual era prevista uma durabilidade limitada e uma manutenção
periódica, de modo a assegurar a sua função de protecção dos
núcleos portantes. Os núcleos constituintes do “esqueleto” eram
constituídos pelas massas de alvenaria de paredes e pilastras, dos
arcos e das abóbadas, sendo considerados susceptíveis de degra-
dação indirecta através de fenómenos de infiltração de águas, de
movimentos das fundações ou ainda por efeito dos sismos. Os
princípios e técnicas relacionados com estes fenómenos, que fal-
tava abordar em detalhe, foram classificados no último grupo des-
tinado à durabilidade e protecção.
259
O CONHECIMENTO DOS FENÓMENOS DE DETERIORAÇÃO
No que se refere à distinção e à identificação das principais
causas (directas e indirectas) de degradação de uma alvenaria, é
possível constatar que foram vários os autores que desde cedo
dedicaram uma parte do seus textos à explicação desta temática.
Entre as primeiras obras dedicadas quase exclusivamente à
durabilidade dos edifícios2, é possível citar a obra do português
Mathias Ayres Ramos da Sylva d’Eça, publicada em 1777, e intitu-
lada Porque razão os edifícios antigos tinham e têm mais duração
do que os modernos? E estes porque razão resistem menos ao movi-
mento da terra quando treme? 3. Dedicada à descrição dos princi-
pais fenómenos relacionados com a desagregação das argamassas
e com os efeitos provocados pelos sismos, constitui um documento
importante para ter uma ideia de quanto os fenómenos de degra-
dação eram conhecidos, mesmo que, por vezes, explicados de
forma limitada.
Apesar do problema da durabilidade ter sido abordado pontual-
mente no século XVIII em diversos textos, somente ao longo do
século XIX foi tratado de forma cada vez mais aprofundada, em
capítulos ou sub-capítulos específicos. As obras genéricas e de
carácter especializado, sobretudo italianas e francesas, passaram
a apresentar, um elenco das causas e dos tipos de degradação mais
frequentes, assim como listas de cuidados a ter na manutenção
periódica e nos trabalhos mais comuns de reforço das estruturas.
Estes elencos eram estruturados em função da experiência e pre-
paração técnica dos autores, sendo variado o número de possí-
veis “leituras”.
Tentando avaliar o nível de conhecimento dos antigos cons-
trutores sobre os processos gerais de degradação, e de modo a
adoptar uma linguagem e nomenclatura actualizada e contempo-
 VI
METODOLOGIA PARA A UTILIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
E TÉCNICAS TRADICIONAIS NOS PROCESSOS DE CONSERVAÇÃO
Como se procurou mostrar, um edifício em alvenaria é deposi-
tário duma linguagem própria e específica, constituída por regras
de “sintaxe geral” e por regras de “sintaxe local e especializada”.
Estas últimas constituem adaptações e variantes usadas numa dada
região e período histórico, dependentes das preferências estéticas,
dos materiais disponíveis, das condições dos solos de fundação e
das condições ambientais locais.
A redescoberta deste antigo léxico só tem, no entanto, signifi-
cado se analisada à luz dos requisitos do presente estudo, nas
implicações operativas e na sua utilidade na conservação do patri-
mónio edificado, integrada na metodologia mais vasta da Conser-
vação de um edifício histórico e nos mais recentes debates teó-
ricos.
Estes debates surgiram sobretudo a partir dos anos 60 do sé-
culo XX e intensificaram-se com o alargamento do conceito de
património edificado. Não só à arquitectura vernácula, mas tam-
bém a sítios urbanos e rurais. Não somente circunscritos aos gran-
des monumentos, os novos conceitos de património implicaram
uma discussão contínua e evolutiva sobre o que conservar e como
conservar.
Para avaliar o contributo do conhecimento das técnicas tradi-
cionais para a metodologia da Conservação, importa recordar as
suas fases principais à luz das teorias recentes. Evidenciados os
critérios e os objectivos destas diversas fases, é possível definir o
valor das fontes da tratadística em relação ao valor das outras
fontes de conhecimento necessárias à Conservação.
Nesta análise procura-se, de forma sistemática, discorrer sobre
o contributo de cada uma das categorias da informação recolhida
ao longo dos capítulos anteriores, em cada um dos momentos de
um processo típico de análise-decisão-intervenção.
281
O PROCESSO DE CONSERVAÇÃO DE UM EDIFÍCIO NAS
SUAS DIVERSAS FASES. OS DEBATES TEÓRICOS RECENTES
Intervir sobre uma construção existente, que com a História
foi acumulando valores importantes para um país ou uma comu-
nidade, requer uma sensibilidade e conhecimento específicos que
são muito diferentes dos necessários para a execução de uma cons-
trução nova, cuja função é predeterminada e obedece sobretudo a
critérios económicos.
No caso de uma acção de conservação de um edifício histórico,
para além das condicionantes económicas, existem outras pre-
missas de natureza específica e casuística. Estas condicionantes
têm a ver acima de tudo com a avaliação e preservação dos diver-
sos valores de que o edifício é testemunho.
Um edifício histórico pode ser importante por um número
variado de razões. Porque constitui uma obra de arte, é um exem-
plo de um determinado “estilo” arquitectónico; foi realizado por
um arquitecto importante; constituiu o cenário de acontecimen-
tos históricos relevantes; exemplifica técnicas construtivas tradi-
cionais que se foram perdendo com o tempo (apresenta, por exem-
plo, rebocos realizados com técnicas particulares, possui interiores
e acabamentos originais, uma estrutura de telhado particular…);
o seu volume e aparência estética pertencem a um conjunto urba-
nístico homogéneo ou a variedade de estilos e períodos constituem
nele um exemplo raro e único…
Por todas estas razões qualquer projecto de conservação parte
do levantamento e análise destes valores, para poder conciliar a
sua preservação com os condicionamentos económicos associa-
dos à viabilidade financeira do projecto.
A análise dos valores que o edifício encerra, está associada à
formulação de questões que devem ser respondidas pelos diver-
 Por sua vez, a análise da estabilidade do edifício é iniciada
normalmente com a observação sistemática do quadro fissurativo
das paredes, fundações, arcos e abóbadas e da dimensão das sec-
ções resistentes dos elementos em alvenaria, metálicos e em ma-
deira. Paralelamente, é instalado um sistema de monitorização
das deformações, sempre que se temam estados evolutivos que
levem ao aumento das mesmas e que possam levar a estrutura ao
colapso. Neste caso são implementados sistemas provisórios de
observação, que permitem seguir a variação da geometria da estru-
tura com instrumentos ópticos, distanciómetros, inclinómetros e
níveis hidrostáticos de precisão. A medição da abertura de fissuras
é feita normalmente por meio de extensómetros mecânicos, eléc-
tricos ou electrónicos, consoante a precisão requerida.
A análise da estabilidade das alvenarias inclui a realização in
situ de testes como, por exemplo, os destinados a verificar a sua
homogeneidade por ensaios de velocidade sónica, os do teor em
água dos blocos de pedra ou dos tijolos e os de deformação com
macacos planos. Os testes em laboratório, por seu turno, incluem
frequentemente provas de absorção capilar e de resistência à
compressão de amostras de blocos de alvenaria ou de argamassas.
A simulação da deformação de secções da estrutura para diversos
sistemas de carga, de preferência por meio de cálculo automático,
pode também ser utilizada sobretudo para as estruturas metálicas
e em madeira. Para as alvenarias é verificada a estabilidade estática
das fundações, dos muros, das abóbadas e dos arcos.
As informações obtidas com todos estes estudos são natural-
mente integradas, complementando-se, confirmando-se ou con-
tradizendo-se.
Uma vez recolhida a informação segue-se normalmente a Fase
da sua avaliação e julgamento criterioso com a consequente ela-
boração do projecto de execução. O objectivo é o de permitir jus-
tificar as seguintes decisões fundamentais:
• Intervir ou não?
• Porquê intervir? Com que justificação e com que objectivos?
• Onde intervir (sobre todo o edifício, em determinadas zo-
nas, na envolvente)?
• Como intervir?
A informação recolhida é usada para elaboração dos diversos
projectos de execução que devem ser “afinados” num “estaleiro
284
de projecto” aberto antes do verdadeiro início dos trabalhos de
modo a pôr em confronto todas as informações e critérios e permitir
elaborar os projectos finais de conservação arquitectónica integrada.
A oportunidade, a possibilidade e a forma de intervenção,
devem ser julgadas utilizando critérios de decisão específicos, em
parte definidos em legislação e em directivas internacionais.
Os documentos legais e as directivas internacionais para uma
abordagem comum dos problemas de conservação são fruto da
evolução de várias correntes de pensamento, iniciadas sobretudo
no final do século XIX, e procuram reflectir os “consensos mais
actualizados” relativos a esta problemática.
No que se refere a “cartas” internacionais, a primeira metade do
século XX foi marcada pela corrente do “restauro científico” tradu-
zida nas suas linhas principais na Carta de Atenas, de 1931, elabo-
rada na I Conferência Internacional de Especialistas da Conserva-
ção e Protecção de Monumentos, realizada em Atenas em Outubro
desse ano, pelo Instituto para a Cooperação Intelectual da Socie-
dade das Nações. Esta teoria viu-se, no entanto, confrontada com a
sua difícil aplicação prática em grande escala e em tempo limitado,
após as grandes destruições da Segunda Guerra Mundial. A dis-
cussão que se seguiu ao pós-guerra foi desenvolvida sobretudo por
teóricos como Cesare Brandi, Renato Bonelli, Pietro Gazzola e Giulio
Argan e deu origem à criação da Carta de Veneza, redigida durante
o II Congresso Internacional dos Arquitectos e Técnicos de Monu-
mentos Históricos, realizado nessa cidade em Maio de 1964.
Esta Carta, que marcou o final do século XX, baseou-se num
conjunto de critérios necessários à “conservação histórico-crítica”,
dos quais devem ser salientados os seguintes:
• Limitar a intervenção à mínima extensão (qualquer restauro
deve terminar onde as conjecturas comecem, art.º 9 da Carta
de Veneza) de modo a não eliminar traços históricos de inter-
venções anteriores;
• Garantir a reversibilidade das novas intervenções, de modo
a que estas não impliquem uma intrusão no material his-
tórico e possam ser removidas, sempre que se revelem incor-
rectas ou provoquem danos adicionais sobre o edifício;
• Permitir a distinção e a legibilidade crítica dos diversos ele-
mentos, estilos, fases construtivas relevantes e materiais
adicionados nas intervenções havidas, evitando no entanto
dissonâncias estéticas importantes;
cal aérea ou hidráulica quer no catálogo do Instituto Português de
Qualidade, quer no das Especificações LNEC.
Com a recente renovação do interesse pela utilização e reabili-
tação do uso das cais, as acções de normalização a nível europeu,
em especial a ENV459, referidas no Capítulo II, constituem um
instrumento fundamental a associar ao conhecimento das antigas
técnicas de produção das cais. Todos os ensaios de controlo de
qualidade e de recepção das cais no estaleiro são necessários nos
estaleiros contemporâneos de restauro. O facto dessas normas
contemplarem a recepção de cais vivas em estaleiro constitui um
factor positivo para o recriar de práticas tradicionais, indispensá-
veis para a obtenção de produtos semelhantes e compatíveis com
as antigas argamassas.
A utilização dos processos de extinção em estaleiro necessita
porém de uma nova avaliação, no que se refere às normas exis-
tentes e à criação de novas normas praticáveis nos estaleiros con-
temporâneos de restauro. Estas normas deverão certamente estabe-
lecer práticas que assegurem as melhores condições sanitárias,
isolando fisicamente as tinas de extinção e limitando a emissão
de gazes e a sua inalação pelos operadores. A extinção de pequenas
quantidades em locais bem ventilados poderá constituir uma prá-
tica de novo frequente se revestida de precauções particulares.
Na impossibilidade de reconstituir completamente as condi-
ções tradicionais de extinção, a utilização de cais aéreas em pasta
apresenta-se como uma prática válida actualmente e de compro-
Fig. 6.27 / Amassadura mecânica de argamassas com cal em pasta.
312
misso com as condicionantes actuais de produção industrial. Em
Itália, a cal aérea usada na maioria das intervenções de conservação
e restauro é recebida em estaleiro sob a forma de pasta devidamente
acondicionada em sacos plásticos. A cal hidráulica natural é nor-
malmente usada em pó e transformada em pasta antes de serem
adicionados os inertes ou pigmentos.
Finalmente deve considerar-se o aspecto relativo ao tempo ne-
cessário à aplicação de muitas das técnicas tradicionais. No caso
das argamassas à base de cal, procurava-se tradicionalmente uma
secagem e presa lentas. No assentamento, os blocos eram molhados
regularmente e os diversos estratos de revestimento eram aplicados
depois dos precedentes terem secado. Os recalços de fundações
eram feitos por troços limitados, os pavimentos eram executados
por ciclos sucessivos de compactação e os acabamentos eram reali-
zados por operações sucessivas de brunidos e polidos. Para além
de todas estas exigências de execução, a resistência das argamassas
e betões só era obtida algumas semanas mais tarde enquanto que
as massas executadas actualmente com cimento Portland fazem a
presa muito mais rapidamente.
Por todas estas razões, o tempo necessário à execução e à presa
de argamassas e de betões à base de cal é frequentemente superior
aos requeridos nas modernas operações de aplicação de materiais
contemporâneos. Esta diversidade de tempos de execução deve ser
ultrapassada prevendo devidamente os vários ciclos de aplicação,
secagem-molhagem e endurecimento das argamassas tradicionais,
optimizando a sua combinação com materiais e técnicas contempo-
râneas e prevendo-as devidamente nos cronogramas de trabalho.
O CONHECIMENTO TRADICIONAL
E O CONHECIMENTO CONTEMPORÂNEO
Retomando o texto do início do século XX citado no primeiro
capítulo para ilustrar as primeiras reacções à utilização do betão
armado, parecem pertinentes algumas considerações. Este texto40,
para além das vantagens, referia as desvantagens que os construto-
res de então, julgavam mais evidentes em relação ao betão armado:
Los inconvenientes atribuídos al cemento armado son:
1.º Las constantes específicas, por lo que al cemento se rifiere, varían
entre límites bastante distintos, y por consiguiente, los cálculos de
 las construcciones no tinen la exectitud que se obtiene empleando
otros materiales;
2.º Carencia de método racional de cálculo;
3.º Necesidad de obreros hábiles;
4.º Ser las construcciones antiestéticas.
Se se perguntar hoje em dia a um técnico formado essencial-
mente na construção em betão armado ou aço, quais as vantagens
e desvantagens que lhe parecem merecer as alvenarias tradicionais,
a resposta será semelhante à referida no texto, mas em sentido
precisamente oposto (do contemporâneo para o tradicional). Por
outras palavras, esse técnico comum dos nossos dias provavel-
mente dirá que os inconvenientes atribuídos às alvenarias tradi-
cionais são:
1. As constantes específicas, no que se refere às alvenarias
tradicionais, variam entre limites bastantes distintos, e por
conseguinte, os cálculos das construções não têm a exacti-
dão que se obtém empregando outros materiais;
2. Carência de método racional de cálculo;
3. Necessidade de operários especializados;
4. Com as alvenarias tradicionais obtêm-se construções anti-
estéticas ou antiquadas.
Estes julgamentos de valor opostos, têm a sua origem na forma-
ção técnica de cada um dos comentadores. O desconhecimento
de um determinado campo tecnológico leva por vezes a classificar
esse campo desconhecido como menos eficaz ou menos perfor-
mante. Constitui uma reacção humana comum, desconfiar ou ter
preconceitos sobre aquilo que não se conhece bem.
313
Por outro lado, o conhecedor das técnicas de betão armado terá
tendência a conservar uma estrutura de betão armado, demolindo
e refazendo as zonas degradadas. As técnicas de betão armado são
actualmente ensinadas e facilmente utilizadas, como tal parece natu-
ral intervir num edifício deste tipo com as mesmas técnicas com
que ele foi construído. O mesmo acontecia quando as técnicas das
alvenarias eram as únicas conhecidas. Demoliam-se e reconstru-
íam-se as partes degradadas com as técnicas construtivas tradicionais.
Para conservar os valores contidos num edifício histórico é
necessário responder a exigências específicas. Estas exigências
implicam o conhecimento das técnicas usadas na construção do
edifício a conservar e de técnicas novas capazes de preservar os
materiais originais. Com este fim têm vindo a ser desenvolvidos
materiais específicos para o restauro do betão armado, em especial
determinadas resinas, vernizes e impermeabilizantes, capazes de
retardar os fenómenos de corrosão e infiltração de água.
No campo da conservação das alvenarias, e com a perda de
parte do conhecimento tradicional, passou-se por vezes por situa-
ções extremas, em que se decidia pela demolição e renovação total,
ou em que se procurava conservar tudo, porque tudo era conside-
rado “extraordinário” ou impossível de realizar de novo.
O presente estudo pretendeu contribuir para preencher esta
lacuna do conhecimento necessário a uma compreensão, avalia-
ção e intervenção completa e equilibrada dos edifícios antigos em
alvenaria. Pela sua identificação e avaliação sistemática, procu-
rou-se demonstrar quanto importante é conhecer estas técnicas a
par com as técnicas modernas. Tudo depende de com que objecti-
vo, com que fim, como, quando e onde se utilizam. Responder a
estas perguntas é saber Conservar.
314
 VII
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES DA PESQUISA
No final deste estudo, é possível fazer um balanço dos resulta-
dos obtidos, destacar as conclusões principais obtidas, estabelecer
novas pistas de investigação que poderão dar continuidade à pre-
sente obra e apresentar por último o seu contributo para a Enge-
nharia Civil e para a Conservação de edifícios históricos.
Como observado, foram sendo obtidos com o avançar do estu-
do, três classes de resultados:
1. A Bibliografia comentada que constitui o primeiro capítulo;
2. A identificação e análise crítica das grandes categorias de
princípios, regras e procedimentos executivos indispensá-
veis à compreensão das alvenarias, apresentadas nos
capítulos II, III, IV e V;
3. A avaliação da aplicação de todo estes princípios, regras e
procedimentos, na prática conservativa dos nossos dias, des-
crita no capítulo VI.
A partir de cada um destes resultados, puderam ser estabele-
cidas três séries distintas de conclusões, que confirmam os pressu-
postos iniciais e servem para demonstrar a conclusão última e
propositiva da presente obra,que se enuncia do seguinte modo:
O conhecimento das técnicas tradicionais de construção e
em particular das alvenarias serve para justificar, e torna indis-
pensável, a posição do Engenheiro Civil na Conservação de edi-
fícios.
De modo a visualizar de forma sintética a relação entre:
• Os pressupostos com que se partiu no início do trabalho;
• A diferente natureza dos estudos efectuados;
• Os produtos da pesquisa obtidos;
e tectura, e como suporte à prática diária dos profissionais da Con-
• As séries de conclusões a que se chegou.
315
Apresenta-se o Quadro-organigrama 7.1, antes da apresentação
das três séries de conclusões que é possível estabelecer no final
do presente estudo.
PRIMEIRA SÉRIE DE CONCLUSÕES
A nova visão da Bibliografia técnica dos séculos XVIII e XIX
é indispensável para o conhecimento dos edifícios históricos
em alvenaria
Na presente obra foi realizada uma análise sistemática e crítica
de um espectro alargado das fontes bibliográficas destinadas à
técnica das construções de edifícios em alvenaria. Este primeiro
grande resultado constitui o primeiro capítulo do presente livro.
Uma das características originais desta bibliografia é a sua orga-
nização em secções temáticas que permitem abordar o tema da
construção tradicional de alvenarias na sua complexidade. Sem
se limitar aos grandes tratados e manuais, é estendida a cursos e
resumos de lições e ao estudo de obras especializadas de Estereoto-
mia; de Perspectiva e Desenho; de Materiais de Construção; de
Mecânica dos arcos, abóbadas, paredes e fundações; de Química
das cais e argamassas; de Técnicas de revestimentos e acabamen-
tos; de Protecção e de Durabilidade.
Para além de se basear em diversos tipos de fontes, a bibliogra-
fia recolhida constitui um documento útil para a compreensão da
evolução histórica das diversas técnicas. A sua apresentação crono-
lógica, com indicação das diversas edições conhecidas para cada
obra, constitui uma base de dados, que poderá servir como refe-
rência inicial ao estudo de alvenarias históricas, útil por sua vez a
futuros estudos de investigação no campo da Engenharia e Arqui-
servação de edifícios.
bibliográficas, como estabelecer uma visão global dos problemas
relacionados com a construção das alvenarias tradicionais.
No que se refere à natureza do conteúdo das diversas obras,
concluiu-se que a informação contida na bibliografia técnica tem
a ver essencialmente com uma tentativa de:
• ilustração de métodos ancestrais;
• melhoramento de processos correntes à luz dos conheci-
mentos que se obtinham com o avançar das diversas ciên-
cias;
• explicação e teorização de práticas empíricas através do es-
pírito científico;
• estabelecimento de regras e leis que facilitassem a trans-
missão destes conhecimentos através de um sistema educa-
tivo normalizado, acessível a um maior número de pessoas
e adaptável a um maior numero de situações, condições
naturais e geológicas de terrenos, de materiais e de mão-de-
-obra;
• estabelecimento de regras que permitissem a economia de
materiais e meios humanos, ou seja, que ajudassem a cons-
truir melhor, em menos tempo e de forma mais económica.
A visão global deste conhecimento é classificável segundo
quatro ramos ou categorias principais:
• A concepção e o dimensionamento dos edifícios em alve-
naria;
• A produção e armazenamento dos materiais (blocos elemen-
tares e argamassas);
• A execução e pose em obra (assemblagem de blocos e arga-
massas);
• A protecção e a durabilidade dos edifícios.
Esta visão global baseia-se num conjunto limitado de princí-
pios e técnicas relacionado com cada uma destas categorias que
se apresentam ao longo dos quatro capítulos referidos, servindo
para demonstrar quão complexo é este domínio do conheci-
mento.
Estas regras e técnicas gerais constituem como que a “gramá-
tica” de um “léxico” ou “linguagem”, que é específico das alvena-
rias e serve de chave para a sua compreensão e utilização.
318
Relativamente à concepção de edifícios em alvenaria, as regras
essencialmente relacionadas com o Desenho e com a Estereotomia,
apresentam-se basicamente dependentes dos tipos de combina-
ção de blocos e argamassas e dos elementos estruturais.
O dimensionamento tradicional das alvenarias dependeu ini-
cialmente de regras essencialmente empíricas, às quais foram
sendo associados métodos estáticos de verificação da estabilidade
a determinados mecanismos de colapso e conceitos de resistência
dos materiais destinados a estimar o valor das tensões máximas.
Para a preparação dos materiais, identificaram-se técnicas
gerais destinadas à fabricação de blocos elementares em pedra
talhada, irregular e em tijolo, à preparação de ligantes, aglomeran-
tes e inertes, à extinção das cais e de amassadura, e finalmente
regras de dosagem das argamassas e betões.
A categoria relativa aos cuidados a ter na pose das alvenarias e
dos acabamentos é composta essencialmente de técnicas de assen-
tamento, de cimbramento e descimbramento de arcos e abóbadas,
aplicação de revestimentos, acabamento de paramentos e aplica-
ção e acabamento de pavimentos.
Por fim a classificação geral das procedimentos e cuidados tidos
para assegurar a máxima durabilidade às alvenarias, compreende
a sua protecção à água; a sua protecção a movimentos das funda-
ções e a solicitações horizontais; operações de manutenção ordi-
nária e operações de consolidação e reforço extraordinário.
Estas classificações definidas ao longo dos capítulos II a V
constituem a base de uma primeira leitura geral e sistemática das
fontes estudadas e, como tal, podem ser usadas como referência
fundamental para consultas complementares da bibliografia
comentada no capítulo I.
Paralelamente a estas conclusões e contributos principais,
podem ser ainda proferidas algumas considerações e conclusões
indirectas. A primeira consideração, prende-se com a conclusão
já referida atrás, de que o conhecimento das alvenarias através da
literatura técnica constitui uma herança europeia comum. Esta
conclusão é novamente confirmada pela análise do conteúdo das
diversas obras estudadas. Como é possível constatar ao longo do
presente estudo, a apresentação completa de uma determinada
regra de arte, necessita quase sempre da referência a autores de
diversas nacionalidades e períodos históricos. Estas referências,
que foram sendo citadas, constituem contributos “cruzados” que
confirmam, corrigem ou complementam referências anteriores.
 NOTAS
INTRODUÇÃO E CAPÍTULO I
1
CARBONARA Giovanni et al., Trattato di Restauro Architettonico, Torino,
Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1996, 4 volumes.
2
Estas categorias constituem o Índice da Bibliografia.
3
Volumen – rolo de papiro.
4
Segundo a lenda, os pergaminhos teriam sido usados pela primeira vez a
partir do século II a. C., na biblioteca dos reis de Pérgamo que rivalizava com a
biblioteca de Alexandria.
5
Os codices consistiam em diversos cadernos cosidos uns aos outros, com
maior capacidade que os volumines e difundidos entre o século II e o século IV.
6
STRABO, L’Africa di Strabone: Libro XVII della Geografia: Introduzione,
traduzione e commento di Nicola Biffi, Modugno, Bari, Edizioni dal Sud, Serie
Quaderni di “Invigilata Lucernis”, 1999.
7
CHOISY Auguste, Histoire de l’Architecture, Tom. I, p. 53.
8
VON SCHLOSSER Julius Ritter, La letteratura artistica: manuale delle fonti
della storia dell’arte moderna / Julius Schlosser Magnino, traduzione di Filippo Rossi,
ed. aggiornata da Otto Kurz, Firenze, La nuova Italia, 1956, pp. 60-71.
9
Foi consultada a edição recente XENOPHON, Ciropedia-Introduzione di
Domenico Musti, traduzione de Antonella L. Newton, Santarelli, 1977. A Biblioteca
Nacional de Lisboa possui um exemplar de umas primeiras impressões em latim
desta obra: Xenophontis CyriPaediae libri quatuor posteriores, Parisis, Ex officina
Christiani Wecheli, 1539. (BNL RES. 5758//3 P.)
10
CUPELLONI Luciano, Antichi cantieri moderni: Concezione, sapere tecnico,
costruzione da Iktìnos a Brunelleschi, Roma, Gangemi Editore, 1996, pp. 30-31.
11
HEIBERG Johan Ludwig, Euclidis opera omnia, J. L. Heiberg and H. Menge,
1883-1916, 8 vols. e suplemento.
12
ARCHIMEDES, Oeuvres: Texte, établi et traduit par Charles Mugler, Paris,
Société d’ édition “Les Belles lettres”, 1970-1972. (tomo 2 – De l’équilibre des figures
planes).
13
A primeira edição “moderna” data do período Renascimental: HERON de
Alexandria, Di Herone Alessandrino de gli automati, overo machine se moventi, libri
due. Tradotti dal Greco da Bernardino Baldi, Venetia, Girolamo Porro, 1589.
14
DI PASQUALE S., L’arte del Costruire, Veneza, Marsilio Editori, p. 211.
15
VON SCHLOSSER Julius Ritter, op. cit., pp. 9-13.
16
Sobre a difusão destas obras durante o período contemporâneo à sua prepa-
ração pouco se sabe. Depois da queda do Império permaneceram no esquecimento
até à sua redescoberta no Renascimento.
17
ERLANDE-BRADENBURG Alain, Quand les cathédrales étaient peintes, Itá-
lia, Editoriale Libraria, Découvertes, Gallimard Architecture, 1993, p. 22.
323
18
BLASSELLE Bruno, Histoire du livre: À pleine pages, Paris, Trieste, Découvertes
Gallimard, 1997, Vol. I, pp. 16-28.
19
ALMEIDA Carlos Alberto Ferreira de, Arte da Alta Idade Média, in História
da Arte em Portugal, Lisboa, Alfa, Vol. 2, 1986.
20
FERNANDES José Manuel, Sínteses da Cultura portuguesa – A Arquitectura,
Lisboa, Europália 91, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991. pp. 24-25.
21
Impressos pela primeira vez em 1858.
22
Impressos pela primeira vez em 1845.
23
DODWELL C.R. (ed.) Theophilus. De Diversis artibus, London, New York,
Thomas Nelson & Sons, Ltd., 1986, pp. XXXIX-XLIV.
24
ERLANDE-BRADENBURG Alain, Quand les Cathédrales étaient pein-
tes, Itália, Editoriale Libraria, Découvertes, Gallimard, Architecture, 1993,
fotos 1-9.
25
ASCANI Valerio, Il Trecento disegnato: Le basi progettuali dell’architettura
gotica in Italia, Roma, Viella – Libreria editrice, 1997, pp. 67-98 e pp. 108-111.
26
BRANNER – Drawings from a thirteenth-century architect’s shop: The Reims
palimpsest. Journal of the Society of Architectural Historians, 1958, N.º 4.
27
ASCANI Valerio, op. cit., pp. 36-50.
28
LEVI Cesare Augusto, Notizie storiche di alcune antiche Scuole d’arte e mes-
tieri scomparse o esistente ancora in Venezia, Venezia, 1895.
29
ICHER François, Les Compagnons ou l’amour de la belle ouvrage, Paris,
Découvertes Gallimard, 1995, pp. 27-36.
30
Sobre as marcas ou traços de “estaleiro” e de “montagem na Antiguidade e na
Idade Média citam-se as obras de RUIZ DE LA ROSA Josè Antonio, Traza y Sime-
tria de la Arquitectura en la Antiguedad e Medievo, Sevilla, Servicio de Publica-
ciones de la Universidad de Sevilla, 1987 e INGLESE Carlo, Progetti sulla Pietra,
Roma, Gangemi Editore, 2000, usadas como referências nesta listagem. No livro de
INGLESE são descritas com grande detalhe as marcas da época de Adriano encontra-
das no Mausoléu de Augusto em Roma.
31
PEPPONI Laura Cristina – Il disegno di progetto in epoca tardomedievale.
Analisi e confronti di esempi redatti tra il XIII e il XV secolo. Il disegno di progetto
dalle origini al XVIII secolo, Roma, Gangemi editore, p. 27.
32
PELLATI F., Vitruvio, Roma, 1938, pp. 46-63.
33
Edição princeps de Giovanni Sulpicio.
34
BERTRAND Jestaz, Architecture of the Renaissance, from Brunelleschi to
Palladio, London, Thames and Hudson, 1996, p. 100.
35
DESWARTE Sylvie – Francisco de Hollanda et les études vitruviennes en
Italie. A Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Coimbra, Epartur,
1981, p. 238.
36
VON SCHLOSSER Julius Ritter, op. cit., p. 284.
 37
GUNTHER Hubertus – La Rinascita dell’Antichità. Il Rinascimento da
Brunelleschi a Michelangelo. La rappresentazione dell’architettura a cura di Henry
Millon e Vittorio Magnano Lampugnani, Milano, Bompiani, pp. 259-306.
38
PELLIZZARI Achille, Le opere di Francisco de Hollanda, Napoli, Perrella,
1915, 2 Vols.
39
BERTRAND Jestaz, Architecture of the Renaissance, from Brunelleschi to
Palladio, London, Thames and Hudson, 1996, p. 23.
40
COMAR Philippe, La perspective en jeu – Les dessous de l’image, Évreux,
Découvertes Gallimard, Sciences, 1992, p. 38.
41
UNGERS Osvaldo Mathias – Ordo, pondo et mensura: criteri architettonici
del Rinascimento. Rinascimento da Brunelleschi a Michelangelo – La rappresenta-
zione dell’architettura, a cura di Henry Millon e Vittorio Magnano Lampugnani,
Milano, Bompiani, 1994, pp. 307-317.
42
PALACIOS GONZALO José Carlos, Traza y cortes de canteria en el rena-
cimiento español, Madrid, Ministerio de Cultura, Instituto de Conservación y
Restauración de bienes Culturales, 1990. (referência aos tratadistas espanhóis a
pp. 11 e 12).
43
SANABRIA S.L. – Structural sizing in the late medieval world. Stable-Un-
stable (LEMAIRE R., VAN BALEN K. editors), Leuven University Press, pp. 45-64.
44
Sobre o corte das pedras in Philibert de l’Orme, Premier Tome d’architecture,
reedição de Pérouse de Montclos, Paris, Laget, 1988, p. 62.
45
TIMOSHENKO Stephen P., History of Strength of Materials, New York, Dover
Publications, Inc., 1983.
46
A Biblioteca Nacional em Lisboa possui um exemplar da edição de Paris, de
1535, uma das primeiras edições em latim deste tratado.
47
BORGATTI Mariano, Fortificazione permanente contemporanea (teorica ed
applicata), Torino, Tipografia G.U. Cassone, 1898, pp. 10-15.
48
A maioria dos tratados referidos neste subcapítulo foram consultados na
Biblioteca Vaticana, na Biblioteca da Arma de Engenharia em Roma e na Biblioteca
do Exército em Lisboa.
49
BOXER C. R., Fort Jesus and the Portuguese in Mombasa: 1593-1729, London,
Hollis & Carter, 1960, pp. 91-95.
50
VIGANÒ Marino – Architetti e ingegneri italiani all’estero dal XV al XVIII
secolo: un bilancio storiografico. Architetti e ingegneri italiani all’estero dal XV al
XVIII secolo, Roma, Sillabe, 1994, pp. 14-15.
51
MOREIRA Rafael – A Arquitectura Militar do Renascimento em Portugal.
A Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Coimbra, Universidade
de Coimbra, 1981, pp. 281-305 e VERRUA Pietro, Sulle relazioni culturali tra Porto-
gallo e Italia: I – L’epistolario di Filippo Terzi, Milano, Genova, Soc. An. Dante
Alighieri, Estratto da “La Rassegna, anno 45”, 1937.
52
BUENO Beatriz P. Siqueira – A iconografia dos engenheiros militares no
século XVIII: Instrumento de conhecimento e controlo do território. Universo Urba-
nístico Português 1415-1822, Lisboa, Comissão Nacional para os Descobrimentos
Portugueses, 1998, p. 98.
53
TEIXEIRA Francisco Gomes, História das Matemáticas em Portugal, Lisboa,
Lições proferidas de 12 a 19 de Abril de 1932, Academia das Ciências, 1934, pp. 34-35.
54
Este sistema de defesa tinha sido pela primeira vez preconizado na obra Les
fortifications de Blaise de Pagan, publicada em Paris, em 1645.
55
São atribuídos a Vauban, diversos sistemas de fortificação. De forma resumida,
as fortalezas Vauban apresentaram três tipos de variantes ou sistemas que consistiam
na criação de uma rede de bastiões (obras avançadas com flancos e faces) dispostas
324
em torno da fortaleza principal poligonal. Na primeira variante, cada uma das faces
de um bastião era coberta pelo tiro dos bastiões vizinhos. Na segunda variante,
cada bastião era independente e mais elevado que a praça forte principal a defender.
Na terceira variante, cada bastião estava aberto ao fogo da fortaleza poligonal, sendo
multiplicado o seu número de modo a aumentar o número de obstáculos a vencer
pelo adversário. Segundo DE HALLÉ Guy, GROESTSCHEL Yves, Précis de la
fortification, Paris, P.C.V. Éditions, 1983.
56
Castrametação – instalação de uma rede de campos e fortalezas militares,
responsáveis pelo sistema de defesa e pelo controlo militar de um território.
57
Em Portugal, o Real Corpo de Engenheiros foi criado em 1792. Em Espanha,
o “Real Cuerpo de Ingenieros delos Exercitos, Plazas, Puertos y Fronteras ” foi insti-
tuído em 1711.
58
Ver a categoria 6.9 – Coberturas, humidade, salubridade e protecção às águas,
da Bibliografia.
59
Na Aula da Esfera, que continuou activa durante o século XVII, terão sido
ensinados os tratados do holandês Marolois e dos franceses Errard e de Ville, já a
partir de 1630 e 1635. Cfr. BUENO Beatriz P. Siqueira – A iconografia dos engenhei-
ros militares no século XVIII: Instrumento de conhecimento e controlo do território.
Universo Urbanístico Português 1415-1822, Lisboa, Comissão Nacional para os Des-
cobrimentos Portugueses, 1998, p. 100.
60
POUILLOUX Jean-Yves, Montaigne – Que sais-je?, Paris, Gallimard, Décou-
vertes, 1988.
61
PICON Antoine, Architectes et ingénieurs au siècle des lumières, Marseille,
Éditions Patenthèses, 1988, p. 24.
62
SCHAER Roland (dir.), Tous les savoirs du monde: encyclopédies et
bibliothèques, de Sumer au XXIe siècle, Paris, Bibliothèque Nationale de France –
Flammarion, 1996, p.187.
63
MOUREAU François, Le roman vrai de l’Encyclopédie, Paris, Gallimard,
Découvertes, 1990, p. 60.
64
Para a elaboração deste quadro foram consultadas as Enciclopédias Portu-
guesa e Brasileira, a Enciclopédia Italiana Treccani, a francesa Larousse, a Enciclopé-
dia Britânica e o sítio Internet da Universidade de Waterloo, http://www.lib.
uwaterloo.ca/society/denominado Historical Data/Chronology of Scholarly Societies:
14th to 18th Centuries. Para as escolas de Itália foi fundamental a obra de Guenzi,
L’arte di edificare, de 1993. Para a compreensão do panorama espanhol revelou-se
muito útil a obra Madrid, Ciencia y Corte editada por Lafuente e Moscoso em 1999.
Em relação a Portugal tomou-se como referência as obras: Apontamentos relativos à
instrucção pública (1858) de João Ferreira Campos; as Memórias da Academia Real
das Sciencias de Lisboa; a obra História das Matemáticas em Portugal: Lições profe-
ridas de 12 a 19 de abril de 1932, de Francisco Gomes Teixeira da Academia das
Ciências de Lisboa e o artigo de E. Maranha das Neves, Notas sobre a moderna
Engenharia Civil portuguesa publicado na Revista Ingenium, em Agosto de 1998.
65
PICON Antoine, op. cit., pp. 115-132.
66
A importância destes tratados alemães que não houve a possibilidade de
consultar, é analisada por KRUFT Hanno-Walter, Storia delle teorie architettoniche,
Bari, Editori Laterza, 1999, pp. 223-253.
67
Na Biblioteca Nacional de Lisboa existe um exemplar da terceira edição de
1736.
68
FORTES Manuel de Azevedo, O Engenheiro Portuguez, tomo II, p. 433.
69
Em RODRIGUES A.A. Gonçalves, A tradução em Portugal – Tentativa de rese-
nha cronológica das traduções impressas em língua portuguesa, excluindo o Brasil,
 ÍNDICE DA BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO DE AUTORES ..................................................................................................... 349

ADVERTÊNCIAS À LEITURA DA BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 357
1. Principais Tratados e Manuais de Arquitectura e Construção Civil ........................................ 357
(impressos e anteriores a 1750)
2. Tratados e Manuais de construção militar e civil ..................................................................... 361
(séculos XVIII-XIX e antecedentes mais relevantes)
3. Cursos e resumos de teoria geral e de prática das construções ................................................ 364
(séculos XVIII-XIX e principais antecedentes)
3.1 – Destinados a Academias e Escolas Civis ....................................................................... 364
3.2 – Destinados a Academias e Escolas Militares ................................................................. 366
4. Principais Tratados e Manuais de Arquitectura e Construção Civil ........................................ 367
(publicados entre 1750 e 1900)
5. Manuais gerais de bolso e Prontuários de Construção (séculos XVIII-XIX) ............................... 371
6. Bibliografia Selectiva publicada essencialmente nos séculos XVIII e XIX ................................. 375
6.1 – Geometria, Perspectiva e Desenho ................................................................................. 375
6.2 – Estereotomia ................................................................................................................... 377
6.3 – Mecânica das alvenarias e Resistência dos Materiais ................................................... 379
6.4 – Orçamentação, medições e regulamentos de construção ............................................. 385
6.5 – Fabricação de blocos, ligantes, inertes e argamassas .................................................... 387
6.6 – Métodos de execução da fundação de edifícios ............................................................ 392
6.7 – Técnicas construtivas específicas das alvenarias de tijolo ........................................... 392
6.8 – Acabamentos e revestimentos ....................................................................................... 393
6.9 – Coberturas, humidade, salubridade e protecção às águas ............................................ 395
6.10 – Manutenção e durabilidade das alvenarias ................................................................. 396
7. Enciclopédias e Dicionários de Arquitectura e Engenharia ..................................................... 397
(séculos XVIII-XIX e antecedentes mais importantes)
8. Bibliografia sobre a História da Arquitectura e das técnicas construtivas, .............................. 400
publicada nos séculos XVIII e XIX
9. Antigos manuscritos publicados pela primeira vez nos séculos XIX e XX ................................ 403
10. Periódicos especializados publicados nos séculos XVIII e XIX ................................................. 404
11. Bibliografia recente sobre História das Técnicas e Conservação de edifícios ........................ 405
12. Normas, Regulamentos e Bibliografia de carácter geral .......................................................... 412
BIBLIOTECAS E ARQUIVOS (abreviaturas) ............................................................................................. 414
FONTES COMPUTORIZADAS ................................................................................................................... 414
Internet – Catálogos on-line ........................................................................................................... 414

348
 ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO DE AUTORES

A ASTM American Society BATAILLE Athanase 373

for Testing and Materials 412 BATHE K. J. 412
ADAM Jean-Pierre 405 ASTRUA Giuseppe 412 BAUDSON E. 390
ADDISON P. L. 374 ATWOOD George 381 BEAUDEMOULIN Louis-Alexandre 392
AFFONSÊCA Sílvia Pimenta d’ 405 AUDSLEY George Ashdown 400 BECHMANN Roland 404, 412
AGUIAR João Maria d’ 393 AUDSLEY William James 400 BECKER W. A. 392
ALBARRÁN Y SÁNCHEZ Josè 393 AVILER Augustin-Charles d’ (1653-1700) 360, 397 BECKETT Sir Edmund 396
ALBERTI G. 369 AZEVEDO Ana Gonçalves de 412 BELICI Giovanni Battista 361
ALBERTI Giuseppe Antonio (1712-1768) 385 AZEVEDO Carlos A. Moreira 412 BELIDOR Bernard Forest de (1697-1761)
ALBERTI Leon Battista (1404-1472) 358, 375 AZEVEDO João 405 360, 363, 398
ALBERTINI Cesare 370, 374 BELLA João António dalla 396
ALBUQUERQUE Luís da Silva Mouzinho 383 B BELLIDOR FORES Bernardo 361
ALEGRO Godofredo Edmundo 386 BELMAS 395
ALEXANDRE Paul 390 BACK Otto 391 BELPAIRE T. 384
ALLEN John Parnell 366 BAILS Benito 380, 398 BENAVENTE 368
ALMEIDA F. J. de 389, 390, 395, 396 BAKER Ira Osborn (1853-...) 370 BENEVIDES Francisco da Fonseca 373
ALPOIM José Fernandes Pinto (1700-1765) BALDINUCCI Filippo (1625-1696) 397 BENOIT Paul (ed.) 406
367 BALTARD Louis-Pierre (1764-1846) 364 BENSI Maria Rosa 406
ALSTED Johann Heinrich 397 BANKART George Percy 405 BENSI Paolo 406
AMATI Carlo 357 BARATTA A. 406 BENVENUTO Edoardo (1940-1998) 406
AMENDOLAGINE Francesco 405 BARBARO Daniele 357 BERG L. de C. 374
AMICHEVOLI Costanzo 366 BARBEROT Etienne (Jean-Etienne-Casimir) 370 BÉRIGNY Charles 392
AMORÓS y PUJOL Francisco 379 BARBIER DE MONTAULT Xavier (monsignore) BERTHAULT-DUCREUX 388
ANDREANI Isidoro 374 (1830-1901) 402 BERTY Adolphe 401
ANDROMET DU CERCEAU Jacques BARDE Charles 396 BIAGIO AMICO Giovanni abade (1684-1754) 363
(c.1510 - c.1584) 376 BARLOW Peter 382 BIGOT-RENAUX Jules 395
ANGELETTI Roberto 406, 408 BARLOW William Henry 383 BINDA Luigia 410
ANSELME 399 BARNAUD J. 363 BION Nicolas (1652-1733) 385
ANTOLINI Giovanni 368, 377 BAROCCHI Paola 406 BISCONTIN Guido 406, 408
ANTONINI Carlo 393 BARONI G. 406 BISTON Valentin 388, 395
ARCHIMEDES (287-212 a.C.) 379, 405 BARONIO Giulia 410 BIZCAYA Luis de 393
ARCo 405, 406, 408, 409, 410 BARRÉ Louis-Auguste 400 BLACK A. 366
ARCOLAO Carla 405 BARRÉ Paul (fils) 400 BLAND William 382
ASCANI Valerio 405 BARREIROS Fortunato José 386 BLONDEL François (1618-1686) 362, 364
ASHPITEL Arthur (1807-1869) 370, 401 BARRERA Francesco 409 BLONDEL Jacques François (1705-1774) 364
ASHURST J. 411 BARRY Edward Middleton 366 BLOTTAS 386
ASSIRCCO Congresso nazionale 405 BARTHÉLEMY Jean 406 BLUM Hans 358
ASSUMPÇÃO T. Lino d’ 400 BARTHOLOMEW A. 396 BLÜMNER 403

349
 BIBLIOGRAFIA
ADVERTÊNCIAS À LEITURA DA BIBLIOGRAFIA
1. A bibliografia recolhida foi dividida nas diversas categorias
indicadas no índice.
2. Cada categoria está organizada por ordem cronológica e alfa-
bética.
3. Os livros pela primeira vez impressos antes de 1750 corres-
pondem a obras importantes para a compreensão do período
analisado.
4. Os livros anteriores a 1750 são separados dos publicados
após 1750 pelo símbolo: — // —, que marca a data da publi-
cação da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert.
5. São indicadas todas as edições que foi possível identificar
de uma dada obra, assim como as línguas em que foi tradu-
zida, de modo a avaliar a sua importância e difusão.
6. A seguir ao nome de cada autor foram, sempre que possível,
indicadas entre parêntesis as datas do seu nascimento e
morte, de modo a situar a sua vida, no período em que a
sua obra foi publicada e reeditada.
7. No fim de cada uma das referências bibliográficas, e sempre
que conhecido, foram indicadas as bibliotecas com as res-
pectivas cotas bibliográficas para cada uma das edições
indicadas de uma mesma obra. Ex: ICCROM viiiD1010, quer
dizer que a obra se encontra na biblioteca do ICCROM em
Roma e tem a referência viiiD1010 do catálogo desta colec-
ção.
8. As abreviaturas das bibliotecas usadas nas quotas bibliográ-
ficas, estão indicadas ao fim desta bibliografia, sob o título
“Arquivos e Bibliotecas – Abreviaturas”.
357
1. PRINCIPAIS TRATADOS E MANUAIS DE ARQUITECTURA
E CONSTRUÇÃO CIVIL (IMPRESSOS E ANTERIORES A 1750)
1469-…
PLINIUS C. Secundus (I sec. D.C.), Naturalis Historia.
Primeira impressão Venezia, Johannes Spirensis, 1469.
Edição recente – Storia Naturale, a cura di A. Corso, R. Mugellesi e G. Rosati,
Torino, Einaudi, 1982-1988.
1486-…
VITRUVIUS POLLIO Lucius (I sec. A.C.), De Architettura, Libri dieci.
• Primeiras impressões em latim
– Roma 1486.; – Firenze, Venezia, 1495-1497; – Edição ilustrada de Fra Giocondo,
Venezia, Giovanni Tacuino, 1511; – Vitruvius iterum et Frontinus à Iocondo revisi
repurgatique quanttum ex collatione licuit, Firenze (Filippo Giunta), 1513,
246 p. de texto com140 ilustrações (edição de bolso).
• Em italiano
– Primeira edição em italiano por Cesare Cesariano, Como, 1521; – CAPORALI
Gianbattista, Vetruvio / in volgare lingua rapportato per M. Giambattista Caporali
di Perugia, Perugia, nella stamperia del Conte Iano Bigazzini, 1536. (BFIB); –
BARBARO Daniele, I dieci libri dell’architettura per D. Barbaro, Venezia,
Francesco Marcolini 1556. (BFIB) (reprod. in Dover Publications, New York); –
RUSCONI Giovanantonio, Della Architettura di Gio. Antonio Rusconi, con cento-
sessanta Figure disegnate dal medesimo, secondo i precetti di Vitruvio, e con
chiarezza e brevitá dichiarate, Libri X, Venezia, Gioliti, 1590, 143 p. (BNF RES-
V- 356)
Outras edições: – Rep. facs, Farnbrough, Gregg, 1968; – Repr. facs, Leiden, (IDC),
(DSA); – Repr. facs. com introd. de Anna Bedon, Verona, Colpo di fulmine
edizioni, 1996, 143 p.; – GALIANI Berardo, L’architettura di M.Vitruvio Pollione,
Napoli, 1758; – AMATI Carlo, L’architettura di Vitruvio nella versione di Carlo
Amati, 1829.
Outra edição: – Firenze, Alinea, 1989.
• Em castelhano
– SAGREDO Diego de, Medidas del Romano, Toledo, Remon de Petras, 1526,
38 p.
Outras edições: – 2.ª ed., Lisboa, Luis Rodriguez, 1541; – 3.ª ed. e 4.ª ed, Medi-
das del Romano agora nuevamente impressas y añadidas de muchas pieças e
figuras muy necessarias a los officiales que quieren seguir las formaciones delas
 basas / colunas / capiteles / y otras pieças de los edificios antiguos, Lisbona,
Imprimido por Luis Rodriguez, Jan. e Junho de1542, 43 p. (BNL RES. 6082 P);
– 5.ª ed., Toledo, Juan de Ayala, 1549, 29 p.; – 6.ª ed., Toledo, Juan de Ayala,
1564, 43 p.; – Fac-símile da ed. de 1526: Madrid, Graficas, ultra, 1946; Calí,
Acad. Hist. Valle de Cauca, 1967; Valencia, Albatroz, 1976, Mexico, Ex. Con-
vento Churubusco, 1977; – Fac-símile da edição de 1542, Lisboa, 1915.
• Em francês
– SAGREDO Diego de, Raison d’architecture antique, extraite de Victruve, &
autres anciens architecteurs, nouvellement traduit d’espaignol en francoys: a
l’utilité de ceux qui se délectent en édifices, Paris, Simon de Collines, 1531, 51 p.
Outras edições: – Paris, Simon de Collines, 1539, 51 p.; – Paris, Simon de Colines,
1542, 51 p. (BAV); – Paris, Regnaud Chaudiere et Claude son fils, 1550, 51 p.; –
Paris, Guillaume Cauellat, Benois Preoust, 1555, 56 p. (BAV); – Paris, Gilles
Gourbin, 1555; – Paris, Llerasme Marnef, 1572; – Paris, Denise Cavellat, 1608,
111 p. (BAV)
– PERRAULT Claude (1613-1688), Abrégé des dix livres d’architecture de Vitruve.
Par C. Perrault, Paris, J. B. Coignard, 1674, 224 p. (BL1481.a.42)
Outras edições: – Les Dix livres d’architecture Marcus Pollio Vitruvius. Traduction
intégrale de Claude Perrault, 1673, revue et corrigée sur les textes latins et présen-
tée par André Dalmas, Paris, 203 p. (BL Cup.22.dd.15); – Architecture générale
de Vitruve réduite en abregé par M. Perrault, dernière édition enrichie de figures
en cuivre, Amsterdam, 1681 (BL1043.f.11); – Les dix livres d’Architecture, corrigez
et traduits en François, avec des notes et des figures. Seconde édition, corrigée et
augmentée par M. Perrault, Paris, 1684 (BL 60.g.3.(1)).
• Em alemão
– RYFF Walter (Rivius ), Nuremberg, 1547; – BLUM Hans, Zurich, 1550.
• Em português
– Edição Portuguesa por H. Rua a partir da edição de Perrault de 1684, Lisboa,
Instituto Superior Técnico,1998, 360 p. (JMM)
1485-… zido por Francisco de Villalpando Architecto, Toledo, Ivan de Ayala, 1552, 75 p.
ALBERTI Leon Battista (1404-1472), De re aedificatoria Italiana e Latina, Firenze,
Nicolò di Lorenzo Alemanno, 1485.
Outras edições:
• Em latim:
– Libri De re aedificatoria dece [m]. Opus integree[m] et absolutum [m]: diligenter
q[ue] recognitum. Distinctum est arte, Parrhisijs, B. Rembolt, 1512, 376 p.
(BAV.Cicognara.IV.371 ou R.I.V.2048)
• Em italiano
– I dieci libri de l’architettura di Leon Battista degli Alberti… Novamente da la
latina ne la volgar lingua con molta diligenza tradotti, Vinegi, appresso Vincenzo
Vaugris, 1546 (BFIB); – L’architettura di Leon Battista Alberti tradotta in lingua
fiorentina da Cosimo Bartoli gentil’homo & Accademico Fiorentino, con l’aggiunta
de’ disegni, Firenze, appresso Lorenzo Torrentino Impressore Ducale,1550
(BFIB); – L’architettura, a cura di G.Orlandi e P. Portoghesi, Milano, il Polifilo,
1966.
• Em francês
– L’architecture et art de bien bâtir du Seigneur Leon Baptiste Albert… divisée en
dix livres traduits du latin en français, par deffunct Ian Martin, Paris, I. Keruer,
1553 (BAV.Cicognara.VI.374).
358
• Em inglês
– Architecture, London, 1726.
• Em alemão
– De re aedificatoria, Florenz 1485, Index verborum, bearb. von Hans-Karl Lucke,
(Reprodução fac-símile da edição de 1485 de Florença), Munchen, Prestel, 1975-
-1979, 4 volumes (BAV R.G.ArteArch.II.1359. 6,1-4).
• Em castelhano
– De re aedificatoria ó Los diez Libros de architectura... traducidos del latín por
Francisco Lozano, Madrid, Alonso Gómez, 1582; – Fac-símile da ed. de 1582,
Oviedo, Collegio Oficial de Aparejadores y Arquitectos Técnicos de Asturias,
1975, 442 p. (BNE); – Fac-símile da ed. de 1582, Valencia, Albatros ediciones,
1977, 343 p.
1537-…
SERLIO Sebastiano (1475-1554), De architettura libri quatro, Venezia, 1537.
– Il terzo libro d’architettura, Venezia, per Francesco Marcolino, 1540 (BAV); – Il
terzo libro, Vinetia, per Francesco Marcolini, Gio. Battista e Marchio Sessa, 1544
(BFIB) (BAV); – Il primo e secondo libri d’architettura, Paris, 1545; – Quinto libro
d’architettura, Paris, 1547 / Venetia, Gio Battista et Marchio Sessa, 1559 (BAV)
(BFIB); – Il terzo [-quinto] libro, Venetia, per Pietro de Nicolini da Sabbio, 1551
(BAV); – De Architectura. Libri Quinque, Venezia, F. Senensis & J. Criegher, 1569;
– Il sesto libro d’architettura, Frankfurt, 1575; – Il settimo libro d’architettura,
Francofurti ad Moenum, ex officina typographica Andreae Wecheli, 1575, 243 p.
(BAV); – Il primo-settimo libro d’architettura, Paris, 1540-1575, 7 partes em 2 volu-
mes; – Tutte l’opere d’architettura et un’indice copiosissimo raccolto da M. Gio.
Domenico Scamozzi., Venetia, de’ Francischi, 1584 (BAV); – Libro d’architettura
(1584), ed. fac-símile Bologna, Arnaldo Forni Editore, 2 volumes, 826 p.
Primeiras edições:
• Em castelhano
– Tercero y quarto libro de architectura de... Boloñés... agora nuevamente tradu-
(BNE); – Tercero y quarto libro de architectura, traduzido de toscano en lengua
castellana por Francisco de Villalpando, Toledo, Ioan de Ayala, 1563, 78 p. (BNE);
– Toledo, Iuan de Ayala, 1573, 78 p. (BAV)
• Em francês
– Quinto libro d’architettura traduict en françois par Ian Martin, Paris, de
l’imprimerie de Michel de Vascosan, 1547, 33 p. (BAV)
• Em alemão
– Die Gemaynen Reglen von der Architecktur, über die Funff Manieren der Gebew,
[s.n.], 1558, 71p. (BAV)
1554-1567
CATTANEO Pietro, I quattro primi libri di architettura di Pietro Cattaneo Senese
nel primo de’ quali si dimostrano le buone qualità de’ siti per l’edificatione delle
città & castella; nel secondo quanto si aspetta alla materia per la fabrica; nel terzo
si veggono varie maniere di tempii; nel quarto si dimostrano per diverse piante
l’ordine di più palazzi & casamenti, Vinegia, in casa de’ figliuoli di Aldo, 1554. (BFIB)
CATTANEO Pietro, L’architettura di Pietro Cattaneo Senese, alla quale oltre ad
essere stati dall’istesso autore riuniti meglio ordinati e diversi disegni e discorsi
arricchiti i primi quattro libri per l’adietro stampati sono aggiunti di più il quinto,
sesto, settimo e ottauo libro, Venetia, Aldo Manuzio, 1567. (BNFIB)
 Edição recente: – L’architettura. Libri otto (1567), ed. fac-símile, Bologna, Arnalfo
Forni Editore, 1972, 208 p.
1558
RIVIUS Walther, Der Architektur fürnembsten…Mathematischen und Mechanischen
Künst… in drei Bücher abgetheilet, Nüremberg, Gabriel Heyn, 1558.
1561
ORME Philibert de l’ (c.1510-1570), Inventions pour bien bastir et à petits frais,
Paris, Federic Morel, 1561, 122 p. (BAHOP 741 D)
Edição recente: – MONTCLOS J. M. Pérouse de, Philibert de l’ Orme: Les traités
d’architecture, Paris, Laget, 1988, 87 p. (BNF-FOL-V-12896)
1562 -… – Venezia, Bartolomeo Carampelli, 1601. (BAV, Barberini.N.V.27 ou BAV, Chigi.
VIGNOLA Giacomo Barozzi da (1507-1573), Regola delle cinque ordini d’architet-
tura, 1562.
VIGNOLA Giacomo Barozzi da (1507-1573), I quattro libri dell’architettura, 1562.
Outras edições:
• Em italiano
– Regola delle cinque ordini d’architettura, Roma, 1602; – Regole delle cinque
ordini di architettura. Trattati con l’aggiunta degli scritti di architettura di Alvise
Cornaro, Francesco Giorgi, Claudio Tolomei, Giangiorgio Trissino, Giorgio Vasari,
a cura di E. Bassi [et al.], Milano, il Polifilo, 1985.
• Em português
– Regras das cinco ordens de architectura com hum acrecentamento de Geo-
metria prática e regra de perspectiva de Fernando Galli Bibiena, traduzido
por José Carlos Binhetti, Lisboa, Officina de Jose D’Aquino Bulhoens, 1787,
86 p. (Catálogo n. 110 de Arnaldo Henriques de Oliveira, n. 1481, in A tradu-
ção em Portugal); – Regras das cinco ordens de architettura segundo os prin-
cípios de Vinhola, com um ensaio sobre as mesmas ordens feito sobre o
sentimento dos mais célebres Architectos, tradução de José Calheiros de Maga-
lhães e Andrade, Coimbra, na Real Imprensa da Universidade, 1787, 154 p.
(BNLB. A.377); – Regras das cinco ordens de architettura segundo os princí-
pios de Vinhola, com um ensaio sobre as mesmas ordens feito sobre o senti-
mento dos mais célebres Architectos, tradução de José Calheiros de Magalhães
e Noções teóricas de architectura civil, seguidas de um breve tratado das
Cinco Ordens de J.B. de Vignola, Lisboa, 1839, 28 p.; – Breve tratado das
cinco ordens de arquitectura / Giacomo Barozzio da Vignola, trad. e compil.
pelo professor José da Costa Sequeira, Lisboa, Typ. de A. S. Coelho, 1841.
(BNL B.A. 283 V.)
Outra edição: Typ. de José Baptista Morando, 1848 (BNL B.A. 283//6 V.); – Re-
gras das cinco ordens de architectura, tradução de José Baptista Morando, Lis-
boa, 1858, 158 p.
• Em castelhano
– Regla de los cinco órdenes de Architectura... traducido em Romance por Patricio
Caxesi Florentino, Madrid, Vicencio Carducho, 1593, 33 p. (BNE); – Outras
edições: Madrid, 1651, 1702, 1722, 1736, 1760, 1764, 1768, 1813 e 1855.
1564
BULLANT Jean, Reigle générale d’architecture, Paris, 1564.
1567
ORME Philibert de l’ (c.1510-1570), Inventions pour bien bastir et à petits frais:
Livres 1-9, Paris, Federic Morel, 1561.
359
Edição recente: – MONTCLOS J. M. Pérouse de, Philibert de l’ Orme: Les traités
d’architecture, Paris, Laget, 1988, 87 p. (BNF-FOL-V-12896)
1570
PALLADIO Andrea (1508-1580), I quatro libri dell’architettura, nè quali, dopo un
breve trattato dè cinque ordini & quelli avertimenti, che sono più necessarij nel
fabricare; si tratta delle case private, delle vie, de i ponti, delle piazze, de i xistii &
de’ tempij, Venezia, Domenico de’ Franceschi, 1570, 2 volumes. (AAR, R.B.R. f824.2.
Pal. Qua)
Outras edições:
• Em italiano
II.429).
• Em inglês
– Andrea Palladio’s Architecture, in four books, carefully revised and redelineated
by Edward Hoppus .and embellished (by) a large variety of chimney pieces
collected from the works of Inigo Jones & others, London, Benjamin Cole, 1736,
250 p. (BL 1486.gg.7.); – The four books of Andrea Palladio’s architecture: where-
in, after a short treatise of the five orders, those observations that are most neces-
sary in building. The translator’s preface signed: Isaac Ware, London, Isaac Ware,
1738, 110 p. (BL 60.g.1)
• Em castelhano
– Libro Primero de la Arquitectura, traduzido de Toscano en Castellano por Fran-
cisco de Praves, Valladolid, Ivan Lasso, 1625, 38 p. (BNE); – Los Quatro Libros
de Arquitectura traducidos è ilustrados con notas por Don Joseph Francisco Ortiz
y Sanz, madrid, Imprenta Real, 1797, 42 p. (BNE)
1598
DIETTERLIN W., Le livre de l’architecture, 1598.
Outra edição: – Liège, 1862, 5 partes em 2 volumes.
1615
SCAMOZZI Vincenzo, L’idea dell’architettura universale, Venezia, presso l’autore,
1615 (AAR Stack.820.Sca.I).
Outras edições: – SCAMOZZI Vincenzo; TICOZZI Stefano (1762-1836);
MASIERI Luigi Gianni C., L’idea dell’architettura universale, Perugia, 1803.
Outra edição: – Milano, C.Gianni, 1835-1839, 2 volumes (AAR Stack.820.
Sca.I).
– Reprod. facs. da primeira edição: Bologna, Arnaldo Forni editore, 2 volumes,
816 p.; – Reprod. facs. da primeira edição: Farnborough, Gregg, 1964.
• Em francês:
– Les cinq ordres d’architecture de Vicent Scamozzi, Architecte de la République
de Venise: tirez du sixième Livre de son Idée generale d’Architecture, avec des
planches originales de Augustin Charles d’Aviler, Architete, Paris, Jean Baptiste
Coignard, 1685, 145 p. (BAV Cicognara 654)
1623-1647
LE MUET P., Manière de bien bâtir pour toutes sortes de personnes, Paris, 1623-
-1647.
1624
WOTTON Sir Henry, The elements of architecture, London, 1624.
1629
VIOLA Zanini G., Della architettura (libri due), Padova, 1629.
1629-1790
BRANCA Giovanni (1571-1645), Manuale di architettura, breve, risoluta e pratica,
diviso in sei libri, Ascoli, Massio Salvioni, 1629, 224 p. (BAV R.G.ArteArch. VI.15)
(BAV Barberini, N.VI,189, Ferraioli.VI.303).
Outras edições: – Roma, 1718; – 3.ª ed., Roma, Eredi Barbiellini, 1757, 127 p.
(BAV Cicognara. IV.449); – Manuale d’Architettura di Giovanni Branca correto
ed accresciuto, Monaldini, Roma, 1772, 6 volumes; – Roma, Monaldini, 1783,
271 p. (BAV Cicognara, III.450) (BAV R.G.ArteArch.VI.16) (DSA RIS.A15); –
Manuale d’architettura corretto, ed accresciuto, Modena, Società Tipografica,
1789, 8 pranchas (BAV R.G.ArteArch.IV.593); – Reprodução fac-símile da
1.ª ed., Firenze, Uniedit, 1975.
• Em castelhano
– Manual d’architettura… traducido al castellano por Don Manuel Hijosa,
Madrid, Viuda de Joachin Ibarra, 1790, 175 p. (BNE)
1631
COUTO Mateus do, o Velho, (m. c. 1664 ), Tractado de architectura que leo o mestre
e archit.º Mattheus do Couto, o velho no anno de 1631, Lisboa, 100 p. (manuscri-
to) (BNL COD 946)
1633-1796
LAURENCIO de San Nicholás (fray), Arte y uso de architectura, Valencia, 1633
(parte I), 1664 (parte II). (BNE 19940019583)
Outras edições: – 2.ª ed., Madrid, Bernardo de Hevada,1667, 2 volumes (BNE);
– 3.ª ed., Madrid, Manuel Román, 1736, 2 volumes (BNL B.A. 235 V SAO-
Nicolas, Lorenzo de); – Madrid, Placido Barco López, 1796, 471 p. (BNE); –
Reprodução fac-símile da edição de 1796: Saragozza, 1989.
1673-1688
HARTMANN Daniel, Burgerliche Wohnungs Baw-Kunst, Basel, 1673.
Outra edição: – Basel, 1688.
1675
ESCHINARDI Francesco (1623-1703), Architettura civile ridotta a metodo facile e
breve da Costanzi Amichevoli (pseud.), Terni, 1675, Bernardino Arnazzini, 48 p.
(BAV.Cicognara.V.397).
1678
CAPRA Alessandro, La nuova architettura famigliare, Bologna, Giacomo Monti, 1678.
1678
CARAMUEL LOBKOWITZ Juan (1606-1682)); BUGATTI Giovanni-Francesco;
DURELLO Simone; LAURENTI Cesare de; CORRADO Camilo, Architectura civil
recta y obliqua: considerada y dibuxada en el templo de Ierusalem, promovida a suma
perfeccion en el templo y palacio de S. Lorenço cerca del Escurial, Vegeven, Emprenta
Obispal por Camillo Corrado, 1678, 3 volumes (BTB) (BAV Cicognara.VII.463)
Outra edição: – Reprodução fac-símile, Madrid, Turner, 1984 (dir. De Antonio
Bonet Correa)
1678
CAPRA Alessandro, La nuova architettura famigliare diuisa in cinque libri corris-
pondenti a’ cinque ordini, cioè Toscano, Dorico, Ionico, Corintio, Composito,
Bologna, Per Giacomo Monti, 1678, 366 p. (BAV Barberini.N.II.37)
1679
LEONCINI Giuseppe, Istruttioni architettoniche secondo la dottrina di Vetruvio,
Roma. Matteo Gregorio Rossi, 1679, 68 p. (BAV Cicognara.III.547)
360
Outra edição: – Reprodução fac-símile, Bologna, Arnaldo Forni editore, 1979,
72 p.
1681
LE MUET P., Manière de bien bâtir pour toutes sortes de personnes. Revue et enrichie
de plusieurs figures des plus beaux bâtiments de France, Paris, 1681, 2 livros em
1 volume.
1691-1756
AVILER Augustin-Charles d’ (1653-1700), Cours d’architecture qui comprend les
ordres de Vignole, avec des commentaires, les figures & descriptions de ses plus
beaux bâtiments, & de ceux de Michel-Ange – vol. I; Explication des Termes
d’Architecture, Paris, 1691, Nicolas Langlois, vol.I – 354 p., vol. II, 425 p. (DSA
RIS.B.43, I, II).
Outra edição: – Nouvelle éd. par Pierre Jean Mariette, Paris, C.A. Jambert, 1756
(BAV Cicognara.V.406) (BNL BA. 242 V).
1706-1714
CORDEMOY, J.-L. de, Nouveau traité de toute l’architecture, Paris, Jean-Baptiste
Coignard, 1706, 216 p. (BAV Cicognara.III.480)
Outra edição: – Paris, Jean-Baptiste Coignard, 1714.
1714
LECLERC S., Traité d’architecture avec de remarques très utiles pour les jeunes
gens, Paris, P. Giffart, 1714.
1725
HALFPENNY William, The art of sound building in geometrical problems, London,
S. Aris for the author, 1725, 56 p.
1728
BRISEUX Charles-Étienne (c.1680-1754), Architecture moderne; ou l’art de bien
bâtir pour toutes sortes de personnes, Paris, 1728, 2 volumes (BNF V-8975)
1728
COURTONNE Jean (1671-1739); BRISEUX Charles-Étienne (c.1680-1754),
Architecture moderne ou l’art de bien bâtir pour toutes sortes de personnes tant
pour les maisons de particuliers que pour les palais, contenant cinq traités, Paris,
Claudel Jombert, 1728, 2 volumes (AAR R.B.R.820.Jam.Arc) (BAV Cicogna-
ra.V.402)
1734-1792
MASUSTEGUI Pedro, Arte de Construcción, Sevilla, J. Francisco Blas de Quesada,
1734, 176 p. (BNE)
Outras edições: – Madrid, 1792.
1737-1858
BELIDOR Bernard Forest de (1697-1761), Architecture hydraulique, ou l’art de
conduire, d’élever et de ménager les eaux pour les différents besoins de la vie,
Paris, C.-A. Jombert, 1737-1770, 4 volumes (BNF FB- 22092-6)
Outras edições:
• Em francês
– Paris, C.-A. Jombert, 1739-1770, 5 volumes (BNF V- 12719 -12723); – Paris,
L. Cellot, 1782-1790, 4 volumes (BNF 4- V- 3074); – Paris, F. Didot, 1819, 1 vol.,
667 p. (BNF V- 9870)
• Em alemão:
– Nürnberg, C. Weigel, Ingenieur-Wissenschaft bei aufzuführenden Vestungs-
Werken und bürgerlichen Gebäuden, 1857-1858, 2 volumes (BNF V-9307)
RIOUX J. P., La révolution industrielle, 1780-188, Paris, éditions du Seuil, 1971.
RODRIGUES A. A. Gonçalves, A tradução em Portugal- Tentativa de resenha crono-
lógica das traduções impressas em língua portuguesa excluído o Brasil de 1495
a 1950, Lisboa, Imprensa Nacional vol. I (1495-1834); Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa, vol. II (1835-1850); ISLA, vol. III (1851-1870); ISLA, vol. IV
(1871-1900) (BNL)
RODRIGUES J. M.; SOUSA P. F. de; BONIFÁCIO H. M. P., Vocabulário técnico e
crítico de Arquitectura, Coimbra, Quimera Editores, 1996, 291 p. (JMM)
SANTOS, Pérsio de Souza, Tecnologia de Argilas – Vol. 2 Aplicações, São Paulo,
Editora Edgard Blücher Lta, 1975, 802 p. (JMM)
SILVA João Ribeiro Christino da, Elementos de História da Arte, Biblioteca de Instrução
Profissional, 3.ª Série – Construção Civil, 4 volumes, I – Arte Antiga; 2 – Arte
Medieval; 3 – Arte na Renscença; 4 – Arte Moderna, 1904-1910. (JMM)
SOUSA Gonçalo de Vasconcelos e, Metodologia da Investigação: Redacção e apre-
sentação de trabalhos científicos, Livraria Civilização Editora, 1998, 132 p. (JMM)
STRABO (64/63 a. C.-c. 23 d. C.), L’Africa di Strabone: Libro XVII della Geografia
introduzione, traduzione e commento di Nicola Biffi, Modugno, Bari, Edizioni
dal Sud, Serie Quaderni di “Invigilata Lucernis”, 1999, 450 p. (BSR
213.STR.8)
TAVARES A. de Lyra, A engenharia militar portuguesa na construção do Brasil,
Secção de Publicações do E. M. E., 1966, 2 volumes. (BE, 13979)
TEIXEIRA Francisco Gomes, História das Matemáticas em Portugal: Lições proferi-
das de 12 a 19 de Abril de 1932, Lisboa, Academia das Ciências, 1934, 300 p.
(BNL CDU: 51.091)
VASCONCELLOS Joaquim de, Indústria de Cerâmica, Biblioteca de Instrução Pro-
fissional, 6.ª Série -Descripção de indústrias, Lisboa, Typ. da Empreza da Histó-
ria de Portugal, 1908-c.1910. (IST)
VERRUA Pietro, Sulle relazioni culturali tra Portogallo e Italia: I-L’epistolario di Filippo
Terzi, Milano, Genova, Soc. an. Dante Alighieri, Estratto da “La Rassegna, anno
45”, 1937, 10 p. (BAV)
BIBLIOTECAS E ARQUIVOS (ABREVIATURAS)
AAR – American Academy in Rome
AIPSAR – Arquivo do Instituto Português de Sto. António em Roma
ASABR – Archivio della Sovrintendenza dei Beni Architettonici de Roma
ASC – Archivio di Stato Capitolino, Roma
ASV – Archivio Segreto Vaticano, Vaticano
BAHOP – Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Lisboa
BAV – Biblioteca Apostólica Vaticana, Vaticano
BE – Biblioteca do Exército, Lisboa
BFI – Biblioteca Centrale della Facoltà di Ingegneria G. Boaga, La Sapienza, Roma
BFIB – Biblioteca della Facoltà d’Ingegneria, Universidade de Bolonha
414
BIAV – Biblioteca Centrale del Ateneo dell’Istituto Universitario di Architettura di
Venezia
BIPSAR – Biblioteca do Instituto Português de Sto. António em Roma
BL – British Library, Londres
BNE – Biblioteca Nacional de Madrid
BNF – Bibliothèque Nationale de France, Paris
BNCR – Biblioteca Nazionale Centrale Vittorio Emanuele II, Roma
BNL – Biblioteca Nacional de Lisboa
BPT – Biblioteca Central de Arquitectura do Politécnico de Turim
BRB – Bibliothèque Royale de Belgique, Bruxelas
BTB – Biblioteca do Arch. Tomaso Buzzi, Scarzuola, Orvieto
BUC – Biblioteca da Universidade de Coimbra
DIS – Dipartimento di Ingegneria Strutturale e Geotecnica -Sede Architettura
DFI – Dipartimento di Fisica, La Sapienza, Roma
DRR – Biblioteca del Dipartimento di Rapresentazione e Rilievo, La Sapienza, Roma
DSA – Biblioteca del Dipartimento di Storia della Architettura, La Sapienza, Roma
DST -Biblioteca del Dipartimento di Scienze della Terra, La Sapienza, Roma
ISAG – Biblioteca dell’Istituto Storico e di Cultura dell’Arma del Genio, Roma
ICCROM – Biblioteca Internacional para a Conservação de Bens Culturais, Roma
IST – Depósito da Biblioteca do Instituto Superior Técnico, Lisboa
KULeuven, BIBC – Katholieke Universiteit Leuven, Centraal Biblioteek, Bélgica
LNEC – Biblioteca do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa
RCSPC – Biblioteca do Real Colégio de São Pedro de Coimbra (Catálogo Gen. 1306,
1977)
UCL – Université Catholique de Louvain-la Neuve, Bélgica
JMM – Biblioteca do autor
FONTES COMPUTADORIZADAS
Internet – Catálogos on-line
Bibliothèque Royale de Belgique – http://www.belspo.be
Bibliotecas Alemãs – OPACs – http://www.hbz-nrw.de/hbz/toolbox/opac.htm
Biblioteca Capitolina, Roma – http://opac.sbn.it/cgi-bin/
Biblioteca Nacional de Espanha – http://www.bne.es/cgi-bin
Bibliothèque Nationale de France-Catalogue OPALE PLUS- http://catalogue.bnf.fr:80/
Biblioteca Nacional Lisboa-Porbase WWW – http://www.bnl.pt/
Biblioteca da Universidade de Coimbra – http://scoweb.bg.uc.pt/cgi-bin/webopac
Biblioteca
Biblioteca do ICCROM – http://library.iccrom.org
Library of Congress – http://lcweb.loc.gov/z3950/
Réseau canadien d’information sur le patrimoine (RCIP) – http://www.chin.gc.ca/
The British Library – http://www.bl.uk
 ORIGEM DAS FIGURAS

CAPÍTULO I – A BIBLIOGRAFIA E A TRANSMISSÃO DO SABER AOS PROTAGONISTAS DA CONSTRUÇÃO

Figura Título Origem

Ano de Tomo, Capítulo, Prancha,
número Autor Título da obra
publicação Página
Detalhe de um fresco de Pompeia (séc. I a.C)
1.1 que representa uma jovem mulher lendo um volumen
BLASSELLE Bruno Histoire du Livre 1997 Volume 1, p. 15

Maqueta representando um grande edifício romano

1.2 de apartamentos em Óstia Antiga
s.n. Museo della Civiltà Romana, Roma s.d.

Desenhos relativos à catedral de Reims apresentada

1.3 no Carnet de Villard d’Honnecourt
ERLANDE-BRADENBURG Alain Quand les cathédrales étaient peintes 1993 pp. 86-87

Plantas e alçados de um pináculo

1.4 apresentado no manual de Roriczer
ERLANDE-BRADENBURG Alain Quand les cathédrales étaient peintes 1993 pp. 96-97

Frontispício da obra de Vitrúvio por Daniele Barbaro (1556) JESTAZ Bertrand Architecture of the Renaissance 1996 p. 99
1.5 e as cinco ordens de colunas segundo Sebastiano Serlio (1569) MILLON H. LAMPUGNANI V.(ed.) Rinascimento: Da Brunelleschi a Michelangelo 1994 p. 311
Frontispício do "Methodo Lusitanico" de Luis Serrão Pimentel,
1.6 publicado em Lisboa, em 1680
PIMENTEL Luis Serrão Methodo Lusitanico 1680 Frontespício

Prancha intitulada "Tenalha de hum Exagono do novo

1.7 Systema de M.r de Vauban", da obra "O Engenheiro Português", FORTES Manuel de Azevedo O Engenheiro Portuguez 1729 Estampa 7
de Manuel de Azevdo Fortes, Lisboa, 1729
Frontispício do primeiro volume da "Encyclopédie"
1.8 de Diderot e d’Alembert da primeira edição de 1751
MOUREAU François Le roman vrai de l'Encyclopédie 1751, 1990 p. 63

Detalhe da "Table Analytique" da Enciclopédia de Diderot et d’Alembert

1.9 extraída de um "Essai d’une distribution génèalogique des Sciences et DIDEROT et D'ALEMBERT Encyclopédie 1751
des Arts principaux", publicado em 1769
Desenho de vários tipos de arcos e abóbadas e aplicações práticas CARLETTI Nicolò Istituttione di Architettura Civile Manuale 1772 Tom II, Tav.II eTav.VIII
1.10 da Perspectiva do tratado de Nicolò Carletti de 1772 CIRIELLO Onidia, CUSTODE Francesco del Recupero delle Techniche Napoletane 1996 pp. 110 e 113
Representação em perspectiva dos blocos necessários 1604-1605
1.11 a uma escada em caracol, por Vriedeman de Vries
VRIES Jan Vredeman de Perspective
(Dover, 1968)
Prancha 36

Exemplo de uma das pranchas dedicadas ao corte das aduelas

Traité de Stereotomie
1.12 de uma nervura gótica, do tratado de Estereotomia FREZIER, Amédée François
à l'usage de l'architecture
1739 Prancha 71
de Amédée François Frézier, de 1737-1739
Moinho para corte de lajes de pedra e aspecto de uma unidade Planche I.Tuilerie e Pl. II,
1.13 de produção de telhas e tijolos, em duas pranchas da Encyclopédie
DIDEROT et D'ALEMBERT Encyclopédie 1751
Moulin à scier les dalles
Operações de consolidação e reforço em um edifício lesionado
1.14 apresentados no Castelli e ponti de Zabaglia, 1743
ZABAGLIA Nicolla Castelli e ponti 1743 Tav. XIII

Asna Polenceau usada a partir de 1839 e vista do Second Leiter KHÜL Beatriz Mugayar Arquitectura do Ferro 1998 p. 50
1.15 Building em Chicago, de William Jenney (1889) SEGURADO João Emílio dos Santos Serralharia Civil c.1918 p.231
Sistema de abobadilhas com tijolos ocos Vol.I, p. 181;
1.16 entre vigas de ferro (Breymann)
BREYMANN Gustav Adolf Tratatto generale di Costruzioni Civile 1855-1910
figs. 492, 493 e 494 a.d
Estereotomia de uma escada em caracol,
1.17 do tratado de Charles Leroy (1845-1926)
LEROY Charles Antoine Traité de Stéréotomie 1845-1926 Planche 63

Frontispício das Memórias da Real Academia

1.18 das Ciências Lisboa em 1812
ACADEMIA Real das Ciências de Lisboa História da Real Academia de Ciências 1812 Primeira página

Máquina de Bonniceau para a medição dos coeficientes de dilatação Chaux et sels de chaux
1.19 de diversos tipos de alvenarai, apresentada na obra de Grange em 1894
GRANGE C.
à différents points de vue
1894 p. 387, fig. 81

Ilustrações do Nouveau manuel complet du peintre en bâtiments MALEPEYRE, RIFFAULT, TOUSSAINT; Nouveau Manuel complet Frontispício
1.20 de Riffault, Vergnaud e Toussaint (1850) VERGNAUD du peintre en bâtiments
1850
e Planche 1
Idéa Geral do que he a Architectura,
1.21 segundo José Manuel de Carvalho e Negreiros (1804)
NEGREIROS José Manuel de Carvalho O Engenheiro Civil Português 1804 Caderno I, Abril

Sistemas de pilares Considère p.267, fig. 163

1.22 e sistema de laje Monier
SEGURADO João Emílio dos Santos Cimento Armado c . 1920
p. 309, fig.198
Detalhe de uma janela no sistema de pedra talhada e ferro
1.23 apresentado por Warland no Modern Practical Masonry de 1929
WARLAND E.G. Modern Practical Masonry 1929 p. 36, fig. 119

415
 ÍNDICE DE FIGURAS

Capítulo I – A bibliografia e a transmissão do saber 1.18 Frontispício das Memórias da Real Academia das Ciências de Lis- 50
aos protagonistas da construção boa, em 1812.
1.19 Máquina de Bonniceau para a medição dos coeficientes de dilatação de 51
1.1 Detalhe de um fresco de Pompeia (séc. I a.C) que representa uma 23 diversos tipos de alvenaria, apresentada na obra de Grange em 1894.
jovem mulher lendo um volumen. 1.20 Ilustrações do Nouveau manuel complet du peintre en bâtiments de 54
1.2 Maqueta representando um grande edifício romano de apartamen- 24 Riffault, Vergnaud e Toussaint (1850).
tos em Óstia Antiga. 1.21 Idéa Geral do que he a Architectura, segundo José Manuel de Carva- 55
1.3 Desenhos relativos à catedral de Reims apresentada no Carnet de 26 lho e Negreiros (1804).
Villard d’Honnecourt. 1.22 Sistema de pilares Considère e sistema de laje Monier. 58
1.4 Plantas e alçados de um pináculo apresentado no manual de Roriczer. 26 1.23 Detalhe de uma janela no sistema de pedra talhada e ferro, apresen- 59
1.5 Frontispício da obra de Vitrúvio por Daniele Barbaro (1556) e as cinco 28 tado por Warland no Modern Practical Masonry, de 1929.
ordens de colunas, segundo Sebastiano Serlio (1569).
1.6 Frontispício do “Methodo Lusitanico” de Luis Serrão Pimentel, pu- 32
blicado em Lisboa, em 1680. Capítulo II – Sistemas de concepção geométrica
1.7 Prancha intitulada “Tenalha de hum Exagono do novo Systema de Mr. 34 e dimensionamento de edifícios em alvenaria
de Vauban”, da obra “O Engenheiro Português”, de manuel de Aze-
vedo Fortes, Lisboa, 1729. 2.1 Sistemas “modernos” de gaiola propostos na “Encyclopédie”. 72
1.8 Frontispício do primeiro volume da “Encyclopédie” de Diderot et 35 2.2 Alvenaria mista e alvenaria de pedra talhada usadas na Antiguidade 73
d’Alembert da primeira edição de 1751. Clássica, segundo Girolamo Masi.
1.9 Detalhe esquemático da “Table Analytique” da Enciclopédia de 35 2.3 Os sistemas das basílicas romano-cristãs (sistema com estrutura re- 75
Diderot et d’Alembert extraído de um “Essai d’une distribution génèa- sistente longitudinal e sistema com estrutura resistente transversal).
logique des Sciences et des Arts principaux”, publicado em 1769. 2.4 Sistema construtivo alveolar das cúpulas romanas. Em baixo sistema 79
1.10 Desenho de vários tipos de arcos e abóbadas e aplicações práticas da 38 usado no Renascimento para a Catedral de “S. Maria delle Fiore”,
Perspectiva do tratado de Nicolò Carletti de 1772. em Florença.
1.11 Representação em perspectiva dos blocos necessários a uma escada 40 2.5 Construção de um arco de “serapainel” de três centros, segundo 83
em caracol, por Vriedeman de Vries. Valério Martins de Oliveira (1748) e Formenti (1893).
1.12 Exemplo de uma das pranchas dedicadas ao corte das aduelas de 41 2.6 Traçado de diversos tipos de abóbadas: cilíndrica rampante (1); cilín- 84
uma nervura gótica, do tratado de Estereotomia de Amédée François drica helicoidal (2); luneta horizontal e luneta descendente cilíndrica
Frézier, de 1737-1739. (3); aresta ou cruzeiro sobre planta quadrangular (4); barrete de clé-
1.13 Moinho para corte de lajes de pedra e aspecto de uma unidade de 42 rigo quadrangular (5); cruzeiro sobre planta pentagonal irregular (6);
produção de telhas e tijolos, em duas pranchas da “Encyclopédie”. barrete de clérigo rectangular com zona central quase plana (7); lune-
1.14 Operações de consolidação e reforço em um edifício lesionado apre- 43 tas numa cúpula esférica (8).
sentadas no Castelli e ponti de Zabaglia, 1743. 2.7 Abóbadas de pendentes. 85
1.15 Asna Polenceau usada a partir de 1839 e vista do Second Leiter 45 2.8 Exemplo de trompa ou perxina, segundo Frézier. 86
Building em Chicago, de William Jenney (1889). 2.9 Abóbada ogival de 6 quartos. 86
1.16 Sistema de abobadilhas com tijolos furados entre vigas de ferro (Breymann). 48 2.10 Traçado de abóbadas em leque. À direita exemplo de pendural. 87
1.17 Estereotomia de uma escada em caracol, do tratado de Charles Leroy 49 2.11 Construção geométrica de uma abóbada de quatro ogivas com liernes 87
(1845-1926). e terciarões sobre uma planta quadrada, segundo Frézier.

424
2.12 Aparelho por fiadas longitudinais e aparelho em travessões para uma 88 2.43 Máquina de Rondelet para medir a resistência dos materiais, melho- 115
abóbada de pedra em ogiva. rada a partir da primeira máquina para teste da resistência das pe-
2.13 Centro de gravidade e equilíbrio de blocos prismáticos. 88 dras à compressão, desenhada por Gauthey em 1757.
2.14 Aparelho de platibandas em pedra. 89 2.44 Equilíbrio de um sólido homogéneo de eixo horizontal uniforme- 116
2.15 As juntas [PQ] e [RS] denominadas “crossettes” eram evitadas exe- 90 mente carregado, apoiado nas extremidades sobre planos horizontais.
cutando o “extradorso paralelo”, dando origem às juntas “corrigidas” 2.45 Diagramas de distribuição das cargas actuantes sobre as arquitraves 116
[pq] e [rs], segundo Leroy. e colunas do pórtico do Parthénon, em Atenas. À direita, o caso do
2.16 Aduelas de aresta “en bésace” (Choisy) e aduelas em V (Leroy). For- 90 pórtico interno do Panteão em Roma, com arcos de ressalva (Milani).
mas de evitar as juntas próximas dos ângulos. 2.46 Um sistema arquitravado sujeito a uma carga horizontal (Milani). 116
2.17 Perfis de arcos de diversas espessuras. 92 2.47 Representação gráfica da espessura t= h/8 para uma parede livre, 118
2.18 Aparelhos para arcos em tijolo de 1 vez de altura e espessuras de 92 segundo Rondelet.
1 vez, 1 ½ vez, 2 vezes e 2 ½ vezes (1-4);… 2.48 Modelo de Giuffré para uma parede constituída por blocos iguais 119
2.19 Aparelho de abóbadas de tijolo de grande espessura. 93 sobrepostos.
2.20 Exemplos de aparelhos por fiadas longitudinais, por anéis adjacentes 93 2.49 A estabilidade de uma parede no caso de estar isolada ou ligada a 120
e por anéis concêntricos. outras paredes transversais.
2.21 Exemplos de utilização do aparelho em espinha. Abóbada simples 93 2.50 Paredes de edifícios térreos do tipo basilical, suportando coberturas, 120
e abóbada rampante helicoidal em escada (fig. 42 de Gratry). segundo Rondelet.
2.22 Aparelho em espinha do centro para a periferia. 94 2.51 Esquema para a utilização das fórmulas de Rondelet no caso de edi- 122
2.23 Sistema romano de abóbadas com tijolo ao chato. 95 fícios a corpo simples e a corpo duplo.
2.24 O aparelho alentejano e o sistema de zonas oblíquas de Claudel. 95 2.52 Espessura das paredes do regulamento Municipal de Berlim no final 122
2.25 Sistemas de abobadilhas entre vigas de ferro. Sistema comum com 95 do século XIX, segundo Breymann.
tijolos ao cutelo e Sistema americano de Guastavino com tijolos ao 2.53 As três condições de carregamento para o dimensionamento de um 123
chato. sólido homogéneo vertical, segundo Milani.
2.26 Aparelhos da Antiguidade em pedra talhada. 96 2.54 Ilustração de Valadier sobre o equilíbrio de consolas de coroamento 127
2.27 Aparelhos com tijolos e mistos usados na Antiguidade Clássica e 97 (Breymann).
indicados como modelos ideais. 2.55 Sistema de ancoragem de uma cornija de coroamento. 127
2.28 Estudo da estabilidade dos volumes. 99 2.56 Desenho do tratado de Alessandro Capra referente à maneira correcta 128
2.29 Detalhe da ligação entre um tambor do fuste e a base de uma coluna. 100 e aos erros na execução de fundações.
2.30 Diversos tipos de aparelho para uma parede de 2 ½ tijolo. 102 2.57 Exemplo da verificação da estabilidade de uma fundação directa 129
2.31 Samblagem de um cunhal resultante da intersecção de duas paredes 102 (Breymann).
em ângulo agudo. 2.58 Regras para degraus de sapatas. 129
2.32 Aparelhos de pilares quadrados a 1 vez, 2 vezes e 2 ½ vezes (a som- 103 2.59 Antiga regra para traçar o extradorso de uma abóbada cilíndrica de 131
breado os tijolos a ¾) e de pilares rectangulares a 1 ½ x 1 vez e 1 ½ x espessura variável, conhecida a espessura na chave.
2 vezes. 2.60 Construção de Fontana para o traçado de uma cúpula (in Valadier). 132
2.33 Exemplos de almofadados. 104 2.61 O método tradicional (medieval) mais frequentemente citado para a 132
2.34 Detalhes de emendas e acessórios para tirantes metálicos. 105 obtenção da espessura dos pés-direitos para arcos e abóbadas rebai-
2.35 Sistemas de ancoragem de vigas de madeira. 105 xados, de volta inteira e elevados.
2.36 Posição incorrecta de um tirante numa abóbada cilíndrica de volta 106 2.62 Exemplo de esquemas destinados a ilustrar as regras empíricas usadas 135
inteira, segundo Valadier. em arcos e abóbadas cilíndricas rectas em tijolo.
2.37 Posição correcta de tirantes para um arco de volta inteira e um arco 106 2.63 Desenhos esquemáticos de Leonardo da Vinci para a rotura de arcos 137
rebaixado, segundo Valadier. de volta inteira, indicados no Códice de Madrid I e o desenho esque-
2.38 Disposição de tijolos comuns e perfis de tijolos de forma para faixas 107 mático da “regra da estabilidade”.
de pouco balanço. 2.64 Princípio da catenária segundo Poleni e a sua construção geométrica 137
2.39 “Nouvelle manière de fonder les pilles” (da “Encyclopédie”). 109 depois de conhecido o vértice e dois pontos situados na mesma hori-
2.40 Sistema de fundação de pilastras sobre estacaria, ligadas por arcos 111 zontal.
invertidos, usado por Giovanonni no Palácio Corsini. 2.65 O mecanismo de colapso de la Hire. 138
2.41 Fundação por abóbadas invertidas. 111 2.66 Comparação esquemática dos impulsos provocados por diversos 138
2.42 Cálculo gráfico da raiz quadrada da área de parte da secção transver- 113 perfis segundo Milizia e frontispício do tratado de Gauthier (edição
sal de um arco ou abóbada cilíndrica. de 1765).

425
2.67 O mecanismo de colapso de Belidor e a construção usada para obten- 139 Capítulo III – Princípios e técnicas de preparação
ção de um algoritmo capaz de oferecer a espessura dos pés-direitos e composição de materiais
de um arco de volta inteira sujeito ao seu peso próprio.
2.68 Frontispício do tratado de Mascheroni e mecanismo de colapso de 140 3.1 O corte do forro de uma coluna. No exemplo representado, o forro 161
Mascheroni (in Rondelet). de forma cilíndrica era dividido em 3 partes seguindo o veio natural
2.69 Esquema para desenvolvimento do algoritmo baseado no mecanismo 140 da pedra.
de Mascheroni, com a notação proposta por Venturoli. 3.2 Exemplos de equipas de carregadores para transporte de um bloco 161
2.70 Regras empíricas de Rondelet. Tipos de abóbadas considerados. 142 de pedra talhada com diversas combinações relativas ao número e à
2.71 Construção gráfica de Rondelet para cálculo da espessura na chave 143 posição relativa de cada um deles (estampa de Valadier inspirada
de abóbadas simétricas rectas de perfil rebaixado ou elevado. em Zabaglia).
2.72 O conceito da linha de pressões (Claudel e Laroque). 144 3.3 Serra artesanal. 162
2.73 Arco de estudo e mecanismo de colapso concebido por Poleni para 144 3.4 Os instrumentos de medida e as ferramentas tradicionais utilizadas 163
a verificação da estabilidade da cúpula Vaticana de S. Pedro, em para o corte e acabamento da pedra: compassos (73 e 74); nível de
1748. pedreiro (75); gaivel (76); régua desdobrável (77)…
2.74 O conceito do polígono funicular. 145 3.5 A utilização da régua e do escantilhão na execução de superfícies 164
2.75 A representação do impulso máximo e mínimo para um arco abatido 146 planas, côncavas e convexas.
e as curvas de pressões limites para um arco de volta inteira. 3.6 Tacos e encaixes para capeamentos. 164
2.76 Cálculo do valor e da posição do peso dos blocos da metade do arco 148 3.7 Os ferros de luva e diversos tipos de pinças. 165
equivalente, seguido da construção do funicular de pressões vincu- 3.8 Entalhes encontrados em templos gregos da Sicília, descritos por 165
lado em “alfa” e w1 (Exemplo prático de Breymann). Rondelet.
2.77 Pressões na secção da imposta e da chave (Exemplo prático de 148 3.9 Os efeitos nefastos da irregularidade dos leitos de colocação e da 166
Breymann). utilização de calços e cunhas na Igreja de Saint-Geneviève em Paris.
2.78 Polígono funicular para o perfil “optimizado” de espessura variável 148 3.10 Marcas de aparelho destinadas à fase de colocação, indicadas no 166
(Exemplo prático de Breymann). tratado de Estereotomia de Leroy.
2.79 Mecanismo de colapso proposto para a verificação da estabilidade 148 3.11 Transporte de blocos de grandes dimensões. 167
de um arco ogival (Breymann). 3.12 Mesa de moldar e molde tradicional apresentados no tratado de 169
2.80 Exemplo da construção do funicular de pressões para o cálculo da 149 Valadier. À direita, prensa mecânica de moldagem, apresentada na
espessura de um pé-direito. revista Popular Science Monthly, em 1880.
2.81 A relação t/R mínima em função do ângulo de abertura de um arco 151 3.13 Secção de um forno a lenha para cozedura de tijolos. 171
circular incompleto (Heyman). 3.14 Secção de um forno de cal de campanha e de um forno fixo tradi- 181
2.82 Gráfico de Giuffré evidenciando a variação do andamento da linha 151 cional.
de pressões na situação do arco extradorsado e do arco só sujeito ao 3.15 Fornos apresentados por Biston (1836): forno misto de calcinação 182
seu peso próprio. contínua e grande forno contínuo. À direita, forno industrial da
2.83 Curvas de Giuffré da espessura dos pés-direitos em função do ângulo 154 Empresa Cerâmica de Lisboa ainda activo no início do século XX.
da secção de ruptura e para diferentes ângulos de atrito. Comparação 3.16 Tanque para extinção de cal (Valadier). 188
dos valores de Belidor (“rottura per scorrimento”) e Mascheroni 3.17 Resultados obtidos por Higgins no final do século XVIII, sobre a me- 196
(“rottura per flessione”). lhor granulometria das areias em argamassas de cal aérea e a curva
2.84 Gráficos de Giuffré para a variação da espessura dos pés-direitos em 154 granulométrica da areia normal usada em Portugal.
função da sua altura. Comparação dos valores obtidos pelo método 3.18 Gráfico com o aumento da resistência à tracção da pasta de cal e da 201
medieval tradicional da fig. 2.61, pelo algoritmo de Belidor e pelo argamassa de areia e cal do “Teil” produzida pela empresa Lafarge
algoritmo de Mascheroni. em 1882.
2.85 Secção transversal da cúpula e polígonos funiculares relativos às 155 3.19 Relação entre as dosagens de areia e as de pozolana. 210
condições estáticas e dinâmicas obtidos para os arcos projectados 3.20 Relação entre as dosagens de areia e as de tijolo pilado. 211
na reconstrução da cúpula da igreja de “San Giovanni Battista 3.21 Instrumentos correspondentes às diversas fases da mecanização da 223
delle Monache” de Nápoles (Ceradini, Palmesano, Benvenuto, amassadura. Rolo, gancho, pá e moinho de argamassa.
Tocci). 3.22 Betoneira de queda livre. 223

426
 Capítulo IV – Princípios e técnicas de montagem 4.27 Instrumentos destinados à execução de rebocos. A trolha (1), as 251
e de execução de alvenarias colheres (2), a talocha (3), o esparavel (4) e a espátula denteada (6).
Instrumentos para a execução de estuques: o fio de prumo (7), a
4.1 Sistema de poços drenantes asociados a valas de condução das águas 226 desempenadeira (7), a régua de cantos (8) e as ganchetas (9).
subterrâneas e secções típicas de valas tradicionais. 4.28 A disposição das diversas camadas de um pavimento tradicional. 256
4.2 Desenho de Giovanonni para vários tipos de escoramento de funda- 227 4.29 Assentamento de ladrilhos numa prancha da Encyclopédie. À direita, 257
ções directas. afagamento de ladrilhos cerâmicos com um bloco de peperino (de-
4.3 Antigo esquema que indica a humidade ascensional, com e sem a 227 nominado “orso”) ou com outra pedra rugosa, no detalhe de uma
interposição de um diafragma isolante. prancha de Zabaglia.
4.4 Andaimes apoiados no solo e nas próprias alvenarias em construção. 229
4.5 Alinhamento durante a execução. 229
4.6 Instrumentos usados no assentamento de alvenarias. 229 Capítulo V – Princípios e técnicas destinados
4.7 A ficha e a operação de selagem por gravidade. 231 a assegurar a durabilidade das alvenarias
4.8 Sistemas de gateamento usados na Antiguidade, segundo Leclere e 234
Rondelet. 5.1 Construção geométrica de telhados compostos. 263
4.9 Sistemas de grampagem entre blocos de pedra. 235 5.2 Revestimento com soco na base das fachadas para protecção contra 264
4.10 Alvenaria mista de tijolo e pedra com execução de arrancamentos 235 o salpico das águas pluviais.
para aplicação dos blocos de paramento. 5.3 Detalhe de um algeroz em madeira forrado a folha de zinco. 264
4.11 Desenho de um simples destinado a uma abóbada com um vão de 10 m. 236 5.4 A oficina de trabalho do chumbo (Félibien) e detalhe do revestimento 265
Composto por uma camba curva, pendural, escoras (a), escora da de chumbo do telhado da Catedral de Chartres (adaptado de Viollet-
boneca (b), bonecas (c), flechas (e) e escoras laterais (m). -le-Duc).
4.12 Modo de cimbramento dos alvéolos das abóbadas góticas nervuradas, 236 5.5 Pormenores da realização das juntas horizontais e verticais e da liga- 265
usando tabuado corrido ou simples extensíveis ligeiros. ção de chapas de zinco a uma parede de alvenaria.
4.13 Sistema de Lassaulx aplicado a uma cúpula de tijolos. 237 5.6 Sistemas de caleira e tubo de queda. 266
4.14 Simples de uma abóbada de aresta em leque. 238 5.7 Perfis diversos para cristas e capeamentos para muros. 267
4.15 Simples adaptáveis a diversos perfis do sistema Spengler e simples 239 5.8 Detalhe do revestimento do extradorso de uma cornija com zinco ou 268
deslizante Moller. chumbo.
4.16 Abóbada de tijolos ao cutelo cheia com betão e aligeirada com ele- 240 5.9 Cobre-juntas e separadores de águas, executados em pedra. À direita, 269
mentos cerâmicos ocos. desenho esquemático baseado em Viollet-le-Duc, com as “sangrias” pra-
4.17 Sistemas de descimbramento. As cunhas conjugadas (1), o torniquete 241 ticadas em torno das juntas nos contrafortes da catedral de Estrasburgo.
(2), os sacos e as caixas de areia (3). 5.10 Secções de peitoris revestidos com chapa de zinco chumbada e com 269
4.18 A regularização in situ das superfícies em pedra talhada. 244 tijolos bem cozidos cortados inclinados.
4.19 Projecto do Bernini, para o Palácio de Montecitorio em Roma, mos- 244 5.11 Peitoril ou soleira com talho para assentamento nivelado das um- 269
trando a zona de pilastras previstas não afagadas. breiras, com bacia inclinada munida de lacrimal.
4.20 Cinzéis e escalpelos destinados à arrasadura e ao afagamento dos 245 5.12 Dreno e câmaras de protecção externa em fundações e caves. Da es- 270
paramentos de pedra: maceta (1); escopro pequeno de apontar (2); querda para a direita: caixa drenante com enrocamento (Demanet);
gradim (3); ponteiro (4); cinzel (5); buris e gorjetas para mármores câmara de ventilação (Segurado); muro de contenção de terras afas-
(6, 7, 8); trépano ou violino (9, 10, 11). tado das fundações (Astrua).
4.21 Instrumentos de fechamento e vincagem de juntas. Tira-juntas ou 245 5.13 Câmara de ventilação com canal de recolha, pelo lado interno. 270
gancheta para alegrar as juntas, espátula de enchimento e vincagem. 5.14 Sistema de bailéus (“bilancie”) para limpar o pó (“ispolverare”) e 271
4.22 Perfis de juntas para alvenarias de pedra recomendados por Prud’ 245 realizar obras de simples manutenção da Basílica de S. Pedro. À di-
homme e juntas refendidas em almofadados. reita sistema de escadas para os “festajoli” (operários encarregados
4.23 Perfis possíveis de juntas decorativas em alvenarias de tijolo. 246 de decorar as fachadas para as festas), das pranchas do livro Castelli
4.24 Agrafes para ligação das placas de revestimento entre si e para a 248 e ponti de Zabaglia, de 1743.
ligação entre as placas e as paredes de suporte. 5.15 À esquerda, observação das lesões comuns por assentamento, se- 273
4.25 Mestras ou faixas verticais para a aplicação do esboço, com larguras 251 gundo Valadier que se baseou na obra de Girolamo Masi. À direita,
entre 12 e 16 cm e dispostas cada 1-2 metros. ilustrações de Cristoforo Russo: em cima, lesão parabólica devida a
4.26 Moldes ou cérceas para cimalhas com perfil em chapa de ferro ou de 251 assentamento de terreno, em baixo lesão parabólica e lesão catenária,
zinco, que corriam sobre guias ou réguas de madeira. provocadas por movimentos sísmicos.

427
5.16 Sistemas diversos de escoramento de portas, janelas, arcos e abóba- 273 6.10 Exemplo de parte de um questionário desenvolvido para a análise 296
das, cunhais, colunas e pilastras, segundo Valadier (baseado nas pran- da deterioração de alvenarias de tijolo em que são integrados os re-
chas de Zabaglia e Girolamo Masi). sultados da observação visual, da pesquisa em arquivos, dos deta-
5.17 Recalço da fundação de uma parede, segundo Valadier (a) e segundo 274 lhes construtivos, dos ensaios in situ e em laboratório.
Russo (b). 6.11 Aspecto da limpeza periódica de um algeroz numa fachada de Roma. 300
5.18 Êmbolo rudimentar para injecção de alvenarias. 274 6.12 Aspecto da cobertura do arco de Sétimo Severo no Forum Romanum 301
5.19 Diversas técnicas de reforço de paredes cujo revestimento se tivesse 275 reconstruído recentemente em moldes tradicionais com uma beto-
descolado, ou se tivessem deformado por esmagamento, segundo nilha de “coccio pesto”, com quatro águas e um canal perimétrico,
Demanet (baseado em Rondelet e Molard). em pedra calcária de Travertino de secção rectangular, que evacua
5.20 Alavancas, escoras dentadas e tirantes sucessivamente aquecidos e 275 por duas gárgulas.
arrefecidos usados no reaprumo de paredes e pés-direitos, segundo 6.13 Reconstrução de arco na abertura de um vão numa alvenaria portante 302
Demanet baseado em Rondelet e Molard. (obra particular no Vicollo del Leonetto, Roma). À direita, desenho
5.21 Cintagem de colunas e escoramento para substituição total de uma 276 esquemático da construção de um arco para abertura de um vão numa
coluna, segundo Valadier. parede existente, segundo Mastrodicasa.
6.14 Conservação do reforço de diversos blocos fissurados na Coluna de 303
Marco Aurélio em Roma. Os antigos grampos e gatos de ferro, intro-
Capítulo VI – Metodologia da utilização dos princípios duzidos por Fontana no século XVII, foram conservados, renovan-
e das técnicas tradicionais nos processos de conservação do-se somente as chumbagens.
6.15 Preenchimento de lacunas num pontão no Castelo S. Angelo de Roma. 303
6.1 Exemplo de levantamento de uma fachada (Castelo de Opprebais, 283 Foram usados materiais muito idênticos aos já existentes, a sub-
Bélgica, séc. XIV). O original foi executado à escala 1:20, de modo a esquadria não foi utilizada e a leitura é possível, pelo menos nos
compreender todas as transformações ocorridas na zona da porta de primeiros anos, pelas “patinas” diferentes adquiridas pelos mate-
entrada que incluía uma ponte levadiça. riais novos e antigos.
6.2 Exemplo de uma representação esquemática das principais patolo- 283 6.16 Instalação de um pavimento com tijolos moldados à mão e cozidos 305
gias dos materiais de uma fachada. O original foi realizado à escala em forno de lenha. O desenho é em espinha com um bordo a duas
1:100 (Castelo de Opprebais, Bélgica, séc. XIV). vezes tijolo e repete a exacta posição de cada um dos ladrilhos do
6.3 Exemplo de um documento de arquivo que confirma a prática tradi- 288 pavimento original do qual só restavam as marcas no massame...
cional da extinção da cal no estaleiro. 6.17 Fotografia de um arco em que o reboco foi removido para efeitos 305
6.4 Pintura a óleo sobre tela representando a extinção de cal e os traba- 289 “decorativos”.
lhos efectuados durante o século XVIII nas muralhas de Turim. 6.18 À esquerda, fachada monocromática sem respeito pela leitura da 305
6.5 A importância da análise do aparelho em espessura. À esquerda, 290 “mensagem estereotómica” original. À direita a mesma fachada con-
variantes de preenchimento de núcleos de alvenarias mistas (segundo servada, sendo possível a distinção dos elementos de pedra (verda-
Doglioni e Parenti, 1986). À direita, detalhe de uma fachada na Via deira ou imitada em reboco) como era suposto serem lidos (Palácio
delle Botteghe Oscure em Roma em que se pretendeu deixar visível da “Avvocatura dello Stato”, Arq. Luciano Garella, Roma).
o “presumível” aparelho interno da parede. Os blocos de pedra pare- 6.19 Pórtico romano (Via Teatro di Marcello), exemplo modelar das re- 306
cem, porém, ter sido simplesmente “colados” numa posição pouco gras de arte da Esterotomia. Fachada do século XIX, em que este
coerente com as regras gerais de aparelho. mesmo conhecimento é imitado sob a forma de reboco.
6.6 Exemplo de avaliação da estabilidade da cúpula do Panteão de Roma 292 6.20 Fachada com um almofadado que seria incorrecto se avaliado so- 306
pelo método do funicular de pressões automatizado (Trattato del mente do ponto de vista estereotómico. Neste caso, uma posição
Restauro Architettonico de Carbonara). fundamentalista poderia justificar a sua demolição ou a sua “anula-
6.7 Mecanismos de vários arcos do Coliseu de Roma “fossilizados” por 292 ção cromática”.
uma intervenção que anulou a sua função original. 6.21 Execução de almofadado em um edifício e imitação da pedra calcária 306
6.8 Mapa de uma província belga com as produções de produtos 293 de Travertino no Palácio Pio-Righetti em Roma. O pincel é batido
cerâmicos, activas entre 1864 e 1874. A sua construção foi pos- contra a vara de madeira de modo a “borrifar” o reboco com as cores
sível a partir da leitura de diversos manuais publicados nessa desejadas e necessárias à imitação da pedra.
época. 6.22 Máquina “POKER” de 4 eixos fabricada pela Companhia italiana 308
6.9 Platibandas capeadas com ardósia no claustro de Bramante. À direi- 295 Bidese. Estas máquinas da última geração tornaram possível o corte
ta, revestimento com chapas de chumbo no extradorso da recém res- de volumes cónicos, cilíndricos e helicoidais com elevada precisão
taurada cúpula da Igreja de “S. Maria della Pace”, em Roma. e facilidade de execução.

428
6.23 Templo romano de Hércules Vincitor (Roma) em que se vêem os 309
blocos recentemente instalados substituindo outros que estavam
muito deteriorados ou que tinham desaparecido completamente.
A Estereotomia usada é diferente daquela que era suposta ser a ori- 6.25
ginal, tendo em vista a legibilidade da intervenção. A legibilidade
obtida é, no entanto, demasiado evidente e a intervenção parece afir-
mar o total desconhecimento das técnicas de corte da pedra que te-
rão sido usadas na construção original do templo.
6.24 Aspecto da moldagem e secagem de tijolos que são depois cozidos 310 6.26
num forno tradicional cilíndrico a lenha. A mesa de moldar é muito
semelhante à da fig. 3.12, encontrada no tratado de Valadier. O forno 6.27
associado à mesa da presente figura, possui uma capacidade máxima
de 20.000 tijolos por fornada (Vitriolo, na província italiana de
Umbria, 1998).
Apesar da óptima qualidade dos tijolos fabricados artesanalmente, 310
nem sempre é dada a devida atenção ao seu armazenamento. Na
zona mais à esquerda, podem apreciar-se já diversas eflorescências
devidas ao contacto directo com o solo (Vitriolo, na província italiana
de Umbria, 1998).
Operação tradicional de eliminação de fragmentos não extintos de 311
uma cal em pasta.
Amassadura mecânica de argamassas com cal em pasta. 312

ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS

Capítulo I – A bibliografia e a transmissão do saber t 2.4 Espessuras de arcos extradorsados. 133

aos protagonistas da construção t 2.5 Espessuras de abóbadas cilíndricas rectas de volta inteira com espes- 134
sura variável.
q. 1.1 Quadro sinóptico-cronológico da fundação dos primeiros corpos 36 t 2.6 Espessuras de abóbadas cilíndricas rectas entre vigas de ferro. 134
militares, escolas, academias e faculdades de arquitectura e enge- t 2.7 Espessuras de cúpulas. 134
nharia civil. t 2.8 Espessuras de abóbadas de aresta e de barrete de clérigo. 134
q 1.2 Marcos do desenvolvimento do cimento Portland, do betão e do 58 t 2.9 Espessuras de abóbadas de cruzeiro. 134
betão armado (segundo Cecil D. Ellliot). t 2.10 Espessuras de pés-direitos de arcos. 135
q 1.3 Estrutura dos índices de alguns dos tratados analisados. 67 t 2.11 Espessuras de pés-direitos de abóbadas cilíndricas. 135
q 1.4 Índice do tratado de Teofilo Gallaccini. 68 t 2.12 Espessuras de abobadilhas cilíndricas rectas rebaixadas. 136
t 2.13 Espessuras de pés-direitos de abobadilhas cilíndricas rectas rebai- 136
xadas.
Capítulo II – A concepção geométrica t 2.14 Espessuras de abóbadas cilíndricas de volta inteira com pés-direi- 143
e o dimensionamento de edifícios em alvenaria tos de altura inferior ao vão.
t 2.15 Comparação de espessuras de arcos em tijolo de volta inteira extra- 152
t. 2.1 Factor para o cálculo da resistência à compressão normalizada de 100 dorsados de nível.
blocos elementares, segundo o Eurocódigo 6. t 2.16 Comparação de espessuras de arcos em tijolo abatidos extradorsados 152
t 2.2 Espessuras das paredes portantes de um edifício de 3 andares a 122 de nível.
corpo duplo, usando a fórmula de Rondelet.
t 2.3 Tensões de ruptura à compressão e tensões de segurança para di- 124
versos tipos de alvenarias (segundo Breymann). Capítulo III – A preparação e a composição de materiais
q 2.1 Cálculo da carga vertical Ns actuante na parede da fachada ao nível 125
do coroamento e do rés-do-chão, de um edifício de 4 andares a t 3.1 Valores utilizados para a produção industrial de ligantes hidráuli- 178
corpo simples com l=5,0 m. cos naturais.

429
t 3.2 Índices de hidraulicidade dos diversos tipos de ligantes. 178 t 3.27 Argamassas de aleitamento de lajedos (partes em volume). 218
t 3.3 Classificação da hidraulicidade das argamassas segundo Prud’ 179 t 3.28 Betumes para assentamento de mármores em paramentos, imita- 219
homme. ção de falsos mármores, preenchimento de lacunas e vincagem de
t 3.4 Características geológicas e aplicações das principais cais em pro- 179 pedras talhadas (partes em volume).
dução no Algarve no final do século XIX. t 3.29 Betões para fundações de edifícios e obras marítimas (partes em 221
t 3.5 Exemplo de diferentes cais obtidas a partir de um calcário com um 180 volume).
teor de 24% de argila.
t 3.6 Diferentes produtos obtidos para diferentes graus de calcinação de 182
uma pedra calcária (Prud’homme). Capítulo IV – A montagem e a execução de alvenarias
t 3.7 Tipos de actividade e classificação mineralógica dos diversos ma- 185
teriais pozolânicos (Mielenz-Sousa Santos, 1975). t 4.1 Larguras mínimas de escavação para a execução de fundações. 227
t 3.8 Composição química de pozolanas açorianas (Castanheira das Neves 185 t 4.2 Tempos a respeitar entre o enchimento e o descimbramento de abó- 241
e Segurado). badas concrecionais.
q 3.1 Qualidades da areia da barreira das Reaes Propriedades do Alfeite e 194 t 4.3 Tempos a respeitar entre o assentamento e o descimbramento de 242
seu emprego. abóbadas de cantaria e tijolo.
t 3.9 Resultados de Rondelet sobre o aumento da resistência à compres- 200 t 4.4 Espessura máxima e reentrância das juntas para diferentes tipos de 246
são de argamassas à base de cal aérea. alvenaria.
t 3.10 Variação com o tempo de resistência à tracção de argamassas à base 201 t 4.5 Operações de acabamento para diferentes tipos de paramento. 247
de cal hidráulica. t 4.6 Espessura de placas de revestimento consoante os tipos de pedra 247
t 3.11 Argamassas com cais aéreas para o assentamento de blocos de pe- 207 (Roma, 1909).
dra e de tijolos (partes em volume). t 4.7 Operações de acabamento de paramentos revestidos com placas de 248
t 3.12 Composição ideal das argamassas de assentamento em função da 208 pedra.
qualidade da areia (partes em volume, segundo La Faye). t 4.8 Tabela comparativa dos materiais, número e espessura das diver- 250
t 3.13 Argamassas de assentamento com cal aérea viva (partes em volume). 208 sas camadas necessárias à execução dos principais tipos de reboco.
t 3.14 Argamassas de assentamento com cais hidráulicas em pó (partes 209 t 4.9 Parâmetros da execução das camadas de forma, massames e cama- 254
em volume). das de aleitamento para diversos tipos de pavimento.
t 3.15 Argamassas à base de pozolana e trass para o assentamento (partes 210
em volume).
t 3.16 Argamassas à base de tijolo pilado, “coccio pesto” e “cimentos de 211 Capítulo V – A protecção e a durabilidade das alvenarias
tuilleaux” (partes em volume).
t 3.17 Argamassas de presa rápida e argamassas para assentamento e 212 q 5.1 Resumo com classificação e nomenclatura de causas, processos e 260
caldeamento de abóbadas (partes em volume). tipos de degradação em alvenarias tradicionais.
t 3.18 Argamassas para rebocos (partes em volume). 213 q 5.2 Processos, causas e tipos de degradação citados nas obras analisadas. 261
t 3.19 Estuques à base de gesso (partes em volume). 214 q 5.3 Resumo das citações relativas a técnicas tradicionais de manuten- 278
t 3.20 Estuques à base de cal e gesso (partes em volume). 215 ção periódica e conservação de alvenarias.
t 3.21 Estuques à base de pasta de cal e pó de pedra (partes em volume). 215
t 3.22 Formigões simples afagados na última camada e aplicados sobre 217
terreno previamente batido ou sobre um leito de gravilha (partes Capítulo VI – Metodologia da utilização dos princípios
em volume). e técnicas tradicionais nos processos de conservação
t 3.23 Formigões revestidos com ladrilhos cerâmicos ou lagedos de pedra 217
sobre terreno previamente batido ou um leito de gravilha (partes q 6.1 Organigrama de um projecto de conservação arquitectónica. 282
em volume).
t 3.24 Betonilhas simples afagadas na última camada sobre sobrados ou 217
abóbadas (partes em volume). Capítulo VII – Considerações finais e conclusões da pesquisa
t 3.25 Betonilhas revestidas superiormente com ladrilhos cerâmicos ou 218
lajedos de pedra sobre sobrados ou abóbadas (partes em volume). q 7.1 Relação entre pressupostos, análises, resultados e séries de conclu- 316
t 3.26 Argamassas para pavimentos à Veneziana (partes em volume). 218 sões da pesquisa.

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