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Farmacocinética, Dinâmica da absorção, da

distribuição e da eliminação dos fármacos - Grant R.


Wilkinson. In; Goodman & Gilman, As bases
farmacológicas da terapêutica, 10 ed. Rio de Janeiro
McGraw-Hill, 2005

Dinâmica da absorção da distribuição e da ,


eliminação dos fármacos

Grant R. Wilkinson

ara p ro d u z ir se u s e fe ito s c a ra cterístico s, u m fá r m a c o d e v e e sta r a tra v és d e sse s d iv erso s lim ite s p o d em a p re se n ta r c a ra cte rística s co -
P p re se n te em c o n ce n tra çõ e s a p ro p ria d a s em seu s loca is d e ação.
E m bora sejam e vid en te m e n te p ro p o rc io n a is à q u a n tid a d e d e s u b s-
m u n s, j á que os fá rm a co s em geral p a ssa m atra v és das célu las em
vez de en tre elas. A m em b ran a p la sm á tic a re p re se n ta assim a b a r-
tância adm in istra d a , a s co n ce n tra çõ e s de fá r m a c o ativo, n ã o -lig a d o re ira com u m .
(livre) o b tid a s ta m b ém d e p en d e m da exten sã o e da taxa d e sua
absorção, su a d istrib u iç ã o (que reflete p rin c ip a lm e n te a lig a çã o M em b ranas celulares. A membrana plasmática consiste em uma cama-
relativa às p ro te ín a s p la sm á tic a s e tecid ua is), seu m e ta b o lism o (bio- da dupla de lipídios anfipáticos com suas cadeias de hidrocarboneto orienta-
tra n sfo rm a çã o ) e sua excreçã o. E stes fa to r e s d e d istrib u iç ã o estã o das para o interior de modo a formar uma fase hidrofóbica contínua e suas
rep resen ta d o s na Fig. L i e sã o d e sc rito s n este capítulo. extremidades hidrofílicas orientadas para o exterior. Cada molécula lipídica
na camada dupla varia de acordo com cada membrana e pode se mover
lateralmente, conferindo à membrana fluidez, flexibilidade, alta resistência
FA TO RES F ÍS IC O -Q U ÍM IC O S NA T R A N S F E R Ê N C IA D O S elétrica e impermeabilidade relativa a moléculas altamente polares. As pro-
FÁ R M A C O S ATRAVÉS DAS M E M B R A N A S teínas de membrana embutidas na camada dupla atuam como receptores,
canais iônicos ou transportadores para produzir vias de sinalização elétrica
A ab so rção , a d istrib u iç ão , o m eta b o lism o e a e x cre çã o de um ou química e fornecer alvos seletivos para a ação dos fármacos.
fárm aco e n v o lv em sua p a ssa g em atra v és das m em b ran as celu lares. A maioria das membranas celulares é relativamente permeável à água
Os m ecanism os p elos qu ais os fárm aco s a trav essam as m em b ran as por difusão ou pelo fluxo resultante das diferenças hidrostáticas ou osmóti-
e as p ro p ried ad es físico -q u ím ic as das m o lécu las e das m em b ran as cas através da membrana, e o volume do fluxo de água pode trazer consigo
moléculas de fármacos. Este transporte é o principal mecanismo pelo qual os
que in flu en ciam e ssa tran sferê n cia são, p o rtan to , im p o rtan tes. A s
fármacos passam através da maioria das membranas do endotélio capilar. No
cara cte rística s d e te rm in a n te s de um fárm aco são o tam a n h o e a
entanto, as proteínas e as moléculas de fármacos a elas ligadas são muito
form a m olecu lares, o grau de io n ização , a lip o sso lu b ilid ad e re la tiv a grandes e polares para que ocorra esse tipo de transporte; assim, o movimen-
de suas form as ion izad as e n ã o -io n iza d a s, e sua ligação às p ro teín as to transcapilar se limita aos fármacos livres. O transporte paracelular através
teciduais. de fendas intercelulares é suficientemente grande, de modo que a passagem
Q uando um a su b stâ n c ia p e n e tra n a célu la, ela e v id e n tem en te através da maioria dos capilares é limitada pelo fluxo sanguíneo e não por
tem de a tra v essa r a m em b ran a p lasm á tic a c elu lar. O utras b a rre iras outros fatores (ver adiante). Como descrito adiante, esse tipo de transporte é
ao m o vim ento d os fárm aco s p od em se r um a ú n ica c am ad a c elu la r um fator importante de filtração alravés das membranas glomerulares do rim.
(ep itélio intestin al) ou v árias c am ad as c elu lare s (p ele). A p e sa r d e s- No entanto, há importantes exceções nesse tipo de difusão capilar, já que
existem junções intercelulares “de oclusão” em determinados tecidos e o
sas d ifere n ça s e stru tu ra is, a d ifu sã o e o tran sp o rte de su b stâ n c ia s
transporte paracelular neles é limitado. Os capilares do sistema nervoso
central (SNC) e em diversos tecidos epiteliais têm junções de oclusão (ver
C : \
adiante). Embora o fluxo do volume de água possa carrear pequenas substân-
“RECEPTO RES” R E S E R V A T O R IO S cias hidrossolúveis, se a massa molecular desses compostos for maior do que
L O C A IS D E A Ç Ã O T E C ID U A IS 100-200 Da esse transporte é limitado. Conseqüentemente, a maioria dos
lig a d a s ' liv re s liv re s * lig a d a s fármacos lipofílicos grandes tem de passar através da própria membrana
celular por um ou mais processos.
T ran sp o rte passivo na m em b rana. Os fármacos atravessam as mem-
branas por processos passivos ou por mecanismos envolvendo a participação
ativa de componentes da membrana. No primeiro caso, a molécula do fárma-
co geralmente penetra por difusão passiva ao longo de um gradiente de
concentração em virtude de sua solubilidade na camada dupla lipídica. Essa
passagem é diretamente proporcional à amplitude do gradiente de concentra-
ção através da membrana, ao coeficiente de partição lipídio: água da subs-
tância e à área de superfície celular. Quanto maior o coeficiente de partição,
maior a concentração do fármaco na membrana e mais rápida sua difusão.
Após alcançar um estado de estabilização, a concentração de fármaco livre é
a mesma em ambos os lados da membrana se o fármaco não for um eletrólito.
Fig. 1.1 Representação esquem ática das inter-relações entre absorção, No caso dos compostos iônicos, as concentrações estáveis irão depender das
distribuição, ligação, m etabolism o e excreção de um fá rm a c o e sua diferenças de pH através da membrana, que podem influenciar o estado de
concentração em seu local de ação. ionização da molécula em cada lado da membrana, e do gradiente eletroquí-
• N ão estão representadas as possíveis distribuições e ligações dos m etabólitos. mico do íon.
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4 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

E le tr ó lito s f ra c o s e in f lu ê n c ia d o p H . A m aio ria d os fárm acos compostos endógenos cuja taxa de transporte por difusão passiva seria, de
co nsiste em ácid o s ou b ases fracas p resen tes nas so lu çõ es tan to sob outro modo, demasiado lenta. Em outros casos, funcionam como um sistema
a form a n ão -io n iza d a co m o ion izad a. A s m o lécu las n ã o -io n izad as de barreiras para proteger as células de substâncias potencialmente tóxicas.
geralm en te são lip o sso lú v eis e podem se d ifu n d ir a trav és da m em - As proteínas responsáveis pelo transporte muitas vezes são expressas no
interior das membranas celulares em domínios específicos, de modo que
b rana celular. Em c o n tra ste, de m od o geral as m o lécu las io n izad as
medeiam a recaptação ou o efluxo do fármaco e muitas vezes esse arranjo
são in cap azes de p e n etrar a m em b ran a lip íd ica d e v id o à sua b aix a
facilita o transporte vetorial através das células. Desse modo, no fígado,
lip o sso lub ilid ad e. vários transportadores de localização basolateral, com especificidade dife-
Portanto, a d istrib u iç ão tran sm e m b ra n a de um e le tró lito fraco rente para os substratos, estão envolvidos na recaptação dos sais biliares e
geralm en te é d e te rm in a d a p o r seu p Ka e p elo g ra d ie n te de pH a tra - ânions e cátions orgânicos anfipáticos para o interior dos hepatócitos, com
vés d a m em brana. O p K(, é o pH no qual m etade do fárm aco (e le tró - uma variedade semelhante de transportadores dependentes de ATP na mem-
lito fraco) está io n izad a. P ara ilu stra r o efeito do pH na d istrib u iç ão brana canalicular exportando esses compostos para a bile. Situações análo-
dos fárm acos, a sep aração de um ácido fraco (p Ka = 4 ,4) en tre o gas também estão presentes nas membranas intestinal e tubular renal. Um
p lasm a (pH = 7,4 ) e o suco g ástrico (pH = 1,4) é re p re se n tad a na importante transportador de efluxo presente nesses locais e também no
endotélio capilar cerebral é a glicoproteína P, codificada pelo gene 1 de
Fig. 1.2. A d m ite-se que a m em b ran a da m u co sa g á stric a se c o m p o r-
resistência a múltiplos fármacos (MDR1), importante na resistência aos
te com o um a barreira lip íd ica sim p le s perm eável ap en as à form a
quimioterápicos antineoplásicos (Cap. 52). A glicoproteína P localizada no
lipossolúvel n ão -io n izad a do ácido. A p ro p o rçã o de fá rm a co s não-
enterócito também limita a absorção oral dos fármacos transportados, já que
io n izad o s/io n izad o s em cad a pH é ra p id a m e n te c alcu la d a p ela e q u a - ela exporta o composto de volta para o trato intestinal após sua absorção por
ção de H e n d erso n -H a sse lb alch . D esse m odo, no plasm a, a p ro - difusão passiva.
porção entre fárm aco s n ã o -io n iza d o s/io n iz a d o s é de 1 : 1 .000; no
suco g ástrico, a p ro p o rçã o é de 1 :0 ,001 , v alo res m o strad o s en tre
c o lch etes na Fig. 1.2. A p ro p o rçã o total da c o n ce n tra ç ão e n tre o A B S O R Ç A O , B IO D IS P O N IB IL ID A D E E VIAS DE
plasm a e o suco g ástrico seria de 1 .000:1 se o siste m a se e sta b iliz a s- A D M IN IS T R A Ç Ã O D E FÁ R M A C O S
se. P ara u m a base fraca co m um pKu de 4 ,4, a p ro p o rçã o seria
A a b so rção d esc re v e a tax a de saída do fárm aco de seu local de
inversa, assim co m o as setas h o rizo n tais e sp essas na Fig. 1.2, que
a d m in istraç ão e a e x te n sã o em qu e isso ocorre. N o entanto, o m édi-
indicam a esp écie p re d o m in an te em c ad a pFI. C o n se q ü e n te m en te,
co p re o cu p a -se p rim a riam en te com um p arâm etro denom inado bio-
em e stad o de eq u ilíb rio , um fárm aco á cid o se a cu m u la no lado m ais
disponibilidade. em vez de co m a ab so rção. Biodisponibilidade é
b ásico da m em b ran a e um fá rm a co b ásico no lado m ais á cid o —
um term o u tiliza d o p ara in d ic a r a e x ten são em que a fração de uma
fen ô m en o d e n o m in a d o seqüestro iônico. T ais c o n sid era çõ e s têm
d o se de um fá rm a co a lc an ç a o seu local de ação ou um líquido
im p licaçõ es e v id en tes p ara a ab so rção e a ex cre çã o de fárm aco s,
b io ló g ic o a p a rtir do q ual o fárm aco tem a cesso ao seu local de ação.
co m o d iscu tid o em m ais d e ta lh es adian te. O e stab e le c im e n to de
P o r e x em p lo , um fárm aco a d m in istrad o p or via oral precisa ser
g rad ien tes de co n ce n tra ç ão de e le tró lito s fraco s a trav és de m em b ra -
ab so rv id o p rim e iro no e stô m a g o e no in testin o, m as isso pode ser
nas com g rad ien te de pH é um p ro cesso e x clu siv am e n te físico que
lim itad o p elas c ara cte rística s da ap rese n taç ão da d ose e/ou pelas
não req u er um sistem a de tran sp o rte ativo. Só é n ece ssá ria um a
p ro p ried a d es físico -q u ím ic as d o fárm aco. A lém disso, o fárm aco
m em b ran a com p e rm e ab ilid a d e p re fe re n cial para um a fo rm a do
p assa en tão p e lo fíg ad o , on de p o d e hav er m etab o lism o e/ou excre-
e le tró lito fraco e um g ra d ie n te de pH atrav és d a m em b ran a. O e sta -
ção b iliar an te s qu e ele alcan ce a circ u la ç ão sistêm ica. C onseqüen-
b elecim en to do g ra d ie n te d e pH é, no entan to , um p ro c esso ativo.
tem en te, p arte da dose a d m in istra d a e a b so rv id a será inativada ou
d e sv iad a a n tes de a lc an ç a r a circ u la ç ão geral e ser distrib uíd a para
T ran sp o rte de m em b rana m ediado p or carreadores. Embora a difu-
seus lo cais d e ação. Se a c ap a cid a d e m etab ó lica ou ex cretora do
são passiva através da camada dupla predomine na distribuição da maioria
fíg ad o para o ag en te em q u e stão fo r grand e, a biodisponibilidade
dos fármacos, os mecanismos mediados por carreadores também podem
desempenhar um papel importante. O transporte ativo se caracteriza pela se rá c o n sid era v elm en te re d u zid a (o c h am ad o efeito de primeira pas-
necessidade de energia, movimento contra um gradiente eletroquímico, sa- sagem ). E ssa d im in u içã o d a d isp o n ib ilid ad e ex iste em função do
turabilidade, seletividade e inibição competitiva por compostos co-transpor- local an atô m ic o a p a rtir do qual ocorre a ab sorção ; outros fatores
tados. A expressão difusão facilitada descreve um processo de transporte a n atô m ic o s, fisio ló g ic o s e p ato ló g ico s p o dem in flu en ciar a biodis-
mediado por carreador no qual não há gasto de energia e portanto o principal p o n ib ilid ad e (ver a d ian te), e a e sc o lh a d a via de adm inistração do
movimento da substância envolvida é a favor do gradiente eletroquímico. fá rm a co d ev e se b a se ar na c o m p re en são d e sse s fatos.
Esses mecanismos, que podem ser altamente seletivos para uma determinada A d m in is tr a ç ã o o r a l ( e n te r a l) versus p a r e n te r a l. M uitas vezes
estrutura de conformação de um fármaco, estão envolvidos no transporte de
há p o ssib ilid a d e de e sc o lh a d a via de a d m in istração de um agente
tera p êu tico , e o co n h ec im e n to das v an tag en s e desvan tag en s das
d ifere n te s vias de a d m in istraç ão tem e ntão im p o rtân cia fundam en-
[11 [1 0 0 0 ] 1001
tal. A lg u m as c a ra cte rística s das p rin cip ais vias u tilizad as para efei-
Total
HA A ’ + H+ T0,al
[H A ] + [A - tos sistê m ic o s dos fárm a co s são co m p a rad a s no Q u ad ro 1.1.
P la sm a pH = 7,4 A in g estã o oral é o m éto d o m ais com u m de adm inistração de
fárm acos. T am b ém é o m ais seg u ro , o m ais co nv en ien te e o mais
B a rre ira lip íd ic a d a m u c o s a
e co n ô m ico . A s d e sv a n ta g en s da v ia oral são a lim itação da absorção
S u c o gá strico pH = 1,4 de a lg u n s fárm aco s d e v id o a suas cara cte rística s físicas (p. ex., so-
lu b ilid ad e na ág ua), êm e se co m o c o n se q ü ên c ia d a irritação da mu-
[ 1] [0 ,001] 1,001
c o sa g a strin te stin a l, d e stru iç ão de a lg un s fárm aco s pelas enzim as
HA : A‘+ h + d ig estiv a s ou p e lo b a ix o pH g á stric o , irreg u larid ad es de absorção ou
p ro p u lsão na p re sen ç a de a lim en to s ou o utros fárm aco s e necessida-
Á c id o fra c o HA A"+ H' p K , = 4,4 de de c o o p era çã o p or p arte d o p acien te. A lém d isso, os fárm acos no
io n iz a d o trato d ig estiv o pod em ser m eta b o liza d o s pelas en zim as da flora
Fig. 1.2 Influência do pH na distribuição de um ácido fraco entre o in testin al, p ela m u co sa ou p elo fíg ad o antes de a lcan çar a circulação
plasma e o suco gástrico , separados por uma barreira lipídica. sistêm ica.
1 FARMA COCINÉTICA 5
Q u a d ro 1.1 Algumas características das vias com uns de adm inistração de fármacos*

VIA PADRÃO DE ABSORÇÃO VALOR ESPECIAL LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES

Intravenosa Absorção contornada Bom para o uso em emergência Aumento do risco de efeitos adversos
Efeitos potencialmente imediatos Permite a titulação da dose Em regra, a aplicação das soluções deve ser lenta
Geralmente necessária para fármacos com Não é apropriada para soluções oleosas ou
proteínas de alto peso molecular e peptídios substâncias insolúveis
Adequada para grandes volumes e para
substâncias irritantes, quando diluídas
Subcutânea Imediata, com solução aquosa Adequada para algumas suspensões Não é apropriada para grandes volumes
Lento e prolongado, com apresentações insolúveis e para o implante de p ellets Possibilidade de dor ou necrose por substâncias
de depósito irritantes
Intramuscular Imediata, com solução aquosa Adequada apenas para volumes moderados, Evitar durante terapia anticoagulante
Lento e prolongado, com apresentações veículos oleosos e algumas substâncias Pode interferir no resultado de certos exames
de depósito irritantes diagnósticos (p. ex., creatinocinase)
Ingestão oral Variável; depende de muitos fatores Mais conveniente e econômica; geralmente Requer a cooperação do paciente.
(ver o texto) mais segura A disponibilidade é potencialmente errática e
incompleta para os fármacos pouco solúveis, de
absorção lenta, instáveis ou amplamente
metabolizados pelo fígado e/ou intestino

* Ver no texlo uma discussão mais abrangente e outras vias de administração.

A injeção p arenteral de fárm aco s possui alg u m as v an tag en s d is- m ago. N o entan to , alg u m as ap rese n taç õ es de fárm acos com rev esti-
tintas com relação à a d m in istraç ão oral. Em alg u n s caso s, a a d m i- m ento e n té ric o tam b ém p odem re sistir à d isso lu ç ão no intestino e
nistração parenteral é fu n d am en tal para a lib eração d o fárm aco em m uito p ou co do fárm aco pod e se r ab sorv ido.
sua form a ativa. A d isp o n ib ilid ad e é g eralm en te m ais ráp ida, am p la
e previsível que q u and o o fárm aco é dad o p o r v ia oral. A dose Apresentações de liberação controlada. A taxa de absorção de um
eficaz, p ortanto, pod e ser ad m in istrad a de m odo m ais p reciso. N o fármaco administrado em comprimido ou outra apresentação oral sólida
atendim ento de em erg ên cia e q u an d o o p acien te está in con sciente, depende em parte de sua taxa de dissolução nos líquidos digestivos, o que
não c oop era ou é in cap az de reter q u a lq u e r c o isa ad m in istrad a por constitui a base das apresentações farmacêuticas de liberação controlada,
via oral, pode ser n ecessário o tratam e n to p aren teral. A injeção de liberação aumentada, liberação mantida ou ação prolongada, projetadas
para produzir uma absorção lenta e uniforme do fármaco durante 8 horas ou
fárm acos, no en tanto , tem suas d esv an tag en s: d e v e-se m an te r a
mais. As potenciais vantagens dessas apresentações são a redução da fre-
assepsia; pode se r doloro sa; às v ezes é difícil p ara os p acien tes
qüência de administração do fármaco comparado com as apresentações
aplicarem as injeções nos caso s de n e cessid ad e de au to m ed icação ;
convencionais (possivelmente com melhora da obediência do paciente),
e há risco de ad m in istração in tra v ascu la r in ad v ertida. O c u sto tam - manutenção do efeito terapêutico durante a noite inteira e diminuição da
bém deve ser lev ado em conta. incidência e/ou intensidade de efeitos indesejados pela eliminação dos níveis
In g e stã o o ra l. A ab so rção a p artir do trato d ig estiv o é regulada máximos de concentração do fármaco que freqüentemente ocorrem após a
por fatores com o a área de sup erfície de absorção, o fluxo san guíneo administração das apresentações de liberação imediata.
no local de absorção, o estad o físico do fárm aco (ap resen tação em Muitas apresentações de liberação controlada correspondem a estas ex-
solução, susp ensão ou sólida), sua so lub ilid ad e na ág u a e a c o n ce n - pectativas. No entanto, esses produtos têm algumas desvantagens. Geral-
tração no local de absorção. Para os fárm acos ad m inistrad os em mente a variabilidade entre os pacientes, em termos da concentração sistêmi-
form a sólida, a taxa de d issolu ção pode ser o fato r de lim itação de ca alcançada do fármaco, é maior nas apresentações de liberação controlada
sua absorção, e sp ecialm en te se tiv erem b aix a so lub ilid ad e na água. do que nas de liberação imediata. Durante a administração repetida do
Um a vez que a m aior parte d a absorção de fárm acos no trato d ig es- fármaco, as concentrações mínimas resultantes de apresentações de libera-
ção controlada podem não ser diferentes das observadas com as apresenta-
tivo ocorre através de p rocessos passivos, a ab so rção é favorecida
ções de liberação imediata, embora o intervalo de tempo entre as concen-
quando a sub stância está sob fo rm a n ão -io n izad a e m ais lipofílica.
trações mínimas seja maior para um produto bem planejado de liberação
Com base no conceito de p artição do pH ap resen tad o na Fig. 1.2, controlada. É possível que a apresentação da dose falhe, podendo ocorrer
seria previsível que os ácidos fraco s seriam m ais bem ab sorvidos no liberação imediata levando a toxicidade, uma vez que a dose total de fármaco
estôm ago (pH 1-2) que no intestino proxim al (pH 3-6) e vice-versa ingerido em uma só tomada pode ser várias vezes maior do que a quantidade
para as bases fracas. N o entanto, o ep itélio do estô m ag o é revestido contida na apresentação convencional. As apresentações de liberação contro-
por um a esp essa cam ada de m uco e sua área de superfície é pequena; lada são mais apropriadas para fármacos com meia-vida curta (menos de
em contraste, as vilosidades do intestino proxim al oferecem um a área 4 h). Algumas vezes desenvolvem-se as chamadas apresentações de libera-
de sup erfície ex trem am ente gran d e (cerca de 200 m 2). C o n se q ü e n te - ção controlada para fármacos com meia-vida longa (maior do que 12 h). Tais
m ente, a taxa de ab sorção de um fárm aco no intestino será m aior do produtos, geralmente mais caros, não devem ser prescritos, exceto nos casos
que no estôm ago, m esm o se o fárm aco fo r p red o m in an tem en te io n i- em que tenham sido comprovadas vantagens específicas.
zado no intestino e am p lam en te n ão -io n izad o no estôm ago. D esse A dm inistração sublingual. A absorção pela mucosa oral tem significa-
do especial para alguns fármacos, apesar de a área de superfície disponível
modo, q u alquer fator que acelere o esv aziam en to g ástrico p ro v av el-
ser pequena. Por exemplo, a nitroglicerina é eficaz quando retida sob a língua
m ente irá au m en tar a tax a de ab so rção do fárm aco, en q u an to q u al-
porque não é ionizada e é altamente lipossolúvel. Desse modo, a substância
quer fato r que retarde o esv aziam en to g ástrico p ro v av elm en te terá
é absorvida muito rapidamente. A nitroglicerina também é muito potente;
efeito contrário, indep endentem en te das características do fárm aco. relativamente poucas moléculas precisam ser absorvidas para produzir o
O s fárm aco s d estru íd o s p elo suco g ástrico , ou q u e prov ocam efeito terapêutico. Como a drenagem venosa da cavidade oral é para a veia
irritação gástrica, são às v ezes a d m in istrad o s em a p rese n taç õ es com cava superior, o fármaco também é protegido do rápido metabolismo hepá-
um rev estim en to qu e e v ita a d isso lu ç ão no co n te ú d o ácid o do e stô - tico de primeira passagem, o que é suficiente para evitar o aparecimento de
6 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

qualquer quantidade de nitroglicerina ativa na circulação sistêmica se o só lid o s o c o rre le n ta m e n te d u ra n te sem an as ou m eses; alguns hor-
comprimido sublingual tiver sido deglutido. m ô n io s são a d m in istra d o s de m odo e ficaz p o r e ssa via.
A dm inistração retal. A via retal muitas vezes é útil quando a ingestão Intram uscular. O s fárm a co s em solu ção aq u osa são absorvidos
oral não é possível porque o paciente está inconsciente, ou quando há m uito ra p id a m e n te ap ó s injeção in tram uscular, d ep end en d o da taxa
vômitos — caso especialmente relevante em se tratando de crianças peque- de fluxo san g u ín eo no local d a injeção, o que pod e ser m odulado até
nas. Aproximadamente 50% do fármaco absorvido pelo reto passará pelo
certo p onto p ela a p licação de c alo r local, m assagem ou exercício. Por
fígado, de modo que o potencial de metabolismo hepático de primeira passa-
exem p lo , c o rre r p o d e p ro v o c ar u m a q u ed a ab ru p ta da glicem ia quan-
gem é menor do que na dose oral. No entanto, a absorção retal muitas vezes
do se injeta in su lin a na cox a, em vez de no b raço ou na parede do
é irregular e incompleta e muitos fármacos causam irritação na mucosa retal.
ab do m e, já qu e a co rrid a a u m en ta acen tu ad am en te o fluxo sanguíneo
na perna. G eralm en te, a taxa de ab so rção após a injeção de um
In je ç ã o p a r e n t e r a l . A s p rin cip ais vias de a d m in istraç ão p a ren -
p re p ara d o aq u o so no d eltó id e ou no v asto lateral é m ais rápida que
teral são in trav en o sa, su b c u tân e a e in tram u scu lar. A a b so rção su b -
q uand o a injeção é a p lic ad a no g lú teo m áxim o. A taxa é particular-
cu tânea e in tra m u sc u la r o co rre p or d ifu sã o sim p le s ao longo do
m ente lenta em m u lheres ap ós a injeção no g lú teo m áxim o. Isto foi
grad ien te entre o d e p ó sito do fá rm a co e o plasm a. A tax a é lim itad a
atrib u íd o à d ifere n ça de d istrib u ição d a go rd u ra subcutânea entre
pela área d e a b so rção das m em b ran as cap ilare s e p ela so lu b ilid a d e
h om en s e m u lh eres, j á que a p erfusão na g o rdu ra é relativam ente
das sub stâ n c ia s no líqu id o in tersticial. C a n ais aq u o so s re la tiv a m e n -
baixa. O s pacien tes m uito o b eso s ou e m a cia d o s podem apresentar
te g ran d es na m em b ran a en d o telial resp o n d em pela d ifu sã o in d isc ri-
p adrões in co m u n s d e a b so rção após injeção intram u scu lar ou subcu-
m inada de m o lécu las, in d ep e n d en te m e n te de sua lip o sso lu b ilid ad e . tânea. O b tém -se um a a b so rção m uito lenta e co nstan te da aplicação
As m o léculas m aiores, co m o as p ro teín as, a lcan çam len ta m e n te a in tra m u sc u la r se o fárm aco for in jetado em um a solução oleosa ou
circ u la ç ão a trav és d os can a is lin fático s. e stiv e r em su sp en são cm div erso s ou tro s veícu lo s de depósito. Os
O s fárm aco s a d m in istrad o s na circ u la ç ão sistê m ic a p o r q u a lq u e r an tib ió tico s são freq ü en tem en te a d m in istrad o s d esse m odo. As subs-
via, e x ceto a in tra-arterial, estão su je ito s a um a p o ssív el e lim in a çã o tâncias d e m a siad o irritantes p ara serem in jetad as p o r via subcutânea
de p rim eira p assag em no p u lm ão antes da d istrib u iç ão p ara o resto algu m as vezes p od em se r a d m in istrad as p o r via intram uscular.
do corpo. O s p u lm õ es serv em co m o local de a rm a ze n a m e n to te m -
p orário para vário s ag en tes, e sp e cialm en te os fárm aco s qu e são Intra-arterial. Ocasionalmente um fármaco é injetado diretamente em
b ases fracas e p re d o m in an te m e n te n ã o -io n iza d o s no pH d o san gue, uma artéria para ter um efeito localizado em determinado tecido ou órgão —
a p are n te m en te p o r sua p artição em lip íd io s. O s p u lm õ es tam b ém por exemplo, no tratamento de tumores hepáticos e cânceres de cabeça/pes-
servem de filtro para p artícu las q u e p od em ser a d m in istrad a s p o r via coço. Agentes diagnósticos às vezes são administrados por essa via. A
in tra v en o sa e, ev id e n tem en te , fo rnecem u m a via de e lim in a çã o de injeção intra-arterial exige muita cautela e deve ser reservada aos especialis-
su b stân cias voláteis. tas. Não há efeito de primeira passagem nem eliminação pulmonar quando
se utiliza essa via de administração.
Intravenosa. O s fato res re le v an te s p a ra a a b so rção são c o n to r-
Intratecal. A barreira hematencefálica e a barreira hematoliquórica mui-
nado s p ela injeção in traveno sa de fárm aco s em so lu ç ão aq uo sa,
tas vezes impedem ou reduzem a penetração de fármacos no SNC. Portanto,
p o rqu e a b io d isp o n ib ilid a d e é c o m p le ta e ráp ida. A lib e raç ã o do quando se deseja um efeito local rápido do fármaco nas meninges ou no eixo
fárm aco tam bém é c o n tro lad a e a lc an ç a d a com u m a a cu rá cia e um a cerebroespinhal, como em raquianestesia ou nas infecções agudas do SNC,
p ro x im id ad e qu e não são p o ssív e is p o r q u a isq u e r o u tro s m eio s. Em às vezes se injetam os fármacos no espaço subaracnóide. Os tumores do
algun s caso s, co m o na in d u ção a n esté sica em c iru rg ias, a do se de cérebro também podem ser tratados por administração intraventricular direta
um fárm aco n ã c é p re d eterm in ad a , m as a ju sta d a de a co rd o com a de fármacos.
resp o sta do p aciente. A lg u m as so lu çõ es irritan tes tam b ém p o d em A bsorção pulm onar. Contanto que não provoquem irritação, os fárma-
se r a d m in istrad a s ap enas d esse m odo , p o is as p a red e s d os vasos cos gasosos e voláteis podem ser inalados e absorvidos através do epitélio
pulmonar e das mucosas do trato respiratório. O acesso à circulação é rápido
sangu ín eos são rela tiv a m e n te in se n sív eis e o fárm aco , se in je tad o
por essa via porque a área de superfície pulmonar é grande. Os princípios que
lentam ente, é em g rand e p arte d ilu íd o p e lo sangue.
regem a absorção e a excreção de anestésicos e outros gases terapêuticos são
A ssim co m o h á v a n ta g en s no uso d e ssa v ia de a d m in istraç ão , discutidos nos Caps. 13, 14 e 16.
tam bém h á d e sv a n ta g en s. H á p ro b a b ilid ad e de o c o rrê n c ia de re a - Além disso, soluções de fármacos podem ser atomizadas e as gotículas
ções d e sfav o rá v e is, v isto qu e p odem se r ra p id a m e n te alcan ç a d as finas suspensas no ar (aerossóis), inaladas. As vantagens são a absorção
altas c o n ce n tra ç õ es do fá rm a co no p lasm a e nos tecid os. P o r isso, é quase instantânea do fármaco no sangue, evitar a perda pela primeira passa-
aconselh ável a d m in istrar len tam en te um fárm aco in tra v en o so em gem hepática e, no caso de doença pulmonar, a aplicação do fármaco no local
infusão lenta em vez de in jeção ráp id a e com um c o n tro le e strito da de ação desejado. Por exemplo, podem-se administrar fármacos desse modo
resp o sta do p acien te. A lém disso, não ex iste re cu p e raç ão d e p o is qu e para o tratamento da asma brônquica (ver Cap. 28). As desvantagens exis-
tentes no passado, como pequena capacidade de regular a dose e o incômodo
o fárm aco é injetado . A re p etiç ã o de injeções in tra v en o sas d e p en d e
dos métodos de administração foram em grande parte ultrapassadas pelos
da p o ssib ilid a d e de m an te r um a cesso ven oso. O s fárm aco s em avanços tecnológicos, incluindo os nebulizadores com regulação de dose e
veículos o leo so s ou aq u eles que p re cip ita m os c o n stitu in te s do sa n - vaporizadores mais confiáveis.
gue ou p ro v o c am h e m ó lise e ritro citária não d evem se r a d m in istra - A absorção pulmonar é uma importante via de entrada de certas drogas
dos p o r e ssa via. ilícitas e substâncias tóxicas ambientais de várias composições e estados
Subcutânea. A injeção su b c u tân e a de fárm aco s é u tiliza d a com físicos. Podem ocorrer reações tanto locais como sistêmicas após a inalação.
freqüên cia. Pode ser u tilizad a a p en a s para fárm aco s qu e não irritem Aplicação tópica. M embranas mucosas. Existem fármacos aplicados
o tecid o; senão , p o d e o c o rre r d o r in tensa, n e cro se e d e sc am aç ã o nas mucosas da conjuntiva, da nasofaringe, da orofaringe, da vagina, do colo
tecid u al. A tax a de ab so rção de um fárm aco ap ó s in jeção su b c u tân e a intestinal, da uretra e da bexiga, primariamente devido a seus efeitos locais.
Ocasionalmente, como na aplicação de hormônio antidiurético sintético na
c o stu m a se r su fic ie n tem en te c o n stan te e lenta p a ra o fe re c e r um
mucosa nasal, o objetivo é a absorção sistêmica. A absorção através das
e feito m an tid o. A lém do m ais, pod e se r v a ria d a in te n c io n a lm e n te .
mucosas ocorre rapidamente. Na verdade, os anestésicos locais aplicados
Por ex em p lo , a tax a de ab so rçã o de u m a su sp en são de in su lina para se obter efeito local às vezes podem ser absorvidos tão rapidamente que
insolúvel é len ta co m p a rad a com a de um a a p re se n ta ç ã o solú vel do provocam toxicidade sistêmica.
ho rm ô nio. O acréscim o de um v a so c o n strito r à so lu ç ão de um fár- Pele. Poucos fármacos penetram rapidamente na pele íntegra. A absor-
m aco a ser in jetad o p or via su b c u tâ n e a tam b é m re ta rd a a ab so rção . ção dos que o fazem depende da área de superfície sobre a qual são aplicados
A a b so rção de fárm aco s im p la n ta d o s so b a p ele na fo rm a d e pellets e de sua lipossolubilidade, já que a epiderme se comporta como uma barreira
I FARMACOCINÉTICA 7
lipídica (ver Cap. 65). A derme, no entanto, é livremente permeável a muitos e q u ilíb rio co m a d o sa n g u e . A se g u n d a fase tam b ém e n v o lv e um a
solutos; conseqüentemente, a absorção sistêmica dos fármacos ocorre muito p arte m u ito m aio r d e m assa c o rp o ra l q u e a fase inicial, e g eralm en te
mais rapidamente através da pele irritada, queimada ou exposta. A inflama- re sp o n d e p ela m a io r p arte do fárm aco d istrib u íd o no co m p a rtim en to
ção e outras condições que aumentam o fluxo sanguíneo cutâneo também
e x tra v ascu la r. C om e x ce çõ e s, co m o o c ére b ro , a d ifu são do fárm aco
aumentam a absorção. Algumas vezes ocorrem efeitos tóxicos pela absorção
no líq u id o in te rsticial o c o rre ra p id a m e n te d e v id o à n atu reza a lta -
através da pele de substâncias altamente lipossolúveis (p. ex„ um inseticida
lipossolúvel em um solvente orgânico). A absorção cutânea pode ser aumen- m ente perm eável da m em b ran a do e n d o té lio cap ilar. D esse m odo, a
tada pela suspensão do fármaco em um veículo oleoso e ao se esfregar o d istrib u iç ão tec id u al é d e te rm in a d a pela p a rtiçã o d o fá rm a co entre
preparado resultante na pele. Como a pele hidratada é mais permeável que a o san g u e e um d e te rm in a d o tecid o. A lip o sso lu b ilid ad e é um im p o r-
seca, a posologia pode ser modificada ou se utilizar um curativo oclusivo tante d e te rm in a n te d e ssa re ca p ta ç ão , assim co m o q u a lq u e r g rad ien te
para facilitar a absorção. Os emplastros tópicos de liberação controlada estão de pH en tre os líq u id o s intra e e x tra c e lu la re s p ara ácid o s ou bases
se tornando cada vez mais disponíveis. Um emplastro contendo escopolami- fracos. N o e n ta n to , e m g eral o se q ü e stro iô n ico asso c iad o ao últim o
na colocado atrás da orelha, onde a temperatura do corpo e o fluxo sanguíneo fa to r não é g ra n d e, j á qu e a d ife re n ç a de pH (7,0 versus 7.4) é
aumentam a absorção, libera uma quantidade suficiente de fármaco para a
p e q u en a . O d e te rm in a n te m ais im p o rta n te d a p artição san g u e: tec i-
circulação sistêmica para proteger o paciente das náuseas de movimento. A
d o é a lig ação re la tiv a de um fá rm a co às p ro teín as p lasm á tic as e às
terapia de reposição transdérmica de estrogênio fornece baixos níveis de
manutenção de estradiol enquanto minimiza os altos níveis do metabólito m ac ro m o lé cu la s tec id u ais.
estrona observados após a administração oral. P r o te ín a s p la s m á tic a s . M u ito s fárm aco s se ligam a p roteínas
Olhos. Os fármacos oftálmicos de aplicação tópica são utilizados prima- p lasm á tic as, p rin cip alm en te à a lb u m in a p lasm á tic a no caso d os á ci-
riamente por seus efeitos locais (ver Cap. 6 6 ). A absorção sistêmica que dos, e à a i-g lic o p ro te ín a á cid a no caso das b ases; a lig ação a o utras
resulta da drenagem pelo canal nasolacrimal costuma ser indesejável. Além p ro teín as p lasm á tic as g e ralm e n te o c o rre em e sc a la m u ito m enor. A
disso, o fármaco absorvido após essa drenagem não sofre eliminação de lig ação c o stu m a ser re v ersív e l; o c asio n a lm e n te o co rre u m a ligação
primeira passagem hepática. Por isso, podem ocorrer efeitos farmacológicos c o v alen te de fá rm a co s re ativ o s co m o os ag en tes alq u ilan tes.
sistêmicos indesejados ao se administrarem antagonistas |3-adrenérgicos em
A fração lig ad a do total de fá rm a co no p lasm a é d e te rm in a d a por
gotas oftálmicas. Os efeitos locais geralmente requerem a absorção do fár-
maco pela córnea; assim, a infecção ou o traumatismo da córnea podem levar su a c o n ce n tra ç ão , sua a fin id ad e p elo s locais de lig ação e p elo n ú -
a uma absorção mais rápida. Os sistemas de liberação oftálmica que propor- m ero de locais de lig ação. R e la çõ e s sim p le s de ação de m assa d e -
cionam duração prolongada da ação (p. ex., suspensões e pomadas) são term in am as c o n ce n tra ç õ es liv re s e lig a d a s (ver C ap. 2). E m baixas
acréscimos úteis ao tratamento oftálmico. Os implantes oculares, desenvol- c o n c e n tra ç õ es d e fárm a co s (m en o re s do q u e a c o n stan te de d isso -
vidos mais recentemente, fornecem liberação contínua de baixas quantidades cia çã o de lig a ç ão às p ro teín as p lasm á tic as), a p arte lig ad a é p ro p o r-
de fármaco, perdendo-se muito pouco através da drenagem, daí os efeitos cio n al à c o n ce n tra ç ão n os lo cais de lig ação e à c o n stan te de d isso -
sistêmicos colaterais serem minimizados. c ia çã o . E m a lta s c o n c e n tra ç õ e s de fá rm a c o s (m aio res do que a
Bioequivalência. Os fármacos não são administrados como tais; em vez c o n stan te de d isso c iaç ão ), a p arte lig a d a é p ro p o rcio n a l ao n úm ero
disso, são formulados em apresentações posológicas. Os produtos dos fárma- de lo cais de lig a ç ão e à c o n c e n tra ç ã o de fárm aco . P o rtan to , a ligação
cos são considerados equivalentes farmacêuticos quando contêm os mesmos
p la sm á tic a é um p ro c esso satu ráv el e n ão -lin ear. N o en tan to , para a
princípios ativos e potência ou concentração, posologia e via de adminis-
m aio ria dos fá rm a co s, a fa ix a tera p êu tica de c o n ce n tra ç ão p lasm á -
tração idênticas. Dois produtos de substâncias farmacologicamente equi-
valentes são considerados bioequivalentes quando a taxa e a extensão de tica é lim itada, de m od o qu e a e x te n sã o das p a rte s lig ad as e livres é
biodisponibilidade do princípio ativo dos dois produtos não forem significa- re la tiv a m e n te co n stan te. O s p e rce n tu a is listad o s no A p ên d ice II se
tivamente diferentes em condições de teste adequadas. Antigamente, a poso- referem ap en as a e ssa situ aç ão , a m en os que e sp e cific a d o de outro
logia de um fármaco de diferentes laboratórios e até mesmo de diferentes m o do . A e x te n sã o d a lig ação p la sm á tic a tam b é m p o d e ser a lterad a
lotes de um mesmo laboratório às vezes diferia quanto à biodisponibilidade. p o r fa to re s re la cio n a d o s com a d oença. P o r e x em p lo , a h ip o alb u m i-
Tais diferenças eram observadas principalmente nas apresentações orais de n e m ia se c u n d á ria a d o e n ça h e p ática g rav e ou a sín d ro m e nefró tica
substâncias de baixa solubilidade e absorção lenta, sendo resultantes de
lev a m à d im in u içã o da lig ação e ao a u m e n to da fração livre. Do
diferenças entre as formas dos cristais, o tamanho das partículas ou outras
m esm o m o do, as a fec çõ e s que lev am a u m a re sp o sta de reação de
características físicas do fármaco que não são rigidamente controladas na
manipulação e na fabricação das apresentações. Esses fatores alteram a fase ag u d a (cân cer, a rtrite, in farto do m io cárd io , d o en ça de C rohn)
desintegração da apresentação e a dissolução do fármaco e, por conseguinte, lev am a alto s n ív eis de a i-g lic o p ro te ín a á cid a e a u m e n to d a ligação
a taxa e a extensão de sua absorção. de fá rm a co s b ásicos.
A não-equivalência potencial de diferentes apresentações tem sido uma C o m o a lig ação dos fá rm a co s às p ro teín as p lasm áticas é p rin ci-
razão de preocupações. Maiores exigências de regulamentação resultaram na p a lm e n te n ã o -sele tiv a , m u ito s fá rm a co s com c a ra cte rística s físico-
redução ou eliminação de casos documentados de não-equivalência entre q u ím ic as se m elh an te s po dem c o m p e tir e n tre si e com su b stân cias
produtos de fármacos aprovados. O significado de possíveis não-equivalên- e n d ó g en a s p o r e sse s locais de lig ação . P o r ex em p lo , o d e slo ca m e n to
cias entre apresentações é discutido mais detalhadamente com relação à d a b ilirru b in a n ã o -co n ju g ad a de sua lig a ç ão à a lb u m in a p elas su lfo -
nomenclatura das substâncias e à escolha do nome comercial nas prescrições
n a m id a s e ou tro s â n io n s o rg â n ic o s sa b id am en te a u m e n ta o risco de
escritas (ver Apêndice I).
e n c e fa lo p a tia p o r b ilirru b in a em re cé m -n a sc id o s. A s q u estõ es sobre
to x ic id ad e fa rm a co ló g ica , b a se ad a s n a c o m p e tiç ão de fárm aco s p e -
D IS T R IB U IÇ Ã O D O S FÁ R M A C O S
los lo cais d e lig ação fo ram , no p assado , ex ag e rad a s. C o m o as re s-
A p ós ab so rçã o ou a d m in istraç ão na c irc u la ç ão sistê m ic a, o fá r- p o stas aos fá rm a co s, tan to as e fic a z e s co m o as tó x icas, oco rrem em
m aco se distrib u i nos líq u id o s in te rsticial e in tra ce lu la r, p ro c esso fu n ç ã o d a s c o n c e n tr a ç õ e s liv re s , em e s ta d o d e e q u ilíb r io as
que reflete d iv erso s fato res fisio ló g ic o s e p ro p ried a d es físico -q u ím i- c o n ce n tra ç õ es liv res só serão a lte ra d a s q u a n d o a a d m in istraç ão do
cas e sp e cífic a s de c ad a fárm aco. O d é b ito c ard íac o , o fluxo sa n g u í- fárm aco (a fre q ü ê n c ia das d o ses) ou a d e p u raç ão do fárm aco livre
neo reg io n al e o v o lu m e tecid u al d e te rm in a m a tax a de lib e raç ã o e forem a lte ra d a s [ver E q u aç ão (1.1 ) e a d isc u ssã o ad ian te n este c a p í-
a q u a n tid a d e p o ten cial de fá rm a co d istrib u íd a p ara os tecid o s. In i- tulo]. D esse m odo. as c o n ce n tra ç õ es liv res em estad o de eq u ilíb rio
c ialm en te, fígad o, rins, c ére b ro e o u tro s ó rg ão s com b o a p erfu são in d ep en d em d a e x te n sã o d a ligação p ro téica. N o e n ta n to , no caso
receb em a m aio r p arte do fá rm a co , e n q u a n to a lib e raç ã o p ara os do s fá rm a co s de b aix o índ ice tera p êu tico , um a a lte ra ç ão tran sitó ria
m úscu los, a m aio ria d as vísc era s, p ele e g o rd u ra é m ais lenta. E ssa nas c o n c e n tra ç õ e s livres im e d iatam e n te ap ó s a d o se de um fárm aco
seg u n d a fase de d istrib u iç ã o pod e lev ar m in u to s ou várias horas c o m p e tid o r p o d e ser p reo cu p an te. Um p ro b lem a m ais co m u m d e -
antes q u e a c o n ce n tra ç ão d o fá rm a co no tecid o e steja d istrib u íd a em co rre n te d a c o m p e tiç ão dos fárm a co s p elo s locais de lig ação nas
8 Seção / PRINCÍPIOS GERAIS

p roteínas p lasm áticas é a in te rp reta çã o e q u iv o c ad a das c o n c e n tra - m aco alc an ç a su a c o n ce n tra ç ão m áx im a no c éreb ro 1 m in após sua
ções d osadas de fárm a co s no p lasm a, já que a m aio ria d os testes não injeção in trav en o sa. A p ó s o térm in o da in jeção , a concentração
d iferen cia o fárm aco livre do ligado. p lasm á tic a cai à m ed id a qu e o tiop ental se d ifu n d e p ara outros
É im p o rtan te frisar que a lig ação de um fárm aco às p roteín as tecidos, co m o o m ú scu lo . A co n ce n tra ç ão do fá rm a co no cérebro
plasm áticas lim ita sua c o n ce n tra ç ão nos tecidos e em seu local de seg ue a do plasm a, p o rq u e há p o u c a ligação do fárm aco aos com po-
ação, visto que ap en as o fá rm a co livre e stá em e q u ilíb rio a trav és das n entes c ere b rais. D esse m odo, o in ício d a a n este sia é rápido, mas o
m em branas. C o n se q ü e n te m en te, d e p o is de alc an ç a d a um a d istrib u i- térm in o tam b ém . A m b o s e stão d iretam e n te re la cio n a d o s com a con-
ção e quilib rad a, a c o n ce n tra ç ão de fá rm a co ativo, livre, na ág ua c en traç ã o d a su b stâ n c ia no céreb ro .
in tra ce lu la r é igual à do p lasm a, e x ce to q u an d o há e n v o lv im en to de S is te m a n e rv o s o c e n tr a l e líq u id o c e f a lo r r a q u id ia n o . A dis-
transp orte m ed iad o p o r c arre ad o re s. A ligação tam b ém lim ita a trib u iç ão de fá rm a co s no S N C a p a rtir d o san g u e é p ecu liar, porque
filtração g lo m e ru lar do fárm aco , pois esse p ro cesso não a lte ra im e- há b arreiras fu n c io n a is q u e re strin g e m a p e n etraç ã o dos fárm acos
diatam ente a c o n ce n tra ç ão de fá rm a co livre no p lasm a (a á g u a tam - nesse local crítico . U m a c au sa d isso é q u e as célu las endoteliais dos
bém é filtrada). N o en tan to , a ligação às p ro teín as p lasm á tic as g e - c ap ilare s do c ére b ro têm ju n ç õ e s de o c lu são c o n tín u a s; portanto, a
ralm ente não lim ita a se creção tu b u la r renal ou a b io tra n sfo rm aç ã o , p e n etraç ã o dos fárm a co s no c ére b ro d e p en d e m ais do transporte
já que esses p rocessos d im in u em a co n ce n tra ç ão de fá rm a co livre, tra n sc e lu la r q u e do p a ra c e lu la r e n tre as célu las. A s características
e isso é rap idam en te seg uido p ela d isso c iaç ão do co m p le x o fárm a- e x clu siv as das c élu las g lia is p e ric ap ilare s tam b ém c ontrib uem para
co -p roteína. O tran sp o rte e o m etab o lism o dos fá rm a co s tam bém a b arreira h e m a ten cefálica. N o p lex o c o ró id e . há u m a barreira he-
são lim itados pela lig ação plasm ática. e x ceto q u an d o são e sp e c ia l- m ato liq u ó rica se m elh an te , e x ceto que são as célu las ep iteliais que
m ente eficazes e a d e p u ração do fárm aco , c alcu la d a com b ase na e stão un idas p o r ju n ç õ e s de o clu são , em vez d e célu las endoteliais.
sub stância livre, u ltra p assa o flu xo p lasm ático dos órgãos. Em tais C o m o resu ltad o , a lip o sso lu b ilid ad e de sub stâ n c ia s não-ionizadas e
casos, a ligação do fárm aco às p ro teín as p lasm á tic as p ode se r e n c a - n ã o -lig ad a s do fá rm a co é um d e te rm in a n te im p o rtan te de sua recap-
rada com o um m ecan ism o de tran sp o rte q ue e stim u la a e lim in a çã o tação p elo c éreb ro ; q u an to m ais lip o fílic as fo rem , m aio r a probabi-
do fárm aco lib eran d o -o p ara os locais de elim inação. lid ad e de a tra v e ssa r a b a rre ira h e m a ten c efá lic a. T al circunstância
L ig a ç ã o te c id u a l. M uitos fárm aco s se acu m u lam nos tecido s c o stu m a ser u tiliza d a na c o n ce p çã o de fárm aco s p a ra alterar a dis-
em c o n cen traçõ es m ais e lev ad as que aq u elas d os líq u id o s e x tra ce - trib u iç ão c ereb ral; p o r ex em p lo , os a n ti-h istam ín ic o s não-sedativos
lulares e do sangue. P o r exem p lo , d u ran te a a d m in istraç ão p ro lo n - a lcan çam c o n c e n tra ç õ es c ere b rais m u ito m en o res do que os outros
gada do an tim alárico q u in acrin a, a co n ce n tra ç ão do fárm aco no a g en tes d e ssa classe. U m nú m ero c resc e n te de e v id ê n cia s tam bém
fígado pode ser m ilhares de vezes m aio r do que a do sangue. Tal in d ica que os fárm aco s p od em p e n e tra r no SN C atrav és de transpor-
acúm ulo po d e ser resu ltan te do tran sp o rte ativ o ou, m ais c o m u m e n - tad o res esp e cífic o s de re ca p ta ç ão n o rm alm en te e n v o lv id o s no trans-
te, da ligação. A lig ação tecid ual d os fárm aco s g e ralm e n te oco rre p o rte de n u trien tes e co m p o sto s e n d ó g en o s d o san g u e p a ra o cérebro
com c o m p o n en tes c elu lares co m o p ro teín as, fo sfo lip íd io s ou p ro teí- e o L C R . R e ce n te m en te , foi d e sc o b erto q u e o utro fato r funcional
nas nucleares, send o g e ralm e n te reversível. U m a g ran d e fração do im p o rtan te na b a rre ira h e m a ten c efá lic a tam b ém e n v o lv e transporta-
fárm aco no corp o pode e star ligada desse m odo e se rv ir de re se rv a - d ores de m em b ran a que, no caso, são c arre ad o re s de eflu x o presen-
tório que p ro lo ng a a ação do fá rm a co no m esm o tecid o ou em um tes nas célu las d o e n d o té lio c ap ila r c ere b ral. A g lic o p ro teín a P é o
local distan te alcan çad o p ela circu lação. m ais im p o rta n te d esses fato res e a tu a tanto não p erm itin d o que o
fárm aco não so fra tran slo c aç ã o atra v és d as célu las e n d o teliais com o
Tecido adiposo como reservatório. Muitos fármacos lipossolúveis são e x p o rta n d o q u a lq u e r fá rm a co que p en etre na b a rre ira p o r outros
armazenados por solubilização na gordura neutra. Nas pessoas obesas, o m eios. E sse tran sp o rte p o de ser a razão de o c éreb ro e ou tro s tecidos
conteúdo de gordura do corpo pode ser de até 50% e, mesmo nos casos de nos qu ais a g lic o p ro teín a P é e x p ressa de m o d o se m elh an te (p. ex.,
desnutrição grave, constitui 1 0 % do peso corporal; por conseguinte, a gordu-
te s tíc u lo s ) c o n stitu íre m sa n tu á rio s fa rm a c o ló g ic o s nos quais as
ra pode constituir um importante reservatório para os fármacos lipossolú-
c o n ce n tra ç õ es de fá rm a co s são aq u ém do n ecessário para se obter o
veis. Por exemplo, até 70% do barbitúrico tiopental altamente lipossolúvel
podem estar presentes na gordura corporal 3 h após a administração. No e feito d e sejad o , m esm o com n ív eis sé rico s adeq uado s. E o que
entanto, a gordura é um reservatório bastante estável por ter um fluxo a p are n te m en te o c o rre com os in ib id o re s da p ro tea se do HIV (Kim
sanguíneo relativamente baixo. et a i , 1998) e tam b é m co m a lo p era m id a — um o p iáceo potente de
Osso. As tetraciclinas (e outros quelantes de íons metálicos divalentes) ação sistê m ic a que não ex erce q u a isq u e r e feito s cen trais caracterís-
e os metais pesados podem se acumular nos ossos por adsorção na superfície ticos de outro s o p iác eo s (ver C ap. 23). O s tran sp o rta d o res de efluxo
dos cristais ósseos e finalmente pela incorporação no arcabouço do cristal. qu e secretam a tiv a m e n te su b stâ n c ia s do L C R p ara o sangue tam bém
Os ossos podem se tornar um reservatório de liberação lenta de substâncias e stão p re sen te s no p lex o c o ró id e . In d e p en d e n te m en te de um fárm a-
tóxicas como o chumbo ou o rádio para o sangue; seus efeitos podem assim co ser retirad o do L C R p o r tran sp o rta d o res esp e cífic o s ou sofrer
persistir muito após o término da exposição. A destruição local da medula
d ifu sã o re tró g ra d a para o san g u e, os fárm aco s tam b ém saem do
óssea também pode levar à redução do fluxo sanguíneo e ao prolongamento
SN C ao longo do v o lu m e d o flu x o de L C R a trav és das vilosidades
do efeito de reservatório, já que as substâncias tóxicas permanecem isoladas
da circulação, o que pode aumentar ainda mais a lesão direta ao osso, a racn ó id es. Em geral, a fun ção da b arreira h e m a ten c efá lic a é bem
resultando em um círculo vicioso, no qual quanto maior a exposição à p re serv a d a ; no e n ta n to , a in fla m aç ão m en ín g ea e e n ce fálica aum en-
substância tóxica, mais lenta sua taxa de eliminação. ta a p e rm e ab ilid a d e local. T am b ém há a p o ssib ilid a d e de a barreira
h e m a ten c efá lic a se r m o d u lad a de m od o p ro p ício a m elh o rar o trata-
R e d is tr ib u iç ã o . O térm in o do e feito do fárm aco c o stu m a o c o r- m en to de in fecçõ es ou tu m o res cereb rais. A té hoje, no entanto, tal
re r p or m etab o lism o e ex creção , m as tam b ém p o d e re su lta r da re d is- a b o rd ag em a in d a não teve su a u tilid ad e c lín ica com p rov ad a.
trib u iç ão do fárm aco de seu local de ação p ara o u tro s tecid o s ou T r a n s f e r ê n c ia p l a c e n t á r ia d e fá rm a c o s . A tran sferên cia po-
locais. A red istrib u ição é um fa to r p a ra o térm in o do e feito do ten cial de fárm a co s a trav és da p la c e n ta é im p o rtan te, já que os
fárm aco p rin cip alm en te q uan do um fá rm a co a lta m e n te lip o sso lú v el fá rm a co s p o d em c a u sa r an o rm a lid a d es c o n g ên itas. A dm inistrados
que atua no cérebro ou no siste m a c a rd io v a sc u la r é a d m in istrad o p or logo antes do p arto , tam b ém p o d em ter e feito s ad v erso s no recém-
injeção in trav en osa ráp id a ou p o r inalação. U m bom e x em p lo d isso nascid o. A lip o sso lu b ilid ad e , a ex te n sã o d a ligação plasm ática e o
é o uso in trav en oso do an esté sico tio p e n tal, um fárm aco a ltam en te grau de io n iz a çã o d o s ácid o s e b ases fracos são d e te rm in a n te s gerais
lip ossolúvel. C om o o fluxo sa n g u ín eo cereb ral é m uito alto, o fá r- im p o rtan tes, co m o d isc u tid o an terio rm en te. O p lasm a do feto é
1 FARMAC0CINÉT1CA 9
lig eiram ente m ais ácido q u e o d a m ãe (pH 7 ,0 -7 ,2 versus 7 ,4), de alcalin ização e a a cid ific aç ão da urina têm e feito s co n trário s na
m odo que o co rre seq ü estro iô n ico das su b stân cias b ásicas. C o m o no ex creção de b ases fracas. N o tratam en to da in to x icação farm aco ló -
céreb ro, a g lic o p ro teín a P e stá p resen te na p lac en ta e fu n c io n a c o m o gica, a e x creção de a lg u n s fárm aco s pode ser a p ressad a por um a
um tran sp o rta d o r de e x p o rtação p ara lim itar a e x p o siçã o fetal a a lc alin iz a çã o ou a cid ific aç ão a d eq u a d a da urina. Se a alteração do
su b stâncias p o ten cialm en te tóx icas. M as a c o n ce p çã o de qu e a p la - pH u rin ário lev a ou não a um a a lteração sig n ific a tiv a da elim inação
c en ta seja um a b arreira intran sp o n ív el aos fárm acos não é exata. de fárm aco s d e p en d e da a m p litu d e e da p ersistên c ia da alteração do
U m a visão m ais ap ro p ria d a é a de qu e até certo p o nto o feto é m en os pH , bem co m o da c o n trib u içã o da re ab so rç ã o p assiva d ep endente
ex p o sto a fu n d a m e n ta lm e n te to d o s os fárm aco s to m ad os p ela m ãe. do pH p a ra a e lim in a çã o total do fárm aco. O e feito é m aior para os
á cid o s e b ases fracos co m valores de pKa na faix a d o pH u rinário
EXCREÇÃO DE FÁRMACOS (5-8). N o e n tan to , a a lcalin ização da urina pode re su lta r em um
aum en to de 4 a 6 v ezes na e x cre çã o de um ácid o relativ am en te forte,
O s fárm acos são e lim in ad o s do co rp o inalterad o s p elo p ro cesso
c o m o o salicilato , q uan d o o pH u rin ário é alterad o de 6,4 para 8,0.
de excreção ou co n v ertid o s em m etab ólitos. O s ó rgãos ex creto res,
A fração de su b stâ n c ia n ã o -io n iza d a d im in u iria de 1% para 0,04% .
com exceção do pu lm ão , elim in a m os co m p o sto s p o lares de m odo
m ais eficiente q u e as su b stân cias altam en te lip o sso lú v eis. D esse
Excreção biliar e fecal. S istem as de tran sp o rte an álo gos aos do
rim tam b ém e stão p resen tes na m em b ran a c an a lic u la r do h ep ató cito
m odo, os fárm aco s lip o sso lú v eis não são e lim in ad o s rap id am en te
e secretam a tiv am en te fárm aco s e m etab ó lito s para a bile. A g lic o -
até serem m etab olizad o s em co m p o sto s m ais p olares.
p ro teín a P tran sp o rta u m a p leto ra de fárm acos an fip ático s, lip o sso-
O rim é o ó rgão m ais im p o rtan te p ara a e x creção de fárm acos e
lúveis, e n q u an to a M R P 2 está en v o lv id a p rin cip alm en te na secreção
seus m etab ólito s. A s su b stân cias ex cretad as nas fezes são p rin c ip a l-
de m etab ó lito s c o n ju g a d o s do s fárm aco s (co n ju g ad o s de g lu tatio n a,
m ente fárm acos não -ab so rv id o s, in g erid o s p o r v ia oral ou m eta b ó -
glic u ro n íd eo s e a lg u n s su lfato s). A M R P 2 tam b ém está e n vo lvid a
litos excretad o s na bile ou secretad o s d iretam en te para o trato in te s-
na ex cre çã o d e c o m p o sto s e n d ó g en o s, com a síndrom e de D ubin-
tin a l e, s u b s e q ü e n te m e n te , n ã o re a b s o r v id o s . A e x c re ç ã o de
Joh n so n sen do cau sad a p ela a u sê n cia g e n ética desse transportador.
fárm acos no leite m atern o é im p ortante, não pelas q u a n tid a d es e li-
A secreção b ilia r a tiv a de cátio n s o rg ân ico s tam b ém e n v olv e tran s-
m inadas, m as p orqu e os fárm acos e x cretad o s são fo ntes p o ten ciais
de efeitos farm aco ló g ico s in d esejad o s no lactente. A e x creção p u l- p o rtad o res. P o r fim , os fárm aco s e m etab ó lito s p resen tes na bile são
m onar é im p o rtan te p rin cip alm en te p ara a e lim in ação de g ases a n es- lib erado s no trato in testinal d u ra n te o p ro cesso digestiv o. C om o
tésicos e vapores (ver C aps. 13, 14 e 16); e v en tu alm en te, p eq u en as tran sp o rta d o res se creto res com o a g lic o p ro teín a P tam bém são e x -
q u antidades d e o u tros fárm aco s ou m etab ó lito s são e x cretad o s p o r p resso s na m em b ran a apical d os e n teró cito s, pode o co rrer secreção
essa via. d ireta de fá rm a co s e m etab ó lito s da c irc u la ç ão sistêm ica p ara a luz
Excreção renal. A ex creção de fárm acos e m etab ó lito s na u rin a intestin al. S u b seq ü en tem en te, os fárm aco s e os m etab ólito s podem
se r re ab so rv id o s de v o lta p ara o co rp o a p a rtir do intestin o que, no
envolve três p rocessos: filtração glo m eru lar, se creção tu b u la r ativ a
e reabsorção tu b u la r p assiva. A s alteraçõ es g erais da fu n ção renal caso dos m etab ó lito s c o n ju g a d o s co m o os glicu ro n íd eo s, pode re -
geralm ente alteram os três p ro cesso s de m odo sem elhante. A fun ção q u e rer sua h id ró lise e n zim átic a p e la flora do intestino . E ssa re cicla -
renal é b aixa c o m p arad a ao tam an ho co rp o ral nos re cém -n ascid o s, gem e n tero ep ática, se extensa, p o d e p ro lo n g ar sig n ificativ am en te a
m as am adurece rap id am en te nos p rim eiro s m eses após o n a sc im en - p re sen ç a de um fárm aco e seus e feito s no co rp o antes de sua e lim i-
to. D urante a idade ad u lta há um lento d eclín io da fu n ção renal, nação p o r o u tras vias.
cerca de 1 % p o r ano, de m odo que nos idoso s geralm en te há um
grau im p ortante de co m p ro m etim en to . O u tras vias de excreção. A excreção de fármacos através de suor, saliva
e lágrimas é quantitativamente sem importância. A eliminação através dessas
A quantid ad e de fárm aco que e n tra na luz do tú b u lo atrav és da
vias depende principalmente da difusão das formas não-ionizadas, liposso-
filtração dep en de da taxa de filtração g lo m e ru lar e da e x ten são de
lúveis dos fármacos através das células epiteliais das glândulas e depende do
ligação p lasm ática do fárm aco; apenas os fárm aco s livres são filtra -
pH. Os fármacos excretados na saliva penetram na boca, onde costumam ser
dos. No túb u lo renal p ro x im al, a se creção tu b u la r ativa, m ed iad a por deglutidos. A concentração de alguns fármacos na saliva equivale à do
carreadores, tam b ém p o d e a c re sc en tar fárm aco s ao líquido tubular. plasma. A saliva pode então ser um líquido biológico útil para determinar a
Os tran sp o rtad o res co m o a g lic o p ro teín a P e a p ro teín a tipo 2 a sso - concentração de fármacos quando é difícil ou inconveniente obter amostras
ciada a m ultirresistên cia (M R P 2) lo calizad o s na m em b ran a apical de sangue. Os mesmos princípios se aplicam à excreção de fármacos no leite
com borda em e sco v a são am p lam en te resp o n sáv eis p e la secreção materno. Como o leite é mais ácido que o plasma, os compostos básicos
de ânions an fip ático s e m etab ó lito s c o n ju g a d o s (com o glicu ro n í- podem estar ligeiramente concentrados nesse líquido e a concentração de
deos, sulfatos e p ro d u to s d a g lutatio n a), resp ectiv am en te. S istem as compostos ácidos no leite é menor do que no plasma. Os não-eletrólitos,
de tran sp o rte sem elh an tes, p o rém m ais seletivo s, para fárm aco s ca- como o etanol e a uréia, penetram rapidamente no leite materno, atingindo a
tiônicos o rgânico s (F C O ) estão e n v o lv id o s na secreção de bases mesma concentração que no plasma, independentemente do pH do leite.
Embora a excreção para os cabelos e a pele também seja quantitativamente
orgânicas. O s tran sp o rtad o res de m em b rana, p rin cip alm en te lo c a li-
sem importância, métodos sensíveis de detecção de fármacos nesses tecidos
zad o s no túbulo renal distai, tam b ém são re sp o n sá v eis p or q u a lq u e r
têm importância jurídica.
reab sorção ativ a de fárm aco s d a luz tu b u la r de vo lta p ara a c irc u la -
ção sistêm ica. N o e ntan to , a m aio r p arte d e ssa reab so rção o co rre p o r
M E T A B O L IS M O D O S FÁ R M A C O S
difusão não-ionizada.
N os túb ulos proxim al e distai, as form as n ã o -io n iza d a s de ácidos A s c a ra cte rística s lip o fílicas d o s fárm acos qu e p rom ovem sua
e bases fraco s sofrem reab so rção p assiv a. O g rad ien te de c o n c e n tra - p assag em atrav és das m em b ranas b io ló g icas e acesso sub seqüente a
ção p ara a d ifusão re tró g ra d a é criad o p ela reab so rção de ág u a com seu local de ação d ificu ltam su a e x creção do corpo. A excreção
N a+ e outros íons ino rgân icos. C o m o as célu las tu b u lares são m enos renal de fárm aco s inalterad o s d ese m p e n h a um papel apenas m o d es-
perm eáveis às form as io n izad as d os e le tró lito s fracos, a reab so rção to na e lim in a çã o g eral da m aio ria d os ag en tes terap êu ticos, j á que
passiva dessas su b stân cias d e p en d e do pH. Q u an do a urin a tu b u la r os c o m p o sto s lip o fílico s filtrad o s a trav és do g lo m éru lo são a m p la -
se torna m ais alcalin a, os ácid os fracos são e x cretad o s m ais ra p id a - m ente re ab so rv id o s d e v olta para a circ u la ç ão sistê m ic a d urante a
m ente e em m aio r p ro p o rção , p rin cip alm en te p o r serem m ais io n i- passagem através dos túb u lo s renais. O m etab o lism o de fárm acos e
zados e a reab sorção p a ssiv a e sta r dim in uída. Q u an do a urin a tu b u - o u tro s x en o b ió tico s em m etab ó lito s m ais h id ro fílico s é portan to
lar se to rn a m ais ácida, a e x creção de ácid o s fracos é red u zid a. A fu n d am en tal p ara a e lim in ação d esses co m p o sto s do corp o e o tér-
10 Seção 1 PRINCÍPIOS GERAIS

m ino de sua a tiv id ad e b io ló g ic a. Em g eral, as re aç õ es de b io tran s- xenobióticos. Geralmente funcionam como um terminal oxidase em uma
fo rm ação g eram m eta b ó lito s m ais p o lares, inativos, q u e são ra p id a - cadeia de transferência de elétrons com múltiplos componentes que introduz
m ente e x c re ta d o s d o corp o . N o e n ta n to , em a lg u n s c aso s, são g e ra - um único átomo de oxigênio molecular ao substrato, com o outro átomo
d os m eta b ó lito s com a tiv id a d e b io ló g ic a p o ten te ou p ro p ried a d es sendo incorporado na água. Nos microssomos, os elétrons são fornecidos dc
NADPH via a redutase do citocromo P450, que está estreitamente associada
tóxicas. M u itas d as re aç õ es d e b io tra n sfo rm aç ã o m e ta b ó lica lev a n -
ao citocromo P450 na membrana lipídica do retículo endoplasmático liso. O
do a m eta b ó lito s in ativ o s de fá rm a co s tam b ém g eram m eta b ó lito s
citocromo P450 catalisa muitas reações, inclusive a hidroxilação aromática
b io lo g ic am en te a tiv o s de c o m p o sto s en d ó g en o s. A d isc u ssã o a se -
e de cadeia lateral; dealquilação N, O e 5; /V-oxidação; /V-hidroxilação;
g u ir se c o n c e n tra na b io tra n sfo rm a ç ã o d o s fárm aco s, m as é g e ra l- sulfoxidação; desaminação; desalogenação e dessulfuração. Os detalhes e
m en te ap licáv el ao m e ta b o lism o d e to d o s os x e n o b ió tico s, assim exemplos do metabolismo mediado pelo citocromo P450 são mostrados no
c o m o ao de d iv erso s c o m p o sto s en d ó g en o s, in clu in d o e steró id es, Quadro 1.2. Várias reações de redução também são catalisadas por essas
v ita m in a s e ácid o s grax o s. enzimas, geralmente em condições de baixa tensão de oxigênio.
M e ta b o lis m o d e fa se I e II. A s re aç õ es de b io tra n sfo rm aç ã o d o s Das aproximadamente 1.000 enzimas conhecidas atualmente do citocro-
fárm acos são c la ssifica d a s em re aç õ es fu n c io n a is de fase I ou re a - mo P450, cerca de 50 têm atividade funcional nos seres humanos, sendo
çõ es b io ssin tética s (c o n ju g a çã o ) de fa se II. A s re aç õ es d e fase I categorizadas em 17 famílias e muitas subfamílias segundo as semelhanças
in tro d u zem ou ex p õ em um g ru p o fun cio n al no fá rm a co p a ren tal. As entre as seqüências de aminoâcidos das proteínas previstas; a sigla CYP é
reaçõ es de fase I g e ralm e n te levam à p e rd a d a a tiv id ad e fa rm a c o ló - utilizada para sua identificação. As seqüências iguais em mais de 40%
pertencem à mesma família, identificada por um algarismo arábico; no
gica, e m b o ra haja ex em p lo s de m an u te n çã o ou a u m e n to d a a tiv id a -
interior de uma família, as seqüências iguais em mais de 55% estão na
de. Em raros c aso s, o m eta b o lism o e stá a sso c iad o à a lte ra ç ão da
mesma subfamflia, identificada por uma letra; e as diferentes isoformas
a tiv id ad e farm acoló g ica. O s p ró -fárm a co s são c o m p o sto s farm aco -
isoladas na subfamília são identificadas por um algarismo arábico. Cerca de
lo g ic a m e n te inativ o s, p ro jetad o s p a ra m ax im iz a r a q u a n tid a d e da 8 a 10 isoformas nas famílias CYP1, CYP2 e CYP3 estão primariamente
esp é cie a tiv a qu e a lc an ç a o local de ação. O s p ró -fá rm a c o s in ativ o s envolvidas na maior parte das reações metabólicas de todos os fármacos nos
são ra p id a m e n te c o n v ertid o s em m eta b ó lito s b io lo g ic am en te ativ o s, seres humanos; os membros das outras famílias são importantes para a
freq ü e n tem e n te p ela h id ró lise de u m a lig ação é ste r ou am id a. Q u a n - biossíntese e a degradação de esteróides, ácidos graxos, vitaminas e outros
do não são ra p id a m e n te e x c re ta d o s na urin a, os p ro d u to s d as re aç õ es compostos endógenos. Cada isoforma isolada de CYP parece ter especifici-
de b io tra n sfo rm aç ã o de fa se I p o d em re ag ir com c o m p o sto s e n d ó - dade característica para um substrato com base nas manifestações estruturais
g en o s fo rm an d o um c o n ju g a d o a lta m e n te h id ro sso lú v e l. do substrato; no entanto, muitas vezes há uma superposição considerável.
Como resultado, duas ou mais isoformas CYP e outras enzimas que metabo-
A s reaçõ es de c o n ju g a çã o de fase II levam à fo rm a ç ã o d e um a
lizam fármacos freqüentemente estão envolvidas no metabolismo geral de
lig ação c o v alen te en tre um g ru p o fu n cio n al no fá rm a co p aren tal ou
um fármaco, levando à formação de muitos metabólitos primários e secun-
m etab ó lito de fase I co m á cid o g lic u rô n ico , su lfato , g lu ta tio n a , am i-
dários. As diversas isoformas também possuem perfis característicos de
no ácido s ou a cetato s e n d ó g en o s. T ais c o n ju g a d o s a lta m e n te p o lare s inibição e indução, como descrito adiante. Em acréscimo, o metabolismo
em geral são in ativ o s e e x cre ta d o s ra p id a m e n te na u rin a ou nas catalisado pela CYP muitas vezes é regional e estereosseletivo; a última
fezes. Um e x em p lo d e um c o n ju g a d o a tiv o é o m eta b ó lito 6-g licu - característica pode ser importante se o fármaco administrado for um racema-
ro n íd io da m orfina, um a n alg ésic o m ais p o ten te q u e o fá rm a co do to e os enantiômeros tiverem atividade farmacológica diferente.
qual se origina. As contribuições relativas das várias isoformas CYP no metabolismo
Local d e biotransformação. A c o n v ersã o m etab ó lica d o s fárm a- dos fármacos estão ilustradas na Fig. 1.3. A CYP3A4 e a CYP3A5, que são
cos geralm en te é de n atu reza en zim ática. O s sistem as e n zim átic o s isoformas muito semelhantes, juntas estão envolvidas no metabolismo de
e n v olvid os na b io tran sfo rm ação d o s fárm aco s e stão lo calizad o s no cerca de 50% dos fármacos; além disso, a CYP3A é expressa no epitélio
fígado, e m b o ra q u a lq u e r tecid o ex am in ad o ten ha alg u m a ativ id ade intestinal e no rim. Atualmente se reconhece que o metabolismo pela CYP3A
m etabólica. O u tro s ó rg ão s com cap a cid a d e m eta b ó lica im p o rtan te durante a absorção pelos enterócitos intestinais é um fator importante, junto
com o metabolismo hepático de primeira passagem, na pouca biodisponibi-
são o trato d ig estivo , os rins e os p u lm ões. A p ó s a a d m in istraç ão
iidade oral de muitos fármacos. Isoformas da família CYP2C e da subfamília
n ão -p arenteral de um fárm aco , um a p arte sig n ific a tiv a da d o se po d e
CYP2D6 também estão envolvidas em grande escala no metabolismo dos
ser m etab o licam en te in ativ ad a no e p itélio intestinal ou no fígado
fármacos. Embora isoformas como a CYP 1A 1/2, CYP2A6, CYP2BI e
antes de alc an ç a r a c ircu lação sistêm ica. E sse m etab o lism o de p ri- CYP2E1 não estejam grandemente envolvidas no metabolismo de medica-
m eira p assag em lim ita de m odo im p o rtan te a d isp o n ib ilid ad e oral de mentos, elas, no entanto, catalisam a ativação de muitos agentes ambientais
fárm aco s altam en te m etab o lizad o s. N o in te rio r de d e te rm in a d a c é lu - pró-cancerígenos até sua forma cancerígena final. Conseqüentemente, são
la, a m aior parte da ativ id ad e do m etab o lism o dos fárm aco s se e n - consideradas importantes na sensibilidade a várias neoplasias, como o câncer
co n tra no re tícu lo en d o p la sm ático e no citoso l, e m b o ra tam b ém p o s- de pulmão associado ao tabagismo.
sam o c o rre r b io tra n sfo rm a ç õ e s nas m ito c ô n d ria s, no in v ó lu c ro Outras enzimas oxidativas como as desidrogenases e as monoxigenases
nu clear e na m em b ran a p lasm ática. C om a h o m o g en e iza çã o e a c e n - contendo flavina também são capazes de catalisar o metabolismo de deter-
trifug ação d iferen cial dos tecid os, o retícu lo e n d o p la sm ático se q u e - minados fármacos, mas em geral têm pouca importância no conjunto.
bra e os frag m en to s da m em b ran a form am m icro v esícu las, d e n o m i- E nzim as hidrolíticas. As reações das principais enzimas hidrolíticas
nadas m icrossom os. A s e n zim as q u e m eta b o liza m as su b stân cias no estão ilustradas no Quadro 1.2. Foram identificadas muitas esterases e ami-
retículo en d o p la sm ático co stu m am ser, p o rtan to, cla ssifica d a s co m o dases inespecíficas no retículo endoplasmático do fígado, do intestino e de
e n zim as m icro ssô m icas. O s sistem as e n zim átic o s e n v o lv id o s nas outros tecidos humanos. Os grupos álcool e amina expostos após a hidrólise
dos ésteres e amidas são substratos adequados para as reações de conjugação.
reações de fase I se localizam p rim a riam en te no retícu lo e n d o p la s-
A epóxido-hidrolase microssômica é encontrada no retículo endoplasmático
m ático, en q u an to os sistem as en zim átic o s de co n ju g a çã o de fase II
de fundamentalmente todos os tecidos, estando muito perto das enzimas do
estão p rin cip alm en te no citosol. M u itas vezes, os fárm aco s b iotrans- citocromo P450. A epóxido-hidrolase é geralmente considerada uma enzima
fo rm ado s p o r reaçõ es de fase I no retícu lo e n d o p la sm ático são c o n - de detoxificação, hidrolisando óxidos arene (óxidos derivados de compostos
ju g a d o s nesse m esm o local ou no cito so l d a m esm a célula. aromáticos, ou seja, com estruturas semelhantes a do anel benzênico) alta-
mente reativos gerados através das reações de oxidação do citocromo P450
Sistem a do citocrom o P450 nionoxigenase. As enzimas do citocromo em metabólitos transdiidrodio! inativos hidrossolúveis. As enzimas protease
P450 são uma superfamília de proteínas heme-tiolato amplamente distribuí- e peptidase são amplamente distribuídas em muitos tecidos, e estão envolvi-
das através de todos os reinos vivos. As enzimas estão envolvidas no meta- das na biotransformação de fármacos polipeptídios. A passagem desses
bolismo de uma variedade de compostos quimicamente diferentes, endóge- fármacos através das membranas biológicas exige a inibição dessas enzimas
nos e exógenos, incluindo fárm acos, substâncias am bientais e outros ou o desenvolvimento de análogos estáveis.
I FARM A COCINÉTICA 11

Q u a d ro 1.2 Principais reações envolvidas no m etabolism o dos fárm acos

REAÇÃO EXEMPLOS

1. REAÇÕES OXIDATIVAS

/V-desalqu ilação RNHCH 3 rn h 2 + c h 2o Imipramina, diazepam, codeína, eritromicina, morfina, tamoxifeno,


teofilina, cafeína

O-desalquilação ROCH 3 ROH + CH20 Codeína, indometacina, dextrometorfano


Hidroxilação alifática OH Tolbutamida, ibuprofeno, pentobarbital, meprobamato, ciclosporina,
I midazolam
RCH 2 CH 3 RCHCH 3
Hiüroxilação aromática R
Fenitoína, fenobarbital, propanolol, fenilbutazona, etinilestradiol,
anfetamina, varfarina

/v-oxidação RNH 5 RNHOH Clorfeniramina, dapsona, meperidina


Ri
NH N— OH Quinidina, paracetamol
R2
S-oxidação R 1
\ Cimetidina, clorpromazina, tioridazina, omeprazol
S=0

Desam inação OH O
I II
RCHCH 3 —> R — C—CH 3 —> R —C—CH3 + NH2 Diazepam, anfetamina
NH, NHp

II. REAÇÕES DE HIDRÓLISE

Procaína, ácido acetilsalicílico, clofibrato, meperidina,


R 1 COR 2 ^ R 1COOH + R2OH enalapril, cocaína

O
II
r 1 c n r 2 - ^ - r 1c o o h + r 2 n h 2 Lidocaína. procainamida. indometacina

III. REAÇÕES DE CONJUGAÇÃO

Glicuronidação COOH
O —R
Paracetamol, morfina, oxazepam,
lorazepam
OH I ~\
OH UDP
UDP-ácido glicurônico

Sulfatação O
II
R — O — S — OH Paracetamol, esteróides, metildopa
II
ROH O
+ +
3'-fosfadcnosina- 3-fosfadenosina-
5-fosfossulfato (PAPS) 5'-fosfato

A ce tila çã o O O
II II
c
X
+ RNH 2 - >
c + CoA-SH Sulfonamidas, isoniazida, dapsona, clonazepam
CoAS CH 3 RNH Ona
acetil-coenzima A

Reações de conjugação. Tanto a forma ativada de um composto endó- tante na eliminação de esteróides endógenos, bilirrubina, ácidos biliares e
geno como uma enzima transferase apropriada são necessárias para a forma- vitaminas lipossolúveis. A maior solubilidade na água de um glicuronídeo
ção de um metabólito conjugado. No caso da glicuronidação — a mais conjugado promove sua eliminação na urina ou na bile. Diferente da maior
importante reação de conjugação (Fig. 1.3) — as difosfato de uridina glicu- parte das reações de fase II, que ocorrem no citosol, as UGT são enzimas
ronosiltransferases (UGT) catalisam a transferência de ácido glicurônico microssômicas, localização que facilita o acesso direto de metabólitos de
para alcoóis aromáticos e alifáticos, ácidos carboxílicos, aminas e grupos fase I formados no mesmo local. Além de no fígado, as UGT também são
sulfidrila livres de compostos tanto exógenos como endógenos para formar encontradas no epitélio intestinal, nos rins e na pele. Foram identificadas
glicuronídeos ü , N e 5, respectivamente. A glicuronidação também é impor- cerca de 15 UGT humanas e, com base na semelhança entre os aminoácidos
12 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

Fase I Fase II

CY P1B 1 -
CYP2A6* C Y P1A 1/2
TPMT*
CYP2B6 Outras Outras
Esterases

CYP2C19

CYP2D6

CYP2E1
UGT*
do epóxido
CY P3A4/5 DPYD*

Fig. 1.3 Proporção de fúrmacos metabolizados pelas principais enzimas das fases I e II.
• O tamanho relativo de cada fatia do gráfico indica o percentual estimado do metabolismo de fase I {figura à
esquerda) ou de fase II {figura à direita) para o qual cada enzima contribui para o metabolismo de fármacos
com base na literatura. As enzimas que possuem variações funcionais alélicas estão indicadas por um asterisco.
Em muitos casos, há mais de uma enzima envolvida no metabolismo de determinado fármaco: CYP, citocromo
P450; DPYD, diidropirimidina desidrogenase; GST, glutationa S-transferases; NAT, JV-acetiltransferases; ST,
sulfotransferases; TPMT, tiopurina metiltransferase; UGT, UDP-glicuronosiltransferases.

(> 50% de identidade), foram classificadas duas famílias principais. Os m u ita s v e ze s v a ria se g u n d o a a sc e n d ê n c ia racial do indivíduo. É
membros da família UGT1A humana são todos codificados por um comple- p o ssív e l o b te r o fe n ó tip o ou g e n ó tip o d e u m a p e sso a p ara determ i-
xo de genes e as isoformas isoladas são produzidas pela junção alternativa de n ad a v a ria çã o g e n é tic a e é p ro v á v el qu e e ssa c la ssifica ç ão se torne
12 promotores/éxon 1 com éxons 2-5 comuns para a produção de várias
c a d a vez m ais útil p a ra a in d iv id u a liz a ç ã o do tratam e n to farm acoló-
proteínas diferentes. Ao contrário, a UGT2 contém apenas três subfamílias:
g ico , e sp e c ia lm e n te no c aso d e fá rm a co s com b a ix o índice terapêu-
2A, 2B e 2C. Embora pareça que cada UGT tenha especificidades caracterís-
tico. E v id ê n c ia s c re sc e n te s tam b é m su g e rem q ue a sensibilidade
ticas para determinado substrato, há considerável superposição, de modo que
várias isoformas podem ser responsáveis pela formação de um determinado in d iv id u a l p a ra d o e n ç a s a sso c ia d a s a a g en tes q u ím ic o s am bientais,
metabólito glicuronídeo. A sulfatação citosólica também é uma reação de c o m o o c ân c er, p o d e re fle tir a v a ria çã o g e n é tic a das enzim as que
conjugação importante que envolve uma transferência catalítica pelas sulfo- m eta b o liza m os fárm aco s.
transferases (ST) de enxofre inorgânico a partir de 3'-fosfadenosina-5'-fos-
fossulfato para o grupo hidroxila dos fenóis e alcoóis alifáticos. Portanto, os Vários polimorfismos genéticos estão presentes em muitas enzimas do
fármacos e os metabólitos primários com um grupo hidroxila freqüentemen- sistema do citocromo P450, levando a uma capacidade de metabolização de
te formam metabólitos glicuronídio e sulfato. Duas /V-acetiltransferases fármacos alterada. O mais bem caracterizado dentre estes está associado à
(NAT1 e NAT2) estão envolvidas na acetilação de aminas, hidrazinas e CYP2D6. Foram identificados cerca de 70 polimorfismos isolados de nu-
sulfonamidas. Ao contrário da maioria dos conjugados de fármacos, os cleolídeos (SNP) e outras variações genéticas de importância funcional no
metabólitos acetilados muitas vezes são menos hidrossolúveis que o fármaco gene da CYP2D6, muitos dos quais resultam em uma enzima inativa, en-
parental, o que pode causar cristalúria, a menos que uma alta laxa de fluxo quanto outros reduzem a atividade catalítica; também ocorre duplicação dos
urinário seja mantida. genes. Como resultado, existem quatro subpopulações fenotípicas de meta-
bolizadores: baixa (PM), intermediária (IM), extensa (EM) e ultra-rápida
Fatores que alteram o metabolismo dos fármacos. A m arca (UM). Algumas das variações são relativamente raras, enquanto outras são
d o m e ta b o lism o d o s fá rm a c o s é u m a g ra n d e v a ria b ilid a d e in te rin d i- mais comuns e, o que é importante, sua freqüência varia segundo a herança
v idual que fre q ü e n te m e n te lev a a a ce n tu a d a s d ife re n ç a s na e x te n sã o racial. Por exemplo, 5%-10% dos caucasianos de ascendência européia são
do m e ta b o lism o e, c o n se q ü e n te m e n te , na ta x a d a e lim in a ç ã o do PM, enquanto a freqüência deste fenótipo homozigótico em indivíduos ori-
fá rm a co e o u tras c a ra c te rís tic a s de seu p e rfil de tem p o de c o n c e n - ginários do Sudeste Asiático é de apenas cerca de 1%-2%. Mais de 65 dos
fármacos comumente utilizados são metabolizados pela CYP2D6, incluindo
traç ão p lasm á tic a. T al v a ria b ilid a d e é a p rin c ip a l ra zã o p e la qual os
antidepressivos tricíclicos, neurolépticos, inibidores seletivos da recaptação
p a cien te s d ifere m em suas re sp o sta s a u m a d o se p a d ro n iz a d a e d eve
da serotonina, alguns antiarrítmicos, antagonistas P-adrenérgicos e certos
se r c o n sid e ra d a ao se e sta b e le c e r a p o so lo g ia ideal p a ra um d e te r-
opiáceos. A importância clínica do polimorfismo da CYP2D6 é principal-
m in ad o p acien te. U m a a sso c ia ç ã o d e fa to re s g e n é tic o s, a m b ie n ta is mente a maior probabilidade de reações adversas entre os PM quando a via
e m ó rb id o s a lte ra o m eta b o lism o d o s fá rm a co s, co m a c o n trib u iç ã o metabólica alterada for um componente principal na eliminação geral do
re la tiv a de c ad a um d e p e n d e n d o d o fá rm a co em q u e stão . fármaco. Nos UM, as posologias habituais também podem ser ineficazes, ou
Variação genética . O s a v an ç o s na b io lo g ia m o le c u la r m o stra - no caso de formação de metabólitos ativos, por exemplo, a formação de
ram q u e a d iv e rsid a d e g e n ética é a re g ra , e não a e x ce çã o , p a ra todas morfina catalisada pela CYP2D6 a partir da codeína, pode ocorrer uma
as p ro teín as, in clu in d o as e n zim as q u e c a ta lisa m as re aç õ es m e ta b ó - resposta exacerbada. Os inibidores do CYP2D6, como a quinidina e os
licas aos fárm aco s. E m um n ú m ero c re sc e n te d e ssa s e n z im a s, fo ram inibidores seletivos da recaptação da serotonina, podem converter um EM
id en tific a d a s v a ria çõ e s a lé lic as co m a tiv id a d e s c a ta lític a s d ife re n te s genotípico em um PM fenotípico, fenômeno denominado fenocópia, que
constitui um importante aspecto das interações medicamentosas com essa
da fo rm a se lv ag e m . A s d ife re n ç a s e n v o lv e m d iv e rso s m e c a n ism o s
isoforma da CYP em particular.
m o le c u la res q u e a ca rretam p e rd a c o m p le ta d a a tiv id a d e , re d u ç ã o da
A CYP2C9 catalisa o metabolismo de alguns dos 16 fármacos comu-
c a p a c id a d e c a ta lític a ou, no c a so de d u p lic a ç ã o do g e n e, a u m e n to
mente utilizados, como varfarina e fenitoína, ambos com índices terapêuti-
d a a tiv id ad e . A lém do m ais, g e ra lm e n te e sse s traç o s são h e rd ad o s cos baixos. Duas das variações alélicas mais comuns da CYP2C9 reduziram
de m o do re ce ssiv o a u to ssô m ic o m en d e lia n o e, se fo rem s u fic ie n te - acentuadamente a atividade catalítica (5%-12%) comparadas com a enzima
m en te p re v alen te s, resu ltam em su b p o p u la ç õ e s co m d ife re n te s c a - do tipo selvagem. Conseqüentemente, os pacientes hetero ou homozigóticos
p a cid ad e s de m eta b o liza ç ão de fá rm a c o s, i. e., p olim orfism o g en é- para os alelos mutantes precisam de uma dose de anticoagulante mais baixa
tico. A lém disso , a freq ü ê n c ia d e d e te rm in a d a s v a ria çõ e s a lé lic as de varfarina, especialmente os do último grupo, que os indivíduos homozi-
1 FARMAC0CINÉT1CA 13
góticos, do tipo selvagem. Iniciar o tratamento com varfarina também é mais porque muitos inibidores são mais seletivos para algumas isoformas que para
difícil e há aumento do risco de sangramentos. De modo semelhante, altas outras. Freqüentemente a inibição ocorre pela competição entre dois ou mais
concentrações plasmáticas de fenitoína e efeitos adversos associados ocor- substratos pelo mesmo local ativo na enzima, cuja extensão depende das
rem nos pacientes com variações nos alelos da CYP2C9. Também ocorre concentrações relativas dos substratos e de suas afinidades pela enzima. No
polimorfismo genético com a CYP2C19, no qual foram identificadas 8 entanto, em certos casos, a enzima pode sofrer inativação irreversível; por
variações alélicas que resultam em uma proteína cataliticamente inativa. exemplo, o substrato ou um metabólito forma um complexo adstrito com o
Cerca de 3% dos caucasianos têm fenótipo PM, enquanto a freqüência é ferro-heme do citocromo P450 (cimetidina, cetoconazol) ou o grupo heme
muito mais alta entre aqueles do Sudeste Asiático, 13%-23%. Os inibidores pode ser destruído (noretindrona, etinilestradiol). Um mecanismo comum de
da bomba de prótons como o omeprazol e o lansoprazol estão entre os 18 inibição de algumas enzimas de fase II é a depleção dos co-fatores necessá-
fármacos metabolizados de modo importante pela CYP2C19, em uma exten- rios.
são determinada pela genética. A eficácia da dose recomendada de 20 mg de A inibição do mecanismo catalisado pela CYP3A é comum e importante.
omeprazol associado a amoxicilina para a erradicação do Helicobacterpylori Devido ao alto nível de expressão da CYP3A no epitélio intestinal e ao fato
é acentuadamente reduzida nos pacientes homozigóticos para o genótipo do de a ingestão oral ser a via mais comum de penetração de fármacos e agentes
tipo selvagem, comparados com a taxa de 100% de cura entre os PM homo- ambientais no corpo, a inibição da atividade da isoforma nesse local muitas
zigóticos, refletindo as diferenças do efeito do fármaco na secreção de ácido vezes particularmente acarreta conseqüências, mesmo se sua atividade no
gástrico. Embora a atividade da CYP3A mostre uma variabilidade interindi- fígado estiver inalterada. Isso ocorre devido ao grande aumento potencial da
vidual acentuada ( > 1 0 vezes), não foram observados polimorfismos funcio- biodisponibilidade associado à redução do metabolismo de primeira passa-
nais importantes na região que codifica o gene; é portanto provável que gem para fármacos que de modo geral exibem esse efeito em uma extensão
fatores reguladores desconhecidos determinem primariamente essa variabi- importante. Os antifúngicos como o cetoconazol e o itraconazol, os inibido-
lidade. A variabilidade genética também está presente na diidropirimidina res da protease do HIV (especialmente o ritonavir), os macrolídeos como a
desidrogenase (DPYD), a enzima-chave do metabolismo do 5-fluorouracil. eritromicina e a claritromicina, mas não a azitromicina, todos são potentes
Conseqüentemente, há um risco acentuado de desenvolvimento de toxicida- inibidores da CYP3A. Determinados bloqueadores do canal de cálcio como
de grave induzida por fármacos em l%-3% dos pacientes com câncer trata- o diltiazém, a nicardipina e o verapamil, também inibem a CYP3A, assim
dos com esse antimetabólito, que reduziu substancialmente a atividade da como um componente do suco de toranja. Muitos inibidores da CYP3A
DPYD, em comparação com a população geral. também reduzem a função da glicoproteína P, de modo que as interações
Um polimorfismo em uma enzima de metabolismo farmacológico de medicamentosas podem envolver um mecanismo duplo. Até a distribuição
conjugação, especialmente na NAT2, foi um dos primeiros observados como de fármacos que não são significativamente metabolizados, porém são elimi-
tendo base genética há cerca de 50 anos. Esta isoforma está envolvida no nados por transporte mediado pela glicoproteína P, também pode ser alterada
metabolismo de cerca de 16 fármacos comuns, incluindo isoniazida, procai- por um inibidor da CYP3A. Por exemplo, o comprometimento da excreção
namida, dapsona, hidralazina e cafeína. Foram identificadas cerca de 15 de digoxina pela quinidina e por um grande número de outros fármacos sem
variações alélicas, algumas das quais sem efeitos funcionais, mas outras relação é causado pela inibição da glicoproteína P. Para a CYP2D6, a
associadas a redução ou ausência de atividade catalítica. Há uma heteroge- quinidina e os inibidores seletivos da recapiação da serotonina são inibidores
neidade considerável na freqüência destes alelos na população mundial, de potentes que podem produzir fenocópia. Em contrapartida, outros fármacos
modo que a freqüência do fenótipo de acetilação lenta é de aproximadamente são inibidores mais gerais do metabolismo catalisado pelo citocromo P450.
50% nos norte-americanos brancos e negros, 60%-70% nos europeus do Por exemplo, a amiodarona, a cimetidina (mas não a ranitidina), a paroxetina
norte, mas apenas 5%-10% entre os oriundos do Sudeste Asiático. Especula- e a fluoxetina reduzem a atividade metabólica de várias isoformas da CYP.
se que o fenótipo de acetilação possa estar associado a doenças induzidas por As enzimas metabólicas da fase I, exceto as do citocromo P450, também
fatores ambientais, como no câncer de bexiga e colorretal; no entanto, ainda podem ser inibidas pela administração de fármacos, como exemplificado
pelo efeito potente do ácido valpróico na epóxido-hidrolase microssômica, e
não há evidências incontestáveis disponíveis. De modo semelhante, a varia-
pela inibição da xantina-oxidase pelo alopurinol, que pode resultar em toxi-
bilidade genética da atividade catalítica das glutationa 5-transferases pode
cidade potencialmente fatal para pacientes recebendo 6 -mercaptopurina con-
estar relacionada com uma sensibilidade individual a essas doenças. A tio-
comitantemente.
purina metiltransferase (TPMT) tem uma importância fundamental no meta-
bolismo da 6 -mercaptopurina, o metabõlito ativo da azatioprina. Como re- Indução do metabolismo dos fármacos. A modulação positiva da ativi-
dade de metabolização de fármacos geralmente ocorre pelo aumento da
sultado, os homozigóticos para os alelos que codificam TPMT inativa
transcrição genética após exposição prolongada a um agente indutor, embora
(0,3%-1 % da população), apresentam de modo previsível pancitopenia grave
se receberem doses padronizadas de azatioprina; tais pacientes podem tipi- a estabilização pela CYP2E1 da proteína contra a degradação seja o principal
mecanismo. Como resultado, as conseqüências da indução levam um tempo
camente ser tratados com 10%-15% da dose habitual.
considerável para aparecer totalmente, c f inibição do metabolismo. Além do
mais, as conseqüências da indução são aumento da taxa de metabolismo,
D eterm inantes am bientais. A a tiv id ad e da m aio ria das en zim as aumento do metabolismo oral de primeira passagem e redução da biodispo-
que m etab o lizam os fárm acos pod e ser m od u lad a p ela e x p o siçã o a nibilidade, bem como diminuição correspondente da concentração plasmáti-
certos com p o sto s ex óg en os. Em a lguns casos, po de tratar-se de um ca do fármaco, todos fatores que reduzem a exposição do fármaco. Em
fárm aco que, se a d m in istrad o co n co m ita n te m en te com um seg u n d o contraste, no caso dos fármacos metabolizados em metabólitos ativos ou
agente, leva à in teração en tre os fárm aco s. A lém d isso , os m icro n u - reativos, a indução pode estar associada ao aumento dos efeitos ou da
trientes da dieta e o u tro s fato res am b ie n ta is podem fazer m od ulação toxicidade do fármaco, respectivamente. Em alguns casos, um fármaco pode
positiva ou neg ativ a das en zim as, d e n o m in a d as in d u çã o e in ib içã o, induzir tanto o metabolismo de outros compostos como seu próprio metabo-
lismo; essa auto-indução ocorre com o anticonvulsivante carbamazepina.
respectivam ente. A cred ita-se qu e tal m od u lação ten h a u m a c o n tri-
Em muitos casos envolvendo indução, a dose do fármaco alterado tem de ser
buição fund am en tal para a v aria çã o in terin dividu al no m eta b o lism o
aumentada para manter o efeito terapêutico. É particularmente o caso quando
de m uitos fárm aco s. a indução é extensa após a administração de um indutor altamente eficaz; na
realidade, as mulheres são orientadas a utilizar uma alternativa aos contra-
Inibição do metabolismo dos fármacos. Uma conseqüência da inibição ceptivos orais para a contracepção durante o tratamento com rifampicina
das enzimas que metabolizam os fármacos é o aumento da concentração porque sua eficácia não pode ser garantida. O risco terapêutico associado à
plasmática do fármaco parental e a redução dos metabólitos, efeitos farma- indução metabólica é mais critico quando a administração do agente indutor
cológicos exagerados c prolongados, além de aumento da probabilidade de é interrompida enquanto se mantém a mesma dose do fármaco que estava
toxicidade farmacológica, alterações que ocorrem rapidamente e fundamen- sendo administrado. Nesse caso, à medida que o efeito indutor desaparece,
talmente sem aviso, sendo mais críticas para os fármacos extensamente as concentrações plasmáticas do segundo fármaco irão aumentar, a menos
metabolizados e com baixo índice terapêutico. O conhecimento das isofor- que haja redução da dose, com um aumento no potencial de efeitos adversos.
mas do citocromo P450 que catalisam as principais vias do metabolismo dos Os indutores geralmente são seletivos para certas subfamílias e isofor-
fármacos fornece uma base para a previsão e a compreensão da inibição, mas do CYP. mas ao mesmo tempo várias outras enzimas podem sofrer
especialmente no que diz respeito às interações medicamentosas. Isso ocorre simultaneamente modulação positiva por um mecanismo molecular comum.
14 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

Por exemplo, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos derivados de po- portanto, geralmente exige reduções moderadas na posologia e atenção para
luentes ambientais, fumaça de cigarro e carnes defumadas produzem uma a possibilidade de exacerbação das respostas farmacodinâmicas.
indução acentuada da família de enzimas CYP1A tanto no fígado como em Muitos exemplos indicam que o tratamento farmacológico e/ou a respos-
outros locais do corpo, envolvendo a ativação do receptor aril-hidrocarbone- ta a certos fármacos possam ser diferentes entre homens e mulheres. Tam-
to (AhR) no citosol, que interage com outra proteína reguladora, a AhR bém foram observadas diferenças relacionadas com o sexo na atividade do
translocadora nuclear (Arnt); o complexo funciona como um fator de trans- metabolismo de fármacos, especialmente o catalisado pela CYP3A. No
crição para fazer a modulação positiva da expressão da CYP1 A. Além disso, entanto, tais diferenças são pequenas e desprezíveis diante de outros fatores
a expressão de enzimas de fase II como UGT, GST e NAD(P)H: quinona envolvidos na variação interindividual do metabolismo. Uma exceção a essa
oxidorredutase aumenta simultaneamente. Um tipo semelhante de mecanis- generalização é a gestação, em que ocorre indução de certas enzimas do
mo receptor envolvendo o receptor X do pregnano (PXR) está envolvido na metabolismo dos fármacos no segundo e no terceiro trimestres. Como resul-
indução da CYP3A por uma ampla gama de agentes químicos diferentes, tado, a posologia pode ter de ser aumentada durante esse período e voltar a
incluindo fármacos como rifampicina e rifabutina, barbitúricos e outros seus níveis anteriores após o parto. Isso é particularmente importante no
anticonvulsivantes, alguns glicocorticóides e até mesmo medicamentos al- tratamento de pacientes com convulsões utilizando fenitoína durante a ges-
ternativos como a erva-de-São João. Os últimos fármacos também podem tação. Muitos contraceptivos orais também são inibidores potentes e irrever-
alterar outras isoformas da CYP; por exemplo, a rifampicina e a carbamaze- síveis das isoformas da CYP através de um mecanismo de inativação suicida.
pina induzem a CYP1A2, a CYP2C9 e a CYP2C19. O uso crônico de álcool
também leva à indução enzimática, especialmente à da CYP2E1; entre os F A R M A C O C IN É T IC A C L ÍN IC A
alcoólatras, o risco de efeitos adversos hepatotóxicos do paracetamol é mais
alto devido à formação do metabólito reativo iV-acetil-/?-benzoquinoneimina U rn a h ip ó te se fu n d a m e n ta ] d a fa rm a co c in étic a c lín ica é que
mediada pela CYP2E1. e x iste um a re la çã o e n tre os e feito s fa rm a co ló g ico s de um fárm aco e
Fatores mórbidos. Como o fígado é o principal local de enzimas meta- um a c o n ce n tra ç ão a lc an ç á v el do fá rm a co (p. ex ., no sang ue ou plas-
bolizadoras de fármacos, a disfunção desse órgão nos pacientes com hepati- m a). T al h ip ó te se foi d o c u m e n tad a p ara m u ito s fárm aco s, em bora
te, doença hepática por álcool, cirrose biliar, esteatose hepática e hepatocar- p ara a lg u n s fá rm a co s não ten h a sid o o b se rv ad a q u a lq u e r relação
cinomas pode levar potencialmente ao comprometimento do metabolismo c la ra ou sim p le s e n tre o efeito fa rm a co ló g ico e a co n cen tração plas-
dos fármacos. Em geral, a gravidade da lesão hepática determina a extensão m ática. N a m aio ria d o s caso s, co m o re p re se n tad o na Fig. 1.1, a
da redução do metabolismo; infelizmente, os exames de função hepática de c o n ce n tra ç ão de um fá rm a co na c irc u la ç ã o sistê m ic a estará relacio-
rotina têm pouco valor para essa avaliação. Além do mais, mesmo nos casos nada co m a c o n c e n tra ç ã o do fá rm a co em seu s locais de ação. O
de cirrose grave, a extensão do comprometimento é de apenas aproximada- e feito fa rm a co ló g ico re su lta n te p o d e se r o e feito c lín ico desejado,
mente 30%-50% da atividade dos pacientes sem doença hepática. No entan-
um e feito tó x ic o ou, em a lg u n s caso s, um efeito não relacionado
to, a biodisponibilidade oral dos fármacos que sofrem intenso metabolismo
com a e fic ác ia tera p ê u tic a ou co m a to x icid ad e. A farm acocinética
hepático de primeira passagem pode estar duas a quatro vezes aumentada na
doença hepática, o que, junto com a presença prolongada dos fármacos 1 1 0 c lín ica ten ta fo rn ec e r tanto um a re la çã o q u a n titativ a entre a dose e
corpo, aumenta o risco de exacerbação das respostas farmacológicas e dos o e fe ito c o m o u m a e s tru tu ra p a ra in te r p r e ta r as d o sa g e n s das
efeitos adversos. Parece que as isoformas do citocromo P450 são mais c o n ce n tra ç õ es de fá rm a co s nos líq u id o s b io ló g ico s. A im portância
alteradas pela doença hepática que as enzimas que catalisam as reações de da fa rm a co c in étic a no a te n d im e n to ao p a cien te se b aseia na m elhora
fase II como as glicuronosiltransferases. da e fic ác ia tera p ê u tic a que p ode se r o b tid a p ela a p licação de seus
A insuficiência cardíaca grave e o choque podem levar tanto à diminui- p rin cíp io s ao e sc o lh e r e m o d ific a r a p osologia.
ção da perlusão hepática como ao comprometimento metabólico. O melhor A s d iv ersas v a riá v eis fisio ló g ic as e fisio p ato ló g ic as que deter-
exemplo disso é a redução em quase duas vezes do metabolismo da lidocaína m inam o a ju ste da d o se p ara c ad a p a cien te freq ü en tem en te o fazem
na insuficiência cardíaca, também acompanhada por uma alteração na distri- em fu n ção da m o d ific aç ão de p arâm etro s farm aco cin ético s. O s qua-
buição de amplitude semelhante. Como resultado, a dose de ataque e a de tro p a râm etro s m ais im p o rta n te s são: a depuração, a m edida da
manutenção de lidocaína utilizadas para tratar arritmias cardíacas em tais
e fic á c ia do c o rp o na e lim in a ç ã o do fárm aco ; o volume de distribui-
pacientes são substancialmente diferentes daquelas utilizadas nos pacientes
ção, a m ed id a do a p are n te e sp a ço d o co rp o d isp o n ív el p ara con ter o
sem essa afecção.
fárm aco ; a m eia-vida de elim inação, a m edida da taxa de rem oção
Idade e sexo. As isoformas funcionais do citocromo P450 e, em menor
do fárm aco do co rp o ; e a biodisponibilidade , a fração de fárm aco
grau, as enzimas do metabolismo de fase II aparecem cedo no desenvolvi-
mento fetal, porém seus níveis, mesmo ao nascimento, são menores do que a b so rv id o tal e qual na c irc u la ç ão sistêm ica. D e m en o r im portância
os encontrados no período pós-natal. Tanto as enzimas de fase I como as de são as taxas de d isp o n ib ilid ad e e d istrib u iç ã o do agente.
fase II começam a amadurecer gradativamente após as primeiras 2-4 sema-
D e p u ra ç ã o
nas após o parto, embora o padrão de desenvolvimento seja variável para as
diferentes enzimas. Desse modo, os recém-nascidos e os lactentes são capa- A d e p u raç ão é o c o n ce ito m ais im p o rta n te q u e p recisa ser con-
zes de metabolizar os fármacos com relativa eficácia, mas geralmente em sid e rad o q u a n d o se p lan e ja um e sq u e m a racio n al p ara a adm inistra-
uma taxa mais lenta que os adultos. Uma exceção a isso é o comprometimen- ção p ro lo n g a d a d e fá rm a co s. O m éd ic o c o stu m a q u e rer m anter
to da glicuronidação da bilirrubina ao nascimento, que contribui para a c o n ce n tra ç õ es e stáv e is de fárm aco em um a ja n ela terapêutica asso-
hiperbilirrubinemia dos recém-nascidos. A maturidade completa parece c ia d a à e fic á c ia te ra p ê u tic a e a u m a to x ic id ad e m ínim a. A dm itindo-
ocorrer na segunda década de vida, com um lento declínio subseqüente
se u m a b io d isp o n ib ilid a d e total, a e sta b ilid a d e será alcan çad a qu an-
associado ao envelhecimento. Infelizmente, poucas generalizações são pos-
do a tax a de e lim in a ç ã o do fá rm a co fo r igual à tax a de adm inistração
síveis diante da extensão da importância clínica dessas alterações relaciona-
do fárm aco:
das com a idade em cada paciente. Isso é particularmente verdadeiro para os
pacientes idosos que, devido a várias doenças, podem tomar um grande
Velocidade da dose = CL ■Css (1.1)
número de fármacos, muitos dos quais podem produzir interações medica-
mentosas. Além disso, 0 aumento da sensibilidade dos órgãos-alvo e o o n d e CL é a d e p u raç ão da c irc u la ç ão sistê m ic a e Css é a concentra-
comprometimento dos mecanismos de controle fisiológico complicam ainda
ção estáv el do fárm aco . D esse m odo, se a co n ce n tra ç ão estável
mais o uso de fármacos na população de idosos. As enzimas do metabolismo
d e se ja d a do fá rm a co no p la sm a ou san g u e fo r co n h ec id a , a taxa de
de fase I parecem ser mais alteradas que aquelas que catalisam as reações de
d e p u raç ão do fá rm a co p elo p a cien te irá d ita r a tax a na qual o fárm a-
fase II. No entanto, as alterações muitas vezes são modestas com relação a
outras causas de variação interindividual metabólica. Em contrapartida, no c o d ev e se r a d m in istrad o .
caso dos fármacos que apresentam um grande efeito de primeira passagem, O c o n ce ito d e d e p u ra ç ã o é e x tre m a m en te útil na farm aco cinéti-
até mesmo uma pequena redução da capacidade metabólica pode aumentar c a c lín ica , d e v id o ao seu v a lo r para um d e te rm in a d o fárm aco ser
significativamente a biodisponibilidade oral. O uso de fármacos nos idosos, c o n stan te na faix a d e c o n c e n tra ç õ es e n co n trad a s na clínica. Isso é
I FARMACOCINÉTICA 15
v erdade p orqu e os siste m a s p ara a e lim in a çã o de fá rm a co s, c o m o as dos na urina. Para um homem de 70 kg, a depuração do plasma seria de
en zim as de m eta b o liza ç ão e os tran sp o rta d o res, de m odo geral não 300 mí/min, com a depuração renal respondendo por 90% dessa eliminação.
estão satu rad o s e, p ortan to , a tax a a b so lu ta de e lim in a çã o do fárm a- Em outras palavras, o rim é capaz de excretar cefalexina em uma taxa tal que
é completamente removida (depurada) de aproximadamente 270 m í de plas-
co é fu n d a m e n ta lm e n te u m a fu n ç ão lin ear de sua c o n ce n tra ç ão plas-
ma por minuto. Como se costuma admitir que a depuração permanece cons-
m ática. U m a afirm aç ã o id ên tica é a de que a e lim in a çã o da m aio ria
tante em um paciente estável, a taxa de eliminação de cefalexina irá depender
dos fárm aco s segue u m a c in é tic a de p rim e ira ordem — u m a fr a ç ã o
da concentração do fármaco no plasma [Equação (1.3)]. O propranolol é
co n stante d o fárm aco no c o rp o é e lim in a d a p o r u n id ad e de tem p o. depurado do sangue em uma taxa de 16 rnt • min - 1 - kg- 1 (ou 1 . 1 2 0 mí/min
Se os m ecan ism o s de e lim in a çã o de d e te rm in a d o fá rm a co ficarem em um homem de 70 kg), quase exclusivamente pelo fígado. Assim, o fígado
satu rados, a c in é tic a se a p ro x im a d a o rdem zero — um a q u a n tid a d e é capaz de remover a quantidade de fármaco contida em 1 . 1 2 0 m(. de sangue
co n stante do fárm aco é e lim in a d a p or u n id ad e de tem p o . N esse por minuto. Embora o fígado seja o principal órgão de eliminação, a depura-
caso, a d e p u ração irá variar seg u n d o a c o n ce n tra ç ão do fárm aco, ção plasmática de alguns fármacos excede a taxa de fluxo plasmático (e
freq ü en tem en te de a co rd o co m a se g u in te eq u ação: sanguíneo) para esse órgão. Muitas vezes isso ocorre porque a distribuição
do fármaco rapidamente para os eritrócitos e a taxa de fármaco liberado para
o órgão de eliminação são consideravelmente maiores do que a esperada pela
CL - vm/{K m + O ( 1.2)
dosagem de sua concentração plasmática. A relação entre a depuração plas-
mática e sanguínea em estado de equilíbrio é dada por:
onde K„, re p re se n ta a c o n ce n tra ç ão na qu al é a lc an ç a d a m etade da
taxa m áxim a de e lim in a çã o (em un id ad es de m assa /v o lu m e) e vm é CLp Ci, Crbc
igual à tax a m áxim a de e lim in a çã o (em u n id ad es de m assa/tem p o ). ( 1.6 )
cLb = c : = 1+H
Essa e q u ação é a n álo g a à e q u ação de M ic h ae lis-M en te n p ara a
c in ética e n zim ática. O p lan e jam en to da p o so lo g ia p a ra e sses fá rm a -
portanto, a depuração do sangue pode ser estimada pela divisão da depuração
cos é m ais c o m p lex o que q u a n d o a e lim in a çã o é de p rim e ira ordem
plasmática pelo índice de concentração do fármaco do sangue para o plasma,
e a d ep u raç ão ind ep en d e da c o n ce n tra ç ão do fá rm a co (v er ad ian te). obtido pelo conhecimento hematócrito (H = 0,45) e pelo índice entre os
Os p rin cíp io s de d e p u raç ão do fárm aco são se m elh an te s àq u eles eritrócitos e o plasma. Na maioria dos casos, a depuração do sangue será
da fisiolog ia renal, o nde, p o r e x em p lo , a d e p u raç ão da c re a tin in a é menor do que o fluxo sanguíneo no fígado (1,5 í/m in) ou, se também houver
d efinida co m o a ta x a de e lim in a çã o d a c rea tin in a na u rin a re la tiv a à excreção renal, que a soma dos fluxos dos dois órgãos de eliminação. Por
sua c o n ce n tra ç ão plasm ática. N o nível m ais sim p les, a d e p u raç ão de exemplo, a depuração plasmática do tacrolimo, cerca de 2 í/m in, é duas
um fá rm a co é sua tax a de e lim in a çã o p o r to d as as vias reg u lad as vezes maior do que a taxa do fluxo sanguíneo hepático, excedendo até o fluxo
pela c o n ce n tra ç ão do fárm aco, C, em alg u m líquid o co rp o ral: sanguíneo do órgão, apesar do fato de o fígado ser o local predominante do
extenso metabolismo desse fármaco. No entanto, após levar em consideração
CL = taxa de elim inação/C (1.3) a extensa distribuição do tacrolimo para os eritrócitos, sua depuração do
sangue é de apenas cerca de 63 m<?/min. na verdade um fármaco de depura-
desse m odo, q u an d o a d e p u raç ão é co n stan te, a tax a de e lim in a çã o ção lenta em vez de rápida, como poderia ser interpretado pelo valor da
do fárm aco é d iretam e n te p ro p o rcio n a l à c o n ce n tra ç ão do m esm o. depuração plasmática. Algumas vezes, no entanto, a depuração do sangue
É im p o rtante o b se rv ar que a d e p u raç ão não indica q u a n to do fá rm a - pelo metabolismo ultrapassa o fluxo sanguíneo hepático, o que indica um
co está sen do rem o v id o m as, em vez disso , o v o lu m e do líquido metabolismo extra-hepático. No caso do esmolol (11,9 Urcnn), o valor de
depuração sanguínea é maior do que o débito cardíaco, porque o fármaco é
b iológico, co m o san g u e ou p lasm a, do qual o fárm aco terá de ser
metabolizado de modo eficaz pelas esterases presentes nos eritrócitos.
co m p letam en te rem o v id o p a ra se r e lim in ad o . A d e p u raç ão é e x p re s-
Outra definição de depuração é útil para a compreensão dos efeitos das
sa em v olum e p o r u nidade de tem p o . A d e p u raç ão g e ralm e n te ain d a
variáveis patológicas e fisiológicas na eliminação dos fármacos, particular-
é d efin id a c o m o d ep u raç ão sa n g u ín ea (CL/,), d ep u raç ão p lasm á tic a mente no que diz respeito a um determinado órgão. A taxa de apresentação
(CLp) ou d e p u ra ç ã o b a se a d a na c o n c e n tra ç ã o de fá rm a co livre do fármaco para o órgão é o produto do fluxo sanguíneo (Q) e da concentra-
( CLU), d ep en d e n d o d a c o n ce n tra ç ão m ed ida (Q * Cp ou C u). ção arterial do fármaco (Ca ), e a taxa de saída do fármaco do órgão é o
A d e p u ração atra v és de d iv erso s ó rg ão s de e lim in a çã o é c o m p le - produto do fluxo sanguíneo e da concentração venosa do fármaco (Cy). A
m entar. A e lim in a çã o dos fárm acos p o d e o c o rre r co m o re su lta d o de diferença entre estas taxas em estado de equilíbrio é a taxa de eliminação do
p rocessos renais, h ep ático s ou em o u tro s órg ãos. A d iv isão da taxa fármaco:
de e lim in ação p o r c ad a ó rg ão p ela c o n ce n tra ç ão de fárm aco (p. ex.,
Taxa de elim inação = Q ■Ca - Q - C y (1.7)
c o n ce n tra ç ão p la sm á tic a ) irá d e m o n stra r a d e p u raç ão re sp ec tiv a
= Q(C a - C y)
pelo órgão em questão. A o serem so m ad as, essa s d e p u raç õ es se p a -
radas rep re se n tarã o a d e p u raç ão sistêm ica:
A divisão da Equação (1.7) pela concentração de fármaco penetrando no
órgão de eliminação, CA, resulta na expressão da depuração do fármaco pelo
CLrenaf + CLhepáticu + CLoutras — CL (1.4) órgão em questão:

outras vias de e lim in a çã o p o d eriam in clu ir a da sa liv a ou a do suor, Ca - C y


a secreção no trato intestinal e o m eta b o lism o em o u tro s locais. CL(jrg(lo — Q =Q E ( 1.8)
CA
A depuração sistêmica pode ser determinada em estado de equilíbrio
A expressão (Ca - Cy)/CA na Equação (1. 8 ) pode ser referida como a taxa de
utilizando a Equação (1.1). Para uma dose única de um fármaco com biodis-
extração do fármaco (E).
ponibilidade total e cinética de eliminação de primeira ordem, a depuração
sistêmica pode ser determinada pelo equilíbrio de massa e a integração da
Equação ( 1.3) no tempo. Depuração hepática. O s c o n ce ito s d e se n v o lv id o s na E q uação
( 1 . 8 ) têm im p lica çõ e s im p o rta n te s p a ra os fárm aco s elim in a d o s pelo
CL = Dose/A UC (1.5) fígado. C o n sid e ra r um fá rm a co re m o v id o de m od o e ficaz p o r p ro-
c esso s h ep ático s — m eta b o lism o e/ou ex cre çã o do fárm aco na bile.
onde a AUC é a área total sob a curva descrevendo a concentração de fármaco N esse c aso , a c o n ce n tra ç ão de fá rm a co no san g u e que d eixa o fígado
na circulação sistêmica em função do tempo (de zero ao infinito). se rá b aix a, a tax a de e x tra çã o será p ró x im a d a u n id ad e e a d e p u ração
Exemplos. No Apêndice II, a depuração plasmática da cefalexina é do fá rm a co do sa n g u e se rá lim itada p elo fluxo san g u ín eo hepático.
descrita como 4,3 m í. m in ' 1 ■kg-1, com 90% do fármaco excretado inaltera- O s fárm a co s d e p u rad o s com e fic iê n c ia p e lo fíg ad o (p. ex., fárm acos
16 Seção l PRINCÍPIOS GERAIS

no A p ê n d ice II c o m d e p u raç ão sistê m ic a m aio r q u e 6 m ^ • m in -1 • O volume de distribuição de um fármaco, portanto, reflete a extensão em
kg-1 , co m o d iltiaz ém , im ip ra m in a, lid o caín a, m o rfin a e p ro p ran o lo l) que ele está presente nos tecidos extravasculares. O volume plasmático típico
têm sua tax a de e lim in a ç ã o re strita, não p elo s p ro c esso s in tra -h ep á - de um homem de 70 kg é de 3 £, o volume sanguíneo é de cerca de 5,5 o
ticos, m as p e la tax a na qual p o d em se r tran sp o rta d o s p elo san g u e volume de líquido extracelular fora o plasma é de 1 2 f. e o volume de água
corporal total é de aproximadamente 42 L No entanto, muitos fármacos
p ara o fígado.
apresentam volumes de distribuição muito acima desses valores. Por exem-
plo, se houver 500 p.g de digoxina no corpo de uma pessoa de 70 kg, seria
Também foram consideradas outras complexidades. Por exemplo, as observada uma concentração plasmática de aproximadamente 0,75 ng/m£.
equações apresentadas anteriormente não levam em conta a ligação do fár- Ao dividir a quantidade de fármaco no corpo pela concentração plasmática,
maco aos componentes do sangue e dos tecidos, nem permitem uma estima- se obtém um volume de distribuição para a digoxina de cerca de 650 í, ou
tiva da capacidade intrínseca do fígado de eliminar o fármaco sem as limita- um valor quase 1 0 vezes maior do que o volume corporal total de um homem
ções impostas pelo fluxo sanguíneo, denominada depuração intrínseca. Em de 70 kg. Na verdade, a digoxina se distribui preferencialmente para o tecido
termos bioquímicos e em condições de primeira ordem, a depuração intrín- muscular e adiposo, e para seus receptores específicos, deixando uma quan-
seca é a medida da taxa dos parâmetros cinéticos de Michaelis-Menten para tidade muito pequena de fármaco no plasma. Para os fármacos extensamente
os processos de eliminação, i. e., vm/K m. Foram propostas extensões das ligados às proteínas plasmáticas, mas que não se ligam aos componentes
relações da Equação (1.8) para incluir expressões de ligação protéica e teciduais, o volume de distribuição irá se aproximar do volume plasmático.
depuração intrínseca por meio de vários modelos de eliminação hepática (ver Em contrapartida, certos fármacos têm grandes volumes de distribuição,
Morgan e Smallwood, 1990). Todos esses modelos indicam que, quando a embora a maior parte do fármaco na circulação esteja ligada à albumina,
capacidade do órgão de eliminação de metabolizar o fármaco é grande em porque esses fármacos também são seqüestrados em outros locais.
comparação à taxa de apresentação do fármaco, a depuração será próxima do
fluxo sanguíneo do órgão. Pelo contrário, quando a capacidade metabólica O v o lu m e de d istrib u iç ã o p o d e v a ria r a m p la m e n te , dependendo
for pequena com relação à taxa de apresentação do fármaco, a depuração será
dos g ra u s re la tiv o s de lig a ç ão às p ro teín as p lasm á tic as e teciduais,
proporcional à fração de fármaco livre no sangue e à depuração intrínseca do
do c o e fic ie n te d e p a rtiçã o lip íd ica do fá rm a co etc. C o m o se poderia
fármaco. A avaliação desses conceitos permite a compreensão de muitos
e sp e ra r, o v o lu m e d e d istrib u iç ã o d e d e te rm in a d o fá rm a co pode ser
resultados experimentais possivelmente intrigantes. Por exemplo, a indução
enzimática ou a doença hepática podem alterar a taxa de metabolismo do d ife re n te em fu n ção d a idad e, do sex o , d a c o m p le iç ão física do
fármaco em um sistema isolado de enzimas hepáticas microssômicas, porém p a cien te e d a p re sen ç a de d oença.
não alterar a depuração no organismo como um todo. Para um fármaco com D iv e rso s term o s de v o lu m e são c o m u m e n te u tiliza d o s para des-
alta taxa de extração, a depuração é limitada pelo fluxo sanguíneo, e as c re v e r a d istrib u iç ã o d o fá rm a co , ten d o sido d e riv a d o s de várias
alterações na depuração intrínseca por indução enzimática ou doença hepá- m an eiras. O v o lu m e de d istrib u iç ã o d e fin id o na E q u ação (1.9) con-
tica devem ter pouco efeito. Do mesmo modo, para os fármacos com altas sid e ra o c o rp o c o m o um ú n ico c o m p a rtim e n to h o m o g ên eo. Neste
taxas de extração, as alterações na ligação protéica devidas a doença ou m odelo de com partim ento único, to d a a a d m in istra ç ã o de fárm acos
interações por ligação competitiva devem ter pouco efeito na depuração. Em o c o rre d ire ta m e n te no c o m p a rtim e n to c en tral e su a d istrib u ição é
contraste, mudanças na depuração intrínseca e na ligação protéica afetarão a
in sta n tâ n e a atra v és d o v o lu m e (VO. A d e p u raç ão do fárm aco desse
depuração de fármacos com baixa depuração intrínseca e em conseqüência,
c o m p a rtim e n to o c o rre d e m o d o d e p rim e ira o rd em , co m o definido
taxa de extração, mas alterações no fluxo sanguíneo teriam pouco efeito
na E q u aç ão (1 .3 ); q u e r d izer, a q u a n tid a d e de fá rm a co elim in ad a por
(Wilkinson e Shand, 1975).
u n id a d e d e tem p o d e p en d e d a q u a n tid a d e (c o n ce n tra çã o ) do fárm a-
co no c o m p a rtim e n to c o rp o ra l. A Fig. 1.44 e a E q u aç ão (1.10)
Depuração renal. A d e p u raç ão renal de um fá rm a co lev a ao seu
d e sc re v e m a re d u çã o da c o n c e n tra ç ã o p la sm á tic a co m o tem po para
a p are cim en to co m o tal na u rin a; as a lte ra ç õ es nas p ro p ried a d es
um fá rm a co in tro d u z id o n e sse c o m p a rtim en to .
fa rm a co c in étic a s dos fárm a co s p o r d o e n ç a ren al tam b ém p o d e m ser
e x p lic ad a s em term o s de c o n c e ito s de d e p u raç ão . N o e n ta n to , as C = (dose/V) ■exp(-kt) (1-10)
co m p lica çõ e s re la cio n a d as com filtra çã o , se c re ç ão a tiv a e re a b so r-
ção dev em se r c o n sid era d as. A tax a de filtra çã o de um fá rm a co o n d e k é a tax a c o n sta n te de e lim in a ç ã o re fle tin d o a fração do
d e p en d e do v o lu m e de líq u id o filtra d o no g lo m é ru lo e d a c o n c e n - fá rm a co re m o v id a d o c o m p a rtim e n to p o r u n id a d e de tem po. Essa
tração de fárm aco livre no p lasm a, j á q u e o fá rm a co lig ad o às tax a c o n sta n te é in v ersam en te p ro p o rcio n a l à m eia -v id a do fárm aco
p ro teín as não é filtrado . A tax a d e se c re ç ão de um fá rm a co p elo rim (k = 0 ,6 9 3 /fi/2).
irá d e p en d e r da d e p u raç ão in trín se c a d o fárm aco p e lo s tra n s p o rta - O m o d elo ideal de c o m p a rtim e n to ú n ico d isc u tid o an terio rm en -
d o res e n v o lv id o s na se c re ç ão a tiv a c o n fo rm e a lte ra d o p ela ligação te não d e sc re v e to d a a e v o lu ç ã o tem p o ral da c o n ce n tra ç ão plasm á-
do fárm aco às p ro teín as p lasm á tic as, p elo g rau de sa tu raç ão d e sses tica. O u seja, c e rto s re serv a tó rio s tec id u a is p od em se r diferenciados
tran sp o rta d o res e p ela tax a de lib e raç ã o do fá rm a co no local da do c o m p a rtim e n to c en tral e a c o n c e n tra ç ã o d e fá rm a co parece dim i-
secreção . A lém disso, os p ro c esso s e n v o lv id o s na re a b so rç ã o do n u ir de um m o d o q u e p ode se r d e sc rito p o r m ú ltip lo s term o s expo-
fárm aco a p a rtir d o líq u id o tu b u la r d ev em se r c o n sid era d o s. A s n e n ciais (ver Fig. 1.4,8). T o d av ia, o m o d elo de c o m p a rtim en to úni-
in flu ên cias das a lte ra ç õ es em lig ação p ro téica , flu x o sa n g u ín eo e a co é su fic ie n te p a ra se r a p lic ad o à m aio ria de situ aç õ es clín icas para
q u a n tid a d e de n é fro n s fu n c io n a is são a n álo g o s aos e x em p lo s d ad o s a m aio r p arte d o s fárm aco s.
a n te rio rm e n te p a ra a e lim in a ç ã o h ep ática.
Taxa de distribuição dos fármacos. A queda multiexponencial observa-
Distribuição da para um fármaco eliminado do corpo pela cinética de primeira ordem
Volume de distribuição. O v o lu m e é o se g u n d o p a râm etro resulta das diferenças nas taxas de estabilização do fármaco nos tecidos. A
fu n d am en tal útil ao c o n sid e ra r os p ro c esso s de d istrib u iç ã o d o s taxa de estabilização depende do índice de perfusão da razão de perfusão do
tecido com relação à distribuição do fármaco no tecido. Em muitos casos,
fárm aco s. O v o lu m e de d istrib u iç ão (V) re la c io n a a q u a n tid a d e de
grupos de tecidos com razões semelhantes de perfusão/distribuição se esta-
fá rm a co no co rp o com a c o n ce n tra ç ão de fá rm a co (C ) no san g u e ou
bilizam todos fundamentalmente na mesma taxa, de modo que só se observa
p lasm a, d e p en d e n d o do líqu id o d o sad o . E sse v o lu m e não se refere uma fase de distribuição aparente (queda rápida inicial da concentração,
n e ce ssa ria m e n te a u m v o lum e fisio ló g ic o id en tific áv e l, p orém m e - como na Fig. 1.45). É como se o fármaco iniciasse em um volume “central”,
ra m e n te ao v olu m e líquido qu e se ria n e c e ssá rio p ara c o n te r to d o o consistindo em reservatórios plasmálicos e teciduais nos quais o fármaco se
fárm aco no co rp o na m esm a c o n c e n tra ç ã o qu e no san g u e ou p lasm a: estabiliza rapidamente e se distribui em um volume “final”, ponto em que as
concentrações plasmáticas diminuem de um modo linear em log com uma
V = quantidade de fárm aco no corpo/C (1.9) taxa constante de k (ver Fig. 1.46).
1 FARMACOCINÉTICA 17
Se o padrão ou a razão do fluxo sanguíneo para vários tecidos se alterar modo que só aparecem no volume “final” . Isso significa que os volumes
em uma pessoa ou for diferente entre as pessoas, as taxas de distribuição centrais parecerão variar uos estados patológicos que provocam aVvcração do
tecidual do fármaco também irão se alterar. No entanto, as alterações no fluxo sanguíneo regional. Após uma dose intravenosa em aplicação rápida,
fluxo sanguíneo também podem fazer com que alguns tecidos originalmente as concentrações plasmáticas do fármaco podem ser mais altas nos indiví-
do volume “central” se estabilizem suficientemente mais lentamente de duos com má perfusão (p. ex., choque) que seriam caso a perfusão fosse
melhor. Essas altas concentrações sistêmicas podem, por sua vez, levar a

A maiores concentrações (e maior efeito) em tecidos como o cérebro e o


coração, cuja perfusão geralmente alta não foi reduzida pela alteração hemo-
dinâmica. Desse modo, o efeito de um fármaco em diversos locais de ação
pode ser variável, dependendo da perfusão desses locais.
Termos de volume de m ulticom partim entos. Dois termos diferentes
foram utilizados para descrever o volume de distribuição de fármacos que
2 E sofrem redução multiexponencial. O primeiro, denominado Va-reü, é calcula-
<1 do como a razão de depuração com relação à taxa de diminuição da concen-
tração durante a fase (final) de eliminação da concentração logarítmica
08 versus a curva temporal:
'< <
< CL dose
cc.<r
c
( 1 . 11 )
Várea = » = '
z ^ k-AUC
LU O
O Q A avaliação por esse parâmetro é direta e o termo do volume pode ser
z
o determinado após a administração de uma única dose de fármaco por via
o intravenosa ou oral (na qual a dose deve ser corrigida quanto à biodisponibi-
lidade). No entanto, outro volume de distribuição de multicompartimento
pode ser mais útil, especialmente quando os efeitos dos estado patológico na
TEM PO (h) farmacocinética devem ser determinados. O volume de distribuição em
estado de equilíbrio (V„) representa o volume no qual um fármaco pareceria
B estar distribuído durante o estado de equilíbrio se o fármaco existisse em
todo o volume na mesma concentração que a encontrada no líquido dosado
(plasma ou sangue). Após uma dose intravenosa, a avaliação de Vss é mais
< complicada que a Equação (1.11), mas é factível (Benet e Galeazzi, 1979). É
o
t- mais difícil estimar Vss após uma dose oral. Embora a Váreaseyd um parâme-
■ < t
tro conveniente e facilmente calculado, varia quando a taxa constante de
S s eliminação do fármaco se altera, mesmo quando não houve alterações no
espaço de distribuição. Isso ocorre porque a taxa de redução da concentração
^ °
9 <° termina! do fármaco no sangue ou plasma depende não apenas da depuração,
i<
mas também das taxas de distribuição do fármaco entre os volumes “central”
cc.< e “final”. A Vss não sofre tal desvantagem. Ao utilizar a farmacocinética para
tomar decisões sobre a posologia, as diferenças entre V^reat geralmente
z ^
w O não são importantes. Apesar disso, ambas estão descritas no quadro de dados
O Q
z farmacocinéticos no Apêndice II, dependendo da disponibilidade na literatu-
O ra publicada.
O
Meia-vida
A m eia -v id a (t 1/2) é o tem p o n e ce ssá rio p a ra as co n ce n tra ç õ es
TEM PO (h) p lasm á tic as ou a q u a n tid a d e de fá rm a co no co rp o serem redu zidas
Fig. 1.4 Curvas de concentração plasmática/tempo após a administração em 50% . N o c aso m ais sim p le s, o m o d elo de c o m p a rtim en to ú nico
intravenosa de um fármaco (500 mg) em um homem de 70 kg. (F ig. 1.4A), a m eia -v id a p o d e se r ra p id a m e n te d e te rm in a d a e u tili-
• A. Neste exemplo, as concentrações do fármaco são dosadas no plasma 2 h z ad a p ara to m a r d e cisõ e s so b re a p o so lo g ia. N o entan to , co m o in di-
após a administração da dose. O gráfico em semilogaritmo da concentração c a d o na Fig. 1.48, as c o n ce n tra ç õ es p lasm á tic as do fárm aco m uitas
plasmática versus tempo parece indicar que o fármaco é eliminado de um v ezes seg u em um p a d rão de d e c lín io m u ltiex p o n e n cia l; p o d e-se
único compartimento por um processo de primeira ordem [Equação (1.10)], e n tã o c a lc u la r do is ou m ais term o s d e m eia-v id a.
com uma meia-vida de 4 h (k = 0,693//i/2 = 0,173 h_l). O volume de distribui-
ção (V) pode ser determinado pelo valor de Cp obtido por extrapolação para
Antigamente, a meia-vida que costumava ser registrada correspondia à
t = 0 (C® = 16 lag/mí). O volume de distribuição [Equação (1.9)] para o
fase de eliminação de log linear terminal. No entanto, à medida que se
modelo de um compartimento é de 31,3 i ou 0,45 <?/kg ( V = dose/C^). A
alcançou maior sensibilidade nas análises, as menores concentrações dosa-
depuração desse fármaco é de 90 m//min; para o modelo de um compartimen-
das pareceram representar meias-vidas terminais cada vez mais longas. Por
to, CL = kV. B. A amostra antes de 2 h indica que, na verdade, o fármaco segue
exemplo, é observada uma meia-vida terminal de 53 h para a gentamicina
uma cinética multiexponencial. A meia-vida de distribuição terminal é de 4 h,
(versus um valor de 2-3 h com maior relevância clínica apresentado no
a depuração é de 84 mí/min [Equação (1.5)], Várea é de 29 í [Equação (1.11)],
Apêndice II) e o ciclo biliar é provavelmente responsável pelo valor terminal
e V„ é de 26,8 t. O volume de distribuição inicial ou “central” do fármaco (Vj
de 120 h da indometacina (comparado com a meia-vida de 2,4 h listada no
= dose/C^) é de 16,1 L O exemplo escolhido indica que a cinética multicom-
Apêndice II). A relevância dessa meia-vida em particular pode ser definida
partimental pode passar despercebida quando a amostra precoce é negligen-
em termos da fração de depuração e do volume de distribuição relacionados
ciada. Nesse caso em particular, há um erro de apenas 10% na estimativa de
depuração quando as características multicompartimentais são ignoradas. A com cada meia-vida, e se as concentrações plasmáticas ou quantidades de
fármaco no corpo estão mais bem relacionadas com as medidas de resposta.
cinética multicompartimental de muitos fármacos pode ser observada durante
períodos significativos de tempo e a falha em considerar a fase de distribuição Os valores únicos de meia-vida dados para cada fármaco no Apêndice II
pode levar a erros importantes das estimativas de depuração e da previsão da foram escolhidos por representarem a meia-vida de maior relevância clínica.
posologia apropriada. Do mesmo modo, a diferença entre o volume de distri-
buição “central” e outros termos que refletem uma distribuição mais ampla é E stu d o s in ic iais das p ro p ried a d es fa rm a co c in étic a s d os fá rm a -
importante para a decisão da estratégia da dose de ataque. co s nas d o e n ça s fo ram c o m p ro m etid o s p o r c o n fia r na m eia-v id a
18 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

co m o a ú n ica m ed id a d as a lte ra ç õ es da d istrib u iç ã o d e fárm acos. Assim, se a depuração hepática do fármaco for grande com relação ao
O b serv a-se a tu a lm e n te q u e a m eia -v id a é um p a râm etro d eriv a d o fluxo sanguíneo hepático, a extensão da disponibilidade será pequena quan-
que se altera em fun ção tan to d a d e p u raç ão co m o d o v o lu m e de do o fármaco for administrado por via oral (p. ex., lidocaína). Essa redução
d istrib u ição . U m a re la çã o a p ro x im a d a ú til e n tre a m eia -v id a com da disponibilidade existe em função do local fisiológico no qual ocorre a
re le v ân c ia c lín ica , a d e p u raç ão e o v o lu m e de d istrib u iç ã o em estad o absorção, com nenhuma modificação de dose melhorando a disponibilidade
de eq u ilíb rio é d a d a por: em condições de cinética linear. A absorção incompleta e/ou o metabolismo
intestinal após uma dose oral irão, na prática, reduzir esse valor máximo de
t m = 0,693 • VSS/C L ( 1. 12) F previsto.

A d e p u raç ão é a m edid a da c a p a cid a d e c o rp o ral de e lim in a r um Q u a n d o os fárm a co s são a d m in istrad o s p or um a via sujeita a
fárm aco ; p o rtan to , à m ed id a qu e a d e p u raç ão d im in u i, d e v id o a um p e rd a p o r p rim e ira p a ssa g em , as e q u aç õ es ap rese n tad a s anterior-
p ro c esso p ato ló g ico , p o r e x em p lo , seria e sp e ra d o qu e a m eia -v id a m en te c o n te n d o os term o s dose ou velocidade da dose [Equações
a u m en tasse. N o entan to , essa re la çã o re cíp ro ca só é v á lid a q u an d o (1.1), (1.5 ), (1 .1 0 ) e (1.11)] tam b ém têm de in clu ir o term o biodis-
a d o e n ça não a lte ra o v o lu m e d e d istrib u iç ão . P o r e x em p lo , a m eia- p o n ib ilid a d e F , de m od o que a d o se ou v e lo c id ad e da d ose disponí-
v id a do d iazep am a u m e n ta com a idade; no e n tan to , não é a sua vel se jam u tiliza d as. P o r e x em p lo , a E q u ação (1.1) é m odificada
d ep u raç ão q u e se a lte ra em fu n ç ão da idade, m as o v o lu m e de para:
d istrib u iç ão (K lo tz et al., 1975). D e m o d o se m elh an te , as a lte ra ç õ es
na lig ação p ro téica do fárm aco p odem a lte ra r sua d e p u raç ão , assim F • velocidade da dose = CL ■C ? (1.14)
co m o seu v o lu m e de d istrib u iç ão , lev a n d o a a lte ra ç õ es im p re v isí-
v eis da m eia -v id a em fu n ção da d o en ça. A m eia -v id a d a to lb u ta m i- Taxa de absorção. E m b o ra a tax a de ab so rçã o do fárm aco não
da, p o r e x em p lo , d im inu i nos p a cien te s co m h e p atite virai agu d a, in flu e n cie de um m o do g eral a m éd ia d a c o n ce n tra ç ão de equilíbrio
e x atam e n te o o p o sto do q u e se p o d e ria e sp erar. A d o e n ç a a lte ra a no p lasm a, p o d e in flu e n c ia r a tera p ia fa rm a co ló g ica . Se um fárm aco
ligação p ro téica do fá rm a co tan to no p lasm a co m o nos tec id o s, não fo r ra p id a m e n te a b so rv id o (p. ex., a do se a d m in istrad a em infusão
p ro v o c an d o a lte ra ç õ es no vo lu m e de d istrib u iç ão , p o rém a u m e n ta n - in tra v en o sa rá p id a ) e tiv e r uin v o lu m e “ c e n tra l” peq u en o , a concen-
do a d e p u raç ão , p o rq u e há m aio res q u a n tid a d es p re sen te s de fá rm a - traç ão de fá rm a co será in ic ialm en te alta. A se g u ir dim inuirá à me-
co livre (W illia m s et a i , 1977). d id a q u e o fá rm a co seja d istrib u íd o p ara seu v o lu m e “fin al” (maior)
E m b o ra p o ssa se r um m au in d ic a d o r d a e lim in a çã o de fárm acos, (ver Fig. 1A B ). Se o m esm o fárm aco fo r d istrib u íd o m ais lentam en-
a m eia -v id a fo rn ece u m a b o a in d ic a çã o d o tem p o n ece ssá rio para te (p. ex., p o r in fu sã o lenta), será d istrib u íd o à m edida que for
a lc an ç a r o e stad o de e q u ilíb rio após o in íc io ou a a lte ra ç ão de um a d m in istra d o , as c o n c e n tra ç õ e s m áx im as se rão m ais baixas e irão
esq u e m a p o so ló g ico (i. e., q u atro m eia s-v id as p a ra o b te r a p ro x im a -
d a m e n te 9 4% de um n ov o e stad o de e q u ilíb rio ), o tem p o de re m o ç ão
de um fá rm a co do c o rp o e m eio s de a v a lia r o in te rv alo ad eq u a d o Estado de equilíbrio
en tre as d o ses (ver ad ian te). 2 -, • Obtido após aproxim adam ente quatro meios-tempos
Estado de equilíbrio. A E q uação (1.1) in dica q u e um e stad o de • Tempo até o estado de equilíbrio independente da
equ ilíb rio da c o n ce n tra ç ão acab a sen d o alc an ç a d o q u an d o um fá rm a - dose [utilizada]
co é a d m in istrad o em um a tax a constante. N esse po nto, a e lim in ação í \
do fárm aco (o pro d uto da d e p u ração e d a con cen tração ; E q uação O
><
[ 1.3]) será igual à sua taxa de disp o n ib ilid ad e. E ste c o n ce ito tam bém O
<
se esten d e às do ses in term iten tes (p. ex., 250 m g de fárm aco a cada cc
I- 1-
z
8 h). D uran te cada in terv alo de dose a c o n ce n tra ç ão de fárm aco
au m en ta e dim inui. E m e stad o de eq u ilíb rio , to d o o ciclo se rep ete de
LU
o
2
/ C oncentrações em estado de equilíbrio J
m odo id ên tico em c ad a interv alo. A E q u aç ão (1.1) tam b ém é a p lic á - O / • Proporcionais a dose/intervalos de doses
o • Proporcionais a F/CL
vel para as d oses in term iten tes, m as a gora descreve a c o n cen tração
Flutuações
m édia de fárm aco (C ÍS) d u ra n te um intervalo de doses. A p o so lo g ia Proporcionais ao intervalo de doses/meio-tempo
em estado de e q u ilíb rio está ilu stra d a na Fig. 1.5. Prejudicadas pela absorção lenta
---------- 1------------ 1------------ 1------------1----------- 1------
Extensão e taxa de biodisponibilidade 1
Biodisponibilidade. É im p o rta n te d ife re n c ia r e n tre a tax a e a TEMPO (múltiplos do meio-tempo de eliminação)
e x te n sã o d a ab so rçã o d o fárm aco e a q u a n tid a d e de fá rm a co que Fig. 1.5 Relações farmacocinéticas fundamentais para a administração
fin alm en te alc an ç a a c irc u la ç ã o sistê m ic a, c o m o d isc u tid o a n te rio r- repetida de fármacos.
m ente. A q u a n tid a d e de fárm aco q u e a lc an ç a a c irc u la ç ã o sistê m ic a • A linha cinza é o padrão de acúmulo de fármaco durante a administração
d e p en d e não a p en a s da d o se a d m in istrad a , m as tam b ém d a fração repetida de um fármaco em intervalos iguais ao seu meio-tempo de elimina-
d a d ose, F, qu e é a b so rv id a e e sc ap a de q u a lq u e r e lim in a ç ã o de ção, quando a absorção é 1 0 vezes mais rápida que a eliminação. A medida
p rim e ira p a ssa g em . E sta fraç ã o m u itas v ezes é d e n o m in a d a biodis- que a taxa de absorção aumenta, a concentração máxima se aproxima de 2 e a
ponibilidade. A s ra zõ e s p ara a a b so rçã o in co m p leta já foram d isc u - mínima se aproxima de 1 durante o estado de equilíbrio. A linha contínua
representa o padrão durante a administração de uma dose equivalente por
tidas. D a m esm a fo rm a, co m o o b se rv ad o a n te rio rm e n te , se o fá rm a -
infusão intravenosa contínua. As curvas se baseiam no modelo de um compar-
co fo r m eta b o liza d o no e p ité lio in testinal ou no fíg ad o , ou ex cre ta d o
timento.
na b ile, p arte do fárm aco ativ o a b so rv id o do trato d ig e stiv o será Concentração média (C„) quando o estado de equilíbrio é alcançado
e lim in a d a an te s de p o d e r a lc an ç a r a c irc u la ç ã o g eral e se r d istrib u í- durante a administração intermitente de fármacos:
d a para seu s locais d e ação.
_ F ■dose
C = ----------
“ CL ■T
Conhecendo-se a taxa de extração (EH) de um fármaco através do fígado [ver
Equação (1.8)], é possível prever a disponibilidade oral máxima (Fmc^ , admi- onde F = biodisponibilidade fracionária da dose c T = intervalo entre as doses
tindo-se que a eliminação hepática ocorra após os processos de primeira ordem: (tempo). Pela substituição da taxa de infusão por F • dose/T, a fórmula é
equivalente à Equação (1.1) e fornece a concentração mantida em estado de
F/iiáx — 1 F][ — 1 (C^Aé/ráíicú/ôhepáticâ) (1.13) equilíbrio durante a infusão intravenosa contínua.
I FARMA COCINÉTICA 19
oc o rre r m ais tarde. A s a p rese n taç õ es de lib eração c o n tro lad a são Km (5-10 mg/t) é tipicamente próxima da extremidade mais baixa da faixa
pro jetad as p ara fo rn ec e r u m a tax a de ab so rçã o lenta e m an tid a, de terapêutica (10-20 m g/í). Para algumas pessoas, especialmente crianças, a
m odo a p ro d u z ir um perfil m en o r de flu tu a çã o c o n ce n tra ç ão plas- Km pode ser até de 1 m g /t Se, para esta pessoa, a concentração-alvo for de
m ática-tem p o d u ra n te os in te rv a lo s e n tre ás d o ses, c o m p a rad a s com 15 mg/t, e esta for obtida com uma velocidade da dose de 300 mg/dia, então,
as a p rese n taç õ es de lib e raç ã o m ais im ed iata. D e term in a d o fá rm a co pela Equação (1.15), a v,„ será de 320 mg/dia. Para tal paciente, uma dose
10% aquém da ótima (i. e., 270 mg/ dia) produziria uma Css de 5 mg/l, bem
pode a g ir de m odo a p ro d u z ir e feito s d e se já v eis e in d esejáv e is em
abaixo do valor desejado. Contrariamente, uma dose 10% acima da ótima
diverso s locais no co rp o , e as taxas de d istrib u iç ã o de fárm aco s
(330 mg/dia) excederia a capacidade metabólica (em 10 mg/dia) e causaria
nesses locais p o dem não ser iguais. A in te n sid a d e re la tiv a d esses
um longo e lento, porém infinito, aumento da concentração até haver toxici-
d iferen tes e feito s d e um fárm aco po de assim v a ria r tran sito riam en te dade. A dose não pode ser controlada de modo tão preciso (menos de 10%
q u an d o sua tax a de a d m in istraç ão fo r alterada. de erro). Portanto, nos pacientes para os quais a concentração-alvo de feni-
toína é mais de 10 vezes maior do que a K,„, a alternância de tratamento
F a rm a c o c in é tic a n ã o -lin e a r
ineficaz e toxicidade é quase inevitável. Para um fármaco como a fenitoína,
A não-linearidade na farmacocinética (i. e., alterações em parâmetros com baixo índice terapêutico e exibindo metabolismo não-linear, a monito-
como depuração, volume de distribuição e meia-vida, em função da dose ou ração farmacológica terapêutica (ver adiante) é extremamente importante.
da concentração do fármaco) geralmente ocorre por saturação da ligação
protéica, metabolismo hepático ou transporte ativo renal do fármaco. E s tr a té g ia e o tim iz a ç ã o d o s e s q u e m a s p o so ló g ico s
Ligação protéica saturável. À medida que a concentração molar do A p ó s a a d m in istraç ão de u m a d o se de fá rm a co , seus efeito s
fármaco aumenta, a fração livre acabará por aumentar também (já que todos g e ralm e n te m o stram um p a d rão tem p o ral c a ra c te rístic o (Fig. 1.6). O
os locais de ligação se tornam saturados), o que em geral só ocorre quando
in ício do e feito é p re ce d id o p o r um p e río d o d e atraso , após o qual a
as concentrações plasmáticas do fármaco estão na faixa de dezenas a milha-
a m p litu d e do e feito cresc e até o m áx im o e a se g u ir d eclin a; se não
res de microgramas por milímetro. Para um fármaco metabolizado pelo
fígado com uma baixa taxa de depuração intrínseca/extração, a saturação da for a d m in istra d a o u tra do se, o e feito a ca b ará p o r d e sap arecer. Tal
ligação protéica no plasma irá provocar o aumento tanto de V como da e v o lu ç ão tem p o ral re fle te a lte ra ç õ es na c o n ce n tra ç ão do fárm aco
depuração, à medida que as concentrações do fármaco aumentam; a meia- d e te rm in a d as p ela fa rm a c o c in é tic a de sua ab so rção , su a d istrib u iç ão
vida pode assim permanecer constante [ver Equação (1.12)]. Para um tal e sua e lim in a çã o . C o n se q ü e n te m en te, a in te n sid a d e do efeito de um
fármaco a Css não irá aumentar de modo linear à medida que a taxa de fá rm a co e stá re la c io n a d a com su a c o n c e n tra ç ã o acim a de um a con-
administração do fármaco aumentar. Para os fármacos que sofrem depuração
com altas taxas de depuração intrínseca/extração, a Css pode permanecer
linearmente proporcional à taxa de administração do fármaco. Nesse caso, a
CEM para
depuração hepática não seria alterada e o aumento de V aumentaria o meio- respostas
tempo de desaparecimento pela redução da fração de fármaco total no corpo Efeito m áxim o adversas
liberada para o fígado por unidade de tempo. A maioria dos fármacos cai
entre esses dois extremos e os efeitos da ligação protéica não-linear podem
ser difíceis de prever. Início do
efeito Janela
E lim inação saturável. Neste caso, a equação de Michaelis-Menten terapêutica
[Equação (1-2)] geralmente descreve a não-linearidade. Todos os processos
Intensidade
ativos são indubitavelmente saturáveis, porém irão parecer lineares se os
valores das concentrações de fármaco encontradas na prática forem muitos
inferiores à Km. Quando ultrapassam a K„„ observa-se uma cinética não-li- CEM para
near. As principais conseqüências da saturação do metabolismo ou do trans- a resposta
porte são opostas às da saturação da ligação protéica. Quando ambas as Duração da ação • desejada
situações estão presentes ao mesmo tempo, elas podem praticamente cance-
lar o efeito uma da outra e surpreendentemente resultar em uma cinética
linear, como ocorre em uma certa faixa de concentração com o ácido salicí-
lico.
Tempo
O metabolismo saturável torna o metabolismo oral de primeira passa-
gem menos esperado (elevação de F), e há maior aumento fracionado em C „ Fig. 1.6 Características temporais dos efeitos dos fármacos e relação
que o aumento fracionado correspondente na taxa de administração do fár- com a janela terapêutica
maco. Este último pode ser observado com mais facilidade ao substituir a • Há um período de lapso antes que a concentração de fármaco ultrapasse a
Equação (1.2) pela Equação (1.1) e resolvendo para a concentração de concentração eficaz mínima (CEM) para o efeito desejado. Após o início da
equilíbrio: resposta, a intensidade do efeito aumenta à medida que o fármaco continua a ser
absorvido e distribuído. Isso alcança um máximo, a partir do qual a eliminação
velocidade da dose • Km
do fármaco leva a uma diminuição da intensidade do efeito que desaparece
C ss = ■ (1.15)
- velocidade da dose quando a concentração do fármaco cai abaixo da CEM. Conseqüentemente, a
duração da ação de um fármaco é determinada pelo período de tempo durante
À medida que a velocidade da dose se aproxima da taxa de eliminação o qual as concentrações permanecem acima da CEM. Existe uma CEM seme-
máxima (v,„), o denominador da Equação (1.15) se aproxima de zero e a Css lhante para cada resposta adversa e, se a concentração de fármaco ultrapassá-la,
aumenta de modo desproporcional. Como a saturação do metabolismo não haverá toxicidade. Desse modo. o efeito terapêutico deve ser o de obter e manter
deve ter efeito no volume de distribuição, a depuração e a taxa relativa de concentrações dentro da janela terapêutica para a resposta desejada, com um
eliminação do fármaco diminuem à medida que a saturação aumenta; portan- mínimo de toxicidade. A resposta ao fármaco abaixo da CEM para o efeito
to, o log da curva de níveis plasmáticos-tempo é côncavo e decrescente até o desejado será subterapêutica e, enquanto acima da CEM, para os efeitos adver-
metabolismo se tornar suficientemente dessaturado e tiver ocorrido elimina- sos, a probabilidade de toxicidade irá aumentar. O aumento ou a diminuição da
ção de primeira ordem. Deste modo, o conceito de uma meia-vida constante dose de fármaco alteram a curva de resposta para cima ou para baixo da escala
não é aplicável ao metabolismo não-linear ocorrendo nas faixas habituais de de intensidade, sendo utilizados para modular o efeito do fármaco. O aumento
concentração clínica. Conseqüentemente, alterar a velocidade da dose com da dose também prolonga a duração da ação do fármaco, mas com o risco de
um metabolismo não-linear é difícil e imprevisível, já que o estado de aumentar a probabilidade de efeitos adversos. Conseqüentemente, a menos que
equilíbrio resultante é alcançado mais lentamente e, o mais importante, o o fármaco não seja tóxico (p. ex., penicilinas), o aumento da dose não é uma boa
efeito é desproporcional à alteração da velocidade da dose. estratégia para aumentar a duração da ação de um fármaco. Em vez disso, deve
A fenitoína oferece o exemplo de um fármaco para o qual o metabolismo ser administrada outra dose de fármaco para manter as concentrações nos
se torna saturado na faixa de concentração terapêutica ( ver Apêndice II). A limites da janela terapêutica.
20 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

cen traç ã o m ín im a efic az , e n q u a n to a d u ra çã o d e sse e feito é um fárm aco é ajustada de m odo que a taxa de entrada seja igual à taxa
reflex o da e x te n sã o de tem p o no q u al o nível de fá rm a co e stá a cim a de perda, relação j á d efinida nas E quações (1.1) e (1.14), sendo
d esse valor. E m geral, tais c o n sid e ra ç õ e s se ap licam tan to ao s e fe i- expressa aqui em term os da concentração-alvo desejada:
to s d e se ja d o s c o m o ao s in d e se ja d o s (a d v erso s) d o s fá rm a co s e,
Velocidade da dose = C„ alvo ■CL/F (1.16)
co m o resu ltad o , e x iste u m a ja n e la te ra p êu tica re fle tin d o a faixa de
c o n ce n tra ç ão e fic az sem to x ic id ad e in ac eitáv e l. C o n sid e ra ç õ e s se - Se o m éd ic o e sc o lh e r a c o n c e n tra ç ã o d e se ja d a de fárm aco no
m elh an tes se ap lic am a p ó s v á ria s d o se s asso c iad a s ao tratam e n to p la sm a e c o n h e c e r a d e p u ra ç ã o e a b io d isp o n ib ilid a d e d esse fárm a-
p ro lo n g ad o ; p ortan to , e la s d e te rm in a m a q u a n tid a d e e a freq ü ê n c ia co em d e te rm in a d o p a cien te , é p o ssív el c alc u la r a d o se e o intervalo
de a d m in istraç ão d os fá rm a co s p a ra se o b te r o e feito tera p êu tico de d o se s a p ro p ria d o s.
ótim o. Em g eral, o lim ite in ferio r d a fa ix a te ra p ê u tic a p arece ser
a p ro x im ad a m en te igual à c o n c e n tra ç ã o do fá rm a co q u e p ro d u z c e r- Exemplo. A digoxina oral deve ser utilizada como dose de manutenção
ca de m etade do m aio r e feito tera p êu tico p o ssív el, e o lim ite su p e - para “digitalizar” gradativamente um paciente de 69 kg com insuficiência
rio r da faix a tera p êu tica é tal que ap en as 5 % -1 0 % d o s p a cien te s cardíaca congestiva. Uma concentração plasmática em estado de equilíbrio de
ap rese n tarã o e feito s tóx ico s. P ara a lg u n s fá rm a co s, isso p o d e sig n i- 1,5 ng/mí? é escolhida como alvo adequado. Com base no fato que a depuração
fica r que o lim ite su p e rio r d a fa ix a é de a p en a s d u a s v ezes o lim ite de creatinina do paciente (CL^r) é de 1 0 0 mí/min, a depuração da digoxina
in ferior. E v id e n tem en te , e sses v alo res p o d e m ser m uito v a riá v eis e pode ser estimada a partir dos dados [encontrados] no Apêndice II.
alg u n s p a cien te s p o d em se b e n e fic ia r m u ito de c o n c e n tra ç õ e s do
C L = 0,88 C L c r + 0,33 • m in —
- 11 •
. kg
L -o - 1
fárm aco qu e u ltra p assa m a faix a tera p êu tica , e n q u an to o u tro s p o -
= 0,88 x 100/69 + 0,33 m £ ■m -\ . kg-i
d em so fre r to x ic id ad e im p o rta n te c o m v alo res m u ito m ais baix o s.
= 1 , 6 nu? • m in - 1 • kg - 1
P ara um n ú m ero lim itad o de fá rm a co s, a lg u n s de seu s e feito s = H O m í ■m in - 1 = 6 , 6 t ■h - 1
são fa cilm e n te m en su ráv e is (p. ex., p re ssã o arterial, g lic e m ia), o
qu e pode ser u tiliza d o p a ra o tim iz a r a d o se m ed ian te u m a a b o rd a - A Equação (1.16) é utilizada então para calcular a velocidade da
gem do tip o ten ta tiv a e erro . M esm o n este caso ideal, su rg em a lg u - dose apropriada, sabendo que a biodisponibilidade oral da digoxina é de 70%
m as q u e stõ es q u a n titativ as, c o m o com que fre q ü ê n c ia e q u a n to a l- (F = 0,7).
tera r a dose, o q u e em g eral p o d e se r d e te rm in a d o de a co rd o com
V elocidade da dose = Cp alvo ■C L /F
reg ras sim p le s b a se ad a s nos p rin cíp io s d isc u tid o s (p. ex ., a lte ra r a
= 1,5 ng • m ^_l x 1,6/0,7 m í • min - 1 • kg - 1
d o se em não m en o s de 5 0% e ab aix o de 3 ou 4 m eia s-v id as). D e
= 3,43 ng • m in - 1 • kg - 1
m odo a lte rn a tiv o , a lg u n s fá rm a co s a p rese n tam m u ito p o u c a to x ic i-
= 236 ng ■m in - 1 para um paciente de 69 kg
dad e re la cio n a d a com a d o se e c o stu m a -se d e se ja r e fic á c ia m áxim a.
= 236 ng • m in - 1 x 60 m in x 24 h
N o caso de tais fá rm a co s, d o ses bem a cim a da m éd ia n e ce ssá ria irão
= 340 p g = 0,34 m g/24 h
asse g u ra r a e fic ác ia (caso seja p o ssív e l) e p ro lo n g a r a a çã o do fá r-
m aco. E ssa e stratég ia de “d o se m áx im a ” é tip ic am en te u tiliza d a Na prática, a velocidade da dose seria arredondada para a dose mais
p ara as p e n ic ilin as e a m aio ria do s a n ta g o n istas d o s re ce p to re s (3- próxima, quer 0,375 mg/24 h, que resultaria em uma concentração plasmáti-
ad ren érg ico s. ca de equilíbrio de 1,65 ng/m í (1,5 x 375/340), ou 0,25 mg/24 h, que
N o e n ta n to , os e fe ito s de m uito s fárm a co s são d ifíc eis de m ed ir forneceria um valor de 1,10 ng/m^ (1,5 x 250/340).
(ou o fárm aco é a d m in istrad o p a ra p ro fila x ia), a to x ic id ad e e a Intervalo entre as doses para doses intermitentes. Em geral, não são
in eficá c ia c o n stitu e m risco s p o ten c iais e/o u o ín d ic e tera p ê u tic o é desejadas acentuadas flutuações nas concentrações entre as doses. Se a
absorção e a distribuição fossem instantâneas, a flutuação das concentrações
b aixo. E m tais caso s, as d o se s d ev em se r rig o ro sa m e n te titu lad a s e
de fármaco entre as doses seria regida inteiramente pela meia-vida de elimi-
a d o se d e fá rm a co se r lim ita d a p ela to x ic id ad e e não p e la e ficácia. nação do fármaco. Se o intervalo entre as doses (T) escolhido fosse igual à
D esse m odo, o o b jetiv o tera p êu tico é o de m a n te r n ív eis d e estad o meia-vida, então a flutuação total seria de duas vezes, o que costuma ser uma
de e q u ilíb rio nos lim ites d a ja n e la tera p êu tica . P ara a m aio ria dos variação tolerável.
fárm acos, as c o n ce n tra ç õ es re ais asso c iad a s a e ssa faix a alm e ja d a Considerações farmacodinâmicas modificam esse fato. Se um fármaco
não são, e não p re cisa m ser, c o n h ec id a s. B asta c o m p re e n d e r qu e a for relativamente atóxico, dc modo que a concentração muitas vezes maior
e fic ác ia e a to x ic id ad e g e ralm e n te d e p en d e m d a c o n c e n tra ç ã o e do que a necessária para a terapia possa ser facilmente tolerada, pode-se
co m o as d o ses e a freq ü ê n c ia de a d m in istra ç ã o d o fá rm a co alte ra m utilizar a estratégia de dose máxima e o intervalo entre as doses pode ser
seus níveis. N o e n tan to , p ara um p e q u en o n ú m ero de fá rm a co s, p ara muito maior do que a meia-vida de eliminação (por conveniência). A meia-
vida da amoxicilina é de aproximadamente 2 h, mas freqüentemente são
os q u a is há u m a p e q u e n a d if e r e n ç a (2 ou 3 v e z e s ) e n tr e as
administradas doses maiores a cada 8 ou 1 2 h.
c o n c e n tra ç õ es e fic az e s e tó x ic a s (p. ex., d ig o x in a , teo filin a , lido caí-
No caso de alguns fármacos com uma faixa terapêutica estreita, pode ser
na, a m in o g lic o síd eo s, c ic lo sp o rin a e a n tic o n v u lsiv a n te s), foi d e fin i- importante estim ar as concentrações máxima e mínima que irão ocorrer em
da u m a faix a de c o n c e n tra ç ã o p lasm á tic a a sso c ia d a a u m a te ra p ê u - determinado intervalo entre as doses. A concentração mínima em estado de
tica eficaz. N esse caso, a e stra té g ia de d e te rm in a r u m n ív el-alv o é equilíbrio Cis. pode ser razoavelmente determinada usando-se a Equação
sen sata, na qual é e sc o lh id a um a c o n c e n tra ç ã o de e stad o de e q u ilí- (1.17):
brio d e se ja d a (alv o ) do fá rm a co (g e ra lm e n te no p lasm a ) a sso c iad a F ■dose/V „
a e fic á c ia e e feito s tó x ic o s d e sp rez ív eis, sen d o c o m p u ta d a u m a do se Css. min = ----------- —j z r ■exp (-k T ) (1.17)
1 - exp ( - k T )
q u e se e sp e ra q u e a lc an c e e sse s valo res. A s c o n ce n tra ç õ es de fá rm a -
co s são m ed id as su b seq ü e n tem en te e a p o so lo g ia é a ju sta d a q u a n d o onde k é igual a 0,693 dividido pela meia-vida plasmática de relevância
n ece ssá rio p a ra se a p ro x im ar o m áx im o p ossív el do alv o ( ver ta m - clínica e T é o intervalo entre as doses. O termo exp(-kT) é, na verdade, a
b ém C ap. 3). fração da última dose (corrigida pela biodisponibilidade) que permanece no
corpo ao final de um intervalo entre as doses.
Dose de manutenção. N a m aioria das situações clínicas, os fárm a-
Para os fármacos que apresentam cinética multiexponencial e que são
cos são adm inistrados em um a série de doses repetidas ou em infusão
administrados por via oral, a estimativa da concentração máxima em estado
contínua para m anter o estado de equilíbrio da concentração de fárm aco de equilíbrio Css nu-,x envolve um conjunto complicado de constantes expo-
associada à jan e la terapêutica. D esse m odo, o cálculo da dose de m a- nenciais de distribuição e absorção. Se esses termos forem ignorados para
nutenção adequada é um objetivo prim ário. Para m anter o estado de várias doses orais, pode-se facilmente prever uma concentração máxima em
equilíbrio escolhido, ou concentração-alvo, a taxa de adm inistração do estado de equilíbrio omitindo o termo exp(-kT) do numerador da Equação
1 FARMACOCINÉTICA 21
(1.17) [ver Equação (1.18), adiante]. Devido à aproximação, a concentração U m a d o se d e a ta q u e p o d e se r d e se já v el se o tem p o n ecessário
máxima prevista pela Equação (1.18) será maior do que a observada de fato. p a ra o b te r o e sta d o d e e q u ilíb rio p e la a d m in istra ç ã o d e um fárm aco
Exemplo. No paciente com insuficiência cardíaca congestiva discutido em u m a ta x a c o n sta n te (q u a tro m eia s-v id a s d e e lim in a ç ã o ) é longo
anteriormente, foi calculada uma dose de manutenção oral de 0,375 mg/24 h co m re la ç ã o às d e m a n d a s tem p o ra is d a a fec çã o tratad a . P o r e x e m -
de digoxina para se obter uma concentração plasmática média de 1,65 ng/m£
p lo, a m e ia -v id a d a lid o c a ín a é g e ra lm e n te de 1-2 horas. A s a rrit-
durante o intervalo entre as doses. A digoxina tem um baixo índice terapêu-
m ias a p ó s in farto do m io c á rd io p o d e m e v id e n te m e n te se r fatais, não
tico e níveis plasmáticos entre 0 , 8 e 2 , 0 ng/m í estão geralmente associados
a eficácia e toxicidade mínima. Portanto, é importante conhecer quais as se p o d e n d o e sp e ra r 4 -8 h o ra s p a ra o b te r u m a c o n c e n tra ç ã o tera p êu -
concentrações máxima e mínima que seriam previstas com o esquema ante- tic a de lid o c a ín a p e la in fu sã o d o fá rm a co n a ta x a n e ce ssá ria para
rior, o que requer primeiro a estimativa do volume de distribuição da digo- o b ter e ssa c o n c e n tra ç ã o . P o r c o n se g u in te , o uso de u m a d o se de
xina com base nos dados encontrados no Apêndice II. a ta q u e d e lid o c a ín a na u n id a d e c o ro n a ria n a é o p ad rão .
O u so de u m a d o se d e a ta q u e tam b é m a p re se n ta d e sv a n ta g en s
V„ = 3 ,1 2 CLc r + 3,84 £ ■kg " 1
im p o rta n te s. P rim eiro , o in d iv íd u o sen sív el p o d e se r su b itam e n te
= 3,12 x (100/69) + 3,84 l • kg-> e x p o sto a u m a c o n c e n tra ç ã o tó x ic a d o fárm aco. A lém d isso , se o
= 8,4 e - kg- 1 fá rm a c o em q u e stã o tiv e r u m a m e ia -v id a lo n ga, irá d e m o ra r até a
= 580 i para um paciente de 69 kg c o n c e n tra ç ã o c air, caso os n ív eis a lc a n ç a d o s te n h a m sido e x c e ssi-
vos. A s d o se s d e a ta q u e ten d e m a se r g ra n d es e m u itas v ezes são
A associação desse valor com o da depuração da digoxina fornece uma
a d m in istra d a s ra p id a m e n te p o r v ia p a ren tera l, o q u e p o d e se r p a rti-
estimativa da meia-vida de eliminação da digoxina no paciente [Equações
c u la rm e n te p e rig o so se os e fe ito s tó x ic o s o c o rre re m em fu n ç ã o das
( 1 - 1 ) a ( 1 - 1 2 )].
açõ es d o fá rm a c o em lo cais o n d e há u m rá p id o e q u ilíb rio com o
11/2 = 0,693 VSS/CL
p lasm a . Isso o c o rre p o rq u e a d o se d e a ta q u e c a lc u la d a com b ase na
0,693 x 580 (. y „ a p ó s a d istrib u iç ã o do fá rm a co é in ic ia lm e n te fo rça d a p a ra o
6,6 e - f r [ v o lu m e “c e n tra l” in icial e m e n o r d e d istrib u iç ã o . P o rta n to , é a c o n -
se lh áv e l d iv id ir a d o se de a ta q u e em v á ria s fraç õ e s de d o se s a d m i-
= 61 h
n istrad a s em um p e río d o de tem p o . A lte rn a tiv a m e n te , a d ose de
Conseqüentemente, a taxa fracionada da constante de eliminação é igual a ta q u e d e v e se r a d m in istra d a em in fu sã o in tra v e n o sa c o n tín u a d u -
a 0,01136 h_ 1 (0,693/61 h). As concentrações plasmáticas máxima e mínima ra n te um p e río d o de tem p o . O id eal é q u e se ja a d m in istra d a de m o do
da digoxina podem então ser previstas pelo intervalo entre as doses. Se este e x p o n e n c ia l d e c re sc e n te p a ra re fle tir o a c ú m u lo c o n c o m ita n te da
intervalo fosse de 2 dias: d o se d e m a n u te n ç ã o do fá rm a co , o q u e a g o ra é te c n ic a m e n te p o ss í-
F ■d o s e / Vw vel co m o e m p re g o de b o m b as in fu so ra s c o m p u ta d o riz a d a s.
E xem p lo . A “d ig ita liz a ç ã o ” do p a c ie n te d e sc rito a n te rio rm e n te
C“ " “ = l - e x p ( - k T )
é g ra d u al a p en a s se fo r a d m in istra d a u m a d o se d e m an u te n ç ã o (p o r
0,7 x 0,375 x 2 m g / 5 8 0 1 um m ín im o de 10 d ias, co m b ase na m e ia -v id a de 61 h). P o d e-se
o b te r u m a re sp o sta m ais rá p id a (c aso seja c o n sid e ra d a n ece ssá ria
p e lo m éd ico ; ver C ap. 3 4 ) u tiliz a n d o u m a e stra té g ia de d o se de
= 2,15 ng/rnf a ta q u e e a E q u a ç ã o (1-20):

Dose de ataque = 1,5 ng • m í _1 x 580 V.10,1


Css.min —Css,máx ' €xp( kT) (1.19) = 1.243 (ig ~ 1 m g
= (2,15 ng/m£)(0,58)
= 1,25 ng/m /’ P a ra e v ita r to x ic id ad e , e ssa d o se de a ta q u e oral, qu e tam b ém
p o d e ria se r a d m in istra d a p o r v ia in tra v en o sa, se ria a d m in istra d a em
Conseqüentemente, as concentrações plasmáticas irão sofrer flutuações d o se in icial de 0,5 m g se g u id a p or u m a d o se de 0 ,25 m g 6-8 h
de cerca de 2 vezes, compatíveis com a semelhança do intervalo entre as d e p o is, c o m m o n ito ra ç ã o rig o ro sa do p a cien te . T am b ém se ria p ru -
doses e a meia-vida da digoxina. Inclusive, a concentração máxima estará
d e n te a d m in istra r a fraç ã o final d e 0 ,25 m g d a do se, se n ecessário ,
acima do valor da faixa terapêutica, expondo o paciente a possíveis efeitos
em d u as d o se s d iv id id a s de 0 ,1 2 5 m g se p a ra d a s p o r 6-8 h p ara e v i-
adversos e, ao final do intervalo entre as doses, a concentração estará acima,
mas próxima, do limite inferior. Utilizando a mesma velocidade da dose mas ta r a d ig ita liz a ç ã o e x c e ssiv a , p a rtic u la rm e n te se h o u v e r um p lan o de
diminuindo a freqüência das doses, se obteria um perfil mais nítido da in ic iar u m a d o se o ral de m an u te n ç ã o nas p rim e iras 2 4 h d o in ício da
concentração plasmática versus o tempo, mantendo um valor médio de te ra p ia c o m d ig o x in a .
estado de equilíbrio de 1,65 ng/mí. Por exemplo, com uma dose de 0,375 mg D o se in d iv id u a l. U m e sq u e m a de d o se ra cio n al se b a se ia no
a cada 24 h, as concentrações máxima e mínima previstas seriam de 1,90 e c o n h e c im e n to de F, CL, e 11/2, b em c o m o em a lg u m a s in fo rm a -
1,44 ng/m^, respectivamente, que são a parte superior da janela terapêutica. ç õ es so b re as ta x a s de a b so rç ã o e d istrib u iç ã o do fá rm a co . O s e s-
Em contrapartida, a administração de uma dose mais conservadora de 0.25 a q u e m a s de d o se re c o m e n d a d o s g e ra lm e n te são c o n c e b id o s p a ra o
cada 24 h produziria valores máximos e mínimos de 1,26 e 0,96 ng/m í,
p a cien te “ m é d io ” ; o s v a lo re s h a b itu a is p a ra os p a râm etro s de d e te r-
respectivamente, que estariam associados a um valor de estado de equilíbrio
m in a ç ão im p o rta n te s e a ju ste s a d eq u a d o s q u e p o ssam se r n e c e ssá -
de 1,10 ng/mí. Evidentemente o médico deve ponderar o problema da
rio s d e v id o a d o e n ç a ou a o u tro s fa to re s são a p re se n ta d o s no A p ê n -
obediência a esquemas com doses freqüentes contra o problema dos períodos
em que o paciente pode estar sujeito a concentrações demasiado altas ou dice II. N o e n ta n to , e ssa a b o rd ag e m “ta m a n h o ú n ic o ” fa z p a ssa r
baixas do fármaco. d e sp e rc e b id a a c o n sid e rá v e l, e im p re v isív el, v a ria b ilid a d e interp a-
c ie n te , g e ra lm e n te p re se n te n e sse s p a râ m e tro s fa rm a co c in étic o s.
D ose d e a ta q u e . A “ d o se d e a ta q u e ” é u m a ou u m a série de P ara m u ito s fá rm a co s, um d e sv io -p a d rã o nos v a lo re s o b se rv a d o s de
doses que p o d em se r a d m in istra d a s n o in íc io d o tra ta m e n to co m o F, CL e Vss é de c erc a d e 2 0 % , 5 0% e 30 % , re sp e c tiv a m e n te . Isso
objetivo de a lc a n ç a r ra p id a m e n te a c o n c e n tra ç ã o -a lv o . A a m p litu d e sig n ific a q u e em 9 5 % d o tem p o a Css a lc a n ç a d a e sta rá e n tre 35% e
apropriada d a d o se de a ta q u e é: 2 7 0% do a lv o , fa ix a in a c e ita v e lm e n te a lta p a ra um fá rm a co com
b a ix o ín d ice tera p ê u tic o . A p e rso n a liz a ç ã o d o e sq u e m a d e d o ses
Dose de ataque = Cp alvo • Vss/F (1.20) p a ra d e te rm in a d o p a c ie n te é, p o rtan to , fu n d a m e n ta l p a ra o tra ta m e n -
22 Seção I PRINCÍPIOS GERAIS

to ideal. O s p rin cíp io s de fa rm a c o c in é tic a d e sc rito s fo rn ec e m u m a Um segundo aspecto importante do momento de obtenção da amostra é
b ase p ara m o d ific ar o e sq u e m a de d o se s p ara o b ter o grau d ese ja d o sua relação com o início das doses do esquema de manutenção. Quando se
de efic ác ia com um m ín im o a ceitáv el de e feito s a d v erso s. N o s caso s administra uma dose constante, o estado de equilíbrio é alcançado apenas
em q u e a c o n c e n tra ç ã o p la sm á tic a do fárm aco p o ssa se r d o sa d a e após terem passado 4 meias-vidas. Se a amostra for obtida cedo demais após
re la cio n a d a co m a ja n e la tera p êu tica , o b tém -se u m a o rien taç ã o ad i- o início da dose, não refletirá com precisão esse estado e a depuração do
fármaco. No entanto, para os fármacos tóxicos, se a amostra for adiada até o
cional p ara a m o d ific aç ão das d oses. E ssa d o sag em e o a ju ste são
estado de equilíbrio ser assegurado, o dano pode já ter ocorrido. Podem-se
ap ro p ria d o s p a ra m u ito s fá rm a c o s com b aix o s ín d ices tera p êu tico s oferecer algumas diretrizes simples. Quando é importante manter um contro-
(p. ex., g lic o síd e o s c ard íac o s, a n tia rrítm ic o s, a n tic o n v u lsiv a n te s, le rigoroso das concentrações, a primeira amostra deve ser obtida após duas
teo fílin a e o utros). meias-vidas (como calculado e esperado para o paciente), admitindo-se que
não foi administrada uma dose de ataque. Se a concentração já exceder 90%
da média esperada da concentração em estado de equilíbrio, a taxa de doses
M o n ito r a ç ã o fa rm a c o ló g ic a t e r a p ê u tic a
deve ser reduzida pela metade, obtendo-se outra amostra após outras duas
A princip al u tiliza çã o da d o sa g e m d as c o n ce n tra ç õ es d e fá rm a - (supostas) meias-vidas e reduzindo mais uma vez a dose pela metade se essa
amostra exceder o alvo. Se a primeira concentração não for tão alta, a taxa
cos (em estad o de e q u ilíb rio ) é a d e re fin a r a av aliaç ão d e CL/F p ara
inicial da dose é mantida; mesmo se a concentração for menor do que a
o p a cien te sendo tratad o (u tiliza n d o a E q u aç ão [1.14] co m o re o rg a -
esperada, geralmente é sensato esperar a obtenção do estado de equilíbrio por
nizada adiante):
mais duas meias-vidas estimadas e então proceder ao ajuste da dose descrito
anteriormente.
CL/F (paciente) = velocidade da dose/C w (m edida) (1.21) Se a dose for intermitente, há uma terceira questão sobre o momento em
que as amostras são obtidas para a determinação da concentração do fárma-
A nova a v aliaç ão de C L/F po de ser u tiliza d a na E q u aç ão (1.1 6 ) co. Se a amostra tiver sido obtida logo antes da próxima dose, como reco-
p ara a ju sta r a d o se de m an u te n çã o de m odo a o b te r a c o n ce n tra ç ão - mendado, a concentração estará em seus valores mínimos, e não médios. No
alv o alm ejad a. entanto, como discutido anteriormente, a concentração mínima estimada
pode ser calculada utilizando a Equação (1.14).
Se o fármaco sofrer uma cinética de primeira ordem, as concentrações
Certos detalhes práticos e armadilhas associados à monitoração farma- média, mínima e máxima em estado de equilíbrio têm uma relação linear
cológica terapêutica não devem ser esquecidos. O primeiro está relacionado com a dose e a taxa de dose (ver Equações [1.14], [ 1.17] e [ 1.18]). Portanto,
com o momento da obtenção da amostra para a dosagem da concentração de a proporção entre a concentração medida e a almejada pode ser utilizada para
fármacos. Se estiver sendo utilizada uma dosagem intermitente, em que ajustar a dose de acordo com as doses disponíveis:
momento do intervalo entre as doses as amostras devem ser obtidas? É
preciso diferenciar entre duas utilizações possíveis da dosagem da concen-
tração de fármacos para compreender as possíveis respostas. A concentração Css (m edida) dose (anterior)
— ----------------- = ----------------------- ( 1.22 )
de um fármaco dosada em uma amostra obtida em qualquer momento duran- Css (alm ejada) dose (nova)
te o intervalo entre as doses irá fornecer informações que podem ajudar a
avaliar a toxicidade farmacológica, o que constitui um tipo de monitoração
farmacológica terapêutica. No entanto, deve-se ressaltar que essa utilização No paciente descrito anteriormente recebendo 0,375 mg de digoxina a cada
da concentração dosada é repleta de dificuldades devido à variabilidade 24 h, por exemplo, se a concentração em estado de equilíbrio dosada encon-
interindividual na sensibilidade ao fármaco. Quando há problemas de toxici- trada tiver sido de 1,65 ng/m í em vez do nível desejado de 1,3 ng/mf, uma
dade, a concentração de fármacos é somente um dos muitos itens que servem alteração prática adequada do esquema de doses seria reduzir a dose diária
para interpretar a situação clínica. para 0,25 mg de digoxina.
As alterações nos efeitos dos fármacos podem ser retardadas com rela-
ção às alterações da concentração plasmática devido a uma baixa taxa de Css (alm ejada)
Dose (nova) = ------------- ------- x dose (anterior)
distribuição ou a fatores farmacodinâmicos. As concentrações de digoxina, Css (m edida)
por exemplo, excedem regularmente 2 ng/m í (valor potencialmente tóxico)
logo após uma dose oral, e no entanto essas concentrações máximas não 1,3
causam toxicidade; na verdade, ocorrem muito antes dos efeitos máximos. = x 0,375 = 0,295 ~ 0,25 m g/24 h
Desse modo, as concentrações de fármacos em amostras obtidas logo após a
administração podem não ser informativas ou até enganosas.
O b e d iê n c ia à p re s c r iç ã o
Quando as concentrações de fármacos são utilizadas com o propósito de
ajustar esquemas de doses, as amostras obtidas logo após a administração Em ú ltim a in stân cia, o su c e sso tera p êu tico d e p en d e de o pacien-
de uma dose são quase invariavelmente enganosas. O objetivo da obten- te d e fato to m a r o fá rm a co de a co rd o co m o e sq u e m a prescrito —
ção de amostras durante o suposto estado de equilíbrio é o de modificar a
“F á rm a c o s não fu n c io n a m se v o cê não os to m a r” . A não-obediência
estimativa dc CL/F o, assim a escolha da dose. Concentrações pós-absortivas
ao e sq u e m a p o so ló g ico é u m a d as p rin cip ais, e freq ü en tem en te ne-
precoces não refletem a depuração, sendo determinadas primariamente pela
taxa de absorção, pelo volume de distribuição “central” (em vez do estado de g lig e n c ia d a, ra zõ e s de fa lh a tera p êu tica , e sp e c ia lm e n te nas doenças
equilíbrio) e pela taxa de distribuição, todas manifestações farmacocinéticas de trata m e n to p ro lo n g ad o com a n ti-h ip e rte n siv o s, anti-retrovirais e
de praticamente nenhuma relevância na escolha da dose de manutenção a n tic o n v u lsiv a n te s. Q u a n d o não é fe ito um e sfo rço especial para
prolongada. Quando o objetivo da medida é o ajuste da dose, a amostra deve a b o rd a r e ssa q u e stão , a p en a s c e rc a de 50% dos p acien tes seguem os
ser obtida bem depois da dose anterior — em regra logo antes da próxima e sq u e m a s p re scrito s de m o d o ra z o a v e lm e n te sa tisfató rio , aproxim a-
dose prevista, quando a concentração atingiu seu mínimo. Há uma exceção d a m e n te 33% o faz ap en as em p arte e c e rc a de 1 em c ad a 6 pacientes
a essa abordagem: alguns fármacos são quase totalmente eliminados entre as fu n d a m e n ta lm e n te não se g u e o e sq u e m a p re scrito . É m ais comum
doses e só agem durante a parte inicial de cada intervalo entre as doses. Se d e ix a r de to m a r u m a ou m ais d o ses q u e to m á -las em excesso. 0
houver questões sobre o fato de uma concentração eficaz do fármaco ser ou
n ú m ero de fá rm a co s não p a rec e se r tão im p o rta n te q u a n to o número
não alcançada, uma amostra obtida logo após a dose pode ser útil. Por outro
de v ezes q u e as d o se s têm d e se r lem b rad as p o r d ia (F arm er, 1999).
lado, se a questão for se uma baixa depuração (como na insuficiência renal)
pode ou não causar acúmulo do fármaco, as concentrações medidas logo A re d u çã o d o n ú m ero d e o c asiõ e s de d o ses irá m e lh o ra r a obediên-
antes da próxima dose irão revelar tal acúmulo, sendo consideravelmente c ia ao e sq u e m a p rescrito . Ig u a lm en te im p o rta n te é a n ecessidad e de
mais úteis para esse fim que o conhecimento da concentração máxima. Para e n v o lv e r os p a c ie n te s na resp o n sa b ilid ad e p o r su a p ró p ria saúde,
esses fármacos, recomenda-se portanto a determinação das concentrações u tiliza n d o d iv ersas e stratég ia s b asead as na m elh o ra d a com unicação
máxima e mínima. q u a n to à n a tu re z a d a d o e n ç a e ao p lano tera p êu tico geral.
I FAKMACOCINÉTICA 23

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Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer aos Drs. Leslie Z. Benet, Deanna L. Kroetz e Lewis B. Sheiner, autores deste
capítulo na 9S edição de Goodman & Gilman Aí Bases Farmacológicas da Terapêutica, McGraw-Hill, Rio de
Janeiro, 1998, do qual alguns trechos foram mantidos nesta edição.

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